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ANA CATARINA DE ARAÚJO ELIAS “RELAXAMENTO MENTAL, IMAGENS MENTAIS E ESPIRITUALIDADE NA RE – SIGNIFICAÇÃO DA DOR SIMBÓLICA DA MORTE DE PACIENTES TERMINAIS” CAMPINAS 2001

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ANA CATARINA DE ARAÚJO ELIAS

“RELAXAMENTO MENTAL, IMAGENS MENTAIS E

ESPIRITUALIDADE NA RE – SIGNIFICAÇÃO DA DOR

SIMBÓLICA DA MORTE DE PACIENTES TERMINAIS”

CAMPINAS

2001

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DA FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

UNICAMP

Elias, Ana Catarina de Araújo El42r Relaxamento Mental, Imagens Mentais e Espiritualidade na re –

significação da dor simbólica da morte de pacientes terminais / Ana Catarina de Araújo Elias. Campinas, SP : [s.n.], 2001.

Orientador : Joel Sales Giglio Dissertação ( Mestrado) Universidade Estadual de Campinas.

Faculdade de Ciências Médicas. 1. Luto. 2. Cuidados Paliativos. 3. Psicoterapia Breve. 4.

Doentes terminais – cuidado. I. Joel Sales Giglio. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Ciências Médicas. III. Título.

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Banca examinadora da Dissertação de Mestrado Orientador: Professor Associado Joel Sales Giglio

Membros: 1. Professora Associada Cibele Andrucioli de Mattos Pimenta - USP 2. Professora Associada Neusa Júlia Pansardi Pavani - UNICAMP 3. Professor Associado Joel Sales Giglio - UNICAMP Curso de pós-graduação em Ciências Médicas, Área de Concentração em Ciências Biomédicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas. Data: 18.06.2001

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DEDICATÓRIA

À Iracema Brito, Diretora Presidente do

TETRAGRAMA Instituto de Estudos Holísticos, a quem

devo o desenvolvimento da minha Espiritualidade.

A ela, com Amizade e Respeito, dedico esta minha

Humilde Obra.

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AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

Ao meu pai Darcy Elias, (in memorian), por ter me trazido a este mundo e pelo afeto,

apoio e incentivo, que sempre nos deu. Através de sua morte aprendi que é possível re -

significar a difícil e traumática dor da perda e a angústia do sentimento de desamparo.

À minha mãe Maria das Neves T. de A. Elias, por ter me trazido a este mundo e por ter me

proporcionado instrução, sempre nas melhores escolas.

Ao meu orientador Professor Doutor Joel S. Giglio, por suas importantes orientações

quanto à metodologia científica de uma pesquisa qualitativa e por sua disponibilidade em

me orientar, sempre que precisei.

Aos meus pacientes J.C.B., R.A.G., R.S.G., L.F.S.S., A.S.R., D.S.L., E.A.R., C.A.S.F., M.I.F.,

I.F.R., M.A.A.F.A., D.Z.M. e seus familiares, por tudo que me ensinaram.

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AGRADECIMENTOS À EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE CUIDADOS

PALIATIVOS DO CAISM / UNICAMP

Agradecemos a Equipe Multidisciplinar de Cuidados Paliativos do CAISM /

UNICAMP composta pela médica oncologista Nancy Mineko Koseki, pelas enfermeiras

Edinaura Pereira de Souza e Simone Pollini Gonçalves, pela psicóloga Vera Lúcia Rezende

e pela assistente social Marisa Jacobucci.

KOSEKI (2000), relata que no CAISM iniciou – se o atendimento

especializado a pacientes com câncer em fase avançada, fora de possibilidade de cura ou

em fase terminal, com o objetivo de proporcionar – lhes melhor qualidade de vida e, com

isso uma morte sem dor. Para que essa meta pudesse ser alcançada formou – se uma equipe

multidisciplinar constituída por médica, enfermeira, psicóloga e assistente social

trabalhando com o objetivo comum de favorecer o bem – estar das pessoas que se

encontram sob os cuidados do CAISM e para as quais já não existem chances curativas.

Através da existência consolidada desse referido Setor Multidisciplinar de

Cuidados Paliativos do CAISM / UNICAMP, onde o Serviço de Psicologia também se

insere, esta pesquisadora pôde realizar este estudo e atender às pacientes citadas nesta

pesquisa.

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AGRADECIMENTOS

À Professora Doutora Kazue Panetta, Responsável pela Divisão de Oncologia

do CAISM – UNICAMP e a Psicóloga Maria Silvia Vellutini Setúbal, Chefe do Serviço de

Psicologia do CAISM – UNICAMP, por terem autorizado a realização desta pesquisa na

Divisão de Oncologia do CAISM – UNICAMP, onde o Serviço de Psicologia se insere.

Às Psicólogas da Divisão de Oncologia do CAISM – UNICAMP, Clara Freud

de Knobel, Maria Angélica Xavier Fazolin e Vera Lúcia Rezende, por terem concordado

com a realização desta pesquisa através do Serviço de Psicologia da Divisão de Oncologia

do CAISM – UNICAMP.

À Enfermeira Simone Polline Gonçalves, Diretora do Serviço de Enfermagem

em Oncologia do CAISM – UNICAMP, aos Enfermeiros da Oncologia do CAISM –

UNICAMP, Adriana de Cássia Paiva dos Santos, Ednaura Pereira de Souza, João Machado

Teixeira e Sílvia Renata Pereira e a Auxiliar de Enfermagem da Oncologia do CAISM –

UNICAMP, Kédma Lurdes Auxiliadora, pela disponibilidade para informar todos os dados

necessários para o desenvolvimento desta pesquisa.

Á Dra Maria José Mastellaro, Diretora Clínica da Unidade de Oncologia e

Hematologia Pediátrica CLEMED, pelo incentivo e apoio no desenvolvimento do Projeto -

Piloto deste estudo.

Aos meus amigos do TETRAGRAMA Instituto de Estudos Holísticos, pela

partilha no caminho do autoconhecimento.

À minha prima Liliam Maria M. Elias Caravaggi, pelo companheirismo

fraterno e terno, desde a mais tenra infância.

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A Luiz Reinaldo Costa Pinto, Regina da Rosa Pinto, Luciana da Rosa Pinto e

Vanessa da Rosa Pinto pela Amizade e apoio nos vários dias em que passei na casa deles,

corrigindo e imprimindo o Boneco desta Dissertação, para Qualificação e Pré – Banca.

Aos meus irmãos Carmen T. A. Elias, Jose Henrique T. A. Elias e Maria Teresa

Elias Preuss, meus cunhados Deise Mara G. Elias e Pedro Paulo Preuss, meus sobrinhos

Priscila G. Elias, Luíza G. Elias, Guilherme G. Elias, Francisco Felipe Preuss, Maria Laura

Preuss e André Elias Lauer, minha tia Maria Ângela Mangeon Elias, minha prima Carmen

Silvia M. E. Nunes e demais familiares, pelas experiências construídas na vida familiar.

À Flaviana Poli, por ter digitado o anteprojeto desse estudo de Mestrado.

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“Quando você olhar para outra pessoa, em seus

relacionamentos, na terapia, na vida, veja a alma dela

através de muitas existências, do tempo infinito... A alma é

sempre a mesma. É preciso enxergar essa parte do ser

humano, a alma imortal. Não a sua forma física transitória,

para poder de fato compreender e ajudar. Ajudar e se ajudar

porque o terapeuta é também uma alma.”

(BRIAN WEISS, 1999)

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SUMÁRIO

PÁG.

RESUMO............................................................................................................... 10

CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO.......................................................................... 11

CAPÍTULO 2: REVISÃO DA LITERATURA................................................. 14

CAPÍTULO 3: JUSTIFICATIVA....................................................................... 77

CAPÍTULO 4: OBJETIVOS............................................................................... 84

CAPÍTULO 5: SUJEITOS E MÉTODOS......................................................... 85

CAPÍTULO 6: ASPECTOS ÉTICOS................................................................. 93

CAPÍTULO 7: “RELAXAMENTO MENTAL, IMAGENS MENTAIS E

ESPIRITUALIDADE” – DELINEAMENTO DA ESTRUTURA

TEÓRICA DA TÉCNICA PARA APLICAÇÃO..............................................

94

CAPÍTULO 8: RESULTADOS........................................................................... 102

CAPÍTULO 9: DISCUSSÃO............................................................................... 213

CAPÍTULO 10: CONCLUSÃO.......................................................................... 257

SUMMARY........................................................................................................... 259

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 260

ANEXOS................................................................................................................ 269

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RESUMO

Esta pesquisa, com base na visão biopsicossocial e espiritual do ser humano,

estudou qualitativamente a eficácia de intervenção psicoterapêutica, construída através da

integração das técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de Imagens Mentais com o

conceito de Espiritualidade, re - significar a Dor Simbólica da Morte (Dor Psíquica e Dor

Espiritual) de pacientes terminais.

Participaram do estudo cinco pacientes, mulheres com câncer, fora de

possibilidade de cura.

O método desenvolvido foi Estudo de Caso Clínico Longitudinal, utilizando –

se para coleta de dados a Entrevista Semi – Estruturada.

Observamos, frente aos resultados, que a Dor Psíquica e a Dor Espiritual no

período inicial e intermediário da fase Fora de Possibilidade de Cura apresentam - se

equiparadas e no período final e óbito, a Dor Espiritual é prevalente em relação à Dor

Psíquica. A re - significação apenas da Dor Espiritual, frente à iminência da morte, é

aspecto suficiente para que o paciente possa ter uma boa Qualidade de Morte.

Concluímos que a intervenção psicoterapêutica construída através da integração

das técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de Imagens Mentais com o conceito de

Espiritualidade é eficaz para re - significar a Dor Simbólica da Morte, proporcionando

Qualidade de Vida no processo de morrer e morte serena.

A estrutura teórica para aplicação dessa intervenção psicoterapêutica foi

delineada, para que outros profissionais da área da saúde possam utilizá – la com seus

pacientes.

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CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO

SAUNDERS (1991) formulou em 1967 o conceito de Dor Total que inclui o

sofrimento físico, psíquico, social, espiritual, mental e financeiro do paciente, abrangendo

também o sofrimento dos familiares e da equipe médico – hospitalar.

No atendimento a pacientes fora de possibilidade de cura encontramos

sofrimento psicológico importante no que se refere aos aspectos psíquicos e espirituais, que

são dois componentes do conceito de Dor Total introduzido por SAUNDERS (1991).

Denominamos como Dor Simbólica da Morte, a Dor Psíquica e a Dor Espiritual

identificadas. Operacionalizamos o conceito de Dor Psíquica como o medo do sofrimento e

o humor depressivo representado por tristezas, angústias e culpas frente às perdas e o

conceito de Dor Espiritual como medo da morte e do pós – morte, idéias e concepções em

relação à Espiritualidade, sentido da vida e da morte e culpas perante Deus. (ELIAS, 1999).

Visando encontrar um método científico para re – significar a Dor Simbólica da

Morte dos pacientes terminais desenvolvemos uma intervenção psicoterapêutica integrando

as técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de Imagens Mentais com o conceito de

Espiritualidade.

Escolhemos a associação entre o Relaxamento Mental e a Visualização de

Imagens Mentais porque estas técnicas proporcionam um maior contato com a realidade

subjetiva interna e favorecem mudanças de atitudes e idéias frente às experiências atuais de

sofrimento. (ACHTERBERG, 1996; CARVALHO, 1994a, 1994b, 1999a; CAUDILL,

1998; EPSTEIN, 1990; ROSEN, 1994; SIMOTON, SIMONTON, CREIGHTON, 1987).

O conceito de Espiritualidade foi estruturado a partir de pesquisas que

descrevem o relato de pacientes que passaram por uma Experiência de Quase Morte

(E.Q.M.) e voltaram a viver normalmente porque estas pessoas experimentaram de forma

consciente a natureza espiritual da existência e trouxeram, em seus relatos, elementos

importantes para re – significar a Dor Simbólica da Morte, principalmente no que se refere

a Dor Espiritual. (KÜBLER – ROSS, 1998; MOOD JR, 1989,1992)

A presente pesquisa, por ter considerado como questão básica a re –

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significação da Dor Simbólica da Morte de pacientes fora de possibilidade de cura, ou seja,

ter visado a análise e a compreensão da realidade dentro de um processo específico, situou -

se dentro de uma abordagem qualitativa ramificada no enfoque subjetivista –

compreensivista. (TRIVIÑOS, 1987).

O instrumento escolhido para coleta de dados foi a Entrevista Semi –

Estruturada porque este instrumento permite que as pacientes definam, com seus próprios

termos, como sentem seu sofrimento. (KOVÁCS, 1999). A definição da paciente, através

de seus próprios termos, de como sentia a Dor Simbólica da Morte, foi aspecto fundamental

para a aplicação da intervenção psicoterapêutica proposta.

A base deste estudo foi a visão biopsicossocial e espiritual do ser humano.

A visão biopsicossocial e a inter – relação entre a mente e o corpo foram

abordados e estudados, no último século, de forma importante, por diversos médicos,

psicólogos, enfermeiros e outros pesquisadores da área da saúde e tornaram – se, frente às

evidências, no final do século XX, questões comprovadas e aceitas pela comunidade

científica. (ACHTERBERG, 1996; CARVALHO, 1994a, 1994b; CAUDILL, 1998;

EPSTEIN, 1990; FIGUEIRÓ, 1999; FREUD, 1975; JUNG, 1986; KOVÁCS, 1999; LANG,

2000; MARTY, 1993; MAYOL, 1992; MELLO FILHO, 1997; MONTAGU, 1988;

PIMENTA, 1999; ROSEN, 1994; SIEGEL, 1989; SIMOTON, SIMONTON,

CREIGHTON, 1987; TUCKER, 1999;).

No final do século XX pesquisas, abordando a importância da inclusão da

Espiritualidade nos tratamentos médicos convencionais e dando suporte para a ampliação

da visão de ser humano para biopsicossocial e espiritual, começaram a ser publicadas no

cenário científico internacional da área médica. Vários, entre esses estudos, recomendaram

que o Currículo de cursos como Medicina, Enfermagem e outros da área da saúde fossem

revistos de forma apropriada e passassem a incluir no seu conteúdo programático a

aprendizagem sobre aspetos espirituais. (BRADY et al, 1999; BURTON, 1998; FRYBACK

& REINERT, 1999; GIOIELLA, BERKMAN, ROBINSON, 1998; KÜBLER – ROSS,

1998; MILLER, 1997; MOOD JR, 1989,1992; MYTKO & KNIGHT, 1999; PUCHALSKI

& LARSON, 1998; SAUNDERS, 1991; THOMSEN, 1998;)

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Esta pesquisa se reportou a esta demanda porque apresentou um método

acadêmico que incluiu a questão da Espiritualidade no tratamento médico convencional de

pacientes terminais.

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CAPÍTULO 2: REVISÃO DA LITERATURA

A revisão da literatura deste estudo foi orientada por cinco palavras - chave:

‘Pesquisa Qualitativa’; ‘Dor Simbólica da Morte’; ‘Relaxamento Mental’; ‘Visualização de

Imagens Mentais’; ‘Espiritualidade’.

2.1. PESQUISA QUALITATIVA

A ciência, definida por KUHN (1996) como um processo pelo qual vamos

juntando pedaços de informações que são por sua vez, somados isoladamente ou em

combinação ao grande e sempre crescente estoque de técnicas e conhecimentos científicos,

é fundamentada em paradigmas. Paradigma é um conjunto de crenças que são aceitas

durante um determinado período de tempo pela comunidade científica. Os pesquisadores,

mesmo sem perceberem, são influenciados pelos paradigmas vigentes da sua época. Uma

mudança de paradigmas inclui uma grande e profunda modificação no nível de idéias e

percepções do mundo.

KUHN (1996) afirma que vivemos, neste final de milênio, um período de

transição, de mudanças quanto aos paradigmas que norteiam o conhecimento científico,

questão de grande importância porque é o estudo dos paradigmas que prepara basicamente

o estudante para ser membro da comunidade científica na qual atuará mais tarde. Como o

estudante reúne-se a seus professores, homens que aprenderam as bases de seu campo de

estudo a partir dos modelos concretos vigentes, sua prática subseqüente raramente irá

provocar desacordo declarado sobre esses pontos fundamentais.

Esse autor pontua que a emergência de um novo paradigma afeta a estrutura do

grupo que atua nesse campo.

Quando pela primeira vez, no desenvolvimento de uma ciência da natureza, um

indivíduo ou grupo produz uma síntese capaz de atrair a maioria dos praticantes dessa

ciência, as escolas mais antigas começam a desaparecer gradualmente. Seu

desaparecimento é em parte causado pela conversão de seus adeptos ao novo paradigma.

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Mas sempre existem alguns que se aferram a uma ou outra das concepções mais antigas;

são simplesmente excluídos da profissão e seus trabalhos são ignorados. O novo paradigma

implica uma definição nova e mais rígida do campo de estudos. Guiados por um novo

paradigma os cientistas adotam novos instrumentos e orientam seu olhar em novas

direções. E o que é ainda mais importante: durante as revoluções os cientistas vêem coisas

novas e diferentes quando empregando instrumentos familiares, olham para os mesmos

pontos já examinados anteriormente. (KUHN, 1996).

Estamos assim, neste início de novo milênio, saindo dos paradigmas que

norteiam a Ciência Clássica e passando para os paradigmas que fundamentam a Nova

Ciência. A pergunta básica, formulada no século XX, foi sobre o que vem a ser

‘Realidade’. Em 1937, FREUD (1975), no Esboço de Psicanálise colocou que a realidade

pura é inatingível pois observamos um objeto como ele se apresenta à nossa percepção, e,

por detrás do que é percebido pelos nossos órgãos sensoriais, está o que se pode chamar,

estado real das coisas.

A Ciência Clássica está baseada na filosofia de Descartes (1596 - 1650). Este

filósofo do séc. XVII estruturou sua filosofia no célebre enunciado racionalista: "Penso,

logo existo”. (DESCARTES, 1996).

No final da Geometria, Descartes, segundo a Coleção Os Pensadores (1996),

afirma: "Em matéria de progressões matemáticas, quando se tem os dois ou três primeiros

termos, não é difícil encontrar os outros. Essa idéia, de uma ordem natural inerente à

progressão do conhecimento, é fundamental para o projeto cartesiano de construir uma

matemática universal". A partir do que ele experimenta no campo matemático, Descartes

tende a ver o desconhecido como um termo ignorado, mas que será necessariamente

descoberto desde que, a partir do já conhecido seja construída uma "cadeia de razões" que

a ele conduza. Generaliza o procedimento matemático que faz do desconhecido um termo

relativo a outros termos, (o conhecimento existente), e que em função destes pode ser

descoberto. O importante, e que constitui o preceito metodológico básico apontado no

Discurso do Método, é que só se considere verdadeiro o que for evidente, ou seja, o que

puder ser observado com clareza e precisão. Mas a ampliação da área do conhecimento

nem sempre oferece um panorama permeável a este tipo de observação, e,

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conseqüentemente, adequado à pronta aplicação do preceito de evidências. Eis porque

Descartes propõe outros preceitos metodológicos complementares ou preparatórios da

evidência: o preceito da análise, (dividir cada uma das dificuldades que se apresentem em

tantas parcelas quantas sejam necessárias para serem desenvolvidas), o da síntese,

(conduzir com ordem os pensamentos, começando dos objetos mais simples e mais fáceis

de serem conhecidos para depois tentar gradativamente o conhecimento dos mais

complexos) e o da enumeração, (realizar enumerações de modo a verificar que nada foi

omitido). Tais preceitos representam a submissão a exigências estritamente racionais.

E assim Descartes, dentro dos preceitos acima citados, concebeu o universo

com um sistema mecânico que consiste em objetos separados, os quais por sua vez, podem

ser reduzidos a seus componentes materiais fundamentais, cujas propriedades e interações,

acreditava - se, determinam completamente todos os fenômenos naturais. Essa concepção

cartesiana da natureza foi, além disso, estendida aos organismos vivos, considerados

máquinas constituídas de peças separadas. (CAPRA, 1982). Esta foi à base do pensamento

da Ciência Clássica: racional, cartesiano, dual e reducionista.

A Pesquisa Qualitativa, que considera o significado e o processo como

elementos chaves, é propicia para estudos que se fundamentam nos paradigmas da Nova

Ciência, diferente da Ciência Clássica que prioriza números e estatísticas. As bases

históricas do momento presente (1990 até hoje) orientam a Pesquisa Qualitativa nos

seguintes aspectos: abandono do conceito de pesquisador afastado, pesquisa mais orientada

e ativa, maior crítica social, teorias que se ajustam a problemas e situações específicas,

biografia pessoal do entrevistador por trás do processo. (DENZIN & LINCOLN, 1994).

ALVES (1996) pondera que a Ciência Clássica tem como propósito estabelecer

regras para a construção de um discurso objetivo, livre de ídolos e intromissões indevidas

de nossas emoções e sentimentos, e por isto pensou que o caminho correto é o que parte dos

fatos e não diz coisa alguma além daquilo que os nossos cinco sentidos podem constatar.

Esse autor pontua que na Ciência Clássica o cientista não deve falar. É o objeto que deve

falar por meio dele, daí o estilo impessoal, vazio de emoções, sentimentos e valores:

observa – se, constata – se, conclui – se... Durante muito tempo pensou – se que este seria o

caminho seguro, asséptico, metódico, pelo qual seria possível construir declarações teóricas

isentas de contaminação das emoções e sentimentos.

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Em relação à Nova Ciência ALVES (1996) afirma que elaboramos teorias não

porque a lógica o permita ou as observações às produzam e sim porque estamos

descobrindo que os fatos não dizem coisa alguma a não ser quando são trabalhados pela

Imaginação e Intuição. Em todo ato de verdadeira criação científica, o Homem trabalha

além dos cinco sentidos. A Natureza é um texto a ser decifrado. Temos visto que quando a

natureza diz sim, ela está realmente dizendo apenas talvez.

O sim como talvez pode ser exemplificado na crença de que a Terra era o

centro do Universo nos séculos anteriores a Galileu ou no fato da pneumonia ter sido

considerada como doença mortal antes da descoberta dos antibióticos. A nossa confirmação

de hipóteses se restringe a um “talvez” limitado ao conhecimento alcançado pela época.

(ELIAS & GIGLIO, 2000).

O benefício da Pesquisa Qualitativa é justamente não colocar como ponto

principal da investigação, o sim ou não à hipótese formulada ou qualificada em termos de

probabilidade mas priorizar o estudo do significado e do processo das proposições

formuladas.

Segundo WEISS (1999) durante centenas de anos acreditou – se que o

desenvolvimento tecnológico resolveria os problemas da humanidade, e que a solução para

a doença, miséria e sofrimento viria através da Ciência. Observa – se, atualmente, que a

tecnologia e a ciência por si só não foram capazes de resolver os problemas da humanidade

principalmente porque esta tecnologia tanto pode ser usada para o bem quanto para a

destruição; só quando aplicada com sabedoria, equilíbrio e justiça, ela consegue tornar – se

um instrumento para a construção da Paz.

Frente aos temas e reflexões acima articulados concluímos que, para nossa real

sobrevivência, não nos é suficiente apenas a tecnologia avançada contemporânea oferecida

pela Ciência Clássica. Para vivermos com dignidade e plenitude é preciso ir alem dos

aspectos racionais, duais, reducionistas e cartesianos. Fundamentada em um paradigma

monista, sistêmico, a Nova Ciência procura resgatar essa lacuna deixada pela Ciência

Clássica e nos remete para além da tecnologia avançada. Posiciona – nos em nossa real

dimensão: corpo, mente, emoção e espírito inter - relacionados em um todo. A Nova

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Ciência nos mostra que não somos fragmentos de uma engrenagem mecânica e nem cópias

automatizadas de modelos pré - estabelecidos, mas que somos sim, seres únicos, que

pensam e sentem, capazes de se tornarem livres através do caminho da individuação e que a

evolução da humanidade não depende da tecnologia apenas mas, principalmente, do quanto

cada homem possa vir a se autoconhecer e desenvolver seu próprio potencial, equilibrando

– se nos confortos e facilidades oferecidos por essa tecnologia. (ELIAS & GIGLIO, 2000).

As posições qualitativas baseiam-se especialmente na fenomenologia e no

marxismo. Por isso, em geral, podemos distinguir dois tipos de enfoque na Pesquisa

Qualitativa, que correspondem a concepções ontológicas, gnosiológicas, específicas na

análise e compreensão da realidade: os enfoques subjetivistas – compreensivistas e os

enfoques crítico - participativos.

Os enfoques subjetivistas – compreensivistas privilegiam os aspectos

conscienciais, subjetivos dos atores, (percepções, processo de conscientização, de

compreensão do contexto cultural, da realidade a - histórica, da relevância dos fenômenos

pelos significados que eles têm para o sujeito). Os enfoques crítico – participativos com

visão histórica - estrutural privilegiam a dialética da realidade social que parte da

necessidade de conhecer (através de percepções, reflexão e intuição) a realidade para

transformá-la em processos contextuais e dinâmicos complexos. (TRIVIÑOS, 1987).

Na pesquisa qualitativa o pesquisador não fica fora da realidade que estuda, à

margem dela, dos fenômenos aos quais procura captar seus significados e compreender.

(TRIVIÑOS, 1987). Por esta razão consideramos que os pressupostos teóricos da

pesquisadora, citados tanto no capítulo 3 - Justificativa como nesse capítulo - Revisão da

Literatura, é fator relevante a ser considerado no estudo, pois foi embasada nesse

referencial que a pesquisadora trabalhou.

O investigador, sem dúvida, ao iniciar qualquer tipo de busca, parte pré -

munido de certas idéias gerais, elaboradas conscientemente ou não. É impossível que um

cientista inicie seu trabalho despojado de princípios, de idéias gerais básicas. Mas, por

outro lado, na concepção fenomenológica da pesquisa qualitativa o investigador deve estar

também dotado de amplo e flexível espírito de trabalho. Isto elimina a possibilidade da

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colocação de hipóteses, que devem ser testadas empiricamente, e de esquemas de atividades

levantados a priori, questionários padronizados, análises de resultados de acordo com certos

cânones rígidos, etc., tão comuns nos modelos positivistas e empiristas tradicionais. Estes,

buscando a objetividade e neutralidade do dado atingido, procuravam eliminar toda

possibilidade de presença do sujeito nos resultados. A pesquisa qualitativa rege-se por

critérios diferentes dos manejados pelo positivismo, para alcançar produtos com validade

científica. A ausência de hipóteses rígidas a priori, que deviam ser empiricamente

verificadas, apoiando-se, de maneira fundamental, na estatística, obrigou o pesquisador a

ter um conhecimento geral aprofundado da realidade que servia de contexto ao foco em

estudo e dos suportes teóricos principais que guiavam sua ação. Isto permite a flexibilidade

para formular e reformular hipóteses à medida em que se realiza a pesquisa (TRIVIÑOS,

1987). Nesse estudo a nossa flexibilidade esteve diretamente ligada à escolha da qualidade

do material para o trabalho psicológico com imagens mentais e relaxamento mental ou seja,

que histórias, que orientações imaginárias, que músicas, etc., oferecemos para cada uma

das pacientes. O critério da escolha desse material dependeu do histórico de vida e das

preferências de cada paciente. A pesquisadora fez, com cada paciente, em todo o processo,

uma análise de quais metáforas foram mais indicadas para ela e também considerou as

preferências, as escolhas pessoais de cada um delas na definição do material. Um segundo

aspecto, também ligado à flexibilidade pertinente à Pesquisa Qualitativa, refere - se a

conduta da pesquisadora durante a coleta de dados na Entrevista Semi Estruturada. Os

roteiros (Anexos: 1, 2, 3, 4), foram utilizados, apenas, como guias de referência,

priorizando - se as necessidades específicas de cada paciente frente a sua Dor Simbólica da

Morte. Pelas razões acima descritas, a flexibilidade proposta pela Pesquisa Qualitativa foi

de suma importância para este estudo, dada sua natureza.

Em relação à seqüência das etapas assinaladas para o desenvolvimento do

trabalho, a Pesquisa Qualitativa não é tão rígida como a Pesquisa Quantitativa. Pelo

contrário, por exemplo, a coleta e a análise dos dados não são divisões estanques. As

informações que se recolhem, geralmente, são interpretadas e isto pode originar a exigência

de novas buscas de dados. O denominado ‘relatório final’ da Pesquisa Quantitativa

naturalmente que existe na Pesquisa Qualitativa, mas ele se vai constituindo através do

desenvolvimento de todo o estudo e não é exclusivamente resultado de uma análise última

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dos dados (TRIVIÑOS, 1987). Neste estudo, a coleta e a análise de dados serão feitos

conforme o texto acima citado. A pesquisadora partiu da identificação inicial da Dor

Simbólica da Morte da paciente, como coleta de dado inicial para desenvolver a

intervenção psicoterapêutica construída através da integração das técnicas de Relaxamento

Mental e Visualização de Imagens Mentais com o conceito de Espiritualidade. Mas, a

seguir, a análise de cada sessão foi também uma nova coleta de dados para o trabalho da

sessão seguinte. Desta forma a coleta e a análise de dados aconteceram de forma

simultânea e interativa durante todo o processo da pesquisa, até o relatório final.

Segundo TRIVIÑOS (1987), a entrevista semi - estruturada é um importante

método da investigação porque ao mesmo tempo em que valoriza a presença do

investigador, oferece todas as perspectivas possíveis para que o informante alcance a

liberdade e a espontaneidade necessárias, enriquecendo a investigação.

A entrevista semi - estruturada pode ser entendida como aquela que parte de

certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam a pesquisa

e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que

vão surgindo à medida em que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o

informante, seguindo espontaneamente a linha de seus pensamentos e de suas experiências

dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar da elaboração do

conteúdo da pesquisa.

A duração da entrevista é flexível e depende das circunstâncias que rodeiam

principalmente o informante e o teor do assunto em estudo, mas essa não deve se prolongar

muito além de trinta minutos para não se tornar repetitiva e empobrecida.

Além de dar início, de maneira sistemática à sua pesquisa, o entrevistador deve

fazer contatos informais prévios com seus possíveis entrevistados tornando-se conhecido e

apresentando o propósito de sua presença.

Os propósitos devem ser esclarecidos quanto aos objetivos da entrevista e do

trabalho pelo pesquisador de forma mais explícita possível.

Quanto ao registro da entrevista o investigador tem várias alternativas: pode ir

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anotando o desenvolvimento da entrevista, escrevendo só as idéias principais ou

procurando reter tudo na memória para, imediatamente após o término da mesma,

reelaborá - la e analisá - la. Pode também gravar as entrevistas, mas deve transcrevê - las

antes de realizar a entrevista seguinte. Se a entrevista gravada for acompanhada de

anotações gerais sobre atitudes ou comportamentos do entrevistado, pode contribuir melhor

ainda para aos esclarecimentos que procura o cientista. É necessário um “rapport” antes do

início da entrevista para que esta possa se desenvolver em um clima de simpatia,

confiança, lealdade, harmonia, entre pesquisador e entrevistado.

É também muito importante que o entrevistado saiba claramente sobre sua

utilidade, sua importância para as metas que se pretende atingir. Para tanto o cientista deve

ser acolhedor às colocações do entrevistado e deve também oferecer possibilidades ao

informante de iniciar a entrevista, dando respostas a aspectos de sua vida que possam

esclarecer o entrevistado sobre o trabalho que está sendo realizado.

As perguntas na entrevista semi - estruturada podem ser de vários tipos,

dependendo do estudo: os da linha teórica fenomenológica devem ser de natureza descritiva

para que se possa descobrir os significados dos objetos em questão. As perguntas

descritivas podem ser gerais, específicas ou focadas em tarefas.

No campo da pesquisa histórico - estrutural, dialética, as perguntas podem ser

denominadas como ‘explicativas ou causais’. Elas têm por objetivo determinar as razões

imediatas ou mediatas do fenômeno social. Além das explicativas ou causais as perguntas

nesse tipo de estudo podem também ser: ‘consequenciais’, porque tem por objetivo apreciar

os resultados futuros para o grupo, da existência de um fenômeno social; ‘avaliativas’

quando se pretende estabelecer juízos de valor sobre os fenômenos sociais; ‘hipotéticas’

quando o informante é encaminhado a várias situações possíveis de existir, nas quais ele

pode participar, apreciar, etc.; ‘categoriais’ que tentam classificar fenômenos sociais,

idéias, pessoas, coisas, etc.

Como essa pesquisa situou - se na linha fenomenológica, as perguntas foram de

natureza descritiva e específica, pelo caráter do estudo.

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Segundo DENZIN & LINCOLN (1994) o pesquisador qualitativo é "bricoleur"

e sua produção é a "bricolage" ou seja, estivemos, dentro dessa Pesquisa Qualitativa, em

busca de caminhos que re - significassem o sofrimento de pacientes terminais no processo

de morrer, com objetivos e referenciais teóricos muito bem definidos, mas estivemos

também abertos para considerar os aspectos particulares, imprevisíveis e complexos da

natureza humana e com a "bricolage" construímos um relatório final que concluísse alguns

aspectos por um lado e apresentasse questões para reflexão e novas pesquisas por outro.

Tivemos dentro dessa pesquisa, com abordagem qualitativa, como variável

putativa a Qualidade de Vida. KOVÁCS (1999) pondera que embora a Qualidade de Vida

seja um conceito aparentemente fácil de ser compreendido, ele é extremamente difícil de

ser avaliado, pois carrega um colorido muito peculiar para cada ser humano. As escalas de

Qualidade de Vida procuram abordar estas dimensões, pedindo que o indivíduo vá se

avaliando em cada uma delas. Entretanto, segundo essa psicóloga, uma abordagem mais

qualitativa pode ser mais afinada a cada pessoa, pois permite ao paciente definir com seus

próprios termos aquilo que considera mais pertinente em relação à sua própria Vida e à

interferência da doença ou do sofrimento na sua Qualidade. Assim, concluímos que,

também por essa razão, a entrevista semi – estruturada foi um instrumento melhor para

nosso estudo do que as escalas padronizadas.

2.2. DOR SIMBÓLICA DA MORTE

O comitê de taxonomia da “International Association for the Study of Pain" –

I.A.S.P. (Associação Internacional para o Estudo da Dor), conceituou a dor como uma

experiência sensorial e emocional desagradável associada a lesões teciduais reais ou

potenciais ou descrita em termos de lesões teciduais. (MERSKEY et al, 1979). Desta

forma concluímos que a maneira que cada ser humano sente, reage e memoriza a dor é

única e pessoal porque está ligada diretamente à estrutura do seu mundo interno.

SAUNDERS (1991), que iniciou nas últimas décadas o movimento de criação

dos “Hospices” na Inglaterra, locais onde eram e são oferecidos cuidados paliativos aos

pacientes Fora de Possibilidade de Cura, formulou, em 1967, o conceito de Dor Total que

inclui a Dor Física (sensação dolorosa associada a lesões reais), a Dor Psíquica (medos do

sofrimento, da morte, do desconhecido, tristezas, raiva, revolta, perdas, inseguranças,

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incertezas, desespero, depressão), a Dor Social (isolamento, rejeição, abandono, mudanças

de papéis, dependência, inutilidade) e a Dor Espiritual (falta de sentido na vida e na morte,

medo do pós - morte, do submeter-se, das culpas perante Deus, busca de fé, de conforto

espiritual). Posteriormente acrescentou as dimensões da Dor Financeira e Mental do

paciente, incluindo também a Dor dos Familiares e da Equipe Médico - Hospitalar nos seus

cuidados.

HESTER (1995) reformulou o conceito de dor, já descrito anteriormente, e o

dividiu em sete dimensões: cognitiva, fisiológica, sensorial, comportamental, emocional,

sócio - cultural e ambiental. A dimensão cognitiva refere - se ao significado da dor,

estratégias de luta, atitudes e crenças acerca da dor e de seus tratamentos, preferências de

cuidados e a forma como ela afeta os processos de pensamento e a autopercepção. A

dimensão fisiológica refere - se às estruturas anatômicas e aos processos fisiológicos da

dor, à sua etiologia e características e as respostas fisiológicas a ela. A dimensão sensorial

refere - se à intensidade e seu padrão com o tempo, isto é, como a dor se manifesta. A

dimensão comportamental refere - se a vocalizações, às respostas motoras, como os

movimentos faciais e corporais, à postura corporal, ao estado do comportamento e ao sono.

A dimensão emocional refere - se aos atributos individuais, incluindo nervosismo,

irritabilidade, agitação, ansiedade e solidão. A dimensão sócio - cultural refere-se à herança

etno - cultural, atitudes e crenças da família, filiação religiosa, apoio dos parentes e de

outras pessoas importantes, relações interpessoais e envolvimento em atividades,

brincadeiras, escola ou trabalho. A dimensão ambiental refere - se à localização, aos

estímulos e às condições do meio.

A Psicanálise, por sua vez, analisou a dor psicogênica ou seja, de origem

apenas psicológica (exemplo: reações de conversão). Mas, nos últimos trinta anos, o que

tem sido constatado é que, independentemente de sua etiologia, psicogênica ou

somatogênica, o sofrimento causado pela dor esta sempre relacionado a uma problemática

psicológica. Em outras palavras, no sentir a dor há sempre um componente psicológico.

Ressentimento, depressão, ansiedade, desesperança, carência de afeto, hipocondria, são, por

exemplo, características freqüentemente encontradas nos pacientes de dor crônica.

(CARVALHO, 1994a).

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FIGUEIRÓ (1999) pontua que o conceito atual de Dor considera a mesma

como um fenômeno ‘Biopsicossocial’ e subjetivo. Neste modelo a Dor não é mais vista

como uma entidade dicotômica, mas como resultado de uma combinação de fatores

biológicos (sensoriais), psicológicos (afetivos, cognitivos), comportamentais, sociais e

culturais que contribuem de forma integrada para a experiência dolorosa individual. A Dor

é uma experiência subjetiva para o paciente e é difícil para o médico quantificá – la

objetivamente. Uma abordagem multidisciplinar, envolvendo clínicos, psicólogos,

enfermeiros, assistentes sociais e outros especialistas médicos, funciona melhor na

avaliação desses pacientes.

Para KOVÁCS (1999) Cuidados Paliativos é uma área de especialização com

abordagem multidimensional, que promove o alívio e controle de sintomas incapacitantes,

relacionados com certas doenças e seus tratamentos e tem como objetivo a promoção da

qualidade de vida. Não existe uma proposta de prolongar a vida a todo custo e sim,

favorecer todo e qualquer tratamento que promova qualidade de vida e alívio do sofrimento

até o momento da morte.

‘Saúde’ foi definida pela Organização Mundial de Saúde (1958), não como a

mera ausência de doenças ou enfermidades, mas um estado de bem estar completo nas

áreas: física, mental e social. Dessa forma o termo Qualidade de Vida define todos aspectos

de bem estar do paciente, incluindo também a saúde espiritual e econômica.*

O grupo da Organização Mundial de Saúde, (O.M.S.), que elaborou a Escala de

Qualidade de Vida, conceituou Qualidade de Vida como: “A percepção de uma pessoa, de

sua posição na vida, no contexto do sistema de valores e da cultura em que vive e de suas

metas, expectativas, padrões e interesses” .* Este conceito é muito abrangente e portanto

podemos considerar a Qualidade de Vida como um constructo hipotético que só pode ser

avaliado através de variáveis intervenientes.

* Organização Mundial de Saúde (O.M.S.) apud BERZON, R. – Understanding and using health – related

quality of life Instruments within clinical research studies. In: STAQUET, M.; HAY, R.; FAYERS, P. – Quality of Life Assessment in Clinical Trial – Methods and Practice. Oxford, Oxford University Press. 1998, p.3-6

*Organização Mundial de Saúde apud CELLA D. & BONOMI, A. – Measuring quality of life. In: PAZDUR, R. et al – Cancer Management; A multidisc. Approach medical, surgical and radiation oncology. New York, PRR–Huntington, 1996. p. 773–802.

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Nesse estudo onde a Qualidade de Vida esteve vinculada ao processo de

morrer, na re - significação da Dor Simbólica da Morte de pacientes Fora de Possibilidade

de Cura, consideramos como variáveis intervenientes a Dor Psíquica e a Dor Espiritual.

Entendemos assim, frente ao acima exposto, como Dor Simbólica da Morte, a Dor

Psíquica e a Dor Espiritual durante a experiência do morrer. (ELIAS, 1999).

Acreditamos que, em relação às culpas frente às perdas (Dor Psíquica), e em

relação às culpas perante Deus (Dor Espiritual), a influência da cultura sobre o indivíduo

apresenta importante papel. PIMENTA & PORTNOI (1999) afirmam que:

O aprendizado social é essencial no desenvolvimento dos significados atribuídos à dor. Esse

aprendizado se inicia na unidade familiar e se modifica, integra e se mantém na convivência

social mais ampla. Em grande parte das culturas, a dor é considerada como uma das possíveis

fatalidades que podem ocorrer a seus membros. Diante de uma experiência dolorosa os

indivíduos costumam se perguntar: “Por que isso aconteceu comigo?”. “O que eu fiz para

merecer isso?”. Em busca de respostas para essas questões recorrem, não apenas à ciência, mas

às religiões, às crenças e aos valores morais de sua cultura.

As religiões desempenham papel importante no processo de aculturação. Elas representam um

conjunto organizado de crenças e práticas, cuja finalidade é responder pela orientação ética,

filosófica e ideológica de um determinado grupo. As religiões moldam a percepção que um

indivíduo tem de si mesmo e também sua resposta à dor. A fé religiosa pode ajudar muito na

tolerância à dor, mas pode, também, levar o indivíduo a interpretar a dor como punição e

procurar em preces e rituais, o perdão para possíveis erros... Se a dor for vista como punição

divina, os indivíduos tentarão experimenta – la sem queixas a fim de que se transforme numa

forma de expiação para aliviar sentimentos de culpa. Se dor interpretada como conseqüências

de transgressões morais, procurarão a cura por penitências, jejuns ou preces. Se for atribuída à

malevolência de terceiros (feitiçaria ou encantamentos), tentarão alívio de maneira indireta, por

meio de rituais ou exorcismo.

No método proposto neste estudo procuramos re - significar essa visão cultural

da dor como punição, purificação ou ação de terceiros, através dos dados colhidos nos

relatos dos pacientes que vivenciaram uma Experiência de Quase Morte e voltaram a viver

normalmente, os quais afirmam que o sofrimento não procede de punição divina e sim é

fruto de uma complexa cadeia de circunstâncias que resulta em experiências difíceis,

através das quais algo pode ser aprendido mas independente do que se aprende, este

sofrimento deve ser minimizado o máximo possível. (MOOD JR, 1992).

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Segundo MAYOL (1992) para o câncer efetivamente instalar – se algo deve

desarranjar o material genético da célula fazendo com que ela, após sofrer alterações,

comece a multiplicar – se rápida e desordenadamente. O tempo entre a desorganização

celular e o início da proliferação anormal depende dos vários fatores capazes de regular a

reprodução da célula, como o estado hormonal, o estado imune, o estado psicológico, a

idade e o estado nutricional do indivíduo, ou seja, além dos fatores causais do câncer, para

ele poder expressar –se, existe também a necessidade da concomitância de deficiências

imunológicas, distúrbios emocionais, distúrbios endócrinos ou erros alimentares. Em

relação aos fatores emocionais as pessoas com maior probabilidade de adquirir câncer são

as introvertidas, com traumas emocionais, que guardam as crises dentro de si. Reprimem,

negam ou racionalizam suas emoções, fogem do contato com seu mundo interior, perdem a

iniciativa de buscar soluções alternativas e deprimem – se.

Segundo DEL PORTO (2000) a característica mais típica dos estados

depressivos é a prevalência de sentimentos de tristeza e vazio. No plano psíquico um

sintoma importante da depressão é o Humor Depressivo, caracterizado por sensações de

tristeza, autodesvalorização e sentimentos de culpa.

A Dor Simbólica da Morte, conforme definimos acima, é composta pela Dor

EspirituaL e pela Dor Psíquica, a qual está vinculada aos estados depressivos permeados

de tristezas, medos, angústias e culpas. Esses aspectos depressivos que compõem a Dor

Psíquica alicerçam a Dor Simbólica da Morte e sobre a Dor Espiritual, estes aspectos se

projetam.

KÜBLER ROSS (1998) afirma que a morte é apenas uma transição da vida

para outra existência e que, para se viver dignamente o processo de morrer, deve - se viver

verdadeiramente até a hora da morte. Viver verdadeiramente, segundo essa médica

psiquiatra, é fazer o que se gosta de fazer e aprender a mais difícil das lições: o amor

incondicional.

Existe um paralelo entre o Nascimento e a Morte porque são polaridades de

uma mesma realidade, a de VIVER. Compreendendo-se a Dor Simbólica do Nascimento

como a angústia de desligamento, angústia básica, podemos também compreender a Dor

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Simbólica da Morte como ligada à angústia de desligamento de forma inversa, dentro das

dimensões psíquicas e espirituais.

RANK, baseando - se em sua experiência clínica,* afirma que o nascimento

constitui um trauma com o qual o indivíduo jamais se reconcilia. Muitas pessoas que não se

adaptam às exigências do mundo externo parecem procurar durante toda a vida reconstruir

simbolicamente as condições de vida intra - uterina. Mesmo que julguemos exageradas as

afirmações de RANK, é preciso levar em conta que o grau de sucesso da experiência do

nascimento contribui fortemente na impressão que o ser humano terá da vida. Naturalmente

a impressão não é algo consciente, mas um registro na personalidade, a qual poderá

fundamentar os tipos de reação às experiências futuras. O nascimento constitui a primeira

reação de separação, das muitas que o indivíduo terá que sofrer durante o seu

desenvolvimento. Neste sentido, o recém - nascido não tem outra alternativa senão viver a

própria “angústia” do desligamento, a qual pode ser considerada como o protótipo do

fenômeno psicológico da angústia que aparecerá mais tarde nas diversas fases do

desenvolvimento.

A promessa da morte e a experiência do morrer, mais do que qualquer outra

força na vida, é o que leva o ser humano à evolução. A morte é parte da existência humana,

do seu crescimento e desenvolvimento, tanto quanto o nascimento. A morte é uma parte da

existência. A morte não é um mal a ser extirpado, um inimigo a ser combatido ou uma

prisão de onde devemos escapar, mas sim parte integrante de nossa vida e que dá

significado à existência humana. (KÜBLER-ROSS, 1996a, 1996b).

A citação acima de KÜBLER – ROSS (1996a, 1996b) sugere que a vida é um

espaço de tempo delimitado entre o nascer e o morrer. O fato de haver um limite nos impele

a fazer algo produtivo, útil e belo. Isto significa encontrar um significado positivo, digno e

verdadeiro para o presente. Um significado que traga paz, crescimento, luz, força interior,

beleza, sentimentos de amor e ampliação da consciência de si e do mundo. Cindir o

processo de morrer da vida é deixar de viver antes da morte.

*RANK. O. apud D’ ANDREA, F.F. - Desenvolvimento da Personalidade. 10 ed., Rio de Janeiro, Editora

Bertrand Brasil, 1991. 185p.

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TOLSTÓI (1998), em seu conhecimento inato, descreveu a terrível solidão do

paciente no seu processo de morrer, pela ocultação da verdade em "A Morte de Ivan Ilitch”.

O personagem Ivan Ilitch viveu seu tormento maior não exatamente pela doença que o

consumia, mas pela mentira, a qual era aceita por todos, familiares, amigos e ele próprio.

Dizia - se que ele estava apenas doente mas não morrendo, que ele poderia ficar calmo,

confiar nos médicos e, de alguma forma, curar – se - ia. Ele, no seu íntimo, assim como

todos, sabia que isto era mentira, por causa desta farsa, vivia sua dor, sua terrível solidão.

Não lhe foi dada à oportunidade de viver a verdade: ficar calmo para poder morrer em paz.

Não lhe foi dada à oportunidade de um trabalho terapêutico que lhe possibilitasse uma re -

significação do processo de morrer, compartilhada com todos, para que pudesse chegar à

morte com dignidade e em paz.

A tentativa de nos debruçarmos sobre o assunto morte e o morrer é

freqüentemente tomada como algo mórbido e de mau gosto. Todos nós temos a experiência

de termos ouvido, incontáveis vezes, pessoas declararem que a morte ideal é aquela

acontecida durante o sono, sem que estivesse sequer doente, sendo a pessoa vitimada por

algum mal súbito. Isto é o que nossa cultura atualmente propõe: a morte como surpresa,

sem que nos dê tempo de que a percebamos, de que soframos qualquer angústia em função

do morrer. E aqui não me refiro à dor física, mas ao sofrimento oriundo do medo. Se

estabelecermos contato com a idéia de nossa própria finitude dificilmente deixaremos de

viver um processo de re - significar a vida e aí transformarmos nossa relação com o viver,

dando geralmente, uma nova qualidade a esse ato. (CARVALHO V., 1996).

A Organização Mundial de Saúde define, como já citado, Qualidade de Vida

como o bem estar físico, psíquico, social e espiritual, e a ausência de sofrimento nessas

áreas. Desta forma como cita KOVÁCS, (1999), Qualidade de Vida e cuidados à Dor estão

intimamente relacionados.

Também é fato que algumas mortes são melhores que outras. Algumas vezes,

apesar de tratamento médico adequado, serviço social atencioso, o paciente morre de uma

forma muito ruim, com muita aflição e inadequado enfrentamento. As diferenças entre uma

“morte ruim” e uma “boa morte” não podem ser descritas simplesmente considerando - se o

grau e quantidade de sintomas físicos ou o poder econômico do paciente. Esperança,

verdade e a qualidade da sobrevida são fatores importantes inter - relacionados para uma

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‘boa morte’. Esperança é um sentimento intangível, imensurável e muito real. A esperança

é fruto do otimismo, da expectativa e da aceitação positiva do passado, tanto em relação aos

sucessos como aos fracassos. A esperança é indicada para fortalecer pessoas na adversidade

porque esta é a sua característica, a sua função. (WEISMAN, 1979).

MASERA et al, (1999), para orientação dos profissionais de saúde,

sistematizaram em dois períodos distintos os cuidados que devem ser oferecidos a uma

criança que está morrendo de câncer. O primeiro período compreende o momento em que o

tratamento é considerado sem efeito e torna – se necessário tomar a difícil decisão de

mudar a orientação do tratamento de curar para cuidados paliativos. O segundo período

refere - se a assistência à criança e seus familiares, durante o período de cuidados

paliativos, e ao acompanhamento da família depois da morte do paciente.

Em relação ao primeiro período os autores enfatizam que o manejo na

transição da fase curativa para a paliativa é crítico para proteger a criança, e para isso

orientam os seguintes passos:

- Cada Centro deve desenvolver uma filosofia uniforme para os aspectos chaves

do tratamento.

- Toda a Equipe de Saúde (e não só os médicos), a família (incluindo irmãos se

tiverem idade adequada), e a criança (dentro do limite de sua idade), devem participar da

decisão de se mudar da fase curativa para a de cuidados paliativos. Por outro lado se a

criança desejar manter – se pouco informada, seu desejo deve ser respeitado.

- Existem pais que superprotegem a criança, fazendo – a sentir – se pior. Outros

insistem em perseguir uma irrealística possibilidade de cura, aumentando o sofrimento da

criança, e outros ainda, querem parar o tratamento prematuramente. Esses conflitos são

passíveis de solução se a equipe de saúde procurar entender e discutir o assunto de forma

adequada com a família.

Em relação ao segundo período, a fase dos Cuidados Paliativos, MASERA

et al, (1999), fazem as seguintes recomendações:

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- As decisões médicas a respeito dos Cuidados Paliativos devem ser tomadas

com a participação de toda a Equipe de Saúde. A criança, frente a estas decisões, deve ser

acompanhada nessa fase, tanto nos aspectos físicos como também nos aspectos

psicológicos e espirituais.

- Sempre que for possível, deve - se permitir ficar em casa na fase terminal, às

crianças que assim o desejarem.

- Os pais e a equipe de saúde devem estar atentos as comunicações verbais e

não verbais da criança.

- Acompanhamento aos pais deve ser oferecido durante a fase de cuidados

paliativos.

- Deve haver consultas de luto depois da morte da criança para a família.

- A equipe de saúde deve encorajar pais e irmãos enlutados a participarem de

grupos de auto – ajuda assim como, se necessário, um psicólogo os deve acompanhar.

- Depois que uma criança morre, a história médica individual dela deve ser

avaliada por toda a equipe de saúde, para que possam, enquanto equipe, sempre se

aperfeiçoar na ajuda a futuras famílias.

- A equipe de saúde deve estar preparada para modificar suas metas filosóficas,

direções e guias sempre que necessário, baseada na revisão dos casos e nos comentários dos

pais.

O Guia, elaborado por MASERA et al (1999), pode parecer à primeira vista,

óbvio, ingênuo e simplista, mas para quem vive esta realidade no seu dia a dia, ele é

extremamente importante e necessário.

Profissionais de saúde, principalmente médicos, são educados para curar, e por

essa razão quando constatam que nada mais há para fazer do ponto de vista curativo,

angustiam – se, deprimem – se e culpam – se. Um Guia como este oferece suporte para

essas angústias, depressões e culpas e mais, apesar de sua objetividade, abre espaço para

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profissionais de saúde refletirem sobre a forma de se lidar com a morte e sobre os outros

propósitos das Ciências Médicas, além da cura de enfermidades.

Não curar um paciente não significa fracasso e é isto que implicitamente este

Guia diz. E diz mais: quando um paciente não responde ao tratamento médico, isto não é o

fim e sim apenas o começo de uma outra forma de se tratar. Há muito que se fazer com o

paciente terminal e sua família para aliviar seus sintomas e sofrimentos físicos, psíquicos e

espirituais.

Embora esta dissertação de Mestrado tenha tido como sujeitos pacientes

adultas, esse Guia contempla perfeitamente também essa faixa etária com as devidas

correções, como por exemplo: de pais e irmãos, para cônjuge e filhos.

O tema desta Dissertação veio justamente ao encontro de um dos objetivos

proposto por MASERA et al (1999): oferecer alívio para o sofrimento psíquico e espiritual

do paciente.

Consideramos importante também acrescentar a essa ‘palavra – chave’

(Qualidade de Vida na Dor Simbólica da Morte), a visão das diversas culturas sobre a

morte e o pós – morte, e, para tal, trouxemos um resumo da pesquisa desenvolvida e

publicada pela Psicóloga e Psicoterapêuta Norte Americana, Sukie Miller, presidente do

“Institute for the Study of the After Death” (Instituto para o Estudo do Pós Morte), com

colaboração de um grupo de prestigiados pesquisadores.

No decorrer de oito anos, MILLER (1997) colheu dados em diferentes culturas

de todo o Planeta sobre as crenças em relação ao pós – morte. Ao analisar os resultados

observou que a despeito da diversidade de suas origens culturais, as referências às jornadas

do pós – morte são constituídas, em maior ou menor grau, por quatro bem definidos

aspectos ou estágios, os quais ela denominou:

- Estágio 1: Do Espaço de Espera;

- Estágio 2: Da Fase de Julgamento;

- Estágio 3: Do Reino das Possibilidades;

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- Estágio 4: Do Retorno ou Renascimento.

Segundo MILLER (1997) os indivíduos das mais diversas culturas acessam

esses quadros do pós – morte e constroem seus modelos teóricos através da “Imaginação

Vital”, conceituada por ela “como uma capacidade psíquica, não de meramente visualizar,

mas sim, de vivenciar, um outro plano de realidade não possível de ser percebido pelos

cinco sentidos e que não constitui fantasia ou alucinação”. Pontua que nas culturas em que

a Imaginação Vital opera de modo mais livre, a morte não é, necessariamente, uma fonte de

terror.

De acordo com a classificação e denominação da autora MILLER (1997), esses

quatro estágios do pós – morte acima citados, podem de forma resumida, serem assim

descritos de acordo com as diferentes culturas e doutrinas religiosas:

ESTÁGIO 1 - DA ESPERA: o ‘viajante’, o que morreu, o indivíduo que

deixou essa vida, passa pela transformação de um ser físico em um ser espiritual, para

poder então realizar sua migração para o mundo espiritual. Descanso, conforto e uma

oportunidade de abrandar o medo são os supostos benefícios que o estágio 1, Lugar de

Espera, oferece.

Em relação a esse estágio os Índios Guaranis do Brasil acreditam que quando a

alma se aproxima de seu ponto de chegada deve aguardar até que Nhanderu lhe abra a

porta. É este o lugar de espera ou descanso da alma. Os Índios Kadaneu do Mato Grosso,

Brasil, acreditam que as pessoas que morrem deslizam para um universo que se mostra

virtualmente idêntico àquele que acabam de deixar. À semelhança dos egípcios, enterram

seus mortos com todos os seus pertences. Os Espíritas Brasileiros, com base na doutrina de

Kardec, acreditam que os que morreram recentemente são transportados por uma nave

espacial, para um ‘Hospital’, onde o espírito do morto passa por um processo de limpeza,

de recuperação dos traumas que precederam sua morte e por um período de adaptação à sua

nova forma de vida. Os Xamãs, por sua vez, tem permissão para entrar e sair livremente

desse Lugar de Espera trazendo consigo descrições detalhadas e reconfortantes dessas

paragens. No Sistema Indiano, o Atman (‘Eu’ dos indianos), fica, suportando a mais

extrema fome, empoleirado nos ombros do Mahapatra, (última posição social entre os

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indivíduos), enquanto este oferece cuidados especiais aos restos mortais com o objetivo de

facilitar a natural transformação do espírito, a qual deve ocorrer, para que este possa seguir

além desse momento que é o Lugar de Espera. Para o Judaísmo, nos sete dias que precedem

o óbito, o espírito ronda entre os vivos e aprende que está morto através da semana solene

do sentar “shiva”. Na Tradição Bali, o Lugar de Espera é o período onde pacientemente os

vivos e o morto aguardam a cremação. O corpo é lavado e vestido, um pequeno espelho é

colocado sobre cada um dos olhos do morto para assegurar que ele seja forte na próxima

existência e uma flor é posta em cada uma de suas orelhas para que ele só escute sons belos

no futuro. Até o dia da cremação mantém – se acesa uma lâmpada que devera guiar a alma

de volta a seu lar.

De forma geral o Lugar de Espera é um local de calma e transição onde o ser

passa, em definitivo, do mundo físico para o espiritual.

Segundo MILLER (1997) as versões mais desenvolvidas relativas ao Lugar de

Espera da Jornada do Pós – Morte, procedem dos Sistemas Esotéricos de crenças relatados

por Paul Beard, ex – presidente do “College of Psychic Studies” de Londres, um dos

principais documentaristas do movimento esotérico. MILLER, (1997), afirma que Paul

Beard em seu livro “Living On” elaborou, através da Imaginação Vital, a descrição desse

Lugar de Espera, o qual chamou Summerland (Terra de Verão), e o denominou como um

espaço de descanso. Descreveu esse local como um espaço reconfortante, cujo cenário é

construído de acordo com as escolhas íntimas de cada indivíduo, e para onde,

primeiramente, o espírito se dirige após a morte. Acrescentou que esse Lugar de Espera é

construído pelos que acabam de morrer pelo poder de seus pensamentos. Afirmou também

que esse Lugar de Espera é a ante – sala mais acolhedora e reconfortante que cada

indivíduo pode imaginar.

ESTÁGIO 2 - DO JULGAMENTO: Nesse estágio a vida passada do ‘viajante’

é escrutinizada, avaliada e, em decorrência disso, ele ou ela vêem determinado seu destino.

De acordo com a grande maioria das culturas que crêem nesta etapa, o Julgamento é a mais

difícil de ser enfrentada. Os sistemas que acreditam no Julgamento podem ser classificados

em quatro tipos:

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1) Método do Registro Contábil: Nesse método, as unidades quantificáveis do

bem praticado - recursos arrecadados - são somados e pesados em relação aos pecados ali

quantificados - cheques emitidos. Para o Catolicismo e seus derivados, quando o espírito se

apresenta no ‘azul’, o Paraíso lhe está assegurado, mas se o balanço se mostra no

‘vermelho’, o espírito é condenado ao Inferno. Os Egípcios do período antes de Cristo,

também acreditavam neste método. Afirmavam que o espírito seria julgado por um comitê

de 42 deuses; o peso do coração (sede da consciência, símbolo da alma, para esse povo

antigo), era comparado ao peso de uma pena. Se a balança permanecesse imóvel, a alma

alcançaria o Paraíso. Se, ao contrário, a balança se movesse, seu destino seria o Inferno. O

Judaísmo, embora concentre seu sistema de crenças mais na vida, propriamente, do que no

que vem depois da morte, também acredita no Julgamento, e o classifica dentro deste

método. Afirma que dois anjos acompanham o indivíduo por toda a vida. Um anota as boas

ações e o outro anota as más. No dia do Grande Julgamento todos os pesos, todas as

medidas e todas as balanças serão expostos e cada pessoa deverá reconhecer sua medida e

de acordo com ela, receberá ou não sua recompensa.

2) Método Cármico: Esse método diz respeito à soma total de todas as

possibilidades do empenho humano e às conseqüências éticas que essa somatória acarreta.

Representa a manipulação computadorizada de detalhes quase que infinitamente inter –

relacionados.

Enquanto o método do Julgamento de Registro Contábil traz em seu bojo a

convicção de que, durante a vida, as pessoas podem alterar seus destinos se adquirirem

mais créditos, a complexidade do Método Cármico apresenta um tipo de neutralidade

fatalista, ou seja, nada nos impede de progredir e alcançar uma vida melhor, da próxima

vez. Dentre os que acreditam nesse método podemos citar os adeptos da Doutrina Espírita e

os Indianos.

3) Método da Evolução: nesse método o universo é visto como em constante

evolução e as vidas são avaliadas de acordo com o grau de crescimento individual e a

produção de alguma obra que contribua para o bem de todos. Esse modelo é a forma

propulsora que rege a religião Baha’i e a Teosofia, movimento espiritual de caráter

universal desenvolvido por volta de 1800 por madame Blavatsky. Tanto para o Baha’i

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como para a Teosofia não existem juízes externos. Ao contrário, cada um é seu próprio juiz.

O espírito avalia não tanto suas ações, mas as intenções que se ocultaram por detrás delas e

o grau, segundo o qual, essas intenções se colocaram ou não, em harmonia com a direção

seguida pela evolução da Consciência Universal. Segundo a religião Baha’i e a Teosofia

essa auto – avaliação pode ser muito dolorosa porque os acontecimentos não são apenas

recordados, mas, também, é revivido e sentido, todo o sofrimento que o espírito causou a si

próprio e a terceiros, enquanto estava vivo na Terra.

3) Método do Desafio: esse método corresponde à visão do Julgamento do

Budismo Tibetano. É representado por uma série de fatos que parecem ter sido

brilhantemente desenvolvidos para fazer com que o espírito perca seu rumo, reencarne em

condições de inferioridade e não atinja sua meta: escapar da Roda da Vida e viver no

Nirvana.

Consiste em uma combinação do método cármico com o método evolutivo.

Embora para os Budistas Tibetanos o Julgamento Final seja influenciado tanto

pela forma como o espírito viveu sua existência, como pelo estado de sua mente no

momento da morte, há um terceiro aspecto, mais importante que os outros, o qual define o

destino do ‘viajante’. Este aspecto é a forma pela qual o espírito irá lidar com os desafios

que encontrar pela frente, após sua morte. Estes desafios são 49 situações denominadas

estado de Bardo, fase intermediária entre as encarnações.

Os Tibetanos afirmam que o estado mental do individuo no momento da morte

é fator relevante. Nesta pesquisa, também trouxemos este aspecto entre nossos

pressupostos. Para o Budismo Tibetano esse estado influencia os resultados que serão

alcançados no pós – morte, na Fase do Julgamento, e para esse estudo, o estado mental do

paciente durante o processo terminal influencia sua Qualidade de Vida frente à morte

iminente e ao morrer propriamente dito.

Em relação à atitude correta a ser adotada pelo Espírito frente aos consecutivos

aparecimentos de monstros, nos 49 desafios, o Livro Tibetano dos Mortos esclarece que

esses monstros devem ser reconhecidos como ilusão transitória; nada mais são do que

distrações da mente em relação à verdade fundamental, de que tudo é ilusão. Os Budistas

Tibetanos recomendam a prática da Meditação, (reflexão séria e constante), para exercitar a

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mente no discernimento da ilusão. A Meditação faz parte da essência da prática budista em

vida, mas seu valor estende – se também ao plano do pós – morte porque ela é o meio pelo

qual o ‘viajante’ se prepara para se portar com serena compreensão quando chegar sua vez

de enfrentar os 49 encontros que se darão no Bardo.

Também é praticada a leitura do Livro Tibetano dos Mortos para os agonizantes

e para os que faleceram, durante os 49 dias seguintes ao de sua morte, com o objetivo de

lembrar a esses ‘viajantes’ que tudo é ilusão, dar – lhes firmeza para que não se distraiam e

proporcionar – lhes o tom de voz baixo e contínuo que facilita o estado de Meditação.

Também existem culturas e / ou doutrinas religiosas que concebem os sistemas

de pós – morte isentos de Julgamento. Entre vários grupos indígenas mexicanos, a única

diferença que existe entre a vida e a morte é a forma que seu esqueleto adquire. Para os

caçadores do grupo Iomba da Nigéria não há diferença entre a vida e a morte; depois de

morto, o indivíduo passa a habitar outro ambiente e assume uma forma de existência que

lhe é familiar.

ESTÁGIO 3 – DO REINO DAS POSSIBILIDADES: nesse estágio o viajante

desfruta dos resultados do Julgamento ou se submete a eles. Nos sistemas onde esse

julgamento tem peso relativamente pouco significativo, simplesmente passa a existir nas

paragens do pós - morte. A autora pontua que a descrição desse estágio foi elaborada

através da Imaginação Vital, conceituada anteriormente, porque esse estado de consciência

proporciona aos indivíduos acesso a níveis secretos de realidade.

Esse estágio é a abertura em relação a possibilidades. Essa abertura origina – se

no instante do Julgamento no estágio 2 e, para todos os métodos, a verdade da vida que o

indivíduo levou determinará o destino de seu espírito.

Alguns relatos ligados ao Estágio III do pós – morte são versões idealizadas da

vida terrena. A pequena diferença que existe nestas versões, entre os mundos da vida e da

morte, podem ser resumidas pelo dito popular: “a Terra é o mercado, o Céu, o lar”.

Alem da ‘Familiaridade do Lar’, outros elementos ocupam lugar importante na

compreensão desse estágio, na maior parte dos sistemas de crença. Entre esses elementos a

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autora cita a ‘Luz’ que, para Jung, pode ser um símbolo do espírito, para a tradição cristã

pode significar graça, caridade, fé. Em todas as culturas os espaços do pós – morte mostram

– se inundados por uma bela e, em geral, incomum ‘Luz’. Também paisagens onde se

localizam ‘Árvores Especiais’ são citadas com freqüência nas descrições dos cenários do

pós – morte. ‘Céu e Inferno, Tempo e Espaço’ são outros elementos freqüentes nas

descrições do pós - morte dos Reinos das Possibilidades. Para os sufistas, o ‘Céu’ apresenta

– se com paredes douradas guarnecidas de tijolos de prata; a terra é feita de açafrão e todos

seus habitantes apresentam faces tão radiantes como as da lua cheia. Lá não existem

funções orgânicas como urinar, defecar e outras, mas aos espíritos é permitido comer e

beber o que quiserem e nunca avançam alem da idade de 33 anos. O ‘Inferno’ por sua vez,

para os sufis é um local onde os pecadores assam em fogo ardente, bebem água de uma

fonte fervente e alimentam – se de comidas podres e cheias de espinhos. As figuras de

‘Anjos, Guias, Guardiões e Companheiros’ também são encontrados com muita freqüência

nos relatos sobre o pós - morte, na grande maioria das culturas e doutrinas religiosas. Em

geral, é afirmado que os espíritos humanos não são deixados à sua própria sorte até que

encontrem seu caminho por entre as paragens do pós – morte, mas são guiados por ‘Anjos,

Guias, Guardiões e Companheiros’ representados por parentes e amigos já falecidos, que

os auxiliam na Jornada pelo Reino das Possibilidades.

ESTÁGIO 4 – DO RETORNO: a autora afirma que as possibilidades que se

abrem aos viajantes do pós – morte nem sempre os tomam e prendem para sempre. Para

muitas das culturas hoje existentes no mundo a Jornada no Pós – Morte é concebida como

um círculo onde o retorno está implícito na partida. Contida na morte esta a semente do

renascimento ou reencarnação.

Além das culturas e doutrinas religiosas que crêem na reencarnação, no retorno

do espírito a Terra em um novo corpo, alguns cientistas sérios e competentes começam a

estudar dentro de uma metodologia científica a possibilidade deste processo reencarnatório

ser verídico. Entre eles MILLER (1997) cita o Dr. Ian Stevenson, psiquiatra da

Universidade de Virgínia. O Dr. Ian Stevenson publicou 4 volumes sobre o tema, (Cases of

Reincarnation, vols 1 – 4, the University Press of Virgínia, 1975, 1977, 1980, 1983), assim

como tem feito publicações em periódicos sérios e importantes do planeta, como o “The

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Lancet” , onde escreveu, na sessão de Correspondência, sobre um caso de vidas passadas.

STEVENSON (1999) relatou ter examinado um par de gêmeos monozigotos, comprovado

por exames, em Sri Lanka, com estatura, feições, temperamento e coeficiente de

inteligência muito diferentes e cujos pais afirmaram estar criando - os de forma semelhante.

Com três anos de idade os gêmeos começaram a contar sobre suas vidas passadas, as quais

haviam sido muito diferentes. A explicação para estas significativas diferenças físicas,

cognitivas e emocionais entre esses gêmeos monozigotos foi atribuída às experiências de

vidas passadas relatadas pelas crianças. Segundo MILLER (1997) o Dr. Roger Woolger,

psicólogo, é outro cientista que faz uso da terapia da regressão tanto para tentar esclarecer

como para diminuir os sintomas físicos ou psíquicos inexplicáveis dos que o procuram.

MILLER (1997) afirma que, ao contrário do Dr. Ian Stevenson, o Dr. Woolger considera

irrelevante pesquisar se a história é verídica ou não e sim considera importante se as

explanações trazem alívio ao sofrimento do paciente. Publicou seu trabalho no livro “Other

Lives, Other Selves”, Nova York, Doubleday, 1987.

Outro cientista citado por MILLER (1997) que se dedica a investigar esse tipo

de lembrança, é o Dr. Brian Weiss, formado pela Universidade de Colúmbia, Nova York,

graduado como médico na Escola de Medicina da Universidade de Yale. Foi diretor do

Departamento de Psiquiatria do “Mount Sinai Medical Center”, de Miami, onde

atualmente mantém o “Weiss Institute” e sua clínica particular. Tem publicado seus estudos

e trabalhos sobre vidas passadas através dos livros: Muitas Vidas, Muitos Mestres, Só o

Amor é Real, A Cura Através de Terapia de Vidas Passadas, Meditando com Brian Weiss,

A Divina Sabedoria dos Mestres e Os Espelhos do Tempo, todos publicados no Brasil pela

Editora Sextante.

Além desses três cientistas referidos pela autora, sem dúvida, existem outros

profissionais sérios que trabalham e pesquisam sobre o assunto, mas como este não é o

objeto de estudo dessa pesquisa, limitar – nos – emos a estas citações, neste momento.

Por todas as questões acima expostas, discutidas pelos autores citados,

consideramos que a Dor Simbólica da Morte de pacientes terminais é passível de ser

trabalhada através de intervenção psicoterapêutica.

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2.3. RELAXAMENTO MENTAL

A Comunidade Científica Médica denominou as ondas cerebrais como Beta,

Alfa, Teta e Delta conforme o registro de sua freqüência, por minuto, no

eletroencefalograma e observou que cada freqüência está associada a um estado específico

de consciência, ou seja, acordado, consciência de si ampliada, sonho, sono, etc.

ROSEN (1994), baseado nos estudos de Milton Erickson, afirma que o estado

de transe ou estado de Relaxamento Mental, ou freqüência cerebral Alfa, é o estado mental

mais propício para que a aprendizagem ocorra, para a produção de “insights” e para

favorecer mudanças de atitudes e idéias.

O estado de Relaxamento Mental não se refere a um estado de sonolência

induzida. Os pacientes não são submetidos, nem dirigidos pela vontade do terapeuta, e nem

perdem o controle sobre os seus atos. Na realidade, o Relaxamento Mental é um estado

natural que todos nós experimentamos, como no sonho acordado ou devaneio, na

meditação, na oração, ou quando realizamos determinados exercícios, como os exercícios

aeróbicos, que têm sido conhecidos como uma espécie de meditação em movimento.

Nessas situações, certas experiências sensoriais e psíquicas interiores assumem um caráter

vivido, tanto que os sons e movimentos exteriores perdem a sua importância. No estado de

Relaxamento Mental os pacientes podem compreender de maneira intuitiva o significado

dos sonhos, símbolos e outras manifestações inconscientes. Despreocupam-se das suas

idéias e dos seus problemas e se aproximam do que Erickson denominou aprendizagem

inconsciente. Podem aceitar com menos críticas as sugestões do terapeuta. No entanto, se

elas entram em choque com os valores que o indivíduo apresenta esta aceitação é apenas

transitória ou não se produz. Para ajudar o paciente a entrar em Relaxamento Mental, o

terapeuta pode induzi - lo a esse estado, através da narração de uma história interessante. O

terapeuta mantém-se alerta para perceber as mudanças sutis que indicam o grau de atenção

responsiva do indivíduo: um relaxamento dos músculos faciais, o olhar fixo sem piscar,

uma imobilidade quase total. Se esta constelação de elementos estiver presente o terapeuta

pode presumir com total segurança que seu paciente entrou em Relaxamento Mental.

(ROSEN, 1994).

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Na nossa experiência clínica temos usado como alternativa para uma história

interessante, uma música instrumental clássica ou popular com ritmo lento, ou “intuitive

music” ou “new age” ou instrumental para crianças.

A respiração lenta e profunda tem sido apontada pela literatura científica como

um quesito fundamental para se atingir o estado de relaxamento mental ou estado de transe

ou estado alfa. Deve-se observar principalmente a respiração porque ela é um ponto chave

para um bom trabalho com Imagens Mentais. Devemos pedir ao paciente que observe a sua

própria respiração. Nesse processo de prestar atenção no movimento de respirar, o paciente

além de começar a voltar-se para o seu interior também estrutura uma freqüência

respiratória mais harmoniosa, mais rítmica.

Na respiração lenta e profunda pode - se orientar o paciente para expirar mais

profundamente e por mais tempo do que o inspirar. O expirar mais longo estimula o nervo

vago, que se origina na base do cérebro, estende-se pelo pescoço e manda extensões para os

pulmões, o coração e o trato intestinal. Sob a influência da expiração longa e lenta, o vago

tem um papel de aquietamento e relaxamento, baixando a pressão sangüínea, diminuindo as

pulsações, as contrações musculares do intestino e o ritmo respiratório. O acalmar dessas

funções leva a uma facilitação do trabalho com Imagens Mentais.

A “American Cancer Society” (CASSILETH et al, 1994), orienta aos pacientes

e seus familiares a fazerem exercícios de relaxamento e respiração profunda, mentalizando

um lugar agradável como uma praia ou um campo florido pelo menos três vezes ao dia

quando sentirem – se ansiosos, deprimidos, ou amedrontados.

CAUDILL (1998) aborda a relação mente – corpo como sistêmica e por essa

razão coloca que a experiência de estresse – definida como a percepção de uma ameaça

física ou psicológica e a percepção de não estar preparado para lidar com ela – pode estar

associada tanto a sintomas físicos como emocionais.

Frente a uma ameaça de perigo emitimos uma resposta automática chamada de

“resposta de luta ou fuga” provocada pela liberação de adrenalina do Sistema Nervoso

Simpático e outros hormônios como o cortisol e o hormônio do crescimento. No corpo isto

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é representado pelo aumento da freqüência cardíaca e respiratória, aumento da pressão

sangüínea, mudança do fluxo sangüíneo para os músculos, etc., na procura do

restabelecimento da homeostase. Quando o corpo é forçado nesse processo além de sua

capacidade podem aparecer inúmeros sintomas: redução da imunidade a doenças, diarréias

e/ou constipação, distúrbios do sono, fadiga, dores de cabeça, falta de ar, perda/ganho de

peso, aumento da tensão muscular, ansiedade / depressão, e dores crônicas que podem ser

definidas como estresse crônico adverso.

Existem técnicas que suscitam uma resposta de relaxamento, que parece

desempenhar um papel na redução das respostas corporais ao estresse. Entretanto a resposta

de relaxamento não é automática como a resposta de luta e fuga. Seu desenvolvimento

exige prática com determinadas técnicas mentais, antes de poder ser evocada para evitar o

estresse.

Segundo essa autora, CAUDILL (1998), quem primeiro estudou a resposta de

relaxamento foi Herbert Benson e seus colaboradores da Harvard Medical School e este

cientista após rever muitas obras religiosas e filosóficas percebeu que durante séculos a

humanidade recebeu instruções para suscitar esse reflexo calmante e também percebeu que,

embora muitas técnicas pudessem evocar essa resposta corporal natural, havia duas etapas

simples comuns a todas: 1) ‘Focalizar’ a mente numa frase, palavra, respiração ou ação

repetitiva. 2) Adotar uma ‘atitude passiva’ em relação aos pensamentos que atravessam a

mente.

Os efeitos físicos da resposta de relaxamento podem ser divididos em mudanças

imediatas, (diminuição da pressão sangüínea, da freqüência cardíaca, do ritmo respiratório e

do consumo de oxigênio) e mudanças a longo prazo, (resposta do corpo à adrenalina,

diminuição da ansiedade e da depressão e melhora na capacidade para lidar com fatores

estressantes da vida).

A chave para evocar a resposta de relaxamento é a consciência focalizada. A

respiração pode ser objeto desse foco. Há dois tipos de respiração: a torácica (curta e

superficial), e a diafragmática (lenta e profunda). A respiração diafragmática é mais

completa do que a torácica e pode provocar uma sensação de calma e relaxamento quando

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realizada intencionalmente. CAUDILL (1998) descreve três exercícios para o treino da

respiração diafragmática e dois exercícios para o treino da focalização da atenção na

respiração. Pontua que focalizar – se em sua própria respiração e respirar

diafragmáticamente, também pode ajudar o indivíduo a suportar exames desconfortáveis.

Para preparar o paciente para praticar a evocação da resposta de relaxamento a

autora CAUDILL (1998), enumera as seguintes orientações:

ü Minimizar distrações e ficar confortável.

ü Diminuir ou eliminar temporariamente a tagarelice mental.

ü Resolver problemas que possam impedir a prática das técnicas da resposta de

relaxamento como falta de tempo, aumento da percepção da dor, problemas para ficar

quieto e relaxar, sensações ou experiências peculiares, convulsões, diabetes - insulino –

dependentes, hipertensão.

As técnicas para evocar propriamente as respostas de relaxamento são sete,

divididas pela autora em dois tipos: Básicas e Avançadas.

As Básicas são subdivididas em cinco técnicas: 1) Usa–se uma frase ou palavra

chave. 2) Combina–se respiração e imaginação. 3) Relaxamento muscular progressivo. 4)

Usa–se o movimento repetitivo, sincronizando - o com a respiração e a mente. 5) Cria–se

na mente um ‘lugar seguro’, associado à paz e conforto.

As Avançadas são subdivididas em duas técnicas: 6) Auto – Hipnose.

7) Visualização.

Nesse estudo, para estimularmos o ‘Relaxamento Mental’ utilizamos a técnica

número dois: Respiração e Imaginação, associada a músicas suaves compatíveis com as

preferências das pacientes, e como ‘Visualização de Imagens Mentais’ utilizamos as

técnicas número cinco: Lugar de paz e conforto e número sete: Visualização, combinadas e

adaptadas à realidade individual de cada paciente e integradas ao conceito de

Espiritualidade.

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Como mais uma evidência da inter - relação entre soma e psique existem os

estudos com placebos. ACHTERBERG (1996) refere-se a este aspecto citando os trabalhos

de Norman Cousins e afirmando que o que há de mais significativo quanto aos placebos,

não é tanto o veredicto que eles proporcionam sobre a eficácia das novas drogas, mas uma

prova clara de que aquilo que passa pela mente pode provocar alterações na química do

corpo. Fatos como esse indicam que os mesmos caminhos e conexões que intervêm no uso

dos placebos podem ser ativados sem eles. O principal ingrediente é o sistema de crenças

dos seres humanos. A confiança na capacidade de mobilizar os próprios recursos é uma

prodigiosa força em si. O próximo grande avanço na evolução humana pode muito bem ser

representado pela capacidade dos seres humanos de trabalharem com uma nova

compreensão da química cerebral, de presidirem a si mesmos.

2.4. VISUALIZAÇÃO DE IMAGENS MENTAIS

JUNG (1986) relata que Paracelso, no século XV, tecia considerações sobre a

inter – relação entre soma e psique.

Philippus Aureolus Bombast Von Hohenheim, conhecido como Theophrastus Paracelsus,

nasceu a 10 de novembro de 1493. Aos trinta e oito anos apareceram, em seus escritos,

mudanças características. Ao lado do médico surgiu o filósofo. Na verdade, filosófica não é

bem o termo para esta manifestação espiritual. Talvez fosse melhor chamá-la gnóstica. A

enfermidade significava para ele um desenvolvimento natural, algo espiritual, vivo, uma

semente. Podemos mesmo afirmar que Paracelso encarava a enfermidade como uma

constituinte própria e necessária da vida humana e não um odioso corpus alienun como nós a

entendemos hoje. A medicina moderna não pode mais entender a alma como simples apêndice

do corpo e por isso começa a levar cada vez mais em consideração o assim chamado fator

psíquico. Aproxima-se de certa forma na concepção paracélsica o conceito de matéria animada

pela psique. Como Paracelso foi outrora o pioneiro da ciência médica, parece-nos que hoje se

tornou o símbolo de uma importante modificação em nossa concepção sobre a natureza da

doença e sobre a essência da vida em si “.

Paracelso afirmava que: “Tal como o homem imagina ser, assim será. Ele é aquilo que imagina

ser. O homem é uma oficina de trabalho visível e invisível. A oficina visível é o seu corpo, a

invisível é a imaginação... a imaginação é o sol na mente do homem... O espírito é o mestre, a

imaginação é o instrumento, e o corpo é o material plástico... O poder da imaginação é um

grande fator na medicina. Pode causar doenças... e pode curá-las... Os males do corpo podem

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ser curados por meio de remédios físicos ou pelo poder do espírito que age através da mente”.

FREUD (1975) por três décadas estudou e pesquisou o funcionamento do

aparelho psíquico. Em 1911 classificou o funcionamento do aparelho psíquico em

processos primários e secundários. O pensamento primário é o pensamento das

representações simbólicas, atemporal e que pode conter aspectos de condensação e

deslocamento no sentido psicanalítico do termo. O pensamento secundário é o consciente,

racional, comum que obedece às leis habituais da sintaxe e da lógica.

O pensamento primário apenas constitui anormalidade quando ocorre, após a

primeira infância, em atividade exclusiva ou predominando sobre o pensamento

secundário. O uso do pensamento primário ocorre na vida cotidiana de forma natural como

por exemplo, nas Artes Plásticas. (BRENNER, 1987). O pensamento primário pode, dessa

forma, ser usado em benefício do paciente.

FREUD (1975), em 1923, construiu sua terceira hipótese de aparelho psíquico,

denominada estrutural e que não exclui as anteriores mas sim as complementa. A hipótese

estrutural é formada pelas instâncias psíquicas Id, Ego e Superego. O Id é inconsciente e

constituído por energia, basicamente de duas naturezas: a “eros” ou vida e a “tânatos” ou

morte, combinadas em quantidades proporcionais diferentes em cada ser humano e que,

quando em ação, produzem uma excitação psíquica ou tensão que impele o indivíduo à

atividade.

JUNG (1986), em 1948, estudou os conceitos fundamentais da teoria da energia

psíquica. Afirmou que o mecanismo psicológico mediador entre a energia e a ação é o

símbolo. Refere-se ao símbolo real , e não ao seu sinal. Assim, por exemplo, o buraco feito

pelos “Watschandis” no chão não é um sinal do órgão genital da mulher, mas um símbolo

que representa a mulher – terra a ser fecundada. Confundi -lo com uma fêmea humana

seria interpretar semioticamente o símbolo e isto fatalmente perturbaria o valor desse ritual

simbólico .

Temos desta forma, o seguinte esquema psíquico: o pensamento não lógico é o

pensamento por imagens. As imagens são formadas por símbolos e estes, por sua vez,

mediam o processo psicológico entre energia psíquica e ação. As Imagens Mentais são o

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conteúdo da Imaginação.

Sobre a utilização das Imagens Mentais na História da Medicina trazemos a

citação de CARVALHO (1994b).

Encontramos ao longo da história da medicina, relatos da utilização de Imagens Mentais desde

a mais remota Antigüidade. Na medicina primitiva, nos feiticeiros ou xamãs, o uso de Imagens

Mentais para cura era comum e freqüente. Também são encontrados relatos da utilização dessa

técnica desde as mais remotas informações sobre curas. Na China no século XVIII AC, no

antigo Egito, no Tibet, nos oráculos gregos, na África e entre os esquimós, encontramos relatos

sobre o uso de visualização. Aristóteles, Galeno e Hipócrates, considerados os pais da medicina

ocidental, usavam visualizações para o diagnóstico das doenças e para os tratamentos. Nos

indígenas norte - americanos e nos sul - americanos, o uso de imagens mentais é comum até

hoje nos seus rituais de cura. Em todas as épocas e em todas essas culturas o uso das

visualizações foi parte integrante das formas de tratamento, que tinham como base à idéia da

unidade entre a mente, as emoções e o físico e, conseqüentemente, dos possíveis efeitos de uma

das partes sobre a outra. Nos últimos três séculos a medicina ocidental separou o corpo da

mente, criando tratamentos específicos para as doenças físicas. É interessante o dado de que

nenhum outro sistema médico havia feito essa separação antes do século XVII. É interessante

também notar que embora a Medicina relute em aceitar que a mente pode influenciar o físico,

ela aceita que o físico pode influenciar a mente, por meio, por exemplo, dos neurolépticos e dos

antidepressivos. Mas no começo deste século alguns importantes pensadores e pesquisadores,

com treino médico e psicoterapêutico, começaram a utilizar visualizações como método para

tratar distúrbios emocionais. Robert Desoille propondo a técnica do sonho acordado; Jung, a

imaginação ativa; Hans Carl Leuner, a imaginação dirigida, Roberto Assagioli, a

psicossíntese; Schultz, o treinamento autógeno. Mas recentemente os trabalhos de Fritz Perls

de fantasia dirigida, o psicodrama interno, desenvolvido a partir do trabalho de Moreno, a

utilização da visualização na técnica comportamental de Wolpe e tantos outros... na retomada

científica das visualizações foram fundamentais os estudos de Selye (1959), analisando o

mecanismo do estresse e o seu efeito no sistema hormonal e no sistema imunológico. E a

técnica de biofeedback mostrando que mudanças fisiológicas eram acompanhadas de mudanças

emocionais e, inversamente, mudanças emocionais eram acompanhadas por modificações

fisiológicas.

Uma importante função do pensamento não lógico, o pensamento por Imagens

Mentais, é a ampliação da consciência, que proporciona um maior contato com a realidade

subjetiva interna. Sobre esta questão trazemos a citação de EPSTEIN,(1990):

Existem várias maneiras de se pensar. O pensamento lógico nos é o mais familiar. Desde o

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século XVII este tipo de pensamento ganhou precedência sobre os demais por ser à base da

ciência. Entretanto, há outras formas de pensamento, formas não lógicas, intuitivas, que

coexistem com o pensamento lógico. Reflitamos sobre às vezes em que temos um súbito

"insigh" quando, de repente, percebemos umjeito novo de fazer algo, ou encontramos a solução

de um problema que parecia não ter resposta. Este tipo de pensamento é chamado de intuição.

Sem a intuição não seriamos capazes de pensar em nada novo. Assim como a intuição, o

pensamento em forma de Imagens Mentais é um tipo de pensamento não lógico. O pensamento

lógico e discursivo é utilizado para fazermos contato com as outras pessoas no cotidiano e com

aquilo que pode ser chamado de realidade objetiva. As imagens mentais são um tipo de

pensamento usado para fazermos contato com nossa realidade subjetiva interna ... a estrutura de

vida interna é formada por imagens. Como as Imagens Mentais nos permitem contato com a

realidade subjetiva interna, nos proporcionam novos modos de lidarmos com experiências

atuais; ao invés de reagirmos às experiências nós podemos recria - las através da Imaginação.

Nesse processo, podemos limpar da nossa mente as convicções negativas e substitui-las por

convicções positivas. Podemos comparar nossa mente a um jardim. Os jardins infestados de

ervas daninhas não podem dar boas colheitas; emoções como ansiedade, depressão, medo,

pânico, preocupações e desespero são ervas daninhas que prejudicam a colheita de resultados

positivos em nossas vidas. Cabe ao jardineiro retirar as ervas daninhas do seu jardim; nas

nossas vidas cada um é, através da sua Imaginação, o jardineiro da própria existência”.

De forma simplificada, ‘Imagens Mentais’ são figuras simbólicas através das

quais é possível contatar a realidade subjetiva interna e encontrar novas formas de se lidar

com as experiências atuais. Ao invés de sucumbir - se as experiências de sofrimento, pode -

se re - significar este sofrimento através da Imaginação, processo pelo qual se visualiza

Imagens Mentais.

Em relação à Visualização de Imagens Mentais e Dor, CAUDILL (1998) afirma

que essa técnica pode ser uma experiência emocional muito poderosa. O uso de imagens

mentais permite ao paciente explorar a experiência não verbal, inconsciente dos

significados e metáforas da dor. Pode também ajudar o paciente a estabelecer ligações com

outras experiências ou interpretações que não poderiam ser obtidas pelo raciocínio lógico,

seqüencial. Isto, por sua vez, pode dar uma perspectiva e uma atitude totalmente diferentes

com relação à dor, aumentando o controle do paciente sobre esta dor .

Os conceitos que fundamentam a intervenção psicoterapêutica descrita nesse

estudo são constructos hipotéticos, desenvolvidos a partir de observações e / ou relatos de

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experiências, estudados por cientistas sérios e reconhecidos no cenário mundial acadêmico.

Nesta pesquisa não questionamos esses constructos hipotéticos, dada sua procedência e

sim os tivemos como pressupostos. O nosso objetivo foi estudar qualitativamente a

possibilidade do método, construído através da integração das técnicas de Relaxamento

Mental e Visualização de Imagens Mentais com o conceito de Espiritualidade, produzir

transformações positivas no universo psíquico das pacientes Fora de Possibilidade de Cura

frente à Dor Simbólica da Morte, e promover Qualidade de Vida durante o processo de

morrer e morte serena.

Através da citação, abaixo relacionada, de ACHTERBERG (1996), pontuamos

nossa referência aos constructos hipotéticos citados nesta pesquisa, como pressupostos e

não como objetos de investigação.

Nas ciências sociais e no comportamento, a ”imagem“ é tratada como um constructo hipotético

e como uma variável que interfere entre o estímulo / entrada e a resposta / saída. Como tal, a

imagem compartilha a companhia muito respeitável de outras grandes questões estudadas:

aprendizagem, motivação, memória e percepção. Nenhuns desses conceitos são considerados,

irreais ou indignos de estudo ou inalteráveis, embora sejam invisíveis. Embora não possamos

observar a ”aprendizagem“ ou a ”motivação“, mas apenas observar mudanças no

comportamento como uma conseqüência previsível de certos estímulos, foram elaboradas leis

para descrever como esses fatores operam. A física quântica, nível mais reducionista de toda a

ciência, em última análise, estuda apenas o constructo hipotético. As partículas subatômicas,

assim como as imagens, não foram observadas diretamente. Só se pode inferir a forma e a

função de ambas introduzindo um estímulo variável e medindo uma resposta variável, por isso

o termo "variável interveniente". Pela ótica da precisão, o comportamentalismo e a física

quântica medem fantasmas, quando quantificam os eventos antecedentes e conseqüentes. O

"status" desses fantasmas, como constructos hipotéticos, bem poderia ser temporário a depender

do desenvolvimento de uma tecnologia que permita uma observação mais direta do próprio

fenômeno. Por outro lado se conforme sugere a física quântica, a imaginação é a base de toda

forma, de toda matéria, os fantasmas podem perdurar”.

Segundo JASPER (1973) só podemos conceber e investigar o que se tornou

objetivo. Como tal, a alma não é de forma alguma objeto para esse autor. Torna – se objeto

através daquilo em que ela se mostra perceptível no mundo: nos fenômenos concomitantes,

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nas expressões inteligíveis, no comportamento, nas ações, nas comunicações pela

linguagem, nas quais diz o que pensa e pretende, produz obra.

Frente a essa reflexão acreditamos que todo estudo objetivo cujo sujeito é o ser

humano, torna possível em última análise, seja qual for à especialidade, conhecer o

subjetivo, o que não é possível de ser medido, observado e analisado diretamente: a alma

humana. Perceber essa ponte sutil entre o concreto e o abstrato, entre o mundo físico,

sensorial e o mundo das idéias, dos sentimentos, é, para mim, a beleza maior de qualquer

estudo científico.

CARRAMASCHI et al (1995) e REZENDE & BOTEGA (1998) relatam sobre

pacientes que sofreram uma perda importante e concreta, a mama. Meu trabalho de

pesquisa visou estudar a eficácia de intervenção psicoterapêutica através da integração das

técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de Imagens Mentais com o conceito de

Espiritualidade, na re - significação da Dor Simbólica da Morte, em pacientes Fora de

Possibilidade de Cura, durante o processo de morrer. Essas pacientes, Fora de Possibilidade

de Cura, são aquelas que durante o período de possibilidade de cura sofreram perdas

parciais por causa de sua doença e procuraram, de alguma forma, resgatar, não só de forma

simbólica mas também de forma concreta, essas perdas. Este processo de tentativa de

resgate das perdas, fez parte do histórico pelo qual, provavelmente, passaram essas

pacientes Fora de Possibilidade de Cura e que foram os sujeitos desta pesquisa.

Frente a essa reflexão, consideramos importante olhar para estudos que

falassem sobre o entendimento e / ou resgate dessas perdas, ocorridas por causa da doença,

em pacientes, durante o período de possibilidade de cura. O artigo de CARRAMASCHI et

al (1995) versa sobre a reconstrução concreta do objeto perdido, a mama; o artigo de

REZENDE & BOTEGA (1998) versa sobre a descrição das fantasias inconscientes de

mulheres que perderam o seio. São estudos muito interessantes para integrar o Universo

destes estudos e entendimento das pacientes que participaram desta pesquisa.

Para CARRAMASCHI et al (1995) o conceito de câncer mamário como doença

sistêmica permite condutas mais conservadoras do ponto de vista cirúrgico. Dentre as

várias técnicas possíveis para reconstrução da mama começou-se a usar os expansores de

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tecidos a partir da década de 70, cuja vantagem é a simplicidade do método e o fato de não

acrescentar cicatrizes e outras seqüelas à distância.

O método resume - se em um primeiro tempo cirúrgico, atendimentos

ambulatoriais a partir da segunda semana pós - operatória, um segundo tempo cirúrgico e

finalmente reconstrução do complexo aréolo – mamilar após o segundo tempo cirúrgico. O

segmento pós - operatório das pacientes é realizado por um período mínimo de seis meses.

As pacientes ficam assim envolvidas nesse processo de reconstrução mamária por um

período prolongado, devido às várias etapas do processo, o que as leva, muito

provavelmente, a construírem idéias e sentimentos específicos sobre sua perdas e resgate

dessas perdas na vivência deste referido processo. Estas idéias e sentimentos possivelmente

sejam elementos importantes a serem considerados na fase Fora de Possibilidade de Cura,

caso estas pacientes tenham se submetido ao processo cirúrgico de reconstrução da mama.

REZENDE & BOTEGA (1998), referem – se aos sentimentos e fantasias

inconscientes das mulheres com câncer de mama da seguinte forma: os principais

sentimentos percebidos foram: “o medo do desconhecido”, “o silêncio forçado do psíquico”

e “o medo da rejeição” . As principais fantasias foram: “de União – Fusão: a fusão com a

terapeuta – mãe”, “de asfixia: o temor de ser rejeitada”, “de castração: o medo de perder

mais” e “de quebra”.

Os autores enfatizam que as pacientes não foram espontaneamente em busca de

ajuda psicológica. Ao contrário, mostraram – se muito resistentes, fato abordado pela

literatura científica como freqüente e ponderam que, talvez, a questão fundamental na ajuda

psicológica oferecida a essas pacientes seja, justamente, diminuir as resistências.

Concluem, afirmando que as pacientes somente começaram a sentir algum tipo de ganho

após os sentimentos de desconfiança terem diminuído, sendo essa a principal função de um

Grupo de Apoio Psicológico: proporcionar um espaço para reflexão a respeito dos riscos de

falar sobre o que se sente. Estas fantasias e sentimentos citados pelos autores nas fases

anteriores a fase Fora de Possibilidade de Cura são relevantes para uma melhor

compreensão do universo psíquico das pacientes que atendi nesta pesquisa.

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Foram publicados na Literatura Científica dos últimos anos, inúmeros trabalhos

e relato de casos que comprovam a inter – relação entre mente e corpo. Em resumo tem

sido afirmado, frente aos estudos, que a mente e o corpo não são entidades separadas, são

uma coisa só, formam uma unidade, porque, por exemplo, se visualizamos uma mudança

acontecendo em nosso corpo, o corpo responde; se imaginarmos uma quantidade maior de

sangue indo para uma perna machucada, isto acontece no corpo físico. (ACHTERBERG,

1996; CARVALHO, 1994a, b; CAUDILL, 1998; EPSTEIN, 1990; JUNG, 1986; LANG,

2000; MAYOL, 1992; MONTAGU, 1988; ROSEN, 1994; SIEGEL, 1989; SIMOTON,

SIMONTON, CREIGHTON 1987; TUCKER, 1999;)

SIMOTON, SIMONTON, CREIGHTON (1987) pioneiros na aplicação das

técnicas de Relaxamento Mental e Visualização para tratamento do câncer, afirmam que

não é mais possível encarar o corpo como simplesmente um objeto que espera as peças de

reposição chegarem da fábrica. Ao invés disso, começa - se a aceitar o fato de que a mente

e o corpo fazem parte de um sistema integrado.

De acordo com este ponto de vista, o tratamento físico é uma parte integral e

essencial da batalha contra uma doença ameaçadora como uma neoplasia maligna mas a

participação do paciente na luta contra o câncer e outras doenças também é fator

imprescindível. É muito importante que cada paciente assuma a responsabilidade de

examinar e mesmo alterar suas convicções e sentimentos que não apóiam o tratamento, que

não significam um impulso em direção à afirmação da vida e da saúde. Nesse processo, o

Relaxamento Mental e a Visualização são instrumentos dos mais valiosos para ajudar essas

pessoas a aprenderem a acreditar na sua própria capacidade de curar o câncer.

(SIMONTON, SIMOTON, CREIGHTON, 1987)

SIEGEL (1989) pontua que as práticas de Relaxamento Mental e Visualização

podem abrir uma outra porta para o inconsciente, para um verdadeiro caminho e para uma

verdadeira cura, visto que o corpo e a mente, além de não serem entidades separadas,

comunicam – se através das emoções e destas técnicas.

MONTAGU (1988) afirma que a incapacidade para crescer e desabrochar,

social, emocional, cognitiva e fisicamente, foi diagnosticada como decorrência da

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insuficiência do hormônio da pituitária, especialmente o hormônio do crescimento.

Descobriu-se que esse hipopituitarismo idiopático e mesmo a produção insuficiente do

hormônio do crescimento não se devem a problemas na pituitária, mas sim ao amor ausente

dos pais, principalmente o da mãe. Crianças retiradas deste meio e colocadas em meio

afetuoso e positivo começaram a se desenvolver em todos os aspectos, assim como a

pituitária começou a trabalhar normalmente. Experiências provaram que existem diferenças

bioquímicas significativas entre uma pessoa que se beneficiou de uma estimulação tátil

terna e amorosa e outra que não teve esse afeto. Essa confirmação é válida para qualquer

período da vida. Uma pessoa carinhosamente amada tende a ser uma entidade bioquímica

diferente da que não é, mostrando-se, com isso, a inter – relação entre a mente e o corpo.

TUCKER (1999) defende o conceito de integração mente / corpo no tratamento

de problemas de origem orgânica e comenta que, considerando - se a possibilidade de se

modificar atitudes para influir na sobrevivência do câncer de mama, três fatores precisam

ser observados: o primeiro fator é a possibilidade, já comprovada, de se trabalhar

terapeuticamente as atitudes de desamparo e desespero da paciente; o segundo fator

relaciona – se à importância dos médicos conversarem com seus pacientes e não apenas

tratarem o tumor, assim como, incluírem na equipe, um profissional da área de saúde

mental para tratar as angústias das pacientes; o terceiro fator relaciona – se há necessidade

de modificação das atitudes dos profissionais da área medica, em geral. Ainda há uma

tendência para separar – se a psique das doenças físicas, e negar a relevância dos aspectos

psicológicos no tratamento de problemas orgânicos. Esta postura pode resultar em uma

avaliação incompleta da enfermidade e uma negligência das necessidades psicológicas dos

pacientes, os quais, estão considerando a separação corpo / mente feita pelos médicos,

como insatisfatória.

LANG et al (2000) publicaram seus estudos afirmando que procedimento

adjuvante não farmacológico tem sido sugerido como eficiente e seguro meio para reduzir

desconforto e efeitos adversos durante procedimentos médicos. Testaram esta hipótese com

pacientes submetidos a procedimento cirúrgico vascular e renal em um estudo aleatório. O

método consistiu na escolha aleatória de 241 pacientes, os quais foram subdivididos em três

grupos: o primeiro grupo recebeu cuidados padrões no intraoperatório (n=79), o segundo

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grupo recebeu atenção estruturada no intraoperatório (n=80), e o terceiro grupo foi

orientado no intraoperatório por relaxamento auto - hipnótico (n=82). Todos os pacientes

tiveram acesso a medicamento analgésico, controlado por eles mesmos e avaliaram sua dor

e sua ansiedade em uma escala de 0 – 10 antes, a cada 15 minutos e depois do

procedimento. Os resultados provaram, em definitivo, que as Técnicas de Relaxamento

Mental e Visualização, também chamadas de Hipnoterapia, associadas à cirurgia, resultam

em uma minimização da dor, possibilitam um menor tempo cirúrgico e favorecem uma

maior estabilidade dos sinais vitais. Com este estudo, publicado em periódico importante

no cenário médico mundial, encontramos, mais uma vez, evidências científicas da relação

sistêmica entre soma e psique.

MAYOL (1992) faz o relato, abaixo mencionado, comprovando também,

através de sua experiência pessoal, a inter – relação entre a mente e o corpo.

Meu trabalho consistia no estudo dos mecanismos imunológicos que impediam que células

leucêmicas de uma certa raça de ratos (Hooded) viessem a crescer e a reproduzir a leucemia

quando inoculadas em outra raça de ratos (August), quase idêntica a primeira. Portanto eu

inoculava ratos com células leucêmicas para depois estudar quais os anticorpos e quais as

células imunológicas envolvidas na resposta contra células inoculadas. Em determinadas

experiências, era necessário inocular um número muito grande de células. Às vezes até algumas

centenas de milhões de células leucêmicas. Assim é que, certa manhã de domingo, no começo

de março de 1977, fui cedo ao laboratório para sacrificar um animal doente da raça Hooded e

preparar as células leucêmicas para inocular alguns ratos da raça August. Naquele dia, um dos

animais a ser inoculado, não estando bem anestesiado, debateu – se e, por acidente, acabei

espetando – me com a agulha da seringa cheia de células leucêmicas a serem injetadas.

Obviamente isto me causou certa apreensão. Não pelo fato de ter – me inoculado com as células

leucêmicas, pois sabia que por mecanismos imunológicos as células de uma outra espécie

animal, ou até células da mesma espécie, mas de diferente constituição genética, são rejeitadas

normalmente pelo organismo. A minha preocupação foi com a possibilidade de infecção com

algum microorganismo de origem animal. Essa preocupação, porém, durou somente enquanto a

ferida sangrou, portanto, não mais do que poucos minutos. Terminei o que estava fazendo,

almocei no hospital e, à tarde, fui passear em Londres.

No decorrer da semana seguinte, em virtude do que eu achava ser um simples resfriado, passei a

sentir muito cansaço, febre e dor de cabeça. No início, nada que duas aspirinas não pudessem

resolver; depois quatro, seis, oito, até que comecei a tomar duas aspirinas a cada três horas para

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poder continuar trabalhando. Finalmente, por insistência do próprio Professor Peter Alexander,

meu orientador, resolvi ficar uns dias em casa, para recuperar – me. Mas os dias foram

passando e eu não apresentava nenhuma melhora.

Apesar de recusar – me a ver um médico, por achar ser apenas uma gripe mais forte, numa

tarde, para minha surpresa, os senhores que me haviam alugado o quarto, o Sr. e a Sra. Stapley

trouxeram o Dr. de Monte, com o qual estavam registrados, de acordo com o sistema inglês de

assistência médica, para visitar – me. Acertadamente, julgaram – me não estar mais em

condições de poder decidir com propriedade, e tomaram a si a responsabilidade.

Por total falta de apetite, já não comia nada havia três dias e a única coisa que eu queria era

beber os refrescos que a Sra. Stapley preparava.

Após examinar – me, respondendo gentilmente às minhas perguntas, o Dr. de Monte informou

– me de que eu estava com quarenta graus de febre e baço aumentado, palpável a sete

centímetros da reborda costal. Em condições normais o baço não estaria palpável. Em seguida

colheu sangue para alguns exames de laboratório e foi embora dizendo que, quando tivesse os

resultados, decidiria o que fazer.

Quando fiquei só, conjecturei, durante algum tempo, possíveis diagnósticos e acabei

adormecendo.

Fui acordado pela chegada de dois enfermeiros que, a mando do Dr. de Monte, vieram remover

– me em ambulância para o Hospital Saint Helier, em Carshalton, localidade situada a uns vinte

minutos de carro, de Sutton.

Ao chegar ao hospital, o plantonista disse – me que não havia com que me preocupar, pois a

internação era somente para propiciar – me melhores condições de recuperação, visto estar

sozinho num país estranho e ser difícil, de outra forma, alguém poder cuidar de mim

adequadamente. Tranqüilizado, conformei – me em passar uns poucos dias ali.

A partir do dia seguinte, porém, comecei a estranhar a enorme lista de exames de sangue e de

outros exames a que passei a ser submetido, diariamente. Mais ainda estranhei quando fui

submetido a um mielograma, que é o exame da medula óssea feito através de material colhido

por punção do osso externo, que é o osso que forma a parte frontal do peito. Insistindo em saber

o porquê do exame, acabaram por me contar que eu tinha trinta por cento de monócitos no

sangue circulante, quando o normal é de até cinco por cento e estavam à procura de alguma

explicação para aquilo. Daí o porque do mielograma que, infelizmente, não veio corroborar a

hipótese de leucemia que havia sido aventada.

Depois, eu também não entendia por que o especialista da Unidade Renal havia vindo me

visitar. Aliás, aquela altura, eu tampouco percebia que já estava com dificuldade para

compreender o que era dito e ficava pedindo para que me repetissem as mesmas coisas, duas ou

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três vezes.

Em seguida, meu quarto foi interditado e médicos e enfermeiras só entravam após vestirem

avental, máscaras e luvas, que eram deixadas no quarto, ao saírem Duas vezes aconteceu de o

médico de plantão chegar até à porta do quarto e recusar – se a visitar – me por medo do

contágio com algo desconhecido e perigoso.

Quando, no quinto dia de internação comecei a vomitar e a sentir, em mim e no meu hálito, um

cheiro forte de uréia, de repente, e só então, dei – me conta da gravidade do meu estado. Eu

estava com insuficiência renal aguda. Entendi o porque dos exames, da medição do volume

urinário, das tomadas freqüentes de pressão arterial e do oftalmologista. A minha pressão

atingiu 180 por 140 milímetros de mercúrio, quando o normal é de 120 por 80, e havia tido

hemorragia retiniana.

Para saber a causa daquele quadro clínico, fui submetido à biópsia renal que revelou necrose

tubular aguda e fui informado de que, no dia seguinte, iria ser transferido para a Unidade Renal

e seria iniciada a diálise peritoneal e a plasmaférese. A diálise seria para expulsar as impurezas

que já não estavam sendo eliminadas pelos rins e a plasmaférese visaria à filtração do sangue,

para separação de grumos que poderiam, talvez, estar entupindo os rins.

Em medicina, esses grumos são chamados de complexos antígeno – anticorpo.

Enquanto aguardava chegar o dia seguinte para ser transferido para a Unidade Renal, entrei em

profunda depressão e passei a perguntar – me: - Por que eu?

Naquela fase de revolta, comecei a lembrar – me dos esforços para aprimorar – me

cientificamente, a fim de poder começar a produzir, e eis que, de repente, quase próximo à

meta, por algum capricho do destino, tudo iria terminar! Do nada retornaria ao nada. Não podia

entender. Não achava justo. A vida não tinha sentido.

Mas, também comecei a pensar: as doenças e mortes que afetam os outros, essas por acaso

seriam justas e teriam sentido? Afinal, o que tinha eu de tão especial que devesse me conferir

imunidade e garantia de vida?

Assim, aos poucos, calou – me fundo a lição da Humildade!

Mas eu tinha que lutar. Tinha que fazer alguma coisa. Afinal, nunca havia entregado os pontos

facilmente. Ao contrário, lembrei – me que havia até apurado o gosto pela luta na prática do

Karatê, tendo sido aluno do professor Mitsusuke Harada, o mestre que introduziu esta arte

marcial no Brasil, e o seu método de ensino, bem no estilo oriental tradicional, consistia em

temperar seus alunos através de duros golpes infligidos durante os treinos.

Posteriormente, com o mestre Taketo Okuda, eu continuara aprimorando – me tanto na parte

técnica quanto nos aspectos filosóficos dessa luta onde, em última análise, o homem tem em si

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mesmo o seu maior rival na conquista da harmonia interior.

Pensando nisso, pensando em meus pais, em minha noiva, em meu irmão, meus amigos, meus

colegas, meus sonhos, meus ideais, enfim, pensando em tudo e em todos que eu iria

decepcionar com minha morte, criou – se em mim um estado de vazio. E, de repente, lembrei –

me de que minha mãe havia me enviado uns meses antes, um recorte de uma revista onde se

comentava sobre uma técnica de visualização, através da qual os pacientes imaginavam – se

lutando contra seus males e os venciam. A vitória a nível mental era acompanhada de uma

melhora a nível físico.

Automaticamente, a partir daquela lembrança, passei a visualizar minhas células de defesa

formando anticorpos que se uniam aos microorganismos que estavam prejudicando – me,

inativando – os e limpando, assim, meus rins, que começavam de novo a formar urina, que ia

sendo coletada na bexiga, gota a gota.

Em nenhum momento me ocorreu qualquer dúvida a respeito de que o que eu estava fazendo

não fosse, talvez, o que deveria fazer, pois uma indescritível certeza de que aquela visualização

era absolutamente vital invadia – me sempre mais e mais.

Num estado de consciência entre o torpor e a vigília, ia repetindo lentamente todo o processo

passando a identificar – me com a própria revitalização dos rins e o restabelecimento de sua

função normal.

Durante a noite toda, esse único quadro, que eu mentalmente visualizei, ocupou todo o meu ser.

No dia seguinte fui transferido para a Unidade Renal e o Dr. Davidson, responsável pela

Unidade, instalou – me os tubos necessários à diálise peritoneal.

Mal ele tinha acabado de montar o sistema todo, eu expressei o desejo de urinar. Ele estranhou,

mas deu – me o papagaio e qual não foi a surpresa quando comecei a urinar, parecendo que não

iria acabar mais. A diálise foi interrompida após três dias do seu início.

Permaneci mais doze dias em observação, e, a cada dia, minha recuperação se acentuava mais e

mais.

Em busca de algum agente que tivesse causado o problema que me afligiu, inúmeras amostras

do meu sangue foram enviadas ao Laboratório Central de Virologia em Londres, mas nada foi

detectado, a não ser a presença de alguns anticorpos contra células de ratos Hooded, com os

quais eu trabalhava e que também estavam presentes em outros membros do grupo de pesquisa,

se bem que em menor quantidade.

O que tive foi classificado como doença de características infecciosas, grave, com

comprometimento renal severo. O quadro em si foi tão grave que um dos experientes

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colaboradores da equipe do Hospital Royal Marsden, o Dr. Powles, com base no meu estado

clínico e laboratorial, havia chegado a prognosticar – me no máximo 48 horas de vida! Isto me

foi contado depois, por meus colegas de pesquisa no Chester Beatty e pelo próprio Dr. Powles

que, recentemente, quando reencontrei em visita à Europa, continuava a expressar sua

admiração por eu ter sobrevivido àquele quadro de características progressivas.

Quanto à Visualização que fizera, havia – me esquecido totalmente dela, até quando, mais

tarde, assistindo às palestras do Dr. Celso Charuri, médico de excelente formação acadêmica e

profunda espiritualidade, que passei a relacionar as coisas e a dar – lhes a devida importância,

começando a empregá – la inúmeras outras vezes, em desespero de causa ou não, certificando –

me assim, sempre mais, do seu enorme valor e poder, em especial quando executada em

elevados níveis de Consciência! (MAYOL, 1992).

Para finalizar essa palavra - chave da pesquisa, Visualização de Imagens

Mentais, faremos uma citação sobre algumas considerações de JUNG em 1944, sobre a

primeira versão da Meditação e Imaginação na visão dos alquimistas. Pontuamos que a

Meditação é possível de ser desenvolvida quando o cérebro esta em estado de Relaxamento

Mental e a Imaginação têm como seu conteúdo as Imagens Mentais.

Conforme a citação abaixo relacionada JUNG (1986) afirmou que através da

meditação é possível trazer para o consciente, aspectos inconscientes.

O "Lexicon Alchemial", (Dicionário de Alquimia), de Ruland, datado de 1612, define que a

"meditatio" é usada quando ocorre um diálogo interior com alguém invisível que tanto pode ser

Deus, quando invocado, como a própria pessoa ou seu anjo benigno. Este "diálogo” interior é

familiar ao psicólogo por constituir uma parte essencial da técnica do diálogo com o

inconsciente. A definição de Ruland prova sem dúvida alguma que os alquimistas, ao falarem

em "meditari", não se referem a uma simples reflexão, mas a um diálogo interior e portanto a

uma relação viva com a voz do "outro" em nós que responde, isto é, com o inconsciente. O

conceito de meditação no "dictum" (dito) hermético é que todas as coisas vêm do Uno, através

da meditação do Uno e isto deve ser entendido, através da acepção alquímica, como um diálogo

criativo mediante o qual as coisas passam de um estado potencial inconsciente para um estado

manifesto. (JUNG, 1986).

Na década seguinte, em 1951, este mesmo autor, JUNG (1986), trabalhou com

o conceito do Arquétipo do Si Mesmo definindo - o como a sede da identidade subjetiva, o

centro ordenador e unificador da psique, simbolizado por Cristo, e como sede da identidade

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objetiva, consciente, o ego. Pontuou que quanto maior fosse o número de conteúdos

coletivos inconscientes assimilados ao ego consciente, (processo possível através da

meditação) e quanto mais significativos fossem, tanto mais o ego consciente se aproximaria

do Si Mesmo ou “Self”, muito embora esta aproximação possa nunca chegar ao fim.

Cristo, símbolo do arquétipo do Si Mesmo, representa uma totalidade de natureza divina ou

celeste... constitui uma equivalência do primeiro Adão antes da queda original, isto é, quando

este possuía ainda a pura semelhança com Deus, e a respeito do qual diz Tertuliano (+222):

“quanto a esta imagem de Deus, pode -se admitir que o espírito humano possui os mesmos

impulsos e o mesmo sentido que Deus, embora não da mesma forma". Origénes, (185-254), é

muito mais minucioso e afirma que a imagem de Deus, que está impressa na alma e não no

corpo, é uma imagem da imagem porque foi criada à semelhança de uma imagem precedente.

Cristo, por sua vez, é a verdadeira imagem de Deus, a cuja semelhança foi criado nosso

homem interior, (nossa alma): invisível, incorporal e imortal. A imagem divina manifesta-se

em nós através da "prudentia" da "justitia", da "moderatio", da "virtus", da "sapientia" e da

disciplina. (JUNG, 1986).

Pressupomos, com base nestas citações que, através da aplicação do método

proposto neste estudo, integração das técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de

Imagens Mentais com o conceito de Espiritualidade, acontece uma passagem do estado

potencial inconsciente para o estado manifesto no universo psíquico das pacientes Fora de

Possibilidade de Cura, o que Jung chamou de Arquétipo do Si Mesmo ou “Self”,

simbolizado por Cristo, o que significa um contato, mais significativo, do ego consciente de

cada uma dessas pacientes, com a sua própria natureza divina ou celeste, ou seja, com a

sua natureza espiritual e sobre a qual falaremos a seguir.

2.5. ESPIRITUALIDADE

As vivências espirituais são muitas vezes entendidas como vivências religiosas,

mas, dentro de uma visão científica faz – se necessária uma diferenciação entre ambas. Para

JUNG (1986) Espiritualidade não está em referência a uma determinada profissão de fé

religiosa e sim na relação transcendental da alma com a divindade e na mudança que daí

resulta, ou seja, Espiritualidade está relacionada a uma atitude, a uma ação interna, a uma

ampliação da consciência, a um contato do indivíduo com sentimentos e pensamentos

superiores e no fortalecimento, amadurecimento, que este contato pode resultar para a

personalidade. Isto pode acontecer, por exemplo, através da meditação.

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Desta forma a Espiritualidade não está relacionada a crenças e dogmas, os quais

pertencem ao campo das Religiões. Estas sim são as Confissões de Fé. São formas

codificadas e dogmatizadas de experiências espirituais originárias.

THONSEM (1998) afirma que existem pessoas espiritualizadas que nunca

participaram de organizações religiosas e existem outras que freqüentam regularmente

serviços religiosos e não são espiritualizadas.

Segundo PESSINI (2000) estamos no Ocidente em um momento de mudança

de tempo: terceiro milênio, século XXI, novos tempos, novas propostas. Nesse limiar de

um novo tempo o que tem se constatado é que está ocorrendo um recrudescimento da

Espiritualidade em todos os âmbitos da vida, além do contexto religioso propriamente dito.

As empresas, por exemplo, começam a inserir, nos programas da Qualidade de Vida,

reflexões sobre valores e sentido da vida e isto, em essência, é Espiritualidade.

Observamos desta forma que o Padre Léo Pessini também se refere à

Espiritualidade como um aspecto distinto da Religiosidade e a situa no campo subjetivo do

mundo interno e não no campo do sistema de crenças dogmáticas que pertencem às

religiões.

Entendemos, na presente pesquisa, que a ampliação da consciência, o contato

mais profundo com uma área mais transcendental desse mundo interno, pode acontecer

através do trabalho psicológico integrando – se as técnicas de Relaxamento Mental e

Visualização de Imagens Mentais com o conceito de Espiritualidade.

O conceito de Espiritualidade, na integração das técnicas acima citadas, que

compõe o método proposto nessa pesquisa, foi abordado a partir dos estudos publicados

sobre os relatos dos pacientes que passaram por uma Experiência de Quase Morte (E.Q.M.)

e voltaram a viver normalmente e complementado através de possíveis sonhos dos

pacientes antes de sua morte e de seus familiares, antes e depois da morte deles, ligados a

natureza espiritual dessa referida morte, ou seja, podendo indicar a ida do espírito para

outro lugar, para um mundo espiritual.

SIEGEL (1989) observou que, com muita freqüência as pessoas recebem

premonições sobre sua morte através dos mais variados tipos de sinais como sonhos,

poemas e desenhos e assim, esse médico, cirurgião e terapeuta em Oncologia, concluiu que

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realmente temos uma percepção intuitiva em relação à morte.

VON FRANZ (1995) afirmou que existem sonhos de pacientes terminais e de

seus familiares que podem ser interpretados de forma objetiva, indicando a existência de

uma vida espiritual após a morte. Ponderou que no inconsciente há um conhecimento que

Jung denominou conhecimento absoluto, isto é, o inconsciente pode conhecer coisas que

conscientemente não se conhece. Esta autora observou que se pode sentir se a figura de

uma pessoa já falecida num sonho está sendo usada como símbolo de alguma realidade

interior ou se realmente representa o morto. Mas, por outro lado, complementou que é

difícil estabelecer critérios universais válidos para esse sentir. Concluiu, frente a esta

questão que, se a interpretação no plano subjetivo fizer pouco ou nenhum sentido, ainda

que o sonho tenha um efeito numinoso especialmente forte, então se deve tentar uma

interpretação no nível objetivo.

VON FRANZ (1995) acrescentou que esta é uma área ainda aberta para

investigação, uma vez que atualmente questões desse tipo só podem ser respondidas de

modo hipotético. Relatou o sonho de um paciente que foi a óbito para exemplificar a

possibilidade de uma interpretação de natureza objetiva: um homem, de aproximadamente

40 anos, uma vez a procurou para uma única consulta; ele havia recebido um diagnóstico

terminal: câncer avançado com metástase, o qual não conseguiu aceitar. Na noite seguinte

ao diagnóstico teve um sonho: viu um trigal ainda verde, a meia altura; o gado invadiu a

plantação, pisoteando tudo e, nesse momento, uma voz vinda de cima bradou: “Tudo

parece destruído, mas das raízes sob a terra o trigo voltara a brotar”. A autora viu nesse

sonho uma indicação de que a vida de algum modo continuaria depois da morte, mas o

paciente não quis aceitar essa interpretação. Pouco depois ele morreu sem ter se

reconciliado com seu destino.

Na nossa experiência clínica, temos encontrado com freqüência referências a

sonhos tanto de pacientes, antes de seu óbito, como também de seus familiares, da ida do

espírito do doente terminal para outro lugar. Decidimos, assim, também, colher esse dados

e descrevê-los nessa pesquisa com o intuito final de conhecer a natureza humana, tal qual

ela é.

Em relação às Experiências de Quase Morte (E.Q.M.) podemos citar os estudos

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de KÜBLER – ROSS (1998) e MOOD JR (1989 e 1992).

Elisabeth Kübler Ross é médica psiquiatra e trabalha há 30 anos com a morte e

o morrer. Raymond Mood Jr é médico psiquiatra e doutor em Filosofia. Trabalha com

pacientes que passaram por uma Experiência de Quase Morte (E.Q.M.) e familiares destes.

KÜBLER-ROSS (1998) frente aos resultados de suas pesquisas, concluiu que a

morte, na sua definição tradicional, não existe. Essa médica psiquiatra suíça (radicada nos

Estados Unidos) afirmou que os pacientes terminais passam pelos cinco estágios

psicológicos no decorrer de sua doença: negação, raiva, barganha, depressão, aceitação e

“depois de terem feito tudo o que tinham a fazer na Terra”, deixam o corpo que aprisiona a

alma como um casulo aprisiona a futura borboleta e então, passam pela maior experiência

de suas vidas. De acordo com as entrevistas - em torno de vinte mil - que a autora compilou

com pessoas que foram dadas como mortas e voltaram a viver normalmente, a morte

ocorreria em quatro fases distintas. Na primeira fase as pessoas relataram que se sentiram

flutuando para fora de seus corpos. Quer tivessem morrido numa sala de operação, num

acidente de carro ou ao tentar suicídio, todos contaram que presenciaram tudo o que se

passou no lugar de onde saíram e que flutuaram para fora do corpo, como borboletas

deixando o casulo. Segundo seus relatos elas assumiram uma forma etérea...Na segunda

fase as pessoas observaram que deixaram seus corpos para trás e se sentiram em um estado

de vida depois da morte, o qual definiram como espírito e energia. Sentiram - se

reconfortadas porque descobriram que nenhum ser humano morre sozinho e, independente

de onde ou como tivessem morrido, foram capazes de ir a qualquer lugar com a rapidez do

pensamento...A terceira fase iniciava – se quando os pacientes, guiados por um anjo da

guarda, entravam em um túnel ou em um portão intermediário. Em geral esta era a

descrição desta fase, mas houve pessoas que mencionaram outras imagens diferentes:

visualizaram uma ponte, ou um desfiladeiro em uma montanha, ou um bonito riacho,

basicamente a imagem que era mais confortadora para cada uma delas. Afirmaram que

criaram essas imagens com energia psíquica e, no final, viram uma luz brilhante.

Relataram que aproximaram – se orientados pelo guia e sentiram a luz irradiar calor,

energia, espiritualidade e amor intenso, mais do que tudo, amor. Adjetivaram esta sensação

de amor incondicional! Estas pessoas pontuaram que a força dessa luz era irresistível.

Sentiram, no contato com ela, entusiasmo, paz, tranqüilidade e a expectativa de afinal

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estarem indo para casa. Sentiram a luz como a fonte primordial de energia do universo.

Alguns disseram que era Deus. Outras disseram que era Cristo ou Buda. Mas, todos

acordaram que se sentiram envolvidos por um amor irresistível, puro e incondicional. Na

quarta fase as pessoas declararam ter estado na presença do que denominaram como Fonte

Superior. Algumas a chamaram de Deus. Outras disseram simplesmente saber que estavam

rodeadas por todo o conhecimento existente, passado, presente e futuro e que esse

conhecimento era benevolente e isento de crítica. Nesse estágio as pessoas relataram ter

passado por uma revisão de suas vidas. Repassaram cada ação, palavra e pensamento e

compreenderam as razões de suas atitudes durante a vida. Viram também como suas ações

tinham afetado as outras pessoas, até as pessoas desconhecidas pois, segundo observaram,

as vidas de todas as pessoas estão entrelaçadas; cada pensamento e ação têm o efeito de

uma ondulação e atingem todas as outras formas de vida do planeta. Nesta retrospectiva

também observaram o que suas vidas poderiam ter sido, o potencial que tinham.

KÜBLER – ROSS (1998) afirmou que, depois de ouvir milhares de pessoas

descreverem a mesma jornada, compreendeu porque nenhuma delas queria voltar ao seu

corpo físico e o porque de todas elas terem afirmado que esta experiência espiritual teve um

profundo efeito em suas vidas. Algumas afirmaram ter recebido grandes conhecimentos,

outras voltaram com dons proféticos, algumas outras passaram a ter um novo

discernimento, uma nova capacidade de avaliação. Mas todas foram uníssonas em afirmar

que esta vivência lhes ensinou que existe apenas um único significado para a vida: o Amor.

A autora finalizou este assunto dizendo que interpretou a experiência desses

pacientes como sendo o céu ou o inferno, ou talvez os dois e que a possibilidade do

paciente sentir – se no céu depende das escolhas que ele fez; afirmou que, na sua opinião, a

capacidade de escolher é a liberdade que Deus deu aos seres humanos para crescer e amar;

ponderou que todas as pessoas passam por dificuldades, algumas grandes e outras mais

leves, mas estas dificuldades são lições que devem ser aprendidas e isto acontece através

das escolhas, das opções, que cada ser humano faz. Para se ter uma boa vida, e

conseqüentemente uma boa morte, KÜBLER – ROSS (1998) relata que costuma dizer para

as pessoas fazerem suas escolhas tendo em vista o objetivo do amor incondicional e

perguntando a si mesmas: “Que serviços estou prestando?...” Em princípio, conclui essa

médica psiquiatra, o que cada pessoa escolhe é se vai sair do torno triturada ou com um

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polimento brilhante.

No nosso trabalho com pacientes terminais temos nos orientado nesta conclusão

específica da médica KÜBLER – ROSS (1998) para resgatar a culpa desses pacientes:

mostramos que o sofrimento não é uma punição divina (maneira pela qual muitos deles

encaram sua doença) mas uma experiência muito difícil, através da qual algo pode ser

aprendido, mas que deve ser minimizado, o máximo que for possível, conforme já citado.

MOOD JR. (1989, 1992) entrevistou e estudou em torno de 2000 pacientes que

passaram pela Experiência de Quase Morte (E.Q.M.), expressão cunhada pelo autor para

classificar o grupo de pessoas que estiveram em coma profundo ou foram dadas como

clinicamente mortas por seus médicos, e voltaram a viver normalmente. Observou que

ocorreu o mesmo padrão de relato no mundo todo, independentemente da cultura ou da

religião da pessoa e que a presença de crenças religiosas não foi o que determinou a

Experiência de Quase Morte (E.Q.M.) e nem seu conteúdo, pois tanto religiosos como ateus

trouxeram o mesmo tipo de relato.

MOOD JR (1989), encontrou nove elementos comuns nos relatos. Observou

que nem todas as pessoas que passaram por uma Experiência de Quase Morte Experiências

de Quase Morte (E.Q.M.)exibiram todos os sintomas descritos. Algumas tiveram um ou

dois deles; outras, cinco ou seis, mas é a presença de pelo menos um desses elementos que

define se o paciente vivenciou realmente uma Experiência de Quase Morte (E.Q.M.)ou

não.

Os sintomas, que qualificam uma Experiência de Quase Morte (E.Q.M.),

descritos por esse autor são os seguintes:

1 - A Sensação de Estar Morto: “Muitas pessoas não se dão conta de que a

experiência de quase – morte que estão tendo nada tem a ver com a morte. Elas descobrem

- se flutuando acima de seus próprios corpos, olhando para ele de uma certa distância,

sentindo um súbito medo e / ou confusão. Nesse ponto da experiência as pessoas

geralmente sentem medo; mas, depois, isso dá lugar a uma perfeita compreensão do que

está acontecendo. Elas podem compreender o que os médicos e as enfermeiras estão

dizendo um para o outro (mesmo quando não possuem nenhum treinamento médico formal,

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o que é mais freqüente), mas quando procuram falar com eles, ou com outros presentes,

ninguém é capaz de vê - las ou ouvi – las”

2 – Paz e Ausência de Dor: “Enquanto o paciente ainda está no seu corpo, ele

pode, com freqüência, sentir uma intensa dor. Quando, porém, as ”amarras são cortadas“,

predomina uma verdadeira sensação de paz e tranqüilidade”.

3 – A Experiência de Estar Fora do Corpo: “Freqüentemente, no momento em

que o médico diz: ‘Nós o perdemos’, o paciente experimenta uma mudança completa de

perspectiva. Ele tem a sensação de estar flutuando, vendo o próprio corpo lá embaixo. Em

geral mantém a consciência e afirmam que o corpo espiritual tem uma forma diferente do

físico, alguns descrevem – no como uma nuvem colorida, outros como um campo de

energia”.

4 – A Experiência do Túnel: “A experiência do túnel ocorre, geralmente, após a

separação corporal, após a ‘libertação das amarras’. Neste ponto, um portal ou túnel abre –

se e as pessoas, que estão vivenciando a E.Q.M., percorrem - no e deparam - se com uma

luz muito brilhante. Alguns pacientes ao invés do túnel, subiram por uma escadaria e outras

contaram que passaram por belas e ornamentadas portas. As descrições são diversas, mas a

sensação do que está acontecendo é sempre a mesma: estar atravessando uma passagem na

direção de uma luz intensa”.

No século XV o pintor holandês Hieronyrous Bosch pintou esse tema em sua

obra “Ascensão dos Abençoados” *.

5 – Seres de Luz: “Após atravessarem o túnel, os pacientes que estão

vivenciando uma Experiência de Quase Morte (E.Q.M.) geralmente se encontram com

Seres de Luz, seres que brilham com uma bela e intensa luminescência, que parece permear

tudo e fazer a pessoa transbordar de amor. Também é freqüente, neste momento, que estas

pessoas encontrem – se com amigos e parentes que já faleceram e houve alguns que, alem

dos Seres de Luz e parentes, divisaram também, neste momento, lindas cenas campestres.

Em relação à comunicação afirmaram que esta não ocorre através de palavras, mas por via

telepática, modos não verbais, que proporcionam uma compreensão imediata”.

* BOSCH, H. apud COPPLESTONE, T. - Vida e Obra de Hieronymus Bosch. Rio de Janeiro, Editora

Publicações, 1997, 79p.

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6 – O Ser da Luz: “Depois de encontrar vários Seres de Luz, aqueles que estão

passando por uma Experiência de Quase Morte (E.Q.M.) geralmente se deparam com um

supremo Ser de Luz.

Com freqüência, as pessoas que possuem formação cristã descrevem – no como

sendo Deus, ou Jesus. Aqueles com outras orientações religiosas chamam - no de Buda, ou

Alá.

Os que não identificam este Ser de Luz como Deus, ou Buda, ou Jesus, ou Alá,

dizem que ele lhes parece ser extremamente santo. Todos são unânimes em afirmar que este

Ser irradia amor e compreensão absoluta; a grande maioria dos pacientes relata terem

sentido o desejo de ficar junto Dele para sempre, mas, são informados, geralmente pelo

próprio Ser de Luz, que devem retornar para seus corpos terrestres.

Antes, porem, deste retorno, este Ser de Luz os conduze para uma recapitulação

de suas vidas”.

7 – A Recapitulação: “Quando ocorre essa recapitulação da vida da pessoa, o

cenário físico em torno desaparece por completo. Em seu lugar, emerge uma recapitulação

panorâmica, colorida e tridimensional, de todos os atos que a pessoa cometeu na sua vida.

Isto normalmente acontece na perspectiva de uma terceira pessoa e num tempo

completamente diferente daquele que conhecemos. A melhor descrição deste episódio foi a

de que toda a vida pessoal ressurge instantaneamente. Nesta situação, a pessoa não apenas

vê todas as ações por ela perpetradas, mas, também e de imediato, percebe os efeitos de

cada uma delas sobre a vida dos demais. Todos aqueles que passaram por esta experiência

retornaram acreditando que a coisa mais importante de suas vidas é o amor e, para a

maioria delas, a segunda, em grau de importância na vida, é o conhecimento. Afirmaram

que ambas estas coisas: amor e conhecimento, podem ser levadas pelo espírito, na morte”.

8 - A Rápida Ascensão para o Céu: “Deve – se assinalar que nem todos aqueles

que têm uma Experiência de Quase Morte (E.Q.M.) conhecem a experiência do túnel.

Alguns relataram uma experiência flutuante, durante a qual ascenderam rapidamente para o

céu, vendo o universo de uma perspectiva até aqui reservada aos astronautas e satélites.

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Jung teve uma experiência como esta, em 1944, quando sofreu um ataque do coração. Esse

importante psiquiatra disse que se sentiu elevando – se para um ponto bem acima da Terra,

flutuou para o espaço e viu nosso planeta à distância, em uma visão gloriosa”.

9 – Relutância em Retornar: “Para muitas pessoas, uma Experiência de Quase

Morte (E.Q.M.) constitui um evento de tal modo prazeroso que elas não mais desejam

retornar para sua vida terrestre. Por isto, é freqüente ficarem zangadas com seus médicos,

por ressuscita – las. Este sentimento de não querer “voltar” é freqüente, mas, por outro

lado, é passageiro; em geral, uma semana depois, estes pacientes, muito embora continuem

com saudades do estado de bem – aventurança que vivenciaram no “mundo espiritual”,

sentem – se felizes por terem retornado, por terem recebido a oportunidade de continuar

vivendo. Todos os entrevistados afirmaram que o principal motivo que os trouxe de volta

foi ou filhos para criar, ou pais, ou cônjuges ou outros familiares que iriam sentir sua falta e

precisavam, por alguma razão, deles”.

Alem destes nove aspectos, MOOD JR (1989) também observou que depois da

experiência de Experiência de Quase Morte (E.Q.M.) os pacientes mudam sua estrutura de

valores, passam a priorizar os aspectos humanos e fraternos e perdem o medo da morte.

Também, conforme citado acima, ficam saudosos do estado de bem - aventurança que

descobriram na sua experiência e precisam aprender a lidar com esta saudade. São

mudanças tão significativas que este médico psiquiatra e cientista atualmente dedica – se a

ajudar de forma terapêutica, muitos destes pacientes, a integrar esta vivência espiritual e

conhecimento adquirido, à rotina de suas vidas. Eles precisam de alguém que compreenda

esta experiência para ouvi – los e ajudá - los. Há também, segundo MOOD JR (1989), uma

necessidade de trabalho terapêutico com os familiares, pois com freqüência, as acentuadas

mudanças de personalidade que acompanham uma E.Q.M. causam tensão na família,

principalmente para o cônjuge que sente – se casado com uma pessoa diferente. Um

homem agressivo, mal humorado, impulsivo e de difícil convivência, após a experiência de

E.Q.M., tornou – se brando, amoroso e de fácil convivência. Não sabia como a esposa o

suportara antes, mas o fato é que ela encontrou dificuldades em adaptar – se à

personalidade reestruturada do marido. Estava acostumada com suas explosões.

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Em relação à Espiritualidade MOOD JR (1989), observou que uma Experiência

de Quase Morte (E.Q.M.) quase sempre estimula a curiosidade espiritual. Muitos passaram

a estudar e aceitar os ensinamentos espirituais dos grandes pensadores religiosos. Contudo,

isso não significa que se tenham tornado os pilares da igreja local. Pelo contrário, essas

pessoas tenderam a abandonar posições dogmáticas, em relação às doutrinas religiosas.

Quanto à noção de tempo, MOOD JR (1989) observou que as pessoas que

passam por uma Experiência de Quase Morte (E.Q.M.) dizem que a mesma nada tem a ver

com o tempo cronometrado por nossos relógios. Em geral, relatam que se sentiram na

eternidade. No curso desta experiência, quando desejam ir para algum lugar, é suficiente

apenas pensar neste lugar ou, em determinada pessoa e imediatamente vêem – se no local.

Algumas pessoas contaram que, enquanto estavam “fora de seus corpos”, observando os

médicos trabalharem na sala de operações, podiam ir ver seus parentes na sala de espera e

que, para isso, tudo o que precisavam era sentir vontade de ir vê - los.

Tais experiências, segundo MOOD JR (1989), constituem, talvez, a melhor

resposta para aqueles que pensam que uma E.Q.M. é uma peça que o cérebro prega em si

mesmo. Apesar de tudo, afirma o autor, é perfeitamente possível, que o cérebro, sofrendo

uma grande angústia, possa tentar acalmar – se, criando túneis e Seres de Luz, de modo a

permitir que a pessoa repouse. Mas aqueles que podem contar o que está acontecendo em

uma sala, enquanto seus corpos permanecem em outra, estão, realmente, tendo uma

Experiência de Quase – Morte e por esta razão, este médico psiquiatra concluiu que os

relatos sobre E.Q.M. não são alucinações pelas quais os pacientes passam, ou um processo

natural de desligamento quando o cérebro está morrendo, mas experiências reais, porque,

justamente, inúmeras vezes, os pacientes fizeram descrições muito corretas do que estava

acontecendo no seu em torno, de uma perspectiva que não poderiam ter se estivessem no

corpo, na cama do hospital, deitados.

MOOD JR. (1989, 1992) também observou, através dos relatos, que quando as

pessoas tomavam consciência de que estavam vivenciando o que chamamos de morte, a

parte mais transcendental da experiência de semimorte acontecia.

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A experiência transcendental* do Dr. George Rodonaia, doutor em Psicologia,

russo, e cuja causa da semimorte foi tentativa de assassinato pelo K.G.B., foi a seguinte:

sentia dor e estava no escuro, não enxergava nada. Não conseguia mexer o corpo, as mãos.

Compreendeu que não estava mais em seu corpo mas que existia. Sentiu muito medo do

desconhecido. Não conseguia compreender como podia continuar existindo sem seu corpo,

quando percebeu que pensava e que se pensava, existia. Percebeu também que se pensando,

existia, podia também escolher o foco de seu pensamento. Optou por pensar positivamente

e como estava no escuro começou a pensar sobre a luz. Assim que começou a pensar sobre

a luz, viu a luz, surpreendeu - se, quis entrar na luz e passou pelo túnel, vivenciando a

experiência relatada por muitos: o encontro e conversa com Seres Luminosos. Ao voltar de

sua experiência de semimorte concluiu que estamos vivos por causa do Amor. A dimensão

do espírito é a vida eterna. A morte não existe, ela é como uma estação de trem aonde se

chega para passar para uma outra vida.

Alem dos trabalhos de KÜBLER – ROSS (1998) e MOOD JR (1989,1992),

acima citados, também encontramos na Literatura outras referências sobre Experiências de

Quase Morte (E.Q.M.).

WEISS (1998) relata que atendeu vários pacientes com experiência de morte

clínica e entre eles, um bem sucedido homem de negócios sul – americano, o qual havia se

submetido a várias sessões de psicoterapia convencional com ele. Este paciente, Jacob, foi

atropelado por uma motocicleta, na Holanda, em 1975, e ficou inconsciente. Tinha, na

época, um pouco mais de trinta anos. Relatou que lembrava – se de ter pairado sobre seu

corpo e visto a cena do acidente, a ambulância, o médico que cuidou de seus ferimentos e a

multidão que observava. Percebeu uma luz dourada a distância e, quando aproximou – se

dela, viu um monge vestindo um manto marrom. O monge disse a Jacob que ainda não era

sua hora de morrer e que ele precisava voltar para seu corpo. Jacob sentiu, segundo WEISS

(1998), a sabedoria e o poder do monge, o qual também lhe revelou vários acontecimentos

que iriam ocorrer em sua vida futura e que, posteriormente, realmente aconteceram. Jacob

voltou para seu corpo que estava em um leito de hospital, recuperou a consciência e, pela

primeira vez, sentiu dores terríveis.

* RODONAIA, G.apud MOOD, JR R. – Vídeo: Vida após a Morte. São Paulo, N.C.A. Forever, 60’, 1992.

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WEISS (1998), através de suas experiências clínicas, concluiu que a vida é

eterna porque o ser humano está inserido em outras dimensões além da dimensão física,

como por exemplo, a dimensão espiritual. Analisando – se a vida por este prisma, este autor

observa que não há morte e nem nascimento, apenas passagens do eu ou “self” ou espírito

por diferentes fases. O tempo, por sua vez, analisado por esta ótica, é medido pelas lições

que devem ser aprendidas.

WEISS (1999) também afirma que, no outro extremo da Vida, quando

morremos, nossa consciência continua existindo, justamente porque não depende de uma

forma física e a aprendizagem continua a acontecer em níveis mais elevados desta

consciência. O autor, baseado em suas pesquisas clínicas, afirma que o espírito passa por

vários níveis de consciência quando deixa o corpo físico, no momento da morte. Esta

afirmação é concordante tanto com os estudos de KÜBLER – ROSS (1998) e MOOD JR

(1989, 1992) sobre Experiências de Quase Morte, como com as pesquisas de MILLER

(1997) sobre o pós – morte. Estes aspectos são pressupostos deste estudo que objetiva

re - significar a Dor Simbólica da Morte de pacientes terminais, representada pela Dor

Psíquica e Dor Espiritual, o que, em resumo, significa melhorar a qualidade da consciência

das pacientes, ajudando – as a desfocar o pensamento dos estados de tristezas, angústias,

culpas, perdas e principalmente, dos medos, e focá – lo em estados de tranqüilidade,

serenidade, conforto, proteção, paz.

Embora, nesta pesquisa, estivemos, ao abordar o assunto Morte com as

pacientes e seus familiares, posicionando - nos enquanto referencial filosófico / científico,

frente aos resultados das pesquisas e conclusões, acima citadas, respeitamos, ao abordar

este assunto, às crenças religiosas específicas das pacientes e de seus familiares e, por esta

razão, foi imprescindível para o desenvolvimento deste método (Relaxamento Mental,

Visualização de Imagens Mentais e Espiritualidade), que a paciente acreditasse na vida

espiritual pós – morte.

A Literatura Histórica, por sua vez, aponta três grandes lideres Filosóficos /

Espirituais, os quais, dentro dessa palavra chave Espiritualidade, consideramos importante

citar: PLATÃO, filósofo grego do séc V a.C., precursor do pensamento filosófico do

Ocidente, CRISTO, líder espiritual do Ocidente e BUDA, líder espiritual do Oriente.

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De acordo com a Coleção Os Pensadores no volume “PLATÃO - Diálogos”

(1987), Platão, no século V a.C., descreve o lugar originário do espírito como o Mundo

Perfeito das Idéias que se antepõe ao mundo físico, sensorial. O que é belo, mais ou menos

belo, é belo porque existe um belo pleno, o Belo que, intemporalmente, explica todos os

casos e graus particulares de beleza. PLATÃO expõe a doutrina de que o intelecto pode

aprender as idéias porque também ele é, como as idéias, incorpóreo. A alma humana, antes

do nascimento, antes de prender-se ao cárcere do corpo, teria contemplado as idéias

enquanto seguia o cortejo dos deuses. Encarnada, perdeu a possibilidade de contato direto

com os arquétipos incorpóreos, mas diante de suas cópias, os objetos sensíveis, pode ir

gradativamente recuperando o conhecimento das idéias. Conhecer seria então lembrar,

reconhecer. A hipótese da reminiscência vem, assim, sustentar a hipótese da existência do

mundo das idéias. Mas, por sua vez, implica outra doutrina que a condiciona: a da

pré - existência da alma em relação ao corpo, a da incorruptibilidade dessa alma incorpórea

e, portanto, a da sua imortalidade.

Para Siddhartha Gautama, BUDA (século VI AC), todos os seres e todas as

coisas são constituídas de uma mesma essência, embora pareçam diferentes, segundo as

formas que tomam, em conseqüência das influências que recebem. Como se formam, agem

e como agem, são. Imaginemos um oleiro que fabrica vasilhas diferentes com o mesmo

barro. Cada uma dessas vasilhas terá seu destino, pois uma servirá para arroz, outra para

manteiga, outra para leite e algumas serão usadas para depósito de impurezas. Não há

diferença no barro empregado. A diferença está no modelo dado pelo oleiro, segundo os

diversos usos requeridos pelas circunstâncias. Analogamente todos os seres evolucionam de

acordo com uma só lei e se destinam ao mesmo fim, que é o Nirvana.

Desta forma, observamos que BUDA também relaciona a origem de todos os

seres e coisas a uma Lei Universal única (ou idéia perfeita como citou PLATÃO) e o seu

retorno, de acordo com essa origem, para o que ele denominou Nirvana.

Para CRISTO o Reino dos Céus, de onde se originam os espíritos e para onde

devem retornar, é daqueles que se parecem com as criancinhas. Quem não receber o Reino

dos Céus como uma criancinha nele não entrará. (BÍBLIA SAGRADA, Lucas, 1996).

Analisando a palavra de CRISTO que foi dita por meio de metáforas, podemos associar a

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criancinha ao pensamento não - lógico, pensamento por imagens, pois essa é a forma de

pensar de uma criancinha.

O pensamento por imagens é o primário, conforme já citado. Começamos a

vida quando crianças, na primeira infância, pensando da forma primária e assim devemos

terminá - la, retornando para o mundo das Imagens Mentais, o qual seria o Céu, segundo

nossa interpretação da palavra de CRISTO. De certa forma, esta nossa interpretação é

concordante com a filosofia de PLATÃO, pois as imagens são formadas por símbolos, que

correspondem aos elementos incorpóreos do mundo das idéias.

Observamos que os pacientes que vivenciaram uma Experiência de Quase

Morte (E.Q.M), nos seus relatos, associaram o sentido principal da vida ao amor

incondicional, cujo aspecto filosófico é totalmente compatível aos ensinamentos de

CRISTO. Entre as muitas passagens do Novo Testamento, sobre os ensinamentos do

Mestre a respeito do amor incondicional, podemos citar como referência o Sermão da

Montanha:

Vindo àquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou – se e seus discípulos aproximaram –

se Dele. Então abriu a boca e lhes ensinava dizendo: Bem – aventurados os que têm um coração

de pobre, porque deles é o Reino dos Céus! Bem – aventurados os que choram, porque serão

consolados! Bem – aventurados os mansos porque possuirão a Terra! Bem – aventurados os que

têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! Bem – aventurados os misericordiosos,

porque alcançarão misericórdia! Bem – aventurados os puros de coração porque verão Deus!

Bem – aventurados os pacíficos, porque serão chamados Filhos de Deus! Bem – aventurados os

que são perseguidos por causa da Justiça, porque deles é o Reino dos Céus! Bem – aventurados

sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra

vós, por minha causa. Alegrai – vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus,

pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós. (BÍBLIA SAGRADA,

Mateus, 1996).

Para PLATÃO, BUDA E CRISTO existe assim uma origem e um retorno a

essa origem. Platão denominou essa origem de Mundo Perfeito das Idéias, Buda de Nirvana

e Cristo de Céu.

Com o objetivo de ampliar nossa visão sobre a possível inter – relação entre o

mundo físico e o mundo espiritual, consideramos também importante fazer uma citação

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sobre as pessoas denominadas médiuns e sobre as pesquisas de cientistas que buscam

estabelecer a comunicação entre esses dois mundos através de aparelhos eletrônicos.

Existem indivíduos denominados médiuns, pessoas mentalmente saudáveis,

com história pessoal clínica isenta de indicação de delírio e/ou alucinação, que são capazes

de penetrar conscientemente na dimensão espiritual e comunicar – se com ela. VAN

PRAAGH (1998) espiritualista, médium e pesquisador, define mediunidade como a

capacidade de se escutar pensamentos, vozes, impressões mentais do mundo espiritual.

Divide a mediunidade em várias categorias. A primeira, e mais comum, é a mediunidade

mental que utiliza - se da área mental intuitiva e não da área racional e lógica. Este tipo de

mediunidade manifesta – se de diversas maneiras: clarividência, clariaudiência, telepatia,

clarisensibilidade, pensamentos inspiradores. Um segundo tipo de mediunidade é a física,

onde o corpo físico desempenha papel importante. A mediunidade física é produzida pelo

ectoplasma, substância que foi descoberta pelo Dr. Charles Richet, fisiologista francês,

depois de observar uma substância nebulosa que emanava do corpo de diversos médiuns. O

ectoplasma é invisível e ainda assim varia de estado e de densidade. Pode aparecer como

gás, líquido ou como algo semelhante a uma gaze. Não tem cor, cheiro e pesa em torno de

8,6 gramas por litro. Pode ser encontrado na maioria das pessoas, mas é especialmente

desenvolvido nos médiuns. O ectoplasma pode emergir dos ouvidos do médium, da boca,

do nariz, ou da área umbilical. Esse material viscoso pode ser utilizado para produzir os

seguintes fenômenos: Caixa de Voz, Materialização, Transporte, Cura Espiritual e

Fotografia Espiritual, os quais, atualmente, estão sendo estudados por vários cientistas

ligados às ciências exatas como físicos e engenheiros.

VAN PRAAGH (1998) não é um cientista. É um espiritualista, um médium,

mas mesmo assim decidi dedicar algum espaço para o conhecimento por ele transmitido

neste presente estudo porque este médium, com a capacidade psíquica de se comunicar

através da área mental intuitiva com o mundo espiritual, têm ajudado milhares de famílias

que perderam um ente querido. VAN PRAAGH (1998) faz o papel de intérprete,

transmitindo a mensagem que recebe telepáticamente dos espíritos para seus familiares. Seu

trabalho indica veracidade, pois transmite detalhes nas suas informações, que apenas são

conhecidos pela família, ou mesmo, esclarece situações que só a pessoa falecida tinha

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conhecimento e posteriormente podem ser comprovadas. VAN PRAAGH (1998) afirma

que é impressionante para ele, que tantas pessoas acreditem ainda que quando morremos,

deixamos de existir. Coloca que o trabalho que executa é válido também no sentido de

modificar esse ponto de vista e de esclarecer as pessoas sobre algo que existe além dos

sentidos físicos. Pontua que no momento que transmite a mensagem de um espírito para um

ente querido seu, no plano terreno, a vida desta pessoa se transforma para sempre. Pondera

também que o maior inimigo do homem é o medo, principalmente o medo da perda. Para

algumas pessoas esse medo que inclui o medo da morte é tão forte que bloqueia e

impossibilita o indivíduo de usufruir a felicidade que a vida lhe oferece. Com seu trabalho

procura desmistificar esse medo da morte, apresentando dados conclusivos sobre o fato da

morte se limitar ao fim, apenas, do corpo físico e o Ser ou “Self” ou Espírito, continuar

vivendo em outro plano, no plano espiritual.

VON FRANZ (1984) que é uma cientista, discípula de Jung, coloca que no

inconsciente há um Conhecimento, que Jung denominou Conhecimento Absoluto. Isto

significa que o inconsciente pode conhecer coisas, que não podemos conhecer

conscientemente, de forma que todas as provas ou declarações de identidades dos espíritos

nas sessões mediúnicas podem ser explicadas como manifestações do inconsciente grupal

dos participantes e não como comunicações genuínas dos mortos. Segundo esta cientista,

VON FRANZ (1984) somente os fenômenos de materialização, (produzidos pelo

ectoplasma acima citado), é que não são diretamente afetados por esse argumento.

Entretanto VON FRANZ (1984) acredita que os mortos ocasionalmente se manifestem em

eventos parapsicológicos, embora no momento em que a autora escreva isto não lhe pareça

possível que a comunicação mediúnica com os espíritos possa ser provada de modo

inequívoco.

Conforme citamos acima, além da comunicação mediúnica (Transcomunicação

das pessoas vivas com os espíritos dos mortos, através da mente de um médium – T.C.M.),

existem também esforços de cientistas da área das ciências exatas para que essa

comunicação possa acontecer através de aparelhos eletrônicos. Esta qualidade de

comunicação foi denominada por estes pesquisadores como Transcomunicação

Instrumental, (T.C.I.). Faremos a seguir uma breve retrospectiva histórica destas pesquisas,

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baseados nas citações de ANDRADE (1997), descritos a seguir.

1 - Esforços Iniciais para Contatar os Mortos:

1928: Thomas Edison trabalha com equipamentos que espera, irão permitir a comunicação com

os mortos, usando um aparelho químico com permanganato de potássio.

1936: Attila von Szalay começa a experimentar com um gravador e reprodutor de sons a

agulha, marca Packard – Bell, tentando vozes paranormais por meio de gravações em fonógrafo. Ele consegue

algumas vozes mas a qualidade é pobre.

1947: Attila von Szalay adquire um gravador de fio Sears Roebuck e obtém vozes de uma certa

qualidade, mas o fio é muito fino e muitas vezes fica tão emaranhado que este método é também abandonado.

1950: “Princípios de Attila” - Attila von Szalay começa experimentando com gravador de fita

magnética e capta vozes, algumas das quais são inteiramente claras.

2 – O Fenômeno das Vozes Eletrônicas (o Estágio do Gravador Eletrônico e Microfone):

1956: Raymond Bayless junta – se com Von Szalay nos experimentos e escreve um artigo para

o Journal of American Society for Psychical Research em 1958 e publicado em 1959.

1959: Friedrich Juergenson, um artista e produtor de filmes, vai a um bosque para gravar cantos

de pássaros. Ao reproduzir os sons gravados ele descobre vozes paranormais. Após quatro anos (1963) de

gravações experimentais, ele convoca uma conferência internacional de imprensa para anunciar ao mundo o

que havia descoberto.

1964: O primeiro livro de Juergenson sobre este assunto aparece em Estocolmo com o título:

“Roesterna fraen Rymden” (Vozes do Universo).

Attila von Szalay capta vozes de seus parentes falecidos, em fita magnética, pela primeira vez.

1965: Dr. Konstantin Raudive, um psicólogo e filósofo letão, visita Juergenson, conclui que o

fenômeno é genuíno e começa seus próprios experimentos em Bad Krozingenm, Alemanha.

1967: Thomas Edison fala, através do clariaudiente da Alemanha Ocidental Sigrun Seutemann

em transe, acerca de seus primeiros esforços em 1928 para desenvolver um equipamento para gravar vozes do

Além. Edison também faz sugestões de como modificar aparelhos de tevê e sintonizá – los em 740 megahertz

para obter efeitos paranormais. (Sessão gravada em fita magnética por Paul Affolter, Liestal, Suíça).

Franz Seidl, Viena desenvolve o psicofone.

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Theodor Rudolph desenvolve um goniômetro para os experimentos e Raudive.

1968: Padre Leo Schmid, Oeschgen, Suíça, foi designado para uma pequena paróquia visando

dar a ele tempo de experimentos com vozes gravadas. Seu livro “Wenn die Toten Reden” (Quando os Mortos

Falam) foi publicado em 1976, pouco depois de sua morte.

Raudive publica seu livro, “Unhoerbares wird Hoerbar” (O Inaudível Torna – se Audível),

baseado em 72 mil vozes que ele gravou.

1971: Colin Smythe, Ltd., Inglaterra, publica uma tradução inglesa ampliada do livro de

Raudive Breakthrough: Na Amazing Experiment in Eletronic Communication with the Dead.

Marcelo Bacci e colaboradores em Grosseto, Itália, faz contatos semanais com Espíritos

comunicadores, pesquisa que ainda acontecia em 1988.

1972: Peter Bander, Inglaterra, escreve livros sobre vozes, “Carry on Talking”.

Durante os anos de 1970 e 1980, duas organizações – membros da Europa e uma dos EUA são

formadas para experimentar, bem como estudar as implicações do EVP (Fenômeno das Vozes Eletrônicas). A

VTF (Verein fuer Tonbandstimmenforschung) e a FGT (Forschungsgemeinschaft fuer Tonbanstimes) na

Alemanha e a AA-EVP (American Association: Eletronic Voice Phenomena) nos EUA, fundada por Sarah

Estep. Hannah Buschbeck fundou a VTF em 1975, mais tarde dirigida por Fidelio Koeberle. A FGT foi

dirigida por Hans Otto Koenig quando começou em 1984 e o Dr. Ralf Determeyer editou sua publicação, Die

Parastimme.

1973: Joseph e Michael Lamoreaux, estado de Wasington tiveram sucesso com a gravação de

vozes paranormais depois de ler o livro de Raudive, Breakthrough.

1975: William Addams Welch, um roteirista e dramaturgo de Hollywood, escreve “Talks with

the Dead”.

3 – A Pesquisa Spiricom:

1971: Paul Jones, George William Meek e Hans Heckmann, americanos, abrem um laboratório.

Primeira pesquisa séria para criar um sistema de comunicação de voz em dois sentidos, bem mais sofisticado

do que o equipamento usado na abordagem EVP.

1978: William J. O’Neil, usando uma faixa lateral de rádio modificada, tem breve contato com

um médico americano que disse haver morrido cinco anos antes.

1982: George William Meek faz uma viagem ao redor do mundo para distribuir registros

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gravados em fita magnética de 16 excertos da comunicação entre William J. O’Neil e um cientista americano

que morrera 14 anos antes. George William Meek também distribui um relatório técnico e orientação para

pesquisa por outros. Ao retornar, convocou uma conferência com a imprensa em Washington, D.C. e

distribuiu os minicassetes e os manuais técnicos para os representantes da imprensa, rádio e tevê.

4 – Sistemas Instrumentais Sofisticados

(Somente Voz):

1982 – 88: Hans Otto Koenig, Alemanha Ocidental, desenvolve sofisticado equipamento

eletrônico, usando osciladores com freqüências de batimento extremamente baixas, luzes ultravioleta e

infravermelha etc.

1985 – 88: Jules e Maggy Harsch – Fischbach, Luxemburgo, com ajuda espiritual, desenvolvem

e operam dois sistemas eletrônicos, superiores a qualquer um dos equipamentos EVP construídos até então.

Essa comunicação torna – se significativamente mais confiável e repetível do que os sistemas desenvolvidos

anteriormente.

5 – Fotografias de Pessoas Falecidas, em Tubo de Imagens de Tevê:

1980 – 81: Manfred Boden, Alemanha Ocidental, obtém sem haver solicitado a impressão em

um computador, de espíritos comunicadores.

1984 – 85: Kenneth Webster,Inglaterra, recebe (via vários computadores diferentes), 250

comunicações de uma pessoa que vivera no século XVI. A maioria das impressões são em texto inglês

consistente com a linguagem daquela época da história e os detalhes pessoais inteiramente confirmados por

pesquisa bibliográfica.

1987 – 88: Jules e Maggy Harsch-Fischbach estabelecem demorado contato por computador,

com soberba orientação e assistência de colaboradores de um outro mundo. Isto permite a submissão de

questões técnicas, com a impressão em alta velocidade no computador, das respostas cuidadosamente

consideradas.

7 – Uso do Sistema Telefônico para Comunicação em dois Sentidos:

1960 / 1970: Scott Rogo e Raymond Bayless, americanos, conduzem extensa pesquisa literária

e publicam um livro, Phone Calls from the Dead (1979). Eles relatam muitos casos bem documentados de

recém – falecidos tentando comunicar – se com seus desolados sobreviventes, sobre “negócios inacabados”.

1981 – 1983: Manfred Boden tem contato não solicitado com comunicadores de evolução não –

humana. Recebeu inúmeras contas telefônicas devidas a chamadas não solicitadas.

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1988: Jules e Maggy Harsch – Fischbach, com notável orientação e cooperação dos planos

superiores, utilizam uma secretária eletrônica para receber chamadas telefônicas chegadas sem ser solicitadas,

de um cientista colaborador no mundo espiritual. A voz é clara, facilmente inteligível e substancialmente livre

de estática. Esta atividade continua em desenvolvimento.

Do dia 31 de agosto a 04 de setembro de 1995, na cidade de Dartington Hall, Inglaterra, foi

levado a efeito uma reunião de caráter internacional, com a participação de diversos representantes da TCI

dos EUA, Europa e Brasil. O objetivo dessa reunião foi criar uma Rede Internacional que agregasse os

transcomunicadores do Mundo todo, porém sem o caráter de uma “organização piramidal”, isto é, que fosse

uma espécie de “rede” sem nenhuma chefia suprema. Sônia Rimaldi é a responsável pela malha de língua

portuguesa “. (ANDRADE, 1997).

Para finalizar a revisão bibliográfica sobre a integração da Espiritualidade no

contexto acadêmico, relatamos que no século XIX, a esposa de Henri Guillaumet, médico

neurologista, colaborador de Charcot no Hospital Salpetriere, foi curada de tuberculose

importante, avançada, pela água milagrosa que brotava da gruta, onde Nossa Senhora de

Lourdes aparecia para a camponesa e posteriormente enfermeira Bernadete Saubirous. Esse

médico concluiu, após experimentar um profundo conflito entre acreditar apenas nos dados

obtidos pela ciência clássica, racional, concebida por Descartes ou aceitar a existência de

uma realidade que transcende a percepção dos cinco sentidos, que um cientista não pode

temer a Verdade. Deus não nega a ciência e a ciência não exclui Deus, o Criador.

(GASPARINI, 2000).

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CAPÍTULO 3: JUSTIFICATIVA

Desde minha adolescência sempre me perguntei: Qual o sentido da vida? Quem

sou? Por que e para que estamos aqui na Terra, vivendo uma existência? O que é vida? O

que é morte? Por que sofremos? Somos apenas corpo físico, matéria?.

A busca pelas respostas dessas perguntas sempre direcionou todas as minhas

escolhas, em todos os campos da minha vida.

Na minha formação pessoal recebi na área acadêmica, sólida base intelectual,

tendo sempre estudado em boas escolas, mas, embora esta instrução tenha sido ferramenta

muito importante para meu desenvolvimento, não foi suficiente, porque apenas com a

intelectualidade não teria encontrado caminhos para responder às perguntas acima

formuladas. E assim, desde abril de 1989, tive o grande privilégio de me tornar aluna do

TETRAGRAMA Instituto de Estudos Holísticos aonde, no caminho do autoconhecimento,

venho descortinando quem sou, equilibrando e integrando razão e espírito, desenvolvendo

meu potencial e dando um sentido útil para ele.

Este estudo de Mestrado é um dos resultados que alcancei no caminho do

autoconhecimento.

O nosso século está marcado, desde o início por descobertas importantes no

campo da Física, da Medicina, da Biologia e da Psicologia.

A Física Quântica veio mostrar que as partículas subatômicas não são os

objetos sólidos da Física Clássica, mas sim entidades abstratas que possuem uma natureza

dual simultânea, ou seja, dependendo do meio ambiente com o qual interagem, ora

apresentam - se como ondas, ora como partículas. (CAPRA, 1982).

Desde o início do século, tem sido reconhecido que o padrão de organização de

um sistema vivo é sempre um padrão de rede que produz continuamente a si mesma, ou

seja, a função de cada componente consiste em participar da produção ou da transformação

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dos outros componentes da rede, de forma que essa referida rede é produzida pelos seus

componentes, em uma relação sistêmica circular e não dentro de uma concepção mecânica

e reducionista, como havia concebido Descartes. (CAPRA, 1996).

EINSTEIN, no começo do século XX, estudou e comprovou através de sua

célebre formula E = Mc2 (energia é igual à massa vezes a velocidade da luz ao quadrado),

que energia e matéria são polaridades de uma mesma substância*.

No campo da Psicologia, grandes médicos como Freud e Jung trouxeram para a

ciência o conhecimento do funcionamento do aparelho psíquico aonde nossas ações não são

movidas apenas pela Consciência e sim, principalmente, pelos conteúdos do Inconsciente e

por símbolos arquetípicos existentes no Inconsciente Coletivo.(ELIAS & GIGLIO, 2000).

Com o desenvolvimento da pesquisa psicossomática começou - se a pensar

sempre numa possível influência psicológica na gênese de qualquer doença, tal é a

importância da mente em nossos processos biológicos. “Granel, autor de vários trabalhos

sobre a gênese inconsciente de situações de acidente, abordando o problema da

intencionalidade no determinismo dos fenômenos humanos, tão esquecido do médico

prático, que pensa geralmente apenas em termos de ações casuais, diz - nos a este respeito:

A pessoa adoece com alguém, por alguém e para alguém. Perguntemo - nos sempre: que se

propõe o paciente com este sintoma? Quem é o seu destinatário? Em função de que

situação ambiental foi criado?”. (MELLO FILHO, 1979).

Segundo MARTY (1993) o homem é psicossomático por definição, ou seja, ele

é um todo que compreende psique (cognição e emoção) e soma. Se em algum momento é

dada ênfase ao psíquico ou ao somático, isso não implica em uma posição dualista, mas sim

na consideração dos movimentos psíquicos, dos somáticos e principalmente das relações

entre esses movimentos no paciente.

Compartilhamos da concepção que toda doença humana é psicossomática, já

que incide em um ser sempre provido de soma e psique, inseparáveis, anatômica e

funcionalmente. E neste mesmo sentido, a divisão de doenças em orgânicas e mentais é

* EINSTEIN apud CAPRA , F. - O Ponto de Mutação. 20° edição, São Paulo, Editora Cultrix, 1982, 447p.

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acima de tudo um problema de classificação de formas clínicas, já que todas as doenças

orgânicas sofrem, inevitavelmente, influências da mente de quem as apresenta e as doenças

mentais são traduzidas em sua intimidade última, por processos bioquímicos que, de resto,

acompanham todos os movimentos do viver. Em última instância, os processos biológicos,

mentais ou físicos, são simultâneos, exteriorizando - se predominantemente numa área ou

noutra, conforme a sua natureza ou o ângulo sob o qual estão sendo observados. (MELLO

FILHO, 1979).

A Medicina Ocidental vem reconhecendo como científicos tratamentos

relacionados a centros de energia como a Homeopatia e a Acupuntura, uma área da

Medicina Chinesa. A Associação Médica Brasileira (A.M.B.), por exemplo, reconheceu a

Acupuntura como Especialidade Médica através da Resolução 1455 / 95.

A Psiconeuroimunologia, uma área de “interface” entre a Psicologia e a

Medicina, tem demonstrado que os sistemas: psíquico, neuroendócrino e imunológico são

interligados.

As Terapias Alternativas foram reconhecidas pelo Conselho Federal de

Enfermagem (COFEN) como especialidade e / ou qualificação do profissional de

Enfermagem pela Resolução 197. A Técnica Reiki, tratamento de origem oriental, cujo

princípio se baseia na transmissão de ‘energia cósmica’ pelas mãos favorecendo a saúde, é

uma das Terapias Alternativas reconhecidas pelo Conselho Federal de Enfermagem.

A Terapia Reiki também é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde

(O.M.S.) como uma Terapia Complementar. (MAC NEED MAN, 2000).

Vivemos, no plano social, nas ultimas décadas, uma crise de dimensões

intelectuais, morais e filosóficas motivadas pela real ameaça de extinção da raça humana e

da vida no planeta. (CAPRA, 1982). Essa crise e as novas descobertas cientificas acima

descritas estão levando cientistas a reverem suas concepções cartesianas, racionais, duais e

reducionistas que norteiam o pensamento científico e construírem novas bases, ou seja, a

Nova Ciência. (ELIAS & GIGLIO, 2000).

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Em outubro de 1987, num seminário inédito*, realizado em Brasília e

promovido pelo CNPq e MEC, reuniram-se representantes de microempresas dos Estados

Unidos, Japão, e Suécia, corporações e institutos, ecologistas, cientistas sociais, filósofos,

psicólogos, físicos, químicos, geógrafos e engenheiros com o objetivo de examinar a visão

da ciência na sociedade ocidental frente aos paradigmas vigentes e seus impactos sócio -

econômicos. Reconheceu - se, nesse evento, que vivemos no reino do conhecimento

racional, que é por excelência, o reino da ciência. Para os partidários das novas idéias o

conhecimento racional já não é suficiente para sozinho, explicar e movimentar o mundo.

Valores como espírito, intuição e emoção, ou que outro nome se queira dar a essas coisas

estranhas ao pensamento científico, racional, terão de ser incluídos na visão ocidental de

mundo.

Na Comunidade Médica Científica de todo o planeta, começaram a ser

publicados trabalhos indicando a ampliação da visão de ser humano de biopsicossocial para

a visão biopsicossocial e espiritual. Em uma pesquisa na base de dados Medline,

encontramos em torno de cem trabalhos publicados envolvendo a questão da

Espiritualidade e pontuando a importância de sua inclusão na Ciência. BRADY et al

(1999), afirmaram que a grande maioria dos instrumentos para medir Qualidade de Vida em

Oncologia não inclui espiritualidade como um elemento importante, mas, frente aos

resultados que obteve em sua pesquisa, observou que o bem - estar espiritual é tão

importante quanto o bem - estar físico e concluiu que o modelo de ser humano para se

medir Qualidade de Vida em Oncologia, deve ser o biopsicossocial e espiritual. MYTKO &

KNIGHT (1999) concluem em seus estudos, que a inclusão regular de aspectos religiosos e

espirituais em estudos de Qualidade de Vida são necessários para melhor compreender - se

e trabalhar - se a integração corpo, mente, espírito no tratamento do câncer e recomendam

que o Currículo de cursos como Medicina, Enfermagem e outros da área da Saúde devem

ser revistos de forma apropriada, incluindo aspectos espirituais. GIOIELLA, BERKMAN,

ROBINSON (1998) publicaram artigo relatando que os resultados de seus estudos com 80

mulheres portadoras de câncer ginecológico suportam a inclusão da espiritualidade como

parte da rotina de avaliação e intervenção dos pacientes e que esta inclusão pode ajudar a

*Seminário promovido pelo CNPq e MEC apud SCHILER, E. - O Conceito de Dor Total no Câncer. In

SCHULZE, C. (org.) – Dor no Câncer. São Paulo, Robe Editorial, 1997, p.59.

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diminuir o nível da angústia psicossocial do paciente. FRYBACK & REINERT (1999)

realizaram um estudo qualitativo para investigar como pacientes portadores de uma doença

com prognóstico ruim em algum grau, vivenciam essa fase de suas vidas, a qual consideram

como crítica. Trabalharam com 10 mulheres portadoras de câncer e 05 homens portadores

de HIV – AIDS. Os resultados sugeriram que espiritualidade é um componente essencial

para sentimentos de saúde e bem estar. A maioria entre os entrevistados consideraram

espiritualidade como uma ponte entre esperança e falta de sentido na vida. Os pacientes que

encontraram significado neste conceito de espiritualidade após terem ficado doentes,

apresentaram melhor Qualidade de Vida neste período do que a que tiveram antes do

diagnóstico. BURTON (1998) demonstrou que a espiritualidade / religiosidade é um

elemento significativo na vida da maioria dos americanos e possui uma função importante

no enfretamento de períodos de crise como câncer. Por esta razão os profissionais da área

de saúde deveriam aprender a usar apropriadas avaliações de protocolos e incluir

apropriadas intervenções espirituais / religiosas em sua prática profissional. PUCHALSKI

& LARSON (1998) escreveram sobre a importância do desenvolvimento curricular da

Espiritualidade nos cursos de Medicina e afirmaram que as escolas médicas devem começar

a ensinar os seus alunos a lidarem com os interesses espirituais dos pacientes e os sistemas

de saúde devem começar a prover experiências práticas para cuidados compassivos.

Pontuaram, no seu artigo, que pesquisas com pacientes e alguns membros da comunidade

médica mostraram que médicos, de forma geral, esqueceram a compaixão na prática

profissional e na maioria das vezes ignoram os interesses espirituais dos pacientes.

Concluíram, frente aos dados colhidos, que o médico do século XXI deverá, além de

desenvolver excelente habilidade técnica, ser também cuidador compassivo que respeita

todas as dimensões da vida do paciente. THOMSEN (1998) afirmou que corpo, mente e

espírito estão integralmente conectados mas no Ocidente, o treinamento médico tem se

limitado aos aspectos físicos mensuráveis e às necessidades psíquicas, mantendo – se alheio

às necessidades espirituais dos pacientes. Afirmou que uma revisão do ensino médico se faz

necessária, visto que a inclusão da aprendizagem sobre aspectos espirituais, na prática dos

profissionais da área médica, ainda não é uma parte típica dos currículos das escolas de

medicina, porém é algo que os pacientes querem e esperam, como parte dos cuidados

médicos a eles oferecidos.

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82

No cenário brasileiro VASCONCELLOS (2000) relata que numa memorável

reunião da Comissão Científica do XII Congresso Brasileiro de Medicina Psicossomática,

que foi realizado de vinte e oito de abril a primeiro de maio de dois mil, em São Paulo,

discutiu – se sobre a pertinência de se inserir no programa científico daquele evento a

questão da Espiritualidade. Com rapidez e facilidade os membros da Comissão Científica

chegaram ao consenso de inserir essa discussão no âmbito do fórum mais importante

daquela associação, o Congresso.

Observamos, desta forma, que a Comunidade Científica Médica do planeta está

publicando, nos últimos anos, textos que afirmam a importância de se desenvolverem

estudos que incluam a questão da Espiritualidade na prática de profissionais da área de

saúde. É exatamente a esta demanda que esta Pesquisa se reporta.

Interessante observar que no século XV, Paracelso já pontuava sobre a

importância de se integrar aspectos espirituais à prática médica.

PARACELSO no Liber de Caducis faz as seguintes referências sobre a atitude

do médico em relação ao doente: “Em primeiro lugar, e antes de mais nada, é preciso

mencionar a compaixão que deve ser inata no médico. Onde não existe amor, não haverá

arte e do trabalho com amor será alcançada a arte da medicina. O médico deve estar

imbuído de não menos compaixão e amor, do que Deus tem para com os homens.*

Essa referida pesquisa teve origem em sete casos que esta Pesquisadora

acompanhou: três adolescentes e quatro crianças que foram a óbito e os quais foram

considerados o Projeto - Piloto desta Dissertação. (ELIAS, 1999; ELIAS et al, 1999;

ELIAS, 2000).

De forma geral, com esses sete pacientes, observamos que todos puderam

despedir-se dos seus familiares e falecer cercado pelo afeto destes. Todos foram a óbito

com dignidade moral, emocionalmente amparados e mentalmente em paz. Os pais puderam

lidar com sua dor e expressar seus sentimentos e emoções com os seus filhos ainda em

vida.

* PARACELSO apud JUNG, C.G. - Obras Completas. Petrópolis, Editora Vozes, 1986, vol. XV, p.10 – 27.

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Refletindo sobre os resultados obtidos com esses sete pacientes e fundamentada

em dois dos Princípios Básicos* que devem nortear um Programa de Cuidados Paliativos

segundo a Organização Mundial de Saúde: “oferecer alívio da dor e de outros sintomas que

causem sofrimento” e “integrar aspectos psíquicos e espirituais nos cuidados paliativos”.

Também fundamentada em citações como a de PIMENTA (1999), a qual afirma que “o

controle de sintomas objetivando mais conforto, independência e preservação da dignidade

da pessoa deve ser prioridade de qualquer atendimento em saúde, especialmente naqueles

portadores de quadros crônicos”, esta psicóloga considerou de grande importância social

um estudo mais sistemático sobre esta forma de abordar e tratar o Paciente Fora de

Possibilidade de Cura.

Escolhemos trabalhar com pacientes a partir de 14 anos, pois temos interesse

em abordar a questão da Espiritualidade integrada às técnicas de Relaxamento Mental e

Visualização de Imagens Mentais.

Do ponto de vista filosófico desenvolvemos esse estudo porque compartilhamos

do pensamento de SÓCRATES, filósofo grego da séc. V AC, o qual diz que nos

encontramos no conhecimento de uma única ciência: a do Amor.

* ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) apud KOVÁCS, M.J. – Pacientes em estágio avançado

da doença, a dor da perda e da morte. In CARVALHO, M.M.J. (org.) - DOR, Um Estudo Multidisciplinar. São Paulo, Summus Editorial, 1999, p.318 – 337.

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CAPÍTULO 4: OBJETIVOS

4.1. OBJETIVO GERAL

Estudar qualitativamente a eficácia de intervenção psicoterapêutica para

pacientes terminais, construída através da integração das técnicas de Relaxamento Mental e

Visualização de Imagens Mentais com o conceito de Espiritualidade, dentro das premissas

da Psicoterapia Breve de Apoio para Serviços Hospitalares, com o objetivo de re -

significar a Dor Simbólica da Morte, durante o processo de morrer, de pacientes fora de

possibilidade de cura.

4.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

4.2.1. Delinear de forma clara e sistemática a intervenção psicoterapêutica para

pacientes terminais: Relaxamento Mental, Imagens Mentais e Espiritualidade,

que visa re - significar a Dor Simbólica da Morte desses pacientes, para que

outros profissionais da área de saúde possam vir a utilizar essa técnica com seus

próprios pacientes.

4.2.2. Identificar a Dor Simbólica da Morte, representada pela Dor Psíquica e pela Dor

Espiritual, durante o processo de morrer.

4.2.3. Estudar qualitativamente a possibilidade deste método, construído através da

integração das técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de Imagens

Mentais com o conceito de Espiritualidade, produzir transformações positivas

no universo psíquico das pacientes fora de possibilidade de cura frente à Dor

Simbólica da Morte, promovendo Qualidade de Vida durante o processo de

morrer e morte serena e digna.

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CAPÍTULO 5: SUJEITOS E MÉTODOS

5.1. PROJETO - PILOTO

Realizou – se preliminarmente atendimento a sete pacientes, sendo três

adolescentes (14 – 17 anos) e quatro crianças (22 meses – 11 anos), portadores de câncer e

que foram a óbito. As técnicas trabalhadas com os adolescentes foram Relaxamento Mental

induzido por respiração lenta e profunda e músicas instrumentais suaves escolhidas por

cada um deles e Visualização de Imagens Mentais orientada por filmes e histórias infanto -

juvenis com enredos pertinentes aos seus históricos de vida e ao medo da morte e técnica de

visualização, propriamente dita, utilizando-se dissociação, sugestão indireta e sugestão

direta. Com as crianças as técnicas utilizadas foram Relaxamento Mental induzido por

músicas de ninar e Visualização de Imagens Mentais orientada por jogos e brincadeiras

lúdicas, histórias infantis sobre um mundo belo com motivos infantis, por onde se chega

através de um caminho dourado de sol e livro com figuras coloridas e bonitas. Os pais dos

sete pacientes foram atendidos em Terapia Breve tanto no pré como no pós-óbito. (ELIAS,

1999; ELIAS et al, 1999; ELIAS, 2000).

5.2. SUJEITOS

5.2.1. Tamanho Amostral

Fizeram parte desta pesquisa, cinco pacientes fora de possibilidade de cura,

adultas. Segundo KVALE (1996) é comum, pesquisadores perguntarem quantos sujeitos

precisam entrevistar e para tal pergunta a resposta é simples: entrevistem quantos sujeitos

forem necessários para colher os dados que precisam. O número de sujeitos depende do

propósito do estudo. Foram selecionados cinco pacientes porque consideramos que esse é

um número adequado para coleta de dados de estudo de caso clínico longitudinal no

período hábil de um ano e também, porque acreditamos ser este um número suficiente para

cumprirmos com as propostas apresentadas no Objetivo Geral e nos Objetivos Específicos.

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5.2.2. Seleção dos Sujeitos

Os critérios para inclusão das pacientes nessa pesquisa foram:

5.2.2.1. Condições Clínicas

Pacientes, mulheres, com câncer, tratadas na Divisão de Oncologia do CAISM /

UNICAMP, diagnosticadas pela Equipe Médica como fora de possibilidade de cura, ou

seja, pacientes que não responderam ao tratamento oncológico e entraram em fase terminal,

isto é, passaram da fase curativa para a fase dos cuidados paliativos, segundo parecer dos

médicos responsáveis pelo caso.

As pacientes, neste trabalho citadas, a partir do momento em que aceitaram

submeter – se a esta intervenção psicoterapêutica: Relaxamento Mental, Imagens Mentais e

Espiritualidade, não foram mais atendidas pela psicóloga ou pelas estagiárias do Setor

Multidisciplinar de Cuidados Paliativos do CAISM / UNICAMP, onde o Serviço de

Psicologia também se insere, e passaram a estar, em relação aos Serviços de Psicologia, sob

responsabilidade desta psicóloga - pesquisadora.

5.2.2.2. Faixa Etária

Definimos, quanto a faixa etária, trabalhar com pacientes a partir de quatorze

anos.

ELKIND (1975), baseado nos estudos de Piaget, afirma que a partir dos

quatorze anos o ser humano já atingiu o nível de operações formais, o qual permite ao

indivíduo pensar sobre seus pensamentos, construir ideais e raciocinar realisticamente sobre

o futuro. As operações formais capacitam também a pessoa a raciocinar sobre proposições

contrárias aos fatos e tornam igualmente possível a compreensão de metáforas. Nenhum

novo sistema mental aparece depois do período das operações formais, que são o terreno

comum do pensamento adulto.

Trabalhando com pacientes a partir de 14 anos, frente ao acima exposto,

pudemos padronizar os instrumentos que foram utilizados na pesquisa e analisar os

resultados específicos do estudo, dentro de uma mesma faixa de desenvolvimento mental.

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Por outro lado, como tivemos crianças no Projeto - Piloto, pudemos compará – las na

Discussão com as pacientes do estudo de Mestrado, propriamente dito.

5.2.2.3. Crença na Vida Espiritual após a Morte

Esse estudo teve como pressuposto a crença na vida espiritual após a morte.

Este pressuposto, nessa pesquisa, não foi vinculado a nenhuma religião ou credo religioso e

sim aos estudos e pesquisas de KÜBLER – ROSS (1998) e MOOD JR, (1989, 1992).

Portanto foi aspecto irrelevante a religião ou credo religioso das pacientes. Estas puderam

ser filiadas a qualquer Religião ou Credo e suas crenças específicas foram totalmente

respeitadas.

Por outro lado, foi critério para inclusão na pesquisa que a paciente acreditasse

em uma vida espiritual após a morte, visto este ser um dos principais pressupostos do

método proposto neste estudo.

5.3. VARIÁVEIS

5.3.1. Variável Putativa: Qualidade de Vida

5.3.2. Variáveis Intervenientes:

Dor Psíquica: Medo do sofrimento e humor depressivo, (tristezas, angústias e

culpas frente às perdas).

Dor Espiritual: Medo da morte e do pós – morte, idéias e concepções em

relação à espiritualidade, sentido da vida e da morte e culpas perante Deus.

5.4. MÉTODO

Pesquisa Qualitativa com enfoque subjetivista - compreensivista sobre

Intervenção Psicoterapêutica em Estudo de Caso Clínico Longitudinal, utilizando - se como

instrumento para coleta de dados a Entrevista Semi - Estruturada.

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5.5. MATERIAIS

Os materiais necessários para o desenvolvimento desse estudo foram:

- Computador e Impressora

- Aparelho de Som

- Livros de Histórias com conteúdos que fossem pertinentes a história de vida

dos pacientes, a suas principais angústias, medos, conflitos, relacionados à Dor Psíquica e à

Dor Espiritual durante a experiência do morrer.

- Músicas dos tipos: Instrumental Clássica ou Popular com ritmo suave, “New

Age”, Música Intuitiva, Instrumental para Crianças, respeitando - se sempre o gosto do

paciente.

- Unidade de Saúde que atendesse pacientes a partir de 14 anos fora de

possibilidade de cura. Esta unidade foi a Divisão de Oncologia do CAISM – UNICAMP.

5.6. PROCEDIMENTOS

5.6.1. Coleta de Dados

5.6.1.1. Coleta de Dados sobre a da Dor Simbólica da Morte

Antes do início dos atendimentos foi feita, pela pesquisadora, a identificação do

histórico clínico da paciente através do prontuário desta e / ou através de contatos com os

profissionais que a atenderam.

Os dados, sobre a Dor Simbólica da Morte da paciente fora de possibilidade de

cura, foram colhidos, durante as sessões de atendimento psicoterapêutico com estas

pacientes para aplicação do método proposto neste estudo, através de Entrevista Semi -

Estruturada, orientada pelos temas descritos nos Anexos 1 e 2 e complementados por

Entrevista Semi -Estruturada orientada pelos temas descritos no Anexo 3, com familiares /

cuidadores, durante as sessões de orientação familiar.

Os dados sobre a natureza da Dor Simbólica da Morte de cada paciente,

representada pela Dor Psíquica e pela Dor Espiritual, começaram a ser colhidos na primeira

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sessão mas, durante todo o processo de atendimento até o óbito, o material de cada sessão

teve duplo enfoque: por um lado, foi utilizado para posterior análise dos resultados sobre a

possibilidade deste método ter promovido Qualidade de Vida durante o processo de morrer

e morte serena e digna, e por outro, foi utilizado como coleta de dados para o trabalho

psicoterapêutico da sessão seguinte. Na Pesquisa Qualitativa a coleta e a análise dos dados

não são divisões estanques; as informações que se recolhem, geralmente, são interpretadas

e isto pode originar a exigência de novas buscas de dados. O denominado ‘relatório final’

da Pesquisa Quantitativa naturalmente que existe na Pesquisa Qualitativa, mas ele se vai

constituindo através do desenvolvimento de todo o estudo e não é exclusivamente resultado

de uma análise última dos dados. (TRIVIÑOS, 1987). Desta forma a coleta e a análise de

dados aconteceram de forma simultânea e interativa durante todo o processo da pesquisa,

até o relatório final.

Em relação à composição dos dados, os tópicos principais sobre a Dor

Simbólica da Morte (Anexos 1, 2, 3), foram anotados durante as sessões e desenvolvidos

até o dia subseqüente, para se garantir que esses dados não se perdessem. Estas sessões,

contendo a intervenção psicoterapêutica desenvolvida nesta pesquisa e que inclui as

entrevistas semi – estruturadas para coleta dos dados da Dor Psíquica e da Dor Espiritual de

cada paciente, não foram gravadas, pois esta variável ‘gravação’ poderia interferir na

naturalidade do atendimento e conseqüentemente na qualidade dos resultados alcançados.

5.6.1.2. Coleta de Dados sobre a re - significação da Dor Simbólica da

Morte

Os dados sobre a possibilidade da Dor Simbólica da Morte da paciente fora de

possibilidade de cura ter sido re - significada através do método proposto nesta pesquisa,

foram colhidos através do material das próprias sessões de atendimento psicoterapêutico

com estas pacientes e complementados por Entrevista Semi - Estruturada orientada pelos

temas descritos no Anexo 4, com familiar / cuidador, na sessão de orientação familiar pós

- óbito. Nos casos que esta sessão, por algum motivo, não pode ser realizada, os dados

foram colhidos através de relato, por escrito, do familiar / cuidador.

Também colheu - se informações dos profissionais do CAISM, médicos ou

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enfermeiros, sobre a possibilidade deste método ter re - significado a Dor Simbólica da

Morte das pacientes fora de possibilidade de cura.

5.6.2.1. Contrato para a Intervenção Psicoterapêutica com a paciente e seu

cuidador

Este contrato foi realizado dentro das premissas da Terapia Breve, ou seja,

tendo como foco a Dor Simbólica da Morte. “O objetivo da Terapia Breve é localizar um

foco de conflito que, ao ser trabalhado por ação direta e específica, negligenciando outros

aspectos da personalidade, resolve o problema”. (KNOBEL, 1986).

Esse contrato foi pertinente às sessões com a paciente fora de possibilidade de

cura, para a aplicação da Intervenção Psicoterapêutica Relaxamento Mental, Imagens

Mentais e Espiritualidade e para as Sessões de Orientação Familiar, com o cuidador e

outros familiares.

5.6.2.2. Sessões Psicoterapêuticas com a paciente

Estas sessões aconteceram no período entre o contrato de trabalho até o óbito

desta.

O número de sessões, por semana, foi de no mínimo uma e no máximo três, de

acordo com as necessidades e possibilidades da paciente.

O local do atendimento foi a Enfermaria e o Ambulatório da Oncologia do

CAISM e o domicílio da paciente.

5.6.2.3. Sessões de Orientação Familiar

Estas sessões aconteceram de forma complementar a aplicação do método de

integração das técnicas Relaxamento Mental e Visualização de Imagens Mentais com o

conceito de Espiritualidade para re - significação da Dor Simbólica da Morte das pacientes

fora de possibilidade de cura.

O principal objetivo dessas sessões foi oferecer um espaço para os familiares

falarem sobre a doença e a morte da parenta, relatarem sua visão sobre a Dor Simbólica da

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Morte desta, receberem orientação sobre a intervenção psicoterapêutica que estava sendo

desenvolvida com a paciente e sobre uma possível forma mais adequada de conduta que

eles, parentes, pudessem oferecer para esta paciente, nesta fase de cuidados paliativos.

Quando necessário, nestas sessões, de forma secundária aos objetivos deste estudo, os

familiares puderam ser atendidos também, quanto à elaboração do luto.

Estas sessões de orientação familiar aconteceram no mínimo uma vez por mês e

no máximo uma vez por semana, de acordo com a necessidade dos mesmos e da paciente.

5.6.2.4. Critério para Descontinuação

Foi usado como critério para descontinuação da aplicação deste método, a

vontade da paciente. Se esta não se identificasse com as técnicas de Relaxamento Mental e

Visualização de Imagens Mentais integradas a Espiritualidade, poderia interromper as

sessões e desligar – se da pesquisa em qualquer tempo e momento do trabalho

psicoterapêutico. Estes dados constariam da pesquisa para análise dos resultados e

conclusão do estudo.

5.7. PLANO DE ANÁLISE DE RESULTADOS

5.7.1. Análise de resultados na Pesquisa Qualitativa

A Pesquisa Qualitativa, como já expressamos, “pelo tipo de técnicas que

emprega, de preferência, a entrevista semi - estruturada, o questionário aberto, o método

clínico, não estabelece separação demarcada entre a coleta de informações e a interpretação

das mesmas”. (TRIVINÕS, 1987).

Dessa forma a cada sessão coletamos informações e as interpretamos, mas ao

término do estudo fizemos uma discussão e uma conclusão sobre os dados obtidos.

Apesar da flexibilidade, acima citada, que a Pesquisa Qualitativa permite, foi

necessário, para a discussão e conclusão dos dados, uma estrutura objetiva de trabalho,

descrita a seguir:

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5.7.2. Discussão dos dados

5.7.2.1. Discussão de cada um dos casos estudados contendo:

1 - Identificação da paciente

2 - Número de sessões / período da fase fora de possibilidade de cura em que o

método foi aplicado

3 - Intervenção Psicoterapêutica

4 - Histórico clínico / aspectos relevantes

5 - Identificação da Dor Simbólica da Morte: Dor Psíquica e Dor Espiritual

6 - Padrão da imagem

7 - Comentários e atitudes da paciente: Resultados obtidos

8 - Morte da paciente: Resultados obtidos

9 - Sonhos dos familiares após o óbito da paciente

10 - Sessões de Orientação Familiar: Resultados obtidos

11 – Dor Simbólica da Morte: re – significação

5.7.2.2. Discussão comparando – se as cinco pacientes desta pesquisa com as

quatro crianças e os três adolescentes do Projeto – Piloto.

5.7.2.3. Discussão sobre a re – significação da Dor Simbólica da Morte

através da integração das técnicas de Relaxamento Mental e Imagens Mentais com o

conceito de Espiritualidade.

5.7.3. Conclusão do estudo.

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CAPÍTULO 6: ASPECTOS ÉTICOS

Em relação aos aspectos éticos, as pacientes e seus familiares foram informados

sobre os seguintes itens:

- que estavam fazendo parte de uma pesquisa.

- sobre os resultados específicos e gerais que foram alcançados com outros

pacientes, os quais foram considerados Estudo - Piloto dessa intervenção psicoterapêutica

para pacientes terminais.

- que seus credos religiosos e / ou religião seriam totalmente respeitados.

- que este estudo tinha como pressuposto a crença na vida espiritual, com base

nas pesquisas dos médicos psiquiatras KÜBLER ROSS (1998) e MOOD JR (1989, 1992)

com pacientes que estiveram no Estado de Quase Morte e voltaram a viver e que ter esta

crença era critério para inclusão no estudo.

- que poderiam sair do estudo e interromper as sessões psicoterapêuticas em

qualquer tempo que quisessem, caso não se identificarem com as técnicas propostas.

Os itens acima citados constaram do Termo de Consentimento

Pós – Informação (Anexo 5), que foi lido e assinado pela paciente e / ou seu familiar

cuidador.

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CAPÍTULO 7: “RELAXAMENTO MENTAL, IMAGENS

MENTAIS E ESPIRITUALIDADE” – DELINEAMENTO DA

ESTRUTURA TEÓRICA DA TÉCNICA PARA APLICAÇÃO”

A estrutura teórica para aplicação da intervenção psicoterapêutica

“Relaxamento Mental, Imagens Mentais e Espiritualidade na re – significação da Dor

Simbólica da Morte de Pacientes Terminais” foi delineada, para que outros profissionais da

área da saúde possam utilizá - la com seus pacientes.

Essa estrutura teórica está fundamentada dentro dos conceitos de uma

psicoterapia dinâmica breve ministrada em Instituições Assistenciais (Serviços Hospitalares

e Centros de Saúde Mental).

FIORINI (1991) propõe a classificação, quanto ao estilo de Psicoterapia Breve

para Serviços Hospitalares e Centros de Saúde Mental como Psicoterapia de Apoio e

Psicoterapia de Esclarecimento. A primeira visa a atenuação ou supressão da ansiedade e de

outros sintomas clínicos como meio de favorecer um retorno à situação de homeostase

anterior à descompensação ou crise. A segunda inclui em seus objetivos, os mencionados

acima para uma Psicoterapia de Apoio, somados às metas de desenvolver no paciente uma

atitude de auto – observação e de compreensão de suas dificuldades dentro de suas

motivações e de seus conflitos.

A Intervenção Psicoterapêutica para pacientes terminais, construída através da

integração das técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de Imagens Mentais com o

conceito de Espiritualidade, cujo objetivo é re - significar a Dor Simbólica da Morte dessa

categoria de pacientes, enquadra - se dentro dos objetivos da Psicoterapia Breve de Apoio:

recuperação do equilíbrio homeostático que se expressa no alivio dos sintomas. Os

sintomas básicos a serem trabalhados são: a Dor Psíquica, representada pelo medo do

sofrimento e humor depressivo (tristezas, angústias e culpas frente às perdas) e a Dor

Espiritual representada pelo medo da morte e do pós – morte, idéias e concepções em

relação à espiritualidade, sentido da vida e da morte e culpas perante Deus.

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Objetivamos, com essa intervenção psicoterapêutica, desfocar o pensamento do

paciente dos medos, das angústias e das culpas específicas à situação da morte e do morrer

e focá – lo em serenidade, tranqüilidade, beleza e paz, com o objetivo final de recuperar a

homeostase psicológica visto que a homeostase física não é possível de ser recuperada

porque o paciente se encontra em fase terminal.

7.1. Psicoterapia Dinâmica Breve:

Para FIORINI (1991) os pressupostos básicos de uma Psicoterapia Dinâmica

Breve são:

- “Orientação no sentido da compreensão psicodinâmica dos determinantes

atuais da situação de enfermidade, crise, ou descompensação. Isto não significa omitir a

consideração longitudinal e sim estar voltado essencialmente para re - significar à estrutura

da situação transversal”. (FIORINI, 1991). Na adaptação desse conceito para a situação

terminal focamos a descompensação psicológica atual, na Dor Psíquica e na Dor Espiritual

frente a morte e o morrer (corte transversal), e procuramos conhecer o histórico de vida do

paciente através da anamnese (corte longitudinal), para melhor compreendermos o

momento presente.

- “Existe uma relação entre psicopatologia e comportamentos potencialmente

adaptativos: formam-se duas atitudes psíquicas, ao invés de uma só: a primeira que leva em

consideração a realidade e é normal; a outra, que afasta o ego da realidade sob a influência

das pulsões. Ambas as atitudes subsistem, uma junto à outra. Uma psicoterapia breve

orienta-se no sentido de fortalecer as áreas do ego livres de conflito”. (FIORINI, 1991).

Procuramos através da integração das técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de

Imagens Mentais com o conceito de Espiritualidade, na situação específica do morrer, fazer

esta dissociação entre o saudável e o doente, direcionando a parte doente para o corpo físico

que morre e a parte saudável para o ‘espírito’, de forma que a paciente possa aproximar – se

do que JUNG (1986), chamou de Arquétipo do Si Mesmo, definido como a sede da

identidade subjetiva, o centro ordenador e unificador da psique, totalidade absoluta dessa

psique, simbolizado por Cristo, o que significa um contato, mais significativo, do ego

consciente das pacientes, com a sua própria natureza divina ou celeste, ou seja, com a sua

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natureza espiritual.

- “Há também uma dualidade em nível motivacional, na coexistência de

motivações do tipo infantil e adulto. Neste modelo a hierarquia motivacional se caracteriza

por uma combinação de autonomia, dependência e interpenetração. Nesta concepção

pluralista atribui-se importância motivacional à orientação do sujeito dirigida para o futuro,

uma organização em projetos de alcance diversos que incluam uma relação com certa

imagem de si e com um mundo de valores ou metas ideais. Isto significa dirigir - se tanto às

motivações primárias como para as motivações de valor”. (FIORINI, 1991). Na situação

particular da morte e do morrer as motivações de valor orientadas para o futuro estão

baseadas nas conclusões dos estudos de KÜBLER – ROSS (1998) e MOOD JR (1989,

1992) com pacientes que estiveram no Estado de Quase Morte e voltaram a viver e nas

crenças específicas de cada paciente em relação à vida após a morte, o que implica na

crença da possibilidade da paciente continuar existindo em um mundo de natureza

espiritual; as motivações primárias estão relacionadas a sentimentos de proteção, de

acolhimento, amor, oriundos do contato mental com Seres Espirituais de Luz descritos nos

estudos de KÜBLER – ROSS (1998) e MOOD JR (1989, 1992) e com Seres Espirituais de

Luz, nos quais a paciente confie e acredite.

- “No plano dos processos de pensamento existe também uma dualidade

funcional representada pelos pensamentos derivados de impulsos e um pensamento realista

com capacidade instrumental de adaptação e de ajustamento às condições da realidade

objetiva. Freud coloca que o primeiro passo que devemos dar para fortalecer o ego

debilitado parte da ampliação do seu autoconhecimento e assim a psicoterapia breve visa

por meio do esclarecimento de aspectos básicos da situação do paciente, fortalecer sua

capacidade de adaptação realista, de discriminação e de retificações, em grau variável, das

significações vividas”. (FIORINI, 1991). Em relação aos processos de pensamento, no

trabalho psicoterapêutico para re - significar a Dor Simbólica da Morte através de

Relaxamento Mental, Visualização de Imagens Mentais e Espiritualidade, compreendemos

a dualidade funcional como, por um lado, crenças de impotência frente a Dor Simbólica da

Morte e atitudes e pensamentos associados à pulsão de morte e por outro, aspectos egóicos

capazes de lidar com a Dor Simbólica da Morte e atitudes e pensamentos associados à

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pulsão de vida. Embora pareça um paradoxo, trabalhamos com a pulsão de vida para re -

significar a Dor Simbólica da Morte, orientamos a paciente para re - significar seus padrões

de pensamento, baseados no pressuposto de que a morte é o fim do corpo, da vida material,

mas não o fim da existência, porque segundo um dos pressupostos deste estudo, o espírito

continua a existir em um mundo espiritual.

7.2. Relaxamento Mental, Imagens Mentais e Espiritualidade na Re –

Significação da Dor Simbólica da Morte de Pacientes Terminais

Com base nos fundamentos teóricos acima descritos, a intervenção

psicoterapêutica específica para pacientes terminais, proposta neste estudo, deve ser

construída da seguinte forma:

7.2.1. Identificação da Dor Simbólica da Morte representada pela Dor Psíquica

e pela Dor Espiritual.

7.2.2. Condensação dos elementos da Dor Psíquica e da Dor Espiritual,

descritos predominantemente através do pensamento do processo secundário, em um

padrão de imagens que contenham os elementos simbólicos descritos a seguir, e que serão

orientados na visualização por dissociação, sugestão indireta e sugestão direta. Segundo

CARVALHO (1999a), a dissociação permite ao paciente focar seu pensamento em um

tempo e um espaço diferente do real tridimensional em que ele está inserido. Através da

sugestão indireta pode - se induzir o paciente a focar sua atenção em imagens mentais

tranqüilas, prazerosas, positivas e revigorantes, de acordo com suas preferências e escolhas

prévias e através da sugestão direta pode – se fazer afirmações aos pacientes, através de

citações ou de imagens, que o ajudem a abolir a dor, o sofrimento, o medo.

7.2.3. Elementos Simbólicos para orientação da Visualização de Imagens

Mentais

7.2.3.1. Cenário de base: Paisagens belas e reconfortantes devem ser escolhidas

por cada paciente. Um álbum contendo quarenta imagens com paisagens belas,

reconfortantes e com cores claras (Anexo 7) é oferecido para que a paciente escolha os

cenários do seu agrado, que a tranqüilizem. Pontuamos que este cenário de base, deve ser

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escolhido pela própria paciente, com imagens que tragam sensações de paz, tranqüilidade,

bem estar, conforto, serenidade, proteção, para ela, de acordo com suas características

pessoais. Este cenário de base, integrado a um dos principais pressupostos deste estudo:

crença na vida espiritual pós – morte, representa um mundo imaginário espiritual belo e

reconfortante, o qual pode ser identificado, segundo a nomenclatura definida por MILLER,

(1997), como o Lugar de Espera, onde tanto para os mortos, quanto para os vivos, a

realidade da mudança começa a aprofundar – se.

7.2.3.2. Lembranças de vivências felizes anteriores com objetivo de focar o

pensamento da paciente, por dissociação, em uma época que represente paz, alegria,

felicidade, conforto, proteção, etc.

7.2.3.3. Túnel ou Caminho Luminoso Dourado e / ou Azul e Seres de Luz

A imagem do Túnel ou Caminho luminoso dourado e / ou azul e os Seres de

Luz que irradiam amor incondicional, amparo, conforto, introduzidos no cenário de base

sugerido para a paciente visualizar, estão fundamentados nos relatos dos pacientes que

estiveram no Estado de Quase Morte (E.Q.M.) e voltaram a viver, pesquisados pelos

médicos psiquiatras KÜBLER ROSS (1998) e MOOD JR (1989, 1992). Os estudos desses

cientistas sobre Experiências de Quase Morte (E.Q.M.) podem, também, em conjunto com

a orientação para visualização, serem relatados para a paciente. Deve ser acrescida a

imagem dos Seres de Luz, Seres Espirituais que a paciente acredite e confie.

7.2.3.4. Símbolos de Transformação que podem ser representados pela água,

árvore com frutos, vegetação, trigo, cevada devem ser introduzidos no cenário de base. Os

símbolos de transformação estão fundamentados em JUNG (1986). Segundo este cientista,

dentre os símbolos maternos ou de transformação, podemos ter a ‘água’ que pode significar

nascimento ou renascimento, vida que vem da água. Podemos ter também como outro

símbolo de transformação, segundo esse psiquiatra suíço, o ‘madeiro da vida’ ou ‘árvore da

vida’ com ‘frutos’, onde a árvore pode significar a vida humana e o fruto da árvore pode

simbolizar a alma humana, que em linguagem psicológica representa o self. Introduziremos

também imagens de ‘vegetação’ ou imagens relacionadas ao ‘trigo’ e/ou a ‘cevada’.

Segundo VON FRANZ (1995), existe a difundida idéia arquetípica de que os mortos

voltam à vida, por assim dizer, do mesmo modo que a vegetação; esta discípula de Jung

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relata que é comum aparecerem imagens de vegetação nos sonhos de pessoas próximas da

morte. O trigo e a cevada por sua vez, também podem ser tomados como símbolos de algo

psíquico, algo que existe além da vida e da morte, um processo misterioso que sobrevive ao

temporário florescimento e morte da vida visível.

7.2.3.5. Imagens Simbólicas diversas, específicas à Dor Simbólica da Morte de

cada paciente, que podem ser sugeridas pelo terapeuta.

7.2.3.6. Afirmações para o paciente integrar – se com a beleza do Universo, da

Natureza. Visamos, com esta sugestão direta, associada às imagens de paisagens, orientar o

pensamento do paciente, em relação às idéias e concepções sobre a espiritualidade, para

aspectos positivos e belos.

7.2.3.7. Afirmações para o paciente observar sua própria beleza interior, suas

qualidades. Com esta sugestão direta, objetivamos minimizar o humor depressivo da

paciente, principalmente culpas.

7.2.3.8. Afirmações sobre aspectos do pós – morte relatados pelos pacientes que

vivenciaram uma Experiência de Quase Morte.

7.2.3.9. Filmes e Histórias: Livros de Histórias e Filmes com conteúdos que

sejam pertinentes à História de Vida dos pacientes, às suas principais angústias, medos,

conflitos, relacionados à Dor Psíquica e à Dor Espiritual durante a experiência do morrer

podem ser oferecidos com o objetivo de, enquanto metáforas, produzirem “insigths” para re

-significação da Dor Simbólica da Morte. Nesta pesquisa não utilizamos filmes, pela

dificuldade de transportar TV e Vídeo para a Enfermaria do Hospital ou para o domicílio

das pacientes.

A orientação para desenvolvimento da técnica de Visualização de Imagens

Mentais, (acima descrita) integrada ao conceito de Espiritualidade, deve ser precedida da

técnica de Relaxamento Mental estimulada da seguinte forma:.

7.2.4. Relaxamento Mental

7.2.4.1. Respiração lenta e profunda

7.2.4.2. Orientação para a paciente focar sua atenção nesta respiração e

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visualizar o oxigênio sendo inalado na cor azul céu (cor fria, tranqüilizadora), imaginar esta

cor azul céu envolvendo – a externamente e sendo transportada através do oxigênio, para

todos os órgãos, principalmente os órgãos atingidos pela doença, amortecendo a dor física.

7.2.4.3. Acompanhamento de Músicas dos tipos: Instrumental Clássica ou

Popular com ritmo suave, “New Age”, Música Intuitiva, Instrumental para Crianças,

respeitando - se sempre o gosto do paciente.

Nesta pesquisa oferecemos, em primeiro lugar, para as pacientes, um CD de

música intuitiva, denominado “Soprus Universalis”, do compositor Aurio Corrá, produzido

em São Paulo, pela ALQUIMIA New Music (1995). As faixas do CD oferecidas foram a

número 3: “Andinos”, número 4: “Divinos”, número 5: “Universalis”. Todas as pacientes,

que aceitaram participar deste estudo, gostaram da qualidade das músicas deste CD acima

citadas e por esta razão, elas se tornaram as músicas universais da pesquisa.

Escolhemos este CD por serem músicas, na opinião da pesquisadora, que

contemplam o objetivo de produzir um estado de relaxamento mental.

7.3. Sessões de Orientação Familiar

Estas sessões devem acontecer de forma complementar a aplicação da

Intervenção Psicoterapêutica com o objetivo de oferecer um espaço para os familiares

falarem sobre a doença e a morte do paciente, relatarem sua visão sobre a Dor Simbólica da

Morte deste e receberem orientação sobre uma possível forma mais adequada de conduta

que eles, parentes, podem oferecer para o paciente, nesta fase de Cuidados Paliativos.

7.4. Papel do Terapeuta

Em relação ao papel do terapeuta, FIORINI (1991), pondera que este deve

desempenhar um papel essencialmente ativo na terapia breve, ou seja, depois de avaliar a

situação total do paciente, compreender a estrutura dinâmica essencial de sua problemática,

deve elaborar um plano de abordagem individualizado, planificando e focalizando a

intervenção terapêutica dentro de um princípio de flexibilidade, ou seja, remodelação

periódica da estratégia e das táticas, em função da evolução do tratamento.

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Em relação à primeira entrevista, pontua FIORINI (1991), o desempenho do

terapeuta pode ter uma influência decisiva para a adesão do paciente ao tratamento assim

como na eficácia que o processo terapêutico possa vir a alcançar. Para tanto é muito

importante que sua ação terapêutica não se exerça meramente pelo efeito placebo do

contato inicial e sim que o terapeuta possa realizar intervenções adequadas, capazes de

potenciar esse efeito.

Isto significa, no caso específico de pacientes terminais, desde a primeira

entrevista, poder receber e conter as angústias, medos, culpas do paciente e oferecer em

retorno, para alivio desses sintomas, alem da proposta psicoterapêutica através de

Relaxamento Mental, Visualização de Imagens Mentais e Espiritualidade, oferecer – se

como porto seguro, ou seja, colocar – se em uma postura ativa, que expresse acolhimento

afetivo, continência, compreensão, doçura, serenidade e solidariedade. Para tanto é

fundamental que o profissional estabeleça uma sintonia com o paciente compreendendo e

acolhendo suas comunicações verbais e não verbais, sem se deixar ‘contaminar’ por elas e

sim, decodificando – as, e favorecendo, através do método proposto, uma possibilidade de

re - significação da Dor Simbólica da Morte.

É muito importante que o terapeuta tenha em sua personalidade características

como: suporte para acolher a angústia de morte do paciente, sensibilidade para

compreendê – la, estrutura emocional para não se deixar invadir por ela, conhecimento

para manejá – la e uma boa resolução pessoal em relação a perdas e à morte em si.

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CAPÍTULO 8: RESULTADOS

8.1. PRIMEIRA PACIENTE: C.A.S.F.

8.1.1. Identificação

Idade: 48 anos

Estado Civil: casada com A.F.

Filhos: M. (28 anos) casado há 5 meses com S. e A.C. (14 anos).

Residência: Interior paulista, cidade distante de Campinas. Moram na

residência: a paciente C., o marido A., o filho M. com a esposa S., a filha A.C., os sogros

de C. e um filho adotivo dos sogros, de 56 anos, portador de deficiência mental leve.

Doença: Neoplasia maligna - Carcinoma de Mama com metástase na medula,

metástase óssea generalizada e fratura de fêmur.

Início do tratamento: novembro de 1995

Hospital: CAISM – UNICAMP

8.1.2. Histórico Clínico:

Segundo relato da Psiquiatria / Neurologia, no prontuário da paciente, esta, na

época do diagnóstico, estava consciente da gravidade da doença. Segundo informação da

Enfermeira Ednaura Pereira de Souza, responsável pelo Serviço de Enfermagem no Setor

de Cuidados Paliativos do CAISM, C. sempre foi alegre, disposta, comunicativa, mas, no

presente, começou a apresentar sinais depressivos. Ainda não foi informada que está Fora

de Possibilidade de Cura.

Como a paciente mora em cidade do interior, distante desta, (Campinas),

confirmamos, com a médica responsável pelo setor, a possibilidade das internações serem

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freqüentes para que possamos acompanhá – la e somos informados que provavelmente a

paciente terá novas internações.

A paciente está internada, aguardando a cirurgia do fêmur, a qual deveria ter

sido realizada na semana anterior. Está sem poder andar e usando colete. Segundo relato da

Equipe Médica a cirurgia será realizada para fortalecê - la emocionalmente, como medida

paliativa, visto que não há mais possibilidade de cura para esta paciente. Apesar do

problema na perna, a paciente está clinicamente bem.

8.1.3. Sessões Psicoterapêuticas:

1o Sessão: 16 / 03 / 2000

Duração: 20 minutos

Atendimento Hospitalar

A Enfermagem me apresenta para a paciente, como “a Psicóloga que está

fazendo um estudo e irá atender algumas pacientes do setor”. Explico que o trabalho

consiste na aplicação das técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de Imagens

Mentais com Espiritualidade, onde oriento os pacientes a ‘entrarem’ em um mundo

imaginário belo e positivo, desfocando a atenção das tristezas e preocupações e focando em

aspectos tranqüilos, serenos. Exemplifico este método com os casos atendidos no Projeto -

Piloto (J.C.B., R.A.G., R.S.G.), omitindo que esses pacientes foram à óbito, visto que a

paciente ainda não sabe que está fora de possibilidade de cura. Explico que estes pacientes

estavam com câncer em estado avançado e, através deste trabalho de relaxamento e

visualização, foram ajudados a desfocarem sua atenção das tristezas, medos, culpas.

Explico também que os resultados deste trabalho, que será desenvolvido com ela, serão

publicados, para que outros profissionais interessados possam utilizar essa técnica. Minha

postura é de acolhimento afetivo permeado de doçura e serenidade. Pontuo que só iremos

desenvolver este trabalho com o consentimento dela.

C. mostra - se receptiva a proposta, interessa - se pelos relatos das visualizações

dos três pacientes do Estudo Piloto e aceita ser atendida através desta intervenção.

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Pergunto sobre os familiares e a paciente informa que estes irão vir da cidade de

origem no domingo à tarde, para visita. Combino a próxima sessão para darmos início ao

trabalho e também combino a sessão com os familiares no dia da visita.

2o Sessão: 18 / 03 / 2000

Duração: 90 minutos

Atendimento Hospitalar

Encontro C. cochilando no leito do meio. Quando entro, acorda. Aproximo - me

e pergunto se atrapalho. C. diz que não, que estava apenas “cochilando” e que ultimamente

está assim, muito sonolenta. “Por que será?”, pergunta. Parece - me que ela tem percepção

de seu estado clínico, mas ainda não consegue entrar em contato com esta realidade.

Como o trabalho está em fase inicial não aprofundo a questão e ofereço uma descontração,

“brinco” dizendo que ela já está entrando em Relaxamento para me ajudar.

Ofereço em seguida o álbum com as 40 imagens de paisagens, (Anexo 7).

Paciente interessa - se e começa a folhear as imagens. Nas figuras que apresentam flores,

comenta que sua sogra gosta muito de plantá - las e que ela não tem esse jeito, gosta mais

de admirar. Ofereço para ela ficar com a pasta até a próxima sessão e assim escolher, com

tranqüilidade, as que mais gostou, as que representam paz, serenidade para ela. A paciente

prontamente aceita.

Começo a falar sobre o Termo de Consentimento de Participação, (Anexo 5).

Leio junto com ela todos os itens. Explico novamente o trabalho feito com os 3 pacientes

no Estudo – Piloto. Pergunto se ela acredita no mundo espiritual e C. diz que sim e que sua

religião é católica. Explico que a crença no mundo espiritual é um dos pressupostos deste

estudo e que só poderei trabalhar com pacientes que tenham essa crença. C. diz que está

tudo bem porque ela acredita. Complemento o assunto esclarecendo que também irei

orientá – la a visualizar Seres de Luz que inspirem proteção, conforto, dentro da crença dela

ou seja, poderemos visualizar Imagens de Anjos, N. Senhora, Cristo ou algum Santo com o

qual ela se identifique.

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Pontuo que ela poderá desligar - se do estudo se quiser e que sua identidade

será mantida em sigilo. C. afirma que gostou da proposta, irá participar do estudo e assina o

Termo de Consentimento. Pergunto se ela está cansada, C. responde que não.

Começo a pesquisar o seu histórico de vida, (Anexo 1), explicando que para

ajudá – la, preciso conhecê - la. A paciente concorda. Peço que me conte sobre sua família

de origem, explicando o que família de origem significa.

A paciente relata que é a quarta de nove filhos do primeiro casamento do pai.

Sua mãe morreu de câncer no seio, quando ela tinha 14 anos. Passados quatro anos seu pai

casou - se novamente e teve mais seis filhos. Dos nove, do primeiro casamento do pai,

todos estão casados. Dos seis, do segundo casamento, por enquanto, somente um casou - se.

Não consegue lembrar - se de brincadeiras na infância e não tem lembranças,

nem boas, nem ruins, apenas não lembra. Tinha ligação com o casal parental, tanto com o

pai como com a mãe. Seu pai era mais bravo que sua mãe. Quando sua mãe morreu, sofreu

muito. Nesse ponto chora e ofereço acolhimento. Pontuo que ela pode falar sobre tudo o

que sentir vontade, estou ali para ouvi - la e ajudá - la. C. coloca que foi muito difícil perder

a mãe e que ainda o é, até hoje. Na época seu irmão caçula tinha um ano e o penúltimo

tinha três anos. Ela assumiu os cuidados desses irmãos e eles são muito ligados a ela, até

hoje. A madrasta, por sua vez, hoje é amorosa, mas no começo não era. Ela, C., é amorosa

como sua mãe era. Pontuo que ela se identificou com as qualidades que admirava na mãe.

Observo neste relato a Dor Psíquica: Tristeza pela perda da mãe na adolescência.

Peço, em seguida, que me conte sobre sua família atual, explicando o que

família de atual significa.

C. relata que após dois anos de namoro, casou - se. Mora com os sogros desde

então. Gosta muito da sogra e esta dela. Considera - a como uma segunda mãe, sente - se

tratada como filha e não como nora.

Em relação aos filhos, C. afirma que tem uma ligação muito forte com M.

Protege - o de sua doença. Muitas vezes mente, diz que está sem dor, que está bem, apenas

para não afligi - lo e permitir que ele viva a vida dele. M. é muito preocupado, diferente do

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pai. Seu marido, embora inquiete - se com ela, não tem esse traço de preocupação na sua

personalidade e é desligado, sossegado. Estão casados há 29 anos e sempre viveram muito

bem. Relata que teve uma vida boa e tranqüila com seu marido, ele sempre foi muito bom

para ela, assim como os sogros. O relacionamento com a filha A.C. não é tão estreito como

com o filho M., mas agora ela está se aproximando. Atribui a dificuldade de

relacionamento com a filha, à idade desta: adolescência. Afirma que é, como mãe, muito

preocupada com seus filhos, quer fazer tudo por eles e devagar consegue.

Pergunto sobre sua escolaridade e profissão. C. responde que estudou até a

quarta série. Em relação à profissão trabalhava há seis anos em uma Cerâmica, quando

afastou - se por causa do câncer. Descarregava com uma conchinha as pastilhas e colocava

- as em uma caixa. Afirma que este trabalho era leve, sossegado. Algumas vezes também

trabalhava como pegadeira das pastilhas. Esta tarefa era mais cansativa, mas gostava,

porque era feita em grupo. Complementa o relato contando que seu marido também

trabalha nesta cerâmica.

Conforme havia citado, sua religião é católica. Pergunto sobre o Ser Espiritual

de sua preferência e C. responde que é Nossa Senhora.

Pergunto qual a sua visão da sua doença. C. responde que não acredita que ela

seja hereditária. Esclarece que prefere não acreditar, porque tem uma filha. Afirma que

acredita ter desenvolvido um câncer porque tinha que passar por esta experiência. Está

aprendendo algo. Acredita também que Deus deu o câncer para ela e não para suas irmãs ou

cunhadas porque ela é a mais forte e está sendo capaz de agüentar. Afirma que sua cabeça é

boa e que nunca se entregou. Agora é que está ficando ”parada”, “meio assim”.

Pergunto sobre o que sente em relação a medos, sofrimentos, tristezas e culpas

vinculadas à doença. C. responde que sofreu muita dor. Atualmente está mais fraca e

muito parada porque não pode andar. Isto está magoando - a muito. Peço que ela

explique melhor sobre esta questão pois é justamente este, um dos pontos, o qual quero

ajudá - la. C. esclarece que antes tomava quimioterapia e continuava forte, disposta.

Agora não, sente - se muito fraca e por isto se deprime. Respondo que procurarei ajuda -

la da seguinte forma: faremos uma dissociação, uma separação, entre seu corpo e seu

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espírito. Explico que isto significa observar que seu corpo está doente, mas seu espírito não,

e pode, através da imaginação, ligar - se a mundos belos, desfocando, desta forma, a

atenção da doença e focando - a em pensamentos e imagens que propiciem sensações de

paz e conforto.

Pergunto o que ela pensa a respeito do sentido da vida, do mundo espiritual, das

culpas perante Deus, relacionando estas questões ao fato de estar doente.

C. responde que não se sente culpada perante Deus. Não acredita que

tenha feito nada de errado. Quanto ao sentido da vida, acredita que estamos aqui para

aprender. Tem força de vida dentro de si e ânimo para sarar. Acredita que pode tirar

ensinamentos positivos no campo psíquico e espiritual, através desta experiência tão

difícil. Pontuo que este é o objetivo do nosso trabalho. Ajudá - la a se fortalecer no campo

psíquico e espiritual. Não posso ajudá - la fisicamente, mas posso ajudá - la psíquica e

espiritualmente e isto é um aprendizado.

Proponho que façamos os exercícios de Relaxamento Mental e Visualização de

Imagens Mentais integrados à Espiritualidade, antes de encerrarmos esta sessão.

C. concorda. Explico que este é o primeiro exercício e no decorrer das sessões

iremos aprofundando o mesmo, construindo novas Imagens.

Ofereço a música “Andinos” do CD “Soprus Universalis”, e peço à paciente

que observe se gosta ou não desta música. Caso não goste, poderei oferecer outras. Paciente

afirma que gostou desta.

O Exercício nesta 1a sessão é composto da temática abaixo descrita

procurando orientar a imaginação da paciente para um lugar de paz com símbolos de

transformação, visto ela ainda não ter escolhido seu cenário de base, através do álbum de

imagens

Tempo aproximado de exercício: 6 minutos

Oriento - a para fechar os olhos, respirar lenta e profundamente, prestar atenção

nesta respiração e imaginar o oxigênio entrando na cor azul do céu, envolvendo todo seu

corpo. Peço, em seguida, que imagine um caminho luminoso dourado como o sol, com um

céu muito azul e através desse caminho imagine – se chegando em um campo verde, onde

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existe uma árvore frondosa antiga com frutos e com flores cor de rosa, próxima a uma

cachoeira. Digo - lhe para sentar - se sob a árvore, observar as flores caírem envolvendo seu

corpo, perfumando - a, e sentir os respingos da cachoeira refrescando - a.

Peço que sinta, neste local, a beleza do Universo e a sua própria beleza interior,

suas qualidades. Peço que volte a prestar a atenção no oxigênio da cor azul e ao, respira -

lo, imagine que ele a envolve como se fosse o manto de Nossa Senhora.

Digo - lhe que poderá voltar mentalmente, quando quiser, a este local e peço

para, em seguida, retornar para o quarto do Hospital, trazendo a sensação de paz do

exercício mental.

C. ao abrir os olhos afirmou que se sentiu muito bem, gostou muito do

exercício e observou que realmente é possível imaginar coisas boas e distrair - se da

doença. Nunca havia pensado nisto antes.

Despeço – me, combinando novamente o atendimento familiar no dia da visita.

Observo que esta paciente não apresenta histórico de vida permeado de

sofrimento psíquico importante, o que favoreceu o desenvolvimento linear dos temas da

Entrevista Semi – Estruturada. (Anexos 1 e 2.)

1o Sessão de Orientação Familiar: 19 / 03 / 2000

Duração: 90 minutos

Atendimento Ambulatorial

Os familiares da paciente, a seguir relacionados, vieram da cidade de origem

para a visita hospitalar e participaram da sessão de orientação familiar: T.S.B.S. (cunhada),

J.D.S. (irmão – 6º), M.J.V. e M.D.G.V. (casal de primos), A.M.A.S.E. (irmã – 8ª),

V.L.D.S.R. (irmã – 7ª) e a filha A.C.A.F.

A paciente me informa, muito feliz, que vários parentes vieram visitá – la,

inclusive sua filha e que posso atendê – los.

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Apresento – me e explico para os familiares sobre o trabalho que estou

desenvolvendo com a paciente (desfocar seu pensamento dos estados depressivos e focá –

la em estados serenos, através de Relaxamento Mental, Visualização de Imagens Mentais e

Espiritualidade); informo que esse trabalho faz parte de uma pesquisa de Mestrado, que os

resultados alcançados no Estudo Piloto foram muito bons e esclareço que a identidade de

todos será mantida em sigilo.

Peço que me contem como estão se sentindo em relação à doença da parente.

Observo pelos relatos que eles ainda não sabem que C. está Fora de Possibilidade de Cura.

Os irmãos de C. relatam que a paciente sempre protegeu a família de todas as

informações e, apenas recentemente, souberam que o câncer havia progredido e que C. está

com metástases óssea. Afirmam que C. sempre procurou cuidar de todos, dar forças,

proteger. Foi assim com a família de origem e é assim com a família atual. Ela sempre foi a

cabeça da casa, a que cuidava, resolvia, protegia. Por pior que estivesse se sentindo, não

desanimava. Dizia que estava tudo bem e sorria.

Os irmãos contam que a mãe deles agia desta forma; morreu de câncer de

mama, sorrindo e dizendo que estava bem. C. é idêntica a ela, pontuam os irmãos. Também

acrescentam que quando a mãe deles morreu, C. assumiu seu lugar, porque N., a mais

velha, já estava se casando. Afirmam também que os filhos do segundo casamento do pai

também são muito apegados a C. por ela ser muito amorosa e protetora. C. sempre foi

muito positiva, muito forte, complementam. Na família atual, acrescentam, é a líder: sua

sogra é semiparalítica e usa andador, o sogro é de idade e, além deles, também mora com a

família, um senhor de 56 anos, B., que foi adotado pelos sogros de C. quando era criança e

é portador de deficiência mental leve. É forte e dentro de suas possibilidade, ajuda.

A.C., filha, interrogada por mim, diz preferir não falar e escutar os familiares.

Coloca em seguida que sempre vem ver a mãe e que ela, sua mãe, está sempre preocupada

com o horário em que chegou à noite, se cumpriu com seus deveres de escola, se

descongelou a geladeira, etc.

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Familiares também relatam que C., na época do diagnóstico esperou resolver os

problemas, “por a casa em ordem”, para depois procurar ajuda e se cuidar. Afirmam que C.

é “supermãe”, “protetora”, muito preocupada com A.C. e sempre pede para todos ficarem

“no pé” da adolescente.

Colocam que estão também preocupados com a cirurgia no fêmur, que será

realizada no dia seguinte e que já foi desmarcada várias vezes, por problemas de agenda no

Centro Cirúrgico ou por debilidade física da própria paciente.

Pelo acima exposto identifico como Dor Psíquica na visão da família, o

humor depressivo pela perda da disposição pela vida e angústia por não poder cuidar

principalmente dos filhos e dos familiares, de forma geral. Oriento – os, visando

amenizar esta Dor Psíquica, que mostrem para C., que seus filhos, incluindo A.C., são

capazes de assumir responsabilidades, o marido e os sogros podem conseguir cuidar deles

mesmos e eles podem se ajudar entre si. Os familiares afirmam que sentem – se gratos por

C. estar sendo acompanhada por uma psicóloga, estar recebendo ajuda para aliviar suas

preocupações. Acrescentam que C. procura poupar tanto os familiares, que negou,

inclusive, que havia ficado abalada com duas mortes que ocorreram em leitos próximos ao

seu.

Explico para os parentes de C. que meu trabalho é justamente ajuda – la a

perceber que seu corpo está doente e que suas atividades estão limitadas por sua debilidade

física, mas seu espírito não está doente e que ela pode, através do pensamento, desligar – se

da doença e ligar – se em um mundo positivo, belo, sereno, fortalecendo – se, desta forma,

nas áreas: psíquica e espiritual.

Familiares concordam com essa linha de trabalho e pontuam, mais uma vez,

que estão aliviados por C. estar recebendo esta ajuda.

Agendo sessão para próxima semana com o filho, a nora e o marido de C e peço

para A.C. (filha) vir também. Sou informada que M. (filho) e A. (marido), não vieram, pois

estavam trabalhando.

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No final da sessão A.C. (filha) expressa sua preocupação porque ficou sabendo,

neste momento, que também é câncer a doença que sua mãe tem na perna e comenta que

sua avó materna também teve câncer e morreu, obviamente fazendo uma associação entre

as duas e mostrando seu medo que sua mãe também morra, como sua avó.

Atendo a adolescente em particular a pedido da família.

Ponderando que a verdade deve ser dita no tempo certo, sinalizado pelo

próprio paciente, procuro preparar a adolescente para conhecer a situação real de sua

mãe sem, no entanto, contar – lhe neste momento, que ela está “Fora de Possibilidade de

Cura”.

Ofereço acolhimento para a adolescente, enfatizo a rede de apoio de que dispõe

(seus familiares), assim como seus próprios recursos internos e objetivos pessoais. A.C.

afirma que “está bem” e que voltará para a sessão com o irmão.

3o Sessão: 23 / 03 / 2000

Duração: 90 minutos

Atendimento Hospitalar

C. foi operada há três dias no fêmur da perna direita, o qual estava quebrado.

Está com metástase óssea nesta perna. Ao iniciarmos a sessão, relata que estava indisposta,

sentia dor “ardida” e constante no lugar dos pontos. Quando foi para a Radioterapia e Raio

X, a dor aumentou e também aumentava quando ela mexia a perna. Agora, a dor diminuiu e

sua disposição melhorou.

Relata que sua família gostou muito de me conhecer e do atendimento. Após a

sessão de Orientação Familiar, dia 19 / 03, subiram ao quarto e conversaram com ela,

falaram sobre a importância dela, neste momento, cuidar de si mesma e permitir que os

familiares cuidem deles mesmos, ajudem – se entre si e dependam menos dela.

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Trabalho essa questão, já identificada anteriormente como componente da Dor

Psíquica. Pontuo para a paciente o fato dela já ter orientado seus filhos, da melhor forma

possível e também sobre o fato dela sempre ter sido uma esposa, nora, mãe, amorosa e

protetora. Fundamentada no relato dos familiares digo – lhe que a imagem que me

passaram dela foi a de uma mulher muito positiva, afetiva, protetora, enfim, muito querida

por todos. C. coloca que é verdade, que todos gostam muito dela, tanto os familiares, como

os amigos e conhecidos, porque ela sempre foi muito comunicativa e sociável, ao contrário

do marido que sempre foi fechado mas, embora tenham personalidades distintas, ele nunca

a proibiu de sair e ter amigos.

Observo que esta pontuação fortalece a auto - estima de C. e deixa – a mais

animada.

C. acrescenta que realmente os familiares estão aprendendo a cuidarem deles

mesmos e a se ajudarem mutuamente agora que ela está na cama, principalmente seu filho

M. e sua nora S.

C. continua a falar, por associação livre, e diz que sempre gostou de se cuidar e,

assim que tiver alta do Hospital, irá à manicura e ao cabeleireiro, o que me parece ser um

indicativo do traço positivo de sua personalidade.

Pergunto sobre suas preocupações e medos. C. coloca que esteve muito ansiosa

antes desta última internação porque sentia muito dor e não sabia como isto poderia ser

solucionado, visto que a Radioterapia e a Quimioterapia não haviam resolvido. (Identifico

como Dor Psíquica: medo do sofrimento). C. relata também que quando voltou para o

quarto, aproximadamente 5 h depois da cirurgia, sentiu muito medo. Teve uma sensação de

formigamento, muito angustiante. Sentiu – se desligando – se do mundo de uma forma

muito ruim. A enfermagem disse que sua pressão estava boa e pediram para ela se acalmar.

A sensação foi passando até que conseguiu voltar ao normal. (Identifico como Dor

Espiritual: medo da morte e do pós – morte.).

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Proponho que façamos o exercício mental, procurando desfocar seus

pensamentos e seus sentimentos destes medos, angústias e estados de tristezas. Explico que

nosso aparelho psíquico funciona como um aparelho de TV, pode ser ligado em diferentes

canais: canal do medo, da tristeza, ou pode ligar – se a pensamentos agradáveis que

ofereçam conforto e proteção. Através dos pensamentos e sentimentos, explico, podemos

nos sentir livres, podemos voar e viajar a lugares distantes e belos, focar nossa atenção em

lembranças felizes e agradáveis. O aparelho de TV permanece em uma sala, parado, mas,

quando ligado, capta através dos canais, os mais diversos programas e imagens. Parece que

nós também funcionamos desta maneira; nossos pensamentos fazem parte de nós, mas

podem viajar e voar, para onde quisermos. Também acrescento para C. que pacientes, que

passaram por uma Experiência de Quase Morte (E.Q.M.), relataram, em pesquisas feitas

por psiquiatras, que durante essa experiência visualizaram um mundo espiritual muito

bonito com Seres que transmitiam amor e paz e que o principal objetivo deste método é,

justamente, direcionar nosso pensamento para esses mundos espirituais belos, que

acreditamos existir. C. escuta com atenção e diz que entendeu o que eu expliquei. Faz uma

associação com o que havíamos comentado na última sessão. Afirma que seu corpo está

doente, mas seu espírito pode ficar bem e “voar” para esses mundos espirituais belos.

Proponho que olhemos juntas o Álbum de Imagens (anexo 7) para que ela me

mostre a(s) que mais gostou. Paciente escolhe a imagem no 29. Pergunto sobre o que ela

gostaria de fazer neste local e C. responde que gostaria de estar deitada embaixo desta

árvore. Pergunto novamente também sobre o Ser Espiritual que lhe transmite sensação de

proteção. Paciente coloca que este Ser é Nossa Senhora e Cristo, mas principalmente Nossa

Senhora porque ela é mãe. Acrescenta que durante a semana estava quase dormindo e veio

a sua mente a Imagem de Nossa Senhora. Neste momento sentiu muito conforto, muita

tranqüilidade e dormiu.

Explico que chegaremos através da Imaginação a este lugar escolhido por ela da

seguinte maneira: primeiro ela irá relaxar, ouvindo a música e respirando lenta e

profundamente. O ar entrará por seus pulmões e percorrerá todo o seu corpo na cor azul do

céu porque o azul é uma cor fria que tranqüiliza. Depois ela entrará em uma estrada

dourada da cor do sol e andará por ela como se estivesse subindo uma montanha e chegará

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a este lugar escolhido por ela. Proponho que, além das flores amarelas e vermelhas, o

jardim também contenha flores nas cores rosa, branco, lilás, dando um tom multicolorido à

imagem. A paciente concorda.

Tempo aproximado de exercício: 15 minutos

Inicio o relaxamento da forma descrita acima. Observo que a paciente entra em

um estado de quietude e tranqüilidade. Quando estou orientando – a para imaginar – se

embaixo da árvore acrescento os seguintes elementos:

Peço que imagine o perfume suave das flores, a brisa. Ouça o canto dos

pássaros. Sinta a beleza deste lugar, o qual faz parte do Universo. Sinta a beleza que existe

dentro dela. Recorde todas as coisas boas que fez na vida. Observe a pessoa amorosa, cheia

de luz que ela é. Sinta – se em paz.

Peço que agora observe na sua Imaginação, nesse lugar, próximos a esta árvore,

um casal de passarinhos ensinando o filhote a voar. Digo que essa mamãe passarinho um

dia botou um ovo, chocou, alimentou e aqueceu o filhote para que ele crescesse e se

desenvolvesse. Agora havia chegado a hora deste filhote aprender a voar sozinho e ela o

está ensinando.

Oriento – a para, em seguida, sentir a proteção de Nossa Senhora. Imaginar que

este ser espiritual a envolve em seu manto azul. Afirmo que através de nossa Imaginação

podemos sentir que não estamos sós. Podemos nos ligar a Seres que para nós simbolizem

proteção e conforto. Peço que sinta o manto azul de Nossa Senhora envolvendo – a e deixe

o pensamento fluir, ouça no seu coração alguma mensagem ou apenas sinta paz e, quando

quiser volte para este quarto lentamente, trazendo consigo a sensação de paz.

Após aproximadamente 5 minutos a Paciente abre lentamente os olhos.

Afirma que foi maravilhoso, que conseguiu relaxar, visualizar o proposto. Sentiu

muita paz, proteção, conforto e no final sentiu uma sensação de leveza muito grande.

Pareceu – lhe, nos últimos momentos do exercício, que flutuou acima do seu corpo e

depois voltou. A sensação foi muito boa. Sentiu – se muito tranqüila, em paz. Coloca

ter observado a real possibilidade de ligar – se a um mundo melhor, diferente do

mundo povoado pela doença e tristezas.

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Ao encerrar a sessão, orientei – a que que procurasse manter essa sensação de

paz e que voltasse para este lugar sempre que quisesse, seguindo os passos propostos:

respiração lenta e profunda visualizando o ar entrando na cor azul do céu, caminho dourado

semelhante à subida de uma montanha e chegada ao local florido com a árvore frondosa.

2o Sessão de Orientação Familiar: 24 / 03 / 2000

Duração: 60 minutos

Atendimento Ambulatorial

Comparecem ao atendimento o filho M., 28 anos, a nora S., 27 anos, e a filha

A.C., 14 anos.

Colocam que o pai deles, marido de C., não pôde comparecer por compromisso

no trabalho.

Explico aos familiares a proposta de nosso trabalho, desfocar a mente do

paciente dos estados de angústia, depressão, medo, ansiedade e foca – la em estados de paz

e serenidade através do trabalho com Relaxamento Mental, Visualização de Imagens

Mentais e Espiritualidade. Em linguagem acessível apresento as técnicas para os familiares

e os resultados obtidos com os pacientes do Estudo - Piloto. Pontuo que esses atendimentos

fazem parte do meu estudo de Mestrado. Leio com a família o Termo de Consentimento

(Anexo 5) e ressalto que a identidade das pacientes e familiares é preservada.

M. pergunta se vou publicar um livro. Explico que talvez sim, mas antes vou

defender e publicar como Dissertação de Mestrado. Os familiares posicionam – se de

acordo e M. assina o termo como cuidador.

A Equipe Médica responsável pelo caso já havia conversado, tanto com M.

como com S., sobre o estado clínico de C. e inclusive explicado que a cirurgia seria feita

em caráter paliativo para fortalecer a auto - estima da paciente.

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Pergunto como estão se sentindo frente ao caso. S. (nora), começa a falar com

clareza, sinceridade e emoção. Diz que está sendo muito difícil lidar com esta situação, pois

ela, o marido e o restante da família não estão conversando sobre seus sentimentos, medos,

em relação à gravidade do estado clínico de C. Conversam apenas sobre as providências

práticas. Identifico o chamado Pacto do Silêncio, o qual significa não falar sobre a doença

e a morte próxima com o próprio paciente, e entre si, familiares. Ninguém fala sobre

sentimentos, apenas se conversa sobre providências e ações práticas, como colocou S.

Essa atitude, “Pacto do Silêncio”, foi muito bem ilustrada por Tolstói, na obra “A morte

de Ivan Ilitch”.

Intervenho e oriento os familiares sobre este pacto e os prejuízos emocionais

que o silêncio sobre as tristezas, medos, angústias, podem acarretar.

S. intervém, concorda e chora. Coloca que não sabia como contar para A.C. e

que esta entrou em contato com a verdade, sobre o estado clínico real de sua mãe na sessão

familiar de 19 / 03. Afirma que foi muito bom, pois eles não sabiam o que fazer. M.

intervém dizendo que realmente está sendo muito bom poder conversar e saber que sua mãe

está se beneficiando com este trabalho. Coloca que sua maior preocupação é com A.C.

porque ela é ainda uma adolescente. Ele já é adulto e casado e saberá lidar com a situação.

Pergunto para A. C. se ela quer falar. A adolescente diz que sim, mas não sabe

o que dizer. Observo que ela está entrando em contato com a situação clínica de sua mãe,

mas ainda não está preparada para falar de sua dor, de seus medos. Através do manejo

terapêutico foco o rumo da conversa para sua vida diária, sua rotina, procurando fortalecê –

la e ajudá – la a falar sobre si própria. A.C. conta que estuda pela manhã o colegial regular,

à noite faz contabilidade e à tarde sai com as amigas. O irmão e cunhada riem, dizem que

ela não pára em casa e com as amigas é muito tagarela. S. coloca que o ano passado A.C.

fez tratamento com uma psicóloga da cidade por causa de seus medos. Era muito ansiosa e

tinha medo de tudo. Melhorou muito e a psicóloga deu - lhe alta. A.C. intervém dizendo

que realmente melhorou e foi bom ter feito tratamento.

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Passo a investigar a Dor Psíquica e Espiritual na visão do cuidador. M. diz que

pouco sabe sobre o que sua mãe sente. Ela esconde dele o que está sentindo e sofrendo.

Tem observado a preocupação da mãe em poupar a família do sofrimento e também o

temor desta em não poder cuidar dos seus. Identifico novamente como Dor Psíquica na

visão do cuidador o “Medo de fazer os familiares sofrerem por causa do sofrimento

dela” e “Angústia por não poder cuidar da família, principalmente de A.C.”.

Aponto para os familiares estes aspectos da Dor Psíquica, por mim identificado,

e oriento que procurem mostrar para C. que são capazes de suportar o sofrimento em

relação à doença dela e que todos eles, familiares, incluindo A.C., são capazes de cuidarem

– se e ajudarem – se mutuamente, aliviando assim, a carga de medo e angústia dela.

Os familiares concordam e fazem proposições na forma como vão

operacionalizar essa orientação.

Quanto à Dor Espiritual de C., observo que nada sabem.

Pergunto sobre o sentido da vida para eles. S. responde que encara a vida como

uma passagem para o mundo espiritual e estamos aqui para nos doarmos, aprendermos a

aceitar, amar, compreender. Coloca que a vida é feita de coisas boas e ruins.

M. diz que para ele tudo tem um sentido, nada acontece por acaso e estamos

aqui na Terra para aprender. A vida é uma lição. A.C. escuta o irmão e a cunhada e diz não

ter opinião.

Pontuo sobre a importância deles conversarem em família sobre o que pensam e

sentem em relação à doença de C. Friso sobre a importância deles não fazerem o Pacto do

Silêncio e ajudarem – se mutuamente.

M. me pergunta sobre C., se ela sabe sobre seu estado clínico. Respondo que

parece – me que ela sabe porque sente perder as forças, mas demonstra não poder ainda

entrar em contato com esse sentimento de forma clara e consciente. Pontuo que estou

justamente procurando prepará – la para isto. Minimizando seu sofrimento em relação à

Dor Psíquica e Espiritual, desfocando seu pensamento do medo, da tristeza e focando - o

em tranqüilidade e paz. Exemplifico com a metáfora dos canais da TV, para uma melhor

compreensão do trabalho pela família.

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Relato também para os familiares as pesquisas dos psiquiatras MOOD JR

(1989, 1992) e KÜBLER ROSS (1998) sobre os relatos dos pacientes que estiveram no

Estado de Quase Morte e voltaram a viver.

M., S. e A.C. dizem sentirem - se reconfortados com esta informação e com

a sessão. Sentem - se mais orientados em como agir entre si e com C. Afirmam que irão

procurar tranqüilizá – la, principalmente quanto às preocupações com os sogros e com

A.C., e irão procurar conversar mais, entre eles, sobre seus sentimentos.

4o Sessão: 26 / 03 / 2000

Duração: 60 minutos

Atendimento Hospitalar

Encontro C. no leito, animada e sentada de forma reclinada. Diz estar ansiosa

para ir embora. Aguarda apenas a visita da fisioterapeuta para receber alta. Esta “sonhando”

com seu próprio feijão, temperado da forma que gosta.

Relata que seus filhos e sua nora gostaram muito da Sessão de Orientação

Familiar que tivemos. Pergunto sobre como ela está se sentindo em relação às nossas

sessões com as técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de Imagens Mentais. C.

diz que está gostando muito e as técnicas estão fazendo - lhe muito bem. Acrescenta

que nunca havia observado que, ao invés de ficar pensando em sua dor, seus

problemas, sua doença, pode pensar em mundos belos. Também não sabia como fazer

isto e agora sabe.

Pergunto se ela quer levar uma fita gravada com as músicas do Relaxamento

para casa e paciente diz que sim. Entrego a fita e oriento - a para fazer o exercício pelo

menos uma vez ao dia e pontuo que a Sociedade Americana de Cancerologia, (American

Câncer Society), recomenda exercícios de relaxamento e visualização, três vezes ao dia,

para o paciente em domicílio.

Proponho o exercício e a paciente aceita.

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Tempo aproximado de exercício: 20 minutos

Peço que escute a música e respire lenta e profundamente, imaginando o

oxigênio entrar em seu corpo na cor azul do céu. Peço que leve através da sua Imaginação

esse oxigênio cor azul céu para a cabeça, ombros, tórax, costas, principalmente coluna

vertebral, braços, pernas e pés. Faço uma pausa e peço que leve o oxigênio azul céu para

todos os ossos do corpo e principalmente para as partes doloridas, amenizando a dor através

da imaginação.

Faço uma pausa.

Peço que entre no caminho dourado como sol e caminhe como se estivesse

subindo uma montanha. Oriento que entre no campo florido, com a árvore no centro e sente

- se sob a árvore. Visualize as flores multicoloridas (brancas, vermelhas, rosas, amarelas,

lilás, azuis). Peço que respire profundamente e sinta a beleza do Universo. Sinta - se

fazendo parte do Universo. Observe a beleza e a paz que a rodeia e observe também sua

beleza interna, suas qualidades. Faço uma pausa. Peço que veja agora o “passarinho

neném” que estava aprendendo a voar na outra sessão. Observe que ele já sabe voar sozinho

e buscar seu alimento. Já cresceu e pode cuidar dele mesmo. Peço que observe o “pai e a

mãe passarinhos” ao longe olhando tranqüilos o filho que já cresceu e aprendeu a voar

sozinho.

Faço uma pausa.

Peço que levante, caminhe por este lugar florido e encontre um lago. Neste lago

nade se quiser, ou molhe os pés e as mãos ou apenas admire sua beleza. (Introduzo a

imagem do lago visando oferecer mais um elemento simbólico de transformação).

Faço uma pausa.

Peço que volte para a árvore, sente - se e veja à sua frente o Ser Espiritual de

sua escolha, Nossa Senhora, e sinta o amor, a bondade, a proteção, que este ser lhe

transmite.

Faço uma pausa.

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Peço que volte lentamente para o quarto na hora que quiser e traga consigo a

paz, a serenidade deste lugar. C. permanece no exercício com os olhos fechados até o final

da música. (Aproximadamente mais 10 minutos). A paciente ao abrir os olhos, afirma

que se sentiu e está sentindo – se, ainda, ótima, “muito bem mesmo”, pontua. Pergunto

se visualizou minhas orientações e paciente diz que sim. Pergunto se conseguiu ver o

“passarinho neném” voar e buscar o alimento. C. diz que sim e faz a seguinte

associação: “isto é uma verdade porque os filhos também são assim” e acrescenta que

está entendendo que ensinou tudo o que podia para os filhos M. e A.C. e agora eles

podem caminhar por eles mesmos. Pontua que está vendo seus filhos desta forma

depois que iniciamos o trabalho, mas antes era muito difícil. Preocupava - se muito

com eles, principalmente com A.C.

Pergunto se conseguirá lembrar - se da seqüência do exercício, para repeti - lo

em casa. Paciente diz que sim e recapitula.

Finalizo a sessão combinando de nos comunicarmos por telefone para agendar

novas sessões nos dias do seu retorno para tratamento médico porque a paciente reside em

cidade distante de Campinas.

Contato por Telefone - Data: 16 / 04 / 2000

C. permanece em sua cidade de origem e por esta razão faço contato por

telefone. A irmã N. está cuidando de C., junto com a nora S.. Informam que a paciente está

piorando fisicamente, está muito fraca e vem sendo internada para tomar sangue, na própria

cidade de origem. Virão para consulta na UNICAMP dia 28 / 04.

Peço para falar com C., que conta sobre sua fraqueza e mostra - se satisfeita

com meu telefonema e com a informação que irei atendê - la quando vier para a

UNICAMP. Coloca que não tem feito os exercícios de Relaxamento e Imaginação, pois

está fraca fisicamente. Explico que os exercícios são para fortalecê - la emocional e

espiritualmente e peço que mesmo fraca, procure fazê - los. C. coloca que irá começar na

segunda feira, pois hoje é domingo, aparecem muitas visitas e ela fica muito cansada. A

irmã N. volta ao telefone e pede uma orientação sobre como proceder com as visitas,

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porque elas cansam e angustiam C. Oriento para poupar a paciente e só deixar entrar

aqueles a quem C. queira ver. Oriento - a também sobre a importância dos exercícios de

Relaxamento e Visualização visto que estou impedida de atender a paciente com

freqüência, pela distância geográfica. S., nora, pede para falar e diz que seu marido M. e

sua cunhada A.C. ficaram fortalecidos após o nosso atendimento na Sessão de Orientação

Familiar e estão enfrentando melhor a situação. Teme pelo enfrentamento deles após a

morte de C. e também teme pela reação do sogro, marido de C.. Procuro tranqüilizá - la

pontuando que irei atendê- los após o óbito da paciente. Oriento também S. sobre a

importância de C. fazer os exercícios de Relaxamento e Visualização todos os dias.

Ficamos combinados sobre o atendimento no dia 28 / 04 na UNICAMP,

CAISM, ambulatório de Patologia Mamária.

Morte da Paciente:

Ligo na véspera do atendimento para confirmá - lo e sou informada pela filha

A.C. que C. foi a óbito dia 23 / 04. Pergunto como ela e sua família estão e A.C. responde

que ela está bem, pois estava preparada, sabia que isto iria acontecer, assim como os outros

familiares.

Procuro marcar a Sessão de Orientação Familiar pós – óbito, mas os familiares

colocam que não sentem necessidade de atendimento neste momento porque enfrentaram

bem a morte da paciente e estão também impossibilitados de viajarem para Campinas por

causa dos compromissos profissionais e gastos financeiros que tiveram com a doença e

óbito de C. Frente ao acima exposto, proponho para S. (nora) e M. (filho), nos

correspondermos, para que eu possa colher os dados finais e pontuo sobre minha

disponibilidade para atendê - los, em qualquer tempo que precisem. Os familiares de C.

prontamente aceitam.

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Correspondência entre a pesquisadora e os familiares em substituição à sessão pós -

óbito, para a aplicação do anexo 4:

- Correspondência da Pesquisadora para Família

Campinas, 28 de maio de 2000

Prezados S. e M., (nora e filho da paciente).

Como vão?

Em primeiro lugar quero agradecer a atenção e disposição em nos ajudar. Em

segundo quero dizer - lhes que realmente fiquei muito feliz por saber que vocês estão bem e

puderam enfrentar com coragem, serenidade e fortaleza a ida da C. para o mundo espiritual.

O objetivo desta carta, conforme combinamos por telefone, é ter o relato de

vocês sobre a re - significação da Dor Psíquica e da Dor Espiritual de C. no processo de

morrer, através do trabalho com Relaxamento Mental e Imagens Mentais que fizemos com

ela.

Para melhor situá - los vou dizer - lhes, em resumo, o processo em que consistiu

o trabalho: Relaxamento Mental através de respiração lenta e profunda e das músicas

Andinos, Divinos e Universalis do CD “Soprus Universalis”. Em seguida eu a orientava

para visualizar o ar sendo respirado na cor azul preenchendo todo o seu corpo, todos os

órgãos e assim acalmando - a física e mentalmente. Depois pedia para ela visualizar um

caminho dourado como o sol chegando em um lugar semelhante à imagem que ela

escolheu. (Anexo para vocês). Nesse lugar alem das árvores e flores também introduzimos

um lago refrescante, um casal de passarinhos ensinando o filhote a voar e observando que

ele havia aprendido e que já era capaz de sobreviver por si.

Pedia também que entrasse em contato com a beleza do Universo e com a sua

própria beleza espiritual. Seu corpo estava doente, mas seu espírito é belo.

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Orientava - a também que sentisse a presença do Ser Espiritual de sua escolha

(Nossa Senhora), envolvendo - a em amor, bondade e proteção. Pedia que imaginasse o

manto azul de Nossa Senhora envolvendo - a.

Com esse trabalho procurei re - significar os seguintes aspectos:

1) Tristeza pela perda da mãe na adolescência. (Imagem de N. Senhora

protegendo - a).

2) Humor Depressivo pela perda da disposição pela vida . (Conscientização

que seu corpo estava doente, mas seu espírito poderia sentir - se livre e é belo).

3) Angústia por deixar vocês filhos. (Imagem dos passarinhos pais vendo o

filhote voar sozinho). Ela mesma me disse, após este trabalho: “É verdade, já ensinei tudo

aos meus filhos e agora eles podem caminhar sozinhos”.

4) Centralizar o sofrimento em si e poupar a família. Procurei ajudá - la a

desfocar a mente do sofrimento e da doença e focá - la em mundos belos e tranqüilos

através da Imaginação.

5) Ela acreditava que estamos aqui para aprender e pontuei que este era um

aprendizado: perceber que mesmo o corpo estando doente, nosso espírito pode estar bem e

ligado a mundos belos. Esta colocação deixou – a calma e tranqüila. A) Gostaria que vocês,

por favor, me escrevessem contando como foi o processo de desligamento, de morrer, dela

e como na opinião de vocês esses cinco aspectos que eu citei acima aconteceram. Se o

nosso trabalho, com Relaxamento Mental e Imagens Mentais, ajudou C. a re - significar a

Dor Psíquica e a Dor Espiritual representadas pelos cinco aspectos que citei e se ela pode

morrer com menos sofrimento, tristeza, depressão, angústia por deixar vocês e se teve o

medo da morte minimizado.

B) Gostaria também de saber como nossos contatos e atendimentos ajudaram

vocês a lidar e enfrentar esta perda tão significativa.

C) Peço também que me relatem se algum de vocês sonhou com ela após o

óbito e como foi o sonho.

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124

Aguardo resposta e envio os meus mais sinceros agradecimentos pela

inestimável ajuda que vocês estão nos dando, neste processo de buscar caminhos que

atenuem a dor e o sofrimento daqueles que adoecem e morrem e de seus familiares.

Um afetuoso abraço extensivo a A.C. e demais familiares.

Ana Catarina

Obs: Quero reforçar que estou à disposição para atende - los quando precisarem

Correspondência da Família para a Pesquisadora:

- Carta de S. (nora da paciente e esposa do filho M.).

31 de maio de 2000

Prezada Ana Catarina,

Gostaria também de lhe agradecer pela sua disposição de nos oferecer sua

ajuda, pode ter a plena certeza de que você já nos ajudou bastante.

Vou então relatar a você Ana tudo que acho necessário e tudo que realmente

aconteceu a C.

Logo depois que ela veio de Campinas ela estava super bem. Mas, os dias

foram passando e ela foi piorando, o sangue baixava e nós levamos ela para o hospital. Lá

ela tomava quatro bolsas de sangue, soro, ficava três dias internada. Aí ela saia corada,

disposta, mas isso não durava muito, todo sábado ela ficava no hospital e isso se repetia

várias vezes.

Um sábado à noite mais ou menos 21:30h, ela teve uma crise. Ela ficou mole,

respiração e pressão fraca, chamávamos ela, mas ela não respondia. A ambulância veio e

levou - a, ficou mais 3 dias no hospital. Na terça - feira quando ela chegou já não estava

mais a mesma.

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Sua aparência era fraca, amarela, mesmo tendo tomado sangue. Nesse último

dia em que ela ficou no hospital tomando sangue, ela não estava bem.

Quando os enfermeiros estavam no quarto aplicando os medicamentos, ela

falava para eles:

Agora vocês vão me levar para o outro quarto, porque esse não é meu quarto.

Eu acho que ela já visitava o mundo espiritual.

Bom, logo quando foi quinta - feira ela só piorava, mas na sexta - feira ela já

acordou com uma força de vontade quis ir ao banheiro andando, escovou os dentes, tomou

café na mesa e aí disse: “Eu tenho que sair dessa cama”, mas depois de fazer tudo isso ela

disse já cansada com a respiração curta: “E eu não consigo mesmo, tenho que voltar para a

cama”.

Aí ela só dormia o dia inteiro. A tarde ela acordou e disse para Dona A., sua

sogra, que ela subia em um lugar azul, disse que andava bastante lá e depois descia.

(Grifo da pesquisadora).

Logo mais à noite, ela já não falava coisa com coisa mais.

Queria tomar banho era 21:30h, nós dizíamos a ela que já era noite e ela “quero

tomar banho”.

A gente falava assim quem é essa pessoa que está do seu lado, ela dizia que não

tinha nada do seu lado só um vulto. Acho que ela já estava se desligando desse mundo

material.

Quando já era 23:00h, falamos para ela, vamos tomar o remédio de dormir e

ela não queria tomar, então enganamos ela falamos que era remédio para Dor, aí ela tomou.

Ela foi ficando calma. Aí eu disse a ela se ela se lembrava da senhora. Ela

disse que sim. Aí eu fui falando com ela aquilo que você disse para nós sobre um lugar

bonito, ver nossa senhora lhe envolvendo com seu manto, aí ela adormeceu, com a

respiração bem fraca. No sábado já era 9:30h e ela não acordava, chamávamos ela e

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somente murmurava. Achamos melhor levá - la para o hospital. Então ela entrou em

coma profunda e ficou até sua morte, às 14:15h da madrugada de domingo de páscoa.

(grifo da pesquisadora).

Uma coisa que achei interessante: Fiquei com ela essa noite, M. (filho da

paciente), estava trabalhando no plantão, liguei para ele e ele chegou 13:30h, olhou a mãe

da janela do hospital, eu disse a ele vamos ficar juntos aqui, ele não quis e disse: vamos

comigo para casa, minha tia fica com ela. Mesmo sabendo que ela estava em coma eu disse

no ouvido dela: “C. o M. já chegou e nós vamos para casa, fica com Deus.” Isso eram

14:00h. Logo após, 15 minutos, ela morreu, bastou nós chegarmos em casa.

A) Olha Ana Catarina, a respeito dos aspectos que você citou, acho que eles

aconteceram, pois ela não sofreu, nunca teve dores (apesar de seu grave problema). Nunca

ficou triste (enquanto ela estava bem). Não demonstrou angústia por nos deixar. (Grifo

da pesquisadora). Medo da Morte ela nunca teve mesmo, pois lutou demais ate quando ela

pode.

B) Ana Catarina e o seu contato conosco nos ajudou a ver o problema, aceitar

essa vontade de Deus, e acreditar também que um dia nós vamos nos encontrar, e ver que

ela estava feliz realmente, nossa vida aqui é uma escola (que hoje estamos cursando e

aprendendo), um dia esse curso termina e vamos executar nossos conhecimentos em outro

lugar que não é escola.

C) Ana Catarina, sobre os sonhos, somente eu e o M. (filho da paciente),

sonhamos. O M. sonhou que ela estava em casa e ele dava a ela remédio, disse que foi um

sonho curto. Já o meu sonho foi no Domingo seguinte pós - morte de C.: Sonhei que fui vê

- la em um lugar que não conheço, e disse a ela: “C. ainda não acredito que você está

aqui. E ela respondeu: “nem eu ás vezes acredito, mas eu estou, e estou muito bem, e

aqui é muito bom”. (grifo da pesquisadora). E logo após eu acordei.

Sabe Ana Catarina eu estou um pouco impressionada com a morte da C., fico

achando que ela queria falar comigo, tenho medo, agora tenho medo de tudo. Mas acho que

isso passa, só mesmo a falta que ela faz é que não passa. Olha meu sogro, agora, às vezes

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ele chora um pouco, mas é bom porque ele ficou muito forte no dia, pouco chorou. Ele está

sentindo até mais a falta dela. A.C. e M. (filhos da paciente) acho que também choram às

vezes escondido. O M. ainda, nesta última segunda - feira chorou comigo, eu e ele

choramos pela falta, mas nós lembramos do sofrimento que ela poderia estar passando se

estivesse conosco, aí enxergamos que foi melhor assim.

Sabe Ana Catarina, eu e o M. agora formamos o alicerce da casa, pois o pai

dele nunca se preocupou com nada, tinha a C., A. C. ainda é adolescente, os velhos são

crianças, ficou tudo sobre nós, isso nos faz lembrar mais ainda dela.

Todos os dias peço forças a Deus, para enfrentar tudo que Ele colocou em

minha vida, e que faça tudo com muito amor, dedicação, firmeza. E é assim que vamos

levando a vida.

- Desculpe o desabafo Ana Catarina, espero que o que coloquei ajude - a em

alguma coisa.

- Me coloco a disposição para qualquer coisa que possa ajudar, é só você me

escrever.

Obrigado, Um grande abraço e que Deus a abençoe

S.

Respondemos a esta carta, agradecendo e pontuando nossa disponibilidade em

atendê – los, caso necessitem.

8.2. SEGUNDA PACIENTE: M.I.F.

8.2.1. Identificação

Idade: 38 anos

Estado Civil: casada há 13 anos com V.F.

Filhos: E. (12 anos) e J. (09 anos). Também teve uma menina entre os dois

meninos, que morreu com uma semana de vida.

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Residência: Interior paulista, próximo à Campinas. Moram na residência: M.I.,

o marido V., os filhos E. e J., o pai da paciente R. e atualmente a tia da paciente O., irmã do

pai, que está ajudando na administração da casa e no cuidado com as crianças.

Doença: Neoplasia maligna - Câncer de Ovário com metástase disseminada e

colostomizada.

Início do Tratamento: final de 1998

Hospital: CAISM - UNICAMP

8.2.2. Histórico Clínico:

Segundo o médico responsável pela paciente, ela está clinicamente bem, mas

Fora de Possibilidade de Cura, visto já ter feito várias quimioterapias e o câncer ter se

disseminado. Está internada há uma semana aguardando a cicatrização da colostomia.

Paciente sente, segundo o médico, muita ardência e dor no local.

M.I. ainda não sabe que está Fora de Possibilidade de Cura, mas suspeita,

segundo o médico. Seus familiares também não sabem. Equipe Médica da área de

Cuidados Paliativos irá orientá - los sobre este aspecto.

8.2.3. Sessões Psicoterapêuticas:

1o Sessão: 01 / 06 / 2000

Duração: 45 minutos

Atendimento Hospitalar

Encontro a paciente no leito, aparenta estar com o humor deprimido e uma

amiga da família, Sra. A., que tem idade para ser sua mãe, a acompanha. Dizem que se

gostam muito.

Apresento - me e explico minha proposta de trabalho. Afirmo que quando

estamos doentes tendemos a ter nossos pensamentos focados no medo, na dor, no

sofrimento, nas tristezas e meu trabalho é justamente procurar ajudar os pacientes a

desfocar a mente destes aspectos e focá - la em estados de paz e tranqüilidade. Explico o

processo e os resultados dos pacientes adolescentes do Projeto - Piloto. M.I. interessa - se

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pelo trabalho, parece animar - se. Explico que faço Mestrado e este trabalho faz parte da

minha Dissertação; pontuo que os atendimentos e resultados serão publicados, mas a

identidade dos pacientes será totalmente resguardada. M.I. aceita e concorda. Pergunto se

acredita na vida espiritual pós - morte. Diz que sim, mas ultimamente anda com muito

medo de morrer e começa espontaneamente a falar sobre o Anexo 2, Dor Psíquica e Dor

Espiritual.

Inicia sua fala referindo - se a Dor Espiritual: “Medo de Morrer”. Coloca que

tem pavor que pensem que ela morreu e ela, na verdade, ainda não ter, de fato, morrido e

acordar embaixo da terra, dentro de um caixão. Relata que outro dia, uma outra paciente,

que estava do seu lado, foi a óbito e a Enfermagem a ensacou e comentaram que

precisavam levá - la para a geladeira. Afirma que na sua visão foi tudo muito rápido. Como

estes profissionais poderiam saber se ela tinha realmente morrido, pergunta.

Explico - lhe que esta paciente antes de ir para a geladeira iria ser examinada

por um médico que daria o atestado de óbito. A paciente diz que pensa sobre isto sem parar

e fica apavorada em supor que poderá acordar embaixo da terra dentro de um caixão.

Pergunto - lhe se ouviu alguma história assim e a paciente diz que quando era adolescente

ouviu várias histórias de pessoas que foram encontradas reviradas no caixão, inclusive

artistas. Digo - lhe que vou procurar ajudá - la tanto pela orientação lógica como nos

aspectos emocionais. Explico que hoje a medicina está bem mais avançada e consegue

detectar com maior precisão se a pessoa está morta realmente ou não. A paciente concorda.

Digo - lhe também que pelo aspecto emocional vou procurar ajuda - la a desfocar sua mente

desses aspectos sombrios, sufocantes, para aspectos livres, claros, suaves, tranqüilos.

Entendo este “medo de morrer e não ter morrido”, como uma negação da

morte e uma idéia da espiritualidade como algo sufocante e tenebroso. Analisando seu

histórico de vida que descrevo a seguir, este “medo de morrer e não estar morta” e ficar

sufocada podem, também, estar relacionada a uma idéia de punição vinculada à culpa que

sente perante Deus.

Começo a investigar os dados do Anexo 1 (Anamnese), procurando conhecer

sua história de vida. A Entrevista Semi Estruturada na Pesquisa Qualitativa permite esta

flexibilidade de circular sobre temas a serem pesquisados de acordo com a dinâmica da

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sessão e as necessidades da paciente, sem necessariamente seguir - se uma seqüência

rígida, conforme citações da literatura no Capítulo 1 Introdução Teórica.

Pergunto sobre sua Família de Origem, explicando o que este termo significa.

M.I. responde que até os 14 anos sua vida foi ótima. Perdeu a mãe com 15 anos. Lembra -

se com muita mágoa do dia que sua mãe foi para o hospital: saiu sem dar - lhe seu

costumeiro copo de leite na cama. Ela, M.I., ficou chorando e pedindo o leite, mas o pai

levou a mãe às pressas e uma semana depois ela morreu no hospital, “do coração”, enfarto.

“Morreu sem dar - me o leite”, diz.

É a filha caçula, tem um irmão e uma irmã mais velhos que trabalhavam fora na

época. Precisou responsabilizar - se por todo o serviço da casa, sem saber de nada. Pontuo

que “do dia para a noite” de criança que tomava o leite na cama precisou tornar - se dona da

casa. Foi um salto muito brusco. M.I. sente - se acolhida e prossegue: para piorar seu pai

adoeceu e ela, alem de cuidar da casa, precisava ir para a roça fazer o trabalho do pai.

Pergunto sobre sua Família Atual, explicando o significado do termo. M.I.

responde que se casou aos 25 anos, há 13 anos atrás. Teve uma vida muito ruim. Seu

marido bebia e batia nela. Tinha medo de se separar e ele fazer algo pior que bater e por

isto resolveu agüentar. Atualmente ele está completamente mudado, dá comida na boca

dela, carrega - a no colo. Bebia e batia nela por ciúmes. Hoje se arrepende. M.I. acrescenta

que sente - se culpada por sua vida ter sido uma droga. Casou - se sem amar o marido de

verdade e ele, por sua vez, gostava muito dela. Achava ele muito sofrido, sempre teve pena

e como ele adorava - a, achou que poderia ser feliz. Em seguida ao casamento nasceu o

primeiro filho. Ficava ocupada cuidando da casa, do filho, do pai e afastou - se “um pouco”

do marido. Este ressentiu - se, começou a beber, a dizer que ela tinha outro e a bater nela.

Todo mundo sofria. Sua vida virou um inferno. Não foi uma vida boa, foi muito sofrida,

frisa. Houve poucos momentos de felicidade.

Pergunto - lhe quantos filhos eles têm. M.I. responde que tem dois meninos: E.

com 12 anos e J. com 09 anos. Entre os dois meninos teve também uma menina, mas

devido às brigas e às surras que tomava do marido, a criança nasceu prematura e morreu

com uma semana. Sente muita mágoa porque nunca a carregou no colo.

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Digo - lhe que parece - me que ela sente muita culpa por sua vida ter sido tão

triste. M.I. concorda e acrescenta que a doença a ajudou a crescer, a mudar sua forma de

agir. Gostaria que Deus lhe desse saúde para usufruir a vida com o que aprendeu após ficar

doente. Afirma ter mudado sua forma de ser com a doença.

Procurando ajudá - la a amenizar a culpa, digo - lhe que nesse momento uma

boa alternativa é o perdão. M.I. coloca que ao marido já perdoou, mas a ela mesma, não.

Procuro mostrar - lhe que ela fez o que podia, fez o que conseguiu, o melhor dentro de seu

limite. Ela concorda que realmente dentro do que entendia fez o melhor. Com a doença, a

sua forma de ver a vida modificou - se, mas antes não tinha como aprender, ficava

envolvida nas tarefas e não dispunha nenhum tempo para dedicar ao marido.

Neste ponto identifico que a paciente esta discorrendo de forma espontânea

sobre o outro aspecto do Anexo 2 a ser pesquisado: Dor Psíquica. Observo que frente ao

acima exposto na Anamnese, a Dor Psíquica da paciente esta relacionada aos seguintes

aspectos:

- Humor Depressivo / Culpa frente às Perdas: Culpa - se por ter perdido a

oportunidade de ter uma vida mais feliz.

- Humor Depressivo / Tristezas, Mágoas: Sente tristeza, guarda mágoas, sente

- se abandonada porque sua mãe não lhe deu o copo de leite antes de ir para o hospital

e morreu, abandonando - a.

Proponho que comecemos o trabalho com as técnicas de Relaxamento Mental e

Visualização de Imagens Mentais integradas à Espiritualidade. A paciente concorda.

Ofereço o Álbum de Imagens (Anexo 7). A paciente pede para sentar - se na cama e mostra

- se muito interessada. Peço - lhe que me mostre as imagens de que mais gostou. Ao folhear

comenta que são todas lindas, que transmitem muita paz, são claras e suaves. Embora tenha

gostado de todas, as que mais gostou foram a no 5, no 11, no 12 e no 31.

Afirma que a no 5 e no 31 sugerem uma pescaria e ela adora pescar. Conta que

foi outro dia pescar com seu pai e seus filhos. Para ela é uma terapia. A no 11 sugere um

banho de cachoeira, do qual ela também gosta e a no 12 sugere um pé de maçã e ela

embaixo, descansando.

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Comenta com sua acompanhante, que neste momento aproximou - se, que estas

imagens sugerem uma vida tranqüila, feliz, muita paz. Volta sua atenção novamente para

mim e comenta que quando estava voltando da cirurgia da colostomia, viu luzes muito

brilhantes e bonitas como as do filme “GHOST” e pensou que ia morrer. Neste momento

sentiu - se muito bem. Mas desde este dia, da cirurgia, não consegue mais ver as luzes e só

visualiza uma cor preta, o que muito a assusta.

Digo - lhe que justamente é esta minha proposta: desfocar sua mente desse

preto, dessas tristezas, mágoas, culpas, medos e focar em estados serenos. A paciente

concorda.

Ofereço a música “Andinos” do CD “Soprus Universalis” e peço à paciente que

observe se gosta ou não desta música. Caso não goste, poderei oferecer outras. M.I. diz que

gostou desta música e com ela “vai dormir”. Pergunto também se existe algum Ser

Espiritual que lhe inspire proteção. Paciente coloca que antes pedia muito as coisas para

São Judas, mas agora sua ligação é com Cristo.

M.I. pergunta - me se deve tornar a deitar a cama ou permanecer na posição

sentada. Digo - lhe que fique na posição que se sentir melhor, apenas não cruze pernas ou

braços e deixe o corpo solto. A paciente escolhe deitar - se.

Explico - lhe que vou orientar o exercício e peço que feche os olhos.

Tempo aproximado de exercício: 10 minutos

Peço que respire lenta e profundamente, procurando imaginar o ar na cor azul

céu entrando e envolvendo todos os seus órgãos: cabeça, nuca, ombros, braços, mãos,

tórax, abdômen, costas, pernas, pés. Peço que imagine muito oxigênio azul nas regiões

onde o tumor está localizado. Peço que em seguida imagine - se andando em uma estrada

dourada de sol e chegando a um local muito verde com um lago, como ela havia escolhido.

Peço que também visualize do lado esquerdo deste local uma macieira frondosa e do lado

direito, uma cachoeira muito límpida. Peço que entre na cachoeira, sinta a água levando

embora todas as tristezas, mágoas, medos. Peço que em seguida dirija - se para a árvore,

sente - se embaixo dela e sinta a beleza da Natureza, do Universo. Sinta em seguida, a sua

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própria beleza interior. Digo - lhe que ela faz parte do Universo e é bela como ele. Peço -

lhe que entre em contato com sua beleza, com suas qualidades. Observo que nesta pausa,

dos olhos fechados da paciente marejam algumas lágrimas.

Digo - lhe que vá agora até o lago muito azul, sob um céu muito azul e fique lá

pescando, sentindo a paz, a tranqüilidade, a serenidade desse local imaginário e depois,

volte para o quarto quando quiser, trazendo a sensação de paz. Observo que a expressão da

paciente aparenta serenidade e tranqüilidade.

Após alguns minutos a paciente abre os olhos, estremecendo. Diz que estava

tão bom e de repente o local sumiu, ela voltou. Acrescenta que o exercício foi ótimo e ela

está se sentindo muito bem.

Pergunto - lhe se ela conseguiu visualizar minhas orientações. M.I. diz que sim,

que só não conseguiu ver a cor azul. Explico - lhe que isto é natural, estamos começando o

trabalho e na próxima sessão poderei trazer figuras com a cor azul céu, para ela fixar a

visão e gravar. A paciente concorda.

Assina o Termo de Consentimento (Anexo 5), seu pai chega neste momento

para visitá - la (M.I. comenta que ele vem todos os dias, que se gostam muito) e ela pede

para ele assinar no lugar do cuidador.

Combinamos a próxima sessão e despeço - me. Sua acompanhante comenta que

é visível o bem que o trabalho fez para M.I.

2o Sessão: 06 / 06 / 2000

Duração: 45 minutos

Atendimento Hospitalar

Encontro M.I. com um dreno no pulmão, triste e abatida. A paciente relata, com

esforço, que dois dias atrás perdeu a veia, fizeram um procedimento para criar um acesso

venoso central para a veia jugular colocando - se o Intracath mas, por acidente, este acesso

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foi parar na pleura e toda a medicação que ela estava tomando passou a ser drenada para

dentro do pulmão.

Desabafa que não queria este procedimento, mas a médica do plantão insistiu,

mostrou - lhe a necessidade; estava andando, com boa recuperação da colostomia, prestes a

ter alta e ir para casa, quando quase morre de repente, sem ser do câncer. Coloca que no dia

seguinte do procedimento (dia anterior a este atendimento) sentiu muito dor nas costas até

descobrirem o que realmente havia acontecido. Levaram - na imediatamente para o Centro

Cirúrgico, pois ela estava indo a óbito por asfixia. No procedimento cirúrgico sentiu dores

muito fortes. Seu marido acompanhou - a e disse - lhe que podia sentir a dor que ela sentia;

quando M.I. voltou para o quarto ele pediu para sair e fumar e quando voltou estava com os

olhos inchados de tanto chorar. O gesto do marido comoveu - a e abrandou sua dor. Sentiu -

se amada.

M.I. faz o relato do acidente no procedimento cirúrgico com muita mágoa.

Demonstra sentir - se desamparada e prejudicada; repete várias vezes que poderia ter

morrido e não seria da doença. Parece - me que vivencia o ocorrido como mais um "mau

trato", uma violência, na sua vida.

Por outro lado, diz, com os olhos cheios de lágrimas, que em relação ao marido,

aprendeu a gostar dele. Descobriu, com a sua doença, uma dedicação por parte dele que não

havia percebido. Descobriu - se repleta de carinho e ternura por ele. Neste ponto pede para

não falar mais, pois esta cansada.

Identifico no exposto acima de forma espontânea, (sem questionamento de

minha parte), o item do Anexo 1, visão do paciente frente sua doença. A paciente refere -

se a doença como um sofrimento que a levou a rever sua atitude, sua postura e conduta

diante da vida.

Até este ponto procurei escuta – la e oferecer continência, acolhimento e

compreensão por sua dor e por seu sofrimento. No momento em que ela pede para não mais

falar, digo - lhe, com uma postura muito terna, para tranqüilizar - se e me escutar.

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Afirmo que compreendo sua dor. Com tantas dores que teve na vida, tanto

sofrimento, este acidente, posso perceber, muito a magoou. Procuro assim trazer para o

nível verbal as sensações que ela transmite. Procuro também pontuar que não foi proposital

e sim um acidente buscando minimizar sua sensação de “violência”, de "mau trato" frente

ao ocorrido.

Em seguida procuro orientar seus pensamentos para os ganhos que tem tido,

principalmente o reencontro terno, amoroso, carinhoso com o marido. Procuro mostrar - lhe

que seu corpo está doente, mas, seu espírito se fortalece nos ganhos afetivos, no melhor

relacionamento com o marido e no próprio crescimento interno dela. A paciente concorda e

mostra - se mais calma.

Ofereço - lhe imagens que contêm a cor azul celeste para que ela possa

memorizar esta cor visto sua dificuldade para visualizá - la. Ofereço - lhe também uma

cópia da Imagem 5 que ela havia escolhido. A paciente encanta - se e diz que irá

mostrá - las para o pai e o marido. Proponho o exercício mental.

Tempo aproximado de exercício: 10 minutos

Oriento - a para respirar lenta e profundamente e ir simultaneamente,

visualizando o oxigênio na cor azul ou branca brilhante, circulando por todo seu corpo:

cérebro, nuca, pescoço, braços, mãos, costas, tórax, abdome, pernas e pés. Peço que

intensifique a visualização na região dos pulmões onde ocorreu o acidente e nas regiões dos

intestinos e genital, onde a massa tumoral está localizada, procurando sentir minimização

da dor e alívio do sofrimento. (Introduzo a cor branca como alternativa para a cor azul,

por ser esta uma cor clara, tranqüila e mais fácil que a azul, de ser visualizada).

Peço que se imagine caminhando por uma estrada muito dourada pelo sol, com

um céu azul e chegue ao seu lugar imaginário escolhido.

Peço que visualize o lago azul, a macieira frondosa, à esquerda e a cachoeira, à

direita. Oriento que entre na cachoeira e deixe a água escorrer por seu corpo, levando

embora toda a mágoa.

Oriento - a em seguida para caminhar até a árvore e visualizar um caminho que

leva a uma casa de crianças de todas as idades: desde recém nascidos até crianças de 12

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anos. Peço que visualize uma casa multicolorida em tons pastéis e com um parque de

diversões na frente. Peço que entre na casa, veja as crianças e escolha alguma para brincar e

pegar nos braços se quiser. Faço uma pausa por alguns minutos nesta imagem,

procurando ajudá - la a entrar em contato através destes símbolos, com sua "criança

interna" que sente - se maltratada, violentada, abandonada pela vida, pela mãe que não

lhe deu o leite, foi para o hospital e morreu e neste momento pela "médica - mãe" que

drenou acidentalmente o Intracath para o pulmão.

Percebo que a face da paciente no contato com este quadro se suaviza e em

seguida observo que ela adormece.

Permaneço ao seu lado por mais alguns minutos e como a paciente entra em

sono profundo, encerro o atendimento.

Deveria nesta sessão ter pesquisado sobre a parte final do Anexo 1:

Escolaridade / Profissão e Religião, mas como a paciente estava muito fraca, optei por não

fazê – lo, neste momento.

3o Sessão: 08 / 06 / 2000

Duração: 45 minutos

Atendimento Hospitalar

Encontro a paciente acompanhada pelos familiares os quais, imediatamente,

dispõem - se a sair para que ela possa ser atendida. M.I. também aceita prontamente a

sessão.

Relata que ainda sente muita tristeza pelo que lhe aconteceu, o acidente na

pleura. Afirma que o momento em que sente mais tristeza é a hora do procedimento para

drenagem, por causa da intensa dor física que esta intervenção suscita. Sente mágoa.

Entendo esta dor, como física, relacionada às lesões sofridas pelo acidente, mas também

com o colorido dos maus tratos que sofreu no passado, das surras que o marido lhe deu.

Parece - me que dois aspectos se sobrepõem e se entrelaçam neste momento, nesta dor: o

físico e o simbólico. Digo - lhe que entendo sua dor, que ela se sente muito magoada porque

já vivenciou tantos maus tratos na vida e está sentindo este acidente como mais um.

A paciente concorda.

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Por outro lado observo que ela parece ser muito querida. Todos os dias recebe

visitas e sempre tem alguém acompanhando - a. Nunca está só. Digo isto para ela e M.I.

responde, dizendo que é verdade. Sua expressão ilumina - se. Relata que sempre procurou

ajudar os outros, nunca teve preconceitos de cor, raça, religião. Realmente tem muitos

amigos. Complementa colocando que somente quando adoeceu, conscientizou - se do tanto

que é querida. Antes não havia percebido. (Novamente identifico nesta fala o item “Visão

da Doença” do Anexo 1. A paciente refere - se a doença como um sofrimento que a levou

a rever sua atitude, sua postura e conduta diante da vida.) Conta que um dia recebeu

tantas visitas, tinha tanta gente em sua casa que pareceu - lhe ser seu funeral. Mas ela

estava viva. (Parece - me que com esta observação ela mostra um aspecto ambivalente,

uma dúvida, na sua percepção de ser querida, um traço depressivo de sua

personalidade). A paciente parece perceber isto e continua seu relato dizendo que está se

esforçando para mudar o foco dos seus pensamentos. Está procurando pensar de forma mais

positiva, mais otimista, e embora encontre muita dificuldade, tem feito progressos: percebe

que embora tenha sofrido muito no acidente com o catéter, pode observar a proteção do

Cristo na sua vida e a dedicação do marido que correu atrás dos médicos e alertou - os que

ela estava morrendo. Conclui que a proteção espiritual de Cristo e a dedicação do marido

salvaram sua vida.

Relata sorrindo que encontrou uma ótima tática para enfrentar a dor física:

grita. Na hora de tirar o dreno do pulmão sentiu uma dor terrível e gritou bem forte. O grito,

afirma, ajudou - a no enfrentamento do procedimento.

Investigando os aspectos do Anexo 1 que faltam ser pesquisados pergunto sobre

sua Religião. M.I. coloca que antes era católica e agora é evangélica. Antes pedia as coisas

para os santos mas agora aprendeu que não se deve pedir para "santos de pedra" mas direto

para Cristo. Para ela atualmente o "Ser Espiritual de Proteção" é Cristo.

Pergunto sobre sua Escolaridade e Profissão. M.I. responde que se formou em

Magistério. Não seguiu carreira porque se casou. Lamenta, atualmente, não ter ido

trabalhar. Pontuo seu esforço: cuidava da casa, trabalhava na roça e à noite estudava. A

paciente diz que realmente nunca foi preguiçosa mas sim, muito disposta e trabalhadora.

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Procuro sempre em minhas pontuações valorizar suas qualidades e seus

esforços visando minimizar seu negativismo, seu ressentimento, seu humor depressivo.

Pergunto sobre sua Visão da Doença. Paciente responde que adoeceu no final

de 1998. Submeteu - se à primeira cirurgia em 29 de março de 1999. Foi muito difícil.

Sentia muito desespero por saber que tinha poucas chances e seus filhos ainda são

pequenos. Atualmente seu marido está hospedado na casa da mãe dele, a qual é próxima ao

CAISM / UNICAMP, para que ele possa acompanhá - la todas as noites. Seu pai e sua tia

(irmã do pai, senhora de 73 anos, mas muito forte), estão cuidando de seus filhos.

Pergunto sobre suas crenças em relação à causa da doença. M.I. responde que

atribui ter feito um câncer por causa de uma depressão que teve algum tempo antes do

aparecimento dele. Entrou em depressão depois que sua irmã mais velha morreu de "câncer

na cabeça" e seu sobrinho de 12 anos, filho do irmão, brincando com o melhor amigo, com

uma arma de fogo, escondido da família, matou este amigo. O sofrimento, o desespero do

sobrinho acarretou muito sofrimento para ela e para toda a família. Relata que o câncer

começou a nascer e foi rápido. Na cirurgia os médicos conseguiram raspar o tumor, mas a

quimioterapia, embora muito forte, não surtiu efeito e o tumor disseminou - se. Ainda tem

esperanças que Cristo a cure. Quimioterapia não pode mais tomar. Neste ponto volta a falar

do câncer como ponto de mutação. Coloca que aprendeu muito com a doença. Pontuo que

parece - me que ela aprendeu a reconhecer o que tinha de bom dentro de si e no em torno.

M.I. sorri e diz que aprendeu também a reconhecer o que tinha de ruim dentro de si; era

muito agressiva, muito dura. Agora tenta consertar. Pontuo que ela aprendeu a controlar a

agressividade e a fortalecer o lado amoroso. M.I. concorda, diz que é verdade.

Pergunto sobre o exercício mental da sessão anterior. Paciente diz sorrindo "eu

dormi, quando acordei, a senhora não estava mais aqui”. Acalmei - me, afirma. Lembra - se

que chegou a ver as crianças, mas não pegou nenhuma no colo. Voltou para o lago e depois

não viu mais nada. Dormiu.

Pergunto - lhe se quer repetir o quadro das crianças. Paciente diz que sim. Pede

para eu ir "aprofundando" o exercício e ela vai procurando seguir minhas orientações.

Neste ponto faz uma referência ao seu filho mais velho, que, segundo parece, está

revoltado, indo mal na escola. Preocupa - se com a criança. Oriento - a para buscar

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atendimento psicológico individual e proponho - me a atende - lo hoje, junto com a família

na Sessão de Orientação Familiar.

Ofereço o exercício mental e paciente aceita prontamente

Tempo aproximado de exercício: 15 minutos

Oriento - a para respirar lenta e profundamente, visualizando seus órgãos sendo

envolvidos por uma luminosidade azul ou branca, como preferir, (visto sua dificuldade em

visualizar a cor azul) e, em seguida, entrar em um caminho dourado como o sol. Chegar até

seu local escolhido, à beira do lago, visualizar a macieira carregada de frutos, à esquerda e

a cachoeira, à direita. Peço que se imagine tomando um banho de cachoeira e a água

levando embora suas mágoas, tristezas, angústias. Oriento - a em seguida para dirigir - se

para a macieira, visualizar o caminho para a casa das crianças e dirigir - se para este local.

Ao chegar, entrar, se quiser, e escolher alguma criança para segurar no colo e brincar.

Deixo – a, alguns minutos, neste quadro. Peço em seguida que visualize o local e volte nele

sempre que desejar. Oriento que volte para a macieira e sente à beira do lago. Sinta a

beleza do Universo, procure integrar - se com esta beleza universal e procure sentir sua

própria beleza interior, suas qualidades. Sinta também o amor protetor de Cristo. Deixo – a,

alguns instantes, neste quadro e peço que volte para o quarto, lentamente, procurando trazer

consigo uma sensação de paz.

Ao abrir os olhos, M.I. relata, muito feliz, que conseguiu ver o caminho,

conseguiu ver uma luz no caminho, ainda fraca, mas viu. Conseguiu ver a casa das

crianças, entrou e carregou no colo um recém nascido, rosado, lindo. Viu também a

macieira carregada de maçãs. Pontua que está muito feliz por ter conseguido.

Na saída da sessão a Enfermagem comenta que este trabalho está fazendo muito

bem à paciente.

1ª Sessão de Orientação Familiar: 08 / 06 / 2000

Duração: 45 minutos

Atendimento Ambulatorial

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Comparecem a sessão o pai da paciente, Sr. R., o marido da paciente, Sr. V. e o

filho de 12 anos, E.

(Fui orientada, pela Equipe Médica, que a família ainda será oficialmente

informada do estado de "Fora de Possibilidade de Cura" da paciente).

Apresento - me e explico sobre o trabalho que estou desenvolvendo, visto não

ter tido contato anterior com o marido e filho da paciente. O pai da paciente, por sua vez, na

primeira sessão, havia assinado o Termo de Consentimento e sido assim informado da

natureza deste trabalho.

Pergunto - lhes sobre como estão sentindo a doença da paciente. V. (marido)

responde que “não é fácil”. Se pudessem curá – la, o fariam. Agora só resta conformarem -

se com a doença. O pai da paciente Sr. R., concorda. E. (filho) permanece calado.

Pergunto - lhes sobre qual a opinião deles em relação aos medos, tristezas,

angústias da paciente. Procuro pesquisar a Dor Psíquica na visão do Cuidador. V.

responde que a paciente tem medo de escuro. Não dorme no escuro. (Identifico este medo

do escuro como representação do medo da morte: Dor Espiritual). Respondo que este

medo pode estar relacionado ao processo da doença, mas é bom atende - la e procurar

manter alguma luminosidade quando ela for dormir. Oriento que podem colocar uma luz

muito fraca, azul, no quarto e assim quebrar o escuro.

Procuro pesquisar novamente sobre a Dor Psíquica, mas os familiares não

conseguem falar sobre tristezas e angústias da paciente. Pergunto qual a opinião deles

em relação à espiritualidade, ao sentido da vida e da morte, para a paciente. V. responde

que acredita que ela está bem espiritualmente porque está sempre procurando ajudar a

pessoas que estão no mesmo quarto que ela. Acrescenta que ela gostava muito de uma

senhora de 76 anos que estava no leito ao lado dela, e chorou muito quando esta senhora foi

a óbito. Ele acredita, por esta razão, que o sentimento fraterno de M.I. está bem fortalecido.

Pela minha análise identifico neste aspecto a Dor Psíquica: Humor

Depressivo / Tristezas frente as Perdas; a tristeza pela morte da companheira de quarto

representando a tristeza pela perda da própria vida, que está relacionada com um ponto

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semelhante identificado anteriormente em sessão com a paciente: Humor Depressivo /

Culpas frente às Perdas: Culpa - se por ter perdido a oportunidade de ter uma vida mais

feliz.

Observo a dificuldade geral em falarem sobre o sofrimento da paciente, sobre

o real estado de saúde dela e também a dificuldade em falarem sobre seus próprios

sofrimentos. Observo também o pacto do silêncio; o não falar sobre a doença e a

gravidade desta, o sofrimento, os sentimentos. Não conversam e parece que não se apóiam

mutuamente. Parece que cada membro da família vive de forma isolada sua dor. Opto por

começar a minimizar este silêncio entre eles, através de uma aproximação familiar.

Digo que posso perceber o sofrimento deles e também perceber a grande

dificuldade que eles apresentam em falar sobre este sofrimento. Explico que parece que eles

fizeram um acordo sutil entre eles de não falarem sobre os sentimentos. Explico o quanto

esta atitude é prejudicial e oriento - os a procurarem conversar entre si e falar sobre o que

sentem. O marido e o pai da paciente são receptivos a minha colocação, mas o filho

continua fechado e mesmo quando dirijo - me a ele permanece nesta atitude. Digo - lhe de

forma direta que sei que ele está sofrendo, está muito triste com a doença de sua mãe, com

o fato dela não mais poder cuidar dele como antes e que este sofrimento é esperado frente à

situação. É natural. Por outro lado, digo - lhe, seria muito bom se ele pudesse aproximar -

se mais do pai. V. neste ponto coloca que tem tentado, mas o filho não tem aceitado.

E. neste momento relaxa o corpo e move o tronco para frente, parecendo abrir -

se para a sessão. Pergunto - lhe se é difícil para ele falar sobre isto. E. diz que sim.

Pontuo novamente a importância de uma aproximação afetiva na família, de

uma quebra deste silêncio.

V. coloca que sua esposa deverá ter alta na próxima semana. Oriento que

poderei atendê - la no domicílio, uma vez por semana e pergunto se aceitam. Tanto V.

como R. dizem que sim, que a paciente está gostando muito desta intervenção

psicoterapêutica, que inclusive pediu para que V. colocasse as imagens que eu havia

dado para ela na parede, em frente à cama, para ficar visualizando.

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Encerro a sessão colocando que manterei contato com eles no domicílio e

gostaria de conhecer o filho caçula.

4o Sessão: 12 / 06 / 2000

Duração: 60 minutos

Atendimento Hospitalar

Paciente irá receber alta e está com muito medo de ir embora. Relata que não

dormiu à noite, sentiu uma dor generalizada por todo o corpo. Está muito desanimada,

sentindo - se fraca. Está com medo de piorar e voltar para o Hospital.

Procuro compreender sua dor, seu medo. Parece - me que ele está ligado

diretamente à percepção do seu estado de Fora de Possibilidade de Cura e o medo do

contato com esta percepção.

M.I. relata que foi informada que está clinicamente bem para voltar para casa,

mas o tumor não respondeu à quimioterapia e está avançando; não foi oficialmente

informada que está Fora de Possibilidade de Cura, mas, de certa forma, isto está implícito.

Encorajo - a para que continue falando. M.I. coloca que não está agüentando

mais o cheiro do Hospital. Perdeu o apetite e está com receio de perde - lo de vez. (Parece -

me medo da morte). Fala em seguida que seu problema é o medo. Insegurança. Falta força

de vontade. No primeiro obstáculo enfraquece. Pergunto - lhe qual obstáculo. Ela responde

que o obstáculo pode ser, por exemplo, a "tossinha". Com a tosse começa a fantasiar que

esta, pode levá - la a algo muito pior. Todos dizem que ela é forte, mas ela não é. Hoje pela

manhã começou a chorar e seu marido ficou nervoso. Mostra no seu relato muita

angústia, desamparo. Finaliza dizendo que está perdendo as forças.

Procuro em uma atitude de muito acolhimento e conforto ajudá - la a entrar em

contato com seu medo, com sua dor. Digo - lhe que parece - me que seu real medo é de

morrer. Que sente que não está melhorando. A paciente concorda. Procurando ajudá - la a

entrar em contato com a verdade do seu estado de forma gradativa, digo - lhe que ninguém

sabe o que irá acontecer mas existe uma possibilidade dela não melhorar, não ficar na

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Terra, ir para o mundo espiritual. A paciente aceita. Caminho um pouco mais e digo - lhe

que parece que sua angústia está relacionada com a dificuldade de pensar sobre esta

possibilidade, mas, é melhor pensar porque isto pode lhe ajudar a minimizar a angústia.

Acrescento, orientando - a para conversar com o marido sobre isto. Dizer para ele como

gostaria que seus filhos fossem educados mas, também, aproveitar o momento presente, o

tempo disponível para dar e receber de sua família, todo o amor que sentir. Aproveitar esta

ida para casa e criar um ambiente afetivo e tranqüilo entre eles. Conversar, falar o que

sentem. Digo - lhe que acredito que isto poderá fazer - lhe bem.

Acrescento que concordo com as pessoas que ela tem um lado forte mas sei que

ela tem também um lado fraco. Este lado fraco é o medo, o desamparo, a percepção de que

as forças estão faltando. Digo - lhe que comigo pode mostrar este lado fraco e chorar. M.I.

começa a chorar e diz que quer lutar e sarar, mas não consegue. Ofereço amparo e

acolhimento e digo - lhe que ela está exigindo demais de si mesma. O câncer está muito

avançado e exigir de si uma remissão é uma tarefa frustrante e quase impossível. Lutar

contra a doença do corpo talvez não seja possível, mas buscar a paz interior e criar um

clima afetivo na família é possível. Paciente concorda. Combino ir atendê - la no domicílio

uma vez por semana e proponho o exercício mental, o qual a paciente prontamente aceita.

Digo - lhe que vou levá - la para sua infância, para os braços de sua mãe, para

uma época em que ela foi feliz. A paciente fecha os olhos.

Tempo aproximado de exercício: 15 minutos

Oriento que respire profundamente e imagine uma luz muito brilhante

envolvendo - a externamente e entrando em seu corpo através da respiração, envolvendo

todos os órgãos: cabeça, pescoço, costas, tórax, braços, mãos, pernas, pés e principalmente

no abdômen e área genital, onde se localiza o tumor.

Peço, em seguida, que entre em um caminho dourado pela luz do sol, com um

céu muito azul e chegue no seu lago; veja a macieira carregada de frutos à esquerda e a

cachoeira, à direita. Entre na cachoeira e sinta a água caindo no seu corpo, levando as

tristezas, as mágoas embora.

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Em seguida peço que volte para o lago e veja sua mãe sentada na beira deste

lago e ela, criança, nos braços da mãe. Oriento que se sinta no colo da mãe, sinta seu

carinho, sua proteção seu conforto. Sinta a alegria de estar protegida nos braços da mãe.

Observo que nesta imagem o rosto da paciente suaviza e ela murmura "que

delícia".

Fixo a orientação nesta imagem por mais cinco minutos, aproximadamente.

Oriento, em seguida, que “volte” para o quarto quando quiser e traga consigo a

sensação de conforto e proteção do colo da mãe; sugiro que ela mantenha a imagem da mãe

presente no seu pensamento.

A paciente, após alguns momentos, abre os olhos, e diz que está "bem melhor"

e torna a fechá – los, com a expressão suave, dizendo que quer continuar nesse estado e

nessa imagem.

Orientei a paciente nesse exercício para sentir - se criança nos braços da mãe

visando minimizar a Dor Psíquica pesquisada, relacionada a mágoa por sentir - se

abandonada pela mãe: Humor Depressivo / Tristezas, Mágoas: (Sente tristezas, guarda

mágoas, sente - se abandonada porque sua mãe não deu - lhe o copo de leite antes de ir

para o hospital e morreu, abandonando - a). Nas sessões anteriores procurei ajudar a

paciente a entrar em contato com sua criança interna, seus aspectos infantis, sua carência

afetiva, seu sentimento de abandono, através de si mesma, do seu próprio lado adulto mas,

nessa sessão, julguei conveniente colocar a imagem de sua mãe como símbolo de proteção

e amparo, visto a paciente encontrar - se muito assustada e amedrontada com a percepção

de seu estado de saúde e possivelmente, sua morte próxima e ter mostrado em seu relato,

muita angústia, muito desamparo e principalmente, a sensação de estar perdendo as

forças.

5o Sessão: 19 / 06 / 2000

Duração: 60 minutos

Atendimento Domiciliar

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Encontro M.I. no leito. Ao me ver, senta - se na cama, mostrando - se disposta

para o atendimento.

Afirma que está desanimada desde que chegou do hospital, sente que as forças

estão indo embora. Peço que me fale sobre este desânimo. M.I. diz que tinha esperanças de

fazer mais quimioterapia e sarar, mas agora sabe que não irá mais fazê - la pois esta, não

surtiu resultados. Os médicos da Equipe de Cuidados Paliativos do CAISM conversaram

com seu marido e com seu irmão e explicaram que não há mais o que fazer em termos

curativos, pois o câncer não respondeu ao tratamento e avançou de forma irreversível.

Pergunto como ela recebeu esta notícia. M.I. coloca que pressionou o marido e

ele acabou contando, mas mesmo assim pressiona - a para lutar e sarar.

Pergunto se ela está com medo. M.I. responde que este é o problema: tem muito

medo do sofrimento do fim, das dores. (Dor Psíquica: medo do sofrimento). Digo - lhe em

uma postura de muito acolhimento e doçura que, além do medo do sofrimento, ela também

está com medo da hora da morte. (Dor Espiritual). M.I. prontamente diz que é isto

mesmo. Coloco que precisamos conversar sobre isto, pois se não falarmos, a situação fica

muito ameaçadora. Paciente concorda. Pontuo que nosso trabalho é justamente procurar

ajudá - la a entrar, através do Relaxamento Mental, Visualização de Imagens Mentais e

Espiritualidade, em um mundo espiritual belo, tranqüilo, que transmita paz e serenidade

para ela. Explico que perguntei - lhe no início do trabalho se ela acreditava no mundo

espiritual, pois a existência de um mundo espiritual belo e sereno é um dos pressupostos

deste trabalho. M.I. nesta parte intervém e pontua que acredita. Explico que este

pressuposto está baseado nos estudos de psiquiatras que entrevistaram e trabalharam com

pacientes que estiveram no Estado de Quase Morte (E.Q.M.), voltaram a viver

normalmente e relataram sobre esta vivência, no plano espiritual, enquanto estavam nesse

estado de coma profunda. Pontuo que acreditamos que quando o paciente entra em um

estado de relaxamento mental e imagina um mundo espiritual belo e tranqüilo, ele está se

ligando, através do pensamento, com um mundo desta natureza; explico que criar cenários

belos com energia psíquica, foi uma das observações dos psiquiatras, nos relatos das

Experiências de Quase Morte.

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M.I. afirma que quer muito esta paz, esta serenidade, e o trabalho que

estamos desenvolvendo, está ajudando - a mas, por outro lado, está muito preocupada

com os filhos, precisa ajudá – los. (Dor Psíquica: tristeza, preocupação por não poder

criar seus filhos).

Oriento - a novamente para conversar com seu marido e com as crianças sobre

esta questão; falar sobre a possibilidade dela ir para o mundo espiritual; explicar para o

marido como ela gostaria que as crianças fossem educadas; conversar sobre seus

sentimentos com seus filhos e demais familiares; mostrar para as crianças que a doença dela

não aconteceu por culpa de ninguém; mostrar também que eles não irão ficar

desamparados.

Pontuo sobre a importância dela favorecer o elo entre o pai e os filhos. M.I.

afirma que realmente precisa fazer isto para diminuir a tristeza e o medo.

Digo - lhe também, em uma atitude de muita doçura, para não exigir de si

mesma, mais do que pode dar. Não se culpar por sua doença e não buscar uma remissão do

câncer. É missão impossível, digo - lhe, porque ele se alastrou de forma muito agressiva.

M.I. concorda, dizendo que realmente o crescimento do tumor foi muito rápido e

implacável. Digo - lhe que também irei conversar com seu marido sobre esta questão. M.I.

pede para eu, por favor, fazer isto, pois V. está precisando.

Observo que a conversa já está cansando a paciente e proponho o exercício

mental. M.I. prontamente aceita.

Tempo aproximado de exercício: 15 minutos

Peço que feche os olhos e respire lenta, profundamente e imagine o ar entrando

no seu corpo de forma luminosa, envolvendo - a externamente nesta luminosidade e

penetrando em todos os órgãos do seu corpo, da cabeça aos pés. Oriento que mande este

“oxigênio luminoso” para a região do tumor e imagine a dor diminuindo.

Oriento que entre no caminho dourado, com um céu muito azul e chegue ao

lago com a macieira do lado esquerdo e a cachoeira do lado direito. Entre na cachoeira e

tome um banho, sinta a água caindo em uma temperatura agradável e pense que ela está

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levando suas mágoas embora. Peço que em seguida caminhe até o lago, sente - se e imagine

- se com dez anos de idade no colo da mãe, uma época muito feliz de sua vida. Peço que

sinta o beijo, o abraço carinhoso de sua mãe, (paciente suspira). Digo - lhe para esquecer

todos os problemas neste colo. Deixo - a nesta imagem alguns minutos. Em seguida oriento

- a para que volte para a idade atual, mas continue abraçada com a mãe e, nesta posição

carinhosa sinta a beleza do Universo e a sua própria beleza. Sinta que faz parte do

Universo. Sinta o amor de Cristo envolvendo - a, um amor que não julga, não acusa, não

culpa. Apenas compreende, perdoa, ajuda, protege.

Sinta este amor, esta proteção, este perdão de Cristo, envolvendo – a, e que

continue abraçada a sua mãe.

Observo que a expressão da paciente suavizou, sua respiração ficou lenta e

cadenciada e neste ponto ela adormeceu.

Deixo - a adormecida com a música tocando e vou conversar com seu marido.

Nesta sessão continuei orientando - a para imaginar sua mãe amparando - a

carinhosamente, como símbolo de proteção para sua "criança interna", (seus medos, suas

mágoas e sentimento de desamparo), mas trouxe - a no final para a idade adulta visto a

paciente ter trazido em sua fala a necessidade de cuidar e ajudar os próprios filhos e por

esta razão considerei importante pontuar seu “lado adulto”. Orientei - a para sentir o

amor incondicional de Cristo, pois tenho observado em seus relatos, no decorrer das

sessões a Dor Espiritual, "Culpas perante Deus". Minha fala durante a sessão sobre as

vivências dos pacientes que estiveram no Estado de Quase Morte e voltaram a viver, visou

ajuda - la a minimizar o medo do pós - morte, o qual está entrelaçado ao medo da morte.

2ª Sessão de Orientação Familiar: 19 / 06 / 2000

Duração: 15 minutos

Atendimento Domiciliar

Peço que V. (marido), me diga o que a Equipe de Cuidados Paliativos do

CAISM - UNICAMP lhe disse. V. repete o que M.I. havia me dito. Pergunto o que ele

entendeu disto. V. responde que ela está piorando e que está muito difícil.

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Procuro oferecer - lhe conforto e acolhimento. Pontuo que estamos procurando

ajudá - la nos aspectos psíquicos e espirituais; estamos procurando minimizar o medo da

morte e do pós - morte, o sofrimento, as angústias, culpas, mágoas, tristezas. V. coloca que

este trabalho realmente está ajudando - a.

Frente ao exposto, oriento - o para evitar pedir para M.I. algo que ela não pode

dar: “lutar para seu corpo curar – se”, porque isto só aumenta o sofrimento dela e de todos

os familiares. Oriento - o também para conversar com a esposa sobre seus sentimentos e

sobre a criação dos filhos. Explico - lhe que esta conversa pode minimizar o sofrimento.

Em seguida pergunto sobre as crianças, se alguém explicou para eles o que está

acontecendo. V. diz que não e pergunta como deve proceder. Oriento que converse com

seus filhos, mostre que a mãe não melhorou, ajude - os a expressarem seus sentimentos e

principalmente ampare - os. Mostre - lhes que não estão abandonados; oriento – o para

procurar estar próximo dos filhos.

V. diz que irá fazer isto, pois sabe que ele agora é o ponto de referência e a

força dos filhos. Seus olhos enchem - se de lágrimas.

Um sobrinho de V. chega e interrompe nosso atendimento com assuntos

financeiros e V. passa a lhe dar atenção. Afirmo para V. que estou à disposição para um

novo atendimento. V. agradece e pontua que realmente a "barra está pesada".

Combino novo Atendimento Domiciliar para a próxima semana.

6o Sessão: 26 / 06 / 2000

Duração: 90 minutos

Atendimento Domiciliar

Enquanto aguardo M.I. terminar a higiene que o marido lhe faz na colostomia,

converso com sua tia, uma senhora idosa de 73 anos, irmã do pai da paciente, viúva, que

está ajudando a cuidar da casa, das crianças e orientando a faxineira.

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A senhora aproxima - se de minha pessoa na varanda e diz que tem orado

muito com M.I. e isto lhe traz conforto, mas o trabalho que estou realizando com ela

também está ajudando muito. Em seguida a senhora desabafa sobre sua própria vida e suas

experiências anteriores com perdas e morte. Ofereço minha escuta, procuro ajuda - la a

drenar neste momento sua angústia. Quando observo que extravasou sua dor, pergunto

sobre as crianças, filhos de M.I. e ela me responde que eles estão bem, estão sentindo - se

amparados. Quando entro na sala observo os dois meninos vendo TV, aguardando a hora de

ir para escola. Os dois cumprimentam - me sorrindo e mostram - se bem dispostos. Parece -

me que o fato de verem sua mãe sendo atendida e cuidada os tranqüiliza.

Ao entrar no quarto encontro M.I. muito angustiada por causa da dor física. A

paciente desabafa e chora muito. Ofereço meu acolhimento e escuta. Em torno de vinte

minutos a paciente chora e desabafa. Diz que não está agüentando as dores físicas. Não

consegue comer porque qualquer alimento que ingere provoca mais dores. Já aceitou que

vai morrer. Todos nós vamos diz, e complementa que ela vai mais cedo. Fala que

"conversou com Deus", aceitou seu destino, só não agüenta mais o sofrimento físico.

Ontem brigou com "Deus" por causa deste sofrimento. Não entende o que fez para merecer

tanto sofrimento e, além disto, está também fazendo sua família sofrer com suas dores, suas

noites mal dormidas. "Não agüento mais Catarina, quero ir embora logo", diz

repetidamente. Tem procurado visualizar o mundo belo no qual trabalhamos pelo

Relaxamento e Imaginação, mas a dor física muitas vezes atrapalha. São pontadas muito

fortes. Pergunto quando haverá consulta clínica no CAISM e a paciente informa que no dia

seguinte. Peço - lhe que diga ao médico que vai atendê – la, sobre esta dor física

insuportável para que ele possa medicá - la de forma adequada. Mas, também, eu mesma,

dentro de uma visão interdisciplinar, neste mesmo dia, após o Atendimento Domiciliar,

passo a informação colhida para um dos médicos residentes responsáveis pelo caso, o qual

prontamente toma as providências necessárias.

A paciente parece acalmar - se "um pouco" com esta possibilidade de solução

para sua dor física.

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Identifico pela sua forma de colocar sua dor (o que fiz para merecer isto), que

ela esta entendendo seu sofrimento como punição; culpa - se e revolta - se com "Deus".

Digo isto para ela, com muito cuidado, muita ternura, muito acolhimento.

M.I. comenta que o Deus que é amor, sobre o qual falávamos na sessão

anterior, não pode castigá - la desta forma. Questiona porque ela está sofrendo tanto.

Observo que a paciente apresenta intenso sofrimento psíquico e espiritual, frente a Dor

Simbólica da Morte. Procuro, de acordo com os objetivos deste estudo, minimizar,

re - significar este sofrimento, permeado de culpa, da sensação de estar sendo punida e

fortalecer a “energia de vida”, os aspectos afetivos e amorosos. Digo - lhe que nossa

natureza física, psíquica e espiritual é muito complexa e neste momento não temos como

saber o porque dela está sofrendo desta maneira, mas, acredito, com certeza, que a causa

deste sofrimento não é castigo divino; afirmo que ela precisa de uma medicação adequada

para essa dor e que as providências certamente serão tomadas. Acrescento que talvez este

não seja o momento de se pensar na causa do câncer e desta dor física, mas buscar a

medicação correta para esta dor e procurar a paz interior.

M.I. responde que, quanto à paz interior, ela está bem melhor. Conseguiu, com

a ajuda de nosso trabalho, perder aquele medo horrível da morte e aceitar. Só não quer mais

sentir dor. A paciente no decorrer deste diálogo foi acalmando - se. Neste ponto digo - lhe

que encontrei em meus estudos o relato de um psicólogo russo sobre sua Experiência de

Quase Morte, E.Q.M., (citada no Capítulo 2 - Revisão da Literatura). Conto - lhe que este

psicólogo vendo - se “fora do seu corpo”, sentiu muito medo. Observou que estava no

escuro. Raciocinou que, embora estivesse fora do corpo, estava "vivo" porque pensava, e se

pensava, podia optar no que pensar e optou por pensar na luz; ao fazer esta opção, viu a luz.

M.I. ouve atentamente, muito interessada. Frente ao seu interesse e sua abertura para o

assunto continuo minha explicação contando – lhe, em linguagem acessível, os dados

colhidos por KÜBLER – ROSS (1998) e MOOD JR (1989, 1992), sobre as experiências

“fora do corpo”, pelas quais os pacientes que passaram por uma E.Q.M. vivenciaram. M.I.

continua ouvindo atentamente, parece encontrar conforto nestas explicações.

Acrescento que, por esta razão, perguntei, no início do trabalho, se ela acreditava no mundo

espiritual. Pontuo que a crença na vida espiritual pós - morte é um pressuposto desta

prática. Explico - lhe que, como pressuposto, estamos acreditando que ela está entrando,

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através do Relaxamento Mental e da Visualização de Imagens Mentais, em um mundo

espiritual positivo e belo e, por isto, é necessário para o desenvolvimento deste método, que

ela acredite em um mundo espiritual. Explico - lhe que acreditamos, como pressuposto, que

construímos através do Relaxamento e da Imaginação uma ponte entre o mundo físico e o

mundo espiritual. Acrescento que este é um ato de Fé, pois não temos como provar isto de

maneira concreta, mas também não é um ato dogmático (acredita - se porque acredita - se,

porque é para acreditar, sem nenhuma evidência); É um ato de Fé, baseado em pesquisas

científicas de psiquiatras com pacientes que estiveram em coma profunda e voltaram.

Procuro explicar - lhe tudo isto porque observo seu interesse, sua abertura, e porque esta é

uma premissa da Pesquisa Qualitativa, esclarecer para o pesquisado, no nosso caso a

paciente fora de possibilidade de cura, os pressupostos que norteiam o trabalho. No caso

da população deste trabalho, paciente terminal, é preciso cuidado na forma e no momento

desta colocação, frente às angústias e ansiedades que podem ser mobilizadas. No início do

trabalho, com esta paciente, apenas questionei sua crença ou não na vida espiritual e

expliquei que este era um dos pressuposto do trabalho, mas o esclarecimento sobre as

pesquisas de vivências “fora do corpo” e a relação destas vivências com a própria morte

da paciente, só o fiz, no momento em que senti que ela estava preparada para tal e no

momento que observei que estes esclarecimentos poderiam ser úteis, para minimizar suas

angústias.

Após minha explicação M.I. aquieta - se, relaxa; pergunto se quer fazer o

exercício mental e ela prontamente diz que sim.

Tempo aproximado de exercício: 20 minutos.

Peço para M.I. fechar os olhos, respirar lentamente e imaginar - se envolvida

por uma luz brilhante. Em seguida peço - lhe para visualizar essa luz penetrando em cada

órgão (cérebro, pescoço, ombros, costas, tórax, abdome, braços, mãos, pernas, pés), e focar

a visualização desta luminosidade na região do tumor, procurando minimizar a dor.

Oriento – a, em seguida, para entrar em um caminho luminoso dourado como o sol, com

um céu muito azul e chegar ao seu lago com a árvore frondosa com frutos à esquerda e

cachoeira à direita. Peço que entre na cachoeira e sinta a água, em uma temperatura

agradável, banhar seu corpo e "lavar" suas tristezas e mágoas.

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Peço que volte para o lago e visualize uma casinha acolhedora próxima a ele.

Sente - se na varanda e veja que, no espaço entre a casa e o lago, existe um jardim florido.

Imagine - se sentada confortavelmente na varanda. (Trago para este exercício a imagem da

casa buscando dar - lhe a idéia de continência, segurança). Oriento que procure visualizar

seres, emissários de Cristo, aproximando - se e emanando para ela Amor Universal. Peço

que procure sentir este Amor Universal envolvendo - a e transmitindo - lhe paz e

serenidade. Afirmo (Sugestão Direta) que a doença não é castigo e que ela não está

expiando nenhuma culpa. Digo que a doença é fruto de causas ligadas a nossa constituição

humana e não um castigo de Deus. Pontuo que sinta - se livre das culpas e deixe - se

envolver pelo Amor Universal. (Imprimo ao tom de minha voz um timbre de muita doçura,

principalmente quando estou fazendo afirmações na Sugestão Direta). Calo - me e deixo

apenas a música tocando.

Após alguns minutos peço que visualize sua mãe aproximando - se,

sentando - se ao seu lado e envolvendo - a em amor e proteção, alÉm dos Seres Espirituais.

Calo - me e deixo apenas a música tocando. Digo - lhe, em seguida, que “volte”

para ao quarto quando quiser, trazendo esta sensação de paz e conforto.

Após alguns momentos a paciente abre os olhos, com a expressão serena.

Pergunto - lhe como foi o exercício, se este a ajudou. M.I. diz que sim, que está bem,

mais tranqüila e apenas o que atrapalhou alguns momentos durante o exercício, foi a

dor física, que se apresenta na forma de pontadas agudas.

Pontuo novamente para ela dizer isto ao médico na consulta e, procurando

tranqüilizá – la, afirmo que também irei passar estes dados para a equipe.

Combino a próxima sessão e encerro.

7o Sessão: 03 / 07 / 2000

Duração: 60 minutos

Atendimento Domiciliar

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Encontro M.I. no leito de olhos fechados, mas acordada. Pouco se alimenta e

sente - se fraca. Ao perceber minha presença, abre os olhos. Pergunto se quer o atendimento

e ela diz que sim. Espera que eu me acomode e em um tom de voz baixo começa a dizer

que não dormiu esta noite, sentia um formigamento pelo corpo. Também está deprimida e

tomou um antidepressivo, o mesmo que tomava em época anterior a sua doença. (Tem

histórico de depressão, anterior ao aparecimento do câncer). Sente - se triste e com remorso

por suas atitudes com o marido antes de adoecer e também que Deus não é este ser amoroso

de quem falávamos nas últimas sessões, pois se fosse, já a teria levado.

Escuto - a oferecendo meu acolhimento e minha compreensão. Identifico dois

aspectos básicos ligados a culpa: Dor Psíquica / Humor depressivo - culpa frente às

perdas e Dor Espiritual / Culpas perante Deus. Quando ela se cala, digo - lhe, sempre em

tom de muita ternura e conforto, que, talvez, fosse melhor, agora, olhar para o presente e

não para o passado, despedir - se desta vida fazendo as pazes consigo. Talvez hoje, se ela

fosse viver o que viveu, o faria diferente, mas na época...Fez o que podia. Pensava que agia

certo. Culpar - se agora só aumenta sua dor. É hora do perdão, do autoperdão e não da

culpa. M.I. parece suavizar sua expressão. Frente a esta percepção continuo dizendo - lhe

que nosso objetivo é ajuda - la a ligar - se a um mundo espiritual belo e pontuo que eu, Ana

Catarina, não acredito que Deus a esteja castigando e, que este sofrimento é fruto do

processo de câncer que, embora muito doloroso, é conseqüência da natureza da doença e

não um castigo de Deus. Os estudos que li, sobre os pacientes que estiveram no estado de

quase morte e voltaram, relatam sobre Seres Espirituais que emanam amor, bondade e não

culpam ou criticam. Acolhem, compreendem, ajudam. (De certa forma repito o que já

havia dito na sessão anterior, mas o processo terapêutico é assim, caminha em forma de

espiral, e não em forma linear. Digo - lhe tudo isto com muita doçura, procurando

envolvê - la em uma atmosfera amorosa, buscando minimizar sua culpa e sua "dureza"

consigo mesma).

Observo que M.I. parece melhorar com esta intervenção.

Pergunto - lhe se nosso trabalho com Relaxamento Mental, Visualização de

Imagens Mentais e Espiritualidade, está ajudando - a em relação ao medo da morte e

também em relação às culpas e tristezas. M.I. responde que sim. Coloca que não

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conseguiu perder totalmente o medo da morte e nem superar totalmente as tristezas e

culpas, mas melhorou, abrandou o medo e também as tristezas, as culpas.

Digo - lhe que este é o ponto principal, ajudá - la a ligar - se a um mundo

espiritual belo através da Imaginação. Pontuo que procuro ajudá – la, mas quem realmente

faz a escolha, a opção de ligar - se a este mundo espiritual belo, é ela própria.

Pontuo que quando começamos o trabalho ela me disse que acreditava no

mundo espiritual e eu expliquei que este é um pressuposto do nosso trabalho. Mas, ligar -

se ao mundo espiritual que acreditamos existir, é opção, escolha, de cada pessoa. O

Relaxamento e a Visualização são apenas instrumentos. Repito novamente a vivência do

Dr. George Rodonai na sua Experiência de Quase Morte (E.Q.M.). Pontuo também que o

psiquiatra MOOD JR (1989, 1992) concluiu, depois de entrevistar cerca de 2000 pessoas

que passaram por uma E.Q.M. que, quando os pacientes tomavam consciência de que

continuavam "vivos", fora do corpo, as partes mais transcendentais da experiência

aconteciam. Pontuo também que a base dos relatos para se alcançar um mundo espiritual

belo é a passagem pelo túnel e a luz dourada e/ou azul e a presença de seres de luz.

Digo - lhe tudo isto de forma pausada, tranqüila e doce, observando seu

interesse e sua reação. Procuro, com minha fala, ajudá - la a encontrar formas dentro de si

mesma de lidar com a situação, fazer escolhas. Pareceu – me, ao ouvir suas queixas, o

relato de uma criança que sente - se castigada por ter sido má. Procuro abrandar este

sentimento e fortalecer a sua capacidade adulta de refletir, ponderar, escolher.

Observei que, enquanto eu falava sobre as Experiências de Quase Morte,

ela sentou - se na cama para ouvir. Pergunto, no final de minha explicação, se esta

orientação a ajudou. M.I. diz que sim, que foi muito bom. Relaxa e volta a recostar,

dando indicação que quer fazer exercício mental.

Toda a sessão aconteceu de forma ritmada, tranqüila, permeada de muito

acolhimento, muita compreensão; acompanhei com muita atenção, suas reações, enquanto

relatava sobre as E.Q.M..

Pergunto - lhe se quer fazer exercício mental. M.I. responde que sim.

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Tempo aproximado de exercício: 20 minutos.

Oriento - a para respirar lenta e profundamente, imaginar o ar na cor azul

luminosa envolvendo seu corpo externa e internamente, órgão por órgão.

Em seguida peço que se imagine entrando em um caminho dourado com um

céu azul e visualize Seres de Luz, emissários de Cristo, amparando - a e ajudando – a

chegar no seu lago, com a cachoeira à direita e a árvore frondosa à esquerda. No centro

uma casinha branca. Peço que entre na cachoeira e deixe a água banhar seu corpo, levar

embora todas as tristezas, mágoas, medos.

Peço que em seguida imagine - se sentada na varanda da casinha e sinta - se

protegida. Visualize na sua frente a árvore, a cachoeira, o lago e também um jardim de

flores. Oriento para que entre em contato com a natureza, com a beleza da natureza e em

seguida entre também em contato com a sua própria beleza interna. Peço que procure sentir

que faz parte da natureza e também procure sentir a presença amorosa destes Seres de Luz

de Cristo que visualizou e deixe - se envolver por um sentimento de amor. Deixo - a nesta

imagem por aproximadamente dez minutos, apenas repetindo, de tempos em tempos, para

sentir a beleza do Universo, a sua beleza interna, deixar - se envolver por um sentimento de

Amor Universal, sentir que faz parte do Universo.

Digo - lhe em seguida, que volte para seu quarto quando quiser, trazendo uma

sensação de paz e serenidade. Após alguns momentos M.I. abre os olhos. Sua face está

mais corada; senta - se na cama e fala sem dificuldade. Pergunto - lhe se o exercício a

ajudou e se está sentindo - se bem. M.I. responde que melhorou. O exercício não

apaga todas as tristezas e medos, mas ajuda a diminuí - los.

Pontuo minha observação: suas faces coradas e ela, falando sem

dificuldade. Paciente confirma que realmente melhorou, sorri e agradece.

Ao sair, sua tia me procura e faço uma breve sessão de Orientação Familiar.

3 ª Sessão de Orientação Familiar: 03 / 07 / 2000

Duração: 10 minutos

Atendimento Domiciliar

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A tia de M.I. afirma saber que sua sobrinha irá “partir” em breve e pergunta –

me como deve proceder quando isto acontecer, como ela pode ajudar M.I.

Digo – lhe para que, se estiver do lado quando ela estiver indo a óbito, procurar

tranqüilizá – la e orientá – la para imaginar que está entrando em um caminho dourado e

chegando a um local belo, a um lago com árvore frondosa e cachoeira. Orienta – la também

para imaginar que está sendo amparada por Seres de Luz, emissários de Cristo.

A tia de M.I. coloca que me faz esta pergunta porque observou que este

trabalho tem feito bem para a paciente. Complementa que também tem orado muito por ela.

Pergunto sobre as crianças. A tia de M.I. responde que eles estão um pouco

“indiferentes”, mas que o pai e o avô conversaram com os meninos, junto com M.I., e

perguntaram com quem eles gostariam de ficar depois que M.I. partisse, com o pai deles ou

com o avô. As crianças responderam que queriam ficar com os dois.

Oriento esta senhora para procurar amparar as crianças, transmitir – lhes

segurança e ajudá – los a falarem sobre o que está acontecendo.

Pontuo que me liguem em alguma emergência.

8o Sessão: 11 / 07 / 2000

Duração: 30 minutos

Atendimento Ambulatório CAISM

Atendo M.I. no ambulatório do CAISM em dia de consulta médica.

A paciente vem para o atendimento acompanhada do marido, em uma cadeira

de rodas, visto sua dificuldade em andar. Pergunto ao casal se querem que V. também

participe da sessão, mas este prefere que M.I. entre sozinha.

M.I. mostra – se abatida e cansada. Coloca que se sente indisposta, com muita

dor de cabeça. Atribui esta dor ao fato de não estar conseguindo alimentar – se. Fala que

quer ser atendida logo pelo médico e ir embora para casa, deitar.

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Ofereço meu acolhimento e minha compreensão pelo visível mal - estar da

paciente. M.I. pergunta – me se hoje podemos só conversar, pois, por causa da dor de

cabeça e do desconforto de estar sentada, não consegue fazer exercício de relaxamento.

Concordo prontamente.

M.I. discorre sobre seu mal estar físico dizendo que faltam – lhe forças e que o

leite que tomou antes de vir para o hospital ”sobe e desce”, faz barulho. Pergunta –me se

não estou escutando o barulho, e procuro tranqüilizá – la.

Oriento – a para falar detalhadamente sobre isto com o médico que irá

atendê – la porque observo medo e desconforto em relação a este sintoma. Como ela

também refere – se à possibilidade de consultar uma nutricionista, encorajo – a para tal.

Entendo suas queixas físicas como “reais”, decorrentes do estadio avançado

do câncer, mas também com conteúdo simbólico referente ao mal estar psíquico e

espiritual principalmente vinculado ao medo do sofrimento, culpa frente às perdas, medo

da morte e do pós – morte. Digo – lhe isto em uma postura de muito acolhimento, doçura,

compreensão.

M.I. “abre – se” frente a esta minha colocação e começa a falar sobre suas

angústias em relação aos filhos e o marido. Diz que V. não agüenta mais vê – la sofrer desta

maneira. Ela percebe o quanto está sendo difícil para ele e para seus filhos. Pergunto – lhe

se já conseguiu conversar com as crianças, falar sobre seus sentimentos, orientá – los. M.I.

diz que só conseguiu conversar sobre com quem eles querem ficar, mas não falou sobre

seus sentimentos.

Estimulo – a para tal, pontuando que talvez isto faça bem para ela. M.I. diz que

também acredita que conversar com eles seja bom e que irá tentar, aproveitar que eles estão

de férias.

Como a paciente mostra – se muita desanimada pelo seu desconforto físico

procuro ajuda – la a olhar para seus progressos quanto à melhora em relação a Dor

Psíquica e Dor Espiritual, embora acredite que eles estejam inter - relacionados.

Pergunto – lhe se ela lembra do seu estado emocional quando começamos esta

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intervenção psicoterapêutica: profundamente angustiada frente à doença, com muita

culpa, tristeza por suas perdas e principalmente com muito medo da morte e, no

decorrer de nosso trabalho, ela conseguiu olhar, entrar em contato com estes aspectos,

minimizar suas tristezas, culpas, medos. M.I. concorda, coloca que realmente

melhorou nestes aspectos. No início do trabalho não conseguia ver nenhuma “luz”,

não aceitava a idéia da morte e conseguiu melhorar, aceitar.

Peço – lhe, por outro lado, com muito carinho, que não se culpe e não exija de

si mesma uma melhora física como esforço para ter apetite e disposição para levantar. Faço

esta colocação visto ser esta a tendência da paciente: culpar - se, exigir muito de si mesma.

M.I. concorda e pergunta se irei vê – la no domicílio, na semana seguinte. Digo – lhe que

sim, “claro que sim”, e percebendo a vontade da paciente em ir para sua casa encerro a

sessão, procurando ser o mais acolhedora possível; M.I. pergunta novamente se irei vê – la

na sua casa.

Respondo que sim, digo - lhe para ficar tranqüila e me despeço.

9o Sessão: 17 / 07 / 2000

Duração: 60 minutos

Atendimento Domiciliar

Encontro M.I. na cama. Pergunto – lhe como está e ela responde que está

péssima. Pergunto – lhe de que forma está péssima. M.I. responde que está péssima

fisicamente, cada dia mais fraca e que precisa reagir. Precisa ter fé para que Deus possa

curá – la. Coloca, muito aflita e chorando, que não pode morrer agora, sua família precisa

dela, não pode deixá – los, precisa viver para ajudá – los.

Escuto – a oferecendo meu acolhimento e com muita doçura pergunto – lhe se

não existe outra forma de ajudá – los, além da sua cura. E se esta cura não vier, pergunto,

como podemos ajudá – los. Não sei, responde M.I., culpando – se por não conseguir

melhorar, exigindo de si mesma uma reação física contra a doença, responsabilizando – se

totalmente pelo bem estar da família. Relata que ontem seu marido bebeu e ela está muito

aflita porque ele não está sendo capaz de ajudar, está sendo fraco e ela precisa sarar para

cuidar da família.

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Procurando ajudá – la a re - significar essa culpa e essa angústia, conto – lhe a

seguinte história, de autor desconhecido: “Era uma vez um rei que tinha um servo muito

fiel. O rei dizia que Deus não era bom, pois existia sofrimento, fome, tristeza, pobreza,

doença. O servo ao contrário, dizia que Deus era bom e as coisas ruins não existiam porque

essa era à vontade de Deus, mas em decorrência da ação do homem e, também, às vezes,

um problema muito sério, visto como uma desgraça, poderia ser algo que trouxesse

crescimento, algo de bom, para as pessoas envolvidas.

O rei e o servo foram caçar. Um leão atacou o rei e o servo conseguiu matar o

leão, mas não antes deste ferir levemente o rei. Por causa destes ferimentos leves que o rei

sofreu, segundo as leis do reino, o servo teria que ir para a masmorra por um tempo. Assim

cumpriu – se. O rei disse ao servo: “veja, você vai para a masmorra... Onde está a bondade

de Deus? Qual o benefício desta desgraça?” O servo respondeu que o tempo mostraria o

benefício desta aparente desgraça. Algum tempo depois houve uma invasão no reino e

quase todos os servos morreram nas mãos dos invasores. E o servo fiel, por estar na

masmorra, foi poupado. Ele disse ao rei: “veja o benefício: a desgraça de estar preso, salvou

minha vida”.

M.I. escuta, atenta. Afirmo, no final, com muito carinho, que com esta história

procurei mostrar - lhe que, às vezes, uma aparente desgraça pode ajudar às pessoas

crescerem. Pontuo que seu marido também é responsável pelas crianças, principalmente

agora que ela está doente. Procuro minimizar a culpa que ela demonstra sentir por não

sarar, a angústia por não poder cuidar da família. M.I. parece relaxar com minha

colocação, sua expressão suaviza.

Pergunto – lhe o que é morte para ela. M.I. responde que morrer agora,

depois de tudo o que conversamos, será o descanso, a paz, mas para sua família será o

tormento. Afirma que os exercícios que estamos fazendo e as minhas colocações, têm

ajudado muito porque ela entra, através das minhas orientações, em um mundo

tranqüilo e de paz. Mas, e sua família, volta a perguntar.

Entendo sua pergunta, parece – me que ela pede para que eu faça algo por

eles. Digo – lhe que no dia seguinte irei atender seu marido e procurar ajudá – lo a se

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fortalecer, enfrentar a situação. M.I. responde, aliviada, que está ótimo e pede, por favor,

para que eu realmente faça isto. “Por favor, Catarina, frisa M.I., mostre para ele que

bebendo ele não está me ajudando em nada”.

M.I. relaxa, acomoda – se na cama. Pergunto – lhe se quer fazer os exercícios.

Ela prontamente diz que sim.

Tempo aproximado de exercício: 20 minutos

Coloco a música e oriento – a para que respire lentamente, imagine o ar, na cor

azul - céu, envolvê – la externamente e, em seguida, entrar em seus pulmões, e ser

distribuído para todo o corpo.

Oriento que visualize – se entrando em um caminho dourado, repleto de sol,

com um céu muito azul e chegue no seu lugar bonito, com o lago, cachoeira, árvore

frondosa. Oriento – a para, em seguida, imaginar que está entrando na cachoeira, sentindo a

água escorrendo por seu corpo em uma temperatura agradável; imaginar que esta água está

lavando, levando, toda tristeza, mágoa, culpa, embora. Calo – me e deixo – a visualizando

esta imagem, por alguns momentos.

Peço, em seguida, que dirija – se para a árvore frondosa, colha alguns frutos,

sente – se na sua sombra e imagine que esta comendo, saboreando estes frutos. Sinta – se

preenchida, reconfortada.

Introduzo a imagem saborear o fruto procurando despertar na paciente uma

sensação de preenchimento, sustentação, amparo e um contato com sua espiritualidade,

sua alma, visto que o fruto da árvore pode simbolizar este aspecto: alma, “self”.

Deixo – a visualizando esta imagem, por alguns momentos.

Oriento – a para, em seguida, ir para o lago, sentar – se na beira e imaginar que

está pescando. Digo – lhe que enquanto está, pacientemente, aguardando o peixe, sabe que

ele virá. Não sabe como este peixe será, qual a qualidade, mas sabe que ele vem e aguarda;

peço que procure confiar no amparo divino de forma correlata a pescaria: assim como

confia na vinda do peixe, quando pesca, confie no amparo divino. Imagine que Seres

Espirituais de Cristo aproximam – se e a amparam, ajudam, protegem.

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Oriento o exercício de forma muito suave, amorosa e pausada.

Deixo a música tocando, frisando, por sugestão direta, que os Seres Espirituais

de Cristo a amparam, ajudam, protegem.

Neste momento observo que a paciente fica completamente imóvel e adormece.

Deixo a música tocando por mais algum tempo e observo que a paciente entrou

em sono profundo.

No dia seguinte, quando vou atender V. no ambulatório do CAISM, M.I. relata

que dormiu por muito tempo e acordou sentindo – se muito bem.

4ª Sessão de Orientação Familiar: 18 / 07 / 2000

Duração: 30 minutos

Atendimento Ambulatorial

Encontro V. no ambulatório de Cuidados Paliativos acompanhando a esposa.

Convido – o para o atendimento e M.I. prontamente reforça meu convite dizendo: ”Hoje é

você, bem”. V. aceita e me acompanha.

Ao sentarmos começa imediatamente a falar, afirmando que a barra está muito

difícil para ele. Está muito angustiado com o sofrimento da esposa, mas espera que ela

ainda se cure.

Com muito tato pergunto – lhe o que os médicos do Setor de Cuidados

Paliativos disseram. V. responde que explicaram para ele e para seu cunhado que nada mais

pode ser feito em nível curativo e que o tumor avançou de forma irreversível. É muito duro

aceitar isto, pontua.

Em uma atitude de muito acolhimento digo – lhe que compreendo sua dor mas,

por outro lado, acredito que é melhor olhar para a verdade como ela é porque assim

podemos aproveitar o tempo que resta de forma apropriada e que estou ali para ajudá – lo.

Explico que a insistência dele, em pedir para M.I. esforçar - se para se curar,

traz muito sofrimento para ela. Ele está exigindo algo que, atualmente, infelizmente, é

impossível.

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V. concorda. Diz que ele e M.I. já conversaram sobre isto, sobre o estado atual

dela, mas é muito difícil aceitar. Respira fundo e diz que vai tentar.

Começa a contar que está fazendo algo errado: beber para esquecer. Digo – lhe

que é exatamente sobre isto que quero falar com ele porque M.I. está muito preocupada e

angustiada porque ele voltou a beber no domingo.

V. responde que foi um desabafo e que não conseguiu parar. Bebeu até cair e

fez coisas das quais não lembra. Afirma que é assim: não pode colocar álcool na boca. Se

resolver beber uma cervejinha, não consegue parar, bebe até cair.

Pergunto – lhe porque bebeu. V. responde que bebeu para espairecer, porque

não tem feito mais nada para se distrair. Fica pensando e se revolta.

Pergunto – lhe sobre o que fica pensando. V. responde que lutaram muito, ele e

M.I. para melhorar o sítio e desenvolver uma sorveteria no fundo da casa. Quando

conseguiram melhorar financeiramente, ela adoeceu e não pode usufruir nada. Agora está

com a sorveteria fechada por causa do frio e da doença de M.I. Recebeu um convite para

trabalhar com defumados neste período de inverno, mas, não tem condições porque precisa

cuidar de M.I., da casa, das crianças. Sua vida agora é cuidar da esposa, limpar a casa,

cozinhar, lavar e passar roupa, cuidar dos filhos. Não agüenta mais. No domingo não tinha

o que fazer e bebeu. Ontem a noite conversou com M.I. e resolveu que começará a

freqüentar a Igreja que ela freqüentava e será batizado como ela foi, para sentir – se mais

forte.

Pergunto – lhe se gostaria de ser encaminhado para ajuda especializada em

relação à bebida. V. responde que não é preciso porque consegue ficar sem beber. Fazia

muito tempo que não bebia e o problema foi tomar o primeiro copo de cerveja. Afirma que

enquanto não bebe, consegue ficar bem, mas, se colocar um copo na boca, não consegue

parar mais. Este é seu problema: quer extravasar, relaxar e não consegue parar mais.

Digo – lhe que entendo. Isto acontece com algumas pessoas, não conseguem

parar de beber quando começam. Frente a isto, comento que ele não deve beber,

principalmente na situação atual. V. concorda, coloca que sabe que não pode.

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163

Em seguida oriento – O para a necessidade de encontrar uma forma mais

adequada para extravasar sua dor, relaxar. V. fala que gosta de natação, ficou sócio do

clube, continua sendo sócio e nunca o freqüentou. Agora não é possível começar porque

está muito frio. Pergunto – lhe que outra alternativa teria. V. responde que gosta de pescar.

Pode começar a sair com os filhos; deixar M.I. com o pai um pouco e ir pescar com as

crianças, dar umas voltas para se distrair. Pontuo que esta parece ser uma boa alternativa.

Pergunto – lhe como está sentindo – se. V. coloca que foi ótimo desabafar,

falar. Tirou um peso do corpo. Reorganizou as idéias.

Pergunto – lhe como está pensando em agir em relação a M.I. V. responde que

não irá mais beber. Pontuo que este seu comportamento está angustiando muito a paciente.

Afirmo que M.I. já perdeu o medo da morte, já a vê como um descanso, consegue se ligar

através da Imaginação a um mundo espiritual belo que acreditamos existir, mas, por outro

lado, está muito angustiada, culpando – se por deixar a família; tem medo que ele não fique

bem, não cuide das crianças...

V. escuta minha colocação. Afirma que sabe estar errado ao beber, mas isto não

irá mais acontecer. Acrescenta que está cuidando bem da casa e das crianças, oferecendo

segurança para eles. Seu problema é não beber mais. Acrescenta que está mais tranqüilo,

mais aliviado, depois desta conversa.

Oriento, em seguida, para que ele converse com M.I., procure tranqüilizá – la,

mostrar que irá cuidar dos filhos e também permitir que ela possa morrer em paz. V.

responde que fará isto.

Relata, em seguida, que pediu para a tia (irmã do pai de M.I.), que estava na

casa deles ajudando, voltar para a casa dela, porque esta senhora mais atrapalhava do que

ajudava. Acrescenta que é capaz de cuidar das crianças e da casa.

Ofereço o meu apoio.

V. mostra – se relaxado na cadeira. Pergunto – lhe se a sessão foi boa para ele.

V. responde que foi ótima. Desabafou, colocou sua cabeça em ordem.

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164

Acompanho V. até o ambulatório e combino o atendimento domiciliar para a

próxima semana.

Despeço – me do casal em um clima de afeto e serenidade.

10o Sessão: 24 / 07 / 2000

Duração: 50 minutos

Atendimento Domiciliar

M.I. esta na cama. Pergunto como está. A paciente apresenta dificuldade para

falar mas, mesmo assim, coloca que teve um sonho com Jesus Cristo. Sonhou que ele lhe

dizia para vestir branco e que ele iria lhe curar. A paciente está realmente vestida de

branco. Acrescenta que está péssima fisicamente, muito fraca. Com muito cuidado digo

para a paciente que talvez a cura que ela tenha sonhado não seja do corpo, mas do seu

espírito, para que ela reencontre a paz interior. O branco pode representar pureza, paz, e

talvez, este possa ser o significado simbólico do seu sonho, o desejo de alcançar a paz. A

paciente concorda e acrescenta que por outro lado, teve um outro sonho que parecia muito

real, não foi sonho, foi pesadelo e pensou que talvez estivesse ficando louca. Sonhou com

pessoas de sua família, seu pai, sua tia, e que ela os matava com um galho de alerquim. Eles

murchavam. A paciente faz este relato, aflita e agitada. Procuro tranqüilizá – la. Afirmo que

foi apenas um sonho e como ela tem estado tanto tempo na cama, estas confusões podem

acontecer. Explico que talvez este sonho possa ser a representação simbólica da sua culpa

por fazer seus familiares sofrerem. Pontuo novamente que não é sua culpa toda esta

situação e neste momento, nossa tarefa mais importante é buscar a paz interior para ela.

Procuro minimizar sua angústia de morte. Este sonho onde ela mata seu pai e sua tia pode

significar sua agressividade para com eles, o fato de serem velhos e continuarem vivendo,

ao passo que ela, muito mais nova, está morrendo...Mas, frente à fragilidade física e

emocional da paciente, opto por não fazer esta colocação com receio de mobilizar mais

culpa, intensificando sua angústia de morte.

Pergunto sobre seu marido. M.I. coloca que ele continua sofrendo, mas parou

de pressioná – la para sarar. Ontem, domingo, bebeu, mas conseguiu beber pouco, soube

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parar. Não ficou bêbado e não falou besteira. Digo – lhe que é natural que ele esteja

sofrendo, estranho seria se ele não estivesse. Procuro novamente minimizar sua angústia e

culpa.

M.I. faz estes relatos com muita dificuldade, sua respiração parece cansada, a

voz fraca.

Pergunto – lhe se prefere fazer o exercício ao invés de continuarmos

conversando. Ela imediatamente aceita.

Tempo aproximado de exercício: 30 minutos

Peço que feche os olhos e procure respirar lentamente. Observo que foi

novamente pregado na parede do seu quarto, em frente a sua cama, as imagens de mar e

céu azul, as quais eu havia lhe dado no Hospital para que ela memorizasse a cor azul e

procurasse se tranqüilizar.

Oriento para que respire uma luminosidade azul brilhante, “veja” esta luz

envolvendo seu corpo e, em seguida, indo para os pulmões e sendo espalhada por todo

corpo. Imagine este “ar azul” sendo levado para seu cérebro, sua garganta, seu coração,

pulmões, costas, abdome, região genital, braços, mãos, pernas, pés.

Peço que, em seguida, imagine – se entrando em uma estrada dourada de sol,

com um céu muito azul e caminhe por esta estrada, sinta uma brisa gostosa, chegue ao seu

lugar escolhido. Veja o lago azul, a árvore frondosa carregada de frutos à esquerda, a

cachoeira à direita, com um arco íris brilhando sobre suas águas. Peço que se imagine

entrando na cachoeira com a água numa temperatura muito agradável; sinta a água caindo

sobre seu corpo, “lavando” toda a tristeza, culpa, mágoa. Afirmo para deixar esta culpa ir

embora. Não é sua culpa o fato de seus familiares estarem sofrendo e sim conseqüência das

circunstâncias. Oriento para que procure dar paz ao seu espírito, imagina - lo nesse lugar

bonito. Acreditamos que o mundo espiritual pode ser assim, se quisermos. Afirmo que

apenas ela pode imaginar seu espírito em um lugar belo e em paz. M.I. suspira e relaxa a

face.

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Procurando maximizar uma descontração oriento que na cachoeira brinque com

as cores do arco íris e se quiser me diga qual a cor DE que mais gosta. M.I. não responde,

apenas suspira. Parece mergulhada no exercício.

Oriento para, em seguida, imaginar que está dirigindo – se para a árvore

frondosa e sentando – se na sua sombra. Digo – lhe para visualizar o lago à sua frente e

flores ao seu redor; sentir que os anjos de Cristo aproximam – se e envolvem – na em amor

e proteção. Peço que permita que este amor a envolva. Entregue – se, permita que seu

espírito sinta esta paz. Repito estas afirmações várias vezes. M.I. balança afirmativamente a

cabeça e suspira. Parece relaxar mais.

Não tenho como provar de forma pragmática minha sensação, mas eu também

me senti envolvida por um sentimento de profunda paz, ternura, acolhimento, amor. Algo

que transcendia... Pareceu – me, neste momento, que o mundo físico e o mundo espiritual

se interpenetraram de forma possível de ser sentida... No campo de estudos da

Parapsicologia esta sensação que tive é denominada como um fenômeno de

clarisensibilidade. Essa forma de percepção extra - sensorial expressa – se através de

sensações claras. Segundo VAN PRAAGH (1998), uma pessoa dotada de clarisensibilidade

é capaz de sentir a presença dos espíritos no ambiente, assim como os sentimentos por eles

transmitidos. Foi exatamente o que senti.

Não tenho como provar esta clarisensibilidade, apenas posso descreve – la e

observar seu encaixe na circunstância como um todo.

Reafirmo para M.I. entregar – se para essa paz, para esse amor, deixar – se

envolver por estes seres de Cristo. Afirmo para ficar tranqüila quanto a seus filhos, porque

seu marido afirmou na sessão comigo que irá cuidar bem deles. M.I. abre os olhos, olha –

me, suspira, torna a fecha – los. Parece relaxar mais.

Deixo a música tocando e apenas, de tempos em tempos, vou afirmando para

ela visualizar a beleza do lugar, o céu azul, as flores, o lago, a árvore frondosa, a cachoeira,

permitir que seu espírito se sinta envolvido nesta paz. permitir que seres de Cristo a

protejam e envolvam. Minha voz em todo o exercício é muito suave, muito meiga.

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Quando desligo a música, M.I. abre parcialmente os olhos, sorri e diz: “Muito

obrigada Catarina”. Despeço – me colocando que volto na próxima semana. M.I. volta a

fechar os olhos e saio.

11o Sessão: 03 / 08 / 2000

Duração: 30 minutos

Atendimento Domiciliar

M.I. não consegue mais falar. Quando entro no quarto me cumprimenta com

dificuldade.

Proponho que façamos apenas o exercício mental. M.I. responde

afirmativamente com a cabeça e fecha os olhos.

Coloco a música e peço para M.I. respirar lentamente, imaginar o ar na cor azul

céu envolver todo o seu corpo.

Oriento - a para, em seguida, entrar em uma estrada dourada, com um céu

muito azul e caminhar por esta estrada. Sentir a brisa suave e caminhar. Visualizar o

dourado da estrada, o azul do céu.

Oriento – a para imaginar que nessa estrada, Seres enviados por Cristo, que

emanam amor incondicional, bondade, proteção, carinho, se aproximam, a amparam e a

ajudam nesse caminhar.

Pontuo, por sugestão direta, para ela sentir a presença, a bondade, destes Seres.

Imaginar – se amparada por eles e chegar no seu lugar bonito. Ver a árvore frondosa à

esquerda, o lago azul, a cachoeira, à direita.

Oriento – a para, em seguida, dirigir – se para a cachoeira e imaginar a água

branca, em uma temperatura muito agradável, cair por todo seu corpo, lavar e levar embora,

toda tristeza, mágoa, culpa, dor. Imaginar que todo o sofrimento está sendo levado embora

pela água da cachoeira.

M.I. suspira. Parece relaxar mais.

Peço para que, novamente, ela veja estes Seres de Cristo, envolvendo – a em

amor e proteção e levando – a ate a árvore frondosa. Oriento que se imagine sentada

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embaixo desta árvore e sinta a luz, o amor, a paz do Mundo Espiritual. Afirmo para ela

ligar – se, mentalmente, com a luz, com o amor do plano espiritual.

Faço uma pausa e deixo a música tocando por alguns minutos.

Digo – lhe, de forma muito suave, que tudo o que ela tinha para fazer nesta vida

está concluído. Não há certo ou errado. Fez o que pode e aprendeu com as experiências.

Agora chegou a hora de partir, de entrar no mundo espiritual. Digo – lhe para ligar - se ao

sentimento de paz, amor, bondade, proteção do mundo espiritual. Despedir – se desta vida.

Pontuo para ela procurar ficar tranqüila em relação aos seus filhos porque seu

marido, em sessão comigo, afirmou que ira tomar conta e cuidar das crianças, com amor e

proteção. Neste momento M.I. abre os olhos, olha – me, parecendo dizer – me, “por favor,

insista nisto com ele” e volta a fechá – los. Frente a minha percepção, digo – lhe que irei

novamente conversar com seu marido e com seu pai sobre este assunto.

Oriento – a, novamente, para ligar – se à bondade, ao amor, à proteção do

mundo espiritual. Entregar – se para este mundo. Sentir a presença dos Seres de Cristo ao

seu lado. Deixo a música tocando e de tempos em tempos repito a orientação acima citada.

Em torno de 30 minutos de exercício, observo que M.I. adormeceu.

Como disse no relato da sessão anterior não tenho como provar de forma

pragmática minha sensação, mas novamente, nesta sessão, voltei a sentir – me envolvida

por um clima de profunda paz, ternura, acolhimento, amor, algo que transcendia...

Pareceu – me, novamente, que o mundo físico e o mundo espiritual se interpenetraram de

forma possível de ser sentida...

Ao sair, orientei os familiares para procurarem ajudar M.I. nestes momentos

finais.

Morte da Paciente:

M.I. foi a óbito três dias após esta sessão. Segundo seu marido, a paciente

começou a passar muito mal no período da tarde, foi levada para o CAISM, onde foi

atendida, e retornou para casa, para que pudesse morrer junto aos seus. Em torno das 3:15

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horas da madrugada, M.I. foi a óbito nos braços do marido, sem agonia, segundo ele;

apenas vomitou o leite que havia tomado no CAISM, virou para o lado e morreu.

Nesta mesma madrugada, eu, Ana Catarina, tive o seguinte sonho: “Sonhei que

minha cachorrinha aproximava – se de várias capivaras, (atualmente corre na cidade de

Campinas uma notícia de que as capivaras, que moram nos Parques de Lazer, são

hospedeiras do carrapato estrela. A mordida deste carrapato no ser humano pode ser fatal e

algumas pessoas já morreram por esta razão). No sonho, em seguida, a aproximação da

cachorra às capivaras, aquelas se transformava em um imenso bloco de ferida em carne

viva. Eu jogava água (que pode ser interpretado como um símbolo de transformação) na

cachorra e ela voltava à sua aparência normal, apenas apresentando uma pequena ferida no

lombo. Ao acordar, lembrei – me do sonho e imediatamente fiz a associação: meu

inconsciente deve ter captado a morte de M.I. e o grande sofrimento, (a grande ferida), foi

minimizado pelos símbolos de transformação dos exercícios”.

Liguei para sua família, perguntando por M.I., e seu pai confirmou minha

intuição: a paciente havia ido a óbito aquela madrugada.

Sessão com Familiares Pós - Óbito: 11 / 08 / 2000

Duração: 50 minutos

Atendimento Domiciliar

Participam da sessão: R. (pai) e V. (marido) da paciente.

Pergunto como estão. V. coloca que queria que M.I. tivesse se curado mas, pelo

tanto que ela estava sofrendo, foi melhor ela ter morrido. R. diz que está conformado

justamente porque a morte foi um alívio para o sofrimento dela. Em seguida ambos

afirmam que estão tranqüilos em relação aos cuidados que dispensaram para M.I. porque

fizeram tudo o que podiam por ela, atenderam seus mínimos pedidos.

Pontuo esta afirmação, relatando que M.I., várias vezes, falou sobre o amor,

carinho, atenção, que tanto o marido como o pai, estavam dispensando para ela. Procuro

com esta pontuação, verdadeira, remover algum resíduo de culpa que eventualmente

possam estar sentindo.

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170

Relatam, em seguida, que M.I. era muito querida por todos. O “povo” da cidade

compareceu em massa ao enterro, inclusive as professoras de seus filhos. Afirmam que as

enfermeiras do CAISM também gostavam muito dela, eram muito atenciosas com ela.

Pergunto sobre as crianças. V. coloca que eles estão bem. Está procurando dar

para os filhos o máximo de apoio, carinho, proteção. O mais velho, E., é o mais difícil. É

muito fechado e às vezes parece revoltar – se. O caçula J. é diferente. É mais acessível, fala

o que sente, é extrovertido. Acrescenta que E., o mais velho é como ele, V.: tem dificuldade

de se expressar e também costuma se revoltar. Mas, apesar de tudo, eles estão bem.

R. confirma que realmente as crianças estão bem, mas irão sentir a falta da mãe.

Afirma que isto é inevitável.

Concordo com esta intervenção de R.. Afirmo que a dor da perda da mãe é

possível de ser lidada, mas impossível de não ser sentida. Oriento para que procurem

tratamento psicológico para que os meninos possam ser ajudados na elaboração do luto.

Indico os Centros Especializados que podem ser procurados.

V. afirma que irá fazer isto; já estava, inclusive, pensando sobre este assunto.

Acrescenta que talvez ele mesmo também precise de algum acompanhamento psicológico

porque desde criança “ficava pensando, sofrendo, se revoltando”. Pergunto se ele teve uma

infância muito difícil. V. coloca que sim. Pontuo que também recomendo psicoterapia para

ele e oriento para buscar esta ajuda nos mesmos centros que indiquei para as crianças.

Ponderando as dificuldades emocionais pregressas de V. e o impacto

emocional que a perda da mãe pode causar nas crianças, faço esse encaminhamento

baseada nas afirmações dos seguintes autores: BOWLBY (1997) concluiu que a ansiedade

em torno de uma separação involuntária pode ser uma reação perfeitamente normal e

saudável. O que pode ser difícil de explicar é porque tal ansiedade é despertada em

algumas pessoas com uma intensidade tão grande ou, ao contrário, em outras com tão

pouca intensidade. Esta diferença entre o luto normal e patológico nos conduz a questões

de etiologia e psicopatologia que estão diretamente ligadas segundo esse autor, a Teoria

de Ligação. O ponto fundamental desta teoria é a existência de uma forte relação causal

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entre as experiências de um indivíduo com seus pais e sua capacidade posterior para

estabelecer vínculos afetivos. BROMBERG (1996), também pontua que a qualidade do

vínculo estabelecido primariamente determinará os vínculos futuros e também os recursos

disponíveis para enfrentamento e elaboração de rompimentos e perdas.

Pergunto, em seguida, se tiveram algum sonho com a paciente. Familiares

respondem que por enquanto não. Conto – lhes o meu sonho na noite do óbito e explico –

lhes como o interpretei. V. e R. concordam que realmente o sofrimento de M.I. foi

minimizado com nosso trabalho. V. acrescenta que M.I. sempre comentava com ele que

o trabalho de Relaxamento Mental, Visualização de Imagens Mentais e

Espiritualidade, ajudava – a muito. Sentia – se em paz. Gostava muito da música,

achava – a linda. Também gostava muito do que eu dizia para ela, da forma como

conduzia os atendimentos. Sentia – se diferente, uma outra pessoa, mais forte, mais

calma; relaxava tanto que às vezes adormecia no final do exercício, complementa V.

Afirmam, em seguida, que estão tranqüilos, embora sintam saudades e vontade

de chorar. Sentem que fizeram tudo o que podiam por ela. Pontuo que esta “saudade e

vontade de chorar” são perfeitamente naturais.

Pergunto se nossos atendimentos os ajudaram. Respondem que as orientações

dadas foram muito boas porque os ajudaram. R. acrescenta que quando perdeu sua filha

mais velha, também de câncer, há dois anos, ficou desesperado. Olhava para a casa dela e

sofria muito. Pensou que iria acontecer o mesmo quando M.I. morresse, mas isto não

aconteceu. Consegue olhar para o quarto, para a cama dela, sem desespero. Sente paz,

tranqüilidade. Sente que sua filha foi para um lugar melhor, parou de sofrer. V. coloca que

ele também está bem; sente paz, acredita que M.I. parou de sofrer, foi para um lugar

melhor.

Afirmo que esse era nosso objetivo: ajudá – la, através do Relaxamento Mental,

Visualização de Imagens Mentais e Espiritualidade, entrar em um mundo espiritual belo

que ela acreditava existir e que também acredito, enquanto profissional, baseada nos

estudos de psiquiatras com pacientes que estiveram no Estado de Quase Morte (E.Q.M.) e

voltaram a viver.

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Pergunto se eles querem falar sobre mais alguma coisa. V. e R. dizem que não,

que foi bom conversar.

Encerro a sessão afirmando que podem me procurar sempre que precisarem e

pontuo novamente para V. a importância de uma psicoterapia para as crianças e para ele

mesmo. V. afirma que irá fazer isto.

Despeço – me.

8.3. TERCEIRA PACIENTE: I.F.R.

8.3.1. Identificação

Idade: 37 anos

Estado Civil: casada há 22 anos.

Filhos: Uma moça casada e um rapaz solteiro.

Residência: Mora em Campinas em cômodos cedidos pelos sogros.

Doença: Neoplasia maligna – Câncer inflamatório de mama direita. Estádio III

B. Metástases no fígado e pulmões com dispnéia importante, usando cateter.

Início do Tratamento: 16 / 09 / 99

Hospital: CAISM - UNICAMP

8.3.2. Histórico Clínico:

Dados colhidos através de relatos da Equipe de Saúde da área de Oncologia /

CAISM/ UNICAMP, no prontuário da paciente.

Enfermagem: Paciente muito deprimida desde o início do tratamento, chora

muito e relaciona seu choro à dor na mama e ao medo do avanço do câncer.

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Psicologia: Paciente apresentava, na época do diagnóstico, com humor

alterado, sofrimento psíquico intenso e negando a gravidade de sua doença. Através do

rebaixamento dos mecanismos de defesa entrou em contato com a enorme angústia que

sentia, frente a essa realidade.

Equipe de Dor: Sente dor no repouso e foi medicada no Ambulatório de Dor

Crônica.

Serviço Social: Está casada a 22 anos e tem dois filhos: uma moça já casada e

um filho solteiro. Reside em cômodos cedidos pelos sogros. Esposo está desempregado; faz

‘bicos’ como servente de pedreiro.

A paciente trabalhava como doméstica. Atualmente está afastada recebendo

auxílio doença.

Mesmo após o tratamento com rádio e quimioterapia não foi possível realizar

cirurgia para retirada da mama.

8.3.3. Sessões Psicoterapêuticas:

Sessão Única: 24 / 08 / 2000

Duração: 15 minutos

Atendimento Hospitalar

Encontro paciente sentada na cama, acompanhada da sobrinha. Apresento – me

como psicóloga e que fui indicada para atende – la em uma postura de muito acolhimento.

Paciente não mostra receptividade.

Explico que faço um trabalho com Relaxamento Mental através de músicas e

Visualização de Imagens belas e procuro oferecer - lhe continência. Paciente balança a

cabeça negativamente. Sobrinha aproxima – se, com muita delicadeza, e diz que ela é

evangélica e não pode ouvir nenhum tipo de música. Ofereço, por esta razão, em uma

postura de muito acolhimento, para trabalharmos somente com Imagens e mostro o Álbum

de Imagens (Anexo 7) para a paciente. Começo a folhear as páginas para que I. veja essas

imagens. A paciente balança a cabeça negativamente e diz que não quer. Explico que iria

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ajudá – la a desfocar o pensamento das tristezas. I. repete o gesto: balança negativamente a

cabeça e diz que não quer. Afirma que quer apenas remédio para melhorar a falta de ar e

mais nada. Digo – lhe que está bem; acrescento que se ela mudar de idéia estarei à

disposição.

A sobrinha aproxima – se e pede para que eu “não leve a mal”; afirma que “não

é pessoal”. Acrescenta que sua tia I. fica aflita com qualquer pessoa que se aproxima, até

com as enfermeiras. Tranqüilizo – a dizendo que está tudo bem, que a atitude dela é

compreensível e que não há nenhum problema por ela não querer o atendimento.

Morte da Paciente:

Segundo dados colhidos no prontuário, I. foi a óbito na Enfermaria da

Oncologia do CAISM, dia 26 / 08, dois dias após esta proposta de atendimento, às 5 horas

da manhã, por insuficiência respiratória.

A Auxiliar de Enfermagem da Oncologia do CAISM – UNICAMP, Kédma

Lurdes Auxiliadora, que acompanhou o óbito da paciente, informou – me, em comunicação

pessoal, que I. estava com muito medo de morrer e por esta razão solicitava a Enfermagem

à “todo instante”. Foi a óbito com dispnéia intensa, desespero, angústia e aflição.

8.4. QUARTA PACIENTE: R.M.F.F.A.

8.4.1. Identificação

Idade: 40 anos

Estado Civil: casada com M.A.A.F.A.

Filhos: G.A., 15 anos e D.A., 13 anos, ambos do sexo masculino.

Residência: Campinas. Moram na residência o casal e os dois filhos.

Atualmente duas tias do marido de R. estão passando alguns dias com eles para ajudar nos

cuidados da casa e das crianças.

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Doença: Neoplasia maligna - Carcinoma de Mama direita, estadio III b. Foi

realizada mastectomia radical modificada em 02 / 08 / 99. Atualmente apresenta metástase

cerebral e metástase na outra mama.

Início do Tratamento: 17 / 03 / 99

Hospital: CAISM – UNICAMP

8.4.2. Histórico Clínico:

Segundo relato da Assistente Social, no prontuário, a paciente demonstra ter um

bom relacionamento com o marido e com a família. Estava otimista em relação ao

tratamento quando fez a mastectomia e apresentou desejo de reconstruir a mama.

R. está internada desde 18 / 08 / 00 e hoje, 29 / 08, terá alta. O atendimento

psicológico terá continuidade no domicílio.

Segundo a médica residente, responsável pelo setor, a paciente não se encontra

bem clinicamente e está Fora de Possibilidade de Cura.

Observo também, através do Prontuário, que sua Religião é Católica, o que

viabiliza o trabalho por sua crença da vida espiritual pós – morte.

8.4.3. Sessões Psicoterapêuticas:

1o Sessão: 29 / 08 / 2000

Duração: 30 minutos

Atendimento Hospitalar

Chego ao leito para atender a paciente e observo que ela acabou de vomitar e

está sendo atendida pela Enfermagem. Aguardo e apresento – me, sempre em uma postura

de muito acolhimento. Pergunto se ela está disposta para uma conversa. R. diz que sim e

que, se cansar, me avisa. Explico o trabalho, a paciente interessa – se, afirma que gostou

muito de mim mas terá alta neste mesmo dia. Digo - lhe que poderei continuar com os

atendimentos no domicílio. R. concorda e conta que mora em uma chácara, explicando –

me como chegar até sua residência.

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Explico que preciso conversar um pouco com ela, antes de fazermos os

exercícios, para conhece – la melhor e peço para que ela me conte um pouco sobre sua

vida, por exemplo, sobre sua família de origem, antes de casar – se. R. muda de

atitude, diz que não está disposta e acrescenta que poderá conversar, outro dia, talvez.

Respeito. Pergunto se ela gostaria de olhar algumas imagens e me mostrar aquela ou

aquelas que gostou mais. R. aceita e começa a folhear o Álbum de Imagens (Anexo 7), que

lhe apresento. Enquanto folheia começa a falar espontaneamente. Comenta que as

Imagens são lindas, pergunta onde as fotos foram tiradas e afirma que o lugar onde mora é

bonito como essas imagens, cheio de verde e por esta razão estranha muito quando precisa

ficar trancada em um quarto de hospital. Ofereço minha atenção e minha escuta. R.

continua relatando que ganharam essas terras, 2 mil alqueires, do seu sogro e construíram

uma bela casa mas, por outro lado, esqueceram que os filhos precisam estudar e como o

local é afastado, as crianças precisam “viajar” todo dia. Acrescenta que também é muito

dispendioso morar lá por causa da distância. Continua folheando o álbum e acrescenta

que sua mãe foi morar com ela, mas não acostumou – se com o local, quis voltar para

o centro da cidade. Neste ponto fala que está enjoada e quer parar de ver as imagens.

Digo – lhe que está bem, que podemos parar e fazer um exercício breve se ela

quiser. R. aceita. Pergunto – lhe se entre as imagens que viu, houve alguma que gostou

mais. R. responde que gostou da Imagem do mar e a Imagem das flores. Folheia o álbum e

me mostra a no 14 e a no 10. Ofereço a música “Andinos” do CD “Soprus Universalis”, e

peço à paciente que observe se gosta ou não desta música. Caso não goste, poderei oferecer

outras. R. responde que sim, que gostou deste tipo de música.

Tempo aproximado de Exercício: 10 minutos.

Peço que feche os olhos e respire profundamente enquanto escuta a música.

Oriento – a, em seguida, para imaginar um céu muito azul, imaginar este azul envolvendo –

a, e visualizar um caminho dourado como o sol. Peço que se imagine andando neste

caminho, visualizando os raios dourados do sol, sentindo uma brisa suave que a envolve, e

dirigir - se, em seguida, a um local muito belo, um campo cheio de flores cor de rosa e uma

praia deserta, logo em frente a esse campo. Visualize a areia desta praia muito branca e um

mar muito tranqüilo. Oriento – a para sentir o perfume das flores, passear entre elas, em

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seguida ir para a praia e entrar no mar. Olhar o céu azul, o sol brilhando. Mergulhar nas

águas do mar, soltar – se, imaginar que o mar esta levando embora todas suas tristezas,

mágoas, preocupações.

Deixo a música tocando por alguns momentos e observo que a paciente

adormeceu. Continuo por mais cinco minutos, aproximadamente, com a música ligada.

Desligo o CD e começo a recolher o material quando R. acorda e pergunta se acabou.

Digo – lhe que sim e pergunto se gostou. R. coloca que sim, que as “histórias” que eu

falei são lindas. Afirmo que este é meu trabalho, ajudar a paciente desfocar seus

pensamentos das tristezas, da doença e foca – la em mundos belos, paisagens belas. R.

coloca que no final adormeceu. Digo – lhe que isto é bom porque mostrou que ela relaxou.

R. repete que gostou muito, que adorou estas “histórias”, que o trabalho é lindo. Digo

– lhe que continuarei a atendê – la em sua residência e combino o atendimento domiciliar

para a próxima semana.

2o Sessão: 06 / 07 / 2000

Duração: 90 minutos

Atendimento Domiciliar Familiar

Sou recebida pelo marido M. e em seguida por duas tias, irmãs da mãe do

marido M., que estão na casa ajudando.

R. está na sala, no sofá, onde está vivendo, pois não consegue mais andar.

Nesse local dorme, se alimenta, seu marido lhe faz a higiene.

A casa é ampla, localizada em um lugar muito bonito. Após um pequeno

“rapport” sobre o bairro em que moram, começo o atendimento com o casal. Explico

novamente sobre a natureza do trabalho e sobre o Termo de Consentimento. M. pede para

ler e R. fala para o marido nos deixar um pouco a sós.

Procuro acolhê – la e peço que fale um pouco sobre si mesma. R. começa a

relatar que não aceita ter ficado doente. (Dor Psíquica / Humor Depressivo: Tristeza

pela perda da vida, da saúde). Estava tão bem. Em março de 99 trabalhava na Telefônica

quando apareceu um caroço no seio e ficou doente. Um médico, com quem se consultou,

disse – lhe que era cistite e que não era nada. Foi a vários médicos até ser encaminhada

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para um mastologista. Muda de assunto voltando a falar sobre o momento presente e diz

que atualmente está muito esquecida: vai falar o nome do seus pais, dos próprios filhos,

esquece, e, em seguida, afirma que está melhorando. (Provavelmente este esquecimento

ocorra por causa da metástase cerebral). Em dezembro de 99 começou a perder a visão e

em 11 dias estava cega. Fez tratamento com Radioterapia e Quimioterapia e a visão voltou.

Segundo os médicos, o tumor que bloqueava sua visão, estava localizado em um lugar

possível de ser tratado. Antes deste tratamento para recuperar a visão, relata, já havia se

tratado duas vezes. Primeiro o câncer apareceu na mama esquerda e esta mama foi retirada.

Após algum tempo o câncer apareceu na outra mama e também voltou na mama esquerda.

Atualmente está tratando das duas mamas. Desejava ter feito a reconstrução mamária, mas

não foi possível. “Tudo bem”, acrescenta. Continuo oferecendo meu apoio, meu

acolhimento, minha atenção. Passa a falar do sofrimento de seus filhos, de seu marido e

pontua que M. é ótimo. Digo – lhe que estou vendo isto, o bom relacionamento entre eles é

evidente.

R. passa a falar da casa. Diz que não gosta de empregada porque gosta de

privacidade, de cuidar da casa, de levantar na hora que quer, de independência.

Afirma que tem tudo o que quer e gosta. Adora morar em chácara. Sente liberdade.

(Parece – me que paciente está mostrando sua resistência em deixar – se cuidar, está

dizendo que não gosta muito de ajuda porque sente - se limitada na sua autonomia, sente –

se invadida na sua privacidade). Há 12 anos atrás, antes de mudar para a chácara, morava

em apartamento. Faz uma pausa e eu pergunto sobre sua família de origem procurando

colher dados da Anamnese (Anexo 1). R. responde que seu pai é ótimo, assim como sua

mãe. Ambos vem vê – la quase todos os dias. Sempre foram ótimos para ela. Tem um

irmão, um ano mais novo. Teve uma boa infância e uma boa adolescência, seus pais eram

muito bons. Seu irmão, por sua vez, era muito briguento, mas foi possível “levar” e superar

e hoje, esse irmão melhorou muito.

Retorna sua fala para a família atual. Coloca que tem um filho de 15 anos e

outro de 13 anos, está casada há 16 anos. Começou a namorar em 1980 e casou em 1985.

Sempre tiveram um bom relacionamento. Acrescenta que sente muita Tristeza pela Perda

da Saúde, (Dor Psíquica / Humor Depressivo: Tristeza pela perda da vida, da saúde).

Tem horas que sente uma profunda depressão, “vem de lá de dentro”, “sem motivo”. Tem

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marido, filhos ótimos e seus cachorros. Gosta de ver televisão, não faz nada obrigada, gosta

de tudo o que faz. Não se conforma de ter ficado doente e sente – se culpada pelo

sofrimento que está causando aos seus familiares: seu marido, seus filhos, sua mãe, seu pai,

(Dor Psíquica / Humor Depressivo: Culpa por fazer seus familiares sofrerem).

Neste ponto começa a sentir ânsia de vômito. Observo que na outra sessão isto

também aconteceu quando perguntei sobre sua família de origem. Parece – me que a

paciente está com muita dificuldade para entrar em contato com esta Dor, esta culpa, por

fazer seus familiares sofrerem, e dada sua fragilidade, a gravidade de seu estado clínico,

opto por respeitar este limite que ela apresenta: não querer aprofundar – se neste assunto.

Chamamos seu marido para trazer uma bacia, onde ela possa vomitar. M. volta

para a sala. R. não vomita e diz que quando fala muito se cansa. Entendo com esta

colocação que ela está novamente sinalizando seu limite. Peço – lhe que descanse e afirmo

que já falou o suficiente. R. repousa. Digo – lhe que agora eu falarei um pouco. Afirmo que

pude observar sua tristeza, sua mágoa por ter ficado doente e que realmente seu corpo está

limitado (bem limitado corrige R.); afirmo que, apesar de seu corpo estar bem limitado,

sua mente e seu espírito não estão e poderemos fazer uma dissociação. Explico que seu

corpo continuará preso na sala, mas, através da sua imaginação poderá voar para

mundos bonitos e desfocar o pensamento da doença e das tristezas. Pergunto se ela

acredita na vida espiritual. R. diz que sim. Explico – lhe que um dos pressupostos do

trabalho é a crença na vida espiritual e por isto relacionamos a imaginação de mundos

belos à possibilidade de estarmos nos ligando através do pensamento a possíveis

mundos espirituais belos. R. responde que gostou muito do exercício que fizemos no

Hospital.

Neste ponto M., que está sentado na sala desde que o chamamos para trazer a

bacia, coloca que a tirou do Hospital, insistiu para que os médicos a deixassem vir para casa

justamente porque R. ficava trancada naquele quarto, quando estava acostumada a viver no

ambiente belo da chácara. R. complementa dizendo que se sentia muito só no hospital.

São muitas pessoas doentes e o ambiente é de tristeza e morte. Sentia – se muito mal

por isto. (DOR ESPIRITUAL/ Medo da morte; relaciona – a com solidão e tristeza).

Acrescenta que em casa está muito melhor. Em seguida ela e o marido começam a me

mostrar os quadros que R. pintou e também os quadros que a mãe de M. pintou. Mostram

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também o artesanato confeccionado por R. Neste ponto o marido, M., ri e diz que além de

quadros e artesanato R. gosta também de serrote e martelo. Mostra uma estante que R. fez,

muito bem feita. Acrescenta que ela não deixou ninguém ajudar e brigava se ele tentava se

aproximar. Todos riem. Neste momento as tias entram com o cafezinho para mim e R.

coloca que também quer um. R. pergunta se esta vai ser uma única sessão. Digo – lhe que

não, que virei atendê – la mais vezes, enquanto for necessário. Acrescento que poderei vir

uma, duas ou três vezes por semana, conforme a necessidade dela. R. responde que uma

vez por semana está bem e pede – me que olhe pela janela e veja suas flores e plantas

preferidas. Entendo que está tentando me mostrar todas as coisas belas que construiu,

antes de ficar doente e está perdendo. (Dor Psíquica / Humor Depressivo: Tristeza pela

perda da saúde, da vida). Digo – lhe que entendo sua tristeza por não poder mais cuidar

das coisas belas que construiu, mas, com nosso trabalho, procurarei ajudá – la, ao menos, a

resgatar a beleza de suas flores e plantas através da Imaginação. Pergunto se quer ver

novamente o Álbum de Imagens (Anexo 7). R. responde que sim e o marido se interessa

também. Enquanto folheia e mostra para o marido as que mais gostou e escolheu na última

sessão, pede para as tias me levarem até o topo da escada onde estão pendurados quadros

com as fotos da família. Tudo é muito arrumado e de bom gosto. As tias aproveitam a

oportunidade para me mostrar a fotografia de sua irmã, sogra de R., e me contar que ela

também desenvolveu um câncer há quatro anos e morreu há dois anos. Acrescentam que

quem cuidou dela foi R. e a família já vem sofrendo muito há um bom tempo. Ofereço

acolhimento.

Volto para a sala e o casal começa, espontaneamente, com certo receio, a

falar sobre a morte da mãe de M.; Ele conta que sua mãe adoeceu, ficou com câncer.

Foi um período sofrido para todos. Parecem temer falar sobre este assunto,

principalmente sobre a morte, obviamente pela relação da doença e morte da mãe de M.

com a doença e possivelmente a morte de R. Dor Espiritual / Medo da Morte; relaciona

– a com experiências anteriores permeadas de muito sofrimento. M. acrescenta, em tom

baixo de voz, que seus pais moravam em uma chácara próxima a deles, onde seu pai ainda

mora. Também morava com seus pais, um tio dele, irmão de sua mãe, viúvo, de 84 anos.

Estava ainda muito lúcido, era escritor, poeta, muito inteligente. Dois meses antes da mãe

de M. morrer, deixou uma carta contando sobre sua depressão, e suicidou – se por

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enforcamento. Foi muito doloroso para todos. Ofereço meu acolhimento. Parece – me que

criaram um bom vínculo de confiança comigo e estão podendo falar sobre suas feridas

antigas, ainda não cicatrizadas e agora aliadas à nova ferida: a doença de R. As tias, que

estavam por perto, retiram – se para dentro da casa. Procuro resgatar as culpas e coloco que

ninguém tem culpa, nem mesmo o tio de M. Acrescento que é possível compreender que

ele estava vivendo, possivelmente, um intenso e insuportável sofrimento psíquico. M.

confirma, relata que o tio escreveu isto na carta e isentou todos de culpa. R. pontua que ele

era muito inteligente, escrevia muito bem. Em seguida mostra sinais que quer fazer o

exercício mental. M. pergunta se pode ficar. Digo – lhe que sim e pode também fazer o

exercício se quiser.

Tempo aproximado de exercício: 15 minutos

Peço que feche os olhos e respire lenta e profundamente. Imagine um céu muito

azul e imagine que o ar que respira toma a coloração do céu. Imagine que este ar na

coloração azul está sendo absorvido por seus pulmões e transportado para todos os órgãos:

cabeça, ombros, tórax, abdome, braços, pernas.

Oriento para, em seguida, entrar em uma estrada dourada de sol e caminhar. Ao

largo desta estrada peço que imagine árvores muito altas e muito verdes. Peço que caminhe

sentindo uma brisa suave e prestando atenção no dourado do caminho. Chegue a um campo

verde com flores cor de rosa, aos milhares. Oriento que caminhe entre as flores, observe sua

beleza, seu perfume, os pássaros que voam entre elas. Solte – se neste imenso jardim.

Deixo apenas a música tocando por alguns momentos. Em seguida peço para ela caminhar

até uma praia localizada logo em frente a este campo florido. Uma praia deserta, bonita.

Digo – lhe para imaginar – se tirando os sapatos e caminhando na areia muito branca e

muito fofa. Peço que visualize o mar, muito azul, muito calmo. Oriento que entre no mar e

mergulhe, solte – se. Deixe as ondas baterem em seus ombros, na sua cabeça e levar toda a

tristeza, toda a mágoa, para areia. Repito várias vezes para ela soltar – se, mergulhar, deixar

as ondas levar todas as tristezas e mágoas embora. Peço que visualize, em seguida, a cor

azul, ao longo do mar, bem distante, a perder de vista, e observe que é possível ver

golfinhos brincando neste local. (Introduzo golfinhos para dar uma conotação alegre,

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lúdica, para a visualização, visando minimizar a tristeza, a depressão). Oriento que

procure acompanhar os movimentos alegres dos golfinhos.

Em seguida, peço que saia do mar. Sente – se no campo florido e observe,

procure sentir a beleza do Universo. Procure integrar – se com esta beleza. Peço que pense

em todas as coisas boas que tem na vida e que apesar da doença e do limite do corpo,

continua tendo, principalmente, o amor do marido, de sua família. (Procuro desfocar seu

pensamento do quadro negativo e focá – lo nos aspectos positivos). Paciente murmura:

“Que delícia”.

Deixo apenas a música tocando e, de tempos em tempos, vou pontuando para

R. visualizar a céu azul, as flores, a beleza do Universo, pensar nos aspectos bons de sua

vida.

Peço, após algum tempo, que “volte” devagar para a sala, procurando trazer a

paz deste lugar.

Após alguns momentos a paciente abre os olhos e afirma que foi muito

bom. O marido M. coloca que também acompanhou o exercício e foi muito bom fazer

esta viagem mental, desfocar o pensamento das tristezas.

R. coloca que sente muita falta de tomar banho de chuveiro, sentir a água

escorrendo sobre sua cabeça, porque como não pode subir as escadas e ir até o banheiro,

seu marido a banha na sala, com “paninho” e bacia de água. Entendo que a paciente diz

que o exercício foi bom, mas seria melhor se ela pudesse usufruir destas sensações no

plano físico e não apenas mentalmente. Dor Psíquica: Humor Depressivo / Perda da

Saúde. Parece – me que em relação a Dor Psíquica este é um sofrimento muito

significativo, o qual, aliado a sua resistência em deixar – se ajudar, bloqueia sua

aceitação frente à morte iminente.

Em seguida R. pergunta qual é mesmo meu nome. (Havia comentado que

esquece os nomes dos familiares provavelmente, conforme citei acima, devido à metástase

cerebral). Pergunta quando vou voltar e combino a próxima sessão.

É visível sua melhora de Humor. Está mais desperta, mais animada.

Comento esta observação com R. e com seu marido M. e ambos confirmam minha

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percepção, R. afirma que está muito mais tranqüila, em paz e M. pontua que a

melhora é possível ser constatada na expressão facial de R. Observo que não foi

possível lidar com a Dor Psíquica / Humor Depressivo: Tristeza pela perda da vida, da

saúde. Tristeza frente às perdas de todas as coisas belas que construiu. Culpa por fazer

seus familiares sofrerem, mas foi possível lidar através do Exercício de Relaxamento

Mental e Visualização de Imagens Mentais, integrado à Espiritualidade com a Dor

Espiritual / Medo da Morte e do Pós - Morte: relaciona – a com solidão, tristezas e

experiências anteriores permeadas de muito sofrimento. Pela dissociação entre o corpo e

o espírito através da mente (imaginação), foi possível orientar R. para desfocar seu

pensamento da solidão, das tristezas, do sofrimento e foca – lo em mundos espirituais

belos, que acreditamos existir. O benefício do método refletiu – se inclusive, na expressão

física do humor da paciente, pois ela ficou mais desperta, mais animada.

Observo, pelos dados que esta paciente traz, que quando, na fase terminal

final, apenas a Dor Espiritual é passível de ser trabalhada, mesmo assim, é possível re -

significar a Dor Simbólica da Morte do paciente, oferecer qualidade de vida no processo

de morrer e morte digna para ele, através desse método, Relaxamento Mental e Imagens

Mentais, integrado à Espiritualidade. Parece – me que frente a Dor Simbólica da Morte,

na fase final do processo de morrer, a Dor Espiritual é prevalente a Dor Psíquica.

Antes de sairmos da sala M. coloca que leu o Termo de Consentimento (Anexo

5), que está ótimo e já assinou. Apesar de já ter comentado com R. sobre os itens deste

documento quando expliquei sobre o trabalho na primeira sessão, lemos para ela o mesmo,

integralmente.

Durante a leitura do Termo de Consentimento relato para a paciente e para seu

marido o trabalho desenvolvido no Projeto - Piloto com os adolescentes, omitindo que eles

foram a óbito. Pontuo também que a crença do paciente na vida espiritual pós – morte é

requisito para o desenvolvimento deste método, porque trabalhamos com dados, que

pessoas que passaram por uma Experiência de Quase Morte (E.Q.M.) relataram ter

vivenciado no mundo espiritual. Acrescento que, fundamentados nesses relatos dos

pacientes que passaram por uma E.Q.M., temos como pressuposto para o desenvolvimento

deste trabalho, a idéia que o paciente, ao imaginar os cenários belos, está ligando – se,

através do pensamento, a possíveis mundos espirituais permeados de amor e paz. Conto –

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lhes sobre a Experiência de Quase Morte do Dr George Rodonaia, citada no capítulo 2 -

Revisão da Literatura. R. interessa – se por esses relatos dos pacientes que vivenciaram

uma E.Q.M. e afirma que acredita na vida espiritual. Pontua que estes relatos são

muito interessantes. Parece tranqüilizar - se com estas informações.

Em relação ao Termo de Consentimento pede para não assinar porque está sem

firmeza nas mãos. Concordo, visto que M. já assinou.

M. acompanha – me para abrir o portão. Afirma que sabe que ela está fora de

possibilidade de cura. (Foi orientado pela médica do Setor de Cuidados Paliativos da

Oncologia do CAISM / UNICAMP). Relata que já se preparou para perdê – la. Também já

conversou com os filhos. Estes estão cientes da situação e preparados para perder a mãe.

Acrescenta que sua preocupação é com R.. Deseja que ela sofra o menos possível. Explico

que justamente por esta razão, ela foi encaminhada para nossos atendimentos.

R. chama M. da sala e despeço – me, combinando telefonar para confirmar a

próxima sessão.

3o Sessão: 13 / 09 / 2000

Duração: 02 horas

Atendimento Domiciliar Familiar

No dia anterior havia ligado para M. para confirmar a sessão. M. contou que R.

tinha entrado em estado de semi - consciência, não come, fala pouco e com muita

dificuldade. Explico que se ela quiser podemos realizar apenas os exercícios de

Relaxamento Mental, Visualização de Imagens Mentais e Espiritualidade. M. responde que

está bem e pede para eu realizar o atendimento na parte da manhã para poder atender

também seus filhos, visto que à tarde eles vão para a escola.

Quando chego para o atendimento M. e as tias me dizem que R. não está nada

bem e não quer atendimento, não quer ninguém próximo a ela, apenas o marido, mas que os

adolescentes e eles querem atendimento. Concordo. Observo que a resistência de R. em

aceitar ajuda, assim como sua dificuldade e lidar com a Dor Psíquica: Humor Depressivo /

Perda da Saúde estão bloqueando o atendimento mas como foi possível lidar e re -

significar a Dor Espiritual da paciente através desse método, Relaxamento Mental,

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Visualização de Imagens Mentais integradas à Espiritualidade, poderei buscar junto a M.,

caminhos para continuar ajudando R., alem da possível ajuda que nesta sessão, poderei

oferecer para os familiares.

Como a paciente está acomodada na sala, o Atendimento Familiar é organizado

na varanda dos fundos da casa.

Um dos filhos, D., 13 anos, faz o dever de casa. Mostra – se simpático,

comunicativo, receptivo a minha presença. Pergunto sobre o assunto do dever. D. responde

que é dever da disciplina de História e que apesar de gostar da matéria, não gosta de fazer

dever. Comenta que vai bem na escola. Pergunto sobre G., 15 anos, na escola. D. conta que

o irmão é muito inteligente, consegue aprender apenas prestando atenção na aula. Nunca

pega em um caderno em casa, só fica no computador e mesmo assim, tira boas notas.

Enquanto aguardamos G. terminar o banho e D., o dever, atendo o marido M.

As tias ficam por perto, procurando colocar – me à vontade na casa e interessadas em falar

comigo. Ofereço minha escuta e M. fala que tem procurado preparar os filhos da melhor

forma possível, nunca escondeu nada deles, mas, mesmo assim, quer que eu os atenda,

converse com eles. Relata que G., quando criança, sofreu muita pressão da sua família de

origem. Isto aconteceu na época em que moraram na casa dos seus pais, enquanto a casa

deles estava sendo construída. Tornou – se uma criança muito medrosa e por esta razão

precisou fazer tratamento psicológico. Melhorou muito e hoje em dia é muito “ele mesmo”,

às vezes até passa dos limites. Também comenta sobre a inteligência, a sensibilidade e a

criatividade de G. e sobre a disposição física e comunicação de D. Conta, a seguir, que na

sua casa está uma tristeza. Por mais preparados que todos estejam é muito triste ver R.

sofrer desta maneira e perdê – la. Seus olhos enchem – se de lágrimas. Ofereço minha

compreensão, meu acolhimento e digo – lhe que a dor do luto, da perda, é impossível de

não ser sentida. É possível aprender a conviver com ela e não permitir - se ser destruído por

esta dor mas não é possível deixar de senti – la.

Pergunto em seguida sobre R., pela forma como ela colocou que não queria

mais atendimento. M. responde que não entendeu muito bem esta recusa repentina porque

ela tinha gostado muito dos atendimentos e dos exercícios, mas depois piorou muito

fisicamente e disse que não queria mais psicóloga. As tias aproximam – se. Comentam que

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R. está comportando – se assim com todas as pessoas, inclusive com elas. Não quer que

ninguém cuide dela a não ser o M., seu marido. Nem da casa quer mais que as tias cuidem.

Afirmam que R. sempre foi disposta, ativa e independente e agora sua extrema

vulnerabilidade está incomodando – a muito. M., o marido, comenta que R. foi sempre a

líder, sempre decidiu tudo, mesmo quando estava piorando da doença, há uns meses atrás.

Nesta época, ainda tentava ser independente e buscava fazer as coisas que gostava. Sempre

esteve no controle de tudo, pontuam, tanto as tias como o marido. Digo – lhes que, pelo que

está sendo dito, parece – me que R. está recusando o atendimento psicológico porque está

com dificuldades e se deixar cuidar. (Aspecto que eu já havia percebido na sessão

anterior). O marido e as tias dizem que é exatamente isto. Apesar de ter gostado e sentido –

se muito bem com as técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de Imagens Mentais,

integradas à Espiritualidade, não quer ninguém cuidando dela, a não ser o marido. DOR

PSÍQUICA / Humor Depressivo: Angústia pela Perda da Vida.

Os familiares levam – me até próximo a sala para que eu possa vê la. R. esta

deitada no sofá, semi – adormecida e nesta posição tem ficado a maior parte do tempo,

comenta M.

Voltamos para o terraço e R. chama M. As tias afirmam que é muito triste vê –

la assim, que o sofrimento é muito grande, principalmente porque a ferida na mama está

exposta. Colocam que sabem que o câncer também tem uma relação com a parte emocional

do paciente e que R. “guardou muita coisa”, “engoliu muita coisa”, “não quis colocar para

fora”, não quis nenhuma ajuda. Mostram – se muito humanas e preocupadas com o bem

estar da família, sensibilizadas com todo o sofrimento.

Neste momento G., o filho de R. chega, me cumprimenta com um beijo. Peço

que chamem D. Enquanto aguardamos o outro filho de R. pergunto para G. se ele foi

acordado para o atendimento, procurando fazer um pequeno “rapport” e deixar o garoto à

vontade. G. diz que não, que estava na hora de levantar porque tem aula. Nos dias que vai

para a escola, acorda por volta deste horário, 10 horas. Conta que costuma ficar no

computador até às 4 horas da manhã porque ele não paga impulso na Internet, e, quando

cansa, desce para o quintal e brinca com um bastão como nas Artes Marciais, exercitando –

se. Faz este relato em tom de brincadeira e imita como faz com o bastão. Pergunto – lhe

sobre as histórias em quadrinhos que escreve. (M. havia me contado sobre isto). G.

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responde que faz algum tempo que não escreve, pois não consegue dar um final para elas.

Pergunto – lhe se isto tem relação com o momento que está vivendo. Os olhos de G.

enchem – se de lágrimas e ele diz que sim. Neste momento D. chega e senta – se conosco.

Observo que os dois adolescentes são meninos bonitos, bem educados e comunicativos.

Pergunto – lhes como estão se sentindo em relação à doença da mãe. As tias neste momento

trazem um cafezinho sem interromper o atendimento. D. começa a falar. Coloca que tem

procurado não se envolver com o sofrimento da mãe para não sofrer. Continua fazendo

tudo o que gosta, jogando bola com os amigos, indo na escola e isto ajuda muito. D. fala

com desenvoltura e mostra uma boa estrutura de ego na sua forma de se colocar. G. por sua

vez mostra maior vulnerabilidade, apesar de apresentar – se de forma simpática e brincando

muito. Conta que vem sofrendo muito faz tempo. Primeiro foi sua avó, a quem ele adorava,

que morreu. Nessa mesma época seu tio se enforcou. Neste momento os dois garotos se

entreolham com receio de terem falado demais. Digo – lhes para ficarem tranqüilos e

falarem tudo o que quiserem e sobre isto eu já sabia, seus pais já haviam me contado. G.

continua falando e relata que também tem procurado viver sua vida, fazer o que gosta; não

é bom de esporte, gosta de computador. As Artes Marciais que pratica, o faz da própria

cabeça. Pergunto – lhe se ele não gostaria de praticar esse esporte de forma mais

especializada, com outros colegas. G. ri e responde que talvez.

Pergunto – lhes como ficarem sabendo da doença da mãe. D. imediatamente

responde que foi ela mesmo que contou. Chegou em casa e disse que estava com câncer. O

primeiro caroço era benigno, mas o segundo acusou ser maligno. Esta doença não tem cura

colocam ambos os garotos. Primeiro foi nossa avó, agora nossa mãe. Nós sabíamos que ela

ia acabar ficando assim e morrendo, completam. Em seguida D. afirma que lhe disseram

que o câncer desenvolve – se mais em mulheres do que em homens. G. acompanha a

colocação do irmão, interessado, e ambos olham para mim. Entendo que estão procurando

defender – se do medo de perder o pai também. Respondo que já vi uma apresentação em

um Congresso, mostrando uma estatística na faixa etária de seus pais, que indica uma maior

incidência de câncer em mulheres. Digo que está me parecendo que eles estão, na verdade,

através desta pergunta, mostrando que estão com medo de perder o pai também, mas o pai

deles está bem de saúde. G. diz que é verdade, ri e fala que apesar de seu pai fumar, ainda

vai viver pelo menos uns dez anos. D. comenta que existem crianças que com sete anos

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perdem pai e mãe, vão viver com parentes e aprendem a se virar. Se isto acontecesse com

ele, iria aprender. Acrescenta que ninguém sabe do futuro. Ele quer se veterinário ou

jogador de futebol, mas só o futuro sabe o que ele vai ser. G. diz que quer ser médico ou

programador de computação.

Em seguida começam a brincar e a falar do pai ‘tirando sarro’, contam que ele é

‘pão duro’. Quando pega dinheiro emprestado deles, não paga. O pai chega e senta conosco

sem perceber que os dois estão brincando e “tirando sarro” dele. Ao verem o pai chegar e

sentar, os dois aumentam as brincadeiras e o ‘sarro’, dão risadas, até o pai perceber que

estão falando dele e entrar no jogo, brincando com os filhos. Observo um relacionamento

familiar muito bom, afetuoso. Deixo – os brincar. Os dois adolescentes começam então a

relembrar travessuras em que deixaram o pai preocupado. Contam que uma vez, quando

estavam brincando com os primos de esconde – esconde e pega – pega no telhado,

quebraram telhas. Ao verem o pai chegar, se esconderam e quando o pai vinha perguntar

sobre as telhas quebradas, respondiam que não sabiam. Dão muita risada relembrando este

episódio. O pai acompanha afetuosamente o relato dos filhos. Comenta sobre o perigo deles

caírem do telhado. Os dois passam a tirar mais ‘sarro’ do pai dizendo que se eles tivessem

caído do telhado, o pai iria primeiro ver as telhas que tinham quebrado e depois é que iria

ver se eles tinham se machucado. Riem, ‘cutucam’ o pai. Passam em seguida a tirar sarro

um do outro. Começam a falar sobre a rotina diária, as manias, os hábitos de cada um.

Deixo – os brincar livremente, parece – me que esta é uma forma que estão

encontrando de fortalecerem a capacidade interna de enfrentar a dor da perda da mãe e

também uma maneira de unirem – se neste momento muito difícil e sobreviverem a esta

perda. Procurando ajuda – los nesta elaboração, conto – lhes minha experiência.

Digo – lhes que quando tinha a idade deles perdi meu pai. Foi muito difícil, mas

eu aprendi que poderia trazer meu pai ‘vivo’ dentro de mim, através de tudo o que ele tinha

me ensinado. Percebi isto, pela primeira vez, quando fui fazer uma prova de Matemática,

logo após a morte dele, e me senti muito insegura porque era ele, por ser Engenheiro, que

me ajudava nesta disciplina. Procurei estudar da forma como ele orientava e consegui tirar

dez na prova. Foi o único dez da classe. D. imediatamente faz uma associação e diz que é

verdade. Que tudo que sua mãe lhe ensinou está dentro dele e que isto vai estar sempre com

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ele. Que cada um tem um tempo na Terra, e o tempo da mãe deles acabou, mas, vai ficar

tudo o que ela ensinou e um dia eles vão se encontrar no “céu”. Considerei esta colocação

bastante madura para um garoto de 13 anos e posteriormente fiquei sabendo que a própria

R. havia dito isto para eles, procurando preparar seus filhos para perdê – la. G. concorda

com a colocação do irmão e em seguida pergunta – me qual a causa do câncer. Respondo

que não existe nenhum estudo conclusivo sobre a causa do câncer mas a hipótese mais

aceita, ultimamente, é a de múltiplas causas onde fatores emocionais, genéticos,

alimentares, etc, associados, podem predispor o indivíduo a desenvolver um câncer. Pontuo

que o principal é observar que ninguém tem culpa. Sua mãe não tem culpa de ter

desenvolvido um câncer, assim como a culpa não é do pai ou deles. G. e D. acompanham

minha explicação, interessados. Em seguida afirmo que eles continuarão tendo mãe após a

morte de R. Ela é a mãe deles e sempre será. Não estará mais vivendo com eles aqui na

Terra mas continuará a ser a mãe deles e poderá continuar viva dentro de seus corações. Os

adolescentes parecem encontrar conforto nesta afirmação.

Neste momento as tias chamam os dois meninos para almoçar porque faltam

dez minutos para o ônibus da escola passar.

M., marido de R. e pai dos adolescentes, se aproxima. Coloco minhas

percepções sobre os adolescentes e minhas observações em relação aos benefícios do

suporte e preparo que os meninos receberam e estão recebendo dos familiares frente à

morte iminente de R.; pontuo também sobre a importância de M., como pai, continuar

sempre conversando com seus filhos, ajudando – os a expressar sentimentos,

principalmente G., que parece ser mais vulnerável e fechado. M. responde que realmente

tem procurado fazer o melhor para ajudar seus filhos e R. também o fez enquanto pôde.

Relata que gostou muito quando eu disse para os meninos que R. sempre será a mãe deles,

pois esta é a verdade, ela que os trouxe para este mundo e ela continuará viva em seus

corações.

Uma das tias se aproxima. Volto a falar sobre R., procurando uma forma de

continuar ajudando – a. Oriento, novamente, com muita clareza, para os familiares, sobre a

base deste trabalho. Falo, mais uma vez, sobre os estudos com pacientes que

vivenciaram uma Experiência de Quase Morte (E.Q.M.) e voltaram a viver

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normalmente e explico como integro os relatos desses pacientes com as Técnicas de

Relaxamento Mental e Visualização de Imagens Mentais. Pontuo que procuro, desta

forma, direcionar a mente do paciente para um mundo espiritual, que nós

acreditamos existir, belo e pacífico. M. responde que acredita plenamente nos relatos

desses pacientes que vivenciaram uma Experiência de Quase Morte (E.Q.M.).

Informa que tem na família uma prima que passou por uma Experiência de Quase

Morte (E.Q.M.) e seus relatos, sobre esta experiência, são semelhantes aos dados que

relatei. M. acrescenta que acredita que R. está em paz mas, sem dúvida, os exercícios

com Relaxamento e Visualização integrados à Espiritualidade, iriam continuar

ajudando – a. Respondo que me parece que a rejeição dela não é ao Exercício e sim,

ao fato de ser ‘cuidada’ por outra pessoa, que não ele, seu marido. Proponho, frente a

estas reflexões, que M. coloque o CD de Relaxamento e oriente a Visualização. M.

imediatamente concorda. Afirma que como fez o exercício junto com R. na última sessão,

e “viajou” através das minhas orientações, guardou muito bem a seqüência proposta na

Visualização. Mesmo assim reviso com ele as orientações básicas: “Respiração lenta e

profunda; imaginar o ar na cor azul céu sendo inalado e envolvendo – a; entrar em uma

estrada dourada de sol; chegar em um campo de flores cor de rosa, descansar; dirigir – se

para uma praia deserta, mergulhar no mar e imaginar que todas as mágoas estão sendo

levadas pelas ondas, voltar para o campo de flores, procurar integrar – se com a beleza do

Universo. Pergunto para M. qual o Ser Espiritual preferido da paciente. M. responde que é

Cristo. Digo – lhe para também orientá – la a ligar – se em Cristo e imaginar - se envolvida

por sua proteção e amor”.

A tia, que estava do nosso lado acompanhando a conversa, coloca, neste

momento, que esse trabalho é maravilhoso. Conta que depois que eu fui embora na

sessão anterior, a casa ficou mergulhada em Paz. Acrescenta que por “coincidência”,

naquele dia, estava lendo o livro O Silêncio de Deus, da baronesa russa Catherine de H.

Doherty. Nesse livro a autora faz sua biografia, principalmente em relação a sua

comunicação espiritual e integração com Deus. Comenta que, além dela coincidentemente

chamar – se Catarina, também fala sobre um mergulho no mar, o mar do silêncio interno.

Lê, em seguida, para nós, um trecho do livro, (transcrito abaixo) que, para ela, representou

o trabalho que faço.

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“Então, eu olhei, de novo, para a minha chave (da Sabedoria) e para as pessoas

que gritavam, esperando respostas. Percebo, com novo entendimento, que há somente uma

maneira de levar a paz de Deus a este povo: enfrentando – os um a um, face a face.

Encontros grupais nada resolvem. Discursos, sermões, aulas, conferências, no meio daquela

massa imensa, entram por um ouvido e saem pelo outro. Pode haver algumas exceções,

naturalmente. Mas a verdade é esta: para levar Deus aos homens só existe um meio:

amá – los como pessoas, como indivíduos, um por um.

Amar não significa, necessariamente, gostar. Tome a chave da Sabedoria e abra

seu coração e deixe o povo entrar por ele. Escute cada um, com profunda atenção de mente,

de corpo, de coração, até não poder mais, até o cansaço total da exaustão...Verá que o

cansaço passa e você terá mais força para ouvir e atender mais gente. Sim, o amor tem de

ser comunicado de pessoa a pessoa. É só desta maneira que ele pode ser comunicado”.

(DOHERTY, 1985).

Após esta leitura M. começa a falar sobre o sofrimento da esposa. Afirma que o

sofrimento maior que ela apresenta está relacionado à perda da saúde e aos filhos. Ela

queria encaminhá – los até a vida adulta e isto não será possível. (Dor Psíquica / Humor

Depressivo: Angústia pela Perda da Vida).

Respondo que é perfeitamente compreensível a sua grande dor, neste processo

de morrer, por ter perdido a saúde e assim deixar sua vida, seu marido, seus filhos. Por

outro lado, apesar desta dor ser totalmente compreensível, não podemos deixar que ela nos

torne impotentes frente a alguma ajuda que possamos oferecer para R., considerando – se

também que R. aceitou a ajuda e sentiu – se bem com o Exercício de Relaxamento e

Visualização integrado à Espiritualidade. Conforme observei na sessão anterior, não foi

possível, dado ao estado terminal avançado da paciente, ajuda – la em relação a Dor

Psíquica / Humor Depressivo: Angústia pela Perda da Vida, mas foi possível ajuda – la

em relação a Dor Espiritual / Medo da Morte.

A tia responde que R. tem essa força para lutar, dentro de si. Relata que alguns

dias atrás ela teve em um sonho: estava em um avião que caía e se destroçava, mas ela

continuava inteira, pairando no ar. Digo que esse sonho parece mostrar que apesar de seu

corpo estar se destroçando ela continua viva, existindo. É justamente esta idéia que deve ser

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preservada. M. intervem, diz que concorda e que irá ajudá – la. Colocará a música e em

momentos oportunos, orientará a Imaginação da paciente para paisagens belas e tranqüilas,

visto que, no momento, ela só aceita a ajuda dele.

Despeço – me combinando a próxima sessão.

Morte da Paciente:

Dia 15 / 09 / 00 a tia do marido de R. me ligou, no início da noite, comunicando

que a paciente tinha ido a óbito meia hora atrás e havia morrido de forma serena.

Combinei um Atendimento Familiar para os próximos dias.

Sessão com Familiares Pós - Óbito : 20 / 09 / 2000

Duração: 02 horas

Atendimento Domiciliar

Participam da sessão: M. marido da paciente e os filhos G. e D.

Encontro os familiares de R. me aguardando. Sentamos todos na sala. Observo

que a casa está limpa e bem arrumada.

M. afirma que estão enfrentando bem a situação e que ele encontrou uma

maneira de amenizar a dor e gostaria que eu fizesse alguma orientação sobre esse

procedimento. Relata que tem momentos que sente uma tristeza imensa, mas em outros

sente – se em paz. Sabe que fez tudo o que podia por sua esposa. Foram felizes no

casamento e na doença, cuidou dela da melhor forma possível. Tem oscilado seu

pensamento entre as lembranças do passado e os planos para reorganizar sua vida e a dos

filhos. M. emociona – se e encorajo – o a expressar seus sentimentos. Ele diz que não tem

guardado nada, quando sente vontade de chorar, chora, mas não se deixa abater. Sabe da

sua responsabilidade com os dois filhos adolescentes e com a sua própria vida. Às vezes

sente culpa por estar sendo forte perante a situação. Parece – lhe que está traindo sua

esposa; ela morreu e ele, apesar da dor, está conseguindo lidar com a situação. Os filhos

dizem que sentem o mesmo. Pergunto – lhes se fosse o contrário, se eles tivessem morrido,

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como gostariam que os outros familiares lidassem com a situação. G. brinca e diz que ele é

inesquecível, mas gostaria que a família continuasse bem. D. responde que não quer morrer

sozinho, gostaria que todos morressem com ele, mas, se fosse sozinho, iria querer que os

outros ficassem bem. M. coloca que conversou sobre isto com R., quando ela estava

internada no CAISM, UNICAMP. A paciente tinha percepção da gravidade de seu estado e

por isto disse ao marido que sairia do hospital direto para o cemitério. Pediu que, se ele

quisesse companhia, casasse novamente e não ficasse namorando várias moças. Pediu

também que ele ficasse bem e cuidasse dos filhos. Afirmo que está é uma bonita e exemplar

forma de lidar com a situação. A própria R. deu – lhe permissão para continuar vivendo.

M. passa a mostrar as fotos de R. com ele e com os filhos, que colocou em

porta retratos, pela casa, além das que já existiam e também relata que tem visto e mostrado

para a família, gravações em fitas de vídeo cassete, de eventos familiares onde R. aparece.

Coloca que se sente feliz em ver estes filmes, recordar os bons momentos. Parece, ao ver os

filmes, que ela está ali, com ele. Por outro lado, acrescenta, está procurando reorganizar a

vida. Está planejando voltar a trabalhar na próxima semana. Entrou em contato com uma

antiga empregada, de confiança, para cuidar da casa e também está pensando em fazer

algumas reformas para facilitar a vida dele e dos filhos. No dia anterior fez uma faxina na

casa e deixou tudo em ordem. Está procurando organizar a vida de forma que nada falte

para os adolescentes. Também pediu para suas tias voltarem para a casa delas, pois é tarefa

dele cuidar de sua casa e de seus filhos.

Durante esta conversa G. e D. fazem apartes, brincam, ‘cutucam’ um ao outro e

ao pai, brincam que ele é ‘pão – duro’, etc, em um clima muito afetivo.

M. pede minha opinião, enquanto psicóloga, sobre esta forma de lidar com a

situação. Digo – lhe que parece – me que ele e os filhos estão enfrentando de forma

adequada a perda de R. Esta conduta de reavivar lembranças para amenizar a dor da perda,

em paralelo com a reorganização da vida atual, parece – me muito adequada, porque, além

de estar sendo benéfica para eles, é uma forma de adaptação interessante, onde o passado e

a nova vida podem se integrar, até que tudo se acomode. M. acrescenta que tem consciência

que esta acomodação demorará um pouco para acontecer. Talvez demore um ano, conclui,

mas não há outra alternativa a não ser viver este período e sentir esta dor. Complemento

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colocando que esta dor é totalmente natural e seria “estranho” se ele não estivesse

sentindo – a.

Pergunto para D. e G. como eles estão se sentindo em relação a esta dor. Os

adolescentes respondem que de certa forma já estavam preparados. Primeiro perderam a

avó paterna há 4 anos atrás, a quem amavam muito, depois acompanharam a doença da mãe

nos dois últimos anos. De certa forma foram se preparando aos poucos. Afirmam que só

não querem perder também o pai, visto que já perderam a mãe. O pai intervém e os

tranqüiliza dizendo para não se preocuparem porque irá cria – los e cuidar deles até que

casem. G. brinca e diz que isto vai demorar muito. D. coloca que para ele sua mãe fez

tudo o que tinha para fazer na Terra e havia chegado a hora dela partir. Afirmo que,

baseados, tanto na crença religiosa deles, católica, como nos estudos científicos com

pacientes que vivenciaram uma E.Q.M. (Experiência de Quase Morte), acreditamos

que existe uma vida espiritual após a morte. D. acrescenta que também acredita que

um dia irá rever sua mãe no mundo espiritual e esta crença é muito reconfortante.

M. coloca, novamente, conforme ele já havia afirmado na sessão anterior, que

esses estudos com pacientes que vivenciaram uma E.Q.M. são muito sérios porque ele

mesmo conheceu uma pessoa da família que passou por esta experiência e que lhe contou

pessoalmente sobre esta vivência.

D. relata que ele também teve experiências extra – sensoriais. Ele sonhou que

alguém (não sabia dizer quem) tinha morrido enforcado e no dia seguinte seu tio praticou

este ato. Desta vez, no dia anterior ao da morte da sua mãe, estava dormindo e de repente

“acordou” e ouviu nitidamente sua mãe dizendo: “tá bom, eu vou, eu concordo em ir”. No

momento, achou estranho, pois R. não estava mais conseguindo falar com clareza mas,

mesmo assim, pensou que ela falava com uma das tias. Levantou – se e foi verificar.

Observou que não havia ninguém na sala com sua mãe. Verificou que seu pai e suas tias

ainda estavam acordados e disseram que não tinham ouvido nada. D. afirma que estava

acordado e ouviu sua mãe com muita clareza. Tanto D. como seus familiares, entenderam

estas experiências como premonitórias das situações de morte e que, em relação a R., ela

aceitou a morte, no final.

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Pergunto – lhes como sentem em abordar questões relativas a vida após a

morte. Tanto M. como seus filhos respondem que sentem – se bem, reconfortados, ao

pensar que R. agora vive em algum lugar do Universo. M. coloca que tudo isto ainda é

muito desconhecido pela ciência e pelo próprio homem. Quantas vidas, quantas

existências podemos ter vivido e não lembramos de nada. Digo – lhes que é verdade,

que ainda temos muito que caminhar, pesquisar, conhecer sobre nós mesmos, seres

humanos. Coloco, a seguir, para G. e D. que, além de acreditarmos que R. continua

existindo no mundo espiritual, ela também pode permanecer viva no coração deles através

de tudo o que ela ensinou para eles e através do sentimento que eles nutrem por ela. Os

adolescentes respondem que lembrarão do que a mãe ensinou por toda vida e lembrarão

também que, desta forma, ela estará viva dentro de seus corações. O pai concorda e

acrescenta que eles poderão sempre perguntar - se como a mãe os orientaria nas diversas

situações. Acrescentam que R. era muito inteligente.

M. passa a contar sobre a forma como R. adoeceu. Relata que ela começou a

sentir dores no seio, mas associou a dor ao seu esforço no trabalho, pois digitava o dia

inteiro. Apareceram nódulos na mama e ela consultou um médico que, após realizar vários

exames, diagnosticou como câncer. Assustada a paciente resolveu ouvir uma outra opinião

e o segundo médico interpretou os exames como displasia mamária. A paciente começou a

tratar – se com este segundo médico, quando perdeu o convênio, pois saiu da empresa em

que trabalhava. Foi consultar – se no Posto de Saúde e o médico que a atendeu, ao

examiná – la, imediatamente a encaminhou para a UNICAMP, em março de 1999. Foram

realizados cirurgias e tratamento com quimioterapia e radioterapia, mas o tumor, que era

muito agressivo, cresceu rapidamente e espalhou – se pelo corpo. M. e os filhos concluem

que, para eles, o câncer não tem cura e não teria jeito de nenhuma forma. Era impossível

que R. se curasse. Pontuam que a mãe de M. morreu de câncer, a cachorra de R. morreu de

câncer no focinho e R. morreu de câncer. (Não intervenho nesta crença, pois observo que

esta é uma maneira que a família está encontrando para defender – se de uma possível

culpa por não terem aceitado o diagnóstico do primeiro médico, que estava certo). M.

também comenta que R. não tinha histórico de câncer na família, seus hábitos eram mais

saudáveis do que os dele, pois não bebia, não fumava e mesmo assim desenvolveu um

câncer. Acrescenta que não entende. D. e G. intervem e brincam com o pai. Contam que ele

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às vezes bebe de fim de semana e fica abraçando e beijando toda a família e dizendo que

ama todos. (O clima entre M. e os filhos parece ser sempre muito afetivo e continente).

Embora observe que esta família está lidando com o luto de forma saudável

pergunto, a título de confirmação, sobre o desejo deles, de serem encaminhados para uma

psicoterapia, para elaboração do luto. M. responde que não quer, não é necessário. O apoio

que demos nesta fase final foi importante e suficiente; acredita que será capaz de lidar de

forma adequada com este processo. Pontuo que realmente é um processo, uma dor a ser

vivenciada e elaborada e a forma que ele encontrou, reviver, através de fotos e filmes as

boas lembranças, em paralelo a reorganização da nova vida, parece – me saudável e

adequada. Informo que poderão me ligar em qualquer época que precisem. Os adolescentes,

por sua vez, falam que foi bom conversar, que “aliviou”, mas também sentem que não

precisam de psicoterapia, que estão bem com o pai e sempre conversam.

M. pergunta – me se eu gostaria de assistir ao filme do batizado de G. e do

aniversário de D., onde poderemos ver R. Digo – lhe que sim. Assisto ao filme junto com

os três. M. vai passando as partes onde R. aparece, contando como era a vida deles.

Mostra – se feliz em passar o filme e contar a história de sua família. Pontua que foram

felizes. Digo que me parece que ele, ao reviver os sentimentos e emoções de sua história

com a esposa, encontra um lugar dentro de si mesmo para manter R. viva, enquanto, no

presente, reorganiza sua vida sem ela. M. responde que é exatamente isto que está fazendo

e, se casar de novo, sempre amará R. e isto independe de vir a gostar de uma outra mulher.

Digo – lhe que parece – me que seu mundo interno está em ordem. G. e D. brincam e dizem

que só aceitam que ele se case outra vez se a moça for muito rica.

M. começa a me contar sobre a morte de R. Relata que depois que fui embora,

na sessão do dia 13 / 09, ele colocou o CD do Relaxamento. Não fez nenhuma orientação

para Visualização. Apenas colocou a música e ficou observando a esposa. Percebeu que ela

se acalmou, relaxou, pareceu – lhe que ela, por si só, já orientada pelas sessões anteriores,

entrou, através da sua Imaginação, em um mundo belo. Desse dia 13 até o dia do óbito, dia

15, colocou o CD do Relaxamento inúmeras vezes por dia para tocar e observou que

sempre que ele colocava, a esposa ficava bem e relaxava. Quando R. morreu, o CD

estava tocando. Ela morreu de forma muito serena, ouvindo a música, conclui.

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Acrescenta que ficou ao lado dela, sem dizer nada, apenas deixando a música tocar e

acompanhando seu desligamento. Depois cuidou do corpo, escovou seus dentes, a vestiu.

Observou que a face dela logo após a morte estava serena e com um sorriso nos lábios.

Afirma que a impressão que teve, ao olhar para a esposa logo após o óbito, foi vê – la como

era, antes de adoecer, jovem e bonita. Seu sentimento, nesse momento, foi que o espírito de

sua esposa desprendeu – se do corpo de forma serena e na forma saudável. Frente a esta

colocação, digo para M. que segundo o médico psiquiatra MOOD JR (1989), existem

pacientes que relataram terem visto, durante a Experiência de Quase Morte (E.Q.M.), seus

corpos espirituais em condições diferente do corpo físico no momento dessa E.Q.M.

Alguns que estavam machucados viram – se de forma saudável e algumas crianças que

passaram por essa experiência, relataram terem se visto no mundo espiritual, não como

crianças, mas como adultos jovens. M. afirma que foi exatamente esta sensação que ele

teve: a transformação do corpo espiritual de R. na sua forma anterior, jovem, saudável,

bonita. Acrescento que a médica psiquiatra KÜBLER – ROSS (1998) também refere – se a

esta transformação com uma metáfora sobre a lagarta que se transforma em borboleta.

M. conta que ia gravar o CD para ele porque as músicas são muito bonitas,

mas resolveu não gravar porque elas iriam lembrá – lo sempre do momento da morte de R.

e isto seria muito doloroso. Concordo com ele. M. acrescenta que, por outro lado, quando

chegar a hora de sua morte, quer ser atendido e acompanhado através deste trabalho com

Relaxamento Mental, Visualização de Imagens Mentais e Espiritualidade. Gostará de

morrer ouvindo estas músicas.

Finaliza dizendo – me para agora escrever tudo isto, contar a história de sua

família, na minha Dissertação. Respondo que com sua família pude observar uma

elaboração saudável do luto, observar o exemplo dele, uma pessoa cheia de recursos

internos para lidar com a dor e a perda e pude constatar, entre outros aspectos, que é

possível finalizar o trabalho através do familiar cuidador do paciente ou do familiar com

quem o paciente tem forte vínculo afetivo. Acrescento que meu objetivo final é que outras

pessoas possam ser ajudadas, por outros profissionais, através desta técnica.

Despeço – me da família pontuando para me ligarem, caso precisem de

atendimento. M. responde brincando que ligará para me convidar para o casamento dos

filhos. G. diz que isto irá demorar muito. Todos riem. Despeço – me.

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8.5. QUINTA PACIENTE: D.Z.M.

8.5.1. Identificação

Idade: 75 anos

Estado Civil: viúva

Filhos: 1filho falecido.

Residência: Campinas. Moram com a paciente na residência, sua irmã solteira

que está, atualmente, com deficiência auditiva e seu irmão. Todos na faixa etária da

paciente.

Doença: Neoplasia maligna – Câncer de ovário, estádio IV e oclusão intestinal;

paciente foi submetida à cirurgia Laparotomia Exploradora e está colostomizada.

Desenvolveu metástase no fígado.

Início do Tratamento: 17 / 04 / 2000

Hospital: CAISM - UNICAMP

8.5.2. Histórico Clínico:

A Enfermagem do CAISM relata no prontuário da Paciente que esta, em maio

deste ano, mostrava – se deprimida porque achava que não tinha mais muito tempo de vida.

O Serviço de Psicologia do CAISM relata, no prontuário, em maio deste ano,

que a paciente encontrava – se, nesta época, muito sensibilizada em função do seu estado

atual de saúde, demonstrava ter consciência de sua doença, da gravidade dela, e dizia

estar sentindo – se inválida, com a sensação de ter fracassado na vida. Apresenta

‘Histórico de Vida’ com perdas significativas.

Em relação à internação atual, Enfermagem relata no prontuário que, entre os

dias 15 e 18 de outubro, a paciente apresentou quadro de confusão mental importante. Em

18 de outubro foi realizada interconsulta neurológica e a hipótese diagnóstica foi síndrome

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confusional secundária, encefalopatia tóxico metabólica. A paciente melhorou e saiu do

quadro de confusão mental após introdução de antibióticos e retorno da diurese.

Atualmente sente muita dor nos quadris com sensação de peso nas pernas.

A médica do Setor de Cuidados Paliativos informou que a paciente está Fora de

Possibilidade de Cura, com prognóstico muito ruim.

8.5.3. Sessões Psicoterapêuticas:

1o Sessão: 23 / 10 / 2000

Duração: 45 minutos

Atendimento Hospitalar

Encontro a paciente no leito, acompanhada da irmã C. que me conta que ela, C.,

está quase surda.

A Enfermagem apresenta – me para a paciente como a Psicóloga que irá fazer

um trabalho específico com ela. Explico para D. que o trabalho será feito, se ela aceitar. D.

pergunta – me sobre qual o trabalho que será feito e acrescenta que não está se sentindo

muito bem. Afirma que está sonolenta, com muita tosse, pois tem “catarro antigo” nos

pulmões e não consegue falar por muito tempo; pergunta – me se eu quero atende – la

mesmo assim. Observo pela maneira da paciente falar, que ela está muito assustada e

vulnerável; parece querer dizer que não está nada bem e ao mesmo tempo parece ter

muito medo de expressar esta realidade, o que indica, DOR ESPIRITUAL: Medo da

Morte e do Pós - Morte. D. acrescenta que não estava assim ontem e não entende porque

está assim hoje.

Antes de qualquer explicação sobre o trabalho assumo uma postura de muito

acolhimento, muita doçura. Toco a paciente e digo – lhe para não se preocupar com sua

capacidade de falar e, se dormir durante o atendimento, não tem problema. Afirmo que só

quero ajudá – la da forma que for possível para ela. A paciente aceita.

A irmã que está ao lado observando, olha para o aparelho portátil de CD que eu

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trouxe e pergunta se vou colocar música para elas dançarem. D. também olha para o CD e

me pergunta se vou colocar música religiosa. Respondo que nem uma coisa e nem outra;

vou utilizar o CD para colocar uma música suave para Relaxamento mas, antes desse

Exercício, vou mostrar a música para ver se ela acha a melodia agradável.

Pergunto para D. qual a Religião dela. A paciente responde que não tem

nenhuma específica, apenas crê em Cristo. Pergunto se ela acredita no mundo espiritual e

D. responde que sim.

Explico a natureza do trabalho fazendo uma comparação da nossa mente com

uma TV. Afirmo que podemos ligar esse aparelho em vários canais assim como, podemos

focar nossos pensamentos em vários ‘canais’, em várias direções. D. compreende com

facilidade e continua dando sinais que está com muito medo. Fala que não sabe se vai

conseguir me acompanhar. Tranqüilizo – a; digo – lhe que ela me acompanhará da forma

que conseguir e se não gostar, poderemos interromper o trabalho. Ofereço muita

continência, muito acolhimento, muita doçura, na minha postura.

Mostro para D. a pasta com as Imagens de Paisagens. A irmã aproxima – se e

também acompanha o folhear das imagens. D. exclama que gostou muito, que sentiu

vontade de mergulhar nesses lugares. Explico que esse é meu objetivo, levá – la a ‘viajar’

para esses lugares bonitos através da Imaginação e desfocar o pensamento das tristezas.

Pontuo que quando estamos doentes temos a tendência de só pensar em tristezas. D.

concorda. Acrescento que meu objetivo é justamente ajudá – la a mudar esta forma de

pensar. D. anima – se. Peço para D. me mostrar da qual ou das quais Imagens mais gostou,

para que eu possa conhecer os temas preferidos por ela. D. responde que todas são lindas

mas prefere a número 4, a número 5, a número 9 e a número 12. Nas quatro imagens os

temas predominantes são céu azul, lago azul e árvores muito verdes. Pontuo isto para ela.

D. responde que na natureza tudo é maravilhoso. É comum, pacientes que não sabem

nadar, ficarem confusos ao imaginarem que estão nadando e, por isto, pergunto – lhe se

sabe nadar, para que eu possa orientá – la de acordo, no exercício. D. responde que não

sabe nadar. Fala com dificuldade e tosse muito. Constatando sua dificuldade e visando não

cansá – la mais, opto por não perguntar as questões referentes ao Anexo 1 (Anamnese),

pelo menos neste momento, e as questões referentes ao Anexo 2 (Dor Psíquica e Dor

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Espiritual). O medo da morte e do pós - morte, relativo a Dor Espiritual, é possível de ser

observado pela necessidade da paciente de dizer que não está nada bem e ao mesmo

tempo mostrar que tem muito medo de expressar, de entrar em contato de forma direta

com esta realidade, conforme assinalei acima.

Ofereço o CD “Soprus Universalis”, música “Andinos” e peço para a paciente

observar se gostou ou não desta música. Caso não goste, poderei oferecer outras. D. ouve

atentamente e após alguns momentos responde que gostou. Sua irmã me diz que está

mesmo surda porque não está conseguindo ouvir a música. Senta em uma poltrona do

quarto e dorme.

Proponho para a paciente que façamos o exercício.

Tempo de Exercício: 10 minutos

Peço para D. fechar os olhos, imaginar um céu muito azul, respirar lentamente e

visualizar o oxigênio sendo inalado na cor azul do céu.

Oriento que visualize o ‘oxigênio azul’ sendo levado para seus pulmões e em

seguida sendo distribuído para todo seu corpo: cabeça, tórax, costas, abdome, braços,

pernas, principalmente as pernas, que estão muito doloridas. Peço que imagine suas pernas

sendo envolvidas por uma luz muito azul e a dor desaparecendo.

Em seguida peço que entre em uma estrada dourada de sol, ladeada por árvores

muito verdes e chegue em um lago azul, cercado por árvores verdes. D., nesse momento,

abre os olhos e me diz que está gostando muito e torna a fechá – los.

Continuo a orientação e peço para D. visualizar – se entrando no lago, na parte

rasa, mergulhar e procurar sentir a sensação gostosa e refrescante da água. Oriento para em

seguida sair do lago e sentar – se embaixo de uma árvore. Peço que visualize e local e,

sentada sob a árvore, procure ligar – se com a Natureza e imaginar que o amor de Cristo a

envolve. D. respira fundo e após alguns instantes abre os olhos, sem que eu tenha orientado

– a para tal. Observo que ela fez o exercício, beneficiou – se com ele, mas precisou voltar,

no momento em que pedi para ela integrar – se com aspectos espirituais. Está assustada,

com medo da morte e do pós - morte (Dor Espiritual).

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202

Procuro conversar com a paciente, pergunto se ela gostou do exercício, se

quer que eu volte no dia seguinte. D. responde que sim. Acrescento que se ela receber

alta e for para casa, poderei atendê – la no domicílio. D. responde que está bem, mas,

acredita que irá ficar internada por vários dias.

Como a paciente, após o exercício, “melhorou”, procuro conhecer seu histórico

de vida.(Anamese, anexo 1). Pergunto – lhe se têm filhos. D. responde que não; seu filho

morreu. Conta que ele tinha 28 anos, era casado e tinha 2 filhos pequenos. Se hoje fosse

vivo, estaria com 41 anos. Pergunto – lhe se quer falar mais sobre isto. D. responde que

não, que amanhã talvez consiga falar mais sobre isto. Respeito seu desejo e, para concluir a

sessão, explico que este trabalho faz parte do meu estudo de Mestrado, informo que os

resultados serão publicados mas a identidade dos pacientes e de seus familiares será

mantida em sigilo. Leio com ela o Anexo 5: Termo de Consentimento. No item que aborda

os Resultados Gerais e Específicos do Projeto - Piloto, relato para D. sobre o trabalho com

os adolescentes omitindo que eles foram a óbito. Pontuo a importância do paciente crer na

vida espiritual para que esta técnica possa ser aplicada. D. responde que acredita e que tem

muita fé em Cristo. Opto, neste momento, por falar sobre a vida espiritual pós – morte com

a paciente, dada à gravidade do seu estado e também porque observo que D. mostra – se

aberta para este assunto.

Digo – lhe em uma postura de muito acolhimento, serenidade, doçura, que

quero ajudá – la a minimizar o medo da morte e esclareço que quando estamos gravemente

doentes, este medo costuma ser muito forte. D. concorda. Conto que tenho estudado as

pesquisas que psiquiatras fizeram com pacientes que estiveram em coma profunda e

voltaram a viver. Estes pacientes relataram que, durante o estado de coma visitaram o

mundo espiritual e viram lugares muito lindos e Seres repletos de Luz, que os envolviam de

Amor. D. mostra – se interessada e diz que acredita nestes mundos espirituais belos. Coloco

que, segundo o relato desses pacientes, eles chegaram até esses mundos belos através de um

caminho ou túnel dourado e, é este, justamente, meu objetivo nos exercícios, ajuda – la a

ligar – se a mundos espirituais belos através da Imaginação. D. relaxa sua expressão

facial. Expressa seu desejo em continuar com os atendimentos e me agradece várias

vezes pelo trabalho realizado. Observo que estabelecemos um bom vínculo terapêutico e

também observo que, através das técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de

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Imagens Mentais integradas a Espiritualidade, foi possível ajudar a paciente a minimizar a

Dor Espiritual: medo da morte e do pós – morte. Também identifico a Dor Psíquica:

Humor Depressivo / Tristeza pela perda do filho, mas, frente à gravidade do estado clínico

da paciente e da sua atitude quando falou sobre o assunto, considerei como secundária a

Dor Espiritual, neste momento. A observação feita com a paciente anterior (quarta

paciente) que, frente a Dor Simbólica da Morte, na fase final do processo de morrer, a

Dor Espiritual é prevalente à Dor Psíquica, confirma – se com esta paciente.

Peço para a paciente assinar o Termo de Consentimento (Anexo 5), mas, por

causa do soro no braço que a impossibilita de escrever, ela pede para apenas sua irmã

assinar. Concordo. Como a irmã C. ainda dorme na poltrona, combinamos que o Termo

será assinado no dia seguinte. D. observa minha preocupação em relação ao Termo de

Consentimento e procura tranqüilizar – me, dizendo que, com toda certeza, sua irmã e / ou

sua sobrinha estarão acompanhando – a no dia seguinte. Agradece mais uma vez pelo

atendimento. Despeço – me.

2o Sessão: 24 / 10 / 2000

Duração: 40 minutos

Atendimento Hospitalar

Ao chegar à Enfermaria do CAISM, sou informada, pela Enfermeira Ednaura

Pereira de Souza, responsável pelo Serviço de Enfermagem no Setor de Cuidados

Paliativos do CAISM, que a paciente havia piorado clinicamente e disse – lhe, um tanto

angustiada, momentos antes da minha chegada, que estava morrendo.

Encontro a paciente no leito, semi - adormecida, acompanhada pela sobrinha L.

que nesse momento segura sua máscara de oxigênio. (L. é uma moça de aproximadamente

35 anos, casada, dois filhos e muito afetiva). Apresento – me.

Ao ouvir minha voz, D. abre os olhos e me diz, com dificuldade, que não está

conseguindo conversar e está muito sonolenta. Mostra - se assustada. Parece – me evidente

frente à atitude da paciente e ao seu grave estado clínico, a DOR ESPIRITUAL: Medo

da Morte. Tranqüilizo – a. Digo – lhe que não iremos conversar e sim, irei colocar a

música e procurar ajudá – la a ‘sonhar’ sonhos bonitos, imaginar mundos belos. D.

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concorda com a proposta do exercício, repete que não está bem e fecha os olhos. Coloco a

música e em uma postura de muita serenidade, muito acolhimento, muita doçura, digo para

D. não ter medo. Afirmo que apenas seu corpo está doente. Seu ‘eu’, seu espírito, é eterno e

pode voar para lugares belos. As feições da paciente parecem relaxar.

Digo – lhe que nós acreditamos que existem mundos espirituais e podemos nos

ligar a eles através da Imaginação, da mente.

Peço – lhe que imagine uma estrada dourada como o sol e visualize – se

entrando nesta estrada. Veja nessa estrada Seres Luminosos ligados a Cristo. Seres

Luminosos são uma referência dos pacientes que vivenciaram uma EQM, na transição

para o mundo espiritual e Cristo é o Ser Protetor para a paciente.

Oriento – a para procurar sentir o amor que esses Seres Espirituais irradiam

para ela. Digo – lhe para imaginar que está envolvida pelo amor, pela bondade, pela luz

desses Seres Espirituais.

L. do outro lado do leito, segura a máscara de oxigênio, chora e ao mesmo

tempo sorri para mim e aprova por gestos faciais o trabalho. D. suspira e parece relaxar

mais.

Digo – lhe para entrar no lugar belo que visualizamos ontem. Peço que veja o

lago azul, o céu azul, brilhando. Falo que a beira do lago é rasa e peço para ela entrar no

lago, mergulhar, imaginar que todas as tristezas, sofrimentos, estão indo embora. Oriento -

a para brincar na água. Em seguida, visando re - significar a DOR ESPIRITUAL: Sentido

da Vida e da Morte, afirmo que ela viveu a vida que tinha para viver. Fez tudo o que podia

ter feito. Fundamentada nos relatos do prontuário médico da paciente e no relato dela

própria na sessão anterior sobre a perda do seu filho, procuro ajudá – la também em

relação à DOR PSÍQUICA: Tristezas, Culpas frente a perdas, visando, neste momento,

otimizar a re - significação da DOR ESPIRITUAL: Sentido da Vida e da Morte porque,

conforme citei na Introdução Teórica, observo que os aspectos psíquicos alicerçam a Dor

Simbólica da Morte e sobre os aspectos espirituais ela se projeta. Digo – lhe que ela não

tem culpa nenhuma pelo seu sofrimento. Foram acontecimentos difíceis em sua vida porém

estes fatos não aconteceram por culpa dela ou para castigá – la. D. abre os olhos, suspira,

parece relaxar mais, torna a fecha – los. Retorno o foco da minha orientação para a

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DOR ESPIRITUAL: Medo da Morte e do Pós - Morte. Oriento – a para procurar sentir

novamente o amor dos Seres Luminosos envolvendo – a e peço que procure entregar – se a

eles. Em seguida, oriento – a para imaginar – se saindo da água e visualizar a cor verde das

árvores, o azul do céu. Digo – lhe para sentir uma brisa suave e observar a beleza do local.

Sentir a paz desse local. Oriento – a, em seguida, para imaginar adiante desse bosque com

lago, um parque muito florido, com flores rosas, azuis, brancas, amarelas, bancos para

sentar e descansar, crianças alegres correndo e, ao fundo desse parque, um arco íris com

suas lindas cores: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul céu, azul índigo e violeta. Peço

que imagine – se sentada em um dos bancos, acompanhada de Seres de Luz que irradiam

amor e observe as crianças, a alegria, a ternura, a doçura que elas transmitem. Deixo, por

alguns momentos, somente a música tocando e em seguida, digo – lhe para se sentir bem -

vinda nesse parque bonito. Afirmo que acreditamos que o Mundo Espiritual pode ser desta

forma que estamos descrevendo e pontuo para ela não ter medo, apenas seu corpo está

doente e debilitado. Nessa parte introduzi três elementos que não haviam sido escolhidos

pela paciente: flores, crianças e arco – íris, visando trazer para a visualização elementos

simbólicos de alegria, ternura, doçura e de ‘ponte entre o céu e a terra’. Posteriormente

sua sobrinha L. me conta que a época em o filho de D. era criança foi um período muito

feliz para ela e por esta razão a figura de crianças para D. reporta – a para vivências

felizes, acentuando o benefício desse elemento que, intuitivamente, no momento, escolhi.

D. abre os olhos, afasta a máscara de oxigênio e afirma que não precisa

mais dela. Sua expressão é de serenidade. Sua sobrinha L. exclama: “Nossa, tia! A

senhora ficou calma, tranqüila”. D. afirma que uma parte dela já está neste lugar que

eu descrevi no exercício, mas uma outra parte dela ainda reluta em desligar – se deste

mundo. Afirma que está perdendo o controle e isto incomoda “essa parte” que reluta

em se desligar. Pede para mudar de posição na cama e pede para tomar café. Nesse

ínterim, mais uma sobrinha chega ao quarto e também a irmã da paciente, C. O café é

providenciado e a mudança de posição também. A irmã de D. e as duas sobrinhas mostram

- se muito afetuosas, solícitas, para com a paciente. Pontuo para D. o quanto ela é querida

por suas parentas e afirmo que isto indica que ela é uma boa pessoa. A sobrinha L.

imediatamente confirma minha colocação e acrescenta que D. é sua segunda mãe. Observo

que esta observação é benéfica tanto para a paciente como para suas parentas.

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D. pede para retornar a cama para a posição anterior porque quer deitar.

Diz, novamente, que uma parte sua já está naquele lugar bonito do exercício, mas a

outra parte ainda está ali, no hospital, e ela está sentindo um grande mal estar. Digo –

lhe para não ter medo e entregar – se para o ‘lugar bonito’, para os Seres de Luz. D.

fecha os olhos e diz que vai se entregar.

Após alguns momentos D. adormece, sua irmã C. fica fazendo – lhe

companhia. As duas sobrinhas saem e L., uma delas, vem conversar comigo. São 11 horas e

trinta minutos.

1o Sessão de Orientação Familiar: 24 / 10 / 2000 Duração: 30 minutos

Atendimento Ambulatorial

Explico para L. o trabalho que estou desenvolvendo. L. afirma que considerou a

sessão que fiz com sua tia, muito bonita e benéfica. Observou que este forma de abordagem

ajudou, em muito, a paciente nestes momentos finais. Pontua que D. estava angustiada,

aflita, antes do atendimento com o exercício de Relaxamento Mental e Visualização de

Imagens Mentais integrado à Espiritualidade, mas depois dele ficou serena, tranqüila.

Em relação à religiosidade, conta que sua tia era católica, mas, de ‘uns tempos

para cá’, resolveu abandonar a religião e acreditar apenas em Cristo, porque não

concordava com a idéia de inferno, culpa, castigo eterno.

Ela, L., por sua vez, freqüenta a doutrina espírita. Afirma que considerou muito

bom este método porque ele integra espiritualidade com ciência. Afirma também que

considera muito importante a integração de aspectos espirituais ao tratamento médico

convencional, principalmente frente a uma doença grave e que acarreta tantos sofrimentos,

como o câncer. Repete várias vezes que o atendimento foi muito bonito e, visivelmente, fez

muito bem para sua tia.

Relata que a vida de D. foi muito sofrida. Viveu uma infância muito triste.

Quando casou – se não conseguiu ter filhos e adotou um menino que foi a alegria da sua

vida. Tinha uma relação de amor recíproco com este filho muito forte e muito bonita.

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Quando este menino estava com oito anos, seu marido a abandonou para viver com outra

mulher com quem já tinha oito filhos. Sozinha cuidou de sua criança com muita dedicação.

Esse filho casou – se, deu – lhe dois netos, e aos vinte e oito anos, dezoito anos atrás, ao

atravessar uma rua, foi atropelado por um carro em alta velocidade e morreu três dias

depois. A partir desta data D. tornou – se uma outra pessoa, amarga e triste. Afirma que

sentiu – se reconfortada porque D., depois de vivenciar tanto sofrimento, recebeu esta

qualidade de atendimento e está se desligando desta vida de forma serena. Pontua que

era exatamente isto que D. estava precisando: serenidade, ligação mental com o amor,

com a paz. Apesar de freqüentar a doutrina espírita e acreditar em um mundo espiritual e

em Seres de Luz, nunca conseguiu conversar sobre isto com sua tia. Sempre falou sobre

outros assuntos espiritualistas, mas não exatamente sobre a vida após a morte. Repetiu que

esse método e a forma, através da qual desenvolvi o trabalho, foram excelentes,

porque implicam na integração de aspectos humanos ao tratamento médico

convencional. L. frisa que espera que essas condutas humanas sejam divulgadas e

aceitas por toda a comunidade científica. Respondo que esse é um dos meus objetivos e

por esta razão estou desenvolvendo esse estudo de Mestrado.

Como, no dia anterior, D. não pôde assinar o Termo de Consentimento por estar

com o braço imobilizado e peço a L. que o assine. A sobrinha da paciente lê e prontamente

assina.

Volto ao quarto de D. para pegar meu aparelho de CD portátil. Despeço – me

da paciente e digo – lhe que voltarei no dia seguinte para mais uma sessão e pontuo para ela

não ter medo e ligar – se através do pensamento com mundos belos. D. olha – me com

carinho e agradece. Despeço – me da família.

Morte da Paciente:

Passadas duas horas e meia do término deste atendimento, às 14:10 h,

pontualmente, porque olhei no relógio, estava em minha casa almoçando e,

repentinamente, embora estivesse dentro de uma sala fechada, senti uma ‘brisa’ e

uma sensação de ternura, de despedida, me envolver. No mesmo instante lembrei – me

de que os pacientes que vivenciaram uma E.Q.M. relataram que conseguiram transportar –

se, na rapidez do pensamento, até às pessoas, das quais desejavam se despedir.

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Imediatamente, conforme citei acima, olhei no relógio, pensando que D.

tinha ido a óbito e estava se despedindo de mim. Parei de almoçar, fechei os olhos e me

despedi mentalmente dela. Procurei transmitir – lhe um sentimento afetuoso e

agradeci pela oportunidade de ter podido ajudá – la. Terminei de almoçar e liguei na

Enfermaria da Oncologia da UNICAMP, confirmando minha percepção com a Enfermeira

Silvia Renata Pereira. A paciente tinha ido a óbito às 13:55 h.

Após certificar – me do óbito de D., liguei para L. que tinha se ausentado do

Hospital e, já comunicada do falecimento da tia, retornava para o CAISM. L. pontuou

novamente que o trabalho desenvolvido contribuiu, em muito, para re - significar o

sofrimento de D. frente à morte. Relatou que entre 13:00h e 14:00h tinha ido para sua casa

cuidar dos filhos, (mora em cidade próxima a Campinas), e, mentalmente, continuou ligada

na tia. Em torno deste horário também sentiu uma sensação de paz e a despedida de sua tia

D.

Combinamos de voltar a nos falar posteriormente, para marcar a sessão

pós - óbito.

Posteriormente, em comunicação pessoal, as Enfermeiras Ednaura Pereira

Souza e Silvia Renata Pereira que estavam responsáveis por este setor no momento em que

D. foi a óbito, relataram que a paciente morreu sem apresentar desespero, sem apresentar

angústia frente à morte. Pareceu – lhes que a paciente estava serena ao desligar – se desta

vida e morreu tranqüila.

Correspondência por “e – mail” com a sobrinha L., em substituição a

Sessão com Familiares Pós - Óbito:

Após o dia do óbito de D. (24 / 10 / 00), falei por telefone com L., algumas

vezes, para marcarmos a sessão pós - óbito. A sobrinha da paciente estava encontrando,

nesta época, dificuldades em vir para Campinas, para esta sessão, porque estava envolvida

com compromissos pessoais e familiares, que se acumularam durante a doença da tia.

Por este motivo combinamos que ela faria o relato sobre a sua visão da re -

significação da Dor Simbólica da Morte de sua tia D., através do trabalho terapêutico com

as técnicas de Relaxamento Mental, Visualização de Imagens Mentais integradas à

Espiritualidade, por escrito, e o mandaria por e - mail.

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Transcrevo abaixo seu parecer.

“Subject: Apoio dado para minha tia, na Unicamp

Date: Tue, 7 Nov 2000 22:15:36 -0200

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Cara Ana Catarina, estou enviando este e-mail para descrever o que passamos

no dia 24-10-00 na Unicamp.

Minha tia D., vinha sofrendo muito e definhando aos poucos com câncer no

útero, ovário e fígado. Todos sofremos horrivelmente durante meses. Quando chegou o dia

24-10-00 de manhã, eu estava só com ela no quarto 107 na Oncologia e comecei a perceber

que ela respirava com muita dificuldade, revirando os olhos e ao mesmo tempo muito

lúcida. Nós conversávamos, enquanto eu segurava o respirador de oxigênio para inalação.

Ela dizia coisas lindíssimas, que me amava e que eu era como uma filha.Eu chorava

demais, descontrolada e pedia para seus espíritos de luz e anjos da guarda segurarem em

suas mãos. Ela falou: "Estou me sentindo mal, o que será que está acontecendo

comigo? Este lugar não parece o quarto do hospital.foi quando entrou no quarto Ana

Catarina (grifo da pesquisadora). Eu não a conhecia, ela pediu licença, ligou uma música

"divina"; cumprimentou minha tia e disse coisas lindas, sobre umas fotos que minha tia

havia escolhido num teste um dia antes. Dizia para ela não ter medo de nada, que

visualizasse seres brancos que segurassem em suas mãos e percebesse uma luz dourada, ao

mesmo tempo, fazia carinho em seu braço. Neste momento minha tia ficou muito calma,

sua respiração tranqüilizou um pouco, ela abriu os olhos várias vezes e parecia

concordar com o lugar em que Ana Catarina lhe descrevia. A expressão dela não era

mais de sofrimento, parecia dormir um sono profundo, ela chegou a dizer: "Que

estranho, metade de mim está aqui e metade parece que morreu" (grifo da

pesquisadora). Eu estava assustada e encantada ao mesmo tempo. Achei um trabalho

profundo e merecedor de pesquisas para que muitos doentes pudessem usufruir deste

‘Diálogo Final’. Com isto, minha tia pode ter uma morte tranqüila depois das

monstruosidades que ela passou com esta doença aniquiladora. Sou uma pessoa

espiritualista e eu mesma consegui visualizar o lugar e sentir com bastante firmeza o

desligamento da matéria de uma forma positiva e tranqüila (grifo da pesquisadora).

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Parabéns ao trabalho Ana, e muito, muito obrigada.

Com um abraço L.”

Respondi ao “e – mail” agradecendo e, colocando – me à disposição para

eventuais atendimentos familiares que se fizerem necessários, em relação à morte de D.

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RESUMO DOS RESULTADOS

Quadro no 1 - Dor Simbólica da Morte Identificada:

Paciente Dor Simbólica da Morte

Primeira Paciente Dor Psíquica / Humor Depressivo: Angústia pela perda da mãe na adolescência. Angústia pela perda da disposição pela vida. Angústia por não poder mais cuidar dos filhos e dos familiares. Medo do Sofrimento porque a Radioterapia e a Quimioterapia não estavam mais surtindo efeito. Centralização do Sofrimento em si mesma pelo medo de fazer seus familiares sofrerem.

Primeira Paciente Dor Espiritual / Medo da Morte e do Pós – Morte descrito na sensação de desligamento do corpo após a cirurgia do fêmur. Perda do Sentido da Vida (e da Morte) frente às limitações impostas pelo câncer.

Segunda Paciente Dor Psíquica / Humor Depressivo: Tristeza, preocupação, culpa, por não poder mais criar seus filhos e morrer, deixar seus familiares e faze – los sofrer. Tristezas, mágoas, sentimentos de abandono, esvaziamento, porque sua mãe morreu quando tinha 14 anos e não deu – lhe o “último copo de leite”. Culpa por ter perdido a oportunidade de ter tido uma vida mais feliz. Culpa por ter adoecido e por não conseguir curar – se.

Segunda Paciente Dor Espiritual / Medo da Morte e do Pós – Morte descrito no pavor de ser enterrada viva. Idéia da Espiritualidade como algo sufocante e tenebroso, vinculada à Culpa que sentia perante Deus.

Terceira Paciente Dor Psíquica / Não identificada porque a paciente não aceitou a proposta de trabalho.

Terceira Paciente Dor Espiritual / Não identificada porque a paciente não aceitou a proposta de trabalho.

Quarta Paciente Dor Psíquica / Humor Depressivo pela perda da vida, da saúde. Culpa por fazer seus familiares sofrerem.

Quarta Paciente Dor Espiritual / Medo da Morte e do Pós – Morte relacionando – a com solidão e tristeza. Medo da Morte e do Pós – Morte relacionando – a com experiências anteriores permeadas de muito sofrimento.

Quinta Paciente Dor Psíquica / Tristezas e culpas frente às perdas que sofreu durante a vida, incluindo a perda do filho.

Quinta Paciente Dor Espiritual / Medo da Morte e do Pós – Morte frente à percepção da iminência da mesma. Sensação de fracasso frente ao Sentido da Vida e da Morte.

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Quadro no 2 - Resumo dos Resultados Obtidos

Pacientes Resultados

Primeira Paciente Segunda Paciente Terceira Paciente Quarta Paciente Quinta Paciente

Idade 48 38 37 40 75 Patologia Clínica

Câncer de mama Câncer de ovário Câncer de mama Câncer de mama Câncer de ovário

Número de sessões -Paciente

04 H.’ 01 T’

04 H.’ 01 A.’ 06 D.’

01 H.’’ – paciente não aceitou

01 H.’ 01 D.’

02 H.’

Número de sessões -

Familiares

O2 A’ 01 C.’

02 A.’ 02 D.’

01 D.PO.’

_________ 01 D.’ 01 D.PO.’

01 A.’ 01 Ce.

Fase Fora de Possibilidade de Cura que a

paciente foi atendida

Início Completa Final Final Final

Fase “Kübler – Ross”

Depressão Raiva, Barganha, Depressão

Negação Raiva, Barganha, Depressão

Depressão

Prevalência: Dor Psíquica / Dor Espiritual no período de atendimento

Equiparadas Equiparadas no início e prevalência Dor Espiritual no

final

_________ Prevalência Dor Espiritual

Prevalência Dor Espiritual

Informações sobre E.Q.M.’

Importante para re -significar a D.S.M.’

Importante para re -significar a D.S.M.’

_________ Importante para re -significar a D.S.M.’

Importante para re - significar a

D.S.M.’ Qualidade de Vida na fase

Terminal

Sim Sim Não Sim Sim

Morte Serena Sim Sim Não Sim Sim

Sessões de Orientação Familiar

Contribuição positiva para

paciente e familiares

Contribuição positiva para

paciente e familiares

_________ Contribuição positiva para

paciente e familiares

Contribuição positiva para a

paciente e familiares

LEGENDAS: H.’ = Atendimento Hospitalar - H.’’ = Atendimento Hospitalar para Contrato de Trabalho

T.’ = Orientação por telefone - C.’ = Contato por Correspondência - Ce’. = Contato por e - mail

A.’ = Atendimento Ambulatorial - D’. = Atendimento Domiciliar - D.PO.’ = Atendimento Domiciliar

Pós Óbito

D.S.M.’ = Dor Simbólica da Morte - E.Q.M.’ = Experiência de Quase Morte

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213

CAPÍTULO 9: DISCUSSÃO

9.1. Discussão de cada um dos casos estudados

9.1.1. Primeira Paciente: C.A.S.F.

- Identificação da paciente

C.A.S.F., sexo feminino, 48 anos, casada, dois filhos, (um adulto

recém - casado e uma adolescente), residente no interior paulista em cidade distante de

Campinas, portadora de neoplasia maligna, carcinoma de mama, com metástase na medula,

metástase óssea generalizada e fratura no fêmur, iniciou o tratamento em novembro de

1995, no CAISM – UNICAMP e estava Fora de Possibilidade de Cura, segundo equipe

médica responsável, quando demos início aos atendimentos descritos neste estudo.

- Número de Sessões / Período da fase Fora de Possibilidade de Cura em

que o método foi aplicado

Sessões: 04 Atendimentos Hospitalares; 02 Sessões de Orientação Familiar;

01 Contato por Telefone com a Paciente e Familiares; 01 Correspondência com Familiares

em substituição a Sessão com Familiares Pós – Óbito.

Período: Início da fase Fora de Possibilidade de Cura, quando a paciente ainda

estava clinicamente bem. A paciente passou o período final desta fase, até o óbito, em sua

cidade de origem, distante de Campinas e o contato, para orientação, com a psicóloga -

pesquisadora, foi feito por telefone.

- Intervenção Psicoterapêutica

Paciente: Integração das técnicas de Relaxamento Mental motivado por

respiração lenta e profunda e música suave e Visualização de Imagens Mentais orientadas

por dissociação, sugestão indireta e sugestão direta, com o conceito de Espiritualidade

estruturado a partir de pesquisas que descrevem os relatos de pacientes que passaram por

uma Experiência de Quase Morte (E.Q.M.), e voltaram a viver normalmente, dentro dos

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princípios da Psicoterapia Breve de Apoio para Serviços Hospitalares, descrita por

FIORINI (1991).

Familiares: Sessões de Orientação Familiar

– Histórico Clínico / Aspectos Relevantes

Quando iniciamos a aplicação do método descrito neste estudo, a paciente,

apesar de Fora de Possibilidade de Cura, estava clinicamente bem, ainda nutria esperanças

de se curar e não havia sido informada que estava Fora de Possibilidade de Cura. Seus

familiares, representados por seu filho e por sua nora, por sua vez, estavam orientados

sobre esse estado clínico da paciente.

C. mostrou – se interessada e receptiva ao método proposto neste estudo,

estabeleceu um bom vínculo terapêutico com a psicóloga - pesquisadora e demonstrou

facilidade para relaxar e visualizar as imagens sugeridas.

Não apresentou, através de seus relatos, histórico de vida permeado de

sofrimento psíquico e espiritual importante. Ao contrário, considerava que sua vida, no

período anterior à doença, havia sido boa.

Observamos que frente às fases propostas por KÜBLER – ROSS, (1996a),

(negação, raiva, barganha, depressão e aceitação), esta paciente encontrava – se de forma

predominante na fase depressão.

- Identificação da Dor Simbólica da Morte: Dor Psíquica e Dor Espiritual

Frente a Dor Simbólica da Morte foram identificados e trabalhados os seguintes

aspectos:

A) Dor Psíquica

A.1. – Humor Depressivo: Tristeza pela perda da mãe na adolescência,

trabalhada de forma simbólica através da Imagem de Nossa Senhora, pela identificação da

paciente com este Ser Espiritual, como mãe – protetora. (Sugestão Indireta).

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A.2. – Humor Depressivo: Angústia pela perda da disposição pela vida,

trabalhado através da orientação, por dissociação, que seu corpo estava doente, mas seu

espírito poderia sentir – se livre e, através do método proposto, ela, paciente, poderia focar

seu pensamento em um mundo espiritual belo.

A.3. – Humor Depressivo: Angústia por não poder cuidar mais dos filhos e

dos familiares, trabalhada de forma simbólica, por sugestão indireta, com a imagem dos

passarinhos - pais ensinando o filhote a voar e verificando seu aprendizado. Após o

exercício a paciente comentou, fazendo uma associação da metáfora com a sua vida, que

havia percebido que já tinha ensinado tudo para os seus filhos e agora eles poderiam

caminhar sozinhos. Essa angústia também foi trabalhada através de orientação aos

familiares, para que ajudassem, nesse sentido, a paciente.

A.4. – Medo do Sofrimento:

- porque a Radioterapia e a Quimioterapia não estavam mais surtindo

efeito.

- centralização do sofrimento em si mesma, pelo medo de fazer seus

familiares sofrerem por causa dos seus sofrimentos frente à doença,

trabalhados das seguintes formas:

A.4.1. Orientação do pensamento da paciente, por dissociação e sugestão

indireta, para desfocar sua mente do sofrimento frente à doença e focá – la em mundos

belos e tranqüilos.

A.4.2. Orientação para os familiares conversarem com a paciente, mostrarem

que são capazes de suportar o sofrimento por vê – la doente.

A.4.3. Orientação para os familiares quebrarem o ‘pacto do silêncio’ e

formarem uma rede de apoio mútuo.

B) Dor Espiritual

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B.1. Medo da Morte e do Pós – Morte descrito na sensação de desligamento

do corpo após a cirurgia do fêmur.

B.1.1. Abordagem sobre a existência de um mundo espiritual belo e permeado

de Seres que transmitem amor e paz, a partir dos relatos dos pacientes que passaram

por uma Experiência de Quase Morte e voltaram a viver normalmente.

B.1.2. Afirmação para C. do pressuposto, fundamentado no relato dos pacientes

que vivenciaram uma Experiência de Quase Morte que, ao imaginar cenários belos, pode –

se, através do pensamento, estar visualizando possíveis mundos espirituais, permeados de

amor e paz. (Sugestão Direta).

B.2. Perda do Sentido da Vida (e da Morte) frente às limitações impostas

pelo câncer. Para esta paciente o sentido principal da vida era o aprendizado. A sua Dor

Espiritual referia – se à perda do sentido da vida pelas limitações impostas pelo câncer, a

qual foi trabalhada focando - se este significado, aprendizagem, na situação específica que

a paciente vivenciava: aprender que mesmo o corpo estando doente, o espírito pode estar

bem e ligar – se a mundos espirituais belos através da imaginação. (Dissociação e Sugestão

Indireta).

– Padrão da Imagem

Imagem escolhida pela paciente: no 29 do Anexo 7.

Os seguintes elementos compuseram o cenário para orientação na Visualização

de Imagens Mentais.

- Respiração lenta e profunda imaginando o oxigênio sendo inalado na cor azul

céu e sendo transportado para todos os seus órgãos.

- Caminho luminoso dourado como o sol, com um céu muito azul.

- Campo verde com árvore frondosa antiga, cercada por flores perfumadas

amarelas, vermelhas, cor de rosa, brancas e lilás.

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- Cachoeira situada no campo verde, na primeira sessão, e um lago localizado

nesse referido campo verde, na última sessão.

- Afirmação para C. sentir a beleza do Universo e a sua própria beleza interior.

- Casal de passarinhos ensinando o filhote a voar e este aprendendo.

- Imagem de N. Senhora protegendo – a e envolvendo – a em seu manto azul.

– Comentários e Atitudes da Paciente: Resultados Obtidos

C. afirmou que gostou muito, sentiu – se muito bem com a aplicação das

técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de Imagens Mentais integradas à

Espiritualidade. Observou que realmente é possível imaginar mundos espirituais belos e

distrair – se da doença. Afirmou que nunca havia refletido sobre esta possibilidade.

Pontuou que a sensação, ao relaxar e visualizar as imagens propostas, foi maravilhosa.

Afirmou que este método proporcionou – lhe sentimentos de paz, proteção,

conforto. Após uma das aplicações deste método relatou sentir - se flutuando acima do

próprio corpo e depois voltando para o mesmo.

Também observou que é possível visualizar um mundo melhor, diferente do

mundo povoado pela doença e sentir – se, mentalmente, nele.

– Morte da Paciente: Resultados Obtidos

Segundo relato de S.,nora da paciente, C. comentou com sua sogra, ao acordar,

alguns dias antes do dia do óbito, que subia a um lugar azul, andava bastante por lá e depois

descia.

S. também relatou que C., na véspera de sua morte, não queria tomar o remédio

para dormir e somente aceitou tomá - lo quando lhe disseram que o remédio era para dor.

Após tomar o remédio a paciente ficou calma e S. perguntou se ela lembrava de minha

pessoa, psicóloga Ana Catarina; C. respondeu que sim e S. recapitulou com ela as minhas

orientações; disse - lhe para visualizar - se entrando em um lugar bonito e observar Nossa

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Senhora envolvendo – a com seu manto. A paciente, após esta orientação, adormeceu e não

acordou mais. Foi levada no dia seguinte para o Hospital, onde entrou em coma profundo e

morreu.

S., (nora da paciente), também comentou que C. não demonstrou angústia por

estar deixando a família.

– Sonhos dos Familiares após o Óbito da Paciente

M., filho da paciente, sonhou que ela estava em casa e ele lhe dava remédio. Foi

um sonho curto.

S., nora da paciente sonhou que foi vê – la em um lugar que não conhece e

disse - lhe: “C., ainda não acredito que você está aqui”. C. respondeu: “Nem eu às vezes

acredito, mas eu estou e estou muito bem, e aqui é muito bom”. Em seguida S. acordou.

O sonho de M. parece – me expressão de resíduos de preocupação e angústias

em relação à doença da mãe, mas o sonho de S. pode indicar uma visualização do mundo

espiritual através da psique, pois sabemos, pelos ensinamentos de Jung que no

inconsciente há um ‘conhecimento absoluto’, ou seja, o inconsciente pode conhecer coisas

que não podemos conhecer conscientemente. Não podemos provar se a figura de uma

pessoa já falecida num sonho está sendo usada como símbolo de alguma realidade interior

de quem sonha, ou se realmente representa o morto. Podemos ‘sentir’ se a figura do morto

é uma representação simbólica ou pode ser interpretada de forma objetiva, embora seja

difícil estabelecer critérios universalmente válidos para esse ‘sentir’. (VON FRANZ, 1995),

O sonho de S. parece – me muito lógico, objetivo, claro, para ser interpretado

de forma simbólica; embora não tenhamos elementos mais consistentes para fundamentar

a hipótese deste sonho ter sido um alcance ao mundo espiritual através da psique, acredito

que esta interpretação é possível de ser formulada frente ao contexto.

– Sessões de Orientação Familiar: Resultados Obtidos

Os familiares afirmaram terem sentido alívio, ao verem sua parenta C. sendo

atendida em suas dificuldades psíquicas e espirituais, através desta forma de abordagem.

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Através das sessões de Orientação Familiar o pacto de silêncio foi quebrado

entre os familiares e a comunicação, sobre os sentimentos e sofrimentos frente à perda

iminente da paciente, entre eles, melhorou.

Também, através destas sessões, os familiares fortaleceram – se na esfera

emocional, o que favoreceu a aceitação frente à morte iminente da paciente e, também, a

elaboração do luto.

Afirmaram que as informações transmitidas sobre a vida após a morte, a partir

dos estudos dos psiquiatras KÜBLER – ROSS (1998) e MOOD JR (1989, 1992), com

pacientes que estiveram no Estado de Quase Morte e voltaram a viver normalmente, os

reconfortou.

- As sessões de Orientação Familiar também contribuíram para a

re - significação da Dor Simbólica da Morte da paciente.

– Dor Simbólica da Morte: re - significação

As condutas através da integração das técnicas de Relaxamento Mental,

Imagens Mentais com o conceito de Espiritualidade, favoreceram a re - significação da Dor

Simbólica da Morte desta paciente, proporcionando Qualidade de Vida no processo de

morrer e morte serena.

Observamos que a aplicação desse método, Relaxamento Mental, Imagens

Mentais e Espiritualidade, apenas no período inicial da fase Fora de Possibilidade de Cura,

pelo profissional, em paciente que não apresentou histórico de vida permeado de

sofrimento psíquico e espiritual importante, foi suficiente para re - significar a Dor

Simbólica da Morte.

Observamos também que as informações sobre as pesquisas com pacientes que

vivenciaram uma Experiência de Quase Morte, a partir das quais construímos o conceito de

Espiritualidade foi aspecto muito importante para a re - significação da Dor Simbólica da

Morte desta paciente e para a aceitação, dos familiares, da morte iminente da parenta.

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9.1.2. Segunda Paciente: M.I.F.

– Identificação da paciente

M.I.F., sexo feminino, 38 anos, casada, dois filhos, (crianças), residente no

interior paulista em cidade próxima a Campinas, portadora de neoplasia maligna, câncer de

ovário com metástase disseminada e colostomizada, iniciou o tratamento no final de 1998,

no CAISM – UNICAMP e estava Fora de Possibilidade de Cura, segundo a equipe médica

responsável, quando demos início aos atendimentos descritos neste estudo.

– Número de Sessões / Período da fase Fora de Possibilidade de Cura em

que o método foi aplicado

Sessões: 04 Atendimentos Hospitalares; 01 Atendimento Ambulatorial; 06

Atendimentos Domiciliares; 04 Sessões de Orientação Familiar; 01 Sessão Familiar Pós

Óbito.

Período: Fase Fora de Possibilidade de Cura completa desde o período inicial,

quando a paciente ainda estava clinicamente bem, até o período final e óbito.

– Intervenção Psicoterapêutica

Paciente: Integração das técnicas de Relaxamento Mental motivado por

respiração lenta e profunda e música suave e Visualização de Imagens Mentais orientadas

por dissociação, sugestão indireta e sugestão direta, com o conceito de Espiritualidade

estruturado a partir de pesquisas que descrevem os relatos de pacientes que passaram por

uma Experiência de Quase Morte (E.Q.M.) e voltaram a viver normalmente, dentro dos

princípios da Psicoterapia Breve de Apoio para Serviços Hospitalares, descrita por

FIORINI (1991).

Familiares: Sessão de Orientação Familiar

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– Histórico Clínico / Aspectos Relevantes

Quando iniciamos a aplicação do método descrito neste estudo, a paciente,

apesar de Fora de Possibilidade de Cura, estava clinicamente bem. Não havia sido

informada que estava Fora de Possibilidade de Cura, mas este fato foi abordado e

trabalhado pela psicóloga - pesquisadora, no decorrer das sessões.

Apresentou, no início da primeira sessão, intenso sofrimento psíquico e

espiritual, representado por fobia acentuada e pavor da morte.

Embora tenha apresentado, no início dos atendimentos, dificuldade para

visualizar as imagens sugeridas, mostrou – se interessada e receptiva ao método proposto

neste estudo.

Estabeleceu um bom vínculo terapêutico com a psicóloga -pesquisadora.

Observamos que frente às fases propostas por KÜBLER – ROSS, (1996a),

(negação, raiva, barganha, depressão, e aceitação), esta paciente oscilava entre as fases

raiva, barganha e depressão.

- Identificação da Dor Simbólica da Morte: Dor Psíquica e Dor Espiritual

Frente à Dor Simbólica da Morte foram identificados e trabalhados os seguintes

aspectos:

A) Dor Psíquica

A.1. – Medo do sofrimento físico associando – o à punição.

Este medo foi trabalhado das seguintes formas:

A.1.1. – Orientação para paciente imaginar seu corpo sendo envolvido por uma

luminosidade azul ou branca com o objetivo de acalmá – la, em relação a esta percepção de

sofrimento físico associado à punição. (Sugestão Indireta).

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A.1.2. – Imagem do lago azul, sob um céu azul; orientação para a paciente

imaginar – se pescando, sentindo paz, tranqüilidade, serenidade e voltar para o quarto

trazendo esta sensação de paz. (Dissociação e Sugestão Indireta).

A.1.3. – Afirmações sobre suas qualidades, seus esforços, sua beleza interna,

minimizando seu negativismo, seu ressentimento, seu humor depressivo. (Sugestão

Direta).

A.2. – Humor Depressivo: Tristeza, Preocupação, Culpa, por não poder

mais criar seus filhos e morrer; deixar seus familiares e fazê – los sofrer.

Esses aspectos foram trabalhados das seguintes formas:

A.2.1. – Orientação para M.I. conversar com o marido sobre a educação das

crianças.

A.2.2. – Orientação para M.I. conversar com os filhos sobre os sentimentos

que ela nutria por eles, sobre seu estado de saúde, libertá – los de alguma possível culpa e

promover elo de confiança entre eles e o pai.

A.2.3. – História sobre “O Servo e o Rei”, de autor desconhecido, como

metáfora, para transmitir a idéia de que aparentes desgraças podem trazer algum benefício e

afirmação sobre a responsabilidade de seu marido, como pai, pelas crianças. (Sugestão

Indireta).

A.2.4. – Imagem do Lago com orientação para M.I. imaginar – se pescando e

confiando que o peixe iria vir, como analogia a Fé que a paciente relatou possuir, da

confiança no amparo divino, com o objetivo de minimizar suas preocupações e fortalecer

sua confiança em bons resultados. (Dissociação e Sugestão Indireta).

A.2.5. – Orientações específicas para V., marido da paciente, sobre as

preocupações desta, em relação ao seu comportamento de beber e aos cuidados com a

educação das crianças.

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A.2.6. – Opção para não apontar a possível agressividade de M.I. pelos

familiares mais velhos, os quais iriam continuar vivendo, enquanto ela, mais nova do que

ele, iria morrer, para não mobilizar mais culpa, intensificando sua Dor Simbólica da Morte.

A.2.7. – Pontuação, na última sessão, durante a aplicação do método, que seu

marido garantiu que iria cuidar bem das crianças. (Sugestão Direta).

A.3. – Humor Depressivo: Tristezas, Mágoas, Sentimentos de Abandono,

Esvaziamento, porque sua mãe morreu e não lhe deu o ‘último copo de leite’, que

simboliza os aspectos acima.

Estes aspectos foram trabalhados da seguinte forma:

A.3.1. – Imagem da casa de crianças onde ela, M.I., carrega um recém nascido,

cuidando de forma simbólica de sua ‘criança interna’ que se sentiu abandonada.

(Dissociação e Sugestão Indireta).

A.3.2. – Imagem de Vivência Feliz do Passado: sentir – se criança, protegida,

nos braços da mãe. (Dissociação e Sugestão Indireta).

A.3.3. – Imagem de Vivência Feliz do Passado associada ao momento presente:

ver – se adulta, na idade atual, nos braços da mãe, protegida; esta imagem foi induzida com

o objetivo de condensar (sentido analítico do termo: integrar vários significados a um único

símbolo), a proteção vivida no passado com o momento presente. (Dissociação e Sugestão

Indireta).

A.3.4. – Imagem protetora de uma casinha acolhedora com flores e varanda,

onde ela, confortavelmente, senta – se. (Dissociação e Sugestão Indireta).

A.3.5. – Imagem da árvore frondosa onde paciente imagina estar saboreando

seus frutos, obtendo uma sensação de preenchimento, sustentação, amparo e contato com

sua natureza espiritual. (Dissociação e Sugestão Indireta).

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A.4. – Humor Depressivo: Culpa frente às Perdas, subdividida em dois

aspectos:

- Culpa – se por ter perdido a oportunidade de ter tido uma vida mais

feliz.

- Culpa – se por sua doença, entende – a como punição e culpa – se por

não conseguir curar – se.

Ambos os aspectos foram trabalhados das seguintes formas:

A.4.1. – Pontuação verbal dessa culpa, trazendo – a para o nível consciente da

paciente, e orientação para re - significá - la, mostrando para M.I. que exigir de si mesma

uma remissão do câncer, no estadio em que ele se encontrava, era tarefa frustrante e

impossível; por outro lado, era possível buscar a paz interior, criar um clima afetivo na

família. Afirmação, também, sobre a possibilidade de despedir – se desta vida, fazendo as

pazes consigo própria. (Sugestão Direta).

A.4.2. – Imagem do banho de cachoeira lavando e levando todas as tristezas,

mágoas, medos embora. (Dissociação e Sugestão Indireta).

A.4.3. – Afirmação para M.I. imaginar – se sentada sob uma árvore frondosa e,

neste local, entrar em contato com a beleza do Universo, integrar – se com ela, e entrar em

contato com a sua própria beleza interna, suas qualidades. (Sugestão Direta).

A.4.4. – Afirmação, durante a aplicação da técnica, que a doença não é castigo

de Deus e sim, fruto de causas ligadas à constituição humana e ela, paciente, não estava

expiando nenhuma possível culpa. (Sugestão Direta).

B) Dor Espiritual

B.1. – Medo da Morte e do Pós – Morte descrito no pavor de ser enterrada

viva.

B.2. Idéia da Espiritualidade como algo sufocante e tenebroso, vinculada à

Culpa que sentia perante Deus.

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Estes aspectos da Dor Espiritual foram trabalhados da seguinte forma:

B.1.1. Orientação do pensamento da paciente, por dissociação e sugestão

indireta, para a idéia que podemos desfocar nossos pensamentos das tristezas oriundas do

sofrimento causado pela doença, e focá – lo em pensamentos que despertem sensações de

paz e tranqüilidade através das técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de Imagens

Mentais integradas à Espiritualidade. O processo foi explicado através de uma metáfora,

comparando - se a mente humana a um aparelho de TV, o qual pode ser ligado em vários

canais. Desta forma a mente humana também pode focar sua atenção no canal de tristezas

pelo sofrimento oriundo da doença ou no canal de tranqüilidade e paz, motivado por

imagens mentais belas.

B.1.2. Informação para M.I. sobre os relatos dos pacientes que passaram por

uma Experiência de Quase Morte (E.Q.M.) e voltaram a viver; sobre o mundo espiritual

que visualizaram e os Seres de Luz que contataram. (Sugestão Direta).

B.1.3. Afirmação para M.I. do pressuposto, fundamentado no relato dos

pacientes que vivenciaram uma E.Q.M. que, ao se imaginar cenários belos, pode – se,

através do pensamento, estar visualizando possíveis mundos espirituais, permeados de amor

e paz. (Sugestão Direta).

B.1.4. A paciente foi orientada para visualizar um cenário imaginário belo, com

imagens escolhidas por ela própria e acrescidas de elementos simbólicos introduzidos por

esta psicóloga - pesquisadora frente às suas necessidades, pelos símbolos de transformação

citados por JUNG (1986) e por elementos descritos pelos pacientes que vivenciaram uma

Experiência de Quase Morte (caminho dourado e Seres de Luz ligados a Cristo, que

emanam amor e paz). Todos os elementos oferecidos para visualização estão descritos no

item Padrão das Imagens. (Dissociação e Sugestão Indireta).

B.1.5. – Orientação para sentir o Amor de Cristo envolvendo – a, um amor que

não julga, não acusa, não culpa. Apenas compreende, perdoa, ajuda, protege. (Sugestão

Direta).

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B.1.6. – Imagem de Seres Espirituais, emissários de Cristo, protegendo – a,

amparando – a, envolvendo – a, em Amor Universal, bondade, carinho. (Sugestão Direta).

B.1.7. – Afirmação, durante o exercício da última sessão, para paciente sentir

que tudo o que tinha para fazer nesta vida estava concluído. Não havia certo ou errado. Ela

havia feito o que podia, havia aprendido com as experiências. Agora havia chegado a hora

de partir, de ligar – se a sentimentos de paz, amor, bondade, proteção e entrar no mundo

espiritual. (Sugestão Direta).

– Padrão de Imagem

Imagens escolhidas pela paciente: no 5, no 11, no 12 e no 31 do Anexo 7.

Os seguintes elementos compuseram o cenário para orientação, na Visualização

de Imagens Mentais.

A) Elementos constantes dos exercícios mentais de todas ou quase todas as

sessões:

- Seu corpo sendo envolvido por uma luminosidade azul ou branca.

- Caminho dourado como o sol, sob um céu muito azul.

- Lago azul, árvore frondosa, cachoeira, campo verde.

- Afirmação para sentir a beleza do Universo, integrar – se a esta beleza e sentir

sua própria beleza, suas qualidades internas.

- Afirmação para sentir o Amor de Cristo envolvendo – a.

B) Elementos constantes apenas das sessões iniciais:

- ‘Casa de crianças’ com idades variando entre recém – nascidos ate doze anos.

C) Elementos constantes principalmente das sessões intermediárias:

- Visão se si mesma como criança, nos braços da mãe.

- Visão de si mesma como adulta, nos braços da mãe.

- Casinha acolhedora com flores no jardim e varanda confortável.

- Sugestões Diretas minimizando culpas e fortalecendo a confiança quanto à

educação de seus filhos após sua morte.

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D) Elementos constantes, de forma predominante, das sessões finais:

- Seres Espirituais, emissários de Cristo, oferecendo amparo, proteção e

emanando amor incondicional, bondade, carinho.

- Sugestão Direta para despedir – se desta vida e entrar em um mundo espiritual

belo e cheio de paz.

– Comentários e Atitudes da Paciente: Resultados Obtidos

Nas sessões, durante a aplicação das técnicas de Relaxamento Mental, Imagens

Mentais integradas ao conceito de Espiritualidade, a paciente apresentava relaxamento

físico, respiração lenta e cadenciada, expressões faciais suavizadas, o que demonstra que

ela tranqüilizava – se com a aplicação do método. Muitas vezes, no final da sessão,

adormecia e afirmava posteriormente que havia se acalmado e acordado tempo depois,

sentindo – se muito bem. Afirmou várias vezes que se sentia muito bem ao realizar os

exercícios mentais.

Esta paciente também demonstrava esforçar - se para mudar o foco do seu

pensamento e pensar de forma mais positiva, mais otimista, conforme a proposta do

método.

M.I., durante o desenvolvimento deste método, conseguiu visualizar imagens

belas e claras (luzes), modificando, desta forma, seu padrão de visualização. Havia

afirmado no início do trabalho que tinha dificuldade em visualizar o proposto,

principalmente a cor azul, só conseguia ver a cor preta e por isto, sentia muito medo.

Ao ouvir as informações sobre os relatos dos pacientes que estiveram no Estado

de Quase Morte e voltaram a viver, M.I. acalmou – se e relaxou.

M.I.afirmou que através deste trabalho, minimizou, abrandou, o medo da morte

e superou parcialmente suas tristezas e culpas.

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228

Seus familiares também afirmaram que o trabalho com Relaxamento Mental,

Visualização de Imagens Mentais e Espiritualidade, ajudou a paciente na re - significação

da Dor Simbólica da Morte. V., marido da paciente, afirmou que M.I. comentou várias

vezes, que gostava muito dos atendimentos e que sentia, durante e após a aplicação do

método, muita paz. Gostava muito da música, achava – a linda e gostava muito, também, do

que era dito para ela, porque estas orientações / sugestões faziam - na se sentir “outra

pessoa”, mais forte, mais calma.

– Morte da Paciente: Resultados Obtidos

M.I. foi a óbito três dias após o último atendimento, nos braços do marido, sem

agonia, segundo este. Apenas vomitou o leite que havia tomado e morreu.

Nos últimos atendimentos, durante o exercício mental, a paciente parecia

mergulhar, através do exercício mental, no mundo espiritual que pressupomos existir.

Também essa psicóloga - pesquisadora nos últimos atendimentos, ela própria

sentiu – se, enquanto orientava o exercício mental de M.I., envolta em profunda paz,

parecendo – lhe que o mundo físico e o “mundo espiritual” se interpenetravam, naquele

momento, de uma forma possível de ser sentida.

– Sonhos dos Familiares após o óbito da Paciente

Não houve sonhos dos familiares até a data da Sessão de Orientação Familiar

Pós – Óbito. Houve o sonho desta psicóloga - pesquisadora, na madrugada do óbito da

paciente, onde o simbolismo pode ser entendido como uma minimização de um grande

sofrimento no processo de morrer através dos símbolos de transformação.

Esta psicóloga - pesquisadora sonhou que sua cachorrinha aproximava – se de

várias capivaras, (atualmente existe na cidade de Campinas uma notícia que as capivaras

que moram nos Parques de Lazer, são hospedeiras do carrapato estrela e a mordida deste

carrapato no ser humano, pode ser fatal; algumas pessoas já morreram por esta razão). No

sonho, em seguida a aproximação da cachorra às capivaras, esta transformava - se em um

imenso bloco de ferida em carne viva. Esta psicóloga - pesquisadora jogava água (que pode

ser interpretado como símbolo de transformação) na cachorra e ela voltava à sua aparência

normal, apenas apresentando uma pequena ferida no lombo.

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229

Ao acordar, lembrei – me do sonho e imediatamente fiz a associação: meu

inconsciente provavelmente captou a morte de M.I. e o grande sofrimento, (a grande

ferida), foi minimizado pelos símbolos de transformação dos exercícios. Liguei para sua

família, perguntando por M.I. e seu pai confirmou a intuição desta psicóloga -

pesquisadora: a paciente havia ido a óbito aquela madrugada.

– Sessões de Orientação Familiar: Resultados Obtidos

Os parentes puderam falar sobre a doença da paciente, prepararem – se para a

morte iminente dela, aceitar esta morte e minimizar as angústias frente a perda.

Os familiares foram orientados para buscarem uma melhor aproximação e apoio

mútuo, entre si o que, os fortaleceu no plano emocional e minimizou o sofrimento.

Também foram orientados quanto a atitudes em relação à paciente, principalmente para

pararem de pedir – lhe que se curasse, o que favoreceu a todos, principalmente à própria

paciente na re - significação de sua culpa por não sarar e fazer seus familiares sofrerem.

Os familiares também puderam ser orientados em relação à conduta com as

crianças, o que beneficiou a todos e favoreceu uma abertura para encaminhamento

psicoterapêutico posterior, visando a elaboração do Luto.

O marido de M.I., V., pode ser orientado quanto ao impacto negativo que seu

comportamento de beber estava causando na paciente. Esta orientação beneficiou V.,

acalmou a própria paciente e favoreceu abertura para encaminhamento posterior de V. para

psicoterapia.

As Sessões de Orientação Familiar também contribuíram para a re -significação

da Dor Simbólica da Morte da paciente.

– Dor Simbólica da Morte: re - significação

As condutas através da integração das técnicas de Relaxamento Mental,

Imagens Mentais com o conceito de Espiritualidade, favoreceram a re - significação da Dor

Simbólica da Morte desta paciente, proporcionando Qualidade de Vida no processo de

morrer e morte serena.

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230

Observamos que a aplicação desse método desde o período inicial da fase Fora

de Possibilidade de Cura até o período final e óbito, em paciente que apresentou histórico

de vida permeado de sofrimento psíquico e espiritual importante, re - significa a Dor

Simbólica da Morte, melhora a Qualidade de Vida da paciente no processo de morrer e

favorece uma morrer sereno.

Esta paciente nos traz uma perspectiva longitudinal completa da fase Fora de

Possibilidade de Cura, porque foi acompanhada do período inicial, enquanto ainda estava

clinicamente bem, até o óbito. Observou – se que, em relação a Dor Simbólica da Morte, no

período inicial e intermediário da fase considerada Fora de Possibilidade de Cura, a Dor

Psíquica e a Dor Espiritual apresentaram – se equiparadas e na fase final e óbito a Dor

Psíquica, embora presente, mostrou – se secundária em relação a Dor Espiritual. A

re - significação da Dor Psíquica e da Dor Espiritual nas fases inicial e intermediária,

contribuiu para a Qualidade de Vida no processo de morrer e a re - significação da Dor

Espiritual na fase intermediária e final, contribuiu para a Qualidade da Morte, ou seja,

favoreceu uma morte serena e digna.

Observamos também que a informação, sobre as pesquisas com pacientes que

vivenciaram uma Experiência de Quase Morte, foi aspecto muito importante para a

re - significação da Dor Simbólica da Morte da paciente e para a aceitação, dos familiares,

da morte iminente da parenta.

Constatamos que é possível desenvolver o método proposto neste estudo, com

resultado favorável, em paciente que no início dos atendimentos apresenta dificuldade de

visualização.

9.1.3. Terceira Paciente: I.F.R.

– Identificação da paciente

I.F.R., sexo feminino, 37 anos, casada, dois filhos, (adultos), residente em

Campinas, portadora de neoplasia maligna, câncer inflamatório de mama direita, estadio

IIIB, metástases no fígado e pulmões, apresentava dispnéia importante e estava usando

cateter. Iniciou o tratamento em 16 / 09 / 99, no CAISM – UNICAMP e estava Fora de

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231

Possibilidade de Cura, segundo a equipe médica responsável, quando nos propusemos a

desenvolver o método proposto neste estudo.

– Número de Sessões / Período da fase Fora de Possibilidade de Cura em

que o método foi aplicado

Sessão: única para contrato do trabalho psicoterapêutico, quando a paciente não

aceitou a proposta.

Período: Quando propusemos o desenvolvimento deste método, a paciente

encontrava – se clinicamente mal e no período final da fase Fora de Possibilidade de Cura.

Afirmou que só queria remédio para diminuir a dispnéia.

– Intervenção Psicoterapêutica

Nenhuma

– Histórico Clínico / Aspectos Relevantes

A paciente não aceitou o método proposto neste estudo: Relaxamento Mental,

Visualização de Imagens Mentais e Espiritualidade. Sua sobrinha justificou a recusa,

explicando que I. não podia ouvir música porque era evangélica. A psicóloga -

pesquisadora informou a paciente que a visualização poderia, neste caso, ser orientada sem

música, mas I. não quis ver o álbum de imagens e pontuou que não queria atendimento,

“apenas remédio para melhorar a dispnéia”.

Como apresentava dificuldade para falar devido à dispnéia, foi informada que,

se desejasse, poderia ser atendida apenas através de orientação para exercício mental e não

precisaria conversar. I. repetiu que não queria atendimento.

Importante pontuar que na época em que esta paciente recebeu o diagnóstico de

câncer, segundo relato do Serviço de Psicologia do CAISM, apresentava humor alterado,

sofrimento psíquico intenso e negava a gravidade de sua doença. Através do rebaixamento

dos mecanismos de defesa entrou em contato com a enorme angústia que sentia, frente a

essa realidade.

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232

Observamos que frente às fases propostas por KÜBLER – ROSS, (1996a),

(negação, raiva, barganha, depressão, e aceitação), esta paciente encontrava – se de forma

predominante na fase negação.

- Identificação da Dor Simbólica da Morte: Dor Psíquica e Dor Espiritual

Os aspectos que compõem a Dor Simbólica da Morte desta paciente não foram

identificados, porque ela não aceitou ser atendida por este método.

– Padrão de Imagem

Nenhum

– Morte da Paciente: Resultados Obtidos

A Auxiliar de Enfermagem da Oncologia do CAISM – UNICAMP, Kédma

Lurdes Auxiliadora, que acompanhou o óbito da paciente, informou – me, em comunicação

pessoal, que I. estava com muito medo de morrer e por esta razão solicitava a Enfermagem

a “todo instante”. Foi a óbito com dispnéia intensa, desespero, angústia e aflição. Pontuou

que I. foi a óbito com muito sofrimento.

– Sonhos dos Familiares após o óbito da Paciente

Familiares não foram atendidos e por esta razão, os sonhos destes não foram

pesquisados.

– Sessões de Orientação Familiar: Resultados Obtidos

Familiares não foram atendidos. As Sessões de Orientação Familiar, dentro dos

objetivos deste estudo, estão vinculadas ao consentimento da paciente para o

desenvolvimento da intervenção psicoterapêutica integrando - se as técnicas de

Relaxamento Mental, Visualização de Imagens Mentais e Espiritualidade.

- Dor Simbólica da Morte: re – significação

Não houve re – significação da Dor Simbólica da Morte desta paciente. O dado

que ela nos trouxe foi não aceitar o atendimento, o que inviabilizou o trabalho.

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Podemos inferir que a recusa de I. ao método proposto neste estudo, pode estar

ligada a sua dinâmica intrapsíquica. Conforme relato da psicóloga que a atendeu na época

do diagnóstico, I. demonstrava utilizar – se do mecanismo de defesa negação, para não

entrar em contato com a enorme angústia que sentia, frente à realidade. Talvez, para esta

paciente, atendimentos significassem uma grande ameaça porque favorecem contato com o

mundo interno.

A aceitação de um trabalho psicoterapêutico pressupõe, como requisito básico,

uma disponibilidade psíquica do paciente para estabelecer uma aliança terapêutica com o

profissional. A aliança terapêutica, segundo ETCHEGOYEN (1989), reproduz aspectos

pré – genitais, reproduz a relação diática com a mãe e com o pai, as quais quando

solucionadas de forma adequada possibilitam a resolução da confiança básica (D’

ANDRÉA, 1991) e também sustentam a possibilidade do indivíduo vir a distinguir a

realidade externa, da interna.

Não sabemos do histórico de vida desta paciente e por esta razão não podemos

afirmar que a recusa de I. em ser atendida, esteja vinculada a uma solução inadequada da

confiança básica que favorece a aliança terapêutica, mas, podemos constatar, que a recusa

da paciente em ser atendida é o limite deste trabalho.

Observamos também que, além da condição interna do paciente para

estabelecer uma aliança terapêutica com o profissional, neste trabalho específico de

Relaxamento Mental, Visualização de Imagens Mentais e Espiritualidade, querer, aceitar,

permitir – se relaxar e visualizar é opção e tarefa única do paciente. Só o próprio paciente

pode efetivamente direcionar sua imaginação para mundos belos e positivos. Mesmo sendo

o terapeuta quem sugestiona e orienta, é sempre o paciente que quer, aceita e permite – se

adentrar, com sua imaginação, alem da doença, do sofrimento, do seu mundo físico

percebido pelos cinco sentidos.

I. nos mostrou que a aceitação do paciente é o limite do trabalho.

Observamos que esta paciente, a qual não aceitou ser atendida através da

Intervenção Psicoterapêutica proposta neste estudo, apresentou uma péssima Qualidade de

Morte, conforme comunicação da Enfermagem do CAISM – UNICAMP, com muito

sofrimento, desespero, angústia e aflição. Sabemos que a variável dispnéia contribui para

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intensificar o sofrimento frente à morte mas, comparando - se esta paciente com J.C.B.,

adolescente atendido no Projeto - Piloto, observamos que J.C.B. apresentava no seu

processo terminal quadro clínico semelhante a I.F.R. e, por esta razão, esperava – se que ele

morresse com muita aflição, o que não aconteceu. O paciente morreu de forma muita

serena, escutando a música oferecida para Relaxamento Mental e sendo orientado por esta

psicóloga - pesquisadora para visualizar as paisagens de que gostava.

9.1.4. Quarta Paciente: R.M.F.F.A.

– Identificação da paciente

R.M.F.F.A., sexo feminino, 40 anos, casada, dois filhos, (adolescentes),

residente em Campinas, portadora de neoplasia maligna, carcinoma de mama direita, com

metástase cerebral e metástase na outra mama, iniciou o tratamento em 17 / 03 / 99, no

CAISM – UNICAMP e estava Fora de Possibilidade de Cura, segundo equipe médica

responsável, quando demos início aos atendimentos descritos neste estudo.

– Número de Sessões / Período da fase Fora de Possibilidade de Cura em

que o método foi aplicado

Sessões: 01 Atendimento Hospitalar; 02 Sessões de Atendimento Domiciliar

Familiar; 01 Sessão Familiar Domiciliar Pós – Óbito.

Período: Final da fase Fora de Possibilidade de Cura; a intervenção

psicoterapêutica proposta neste estudo foi iniciada quando a paciente já não estava

clinicamente bem e desenvolveu – se até o óbito.

– Intervenção Psicoterapêutica

Paciente: Integração das técnicas de Relaxamento Mental motivado por

respiração lenta e profunda e música suave e Visualização de Imagens Mentais orientadas

por dissociação, sugestão indireta e sugestão direta, com o conceito de Espiritualidade

estruturado a partir de pesquisas que descrevem os relatos de pacientes que passaram por

uma Experiência de Quase Morte (E.Q.M.), e voltaram a viver normalmente, dentro dos

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235

princípios da Psicoterapia Breve de Apoio para Serviços Hospitalares, descrita por

FIORINI (1991).

Familiares: Sessões de Orientação Familiar

– Histórico Clínico / Aspectos Relevantes:

Quando iniciamos a aplicação do método descrito neste estudo, a paciente

apresentava quadro clínico ruim, o qual evoluiu para óbito em quinze dias; seu marido

havia sido informado, pela médica responsável do Setor de Cuidados Paliativos do CAISM,

UNICAMP, que ela estava Fora de Possibilidade de Cura, e por esta razão estava

preparando os filhos para a morte da mãe. A paciente, por sua vez, segundo o marido, tinha

consciência da gravidade do seu estado clínico, conversou com ele e com os filhos sobre

esta questão mas, nas sessões, apresentou dificuldade para entrar em contato com tal fato e

afirmou que não aceitava ter ficado doente.

R. na primeira sessão, hospitalar, interessou – se pelo método proposto e

afirmou ter gostado da postura da psicóloga - pesquisadora e da forma de abordagem. Na

segunda sessão, domiciliar, apresentou ambivalência, por um lado participou do

atendimento, afirmou ter gostado do método e mostrou beneficiar – se com ele e por outro,

mostrou resistência em deixar – se cuidar. Afirmou, falando sobre ter empregada em casa,

que não gostava muito de ajuda porque se sentia limitada na sua autonomia, invadida na sua

privacidade. Pareceu a esta psicóloga - pesquisadora que R. estava também referido - se, de

forma ambivalente, ao atendimento. As tias de seu marido e este confirmaram esta hipótese,

quando afirmaram que o comportamento de não aceitar ajuda era típico da personalidade de

R.

Na véspera de sua morte recusou o atendimento com a psicóloga -

pesquisadora; estava permitindo, apenas, ser cuidada por seu marido, mas como R. tinha

aceitado, interessado - se e beneficiado - se com o Relaxamento Mental, Visualização de

Imagens Mentais e Espiritualidade, nos atendimentos anteriores, demos continuidade à

aplicação do método através de M. (marido).

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No histórico de vida da paciente observamos vida familiar bem estruturada e

qualidade de relacionamento muito bom, com o marido e filhos. Por outro lado observamos

vivências de sofrimento importante pela morte de parentes da família de extensão,

incluindo sua sogra que também morreu de câncer.

Observamos que frente às fases propostas por KÜBLER – ROSS, (1996a),

(negação, raiva, barganha, depressão, e aceitação), esta paciente oscilava entre as fases

raiva, barganha e depressão.

- Identificação da Dor Simbólica da Morte: Dor Psíquica e Dor Espiritual

Frente a Dor Simbólica da Morte foram identificados e trabalhados os seguintes

aspectos:

A) Dor Psíquica

A.1. Humor Depressivo: Tristeza pela perda da vida, da saúde, trabalhada

através dos seguintes aspectos:

A.1.1. Orientação do pensamento da paciente, por dissociação e sugestão

indireta, para a idéia que seu corpo estava doente, mas seu espírito poderia sentir – se livre

e, através das técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de Imagens Mentais

integradas à Espiritualidade, ela, paciente, poderia alcançar um mundo espiritual belo.

A.1.2. Orientação para paciente imaginar - se sentada em um campo florido e,

neste local, procurar sentir a beleza do Universo, integrar – se com esta beleza e pensar em

todas as coisas boas que tinha na vida, as quais, apesar da doença e do limite do corpo,

continuava tendo, como por exemplo, o amor de seu marido e da sua família. Esta

orientação visou desfocar o pensamento da paciente do quadro de tristezas e mágoas pela

perda da saúde e foca – lo nos aspectos positivos e sadios da sua vida.

(Dissociação e Sugestão Indireta).

Esta Dor Psíquica foi parcialmente minimizada, pois, após o exercício mental

da segunda sessão, ela comentou que este foi bom, mas seria melhor se estivesse usufruindo

destas sensações no plano físico, ou seja, seria melhor se não tivesse adoecido e perdido a

saúde. Por outro lado, esclareço que trabalhei esta mesma temática, acima descrita, para re -

significar a Dor Espiritual: Medo da Morte e do Pós – Morte e, em relação a este aspecto da

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Dor Simbólica da Morte, alcançamos bons resultados, pois a paciente se acalmava com a

música que induzia ao relaxamento e morreu escutando – a. No momento do óbito estava

tranqüila e serena, segundo o marido.

A.2. Humor Depressivo: Culpa por fazer seus familiares sofrerem.

Não foi possível trabalhar esse aspecto. A paciente mostrou muita dificuldade

para entrar em contato com esta Dor Psíquica. Sempre que aproximava – se desse assunto

tinha ânsias de vômito e mostrava o desejo de interromper a conversa. Mudado o rumo do

assunto a paciente voltava a falar. Dada sua fragilidade e a gravidade de seu estado

clínico, optei por respeitar esse limite que R. sinalizou e não trabalhei esta dor: “culpa por

fazer seus familiares sofrerem”. Trabalhei o sofrimento do seu marido e filhos através das

Sessões de Orientação Familiar.

B) Dor Espiritual

B.1. Medo da morte e do pós – morte relacionando – a com solidão e

tristeza, trabalhado através dos seguintes aspectos:

B.1.1. Orientação do pensamento da paciente, por dissociação e sugestão

indireta, para a idéia que seu corpo estava doente e por esta razão, ela estava envolvida em

tristezas, mas seu espírito poderia sentir – se livre e, através das técnicas de Relaxamento

Mental e Visualização de Imagens Mentais integradas à Espiritualidade, ela, paciente,

poderia alcançar um mundo espiritual belo. A paciente foi orientada para visualizar um

cenário imaginário belo, com imagens escolhidas por ela própria e acrescidas de figura

simbólica de alegria e leveza introduzida por esta psicóloga - pesquisadora (golfinhos),

pelos símbolos de transformação citados por JUNG (1986) - vegetação, água - e por

elemento descrito pelos pacientes que vivenciaram uma Experiência de Quase Morte

(caminho dourado).

B.1.2. Afirmação, para R., do pressuposto, fundamentado no relato dos

pacientes que vivenciaram uma E.Q.M. que, ao imaginar cenários belos, pode - se ligar,

através do pensamento, a possíveis mundos espirituais permeados de amor e paz. (Sugestão

Direta).

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B.2. Medo da morte e do pós - morte relacionando – a com experiências

anteriores permeadas de muito sofrimento, trabalhado através de:

B.2.1. Resgate da culpa dessas experiências. (Sugestão Direta).

B.2.2. Orientação para a paciente imaginar – se mergulhando no mar e sentindo

as ondas batendo em seus ombros, na sua cabeça, levando toda tristeza, toda mágoa para a

areia. (Dissociação e Sugestão Indireta).

– Padrão da Imagem

Imagens escolhidas pela paciente: no 10 e no 14 do Anexo 7.

Os seguintes elementos compuseram o cenário para orientação, na Visualização

de Imagens Mentais.

- Respiração lenta e profunda imaginando o oxigênio sendo respirado na cor

azul - céu e sendo levado para todos os órgãos do corpo.

- Caminho luminoso dourado como o sol, com um céu muito azul e árvores

muito altas e muito verdes.

- Brisa suave.

- Campo verde com milhares de flores cor de rosa perfumadas e pássaros que

voavam entre elas.

- Praia deserta e bonita; areia branca, mar azul e calmo, com golfinhos ao

longo desse mar, brincando.

- Afirmação para a paciente sentir a beleza do Universo, integrar – se com esta

beleza e focar o pensamento nos aspectos positivos e saudáveis da sua vida.

– Comentários e Atitudes da Paciente: Resultados Obtidos

R. comentou que as imagens do álbum eram lindas e, se assemelhavam, na

beleza, à chácara onde morava, ambiente que gostava e onde sentia - se segura e tranqüila.

Afirmou que gostou muito das técnicas de Relaxamento Mental, Visualização

de Imagens Mentais, associadas à Espiritualidade e que achou lindas as “histórias” que

contei (orientações para relaxamento e visualização).

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Adormeceu durante o exercício mental da primeira sessão, indicando que o

método a acalmou. Despertou sentindo – se bem.

Murmurou durante o exercício mental: “que delícia”.

Relatou que sentia muita falta de tomar um banho de chuveiro, sentir a água

escorrendo sobre sua cabeça, logo após a orientação para visualizar – se mergulhando no

mar. Entendi que a paciente dizia - me que imaginar – se mergulhando no mar era bom,

mas seria melhor, se ela pudesse estar usufruindo destas sensações no plano físico e não

apenas mentalmente. (Seria melhor se não tivesse adoecido e perdido a saúde).

M., marido de R., que também acompanhou o exercício, relaxou e visualizou as

orientações propostas para sua esposa, afirmou que foi muito bom fazer esta ‘viagem

mental’ e desfocar seu pensamento das tristezas.

No final do exercício mental da segunda sessão com a paciente, ficou visível,

para mim e para seu marido, pelas expressões faciais desta, a melhora do seu humor. Nossa

percepção foi confirmada pela afirmação da própria R., que disse estar, após o exercício

mental, mais tranqüila, em paz.

A tia de M., hospedada na casa para ajudar nas tarefas, relatou que quando

finalizei a segunda sessão com R. e fui embora, a casa deles ficou “mergulhada em paz“.

Durante os dois dias que o marido orientou a paciente neste método, apenas

colocando o CD com as músicas de relaxamento, observou que sempre que a música

começava a tocar R. relaxava, se acalmava, e parecia que, por si mesma, visto já ter sido

orientada nas sessões anteriores, entrava, através de sua imaginação, em um mundo belo.

M., marido de R. afirmou que, quando chegar a hora de sua morte, quer ser

atendido e acompanhado através desse método.

– Morte da Paciente: Resultados Obtidos

Segundo o relato do marido M., quando R. morreu, o CD com as músicas para

relaxamento estava tocando e a paciente morreu, de forma muito serena, ouvindo a música.

M. relatou que ficou ao lado dela, sem dizer nada, apenas deixando a música tocar e

acompanhando seu desligamento. Depois cuidou do corpo, escovou seus dentes, vestiu - a.

Observou que a face dela logo após a morte estava serena e com um sorriso nos lábios.

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240

Afirmou que a impressão que teve, ao olhar para a esposa logo após o óbito, foi vê – la

como era antes de adoecer, jovem e bonita. Seu sentimento, nesse momento, foi que o

espírito de sua esposa desprendeu – se do corpo de forma serena e na forma saudável.

Segundo o médico psiquiatra MOOD JR (1989), existem pacientes que

relataram terem visto, durante a Experiência de Quase Morte (E.Q.M.), seus corpos

espirituais em condições diferente do corpo físico no momento da E.Q.M.. Alguns que

estavam machucados viram – se de forma saudável e algumas crianças que passaram por

essa experiência, relataram terem se visto no mundo espiritual, não como crianças, mas

como adultos jovens. M. afirmou que foi exatamente esta sensação que ele teve: a

transformação do corpo espiritual de R. na sua forma anterior, jovem, saudável, bonita. A

médica psiquiatra KÜBLER – ROSS (1998) também refere – se a esta transformação com

uma metáfora sobre a lagarta que se transforma em borboleta.

Desta forma observamos que a paciente obteve uma morte digna e serena.

- Sonhos dos Familiares após o Óbito da Paciente:

Não houve sonhos dos familiares com a paciente após o óbito desta, até a data

da Sessão de Orientação Familiar Pós – Óbito.

Houve um sonho da própria paciente, relatado por seus familiares, alguns dias

antes de seu óbito. Sonhou que estava em um avião que caía e se destroçava, mas ela

continuava inteira, pairando no ar. Este sonho parece indicar, de forma simbólica, que

apesar do corpo da paciente estar se destroçando (avião), ela continua viva, existindo.

Conforme citado no capítulo 2 - Revisão da Literatura, SIEGEL, (1989), observou que com

muita freqüência as pessoas recebem premonições sobre sua morte através dos mais

variados tipos de sinais como sonhos, poemas e desenhos. Para VON FRANZ, (1995),

existem sonhos de pacientes terminais e de seus familiares que podem ser interpretados de

forma objetiva, indicando a existência de uma vida espiritual após a morte.

– Sessões de Orientação Familiar: Resultados Obtidos

O marido e os filhos da paciente puderam falar sobre a doença e a morte

iminente da paciente, fortalecer recursos internos para enfrentar esta perda, encontrar

caminhos para lidar com o luto e minimizar suas angústias e culpas.

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O marido e os filhos da paciente comunicaram sentirem – se reconfortados

pelas informações transmitidas sobre os estudos dos psiquiatras KÜBLER – ROSS (1998) e

MOOD JR (1989, 1992), com pacientes que estiveram no Estado de Quase Morte e que

voltaram a viver normalmente, pela abordagem espiritual, fundamentada na crença da vida

espiritual após a morte.

Os filhos da paciente refletiram e observaram que a mãe deles poderia

“continuar viva no coração deles”, através de tudo que lhes ensinou e através do sentimento

que eles nutrem por ela.

O marido e os filhos da paciente puderam falar de suas perdas anteriores,

minimizando a angústia e o sofrimento.

As tias do marido da paciente, que estavam na residência ajudando nas tarefas,

sentiram – se reconfortadas porque a paciente e seus familiares receberam esta qualidade de

atendimento.

Os filhos da paciente puderam falar sobre o medo de também perder o pai e

lidar com este medo.

O marido e os filhos da paciente, nas sessões de Orientação Familiar, puderam

falar sobre o relacionamento entre eles, muitas vezes de forma lúdica e em tom de

brincadeira, e trazer, desta forma, para a consciência, de forma clara e organizada, o forte

laço afetivo e o apoio recíproco que os une, favorecendo um enfrentamento positivo do

luto.

O marido e filhos de R. demonstraram ter boa estrutura familiar e recursos

internos positivos para lidar com a morte da paciente, mas, mesmo assim, as Sessões de

Orientação Familiar foram importantes para fortalecer estes aspectos. Não se fez necessário

encaminhamento para psicoterapia, visando à elaboração do luto.

As Sessões de Orientação Familiar contribuíram para a re - significação da Dor

Simbólica da Morte da paciente, principalmente neste caso que o método proposto foi

aplicado, próximo ao óbito, pelo próprio marido.

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242

– Dor Simbólica da Morte: re – significação

Observamos que a intervenção psicoterapêutica proposta neste estudo

“Relaxamento Mental, Visualização de Imagens Mentais e Espiritualidade” favoreceu a re -

significação da Dor Simbólica da Morte desta paciente e R. desligou – se desta vida de

forma serena e em paz.

Também observamos que é possível alcançar – se Qualidade de Vida no

processo de morrer e morte digna com um desligamento sereno desta vida, aplicando - se

este método “Relaxamento Mental, Visualização de Imagens Mentais e Espiritualidade”,

apenas no período final da fase Fora de Possibilidade de Cura até o óbito.

Observamos que a dificuldade de R. em falar sobre os aspectos relacionados no

Anexo 1, Anamnese, não interferiram na re - significação da Dor Simbólica da Morte, visto

que estes aspectos estão relacionados, principalmente, a Dor Psíquica, a qual, frente à

iminência da morte, torna – se secundária em relação a Dor Espiritual.

Constatamos, através desta paciente, que no período final da fase Fora de

Possibilidade de Cura, próximo ao óbito, em relação a Dor Simbólica da Morte, a Dor

Espiritual é prevalente à Dor Psíquica. Observamos que R. re - significou de forma

parcial a Dor Psíquica, Humor Depressivo: Tristeza pela perda da vida, da saúde, pois

durante os atendimentos afirmou que o exercício mental foi bom, mas seria melhor se ela

estivesse usufruindo destas sensações no plano físico, ou seja, seria melhor se não tivesse

adoecido e perdido a saúde. Afirmou também que não aceitava ter ficado doente. A Dor

Psíquica, Humor Depressivo: Culpa por fazer seus familiares sofrerem, não foi

possível de ser trabalhada dada a dificuldade da paciente para entrar em contato com essa

questão, aliada a sua fragilidade e gravidade do seu estado clínico. Por sua vez a Dor

Espiritual, nos seus aspectos: Medo da morte e do pós – morte, relacionando – a com

solidão e tristeza e Medo da morte e do pós – morte, relacionando – a com

experiências anteriores permeadas de muito sofrimento, pode ser re - significada,

porque a paciente, durante os atendimentos, relaxava e visualizava o mundo espiritual belo

que pressupomos existir e interessou – se e acalmou – se frente às explicações sobre as

pesquisas com pacientes que vivenciaram uma E.Q.M. Durante os dois dias em que seu

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marido a orientou neste método, colocando o CD com as músicas de relaxamento, ele

observou que sempre que a música começava a tocar, a paciente relaxava, acalmava - se, e

parecia que, por si própria, visto já ter sido orientada pela psicóloga - pesquisadora nas

sessões anteriores, entrava, através de sua imaginação, neste mundo espiritual belo que

pressupomos existir. Também observamos que a paciente morreu, segundo seu marido, de

forma tranqüila e serena.

Por outro lado assinalamos que, na véspera da morte de R., seu filho D. relatou

uma escuta extra - sensorial: ouviu R. dizendo, nitidamente, que “tava bom, aceitava ir

embora”, e, ao verificar com quem sua mãe falava, constatou que ela não falava com

ninguém. Os outros familiares que estavam acordados também não ouviram nada. Não é

possível verificarmos se D. sonhou com o fato ou se realmente apresentou esta escuta extra

– sensorial, fenômeno paranormal chamado pela Parapsicologia de clariaudiência,

indicando uma aceitação pela paciente da sua morte, nos momentos finais, mas é possível

constatar que D., na véspera da morte do seu tio, teve um sonho premonitório correto.

A informação sobre as pesquisas com pacientes que vivenciaram uma

Experiência de Quase Morte foi um aspecto muito importante para a re - significação da

Dor Simbólica da Morte da paciente e para a aceitação, dos familiares, da morte iminente

da parenta.

É possível desenvolver o método proposto neste estudo, no período próximo ao

óbito, com resultado favorável, através do familiar cuidador e / ou o familiar que tiver

maior vínculo afetivo com o paciente. Em minha experiência pessoal tenho observado que

esta recusa dos cuidados de terceiros, nesta fase final, acontece com freqüência com

crianças e adolescentes mas pode, também, eventualmente, ocorrer com adultos, como foi o

caso desta paciente. Se o paciente tiver, na fase anterior da recusa, sentido – se bem com

este método e minimizado seu sofrimento através da integração das técnicas de

Relaxamento Mental e Visualização de Imagens Mentais com Espiritualidade, é possível

dar continuidade ao trabalho, no que diz respeito a Dor Espiritual, através do familiar

cuidador.

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244

9.1.5. Quinta Paciente: D.Z.M.

D.Z.M., sexo feminino, 75 anos, viúva, um filho adotivo falecido, residente em

Campinas, portadora de neoplasia maligna, carcinoma de ovário, estadio IV e oclusão

intestinal, foi submetida à cirurgia Laparotomia Exploradora, colostomizada e com

metástase no fígado; iniciou o tratamento em 17 / 04 / 00, no CAISM – UNICAMP e estava

Fora de Possibilidade de Cura, segundo equipe médica responsável, com prognóstico muito

ruim, quando demos início aos atendimentos descritos neste estudo.

– Número de Sessões / Período da fase Fora de Possibilidade de Cura em

que o método foi aplicado

Sessões: 02 Atendimentos Hospitalares; 01 Sessão de Orientação Familiar; 01

Correspondência por “e – mail” com a sobrinha em substituição a Sessão com Familiares

Pós – Óbito.

Período: Final da fase Fora de Possibilidade de Cura; a intervenção

psicoterapêutica proposta neste estudo foi iniciada quando a paciente já não estava

clinicamente bem, com prognóstico muito ruim e desenvolveu – se até o óbito.

– Intervenção Psicoterapêutica

Paciente: Integração das técnicas de Relaxamento Mental motivado por

respiração lenta e profunda e música suave e Visualização de Imagens Mentais orientadas

por dissociação, sugestão indireta e sugestão direta, com o conceito de Espiritualidade

estruturado a partir de pesquisas que descrevem os relatos de pacientes que passaram por

uma “Experiência de Quase Morte” (E.Q.M.), e voltaram a viver normalmente, dentro dos

princípios da Psicoterapia Breve de Apoio para Serviços Hospitalares, descrita por

FIORINI (1991).

Familiares: Sessão de Orientação Familiar

– Histórico Clínico / Aspectos Relevantes

Quando iniciamos a aplicação do método descrito neste estudo, a paciente

apresentava quadro clínico muito ruim, o qual evoluiu para óbito no dia seguinte.

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245

Mostrou – se, logo no início do primeiro atendimento, muito assustada e

vulnerável. Afirmou não estar bem e, ao mesmo tempo, demonstrou estar com muito medo

de enfrentar esta realidade, apresentando, de imediato, a Dor Espiritual: Medo da Morte

e do Pós – Morte.

De acordo com dados colhidos no prontuário da paciente, ela, no início do

tratamento, cinco meses atrás, mostrava – se deprimida porque achava que não tinha muito

tempo de vida, estava sensibilizada com sua saúde, consciente da gravidade da sua doença,

sentia – se inválida e fracassada e com histórico de vida de perdas significativas.

D., apesar de sua fragilidade clínica, investigou com atenção a proposta desta

intervenção psicoterapêutica, antes de aceitá – la. Após ter compreendido e experimentado

o método, afirmou que tinha gostado muito. Vinculou – se de forma positiva e satisfatória à

psicóloga - pesquisadora.

Observamos que frente às fases propostas por KÜBLER – ROSS, (1996a),

(negação, raiva, barganha, depressão, e aceitação), esta paciente encontrava – se de forma

predominante na fase depressão.

- Identificação da Dor Simbólica da Morte: Dor Psíquica e Dor Espiritual

Frente a Dor Simbólica da Morte foram identificados e trabalhados os seguintes

aspectos:

A) Dor Psíquica

A.1. Humor Depressivo: Tristezas e Culpas frente às perdas que sofreu

durante a vida, incluindo a perda do filho. Observamos que frente à morte iminente, esta

Dor Psíquica apresentou – se secundária em relação a Dor Espiritual. Visando otimizar a re

- significação desta última, trabalhamos o Humor Depressivo: tristezas e culpas frente às

perdas, incluindo a perda do filho, através de sugestão direta, durante o exercício mental.

Afirmamos que seus sofrimentos foram vivências difíceis pelas quais ela passou, mas estes

fatos não aconteceram para castigá – la, ou por culpa dela. A paciente frente a esta

afirmação suspirou e mostrou – se mais relaxada.

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246

B) Dor Espiritual

B.1. Medo da Morte e do Pós – Morte frente à percepção da iminência da

mesma, trabalhado através dos seguintes aspectos:

B.1.1. Orientação do pensamento da paciente, por dissociação e sugestão

indireta, para a idéia que podemos desfocar nossos pensamentos das tristezas oriundas do

sofrimento causado pela doença, e focá – lo em pensamentos que despertem sensações de

paz e tranqüilidade através das técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de Imagens

Mentais integradas à Espiritualidade. O processo é explicado para a paciente, através de

uma metáfora, comparando - se a mente humana a um aparelho de TV, que pode ser ligado

em vários canais: canal de tristezas pelo sofrimento oriundo da doença ou canal de

tranqüilidade e paz, motivado por imagens mentais belas.

B.1.2. Informação para D. sobre os relatos dos pacientes que passaram por uma

Experiência de Quase Morte (E.Q.M.) e voltaram a viver normalmente, incluindo a

descrição do mundo espiritual que visualizaram e os Seres de Luz que contataram.

(Sugestão Direta).

B.1.3. Afirmação para D. do pressuposto, fundamentado no relato dos pacientes

que vivenciaram uma Experiência de Quase Morte que, ao imaginar – se cenários belos,

pode – se, através do pensamento, estar visualizando possíveis mundos espirituais,

permeados de amor e paz. (Sugestão Direta).

B.1.4. Orientação para a paciente visualizar um cenário imaginário belo, com

imagens escolhidas por ela própria e acrescidas de elementos simbólicos que

representassem alegria, ternura, doçura e uma “ponte entre o céu e a terra”, introduzidos

por esta psicóloga - pesquisadora (crianças, flores e arco - íris), pelos símbolos de

transformação citados por JUNG (1986) - arvores e água - que haviam sido escolhidos pela

própria D. e por elementos descritos pelos pacientes que vivenciaram uma Experiência de

Quase Morte (caminho dourado e Seres de Luz ligados a Cristo, que emanam amor e paz).

(Dissociação e Sugestão Indireta).

B.1.5. Afirmação para D. não ter medo e entregar – se para o lugar descrito na

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visualização e para os Seres de Luz. (Sugestão Direta).

B.2. Sensação de fracasso frente ao Sentido da Vida e da Morte, trabalhado

através dos seguintes aspectos:

B.2.1. Resgate das culpas e tristezas acima citadas na Dor Psíquica. (Sugestão

Direta).

B.2.2. Imagem do lago azul e orientação para ela visualizar – se entrando na

parte rasa deste lago, mergulhando e sentindo todas as tristezas e mágoas sendo levadas

embora. (Dissociação e Sugestão Indireta).

B.2.3. Orientação para D. visualizar – se brincando na água. Ressalto que

através da água, que pode ser um elemento de transformação segundo JUNG (1986),

procurei orientá – la para simbolicamente re - significar o seu sentido da vida e da morte,

o qual observei permeado de tristezas, perdas e mágoas. (Dissociação e Sugestão

Indireta).

– Padrão da Imagem

Imagens escolhidas pela paciente: no 4, no 5, no 9 e no 12 do Anexo7.

Os seguintes elementos compuseram o cenário para orientação, na Visualização

de Imagens Mentais.

- Respiração lenta e profunda imaginando o oxigênio sendo respirado na cor

azul - céu e sendo levado para todos os órgãos do corpo.

- Estrada luminosa dourada como o sol, ladeada por árvores muito verdes.

- Seres de Luz ligados a Cristo.

- Bosque com lago azul, céu azul brilhando e árvores verdes.

- Parque com crianças alegres correndo, flores multicoloridas e arco – íris.

– Comentários e Atitudes da Paciente: Resultados Obtidos

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248

D. ao folhear o álbum de imagens exclamou que sentiu vontade de “mergulhar”

nos lugares apresentados, dada a beleza deles.

No início da aplicação da técnica, a paciente abriu os olhos, afirmou que estava

gostando muito desta e tornou a fechá – los para continuar o exercício mental.

Após a informação para D. sobre os relatos dos pacientes que passaram por

uma Experiência de Quase Morte (E.Q.M.) e voltaram a viver normalmente e a afirmação

que a proposta desse método é orientar a visualização de mundos espirituais belos, que

pressupomos existir, a paciente relaxou sua expressão facial, expressou seu desejo de

continuar com os atendimentos e agradeceu à psicóloga - pesquisadora, várias vezes, pelo

trabalho realizado.

Em momento anterior ao início da segunda sessão, D. afirmou para sua

sobrinha L. que estava sentindo – se muito mal e para Enfermeira responsável pelo setor

que estava morrendo. Ao começar a sessão observei que a paciente mostrava medo frente à

morte iminente. Após a aplicação do método neste estudo descrito, D. passou a respirar de

forma mais tranqüila, acalmou – se. Conforme pontuou L., sobrinha da paciente, no

parecer pós - óbito, D. durante o exercício mental abriu os olhos várias vezes e mostrou

concordar com o lugar para o qual a visualização era orientada. Sua expressão não era mais

de sofrimento e sim de que dormia um sono profundo e em dado momento exclamou:

“metade de mim está neste local que você está descrevendo e a outra metade está relutando

em desligar – se deste mundo”.

D. afirmou que estava perdendo o controle e isto incomodava a “parte” que

estava relutando em se desligar. Após mudar de posição na cama, tomar o café preto que

estava desejando e interagir de forma afetuosa com suas parentas pediu para deitar – se

novamente. Afirmou novamente que “uma parte” sua já estava no lugar bonito descrito no

exercício, mas a “outra parte” estava ali no hospital e ela estava sentindo muito mal - estar.

Pontuei para ela não ter medo e entregar – se para o “lugar bonito” e para os Seres de Luz.

D. fechou os olhos, afirmou que iria se entregar e adormeceu. Morreu duas horas e meia

após o término deste atendimento, serena e tranqüila, segundo a Enfermagem.

A sobrinha L. pontuou várias vezes que o trabalho desenvolvido contribuiu, em

muito, para re - significar o sofrimento de D. frente à morte.

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– Morte da Paciente: Resultados Obtidos

A paciente foi a óbito duas horas e meia após o término da aplicação desse

método com a integração das técnicas de Relaxamento Mental, Visualização de Imagens

Mentais com Espiritualidade, no quarto em que se encontrava, na Enfermaria da Oncologia

do CAISM. As Enfermeiras Ednaura Pereira Souza e Silvia Renata Pereira que estavam

responsáveis por este setor no momento em que D. foi a óbito, observaram que a paciente

morreu sem apresentar desespero. Pareceu – lhes que a paciente estava serena ao desligar –

se desta vida e morreu tranqüila. Ambas pontuaram, em comunicação pessoal, que isto é

raríssimo. Afirmaram que não podem dizer que foi bonito, porque a paciente estava

morrendo, mas podem falar que foi bom acompanhar um desligamento sereno, sem a

angústia de morte. Finalizaram o relato, nessa comunicação pessoal, afirmando que a

equipe de enfermagem procura oferecer qualidade de vida para as pacientes durante todo o

processo terminal, mas, se a paciente na hora da morte entra em desespero, todos desta

equipe sofrem e sentem que seus esforços de ajuda foram em vão. O fato de D. ter ido a

óbito de forma serena foi gratificante para todos da equipe, pois sentiram que o trabalho

que desenvolveram, visando proporcionar bem - estar à paciente durante todo o período de

internação, não foi destruído pela angústia de morte, a qual havia sido trabalhada pelo

método neste estudo descrito.

A Enfermeira Ednaura Pereira de Souza, responsável pelo Serviço de

Enfermagem no Setor de Cuidados Paliativos do CAISM, acrescentou que a paciente, alem

de estar consciente do seu estado terminal, estava realmente preparada para morrer porque

não apresentou o freqüente medo da morte. Ednaura pontuou que D., momentos antes de

sua morte, verbalizou, com muita tranqüilidade e serenidade para ela e para as duas

médicas que a acompanhavam, que estava “indo”, que estava partindo deste mundo, e, em

seguida, foi a óbito da forma acima descrita, tranqüila e serena. Ednaura pontuou que todo

o trabalho de preparação frente à morte e o morrer desta paciente foi realizado por esta

pesquisadora, pelo método descrito neste estudo e que o resultado foi muito bom.

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- Sonhos dos Familiares após o Óbito da Paciente

Não houve sonhos dos familiares com a paciente após o óbito desta, até a data

em que mantive comunicação com sua sobrinha L.

Houve uma experiência extra - sensorial desta psicóloga -pesquisadora em

relação à morte da paciente. Conforme descrevi, ao relatar o caso, estava almoçando em

minha casa duas horas e meia após o término do último atendimento e, repentinamente,

embora estivesse dentro de uma sala fechada, senti uma ‘brisa’ e uma sensação de ternura,

de despedida, me envolver. No mesmo instante lembrei – me que os pacientes que

vivenciaram uma E.Q.M. relataram que conseguiram transportar – se, na rapidez do

pensamento, até às pessoas, as quais desejavam se despedir.

Imediatamente, conforme citei acima, olhei no relógio, pensando que D. tinha

ido a óbito e estava se despedindo de mim. Parei de almoçar, fechei os olhos e me despedi

mentalmente dela. Procurei transmitir – lhe um sentimento afetuoso e agradeci pela

oportunidade de ter podido ajudá – la. Terminei de almoçar e liguei na Enfermaria da

Oncologia do CAISM / UNICAMP, confirmando minha percepção. A paciente havia ido a

óbito as 13:55 h.

L., sobrinha da paciente, que havia se ausentado do Hospital, comunicou – me

que, entre as 13:00h e as 14:00h, também sentiu uma sensação de paz e a despedida de sua

tia D..

– Sessões de Orientação Familiar: Resultados Obtidos

Houve apenas uma sessão de Orientação Familiar com a sobrinha L. duas horas

antes do óbito da paciente e o parecer desta sobrinha, sobre o trabalho desenvolvido, por

“e-mail”. L. mora em outra cidade e após o óbito da tia afirmou estar impossibilitada de

viajar para Campinas para esse atendimento. Também não foi possível realizar Sessão de

Orientação Familiar com a irmã da paciente, C. pela deficiência auditiva desta última.

As observações colhidas na Sessão de Orientação Familiar e no “e – mail”

enviado por L. foram as seguintes:

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L. afirmou que esta forma de abordagem é, na sua opinião, muito bonita,

benéfica e ajudou muito sua tia D. nos momentos finais.

L. também afirmou sentir – se reconfortada por sua tia D. ter recebido esta

qualidade de atendimento e ter se desligado desta vida de forma serena.

L. pontuou que considerou, tanto o método desenvolvido neste estudo, como a

postura técnica desta psicóloga - pesquisadora, excelentes, porque implicam na integração

de aspectos humanos ao tratamento médico convencional. Frisou, várias vezes, que espera

que essas condutas humanas sejam divulgadas e aceitas pela comunidade científica e que

muitos outros doentes possam vir a usufruir deste “diálogo final”.

L. assinalou que é espiritualista e, ela mesma, conseguiu visualizar o lugar

orientado no atendimento e sentir com bastante firmeza o desligamento da matéria de uma

forma positiva e tranqüila.

– Dor Simbólica da Morte: re – significação

A intervenção psicoterapêutica proposta neste estudo “Relaxamento Mental,

Visualização de Imagens Mentais e Espiritualidade” favoreceu a re - significação da Dor

Simbólica da Morte desta paciente porque D. desligou – se desta vida de forma serena e em

paz.

É possível alcançar – se Qualidade de Vida no processo de morrer e morte

digna com um desligamento sereno desta vida, aplicando - se este método Relaxamento

Mental, Visualização de Imagens Mentais e Espiritualidade, apenas no período final da fase

Fora de Possibilidade de Cura até o óbito.

Frente às condições clínicas da paciente, que não permitiam que ela falasse por

tempo prolongado, não foi possível colher – se, na íntegra, os dados propostos no Anexo 1

(Anamnese). Esta dificuldade foi parcialmente compensada por informações colhidas no

prontuário da paciente e com a sobrinha L. Os aspectos que não foram pesquisados

(histórico detalhado sobre o diagrama familiar , escolaridade / profissão e visão da paciente

sobre sua doença) não dificultaram o desenvolvimento desse método, visto a Dor Espiritual

ter se mostrado, frente à iminência da morte, o principal fator para a re - significação da

Dor Simbólica da Morte.

Constatamos, também através desta paciente, que no período final da fase Fora

de Possibilidade de Cura, próximo ao óbito, em relação a Dor Simbólica da Morte, a Dor

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Espiritual é prevalente à Dor Psíquica. Logo no início da primeira sessão, na véspera da

morte da paciente, esta sinalizou o Medo da Morte e do Pós – Morte que sentia.

Observamos que embora esta paciente tivesse sofrido Dor Psíquica importante ao longo de

sua vida, com muitas perdas significativas, a Dor Espiritual mostrou – se dominante neste

período final da fase Fora de Possibilidade de Cura, evidenciando, mais uma vez, que frente

à morte iminente a Dor Psíquica é secundária em relação à Dor Espiritual.

A informação sobre as pesquisas com pacientes que vivenciaram uma

Experiência de Quase Morte, foi aspecto muito importante para a re - significação da Dor

Simbólica da Morte da paciente.

Como esta paciente morreu na Enfermaria do CAISM / UNICAMP, foi

possível constatar, através do relato das Enfermeiras responsáveis pelo setor no momento

do óbito, que D. não entrou em desespero na iminência da morte mas morreu serena,

tranqüila, sem medo, consciente e preparada para desligar – se desta vida.

9.2. Discussão comparando – se as cinco pacientes desta pesquisa com as

quatro crianças e três adolescentes do projeto – piloto

Comparando os acompanhamentos que fizemos, no Projeto – Piloto, aos

adolescentes e às crianças durante o processo de morrer, e os acompanhamentos que

fizemos, neste estudo de Mestrado, com adultas, observamos que os adolescentes e adultos

frente a Dor Simbólica da Morte apresentaram tanto a Dor Psíquica como a Dor Espiritual,

mas as crianças apresentaram apenas a Dor Psíquica representada pelo Humor Depressivo

vinculado a Angústia de Separação.

Atribuímos ao fato das crianças não apresentarem a Dor Espiritual, o estágio

cognitivo em que se encontram. ELKIND (1975), baseado nos estudos de Piaget, afirma

que dos 02 aos 07 anos as crianças se encontram no estágio do pensamento pré –

operacional e dos sete aos onze anos, no estágio do pensamento operacional concreto, o que

significa que crianças ainda não desenvolveram a capacidade de pensar de forma abstrata,

necessária para o sentimento de medo da morte e do pós – morte e para o desenvolvimento

de idéias e concepções em relação à espiritualidade, para elaboração de pensamentos sobre

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o sentido da vida e da morte e sobre o sentimento de culpa perante Deus.

Pontuamos que, embora as crianças não apresentem a Dor Espiritual, o

aspecto espiritualidade continua sendo um dos componentes do método aplicado, visto

que se orienta a criança, por exemplo, através de histórias infantis, a imaginar mundos

belos, por onde se chega através de um caminho dourado de sol, pressupondo – se que seu

espírito irá para um mundo espiritual que acreditamos existir.

Constatamos que a intervenção psicoterapêutica Relaxamento Mental,

Visualização de Imagens Mentais e Espiritualidade favorece a re - significação da Dor

Simbólica da Morte e proporciona Qualidade de Vida no processo de morrer e morte serena

para crianças, adolescentes e adultos.

9.3. Discussão sobre a re – significação da dor simbólica da morte através

da integração das técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de Imagens

Mentais com o conceito de Espiritualidade.

SAUNDERS (1991) e KÜBLER – ROSS (1996a, 1996b, 1998) modificaram o

enfoque do tratamento oferecido aos pacientes em estágio terminal, geraram uma nova área

de abordagem clínica intitulada ‘Cuidados Paliativos’ e foram, desta forma, responsáveis

pela alteração do “não há nada mais a fazer” pelo paciente fora de Possibilidade de Cura

pelo “há muito que fazer” por esses pacientes, quando desfocamos nossa atenção do ‘curar’

para o ‘cuidar’. Através da integração das técnicas de Relaxamento Mental e Visualização

de Imagens Mentais com o conceito de Espiritualidade encontramos um método para

operacionalizar este ‘cuidar’ proposto por SAUNDERS (1991) e KÜBLER – ROSS

(1996a, 1996b, 1998).

Observamos que a inter - relação mente / corpo é fato comprovado pelos mais

diversos cientistas e que as técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de Imagens

Mentais são instrumentos poderosos e importantes para influir nesta inter - relação e

promover cura ou Qualidade de Vida para pacientes portadores de enfermidades orgânicas.

(ACHTERBERG, 1996; CARVALHO, 1994a, 1994b; CAUDILL, 1998; EPSTEIN, 1990;

LANG, 2000; MAYOL, 1992; MONTAGU, 1988; ROSEN, 1994; SIEGEL, 1989;

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254

SIMOTON, SIMOTON, CREIGHTON, 1987; TUCKER, 1999;).

Nesta pesquisa nos coube acrescentar às técnicas de Relaxamento Mental e

Visualização de Imagens Mentais, o conceito de Espiritualidade, estruturado a partir de

pesquisas que descrevem os relatos de pacientes que passaram por uma Experiência de

Quase Morte (E.Q.M.) e voltaram a viver normalmente, e observar que a integração deste

conceito de Espiritualidade às técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de Imagens

Mentais foi aspecto importante para a re - significação da Dor Simbólica da Morte de

pacientes fora de Possibilidade de Cura.

As Experiências de Quase de Morte (E.Q.M.) nos mostraram que a morte é um

momento de transição entre a vida física e a vida espiritual.

KÜBLER ROSS (1998) depois de trabalhar por trinta anos com pacientes

terminais e entrevistar milhares de pessoas que estiveram no estado de pré - morte e

voltaram a viver, concluiu que não há porque ter medo da morte. A experiência de morrer

pode ser a mais deslumbrante de toda a vida: depende de como a pessoa viveu. Afirma que

a morte é apenas uma transição da vida para outra existência e que, para se viver

dignamente o processo de morrer, deve - se viver verdadeiramente até a hora da morte.

Viver verdadeiramente, segundo essa médica psiquiatra, é fazer o que se gosta de fazer e

aprender a mais difícil das lições: o amor incondicional.

Segundo a nomenclatura definida por MILLER (1997) o pós – morte está

classificado em quatro etapas: ‘Lugar de Espera’, ‘Julgamento’, ‘Reino das Possibilidades’

e ‘Retorno ou Renascimento’. A proposta desse estudo, criar o cenário de um mundo

imaginário espiritual belo e reconfortante, está muito próxima da etapa descrita por

MILLER (1997) como ‘Lugar de Espera’, onde tanto para os mortos quanto para os vivos,

a realidade da mudança começa a aprofundar – se. Através do método Relaxamento

Mental, Visualização de Imagens Mentais e Espiritualidade os pacientes puderam, ainda em

vida, conscientizar – se de sua transformação de ser físico em ser espiritual, de forma

serena e digna.

Segundo MILLER (1997) os Tibetanos acreditam que os resultados alcançados,

na etapa do ‘Julgamento’, são influenciados por três fatores: maneira como o indivíduo

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viveu, forma como enfrentou as quarenta e nove provas do pós – morte (estado de Bardo) e

estado mental em que se encontrava na hora da morte. Esse estudo se propôs a re –

significar a Dor Simbólica da Morte através das técnicas de Relaxamento Mental,

Visualização de Imagens Mentais e Espiritualidade, o que favoreceu uma melhora no

estado mental das pacientes. Pudemos constatar que a re – significação da Dor Psíquica e

da Dor Espiritual, ou somente desta última, permitiu às pacientes uma boa Qualidade de

Vida no processo de morrer e uma morte serena e digna, o que, de acordo com a crença

Tibetana, é aspecto favorável para a vivência da etapa ‘Julgamento’ no pós - morte.

Na Pesquisa Qualitativa o pesquisador não fica a margem do estudo

(TRIVIÑOS, 1987) e por esta razão pontuamos que a postura da psicóloga descrita ao

longo deste estudo é variável relevante nos resultados obtidos com as pacientes que

consentiram em participar do estudo, mas não é variável determinante para que a paciente

aceite submeter – se a esta Intervenção Psicoterapêutica, fato observado através de I.F.R.,

terceira paciente do estudo.

Recomendamos que esta Intervenção Psicoterapêutica “Relaxamento Mental,

Visualização de Imagens Mentais e Espiritualidade” seja aplicada no Período Inicial da

Fase Fora de Possibilidade de Cura, apenas por psicólogos e médicos com formação em

psicoterapia, porque neste período, frente à Dor Simbólica da Morte, a Dor Psíquica está

equiparada à Dor Espiritual.

Consideramos, por outro lado, que no Período Final da Fase Fora de

Possibilidade de Cura esta Intervenção Psicoterapêutica pode ser desenvolvida por outros

profissionais da área da saúde, principalmente enfermeiros e médicos, mesmo que

eventualmente não tenham formação em Psicoterapia porque, neste período, a Dor

Espiritual, representada principalmente pelo medo da morte e do pós – morte é o

sofrimento mais relevante.

No final do século XX, pesquisas, abordando a importância da inclusão da

Espiritualidade nos tratamentos médicos convencionais e dando suporte para a ampliação

da visão de ser humano para biopsicossocial e espiritual, começaram a ser realizadas no

cenário científico da área da saúde. Nosso estudo confirmou os resultados encontrados por

outros pesquisadores, (BRADY et al, 1999; BURTON, 1998; FRYBACK & REINERT,

1999; GIOIELLA, BERKMAN, ROBINSON (1998); KÜBLER – ROSS, 1998; MILLER,

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256

1997; MOOD JR, 1989,1992; MYTKO & KNIGHT, 1999; PUCHALSKI & LARSON,

1998; SAUNDERS, 1991; THOMSEN, 1998;) Espiritualidade é um importante elemento

para re - significar o sofrimento de pacientes portadores de doenças graves e / ou terminais

e, portanto, também oferece suporte para a revisão do modelo de ser humano, de

biopsicossocial, para biopsicossocial e espiritual.

Um importante dado que esta pesquisa nos trouxe foi a observação que, no

período inicial e intermediário da fase considerada Fora de Possibilidade de Cura, a Dor

Psíquica e a Dor Espiritual apresentaram – se equiparadas e no período final e óbito frente à

iminência da morte, a Dor Espiritual mostrou - se prevalente à Dor Psíquica. A

re - significação apenas da Dor Espiritual foi aspecto suficiente para que a paciente pudesse

morrer de forma serena, sem medo e sem desespero, vivenciando desta maneira uma boa

Qualidade de Morte.

‘Crer na vida espiritual pós – morte’ foi a condição para o desenvolvimento do

método proposto, integrando – se as técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de

Imagens Mentais com o conceito de Espiritualidade e a aceitação da paciente foi o limite

para a aplicação deste método.

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257

CAPÍTULO 10: CONCLUSÃO

A intervenção psicoterapêutica proposta neste estudo ‘Relaxamento Mental,

Visualização de Imagens Mentais e Espiritualidade’ favoreceu a re - significação da Dor

Simbólica da Morte das quatro pacientes que aceitaram esta qualidade de atendimento e

proporcionou Qualidade de Vida no processo de morrer e morte serena para todas elas. A

paciente que não aceitou esta qualidade de atendimento apresentou uma péssima Qualidade

de Morte, conforme comunicação da Enfermagem do CAISM – UNICAMP, com muito

sofrimento, desespero, angústia e aflição.

Embora as quatro pacientes, que aceitaram ser atendidas por esta Intervenção

Psicoterapêutica, tenham descrito como sentiam a Dor Simbólica da Morte com seus

próprios termos, de acordo com o método escolhido, Entrevista Semi – Estruturada,

observamos que, em relação à Dor Psíquica, a angústia pela perda da disposição pela vida

e a culpa frente o sofrimento dos familiares foi aspecto comum entre as três adultas não

idosas e em relação à Dor Espiritual, o medo da morte e do pós – morte foi identificado

como o sofrimento mais importante na Dor Simbólica da Morte de todas elas.

Observamos que é possível obter - se bons resultados, frente aos objetivos

propostos, aplicando - se este método, Relaxamento Mental, Visualização de Imagens

Mentais e Espiritualidade, nos seguintes períodos da fase Fora de Possibilidade de Cura: a)

Período Inicial, em paciente que não apresentou histórico de vida permeado de sofrimento

psíquico e espiritual importante; b) Do Período Inicial até o Período Final e Óbito, em

paciente que apresentou histórico de vida permeado de sofrimento psíquico e espiritual

importante; c) No Período Final até o Óbito, tanto em paciente que não apresentou

histórico de vida permeado de sofrimento psíquico e espiritual importante como em

paciente que apresentou histórico de vida permeado de sofrimento psíquico e espiritual

importante.

Frente às fases propostas por KÜBLER – ROSS (1996a), (negação, raiva,

barganha, depressão, e aceitação), a primeira e a quinta paciente encontravam – se

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258

predominantemente na fase da depressão, a terceira encontrava - se predominantemente na

fase negação, e a segunda e a quarta oscilavam entre raiva, barganha e depressão.

Observamos que o método proposto favoreceu a entrada na fase aceitação das quatro

pacientes que concordaram em ser atendidas pelo método proposto neste estudo.

As informações sobre as pesquisas com pacientes que vivenciaram uma

Experiência de Quase Morte, a partir das quais construímos o conceito de Espiritualidade

foi aspecto muito importante para a re - significação da Dor Simbólica da Morte das

quatro pacientes que consentiram em participar deste estudo e para a aceitação, dos

familiares, da morte iminente da parenta.

De forma geral, as sessões de Orientação Familiar contribuíram para a re -

significação da Dor Simbólica da Morte da paciente e favoreceram um melhor

enfrentamento dos parentes, frente à morte iminente da mesma.

No período final da Fase Fora de Possibilidade de Cura até o óbito, a Dor

Espiritual é prevalente à Dor Psíquica, principalmente no que se refere ao medo da

morte e do pós – morte.

Frente a esta observação fechamos nossa pesquisa com uma nova pergunta. A

Dor Espiritual, principalmente relacionada ao medo da morte e do pós - morte, estaria

também presente nas muitas mortes e pós – mortes que sofremos na vida, desde que

nascemos? Se presente ao longo da vida, qual o seu grau de prevalência e relevância no

sofrimento humano? Qual o método para sua re - significação?

Não temos, ainda, enquanto acadêmicos, respostas para estas perguntas, e, por

esta razão, acreditamos que a integração entre Espiritualidade e Ciência está ainda nos

primórdios de seu desenvolvimento. Entretanto, considerando – se os resultados de nossa

pesquisa, afirmamos que é um processo que deve ser estudado, com "prudentia", "justitia",

"moderatio", "virtus", "sapientia" e disciplina os quais, segundo JUNG (1986), são as

manifestações da imagem divina no homem.

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259

SUMMARY

This qualitative research, based in the biopsychossocial and spiritual conception

of human being, studied if the specific Terminal Patient’ s Psychotherapy, composed by the

integration of the techniques of Mental Relaxation and Mental Images with the conception

of Spirituality, re – signify or not the Death Symbolic Pain, with is represented by the

Psychic Pain and Spiritual Pain.

Took part in this study, five women with cancer, without cure’s possibility.

The method used in this research was Case’ s Study Clinical Longitudinal.

The results indicated that in the beginning of the stage without cure’ s

possibility the Psychic Pain and the Spiritual Pain are in the same level and in the finale of

this stage, before the imminent death, the Spiritual Pain is more important of the Psychic

Pain and is enough its re – significance to a good death.

We concluded that the patients acquired Quality of Life in the dying process

and a good death with dignity and serenity through this specific kind of Terminal Patient’ s

Psychotherapy: Mental Relaxation, Mental Images and Spirituality.

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269

ANEXOS

ANEXO 1

ROTEIRO DE ANAMNESE DA PACIENTE

A.Diagrama Familiar:

A.1. Família de Origem

A.2. Família Atual

B. Escolaridade / Profissão

C. Religião

D. Doença – (Visão do Paciente)

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ANEXO 2

ROTEIRO DE ENTREVISTA

SEMI – ESTRUTURADA COM A PACIENTE

- Dor Psíquica

Tema: Medo do sofrimento e humor depressivo (tristezas, angústias e culpas

frente às perdas).

- Dor Espiritual

Tema: Idéias e concepções em relação à espiritualidade, medo da morte e do

pós – morte, sentido da vida e da morte e culpas perante Deus.

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ANEXO 3

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI – ESTRUTURADA COM O

FAMILIAR CUIDADOR DA PACIENTE

- Dor Psíquica da Paciente na Visão do Cuidador;

Tema: Medo do sofrimento e humor depressivo (tristezas, angústias e culpas frente às

perdas).

- Dor Espiritual da Paciente na Visão do Cuidador

Tema: Idéias e concepções em relação à espiritualidade, medo da morte e do pós – morte,

sentido da vida e da morte e culpas perante Deus.

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ANEXO 4

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI – ESTRUTURADA COM O CUIDADOR APÓS

O ÓBITO DA PACIENTE

- Re - significação da Dor Psíquica da Paciente na Visão do Cuidador

Tema: Medo do sofrimento e humor depressivo (tristezas, angústias e culpas

frente às perdas).

Pesquisar se houve ou não, na visão do cuidador, melhora da paciente, em

relação aos referidos aspectos, através da intervenção psicoterapêutica com Relaxamento

Mental, Visualização de Imagens Mentais e Espiritualidade, durante o processo de morrer.

- Re - significação da Dor Espiritual da Paciente na Visão do Cuidador

Tema: Idéias e concepções em relação à espiritualidade, medo da morte e do

pós – morte, sentido da vida e da morte e culpas perante Deus.

Pesquisar se houve ou não, na visão do cuidador, uma re - significação da

paciente quanto a estes aspectos, através da intervenção psicoterapêutica com Relaxamento

Mental, Visualização de Imagens Mentais e Espiritualidade, durante o processo de morrer.

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ANEXO 5

TERMO DE CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO PÓS - INFORMAÇÃO

Eu, Paciente da Divisão de Oncologia do CAISM / UNICAMP, -

______________________________________RG_________________SSP/_________e

eu, Cuidador (a) dessa paciente,__________________________________

RG_________________SSP/_________,declaramos consentir em participar da pesquisa

científica intitulada “Relaxamento Mental, Visualização de Imagens Mentais e

Espiritualidade” uma Pesquisa sobre Intervenção Psicoterapêutica em Estudo de Caso

Clínico Longitudinal, de autoria da Psicóloga, Mestranda em Ciências Médicas, área Saúde

Mental, Ana Catarina de Araújo Elias e sob orientação do Prof. Dr. Joel Giglio, ambos da

Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP.

Declaramos também ter conhecimento dos aspectos éticos considerados:

- Informação sobre os Resultados Específicos e Gerais que foram

alcançados com os outros pacientes, e que constam como Estudo - Piloto dessa pesquisa.

- Respeito ao Credo Religioso e / ou Religião da paciente e de seus

familiares.

- Ciência sobre a possibilidade da Paciente sair do estudo e interromper

as sessões psicoterapêuticas em qualquer tempo que queira, se não identificar – se com as

técnicas propostas.

- Informação que este estudo tem, entre seus pressupostos, a crença na

existência da vida espiritual, e que ter essa crença é critério para inclusão nessa pesquisa.

Os Resultados da melhora na Qualidade de Vida das pacientes através da

intervenção psicoterapêutica, utilizando – se as técnicas de Relaxamento Mental e

Visualização de Imagens Mentais integradas ao conceito de Espiritualidade, serão

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publicados, mantendo – se em sigilo o nome e a identidade das pacientes e de seus

familiares.

Assinatura da Paciente:

________________________________________________________________

Assinatura do (a) Cuidador (a):

________________________________________________________________

Assinatura da Psicóloga / Pesquisadora:

Data: _______/______/______

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ANEXO 6

Declaração para Comitê de Ética da F.C.M. UNICAMP

Eu, Ana Catarina de Araújo Elias, aluna da Pós Graduação em Ciências

Médicas, área de Saúde Mental, da F.C.M. UNICAMP, e meu orientador, Prof. Dr. Joel

Giglio, nos comprometemos a cumprir os termos da Resolução 196, de 10 / 10 / 1997, do

Conselho Nacional de Saúde (Inf. Epidem. do SUS – Brasil, Ano V, no 2, 1996), na

presente pesquisa intitulada “Relaxamento Mental, Imagens Mentais e Espiritualidade na re

– significação da Dor Simbólica da Morte”.

Ana Catarina de Araújo Elias

Prof. Dr. Joel Giglio

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ANEXO 7

IMAGENS DE 1 A 40

Imagem 01

Imagem 02

Imagem 03

Imagem 04

Imagem 05

Imagem 06

Imagem 07

Imagem 08

Imagem 09

Imagem 10

Imagem 11

Imagem 12

Imagem 13

Imagem 14

Imagem 15

Imagem 16

Imagem 17

Imagem 18

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Imagem 19

Imagem 20

Imagem 21

Imagem 22

Imagem 23

Imagem 24

Imagem 25

Imagem 26

Imagem 27

Imagem 28

Imagem 29

Imagem 30

Imagem 31

Imagem 32

Imagem 33

Imagem 34

Imagem 35

Imagem 36

Imagem 37

Imagem 38

Imagem 39

Imagem 40

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