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CPI DA MIGRAÇÃO 1 ENDEREÇO: PALÁCIO ANCHIETA / VIADUTO JACAREÍ, 100 - BELA VISTA - SÃO PAULO-SP - CEP 01319-900 - TELEFONE: 11 3396-4000 RELATÓRIO FINAL – CPI DA MIGRAÇÃO Referente ao inquérito parlamentar criado com base no Requerimento, RDP, Nº 08 -00005/2017, de 31 de janeiro de 2017. 1. Apresentação ........................................................................................ 03 2. Metodologia .......................................................................................... 04 3. Breve histórico da migração na cidade de São Paulo .......................... 04 4. Histórico da legislação de migração .......................................................11 5. Equipamentos e Projetos Públicos de Atenção ao Migrante..................26 6. Contribuições da Coordenação de Políticas Públicas para Migrantes da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania.........................34 7. Conclusões e recomendações................................................................56 8. ANEXOS................................................................................................. 69

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CPI DA MIGRAÇÃO

1 ENDEREÇO: PALÁCIO ANCHIETA / VIADUTO JACAREÍ, 100 - BELA VISTA - SÃO PAULO-SP - CEP 01319-900 - TELEFONE: 11 3396-4000

RELATÓRIO FINAL – CPI DA MIGRAÇÃO

Referente ao inquérito parlamentar criado com base no Requerimento,

RDP, Nº 08 -00005/2017, de 31 de janeiro de 2017.

1. Apresentação ........................................................................................ 03

2. Metodologia .......................................................................................... 04

3. Breve histórico da migração na cidade de São Paulo .......................... 04

4. Histórico da legislação de migração .......................................................11

5. Equipamentos e Projetos Públicos de Atenção ao Migrante..................26

6. Contribuições da Coordenação de Políticas Públicas para Migrantes da

Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania.........................34

7. Conclusões e recomendações................................................................56

8. ANEXOS.................................................................................................69

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ANEXOS

I - Cosmópolis: Diagnóstico do atendimento dos Migrantes pelos órgão da Prefeitura Municipal de São Paulo.

II - Mapeamento dos grupos de imigrantes ou ligados à temática migratória.

III - Mapeamentos dos cursos de português para imigrantes na cidade de São Paulo.

IV - Centro de Referência e Acolhida para Imigrantes. Relatório anual 2014-2015

V - Texto síntese da Conferência Municipal de Políticas para Imigrantes.

VI - Qualificação da atenção a população migrante por agentes público área de referência saúde: 2014.

VII - Qualificação da atenção a população migrante por agentes público área de referência educação: 2015.

VIII - Relatório final Abrigo emergencial PMSP: 2014.

IX - Denuncias encaminhadas a CPI

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1. Apresentação

A Comissão Parlamentar de Inquérito para averiguar a Política de Migração

do Município de São Paulo (CPI da Migração), proposta, através do Requerimento

de RDP Nº 08 -00005/2017, de 31 de janeiro de 2017, de autoria do excelentíssimo

vereador Eduardo Suplicy, que “Requer a constituição de Comissão Parlamentar

de Inquérito, com base no artigo 33 da Lei Orgânica do Município, para

averiguar a política de migração no município de São Paulo e medidas

necessárias para o seu aperfeiçoamento”, parte da premissa da “relevância ímpar

do tema que a migração representa ao munícipio de São Paulo, dada a

complexidade e os desafios necessários para construção de uma política

pública eficaz no âmbito municipal”.

A partir da definição da Constituição Federal, regulamentada na Lei Orgânica

do Munícipio de São Paulo, em seu art. 32, inciso II, de que o Poder Legislativo tem

por competência a função, entre outras, de Apuração e Fiscalização das ações do

Poder Executivo, a propositura da CPI da Migração considera:

1. O expressivo crescimento do número de imigrantes no Brasil, que

segundo os dados da Policia Federal, teve aumento de 160 % em 10

anos;

2. Que no Brasil, de acordo com o relatório de 2016 do Comitê Nacional

para os Refugiados (CONARE), as solicitações de refúgio cresceram

2.868% em cinco anos, passando de 966, em 2010 para 28.670, em

2015;

3. Que, segundo dados da Polícia Federal, atualmente cerca de 400 mil

imigrantes estão vivendo na cidade de São Paulo;

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4. Que o Município de São Paulo possui um importante marco legal ao

instituir a Política Municipal para a População Imigrante e o Conselho

Municipal de Imigrante, e

5. A necessidade de aferição das condições sociais em que o imigrante se

encontra no Município de São Paulo e as medidas necessárias para o

aprimoramento da garantia de acesso aos direitos sociais e serviços

públicos da cidade a todos.

O Requerimento, fundamentado no art. 33 da Lei Orgânica do Município de

São Paulo e art. 93 do Regimento Interno, solicitou a constituição de Comissão

Parlamentar de Inquérito — CPI, composta por 7 (sete) membros, com duração

de 120 ( cento e vinte) dias, a partir da data de sua instalação, e destinada à

apuração do fato acima determinado – averiguação da política de migração na

cidade de São Paulo e as medidas necessárias para o seu aperfeiçoamento –

tema de grande interesse do munícipio São Paulo.

O Requerimento RDC 08 – 00005/2017 foi aprovado na 1ª Sessão

Ordinária, em 01 de fevereiro de 2017, publicado no Diário Oficial do Município

de São Paulo em 03 de fevereiro de 2017, aprovando a constituição da

Comissão Parlamentar de Inquérito da Migração que, em 15 de fevereiro de

2017, foi instalada em Reunião de Instalação com a presença com a presença

do Vereador requerente, Eduardo Suplicy, da Vereadora Edir Sales, e dos

Vereadores Fernando Holiday, Toninho Paiva representando a Vereadora

Noemi Nonato e o Vereador Caio Miranda Carneiro.

2. Metodologia

O Relatório em questão constitui-se em um resumo do processo completo

da Comissão Parlamentar de Inquérito para averiguar a Política de Migração do

Município de São Paulo - CPI da Migração, que envolve todos os elementos

constituintes, desde um aprofundamento dos fatos motivadores, que despertaram o

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interesse do Vereador Requerente, e que, encontrando ressonância nos demais

membros desta Casa Legislativa, resultou na aprovação desta Comissão

Parlamentar de Inquérito, até as conclusões e encaminhamentos obtidos a partir da

análise das oitivas de convidados e depoentes, de Organizações de apoio ao

migrante, assim como representantes da Academia e do Poder Público, e por fim,

da pesquisa de legislação pertinente e estudos disponíveis sobre a temática.

Como metodologia, foi realizado o levantamento documental da legislação

nacional e local pertinente ao assunto; pesquisa bibliográfica de autores ligados à

produção científica tanto no que concerne à situação dos migrantes no âmbito do

município de São Paulo, quanto às iniciativas e projetos desenvolvidos junto às

diversas comunidades de estrangeiros; na leitura e apreensão do conteúdo das

oitivas de depoentes, convidados e representantes de organizações que dão

suporte a grupos de imigrantes e refugiados e associações representativas das

diversas comunidades de pessoas oriundas de outros países. Neste último método

buscou-se identificar, na fala ou na exposição realizada pelo orador - registrado em

Notas Taquigráficas pela equipe de Taquigrafia desta Casa Legislativa - os pontos

de destaque acerca dos problemas que fazem parte da vida cotidiana das

diferentes populações de migrantes ou refugiados, assim como reconhecer as

sugestões de encaminhamentos, de resolução de conflitos e dos aspectos positivos

da inserção destes na sociedade brasileira, através da ação de entidades de apoio

e da atuação do Poder Público.

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3. Breve histórico da migração na cidade de São Paulo

A história da imigração na cidade de São Paulo está intimamente ligada

à história do desenvolvimento da cidade, sendo os migrantes também

responsáveis por esse processo através de seu trabalho e influência cultural. A

presença desses povos pode ser percebida em diversas áreas como na

arquitetura, na culinária e nos esportes.

Desde o inicio deste século, houve um movimento crescente de entrada

de estrangeiros caracterizado por grupos diversificados oriundos tanto de

países desenvolvidos quanto de países subdesenvolvidos, principalmente da

América Latina.

De acordo com o “International Migration Report 2015: Highlights Key

Facts”1 o número de migrantes internacionais têm crescido rapidamente nos

últimos quinze anos, alcançando a marca de 244 milhões de pessoas em 2015,

sendo esta, em 2010, de 222 milhões e em 2000, 173 milhões de pessoas em

deslocamento (ONU, 2016).

Os fatores deste incremento da migração internacional se relacionam,

em um primeiro momento, ao mundo cada vez mais interligado, onde a

migração se dá entre todo e qualquer dos continentes, tornando obsoletos

conceitos como país de origem, de trânsito e de destino, tendo como elemento

facilitador uma rede de transporte mundial que torna mais fácil, rápido e barato

o deslocamento de pessoas. Mas, os principais fatores desencadeantes deste

processo passam pelos conflitos, a pobreza, a desigualdade e a busca pelo

1 International Migration Report 2015 – ONU – 2016

http://www.un.org/en/development/desa/population/migration/publications/migrationreport/docs/MigrationReport2015_Highlights.pdf

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trabalho decente, que mobilizam as pessoas a abandonarem seu lugar de

nascimento em busca de um futuro melhor para si e suas famílias.

O Brasil tem se configurado em país de escolha para os migrantes em

função das crescentes restrições à entrada de imigrantes na Europa e nos

Estados Unidos, e às crises econômicas e conflitos políticos em países

vizinhos. Atualmente o país tem registrado a entrada de um crescente número

de estrangeiros advindos da Bolívia, Congo e Haiti, e também a solicitação de

refúgio de pessoas oriundas de regiões com países em conflito armado, como

Oriente Médio, África e Ásia.

Enquanto tema bastante atual e complexo, os processos migratórios

demandam um estudo profundo acerca do tema com a finalidade de

entendimento dessa dinâmica de movimento de pessoas através do mundo,

incorporando-se novas dimensões explicativas, revisando-se conceitos, entre

eles o da própria migração, no âmbito internacional e nacional, e seu impacto

no âmbito do local, onde a inserção, integração e conflitos advindos desta

interação ocorrem, ou seja, onde a vida cotidiana das pessoas se desenvolve.

Os desafios que este novo panorama traz para o país e para a Cidade

de São Paulo são grandes. Na Pesquisa “Migrantes, apátridas e refugiados:

subsídios para o aperfeiçoamento de acesso a serviços, direitos e políticas

públicas no Brasil”2, graves questões foram constatadas como a existência,

entre os migrantes, de graves violações de direitos humanos, de obstáculos de

acesso a direitos e serviços, da ausência de diretrizes centralizadas de aten-

dimento e de desconhecimento, por parte destes, de ações para a melhoria de

sua proteção no Brasil.

O estudo foi uma iniciativa do projeto Pensando o Direito da Secretaria

de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça (SAL/MJ) em parceria com a

Secretaria Nacional de Justiça e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

2Pensando o Direito - http://pensando.mj.gov.br/wp-content/uploads/2015/12/PoD_57_Liliana_web3.pdf

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(Ipea) e tinha por objetivo apontar os principais obstáculos normativos,

institucionais e estruturais de acesso a direitos e serviços dos migrantes no

país e, ao mesmo tempo, mapear os fluxos migratórios em todas as regiões do

Brasil, traçando o perfil da população de imigrantes.

Sobre o perfil do imigrante no Brasil este estudo constatou que:

- grande maioria é masculina, com recente crescimento do número de

mulheres;

- faixa etária predominante está entre 18 a 40 anos;

- existência de todas as categorias migratórias - refugiados, solicitantes

de refúgio, migrantes econômicos, imigrantes por questões humanitárias,

deslocados ambientais, além de estudantes e indocumentados em todas as

regiões do país;

- há menções de apátridas3 em todas as regiões do país com exceção

do Nordeste

- relatos de traficados nas regiões Norte e Sudeste

- maioria dos imigrantes é de Africanos e Latinos (América do Sul +

Caribe)

- presença de todos os grupos vulneráveis listados pela pesquisa

(Mulheres, Crianças, Idosos, Pessoas com deficiência, Vítimas de crises

humanitárias, Minorias étnicas, Minorias culturais, Minorias religiosas, Minoria

LGBT, Indígenas, Enfermos e Pessoas em situação de rua), com destaque

para mulheres, crianças, com suas famílias ou desacompanhadas, idosos, e

imigrantes de situações de crise, como os haitianos e os sírios.

Acerca dos principais obstáculos para o acesso a direitos e serviços, as

principais dificuldades enfrentadas e relatadas pela população migrantes aos

pesquisadores foram o idioma (21,74% dos entrevistados), o trabalho

(20,63%), o acesso a serviços (16,24%), a documentação (13,98%), e outros

3 Apátrida - não possuir nacionalidade ou cidadania. É quando o elo legal entre o Estado e um indivíduo deixa de existir. http://www.acnur.org/portugues/quem-ajudamos/apatridas/o-que-e-a-apatridia/

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como financeiras, discriminação, subsistência e informação, além de problemas

psicológicos, religiosos e de relação com as instituições (BRASIL, 2015).

Na percepção das Instituições, acerca desses obstáculos para o acesso

a serviços e direitos pelos migrantes e refugiados, no Estado de São Paulo,

identificou-se principalmente:

1. Preconceito no que se refere ao acesso à moradia;

2. Preconceito e tratamento inadequado quanto aos refugiados por

desconhecimento da sociedade sobre sua condição;

3. Falta de servidores públicos capacitados para lidar com as diferenças

culturais e se comunicar em outros idiomas;

4. Dificuldades de reconhecimento da capacitação e formação dos

imigrantes;

5. Ausência de ajuda econômica e de orientação sobre os meios para

reconstruir suas vidas para os refugiados;

6. Dificuldade na obtenção de documentos, principalmente CTPS

7. Moradia.

O principal entrave constatado para sua integração na sociedade

brasileira foi a ausência de políticas públicas específicas voltadas para os

Migrantes.

No levantamento da percepção acerca dos principais fluxos migratórios

por Estados, a pesquisa registrou que no Estado de São Paulo, nas duas

últimas décadas, os migrantes que aqui chegaram são oriundos

prioritariamente do Haiti, Bolívia e Nigéria, mas com um afluxo de pessoas de

todas as nacionalidades.

Acerca da percepção de Violações de Direitos Humanos e

Discriminação, por volta de 40% dos imigrantes no Estado de São Paulo

afirmaram ter sofrido algum tipo de violação de direitos humanos, entre elas a

discriminação, em questões de trabalho, segurança e ameaça. A totalidade

destes afirma que esses abusos foram cometidos pelo simples fato de serem

migrantes.

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Ainda sobre a discriminação, o fato de que o grande percentual de migrantes

na mais recente onda migratória em São Paulo serem oriundos do continente

africano e do Haiti desperta também o questionamento do que seria xenofobia

ou racismo. Estudos acadêmicos afirmam que no Brasil “os novos imigrantes

têm enfrentado grandes dificuldades e certa desconfiança por parte dos

brasileiros, principalmente aqueles oriundos de países em situação de conflitos,

que são forçados a submeter-se ao trabalho precarizado e também ao

preconceito de uma sociedade com forte herança escravista” (BOGUS,

FABIANO, 2015).

No que se refere às instituições da sociedade civil que atuam junto aos

migrantes e refugiados, o estudo identificou três grupos que diferem em sua

atuação, sendo as entidades que se ocupam de maneira geral da comunidade

imigrante; aquelas que se dedicam a grupos particulares, como refugiados por

exemplo; e as instituições constituídas pelos próprios migrantes que

representam seus direitos e interesses.

Essa pluralidade na ação da sociedade civil se reproduz no campo das

instituições públicas. As diversas secretarias governamentais como a de

educação, saúde, trabalho e emprego, direitos humanos, dentre outras áreas

precisaram incorporar o tema da migração em suas agendas, em decorrência

do estabelecimento de recentes movimentos migratórios em direção à capital

do Estado e confrontadas com essa nova realidade.

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4. Histórico da legislação de migração

Movimentos sociais, culturais, acadêmicos, associações de residentes,

religiosos e grupos organizados de imigrantes de diversas nacionalidades têm-

se articulado há décadas para lutar e conquistar direitos para si e para suas

comunidades, abrindo desta forma os espaços de reivindicação social junto ao

poder público em busca de garantir direitos, sejam sociais, trabalhistas,

econômicos, culturais, o que resultou em muitos avanços ao longo dos anos.

Em 29 de novembro a 1º de dezembro de 2013, na cidade de São

Paulo, aconteceu a 1ª Conferência Municipal de Políticas para Imigrantes,

realizada por iniciativa da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e

Cidadania (SMDHC), por meio de sua Coordenação de Políticas para

Migrantes. Organizada em conjunto com outras 13 Secretarias Municipais e 14

entidades da Sociedade Civil, a Conferência veio atender a uma demanda

histórica das comunidades e movimentos sociais de imigrantes da cidade.

(SMDHC, 2014).

Convocada pelo Decreto Municipal nº 54.476/2013, com caráter

consultivo e com o objetivo de contribuir para o debate e elaborar propostas e

diretrizes para subsidiar as políticas públicas para a população imigrante e

suas famílias, a Conferência contou com as Secretarias Municipais cujas

pastas impactam diretamente o cotidiano da população imigrante (Educação,

Cultura, Saúde e Trabalho). Contou com a participação de organizações da

sociedade civil indicadas por duas das mais reconhecidas redes de entidades

no que tange à defesa dos imigrantes no município: o Fórum Social pelos

Direitos Humanos e Integração dos Imigrantes no Brasil4 (FSDHIIBr) e a REDE

Interinstitucional em Prol do Imigrante5.

4 Fórum dos Direitos Humanos e Integração dos Imigrantes no Brasil - https://fsidhsmigrantes.wordpress.com/ 5 REDE Interinstitucional em Prol do Imigrante - https://rededoimigrante.wordpress.com/

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Foram debatidos temas estruturados em quatro eixos temáticos, a

seguir:

1. Promoção e garantia de acesso a direitos sociais e serviços públicos;

2. Promoção do trabalho decente;

3. Inclusão social e reconhecimento cultural;

4. Legislação federal e política nacional para as migrações e refúgio.

Sobre este último eixo, o Documento Final da Primeira Conferência pontuou

que a legislação até então vigente, Lei nº 6.8156, de 19 de agosto de 1980,

denominada “Estatuto do Estrangeiro”, sancionada em dezembro do ano

seguinte pelo presidente Figueiredo, e que esta tinha como orientação

ideológica a política da “segurança nacional”, pois foi construída durante o

período da ditadura militar, e nela observa-se que o migrante é considerado

uma ameaça ao país, sendo imposto aos estrangeiros muito mais deveres do

que direitos. O intuito da referida Lei era de evitar a intromissão de imigrantes

nos assuntos nacionais e facilitar a expulsão destes. Esta tônica se evidencia

em seu artigo 2º que afirma:

“Na aplicação desta Lei atender-se-á precipuamente à segurança

nacional, à organização institucional, aos interesses políticos,

socioeconômicos e culturais do Brasil, bem assim à defesa do

trabalhador nacional”(Lei nº 6.815/80).

Esta visão conservadora a respeito dos imigrantes ainda se reproduz em

alguns segmentos da sociedade atual. Como exemplo, aponta-se uma

manifestação ocorrida em maio do corrente ano, 2017, noticiada pela imprensa

local, onde manifestantes posicionarem-se contra a Nova Lei da Migração,

6 Lei nº 6.8156, de 19 de agosto de 1980, denominada “Estatuto do Estrangeiro”

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argumentando que o Congresso Nacional “estaria legislando contra o povo

brasileiro, criando leis que abrem as portas ao terrorismo”.7

A Primeira Conferência reforçou uma visão mais inovadora, em defesa

dos direitos humanos, que tem sido pautada desde a promulgação da

Constituição de 1988, construída no contexto da redemocratização, e esta

concepção defende o direito à migração, comprometendo-se a partir de então o

Brasil, de forma constitucional, a seguir os acordos internacionais assinados

pelo país.

A perpetuação do Estatuto do Estrangeiro em desacordo com o atual

ordenamento jurídico nacional e internacional que gerava conflitos era

insustentável, pois regia todas as situações específicas, o que, neste período

de transição para novas regras estabelecidas pela nova Lei de Migração, traz

ainda muitas dificuldades e para a construção de políticas que permitam a este

grupo o exercício pleno de sua cidadania.

O Brasil já ratificou diversos acordos e convenções internacionais, como

as Convenções de Direitos Humanos8 promovidas pela Organização das

Nações Unidas (ONU) e pela Organização dos Estados Americanos (OEA), e

no âmbito de acordos mais específicos, por exemplo, o Acordo de Residência

em 2002 (Decreto 6.975/2009)9 entre países do Mercosul, entre outros, e

convenções internacionais, como a Convenção de Genebra de 1951 sobre

Refugiados (Lei 9.474/97)10.

Existe também em tramitação no Congresso Nacional, desde dezembro

de 2010, o tratado internacional ainda não ratificado pelo Brasil, que é a

“Convenção das Nações Unidas sobre a proteção dos direitos de todos os

7 Folha de São Paulo - http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/05/1884627-movimento-contrario-a-lei-de-migracao-faz-protesto-na-av-paulista.shtml 8 Convenções de Direitos Humanos ratificadas pelo Brasil - http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-mistas/cpcms/normativas/decretos-legislativos-relativos-ao-mercosul 9 Decreto 6.975/2009 - Acordo sobre Residência para Nacionais dos Estados Partes do Mercado Comum do Sul – Mercosul, Bolívia e Chile - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6975.htm 10 Lei nº 9474, 22 de julho de 1997 - Define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina outras providências. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9474.htm

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trabalhadores migrantes e dos membros das suas famílias”11, adotada pela

Assembleia Geral da ONU em 1990, que trata especificamente dos direitos dos

migrantes.

Esta Convenção consolida o paradigma de respeito aos direitos dos

imigrantes na política migratória brasileira, através da garantia de uma série de

direitos, inclusive, a trabalhadores e trabalhadoras migrantes em situação

irregular, o que é um dado importante que merece ser expandido.

A Declaração de Viena de 199312 estabeleceu como princípios

norteadores a universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos

humanos, princípios estes que devem pautar a garantia de direitos imigrantes

independentemente de sua situação migratória.

De acordo com o Documento Final da 1ª Conferência Municipal de

Políticas para Imigrantes, a grande quantidade de órgãos envolvidos dificulta a

aplicação da legislação e normatizações existentes na questão migratória,

sendo necessária para a execução das ações uma articulação interministerial

entre o Ministério das Relações Exteriores, da Justiça, do Trabalho e Emprego

e da Previdência Social, além do próprio Conselho Nacional de Imigração -

CNIg, vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego13.

Entre as diversas propostas encaminhadas pela Conferencia Municipal,

a principal delas, no que tange a legislação, foi a criação de uma “Lei de

Migrações”, que abarcasse a regulação da vida dos nacionais de outros países

no Brasil e definisse o tratamento dado aos movimentos migratórios no Brasil,

fortalecendo assim uma visão contemporânea sobre o assunto, que considere

a integração do migrante e não como uma ameaça externa.

11 “Convenção das Nações Unidas sobre a proteção dos direitos de todos os trabalhadores migrantes e dos membros das suas famílias”http://acnudh.org/wp-content/uploads/2012/08/Conven%C3%A7%C3%A3o-Internacional-para-a-Prote%C3%A7%C3%A3o-dos-Direitos-Humanos-de-todos-os-Trabalhadores-Migrantes-e-Membros-de-suas-Fam%C3%ADlias.pd 12 Declaração de Viena - https://www.oas.org/dil/port/1993%20Declara%C3%A7%C3%A3o%20e%20Programa%20de%20Ac%C3%A7%C3%A3o%20adoptado%20pela%20Confer%C3%AAncia%20Mundial%20de%20Viena%20sobre%20Direitos%20Humanos%20em%20junho%20de%201993.pdf 13 CNIg – Conselho Nacional de Imigração - http://csb.org.br/cnig-conselho-nacional-de-imigracao/

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No âmbito do Executivo, o Ministério da Justiça, através da Portaria nº

2162/201314, instituiu-se uma Comissão de Especialistas para elaboração de

nova proposta para substituir o PL 5.655/0915 (Reformulação do Estatuto do

Estrangeiro) por uma nova lei de migrações no Brasil, que se soma a iniciativa

do Legislativo do PLS 288/201316 de autoria do Senador Aloysio Nunes.

O encaminhamento desta proposta leva em conta a necessidade de que

o processo de construção da nova legislação sobre o tema no Brasil seja

amplamente participativo em busca de contemplar o direito dos migrantes, com

capacidade de responder aos desafios atuais que envolvem a temática,

garantindo o protagonismo dos migrantes em suas vidas.

O Documento ainda destacou ainda que a efetiva proteção dos Direitos

Humanos se fortalece na relação entre o Direito Interno e o Direito

Internacional, sobretudo no combate aos discursos de defesa da soberania

nacional e nacionalista, construção ideológica jurídica e política que naturaliza

o a restrição o “outro”, reduzindo o/a imigrante a mero elemento estrangeiro no

território nacional, em vez de preocupar-se com a garantia de direitos a essas

pessoas.

Afirmou, por fim, que um princípio fundamental para a harmonia com o

Estado de Direito é a não criminalização da migração, devendo o Estado dispor

de meios acessíveis para a sua regularização.

A Conferência ainda constatou a insuficiência de recursos humanos e de

infraestrutura para acolher e regularizar a demanda migratória, devendo o

Estado na abertura à regularização migratória incluir vítimas de calamidades e

de tráfico de pessoas, em acordo com o princípio de acolhida humanitária.

14 Portaria nº 2162/2013 - http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/servlet/INPDFViewer?jornal=1&pagina=24&data=11/08/2014&captchafield=firistAccess 15 PL 5.655/09 - http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=1594910 16 PLS 288/2013 - https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/113700

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A 1ª Conferência Municipal de Políticas para Imigrantes construiu desta

forma, em consenso com os representantes das diversas instituições públicas,

organizações e associações envolvidas com a temática, algumas

considerações conceituais sobre o processo de migração e o desejo, em nome

da cidade de São Paulo, da organização de Políticas Públicas efetivas no

âmbito do município que reconheçam todos os seus habitantes como cidadãs e

cidadãos plenos , entendendo que a cidade sempre teve a participação dos

migrantes de diversas origens em sua construção; reconhecendo a autonomia

dos movimentos migratórios, da ineficácia e das violações produzidas pelas

políticas migratórias restritivas, levando em consideração os princípios da

Conferência Sul-Americana de Migrações17, que orienta ao poder público o

reconhecimento de que “a pessoa migrante é um sujeito de direitos,

protagonista central das políticas migratórias e em consequência, um ator

social e político com capacidade transformadora e responsabilidades na

integralidade do espaço migratório no qual se desenvolve”.

A criação de uma legislação municipal que Instituiu a Política Municipal

para a População Imigrante, Lei 16.478, de 8 de julho de 2016, de iniciativa do

Executivo, se constitui em uma resposta às demandas da vivência cotidiana

dos diversos segmentos com a questão migratória discutidas na Conferência,

levando em consideração o conceito de indivisibilidade dos direitos humanos

que define que os direitos civis, econômicos, sociais, culturais e políticos sejam

defendidos em conjunto, pensando concretamente em políticas para a

população imigrante, pensando em inclusão social e cultural, refletindo

também sobre o acesso aos direitos sociais, trabalhistas e políticos.

Reconhecendo também os limites dessas políticas no âmbito do

município.

17Conferência Sul-americana de Migrações- http://csm-osumi.org/Archivos/DocCSM/3%20Declaraci%C3%B3n%20principios%20POR.pdf

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A referida Lei garante ao migrante busca garantir o acesso a direitos

sociais e aos serviços públicos e determina que o município promova o respeito

à diversidade e à interculturalidade, impedindo violações de direitos.

A Política Municipal para a População Imigrante constituiu-se na primeira

legislação municipal brasileira a consolidar uma política municipal para a

população migrante, através da Lei nº 16.478 e do Decreto 57.533 de

dezembro de 201618.

A aprovação e sanção da Lei Municipal nº 16.478, em 8 de julho de

2016, que instituiu a Política Municipal para a População Imigrante, definiu

objetivos e diretrizes, bem como ações prioritárias, destacadas no artigo sétimo

dessa lei, a seguir:

Art. 7º São ações prioritárias na implementação da Política Municipal

para a População Imigrante:

I - garantir à população imigrante o direito à assistência social,

assegurando o acesso aos mínimos sociais e ofertando serviços de

acolhida ao imigrante em situação de vulnerabilidade social;

II - garantir o acesso universal da população imigrante à saúde,

observadas:

a) as necessidades especiais relacionadas ao processo de

deslocamento;

b) as diferenças de perfis epidemiológicos;

c) as características do sistema de saúde do país de origem;

III - promover o direito do imigrante ao trabalho decente, atendidas

as seguintes orientações:

a) igualdade de tratamento e de oportunidades em relação aos

demais trabalhadores;

b) inclusão da população imigrante no mercado formal de trabalho;

18 Decreto 57533/16, de 15 de dezembro de 2016 - http://legislacao.prefeitura.sp.gov.br/leis/decreto-57533-de-15-de-dezembro-de-2016/

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c) fomento ao empreendedorismo;

IV - garantir a todas as crianças, adolescentes, jovens e pessoas

adultas imigrantes o direito à educação na rede de ensino público

municipal, por meio do seu acesso, permanência e terminalidade;

V - valorizar a diversidade cultural, garantindo a participação da

população imigrante na agenda cultural do Município, observadas:

a) a abertura à ocupação cultural de espaços públicos;

b) o incentivo à produção intercultural;

VI - coordenar ações no sentido de dar acesso à população

imigrante a programas habitacionais, promovendo o seu direito à

moradia digna, seja provisória, de curto e médio prazo ou definitiva;

VII - incluir a população imigrante nos programas e ações de

esportes, lazer e recreação, bem como garantir seu acesso aos

equipamentos esportivos municipais (Lei nº 16.478, 2016).

A complexidade e a magnitude das ações propostas estão em

consonância com a 1ª Conferência Municipal, que apresentou 57 propostas

estruturadas por eixos temáticos, entre elas as de Assistência Social como

“Construir política pública de atendimento a imigrantes dentro da rede de

assistência social do município, como casas de acolhida e equipamentos

públicos, bem como garantir sua manutenção”, qualificando ”o atendimento a

imigrantes, refugiados, solicitantes de refúgio, portadores de visto humanitário

e migrantes em situação de rua, nos Centros de Referência em Assistência

Social (CRAS), nas regiões em que estas comunidades estão presentes,

reservando cotas de atendimento e benefícios, incluindo atenção à população

de rua e carcerária, respeitando sua diversidade cultural e sexual” e

“Implementar políticas públicas de Assistência Social e econômicas específicas

para migrantes como obtenção do benefício LOAS, programa de acesso à

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renda, moradia, educacional, bilhete único de transporte gratuito,

especialmente para aqueles em situação de visto humanitário e de refúgio.”

O Decreto nº 57.533, de 15 de dezembro de 2016, que regulamenta a

Lei nº 16.478, estabelece procedimentos e ações a serem adotados no âmbito

do Poder Executivo Municipal de São Paulo para a implementação da Política

Municipal para a População Imigrante.

Entre todas as definições encontram-se o incentivo à Participação

Popular pelo Poder Público que deverá incentivar o fortalecimento e a

articulação de coletivos e associações de imigrantes e de organizações da

sociedade civil que promovam ações voltadas a esta população.

Institui o Conselho Municipal de Imigrantes – CMI que deverá se

constituir como órgão consultivo vinculado à Coordenação de Políticas para

Migrantes, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania –

SMDHC. Enquanto funções, o CMI deverá participar da formulação,

implementação, monitoramento e avaliação da Política Municipal para a

População Imigrante de São Paulo, assim como das outras políticas

desenvolvidas pelo poder público e voltadas a esta população. É de sua

competência defender e promover os direitos das pessoas imigrantes, a sua

inclusão social, cultural, política e econômica, através da articulação entre os

três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário - e organizações da

sociedade civil de imigrantes ou a eles ligadas.

Prevê que a composição do Conselho Municipal de Imigrantes será

paritária entre Poder Público e sociedade civil, na qual pelo menos 50%

(cinquenta por cento) devem ser mulheres, conforme Lei nº 15.946, de 23 de

dezembro de 201319. Reserva também assento, enquanto membros

observadores, representantes de Instituições como o Alto Comissariado das

19 Lei 15946 – Dispõe sobre a composição mínima de 50% de mulheres nos Conselhos do Controle Social https://www.imprensaoficial.com.br/DO/GatewayPDF.aspx?link=/2013/diario%20oficial%20cidade%20de%20sao%20paulo/dezembro/24/pag_0003_7HUU21HQTK95Se2ETJO5A2CC5IV.pdf

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Nações Unidas para Refugiados - ACNUR20, a Câmara Municipal de São

Paulo, a Organização Internacional do Trabalho - OIT, a Defensoria Pública da

União - DPU, a Defensoria Pública do Estado - DPE e o Ministério Público do

Trabalho – MPT.

A representação popular dos imigrantes na decisão dos rumos da cidade

havia tido seu espaço garantido pela primeira vez na eleição do Conselho

Participativo da Cidade, em março de 2014, quando o processo eleitoral abriu

vagas para participação dos imigrantes. Foram eleitos vinte conselheiros que

passaram a representar os estrangeiros residentes em São Paulo em 19

subprefeituras, sendo essa quantidade de vagas de conselheiros definida de

acordo com dados do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografias e

Estatísticas – IBGE, distribuídas entre as Subprefeituras que apresentassem ao

menos 0,5% de estrangeiros em sua população. Ao todo, mais de 1,7 mil

pessoas participaram da eleição, com 1.694 votos válidos. Com o mandato de

dois anos, os imigrantes eleitos passaram a participar das discussões do órgão

consultivo e a exercer o controle social no planejamento, fiscalização das

ações e gastos públicos nas regiões e sugestão das ações e políticas públicas.

Criada para a inclusão dos imigrantes nesse espaço de atuação da

sociedade civil, a cadeira de conselheiro extraordinário do Conselho

Participativo Municipal ainda é o lócus de representação de conselheiros

garantido, não havendo ainda até a presente data a instituição oficial de um

Conselho Municipal de Imigrantes específico.

Atualmente são 31 cadeiras se estrangeiros, distribuídos pelos

imigrantes dos países apresentado no gráfico a seguir:

20 ACNUR - http://www.acnur.org/portugues/

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Representação por nacionalidade

Conselheiros Imigrantes - Conselho Participativo Municipal

Fonte: Coordenação de Políticas para Imigrantes – SMDHC-PMSP –

2016-2017

O pioneirismo da cidade paulistana em ser a primeira cidade da América

Latina a criar políticas públicas específicas para migrantes e ser um dos

principais eixos de migração no continente americano foram fatores decisivos

na escolha de São Paulo para sediar o VII Fórum Social Mundial das

Migrações, realizado de 07 a 10 de julho de 2016. O evento constitui-se em um

espaço aberto, plural e diversificado, que teve o objetivo de propor ações

concretas para melhorar e discutir as condições migratórias da atualidade.

“Migrantes construindo alternativas frente à desordem e a crise global do

capital” foi o tema central dos debates, dos diálogos interculturais promovidos

pelos palestrantes.

Os assuntos discutidos foram diversificados e em busca de uma visão

integral da questão dos imigrantes no mundo. Temas propositores de um novo

modelo de sociedade frente à crise dos refugiados, práticas locais pelo

protagonismo e empoderamento das populações vulneráveis, nova formas do

Mali 3%

Paraguai 7% Portugal

10%

Bolivia 39%

Haiti 7%

Argentina 3%

Rep Dem. Congo

3%

Camarões 7%

França 3%

EUA 3%

Itália 3%

Chile 6%

Angola 3%

Alemanha 3%

Distribuição Conselheiros por Nacionalidade

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olhar sobre o estrangeiro; questões trabalhistas como Migrantes em Busca de

Trabalho Decente e Imigrantes e refugiados e o mercado de trabalho; Saúde

Mental e Interculturalidade, entre outros assuntos foram discutidos em 161

apresentações nos formatos de Mesas redondas, Oficinas, Palestras, Debates,

Rodas de Conversa, Seminários e Painéis Participativos, estruturados em seis

Eixos que incluíam questões de macro politicas internacionais, políticas locais,

a questão de gênero, meio ambiente, trabalho, entre outros muito relevantes.

O Fórum Social Mundial das Migrações é uma plataforma mundial para o

diálogo aberto e democrático, a reflexão, formulação de propostas, troca de

experiências e a articulação de planos de ação que envolve movimentos

sociais, sindicatos, ONGs e outras organizações. Constitui-se em “um lugar da

resistência contra o momento de recrudescimento do fascismo e da xenofobia

no Brasil, com consequências diretas na vida dos migrantes” (FSMM, 2016).21

A respeito das Políticas Públicas voltadas à População Imigrante, o

Decreto facilita o acesso do imigrante aos serviços públicos e a sua

participação em editais e nas eleições para órgãos colegiados públicos

municipais definindo que para fins de fins de identificação individual serão

aceitos documentos oficiais com foto, ainda que emitidos em país estrangeiro,

ou outros como: protocolos de solicitação da emissão de documentos, tais

como passaporte, cédula de identidade do país de origem, Registro Nacional

de Estrangeiros - RNE, Protocolo de Solicitação do Registro Nacional de

Estrangeiros, Protocolo Provisório de Solicitação de Refúgio e Carteira de

Trabalho e Previdência Social.

A regulamentação da Politica Pública para a População Imigrante

estabelece ainda, em suas seções, a viabilização da Transparência, prevendo

a sistematização e publicação de relatórios de dados estatísticos de

atendimento à população imigrante e de seu perfil, por meio da Coordenação

21 FSMI - https://www.facebook.com/fsmm2016/

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de Políticas para Migrantes – SMDHC. São definidas também princípios e

diretrizes da organização dos Equipamentos Públicos de Atendimento, como o

Centro de Referência e Atendimento a Imigrantes – CRAI; a qualificação do

atendimento à população imigrante, responsabilizando cada Secretaria

Municipal pela formação intercultural, sobre migrações e em línguas, com

ênfase nos equipamentos que realizam maior número de atendimentos à

população imigrante, através de oficinas ou cursos ministrados por imigrantes e

refugiados e pela contratação de agentes públicos imigrantes, nos termos da

Lei nº 13.40422, de 8 de agosto de 2002. Autoriza o “Poder Público Municipal a

designar mediador cultural nos equipamentos públicos com maior afluxo de

imigrantes, com a competência de promover o acesso da população imigrante

aos serviços oferecidos, articular a comunicação entre profissionais e usuários

e promover a efetivação do princípio da interculturalidade”.

Estabelece ainda, o Decreto, a competência de cada Secretaria

Municipal sendo de responsabilidade as seguintes atuações:

1. Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social:

Manutenção dos centros de acolhida para imigrantes, destacando o

processo migratório como critério de vulnerabilidade para a assistência social.

2. Secretaria Municipal da Saúde:

Atenção às especificidades dos imigrantes no atendimento, Contratação

de agentes de saúde imigrantes.

3. Secretaria Municipal de Trabalho e Empreendedorismo:

Atendimento específico para imigrantes no cadastro do Sistema Público

de Emprego, Descentralização da emissão de CTPS, Promoção do acesso ao

sistema bancário por meio de acordos de bancarização, Intermediação para

vagas de trabalho, Apoio aos empreendedores imigrantes, Acesso a crédito e

microcrédito, Enfrentamento ao trabalho escravo.

22 Lei Municipal 13.404 – Dispõe sobre o acesso de brasileiros e estrangeiros aos cargos, funções e empregos públicos. http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/chamadas/l13404_1311867903.pdf

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4. Secretaria Municipal de Educação:

Desburocratização do acesso das crianças à rede municipal de

educação, Implementação do princípio da interculturalidade com apoio

pedagógico em diversas instâncias, como a adaptação do conteúdo curricular.

5. Secretaria Municipal de Cultura:

Atenção às especificidades dos imigrantes, como documentação, e à

interculturalidade na definição dos critérios adotados nos editais culturais.

Apoio a festividades e manifestações culturais imigrantes.

6. Secretaria Municipal de Habitação:

Promoção do direito à moradia digna por meio da adaptação de

programas e instrumentos legais da política habitacional, a fim de que

contemplem a população imigrante. Acesso à informação sobre os programas

oferecidos, adaptação da documentação exigida, sensibilização de agências

imobiliárias e proprietários para que não imponham condições discriminatórias

de contratação a imigrantes.

7. Secretaria Municipal de Esportes:

Inclusão da população imigrante nos programas e ações de esportes e

recreação, bem como a promoção do acesso aos equipamentos esportivos

municipais.

8. Secretaria de Políticas para Mulheres - atual Coordenação de

Políticas para Mulheres:

Capacitação de servidores e realização de campanhas e ações

preventivas sobre violência contra a mulher, direcionadas para a população

imigrante. Acolhimento de mulheres em situação de risco decorrente de

violência. (SMDHC)

Na análise do processo de consolidação em forma de Lei, constata-se

que “A Política Pública para a População Imigrante” foi elaborada em um

processo participativo e através de consultas populares a imigrantes e

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organizações da sociedade civil no intuito de fortalecer, melhorar e ampliar as

políticas para migrantes na cidade de São Paulo. Consolida o CRAI (Centro de

Referência de Atendimento ao Imigrante); estabelece o Conselho Municipal de

Imigrantes e indica deveres e responsabilidades das diversas pastas da

Administração Municipal. Cabe ao Controle Social, através da Sociedade Civil

e do Poder Público em conjunto, construir a viabilidade da aplicação dos

pressupostos, princípios e diretrizes, em Lei definidos.

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5. Equipamentos e Projetos Públicos de Atenção ao Migrante

A. Estrutura Municipal – Direitos dos Imigrantes

A.1. Coordenadoria de Políticas para Migrantes CPMig Primeiro órgão público municipal brasileiro específico para a elaboração,

implementação e articulação de uma política para imigrantes e refugiados,

criado em maio de 2013, através da Lei nº de 15.76423, foi estruturado com o

objetivo de implantar uma política municipal para migrantes de forma

transversal, intersetorial e participativa, tendo como princípios o

reconhecimento dos imigrantes como sujeitos de direitos; a não criminalização

da migração; a mudança de paradigma e a segurança aos direitos humanos.

A Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, em

consonância com as deliberações da Conferência, compreende que migrar é

um direito humano e fronteiras são imaginárias, e desenvolve seu trabalho em

busca da promoção da garantia de direitos dos migrantes e refugiados da

cidade de São Paulo, estimando que existam pessoas oriundas de

aproximadamente 196 países compondo a população paulistana.

A criação da coordenação representa uma nova forma de olhar ao

estrangeiro, pois retira o tema da imigração do âmbito da segurança nacional,

como está expresso no Estatuto do Estrangeiro, e a coloca na esfera dos

direitos humanos.

23 Lei nº 15.764, de 27 de maio de 2013 http://www3.prefeitura.sp.gov.br/cadlem/secretarias/negocios_juridicos/cadlem/integra.asp?alt=28052013L%20157640000

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A.1.1. Centro de Referência e Atendimento ao Imigrante (CRAI)

Primeiro equipamento público municipal de referência na atenção

especializada à população imigrante do Brasil, independente de sua situação

migratória e documental. Viabilizado através de convênio entre a SMDHC e o

Ministério da Justiça, possuindo atendimento multilíngue para imigrantes,

realizados por imigrantes na perspectiva de promoção do acesso a direitos e

inclusão social, cultural e econômica das pessoas migrantes no município.

Inaugurado em 2014, iniciou suas atividades em novembro, tendo

realizado aproximadamente 9.000 atendimentos gerais e específicos, em uma

média de 300 atendimentos/mês, abrindo, em 2017, novo edital de

chamamento público para continuação e ampliação da prestação de serviço.

Em 2015 foram criados mais três novos abrigos públicos para

imigrantes. Somados os três centros, o CRAI e o Arsenal da Esperança24, a

Prefeitura tem hoje 690 vagas destinadas a imigrantes e refugiados.

Objetivos do CRAI25:

1. Ofertar atendimento especializado e multilíngue ao público imigrante

com orientações para regularização migratória e acesso a direitos

sociais, orientação jurídica e do serviço social e encaminhamento de

denúncias de violações de direitos humanos;

2. Articular, com a rede de políticas públicas e com organizações e

movimentos da sociedade civil, atendimentos itinerantes em regiões

com presença da população imigrante no município, além de

estruturar fluxos de atendimento e garantir atenção completa e

qualificada as suas demandas;

24 SERMIG – Arsenal da Esperança - http://www.sermig.org/it/quem-somos 25 Coordenadoria de Políticas para Migrantes - http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/direitos_humanos/migrantes/crai/index.php?p=186976

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3. Promover oficinas, seminários ou palestras de capacitação e

sensibilização em serviços da rede de políticas públicas da

administração municipal; a servidores públicos, em parceria com a

CPMIg; e outros grupos na temática da mobilidade humana, direitos

dos imigrantes e acesso a educação, saúde, assistência social e

outros;

4. Produzir e compilar informações sobre a população imigrante

atendida, de forma a subsidiar a formulação de políticas em âmbito

municipal, estadual e federal;

5. Trabalhar em parceria coma CPMig e outros órgãos públicos para

responder prontamente a demandas emergenciais ocasionadas pela

eventual chegada de grandes contingentes de imigrantes e

refugiados em situação de vulnerabilidade;

6. Organizar a demanda de cursos de português, oficinas e palestras

para imigrantes.

Serviços oferecidos:

1. Orientação na regularização migratória

2. Assessoria socioassistencial e jurídica – atendimentos semanais da

Defensoria Pública da União.

3. Formação para servidores públicos no local ou itinerante

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CPI DA MIGRAÇÃO

29 ENDEREÇO: PALÁCIO ANCHIETA / VIADUTO JACAREÍ, 100 - BELA VISTA - SÃO PAULO-SP - CEP 01319-900 - TELEFONE: 11 3396-4000

A.1.2. Centros de Acolhida

A SMDHC e a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento

Social (SMADS) trabalharam juntas para criar e manter quatro centros de

acolhida especializados em atender pessoas migrantes, os primeiros do país.

São 540 vagas da rede assistencial exclusivas para imigrantes (a maioria

composta por solicitantes de refúgio recém-chegados) mantidas pela prefeitura.

Centros de Acolhida Município São Paulo

Nome Endereço Entidade Conveniada

Vagas Dia

Vagas Noite

Inauguração

Atendimento

CA Bela Vista

Rua Japurá, 234 – Bela Vista

Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras)

80 110 2014 825 -

out/2016

CA Especial para Mulheres Imigrantes Penha

Rua Eneas de Barros, 147 - Penha

Associação Palotina

80 2015 308 -

jul/2016

CA Pari Rua Teresa Francisca Martim, 201 - Pari

Missão Scalabriniana

75 200 2015 471 - out/2016

CA Bom Retiro

Rua Prates, 1114 - Bom Retiro

Instituto Lygia Jardim

150 150 2016 300 - out/2016

TOTAL 305 540 1904+

FONTE: OIT, SMDHC, CPM

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Programas e Projetos

A Coordenadoria de Políticas para Migrantes desenvolveu e desenvolve

Programas e Projetos26 específicos para a população migrante, sendo alguns:

Abrigo Emergencial - Equipamento provisório, o Abrigo Emergencial ficou

ativo entre 8 de maio a 28 de agosto de 2014, e foi criado para atender o

grande fluxo de imigrantes que começou a chegar na cidade a partir de abril de

2014, e que neste período registrou o atendimento a 2.349 migrantes de 20

nacionalidades diferentes, sendo a maioria composta pelos migrantes haitianos

que chegaram à capital paulista de forma concentrada, por volta de 400

pessoas em uma semana, após o fechamento do abrigo na cidade de Brasileia,

no Acre, porta de entrada de uma rota de migração ilegal.

Seu funcionamento envolveu a Subprefeitura da Sé e as Secretarias

Municipais de Governo (SGM), Desenvolvimento, Trabalho e

Empreendedorismo (SDTE), Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) e

Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), que, por meio de sua Coordenação

de Políticas para Migrantes (CPMig), gerenciou a estrutura. Encerrou suas

atividades no mesmo dia da abertura do primeiro Centro de Referência e

Acolhida para Imigrantes da cidade de São Paulo (CRAI-SP).

Bancarização - Estabelecimento de Termo de Cooperação com a Caixa

Econômica Federal (2013) e outro Termo com o Banco do Brasil (2014) que

buscava garantir a promoção da bancarização de imigrantes residentes na

cidade, facilitando o processo de abertura de contas para essa população.

Promoção da Regularização Migratória e do Trabalho Decente – Visa

garantir a empregabilidade via Centros de Apoio ao Trabalho (CAT).

26 SMDHC – CPMig – Programas e Projetos http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/direitos_humanos/migrantes/programas_e_projetos/index.php?p=199072

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Estrutura Estadual – Direitos dos Imigrantes

1. Casa de Passagem Terra Nova

Primeiro centro de acolhida estadual, localizado no bairro da República e

inaugurado em 06 de outubro de 2014, disponibiliza 50 vagas, com o

atendimento destinado as vítimas de tráfico de pessoas e estrangeiros

solicitantes de refúgio que tenham saído de seu país por conta de crises

políticas, étnicas, religiosas e outras situações decorrentes de violação dos

direitos humanos, tendo prioridade famílias com filhos até 18 anos.

Prevê a oferta de alimentação, assistência social, psicológica e jurídica,

além de atividades de convivência e de orientação profissional. O centro de

amparo também conta com um escritório de idiomas e outro de promoção de

“inclusão produtiva”.

O gerenciamento da Casa de Passagem está a cargo Coordenação

Regional de Obras de Promoção Humana (CROPH)27 será responsável pelo

gerenciamento do local. Os encaminhamentos das vagas são de

responsabilidade dos Centros de Referência Especializados em Assistência

Social (CREAS), Caritas, Missão Paz e Secretaria de Estado da Justiça e

Defesa da Cidadania. Dentre os funcionários do local, dois são imigrantes,

nascidos no Benin – país localizado no oeste da África.

A abertura da Casa de Passagem é fruto de um compromisso firmado em

Termo de Cooperação para o atendimento de e integração de migrantes, entre

o governo paulista, a prefeitura paulistana e o governo federal, durante a

Conferência Nacional de Migrações e Refúgio (Comigrar)28. O Termo de

Cooperação foi uma resposta à crise da chegada de imigrantes do Acre, em

sua maioria haitianos, na capital paulista.

27

CROPH - http://www.revistafatorbrasil.com.br/ver_noticia.php?not=16482 28

COMIGRAR http://www.justica.gov.br/seus-direitos/migracoes/conferencia-nacional-sobre-migracoes-e-refugio

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2. Centro de Integração da Cidadania do Imigrante – CIC do

Imigrante

Inaugurado em 15 de dezembro de 2014 com o objetivo de acolher e

facilitar o acesso a direitos fundamentais a estrangeiros que chegam a São

Paulo, o Centro de Integração da Cidadania do Imigrante (CIC do Imigrante)29,

localizado no bairro da Barra Funda, na capital.

Constitui-se em um projeto pioneiro do Governo do Estado, o CIC do

Imigrante atende à crescente demanda detectada pelos comitês de

enfrentamento ao tráfico de pessoas, combate ao trabalho escravo e atenção a

refugiados, coordenados pela Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania.

Tem por finalidade promover a integração dos imigrantes, através de

qualificação profissional, encaminhamento para postos de trabalho,

documentação, orientação, e amparo legal. É um centro que reúne em um só

lugar, serviços de diversas áreas a fim de garantir desenvolvimento, segurança

e integração do imigrante na sociedade brasileira.

Oferta serviços da Defensoria Pública Estadual e Federal, do Posto de

Atendimento ao Trabalhador (PAT) e do Procon, além da emissão de segundas

vias de certidões, com a parceria da Polícia Federal e da Secretaria de Gestão

Pública.

Estrutura Federal – Direitos dos Imigrantes

1. Defensoria Pública da União30 – Rua Fernando de

Albuquerque 155 Consolação CEP 01309-010. Contatos -

(11) 36273400 ou 3627 3439.

Atende estrangeiros com problema jurídicos no Brasil, que tenham renda

familiar de no máximo R$1.700 (havendo exceções). Os casos mais comuns

são os que envolvem problemas de documentação para permanência no Brasil.

29 CIC do Imigrante - https://www.facebook.com/cicdoimigrante/ 30 DPFSP - https://oestrangeiro.org/2013/12/24/estrangeiro-tem-direito-a-defensoria-publica/

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CPI DA MIGRAÇÃO

33 ENDEREÇO: PALÁCIO ANCHIETA / VIADUTO JACAREÍ, 100 - BELA VISTA - SÃO PAULO-SP - CEP 01319-900 - TELEFONE: 11 3396-4000

Outras demandas são relacionadas com a guarda dos filhos, no caso da

separação de pais de diferentes nacionalidades. Tenta regularizar os

documentos, incluindo a obtenção de documentos civis (a carteira de

identidade de estrangeiro), a carteira de trabalho, na obtenção do visto correto

de permanência no Brasil (autorização de permanência – para trabalho, para

estudo, para turismo). Trabalha em processos envolvendo naturalização de

estrangeiros, em processos de expulsão e em casos de extradição. Atua em

parceria com a CIC do Imigrante.

2. Ministério do Trabalho e Emprego31 - Rua Martins

Fontes, 109 sala 806 CEP 01050-000. Contatos - (11)

3150 8067

Promove estudos relacionados à migração e trabalho, Publicação do

Caderno “Migração e Trabalho”32 , constrói base de dados para definir o perfil

do migrante trabalhador no Brasil, criou através da Portaria 1.400 de 2014, um

Grupo de Trabalho com o objetivo de aperfeiçoar o processo de integração

sócio laboral de imigrantes autorizados a permanecer no País pelo Conselho

Nacional de Imigração, visando ainda, articular as ações do MTE a favor destes

trabalhadores com foco na Política de Imigração Laboral, emissão de Carteira

de Trabalho e Previdência Social (CTPS), intermediação de mão-de-obra no

âmbito do Sistema Nacional de Emprego (SINE), qualificação profissional e

inspeção do trabalho.

31 MTE - http://www.brasil.gov.br/@@busca?SearchableText=imigrantes&Subject%3Alist=Minist%C3%A9rio+do+Trabalho+e+Emprego 32 https://portal.mpt.mp.br/wps/wcm/connect/portal_mpt/2744ae77-4584-4d92-b91d-185adc09ba87/Livro_Migracoes_e_TrabalhoWEB.pdf?MOD=AJPERES&CONVERT_TO=url&CACHEID=2744ae77-4584-4d92-b91d-185adc09ba87