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18 REPORTAGEM ESPECIAL POR MARCELA GAVA DESIGN FERNANDO RATIS Minas Gerais Espírito Santo Rio de Janeiro São Paulo A força pioneira do Sudes Formada por estados de extrema relevância nacional, a região se destaca por ser sede dos primeiros cursos, associações e escritórios de design

REPORTAGEM Sudes te - Amazon S3€¦ · de Chico Homem de Melo, que, assim como a jornalista e curadora Adélia Borges e Ethel Leon, são importantes para a criação de uma literatura

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18REPORTAGEM ESPECIAL

POR MARCELA GAVA

DESIGN FERNANDO RATIS

Minas Gerais

Espírito Santo

Rio de Janeiro

São Paulo

A força pioneira do

Sudes teFormada por estados de extrema relevância nacional, a região se destaca por ser sede dos primeiros cursos,

associações e escritórios de design

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19DEZENOVE

Caetano Veloso ainda nem entoava a canção “Sampa” quando o escritório de arquitetura e design de Ludovico Martino e João Carlos Cauduro desenvolvia um projeto de comunicação visual para a Avenida Paulista. O verso “és o avesso do avesso do avesso” traduzia muito bem a situação da famosa avenida da capital paulista, em que o caos da construção e a bagunça de informações imperavam. O ano era 1973 e a Paulista parecia um canteiro de obras, mas o que seria implantado ali se tratava de um projeto inovador. “Era um mundo encantado passar pela Paulista. Os postes na vertical causaram polêmica, mas eram uma atração e foram referência mundial”, lembra Auresnede Pires Stephan, professor do curso de Design da FAAP e autor da coleção “10 Cases do Design Brasileiro”. Embora tenha restado muito pouco do projeto original, que incluía sinalização e design de bancos e lixeiras, esse é um dos projetos citados como marco quando

se aborda o pioneirismo da Região Sudeste na área de design.

O despertar tem início na década de 1950, quando surge um dos primeiros cursos de desenho industrial, sediado no Instituto de Arte Contemporânea do MASP, em São Paulo. Nesse período também ocorre a fundação da Escola de Artes Plásticas, em Minas Gerais, que oferecia curso de Desenho Industrial e Comunicação Visual. Mais tarde, quando era denominada Fundação Mineira de Arte (FUMA), incorporou-se à Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), dando início à Escola de Design. Já no Rio de Janeiro, o Museu de Arte Moderna oferecia curso de tipografia experimental. “Outro fator importante na formação de profissionais da área foi a introdução, no currículo da FAU/USP, das disciplinas de Desenho do Objeto e Comunicação Visual, na década de 1960, na formação dos arquitetos”, comenta o professor. A FAU, inclusive, formou importantes nomes da história do design brasileiro, como Ari Rocha, autor do “Aruanda”, carro-conceito premiado no Brasil e na Itália nos anos 1960 e elogiado por nomes lendários do design como Pininfarina e Mario Fissore. Por conta de sua obra, Ari teve oportunidade de estudar na Itália nos anos 60.

Em 1958 surgiu o primeiro estúdio de design gráfico no Brasil, o Forminform, também baseado na capital paulista. O escritório foi fundado por Geraldo de Barros, Rubem Martins, Walter Macedo e Alexandre Wollner. Este último, depois de concluir seus estudos na Escola de Ulm, na Alemanha, retornou ao Brasil e, ao lado de Aloisio Magalhães, conhecido pelos logos da Light e da Petrobras,

participou da organização e da estruturação da Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi), no Rio de Janeiro, considerada a primeira instituição a oferecer um curso superior de design, em 1963. Influenciada pelo movimento alemão funcionalista, a Esdi se tornou referência no ensino de design no Brasil, principalmente por ter reunido grandes nomes entre seus docentes, que, além de Wollner e Magalhães, incluía ainda Décio Pignatari e Zuenir Ventura, influenciando o surgimento de outros nomes na mesma instituição que se dedicaram também à docência, como Freddy Van Camp.

DO DESIGN

Sudes te

Foto: Divulgação/Oz Estratégia+Design

Não dá para pensar em design corporativo sem associar ao trabalho do Oz, de São Paulo. O escritório foi pioneiro ao oferecer serviços de identidade visual, embalagem e sinalização para o empresariado. Na foto, embalagem feita para a Danubio, que venceu premiação da revista “Embalagem e Marca”

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A paulistana Carol Gay pertence à nova geração de designers de mobiliário baseados em São Paulo. Participa do coletivo (In)Vazão, ao lado de outros seis designers, cuja essência é a democratização do design.

20VINTE

A FORÇA EMPRESARIAL

DE SÃO PAULOCom mais de 80 milhões de habitantes e uma participação de 55,4% no PIB brasileiro, segundo dados do IBGE, o Sudeste continua a mostrar sua força. A demanda por trabalhos de design se mantém intensa na região, especialmente nas capitais São Paulo e Rio de Janeiro, que abrangem praticamente todo tipo de indústria ou setores da economia que se valem da área.

Para atender ao vasto segmento, Alex Lipszyc, diretor da Escola Panamericana de Arte e Design, lembra que, antes de os estúdios de design se consolidarem em São Paulo, os profissionais que trabalhavam nas agências de publicidade eram os responsáveis por fazerem anúncios e marcas para empresas. “Isso começa nos anos 1960. Depois, quando entra em 1970 e meados de 1980, é que começamos a ver profissionais que faziam design gráfico e produto abrindo escritórios próprios”, fala Alex.

O escritório Cauduro Martino Arquitetos Associados desenvolveu a comunicação visual e o mobiliário urbano da Avenida Paulista, implantados em 1973. Com formação em Arquitetura pela FAU/USP, a dupla desenvolveu totens na vertical para inserir informações sobre as vias e pensou em mobiliários (abrigos para pedestres, lixeiras e bancos) de forma que fossem coerentes. O projeto está documentado no livro “Design Total”, de Celso Longo, publicado pela Cosac Naify.

Foto: Av. Paulista © imagem do acervo do

escritório Cauduro Martino

Como as primeiras escolas de design se estabeleceram no Sudeste, foi inevitável que a região ganhasse relevância nacional na área. No entanto, essa situação só se tornou realidade porque havia um quadro favorável para que tanto o ensino quanto o mercado de design despontassem. “O desenvolvimento do design no Sudeste estava amparado pelo desenvolvimento econômico e político da região. Até os anos 1960 a capital federal era o Rio de Janeiro, e a capital financeira era, e de certa forma ainda é, São Paulo. O crescimento acontecia mesmo antes de surgirem cursos de design”, explica o designer gráfico Bruno Porto, que é membro do conselho consultivo da ADG Brasil e da ADEGRAF.

Foto: Divulgação/Carol Gay

Rafic Farah é arquiteto e designer, reconhecido por ter feito cartazes e móveis memoráveis. Uma de suas últimas obras é o Banco Osso, que emprega tecnologia naval em sua produção. Feito em parceria com Otávio Coelho, o móvel venceu a categoria de mobiliários do Prêmio Design do Museu da Casa Brasileira, em 2013.

Foto: Divulgação/Movelaria Boá

O paulistano Alexandre Herchcovitch é um dos maiores estilistas do país. A cada temporada, seus trabalhos impressionam quando desfilam na São Paulo Fashion Week. Na edição Verão 2015, a inspiração do estilista foi Marylin Monroe.

Foto: Divulgação/Alexandre Herchcovitch

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21VINTE E UM

Essa trajetória é semelhante à formação do Oz Design. Os ex-estudantes de Arquitetura da FAU/USP Ronald Kapaz, Giovanni Vannuchi e André Poppovic inauguraram o estúdio na capital paulista em 1979 e, desde então, atuam fortemente no meio corporativo, com um trabalho que expressa a importância do design para o empresariado paulista e nacional. Pioneiro, o estúdio se consolidou na multidisciplinaridade de trabalhos.

“Em São Paulo existe um grande público comprador de design. Também é onde estão as principais agências e escritórios, além da força do empresariado”, comenta Bruno Porto. O panorama justifica a existência de estúdios na capital, que, embora mais recentes do que o Oz, também atendem às necessidades do mercado corporativo, como Questto Nó, Casa Rex e Pande Design. Este último, que foca principalmente em estratégia de marca, tem a particularidade de seu CEO Fernando Faria ter se afastado do mercado financeiro para se colocar à frente de uma agência ligada à economia criativa, inserindo um pilar que demonstra o interesse e a visão estratégica ligados aos negócios.

Segundo Gian Rocchiccioli, CSO da Pande, os investimentos em design estratégico aumentam consideravelmente nos últimos

anos, o que consolida o Estado como um dos principais polos de soluções estratégicas em design do país. “A alta concentração de empresas multinacionais, que já possuem a cultura da inovação e do design em suas corporações, são um importante fator”, analisa. “Porém, acredito que o principal é que a criatividade, ou a capacidade de inovar de forma significativa, se consolidou como determinante da vantagem competitiva das empresas”, completa.

Já para estúdios de outras localidades que querem alçar voos maiores e trabalhar com grandes companhias, São Paulo é o ponto de chegada. Após ganharem reconhecimento onde se originaram, escritórios como Tátil, do Rio de Janeiro, e GAD’, de Porto Alegre, firmaram-se na capital paulista para prospectar novos desafios e clientes.

Fotos: Cortesia do Theatro Municipal

de São Paulo e Estúdio Campana.

Fotografia por Fernando Laszlo

Fernando e Humberto Campana estão entre os designers mais aclamados da atualidade. A dupla foi pioneira no uso de material sustentável para a composição de móveis. Além de produto, os designers são famosos pelos trabalhos em design de interiores. Um bom exemplo é a decoração criada para o Teatro Municipal de São Paulo.

Rubem Martins foi um dos pioneiros do design gráfico brasileiro. Ao lado, trabalhos de design desenvolvidos para a marca Bozzano nos anos 1960.

Fotos: Acervo Pessoal Fernanda Martins

“Aruanda”, o carro-conceito desenhado nos anos 1960 por Ari Rocha, foi premiado mundialmente e reconhecido por grandes nomes do design mundial como os italianos Pininfarina e Mario Fissore.

Foto: Divulgação Ari Rocha

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22VINTE E DOIS

MANTENDO O DESIGN RELEVANTEA capital paulista também serviu de palco para que uma geração de designers e artistas gráficos criasse peças com certa autoralidade.

Rafic Farah, Rico Lins, Kiko Farkas e Guto Lacaz representam bem esses designers que, além do circuito comercial, ficaram conhecidos pelos trabalhos desenvolvidos para organizações ligadas ao meio cultural.

O cenário de design de produto no Brasil é bem representado pelos paulistas Fernando e Humberto Campana (conhecidos como os Irmãos Campana), que têm móveis assinados por reconhecidas marcas italianas e brasileiras. O trabalho da dupla possui uma ligação forte com a sustentabilidade, assim como os projetos de Marcelo Rosenbaum,

que passeia entre o design de móveis e interiores traduzindo a essência do Brasil. Nomes como o de Rosenbaum e do designer argentino Christian Ullmann representam uma geração de designers paulistas que pensam em design sustentável, elaborando projetos em regiões do norte do Brasil.

Pelo design editorial paulista passaram João Baptista da Costa Aguiar, capista da Companhia das Letras, e Moema Cavalcanti, que foi diretora de arte da Editora Abril. Hoje, na cidade, estão sediadas editoras como Blucher, Senac e Cosac Naify, que contribuem para a criação de uma bibliografia nacional voltada a artes e design. Rafic Farah lembra da Cosac Naify principalmente por “pegar literatura e fazer daquilo um objeto”.

Por conta disso, Farah cita Elaine Ramos, diretora de arte da Cosac Naify, como expoente do design contemporâneo de São Paulo. Ela participou da organização do livro “Linha do Tempo do Design Gráficono Brasil”, que traz uma

Abaixo, imagens de poltronas feitas com materiais recicláveis desenhadas pelo designer argentino radicado em São Paulo Christian Ullmann, um dos principais nomes do design brasileiro ligados ao design sustentável.

Fotos: Divulgação Salão Satéllite 2010,

collezione ARTESANIA

Produtos desenhados pela Pande Design, um dos principais nomes do cenário nacional ligado ao design estratégico.

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Acima, imagem da exposição de cartazes do designer gráfico Kiko Farkas.

Foto: Divulgação Cosac Naify

“A criatividade, ou a capacidade de inovar de forma significativa, se consolidou como determinante da vantagem

competitiva das empresas”

Gian Rocchiccioli, CSO da Pande

Livro “Design + Artesanato. O Caminho Brasileiro”, lançado em 2011 pela jornalista e curadora Adélia Borges.

Fotos: Divulgação

Adélia Borges

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23VINTE E TRÊS

ampla pesquisa histórica sobre design gráfico nacional, ao lado de Chico Homem de Melo, que, assim como a jornalista e curadora Adélia Borges e Ethel Leon, são importantes para a criação de uma literatura brasileira sobre design. Esses profissionais deixam um legado de pesquisa e visão aprofundada sobre o design gráfico e de produto brasileiro.

Outro fator que ajudou São Paulo a manter certa supremacia foi servir de sede para associações de design que se instalaram na cidade antes de estabelecerem braços regionais. “A associação é o elo entre o mercado consumidor e os profissionais”, afirma Alex Lipszyc, que participa do conselho deliberativo da Associação Brasileira de Design de Interiores (ABD). Para ele, uma associação tem um papel enorme para ajudar o mercado a se fortalecer.

A Associação de Designers Gráficos do Brasil, fundada em 1989, em São Paulo, ajuda a dar visibilidade ao mercado, divulgando eventos como AGI Open e Túnel do Tempo do Design Gráfico. Além dessa entidade, Auresnedes Pires destaca a importância, para o setor de embalagem, de contar com a Associação Brasileira de Embalagem (ABRE) sediada em São Paulo, além de publicações do segmento, como a “Embanews” e a “EmbalagemMarca”, que têm suas redações na capital.

Linha de embalagens desenhadas para a Natura, assinada pelo escritório paulistano Questto Nó.

Fotos: Divulgação Questto Nó

O designer paulista Marcelo Rosenbaum é um dos grandes nomes do design brasileiro reconhecido mundialmente. Em seu trabalho sempre são apresentados fortes elementos da cultura brasileira. Ele também desenvolve projetos de design sustentável com comunidades do norte do Brasil.

Fotos: Divulgação Marcelo Rosenbaum

Capas de livro desenhadas para a editora Cosac Naify, autoria da designer Elaine Ramos.

Fotos: Divulgação Cosac Naify

Exposição “Heróis marginais”, do designer gráfico carioca Rico Lins. Rico é reconhecido mundialmente por seus cartazes e capas de livros e revistas.

Fotos: Divulgação Estúdio Rico Lins

Um dos grandes nomes do design gráfico brasileiro ligado à tipografia e caligrafia é o uruguaio radicado em São Paulo Eduardo Bacigalupo. Trabalho caligráfico criado por Bacigalupo.

Fotos: Divulgação Eduardo Bacigalupo

Alexandre Wollner é um ícone da história do design brasileiro. Depois de seu retorno da Escola de Ulm (Alemanha) nos anos 1960, ele foi o responsável pela abertura do curso de Desenho Industrial na ESDI/RJ. Acima, logo desenhado por Wollner para o Banco Itaú.

Fotos: Divulgação Alexandre Wollner

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24VINTE E QUATRO

DESIGN COM SOTAQUE CARIOCASe São Paulo está para o setor empresarial, então o Rio de Janeiro está para a área cultural. O cunho cultural, principalmente da capital carioca, fortaleceu-se com a editora Civilização Brasileira e as capas feitas por Eugênio Hirsch. Além disso, também foram fundamentais as inovações gráficas produzidas pela revista “Senhor”, que contou com os nomes dos designers gráficos Bea Feitler e Carlos Scliar na equipe, e do primor das capas de LPs produzidas por Cesar Gomes Villela para a gravadora Elenco. No mesmo período, em torno de 1960 e 1970, atuavam ainda na capital carioca os arquitetos Sérgio Rodrigues e Oscar Niemeyer, que se destacaram, inclusive, no design de mobiliário.

Segundo Bruno Porto, dentro de uma região, você tem questões de design bastante locais. “O Rio de Janeiro tem um viés cultural e turístico que permite uma série

de desenvolvimento de design, ou de um tipo específico de design”, defende. Essa atmosfera impulsionou a criação de escritórios voltados para atender ao mercado cultural. É o caso de Tecnopop, idealizado por Marcelo Pereira e André Stolarski, e Jair de Souza Design, ambos voltados ao branding cultural. Um dos nomes mais representativos desta geração é Felipe Taborda, que participou do boom do cenário musical carioca ao criar capas de LPs e CDs para diversas bandas dos anos 1980, como Barão Vermelho e, mais tarde, Cazuza. Essas obras mostraram a cara do design brasileiro ao cenário internacional.

Apesar da essência cultural, existem também escritórios preparados para atender à área

corporativa. Alguns desses representantes são Bold, Oestudio, Crama e Tátil. Cofundador e diretor de Criação deste último, Fred Gelli comenta que em sua equipe há profissionais formados pela Esdi, que trazem no currículo a cultura mais estruturada da instituição e mostram como esta mantém sua relevância na formação de profissionais. “A Tátil tem influência desse lado mais formal do design carioca, mas também do próprio ambiente”, explica Gelli.

A Oficina Ethos, de Rodrigo Calixto e Guilherme Sass, está localizada no Rio de Janeiro, de onde produzem todas as suas peças, o que gera uma característica artesanal para o processo. Na parceria com a FARM, foram reaproveitados os resíduos de tecidos da marca de roupas.

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Situado no Rio de Janeiro, o escritório Índio da Costa é famoso por ter realizado projetos inovadores em design de produto. Entre eles, a Linha Lucca de metais sanitários, que inovou na estética colorida e no material de produção, muito mais leve.

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25VINTE E CINCO

Já o cenário contemporâneo apresenta nomes como Studio Zanini, Bernardo Senna e Guto Índio da Costa, que são reconhecidos pela força de seu trabalho em design de produto. Ainda no Rio de Janeiro, existe um forte espaço para trabalhos bastante autorais, como Oficina Ethos, de Rodrigo Calixto. Ele viu na autoralidade uma forma de sobreviver no mercado. “Esse caminho significa fazer processos de investigação, estudar formas de processo e se permitir criar peças únicas”, fala Rodrigo.

O Rio de Janeiro é palco, hoje, de algumas ações bastante interessantes para promover o cenário criativo. Para o designer da Ethos, muitas iniciativas culturais acontecem depois de um período de desleixo com a cidade. Uma delas é a recuperação de áreas históricas, como o Porto Maravilha, onde se instalaram agências. Outra

iniciativa é o Centro Carioca de Design (CCD), que visa estabelecer o design como um assunto de importância nas discussões sobre a cidade e a evolução urbana. Os projetos que participam da agenda do local são definidos por meio do edital Pro Design, que é de âmbito nacional. Quem vence o edital recebe a verba para montar a exposição, seminário ou workshop. “Gostamos de ter um conteúdo bastante autônomo, porque isso dá insumos para a reflexão sobre as relações do design com a questão urbana”, justifica a coordenadora Paula de Oliveira Camargo.

O CCD divide espaço com o Studio-X Rio, um laboratório de pensamento. Por isso, a gestão da galeria é compartilhada entre as duas entidades, alternando a

elaboração de exposições. Durante a semana Design Rio, que acontece de 5 a 9 de novembro, entrará em cartaz uma exposição sobre o trabalho do designer carioca André Stolarski, um dos mais importantes nomes do design brasileiro, que faleceu em 2013.

Localizado em um prédio histórico da região central do Rio de Janeiro, o Centro Carioca de Design foi inaugurado em 2010 com a ideia de promover debates sobre design e a cidade. O local abriga workshops, oficinas e exposições realizadas a partir do Edital Pró-Design. Em 2014, o Centro recebeu a Bienal Tipos Latinos.

Foto: Divulgação

A agência carioca Tátil, que possui filial em São Paulo, atua fazendo trabalhos de identidade visual e embalagem. Para a marca para as Olimpíadas de 2016, a equipe de 100 profissionais teve de traduzir o Rio de Janeiro.

Foto: Divulgação/Tátil Design de Ideias

Desenho de cédulas para a Casa da Moeda Brasileira, prêmio vencido nos anos 1960 pelo mais importante nome do design brasileiro, o pernambucano Aloisio Magalhães.

Foto: Divulgação

Detalhe do cartaz do design gráfico carioca Felipe Taborda. Felipe é também um dos nomes mais representativos do design gráfico brasileiro.

Fotos: Cartaz de

Divulgação

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26VINTE E SEIS

PROFISSIONAIS RELEVANTESÉ inegável que o Sudeste foi a região pioneira no mercado criativo, especialmente no que se trata de design. Mas, para que isso se tornasse realidade e um alto patamar de desenvolvimento fosse alcançado, inúmeros profissionais e escritórios dos mais variados segmentos colaboraram e tiveram grande importância. Mesmo que apenas alguns nomes tenham sido citados nesta matéria, há diversos outros profissionais, com grande relevância, que foram essenciais para que a reputação do design da Região Sudeste fosse determinada. Ainda hoje, nesses quatro estados, existem muitos designers preparados para fazer jus ao legado e gerar obras que continuem a servir de inspiração e influência para outras localidades.

HOLOFOTES EM MINAS GERAIS E ESPÍRITO SANTOO jeitinho mineiro também possui seu diferencial no design. Entre os nomes de destaque estão Dijon Moraes, designer e teórico; Ronaldo Fraga, designer de moda; e Gustavo Greco, que atua com design gráfico. “Temos excelentes profissionais de design, inclusive exportados para outros estados e países. Embora o mercado seja menor, com clientes menos internacionalizados, o design está cada vez mais sendo valorizado”, reflete Gustavo, ganhador de importantes prêmios nacionais e internacionais ligados ao design, como o Leão de Ouro no Festival de Cannes em 2012. Já Ronaldo Fraga, que mantém um ateliê em sua cidade natal, comenta que se mudar para o eixo Rio-São Paulo foi requisito em outros tempos, pré-internet e globalização: “Hoje é mais uma opção de vida, não é necessário”.

A movimentação artística e cultural de Minas Gerais tem grande peso em Belo Horizonte, Circuito Cultural da Praça da Liberdade, que transformou prédios da região em redutos culturais e artísticos, somado ao lançamento do Prêmio Sebrae Minas Design, que chega à sua quarta edição. São ações de promoção para trabalhos criativos da região.

Já em território capixaba, terra do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, conhecido pela sua Cadeira Paulistano, é possível citar ações relevantes ligadas à Universidade Federal do Espírito Santo, como o projeto de sinalização de alguns campi da instituição. Associado ao Laboratório de Design – História e Tipografia, do curso de Desenho Industrial, a iniciativa reuniu um grupo de alunos para a elaboração e aplicação de uma família tipográfica open source.

De Minas Gerais, o Greco Design é reconhecido pelos trabalhos na área de design gráfico. À frente do estúdio está Gustavo Greco, que já participou como jurado de Design na premiação Cannes Lions. Criada para divulgar os trabalhos da agência, a publicação “O que as Vandas Não Contam” foi selecionada para entrar no anuário da D&AD.

Créditos: Divulgação/Greco Design

O designer gráfico Vicente Pessôa é o responsável pelo cartaz vencedor do Concurso do Cartaz, também promovido pelo Museu da Casa Brasileira, de São Paulo. Trabalha no estúdio Fronte, situado em Belo Horizonte, projetando marcas, livros e sites.

Créditos: Divulgação/Vicente Pessôa

Ronaldo Fraga é um renomado estilista nascido em Belo Horizonte, onde mantém seu ateliê. Para ele, o misto de província e metrópole de sua cidade natal é fundamental para suas criações. Temas brasileiros são recorrentes em seu trabalho, como esta coleção inspirada em Cândido Portinari.

Créditos: Divulgação/Ronaldo Fraga

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festim

MACABRO