13
·' REPUBLICA DE ANGOLA TRI BUNAL CONSTITUCIONAL ACORDAo N.o 493/2018 PROCESSO N .o 620-B/2017 Recurso Extraordimirio de Inconstitucionalidade Em nome do Povo, acordam, em Conferencia, no Plemirio do Tribunal .", .. Constitucional: I. RELATORIO presente recurso extraordimirio de inconstitucionalidade (REI) do Ac6rdao / proferido pela 1 a See<;:ao da Camara Criminal do Tribunal Supremo, em 16 de Janeiro de 2018, que indeferiu a providencia de habeas corpus, que correu ':J-? termos com n.o 1811 1 7. Em sintese, a Recorrente, que tinha sido detida no dia 29 de Junho de 2017, \};L1vT por suspeita de crime de homicidio voluntario simples, foi acusada pelo Magistrado do Ministerio Publico junto da Sala dos Crimes Comuns, do I - Tribunal Provincial de Benguela, em 25 de Outubro de 2017, da pratica desse . 1

REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL CONSTITUCIONAL1c8fca77-de98-4473-aede-f595a... · REPUBLICA DE ANGOLA . TRIBUNAL CONSTITUCIONAL . ACORDAo . N.o 493/2018 . PROCESSO N .o 620-B/2017

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL CONSTITUCIONAL1c8fca77-de98-4473-aede-f595a... · REPUBLICA DE ANGOLA . TRIBUNAL CONSTITUCIONAL . ACORDAo . N.o 493/2018 . PROCESSO N .o 620-B/2017

·'

REPUBLICA DE ANGOLA

TRIBUNAL CONSTITUCIONAL

ACORDAo N.o 493/2018

PROCESSO N .o 620-B/2017

Recurso Extraordimirio de Inconstitucionalidade

Em nome do Povo, acordam, em Conferencia, no Plemirio do Tribunal .", ~..

Constitucional:

I. RELATORIO

presente recurso extraordimirio de inconstitucionalidade (REI) do Ac6rdao /

proferido pela 1 a See<;:ao da Camara Criminal do Tribunal Supremo, em 16 ~

de Janeiro de 2018, que indeferiu a providencia de habeas corpus, que correu ':J-? termos com n.o 1811 17. c---(~

Em sintese, a Recorrente, que tinha sido detida no dia 29 de Junho de 2017, \};L1vT por suspeita de crime de homicidio voluntario simples, foi acusada pelo h~~") Magistrado do Ministerio Publico junto da Sala dos Crimes Comuns, do I -Tribunal Provincial de Benguela, em 25 de Outubro de 2017, da pratica desse

.

1

Page 2: REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL CONSTITUCIONAL1c8fca77-de98-4473-aede-f595a... · REPUBLICA DE ANGOLA . TRIBUNAL CONSTITUCIONAL . ACORDAo . N.o 493/2018 . PROCESSO N .o 620-B/2017

.f

crime, com a circunstancia agra vante 11. a do artigo 34.° do C6digo Penal,

isto e , 0 facto de 0 crime ter sido cometido " . .. com espera, emboscada, diifarce,

surpresa, traifiio, aleivosia, excesso de poder, abuso de confianfa ou qua/quer outra

fraude" .

A Recorrente mantem-se presa desde a data da sua deten~ao.

Ap6s a notifica~ao da Acusa~ao, que a Recorrente refere ter apenas ocorrido

no dia 24 de Novembro de 2017 (mais de 4 meses ap6s a deten~ao) , a

Recorrente interp6s a providencia de habeas corpus, alegando que, nos termos

da Lei n.o 25/15, de 18 de Setembro, 0 prazo de prisao preventiva ja tinha

sido excedido, uma vez que tinha terminado a 29 de Outubro de 2017 , bern

como 0 facto de a deten~ao ter sido efectuada ilegalmente, ja que nao se

tratou de uma deten~ao em flagrante debto. Porque a entao arguida nao

tinha sido restituida it liberdade, em conformidade com 0 disposto no n.o 1

do artigo 42.° da Lei n.o 25/15, considerou que estavam reunidos o~ G pressupostos para 0 conhecimento da providencia de habeas corpus, uma v/ ~

que: . ~I/ a) A prisao preventiva foi decretada quando, em concreto, senam ,

suficientes ou adequadas quaisquer outras medidas menos gravosas; .~

b) Nao houve fuga ou sequer perigo de fuga; ~

c) Nao havia perigo de perturba~ao da instru~ao do processo ou de (\,~

continua~ao da actividade criminosa ou perturba~ao da ordem ou \)J

tranquilidade publica;

d) A entao Arguida estava detida h a mais de 120 dias sem ter sido

notificada da acusa~ao, 0 que s6 veio a acontecer a 24 de Novembro

de 2017.

o Tribunal Supremo, por sua vez, negou provimento it providencia

requerida, com 0 fundamento de que, no caso concreto , os prazos da prisao

preventiva, a luz da Lei n.o 25/15, estavam a ser respeitados, uma vez que

2

Page 3: REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL CONSTITUCIONAL1c8fca77-de98-4473-aede-f595a... · REPUBLICA DE ANGOLA . TRIBUNAL CONSTITUCIONAL . ACORDAo . N.o 493/2018 . PROCESSO N .o 620-B/2017

.'

ate 16 de Janeiro de 2018, data da prolac;:ao do Ac6rdao, a Recorrente

completava 6 (seis) meses e 8 (oito) dias de prisao preventiva, e a 24 de

Dezembro tinha ja sido notificada da acusac;:ao.

Nao se conformando com a posic;:ao da mais alta instancia de jurisdic;:ao

comum, a Recorrente interpos 0 presente recurso extraordinario de

inconstitucionalidade.

Em Despacho de sustentac;:ao, 0 Tribunal Supremo defendeu a tese de que 0

recurso extraordinario de inconstitucionalidade e inaplicavel as providencias

de habeas corpus, por este expediente se destinar a por cobro as violac;:oes do

direito fundamental da liberdade, sem que as suas decisoes fac;:am caso

julgado, podendo os interessados apresentar tantas providencias quanto

entender conveniente, ao inves de recorrer ao Tribunal Constitucional, que e~

uma instancia essencialmente vocacionada para julgar normas e nao factos. f/

Nas suas alegac;:oes, a Recorrente alega que, com a decisao recorrida, foram~(/ violados os seguintes principios, direitos e garantias fundarnentais: ~:,..

- ".Jt..;-a) Principio da legalidade penal, previsto no artigo 65.° da CRA; ,y

b) Garantias do processo criminal, consagradas no artigo 67.° da CRA; ,.- ..

c) Direito a providencia de habeas corpus, estabelecido no artigo 68.° da ()J~ CRA; ~J"

d) Direito a urn julgamento eelere e justo, previsto no artigo 72.° da / ~ CRA,e ./i

e) Principio da legalidade, previsto nos artigos 174 n.o 2 e 177.° n.o 1 da /'J:I'" CRA. l{j

Alega, ainda, a Recorrente que :

a) A detenc;:ao foi feita por agentes do Servic;:o de Investigac;:ao Criminal,

fora de flagrante delito, e sem que lbe tenha sido exibido urn mandado

de detenc;:ao, 0 que represent a uma violac;:ao dos seus direitos,

liberdades e garantias constitucionais, nomeadarnente os previstos no

3

Page 4: REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL CONSTITUCIONAL1c8fca77-de98-4473-aede-f595a... · REPUBLICA DE ANGOLA . TRIBUNAL CONSTITUCIONAL . ACORDAo . N.o 493/2018 . PROCESSO N .o 620-B/2017

'.

artigo 22.0 (Principio da Universalidade), 36.0 (liberdade fisica e

seguranc;a pessoal) e 64.0 n.o 1 e 2, todos da CRA;

b) A falta de urn mandado de detenc;ao representa tambem uma violac;ao

dos ditames dos n.o 1 e 2 do artigo 33.0, da al. a) do artigo 63.0 e do

artigo 64.0 da CRA, para alem de que, nao se tendo identificado

adequadamente e alegando intenc;oes que se revelaram ser falsas, os

agentes do SIC violaram tambem as disposic;oes da al. b) do artigo 63 .°

daCRA;

c) A detenc;ao foi efectuada depois das 19:00, isto e, depois de 0 sol se

por, pelo que os agentes do SIC violaram tambem as disposic;oes dos

artigos 36.0e 64.0da CRA;

d) No momenta da detenc;ao , a Recorrente nao foi informada sobre os

motivos da mesma e foi-lhe negada 0 acesso a familia e ao adVOgad~OL pelo que tambem foram violadas as disposic;5es do artigo 63 .0 c) e e) /. . U do artigo 64.0 n.o 1 e do artigo 67.0 n.o 1 da CRA;

e) Nenhum dos magistrados que intervieram no processo identificou ou

tentou suprir os inumeros vicios de inconstituciona1idade e ilegalidade

de que padece 0 processo, facto que representa uma violac;ao das

disposic;oes dos artigos 27 .0,29.0, n .o 1, n.o 4 e n .o 5 da CRA (principio

do processo equitativo e da tutela jurisdicional efectiva) , do artigo

67 .0, do artigo 174.0 n.o 2 e do artigo 177 .0 da CRA;

f) 0 processo de habeas corpus foi defeituosamente instruido no Tribunal

Provincial de Benguela, na~ tendo sido juntos quaisquer antecedentes

nem extraidas certidoes da materia de facto a partir das quais se

pudesse constatar os vicios e irregularidades alegadas, 0 que viola as

disposic;oes dos artigos 174.0 e 177.0 da CRA;

g) A ap1icac;ao da medida da prisao preventiva a Recorrente viola aos

principios da igualdade , previsto no artigo 23.0, e 0 da

proporcionalidade e razoabilidade, estabelecido no artigo 57.0, todos

daCRA;

4

Page 5: REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL CONSTITUCIONAL1c8fca77-de98-4473-aede-f595a... · REPUBLICA DE ANGOLA . TRIBUNAL CONSTITUCIONAL . ACORDAo . N.o 493/2018 . PROCESSO N .o 620-B/2017

"

h) Os autos de exame directo efectuados na residencia e aos pertences

pessoais da Recorrente consubstanciam uma viola~ao dos artigos 56.°

n.o2 e 37.° n.o 1 da CRA;

i) A Recorrente foi alvo de urn tratamento degradante quando

pretenderam expor a sua imagem na qualidade de detida pela

televisao.

Por tudo 0 exposto, a Recorrente terminara pedindo ao Tribunal

Constitucional a anula~ao da decisao recorrida e que the seja concedida a

providencia de habeas corpus, com a consequente liberta~ao da Recorrente

mediante termo de identidade e residencia, ate ser proferida decisao

definitiva sobre 0 crime de que vern acusada e pronunciada.

o processo foi avista do Ministerio Publico .

Colhidos os vistos dos Juizes Conselheiros deste Tribunal, cumpre apreciar,

para decidir.

II.COMPETENCIA DO TRIBUNAL

o presente recurso foi interposto nos termos e com os fundamentos das

disposl~5es combinadas da alinea m) do artigo 16.° da Lei n.O 2/08, de 17 de \};~

lunho (Lei Organica do Tribunal Constitucional - LOTC) e da alinea al. a) « do artigo 49.' da Lei 3/08, de 17 de Junho (Lei do Processo Constitucional). ~

m. LEGITIMlDADE ~I D-.. Nos termos da alinea a) do artigo 50.° da Lei n.O 3/08, de 17 de lunho,

(LPC) , tern legitimidade para interpor recurso extraordimirio de

inconstitucionalidade para 0 Tribunal Constitucional as pessoas que, de

acordo com a lei reguladora do processo em que a senten~a foi proferida,

tenham legitimidade para dela interpor recurso ordinario.

A Recorrente foi requerente da providencia de habeas corpus no processo que,

com n.o 184/2017, correu os seus termos na }a Sec~ao da Camara Criminal

5

Page 6: REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL CONSTITUCIONAL1c8fca77-de98-4473-aede-f595a... · REPUBLICA DE ANGOLA . TRIBUNAL CONSTITUCIONAL . ACORDAo . N.o 493/2018 . PROCESSO N .o 620-B/2017

do Tribunal Supremo, tendo, por essa razao , legitimidade para interpor 0

presente recurso.

IV. OBJECTO

o objecto do presente recurso e apreciar se 0 indeferimento do habeas corpus

pelo Ac6rdao proferido pelo Tribunal Supremo, em 16 de Janeiro de 2018,

viola as garantias do processo criminal, consagradas no artigo 67.0, 0 direito

a providencia de habeas corpus, estabelecido no artigo 68.°, 0 direito a urn

julgamento celere e justo, previsto no artigo 72.°, 0 principio da legalidade,

previsto no n.o 2 do artigo 174.° e no n.o 1 do artigo 177.°, todos da CRA, ou

qualquer outra disposi~ao constitucional.

V. APRECIAc;AO

QUESTAO PREVIA

Em despacho de sustenta~ao , defende 0 Relator do processo da providencia

de habeas corpus que correu termos no Tribunal Supremo que 0 recurso

extraordimirio de inconstitucionaIidade e inaplicavel as providencias de

habeas corpus, em virtude de as suas decisoes nao constituirem caso julgado,

podendo 0 preso, perante 0 indeferimento de urn pedido, voltar a apresentar

tantos pedidos da mesma providencia quantos entender, ao inves de recorrer

ao Tribunal Constitucional, que e uma instancia essencialmente vocacionada

a julgar normas e nao factualidades.

Nao podemos acompanhar este entendimento, uma vez que, com 0 recurso

extraordinario de inconstitucionalidade ao Tribunal Constitucional de

Angola, foram reconhecidas competencias que van rna is alem do que outras

jurisdi~5es constitucionais que nos sao pr6ximas, competindo-Ihe, enquanto

tribunal dos direitos humanos, conhecer os recursos de senten~as dos demais

6

Page 7: REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL CONSTITUCIONAL1c8fca77-de98-4473-aede-f595a... · REPUBLICA DE ANGOLA . TRIBUNAL CONSTITUCIONAL . ACORDAo . N.o 493/2018 . PROCESSO N .o 620-B/2017

tribunais que contenham fundamentos que contrariem principios, direitos ,

liberdades e garantias previstos na eRA.

No caso concreto da providencia do habeas corpus, tratando-se de urn

expediente excepcional para proteger principios, direitos , liberdades e

garantias previstas na eRA, e pacifico que a competencia para seu

julgamento e do Tribunal Supremo, que, dentro do sistema de controlo

difuso da constitucionalidade vigente no nosso pais, devera fiscalizar a

observancia das normas constitucionais aplic<iveis.

Este facto nao pode, contudo, restringir 0 direito fundamental de interpor

recurso extraordinario de inconstitucionalidade da decisao contra si ~

proferida, nos termos combinados do no n.D 6 do artigo 67. 0 da eRA e do §

Unico do artigo 49.° da Lei n.O 03/08 , de 17 de Junho, uma vez que, com 0 ~

Acordao proferido pelo Venerando Tribunal Supremo, ficam esgotados os

recursos em tribunais comuns. Sugerir que se interpusessem novas

providencias, para urn mesmo Tribunal, sobre os mesmos factos, nao da

satisfa~ao ao direito de recurso das decisoes desfavoraveis em processo penal. ~

Seria inconstitucional, portanto. E claramente ineficaz, tambem.

APRECIANDO

Nos termos do artigo 68° da eRA, 0 interessado pode requerer, perante 0

tribunal competente, a providencia de habeas corpus em virtude de prisao ou

deten~ao ilegal.

Sao exigidos, cumulativamente, dois requisitos :

1. Abuso de poder, lesivo do direito it liberdade e

2. Deten~ao ou prisao ilegal.

7

Page 8: REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL CONSTITUCIONAL1c8fca77-de98-4473-aede-f595a... · REPUBLICA DE ANGOLA . TRIBUNAL CONSTITUCIONAL . ACORDAo . N.o 493/2018 . PROCESSO N .o 620-B/2017

' .J "

Ora, nos termos do § unico do artigo 3150 do CPP , a ilegalidade da prisao

pode advir de:

a) ter sido efectuada ou orden ada por entidade incompetente;

b) ser motivada por facto pelo qual a lei nao a permite;

c) se manter para alem dos prazos fixados por lei ou decisao judicial;

d) se prolongar para alem do tempo fixado.

Isto e, a interposic;:ao da providencia de habeas corpus so e possivel caso se

verifiquem estes requisitos e so pode ser deferida se se confirmar a existencia

de, pelo menos, algum deles.

Ora, no presente caso e conforme enfatizado pelo douto Acordao do

Venerando Tribunal Supremo: 0 l. A Recorrente foi capturada por agentes da Policia Nacional no dia 29 /" ,

de J unho de 2017 , por indicios suficientes de ter incorrido na prati ~'-do crime de homicidio voluntario simples, p.p. pelo artigo 349.0 do

Codigo Penal. i

2. Foi notificada da acusac;:ao no dia 24 de Novembro, sendo os autos ~ omissos relativamente ao despacho de pronuncia. \iJ~

3. Ate a data da prolac;:ao d~ Acordao, 16 de J~neiro. de 201~ , a . ~"6

Recorrente completava 6 (sels) meses e 18 (dezolto) dlas de pnsao !~/ preventiva, 0 que, atendendo a promoc;:ao do Digno Representante do ' W Ministerio Publico junto do Tribunal Supremo, se considerava

sustentavel, face aos limites impostos pela Lei n.o 25115, de 18 de

Setembro. U 4. Por outro lado, por se tratar de urn crime de sangue, e uma vez que ja

estava acusada, afigurava-se legal a improcedencia do pedido da

providencia de habeas corpus, devendo os julgadores imprimirem maior

celeridade na subsequente tramitac;:ao processual para a realizac;:ao do

julgamento nos termos da lei.

8

Page 9: REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL CONSTITUCIONAL1c8fca77-de98-4473-aede-f595a... · REPUBLICA DE ANGOLA . TRIBUNAL CONSTITUCIONAL . ACORDAo . N.o 493/2018 . PROCESSO N .o 620-B/2017

Neste caso concreto, assiste razao aRecorrente quando diz que 0 Tribunal

Supremo nao se debruc;:ou sobre as quest5es que levantou no seu

requerimento da providencia, 0 que constitui uma omissao de pronuncia.

Nomeadamente, nao se debruc;:ou, sobre a alegada ilegabdade da sua

detenc;:ao, que, ao que tudo indica, foi efectuada fora do flagrante delito

("capturada por agentes da Policia Nacional"), sendo os autos omissos

quanta ao cumprimento das formalidades previstas no artigo 8.0 e seguintes

da Lei n.o 25115, de 18 de Setembro.

E de salientar 0 facto de 0 Tribunal Provincial de Benguela, uma vez posto

perante as irregularidades e vicios alegados no requerimento da providencia

de habeas corpus, nao ter junto aos autos do processo quaisquer informac;:oes e

documentos que permitissem decidir com seguranc;:a sobre 0 merito dessas

alegac;:oes, 0 que s6 por si levantava mais suspeitas sobre 0 procedimento ><; seguido. ~~

Porem, sempre se poden! dizer que a Recorrente tinha a obrigac;:ao de arguir

imediatamente as irregularidades, nos termos do artigo 100. 0 do CPP, mas

compreende-se que 0 nao tenha feito nessa altura, uma vez que tudo indica ,

que s6 a 14 de Novembro de 2017 e que requereu a admissao de advogado.

Sem a assistencia tecnica destes nao teni tido 0 conhecimento necessario para

o fazer.

Entretanto 0 processo seguiu os seus termos e nao se pode confirmar, perante

os elementos disponiveis, que as irregularidades tenham sido expressamente

sanadas, mas e legitimo considerar que tenham sido tacitamente sanadas

com a intervenc;:ao dos Magistrados do Ministerio Publico que decretaram a

prisao preventiva e que, mais tarde, a mantiveram, com a deduc;:ao da

acusac;:ao.

Nao colhe, portanto, a alegac;:ao da ilegalidade da prisao por ter sido

ordenada por quem nao tenha competencia legal para 0 efeito.

9

Page 10: REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL CONSTITUCIONAL1c8fca77-de98-4473-aede-f595a... · REPUBLICA DE ANGOLA . TRIBUNAL CONSTITUCIONAL . ACORDAo . N.o 493/2018 . PROCESSO N .o 620-B/2017

"

Quanto aos factos que serviram de fundamento it prisao, a Recorrente foi

detida e sujeita it medida de coacc;:ao pessoal de prisao preventiva por

suspeita da pratica de crime doloso punivel com pena de prisao superior a 3

(tres) anos.

Ja quanta ao respeito dos prazos fixados pela legislac;:ao aplicavel (Lei n.O

25/15, de 18 de Setembro), a Recorrente refere e 0 Ac6rdao recorrido

confirma, que foi detida a 29 de Junho e s6 a 24 de Novembro de 2017 eque

foi notificada da acusac;:ao. A altura da prolac;:ao do Ac6rdao recorrido, a

instancia competente para 0 julgamento da presente providencia nao tinha

conhecimento da deduc;:ao do despacho de pronuncia. Perante estes factos 0

Tribunal Supremo considerou que os prazos ainda eram sustentaveis.

Os prazos de prisao preventiva estao estabelecidos no art.° 40.0 da Lei 25/15, ~ de 18 de Setembro, que estabelece que esta deva cessar quando "desde 0 seu / j ~ inicio decorrerem:

a) Quatro meses sem acusac;:ao:

b) Seis meses sem pronuncia do arguido:

c) Doze meses sem condenac;ao em primeira instancia.

Os numeros 2 e 3 desta disposic;ao legal estabelecem, ainda, que os prazos

podem ser oficiosamente elevados, por despacho devidamente fundamentado

acrescendo-se dois meses, em casos de especial complexidade.

Se it data da prolac;:ao do Ac6rdao eram ja decorridos 6 (seis) meses e 18

(dezoito) dias, considerando que 0 Tribunal Supremo nao tinha sequer

conhecimento da deduc;:ao da pronuncia, e 0 prazo de quatro meses tinha

terminado a 29 de Outubro de 2017, e 0 de seis meses terminado a 29 de

Dezembro de 2017, 0 Ac6rdao deveria ter feito cessar a prisao preventiva por

ja terem side ultrapassados os prazos estabelecidos na alinea a) e b) do artigo

40.° da Lei n° 25/15, de 18 de Setembro .

10

Page 11: REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL CONSTITUCIONAL1c8fca77-de98-4473-aede-f595a... · REPUBLICA DE ANGOLA . TRIBUNAL CONSTITUCIONAL . ACORDAo . N.o 493/2018 . PROCESSO N .o 620-B/2017

No entanto, 0 Tribunal Supremo, seguindo de perto a promoc;:ao do

Ministerio Publico, considerou que era sustentavel manter-se a prisao

preventiva a luz desta mesma Lei (n.o 25/15, de 18 de Setembro), alegando

apenas que uma vez que se tratava de urn crime de sangue, e a Recorrente ja

ter sido acusada, se afigurava legal a manutenc;:ao da medida de coacc;:ao

pessoal de prisao preventiva.

Ora, estes fundamentos nao podem justificar 0 desrespeito pelos limites

maximos da prisao preventiva. A suspeita da pratica de urn crime violento

nao pode legitimar a violac;:ao de ditames constitucionais, como a da

presunc;:ao da inocencia ate ao transito em julgado da sentenc;:a de

condenac;:ao. /' ,

( )

Entretanto,

pronuncia, facto ocorrido a 4 de Dezembro de 2017. : / ---

Das diligencias efectuadas junto da Sala dos Crimes Comuns do Tribunal \.JJt?\f Provincial de Benguela, roi possivel apurar nos autos que correm termos com ~ o n.o2569/2017, que , em 24 de Outubro de 2017, a Recorrente foi notificada /.\ 'A .

de urn Despacho do Digno representante do Ministerio Publico que prorroga

o prazo da al. a) do n.o 1 do artigo 40.°, da Lei n° 25/15, de 18 de Setembro,

por mais 30 (trinta) dias, com fundamento na " . . . especial complexidade do

processo" .

Embora os fundamentos da prorrogac;:ao dos prazos possam ser discutiveis, 0

certo e que, com a prorrogac;:ao deste prazo, nao sera defensavel a tese da

violac;:ao dos prazos da prisao preventiva.

Finalmente, a Recorrente questiona a proporcionalidade e razoabilidade da

medida imposta, para alem de alegar a inconstitucionalidade do exame

11

Page 12: REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL CONSTITUCIONAL1c8fca77-de98-4473-aede-f595a... · REPUBLICA DE ANGOLA . TRIBUNAL CONSTITUCIONAL . ACORDAo . N.o 493/2018 . PROCESSO N .o 620-B/2017

directo a que foram sujeitos os seus bens pessoais e a sua imagem, quando

pretenderam exp6-la como detida pela televisao.

Ora, neste caso, 0 mecanismo pr6prio para reagu contra estas

inconstitucionalidades nao eeste tipo de providencia.

Aqui chegados, teremos de julgar pel a improcedencia do recurso, par se ter

respeitado 0 prazo previsto na alinea a) do n .o 1 do artigo 40. 0 da Lei n .O

25 11 5, de 18 de Setembro, uma vez que conheceu uma proIToga~ao de 30

dias, dentro do qual foi proferido 0 Despacho de acusa~ao. h DECIDINDO ~ ~ Nestes termos, tudo visto e ponderado, acordam e~ Plemirio, os Juizes ~f-.-A

Conselheiros do Tribunal Constitucional em ~C~ \'4'2. ~'X.rc::,. (\ /'"JY:\.-..

·\'('-J~C9A~c..~ c&o ~r"'~,~ ~~'- \»1\'\ '

iJ= e.u-r \,'-Z<> <¥0 ~\ exco Jh:.P0 <::> ~. - ~ 00 ~ r~ ~Y<:.V ~~ . / ;y-

Sem custas, nos terrnos da segunda parte do artigo 15.Dda Lei n.D 3/08, de

17 de Junho (LPC).

Notifique.

Plemirio do Tribunal Constitucional, em Luanda, aos 01de Agosto de 2018.

12

Page 13: REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL CONSTITUCIONAL1c8fca77-de98-4473-aede-f595a... · REPUBLICA DE ANGOLA . TRIBUNAL CONSTITUCIONAL . ACORDAo . N.o 493/2018 . PROCESSO N .o 620-B/2017

OS ruizES CONSELHEIROS

Dr. Americo Maria de Morais Garcia~~~~iL....C~~t-fLl"II........-~~fALJ:::..!:::1~(;...'--

Dr. Manuel da Costa Aragao (Presidente) --~-----f--+-r----­

Dr. Ant6nio Carlos Pinto Caetano de Sousa----:-~· ..we- ~ Dra. Maria da Conceic;ao de Almeida Sango ~'fE1Jso.~') Ora. Josefa Neto ~ c. w.1-Tc Ora. Julia FerreiraG Je/ .Q.,{ "" b /---<-,

Dr. Raul Carlos Vasques AraUjO~~ Dr. Simao de Sousa Victor c:=::----- ~~ Ora. Teresinha Lopes (Relatora~

13