6
Um dos mais frágeis ecossis- temas do Brasil corre perigo iminente no Norte de Minas: a Mata Seca. Atualmente protegi- da por lei, ela pode ser desconfi- gurada de sua importância so- cioambiental e ecológica. forte pressão política e interes- ses de ruralistas para que ela se- ja retirada do mapa publicado pelo Instituto Brasileiro de Geo- grafia e Estatística (IBGE), que considera a Mata Seca da Bacia do Rio São Francisco parte da Mata Atlântica. E, com isso, ser ainda mais devastada e destruí- da. A situação é polêmica e mo- biliza a atenção de ONGs am- bientalistas e de diversos espe- cialistas, que mais de 50% dessas áreas já foram desmata- das no Estado. O assunto deverá ser discuti- do numa reunião entre deputa- dos, prefeitos e líderes ruralistas do Norte Minas e o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. A Rede de ONGs da Mata Atlânti- ca (RMA), que reúne 300 entida- des ambientalistas do Brasil, também está atenta à questão. Desde outubro passado, ela pe- de ao Ministério de Meio Am- biente que não haja mudanças no Mapa do IBGE. Segundo apuração feita pela Com mais de 50% de sua área já desmatada, bioma volta a ser alvo da pressão política e do agronegócio, para mudar lei que assegura, juridicamente, a sua conservação MATA SECA AMEAÇADA BARRIGUDA: COMO OS IPÊS, ELA PEDE PARA CONTINUAR DE PÉ E CUMPRIR SUA FUNÇÃO BIOLÓGICA S.O.S. FLORESTAL EVNADRO RODNEY 32 ECOLÓGICO/JANEIRO DE 2010

Reportagem sobre as matas secas mineiras

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Com mais de 50% de sua área já desmatada, bioma volta a ser alvo da pressão políticae do agronegócio, para mudar a lei que assegura, juridicamente, a sua conservação. Este texto da Revista Ecológico (http://www.revistaecologico.com.br/) explica a situação, com uma entrevista com nosso colega Prof. Mário Marcos do Espírito Santo.

Citation preview

Page 1: Reportagem sobre as matas secas mineiras

Um dos mais frágeis ecossis-temas do Brasil corre perigoiminente no Norte de Minas: aMata Seca. Atualmente protegi-da por lei, ela pode ser desconfi-gurada de sua importância so-cioambiental e ecológica. Háforte pressão política e interes-ses de ruralistas para que ela se-ja retirada do mapa publicadopelo Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística (IBGE), que

considera a Mata Seca da Baciado Rio São Francisco parte daMata Atlântica. E, com isso, serainda mais devastada e destruí-da. A situação é polêmica e mo-biliza a atenção de ONGs am-bientalistas e de diversos espe-cialistas, já que mais de 50%dessas áreas já foram desmata-das no Estado.

O assunto deverá ser discuti-do numa reunião entre deputa-

dos, prefeitos e líderes ruralistasdo Norte Minas e o ministro doMeio Ambiente, Carlos Minc. ARede de ONGs da Mata Atlânti-ca (RMA), que reúne 300 entida-des ambientalistas do Brasil,também está atenta à questão.Desde outubro passado, ela pe-de ao Ministério de Meio Am-biente que não haja mudançasno Mapa do IBGE.

Segundo apuração feita pela

Com mais de 50% de sua área já desmatada, bioma volta a ser alvo da pressão políticae do agronegócio, para mudar lei que assegura, juridicamente, a sua conservação

MATA SECA AMEAÇADA

BARRIGUDA: COMO OS IPÊS, ELA PEDEPARA CONTINUAR DE PÉ E CUMPRIR

SUA FUNÇÃO BIOLÓGICA

S.O.S. FLORESTAL

EVNADRO RODNEY

32 �� ECOLÓGICO/JANEIRO DE 2010

Rev_Eco_Janeiro10_32-37 ok:mataseca OK.qxd 22/1/2010 13:09 Página 1

Page 2: Reportagem sobre as matas secas mineiras

Segundo ambientalistas, a Mata Seca é umecossistema tão importante que, do pontode vista da biodiversidade, merece umregime de proteção especial, no mínimo,igual à Mata Atlântica. Ocorre em regiõessemiáridas, o que torna a sua sobrevivên-cia ainda mais imprescindível para aconservação natural do solo.

POR QUE PROTEGÊ-LA?

RMA, as pressões para a mudan-ça estão diretamente ligadas ainteresses econômicos de pro-prietários rurais inconformadoscom as limitações impostas pelalegislação e por multas aplica-das pelo Sistema Estadual doMeio Ambiente (Sisema), emfunção de desmatamentos efe-tuados para expansão de fron-teira agrícola e carvojeamento.

Ainda conforme a ONG, hána região uma verdadeira 'in-dústria de desmatamento',mantida por proprietários ru-rais e empresas de ferro gusaque consomem carvão vegetalem suas plantas produtivas. Se-gundo dados do Instituto Esta-dual de Florestas (IEF), em 2008,o consumo de carvão vegetal emMinas foi de 23 milhões de me-tros cúbicos, 45% deles origina-dos de florestas nativas. Alémdisso, a Lei da Mata Atlânticafoi discutida durante 15 anos noCongresso Nacional e a hipótesede mudá-la para atender aquem interesse é consideradaecologicamente 'absurda'.

“Por causa da sua fragilidade,após derrubada, a Mata Seca de-mora mais de 100 anos para serecuperar. Essa característicademonstra claramente que esseecossistema deve ser preserva-do e não destruído, como estáacontecendo”, defende RenatoCunha, coordenador da RMA edo Grupo Ambientalista daBahia (Gambá).

Ele observa que o desmata-mento é problema antigo, ini-ciado na década de 1980: "Nãopodemos permitir que a sua de-gradação total se concretize nasestruturas de governo. Precisa-mos assegurar que a Mata Secaseja protegida. E uma das for-mas de ampliar sua proteção é opoder público agir, se estruturare criar mais Unidades de Con-servação (UCs)”, pondera.

Em outras regiões brasileiras,ocorrem situações semelhantes.No Piauí, relata o ambientalista,empreendimentos interessadosem se instalar em regiões deMata Atlântica também estão se

mobilizando para mudar o ma-pa de aplicação da lei. "Nin-guém quer ou está impedindo ocrescimento, o desenvolvimen-to. Só defendemos a regulaçãodas atividades produtivas, comoforma de assegurar a preserva-ção do bioma. Que os proprietá-rios rurais, no planejamento emanutenção do seu negócio,analisem objetivamente as ca-racterísticas ecológicas e a ri-queza da biodiversidade, assimcomo os instrumentos legaisexistentes para sua conserva-ção. Isso é desenvolvimento res-ponsável e sustentável.”

AUDIÊNCIA PÚBLICAEm setembro passado, a modifi-cação do decreto federal queconsidera a Mata Seca parte dobioma Mata Atlântica foi defen-dida em audiência pública daComissão de Meio Ambiente eDesenvolvimento Sustentávelda Assembleia Legislativa deMinas. Na ocasião, o deputadoGil Pereira (PP), se mostroupreocupado com o impacto damedida sobre o desenvolvimen-to do Norte de Minas, onde esse

IGNORÂNCIA: MATA PARECE MORTA, MAS É APENAS UMA FORMA QUEA NATUREZA ENCONTRA DE SOBREVIVER AO RIGOR DO CLIMA

ALISON COUTINHO:‘DISCUSSÃO DESFOCADA’

EVAN

DRO

RODN

EY

ARQU

IVO

PESS

OAL

ECOLÓGICO/JANEIRO DE 2010 �� 33

2

Rev_Eco_Janeiro10_32-37 ok:mataseca OK.qxd 22/1/2010 13:09 Página 2

Page 3: Reportagem sobre as matas secas mineiras

S.O.S. FLORESTAL

REPR

ODUÇ

ÃOM

GBIO

TA/IE

F

tipo de formação vegetal é pre-dominante. “Se a legislação fe-deral prevalecer, mais da meta-de dos produtores da região se-rá prejudicada. Isso pode levarà perda de até 250 mil empre-gos”, disse.

Já para o diretor de Desen-volvimento e Conservação Flo-restal da Semad, Luiz CarlosCardoso Vale, que também par-ticipou da audiência, a equipa-ração da Mata Seca à MataAtlântica é um equívoco técni-co. “Mais importante que a re-classificação é a preservaçãodesse bioma. Além disso, mudara sua classificação não significadizer que a região não vá preci-sar de cuidados”, ressaltou.

MELHOR ENTENDIMENTOO superintendente do Ibama

em Minas, Alison Coutinho, temopinião semelhante. “Essa dis-cussão está completamente des-focada. A Mata Seca tem impor-tância igual ou superior à pró-pria Mata Atlântica e precisa serpreservada”, afirma. Ele defendeo respeito e melhor entendi-mento das peculiaridades eco-lógicas e socioambientais doNorte de Minas, uma das maispobres do país e que tem formastradicionais de uso da terra.

“É uma ocupação clássica, li-near. Basicamente, o produtorsuprime a vegetação inicial parafazer carvão ou plantar milho emandioca. O rendimento é mui-tas vezes baixo, porque o déficithídrico é enorme e, a tempera-tura, extremamente alta. Essaocupação parece não preocu-par, do ponto de vista de umaúnica família, mas, no conjunto,é impactante. Além disso, é pre-ciso considerar que, muitas fa-mílias, em especial as que vivemdo carvão, praticamente nãotêm outra alternativa de sobre-vivência”, explica.

34 �� ECOLÓGICO/JANEIRO DE 2010

Rev_Eco_Janeiro10_32-37 ok:mataseca OK.qxd 22/1/2010 13:09 Página 3

Page 4: Reportagem sobre as matas secas mineiras

.

IMPORTÂNCIA BIOLÓGIA E EXTREMA FRAGILIDADE

� As Florestas Estacionais Deciduais (FEDs), popularmente chamadasde Matas Secas, cobrem aproximadamente 3% do território brasileiro.Estão situadas predominantemente nas regiões Nordeste e Centro-Oeste. Geralmente ocorrem em regiões semiáridas e pouco desenvolvi-das economicamente, sendo ocupadas por populações com baixo Índicede Desenvolvimento Humano (IDH). Por isso, há necessidade urgentede esforços de pesquisa e conservação para esses ecossistemas, incluin-do a recuperação de extensas áreas degradadas e abandonadas.

� Representada em Minas por uma área relativamente pequena, masde expressiva importância biológica e alta fragilidade, a Mata Secatem lenta regeneração e grande dificuldade de retornar ao seu estadooriginal, o que implica necessidade de proteção pelo poder público.Para preservar esse fragmento, o Governo de Minas criou o ParqueEstadual da Mata Seca, como compensação ambiental da implan-tação do Projeto Jaíba.

� Devido à proximidade do Rio São Francisco, as matas secas nortemineiras encontram-se sob forte pressão antrópica: sofrem influênciade grandes projetos de irrigação, como o Jaíba, e de atividadesagropecuárias.

� Assim como em outros países, no Brasil, as FEDs são negligenci-adas em termos de pesquisa e esforços conservacionistas, principal-mente, quando comparadas às florestas tropicais úmidas, como a

Amazônia. Por esse motivo, as taxas de desmatamento e o real esta-do de devastação dos fragmentos remanescentes de FEDs são pratica-mente desconhecidos.

� Embora representem uma área de 27 milhões de hectares noBrasil, somente cerca de 4% deste total estão protegidos porUnidades de Conservação (UCs), praticamente a única estratégia depreservação desses ecossistemas.

� De forma geral, elas têm recebido pouca atenção do governo esociedade civil, em termos de pesquisa e conservação da biodiversi-dade. A mesma tendência pode ser observada em outros países queabrigam biomas semelhantes. Para tentar reverter esse quadro, aRede Colaborativa de Pesquisas Tropi-Dry (do termo em inglês 'Tropi-cal Dry Forests') foi criada em 2004, reunindo pesquisadores doCanadá, EUA, México, Costa Rica, Venezuela e Brasil.

� O objetivo é desenvolver uma estratégia comum e multidiscipli-nar, em colaboração com órgãos tomadores de decisão locais enacionais, visando ao desenvolvimento sustentável em regiões dematas secas no Brasil e nas Américas. Desde 2006, muitas infor-mações têm sido coletadas nas Matas Secas do México, Costa Rica,Venezuela e Brasil e a previsão mínima de duração do projeto é até2011. No Brasil, o principal local de estudo da rede Tropi-Dry é justa-mente no Parque Estadual da Mata Seca, no Norte de Minas

CENÁRIO INSUSTENTÁVEL: AOINVÉS DO APARENTE E TEMPORÁRIO

GANHO DEFENDIDO PELO AGRONEGÓCIO,A DEVASTAÇÃO DA MATA SECA NO NORTEDE MINAS DESERTIFICA O SOLO, AMEAÇA

A FLORA LOCAL E EMPOBRECE AINDAMAIS A POPULAÇÃO RURAL

JOSÉ

CARLOS

PAIVA

/SECOM

MG

ECOLÓGICO/JANEIRO DE 2010 �� 35

2

Rev_Eco_Janeiro10_32-37 ok:mataseca OK.qxd 22/1/2010 13:09 Página 4

Page 5: Reportagem sobre as matas secas mineiras

‘‘NINGUÉM É CONTRA ODESENVOLVIMENTO’’

ENTREVISTA: MÁRIO MARCOS DO ESPÍRITO SANTO

O professor Mário Marcos do Es-píritoSanto,biólogoedoutor emEco-logiapelaUFMG,é enfáticoaodefen-der a preservação da Mata Seca noNorte de Minas que tem,ao contráriodo que muitos pensam, solos extre-mamente ricos eplanos,sendo,exata-mente por isso, alvo da cobiça doagronegócio. Professor do Departa-mento de Biologia Geral da Universi-dade Estadual de Montes Claros(Unimontes), ele conhece de perto arealidade local e é autor de artigoscientíficos sobreobioma,comoospu-blicadosna RevistaMGBiota,do Ins-tituto Estadual de Florestas.Confira aentrevista concedida, com exclusivi-dade, à Revista ECOLÓGICO:

QUAL SUA OPINIÃO SOBRE A DISCUSSÃO SEA MATA SECA PERTENCE OU NÃO À MATAATLÂNTICA?Há evidências científicas suficientespara que a Mata Seca do Norte deMinas seja incluída no domínio daMata Atlântica. A verdade é que aMata Atlântica, assim como os ou-tros biomas brasileiros, é um mosai-co de fitofisionomias, ou seja, abran-ge diferentes tipos florestais. Em fun-ção disso, há sim, na região, influên-cia da Caatinga, porque a Mata Secaestá próxima dela. É comum, paraqualquer ecossistema, que haja umainfluência das formações do entor-no. Mas, o mais importante nessadiscussão toda é que, independente-mente de sua classificação, a MataSeca é um bioma raro, delicado, ricoem espécies endêmicas - só encon-

tradas na região - e que, portanto,merece cuidado especial. Até por-que, conforme dados do IEF, 52% daMata Seca do norte mineiro já foramdesmatados.

QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DAMATA SECA NA REGIÃO?Temos praticamente dois tipos. Asque ocorrem sobre os afloramentosdecalcárioede terrenosplanos.Nes-sas últimas, ao contrário do quemuita gente pensa, o solo é extrema-mente fértil, bem mais que o do Cer-rado. Por isso, são disputadas pelaagricultura e pela pecuária. Já asáreas de rochas calcárias não sãoboas nem para criar gado nem para

plantar. Nelas, as principais ativida-des são a extração de calcário para afabricação de cimento e o corte demadeira para a produção de carvão.Elas também abrigam muita madei-ra nobre, como braúna, aroeira, ipê ecedro, além de animais. Pesquisasindicam que, só de árvores, são maisde 100 espécies típicas das matas se-cas norte-mineiras.

OS RURALISTAS AFIRMAM QUE A MATA SECANORTE-MINEIRA FICA NUMA REGIÃO DE TRANSI-ÇÃO ENTRE CAATINGA E CERRADO. EM QUE ELESSE BASEIAM?Muitos costumam citar como refe-rência o Inventário Florestal feito pe-lo IEF, com base em estudos da Uni-

MÁRIO MARCOS, DAUNIMONTES: DESMATE

EXCESSIVO É DESNECESSÁRIO

FELISA ANAYA

S.O.S. FLORESTAL

36 �� ECOLÓGICO/JANEIRO DE 2010

Rev_Eco_Janeiro10_32-37 ok:mataseca OK.qxd 22/1/2010 13:09 Página 5

Page 6: Reportagem sobre as matas secas mineiras

� Políticos e ruralistas do Norte deMinasdefendem a anulação do Decreto Federal6.660, de novembro de 2008, que regula-menta a Lei Federal 11.428/06. Ele consideraaMata Seca parte daMata Atlântica e, por-tanto, imune ao corte.

� Em janeiro do ano passado, foi promulga-da pelo governo de Minas a Lei 17.353,que permite atividades agrícolas emáreas de Mata Seca, desde que os produ-tores preservem 30% de suas proprieda-des. Desde novembro, o decreto federalpassou a ser cumprido em Minas, tor-nando proibida qualquer atividade deexploração em áreas de Mata Seca.

� A região da Bacia do Rio São Francisco,próximo à divisa com a Bahia, já abrigou ori-ginalmente grandes extensões deMata Se-ca. Hoje, esse ecossistema faz limite comáreas de Caatinga, mas se distingue clara-mente desta, pela presença de árvores degrande porte, como barrigudas e ipês.

� Limitada pela pouca ocorrência de chu-vas, concentradas em poucosmeses do ano,e por características do solo, que é, em suamaioria, extremamente frágil, aMata Secadesenvolveu fantástica estratégia de sobrevi-vência. Suas árvores perdem as folhas depoisdo período chuvoso, época em que a florestafica cinzenta e adormecida. Quando as novaságuas se aproximam, e como numpasse demágica, torna-se uma verdadeira floresta tro-pical, colorindo o sertão das Gerais de verdee exuberância.

� Pouco estudada, aMata Seca reúne gran-de variedade de fauna. No Norte deMinas,pela presença de abrigos das rochas calcá-rias, merece destaque a presença diversifica-da de felinos, inclusive a onça-pintada, consi-derada no estado como altamente ameaça-da de extinção.

� Dados da Ufla informamque a área ocu-pada pelo bioma Caatinga emMG, em 2008,era de 3,45%. Nesse exíguo percentual estáincluída a área coberta porMata Seca, que jásofreu novos desmatamentos após esses es-tudos. E, por abrigar grandes árvores, é obje-to de cobiça da chamada 'Máfia do Carvão',que ainda atua no Estado.

ENTENDA A LEGISLAÇÃO

versidade Federal de Lavras (Ufla).Sóquenapágina22destedocumen-to, está indicado, bemnaparte de ci-ma, o seguinte trecho: 'Os encravesflorestais tanto do Cerrado quantoda Caatinga no estado deMinas Ge-rais devem ser considerados comodo domínio da Mata Atlântica, devi-do ao fato de terem a distribuiçãodisjunta e, portanto, serem de gran-de relevância para a preservação dabiodiversidade'.Alémdisso,oAtlasdaBiodiversidade em Minas, instru-mentousadopelogovernoparaaela-boração das políticas ambientais,também indica a região como 'áreade especial atenção para a conserva-ção da biodiversidade, em seu nívelmaisalto'. Issosignificaqueelaéprio-ritária para a investigação científica,porque foi objeto de poucos estudos.Se os ruralistas quiserem reverter aquestão, terão de apresentar dadoscientíficos realmente consistentes.

MUITOS ALEGAM QUE, ALÉM DE POVOS TRADI-CIONAIS, COMO QUILOMBOLAS, A REGIÃO ÉOCUPADA EM SUA MAIORIA POR PEQUENOSPRODUTORES, GENTE QUE PLANTA PARA A SUB-SISTÊNCIA. ESSA É MESMO A REALIDADE LOCAL?Aquestãoémaisdelicadadoquepa-rece. Dados do Censo Agropecuáriodo IBGE mostram que a estruturafundiária do Norte de Minas é lati-fundiária, com grande concentração

de terras. Pelo levantamento, 84%daáreade fazendasdaregiãoéocupadapor propriedades com mais de 100hectares, que estãonasmãosde 17%dos produtores rurais. As pequenasfazendas, com menos de 100 hecta-res, ocupam apenas 16% da área to-tal da região. Além disso, é precisoconsiderar que o impacto potencialde um pequeno produtor, de qui-lombolas e de vazanteiros - famíliasque ocupam as margens do SãoFrancisco - é bem menor que o deum grande empreendimento, comoo plantio de cana e outras culturasqueusamagrotóxicos emgrande es-cala, por exemplo.

ACREDITA QUE OS SETORES ENVOLVIDOS CHE-GARÃO A UM MEIO TERMO?Ninguém é contra o desenvolvi-mento. Mas tudo tem de ser feitode forma sustentável. Os ruralistasafirmam ter preocupação ambien-tal, ao deixarem 30%de suas terras'a serviço da humanidade', comoreserva legal. Desmatar 70% daMata Seca em todo o Norte de Mi-nas não é uma atitude sustentável:não é uso racional dos recursosnaturais. Isso precisa ser repensa-do. A pressão é para que se legali-ze o desmate excessivo que, a meuver, é desnecessário para que a re-gião se desenvolva.

DOUG

LAST

RENT

ONÇA-PINTADA:EXTINÇÃO ANUNCIADA

ECOLÓGICO/JANEIRO DE 2010 �� 37

Rev_Eco_Janeiro10_32-37 ok:mataseca OK.qxd 22/1/2010 13:10 Página 6