64
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CAMPUS CURITIBANOS COORDENADORIA ESPECIAL DE BIOCIÊNCIAS E SAÚDE ÚNICA CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA Tainã Kuwer Jacobsen RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA ÁREA DE CLÍNICA, CIRURGIA E REPRODUÇÃO DE EQUINOS Curitibanos 2019

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

  • Upload
    others

  • View
    9

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CAMPUS CURITIBANOS

COORDENADORIA ESPECIAL DE BIOCIÊNCIAS E SAÚDE ÚNICA

CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

Tainã Kuwer Jacobsen

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA

ÁREA DE CLÍNICA, CIRURGIA E REPRODUÇÃO DE EQUINOS

Curitibanos

2019

Page 2: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

Tainã Kuwer Jacobsen

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA

ÁREA DE CLÍNICA, CIRURGIA E REPRODUÇÃO DE EQUINOS

Trabalho Conclusão do Curso de Graduação em Medicina Veterinária do Centro de Ciências Rurais

da Universidade Federal de Santa Catarina como

requisito para a obtenção do Título de Bacharel em Medicina Veterinária.

Orientador: Prof. Dr. Grasiela De Bastiani

Supervisor: M.V. Esp. Diego Rafael Palma da Silva

Curitibanos

2019

Page 3: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …
Page 4: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

Tainã Kuwer Jacobsen

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA

ÁREA DE CLÍNICA, CIRURGIA E REPRODUÇÃO DE EQUINOS

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do Título de

Médica Veterinária e aprovado em sua forma final.

Curitibanos, 29 de novembro de 2019.

_______________________

Prof. Dr. Alexandre de Oliveira Tavela

Coordenador do Curso

Banca Examinadora:

________________________

Prof.ª Dra. Grasiela de Bastiani

Orientadora

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

________________________

Prof. Dr. Giuliano Moraes Figueiró

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

________________________

Prof. Dr. Marcos Henrique Barreta

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Page 5: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

Este trabalho é dedicado à minha família,

que sempre me apoiou na realização desse sonho.

Page 6: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, Edgar Jacobsen Neto e Ana Paula Kuwer, por me

proporcionarem um estudo de qualidade, apoio nos momentos difíceis e fazerem do meu sonho

o seu. Nada disso seria possível sem vocês, muito obrigada.

Agradeço ao meu irmão Marcelo Kuwer Maciel, pelas palavras de carinho, apoio e

tantas risadas, tenho muito orgulho da nossa relação de amizade e companheirismo.

Agradeço à Deus por me iluminar durante toda essa caminhada e me manter forte

quando eu mais precisava.

Agradeço aos meus amigos, em especial meus colegas de faculdade, vocês tornaram a

vida acadêmica mais leve através de abraços, consolos e muitas risadas.

Agradeço aos meus professores, em especial Grasiela De Bastiani e Giuliano Figueiró,

por todo conhecimento dividido, oportunidades e conselhos.

Agradeço a toda equipe da Clínica de Equinos Santa Maria, Diego da Silva, Gabriele

Biavaschi e Cícero Cunha, por todo aprendizado, confiança e amizade, não poderia ter

escolhido um lugar melhor.

Agradeço a todas pessoas que de alguma forma me ajudaram durante esses anos de

faculdade, todas palavras de carinho serão sempre guardadas.

Page 7: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

RESUMO

O estágio curricular obrigatório tem por finalidade aprimorar os conhecimentos teóricos e

principalmente práticos da área escolhida para posterior formação e atuação no mercado de

trabalho. A clínica de Equinos Santa Maria, localizado na cidade de Santa Maria, estado do Rio

Grande do Sul, foi o local escolhido para realização do estágio curricular com enfoque nas áreas

de clínica, cirurgia e reprodução de equinos. O estágio decorreu entre as datas de 01/08/2019 a

15/11/2019, totalizando 616 horas. Neste relatório serão descritas as estruturas, atividades

realizadas, casuística e discussão de alguns casos atendidos.

Palavras-chave: Equinos. Clínica. Reprodução. Cirurgia.

Page 8: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

ABSTRACT

The curricular internship aims to improve the theoretical and mainly practical knowledge of the

area chosen for further training and performance in the labor market. The Santa Maria Horse

Clinic, located in the city of Santa Maria, state of Rio Grande do Sul, was the place chosen for

the curricular internship focusing on the areas of clinical, surgery and reproduction of horses.

The internship took place between 08/01/2019 to 15/11/2019, totaling 616 hours. This report

will describe the structures, activities performed, case series and discussion of some cases

attended.

Keywords: Equine. Clinic. Reproduction. Surgery.

Page 9: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Galpão principal. A – Vista externa. B – Vista interna. ....................................... 16

Figura 2 – Cocheira. A – Vista externa. B – Vista interna. .................................................. 16

Figura 3 – Vista interna do ambulatório: A – Geladeira e bancada. B – Armário. ................ 17

Figura 4 – Ambulatório. A – Microscópio e Estufa. B – Centrífuga para hematócrito e

refratômetro ......................................................................................................................... 18

Figura 5 – Vista externa do galpão principal e casa. ............................................................ 18

Figura 6 – A – Ducha. B – Depósito................................................................. 19

Figura 7 – Redondel ............................................................................................................ 20

Figura 8 – Piquetes. A – Garanhões. B – Maternidade. ........................................................ 20

Figura 9 – Demarcação dos piquetes. .................................................................................. 21

Figura 10 – Ficha clínica ..................................................................................................... 22

Figura 11- Ficha clínica de animais em terapia intensiva. .................................................... 23

Figura 12 – Dentes superiores com presença de excesso de pontas de esmalte dentário, antes

do grosamento (A). Após grosamento das pontas (B). .......................................................... 25

Figura 13 – Ficha odontológica. .......................................................................................... 27

Figura 14 – Ficha de controle reprodutivo para garanhões. .................................................. 28

Figura 15 – Ficha de controle reprodutivo para éguas. ......................................................... 28

Figura 16 – Ferida na articulação metatarsofalangeana (A). Estudo radiológico com

evidenciação da formação do flap e comunicação com a articulação (B). ............................. 37

Figura 17 – Lavagem articular evidenciando a comunicação entre a ferida e a articulação

metatarsofalangeana (A). Curativo com bandagem de algodão e cooflex® (B). .................... 39

Figura 18 – Segunda lavagem articular (A). Terceira lavagem articular (B). Quarta lavagem

articular (C). Quinta lavagem articular (D). Membro engessado (E). .................................... 40

Figura 19 – Ferida após remoção do gesso. ......................................................................... 41

Figura 20 – Estudo radiológico membro torácico esquerdo (A) e membro torácico direito (B).

............................................................................................................................................ 43

Figura 21 – Casco após casqueamento e remoção da área da linha branca afetada (A). Palmilhas

com elevação na região dos talões (B). ................................................................................. 43

Figura 22 – Crioterapia. ...................................................................................................... 45

Page 10: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

Figura 23 –Visualização das lâminas do casco após casqueamento para abertura da linha de

gás. ...................................................................................................................................... 46

Figura 24 – Ultrassonografia torácica pulmonar evidenciando a presença de líquido e debris

celulares (fibrina) entre as pleuras. ....................................................................................... 48

Figura 25 – Após tricotomia e antissepsia cirúrgica (A). Dreno fixado no tórax esquerdo (B).

Dreno fixado no tórax direito (C). ........................................................................................ 49

Figura 26 – Conteúdo de aspecto leitoso e coloração amarelo claro (tórax esquerdo) e conteúdo

de aspecto líquido e coloração amarelo escuro (tórax direito). .............................................. 50

Figura 27 – Reposicionamento do dreno torácico. ............................................................... 52

Figura 28 – Secreção nasal bilateral. ................................................................................... 53

Figura 29 – Presença de líquido purulento na cavidade pleural (A). Abscesso pulmonar (B).

Fístula broncopleural (C). .................................................................................................... 54

Figura 30 – Aumento de volume (edema) na região mais cranial da cabeça, afetando as regiões

mandibular e maxilar (A e B). .............................................................................................. 56

Figura 31 – Edema na região das narinas e boca (A e B). Edema nos membros posteriores (C

e D). ..................................................................................................................................... 58

Figura 32 – Estudo radiológico da região da cabeça, sem alterações dignas de nota. ............ 59

Figura 33 – Diminuição do edema na região da cabeça (A e B) e dos membros (C). ............ 59

Page 11: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Alterações odontológicas acompanhadas durante o estágio obrigatório na Clínica

de Equinos Santa Maria, no período de 1º de agosto a 15 de novembro. ............................... 26

Tabela 2 – Procedimentos odontológicos acompanhadas durante o estágio obrigatório na

Clínica de Equinos Santa Maria, no período de 1º de agosto a 15 de novembro. ................... 26

Tabela 3 – Atividades na área de reprodução acompanhadas durante o estágio obrigatório na

Clínica de Equinos Santa Maria, no período de 1º de agosto a 15 de novembro. ................... 27

Tabela 4 – Sistemas acometidos. ......................................................................................... 29

Tabela 5 – Detalhamento dos casos atendidos. .................................................................... 30

Tabela 6 – Exames complementares acompanhados durante o estágio obrigatório na Clínica de

Equinos Santa Maria, no período de 1º de agosto a 15 de novembro. .................................... 32

Tabela 7 – Infiltrações articulares acompanhadas durante o estágio obrigatório na Clínica de

Equinos Santa Maria, no período de 1º de agosto a 15 de novembro. .................................... 34

Tabela 8 – Bloqueios perineurais acompanhados durante o estágio obrigatório na Clínica de

Equinos Santa Maria, no período de 1º de agosto a 15 de novembro. .................................... 35

Tabela 9 – Lavagens articulares acompanhadas durante o estágio obrigatório na Clínica de

Equinos Santa Maria, no período de 1º de agosto a 15 de novembro. .................................... 35

Page 12: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

FC - Frequência Cardíaca PSC – Puro Sangue de Corrida

FR - Frequência Respiratória

TPC - Tempo de Preenchimento Capilar

ºC - Graus Celsius

mpm – Movimento por Minuto

bpm – Batimento por Minuto

g - Gramas

ml - Mililitro

kg - Quilogramas

mg - Miligramas

RL – Ringer com Lactato

SF – Solução Fisiológica

% - Porcentagem

PM – Pré-molar

M – Molar

VO – Via Oral

IV - Intravenoso

IM - Intramuscular

SID – Uma vez ao dia

BID – Duas vezes ao dia

TID – Três vezes ao dia

® - Marca Registrada

CID – Coagulação intravascular disseminada

HT – Hematócrito

PPT – Proteína Plasmática Total

EDTA – Ácido Etilenodiamino Tetra-acético

MPA – Medicação Pré-Anestésica

AINE – Anti-inflamatório não esteroidal

TFDP – Tendão Flexor Digital Profundo

EVA - Espuma Vinílica Acetinada

Page 13: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 15

2 CLÍNICA DE EQUINOS SANTA MARIA ......................................................... 15

2.1 DESCRIÇÃO DAS ESTRUTURAS ....................................................................... 15

2.2 FUNCIONAMENO DA CLÍNICA E ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ............ 21

2.2.1 Internação ............................................................................................................... 21

2.2.2 Rotina de Internação ............................................................................................... 22

2.2.3 Atendimentos externos ........................................................................................... 24

2.2.4 Reprodução ............................................................................................................ 27

2.2.5 Casqueamento e Ferrageamento.............................................................................. 29

2.3 CASUÍSTICA ........................................................................................................ 29

3 DISCUSSÃO DE CASOS ..................................................................................... 36

3.1 SISTEMA MÚSCULO ESQUELÉTICO ................................................................ 36

3.1.1 Artrite séptica por trauma perfurante na articulação metatarsofalangeana ............... 36

3.1.2 Laminite aguda/crônica .......................................................................................... 41

3.2 SISTEMA RESPIRATÓRIO .................................................................................. 47

3.2.1 Pleuropneumonia .................................................................................................... 47

3.3 SISTEMA VASCULAR ......................................................................................... 55

3.3.1 Púrpura Hemorrágica .............................................................................................. 55

4 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 61

REFERÊNCIAS........................................................................................................63

Page 14: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

15

1 INTRODUÇÃO

O estágio curricular obrigatório oferece ao graduando a oportunidade de aprimorar os

conhecimentos teóricos práticos e, bem como o desenvolvimento e aprimoramento da

capacidade de diagnóstico clínico, além da troca de experiência com outros estagiários e

médicos veterinários. A vivência da rotina de trabalho com o médico veterinário é de extrema

importância para o acadêmico na capacidade de desenvolvimento de interação com as situações

da rotina clínica equina e a forma de gerenciar o seu próprio negócio.

Neste trabalho serão relatadas a estrutura do local de estágio, rotina do internamento e

as atividades desenvolvidas nas áreas de clínica, cirurgia e reprodução de equinos, as quais

foram realizadas na Clínica de Equinos Santa Maria. O estágio foi supervisionado pelo médico

veterinário especialista Diego Rafael Palma da Silva, durante o período de 1º de agosto de 2019

a 15 de novembro de 2019, totalizando 616 horas.

2 CLÍNICA DE EQUINOS SANTA MARIA

A clínica conta atualmente com dois médicos veterinários sócios proprietários, um

médico veterinário residente e um funcionário para serviços gerais, como limpeza das

cocheiras, alimentação dos animais internados e manutenção das estruturas. Localiza-se na

cidade de Santa Maria, estado do Rio Grande do Sul, BR 287 - KM 255, nº 900, a uma latitude

de 29°41'10.5 sul e a uma longitude de 53°55'15.3 oeste, estando a uma altitude de 113 metros.

2.1 DESCRIÇÃO DAS ESTRUTURAS

As instalações contam com um galpão principal (Figura 1) que possui 12 cocheiras de

alvenaria de 3x3 m² com portas de madeira (Figura 2.A) e uma cocheira de alvenaria de 5x3 m²

com porta de madeira. Cada cocheira contém três cochos de cimento, um para alimentação, um

para água e outro para o sal mineral que é oferecido aos animais a cada 15 dias (Figura 2.B). A

cama das cocheiras é composta de casca de arroz, cuja limpeza é realizada diariamente. O

dormitório dos estagiários localiza-se na parte superior do galpão, com dois quartos, cozinha e

banheiro (Figura 1.B).

Page 15: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

16

Figura 1 – Galpão principal. A – Vista externa. B – Vista interna.

Fonte: Arquivo pessoal (2019).

Figura 2 – Cocheira. A – Vista externa. B – Vista interna.

Fonte: Arquivo pessoal (2019).

Page 16: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

17

O ambulatório encontra-se ao lado do galpão principal, espaço destinado à organização

e preparação dos materiais utilizados na rotina, procedimentos cirúrgicos, além das fichas dos

animais internados (Figura 3). A sala é composta de uma geladeira para acondicionamento de

vacinas, bolsas de sangue e soluções que necessitam de refrigeração, bancada (Figura 3.A),

armários para estocagem de medicamentos e materiais (Figura 3.B), balcão com pia,

microscópio (Figura 4.A), estufa para esterilização (Figura 4.A), centrífuga para hematócrito e

um refratômetro (Figura 4.B). Todos os fármacos (anestésicos, antibióticos, anti-inflamatórios)

e materiais utilizados na rotina são armazenados neste local. A clínica conta com um

equipamento de radiografia digital, um ultrassom, um endoscópio e materiais para os

atendimentos odontológicos (duas canetas longas, grosa manual, abridor de boca, boticões e

suporte de cabeça).

Figura 3 – Vista interna do ambulatório: A – Geladeira e bancada. B – Armário.

Fonte: Arquivo pessoal (2019).

Page 17: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

18

Figura 4 – Ambulatório. A – Microscópio e Estufa. B – Centrífuga para hematócrito e

refratômetro

Fonte: Arquivo pessoal (2019).

Juntamente com o galpão das cocheiras e ambulatório, encontra-se uma casa destinada

ao médico veterinário residente (Figura 5).

Figura 5 – Vista externa do galpão principal e casa.

Fonte: Arquivo pessoal (2019).

Page 18: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

19

A ducha de alvenaria localiza-se a alguns metros atrás do galpão principal, servindo

como local para banhar os animais bem como, para a realização de curativos e a limpeza de

materiais (Figura 6.A). O depósito situa-se logo após a ducha sendo utilizado para o

acondicionamento da alimentação dos animais, caixas de soro fisiológico, glicose e ringer

lactato (Figura 6.B).

Figura 6 – A – Ducha. B – Depósito.

Fonte: Arquivo pessoal (2019).

Ao lado do depósito encontra-se em construção um espaço destinado a triagem dos

animais e primeiros socorros. Este local irá contar com um tronco de contenção de madeira, um

ambulatório e um banheiro. Futuramente a clínica pretende disponibilizar um centro cirúrgico

que, também se encontra em fase de construção.

O local possui ainda um redondel de madeira (Figura 7) e 17 piquetes que possuem a

seguinte distribuição: três destinados aos garanhões compostos por pastagem de tifton 85

(Figura 8.A); a reprodução (pré-parto e maternidade) com cerca de 1,5 hectare de pasto nativo

que, ficam próximos ao galpão principal facilitando desta forma, o acompanhamento das

Page 19: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

20

parições, desenvolvimento dos potros e recuperação das éguas pós-parto (Figura 8.B); nove são

destinados aos animais internados na clínica bem como, para a plantação de pastagem (azevém

no inverno e capim sudão no verão) que servem de alimentação para os animais internados

(Figura 9).

Figura 7 – Redondel

Fonte: Arquivo pessoal (2019).

Figura 8 – Piquetes. A – Garanhões. B – Maternidade.

Fonte: Arquivo pessoal (2019).

Page 20: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

21

Figura 9 – Demarcação dos piquetes.

Legenda: Piquetes maternidade/reprodução (vermelho); Piquetes garanhões (azul); Piquetes pastagem (verde);

Redondel (amarelo).

Fonte: Google (2019).

2.2 FUNCIONAMENO DA CLÍNICA E ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

2.2.1 Internação

O procedimento obrigatório dos animais que são internados na clínica consiste na

filmagem do animal descendo do veículo que o transportou, posteriormente pesagem com fita,

avaliação da frequência cardíaca (FC), frequência respiratória (FR), tempo de preenchimento

capilar (TPC), coloração da mucosa oral, temperatura corporal e motilidade intestinal todos

devidamente registrados em uma ficha clínica. Após o exame físico, conforme a necessidade,

Page 21: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

22

são realizados os exames complementares como (hematócrito (HT), proteína total (PPT),

endoscopia, radiografia digital e ultrassonografia.

2.2.2 Rotina de Internação

Os animais internados onde após a constatação clínica seja diagnosticada como estável

eram avaliados duas vezes ao dia, às 06:00 e às 18:00 horas, momento em que é designado aos

estagiários a avaliação e monitoramento dos parâmetros como FC, FR, TPC, coloração da

mucosa oral, temperatura corporal, motilidade intestinal e bem como, efetuar a medicação

prescrita pelo médico veterinário responsável. Todos os dados devem ser preenchidos nas fichas

clínica de identificação dos animais, com o intuito de controlar a evolução e eficácia do

tratamento instituído (Figura 10).

Figura 10 – Ficha clínica

Fonte: Clínica de Equinos Santa Maria (2019).

Page 22: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

23

Animais internados em terapia intensiva eram avaliados com uma frequência maior, já

que os mesmos estavam em estado instável com iminente risco de vida e necessitavam de maior

atenção quanto aos parâmetros clínicos e administração dos fármacos (Figura 11).

Figura 11- Ficha clínica de animais em terapia intensiva.

Fonte: Clínica de Equinos Santa Maria (2019).

Os animais eram alimentados três vezes ao dia no turno da manhã, meio dia e a noite.

Recebiam volumoso (alfafa, azevém ou capim sudão) e após 40 minutos do fornecimento do

volumoso o concentrado (ração). A quantidade e tipo de ração alternava conforme a idade, peso,

afecção e necessidade de cada animal.

Após o acompanhamento dos parâmetros clínicos e a alimentação dos animais,

iniciava-se a preparação dos materiais para realização das atividades individuais de cada

paciente. As atividades realizadas consistiam na limpeza de síntese cirúrgica, ferimentos, troca

de bandagens, higienização do traqueotubo, limpeza dos cascos, drenagem de líquido torácico,

fluidoterapia, transfusão sanguínea, transfusão de plasma, crioterapia e terapia de jugular.

Alguns exames complementares eram realizados na clínica, como mensuração do HT,

que consiste na coleta de sangue em tubo com anticoagulante (EDTA), preenchimento de três

Page 23: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

24

capilares com sangue, selagem de uma das extremidades com fogo e posicionamento dos

capilares na centrífuga por 6 minutos. Em seguida, utiliza-se uma placa com escala de 0 a 100

para interpretação do exame, além de um refratômetro para a avaliação da PPT. Dados estes

associados ao TPC são de extrema importância para estimar o grau de desidratação corporal e,

comumente utilizados na prática veterinária devido a sua facilidade e eficácia.

Exames de endoscopia, ultrassonografia e radiografia digital eram disponibilizados e

utilizados conforme a necessidade de cada animal. Exames de hemograma, bioquímico e cultura

e antibiograma de líquidos corporais coletados eram enviados para laboratórios externos.

2.2.3 Atendimentos externos

Os estagiários em alguns momentos acompanharam algum dos médicos veterinários

responsáveis nos atendimentos a campo que, consistiram no exame do aparelho locomotor,

infiltrações articulares, bloqueios perineurais, inseminações, controle folicular ou gestacional e

consulta odontológica.

2.2.3.1 Atendimentos Odontológicos

A arcada dentária dos equinos pode ser numerada conforme o sistema Triadan, o qual

inicia pelos dentes superiores do lado direito, a partir dos incisivos (101, 102 e 103), canino

(104, normalmente ausente nas fêmeas), primeiro pré-molar (PM) (105, pode ou não estar

presente), segundo PM (106), terceiro PM (107), quarto PM (108), primeiro molar (M) (109),

segundo M (110), terceiro M (111). Igualmente é contabilizada no lado superior esquerdo (201,

202, 203...), lado inferior esquerdo (301, 302, 303...) e lado inferior direito (401, 402, 403...)

(CORREIA, 2014).

As consultas odontológicas devem ocorrer de forma periódica, já que os equinos

possuem dentição hipsodonte, isto é, de crescimento contínuo. O movimento mastigatório

lateral do equino, associado ao desgaste inadequado predispõe a formação de pontas de esmalte.

Essas pontas de esmalte estão relacionadas a ocorrência de lesões laterais na mucosa da

bochecha (maxila) e lesões na língua (mandíbula) consequentemente acarretando desconforto

Page 24: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

25

mastigatório, diminuição de apetite e emagrecimento. O grosamento das pontas de esmalte é o

tratamento ideal e deve ser monitorado a cada 6 meses (Figura 12) (CORREIA, 2014).

Figura 12 – Dentes superiores com presença de excesso de pontas de esmalte dentário, antes

do grosamento (A). Após grosamento das pontas (B).

Fonte: Arquivo pessoal (2019).

A diminuição da prevalência do primeiro PM ou dente de lobo nos equinos se dá pela

evolução da espécie, já que o mesmo não apresenta função mastigatória e pode causar

desconforto quando em contato com a embocadura. Por isso, em cavalos de esporte recomenda-

se a extração dos primeiros pré-molares, a fim de se evitar diminuição do rendimento. Conforme

o tamanho da raiz dentária, somente a tração com o boticão é suficiente para a extração,

entretanto, se necessário é realizada a anestesia local com lidocaína (HOLE, 2016; ALENCAR-

ARARIPE, CASTELO-BRANCO e NUNES-PINHEIRO; 2013; DIXON et al., 1999).

Durante o estágio foram realizados 22 atendimentos odontológicos, onde, o

grosamento foi realizado na maioria, afim de corrigir o excesso de pontas de esmalte. Na tabela

1 são evidenciadas as principais alterações encontradas, seguida da tabela 2 com os

procedimentos realizados nos atendimentos.

Page 25: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

26

Tabela 1 – Alterações odontológicas acompanhadas durante o estágio obrigatório na Clínica

de Equinos Santa Maria, no período de 1º de agosto a 15 de novembro.

Alterações

Total

nº %

Ponta excessiva de esmalte dentário 19 61,29

Retenção de dentes decíduos 5 16,12

Fístula dentária 2 06,45

Abscesso periapical 2 06,45

Diastema 2 06,45

Fratura dentária 1 03,22

Total 31 100

Fonte: Autora (2019).

Tabela 2 – Procedimentos odontológicos acompanhadas durante o estágio obrigatório na

Clínica de Equinos Santa Maria, no período de 1º de agosto a 15 de novembro.

Procedimentos

Total

nº %

Grosamento 20 60,60

Extração do primeiro pré-molar 9 27,27

Extração do elemento dentário Triadan 306 1 03,03

Extração do elemento dentário Triadan 106 1 03,03

Extração do elemento dentário Triadan 107 1 03,03

Extração do elemento dentário Triadan 108 1 03,03

Total 33 100

Fonte: Autora (2019).

Igualmente, as consultas odontológicas possuem uma ficha específica (Figura 13), que

consiste no preenchimento das alterações encontradas, como pontas de esmalte, retenção de

dentes decíduos, rampas, degraus e fraturas e no tratamento realizado, como nivelamento

dentário e extração de primeiro pré-molar.

Page 26: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

27

Figura 13 – Ficha odontológica.

Fonte: Clínica de Equinos Santa Maria (2019).

2.2.4 Reprodução

A clínica trabalha com animais destinados ao manejo reprodutivo, executando coleta

de sêmen, avaliação e envio do mesmo, monta controlada, inseminações, transferência de

embriões, diagnóstico de gestação, controle folicular, gestacional e neonatologia. A tabela 3

evidencia as atividades acompanhadas durante o estágio.

Tabela 3 – Atividades na área de reprodução acompanhadas durante o estágio obrigatório na

Clínica de Equinos Santa Maria, no período de 1º de agosto a 15 de novembro.

Atividades

Total

nº %

Controle folicular 129 68,61

Inseminação 20 10,63

Controle gestacional 11 05,85

Diagnóstico de gestação 10 05,31

Coleta e avaliação de sêmen 9 04,78

Lavagem uterina 4 02,12

Parto 2 01,06

Monta controlada 2 01,06

Exame andrológico 1 00,53

Total 188 100

Fonte: Autora (2019).

Page 27: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

28

Os garanhões que são acomodados na clínica para a estação de monta possuem uma

ficha destinada ao controle das coletas e parâmetros (Figura 14) e outra ficha para as éguas de

cria (Figura 15). Durante a temporada de reprodução o controle folicular e, posteriormente,

gestacional eram realizados em caderno que serve de arquivo para acompanhamento e

documentação de cada égua.

Figura 14 – Ficha de controle reprodutivo para garanhões.

Fonte: Clínica de Equinos Santa Maria (2019)

Figura 15 – Ficha de controle reprodutivo para éguas.

Fonte: Clínica de Equinos Santa Maria (2019)

Page 28: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

29

2.2.5 Casqueamento e Ferrageamento

Mensalmente a clínica avalia a necessidade de casqueamento/ferrageamento corretivo

dos animais internados. Durante o estágio foram acompanhados 10 casqueamentos, sendo

quatro guiados por radiografia digital.

2.3 CASUÍSTICA

Os sistemas acometidos são apresentados na tabela 4, onde o sistema músculo

esquelético apresentou a maior casuística, seguido do sistema tegumentar. Um maior

detalhamento dos casos atendidos é explanado na tabela 5.

Tabela 4 – Sistemas acometidos.

Sistema

Total

nº %

Músculo Esquelético 42 70,00

Tegumentar 6 10,00

Respiratório 5 08,33

Reprodutor 4 06,66

Gastrointestinal 1 01,66

Sensorial Especial 1 01,66

Vascular 1 01,66

Total 60 100

Fonte: Autora (2019).

Page 29: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

30

Tabela 5 – Detalhamento dos casos atendidos.

Patologias

Total

nº %

Sistema Músculo Esquelético

Síndrome do Navicular 5 08,33

Abscesso subsolear 4 06,66

Laminite Crônica 3 05,00

Osteoartrite na interfalangeana distal 3 05,00

Fratura de 3º carpiano 2 03,33

Osteoartrite “Ringbone” na interfalangeana proximal 2 03,33

Hérnia umbilical 2 03,33

Artrite séptica na articulação metatarsofalangeana 1 01,66

Osteocondrite dissecante no côndilo medial do fêmur 1 01,66

Osteocondrite dissecante no tarso 1 01,66

Lipoma na bainha do tendão extensor digital longo 1 01,66

Doença da Linha Branca 1 01,66

Laminite Aguda 1 01,66

Fratura de 2º metacarpiano 1 01,66

Exostose no 2º metatarsiano 1 01,66

Fratura de Axis 1 01,66

Fratura de metatarso 1 01,66

Fratura de rádio 1 01,66

Fratura de tíbia 1 01,66

Cisto subcondral no côndilo medial do fêmur 1 01,66

Abscesso periarticular na falange proximal 1 01,66

Osteoartrite no carpo 1 01,66

Cisto no 2º carpiano 1 01,66

Luxação na articulação metatarsofalangeana 1 01,66

Ferida dilacerante na articulação do tarso com ruptura do

tendão extensor

1 01,66

Continua

Page 30: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

31

Patologias

Total

Nº %

Osteíte séptica 1 01,66

Fratura de metacarpo 1 01,06

Artrite séptica na interfalangeana distal 1 01,66

Sistema Respiratório

Sinusite 2 03,33

Condrite da aritenoide 1 01,66

Pleuropneumonia 1 01,66

Hematoma etmoidal 1 01,66

Sistema Reprodutor

Laceração de períneo 2 03,33

Parto distócico 1 01,66

Retenção de placenta 1 01,66

Sistema Tegumentar

Ferida dilacerante no metatarso 2 03,33

Ferida dilacerante no tarso 2 03,33

Tecido de granulação exuberante na quartela 1 01,66

Miíase no prepúcio 1 01,66

Sistema Gastrointestinal

Desconforto abdominal 1 01,66

Sistema Vascular

Púrpura hemorrágica 1 01,66

Sistema Sensorial Especial

Úlcera de córnea 1 01,66

Total 60 100

Fonte: Autora (2019).

Os exames complementares oferecidos pela clínica são descritos na tabela 6, os quais

se referem aos exames de imagem sendo, a radiografia digital o método mais utilizado durante

o período de estágio seguidos por ultrassonografia e endoscopia.

Page 31: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

32

Tabela 6 – Exames complementares acompanhados durante o estágio obrigatório na Clínica

de Equinos Santa Maria, no período de 1º de agosto a 15 de novembro.

Exames Total

nº %

Estudo radiológico

Casco 23 20,72

Articulação femorotibiopatelar 11 09,90

Cabeça 11 09,90

Articulação metacarpofalageana 8 07,20

Quartela 8 07,20

Articulação metatarsofalangeana 7 06,30

Infiltração da bursa podotroclear guiado por

radiografia

7 06,30

Articulações do tarso 6 05,40

Articulações do carpo 3 02,70

Articulação do carpo 2 01,80

Metacarpo 1 00,90

Metatarso 1 00,90

Escapulo umeral 1 00,90

Úmero radial 1 00,90

Ultrassonografia

Articulação fêmuro-tíbiopatelar 6 05,40

Tórax 3 02,70

Abdômen 3 02,70

Traqueia 2 01,80

Quartela 1 00,90

Metacarpo 1 00,90

Endoscopia

Vias aéreas superiores 5 04,50

Total 111 100

Fonte: Autora (2019).

Page 32: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

33

O exame de claudicação visa identificar o membro claudicante e a causa, para tanto, é

importante saber o histórico clínico do animal e seguir uma sequência sistemática do exame

clínico, o qual inicia pela inspeção visual do animal, membros e articulações. Em seguida,

avaliação do casco quanto a sua estrutura/casqueamento (ângulo, comprimento, largura,

simetria e talões), pulso digital e limpeza da sola para visualização de possíveis lesões. A pinça

de casco é utilizada para evidenciar algum ponto de sensibilidade na sola, pressionando regiões

do talão, quarto, ombro, pinça, ranilha e centro (bursa do navicular), afim de identificar algum

estímulo de dor.

Seguidamente, inicia-se a palpação das estruturas mais distais do membro, acima da

coroa, quartela (cartilagem alar, articulação interfalangeana proximal, ligamentos colaterais e

sesamóideos), boleto (ossos sesamóides, inserção do ligamento suspensório, flexão da

articulação metacarpo/metatarso falangeana), metacarpo/metatarso (tendões flexores digitais

superficial e profundo, origem do ligamento suspensório), carpo (1ª e 2ª fileira de ossos,

articulações radiocarpiana, intercapiana e carpometacarpiana), região cervical, lombar, tarso

(articulações tibiotarsiana, intertársica proximal e distal e tarsometatarsiana, teste de churchill),

rótula e garupa (ALVES, 2014).

Posterior ao exame de palpação inicia-se avaliação em movimento, ao passo e ao trote

em linha reta, observando movimento de garupa e cabeça, associado ao comprimento e som

dos passos. Os testes de flexão podem exacerbar o foco da dor e auxiliar no diagnóstico, os

quais devem iniciar pelo membro não claudicante, durante 30 segundos (articulações distais) a

1 minuto (articulações proximais) a articulação é flexionada e em seguida o animal é avaliado

ao trote. Normalmente após todos os testes realizados o membro claudicante é identificado,

entretanto, não se sabe a causa e a articulação ou osso afetados.

Bloqueios perineurais e sinoviais são exames complementares que auxiliam na

localização da lesão e extensão da mesma, com o objetivo de insensibilizar as estruturas

situadas abaixo do bloqueio perineural efetuado ou da articulação infiltrada. Os bloqueios

perineurais necessitam de antissepsia local com álcool, agulha 13x0,45mm e lidocaína,

enquanto as infiltrações devem ser realizadas com antissepsia cirúrgica, agulha 20x0,55 ou

25x0,6mm e a associação de fármacos como a acetato de triancinolona. Após o bloqueio, o

animal permanece por dez minutos em repouso enquanto o fármaco dissocia e insensibiliza as

estruturas, posteriormente, o animal é avaliado ao passo e trote novamente para identificação

Page 33: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

34

da continuidade ou não da claudicação. Igualmente ao exame de palpação, os bloqueios devem

iniciar das estruturas mais distais e conforme a resposta do animal continuar em sentido

proximal até melhora significativa da claudicação.

Da mesma forma, as infiltrações articulares e bloqueios perineurais são formas de

tratamento curativo ou paliativo, dependendo da extensão e grau da lesão encontrada.

Como evidenciado anteriormente, os estudos radiográficos e ultrassonográficos são

métodos complementares que corroboram ao exame clínico de claudicação a um diagnóstico

final fidedigno.

A tabela 7 apresenta a descrição das articulações infiltradas e a tabela 8 os tipos de

bloqueios perineurais realizados durante o estágio.

Tabela 7 – Infiltrações articulares acompanhadas durante o estágio obrigatório na Clínica de

Equinos Santa Maria, no período de 1º de agosto a 15 de novembro.

Articulação

Total

nº %

Interfalageana distal 23 28,39

Tarsometatarsiana 14 17,28

Intertársica distal 11 13,58

Femorotibiopatelar 8 09,87

Bursa do navicular 7 08,64

Metatarsofalangeana 5 06,17

Intercapiana 4 04,93

Metacarpofalangeana 4 04,93

Interfalangeana proximal 2 02,46

Radiocarpiana 1 01,23

Escapulo umeral 1 01,23

Cotovelo 1 01,23

Total 81 100 Fonte: Autora (2019).

Page 34: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

35

Tabela 8 – Bloqueios perineurais acompanhados durante o estágio obrigatório na Clínica de

Equinos Santa Maria, no período de 1º de agosto a 15 de novembro.

Bloqueio

Total

nº %

Abaxial 18 54,54

Palmar digital 9 27,27

Voltar alto 4 12,12

Volar baixo 1 03,03

Tibial 1 03,03

Total 10 100 Fonte: Autora (2019).

Lavagens articulares são comumente utilizadas no tratamento de artrites sépticas,

como forma de limpeza do espaço articular, eliminando os produtos inflamatórios (fibrina) e

diminuindo a celularidade do líquido sinovial, que causam danos a cartilagem (ANNEAR,

FURR e WHITE, 2011). Durante o estágio foram realizadas 10 lavagens articulares, conforme

ilustrado na tabela 9.

Tabela 9 – Lavagens articulares acompanhadas durante o estágio obrigatório na Clínica de

Equinos Santa Maria, no período de 1º de agosto a 15 de novembro.

Articulação

Total

nº %

Metatarsofalageana 4 40,00

Femorotibiopatelar 4 40,00

Interfalangeana distal 2 20,00

Total 10 100 Fonte: Autora (2019).

Page 35: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

36

3 DISCUSSÃO DE CASOS

O sistema músculo esquelético destacou-se dos demais em decorrência da maior

casuística no período de realização do estágio, efetivando dessa forma a descrição de dois casos

clínicos abaixo referidos, além de outros dois casos relacionados ao sistema respiratório e

vascular.

3.1 SISTEMA MÚSCULO ESQUELÉTICO

3.1.1 Artrite séptica por trauma perfurante na articulação metatarsofalangeana

3.1.1.1 Relato de Atendimento

A artrite séptica é caracterizada por uma contaminação do compartimento articular de

origem bacteriana, diversas vias de infecção são citadas, como hematógena, ferida penetrante,

cirúrgica ou infiltrações intra-articulares. Comumente potros desenvolvem a doença através da

via hematógena (onfaloflebite, falha na imunidade passiva e septicemia) que apresenta como

agente principal bactérias gram-negativas (Escherichia coli, Salmonella spp.), diferentemente

dos adultos que geralmente desenvolvem através de feridas ou cirurgicamente associado a

bactérias gram-positivas (Staphylococcus spp. e Streptococcus spp.) (HEPWORTH-WARREN

et al., 2015; ANNEAR, FURR e WHITE 2011).

Os potros possuem maior propensão em colonizar bactérias nas articulações pelo fato

de apresentarem uma alta vascularização na epífise que por sua vez, possui ramificações diretas

com a superfície articular. Essas ramificações apresentam baixo fluxo sanguíneo e pressão,

propiciando a deposição de bactérias no local (HARDY, 2006; ANNEAR, FURR e WHITE

2011).

No dia 12 de agosto de 2019 foi atendida na clínica uma potra, crioula, de

aproximadamente 8 meses de idade, com presença de laceração na região da articulação

metatarsofalangeana do membro pélvico esquerdo e claudicação grau V. No exame físico o

animal apresentava FC de 64 bpm (batimentos por minuto), FR de 24 mpm (movimentos por

minuto), TPC 2 e temperatura de 38,3 ºC (graus celsius).

O animal foi sedado com medicação pré-anestésica (MPA) a base de cloridrato de

xilazina a 10% (Sedanew®) na dose de 1 mg/kg e maleato de acepromazina a 1%

Page 36: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

37

(Apromazin®) na dose de 0,05mg/kg, posteriormente a indução foi realizada com cloridrato de

cetamina (Cetamin®) na dose de 3 mg/kg e diazepam na dose de 0,1 mg/kg e a manutenção

com metade das doses de cloridrato de xilazina e cetamina. Após posicionamento do animal em

decúbito lateral direito e realizada a limpeza da ferida com PVPI degermante e álcool a 70%,

pode-se avaliar a extensão do ferimento através do exame visual e realizar um estudo

radiológico (Figura 16). A formação de um flap da cápsula articular acarretou em comunicação

com a articulação metatarsofalageana e consequentemente o desenvolvimento da artrite séptica.

Figura 16 – Ferida na articulação metatarsofalangeana (A). Estudo radiológico com

evidenciação da formação do flap e comunicação com a articulação (B).

Fonte: Arquivo pessoal (A). Clínica de Equinos Santa Maria (B) (2019).

O diagnóstico baseia-se no histórico, sinais clínicos de efusão articular, aumento de

temperatura local, claudicação, hipertermia, dor e possíveis alterações nos parâmetros. Exames

de imagem (radiografia e ultrassonografia) avaliam a extensão e grau da lesão associado à

cultura e análise citológica do líquido sinovial. Comumente o líquido apresentará alteração na

coloração, viscosidade, aumento na contagem de células nucleadas, aumento na porcentagem

de neutrófilos e proteína total. Importante salientar que as principais articulações envolvidas

são a tibiotarsiana, metacarpofalangeana, metatarsofalangeana, carpo e fêmurotíbiopatelar

Page 37: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

38

(VOS e DUCHARME, 2008; BECCATI et al., 2015; GLASS e WATSS, 2017; COUSTY et

al., 2016). No presente caso o diagnóstico se baseou no histórico clínico e na avaliação

radiográfica e como, anteriormente reportado descreve-se o envolvimento das estruturas que

compõem a articulação metatarsofalangeana como a cápsula articular.

A lavagem articular age na limpeza da articulação e na renovação do líquido sinovial,

removendo detritos como a fibrina, associada à infiltração intra-articular e perfusão regional

com amicacina ou gentamicina, além da administração sistêmica de antibióticos de amplo

espectro para eliminar o agente causador. Em casos de grande quantidade de fibrina e lavagem

articular ineficiente, métodos como artroscopia ou artrotomia podem ser necessários. O uso de

anti-inflamatórios não esteroidais (AINE) diminuem a ação inflamatória local que pode levar a

danos na cartilagem, além do controle da dor (MEIJER; VAN WEEREN e RIJKENHUIZEN,

2000; RÚBIO-MARTÍNEZ e CRUZ, 2006).

O tratamento foi constituído por antissepsia cirúrgica, localização da articulação e

posterior punção com agulha 40x12 guiado por radiografia digital, coleta do líquido sinovial

(coloração amarelo escuro e diminuição da viscosidade) e lavagem articular com um litro de

solução ringer com lactato (RL) (Figura 17.A). Após a lavagem, realizou-se infusão intra-

articular de 4 ml (1 grama) de sulfato de amicacina e perfusão regional intravenosa de 4 ml (1

grama) de sulfato de amicacina diluídos em 16 ml de solução RL com garrote por 20 minutos.

A ferida foi protegida por bandagem de algodão e cooflex® (Figura 17.B).

Page 38: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

39

Figura 17 – Lavagem articular evidenciando a comunicação entre a ferida e a articulação

metatarsofalangeana (A). Curativo com bandagem de algodão e cooflex® (B).

Fonte: Arquivo pessoal (2019).

Instituiu-se o tratamento sistêmico com flunixim meglumine (Chemitec®) na dose de

1,1 mg/kg intravenoso (IV) – quatro vezes ao dia (QID), sulfato de gentamicina (Gentopen®)

na dose de 6,6 mg/kg IV – uma vez ao dia (SID), ceftiofur (Excede®) na dose de 6,6 mg/kg,

intramuscular (IM), a cada 96 horas e omeprazol na dose de 4,4 mg/kg via oral (VO) – SID.

A segunda lavagem articular (Figura 18.A) ocorreu da mesma forma 48 horas após a

primeira, a terceira lavagem articular (Figura 18.B) 72 horas após e a quarta lavagem articular

cinco dias após a terceira (Figura 18.C). Na quinta e última lavagem (oito dias após a quarta

lavagem) observou-se o fechamento da comunicação entre a ferida e a articulação dessa forma,

foram realizadas duas punções com agulha 40x12 na articulação para posterior lavagem (Figura

18.D), adicionalmente, optou-se pela infiltração intra-articular de 2 ml (20mg) de ácido

hialurônico (Hyacoat®) com o objetivo de suporte para a qualidade do líquido sinovial e por

fim, o membro acometido foi estabilizado com gesso e o animal recebeu alta (Figura 18.E).

Page 39: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

40

Figura 18 – Segunda lavagem articular (A). Terceira lavagem articular (B). Quarta lavagem

articular (C). Quinta lavagem articular (D). Membro engessado (E).

Fonte: Arquivo pessoal (2019).

Após 25 dias da última lavagem, realizou-se a remoção do gesso e nova avaliação da

ferida, a qual apresentava coloração rósea viva e sem comunicação com a articulação (Figura

19), por isso, novamente a ferida foi protegida por uma bandagem Robert Jones.

Page 40: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

41

Figura 19 – Ferida após remoção do gesso.

Fonte: Arquivo pessoal (2019).

Diferentes causas podem promover o aparecimento de uma artrite séptica, o

prognóstico varia muito e está diretamente relacionado a fatores como idade, septicemia,

quantidade de articulações afetadas, presença de osteomielite, tempo decorrido desde o início

dos sinais, tratamento precoce e resposta ao mesmo. Em casos de apenas uma articulação

acometida, rápida instituição do tratamento associado a não presença de sinais de septicemia,

como é o caso relatado, o prognóstico se torna favorável (VOS e DURCHARME, 2008; SMITH

et al., 2004).

3.1.2 Laminite aguda/crônica

3.1.2.1 Relato de Atendimento

A laminite se caracteriza por uma inflamação das lâminas do casco que acarreta em

enfraquecimento da membrana basal e pode evoluir para o descolamento entre a parede dorsal

do casco e da terceira falange, ocasionando rotação ventral da mesma (THOMASSIAN et al.,

2000; BAXTER, 1994; BUSCH, 2009).

Várias são as etiologias e fatores desencadeantes da laminite, a sua fisiopatologia é

complexa e variável, podendo ser de cunho traumático (exercício prolongados ou em solos

Page 41: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

42

inadequados e fraturas ou ferimentos que levam ao apoio excessivo no membro contralateral),

vascular (vasoconstrição periférica associado a hipoperfusão com agregação plaquetária e

isquemia), enzimático (ativação das metaloproteinases por endotoxinas que levam a destruição

das proteínas da membrana basal), sobrecarga alimentar (aumento na produção de ácido lático

que acarreta consequentemente uma disbiose cecal e liberação de endotoxinas para a corrente

sanguínea), septicemia (secundária a doenças como desconforto abdominal, pleuropneumonias,

endometrite, retenção de placenta), obesidade que acarreta em distúrbios metabólicos como a

resistência à insulina e a síndrome metabólica (WYLIE et al., 2013; ORSINI, 2014; KATZ e

BAILEY, 2012).

No dia 08 de agosto de 2019 deu entrada a clínica uma égua, crioula de

aproximadamente 6 anos de idade, com o histórico clínico de aumento de FC, FR, presença de

pulso digital nos dois membros torácicos, edema na região das quartelas, afundamento da banda

coronária, dificuldade de locomoção e diminuição do peristaltismo intestinal. No exame físico

a paciente apresentava relutância em movimentar-se com claudicação variando de grau III ao

IV, apatia, FC de 60 bpm, FR de 64 mpm, TPC de 3 segundos, temperatura de 39,1 ºC, HT de

29% e PPT 7 g/dL, movimentos intestinais diminuídos no lado direito, sobrepeso e presença de

pulso digital forte nos membros torácicos.

A fase prodrômica da doença se caracteriza pela ausência de sinais clínicos e duração

rápida, a partir do momento que o animal apresenta sinais de dor, dificuldade de locomoção

(atitude antálgica), claudicação, aumento do pulso digital e temperatura do casco, além de

alterações nos parâmetros (aumento da FC, FR, TPC e temperatura) define-se como fase aguda.

Nos casos de resposta ineficiente ao tratamento, piora dos sinais e irregularidade na distância

entre a parede dorsal do casco e da falange distal (rotação) no exame radiográfico, a doença

apresenta-se na fase crônica (THOMASSIAN et al., 2000; KATZ e BAILEY, 2012).

Devido à presença de sinais de dor associado ao temperamento do animal optou-se

pela realização do bloqueio abaxial nos dois membros torácicos para facilitar o exame físico e

radiográfico. No estudo radiológico não se observou rotação ventral da terceira falange

indicando inicialmente um quadro de laminite aguda (Figura 20). Em seguida os cascos do

animal foram aparados para remoção do excesso de pinça e talões, onde observou-se a presença

de um processo infeccioso na linha branca (Figura 21.A). Uma palmilha alemã com elevação

na região dos talões foi posicionada nos membros torácicos para aumentar o conforto, diminuir

Page 42: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

43

a pressão sobre o tendão flexor digital profundo (TFDP) e prevenir a rotação da terceira falange

(Figura 22.B).

Figura 20 – Estudo radiológico membro torácico esquerdo (A) e membro torácico direito (B).

Fonte: Clínica de Equinos Santa Maria (2019).

Figura 21 – Casco após casqueamento e remoção da área da linha branca afetada (A).

Palmilhas com elevação na região dos talões (B).

Fonte: Arquivo pessoal (2019).

Page 43: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

44

Após o diagnóstico por meio dos sinais clínicos, histórico e imagens radiográficas,

além da definição da fase em que a doença se apresenta, é instituído o tratamento adequado. O

combate à inflamação com o uso de AINE é amplamente utilizado nos casos de laminite, onde,

a fenilbutazona é a mais indicada nos casos de controle da dor (DIVERS, 2008; BAXTER,

1994; BELKNAPE 2010), a qual foi administrada (Equipalazone®) na dose de 1,1 mg/kg, IV

– duas vezes ao dia (BID) associado ao omeprazol na dose de 4 mg/kg, VO - SID para prevenção

de úlceras gástricas. Moore (2008) descreve a utilização do maleato de acepromazina para

vasodilatação periférica e aumento da irrigação sanguínea nas lâminas dos cascos, o qual foi

instituído no tratamento (Apromazin®) na dose de 0,05 mg/kg, IM – BID, juntamente com 8

gramas (g) de Pentoxifilina VO – três vezes ao dia (TID), que também atua no aumento do

fluxo através da diminuição da viscosidade do sangue, aumento da deformação das células

sanguíneas e redução da agregação plaquetária.

Institui-se fluidoterapia com solução RL associada à lidocaína na dose de 1,3 mg/kg

in bolus no primeiro litro e 0,05 mg/kg na manutenção, a qual possui efeitos pró-cinético e

analgésico. Associado a fluidoterapia, três litros de glicose a 5% com 100 ml de

dimetilsulfóxido (DMSO) por litro por 3 dias, que atua como carreador de radicais livres e ação

anti-inflamatória (MOORE, 2008 e BAKER, 2012).

A crioterapia é indicada nos casos de laminite aguda e na fase de desenvolvimento,

reduzindo a atividade inflamatória e inibindo a expressão das metaloproteinases pela

diminuição do metabolismo celular (VAN EPS et al., 2014; VAN EPS e POLLITT, 2004). Os

membros torácicos do animal foram posicionados em bolsas térmicas com gelo e água pelo

máximo de tempo possível durante as primeiras 72 horas (Figura 22).

Page 44: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

45

Figura 22 – Crioterapia.

Fonte: Arquivo pessoal (2019).

Após 8 dias do início do tratamento foi realizado o casqueamento e ferrageamento

corretivos com utilização de talonete para elevação dos talões, guiado por radiografia digital. A

elevação dos talões é indicada para diminuir a tensão do TFDP e da terceira falange, prevenindo

a rotação da mesma (BAKER, 2012 e THOMASSIAN et al., 2000). Horas após o

procedimento, o animal apresentou diarreia, sudorese, tremores musculares e desconforto. A

partir dos sinais de diarreia suspendeu-se a administração de fenilbutazona e, acrescentou-se

administração de 5g de Floramax® VO – SID para recomposição da microbiota intestinal e

enrofloxacina (Kinetomax®) na dose de 6 mg/kg – SID durante três dias. Somado a diarreia, o

animal apresentou diminuição da PPT (4,4 d/l) e aumento do HT (38%) necessitando de

transfusão de bolsas de plasma e fluidoterapia até estabilização dos exames.

Após 11 dias do ferrageamento verificou-se que o animal não estava adaptado aos

ferros pelos sinais clínicos de pulso digital forte, desconforto e relutância em movimentar-se,

Page 45: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

46

logo, os mesmos foram removidos e reposicionadas as palmilhas de espuma vinílica acetinada

(EVA) com elevação nos talões, as quais eram trocadas a cada 48 horas.

Em nova avaliação radiográfica, observou-se a presença de linhas radiolucentes

possivelmente de gás entre a parede dorsal do casco e a terceira falange, indicando uma sutil

rotação ventral da 3º falange. Realizou-se casqueamento da parte dorsal do casco guiado por

radiografia até abertura da linha de gás (Figura 23).

Figura 23 –Visualização das lâminas do casco após casqueamento para abertura da linha de

gás.

Fonte: Arquivo pessoal (2019).

Como descrito por Thomassian et al. (2000), a inflamação das lâminas e rotação da

falange prejudicam a circulação sanguínea local e predispõe a degeneração do tecido como,

consequentemente complicações como abscesso subsolear são frequentes em animais

acometidos pela laminite. Com o decorrer da internação o animal apresentou abscesso subsolear

nos dois membros torácicos, necessitando de casqueamento guiado por radiografia para

abertura dos mesmos, limpeza com água oxigenada, iodo e álcool, pedilúvio com água morna

e sulfato de magnésio por 15 minutos até fechamento dos pontos de drenagem. O animal

Page 46: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

47

continuou internado durante e após o período de estágio, com acompanhamento diário do

conforto e parâmetros, associados ao curativo tópico com troca das palmilhas a cada 48 horas,

até completa renovação do casco e resolução dos sinais clínicos.

O prognóstico da doença varia conforme a extensão da lesão, fase da doença, resposta

ao tratamento e ao grau de rotação da falange distal. Segundo Stick et al. (1982), animais com

grau igual ou menor que 5,5 possuem prognóstico favorável e podem voltar a vida atlética, grau

entre 6,6 a 11,5 prognóstico reservado e grau maior que 11,5 prognóstico desfavorável e não

retornarão a vida atlética. O presente relato apresentou um grau mínimo de rotação, entretanto,

os sinais de pulso digital forte, complicações, dor, relutância em movimentar-se e crescimento

lento dos cascos tornaram o tratamento prolongado.

3.2 SISTEMA RESPIRATÓRIO

3.2.1 Pleuropneumonia

3.2.1.1 Relato de Atendimento

A pleuropneumonia é definida como uma infecção do trato respiratório inferior após

o comprometimento dos mecanismos de defesa, como diminuição do movimento mucociliar e

ação dos macrófagos alveolares (RACKLYEFT, RAIDAL e LOVE, 2000; RAIDAL, 1995).

As causas que levam a esse comprometimento estão relacionadas principalmente ao transporte

prolongado associado ao posicionamento da cabeça erguida, que sugerem o acúmulo de

secreção pela incapacidade da depuração mucociliar. Exercícios extenuantes também acarretam

em aspiração de detritos e hemorragias pulmonares induzidas, que podem predispor a um

quadro de infecção secundária. O aumento de cortisol pelo estresse nos casos de viagens longas,

exercício exacerbado e cirurgias podem afetar diretamente a ação fagocitária dos macrófagos

alveolares. Infecções virais (influenza vírus, adenovírus, herpes vírus) também são citadas

como fatores de risco para o sistema de defesa respiratório (FERRUCCI et al., 2008; REUSS e

GIGUÈRE, 2015).

Devido ao exercício, viagens longas e confinamento com a cabeça erguida serem

alguns dos fatores predisponentes, a raça Puro Sangue de Corrida (PSC) é a mais relatada pela

literatura, já que os mesmos possuem uma rotina de treinos, corridas e viagens constantes

(COLLINS, HODGSON e HUTCHINS, 1994; RUSH e MAIR, 2004).

Page 47: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

48

No dia 07 de agosto de 2019 deu entrada a clínica uma potra, PSC, 1 ano e 10 meses,

com queixa de dispneia, perda de peso e sem resposta ao tratamento antimicrobiano. No exame

físico a paciente estava alerta, com FC de 84 bpm, FR de 36 mpm, TPC de 3 segundos,

movimentos intestinais dentro da normalidade, temperatura de 38,2 ºC, mucosas normocoradas,

HT de 36% e proteína total de 6,4 g/dL.

O diagnóstico da doença é baseado no histórico do animal, sinais clínicos de

taquicardia, taquipneia, dispneia, hipertermia, perda de peso, alterações na ausculta pulmonar e

cardíaca, e em casos mais avançados relutância em movimentar-se, secreção nasal e edema

ventral. O exame ultrassonográfico pode evidenciar irregularidade e espessamento da superfície

pleural (pleura parietal e visceral), consolidação pulmonar, presença de líquido anecóico

associado a fibrina e podendo concomitantemente ocorrer formação de abscessos (caudas de

cometa). A partir do exame radiográfico visualiza-se aumento da radiopacidade, margens

irregulares e padrão pulmonar alveolar (broncogramas aéreos). A endoscopia auxilia na

visualização de possíveis secreções hemorrágicas e na coleta de material traqueobrônquico

para cultura e antibiograma (REUSS e GIGUÈRE, 2015 e FERRUCCI et al., 2008).

Realizou-se o exame de ultrassonografia de ambos os lados da cavidade torácica, onde

constatou-se acúmulo de líquido pleural e debris celulares (fibrina) entre as pleuras parietal e

visceral, além de consolidação pulmonar e espessamento da parede do mesmo (Figura 24).

Figura 24 – Ultrassonografia torácica pulmonar evidenciando a presença de líquido e debris

celulares (fibrina) entre as pleuras.

Fonte: Cortesia Clínica de Equinos Santa Maria (2019).

Page 48: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

49

A toracocentese é realizada de forma diagnostica e terapêutica, já que o procedimento

permite a coleta de líquido pleural para posterior avaliação citológica, cultura e antibiograma,

além da drenagem do líquido, lavagem da cavidade pleural e infusão de medicamentos,

proporcionando um maior conforto ao animal (RUSH e MAIOR, 2004; ARROYO et al., 2017).

Após avaliação do exame físico e das imagens, foi realizada uma intervenção cirúrgica

para fixação de drenos torácicos bilaterais. Através da ultrassonografia delimitou-se o ponto

mais ventral para incisão, realizou-se tricotomia, bloqueio local com lidocaína e antissepsia

cirúrgica (Figura 25.A). A técnica realizada iniciou pela incisão da pele e musculatura (músculo

grande dorsal e serrátil ventral) (toracocentese) e posicionamento do dreno. Do lado esquerdo

do tórax foram recuperados 13 litros de conteúdo de aspecto leitoso e coloração amarelo claro

e, do lado direito do tórax foram recuperados quatro litros de conteúdo de aspecto líquido e

coloração amarelo escuro (Figura 26). O dreno foi fixado com sutura em bolsa de tabaco e

finalizado com ponto chinês com fio monofilamentar (Nylon).

Figura 25 – Após tricotomia e antissepsia cirúrgica (A). Dreno fixado no tórax esquerdo (B).

Dreno fixado no tórax direito (C).

Fonte: Arquivo pessoal (2019).

Page 49: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

50

Figura 26 – Conteúdo de aspecto leitoso e coloração amarelo claro (tórax esquerdo) e

conteúdo de aspecto líquido e coloração amarelo escuro (tórax direito).

Fonte: Arquivo pessoal (2019).

A gentamicina é indicada no controle das bactérias gram-negativas associado à

penicilina como antimicrobiano de amplo espectro para o combate da classe gram-positivas e

metronidazol para as anaeróbicas (ARROYO et al., 2017). O ceftiofur é apropriado em casos

de possível infecção por enterobactérias que são espécies anaeróbicas facultativamente gram-

negativas, além da ação sobre gram-posivitas (REUSS e GIGUÈRE, 2015). Após fixação de

um cateter internacional intravenoso, o tratamento instituído iniciou com antibioticoterapia a

base de gentamicina (Pangram®) na dose de 6,6 mg/kg, IV – SID, metronidazol na dose de 25

mg/kg, VO – TID e ceftiofur (Excede®) na dose de 6,6 mg/kg, IM a cada 96 horas.

Administração de flunixim meglumine (Chemitec®) na dose inicial de 1,1 mg/kg, IV – SID e

posteriormente na dose de 2,2mg/kg, TID, juntamente com omeprazol na dose de 4 mg/kg, VO

– SID. Fluidoterapia duas vezes ao dia com três litros de solução RL e dois litros de solução

Page 50: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

51

fisiológica (SF) associado a dois litros de glicose com 100 ml de DMSO em cada por cinco

dias. O DMSO reduz adesão das fibrinas e agregação plaquetária, além da ação anti-

inflamatória (RAIDAL, 1995).

Visto que o animal apresentou um quadro de flebite de veia jugular, fez-se necessária

a instituição de terapia constituída por dez minutos de calor (bolsa de água quente) e posterior

10 minutos de frio (gelo) sobre o local, além de massagem com pomada anti-inflamatória a base

de diclofenaco - BID. Pela presença de pulso digital nos membros torácicos, foi realizada a

remoção dos ferros e acomodação de palmilhas com elevação nos talões para prevenção de

laminite. Além da flebite e laminite, outras complicações como colite, celulite na área de

fixação do dreno, coagulação intravascular disseminada (CID), fístulas broncopleurais e

pneumotórax também podem ocorrer (RUSH e MAIR, 2004; SPRAYBERRY e BYARS, 1999;

RENDLE, ARMSTRONG e HUGHES, 2012; ARROYO et al., 2017; REUSS e GIGUÈRE,

2015).

Após alguns dias de internação, o animal apresentou diminuição sérica da PPT (4,6

d/L) e presença de edema ventral, necessitando de reposição com plasmoterapia. Para auxiliar

na recuperação e melhora na condição nutricional do paciente, administrou-se 20 ml de

Hemolitan® e 15 ml de Glicopan Energy® VO, SID durante todo tratamento.

A drenagem do líquido acumulado entre as pleuras era realizada de forma diária,

associada inicialmente a lavagens da cavidade com solução fisiológica (SF) ou RL aquecidos e

posterior infusão de um litro de SF aquecida com 4 ml (1 grama) de sulfato de amikacina de

cada lado. Era notável nas drenagens que o lado direito apresentava um líquido mais

esbranquiçado e leitoso quando comparado ao lado esquerdo, entretanto, os dois lados possuíam

considerável quantidade de fibrina.

Reuss e Giguère (2015) relatam que o método de aspirado traqueobrônquico

apresentada melhores resultados quanto ao crescimento bacteriano em comparação a cultura do

líquido pleural (43% dos casos negativos). O caso relatado não apresentou crescimento

bacteriano no líquido pleural coletado, é possível que o tratamento antibacteriano possa

mascarar os resultados.

Após dez dias da fixação dos drenos torácicos, houve a necessidade da remoção dos

mesmos pelas complicações de celulite e deiscência dos pontos no local da inserção. Associado

Page 51: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

52

as dificuldades nas drenagens, optou-se pelo reposicionamento dos drenos em áreas mais

ventrais do tórax (Figura 27).

Figura 27 – Reposicionamento do dreno torácico.

Fonte: Arquivo pessoal (2019).

Com o decorrer das lavagens, observou-se pouco progresso nos líquidos drenados e

nos sinais clínicos do animal, optando-se pela mudança nas infusões torácicas com a utilização

de PVPI degermante diluído em água, que visualmente drenava melhor a fibrina. Após infusão

e drenagem do mesmo, modificou-se as infusões de SF aquecida com sulfato de amicacina para

10 ml de enrofloxacina (Kinetomax®). Após sucessivas lavagens com diferentes princípios

ativos, como água oxigenada e água sanitária, o iodo continuou sendo o melhor método de

lavagem.

Page 52: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

53

Após 20 dias de internação, o animal começou a apresentar dificuldade para

locomoção, prostração, hiporexia, dispneia com respiração abdominal, aumento da FC para 100

bpm, FR para 52 mpm e temperatura de 39,8 ºC, além de muita tosse e secreção nasal purulenta

bilateral (Figura 28). Em nova avaliação ultrassonográfica, evidenciou-se no lado direito

consolidação pulmonar em praticamente toda superfície associado a áreas de hepatização

pulmonar e acúmulos circunscritos de líquido, sugerindo múltiplos abscessos. Com a piora dos

sinais e autorização do proprietário foi realizada a eutanásia do animal após 21 diasdw de

tratamento. Realizada a necrópsia confirmou-se a presença de abscessos anteriormente

observados na avaliação ultrassonográfica, grande quantidade de líquido purulento e fístula

broncopleural (Figura).

Figura 28 – Secreção nasal bilateral.

Fonte: Arquivo pessoal (2019).

O prognóstico da pleuropneumonia depende principalmente do tempo decorrido desde

o momento em que o animal sofre o fator desencadeante ou início dos sinais clínicos até o

tratamento, além da resposta aos antibióticos e desenvolvimento de complicações que implicam

na volta a vida atlética. Observou-se altas taxas de recuperação e volta as pistas na literatura

estrangeira, pelo fato da rápida detecção dos sinais e posterior tratamento adequado (RENDLE,

Page 53: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

54

ARMSTRONG e HUGHES, 2012; SPRAYBERRY e BYARS, 1999; COLLINS, HODGSON

e HUTCHINS, 1994; BODECEK, 2011; TOMLINSON et al., 2015). O paciente relatado foi

encaminhado a clínica com um quadro avançado de pleuropneumonia e resposta ineficiente ao

tratamento antibacteriano anteriormente instituído, logo, o prognóstico reservado e as

complicações posteriores impossibilitaram o sucesso do tratamento.

Figura 29 – Presença de líquido purulento na cavidade pleural (A). Abscesso pulmonar (B).

Fístula broncopleural (C).

Fonte: Universidade Federal de Santa Maria (2019).

Page 54: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

55

3.3 SISTEMA VASCULAR

3.3.1 Púrpura Hemorrágica

3.3.1.1 Relato de Atendimento

A púrpura hemorrágica é descrita como uma vasculite imunomediada, a qual se dá

pela produção excessiva de imunocomplexos (antígeno + anticorpo) que se depositam na parede

dos vasos sanguíneos, acarretando em inflamação e necrose dos mesmos. A partir dessas lesões

ocorrem as perdas de proteínas, líquido e eritrócitos para o espaço extracelular, evoluindo para

edema subcutâneo e hemorragias petequeais nas mucosas (WIEDNER et al., 2006; BOYLE et

al., 2017).

As principais causas relatadas estão associadas a animais que tiveram uma infecção

prévia por Streptococcus equi ou foram vacinados contra o mesmo, em alguns casos a

quantidade de antígeno (proteína M) excede a de anticorpos (imunoglobulina A (IgA)), como

forma de compensação, ocorre a formação de pequenos imunocomplexos (proteína M + IgA)

que não são filtrados e circulam pela corrente sanguínea depositando-se na parede dos vasos.

São citados relatos de animais com histórico de infecção viral recente também, entretanto, 10 a

20% dos casos não possuem histórico clínico (PUSTERLA et al., 2003; WIEDNER et al.,

2006).

A doença se caracteriza pela presença de edema subcutâneo na cabeça, membros e

parte ventral, petéquias na mucosa, letargia, anorexia, hipertemia, relutância em mover-se e

alterações nos parâmetros. Esses complexos antígeno-anticorpo podem se depositar em outros

órgãos gerando complicações como pneumonia, diarreia, cólica, glomerulonefrite, miopatias e

infecções articulares. As principais alterações hematológicas e bioquímicas citadas são anemia

moderada, leucocitose, hipoalbuminemia, hiperfibrinogenemia e aumento das enzimas

musculares (PUSTERLA et al., 2003; BOYLE et al., 2017; WEIDNER et al., 2006).

No dia 22 de agosto, em atendimento externo foi examinada uma égua, crioula,

aproximadamente 5 anos, com queixa de inchaço na região da cabeça, prostração, decúbito e

sudorese. Ao exame físico apresentava FC de 64 bpm, FR de 20 mpm, TPC 3, mucosa cianótica,

motilidade intestinal presente, temperatura de 38,5 ºC, diarreia fétida e aumento de volume na

região da mandíbula e lábios. Inicialmente o animal foi medicado com flunixin meglumine

(Chemitec®) na dose de 1,1mg/kg - IV, gentamicina (Gentopen®) na dose de 6,6mg/kg - IV e

Page 55: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

56

15 litros de solução RL – IV. Realizou-se imagens radiográficas da cabeça, afim de descartar

uma possível fratura mandibular. Após a diminuição da temperatura e reidratação considerável,

a paciente foi encaminhada para a clínica.

Em nova avaliação o animal apresentou FC de 60 bpm, FR de 16 mpm, 37,8 ºC,

aumento da motilidade intestinal, HT de 41,6%, PPT de 3,9 g/dL, albumina de 1,15 g/dL e

fibrinogênio de 1.000 mg/dL. A partir dos sinais de diarreia, desidratação, hiperfibrinogenemia

e hipoproteinemia, administrou-se 10 litros de solução RL, quatro bolsas de plasma, 350 gramas

de carvão ativado via sonda nasogástrica e 16 litros de solução eletrolítica livre escolha. O

animal continuou apresentando aumento de volume na região da cabeça, hipertermia e diarreia

com aspecto líquido, fétida e escura (Figura 30).

Figura 30 – Aumento de volume (edema) na região mais cranial da cabeça, afetando as

regiões mandibular e maxilar (A e B).

Fonte: Arquivo pessoal (2019).

Page 56: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

57

O diagnóstico da doença é baseado nos sinais clínicos, histórico de infecção ou

vacinação recente, biópsia de pele (vasculite leucocitoclástica necrosante) e teste de ELISA

positivo para anticorpos contra proteína tipo M do Streptococcus equi. Pelo fato de uma

porcentagem de animais não possuírem o histórico citado pela literatura e nem todos sinais

comuns da doença como é o caso relatado, é importante iniciar o tratamento dos sinais clínicos

encontrados e avaliar a resposta do animal. O tratamento deve combater a inflamação e resposta

imune exacerbada com o uso de AINE (fenilbutazona, flunixin meglumine) associado a protetor

gástrico (omeprazol), corticóides (dexametasona) e antibiótico de amplo espectro (penicilina

potássica ou sódica). A terapia de suporte inclui fluidoterapia, plasma (hipoproteinemia),

duchas e compressas de água fria nos locais afetados, bandagens nos membros e exercícios

leves (WEIDNER et al., 2006; PUSTERLA et al. 2013; KAESE et al., 2005).

O tratamento inicial constituiu-se na administração de flunixin meglumine

(Chemitec®) na dose de 1,1 mg/kg, IV – QID, omeprazol na dose de 4m/kg, VO – SID, 5g de

Floramax®, VO – SID, dexametasona (Dexacort®) na dose inicial de 0,2 mg/kg, IV – BID e

posterior decréscimo por cinco dias, benzilpenicilina potássica na dose de 20.000 UI, IV – QID,

gentamicina (Gentopen®) na dose de 6,6 mg/kg, IV – SID e oito litros de solução eletrolítica

livre escolha, BID. Conforme os resultados do HT e PT, que eram realizados diariamente,

avaliava-se a necessidade de fluidoterapia a base de solução RL e transfusão de plasma.

O edema tornou-se mais evidente nas áreas da narina e boca, além de afetar os quatro

membros (Figura 31), por isso, optou-se pela ducha diária de água fria nos locais afetados e

utilização de bandagem compressiva nos membros.

O estudo radiológico da cabeça foi realizado novamente afim de descartar alterações

nas bolsas guturais, já que o animal apresentava secreção nasal bilateral purulenta fétida e a

doença normalmente está associado ao contato prévio com o Streptococcus (garrotilho) (Figura

32).

Page 57: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

58

Figura 31 – Edema na região das narinas e boca (A e B). Edema nos membros posteriores (C

e D).

Fonte: Arquivo pessoal (2019).

Page 58: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

59

Figura 32 – Estudo radiológico da região da cabeça, sem alterações dignas de nota.

Fonte: Clínica de Equinos Santa Maria (2019).

Após 13 dias de tratamento, a secreção nasal e o edema nos membros e cabeça

diminuíram consideravelmente (Figura 33), associado aos sinais clínicos, a redução dos

leucócitos (13.000/ul) e do fibrinogênio (500 mg/dL) indicaram uma melhora significativa,

determinando a alta do animal.

Figura 33 – Diminuição do edema na região da cabeça (A e B) e dos membros (C).

Fonte: Arquivo pessoal (2019).

Page 59: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

60

O prognóstico normalmente é favorável nos casos de rápido diagnóstico, tratamento

precoce e não ocorrência de complicações. O caso relatado apresentou considerável dificuldade

na determinação do diagnóstico final, já que o mesmo não possuía histórico e inicialmente

apenas sinais de diarreia e aumento de volume na região da mandíbula, fato que levou a suspeita

de acidente ofídico. A escolha do tratamento rápido baseado nos sinais clínicos, terapia

intensiva e evolução durante a internação determinaram o sucesso do caso.

Page 60: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

61

4 CONCLUSÃO

A escolha de realizar o estágio curricular em apenas um local possibilitou o

acompanhamento completo da maioria dos casos apresentados, desde o diagnóstico, definição

do tratamento e evolução. O fato de a clínica possuir uma rotina de internação intensiva

contribuiu de forma significativa no aprendizado da avaliação diária dos parâmetros e evolução

dos animais, na realização de curativos e procedimentos cirúrgicos, organização de

fichas/materiais e no treinamento do diagnóstico clínico correto.

Acompanhar os três setores de clínica, cirurgia e reprodução em conjunto ressaltou

como uma área complementa a outra, onde, na maioria das situações a importância de associá-

las foi fundamental para o diagnóstico final.

Ao final do estágio pude perceber uma notável evolução como pessoa e futura médica

veterinária, a convivência com diferentes pessoas e animais, o trabalho em equipe e a prática

vivenciada foram de grande contribuição para a formação final.

Page 61: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

62

REFERÊNCIAS

ALENCAR-ARARIPE, M. G.; CASTELO-BRANCO, D. S. C. M.; NUNES-PINHEIRO, D.

C. S. ALTERAÇÕES ANATOMOPATOLÓGICAS NA CAVIDADE ORAL EQUINA. Acta

Veterinaria Brasilica, Ceará, v. 7, n. 3, p.184-192, 2013.

ALVES, A. L. G. Semiologia do Sistema Locomotor de Equinos. In: FEITOSA, F. L. F.

Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico. Roca, 2014. p. 569-609.

ANNEAR, M. J.; FURR, M. O.; WHITE, N. A. Septic arthritis in foals. Equine Veterinary

Education. Virginia, v. 23, n. 8, p. 422-431, 2011.

ARROYO, M. G. et al. Factors Associated with Survival in 97 Horses with Septic

Pleuropneumonia. Journal Of Veterinary Internal Medicine. West Lafayette, p. 1-7. jan.

2017.

BAILEY, S. R. The pathogenesis of acute laminitis: fitting more pieces into the

puzzle. Equine Veterinary Journal. London, p. 199-203, 2004.

BAXTER, G. M. Acute Laminitis. Veterinary Clinics Of North America: Equine Practice,

Colorado, v. 10, n. 3, p.627-642, dez. 1994.

BECCATI, F. et al. ULTRASONOGRAPHIC FINDINGS IN 38 HORSES WITH SEPTIC

ARTHRITIS/TENOSYNOVITIS. Vet Radiol Ultrasound, Perugia, v. 56, n. 1, p.68-76, abr.

2014.

BELKNAP, J. K. The Pharmacologic Basis for the Treatment of Developmental and Acute

Laminitis. Veterinary Clinics Of North America: Equine Practice. Columbus, p. 115-124,

2010.

BODECEK, S. et al. Pleuropneumonia in two horses caused by a tracheobronchial foreign

body. Equine Veterinary Education, Brno, Czech Republic, v. 23, n. 6, p.296-301, 2011.

BOYLE, A. G. et al. A case-control study developing a model for predicting risk factors for

high SeM-specific antibody titers after natural outbreaks of Streptococcus equi subsp equi

infection in horses. Journal Of The American Veterinary Medical Association. Kennett

Square, Pennsylvania, p. 1432-1439. jun. 2017.

BUSCH, L. ATUALIDADES NO TRATAMENTO DA LAMINITE EM

EQUINOS. 2009. 18 f. TCC (Graduação) - Curso de Medicina Veterinária, Universidade

Estadual Paulista, Botucatu, 2009.

COLLINS, M. B.; HODGSON, D. R.; HUTCHINS, D. R. Pleural effusion associated with

acute and chronic pleuropneumonia and pleuritis secondary to thoracic wounds in horses: 43

Page 62: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

63

cases (1982-1992). Journal Of The American Veterinary Medical Association. New South

Wales, Australia, p. 1753-1758. dez. 1994.

CORREIA, A. C. T. ODONTOLOGIA EQUINA E TÉCNICAS DE EXODONTIA. 2014.

48 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Medicina Veterinária, Universidade do Porto, Porto,

2014.

COUSTY, M. et al. Effect of arthroscopic lavage and repeated intra-articular administrations

of antibiotic in adult horses and foals with septic arthritis. Veterinary Surgery, Saint Michel

de Livet, v. 46, n. 7, p.1008-1016, mar. 2017.

DIVERS, T. J. COX Inhibitors: Making the Best Choice for the Laminitic Case. Journal Of

Equine Veterinary Science. Ithaca, p. 367-369, 2008.

DIXON, P. M. et al. Equine dental disease Part 1: A long-term study of 400 cases: disorders

of incisor, canine and first premolar teeth. Equine Veterinary Journal. Midlothian, p. 369-

377. Não é um mês valido! 1999.

FERRUCCI, F. et al. Bacterial pneumonia and pleuropneumonia in sport horses: 17 cases

(2001–2003). Equine Veterinary Education. Milan, p. 526-531, 2008.

GLASS, K.; WATTS, A. E. Septic Arthritis, Physitis, and Osteomyelitis in Foals. Veterinary

Clinics Of North America: Equine Practice, Texas, v. 33, n. 2, p.299-314, 2017.

HARDY, J. Etiology, Diagnosis, and Treatment of Septic Arthritis, Osteitis, and

Osteomyelitis in Foals. Clinical Techniques In Equine Practice, Texas, v. 5, n. 4, p.309-

317, 2006.

HEPWORTH-WARREN, K. L. et al. Bacterial isolates, antimicrobial susceptibility patterns,

and factors associated with infection and outcome in foals with septic arthritis: 83 cases

(1998–2013). Journal Of The American Veterinary Medical Association. Iowa, p. 785-

793. abr. 2015.

HOLE, S. L. Wolf teeth and their extraction. Equine Veterinary Education. Staffordshire, p.

344-351. abr. 2016.

KAESE, H. J. et al. Infarctive purpura hemorrhagica in five horses. Journal Of The

American Veterinary Medical Association. Minnesota, p. 1893-1898. jun. 2005.

KATZ, L. M.; BAILEY, S. R. A review of recent advances and current hypotheses on the

pathogenesis of acute laminitis. Equine Veterinary Journal. Victoria, p. 752-761. ago. 2012.

MEIJER, M. C.; VAN WEEREN, P. R.; RIJKENHUIZEN, A. B. M. Clinical Experiences of

Treating Septic Arthritis in the Equine by Repeated Joint Lavage: a Series of 39

Cases. Journal Of Veterinary Medicine. Utrecht, p. 351-365. jan. 2000.

Page 63: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

64

MOORE, R. M. Evidence-Based Treatment for Laminitis—What Works? Journal Of Equine

Veterinary Science. Columbus, p. 176-179, 2008.

ORSINI, J. A. Science-in-brief: Equine laminitis research: Milestones and goals. Equine

Veterinary Journal. Florida, p. 529-533, 2014.

PUSTERLA, N. et al. Purpura haemorrhagica in 53 horses. Veterinary Record. Davis,

California, p. 118-121. jul. 2003.

RACKLYEFT, D. J.; RAIDAL, S.; LOVE, D. N. Towards an understanding of equine

pleuropneumonia: factors relevant for control. Australian Veterinary Journal. Scone, New

South Wales, p. 334-338. maio 2000.

RAIDAL, S. L. Equine Pleuropneumonia. British Veterinary Journal. New South Wales, p.

233-262, 1995.

RENDLE, D. I.; ARMSTRONG, S. K.; HUGHES, K. J. Combination fibrinolytic therapy in

the treatment of chronic septic pleuropneumonia in a Thoroughbred gelding. Australian

Veterinary Journal. New South Wales, Australia, p. 358-362. set. 2012.

REUSS, S. M.; GIGUÈRE, S. Update on Bacterial Pneumonia and Pleuropneumonia in the

Adult Horse. Veterinary Clinics Of North America: Equine Practice. Florida, p. 105-120,

2015.

RUBIO-MARTÍNEZ, L. M.; CRUZ, A. M. Antimicrobial regional limb perfusion in

horses. Journal Of The American Veterinary Medical Association. Canadá, p. 706-712.

mar. 2006.

RUSH, B.; MAIR, T. Pneumonia in Adult Horses. In: RUSH, Bonnie; MAIR, Tim. Equine

Respiratory Diseases. USA: Blackwell Science Ltd, 2004. p. 271-289.

SMITH, L. J. et al. What is the likelihood that Thoroughbred foals treated for septic arthritis

will race? Equine Veterinary Journal. Glasgow, p. 452-456, 2004.

STICK, J. S. et al. Pedal bone rotation as a prognostic sign in laminitis in horses. Journal Of

The American Veterinary Medical Association. v. 180, p. 251-253, 1982.

SPRAYBERRY, K. A.; BYARS, T. D. Equine pleuropneumonia. Equine Veterinary

Education. Kentucky, p. 290-293, 1999.

THOMASSIAN, A. et al. Patofisiologia e tratamento da pododermatite asséptica difusa nos

eqüinos - (Laminite eqüina) / Laminitis pathophysiology and treatment in horses. Rev. educo

contin. CRMV-SP / Continuous Education Journal CRMV·SP, São Paulo, volume 3,

fascículo 2, p. 16 - 29, 2000.

Page 64: RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA …

65

TOMLINSON, J. E. et al. The Use of Recombinant Tissue Plasminogen Activator (rTPA) in

The Treatment of Fibrinous Pleuropneumonia in Horses: 25 Cases (2007–2012). Journal Of

Veterinary Internal Medicine. Kennett Square, Pennsylvania, p. 1403-1409. jul. 2015.

VAN EPS, A. W. et al. Continuous digital hypothermia initiated after the onset of lameness

prevents lamellar failure in the oligofructose laminitis model. Equine Veterinary

Journal. Gatton, p. 625-630. ago. 2014.

VAN EPS, A. W.; POLLITT, C. C. Equine laminitis: cryotherapy reduces the severity of the

acute lesion. Equine Veterinary Journal. Queensland, p. 255-260. fev. 2004.

VOS, N. J.; DUCHARME, Norm G. Analysis of factors influencing prognosis in foals with

septic arthritis. Irish Veterinary Journal. Dublin, p. 102-106, 2008.

WIEDNER, E. B. et al. Purpura Hemorrhagica. Compendium: Equine Edition. West

Lafayette, Indiana, p. 82-93, 2006.

WYLIE, C. E. et al. Risk factors for equine laminitis: A case-control study conducted in

veterinary-registered horses and ponies in Great Britain between 2009 and 2011. The

Veterinary Journal. Suffolk, p. 57-69. ago. 2013.