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REPRESENTANTE COMERCIAL ORIGEM: A figura do representante comercial surgiu recentemente como categoria jurídica própria, no direito moderno. A atividade de mediação entre contratantes era tradicionalmente desempenhada pelos corretores, ou pelos mandatários e comissários, como auxiliares independentes do comércio. Quando as empresas tomaram maior vulto, com a expansão dos mercados e melhores vias e meios de comunicação, intensificou-se novo estilo de atividade mediadora, através dos caixeiros-viajantes, comumente conhecidos, no interior do Brasil, como cometas. Em decorrência de sua inusitada atividade, sobretudo em nosso país, logo ocuparam eles o lugar dos mascates, comerciantes ambulantes, que supriam diretamente os habitantes da hinterlândia. Com o surgimento das indústrias, o comércio prosperou e novos processos de intermediação se desenvolveram para atender à sempre crescente expansão do mercado interno. E assim, a mediação se impôs como atividade auxiliar e independente das empresas industriais e atacadistas, que se valiam dela para atingir, mais funcional e economicamente, a clientela disseminada por toda a parte. Destaca-se agora com nitidez o perfil do representante comercial. O direito não pode mais desconhecer a representação comercial como contrato típico, distinto da corretagem, do mandato ou da locação de serviços. CONCEITO: Em virtude da nova modalidade de contrato, o de representação comercial, a atividade se prestigia e se profissionaliza.

Representante Comercial

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REPRESENTANTE COMERCIAL

ORIGEM:

A figura do representante comercial surgiurecentemente como categoria jurídica própria, no direito moderno. Aatividade de mediação entre contratantes era tradicionalmentedesempenhada pelos corretores, ou pelos mandatários e comissários, comoauxiliares independentes do comércio. Quando as empresas tomaram maiorvulto, com a expansão dos mercados e melhores vias e meios decomunicação, intensificou-se novo estilo de atividade mediadora, atravésdos caixeiros-viajantes, comumente conhecidos, no interior do Brasil,como cometas. Em decorrência de sua inusitada atividade, sobretudo emnosso país, logo ocuparam eles o lugar dos mascates, comerciantesambulantes, que supriam diretamente os habitantes da hinterlândia.

Com o surgimento das indústrias, o comércio prosperoue novos processos de intermediação se desenvolveram para atender àsempre crescente expansão do mercado interno. E assim, a mediação seimpôs como atividade auxiliar e independente das empresas industriais eatacadistas, que se valiam dela para atingir, mais funcional eeconomicamente, a clientela disseminada por toda a parte. Destaca-seagora com nitidez o perfil do representante comercial. O direito não podemais desconhecer a representação comercial como contrato típico, distintoda corretagem, do mandato ou da locação de serviços.

CONCEITO:

Em virtude da nova modalidade de contrato, o derepresentação comercial, a atividade se prestigia e se profissionaliza.

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Criam os representantes comerciais consciência de classe. Formam os seussindicatos e se reúnem em congressos. o direito positivo passa a considerá-los na legislação moderna, atendendo aos seus clamores e reinvindicações.Julio von Gierke saúda como fato “fato glorioso” haver o Código alemão aeles dedicado um capítulo inteiro. Vivante, no começo do século, vaicolher subsídios jurídicos nas entidades de classe e em seus congressos,que prepararam vários projetos de legislação, “os quais tomamos emconsideração”.

Hoje, os países mais adiantados inserem no corpo desuas leis a disciplina jurídica do contrato de representação comercial e aregulação das atividades de seus agentes. Aliás, nosso país foi dos últimosa legislar sobre a matéria, em 1.965, quando surgiu a Lei nº4.886, que“regula as atividades dos representantes comerciais autônomos”,alteradapela Lei nº 8.240, de 8 de maio de 1992.

NATUREZA JURÍDICA:

A lei brasileira conceituou a representação comercial,no art.1º, dispondo que “exerce a representação comercial autônoma apessoa jurídica ou a pessoa física, sem relação de emprego, quedesempenha, em caráter não-eventual, por conta de uma ou mais pessoas, amediação para a realização de negócios mercantis, agenciando propostasou pedidos, para transmiti-los aos representados, praticando ou não atosrelacionados com a execução dos negócios”.

O contrato de representação comercial é,a nosso ver,uma representação típica. Pode tal contrato conter o mandato, mas comeste não se confunde; não é comissão mercantil; não é simples locação deserviços, pois, nele, não se remunera o trabalho do agente, mas o resultadoútil dele decorrente.

Não é mandato, com efeito, pois este constitui, segundoa doutrina, uma relação interna entre mandante e mandatário, sendoprojetado no mundo exterior pela representação, que com ele foiconjugado no direito brasileiro.

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A representação comercial deriva do instituto geral darepresentação nos negócios jurídicos, pela qual uma pessoa age em lugar eno interesse de outra, sem ser atingida pelo ato que pratica. Orepresentante comercial é,assim, um colaborador jurídico, que, através damediação, leva as partes a entabular e concluir negócios.

Não é, também, locação de serviços, pois, comoensinam Planiol e outros autores, o contrato de locação de serviçosobjetiva levar o locador a realizar, sob a dependência do locatário, serviçosmateriais, sendo remunerado em atenção à força do trabalho despendida. Ocontrato de representação comercial situa-se no plano da colaboração narealização de negócio jurídico, acarretando remuneração de conformidadecom o seu resultado útil.

Consideramos, por isso, o contrato de representaçãocomercial uma criação moderna do direito, pertencente ao grupo doschamados contratos de mediação, destinado a auxiliar o tráfico mercantil.

NATUREZA MERCANTIL DA ATIVIDADE:

Indaga-se:é o representante comercial um comerciante,ou sua atividade é de natureza civil?

Visto sob o perfil do comerciante, o representantecomercial gozaria de certas vantagens e regalias conferidas pelas leiscomerciais, tais como, a renovação do contrato de locação comercial para aproteção da clientela (art.51,par.4º, da Lei nº8.245, de 18/10/1991), aconcordata etc. Teria, porém, tratamento tributário mais severo e onerosoque a legislação fiscal, sobretudo a do imposto de renda, reservada asempresas comerciais.

Temos sustentado que o representante comercial écomerciante. Opomo-nos à posição doutrinária adotada por JuntasComerciais que negam o arquivamento de declaração de firmasindividuais, ou dos atos constitutivos de sociedades, cujo objetosimplesmente é a representação comercial, porque as consideram denatureza civil.

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Essa corrente de opinião, aliás muito difundida, formou-se, evidentemente, graças a um equívoco de apreciação de certosprincípios comercialistas. Sustentam seus seguidores que, não exercendo orepresentante comercial a sua mercancia no próprio nome, não poderia,portanto, ser qualificado como comerciante. Desempenharia simplesatividade de mediação não-comerciale, consequentemente, civil. Asociedade que se formasse com esse objeto seria irretorquivelmente umasociedade civil, cujo registro próprio caberia ao Registro Civil e não aoRegistro do Comércio, a cargo das Juntas Comerciais.

A ênfase que essa corrente atribui à condição doexercício em nome próprio, do ato de comércio, para caracterizar acomercialidade, está longe de ser fundamental na teoria do direitocomercial brasileiro. O Código de 1.850 indicou os elementoscaracterizados do perfil do comerciante, no art.4º, dizendo que “ninguém éreputado comerciante para efeito de gozar da proteção do que esse Códigoliberaliza em favor do comércio, sem que se tenha matriculado em algumdos Tribunais do Comércio do Império, e faça da mercancia profissãohabitual”.

Na doutrina tradicional do direito brasileiro, sobretudotomando-se como ponto alto a obra de J.X.Carvalho de Mendonça, oexercício do comércio no próprio nome, como condição e requisito decomercialidade, não é relevante.É a corretagem ou mediação que constituio ato de comércio.

TIPOS DE ATIVIDADE:

Sob o aspecto profissional, com repercussõesconsideráveis no estudo jurídico da figura do representante comercial, nãopodemos deixar de considerar dois tipos de exercício da representaçãocomercial: um tipo, mais rudimentar, no qual a atividade se apresentaatravés do vendedor autônomo, sem uma organização a sustentar-lhe odesenvolvimento; outro, no qual a atividade é realizada sob a formaempresarial, que se assenta numa organização complexa de bens, destinadaà produção de serviços e circulação de mercadorias.

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Em um e em outro caso vislumbramos no representantecomercial, seja agindo rudimentarmente ou com uma organização em seuprol, um comerciante. Pouco importa que sua atividade repousepreponderadamente na sua capacidade individual de trabalho, pois,malgrado essa atividade seja também pessoal, não desclassifica, comovimos, a comercialidade da mediação. O representante comercialautônomo, sem uma organização, agindo em estilo artesanal, com base emseu trabalho pessoal, seria apenas um pequeno comerciante ou pequenoempresário, no sentido do Decreto-lei nº 486, de 1969, e de seuRegulamento (Dec.nº64.567) (vide nº83 supra). Com muito mais forterazão, todavia, a comercialidade se acentua na hipótese de a representaçãocomercial ser exercida através de uma empresa, seja individual ou coletiva,esta sob a forma de sociedade que,assim, assumirá a feição indeclinável desociedade mercantil.

REMUNERAÇÃO (COMISSÃO):

A remuneração do representante comercial, cujopagamento é obrigação da empresa representada, chama-se comissão, e égeralmente calculada em termos de percentagem sobre o valor do negóciopor ele agenciado. Não havendo ajuste expresso da comissão, esta seráfixada pelos usos do lugar onde se cumprir o contrato de representação,aplicando-se por analogia o art.154 do Código Comercial. A comissão nãoconstitui retribuição pelo trabalho prestado, mas contraprestação resultanteda utilidade que decorre da mediação efetuada. Assim, se da mediaçãonenhum resultado econômico resulta para o representado, a comissão não édevida.

Disso decorre que o direito do representante comercial àcomissão só se efetiva, a não ser que haja cláusula contratual expressa emoutro sentido, com a conclusão do negócio agenciado, isto é, com arealização e execução do contrato entre o representante e o terceiro, com opagamento do respectivo preço. Se o cliente não cumpre a obrigação dopagamento, tornando-se insolvente, o representante comercial não temdireito ao recebimento de sua comissão, pois não ocorreu o resultado útil,econômico, de sua mediação.

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A Lei nº 4.886,de 9 de dezembro de 1.965, modificadapela Lei nº8.420, de 8 de maio de 1.992, dispõe o art.32 que orepresentante comercial adquire o direito as comissões quando dopagamento dos pedidos ou propostas, ou, na mensagem mais técnica daredação original do artigo, logo que o comprador efetue o respectivopagamento ou o faça parceladamente. Essa é a regra geral, mas o art.27,f,permite que o contrato estipule a retribuição e a época do pagamento,dependente da efetiva realização dos negócios e recebimento, ou não, pelorepresentado, dos valores respectivos. Essa liberdade de estipulação doprazo de pagamento das comissões foi limitada pelo art.32,par.1º, com anova redação da Lei nº8.420/92, que estabelece até o dia quinze do mêssubsequente ao da liquidação da fatura, sob pena de corrigirmonetariamente o valor das comissões não pagas (art.32,par.2º).

Os vários dispositivos da lei não se ajustamperfeitamente. Se a comissão é devida tão logo o comprador efetue opagamento do preço, que lhe compete, não caberia ao representanteaguardar, até o dia quinze do mês seguinte, a conta da comissão (art.32).Mas como a atividade do representante é sucessiva, permanente, contínua,o crédito de suas comissões antes do dia quinze do subsequente ao daliquidação da fatura. Mas não há mais a faculdade de estabelecer prazosmaiores que o referido para o pagamento da conta de comissões.

RESCISÃO DE CONTRATO:INDENIZAÇÃO E AVISO PRÉVIO.

O contrato de representação comercial pode serrescindido por motivos justos, pelo representado. A legitimidade de seuato afasta qualquer dever de indenizar. Constituem motivos justos para arescisão pelo representado a desídia do representante, a prática de atosque importem descrédito comercial daquele, a falta de cumprimento dequalquer obrigação, a condenação efetiva por crime contra o patrimônio eforça maior (Lei nº4.886/65,art.35).

Caso porém, a rescisão se faça sem justo motivo, ouseja denunciada pelo representado sem qualquer ato imputável aorepresentante, terá este direito a uma indenização legal e aviso previo.Além disso, pode o representante denunciar por sua vez o contrato, e

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reclamar a indenização quando o representado praticar um dos atosenumerados no art.36 da Lei: redução de esfera de atividade dorepresentante; a quebra, direta ou indireta, da exclusividade prevista nocontrato; a fixação abusiva de preços em relação à zona do representante,com o exclusivo escopo de impossibilitar-lhe ação regular; o não-pagamento de sua retribuição na época devida, além da ocorrência de forçamaior. Neste último caso, não caberá indenização.

O cálculo da indenização é tarifado, tendo sido fixadopela Lei nº8.420/92, na nova redação do art.27,j,em 1/12 do total daretribuição auferida pelo representante comercial durante o tempo em queexerceu a representação, independentemente de ser escrito ou não ocontrato, ou ser omisso quanto à indenização.

A lei nº 8.420/92 supriu séria omissão da redaçãoprimitiva da Lei nº4.886, ao dispor qeo o contrato a prazo certo, seofendido pelo representado, ensejará uma indenização que “corresponderáà importância equivalente a média mensal da retribuição auferida até a datada rescisão, multiplicada pela metade dos meses resultantes do prazocontratual”.

Ainda há mais: o representante comercial, além daindenização, no caso de ruptura injusta do contrato, faz jus a aviso prévio.O aviso prévio, em toda a extensão, está regulado no art.34 da Lei.

A lei determina a organização dos Conselhos nacionalee regional, para organização da classe. Os conselhos regionais efetuam oregistro profissional do representante comercial e zelam pelo respeito àérica, já tendo sido elaborado um “Código de ética e disciplina”,que,quando infringido, acarreta penas impostas pelo Conselho Regional.

PERGUNTAS:

O Representante Comercial autônomo pode ser enquadrado comomicroempresa?

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R.: O representante comercial autônomo que exerce exclusivamente amediação para a realização de negócios mercantis, nos termos do art.1º daLei4.886/65, terá seus rendimentos tributados na pessoa física, quandopraticada por conta de terceiros. É irrelevante, para fins de imposto derenda, a existência de registro, como firma individual, na Junta Comercialque se enquadre nessas condições não pode apresentar declaração derendimentos como microempresa. Assim, os rendimentos serão tributadosna pessoa física (ADN nr.25/89). Alerte-se que, no caso de o representantecomercial executar os negócios mercantis por conta própria, adquire acondição de comerciante, independentemente de qualquer requisito formal,ocorrendo neste caso, para efeitos tributários, equiparação da empresaindividual a pessoa jurídica, por força do disposto ba alínea b do parágrafo1º do art.127 do RIR/94, sendo seus rendimentos tributados nessacondição.

O Profissional autônomo que paga a outros profissionais por serviçosrealizados é considerado empresa individual?

R.: Quanto a prestação efetuada por mais de um profissional, em ummesmo serviço, sob a responsabilidade de um só, cumpre destacar duashipóteses:a- se a prestação de serviços colegiada é feita apenas eventualmente, semcaráter de habitualidade, tal fato não caracteriza sociedade e o profissionalresponsável pelo trabalho deve computar em seu rendimento bruto mensalo valor total dos honorários recebidos.b- se a prestação de serviços colegiada for sistemática, habitual, sempresob a responsabilidade do mesmo profissional, que recebe em nomepróprio o valor total pago pelo cliente e paga os serviços dos demaisprofissionais, estará configurada a condição de empresa individualequiparada a pessoa jurídica, nos termos da alínea “b” do parágrafo 1º doart.127, do Regulamento do Imposto de Renda, por se tratar de venda,habitual e profissionalmente, de serviços próprios e de terceiros, e nãoapenas a prestação pessoal de serviços profissionais a que se refere oparágrafo 2º do mesmo dispositivo legal.

O Profissional autônomo poderá deduzir as despesas com aquisição delivros, jornais, revistas, roupas especiais, etc?

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R.: Sim, caso o profissional exerça funções e atribuições que o obriguem acomprar roupas especiais e publicações necessárias ao desempenho de suasfunções, desde que os gastos estejam escriturados no livro caixa.

Podem ser deduzidas despesas com aluguel, energia, água, gás, taxas,impostos, telefone, telefone celular, condomínio, quando o imóvelutilizado para a atividade profissional é também residência?

R.: Admite-se como dedução a quinta parte dessas despesas, quando nãose possa comprovar quais as oriundas da atividade profissional exercida.Não são dedutíveis os dispêndios com reparos, conservação e recuperaçãodo imóvel quando este for de propriedade do contribuite.

Podem ser deduzidos os gastos com arrendamento mercantil (Leasing)?

R.: Não, por falta de previsão legal.

A contribuição devida ao INSS sobre a remuneração paga ao trabalhadorautônomo pode ser desscontada do RPA?

R.: Não. De acordo com a lei complementar 84, de 18/01/96, o ônus dessacontribuição recai sobre a empresa que efetuou o pagamento, não sendoprevisto qualquer desconto no RPA.