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Cultura, velhice e Representações sociais : um estudo comparado entre as cidades de Nürnberg e Montes Claros Marina da Cruz Silva Orientadora: Alda Britto da Motta

Representações Sociais Nünrberg e Montes Claros

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Este artigo discute as representações sociais da velhice numa perspectiva transcultural, a partir da realidade de um pais desenvolvido e outro em fase de desenvolvimento.

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Velhice, cultura e (in)segurana social: um estudo comparado entre as cidades de Nrnberg e Montes Claros

Cultura, velhice e Representaes sociais :um estudo comparado entre as cidades de Nrnberg e Montes ClarosMarina da Cruz SilvaOrientadora: Alda Britto da Motta

INTRODUOPoucos estudos acerca das representaes sociais da velhice a partir dos prprios sujeitos que envelhecem numa perspectiva transcultural.

As representaes sociais da velhice constituem-se em ideias e/ou imaginaes metafricas, as quais so transmitidas seja atravs de formas, informaes ou opinies, em determinado tempo e cultura, relacionando-se, em grande parte, com todas as esferas da vida humana (KAISER, 2007, p.85-86).

O conceito de cultura que eu defendo essencialmente semitico. Acreditando, como Max Weber, que o homem um animal amarrado a teias de significado que ele mesmo teceu, assumo a cultura como estas teias e sua anlise, portanto, no como uma cincia experimental em busca de leis, mas como uma cincia interpretativa, procura do significado (GEERTZ, 1978, p.15) (grifos meus).

- As dimenses estrutural e a subjetiva podem contribuir para responder as possveis Influncias do ambiente cultural e da condio de vida no que concerne experincia da velhice e do envelhecer.

- A categoria condio de vida serve para descrever, explicar, medir e analisar as implicaes entre as condies materiais e imateriais de vida entre diferentes grupos de pessoas (NAEGELE, 1998; BACKES & CLEMENS, 2002).

A interao entre as circunstncias externas, isto , as condies sociais objetivas e as circunstncias internas: subjetividade, percepo e reao: fundamentais para o processo de construo social e representao social da vida numa perspectiva transcultural.

Analisar as representaes sociais da velhice a partir dos prprios sujeitos idosos numa perspectiva transcultural: Nrnberg e Montes Claros.

Em que medida aspectos de ordem social, econmica, subjetiva e cultural exercem influncia valorativa na dinmica das representaes sociais acerca da velhice na Alemanha e no Brasil, especificamente, nas cidades de mdio porte, Nrnberg e Montes Claros?

OBJETIVO E PROBLEMTICA

-Estudo quantitativo e qualitativo.

- Comparao das condies de vida da pessoa idosa na Alemanha e no Brasil com base em 7 dimenses: (Die sieben Dimensionen der Lebenslage im Alter) (NAEGELE, 1998; BACKES & CLEMENS, 2002). 1.Renda e bens2. Moradia3. Sociabilidades4.Experincias e aprendizados formais e informais 5.Participao poltica 6. Condies de sade 7. Solidariedade privada

PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

- Coleta de dados qualitativos

- Casos tpicos (LAMNEK 2007)

Tcnica: Entrevista semiestruturada com 60 pessoas acima de 60 anos, sendo 30 em cada cidade.

1) Representao social da velhice: conceito, identificao ou no com essa fase da vida, relatos de mudanas ocorridas, palavra que mais representa ou sintetiza a velhice; 2) 7 dimenses da condio de vida na velhice

- Os participantes da pesquisa : grupos de convivncia, universidades aberta terceira idade, igrejas e demais formas de sociabilidades.

PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

- Anlise de contedo qualitativa: atrelada estrutura e ao significado do texto.

- Trs fases: transcrio, leitura para tratamento do material coletado e a categorizao (MAYRING 1994, 2007).

- Winmax 97

ANLISE DOS DADOS QUALITATIVOS

NRNBERG

Expectativa de vida feminina = 80,8 anos Expectativa de vida masculina = 75,4 anos (2003)

IDH ALTO

Percentagem de pessoas com 60 anos e mais no ano de 2010: 20,6% (AMT FR STADTFORSCHUNG UND STATISTIK 2011).

MONTES CLAROSExpectativa de vida feminina = 78 anosExpectativa de vida masculina = 71,5 anos (2003)

IDH MDIO

Percentagem de pessoas com 60 anos: + 10%(IBGE, 2011).

SexoNrnberg

Montes Claros

Feminino 77,07 anos76,85 anosMasculino 72,28 anos72,92 anos

Mdia de idade dos entrevistados

Estado Civil Entrevistados Nrnberg

Estado Civil Entrevistados Montes ClarosNvel de EscolaridadeEscolaridade FemininoMasculino Sem escolaridade formal, mas alfabetizado 12Ensino Fundamental53Ensino Mdio55Terceiro grau 4 (1 livre-docncia)5 (1 com doutorado e outro com livre-docnciaNrnbergEscolaridade FemininoMasculino No alfabetizado2Ensino fundamental incompleto25Ensino Fundamental22Ensino Mdio54Terceiro grau 4 (1 livre-docncia)3 (1 com doutorado)Montes Claros Fonte: coleta direta, 2008-2011

Ser velha? Hum, como acabei de falar, tornar-se madura, mais relaxada e branda. Entender melhor as pessoas, mas tambm ter diversas deficincias fsicas, do aqui, di ali, do o joelho. Isso tambm faz parte da velhice (MAA, 81 anos, linhas 34-38).

Ganhar experincia com todos os desafios e problemas da vida e considerar essa transio biolgica inerente a todo o ser humano (HBN, 69 anos, linhas 15-17).

A gente no sente o passar dos anos. O tornar-se velho pra mim algo/a gente no tem por onde fugir, aquilo acontece. Eu acho que um orgulho do velho tornar-se velho com sade, porque deve ser muito triste, um velho tornar-se velho dependente dos outros (MBI, 68 anos, linhas 90-94).

VELHICE: CONCEITOS, SIGNIFICADOS E REPRESENTAES

Ser velho para mim um fardo. Ser velho ou tornar-se velho s e bom, quando a gente tem sade, mas a maioria doente, a maioria. Eu tenho diabetes mellitus e por causa dela, ultimamente, enxergo mal. Eu escuto muito mal [...] Tudo muito afetado, e, portanto, a velhice no boa, mas um fardo. Ela s uma graa quando se saudvel e um fardo pesado, quando se est doente, ento, a velhice no boa (HAD, 80 anos, linhas 24-33).

Envelhecer , como eu disse, diminuir os interesses. No poder mais, tanto fisicamente como mentalmente, fazer muitas coisas. Isso envelhecer para mim, mas acima de tudo, sentir subjetivamente: eu estou ficando velho.(HAH, 78 anos, linhas 29-32).

VELHICE: CONCEITOS, SIGNIFICADOS E REPRESENTAES

Ah, eu acho que depende.. Tornar-se velho? Eu no consigo imaginar assim o que significa isso. a pessoa deixar a vida social, deixar a vida sexual, vida familiar, deixar assim... Encostar-se ao canto, a pessoa ficar meio parada. Agora, a gente tem que lutar pra ter uma vida normal, continuar vivendo normalmente, sem deixar que a velhice tome conta (MBL, 74 anos, linhas 112-117).

Ter mais tempo livre. Viver sem presso. Fazer aquilo que d vontade, apesar da gente sentir falta da presso no incio. (MAL, 67 anos, linhas 22-24).

VELHICE: CONCEITOS, SIGNIFICADOS E REPRESENTAES

Envelhecer para mim significa, enquanto eu estiver com sade e ter minha mente funcionando, ento, est tudo em ordem para mim. Sim, enquanto eu puder fazer algo, eu mesma. Assim, quando a gente no precisa de ningum, ento, a velhice boa. A gente no precisa mais de tanta coisa. (MAI, 85 anos, linhas 128-133).

Basta olhar para o rosto, que d para ver que muita coisa mudou. Alm disso, a gente se torna mais lenta e no consegue mais memorizar as coisas como antes (MBK, 62 anos, linhas 92-98).

Envelhecer a passagem do trabalho para a aposentadoria, ou como disse, quando no se faz mais muita coisa. , em geral, um certa fase de descanso. A gente pode dividir o trabalho da forma que a gente quiser (HAA, 87 anos, linhas 23-24).

VELHICE: CONCEITOS, SIGNIFICADOS E REPRESENTAES

- Preocupao com as mudanas do corpo foi mais recorrente entre as brasileiras entrevistadas.

- Para os entrevistados em NBG, aspectos como: tempo livre, individualidade e independncia apareceram de forma mais recorrente. - Menor aceitao da velhice por parte das mulheres da classe mdia e mdia alta da cidade de Montes Claros, as quais acreditam que h frmulas e maneiras de driblar a velhice.

- Entre as mulheres da classe popular, entrevistadas em Montes Claros, houve uma aceitao menos conflituosa dessa fase da vida, reconhecendo-se tanto os aspectos positivos como negativos, ressaltando ser um privilgio chegar at essa fase da vida.

- Entre as entrevistadas de Nrnberg apenas duas, uma de 95 anos e a outra de 85, fizeram meno ao declnio do corpo, de uma forma descontrada e sem maiores problemas, se comparada com as brasileiras entrevistadas.

DISCUSSO

DISCUSSO

- Os brasileiros quase no mencionam o termo aposentadoria.

- Os alemes fazem maiores consideraes a esse processo, enfatizando tambm as possibilidades em se desfrutar de maior tempo livre nessa fase da vida.

- Para os brasileiros, os aspectos mais recorrentes foram: tempo livre, mudanas biolgicas e condio de sade. Em suma, notou-se que quando os/as entrevistados/as descreviam a prpria velhice, fizeram-no de forma mais positiva, em detrimento da conceituao mais geral dessa fase da vida.

CONSIDERAES FINAIS

- Em linhas gerais, os depoimentos dos entrevistados demonstram que a velhice no est isenta dos valores culturais presentes em determinada sociedade.

- Esses valores interferem na maneira em que a pessoa idosa vivencia o envelhecimento, e, consequentemente na autoimagem que a mesma desenvolve acerca da prpria velhice e da velhice em geral.

- Logo, est mais presente no imaginrio social brasileiro a preocupao com o corpo do que na sociedade alem, cujo iderio da independncia e individualidade mais forte, sendo notria a maior conotao que essas ltimas do aos aspectos cognitivos em geral, enquanto as brasileiras acabam por associar a velhice mais ao desgaste fsico e s limitaes biolgicas em geral.

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