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Relatório de Estágio apresentado para cumprimento dos requisitos necessários à
obtenção do grau de Mestre em Ciências da Comunicação – Especialização em
Cinema e Televisão realizado sob a orientação científica do Prof. Dr. Francisco Rui
Cádima
AGRADECIMENTOS
Começo por agradecer aos professores com quem fui travando conhecimento
no meu percurso académico, quer durante a licenciatura na Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, quer durante o mestrado, cujos conhecimentos vastos na área
da comunicação e a sua pronta disponibilidade para ajudar se revelaram
fundamentais.
Aos profissionais da TVI, precisamente do Você na TV, que se esforçam todos os
dias para proporcionar o melhor para os seus espectadores e que me trataram como
se já há muito fizesse parte daquela equipa.
À minha “chefe” Teresa do Cabo, a alma da produção do Você na TV, pela
paciência, pelo apoio, um exemplo de trabalho e de dedicação a seguir. À restante
equipa de produção, Letícia, Ricardo, Susana e Rita pelos ensinamentos preciosos, por
me terem ensinado a perceber como funciona este mundo, pela confiança depositada
no meu trabalho.
Aos editores, Paula Ramos e Miguel Barros, pela ajuda, pelas piadas, pelas
manhãs animadas passadas na régie. Aos jornalistas do programa, que mantêm a
cabeça sempre erguida mesmo depois de uma crítica menos positiva, por serem um
exemplo de trabalho e de afinco, pela sensibilidade e espírito de entreajuda.
Aos elementos da equipa técnica, pelos momentos passados em estúdio. Às
minhas colegas estagiárias, Rute e Cheila, que comigo partilharam da melhor forma
possível a experiência de poder trabalhar numa casa como a TVI.
A quem sempre me incentivou a nunca desistir dos meus sonhos, a olhar em
frente e a aprender com cada erro cometido.
Aos meus pais, pelas palavras de apoio e de conforto, mesmo a quilómetros de
distância, por todos os valores que me transmitiram e que fazem de mim a pessoa que
hoje sou. Aos meus queridos avós, os meus pilares e porto de abrigo.
Aos meus amigos, bravos companheiros de aventuras e desventuras, pelos
desabafos, pelos sorrisos, pelas lágrimas, pela partilha de experiências e ideias, por
partilharem comigo a incerteza do futuro e por perceberem tão bem os tempos
complicados que se adivinham para a nossa geração.
Por tudo isto e muito mais, o meu eterno obrigada.
Com este relatório, termina mais uma fase da minha vida. Advinha-se agora
uma nova luta. Mas a aprendizagem nunca termina…
ÍNDICE
Resumo/Abstract 1
1. Introdução 3
2. A TVI - Televisão Independente 5
3. O programa “Você na TV” como veículo e vínculo de entretenimento 7
3.1 O Dispositivo Televisivo de Entretenimento 7
3.2 Sobre o “Você na TV” 13
3.3 Organização interna e modo de funcionamento 19
4. Trabalho desenvolvido durante o estágio 25
5. Reflexão final 30
6. Referências bibliográficas 34
7. Anexos 36
1
Relatório de Estágio do Mestrado em Ciências da Comunicação
Internship Dissertation of the Master in Communication Sciences
Maria Inês Soares Antunes
RESUMO
ABSTRACT
PALAVRAS-CHAVE: Televisão, Entretenimento, TVI, Você na TV, Audiências
O relatório que se segue relata a minha experiência enquanto estagiária de
produção, no programa de entretenimento “Você na TV” da TVI, Televisão
Independente.
O estágio curricular teve a duração de 6 meses, com início a 19 de Setembro de
2012 e concluído a 18 de Março de 2013 e teve como principal objectivo a conclusão
do Mestrado em Ciências da Comunicação – Cinema e Televisão, na Universidade Nova
de Lisboa.
Durante o período de estágio, tive a oportunidade de trabalhar num dos
programas pilares da estação, um dos mais dinâmicos e mais populares entre os
espectadores portugueses. Uma experiência que me proporcionou aprender e
aperfeiçoar todo o trabalho de produção para televisão no próprio terreno que, de
outra forma, nunca conseguiria obter.
Este relatório, além de um relato da minha experiência na TVI, pretende ainda
dar a conhecer um pouco mais deste programa e avaliar o seu impacto no público.
2
KEYWORDS: Television, Entertainment, TVI, Você na TV, Viewership
The following paperwork is a description of my experience as a production
trainee, at the entertainment show “Você na TV” at TVI, Independent television.
The internship took place for 6 months, starting at 19th September 2012, and
finishing at 18th March 2013. Its main goal was to finish the Master in Communication
Sciences – Cinema and Television.
During this internship I had the opportunity to work for one of the most
significant TVI shows, one of the most dynamic e popular shows between the
Portuguese viewers. A brand new experience, in which I learned and perfected all the
television producing work on field, that otherwise would have been impossible to
obtain.
This paperwork, besides being a report on my experience at TVI, is also meant
to make this show a little bit more known and measure its impact on people.
3
INTRODUÇÃO
A frequência de um Mestrado, já aplicado ao processo de Bolonha, tem por
objectivo a aquisição de mais competências sobre uma determinada área profissional.
Depois de uma Licenciatura de três anos em Ciências da Comunicação - Jornalismo,
Assessoria ou Multimédia, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, senti
uma grande necessidade de procurar uma formação extra que complementasse os
conhecimentos adquiridos anteriormente e que ao mesmo tempo permitisse
especializar-me dentro da minha área.
Desta forma, o Mestrado em Ciências da Comunicação – Especialização em
Cinema e Televisão, da Universidade Nova de Lisboa pareceu-me ser a escolha ideal
para completar a formação adquirida até ao momento e acrescentar mais
conhecimentos a uma licenciatura que, mediante a sua adaptação aos padrões de
Bolonha, se revelou algo insuficiente na preparação para as exigências do mercado de
trabalho actual.
Com o fim do Mestrado já próximo, impunha-se passar da teoria à prática, ir
para o terreno, aplicar os conhecimentos adquiridos durante a componente lectiva.
Este relatório de estágio resulta de uma experiência de 6 meses de estágio na TVI.
Apesar do plano curricular deste Mestrado conter apenas uma cadeira
leccionada pelo professor Manuel Tomaz, dedicada às especificidades da televisão e ao
trabalho de produção televisiva, ainda assim, a minha opção acabou por recair nesta
área, por uma questão de preferência pessoal.
A televisão, mais especificamente, todo o trabalho de bastidores associado a
um programa televisivo, sempre me fascinaram. A vontade de querer saber mais, de
querer viver e sentir o meio de perto era muita. Porque fazer televisão revela a
importância de se ser e estar presente, mas sem nunca deixar de aprender com o
passado e sempre com o “olhar” no futuro.
Assim sendo, por todos os relatos que chegam de quem por lá passou e porque
as audiências mostram que a sua fórmula é bem aceite pelo seu público-alvo, a TVI
desenhou-se, à partida, como a escolha mais acertada. Principalmente no que tocou à
4
escolha do departamento onde estagiar, por norma deixada ao critério do estagiário.
Deste modo, a preferência caiu sobre a área de produção no programa de
entretenimento “Você na TV”, essencialmente pelas suas mais-valias e exigências num
mundo tão imediato e competitivo como o televisivo. Num curso que primou pela
versatilidade, por saber fazer um pouco de tudo, era interessante articular, na prática,
todo esse “know-how” adquirido durante a componente lectiva com as rotinas de um
programa tão polivalente como as que distinguem o “Você na TV”.
Foi também por esse motivo que a minha decisão teve também em conta a
oportunidade que a TVI oferece aos estagiários de se confrontarem com situações
reais no terreno, e de trabalharem dentro da sua área com bastante autonomia.
Este relatório de estágio consiste na descrição do meu dia-a-dia na produção do
“Você na TV” assim como o processo de aprendizagem pelo qual passei ao longo
destes 6 meses. Pretendo ainda dar a conhecer um pouco mais sobre o modo de
funcionamento deste programa, mostrar como este foi criando ao longo dos anos um
vínculo tão forte com o seu público, e perceber o que faz desta produção uma das mais
populares do canal e líder de audiências no seu horário.
Por último, aproveito para fazer um balanço sobre aquilo que a TVI tem para
oferecer a um estagiário em início de carreira assim como todas as mais valias que este
estágio me proporcionou adquirir para o futuro.
5
TVI – TELEVISÃO INDEPENDENTE
Hoje contando com 20 anos de “vida”, a TVI é um canal generalista privado que
emite em canal aberto. Foi o segundo canal privado a ser lançado em Portugal (a 20 de
Fevereiro de 1993), um ano depois de se terem iniciado as emissões da SIC. Teve como
identidade inicial o número 4, dado ocupar o quarto lugar na grelha dos canais
televisivos.
A estação era inicialmente controlada por empresas associadas à Igreja Católica
como a Rádio Renascença, a Universidade Católica Portuguesa e a União das
Misericórdias, pelo que os conteúdos religiosos acabaram por ter um peso
considerável nas emissões. Até ao ano 2000, a TVI assumiu o papel de emissora
alternativa no panorama televisivo português, dedicando parte do seu tempo a
públicos-alvo distintos (parte da manhã dedicada às donas de casa e idosos, parte da
tarde aos jovens). Nesta fase as audiências ficaram sempre aquém do esperado e a
empresa entrou mesmo numa crise financeira.
Contudo, o início do milénio acabou por representar uma inversão no percurso
da estação e uma forte alteração do panorama televisivo nacional: a crise da nova
economia, onde o grupo proprietário da SIC investira grande parte dos lucros
arrecadados com o canal; o início da crise financeira do Estado português, que obrigou
a uma contenção de gastos na gestão da RTP; a compra da TVI, até aí na posse
maioritária da Igreja Católica, pela Media Capital . A estes factores devem acrescentar-
se as diferentes estratégias desenvolvidas, posteriormente, pelos canais,
principalmente pela nova direcção da TVI que introduziu um novo conceito de
televisão, com uma programação mais agressiva e direccionada para segmentos de
públicos pré-identificados (CUNHA; BURNAY, 2006: 3). A TVI começou a apostar em
programas de ficção nacional e em reality shows inovadores em Portugal, como foi o
caso do “Big Brother”, tendo surgido também novos noticiários e uma estratégia
editorial renovada - mudanças que se traduziram num aumento considerável das
audiências do canal. José Eduardo Moniz assumiu a direcção de programas, tornando-
se um dos grandes responsáveis pela reviravolta que levaria a estação à liderança do
horário nobre em 2001. E em 2004, a TVI tornou-se mesmo líder de audiências no
6
período all-day (7:00 – 2:00), pondo fim a dez anos consecutivos de domínio da SIC,
dando início a uma acesa “guerra” de audiências entre os dois canais.
Por outro lado, os anos de 2000 e 2001 também marcaram um período
conturbado no panorama dos quatro canais: enquanto a RTP se debatia com o
agravamento da situação económica, provocada pela diminuição da quota de
publicidade e das transferências directas do Estado, a SIC, mas sobretudo a TVI,
estiveram no centro de acesas polémicas sobre a qualidade da programação e a
necessidade de auto-regulação. Em causa estavam as novas grelhas de programação e
os produtos exibidos, com destaque para os reality shows e a contaminação que estes
exerceram sobre os noticiários televisivos da estação (CUNHA; BURNAY, 2006: 4).
Ainda no ano 2000, a TVI apostou na plataforma online e lançou o site TVI
Online, actualizado diariamente com notícias, vídeos e outro tipo de conteúdos, e que
recebe por dia, entre 85 e 95 mil visitas.
Actualmente sob a direcção-geral de Luís Cunha Velho, a TVI apresenta uma
programação composta quase exclusivamente por conteúdos portugueses (noticiários,
telenovelas, séries, reality shows, concursos), havendo ainda espaço para a emissão de
filmes e séries internacionais. Os principais programas de entretenimento da estação
são também líderes nos seus horários, seja nas manhã e tardes de 2ª a 6ª feira ou nos
serões de domingo. Além disso, a sua diversidade de conteúdos televisivos foi-se
alargando através da oferta de outros canais TVI: TVI 24, um canal dedicado à
informação 24 horas por dia, TVI, (lançado em 2009, na sequência da abertura da SIC
Notícias e da RTPN), TVI Internacional, TVI Ficção, que recuperou alguns dos conteúdos
de ficção do canal, e ainda o + TVI, lançado em Janeiro de 2013 e mais vocacionado
para um público adulto jovem.
Tudo isto evidencia a tentativa constante da estação em se modernizar e
acompanhar as preferências de um público cada vez mais exigente. A sua estratégia de
liderança assenta numa base de rentabilidade e independência e num compromisso
com o desenvolvimento da informação, cultura e entretenimento em Portugal, tendo
como referência os interesses e preferências dos espectadores.
7
O PROGRAMA “VOCÊ NA TV” COMO VEÍCULO E VÍNCULO DE
ENTRETENIMENTO
O DISPOSITIVO TELEVISIVO DE ENTRETENIMENTO
Já não existem quaisquer dúvidas de como a televisão é parte integrante da
vida dos portugueses. Desde as suas primeiras emissões a preto e branco, na década
de 1950 que a televisão passou a ocupar os lares como principal veículo de
informação, cultura e entretenimento, atingindo todas as faixas etárias, classes sociais,
a qualquer horário e em qualquer lugar. Assume-se como o media mais rápido e
imediato na oferta do seu produto, sem envolver qualquer esforço no seu consumo.
De acordo com Marshall McLuhan, mais do que qualquer outro media, a televisão tem
o poder de prender a atenção e de envolver o espectador, possibilitando uma
interacção entre todos os sentidos (apud SERRA, 2006: 5). A televisão é, por
excelência, “o meio preferido pelos cidadãos de todas as partes do mundo para
ocuparem diariamente grande parte do seu tempo livre com os programas mais do seu
agrado” (CÁDIMA, 1995: 9), preenchendo as horas de lazer e distracção de muitas
famílias, chegando até a promover o convívio entre os seus membros.
Além disso, a televisão tem vindo a desempenhar um papel extremamente
relevante enquanto interveniente da esfera social, na construção de opiniões e na
formação educativa e cívica da população. Para Wolton (1996), a sua influência
permite a criação de um «vínculo social» entre os indivíduos que simultaneamente a
vêem, o que faz com que os espectadores que consomem os mesmos conteúdos se
identifiquem enquanto parte de um todo.
A reconhecida importância da televisão foi-se manifestando cada vez mais na
construção social da realidade das sociedades contemporâneas e na sua omnipresença
na vida quotidiana dos indivíduos, o que por sua vez provocou um crescimento global
da produção audiovisual. Se a televisão cresceu e alargou a sua oferta, foi porque a
procura por parte do público assim o pediu.
8
Contudo, nem tudo são vantagens e regalias para um meio de comunicação tão
influente e poderoso que, como tal, precisa de assumir as suas responsabilidades para
com o público muito seriamente. Ainda para mais numa altura em que a televisão,
depois da abertura nos últimos anos à iniciativa privada, tem vindo a gerar grandes
debates sobre a relevância da produção nacional e sobre a qualidade da sua
programação e dos seus respectivos conteúdos. Actualmente, a televisão manifesta
uma tendência para se desenvolver de uma forma cada vez mais monótona, sem se
preocupar com as repercussões sociais que a sua actividade possa vir a gerar, sem
olhar quase nunca a outro objectivo que não o seu próprio crescimento, lucro e
afirmação no mercado das audiências. É, como tal necessário defender para o modelo
audiovisual português uma produção nacional de qualidade, apoiada na variedade de
programas e diversidade de géneros e formatos – culturais/formativos, informativos e
de entretenimento – escolhidos pelo bom gosto e pelo bom senso, pela sua qualidade
e não pela «ditadura das audiências» (CÁDIMA, 1995: 31).
Além disso, hoje em dia não podemos de nos deixar questionar sobre o que
reservará o futuro para este meio. Já ninguém poderá negar a crescente
“democratização dos media” que atravessa a sociedade actual. Hoje em dia, qualquer
indivíduo pode proporcionar entretenimento às massas através da partilha de vídeos
online, da mesma forma que as histórias de vida e as ideias das pessoas podem
facilmente ser expressas e ouvidas em sites como o YouTube. Com a proliferação de
oportunidades de acesso públicas em canais de cabo e a expansão da partilha de vídeo
na Internet, haverá ainda espaço para o entretenimento televisivo tal como hoje ainda
o conhecemos? Deverão as estações de televisão repensar as suas estratégias no
sentido de as adaptar a uma maior interactividade com o seu público? Estará a
televisão preparada para se confluir com o digital, sem no entanto perder aquilo que a
distingue verdadeiramente dos outros media? Só o tempo poderá responder a todas
estas dúvidas.
9
*****
Para o público em geral, “a história da televisão tem, no entanto, um
significado aparentemente mais simples: é sobretudo um meio de entretenimento,
onde, habitualmente, são os programas recreativos e o espectáculo que contam, na
maior parte das vezes, com a preferência do grande público” (CÁDIMA, 1995:9). Deste
modo, assiste-se cada vez mais a um avanço da oferta televisiva em relação ao
domínio do privado, cujo objectivo prende-se mais em entreter e recrear, do que em
formar ou instruir.
A função de entretenimento assume para Peter Vorderer três funcionalidades
fundamentais: a “compensação”, isto é, uma forma de escape à realidade dos
indivíduos; a “gratificação” através da qual há preenchimento das expectativas e
desejos do público e por fim a “realização pessoal” que se pode traduzir por um
enriquecimento e desenvolvimento da pessoa como ser humano. O entretenimento
pode desta forma ser entendido como uma experiência que fornece ferramentas para
lidar com a vida do quotidiano, uma forma de lidar com a própria realidade (apud
ZAGALO; BRANCO; BARKER, 2001: 433).
A «televisão-companhia» do day time, na qual se encaixa o programa de
entretenimento e respectivo local de estágio “Você na TV”, define-se pela sua
componente acentuada de espectáculo e pela abordagem de temáticas centradas no
domínio da esfera do privado. São programas mais orientados para um público
tendencialmente feminino e com alguma idade, nomeadamente donas de casa e
reformadas, aquele que procura encontrar “estórias de vida” que reflectissem
percursos de outras mulheres, na expectativa de se identificarem com aquilo que lhes
era dado a conhecer. Como o próprio nome indica, é uma forma de fazer televisão que
se destaca, acima de tudo, por veicular elementos de distracção e de lazer para
indivíduos que, tendo em conta o seu horário de emissão, se encontram inactivos,
causando “divertimento”, “prazer” e “boa disposição” no telespectador (SERRA, 2008:
7). E é também a partir daqui que nasce o forte vínculo que une o espectador ao
programa que assiste.
10
Este tipo de programas de conversação em estúdio não deixa de ser um
importante veículo de compreensão da sociedade, um lugar privilegiado de
observação da realidade social, de pequenos fragmentos do quotidiano, dispersos,
heterogéneos (LOPES, 2007: 2). E é precisamente através desses fragmentos da “vida
tal como ela é” que o meio televisivo procura atrair o seu receptor.
São programas acessíveis a todos, que se destacam pela necessidade em
manter uma forte proximidade com o seu vasto público, com capacidade para integrar
diferentes temáticas e que dão a todos a ilusão, principalmente através da transmissão
em directo, de que a mediação é praticamente inexistente. A recorrência deste tipo de
programas ao directo proporciona uma sensação de acesso imediato a um
acontecimento e um sentimento de partilha entre os telespectadores à distância nas
suas salas de estar e a história contada. Baudrillard aponta a importância do “aqui e
agora” como factor de mobilização da sociedade e de atribuição de credibilidade ao
que é visto no ecrã (apud PICCININ, 2006: 4). No fundo, são ecrãs privilegiados que
promovem a construção de um espaço comum partilhado entre os seus espectadores
(2007: 2), e em que a encenação do espectáculo televisivo advém dessa relação social
entre as pessoas, mediada por imagens (DEBORD, 1997: 14).
Deste modo, a televisão acaba por ser um espaço de contemplação coletiva,
em que o poder mobilizador da imagem, segundo Guy Debord, faz com que a acção dê
lugar à representação. Nesse contexto, a dimensão de espectáculo associada à
televisão de entretenimento faz com que o espectador deixa de viver a sua vida para
viver a sua representação (apud PICCININ, 2006: 3).
Por ser um meio que diariamente integra as rotinas de milhares de
portugueses, a «televisão-companhia» possui ainda a capacidade de criar vínculos
emocionais muito fortes com os seus receptores, há uma ampla comunhão de
emoções e uma forte identificação emocional por parte do telespectador com os
temas apresentados, com os convidados e as histórias partilhadas através da “caixinha
mágica” (TORRES, 2005: 4).
Existem, por sua vez, estímulos muito específicos capazes de encorajar essa
ligação entre o espectador e o dispositivo televisivo e que contribuem para activar
reacções emocionais, na maior parte das vezes de forma não consciente, nos
11
espetadores de um programa. Seja de um modo mais directo, isto é, através do tema
ou da forma como este é apresentado (do tom de voz dos apresentadores, de um
gesto mais familiar, etc…), seja através de elementos mais subtis como a música, a
montagem, ou até o próprio enquadramento da câmara, a recorrência a um grande
plano para captar um olhar mais emotivo do entrevistado ou até do próprio
apresentador, a televisão faz uso da conjugação desses elementos para criar
sentimentos de identificação e de empatia por parte do público em relação ao que vê
no ecrã. A sua função é assegurar que a mensagem chega ao receptor através de um
processo que funciona como regulador e condutor da emoção no espectador. Por
exemplo, a divulgação de algumas histórias de vida mais trágicas assim como o seu
tratamento por parte dos apresentadores e da equipa técnica vão criando tensões
emocionais ao mesmo tempo que vão ofereendo resoluções sobre o que vai sendo
apresentado. O programa acaba por ter um efeito algo catárquico, mediante a forte
ligação emocional entre quem o faz e quem o acompanha, produzindo uma espécie de
“imersão sensorial a que se torna muito difícil escapar: pela vista, fascina, atrai e
prende irresistivelmente a alma do espectador; pelo ouvido encanta, envolve” (SERRA,
2008: 2). Por sua vez, os laços de empatia, preocupação e o sentimento de
familiaridade possibilitam que o programa se torne também ele num veículo de
escape.
Hoje em dia, um programa de televisão não sobrevive se estiver apoiado
unicamente na escolha dos seus conteúdos e na qualidade técnica da produção, isso
não chega para cativar o público. Num meio televisivo regulado pela guerra de
audiências, chega-se facilmente à conclusão de que qualidade nem sempre está
relacionada com popularidade. As estações de televisão têm vindo a optar “por uma
lógica de programação fidelizadora, que apenas tem em vista as receitas que pode
gerar e, portanto, a maximização da audiência” (Cádima, 1995: 29). Hoje em dia, a
televisão já não serve para produzir programas mas sim para produzir públicos (1995:
107). Contrariamente ao que um dia Marshall Mcluhan afirmou, o meio já não é a
mensagem, é o seu público.
Nada interessa em televisão se não conseguirmos captar e reter a atenção do
espectador. Shakespeare já dizia que a chave para um bom drama estava em criar uma
12
experiência emocional na audiência. E este acabou por se revelar um princípio
fundamental quando se pensa em fazer televisão de entretenimento, o princípio de
criar um forte vínculo emocional com o espectador (WHITTAKER, 1993: 436).
O espectador reage emocionalmente ao que lhe é dado a ver num programa.
Mesmo os segmentos de conteúdo mais lógico e educativo evocam, para melhor ou
pior, uma resposta emocional. E embora seja possível para o público fazer uma
avaliação lógica e racional da produção, é a sua reacção emocional que determina o
primeiro impacto e envolvência com o programa (WHITTAKER, 1993: 47)
Em primeiro lugar, o ser humano interessa-se por outras pessoas, mais
precisamente, gosta de experimentar as experiências de outras pessoas, de conhecer
histórias de vida interessantes, românticas, perigosas, prestigiadas, dedicadas a
alguma causa. Além desta componente mais pessoal, qualquer espectador gosta de
estar informado e que lhe dêem a conhecer temas actuais, de interesse humano e
social, que tenham impacto na sociedade, no fundo, que lhes possa permitir aprender
coisas novas e conhecer diferentes visões do mundo. Por outro lado, as pessoas
também gostam de ver programas que apoiem os seus pontos de vista e tendem a
reagir negativamente quando é apresentada alguma ideia contrária às suas crenças.
Ainda para mais se tivermos em conta que o público-alvo de um programa como o
“Você na TV” ainda é maioritariamente mais velho e ainda um pouco conservador.
Muitas pessoas chegavam a ligar para o programa descontentes com o que estavam a
ouvir ou para contestar determinada afirmação proferida em directo por um
convidado. Como tal, deve existir algum cuidado por parte da equipa do programa
quanto à apresentação de assuntos polémicos que desafiem as crenças amplamente
enraizadas. A questão é saber até onde se pode ir, sem nunca se distanciar da sua
audiência (1993: 47). O objectivo de um bom programa consiste em procurar traduzir
aquilo que se quer transmitir e “passar para o outro lado” numa experiência visual,
auditiva e emocional por parte do espectador. Uma produção notável desafia-nos,
informa-nos, faz-nos pensar, e chega a “mexer” connosco emocionalmente.
Convém nunca esquecer de que a vontade do público é soberana, este está
constantemente a “votar” com o seu comando, como tal, tudo o que fazemos em
televisão não deve fugir à necessidade de agradar ao espectador.
13
É essencial que os media percebam que o seu público é inteligente, na medida
que tem a capacidade de filtrar, seleccionar e rejeitar a informação que lhe é
transmitida. Wolton defende que em lugar de criar um hábito, a repetição dos mesmos
conteúdos e fórmulas poderá alertar para uma ultrapassagem dos limites do que é
considerado aceitável para o espectador (apud CANAVILHAS, 2001: 10). Por sua vez,
Adriano Duarte Rodrigues afirma que os media “tendem, a partir de um certo limiar de
saturação, a converter as mensagens em puro espectáculo e a desmobilizar
efectivamente as pessoas”(apud CANAVILHAS, 2001: 11).
Esta perspectiva contraria a visão largamente difundida que atribui aos mass
media um impacto directo e uniforme sobre a forma como as pessoas fabricam e
imaginam o mundo social (LOPES, 1998). Diane Crane refere que não existe apenas um
modo de recepção televisiva, ao mesmo tempo que sublinha as dificuldades dos media
em percepcionar correctamente a experiência de visualização de um programa por
parte das suas audiências( apud LOPES, 1998). Os espectadores não percepcionam um
programa da mesma forma entre si, como tal, torna-se mais desafiante para as
estações televisivas tentar perceber os níveis de expectativa e de preferência da
audiência face aos conteúdos transmitidos.
Ainda assim, o meio televisivo continua a deter um grande poder para
disseminar ideias e influenciar a sociedade, através de um trabalho de bastidores que
selecciona conteúdos e constrói realidades fictícias e fantasiosas (1998).
SOBRE O “VOCÊ NA TV”
O programa “Você na TV” foi-se transformando num espaço diversificado,
acessível a todos, transmissor de conhecimento e impulsionador de novas formas de
vida.
Apresentado por Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira, o “Você na TV” é um
espaço de entretenimento que complementa a abordagem de histórias de vida e a
discussão de temáticas da actualidade com a conversa e a cumplicidade com os
telespectadores e o público presente em estúdio. As diversas rubricas são os
14
elementos dinamizadores e que motivam grande envolvimento e participação das
pessoas em casa e em estúdio com o programa.
Contando já com oito anos de emissão, o programa manteve-se quase sempre
como líder incontestável de audiências no daytime da TVI face à concorrência mais
directa da SIC e da RTP.
Este pode ser considerado um formato híbrido de entretenimento que conjuga
em si uma diversidade de temáticas e de rubricas: conversas, actuações musicais,
divulgação e promoção de novos produtos nacionais, abordagem de questões
relevantes do panorama nacional (economia, política, crime, medicina), conteúdos de
cariz mais humorístico e ainda rubricas que procuram mudar a vida de quem mais
precisa (mudanças de visual e aspecto físico, promover o reencontro entre familiares,
etc..).
Inicialmente pensado como um programa dirigido a um público mais idoso e
reformado, os primeiros anos de emissão do programa abordavam temáticas e
histórias de vida tendencialmente pesadas e tristes. Contudo, com o passar do tempo
começou a sentir-se uma inversão nos gostos dos espectadores, acrescentando a isso o
interesse em fazer chegar o programa a um público mais jovem, estudante ou
desempregado, o que possibilitou conferir-lhe um tom mais ligeiro e bem disposto,
mais adequado ao período do dia em que é emitido.
As entrevistas realizadas em estúdio são importantes pois conferem
autenticidade e credibilidade ao testemunho do convidado, a informação é obtida
directamente da fonte. Contudo, a menos que o entrevistado seja um orador
talentoso, uma pessoa extremamente interessante ou esteja a relatar algo bastante
comovente, as entrevistas devem ser divididas em segmentos curtos e pontuadas com
material relacionado com o assunto apresentado.
Assim, os momentos de entrevista em estúdio são complementados com a
transmissão de vt’s, de reportagens realizadas no exterior, uma forma estratégica de
cortar a monotonia e imprimir mais ritmo ao programa. Embora seja muito mais fácil e
menos dispendioso gravar em estúdio, já foi comprovado que o público prefere o
cenário “real”, mais próximo de si. Desse modo, a equipa de jornalistas do programa
15
procura sempre apresentar reportagens simultaneamente informativas e criativas,
com uma grande variedade de imagens e sons, e que demonstrem uma abordagem
original do tema, de forma a captar a atenção do público e fazendo com que este se
envolva emocionalmente com aquilo que vê.
Sendo um programa de entretenimento, um dos seus objectivos principais na
luta pelas audiências e na tentativa de ultrapassar a concorrência relaciona-se com a
necessidade de dar a conhecer determinado conteúdo, convidado, história em
primeira mão, embora não de uma forma extrema como no caso do jornalismo. A
crescente velocidade com que a informação circula hoje em dia pelos indivíduos prova
isso mesmo. De qualquer forma, o trabalho das equipas do “Você na TV” não está
inteiramente subordinado e dependente dessa política. Instantaneidade e
imediatismo, sim, mas com conta, peso e medida. A sua verdadeira acepção continua a
ser chegar até ao público emocionalmente através de temas e histórias apelativos,
resultado de uma intensa e rigorosa pesquisa.
Uma componente importante de um programa de entretenimento como o
“Você na TV” assenta na forma como ao longo de oito anos de emissão este foi
construindo um espaço de opinião público, embora de forma indirecta, junto dos seus
fiéis telespectadores. Muitos são aqueles que procuram o Facebook ou procuram dar a
sua opinião ligando para o número do programa numa tentativa de se fazerem ouvir,
de dar o seu contributo ou até mesmo dar a conhecer a sua história de vida. Deste
modo, o programa criou um forte espaço de partilha com os seus telespectadores, seja
para divulgar um novo trabalho, ou para responder a desafios lançados pelos próprios
apresentadores. A participação alargada em discussões sobre questões públicas ou
problemáticas do domínio privado, mas de interesse público, sejam elas de
preocupação maioritária ou minoritária era algo que não tinha grande espaço
televisivo mas que com o crescimento das audiências fez com que se tornasse cada vez
mais necessário arranjar métodos que concedessem uma voz ao seu público.
Com a crescente oferta de canais televisivos, a competição pelas audiências é
cada vez mais feroz. Durante quase três horas de emissão, torna-se um desafio manter
o interesse do espectador no programa e nunca em momento algum fazer com que
este mude de canal. E sendo o ritmo um elemento fulcral em qualquer produção, a
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longa duração de um programa de entretenimento como o “Você na TV” não está livre
desse risco. Mais difícil do que agarrar o interesse de uma audiência, é mantê-lo. Como
tal, é necessário imprimir variedade ao programa, quer seja de ritmo, de conteúdos e
de estilo de apresentação, oscilar entre momentos mais rápidos, ligeiros e de boa
disposição com segmentos mais sérios e reflectivos. Períodos longos de acção rápida
irão cansar e confundir a audiência da mesma forma que um programa lento e
aborrecido levará o espectador a procurar outros canais.
No contexto do jogo de audiências, o início do programa acaba por se revelar o
momento mais crítico, pois se este começar com um ritmo mais lento e pesado, o
espectador rapidamente mudará de canal. É durante estes primeiros segundos de
emissão que a audiência se sente mais tentada a ver o que está a acontecer nos canais
da concorrência. É por isso, que os programas de televisão procuram apresentar os
conteúdos principais daquele dia no início do programa ou no início de cada parte.
Para atrair e manter a atenção da audiência, o programa deve procurar envolver o
público o mais rápido possível. Da mesma forma que, imediatamente antes e depois
dos intervalos, os apresentadores fazem “chamadas” anunciando os assuntos do
próximo bloco, uma estratégia editorial muito utilizada de forma a criar “ganchos”
para atrair o interesse (WHITTAKER, 1993: 360).
Por outro lado, se determinado tema ou conteúdo atingir o clímax cedo
demais, o resto do programa poderá sofrer um arrasto e consequentemente fazer com
que o espectador perca o vínculo criado até ao momento. Daí ser também necessário
recorrer diariamente a vários temas e apresentar vários convidados de forma a
preencher as três horas de emissão e para que o programa nunca perca o interesse até
ao último minuto. Por sua vez, um final impactante deixará a audiência com uma
impressão positiva sobre o programa.
A velocidade com que as ideias e os temas são apresentados nos programas
tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. Nomeadamente no “Você na
TV”, em que todo o trabalho é feito a um ritmo impressionante, o que acaba por se
reflectir no próprio estilo de apresentação do programa, rápido e dinâmico, em que há
constantemente convidados a entrar e a sair do estúdio. Num total de 3 horas de
programa, apenas 10 a 20 minutos de tempo médio de antena são concedidos a
17
determinado tema, isto salvo algumas excepções. Hoje em dia, para poder atrair e
envolver ainda mais o espectador, as produções têm vindo a recorrer a filmagens em
locais exteriores, cortes rápidos, mudanças de plano emocionais mais frequentes e de
maior impacto, conteúdos mais ricos e dinâmicos e temas mais polémicos.
Uma das mais valias do “Você na TV” reside na sua preocupação em percorrer e
dar a conhecer um pouco de cada canto do país. Não sendo um programa com um
cariz regional, ainda assim, existe uma tentativa de revitalização das tradições e
diferenças que marcam os vários lugares representados. Deste modo, passa a existir
uma maior ligação entre o programa e os habitantes da região nele retratada assim
como uma maior proximidade entre os espectadores dos mais diversos pontos do país.
Além da abordagem de temáticas mais universais e abrangentes, é importante não
esquecer os valores regionais, a busca pelas raízes e as singularidades que cada terra
pode oferecer a um público menos informado sobre o que o rodeia e que dessa forma
também se pode sentir mais ligado e interessado em conhecer mais do seu país.
Os custos de produção de um programa de televisão são cada vez mais altos. A
competitividade e a constante busca pela excelência assim o justificam. Ninguém irá
investir tanto dinheiro num programa sem esperar obter algum retorno. Uma grande
parte dos lucros do “Você na TV” provêm da comercialização de certos produtos, os
chamados micro-espaços publicitários, gravados diariamente com os apresentadores e
que vão sendo emitidos várias vezes ao longo do programa e do resto do dia; e
também do retorno financeiro obtido através das chamadas telefónicas dos
espectadores que ligam para participar nos passatempos do programa.
Por sua vez, uma empresa influente que visa a obtenção de lucros deve, acima
de tudo, procurar assumir uma postura de responsabilidade social e de apoio à
comunidade em que está inserida. Deste modo, tanto a TVI como o “Você na TV”
encontraram uma forma de despertar a necessidade de intervenção e compromisso
para com a sociedade que os rodeia, associando-se a causas sociais relevantes como é
o caso da Missão Sorriso do Continente e de outros programas de Responsabilidade
Social ou de Marketing Social.
Numa era em que as tecnologias da informação e da comunicação assumem
um papel cada vez mais relevante na vida dos seus consumidores, é essencial que a
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televisão seja cada vez mais um espaço aberto ao público e que se preocupe cada vez
mais com a qualidade da sua programação, existindo uma necessidade de reflexão por
parte das próprias estações televisivas quanto ao tipo de conteúdos escolhidos. Uma
estação de televisão que se preocupe com a qualidade do seu serviço deve ao mesmo
tempo preocupar-se com o seu público e tentar estar o mais próxima dele possível.
Deste modo, as redes sociais contribuem para que todos possam dar a sua
contribuição, exprimir a sua opinião, ter uma palavra na esfera pública. Desta forma, a
relevância dada às redes sociais, neste caso a articulação do “Você na TV” com o
Facebook acaba por ser uma continuidade do próprio programa e um espaço dedicado
ao telespectador. Desta forma, o público pode aceder facilmente a um espaço que é
também seu e que lhe permite participar e exprimir as suas opiniões, criando uma
maior dinâmica. Todos os dias a página oficial dos apresentadores do programa é
consultada e dinamizada através da publicação de conteúdos, com mais frequência
durante o seu horário de emissão, seja pela responsável pela administração da página
como também pelos seus editores e apresentadores. Este é um forte exemplo de
como a TVI aproveitou as potencialidades desta ferramenta, estreitando os laços e a
interactividade entre quem faz o programa e quem o consome. Se por um lado
permite aos canais televisivos uma maior proximidade com o público, o que pode ser
benéfico para melhor conhecer os seus hábitos, gostos, interesses e opiniões, por sua
vez faz com que a audiência tenha um papel mais activo no programa, o que lhe
permite estar ainda mais próxima do que lhe é dado a ver todos os dias.
Com a sobrecarga de informação disseminada pela crescente oferta de canais
televisivos, cada programa deve pensar muito bem na informação que quer transmitir
ao espectador, procurando atraí-lo de uma forma diferente e criativa, para que o
conceito desse mesmo programa se possa distinguir de todos os outros. O “Você na
TV” destaca-se por saber a quem deve chegar e como chegar até cada pessoa. As suas
metas e objectivos estão claramente definidos, embora nunca totalmente satisfeitos,
isto é, a produção do programa procura dia após dia corresponder à promoção de um
produto original, criativo, capaz de gerar reconhecimento por parte de quem o
acompanha diariamente. Sem nunca perder a sua competitividade e mesmo através de
um modelo que tenha como base a disputa por valores expressivos de audiência, é
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possível fazer com que o público se orgulhe da capacidade de se mostrar e se
reconhecer amplamente através de um meio tão influente e poderoso como a
televisão.
Convém ainda salientar como a visão algo estereotipada mantida em relação
aos programas de entretenimento exibidos durante a manhã tem vindo a ser aos
poucos alterada. Estes seis meses de estágio contribuíram para perceber isso mesmo:
sem nunca perder o seu tom mais leve e a boa disposição na abordagem de certos
temas, o “Você na TV” complementa essa faceta com uma postura mais séria e um
tratamento mais rigoroso e informativo face a outras temáticas mais complexas.
ORGANIZAÇÃO INTERNA E MODO DE FUNCIONAMENTO
Um programa tão dinâmico como o “Você na TV” necessita do trabalho e da
intervenção de muitos profissionais que englobam três tipos de equipa: a equipa de
edição, a equipa de produção, onde fui integrada como estagiária, e a equipa técnica.
A equipa de edição é formada por dois editores e nove jornalistas. Os dois
editores do programa são os responsáveis pela filtragem e selecção dos conteúdos a
tratar no programa, pela atribuição dos serviços aos jornalistas, sendo que acaba por
passar pelas suas mãos toda a gestão da produção de temáticas e conteúdos para o
“Você na TV”. Para além disso, faz parte das suas funções acompanhar a evolução da
emissão do programa em directo através da régie, escrever os oráculos e os leads
relativos aos temas que vão surgindo pontualmente no ecrã, estar atento à duração
dos segmentos caso seja necessário proceder a alterações de última hora: por
exemplo, no caso do tempo ter sido excedido e ser necessário ir para intervalo, cabe
ao editor decidir que vt’s não chegarão a ir para o ar ou comunicar com os
apresentadores através da intercom de que é necessário “rematar” a conversa com o
convidado por falta de tempo; por outro lado, também já ocorreram situações em que
um convidado se sentiu mal ou em que uma entrevista terminou mais cedo do que o
esperado e, como tal, foi necessário ir buscar vt’s que se encontravam de reserva com
o intuito de preencher o tempo necessário até ao fim do programa. Finalmente,
20
também é da responsabilidade dos editores a elaboração do alinhamento
correspondente ao programa dia seguinte.
Aos jornalistas do programa compete fazer a pesquisa e a preparação da
documentação necessária relativamente aos temas abordados no programa, elaborar
folhas de texto para os apresentadores se informarem sobre o que devem saber e
perguntar aos convidados do dia seguinte. Consoante o tema que lhes é atribuído
pelos editores, cabe aos jornalistas procurar as fontes mais habilitadas para se
pronunciarem sobre aquele assunto, seja em estúdio ou em reportagem, fazer uma
pré-entrevista de modo a registar todos os factos que possam ser relevantes para
contar a história para depois saírem em reportagem com o operador de câmara, de
modo a obter um testemunho mais completo no próprio local. Terminada a
reportagem e a entrevista, cabe aos jornalistas fazer uma pré-edição do material
registado, fazer os cortes necessários de modo a seleccionar os planos e os
depoimentos que pretendam usar, que depois serão reorganizados na pós-produção
final juntamente com os técnicos da edição.
A meio da sala do “Você na TV” encontra-se um quadro correspondente à
agenda da semana, com informações acerca dos serviços a realizar naquele dia, o
nome do jornalista que sairá em reportagem, as horas e o local e ainda sobre os
serviços de pós-produção de vídeo e pós produção de áudio, para que os jornalistas
possam acompanhar a edição final das suas reportagens. Tendo em conta que esses
serviços são previamente definidos pelos jornalistas e marcados pela produção junto
dos departamentos responsáveis, torna-se mais fácil para a equipa ter uma base de
orientação que possibilite uma melhor organização das suas tarefas. Os serviços de
reportagem previamente definidos ocorrem quase a qualquer hora do dia, o que torna
os deadlines apertados uma constante.
Relativamente à origem dos temas que compõem o “Você na TV”, os jornais
diários e as revistas dão muitas vezes o mote para os conteúdos abordados,
constituindo uma importante fonte de notícias. A leitura dos jornais do dia e de
revistas é assim uma rotina enraizada no dia-a-dia da equipa de edição em busca de
novas histórias e de temas originais que possam vir a interessar ao público do
programa. Os contactos dos jornalistas e dos editores assumem também uma especial
21
importância, sendo que, por vezes, lhes dão a conhecer eventos e factos noticiosos em
primeira mão, as chamadas “cachas”. O mesmo se pode dizer das denúncias sociais,
feitas por pessoas que telefonam para a sala ou para a régie durante a emissão do
programa a queixar-se de dramas pessoais que atravessem ou de injustiças de que são
vítimas. No entanto, em todos os exemplos referidos, é fundamental ter em
consideração que as informações que são fornecidas pelas fontes têm sempre que ser
rigorosamente confirmadas antes de darem origem a qualquer reportagem.
Várias reuniões de produção são necessárias para o planeamento e
coordenação do trabalho da equipa. As equipas que compõem o programa reúnem-se
duas vezes por dia: a primeira reunião tem início às 8 da manhã, duas horas antes do
arranque do programa, na qual a editora lê e explica o alinhamento ponto por ponto e
onde se aproveita para se esclarecer algumas dúvidas, pormenores técnicos e
exigências relativas ao trabalho da produção e em que muitas vezes os apresentadores
fazem algumas alterações relativamente à ordem das vt’s ou sugerem formas de
acrescentar mais dinâmica ao programa daquele dia. A segunda reunião ocorre logo a
seguir ao fim do programa, ou seja, pouco depois das 13 horas e tem como principal
objectivo fazer uma reflexão sobre o que correu mal durante a manhã, apontar os
erros cometidos e discutir os temas que serão abordados no dia seguinte.
Todos os dias é preparado um alinhamento do programa que possa servir de
apoio e de orientação para o trabalho de todos os elementos da equipa. O
alinhamento do “Você na TV” consiste numa lista ordenada e específica que contém os
vários blocos do programa e a sua duração aproximada (sujeita a alterações por parte
da emissão), os tópicos e assuntos que serão cobertos no programa, uma breve
explicação do tema e do convidado, a indicação do set onde decorrerá a conversa no
estúdio, requisitos técnicos relacionados com o áudio, e indicações de certas
exigências destinadas à produção. Deste modo, o alinhamento ajuda a organizar e
visualizar os principais elementos do programa: o conteúdo global, equilíbrio e ritmo
podem ser imaginados, antes do início da produção. Qualquer pessoa que leia o
alinhamento do programa, deve ser capaz de ter uma ideia clara de toda a produção,
daí a sua leitura durante a primeira reunião entre as equipas ser importante para
esclarecer alguns pormenores e fazer alterações, caso haja alguma discordância. Este
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tipo de planeamento do programa permite minimizar consideravelmente algumas
surpresas desagradáveis. Qualquer falha ou descuido neste domínio pode inutilizar
todos os esforços das várias equipas que compõem o programa. (Exemplo de
alinhamento do “Você na TV” em anexo, a partir da página 37)
O alinhamento acaba por dar uma grande base de segurança para que toda a
equipa possa fazer o trabalho sem sentir tão intensamente a pressão do directo.
Contudo, ninguém está livre de cometer um erro que possa comprometer em maior
ou menor dimensão o bom decorrer do programa. Uma produção em tempo real faz
com que se ganhe numas coisas, nomeadamente na aproximação ao público e na
garantia de uma sensação de instantaneidade e de risco, mas também se perca
noutras: a duração do programa ou do segmento não pode ser abreviada ou alargada
para se adaptar às necessidades da produção, erros por parte dos apresentadores ou
da equipa não podem ser corrigidos. Um convidado pode recusar-se a entrar no ar,
uma câmara pode perder o sinal ou um microfone falhar são situações que, caso não
se tomem decisões correctas na hora, podem resultar no fracasso da produção. Todas
estas condicionantes colocam uma grande pressão no realizador e no elenco da
produção, que têm de providenciar, resolver e improvisar o mais rapidamente
possível, pois o programa não pode parar.
A equipa deve ser capaz de controlar a sua própria tensão e ansiedade para que
o programa não se ressinta disso e o público em casa não se aperceba de qualquer
problema. Quem está sentado a assistir ao programa não pode imaginar que por
detrás de uma câmara há um sem número de pessoas imersas em várias actividades,
numa grande agitação, sempre a comunicar entre si para que nada falhe.
A equipa de produção é formada por uma produtora-executiva e por quatro
assistentes de produção. A produtora-executiva organiza todos os trabalhos
conducentes à execução material do programa, sendo responsável pelos aspectos
financeiros e administrativos inerentes à produção e por assegurar os meios
necessários à sua concretização: elabora o plano de trabalho, fazendo os estudos
económicos necessários para tal, regula as verbas disponíveis para a produção dentro
dos limites económicos pré-estabelecidos, nomeadamente encargos de pessoal
técnico e artístico, autorias, operações técnicas, faz a gestão do orçamento
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predefinido para a produção e introduz as eventuais mudanças ou correcções
necessárias, procura garantir a obtenção de colaborações, licenças e autorizações.
Resumidamente, cabe à produtora supervisionar e assumir todas as responsabilidades
técnicas e financeiras inerentes ao “Você na TV”. Todas as decisões de produção
relacionadas com o programa passam pela sua aprovação.
Já os quatro assistentes que compõem a equipa de produção complementam e
dão apoio ao trabalho da produtora executiva, dividindo o seu trabalho entre o estúdio
e a sala do programa: durante a parte da manhã prestam assistência na preparação do
programa, devem certificar-se que os convidados estão no estúdio prontos para entrar
em directo, garantir os meios necessários à concretização técnica e artística do
programa (desde o trabalho de grafismo até à realização dos passatempos), assegurar
que todos os elementos estão a postos para o arranque da emissão e ainda proceder
ao pagamento de todos os encargos financeiros relacionados com as despesas de
transporte e alojamento dos convidados. Este trabalho mais agitado é depois
complementado com funções mais burocráticas inerentes às rotinas de uma equipa de
produção: proceder à marcação dos convidados que estarão no estúdio no dia
seguinte, marcar as reportagens dos jornalistas e posteriormente as sessões de pós-
produção, garantir alojamento para os convidados que venham de locais mais
distantes, organizar todos os documentos técnicos necessários aos trabalhos em curso,
tratar da manutenção dos arquivos, registos e contabilidade primária da produção.
Além disso, é da responsabilidade da equipa de produção diligenciar para a obtenção
de colaborações, serviços, licenças e autorizações necessárias para a realização do
programa e das reportagens, assegurar a reunião de figurantes e de todo o tipo de
adereços essenciais ao seu bom funcionamento e ainda coordenar o grafismo e toda a
componente musical referente ao programa, desde a selecção dos artistas mais
adequados para actuar em estúdio até à organização dos segmentos sonoros e
musicais que compõem o “Você na TV”. Todas estas funções estão repartidas entre os
quatro assistentes de produção.
A equipa técnica do programa é a única que não é fixa, os seus elementos
trabalham por turnos e acabam por circular um pouco por todos os programas da TVI.
Deste modo, foi interessante contactar com realizadores e assistentes de estúdio com
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perspectivas diferentes em relação ao programa e com formas de trabalho e
personalidades distintas. Da equipa técnica fazem parte todos os elementos
responsáveis pela concretização técnica e artística do programa: apresentadores,
realizador, assistentes de estúdio, anotador, operadores de câmara, animador de
público, operador de mistura de imagem, operador de controlo de imagem,
iluminador, operador de som, equipa de maquilhagem, de cabelos e guarda-roupa.
Nunca é demais referir o quão importante é o contributo de cada um destes
profissionais para a viabilização de um programa tão dinâmico e exigente como o
“Você na TV”. Quase poderíamos comparar um programa de televisão a um mosaico
em que cada peça por si só se revelaria insuficiente, é a junção e a articulação de todos
os elementos que acabam por compor a imagem final e criar um programa de
qualidade e tão apelativo ao seu público.
Os momentos mais agitados são aqueles que antecedem o início do programa,
todo o trabalho que implique a sua preparação e depois já durante a sua emissão, o
que que implica estar sempre atento e pronto a reagir face a mudanças de última
hora. A imprevisibilidade do meio televisivo, ainda mais se pensarmos na pressão que
o directo acarreta sobre cada elemento da equipa, está no facto de tudo poder mudar
a qualquer momento. Mas não deixou de ser interessante perceber como ao fim de
anos de trabalho, nada parece assustar os profissionais que trabalham para o
programa que reagem sempre de cabeça fria e com a máxima rapidez perante as
adversidades que vão surgindo.
Por sua vez, os momentos de azáfama da manhã contrastam com momentos
mais parados da parte da tarde, que consistem apenas na preparação do programa do
dia seguinte, confirmar a presença dos convidados e da figuração, marcar as ENG’S,
etc… O que não invalida que não possa surgir alguma ocorrência de última hora que
implique a sua abordagem no programa do dia seguinte (caso da resignação de Bento
XVI, a leitura da sentença do “violador de Telheiras”), ou até mesmo o cancelamento
de um tema por motivos de força maior, o que implica uma reestruturação do
programa, falar com novos convidados, desmarcar com os convidados previamente
confirmados, é, por tudo isso, um trabalho bastante imprevisível e desafiador a todos
os níveis.
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E depois da satisfação e do sentido de dever cumprido por mais um programa
feito, é altura de preparar o programa do dia seguinte, como tal, o trabalho da equipa
nunca pára, há sempre ainda muito que fazer.
TRABALHO DESENVOLVIDO DURANTE O ESTÁGIO
O fim da componente lectiva implicava passar da teoria à prática, ir para o
terreno, aplicar os conhecimentos adquiridos anteriormente. Assim, por todos os
relatos que chegam de quem por lá passou, a TVI desenhou-se, à partida, como a
escolha mais acertada. Principalmente no que tocou à escolha da secção onde
estagiar, por norma deixada ao critério do estagiário. Deste modo, a preferência caiu
sobre a área de produção televisiva, essencialmente pelas suas mais-valias num
mundo dominado pelos media audiovisuais, no qual se destaca a transmissão de
programas de entretenimento tão apelativos às massas. Num curso que primou, acima
de tudo, pelo saber pensar as ciências da comunicação, era interessante articular, na
prática, todo esse know-how adquirido durante o primeiro ano de mestrado e nos três
anos anteriores de licenciatura com as rotinas de uma equipa profissional como a que
distingue a TVI, mais precisamente o programa da manhã “Você na TV”.
O estágio teve a duração de seis meses, tendo decorrido entre 19 de Setembro
e 19 de Março. Embora inicialmente estivesse previsto um estágio de apenas três
meses, acabou por ser proposto (e aceite) que se estendesse por mais três.
Embora o período de trabalho previamente estipulado na TVI fosse de nove
horas diárias (entre as oito da manhã e as cinco da tarde), os estagiários poderiam
deparar-se, na prática (à imagem do que acontece com os restantes elementos da
equipa), com a falta de horários linearmente definidos, sendo que a hora de saída é
sempre imprevisível. Uma situação que acaba por ser extremamente proveitosa para o
crescimento do estagiário. Os “novatos” enfrentam ainda a pressão do directo, uma
vez que, o programa e todos os conteúdos e elementos que dele farão parte têm de
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estar prontos o mais depressa possível para que tudo corra na perfeição durante as
três horas de emissão, situações que se revelam extremamente importantes na
preparação de quem está prestes a entrar neste mercado de trabalho e terá que
enfrentar estas realidades regularmente.
Quando se está prestes a terminar um curso, surge naturalmente a vontade de
aplicar na prática todos os conhecimentos que foram adquiridos durante a
componente lectiva e, talvez fruto da irreverência própria dos mais jovens, a vontade
imediata é de partir para o terreno, travar conhecimento com o meio, mostrar
trabalho.
No entanto, a primeira fase do estágio na TVI, em que os estagiários se limitam
a acompanhar os produtores, revela-se fundamental no processo de aprendizagem dos
recém-chegados e na sua formação. É nesta fase que os estagiários começam a dar-se
conta dos procedimentos e das rotinas dos profissionais da casa mais experientes,
quer em termos de preparação prévia, quer em termos de movimentação no terreno e
das dificuldades que o trabalho de produção enfrenta no dia-a-dia.
Esta fase de acompanhamento, marcada pelo contacto com grandes
profissionais, permitiu aprender a lidar com realidades diversificadas que se viriam a
revelar importantes, quer para o resto do estágio na TVI, quer no percurso profissional
que se avizinha e para adquirir autonomia suficiente para a resolução de problemas
inerentes à produção do programa. Por um lado, foi essencial para aprender a lidar
com convidados mais difíceis e exigentes e a saber contornar alguns obstáculos por
eles colocados; também foi importante aperceber-me da pressão exigida por um
programa em directo, em que tudo deve estar pronto e definido o quanto antes, e
caso algo falhe, o produtor deve estar pronto para assegurar que existe sempre uma
alternativa ao problema. No fundo, tem que se fazer as coisas depressa e… bem.
Nesse período inicial, ter todos estes aspectos em consideração não foi tão
simples como à partida poderia parecer, é um trabalho que implica uma quota parte
de responsabilidade e requer saber lidar com diferentes problemas ao mesmo tempo
mas, à medida que o tempo foi passando e toda a mecânica do trabalho de produção
foi sendo interiorizada, tudo acabaria por se tornar mais fácil, embora nunca menos
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desafiante e interessante. Muito pelo contrário, se há algo que este estágio despertou
ainda mais foi a adrenalina e o bichinho de querer continuar a fazer televisão.
Ao fim de aproximadamente uma semana, iniciou-se uma nova (e decisiva) fase
do estágio, uma fase que representa uma diferença abrupta relativamente àquela em
que os recém-chegados se limitavam a acompanhar os elementos da equipa de
produção, uma vez que, a partir deste momentos, são os estagiários que têm que
prestar assistência na preparação do programa, saber como se movimentar no
terreno, passando a desempenhar tarefas exclusivamente suas, a saber lidar com as
situações com que se deparam e resolver os problemas que vão surgindo, gozando de
quase total autonomia, embora nunca deixando de consultar os seus colegas de
trabalho sempre que necessário.
Num estúdio, a equipa de trabalho já conhece a rotina associada à produção do
programa e muitas vezes nem espera as ordens do realizador ou do produtor. É a
partir desse momento que os estagiários assumem um estatuto semelhante ao dos
restantes produtores da casa, uma vez que a autonomia é praticamente total. A
melhoria em todos estes aspectos é claramente visível à medida que o tempo de
estágio vai aumentando e se vai adquirindo mais prática e desenvoltura. Para isso,
também foram valiosas as indicações e recomendações dos colegas de profissão. E à
medida que o tempo vai passando, acabam por surgir novas dificuldades,
acompanhadas por formas também elas novas de as contornar. Mas o trabalho de
produção também é isso mesmo, evolução.
Ao longo de seis meses de estágio, foram várias as funções e actividades a
desempenhar para o “Você na TV”. Em primeiro lugar, o trabalho a desempenhar quer
na régie quer na sala de produção tiveram como base a importante ligação que deve
ser mantida entre o programa e o espectador. Deste modo, durante o decorrer das
três horas de emissão do programa, é da responsabilidade do estagiário anotar e
posteriormente responder aos pedidos, sugestões ou recados dos espectadores que
comunicarem com a produção durante o programa; proceder às marcações do público
de casa que quer assistir ao programa ao vivo; tratar da recolha dos dados dos
vencedores de passatempos pontuais do programa (por exemplo, oferta de livros ou
de bilhetes para espectáculos), para depois proceder ao envio da informação para a
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editora ou para a sala de espectáculos responsável pelas ofertas ao público; proceder à
recolha dos dados do vencedor do passatempo diário “Roda Você”, que serão
posteriormente enviados para o departamento de Marketing da TVI. Ainda na régie,
sempre que for necessário colocar uma chamada telefónica em directo no programa, é
da responsabilidade do estagiário fazer a ligação dessa chamada da régie para o
estúdio através de um híbrido digital e ainda proceder à ligação através do sinal em
satélite para o local onde poderá ocorrer qualquer directo em exterior essencial ao
programa. Por exemplo, num directo feito a partir do Barreiro foi necessário
estabelecer a ligação para o local escolhido com alguma antecedência e ir
comunicando frequentemente com o apresentador Manuel Luís Goucha para que este
soubesse quando poderia iniciar o directo ou quanto mais tempo teria de aguardar. No
entanto, situações como esta num programa de entretenimento são excepcionais
tendo em conta os elevados custos que a preparação de um directo em exterior
acarreta. Finalmente, o estagiário deve ainda registar os melhores momentos do
programa e os segmentos em que estes ocorreram para serem, mais tarde, editados e
emitidos no final de cada mês.
Na sala de produção, já depois do programa daquele dia ter terminado, é
necessário ler e organizar diariamente o correio do programa pelos diferentes temas e
motivos (sugestão de conteúdos, ajuda financeira, ajuda médica, mudanças de visual,
ponto de encontro, cartas ou convites destinados aos apresentadores, etc…) e ainda
ligar a confirmar as marcações das pessoas interessadas em fazer figuração no
programa do dia seguinte. Com o tempo e após começar a adquirir alguma
experiência, comecei a ajudar a equipa na realização de outros serviços de produção:
entrar em contacto com os convidados do programa do dia seguinte para confirmar a
sua presença, dar a informação das horas a que deve estar no estúdio, garantir que
tem meios para se deslocar até às instalações da TVI, informar acerca das condições do
alojamento, caso seja preciso, e ainda confirmar que tipo de meios poderão ser
assegurados por parte da produção – mesas de apoio no caso do convidado trazer
produtos para expor em estúdio, instrumentos no caso de actuações musicais ao vivo,
etc… Caso o convidado necessite de um táxi para se deslocar para a TVI, é da
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responsabilidade da produção marcar com a central de táxis a hora e o local para onde
este se deve dirigir.
Algumas vezes, seja por exigência dos apresentadores ou especificamente do
tema a ser abordado no programa, foi necessário conseguir patrocínios especiais
através do contacto com lojas e outro tipo de serviços que pudessem fornecer
acessórios ou outro tipo de materiais para serem utilizados especialmente naquele dia.
Por exemplo, para o tema “O bolo da minha vida” foi necessário contactar diversas
confeitarias para pedir que confeccionassem dezenas de bolos para serem oferecidos à
plateia do programa, em troca de uma nota de agradecimento na ficha técnica e de
uma breve referência por parte dos apresentadores, uma forma de também dar
visibilidade e ajudar a promover a empresa ou a marca junto de um público tão vasto
como o do “Você na TV”.
Logo pela manhã, é o estagiário que recolhe toda a documentação essencial ao
programa do dia (alinhamentos, lista dos convidados do programa com respectivos
contactos e hora de chegada à TVI, folhas de texto destinadas à linguagem gestual,
lista dos figurantes,) organiza-a e leva-a para a sala onde é feita a primeira reunião do
dia, às 8 da manhã.
Outra das funções desempenhadas durante este estágio consiste em prestar
todo o tipo de assistência necessária no estúdio, na preparação e no decorrer do
programa. Neste contexto, foi essencial o contacto com as Relações Públicas da TVI,
encarregues de receber os convidados, para assegurar que estes já chegaram e que
estão no estúdio com algum tempo de antecedência, já maquilhados e penteados,
prontos para entrar em directo.
O estagiário deve ainda prestar todo o tipo de apoio aos convidados e ajudar a
providenciar os meios necessários à sua participação, caso precisem de expor produtos
ou organizar desfiles de roupa, ajudando a colocar e a preparar tudo no set. É
importante que o estagiário tenha o discernimento para perceber quando tem
autonomia e capacidade para resolver algum problema menor e quando se torna
necessário comunicar a situação aos produtores responsáveis, isto sempre que
ocorrerem queixas, pedidos e exigências da parte dos convidados. Quando há
actuações musicais com playback, deve-se entregar o cd com a faixa correspondente à
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actuação ao operador de som e ainda confirmar as autorias das músicas para que o
editor possa incluir a informação nos oráculos do programa. No caso da actuação
requerer som ao vivo, é necessário ensaiar com o artista e com os músicos antes do
início do programa. Sempre que houver ofertas de brindes destinadas à plateia, é
necessário garantir que o número total corresponde ao número mínimo de figurantes
do público, para depois colocar de parte alguns exemplares que serão distribuídos em
directo pela assistente de plateau, apenas para o “boneco” televisivo, enquanto o
restante é entregue apenas no intervalo ou no final do programa.
Para além disso, no final do programa, é igualmente importante verificar se o
estúdio está arrumado para a entrada da equipa do programa da tarde.
Por tudo isto, trabalhar no meio televisivo passa necessariamente por ser capaz
de trabalhar em equipa. É importante que haja uma constante comunicação no
terreno entre todos os membros das várias equipas do programa para que cada um
possa fazer chegar qualquer informação relevante de forma clara, sem espaço para
ambiguidades, numa tentativa de complementar e nunca interferir no trabalho dos
colegas. Só a conjugação de todos estes factores pode assegurar um produto final que
agrade e apele à audiência.
REFLEXÃO FINAL
Um órgão de comunicação com a dimensão e a história da TVI tem um vasto
leque de oportunidades de aprendizagem a oferecer a um estagiário. No final de 6
meses de estágio, tenho uma visão diferente da realidade e daquilo que hoje sei ser
exequível no mundo da televisão. Penso que o percurso quer da estação televisiva
quer de um profissional do meio é feito através de um processo de aprendizagem de
tentativa/erro, um caminho percorrido ao longo dos anos, em que as perspectivas vão
mudando consoante aquilo que nos é exigido.
Ainda recordo os primeiros dias de agitação, o nervoso miudinho tão próprio de
quem não quer falhar, as corridas nos corredores da TVI para resolver alguns
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imprevistos com o programa a segundos de entrar em directo, a euforia e o
sentimento de dever cumprido, poder fazer parte de uma equipa tão coesa e que
tanto trabalha para garantir o melhor programa possível para o seu público e de certa
forma, perceber o carinho e o reconhecimento desse mesmo público, seja através das
pessoas que ligavam para elogiar determinado segmento ou para confidenciar como
aquele programa se tornou na sua maior companhia. Uma das vantagens do contacto
com o meio televisivo foi precisamente essa, a grande aproximação entre quem faz o
Você na TV e o quem o acompanha dia após dia que é, no fundo, para quem
trabalhamos. Esse sentido de responsabilidade da produção para com o público
tornou-se perceptível não só através do contacto com as pessoas, mas também pelo
trabalho dos profissionais que, todos os dias, se empenham ao máximo para produzir
três horas diárias de qualidade, sempre com a preocupação de chegar aos cidadãos.
Mais até do que entreter, um dos maiores valores do Você na TV passa pela
necessidade de dar a conhecer o país onde vivemos, partindo de casos e pessoas reais.
Mesmo estando em período de estágio, o trabalho desenvolvido no Você na TV
sempre se assemelhou ao dos profissionais da casa. Tal voto de confiança por parte
dos produtores e editores revelou-se fulcral para o desenvolvimento de uma
autonomia e de uma crescente responsabilidade pelo que programa iria passar ao
público.
E com os primeiros dias de trabalho e de azáfama, veio também a certeza de
que há certas regras de ouro de que um profissional deste meio não pode abdicar: a
clareza e o rigor na transmissão das suas ideias, a capacidade extremamente rápida e
eficiente de decisão no próprio terreno, saber trabalhar mediante prazos apertados e
antecipar qualquer necessidade que possa surgir mediante o decorrer do programa e,
acima de tudo, ter sempre em consideração o público para o qual se está a fazer um
programa. Para assegurar o sucesso de um programa, é importante nunca esquecer as
necessidades, interesses, e o perfil do nosso público.
A experiência adquirida no terreno permitiu aprender a comunicar e a lidar
com todo o tipo de pessoas desde autoridades (elementos da GNR e Bombeiros,
representantes de grandes empresas nacionais) a artistas e até ao cidadão comum.
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Uma má aproximação à pessoa errada pode destruir temporariamente a sua
efectividade e converter uma situação difícil num desastre.
A importância de se antecipar sempre ao sucedido e de saber reagir
instantaneamente às mudanças em acção reflectiram-se numa aprendizagem
igualmente valiosa concedida por este estágio. Um programa dinâmico e
movimentado como o “Você na TV” implicou estar previamente preparado para
possíveis problemas que possam surgir na sua preparação do programa e em saber
como os contornar.
Foi também no desenvolvimento deste trabalho diário que fui adquirindo uma
compreensão sólida das ferramentas e técnicas do processo de produção e até mesmo
para perceber um pouco do trabalho de cada elemento da equipa que compõe o
programa. Quanto mais se souber sobre o modo de funcionamento do meio televisivo,
mais preparado estará o estagiário para aplicar as bases apreendidas de forma criativa
e para resolver os problemas que inevitavelmente poderão ocorrer no seu futuro
profissional.
Desenvolver uma carreira profissional num meio tão competitivo e exigente
como o da televisão não é para todos, é algo que requer bastantes conhecimentos,
talento, dedicação, persistência. Ser capaz de resolver os problemas por si mesmo e ao
mesmo tempo saber trabalhar em equipa, saber ouvir e aceitar as sugestões e críticas
dos outros. Ser capaz de se adaptar às exigências do meio, nomeadamente à pressão e
à flexibilidade de horários. Trabalhar num programa da manhã implicou uma mudança
brusca de horários, em que todos os dias acordava às 06:30 da manhã.
Um estagiário que chega à produção de um programa de entretenimento com
grandes valores de audiências deve, portanto, conhecer e aprender a lidar com a
mecânica da equipa e com todos os factores que daí advêm. Sem nunca deixar de
aproveitar a autonomia, a sensação de estar entregue a si próprio e a humildade de
quem está apenas a dar os primeiros passos.
Fazer parte de um programa como o Você na TV foi, sem dúvida, um desafio
constante. O ritmo acelerado do directo e o despique constante do imediatismo, a
exigência de uma grande capacidade de organização para lidar com várias questões em
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simultâneo, a importância de ver e estar lá antes de qualquer um, de ter acompanhado
de perto momentos e histórias de vida marcantes. Mas também o espírito de
camaradagem, a independência e a necessidade de desenrascanço eram suportadas
por uma sensação de preocupação por parte de quem lá trabalhava. No fundo, quem
por lá passa é tratado como se de um colega de trabalho se tratasse.
Da experiência fica a aprendizagem, o enriquecimento profissional e pessoal, os
valiosos conselhos de quem por lá continua, o amadurecimento perante novos
desafios. Foram seis meses de uma experiência pessoal e profissional única e
indescritível. Seis meses que trouxeram traquejo, experiência, crescimento,
amadurecimento, recordações, momentos dignos de serem guardados para o resto da
vida. Seis meses de ensinamentos preciosos para o que quer que o futuro reserve.
Ainda que haja ainda, com a mais absoluta das certezas, muito para aprender.
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ANEXOS
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Exemplo de um alinhamento do programa “Você na TV”
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