Reorganização Viária de Campos Dos Goytacazes - Mestrado UFRJ

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  • 7/26/2019 Reorganizao Viria de Campos Dos Goytacazes - Mestrado UFRJ

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    Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Escola Politcnica

    Programa de Engenharia Urbana

    Mariel Lima de Oliveira

    REORGANIZAO VIRIA DE CAMPOS DOS GOYTACAZES

    UMA PROPOSTA RETOMADA

    Rio de Janeiro

    2012

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    UFRJ

    Mariel Lima de Oliveira

    REORGANIZAO VIRIA DE CAMPOS DOS GOYTACAZES

    UMA PROPOSTA RETOMADA

    Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Engenharia

    Urbana, Escola Politcnica, da Universidade Federal do Rio de Janeiro,

    como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre em

    Engenharia Urbana.

    Orientador: Prof. Dr. Armando Carlos de Pina Filho

    Rio de Janeiro

    2012

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    FICHA CATALOGRFICA

    OLIVEIRA, Mariel Lima de

    Renovao Viria de Campos dos Goytacazes: Uma PropostaRetomada/ Mariel Lima de Oliveira. - 2012.

    118 f.: 85 il.

    Dissertao (Mestrado em Engenharia Urbana) -Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politcnica.

    Orientador. Armando Carlos de Pina Filho.

    1. Mobilidade Urbana. 2. Reformas Urbanas. 3.Desenvolvimento Urbano. I. Pina Filho, Armando Carlos de. II.Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola Politcnica. III.Ttulo.

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    UFRJ

    REORGANIZAO VIRIA DE CAMPOS DOS GOYTACAZES

    UMA PROPOSTA RETOMADA

    Mariel Lima de Oliveira

    Orientador: Prof. Dr. Armando Carlos de Pina Filho

    Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Engenharia

    Urbana, Escola Politcnica, da Universidade Federal do Rio de Janeiro,

    como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre em

    Engenharia Urbana.

    Aprovada pela Banca:

    ___________________________________________________

    Presidente, Prof. Armando C. de Pina Filho, Doutor, UFRJ

    __________________________________________________

    Prof. Angela M. Gabriella Rossi, Doutora, UFRJ

    __________________________________________________

    Prof. Aristides Incio F. Marques, Doutor, ISECENSA

    Rio de Janeiro

    2012

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    Dedico este trabalho a Waldir de Oliveira, meu pai, de

    quem absorvi os exemplos da perseverana, da

    autoconfiana, da honestidade, da dedicao ao estudo e

    do amor ao trabalho, sem os quais, acredito, no teria

    alcanado o resultado conseguido.

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    Agradeo minha esposa Ana Maria, pelo apoio, estmulo

    e compreenso diante o tempo em que se viu privada de

    minha presena, assoberbada com a minha parcela de

    responsabilidades domsticas, enquanto dedicado aos

    deslocamentos ao Rio de Janeiro para as aulas na

    Poli/UFRJ e o longo tempo dedicado s pesquisas e

    redao deste trabalho.

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    SUMRIO

    CAPTULO 1INTRODUO ..............................................................................................................1

    1.1 Apresentao do Tema ...................................................................................................1

    1.2 - Objetivo ............................................................................................................................3

    1.3 Justificativa .......................................................................................................................4

    1.4 Metodologia ......................................................................................................................5

    1.5 Estrutura do Trabalho .......................................................................................................5

    CAPTULO 2 CONTEXTO HISTRICO .............................................................................................6

    2.1A Ocupao Urbana Dos Campos Dos Goytacazes ........................................................6

    2.2Principais Planos Urbansticos .......................................................................................19

    2.2.1A Urbanizao Da Cidade, A Questo Sanitria e Os Planos dos Eng.s

    Bellegarde, Amrico Pralon e Saturnino Braga..........................................................19

    2.2.2 O Plano Coimbra Bueno/Alfred Agache de Remodelamento Urbano de Camposdos Goytacazes ........................................................................................................30

    2.2.3O PDUC de 1979, Zoneamento e Uso do Solo, Reconfigurao Viria e Densificaoda Ocupao do Solo .................................................................................................40

    2.2.4A Proposta de Reordenao Viria de Mariel de Oliveira para Campos dosGoytacazes .................................................................................................................43

    CAPTULO 3A HIERARQUIA DO MOVIMENTO E A MOBILIDADE URBANA ..............................50

    3.1Consideraes Quanto a Estrutura Urbana e a Hierarquia do Movimento em Camposdos Goytacazes .............................................................................................................50

    3.2O Que Vem Mudando na Estruturao da Mobilidade Urbana em Campos dosGoytacazes desde a Proposta de Mariel de Oliveira em 1996 .....................................64

    3.3O Que se Projeta Mudar no Tecido Urbano de Campos dos Goytacazes ...................81

    CAPITULO 4RETOMADA DA PROPOSTA DE REORDENAMENTO VIRIO DO AUTOR DESTA

    PESQUISA ..................................................................................................................86

    4.1 - As Intervenes J Ocorridas na Cidade de 1996 a 2011 e as Novas Perspectivas de

    Crescimento da Cidade ...................................................................................................86

    4.2Retomando a Proposta de Reordenao Viria do Autor Desta Pesquisa ..................93

    CAPTULO 5CONSIDERAES FINAIS ......................................................................................101

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    NDICE DE FIGURAS

    FIG. 1- Flagrante do porto fluvial de Campos dos Goytacazes. 1876....................................................8

    FIG.2 - Ponte ferroviria sobre o Rio Paraiba do Sul1908 .................................................................8

    FIG.3 - Solar do Baro da Lagoa DouradaHoje Liceu de Humanidades de Campos........................9

    FIG. 4- Cenas de inundaes na cidade de Campos no incio do sculo XX........................................10

    FIG. 5- Caixa dgua e ETA em princpio do sc.XX..............................................................................11

    FIG. 6 - Os bondes eltricos, implantados em 1916 em Campos dos Goytacazes..............................12

    FIG. 7 Alargamento e Pavimentao Av. XV de Novembro, Plano Coimbra Bueno/Agache............13

    FIG. 8- O remodelamento virio, com alargamento e pavimentao das vias......................................14

    FIG. 9- Jardim do Liceu, remodelado no Plano Coimbra Bueno/Agache.............................................14

    FIG. 10- Av. XV de novembro, aps remodelamento, Plano Coimbra Bueno/Agache........................15

    FIG. 11Jardim de Alh, Plano Coimbra Bueno/Agache....................................................................15

    FIG. 12Mapa temtico da contagem de populao RJ/ Campos dos Goytacazes.............................18

    FIG. 13- Mapa urbano da Villa de Campos dos Goytacazes, traado por Bellegarde.........................20

    FIG. 14- rea de abrangncia do Plano Pralon......................................................................................21

    FIG. 15 -Planta de CamposPlano de Saneamento de Campos, Saturnino de Brito -1903..............23

    FIG 16- Proposta ao saneamento do trecho urbano do canal Campos Maca...................................25

    FIG. 17- Proposta de controle da insolao urbana.............................................................................26

    FIG. 18- Proposta de modelos modulados de habitao popular........................................................26

    FIG. 19- Proposta de reforma do matadouro da cidade.......................................................................27

    FIG. 20- Proposta de reforma do matadouro da cidade......................................................................27

    FIG. 21- Proposta de vielas sanitrias e padres de esgotos domicilirios.........................................28

    FIG. 22- Plano de Defesa da cidade de Campos contra inundaes..................................................29

    FIG. 23- Plano de Defesa da cidade de Campos contra inundaes.................................................29

    FIG.24- Painel original do Plano Urbanstico de Campos - Coimbra Bueno,1944...............................33

    FIG. 25- Painel original do Plano Urbanstico de Campos - Coimbra Bueno,1944..............................33

    FIG. 26- Painel original do Plano Urbanstico de Campos - Coimbra Bueno,1944..............................34

    FIG. 27- Painel original do Plano Urbanstico de Campos - Coimbra Bueno,1944..............................34

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    FIG. 28- Painel original do Plano Urbanstico de Campos - Coimbra Bueno,1944..............................35

    FIG. 29- Painel original do Plano Urbanstico de Campos - Coimbra Bueno,1944..............................35

    FIG. 30- Painel original do Plano Urbanstico de Campos - Coimbra Bueno,1944..............................36

    FIG. 31- Painel original do Plano Urbanstico de Campos - Coimbra Bueno,1944..............................36

    FIG. 32- Painel original do Plano Urbanstico de Campos - Coimbra Bueno,1944..............................37

    FIG. 33- Painel original do Plano Urbanstico de Campos - Coimbra Bueno,1944..............................37

    FIG. 34- Painel original do Plano Urbanstico de Campos - Coimbra Bueno,1944..............................38

    FIG. 35Ponte Barcelos Martins, construda pelo Baro da LagoaDourada......................................40

    FIG. 36Ponte Barcelos Martins, construda pelo Baro da Lagoa Dourada.....................................40

    FIG. 37Perimetrais projetadas no PDUC 1979Campos dos Goytacazes.....................................41

    FIG. 38Ilustrao da proposta da ponte de consolidao do eixo Norte/Sul....................................46

    FIG. 39Ilustrao da proposta do viaduto de consolidao do eixo Leste/Oeste.............................47

    FIG. 40- Vias estruturaisSistema virio bsico, proposto por Oliveira em 1996..............................49

    FIG.41Praa S. Salvador, dcada de 1920. Charretes de aluguel...................................................51

    FIG.42Praa S. Salvador, dcada de 1930. Automveis estacionados. Ao fundo o Bonde Eltrico.52

    FIG.43Praa S. Salvador, dcada de 1930. Flagrante de visita de Getlio Vargas cidade...........52

    FIG.44Rua 21 de Abril, dcada de 1950...........................................................................................53

    FIG.45Estrutura Urbana Centrpeta..................................................................................................54

    FIG.46Ordenamento Hierrquico de vias urbanas...........................................................................55

    FIG.47Avenida Nilo Peanha....................................................................................................57

    FIG.48Avenida 28 de Maro.....................................................................................................58

    FIG.49Av Presidente Kennedy..................................................................................................58

    FIG.50Avenida Jos Carlos Pereira Pinto.................................................................................59

    FIG.51Avenida XV de Novembro...............................................................................................59

    FIG.52AvenidaArthur Bernardes......................................................................................................60

    FIG.53Avenida Jos Alves de Azevedo............................................................................................60

    FIG.54Superposio de Linhas de transporte coletivo no acesso e sada do centro........................62

    FIG.55Superposio super-intensa de linhas de nibus na Av. Jos Alves de Azevedo.................63

    FIG.56Flagrante de Trnsito,congestionamento na Avenida 28 de Maro.......................................66

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    FIG.57Flagrante de Trnsito, acesso ponte General Dutra............................................................66

    FIG.58Flagrante de Trnsito, Av. 28 de Maro ,a moto faz manobra proibida, ao inverso da baia decruzamento............................................................................................................................................67

    FIG.59Flagrante de Trnsito, Av. 28 de Maro.................................................................................67

    FIG.60Flagrante de Trnsito, confluncia das Ruas Ypiranga e Goytacazes cruzando a Av. 28 deMaroa manobra do carro no centro da foto proibida.....................................................................68

    FIG.61Ponte Gov. Leonel Brizola, que consolida o eixo Norte/Sul proposto por Oliveira.................69

    FIG.62Ponte Gov. Leonel Brizola, que consolida o eixo Norte/Sul proposto por Oliveira.................69

    FIG.63Ponte Alair Ferreira, que facilita o Anel Perimetral Interno proposto por Oliveira, vista damargem esquerda do rio .......................................................................................................................70

    FIG.64Ponte Alair Ferreira, que facilita o Anel Perimetral Interno proposto por Oliveira .................70

    FIG.65Ponto crtico para consolidao do eixo Leste/Oeste proposto por Oliveira (1996)...............72

    FIG.66Indicao do viaduto para consolidao do eixo Leste/Oeste proposto por Oliveira (1996)..72

    FIG.67Implantao da Estrada dos Ceramistas................................................................................73

    FIG.68Implantao da Avenida Arthur Bernardes.............................................................................75

    FIG.69Zona de reteno que anula o ganho de fluidez da Av. Jos A. de Azevedo........................76

    FIG.70Fluxo cruzado do trfego na zona de reteno frente ao Mercado Municipal........................76

    FIG.71Obras de Reurbanizao da Av. Jos Carlos Pereira Pinto...................................................77

    FIG.72Trecho de Reurbanizao da Av. Lourival Martins Beda.......................................................78

    FIG.73Obras de Reurbanizao da Av. Lourival Martins Beda.........................................................79

    FIG.74Obras de Reurbanizao da Av. Lourival Martins Beda.........................................................79

    FIG.75Viso geral das intervenes de reurbanizao atuais em Campos dos Goytacazes...........80

    FIG.76Proposta da ANTT para o novo contorno de Campos dos Goytacazes.................................83

    FIG.77Interligao do corredor logstico com o novo contorno de Campos dos Goytacazes...........84

    FIG.78Seo do corredor logstico do Complexo Industrial do Porto do Au...................................85

    FIG.79Concepo do corredor logstico do Complexo Industrial do Porto do Au. Contorno da

    BR101-Norte demarcado pelo autor......................................................................................................85

    FIG.80Tendncia de ocupao no crescimento do tecido urbano em Campos dos Goytacazes.....90

    FIG. 81Grfico comparativo da evoluo da populao e frota de veculos entre 2000 e 2011.......92

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    FIG.82Ala Sul do Anel Perimetral Interno proposto.........................................................................94

    Fig.83Mapeamento da Ala Sul do Anel Perimetral Interno proposto..............................................95

    FIG.84Ala Norte do Anel Perimetral Interno proposto.....................................................................96

    Fig. 85Mapeamento da Ala Norte do Anel Perimetral Interno proposto ........................................97

    FIG.86Rede Estrutural proposta para reordenao viria em Campos dos goytacazes..................98

    FIG.87Eixos Estruturais e Rodovias que cruzam o tecido urbano em Campos dos Goytacazes...100

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    RESUMO

    OLIVEIRA, Mariel lima de. Reorganizao Viria de Campos dos Goytacazes Uma proposta

    retomada.Rio de Janeiro, 2012. Dissertao (Mestrado) - Programa de Engenharia Urbana, Escola

    Politcnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.

    A mobilidade urbana tem sido nas cidades brasileiras de mdio a grande

    porte um problema recorrente, funo de um crescimento desmedido das frotas

    circulantes combinado com anos de inrcia administrativa do poder pblico

    municipal, responsvel direto pelo uso e ocupao do solo e a estruturao viria

    em seus territrios. Em Campos dos Goytacazes esse quadro reflete de na ultima

    dcada haver ocorrido um crescimento de frota 9,5 vezes maior que o da populao,

    com a taxa de veculos por habitante saltando de 0,14 para 0,22 entre 2001 e 2011.

    A taxa de automveis por habitante cresceu no mesmo perodo de 0,22 para 0,36.

    Esse cenrio incide sobre uma rede viria carente de organizao hierrquica, com

    vias estruturais fragmentadas no tecido urbano, sem continuidade de fluxos e com o

    trnsito se desenvolvendo em fluncia centrpeta enquanto as relaes de

    movimento no interesse de viagens h muito se desenvolve em rede. O que resulta

    desse quadro uma situao de trafego congestionado, com vias estruturais

    saturadas e que, diante da perspectiva atual de crescimento acelerado da

    populao, que deve dobrar nos prximos dez anos, anuncia uma crise de

    mobilidade urbana a vitimar a cidade. Este trabalho busca estudar a estruturao

    viria de Campos dos Goytacazes, a partir de seus antecedentes histricos, dos

    planos urbansticos que a forjaram, at seu momento atual, gerando uma soluo

    preventiva a essa crise de mobilidade que se avizinha pela retomada da proposta de

    reorganizao viria do tecido urbano da cidade, desenvolvida por Mariel de Oliveira

    nos anos de 1995/1996 contratado pela CODENCA (Companhia Municipal de

    Desenvolvimento de Campos).

    Palavras chave: Mobilidade urbana; reformas urbanas; desenvolvimento urbano;

    Campos dos Goytacazes.

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    ABSTRACT

    OLIVEIRA, Mariel lima de. Reorganizao Viria de Campos dos Goytacazes

    Uma proposta

    retomada. Rio de Janeiro, 2012. Dissertao (Mestrado) - Programa de Engenharia Urbana, Escola

    Politcnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.

    In Brazil, there is a recurring problem of urban mobility in the mdium to largecities due, both to the growth of the current fleet and to the administrative inertia ofthe municipal governments who are directly responsible for the land use roadstructure. Campos dos Goytacazes reflects this situation as over the last decadethere has been a fleet growth of 9,5 times the population, with the rate of vehicles per

    capta vising from 0.14 to 0.22 between 2001 and 2011. The fax rate of cars per captahas risen from 0.22 to 0.36 in the same period. This scenario focuses on a poorhierarchical organization of road networks with structural roads in a fragmentedurban fabric. Without continuity in the traffic flaws and developing fluency in thecentripetal motion as it relates the interest in long trips as the network develops. Theresulting picture is that of traffic jams, with structural path ways saturated even beforethe expected doubling of the population over the next few years for warning the crisisof urban mobility which will victimize the city. This work studies the road structure ofCampos from their historical antecedents up to the current town plans. A solution to

    this mobility crisis would be the resumption of the reorganizational plan of the cities,developed by Mariel de Oliveira from 1995/1996 and contracted by CODENCA(Municipal Development Company of Campos dos Goytacazes)

    Key - words: urban mobility, urban reforms, urban development; Campos dos

    Goytacazes.

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    CAPTULO 1 INTRODUO

    1.1 APRESENTAO DO TEMA

    O Planejamento e a gesto urbanos, personificados pelo poder municipal,

    embora derivados de um mesmo corpo poltico-administrativo vivenciam conflitos

    conceituais na medida em que o primeiro estabelece condicionamentos de uso e

    ocupao do solo, medidas restritivas ao direito de construir, priorizao do

    interesse social coletivo sobre os interesses particulares, especficos, dos agentes

    da produo imobiliria na construo do espao urbano. A gesto, por sua vez,

    enquanto agente executor das metas e objetivos ordenatrios do desenvolvimento

    urbano no alinhamento scio-espacial estabelecido pelo planejamento atua sob

    presso poltica, por influncia dos interesses do capital financiador do crescimento

    e desenvolvimento urbanos que encontram obstculo nas limitaes legais

    estabelecidas pelo planejamento e sob presso social nas inconformidades de

    ocupao e uso do solo advindas do assentamento em zonas de risco e/ou de

    preservao ambiental de parte da populao de baixa renda. Alm dessa carga

    externa dos interesses privados, a gesto por muitas vezes se depara com

    limitaes implantao de decises executivas de solues pontuais sobrequestes urbanas, impostas pelas regulamentaes do planejamento. Essa

    dicotomia comportamental personalizada por organismos de um mesmo corpo de

    governo termina por resultar em uma cidade cujo desenvolvimento se desvia

    daquele preconizado por metas e objetivos planejados, em maior ou menor

    amplitude quanto maior ou menor o peso das influencias polticas, sociais e/ou as

    necessidades de aes de curto prazo na resoluo de problemas urbanos que

    possam contrariar os paradigmas do planejamento.

    A cidade de Campos dos Goytacazes no contraria esse perfil dicotmico da

    administrao pblica, mas ao longo de sua histria buscou estabelecer um

    ordenamento planejado de sua malha urbana iniciando com o Plano do Eng.

    Bellegarde em 1834, passando pelo Plano Pralon em 1842, o Plano de Saneamento

    de Campos do Eng. Saturnino de Brito, que vem a ser um dos mais completos

    projetos de engenharia urbana desenvolvidos em nosso pas. Tem um marco no

    urbanismo brasileiro com o Plano de Reordenao Urbana da Cidade de Campos

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    contratado pelo Estado do Rio de Janeiro ao escritrio Coimbra Bueno em 1940,

    com a participao do arquiteto e urbanista francs Alfred H. Agache. A partir desse

    plano a cidade inicia um processo de reconfiguraes urbanas passando por

    transies radicais de uso e ocupao do solo. Ela processa uma reorganizao

    scio-espacial que destaca territrios, determinados bairros, com maior densidade

    ocupacional e alto ndice de solo criado. Em paralelo despontam ocupaes de

    vazios urbanos, zonas de canaviais que ficaram envolvidas pela malha urbana, em

    parcelamentos de solo para classe mdia, e loteamentos em condomnio fechado.

    Todo esse processo provoca migraes urbanas de realocao da populao

    segundo as possibilidades de acesso propriedade da terra. O municpio busca

    ordenar a expanso urbana, conduzir o processo especulativo imobilirio, atravs de

    planos urbansticos, como o PDUCPlano de Desenvolvimento Urbano de Campos

    em 1979, e alguns planos diretores seguintes, que geram conflitos do interesse

    pblico com os interesses do capital privado, e a cidade cresce flutuando nesse

    caldo de embate entre a gesto pblica e aes dos agentes imobilirios.

    Dentro desse contexto de crescimento legalmente disciplinado, mas

    praticamente desordenado, onde proliferam loteamentos irregulares e clandestinos,

    expanso e consolidao de antigas favelas, junto ao surgimento de outras novas

    favelas, estas mais perifricas e aquelas comprimidas pelo entorno da urbanizao

    crescente, formando ilhas de pobreza e insalubridade urbana, est a questo da

    circulao na cidade. No tecido urbano, dando contraponto quelas ilhas de

    pobreza, se implantam as ilhas de riqueza e isolamento social em que se constituem

    os condomnios ou loteamentos fechados das classes mais abastadas que

    fragmentam a malha urbana. O sistema virio urbano responsabilidade exclusiva

    da administrao publica municipal em suas personificaes de planejamento e

    gesto urbanos e, portanto, principal elemento a ser disciplinado nas intervenes

    dos agentes imobilirios no espao urbano. O uso e ocupao do solo em um tecido

    urbano construdo so muito dinmicos no acompanhamento das mutaes scio-

    econmicas decorrentes do desenvolvimento da cidade, entretanto a malha viria

    no dispe de tal dinmica, ao contrrio apresenta alto nvel de perenidade e no

    alterada sem execuo de obras de grande custo tanto financeiro quanto social, e

    mesmo poltico, haja vista que exigem a interveno sobre os espaos de

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    propriedade privada que margeiam os logradouros. A mobilidade urbana, seja por

    transporte individual, seja por transporte coletivo, de massa ou mesmo a p,

    medida que a cidade cresce e se desenvolve vai ganhando conotaes

    diferenciadas que exigem novos caminhos, novas passagens, novas alternativas,

    cujas solues podem variar desde a ampliao de vias existentes, abertura de

    novas vias arteriais, coletoras, construes de viadutos e tneis, at a implantao

    de sistemas sofisticados de transporte de massa.

    O diagnstico do crescimento da cidade, antecipando por projees as

    necessidades virias que a expanso urbana vai demandar para possibilitar o

    planejamento e os projetos urbansticos que daro soluo quelas necessidades

    um caminho vivel para se resolver, mitigar ou pelo menos amenizar, o caos urbano

    que se desenha com o crescimento descontrolado.

    1.2 OBJETIVO

    A proposta deste trabalho estudar a estruturao viria de Campos dos

    Goytacazes, comeando por seus antecedentes histricos e o conjunto de planos

    urbansticos que preconizaram e deram andamento ao seu desenvolvimento urbano

    para, em seguida assumir uma abordagem analtica quanto estrutura urbana e a

    hierarquia do movimento no contexto contemporneo da cidade, do que atualmente

    se faz e o que se projeta fazer e, por fim, retomar uma proposta de reorganizao

    viria do tecido urbano da cidade, desenvolvida nos anos 1995/1996.

    Ao retomar a proposta de reordenao viria para Campos dos Goytacazes

    de Mariel de Oliveira (1996), se busca a reviso e renovao do diagnstico que ali

    se fez diante o atual quadro de desenvolvimento scio-econmico do municpio e odecorrente crescimento urbano que da demanda, na proposio de um

    ordenamento virio factvel e mitigador do possvel caos de mobilidade urbana que

    pode vir a vitimar a cidade.

    1.3 JUSTIFICATIVA

    A regio Norte-Fluminense, como se ver adiante, hoje palco da

    implantao de vrios grandes empreendimentos que projetam, s para a cidade de

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    Campos dos Goytacazes, um crescimento vertiginoso da populao que dever

    atingir at o ano de 2025 uma contagem superior a um milho de habitantes. Trata-

    se de um crescimento de mais de 100% em dez anos, a uma taxa mdia anual de

    5,94%. Considerando que a cidade mantenha uma densidade bruta, como seria

    desejvel, em mdia de 250 habitantes/Hectare, se esta falando de um crescimento

    do tecido urbano em aproximadamente 2.000 Hectares, ou seja, uma rea de vinte

    quilmetros quadrados na qual se impe, sem contar os servios sociais de

    educao e sade e a coleta de resduos slidos, atendimento aos servios urbanos

    de energia, gua, drenagem, esgotamento sanitrio, comunicao e mobilidade

    urbana. A legislao municipal que disciplina o parcelamento do solo impe aos

    agentes imobilirios privados, na criao de novos espaos urbanos, a produo da

    infraestrutura necessria a essa demanda de servios, inclusive a produo da

    malha viria, disciplinada hierarquicamente, que passar administrao municipal,

    assim como aos concessionrios dos servios pblicos, as redes de infraestrutura

    que lhes compete administrar.

    Se pelo aspecto da produo do crescimento da cidade a gesto pblica se

    alivia do peso dos investimentos, por outro lado os reflexos deste crescimento na

    questo da mobilidade urbana acontecem na saturao das vias estruturais da

    malha viria j existente, pelo aumento sbito da frota circulante, e no aumento

    ainda maior do nmero de viagens, tanto em veculo particular quanto no transporte

    coletivo. Tal situao, por no ter sido prevista e planejada nos anos anteriores

    imediatos, exige ento que obras de ampliao dessa malha viria sejam

    executadas, que todo o sistema de transporte coletivo da cidade seja revisto e

    ampliado, que a circulao na cidade seja reorganizada. O custo desses

    investimentos e seu necessrio equilbrio econmico pesaro no tesouro municipal,

    e no bolso dos cidados que tem a sorte de viver essa poca de crescimento da

    cidade. Assim sendo, h que se ter a preocupao constante de que esse custo no

    se resuma a atender as necessidades fsicas do crescimento, mas demande o

    benefcio de promover o desenvolvimento da cidade. Esse o cenrio que motiva o

    presente trabalho.

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    1.4 METODOLOGIA

    O desenvolvimento desse trabalho se dar atravs da consulta aos projetos,

    planos e demais documentos vinculados s intervenes urbansticas desenvolvidasna cidade, dentro do contexto temporal que se aborda, luz de um conjunto de

    critrios levantados junto bibliografia. Esses critrios esto afetos s relaes da

    histria poltica administrativa da cidade com os seus crescimento e

    desenvolvimento urbanos, a configurao viria que estruturou o tecido e a

    mobilidade urbanos e a hierarquia do movimento e do ordenamento das vias

    urbanas segundo o conceito de reas-ambiente desenvolvido por Hutchinson.

    1.5 - ESTRUTURA DO TRABALHO

    Para alcanar o objetivo o trabalho foi estruturado em cinco captulos que

    ordenam a sequncia de abordagem do tema na forma seguinte:

    O Captulo 1promove a introduo ao trabalho com a apresentao do tema,

    o objetivo do trabalho, a justificativa da pesquisa, a metodologia a se usar e a

    estrutura do trabalho.

    O Captulo 2 estuda o contexto histrico da ocupao do stio urbano e

    apresenta uma resenha dos planos urbansticos que nortearam a construo do

    crescimento da cidade.

    O Captulo 3 desenvolve consideraes quanto estrutura urbana e a

    hierarquia do movimento na cidade ao nvel de diagnstico.

    O Captulo 4 a partir de um relato das aes de interveno que se vem

    fazendo e as que se projetam fazer modificando a estruturao da mobilidade

    urbana na cidade desde 1996, retoma a proposta de reordenamento virio de

    Oliveira (1996) situando-a no contexto da cidade alterada desde sua primeira verso

    e as novas perspectivas de crescimento da cidade.

    O Captulo 5apresenta as consideraes finais do autor.

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    CAPTULO 2 CONTEXTO HISTRICO

    2.1 -A OCUPAO URBANA DOS CAMPOS DOS GOYTACAZES

    A colonizao da regio dos Campos dos Goytacazes se deu a partir do inciodo sculo XVII e, desde o incio, sua economia se consolidou com base na produo

    agro-pastoril. De incio com a criao de gado para suprir o mercado consumidor da

    cidade do Rio de Janeiro e mais tarde da regio das Minas Gerais. Por volta da

    terceira dcada do sculo XVIII, se iniciou o plantio da cana e a produo de acar,

    que ainda hoje se mantm importante na economia local, embora bastante reduzido

    em importncia e unidades agro-industriais produtivas. Com a introduo do primeiro

    engenho a vapor na regio, em 1830, ocorre significativa transformao no processode produo de acar e o fortalecimento do comrcio, impulsionando o crescimento

    da implantao urbana, e a Villa de So Salvador dos Campos dos Goytacazes foi

    elevada categoria de cidade em 28 de maro de 1835, com o nome Campos.

    Nesse ano, a nova Cmara Municipal manda realizar um censo local, cujo resultado

    foi publicado na Ata de Sesso da Cmara de 22 de janeiro de 1836, como divulga a

    obra de Jlio Feydit (1979), informando:

    Populao Urbana18.423Populao Rural33.295Populao Total51.718Livres21.123Escravos30.395

    Em 1850, em novo censo local, a Cmara Municipal de Campos divulga uma

    populao total no municpio de 69.222 habitantes, sendo 31.475 livres e 37.747

    escravos1. Em 1855 foi a cidade tomada por uma epidemia de Clera Morbus pela

    qual, da conta Feydit(1979), faleceram 1.239 habitantes. Em 1872 o Governo Imperial

    faz realizar o 1 Recenseamento Nacional, e embora tenham sido desmembrados de

    Campos terras dos municpios de So Joo da Barra, So Fidelis e as terras do norte

    do municpio de Maca, que segundo Lamego (1946) teria dado significativa reduo

    na populao de Campos, o municpio apresenta o resultado de:

    1 Consta nas Atas da Cmara Municipal de Campos dos Goytacazes 1850, Arquivo PblicoMunicipal de Campos dos Goytacazes

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    Populao Urbana19.520Populao Rural69.305Populao total88.825

    Livres56.232Escravos35.593

    ficando Campos classificado como o 4 Municpio brasileiro em populao suplantado

    apenas por Rio de Janeiro (capital), Salvador e Recife. Julio Feydit (1979) transcreve

    os dados da rea urbana do recenseamento divulgado em 1873:

    Pelo recenseamento feito em 1873, verificou-se que a parquia tinha:2.928 fogos, 3.842 prdios sendo: casas trreas, 3.166; sobrados, 316;estando desabitadas, 474 casas e 80 sobrados; 15 templos, 2 hospitais, 1cadeia, 1 asilo de rfs, 1 casa de Cmara, 1 teatro, 1 matadouro pblico, 1estao telegrfica, 2 Bancos, 1 Casa Bancria, 1 Caixa Econmica, 5hotis, 4 trapiches, 1 Agencia do Correio, 6 cemitrios, 1 gasmetro e 3tipografias.

    A populao constava de 19.520 almas, sendo livres, 11.279,ingnuos, 232; e escravos, 8.009; brancos, 7.165; pardos, 4.906; pretos7.449; quanto ao estado civil; casados, 3.170; solteiros, 15.424; vivos, 926;quanto a nacionalidade, eram brasileiros 16.769; portugueses, 811;africanos, 1.690; franceses, 60; italianos, 57; alemes, 24; paraguaios, 2;espanhis, 31; ingleses, 37; holandeses, 2; chineses, 7; austracos, 2;belgas, 20; suos, 6; norte-americanos, 2; quanto religio, eram acatlicos,41; catlicos, 19.479; sabiam ler, 4.881, freqentavam escolas, 686, eramanalfabetos, 13.953!

    . Em 1875 havia 245 engenhos de acar, com 3.610 fazendeiros

    estabelecidos na regio, cuja produo se escoava para o Rio de Janeiro

    principalmente atravs da navegao costeira por barcos a vapor que acessavam o

    porto fluvial no rio Paraba do Sul (Fig. 1). A primeira usina, segundo Alvarenga(1881), foi construda em 1789 e chamou-se Usina Central do Limo.

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    Fig. 1- Flagrante do porto fluvial de Campos dos Goytacazes. 1876Fonte: Arquivo pblico municipal.

    Com a chegada da ferrovia a circulao de mercadorias e o escoamento da

    produo agro-industrial foram imensamente facilitados, impulsionando a economia

    do municpio que se tornou o centro ferrovirio da regio (Fig. 2)

    Fig.2- Ponte ferroviria sobre o Rio Paraiba do Sul1908Fonte Arquivo Pblico Municipal

    Em 1892, como informa Alberto Lamego (1946), o municpio contava com uma

    populao total de 105.534 habitantes, sendo 26.951 urbanos e 78.583 rurais,

    conforme relatrio do Secretrio dos Negcios do Interior e Justia, ao Vice-

    Presidente da Provncia do Estado do Rio quanto ao recenseamento de 1892. Em

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    1900, a cidade contava com um conglomerado urbano de 3.540 edificaes e, em

    1916, com 3.582 edificaes segundo Anurio Estatstico de Campos (1917),

    publicao da Prefeitura Municipal de Campos, que apresenta a contagem da

    populao do municpio no perodo de 1900 a 1917, e registra neste ano a populao

    total do municpio em 123.334 habitantes.

    A grande riqueza de Campos, no sculo XIX, devida expanso da produo

    do acar, a princpio alicerada nos engenhos a vapor, posteriormente substitudos

    por usinas de alta capacidade produtiva, fazia crescer a cidade de forma

    descontrolada nas ocupaes perifricas habitadas pela camada mais pobre da

    populao, em visvel contraste com a regio ocupada pelas manses da

    aristocracia, situadas nas partes altas do stio urbano (Fig.3). A regio de plancie era

    pontuada por muitas lagoas e brejais interligados por canais em suas partes baixas, e

    foi no entorno dessas lagoas e canais que a cidade foi se desenvolvendo. Tal

    caracterstica, embora o clima local de forte insolao e ventilao contnua pelo

    dominante vento nordeste, foi estabelecendo na urbe condies insalubres e a

    incidncia de epidemias.

    Fig. 3- Solar do Baro da Lagoa DouradaHoje Liceu de Humanidades de CamposFonte: Arquivo pblico municipal.

    A cidade sofria, sistematicamente, com as enchentes do rio Paraba do Sul

    que tomava suas ruas, elevava os leitos das lagoas urbanas e, na baixa da cheia,

    deixava alta a umidade do solo e favorecia a disseminao das doenas como a

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    tuberculose, as febres e pestes, como o surto de peste bubnica que acometeu a

    cidade em 1905, de tal monta que levou criao pela municipalidade de um novo

    cemitrio, chamado do Caju, visto que os cemitrios das irmandades religiosas j no

    davam conta dos sepultamentos necessrios. (Fig. 4)

    Fig. 4- Cenas de inundaes na cidade de Campos no incio do sculo XX.

    Fonte: Arquivo Pblico Municipal

    Entre 1842 quando se pretendeu executar o Plano Pralon e o incio do sec. XX

    em 1900, a cidade viveu um fervilhar de progresso com a implantao de moderna

    infra-estrutura financiada pela aristocracia aucareira que, neste perodo, at pelaassociao necessria com o capital comercial, passou a construir ali suas

    manses, a princpio de moradia temporria, depois como residncia domiciliar, uma

    vez que sua presena permanente nos engenhos deixa de ser indispensvel. Foi

    nesta segunda metade do sc. XIX que se o momento em que as bases do sistema

    monrquico comeavam a se enfraquecer detonando, a partir de 1870, a crise

    poltica e econmica do Brasil Imperial e da provncia do Rio de Janeiro. Campos,

    impulsionada pelos debates em torno da mudana da capital da provncia surgidos

    no Rio de Janeiro, reivindicava para si ser a sede da capitalda provnciae para tal

    devia suprir a necessidade de modernizar a cidade e instituir novos valores sociais e

    urbanos. Dentro desse quadro poltico, a cidade instalou importantes servios

    de infraestrutura, como a pavimentao em massa de ruas, a iluminao a gs

    encanado, inaugurada em 7 de setembro de 1872, as linhas de bonde a trao

    animal, inauguradas em 15 de setembro de 1875 pela empresa Ferro Carril

    Campista, a iluminao pblica por eletricidade, inaugurada em 24 de junho de 1883

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    com a presena do Imperador D. Pedro II, tendo sido a primeira cidade da Amrica

    do Sul a contar com este servio, a implantao de redes de abastecimento dgua e

    esgotos sanitrios atravs da companhia inglesa The Campos Syndicate2(Fig.5) e

    diversos melhoramentos pontuais que, por fora do financiamento das obras pela

    oligarquia do acar foram, muitas vezes, benefcios polticos dirigidos aos mais

    abastados, nos stios urbanos por eles ocupados, enquanto a periferia crescia

    carente de servios e salubridade.

    Fig. 5- Caixa dgua e ETA em princpio do sc. XX.Fonte: Arquivo Pblico Municipal

    Com a proclamao da repblica em 1889, h um perodo de reorganizao

    poltica e social que deixa as questes urbanas em segundo plano e apenas em

    1902, a cidade retoma suas preocupaes com o desenvolvimento urbano de forma

    mais ampla, e contrata o Eng. Sanitarista Saturnino de Brito3

    , campista radicado noRio de Janeiro que, adepto do higienismo, planeja e executa uma profunda

    interveno na configurao urbana da cidade, objetivando a salubridade, onde

    lagoas e zonas alagadias so aterradas, a margem do rio Paraba do Sul

    2 The Campos Syndicate, empresa inglesa de abastecimento de gua e tratamento de esgotossanitrios, instalada em Campos dos Goytacazes em fins do sc. XIX.3Francisco Rodrigues Saturnino de Brito(Campos/RJ,1864 Pelotas/RS,1929)foi oengenheirosanitarista brasileiro, que realizou alguns dos mais importantes estudos de saneamento bsico eurbanismo em vrias cidades do pas, sendo considerado o "pioneiro da Engenharia Sanitria eAmbiental no Brasil".

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Campos_dos_Goytacazeshttp://pt.wikipedia.org/wiki/1864http://pt.wikipedia.org/wiki/Pelotashttp://pt.wikipedia.org/wiki/1929http://pt.wikipedia.org/wiki/Engenheiro_sanitaristahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Engenheiro_sanitaristahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Brasilhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Saneamento_b%C3%A1sicohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Engenharia_Sanit%C3%A1riahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Engenharia_Sanit%C3%A1riahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Saneamento_b%C3%A1sicohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Brasilhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Engenheiro_sanitaristahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Engenheiro_sanitaristahttp://pt.wikipedia.org/wiki/1929http://pt.wikipedia.org/wiki/Pelotashttp://pt.wikipedia.org/wiki/1864http://pt.wikipedia.org/wiki/Campos_dos_Goytacazes
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    desobstruda na faixa urbana, ruas alargadas e drenagens construdas. Brito

    incorpora aos seus estudos a regio de Guarulhos, hoje Guars, na margem

    esquerda do rio Paraba do Sul, onde se concentravam, na maioria, edculas

    modestas ocupadas pela populao de menor recurso, e promove uma revoluo

    urbanstica na cidade.

    Do Plano de Saneamento de Campos elaborado por Brito em 1902, mas que

    realmente vem a ser implantado a partir de 1910, at a dcada de 1940, dominante

    na gesto da cidade o ideal higienista e ela cresce em populao, fortalece o

    comrcio e os servios, reafirma a sua centralidade regional e avana nos servios

    urbanos expandindo e renovando suas redes de esgoto sanitrio e abastecimento de

    gua potvel. O Transporte pblico inaugura no dia 5 de novembro de 1916, pela

    Companhia de Tramways Luz e Fora o primeiro trecho de linha de bondes eltricos

    (Fig.6), com a presena de Wenceslau Braz, ento presidente da repblica. O

    servio de bondes eltricos em Campos foi sendo modernizado e ficou em operao

    at o ano de 1964, quando foi substitudo por linhas de nibus eltricos - troley bus e

    nibus a diesel.

    Fig. 6- Os bondes eltricos, implantados em 1916 em Campos dos GoytacazesFonte: Arquivo pblico municipal.

    Em 1940, a cidade recebe,contratado pelo Estado do Rio de Janeiro, o

    Escritrio de Urbanismo Coimbra Bueno para elaborao de um plano urbanstico

    que promova o seu remodelamento urbano. Nesta poca trabalhava junto ao

    urbanista Coimbra Bueno, no desenvolvimento de seus projetos no Brasil o

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    conceituadssimo arquiteto e urbanista francs Donat Alfred Agache, autor dos

    Planos Agache de Reordenao Urbana das Cidades do Rio de Janeiro e de

    Curitiba, que participa na elaborao do Plano Urbanstico de Campos, conhecido

    como Plano de Reordenao Urbana da Cidade de Campos, apresentado em 1944.

    O Plano de Reordenao Urbana colocado em prtica, paulatinamente, por

    diversas administraes municipais. Ele determina a abertura de novas avenidas,

    alargamento de vias existentes, busca ordenar o crescimento da cidade dando foco

    modernizao da infra-estrutura existente e ampliao da mesma de modo a dar

    ao espao urbano um crescimento harmnico. As redes de abastecimento de gua e

    esgoto se estendem em direo periferia da cidade, a rede viria revista e ganha

    alinhamentos mais amplos, pavimentao em paraleleppedos enquanto parques e

    jardins existentes so renovados e novos implantados, como o Jardim de Al, hoje

    alterado e com o nome de Parque Alberto Sampaio. (Fig.s 7; 8; 9; 10 e 11)

    Fig. 7Alargamento e Pavimentao Av. XV de Novembro, Plano Coimbra Bueno/Agache

    Fonte: arquivo pblico municipal

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    Fig. 8- O remodelamento virio, com alargamento e pavimentao das vias.Fonte: Arquivo pblico municipal.

    Fig. 9- Jardim do Liceu, remodelado no Plano Coimbra Bueno/AgacheFonte: arquivo pblico municipal

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    Fig. 10- Av. XV de novembro, aps remodelamento, Plano Coimbra Bueno/AgacheFonte: Arquivo publico municipal

    Fig. 11Jardim de Alh, Plano Coimbra Bueno/AgacheFonte: Arquivo publico municipal

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    O Plano de Coimbra Bueno/Alfred Agache encerra um ciclo de grandes

    projetos urbansticos que se fizeram para a cidade de Campos dos Goytacazes, com

    a definio de obras especficas, traados urbanos, e proposio de obras virias de

    remodelamento urbano. Algumas de suas proposies foram sendo executadas ao

    longo dos anos por diversas administraes municipais, outras foram abandonadas,

    e outras mais vm sendo executadas ainda hoje.

    Apenas na segunda metade da dcada de 1970, quando assume o governo

    municipal o Arquiteto Raul Linhares, a cidade retoma suas preocupaes

    urbansticas e contrata com a FUNDENOR (Fundao de Desenvolvimento do Norte

    Fluminense) a elaborao do Plano de Desenvolvimento Urbano de Campos

    PDUC, apresentado em 1979. Este PDUC no apresenta como os planos anteriores

    caracterstica de um projeto de engenharia urbana, mas de um conjunto de leis que

    estabelecem critrios para as polticas urbanas, a ocupao e uso do solo urbano, o

    parcelamento do solo urbano, um cdigo de obras revisto, enfim com caractersticas

    mais de um plano diretor e, desta feita, apresenta umas poucas proposies de

    traado virio externas malha urbana existente, mantendo nesta a matriz do Plano

    Coimbra Bueno/Afred Agache, da dcada de 1940.

    A cidade no se lana como no passado em um mutiro de obras de

    melhoramentos urbanos, porm passa a exercer um controle efetivo, mesmo

    ineficiente em seu poder fiscal, sobre as intervenes urbanas do capital imobilirio,

    monitorando a densidade edificada no uso do solo. Na urbanizao formal impe a

    produo, pelo capital imobilirio, das fraes de propostas virias do PDUC nos

    setores urbanos em que projetassem suas intervenes. Nesta poca, pelos

    nmeros do IBGE, a cidade de Campos contava com uma populao urbana de

    348.461 habitantes, atingindo no censo de 2000 a contagem de populao total em406.279 habitantes.4 Na seqncia do PDUC de 1979, foram publicados os Planos

    Diretores de 1991 (Lei Municipal n. 5.251/1991) e as Leis Municipais 6.690/98;

    6691/98 e 6.692/98, reformulando o Parcelamento do Solo, o Uso, Ocupao e

    Zoneamento do Solo e o Cdigo de Obras do municpio.

    4A cidade ento j estava denominada Campos dos Goytacazes por fora da Lei Municipal n

    559, de 16-10-1986 e homologada pela Lei Estadual n 1371, de 24-10-1988.

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    O Plano de 1991, editado na esteira das aes polticas de redemocratizao

    do pas insufladas pela Constituio de 1988 terminou, na verdade, em letra fria sem

    que o poder pblico municipal aplicasse, efetivamente, suas proposies. Prova

    disso que o conjunto de Leis Municipais 6.690 a 6.692 de 1998 readaptou o antigo

    PDUC - Plano de Desenvolvimento Urbano de Campos , realizado inicialmente em

    1979 pelo governo de Raul Linhares, mantendo os antigos traados das projetadas

    avenidas perimetrais, ignorando completamente o texto do Plano Diretor de 1991.

    Em 1996, contratado pela CODENCA Companhia de Desenvolvimento de

    Campos dos Goytacazes, o Arquiteto e Urbanista Mariel de Oliveira publica o

    trabalho Desenvolvimento Urbano Campos dos Goytacazes Uma proposta

    onde se prope, sob uma viso sistmica, passando pelo estabelecimento de uma

    geo-diviso oficial da malha urbana, a reorganizao do conjunto virio da cidade

    pelo estabelecimento dos eixos estruturais Norte/Sul e Leste/Oeste e a consolidao

    de um conjunto de vias implantadas na formao de um anel perimetral interno para

    distribuio do trfego nas zonas geogrficas da cidade.

    O conjunto de Leis que readaptou o PDUC de 1979 permanece em vigor at

    dezembro de 2007, quando se aprovam na Cmara Municipal o conjunto de Leis

    Municipais ns7972 - Plano Diretor do Municpio de Campos dos Goytacazes; 7973 -

    Permetros Urbanos do Municpio de Campos dos Goytacazes; 7974 - Uso e

    Ocupao do Solo Urbano do Municpio de Campos dos Goytacazes; 7975 -

    Parcelamento do Solo do Municpio de Campos dos Goytacazes . O Cdigo de

    Obras do Municpio de Campos dos Goytacazes Lei Municipal 6.692/98, no foi

    revisto no processo de elaborao do Plano Diretor 2007 e permanece em vigor.

    Atualmente a economia de Campos dos Goytacazes impulsionada pelas

    atividades da prospeco de petrleo, de onde se retira 89 por cento da produonacional, o que determinou uma maior diversidade de investimentos, principalmente

    na rea de servios, e a cidade atinge pelo censo de 2010 a populao total de

    463.731 habitantes dos quais 418.725 urbanos (Fig.12). O municpio criou o

    FUNDECAM Fundo de Desenvolvimento de Campos dos Goytacazes que reserva

    parcela dos royalties do petrleo para financiar parcialmente empreendimentos

    industriais/comerciais a serem implantados no municpio visando diversificao no

    desenvolvimento econmico local, independente das atividades do petrleo, que atrai

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    e viabiliza vrios empreendimentos como a Indstria Farmacutica Cellofarm, a

    Fbrica de Tubos e Conexes Schulz na rea metalrgica, e outros.

    Fig. 12Mapa temtico da contagem de populao RJ/ Campos dos Goytacazes

    Fonte: IBGECenso 2010

    A regio recebe a implantao do Complexo Porturio do Au, na zona

    fronteiria dos municpios de So Joo da Barra e Campos dos Goytacazes em

    territrio de So Joo da Barra, e do Complexo Logstico e Industrial Farol -Barra do

    Furado, na zona fronteiria dos municpios de Campos dos Goytacazes e Quissam,

    em territrio de Campos dos Goytacazes. O EVTE(Estudo de Viabilidade Tcnica e

    Econmica) do empreendimento do Porto do Au, apresentado pela LLX, empresa

    desenvolvedora do projeto, apresenta as estimativas:

    O crescimento populacional para toda a AID at 2025 prevista em

    722 m il habitantes, sendo 530 mil para Campo s dos Go ytacazes (quedeve superar os 1 milho de habitantes)e 192 m il h abitan tes p ara So

    Joo da Bar ra, onde poder chegar a 232 mil habitantes. Desta forma, o

    crescimento populacional anual de Campos aumentaria de 1,22% para

    5,78%. Ocrescimento mais expressivo previsto para o perodo entre

    2010 e 2020, decaindo no perodo de 2020 at 2025.

    O Complexo Logstico e Industrial Farol-Barra do Furado um

    empreendimento de R$ 133,3 milhes e est sendo construdo pelo Consrcio Terra

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    e Mar, formado pelas empresas Odebrecht, Queiroz Galvo e OAS. O projeto vem

    sendo realizado em parceria entre as prefeituras de Campos e Quissam, e os

    governos federal e estadual.

    Sobre as previses de crescimento populacional no relatrio quanto

    viabilidade do Porto do Au h que acrescer ainda no s uma contribuio do

    empreendimento do Complexo Logstico e Industrial Farol-Barra do Furado como

    tambm um incremento migratrio advindo das atividades de explorao das

    reservas petrolferas do Pr-Sal. Tal considerao, portanto, leva a crer que Campos

    dos Goytacazes venha contar uma populao entre 1.200.000 a 1.500.000

    habitantes at 2025.

    O desenvolvimento econmico acelerado por esse conjunto de

    empreendimentos, vetor do crescimento populacional em alta taxa no curto perodo

    de 12 a 15 anos, traz em sua esteira um crescimento geomtrico da demanda por

    servios pblicos como sade, educao, saneamento e mobilidade urbana que no

    foram, em sua maior parte, considerados pelo Plano Diretor de 2008, sobejamente a

    questo viria da cidade que, se faa justia, vem recebendo investimentos pesados

    e ganhando intervenes de modernizao e ampliao das vias estruturais, mas

    que parecem carentes de uma viso sistmica da estrutura viria da cidade e da

    questo distributiva da circulao urbana, com enftico foco nas demandas dos

    grandes empreendimentos em implantao.

    2.2 PRINCIPAIS PLANOS URBANSTICOS

    2.2.1 A URBANIZAO DA CIDADE, A QUESTO SANITRIA E OS PLANOS

    DOS Eng.os BELLEGARDE, AMRICO PRALON E SATURNINO DE BRITO.

    No sculo XIX, em 1834, antecedendo a elevao da Villa a Cidade e ao

    posterior Plano Pralon, o Engenheiro Henrique Luiz de Niemeyer Bellegarde5, chefe

    5Henrique Luiz de Niemeyer Bellegarde - Engenheiro Gegrafo, com especializao em Pontes eCaladas. Autor do projeto do Farol de Cabo Frio. Autor dos canais de Ururar, Maric e Cacimbas.Autor das Pontes de Campos e Itajuru. Autor da Carta Hidrogrfica da Ilha de Santa Catarina e seu

    canal, levantada em 1830.

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    da 4 Seo de Obras Pblicas da Provncia do Rio de Janeiro, que se estendia do

    rio Itabapoana a Saquarema, estabelece um plano de desenvolvimento regional e d

    Villa de Campos dos Goytacazes especial importncia. Em paralelo aos estudos

    de estradas e canais para hidrovias visando circulao de mercadorias e melhor

    escoamento da produo industrial da regio, desenvolve um projeto de melhorias

    urbanas para a cidade. Militar e engenheiro, Bellegarde traa com detalhes um

    diagnstico do sistema virio, da situao dos brejais e das inundaes peridicas

    que a cidade sofria, oferecendo solues com precisas estimativas de custo.

    Especificamente, quanto ao stio urbano de Campos dos Goytacazes, Bellegarde

    preocupou-se com o controle das cheias do rio Paraba do Sul e com o saneamento

    de reas de brejo e lagoas de acumulao das guas pluviais inseridas no permetro

    da cidade. Promove o levantamento cadastral dos arruamentos e os mapeia

    (Fig.13), promove o aterramento de lagoas e reas baixas dos brejais, projeta e

    inicia a construo de um dique de proteo contra as inundaes, parcialmente

    concludo, margeando o trecho urbano do rio. Para tal, promove desapropriao de

    diversos imveis e o alargamento e pavimentao de ruas.

    Fig. 13- Mapa urbano da Villa de Campos dos Goytacazes, traado por Bellegarde.Fonte: Arquivo Pblico Municipal de Campos dos Goytacazes

    O Plano de Aformoseamento da Cidade de Campos dos Goytacazes, do Eng.

    Amrico Pralon em 1842, j comentado, formava um quadriltero cujo lado oeste da

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    cidade era limitado pela Beira-Valo (Canal Campos - Maca) atual Av. Jos Alves

    de Azevedo; a leste pela rua do Gs (perpendicular ao Rio Paraba do Sul) atual rua

    dos Goytacazes; ao sul pela Vinte e Oito de maro (Antigo Passeio Municipal,

    corredor por onde passava o trilho de trem) e ao norte pelo Rio Paraba do Sul. A

    implantao do Plano Pralon iniciado com entusiasmo terminou no indo adiante por

    falta de interesse dos polticos locais. No ocorrendo a implantao da malha urbana

    preconizada por Pralon, a zona central da cidade, no permetro de abrangncia do

    plano, se manteve com o perfil da urbanizao espontnea. Ainda hoje, mesmo aps

    as muitas intervenes pontuais de remodelamento de vias urbanas promovidas por

    Pereira Nunes6e posteriormente os planejamentos de Saturnino de Brito e Coimbra

    Bueno/Agache, apresenta vias de pouca envergadura, como as ruas Joo Pessoa,

    antiga do Conselho; dos Andradas, Carlos de Lacerda, antiga do Rosrio; Santa

    Efignia; e outras, no centro histrico da cidade (Fig.14).

    Fig. 14- rea de abrangncia do Plano PralonFonte: Demarcado pelo autor sobre planta do Google Maps

    6Benedito Gonalves Pereira NunesPresidente da Cmara Municipal de Campos no perodo de

    1900 a 1903, antes da criao do cargo de Prefeito Municipal institudo em 1904. Em 1905 deixa a

    cidade de Campos, nomeado Prefeito de Niteri.

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    Na seqncia do malogrado Plano Pralon, a cidade, alimentada por

    pretenses polticas de vir a ser capital da provncia, avana em seu crescimento por

    um lado com uma gesto pioneira nos investimentos em infra-estrutura, dentro do

    prprio tecido urbano da cidadecomo luz eltrica, telefonia, bonde, pontes e obras

    de conteno no rio Paraba do Sul -, e na sua conexo com reas de cultivo mais

    afastadas, atravs de ligaes virias (canal, ferrovias e depois rodovias) para

    escoamento da produo e transporte de insumos, mo de obra e possibilidade de

    abastecimento em geral. Por outro lado, em sua expanso perifrica e mesmo nos

    bairros internos, preteridos pela elite da aristocracia aucareira, avana com agravos

    nas condies de salubridade, e na ausncia da infra-estrutura urbana adequada. A

    cidade, portanto, cresce com duas faces, aquela voltada para os interesses poltico-

    econmicos da elite dominante de vir a assumir o comando poltico da provncia do

    Rio de Janeiro, que reflete uma cidade bem estruturada, com alguns avanos infra-

    estruturais frente at mesmo da capital do imprio, e outra de crescimento

    desordenada, insalubre e vitimada pela peste bubnica, o impaludismo, a

    tuberculose e outras pragas.

    No princpio do sc.XX assume a presidncia da Cmara Municipal o mdico

    Dr. Benedito Pereira Nunes que preocupado com a questo da salubridade noambiente urbano contrata o engenheiro Saturnino de Brito para elaborar, como

    descrito pelo prprio, um plano de conjunto para os trabalhos de saneamento da

    cidade e executar os que pudessem ser empreendidos desde j.

    Brito (1903), no relatrio do Plano de Saneamento de Campos, discorre em

    comentrios crticos s aes pregressas de gesto da cidade, e comenta s pag.

    32,

    Entretanto, em 1842 homens de juzo e de patritica compreensodos seus deveres, fizeram levantar uma planta da cidade acompanhada deprojetos de arruamentos que, se fossem obedecidos com sensatasmodificaes, teriam colocado a expanso da cidade em excelentescondies. Referimo-nos ao trabalho executado pelo Engenheiro Pralon, oqual neste longo correr de anos, mais de meio sculo, s logrou servir paraabertura do Passeio Municipal e assim mesmo porque da E. F. Maca eCampos, tendo de ligar a sua linha a S. Sebastio, obteve a CmaraMunicipal que realizasse o projeto, fazendo aquela as despesas dasonerosas expropriaes.

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    Saturnino inicia por um levantamento plani-altimtrico de toda a rea urbana

    da cidade de Campos (Fig.15), incluindo Guarulhos, e que assim descreve nas pag.

    37/38.

    A Planta de CamposOs estudos se estenderam dos hospitais deisolamento ao matadouro; compreendem a faixa de subrbios entre aestrada do Carvo e a Av. Visc. do Rio Branco at s comportas; e namargem esquerda do rio, Guarulhos e a estrada at confrontar com omatadouro; foram estudados tambm os prolongamentos da estrada doBeco at a fazenda do mesmo nome e os das estradas que vo ter Usinado Queimado.

    A zona urbana, compreendendo ainda muitos terrenos baldios, ficouabrangida por um polgono de 20 lados, com a extenso total de 10.500metros, em numero redondo. O maior destes lados (Passeio Municipal, ladoAB) mede 2.501 metros; foi tomado para eixo das abcissas no clculo dascoordenadas, sendo B a origem. Prendendo-se quele polgono do

    permetro urbano, organizamos outros polgonos extraperimtricos, sendopoucas as linhas de prolongamento que ficaram sem fechamento poligonal.

    No polgono urbano as ruas transversais (direo normal ao rio)foram todas percorridas a trnsito e nvel, ficando assim determinados oscruzamentos com as longitudinais, que foram por sua vez, diretamentelevantadas e niveladas quando necessrio.

    Como se procurou dar aos alinhamentos a maior extenso possvel,os perfis longitudinais das ruas geralmente no representam o nivelamentodo segundo eixo. O relevo topogrfico, por curvas de nvel espaadas de0,50, foi obtido com aqueles perfis; e como o interior dos quarteires s emcertos casos foi estudado, compreende-se que a representao do relevodo terreno no se subordinou s modificaes devidas aos acidentes

    internos ou aos provenientes de aterros e escavaes para a terraplanagemdas ruas. Em suma, a topografia representa o que interessa propriamente Cmara Municipal e no aos proprietrios.

    Fig. 15 -Planta de CamposPlano de Saneamento de Campos, Saturnino de Brito -1903

    Fonte: Arquivo Pblico Municipal de Campos dos Goytacazes.

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    Brito (1903)7, ao descrever a cidade, elogia a deciso da implantao dos

    servios sanitrios na cidade, mas critica fortemente a qualidade das instalaes e

    projetos da The Campos Syndicate no servio de gua e esgotamento sanitrio,nas pg. 77/78,

    ...a virtude de ter compreendido em boa hora a necessidade de estabelecer

    servios sanitrios de distribuio dgua potvel e de esgoto dos despejos,

    mal servida, porm, pela ignorncia em que nos achvamos ento para

    aprovar e fiscalizar os projetos e as obras de uma Companhia ingleza

    bastante esperta e menos concienciosa... No somos injustos, e bem o

    sabem a municipalidade, a populao que sofre as conseqncias dos

    maus servios da Companhia e... a prpria Companhia, comparando o quefez e mantm aqui com o que existe de servios anlogos na mais atrasada

    das instalaes sanitrias europias, a nossa desleixada tolerncia com o

    rigor higinico a que esto sujeitas estas instalaes, principalmente na

    Inglaterra.

    Saturnino, ao propor o saneamento da cidade vai, em seu Plano, alm da

    interveno nos sistemas de servios sanitrios e das correes dos focos

    insalubres dos charcos alagadios, mas estabelece tambm um conjunto de normase projetos padro a se aplicar, como um cdigo de obras, aos edifcios em geral

    considerando a situao; a orientao: iluminao e insolao; o espao entre os

    prdios: ptios e quintais; o saneamento dos quarteires propondo o

    estabelecimento de vielas de passagens sanitrias; normatizao das dimenses

    mnimas dos cmodos, sua ventilao e iluminao. Trata dos materiais de

    construo, das fundaes, das paredes, dos pores, dos telhados, das escadas.

    Apresenta projeto de moradias populares em variaes modulares e disciplina aproduo de edifcios pblicos ou de freqncia publica (Fig.s 16; 17; 18; 19; 20 e

    21).

    A proposio de Brito nos alargamentos das vias pblicas reflete a

    preocupao com a insolao da cidade, a circulao dos ventos, a drenagem. No

    7O texto de Saturnino de Brito de 1903, quando da feitura do Plano de Saneamento de Campos. As Obras

    Completas de Saturnino de Brito foram publicadas pela Imprensa Nacional apenas em 1943, catorze anos aps

    sua morte, essa a obra indicada nas referncias bibliogrficas.

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    h, nesta poca, qualquer preocupao com as questes da mobilidade urbana. No

    se tinha, ento, uma viso dos efeitos da circulao em massa na rede viria

    urbana, com o advento do automvel e a generalizao em massa do transporte

    individual, embora na Europa Eugene Hrnard8j iniciasse estudos nesse sentido. A

    necessidade de um mtodo que permitisse determinar numericamente a intensidade

    das correntes circulatrias nas principais vias urbanas, nas distintas horas do dia, de

    modo a se dimensionar suas calhas em funo dos picos circulatrios, indicado

    por Hrnard (1904), dividindo a circulao em seis categorias e afirmando a estas

    seis espcies de movimentos correspondem, ou deveriam corresponder tipos de

    vias pblicas apropriadas a seu destino. A cidade, entretanto, ganha com o que se

    fez do plano de Brito maior capacidade de absoro de trfego e facilidade

    circulatria.

    Fig 16- Proposta ao saneamento do trecho urbano do canal Campos MacaPlano de Saneamento de CamposSaturnino de Brito, 1903

    8Arquiteto e Urbanista francs autor da Teoria Geral da Circulao, publicada entre 1903 a 1909 em

    seus tudes sur ls transformations de Paris

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    Fig. 17- Proposta de controle da insolao urbanaPlano de Saneamento de CamposSaturnino de Brito, 1903

    Fig. 18- Proposta de modelos modulados de habitao popularPlano de Saneamento de CamposSaturnino de Brito, 1903.

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    Fig. 19- Proposta de reforma do matadouro da cidade.Plano de Saneamento de CamposSaturnino de Brito, 1903.

    Fig. 20- Proposta de reforma do matadouro da cidade.Plano de Saneamento de CamposSaturnino de Brito, 1903.

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    Fig. 21- Proposta de vielas sanitrias e padres de esgotos domiciliriosPlano de Saneamento de CamposSaturnino de Brito, 1903

    O Plano de Saneamento de Campos elaborado por Saturnino de Brito,englobando propostas de intervenes urbanas em vias e praas, regulamentao e

    metodizao da limpeza pblica, iluminao noturna, captao, tratamento e

    distribuio da gua, coleta dos dejetos sanitrios, se constitui em um completo

    tratado de engenharia urbana que ainda hoje, tendo em conta os avanos

    tecnolgicos, pode servir como obra de consulta aos projetos de infra-estrutura das

    cidades.

    Em 1926, Saturnino de Brito apresenta um plano de defesa da cidade de

    Campos contra inundaes, que considera toda a extenso da bacia do rio Paraiba

    do Sul (Fig.22), projeta os diques de conteno das cheias para as margens urbanas

    do rio (Fig.23), estabelece um sistema de canais de drenagem e irrigao para os

    campos da plancie elegendo a Lagoa Feia como o grande manancial receptor das

    drenagens e que foi, mais tarde, tomado como partida para a grande rede de canais

    construda pelo extinto DNOS (Departamento Nacional de Obras de Saneamento)

    no municpio.

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    Fig. 22- Plano de Defesa da cidade de Campos contra inundaesEng. Saturnino de Brito, 1926

    Fig. 23- Plano de Defesa da cidade de Campos contra inundaesEng. Saturnino de Brito, 1926

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    2.2.2 O PLANO COIMBRA BUENO / ALFRED AGACHE DE REMODELAMENTO

    URBANO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES.

    O Plano de Remodelamento Urbano de Campos, contratado empresa

    Coimbra Bueno pelo ento interventor do Estado do Rio de Janeiro Amaral Peixoto

    em 1940, traz cidade os urbanistas Jernimo e Abelardo Coimbra Bueno9 e o

    arquiteto e urbanista francs Alfred H. Agache, para a elaborao deste novo plano

    urbanstico para Campos. Conceituadssimo, Agache ficara conhecido no Brasil ao

    introduzir uma forma de interveno no espao urbano pautada na city planning

    americano, caracterstica do Plano de Reordenao Urbana da Cidade do Rio de

    Janeiro em 1927 e tambm do Plano Urbanstico de Curitiba, ambos de sua autoria .

    Ele, junto a Jernimo e Abelardo Coimbra Bueno, elabora o Plano Urbanstico de

    Campos, conhecido como Plano Coimbra Bueno de Remodelamento Urbano da

    Cidade de Campos, apresentado em 1944. Como nos faz saber DOliveira(2002)

    9____ Os irmos Jernimo e Abelardo Coimbra Bueno so originrios da cidade do Rio Verde noEstado de Gois. O primeiro nasce em 1910 e falece em 1996. Abelardo C. Bueno um ano maisnovo. Ambos cursam a Escola Politcnica de Engenharia, pela qual se formam em 1932 e 1933.Aps 1933, criam o Escritrio Coimbra Bueno e Cia Ltda., de construo e urbanismo, que temimportante atuao na elaborao de planos para vrias cidades brasileiras e na divulgao e defesade ideais como a interiorizao da capital do pas. A atuao do escritrio tem incio logo aps aconcluso do curso de Engenharia, quando so convidados pelo interventor do Estado de GoisPedro Ludovico para dar continuidade implantao do plano de Goinia.

    Atlio Correia Lima, autor inicial do plano, acaba por se desligar da funo, aps um ano detrabalho sem remunerao. O Escritrio Coimbra Bueno , ento, contratado para dirigir oplanejamento e a construo da cidade, respeitando o plano j elaborado por Correia Lima nossetores j estudados (Centro e Norte), traando as diretrizes para o novo setor (Sul). Para a revisodo plano contratam Werner Sonnenberg, engenheiro alemo, e o consultor engenheiro e urbanistaArmando de Godoy que atua como orientador dos trabalhos (1934-1935). Recebem o ttulo deConstrutores da Cidade de Goinia pelo Decreto n 580 de 02 de abril de 1938 da InterventoriaFederal.

    Jernimo C. Bueno , posteriormente, senador pelo estado de Gois (1946-1950). Defendema mudana da capital do pas para o interior e em 1937 enviam Getlio Vargas Memorial sobre aquesto. Com esse objetivo, criam em 1939 a Fundao Coimbra Bueno pela Nova Capital do Brasil.Aps o perodo de trabalho em Goinia, os irmos Coimbra Bueno voltam para o Rio de Janeiro. Ointerventor do Estado do Rio de Janeiro Amaral Peixoto, genro de Getlio, com a inteno de dotar deplanos as cidades do estado, os contrata para as cidades localizadas na metade norte do territrio.As cidades ao sul de Petrpolis cabem Atlio Correia Lima. Elaboram aproximadamente 15 planos,entre os quais Campos, Cabo Frio, Araruama e Atafona. Para a cidade de Petrpolis fazem oslevantamentos anteriores etapa de planejamento. Fora do estado, aps 1950, elaboram tambm osplanos de Curitiba e Cuiab. Alfred H. Agache por 5 anos presta consultoria ao escritrio, tendoatuado nos planos de Campos e Curitiba. Posteriormente, at 1964, projetam ncleos de periferia emItabora, Mag e Cachoeira de Macacu nos Estados do Rio de Janeiro e no Estado de So Paulo.Ainda no estado do Rio de Janeiro, aps 1960, projetam loteamentos no Municpio de So Gonalo eem Senador Camar, no Municpio do Rio de Janeiro.Fonte:

    Entrevista comAbelardoCoimbra Bueno em 1998, www.urbanismobr.org/bd/autores.php?d=244ra

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    A empresa Coimbra Bueno, de Jernimo e Abelardo CoimbraBueno, j possua em seu currculo a execuo do Plano Urbanstico deGoinia, elaborado por Atlio Correia Lima na dcada de 30. O traado deGoinia reproduz as concepes que marcam o urbanismo moderno, comavenidas largas, zoneamento de usos e edificaes de grande porte. A

    mesma concepo aparece na proposta para Campos, corroborada,certamente, por Alfred Agache, um dos expoentes desta escola deurbanismo. Belo Horizonte j havia seguido esta matriz no final do sculoXIX, e Braslia ser o seu pice. (pg 07)

    Antes do plano para Campos dos Goytacazes, na regio norte-fluminense,

    Agache j desenvolvera e implantara o Plano Urbanstico de Atafona em So Joo

    da Barra, tambm associado empresa Coimbra Bueno. A partir de sua

    apresentao, o Plano Coimbra Bueno colocado em prtica, paulatinamente, por

    diversas administraes municipais. A participao deste grupo de profissionais

    tornou o Plano Coimbra Bueno para Campos, um marco para a municipalidade no

    s pelo quilate dos participantes, mas pela qualidade de seu trabalho que, por muito

    tempo, refletir dentro da seara do planejamento do Poder Pblico sobre Campos

    dos Goytacazes, sobre as idias e aes ali definidas. No plano desenvolvido, sobre

    a diviso urbana de Campos, destaca-se o chamado quadriltero central, em cuja

    delimitao comenta DOliveira(2002):

    Almeja-se uma nova ordem urbana: o centro da cidade redefinidocomo o quadriltero compreendido entre as ruas Baro de Miracema (antigaSo Bento), Ten.cel. Cardoso (antiga Formosa), Mal. Floriano (antiga Ruado Ouvidor) e o Rio Paraba do Sul. Prev reas para futura expanso dacidade com o planejamento de novos bairros: em seu projeto, uma parte deGuarus , finalmente, integrada cidade; os bairros perifricos ditosabandonados, como o Turf, Saco e Matadouro so integrados zonaurbana. Os limites da cidade so estabelecidos, marcando a diferena entrezona urbana, suburbana e rural. (pg. 08)

    Tomado pelo esprito modernista que adentrava no pas com base no

    municipalismo, enquanto doutrina, e que refletia o entendimento de que necessitava

    a cidadeno de uma soluo econmica ou social, mas urbansticao prefeito de

    ento, Salo Brand10, reclama um financiamento para o custeio do plano e executa

    vrias modificaes na morfologia urbana, tal como informa PEIXOTO FARIA

    (2001):

    10Salo Brand, engenheiro, foi prefeito de Campos no perodo de 1942 a 1947.

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    (...) o alargamento e o prolongamento de ruas e o saneamento de parte dacidade, executa vrias operaes de prestgio, ocupando outros espaos dacidade, criando assim novos pontos de centralizao. Podemos citar, comoexemplo, a Praa da Bandeira, em frente ao novo hospital da Santa Casade Misericrdia que est em construo, ao sul dos bairros situados a

    oeste; o Parque para a Assistncia Infncia, Alzira Vargas, ao sul doncleo central; e ele inicia a construo do hospital de isolamento para ostuberculosos na Coroa (bairro afastado da cidade), inaugura o trecho daestrada Campos-Niteri, que atravessa cidade beirando o canal Campos-Maca, com ligao direta at Avenida 15 de novembro, confirmandoassim o canal como um ponto central que divide cidade em duas partes.

    O plano de 1944, no que abrange a induo do desenvolvimento local, o

    estudo mais detalhado elaborado para a cidade de Campos e compreende alm da

    viso higienista, que predominava nos dois planos anteriores, uma percepo

    geogrfica e histrica da cidade, refletindo a influncia das ideologias progressistas

    que o Urbanismo enquanto Cincia estava trazendo para o Brasil, j utilizadas na

    Europa como modus operandida produo das cidades.

    O que se encontra hoje, lamentavelmente, de documentos do Plano Coimbra

    Bueno no Arquivo Pblico Municipal de Campos dos Goytacazes se resume a um

    conjunto de painis originais com o levantamento cadastral da cidade e a proposio

    do alinhamento das ruas da cidade desenhado em plantas na escala de 1:1000, dos

    quais se logrou algumas imagens por cmera digital, que aqui esto apresentadas

    (Fig.s 24; 25; 26; 27; 28; 29; 30; 31; 32; 33; 34 ) . Aos textos originais de memoriais

    descritivos do plano e demais documentos, afora os textos de autores que aqui

    referimos, a nada se tiveram acesso na fase de pesquisa.11

    11O que se tem informado, pelo Arquivo Pblico Municipal de Campos dos Goytacazes, que

    tais documentos esto includos no acervo do Museu de Campos dos Goytacazes, reservados para

    restaurao e sero, posteriormente, disponibilizados consulta pblica. Junto Secretaria Municipal

    de Planejamento de Campos dos Goytacazes, atravs do arquiteto e urbanista Luiz Gustavo Xavier,

    se teve acesso a mapas digitais da malha urbana de Campos dos Goytacazes obtidos por reduo de

    tomada aerofotogramtrica, inclusive uma superposio dos alinhamentos pretendidos no Plano

    Coimbra Bueno, sobre a malha viria atual da cidade, que permitiu aquilatar, ainda que de forma no

    muito precisa, a efetiva aplicao do plano no remodelamento da cidade.

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    Fig.24- Painel original do Plano Urbanstico de Campos - Coimbra Bueno,1944Fonte: Imagem digital produzida pelo autor.

    Fig. 25- Painel original do Plano Urbanstico de Campos - Coimbra Bueno,1944Fonte: Imagem digital produzida pelo autor.

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    Fig. 26- - Painel original do Plano Urbanstico de Campos - Coimbra Bueno,1944Fonte: Imagem digital produzida pelo autor.

    Fig. 27- Painel original do Plano Urbanstico de Campos - Coimbra Bueno,1944Fonte: Imagem digital produzida pelo autor.

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    Fig. 28- - Painel original do Plano Urbanstico de Campos - Coimbra Bueno,1944Fonte: Imagem digital produzida pelo autor.

    Fig. 29- Painel original do Plano Urbanstico de Campos - Coimbra Bueno,1944Fonte: Imagem digital produzida pelo autor.

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    Fig. 30- Painel original do Plano Urbanstico de Campos - Coimbra Bueno,1944Fonte: Imagem digital produzida pelo autor.

    Fig. 31- Painel original do Plano Urbanstico de Campos - Coimbra Bueno,1944Fonte: Imagem digital produzida pelo autor.

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    Fig. 32 - Painel original do Plano Urbanstico de Campos - Coimbra Bueno,1944Fonte: Imagem digital produzida pelo autor.

    Fig. 33- Painel original do Plano Urbanstico de Campos - Coimbra Bueno,1944Fonte: Imagem digital produzida pelo autor.

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    Fig. 34- Painel original do Plano Urbanstico de Campos - Coimbra Bueno,1944Fonte: Imagem digital produzida pelo autor.

    O remodelamento urbano de Campos preconizado pelos irmos Bueno e

    alicerado na consultoria do Alfred Agache, absorve e complementa o princpio

    higienista do Plano Saturnino de Brito, estabelece uma diviso espacial da cidade,

    na margem direita do rio Paraba do Sul, pela avenida que acompanha as margens

    do canal Campos - Maca, antiga Beira-Valo hoje Avenida Jos Alves de Azevedo,

    interligado-a atravs do traado da Avenida Nilo Peanha rodovia Amaral Peixoto

    que d ligao de Campos com Niteri, ento capital do estado, dando-lhe acesso

    avenida XV de Novembro, que acompanha a margem direita do Paraba no

    quadriltero central. O Passeio Municipal, hoje Avenida 28 de Maro, que vem de

    primeiro traado feito por Pralon, depois, por Saturnino de Brito, expandida no

    alinhamento da via frrea em direo da baixada, ganha alinhamento ainda mais

    largo e se estende no plano dos Bueno/Agache at altura da Usina Santo Antnio, e

    se constitui no principal vetor da expanso da cidade, integrando bairros at ento

    isolados da malha central, como o Turf Club. Agache prolonga ainda o Passeio

    Municipal acima do canal Campos-Maca formando um arco no sentido oeste at a

    estao da estrada de ferro da The Leopoldina Railway Company Ltda, que fazia a

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    ligao ferroviria entre Rio de Janeiro Campos Vitria, e conectando o

    prolongamento da Rua da Constituio, atual Alberto Torres, que partia da praa do

    Santssimo Salvador at a Estao Ferroviria do Saco. Subindo ento da praa

    central cortando a parte mais alta da configurao topogrfica do tecido urbano, a

    Rua da Constituio que era, portanto, naturalmente mais salubre que os stios mais

    baixos, cheios de alagadios e lagoas, j concentrava as construes dos solares,

    das chcaras e manses dos abastados, senhores de usinas, grandes proprietrios

    rurais e comerciantes de atacado, e fechando o arco com o Passeio Municipal

    circunscreveu a zona da cidade onde se desenvolveram o bairros mais nobres, se

    instalaram os grandes colgios, o Frum de Justia, e loteamentos das reas de

    canavial dotados de infra-estrutura moderna, com lotes que foram ocupados pela

    classe mdia alta, como o Parque Tamandar, o Parque Pelinca e o Parque Maria

    Queirz , entre a rua da Constituio e a avenida XV de Novembro.

    Na margem esquerda do Paraba o Plano Coimbra Bueno resgata o distrito de

    Guars como componente da cidade, traa para ali largas avenidas, inclusive

    alinhando as pistas da atual Avenida Tancredo Neves com o eixo da embocadura do

    canal Campos-Maca, propondo a construo de uma ponte moderna que,

    interligando as hoje avenidas Jos Alves de Azevedo e Tancredo Neves daria aGuars definitiva incorporao ao sistema virio da cidade, vencido o obstculo do

    rio Paraba do Sul, que na poca contava apenas com a acanhada ponte municipal

    hoje denominada Ponte Barcelos Martins. Inaugurada em 5 de abril de 1873,

    construda pelo Baro da Lagoa Dourada12em empreendimento privado e por cuja

    travessia durante alguns anos era cobrado pedgio (Fig.s 35 e 36), talvez o primeiro

    cobrado no pas, e que embora sua estrutura metlica importada da Frana ficasse

    conhecida pela populao como a Ponte de Pau devido seu piso em madeira.

    12 Baro da Lagoa dourada. - Jos Martins Pinheiro, rico fazendeiro dos Campos dos Goytacazes,

    voltado para o civismo nacional, por ocasio da Guerra do Paraguai se entregou a uma grandecampanha. Como resultado, conseguiu, em virtude do seu prestgio pessoal, no somente muitosvoluntrios para a grande luta, como fez, na ocasio, vultoso donativo. Em conseqncia desse seugesto extraordinrio, a 09 de janeiro de 1867, foi homenageado por parte do Imprio com o honrosottulo de Baro da Lagoa Dourada. Empreendedor, entre seus negcios construiu a primeira pontesobre o rio Paraba do Sul em Campos, por cuja travessia se cobrava pedgio. Fonte: Feydit (1979)

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    Fig. 35Ponte Barcelos Martins, construda pelo Baro da Lagoa Dourada13Fonte: Arquivo Pblico Municipal

    Fig. 36Ponte Barcelos Martins, construda pelo Baro da Lagoa DouradaFonte: Arquivo Pblico Municipal

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    A casinha esquerda do acesso ponte, junto ao poste de iluminao, o posto de pedgio

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    2.2.3O PDUC DE 1979, ZONEAMENTO E USO DO SOLO, RECONFIGURAO

    VIRIA E DENSIFICAO DA OCUPAO DO SOLO.

    No binio 78/79, estando prefeito o Arquiteto Raul Linhares, o municpioelabora o PDUC Plano de Desenvolvimento Urbano de Campos dos Goytacazes,

    que apresenta uma proposta de melhoramento do sistema virio urbano com a

    implantao de duas vias expressas de distribuio que permitiriam o contorno do

    tecido urbano da cidade pelo trfego rodovirio de passagem no municpio. Essas

    vias, chamadas no plano de Perimetral interna e Perimetral externa, depois

    nomeada Av. Arthur Bernardes a interna e Av. N. S. do Carmo a externa, pretendiam

    ento resolver a superposio com o trfego urbano do trfego de passagem das

    BR-101 na direo ao leste do municpio e no acesso ao municpio de So Joo da

    Barra, considerando que o contorno projetado pelo ento DNER (Departamento

    Nacional de Estradas de Rodagem) para a BR-101 Norte, na direo ao estado do

    Esprito Santo, a oeste do tecido urbano, resolveria no s a superposio desse

    trfego rodovirio, mas tambm, acessando por este contorno as perimetrais

    propostas, a superposio da demanda de trfego rodovirio da BR -356 na direo

    ao leste do municpio e no acesso a So Joo da Barra (Fig.37).

    Fig. 37Perimetrais projetadas no PDUC 1979Campos dos Goytacazes

    Fonte: Marcado pelo autor sobre trecho de mapa do P. Diretor 2008

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    No quadro da poca, a proposio das perimetrais era tecnicamente correta e

    havia a possibilidade de financiamento da Unio s suas execues, justificadas

    pelo envolvimento do trfego rodovirio das estradas federais, no houvesse acaracterizao de um imbrglio poltico. Por coincidncia, as partidas de ambas as

    perimetrais, em seus trechos a oeste do canal Campos Maca cruzariam terras

    em canavial da Usina do Queimado, empresa de propriedade familiar do ento

    prefeito Raul Linhares, e cuja construo lhes imprimiria expressiva e sbita

    valorizao transformando-as em reserva infraestruturada para a expanso

    imobiliria da cidade, o que acirrou os nimos da oposio. No se pode afirmar

    tenha sido essa a principal inibio para a execuo das obras pelo poder publico,mas o fato que no se executaram ento, e passou a municipalidade a exigir,

    como vias projetadas, que as intervenes dos agentes privados da produo

    urbana, na execuo de loteamentos, executassem os trechos daquelas perimetrais

    onde interferissem com seus projetos. Tal condio viabilizou que diversos trechos

    das perimetrais se realizassem, porm inclusas em loteamentos, perderam a

    caracterstica de via expressa e, principalmente, a funo de resolver a

    superposio do trfego rodovirio de passagem com o trfego urbano na cidade. A

    Av. Arthur Bernardes, pretensa perimetral interna, vem agora em 2012 a ser

    concluda pela municipalidade como uma importante via arterial na ma