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A VEZ DO MESTRE REPERCUSSÃO GERAL: PRESSUPOSTO DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO ALEX MEDINA ALVES RIO DE JANEIRO 2012

REPERCUSSÃO GERAL: PRESSUPOSTO DE … · 1.4.6 – Lealdade ... recurso utilizado, pela civilização romana, foi a apelação. ... O Direito Comercial brasileiro aboliu o agravo

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A VEZ DO MESTRE

REPERCUSSÃO GERAL:

PRESSUPOSTO DE ADMISSIBILIDADE

DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

ALEX MEDINA ALVES

RIO DE JANEIRO

2012

ALEX MEDINA ALVES

REPERCUSSÃO GERAL:

PRESSUPOSTO DE ADMISSIBILIDADE

DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

Monografia apresentada à A VEZ

DO MESTRE, como pré-requisito

para obtenção do título de pós-

graduação em Direito Público e

Tributário.

Orientador: Prof. .Anselmo Souza

Rio de Janeiro

2012

RESUMO

A repercussão geral será o tema abordado no presente trabalho, este tema

foi introduzido no ordenamento jurídico pátrio pela Emenda Constitucional 45,

esta inclui, como um novo pressuposto de admissibilidade do recurso

extraordinário, a exigência da repercussão geral da questão constitucional

debatida, conforme o parágrafo terceiro do artigo 102 da Constituição República

Federativa do Brasil de 1988.

Inicialmente, teceremos considerações gerais sobre os recursos.

Posteriormente, algumas reflexões sobre o recurso extraordinário e por fim, nos

debruçaremos sobre o recurso extraordinário e seu novo pressuposto de

admissibilidade, a repercussão geral.

Neste sentido, a Lei 11.418/06 introduziu no Código de Processo Civil os

artigos 534-A e B, que disciplinam o novo instituto processual brasileiro. Ainda,

complementando foram feitas diversas emenda ao Regimento Interno do

Supremo Tribunal Federal para adequar ao novo escopo processual.

Assim, foi delimitada a competência do Supremo Tribunal Federal, no

julgamento do recurso extraordinário, aos questionamentos relevantes, do ponto

de vista, social, político, econômico ou jurídico, que ultrapasse os interesses

subjetivos das partes a causa.

Deste modo, poderá o STF decidir os múltiplos casos idênticos que versem

sobre questão constitucional de forma a uniformizar a interpretação constitucional.

Finalizando, analisaremos a eficiência desse novo mecanismo processual

ao processo brasileiro.

Palavra-chave: recursos; recurso extraordinário; pressupostos processuais;

repercussão geral.

ABSTRACT

The overall effect will be the subject of the present work, introduced the

native legal system by Constitutional Amendment 45, this includes as a condition

of admissibility of the extraordinary demand the impact of general constitutional

question discussed by entering the § 3 to Article 102 of CRFB/88.

Initially, we consider general resources. Later, some reflections on the

extraordinary appeal and Finally, we will examine the extraordinary appeal and his

new

assumption of admissibility, the general effect.

In this sense, the Law 11.418/06 introduced the Code of Procedure Civil

Articles 534-A and B, which govern the new institute proceedings Brazil. Still,

adding several amendments were made to Internal Rules of the Supreme Court to

suit the new scope procedure.

Thus, we defined the powers of the Supreme Court, the trial of

extraordinary appeal to the relevant questions from the point of view, social,

political, economic or legal, which exceeds the subjective interests of the

partiesconcerned.

Thus, the Supreme Court can decide cases where multiple identical that

touch on the constitutional question in order to standardize the constitutional

interpretation.

Finally, we analyze the efficiency of this new mechanism the procedural

process in Brazil.

Key-words: appeal; extraordinary appeal; procedural constitutional;

general repercussion

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................. pág. 07

1- RECURSOS

1.1 – Conceito ................................................................................... pág. 08

1.2 – Aspectos históricos ................................................................... pág. 09

1.3 – Espécies de recursos ............................................................... pág. 10

1.4 – Princípios ................................................................................... pág.12

Princípios gerais do direito processual:

1.4.1 – Imparcialidade do juiz ....................................................................... pág. 12

1.4.2 – Igualdade .......................................................................................... pág. 14

1.4.3 – Contraditório e ampla defesa ........................................................... pág. 14

1.4.4 – Livre convencimento do juiz ............................................................. pág. 15

1.4.5 – Publicidade ....................................................................................... pág. 16

1.4.6 – Lealdade Processual ........................................................................ pág. 17

1.4.7 – Economia e instrumentalidade das formas ...................................... pág. 18

1.4.8 – Duplo grau de jurisdição ................................................................... pág. 19

Princípios específicos do direito processual civil:

1.4.9 – Taxatividade ..................................................................................... pág. 19

1.4.10 – Unirrecorribilidade ou unicidade recursal ....................................... pág. 20

1.4.11 – Fungibilidade .................................................................................. pág. 20

1.4.12 – Vedação da reformatio in pejus ...................................................... pág. 21

1.5 – Pressupostos recursais ............................................................ pág. 21

1.5.1 — Pressupostos recursais no processo civil ....................................... pág. 22

1.5.1.a — Pressupostos subjetivos .............................................................. pág. 23

1.5.1.b — Pressupostos objetivos ................................................................ pág. 23

2- RECURSO EXTRAORDINÁRIO

2.1 – Terminologia ............................................................................. pág. 26

2.2 - Aspectos históricos ................................................................... pág. 26

2.3 - Previsão constitucional .............................................................. pág. 27

2.4- Previsão infraconstitucional e aspectos processuais do recurso

extraordinário ..................................................................................... pág. 29

2.5 - Crise do recurso extraordinário ................................................. pág. 30

3- REPERCUSSÃO GERAL

3.1 – Conceito ................................................................................... pág. 32

3.2 - Aspectos históricos ................................................................... pág. 32

3.3 - Argüição de relevância .............................................................. pág. 32

3.4 - Transcendência no Recurso de Revista ................................... pág. 34

3.5 - Direito comparado ..................................................................... pág. 34

3.5.1 - Writ of Certiorari nos Estados Unidos da América ............................ pág. 37

3.5.2 - Rechtssache Grundsätzliche Bedeutring — significação fundamental da

questão de direito na Alemanha ................................................ pág. 38

3.5.3 - o Certiorari na Argentina ................................................................... pág. 39

3.6 - Previsão constitucional ............................................................. pág. 40

3.6.1 – A demonstração da repercussão geral ............................................ pág. 40

3.6.2 – O exame de admissão pelo STF ...................................................... pág. 41

3.6.3 – A recusa da admissão pela manifestação de dois terços dos membros do

STF ......................................................................................................... pág. 42

3.7 - Previsão infraconstitucional e questões processuais ................ pág. 43

3.7.1 – Decisão irrecorrível ........................................................................... pág. 43

3.7.2 – Questões relevantes ......................................................................... pág. 44

3.7.3 – Decisão contrária à súmula ou jurisprudência dominante ................ pág. 44

3.7.4 – Decisão que acolhe a repercussão geral ......................................... pág. 45

3.7.5 – Inexistência da repercussão geral e indeferimento liminar das matérias

idênticas ................................................................................................. pág. 46

3.7.6 – Amicus Curiae .................................................................................. pág. 46

3.7.7 – Multiplicidade de recursos de idêntica controvérsia ......................... pág. 48

CONCLUSÃO .................................................................................... pág. 51

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA ....................................................... pág. 55

ANEXOS:

Constituição da República Federativa do Brasil ................................ pág. 57

Lei nº 11.418, de 19 de Dezembro de 2006 ...................................... pág. 58

Emendas Regimentais nº 21, 22, 23 e 24 do STF ............................ pág. 60

7

INTRODUÇÂO:

A Constituição da República condecorou o Supremo Tribunal Federal

como seu guardião. Porém, sua forma analítica, positivada com uma enorme

gama de direitos e obrigações, tornou essa tarefa inexeqüível.

Neste sentido, com escopo de garantir a efetividade da corte suprema e

a celeridade processual foi promulgada a Emenda Constitucional 45, de 8 de

dezembro de 2004, que inseriu em nosso rol de direitos fundamentais o

princípio da celeridade, que expressamente dispõe no inciso LXXVIII, do artigo

5º, “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável

duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua

tramitação”.

Dentre os institutos criados por essa emenda constitucional, denominada

“Reforma do Judiciário”, além de outros institutos, tais como, a súmula

vinculante e o Conselho Nacional de Justiça, foi criado a repercussão geral, um

requisito de admissibilidade ao recurso extraordinário.

Assim, foi criado um mecanismo de seleção processual para que

somente sejam admitidos recursos que contenham relevância econômica,

política, social e jurídica e ultrapassem os interesses subjetivos da causa.

O presente trabalho busca fazer uma análise do tema supracitado.

Inicialmente, faremos uma breve introdução do tema, traçando considerações

sobre os recursos in totum, seu conceito e sua origem. Posteriormente, será

feita uma abordagem sintética do recurso extraordinário, seu conceito, natureza

jurídica e aspectos processuais.

Por último, analisaremos a repercussão geral, em seu aspecto histórico, no

direito alienígena, sua previsão constitucional e infraconstitucional. E enfim,

visualizar quanto esse mecanismo contribui para proporcionar uma justiça

célere ou um cerceamento da defesa dos litigantes.

8

1 – RECURSOS

1.1 Conceito:

O recurso é o ato pelo qual a parte sucumbida em um processo

manifesta a sua insatisfação. É o meio processual utilizado pela parte

perdedora, para que a causa seja reexaminada pelo próprio órgão que a

decidiu ou à instância superior1. Nesse sentido, quando presente o interesse

de recorrer2 poderá haver a impetração do recurso.

O ser humano é naturalmente falível o que gera a dificuldade para

aceitarmos pacificamente o fato consumado, ou uma decisão jurisdicional. Para

nos salvaguardar juridicamente e confortar psicologicamente aplicamos, no

ordenamento jurídico pátrio, o princípio do duplo grau de jurisdição. Este,

segundo GRINOVER (2005) funda-se na “possibilidade de a decisão de

primeiro grau ser injusta ou errada, daí decorrendo a necessidade de permitir

sua reforma em grau de recurso.

“Dessa forma, tem-se o recurso como forma pacificadora da índole

humana”.3

Para José Carlos Barbosa Moreira o recurso é:

(...) o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a

reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração de decisão judicial

1 Cf. Eduardo Pessoa in Dicionário Jurídico, 2ª edição. Rio de Janeiro: Idéias Jurídicas, 2003.

pág. 314. 2 O artigo 499 do CPC dispõe: “O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro

prejudicado e pelo Ministério Público”. 3 Cf. Ada Pellegrini Grinover e outros in Teoria Geral do Processo. Brasil: Editora Malheiros,

2005. pág. 76.

9

que se impugna. Atente-se bem: dentro do mesmo processo, não

necessariamente nos mesmos autos. A interposição de agravo de instrumento

dá lugar a autos apartados; bifurca-se o procedimento, mas o processo

permanece uno, com a peculiaridade de pender, simultaneamente, no primeiro

e segundo grau de jurisdição. (MANCUSO, 2007, Pág.21)

1.2 – Aspectos históricos:

O direito de recorrer está presente na história do direito há muito tempo.

Ao estudarmos o direito, nos períodos hebreus, atenienses e egípcios,

verificamos diversas formas de recorrer. Sendo, que o primeiro instrumento de

recurso utilizado, pela civilização romana, foi a apelação.

Em Roma, esse direito somente abrolha no período cognitio extra

ordinem, quando o Estado toma para si toda a estrutura oficial jurisdicional,

acabando com a figura do magistrado privado eleito pelas partes, com sua

sentença executada pelo pretor, surge à figura dos recursos. Instituíram-se os

institutos da appelatio e suplicatio, o primeiro possibilitava uma revisão da

decisão pelo próprio pretor, e o segundo, a revisão da decisão do pretor, era

feita pelo imperador.

As Ordenações Afonsinas garantiam aos portugueses os direitos de

recorrer das sentenças finais e das decisões interlocutórias. Tais recursos

prosseguiram nas Ordenações Manuelinas e Filipinas.

As Ordenações Filipinas foram o berço jurídico positivado do Brasil, pois

na época do “descobrimento”, eram as vigentes no ordenamento jurídico pátrio

de Portugal e, conseqüentemente, vigoraram aqui. Previam como formas de

recursos: a apelação e os agravos de petição e de instrumento.

O Direito Comercial brasileiro aboliu o agravo de instrumento no ano de

1850, através do Regulamento 737.

10

Posteriormente, os formam criados os Códigos Estaduais de Processo,

estes mantiveram os mesmo institutos. Com a reunificação da competência

processual para União, com o Código de Processo Civil de 1939, foram

previstos, além dos institutos já existentes, o agravo de petição, para decisões

terminativas sem julgamento de mérito e, nos casos previstos em lei.

O atual Código de Processo Civil foi instituído em 11 de janeiro de 1973.

A matéria dos recursos foi extremamente reformulada, tanto é assim, que

mereceu nota, a sua exposição de motivos que, em linhas gerais, tenta

modificar o que chamou de defeitos do processo civil, nestes termos:

O direito brasileiro se ressente, entre outros, de dois defeitos

fundamentais:

a) sob o aspecto terminológico, o emprego de uma expressão única para

designar institutos diferentes;

b) sob o aspecto sistemático, uma quantidade excessiva de meios de impugnar

as decisões.

Dentre as modificações trazidas pela nova norma adjetiva, têm-se a

extinção do agravo de petição e agravo nos autos do processo. Instituiu-se o

agravo de instrumento e as apelações. Sendo que estas passaram a caber,

somente, de sentenças, sejam elas terminativas ou não de mérito.

1.3- Espécie de recursos:

Inicialmente podemos classificar os recursos como ordinários e

extraordinários4. Aqueles são os previstos no processo comum, para correção

4 É o que podemos extrair o artigo 102 e 105 da CRFB/88.

11

de eventuais prejuízos à parte. Estes possuem como características, a sua

previsão constitucional e, versarem apenas sobre matéria de direito e a

uniformidade de interpretação da legislação federal e da constituição, tudo isso,

lhe garantem uma função política.

São recursos extraordinários: o recurso extraordinário ao Supremo

Tribunal Federal (artigo 102, III, da CRFB/88), o recurso especial ao Superior

Tribunal de Justiça (artigo 105, III, da CRFB/88) e os embargos de divergência

ao STF e STJ.

Os recursos ordinários são os demais recursos, previstos no

ordenamento jurídico pátrio. Podem ser divididos em duas espécies: os

recursos comuns e específicos. Aqueles têm como pressuposto básico a

sucumbência. Estes vão exigir, cada qual, um pressuposto especial de

admissibilidade. Assim, podemos dizer que a apelação é um recurso ordinário

comum e o recurso de embargos infringentes é recurso ordinário específico.

São espécies de recursos previstos no ordenamento jurídico brasileiro:

-Apelação;

-Agravo;

-Embargos infringentes;

-Embargos de declaração;

-Recurso ordinário;

-Recurso especial;

-Recurso extraordinário;

-Embargos de divergência em recurso especial e extraordinário;

-Embargos infringentes em causas de pequeno valor nas execuções fiscais —

A Lei 6830/90;

-Agravo da decisão do Relator — Previsto nos Regimentos Internos dos

Tribunais;

12

1.4 Princípios:

Os recursos no processo cível são regidos por princípios gerais do

processo e os específicos, estes forma a base do ordenamento jurídico e,

aqueles norteiam a aplicação da norma positivada.

Princípios gerais do direito processual:

1.4.1 Imparcialidade do juiz:

O juiz deve estar eqüidistante das partes, para um julgamento justo.

Para o regular desenvolvimento do processo deve o juiz ser imparcial,

considerando-se impedido5 ou mesmo suspeito6 quando estiver de qualquer

5 O artigo 134 dispõe sobre os impedimentos do juiz, nestes termos: É defeso ao juiz exercer

as suas funções no processo contencioso ou voluntário: I – de que for parte; II - em que

interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como órgão do Ministério

Público, ou prestou depoimento como testemunha; III – que conheceu em primeiro grau de

jurisdição, tendo-lhe proferido sentença ou decisão; IV – quando nele estiver postulando, como

advogado ou parte, o seu cônjuge ou qualquer parente seu, consangüíneo ou afim, em linha

reta ou na linha colateral até segundo grau; V – quando cônjuge, parente, consangüíneo ou

afim, de alguma das partes, em linha reta, ou na linha colateral, até terceiro grau; VI – quando

for órgão de direção ou de administração de pessoa jurídica, parte da causa.

6 O artigo 135 dispõe sobre a suspeição do juiz: Reputa-se fundada a suspeição de

parcialidade do juiz, quando: I – amigo intimo ou inimigo capital de qualquer das partes; II –

alguma das partes for credora ou devedora do juiz, de seu cônjuge ou de parentes destes em

linha reta ou colateral até o terceiro grau; III – herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de

alguma das partes; IV – receber dádivas antes ou depois de iniciado o processo; aconselhar

alguma das partes acerca do objeto da causa, ou subministrar meios para atender às despesas

13

forma ligado ao objeto ou ao processo.

Caso o juiz se declare impedido ou suspeito, a lei processual estabelece

que as partes poderão fazê-lo através do instrumento da exceção de

impedimento ou suspeição, afastando assim o juiz daquela causa7.

Da proibição constitucional de tribunais e juízos de exceção, consoante

no artigo 5º XXXVII da CRFB/88, decorre o princípio da imparcialidade do juiz .

Para garantir essa imparcialidade jurisdicional a Constituição instituiu

garantias aos magistrados, em seu artigo 95, quais sejam: a vitaliciedade,

inamovibilidade e irredutibilidade de subsídio. A vitaliciedade é

consubstanciada pela garantia do cargo por toda a vida, adquirida após dois

anos de exercício. Sendo que a perda do cargo, antes da vitaliciedade,

somente ocorre por deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado e, no

demais casos, de sentença judicial transitada em julgado. A inamovibilidade é o

impedimento legal a remoção dos juízes, da comarca a que servem, exceto nos

casos de pedido próprio, por promoção aceita ou pelo voto de dois terços dos

juízes efetivos do tribunal superior competente, se assim o exigir o interesse

público. Por fim, a irredutibilidade de subsídios se constitui pela vedação a

redução dos vencimentos dos magistrados.

No mesmo sentido, o parágrafo único do referido artigo, ainda, esculpi

do litígio. V – interessado no julgamento da causa em favor de uma das partes. 7 O artigo 304 e seguintes do CPC dispõe sobre a exceção de incompetência. Importante aqui

é frisar que a incompetência que aqui se argúi é a relativa, conforme súmula 33 do STJ, que

dispõe: “A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício”.

"Todo recurso para merecer conhecimento deve não apenas impugnar a decisão contra a qual

se rebela, mas trazer os fundamentos em que se apóia. É direito da parte oferecer exceção de

impedimento na primeira oportunidade em que lhe couber manifestar-se nos autos ou, dentro

do prazo de quinze dias, contado do fato que o ocasionou. Portanto, se o interessado mesmo

depois de haver recorrido mais de uma vez após a verificação do fato e, inclusive, de publicado

o acórdão do qual tornou-se relator o ministro dito impedido, não se conhece da exceção" (STJ,

Ac. unân. da 3ª Seç., publ. em 22.5.95, AG-Exc. de Imped. 38.022-3-DF, Rel. Min. Costa Lima).

14

outras vedações, que destacamos, entre elas: o exercício de qualquer outro

cargo ou função, exceto uma de magistrado; proibição da pratica de atividades

político-partidárias e exercer a advocacia.

1.4.2 Igualdade:

As partes no processo devem ter tratamentos iguais, respeitando assim

o caput do artigo 5º da CRFB/88 que assim dispõe: “todos são iguais perante a

lei, sem distinção de qualquer natureza”.

Respeitada a igualdade formal, deverá o magistrado observar a

igualdade material que, para Aristóteles e imortalizado por Rui Barbosa, é o

tratamento desigual na medida de suas desigualdades. Assim, em alguns

casos, o legislador previu o tratamento desigual, presumindo a existência de

um sujeito hipossuficiente, que deve ser protegido, para conseguirmos chegar

em uma igualdade real.

Outrossim, devem os litigantes no processo civil estar sempre em

“paridade de armas8”. Devendo sempre o juiz propiciar o equilíbrio entre as

partes.

1.4.3 Contraditório e ampla defesa:

Entre os direitos individuais e coletivos assegurados pela Constituição,

8 Corolário do princípio do contraditório, assegura no processo civil a igualdade entre as parte

envolvidas na lide, devendo ambos litigantes terem os mesmos mecanismos de defesa de seus

direitos.

15

está o contraditório e a ampla defesa, disposto em seu artigo 5º inciso LV9.

Assim, o contraditório garante as partes de um processo, a sua

participação igualitária na construção da relação jurídica, inclusive com a

contestação, para chegarem a uma tutela jurisdicional justa. Para ADA

PELLEGRINE GRINOVER “o contraditório é constituído por dois elementos: a)

informação; b) reação (esta, meramente possibilitada nos casos de direito

disponíveis)10”.

A ampla defesa compreende-se na autodefesa e na defesa técnica. A

auto defesa é a praticada pela parte, pode ser através da negação ou da

justificação. O advogado é responsável pela defesa técnica, sendo

indispensável no processo penal.

Desse princípio decorre a necessidade das partes no processo serem

cientificadas das movimentações processuais, através das citações 11 e

intimações.

1.4.4 Livre convencimento do juiz:

Na atual fase do processo civil brasileiro as decisões dos juizes devem

basear-se no livre convencimento motivado, também denominada, persuasão

racional do juiz. Isto porque, houve épocas em que o juiz somente calculava os

9 Artigo 5º, LV - Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em

geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela

inerentes. 10 Cf. Ada Pellegrini Grinover e outros in Teoria Geral do Processo. Brasil: Editora Malheiros,

2005. pág. 59. 11 No Direito do Trabalho e na Lei do Mandado de Segurança utiliza-se o termo notificação ao

invés de citação.

16

valores das provas contidos na lei, ou ainda, decidia sem necessidade de

exprimir seus motivos.

Assegura a Constituição em seu artigo 93, inciso IX, que “todos os

julgados serão públicos, e fundamentadas todas as suas decisões, sob pena

de nulidade”.

Neste sentido, o Código de Processo Civil em seu artigo 458, II,

assevera que é dever do magistrado, no exercício de suas atividades,

fundamentar a sentença, sob pena de nulidade12.

1.4.5 Publicidade:

O exercício da jurisdição por parte do Estado lhe impõe o ônus da

publicidade, que será garantia aos cidadãos. Desde a Revolução Francesa os

Estados são obrigados a dar publicidade dos seus atos, neste sentido já

dispusera a Declaração Universal dos Direitos do Homem:

12 Jurisprudência :

"Sentença. Fundamentação. 1. O órgão judicial, para expressar os fundamentos e convicção

dos julgadores, não precisa aduzir comentários amplos ou exaustivos versando todos os

argumentos articulados pelas partes. É suficiente a motivação pronunciada sobre as questões

de fato e de direito para resolver litígio, oferecendo a prestação jurisdicional pedida (art. 458, II,

CPC). 2. Precedentes jurisprudenciais. 3. Recurso improvido" (Ac. unân. da 1ª T. do STJ, no

REsp. nº 105.543/RN, julgado em 12.05.98 – Relator: Min. Milton Luiz Pereira; DJde 22.06.98,

p. 25).

"Sentença. Motivação.1. É entendimento assente de nossa jurisprudência que o órgão judicial,

para expressar a sua convicção, não precisa aduzir comentários sobre todos os argumentos

levantados pelas partes. Sua fundamentação pode ser sucinta, pronunciando-se acerca do

motivo, que por si só, achou suficiente para a composição do litígio. 2. Agravo regimental

improvido" (Ac. unân. da 1ª T. do STJ, no Ag. Reg. no AI nº 169.073/SP, julgado em 04.06.98 –

Relator: Min. José Delgado; DJ de 17.08.98, p. 44).

17

Artigo 10. Todo o homem tem direito, em plena igualdade, a uma

justa e pública audiência por parte de um tribunal independente e

imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento

de qualquer acusação criminal contra ele.

Da mesma forma, a Constituição assegurou no artigo 93, inciso IX, que –

todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e

fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar

a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou

somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do

interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação13.

1.4.6 Lealdade processual:

O Código de Processo Civil foi alterado recentemente pela Lei 10.358/01

que impôs como deveres das partes que participam do processo a lealdade e a

boa-fé.

Neste sentido, o artigo 17 da referida lei, penaliza como litigantes de má-

fé, inúmeras condutas desleais ao processo, tais como: I – deduzir pretensão

ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso; II – alterar a

verdade dos fatos; III – usar o processo para conseguir objetivo ilegal; IV –

opuser resistência injustificada ao andamento do processo; V – proceder de

modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo; VI – provocar

13 Redação determina pela Emenda Constitucional 45 de 2004, assegurando que a limitação

somente poderá ocorrer em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do

interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação.

18

incidentes manifestamente infundados; VII – interpuser recurso com intuito

manifestamente protelatório.

A deslealdade no processo também pode ser considerada ato

atentatório a dignidade da justiça, conforme dispõe o artigo 600 do CPC14.

1.4.7 Economia e instrumentalidade das formas:

A processo tem como finalidade a solução dos litígios, a pacificação

social. Dessa, forma não é um fim em si mesmo. Não pode deixar o juiz de

conceder a tutela jurisdicional, por uma preciosidade técnica, quando possível

deve conceder, por exemplo, a possibilidade de emenda a petição inicial.

Neste sentido dispõe o artigo 244 do Código de Processo Civil:

Quando a lei prescrever determinada forma, sem culminação de

nulidade, o juiz considerará valido o ato se, realizado de outro modo, lhe

alcançar a finalidade.

Da mesma forma não pode haver um dispêndio econômico maior com o

processo do que a expressão econômica do direito ao qual se quer alcançar.

Deve-se buscar o binômio custo-benefício.

Corolário ao princípio da econômica está o principio do aproveitamento

dos atos processuais15.

14 Art. 600. Considera-se atentatório à dignidade da Justiça o ato do executado que: I – frauda

a execução;

II – se opõe maliciosamente à execução, empregando ardis e meios artificiosos; III – resiste

injustificadamente às ordens judiciais; IV – intimado, não indica ao juiz, em 5 (cinco) dias, quais

são e onde se encontram os bens sujeitos à penhora e seus respectivos valores. 15 A positivação desse princípio está no artigo 250 do CPC que dispõe: “O erro de forma do

processo acarreta unicamente a anulação dos atos que não possam ser aproveitados, devendo

19

1.4.8 Duplo grau de jurisdição:

Esse princípio não está previsto de modo explicito em nossa Carta

Magna. Porém, ele decorre da estrutura do poder judiciário e possibilidade de

revisão das suas decisões.

Além disso, é uníssono que o ser humano é falível, o que pressupõe

uma revisão de seus atos.

Existem exceções a esse princípio, ou seja, decisões que não serão

passiveis de revisão. É o que se denota, por exemplo, das decisões em que o

juízo ad quem aprecia, sem previa decisão do juízo a quo, as matérias de

ordem pública.

Princípios específicos do direito processual civil:

1.4.9. Taxatividade:

Os recursos estão previstos de forma expressa na legislação adjetiva e

nas leis esparsas, devendo as partes utilizá-los, sem poder criar outros

recursos.

Importante ressalvar, que por esse princípio o sucumbido somente

poderá lançar mão dos recursos existentes no ordenamento jurídico, o que não

praticar-se os que forem necessários, a fim de se observarem, quanto possível, as prescrições

legais.

Parágrafo único. Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados, desde que não resulte

prejuízo à defesa”.

20

significa, que estes somente são os enumerados do artigo 496 do CPC.

Existem, recursos especifico, tais como, o recurso inominado contra sentença

do Juizado Especial Cível (Lei 9099/95) e o recurso adesivo do artigo 500 do

CPC.

1.4.10 Unirrecorribilidade ou unicidade recursal:

Quando da sucumbência, a parte vencida poderá apenas interpor um

único recurso. Tal assertiva, apesar de parecer evidente, foi reforma recente do

Código de Processo Civil. A Lei 10.352/01 alterou o artigo 49816 do CPC

proibindo a possibilidade, em uma decisão parcial, de interposição de dois

recursos pela parte. Como exemplo, temos uma decisão não unânime, em que

a parte ingressasse com embargos infringentes e recurso especial ou

extraordinário.

1.4.11 Fungibilidade:

A fungibilidade dos recursos é a possibilidade de ser recebido um

16 Redação atual do artigo 498 do CPC: Quando o dispositivo do acórdão contiver julgamento

por maioria de votos e julgamento unânime e forem interpostos embargos infringentes, o prazo

para o recurso extraordinário e o recurso especial, relativamente ao julgado unânime, ficará

sobrestado até a intimação da decisão dos embargos.

Redação anterior a Lei 10352/01 do artigo 498 do CPC: Quando o dispositivo do acórdão

contiver julgamento por maioria de votos e julgamento unânime e forem interpostos

simultaneamente embargos infringentes e recurso extraordinário ou recurso especial, ficarão

estes sobrestados até o julgamento daquele

21

recurso pela instância superior como sendo outro que seria cabível17. Porém,

para que o juiz possa receber um recurso por outro, deve ser observados os

seguintes requisitos: a) inexistência de erro grosseiro; como por exemplo,

diante de uma decisão interlocutória a parte interpõe recurso de apelação. b)

dúvida objetiva na jurisprudência sobre o recurso aplicável ao caso. Aqui,

diante de situação semelhante o tribunal diverge sobre qual o recurso cabível.

1.4.12 Vedação da reformatio in pejus:

Diferentemente do que acontecia com o Código de Processo Civil de

1939, o atual Código de normas adjetivas não prevê expressamente a

proibição da reforma em prejuízo da parte recorrente. Porém, a norma

prevalece no ordenamento jurídico pátrio como princípio.

O juiz sempre deverá atuar nos limites do pedido e parte alguma pedirá

reforma da decisão para piorar sua situação, o que reforça a vedação da

reformatio in pejus.

1.5 Pressupostos recursais:

O processo configura-se na soma da relação jurídica e do procedimento,

este é o conjunto de atos internos do processo, aquele se forma pela

participação entre os sujeitos do processo de forma equilibrada.

Assim, qualquer vício na formação do processo, seja na formação da

relação jurídica, ou no desenvolvimento do procedimento, será considera

17 Cf. Eduardo Pessoa, in Dicionário Jurídico. Rio de Janeiro: Editora Idéia Jurídica,

2003.pág.154.

22

ausência de pressupostos processuais.

De um modo geral, os pressupostos são divididos em: a) pressupostos

de existência; b) pressupostos de validade.

Os pressupostos de existência são aqueles previstos para formação do

processo, portanto devem estar presentes na petição inicial e no juízo que

exercerá a jurisdição. Tanto é assim, que não estando presentes qualquer um

dos requisitos dos artigos 28218 e 28319 do Código de Processo Civil, deverá o

juiz extinguir o processo, conforme mandamento do artigo 267, inciso I do

CPC20. Em decorrência do princípio da instrumentalidade das formas, o artigo

284 do CPC, abre a possibilidade do juiz mandar o autor “emendar sua petição

inicial, quando apresente defeitos e irregularidades capazes de dificultar o

julgamento do mérito, em dez dias”.

O pressuposto de validade, também denominado de pressuposto de

desenvolvimento, caracteriza-se pela aptidão da petição inicial em gerar efeitos

no mundo jurídico. Sendo este os efeitos: um juiz competente, a capacidade

das partes ou sua representação e um advogado legalmente habilitado.

1.5.1 — Pressupostos recursais no processo civil:

18 Art. 282. A petição inicial indicará:

I – o juiz ou tribunal, a que é dirigida;

II – os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu;

III – o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;

IV – o pedido, com as suas especificações;

V – o valor da causa;

VI – as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;

VII – o requerimento para a citação do réu. 19 Art. 283. A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da

ação. 20 Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: I – quando o juiz indeferir a

petição inicial;

23

No processo civil especificadamente dividimos os pressupostos em: a)

pressupostos subjetivos; b) pressupostos objetivos.

1.5.1.a — Os pressupostos subjetivos relacionados diretamente com os

sujeitos da relação processual, que podem assim divididos:

Legitimidade: São partes legítimas para interposição dos recursos no processo

civil: a parte sucumbente, o Ministério Público e o terceiro juridicamente

interessado, conforme dispõe o artigo 499 do Código de Processo Civil.

Interesse: O interesse de agir é condição da ação, pressuposto subjetivo.

Assim, a parte para recorrer terá que ter sucumbido de algum modo, o que

caracterizará o elemento necessidade ou utilidade do interesse da parte.

Também, podemos avaliar esse pressuposto em outro elemento, a adequação,

que caracteriza-se pela ligação entre a decisão proferida e o recurso interposto.

1.5.1.b — Os pressupostos objetivos estão diretamente relacionados

com a própria relação jurídica, e podem ser assim analisados:

Tempestividade: Os recursos não podem ser interpostos a qualquer tempo e

sim no prazo estabelecido em lei, sob pena de serem considerados

intempestivos e terem o seu conhecimento afastado.

Cabimento: Os recursos baseiam pelo princípio da taxatividade, devendo ser

interposto o recurso condizente com a decisão atacada. Assim, diante de uma

decisão interlocutória o recurso cabível é o agravo retido. Nos casos em que

24

essa decisão seja suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil

reparação, ou quando seja inadmitida a apelação, e quanto aos efeitos que

esta é recebida, caberá o agravo por instrumento, conforme dispõe o artigo 522

do Código de Processo Civil.

Preparo: O Estado para prestação jurisdicional, cobra das partes as custas

processuais sem as quais considerará um recurso como deserto21. Também,

deve a parte recolher as custas para o respectivo porte de remessa e retorno.

Os entes públicos estão dispensados do preparo pela imunidade recíproca

concedida pela Constituição Federal. Ainda, não recolhem as despesas do

processo, aqueles que gozarem de isenção legal, ou seja, os beneficiários de

assistência jurídica gratuita22.

21 Um recurso é considerado deserto pela falta de pagamento de custas. 22 Jurisprudências:

"Recurso. Preparo. Deserção. Uniformizou-se a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça

no sentido de que "o recurso preparado após a interposição, ainda que dentro do prazo

recursal, deve ser considerado deserto, eis que assim impõe a parte final do mesmo artigo".

Recurso especial nº 105.669-RS, julgado pela eg. Corte Especial em 16.04.97. Recurso não

conhecido"(Ac. unân. da 3ª T. do STJ, no REsp. nº 132.719-RS, julgado em 27.04.98 – Relator:

Min. Costa Leite; DJ de 01.06.98, p. 85).

"Deserção e princípio da insignificância. É de se afastar a declaração de deserção do recurso

por falta de preparo, quando o seu valor for quantia insignificante que não possua expressão

monetária. Trata-se, na espécie, de preparo de recurso extraordinário no valor de 12 centavos

de cruzeiros, mediante o qual a repartição arrecadadora, ante a insignificância do valor

cobrado, só se limitava a autenticar a guia de arrecadação. O tribunal, em virtude da existência

de dissídio entre as turmas, por maioria, conheceu dos embargos de divergência opostos à

decisão proferida em embargos declaratórios recebidos com efeitos modificativos e os recebeu

para rejeitar a deserção do recurso extraordinário, prevalecendo o entendimento proferido pela

Segunda Turma no RE nº 156.551-MG (DJU de 17.11.95), ao fundamento de que exigir tal

pagamento seria colocar em segundo plano a finalidade do ato processual. Vencidos os

Ministros Moreira Alves e Ilmar Galvão, que não conheciam dos embargos, ao fundamento de

que as teses jurídicas confrontadas não eram divergentes" (RE (EDv-EDcl-EDcl) 169.349-MG,

Rel. Min. Marco Aurélio, 9.6.99).

25

O artigo 511 do Código de Processo Civil positiva o tema nestes termos:

No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido

pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e

de retorno, sob pena de deserção.

§ 1º São dispensados do preparo os recursos interpostos pelo Ministério

Público, pela União, pelos Estados e Municípios e respectivas autarquias, e

pelos que gozam de isenção legal.

§ 2º A insuficiência no valor do preparo implicará deserção, se o recorrente,

intimado, não vier a supri-lo no prazo de cinco dias.

Inexistência de fatos modificativos ou extintivos do direito de recorrer: Para que

a parte possa recorrer, ela não pode praticar atos contrários ao naturalmente

esperado23. Assim, diante da sucumbência não poderá o vencido cumprir

decisão, depois querer recorrer. Ocorrerá nestes casos a preclusão do direito

do autor.

Regularidade formal: Cada recurso contém determinações legais específicas

que devem ser cumpridas, para regular formalidade do processo. Podemos

citar, como exemplo, o agravo de instrumento, que exige a comunicação do juiz

a quo, no prazo de três dias, pelo agravante24.

23 O Processo Civil baseia-se no princípio da não surpresa. Assim, todos os atos praticados

são previsíveis pela parte contraria. Caso, ela deixe de praticar um ato naturalmente esperado

terá seu direito precluso. Como exemplo, temos que das decisões de mérito que tragam

gravame a qualquer uma das partes, esta deverá agravar, sob pena de preclusão. 24 Cf. dispõe o artigo 526 do CPC : Art. 526. O agravante, no prazo de 3 (três) dias, requererá

juntada, aos autos do processo, de cópia da petição do agravo de instrumento e do

comprovante de sua interposição, assim como a relação dos documentos que instruíram o

recurso.

26

2 — RECURSO EXTRAORDINÀRIO

2.1 – Terminologia:

No sistema recursal brasileiro existem duas acepções à nomenclatura

recurso extraordinário. O primeiro significado para o termo recurso

extraordinário é lato sensu e designa todos os recursos cabíveis

extraordinariamente as Cortes Superiores. A segunda acepção é estrito sensu

e significa o recurso cabível ao STF das decisões que contrariem dispositivos

da Constituição, para declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal,

para julgar válida lei ou ato do governo local contestado em face da

Constituição Federal e para julgar válido lei local contestada em face de lei

federal25.

2.2 - Aspectos históricos:

O Brasil organiza-se pelo federalismo26, este se constitui pela auto-

organização dos Estados e da organização nacional, através de um ente

autônomo, denominado União. Outrossim, o país utilizou uma Suprema Corte

para garantir a manutenção do Estado.

Neste sentido, desde a Constituição Federal de 1932 temos a presença

25 Cf. dispõe artigo 102, III, a, b, c e d , da CRFB/88. 26 Mutatis mutantis o Brasil , assim como outros países, copiou federalismo do sistema norte

americano.

27

do Supremo Tribunal Federal que através do controle difuso de

constitucionalidade, protege as normas constitucionais e pelo controle do

sistema federativo, garante a manutenção do pacto federativo27.

Quanto da implantação do recurso extraordinário brasileiro, o legislador

brasileiro guiou-se pelo Judiciary Act do direito norte-americano. Sua finalidade

é manter, dentro do sistema federal e da descentralização do Poder Judiciário,

a autoridade e a unidade da Constituição.28

2.3 - Previsão constitucional:

A Constituição Federal trouxe em seu bojo expressamente a previsão do

recurso extraordinário, nestes termos:

27 CRFB/1934 – Ar Art 59 - Ao Supremo Tribunal Federal compete: c) as

causas e conflitos entre a União e os Estados, ou entre estes uns com os

outros; e) os conflitos dos Juízes ou Tribunais Federais entre si, ou entre

estes e os dos Estados, assim como os dos Juízes e Tribunais de um Estado

com Juízes e Tribunais de outro Estado. II - julgar, em grau de recurso, as

questões resolvidas pelos Juízes e Tribunais Federais, assim como as de que

tratam o presente artigo, § 1º, e o art. 60; § 1º - Das sentenças das Justiças

dos Estados, em última instância, haverá recurso para o Supremo Tribunal

Federal: a) quando se questionar sobre a validade, ou a aplicação de tratados

e leis federais, e a decisão do Tribunal do Estado for contra ela; b) quando se

contestar a validade de leis ou de atos dos Governos dos Estados em face da

Constituição, ou das leis federais, e a decisão do Tribunal do Estado considerar

válidos esses atos, ou essas leis impugnadas.

28 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I, pág. 682.

28

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a

guarda da Constituição, cabendo-lhe:

III – julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas

em única ou última instância, quando a decisão recorrida:

a) contrariar dispositivo desta Constituição;

b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;

c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta

Constituição;

d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.

§ 1o A argüição de descumprimento de preceito fundamental

decorrente desta Constituição será apreciada pelo Supremo Tribunal

Federal, na forma da lei.

§ 2o As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo

Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas

ações declaratórias de constitucionalidade, produzirão eficácia contra

todos e efeito vinculante e relativamente aos demais órgãos do Poder

Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas

federal, estadual e municipal.

§ 3o No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a

repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso,

nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do

recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois

terços de seus membros. (Grifo nosso)

Como já dito, não foi inovação ao sistema jurídico brasileiro, mas

assegurou precipuamente a guarda da Constituição da República Federativa

do Brasil ao Supremo Tribunal Federal.

29

2.4- Previsão infraconstitucional e aspectos processuais do recurso

extraordinário:

O Código de Processo Civil regulamenta o recurso extraordinário,

iniciando no artigo 541 com o endereçamento, que deve ser ao presidente ou

vice-presidente do tribunal recorrido, em petições distintas, no prazo de 15

dias, que conterão:

I – a exposição do fato e do direito;

II – a demonstração do cabimento do recurso interposto;

III – as razões do pedido de reforma da decisão recorrida.

Prossegue a norma adjetiva ordenando ao recorrente, nos casos de recursos

baseados em dissídio jurisprudencial, a produção da prova da divergência.

No artigo seguinte, em respeito ao princípio do contraditório, é ordenado

ao tribunal recorrida, a abertura de prazo para contrarrazões, também de 15

dias, da parte recorrida. Ao contrário, do que acontecia anteriormente, em que

as partes arrazoavam duas vezes, a Lei 8.950, de 13.12.1994, simplificou o

procedimento para somente uma alegação por parte, uma para o recorrente em

petição de recurso e uma para o recorrido em contrarrazões.

A lei atribui ao recurso extraordinário somente o efeito devolutivo. Isso

significa que o acórdão recorrido poderá ser executado.

Caso o Tribunal de origem admita o recurso extraordinário esse será

encaminhado ao STF para o seu regular processamento, nos ditames do seu

Regimento Interno. No caso de inadmissão do recurso, poderá a parte

prejudicada, interpor agravo de instrumento, em 10 dias, conforme dispõe o

30

artigo 544 do CPC29.

O agravo interposto será submetido à apreciação de um Ministro

singular, que dando provimento ao agravo mandará convertê-lo em julgamento.

Ou ainda, poderá o Relator, quando o acórdão recorrido contrariar súmula ou

jurisprudência dos STF, conhecer o agravo para dar provimento ao mérito do

próprio recurso extraordinário.

No caso de improvimento ou inadmissão do agravo pelo relator, poderá

o prejudicado interpor novo agravo, em cinco dias, ao órgão competente para o

julgamento do recurso, conforme estipula o artigo 545 do CPC.

Inovação ao processamento dos recursos extraordinários foi trazida pela

Lei 10.352 de 26.12.2001 que alterou o artigo 542 do CPC, eliminando a

obrigatoriedade de protocolo no tribunal de origem. Com isso poderá haver

delegação para que os juizes de primeiro grau recebam os recursos

extraordinários e especiais.

2.5 - Crise do recurso extraordinário:

O Supremo Tribunal Federal hoje se encontra em crise. Isto é decorrente

da quantidade excessiva de recursos interpostos anualmente, e do crescimento

exacerbado dos últimos anos.

Com isso, um Corte Constitucional tornara-se terceira, quarta ou última

instância recursal. Ao analisarmos o site do STF, observamos uma escalada

geométrica, dos números de processos julgados desde 1940. Resumidamente,

29 Art. 544. Não admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial, caberá

agravo de instrumento, no prazo de dez dias, para o Supremo Tribunal Federal

ou para o Superior Tribunal de Justiça, conforme o caso.

tínhamos nesta década

autos protocolados, no

neste ano até julho

demonstra a crise de qu

Para solucionar

necessita de certos e

conseguirá gerir a qua

represamento e ao atra

resposta judiciária de

segurança jurídica e jus

30

http://www.stf.jus.br/portal/c31 Dentre os elementos d

repercussão geral, objeto de32 MANCUSO, Rodolfo de C

Editora Revistas dos Tribun

0

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

120.000

1940

écada 2419 processos protocolados, em 19

no ano de 2006 foram protocolados 127.53

julho foram protocolados 38.180 processo

de quantidade pela qual passa nossa Corte S

ionar essa crise entendemos que nossa

tos elementos31 de contenção, do contrário

a quantidade de processos que a ela aflue

o atraso na prestação jurisdicional, ou bem ac

a de massa , com evidente prejuízo para

e justiça.32

rtal/cms/verTexto.asp?servico=estatistica&pagina=mo

tos de contenção previstos no ordenamento jurídic

jeto desse trabalho, a súmula vinculante e os recursos

o de Camargo in Recurso extraordinário e recurso e

ribunais, 2007. pág. 106.

1980 1990 2000 2003 200

Processos protocolados

31

em 1980 eram 9555

127.535 processos, e

cessos30. Tudo isso

orte Suprema.

ossa Corte Superior

ntrário, ou bem não

afluem, levando ao

em acabará ofertando

para os valores da

In

a=movimentoProcessual

jurídico pátrio, temos a

ursos repetitivos.

o especial. São Paulo,

2009 2011

32

3 — REPERCUSSÃO GERAL

3.1 – Conceito:

Conceituar um instituto jurídico não é tarefa simples, ainda mais em se

tratando de um instituto recentemente criado, que ainda está amoldando-se, ao

nosso sistema jurídico, tal como a repercussão geral.

Podemos conceituar a repercussão geral como um instrumento

processual constitucional, que possibilita filtrar as matérias a serem analisadas

pelo Supremo Tribunal Federal, de acordo com critérios de relevância jurídica,

política, social e econômica.

3.2 - Aspectos históricos:

O instituto da repercussão geral no Brasil foi inserido na Constituição

Federal com a Emenda Constitucional 45/2001, também conhecida como a

Reforma do Judiciário. Todavia, tínhamos anteriormente no sistema jurídico

brasileiro, a argüição de relevância e, ainda temos, no direito processual do

trabalho, a transcendência do recurso de revista.

3.3 - Arguição de relevância:

Desde a Constituição Federal de 1967, com as Emendas Constitucionais

nº 01, de 17.10.1969, e nº 7, de 13.04.1977, já havia a possibilidade do

Supremo Tribunal Federal selecionar as matérias relevantes para sua

33

apreciação, através do instituto da argüição de relevância.

Deste modo, antes do instituto da repercussão geral, tínhamos no

ordenamento jurídico brasileiro instituto análogo, denominado argüição de

relevância.

Os recursos extraordinários possuíam na ordem jurídica anterior um

instrumento de triagem para que a Corte Constitucional abster-se de julgar

recursos sem relevância nacional.33

Apesar de semelhantes, esses institutos jurídicos, têm características

próprias. A arguição de relevância tinha como fulcro possibilitar que um recurso

extraordinário, a priori incabível, fosse apreciado. Funcionando como um

instituto com característica central inclusiva. Ao oposto, a repercussão geral

visa excluir do conhecimento do Supremo Corte as controvérsias que não

apresente os requisitos legais.34

A repercussão geral se baseia na relevância da questão e a argüição de

relevância na transcendência da matéria. Por fim, enquanto a argüição de

relevância era apreciada em sessão secreta e dispensando fundamentação, a

repercussão geral, ao avesso, tem de ser examinada em sessão pública e sua

decisão motivada, conforme artigo 93, inciso IX, da Constituição da República

Federativa do Brasil35.

33 Cf. Artigo 119 da CRFB de 1967: Compete ao Supremo Tribunal Federal: III - julgar,

mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância por outros

tribunais, quando a decisão recorrida: § 1º As causas a que se fere o item III, alíneas a e d ,

deste artigo, serão indicadas pelo Supremo Tribunal Federal no regimento interno, que

atenderá à sua natureza, espécie, valor pecuniário e relevância da questão federal. (Redação

dada pela Emenda Constitucional nº 7, de 1977).

34 MARINONI, Luiz Guilherme e Daniel Mitidiero, Repercussão Geral no Recurso

Extraordinário. Revista dos Tribunais. São Paulo, 2008. Pág. 31.

35 Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o

34

3.4 - Transcendência no Recurso de Revista:

O direito processual do trabalho possui o recurso de revista, de natureza

extraordinária, dirigido ao TST — Tribunal Superior do Trabalho. E este tem

como escopo enfrentar as violações as normas constitucionais e legais, por

parte dos Tribunais Regionais do Trabalho e também, a uniformização da

jurisprudência trabalhista.36

A Medida Provisória nº 2.226, de 4 de setembro de 2001, introduziu o

artigo 896 – A, na CLT — Consolidação das Leis do Trabalho37, que se

configura em mais um requisito de admissibilidade ao recurso de revista .

O artigo segundo da referida MP dispõe que o regimento interno do TST

regulamentará a matéria, assegurada a apreciação da transcendência em

sessão pública, com direito à sustentação oral e fundamentada a sua decisão.

Como podemos observar, o legislador ordenou uma apreciação prévia

nos recursos de revista quanto à relevância do tema discutido, em relação aos

seus reflexos gerais de natureza econômica, política, social ou jurídica. Neste

Estatuto da magistratura, observados os seguintes princípios: IX – todos os julgamentos dos

órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de

nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus

advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do

interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;

36 GRAVATÁ, Isabelli, Resumo de direito processual do trabalho. Ed. Impetus: Rio de Janeiro,

2008. pág. 118. 37 Art. 896-A. O Tribunal Superior do Trabalho, no recurso de revista, examinará previamente

se a causa oferece

transcendência com relação aos reflexos gerais de natureza econômica, política, social ou

jurídica.

35

sentido, a transcendência no recurso de revista assemelha-se a repercussão

geral no recurso extraordinário.

Por último, podemos destacar que o Supremo Tribunal Federal já se

manifestou a respeito da constitucionalidade da transcendência no recurso de

revista, conforme ementa publicada no dia 23.11.2007.

MEDIDA CAUTELAR EM AÇÃO DIRETA DE

INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA PROVISÓRIA 2.226, DE

04.09.2001. TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. RECURSO DE

REVISTA. REQUISITO DE ADMISSIBILIDADE.

TRANSCENDÊNCIA. AUSÊNCIA DE PLAUSIBILIDADE JURÍDICA

NA ALEGAÇÃO DE OFENSA AOS ARTIGOS 1º; 5º, CAPUT E II;

22, I; 24, XI; 37; 62, CAPUT E § 1º, I, B; 111, § 3º E 246. LEI

9.469/97. ACORDO OU TRANSAÇÃO EM PROCESSOS JUDICIAIS

EM QUE PRESENTE A FAZENDA PÚBLICA. PREVISÃO DE

PAGAMENTO DE HONORÁRIOS, POR CADA UMA DAS PARTES,

AOS SEUS RESPECTIVOS ADVOGADOS, AINDA QUE TENHAM

SIDO OBJETO DE CONDENAÇÃO TRANSITADA EM JULGADO.

RECONHECIMENTO, PELA MAIORIA DO PLENÁRIO, DA

APARENTE VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA

ISONOMIA E DA PROTEÇÃO À COISA JULGADA. 1. A medida

provisória impugnada foi editada antes da publicação da Emenda

Constitucional 32, de 11.09.2001, circunstância que afasta a vedação

prevista no art. 62, § 1º, I, b, da Constituição, conforme ressalva

expressa contida no art. 2º da própria EC 32/2001. 2. Esta Suprema

Corte somente admite o exame jurisdicional do mérito dos requisitos

de relevância e urgência na edição de medida provisória em casos

excepcionalíssimos, em que a ausência desses pressupostos seja

evidente. No presente caso, a sobrecarga causada pelos inúmeros

recursos repetitivos em tramitação no TST e a imperiosa necessidade

de uma célere e qualificada prestação jurisdicional aguardada por

milhares de trabalhadores parecem afastar a plausibilidade da

alegação de ofensa ao art. 62 da Constituição. 3. Diversamente do

que sucede com outros Tribunais, o órgão de cúpula da Justiça do

Trabalho não tem sua competência detalhadamente fixada pela

36

norma constitucional. A definição dos respectivos contornos e

dimensão é remetida à lei, na forma do art. 111, § 3º, da Constituição

Federal. As normas em questão, portanto, não alteram a competência

constitucionalmente fixada para o Tribunal Superior do Trabalho. 4.

Da mesma forma, parece não incidir, nesse exame inicial, a vedação

imposta pelo art. 246 da Constituição, pois, as alterações introduzidas

no art. 111 da Carta Magna pela EC 24/99 trataram, única e

exclusivamente, sobre o tema da representação classista na Justiça

do Trabalho. 5. A introdução, no art. 6º da Lei nº 9.469/97, de

dispositivo que afasta, no caso de transação ou acordo, a

possibilidade do pagamento dos honorários devidos ao advogado da

parte contrária, ainda que fruto de condenação transitada em julgado,

choca-se, aparentemente, com a garantia insculpida no art. 5º,

XXXVI, da Constituição, por desconsiderar a coisa julgada, além de

afrontar a garantia de isonomia da parte obrigada a negociar despida

de uma parcela significativa de seu poder de barganha,

correspondente à verba honorária. 6. Pedido de medida liminar

parcialmente deferido. (Grifo Nosso)

3.5 - Direito comparado:

Na moderna concepção do direito é essencial a criação de tribunais

especializados para manutenção da integridade do ordenamento juridico

nacional. Desta forma, foram criados cortes constitucionais e tribunais de

cassação para uniformizar a interpretação do direito nos países.

Desde o início do século passado, com o advento, principalmente, da

revolução industrial difundiram-se as relações humanas e o direito, com isso

podemos notar a massificação das relações jurídicas.38 Assim, a multiplicação

38 Entendimento esposado por Bruno Dantas in Repercussão Geral – Perspectivas histórica,

dogmática e de direito comparado, questões processuais. São Paulo: RT, 2008. pág. 89.

37

da demanda por provimentos judiciais levou muitos países a adotar, em suas

cortes judiciais superiores, instrumentos capazes de selecionar as causas

representativas do anseio da maioria da sociedade.

Neste sentido, destacamos alguns institutos equivalentes, mutatis

mutandis, à repercussão geral.

3.5.1 — Writ Of Certiorari nos Estados Unidos da América:

A Suprema Corte dos Estados Unidos da América-EUA possui

característica distinta da maioria das cúpulas equivalentes de outros países,

pois é dotada de poderes impares. Mormente, porque são seus membros são

os responsáveis em selecionar o que é, ou não, relevante para o país.

Inicialmente, dotou esse país do instituto do writ of certiorari como

mecanismo de inclusão de causas na competência recursal da Suprema Corte

Americana, e não de rejeição (DANTAS, 2008).

O processamento do writ of certiorari pode ser resumido em:

interposição por parte do sucumbente no prazo de 90 dias, contados da

intimação do acórdão proferido por uma corte federal de recursos ou corte

estadual de última instância; Apresentação de memórias pelo requerido, no

prazo de 30 dias, podendo ainda, o requerido apresentar “contrarrazões”, no

mesmo prazo; Admiti-se a intervenção de amicus curiae, este pode apresentar

memórias tanto por parte do requerente, quanto por parte do requerido. Os

assessores (clerks) dos juizes escrevem um memorial, sintetizando os fatos

relevantes e apresentando argumentos para concessão ou negação do pedido.

Esses, memoriais são remetidos aos demais assessores para que esses

analisem e emitam parecer aos seus respectivos juízes, se concordam ou

discordam do primeiro relato memorizado. Após, isso finalizam com uma lista

38

de discussão e votação dos casos dos casos não rejeitados. Por fim, são

considerados com “certiorari” os casos que obtiverem o mínimo de quatro

juízes a favor de seu conhecimento.

A discricionariedade da Suprema Corte dos EUA se manifesta quando

da seleção dos casos que examinará, e também, pela possibilidade de escolha,

dentro de um caso, de quais questões deseja examinar. (DANTAS, 2008).

3.5.2 — Rechtssache grundsätzliche Bedeutung (significação

fundamental da questão de direito na Alemanha:

O sistema jurídico Alemão possui um sistema político de controle de

constitucionalidade, pois sua Corte Constitucional Federal não integra o poder

judiciário local. Assim, é essa Corte a responsável pela proteção do direito e

uniformização de jurisprudência.

O recurso em espécie para alcançar a Corte Constitucional Federal é o

recurso de revisão. DANTAS (2008) citando Giesela Rühl caracteriza este

recurso fundamentalmente para a uniformização e a racionalização do direito

alemão em casos cíveis39.

Esse recurso possui como mecanismo de filtragem a significação

fundamental das questões de direito, o aperfeiçoamento do direito ou a

uniformização da jurisprudência.

39 Cf. Bruno Dantas, Repercussão Geral – Perspectivas histórica, dogmática e de direito

comparado, questões processuais, São Paulo: RT, 2008. pág. 113

39

3.5.3 — o Certiorari na Argentina:

O ordenamento jurídico argentino é inspirado no modelo norte

americano, tal como o sistema brasileiro. Assim, o judiciary act americano

influenciou no sistema recursal dos argentinos.

No ano de 1990 foi positivado no ordenamento jurídico argentino a Lei nº

23.774 que, entre outras alterações, alterou o artigo 280 do Código Procesal

Civil y Comercial de la Nacion (CPCN) — neste termos :

Quando a Corte Suprema conhecer mediante recurso

extraordinário, a recepção de uma causa implicará na avocação na

avocação dos autos. A Corte, segundo sua discricionariedade sã, e

com só a invocação desta norma, poderá rechaçar o recurso

extraordinário, por falta de lesão federal suficiente ou quando as

questões discutidas carecerem de substancialidade ou de

transcendência. (DANTAS, 2008 – tradução livre – pág. 115)

Podemos observar, que se estabeleceu no sistema recursal argentino

um filtro baseado na ausência de lesão federal suficiente e carência de

substancialidade ou transcendência.

Dantas, esposando os ensinamentos de Augusto Morello entende que

os recursos extraordinários argentinos, para não serem rechaçados, devem

possuir a lesão federal suficiente, esta entendida pela negativa da vigência de

lei federal e risco a integridade daquele ordenamento jurídico. Ou ainda,

possuírem questões substanciais ou de transcendência, sendo aquelas as

questões decididas reiteradamente pela jurisprudência da Corte Suprema, e

estas as questões que ultrapassem o mero interesse individual das partes para

40

atingir diretamente a comunidade.40

3.6 – Previsão constitucional:

O legislador constitucional derivado emendou o texto da Carta Magna,

inserindo o § 3º, do inciso III, do artigo 103. Nele delimitou alguns aspectos

processuais que, necessariamente, devem balizar a repercussão geral no

recurso extraordinário. Assim, deverá o recorrente demonstrar a repercussão

geral nas questões constitucionais debatidas para o exame de sua admissão

pelo STF, o qual somente poderá recusá-lo pela manifestação de dois terços

dos seus membros.

3.6.1 — A demonstração da repercussão geral nas questões

constitucionais debatidas:

Cabe ao recorrente demonstrar um como preliminar do recurso

extraordinário, a repercussão geral das questões constitucionais debatidas.

Este é o momento da apreciação quanto à ofensa direta a Constituição

Federal.

Grande discussão permeou a jurisprudência brasileira acerca das

ofensas indiretas ou reflexas a constituição. Devido ao modelo analítico

constitucional adotado pelo constituinte brasileiro, muitas vezes, há

sobreposição de temas, pois são encontrados na Constituição e em Leis 40 Cf. Bruno Dantas, Repercussão Geral – Perspectivas histórica, dogmática e de direito

comparado, questões processuais, São Paulo: RT, 2008. pág. 114 à 121.

41

infraconstitucionais, os mesmos dispositivos.

Neste sentido, desenvolveu-se o entendimento jurisprudencial e

doutrinário, hoje pacífico, da ofensa direita. Por esse posicionamento, somente

serão apreciados pela Corte Suprema, os temas que afrontem diretamente o

texto constitucional. Aqueles pontos que somente ofendam a constituição de

forma indireta ou reflexa não serão objetos de análise desta Corte.

Destarte, ilustramos :

AI 619163 AgR / SP - SÃO PAULO

AG.REG.NO AGRAVO DE INSTRUMENTO

Relator(a): Min. EROS GRAU

Julgamento: 20/10/2009 Órgão Julgador: Segunda Turma

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE

INSTRUMENTO. PRESCRIÇÃO. TRIBUTO DECLARADO

INCONSTITUCIONAL PELO STF. MATÉRIA

INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA REFLEXA. 1. Controvérsia

decidida à luz de legislações infraconstitucionais. Ofensa indireta à

Constituição do Brasil. 2. As alegações de desrespeito aos

postulados da legalidade, do devido processo legal, da motivação dos

atos decisórios, do contraditório, dos limites da coisa julgada e da

prestação jurisdicional, se dependentes de reexame prévio de normas

inferiores, podem configurar, quando muito, situações de ofensa

meramente reflexa ao texto da Constituição. Agravo regimental a

que se nega provimento. (grifo nosso)

Decisão: A Turma, à unanimidade, negou provimento ao agravo

regimental, nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente,

neste julgamento, o Senhor Ministro Cezar Peluso. 2ª Turma,

20.10.2009.

3.6.2 — O exame de admissão pelo STF:

O legislador constituinte derivado inovou na verificação da repercussão

geral no recurso extraordinário, foi assegurando aos cidadãos que a apreciação

42

da repercussão geral dar-se-á diretamente pelo Supremo Tribunal Federal.

Diferentemente, do que é regra na teoria geral dos recursos, cuja à análise dos

pressupostos admissionais dos recursos aconteceram, primeiramente, pelo

prolator da decisão recorrida.

Assim, ao recorremos de uma sentença caberá ao juízo monocrático

decisório a análise quanto aos pressupostos de admissão da apelação.41 E

certo, que da decisão que nega o recebimento desse recurso, caberá agravo

de instrumento, mas, não alterará o cerne da questão, relativo à apreciação do

recurso primeiramente pelo prolator da decisão recorrida. Outro exemplo é o

recurso especial que, será dirigido ao presidente do tribunal recorrido, para

manifestação acerca de sua admissibilidade42, da mesma forma interpõe-se o

recurso ao prolator da decisão recorrida.

3.6.3 — A recusa da admissão pela manifestação de dois terços

dos membros do STF:

O Supremo Tribunal Federal é o único órgão jurisdicionalmente

competente para a apreciação da repercussão geral nos recursos

extraordinários. Além disso, o texto constitucional assegura que nos casos de 41 Art. 514. A apelação, interposta por petição dirigida ao juiz, conterá: (...)

Art. 518. Interposta a apelação, o juiz, declarando os efeitos em que a recebe, mandará dar

vista ao apelado para responder.

§ 1o O juiz não receberá o recurso de apelação quando a sentença estiver em conformidade

com súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal.

§ 2o Apresentada a resposta, é facultado ao juiz, em cinco dias, o reexame dos

pressupostos de admissibilidade do recurso. (Grifo nosso) 42 Art. 541. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na Constituição

Federal, serão interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do tribunal

recorrido, em petições distintas, que conterão: (...) (Grifo nosso)

43

recusa da admissão desse recurso, por inexistência de repercussão geral,

deverá haver um quorum mínimo de dois terços dos membros do STF.

Assim, para o juízo negativo de admissibilidade deverá haver um

quorum prudencial, com maior certeza e segurança nas decisões, conforme

ensina o douto Arruda Alvim.

Entendemos que esse quorum deva ser sobre o plenário todo do

Supremo Tribunal Federal. Deste modo, oito ministros devem se manifestar

para recusa da admissão por falta de repercussão geral.

3.7 - Previsão infraconstitucional e aspectos processuais:

A Lei nº 11.418, de 19 de dezembro de 2006, acrescentou ao Código de

Processo Civil os artigos 543-A e 543-B, a fim de regulamentar o § 3º do artigo

102 da Constituição Federal. E posteriormente, cumprindo mandamento legal,

o Supremo Tribunal Federal alterou seu Regimento Interno, para adequá-lo a

esse novo viés legal.

3.7.1 – Decisão irrecorrível:

A decisão do Supremo Tribunal Federal que rejeita conhecimento do

recurso extraordinário quando a questão constitucional nela versada não

oferecer repercussão geral é irrecorrível, conforme o caput do artigo 543-A.

Das decisões que rejeitam o conhecimento de recursos cabem, em

regra, agravo de instrumento para o Tribunal ad quem. Porém, quando for

recurso extraordinário rejeitado por ausência de repercussão geral não caberá

44

recurso, conforme positivação legal do legislador ordinário. Interessante

ressaltar que, conforme já abordado, essa decisão deverá ser por um quorum

qualificado de dois terços dos membros do STF.

3.7.2 – Questões relevantes:

Assevera o § 1º do artigo 543-A que será considerado para efeito de

repercussão geral a existência, ou não, de questões relevantes do ponto de

vista econômico, político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses

subjetivos da causa.

A lei enumerou alguns temas que presumidamente possuem relevância

superior aos interesses pessoais. Destacamos que a Corte, casuisticamente

vem se manifestando a respeito desses temas e reconhecendo-os aqueles que

possuem repercussão geral.

Neste sentido, o STF já reconheceu a repercussão geral do ponto de

vista econômico acerca das assinaturas básicas de telefonia. (RE 561577/PR)

O recebimento de duas pensões decorrentes do reingresso no serviço

público por concurso, antes da Emenda Constitucional 20/98 e, posterior

falecimento do servidor público aposentado foi reconhecido como presente à

repercussão geral da questão constitucional de relevância jurídica e

econômica. (RE 597389 TRF)

3.7.3 – Decisão contrária à súmula ou jurisprudência dominante no

Tribunal:

Na sequência, o parágrafo segundo do artigo 543-A determinou que

45

havendo uma decisão contrária a súmula ou jurisprudência dominante do

Tribunal, o recurso que a impugne terá repercussão geral. Aqui, houve uma

presunção legislativa em favor da uniformização da jurisprudência. Este

também, é o entendimento esposado por DANTAS (2008), nestes termos:

“(...) a contrariedade à súmula ou jurisprudência do STF

enseja a presunção de repercussão geral, a nosso ver,

possui grande significado de o legislador assumir

expressa e inequivocadamente a função uniformizadora

como um dos escopos do RE.” (DANTAS, 2008, pág. 285)

No presente, o aspecto jurídico é a questão relevante que ultrapassa os

interesses subjetivos da causa. Assim, independentemente da matéria tratada

na decisão contrária a súmula ou jurisprudência ter ou não relevância social, o

que se defende é a segurança jurídica e a igualdade perante a lei.

3.7.4 – Decisão que acolhe a repercussão geral:

As decisões que acolhem a existência da repercussão geral podem ser

proferidas pelas Turmas do STF, por no mínimo 4 (quatro) de seus membros.

Deste modo, ficando dispensado o quorum privilegiado existente das decisões

denegatórias e, conseqüentemente a remessa ao Plenário. Neste sentido, é o

positivismo do § 4º do artigo 543-A do Código de Processo Civil.

46

3.7.5 – Inexistência da repercussão geral e indeferimento liminar

das matérias idênticas:

O legislador infraconstitucional determinou que quando for negada a

existência da repercussão geral, esta decisão, valerá para todos os recursos de

matéria idêntica, que deverão ser indeferidos liminarmente, salvo, revisão da

tese. Neste quinto parágrafo, do artigo 543-A do CPC, o legislador inseriu um

efeito vinculante nas decisões que declarem à inexistência da repercussão

geral.

O mesmo dispositivo determina que seja observado o Regimento Interno

do STF. Neste sentido, a Emenda Regimental Nº 21, de 30 de abril de 2007,

alterou a redação do artigo 13, inciso V, alínea C, para determinar que o

Relator, nos termos dos art. 557 do Código de Processo Civil, possa negar

seguimento ao recurso manifestamente inadmissível, improcedente,

prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante.

3.7.6 – Amicus Curiae:

O Amicus Curiae é uma das espécies de intervenção de terceiros, foi

admitida pela legislação processual, no § 6º do artigo 543-A do CPC, para o

julgamento da repercussão geral. O dispositivo em tela, não determina qual

modalidade de intervenção de terceiros deverá ser admitida pelo Relator,

somente dispõe: O Relator poderá admitir, na análise da repercussão geral, a

manifestação de terceiros, subscrita por procurador habilitado,nos termos do

Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.

47

Neste sentido, cabe ressaltar que das espécies de intervenções de

terceiros existentes no nosso ordenamento jurídico, a mais plausível é o

Amicus Curiae. Isto porque, a decisão prolata, quanto às decisões que neguem

a existência da repercussão geral, possuem efeito vinculante a terceiros.

Assim, sendo, como essas decisões possuem efeitos erga omnes, repercutindo

no direito de terceiros, nada mais, justo que lhes permitir intervir nesse

processo, para demonstrar a existência da repercussão geral.

Em excelente artigo MEDINA (2009), define o Amicus Curiae como:

Um dos mais formais instrumentos de abertura da

jurisdição constitucional é o amicus curiae, um terceiro

que intervém no processo de tomada de decisão judicial

para oferecer à Corte informações a partir de sua

perspectiva singular acerca da questão controvertida, bem

como novas alternativas interpretativas. O instrumento é

utilizado por pessoas jurídicas e pessoas físicas que

oferecem memoriais com três tipos de informação: reforço

a argumentações jurídicas já presentes no processo;

elementos técnicos não legais ou dados sobre de fatos e

prognoses; e indícios acerca das preferências políticas do

grupo de interesses que representam. (MEDINA, 2009,

pág. 01)

Pelo exposto, o interesse do Amicus Curiae é baseado na importância

da decisão, na vinculação a terceiros e portanto na necessidade de auxiliar o

juiz a melhor decisão43.

43 Por hipótese, jurisprudência sobre o tema: Trata-se de recurso extraordinário interposto pela

União, com fundamento no art. 102, III, b, da Constituição Federal, contra acórdão proferido

pela Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região que deu parcial provimento à

48

3.7.7 – Multiplicidade de recursos de idêntica controvérsia:

O artigo 543-B e seus incisos prevêem a possibilidade de quando houver

multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica controvérsia à análise

da repercussão geral será processada nos termos do Regimento Interno do

STF.

Assim, dando efetividade a emenda regimental nº 23, de março de 2008,

apelação sob o fundamento de que o inciso IV do art. 1º da Lei 8.033/1990, que estabelece a

incidência do Imposto sobre Operações Financeiras – IOF sobre a transmissão de ações de

companhias abertas e das consequentes bonificações emitidas, é inconstitucional. Às fls. 223-

227, esta Corte reconheceu a repercussão geral do tema em debate, em acórdão que

apresenta ementa a seguir transcrita: “Constitucional. Imposto sobre Operações Financeiras.

Incidência sobre Transmissão de Ações de Companhias Abertas e das Consequentes

Bonificações Emitidas. Art. 153, V, da Constituição Federal. Existência de Repercussão Geral.

Questão Relevante do Ponto de Vista Econômico e Jurídico” (fl. 227). A Associação

Brasileira das Companhias Abertas - ABRASCA requer o seu ingresso no presente

recurso extraordinário na qualidade de amicus curiae (fls. 230-234). De acordo com o § 6º

do art. 543-A do Código de Processo Civil: “O Relator poderá admitir, na análise da

repercussão geral, a manifestação de terceiros, subscrita por procurador habilitado, nos

termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal”. Por sua vez, o § 2º do art.

323 do RISTF assim disciplinou a matéria: “Mediante decisão irrecorrível, poderá o(a)

Relator(a) admitir de ofício ou a requerimento, em prazo que fixar, a manifestação de

terceiros, subscrita por procurador habilitado, sobre a questão da repercussão geral”. A

esse respeito, assim se manifestou o Min. Celso de Mello, Relator, no julgamento da ADI

3.045/DF: “a intervenção do amicus curiae, para legitimar-se, deve apoiar-se em razões que

tornem desejável e útil a sua atuação processual na causa, em ordem a proporcionar meios

que viabilizem uma adequada resolução do litígio constitucional”. Verifico que o pedido foi

formulado por pessoa jurídica que atende aos requisitos necessários para participar da

presente causa na condição de amicus curiae. Isso posto, defiro o pedido. Publique-se.

Brasília, 8 de outubro de 2009. Ministro RICARDO LEWANDOWSKI - Relator - 1

(RE 583712, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, julgado em 08/10/2009, publicado

em DJe-197 DIVULG 19/10/2009 PUBLIC 20/10/2009) ( Grifo nosso).

49

acrescentou o artigo 328-A ao Regimento Interno do STF dispondo:

Art. 328-A. Nos casos previstos no art. 543-B, caput, do Código de

Processo Civil, o Tribunal de origem não emitirá juízo de

admissibilidade sobre os recursos extraordinários já sobrestados,

nem sobre os que venham a ser interpostos, até que o Supremo

Tribunal Federal decida os que tenham sido selecionados nos termos

do § 1º daquele artigo.

§ 1º Nos casos anteriores, o Tribunal de origem sobrestará os

agravos de instrumento contra decisões que não tenham admitido os

recursos extraordinários, julgando-os prejudicados na hipótese do art.

543-B, § 2º.

§ 2º Julgado o mérito do recurso extraordinário em sentido contrário

ao dos acórdãos recorridos, o Tribunal de origem remeterá ao

Supremo Tribunal Federal os agravos em que não se retratar.”

Art. 2º Os agravos de instrumento ora pendentes no Supremo

Tribunal Federal serão por este julgados.

Art. 3º Esta Emenda Regimental entra em vigor na data de sua

publicação.

Podemos observar, que conforme legislação supramencionada, que o

Tribunal de origem selecionará um ou mais recursos representativos da

controvérsia, ou seja, que possua matérias idênticas e os encaminhará ao STF

(§ 1º do artigo 543-B). Após, aguardará que o STF decida os recursos

selecionados e sobrestarão os demais feitos ajuizados sobre o mesmo tema.

Caso a decisão da Corte Suprema seja pela inexistência da repercussão geral,

os recursos sobrestados considerar-se-ão automaticamente não admitidos(§2º

do artigo 543-B). Na hipótese, de ser julgado o mérito dos recursos

paradigmas, os Tribunais apreciarão os recursos sobrestados, que poderão

declará-los prejudicados ou retratar-se. Por fim, mantida a decisão e admitida o

recurso, poderá o STF cassar ou reformar, liminarmente, o acórdão contrário à

50

orientação firmada (§4º do artigo 543-B).

Neste tema, é importante destacar a inconstitucionalidade da delegação

ao STF através de seu Regimento Interno para o detalhamento desse

procedimento para subida dos recursos extraordinários que tenham

fundamento em idêntica controvérsia. Ao analisar a Constituição Federal

observamos que a delegação de competências, inclusive dos regimentos

internos dos Tribunais. Não poderia uma lei ordinária delegar competência, não

prevista na constituição, a um regimento interno. Ainda, a competência para

legislar sobre direito processual está prevista no artigo 24, inciso XI, da

CRFB/88 sendo da União concorrentemente com os Estados.

Corrobora esse entendimento DANTAS (2009), que dispõe:

“Dissemos linhas mestras porque o próprio

dispositivo legal contém a previsão, de

constitucionalidade questionável, de que o

detalhamento desse procedimento se fará no RISTF, o

que de fato, veio a ser efetivado no art. 328, com redação

alterada pela Emenda Regimental 21, de 2007.” Dantas,

2008, pág. 317(Grifo nosso)

51

CONCLUSÂO:

Pelo exposto, podemos concluir afirmando que após a inserção do

instituto da repercussão geral no ordenamento jurídico pátrio, novo rumo terá o

Supremo Tribunal Federal. Tal entendimento decorre da adoção pelo legislador

brasileiro da adoção de uma especialização da Corte Suprema, devendo esta

se ater a temas relevantes, assim entendidos como de repercussão geral.

Os recursos extraordinários passaram pelo filtro da repercussão geral,

que diminuíram a quantidade de recursos a serem julgados pelo STF. Deste

modo, existiram decisões paradigmas da Corte, direcionando e uniformatizando

a jurisprudência pátria.

Cabe ressaltar, que o presente instituto não se apresenta como inovação

no cenário jurídico pátrio. Como demonstrado no presente trabalho, no Brasil,

já houve instituto semelhante, qual seja, a arguição de relevância, instituída

pela Constituição de 1967 e mantida na Emenda Constitucional 01 de 1969,

este tinha como escopo selecionar recursos com matérias relevantes para

apreciação da Corte Suprema.

Também, existe outro instituto semelhante à repercussão geral e vigente

na atualidade em nosso ordenamento jurídico, qual seja, a transcendência no

recurso de revista. Este instituto é aplicado no direito processual do trabalho,

como pressuposto de admissibilidade do recurso de revista e visa selecionar os

recursos que possuem relevância do tema discutido, pois seus reflexos gerais,

de natureza econômica, política, social ou jurídica, transcendem as partes.

A repercussão geral ressurge em um momento especial do cenário

político-jurídico brasileiro. Após, a promulgação da Constituição de 1988, novo

organograma do Estado brasileiro se desenha, em especial a justiça e o

Supremo Tribunal Federal, que é eleito guardião da constituição e do regime

democrático de direito.

52

Destacamos também, que após anos de regime de exceção e, de

ilegalidades, tentou-se positivar o máximo de disposições no texto da

constituição, o que deu ao novo mandamento constitucional, uma forma

analítica, pois trata de inúmeros temas, tais como: os princípios fundamentais,

os direitos fundamentais, a organização do Estado, a organização dos poderes,

a defesa do Estado e das instituições democráticas, a tributação e o

orçamento, a ordem econômica e financeira e a ordem social. Essa vasta gama

de temas tratados pela Corte constitucional agravou a crise do recurso

extraordinário, já prevista pelo Douto Ministro MOREIRA ALVES, no ano de

1988.

Neste sentido, ensina SANTOS (1989):

“Realmente, nas últimas décadas, crescia em proporções

elevadíssimas o número de recursos extraordinários, fato

registrado nos relatórios da Suprema Corte e em análise de seus

próprios ministros, dentre os quais Aliomar Baleeiro, e Oscar Dias

Corrêa, além de testemunhado, em vários escritos, por Alcides de

Mendonça Lima, José Guilherme Villela e Roberto Rosas.” (Grifo

Nosso)

Deste modo, o presente instituto foi introduzido através da Emenda

Constitucional 45, de 08 de dezembro de 2004, com fulcro no princípio da

celeridade, para combater a crise no recurso extraordinário.

Questão a ser debatida é se houve algum prejuízo as partes, que

deverão se submeter a esse novo pressuposto de admissibilidade do recurso

extraordinário. Impõe-se lembrar que o Supremo Tribunal Federal já se

manifestou acerca de assunto semelhante, qual seja, a constitucionalidade da

transcendência no recurso de revista e manifestou-se pela ausência de ofensa

constitucional, com excelência pela Ministra ELLEN GRACIE, nos autos da ADI

2527 MC / DF - DISTRITO FEDERAL.

Importante ressaltar, que o instituto preserva o direito a tutela

53

jurisdicional, pois para decretação de inexistência requer um quorum prudencial

de dois terços dos ministros da Corte Suprema

Deste modo, não entendemos que a repercussão geral possa ferir a

garantia da tutela jurisdicional, avalizada no artigo 5º, inciso XXXV, da

CRFB/88, ao selecionar recursos paradigmas para jogá-los. Ao contrario,

acredito que este instituto traz efetividade a outro direito constitucional, a

celeridade, assegurado no artigo 5º, inciso LXXVIII, através da Emenda

Constitucional nº 45, de 8 de dezembro de 2004.

Cabe ressaltar, que na legislação alienígena existem institutos

semelhantes, tais como writ of certioari do direito estadunidense, citado nestes

apontamentos, que tornam as Cortes Constitucionais peculiares, pois proferem

somente decisões paradigmas.

Neste sentido, ao refletimos sobre o direito a tutela jurisdicional e

celeridade decorrente da repercussão geral no recurso extraordinário, podemos

citar as lições de MARINONI (2008), que ensina:

“(...) a adoção de um mecanismo de filtragem

recursal como a repercussão geral encontra-se em

absoluta sintonia com o direito fundamental à tutela

jurisdicional efetiva e, em especial com o direito

fundamental a um processo com duração razoável.

Guardam-se as delongas inerentes à tramitação do

recurso extraordinário apenas quando o seu

conhecimento oferecer-se como um imperativo para a

ótima realização da unidade do Direito no Estado

Constitucional brasileiro. Resguardam-se, destarte, a um

só tempo, dois interesses: o interesse das partes na

realização de processos jurisdicionais em tempo justo e o

interesse da Justiça no exame de casos pelo Supremo

Tribunal Federal apenas quando essa apreciação

54

mostrar-se imprescindível para a realização dos fins a que

se dedica a alcançar a sociedade brasileira.” (MARINONI,

2008. Pág. 18/19)

Por todo o exposto, concluímos que a repercussão geral é instrumento

hábil para concretizar, juntamente com outros institutos, o princípio da

celeridade. Porém, como qualquer outro instituto jurídico, o que lhe fará eficaz

será sua aplicabilidade pelos interpretes do direito. Deste modo, é de

responsabilidade coletiva o conhecimento e correta utilização do referido

instituto para que seja alcançada a, tão sonhada, paz social.

55

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA:

Livros:

1. ARRUDA, Alvim, J.M. de. A argüição de relevância no recurso

extraordinário. São Paulo, Ed. RT, 1988.

2. BARBOSA MOREIRA, José Carlos. A Redação da Emenda

Constitucional n.45 (reforma da justiça), Revista Forense, v. 378, 2005.

3. CALDEIRA, Adriano. Direito Processual Civil. 2ªEd. São Paulo: Ed.

Barros. Fisher & Associados, 2005 – (Para aprender Direito; 10).

4. CINTRA, Antonio Carlos Araújo. Grinover, Ada Pellegrini e Dinamarco,

Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 21ª ed. Brasil: Editora

Malheiros, 2005.

5. DANTAS, Bruno, Repercussão Geral: perspectivas históricas,

dogmáticas e de direito comparado: questões processuais / Bruno

Dantas — São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. (Recursos no

processo civil;18)

6. GRAVATÁ, Isabelli, Resumo de direito processual do trabalho/ Isabelli

Gravatá e Almir Morgado. — 5. ed. Impetus: Rio de Janeiro, 2008. .

7. MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Recurso extraordinário e recurso

especial. 10 ed. rev., ampl. e atual. de acordo com as leis 11417 e

11418 e a emenda regimental STF 21/2007.— São Paulo: Editora

Revista dos Tribunais, 2007.

8. MARINONI, Luiz Guilherme. Repercussão geral no recurso

extraordinário / Luiz Guilherme Marinoni, Daniel Mitidiero. – 2.ed. ver. e

atual. — São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008.

9. PESSOA, Eduardo. Dicionário Jurídico, 2ª Edição. Rio de Janeiro:

56

Editora Idéia Jurídica, 2003.

10. SANTOS, Francisco Cláudio de Almeida. Recurso especial: visão geral.

Informativo jurídico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, Brasília, p. 143-

161, v.1, n. 2, jul./dez. 1989.

11. SARTÓRIO, Elvio Ferreira e Jorge, Flávio Cheim. O Recurso

extraordinário e a demonstração da repercussão geral, Reforma do

Judiciário (obra coletiva), São Paulo, Ed. RT 2005.

Sites:

1. MEDINA, Damares. Reequilibrando o jogo. "Amicus curiae" no Supremo

Tribunal Federal. Jus Navigandi, Teresina, ano 13, n. 2203, 13 jul.

2009. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=13135>. Acesso em: 14

nov. 2009.

2. MESQUITA, Vinicius Paulo A repercussão geral no recurso

extraordinário: um ensaio sob a ótica da jurisprudência do STF,

disponível em: < http://bdjur.stj.gov.br/dspace/handle/2011/17496>

Acesso: 05 de abril de 2009 às 15:00h.

3. MARTINS, Gilberto Fernandes. Repercussão geral das questões

constitucionais no recurso extraordinário, disponível em: <

http://bdjur.stj.gov.br/dspace/handle/2011/17013> Acesso: 05 de abril de

2009 às 15:25h .

4. MORAIS DE ROBERTO. A recusa do recurso extraordinário pelo

Supremo Tribunal Federal e o direito a tutela jurisdicional, disponível em

: <http://bdjur.stj.gov.br/dspace/handle/2011/16776> Acesso: 24 de abril

de 2009 às 21:00h.

5. SANTOS, Francisco Cláudio de Almeida. Recurso especial: visão geral.

57

Informativo jurídico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, Brasília, p. 143-

161, v.1, n. 2, jul./dez. 1989. Disponível em: <

http://bdjur.stj.jus.br/xmlui/bitstream/handle/2011/20916/recurso_especial

_visao_geral.pdf?sequence=1 > Acesso em 05 de dezembro de 2009

às 13:49 h.

ANEXOS:

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Seção II

DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da

Constituição...

§ 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão

geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim

de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo

pela manifestação de dois terços de seus membros. (Acrescentado pela EC nº

45, de 2004)

==================================================

58

LEI Nº 11.418, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2006

Acrescenta à Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo

Civil, dispositivos que regulamentam o § 3o do art. 102 da Constituição

Federal.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Esta Lei acrescenta os arts. 543-A e 543-B à Lei no 5.869, de 11 de

janeiro de 1973 – Código de Processo Civil, a fim de regulamentar o § 3º do

art. 102 da Constituição Federal.

Art. 2º A Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo Civil,

passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 543-A e 543-B:

“Art. 543-A. O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não

conhecerá do recurso extraordinário, quando a questão constitucional nele

versada não oferecer repercussão geral, nos termos deste artigo.

§ 1o Para efeito da repercussão geral, será considerada a existência, ou não,

de questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico,

que ultrapassem os interesses subjetivos da causa.

§ 2o O recorrente deverá demonstrar, em preliminar do recurso, para

apreciação exclusiva do Supremo Tribunal Federal, a existência da

repercussão geral.

§ 3o Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar decisão

contrária a súmula ou jurisprudência dominante do Tribunal.

§ 4o Se a Turma decidir pela existência da repercussão geral por, no mínimo, 4

(quatro) votos, ficará dispensada a remessa do recurso ao Plenário.

§ 5o Negada a existência da repercussão geral, a decisão valerá para todos os

recursos sobre matéria idêntica, que serão indeferidos liminarmente, salvo

revisão da tese, tudo nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal

Federal.

59

§ 6o O Relator poderá admitir, na análise da repercussão geral, a manifestação

de terceiros, subscrita por procurador habilitado, nos termos do Regimento

Interno do Supremo Tribunal Federal.

§ 7o A Súmula da decisão sobre a repercussão geral constará de ata, que será

publicada no Diário Oficial e valerá como acórdão.”

“Art. 543-B. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em

idêntica controvérsia, a análise da repercussão geral será processada nos

termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, observado o

disposto neste artigo.

§ 1o Caberá ao Tribunal de origem selecionar um ou mais recursos

representativos da controvérsia e encaminhá-los ao Supremo Tribunal Federal,

sobrestando os demais até o pronunciamento definitivo da Corte.

§ 2o Negada a existência de repercussão geral, os recursos sobrestados

considerar-se-ão automaticamente não admitidos.

§ 3o Julgado o mérito do recurso extraordinário, os recursos sobrestados serão

apreciados pelos Tribunais, Turmas de Uniformização ou Turmas Recursais,

que poderão declará-los prejudicados ou retratar-se.

§ 4o Mantida a decisão e admitido o recurso, poderá o Supremo Tribunal

Federal, nos termos do Regimento Interno, cassar ou reformar, liminarmente, o

acórdão contrário à orientação firmada.

§ 5o O Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal disporá sobre as

atribuições dos Ministros, das Turmas e de outros órgãos, na análise da

repercussão geral.”

Art. 3º Caberá ao Supremo Tribunal Federal, em seu Regimento Interno,

estabelecer as normas necessárias à execução desta Lei.

Art. 4º Aplica-se esta Lei aos recursos interpostos a partir do primeiro dia de

sua vigência.

Art. 5º Esta Lei entra em vigor 60 (sessenta) dias após a data de sua

60

publicação.

Brasília, 19 de dezembro de 2006; 185o da Independência e 118o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Márcio Thomaz Bastos

==================================================

EMENDA REGIMENTAL Nº 21, DE 30 DE ABRIL DE 2007

Altera a redação dos artigos 13, inciso V, alínea c; 21, parágrafo 1º; 322; 323;

324; 325;326; 327; 328 e 329, e revoga o disposto no parágrafo 5º do artigo

321, todos do Regimento Interno.

A PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL faz editar a Emenda Regimental,

aprovada pelos Senhores Membros da Corte em Sessão Administrativa realizada em 26 de

março de 2007, nos termos do art. 361, inciso I, alínea a, do Regimento

Art. 1º Os dispositivos do Regimento Interno a seguir enumerados passam a vigorar com a

seguinte redação:

“Art. 13. .........................................................................................................

V – .................................................................................................................

c) como Relator (a), nos termos dos arts. 544, § 3º, e 557 do Código de Processo Civil, até

eventual distribuição, os agravos de instrumento e petições ineptos ou doutro modo

manifestamente inadmissíveis, bem como os recursos que não apresentem preliminar formal e

fundamentada de repercussão geral, ou cuja matéria seja destituída de repercussão geral,

conforme jurisprudência do Tribunal.

Art. 21. ..........................................................................................................

§ 1° Poderá o(a) Relator(a) negar seguimento a pedido ou recurso manifestamente

inadmissível, improcedente ou contrário à jurisprudência dominante ou à Súmula do Tribunal,

deles não conhecer em caso de incompetência manifesta, encaminhando os autos ao órgão

que repute competente, bem como cassar ou reformar, liminarmente, acórdão contrário à

orientação firmada nos termos do art. 543-B do Código de Processo Civil.

Art. 322. O Tribunal recusará recurso extraordinário cuja questão constitucional não oferecer

repercussão geral, nos termos deste capítulo.

61

Parágrafo único. Para efeito da repercussão geral, será considerada a existência, ou não, de

questões que, relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico, ultrapassem

os interesses subjetivos das partes.

Art. 323. Quando não for caso de inadmissibilidade do recurso por outra razão, o(a) Relator(a)

submeterá, por meio eletrônico, aos demais Ministros, cópia de sua manifestação sobre a

existência, ou não, de repercussão geral.

§ 1° Tal procedimento não terá lugar, quando o recurso versar questão cuja repercussão já

houver sido reconhecida pelo Tribunal, ou quando impugnar decisão contrária a súmula ou a

jurisprudência dominante, casos em que se presume a existência de repercussão geral.

§ 2° Mediante decisão irrecorrível, poderá o(a) Relator(a) admitir de ofício ou a requerimento,

em prazo que fixar, a manifestação de terceiros, subscrita por procurador habilitado, sobre a

questão da repercussão geral.

Art. 324. Recebida a manifestação do(a) Relator(a), os demais Ministros encaminhar- lhe-ão,

também por meio eletrônico, no prazo comum de 20 (vinte) dias, manifestação sobre a questão

da repercussão geral.

Parágrafo único. Decorrido o prazo sem manifestações suficientes para recusa do recurso,

reputar-se-á existente a repercussão geral.

Art. 325. O(A) Relator(a) juntará cópia das manifestações aos autos, quando não se tratar de

processo informatizado, e, uma vez definida a existência da repercussão geral, julgará o

recurso ou pedirá dia para seu julgamento, após vista ao Procurador-Geral, se necessária;

negada a existência, formalizará e subscreverá decisão de recusa do recurso.

Parágrafo único. O teor da decisão preliminar sobre a existência da repercussão geral, que

deve integrar a decisão monocrática ou o acórdão, constará sempre das publicações dos

julgamentos no Diário Oficial, com menção clara à matéria do recurso.

Art. 326. Toda decisão de inexistência de repercussão geral é irrecorrível e, valendo para todos

os recursos sobre questão idêntica, deve ser comunicada, pelo(a) Relator(a), à Presidência do

Tribunal, para os fins do artigo subseqüente e do artigo 329.

Art. 327. A Presidência do Tribunal recusará recursos que não apresentem preliminar formal e

fundamentada de repercussão geral, bem como aqueles cuja matéria carecer de repercussão

geral, segundo precedente do Tribunal, salvo se a tese tiver sido revista ou estiver em

procedimento de revisão.

§ 1° Igual competência exercerá o(a) Relator(a) sorteado(a), quando o recurso não tiver sido

liminarmente recusado pela Presidência.

62

§ 2° Da decisão que recusar recurso, nos termos deste artigo, caberá agravo.

Art. 328. Protocolado ou distribuído recurso cuja questão for suscetível de reproduzir-se em

múltiplos feitos, a Presidência do Tribunal ou o(a) Relator(a), de ofício ou a requerimento da

parte interessada, comunicará o fato aos tribunais ou turmas de juizado especial, a fim de que

observem o disposto no art. 543-B do Código de Processo Civil, podendo pedir-lhes

informações, que deverão ser prestadas em 5 (cinco) dias, e sobrestar todas as demais causas

com questão idêntica.

Parágrafo único. Quando se verificar subida ou distribuição de múltiplos recursos com

fundamento em idêntica controvérsia, a Presidência do Tribunal ou o(a) Relator(a) selecionará

um ou mais representativos da questão e determinará a devolução dos demais aos tribunais ou

turmas de juizado especial de origem, para aplicação dos parágrafos do art. 543-B do Código

de Processo Civil.

Art. 329. A Presidência do Tribunal promoverá ampla e específica divulgação do teor das

decisões sobre repercussão geral, bem como formação e atualização de banco eletrônico de

dados a respeito.”

Art. 2º Ficam revogados o parágrafo 5º do artigo 321 do Regimento Interno e a Emenda

Regimental n. 19, de 16 de agosto de 2006.

Art. 3º Esta Emenda Regimental entra em vigor na data de sua publicação.

Ministra Ellen Gracie, Presidente.

Publicada no DJ de 03/05/2007.

EMENDA REGIMENTAL Nº 22, DE 30 DE NOVEMBRO DE 2007

Acresce inciso XVI-A ao art. 13 e § 4º ao art. 21 do Regimento Interno.

A PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL faz editar a Emenda Regimental,

aprovada pelos Senhores Membros da Corte em Sessão Administrativa realizada em 28 de

novembro de 2007, nos termos do art. 361, inciso I, alínea a, do Regimento Interno.

Art. 1º Os dispositivos do Regimento Interno a seguir enumerados passam a vigorar com os

seguintes acréscimos:

“Art. 13. .....................................................................................................

XVI-A - designar magistrados para atuação como Juiz Auxiliar do Supremo Tribunal Federal em

auxílio à Presidência e aos Ministros, sem prejuízo dos direitos e vantagens de seu cargo, além

das que são atribuídas aos Juízes Auxiliares do Conselho Nacional de Justiça;”

63

“Art. 21. .....................................................................................................

§ 4º O Relator comunicará à Presidência, para os fins do art. 328 deste Regimento, as matérias

sobre as quais proferir decisões de sobrestamento ou devolução de autos, nos termos do art.

543-B do CPC.”

Art. 2º Esta Emenda Regimental entra em vigor na data de sua publicação.

Ministra Ellen Gracie

EMENDA REGIMENTAL Nº 23, DE 11 DE MARÇO DE 2008

Acrescenta o art. 328-A e parágrafos ao Regimento Interno do Supremo Tribunal

Federal.

A PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL faz editar a Emenda Regimental,

aprovada pelos Senhores Membros da Corte na 58ª Sessão Extraordinária do Plenário,

realizada em 19 de dezembro de 2007, nos termos do art. 361, inciso I, alínea a, do Regimento

Interno.

Art. 1º O Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal passa a vigorar acrescido do

seguinte art. 328-A:

“Art. 328-A. Nos casos previstos no art. 543-B, caput, do Código de Processo Civil, o Tribunal

de origem não emitirá juízo de admissibilidade sobre os recursos extraordinários já

sobrestados, nem sobre os que venham a ser interpostos, até que o Supremo Tribunal Federal

decida os que tenham sido selecionados nos termos do § 1º daquele artigo.

§ 1º Nos casos anteriores, o Tribunal de origem sobrestará os agravos de instrumento contra

decisões que não tenham admitido os recursos extraordinários, julgando-os prejudicados na

hipótese do art. 543-B, § 2º.

§ 2º Julgado o mérito do recurso extraordinário em sentido contrário ao dos acórdãos

recorridos, o Tribunal de origem remeterá ao Supremo Tribunal Federal os agravos em que não

se retratar.”

Art. 2º Os agravos de instrumento ora pendentes no Supremo Tribunal Federal serão por este

julgados.

Art. 3º Esta Emenda Regimental entra em vigor na data de sua publicação.

Ministra Ellen Gracie

64

EMENDA REGIMENTAL Nº 24, DE 20 DE MAIO DE 2008

Altera dispositivos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.

O PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL faz editar a Emenda Regimental,

aprovada pelos Senhores Membros da Corte em Sessão Administrativa realizada em 8 de maio

de 2008, nos termos do art. 361, inciso I, alínea a, do Regimento Interno.

Art. 1º Os dispositivos do Regimento Interno a seguir enumerados passam a vigorar com a

seguinte redação:

“Art. 13. ...........................................................................................

V - .....................................................................................................

c) como Relator, nos termos dos arts. 544, § 3º, e 557 do Código de Processo Civil, até

eventual distribuição, os agravos de instrumento, recursos extraordinários e petições ineptos ou

de outro modo manifestamente inadmissíveis, inclusive por incompetência, intempestividade,

deserção, prejuízo ou ausência de preliminar formal e fundamentada de repercussão geral,

bem como aqueles cuja matéria seja destituída de repercussão geral, conforme jurisprudência

do Tribunal.”

“Art. 28. O Presidente designará os membros das Comissões, com mandatos coincidentes com

o seu, assegurada a participação de Ministros das duas Turmas.”

Art. 2º Fica revogado o § 3º do art. 335 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.

Art. 3º Esta Emenda Regimental entra em vigor na data de sua publicação.

Ministro Gilmar Mendes, Presidente

EMENDA REGIMENTAL Nº 27, DE 28 DE NOVEMBRO DE 2008

Altera a redação do § 1º do art. 328-A do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.

O PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL faz editar a Emenda Regimental,

aprovada pelos Senhores Membros da Corte em Sessão Administrativa realizada em 27 de

novembro de 2008, nos termos do art. 361, inciso I, alínea a, do Regimento Interno.

Art. 1º O § 1º do art. 328-A do Regimento Interno passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 328-A ..........................................................................................................

§ 1º Nos casos anteriores, o Tribunal de origem sobrestará os agravos de instrumento contra

decisões que não tenham admitido os recursos extraordinários, julgando-os prejudicados nas

65

hipóteses do art. 543-B, § 2º, e, quando coincidente o teor dos julgamentos, § 3º.

Art. 2º Esta Emenda Regimental entra em vigor na data de sua publicação.

Ministro Gilmar Mendes, Presidente.

Publicada no DJ eletrônico de 10/12/2008.

EMENDA REGIMENTAL Nº 31, DE 29 DE MAIO DE 2009

Altera redação do artigo 324 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal

O Presidente do Supremo Tribunal Federal faz editar a Emenda Regimental, aprovada pelos

Senhores Membros da Corte em Sessão Administrativa realizada em 28 de maio de 2009, nos

termos do art. 361, inciso I, alínea a, do Regimento Interno.

Art. 1º O art. 324 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal passa a vigorar com a

seguinte redação:

"Art. 324. Recebida a manifestação do(a) Relator(a), os demais ministros encaminhar-lhe-ão,

também por meio eletrônico, no prazo comum de 20 (vinte) dias, manifestação sobre a questão

de repercussão geral.

§1º Decorrido o prazo sem manifestações suficientes para a recusa do recurso, reputar-se-á

existente a repercussão geral.

§2º Não incide o disposto no parágrafo anterior quando o Relator declare que a matéria é

infraconstitucional, caso em que a ausência de pronunciamento no prazo será considerada

como manifestação de inexistência de repercussão geral, autorizando a aplicação do art . 543-

A, § 5º, do código de Processo Civil."

Art. 2º Esta Emenda Regimental entra em vigor na data de sua aplicação.

Ministro Gilmar Mendes, Presidente.

Publicada no DJ eletrônico de 4-6-2009.

PORTARIA Nº 138, DE 23 DE JULHO DE 2009

O PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, no uso de suas atribuições legais e

tendo em vista o disposto no art. 543-B, § 5º, do Código de Processo Civil, com a redação da

Lei nº 11.418/06, e no art. 328, parágrafo único, do Regimento Interno, com redação da

Emenda Regimental nº 21/07,

RESOLVE:

Art. 1º Determinar à Secretaria Judiciária que devolva aos Tribunais, Turmas Recursais ou

Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais os processos múltiplos ainda não

66

distribuídos relativos a matérias submetidas a análise de repercussão geral pelo STF, os

encaminhados em desacordo com o disposto no § 1º do art. 543-B, do Código de Processo

Civil, bem como aqueles em que os Ministros tenham determinado sobrestamento ou

devolução.

Art. 2º Fica revogada a Portaria nº 177, de 26 de novembro de 2007.

Art. 3º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

Ministro Gilmar Mendes

Publicada no DJ Eletrônico em 28/07/2009.