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Universidade do Vale do Itajaí Centro de Educação São José Curso de Relações Internacionais A Crise Estadunidense de 2008 na interpretação de José Luís Fiori e Immanuel Wallerstein Renan Freitas de Souza Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a banca examinadora como parte das exigências para a obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais, pela Universidade do Vale do Itajaí Professor Orientador: MSc. Paulo Jonas Grando UNIVALI - SÃO JOSÉ - 2009

Renan Freitas de Souza - A crise estadunidense de 2008 segundo immanuel Wallerstein e José Luís Fiori

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An essay about one possible future of the International Political Economy

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Universidade do Vale do Itajaí Centro de Educação São José Curso de Relações Internacionais

A Crise Estadunidense de 2008 na interpretação de José Luís Fiori e Immanuel Wallerstein

Renan Freitas de Souza

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a banca examinadora como parte das exigências para a obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais, pela Universidade do Vale do Itajaí

Professor Orientador: MSc. Paulo Jonas Grando

UNIVALI - SÃO JOSÉ - 2009

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RESUMO

Palavras-chave: Crise Financeira, Declínio da hegemonia, Mito do Colapso do poder dos Estados Unidos.

Key-words: Financial Crisis, Decline of hegemony, United States collapse power myth.

O trabalho aborda no primeiro tópico, teoricamente, a questão das crises cíclicas que acometem o sistema capitalista e, em seguida descreve resumidamente, a crise econômico-financeira norte americana. Nos dois tópicos finais busca, nas interpretações de Immanuel Wallerstein e José Luís Fiori, dois especialistas em economia-política internacional que não fazem parte do mainstream acadêmico tradicional das Relações Internacionais, identificar o potencial que a crise tem para afetar o poder da hegemonia norte-americana. Para atingir os objetivos propostos, foi feita uma pesquisa bibliográfica nos escritos dos autores mencionados, a fim de identificar de que forma suas teorias podem explicar como a dinâmica da crise econômica-financeira afeta as relações internacionais do país para com o restante do mundo. O trabalho conclui que para Wallerstein a crise representa mais um sintoma do fim da hegemonia dos Estados Unidos e por isto o país irá enfrentar dificuldades crescentes no sistema mundo-moderno. No mesmo sentido, em José Luis Fiori se observa que a crise, ao contrário de Wallerstein, representa parte de um processo estrutural para viabilizar a expansão do seu poder no sistema internacional de Estados.

The economic life is formed by cyclical crisis and this article study in the first topic some theory’s of cyclical crisis regularly present in the capitalism system and then describes the economic cyclical that United States has been throw. In the last two topics, two authors are selected to understand the possible consequence of the new crisis that emerged in 2007. Based in the theory’s of Immanuel Wallerstein e José Luís Fiori, expert’s in political-economy identify and understand what the 2007 crisis could affect the hegemony of the United States in the world. To achieve propose of this article, a research has been made to understand how this economic crisis affect the American international relation. This article concludes a divergent understanding in the two authors’. For Immanuel Wallerstein this crisis is a symptom of the decline in the hegemony in the world system, and the country will face, along the decades, contesting opinions. In José Luís Fiori, this crisis is part of a structural movement, initiated by US, to expand they power in the world system.

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A Crise Estadunidense de 2008 na interpretação de José Luís

Fiori e Immanuel Wallerstein

Renan Freitas de Souza

Sumário: Introdução; 1 A crise imobiliária estadunidense: explicações teóricas sobre as crises econômicas. 1.2 Crises econômicas no capitalismo; 2. A Crise Econômico-Financeira Americana; 2.1. As crises do século XXI nos EUA; 3. A crise nos EUA a partir do pensamento de Immanuel Wallerstein; 3.1 A Teoria do Sistema-Mundo; 3.2 Ascensão e declínio da hegemonia estadunidense; 4. A crise estadunidense em José Luís Fiori; 4.1 Nascimentos dos Estados e Economias nacionais; 4.2 Ascensão dos Estados Unidos da América no sistema inter-Estatal; 4.3 A crise de 2007 e o “mito do colapso do poder estadunidense”, Considerações Finais e Referências. 1. Introdução

Este artigo discute a crise estadunidense, observando como este fenômeno

poderá influenciar o cenário político-econômico internacional. Sua delimitação busca

encontrar nas argumentações de José Luis Fiori e Immanuel Wallerstein alguns indícios

se a crise estadunidense, que se transformou em crise econômica financeira global,

nesse início do século XXI, tem potencial para afetar a dinâmica das relações

internacionais dos EUA para com o mundo. Visando compreender melhor o objeto,

inicialmente é feito um resgate teórico do tema das crises econômicas no capitalismo.

Em seguida, discute-se como os dois autores observam a questão em relação ao

exercício do poder americano nas relações internacionais (RI).

Os Estados Unidos da América são, desde o início do século XX, a grande

potência do sistema internacional. É o país mais influente no mundo porque reúne

condições de superpotência econômica, é o país detentor da maior economia do planeta

e, como superpotência militar, se transformou no único país capaz de empreender uma

ofensiva militar em qualquer parte do globo. Para Immanuel Wallerstein: “Eles

proclamaram a si próprios — e foram proclamados por outros — a superpotência

solitária1”. Mas esta crise que se instalou no centro do poder, nos Estados Unidos,

contaminou também parceiros e aliados diretos, os países desenvolvidos, em diferentes

intensidades, como o China, Japão e a Europa, e também as demais regiões do planeta.

Wallerstein diz que os EUA estão perdendo espaço no cenário global, pois segundo ele:

1 WALLERSTEIN, Immanuel. Ai dos que crêem no império. Lê Monde diplomatique Brasil. Disponível em:< http://diplo.uol.com.br/2008-08,a2568> Acesso em: 23 ago. 2008.

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“Menos de vinte anos após vencerem a Guerra Fria, os EUA já perderam a condição de

poder mundial solitário. Na verdade, deixaram até mesmo de ser superpotência [...]”.

O poder dos EUA de decidir, quase que unilateralmente, o jogo da política e da

economia em âmbito internacional, pode ser reduzido com o agravamento da crise, pois

antigas potências e forças emergentes como China, Brasil e Índia estão buscando mais

espaço nas RI, ação que vem questionando o status quo atual (FIORI, 2004; 2009).

O cenário econômico estadunidense foi agravado após a adoção do paradigma

neoliberal que retirava o poder público da regulação de aspectos importantes da vida

econômica e estimulava a privatização e desregulamentação dos mercados financeiros.

Ainda, para promover a reativação da economia, o atual governo aumentou os gastos,

pressionando o endividamento público que chegou a níveis recordes2. A pressão

inflacionária, os déficits em conta corrente e a exportação de empregos americanos para

outras partes do mundo agravam a crise atual, deixando os EUA em uma situação

delicada. Além disto, o corte de impostos dos mais ricos também agravou o déficit

americano e os especialistas observam que para evitar esta situação, ou os EUA passam

a incentivar a poupança, diminuindo o consumo interno e aumentando os impostos, ou

se abrem para uma grande possibilidade de recessão. (MONIZ BANDEIRA, 2005)

Neste sentido, o objetivo foi identificar os principais aspectos relacionados à

crise estadunidense pela observação de suas possíveis causas e investigar em Immanuel

Wallerstein e José Luís Fiori, como eles interpretam, ou como suas teorias permitem

compreender, os efeitos da crise estadunidense. Para alcançar a ação proposta, a

estrutura do texto foi concebida em quatro seções. A primeira aborda as crises

econômicas segundo a interpretação da teoria das crises cíclicas capitalistas. Tal intuito

busca responder o que são as crises econômicas capitalistas segundo alguns dos seus

principais teóricos, como Keynes, Marx, Kalecki, Joan Robinson, dentre outros, para

explicar a atual crise imobiliária nos EUA. Nas seções seguintes estuda-se Fiori e

Wallerstein para identificar suas observações em relação a este tema. Partindo de óticas

diferentes, discute-se como Wallerstein aborda a possibilidade dos EUA perderem parte

da hegemonia mundial, dentro do sistema-mundo. Na terceira parte do artigo interpreta-

se em Fiori que o atual momento estadunidense é de reafirmação ou da tentativa de

imposição de um poder imperial.

2 O endividamento público estadunidense é considerado um problema grave. Os EUA é o maior consumidor do mundo, financiando-se principalmente via crédito. Mas, este consumo vai além das possibilidades reais da economia do país e isto gera uma dívida externa pública e privada imensa, que beira o valor do PIB, e o temor do não pagamento e seu tamanho pressionam o valor do dólar bem como a competitividade do país. (BANDEIRA, 2005)

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1. A crise imobiliária estadunidense: explicações teóricas sobre as crises econômicas.

Esta parte do trabalho procura compreender as crises econômicas3. Para isso as

perguntas fundamentais são quais suas possíveis causas e porque as crises econômicas

sempre retornam. Para responder estes aspectos busca-se descrever sua origem,

características principais, os diferentes aspectos que compõem uma crise financeira.

1.2 Crises econômicas no capitalismo

Umas das características do capital ou do capitalismo é que a organização do

processo produtivo é realizada por empresas, predominantemente privadas, que atuam

segundo a premissa da busca pelo máximo lucro possível. Tal característica advém da

lógica e da dinâmica do sistema: a concorrência obriga as empresas a serem as mais

eficientes possíveis para suportar a luta competitiva por e pelos mercados. Neste

processo, o lucro é meio e fim para financiar o aumento da produtividade, cuja

finalidade é que as empresas possam produzir a custos compatíveis aos da concorrência.

É o que expressa Singer (1987, p. 10), quando ele argumenta que o capital sempre busca

inovar, modificar, transformar-se, procura inventar novos produtos ou mesmo dar novas

atribuições aos produtos existentes, ou ainda dar uma nova utilidade para tornar-se

altamente lucrativo. Por isso, maximizar os lucros é a característica que concede ao

capitalismo sua própria lógica e dinâmica.

Porém, também faz parte do capitalismo a instabilidade, caracterizada por fases

de prosperidade e de recessão. Até meados da década de 1930 esta regularidade era a

principal característica dos ciclos econômicos. A cada 10 anos, aproximadamente,

ocorria fases de prosperidade e de depressão, cuja causa decorria da necessidade de

investimentos para renovar o maquinário. Isso acontece porque a vida útil das máquinas

e ferramentas gira em torno de 10 anos o que faz o capital renovar-se durante o ciclo de

vida dos equipamentos (SINGER, 1987; ROBINSON, 1985; KALECKI, 1985).

Outra teoria sobre ciclos econômicos no capitalismo são os de longa duração,

com validade aproximada de 50 anos. O debate sobre as ondas longas teve inicio em

3 Ao tratar do problema atual, duas são as perspectivas teóricas que vêm sendo usadas pelos especialistas para explicá-los. Uma trata o assunto com base na idéia de que a economia vive o fim de um ciclo econômico, ligando a crise à lógica de acumulação sistêmica do capitalismo. Nesta perspectiva é necessário gerar um novo ciclo de investimentos que produza novos negócios, ou seja, é necessário viabilizar novos investimentos produtivos que distribuam renda para gerar consumo, para que o setor produtivo possa retomar a normalidade dos negócios e das taxas de lucro. Outra explicação aborda a crise como reflexa da ganância do sistema financeiro. Ou seja, a crise se origina no sistema bancário e de lá se propaga para a economia real. Nesta perspectiva, bastaria reconstruir a confiança dos agentes para o crédito retornar ao sistema e, com isso, a crise seria eliminada. A interpretação deste trabalho é que a crise atual têm uma conotação dupla: é ao mesmo tempo uma crise econômica e uma crise financeira.

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1920, com o economista soviético Nicolai Kondratieff. Ele sugeriu que o capitalismo

sofria ondas de crescimento e recessão, crescimento acelerado ou estagflação.

Posteriormente, pesquisadores como Schumpeter, Mandel e Arrighi, dentre outros,

passaram a debater os ciclos longos e suas relações com a dinâmica capitalista. As

características das ondas longas são apontadas a partir do seguinte argumento: a cada

período de aproximadamente 40 a 60 anos, o próprio capitalismo sofre um rearranjo.

Isto acontece pela invenção de novas tecnologias, as quais promovem uma nova fase de

investimentos, o que acentua a fase de crescimento econômico, mas isto também pode

gerar reajustes dos preços de matérias-primas, de energia, queda na taxa de lucros entre

outros. Por outro lado, existe a possibilidade de esgotamento dos meios produtivos

atuais que pode produzir crises pelo lado do investimento.

O ciclo Kondratieff é baseado em quatro fases distintas, com variação de

aproximadamente de 20 a 25 anos de duração, as quais reproduzem as oscilações da

economia real, denominadas de Primavera, Verão, Inverno, Outono. Na primavera, a

característica principal é a inflação. Nesta situação a economia sai da fase de depressão

e o crescimento é resultante da interação das variáveis econômicas como a aplicação da

poupança dos capitalistas na renovação do maquinário. As causas da inflação decorrem

do crescimento da produção e da demanda por matérias-primas e moeda, fatores que

causam a elevação estrutural dos preços. Durante esse período, há um crescimento no

emprego, salários e da produtividade, mantendo os preços em alta. Mas também, a partir

deste momento ocorre uma mudança na demanda em geral, com a inserção de novos

produtos, bem como de novas maneiras de produzir, o que reorganiza o trabalho e a

própria sociedade4.

De acordo com a mesma fonte, o Verão é descrito como recessão, pois o

crescimento, iniciado na fase Primavera, atinge limites. O excesso de produção cria uma

demanda exagerada por recursos enquanto sua oferta diminui, tornando-se um limite

para o crescimento. Alterações na percepção dos indivíduos e organizações reduzem a

produção e isto produz desemprego. Esta fase dura aproximadamente de 3 a 5 anos,

porém, a recessão permite iniciar uma nova fase de crescimento.

A fase do Outono é caracterizada pela estabilização. Nesta, a recessão força a

economia ao seu limite, mas a inflação e mudanças na produção conseguem corrigir

temporariamente o limite. Contudo, o aumento estrutural dos preços e a conseqüente

4 Texto traduzido pelo autor de: ARMSNTRONG, Martin. It's Just Time. Disponível em <http://www.kwaves.com/kond_overview.htm> acessada em 02/04/2009. Acesso em: 23 de jun. 2009

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diminuição do consumo, colocam a economia em estagnaflação5, ou seja, estabilização

do crescimento econômico com inflação estrutural. O desejo de consumir e a inflação,

generalizada, produz um rápido aumento da dívida6 que pode levar uma economia à

uma severa depressão.

O texto consultado destaca que a última fase é o Inverno, caracterizado pela

depressão. Neste momento a estagnação econômica altera os preços estruturais e a

redução da acumulação de riqueza leva a economia para um período de forte retração.

Nesta fase o desemprego se generaliza, ocorre a redução dos investimentos e a queda

nos salários, mas depressão econômica possibilita à economia reajustar-se e criar novas

bases de crescimento futuro, momento em que há uma generalização das inovações

anteriores e um aumento da produtividade, através do aperfeiçoamento da tecnologia,

fator necessário para que as empresas consigam aumentar suas taxas de lucros. Ainda,

na depressão consolidam-se novos valores sociais e idéias que podem promover uma

integração da sociedade em geral e preparar uma nova fase de expansão. Como resumo

dos aspectos apontados, a figura 01, a seguir, ilustra as fases de Kontradieff, a partir da

análise histórica da economia capitalista.

Fonte: ARMSNTRONG, Martin. It's Just Time. Disponível em

<http://www.kwaves.com/kond_overview.htm> Acesso em: 02 abr. 2009

Pode-se observar na figura 01, a similaridade no movimento entre a linha

imaginaria da teoria de Kontratieff, assinalada em azul, e o preço por atacado,

5 O termo estagnaflação pode aparecer em alguns textos como estagflação. Neste trabalho opta-se pelo primeiro termo. 6 Está dívida é caracterizada pelo excesso de empréstimos que os consumidores assumem para poder consumir. Quando há um risco de calote, os empréstimos cessam e a demanda da indústria retrai ainda mais, e com isso, junto com o fraco desempenho da economia, gerados pela estagnação e recessão anteriores produz-se uma crise mais profunda e generalizada.

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assinalado em vermelho, considerando que alguns dos aspectos mais importantes que

Kondratieff utiliza na sua análise são inflação e os níveis de preço. Estes fatores são

fundamentais para medir os lucros, pois são ligados à formação do investimento, o que,

por sua vez, influência a produção e o consumo, tanto por parte das empresas na

formação de capital fixo como por parte dos trabalhadores, via retomada dos níveis de

emprego. Característica semelhante também é apontada por Singer (1987, p. 40), para

quem o ciclo econômico, em sua fase expansiva, afeta o tamanho da população

empregada, o comportamento das vendas no comércio, o aumento e/ou redução dos

lucros empresariais, a especulação nos mercados de capitais, etc. Na fase de depressão o

oposto ocorre, a acumulação cessa, o emprego diminui, muitas empresas fecham as

portas, as ações desvalorizam-se e muitos especuladores podem falir. Mas, quando a

economia volta a se recuperar, progressivamente aumenta o emprego, o comércio e a

acumulação de capital.

O economista Michal Kalecki (1985) também observa a existência de uma

junção de fatores. Entre eles se destacam a taxa de investimento, de produção e de

lucros, relacionadas com as flutuações da economia no longo prazo7. Segundo o autor

citado existe um hiato temporal, “[...] devido em grande parte ao período de construção,

mas também reflete fatores como decisões empresariais retardadas.”(KALECKI, 1985,

p. 79). Sobre isto Singer (1987) observa que é importante lembrar que para a evolução

das taxas de lucros, os investimentos realizados por determinada empresa, somente

tornam-se lucro no momento posterior aos investimentos realizados.

Na fase expansiva, ou de crescimento, a acumulação de capital ocorria

naturalmente. Nesta situação, segundo Kalecki (1985) os determinantes do investimento

são a poupança bruta das empresas, o aumento dos lucros e o estoque de capital. A

mobilização destes determinantes é parte fundamental do ciclo capitalista, pois o nível

de atividade econômica e a taxa de acumulação influenciam diretamente a taxa de

investimento e esta, inversamente atua no comportamento dos ciclos econômicos, ou

seja, quando há um alto nível de atividade econômica, a fase de lucros possibilita altas

taxas de acumulação de capital.

Na fase depressiva, tanto no ciclo curto como no longo, a desvalorização do

capital decorre da queda dos lucros empresariais e isto reduz os investimentos. Os

investidores que aplicam seus recursos nas empresas fazem isto na expectativa de

retorno financeiro, mas em situações de crise, os balanços de muitas empresas se tornam

7 Para Kalecki as flutuações são decorrentes do hiato temporal na renovação do maquinário empregado pelos capitalistas na produção. (KALECKI, op. cit.)

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negativos; com isso os investimentos cessam e o valor das empresas diminui. Também,

os empréstimos bancários, necessários para fazer os investimentos, ficam mais caros e

forçam as empresas a rever suas estratégias de investimento e de expansão da

capacidade produtiva. Quando muitas empresas importantes enfrentam este tipo de

situação, a economia caminha para a depressão. (SINGER, 1895)

Para Keynes (1982), os ciclos econômicos resultam do comportamento dos

agentes econômicos em relação à sua propensão a consumir8 mas, principalmente,

resultam da eficiência marginal do capital9, além de que, os agravantes dos ciclos são

permeados por modificações de curto prazo. Neste sentido, o autor destaca que as

rupturas da fase ascendente são, de modo geral, abruptas e violentas. No entanto, esta

intensidade não aparece quando se avança da fase descendente a uma nova ascensão.

No mesmo sentido, para uma das principais discípulas de Keynes, Joan

Robinson (1985), as fases cíclicas do capitalismo estão relacionadas diretamente com a

formação dos preços, a produção e a distribuição da renda. A produção no sistema

capitalista tem que redistribuir a riqueza produzida para que os assalariados e os outros

participantes da economia capitalista10 possam gerar demanda na indústria e dinamizar a

economia. Isto ocorre porque os investimentos realizados pelas empresas são baseados

nas expectativas de crescimento das vendas. Se existir pouca demanda, as empresas

suspendem investimentos, cortam produção e isto acarreta em desemprego, queda na

demanda e nos níveis de renda, e por conseqüência, a economia entra em recessão.

Nos escritos de Marx os ciclos curtos apresentam duração de aproximadamente

7 a 11 anos, e estão ligados à renovação do capital físico. Para Marx esta renovação do

capital, se dá para aumentar a taxa de lucro, pois as empresas precisam renovar seu

maquinário a fim de se tornarem mais produtivas e, por conseguinte mais competitivas.

Nesse processo, o capital constante (máquinas, equipamentos e instalações) vai se

tornando maior que o capital variável (trabalho assalariado). Ou seja, o investimento em

tecnologia desemprega, ao mesmo tempo que reduz custos, amplia a produtividade e por

conseqüência a produção.

Como para Marx, as flutuações cíclicas da economia estão relacionadas com a

superprodução capitalista, a exploração das massas, observando a premissa do

8 A função da demanda agregada relaciona determinado volume de emprego com o produto das vendas que se espera realizar desse volume de emprego, e este produto das vendas forma-se sobre o nível de consumo sobre determinado nível de emprego. (KEYNES, 1992 p. 83-89) 9 Relação entre a renda esperada e o preço de oferta ou custo de reposição. É a variação da renda esperada naquele bem, adicional ao custo para induzir o fabricante a produzi mais. (KEYNES, 1992 p. 115) 10 O sistema capitalista é dividido em quatro classes de capitalistas, os assalariados sem propriedade, a classe mista intermediaria, ou seja, aqueles que vivem renda tanto do trabalho quanto das propriedades, os capitalistas que vivem de rendimentos, inclusive os acionistas, e que não trabalham e as firmas que ficam com parte do lucro”. (JOAN ROBINSON, 1985)

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capitalismo de maximizar os lucros, impede ou dificulta os consumidores de

acompanharem as taxas de produção, ou seja, os trabalhadores não consomem o mesmo

montante que é produzido. Com isso, a produtividade aumenta, porém, os salários dos

trabalhadores não sobem na mesma proporção. Assim esse excedente de produção

interfere nos preços dos produtos e isto minimiza os lucros dos capitalistas. Como

conseqüência, estes aspectos podem produzir a retração de uma economia. Em uma

situação mais grave isto implica em uma crise cíclica.

Marx (op. cit.) aponta que as crises cíclicas acontecem a partir da ruptura brusca

da fase de alta do crescimento econômico capitalista para a fase de retração ou

depressão da economia capitalista. Logo, quando a economia atinge o pleno emprego

diminui o exército de trabalhadores de reserva e nesse contexto os salários tendem a

aumentar, mas dada essa conjuntura, as condições que proporcionaram este momento

são os ingredientes da crise. Tal situação é explicada a partir do seguinte raciocínio:

com mais pessoas empregadas, os salários sobem e isto produz uma compressão dos

lucros. Neste caso, para evitar a redução dos lucros, os capitalistas passam a investir em

técnicas poupadoras de trabalho: máquinas e novas maneiras de organizar o processo

produtivo e o trabalho. Se adotadas, reduz-se a quantidade de pessoas ocupadas. O

desemprego, que acontece pelo investimento em tecnologia, permite retomar os lucros

pela ampliação da produção, mas reduz a quantidade de consumidores: geralmente

aqueles que perdem seus empregos. Desta forma, as fases de crise e depressões são uma

constante na história do capitalismo.

Observa-se assim, pelo exame dos autores consultados que os ciclos econômicos

são “normais” dentro da economia capitalista. Nesse sentido, as visões que os

economistas têm sobre os ciclos confluem e se completam. Todos eles buscam

estabelecer uma relação entre a produtividade, poupança, consumo, investimentos,

inovações tecnológicas, e buscam interpretar a duração dos períodos que são

interpretados de forma como a economia se comporta. A tentativa de compreender os

ciclos capitalistas permite identificar na atual crise cíclica, quais foram seus principais

elementos catalisadores.

2. A Crise Econômico-Financeira Americana.

No passado, durante uma parte do século XIX, os ciclos de expansão e retração

na economia estadunidense tinham origem em características internas daquele país. De

1873 até 1907, as crises ocorriam principalmente devido a ajustes dos mercados e da

concorrência. Grande parte dos ajustes era baseada na demanda interna por linhas

11

férreas, devido o avanço para o oeste11. Mas, a partir do final da I Guerra Mundial,

período que corresponde à transição da hegemonia Européia, principalmente Britânica,

no século XIX, para a ascensão dos EUA como líder industrial, político e econômico, as

crises econômicas estadunidenses passaram a ter reflexos na economia mundial.

(BANDEIRA, 2005, p. 42-70)

Devido às elevadas taxas de crescimento econômico gerado no pós - Primeira

Guerra, na década de 30, os EUA sofreram uma grave depressão econômica e

financeira, provocada pela superprodução de sua economia12. Esta crise gerou

aproximadamente 25%13 de desempregados, acentuada queda na produção industrial e

uma perda de 89% no valor das ações negociadas na bolsa de valores14 de Nova Iorque.

E somente em 1945, com outra guerra de grande escala, a II Guerra Mundial, a

depressão econômica foi superada e, a partir daquele momento as taxas de crescimento

da economia estadunidense se mantiveram positivas até o começo dos anos 197015.

No inicio da década de 70 emergiram sinais de enfraquecimento da economia

dos EUA16. O temor sobre a estabilidade do sistema de pagamentos internacional,

baseado no dólar, fez com que o então presidente Richard Nixon rompesse

unilateralmente com o sistema internacional de pagamentos, acordado em Bretton

Woods17, o qual consistia em garantir a estabilidade do valor do dólar pelo uso das

reservas de ouro em poder dos EUA. Este “enfraquecimento econômico estadunidense”

produziu a mudança na matriz teórica econômica. A predominância do keynesianismo18

cedeu espaço para a regulação via mecanismos de mercado: agente capaz de se auto-

regular, distribuir a riqueza e de aumentar a produtividade da economia. Esta mudança é

11 O avanço para o Oeste representa uma parcela importante do inicio da formação territorial dos Estados Unidos. (BEAUD, 1980) 12 A superprodução existe quando os bens produzidos pelas indústrias são maiores que a demanda, o que ocasiona baixa nos preços e no emprego. 13 De treze a quinze milhões de trabalhadores perderam seus empregos (BEAUD, 1980) 14 TAYLOR, Nicky. A short history of great depression. New York Times. Disponível em : <http://topics.nytimes.com/topics/reference/timestopics/subjects/g/great_depression_1930s/index.html> Acesso em : 20 de jan. de 2009. 15 Na década de 60, a economia estadunidense cresceu em média 4,9 % ao ano, enquanto entre 70 a 75 a média caiu para 2,8%. Bureau of Economic Analysis. Disponível em: <http://www.bea.gov/index.htm> Acesso: 30 abr. 2009. 16 “O PIB dos Estados Unidos, que duplicara durante a Segunda Guerra Mundial e representara 34% da produção mundial ate 1970, baixou para menos de 30%, em 1971.” (MONIZ BANDEIRA, 2005. p. 298) 17 Bretton Woods, como é conhecida a reunião entre as principais nações do mundo para configurar um novo sistema financeiro internacional, sob liderança dos EUA legitimou a hegemonia estadunidense no pós-II Guerra Mundial. Neste encontro, foram criados organismos multilaterais como o Banco Mundial e o FMI, que propagam a influência estadunidense sobre o sistema internacional. 18 Seguindo a receita proposta por Keynes: “Em 1946, o Congresso aprovou a Lei do Emprego, que obrigava o governo a usar seus poderes de tributar, tomar emprestado e gastar, para manter o pleno emprego” (HUNT, 2005. p. 398).

12

descrita por Gilpin (2000)19 e também por Bandeira (2005), para quem a intervenção

estatal na economia implicou enormes programas de bem-estar social, altos impostos e

intensa regulação, fatores que segundo os críticos da intervenção governamental

distorciam o funcionamento do mercado, diminuíram a poupança, o investimento, a

produtividade do trabalho e reduziam o dinamismo da economia americana.

Os fatores que contribuíram para o inicio da crise dos anos 70 estão enraizadas

na estratégia estadunidense de reafirmar sua liderança mundial. A guerra do Vietnã, as

crises do petróleo e o próprio sistema geraram uma crise geral no sistema financeiro

internacional e na economia estadunidense. Os EUA enfrentavam uma estagnação

econômica e inflação acelerada20, que culminou numa recessão econômica no inicio dos

anos 80. A alternativa para enfrentar a estagnação econômica foi à adoção do chamado

Reaganomics21, política que consistia no aumento abrupto das taxas de juros nos EUA

para atrair capitais externos, na desregulamentação do mercado e na redução dos gastos

governamentais, segundo a premissa de que as empresas privadas poderiam oferecer os

mesmos serviços aos cidadãos com maior eficiência, e no corte expressivo de

impostos22. Porém, os cortes de impostos somados ao aumento nos gastos militares,

política de Reagan para confrontar a União Soviética, e mais o aumento dos juros

nacionais, valorizando o dólar, contribuíram para agravar o déficit fiscal e comercial do

país. A partir deste momento a economia estadunidense aprofundaria sua transformação

de uma economia industrial para uma economia de serviços. (BEUAD, 1987)

A política de desregulamentação econômica iniciada por Reagan possibilitou

uma profunda interligação financeira mundo afora, tornando o sistema financeiro

estadunidense mais proeminente na economia mundial23. Sobre isto, Gilpin (2000, p

140-141), mostra que o volume financeiro, no final dos anos 90, movimentava

aproximadamente US$1,5 trilhões de dólares ao dia, enquanto que em todo o ano de

1997, o comércio mundial de produtos e serviços movimentou cerca de US$ 25 bilhões

de dólares ao dia.

19 No original: “Government intervention in the economy, wich had entailed huge walfare programs, high taxes, and extensive regulation, was belivied to have distorcerd the market, decreased incentives to save, invest, and work, ant thus to have undermined the productiviness of the economy”. 20 De 1970 a 1978 a taxa média da inflação foi 6.7%. Bureau of Economic Analysis. CPI-U index. Disponível em: <ftp://ftp.bls.gov/pub/special.requests/cpi/cpiai.txt> Acesso em: 05 maio 2009. 21 Política econômica criada pelo presidente Ronald Reagan para enfrentar a crise dos anos1980. 22 Cabe salientar que os cortes propostos eram direcionados para os mais ricos. A utilização da chamada de curva de Lafer, justificava cortar os impostos de corporações e pessoas ricas, pois esses cortes indiretamente, beneficiariam o restante da população com a justificativa de que eles ampliariam os investimentos. (GILPIN, 2005. p 227-264) 23 “Este movimento de internacionalização dos mercados financeiros foi acompanhado por intenso crescimento do número de operações e do volume de recursos transacionados. Se no passado, em especial no após segunda grande guerra, a principal função do sistema financeiro internacional era garantir o financiamento do comércio internacional e o equilíbrio dos balanços de transações correntes dos países deficitários, a partir da década de setenta este sistema passou a ser crescentemente regido por lógica própria” (MENDONÇA, 2002. p. 67).

13

Uma seqüência de crises na década de 90 devido, em grande parte, à

desregulamentação dos mercados, afetaria diretamente o interesse dos Estados Unidos.

Uma seqüência de eventos, alguns influenciados pelos EUA24, afetaram o mundo e

principalmente a Ásia, que havia se tornado a mais promissora região econômica, uma

vez que as economias ocidentais experimentavam inflação e desaceleração econômica.

A criação de bolhas especulativas, pautada no avanço dos mercados financeiros na

busca de lucros extraordinários, decorria do sistema financeiro que passou a buscar

novas formas de lucros via especulação: com moedas, commodities, (re)financiamentos

de dívidas nacionais, créditos ao consumo de luxo, entre outros. Isso gerou uma fase de

expansão econômica com poucos alicerces na econômica real: aquela que tem a

produção física como base concreta. A imposição de políticas de corte liberal, entre

outras ações, culminou numa seqüência de crises na balança de pagamentos mundo

afora. México, Coréia do Sul, Tailândia, Malásia, Rússia, Brasil, Argentina foram

alguns dos países afetados por estas crises nos anos 1990. Como resultado, um grande

volume de dinheiro para investimento direto e bolsas de valores migrou para os EUA

em busca de segurança. Mas, mesmo os Estados Unidos não ficaram totalmente imunes

às crises financeiras internacionais: o índice Dow Jones sofreu uma desvalorização de

554 pontos, em 1998, o segundo maior história. (BANDEIRA, 2005. Pg. 563)

2.1. As crises do século XXI nos EUA

Apesar do revés no índice Dow Jones, os EUA gozaram de crescimento

econômico na década de 9025. (BANDEIRA, 2005. p. 613). Mas, esta prosperidade é

interrompida no ano de 2000/01, quando uma nova crise se instalou. O avanço do

mercado financeiro, com reduzidos vínculos com a produção ou a economia real, deu

impulso ao PIB estadunidense, mas principalmente, devido à valorização das ações das

empresas de tecnologia. Por outro lado, ao mesmo tempo em que economia crescia, os

déficits (comercial e fiscal) se expandiam e eram atribuídos aos excessivos gastos

militares e às importações. (BANDEIRA, 2005; GILPIN, 2000)

Neste contexto, o avanço da financeirização gerava mais concentração de renda,

tanto dentro dos EUA26, como no mundo inteiro27. A desaceleração no consumo, as

24 Os EUA pressionaram o Japão, principal força econômica concorrente, para valorizar sua moeda, aumentar impostos e assumir cotas “voluntárias” de importação e exportação. (BANDEIRA, 2005 p 380) 25 O crescimento do PIB dos Estados Unidos foi em média 3% durante a década de 90. Bureau of Economic Analysis. GPD index. Disponível em: <http://www.bea.gov/national/index.htm>Acesso em: 10 maio 2009. 26 1 % da população estadunidense detêm cerca de 40% do PIB da nação. ( BANDEIRA, 2005) 27 A economia mundial está sob controle de umas 200 corporações globais que controlam 25% do PIB mundial. BAÉZ, René. Os Estados Unidos provocam “crack” financeiro global. Agência Carta Maior. <http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=14936&alterarHomeAtual=1e >.Abril 2008. Acesso em: 22 abr. 2008.

14

fraudes de grandes empresas no setor da informação, a desvalorização do dólar e os

ataques terroristas em 2001, levaram pânico aos investidores e especuladores. Esse

conjunto de acontecimentos conduziu o país à recessão. Para sair da recessão o FED

adotou uma política monetária expansiva, baseada no crédito barato para estimular o

consumo e movimentar a economia. O governo de George W. Bush rebaixa os juros

básicos a 1% ao ano, o mais baixo da história estadunidense28.

A receita para tirar a economia da crise de 2000/01 foi o combustível de crise

seguinte. Com recursos a juros baixos uma onda de concessão de crédito passa a

movimentar a economia estadunidense. A política de crédito barato ajuda a retirar a

economia da recessão e a atividade econômica começa a se recuperar29, porém, em

2007, a política monetária e a desregulamentação financeira criam outra crise.

A excessiva oferta de crédito e a baixa nas taxas de juros30 forçaram os bancos e

agentes correlatos a emprestarem dinheiro para consumidores com alto risco de

inadimplência, ou seja, o mercado subprime. Estes consumidores são considerados de

alto risco porque não oferecem as garantias mínimas para assegurar que os empréstimos

serão pagos o que torna os juros mais elevados, mas propicia mais lucratividade a

bancos e investidores.

No processo, para poderem auferir lucros maiores, as instituições financeiras

revenderam as hipotecas (securitizam-nas31) atreladas ao financiamento da dívida

imobiliária a outros agentes financeiros para conseguir mais recursos a fim de fazer

novos empréstimos e se protegerem de eventuais maus pagadores. Mas, os juros baixos,

o aumento da oferta de casas, o déficit fiscal e comercial32 do governo, o endividamento

das famílias e das empresas, tudo isto estimula o consumo e isto faz com que a inflação

retorne com força. Com isso o FED sobe as taxas de juros. Os efeitos do encarecimento

do crédito são logo sentidos e o default começa e se expande, pois os consumidores não

28 BAÉZ, René. Os Estados Unidos provocam “crack” financeiro global. Agência Carta Maior. <http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=14936&alterarHomeAtual=1e >.Abril 2008. Acesso em: 22 abr. 2008. 29 KOLKO, Gabriel. A crise financeira – um esboço. Resistir.info Disponível em: <http://resistir.info/crise/kolko_16out07.html> Acesso em: 20 out. 2008. 30 Outro problema gerado pelas taxas de juros muito baixas é a chamada armadilha da liquidez. “Na economia monetária, uma armadilha de liquidez (liquidity trap) ocorre quando a taxa de juro nominal se aproxima de zero ou o atinge, e a autoridade monetária se vê impedida de estimular a expansão da economia usando os instrumentos tradicionais da política monetária. Nessas circunstâncias, os agentes não esperam grandes retornos dos investimentos físicos ou financeiros e mantém os seus ativos em depósitos bancários de curto prazo em vez de fazer investimentos de longo prazo. Isto torna uma recessão ainda mais severa podendo contribuir para um clima de deflação.” In. A armadilha da liquidez no caminho das economias desenvolvidas. Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. 15 dez. 2008. Unidades de Estudos Econômicos. Disponível em: <www.fiergs.org.br> Acesso em 18 maio 2009. 31 Trata-se de uma forma de alavancagem para conseguir maiores recursos a fim de ampliar os ganhos. 32 Em 2009 o valor já corresponde a quase US$1 trilhão de dólares apenas nos primeiros três meses. PORTAL UOL. Agencia EFE. Disponível em: < http://economia.uol.com.br/ultnot/2009/04/10/ult1767u143593.jhtm>Acessado em: 10 de abr. de 2009.

15

obtêm financiamentos ou refinanciamento das dívidas, devido o aumento das taxas de

juros e, por conseqüência dos valores das prestações.

Assim, as empresas passam a ter dificuldades para renegociar suas dívidas, pois

as vendas se retraíram. Nesta situação, os investimentos produtivos também diminuíram

e, a partir do momento que os consumidores à crédito não puderam mais honrar seus

compromissos a crise se instalou. No geral, se observou um crescimento generalizado

da inadimplência que culminou em falência e caos no sistema financeiro dos EUA e,

devido à globalização das finanças e a proeminência dos EUA, contaminou o restante

do globo.

No momento em que a bolha especulativa do mercado subprime se rompe, uma

seqüência de falências passa a ocorrer. Por exemplo, apenas no setor bancário, no ano

de 2008 foram quase 25 bancos que faliram segundo o FIDC33 e, apenas nos primeiros

três meses de 2009, 22 bancos já faliram34. E mais, os efeitos não param por ai; a taxa

de desemprego nos EUA atingiu 8,9%, a mais alta taxa desde a década de 80 e apenas

desde dezembro de 2008, 5,7 milhões de pessoas perderam seus empregos nos EUA35.

A reparação dos danos causados pela crise atual será partilhada por todos os

países e não somente pelos EUA. O tamanho dos danos causados até agora pela crise

sem que nenhuma indicação concreta de quando haverá uma recuperação dos

indicadores econômicos, inicia outro questionamento: como esta crise poderá afetar as

relações internacionais dos EUA com o mundo? Isto representa o final da hegemonia

estadunidense? Assim, nos próximos capítulos será debatido até que ponto a crise atual

deflagrada pelo subprime afeta os Estados Unidos como hegemonia global.

3. A crise nos EUA a partir do pensamento de Immanuel Wallerstein.

Immanuel Wallerstein é sociólogo, formado pela Universidade de Columbia e

lecionou no Departamento de Sociologia das universidades de Columbia e McGill

(Canadá). Desde 1976 é professor emérito na Universidade de Binghamton e diretor do

Centro Fernand Braudel para Estudos de Economias, Sistemas Históricos e

Civilizações. Atualmente leciona na Universidade de Yale. Ele estudou a África entre

1955 a 1970 e posteriormente começou a escrever sobre o sistema-mundo. Dentre sua

bibliografia destaca-se como obras mais conhecidas: África: the Politics of

33 PORTAL UOL. Economia. Reuters .Disponível em: <http://economia.uol.com.br/ultnot/reuters/2009/02/24/ult29u65946.jhtm> Acesso em: 30 jun. 2009. 34 PORTAL TERRA. Economia. Invertia. Disponível em:< http://br.invertia.com/noticias/noticia.aspx?idNoticia=200904102233_RTR_1239402789nN10334432> Acesso em: 30 jun. 2009. 35 BUREAU OF LABOR STATISTICS . Economic news release. Disponível em: <http://www.bls.gov/bls/newsrels.htm#major> Acesso em: 30 jun. 2009.

16

Independence(1967), O declínio do império americano (2004), O Fim do mundo como

concebemos (2003), Capitalismo histórico e civilização capitalista(2001). The modern

World-System em três volumes (1974, 1980, 1989).

Sua análise implica na concepção de que existem hegemonias que se sucedem na

“liderança” do sistema-mundo moderno, que é capitalista. Na atualidade, a hegemonia

global é exercida pelos EUA e o declínio político e econômico do hegemon vem sendo

apontado pelo autor. O marco histórico inicial é o final dos anos 1960 e o fenômeno foi

acentuado pelos ataques terroristas de 11 de setembro, pela resposta militar que os EUA

produziram e pela crise econômica atual.

3.1 A Análise do Sistema-Mundo.

Em Wallerstein as relações entre os países e o sistema socioeconômico são

trabalhadas na análise do sistema-mundo e é a partir dela que seus argumentos são

usados para identificar como a crise financeira atual pode afetar as relações dos EUA

com o sistema internacional. Em sua análise, Wallerstein utiliza como apoio à sua

reflexão as teorias da Cepal sobre as relações dos países centrais (desenvolvidos) com a

periferia. Outra base importante para o seu pensamento são as formulações de Marx, o

domínio dos fatores econômicos e a distinção das relações entre o trabalho e o capital.

Também fazem parte da construção teórica de Wallerstein os estudos da Annales

schools:36 escola francesa que analisa a história usando as ferramentas das ciências

sociais. Ou seja, esta escola considera as mudanças sociais, ao invés de enfatizar as

questões diplomáticas e políticas, segundo elementos do pensamento de Fernand

Braudel e também o conceito de economia de longa duração do economista soviético

Nicolai Kondratieff.

A análise sistema-mundo moderno de Wallerstein procura combinar de modo

coerente o estudo das temporalidades sociais, com economia, história, geografia e

demais áreas que foram separadas na evolução das ciências sociais no século XIX. Para

Wallerstein (2006, p.22) o sistema-mundo moderno (MSM) origina-se no século XVI

na Europa, depois se expande para a América e para o restante do mundo com uma

característica que o define: sempre foi capitalista. O MSM pode ser subdividido em

duas partes: o império-mundo37 e economia-mundo38. A divisão entre as duas categorias

36 Criado em década de 1920, quando um grupo de historiadores franceses que protestavam contra a ênfase dada, pelos historiados da época, as questões da guerra, diplomacia. A Annales School priorizava a analise que combinava geografia, história e a sociologia. (WALLERSTEIN, 2006, p 15) 37 O império-mundo é caracterizado pelo amplo domínio político e militar, o que segundo Wallerstein é a causa da sua ruína, isto quando outros Estados e as forças capitalistas internas unem forças para derrotar o

17

se faz necessário para diferenciar que o objetivo da análise é estudar, sistemas,

economias e impérios que são o sistema-mundo moderno. Wallerstein (2006, p. 16-17)

coloca o hífen com a intenção de realçar que não “[...] está falando sobre sistemas,

economias, impérios do (todo) mundo, mas sobre, sistemas, economias, impérios que

são o mundo (mas que possivelmente, e de fato usualmente, não compreende todo o

globo”39. Ele complementa observando que: “[...] no ‘sistema-mundo’ estamos lidando

com uma unidade temporal e espacial que compreende inúmeras unidades políticas e

culturais, que representa uma zona de atividade integrada e instituições que obedecem

regras determinadas”40.

Sendo assim, o sistema-mundo moderno não é formado por uma unidade

política, nem mesmo apresenta homogeneidade cultural. Sua característica marcante é o

capitalismo, cujo objetivo principal é a acumulação de capital41. Porém, esta não é a

primeira economia-mundo, mas sim a primeira a durar tanto tempo e o sucesso do MSM

está baseado na eficácia da divisão do trabalho e na aliança política estabelecida entre os

empresários e os detentores do poder político (WALLERSTEIN,2006. p 23-24).

O funcionamento da economia-capitalista ou MSM depende da junção de

instituições interligadas. Considerado como instituição essencial ao sistema capitalista,

o mercado se destaca ao viabilizar e regular os processos onde indivíduos e empresas

compram e vendem mercadorias. Outra instituição são os Estados do sistema inter-

Estatal, que é apresentada por Wallerstein como um paradoxo no MSM, pois os

empresários buscam acumular capital e o poder político pode influenciar a acumulação

negativamente. Mas, ao mesmo tempo o Estado é necessário para poder garantir os

semi-monopólios que conferem lucros altos, pois mercados teoricamente livres(

concorrência perfeita) são desfavoráveis aos capitalistas, pois reduzem os lucros. Outra

instituição42 da economia-mundo são as famílias, as classes e as identidades e os grupos

de pessoas (WALLERSTEIN, 2003; 2006).

império-mundo. Uma vez que, os sistemas-mundo são capitalistas a política pode sufocar o objetivo principal de acumulação de capital. (WALLERSTEIN, 2006. p. 23) 38 Segundo Wallerstein: O sistema-mundo moderno é a economia-mundo, não foi à primeira, mas foi a primeira a sobreviver por longo período de tempo. È caracterizado por uma zona geográfica que contém uma divisão do trabalho e por isso um significativo intercâmbio de mercadorias básicas ou essenciais, bem como fluxos de capital e trabalho (WALLERSTEIN, 2006, p 23). 39 Tradução do autor: “Putting the hyphen was intended to underline that we are talking not about systems, economies, empires of the (whole) world, but about systems, economies, empires that are a world( but quite possibly, and indeed usually, not encompassing the entire globe)” (Op cit. 2006, p16-17) 40 Traduzido pelo autor: “[…] in “world-systems’ we are dealing with spatial/temporal zone which cuts across many political and cultural units, one that represents an integrated zone of activity and institutions which obey certain systemic rules.”(Op cit. 2006, p 17) 41 Traduzido pelo autor: “World-economy and capitalism go together” . 42 Este artigo foca a discussão apenas no sistema Inter-Estados e nos mercados.

18

Dito isto, observa-se que a acumulação de capital depende fundamentalmente

dos Estados. “Os Estados são soberanos, isto é, exclusivamente autorizados a tomar

decisões legais e políticas no interior do Estado” e somente são limitados por outros

Estados (WALLERSTEIN, 2003. p. 9). Dado que, segundo o autor, os Estados são

soberanos, eles podem definir diversas características que compõe e influenciam a

acumulação de capital. Sobre isto, Wallerstein aponta sete itens que a autoridade estatal

controla, de interesse direto deles e dos capitalistas: a) O Estado estabelece regras sobre

em que tempo e em que condições, capital, mão-de-obra e produtos cruzam as

fronteiras. b) Estabelece regras relativas aos direitos de propriedade43. c) regras sobre o

emprego e compensações ao trabalhador. d) decide quais custos a empresa deve

“internalizar”44. e) Que tipos de processos produtivos podem ser monopolizados e em

que grau. f) Estabelecem impostos e g) podem usar o poder que detém para afetar a

decisão de outros estados. Portanto, pode-se estabelecer que a relação do Estado com as

empresas e/ou empresários é o alicerce do funcionamento do capitalismo na economia-

mundo. (WALLERSTEIN, 2006 p. 46)

A lucratividade de cada setor econômico está ligada ao nível de proteção que o

Estado concede, definindo o grau de monopólio do mercado. Além disso, no âmbito do

sistema inter-Estatal, o poder que cada Estado detém é um fator que influência a

acumulação de capital e são usados restringir o grau de liberdade do mercado através de

subsídios, alíquotas, cotas de importação, dentre outros. (WALLERSTEIN, 2003; 2006,

p. 47). Sobre isto o autor complementa “[...] sem a proteção do Estado, o sistema

capitalista não pode sobreviver.” 45 Assim, para poder garantir os lucros necessários aos

empresários, os Estados restringem a liberdade do mercado. Esta restrição confere uma

subdivisão à economia-mundo, segundo o grau de monopólio dos mercados dentro do

sistema inter-Estatal: centro, periferia e a semi-periferia46.

Esta divisão entre centro e periferia, segundo Wallerstein, “[...] maximiza a

manutenção da divisão axial núcleo-periféria de trabalho e, assim, a possibilidade de

quase monopólios efetivos no interior de um sistema ostensivamente de livre mercado”

(op. cit, 2003. p. 11), todavia, esta divisão não afeta a estabilidade da economia-mundo

e é fundamental na expansão do capitalismo através da economia-mundo. Para que isto

aconteça este sistema inter-Estado é liderado por um Estado hegemônico. Desde o

século XVI, sua liderança foi exercida por Estados diferentes. Foi assim, desde a

Holanda, Grã-Bretanha e Estados Unidos. (WALLERSTEIN, 2003. p. 13-16)

43 Direitos de propriedade dentro da economia-mundo são fundamentais na criação de semi-monopólios. 44 Para Wallerstein a internalização dos custos diminui a lucratividade dos capitalistas. 45 Tradução do autor: “[…] without some state-guaranteed, the capitalism system cannot function at all”. 46 Estados que apresentam algumas características do centro e da periferia. (WALLERSTEIN, 2003 p.22)

19

A ascensão hegemônica no MSM ocorre por dois fatores. O primeiro, pelo

conflito entre um poder com intenção imperialista e/ou hegemônico e os Estados que

são oponentes, foi assim com Carlos V, com Napoleão e a Alemanha de Hitler, e o

segundo está ligado ao fato do poder hegemônico, normalmente, conquistar no mundo

uma liderança moral, em conjunto com vantagens econômicas e militares.

(WALLERSTEIN 2003; 2004; VOIGT, 2007)

No MSM, os ciclos hegemônicos têm começo, meio e fim e seguem esta

continuidade independentemente de qualquer ação por parte do país que exerce a

hegemonia no momento. Essas características culminam na ascensão de uma liderança,

no seu exercício e finalmente, no fim da hegemonia, sendo que a atual hegemonia do

MSM pode apenas tentar retroceder a velocidade deste declínio. Outro fator ligado ao

declínio é o próprio sucesso da liderança hegemônica, porque acentua as contradições

internas necessárias e características do MSM. Junto a estas características estão as

tendências seculares47 que Wallerstein aponta como fundamentos da crise estrutural48, e

que minam a liderança hegemônica estadunidense. (WALLERSTEIN, 2002; 2004)

As tendências seculares assinaladas por Wallerstein ocorrem no âmago do

próprio sistema capitalista para maximizar as taxas de lucro. Porém, são alguns dos

próprios limites estruturais que o capital enfrenta nos ciclos de acumulação e tem a

capacidade de pressionar a hegemonia dos EUA e acentuar a própria crise terminal do

MSM. Em primeiro, o autor aponta a desruralização do mundo. Este fenômeno é conflui

com a transferência das plantas indústrias (exportação do emprego ou offshoring) para

outras regiões do mundo para diminuir a pressão dos salários sobre os lucros. A

desruralização representa um aumento nos custos de produção (salários), pois o

excedente de mão-de-obra que se encontrava no interior e formava uma parcela barata49

e desorganizada, com o tempo torna-se organizado e busca melhores salários e

condições. Wallerstein aponta que não existem mais áreas a serem incorporadas ao

sistema produtivo e o resultado disto é o aumento estrutural dos custos do salário sobre

os lucros. A segunda tendência apontada por Wallerstein são os custos ecológicos e a

não renovação da matéria-prima. A externalização dos custos é adotada pelo capital

para maximizar o lucro. Consiste nos efeitos colaterais da extração de matéria-prima

e/ou da transformação de um produto a partir da matéria-prima. O não tratamento dos

resíduos resultantes da produção e a sua eliminação em cursos d’água é um exemplo e,

47 As tendências seculares que Wallerstein aponta como limites para a acumulação de capital, essencial no sistema capitalista, são a desruralização, forma dos capitalistas em reduzir a pressão sobre os salários e a redução do lucro, os limites ecológicos e a “externalização” dos custos e também a democratização disseminada pelo mundo, o que aumenta as pressões populares por gastos com saúde, educação dentre outros, o que pressiona o lucro capitalista. (WALLERSTEIN, 2004 p. 257) 48 Neste artigo é discutido apenas os ciclos hegemônicos, porém, Wallerstein descreve que o MSM, mais especificamente a economia-mundo capitalista está em crise terminal. 49 Wallerstein reconhece que a mão-de-obra na cidade consegue maiores salários do que no campo, porém, em comparando a periferia com o centro do sistema e com os trabalhadores organizados, representavam custos menos de produção.

20

isto poderá afetar as populações futuras ou mesmo se a limpeza for socializada, isso

implica em mais custos e por conseqüência mais impostos por parte do Estado e maior

redução nos lucros. A outra forma é a utilização constante de matérias-prima sem a

renovação da mesma. E segundo Wallerstein, só funciona se houver áreas não poluídas

para despejo dos resíduos, porém, o autor aponta nos últimos 500 anos está o despejo

sem tratamento está em curso e hoje não existem mais áreas disponíveis para

externalizar os lucro. A terceira tendência estrutural que Wallerstein aponta é a

democratização e, consequentemente, o aumento da tributação. Para o autor, as

demandas nas áreas de saúde, educação e garantias, especialmente seguro desemprego e

seguro social, foi disseminado pelo mundo tornando-se quase universais. Isto, contudo,

representa em pressões nos orçamentos dos Estados. E para conseguir manter estes

níveis de bem-estar social, os governos utilizam à tributação como meio de conseguir

recursos e, portanto, financiar as demandas sociais50 e garantir estabilidade política.

(WALLERSTEIN, 2004)

Portanto, as tendências seculares são características estruturais do capitalismo

que minam a acumulação de capital. E como a acumulação de capital é a característica

que define o MSM, as tendências estruturais interferem na hegemonia dos EUA e

também o próprio MSM.

3.2 Ascensão e declínio da hegemonia estadunidense Ao abordarmos os aspectos destacados por Wallerstein (2003. p. 15), observa-se,

segundo o autor, que a ascensão para hegemonia dos Estados Unidos começou na

recessão de 1873, na fase B do ciclo Kondratieff51. Entre 1873 até 1914 a liderança

econômica e política da Inglaterra foi sistematicamente diminuída, ao mesmo tempo em

que, Estados Unidos e Alemanha ascendiam como potências econômicas no sistema-

mundo moderno. Os Estados Unidos passaram a dominar os setores da siderurgia e

automóveis e a Alemanha passou a liderar o setor petroquímico. Assim, de 1914 até

1945, os dois países se confrontaram pela sucessão da hegemonia do MSM52. [...] a primeira guerra mundial eclodiu em 1914 e terminou em 1918; a Segunda Guerra Mundial durou de 1939 a 1945. Contudo, faz mais sentido considerar as duas como única e contínua ‘guerra dos trinta anos’ entre os Estados Unidos e a Alemanha, com tréguas e conflitos dispersos ao longo do período (WALLERSTEIN, 2004. p. 22).

50 Pressao dos impostos também incorporam a exigencia de segurança (exercito e policia) e o aumento da burocracia civil. 51 Ver neste artigo tópico 2. 52 Antes do início da Segunda Guerra Mundial, Wallerstein aponta um desvio ideológico na disputa para sucessão hegemônica, a ideologia nazista, que procurava não a hegemonia e sim o império-mundo (WALLERSTEIN, 2004. p. 22).

21

No pós II Guerra, o mundo foi dividido entre EUA e a URSS, pelo acordo de

Yalta53. Mas, com a Eurásia devastada, foi neste momento que os EUA realmente

tornou-se a liderança hegemônica no MSM. No campo econômico, não eram ameaçados

pela URSS e utilizando a Guerra-Fria como pano de fundo, reconstruíram a Europa e o

Japão54. Primeiro porque não havia razão da superioridade econômica sem uma

demanda mundial efetiva e segundo, criava com estas nações um vinculo que

possibilitava alianças políticas e militares. Wallerstein aponta ainda o sucesso do

componente ideológico dos EUA, que sustentado nas alianças militares e econômicas

criou um consenso de “defensor do mundo livre” contra a URSS socialista.

(WALLERSTEIN, 2004. p. 279-299)

Entretanto, as bases da liderança dos EUA serão, segundo Wallerstein, as

mesmas que geram seu declínio hegemônico. As características que marcam o inicio do

declínio são as revoluções de 1968, a guerra do Vietnã, o colapso da URSS, as ressacas

econômicas, o militarismo e sentimento anti-americano, os ataques terroristas de 2001 e

também, não mesmo importante, a resposta estadunidense aos ataques terroristas.

(WALLERSTEIN, 2004)

Na atual crise econômico-financeira, iniciada no mercado subprime pode ser

encontrado nos argumentos de Wallerstein algumas características que pressionam

ainda mais a hegemonia estadunidense. Primeiro, a ofensiva neoliberal das décadas de

70 e 80 tentava revitalizar e maximizar as taxas de lucro do sistema. Sua política era

minimizar a presença do Estado na economia, reafirmando a fé na eficiência dos

mercados a fim de reduzir o custo dos salários na economia. Buscava ainda retirar e/ou

diminuir os benefícios sociais, que representam custos para os capitalistas, reduzindo o

Estado somente à função básica de proteção (Polícia e Exército) e realocar as plantas

produtivas em Estados periféricos para reduzir custos de produção, especialmente

salários. Contudo, a diminuição dos salários reduz a demanda no longo prazo, o que

caracteriza uma contradição do sistema55. A segunda característica é a especulação

financeira, livre da restrição estatal. Como o mundo vivia e ainda vive uma fase B de

Kontratieff, a especulação financeira torna-se uma opção para maximizar o lucro, o que

acarreta em menor investimento em produção e em menor demanda. A terceira

característica que a crise financeira acentua é a falta de credibilidade da liderança

estadunidense, sobre a estrutura do sistema inter-Estados, o que segundo Wallerstein é

essencial para a liderança hegemônica. Para muitos Estados, a falta de controle sobre os

53 “Politicamente, Yalta foi um acordo de status quo, segundo o qual a União Soviética controlaria cerca de 1/3 do mundo e os EUA o restante do mundo” (WALLERSTEIN, 2004. p.23). 54 Plano Marshall e Plano Colombo 55 WALLERSTEIN, Immanuel. Depressão, uma visão de longo prazo. Agencia Carta Maior. Disponível em: <http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15320> Acesso em: 30 abr. 2009.

22

mercados financeiros e a agressividade da política monetária criou um sentimento de

desconfiança em relação ao dólar e a política estadunidense (WALLERSTEIN, 2002;

2004).

Wallerstein aponta que os Estados Unidos irão perder ao longo das décadas

seguintes poder em relação aos demais Estados. E que a liderança estadunidense será

cada vez mais questionada e pressionada pelos atores do sistema. Contudo, Wallerstein

observa que a crise de hegemonia estadunidense resulta, ao mesmo tempo, de uma crise

sistêmica e de uma crise terminal do sistema56 capitalista que tende a ocorrer dentro dos

próximos 50 anos, e que em um determinado momento bifurca-se: Para um sistema

mais hierarquizado e segregador, na qual tudo muda para não mudar nada. Ou, para um

sistema mais socialmente justo e igualitário. Segundo Wallerstein, durante este período

de transição viveremos um mundo caótico e que não é possível prever qual sistema

tornar-se-á vigente, porém, as ações tomadas neste momento são parte da construção do

próximo sistema mundial.

Portanto, estas três características que a crise financeira maximizou são

fragilidades que o EUA enfrenta no MSM. Desta maneira, para o autor vive-se uma

crise dupla: a crise da hegemonia americana e segundo a crise do sistema econômico

capitalista. Estas mudanças no MSM e na dinâmica mundial produzirá um

questionamento constante nas Relações Internacionais dos Estados Unidos para com o

mundo. Desta forma, a crise financeira é mais um elemento, que ao depreciar o poder da

moeda, contribui para reduzir o poder da hegemonia norte americana.

4. A crise estadunidense em José Luís Fiori José Luís Fiori, sociólogo formado pela Universidade do Chile e pós-doutor em

Ciência Política pela Universidade de Cambridge, leciona na Universidade do Federal

do Rio de Janeiro (UFRJ) e na Universidade Estadual do mesmo estado (UERJ). Como

cientista político começou a estudar a conjuntura econômica brasileira na década de 70

e a partir dos anos 80, partiu para o campo internacional e assim o faz até os dias atuais.

Dentre seus mais relevantes trabalhos são citados: O Poder Global e a nova geopolítica

das nações (2007), O Mito do Colapso Americano (2008), O Poder Americano (2004),

Poder e Dinheiro: Uma Política da Globalização (1997), Falsos Moedeiros (1997) e

Estados e moedas no desenvolvimento das nações. (1999)

56 “[…] ao longo de 500 anos, os três custos básicos da produção capitalista – pessoal, impostos e insumos – têm subido constantemente no percentual dos preços possíveis de venda, de tal modo que hoje se tornou impossível obter grandes lucros[…]” WALLERSTEIN, Immanuel. Depressão, uma visão de longo prazo. Lê Monde Diplomatique Brasil. Disponível em:< http://diplo.uol.com.br/2008-08,a2568> Acesso em: 1 jul. 2009.

23

Em suas análises pode-se encontrar pontos de apoio e de reflexão conceitual nas

teorias de Fernand Braudel, referente a multiplicidade de tempos e tendências históricas

de longo prazo; nos estudos de Marx sobre o imperialismo, a lógica e a dinâmica

econômica do capitalismo; de Hegel, Fiori destaca sua filosofia da história e, da teoria

da Guerra de Carl von Clausewitz ele aborda o poder das guerras em mudar realidades e

conjunturas (cálculo tático e estratégia). Ainda, Fiori menciona as influências de

Gramsci e Kindleberger com foco no conceito de hegemonia e sobre as mudanças de

blocos históricos. (FIORI, 2007) O autor também reflete a influência da Teoria de Max

Weber no conceito de relações de interesse, e de Norbert Elias de quem retira a máxima:

num sistema inter-Estatal competitivo quem não sobe cai. (FIORI, 1997; 2004 e 2007)

4.1 Nascimentos dos Estados e Economias nacionais.

A partir do século XI, segundo Fiori (2007 p. 15-16), é o momento que surgem e

crescem as economias e os mercados nacionais, que anteriormente estavam restritos a

pequenos territórios e colônias. O avanço da acumulação de capital decorreu do poder

centralizador dos Soberanos, que implica em crescente simbiose entre a economia e a

política, pois para serem eficazes foi necessária “[...]uma aliança cada vez mais estreita

e multiforme entre o poder e o capital”. (FIORI, 2007, p. 23)

Segundo Fiori (2007. p. 17): “Para existir, [o poder] precisa ser exercido; precisa

ser reproduzido e ser acumulado permanentemente”. Esta acumulação de poder deu-se

através da tributação do excedente e, em um momento posterior, na monetização57 dos

tributos e da economia, bem como através da guerra dentro de um sistema inter-Estatal

competitivo. Dado que o sistema inter-Estatal se tornou competitivo58, à moeda do

vitorioso sempre foi imposta ao Estado perdedor. Isto contribuía na acumulação de cada

vez mais poder. Deste modo, numa aliança entre o poder político dos soberanos com o

dinheiro e o financiamento por parte do capital (FIORI, 2009. p 32-33; 1999. p 41), o

sistema capitalista, foi fundamental para a criação e formação dos Estados a partir do

século XIII, caracterizados pela centralidade e pelos laços estreitos com o capital.

(FIORI, 1997; 2007)

Esta associação do capital com o poder político decorre do fato de que o capital

necessita do Estado para garantir proteção contra a concorrência externa e também para

57 A monetização dos tributos configura para Fiori a forma do Estado de conseguir acumular mais poder. “[...] a ‘monetização’dos tributos representou uma mudança radical no processo de acumulação do poder e também nas relações entre o poder e o mundo da produção e das trocas” (FIORI, 2007 p. 19-23). 58 Segundo Fiori, a competição dentro do sistema inter-Estatal era sempre para a acumulação de mais poder político e econômico. (FIORI, 2004. p. 22)

24

se expandir através do Estado, através de novas conquistas ou territórios econômicos59.

O autor assim explica: “[...] a ‘pressão competitiva’ do poder é sempre uma pressão

sistêmica, [para] se expandir ou se defender, mesmo que seja simplesmente para

conservar o poder [...].” (FIORI, 2008. p. 17-18). Neste aspecto, o capital serve ao

poder estatal para financiar sua expansão, seja pela via da guerra, da moeda, dos títulos

públicos, dentre outros.

Ao utilizar a observação de Norbert Elias, “quem não sobe, cai”, Fiori observa

que durante o século XI até a atualidade, esta associação do capital com o poder central,

primeiro com os Soberanos e depois com o Estado, é fundamental para o funcionamento

das economias e do sistema mundial60. Neste aspecto o autor observa uma dupla

engrenagem de funcionamento: de expansão do universo61 e de explosão expansiva62. O

economista estadunidense Robert Gilpin definiu esta relação como o “amigo intimo”63.

Assim, durante quase 500 anos, ocorreu um movimento de expansão e fusão do sistema

mundial, primeiro de cidades-Estados64, e depois Estados que foram líderes, ou

hegemon no comércio, guerras e finanças que puderam estabelecer a liderança e

equilíbrio dentro dos mercados em expansão.

4.2 Ascensão dos Estados Unidos da América no sistema inter-Estatal

Desde o século XVI, a característica fundamental do sistema inter-Estados é a

competição para expandir o poder econômico, político e militar dos Estados. Esta

expansão que era caracterizada pela anexação ou conquista de territórios, a partir do

século XX, se dá pela absorção ou submissão econômica dos competidores e não mais

por sua derrota completa, com a eliminação territorial do competidor. Desta maneira,

para que haja acumulação de capital e poder é necessária à existência de concorrentes,

59 Segundo Fiori, os territórios econômicos representavam uma importante área de influencia do seu capital, contribuído para o fortalecimento da moeda do hegemon, como no caso dos territórios de influencia direta Inglesa, EUA, Canadá, Nova Zelândia e Austrália, estes representam uma área de internacionalização do capital Inglês. (FIORI, 2009; 2007) 60 O autor utiliza a denominação de Wallerstein de sistema mundial moderno, porém, sem o mesmo sentido. Ele faz referência somente ao período histórico que o sistema mundial é compreendido. E que foi compreendido por duas expansões expressivas, a primeira nos séc. XV e XVIII e a segunda no séc. XIX e XX. (FIORI,2004 p. 39) 61 Para o autor o sistema mundial é o universo em expansão, na qual os Estados estão sempre na luta pelo poder global, especialmente o país hegemon. Esta competição cria ordem e desordem, guerra e paz, expansão e crise. ( FIORI, 2009 p. 33-34) 62 Segundo Fiori, explosão expansiva é caracterizada pelo aumento na competição do sistema inter-Estatal. Promovido por uma ou mais potências, que promovem o alargamento ou anexação de novas fronteiras ou territórios. Este movimento pode também acarreta no aumento de guerras e disputas hegemônicas. (FIORI, 2009. p. 22-34) 63 No original: vice crony capitalism (GILPIN, 2000). 64 As cidades italianas no começo do século XIII como Veneza, Gênova e Florença.

25

porque sem competidores o sistema entra em colapso, pois não há mais necessidade de

acumulação de poder (FIORI, 2007. p. 28; 2004, p. 28). Portanto, a competição inter-

Estatal é fundamental para impulsionar a expansão do poder dos Estados. (FIORI, 2005)

No sistema mundial competitivo, o que argumenta Fiori sobre a necessidade de

cada vez mais centralização de poder: “[os Estados] precisam se expandir ou se

defender, mesmo que seja simplesmente para conservar o poder que já possuem”

(FIORI, 2007. p. 18), a disputa por poder neste sistema inter-Estatal fomentou a

internacionalização do poder e da moeda, e que fez surgir uma liderança global, capaz

de hierarquizar os sistemas econômicos e políticos e a economia mundial. Este

movimento consistiu em transformar sua moeda nacional em referência mundial: como

ocorreu com os padrões libra-ouro, na liderança Inglesa, e na liderança dos EUA no

dólar-ouro e pós-Bretton Woods ou dólar-flexível65.

O sistema inter-Estatal atual é composto quase duas centenas de Estados,

porém, poucos controlam a direção e as normas de funcionamento do sistema mundial.

Os que fazem isto são, o núcleo de poder do sistema inter-Estatal, que foi formado

desde o século XIX por um pequeno grupo de países como França, Holanda, Rússia,

Áustria e Prússia e que no séc. XX foram incorporados Japão, EUA, Alemanha e

excluídos Áustria e Prússia. Porém, o núcleo mantém-se restrito.

Esta liderança do sistema inter-Estados passou para os EUA entre o final do

século XIX e início do século XX. (FIORI, 2007 p.99; 2004 p. 43-44). A ascensão dos

EUA no sistema inter-Estados ocorreu de forma contínua (uma sucessão natural) por

causa da característica complementar entre a economia dos EUA e a da Inglaterra, pois

sua colônia na América tinha se tornado a principal área de investimentos do capital

inglês. Essa “sucessão natural” ficou evidente mesmo após Guerra de Independência66.

Sobre isto Fiori (2004) destaca que mesmo com esta ruptura, o país continuou como a

principal área de investimento do capital inglês.

A partir da sua independência, os EUA começaram a expandir seu poder através

da América e depois na Ásia. Segundo Fiori, até o momento da Guerra Civil67

estadunidense, os EUA tinham formado uma rede de alianças comerciais e diplomáticas

65 Termo cunhado pelo economista Franklin Serrano. 66 O momento em que os EUA se tornaram independente, era marcado pela disputa entre as potências européias pela hegemonia, com isto, entre 1793 até 1820, os Estados Unidos puderam negociar de forma bastante favorável aos seus interesses e obter consideráveis vantagens econômicas e territoriais. E no momento em que a disputa hegemônica acaba na Europa e as potências voltam seus olhos para as colônias, os EUA já estão de “pé” e bastante fortalecidos. (FIORI, 2004. p. 69-70) 67 A Guerra Civil dos Estados Unidos iniciou em 1861 até 1865 na assinatura do Compromisso entre Republicanos e Confederados. Foi uma Guerra entre os sulistas, rurais e escravagistas contra o norte, industrial e desenvolvimentista. Na qual, o Norte conquistou a vitória e que foi fundamental para a expansão do capital estadunidense. (FIORI, 2004 p. 75-77)

26

fundamentais com base em seus acordos privilegiados com a Inglaterra (FIORI, 2007;

2004). Ainda, segundo o autor, a Guerra Civil nos Estados Unidos representou uma

plataforma de ascensão do país ao núcleo do sistema mundial. As disputas entre os

Confederados e a União aceleraram a união entre o capital e o poder político nacional,

tal como ocorrera com a Inglaterra no século XVI e XVII, o que consolidou a dívida

pública, sua moeda, seu exército, e a tributação68. Logo após a Guerra Civil, os EUA

expandiram seu poder sobre o continente Americano e transformaram o Caribe no seu

território econômico. Na Ásia, depois das Filipinas, os EUA intervieram com sucesso na

Guerra dos Boxes na China em 1900, na Guerra Russo-Japonesa, em que a conferência

de paz foi celebrada em New Hampshire, a pedido dos japoneses. Assim, ao entrar na I

Guerra Mundial os EUA já configuravam como uma potência no sistema mundial e

potência hegemônica no continente americano. (FIORI, 2004)

Entre 1914 e 1945, com duas Guerras Mundiais e uma crise financeira, cujo

epicentro foi os EUA, o sistema mundial observou a ascensão do país ao posto de

potência. Para o autor, as duas Guerras Mundiais representam para os EUA a

possibilidade de luta pela hegemonia do sistema europeu e do sistema asiático, além de

que, o país pôde negociar favoravelmente as bases “[...] hierárquicas, funcionais e

competitivas da nova ordem política mundial, que nasceria sob a forma simultânea e

complementar da Guerra Fria com a União Soviética, e da hegemonia, econômica e

militar dos EUA dentro do mundo capitalista” (FIORI, 2004 p. 85).

Ao final das II Guerra Mundial o sistema internacional ficou dividido entre as

forças dos EUA e da URSS. A Guerra Fria representou uma divisão bipolar do sistema

mundial, na qual os níveis hierárquicos e territórios foram negociados caso a caso,

principalmente no caso Europeu, somente foi consolidado em 1949, com a divisão da

Alemanha, ocupação soviética na Europa Central e da formação da OTAN e do Pacto

de Varsóvia. A partir de então, a competição global desloca-se para as demais regiões

do globo, passando pela revolução comunista em 1949, Guerra da Coréia entre 1950 e

1953, da Guerra do Vietnã, na Crise de Suez69 em 1956, na Revolução no Irã e para

partes da Ásia Central, como Afeganistão em 1979 e do Caribe, como Cuba em 1959 e

1961.

Compreende-se que desde o final da II Guerra Mundial e Guerra Fria, para Fiori,

os EUA exerceram seus interesses na construção de um sistema monetário

68 Neste período pode-se observar um aumento exponencial na economia estadunidense, entre 1864 e 1879, a produção de carvão aumentou 800%, a produção de trilhos de aço em 523%, a produção de trigo em 256% e a imigração dobrava o tamanho da população estadunidense. (FIORI, 2004 p.76)

27

internacional, baseado no dólar. A partir de então, construíram em todo o mundo

territórios de investimentos, complementares a sua economia, como a Alemanha e

Japão, que consistiam em protetorados militares, áreas de investimentos, porém sem

forças bélicas que pudessem incentivar sua expansão e competição no sistema mundial.

Segundo Fiori: “[...] foi esta combinação de protetorado militar dos derrotados com a

integração e coordenação global de suas economias que se transformou na base material

e dinâmica da ‘hegemonia’ mundial exercida pelos EUA [...]” (FIORI, 2004 p. 89). E,

portanto, construíram sua hegemonia baseadas nas suas forças econômicas e bélicas.

4.3 A crise de 2007 e o mito do colapso do poder estadunidense

O sucesso dos Estados Unidos na construção do sistema mundial foi um dos

fatores que contribuíram para o declínio da sua hegemonia. A natureza do sistema

mundial, de universo em expansão, transformou aliados em competidores econômicos

que passaram a disputar mercados e territórios. É a partir deste momento que segundo

Fiori, há uma ruptura da hegemonia benevolente dos EUA, baseada em instituições

internacionais de cooperação internacional, sob liderança estadunidense, para a

construção de um Estado Imperial. (FIORI 2008; 2007; 2004)

A partir dos anos 70, os EUA viveram inúmeras crises simultâneas, a derrota na

Guerra do Vietnã, a crise do dólar-ouro, o aumento da pressão competitiva sistêmica,

aspectos que muitos analistas acreditavam ser características da crise final da

hegemonia estadunidense. Segundo Fiori: “[...] foram os Estados Unidos que tomaram a

iniciativa que,[...] desorganizou uma ordem estabelecida e acabou prejudicando os

próprios interesses norte-americanos”(FIORI, 2007 p. 103). Sobre este aspecto, o autor

afirma que para seguir acumulando riqueza e poder a “[potência hegemônica] precisa ir

além e destruir as próprias regras e instituições que ela mesma construiu[...]”(FIORI,

2008 p. 31). Foi também neste momento, meados dos anos 80, que os EUA

abandonaram de forma unilateral o sistema de Bretton Woods, desregularam seus

mercados financeiros e forçaram outros países a seguirem este procedimento.

Estas estratégias foram utilizadas como ferramentas de expansão do poder, uma

vez que, para se expandir a potência hegemônica cria ordem e desordem, paz e guerra, e

cria e destrói seus potenciais competidores. Para Fiori, as potências hegemônicas

69 Para o autor a Crise do canal de Suez foi um momento decisivo no rearranjo das disputas globais e também marca o fim da incondicionalidade dos aliados, representado pelo bloqueio a invasão do Sinai por Israel, França e Inglaterra. (FIORI, 2004 p 87)

28

sempre tentam criar impérios, pois: “Os impérios não tem interesse em operar dentro de

um sistema internacional; eles aspiram ser o próprio sistema internacional”

(KISSINGER apud FIORI, 2008 p. 37). Assim, as ações estadunidenses foram pautadas

na explosão expansiva do seu poder internacional. Este sucesso culminou no fim da

Guerra Fria e que, pela primeira vez na história do sistema mundial existe a

possibilidade de um Estado aspirar tornar-se um império mundial. (FIORI, 2008; 2007)

Contudo, devido à característica competitiva do sistema inter-Estatal, os EUA

promovem mudanças estruturais para continuar a expandir seu poder militar e

econômico. A “crise dos anos 70” é parte desta mudança estrutural de longo prazo que,

segundo Fiori, não representa o final da hegemonia estadunidense, e sim o inicio de um

aumento expressivo de seu poder. As desregulamentações financeiras, a dívida pública

estadunidense e o fim de Bretton Woods, permitiram aos Estados Unidos “[...] exercer

um poder monetário e financeiro internacional sem precedentes na história da economia

e do ‘sistema mundial moderno’.” As ações produzidas pelo Estado Americano,

fortaleceram o poder estadunidense ao transformar sua moeda e títulos da dívida pública

em referência mundial, baseados somente na credibilidade de sua economia e no ser

poder político. (FIORI, 2008)

Assim, quando em 2007 uma nova crise atinge os EUA, com conseqüências

severas para todo mundo70, para Fiori a crise não atinge a centralidade do dólar, da

dívida pública71 e da economia. Para Fiori :

[...]tudo indica ser uma crise “regular”, dentro de um sistema que é, por excelência, contraditório, instável e conflitivo. Dentro das novas regras e estruturas criadas a partir da crise dos 70, os Estados Unidos definem de forma exclusiva o valor de uma moeda que é nacional e internacional, a um só tempo, e que está lastreada nos títulos da dívida pública do próprio poder emissor da moeda72.

As observações atuais de Fiori devem ser contrastadas com as de suas obras

anteriores para serem mais explicitas. Diferente do que faz Wallerstein, que acredita que

um dos pontos da crise de hegemonia americana é a perda de poder em sua moeda e em

sua economia, Fiori observa que a crise do dólar permitiu aos EUA aumentar seu poder.

Isso pode ser explicitado da seguinte maneira: com a crise do padrão dólar-ouro, os

EUA transformarem sua moeda em ativo sem lastro e aumentaram seu poder. Com as

70 Ver tópico 2 neste artigo. 71 E também a credibilidade, uma vez que, no inicio da crise os investidores internacionais recorreram para a “segurança do dólar e da divída pública dos Estados Unidos” 72 FIORI, José Luís. Crises e hecatombes. Agência Carta Maior.. Disponível em: < http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3856> Acesso em: 01 jul. 2009

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crises dos anos 1990, os EUA impuseram ao mundo a abertura e desregulação das

economias. Nesta situação transformaram sua moeda em base do sistema monetário

internacional e sua dívida pública como principal ativo financeiro dos governos. Do

exposto se apreende com Fiori (2004, p.101) que a:

[...] globalização capitalista não foi uma obra do capital mas de Estados e economias nacionais que tentaram impor ao mundo sua moeda, sua dívida pública e seu sistema de tributação como lastro de um sistema monetário internacional transformado no espaço privilegiado de expansão de seu capital financeiro nacional .

Ainda segundo o autor citado, ao mesmo tempo os EUA seguem como líder

tecnológico, econômico e militar, “[...] controlam cerca de 70% de toda informação

produzida e distribuída ao redor do mundo[...]”(FIORI, 2008 p. 19). Contudo, a

construção do Estado-império tem limites, situados na própria lógica da expansão do

poder. Ao mesmo tempo em que expande o seu poder, o Estado hegomon recria e

fortalece as velhas potências que são necessárias para a competição inter-Estatal. Assim

também acontece com “[...] a concorrência capitalista, onde o próprio capital recria sem

cessar as suas novas formas de competição, porque perderia capacidade de acumulação

se ocorresse uma monopolização completa dos mercados” (FIORI, 2004 p.103) Por

isso, no sistema político o hegemon, precisa recriar seus competidores para continuar

expandir seu poder dentro do sistema mundial e no sistema capitalista as empresas

precisam recriar seus competidores.

Para Fiori, os EUA vivem desde 1987 “bolhas especulativas” sem comprometer a

economia estadunidense, pois, é o próprio hegemon que cria e destrói a ordem

internacional. Estes ciclos fazem parte do projeto de expansão vitoriosa do próprio

poder estadunidense. Com o sistema financeiro desregulado dos Estados Unidos

acontece algo semelhante: o sistema produz a mesma via de crescimento econômico

mundial, mas é disseminador de eventuais crises financeiras, dada à interconexão dos

mercados. Portanto, para Fiori não é possível falar em final da hegemonia dos Estados

Unidos, somente em declínio relativo, pois “[...] a política expansiva da potência líder

[...] aprofundou as contradições do sistema mundial, derrubou instituições e regras, fez

guerras e acabou fortalecendo os Estados e as economias que disputam as supremacias

regionais ao redor do mundo”. Estes países (Japão, Alemanha, China...), ao mesmo

tempo “[...] vêm cumprindo um papel decisivo na reprodução e na acumulação do poder

e da riqueza [dos] Estados Unidos [...] para reproduzir sua posição no topo da hierarquia

30

mundial” (FIORI, 2008 p. 37)73. Logo, o poder estadunidense pode ser questionado mas

a crise não significa redução do poder do hegemon, ao contrário pode até fortalecê-lo.

Considerações finais A crise financeira internacional que teve início no estouro da bolha dos subprime

é considerada a maior crise dos últimos 80 anos. Esta crise fez com que ressurgisse um

debate mundial, iniciado na década de 70, sobre o futuro do sistema político

internacional. A principal questão debatida é se a crise atual afeta a hegemonia

estadunidense. Para isto, os pensadores estudados têm posições divergentes.

Para Immanuel Wallerstein, esta crise faz parte do declínio hegemônico

estadunidense no sistema mundial moderno. As derrotas militares e políticas, as crises

econômicas e a tendência imperialista a partir da década de 70, segundo Wallerstein,

representam o marco inicial da crise hegemônica dos Estados Unidos. O

enfraquecimento do poder dos EUA faz com que ressurja no sistema mundial o

descontentamento com o status quo atual, que desestabiliza cada vez mais o sistema

mundial. Além disso, o mundo esta mais multipolar, além dos EUA, Japão e União

Européia, no sistema mundial reaparecem Rússia, China, Irã, Índia, Brasil e África do

Sul.

No campo econômico, a crise financeira pressiona um dos alicerces da

hegemonia dos Estados Unidos, o poder do dólar. O mundo viveu desde 1945 sob

hegemonia do dólar no sistema financeiro internacional, e muitos países têm como

investimentos os títulos da dívida pública dos EUA. O declínio da força econômica

associada à perda de credibilidade internacional e expansão da dívida (das famílias, das

empresas e do governo) afeta a estabilidade do dólar e coloca o mundo numa situação

difícil.

Os Estados do sistema internacional estão divididos entre sustentar os EUA, que

se transformou no principal destino de suas exportações e, evitar que o valor de seus

ativos vinculados ao dólar sofra a redução de seu poder aquisitivo e de medida de

riqueza. Portanto, especulam sobre a possibilidade de abandoná-lo. Mas, no mundo não

há muitos candidatos que estão à altura para substituir o dólar. Entretanto, Wallerstein

73 FIORI, José Luís. Crises e hecatombs. Agência Carta Maior. Disponível em: < http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3856> Acesso em: 01 jul. 2009

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assinala outra dificuldade para o sistema mundial, um fator novo: o declínio da

hegemonia dos EUA ocorre simultaneamente com o final do sistema-mundial moderno.

Pressionados por tendências de longo prazo, os custos da produção capitalista

em pessoal, impostos e insumos, estão sendo agravados pela própria crise capitalista.

Por isto, de acordo com o estudado em Wallerstein, é possível que estejamos entrando

em um mundo desorganizado e caótico, pois os pontos de equilíbrio do sistema já estão

operando no limite em razão do próprio sucesso do sistema capitalista. Este autor

observou que estamos nos aproximando do ponto em que o sistema bifurca: ou para um

sistema similar ao que vivemos, hierarquizado e polarizado ou podemos entrar em um

mundo mais igualitário e socialmente justo. Porém, não há como prever para qual

mundo seguimos, mas podemos contribuir decisivamente para criar o mundo que

desejamos.

Ao contrário de Wallerstein, o argumento de Fiori é que esta crise atual

representa um processo de expansão do poder hegemônico dentro do sistema inter-

Estatal. Segundo a premissa de Norbert Elias, utilizada por Fiori, “quem não sobe, cai”

os Estados precisam, continuadamente, expandir seu poder para que sua posição na

hierarquia no sistema mundial não seja alterada. Devido às características de

funcionamento do sistema inter-Estatal competitivo, Fiori diz que o Estado hegemon

tem a capacidade de criar e destruir a ordem dentro do sistema. Para este autor, este

sistema é sempre movimentado pela pressão sistêmica dos Estados e do país

hegemônico, todos buscando expandir seu poder. Com isto, não há possibilidade dos

Estados praticarem a manutenção do seu status quo, uma vez que podem ser

ultrapassados por outros competidores.

Portanto, neste universo competitivo e em expansão, não há paz perpétua e nem

mercados equilibrados e estáveis. E também, segundo Fiori, esta expansão do poder foi

feita através da simbiose entre o capital e poder político, que criou e recria as economias

nacionais. Para Fiori, a crise atual é um sintoma da competição econômica dentro do

sistema e, portanto, não há possibilidade que a liderança da expansão econômica do

capitalismo passe das grandes potências para as mãos do empreendedor típico dos

modelos de economia de mercado.

Dito isto, compreende-se que é da natureza do sistema há existência de crises,

porém, estas crises são alvos de interpretações distintas entre os autores utilizados neste

trabalho. A competição sistêmica entre os Estados é latente e, por isto, os Estados

sempre buscam expandir seu poder dentro deste sistema internacional. Entretanto, os

32

limites deste sistema, como a exploração ambiental e a desigualdade social e de renda,

coloca em xeque a legitimidade e a continuidade do sistema internacional e por vezes,

as crises são catalisadores de mudanças mais profundas. Neste momento, observar as

mudanças que podem ocorrer é fundamental e, segundo Wallerstein, influenciar para

um novo paradigma no sistema, de mais igualdade e justiça.

Referências

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