RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM …
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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA JOÃO VITOR SIMON FERNANDES RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM MEDICINA VETERINÁRIA: CLÍNICA MÉDICA DE CÃES E GATOS Tubarão 2021
RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM …
Text of RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM …
Modelo para DigitaçãoJOÃO VITOR SIMON FERNANDES
Tubarão
2021
2
Relatório de estágio curricular supervisionado
apresentado ao Curso de Medicina Veterinária
da Universidade do Sul de Santa Catarina como
requisito à obtenção do grau de bacharel em
Medicina Veterinária.
Tubarão
2021
3
minha mãe, Karla Felipe Simon. Sem ela, a
conclusão dessa etapa não seria possível.
4
AGRADECIMENTOS
O caminho para alcançar os nossos sonhos não é nada fácil, muito
pelo contrário, ele
é tortuoso, feito de tropeços e inúmeros altos e baixos. No
entanto, diversas pessoas
contribuem para que esse momento seja mais leve e divertido.
Meu muito obrigado à minha família, que sempre fez o possível para
que essa jornada
fosse concluída. Aos amigos que fiz ao longo dos cinco anos, que
dividi tantas alegrias e
tristezas, vocês deixaram tudo mais colorido e bonito, vivemos
momentos inesquecíveis
juntos. Aos professores e médicos veterinários, obrigado por tantos
conhecimentos, portas
abertas, conselhos e contribuições para minha formação profissional
e pessoal. Lembrarei de
cada um de vocês com muito carinho e gratidão. Obrigado.
5
RESUMO
O estágio curricular foi realizado no Vet Plus Hospital
Veterinário, localizado na cidade
de Joinville (SC), na área de clínica médica de cães e gatos,
durante o período de 22 de
fevereiro à 29 de abril de 2020, totalizando 360 horas,
distribuídas em 40 horas semanais,
com a supervisão do médico veterinário Fábio Magalhães e orientação
do Professor Ms.
Jairo Nunes Balsini. Entre as atividades desenvolvidas no período
de estágio, estavam
inclusas o acompanhamento de consultas e reavaliações, monitoração
de pacientes em
internação, exames de imagem, procedimentos ambulatoriais, coletas
de amostras
biológicas e atendimentos emergenciais. O presente relatório
descreve as atividades
realizadas durante o período de estágio, a estrutura do local de
estágio e relata três casos
clínicos acompanhados durante este período: leptospirose canina,
carcinoma de células
escamosas em um cão e insuficiência cardíaca congestiva direita em
um cão. O estágio
curricular obrigatório é essencial para a formação profissional,
onde os conhecimentos
adquiridos em teoria são aplicados na rotina prática, atuando como
um período de transição
entre a vida acadêmica e o mercado de trabalho.
Palavras-Chave: Leptospirose. Carcinoma de células escamosas.
Insuficiência Cardíaca
Congestiva Direita.
6
ABSTRACT
The internship was conducted at Vet Plus Veterinary Hospital,
located in the city of Joinville
(SC), in the area of clinical medicine of dogs and cats, during the
period from February 22 to
April 29, 2020, totaling 360 hours, distributed in 40 hours per
week, under the supervision of
the veterinarian Fábio Magalhães and guidance of Professor Ms.
Jairo Nunes Balsini. Among
the activities developed during the internship period were the
follow-up of consultations and
reassessments, monitoring of patients during hospitalization,
imaging exams, outpatient
procedures, collection of biological samples, and emergency care.
This report describes the
activities performed during the internship period, the structure of
the internship site, and reports
three clinical cases followed during this period: canine
leptospirosis, squamous cell carcinoma
in a dog, and right congestive heart failure in a dog. The
mandatory curricular internship is
essential for professional training, where the knowledge acquired
in theory is applied in the
practical routine, acting as a transition period between academic
life and the labor market.
Key words: Leptospirosis. Squamous cell carcinoma. Congestive Heart
Failure.
7
Figura 2 - Recepção Vet Plus Hospital Veterinário.
................................................................
17
Figura 3 - Consultório destinado à espécie felina do Vet Plus
Hospital Veterinário. .............. 18
Figura 4 - Consultório destinado à espécie canina do Vet Plus
Hospital Veterinário. ............. 18
Figura 5 - Sala de vacinas do Vet Plus Hospital Veterinário.
.................................................. 19
Figura 6 - Sala de Emergência do Vet Plus Hospital Veterinário.
........................................... 20
Figura 7 - Internação destinada à espécie canina do Vet Plus
Hospital Veterinário. ............... 21
Figura 8 - Internação destinada à especie felina do Vet Plus
Hospital Veterinário. ................ 22
Figura 9 - Isolamento destinado aos pacientes com Parvorvirose do
Vet Plus Hospital
Veterinário.
...............................................................................................................................
23
Figura 10 - Blocos cirúrgicos do Vet Plus Hospital Veterinário.
............................................. 24
Figura 11 - Sala de preparação anestésica do Vet Plus Hospital
Veterinário........................... 25
Figura 12 - Setor de radiografia do Vet Plus Hospital Veterinário.
......................................... 26
Figura 13 - Sala de tomografia computadorizada do Vet Plus Hospital
Veterinário. .............. 27
Figura 14 - Sala de análises clínicas do Vet Plus Hospital
Veterinário. .................................. 28
Figura 15 - Paciente canino com icterícia generalizada. A: Pele. B:
Pênis. C: Esclera. .......... 39
Figura 16 - Lesão oral referente ao paciente do relato 2.
......................................................... 48
Figura 17 - Formação oral, em maxila esquerda, 15 dias após a
primeira consulta do paciente
do relato 2.
................................................................................................................................
50
Tabela 1 - Distribuição das atividades acompanhadas no Vet Plus
Hospital Veterinário durante
o período entre 22 de fevereiro e 29 de abril de 2021.
.............................................................
30
Tabela 2 - Distribuição de atendimentos emergenciais atendidos no
Vet Plus Hospital
Veterinário durante o período entre 22 de fevereiro e 29 de abril
de 2021. ............................. 31
Tabela 3 - Casuística clínica do sistema cardiovascular acompanhada
no Vet Plus Hospital
Veterinário durante o período entre 22 de fevereiro e 29 de abril
de 2021. ............................. 35
Tabela 4 - Casuística clínica do sistema digestório acompanhada no
Vet Plus Hospital
Veterinário entre o período de 22 de fevereiro e 29 de abril de
2021. ..................................... 35
Tabela 5 - Casuística clínica do sistema endócrino acompanhada no
Vet Plus Hospital
Veterinário entre o período de 22 e 29 de abril de 2021.
......................................................... 35
Tabela 6 - Casuística clínica do sistema endócrino acompanhada no
Vet Plus Hospital
Veterinário entre o período de 22 de fevereiro e 29 de abril de
2021. ..................................... 36
Tabela 7 - Casuística clínica do sistema musculoesquelético
acompanhada no Vet Plus Hospital
Veterinário entre o período de 22 de fevereiro e 29 de abril de
2021. ..................................... 36
Tabela 8 - Casuística clínica do sistema ocular acompanhada no Vet
Plus Hospital Veterinário
entre o período de 22 de fevereiro e 29 de abril de 2021.
........................................................ 36
Tabela 9 - Casuística clínica do sistema reprodutor acompanhada no
Vet Plus Hospital
Veterinário entre o período de 22 de fevereiro e 29 de abril de
2021. ..................................... 37
Tabela 10 - Casuística clínica do sistema respiratório acompanhada
no Vet Plus Hospital
Veterinário entre o período de 22 de fevereiro e 29 de abril de
2021. ..................................... 37
Tabela 11 - Casuística clínica do sistema tegumentar acompanhada no
Vet Plus Hospital
Veterinário entre o período de 22 de fevereiro e 29 de abril de
2021. ..................................... 37
Tabela 12 - Casuística clínica das afecções infectocontagiosas
acompanhadas no Vet Plus
Hospital Veterinário entre o período de 22 de fevereiro e 29 de
abril de 2021........................ 38
Tabela 13 - Casuística clínica das afecções oncológicas
acompanhadas no Vet Plus Hospital
Veterinário durante o período de 22 de fevereiro à 29 de abril de
2021. ................................. 38
Tabela 14 - Protocolo Terapêutico instituído durante o primeiro dia
de internamento. ........... 40
Tabela 15 - Hemograma referente ao paciente do relato 1.
...................................................... 41
Tabela 16 - Exames bioquímicos referentes ao paciente do relato
1........................................ 42
Tabela 17 - Urinálise referente ao paciente do relato 1.
...........................................................
42
Tabela 18 - Hemograma referente ao paciente do relato 2.
...................................................... 49
9
Tabela 19 - Exame bioquímico referente ao paciente do relato 2.
........................................... 50
Tabela 20 - Hemograma referente ao paciente do relato 3.
...................................................... 57
Tabela 21 - Exame bioquímico referente ao paciente do relato 3.
........................................... 57
10
.
Gráfico 1 - Distribuição dos exames de imagem acompanhados no Vet
Plus Hospital 32
Gráfico 2 - Casuística de especialidades e sistemas acometidos na
internação do Vet Plus
Hospital Veterinário durante o período entre 22 de fevereiro e 29
de abril de 2021. 33
Gráfico 3 - Número de casos por especialidades e sistemas
acometidos na rotina clínica do
Vet Plus Hospital Veterinário durante o período entre 22 de
fevereiro e 29 de abril de 2021. 34
11
ALT – Alanina aminotransferase
AST - Aspartato aminotransferase
CCE – Carcinoma de células escamosas
CE – Corpo estranho
dL – Decilitro
g – Grama
GGT – Gamaglutamiltransferase
PCR – Reação em cadeia da polimerase
RCCP – Ressuscitação cardio cérebro pulmonar
RM – Ressonância magnética
SC – Santa Catarina
SC – Via subcutânea
SNA – Sistema Nervoso Autônomo
SNC – Sistema nervoso central
TC – Tomografia computadorizada
TPC – Tempo de preenchimento capilar
US – Ultrassonografia
3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
..........................................................................
29
4 CASUÍSTICA ACOMPANHADA
............................................................................
30
4.4.3 Casuística Clínica das Afecções do Sistema
Endócrino........................................... 35
4.4.4 Casuística Clínica das Afecções do Sistema Urinário
.............................................. 36
4.4.5 Casuística Clínica das Afecções do Sistema Musculoesquelético
........................... 36
4.4.6 Casuística Clínica das Afecções do Sistema
Ocular................................................. 36
4.4.7 Casuística Clínica das Afecções do Sistema Reprodutor
........................................ 37
4.4.8 Casuística Clínica das Afecções do Sistema Respiratório
....................................... 37
4.4.9 Casuística Clínica das Afecções do Sistema Tegumentar
....................................... 37
4.4.10 Casuística Clínica das Afecções Infectocontagiosas
................................................ 38
4.4.11 Casuística Clínica das Afecções Oncológicas
...........................................................
38
5 LEPTOSPIROSE EM UM CANINO: RELATO DE CASO
....................................... 39
5.3.1 HEMOGRAMA E BIOQUÍMICOS
..........................................................................
41
5.3.2 URINÁLISE
.................................................................................................................
42
5.6 REVISÃO DE LITERATURA E DISCUSSÃO
...........................................................
44
6 CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS EM UM CÃO: RELATO DE CASO 48
6.3.1 HEMOGRAMA E BIOQUÍMICOS
..........................................................................
49
6.3.2 EVOLUÇÃO
................................................................................................................
50
7 INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA DIREITA EM UM CÃO: RELATO
DE CASO
.................................................................................................................................
56
7.3.2 ECOCARDIOGRAMA
...............................................................................................
58
7.3.3 ULTRASSONOGRAFIA
............................................................................................
58
7.5 REVISÃO DE LITERATURA E DISCUSSÃO
...........................................................
60
8 CONCLUSÃO
.............................................................................................................
64
9 REFERÊNCIAS
..........................................................................................................
65
ANEXO B – PRONTUÁRIO INTERNAMENTO
..............................................................
70
15
1 INTRODUÇÃO
O estágio curricular supervisionado em Medicina Veterinária é o
exato período de
transição entre o graduando e o profissional Médico Veterinário. A
possibilidade de colocar
em prática todos os conhecimentos teóricos adquiridos ao longo dos
anos é fundamental
para a subsequente introdução no mercado de trabalho.
O presente estágio foi realizado no Vet Plus Hospital Veterinário,
localizado na
cidade de Joinville (SC), nos setores de clínica, diagnóstico por
imagem e internação de
pequenos animais, durante o período de 22 de fevereiro à 29 de
abril de 2021, sob supervisão
do médico veterinário Dr. Fábio Magalhães, perfazendo uma carga
horária de 360 horas. A
escolha do local foi baseada na sua alta rotina clínica, ótima
infraestrutura e profissionais
especialistas em diversas áreas de atuação.
O relatório têm como principal objetivo descrever a estrutura e as
atividades
desenvolvidas no local de estágio, além de relatar a casuística
observada em cada setor
durante o período de estágio curricular supervisionado, bem como
três relatos de casos
acompanhados: Leptospirose em um canino, Carcinoma de células
escamosas em um cão e
Insuficiência cardíaca congestiva em um cão.
16
2 DESCRIÇÃO E ROTINA DO LOCAL DE ESTÁGIO
O Vet Plus Hospital Veterinário (Figura 1) localiza-se na cidade de
Joinville, no norte
do estado de Santa Catarina. O Vet Plus possuía atendimento 24
horas, dividido em turnos pelos
médicos veterinários, enfermeiros e estágiarios. O corpo clínico
era constituído por quartorze
veterinários, dos quais se dividiam em algumas especialidades:
oncologia, oftalmologia,
nefrologia, ortopedia e clínica geral. Outros sete médicos
veterinários realizavam trabalho
autônomo no local, onde prestavam serviços nas áreas de
cardiologia, dermatologia,
gastroentereologia e diagnóstico por imagem. O hospital também
possuía uma patologista
clínica responsável pelos exames laboratoriais.
Além dos médicos veterinários o hospital contava com 4 enfermeiras
que eram divididas
em turnos, além de estágiarios curriculares e estagiários
remunerados divididos em diversos
setores. Ainda faziam parte do corpo de funcionários do hospital;
um administrador, quatro
recepcionistas e três auxiliares de limpeza.
Figura 1 - Fachada do Vet Plus Hospital Veterinário.
Fonte: Vet Plus, 2019.
O Vet Plus Hospital Veterinário possuía três andares. O primeiro
andar era destinado a
recepção (Figura 2), sala de radiografia, sala de tomografia e
ultrassonografia, sala de vacinas
e sala de emergência. No segundo andar localizavam-se quatro
consultórios, um auditório e a
internação. Já no terceiro andar encontravam-se três salas de
cirurgia, sala de preparação
anestésica, sala de paramentação, sala de esterilização dos
materiais, laboratório de patologia
clínica e um escritório destinado à administração. Na parte de trás
do hospital localizavam-se a
cozinha, o estoque e o isolamento para doenças
infectocontagiosas.
17
Fonte: Vet Plus, 2019.
2.1 SETOR DE ATENDIMENTO CLÍNICO E ESPECIALIDADES
O setor de atendimento clínico contava com quatro consultórios
equipados com mesas
e computadores, mesa de procedimentos, cadeiras, lavatório para
higienização de mãos e
equipamentos básicos para atendimentos, como termômetro digital,
seringas, agulhas, otoscópio,
algodão, gaze e tubos para coleta de sangue (Figuras 3 e 4).
O software utilizado para o gerenciamento de dados dos pacientes
era o Doctorvet®,
onde os pacientes eram registrados na recepção e tinham seu
cadastro atualizado em cada
atendimento e exame, além de todo registro financeiro do
paciente.
Os atendimentos eram realizados por ordem de chegada ou podiam ser
agendados, com
exceção dos pacientes emergenciais, que possuíam prioridade. As
consultas iniciavam com a
anamnese, exposição da queixa principal em relação ao paciente e
posterior exploração do
histórico do paciente, referente ao tempo que os sinais clínicos
começaram a se manifestar, ao
tipo de ambiente que o paciente vive, histórico vacinal, controle
parasitário, sua alimentação e
convívio com outros animais. Posteriormente, era realizado o exame
físico do animal, com a
inspeção através de palpação geral e com a aferição dos parâmetros
fisiológicos (frequência
cardíaca, frequência respiratória, tempo de perfusão capilar,
coloração de mucosas, grau de
desidratação e temperatura retal). Após a avaliação detalhada do
paciente, caso necessário, eram
solicitados exames complementares e a possível indicação para
internação.
18
Com o objetivo de garantir maior segurança dentro do hospital e
evitar a contaminação
pela COVID-19, durante as consultas e procedimentos era pertimida a
entrada de somente um
tutor acompanhando o paciente.
Figura 3 - Consultório destinado à espécie felina do Vet Plus
Hospital Veterinário.
Fonte: Vet Plus, 2019.
Figura 4 - Consultório destinado à espécie canina do Vet Plus
Hospital Veterinário.
Fonte: Autor, 2021.
Além dos consultórios, o hospital também possuía uma sala destinada
exclusivamente
às vacinações (Figura 5), portando uma mesa de procedimentos, um
lavatório para higienização das
mãos, itens básicos como algodão, gaze, seringas e agulhas, um
computador e a geladeira onde as
vacinas eram armazenadas em temperatura controlada. Além de
realizar a imunização, o
médico veterinário orientava quanto aos protocolos de vacinação,
adequando-os a cada
paciente, além da condução quanto ao controle de ectoparasitas e
desvermifugações.
Figura 5 - Sala de vacinas do Vet Plus Hospital Veterinário.
Fonte: Autor, 2021.
2.2 SALA DE EMERGÊNCIA
Os pacientes que chegavam em emergência eram anunciados pelo código
00E11
através de caixas de som espalhadas por todos os setores do
hospital. O animal era
encaminhado diretamente para a sala de emergência, localizada no
primeiro andar do
estabelecimento. Ao sinal sonoro, médicos veterinários, enfermeiros
e estagiários
direcionavam-se imediatamente para a sala e realizavam a terapia de
emergência no paciente
de acordo com sua necessidade. O ambiente era equipado com duas
mesas de procedimento,
lavatório para higienização de mãos, balança, máquina de
tricotomia, armário com
medicamentos diversos, soluções para fluidoterapia, equipos,
catéteres, seringas, agulhas,
20
tubos de coleta, máscaras de oxigênio, cilindro de oxigênio,
traqueotubos, larigoscópio e
outros materiais necessários para a terapia emergencial.
Figura 6 - Sala de Emergência do Vet Plus Hospital
Veterinário.
Fonte: Autor, 2021.
2.3 SETOR DE INTERNAÇÃO
A internação do hospital era composta por duas salas, sendo a
primeira a internação
principal (Figura 7), onde eram internados somente os pacientes da
espécie canina. Ao lado
localizava-se o gatil, onde somente os pacientes felinos eram
intenados, e a entrada restringia-
se a três pessoas simultaneamente, afim de garantir silêncio e
evitar possível estresse dos
pacientes (Figura 8).
O canil era composto por 40 baias, bancada para procedimentos e um
computador onde
a médica veterinária responsável pelo setor possuía livre acesso
aos dados dos pacientes. Neste
21
ambiente também ficavam armazenados itens básicos para a rotina de
internação, como
seringas, agulhas, equipos, cateteres venosos, soluções
fisiológicas e medicações diversas.
Figura 7 - Internação destinada à espécie canina do Vet Plus
Hospital Veterinário.
Fonte: Vet Plus, 2019.
22
Figura 8 - Internação destinada à especie felina do Vet Plus
Hospital Veterinário.
Fonte: Autor, 2021.
No internamento, cada paciente possuía sua ficha de acompanhamento,
que era
mantida em frente a cada baia e era preenchida de acordo com as
ocorrêncais correspondentes
ao turno. Ficavam registradas informações sobre alimentação,
perdas, higiene e
comportamento do paciente (ANEXO A). A cada turno, os parâmetros
fisiológicos (FC, FR,
TR, PA, TPC, coloração de mucosas e grau de desidratação) de todos
os pacientes eram
avaliados, com prioridade para os pacientes críticos. Os dados
obtidos eram anexados em uma
ficha específica para os parâmetros, atualizadas em cada turno
(ANEXO B). O paciente
também possuía outra ficha que continha seu protocolo terapêutico,
onde ficavam descritas
suas medicações, dosagens e vias de administração, podendo ser
alteradas de acordo com a
necessidade do paciente.
O hospital ainda possuía dois setores de isolamento para doenças
infectocontagiosas.
O primeiro setor, localizado no segundo andar do prédio, era
exclusivo para pacientes com
parvovirose (Figura 9). Já o segundo setor, localizado na parte de
trás do hospital, era
destinado somente aos animais positivos para cinomose e contava com
4 baías, bombas e
infusão e equipamentos básicos de procedimentos próprios.
23
Figura 9 - Isolamento destinado aos pacientes com Parvorvirose do
Vet Plus Hospital Veterinário.
Fonte: Autor, 2021.
2.4 SETOR DE CIRURGIA E ANESTESIA
O setor de cirurgia ficava no terceiro andar e era composto pelos
blocos cirúrgicos
(Figura 10), sala de preparação anestésica (Figura 11) e sala de
paramentação. O hospital
contava com três blocos cirúrgicos. Eles possuíam uma mesa
cirúrgica, com monitor cardíaco,
aparelho de anestesia, fármacos e outros equipamentos necessários
para monitoração
anestésica. No setor, localizava-se uma antessala para realização
de escarificação e
paramentação. Também continha uma sala destinada a lavagem e
esterilização de todos os
materiais cirúrgicos utilizados. Para que o paciente pudesse
realizar a cirurgia com o máximo
grau de segurança, todos os animais eram submetidos a exames
pré-operatórios, como
hemograma, bioquímicos e eletrocardiograma. Outros exames eram
solicitados de acordo com
a necessidade do paciente. O médico veterinário responsável pela
internação expunha ao tutor
todos os riscos do procedimento cirúrgico e anestésico, além de
orientar sobre o jejum e os
cuidados pós-operatórios. Após os resultados favoráveis dos exames
e todas as orientações
repassadas, o tutor assinava um termo de ciência, concordando com
os riscos do procedimento.
Ao final da cirurgia, após extubação, todos os pacientes eram
encaminhados para o
internamento, onde eram monitorados até a sua recuperação
anestésica.
Figura 10 - Blocos cirúrgicos do Vet Plus Hospital
Veterinário.
Fonte: Autor, 2021.
Fonte: Autor, 2021.
Figura 11 - Sala de preparação anestésica do Vet Plus Hospital
Veterinário.
Fonte: Autor, 2021.
2.5 SETOR DE DIAGNÓSTICO POR IMAGEM
O Vet Plus contava com aparelho de raio-x digital e tomografia
camputadorizada
próprios, já os demais exames de imagem, como ultrassonografia,
ecocardiograma,
eletrocardiograma e endoscopia eram terceirizados e realizados por
médicos veterinários
autônomos nas instalações do hospital.
As imagens radiográficas eram realizadas pelos médicos veterinários
com auxílio
dos estagiários curriculares. As imagens eram feitas em uma sala
com aparelhagem própria
para o exame de acordo com as projeções solicitadas pelos médicos
veterinários
responsáveis (Figura 12).
Figura 12 - Setor de radiografia do Vet Plus Hospital
Veterinário.
Fonte: Vet Plus, 2019.
O exame de ultrassom era realizado no primeiro andar, por três
médicas veterinárias
ultrassonografistas, que revezavam suas escalas, mas compareciam
diariamente para o exame
de imagem. Os laudos ultrassonográficos saíam em um prazo máximo de
24 horas. A sala de
tomografia computadorizada (TC) localizava-se no primeiro andar e
dividia-se em dois
ambientes. No primeiro, que possuía maior espaço físico, situava-se
o aparelho de tomografia
(Figura 13). No ambiente ao lado, dois computadores controlavam o
aparelho e recebiam as
imagens, além de servir como proteção dos funcionários durante a
realização do exame. Para
realizar o exame, os animais eram anestesiados por uma médica
veterinária anestesista e
monitorados pela mesma quando necessário, antes, durante e após o
procedimento.
27
Figura 13 - Sala de tomografia computadorizada do Vet Plus Hospital
Veterinário.
Fonte: Vet Plus, 2019.
2.6 LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS
O laboratório de análises clínicas se localizava no terceiro andar
(Figura 14). No local,
eram realizados os exames hematológicos, bioquímicos,
hemogasometria, citologia, urinálise e
parasitológico de fezes. Os demais exames que não eram realizados
no local, eram encaminhados para
laboratórios terceirizados da região.
Figura 14 - Sala de análises clínicas do Vet Plus Hospital
Veterinário.
Fonte: Vet Plus, 2019.
3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
O estágio curricular obrigatório teve início no dia 22 de fevereiro
e foi finalizado no dia
29 de abril de 2021, totalizando 45 dias e 360 horas de atividades,
distribuídas em 8 horas
diárias, de segunda à sexta-feira.
No decorrer do estágio, o acadêmico acompanhou a rotina clínica, de
internação e o
setor de diagnóstico por imagem. Na clínica, realizava o
acompanhamento de consultas e
reavaliações, auxiliando na avaliação prévia dos parâmetros
fisiológicos dos pacientes. Já no
setor de internamento, o acadêmico realizava a alimentação dos
pacientes, aferição de
parâmetros fisiológicos, contenção dos pacientes para realização de
exames, acesso venoso,
coleta de sangue, procedimentos ambulatoriais e acompanhava a
evolução dos animais e os
protocolos terpêuticos instituídos pelo médico veterinário
responsável. Outras atividades, como
a discussão dos casos clínicos acompanhados, elaboração de
protocolos terapêuticos e
receituários também eram realizadas de forma esporádica.
No setor de diagnóstico por imagem, o estagiário era responsável
pelo deslocamento
dos animais internados para realização do exame nas salas de
radiografia, ultrassonografia e
tomografia, respectivamente. Colaborava com a realização de
projeções radiográficas,
preparação dos pacientes para tomografia e acompanhava a rotina
ultrassonográfica
diariamente, discutindo sobre as alterações observadas após a
conclusão dos referidos exames.
30
A casuística correspondente ao período de estágio supervisionado
está descrita na
Tabela 1, sendo dividida entre consultas, reavaliações,
internamentos, atendimentos
emergenciais, exames de imagem, coletas de amostras biológicas e
outros procedimentos
(limpeza de feridas, trocas de curativos, eutanásias, drenagens
torácicas, drenagens abdominais,
coletas de líqudor e drenagem de pericárdio).
Tabela 1 - Distribuição das atividades acompanhadas no Vet Plus
Hospital Veterinário
durante o período entre 22 de fevereiro e 29 de abril de
2021.
Tipo de Atividade Total %
Emergências 22 4,44%
Outros procedimentos 22 4,44%
31
No presente trabalho, foram classificados como pacientes
emergenciais todos aqueles
que necessitavam de intervenção imediata.
Tabela 2 - Distribuição de atendimentos emergenciais atendidos no
Vet Plus Hospital
Veterinário durante o período entre 22 de fevereiro e 29 de abril
de 2021.
Emergência Canina Felina Total %
Atropelamento/Trauma 4 2 6 27,27%
Acidente Ofídico 1 0 1 4,55%
Dispneia 3 2 5 22,73%
Intoxicação 1 0 1 4,55%
Parada Cardiorrespiratória 3 0 3 13,64%
Paralisia de Laringe 1 0 1 4,55%
Picada de Inseto 2 0 2 9,09%
Afogamento 1 0 1 4,55%
Total: 18 4 22 100,00%
Fonte: Elaborado pelo autor (2021)
32
Na rotina de diagnóstico por imagem, foram acompanhados exames de
ultrassonografia,
radiografia, ecocardiograma, tomografia computadorizada e
endoscopia. De acordo com o
gráfico abaixo (Gráfico 1), as ultrassonografias foram os exames de
maior casuística no presente
estágio, perfazendo um total de 64% de todos os casos, seguidos
pelos exames radiográficos com
14%, ecoardiogramas 10, tomografias 8%, e, por fim, as endoscopias
com somente 4%.
Gráfico 1 - Distribuição dos exames de imagem acompanhados no Vet
Plus Hospital
Veterinário durante o período entre 22 de fevereiro e 29 abril de
2021.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.
80
18
12
10
5
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Ultrassonografia
Radiografia
Ecocardiograma
Tomografia
Endoscopia
4.3 CASUÍSTICA DO SETOR DE INTERNAMENTO
No setor de internamento, foram acompanhados 147 animais. No
presente relatório, os
animais internados foram classificados de acordo com os sitemas e
especialidades acometidas
(Gráfico 2), e correspondem aos pacientes que o acadêmico pôde
acompanhar sua evolução de
forma pacial ou total. Pacientes internados para recuperação de
pós-operatório não foram
inclusos nos dados.
Gráfico 2 - Casuística de especialidades e sistemas acometidos na
internação do Vet Plus
Hospital Veterinário durante o período entre 22 de fevereiro e 29
de abril de 2021.
Fonte: Elaborado pelo autor (2021).
2
6
26
3
12
4
22
16
11
5
14
7
7
12
Auditivo
Cardiovascular
Digestório
Endócrino
Geniturinário
Intoxicação
Infecciosas
Musculoesquelético
Nervoso
Oftálmico
Oncológico
Reprodutivo
Respiratório
Tegumentar
Na rotina clínica, foram acompanhadas 56 consultas/reavaliações. Os
pacientes foram
classificados de acordo com a especialidade e o sistema acometido,
distruibuindo-se em:
cardiovascular, endócrino, gastrointestinal, geniturinário,
infeccioso, musculoesquelético,
oftálmico, oncológico, reprodutor, respiratório e tegumentar.
Gráfico 3 - Número de casos por especialidades e sistemas
acometidos na rotina clínica do
Vet Plus Hospital Veterinário durante o período entre 22 de
fevereiro e 29 de abril de 2021.
Fonte: Elaborado pelo autor (2021).
De acordo com o gráfico acima, o sistema grastrointestinal obteve a
maior casuística na
rotina clínica, correspondendo à 17,86% de todos os casos. Por
outro lado, o sistema reprodutor
foi o menos frequente dentre os atendimentos clínicos acompanhados.
Abaixo, serão
apresentadas em tabelas todas as afecções acompanhadas na clínica
médica, de acordo com seu
respectivo sistema e/ou especialidade.
Cardiovascular
Digestório
Endócrino
Urinário
Musculoesquelético
Ocular
Reprodutor
Respiratório
Tegumentar
Infectocontagiosas
Oncológicas
4.4.1 Casuística Clínica das Afecções do Sistema
Cardiovascular
Tabela 3 - Casuística clínica do sistema cardiovascular acompanhada
no Vet Plus Hospital
Veterinário durante o período entre 22 de fevereiro e 29 de abril
de 2021.
Fonte: Elaborado pelo autor (2021).
4.4.2 Casuística Clínica das Afecções do Sistema Digestório
Tabela 4 - Casuística clínica do sistema digestório acompanhada no
Vet Plus Hospital
Veterinário entre o período de 22 de fevereiro e 29 de abril de
2021.
Afecção Canina Felina Total %
Colite 1 0 1 10,00% Gastroenterite 3 0 3 30,00% Ingestão de Corpo
Estranho 1 1 2 20,00% Pancreatite 2 0 2 20,00%
Periodontite 2 0 2 20,00%
Total: 9 1 10 100,00% Fonte: Elaborado pelo autor (2021).
4.4.3 Casuística Clínica das Afecções do Sistema Endócrino
Tabela 5 - Casuística clínica do sistema endócrino acompanhada no
Vet Plus Hospital
Veterinário entre o período de 22 e 29 de abril de 2021.
Afecção Canina Felina Total %
Afecção Canina: Felina: Total: %
Total: 3 0 3 100,00%
36
4.4.4 Casuística Clínica das Afecções do Sistema Urinário
Tabela 6 - Casuística clínica do sistema endócrino acompanhada no
Vet Plus Hospital
Veterinário entre o período de 22 de fevereiro e 29 de abril de
2021.
Fonte: Elaborado pelo autor (2021).
4.4.5 Casuística Clínica das Afecções do Sistema
Musculoesquelético
Tabela 7 - Casuística clínica do sistema musculoesquelético
acompanhada no Vet Plus
Hospital Veterinário entre o período de 22 de fevereiro e 29 de
abril de 2021.
Afecção Canina Felina Total %
Luxação de Patela 1 0 1 16,67%
Total: 6 0 6 100,00%
Fonte: Elaborado pelo autor (2021).
4.4.6 Casuística Clínica das Afecções do Sistema Ocular
Tabela 8 - Casuística clínica do sistema ocular acompanhada no Vet
Plus Hospital Veterinário
entre o período de 22 de fevereiro e 29 de abril de 2021.
Afecção Canina Felina Total %
Florida Spots 1 0 1 25,00%
Meibomite 1 0 1 25,00%
Úlcera Indolente 1 0 1 25,00%
Total: 4 0 4 100,00%
Fonte: Elaborado pelo autor (2021).
Afecção Canina Felina Total %
Doença Renal Crônica 1 0 1 20,00%
Injúria Renal Aguda 1 0 1 20,00%
Total: 3 2 5 100,00%
37
4.4.7 Casuística Clínica das Afecções do Sistema Reprodutor
Tabela 9 - Casuística clínica do sistema reprodutor acompanhada no
Vet Plus Hospital
Veterinário entre o período de 22 de fevereiro e 29 de abril de
2021.
Afecção Canina Felina Total %
4.4.8 Casuística Clínica das Afecções do Sistema Respiratório
Tabela 10 - Casuística clínica do sistema respiratório acompanhada
no Vet Plus Hospital
Veterinário entre o período de 22 de fevereiro e 29 de abril de
2021.
Afecção Canina Felina Total %
4.4.9 Casuística Clínica das Afecções do Sistema Tegumentar
Tabela 11 - Casuística clínica do sistema tegumentar acompanhada no
Vet Plus Hospital Veterinário
entre o período de 22 de fevereiro e 29 de abril de 2021.
Afecção Canina Felina Total %
Abscesso por Mordedura 0 1 1 16,67% Otite 3 0 3 50,00%
Picada de Inseto 2 0 2 33,33%
Total: 5 1 6 100,00%
Fonte: Elaborado pelo autor (2021).
38
Tabela 12 - Casuística clínica das afecções infectocontagiosas
acompanhadas no Vet Plus
Hospital Veterinário entre o período de 22 de fevereiro e 29 de
abril de 2021.
Afecção Canina Felina Total %
4.4.11 Casuística Clínica das Afecções Oncológicas
Tabela 13 - Casuística clínica das afecções oncológicas
acompanhadas no Vet Plus Hospital
Veterinário durante o período de 22 de fevereiro à 29 de abril de
2021.
Afecção Canina Felina Total %
Linfoma Alimentar 0 1 1 11,11%
Linfoma Mediastinal 0 1 1 11,11%
Lipoma 1 0 1 11,11%
Melanoma Oral 1 0 1 11,11%
Neoplasia mamária 2 1 3 33,33%
Tricoblastoma 1 0 1 11,11%
Total: 6 3 9 100,00%
Fonte: Elaborado pelo autor (2021).
39
5.1 RESENHA
Paciente canino, macho, não castrado, da raça shih tzu, com 4 anos
e 10 meses de
idade, pesando 7,5 kg.
5.2 HISTÓRICO, ANAMNESE E EXAME FÍSICO
Tutor relatou que observou alguns ratos dentro do pote de ração do
animal há alguns
dias. Uma semana após este episódio, percebeu que o animal estava
ictérico e trouxe ao
hospital veterinário. Paciente apresentava icterícia acentuada na
pele, esclera e mucosas.
Encontrava-se prostrado e não estava se alimentando e nem fazendo
ingesta de água há um
dia. Com exceção da temperatura retal (39,6 ºC), os demais
parâmetros fisiológicos estavam
dentro dos respectivos valores de referência. Após correlação da
avaliação clínica com o
histórico do paciente, suspeitou-se de leptospirose canina. Sendo
assim, solicitaram-se exames
de sangue (hemograma e biquímica sérica), urinálise, PCR, sorologia
e a internação do
paciente.
Figura 15 - Paciente canino com icterícia generalizada. A: Pele. B:
Pênis. C: Esclera.
A B
5.3 TRATAMENTO E EVOLUÇÃO
Na internação, paciente realizou coleta de sangue, coleta de urina
para posterior
urinálise e foi sondado para avaliação de débito urinário. Seus
parâmetros fisiológicos eram
monitorados frequentemente e todos os profissionais envolvidos no
tratamento foram
orientados a realizar a manipulação do paciente com luvas de
procedimento. Foi instituído um
protocolo de tratamento com Ampicilina (22 mg/kg, a cada 12 horas,
IV), Omeprazol (1 mg/kg,
a cada 12 horas, IV), Ondansetrona (05 mg/kg, a cada 8 horas, IV),
Dipirona (25 mg/kg, a cada
8 horas, IV) e Acetilcisteína (10 mg/kg, a cada 8 horas, IV).
Tabela 14 - Protocolo Terapêutico instituído durante o primeiro dia
de internamento.
FÁRMACO HORÁRIO DOSE VIA
Ringer lactato Infusão contínua 15 ml/h
Intravenosa
C
41
Ao analisar os resultados dos exames sanguíneos, o eritrograma
apresentava-se dentro
dos valores de referência. Em contrapartida, o paciente possuía
alterações importantes no
leucograma (Tabela 15). Observou-se acentuada leucocitose com
neutrofilia madura,
linfocitose e monocitose.
ERITROGRAMA RESULTADO REFERÊNCIA
Contagem de plaquetas 290 150-500
Observações Soro e Plasma ictéricos (+++).
Fonte: Autor. Vet Plus (2021).
Os exames bioquímicos envidenciaram o aumento de ALT (245 U/L),
uréia (163
mg/dL), FA (1.352 U/L), GGT (24,3 U/L), AST (122 U/L), globulina
(5,4 g/dL) e bilirrubinas
totais (61,15 mg/dL) (Tabela 16).
42
Tabela 16 - Exames bioquímicos referentes ao paciente do relato
1.
BIOQUÍMICA SÉRICA RESULTADO REFERÊNCIA
ALT (U/L) 245 10-90
Creatinina (mg/dL) 0,5 0,5-1,4
Ureia (mg/dL) 163 10-40
GGT (U/L) 24,3 0-10
Albumina (g/dL) 2,6 2.7-4.5
Globulina (g/dL) 5,4 1.9-3,4
AST (U/L) 122 10-88
5.3.2 Urinálise
De acordo com a análise física, o paciente apresentava urina de
coloração alaranjada e
com presença de precipitados. Na análise química, constatou-se a
presença de proteínas,
hemoglobinas e bilirrubinas. Já na sedimentoscopia, não foram
observadas alterações.
Tabela 17 - Urinálise referente ao paciente do relato 1.
EXAME FÍSICO RESULTADO REFERÊNCIA
5.4 EVOLUÇÃO
No segundo dia de internamento, o paciente apresentou-se prostrado,
apático e com
febre discreta. Animal permanecia em fluidoterapia com Ringer
lactato (15 ml/h) e mantinha
sua produção urinária dentro da normalidade.
Na manhã do terceiro dia de internamento, paciente teve uma parada
cardiorespiratória.
Todas as manobras necessárias a fim de reanimá-lo foram realizadas.
No entanto, o paciente
veio à óbito. Durante o processo de ressuscitação cardio cérebro
pulmonar (RCCP) foi possível
visualizar bastante conteúdo sanguinolento sendo excretado através
do tubo endotraqueal.
5.5 DIAGNÓSTICO
5.5.1 PCR e Soroaglutinação
Alguns dias após o óbito do paciente, o diagnóstico de leptospirose
foi confirmado
através do PCR da urina e sangue total. Já a soroaglutinação
apresentou-se reagente para o
sorovar Leptospira icterohaemorragiae, com titulação de
1:200.
44
5.6 REVISÃO DE LITERATURA E DISCUSSÃO
Em meados do século XIX, na Alemanha, a Leptospirose foi descrita
pela primeira vez
como uma síndrome clínica. A partir daí, o surgimento exponencial
de novos casos em toda a
Europa demonstrou a ampla distribuição da doença (BARTHI et al.;
2003).
A leptospirose é uma zoonose causada por bactérias do gênero
Leptospira, dividindo-
se em duas espécies: a Leptospira biflexa, que contém cepas
saprofíticas isoladas no ambiente,
e a Leptospira interrogans, de alta patogenicidade e que possui
maior importância na clínica
médica de pequenos animais (KNOPFLER, S. et al., 2017).
As bactérias são flexíveis, finas, filamentosas e possuem
extremidades em formato de
gancho. Sua estrutura é definida por um cilindro citoplasmático
envolto por membrana interna
que recobre o filamento axial central. O cilindro interno e o
filamento axial são recobertos por
uma membrana externa, composta de lipolissacarídeos (LPS). Estes,
são caracterizados por
diversas lipopoliproteínas antigênicas e proteínas transmembrana e
sua composição química
varia de acordo com o o sorovar (JERICÓ et al., 2014).
São denominados sorovares os microrganismos antigenicamente
distintos frente aos
diferentes carboidratos dos LPS da membrana externa. Estima-se que
existam mais de 250
sorovares, dos quais, também podem ser classificados dentro de
sorogrupos. Estes, são
denominados os sorovares que possuem antígenos comuns (GREENE,
2015). Todas essas
variações sorológicas são definidas através de aglutinação após
absorção cruzada com o
antígeno homólogo (COUTO et al., 2015; JERICÓ et al., 2014).
No Brasil, a leptospirose é considerada uma doença endêmica que se
torna epidêmica
nos períodos chuvosos, visto que o aumento da sua incidência
associa-se historicamente com
índices pluviométricos elevados (FRIOCRUZ, 2015). Segundo Gaynor et
al. (2007), os surtos
da doença geralmente antecedem épocas chuvosas ou eventos
climáticos extremos. No entanto,
não existem dados significativos que avaliem se as formas
assintomáticas ou subclínicas da
doença seguem este mesmo padrão.
Roedores, animais silvestres e bovinos são os reservatórios mais
importantes da
leptospirose, sendo considerados hospedeiros naturais de
manutenção. Desse modo, raramente
desenvolvem os sinais clínicos importantes da infecção, mas
excretam leptospira através da
urina. Assim, contaminam o ambiente e possíveis hospedeiros
acidentais, como os animais
domésticos (COUTO et al., 2015; JERICÓ et al., 2014).
Após entrar em contato contato com lesões na pele ou mucosa intacta
do hospedeiro
45
susceptível, as espiroquetas – nome denominado às bactérias – se
espalham pela corrente
sanguínea, dando início a fase de leptospiremia, e, apesar de
predileção por tecidos hepáticos e
renais, replicam-se rapidamente de forma sistêmica (SCHULLER et
al., 2015). As lesões em
múltiplos órgãos são amplificadas através do envolvimento de
fatores tóxicos presentes nas
espiroquetas e da ação de citocinas inflamatórias que são
produzidas em resposta à infecção
(JERICÓ et al., 2014).
Os sinais clínicos desenvolvem-se cerca de sete dias após a
exposição do hospedeiro
para com o agente. O animal infectado pode apresentar hipertermia,
apatia, anorexia, vômito,
hiperestesia muscular, icterícia e coagulopatias. Estes sinais
variam conforme o estado
imunológico do paciente, sua idade e a virulência do sorovar
(CASTRO, J. et al., 2011). No
presente relato, o cão apresentava anorexia, apatia, disfagia,
febre e uma icterícia acentuada.
Esta icterícia é resultado da intensa lesão hepatocelular,
geralmente associada à colestase intra-
hepática (HAGIWARA, 2015). No entanto, é importante salientar que o
dano hepático grave é
variável e dependente do sorovar infectante. De modo geral, após a
fase de leptospiremia – que
dura em torno de 10 dias – as leptospiras são depuradas do
parênquima hepático, findando a
icterícia em poucos dias (ETTINGER e FELDMAN, 2005; JERICÓ et al.,
2014). Greene
(2015), ressalta que os animais acometidos pelos sorovares
Icterohaemorrhagie e Pomona
tendem à desenvolver doença hepática grave.
Entre os achados no eritrograma observados em pacientes com
leptospirose, incluem-se
trombocitopenia e anemia. O paciente relatado, por sua vez, não
apresentou nenhuma dessas
alterações laboratoriais. Um estudo realizado por Collantes et al.
(2016), demonstrou que mais
da metade dos animais contaminados com leptospirose não possuíam
alterações plaquetárias,
corroborando com os achados deste caso. Na série branca, espera-se
a presença de leucopenia
discreta na fase incial da doença. Todavia, na fase aguda o animal
infectado evolui para
leucocitose acentuada (JERICÓ et al., 2014).
O dano hepático citado no presente relato é um achado recorrente na
leptospirose
canina, e, em âmbito laboratorial, se caracteriza pelo aumento dos
niveís séricos de alguns
marcadores bioquímicos, como a ALT, FA, AST e a concentração de
bilirrubina.
(ETTINGER; FELDMAN, 2005). Neste caso, todos estes marcadores
estavam
consideravelmente aumentados. Grenner (2015) afirma que o aumento
da atividade da FA é
frequentemente proporcionalmente maior do que o da atividade de
ALT, corroborando com
os achados do respectivo relato. A hiperbilirrubinemia é
proporcional ao grau de
comprometimento hepático, e geralmente alcança seu pico máximo de 6
à 8 dias após o início
da infecção.
Em contrapartida, as concentrações séricas de creatinina e ureia
estão diretamente
relacionadas com a gravidade da lesão renal (COUTO et al., 2015). A
sintetização da ureia
pelo fígado decorre do catabolismo proteico e a creatinina é
originada através do metabolismo
muscular. Ambas são secretadas pela urina após o processo de
filtração glomerular (KLEIN,
2014). No entanto, reconhece-se que a creatinina sofre menor
influência de fatores extra-
renais, tornando-se um marcador mais fidedigno da taxa de filtração
glomerular (TFG)
(FREIRE et al., 2008). No presente relato, o paciente não obteve
alterações em creatinina,
entretanto, demonstrou um aumento acentuado nos níveis de ureia. Um
estudo de Freire et al.
(2008), realizou a testagem de 120 amostras séricas de cães com
títulos reagentes para o
sorovar Icterohaemorrhagie e as encaminhou para dosagens
bioquímicas. Os 120 soros com
títulos perante amostras icterohaemorrhagie foram classificados em
três grupos distintos de
acordo com a sua titulação. Dentre os animais com títulos acima de
200, 73,9% aprensentavam
elevação na ureia e 67% na creatinina. Entre os animais do nomeado
grupo 2, com títulos entre
200 e 400, 30,15% apresentou dosagens normais de creatinina. Os
resultados obtidos
demonstraram que nem todos os animais com títulos reativos para
leptospirose apresentaram
danos renais significativos.
Dentre os outros achados bioquímicos do paciente relatado,
evidencia-se a elevação de
globulinas e uma discreta hipoalbuminemia. A diminuição de albumina
pode ser observada na
fase aguda da doença e está associada à desidratação, assim como a
hiperglobulinemia
(JERICÓ et al., 2014).
As alterações na urinálise comumente incluem bilirrubinúria,
proteinúria, glicosúria e
números elevados de cilindros e eritrócitos (LANGSTON; EUTER,
2013). Neste caso, a
densidade urinária apresentou-se dentro dos valores de referência.
Também verificou-se a
presença de bilirrubina, hemoglobina e proteínas.
Diferentes técnicas podem ser utilizadas no diagnóstico da doença.
Contudo, a
Organização Mundial de Saúde (OMS) utiliza, como técnica padrão, a
soroaglutinação
microscópica (SAM). A técnica compreende em reagir diluições do
soro do animal com
leptospiras vivas para a detecção de anticorpos aglutinantes. Dessa
forma, o exame indica o
provável sorogrupo infectante. Amostras que obtiverem título igual
ou maior do que 100 são
consideradas sororeativas (BLANCO et al., 2015; EMÍDIO et al.,
2020; SCHULLER et al.,
2015). A Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) é outro método
importante para a
confirmação da infecção. A técnica consiste na amplificação de
fragmentos de DNA do agente
infeccioso, realizando a detecção do material genético. Alguns
estudos sugerem que possui
47
maior sensibilidade e especificidade em relação à soroaglutinação.
Apesar disso, a utilização
na rotina clínica confronta com seu custo elevado e a necessidade
de alta tecnologia (MOTA
et al., 2020). O sangue com anticoagulante e a urina são os
materiais biológicos de escolha
para a execução do exame. No entanto, em quadros iniciais, isto é,
quando ainda não há
replicação renal, a amostra urinária pode trazer resultados pouco
fidedignos (GREENE, 2015).
No caso relatado, ambos os materiais biológicos foram enviados para
o laboratório, visto que
não era possível precisar o momento em que a infecção se
encontrava.
O tratamento da doença consiste na associação entre antimicrobianos
e terapia de
suporte corretas. A antibioticoterapia deve ser instituída de forma
imediata, logo que definida
a suspeita diagnóstica. As Penicilinas são os antibióticos de
escolha, pois agirão na redução
da fase leptospirêmica (JERICÓ et al., 2015). Após a esperada
melhora na condição clínica
do paciente, indica-se a substituição do antibiótico inicial pela
doxicilina, por via oral. Ela
promove a eliminação eficiente das leptospiras do tecido renal,
eliminando o estado de
portador (SILVA et al., 2018). O paciente mencionado iniciou seu
protocolo terapêutico com
Ampicilina (22 mg/kg), duas vezes ao dia, por via intravenosa.
Outras medicações foram
utilizadas para a realização da terapia de suporte, bem como a
administração de fluído para
correção do equilíbrio hídrico. No entanto, devido à disfagia, a
adição da doxicilina no
tratamento não pôde ser efetuada.
O prognóstico torna-se favorável para os animais tratados
precocemente com a
antibioticoterapia e o tratamento de suporte adequados. Entretanto,
os casos que desenvolvem
alterações respiratórias são considerados de prognóstico ruim
(COUTO et al., 2015). Neste
relato, o animal veio à óbito no terceiro dia de tratamento, após
uma parada cardiorespiratória.
A quantidade de conteúdo sanguinolento expelido pela cavidade oral
através do tubo
endotraqueal – utilizado na intubação do paciente – sugere que a
morte tenha ocorido em
decorrência de hemorragia pulmonar. Schuller et al., (2015) destaca
a gravidade da Síndrome
Pulmonar Hemorrágica por Leptospirose (LPHS), relatando que os
pacientes acometidos
tendem à desenvolver hemorragia pulmonar maciça, levando ao óbito
precoce. A patogênese
da LPHS ainda gera controvérsia, mas diferentes estudos sugerem um
envolvimento
multifatorial que precisa ser melhor elucidado (SCHULLER et al.,
2015).
48
6 CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS EM UM CÃO: RELATO DE CASO
6.1 RESENHA
Paciente canina, fêmea, bulldog francês, com 11 anos de idade e
pesando 12 kg.
6.2 HISTÓRICO, ANAMNESE E EXAME FÍSICO
Tutor relatou que há alguns dias ofereceu um osso para a paciente e
observou uma
pequena quantidade de sangue no mesmo. Ao inspecionar a boca,
verificou a região
avermelhada. Tutor não relatou mais nenhuma alteração. No exame
físico, paciente
apresentava mucosas normocoradas, hidratação e temperatura corporal
normais e tempo de
preenchimento carpilar menor que 2 segundos. Durante inspeção
bucal, visualizou-se lesão
em gengiva, na maxila esquerda, adjacente aos dentes pré-molares.
Posteriomente,
solicitaram-se exames de sangue (hemograma e bioquímicos) e
encaminhamento para um
médico veterinário odontologista para melhor avaliação e
acompanhamento do caso.
Figura 16 - Lesão oral referente ao paciente do relato 2.
Fonte: Autor (2021).
6.3.1 Hemograma e bioquímicos
O eritrograma e o leucograma apresentaram-se dentro dos valores de
referência
estabelecidos. Os exames bioquímicos evidenciaram
hiperglobulinemia.
Tabela 18 - Hemograma referente ao paciente do relato 2.
ERITROGRAMA RESULTADO REFERÊNCIA
50
Tabela 19 - Exame bioquímico referente ao paciente do relato
2.
BIOQUÍMICOS RESULTADO REFERÊNCIA
Albumina (g/dL) 2,7 2.7-4,5
Globulina (g/dL) 4,8 1,9-3,4
6.3.2 Evolução
A paciente realizou a consulta com a médica veterinária
odontologista cerca de 15 dias
após a primeira avaliação, e, durante esse período, tutor observou
o crescimento acentuado de
uma massa na região. No mesmo dia, a paciente realizou uma
radiografia bucal, onde se
constatou formação em cavidade oral com presença de lise óssea em
maxila esquerda. A partir
desses dados, a especialista solicitou a realização de uma extração
dentária e biópsia da região,
além do encaminhamento para uma médica veterinária oncologista.
Enquanto o resultado da
biópsia não havia sido liberado, paciente passou por consulta com
oncologista, que solicitou a
realização de tomografia para observação da extensão da
formação.
Figura 17 - Formação oral, em maxila esquerda, 15 dias após a
primeira consulta do paciente
do relato 2.
Fonte: Autor (2021)
6.3.3 Tomografia
No exame de imagem, foram visualizados sinais de destruição óssea
dos
etmoturbinados em cavidade nasal, em meato médio, e,
principalmente, acometendo a região
ventral na altura do canino maxilar, com lise em osso alveolar.
Também observou-se formação
com aspecto de massa, com projeção para região infrabulbar, e
sinais de destruição do osso
incisivo ao lado esquerdo da lâmina perpendicular do osso palatino.
Os achados tomográficos
foram compatíveis com neoplasia nasomaxilar esquerda, com
acometimento de estruturas
adjacentes.
6.3.4 Histopatológico
A biópsia foi encaminhada para análise em um laboratório na cidade
de São Paulo
(SP), e seu resultado foi liberado somente 14 dias após o
procedimento. Foi recebido um
fragmento medindo 1,0 x 0,5 x 0,4 cm, irregular, castanho escuro e
com aspecto firme ao
corte. Os resultados evidenciaram uma proliferação de provável
caráter hiperplásico,
entretanto, recomendou-se uma nova biópsia aprofundada, visto que
as estruturas
coletadas foram insuficientes para um diagnóstico preciso.
6.3.5 Segundo Histopatológico
Com um intervalo de 5 dias após os resultados da primeira biópsia,
a paciente realizou
um novo procedimento, desta vez, com a médica veterinária
oncologista, no Vet Plus
Hospital Veterinário. Foram retirados 6 fragmentos irregulares
medindo até 0,7 cm de
diâmetro, macios e possuindo coloração parda. Os resultados
demonstraram uma proliferação
extensa, infiltrativa e não delimitada, composta por múltiplos
cordões de ilhas de células
poliédricas. Ao centro dessas ilhas, células de formato arredondado
amplo com citoplasma
fortemente eosinofílico, caracterizando a diferenciação escamosa.
Também foram
observadas 4 mitoses em 10 campos de alta magnificação. O exame
histopatológico
diagnosticou a amostra como carcinoma de células escamosas.
52
Após os resultados apresentados no exame histopatológico, a
paciente retornou para a
oncologista. Na consulta, o tutor foi orientado a respeito dos
ciclos de quimioterapia e deu
início a primeira sessão 4 dias após o diagnóstico de carcinoma. O
animal chegou pela manhã
ao Vet Plus Hospital Veterinário, em jejum sólido e hidríco.
Posteriomente, foi realizado
acesso venoso e utilizado Doxirrubicina 10 mg diluída em 50 ml de
NaCl 0,9% IV com duração
de 30 minutos. A paciente se manteve estável durante e após a
sessão. Foi prescrito para o
tratamento em casa Dipirona 250 mg, Cloridrato de Tramadol 12 mg,
Ondansentrona 5 mg/ml
e solicitou-se a manipulação de Ômega, administrado uma vez ao dia
continuamente. Também
foram realizadas algumas orientações, tais como como manter o
fornecimento de água a
vontade, observar-se o animal faz ingestão alimentar normalmente e,
em caso de qualquer
alteração entrar em contato imediato com a médica veterinária
responsável.
Sete dias após o primeiro ciclo de quimioterapia, o animal retornou
ao hospital. Tutor
relatou observar uma acentuada prostração nos últimos dias. Foi
coletado sangue do paciente
para a realização de um novo hemograma, que obteve resultados
positivos, sem quaisquer
alterações significativas. No entanto, foi adicionada à prescrição
do paciente Gabapentina 60
mg, duas vezes ao dia.
Os dados referentes ao segundo ciclo quimioterápico, que ocorreria
em um intervalo
de 21 dias, e os demais desdobramentos da paciente não foram
acompanhados devido ao
encerramento do período de estágio curricular obrigatório.
.
6.4 REVISÃO DE LITERATURA E DISCUSSÃO
O carcinoma de células escamosas (CCE) é uma neoplasia maligna dos
queratinócitos e é
considerada uma alteração oncológica comum em caninos. Se
caracteriza como uma formação em
epitélio cutâneo localmente agressiva (DALECK et al., 2016; ROSOLEM
et al., 2012). As lesões
podem manifestar-se de duas formas distintas. Na primeira, o
paciente pode apresentar lesões com
aspecto proliferativo, hiperêmico e que sangram com facilidade. Na
segunda, entretanto, as lesões
possuem aspecto ulcerativo, crostoso e iniciam de forma superficial
(MILLER et al., 2013). Neste
relato, o padrão de lesão proliferativa foi compatível com as
características clínicas e morfológicas
do respectivo animal.
O CCE possui crescimento lento e uma baixa taxa de metástase.
Quando ocorre, geralmente
leva ao acometimento de estruturas regionais, como pele e
linfonodos próximos. Apesar de serem
menos frequentes, as metástases ósseas e pulmonares não podem ser
descartadas (DALECK et al.,
2016). No caso em questão, sinais de destruição óssea foram
evidenciados em estrutura maxilar
esquerda, com acometimento de estruturas adjacentes.
Entre as regiões corporais mais acometidas pelo CCE, estão os
dígitos, cabeça, abdômen,
membros torácicos e membros pélvicos. Cães que apresentam a pelagem
branca e pele pouco
pigmentada possuem maior propensão para desenvolver a doença,
principalmente se fazem exposição
solar inadequada (ROCHA et al., 2010; COUTO et al., 2015).
O excesso de radiação ultravioleta origina diversas reações
fotoquímicas. Estas, ativam vias
inflamatórias, acometem o sistema imunológico e lesam o DNA. Essa
sequência de eventos impedem
a reparação adequada do DNA e levam à mutação de genes reguladores,
contribuindo para a expansão
de células cancerígenas. Desse modo, os queratinócitos podem
progredir para o estado de queratose
actínica. Estas, se caracterizam por lesões pré-neoplásicas,
representadas por estes eventos
cumulativos de radiação solar excessiva. Os papilomavírus também
podem ser um fator contribuinte
para a transformação neoplásica dos queratinócitos. Assim como os
raios ultravioletas, possuem ação
nos processos de mutação de células susceptíveis, principalmente em
animais imunossuprimidos
(STOCKFLETH et al., 2006; SCHNEIDER et al., 2021).
O diagnóstico presuntivo da doença é baseado através da correlação
entre o exame físico, a
inspeção e a palpação da neoplasia. O hemograma e a bioquímica
sérica são importantes para mais
informações sobre o estado clínico geral do respectivo paciente. Já
o exame radiográfico é necessário
para verificar a existência de envolvimento ósseo. No caso em
estudo, através da radiografia foi
possível avaliar a presença de lise óssea importante e direcionar
os passos subsequentes. Daleck et
54
al. (2016), evidencia que a lise óssea não estará radiograficamente
evidente até que 40% do córtex
esteja destruído.
No entanto, a confirmação diagnóstica se dá através da
histopatologia (COUTO, 2015). Os
achados histopatológicos da paciente evidenciaram proliferação
extensa, infiltrativa e não delimitada,
composta por variados cordões de ilhas de células poliédricas. A
presença de células de formato
arredondado amplo com citoplasma fortemente eosinofílico concedeu
sua diferenciação escamosa.
No presente relato, o paciente também realizou um exame de
tomografia computadorizada
(TC) para avaliar a extensão da formação. Grant (2010), atesta que
a TC é essencial na avaliação de
possíveis estruturas infiltrativas e metastáticas, sendo um dos
métodos mais importantes para o
estadiamento da doença. Daleck et al. (2016) reitera, afirmando que
nos animais com
comprometimento maxilar, a TC e a ressonância magnética (RM) são as
formas mais precisas de
avaliação de extensão tumoral.
O tratamento é dependente do estadiamento do tumor, do estado de
saúde geral do paciente
e da boa receptividade do tutor em relação às mudanças estéticas e
efeitos colaterais dos
procedimentos. Entre as opções, incluem-se cirurgia, radioterapia,
criocirurgia e quimioterapia
(ETTINGER; FELDMAN, 2005).
A criocirurgia têm como principal objetivo a destruição das
células-alvo através do processo
de congelamento e descongelamento controlado, levando a morte
celular através de um efeito
hiperosmolar, induzindo à elevação da concentração de eletrólitos
no meio intracelular e provocando
danos irreversíveis na célula. No entanto, é bem aplicada em casos
pré-neoplásicos (QUEIROZ,
2003). A remoção cirúrgica é geralmente o tratamento de maior
escolha, mas somente pode ser
realizada com margens cirúrgicas entre 1 a 3 cm de modo a evitar
possíveis recidivas (WITHROW,
2020). No caso relatado, o acometimento importante de estruturas
ósseas e a falta de margem
cirúrgica segura tornou o procedimento cirúrgico inviável. Por
outro lado, o tratamento
quimioterápico se torna uma opção paliativa para os pacientes que
já apresentam o carcinoma de
células escamosas em estado disseminado, como no presente caso.
Entre as drogas utilizadas, a
doxorrubicina, bleomicina e carboplatina podem ser incluídas no
tratamento (DALECK et al., 2016).
Neste relato, o paciente realizou o primeiro ciclo quimioterápico
com Doxorrubicina na dose
de 30 mg/m².
O prognóstico varia conforme a localização da lesão e com o estágio
clínico da doença no
momento do diagnóstico. Quando é realizado precocemente, com a
possibilidade de remoção
cirúrgica total, é considerado favorável. Entretanto, quando a
neoplasia apresenta-se em estágios mais
avançados, com acometimento ósseo, como neste caso, o prognóstico
torna-se de reservado à
desfavorável (SCHNEIDER et al., 2021).
55
Por fim, orientações aos tutores de animais com fatores
predisponentes à doença são
fundamentais na prevenção do CCE. A utilização de bloqueadores
solares e a exposição ao sol restrita
aos horários de menor radiação diminuem consideravelmente as
chances de desenvolvimento da
doença (COUTO et al. 2015; SCHNEIDER et al., 2021).
56
7 INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA DIREITA EM UM CÃO: RELATO
DE
CASO
7.1 RESENHA
O paciente era um canino, fêmea, da raça buldog inglês, com 11 anos
e 2 meses de idade e
pesando 20,5 kg.
7.2 HISTÓRICO E ANAMNESE
A paciente chegou até o Vet Plus Hospital Veterinário para
consultar com um médico
veterinário clínico geral. Ela estava apresentando como principal
queixa edema nos membros pélvicos
e emagrecimento progressivo há três meses. No exame físico,
paciente apresentava temperatura,
frequências cardíaca e respiratória dentro dos valores de
fisiológicos. Na ausculta cardíaca, observou-
se presença de sopro. As mucosas estavam hipocoradas, tempo de
perfusão capilar em 3 segundos,
desidratação em 5% e os linfonodos poplíteos demonstravam-se
reativos. Paciente possuía
abaulamento abdominal e edema importante em membros posteriores. A
médica veterinária
responsável solicitou a realização de alguns exames complementares,
como hemograma,
bioquímicos, ultrassom abdominal e ecocardiograma.
7.3 EXAMES COMPLEMENTARES
7.3.1 Hemograma e bioquímica sérica
O hemograma evidenciou anemia discreta e o aumento dos neutrófilos
segmentados. No
exame bioquímico, ALT (94 UI/L) e globulinas (mg/dL)
apresentaram-se elevadas. A albumina
(2,5mg/dL) estava um pouco abaixo dos valores de referência e os
demais marcadores se
mostraram dentro da normalidade.
ERITROGRAMA RESULTADO REFERÊNCIA
Leucócitos totais 13.800 6.000-16.000
Fonte: Elaborado pelo autor, Vet Plus (2021).
Tabela 21 - Exame bioquímico referente ao paciente do relato
3.
BIOQUÍMICOS RESULTADO REFERÊNCIA
Globulina (mg/dL) 4,2 1,9-3,4
Albumina (mg/dL) 2,5 2,7-4.5
58
direita de grau importante. Também foi possível observar
hipertensão arterial pulmonar de grau
discreto, insuficiência valvar aórtica discreta e uma neoformação
em base cardíaca.
7.3.3 Ultrassonografia
abaulados, e rins; que demonstravam delimitações córtico-medulares
pouco evidentes, indicando
possível nefropatia crônica.
7.3.4 Análise de Líquidos Cavitários
O material analisado após abdominocentese, em um volume de 5 ml,
apresentou coloração
avermelhada (incolor após centrifugação), inodor e turvo. As
análises químicas indicaram as
proteínas totais (4,2 g/dL), colesterol (122 mg/dL), triglicérides
(70 mg/dL), contagem total de células
nucleadas (800/mm3), hemácias (80.000/Ul), densidade (1,022) e PH
(7,5). A amostra citológica
mostrou-se composta por células inflamatórias, com predomínio de
neutrófilos íntegros (58%),
linfócitos típicos (34%) e menor população de macrófagos (0,8%).
Também observou-se presença de
hemácias. Os respectivos achados evidenciaram a presença de
Transudato modificado.
59
7.4 TRATAMENTO E EVOLUÇÃO
Após o resultado do ecocardiograma, foi prescrito tratamento para
casa com
Pimobendan (4,1 mg a cada 12 horas, VO, durante 30 dias), Maleato
de Enalapril (10,2
mg a cada 12 horas, VO, durante 30 dias), Furosemida (20,4 mg a
cada 12 horas, VO,
durante 30 dias), Espironolactona (40,8 mg a cada 24 horas, VO,
durante 30 dias) e Citrato
de Sildenafil (20,4 mg a cada 12 horas, VO, durante 30 dias). O
médico veterinário
responsável orientou que todas as medicações fossem manipuladas em
farmácia
veterinária especializada.
A paciente retornou após 30 dias, passando por reavaliação com
médico veterinário
clínico geral. No retorno, tutora relatou que animal estava se
alimentando e fazendo ingesta
de água normalmente. Apresentou alguns poucos episódios de diarreia
que não
perduravam mais do que dois dias. Ao exame físico, ausculta
pulmonar não sugestiva de
efusão pleural ou edema pulmonar. Edema em membros pélvicos ainda
evidenciados.
Realizou-se, então, nova abdominocentese do paciente, drenando 300
ml de efusão de
coloração avermelhada, porém sem turbidade. Neste mesmo dia, foi
solicitado que
paciente retornasse ao médico veterinário cardiologista para
acompanhamento do caso. No
entanto, até o final do presente estágio a paciente ainda não havia
retornado para
reavaliação.
60
7.5 REVISÃO DE LITERATURA E DISCUSSÃO
A insuficiência cardíaca congestiva (ICC) é uma síndrome clínica
secundária à alguma
cardiopatia. Nessa condição, o coração se torna inapto para manter
seu equilíbrio circulatório,
resultando em mecanismos complexos de ativação neuro-hormonal.
Sendo assim, é considerada
uma das principais causas de óbito em pacientes com alterações
cardíacas (BIELAWSKI et al.,
2019; JERICÓ et al., 2015).
As causas da insuficiência cardíaca congestiva são variadas.
Englobam-se, por exemplo,
as doenças cardíacas adquiridas e doenças cardíacas congênitas. A
IC decorrente de disfunção
sistólica ocorre quando o coração é incapaz de ejetar volume de
sangue suficiente mesmo que
o retorno venoso esteja adequado. Por outro lado, a insuficiência
em decorrência de disfunção
diástolica ocorre quando o enchimento ventricular não é adequado
(ETTINGER; FELDMAN,
2004; JERICÓ et al., 2015).
Esta síndrome clínica pode ser classificada de acordo o lado do
coração insuficiente,
bem como a circulação que fora afetada. Sendo assim, denomina-se
insuficiência cardíaca
congestiva esquerda (ICCE), a insuficiência relacionada à bomba
cardíaca esquerda. Entre as
alterações esperadas em um paciente com ICCE, destaca-se a
congestão pulmonar. Em
contrapartida, a insuficiênca cardíaca congestiva direita (ICCD) é
caracterizada pela alteração
na função do lado direito do coração, que provoca congestão em
circulação sistêmica (COUTO,
2015).
A partir do desenvolvimento da ICC, múltiplos mecanismos
neuro-hormonais são
ativados com o objetivo de compensar o coração insuficiente. Nesse
processo, a ativação do
sistema-renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) que visa aumentar o
volume vascular
através da retenção de sódio e água, acaba originando edemas
(ETTINGER; FELDMAN,
2004).
Por outro lado, o sistema nervoso autônomo (SNA) age ativando o
eixo simpático para
manter o débito cardíaco adequado e evitar hipotensão. Através de
baroceptores, o SNA irá
desenvolver um mecanismo de feedback negativo, promovendo o aumento
da frequência
cardíaca. No entanto, a progressão da doença resulta em volume
ejetado cada vez menor, o
que potencializa o efeito deste feedback. Desse modo, o aumento
exacerbado da frequência
cardíaca se associa ao menor tempo de enchimento diastólico,
diminuindo o volume de ejeção.
Também é importante salientar o efeito das catecolaminas nesse
sistema. Elas são liberadas
durante a estimulação simpática e favorecem o desenvolvimento de
arritmias cardíacas
61
(COUTO, 2015; JERICÓ et al., 2014).
As alterações clínicas esperadas divergem de acordo com o lado
cardíaco acometido.
Na insuficiência cardíaca congestiva direita, os caninos comumente
apresentam ascite e edema
de membros, sendo estes em sua maioria das vezes posteriores e com
acometimento bilateral.
Esses dados corroboram com as manifestações clínicas encontradas no
presente relato, visto
que a paciente em questão possuía edema importante em membros
pélvicos, de localização
bilateral. Já na insuficiência cardíaca congestiva esquerda,
espera-se dispneia, tosse e ortopneia,
decorrentes da elevação da pressão hidrostática nos capilares
pulmonares, contribuindo com o
extravasamento de líquido para o parênquima pulmonar (ETTINGER;
FELDMAN, 2004).
Um comitê criado em 1992 estabelece, desde então, normas e
atualizações no
diagnóstico e tratamento de cardiopatias na clínica médica de
pequenos animais. O
International Small Animal Cardiac Health Council (ISACHC)
classifica a ICC em diferentes
grupos. Na classe funcional I, o paciente não apresenta as
manifestações clínicas da doença.
Já na classe funcional II, o animal apresenta manifestações
clínicas de ICC de grau leve à
moderado. Por fim, na classe funcional III, o animal apresenta
sinais clínicos severos da ICC
(JERICÓ et al., 2014).
O diagnóstico da síndrome clínica é baseado em uma minuciosa
inspeção, associando
a anamnese, o exame físico e os exames complementares. O
ecocardiograma é considerado o
exame de escolha no diagnóstico de alterações cardíacas. A
definição de detalhes
hemodinâmicos, anatômicos e funcionais permite a identificação de
lesões específicas, como
as alterações valvulares (COUTO, 2015). Klein (2014) ressalta que o
coração insuficiente
provoca o acúmulo de sangue residual em região atrial, levando à
dilatação e seu consequente
aumento. Desse modo, o aumento atrial se caracteriza como um
marcador importante no
paciente com ICC e que pode ser visualizado no exame
ecocardiográfico.
No presente relato, o laudo do ecocardiograma constatou a presença
de degenerações
crônicas de grau importante em valvas atrioventriculares direita e
esquerda. Segundo Couto et
al. (2015), a degeneração valvar atrioventricular crônica é a causa
mais comum de
insuficiência cardíaca em caninos. Rush e Bonagura (2008) as
descrevem como vávulas que
direcionam o sentido do fluxo sanguíneo dos átrios para os
ventrículos. Em decorrência da
degeneração, o fechamento valvular não é realizado de forma
efetiva, ocasionando a
regurgitação sanguínea dos ventrículos para os átrios. Apesar da
degeneração apresentar-se de
forma bilateral, as manifestações clínicas da pacientes eram
compatíveis com ICCD.
A presença de neoformação em base cardíaca foi outro achado neste
exame. Os
tumores de base cardíaca não são muito frequentes na rotina
veterinária e se caracterizam pela
62
malignidade e alta capacidade metastática (TILLEY et al., 2016).
Assim como na ICC,
pacientes com tumores em base car