1
20 Valores NAS ÚLTIMAS DUAS DÉCADAS, ASSISTIU-SE EM PORTUGAL A UMA EXPLOSÃO DO USO DA TATUAGEM E DO PIERCING, SOBRETUDO ENTRE A POPULAÇÃO MAIS JOVEM. ADORNAR O CORPO COM IMAGENS À FLOR DA PELE OU COM JOALHARIA NAS MAIS DIVERSAS PARTES DA EPIDERME TORNOU-SE COMUM. NO ENTANTO, AQUELES QUE OPTAM POR TRANS- FORMAR O CORPO NUMA OBRA DE ARTE VIVA CONTINUAM A SER UMA MINORIA E SÃO MUITAS VEZES OLHADOS COM SUSPEITA. ESTILO DE VIDA. PROFESSOR DO ISCTE LANÇA TESE DE DOUTORAMENTO SOBRE TATUAGEM E BODYPIERCING Andreia Arenga [email protected] Uma aliança no dedo anelar da mão es- querda conta a história de um grande amor, o símbolo dos Biohazard desenhado nas costas reaviva as emoções transmitidas pela música e um planeta Terra rodeado de palavras trans- mite uma mensagem de paz ao mundo. Mas os piercings foram, de facto, os primeiros actos de rebeldia do Filipe, mais conhecido por Fifas, quando ainda tinha 17 anos. Depois, o gosto foi-se apurando e hoje são marcas que têm um significado especial para o estudante de Enge- nharia Informática do ISEL. «Na altura quando comecei a fazer, vou ser sincero: uma parte era a rebeldia, outra era pela curiosidade. Isto quando fiz os primeiros. Acho que não pensei muito no que iriam significar no futuro. Depois disso foi uma questão estética. Gostei e quis fazer mais. A partir daí desenvolvi o gosto e pus alargadores nas orelhas. Agora significam bastante», conta. ‘DIZ-ME COM QUEM ANDAS, DIR-TE-EI QUEM ÉS’ Não é fácil traçar um perfil do tatuado. Uns seguem os amigos e fazem-no para experi- mentar, outros porque encontram nessas práticas uma forma de expressarem a sua in- dividualidade. «O que existe são lógicas dife- rentes de apropriação. Existe uma lógica mais experimentalista, do consumo mais imediato, mais de tendência, de moda. E quem utiliza a tatuagem enquanto projecto de corpo. São pessoas que fazem do corpo uma obra de arte. Aí sim, há uma afirmação identitária muito forte e estamos a falar de pessoas que estão de alguma maneira em círculos de relações mais conotados com circuitos alternativos ou subculturais, com zonas do gosto musical que não é mainstream.» Foi um pouco assim também que o Fifas co- meçou por entrar no mundo da tatuagem e do bodypiercing. Era um adolescente ainda, tinha muitos amigos, borbulhavam novas ideias e a música era um meio privilegiado para conhe- cer diferentes estilos de vida. «Acho que está tudo um bocado incutido. Na altura eu tinha essa liberdade e saía com muita gente, muitas ideias, e lá está, muita liberdade. Decidi tatu- ar-me. Adorava (como ainda hoje) uma banda de hardcore, os Biohazard, e tatuei o símbolo nas costas», relembra o jovem. ARTE MARGINAL Apesar de hoje ser comum vermos corpos decorados passearem-se pelas ruas, estes estilos de vida continuam a ser minoritários quando comparados com a grande maioria 'Corpos sob suspeitA' PUBLICIDADE 123RF G

Reportagem tatuagens 1

Embed Size (px)

DESCRIPTION

ARTE MARGINAL Apesar de hoje ser comum vermos corpos decorados passearem-se pelas ruas, estes estilos de vida continuam a ser minoritários quando comparados com a grande maioria G ‘DIZ-ME COM QUEM ANDAS, DIR-TE-EI QUEM ÉS’ Não é fácil traçar um perfil do tatuado. Uns seguem os amigos e fazem-no para experi- mentar, outros porque encontram nessas práticas uma forma de expressarem a sua in- Andreia Arenga [email protected] 123RF PUBLICIDADE

Citation preview

20 Valores

NAS ÚLTIMAS DUAS DÉCADAS, ASSISTIU-SE EM PORTUGAL A UMA EXPLOSÃO DO USO DA TATUAGEM E DO PIERCING, SOBRETUDO ENTRE A POPULAÇÃO MAIS JOVEM. ADORNAR O CORPO COM IMAGENS À FLOR DA PELE OU COM JOALHARIA NAS MAIS DIVERSAS PARTES DA EPIDERME TORNOU-SE COMUM. NO ENTANTO, AQUELES QUE OPTAM POR TRANS-FORMAR O CORPO NUMA OBRA DE ARTE VIVA CONTINUAM A SER UMA MINORIA E SÃO MUITAS VEZES OLHADOS COM SUSPEITA.

ESTILO DE VIDA. PROFESSOR DO ISCTE LANÇA TESE DE DOUTORAMENTO SOBRE TATUAGEM E BODYPIERCING

Andreia [email protected]

Uma aliança no dedo anelar da mão es-querda conta a história de um grande amor, o símbolo dos Biohazard desenhado nas costas reaviva as emoções transmitidas pela música e um planeta Terra rodeado de palavras trans-mite uma mensagem de paz ao mundo. Mas os piercings foram, de facto, os primeiros actos de rebeldia do Filipe, mais conhecido por Fifas, quando ainda tinha 17 anos. Depois, o gosto foi-se apurando e hoje são marcas que têm um signifi cado especial para o estudante de Enge-nharia Informática do ISEL. «Na altura quando comecei a fazer, vou ser sincero: uma parte era a rebeldia, outra era pela curiosidade. Isto quando fi z os primeiros. Acho que não pensei muito no que iriam signifi car no futuro. Depois disso foi uma questão estética. Gostei e quis fazer mais. A partir daí desenvolvi o gosto e pus alargadores nas orelhas. Agora signifi cam bastante», conta.

‘DIZ-ME COM QUEM ANDAS, DIR-TE-EI QUEM ÉS’ Não é fácil traçar um perfi l do tatuado. Uns

seguem os amigos e fazem-no para experi-mentar, outros porque encontram nessas práticas uma forma de expressarem a sua in-

dividualidade. «O que existe são lógicas dife-rentes de apropriação. Existe uma lógica mais experimentalista, do consumo mais imediato, mais de tendência, de moda. E quem utiliza a tatuagem enquanto projecto de corpo. São pessoas que fazem do corpo uma obra de arte. Aí sim, há uma afi rmação identitária muito forte e estamos a falar de pessoas que estão de alguma maneira em círculos de relações mais conotados com circuitos alternativos ou subculturais, com zonas do gosto musical que não é mainstream.»

Foi um pouco assim também que o Fifas co-meçou por entrar no mundo da tatuagem e do bodypiercing. Era um adolescente ainda, tinha muitos amigos, borbulhavam novas ideias e a música era um meio privilegiado para conhe-cer diferentes estilos de vida. «Acho que está tudo um bocado incutido. Na altura eu tinha essa liberdade e saía com muita gente, muitas ideias, e lá está, muita liberdade. Decidi tatu-ar-me. Adorava (como ainda hoje) uma banda de hardcore, os Biohazard, e tatuei o símbolo nas costas», relembra o jovem.

ARTE MARGINAL Apesar de hoje ser comum vermos corpos

decorados passearem-se pelas ruas, estes estilos de vida continuam a ser minoritários quando comparados com a grande maioria

'Corpos sob suspeitA'

PUBLICIDADE

123R

F

G