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4 Matemática Universitária Reportagem Matemáticos de ouro: o Brasil que se destaca nas olimpíadas internacionais por Iana Chan O Brasil chama atenção cada vez mais nas olim- píadas internacionais de matemática e já se consa- gra como um dos destaques dessas competições Jogar futebol seria rotina para qualquer adolescente brasileiro comum, não fosse o cenário ser Madrid e a pelada ocorrer durante a mais importante olimpíada internacional de matemática do mundo. Régis Prado Barbosa, 18 anos, foi um dos que jogou bola com alunos de diversos países e, apesar de perder no campo (“era um time meio misto... tinha uns portugueses”, se expli- ca), trouxe uma das cinco medalhas de prata — além do bronze — conquistadas pelo Brasil na edição de 2008 da Olimpíada Internacional de Matemática, conhecida como IMO, graças à sigla do inglês International Mathe- matical Olympiad. “Participar da IMO é uma das me- lhores experiências que já tive, é um evento incrível”, conta, entusiasmado, o estudante cearense. “Conhecer outras culturas, outras crenças, ver todas aquelas pes- soas falando línguas que às vezes não fazem o menor sentido, tudo isso faz você notar como a Terra é enor- me.” Só a experiência da viagem já valeria a pena para os seis alunos que representam o Brasil todo ano na competição. O coordenador da Comissão Nacional de Olimpíadas da SBM e atual treinador da equipe que vai para a IMO, Carlos Yuzo Shine, afirma que sua princi- pal motivação quando ainda competia era, de fato, co- nhecer novos países: “Eu não ia para ganhar medalha, achava legal viajar, conhecer outros lugares...”, confes- sa. “Olha a mentalidade daquela época: estávamos con- tentes apenas em ir.” Como competidor, Shine conheceu Mumbai, na Ín- dia, em 1996. Mas isso foi em outra época: “Hoje, se alguém falar isso para mim, vou ficar chateado”, diz. “Você não vai lá só para viajar, vai para ganhar me- dalha.” E é assim mesmo que tem sido: desde 2001, o Brasil vem apresentando um desempenho excelente na IMO. “Tanto é que os outros países começaram a per- ceber isso e nos cumprimentar, temos um rendimento muito consistente”, declara Shine. Régis foi um dos res- ponsáveis por esse rendimento nas últimas três edições da IMO. Poucos estudantes participaram três vezes da competição e ele é um dos únicos que conseguiu con- quistar medalha em todas as suas participações: foram duas pratas (em 2007, no Vietnã e em 2008, na Espanha) e um bronze (em 2006, na Eslovênia). Na 49ª edição da olimpíada, realizada em 2008, o Bra- sil obteve, em termos de colocação, seu segundo me- lhor resultado na IMO. O 16º lugar ficou atrás apenas do 15ª no ano de 1985, quando a equipe brasileira ob- teve duas medalhas de bronze na olimpíada realizada na Finlândia. Naquela edição, porém, havia somente 38 países participantes com 209 competidores. Já a 49ª edi- ção, sediada na cidade de Madrid, contou com a parti- cipação de 97 países e 535 competidores. Além da me- dalha de Régis, os alunos brasileiros trouxeram para casa mais quatro medalhas de prata e uma de bronze, o Ouro Prata Bronze Pontos Colocação CHN 5 1 0 217 RUS 6 0 0 199 EUA 4 2 0 190 COS 4 2 0 188 JAP 2 3 1 163 11° UCR 2 2 2 153 15° BRA 0 5 1 152 16° AUS 0 5 1 140 19° ALE 1 2 3 139 20° CAN 0 2 4 135 22° FRA 0 1 4 104 30° ARG 0 1 3 85 39° COL 0 2 0 77 45° Brasil na IMO 200 Desempenho do Brasil na 49ª IMO Fonte: Site oficial da IMO

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Reportagem

Matemáticos de ouro: o Brasil que se destaca nas olimpíadas internacionaispor Iana Chan

O Brasil chama atenção cada vez mais nas olim-píadas internacionais de matemática e já se consa-gra como um dos destaques dessas competições

Jogar futebol seria rotina para qualquer adolescente brasileiro comum, não fosse o cenário ser Madrid e a pelada ocorrer durante a mais importante olimpíada internacional de matemática do mundo. Régis Prado Barbosa, 18 anos, foi um dos que jogou bola com alunos de diversos países e, apesar de perder no campo (“era um time meio misto... tinha uns portugueses”, se expli-ca), trouxe uma das cinco medalhas de prata — além do bronze — conquistadas pelo Brasil na edição de 2008 da Olimpíada Internacional de Matemática, conhecida como IMO, graças à sigla do inglês International Mathe-matical Olympiad. “Participar da IMO é uma das me-lhores experiências que já tive, é um evento incrível”, conta, entusiasmado, o estudante cearense. “Conhecer outras culturas, outras crenças, ver todas aquelas pes-soas falando línguas que às vezes não fazem o menor sentido, tudo isso faz você notar como a Terra é enor-me.”

Só a experiência da viagem já valeria a pena para os seis alunos que representam o Brasil todo ano na competição. O coordenador da Comissão Nacional de Olimpíadas da SBM e atual treinador da equipe que vai para a IMO, Carlos Yuzo Shine, afirma que sua princi-pal motivação quando ainda competia era, de fato, co-nhecer novos países: “Eu não ia para ganhar medalha, achava legal viajar, conhecer outros lugares...”, confes-sa. “Olha a mentalidade daquela época: estávamos con-tentes apenas em ir.”

Como competidor, Shine conheceu Mumbai, na Ín-dia, em 1996. Mas isso foi em outra época: “Hoje, se alguém falar isso para mim, vou ficar chateado”, diz. “Você não vai lá só para viajar, vai para ganhar me-dalha.” E é assim mesmo que tem sido: desde 2001, o Brasil vem apresentando um desempenho excelente na IMO. “Tanto é que os outros países começaram a per-

ceber isso e nos cumprimentar, temos um rendimento muito consistente”, declara Shine. Régis foi um dos res-ponsáveis por esse rendimento nas últimas três edições da IMO. Poucos estudantes participaram três vezes da competição e ele é um dos únicos que conseguiu con-quistar medalha em todas as suas participações: foram duas pratas (em 2007, no Vietnã e em 2008, na Espanha) e um bronze (em 2006, na Eslovênia).

Na 49ª edição da olimpíada, realizada em 2008, o Bra-sil obteve, em termos de colocação, seu segundo me-lhor resultado na IMO. O 16º lugar ficou atrás apenas do 15ª no ano de 1985, quando a equipe brasileira ob-teve duas medalhas de bronze na olimpíada realizada na Finlândia. Naquela edição, porém, havia somente 38 países participantes com 209 competidores. Já a 49ª edi-ção, sediada na cidade de Madrid, contou com a parti-cipação de 97 países e 535 competidores. Além da me-dalha de Régis, os alunos brasileiros trouxeram para casa mais quatro medalhas de prata e uma de bronze, o

Ouro Prata Bronze Pontos ColocaçãoCHN 5 1 0 217 1°RUS 6 0 0 199 2°EUA 4 2 0 190 3°COS 4 2 0 188 4°JAP 2 3 1 163 11°UCR 2 2 2 153 15°BRA 0 5 1 152 16°AUS 0 5 1 140 19°ALE 1 2 3 139 20°CAN 0 2 4 135 22°FRA 0 1 4 104 30°ARG 0 1 3 85 39°COL 0 2 0 77 45°

Brasil na IMO 200�Desempenho do Brasil na 49ª IMO

Fonte: Site oficial da IMO

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que deixou o país à frente de forças tradicionais como a Alemanha, que ficou com o 20º lugar, e a França, que terminou apenas em 30º.

A Olimpíada Internacional de Matemática é a mais antiga das olimpíadas internacionais de ciências e ocor-re anualmente desde 1959, com a exceção do ano de 1980. A 50ª edição da competição, considerada a mais importante na área pela Organização das Nações Uni-das para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), será realizada em julho, na cidade de Bremen. Da pri-meira edição, sediada em Bucareste, capital da Romê-nia, participaram apenas sete países do leste Europeu: Bulgária, Hungria, Polônia, República Democrática

Alemã, Romênia, Tcheco-eslováquia e URSS. Na última década, o número de países participantes tem ficado em torno de 90, graças ao intermédio das associações e sociedades de matemática.

A primeira participação do Brasil na IMO foi em 1979 e já na segunda vez, em 1981, em Washington, Nicolau Corção Saldanha levou uma medalha de ouro. No qua-dro total de medalhas, o Brasil, que participou de 29 edições, aparece na 28ª colocação, com 7 medalhas de

{Reportagem}

Ouro Prata Bronze M. Honrosas ParticipaçõesCHN 101 26 5 0 23EUA 80 96 29 1 34URSS 77 67 45 0 29HUN 74 138 77 4 48RUS 65 28 9 0 17BUL 50 89 88 1 49ALE 46 72 55 8 31VIE 42 80 55 1 32COS 35 51 25 6 21IRA 30 63 27 3 23JAP 23 52 30 3 19FRA 23 41 82 18 39UCR 23 36 30 6 17CAN 16 37 66 16 28AUS 11 43 67 13 28IND 8 49 46 11 20BRA 7 18 56 22 29SUE 5 23 66 26 41ITA 5 14 56 25 29HKG 3 32 55 15 21ARG 3 18 44 14 20COL 1 14 51 21 28SUI 1 8 19 21 18PER 1 7 23 23 15

Quadro geral de medalhasRanking dos países por resultados acumulados

Fonte: Site oficial da IMO

Primeiro exercício da IMO (1959): Prove que a fração21n+414n+3 é irredutível para todo número natural n.

Exercício de 1988: Sejam a e b inteiros positivos tais que

ab+ 1 divide a2+ b2. Mostre que a2+b2

ab+1 é o quadrado de

um inteiro.

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ouro, 18 de prata, 56 de bronze e 22 menções honrosas, à frente, por exemplo, da Suécia, da Itália e de todos os países ibero-americanos.

Cada país pode levar até seis competidores, que de-vem ter menos de 20 anos e não podem estar em cursos universitários. São dois dias seguidos de competição, com seis questões ao todo. Em cada dia, os alunos dis-põem de quatro horas e meia para resolver três proble-mas, que abrangem disciplinas como teoria dos núme-ros, geometria, álgebra e combinatória. Cada exercício vale sete pontos e as medalhas são distribuídas de acor-do com a pontuação individual, proporcionalmente ao número de participantes, e as menções honrosas são dadas àqueles que tiveram pontuação máxima em pelo menos um exercício e não ganharam medalhas.

Edmilson Motta, membro da Comissão de Olimpía-das da Sociedade Brasileira de Matemática e coordena-dor de matemática do Colégio Etapa, conta que esses exercícios não são triviais, apesar de serem elaborados para alunos do ensino médio. “São questões que mes-mo pesquisadores de matemática consideram interes-santes”, constata.

Para Shine, é possível compará-los a teoremas de ma-temática. “São difíceis, elaborados e, além disso, o con-teúdo não é dominado por todos.” Ele ressalta que a dificuldade é encontrar saídas mais curtas. Membro da Comissão Nacional de Olimpíadas da SBM, Carlos Gustavo Moreira, o Gugu, que também foi medalha de ouro na IMO de 1990 e bronze na IMO 1989, afirma que para o aluno se dar bem nas competições é pre-ciso ter “certo conhecimento técnico e certa ousadia, não ter medo dos problemas e acreditar nas próprias

ideias, ainda que não sejam convencionais”. Shine com-plementa que é bobagem acreditar que apenas gênios são capazes de participar dessas competições. “Os ca-ras são bons, são pessoas especiais, mas é sempre 1% de inspiração e 99% de esforço”, diz ele, que também dá aula para as turmas específicas de olimpíadas no Colé-gio Etapa. “Tem gente muito talentosa que não vai por-que não se esforça muito, geralmente vai quem quer mais.”

Cada país envia também um líder e um vice-líder para a IMO. O vice-líder chega com os estudantes, atu-ando como treinador, estimulando e acalmando a equi-pe. Já o líder chega alguns dias antes para poder discu-tir com líderes de outros países e escolher seis de cerca de 30 questões pré-selecionadas a partir dos problemas submetidos por todos os países participantes. Quem realiza essa primeira triagem é o comitê de seleção de problemas, composto por membros do país sede.

Os líderes também são responsáveis pela tradução da prova do inglês para a sua língua pátria. Edmilson Motta, que foi líder em 2002, em Glasgow, Escócia, lem-bra a história de um exercício de 1988, proposto pela então Alemanha Ocidental. A comissão não conseguiu resolvê-lo, mas o colocou na prova mesmo assim. Era o último exercício do segundo dia. Para a surpresa de muitos, onze estudantes conseguiram resolver a ques-tão durante a prova. “Um deles, Emanouil Atanassou, da Búlgaria, recebeu um prêmio especial pela elegância de sua solução”, conta Motta.

Evolução

A melhora no desempenho do Brasil é um fenôme-no que também ocorre em outras competições interna-cionais. Na última edição da Competição Internacional de Matemática para Estudantes Universitários (IMC), realizada em Blagoevgrad, Bulgária, o Brasil ganhou uma medalha de ouro, duas de prata e quatro de bron-ze, além de outras quatro menções honrosas. É a quarta vez que o país participa da competição e já acumula 35 medalhas, sendo sete de ouro.

Carlos Gustavo Moreira aponta como uma das expli-cações para esse progresso a ampliação da Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM), responsável pela es-colha dos alunos que representarão o Brasil nas com-

Atletas que valem ouro Os brasileiros que trouxeram medalha de ouro para o país

Ano País sede Medalhista de ouro1981 EUA Nicolau Corção Saldanha1986 Polônia Ralph Costa Teixeira1987 Cuba Ralph Costa Teixeira1990 China Carlos Gustavo Moreira1995 Canadá Artur Avila Cordeiro de

Melo1998 Taiwan Rui Lopes Viana Filho2005 México Gabriel Tavares Bujokas

Fonte: Site oficial da IMO

{Reportagem}

Primeiro exercício da IMO (1959): Prove que a fração21n+414n+3 é irredutível para todo número natural n.

Exercício de 1988: Sejam a e b inteiros positivos tais que

ab+ 1 divide a2+ b2. Mostre que a2+b2

ab+1 é o quadrado de

um inteiro.

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petições internacionais. A OBM “descobre hoje mais gente talentosa e o treinamento está mais bem organi-zado”, explica ele. “Isso foi possível após o incremento do apoio do CNPq, em 1998”. Shine também destaca que esse ano marcou a reestruturação da OBM.

Realizada desde 1979, a OBM é uma competição orga-nizada pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) e aberta a estudantes de escolas públicas e privadas de todo o Brasil. Durante dez anos ela permaneceu com o formato de fase única sem separação em níveis. De-pois, passou a ser realizada em duas fases e dois níveis: Sênior, para o ensino médio, tendo como parâmetro de classificação a série do aluno, e Júnior, para o ensino fundamental, mas que utilizava como parâmetro a ida-de. Por conta dessa diferença de classificações era pos-sível participar das duas competições no mesmo ano. Em 1998, isso mudou. Criaram-se três níveis: Nível 1 (5a e 6a séries do ensino fundamental), Nível 2 (7a e 8a séries do ensino fundamental) e Nível 3 (ensino médio), e as provas adotaram o formato com 3 fases.

Em 2001, finalmente, a OBM tomou o formato que tem hoje com a inclusão do Nível Universitário, dispu-tado em duas fases, todas discursivas. Segundo o MEC, a OBM tem a participação de cerca de 400 mil alunos todo ano e esse número vem crescendo a cada edição.

Seleção dos competidores

Todos aqueles que conquistaram medalhas de ouro, prata, bronze ou menção honrosa na OBM são incluí-

dos no processo de seleção para a IMO do ano seguinte. Os alunos que ganharam medalhas em alguma OBM anterior podem pedir sua inclusão no processo, e a co-missão de olimpíadas, formada por professores e pes-quisadores de matemática do Brasil inteiro, decide se aceita ou não o pedido.

A seleção começa em janeiro, o que dá à organização da OBM cinco meses até a inscrição da equipe na IMO, no final de maio. São aplicadas três ou quatro provas de seleção pelos coordenadores regionais de cada estado. Outro critério que conta é a resolução de listas de trei-namento. Os alunos resolvem uma série de exercícios e mandam de volta para a OBM pelo correio.

A partir desses três critérios (OBM, provas e listas) a comissão de seleção elabora um ranking dos alunos, com a sugestão da equipe para a Comissão de Olimpí-adas. Esse procedimento é válido para as outras com-petições internacionais, como a Olimpíada Ibero-ame-ricana de Matemática e a Olimpíada de Matemática do Cone Sul. A Comissão de Olimpíadas ainda pode modi-ficar essa composição, baseando-se em aspectos pesso-ais como atitude, ou até mesmo observando o progres-so do desempenho de cada aluno, explica Shine. Ele diz que atualmente é muito mais difícil ser escolhido como representante do Brasil do que ganhar uma medalha na IMO. “É de cortar o coração”, lamenta o treinador. “Há sempre alunos muito bons, que ganhariam meda-lha ‘com os pés nas costas’.”

A principal razão que motiva os alunos a participa-rem dessas competições é o gosto pelo desafio. “Es-

Brasil ao longo da IMOColocação do Brasil em cada uma das 29 edições de que participou

Fonte: Site oficial da IMO

{Reportagem}

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tudar para olimpíadas requer muito tempo e vontade para buscar problemas de que, mesmo depois de ter pensado por várias horas, você não está nem perto da solução”, diz Régis Prado Barbosa, que compete por gostar de resolver esses desafios: “Quanto mais desa-fiador o problema, melhor quando se resolve”, declara o estudante.

Ulisses Medeiros de Albuquerque, 25 anos, ganha-dor de muitas medalhas na OBM e menção honrosa na IMO de 2000, na Coreia do Sul, participa de olimpía-das desde a quinta série. Formado em medicina pela Universidade Federal do Ceará, conta que o desafio era seu maior combustível. “Depois que você entra e gosta, vira vício e é complicado largar!”. Há algo de diversão também em ser submetido a desafios. Carlos Gustavo Moreira diz que participava das competições porque, além de gostar de matemática, achava divertido resol-ver problemas.

Shine acredita que o gosto pela matemática é cru-cial, mas que, na história mais recente, os alunos veem a IMO como seu principal motivador para participar dessas competições. “Eles querem ir para a olimpíada internacional e querem ganhar medalha”. Ulisses com-para a sensação com “ser convocado para a Copa do Mundo de futebol para um jogador ou ir para as Olim-píadas para outro atleta”. Ir para a IMO é a realização para um aluno de matemática, “é algo supremo”, diz o médico residente no Hospital das Clínicas da Faculda-de de Medicina de Ribeirão Preto da USP.

Além disso, ter no currículo a participação em uma competição internacional tão importante como a IMO abre muitas portas para os estudantes em universida-des do Brasil e no exterior. Shine conta orgulhoso que “há muitos alunos estudando fora, outros que viraram pesquisadores aqui no Brasil, cada aluno desses tem um futuro fantástico”. Esse foi o caso de Larissa Caval-cante Queiroz de Lima, de Fortaleza, a primeira e única mulher brasileira a conquistar uma medalha na IMO até hoje. Em 2002, então com 16 anos, ela foi prata na edição da Escócia. No ano seguinte, no Japão, foi tam-bém menção honrosa. Hoje, aos 22 anos, a medalhista de prata estuda Ciência da Computação em Harvard.

Pesquisadores brasileiros renomados, como Nico-lau Corção Saldanha (PUC-Rio), Ralph Costa Teixeira (UFF), Carlos Gustavo Moreira (IMPA) e Artur Ávila (Clay Mathematical Institute, Universidade Paris VI e IMPA) têm em comum o fato de terem sido medalhis-tas de ouro na IMO. (Ralph Teixeira é, ainda, o único brasileiro com dois ouros na competição). O único me-

Omedalhistaqueviroutreinador

Carlos Yuzo Shine tem 27 anos e é categórico quan-to à importância das olimpíadas de matemática na sua vida: “Eu devo minha carreira às olimpíadas”. Aluno de escola pública, ele conta que sempre teve uma vida humilde. “Com as olimpíadas, eu ganhei uma carrei-ra”, afirma o atual treinador da equipe que representa o Brasil na IMO.

Shine conta que seu interesse pela matemática vem desde pequeno. Em sua casa havia muitas enciclopé-dias: “Lembro da primeira vez que vi o Teorema de Pi-tágoras”. Curioso como é até hoje, o menino desenhou o triângulo 3, 4 e 5 com a régua apenas para testar o teorema. A atração por matemática, conta, é difícil de explicar. “É meio paradoxal uma coisa tão racional des-pertar tanta emoção.”

Na escola, tirava dúvidas dos colegas em sala e aí es-tava a aptidão que se revelaria anos mais tarde. Aos 14 anos, foi estudar no Colégio Etapa, onde frequentou as aulas específicas de olimpíadas. Ele confessa que não en-tendia nada, tanto que decidiu não participar da OBM naquele ano, acreditando não ter chances. Depois de um tempo, “a ficha caiu e eu estava começando a entender, percebi que talvez tivesse jeito para a coisa”, conta.

Em algum momento da vida o aluno de matemática decide se vai ser um olímpico ou não, afirma Shine. “Eu decidi ser um olímpico. Iria estudar, assistir a todas as aulas possíveis. Um bichinho te morde”. No segundo colegial, então, participou da Olimpíada de Maio, com-petição ibero-americana para alunos de até 15 anos, e levou de primeira a medalha de ouro. Depois disso, Shi-ne conquistou diversas medalhas tanto na OBM (prata em 1995 e ouro em 1996), na Olimpíada do Cone Sul (ouro em 1996) e na Olimpíada Ibero-americana (prata em 1996). Em 1996 também integrou a equipe brasileira na IMO, realizada em Mumbai, na Índia.

O motivo que o levou a participar de tantas competi-ções era simplesmente o gosto pelos problemas desafia-dores. “Eu nunca competi muito com as outras pessoas, competia com os problemas”.

Em 1997, aos 16 anos, prestou Fuvest e cursou Engenha-ria de Produção na Escola Politécnica da USP. No ano se-guinte, foi chamado no Etapa para trabalhar no Departa-mento de Matemática, onde está até hoje dando aulas para a turma ITA (voltada para alunos que desejam ingressar nesse instituto) e para a turma de olimpíadas. Ver os alu-nos o superarem é um dos grandes prazeres de Shine: “É assim que a gente vai melhorar”, declara, animado.

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dalhista de ouro que não seguiu esse caminho foi Rui Lopes Viana Filho, vencedor de 1998. Hoje ele trabalha em Nova Iorque, como analista quantitativo em uma instituição financeira.

O mais recente medalhista de ouro do Brasil – na IMO de 2005, no México – Gabriel Tavares Bujokas, de São Paulo, 20 anos, foi admitido no Massachusetts Ins-titute of Technology (MIT). Antes disso, o ganhador da sétima medalha brasileira passou seis meses estudando no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA).

Fatores do progresso

Uma das dificuldades enfrentadas pelo Brasil na IMO se refere à consciência do que era cobrado na competi-ção. Segundo Shine, o conteúdo não é especificado: “o programa de matemática é... matemática”. Os assun-tos que caíam na prova “eram bem estabelecidos entre os países com tradição, e nós demoramos para saber quais eram”. A estruturação do que o aluno deve estu-dar também colaborou para a melhora do desempenho do Brasil. Shine relata que o treinamento técnico me-lhorou porque hoje os professores sabem melhor como ensinar a matéria, houve uma evolução. “Vários alunos ex-olímpicos estão dando aula, então estão passando a tecnologia deles para frente: é um círculo virtuoso”.

Quando passou a dar aulas para as olimpíadas, Shine sentiu esse dever: “Eu pensei ‘poxa, se eu estou dan-do treinamento para as olimpíadas, eu preciso saber re-solver a olimpíada internacional!’ No começo da minha carreira de professor, eu peguei todos os problemas e resolvi”. Ele destaca que a matemática da IMO também evolui: “A ideia genial de uma olimpíada é absorvida por todos e vira técnica, e nós temos que acompanhar essa evolução”. Ele compara com uma corrida em que o Brasil começou atrás e, depois de um tempo, conseguiu alcançar o nível dos outros países bons. A meta agora é “ficar à frente, aprendendo as técnicas antes de elas aparecerem nas olimpíadas”.

A revista Eureka! contribui para permitir o acesso a es-sas técnicas mencionadas por Shine. A revista, cujo nome é uma homenagem à famosa anedota de Arquimedes so-bre a densidade relativa dos corpos, foi lançada em 1998 e integra um projeto da SBM, em conjunto com o IMPA, que se vale das competições para melhorar o ensino de matemática no país. Ela fornece material de treinamento considerado de alto nível para os alunos se prepararem para as competições, tanto nacionais como internacio-nais. Para o editor da revista, Carlos Gustavo Moreira, a

Amaiorolimpíadadematemáticadomundo

Outro projeto que, assim como a OBM, contribui para a descoberta de talentos e a melhora no ensino de ma-temática é a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). A primeira competição foi realizada em 2005 e, desde então, é a maior da área no mundo: sua edição mais recente, em 2008, contou com mais de 18 milhões de alunos de mais de 40 mil institui-ções de ensino público, com a participação de mais de 98% dos municípios brasileiros.

A OBMEP surgiu de uma parceria entre o MEC e o MCT e é organizada pela SBM e pelo IMPA. Podem participar da competição alunos de 5ª a 8ª séries e tam-bém do ensino médio. A olimpíada é realizada em duas fases e todos os alunos que recebem medalhas são tam-bém contemplados com uma bolsa de Iniciação Cientí-fica Júnior do CNPq com duração de um ano.

Além dos alunos, docentes e escolas também são pre-miados. Os professores com mais alunos bem coloca-dos são premiados com cursos e palestras no IMPA. As escolas, por sua vez, ganham livros e equipamentos para aprimorar sua estrutura. É um projeto considera-do vitorioso no incentivo do estudo da matemática e na melhora do ensino no país.

Eureka! “permite que os olímpicos treinem em seus pró-prios estados e não dependam tanto de estar em um cen-tro com tradição em olimpíadas”. Com a ajuda da revis-ta, Marcelo Matheus Gauy, 18 anos, conquistou diversos prêmios, entre eles a medalha de bronze na IMO 2008. Morador de São José do Rio Preto, cidade do interior de São Paulo, Marcelo conta que sua maior dificuldade é conseguir treinamento: “Como Rio Preto é distante da Capital e as olimpíadas não são muito divulgadas aqui, é difícil achar professores que me ajudem na preparação”. Por conta disso, ele sempre teve que ir atrás de material de estudo: “Desde a 8ª série me preparo estudando sozi-nho, lendo a Eureka! e resolvendo problemas de olimpía-das anteriores”, conta.

Para Edmilson Motta, membro da Comissão de Olim-píadas, selecionar pessoas para as competições, do pon-to de vista social, é o menor dos objetivos da OBM. “As olimpíadas têm intenções bem maiores: aumentar o in-teresse das pessoas por matemática, fazer com que pro-fessores entrem em contato com material novo e, assim, possam melhorar a sua formação”. Shine concorda com Motta e acrescenta aos objetivos da OBM a divulgação da boa matemática: “uma matemática bonita, de nível

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Treinamento

Para Shine, que é responsável pelo treinamento da equipe que representará o Brasil na IMO em 2009, ou-tro fator que contribuiu para o bom desempenho do Brasil é a confiança de que é possível conquistar meda-lhas. “No treinamento, a gente tenta conscientizar nos-sos alunos de que dá para acreditar mais”. Motta tam-bém opina que a melhora se deu por conta dos “anos e anos de trabalho, muito treinamento e confiança”. Ré-gis Prado Barbosa (aquele que conquistou três meda-lhas em três edições da IMO), afirma que é “impres-cindível ao aluno acreditar no próprio potencial e se esforçar para alcançar seus objetivos”. Ele conta que foi muito importante “fazer cada competidor da equipe do Brasil saber que dá pra ir longe, ganhar medalhas de prata e de ouro”. Em 2006, ano em que ganhou a meda-lha de bronze na IMO, Régis estava “meio confuso, in-certo de que dava pra ganhar uma medalha.” Nos dois anos seguintes, ele foi mais seguro do que podia fazer: “Eu tinha certeza de que podia ganhar uma medalha.” E nas duas edições ele realmente trouxe para o Brasil a medalha de prata.

Ulisses Albuquerque, 25 anos, começou a participar de olimpíadas na quinta série. A paixão vem do gosto pelos problemas e desafios: “Até hoje ainda sinto uma atração por eles”, afirma o cearense que ganhou sua primeira me-dalha em 1997, na OBM. Na competição, ele ainda ganha-ria, além do bronze, mais duas de ouro, em 1998 e 1999.

Em 2000, Ulisses foi convocado para a IMO, realiza-da em Taejon, na Coreia do Sul, e conquistou menção honrosa. Ele conta que a experiência foi surreal e a atra-ção maior eram os participantes e a profusão de crenças e culturas. Na ocasião, Ulisses tirou foto com chineses (“para os quais quem leva prata é burro”), fez trio de basquete com um turco e um argentino, jogou futebol com iraquianos e até dividiu jantar com os kwaitianos. “São experiências impagáveis!”, declara.

Apesar de sempre ter gostado de matemática e de co-legas e professores terem pensado que cursaria algo na área de exatas, Ulisses escolheu a medicina como car-reira profissional. “Era o dia a dia que eu conhecia. Meu pai é médico e minha mãe é dentista. Achei que poderia

ser útil como médico, ajudar os outros e me realizar.” Passou em primeiro lugar na Universidade Federal do Ceará e se formou em 2006. Mas engana-se quem acha que ele abandonou a matemática. Além de dar aulas em colégios de Fortaleza durante a faculdade, Ulisses afirma que há semelhanças entre a matemática e a me-dicina: “A atração do aluno pelo desafio do problema matemático é exatamente a mesma que atrai o médico pelo desafio do diagnóstico e do melhor tratamento”. É possível, diz ele, equiparar o enunciado do proble-ma com a queixa do paciente. “O raciocínio clínico de diagnóstico e tratamento é bastante similar ao lógico-dedutivo. Os teoremas e axiomas viraram remédios e procedimentos cirúrgicos”, completa.

Em janeiro de 2009, Ulisses concluirá a residência em cirurgia geral no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP e, em seguida, pre-tende fazer especialização em urologia. Depois disso, voltará para Fortaleza e aplicará o que aprendeu “para tentar ser útil por lá”.

Omedalhistaqueviroumédico

mais alto, que desperta admiração.” A detecção de ta-lentos também é importante, ressalta. “A ideia é dar um encaminhamento para a vida do aluno, seja na mate-mática ou em outra área.”

Isso traz consequências importantes mais tarde, na produção científica do país. Por exemplo, alguns dos que ganharam medalha de ouro na IMO foram, mais tarde, premiados com a “Medalha Fields”, prêmio con-cedido pelo Congresso Internacional da International Mathematician Union de quatro em quatro anos a mate-máticos importantes e considerado por alguns o “No-bel da matemática”. Carlos Gustavo Moreira afirma que colocar jovens com talento e interesse por matemática em contato com matemáticos profissionais pode ser de-cisivo para que “esses jovens decidam seguir uma car-reira científica”, diz o pesquisador titular do IMPA.

Esse é o caso do medalhista Marcelo Gauy. Apesar de sempre gostar de matemática, ele estudava pouco por-que sua escola em São José do Rio Preto, em São Paulo, “não oferecia nenhum desafio”. Depois de conhecer as olimpíadas, ele passou a estudar muito mais e hoje pen-sa em seguir a carreira. “Gostaria de estudar na USP. Creio que vou fazer pesquisa em matemática”.

{Reportagem}

�1Matemática Universitária

O treinamento para esses alunos, revela Shine, come-ça normalmente dois, três anos antes da IMO, porque eles têm que estar preparados para a seleção e também participam de outras competições internacionais volta-das para sua idade, como a Olimpíada de Maio, para alunos de até 15 anos. Nas últimas semanas que ante-cedem a IMO, há um treinamento final comandado por Shine, em São Paulo. Nele, além do aspecto psicológico, também são trabalhados os conteúdos que normalmen-te não são dados nas aulas do ensino médio e o tempo. Afinal, apesar de parecer muito, o tempo de quatro ho-ras e meia para três exercícios complexos “é bem pou-co.” Shine conta que, mesmo com a correria – eles têm apenas três semanas entre a decisão da equipe e a IMO – “o treinamento é a parte mais legal, junto com a Se-mana Olímpica”.

Durante essas três semanas, os alunos selecionados vêm para São Paulo, onde estudam seis dias por sema-na. Os melhores professores de cada assunto vêm de to-das as partes do Brasil para dar aula aos seis escolhidos. Além das aulas e horas a fio de estudo, eles também fazem uma série de simulados. Shine conta que, para a IMO de 2003, que seria realizada no Japão, foi apli-cada uma prova que começou às 9h30 da noite e foi até a 1h da manhã. “Vamos nos adaptar ao fuso horário”, dizia o treinador. As provas da IMO ocorrem sempre pela manhã.

Régis Barbosa Prado conta que, mesmo com um trei-namento puxado como esse, a diversão era sempre ga-rantida. “Os treinamentos são muito engraçados, a gen-te ri demais e, muitas vezes, esquece a tensão”. Shine afirma que essa é uma de suas preocupações: fazer com que os alunos encontrem prazer naquilo que fazem. Quando ele percebe que o clima está pesado demais, dá um dia de folga para a equipe e eles vão ao cinema ou comem a tradicional feijoada na casa do treinador.

Beatles

Um dos conselhos de Shine para os seis alunos que vão à IMO é o de que eles devem se comportar como uma equipe. Apesar de a competição ser individual, o treinador afirma que uma das razões do treinamen-to não é aprender matemática, pois a maior parte do conteúdo os alunos já dominam. “A ideia é aprender a se comportar como equipe, apoiar um ao outro, sa-ber suas características, se conhecerem.” Shine se lem-bra dos Beatles: “Cada um tinha suas características, mas quando se juntavam virava um negócio inovador.

Juntos, os quatro Beatles eram fantásticos.” Ele explica que, sabendo das especialidades de cada um, é possível trocar figurinhas e aprender o que cada um deve fazer para melhorar nessas áreas. “Eles acabam se ajudando, há um sentimento de cooperação”, conta, satisfeito.

Segundo Shine, a função de vice-líder é uma extensão do que faz o treinador: ele cuida para que os alunos fi-quem tranquilos, ajuda a expurgar os medos, dá dicas. Shine revela que, na IMO de 2004, realizada em Atenas, um aluno ligou para ele às duas da manhã porque não conseguia dormir de ansiedade. Ele então o ouviu e o acalmou. Ainda na sessão “histórias da IMO”, Edmil-

SemanaOlímpica

Todo ano, no fim de janeiro, os alunos premiados na OBM participam de um evento que já se tornou tradi-cional. É a Semana Olímpica, que ocorre sempre em di-ferentes cidades do Brasil. Desde 1998, os alunos vão a essa espécie de treinamento intensivo, em que têm au-las com os melhores professores de todo o Brasil. Car-los Yuzo Shine conta que os alunos interagem entre si, criando amizades por conta da identificação que pos-suem uns com os outros. Além das aulas, há palestras que apresentam outras olimpíadas para os estudantes — entre elas a IMO e a Cone Sul — o que acaba mo-tivando os alunos a participarem. Shine afirma que o evento é tão interessante que “há muitos alunos que competem na OBM com o objetivo de participar da Se-mana Olímpica”.

Para se ter ideia da importância do evento, Marcelo Matheus Gauy, medalha de bronze na IMO 2008, con-fere a responsabilidade por suas conquistas à Semana Olímpica. Ele conta que, no fim de 2006, obteve um li-vro que continha todos os problemas propostos pela IMO e suas soluções. “Isso e as aulas da Semana Olim-píca me ajudaram muito”, afirma o estudante que, em 2007, foi ouro na Olimpíada Paulista de Matemática, prata na OBM e prata na Olimpíada Rioplatense, orga-nizada pela Argentina e da qual participam os países da América Latina, além de Espanha e Portugal.

É também durante esse evento que ocorre a Vingan-çaOlímpica. Os alunos elaboram problemas do nível da OBM e da IMO para se “vingar” dos professores. A competição dá oportunidade aos professores, mui-tas vezes ex-olímpicos, de relembrar as suas experiên-cias e divertirem-se tentando resolver os problemas. Os alunos também se divertem para conseguir elaborar os exercícios mais difíceis.

{Reportagem}

�2 Matemática Universitária

son Motta relata que certa vez um estudante desistiu de competir um dia antes do embarque para a IMO, até hoje por razões desconhecidas.

A IMO dura em média duas semanas: há a cerimônia de abertura, os dois dias de prova, os dias de correção e o encerramento. Depois das provas, os alunos são leva-dos para conhecer a cidade por um guia (cada equipe tem a sua). Esse é o momento de maior diversão, dizem os alunos, pois é possível conviver mais intensamente com pessoas de todo o mundo. A medalhista Larissa de Lima conta que a experiência é incrível. “É super le-gal conhecer pessoas de todas as partes do mundo que compartilham esse interesse por matemática”. Ela diz que dá até para formar amizades com essas pessoas, porque é a mesma turma, tanto de brasileiros, como de latinos, que vai para outras competições, como a Cone Sul ou a Ibero-americana. “Acabei formando amizades com gente que via só nessas viagens”. E entre uma me-dalha e outra, é possível encontrar um novo amor. Ulis-ses Albuquerque conta que, na sua época, um casal da equipe da Argentina começou a namorar depois de três anos participando de olimpíadas juntos. “Eles eram de cidades diferentes e se conheceram nas competições”, relata o médico.

Futuro

Carlos Gustavo Moreira acredita que, com a amplia-ção do número de participantes da OBM e com o au-mento do período de treinamento, será possível con-tinuar melhorando o desempenho do Brasil. Ele vê na matemática uma grande fonte de diversão, tanto que alerta sobre como os alunos devem encarar as olimpía-das: “A participação em olimpíadas internacionais não deve se ‘profissionalizar’ demais.” Para ele, os alunos devem encarar as olimpíadas como “uma atividade di-vertida e estimulante, não como uma obrigação”. As olimpíadas, diz ele, possuem a função de tornar o en-sino de matemática “mais criativo e menos burocráti-co”. Além de acreditar nas funções sociais das compe-tições, ele diz que uma das razões pelas quais ajuda a organizar e divulgar as olimpíadas é que se diverte bas-tante inventando problemas. A lição que o matemático aprendeu com as olimpíadas e que carrega até hoje é simples: “as coisas que dão mais certo são as que a gen-te faz com alegria”.

Links

OBMwww.obm.org.brSite oficial da Olimpíada Brasileira de Matemática, competição organizada pela SBM.

IMOwww.imo-official.orgSite oficial da Olimpíada Internacional de Matemática

Blog de seleção para a IMO e para a Ibero-americana http://imoibero.blogspot.com

Olimpédiahttp://erdos.ime.usp.brWiki da OBM dedicada à matemática olímpica

Art of Problem Solving (AoPS)www.artofproblemsolving.comTem aulas e competições on-line, livraria, comunida-de, além de uma wiki (AoPSWiki) contendo material diverso, incluindo muitos problemas e soluções da IMO (para achar mais rapidamente, acrescente ao en-dereço do site o complemento /Wiki/index.php/IMO_Problems_and_Solutions)

{Reportagem}

Iana Chan é estudante de jornalismo na Escola de Comunica-ções e Artes da USP.