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RELIGIÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS NA PERIFERIA: Estudo das contribuições religiosas para a gestão do meio urbano SCARPIONI, MARCOS Universidade Metodista de São Paulo – Pós-Graduação em Ciências da Religião Email: [email protected] RESUMO A cidade é considerada um dos maiores constructo humano visando atender as demandas individuais e coletivas, e o fator preponderante de coesão social das sociedades nas cidades é a Religião. Esses espaços artificiais, sobrepostos e dependentes do meio natural, devem cumprir funções sociais. Daí a importância de atentar para periferia urbana, seus problemas socioambientais e maior presença de evangélicos nesses espaços, visando à gestão democrática, com participação dos vários atores sociais no desenvolvimento social, econômico, ambiental e para tanto precisamos atentar para os instrumentos (político-jurídico): Estatuto da Cidade, Lei Orgânica Municipal e Plano Diretor. A pesquisa tem foco à participação ou não dos sujeitos religiosos (evangélicos) em políticas públicas em Rio Grande da Serra – SP e como pergunta principal – qual o grau de envolvimento desses atores quanto às questões socioambientais? Certamente compreender tais interações, contribui no planejamento urbano, exercício da cidadania, conservação ambiental e justiça social. Como metodologia, consultaremos projetos na câmara municipal no período 2009-2012, e propostas em campanhas políticas em rede midiáticas na última eleição. Serviremo-nos de observações empíricas realizadas nos bairros (in locus) para a verificação dos reais benefícios tragos pelas políticas públicas propostas e efetivadas à coletividade. Palavras-Chave: Religião. Gestão. Políticas Públicas. Meio Ambiente. II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013.

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RELIGIÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS NA PERIFERIA:Estudo das contribuições religiosas para a gestão do meio urbano

SCARPIONI, MARCOS

Universidade Metodista de São Paulo – Pós-Graduação em Ciências da Religião

Email: [email protected]

RESUMO

A cidade é considerada um dos maiores constructo humano visando atender as demandas individuais

e coletivas, e o fator preponderante de coesão social das sociedades nas cidades é a Religião. Esses

espaços artificiais, sobrepostos e dependentes do meio natural, devem cumprir funções sociais. Daí a

importância de atentar para periferia urbana, seus problemas socioambientais e maior presença de

evangélicos nesses espaços, visando à gestão democrática, com participação dos vários atores

sociais no desenvolvimento social, econômico, ambiental e para tanto precisamos atentar para os

instrumentos (político-jurídico): Estatuto da Cidade, Lei Orgânica Municipal e Plano Diretor. A

pesquisa tem foco à participação ou não dos sujeitos religiosos (evangélicos) em políticas públicas

em Rio Grande da Serra – SP e como pergunta principal – qual o grau de envolvimento desses atores

quanto às questões socioambientais? Certamente compreender tais interações, contribui no

planejamento urbano, exercício da cidadania, conservação ambiental e justiça social. Como

metodologia, consultaremos projetos na câmara municipal no período 2009-2012, e propostas em

campanhas políticas em rede midiáticas na última eleição. Serviremo-nos de observações empíricas

realizadas nos bairros (in locus) para a verificação dos reais benefícios tragos pelas políticas públicas

propostas e efetivadas à coletividade.

Palavras-Chave: Religião. Gestão. Políticas Públicas. Meio Ambiente.

II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e HumanidadesBelo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013.

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1. INTRODUÇÃO

A presente pesquisa visa compreender como os sujeitos religiosos (evangélicos), se

comportam, posicionam-se frente às questões ambientais, e qual o grau de envolvimento

desses referentes às políticas públicas direcionadas à melhoria da qualidade de vida dos

indivíduos sem comprometimento da qualidade ambiental local, uma vez que a cidade de

Rio Grande da Serra na região do Grande ABC Paulista é caracterizada como periferia

urbana da Região Metropolitana de São Paulo, todavia, inserida no Bioma da Mata

Atlântica. Para isso, partiremos de alguns pressupostos contemporâneos.

É fato, na contemporaneidade, as pessoas passam cada vez mais a viverem em

ecossistemas urbanos migrando dos espaços rurais. Por todo o país, é crescente o número

de pessoas aglomeradas em cidades (DIAS, 2000).

Entretanto, as cidades não atendem imediatamente as demandas sociais dos

indivíduos que nela já se encontram, e ainda menos as expectativas de muitos migrantes, o

que de certa forma contribuem ainda mais para a segregação de pessoas em espaços

precários pela ausência de políticas públicas e com muitas necessidades socioambientais

emergindo assim as periferias urbanas. Intrinsecamente a esse metamorfismo social, estão

os sujeitos religiosos, católicos, evangélicos, espíritas, e até mesmo os que se declaram

sem religião.

Curiosamente, os evangélicos fixam mais nessas áreas periféricas, pois “as igrejas

pentecostais [...] estão mais presentes quanto pior é a condição social e econômica do

lugar” (RIVERA, 2012, p. 24), além do que às igrejas pentecostais integram conforme

Fajardo (2012, p. 187) o “grupo religioso que mais cresceu no Brasil nas últimas décadas”,

paralelamente ao processo de urbanização e industrialização.

Dessa maneira, a religião, políticas públicas e o meio ambiente podem estar

correlacionados e mais, estudar as questões ambientais apartir dessa visão sistêmica,

integrando outras áreas do conhecimento, certamente contribui na abordagem e resolução

impactos ambientais, já que “nos últimos tempos a relação entre a ética, a religião e os

problemas ambientais tem interessado de forma crescente ao público em geral, acadêmico

e leigo” (LEIS, 1998, p.97). Portanto, o exposto leva-nos a questionar: a) A presença dos

sujeitos religiosos nesses espaços periféricos contribui para a melhoria da qualidade de vida

dessas comunidades? b) Em que medida os sujeitos religiosos estão comprometidos com

as questões ambientais? c) E qual sua participam em políticas públicas?

Inicialmente conceituaremos ecossistema urbano no âmbito social, econômico e

ambiental. Em sequência abordaremos alguns aspectos da legislação ambiental vigente e

por fim as políticas públicas, bem como a participação ou não dos sujeitos religiosos nestas.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. Cidades e Periferias Urbanas - “ecossistemas” artificiais sem limites?

As cidades são construções humanas, assim como “a sociedade é produto do

homem [...] e o homem é produto da sociedade” (BERGER, 1985, p. 15). É nas cidades que

as sociedades da alta modernidade encontram suporte para o desenvolvimento social,

econômico, político, cultural, científico, tecnológico, ambiental.

Podemos também usar outras conceituações sobre cidade como “ambientes

artificiais construídos”, “ambiente urbano”, “sistemas urbanos”, pelos quais os seres

humanos produzem “o seu maior impacto sobre a natureza” (DIAS, 2000, p. 228), uma vez

que alteram demasiadamente o espaço natural onde são erigidas, por importarem,

utilizarem, consumirem os recursos naturais para a sustentação e manutenção da estrutura

socioeconômica, exportando, descartando resíduos dos mais variados tipos para os

compartimentos naturais.

Logo, as cidades estão delimitadas pela sua geografia, política, economia e

ambientes natural e artificial. Entrentanto, para Bernardi (2011, p. 50) essa é caracterizada

por “perímetro urbano no município, podendo abranger todo o território municipal, mas que,

via de regra, é constituída por uma sede municipal”. Já o município possui a integralidade do

perímetro urbano e o rural.

Já as periferias urbanas, são as áreas que podem ser interpretadas como aquelas

que margeam, distantes de áreas centrais, geralmente avançando em direção das áreas

rurais abarcando-as, consolidando assim novos espaços urbanos. Todavia, o conceito de

periferia urbana para Rivera (2012, p. 20) é algo “complexo e relacional”. Para o autor é

“complexo porque sua explicação exige diversos fatores [...] econômicos, sociais e

culturais”. É também “relacional porque a periferia só se explica em oposição ou como

contraparte dos centros urbanos privilegiados”. Para Torres (2004) a periferia pode ser

também definida como “fronteira urbana apresentando estrutura urbana precária, problemas

fundiários, lugar de conflitos ambientais, com ocupação de áreas florestais e de mananciais;

e continua a ser uma “válvula de escape”, o lugar de concentração daqueles que não tem

lugar.”

2.2. A expansão dos fenômenos sociais na contemporaneidade

É fato, na altamodernidade, os indivíduos almejam se fixar na cidade. A Atlas

Nacional do Brasil editado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010) “revela

que o processo de urbanização já alcança 80% da população brasileira”. Tal fato social é

“resultado do avanço do capitalismo industrializado e da modernidade” (RIVERA, 2012,

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p.20), que traz crescimento econômico, criando expectativas nas pessoas relativas ao

desenvolvimento social, político, científico, cultural, etc.

Nesse contexto, se inserem as áreas periféricas em expansão, uma vez que “a partir

dos anos de 1980 as periferias [cresceram] mais do que os núcleos ou municípios centrais

[...] sendo a expressão mais concreta na segregação espacial ou ambiental” (MARICATO,

2003, p.151).

Na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), a conformação de periferias

urbanas foi e continua sendo motivada por políticas públicas que privilegiaram a região

central em detrimento de outras áreas no seu entorno, decorrendo ainda de processos

migratórios, crescimento econômico irregular e carência de desenvolvimento social, fatores

que impulsionam os indivíduos a viverem nessas regiões periféricas, em áreas que ladeiam

os municípios com pouquíssima infraestrutura urbana “principalmente aquelas relacionadas

às necessidades elementares da população”, (SCARLATO, PONTIN, 1999, p.17).

Por isso a necessidade de materialização da legislação ambiental, que segundo

Bernardi (2011, p. 294) a cidade precisa atender as Funções Sociais1 objetivando o bem

estar dos seus habitantes aliado à proteção e sustentabilidade ambiental conforme

recomenda o Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.257/2001) apud (CARVALHO;

ROSSBACH, 2006), artigo 225 da Constituição Federal de 1988 entre outros.

3. METODOLOGIA

a) Levantamento bibliográfico; foram realizadas consultas de teses, dissertações,

trabalhos de conclusão de curso, artigos científicos, livros, revistas, jornais, CD-

Roms, DVDs, Internet relativos às intervenções ou propostas para a melhoria da

qualidade ambiental nos bairros na cidade, tendo como fonte primária dessas

informações a Biblioteca Municipal de Rio Grande da Serra.

b) Visitas na Câmara Municipal para levantamento de propostas, projetos discutidos;

podendo estes ser (aprovados ou não) para a melhoria da qualidade ambiental na

Câmara Municipal de Rio Grande da Serra no período de 2009-2012.

c) Levantamento de propostas relativas às questões ambientais no processo de

campanha eleitoral de 2012.

d) Visitas nos bairros; (in locus) que tiveram as intervenções mais signicativas na

gestão 2009-2012, recebendo assim melhorias socioambientais.

1 Funções Urbanísticas, de Cidadania e de Gestão Como funções urbanísticas estão compreendidas: a Habitação, Trabalho, Lazer e Mobilidade; as funções de cidadania são a Educação, Saúde, Segurança e Proteção; e as funções de Gestão, são aquelas sobre prestação de serviços, planejamento, preservação do patrimônio cultural e natural, e a sustentabilidade urbana.

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e) Registro de intervenções e possíveis melhorias socioambientais (obras de

infraestrutura e saneamento do meio).

f) Entrevista informal com os vereadores evangélicos eleitos na gestão de 2013-2016,

para registrar as propostas relacionadas às questões ambientais.

4. RIO GRANDE DA SERRA – “UMA CIDADE VERDE INSERTA NUMA REGIÃO DE METRÓPOLE”

4.1.Caracterização da Cidade de Rio Grande da Serra

A Cidade de Rio Grande da Serra inserida na região2 do Grande ABC Paulista – SP,

possui um grande capital natural a ser conservado e até preservado em algumas porções, já

que está inserido em “Área de Proteção e Recuperação de Mananciais (APRM), [protegida]

pela Lei Estadual 9866/1997” (SERRANO, 2007, p. 19).

Tem “topografia bastante irregular e acidentada em função da proximidade com a

Serra do Mar, com altitude [variando] de 748 metros [...] a 978 metros” (CÂMARA, 2012). A

vegetação é heterogênea, característica da Mata Atlântica composta por florestas úmidas

tropicais e capoeira em sua grande concentração, que segundo a Atlas3 dos

Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, comporta um “remanescente de 1.414 ha no

período de 2008-2010, tendo todo o seu território de aproximadamente 37 Km2 inserido na

Lei Federal de nº 11.428/2006” (SOS Mata Atlântica, 2011, p.120).

Possui um clima do tipo subtropical, com temperaturas que podem variar entre 14º à

22º graus, porém a média anual é de 18º graus (FÉLIX, 2013, p. 14). Esse clima se em

virtude evapotranspiração caracterizada pelas florestas e corpos hídricos que se espalham

por quase todos os bairros da cidade, além da própria proximidade com a Serra do Mar.

A cidade está encerrada pelos municípios limítrofes de Ribeirão Pires - norte/oeste,

Suzano - leste e Santo André - sul/sudeste (CÂMARA, 2012), compondo juntamente com

esse um grande aglomerado urbano que com o processos de emancipação vão sendo

desvinculados um por um, todavia a cidade de Rio Grande da Serra permanece atrelada ao

município de Ribeirão Pires até 1963. A cidade se emancipada em 1964, e no final dessa

década o município experimenta um acentuado processo de ocupação, urbanização e

consequentemente os impactos sócio-ambientais que devem ser discutidos em nossa

contemporaneidade.

2 A região do Grande ABC é composta por sete cidades: Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.3 A Atlas foi elaborada através dos estudos realizados pela SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o que trouxe aperfeiçoamentos quanto às observações por meio de tecnologia integrada, permitindo maior precisão e exposição dos dados avaliados e disponibilizados.

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Figura 1. Vista Panorâmica do Município de Rio Grande da Serra

Fonte: Googlemaps. 2013.

No último Censo, existia uma população de aproximadamente 44.000 habitantes

(IBGE, 2010), mas seguramente já ultrapassa os 45.000 habitantes, conforme a estimativa

do próprio IBGE para ano de 2012.

Nesse contexto populacional, nota-se um número expressivo de evangélico. Estes

perfazem um total de 40,85%, já que se declaram como evangélicos. Assim estão

distribuídos em “Pentecostais e de Missão” que perfazem 34,26%, “Mórmons e

Testemunhas de Jeová” em 2,43% e as evangélicas “não determinadas” em 4,16%, de

acordo com os dados do (IBGE, 2010). Curiosamente, os pentecostais estão mais presentes

na parte mais periférica nessa região, fato sustentado pelas pesquisas Fajardo (2012),

Rivera (2012).

Rio Grande da Serra é considerada como uma “cidade dormitório”, com a economia

cunhada no comércio já que existe um número pouco expressivo de empresas e/ou

indústrias. Atualmente podemos citar indústrias que empregam um número significativo de

trabalhadores e geram receita para a cidade, como exemplos: DURA - indústria metalúrgica

e Massa Leve – indústria alimentícia.

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4.2. O Poder Legislativo constituído na Gestão de 2009-2012 e na Gestão Vigente

Constituindo o Poder Legislativo na Câmara Municipal no período de 2009-2012,

tínhamos um total de oito vereadores e uma vereadora, nenhum destes é evangélico, pois

quando procurados e perguntados a cada um, qual sua pertença religiosa, todos se

declaram católicos!

Na atualidade, a banca evangélica está composta por três vereadores, dentre eles:

Israel Mendonça da Cunha, Merisvaldo Lima Santos e Silvio Meneses. Cabe ressaltar que

Merisvaldo é vereador suplente, que assumiu interinamente o cargo do vereador Agnaldo

Trazibulo Miranda de Almeida licenciado por problemas de saúde.

Dessa forma, é possível verificar uma baixa expressividade e representatividade por

parte dos vereadores evangélicos na Câmara Municipal. Por outro lado, esses vereadores

constituem a base governista, o que contribui para análise de propostas, projetos e leis, bem

como maior celeridade no processo elaboração de leis, o que não garante uma efetiva

participação e representação evangélica na administração pública da cidade.

4.3. As propostas, projetos ou leis discutidas na Câmara Municipal difundidas nas redes midiáticas na gestão de 2009-2012

Ao visitarmos a Câmara Municipal de Rio Grande da Serra para a consulta de

projetos e leis discutidas, fomos orientados pela Diretoria da Câmara a consultar tais

informações no Portal de Informações da Câmara Municipal Online; “lá é possível visualizar

as propostas, projetos que viraram leis e estão disponíveis para qualquer pessoa que queira

consultar”.

Dessa maneira, ao consultarmos o portal, foi possível observar o volume de leis

discutidas, votadas e aprovadas nessa gestão. Todavia só foi possível consultar as

informações no período de 2009-2011, já que somente estas estão disponibilizadas.

Contabilizamos as leis aprovadas na Câmara, no ano de 2009, um total de 83 leis; no ano

de 2010, um total de 51 leis; no ano de 2011, 08 leis.

Já no ano de 2012, contabilizamos somente 06 leis aprovadas na Câmara conforme

as publicações no jornal A Folha que circulação na região, pois de acordo com o princípio da

publicidade que rege administração pública, “todas as leis aprovadas devem se tornar

públicas” (BERNARDI, 2011, p.221). É importante ressaltar que o Portal de Informações da

Câmara Municipal está desatualizado.

Ao analizar todas essas leis identificadas, registradas, pouquíssimas estão

diretamente relacionadas a tratar das questões ambientais especificamente o ambiente

natural. Direcionada a essa ao Meio Ambiente podemos citar a Lei 1769/2009 que cria o

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Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (COMDEMA) e do Fundo Municipal do

Meio Ambiente (FMMA), e o Decreto 1954/2010 que cria o Conselho Municipal de Turismo

(COMTUR). Quanto às demais leis aprovadas que podemos lincar com as questões

socioambientais, as de infraestrutura urbana, que estão direcionadas à recuperação de

sistema viário, obras de pavimentação, drenagem de água pluvial, iluminação, poda de

vegetação, priorizando o ambiente artificial, urbano, Portanto, listamos todos os atos oficiais

disponíveis no Portal da Câmara Municipal e no Jornal Folha.

Quadro 1. Projetos que viram Leis na Câmara Municipal de Rio Grande na gestão 2009-2012

ATOS ADMINISTRADOS FINALIDADE

Lei nº 1749 - 16/02/2009

“Dispõe sobre abertura de crédito especial na Secretaria de Obras, Planejamento e Meio Ambiente, destinado à implantação de infraestrutura para recuperação do sistema viário das Ruas Pedro Bracialli, Venâncio Orsini, Prefeito Cido Franco e Estrada Guilherme Pinto Monteiro”.

Lei nº 1750 - 16/02/2009“Dispõe sobre abertura de crédito especial na Secretaria de Obras, Planejamento e Meio Ambiente, destinado a obras de pavimentação das ruas do Jardim Santa Tereza”.

Lei nº 1751 - 16/02/2009

“Dispõe sobre abertura de crédito especial na Secretaria de Obras, Planejamento e Meio Ambiente, destinado a obras de pavimentação nas Ruas José Maria de Figueiredo e Pastor Aquilino Sartori, na Vila Figueiredo”.

Lei nº 1753 - 03/03/2009

“Dispõe sobre abertura de crédito especial na Secretaria de Obras, Planejamento e Meio Ambiente destinado à implantação de infraestrutura para recuperação do sistema viário das Ruas da Vila São João e Vila Tsuzuki”.

Lei nº 1756 - 13/03/2009“Dispõe sobre abertura de crédito especial na Secretaria de Obras, Planejamento e Meio Ambiente destinado à implantação de infraestrutura para recuperação do sistema viário das Ruas do Jardim Novo Horizonte.

Lei nº 1758 - 13/03/2009“Dispõe sobre abertura de crédito adicional especial destinado a Secretaria do Verde e Meio Ambiente.”

Lei nº 1769 - 03/06/2009“Dispõe sobre a criação do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente e do Fundo Municipal do Meio Ambiente e dá outras providências.” (COMDEMA)

Decreto nº 1954 – 14/10/2010 “Dispõe sobre a criação do Conselho Municipal de Turismo”. (COMTUR)

Lei nº 1928 – 13/02/2012

“Dispõe sobre abertura de crédito especial na Secretaria de Obras, Planejamento e Meio Ambiente destinado obras de pavimentação na Rua Agostinho Cardoso e viela entre as Ruas Pedro Braciali e José Maria de Figueiredo”.

Lei nº 1929 – 13/02/2012“Dispõe sobre abertura de crédito especial na Secretaria de Obras, Planejamento e Meio Ambiente destinado obras de pavimentação na viela 36 na Vila Lopes”.

Lei nº 1930 – 13/02/2012“Dispõe sobre abertura de crédito especial na Secretaria de Obras, Planejamento e Meio Ambiente destinado obras de pavimentação nas Ruas Maravilha e Saúde, no Jardim Novo Horizonte”.

Lei nº 1937 – 20/03/2012“Dispõe sobre abertura de crédito especial na Secretaria de Obras, Planejamento e Meio Ambiente destinado obras de pavimentação na Rua Hermenegildo Guariento, no Bairro Pedreira”.

Lei nº 1957 – 02/07/2012“Dispõe sobre abertura de crédito especial na Secretaria de Obras, Planejamento e Meio Ambiente destinado obras de pavimentação na Rua Seio Honda na Vila Conde Siciliano”.

Lei nº 2053 – 20/04/2012“Dispõe sobre abertura de crédito especial na Secretaria de Obras, Planejamento e Meio Ambiente destinado obras de pavimentação na Rua Terezinha Arnoni Castelucci no Sítio Maria Joana”.

Fonte: Portal de Informações da Câmara Municipal 2013 e Jornal A Folha 2012/2013.

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Totalizando assim, 14 proposituras que se tornam leis aprovadas e assim

desenvolvidas para a melhoria socioambiental do município.

4.4. As propostas, projetos difundidos em Campanha Eleitoral em 2012

Foi possível avaliar as proposituras dos candidatos a prefeito, difundidas nas redes

sociais midiáticas, e assim, compreender os interesses políticos em defender as questões

socioambientais, bem como os indivíduos religiosos (evangélicos) se posicionam frente a

essas questões. Para análise escolhemos as entrevistas realizadas e divulgadas pelo

Jornal4 A Tribuna da Serra, o que permitiu e contribuiu para o eleitor avaliar as

potencialidades de cada um dos candidatos em governar a cidade. Também selecionamos

em nossa pesquisa os eixos temáticos, dentre eles: Habitação, Meio Ambiente, Turismo e

Educação.

A pergunta realizada de maneira comum a todos os candidatos é: Qual seria o

desafio a ser enfrentado pelo o próximo prefeito?

a) Nilson Gonçalves de Souza - Nilson do Mercado (PCdoB): É comerciante, possuindo um comércio de produtos alimentícios num bairro periférico de Rio Grande da Serra.

Para Nilson do Mercado, o maior desafio a ser enfrentado pelo próximo governante será a Educação:

HABITAÇÃONilson explica que já colocaram no Plano de Governo: “A Minha Casa Minha Vida, do Governo do Estado, vamos trabalhar para que a gente possa oferecer para a população uma condição que ela possa estar adquirindo sua casa, o seu espaço, casas populares”.

MEIO AMBIENTENilson do Mercado explica: “A gente já tem contribuído. Em 2007 eu fiz um trabalho de cooperativa experimental, junto à população, coletando todo o lixo reaproveitável, fazendo a triagem e depois de vendido, compartilhando o resultado. esse é um dos trabalhos que vamos fazer. E também não permitir degradação, como a gente tem observado nesta gestão, como aterros inadequados e tem trazido para esses aterros terras de fora, alguns lixos inadequados têm sido jogados à vista, para todos verem e nada tem sido feito, e isso, na nossa gestão, não vamos permitir que isso aconteça.” O candidato lembra do Plano Diretor, quando o assunto trata das ocupações e loteamentos irregulares:

TURISMONilson fala sobre a discussão do Fórum Social Regional: “Foi onde observou propostas que possam ser discutidas e viabilizadas”. Temos conversado com pessoas que participaram ativamente do Fórum e dentro deste projeto tem a indicação.

EDUCAÇÃONilson diz que é preciso criar espaço: “A Educação começa no ensino infantil e a gente tem visto que tem crianças que estão fora do ensino infantil por falta de vagas, e isso para nós vai ser prioridade”. A educação para gente vai ser o ponto fundamental de toda a gestão; A gente discutiu a ETEC há um ano e meio atrás e agora já foi liberado o dinheiro pelo governador Alckmin. A gente está discutindo a FATEC, pretendemos discutir um campus para dar uma Universidade para Rio Grande da Serra.

4 As entrevistas foram realizadas pelo jornalista Márcio Prado, e divulgadas em 26.07.2012, no Jornal e em seu blog no qual estão todas as propostas dos eixos temáticos a serem tratados pelos candidatos.

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b) Luiz Carlos Alexandre - Luiz Internet (PSDC): É profissional do setor de telecomunicações, é conhecido por Luiz Internet e vem com o PSDC em sua primeira campanha a caminho do Paço Municipal.

Para Luiz Internet, a prioridade para o próximo governo deve ficar por conta da Saúde:

HABITAÇÃO “Vamos buscar recursos na esfera municipal, estadual e federal e assim, resolvendo problemas que existem nas periferias, como moradias que estão em risco, disponibilizar espaço para construção de casas populares”.

MEIO AMBIENTE “Temos um projeto que se chama Cidade Limpa, onde teremos locais específicos, onde estaremos recolhendo materiais recicláveis de todos os segmentos, então este projeto fará a diferença na cidade de Rio Grande da Serra, que é uma área 100% manancial, pretendemos trazer a escola de coleta seletiva, que tem a função de ensinar a população a fazer reciclagem, e o sistema é o de coleta de materiais recicláveis nas casas. Em forma de mutirão, promoveremos a limpeza dos bairros e manteremos funcionários fixos, de acordo com o tamanho da vila. Com relação às ocupações irregulares, precisamos estudar caso a caso, com levantamento e documentação. Algumas áreas serão possíveis regularizar e outras não, e neste caso, a alternativa que as famílias terão é a inscrição para casas populares.”

TURISMOLuiz lembra que Rio Grande da Serra é uma cidade histórica: “No meu Plano de Governo, nós temos um bairro, a Pedreira que, daqui a 15 anos, vai completar 100 anos e com cem anos, cada patrimônio é tombado historicamente”. A Pedreira era um dos lugares mais frequentados de Rio grande da Serra, atraindo turistas e hoje se encontra abandonado, está em ruínas, e o projeto que tenho para lá é a restauração, trazendo a escola de restauração, onde fui mestre restaurador e transformaremos o bairro na maior atração turística de Rio Grande.

EDUCAÇÃO“O índice de drogas cresceu bastante. Não há cursos profissionalizantes nas escolas; Penso que a Educação tem que passar por uma reforma geral, em todos os sentidos e quem ganhará com isso são os munícipes, terão infraestrutura, merenda, cursos profissionalizantes e qualificação melhor para os professores.”

c) Luis Gabriel Fernandes da Silveira - Gabriel Maranhão (PSDB): Foi Secretário de Obras de Rio Grande da Serra, é Engenheiro Civil formado pelo Instituto Mackenzie

O grande desafio para o próximo governo, segundo Gabriel Maranhão será a Saúde:

HABITAÇÃOCom relação à moradia, Gabriel Maranhão ressalta que já foi dado um grande salto: “Hoje em Rio Grande da Serra já tem um plano piloto que é o “Cidade Legal”; e sem dúvida faz parte do meu plano de governo fazer a regularização fundiária em toda a cidade”. Tivemos outro grande salto, que foi a Lei Específica da Billings, que está aprovada e hoje estamos fazendo a adequação do nosso Plano Diretor, vamos criar ainda este ano uma Lei, no qual estaremos fazendo desdobro de até 250 metros quadrado. Já foi iniciado, este ano, os trabalhos através do Cidade Legal e temos interesse que este projeto seja passado para outros bairros regularizando todo Rio Grande da Serra.

MEIO AMBIENTENa questão do Meio Ambiente, Gabriel vê a reciclagem e o cuidado com resíduos sólidos um dos caminhos: “Hoje, entulho e lixo é dinheiro. É um fator que podemos utilizar para baratear custos de manutenção das ruas que ainda não são pavimentadas, e faz parte do nosso plano montar uma usina para reciclagem dos resíduos sólidos, gerando material nobre que poderá ser utilizado nas ruas. Exemplo da norma que abrange a parte de calçadas que a gente pode utilizar os materiais reciclados da construção civil, gerando ganho até por não sobrecarregar os aterros sanitários com materiais reutilizáveis. E quando se fala de regularização fundiária, também se refere ao meio ambiente, pois estaremos dando meios para a população ocupar as áreas de forma correta nos lugares já condensados. E o maior ganho ambiental, o início se deu este ano, quando o Prefeito Kiko assinou

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com a Sabesp, já que o maior problema ambiental é a falta de rede de esgoto que é a maior meta este ano em bairros como São João, Vila Lopes, Recanto Alpino, Parque América. Sem dúvida, será o maior ganho ambiental na cidade.”

TURISMOOlhando para o Turismo, a desativação da lagoa de tratamento da Sabesp, o Pinicão, Gabriel diz que existe a possibilidade desta área ser incorporada a Rio Grande da Serra: “Isso nos dará um parque de cerca de 100 mil metros quadrados e seria uma obra que teríamos o interesse em alavancar o turismo em nossa cidade, numa área central, que é a Avenida Jean Lieutaud. Temos ainda a Pedreira, com grande potencial, mas é importante lembrar que estamos num processo que se iniciou em 2005, com toda a reforma urbanística na cidade. Foi preciso deixar a cidade bonita, pois ninguém vai fazer turismo em cidade sem estrutura, com ruas esburacadas e temos exemplos de bairros que estão completamente calçados como a vila São João, Recanto Alpino, Vila Marcos, Santo Antônio, Novo Horizonte e este ano ainda concluiremos a Santa Tereza, Oasis Paulista e Parque América, que está um grande canteiro de obras. Portanto hoje, com toda esta estrutura e a rede de esgoto, vejo que nossa represa tem um grande potencial, para que a gente possa trazer o turismo que hoje para no Riacho Grande, para cá, no começo da represa, que em beleza é melhor e tem mais potencial que o Riacho Grande. Por isso vamos continuar com investimento em infraestrutura, pois até 2018 teremos 80% do esgoto de Rio Grande da Serra coletado e tratado”.

EDUCAÇÃONa área da Educação, Gabriel ressalta a qualidade das escolas hoje: “Como pai, fico feliz em saber que nossas crianças que estão na creche e na escolinha têm atendimento superior em relação às crianças que estão em escolas particulares. Inauguramos agora na Santa Tereza e outra no Parque América esse novo modelo de creche-escola e desejamos levar para todo Rio Grande da Serra. Também nossas crianças estão tendo educação ambiental natural, ao saberem que toda a água do vaso sanitário não é da Sabesp, mas sim água de chuva, captada no telhado e tratada. Rio Grande da Serra terá a primeira Escola Técnica de Rio Grande da Serra, ETEC, com cursos de Edificações e Informática para negócios. Nossos jovens não precisarão sair de nossa cidade para se preparar para o mercado de trabalho”.

d) Claudio Manoel Melo - Claudinho da Geladeira (PT): É vereador pelo PT, em seu terceiro mandato, conhecido pelo nome de Claudinho da Geladeira, apelido dado na época em que prestava serviços de manutenção de geladeiras.

O próximo Prefeito de Rio Grande da Serra terá a Saúde como o grande desafio, na opinião de Claudinho:

HABITAÇÃOO candidato pretende fazer um cadastramento das áreas de ocupação: “Porque este povo foi enganado, pois foram morar nestas áreas porque falaram que um dia elas seriam donas, em troca até de voto, mas essas pessoas ficam esperando o dia que terá o carnê para pagar e serem donos do lote de terra. E quando a pessoa não for mais prefeito? Aí vem o Ministério Público, pede a documentação, e não tem. Mas o compromisso que vamos ter com essas pessoas é fazer um projeto de habitação de fato, com legalidade, com documentação”.

MEIO AMBIENTEPreservação e conscientização são de grande importância para Claudinho: “Vamos fazer um trabalho onde se possa crescer com sustentação, que o morador possa construir sabendo de que forma pode ser construído. Vamos fazer um trabalho de crescimento sustentável na cidade toda. Hoje a represa que a gente tinha, não tem mais água. vamos fazer uma força tarefa para que a gente possa alavancar aquela represa. Voltar o olhar da população para a Natureza”, e continua explicando do comprometimento que tem que existir do gestor com a comunidade.

TURISMOSem relevância e estrutura turística em Rio Grande da Serra, a reorganização do Plano Diretor é um dos pontos importantes apontados pelo candidato: “Se você planejar dentro do Plano Diretor, você consegue legalizar o projeto Cidade Legal”, que até hoje não foi colocado em prática pelo Prefeito, é possível legalizar as divisas dos lotes de terrenos e os desdobros e com essa organização do Plano Diretor, você consegue planejar a cidade que nós queremos daqui a 20 anos e, aí debater isso com a

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Sociedade Civil. O grande desafio é descobrir sua identidade econômica, o que produz, qual a referência da cidade. Por exemplo, o Riacho Grande tem um turismo incrível, e Rio Grande tem quase o mesmo potencial, e ainda o Rodoanel facilita o acesso. Rio Grande é o pulmão do ABC mas não é reconhecido.

EDUCAÇÃOO aumento de investimento é uma das necessidades apontadas pelo candidato: “Antes tínhamos oficinas culturais dentro das próprias escolas, chegamos a 17 oficinas culturais e, deste movimento, nasceu o Teatro Manacá, mas hoje está fechado, não tem investimento na juventude. Na Educação é preciso trazer para Rio Grande as escolas técnicas. Precisamos dar qualificação já que hoje a juventude tem que buscar qualificação em outros municípios.”, e diz que infelizmente o pior curso vem para Rio Grande, os menos concorridos: “Mas os cursos importantes ficam em outras cidades”.

Como análise das propostas dos candidatos a prefeito, podemos observar que todos

afirmam uma ter uma preocupação com a questão dos resíduos sólidos na cidade, fomentar

o turismo e dar melhor infraestrutura para as instituições escolares, além de criação e

regularização de casas populares visando atender as demandas de moradores. Mas,

curiosamente, nenhum dos candidatos demonstra ou enfatiza a importância da Educação

Ambiental nos eixos temáticos propostos, comentam somente algumas práticas bem

conhecidas e difundidas na mídia. Dessa maneira, demonstram um discurso bastante frágil

e superficial em tratar as questões ambientais em conformidade com as Leis Ambientais,

nem mesmo privilegiando o que preconiza a Lei Orgânica Municipal (LOM 001/90) que em

seu artigo 160, preconiza que: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se

ao Poder Público Municipal e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as

presentes e futuras gerações”.

Não observamos propostas relevantes quanto às questões ambientais no material de

campanha dos candidatos (evangélicos) a vereadores. Pois o material trás muito mais o

perfil dos candidatos e de seus partidos do que propostas ambientais. Dentre alguns

consultados estão os materiais de Dona Ruth (PRB), Marisvaldo do Plano de Saúde (PSL),

Merisvaldo (PSDB), Silvio (PMDB), Israel Mendonça (PSC), Cida Santos (PT), Elias Freitas

(PP), entre outros.

4.5. Observação das intervenções nos bairros pautadas em projetos e leis – benefícios e descasos

Ao visitarmos os bairros citados nas leis aprovadas e descritas, nota-se que as

metas propostas pela administração pública foram parcialmente atingidas, já que muitas vias

dos bairros descritos, encontram-se ainda com problemas na pavimentação, drenagem de

águas pluviais, falta poda de vegetação nas proximidades das calçadas, falta de iluminação,

problemas com esgotamento sanitário. Dessa maneira, nem todos os serviços públicos

foram efetivados, já que muitas obras ainda se encontram inacabadas sendo cobradas por

vereadores da gestão atual. Além disso, podem-se observar denúncias de crimes

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ambientais pela deposição clandestina de resíduos sólidos em microbacias para

aterramento, deposição de resíduos sólidos em algumas dessas vias o que em

determinados locais se confirmam.

Conforme demonstram algumas reportagens de denúncias realizadas por Prado

(2011), existem problemas ambientais no município, como por exemplo: crime ambiental na

Rua Guilherme Pinto Monteiro, uma das ruas citadas na lei 1749/2009, tendo sido

instaurado inquérito policial contra a Prefeitura Municipal de acordo com o Jornal A tribuna

da Serra, além de outras denúncias com as seguintes manchetes: “morador é multado em

R$ 990 mil, por crime ambiental e acusa a Prefeitura de ter autorizado aterro”; “continuam os

crimes ambientais em Rio Grande da Serra com suposto pagamento de propina à servidores

públicos”; Kiko fecha os olhos e Rio Grande vira paraíso dos crimes ambientais”, entre

outras.

Figura 2. Reportagens das reivindicações de vereadores e munícipes nos Jornais de circulação em Rio Grande da Serra

Fonte: Jornal A Folha, 2012.

Dessa maneira, pode-se constatar uma ausência de fiscalização do poder público e

até mesmo por parte dos sujeitos religiosos nessas áreas já que não foram encontradas,

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descritas, ou efetivadas manifestações contrárias a esses problemas, nem mesmo a

participação dos sujeitos religiosos de defesa e proteção do meio ambiente nesses locais.

5. CONCLUSÕES

Na gestão administrativa no período de 2009-2012, não existiu uma expressividade e

consequentemente uma participação por parte dos evangélicos, pelo menos, nas

discussões efetivadas internamente nas sessões e aprovações de projetos e leis na

Câmara, uma vez que todos os vereadores embora tenham informado serem cristãos,

possuem pertença Católica. Já no último processo eleitoral, observa-se um crescimento na

participação em campanhas e até a ocupação de vagas na Câmara Municipal, todavia, com

pouca expressividade, já que estes representam menos que um terço dos treze vereadores.

Pode-se registrar que na gestão administrativa 2009-2012, enfatizou-se a função

urbanística, melhorando a mobilidade urbana em alguns bairros pelas melhorias em vias

públicas, entretanto, as funções de cidadania não estão sendo alcançadas, embora tenha

sido ocorridas melhorias na infraestrutura de escolas e em postos de saúde, mas ainda

existem deficiências no atendimento público e muito a fazer na segurança devido à alta

vulnerabilidade social e principalmente nas funções de gestão, sem dúvida nenhuma essa

não foi contemplada, pois, a preservação do patrimônio natural e sustentabilidade não estão

sendo priorizadas, uma vez que existem várias denúncias de crimes ambientais com

consenso da administração pública, o que alguns casos se confirmam in locus.

Embora os sujeitos religiosos afirmem possuir um potencial em transformação social,

concluímos que na região periférica de Rio Grande da Serra, o envolvimento desses atores

quanto às questões ambientais é muito baixo, sem sua inserção numa gestão democrática e

participativa.

6. REFERÊNCIAS

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