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RESENHAELEITORAL

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SANTA CATARINA

2011

VOLUME 19

Florianópolis – Santa Catarina

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RESENHA ELEITORALEste periódico é especializado em Direito Eleitoral, contendo doutrina, jurispru-dência, pareceres, comentários e notícias, podendo incluir, igualmente, matérias constitucionais e administrativas.Os conceitos aqui emitidos são de inteira responsabilidade de seus autores, que gozam de ampla liberdade de opinião, crítica e estilo.Tribunal Regional Eleitoral de Santa CatarinaRua Esteves Júnior, 68 - CentroFlorianópolis (SC) - CEP 88015-130Fone (48) 3251-3714 / Fax (48) [email protected]://www.tre-sc.jus.brComissão Editorial Presidente: Des. Sérgio Torres Paladino Coordenação: Clycie Damo Bertoli Ilenia Schaeffer Sell Rodrigo Camargo Piva

Editoração eletrônica: Edmar Sá Hugo Frederico Vieira Neves Revisão: Maria Cecy Ferreira Arrospide

Rafael Bez Claumann Silvana Helena V. Garcia Deitos Assessoria técnica: Augusto Gil Chaves Boal

Imprensa: Elstor Clemente Werle EJESC: Gonsalo André Agostini Ribeiro Suplentes: Jean da Silva Oliveira

Paulo Roberto Miranda dos Santos Renata de Queiroz Pereira

Resenha eleitoral. v. 1, n. 1 (1994) - . Florianópolis: Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, 1994- .

Anual

Continuação de: Resenha eleitoral (1949-1951)

ISSN: 0104-6152

1. Direito Eleitoral - Periódicos. I. Santa Catarina. Tribunal Regional Eleitoral.

CDU 342.8(816.4)(05)

Imagem da capaHASSIS (CORRÊA, Hiedy de Assis), Folclore Ilhéu, 1972. 1 original de arte, têmpe-ra sobre eucatex, 280 cm x 365 cm (3 painéis de 280 cm x 121,5 cm). Coleção: Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina.

Capa Rodrigo Camargo Piva

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TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SANTA CATARINA

PresidenteSérgio Torres Paladino

Vice-Presidente substitutoCorregedor Regional Eleitoral substituto

Luiz Cézar Medeiros

Juízes EfetivosOscar Juvêncio Borges Neto

Julio Guilherme Berezoski SchattschneiderNelson Maia Peixoto

Gerson Cherem II

Juízes SubstitutosVanderlei Romer

Carlos Vicente da Rosa GóesBárbara Lebarbenchon Moura Thomaselli

Ivorí Luis da Silva SchefferLuiz Antônio Zanini FornerolliBrigitte Remor de Souza May

Procurador Regional EleitoralClaudio Dutra Fontella

Procurador Regional Eleitoral SubstitutoAndré Stefani Bertuol

Diretor-GeralSamir Claudino Beber

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SUMÁRIO

COMPOSIÇÃO DO TRESC, 3

APRESENTAÇÃO, 7

ABREVIATURAS E SIGLAS, 9

DOUTRINA, 11

A potencialidade lesiva da conduta ilícita no julgamento da ação de impugnação de mandato eletivo e da ação de investigação judicial eleitoral – MÁRCIO SCHIEFLER FONTES e ALEXANDRE MELCHIOR RODRIGUES FILHO, 13

Competência e prerrogativa de foro em ações de improbidade ad-ministrativa – ARACELI ORSI DOS SANTOS e JULIO GUILHERME MÜLLER, 25

Efeito suspensivo no recurso eleitoral – ALEX DOS SANTOS NETO, 33

Do dever de prestar contas à Justiça Eleitoral: dever partidário fundamental para a democracia plena e transparente – LUCIANO ZAMBROTA, 47

Quitação militar e direitos políticos – FABRÍCIO VEIGA DOS SANTOS, 69

INFORMATIVO JURISPRUDENCIAL, 77

ÍNDICE, 171

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APRESENTAÇÃO

Instituída em dezembro de 1948, sob a Presidência do Des. José Rocha Ferreira Bastos, a RESENHA ELEITORAL teve a sua produção interrompida em 1951. O relançamento se daria somente em setembro de 1994, durante a gestão do Des. Francisco Xavier Medeiros Vieira, acrescendo-se o subtítulo “Nova Série” (volume 1, número 1).

Desde então este periódico é motivo de orgulho para os catarinenses, fi rmando-se como um dos principais repertórios de Direito Eleitoral do país, ciência que vem ganhando maior relevo e importância a cada dia, e cuja dinâmica exige constante atualização e aprimoramento daqueles que nela atuam.

Durante os seus 17 anos de distribuição ininterrupta, a revista teve a honra de contar com a colaboração de renomados juristas, cujos trabalhos, hoje reunidos, constituem um valioso acervo doutrinário e retratam, sem exagero, a evolução da Justiça Eleitoral pátria.

Na presente edição (volume 19), uma importante mudança merece destaque. A fi m de adequar a revista à tecnologia disponível no mer-cado e promover ações no sentido de preservar os recursos naturais e o impacto ambiental das atividades da Justiça Eleitoral, a RESENHA passará a ser publicada, a partir de agora, exclusivamente em formato eletrônico.

Independentemente dos fatores econômicos ou ecológicos, espera-se que a transformação no formato da revista seja igualmente benéfi ca aos seus leitores, na medida em que proporcionará maior agilidade na publicação das matérias, evitando que o lapso temporal entre cada uma das edições impressas resulte na desatualização de seu conteúdo, especialmente dos artigos doutrinários.

Ressalte-se que a Comissão Editorial, a partir do próximo ano, pretende transformá-la em, mais do que uma revista eletrônica, um ver-dadeiro portal de conhecimento, a ser disponibilizado na rede mundial de computadores, com acesso franqueado a todos os interessados. Assim, além das costumeiras matérias hoje publicadas, os recursos tecnológicos a serem empregados permitirão a inclusão de conteúdo multimídia – notícias, entrevistas, vídeos, imagens, áudio –, de forma a torná-la ainda mais interessante.

Pretende-se, com isso, ampliar consideravelmente o número de lei-tores, usuários e colaboradores, sem perder de vista um dos principais

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objetivos estratégicos da Justiça Eleitoral: aprimorar a comunicação com o público externo, disponibilizando, com transparência, informações sobre o seu papel, suas ações e iniciativas.

Finalmente, cumpre renovar o interesse da Comissão em continuar recebendo, para publicação em formato eletrônico, artigos doutrinários sobre matéria eleitoral, constitucional e administrativa, que podem ser encaminhados ao seguinte endereço: [email protected].

Florianópolis, dezembro de 2011.

A Comissão Editorial.

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ABREVIATURAS E SIGLAS

abr. abrilADI ação direta de inconstitucionalidadeAgRg agravo regimentalAI agravo de instrumentoAIJE ação de investigação judicial eleitoralAIME ação de impugnação de mandato eletivoAIRC ação de impugnação de registro de candidaturaart. artigoc/c combinado comCF Constituição FederalCf. conformeCOCIN Coordenadoria de Controle InternoCOSEMI Comissão de Serviço MilitarCP Código PenalCPC Código de Processo CivilCSM Circunscrição de Serviço MilitarDF Distrito FederalDJ Diário da JustiçaDJe Diário da Justiça eletrônicoDJESC Diário da Justiça Eleitoral de Santa Catarinaed. EdiçãoFDCL Faculdade de Direto de Conselheiro Lafaietefl . folhaICMS Imposto sobre Circulação de MercadoriasHC Habeas Corpusjun. junhoLC Lei Complementarmar. marçoMin. Ministro(a)MS mandado de segurançan. númerop/ parapág./p. páginaPet. petiçãopp. páginas

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PREMG Procuradoria Regional Eleitoral de Minas GeraisRcl. ReclamaçãoRel. relator(a)REspe recurso especial eleitoralRes. resoluçãoRO recurso ordinárioSEITEC Sistema Estadual de Incentivo à Culturass. seguintesSTF Supremo Tribunal FederalSTJ Superior Tribunal de Justiçat. tomoTCU Tribunal de Contas da UniãoTRE Tribunal Regional EleitoralTRESC Tribunal Regional Eleitoral de Santa CatarinaTSE Tribunal Superior Eleitoralv. volumev.g. verbi gratiaVPNI Vantagem Pessoal Nominalmente Indentifi cada§ parágrafo§ § parágrafos

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DOUTRINA

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DOUTRINA 13

A POTENCIALIDADE LESIVA DA CONDUTA ILÍCITA NO JULGAMENTO DA AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO

ELETIVO E DA AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL

Márcio Schiefl er Fontes*

Alexandre Melchior Rodrigues Filho**

1 INTRODUÇÃO. 2 AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO (AIME) – CONSIDERAÇÕES GERAIS. 3 AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL (AIJE) – CONSIDERAÇÕES GERAIS. 4 A PO-TENCIALIDADE LESIVA DA CONDUTA ILÍCITA EM SEDE DE AIME E AIJE. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS. 6 REFERÊNCIAS.

1 Introdução

Dentre as poucas ações exclusivas do Direito Eleitoral brasileiro, a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME) e a Ação de Investi-gação Judicial Eleitoral (AIJE)1 apresentam importância marcante.

Afi nal, elas são os instrumentos mais utilizados e mais efi cientes para se obter a declaração de inelegibilidade de candidatos que tenham incorrido na prática de condutas ilícitas e, com isso, cassar-lhes o registro de candidatura ou o diploma.

O presente trabalho tem por escopo estudar uma das considerações que podem ser abordadas tanto em uma ação como em outra, que é a consideração da potencialidade da conduta ilícita em infl uenciar o resultado do pleito.

* Juiz Eleitoral da 42a Zona Eleitoral - Turvo

** Chefe de Cartório da 42a Zona Eleitoral - Turvo1 A Ação de Investigação Judicial Eleitoral é, por vezes, tratada com o nome de

“Representação” pela doutrina e jurisprudência pátrias (DECOMAIN, 2004, p. 172, e Representação STF n. 295986 – Brasília/DF), tendo em vista o teor do art. 22 da LC n. 64/1990, que a previu: Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral, [...] e pedir abertura de investigação judicial [...] (grifos nossos). Preferiu-se, neste trabalho, a nomenclatura “Ação de Investigação Judicial Eleitoral” justamente por servir melhor ao intento de distingui-la de outras representações previstas na legislação eleitoral, como aquela do art. 96 da Lei n. 9.504/1997, bem como para explicitar-lhe o caráter de ação jurisdicional (GOMES, 2008, p. 375-6).

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DOUTRINA14

Nesse sentido, fi nalizada esta breve introdução, far-se-á, nos dois capítulos seguintes, uma abordagem geral sobre cada uma das ações aqui estudadas, começando-se pela AIME.

Em seguida, a análise recairá sobre a questão da potencialidade lesiva da conduta ilícita atribuída ao candidato, para se entender como ela deve ser sopesada em cada uma das ações pesquisadas.

Ao fi nal, será apresentada a conclusão do estudo.

2 Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME): considerações gerais

A Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME) está prevista nos §§ 10 e 11 do art. 14 da Constituição da República. Trata-se, portanto, de uma ação de caráter constitucional-eleitoral (RAMAYANA, 2007, p. 420, e GOMES, 2008, p. 469).

O período em que a AIME pode ser proposta é preciso: quinze dias após a diplomação, a teor do disposto no § 10 do art. 14 do Texto Constitucional.

O objetivo da demanda será sempre a desconstituição do mandato eletivo conquistado com abuso do poder econômico, corrupção ou fraude pelo candidato (GOMES, 2008, p. 469).

Com isso, percebe-se que a Constituição da República, ao prever que a AIME deva ser instruída com provas de abuso de poder eco-nômico, corrupção ou fraude, deixou em aberto esses três conceitos. Coube à doutrina e à jurisprudência delineá-los frente aos princípios do Direito Eleitoral, para extrair deles a melhor interpretação, à vista do grande casuísmo que a técnica utilizada pelo constituinte faz afl orar (COSTA, 2008, p. 408-10; CÂNDIDO, 2008, p. 269, e DECOMAIN, 2004, p. 373).

No entanto, é cediço o entendimento de que a prova do ilícito não precisa ser pré-constituída, bastando um razoável início de provas dos fatos alegados, apto a afastar a eventual arguição de temeridade ou má-fé, prevista no já mencionado § 11 (CÂNDIDO, 2008, p. 270).

Quanto ao procedimento a ser emprestado à AIME, constatada a au-sência de previsão legal expressa, a doutrina sempre sugeriu a utilização daquele aplicado à Ação de Impugnação de Registro de Candidatura (AIRC), previsto entre os arts. 3o e 16 da Lei Complementar (LC) n.

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64/1990, o que acabou sendo admitido pelo Tribunal Superior Eleitoral na Resolução n. 21.634/2004 (CÂNDIDO, 2008, p. 271-2).

A AIME pode ser manejada pelo Ministério Público Eleitoral – que, se não for parte, atuará como fi scal da lei – ou por coligações, partidos políticos e candidatos, prevalecendo esse entendimento na doutrina e jurisprudência (CÂNDIDO, 2008, p. 266-7). Apesar da ausência de res-trições no Texto Constitucional, não se autoriza ao mero eleitor propor a demanda (VELLOSO, AGRA, 2009, p. 274-5).

De outro lado, fi gurará, necessariamente, como réu, o candidato eleito e diplomado. Aqui, obviamente, não há discussão.

No entanto, há posicionamentos divergentes quanto à necessi-dade de formação de litisconsórcio entre o diplomado e seu partido ou coligação, no caso de mandatários proporcionais; entre ele e seu suplente, no caso de senadores; ou entre ele e seu vice, no caso de AIMEs contra os Chefes do Poder Executivo (GOMES, 2008, p. 477-81). Merece prevalecer a tese da desnecessidade apenas na primeira hipótese, conforme argumentação irrepreensível de José Jairo Gomes (2008, p. 480-1).

Por fi m, é importante anotarem-se os efeitos da decisão de proce-dência da AIME.

Nesse sentido, é pacífi co o entendimento de que, acatada a impug-nação, os votos dados ao candidato cassado são anulados (GOMES, 2008, p. 492/7/8). Assim, englobando estes mais da metade dos votos válidos, nova eleição deve ser realizada, por força do disposto no art. 224 do Código Eleitoral. Caso contrário, alça-se o segundo colocado ao cargo.

Com relação ao candidato cassado, há quem diga que este não fi cará marcado pela inelegibilidade como sanção pelo ilícito praticado, restringindo-se a reprimenda à perda do cargo, tendo em vista a falta de previsão expressa no Texto Constitucional (VELLOSO, AGRA, 2009, p. 279-80).

Da mesma forma, há quem defenda a tese contrária, mormente em se tratando daquela hipótese anteriormente aventada, em que mais da metade dos votos são anulados e novas eleições devam ser feitas. Argumenta-se que, nesse caso, o mandatário sacado, se não for de-clarado inelegível, poderá vir a disputar a nova eleição, mesmo tendo dado causa à anulação da disputa original (COSTA, 2008, p. 401-7).

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3 Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE): considerações gerais

A Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) está prevista nos arts. 19 a 24 da LC n. 64/19902. Trata-se de instrumento de cunho estri-tamente eleitoral, criado com a fi nalidade de se levar ao crivo do Poder Judiciário fatos ilícitos não penais (CÂNDIDO, 2008, p. 143).

O objetivo desta ação, segundo José Jairo Gomes (2008, p. 376), não é outro senão o de combater o abuso de poder, entendido de modo genérico. No entanto, ainda de acordo com este autor, tal abuso – seja ele econômico, político ou de autoridade – poderá surgir sob diferentes roupagens (GOMES, 2008, p. 377).

Por isso é que o legislador escolheu o rito da AIJE para processa-rem-se as condutas previstas de modo genérico nos arts. 19, 20 e 21 da LC n. 64/1990, mas também para aquelas indicadas nos arts. 30-A (irregularidades relativas às contas de campanha, mormente aquelas conhecidas como “caixa dois”), 41-A (captação ilícita de sufrágio ou, popularmente, “compra de votos”), 73 (condutas vedadas ao agente público em campanha) e 74 (§ 1o do art. 37 da Constituição da Repú-blica – promoção pessoal em publicidade ofi cial) da Lei n. 9.504/1997 (GOMES, 2008, p. 375-412)3.

Vale dizer, ainda, que qualquer conduta ilícita prevista em lei que possa caracterizar uma forma de abuso deve ser processada pela AIJE (CÂNDIDO, 2008, p. 141-2)4.

O rito a ser seguido na AIJE, diferentemente da AIME, encontra-se explicitado na lei (art. 22 da LC n. 64/1990), o que, entretanto, não afas-

2 Há quem diga não se tratar a AIJE de ação propriamente dita, mas de um instrumento investigatório administrativo (CÂNDIDO, 2008, p. 138 e 139). No entanto, principalmente pelo expressivo teor decisório decorrente dela, a melhor opção é admitir-se a AIJE como uma típica ação de Direito Eleitoral (COSTA, 2008, p. 340-4).

3 José Jairo Gomes (2008, p. 375-412) advoga a tese pela qual cada uma dessas condutas seria objeto de ações diversas. No entanto, o mais correto é se concluir pela existência de apenas uma ação – a AIJE – a ser utilizada na ocorrência das variadas condutas consideradas ilícitas e caracterizadoras de abuso de poder (RAMAYANA, 2007, p. 365).

4 Como exemplo de condutas desse tipo, temos aquelas previstas nos arts. 75, 76 e 77 da Lei n. 9.504/1997.

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tou discussões sobre os atributos desta ação. A despeito da clareza do texto legal, houve embate na doutrina e na jurisprudência, por exemplo, acerca das partes legitimadas a fi gurarem tanto como autores quanto como réus da demanda.

Prevalece, porém, o entendimento de que o Ministério Público Eleitoral e os partidos políticos, coligações e candidatos envolvidos com a eleição são os possíveis autores, devendo, entre os réus, fi gurar necessariamente o candidato que pratica a conduta ilícita ou dela se aproveita, podendo integrar o polo passivo tantos quantos hajam con-corrido para prática irregular (COSTA, 2008, p. 356-65).

Quanto ao momento em que pode ser ajuizada a AIJE, a despeito de isoladas vozes em contrário (VELLOSO, AGRA, 2009, p. 268), o melhor entendimento é aquele segundo o qual ela pode ser promovida a qualquer tempo entre o pedido de registro de candidaturas e a diplo-mação dos eleitos, inclusive relatando fatos ocorridos anteriormente a esse marco inicial5.

Por fi m, questão interessante – similar à enfrentada quando se estuda a AIME – diz respeito às consequências da decisão de proce-dência da AIJE, em especial com relação à sanção a ser aplicada ao candidato-réu6. Isso porque, dependendo da conduta praticada, a lei prevê reprimendas diferentes.

Nesse sentido, julgada procedente a representação com base apenas nas previsões genéricas da LC n. 64/1990 (arts. 19, 20 e 22), autoriza-se a Justiça a decretar a cassação do registro de candidatura e, ainda, a inelegibilidade por três anos, a contar da data da eleição. Por seu turno, as condutas submetidas à AIJE, inscritas na Lei n. 9.504/1997, receberam, como preceito secundário, por vezes, a mera aplicação de multa pecuniária (art. 76), por outras, somente a supressão do registro

5 Isso porque, antes desse momento, não há candidatos e, após, há a AIME, estudada anteriormente (COSTA, 2008, p. 365-70).

6 De qualquer forma, diferentemente da AIME – que sempre será julgada após a diplomação dos eleitos –, a AIJE pode chegar a termo, também, antes desse fato. Na primeira hipótese, aplica-se a regra, já comentada no tópico anterior, prevista no art. 224 do Código Eleitoral. Na segunda, caso se deter-mine a cassação do registro de candidatura, faculta-se ao partido político ou coligação a substituição do candidato, conforme preceitua o art. 13 da Lei n. 9.504/1997

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e do diploma (arts. 30-A, 74, 75 e 77) e, em outros momentos, ainda, a cumulação de ambas as sanções (arts. 41-A e 73)7.

Além disso, tendo em vista o disposto no inciso XV do art. 22 da LC n. 64/1990, há uma importante discussão com relação à necessidade de se intentar uma subsequente AIME, no caso de AIJE julgada proce-dente após o pleito eleitoral, como única forma de se conseguir, além da decretação de inelegibilidade, a cassação do mandato.

Em que pese haja esforçadas manifestações homenageando essa tese (COSTA, 2008, p. 344-348), parece mais adequado seguir a linha traçada por José Jairo Gomes (2008, p. 406), que reconhece que tal entendimento, além de exacerbadamente formalista, frustra o sentido do § 9o do art. 14 da Constituição. Deve-se, portanto, admitir a dispensa de qualquer instrumento após o trânsito em julgado da AIJE para que se alcance a cassação do mandato conferido ao candidato condenado (VELLOSO, AGRA, 2009, p. 271).

4 A potencialidade lesiva da conduta ilícita em sede de AIME e AIJE

Discussão da mais alta relevância no âmbito da AIME e da AIJE diz respeito à necessidade de o juiz, ao constatar a ocorrência de práticas ilícitas levadas ao seu conhecimento por essas ações, sopesar a capa-cidade que tais condutas teriam em infl uenciar o resultado do pleito.

Ao se debruçar sobre esse ponto, o juiz estará analisando, portanto, a potencialidade lesiva da conduta. Nessa ordem de ideias, assim se coloca a questão: não apresentando a conduta o condão de ter infl uen-ciado no resultado extraído das urnas, deve o juiz julgar a demanda procedente? E isso tanto nos autos de uma AIME como nos de uma AIJE?

Na doutrina e na jurisprudência, ao contrário do que muito comu-mente se afi rma, notam-se também – como é comum no emaranhado

7 É necessário, aqui, apontar a volumosa discussão que há com relação à possibilidade de uma conduta prevista em Lei Ordinária ser utilizada como fundamento para a decretação de inelegibilidade em sede de AIJE, a teor do § 9o do art. 14 da CF. Prevalece a tese de que a sanção de inelegibilidade não deve ser aplicada nesses casos, restringindo-se a reprimenda à cassação do registro ou do diploma, argumento utilizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao declarar a constitucionalidade do art. 41-A da Lei n. 9.504/1997 (Cf. Adin STF n. 3.592/2006).

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jurídico que compõe nosso Direito Eleitoral – opiniões das mais variadas sobre esse assunto e julgados nos mais diversos sentidos.

Marcos Ramayana (2007, p. 338), tratando da AIJE, diz que “para a caracterização do abuso de poder econômico ou político, é necessária a prova da potencialidade lesiva [...]. Deve-se provar o comprometimento da lisura das eleições, à luz do contexto probatório coligido”. No entanto, se a AIJE tiver por fundamento o art. 41-A da Lei n. 9.504/1997, ele admite que a potencialidade lesiva não tem relevância, sendo “sufi ciente que o candidato pratique o ato ilícito eleitoral defi nido” (RAMAYANA, 2007, p. 372)8. Com relação à AIME, sustenta o mesmo autor que sem-pre será necessária a análise da potencialidade lesiva, uma vez que o abuso de poder não estaria essencialmente ligado com o viciamento dos votos (RAMAYANA, 2007, p. 438).

Joel Cândido (2008, p. 268) não aborda frontalmente o tema ao estudar a AIJE. No entanto, quando se refere à AIME, é incisivo ao dispor que “além do abuso do poder econômico, corrupção e fraude, a potencialidade desses vícios de terem infl uído no resultado do pleito é requisito a se exigir para eventual procedência da AIME”9.

José Jairo Gomes (2008, p. 376-7), em lições sobre a AIJE, forne-ce um apanhado mais sistemático sobre a questão da potencialidade lesiva (2008, p. 375-467). Para ele, em resumo, a análise da questão nos casos de condutas levadas à Justiça Eleitoral por esse mecanismo apenas deve ser procedida quando das previsões genéricas de abuso de poder (que, segundo ele, constariam dos arts. 1o, I, “d”, 19 e 22, XIV e XV, da LC n. 64/1990).

Com isso, no julgamento de AIJE que tenha por fundamento qual-quer outra previsão normativa (arts. 30-A, 41-A, 73 e seguintes da Lei

8 Para chegar a essa conclusão, o autor sugere que o bem tutelado pelo art. 41-A não é a normalidade das eleições, mas sim a vontade do eleitor. Por fi m, Marcos Ramayana (2007, p. 372-3) lembra que fi cará a critério do juiz ou do tribunal analisar os casos concretos, levando-se em conta a razoabilidade e a proporcionalidade na aplicação da lei e que certas condutas não devem interessar ao Direito Eleitoral. Com relação ao art. 41-A, Adriano Soares da Costa (2008, p. 213), mais direto, comunga da mesma opinião: “já a cassação do registro ou do diploma não está na zona de discricionariedade judicial: ocorrida e comprovada a captação ilícita de sufrágio, além da multa, deve o juiz eleitoral também cassar o registro da candidatura ou o diploma”.

9 O assunto é abordado da mesma forma por Carlos Mário da Silva Velloso e Walber de Moura Agra (2009, p. 276).

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n. 9.504/1997), José Jairo Gomes (2008, p. 376) está a sustentar a desnecessidade de se analisar a infl uência da conduta no resultado do pleito, devendo o juiz, reconhecendo o ilícito, aplicar as sanções previstas10.

Voltando-se à AIME, o mesmo autor não procede a essa diferencia-ção, lecionando que sempre, ao julgá-la, o magistrado deverá atentar para o fato de que “tanto o abuso de poder econômico quanto a corrupção e a fraude devem ter por desiderato a indevida infl uência nas eleições em seus resultados, de sorte a macular a soberania da vontade popular expressa nas urnas” (2008, p. 471). Ao concluir, diz: “por isso, tem-se exigido que os eventos considerados apresentem potencialidade le-siva” (GOMES, 2008, p. 471, grifo do autor).

No seguinte recente acórdão, o Tribunal Superior Eleitoral destacou a necessidade de se analisar a potencialidade lesiva na esfera da AIME, ainda que seja manejada para processar fatos relacionados à captação ilícita de sufrágio (art. 41-A da Lei n. 9.504/1997):

Agravo Regimental. Recurso Especial. Ação de Impugnação de Mandato Eletivo. Captação Ilícita de Sufrágio. Prefeito. Vice-Prefeito. Cassação. Impossibilidade. Ausência de Aferição Quanto à Existência de Poten-cialidade Lesiva.

1. In casu, o acórdão regional julgou procedente a AIME com fundamen-to na prática de captação ilícita de sufrágio sem examinar se houve ou não potencialidade das condutas para afetar o equilíbrio da disputa.

2. Tais circunstâncias se mostram sufi cientes à constatação de ofensa ao art. 14, § 10, da Constituição Federal, pois, na linha da remansosa jurisprudência desta Corte, o bem jurídico tutelado pela via da AIME é a legitimidade das eleições, e não a vontade do eleitor. (RESPE n. 39.974)

Por outro lado, em se tratando de condutas ilícitas julgadas via AIJE, a questão da potencialidade lesiva é considerada, pelo TSE, de acordo justamente com o ilícito verifi cado. Nesse sentido, colhem-se os seguintes precedentes:

10 Para justifi car sua opinião, o autor também faz referência à distinção quanto ao bem jurídico tutelado: tratando-se da normalidade do pleito, faz-se neces-sária a análise da potencialidade lesiva (abusos genéricos); tratando-se da higidez ou regularidade da campanha, dispensa-se tal análise (art. 30-A da Lei n. 9.504/1997), tal qual quando se trata de proteger a vontade do eleitor (art. 41-A da mesma Lei) ou a igualdade no certame (arts. 73 e seguintes dessa Lei) (GOMES, 2008, p. 375-467).

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RECURSO ORDINÁRIO. INVESTIGAÇÃO JUDICIAL. ELEIÇÕES 2006. ABUSO DE PODER. EVENTO ASSISTENCIAL. REALIZAÇÃO. MOMENTO MUITO ANTERIOR AO PERÍODO ELEITORAL. POTEN-CIALIDADE. NÃO CARACTERIZAÇÃO.

1. Conforme pacífi ca jurisprudência do Tribunal, a procedência da investigação judicial, fundada em abuso de poder, exige a demons-tração da potencialidade do ato em infl uir no resultado do pleito. (RO n. 1.411, grifo nosso)

ELEITORAL. REPRESENTAÇÃO: PRÁTICA DE CONDUTA VEDADA PELO ART. 41-A DA LEI N. 9.504/97, ACRESCENTADO PELO ART. 1O DA LEI N. 9.840, DE 28.9.99: COMPRA DE VOTOS.

V - Para a confi guração do ilícito inscrito no art. 41-A da Lei n. 9.504/97, acrescentado pela Lei n. 9.840/99, não é necessária a aferição da potencialidade de o fato desequilibrar a disputa eleitoral. (RESPE n. 21.264, grifo nosso)

AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEI-TORAL. CASSAÇÃO DE REGISTRO DE VICE-PREFEITO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. ERROS MATERIAIS. INOCORRÊNCIA. PRETENSÃO DE REJULGAMENTO DA CAUSA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INVIABILIDADE. DECA-DÊNCIA. CITAÇÃO OCORRIDA ANTES DA DIPLOMAÇÃO. ABUSO DE PODER POLÍTICO. DESVIO DE FINALIDADE E POTENCIALIDADE DEMONSTRADOS. CASSAÇÃO DO REGISTRO. JULGAMENTO DE PROCEDÊNCIA ANTES DA DIPLOMAÇÃO. POSSIBILIDADE.

[...]

4 - Existe presunção de dano à regularidade das eleições relativamente às condutas previstas no art. 73 da Lei n. 9.504/97 [...].

5 - A fi m de se averiguar a potencialidade, verifi ca-se a capacidade de o fato apurado como irregular desequilibrar a igualdade de condições dos candidatos à disputa do pleito, ou seja, de as apontadas irregularidades impulsionarem e emprestarem força desproporcional à candidatura de determinado candidato de maneira ilegítima. (AI n. 12.028, grifo nosso)

É interessante anotar que, por vezes (em especial nos casos dos arts. 30-A e 73 da Lei n. 9.504/1997), a jurisprudência, quando abre mão de considerar potencialidade lesiva da conduta ilícita, adota o critério da proporcionalidade quanto à aplicação de sanções. Nesses termos, temos o seguinte julgado do TSE:

RECURSO ESPECIAL. ELEIÇÕES 2004. REPRESENTAÇÃO. PRO-PAGANDA IRREGULAR. CARACTERIZAÇÃO. REGISTRO. ART. 73 DA LEI N. 9.504/97. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. PRO-VIMENTO NEGADO.

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1. Para imposição das sanções previstas no art. 73 da Lei n. 9.504/97, não se examina a potencialidade ofensiva, basta a simples conduta.

2. De acordo com o princípio da proporcionalidade, a pena deverá ser aplicada na razão direta do ilícito praticado”. (RESPE n. 24.883, grifo nosso)

5 Considerações fi nais

No caso da AIME, verifi ca-se o quase unânime posicionamento dos autores e dos tribunais em se considerar imprescindível a análise, pelo magistrado, da potencialidade lesiva das condutas ilícitas – indepen-dentemente de quais sejam elas.

Como se viu, a Constituição possibilita que a AIME seja fundamen-tada nas previsões amplas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude. Assim, poderá ser levantada frente a qualquer ação praticada por candidatos à qual se atribua uma das características prevista no Texto Constitucional.

De toda forma, não parece mesmo ser caminho adequado restringir a jurisdição eleitoral a, simplesmente, reconhecer determinada conduta genérica como atentatória às normas legais e, com isso, vincular a conclusão a uma reprimenda que, frequentemente, vem a ser nada menos que a cassação do mandato do candidato eleito.

Já no tocante à AIJE, a doutrina e a jurisprudência se dividem com mais clareza, havendo maior ocorrência de argumentos que procuram distinguir os diversos ilícitos apurados por meio desta ação para, só então, concluir se deve ou não o órgão julgador levar em conta a ca-pacidade da conduta praticada de alterar o resultado da eleição.

Assim, é comum deparar-se com textos e decisões que professem a necessidade de se analisar a potencialidade lesiva da liberação de recursos públicos quando proibidos, mas que não admitam tal consi-deração com relação à compra de votos.

Com efeito, para evitar confusões desnecessárias, parece mais acer-tada uma completa desvinculação entre a análise da potencialidade lesiva das condutas eleitorais ilícitas e as ações em que são processadas.

Assim, em vez de preocupar-se o magistrado com o tipo de ação que está julgando, ater-se-ia precipuamente ao ato ilícito supostamente praticado. Afi nal, não parece razoável que determinada ação eleitoral

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– AIJE ou AIME – sirva para processar apenas determinadas condutas, mas não outras, dado que o espírito que norteia as normas eleitorais é outorgar à jurisdição eleitoral a busca da hígida vontade do conjunto dos eleitores.

Vale dizer que para ambas houve uma previsão genérica que, em última análise, pode abarcar qualquer eventualidade tendente a afetar os bens jurídicos protegidos pela norma e homenageados pelos juris-tas: legitimidade do pleito, isonomia entre os concorrentes, vontade do eleitor.

Assim, independentemente de cuidar-se de AIJE ou de AIME, o juiz deve procurar verifi car se a conduta levada ao seu conhecimento está prevista expressamente na lei, seguida de uma sanção específi ca, ou se recai em previsões genéricas.

No segundo caso, o estudo da potencialidade lesiva far-se-á sempre necessário, tendo em vista a amplitude e o casuísmo impregnados na técnica adotada.

No primeiro, no verso considerado, deve o magistrado ater-se à previsão normativa e verifi car a sanção prevista. Não havendo limites para aplicação proporcional de reprimendas à potencialidade lesiva do fato, valerá o brocardo: in clarus non fi t interpretatio.

Portanto, a AIME, calcada na captação ilícita de sufrágio, prescin-dirá da análise da potencialidade lesiva, devendo o magistrado sacar o mandatário do cargo quando provada a alegação de compra de votos.

Por outro lado, a AIJE, fundada numa alegação genérica de abuso do poder político, por exemplo, deverá ser submetida invariavelmente ao estudo da capacidade que tal abuso teve ou teria de infl uir no deslinde da disputa política.

6 Referências

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 25 mar. 2011.______. Lei Complementar n. 64, de 18 de maio de 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp64.htm>. Acesso em: 25 mar. 2011.______. Lei Ordinária n. 9.504, de 30 de setembro de 1997. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9504.htm>. Acesso em: 25 mar. 2011.

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______. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) n. 3592/2006, Brasília, DF, Relator Gilmar Ferreira Mendes.

______. Tribunal Superior Eleitoral. Agravo de Instrumento (AI) n. 12.028, São Miguel do Guamá, PA, Relator Aldir Guimarães Passarinho Júnior. Acórdão publicado no Diário da Justiça Eletrônico, em 17 de maio de 2010. p. 21.

______. Tribunal Superior Eleitoral. Recurso Especial Eleitoral (RESPE) n. 21.264, Macapá, AP, Relator Carlos Mário da Silva Velloso. Acórdão publicado no Diário de Justiça, em 11 de junho de 2004. v. 1, p. 94.

______. Tribunal Superior Eleitoral. Recurso Especial Eleitoral (RESPE) n. 24.883, Campina da Lagoa, PR, Relator Humberto Gomes de Barros. Acórdão publicado no Diário de Justiça, em 9 de junho de 2006. p. 134.

______. Tribunal Superior Eleitoral. Recurso Especial Eleitoral (RESPE) n. 39.974, Saubara, BA, Relator Marcelo Henriques Ribeiro de Oliveira. Acórdão publicado no Diário da Justiça Eletrônico, em 17 de novembro de 2010. t. 220, p. 13 e 14.

______. Tribunal Superior Eleitoral. Recurso Ordinário (RO) n. 1.411, Maca-pá, AP, Relator Carlos Eduardo Caputo Bastos. Acórdão publicado no Diário da Justiça Eletrônico, em 17 de novembro de 2008. t. 149, p. 7 e 8.

______. Tribunal Superior Eleitoral. Representação (RP) n. 295986, Bra-sília, DF, Relator Henrique Neves da Silva. Acórdão publicado no Diário da Justiça Eletrônico, em 17 de novembro de 2010. t. 220, p. 15.

CÂNDIDO, Joel J. Direito Eleitoral Brasileiro. 13. ed. Bauru: Edipro, 2008.

COSTA, Adriano Soares da. Instituições de Direito Eleitoral. 7. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.

DECOMAIN, Pedro Roberto. Elegibilidades e Inelegibilidades. 2. ed. São Paulo: Dialética, 2004.

GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2008.

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 7. ed. Niterói: Impetus, 2007.

VELLOSO, Carlos Mário da Silva; AGRA, Walber de Moura. Elementos de Direito Eleitoral. São Paulo: Saraiva, 2009.

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COMPETÊNCIA E PRERROGATIVA DE FORO EM AÇÕES DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Araceli Orsi dos Santos*

Julio Guilherme Müller**

1 APRESENTAÇÃO DO TEMA. 2 A INSTITUIÇÃO DA PRERROGATIVA DE FORO DOS AGENTES POLÍTICOS EM AÇÕES DE IMPROBIDADE. 3 DA POSSIBILIDADE DE INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA DO TEXTO CONSTITUCIONAL EM MATÉRIA DE COMPETÊNCIA. 4 EXTENSÃO DA COMPETÊNCIA ESPECIAL POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO ESTABELECIDA PARA O PROCESSO PENAL CONDENATÓRIO CONTRA O MESMO DIGNATÁRIO NA AÇÃO CIVIL DE QUE TRATA A LEI N. 8.429/1992. 5 REFERÊNCIAS.

1 Apresentação do tema

Apesar de a Lei n. 8.429/1992 e a Constituição Federal tratarem sobre improbidade administrativa, o ordenamento jurídico carece de uma norma mais expressa sobre a competência para julgar ações que envolvam a referida matéria.

Cuida o presente estudo, então, a respeito da competência jurisdi-cional para o processo e julgamento de ação de improbidade movida contra autoridades que gozam de prerrogativa de foro em processos criminais.

Coloca-se a questão em pauta, lembrando que a simples possibili-dade de imposição das severas sanções prescritas na Lei n. 8.429/1992 – dentre elas, a perda da função pública e/ou a restrição temporária de direitos políticos por até 10 anos – seriam sufi cientes para demonstrar que não se trata de uma ação qualquer, mas de uma ação civil de forte conteúdo penal, com incontestáveis aspectos políticos. É certo, pois, que a condenação proferida na ação civil de que trata o art. 37, § 4o, da Constituição poderá conter, também, efeitos mais gravosos para o equilíbrio jurídico-institucional do que eventual sentença condenatória de caráter criminal.

* Advogada. Especialista em Direito Processual Civil e Administrativo. Integrante do escritório Müller Bertol Advogados.

** Advogado. Mestre em Direito. Integrante do escritório Müller Bertol Advogados.

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Arnoldo Wald e Gilmar Mendes (1998, p. 214), em artigo a respeito da competência para julgar ação de improbidade administrativa, já destacaram que

essa colocação serve pelo menos para alertar-nos sobre a necessida-de de que não se torne pacífi ca a competência dos juízes de primeira instância para processar e julgar, com base na Lei n. 8.429, de 1992, as autoridades que estão submetidas, em matéria penal, à competência originária de Cortes Superiores ou até mesmo do Supremo Tribunal Federal.

2 Instituição da prerrogativa de foro dos agentes políticos em ações de improbidade

A Constituição Federal fi xa a prerrogativa de foro em algumas situa-ções, levando em consideração a relevância da função pública da pessoa a ser investigada ou processada. Trata-se de uma garantia voltada não exatamente para os interesses dos titulares de cargos relevantes, mas, sobretudo, para a própria preservação das instituições em razão das atividades funcionais por eles desempenhadas.

Cabe, aqui, a lição de Hely Lopes Meirelles (2004, p. 78), no sentido de que tais prerrogativas têm por escopo garantir o livre exercício da função do agente político. Em suas palavras:

Realmente, a situação dos que governam e decidem é bem diversa da dos que simplesmente administram e executam encargos técnicos e profi ssionais, sem responsabilidade de decisão e opções políticas. Daí por que os agentes políticos precisam de ampla liberdade funcional e maior resguardo para o desempenho de suas funções. As prerrogativas que se concedem aos agentes políticos não são privilégios pessoais; são garantias necessárias ao pleno exercício de suas altas e complexas funções governamentais e decisórias. Sem essas prerrogativas funcio-nais os agentes políticos fi cariam tolhidos na sua liberdade de opção e decisão, ante o temor de responsabilização pelos padrões comuns da culpa civil e do erro técnico a que fi cam sujeitos os funcionários profi ssionalizados.

Salienta Júlio Fabbrini Mirabete (1997, p. 187), ao comentar a respei-to das hipóteses de prerrogativa de foro estabelecidas pela Constituição de 1988, que há

pessoas que exercem cargos e funções de especial relevância para o Estado e em atenção a eles é necessário que sejam processadas por órgãos superiores, de instância mais elevada. O foro de prerrogativa de função está fundado na utilidade pública, no princípio da ordem e da subordinação e na maior independência dos tribunais superiores.

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O foro especial (BONILHA, 2003, p. 32) não é honraria pessoal nem representa privilégio. É proteção que nasce com o exercício do cargo ou função pelo reconhecimento da elevada hierarquia funcional e dos poderes que emanam de seu exercício, vi-sando à segurança e à isenção na distribuição da justiça. Resguarda-se dessa forma o prestígio das instituições.

Enfi m, a instituição da prerrogativa de foro não traduz favorecimen-to pessoal, pois contempla as exigências de garantia constitucional pertinentes aos cargos e funções ocupados por autoridades nacionais, pela relevância que representam nos Poderes correspondentes e nos escalões hierárquicos, cuja dignidade funcional cumpre resguardar.

3 Da possibilidade de interpretação extensiva do texto constitucio-nal em matéria de competência

A apuração de condutas acoimadas de ímprobas, imputadas às autoridades dotadas de prerrogativa de foro perante as Cortes Supe-riores, há de ser analisada de modo a evitar a interpretação de que as competências constitucionais dos órgãos do Poder Judiciário estariam defi nidas numerus clausus.

A antiga jurisprudência do Supremo Tribunal Federal admite a possi-bilidade de extensão ou ampliação de sua competência expressa quando esta resulte implícita no próprio sistema constitucional. Neste sentido, o precedente lavrado pelo Min. Luiz Gallotti nos autos da Denúncia n. 103, julgada em 5 de setembro de 1951:

CRIME CONTRA A HONRA EM QUE É QUERELANTE UM DESEM-BARGADOR. EXCEÇÃO DA VERDADE. SE O SUPREMO TRIBUNAL É COMPETENTE PARA JULGAR OS CRIMES DE UM DESEMBARGA-DOR E SE, NUM PROCESSO POR ESTE PROVOCADO, É OPOSTA EXCEPTIO VERITATIS EM QUE SE LHE IMPUTA A PRÁTICA DE UM CRIME, SÓ AQUELE TRIBUNAL, COMPETENTE PARA JULGAR O CRIME, PODERÁ JULGAR A EXCEÇÃO, POIS ACOLHER ESTA É DAR PELA EXISTÊNCIA DAQUELE. NO CASO, A LEI ORDINÁRIA (ART. 85 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL) SÓ TORNOU EXPLICITA UMA COMPETÊNCIA QUE NA PRÓPRIA CONSTITUIÇÃO SE COM-PREENDE (ART. 101, I, ‘C’), POIS A COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL É DE ORDEM CONSTITUCIONAL E, EM REGRA, INAM-PLIÁVEL POR LEI ORDINÁRIA, RESSALVADOS APENAS OS CASOS EM QUE AQUELA COMPETÊNCIA RESULTA IMPLÍCITA DO PRÓPRIO SISTEMA DA CONSTITUIÇÃO. POR ISSO, SOMENTE QUANDO NA EXCEÇÃO DA VERDADE SE IMPUTE UM CRIME AO QUERELANTE, SERÁ COMPETENTE O SUPREMO TRIBUNAL.

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Na Reclamação n. 2.138/DF travou-se discussão acerca da compe-tência plena e exclusiva do STF para processar e julgar, nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Es-tado, conforme a hipótese do art. 102, I, “c”, da CF (1988). Do voto do Min. Nelson Jobim, destaca-se:

Não impressiona o argumento concernente à competência estrita ou da inextensibilidade da competência deste Tribunal ou de outros Tribunais Federais para conhecer de determinadas ações.

A interpretação extensiva do texto constitucional, também em matéria de competência, tem sido uma constante na jurisprudência do STF e do judiciário nacional em geral.

[...]

Recentemente, o STF reconheceu a sua competência para processar todo mandado de segurança, qualquer fosse a autoridade coatora, impetrado por quem teve a sua extradição deferida pelo Tribunal.

Há situações em que a interpretação ampliativa das normas consti-tucionais a respeito da competência é uma imposição incontornável do sistema. Em diversas hipóteses o STF adotou a ponderação extensiva ou compreensiva do texto constitucional, v. g.:

a) Mandado de segurança contra ato de comissão parlamentar de inquérito. Precedentes: MS 23.619/DF, Rel. Octavio Gallotti, Plenário, DJ de 7.12.2000; MS 23.851/DF, MS 23.868/DF e MS 23.964/DF, Rel. Celso de Mello, Plenário, DJ de 21.6.2002;b) Habeas corpus contra a Interpol, em face do recebimento de mandado de prisão expedido por magistrado estrangeiro, tendo em vista a com-petência do STF para processar e julgar, originariamente, a extradição solicitada por Estado estrangeiro (art. 102, I, “g”, CF). Precedentes: HC 80.923/SC, Rel. Néri da Silveira, Plenário, DJ de 21.6.2002; HC 82.686/RS, Rel. Sepúlveda Pertence, Plenário, DJ de 28.3.2003; e HC 82.677/PR, por mim relatado, Plenário, DJ de 13.6.2003; c) Mandado de segurança contra atos que tenham relação com o pe-dido de extradição (art. 102, I, “g”, CF). A propósito, Rcl. 2.069/DF, Rel. Carlos Velloso, Plenário, DJ de 1o.8.2003; e Rcl. 2.040/DF, Plenário, DJ de 27.6.2003;d) No julgamento do MS 24.099-AgR/DF, Rel. Maurício Corrêa, Plenário, DJ de 2.8.2002, fi rmou-se o entendimento de que a competência do STF para julgar mandado de segurança contra atos da Mesa da Câmara dos Deputados (art. 102, I, “d”, 2a parte) alcança os atos individuais praticados por parlamentar que profere decisão em nome desta;e) O Tribunal, ao examinar o HC 78.897-QO/RJ, Plenário, em sessão de 9.6.1999, Rel. Nelson Jobim, “entendeu que o STF é competente para

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examinar pedido de habeas corpus contra acórdão do STJ que indeferiu recurso ordinário de habeas corpus. Considerou-se que o STF é a última instância de defesa da liberdade de ir e vir do cidadão, podendo qualquer decisão do STJ, desde que confi gurado o constrangimento ilegal, ser levada ao STF” (Informativo STF 152).1

A doutrina também reconhece que: “É admissível [...] uma com-plementação de competências constitucionais através do manejo de instrumentos metódicos de interpretação (sobretudo de interpretação sistemática ou teleológica)”, cuja adoção pode revelar “duas hipóteses de competências implícitas complementares”: as “enquadráveis no programa normativo-constitucional de uma competência explícita, e justifi cáveis porque não se trata tanto de alargar competências mas de aprofundar competências”; e as “necessárias para preencher lacunas constitucionais patentes através da leitura sistemática e analógica dos preceitos constitucionais”2.

Não há dúvidas, portanto, que os dispositivos da Constituição comportam interpretação ampliativa, para preencher vazios e abarcar certas competências implícitas complementares, desde que essenciais para solucionar lacunas constitucionais mais evidentes, por força da expansão sistemática necessária a dar efetividade às inspirações da Lei Fundamental.

4 Extensão da competência especial por prerrogativa de função estabelecida para o processo penal condenatório contra o mesmo dignatário na ação civil de que trata a Lei n. 8.429/1992

Sob o ponto de vista constitucional, justifi ca-se com sobradas razões a preservação de prerrogativa de foro para a ação de improbidade ad-ministrativa.

1 Retirado do corpo do acórdão proferido nos autos da Pet. 3.825 QO, Relator(a): Min. Sepúlveda Pertence, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgado em 10.10.2007, DJe-060, DIVULG 3.4.2008, PUBLIC 4.4.2008, EMENT VOL-02313-02 PP-00332, RTJ VOL-00204-01 PP-00200.

2 O entendimento foi retirado do corpo do acórdão proferido nos autos da Re-clamação 2.790/STJ o qual baseou seu entendimento na seguinte doutrina: CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional, 5. ed., Coimbra: Almedina, 1992, p. 695). No mesmo sentido, citando, inclusive, inúmeras hipóteses em que o STF adotou, para defi nir competências, “interpretação extensiva ou compreensiva do texto constitucional”: MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Cons-titucional. SP: Saraiva, 2007, p. 906.

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Ao julgar questão de ordem na Petição n. 3.211-0, em 13 de março de 2008, a Suprema Corte declarou que “compete ao Supremo Tribunal Federal julgar ação de improbidade contra seus membros”.

Considerou-se, para tanto, que (STJ, 2010):a prerrogativa de foro decorre diretamente do sistema de competências estabelecido na Constituição, que não se compatibiliza com a possibili-dade de juiz de primeira instância processar e julgar causa promovida contra ministro do Supremo Tribunal Federal, ainda mais se a proce-dência da ação puder acarretar a sanção de perda de cargo.

Nas palavras do Min. Cezar Peluso (STF, 2008):[...] se, pelos mais graves ilícitos da ordem jurídica, que são o crime e o crime de responsabilidade, Ministro do Supremo Tribunal Federal só poderá ser julgado pelos seus pares ou pelo Senado da República, seria absurdo ou o máximo do contra-senso conceber que a ordem jurídica permita que Ministro possa ser julgado por outro órgão em ação diversa, mas entre cujas sanções está também, a perda do cargo. Isto seria a desestruturação de todo o sistema que fundamenta a distribuição da competência, para julgamento dos ilícitos mais graves atribuídos a Ministro da Suprema Corte, entre o Supremo Tribunal Federal e o Senado da República.

Sob esta orientação, o Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o Agra-vo Regimental interposto contra decisão prolatada na Reclamação n. 2.115, considerou que as mesmas razões que levaram o STF a negar competência de juiz de grau inferior para a ação de improbidade contra seus membros autorizam a concluir que também não há competência de primeiro grau para julgar ação semelhante, com possível aplicação da pena de perda do cargo, contra membros de tribunais superiores.

A jurisprudência mais recente da Corte Especial do STJ continua traçando o mesmo caminho no sentido de admitir que autoridades dotadas de prerrogativa de função, quando respondem por crimes comuns, devem submeter-se ao mesmo regime também nas ações de improbidade.

Essa orientação foi sufragada na Reclamação n. 2.790, Relator o Ministro Teori Albino Zavascki, DJe de 4.3.2010, oportunidade em que a tese foi consagrada por unanimidade, registrando que:

[...] norma infraconstitucional não pode atribuir a juiz de primeiro grau o julgamento de ação de improbidade administrativa, com possível aplicação da pena de perda do cargo, contra Governador do Estado, que, a exemplo dos Ministros do STF, também tem assegurado foro por prerrogativa de função, tanto em crimes comuns (perante o STJ),

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quanto em crimes de responsabilidade (perante a respectiva Assembléia Legislativa). É de se reconhecer que, por inafastável simetria com o que ocorre em relação aos crimes comuns (CF, art. 105, I, “a”), há, em casos tais, competência implícita complementar do Superior Tribunal de Justiça.

A doutrina também anota (WALD e MENDES, 1998, p. 215):

[...] afi gura-se difícil, senão impossível, sustentar que as autoridades que gozam de prerrogativa de foro nos crimes comuns e de responsabilidade possam perder o cargo e ter os seus direitos políticos suspensos em decorrência de sentença condenatória proferida por juiz de primeiro grau, mesmo fora do contexto específi co do Direito Penal.

Por imposição lógica de interpretação sistemática, se a Constituição alberga a jurisdição especial como garantia do acusado, estabelecida em função da relevância do seu cargo e no interesse público do seu bom exercício – parece fora de dúvida que (STJ, 2010):

qualquer que seja a gravidade da infração ou a natureza da pena aplicá-vel em caso de condenação penal, não há como deixar de considerá-la ínsita ao sistema punitivo da ação de improbidade, cujas consequências, relativamente ao acusado e ao cargo, são ontologicamente semelhantes e eventualmente até mais gravosas.

É de se reconhecer que, por inafastável simetria com o que ocorre em relação aos crimes comuns, se há prerrogativa de foro para infrações penais que acarretam simples pena de multa pecuniária, não teria sen-tido retirar tal garantia para ações de improbidade que importam, além da multa civil, também a perda da própria função pública e a suspensão dos direitos políticos (WALD e MENDES, 1998, p. 215):

[...] não existe outra solução dentro do sistema senão aquela que consi-dera que serão competentes, por força de compreensão, para processar e julgar a ação, os Tribunais que detêm a competência originária para o processo crime contra a autoridade situada no pólo passivo da ação de improbidade.

5 Referências

BONILHA, Márcio. Prerrogativa de foro. Revista Diálogos e Debates, Escola Paulista da Magistratura, São Paulo, pp. 31-35, mar. 2003.

BRASIL. Petição n. 3.211, QO, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão Min. Menezes Direito, Tribunal Pleno, julgado em 13.3.2008, DJe-117

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DIVULG 26.6.2008 PUBLIC 27.6.2008 EMENT VOL-02325-01 PP-00061 LEXSTF v. 30, n. 357, 2008, p. 148-163.

______. Petição n. 3.825, QO, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Rel. p/ Acórdão Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgado em 10.10.2007, DJe-060 DIVULG 3.4.2008 PUBLIC 4.4.2008 EMENT VOL-02313-02 PP-00332 RTJ VOL-00204-01 PP-00200.

______. Reclamação n. 2.138, Rel. Min. Nelson Jobim, Rel. p/ Acórdão Min. Gilmar Mendes (art.38, IV, “b”, do RISTF), Tribunal Pleno, julgado em 13.6.2007, DJe-070 DIVULG 17.4.2008 PUBLIC 18.4.2008 EMENT VOL-02315-01 PP-00094 RTJ VOL-00211- PP-00058.

______. Reclamação n. 2.790/SC, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Corte Especial, julgado em 2.12.2009, DJe 4.3.2010.

______. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental na Reclamação n. 2.115/AM, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Corte Especial, julgado em 18.11.2009, DJe 16.12.2009.

______. Supremo Tribunal Federal. Denúncia n. 103, Rel. Min. Luiz Gallotti, Primeira Turma, julgado em 23.7.1951, ADJ DATA 13.4.1953 PP-01106 EMENT VOL-00054-01 PP-00001.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo brasileiro. 29. ed. São Paulo: Malheiros, 2004.

MENDES, Gilmar; WALD, Arnoldo. Competência para julgar ação de improbidade administrativa. Revista de Informação Legislativa, n. 138, pp. 213/216, abr./jun. 1998. Disponível em: <http://www2.senado.gov.br/bdsf/item/id/378>. Acesso em: 20 mar. 2011.

MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 1997.

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EFEITO SUSPENSIVO NO RECURSO ELEITORAL

Alex dos Santos Neto*

1 INTRODUÇÃO. 2 BREVES CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DOS EFEITOS DOS RECURSOS. 3 EFEITOS DOS RECURSOS ELEITORAIS: 3.1 AÇÃO CAUTELAR PARA OBTENÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO. 3.2 PERICULUM IN MORA. 3.3 FUMUS BONI IURIS. 4 CONCLUSÃO. 5 REFERÊNCIAS.

1 Introdução

Os recursos eleitorais, por disposição expressa no Código Eleito-ral (art. 257), não possuem efeito suspensivo. Trata-se, portanto, de exceção dentro do Direito Processual, onde vigora a regra segundo a qual os recursos possuem efeito devolutivo e suspensivo. O objetivo do presente artigo foi a verifi cação da possibilidade de concessão de efeito suspensivo aos recursos eleitorais.

Inicialmente foram brevemente expostos, à luz de abalizada dou-trina processual, os efeitos gerais dos recursos, dos quais os recursos eleitorais só não possuem, em princípio, o efeito suspensivo.

Analisou-se a posição da jurisprudência eleitoral, nesse breve estudo representada por julgados do Tribunal Superior Eleitoral, a fi m de que fosse verifi cada a possibilidade de concessão do efeito suspensivo, bem como a forma e os motivos utilizados pelos tribunais eleitorais para a referida atribuição.

Foi visto que nos recursos eleitorais, como de resto nos demais recursos que não possuem efeito suspensivo, o meio processual usado para sua obtenção é o pedido formulado em ação cautelar incidental ajuizada junto ao tribunal responsável pelo julgamento do recurso.

Em sendo assim, a presença ou a ausência dos requisitos para a medida de urgência requerida na ação cautelar determinará se deve ou não, no caso concreto, ser afastada a regra legal impeditiva do efeito suspensivo.

* Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Conselheiro Lafaiete (FDCL). Analista Processual do Ministério Público da União. Assessor da Procuradoria Regional Eleitoral em Minas Gerais (PREMG). Especialização em andamento (Pós-Graduação lato sensu) em Direito Público pela Fundação Getúlio Vargas (FGVOnline).

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Todavia, constatou-se que esses requisitos são, pela jurisprudência eleitoral, aplicados genericamente, sem a diferenciação necessária dos casos e do objeto do recurso e, ainda, sem fundamentação adequada e sufi ciente à sua confi guração.

Concluiu-se que não há apenas a possibilidade, mas, às vezes, até a necessidade de concessão do efeito suspensivo aos recursos eleitorais. Isso, estando presentes os requisitos que justifi quem o afastamento da regra, não viola o ordenamento jurídico, mas antes privilegia o devido processo legal substantivo. Porém, sob pena do indevido descumpri-mento da norma, para tanto não devem ser usadas fórmulas genéricas e preestabelecidas na análise dos requisitos concessivos da medida de urgência.

2 Breves considerações a respeito dos efeitos dos recursos

Da interposição dos recursos extrai-se o primeiro de seus efeitos, comum a todos eles, desde que admissíveis: o impedimento ao trânsito em julgado da decisão recorrida (MOREIRA, 2002, p. 122).

Dois outros efeitos são comumente tratados pela doutrina: o efeito devolutivo e o efeito suspensivo.

O primeiro é inerente à natureza dos recursos. Consiste na entrega a outro órgão judicial, normalmente de hierarquia superior, da matéria decidida para fi ns de novo julgamento. Tem por fundamento a falibilidade humana e o natural inconformismo com decisão contrária aos interesses do postulante.

Esse efeito assenta-se, ainda, nos pressupostos de que os juízes que compõem os tribunais estariam em melhores condições de decidir de acordo com os ditames de sua maior experiência.

Se é assim, os embargos declaratórios não possuem esse efeito, visto que são julgados pelos mesmo órgão prolator da decisão embar-gada, não havendo, propriamente, devolução da matéria, o que lhes retiraria, inclusive, a natureza de recurso. Todavia, segundo a melhor doutrina (SANTOS, 2010, p. 154):

[...] como recursos são havidos e disciplinados pelo Código de Pro-cesso Civil [...] Da decisão recorre o prejudicado com o gravame que lhe causa a obscuridade, a contradição ou a omissão de que a mesma se ressente. Essa circunstância, o fato de visarem os embargos de declaração a reparação do prejuízo que os defeitos do julgado trazem ao embargante, os caracteriza como recurso.

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Ademais, o efeito suspensivo é próprio dos embargos declaratórios, posto que impedem a execução, ainda que provisória, da decisão em-bargada, além de interromper o prazo para a interposição de qualquer outro recurso por qualquer das partes (CPC, art. 538).

O segundo efeito dos recursos, comumente tratado pela doutrina, visa suspender a execução do julgado, ou melhor, “impede a efi cácia do ato decisório desde o momento da interposição do recurso e até que seja decidido” (SANTOS, 2010, p. 101).

Alguns recursos não possuem, em regra, esse efeito. É o caso, por exemplo, do recurso ordinário constitucional, do recurso especial, do recurso extraordinário, do agravo, das apelações interpostas contra as sentenças previstas no artigo 520 do Código de Processo Civil e dos recursos eleitorais de forma geral.

A regra no sistema recursal brasileiro é a atribuição dos efeitos de-volutivo e suspensivo aos recursos. Por isso, em situações especiais, mesmo aos recursos que não possuem é atribuído o efeito suspensivo, desde que no caso concreto sejam demonstrados, normalmente via ação cautelar, o perigo decorrente de eventual demora no julgamento e a plausibilidade das razões recursais.

Outros efeitos dos recursos são ainda apontados modernamente pela doutrina. São os efeitos expansivo, substitutivo e translativo.

Há quem veja esses efeitos como circunstâncias decorrentes dos recursos, e não como efeitos propriamente ditos (JORGE, 2010, p. 225). No entanto, essa posição não é majoritária.

Segundo Nelson Nery Junior (2004, p. 477-481), o efeito expansivo pode ter natureza objetiva ou subjetiva, interna ou externa. Em suma, segundo o referido autor, haverá efeito expansivo objetivo interno quando o tribunal acolher preliminar e der provimento ao recurso. Nesse caso, o mérito da sentença impugnada é também invalidado, embora não tenha sido analisado especifi camente. Haverá efeito expansivo obje-tivo externo quando os atos praticados após a interposição do agravo de instrumento – que não suspende a tramitação do processo – são invalidados com o provimento desse recurso. E haverá efeito expansivo subjetivo no caso de interposição de recurso por um dos litisconsortes sob o regime unitário.

O efeito substitutivo decorre do art. 512 do Código de Processo Civil, que dispõe:

Art. 512. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a sentença ou a decisão recorrida no que tiver sido objeto de recurso.

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A substituição, ou o efeito substitutivo, ocorrerá quando, positivo o juízo de admissibilidade, for negado provimento ao recurso, o que se costuma chamar de “confi rmação da sentença”, ou quando for dado provimento por error in judicando, ou erro sobre a análise da pretensão deduzida em juízo, quando, então, outra decisão é proferida em substi-tuição àquela recorrida. Caso o provimento for por erro processual, de forma que se determine a prolação de outra sentença com o refazimento, ou não, de algum ato ou parte do processo, não haverá substituição, mas anulação da decisão recorrida.

O efeito translativo, de sua vez, permite ao órgão julgador do recurso conhecer de questões não suscitadas pelo recorrente. À primeira vista, parece que esse efeito, de certa forma, relativiza o princípio dispositivo, norte processual insculpido nos arts. 128 e 460 do Código de Processo Civil1, segundo o qual ao juiz é vedado decidir além dos limites objetivos da lide. E isso é perfeitamente aplicável às instâncias recursais.

Todavia, não é assim. As questões passíveis de conhecimento sem provocação são aquelas sobre as quais pode e deve o juiz se manifestar de ofício, conhecidas como de ordem pública, por exemplo: pressupostos processuais e condições da ação.

Ainda sobre o efeito translativo, discorre de forma percuciente Nelson Nery Junior (2004, p. 487-488):

Opera-se o efeito translativo nos recursos ordinários (apelação, agravo, embargos infringentes, embargos de declaração e recurso ordinário constitucional), mas não nos recursos excepcionais (recurso extraor-dinário, recurso especial e embargos de divergência) […] Não há efeito translativo nos recursos excepcionais (recurso extraordinário, especial e embargos de divergência) porque seus regimes jurídicos estão no texto constitucional que diz serem cabíveis das causas decididas pelos tribunais inferiores (CF, 102, III, e 105, III). Caso o tribunal não tenha se manifestado sobre a questão de ordem pública, o acórdão somente poderá ser impugnado por ação autônoma (ação rescisória), já que incidem na hipótese os [enunciados da súmula da jurisprudência] STF 282 e 356, que exigem prequestionamento da questão constitucional ou federal suscitada, para que seja conhecido o recurso constitucional excepcional. (destaques do original)

1 Art. 128. O juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte.

Art. 460. É defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza diversa da pedida, bem como condenar o réu em quantidade superior ou em objeto diverso do que Ihe foi demandado.

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3 Efeitos dos recursos eleitorais

Os recursos eleitorais possuem todos os efeitos dos recursos em ge-ral, salvo, por exceção expressa no Código Eleitoral2, o efeito suspensivo. Essa regra é estabelecida por razões específi cas, fundadas em princípios processuais aplicáveis a todos os ramos do Direito Processual, mas que no processo eleitoral possuem conotação ainda mais especial.

É o caso do princípio da celeridade processual, elevado à categoria de direito fundamental pela Emenda Constitucional n. 45/2004, ao incluir o inciso LXXVIII no art. 5o da Constituição Federal3, e que no Direito Eleitoral teve regulamentação própria inserida pela Lei n. 12.034/2009 à Lei das Eleições (Lei n. 9.504/1997), que assim dispõe:

Art. 97-A Nos termos do inciso LXXVIII do art. 5o da Constituição Fede-ral, considera-se duração razoável do processo que possa resultar em perda de mandato eletivo o período máximo de 1 (um) ano, contado da sua apresentação à Justiça Eleitoral. (Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009)

§ 1o A duração do processo de que trata o caput abrange a tramitação em todas as instâncias da Justiça Eleitoral. (Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009)

§ 2o Vencido o prazo de que trata o caput, será aplicável o disposto no art. 97, sem prejuízo de representação ao Conselho Nacional de Justiça. (Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009)

Esse especial tratamento conferido pelo legislador às ações eleito-rais, máxime àquelas que podem resultar em impedimento ao exercício da representação popular democrática, justifi ca-se pelo objeto espe-cífi co dessas demandas: o mandato eleitoral, que por sua natureza republicana é transitório. Destarte, se eventual lide instaurada sobre sua legalidade ou legitimidade não for celeremente resolvida perderá defi nitivamente o seu objeto e o prejuízo não será apenas das partes, mas da democracia representativa, diante da incerteza sobre a lisura da representação conferida.

2 Art. 257. Os recursos eleitorais não terão efeito suspensivo.

Parágrafo único. A execução de qualquer acórdão será feita imediatamente, através de comunicação por ofício, telegrama, ou, em casos especiais, a critério do presidente do Tribunal, através de cópia do acórdão.

3 Art. 5o […] LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação (incluído pela Emenda Constitucional n. 45, de 2004).

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Isso posto, não é difícil ver que a regra que não permite o efeito suspensivo nos recursos eleitorais em geral tem por fi nalidade impedir a indefi nição sobre o resultado das urnas, questionado judicialmente, por tempo além do necessário e possível, tendo em mira a efetividade processual.

Porém, como toda regra, essa também comporta exceções. Ou seja, em alguns casos se admite a concessão de efeito suspensivo aos recursos eleitorais, que de maneira geral não possuem.

A decisão que declare a inelegibilidade, por exemplo, para produzir efeitos depende de trânsito em julgado ou que seja proferida por órgão colegiado, na forma do que dispõe o art. 15 da Lei Complementar n. 64/1990. O recurso interposto contra a sentença seria, portanto, um re-curso eleitoral especial, no sentido de que foge à regra geral impeditiva de efeito suspensivo. Outro exemplo pode ser encontrado no art. 216 do Código Eleitoral4, que permite ao diplomado o exercício do mandato até que o Tribunal Superior Eleitoral decida o recurso interposto contra a diplomação. Segundo GOMES (2010, p. 436), por força dessa regra, recurso especial eleitoral interposto contra acórdão de Tribunal Regional Eleitoral, que julga procedente recurso contra expedição de diploma, tem efeito suspensivo.

Nas demais ações eleitorais, o efeito suspensivo normalmente é obtido por meio de ações cautelares ajuizadas nos tribunais, concomitan-temente à interposição do recurso eleitoral, fundamentadas na existência de efetivo perigo de dano irreparável com a demora do julgamento e na plausibilidade do direito invocado, ou seja, na franca possibilidade de reforma da sentença recorrida (VELLOSO; AGRA, 2010, p. 303).

3.1 Ação cautelar para obtenção de efeito suspensivo

O Tribunal Superior Eleitoral já teve entendimento bastante restritivo sobre a concessão de efeito suspensivo aos recursos eleitorais, como se extrai do seguinte julgado:

[...]

3. São imediatos os efeitos da decisão proferida em sede de ação de impugnação de mandato eletivo, aguardando-se apenas a publicação, não incidindo os arts. 216 do Código Eleitoral e 15 da LC n. 64/1990.

4 Art. 216. Enquanto o Tribunal Superior não decidir o recurso interposto contra a expedição do diploma, poderá o diplomado exercer o mandato em toda a sua plenitude.

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4. Empossado o segundo colocado, a prudência determina seja aguardada a apreciação do recurso especial, sob pena de se criar instabilidade no município.

Agravo Regimental conhecido, mas desprovido. (MC 1.833, DE 28.6.2006, Rel. José Gerardo Grossi).

Entretanto, atualmente é de se ressaltar mudança substancial na orientação daquele Superior Tribunal, que passou a entender que a efi cácia de decisão que cassa mandato eletivo deve aguardar o pro-nunciamento do órgão ad quem, inclusive sobre eventuais embargos declaratórios. Nesse sentido, as seguintes decisões:

Mandado de segurança. Decisão regional. Ação cautelar. Indeferi-mento. Liminar. Sustação. Efeitos. Sentença. Procedência. AIME. Precedente.

1. Conforme já decidido por esta Corte Superior no Mandado de Segu-rança n. 3.630, relator Ministro José Delgado, recomenda-se aguardar o pronunciamento de Tribunal Regional Eleitoral em face de recurso interposto contra decisão de primeiro grau que julgou procedente ação de impugnação de mandato eletivo.

2. Esse entendimento consubstancia uma segurança mínima, recla-mando-se, pelo menos, o pronunciamento do órgão revisor.

Agravo regimental provido a fi m de deferir a liminar assegurando aos impetrantes o exercício dos cargos majoritários.

(TSE - MS 3.785 - DJ 1o.8.2008, p. 6).

MANDADO DE SEGURANÇA. AIME.

1. A jurisprudência do TSE é no sentido de que deve ser evitada a mudança de titular do cargo de Prefeito, sem que exista sólida base jurídica a justifi car.

2. Acórdão que examinou abuso de poder político no curso da AIME e que demonstrou ser instável a prova de que o candidato tenha prati-cado ou consentido com ato descrito no art. 41-A da Lei n. 9.504/1997. Sentença pela improcedência do pedido. Acórdão que a reformou.

3. Recurso especial intentado contra o acórdão proferido em AIME. Efeito suspensivo que lhe foi concedido em sede de medida cautelar.

4. Segurança procedente para garantir ao impetrante o direito de per-manecer no cargo de Prefeito até o julgamento defi nitivo da AIME.

(TSE - MS 3.584 - DJ 29.2.2008, p. 16).

MANDADO DE SEGURANÇA. AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MAN-DATO ELETIVO. DECISÃO DE JUIZ ELEITORAL QUE DETERMINA,

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IMEDIATAMENTE, CUMPRIMENTO DE DECISÃO QUE JULGA PRO-CEDENTE AIME. NECESSIDADE DE SE AGUARDAR A PUBLICAÇÃO DO ACÓRDÃO, INCLUSIVE DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, REFERENTES AO RECURSO INTERPOSTO PELOS VENCIDOS PARA O TRE. AGRAVO REGIMENTAL PREJUDICADO.1. Concessão de mandado de segurança para emprestar efeito sus-pensivo a recurso interposto contra decisão de primeiro grau que julgou procedente AIME.2. Sem amparo legal o posicionamento do Tribunal Regional Eleitoral que, em sede de medida cautelar, negou efeito suspensivo ao recurso ordinário interposto contra a decisão de primeiro grau que considerou procedente a AIME e determinou, imediatamente, a cassação da Pre-feita e do Vice-Prefeito.3. Existência de direito líquido e certo a proteger os impetrantes.4. Entendimento jurisprudencial de que a AIME, quando considerada procedente, deve produzir efeitos imediatos a partir da publicação do acórdão emitido pelo TRE, incluindo-se embargos de declaração, se for o caso, salvo ocorrência de trânsito em julgado no primeiro grau.5. Mandado de Segurança concedido para assegurar a permanência dos impetrantes nos cargos de Prefeito e Vice-Prefeito até que o recurso já interposto contra o julgamento de primeiro grau seja julgado e publicado o acórdão, inclusive dos embargos de declaração.6. Agravo regimental prejudicado.(TSE - MS 3.630 - DJ 10.3.2008, p. 12)

A cautelar inominada, utilizada para obtenção de efeito suspensivo em recurso eleitoral, deve preencher todos os requisitos das cautelares em geral: instrumentalidade – porque visa a utilidade prática do recur-so; autonomia – visto constituir processo próprio específi co; cognição sumária – objeto de juízo de probabilidade; e, por fi m, provisoriedade – tendo em conta que prevalece até a decisão fi nal do recurso. Além disso, há necessidade de demonstração do atendimento aos dois requi-sitos justifi cantes da medida de urgência – periculum in mora e fumus boni iuris (GOMES, 2010, p. 510).

3.2 Periculum in mora

De acordo com a jurisprudência, percebe-se que o periculum in mora decorre diretamente da própria decisão que cassa os mandatos eletivos, porque gera risco de alternância indesejável na chefi a do Poder Executivo.

Nesse ponto cabe uma observação. É intuitivo que a continuidade administrativa pode efetivamente sofrer grave dano com constantes

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alterações nos cargos do Poder Executivo. Por esse motivo é razoável, nesses casos, estando presentes os demais requisitos da cautelar, a relativização da regra que impede o efeito suspensivo e se aguarde o julgamento do recurso a fi m de que, inclusive, seja melhor preparada politicamente eventual substituição do comando administrativo.

Contudo, o mesmo entendimento não se aplica se cassado por sentença o mandato parlamentar – vereadores, deputados e senadores. Nesse caso, não há a mesma razão que autoriza o afastamento da regra insculpida no art. 257 do Código Eleitoral. Não há risco de alternância indesejada no Poder ou interrupção na continuidade da atividade par-lamentar, que certamente não se vê ameaçada por eventual retorno de mandatário cassado por decisão judicial.

Vale pontuar que parlamentares são, muitas vezes, substituídos por suplentes devido à sua nomeação para o exercício de cargos no Poder Executivo, sendo que ao fi m desse exercício reassumem seus mandatos eletivos sem que isso implique em qualquer interrupção na atividade parlamentar.

Portanto, é forçoso admitir que o reconhecimento do periculum in mora, na forma como estabelecido pela jurisprudência, não se aplica a todos os casos de cassação de mandatos eletivos em ações eleitorais. É preciso ser feita a distinção acima descrita.

Pode-se, ainda, argumentar que o prejuízo ao parlamentar decorre da perda parcial de seu mandato, que ocorrerá caso fi que dele afastado e depois retorne com o provimento de seu recurso. Esse é um risco concreto. Todavia, a ele se contrapõe o perigo, também certo, de se conservar por meio de intermináveis recursos, mandato espúrio, con-quistado à margem da lisura, à custa do engodo público, e que, quanto mais tempo perdurar, maior será o prejuízo coletivo.

Impende considerar, na ponderação desse confl ito, que a espurie-dade do mandato cassado em primeira instância não é apenas mera suposição, mas o resultado de instrução processual conduzida por juiz competente e imparcial, dentro do devido processo legal e com a obrigatória participação do Ministério Público Eleitoral, órgão também imparcial, ainda quando seja parte, no sentido de ser despossuído de interesse pessoal no desfecho da lide.

3.3 Fumus boni iuris

Comprovado, efetivamente, o periculum in mora, é bom não esque-cer que para a obtenção de efeito suspensivo no recurso eleitoral, por

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meio da cautelar, devem estar presentes ambos os seus requisitos. É necessário que se demonstre, também, o fumus boni iuris, sob pena de não ser possível a concessão da medida.

Extrai-se, ainda da jurisprudência, que é motivo bastante para a confi guração da aparência do direito e consequente atribuição de efeito suspensivo ao recurso eleitoral, a necessidade de revisão da sentença por tribunal.

Com todo respeito ao egrégio Tribunal Superior Eleitoral e aos demais Tribunais Regionais Eleitorais que adotam esse entendimento, mas a necessidade de revisão da sentença de 1o grau por tribunal, apenas e tão somente pelo fato de tratar-se de “matéria complexa” ou pela necessidade de “revisão”, não confi gura a plausibilidade do direito invocado.

Primeiro, porque as causas sujeitas à revisão obrigatória dependem de expressa previsão legal. Depois, porque se fosse assim, somente causas simples, sem qualquer grau de difi culdade, poderiam ser efeti-vamente decididas pelos juízes de 1o grau, que, nas demais demandas, seriam transformados em “meros instrutores dos processos”, na melhor lição da doutrina:

Na realidade, se o juiz que preside a instrução e tem contato direto com as partes profere decisão que, para produzir efeitos, necessaria-mente tem que passar pelo crivo de um colegiado, o juiz singular não é propriamente um julgador, porém mais precisamente um instrutor. Sua decisão pode ser vista, no máximo, como um projeto da única e verdadeira decisão, que é a do tribunal. (MARINONI; ARENHART, 2008, p. 492)

A verifi cação do fumus boni iuris decorre de um juízo sumário, de uma análise perfunctória sobre o direito invocado, devendo contentar-se o julgador com a aparência do direito, sem possibilidade de perquirir, naquele momento, sobre a certeza do direito substancial, sob pena de tornar-se inútil esse instrumento (CÂMARA, 2009, p. 33-35). No caso, representa a possibilidade visível de provimento do recurso, ainda que sem comprometimento com o julgamento defi nitivo do mérito, que depois de uma investigação exauriente pode mostrar-se insubsistente.

Forçoso é concluir, portanto, que uma perquirição, mesmo que sumária do direito, ou da pretensão recursal, impende que seja feita, a fi m de que se possa atribuir ao recurso efeito que por determinação legal não possui.

Examinados perfunctoriamente os autos e constatada a presença da plausibilidade do direito, no caso, a probabilidade de provimento do

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recurso, que lhe seja dado efeito suspensivo por meio da cautelar. O que não é possível é se contentar e usar como fundamento da aparência do direito unicamente a necessidade de revisão da sentença por tribunal.

4 Conclusão

Os recursos inegavelmente compõem o devido processo legal, direito fundamental assegurado na Constituição (art. 5o, LIV e LV) e de onde se extrai, ainda que implicitamente, o princípio do duplo grau de jurisdição.

Trata-se de um direito posto à disposição dos litigantes que de algu-ma forma se sintam prejudicados com a decisão proferida na demanda. Os seus efeitos – devolutivo, suspensivo, substitutivo, translativo e expansivo – fazem parte do direito fundamental à ampla defesa.

Contudo, em alguns casos, tendo por base valores tão importantes quanto a ampla defesa – exemplo: o direito fundamental à razoável duração do processo, o efeito suspensivo é subtraído de alguns recur-sos, por exemplo, os recursos eleitorais. Essa subtração decorre da lei. E deve ser assim por se tratar de exceção à regra, segundo a qual os recursos possuem efeito devolutivo e suspensivo.

No entanto, mesmo havendo óbice legal ao efeito suspensivo em determinado recurso, para fi ns de preservação do direito material, ameaçado pela natural demora dos julgamentos e da demonstrada plausibilidade da pretensão recursal, é concedido esse efeito, via de regra em ação cautelar.

Assim, ocorre nos recursos excepcionais (recurso especial e extraor-dinário) e também nos recursos eleitorais. Deve mesmo ser assim. Não se justifi ca o prejuízo comprovado do direito substancial, demonstrado, no caso concreto, pela instrumentalidade das formas.

Todavia, por se tratar de contrariedade à lei, em princípio, a con-cessão do efeito suspensivo nesses casos deve ser precedida da demonstração do periculum in mora e do fumus boni iuris, requisitos indispensáveis da medida cautelar.

Contudo, ao menos nos recursos eleitorais, que são o ponto central desse estudo, nota-se pela jurisprudência do Tribunal Superior Elei-toral, normalmente seguida pelos tribunais regionais eleitorais, que a concessão do efeito suspensivo tem sido feita de forma genérica, por fundamentos que não analisam as especifi cidades do caso concreto e

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que, por isso, não se prestam ao embasamento da medida de urgência postulada, qual seja: o efeito suspensivo a recurso que não o possui.

Como visto, o risco de indesejável alternância na chefi a do Poder Executivo é o fundamento sempre utilizado pela jurisprudência eleitoral como periculum in mora. Porém, a mesma utilização no caso de recurso contra sentença que cassa mandato parlamentar não se justifi ca pelas razões expostas. É preciso, pois, essa mínima diferenciação no momento da apreciação do perigo da demora, sob pena de excepcionar a regra sem a presença da razão jurídica excepcionante.

Além disso, apenas a complexidade da causa ou a necessidade de revisão da sentença por tribunal, antes de sua efetividade, em nenhum caso confi gura o fumus boni iuris. Esboça, sim, uma injustifi cada des-qualifi cação do ato decisório proferido pelo juiz de 1a instância, como também exposto.

O exame perfunctório do caso concreto é que dirá da presença, ou não, da aparência necessária do direito expresso na pretensão recursal.

Portanto, estando demonstrados o periculum in mora e o fumus boni iuris, a concessão do efeito suspensivo, em recurso que em regra não possui, não viola o ordenamento jurídico, antes expressa confi rmação do devido processo legal substantivo. O equívoco está em promover o afastamento da regra legal por meio de apreciações genéricas e fórmulas preestabelecidas, o que leva a uma espécie de indevida e desautorizada revogação da lei no caso concreto.

5 Referências

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm

______. Lei das eleições. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci-vil_03/Leis/L9504.htm

______. Código Eleitoral. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci-vil_03/Leis/L4737.htm

______. Pesquisa simultânea de jurisprudência dos tribunais eleitorais. Disponível em: http://www.tse.gov.br/sadJudSjur/pesquisa/

CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. 15. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.

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GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 4. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2010.

JUNIOR, Nelson Nery. Teoria geral dos recursos. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.

JORGE, Flávio Cheim. Teoria geral dos recursos cíveis. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de pro-cesso civil, v. 2. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.

MOREIRA, José Carlos Barbosa. O Novo processo civil brasileiro. 22. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002.

SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de Direito Pocessual Civil, v. 3. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

VELLOSO, Carlos Mário da Silva; AGRA, Walber de Moura. Elementos de Direito Eleitoral. São Paulo: Saraiva, 2009.

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DO DEVER DE PRESTAR CONTAS À JUSTIÇA ELEITORALDever partidário fundamental para a

democracia plena e transparente

Luciano Zambrota*

1 INTRODUÇÃO. 2 DA LEI N. 9.096, DE 19 DE SETEMBRO DE 1995. 3 DAS NORMAS DEFINIDAS NA RESOLUÇÃO TSE N. 21.841, DE 22 DE JUNHO DE 2004. 4 DAS REGRAS PARA A UTILIZAÇÃO DE RE-CURSOS DO FUNDO PARTIDÁRIO. 5 SANÇÕES PREVISTAS PELA LEGISLAÇÃO EM VIGOR. 6 DA TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. 7 CONCLUSÃO. 8 REFERÊNCIAS.

1 Introdução

O presente artigo tem como objeto de análise as disposições da Lei n. 9.096, de 19 de setembro de 1995, em especial os dispositivos legais que tratam das prestações de contas anuais dos partidos políti-cos. Assim, também será necessário verifi car as normas defi nidas pelo Tribunal Superior Eleitoral, especialmente as disposições da Resolução n. 21.841, de 22 de junho de 2004, que disciplinam a prestação de contas anual dos partidos políticos e a Tomada de Contas Especial – procedimento que se inicia com a desaprovação da prestação de contas, nas hipóteses em que expressamente cabíveis.

Com isso, será possível colaborar para a fi xação da matéria pelos interessados, sobretudo os membros dos partidos políticos e pessoas ou profi ssionais diretamente envolvidos no processo de prestação de contas anual dessas agremiações partidárias, haja vista que a legislação pertinente ainda não foi devidamente assimilada pelos partidos políticos, pois é comum verifi car o descumprimento dos prazos e procedimentos defi nidos na Lei n. 9.096/1995 e na Resolução TSE n. 21.841/2004, que em conjunto tratam das regras para a prestação de contas anual dos partidos políticos.

* Advogado. Membro da Comissão de Direito Eleitoral da Ordem dos Advo-gados do Brasil de Santa Catarina. É autor de outros artigos publicados em periódicos jurídicos, bem como na imprensa escrita e digital brasileira, com atuação na Justiça Eleitoral do Estado de Santa Catarina e Tribunal Superior Eleitoral desde o ano de 2006.

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2 Da Lei n. 9.096, de 19 de setembro de 1995

Na atualidade, a Lei n. 9.096/1995 é o principal texto legal aprovado pelo Poder Legislativo ordinário para regular as atividades e o funcio-namento dos partidos políticos, em que constam inúmeras obrigações jurídicas a serem observadas pelos partidos políticos, dentre elas, o dever de anualmente prestar contas à Justiça Eleitoral, para que sejam analisados os atos contábeis e fi nanceiros praticados pela agremiação partidária no exercício financeiro respectivo, isto é, analisado pela Justiça Eleitoral.

Dispõe o art. 30 da Lei n. 9.096/1995: “o partido político, através de seus órgãos nacionais, regionais e municipais, deve manter es-crituração contábil, de forma a permitir o conhecimento da origem de suas receitas e a destinação de suas despesas”. Apesar da clareza da norma jurídica, os últimos anos demonstram que em Santa Catarina nem todos os partidos políticos, sejam por seus órgãos estaduais ou municipais, têm conseguido cumprir a contento a obrigação de prestar contas anualmente à Justiça Eleitoral.

De acordo com dados da própria Justiça Eleitoral catarinense, re-produzidos pela imprensa estadual local, bem como pela assessoria de imprensa do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina (TRE/SC), no ano de 2007, por exemplo, nove agremiações partidárias, por seus diretórios estaduais, não cumpriram com este dever dentro do prazo previsto (NOVE SIGLAS deixam de prestar contas, 2008, p. 10). No ano de 2008, segundo a assessoria de imprensa do TRE/SC, “sete partidos do quarto maior colégio eleitoral de Santa Catarina, o município de São José, localizado ao lado da Capital do Estado, não prestaram contas à Justiça Eleitoral referentes ao ano de 2008” (SETE PARTIDOS de São José deixam de prestar as contas de 2008, 2009).1

Com efeito, o descumprimento deste dever é extremamente prejudi-cial para os partidos políticos. Além do prejuízo para a moralidade públi-ca, já que a não prestação de contas compromete a seriedade fi nanceira e contábil da agremiação partidária que pretende administrar os bens e recursos públicos, o partido político e seus fi liados ainda sofrem outras sanções e consequências legais previstas no ordenamento jurídico. Estas sanções, entretanto, serão examinadas em capítulo seguinte.

1 Acesso em 7.3.2011, por meio do link: http://www.tre-sc.gov.br/site/noticias/noticias-anteriores/lista-de-noticias-anteriores/noticia-anterior/arquivo/2009/novembro/artigos/sete-partidos-de-sao-jose-deixam-de-prestar-as-contas-de-2008/index.html.

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Por enquanto, é importante frisar que o prazo para a apresentação das contas à Justiça Eleitoral é defi nido pelo art. 32 da Lei n. 9.096/1995, que estabelece: “o partido está obrigado a enviar, anualmente, à Justiça Eleitoral, o balanço contábil do exercício fi ndo, até o dia 30 de abril do ano seguinte” E, ainda, conforme o § 3o do mesmo artigo legal, “no ano em que ocorrem eleições, o partido deve enviar balancetes mensais à Justiça Eleitoral, durante os quatro meses anteriores e os dois meses posteriores ao pleito” (grifo nosso).

Além dos prazos fi xados pela legislação para a apresentação anual da prestação de contas dos partidos políticos, existem outras exigências previstas expressamente na Lei n. 9.096/1995 que precisam ser ob-servadas. É o caso da forma em que deve ser realizada a escrituração contábil de determinado partido político. Os aspectos formais precisam ser verifi cados e observados com rigor. Sobre o assunto, disciplina o art. 33, e seus incisos, da Lei n. 9.096/1995:

Art. 33. Os balanços devem conter, entre outros, os seguintes itens:

I – discriminação dos valores e destinação dos recursos oriundos do fundo partidário;

II – origem e valor das contribuições e doações;

III – despesas de caráter eleitoral, com a especifi cação e comprovação dos gastos com programas no rádio e televisão, comitês, propaganda, publicações, comícios, e demais atividades de campanha;

IV – discriminação detalhada das receitas e despesas.

É importante a atenção dos partidos políticos para a forma como os balancetes precisam ser elaborados, pois a confusão tende a prejudicar o próprio partido político interessado. Na atualidade, a complexidade dos procedimentos contábeis exige que referida atividade seja realizada por profi ssional habilitado – contador, porque cada vez mais o rigor analítico da Justiça Eleitoral tem rejeitado antigas formas de contabilidade que não atendem aos padrões técnicos atuais da área contábil, em especial da contabilidade eleitoral ou partidária.

Para prevenir o abuso do poder econômico nas eleições os partidos políticos ainda são obrigados a observar, nos anos em que ocorrem eleições, as seguintes exigências defi nidas pelo art. 34, e seus incisos, da Lei n. 9.096/1995:

Art. 34. A Justiça Eleitoral exerce a fi scalização sobre a escrituração contábil e a prestação de contas do partido e das despesas de cam-panha eleitoral, devendo atestar se elas refl etem adequadamente a

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real movimentação fi nanceira, os dispêndios e recursos aplicados nas campanhas eleitorais, exigindo a observação das seguintes normas:I – obrigatoriedade de constituição de comitês e designação de diri-gentes partidários específi cos, para movimentar recursos fi nanceiros nas campanhas eleitorais;II – caracterização da responsabilidade dos dirigentes do partido e co-mitês, inclusive do tesoureiro, que responderão, civil e criminalmente, por quaisquer irregularidades;III – escrituração contábil, com documentação que comprove a entrada e saída de dinheiro ou de bens recebidos e aplicados;IV – obrigatoriedade de ser conservada pelo partido a documentação comprobatória de suas prestações de contas, por prazo não inferior a cinco anos;V – obrigatoriedade de prestação de contas, pelo partido político, seus comitês e candidatos, no encerramento da campanha eleitoral, com o recolhimento imediato à tesouraria do partido dos saldos fi nanceiros eventualmente apurados.

Na prática, toda receita ou despesa realizada pelo partido político, seja ou não de caráter eleitoral, precisa ser contabilizada, sob pena de ocorrerem sérios problemas para o partido político, sobretudo se for benefi ciário de repasses do Fundo Partidário. Isso porque qualquer valor proveniente do Fundo Partidário utilizado pelo partido político precisa ser comprovado com documentos fi scais hábeis, do contrário ensejará sua devolução após a o julgamento de desaprovação da prestação de contas anual respectiva.

Antes de avançar neste ponto, contudo, é necessário examinar al-gumas das disposições constantes da Resolução n. 21.841, aprovada pelo Tribunal Superior Eleitoral, em 22 de junho de 2004, haja vista que estabelecem outras obrigações para os partidos políticos, além das estabelecidas nos arts. 33 e 34 da Lei n. 9.096/1995, que se não forem atendidas conjuntamente ensejarão a desaprovação da prestação de contas do partido político omisso.

3 Das normas defi nidas na Resolução TSE n. 21.841, de 22 de junho de 2004

Em que pese à discussão de que o Tribunal Superior Eleitoral tem resolvido questões legislativas que precisariam estar sendo discutidas e aprovadas pelo Poder Legislativo, não é oportuno, neste momento, fomentar esta discussão, porque decididamente não é o objetivo deste artigo. Aqui, importa mais o exercício de fi xação e entendimento das

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normas que estão sendo aplicadas pela Justiça Eleitoral, ao invés da investigação acerca da sua constitucionalidade, até porque não se tratam de normas legais cuja aplicabilidade esteja sendo discutida pelo Supremo Tribunal Federal, que poderia ser acionado pelos diretórios nacionais dos partidos políticos – que detêm referida legitimidade pro-cessual ativa.

O certo é que a Resolução TSE n. 21.841/2004 estabeleceu uma série de exigências específi cas, para melhor aplicabilidade das nor-mas previstas na Lei n. 9.096/1995. Assim, é tempo de assimilar que todo partido político está obrigado à abertura de conta bancária, bem como assessoramento por contador habilitado para elaboração de sua prestação de contas. De certo modo, a legislação e a Justiça Eleitoral passaram a exigir um pouco mais de profi ssionalismo com as prestações de contas, porque muitas eram apresentadas à Justiça Eleitoral sem a mínima formalidade, seriedade, técnica e profi ssionalismo.

Ainda pode parecer estranho para o dirigente partidário, mas desde muito tempo o egrégio Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina tem exigido dos partidos políticos a abertura de conta bancária, sob pena de desaprovação da prestação de contas. O entendimento é de-corrência direta da interpretação das normas defi nidas na Resolução n. 21.841/2004. Consoante o disposto no art. 2o daquela Resolução, todo partido político está obrigado à escrituração contábil formal, ou seja, que atenda às normas brasileiras de contabilidade. Dispõe o art. 2o da Resolução TSE n. 21.841/2004:

Art. 2o Os estatutos dos partidos políticos, que são associações civis sem fi ns econômicos, devem conter normas sobre fi nanças e contabi-lidade, que obedeçam aos Princípios Fundamentais de Contabilidade e às Normas Brasileiras de Contabilidade, especialmente às disposições gerais constantes da NBC T - 10.19 – (Entidades sem fi nalidade de lucros), e regras que (Lei n. 9.096/95, art. 15, incisos VII e VIII):

I – fi xem as contribuições dos fi liados;

II – especifi quem a origem de suas receitas;

III – estabeleçam os critérios de distribuição dos recursos do Fun-do Partidário entre seus órgãos municipais ou zonais, estaduais e nacional;

IV – fi rmem os critérios para a criação e a manutenção de instituto ou fundação de pesquisa e de doutrinação e educação política, estabele-cendo qual órgão de direção partidária será responsável pela aplicação do limite mínimo de vinte por cento do total do Fundo Partidário recebido (Lei n. 9.096/95, art. 44, inciso IV); e

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V – vedem a contabilização de qualquer recebimento ou dispêndio re-ferente ao instituto ou fundação, de que trata o inciso anterior, os quais prestarão suas contas ao órgão do Ministério Público responsável pela fi scalização das fundações e dos institutos.

Interessa à própria democracia o amadurecimento jurídico e ins-titucional dos partidos políticos. Como instituições que postulam a ocupação de cargos que exigem conhecimento técnico contábil, ainda que mínimo, devem demonstrar profi ssionalismo e envidar esforços para que suas prestações de contas observem as exigências legais próprias. Para isso, o ordenamento jurídico autoriza expressamente que o partido político estabeleça mecanismos ou meios para arrecadação de recursos de seus fi liados, como podem promover arrecadação de recursos junto a pessoas físicas ou privadas, desde que para custeio de atividades próprias à natureza dos partidos políticos. No momento atual, aliás, é praticamente impossível ao partido político sobreviver sem a arrecadação de recursos, ainda que para custeio das atividades mínimas necessárias para prestarem contas à Justiça Eleitoral.

Note-se que os arts. 3o e 13 da Resolução TSE n. 21.841/2004 exigem, além do custeio de profi ssional de contabilidade, que o partido ainda registre todos os bens e serviços estimáveis em dinheiro recebi-dos em doação, o que torna praticamente impossível a existência de uma prestação de contas anual totalmente zerada, ou seja, que não registre o recebimento de algum tipo de doação recebida pelo partido político, estimável ou em dinheiro, utilizados na sua manutenção e funcionamento. Sobre o tema, confi ra o que dispõem os arts. 3o e 13 da Resolução TSE n. 21.841/2004:

Art. 3o Constituem obrigações dos partidos políticos, pelos seus órgãos municipais ou zonais, estaduais e nacional (Lei n. 9.096/95, art. 30):

I – manter escrituração contábil, sob responsabilidade de profi ssional habilitado em contabilidade, de forma a permitir a aferição da origem de suas receitas e a destinação de suas despesas, bem como a aferição de sua situação patrimonial;

II – prestar contas à Justiça Eleitoral referentes ao exercício fi ndo, até 30 de abril do ano seguinte (Lei n. 9.096/95, art. 32, caput); e

III – remeter à Justiça Eleitoral, nos anos em que ocorrerem eleições, na forma estabelecida no art. 17 desta Resolução, balancetes de ve-rifi cação referentes ao período de junho a dezembro, de acordo com o Plano de Contas das agremiações partidárias (Lei n. 9.096/95, art. 32, § 3o).

Art. 13. As direções nacional, estadual e municipal ou zonal dos partidos políticos devem apresentar a prestação de contas anual até o dia 30

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de abril do ano subsequente ao órgão competente da Justiça Eleitoral (Lei n. 9.096/95, art. 32, caput).

Parágrafo único. O não recebimento de recursos fi nanceiros em es-pécie por si só não justifi ca a apresentação de prestação de contas sem movimento, devendo o partido registrar todos os bens e serviços estimáveis em dinheiro recebidos em doação, utilizados em sua ma-nutenção e funcionamento.

Em Santa Catarina, o egrégio Tribunal Regional Eleitoral tem sido extremamente rigoroso e somente em hipóteses extremamente particu-lares aceitou a apresentação de prestação de contas sem o registro de movimentação. A regra, todavia, tem sido a desaprovação da prestação de contas sem registro de movimentação fi nanceira (em espécie ou estimável em dinheiro). Neste sentido, seleciona-se o seguinte julgado do TRE/SC:

RECURSO – PRESTAÇÃO DE CONTAS ANUAL DE PARTIDO POLÍTI-CO – DIRETÓRIO MUNICIPAL – REJEIÇÃO – NÃO APRESENTAÇÃO DAS CONTAS – ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE MOVIMENTAÇÃO FI-NANCEIRA – INÉRCIA QUE IMPEDE A FISCALIZAÇÃO DAS CONTAS PELA JUSTIÇA ELEITORAL – CONTAS QUE SE CONSIDERA NÃO PRESTADAS – SUSPENSÃO DO REPASSE DE COTAS DO FUNDO PARTIDÁRIO ENQUANTO DURAR A OMISSÃO – PROVIMENTO PARCIAL.

A ausência de movimentação fi nanceira não é obstáculo para a apresen-tação da documentação exigida pela Resolução TSE n. 21.841/2004 e pela Lei n. 9.096/1995, devendo ser suspenso, até sanada a omissão, o repasse de novas cotas do fundo partidário (art. 28, III, da Res. TSE n. 21.841/2004).2

Apesar das críticas contrárias, o julgamento em destaque refl ete o entendimento fi rmado pelo egrégio Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, no sentido de que “não é crível que a agremiação não tenha efetuado nenhuma despesa ou mesmo se utilizado de algum bem esti-mável em dinheiro para realizar seus objetivos durante o exercício [...]”. Daí a conclusão do acórdão destacado: “Portanto, não há justifi cativa para não apresentação da contabilidade referente ao ano de 2004, que requer a entrega da documentação obrigatória prevista no art. 14 da Resolução TSE n. 21.841/2004”.

Talvez as resistências dos partidos políticos quanto à necessida-de de observar essas regras decorra de um entendimento antigo ou

2 TRE/SC. Acórdão n. 23.998. Relatora Juíza Eliana Paggiarin Marinho. Julgado em: 16 set. 2009.

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primitivo de que a política é realizada apenas com lápis e papéis para anotação de teses ideológicas. Os tempos, contudo, evoluíram e a po-lítica, se não foi responsável por toda esta evolução, acompanhou as mudanças ocorridas nos últimos tempos, sobretudo no que se refere à incorporação de novas tecnologias, como os sistemas de informática que cooperam fundamentalmente para o funcionamento dos partidos políticos e assim também para o funcionamento de qualquer instituição ou estabelecimento, seja público ou privado.

Dessa forma, se tornou obrigatório para o partido político a utilização de equipamentos de computação para a realização de sua contabilidade, como também depende da internet para acessar inúmeros formulários ou informações disponibilizadas pelo Tribunal Superior Eleitoral direta-mente na rede mundial de computadores, através do site do Tribunal: <www.tse.gov.br>.

Contudo, nenhuma obrigação gera tanta controvérsia quanto a que diz respeito à obrigatoriedade do partido político de proceder à abertura de conta bancária. Para análise deste dever é importante reproduzir o teor do art. 14, e seus incisos, da Resolução TSE n. 21.841/2004, porque somente nesta resolução é que referida obrigação consta ex-pressamente prevista. Veja-se:

Art. 14. A prestação de contas anual a que se refere o art. 13 deve ser composta pelas seguintes peças e documentos (Lei n. 9.096/95, art. 32, § 1o):

I – demonstrações contábeis exigidas pelas Normas Brasileiras de Contabilidade:

a) balanço patrimonial;

b) demonstração do resultado;

c) demonstração de lucros ou prejuízos acumulados;

d) demonstração das mutações do patrimônio líquido; e

e) demonstração das origens e aplicações dos recursos;

II – peças complementares decorrentes da Lei n. 9.096/95:

a) demonstrativo de receitas e despesas, com distinção entre a aplicação de recursos do Fundo Partidário e a realizada com outros recursos;

b) demonstrativo de obrigações a pagar;

c) demonstrativo dos recursos do Fundo Partidário distribuídos aos órgãos estaduais, no caso de prestação de contas da direção nacional do partido;

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d) demonstrativo dos recursos do Fundo Partidário distribuídos aos ór-gãos municipais ou zonais, no caso de prestação de contas de direção estadual do partido;

e) demonstrativo dos recursos do Fundo Partidário distribuídos a can-didatos, quando a prestação de contas se referir a ano em que houver eleição;

f) demonstrativo de doações recebidas;

g) demonstrativo de contribuições recebidas;

h) demonstrativo de sobras de campanha;

i) demonstrativo das transferências fi nanceiras intrapartidárias rece-bidas;

j) demonstrativo das transferências fi nanceiras intrapartidárias efetu-adas;

k) parecer da Comissão Executiva/Provisória ou do Conselho Fiscal, se houver, aprovando ou não as contas;

l) relação das contas bancárias abertas, indicando número, banco e agência com o respectivo endereço, bem como identifi cação da-quela destinada exclusivamente à movimentação dos recursos do Fundo Partidário e da(s) destinada(s) à movimentação dos demais recursos; [grifo nosso]

m) conciliação bancária, caso existam débitos ou créditos que não tenham constado do extrato bancário na data da sua emissão;

n) extratos bancários consolidados e defi nitivos das contas refe-ridas no inciso anterior, do período integral do exercício ao qual se refere à prestação de contas;

o) documentos fi scais, originais ou cópias autenticadas, que comprovam as despesas de caráter eleitoral; e

p) livros Diário e Razão, conforme o disposto no parágrafo único do art. 11 desta Resolução.

Parágrafo único. As peças de que trata o inciso I devem conter, além das assinaturas do presidente do partido e do tesoureiro, previstas nesta Resolução, a assinatura de profi ssional legalmente habilitado, com indicação de sua categoria profi ssional e de seu registro perante o Conselho Regional de Contabilidade.

A ressalva prevista na alínea “p” do inciso II do art. 14 da Resolução TSE n. 21.841/2004 diz respeito à necessidade de que o livro “Diário do partido político” seja devidamente autenticado no ofício civil local, con-soante disposto no parágrafo único do art. 11 da mesma Resolução.

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De outra parte, a legislação exige que os partidos políticos proce-dam à abertura de conta bancária porque é a única forma ou, então, a mais fácil para permitir que seja exercida a fi scalização das receitas e despesas, enfi m, a movimentação fi nanceira dos partidos políticos. Apesar dos descontentamentos, não só os partidos políticos como quaisquer instituições, a exemplo das associações, instituições civis e demais pessoas jurídicas estão também sujeitas a idênticas obrigações contábeis e/ou fi nanceiras, inclusive de manterem conta bancária para movimentação de seus recursos.

Recentemente o egrégio Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catari-na reafi rmou a necessidade de abertura de conta bancária pelos partidos políticos, quando analisou que a falta de apresentação dos extratos bancários constitui irregularidade insanável e que enseja, como regra geral, a desaprovação da prestação de contas do partido político que não apresente a relação das contas bancárias abertas, acom-panhado dos extratos bancários de todo o período do exercício fi scal a qual se refere à prestação de contas, consoante o art. 14, inciso II, alíneas “l” e “n”, da Resolução TSE n. 21.841/2004. Sobre o assunto, tem sido decidido pelo egrégio Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina – TRE/SC:

O partido informou que no exercício de 2007 não teria procedido à abertura de conta bancária – “seja de recursos próprios ou do Fundo Partidário” (fl . 3) –, uma vez que se encontrava com seu CNPJ inativo junto à Receita Federal e, além disso, que não teria arrecadado recursos e recebido valores do Fundo Partidário no citado exercício, motivo pelo qual não possuiria valores movimentados.

No entanto, em consonância com as leis que regem a matéria, as contas anuais devem ser apresentadas na sua forma contábil, sendo, nos termos do art. 14 da Resolução TSE n. 21.841, de 22.6.2004, indispensável à apresentação do comprovante de abertura de conta bancária [...].

A exigência de abertura de conta bancária, conforme o disposto no artigo supracitado, é manifesta, constituindo elemento essencial no exame da regularidade e transparência da movimentação anual dos recursos pelos partidos políticos, ou seja, a exigência tem a fi nalidade de documentar a movimentação fi nanceira em determinado período.3

É difícil mensurar se na prática a manutenção de uma conta bancária pode acarretar difi culdades para o funcionamento de um partido político,

3 TRE/SC. Acórdão n. 25.268. Rel. Juiz Rafael de Assis Horn. Julgado em: 23 de ago. 2010.

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sobretudo daqueles diretórios municipais localizados em municípios cuja população não ultrapassa, por exemplo, os 20 mil habitantes. No futuro, esta questão precisará ser examinada com maior especifi cidade pelos legisladores e magistrados da Justiça Eleitoral e Tribunais Superiores, porque a falta de recursos fi nanceiros não poderia impedir o funciona-mento de determinado partido político, cuja existência é expressamente assegurada pela Constituição Federal (arts. 17 e 18) e não pode ser condicionada ou limitada à necessidade de arrecadação de recur-sos para pagamento de taxas bancárias, já que referidos serviços não são gratuitos para os partidos políticos.

No momento, entretanto, essa discussão perdeu relevância e se um partido político desejar que sua prestação de contas anual seja aprovada ele precisará, inevitavelmente, ser auxiliado por contador habilitado, informar a relação das contas bancárias abertas e, ainda, apresentar toda a documentação exigida pela Lei n. 9.096/1995 e pela Resolução TSE n. 21.841/2004, sob pena de desaprovação da pres-tação de contas e imposição de sanções que serão examinadas nos capítulos seguintes.

4 Das regras para a utilização de recursos do fundo partidário

Antes de se examinar as sanções previstas pela legislação eleitoral para os casos de desaprovação das contas anuais do partido político, importa conhecer algumas regras previstas para a utilização de recursos do Fundo Partidário, exigíveis dos diretórios estaduais ou municipais que recebam recursos fi nanceiros desta natureza ou origem.

Por se tratar de recursos de natureza pública, a Lei n. 9.096/1995 exige o atendimento de inúmeras obrigações contábeis, de modo a garantir que os recursos oriundos do Fundo Partidário sejam utilizados rigorosamente conforme previsto na legislação específi ca. Neste sentido, defi ne o art. 44 da Lei n. 9.096/1995:

Art. 44. Os recursos oriundos do Fundo Partidário serão aplicados:I – na manutenção das sedes e serviços do partido, permitido o pa-gamento de pessoal, a qualquer título, observado neste último caso o limite máximo de 50% (cinquenta por cento) do total recebido; II – na propaganda doutrinária e política;III – no alistamento e campanhas eleitorais;

IV – na criação e manutenção de instituto ou fundação de pesquisa e de doutrinação e educação política, sendo esta aplicação de, no mínimo, vinte por cento do total recebido.

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V – na criação e manutenção de programas de promoção e difusão da participação política das mulheres conforme percentual que será fi xado pelo órgão nacional de direção partidária, observado o mínimo de 5% (cinco por cento) do total.

§ 1o Na prestação de contas dos órgãos de direção partidária de qualquer nível devem ser discriminadas as despesas realizadas com recursos do Fundo Partidário, de modo a permitir o controle da Justiça Eleitoral sobre o cumprimento do disposto nos incisos I e IV deste artigo.

§ 2o A Justiça Eleitoral pode, a qualquer tempo, investigar sobre a aplicação de recursos oriundos do Fundo Partidário.

§ 3o Os recursos de que trata este artigo não estão sujeitos ao regime da Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993.

§ 4o Não se incluem no cômputo do percentual previsto no inciso I deste artigo encargos e tributos de qualquer natureza.

§ 5o O partido que não cumprir o disposto no inciso V do caput deste artigo deverá, no ano subsequente, acrescer o percentual de 2,5% (dois inteiros e cinco décimos por cento) do Fundo Partidário para essa destinação, fi cando impedido de utilizá-lo para fi nalidade diversa.

Além destas exigências, a utilização de recursos do Fundo Partidário ainda impõe que sejam observadas outras regras, mais voltadas para a forma de movimentação destes recursos fi nanceiros. Assim, a legislação exige que os depósitos e movimentações dos recursos provenientes do Fundo Partidário sejam realizados em estabelecimentos bancários controlados pelo Poder Público Federal, pelo Poder Público Estadual ou, inexistindo estes, no banco escolhido pelo órgão diretivo do partido, a teor do disposto no art. 43 da Lei n. 9.096/1995.

Da Lei n. 9.096/1995 ainda é importante destacar que, na forma do seu art. 39, “o partido político pode receber doações de pessoas físicas e jurídicas para constituição de seus fundos”, doações estas que precisão, obrigatoriamente, ser lançadas na contabilidade do diretório partidário benefi ciado. Reservadas as difi culdades práticas para a instituição de uma política de captação ou arrecadação de recursos fi nanceiros, convém reafi rmar que a legislação de regência autoriza expressamente que os partidos políticos promovam arrecadação de recursos para o custeio de seus funcionamentos e outras necessidades fi nanceiras do partido político. Finalmente, registre-se que as doações em recursos fi nanceiros recebidas pelo partido político devem ser efetuadas por cheque cruzado em nome do partido político, ou por meio de depósito bancário diretamente na conta do partido político (art. 39, § 3o, da Lei n. 9.096/1995).

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No que se refere a essa obrigação, devem os partidos políticos estar atentos para a imposição de depositar em conta bancária os recursos fi nanceiros em espécie recebidos como forma de doação ou contribuição partidária, sob pena de restar caracterizada movimentação paralela de recursos, cuja consequência é a desaprovação das contas anuais do partido político, sem prejuízo de outras sanções.

Demais regras pertinentes à utilização dos recursos do Fundo Parti-dário estão defi nidas na Resolução TSE n. 21.841/2004 que, apesar de não divergirem das normas antes analisadas, exigem exame em parti-cular porque constituem desdobramentos da Lei n. 9.096/1995 que, se não forem observadas pelo partido político, seguramente conduzirão à desaprovação das contas da agremiação partidária, com sérios prejuízos para os agentes partidários e para o partido político, pois podem ser forçados ao ressarcimento dos valores provenientes do Fundo Partidário utilizados de modo irregular.

É assim, por exemplo, que a Resolução TSE n. 21.841/2004, por seu art. 4o, exige que o partido político mantenha “[...] contas bancárias distintas para movimentar os recursos do Fundo Partidário e os de outra natureza”. Em outras palavras, os recursos do Fundo Partidário devem ser depositados em uma conta bancária específi ca, ao passo que os recursos de outra natureza ou origem devem ser depositados em conta bancária diversa daquela utilizada para o depósito dos recursos originá-rios do Fundo Partidário. Além desta separação de contas bancárias, a Resolução TSE n. 21.841/2004 disciplina categoricamente como deve ser realizada a comprovação das despesas ou gastos realizados com recursos oriundos do Fundo Partidário, previamente depositados em conta bancária específi ca.

Sobre a matéria, dispõem os arts. 9o e 10 da Resolução TSE n. 21.841/2004:

Art. 9o A comprovação das despesas deve ser realizada pelos docu-mentos abaixo indicados, originais ou cópias autenticadas, emitidos em nome do partido político, sem emendas ou rasuras, referentes ao exercício em exame e discriminados por natureza do serviço prestado ou do material adquirido:

I – documentos fi scais emitidos segundo a legislação vigente, quando se tratar de bens e serviços adquiridos de pessoa física ou jurídica; e

II – recibos, contendo nome legível, endereço, CPF ou CNPJ do emi-tente, natureza do serviço prestado, data de emissão e valor, caso a legislação competente dispense a emissão de documento fi scal.

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Art. 10. As despesas partidárias devem ser realizadas por cheques no-minativos ou por crédito bancário identifi cado, à exceção daquelas cujos valores estejam situados abaixo do teto fi xado pelo Tribunal Superior Eleitoral, as quais podem ser realizadas em dinheiro, observado, em qualquer caso, o trânsito prévio desses recursos em conta bancária.

Apesar do rigor, não é difícil para os dirigentes partidários ou gestores de recursos do Fundo Partidário seguirem à risca essas disposições, porque viabilizam melhor controle pela Justiça Eleitoral e dão transparência para a utilização de recursos públicos pelo órgão partidário. Para o partido político que administra recursos do Fundo Partidário, é preferível a realização de gastos ou despesas que sejam acompanhadas da emissão de documento fi scal ofi cial, porque simples recibos de pagamentos não têm sido considerados como documentos hábeis para a comprovação de despesas com fornecedores, pessoas jurídicas, entre outras despesas que precisam estar comprovadas por meio de documentos fi scais ofi ciais.

Desse modo, se determinado serviço ou produto puder ser prestado por pessoa física ou jurídica que emita nota fi scal, ainda que o con-corrente ofereça preço mais barato, por experiência se recomenda a contratação daquele fornecedor de serviço ou produto que emita nota fi scal, porque a sanção para a não comprovação regular de gastos com recursos do Fundo Partidário é bastante severa para o dirigente partidário faltoso.

A respeito do tema, o TRE/SC já teve oportunidade de decidir:

PRESTAÇÃO DE CONTAS - PARTIDO POLÍTICO - EXERCÍCIO FINANCEIRO DE 2005 - DESPESAS PAGAS COM RECURSOS DO FUNDO PARTIDÁRIO SEM COMPROVAÇÃO POR DOCUMENTOS HÁBEIS - IMPOSSIBILIDADE DE IDENTIFICAR A ORIGEM E DES-TINAÇÃO DE RECURSOS - DESAPROVAÇÃO - DETERMINAÇÃO DE RECOMPOSIÇÃO DO ERÁRIO - SUSPENSÃO DE COTAS DO FUNDO PARTIDÁRIO.

A legislação exige que a comprovação de despesas pagas com recursos do Fundo Partidário se dê: a) por documentos fi scais quando se tratar de bens e serviços; ou b) por recibos, contendo nome legível, endere-ço, CPF ou CNPJ do emitente, natureza do serviço prestado, data de emissão e valor, caso a legislação dispense a emissão de documento fi scal. Além disso, todos os documentos deverão ser ‘originais, ou cópias autenticadas, emitidos sem emendas ou rasuras, referentes ao exercício em exame e discriminados por natureza do serviço prestado ou do material adquirido’ (Res. TSE n. 21.841/2004, art. 9o).

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Caso o total de gastos com recursos do Fundo Partidário sem regular comprovação documental seja expressivo, impõe-se a desaprovação das contas, com a suspensão de nova cotas e a obrigação de ressar-cimento ao erário (art. 25 da Lei n. 9.504/1997 c/c art. 34 da Res. TSE n. 21.841/2004).4

Sem dúvida, a compreensão dessas exigências é fundamental pelos partidos políticos, em razão das sanções previstas para a comprovação irregular dos gastos efetuados com recursos do Fundo Partidário, como antecipou o texto da parte fi nal do acórdão destacado acima. Realmente, não se tratam de exigências impertinentes ou desprovidas de sentido, mas sim de regras cuja observância é obrigatória ou indispensável para o partido político benefi ciário desses recursos de natureza pública, já que seu desatendimento implicará na obrigação do partido político ou de seus dirigentes de ressarcir ao erário os valores irregularmente utilizados em determinado exercício fi scal pela agremiação partidária.

5 Sanções previstas pela legislação em vigor

Como é evidente, a apresentação da prestação de contas anual pelos partidos políticos conduz a um julgamento pela Justiça Eleitoral. Nos termos do art. 27 da Resolução TSE n. 21.841/2004, as presta-ções de contas anuais dos partidos políticos devem ser julgadas pela Justiça Eleitoral como:

I – aprovadas, quando regulares;

II – aprovadas com ressalvas, quando constatadas falhas que, exami-nadas em conjunto, não comprometam a regularidade das contas; e

III – desaprovadas, quando constatadas falhas que, examinadas em conjunto, comprometam a regularidade das contas.

A respeito da competência para julgamento e aplicação de sanções, registre-se que, consoante a legislação de regência, compete aos juízes das Zonas Eleitorais dos municípios julgarem as prestações de contas dos diretórios municipais dos partidos políticos. Aos juízes dos Tribunais Regionais Eleitorais compete julgar as prestações de contas anuais dos diretórios estaduais dos partidos políticos, sendo, por fi m, da competência do Tribunal Superior Eleitoral o julgamento das prestações de contas anuais dos diretórios nacionais dos partidos políticos.

4 TRE/SC. Acórdão n. 24.534. Rel. Juiz Sérgio Torres Paladino. Julgado em: 31 de maio de 2010.

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É interessante perceber, nesse contexto, que mesmo nos casos em que os partidos políticos não apresentam as suas prestações de con-tas à Justiça Eleitoral, ainda assim ocorre espécie de julgamento com aplicação de sanção pela Justiça Eleitoral ao partido político faltoso. Neste sentido, dispõem o art. 37 da Lei n. 9.096/1995 e o art. 18 da Resolução n. 21.841/2004, respectivamente:

Art. 37. A falta de prestação de contas ou sua desaprovação total ou parcial implica a suspensão de novas cotas do Fundo Partidário e sujeita os responsáveis às penas da lei.

Art. 18. A falta de apresentação da prestação de contas anual implica a suspensão automática do Fundo Partidário do respectivo órgão partidário, independente de provocação e de decisão, e sujeita os responsáveis às penas da lei.

Após a aprovação da Lei n. 12.034, de 26 de setembro de 2009, as sanções previstas na Lei n. 9.096/1995 sofreram alterações. Com a aprovação daquela legislação as sanções passaram a ser aplicadas com maior razoabilidade pela Justiça Eleitoral. Isto porque, as penas que antes eram aplicadas pelo prazo mínimo de 1 (um) ano, pude-ram ser fi xadas pelo período mínimo de 1 (um) mês. Depois, restou defi nitivamente estabelecido que os julgamentos das prestações de contas anuais constituem típicos processos judiciais, ou seja, possuem caráter jurisdicional, ao contrário do entendimento da jurisprudência do egrégio Tribunal Superior Eleitoral que defendia o caráter admi-nistrativo das decisões de julgamento das prestações de contas dos partidos políticos.

Sobre a matéria, prevêem os parágrafos 3o, 4o e 5o do art. 37 da Lei n. 9.096/1995:

§ 3o A sanção de suspensão do repasse de novas quotas do Fundo Partidário, por desaprovação total ou parcial da prestação de contas de partido, deverá ser aplicada de forma proporcional e razoável, pelo período de 1 (um) mês a 12 (doze) meses, ou por meio do desconto, do valor a ser repassado, da importância apontada como irregular, não podendo ser aplicada a sanção de suspensão, caso a prestação de contas não seja julgada, pelo juízo ou tribunal competente, após 5 (cinco) anos de sua apresentação.

§ 4o Da decisão que desaprovar total ou parcialmente a prestação de contas dos órgãos partidários caberá recurso para os Tribunais Regio-nais Eleitorais ou para o Tribunal Superior Eleitoral, conforme o caso, o qual deverá ser recebido com efeito suspensivo.

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§ 5o As prestações de contas desaprovadas pelos Tribunais Regionais e pelo Tribunal Superior poderão ser revistas para fi ns de aplicação proporcional da sanção aplicada, mediante requerimento ofertado nos autos da prestação de contas.

Outras sanções ainda são previstas pela legislação em questão para as hipóteses de recebimento de recursos de fontes não identifi cadas, proibidas ou vedadas, a exemplo das sanções previstas nos incisos I e II do art. 28 da Resolução TSE n. 21.841/2004:

I – no caso de utilização de recursos de origem não mencionada ou esclarecida, fi ca suspenso, com perda, o recebimento de novas cotas do Fundo Partidário até que o esclarecimento seja aceito pela Justiça Eleitoral;

II – no caso de recebimento de recursos de fontes vedadas, previstas no art. 5o desta Resolução, com a ressalva do parágrafo único, fi ca suspensa, com perda das cotas, a participação do partido no Fundo Partidário por um ano, sujeitando-se, ainda, ao recolhimento dos re-cursos recebidos indevidamente ao Fundo Partidário.

Por fi m, registre-se que a pena de suspensão, com perda, de novas cotas do Fundo Partidário deve ser aplicada exclusivamente à esfera partidária responsável pelas irregularidades verifi cadas pela Justiça Eleitoral e que ensejaram a desaprovação da prestação de contas do partido político, consoante previsão do parágrafo único da Resolução TSE n. 21.841/2004, em semelhança ao que dispõe o art. 37, § 2o, da Lei n. 9.096/1995. Desse modo, os partidos políticos precisam estar mais atentos para este compromisso legal, pois não interessa ao parti-do político e seus fi liados que sua contabilidade seja desaprovada, em razão das consequências negativas e prejudiciais à imagem e seriedade do partido político envolvido.

6 Da tomada de contas especial

Como visto, na hipótese do partido político não conseguir comprovar com sufi ciência os gastos realizados com recursos oriundos do Fundo Partidário, poderá haver a condenação do partido político ou de seus dirigentes para ressarcirem aos cofres públicos os valores utilizados do Fundo Partidário cuja comprovação não foi admitida pela Justiça Eleito-ral. Assim, neste capítulo serão examinadas as hipóteses em que são cabíveis referidas sanções, bem como a forma procedimental prevista em lei para forçar o partido político ou seus dirigentes a ressarcir aos cofres públicos os valores utilizados do Fundo Partidário carentes de comprovação regular.

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Destarte, são basicamente duas as hipóteses em que há necessida-de de ressarcimento ao erário dos valores utilizados do Fundo Partidário sem regular comprovação. A primeira, diz respeito à omissão no dever de prestar contas, caso em que todo o valor dos recursos recebidos do Fundo Partidário precisarão ser ressarcidos ao erário, conforme precei-tua o art. 34, e seus parágrafos, da Resolução TSE n. 21.841/2004:

Art. 34. Diante da omissão no dever de prestar contas ou de irregula-ridade na aplicação dos recursos do Fundo Partidário, o juiz eleitoral ou o presidente do Tribunal Eleitoral, conforme o caso, por meio de notifi cação, assinará prazo improrrogável de 60 dias, a contar do trânsito em julgado da decisão que considerou as contas desaprova-das ou não prestadas, para que o partido providencie o recolhimento integral ao erário dos valores referentes ao Fundo Partidário dos quais não tenha prestado contas ou do montante cuja aplicação tenha sido julgada irregular.

§ 1o À falta do recolhimento de que trata o caput, os dirigentes partidários responsáveis pelas contas em exame são notifi cados para, em igual prazo, proceder ao recolhimento.

§ 2o Caso se verifi que a recomposição do erário dentro do prazo previsto no caput, sem culpa do agente, o juiz eleitoral ou o presidente do Tribunal Eleitoral poderá deliberar pela dispensa da instauração da tomada de contas especial ou pela sustação do seu prosseguimento.

A segunda hipótese de aplicação da sanção de ressarcimento ao erário, por sua vez, decorre do julgamento que considera que os gastos ou despesas custeadas com recursos do Fundo Partidário não foram realizadas conforme prescrito em lei, ou seja, não foram regularmente comprovadas com documentos fi scais hábeis. Nesse caso, a quantia a ser devolvida é registrada ou fi xada na própria ocasião do julgamen-to de desaprovação das contas anuais do partido político, que terá o prazo de 60 (sessenta) dias para proceder à devolução destes valores, contado do trânsito em julgado da decisão que desaprova a prestação de contas do partido político.

De acordo com a legislação eleitoral, é importante diferenciar que referida obrigação ou dever de devolução, inicialmente, é exigida da agremiação partidária responsável que, inerte quanto ao dever de ressar-cir o erário, autoriza que aqueles valores sejam exigidos dos dirigentes partidários que, à época, administravam referidos recursos de origem pública. Este procedimento de cobrança destes valores públicos utiliza-dos de modo irregular é denominando de Tomada de Contas Especial, e se desenvolve conforme disposto no art. 35, e seus parágrafos, da Resolução TSE n. 21.841/2004:

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Art. 35. Findo o prazo fi xado no caput do art. 34 e não tendo o partido ou os seus dirigentes promovido a recomposição do erário, o juiz eleitoral ou o presidente do Tribunal Eleitoral, conforme o caso, deverá, desde logo, determinar a instauração de tomada de contas especial, visando à apuração dos fatos, identifi cação dos responsáveis e quantifi cação do dano, dando ciência da medida tomada à direção partidária nacional, estadual ou municipal ou zonal (Resolução TSE n. 20.982/2002 e § 2o do art. 1o da IN TCU n. 35/00).

§ 1o A tomada de contas especial será instaurada contra os responsáveis pelas contas do partido quando não for comprovada a aplicação dos recursos do Fundo Partidário ou por sua aplicação irregular.

§ 2o Após a notifi cação dos responsáveis pelas contas do partido da instauração da tomada de contas especial e da consequente fi xação de prazo para defesa, o juiz eleitoral ou o presidente do Tribunal Eleitoral deverá designar servidor para atuar como tomador de contas, que fi cará encarregado da instrução do processo nos termos dos incisos I a VI do art. 36 desta Resolução.

§ 3o Sob pena de nulidade da tomada de contas especial, aplicam-se ao tomador de contas, no que couber, os impedimentos e suspensões previstos nos arts. 134 e 135 do Código de Processo Civil.

Outros dispositivos legais também regulam a tramitação da tomada de contas especial. A respeito da tomada de contas especial, que a princípio pode causar estranheza para muitos dirigentes partidários, é possível esclarecer que se trata de procedimento jurisdicional-adminis-trativo destinado à apuração dos fatos, identifi cação dos responsáveis e quantifi cação do dano a ser ressarcido ao erário. Na prática, constitui quase que um novo julgamento dos atos contábeis praticados pelos partidos políticos ou seus dirigentes, que apesar de condenados no âm-bito da Justiça Eleitoral, podem vir a ser isentados de responsabilidade quanto aos fatos novamente submetidos a julgamento pelo Tribunal de Contas da União.

Por se tratar de recursos públicos federais, o julgamento dos atos que envolveram a utilização de recursos do Fundo Partidário é reali-zado no âmbito do TCU, por expressa competência constitucional e infraconstitucional. Contudo, na forma do disposto no § 2o do art. 35 da Resolução TSE n. 21.841/2004, referido julgamento se inicia no âmbito do Tribunal Regional Eleitoral do Estado respectivo, que determina a notifi cação dos responsáveis para apresentar defesa no prazo fi xado pelo Tribunal Eleitoral. Apresentada ou não defesa pelos interessados, e após a adoção das providências previstas no art. 36 da Resolução n. 21.841/2004, que estabelece regras de procedimento e tramitação da

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tomada de contas especial, os autos deste processo devem ser enca-minhados ao TCU, para julgamento defi nitivo e aplicação das sanções previstas na legislação de regência.

Sobre a matéria, prescreve o art. 38 da Resolução TSE n. 21.841/2004: “Encerrada a tomada de contas especial, qualquer que seja o valor do débito apurado, o juiz eleitoral ou o presidente do Tri-bunal Eleitoral deve enviar os respectivos autos ao TCU para fi ns de julgamento (Lei n. 8.443/1992, art. 8o, § 2o).”

No âmbito do Tribunal de Contas da União, de acordo com o art. 15 da Lei n. 8.443/1992, as contas deverão ser julgadas como regulares, regulares com ressalva, ou irregulares. Sendo julgadas como irregulares, o TCU condenará os responsáveis, havendo débito, ao pagamento da dívida atualizada monetariamente, acrescida dos juros de mora devidos, sem prejuízo de aplicação de multa pelo TCU, “[...] sendo o instrumento da decisão considerado título executivo para fundamentar a respectiva ação de execução”, conforme prescreve o art. 19 da Lei n. 8.443/1992. Por fi m, registre-se que, na forma do art. 24 da Lei n. 8.443/1992, “a decisão do Tribunal, de que resulte imputação de débito ou cominação de multa, torna a dívida líquida e certa e tem efi cácia de título executivo [...]”, que autoriza cobrança mediante ingresso de ação judicial própria, seja pelo Ministério Público junto ao TCU, ou pelo próprio Ministério Público Federal ou outro órgão competente, conforme a regra de com-petência e de organização judiciária aplicável à matéria.

Em razão da gravidade do processo de tomada de contas especial, portanto, exige-se que seja dispensada especial atenção pelos partidos políticos para as disposições da Lei n. 9.096/1995 e da Resolução TSE n. 21.841/2004, que, em conjunto, estabelecem normas sobre fi nanças, contabilidade e prestação de contas dos partidos políticos.

7 Conclusão

Ao longo deste estudo se procurou destacar determinados aspectos legais e processuais aplicáveis aos partidos políticos, sobretudo no que respeita aos seus atos fi nanceiros, contábeis e de prestação de contas anual para a Justiça Eleitoral. Neste propósito, foi preciso delimitar os aspectos doutrinários mais interessantes para a compreensão do dever anual de prestação de contas à Justiça Eleitoral, no caso, pelos partidos políticos. Não se teve intenção de esgotar as análises acerca desta matéria que, reconhecidamente, precisa da colaboração científi ca

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e prática de mais (todos) profi ssionais da área jurídica, das ciências contábeis e demais interessados em geral.

Hoje, é possível inferir uma tendência irreversível da Justiça Eleitoral no sentido de aprimorar a aplicabilidade das normas previstas na Lei n. 9.096/1995 e na Resolução TSE n. 21.841/2004, enfi m, as normas pre-vistas no ordenamento jurídico eleitoral. Não existe mais possibilidade de se apresentar uma prestação de contas sem que os rigores da legislação sejam atendidos, porque os tempos são de profi ssionalização da política e do funcionamento dos partidos políticos. Não estamos diante de uma “cruzada” judicial contra os partidos políticos. Ao contrário, segue-se uma caminhada para a observância correta do ordenamento jurídico aplicável à espécie, como forma de adoção de uma postura madura, democrática e que seja conforme às leis em vigor no país.

Sem a compreensão dos benefícios de se respeitar a legislação, será difícil assegurar democracia plena e respeito à res pública.

8 Referências

BRASIL. Lei Ordinária n. 9.096, de 19 de setembro de 1995. Diário Ofi cial [da] República Federativa do Brasil, Poder Legislativo, Brasília, DF, 13 set. 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9096.htm>. Acesso em: 21 mar. 2011.

______. Tribunal Superior Eleitoral. Resolução n. 21.841, de 22 de junho de 2004. Diário de Justiça [da] República Federativa do Brasil, Poder Judiciário, Brasília, 11 ago. 2004. Disponível em; <http://www.tre-sc.gov.br/site/legislacao/normas-eleitorais/normas-partidarias/resolucao-tse-n-218412004/index.html>. Acesso em: 21 mar. 2011.

______. Tribunal Regional Eleitoral. Acórdão n. 23.998, Relatora Juíza Eliana Paggiarin Marinho, Florianópolis, SC, julgado em 16 set. 2009. Disponível em: <http://www.tre-sc.gov.br/site/fi leadmin/arquivos/legju-risp/acordaos/2009/23998_.pdf>. Acesso em: 21 mar. 2011.

______. Tribunal Regional Eleitoral. Acórdão n. 25.268, Relator Juiz Rafael de Assis Horn, Florianópolis, SC, julgado em 23 ago. 2010. Disponível em: <http://www.tre-sc.gov.br/site/fi leadmin/arquivos/legju-risp/acordaos/2010/25268_.pdf>. Acesso em: 21 mar. 2011.

______. Tribunal Regional Eleitoral. Acórdão n. 24.534, Relator Juiz Sérgio Torres Paladino, Florianópolis, SC, julgado em 31 maio 2010.

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Disponível em: <http://www.tre-sc.gov.br/site/fi leadmin/arquivos/legju-risp/acordaos/2010/24534_.pdf>. Acesso em: 31 mar. 2011.

NOVE SIGLAS deixam de prestar contas. Diário Catarinense, Florianó-polis, p. 10, 3 maio 2008.

SETE PARTIDOS de São José deixam de prestar as contas de 2008. Assessoria de Imprensa do Tribunal Regional Eleitoral, Florianópolis, 30 nov. 2009. Disponível em: <http://www.tre-sc.gov.br/site/noticias/noti-cias-anteriores/lista-de-noticias-anteriores/noticia-anterior/arquivo/2009/novembro/artigos/sete-partidos-de-sao-jose-deixam-de-prestar-as-con-tas-de-2008/index.html>. Acesso em: 21 mar. 2011.

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QUITAÇÃO MILITAR E DIREITOS POLÍTICOS

Fabrício Veiga dos Santos*

1 INTRODUÇÃO. 2 DOS DIREITOS POLÍTICOS. 3 DA OBRIGAÇÃO DO ART. 143 DA CF. 4 DO RESTABELECIMENTO DOS DIREITOS POLÍTICOS DO SUSPENSO E DO EXIMIDO. 5 CONCLUSÃO. 6 RE-FERÊNCIAS.

1 Introdução

A quitação militar é documento essencial para comprovação do gozo dos direitos políticos, em conformidade com o art. 15, IV, da Constituição Federal de 1988. Mas existem situações em que os brasileiros do sexo masculino não cumprem com as obrigações militares constitucionalmen-te previstas, nem com a prestação alternativa, de acordo com o previsto no art. 5o, VIII, da Constituição Federal, o que lhes ocasiona, então, a suspensão dos direitos políticos. O presente estudo busca elucidar, com base na legislação e na doutrina pátria, eventuais dúvidas que possam surgir no atendimento daqueles que não cumpriram com suas obrigações militares e tiveram a suspensão de seus direitos políticos declarada pelo Ministério da Justiça.

2 Dos direitos políticos

O capítulo IV do Título II da Constituição Federal, em especial no seu art. 14, trata dos direitos políticos no Brasil. Alexandre de Moraes (2002, p. 232) conceitua que direitos políticos

É o conjunto de regras que disciplina as formas de atuação da sobe-rania popular conforme preleciona o caput do art. 14 da Constituição Federal. São direitos públicos subjetivos que investem o indivíduo no status activae civitatis, permitindo-lhe o exercício concreto da liberdade de participação nos negócios políticos do Estado, de maneira a conferir os atributos da cidadania.

O referido artigo constitucional proíbe a cassação de direitos polí-ticos, que consiste na privação, por meio de ato administrativo, sem a

* Analista Judíciário – Área Judiciária do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina. Chefe de Cartório da 27ª Zona Eleitoral. Especialista em Direito Eleitoral pela Universidade do Sul de Santa Catarina.

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observância do contraditório e da ampla defesa. Porém, a Constituição autoriza a suspensão e a perda de tais direitos.

Dentre as incidências descritas no art. 15 da CF, é considerado como causa de perda de direitos políticos o cancelamento de natu-ralização por sentença transitada em julgado (alínea “a”). Por ser a nacionalidade condição primária para o exercício dos direitos políticos, a perda da nacionalidade acarreta, por consequência, a perda dos direitos políticos.

Thales Tácito Pontes de Pádua Cerqueira afi rma que, lastreado no entendimento dominante no Tribunal Superior Eleitoral, são conside-radas, hoje, no Brasil, duas hipóteses de perda de direitos políticos: a) cancelamento da naturalização por sentença judicial transitada em julgado, tendo como causa o exercício de atividade nociva ao interesse social, sendo possível sua reaquisição apenas por meio de ação res-cisória, e b) perda da nacionalidade por adquirir nova nacionalidade, salvo nas hipóteses previstas, como o reconhecimento de nacionalidade pela lei estrangeira ou imposição de naturalização a brasileiro residente em outro Estado, como condição de permanência em seu território ou para exercício de prerrogativas civis (CERQUEIRA, 2006, t. 1, p. 225), sendo readquirida apenas por ato do presidente da República, podendo o benefi ciado, então, realistar-se como eleitor.

As demais causas constantes do rol do art. 15 da CF são causas de suspensão de direitos políticos. Importante frisar que nas causas de suspensão de direitos políticos, cessada a causa impeditiva, cessa a suspensão, cabendo, então, o restabelecimento.

Suspendem-se os direitos políticos nos casos de:

a) incapacidade civil absoluta;

b) condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;

c) improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4o, da CF, e

d) recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alter-nativa, nos termos do art. 5o, VIII, da CF.

A obrigação constante do art. 143 da CF (serviço militar obrigatório aos brasileiros do sexo masculino que completem 18 anos de idade até 31 de dezembro) é a mais comum obrigação legal a todos imposta, cuja recusa em cumpri-la, cumulada com o não cumprimento de prestação

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alternativa, suspende os direitos políticos e é o escopo do presente trabalho.

3 Da obrigação do art. 143 da CF

Regulamentado pelas Leis n. 4.375/1964 e n. 8.239/1991, o art. 143 da Constituição traz a obrigação referente ao serviço militar, imposta aos brasileiros do sexo masculino que completem 18 anos de idade até 31 de dezembro de cada ano.

A obrigação militar inicia no dia 1o de janeiro do ano em que a pessoa completar 18 anos de idade e persiste até 31 de dezembro do ano em que completar 45 (quarenta e cinco) anos (art. 5o da Lei n. 4.375/1964).

Todavia, é facultado serviço alternativo, em tempos de paz, aos que se alistarem e alegarem imperativo de consciência, decorrente de crença religiosa, convicção ideológica ou política, para eximição das atividades de caráter essencialmente militar.

Quando o jovem se nega a prestar tanto o serviço militar obriga-tório, como o serviço alternativo proposto pela autoridade militar (por convicções religiosas, ideológicas ou políticas), ensejará a suspensão de seus direitos políticos.

Nos regimes constitucionais anteriores à Carta de 1988, a recu-sa no cumprimento desta obrigação ensejava a perda dos direitos políticos.

Uma vez que a Constituição1 vigente não faz distinção entre perda e suspensão no rol apresentado no art. 15, a doutrina diverge entre ser a escusa de consciência causa de perda ou de suspensão de direitos políticos. Seguimos a posição de Marcos Ramayana, Joel José Cân-dido, Thales Tácito Pontes de Pádua Cerqueira e de Pedro Roberto Decomain, entre outros, que entendem que ela causa suspensão, uma vez que a sua regularização pode ser requerida a qualquer momento, em conformidade com o disposto na Lei n. 8.239/1991, cumpridas as exigências legais.

1 Para uma análise mais detalhada, sugere-se a consulta aos seguintes Diplo-mas: Constituição de 1969, art. 149, § 1o, “b”; Constituição de 1946, art. 135, § 2o, II; Constituição de 1937, art. 119, “b”.

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A prestação do serviço alternativo é regulamentada pela Lei n. 8.239/1991, bem como pela Portaria n. 2.681, de 28 de julho de 1992, da Comissão do Serviço Militar (COSEMI), e a suspensão dos direitos políticos somente ocorrerá caso o alistando se recuse a cumprir a obrigação alternativa proposta pelo comando militar. Neste caso, o inte-ressado deverá apresentar declaração de próprio punho, expressando a recusa em cumprir o serviço alternativo, e receber, posteriormente, o certifi cado de recusa de prestação de serviço alternativo, que não tem validade como quitação militar, uma vez que a obrigação imposta não foi cumprida2.

De acordo com a doutrina de Ramayana (2007, p. 211 e ss.), a autoridade competente para a decretação é a autoridade militar, que certifi ca o não cumprimento da obrigação ou da prestação alternativa, em procedimento administrativo, sem contraditório, e o encaminha ao Ministério da Justiça, que, por sua vez, fará comunicação ao Tribunal Superior Eleitoral, para a anotação da suspensão dos direitos políticos. Para Joel José Cândido, a competência para decretar a suspensão dos direitos políticos é da Justiça Militar Federal, aplicando-se o rito previsto nos arts. 463-465 do Código de Processo Penal Militar (CANDIDO apud MORAES, 2002, p. 214).

Consta da Portaria acima referida (art. 44, item 4) que é compe-tência dos comandantes do distrito naval, do comando aéreo ou da região militar (neste último caso, poderá existir delegação aos chefes de Circunscrição de Serviço Militar – CSM) a expedição do certifi cado de recusa de prestação do serviço alternativo, que ensejará a suspensão dos direitos políticos daquele que o requerer. Com a referida expedição, inicia-se o trâmite de suspensão dos direitos políticos.

Esta certidão de recusa somente será expedida após o prazo de 2 anos, a contar do vencimento do período estabelecido, para, então, existir a decretação da suspensão dos direitos políticos3.

Assim, aquele que não desejar cumprir suas obrigações militares deverá apresentar requerimento ao comandante da região militar ou equivalente, acompanhado de documentos comprobatórios (cópia do certifi cado de alistamento militar e da declaração da comunidade re-ligiosa a que pertença, se for o caso), e efetuar o pagamento de taxa

2 Procedimento em conformidade com os arts. 15, § 8o, e 43, § 4o, da Portaria COSEMI n. 2.681/1992.

3 Em conformidade com a Lei n. 8.239/1991, art. 4o, §§ 1o e 2o, regulamentados pela Portaria COSEMI n. 2.681/1992.

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militar. Após, a decisão é enviada à diretoria de serviço militar, que, por sua vez, encaminha ofício ao Ministério da Justiça, com a listagem dos que se recusaram a cumprir a obrigação, para a publicação, no Diário Ofi cial da União, da suspensão de seus direitos políticos (PONTES apud CERQUEIRA, 2006, t. 1, p. 219), e ao requerente será fornecida certidão de recusa de prestação do serviço alternativo, que não com-prova quitação militar, e, por conseguinte, não é documento hábil para instruir o pedido de alistamento eleitoral.

Cumpre salientar que a prestação alternativa ao serviço militar obrigatório gera quitação das obrigações militares, uma vez que a prestação alternativa tem os mesmos efeitos jurídicos do certifi cado de reservista (art. 4o, caput, da Lei n. 8.239/1991), e sua atestação serve como documento comprobatório do cumprimento da obrigação do art. 143 da CF.

4 Do restabelecimento dos direitos políticos do suspenso e do eximido

Conforme já exposto no presente trabalho, por ser causa de sus-pensão, e não de perda, os direitos políticos dos que se recusaram a cumprir as obrigações mencionadas podem ser restabelecidos a qualquer momento, desde que cumprida a exigência legal que ensejou a suspensão dos referidos direitos. Para tanto, deverá o interessado preencher formulário dirigido ao Ministério da Justiça, solicitando a cessação do impedimento, para que possa ser publicado ato adminis-trativo restabelecendo os direitos políticos (por decreto ou por portaria do Ministério da Justiça).

O referido formulário deverá ser acompanhado de cópia autentica-da do documento de identidade e de documento hábil que comprove o cumprimento de obrigação ou a anulação da eximição ou, ainda, declaração de que o eximido agora está disposto a suportar o ônus imposto pelo art. 40 da Lei n. 818/1949, que dispõe:

Art. 40. O brasileiro que houver perdido direitos políticos, poderá re-adquiri-los:

a) declarando, em termo lavrado no Ministério da Justiça e Negócios Interiores, se residir no Distrito Federal, ou nas Secretarias congêneres dos Estados e Territórios, se neles residir, que se acha pronto para suportar o ônus de que se havia libertado, contanto que esse procedi-mento não importe fraude da lei;

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Quanto ao documento que comprove a anulação da eximição, en-tendemos que os direitos políticos daqueles que foram eximidos em data anterior à Carta Constitucional de 1988 – cuja legislação à época determinava a perda dos referidos direitos –, e que tenham mais de 46 anos de idade, devem ser restabelecidos, caso suspensos ou perdidos, sem o cumprimento do serviço militar obrigatório ou prestação alter-nativa, uma vez que a obrigação militar persiste até 31 de dezembro do ano em que se completa 45 anos de idade, e que o referido pedido deverá ser encaminhado ao Ministério da Justiça acompanhado de cópia de certidão expedida pelo órgão militar que declare a condição de quitação com o serviço militar, em conformidade com o art. 5o, caput, da Lei n. 4.375/1964.

Portanto, ainda que a eximição tenha ocorrido na vigência dos di-plomas constitucionais anteriores (constando nos registros da Justiça Eleitoral a perda dos direitos políticos e não a suspensão), devem estas perdas serem entendidas, à luz da Constituição de 1988, como suspensões passíveis de restabelecimento.

O restabelecimento, no caso acima, é garantido aos que foram considerados eximidos em data anterior à Constituição de 1988, pela interpretação do art. 4o, § 2o, da Lei n. 8.239/1991, e do art. 15, §§ 9o e 10, e art. 70 da Portaria COSEMI n. 2.681/1992, que garantem ao inadimplente o restabelecimento de seus direitos a qualquer tempo, desde que cumpridas as obrigações, tendo direito à atualização de sua situação militar.

Isso se deve ao fato de não existir, antes da promulgação da Cons-tituição da República de 1988, o instituto do serviço alternativo ao ser-viço militar obrigatório e que sua instituição possibilitou aos jovens que aleguem escusa de consciência a prestação de atividades de caráter administrativo, fi lantrópico, assistencial ou produtivo, em contraposição à atividade de caráter essencialmente militar (art. 3o, § 2o, da Lei. n. 8.239/1991). Assim, estendeu-se a oportunidade aos eximidos que, na época de seu alistamento, não tinham alternativa à perda de seus direitos políticos.

Extinta a causa impeditiva, deverá o ato ser publicado pelo Minis-tério da Justiça e então encaminhado o restabelecimento dos direitos políticos do requerente ao Tribunal Superior Eleitoral, para a inativação do impedimento nos sistemas eleitorais. Poderá também o interessado provocar o Judiciário Eleitoral para que seus direitos políticos sejam restabelecidos, desde que tenha em mãos o ato que restabeleceu seus

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direitos, no caso de morosidade no envio das informações à Corregedoria Geral Eleitoral. Tal provocação poderá ocorrer em qualquer zona elei-toral do País, que encaminhará o referido pedido à Corregedoria Geral Eleitoral, para as devidas providências (lançamento de contra-ASE na inscrição eleitoral do requerente, caso exista, ou inativação do registro na base de perdas e suspensões de direitos políticos do TSE).

5 Conclusão

Da análise do conteúdo exposto tem-se que a recusa em cumprir obrigação a todos imposta no art. 143 da Constituição da República, ainda que não pacifi cada pela doutrina, tem natureza de suspensão de direitos políticos, podendo, portanto, ser restabelecidos com o cumpri-mento da obrigação que ensejou a suspensão.

A Constituição brasileira garante aos que aleguem imperativo de consciência decorrente de convicção ideológica ou política, bem como de crença religiosa, a prestação de serviço alternativo ao militar, proposto pelas Forças Armadas, para o adimplemento da obrigação (art. 143 da CF e art. 3o da Lei n. 8.239/1991), sendo que a recusa do cumprimento do serviço alternativo enseja a suspensão dos direitos políticos.

Caso o eximido deseje, a qualquer momento, readquirir seus direitos, deverá cumprir integralmente o serviço alternativo previsto em lei (art. 4o, § 2o, da Lei n. 8.239/1991), ou aguardar a data em que completará 46 anos de idade, pois, a partir dessa idade, os brasileiros do sexo masculino encontram-se desobrigados a prestar serviço militar, nos termos do art. 5o da Lei n. 4.375/1964.

Por fi m, ressalte-se que o órgão responsável pelo restabelecimento dos direitos políticos, suspensos por descumprimento de obrigação mi-litar, é o Ministério da Justiça (por meio de ato administrativo complexo envolvendo o também Comando Militar, que atestará o cumprimento integral do serviço alternativo proposto), cabendo ao Tribunal Superior Eleitoral a retirada da anotação do impedimento do banco de dados da Justiça Eleitoral.

6 Referências

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______. Lei n. 8.239 (4 de outubro de 1991). Regulamenta o art. 143, §§ 1o e 2o, da Constituição Federal, que dispõem sobre a prestação de serviço alternativo ao serviço militar obrigatório. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8239.htm. Data de acesso: 29 abr. 2010.

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INFORMATIVO JURISPRUDENCIAL

O Informativo é uma publicação do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina sobre decisões selecionadas da Corte, com a fi nalidade de difundir o conhecimento em matéria de Direito Eleitoral, processo eleitoral e eleições. As notas aqui divulgadas constituem resumos de julgamentos. Não consistem, portanto, em repositório ofi cial de juris-prudência do TRESC.

INFORMATIVO JURISPRUDENCIAL N. 23 - JANEIRO DE 2010

Abuso do poder econômico. Captação ilícita de sufrágio. Inocorrência.O Tribunal afastou as penalidades que haviam sido impostas em sen-tença proferida em investigação judicial eleitoral, fundadas na prática de captação ilícita de sufrágio (Lei n. 9.504/1997, art. 41-A) e de abuso do poder econômico (Lei Complementar n. 64/1990, art. 22). Preliminar-mente, reiterou-se o entendimento de que as representações fundadas no art. 41-A da Lei n. 9.504/1997 podem ser ajuizadas até a data da diplomação. No mérito, concluiu-se que, ausente prova segura e con-clusiva demonstrando a oferta de churrasco acompanhada de pedido de voto, ou mesmo a prática de conduta que indique o condicionamento da entrega do alimento à promessa de sufrágio, não há como concluir pela caracterização da infração do art. 41-A da Lei n. 9.504/1997. De outro lado, a confraternização com simpatizantes de campanha em evento festivo local não confi gura abuso do poder econômico quando ausente o uso desproporcional de recursos fi nanceiros ou de vantagens materiais com intuito de angariar votos. Ausente, na hipótese apreciada, a potencialidade lesiva da conduta, apta a infl uir no resultado do pleito, exigida para confi guração do referido abuso. Acórdão n. 24.302, de 20.1.2010, Relator Juiz Sérgio Torres Paladino.

Abuso do poder político. Captação ilícita de sufrágio. Inocorrência.O Tribunal manteve sentença de improcedência proferida em ação de investigação judicial eleitoral ajuizada com fundamento em prática de abuso do poder político. Entendeu-se que, em que pese ser manifes-tamente ilegal e reprovável o uso de cargo público para constranger servidores a votarem em determinado candidato, não há como tipifi car a conduta como abuso do poder político (Lei Complementar n. 64/1990, art. 22), quando constituir ato isolado – reunião restrita a um pequeno número de servidores –, sem provas de que tenha repercutido decisivamente no

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convencimento de parte considerável do eleitorado. O comportamento não se conforma, de igual modo, à hipótese legal da captação ilícita de votos (Lei n. 9.504/1997, art. 41-A), quando comprovado que o candidato não participou, nem consentiu com a ação, seja na qualidade de mentor intelectual, seja como partícipe. Acórdão n. 24.306, de 25.1.2010, Relator Juiz Sérgio Torres Paladino.

Execução fi scal. Prazo recursal. Intempestividade.O Tribunal, por maioria, considerou intempestivo recurso interposto pela União contra sentença proferida em execução fi scal. Na hipótese, a sentença acolhera exceção de pré-executividade para reconhecer a prescrição da pretensão de cobrança da dívida e declarar extinto o pro-cesso com resolução de mérito. Entendeu-se que, não existindo prazo recursal específi co na Lei n. 6.830/1980, deve ser aplicado o prazo geral de três dias previsto no art. 258 do Código Eleitoral. Observou-se, em seguida, que o prazo teve início em 14.7.2009. Considerando a contagem em dobro em favor da Fazenda Pública (Código de Processo Civil, art. 188), expirou em 20.7.2009. No entanto, o recurso somente foi protocolizado em 27.7.2009, sendo, portanto, intempestivo. Vencido o Juiz Sérgio Torres Paladino.Acórdão n. 24.286, de 12.1.2010, Relatora Juíza Eliana Paggiarin Marinho.

Propaganda eleitoral. Placas justapostas. Aplicação de multa.O Tribunal deu parcial provimento a recurso interposto contra sentença condenatória proferida em representação por propaganda eleitoral irre-gular. Constatou-se, inicialmente, a existência de diversas placas com propaganda eleitoral de candidatos a vereador, vice-prefeito e prefeito. Individualmente, cada publicidade não ultrapassaria o limite permitido, de 4 m² (Lei n. 9.504/1997, art. 39, § 8o, e Resolução TSE n. 22.718/2008, arts. 14 e 17). No entanto, a disposição das placas ampliou o efeito visual de determinadas propagandas, caracterizando um engenho publicitário semelhante a outdoor. Entendeu-se ter sido ultrapassado o limite legal nas propagandas de dois candidatos ao pleito majoritário, por somarem quatro placas em conjunto com candidatos a vereador e uma exclusiva daqueles candidatos. Com relação a outros dois candidatos ao pleito majoritário, concluiu-se ter havido extrapolação do limite, pois somaram à sua placa a propaganda realizada na placa de candidato a vereador. Ressaltou-se que o fato de as placas estarem em terreno particular e de não se tratar de engenhos explorados comercialmente não afasta a conclusão a respeito da irregularidade da propaganda. Transformou-

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se, por fi m, as quatro penalidades de multa – aplicadas na sentença individualmente para cada candidato – para duas de forma solidária aos candidatos componentes da mesma chapa, na linha de entendimento da Corte de que a candidatura do vice-prefeito não ocorre isoladamente, mas vinculada à do prefeito. No tocante aos três candidatos a vereador, também condenados na sentença, excluiu-se a penalidade de multa, ao fundamento de que, quanto a dois deles, as placas eram individuais, dentro do limite de 4 m² cada uma, e, quanto a outra, as duas placas existentes, apesar de próximas, não estavam justapostas.Acórdão n. 24.307, de 25.1.2010, Relatora Juíza Eliana Paggiarin Marinho.

Investigação judicial eleitoral. Legitimidade de coligação.O Tribunal deu provimento a recurso em investigação judicial eleitoral para anular a sentença de extinção do feito sem resolução de mérito e determinar o retorno dos autos à primeira instância, para o devido processamento. Na hipótese apreciada, a investigação judicial fora proposta por coligação após a data das eleições. Na sentença anulada, o Juiz Eleitoral entendera que a coligação não detém legitimidade para a propositura após as eleições. Enfatizou-se no acórdão, todavia, que muito se discutiu na jurisprudência se, após as eleições, os partidos coligados teriam legitimidade para, isoladamente, demandar em juízo, tendo sido fi rmado o entendimento pela possibilidade. Isso não signifi ca, no entanto, que a própria coligação deixa de ser legítima logo após as eleições, apenas que ela passa a compartilhar tal legitimidade com os partidos políticos que a integram. Acórdão n. 24.296, de 13.1.2010, Relator Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto.

INFORMATIVO JURISPRUDENCIAL N. 24 - FEVEREIRO DE 2010

Prestação de contas. Recebimento de recursos de pequeno valor. Aprovação.O Tribunal conheceu do recurso e a ele deu provimento para aprovar as contas de campanha de candidato. Observou-se inicialmente que o relatório conclusivo da unidade técnica opinou pela aprovação das con-tas, tendo o Promotor Eleitoral de primeiro grau noticiado a existência de propaganda eleitoral confeccionada com o CNPJ de campanha do candidato, em autos de notícia-crime, material este que não teria sido devidamente declarado em sua prestação contábil, alegando que teria havido omissão de despesa, além da utilização de documento fi scal ide-ologicamente falso para justifi car referida omissão. O Tribunal salientou

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que, na hipótese apreciada, os esclarecimentos prestados pelo candidato seriam hábeis ao saneamento da irregularidade referente à ausência de registro de doação de R$ 600,00 (seiscentos reais). Observou-se que a falsidade ideológica de Nota Fiscal foi da empresa gráfi ca, que deveria tê-la emitido à época da contratação. Assim, não tendo sido emitido o documento fi scal competente no tempo próprio, a legislação tributária restou infringida apenas pela empresa gráfi ca. O Tribunal concluiu que irregularidades envolvendo quantias de valor ínfi mo ensejam a aplica-ção dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, permitindo a aprovação das contas.Acórdão n. 24.322, de 4.2.2010, Relator Juiz Rafael de Assis Horn.

Ação de Investigação Judicial Eleitoral. Condutas vedadas.O Tribunal manteve sentença que indeferiu a petição inicial de ação de investigação judicial eleitoral. Preliminarmente, excluiu-se do feito par-tido político que não fi gurou como parte inicial da ação de investigação judicial eleitoral, e declarou-se a ilegitimidade passiva de coligação por se tratar de ente jurídico, já que as sanções cominadas no art. 22 da Lei de Inelegibilidade não a alcançam, sendo partes ilegítimas para fi gurar no polo passivo de representações com pedido de abertura de investiga-ção judicial eleitoral. No mérito, a Corte constatou que, na hipótese em apreço, a controvérsia na suposta utilização abusiva de evento público para autopromoção pessoal, com a alegada infração ao art. 22 da Lei Complementar n. 64/1990, os elementos contidos nos autos não eviden-ciaram o cometimento de qualquer conduta ilícita que autorizem concluir pelo cometimento de abuso do poder político ou de autoridade, no fato de o candidato à reeleição apresentar, em sua propaganda eleitoral, as realizações de seu governo, já que esta ferramenta é inerente ao pró-prio debate desenvolvido em referida propaganda. Por fi m, o Tribunal não conheceu do recurso adesivo interposto para efeito de pleitear a condenação dos recorrentes por litigância de má-fé, nos termos do art. 17 do Código Processual Civil, por ausência do pressuposto recursal de admissibilidade da sucumbência recíproca, estabelecido no art. 500 do Código Processual Civil.Acórdão n. 24.328, de 9.2.2010, Relator Juiz Rafael de Assis Horn.

Abuso do poder econômico. Uso indevido dos meios de comuni-cação social. Inocorrência.

O Tribunal manteve sentença de improcedência proferida em ação de investigação judicial eleitoral ajuizada com fundamento em prática de abuso do poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação

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social. Preliminarmente, a Corte assinalou ser possível, em sede de ação de investigação judicial eleitoral, a imposição da pena de cas-sação de mandato se a ação for julgada antes da diplomação, depois disso faz-se necessária a proposição de AIME ou RCED. Em análise do mérito, concluiu-se não ter sido comprovada a necessária certeza da prática de captação ilícita de sufrágio (Lei n. 9.504/1997, art. 41-A), pois inexistem provas que corroborem as condutas ilícitas narradas na inicial e a participação dos recorridos, impondo-se a improcedência da representação, ainda mais em se considerando a gravidade da sanção de cassação do registro, que desconstitui a vontade popular democrati-camente sufragadas nas urnas, mantendo hígida a irretocável sentença monocrática.Acórdão n. 24.305, de 25.2.2010, Relator Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto.

INFORMATIVO JURISPRUDENCIAL N. 25 - MARÇO DE 2010

Captação ilícita de sufrágio. Recurso Provido. Condenação.O Tribunal reformou sentença que havia absolvido candidato por cap-tação ilícita de sufrágio (Lei n. 9.504/1997, art. 41-A), para o efeito de cassar seu diploma de suplente de vereador, aplicando-lhe multa no valor de R$ 1.064,10, bem como para declarar sua inelegibilidade por três anos. Depois de afastada a preliminar de ilegitimidade ad causam do Ministério Público, no mérito, concluiu-se estar presente a captação ilícita de sufrágio por meio de entrega de produtos alimentícios a pes-soas carentes, dissimulada sob a forma de prestação de serviços de cabos eleitorais. No presente caso, foram encontrados na residência do recorrido e num supermercado lista de compras e vários recibos as-sinados por eleitores que retiraram produtos naquele estabelecimento, havendo ainda depoimentos que atestam o esquema de compra de votos. Registrou-se, durante o julgamento, que a forma como se deu a contabilização das referidas despesas na prestação de contas, com declaração de despesas para pagamento dos cabos eleitorais, não corresponde à verdade, já que os pagamentos foram efetuados ao supermercado, a quem cabia intermediar a compra de votos, mediante a entrega de alimentos. Salientou-se, em conclusão, que caracteriza o abuso do poder econômico a prática de atos que, voltados à compra de votos, tenham a possibilidade de afetar a isonomia entre os candidatos, notadamente quando os signifi cativos valores disponibilizados foram dis-tribuídos para expressivo número de eleitores, não afetando a existência da potencialidade o fato de o candidato não ter sido eleito.Acórdão n. 24.373, de 3.3.2010, Relatora Juíza Eliana Paggiarin Marinho.

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Prestação de contas. Rejeição. Pedido de Reconsideração. Preclu-são temporal e consumativa.O Tribunal, à unanimidade, inadmitiu pedido de reconsideração da decisão que rejeitou as contas de partido político relativas ao exercício de 2004 e determinou a suspensão do repasse de cotas do Fundo Par-tidário ao órgão regional do partido durante o ano seguinte. No pedido de reconsideração, a grei partidária alega que foram encontrados os documentos que comprovam a regularidade dos pagamentos efetuados em 2004, ressaltando a importância da modifi cação da decisão, para que volte a receber cotas do Fundo Partidário. Durante o julgamento, verifi cou a Corte que o partido deixou transcorrer o prazo de 48 horas, previsto no art. 98 do Regimento Interno do TRESC, motivo pelo qual foram consideradas intempestivas as contas apresentadas. Asseverou a relatora do acórdão que, embora as decisões proferidas em prestação de contas possuam natureza administrativa, não fazendo coisa julgada, é certo que estão sujeitas aos efeitos da preclusão, impedindo que as questões sejam discutidas infi nitamente.Acórdão n. 24.381, de 10.3.2010, Relatora Juíza Eliana Paggiarin Marinho.

Captação e gastos ilícitos de recursos. Não confi guração. Ausência de provas.O Tribunal, à unanimidade, negou provimento a recurso no qual se pre-tendia reformar a sentença de improcedência de ação de investigação judicial eleitoral, em que a recorrente pleiteava a cassação dos mandatos do prefeito e do vice-prefeito eleitos, ao argumento de ter havido abuso de poder econômico caracterizado por irregularidades na captação e na utilização de recursos em campanha eleitoral, o que afrontaria o art. 30-A da Lei n. 9.504/1997. A Corte entendeu não haver prova robusta e incontroversa dos alegados fatos ilícitos, apenas meros indícios base-ados em suposições afastadas do efetivo conjunto probatório, os quais não são sufi cientes para embasar condenação motivada por captação e/ou gastos ilícitos de recursos.Acórdão n. 24.388, de 15.3.2010, Relatora Juíza Eliana Paggiarin Marinho.

Representação pelo art. 41-A da Lei n. 9.504/1997. Ilegitimidade re-cursal de suplente de vereador. Ilegitimidade passiva ad causam de terceiro não candidato. Captação ilícita de sufrágio. Inocorrência.O Tribunal manteve sentença de improcedência proferida em represen-tação ajuizada para apuração de captação ilícita de sufrágio. Preliminar-mente, reiterou-se o entendimento de que o primeiro suplente não tem interesse jurídico para recorrer em processo que objetiva a cassação

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de vereador, já que não sofreu qualquer dano em sua esfera de direitos, nos termos do art. 499 do Código de Processo Civil, possuindo apenas mera expectativa de direito, correspondente à possibilidade de que o cargo ocupado pelo titular se torne vago. Depois, em segunda preliminar, manteve-se a decisão de primeira instância que afastou da lide terceiro não candidato. No caso, a representação ajuizada pelo Ministério Público também foi dirigida contra o pai do candidato a vereador que, suposta-mente, entregou dinheiro a eleitor (para pagamento de fatura de energia elétrica) em troca de voto para o próprio fi lho. Neste ponto, ressaltou-se que as sanções do art. 41-A da Lei n. 9.504/1997 somente podem re-cair sobre o candidato, o que exclui terceiros que, em tese, praticaram captação ilícita de sufrágio em seu favor. No mérito, concluiu-se que, ausente prova segura e conclusiva demonstrando a participação direta ou indireta do candidato na oferta de vantagem, não há como concluir pela caracterização da infração do art. 41-A da Lei n. 9.504/1997.Acórdão n. 24.345, de 24.2.2010, Relator Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto.

INFORMATIVO JURISPRUDENCIAL N. 26 - ABRIL DE 2010

Habeas corpus. Trancamento de ação penal. Crime de desobedi-ência.O Tribunal concedeu a ordem em habeas corpus que tinha como causa de pedir o trancamento de ação penal defl agrada contra o paciente, pela suposta prática de crime eleitoral de desobediência, tipifi cado no art. 347 do Código Eleitoral. (“Recusar alguém cumprimento ou obedi-ência a diligências, ordens ou instruções da Justiça Eleitoral ou opor embargos à sua execução: Pena – detenção de três meses a um ano e pagamento de dez a vinte dias-multa.”). Entendeu-se que o paciente já havia suportado a imposição de multa pecuniária arbitrada pelo Juiz Eleitoral por divulgação de campanha eleitoral na internet, procedendo ao recolhimento do respectivo valor, e que, nessas circunstâncias – em que avultam a garantia do cumprimento da ordem judicial por sanção imposta e o respectivo desembolso pecuniário pelo paciente –, não se pode mostrar materializada a fi gura típica do crime de desobediência.Acórdão n. 24.415, de 5.4.2010, Relator Juiz Sérgio Torres Paladino.

Recurso administrativo. Servidor público. Licença capacitação.O Tribunal conheceu de recurso interposto por servidor da Secretaria do TRESC, e a ele deu provimento parcial, para deferir pedido de licen-ça capacitação (art. 87 da Lei n. 8.112/1990), que objetivava elaborar

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trabalho de conclusão de curso de pós-graduação em Psicologia Trans-pessoal sobre o tema “Transpessoal nas Organizações”. No julgamento, a Corte entendeu que o fato de o servidor desempenhar atividades não diretamente relacionadas ao tema da monografi a não constitui óbice para o deferimento da licença capacitação, na medida em que o aper-feiçoamento requerido contempla área de interesse da Administração. Ressaltou que o estudo de soluções corporativas destinadas a aprimorar a gestão de pessoas pode contribuir para a melhoria dos serviços. O Tribunal concluiu ser possível adentrar na análise das razões de con-veniência e oportunidade a respeito do pedido de licença capacitação, porquanto se estaria em sede de recurso administrativo, cuja decisão a ser prolatada pela Corte tem caráter eminentemente administrativo e sem qualquer carga jurisdicional.Acórdão n. 24.420, de 5.4.2010, Relator Juiz Sérgio Torres Paladino.

Captação ilícita de sufrágio. Ausência de prova robusta e incon-troversa.O Tribunal, inicialmente, afastou as preliminares de cerceamento de defesa por falta de interrogatório do representado e por ausência de oitiva de testemunha de defesa, bem como a de nulidade da sentença por ausência de fundamentação. Acolheu-se, a seu turno, a preliminar de cerceamento de defesa por haver o Juiz a quo determinado o desen-tranhamento de prova produzida pelos recorrentes, por meio da juntada de um CD-ROM, contendo gravação ambiental de diálogo. No mérito, o Tribunal deu provimento aos recursos contra sentença que julgou procedente investigação judicial eleitoral para afastar as penalidades aplicadas aos recorrentes, fundamentada em suposto abuso de poder econômico e captação ilícita de sufrágio. No caso em apreço, o Juiz Eleitoral cassou os diplomas de prefeito, de vice-prefeito e de vereador, aplicando multa aos investigados, bem como determinou a realização de novas eleições majoritárias no município e a convocação do suplente de vereador. O Magistrado de primeiro grau entendeu que, no caso, fi cou caracterizada a ocorrência de compra de votos (art. 41-A da Lei n. 9.504/1997) – oferta de bens em troca de votos –, demonstrada nos autos pelos testemunhos judicial e extrajudicialmente colhidos, bem assim pelos documentos juntados. A Corte, no entanto, concluiu não se vislumbrar elementos probatórios que permitissem afi rmar, com segu-rança, que o candidato tivera ciência prévia da “doação” ou, com o seu silêncio, a ela consentira. Ressaltou-se, em reforço, que pela gravidade da sanção – cassação do diploma – ganha importância a tese de que também no processo eleitoral deve prevalecer o princípio in dubio pro reo;

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que “para a condenação por captação ilícita de sufrágio, prevista no art. 41-A da Lei Eleitoral (Lei n. 9.504/1997), é indispensável demonstração cabal e inequívoca da conduta ilícita de oferta ou cessão de bem ou de vantagem em troca de voto. Prova que causa dúvida nunca permite o sancionamento, na esteira de pacífi ca jurisprudência” (TRESC, Ac. n. 23.564, Juiz Márcio Luiz Fogaça Vicari).Acórdão n. 24.442, de 14.4.2010, Relator Juiz Sérgio Torres Paladino.

Propaganda eleitoral. Aplicação de penalidade pecuniária. Decisão extra petita.O Tribunal deu provimento ao recurso para anular parte da sentença que aplicou multa por infração ao art. 14 da Resolução TSE n. 22.718/2008, divulgação de propaganda eleitoral em outdoors, por se tratar de decisão extra petita. Entendeu-se que o Juiz a quo redirecionou a representação para abranger irregularidade apontada, mediante parecer, posterior-mente pelo Promotor Eleitoral, sem, no entanto, ouvir os representados, que apresentaram defesa em relação aos fatos narrados na inicial. Observou-se que o Ministério Público Eleitoral deveria ter proposto ou-tra representação ou, ao menos, requerer ao Juiz fosse permitido aos representados apresentar nova defesa. Destacou-se, ainda, que o poder de polícia que o Juiz Eleitoral detém durante o período de campanha, não o autoriza a prescrever sanções relacionadas à publicidade eleitoral, quando somente pode determinar sua retirada. Acórdão n. 24.423, de 12.4.2010, Relatora Juíza Eliana Paggiarin Marinho.

Recurso contra expedição de diploma. Ofensa ao art. 73, II, da Lei n. 9.504/1997.O Tribunal negou provimento a recurso contra expedição de diploma proposto por Coligação partidária, ao argumento de que a propagação de mensagens eletrônicas – as quais supostamente favoreceram candi-dato ao cargo de Prefeito – por servidora da Câmara Municipal, durante o horário de expediente e com a utilização de provedor pertencente a órgão público, viola o disposto no inciso II do art. 73 da Lei n. 9.504/1997. No caso, restou evidenciada a improcedência das alegações, porquanto não havia indícios de que a servidora houvesse confeccionado a men-sagem de favorecimento e tampouco que houvesse utilizado materiais ou serviços custeados pela Câmara de Vereadores.Acórdão n. 24.457, de 26.4.2010, Relator Juiz Julio Guilherme Berezoski Schattschneider.

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Crime Eleitoral. Propaganda eleitoral. Utilização indevida de vídeo institucional.O Tribunal, por maioria, decidiu dar provimento a recurso criminal para absolver o réu da acusação de utilização de propaganda governamen-tal em seu benefício e no horário eleitoral gratuito, mesclando dizeres com símbolo da Justiça Eleitoral e o número de seu partido político, o que constituiria suposta violação ao crime tipifi cado no art. 40 da Lei n. 9.504/1997. No caso concreto, o candidato fora condenado a 6 meses de detenção, substituída por pena restritiva de direito, consistente na prestação de serviços à comunidade, por igual período da condenação, além do pagamento, a título de multa, no valor de R$ 15.000,00. Segundo o recorrente, a sentença haveria de ser reformada para absolvê-lo do crime pelo qual foi condenado ao argumento de não ter participado da edição do programa, bem como não ter o conhecimento do conteúdo exato que nela veiculava. A Corte entendeu, no entanto, por maioria, que o fato descrito na denúncia não mostra a conduta típica do art. 40 da Lei n. 9.504/1997, o qual prevê que “o uso, na propaganda eleitoral, de símbolos, frases ou imagens, associadas ou semelhantes às emprega-das por órgão de governo, empresa pública ou sociedade de economia mista constitui crime, punível com detenção, de seis meses a um ano, com a alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo período, e multa no valor de dez mil a vinte mil UFIR”. Ressaltou-se que, embora a Justiça Eleitoral integre a União, ela não pode ser con-siderada um órgão de governo, e que este substantivo (governo) é em geral identifi cado como sinônimo de Poder Executivo. A norma, portanto, tem por objetivo evitar que se associe determinado candidato a uma ação governamental ou a uma gestão em particular. Ficaram vencidos os Juízes Oscar Juvêncio Borges Neto e Sérgio Paladino Torres, que negavam seguimento ao recurso, a fi m de manter incólume a sentença proferida pelo Juiz a quo, ressaltando que o recorrente realizou pro-paganda utilizando amplamente não só símbolos, frases ou imagens, mas a própria propaganda institucional da Justiça Eleitoral, atraindo a incidência do art. 40 da Lei n. 9.504/1997, verifi cada não só pela prova testemunhal, mas principalmente pela prova material.Acórdão n. 24.465, de 26.4.2010, Relator Juiz Julio Guilherme Berezoski Schattschneider.

Ação penal eleitoral. Pedido de trancamento. Gravação anônima.O Tribunal, por maioria, denegou ordem de habeas corpus para tranca-mento de ação penal eleitoral. O paciente estaria sendo processado por suposta infração ao art. 346 c/c o art. 377 do Código Eleitoral, mediante

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realizações, às vésperas do pleito, durante o horário de expediente, de reuniões com integrantes da polícia militar nas dependências da sede da corporação, visando infl uenciá-los na escolha de candidato ao cargo de prefeito. O impetrante alegava que o Magistrado a quo deixara de apreciar o argumento de que a ação penal estaria respaldada unicamen-te em prova obtida por meio ilícito, o que constituiria constrangimento ilegal. A Corte, no entanto, entendeu não merecer acolhida o pedido de concessão da ordem para trancamento da ação penal, pelo fato de haver, além da gravação anônima, indícios de produção de provas autônomas e independentes para fundamentar a denúncia. Concluiu, ainda, o Tribunal, por maioria de votos, pelo acolhimento de questão de ordem suscitada pelo Relator, para determinar, de ofício, o desen-tranhamento do CD (gravação de origem anônima) dos autos da ação penal eleitoral, vedando-se a utilização de seu conteúdo, a qualquer título, no curso do processo criminal, nos termos do art. 157 do Código de Processo Penal.Acórdão n. 24.467, de 26.4.2010, Relator Juiz Rafael de Assis Horn.

Consulta. Abrangência do § 10 do art. 73 da Lei n. 9.504/1997. Con-dutas vedadas aos agentes públicos.O Tribunal, por maioria, conheceu de consulta formulada por prefeito municipal quanto ao alcance da norma contida no art. 73, § 10, da Lei 9.504/1997, levando em consideração o fato de que o pleito de 2010 se restringe às esferas estaduais e federais. Questionou-se sobre a pos-sibilidade de as administrações públicas municipais realizarem, no ano eleitoral, a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios, além dos casos já excetuados no referido artigo. Na esteira do parecer da Procu-radoria Regional Eleitoral, considerou-se que, sendo habitual prefeitos municipais apoiarem e, muitas vezes, se engajarem na candidatura de um deputado, governador e/ou mesmo presidente, deve buscar-se evitar o atrelamento dos seus atos de governo à escolha dos eleitores por esse mesmo candidato que, supostamente, colaboraria com os programas da administração municipal. A Corte, por maioria, respondeu negativamente a consulta, concluindo que a conduta vedada prevista no art. 73, § 10, da Lei das Eleições, não contém restrição quanto ao seu alcance, sendo aplicável a todos agentes públicos da esfera municipal, estadual e fede-ral, independentemente da circunscrição do pleito (estadual, municipal ou federal). Ficaram vencidos os Juízes Oscar Juvêncio Borges Neto e Julio Guilherme Berezoski Schattschneider, nos termos consignados na consulta. O Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto assentou em seu voto de vista que não é qualquer distribuição gratuita de bens, valores ou

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benefícios que enseja o descumprimento da regra eleitoral, mas, tão somente, aquela capaz de infl uenciar na disputa eleitoral, conforme art. 73, caput, da Lei n. 9.504/1997, e que somente o caso concreto permi-tiria decidir se o benefício concedido no âmbito municipal teve ou não potencialidade para desequilibrar a disputa estadual ou federal.Resolução n. 7.779, de 26.4.2010, Relator Juiz Rafael de Assis Horn.

INFORMATIVO JURISPRUDENCIAL N. 27MAIO/JUNHO/JULHO - 2010

Infi delidade partidária. Ação de decretação de perda de mandato eletivo. Suplentes de Vereador. Período de interinidade na titulari-dade do cargo eletivo decorrido. Retorno à suplência.O Tribunal julgou ação de decretação de perda dos mandatos eletivos, por motivo de infi delidade partidária, de primeiro e segundo suplentes de vereador eleitos no pleito de 2008 pelo partido político requerente. Tais suplentes chegaram a assumir a titularidade do cargo eletivo como interinos, tendo o curto período de interinidade já decorrido para ambos, encontrando-se eles no momento novamente na suplência. A ação não investiu contra o mandatário titular do cargo de vereador, mas contra os dois suplentes que efetivamente foram chamados à sucessão ou substituição daquele e contra o partido para o qual migrou o primei-ro suplente. Entendeu a Corte pela legitimidade ativa ad causam do diretório partidário municipal e do suplente requerentes, pois o último encontra-se na terceira suplência do cargo eletivo reclamado, tendo a ação sido proposta em desfavor dos primeiros dois suplentes; portanto, o êxito processual poderia lhe conferir o direito de assumir a titularidade do mandato. O primeiro suplente trocou, em 2009, o partido requerente, pelo qual foi eleito, por outro, tendo assumido, por cerca de um mês em 2010, a vaga pertencente a vereador da grei requerente, sendo que, com o seu retorno à suplência, a ação perdeu seu objeto, qual seja, o direito do partido requerente de reivindicar o cargo eletivo parlamentar ocupado por suposto infi el, tendo havido, então, o próprio prejuízo do pedido da demanda. Já o segundo suplente desfi liou-se da grei requerente, pela qual foi eleito vereador, em 6.10.2008, já que impedido de se vincular a partido político enquanto militar na ativa (CF, art. 142, § 3o), tendo as-sumido, por cerca de um mês em 2009, a vaga pertencente a vereador daquela grei. Não aderiu, após a desfi liação, à agremiação diversa; pelo contrário, novamente se fi liou ao partido requerente em 2010. Contra esse suplente, entendeu-se que a ação, além de intempestiva e de ter

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padecido dos efeitos da decadência, investiu contra parte ilegítima e careceu de objeto em razão do seu retorno à suplência do cargo de vereador, sendo que, ainda que se entrasse na análise de mérito, seria possível afi rmar que não teria suporte em justo motivo, notadamente pelo seu reingresso no quadro de fi liados da grei requerente. O Tribunal, por maioria, afastou a preliminar de ilegitimidade ativa do órgão partidário e, à unanimidade, rejeitou a preliminar de ilegitimidade ativa do suplente requerente, para julgar extinto o processo sem resolução de mérito, pela perda de seu objeto e ilegitimidade passiva ad causam das partes, em relação ao primeiro suplente e ao partido político requerido (CPC, art. 267, VI) e com resolução de mérito, pela decadência do direito de ação, em relação ao segundo suplente (CPC, art. 269, IV).Acórdão n. 24.632, de 14.7.2010, Relator Juiz Sérgio Torres Paladino.

Matéria administrativa. Revisão de eleitorado. Desproporcionalida-de entre o número de habitantes e o número de eleitores. Indícios de fraude. Previsão de recadastramento biométrico. Sobrestamento.O Tribunal deferiu pedido de revisão do eleitorado, formulado por três partidos políticos, os quais argumentavam haver desproporcionalidade entre o número de habitantes e o número de eleitores de determinado Município, assim como existência de irregularidades no cadastro eleitoral local. A Corte ressaltou que: a) o próprio TSE incluiu o município em questão na listagem daqueles que podem vir a sofrer a aludida revisão de ofício, em razão de possuir eleitorado de 81,82%, conforme a estimativa populacional do IBGE divulgada em julho de 2008; b) realizadas correi-ção extraordinária e diligências in loco por servidores da Corregedoria Regional Eleitoral, no intuito de apurar indícios de irregularidades nas operações de alistamento e de transferência, constatou-se que apenas 26,6% dos eleitores pesquisados foram encontrados nos endereços de-clarados. Concluiu-se que tais dados estatísticos demonstram a possível ocorrência de fraude no cadastro eleitoral e, portanto, a necessidade da realização da revisão em tela, tendo-se optado pelo adiamento da mesma, cuja execução fi cará sobrestada para que seja efetivada com a aplicação dos procedimentos de recadastramento biométrico.Acórdão n. 24.606, de 1.7.2010, Relator Juiz Sérgio Torres Paladino.

Registro de candidato. Eleições proporcionais. Percentual de re-presentação por sexo.O Tribunal considerou atendidos pelo partido político requerente todos os requisitos legais para concorrer aos cargos de governador do Estado, senador, deputado federal e deputado estadual nas eleições vindouras

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neste Estado, relacionados no Demonstrativo de Regularidade de Atos Partidários – DRAP. Relativamente às eleições para cargos majoritários, verifi cou-se que a agremiação possuía as condições legais para concor-rer às mesmas. No concernente às eleições proporcionais, observou-se o desatendimento dos percentuais de que trata o § 3o do art. 10 da Lei n. 9.504/1997, com a nova redação conferida pela Lei n. 12.034/2009, pela inobservância do limite mínimo de vagas para cada sexo, já que a nova redação do dispositivo legal em questão teria sugerido a intenção do legislador de que 30% das vagas não apenas sejam reservadas, mas efetivamente preenchidas por candidatos de um dos sexos. Não obstan-te, entendeu a Corte que essa nova sistemática veio para estabelecer que, em pretendendo o partido valer-se do número total de candidaturas a ele possibilitado, não poderá ultrapassar o limite máximo de 70% para um dos sexos, não lhe sendo exigível, porém, o preenchimento de 30% das candidaturas com indivíduos do sexo oposto.Acórdão n. 24.769, de 27.7.2010, Relatora Juíza Eliana Paggiarin Marinho.

Crime eleitoral. Falsidade ideológica. Declarações fi rmadas por terceiros. Crime de mão própria.O Tribunal negou provimento a recurso interposto pelo Ministério Público Elei-toral contra sentença que julgou improcedente denúncia ofertada pela prática de crime descrito no art. 350 do Código Eleitoral. Na decisão colegiada, restou consignado que, embora a prova dos autos evidencie a prática imputada aos réus, a sentença deve ser mantida, em razão da jurisprudência dominante do TSE no sentido de que a declaração falsa que confi gura o ilícito é aquela fi rmada pelo próprio eleitor interessado, para a confi guração do delito do art. 350 do CE, considerado como crime de mão própria.Acórdão n. 24.585, de 24.6.2010, Relatora Juíza Eliana Paggiarin Marinho.

Propaganda eleitoral antecipada negativa. Twitter. Propaganda negativa contra pré-candidato. Aplicação de multa.O Tribunal, por maioria, deu provimento ao recurso para reformar a de-cisão monocrática e aplicar ao recorrido multa no valor de R$ 5.000,00, em razão da realização de propaganda eleitoral antecipada negativa contra uma pré-candidata ao governo do Estado, caracterizada por uma postagem no twitter que noticiava que determinado site teria atribuído à pré-candidata a pecha de “fi cha suja”. Entendeu a Corte que tal comen-tário veiculado no twitter enquadrar-se-ia “no conceito de propaganda eleitoral antecipada de cunho negativo”, vez que dele poderia advir prejuízo à eventual candidatura da recorrente.Acórdão n. 24.617, de 12.7.2010, Relator Juiz Rafael de Assis Horn.

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Investigação judicial eleitoral. Condutas vedadas. Improcedência ante a ausência de acervo probatório robusto.O Tribunal deu provimento parcial a recurso interposto contra sentença que extinguiu ação de investigação – por falta de interesse processual – proposta ao argumento de que houvera captação ilícita do sufrágio por parte de candidatos que supostamente doaram para uma Instituição religiosa material de construção no valor aproximado de cinco mil reais, violando o disposto no art. 41-A da Lei das Eleições. Na decisão cole-giada restou consignado que, à época em que a ação originária havia sido proposta, o juízo a quo extinguira o feito por entender aplicável o entendimento fi rmado pelo TSE de que representações relativas à captação ilícita de sufrágio somente poderiam ser ajuizadas até cinco dias, contados da ciência dos fatos, sob pena de reconhecimento da perda do interesse processual. Com a evolução da jurisprudência, o TSE passou a entender que esta espécie de representação poderia ser proposta até a data da diplomação dos eleitos, e não mais somente no quinquídio antes estabelecido, razão pela qual a sentença foi reformada pelo acórdão nesse aspecto. O Tribunal reconheceu, também, a perda parcial do objeto, uma vez decorridos mais de cinco anos desde a re-alização do pleito, e, tendo sido fi nalizado o mandato dos candidatos representados, inviável seria a aplicação da sanção de cassação de registro e do diploma prevista no art. 41-A da Lei n. 9.504/1997. Não obstante, o relator consignou que, embora notória a perda parcial do objeto, relativamente à penalidade de cassação do registro, seria ne-cessário analisar o mérito da causa, no que tange à aplicação do art. 41-A da Lei das Eleições, tendo em vista a possibilidade de aplicação de pena pecuniária. Assim sendo, no julgamento de mérito, o Tribunal julgou improcedente a ação por não haver um robusto conjunto de provas a ensejar um decreto condenatório.Acórdão n. 24.602, de 1.7.2010, Relator Juiz Rafael de Assis Horn.

Crime eleitoral. Alteração de fi cha de fi liação partidária. Ausência de dolo. Atipicidade da conduta.O Tribunal deu provimento a recurso interposto por condenado em de-núncia ofertada pelo Ministério Público em virtude de suposta prática do delito de falsifi cação ou alteração de documento particular, tipifi cada no art. 349 do Código Eleitoral. A alteração havia sido feita em documentos particulares verdadeiros – fi chas de fi liação partidária – por meio de inserção de datas diversas daquelas que deveriam estar inscritas. Em seu voto, o relator destacou que não se verifi cava a presença de má-fé do recorrente na possível alteração das datas constantes das fi chas

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de fi liação, uma vez que os eleitores, conforme consignado em depoi-mentos, efetivamente tiveram a intenção de desfi liar-se de um partido e fi liar-se a outro no mesmo dia. O Tribunal consignou que eventuais equívocos ou alteração no preenchimento das datas das fi chas não seriam sufi cientes para caracterizar falsifi cação, pois não haveria o pro-pósito do recorrente de burlar o processo eleitoral. Assim, destacou-se que não haveria dolo específi co necessário para a confi guração do tipo penal eleitoral, já que a conduta não foi praticada para fi ns eleitorais, como exige o art. 349 do CE. Dessa forma, reconheceu-se a atipicidade da conduta praticada, dando-se provimento ao recurso para afastar a condenação imposta pelo juízo de origem.Acórdão n. 24.638, de 15.7.2010, Relator Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto.

Investigação judicial eleitoral. Abuso do poder e captação de su-frágio. Potencialidade.O Tribunal manteve sentença que julgou procedente investigação judicial eleitoral por captação ilícita de sufrágio e abuso de poder econômico, condenando os recorrentes à pena de multa, cassou seus mandatos e declarou-os inelegíveis por três anos, determinando a realização de novas eleições no município. Preliminarmente, a Corte rejeitou a prefacial de intempestividade do recurso ao argumento de que o prazo recursal a ser aplicado no caso é o previsto no art. 258 do Código Eleitoral, de três dias, conforme pacífi ca jurisprudência. Em análise do mérito, assinalou-se que restou demonstrada a prática de captação ilícita de sufrágio e abuso do poder econômico, decorrente da entrega de bens a eleitores em troca de votos: 400 cestas básicas. Constatou-se no julgamento do recurso que, comprovada a compra de votos, também restou caracterizado o abuso do poder econômico decorrente da aquisição e distribuição das cestas básicas, com potencialidade de infl uir no resultado do pleito, já que foram distribuídas 400 delas no valor total de R$ 15.500,00 – conforme confi rmou o depoimento da testemunha responsável pelos sacolões. Concluiu-se que restou evidente que a conduta praticada teve potencialidade para desequilibrar o resultado do pleito e se amolda ao previsto no art. 22, XIV, da LC n. 64/1990. Portanto, confi gura abuso do poder econômico e implica em decretação de inelegibilidade. Ressaltou-se, ainda, que a captação ilícita de sufrágio independe de prova da potencialidade lesiva, gerando multa e cassação do registro ou do diploma, enquanto o abuso do poder econômico exige prova de ter havido potencialidade para infl uir nas elei-ções, impondo as sanções de inelegibilidade e cassação do registro.Acórdão n. 24.623, de 12.7.2010, Relator Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto.

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Denúncia. Prefeito. Extensão de foro privilegiado ao co-denunciado. Recebimento.O Tribunal recebeu denúncia ofertada contra prefeito municipal que, em razão da prerrogativa de foro, atraiu o mesmo privilégio para co-denun-ciado que ostenta o cargo de vereador, pela prática de crime previsto no art. 299 do Código Eleitoral. No caso concreto, os denunciados teriam custeado a mudança de eleitores da cidade de Porto Alegre (RS) para a localidade de Mato Escuro, pertencente ao Município de Palmeira (SC), tendo os benefi ciários noticiado a infração por meio de boletim de ocorrência. Para a relatora, os indícios de corrupção e a tutela da sociedade impõem seja recebida a denúncia como medida mais justa para a correta e efi caz apuração dos fatos.Acórdão n. 24.595, de 30.6.2010, Relatora Juíza Cláudia Lambert de Faria.

Matéria administrativa. Concurso público. Homologação. Inocor-rência de vício e de fraude.O Tribunal deu provimento a três recursos em processo administrativo para homologar o Concurso Público n. 1/2009, lavrando-se um único acórdão, em razão da conexão existente entre os recursos, os quais, interpostos pela empresa contratada para a realização do certame e por candidatos nele aprovados, objetivavam a reforma de decisão pro-ferida pela presidência do TRESC, em 8.3.2010, que, ao examinar o Procedimento Administrativo SGP n. 161/2009, resolveu pela anulação das provas aplicadas em 15.11.2009, haja vista a suposta ocorrência de vícios insanáveis, derivados do reiterado desatendimento de regras editalícias e de princípios constitucionais. Postulavam os recorrentes, em síntese, fosse determinado o prosseguimento do cronograma das demais etapas do referido concurso destinado ao preenchimento de cargos de Analista Judiciário (Área Judiciária) e de Técnico Judiciário (Área Administrativa). Procedeu-se à minuciosa análise individualizada das impropriedades e irregularidades noticiadas nas atas das salas de prova e elencadas na supramencionada decisão da presidência do TRESC, tendo-se chegado à conclusão de que tais equívocos, ocorridos durante a aplicação das provas do processo seletivo, provenientes de desorganização da empresa recorrente, confi gurar-se-iam como vícios formais irrelevantes que não teriam o condão de afetar a validade do ato administrativo e não autorizariam a anulação do certame, porquanto não apresentariam gravidade sufi ciente a abalar a validade do mesmo, não tendo acarretado prejuízo efetivo ou desigualdade entre seus participan-tes. No mais, não foi alegada e muito menos comprovada a ocorrência de fraude, consistente no vazamento das provas ou dos gabaritos, ou

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ainda na classifi cação de candidato obtida ilicitamente. Aplicaram-se ao caso determinados princípios regentes do Direito Administrativo, quais sejam: segurança jurídica, estabilidade das relações jurídicas, boa-fé, proporcionalidade, razoabilidade, fi nalidade e isonomia.Acórdão n. 24.584, de 23.6.2010, Relatora Juíza Cláudia Lambert de Faria.

Registro de candidato. Inelegibilidade. Aplicação da “Lei da Ficha Limpa”. Condenação por Órgão Colegiado.O Tribunal, por maioria, indeferiu registro de candidato por considerá-lo inelegível para o cargo de deputado federal em face do art. 1o, inc. I, alínea “l”, da Lei Complementar n. 64/1990, com redação dada pela Lei Complementar n. 135/2010 – “Lei da Ficha Limpa”. Entendeu-se, por maioria, preliminarmente, que, quanto ao Princípio da Anuidade, ditado pelo art. 16 da Constituição Federal, as inovações trazidas pela LC n. 135/2010 possuem caráter de norma eleitoral-material e não possuem nenhuma identifi cação com processo eleitoral, cujo diploma tem como fi to dar maior legitimidade eleitoral diante do comando contido no art. 14, § 9o, da CF. No caso apreciado, a Procuradoria Regional Eleitoral impugnou o pedido de registro com fundamento no art. 3o da LC n. 64/1990, ao argu-mento de que o candidato foi condenado por ato doloso de improbidade administrativa por decisão de Tribunal de Justiça. Observou-se que “fi cha limpa”, agora, é requisito básico para quem deseja se embrenhar na vida política, tal qual qualquer outro servidor que queira pertencer aos quadros do serviço público. Tem que ter idoneidade para tanto, não apenas atual, mas passada também. Salientou-se que é manifesto o anseio da socie-dade que quer ver na política maior honestidade de seus representantes, e isso somente existe para aqueles que possuem moral. O Tribunal, por maioria, concluiu pelo indeferimento do registro do candidato, uma vez que conta com condenação proferida por Colegiado. Em voto divergente, o Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto deferiu o registro de candidato sob o fundamento de que, para confi gurar a supracitada inelegibilidade, incumbe analisar se o ato pelo qual foi condenado o candidato, por decisão de órgão colegiado, é “ato doloso de improbidade administrativa que importe lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito”.Acórdão n. 24.770, de 27.7.2010, Relator Juiz Leopoldo Augusto Brüggemann.

Matéria processual. Decadência. Captação ilícita de sufrágio. Abuso de poder econômico.O Tribunal, ao apreciar recurso em sede de Ação de Impugnação ao Man-dato Eletivo (AIME), afastou a preliminar de decadência do direito de ação,

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bem como, quanto ao mérito, afastou a multa aplicada ao recorrente e, por maioria, com o voto de desempate do Juiz-Presidente, deu provimento par-cial ao recurso para afastar a condenação à captação ilícita de sufrágio. No caso concreto, a diplomação dos eleitos ocorreu em 16.12.2008, sendo que, no período de 20.12.2008 a 6.1.2009, o Tribunal permaneceu em recesso. Tendo em conta que a mencionada AIME foi proposta em 7.1.2009, a Corte entendeu ser aplicável ao caso o disposto no art. 184, § 1o, do CPC, pelo qual “considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil se o vencimento cair em feriado”. Esclareceu-se que a falta de expediente forense equivale a feriado. No mérito, contatou-se a materialidade do crime eleitoral por in-termédio de conjunto probatório consistente na apreensão de 81 unidades de autorização de entrega de combustível, notas fi scais comprobatórias de entrega do produto, bem como declarações prestadas em inquérito policial e em Juízo. Afi rmou-se ser desnecessária, para a confi guração do delito de corrupção eleitoral, a constatação de pedido explícito de votos, bastando que, a partir das circunstâncias do caso concreto, seja possível inferir a especial fi nalidade de agir, qual seja, a captação do voto. Da mesma forma, concluiu o julgador, presente a corrupção eleitoral não se deve questionar acerca da potencialidade da conduta. Também foi defendido que os mesmos fatos e provas levam à confi guração de abuso do poder econômico, considerando a concessão generalizada do benefício a um elevado número de eleitores, sufi ciente para infl uir na vontade da escolha dos candidatos, em afronta à legitimidade das eleições. Todavia, em voto-vista, foi apresentada divergên-cia quanto à captação ilícita sob o argumento de que, embora tenha sido comprovada a distribuição de 81 unidades de autorização de entrega de combustível, não se verifi cou nos autos prova robusta quanto à fi nalidade específi ca de cooptação de votos. Para a divergência, os depoimentos foram uníssonos no sentido de que a doação dos vales-combustível não estava condicionada ao voto do eleitor e que, por não haver motivo plausível para a referida benesse, haveria a possibilidade de se presumir o dolo específi co do recorrente, contudo, nos termos do voto e dos precedentes citados, a condenação por meio de presunção não seria admitida. Quanto ao capítulo do acórdão em questão, a conclusão foi a de que a doação dos referidos vales-combustível não se subsume à hipótese de incidência prevista no art. 41-A da Lei das Eleições, contudo, que não deixa de confi gurar o abuso do poder econômico, classifi cação legal do voto-vista que se alinha ao posicio-namento do Relator. No que tange à multa aplicada em sentença, o Tribunal a considerou insubsistente em razão da ausência de previsão expressa na legislação a autorizar a sua aplicação em sede de AIME.Acórdão n. 24.631, de 14.7.2010, Relator Juiz Leopoldo Augusto Brüggemann.

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Matéria administrativa. Concurso público. Ato da Banca Examinado-ra. Competência delegada. Inadequação da via eleita. Incompetência da Justiça Eleitoral.O Tribunal negou provimento a agravo regimental, interposto como re-curso inominado por candidato inscrito no Concurso Público n. 1/2009, contra decisão da relatoria que considerou inadequada a via eleita pelo recorrente – pedido de instauração de processo administrativo c/c me-dida cautelar para atacar ato supostamente ilegal consistente no não acolhimento de irresignação do candidato contra determinadas questões da prova – praticado, no exercício de competência delegada, pela Banca Examinadora do certame em referência, vinculada à empresa contra-tada para a realização daquele. Em razão do princípio da fungibilidade recursal, mesmo versando sobre decisão que decretou a extinção do processo, foi o recurso recebido pela Corte como agravo regimental, no qual foi mantida a decisão agravada, que havia julgado extinto o processo por conta da inadequação da via eleita para a anulação de questões da prova. Concluiu-se que, em tendo sido o ato praticado por autoridade no exercício de competência delegada, e não pelo presidente do TRESC, o meio adequado para impugná-lo seria o mandado de segurança, a ser protocolado na Justiça Federal (Súmula n. 510 do STF).Acórdão n. 24.627, de 14.7.2010, Relator Juiz Leopoldo Augusto Brüggemann.

Programa político-partidário. Propaganda partidária. Inserções. Propaganda eleitoral extemporânea. Caracterização.O Tribunal manteve sentença de Juiz Auxiliar que acolheu parcialmen-te pretensão em representação por propaganda eleitoral antecipada, condenando cada um dos representados ao pagamento de multa de R$ 5.000,00. Adotou-se o entendimento de que houve no programa partidário gratuito a veiculação de candidatura (ainda que de forma dissimulada) e da ação política a ser desenvolvida, caracterizada por uma inserção na televisão. Na referida inserção, os pré-candidatos repre-sentados aparecem fazendo menções claras às realizações feitas pelo representado à época em que era governador de Estado, enaltecendo sobremaneira o referido representado na medida em que se atribui a ele inúmeros feitos que somente alguém da sua estirpe poderia empreender e, por outro lado, sublimando a fi gura de pré-candidato como aquele que poderá dar continuidade àquelas conquistas. Ressaltou-se que os representados visaram incutir na mente do eleitorado uma visão positiva a respeito de suas pré-candidaturas, comprometendo, por esse prisma,

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a lisura das eleições de forma antecipada, ensejando o desequilíbrio entre os postulantes aos cargos por eles almejados, pelo que devem ser sancionados nos termos da legislação eleitoral de regência.Acórdão n. 24.653, de 19.7.2010, Relator Juiz Julio Guilherme Berezoski Schattschneider.

Propaganda eleitoral antecipada. Inserção de propaganda partidária na TV. Posição do partido quanto a temas político-comunitários. Apresentação do programa pelo seu pré-candidato ao governo do Estado. Irrelevância.O Tribunal rejeitou a preliminar de ilegitimidade ativa do Ministério Público Eleitoral, com fulcro no caput do art. 127 da CF/1988, e, no mérito, negou provimento ao recurso, que pleiteava a aplicação de multa a pré-candidato ao governo do Estado e ao partido presidido pelo mesmo em razão de haverem realizado propaganda eleitoral an-tecipada caracterizada por uma inserção na TV – no espaço reservado à propaganda partidária gratuita –, na qual constou a notória imagem do pré-candidato, que narrou o texto e foi identifi cado como presidente estadual do partido. Na inserção, o pré-candidato apareceu fazendo menção às catástrofes ambientais ocorridas em Santa Catarina nos últimos anos, alertando para a necessidade da criação de uma estrutura adequada, no âmbito do governo do Estado, de modo a preveni-las e a evitá-las prioritariamente. Para o MPE, o pré-candidato, ao enaltecer, ainda que de forma subliminar, sua fi gura como a mais apta a comandar esse processo, teria se utilizado abusivamente da inserção destinada ao seu partido político para veicular propaganda antecipada de sua pró-pria pré-candidatura a Governador. Entendeu a Corte que tal inserção respeitou as normas eleitorais, em virtude de nela ter sido apresentada uma proposta palpável do partido para a área da defesa civil, sendo que o fato de ter sido veiculada pelo pré-candidato seria irrelevante, pois ele não foi assim identifi cado, além de ser o presidente estadual da agremiação e ter falado em nome da mesma.Acórdão n. 24.624, de 13.7.2010, Relator Juiz Julio Guilherme Berezoski Schattschneider.

Propaganda eleitoral antecipada. Parlamentar. Envio de correspon-dência. Não caracterização.O Tribunal manteve sentença de Juiz Auxiliar que julgou improcedente representação por alegada propaganda eleitoral antecipada. A Corte, de início, afastou a preliminar de prova ilícita, haja vista que a corres-

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pondência, apesar de endereçada a pessoa específi ca, não traz indícios de que tenha sido obtida de forma ilegal pelo Ministério Público. Em análise do mérito, assinalou-se que não caracteriza propaganda eleitoral antecipada o envio de correspondência a habitantes de determinado município, em que o representado, deputado estadual, na qualidade de presidente da Assembléia Legislativa, coloca-se à disposição dos eleitores para atender às eventuais necessidades políticas da região. Salientou-se que há uma grande distância a ser percorrida entre o que é a demonstração de prestígio político com objetivo de atender à pretensa reeleição, e do que é efetivamente prestação de contas do exercício do mandato parlamentar, havendo necessidade de cuidados quando se trata de interpretar restrições legais, como é o caso.Acórdão n. 24.615, de 12.7.2010, Relator Juiz Francisco Oliveira Neto.

Propaganda eleitoral antecipada. Distribuição de livreto. Não ca-racterização.O Tribunal, por maioria, confi rmou sentença de Juiz Auxiliar que julgou improcedente representação por alegada propaganda eleitoral anteci-pada. Ressaltou-se que não caracterizou propaganda eleitoral extem-porânea a distribuição de um livreto com 27 páginas onde podem ser percebidas inúmeras fotografi as do representado, ocupante de mandato de Deputado Estadual, ora com familiares, ora com outros políticos ou, ainda, em eventos ofi ciais, bem como relatando textos com diversas ações parlamentares e depoimentos a respeito da sua atuação parla-mentar. Segundo o entendimento da Corte, não há como se enquadrar tais documentos na categoria legal “propaganda eleitoral antecipada”, já que o ato está abrigado pela exceção prevista no art. 36-A, IV, da Lei n. 9.504/1997, não havendo como extrair dos escritos existentes qualquer afi rmação que se aproxime, quer do anúncio da candidatura, quer do pedido de votos ou, por fi m, do pedido de apoio à eventual e futura participação em pleito. Salientou-se que tal documento serve mais como prestação de contas de seu trabalho político do que como forma de propaganda antecipada.Acórdão n. 24.614, de 12.7.2010, Relator Juiz Francisco Oliveira Neto.

Interposição de recurso antes da publicação da sentença. Pro-paganda subliminar em espaço destinado à propagando político-partidária.O Tribunal rejeitou preliminar que pugnou pela intempestividade de re-curso interposto antes da publicação da sentença recorrida, tendo como

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razão de decidir o princípio da razoabilidade e da instrumentalidade das formas, uma vez que não se constatou qualquer prejuízo oriundo do ato promovido pelo recorrente. O referido capítulo do acórdão está fundamentado em doutrina na qual se argumenta que se o recorrente foi capaz de impugnar determinada decisão é certo que já lhe conhece o teor, razão pela qual se deduz alcançada a fi nalidade essencial do ato destinado a dar ciência do pronunciamento aos interessados. Ainda, ao proceder a confronto entre o caso concreto e o precedente do TJ/RS, a relatora apresentou jurisprudência cuja fundamentação dispõe que quando o recurso é interposto antes da intimação da sentença o recor-rente acaba por auxiliar o Poder Judiciário de modo a conferir maior agilidade à tramitação processual. No mérito, por maioria, a Corte negou provimento ao recurso por considerar propaganda eleitoral antecipada mensagem subliminar veiculada em espaço destinado à propaganda político-partidária, oportunidade em que foi divulgada memória positiva do representado, imagens de obra levada à efeito pela administração municipal do partido, bem como comentários com apelo nitidamente eleitoral.Acórdão n. 24.527, de 31.5.2010, Relatora Juíza Vânia Petermann Ramos de Mello.

Pesquisa eleitoral. Direito à informação. Ausência de potenciali-dade lesiva.O Tribunal negou provimento a recurso interposto contra sentença que indeferiu representação que visava impedir a divulgação de pesquisa eleitoral por suposta irregularidade na ordem de formulação dos quesitos. Na decisão, restou consignado que à Justiça Eleitoral cabe aquilatar se as pesquisas eleitorais podem, da forma como propostas, macular severamente o pleito, desconsiderando celeumas entre os institutos de pesquisa. Para a relatora, se não existem normas específi cas para a ordem de formulação das perguntas, este argumento, de per si, não basta à impugnação da divulgação dos resultados, sendo necessário que o impugnante traga elementos contundentes a apontar que a pesquisa, nos moldes propostos, está maculada de fraude para a distorção de dados. No caso concreto, o Tribunal entendeu que deve vigorar o direito à informação, ante a falta de prova da potencialidade lesiva advinda do campo da mera argumentação.Acórdão n. 24.513, de 24.5.2010, Relatora Juíza Vânia Petermann Ramos de Mello.

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INFORMATIVO JURISPRUDENCIAL N. 28 – AGOSTO DE 2010

Matéria processual. Eleição majoritária. Vice-prefeito. Litisconsór-cio necessário.O Tribunal declarou a decadência do direito de ação em relação ao can-didato a prefeito à época, extinguindo o feito com resolução de mérito (CPC, art. 269, IV), e negou provimento ao recurso no que se refere ao candidato à eleição proporcional. A Corte, preliminarmente, verifi cou a existência de nulidade processual, que pode e deve ser analisada de ofício e a qualquer tempo, por envolver matéria de ordem pública. Res-saltou-se que exsurge inquestionável a unidade e indivisibilidade das candidaturas aos cargos de titular e de vice da chefi a do Poder Executivo em quaisquer das instâncias – federal, estadual e municipal –, cons-tituindo-se em composição indissolúvel, na qual a eleição do primeiro implica, necessariamente, a do segundo. Tendo em conta essa relação jurídica incindível e por atenção à garantia constitucional do devido processo legal, imperativa se faz nos processos eleitorais a presença em juízo do titular e do vice. Ambos formam litisconsórcio necessário (CPC, art. 47), impondo-se a citação de um e de outro, até mesmo como medida assecuratória da efi cácia e da uniformidade da decisão da lide. O Tribunal concluiu que nos processos iniciados ulteriormente à alteração da jurisprudência, caso constatada a defi ciente integração do polo passivo da lide após a prolação da sentença, não é possível a anulação dos atos para citação do titular ou do vice-prefeito, impondo-se a extinção do feito, com resolução de mérito, porquanto ausente a citação de litisconsorte necessário no prazo decadencial estabelecido para o ajuizamento da ação.Acórdão n. 25.255, de 17.8.2010, Relator Juiz Sérgio Torres Paladino.

Registro de candidato. “Lei da Ficha Limpa”. Irregularidade insanável.O Tribunal conheceu da impugnação apresentada por eleitor como no-tícia de inelegibilidade, julgou procedente a impugnação proposta pela Procuradoria Regional Eleitoral para indeferir o pedido de registro de candidatura ao cargo de governador e deferir o pedido de registro de candidatura ao cargo de vice-governador e, em razão disso, eis que o julgamento nesse caso deve ser feito conjuntamente, indeferir o registro da chapa majoritária formada por esses candidatos. No caso concreto, a Corte reforçou o entendimento de que eleitor não detém legitimidade ad causam para propor impugnação a registro de candidatura e, com fundamento no art. 38 da Res. TSE n. 23.221/2010, conheceu da re-ferida impugnação como notícia de inelegibilidade, afastando assim a

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preliminar deduzida pelo candidato impugnado. Outrossim, restou con-signada na mencionada decisão a aplicabilidade da inovação legislativa implementada pelo art. 1o, I, “g”, da Lei Complementar n. 135/2010 (“Lei da Ficha Limpa”). Argumentou o candidato, em síntese, que na data do protocolo do registro de candidatura gozava de todas as condições de elegibilidade e que o fato da decisão preferida pelo Tribunal de Contas da União ter transitado em julgado na mesma data (5.7.2010) não consistia óbice ao deferimento de seu pedido. Todavia, o Relator, tendo em conta que o referido pedido de registro estava acompanhado tão somente de procuração outorgada ao delegado estadual, sem reconhecimento de fi rma em cartório, bem como a ausência do requerimento em meio mag-nético e dos documentos exigidos por lei para comprovar as condições de elegibilidade, considerou o requerimento “mero rascunho do formulário de RRC”. Concluiu, ainda, que o mencionado “rascunho” inicialmente apresentado à Justiça Eleitoral não pode ser considerado como marco temporal para fi ns de formalização do requerimento em questão. Quanto ao mérito das irregularidades contábeis constatadas pelo TCU, a Corte ratifi cou o entendimento de que a análise de sanabilidade ou insanabi-lidade cabe à Justiça Eleitoral, para eventual correlação do ato com a hipótese da Lei de Inelegibilidade.Acórdão n. 25.164, de 5.8.2010, Relator Juiz Sérgio Torres Paladino.

Matéria administrativa. Convocação de mesário. Residência em capital de Estado diverso. Possibilidade de dispensa.O Tribunal reformou a decisão que indeferiu pedido de dispensa de nomeação realizada pela Justiça Eleitoral para composição da mesa receptora no dia da eleição, nos termos do § 4o do art. 120 do Código Eleitoral. Ressaltou-se que a recorrente foi designada para atuar na função de membro de mesa receptora de votos, mas pretende obter dispensa da nomeação porque, segundo alega, teria difi culdade de participar dos treinamentos, especialmente por residir em capital de Estado vizinho, onde cursa faculdade, cuja grade curricular do semestre em curso incluiu aulas até mesmo aos sábados. Ainda, segundo suas razões recursais, o exercício da função pública para a qual foi designada implicaria a imposição de gastos com a realização da viagem, que, de ônibus, tem a duração aproximada de três horas. A Corte concluiu que a dispensa do serviço eleitoral deve ser deferida quando o exercício do serviço eleitoral seja oneroso ao cidadão ou lhe possa causar grave lesão. No caso, não se pode descuidar de que a legislação eleitoral e a interpretação que a ela dão os Tribunais Eleitorais pátrios não obrigam o cidadão a transferir seu domicílio eleitoral sempre que houver alteração

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em seu domicílio civil, respaldando, inclusive, a manutenção do título de eleitor quando houver vínculos profi ssionais, patrimoniais ou afetivos com determinado município.Acórdão n. 25.271, de 23.8.2010, Relatora Juíza Eliana Paggiarin Marinho.

Registro de candidato. Ausência de comprovação de escolaridade e de desincompatibilização.O Tribunal indeferiu pedido de registro de candidatos aos cargos de governador e de vice-governador de Estado. A Corte concluiu que tal pedido não pode ser deferido, pois os candidatos não preenchem todas as condições constitucionais de elegibilidade e não atendem às exigên-cias previstas na Lei Complementar n. 64/1990 e na Lei n. 9.504/1997, não estando por isso, em condições de disputar o pleito. No caso, os candidatos, para comprovar a escolaridade, apresentaram apenas de-claração digitada, que não é aceita pela Justiça Eleitoral, entendendo a Corte que a declaração idônea para tanto é a de próprio punho. Além do que, a Corte entendeu que o candidato a vice-governador é inelegível por não haver se desincompatibilizado no prazo legal. Tratando-se de servidor público, deveria o candidato ter se afastado de suas funções para concorrer três meses antes do pleito. Concluiu-se, também, em análise da condição de elegibilidade da fi liação partidária do candidato a vice, que o Tribunal, em vários precedentes, tem valorado como válida, para fi ns de afastar a duplicidade de fi liação, a comunicação efetuada somente ao partido mais antigo, ao entendimento de que a fi liação partidária é matéria interna corporis.Acórdão n. 25.017, de 2.8.2010, Relatora Juíza Eliana Paggiarin Marinho.

Registro de candidato. “Lei da Ficha Limpa”. Condenação anterior por conduta vedada. Impossibilidade de retroação da lei para apli-cação de inelegibilidade por oito anos.O Tribunal julgou improcedente a impugnação e deferiu o pedido de regis-tro de candidatura, o qual havia sido impugnado pelo Ministério Público Eleitoral ao fundamento de que o candidato teria sido condenado pela prática de conduta vedada nas eleições de 2004, tendo-lhe sido então cassado seu registro pela Justiça Eleitoral, motivo pelo qual, para o MPE, confi gurada estaria a inelegibilidade do impugnado com base no art. 1o, I, “j”, da Lei Complementar n. 64/1990, inserido pela Lei Complementar n. 135/2010 (“Lei da Ficha Limpa”). Entendeu a Corte pela impossibilidade de retroação da lei para sancionar, com inelegibilidade por oito anos, conduta vedada já julgada em defi nitivo – em que se cassou o registro

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do ora impugnado e se decretou a perda do mandato obtido nas urnas naquela oportunidade –, em razão de ofensa aos princípios da coisa julgada e da segurança jurídica.Acórdão n. 25.186, de 5.8.2010, Relator Juiz Rafael de Assis Horn.

Publicidade institucional. Competência da Justiça Eleitoral para autorização. Ente privado. Ilegitimidade.O Tribunal não conheceu de pedido, formulado por ente privado, de autorização para veiculação de publicidade institucional no trimestre antecedente às eleições (Lei n. 9.504/1997, art. 73, VI, “b”), ante a ilegitimidade do peticionário. Não obstante, esclareceu a Corte que a legislação de regência estabelece a competência da Justiça Eleitoral para tal autorização, desde que implementados seus requisitos.Acórdão n. 24.656, de 19.7.2010, Relator Juiz Rafael de Assis Horn.

Registro de candidato. “Lei da Ficha Limpa”. Ausência de irregu-laridade insanável.O Tribunal julgou improcedente a impugnação e deferiu o pedido de re-gistro de candidatura, o qual havia sido impugnado pelo Ministério Público Eleitoral ao fundamento de que o candidato tivera suas contas – relativas ao exercício do cargo de diretor-presidente de empresa pública – julgadas irregulares e insanáveis por decisão irrecorrível do Tribunal de Contas do Estado. No caso, a impugnação se deu com fundamento no art. 1o, I, “g”, da Lei Complementar n. 135/2010 (“Lei da Ficha Limpa”), porquanto as contas do candidato haviam sido rejeitadas por atos de gestão antieconô-micos, ausência de órgão de controle interno na empresa e infringência à Lei de Licitações. O Tribunal entendeu que não estava confi gurada a responsabilidade do candidato pelas condutas irregulares e que nenhuma delas se confi guraria como ato de improbidade administrativa. Também restou consignado no acórdão não haver provas nos autos de que o candidato tivera auferido vantagem patrimonial indevida, confi gurando enriquecimento ilícito; nem que tivera, por ação ou omissão, atentado contra os princípios da administração pública e que não violara os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições.Acórdão n. 25.121, de 4.8.2010, Relator Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto.

Registro de candidato. Condição de elegibilidade. Comprovação de quitação eleitoral após o pedido de registro de candidato.O Tribunal, por maioria, deferiu pedido de registro de candidato ao cargo de deputado federal. Na hipótese apreciada pela Corte, o candidato, em

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razão de ausência às urnas, não estava quite com a Justiça Eleitoral, sendo a quitação uma das condições de elegibilidade (art. 11, § 1o, VI, da Lei n. 9.504/1997). Posteriormente ao protocolo do pedido de registro, o candidato pagou a multa e apresentou certidão de quitação eleitoral. A jurisprudência do Tribunal – assim como a do TSE –, consolidada no pleito de 2008, registra que as condições de elegibilidade, inclusive a quitação eleitoral, devem estar presentes no momento do registro e, por isso, o pagamento de multa por ausência às urnas posterior a esse even-to não é capaz de sanar a irregularidade. No entanto, o Tribunal ressaltou que a Lei n. 12.034/2009 acrescentou diversos parágrafos ao art. 11 da Lei n. 9.504/1997, referentes à quitação eleitoral, dos quais o § 10, nos seguintes termos: “As condições de elegibilidade e as causas de inele-gibilidade devem ser aferidas no momento da formalização do pedido de registro de candidatura, ressalvadas as alterações, fáticas ou jurídicas, supervenientes ao registro que afastem a inelegibilidade”, e concluiu que apesar de a redação do dispositivo não ser das mais claras, determina não só o afastamento da inelegibilidade como o restabelecimento das condições de elegibilidade quando ocorram situações fáticas ou jurídi-cas que modifi quem a situação do candidato após a protocolização do pedido de registro de candidatura. Em voto divergente, a Juíza Eliana Paggiarin Marinho indeferiu o registro de candidato sob o fundamento de que a quitação eleitoral constitui uma das condições legais de ele-gibilidade, e a alteração na legislação considerou ressalvadas apenas as situações que afastem a inelegibilidade depois do pedido de registro de candidatura, ressalvando que, na data do requerimento de registro, o candidato não estava quite com a Justiça Eleitoral, não atendendo a uma das condições de elegibilidade, o que impõe o indeferimento do pedido de registro. Acompanharam a divergência os Juízes Leopoldo Augusto Brüggemann e Cláudia Lambert de Faria.Acórdão n. 25.102, de 3.8.2010, Relator Designado Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto.

Registro de candidato. “Lei da Ficha Limpa”. Alteração de prazo de inelegibilidade. Aplicação pretérita. Impossibilidade.O Tribunal julgou improcedente impugnação de candidatura e deferiu registro de candidato a deputado estadual. No caso, o Ministério Pú-blico Eleitoral apresentou impugnação alegando que o candidato foi declarado inelegível, por abuso do poder político e conduta vedada e que, em razão da LC n. 135/2010 (“Lei da Ficha Limpa”), que alterou o prazo de inelegibilidade previsto no art. 1o da LC n. 64/1990 de três para oito anos, o candidato estaria inelegível. O Tribunal ressaltou que

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a decisão que aplicou a sanção de inelegibilidade ao candidato transitou em julgado antes da LC n. 135/2010 entrar em vigor e que, portanto, a nova lei, que alterou o prazo de inelegibilidade, não pode retroagir para alterar o ato jurídico perfeito e a coisa julgada, sob pena de afronta ao art. 5o, inciso XXXVI, da Constituição Federal. Sendo assim, o candida-to já havia restabelecido sua condição de elegibilidade em 4.10.2007, o que impossibilita a aplicação da LC n. 135/2010, pois este diploma legal não pode alcançar situações pretéritas, em que houve o trânsito em julgado da decisão – a qual aplicou apenas três anos de inelegibi-lidade – e o restabelecimento dos direitos políticos, antes da vigência da nova norma.Acórdão n. 25.123, de 4.8.2010, Relatora Juíza Cláudia Lambert de Faria.

Registro de candidato. “Lei da Ficha Limpa”. Condenação criminal, confi rmada pelo TJ/SC, por infração penal não incluída no rol do art. 1o, inciso I, alínea “e”, item 1, da LC n. 64/1990.O Tribunal julgou improcedentes a notícia de inelegibilidade e a impug-nação e deferiu o pedido de registro de candidatura. O cerne da contro-vérsia era saber se a condenação criminal sofrida pelo candidato pela prática do crime tipifi cado no caput do art. 262 do Código Penal, confi r-mada pelo TJ/SC, poderia motivar a aplicação da inelegibilidade prevista no art. 1o, inciso I, alínea “e”, item 1, da Lei Complementar n. 64/1990, na nova sistemática dada pela Lei Complementar n. 135/2010 (“Lei da Ficha Limpa”), tendo a Corte constatado que tal infração penal não é alcançada por nenhuma das hipóteses previstas no supramencionado dispositivo da LC n. 64/1990 – ou seja, não se consubstancia em crime contra a economia popular ou a fé pública ou a administração pública ou o patrimônio público –, além do que, por ser de menor potencial ofensivo, tal ilícito se enquadraria no § 4o do art. 1o da mesma LC.Acórdão n. 25.122, de 4.8.2010, Relatora Juíza Cláudia Lambert de Faria.

Desfi liação partidária. Ação declaratória de existência de justa causa. Procedência.O Tribunal julgou procedente ação declaratória de existência de justa causa para desfi liação de grei partidária. A Corte reconheceu que, na defesa formulada pelo partido, em nenhum momento este apresentou ônus que lhe incumbia prova de fato extintivo, impeditivo ou modifi cativo da efi cácia do pedido posto em juízo pela requerente, a qual provou, por testemunhas e por farta prova documental, manifesta e explícita discri-minação pessoal, o que tipifi ca justa causa, que merece ser declarada,

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por haver se tornado insustentável a permanência da requerente nos quadros da grei partidária. Foi afastada a preliminar de falta de repre-sentação do partido político.Acórdão n. 25.229, de 10.8.2010, Relator Juiz Leopoldo Augusto Brüggemann.

Matéria processual. Confl ito negativo de competência. Lugar do crime. Competência relativa. Recebimento da denúncia. Prorroga-ção da competência.O Tribunal julgou procedente confl ito negativo de competência entre Ju-ízos Eleitorais situados no mesmo Município para determinar a remessa dos autos ao suscitado, para o regular processamento e julgamento do feito. O suscitante de tal confl ito de competência o fez em razão de decisão proferida pelo suscitado, que declinou da competência para processar e julgar denúncia oferecida pelo Ministério Público Eleitoral contra eleitor por suposta infração ao art. 289 do Código Eleitoral (inscri-ção fraudulenta) cometida na sede dos cartórios, situados no centro do município, bairro que integra a circunscrição do suscitante. Entendeu a Corte que, a despeito da controvérsia acerca do Juízo competente – se o do local da infração (suscitante) ou o da emissão do título eleitoral (suscitado) –, ocorreu que o suscitado recebeu a denúncia e designou data para a realização de interrogatório, declinando da competência posteriormente, sendo que a competência em razão do lugar da infra-ção (critério ratione loci) é relativa e não pode ser declarada de ofício, restando prorrogada caso não alegada a tempo e modo pelas partes.Acórdão n. 25.047, de 2.8.2010, Relator Juiz Leopoldo Augusto Brüggemann.

Matéria processual. Aplicação do art. 557 do CPC aos embargos de declaração.O Tribunal negou provimento a agravo regimental que pretendia reformar decisão monocrática que rejeitou embargos de declaração manifesta-mente protelatórios. Na espécie, os agravantes alegaram ocorrência de contrariedade à legislação que rege a matéria; impossibilidade de julgamento monocrático, já que os tribunais vêm permitindo o julgamento monocrático apenas em casos de impossibilidade de seguimento por intempestividade ou outra causa processual prejudicial, mas não em questão de mérito; necessidade de que todas as questões suscitadas no recurso primitivo sejam analisadas. Preliminarmente, a Corte assinalou ser perfeitamente admissível a aplicação do art. 557, caput, do Código

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de Processo Civil aos embargos de declaração. Destacou-se que, dentre as possibilidades previstas no dispositivo, está a de prover ou improver recurso visivelmente improcedente, o que atende, dentre outros prin-cípios do nosso sistema, à razoável duração do processo e à garantia de celeridade de sua tramitação (art. 5o, LXXVIII da CF), não havendo vedação a que tais decisões monocráticas sejam, posteriormente, sub-metidas ao controle do órgão colegiado mediante agravo regimental. No mérito, ressaltou-se o acerto da decisão que negou seguimento aos embargos de declaração.Acórdão n. 25.015, de 2.8.2010, Relator Juiz Francisco Oliveira Neto.

INFORMATIVO JURISPRUDENCIAL N. 29 – SETEMBRO DE 2010

Prestação de contas. Conceituação. Quitação eleitoral. Lei n. 12.034/2009.O Tribunal, por maioria, deu provimento a recurso a fi m de determinar ao Juiz Eleitoral a exclusão da restrição no cadastro eleitoral imposta aos recorrentes, por conta da rejeição da prestação de contas de campanha, nas eleições de 2008, assegurando-lhes o direito de obter a certidão de quitação eleitoral. No caso apreciado, o Juiz Eleitoral desaprovou a prestação de contas de campanha do pleito de 2008 dos recorrentes, implicando o impedimento do candidato em obter a certidão de quitação eleitoral durante o curso do mandato ao qual concorreu. Ressaltou-se que somente estavam impedidos de obter a certidão de quitação eleitoral os candidatos que não haviam apresentado sua prestação de contas de campanha, até as eleições de 2008. A partir desse pleito, a restrição também foi imposta aos candidatos que a tivessem desaprovada. A Corte consignou que o Congresso Nacional, no ano de 2009, publicou Projeto de Lei, o qual deu origem à Lei n. 12.034, a fi m de estabelecer em lei o conceito de quitação eleitoral, transcrevendo, ipsis litteris, todas as obrigações para com a Justiça Eleitoral já previstas nas resoluções do Tribunal Superior Eleitoral, com exceção da questão referente à prestação de contas de campanha, pois, ao invés de exigir “a regular prestação de contas de campanha eleitoral”, fez constar “a apresentação de contas de campanha eleitoral”. Concluiu-se que, com o advento de lei ordinária regulando a matéria, essa prerrogativa encontra-se limitada aos parâmetros estabelecidos pelo legislador, entre os quais o de que a decisão de desaprovação da prestação de contas não obsta a obtenção da certidão de quitação eleitoral.Acórdão n. 25.372, de 16.9.2010, Relator Juiz Sérgio Torres Paladino.

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Matéria processual. Habeas corpus. Trancamento de inquérito po-licial. Incompetência ratione materiae da Justiça Eleitoral.O Tribunal concedeu parcialmente a ordem de habeas corpus para, de ofício, reconhecer a incompetência do Juízo Eleitoral a quo para conduzir o inquérito policial, determinando a remessa dos autos à Justiça Comum. Vencido o Relator quanto à anulação, o qual concedeu a ordem, de ofício, “para anular o inquérito policial a partir do primeiro ato judicial que deferiu o pedido de prorrogação das investigações pela Delegacia de Polícia Federal”. Tratava-se de HC impetrado com o escopo de trancamento de inquérito destinado à apuração da prática de infração penal capitulada no art. 12 da Lei n. 10.826/2003 (posse irregular de arma de fogo de uso permitido), tendo a Corte reconhecido a incompetência absoluta da Justiça Eleitoral em razão da matéria, haja vista tal delito não constituir infração de natureza eleitoral. Entendeu-se, outrossim, pela desnecessidade de anulação dos atos praticados no âmbito do aludido inquérito, pois na fase indiciária não se praticam atos decisórios, porém apenas informativos, e qualquer nulidade nessa fase extrajudicial não contamina a ação penal.Acórdão n. 25.325, de 8.9.2010, Relatora Designada Juíza Eliana Pa-ggiarin Marinho.

Representação. Prestação de contas. Não apresentação das contas. Suspensão do repasse de cotas do fundo partidário. Desnecessi-dade de decisão judicial.O Tribunal extinguiu o processo, sem resolução de mérito, nos termos do art. 267, VI, do Código de Processo Civil, ante a ausência de interes-se processual do representante, determinando a remessa dos autos à Direção-Geral do Tribunal, para adoção das providências indicadas no art. 18 da Resolução TSE n. 21.841/2004, tendo-se concluído que não havia necessidade de o Ministério Público Eleitoral propor representação diante da omissão partidária em prestar contas, já que a suspensão do repasse de novas cotas do fundo partidário é automática, não exigindo para tanto, qualquer ordem judicial, conforme precedente da Corte da lavra do Juiz Sérgio Torres Paladino, reconhecendo a ausência de interesse processual do MPE – consubstanciada no binômio utilidade/necessidade – para a propositura da representação.Acórdão n. 25.313, de 2.9.2010, Relatora Juíza Eliana Paggiarin Marinho.

Multa eleitoral. Parcelamento.O Tribunal manteve sentença que deferiu o parcelamento de multa eleitoral em somente 5 parcelas, tendo levado em consideração: a) a condição

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fi nanceira do devedor; b) o valor da multa aplicada; c) a ausência de mo-tivos a justifi car o parcelamento nos moldes requeridos (60 parcelas); e d) a garantia do caráter sancionador da pena. Ressaltou-se que o parce-lamento de débitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional, entre eles aquele decorrente de multa eleitoral, está legalmente previsto no art. 10 da Lei n. 10.522/2002, o qual estabelece que tais débitos poderão ser divididos em até 60 vezes, a critério da autoridade julgadora. A Corte entendeu que o parcelamento do débito não é direito subjetivo do deve-dor, mas sim, decorrente do poder discricionário conferido à autoridade julgadora que, diante das particularidades do caso – origem do débito, condição fi nanceira do devedor e caráter sancionador da penalidade imposta –, decidirá sobre a conveniência de sua concessão.Acórdão n. 25.366, de 16.9.2010, Relator Juiz Rafael de Assis Horn.

Crime eleitoral. Induzimento fraudulento de inscrição eleitoral.O Tribunal deu provimento a recurso criminal para manter a sentença de absolvição do réu por suposta prática do ilícito penal previsto no art. 290 do Código Eleitoral. No caso concreto, o candidato teria induzido eleitora, também denunciada, a se inscrever fraudulentamente no ca-dastro de eleitores, sem que possuísse residência ou domicílio eleitoral no município, com o propósito de favorecer a sua campanha eleitoral. Em suas razões, o Ministério Público Eleitoral alega serem as provas carreadas aos autos sufi cientes para demonstrar que o réu teria induzido a eleitora a transferir seu domicílio eleitoral para cidade diversa daquela em que residia e tinha domicílio, com o intuito de angariar mais votos para a candidatura dele ao cargo de vereador, pleiteando a reforma da sentença e a condenação do recorrido. A Corte entendeu, no entanto, que não há prova substancial de que o recorrido tenha praticado o ilícito a ele imputado, visto que as únicas provas em que se assenta a denúncia não são sufi cientes para determinar um decreto condenatório, especialmente em sede de ação criminal, em que vigora o princípio do in dubio pro reo. O Tribunal, em preliminar, não conheceu do recurso interposto pelo réu por intempestivo, ressaltando-se que o prazo para interposição de recurso criminal eleitoral é de 10 dias, nos termos do art. 362 do Código Eleitoral.Acórdão n. 25.312, de 2.9.2010, Relator Juiz Rafael de Assis Horn.

Matéria processual. Notifi cação por fax. Impossibilidade de nulidade de multa eleitoral.O Tribunal negou provimento a recurso interposto por candidato contra sentença que julgou improcedente a ação de nulidade de multa eleitoral

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ao argumento de que não foi devidamente notifi cado para responder a representação eleitoral, proposta em razão de que diversas placas de publicidade estavam em desacordo com a legislação eleitoral, por ultrapassarem o limite de 4 m², caracterizando outdoors, tendo sido o recorrente condenado ao pagamento de multa no valor de R$ 5.320,50. No julgamento, assentou-se que a decisão do Juiz Eleitoral indeferiu o pedido de liminar e julgou improcedente o pedido formulado pelo requerente com base nos seguintes fundamentos: a) a sentença, após transitada em julgado, faz coisa julgada, tornando-se imutável; b) a coisa julgada esgota a atividade jurisdicional sobre determinado pedido, entre as mesmas partes e com a mesma causa de pedir; a questão decidida em sede de representação eleitoral não pode ser a qualquer momento rediscutida, pois fere a coisa julgada; e c) não houve prejuízo concreto, porque foi o requerente devidamente notifi cado através de fac-símile. Ressaltou-se que a legislação eleitoral permite a intimação do candidato representado para tomar ciência da existência do feito, ainda que por telegrama ou fac-símile (Lei n. 9.504/1997, art. 94, § 4o). A Corte concluiu que a nulidade somente poderia ser alegada em caso de comprovação de dano por parte de quem a alega, o que, evidentemente, não ocorreu no caso.Acórdão n. 25.334, de 9.9.2010, Relator Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto.

Propaganda eleitoral extemporânea. Imprensa escrita. Não ca-racterização.O Tribunal deu provimento a recursos para afastar a aplicação de multas individuais no valor de 20 mil UFIR à empresa jornalística e a pré-candi-dato a prefeito pela prática de propaganda eleitoral antecipada em favor do último, consistente em reportagem veiculada em jornal impresso. A Corte rejeitou a preliminar de inconstitucionalidade da multa prevista no § 3o do art. 36 da Lei n. 9.504/1997, à consideração de que tal previsão legal mostra-se inteiramente de acordo com a Constituição Federal, não só em razão da importância do bem jurídico tutelado (a isonomia do pleito eleitoral), mas também porque admite que o magistrado ajuste o valor da sanção ao caso concreto. No mérito, entendeu-se que a matéria apresentava cunho estritamente jornalístico (caráter informativo e opina-tivo), o qual se insere no âmbito do direito de liberdade de informação exercido pelos órgãos da imprensa escrita. Ressaltou-se, outrossim, que a manifestação elogiosa e favorável ao candidato é permitida, não caracterizando propaganda eleitoral irregular, e que, em momento al-gum, o pré-candidato foi considerado o mais apto ao exercício da função

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pública, pois não houve comparação com os demais concorrentes de outras agremiações partidárias.Acórdão n. 25.357, de 15.9.2010, Relatora Juíza Cláudia Lambert de Faria.

Propaganda eleitoral extemporânea. Caracterização. Redução de ofício da multa eleitoral.O Tribunal negou provimento a recurso interposto por empresa jorna-lística, contudo reduziu de ofício o valor da multa a ela imposta, com fundamento na nova redação dada pela Lei n. 12.034/2009 à Lei das Eleições, e deu provimento ao recurso interposto pelo candidato e pelo partido político, a fi m de julgar improcedente a representação, em rela-ção a estes dois recorrentes, afastando a multa que lhes foi arbitrada. No caso, o recorrido insurgiu-se contra matéria jornalística divulgada na imprensa escrita enaltecendo a atuação de postulante a cargo público. A Corte concluiu que a matéria tem cunho eleitoral, contendo propaganda de pessoa e partido político, visando angariar a simpatia e os votos da população, que tem a impressão de estar lendo matéria jornalística, quando na verdade, trata-se de campanha eleitoral, sendo a propaganda eleitoral irregular por ser extemporânea. Ressaltou-se que o Tribunal Superior Eleitoral conceituou ato de propaganda eleitoral como sendo aquele que leva ao conhecimento geral, embora de forma dissimulada, a candidatura, mesmo apenas postulada, e a ação política que se pre-tende desenvolver ou razões que induzam a concluir que o benefi ciário é o mais apto ao exercício de função pública. Consignou-se, em relação aos benefi ciários da propaganda, que se exige o prévio conhecimento do conteúdo da propaganda eleitoral extemporânea, cuja ciência prévia, segundo o TSE, poderá ser demonstrada com base nas circunstâncias e peculiaridades do caso concreto. Concluiu-se que a multa, de ofício reduzida, somente poderá ser imputada ao jornal, devendo ser afastada a sanção imposta ao partido político e ao candidato.Acórdão n. 25.323, de 8.9.2010, Relatora Juíza Cláudia Lambert de Faria.

Crime eleitoral. Transferência fraudulenta de eleitor.O Tribunal, por maioria, deu parcial provimento a recurso para adequar a reprimenda imposta ao recorrente, fi xado o regime aberto para resgate inicial da pena corporal, com a sua substituição por pena restritiva de direito, no caso prestação de serviços à comunidade pelo tempo da pena corporal fi xada, e multa, pela prática dos delitos previstos nos arts. 290 e 350 do Código Eleitoral c/c arts. 71 e 69 do Código Penal, em município diverso. Ressaltou-se que a materialidade do delito restou evidente por

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intermédio do próprio auto de prisão em fl agrante lavrado em desfavor do recorrente, como ainda pela farta prova documental colacionada pelo recorrido, representada por inúmeras declarações particulares, com fi ns específi cos para fazerem prova perante a Zona Eleitoral. Considerou-se a má interpretação dada pelo recorrente ao preceito estatuído pelo art. 350 do CE, o qual, segundo a Corte, é aplicável ao terceiro que prejudica a legalidade do processo eleitoral ao adulterar documento com a fi nalida-de de instruir um determinado procedimento. Em teoria, só quem pode fazer a transferência do título eleitoral é o eleitor, porém, o documento preenchido por terceiro será apresentado pelo eleitor como exteriorizador da sua vontade (declaração de residência). Classifi cou-se, portanto, a confi guração do tipo penal do art. 350 do CE em manifesta coautoria do recorrente no crime de falsifi cação ideológica, no caso de aliciamento de eleitores a fi m de levá-los a se inscreverem – ilegalmente – em outro município. Da mesma forma, entendeu o Tribunal confi gurada a conduta referente ao tipo preconizado pelo art. 290 do CE em concurso material. Consignou-se, nesse ponto, que não há absorção do crime descrito pelo art. 350 e pelo art. 290, ambos do CE, ou vice-versa, uma vez que poderia o recorrente apenas induzir os corréus a inscreverem-se como eleitores sem lhes fornecer as declarações falsas. Destacou-se, ainda, como atestado pela prova, que evidente a hipótese de que o recorrente desempenhou papel fundamental na empreitada criminosa denunciada, buscando burlar a Lei Eleitoral, seja procurando eleitores para a trans-ferência dos títulos, seja no seu deslocamento, sempre manejando as declarações apreendidas como fundamento básico da pretensão, res-tando cabal a coautoria na conduta delitiva ditada pelo art. 350 do CE, não havendo que se falar em absolvição, devendo ser mantida íntegra a decisão monocrática quanto à sua condenação.Acórdão n. 25.371, de 16.9.2010, Relator Juiz Leopoldo Augusto Brüggemann.

Programação normal de emissora de televisão. Entrevista.O Tribunal negou provimento a recurso interposto contra sentença de Juiz Auxiliar que julgou improcedente representação ofertada pelo Mi-nistério Público Eleitoral na qual se pleiteava a condenação de emissora de televisão ao pagamento de multa em razão da concessão de trata-mento privilegiado a determinadas candidaturas regionais, consistente na promoção de entrevistas individuais com seis candidatos a deputado estadual de determinada região geográfi ca catarinense, e, outrossim, na instigação do eleitorado a votar apenas em candidatos daquela região, práticas que, segundo o MPE, seriam vedadas pelo art. 45, IV, da Lei

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n. 9.504/1997. Entendeu a Corte que a legislação eleitoral não proíbe a realização de entrevistas com candidatos nem prevê a obrigação de que todos sejam convidados, além do fato de não ter sido constatada a alegada divulgação de opinião favorável a algum ou alguns dos can-didatos ou a instigação do eleitorado para que votasse em candidatos daquela região geográfi ca, sendo que os entrevistados simplesmente discorreram sobre os seus próprios currículos e projetos que colocariam em prática caso viessem a se eleger.Acórdão n. 25.330, de 9.9.2010, Relator Juiz Júlio Guilherme Berezoski Schattschneider.

Propaganda eleitoral. Horário eleitoral gratuito. Utilização de recur-sos de computação gráfi ca. Vedação.O Tribunal, por maioria, negou provimento a recurso interposto contra sentença que julgou procedente representação por propaganda irregu-lar, consistente na utilização de fotografi as representativas de imagens externas, recursos de computação gráfi ca (animação) e efeitos especiais (letreiros digitais correspondentes ao texto narrado), tudo em inserções veiculadas no horário eleitoral gratuito. No caso, verifi cou-se que em algumas inserções são veiculadas fotografi as de imagens externas (equiparadas a gravações externas), em outras são utilizados efeitos especiais diversos, e no decorrer de todas elas há a exibição de uma foto em movimento representativa da capa de um jornal contendo a manchete sobre o tema explorado, pelo que entendeu a Corte tratar-se, induvidosamente, de recursos de computação gráfi ca, cujo uso a legislação expressamente visou coibir (Lei n. 9.504/1997, art. 51, IV), com o escopo de que o eleitor pudesse ter contato direto com os pró-prios candidatos.Acórdão n. 25.301, de 1.9.2010, Relator Juiz Júlio Guilherme Berezoski Schattschneider.

Propaganda eleitoral. Plotagem em lateral de veículo. Aplicação de multa.O Tribunal negou provimento a recurso para manter a sentença de Juiz Auxiliar que condenou o recorrente ao pagamento de multa no valor de R$ 5.320,50, em razão da veiculação de plotagem – com imagem de candidato – superior a 4 m² numa das laterais de veículo, a qual se assemelha a outdoor (outdoor ambulante), espécie de propaganda eleitoral vedada.Acórdão n. 25.394, de 22.9.2010, Relator Juiz Francisco Oliveira Neto.

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Propaganda eleitoral. Imprensa escrita. Necessidade de constar o valor do anúncio.O Tribunal negou provimento a recurso interposto contra sentença que julgou procedente representação por propaganda eleitoral irregular, consistente na veiculação de propaganda paga na imprensa escrita sem que constasse de forma visível o valor do anúncio. O recorrente afi rmou que adotou todas as cautelas para que a publicação fosse editada de acordo com a legislação vigente e imputou o erro ao representante do jornal. Acerca dessas alegações, a Corte manifestou-se no sentido de que o benefi ciário da referida propaganda também deve ser penalizado, pois a todos incumbe o dever de observar a legislação eleitoral.Acórdão n. 25.341, de 13.9.2010, Relator Juiz Francisco Oliveira Neto.

Propaganda eleitoral. Horário eleitoral gratuito. Invasão. Retrans-missão. Situação extraordinária.O Tribunal determinou, em caráter extraordinário, em razão do térmi-no do horário eleitoral gratuito, a retransmissão, na antevéspera das eleições, da propaganda em bloco de todos os candidatos ao governo do Estado levadas ao ar no último dia da propaganda eleitoral gratuita na televisão, excluindo-se a propaganda da coligação partidária que invadiu o horário de propaganda destinado às eleições proporcionais. A Corte ressaltou que, na propaganda apresentada no horário eleitoral gratuito de televisão destinado aos candidatos a deputado federal da coligação representada, houve invasão da propaganda majoritária para governador. Concluiu-se que a propaganda em questão não está nos limites daquilo que o Tribunal entendeu como aceitável, havendo uma extrapolação muito clara do permitido pela legislação eleitoral.Acórdão n. 25.424, de 1.10.2010, Relator Juiz Carlos Vicente da Rosa Góes.

Propaganda eleitoral. Placas em bem particular. Proximidade física a bem de uso comum. Regularidade.O Tribunal negou provimento a recurso interposto pelo Ministério Pú-blico que pretendia a reforma da sentença que julgara improcedente representação por propaganda irregular, realizada por meio de placas fi xadas próximas a bem de uso comum. No caso, restou comprovado que a edifi cação na qual a propaganda foi veiculada não pertence à Ad-ministração Pública, e sim a prédio particular, locado pelo representado para servir de sede do comitê de campanha durante o período eleitoral. O Tribunal destacou que o fato de o imóvel particular estar localizado ao lado de edifi cação onde está instalado órgão da Administração não

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permite, por si só, considerar que a propaganda é irregular, por meio de interpretação extensiva do conceito de bem de uso comum ou de área pública.Acórdão n. 25.354, de 15.9.2010, Relator Juiz Carlos Vicente da Rosa Góes.

Propaganda eleitoral. Horário eleitoral gratuito. Utilização de ima-gens externas. Vedação.O Tribunal negou provimento a recurso interposto contra sentença que julgou procedente representação por propaganda irregular, consisten-te na utilização de imagens externas, computação gráfi ca e efeitos especiais em inserções no horário eleitoral gratuito. Ressaltou-se que somente é permitido o uso desses recursos para a identifi cação do candidato (nome, número e partido) e a aposição de legenda para de-fi cientes auditivos, por se tratar de situações expressamente previstas em lei e obrigatórias a todos os candidatos, partidos e coligações. No caso, verifi cou-se que houve fl agrante utilização de imagens externas nas inserções, nas quais havia entrevistas com populares, bem como o uso explícito de fotografi as que também confi guram imagem externa. O Tribunal afastou, ainda, o argumento segundo o qual somente estaria proibida a utilização de tais recursos quando degradam ou ridicularizam candidato, partido ou coligação.Acórdão n. 25.320, de 8.9.2010, Relator Juiz Carlos Vicente da Rosa Góes.

INFORMATIVO JURISPRUDENCIAL N. 30 – OUTUBRO DE 2010

Prestação de contas. Caráter jurisdicional. Recurso. Representação processual. Necessidade de subscrição por advogado.O Tribunal não conheceu do recurso. Inicialmente foi acolhida a pre-liminar de ausência de representação processual, porquanto a peça recursal foi subscrita pelo próprio candidato recorrente, o qual não detém a capacidade postulatória privativa do profi ssional da advocacia. Ressaltou-se que a Lei n. 12.034/2009 incluiu na Lei n. 9.504/1997 dispositivos prevendo a possibilidade de interposição de recurso contra decisões proferidas em prestação de contas, e à vista dessa inovação legislativa, a jurisprudência da Corte evoluiu para não mais considerar os feitos de prestação de contas como de natureza eminentemente administrativa, aspecto que, até então, servia como fundamento para dispensar a representação processual por advogado. Concluiu-se que o caráter jurisdicional do procedimento de prestação de contas torna

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indispensável que o recurso interposto contra decisão nele proferida esteja subscrito por profi ssional da advocacia.Acórdão n. 25.444, de 25.10.2010, Relator Juiz Sérgio Torres Paladino.

Prestação de contas. Caráter jurisdicional. Pedido de reconsidera-ção. Excepcionalidade.O Tribunal, por maioria, conheceu de pedido de reconsideração em prestação de contas de partido político, em caráter excepcional, e deu-lhe provimento parcial, para tão somente afastar irregularidades na documentação apresentada para comprovar gastos com recursos do Fundo Partidário, modifi cando o valor a ser ressarcido ao erário, mas mantendo a rejeição da prestação de contas e a penalidade de suspen-são do repasse de novas quotas do Fundo Partidário pelo período de 6 meses. Inicialmente, entendeu-se ser juridicamente plausível, em caráter excepcional, conhecer de pedido de reconsideração, mesmo após a promulgação da Lei n. 12.034/2009, quando for protocolizado no prazo previsto para a interposição dos embargos de declaração e vier instruído com documentos destinados a corrigir irregularidades simples, que não envolvam questões complexas, nem exijam reanálise do feito por parte do órgão técnico. Salientou-se que com a edição da Lei n. 12.034/2009 foi estabelecida a regra de que “o exame da prestação de contas dos órgãos partidários tem caráter jurisdicional” (Lei n. 9.096/1995, art. 37, § 6o), tornando juridicamente insustentável o óbice para o conhecimento de recurso especial contra decisão proferida em procedimento de prestação de contas e, refl examente, o acolhimento de pedido de reconsideração em sua plenitude. O Tribunal concluiu que: a) o pedido de reconsidera-ção tem cabimento apenas quanto à questão referente à comprovação documental das despesas pagas com recursos do Fundo Partidário; b) as demais irregularidades não demandam nova análise.Acórdão n. 25.439, de 20.10.2010, Relator Juiz Sérgio Torres Paladino.

Prestação de contas. Regularização extemporânea. Admissibilidade.O Tribunal julgou prestadas as contas de comissão provisória regional de partido político e as rejeitou, com a consequente suspensão do repasse de novas quotas do Fundo Partidário pelo prazo de 8 meses. Inicialmente observou-se que é possível admitir prestações de contas totalmente extemporâneas, porque o partido não recebe cotas do Fundo Partidário enquanto permanecer inadimplente, conforme disposto no art. 28, inciso III, da Resolução TSE n. 21.841/2004 (“fi cam suspensas automaticamente, com perda, as novas cotas do Fundo Partidário, pelo

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tempo em que o partido permanecer omisso”). Na hipótese apreciada, apesar de não ser possível aprovar as contas, a Corte entendeu que elas devem ser consideradas prestadas, uma vez que, apesar de ainda faltarem muitas informações, o que certamente impede a Justiça Eleitoral de exercer a fi scalização sobre as receitas e despesas da agremiação, verifi cou-se alguns avanços em relação à prestação de contas apresen-tada, como a abertura de conta bancária e a declaração de uma modesta movimentação fi nanceira. Concluiu-se – como as irregularidades cons-tatadas na prestação de contas possuem natureza grave, impedindo a fi scalização da Justiça Eleitoral sobre a movimentação fi nanceira do partido, já que nenhum extrato bancário do período foi trazido aos autos – que a suspensão do repasse de novas cotas deve se dar pelo prazo de 8 meses, conforme precedentes.Acórdão n. 25.433, de 14.10.2010, Relatora Juíza Eliana Paggiarin Marinho.

Prestação de contas. Ressarcimento do valor oriundo do Fundo Partidário indevidamente utilizado.O Tribunal rejeitou prestação de contas apresentada por partido político. Ressaltou-se que a legislação prevê que as contas anuais partidárias devem ser apresentadas na sua forma contábil, sendo exigíveis todos os documentos elencados no art. 14 da Resolução TSE n. 21.841/2004, e, não cumprindo o partido político com a obrigação a ele imposta, os seus dirigentes então responsáveis serão chamados a responder pela irregularidade. Concluiu-se que a falta de apresentação de documentos comprobatórios das despesas efetuadas com recursos do Fundo Parti-dário é irregularidade severa, visto que se refere à utilização de verba pública. Determinou-se ao partido político o recolhimento ao erário do valor recebido referente a dispêndios realizados com recursos do Fun-do Partidário sem a devida e regular comprovação, correspondente a R$ 159.540,01, bem como a suspensão, pelo período de 6 meses, do repasse das cotas do Fundo Partidário proporcional ao montante que seria destinado ao órgão estadual do partido político.Acórdão n. 25.431, de 13.10.2010, Relator Juiz Rafael de Assis Horn.

Prestação de contas. Retroatividade da lei sancionatória mais benigna.O Tribunal rejeitou as contas de partido político referentes ao exercício fi nanceiro de 2007, determinando seja ofi ciado à direção nacional da agremiação para que suspenda, pelo período de 6 meses, o repasse das quotas do Fundo Partidário ao órgão estadual. As irregularidades

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observadas foram: a) não contabilização das sobras de campanha das eleições de 2006; b) ausência da documentação comprobatória das despesas relativas à conta “adiantamentos diversos”; e c) falta de manifestação do partido a respeito de condição de autoridade dos con-tribuintes sobre as doações recebidas no exercício de 2007. Entendeu a Corte pela aplicação do § 3o do art. 37 da Lei n. 9.096/1995, incluído pela Lei n. 12.034/2009 – que assim dispõe: “A sanção de suspensão do repasse de novas quotas do Fundo Partidário, por desaprovação total ou parcial da prestação de contas de partido, deverá ser aplicada de forma proporcional e razoável, pelo período de 1 (um) mês a 12 (doze) meses (...)”, pois, em matéria de direito sancionatório, “é indiscutível a aplicação do princípio de retroatividade da lei mais benigna”.Acórdão n. 25.437, de 20.10.2010, Relator Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto.

Propaganda eleitoral extemporânea. Período pré-eleitoral. Carac-terização.O Tribunal reformou sentença absolutória pela prática de propaganda eleitoral extemporânea, em período pré-eleitoral (Lei n. 9.504/1997, art. 36). Em sede de preliminares, rejeitou-se a preliminar de ilegitimidade passiva do chefe do Poder Executivo, tendo a Corte decidido que o prefeito é o principal ordenador de despesas do município, responsável pelas contratações das empresas, que veiculam propagandas, além de ser benefi ciário direto de eventuais dividendos eleitorais delas decorren-tes, por isso deve fi gurar no pólo passivo da causa. No mérito, o Tribunal aplicou ao prefeito a multa prevista no art. 36, § 3o, da Lei n. 9.504/1997, com a redação instituída pela Lei n. 12.034/2009, no valor de R$ 10.000,00. Concluiu-se pela aplicação da multa acima do mínimo legal, diante dos seguintes aspectos: a) quantidade elevada de veiculações na imprensa escrita (publicações em diversos jornais) e divulgada por meio de emissoras de televisão, de forma concomitante, em ano eleitoral; b) signifi cativo valor despendido para custeá-las; c) condição fi nanceira do recorrido. Deixou-se de arbitrar a penalidade no máximo legal tendo em vista o recorrido já ter sido condenado em primeira instância em ação popular (na Justiça Comum) a ressarcir aos cofres públicos municipais todos os valores desembolsados com a publicidade – com fulcro no art. 37, § 1o, da Constituição Federal; portanto a Corte Eleitoral aplicou os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.Acórdão n. 25.452, de 26.10.2010, Relatora Juíza Cláudia Lambert de Faria.

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Propaganda eleitoral extemporânea. Entrevista na imprensa escrita. Caracterização.O Tribunal, por maioria, manteve sentença que julgou procedente repre-sentação ao entendimento de que restou confi gurada a divulgação de propaganda eleitoral extemporânea na imprensa escrita. Salientou-se que o jornal não disponibilizou qualquer espaço no seu periódico para que os outros candidatos oponentes lançassem material publicitário de semelhante teor, o que comprova a inobservância do princípio isonômico. Além disso, a entrevista realizada de cunho eleitoral não foi concedida por um pré-candidato, mas, sim, por prefeito em favor da candidatura de seu sucessor ao cargo. Em voto de vista divergente, o Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto negou provimento ao recurso sob o fundamento de que a imprensa escrita também pode entrevistar candidatos e pré-candidatos antes do período eleitoral, sem nem mesmo ter a obrigação de garantir a igualdade entre eles, conforme se exige do rádio e da televisão. Em declaração de voto, a Juíza Eliana Paggiarin Marinho acompanhou a Re-latora, embora por fundamentos parcialmente diversos, por entender que o art. 16-A da Res. TSE n. 22.718/2008 regulamenta a possibilidade de divulgação de entrevistas de candidatos e pré-candidatos, mesmo antes do período eleitoral, em qualquer veículo de comunicação, exigindo-se apenas o tratamento isonômico e que não sejam cometidos excessos.Acórdão n. 25.440, de 21.10.2010, Relatora Juíza Cláudia Lambert de Faria.

Prestação de contas. Rejeição. Certidão de quitação eleitoral. Possibilidade.O Tribunal deu parcial provimento a recurso para: a) manter a sentença que rejeitou as contas de campanha, tendo em vista a presença de irregu-laridades comprometedoras; b) excluir da sentença a sanção que impede o recorrente de obter certidão de quitação eleitoral. Entendeu a Corte que, diante da inclusão, pela Lei n. 12.034/2009, do § 7o no art. 11 da Lei n. 9.504/1997 (“A certidão de quitação eleitoral abrangerá exclusivamente (...) a apresentação de contas de campanha eleitoral.”), a rejeição das contas de campanha não impede a obtenção de certidão de quitação eleitoral.Acórdão n. 25.419, de 29.9.2010, Relator Juiz Leopoldo Augusto Brüggemann.

Propaganda eleitoral. Placa e faixa. Similaridade com outdoor. Retirada. Ausência de prévio conhecimento.O Tribunal negou provimento a recurso em que o Ministério Público Eleitoral pleiteava, com fulcro no § 8o do art. 39 da Lei n. 9.504/1997,

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a aplicação de multa a candidata em razão de propaganda irregular representada por uma placa e uma faixa, afi xadas junto ao seu comitê de campanha, e que atingiam a área de 4,9 m² (apelo visual de outdoor), tendo sido retiradas pelo responsável pela coligação partidária no município, após intimação. Entendeu a Corte não haver qualquer peculiaridade ou circunstância a revelarem o prévio conhecimento da candidata acerca da aludida propaganda, até por se tratar de comitê de campanha localizado em município distante mais de 600 quilômetros de Florianópolis.Acórdão n. 25.436, de 20.10.2010, Relator Juiz Júlio Guilherme Bere-zoski Schattschneider.

Propaganda eleitoral. Placas justapostas. Similaridade com outdoor. Não caracterização. Ausência de exploração comercial. Fixação em bem público. Retirada.O Tribunal negou provimento a recurso em que o Ministério Público Eleitoral pleiteava, com fulcro no § 8o do art. 39 da Lei n. 9.504/1997, a aplicação de multa a candidato em razão de propaganda irregular repre-sentada por duas placas afi xadas sobre a faixa de domínio de rodovia federal, as quais estavam justapostas e, somadas, atingiam a área de 7,8 m² (apelo visual de outdoor), tendo sido retiradas pelo candidato, após intimação. Entendeu a Corte ser incontroversa a inexistência de exploração comercial e que como as placas estavam sobre a faixa de domínio da União, incidiria a vedação do caput do art. 37 da Lei n. 9.504/1997, porém, tendo havido a retirada da propaganda irregular, não era caso de imposição de qualquer penalidade.Acórdão n. 25.432, de 14.10.2010, Relator Juiz Júlio Guilherme Bere-zoski Schattschneider.

Propaganda eleitoral. Faixa de domínio público. Rateio da multa aplicada entre os candidatos.O Tribunal deu parcial provimento a recurso para reduzir a multa apli-cada para o valor de 2 mil reais, a ser rateado entre os recorrentes, por fi xação de placas em faixas de domínio público. Ressaltou-se que o art. 4o, I, do Decreto Estadual n. 3.930/2006 (que regulamenta a explo-ração e utilização comercial das faixas de domínio e áreas adjacentes às rodovias estaduais e federais delegadas ao Departamento Estadual de Infra-Estrutura – DEINFRA no Estado de Santa Catarina) considera faixa de domínio a área de terras determinada legalmente por Decreto de Utilidade Pública para uso rodoviário, sendo ou não desapropriada, cujos limites foram estabelecidos em conformidade com a necessida-

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de exigida no projeto de engenharia rodoviária. Conforme o mesmo dispositivo, nas rodovias em uso, que foram implantadas sem projeto, e também naquelas que não possuem Decreto de Utilidade Pública, adota-se como limite ou faixa de domínio a área contida entre o eixo da rodovia até a distância perpendicular de 15 metros para ambos os lados do início da rodovia até seu término.Acórdão n. 25.443, de 25.10.2010, Relator Juiz Carlos Vicente da Rosa Góes.

INFORMATIVO JURISPRUDENCIAL N. 31 – NOVEMBRO DE 2010

Investigação judicial eleitoral. Propaganda institucional.O Tribunal, por maioria, manteve a sentença que julgou improcedente investigação judicial eleitoral. O recorrente alegava, dentre outras condu-tas vedadas, que o prefeito e o vice, candidatos à reeleição, haviam se utilizado de propaganda institucional para fi ns de promoção pessoal. Ob-servou-se que a publicidade institucional, além de estar condicionada por baliza temporal, encontra-se, igualmente, sujeita a restrições de ordem material, consoante estabelecem a Lei n. 9.504/1997 e a Constituição Federal. Concluiu-se que é impossível extrair da prova a potencialidade, a repercussão que as divulgações, consideradas promocionais, obtive-ram em favor dos recorridos; que o essencial é se perquirir e apurar se os fatos imputados aos investigados tiveram a potencialidade para desequilibrar a disputa do pleito, requisito necessário para a confi guração dos ilícitos a que se refere o art. 22 da Lei de Inelegibilidades. Em voto de vista divergente, a Juíza Eliana Paggiarin Marinho deu provimento ao recurso para cassar os diplomas do candidato a prefeito e seu vice sob o fundamento de que, na linha de precedentes da Corte, tratou-se de abuso do poder de autoridade ou político com potencialidade para infl uenciar no resultado do pleito, porque o então prefeito utilizou-se de recursos da municipalidade com o propósito de fazer promoção pessoal, visando à futura candidatura.Acórdão n. 25.459, de 1.11.2010, Relator Juiz Sérgio Torres Paladino.

Duplicidade de fi liação partidária. Nulidade. Caracterização.O Tribunal manteve decisão de primeira instância que declarou nulas as fi liações partidárias em decorrência de duplicidade apontada pelo sistema de fi liações partidárias da Justiça Eleitoral. Observou-se que na linha da jurisprudência da Corte poder-se-ia concluir no sentido de que a comunicação do fi liado ao partido político mais antigo seria su-fi ciente para afastar a duplicidade de fi liação partidária. Fixou a Corte,

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contudo, novo posicionamento segundo o qual, na forma dos arts. 21 e 22, parágrafo único, ambos da Lei n. 9.096/1995, antes de fi liar-se a um novo partido o eleitor deverá desligar-se do partido ao qual já era fi liado, comunicando por escrito ao órgão de direção municipal e também ao Juiz Eleitoral da Zona em que for inscrito, sob pena de restar confi gurada a duplicidade de fi liação partidária, com o cancelamento de ambas.Acórdão n. 25.474, de 11.11.2010, Relatora Juíza Eliana Paggiarin Marinho.

Abuso dos poderes econômico, político e de autoridade. Conduta vedada. Não confi guração.O Tribunal deu provimento a recursos para julgar improcedente ação de in-vestigação judicial eleitoral em que um pré-candidato a Prefeito nas eleições de 2008, em associação com um Secretário municipal local, teria procedido ao pagamento, com recursos fi nanceiros de origem ilícita, de dívida fi scal de outro pré-candidato ao mesmo cargo, em troca de que este desistisse de sua candidatura, em benefício da candidatura do primeiro. Entendeu o Tribunal não haver potencialidade da aludida conduta para afetar o equilíbrio do pleito majoritário de 2008 no município em questão, requisito exigido pelos Tribunais Regionais Eleitorais para a decretação da inelegibilidade até a edição da Lei Complementar n. 135/2010, que acrescentou o inciso XVI ao art. 22 da Lei Complementar n. 64/1990, que determina que não se considere a potencia-lidade de o fato alterar o resultado da eleição, mas apenas a gravidade das circunstâncias que o caracterizam. Ressaltou-se, outrossim, que a Corte já decidiu, em diversas oportunidades, que apesar de práticas iguais ou simila-res a esta, não raras no meio político, demonstrarem-se moral e eticamente reprováveis, acarretando inclusive vantagens fi nanceiras para alguns de seus protagonistas em troca do apoio político e da formação de alianças, não caracterizam, na esfera eleitoral, os abusos do poder econômico e de autoridade, em razão da incapacidade de infl uenciar o resultado da eleição. Salientou-se, ainda, que as provas existentes nos autos não demonstram a utilização de recursos públicos (materiais e serviços) no arranjo que cul-minou com a referida desistência à disputa eleitoral, motivo pelo qual não resta confi gurada a conduta vedada do art. 73, II, da Lei n. 9.504/1997 (“São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais: usar materiais ou serviços, custeados pelos Governos ou Casas Legislativas, que excedam as prerrogativas consignadas nos regimentos e normas dos órgãos que integram;”).Acórdão n. 25.460, de 1.11.2010, Relatora Juíza Eliana Paggiarin Marinho.

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Propaganda eleitoral extemporânea. Ausência de comprovação de autoria.O Tribunal, por maioria, deu provimento a recursos interpostos contra sentença proferida em representação por propaganda eleitoral extem-porânea. No mérito, concluiu-se inexistir propaganda eleitoral extempo-rânea na distribuição de informativo de prestação de contas de partido político e cartas com cunho propagandístico – que teriam sido encami-nhados conjuntamente a diversos eleitores por meio dos correios, espe-cialmente a um Promotor Eleitoral –, ante a falta de menção à eleição, à plataforma política, às candidaturas, aos números de campanha dos recorrentes; tratando apenas das suas atuações parlamentares. Ainda em relação à carta, a Corte anotou que não há nos autos prova de que tal missiva tenha sido elaborada e enviada pelos recorrentes.Acórdão n. 25.471, de 10.11.2010, Relator Juiz Rafael de Assis Horn.

Prestação de contas. Pedido de reconsideração. Impossibilidade.O Tribunal não conheceu de pedido de reconsideração em prestação de contas, em razão de sua intempestividade. Observou-se que de acordo com o art. 98 do Regimento Interno da Corte, o prazo para in-terposição do pedido de reconsideração é de 2 dias contados da ciência do interessado. Reiterou-se que com o advento da Lei n. 12.034/2009, cuja entrada em vigor se deu em 30.9.2009, as prestações de contas passaram a ter caráter jurisdicional, cabendo contra as suas decisões recurso específi co – conforme o grau de jurisdição –, e não mais pedido de reconsideração.Acórdão n. 25.468, de 10.11.2010, Relator Juiz Rafael de Assis Horn.

Prestação de contas. Partido político. Suspensão de cotas do Fundo Partidário e ressarcimento ao Erário. Termo inicial.O Tribunal desaprovou as contas anuais de partido político. Concluiu-se pela suspensão de novas cotas do Fundo Partidário ao Diretório Regional, pelo prazo de 8 meses, a contar do trânsito em julgado da decisão ou do cumprimento de eventual sanção já imposta pela Justi-ça Eleitoral, ofi ciando-se o órgão de Direção Nacional do partido, bem como o ressarcimento ao Erário do montante de R$ 29.547,68, no prazo improrrogável de 60 dias, a contar do trânsito em julgado da decisão (art. 34 da Resolução TSE n. 21.841/2004).Acórdão n. 25.476, de 18.11.2010, Relator Juiz Leopoldo Augusto Brüggemann.

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Prestação de contas. Ausência de manifestação sobre a condição de autoridade.O Tribunal negou provimento a recurso contra sentença que desaprovou as contas anuais apresentadas por partido político, por recusa ao fornecimen-to de informações a respeito de eventuais doadores e contribuintes que ostentassem a condição de autoridade, comprometendo signifi cativamente a confi abilidade das contas apresentadas. Afastou-se, preliminarmente, a arguição de inconstitucionalidade da exigência contida na Resolução TSE n. 22.585/2007, que, no entender do recorrente, “[...] afasta a autonomia dos partidos políticos de receber de seus fi liados contribuições para a sua manifestação”. Afi rmou-se no julgamento, contudo, que “não é permitido aos partidos políticos receberem doações ou contribuições de titulares de cargos demissíveis ad nutum da administração direta ou indireta, desde que tenham a condição de autoridade”. No mérito, enfatizou-se que, em havendo doação de servidores públicos, compete ao partido político respectivo esclarecer se tais doadores exercem atividade pública que os equipare a “autoridade”.Acórdão n. 25.458, de 1.11.2010, Relator Juiz Leopoldo Augusto Brüggemann.

Habeas corpus. Petição inicial. Aplicação do art. 663 do CPP. Inde-ferimento liminar.O Tribunal indeferiu liminarmente petição inicial em habeas corpus. Ressaltou-se que a suposta coação decorreria exclusivamente do fato de a denúncia ter sido recebida sem que ao paciente – servidor público aposentado – fosse possível formular a defesa preliminar prevista no art. 514 do Código de Processo Penal. Observou-se que, em princípio, o caso justifi caria a incidência do art. 663 do CPP (“As diligências do artigo ante-rior não serão ordenadas se o presidente entender que o habeas corpus deva ser indeferido in limine. Nesse caso, levará a petição ao tribunal, câmara ou turma, para que delibere a respeito.”). Anotou-se, ainda, que o recebimento da denúncia, de acordo com a Lei, ocorre em momento anterior ao oferecimento da defesa – e, por decorrência lógica, antes da audiência de suspensão condicional do processo, se cabível.Acórdão n. 25.498, de 25.11.2010, Relator Juiz Júlio Guilherme Bere-zoski Schattschneider.

Propaganda eleitoral. Faixa de domínio público.O Tribunal negou provimento a recurso interposto contra sentença que jul-gou parcialmente procedente representação para condenar o recorrente ao

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pagamento de multa de R$ 2.500,00 pela prática de propaganda irregular prevista no art. 37, § 1o, da Lei n. 9.504/1997, consistente na fi xação de duas placas de propaganda à margem de uma estrada pública, dentro da faixa de domínio, área pertencente ao Poder Público. Entendeu a Corte que a faixa de domínio integra o domínio público, sendo bem público, e portanto não pode ser utilizada para a veiculação de propaganda eleitoral, não se sustentando a alegação de o recorrente acreditar que a sinalização estaria em propriedade privada, mesmo porque o fato de o proprietário cercar uma área não signifi ca destituir o seu caráter público. Outrossim, salientou-se que o candidato restou inerte à determinação para a retirada da propaganda irregular, tendo incidido o parágrafo único do art. 40-B da Lei n. 9.504/1997, incluído pela Lei n. 12.034/2009 (“A responsabilidade do can-didato estará demonstrada se este, intimado da existência da propaganda irregular, não providenciar, no prazo de quarenta e oito horas, sua retirada ou regularização [...]”), sendo que, no caso dos autos, em que as placas foram colocadas na faixa de domínio, a restauração do bem corresponde à retirada da propaganda irregular no prazo estabelecido.Acórdão n. 25.464, de 10.11.2010, Relator Juiz Francisco Oliveira Neto.

Propaganda eleitoral. Faixa acoplada a avião. Ausência de impacto visual.O Tribunal negou provimento a recurso interposto pelo Ministério Pú-blico Eleitoral contra sentença que julgou improcedente representação ajuizada em razão de que, em 7.9.2010, buscando difundir as suas candidaturas perante o público reunido para assistir ao desfi le cívico em determinado município, os dois recorridos promoveram o vôo de um pequeno avião conduzindo uma faixa com os seus nomes e números, no horário compreendido entre 10h e 12h. Entendeu a Corte que a faixa veiculada por meio de avião que sobrevoa o céu em ponto distante não detém potencialidade para se concretizar como irregularidade eleitoral, já que, aos olhos da população, afi gura-se como uma pequena mensagem no horizonte. Salientou-se que eventual faixa de 4 m² em altura com-patível com o vôo seria algo imperceptível, haja vista que representaria algo comparável ao registro do avião (consistindo em siglas e números difi cilmente visualizados).Acórdão n. 25.463, de 10.11.2010, Relator Juiz Francisco Oliveira Neto.

Propaganda eleitoral. Cavaletes em vias públicas. Manutenção após as 22 horas.O Tribunal negou provimento a recursos interpostos contra sentença que condenou os recorrentes a multas individuais de dois mil reais

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em razão da realização de propaganda eleitoral mediante cavaletes afi xados em via pública após as 22 horas, em desacordo com a proibição do art. 37, § 7o, da Lei n. 9.504/1997. Entendeu a Corte que tal propaganda somente seria admitida se os cavaletes fossem móveis, o que não se verifi cou, pois permaneceram na via pública após as 22 horas.Acórdão n. 25.461, de 8.11.2010, Relator Juiz Carlos Vicente da Rosa Góes.

INFORMATIVO JURISPRUDENCIAL N. 32 DEZEMBRO DE 2010, JANEIRO/FEVEREIRO DE 2011

Abuso do poder econômico. Distribuição de combustível por ter-ceiro. Cassação do mandato eletivo. Eleições indiretas.O Tribunal manteve sentença, a fi m de manter a cassação dos man-datos eletivos e determinar a realização de eleição indireta para os cargos de prefeito e vice-prefeito, proferida em ação de impugnação de mandato eletivo ajuizada com fundamento em prática de abuso do poder econômico. Preliminarmente, rejeitou-se a alegação de decadência do direito de ação por não terem os partidos políticos e a coligação pelos quais concorreram como candidatos sido citados para integrar a relação processual na qualidade de litisconsortes passivos necessários. No mérito, sobre a alegação de que os impug-nados foram eleitoralmente benefi ciados por ato abusivo praticado por correligionário, consistente na aquisição e na distribuição de grande quantidade de combustível realizadas na véspera do pleito, com o propósito de aliciamento de eleitores, entendeu-se que os elementos contidos nos autos evidenciaram o cometimento de abuso do poder econômico, no intuito de promover a candidatura dos impugnados, não podendo ser considerado ato normal de campanha eleitoral, tendo afetado o equilíbrio de forças entre aqueles que disputavam a eleição majoritária. Concluiu-se que a intervenção da Justiça Eleitoral deve ter como referência o delicado equilíbrio entre a legitimidade da soberania popular manifestada nas urnas e a preservação da lisura do processo eleitoral, mantendo a cassação dos mandatos eletivos e determinando a realização de nova eleição para os cargos de prefeito e vice-prefeito, a ser realizada de forma indireta. Por fi m, o Tribunal deu parcial provimento ao recurso do Ministério Público Eleitoral para determinar a aplicação imediata da decisão após a publicação do acórdão em meio ofi cial.Acórdão n. 25.640, de 17.2.2011, Relator Juiz Sérgio Torres Paladino.

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Matéria administrativa. Recurso administrativo. Ausência de am-paro legal.O Tribunal não conheceu de recurso interposto por servidor contra de-cisão administrativa do Presidente do TRESC. Entendeu a Corte que o direito de administrados e servidores recorrerem de decisões admi-nistrativas que lhes prejudiquem é incontestável, porém a irresignação deverá sempre ser apreciada pela autoridade imediatamente superior à responsável pelo ato decisório. Dentro desse contexto, ressaltou-se que a pretensão recursal carece de amparo legal, já que o Presidente do Tribunal não se encontra hierarquicamente subordinado ao Pleno, formado pelos demais Juízes da Corte. Concluiu-se, assim, que resta evidente que o recurso interposto, além de não se enquadrar nas hipó-teses previstas pelas normas legais que regem os procedimentos que tramitam no âmbito administrativo, não encontra amparo em dispositivo regimental específi co, motivo pelo qual o inconformismo do servidor somente poderia ser examinado pelo Pleno do Tribunal em sede de mandado de segurança.Acórdão n. 25.634, de 15.2.2011, Relator Juiz Sérgio Torres Paladino.*No mesmo sentido: Acórdão n. 25.635, de 15.2.2011, Relator Juiz Sérgio Torres Paladino.

Crime eleitoral. Desobediência. Ausência de prestação de contas de comitê fi nanceiro. Atipicidade.O Tribunal manteve sentença que considerou o fato atípico e absolveu o recorrido do delito de desobediência, capitulado no art. 347 do Código Eleitoral (“Recusar alguém cumprimento ou obediência a diligências, ordens ou instruções da Justiça Eleitoral ou opor embaraços à sua execução: (...)”). Em suas razões, a Procuradoria Regional Eleitoral sustentou a tese de que haveria possibilidade de ser responsabilizado o agente denunciado, uma vez que a determinação judicial teria sido específi ca e diretamente a ele atribuída – já que, na qualidade de pre-sidente de diretório municipal de partido político, lhe cumpriria prestar as contas de campanha eleitoral do comitê fi nanceiro das eleições de 2008 e providenciar o recolhimento integral dos valores referentes ao fundo partidário recebidos pela grei partidária no exercício anterior. Entendeu-se, consoante com a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, que não resta confi gurado o delito de desobediência de ordem judicial, se houver previsão de sanção de natureza civil, processual civil ou administrativa para a mesma hipótese.Acórdão n. 25.615, de 27.1.2011, Relator Juiz Rafael de Assis Horn.

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Prestação de contas. Eleições gerais. Doação. Diretório municipal. Impossibilidade.O Tribunal aprovou com ressalvas a prestação de contas de candidato a deputado federal que recebeu doação em pecúnia de diretório mu-nicipal, registrada como recebida pelo diretório regional. Além de tal doação ter sido identifi cada de forma incorreta, o diretório municipal não possui a prerrogativa de participar diretamente no fi nanciamento das campanhas em eleições gerais, privilégio este conferido somente aos diretórios estaduais e nacionais, conforme disposição do art. 39, § 5o, da Resolução TSE n. 23.217/2010. Reiterou-se que não há previsão legal ou regulamentar quanto à possibilidade de os diretórios partidários municipais efetuarem doações a candidatos nos pleitos estadual e/ou federal. Concluiu-se que é necessária a aprovação com ressalvas, já que, apesar de não ser o caso dos autos, entendeu-se que anuir integral-mente com as doações realizadas diretamente pelo diretório municipal ao candidato (em se tratando de eleição de cunho estadual e federal) signifi caria permitir a utilização em campanhas de recursos originários de doação oculta ou ilícita, ou, ainda, que tenham excedido os limites legais permitidos pela legislação de regência, sem que, a posteriori, se descobertas, possam ser apuradas pela Corte.Acórdão n. 25.538, de 3.12.2010, Relator Juiz Rafael de Assis Horn.

Prestação de contas. Apresentação extemporânea, concomitante a recurso. Possibilidade.O Tribunal deu provimento parcial a recurso, interposto contra sentença que julgou não prestadas as contas anuais por diretório municipal de parti-do político, para determinar: a) a cessação da suspensão do repasse das quotas do fundo partidário a partir da data de apresentação da prestação de contas; b) a remessa dos autos ao Juízo de origem para sua apreciação. Quanto à preliminar de nulidade da notifi cação do diretório municipal para a apresentação das contas, em razão de a notifi cação ter sido encaminhada ao endereço residencial do anterior presidente da agremiação e não ao do atual titular, fato que teria impossibilitado que o órgão partidário apresen-tasse as contas, afastou a Corte tal preliminar, ante ao descumprimento pelo partido do preceito contido no art. 10, parágrafo único, inciso II, da Lei n. 9.096/1995, vez que a notifi cação foi encaminhada para o endereço constante, à época, dos registros da Justiça Eleitoral. Quanto ao mérito, entendeu o Tribunal que, diante da não apresentação da prestação de contas, correta a suspensão do repasse de novas quotas do fundo parti-dário a diretório municipal de partido político, entretanto essa suspensão

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deve cessar com o fi m da inadimplência, pois é a falta de apresentação da prestação de contas – e não a apresentação extemporânea – que tem como sanção principal e imediata a suspensão do recebimento de novas quotas do fundo partidário, conforme estabelecido no caput do art. 37 da Lei n. 9.096/1995 (“A falta de prestação de contas ou sua desaprovação total ou parcial, implica a suspensão de novas quotas do fundo partidário e sujeita os responsáveis às penas da lei.”). No caso, a prestação de contas foi apresentada junto com o recurso, após a sentença que julgou as contas não prestadas, todavia a intempestividade das contas não impede a sua apreciação, conforme precedentes (Acórdãos TRESC n. 14.722, 16.121, 20.273 e 20.537). Entretanto, a competência para apreciá-las é do Juízo Eleitoral de primeiro grau, eis que prestadas por diretório municipal e ainda não analisadas pelo órgão judiciário detentor de competência originária para tanto, não podendo o Tribunal proceder a tal apreciação diretamente, sob pena de indevida supressão de uma instância de julgamento, e ainda para assegurar o princípio do duplo grau de jurisdição.Acórdão n. 25.636, de 17.2.2011, Relatora Juíza Cláudia Lambert de Faria.

Mesário faltoso. Justa causa. Multa. Descabimento.O Tribunal deu provimento a recurso para acolher a justifi cativa apre-sentada e afastar a aplicação de multa de um salário mínimo vigente – com fulcro no art. 124 do Código Eleitoral – à mesária que desaten-deu à convocação para os trabalhos eleitorais em 3.10.2010 (1o turno das eleições). Entendeu a Corte que a mesária apresentou justifi cativa plausível (justa causa) e tempestiva para a aludida ausência, vez que o protocolo da justifi cativa ocorreu em 7.10.2010 e nela se alegou e se comprovou – por meio de declaração médica datada de 4.10.2010 – que a mesária estava grávida e foi acometida por uma crise renal – iniciada em 2.10.2010 – que a impossibilitou de exercer a função em 3.10.2010.Acórdão n. 25.598, de 11.1.2011, Relator Juiz Leopoldo Augusto Brüggemann.

Prestação de contas. Eleições 2010. Doação. Organização civil sem fi ns lucrativos. Não caracterização como entidade de classe.O Tribunal aprovou com ressalvas a prestação de contas de candidato a deputado federal. Entendeu a Corte que a arrecadação de recursos junto à Associação Nacional da Indústria de Armas e Munições (ANIAM) não é proibida pelo inciso VI do artigo 24 da Lei n. 9.504/1997 (“É vedado a partido e candidato receber direta ou indiretamente doação em dinheiro

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ou estimável em dinheiro (...), procedente de: entidade de classe ou sindical;”), já que tal associação não se caracteriza como entidade de classe para os fi ns do mencionado dispositivo legal, enquadrando-se como organização civil sem fi ns lucrativos.Acórdão n. 25.581, de 8.12.2010, Relator Juiz Julio Schattschneider.

Direitos políticos. Suspensão. Restabelecimento. Cadastro eleitoral fechado. Impedimento à votação.O Tribunal negou provimento a recurso em processo no qual eleitor requereu esclarecimentos a zona eleitoral sobre o motivo de seu impe-dimento ao exercício do voto nas eleições de 2010, eis que seus direitos políticos, que estavam suspensos em decorrência de condenação crimi-nal, foram restabelecidos durante o período de fechamento do cadastro eleitoral. Preliminarmente, a Corte afastou a tese de que a condenação criminal imposta ao recorrente não confi guraria causa de suspensão de direitos políticos por não estar prevista na Lei Complementar n. 64/1990. Sobre a questão, consignou-se que é assente o entendimento do Tribunal Superior Eleitoral no sentido de que a suspensão dos direitos políticos independe da natureza do crime, bastando o trânsito em julgado da decisão condenatória, em razão da autoaplicabilidade do art. 15, III, da Constituição Federal. Na hipótese, o Tribunal ressaltou que não há como negar que a suspensão dos direitos políticos somente perdura enquanto prevalecerem os efeitos da condenação criminal, motivo pelo qual a ex-tinção da pena ocorrida no período de fechamento do cadastro eleitoral restabeleceu, automaticamente, a capacidade eleitoral do recorrente. Contudo, ainda que tenha ocorrido antes da eleição de 3.10.2010, o restabelecimento dos direitos políticos do recorrente coincidiu com o período de fechamento do cadastro eleitoral, momento no qual não é possível promover qualquer alteração na base de dados da Justiça Eleitoral, conforme limitação imposta pelo art. 91 da Lei n. 9.504/1997, valendo dizer que, durante esse período, por questões de ordem técnica, tal restabelecimento de direitos políticos não tem o condão de produzir o efeito imediato de reabilitar o eleitor a votar.Acórdão n. 25.618, de 27.1.2011, Relator Juiz Luiz Cézar Medeiros.

Conduta vedada. Distribuição gratuita de bens, valores ou benefí-cios (Lei n. 9.504/1997, art. 73, § 10). Ano eleitoral. Inocorrência.O Tribunal julgou improcedente representação pela conduta vedada capi-tulada no § 10 do art. 73 da Lei n. 9.504/1997 (“No ano em que se realizar eleição, fi ca proibida a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios

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por parte da Administração Pública, exceto nos casos de calamidade pública, de estado de emergência ou de programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior, casos em que o Ministério Público poderá promover o acompanhamento de sua execução fi nanceira e administrativa.”) em que se alegava que a aludida conduta vedada teria ocorrido fundamentalmente em face da edição de decreto estadual que teve por objeto aprovar a programação fi nanceira e o cronograma de execução mensal de desembolso para determinado exercício fi nanceiro para o Estado de Santa Catarina. Entendeu a Corte que efetivamente não havia como o Chefe do Poder Executivo estadual da época deixar de editar o regramento questionado, já que, caso não o fi zesse, haveria uma interrupção das atividades desenvolvidas pelo supramencionado ente federado, vez que todas as despesas previstas para aquele exercício fi nanceiro estariam impedidas de ser realizadas. Anotou-se, quanto à previsão do contingenciamento, que o ato praticado está em consonância com as regras de direito fi nanceiro, além de ser ato plenamente justifi cado, eis que um orçamento é, nada mais nada menos, do que uma previsão para o futuro, daí não se poder admitir a possibilidade de uma vinculação absoluta do previsto e do que venha a ser realizado; então, caso a arrecadação não corresponda, despesas poderão ser cortadas. Concluiu-se que: a) o contingenciamento, entendi-do na acepção de limitação do empenho e da movimentação fi nanceira, é mais do que simples instrumento colocado à disposição do Chefe do Poder Executivo, pois se traduz em ferramenta de utilização obrigatória para equilibrar receitas e despesas; b) ocorre a possibilidade de liberação de recursos públicos em ano eleitoral para programas sociais autorizados em lei, correspondentes a verbas originárias de fundos estaduais.Acórdão n. 25.594, de 15.12.2010, Relator Juiz Francisco Oliveira Neto.

Conduta vedada. Eleições 2010. Utilização de sede de Câmara de Vereadores. Ato de campanha eleitoral. Aplicação de multa.O Tribunal julgou procedente representação contra candidato a deputado estadual por ofensa ao art. 73, I, da Lei n. 9.504/1997 (“São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas tenden-tes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais: ceder ou usar, em benefício de candidato, partido político ou coligação, bens móveis ou imóveis pertencentes à administração direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, ressalvada a realização de convenção partidária;”), em razão da utilização de sede de Poder Legislativo municipal para a realização de ato de campanha eleitoral, aplicando multa de 5 mil

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UFIR (§ 4o do art. 73 da Lei n. 9.504/1997), equivalente a R$ 5.320,00 (§ 4o do art. 50 da Resolução TSE n. 23.191/2009). Tal representação foi ainda julgada improcedente em relação à presidente da Câmara de Vereadores local, a qual – informada por meio de ofício encaminhado pelo presidente local de determinado partido político de que ali teria lugar uma atividade do partido em referência –, sem nada conhecer a respeito da fi nalidade do evento, deferiu o pedido de cessão do men-cionado espaço físico.Acórdão n. 25.557, de 6.12.2010, Relator Juiz Carlos Vicente da Rosa Góes.

Matéria processual. Declaração de perda de mandato eletivo. Au-sência de interesse de agir. Terceiro suplente.O Tribunal negou provimento a agravo regimental interposto como em-bargos de declaração por terceiro suplente de vereador em face de de-cisão monocrática proferida em petição denominada pelo autor de “Ação declaratória de reconhecimento de direito”, por meio da qual requeria a declaração de perda de mandato eletivo de suplente de vereador por infi delidade partidária. Em razão do princípio da fungibilidade recursal, a Corte decidiu conhecer dos embargos declaratórios como agravo regi-mental. No mérito, ressaltou-se que não cabe à Justiça Eleitoral deliberar sobre a infi delidade partidária de suplentes que não estejam no exercício do mandato eletivo. Concluiu-se que o agravante não possui interesse jurídico na modalidade adequação, vez que a legislação não prevê a ingerência da Justiça Eleitoral nas questões relativas à desfi liação de suplentes de partidos políticos pelos quais concorreram, a não ser que estejam no exercício do mandato.Acórdão n. 25.629, de 10.2.2011, Relator Juiz Ivorí Luis da Silva Scheffer.

INFORMATIVO JURISPRUDENCIAL N. 33 – MARÇO DE 2011

Crime eleitoral. Injúria e calúnia praticadas em comício. Condenação.O Tribunal negou provimento a recurso criminal, para que prevaleça a condenação imposta ao recorrente, pelos crimes de injúria eleitoral (art. 326 do Código Eleitoral) e de calúnia eleitoral (art. 324 do Código Eleitoral) – por duas vezes –, agravados pelo cometimento “na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da ofensa” (art. 327, III, do Código Eleitoral), pelo fato de o recorrente, no decorrer de comício eleitoral, haver proferido discurso em desabono de candidato a prefeito, posteriormente eleito. Preliminarmente, acerca da utilização de gravação de conversa ambiental como prova, entendeu a Corte que

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a orientação jurisprudencial contemporânea empresta licitude à prova decorrente de gravação ambiental efetivada por um dos interlocutores, ainda que não conhecida e consentida pelo outro, sobretudo quando re-gistra discurso realizado em centro comunitário aberto ao público em ge-ral, que nada tem de reservado ou particular, pelo que ausente qualquer ofensa à garantia constitucional da inviolabilidade à intimidade e à vida privada. Quanto ao mérito, assentou o Tribunal que: a) a fala insultosa “vai querer fazer falcatruas”, externada com intuito de conjecturar que o candidato, caso fosse eleito para o exercício da chefi a do Executivo, poderia desviar dinheiro púbico para compensar suas despesas de campanha, é sufi ciente para confi gurar o delito de injúria, pois presente o dolo, consistente no ânimo de ofender a honra subjetiva do candidato; b) a acusação de que a campanha do candidato poderia estar “saindo dos cofres públicos” constitui o delito de calúnia, pois se tem a efetiva imputação de fato típico criminoso, qual seja, a apropriação indevida de dinheiro público, sendo que, mesmo valendo-se da expressão hipotética “pode ser” – que indica hipótese, possibilidade, e não a certeza de seu cometimento –, a precisão e a determinação da ação criminosa atribuída ao ofendido é signifi cativamente insinuosa, havendo-se de considerar, pelo contexto do discurso, o dolo de dano, o evidente propósito de vulne-rar a honra da vítima; c) mostra-se calunioso o trecho da fala que cogita do ilícito penal de formação de quadrilha – entre o candidato ofendido, seus correligionários e sua equipe de campanha –, a qual o eleitorado deveria repelir a bem do desenvolvimento do município.Acórdão n. 25.663, de 14.3.2011, Relator Juiz Sérgio Torres Paladino.

Matéria processual. Embargos de declaração. Nulidade. Renovação de sustentação oral. Não acolhimento.O Tribunal rejeitou embargos de declaração interpostos contra acórdão – que manteve a cassação dos mandatos eletivos e determinou a re-alização de eleição indireta para os cargos de prefeito e vice-prefeito – prolatado em recurso eleitoral em ação de impugnação de mandato eletivo ajuizada com fundamento em prática de abuso do poder eco-nômico. A alegação de nulidade do julgamento motivada por cercea-mento de defesa – fundamentada em decisão tomada pelo Presidente no transcurso de sessão de julgamento que, por ausência de previsão regimental, indeferiu pedido do advogado dos embargantes de renova-ção de sustentação oral antes da apresentação de voto de vista – não foi acolhida pela Corte em razão de ser assente o entendimento no sentido de que o Juiz não está impedido de votar na hipótese em que não compareceu na sessão em que foram apresentados o relatório e

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o voto do relator do processo, bem como realizada a sustentação oral das partes, sendo que, entendendo encontrar-se apto para examinar a questão, tem o Juiz a prerrogativa de proferir seu voto.Acórdão n. 25.655, de 3.3.2011, Relator Juiz Sérgio Torres Paladino.

Mesário faltoso. Recurso não subscrito por advogado. Possibilida-de. Apresentação de justifi cativa plausível. Multa. Descabimento.O Tribunal, por maioria, com voto de desempate do Presidente, deu provimento a recurso para acolher a justifi cativa apresentada e afastar a aplicação de multa no valor de R$ 351,40 – com fulcro no art. 124 do Código Eleitoral – à mesária que desatendeu à convocação para os trabalhos eleitorais em 31.10.2010 (2o turno das eleições). Quanto à preliminar de falta de representação por advogado, visto que o recurso foi subscrito pela própria mesária, afastou-a a Corte, assentando que, ainda que a regra geral impeça as partes de atuarem perante os tri-bunais sem estarem devidamente representadas, excepcionam-se no TRESC os recursos que tratam de matérias de natureza administrativa. No mérito, entendeu o Tribunal que a mesária apresentou justifi cativa plausível para a aludida ausência, vez que protocolou atestado datado de 31.10.2010, no qual o médico afi rmava que naquela data ela deve-ria permanecer em repouso por motivo de saúde. Quanto ao fato de a mesária ter comparecido para votar, apesar do repouso prescrito por seu médico, argumentou ela em seu recurso que o fez porque teve melhora de seu estado de saúde no decorrer do dia, justifi cativa aceita pela maioria dos membros da Corte.Acórdão n. 25.662, de 14.3.2011, Relator Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto.

Representação. Recursos fi nanceiros de campanha eleitoral. Lei n. 9.504/1997, art. 30-A, § 2o.O Tribunal deu provimento a recurso interposto contra sentença que, com fulcro no § 2o do art. 30-A da Lei n. 9.504/1997 (“Comprovados captação ou gastos ilícitos de recursos, para fi ns eleitorais, será negado diploma ao candidato, ou cassado, se já houver sido outorgado.”), cassou os diplomas de prefeito e de vice-prefeito dos recorrentes. Entendeu a Corte que o su-pramencionado dispositivo legal somente pode ser aplicado quando restar demonstrada a ilicitude na arrecadação ou no gasto de recursos, para fi ns eleitorais, o que não restou comprovado, visto inexistir prova robusta e incontroversa, havendo somente presunções e conjecturas insufi cientes para justifi car a cassação dos diplomas, não tendo sido vislumbrado, no conjunto, a existência de abuso de poder econômico a macular o pleito. O

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Tribunal analisou as três irregularidades que embasaram a decisão recor-rida, afastando-as: a) saques de cheques nominais ao comitê, efetuados diretamente no caixa da agência bancária: as prestações de contas dos recorrentes e do comitê fi nanceiro foram aprovadas pela Justiça Eleito-ral e os recorridos nada requereram, quando intimados para especifi car provas, razão pela qual há que prevalecer os recibos apresentados pelos recorrentes, que justifi cam os saques; b) confecção de camisetas utilizadas pelos fi scais de partido: o uso de camisetas pelos fi scais, apenas com o nome da coligação, sem qualquer referência aos candidatos ou a seus números, não revela qualquer desrespeito às normas eleitorais, vigentes à época, não caracterizando abuso de poder, com potencialidade para infl uenciar no pleito; c) realização de showmício no dia da eleição, logo após a divulgação do resultado da votação: o evento ocorreu após a proclamação do resultado da eleição, não confi gurando qualquer ofensa à legislação eleitoral.Acórdão n. 25.652, de 2.3.2011, Relatora Juíza Cláudia Lambert de Faria.

Matéria processual. Crime eleitoral. Competência originária da Corte. Prerrogativa de foro. Recebimento da denúncia.O Tribunal, por maioria, recebeu denúncia, por suposto crime de cor-rupção eleitoral (art. 299 do Código Eleitoral), em ação penal cujos processamento e julgamento são da competência originária da Corte, porquanto um dos denunciados ocupa o cargo de deputado estadual, contando com prerrogativa de foro, nos termos do art. 29, I, “e”, do Código Eleitoral. Quanto à preliminar de ilicitude da prova material em que se fundamenta a denúncia, resultante de gravação de conversa ambien-tal, afastou o Tribunal tal ilicitude, aduzindo que a gravação realizada, em princípio, estaria a identifi car a pessoa que registrou o diálogo com os seus interlocutores, de modo que, assim sendo, desnecessária a aquiescência dos demais participantes do diálogo, entendendo-se que, se um dos interlocutores realiza a gravação e não contendo a conversa dados sigilosos, considera-se a prova como lícita. Quanto ao exame do recebimento da denúncia, asseverou a Corte restarem evidenciados indícios de autoria, materialidade e culpabilidade, que, em tese, podem caracterizar a prática do delito tipifi cado no art. 299 do CE, tendo-se que os fatos alegados referem-se à suposta promessa de vantagens como oferta de vaga em creche, fornecimento de carteiras de habilitação (CNH) sem as necessárias formalidades e de consultas médicas, além de dinheiro, todas registradas por meio de mídia audiovisual. Concluiu o Tribunal que, presentes os requisitos do art. 41 e ausentes quaisquer das hipóteses dos arts. 395 e 397, todos do Código de Processo Penal,

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recebe-se denúncia que descreve crime eleitoral em tese e vem sus-tentada em elementos contidos em inquérito policial.Acórdão n. 25.644, de 23.2.2011, Relator designado Juiz Leopoldo Augusto Brüggemann.

Propaganda eleitoral extemporânea. Imprensa escrita. Não confi -guração.O Tribunal deu provimento a recurso, interposto contra sentença que julgou parcialmente procedente representação que condenou jornalista ao pagamento de multa no valor de R$ 5.000,00 (nos termos do art. 36, § 3o, da Lei n. 9.504/1997) por propaganda eleitoral antecipada em favor de eventual candidato ao cargo de vereador nas eleições de 2012 (matéria publicada em julho de 2010 em jornal escrito), para afastar a sanção de multa. Entendeu a Corte que, apesar da presença de alguns requisitos que poderiam, em tese, ensejar a confi guração de propaganda eleitoral extemporânea, as circunstâncias do caso concreto não permitiram concluir pela prática do ilícito, visto que a tal propaganda eleitoral deveria ser apta a, em tese, abalar a igualdade entre os concorrentes, o que, na espécie, não ocorreu, tendo-se em vista aspectos como: a) a não verifi cação do propósito de cooptar votos ou benefi ciar a eventual candidatura; b) a alusão, pelo mesmo jornalista e na mesma publicação, a outro possível candidato ao pleito municipal de 2012; c) a tal coluna jornalística ex-pressar um linguajar peculiar, próprio e pessoal do jornalista, veiculando notícias voltadas ao cotidiano do cenário político local e de municípios adjacentes, afi gurando-se natural o exercício da manifestação crítica acerca dos acontecimentos políticos importantes, seus personagens e desdobramentos; d) tratar-se de nota isolada, veiculada uma única vez, no interior do periódico, sem utilização de qualquer artifício ou destaque que prenda a atenção do leitor sobre o seu conteúdo, a ponto de fi rmar a imagem do eventual candidato perante o eleitorado; e) a nota haver sido publicada em julho de 2010, ou seja, mais de dois anos antes das eleições de 2012, não sendo crível que surta o efeito prático de divulgar antecipadamente determinada candidatura, de modo a romper o equilíbrio entre possíveis competidores no processo eleitoral.Acórdão n. 25.641, de 23.2.2011, Relator Juiz Leopoldo Augusto Brüggemann.

Matéria administrativa. Prazos para justifi cativa eleitoral.O Tribunal deu provimento a recurso em processo administrativo para acolher requerimento de justifi cativa por ausência às urnas nos dois

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turnos das eleições de 2010 de uma eleitora que o teve indeferido pelo Juízo a quo. Nas aludidas datas a eleitora teria realizado viagens dentro do território nacional (conforme cópias de bilhetes de passagem), tendo apresentado, posteriormente às datas dos dois turnos, requerimento de justifi cativa pelo fato de neles não haver votado, que teria sido indeferido pelo Juiz Eleitoral sob o fundamento de que seria possível a justifi cativa nos próprios dias das eleições, já que a eleitora havia se deslocado dentro do país. Entendeu a Corte que a lei exige que o eleitor justifi que o motivo pelo qual não votou, podendo isto ser feito, se ele estiver por qualquer motivo afastado do seu domicílio eleitoral: a) no próprio dia da eleição; ou, b) no prazo de sessenta dias, conforme prevêem os arts. 16, caput, da Lei n. 6.091/1974 e 78 da Resolução TSE n. 23.218/2010.Acórdão n. 25.670, de 21.3.2011, Relator Juiz Julio Schattschneider.

Recurso criminal. Falsidade ideológica. Competência da Justiça Federal.O Tribunal, por maioria, em recurso criminal acolheu preliminar de in-competência da Justiça Eleitoral, declarando a nulidade de todos os atos praticados desde o recebimento da denúncia e determinando o envio dos autos à Justiça Federal. Os recorrentes haviam sido condenados pela prática do delito de falsidade ideológica tipifi cado no caput do art. 350 do Código Eleitoral (“Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, para fi ns eleitorais: [...]”), em razão de haverem omitido, em prestações de contas, valores arrecadados e destinados a partidos políticos, oriundos de descontos mensais sobre as remunerações de servidores públicos municipais. Entendeu a Corte que a expressão “para fi ns eleitorais” signifi ca que as condutas previs-tas no caput do art. 350 do CE devem ser realizadas com o objetivo de exercer infl uência ou obter vantagem no processo eleitoral, o que não se verifi cou, visto que nos anos em que os fatos teriam ocorrido (2006 e 2007) sequer houve eleições municipais. Assentou o Tribunal que as condutas perpetradas assemelham-se ao tipo previsto no caput do art. 299 do Código Penal, razão pela qual a competência para o processo e o julgamento delas é da Justiça Federal, visto que praticadas em detrimento da Justiça Eleitoral.Acórdão n. 25.664, de 14.3.2011, Relator designado Juiz Julio Schat-tschneider.*No mesmo sentido: Acórdão n. 25.665, de 14.3.2011, Relator designado Juiz Julio Schattschneider.

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Prestação de contas. Falta de capacidade postulatória. Não co-nhecimento.O Tribunal não conheceu da prestação de contas de candidato, por falta de capacidade postulatória, e considerou não prestadas as contas, com a conseqüente impossibilidade de obtenção de certidão de quitação eleitoral durante o curso do mandato ao qual concorreu o candidato, persistindo os efeitos da restrição até a efetiva apresentação das contas. Quanto à falta de capacidade postulatória, foi o candidato intimado para regularizar sua representação processual com a constituição de advo-gado, tendo apresentado procurador sem o competente instrumento de mandato, pelo que a Corte não conheceu da prestação de contas, tendo as contas sido julgadas não prestadas. Além disso, parecer conclusivo da Coordenadoria de Controle Interno (COCIN) registrou a impossibilidade técnica de recepcionar na base de dados da Justiça Eleitoral a aludida prestação de contas, em razão de divergência entre o número de controle constante das peças impressas e o constante da mídia, tendo sido o candidato intimado para reemiti-la, o que não foi cumprido.Acórdão n. 25.654, de 2.3.2011, Relator Juiz Carlos Vicente da Rosa Góes.

INFORMATIVO JURISPRUDENCIAL N. 34 – ABRIL DE 2011

Prestação de contas. Candidato. Extinção sem resolução de mérito.O Tribunal extinguiu, sem resolução de mérito, processo de prestação de contas de candidato, em que a ausência da prestação de contas re-sultou da inexatidão nos dados registrados no Sistema de Prestações de Contas Eleitorais (SPCE) junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No caso, a candidata solicitou a desconsideração de seu pedido de registro de candidatura ao cargo de deputado estadual, porquanto havia sido escolhida em convenção para disputar o cargo de deputado federal; contudo, não obstante o registro de candidatura tenha sido regularizado no Sistema de Registro de Candidaturas (CAND) por determinação da Corte, a nova informação não foi integrada ao SPCE do TSE, motivo pelo qual, a requerente permaneceu como postulante aos cargos de deputado federal e estadual, no SPCE fato que gerou a inadimplência da prestação de contas ao cargo de deputado estadual. Outrossim, a exclusão no CAND do registro da requerente teve o efeito de impossi-bilitar a geração de número de CNPJ para essa candidatura, tornando inviável qualquer movimentação de recursos fi nanceiros de campanha, conforme elucidado pela Coordenadoria de Controle Interno (COCIN) em seu parecer. Concluiu o Tribunal que a candidata não está obrigada

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a prestar contas da candidatura ao cargo de deputado estadual, nota-damente porque demonstrado que o seu registro a tal cargo decorreu de equívoco do partido e, após a retifi cação do erro, a movimentação de recursos fi nanceiros para fi nanciamento da campanha tornou-se in-viável em virtude da impossibilidade de ser gerado o número de CNPJ para essa candidatura.Acórdão n. 25.705, de 6.4.2011, Relator Juiz Irineu João da Silva.

Recurso criminal. Pedido de restituição de coisa apreendida. De-ferimento.O Tribunal, por maioria, deu provimento a recurso em ação penal para determinar a expedição de alvará para a restituição de numerário judi-cialmente apreendido de pessoa jurídica como meio de prova à suposta prática de corrupção eleitoral patrocinada por ela em favor de candi-datos. Segundo os autos, a Corte, ao apreciar a denúncia referente a tal fato, reconheceu a incidência da prescrição da pretensão punitiva, rejeitando-a, sendo que, em razão disso, a recorrente requereu a resti-tuição do valor pecuniário retido, o que lhe foi deferido em um primeiro momento e posteriormente indeferido pelo Juízo a quo, ao fundamento de que em razão de diversas execuções propostas contra tal empresa, referida quantia deveria ser destinada a assegurar uma execução fi scal. Concluiu a maioria do Pleno pela reforma da decisão pelos seguintes motivos: a) a independência das esferas cível e criminal não autoriza que bens judicialmente apreendidos por necessidade da persecução penal sejam penhorados para satisfazer interesse meramente creditício, notadamente quando há decisão transitada em julgado determinando a sua restituição; b) eventual constrição do patrimônio do devedor visando assegurar a quitação de débitos fi scais deve ser buscada pelos interes-sados no juízo cível e não determinada de ofício em processo criminal contra ele instaurado, sob pena de ofensa à garantia constitucional do devido processo legal.Acórdão n. 25.718, de 13.4.2011, Relator designado Juiz Rafael de Assis Horn.

Matéria processual. AIJE. Ilegitimidade passiva de coligação, de pessoa jurídica e de estatístico responsável por pesquisa eleitoral.O Tribunal manteve sentença que julgou improcedente ação de inves-tigação judicial eleitoral proposta com fundamento em divulgação de pesquisa sem prévio registro e descumprimento do limite para propa-ganda paga em jornal, abuso do poder econômico e político, bem como

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o uso indevido dos meios de comunicação. Preliminarmente, a Corte reconheceu de ofício: a) a ilegitimidade de coligação e de pessoa jurídica para comporem o pólo passivo de ação de investigação judicial eleitoral com fulcro no art. 22 da Lei Complementar n. 64/1990 – mantendo-as no feito tão somente para responderem por representação eleitoral por infração ao art. 43 da Lei n. 9.504/1997; b) a ilegitimidade de estatísti-co responsável por pesquisa eleitoral para responder pelas condutas apontadas como ilícitas, sendo o feito julgado extinto sem julgamento do mérito apenas com relação a este último. No mérito, concluiu-se que não restou confi gurado o alegado abuso de poder econômico, bem como o uso indevido dos meios de comunicação, pois os recorridos não se valeram de espaço em periódico para promover indevidamente os candidatos da chapa majoritária da coligação, visto não ter a pesquisa eleitoral cunho propagandístico, mas sim, meramente informativo, e ainda, por ter sido onerosa a sua forma de aquisição. Constatou-se, ainda, faltar também a comprovação de potencialidade para modifi car o resultado das eleições, principalmente porque os recorridos, supostos benefi ciários, não se sagraram vencedores no pleito em questão.Acórdão n. 25.700, de 4.4.2011, Relator Juiz Rafael de Assis Horn.

Matéria administrativa. Impugnação. Alistamento e transferência eleitorais.O Tribunal negou provimento a recurso interposto por partidos políticos contra decisão do Juízo a quo que manteve o alistamento eleitoral de um eleitor e as transferências de domicílio eleitoral de dois outros. Entendeu a Corte que apesar de o conceito de domicílio eleitoral adotado para fi ns de inscrição e de transferência ser o mesmo, para que ocorra esta última ainda é necessário um requisito especial, não exigido quando do alistamento, qual seja, o tempo mínimo de residência de três meses no novo local, conforme o disposto no § 1o do art. 55 do Código Eleitoral. Concluiu o Tribunal que: a) quanto ao alistamento: o eleitor apresen-tou cópia da escritura pública da propriedade de seus avós paternos, demonstrando seus vínculos patrimonial e familiar com o município, sendo desnecessário o requisito do tempo mínimo de residência de três meses; b) quanto às transferências: os dois eleitores, casados entre si, demonstraram efetivamente residir no município, tendo apresentado nota fi scal de energia elétrica em nome da mãe da eleitora e tendo declarado à época do pedido de transferência possuírem mais do que o tempo mínimo de residência exigido, além de terem sido encontrados e intimados pelo ofi cial de justiça no endereço indicado, corroborando as afi rmações de que lá efetivamente residem.Acórdão n. 25.709, de 11.4.2011, Relator Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto.

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Crime eleitoral. Atipicidade. Absolvição.O Tribunal absolveu os réus em processo-crime eleitoral de competên-cia originária, cuja denúncia fundamentou-se em possível prática de coação eleitoral, capitulada no art. 301 do Código Eleitoral (“Usar da violência ou grave ameaça para coagir alguém a votar, ou não votar, em determinado candidato ou partido, ainda que os fi ns visados não sejam conseguidos: [...]”). Na exordial acusatória constou que os réus estiveram na residência da vítima com o intuito de coagi-la a votar em um deles – à época candidato a prefeito, tendo se sagrado vencedor no pleito eleitoral daquele ano –, sendo que outro réu iniciou uma desarrazoada e desproporcional discussão com a vítima, inclusive desferindo socos sobre uma mesa, tendo a vítima, no calor da discussão, sido acometida de um ataque cardíaco, vindo a falecer instantaneamente. Concluiu a Corte que o fato narrado na denúncia não constitui crime, sendo que o elemento subjetivo do tipo, consistente no uso de violência ou grave ameaça para coagir o eleitor a votar em determinado candidato, não restou demonstrado.Acórdão n. 25.701, de 4.4.2011, Relatora Juíza Cláudia Lambert de Faria.

Conduta vedada. Utilização de bens públicos em campanha. Correio eletrônico institucional.O Tribunal julgou parcialmente procedente a representação, condenando o representado ao pagamento de multa, fi xada em seu patamar mínimo, no valor de R$ 5.320,50, pela prática de conduta vedada consistente na utilização de bens pertencentes à administração em benefício de candidato (Lei n. 9.504/1997, art. 73, I). Observou-se que restou incon-troverso que servidor público, durante o horário de expediente e utili-zando-se de computador pertencente ao erário, encaminhou, por meio do endereço de correio eletrônico institucional, mensagem contendo material publicitário de campanha de candidato. Entendeu a Corte que por mais singela que possa parecer, a conduta subsume-se na vedação contida no inciso I do art. 73 da Lei n. 9.504/1997 (“São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais: ceder ou usar, em benefício de candidato, partido político ou coligação, bens móveis ou imóveis pertencentes à administração direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, ressalvada a realização de convenção partidária;”), devendo ser apenada. Concluiu o Tribunal, no que se refere ao candidato representado, não ser o caso de se aplicar a regra do § 8o do art. 73

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da mencionada lei – segundo a qual a penalidade imposta ao agente público responsável poderá se estender aos “partidos, coligações e candidatos que delas se benefi ciarem” –, em razão de não ser possível afi rmar que o candidato tenha sido benefi ciado com o ilícito praticado pelo servidor público representado.Acórdão n. 25.714, de 11.4.2011, Relator Juiz Leopoldo Augusto Brüggemann.

Conduta vedada. Uso dos serviços de assessor parlamentar durante a campanha eleitoral. Improcedência.O Tribunal julgou improcedente representação por conduta vedada consistente no uso, por candidato a deputado estadual, dos serviços de assessor parlamentar para campanha eleitoral durante seu horário de ex-pediente no órgão público onde labora – art. 73, III, da Lei n. 9.504/1997 (“São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candi-datos nos pleitos eleitorais: [...] ceder servidor público ou empregado da administração direta ou indireta federal, estadual ou municipal do Poder Executivo, ou usar de seus serviços, para comitês de campanha eleitoral de candidato, partido político ou coligação, durante o horário de expe-diente normal, salvo se o servidor ou empregado estiver licenciado;”). A representação baseava-se no fato de haver no twitter e no site ofi cial da campanha de candidato a deputado estadual diversas matérias assina-das por um assessor parlamentar e supostamente postadas durante o horário de seu expediente no órgão público, todas elas relacionadas à propaganda e à divulgação da campanha daquele candidato. Concluiu a Corte pela improcedência da representação pelos seguintes motivos: a) ausência de provas de que os serviços alegadamente prestados tenham sido realizados durante o horário de expediente do assessor no órgão público; b) a divulgação de notícias por meio do site do órgão público acerca das atividades parlamentares do representado não caracteriza propaganda eleitoral e a sua postagem não é absolutamente dissociada da atividade de assessoria parlamentar.Acórdão n. 25.725, de 18.4.2011, Relator Juiz Julio Schattschneider.

Matéria administrativa. Multa. Eleitor. Isenção do pagamento. In-tempestividade do recurso. Atuação de ofício pelo Tribunal.O Tribunal não conheceu de recurso, em processo administrativo, em que uma eleitora foi condenada ao pagamento de multa de R$ 351,40 – correspondente ao montante máximo decuplicado, nos termos do §

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2o do art. 367 do Código Eleitoral (“A multa pode ser aumentada até dez vezes, se o Juiz, ou Tribunal, considerar que, em virtude da situação econômica do infrator, é inefi caz, embora aplicada no máximo.”) – por não haver comparecido para exercer a função de auxiliar de serviços eleito-rais no segundo turno das eleições de 2010, porém, de ofício, dispensou a recorrente do pagamento da multa arbitrada pelo Juízo a quo. Não obstante a manifesta intempestividade do recurso – visto que interposto além do prazo de três dias previsto no art. 258 do CE –, entendeu a Corte que, por se tratar de um procedimento administrativo, para a solução da controvérsia é necessário que incidam, primordialmente, os princípios e normas que o informam, dentre os quais aqueles consagrados nos arts. 53 e 65 da Lei n. 9.784/1999, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal: a) o dever de a Administração, independente de qualquer requerimento, anular seus próprios atos, quando ilegais; b) o poder de revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos; e, principalmente, c) a obrigação de revisar, até mesmo de ofício, as sanções aplicadas aos administrados, quando surgirem fatos novos ou circunstâncias rele-vantes suscetíveis de justifi car a inadequação da penalidade aplicada. Concluiu o Tribunal por dispensar a eleitora do pagamento da multa em razão de que: a) o incremento do valor da penalidade não foi motivado; b) os documentos novos juntados pela eleitora na petição de recurso comprovam a sua condição de pobreza, nos termos do § 3o do art. 367 do CE (“O alistando, ou o eleitor, que comprovar devidamente o seu estado de pobreza fi cará isento do pagamento de multa.”).Acórdão n. 25.687, de 30.3.2011, Relator Juiz Julio Schattschneider.

INFORMATIVO JURISPRUDENCIAL N. 35 - MAIO DE 2011

Prestação de contas de campanha de partido político. Obrigatorie-dade. Não apresentação. Consequências. O Tribunal julgou não prestadas as contas de partido político que devi-damente notifi cado deixou transcorrer in albis o prazo para apresentação das contas de campanha relativas às eleições de 2010. Salientou a Corte que restou devidamente comprovada a inércia do partido político em prestar contas, porquanto, além de não ter apresentado as informações sobre a movimentação fi nanceira de campanha no prazo estabelecido pelo art. 26 da Resolução TSE n. 23.217/2010, permaneceu silente nas oportunidades que lhe foram concedidas para atender a obrigação eleitoral. Como efeito imediato da omissão, tem-se a perda do direito ao recebimento da quota do Fundo Partidário, nos termos do art. 41, II,

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da mencionada Resolução (“A decisão que julgar as contas eleitorais como não prestadas acarretará: ao partido político, em relação às suas próprias contas e às contas do comitê fi nanceiro que a ele estiver vin-culado, a perda do direito ao recebimento da quota do Fundo Partidário no ano seguinte ao da decisão;”), haja vista que ao não prestar qualquer informação à Justiça Eleitoral, o partido político tornou totalmente inviá-vel a fi scalização dos recursos fi nanceiros movimentados, indicando a intenção de ocultar possíveis práticas ilícitas. Destacou o Tribunal que a respeito da punição pelo crime de desobediência (Código Eleitoral, art. 347), ainda que a notifi cação ao partido político tenha expressamente advertido sobre a possibilidade de aplicação em caso de não prestação das contas, tem-se que a pretensão punitiva encontra-se previamente condicionada à instauração de ação penal, motivo pelo qual não há como impor a condenação no feito. Concluiu a Corte pela não prestação de contas de campanha do partido político relativas às eleições de 2010, determinando seja ofi ciado à sua direção nacional para que suspenda, pelo período de 12 meses, o repasse das quotas do Fundo Partidário do ano seguinte ao da decisão, dando-se ciência ao Tribunal Superior Eleitoral. Acórdão n. 25.878, de 25.5.2011, Relator Juiz Irineu João da Silva

Prestação de contas de campanha de candidato. Ausência de ca-pacidade postulatória. Contas não prestadas. O Tribunal não conheceu de prestação de contas de campanha de candidato por ausência de capacidade postulatória. Preliminarmente, a Corte julgou não prestadas as contas de candidato que apresentou o procedimento de prestação de contas de campanha sem a consti-tuição de advogado, tendo sido ressaltado que a partir da edição da Lei n. 12.034/2009 – que acrescentou os §§ 5o e 6o ao art. 30 da Lei n. 9.504/1997 – tal procedimento de prestação de contas de campanha deixou de ter caráter eminentemente administrativo e passou a possuir natureza judicial, tornando imprescindível a representação da parte por profi ssional da advocacia. Decidiu o Tribunal, como consequência da não prestação de contas de campanha de candidato: a) à unanimidade, que a inadimplência do candidato em prestar contas à Justiça Eleitoral resulta no impedimento de obter a certidão de quitação eleitoral, documento necessário, nos termos do art. 11, § 1o, VI, da Lei n. 9.504/1997, para a obtenção de registro de candidatura futura (“O pedido de registro deve ser instruído com os seguintes documentos: [...] VI – certidão de quitação eleitoral; [...]”); b) por maioria, que o cumprimento daquela obrigação legal, a qualquer tempo, implica automaticamente na quitação eleitoral,

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visto que a norma não prevê qualquer outra consequência, ainda que implicitamente o art. 41, I, da Resolução TSE n. 23.217/2010 estabeleça o impedimento de obtenção de certidão de quitação eleitoral durante o curso do mandato ao qual o candidato concorreu (“A decisão que julgar as contas eleitorais como não prestadas acarretará: ao candidato, o impedimento de obter a certidão de quitação eleitoral durante o curso do mandato ao qual concorreu, persistindo os efeitos da restrição até a efetiva apresentação das contas;”). Concluiu a Corte que o único dispositivo legal que diz respeito à questão é o § 7o do art. 11 da Lei n. 9.504/1997, incluído pela Lei n. 12.034/2009 (“A certidão de quitação eleitoral abrangerá exclusivamente a plenitude do gozo dos direitos políticos, o regular exercício do voto, o atendimento a convocações da Justiça Eleitoral para auxiliar os trabalhos relativos ao pleito, a inexis-tência de multas aplicadas, em caráter defi nitivo, pela Justiça Eleitoral e não remitidas, e a apresentação de contas de campanha eleitoral.”). Acórdão n. 25.875, de 25.5.2011, Relator Juiz Irineu João da Silva. *Ver também: Acórdão n. 25.879, de 25.5.2011, Relator Juiz Carlos Vicente da Rosa Góes

Matéria processual. Conduta vedada. Decisão determinando a oitiva de testemunhas. Prerrogativa do Relator (LC n. 64/1990, art. 22, VII). O Tribunal negou provimento a agravo regimental interposto em represen-tação por prática de conduta vedada aos agentes públicos em campanha (Lei n. 9.504/1997, art. 73, I). A controvérsia dizia respeito, em síntese, aos seguintes fatos, dispostos em ordem cronológica: a) o Relator expediu carta de ordem para a oitiva das testemunhas de acusação; b) as teste-munhas de defesa, por residirem em outro local, seriam ouvidas após o retorno da carta devidamente cumprida; c) as testemunhas de acusação não compareceram à audiência de inquirição; d) o representante reque-reu a redesignação de audiência, com a intimação das testemunhas por mandado; e) o Relator determinou a devolução da carta de ordem; f) o Relator concluiu pela preclusão do direito do representante de produzir a prova testemunhal; g) os representados requereram a desistência da oitiva das testemunhas de defesa; h) o Relator deferiu o pedido de desistência da oitiva das testemunhas de defesa e determinou a remessa de carta de ordem para a realização da inquirição das testemunhas arroladas pelo re-presentante, com a intimação das mesmas para comparecer à audiência; i) os representados interpuseram agravo regimental contra tal decisão, pugnando pelo encerramento da instrução processual. Entendeu a Corte não estarem presentes, quanto à aludida prova, os institutos da coisa jul-

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gada e da preclusão, até porque a decisão que indeferiu a redesignação de audiência teve por fundamento o art. 22, V, da Lei Complementar n. 64/1990, que estabelece ser ônus da parte a condução das testemunhas para a audiência (“[...] fi ndo o prazo da notifi cação, com ou sem defesa, abrir-se-á prazo de 5 (cinco) dias para inquirição, em uma só assentada, de testemunhas arroladas pelo representante e pelo representado, até o máximo de 6 (seis) para cada um, as quais comparecerão independente-mente de intimação;”), enquanto que os argumentos invocados na decisão agravada encontram arrimo na prerrogativa da iniciativa probatória do Juiz, assegurada pelo art. 22, VII, da referida LC (“[...] o Corregedor poderá ouvir terceiros, referidos pelas partes, ou testemunhas, como conhecedores dos fatos e circunstâncias que possam infl uir na decisão do feito;”). Concluiu o Tribunal: a) a determinação de oitiva das testemunhas arroladas pela acusação não fere a imutabilidade da decisão anteriormente proferida, seja pelo fato de que não dirimiu questão já decidida, seja porque constitui pronunciamento judicial distinto, fundamentado em pressupostos fáticos e jurídicos diversos; b) carece de fundamentação o argumento de que houve vulneração do princípio do devido processo legal, na medida em que o momento estabelecido por lei para o exercício da faculdade do relator produzir provas de ofício ainda não foi ultrapassado; com efeito, a decisão agravada não cuida da produção das provas requeridas pelas partes, mas, sim, da fase posterior referente à iniciativa probatória do relator, restando bastante claro que não se trata da repetição de ato ins-trutório anteriormente realizado; c) sem consistência jurídica a alegação de ofensa ao princípio da isonomia, já que a inquirição das testemunhas, como consignado na decisão agravada, não foi determinada no intuito de corroborar a tese da acusação, mas, essencialmente, com o objetivo de propiciar o esclarecimento dos fatos e permitir a adequada solução da controvérsia, sendo possível afi rmar que a iniciativa probatória do Juiz na condução do processo não se constitui em mera prerrogativa, mas verdadeiro poder-dever, sobretudo diante da regra prevista no art. 23 da LC n. 64/1990 (“O Tribunal formará sua convicção pela livre apreciação dos fatos públicos e notórios, dos indícios e presunções e prova produzi-da, atentando para circunstâncias ou fatos, ainda que não indicados ou alegados pelas partes, mas que preservem o interesse público de lisura eleitoral.”); d) não há qualquer ilegalidade em determinar a intimação das testemunhas, já que o dispositivo estabelecendo a obrigação de provi-denciar o comparecimento à audiência independentemente de qualquer comunicação ofi cial aplica-se única e exclusivamente às partes, mas, não, ao Juiz. Acórdão n. 25.819, de 18.5.2011, Relator Juiz Irineu João da Silva

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Ação de investigação judicial eleitoral. Recursos fi nanceiros de campanha eleitoral. Improcedência. O Tribunal, por maioria, negou provimento a recurso interposto contra sentença que julgou improcedente ação de investigação judicial eleitoral proposta em face de candidatos eleitos para os cargos de prefeito e vice nas eleições municipais de 2008 (recorridos), em que a questão de fundo dizia respeito à inviabilidade de se determinar a origem do valor de du-zentos mil reais depositado na conta bancária de campanha às vésperas da eleição. Ressaltou a Corte que, diante das informações contraditórias prestadas pelas testemunhas ouvidas em juízo e dos documentos cons-tantes dos autos, inúmeras versões podem ser defendidas para determi-nar o responsável pela transferência fi nanceira, porém nenhuma delas tem a confi abilidade necessária para torná-lo plenamente identifi cável, não havendo como negar que a incerteza acerca da origem da receita decorre, precipuamente, das seguidas alterações de dados promovidas na prestação de contas dos recorridos com o objetivo de justifi car a iden-tidade do doador, razão pela qual se tem confi gurada a inobservância às normas que regem a arrecadação e a aplicação dos recursos para a campanha eleitoral, sobretudo porque a conduta dos recorridos impediu o efetivo controle da movimentação fi nanceira de campanha pela Justiça Eleitoral, tornando inviável concluir, com segurança, pela veracidade das informações prestadas. Contudo, no exame da proporcionalidade da reprimenda de cassação do mandato não há como dissociar a idéia de “gravidade da conduta” e “potencialidade lesiva”, porquanto o ato ilícito somente poderá ser considerado “grave” se, entre outras circunstâncias, produzir efeitos danosos com capacidade para infl uenciar indevidamente a manifestação do eleitorado e a isonomia da disputa eleitoral. É dizer, a idéia de “potencialidade lesiva da conduta” encontra-se inserida no con-ceito mais amplo de “gravidade”, exigindo que o julgador, ao se debruçar sobre o caso concreto, pondere acerca da lesividade do fato e dos efeitos nefastos que causou à normalidade da eleição. Resta inegável que, para fi ns de aplicação da cassação do mandato decorrente da infração ao art. 30-A da Lei n. 9.504/1997, também se mostra imprescindível sobejar a amplitude dos danos causados pela conduta ilícita na isonomia da disputa eleitoral e no exercício do voto, sem limitar essa análise apenas à mora-lidade e à lisura das eleições. Concluiu o Tribunal que a arrecadação de recursos realizada pelos recorridos, muito embora em desconformidade com as regras que disciplinam a movimentação fi nanceira de campanha, não foi grave o sufi ciente para implicar a cassação dos mandatos eletivos, sendo que, de fato, a conduta imputada àqueles restringe-se a apontar a arrecadação irregular de recursos, sem fazer qualquer menção ao uso

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ilícito de recursos para fi nanciar atividades de campanha destinadas a aliciar indevidamente eleitores, além do que, conquanto não seja possí-vel determinar a origem do dinheiro arrecadado, não há qualquer prova, ou mesmo indício, de ter sido obtido de fonte vedada pela legislação eleitoral. Acórdão n. 25.755, de 2.5.2011, Relator designado Juiz Luiz Cézar Medeiros *No mesmo sentido: Acórdão n. 25.756, de 2.5.2011, Relator designado Juiz Luiz Cézar Medeiros

Prestação de contas de campanha de partido político. Obrigatorie-dade. Não apresentação. Consequências. O Tribunal julgou não prestadas as contas de campanha de partido político e determinou a perda do direito ao recebimento da quota do Fundo Partidá-rio no ano seguinte ao da decisão, nos termos do art. 41, II, da Resolução TSE n. 23.217/2010 (“A decisão que julgar as contas eleitorais como não prestadas acarretará: ao partido político, em relação às suas próprias contas e às contas do comitê fi nanceiro que a ele estiver vinculado, a perda do direito ao recebimento da quota do Fundo Partidário no ano seguinte ao da decisão;”). Entendeu a Corte que a justifi cativa apresentada pela grei partidária para a não apresentação de prestação de contas, no sentido de que sua sede teria sido arrombada e documentos teriam sido furtados, o que a impediria de prestar contas, não pode prosperar, pois o boletim de ocorrência mencionado na justifi cativa, que noticia o aludido arrombamento, sequer foi trazido aos autos, além de que o diretório partidário teria sido arrombado posteriormente ao prazo para apresentação das contas de campanha, ou seja, o partido já estava omisso perante a Justiça Eleitoral desde então, não podendo se utilizar deste argumento para justifi car não ter prestado regularmente as contas devidas; no mais, se o partido não teve movimentação fi nanceira, conforme ele próprio alega em sua justifi cativa, não havia qualquer óbice em prestar suas contas, já que não precisava submeter à exame nenhum documento, bastando apresentar os formulários e os extratos bancários zerados, o que não fez. Acórdão n. 25.800, de 16.5.2011, Relator Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto

Prestação de contas de campanha de candidato. Doação vultosa. Desaprovação. O Tribunal, por maioria, deu provimento a recurso para desaprovar as con-tas de campanha de candidato, em autos de prestação de contas em que a questão de fundo dizia respeito à doação do valor de duzentos mil reais

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(correspondente a 30% do valor arrecadado) para a campanha eleitoral de candidato a prefeito e de seu vice nas eleições de 2008 (recorridos), efetuada por pessoa física supostamente inexistente (“laranja”), suposta-mente criada pelos recorridos para mascarar a ilegalidade da fonte dos recursos e a identidade do verdadeiro doador, sendo que, em momento posterior, após a prolação de sentença de desaprovação das contas e de sua anulação por acórdão do TRESC por cerceamento de defesa, tendo o feito retornado ao Juízo de primeira instância para prosseguimento, os recorridos apresentaram prestação de contas retifi cadora consignando nova tese de defesa, alegando que na verdade o doador é outra pessoa. Entendeu a Corte que a prova produzida nos autos não foi sufi ciente para demonstrar a origem da doação de duzentos mil reais; ao contrário, as versões apresentadas, contraditórias e obscuras, sugerem a necessidade de se ocultar a verdadeira identidade do doador. Concluiu o Tribunal pela desaprovação das contas – haja vista a gravidade da irregularidade exis-tente, que não permitiu à Justiça Eleitoral exercer a fi scalização legalmente exigida, com a arrecadação e a utilização de recurso de origem não iden-tifi cada de vultosa quantia –, deixando, contudo, de aplicar a penalidade de devolução da quantia de duzentos mil reais proposta pelo Relator, que fi cou vencido neste particular. Acórdão n. 25.757, de 2.5.2011, Relator Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto

Prestação de contas de campanha de candidato. Extinção sem resolução de mérito. O Tribunal extinguiu, sem resolução de mérito, processo de prestação de contas de candidato, em que a ausência da prestação de contas resultou da falta de conhecimento e de autorização da candidata para o partido requerer seu registro de candidatura. Entendeu a Corte por emprestar credibilidade às afi rmações da candidata – inclusive em consonância com a decisão no processo de registro de candidatura dela –, as quais dão conta de que em nenhum momento ela autorizou o partido a requerer seu registro de candidatura, agindo o partido sem sua anuência e conhecimento, tanto é que tal pedido de registro foi, ao fi nal, indeferido à unanimidade pela Corte por motivo de ausência da documentação necessária. Acórdão n. 25.753, de 2.5.2011, Relator Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto

Prestação de contas de campanha de candidato. Obrigatoriedade. Não apresentação. Consequências. O Tribunal julgou não prestadas as contas de candidato que devidamente intimado deixou de apresentá-las à Justiça Eleitoral. Decidiu a Corte: a)

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à unanimidade, que a inadimplência do candidato em prestar contas à Justiça Eleitoral resulta no impedimento de obter a certidão de quitação eleitoral, documento necessário, nos termos do art. 11, § 1o, VI, da Lei n. 9.504/1997, para a obtenção de registro de candidatura futura (“O pedido de registro deve ser instruído com os seguintes documentos: [...] VI – cer-tidão de quitação eleitoral; [...]”); b) por maioria, com voto de desempate do Presidente, que o cumprimento daquela obrigação legal, a qualquer tempo, implica automaticamente na quitação eleitoral, visto que a norma não prevê qualquer outra consequência, ainda que implicitamente o art. 41, I, da Resolução TSE n. 23.217/2010 estabeleça o impedimento de obten-ção de certidão de quitação eleitoral durante o curso do mandato ao qual o candidato concorreu (“A decisão que julgar as contas eleitorais como não prestadas acarretará: ao candidato, o impedimento de obter a certidão de quitação eleitoral durante o curso do mandato ao qual concorreu, persistindo os efeitos da restrição até a efetiva apresentação das contas;”). Concluiu o Tribunal que o único dispositivo legal que diz respeito à questão é o § 7o do art. 11 da Lei n. 9.504/1997, incluído pela Lei n. 12.034/2009 (“A certidão de quitação eleitoral abrangerá exclusivamente a plenitude do gozo dos direitos políticos, o regular exercício do voto, o atendimento a convocações da Justiça Eleitoral para auxiliar os trabalhos relativos ao pleito, a inexistên-cia de multas aplicadas, em caráter defi nitivo, pela Justiça Eleitoral e não remitidas, e a apresentação de contas de campanha eleitoral.”). Acórdão n. 25.879, de 25.5.2011, Relator Juiz Carlos Vicente da Rosa Góes *Ver também: Acórdão n. 25.875, de 25.5.2011, Relator Juiz Irineu João da Silva

INFORMATIVO JURISPRUDENCIAL N. 36 - JUNHO DE 2011

Matéria processual. Prestação de contas. Ausência de capacidade postulatória. Não conhecimento. O Tribunal não conheceu de prestação de contas de candidato que não constituiu advogado habilitado para representá-lo em juízo. Assim, confi -gurada a ausência de capacidade postulatória não há como proceder ao exame dos documentos apresentados, impondo julgar as contas como não prestadas, conforme o art. 39, IV, da Resolução TSE n. 23.217/2010. A Corte, como efeito imediato da decisão, fi xou o entendimento de que “o candidato que não apresenta as contas (ou as têm declaradas não prestadas) fi ca impedido de obter a certidão de quitação eleitoral até o cumprimento, a qualquer tempo, da referida obrigação legal” (Acórdão n. 25.875, de 25.5.2011).Acórdão n. 25.926, de 8.6.2011, Relator Juiz Irineu João da Silva.

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Prestação de contas. Recursos de origem não identifi cada. Resti-tuição ao erário.O Tribunal rejeitou prestação de contas apresentada por candidato. Constatou-se a ausência de documentos fi scais para comprovar seis despesas, que somadas alcançam a cifra de R$ 21.193,57, perfazendo quase a totalidade dos recursos arrecadados para a campanha eleitoral (R$ 26.365,00), bem assim, a existência de dívida de campanha no valor de R$ 36.077,65, que ultrapassa em quase R$ 10.000,00 os recursos arrecadados na campanha – valores desprovidos de autorização do órgão partidário para assunção solidária da dívida –, abalam a fi delidade das contas, levando, inexoravelmente, à desaprovação das contas. De outro lado, o candidato foi instado a trazer os documentos para escla-recer as inconsistências detectadas pelo órgão técnico, inclusive sobre a origem de R$ 4,00, mas não tomou qualquer providência no sentido de sanar tais irregularidades, denotando-se assim evidente desídia em tal procedimento, razão pela qual a desaprovação das contas é medida que se impõe, acrescida da devolução ao erário da quantia de R$ 4,00, cuja origem não foi identifi cada. Concluiu a Corte pela desaprovação das contas de campanha do candidato, determinando seja restituída aos cofres públicos a quantia de R$ 4,00, até cinco dias após o julgamento defi nitivo da prestação contábil, concedendo, entretanto, nos termos do art. 11, § 7o, da Lei n. 9.504/1997, a quitação eleitoral, porquanto não mais condicionada ao mérito da prestação de contas.Acórdão n. 25.938, de 8.6.2011, Relator Juiz Rafael de Assis Horn.

Prestação de contas. Ausência de comprovação de utilização de veículo automotor em campanha eleitoral.O Tribunal rejeitou as contas de candidato por ausência de documenta-ção fi scal comprobatória da utilização de veículo próprio durante a cam-panha eleitoral, a qual necessita da devida comprovação da propriedade, da doação ou da cessão do bem móvel. Observou-se que não há registro de gastos com combustível, como é normal acontecer na campanha eleitoral, mas verdadeira reforma de automóvel com recursos eleitorais, situação com a qual não pode compactuar a Justiça Eleitoral. Concluiu a Corte que a ausência dessa documentação acarreta irregularidade de natureza grave, por ferir de maneira inexorável a credibilidade das contas prestadas, ensejando sua desaprovação.Acórdão n. 26.021, de 15.6.2011, Relator Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto.*No mesmo sentido: Acórdão n. 26.026, de 15.6.2011, Relator Juiz Nelson Maia Peixoto.

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Matéria administrativa. Registro de órgãos estadual e municipal de partido político em formação. Deferimento.O Tribunal deferiu pedido de registro do diretório estadual e de comis-são provisória municipal de partido político em formação, haja vista o preenchimento dos requisitos previstos no art. 13 da Resolução TSE n. 23.282/2010. Verifi cou a Corte que a grei partidária em formação apre-sentou pedido instruído com: a) cópias autenticadas do programa e do estatuto do partido, devidamente inscritos no registro civil; b) certidão do 1o Ofício de Notas, Registro Civil, Protestos, Registro de Títulos e Documentos e Pessoas Jurídicas do DF; c) certidões conferidas pelos cartórios eleitorais, que comprovam ter o partido obtido o apoiamento mínimo no Estado de Santa Catarina; e d) prova da constituição defi -nitiva dos órgãos de direção regional e municipal. Outrossim, o edital referente ao pedido de registro foi publicado no DJESC, não tendo havido impugnação. Concluiu o Tribunal que todos os requisitos legais e normativos que autorizam o deferimento do pedido de registro dos órgãos de direção regional e municipal de partido político em forma-ção foram preenchidos, tendo sido, inclusive, ultrapassado o número de apoiamento mínimo de eleitores em Santa Catarina, que é de “um décimo por cento do eleitorado que haja votado” no Estado, na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, sendo necessário o apoio de 3.900 eleitores, dos 3.900.064 que votaram no último pleito para Deputado Federal em Santa Catarina.Acórdão n. 25.923, de 8.6.2011, Relator Juiz Julio Schattschneider.

Propaganda eleitoral extemporânea. Patrocínio em camiseta ou envio de cartão de natal. Ato de promoção pessoal.O Tribunal reformou sentença que aplicou a candidato multa de R$ 42.564,00 em representação ajuizada contra propaganda eleitoral extemporânea fundamentada nos seguintes fatos: a) uma equipe de futebol de salão do Município estampou nos seus uniformes frase alu-dindo ao prefeito candidato em decorrência de patrocínio concedido por ele mesmo; b) houve emissão de cartões no fi nal do ano com votos de feliz natal por parte do prefeito e de toda a equipe da Administração municipal; c) diversos automóveis circularam no município com adesivos nos quais constava frase lembrando o nome do prefeito. Em relação ao terceiro fato, o Juiz Eleitoral reconheceu a ausência de provas quanto à autoria e ao prévio conhecimento do candidato. Quanto aos fatos remanescentes, em face da autoria ser fato incontroverso, o Juiz acolheu a pretensão, aplicando ao candidato multa. A Corte observou que conforme o Tribunal Superior Eleitoral, “entende-se como ato de

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propaganda eleitoral aquele que leva ao conhecimento geral, embora de forma dissimulada, a candidatura, mesmo apenas postulada, e a ação política que se pretende desenvolver ou razões que induzam a concluir que o benefi ciário é o mais apto ao exercício de função pública. Sem tais características, poderá haver mera promoção pessoal – apta, em determinadas circunstâncias, a confi gurar abuso do poder econômico – mas não propaganda eleitoral” (Acórdão TSE n. 18.958, de 8.2.2001). Concluiu-se que nenhum dos fatos (patrocínio em camiseta ou envio de cartão de natal) efetivamente caracteriza, de acordo com este conceito, ato de propaganda eleitoral, razão pela qual o Tribunal deu provimento ao recurso para rejeitar a pretensão. Acórdão n. 25.890, de 1o.6.2011, Relator Juiz Julio Schattschneider.

Prestação de contas. Pagamento de despesas gerais. Necessidade de quitação por cheque ou transferência bancária.O Tribunal desaprovou as contas de candidato que emitiu vários recibos para si próprio, no valor de cheque utilizado para pagamento, a vários fornecedores, de diversas despesas de campanha. Observou-se, ainda, que, no Demonstrativo de Receitas e Despesas (DRD), esses gastos não foram devidamente contabilizados nas contas específi cas (alimentação, combustível, entre outras), mas sim na rubrica “Diversas a especifi car”, o que gerou inconsistência nesse documento. Entendeu a Corte que essas irregularidades afetam sobremaneira a regularidade e a confi abilidade das contas, ensejando a sua desaprovação, restando evidenciado que o candi-dato efetuou diversos pagamentos de despesas com alimentação, hospe-dagem, combustíveis, material de publicidade e telefone, no montante de R$ 5.406,00, sem o devido trânsito bancário, contrariando o art. 21, § 1o, da Resolução TSE n. 23.217/2010 (“Os gastos eleitorais de natureza fi nanceira só poderão ser efetuados por meio de cheque nominal ou transferência bancária.”), tendo se ressarcido posteriormente de tais gastos. Assentou-se que o Tribunal, por meio da edição da Resolução TRESC n. 7.805/2010, de relatoria do Juiz Sérgio Torres Paladino, manifestou o entendimento de que a regra contida no referido dispositivo pode, uma vez comprovada a difi cul-dade em observá-la, ser aplicada de forma mais branda. Concluiu-se que há despesas na prestação de contas do candidato que estão longe de serem consideradas de pequeno valor e, dada sua natureza, não se enquadram nas hipóteses que justifi cariam a impossibilidade de pagamento por meio de cheque, o que impede a aplicação dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade adotados pela Corte. Acórdão n. 26.067, de 20.6.2011, Relatora Juíza Vânia Petermann Ramos de Mello.

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Prestação de contas de campanha de candidato. Obrigatoriedade. Não apresentação. Consequências.O Tribunal julgou não prestadas as contas de candidato que devida-mente intimado deixou de apresentá-las à Justiça Eleitoral, aplicando ao caso o disposto nos arts. 39, IV, e 41, I, ambos da Resolução TSE n. 23.217/2010. Salientou-se que, no que se refere às consequências da não prestação da contabilidade de campanha, na sessão de 23.5.2011 decidiu a Corte pela ilegalidade da expressão “durante o curso do man-dato ao qual concorreu” e pela permanência da restrição à obtenção de quitação eleitoral até que sejam defi nitivamente prestadas as contas (Acórdão n. 25.879). Registrou-se, outrossim, que a prestação de con-tas protocolizada após julgado o feito será somente considerada para efeito de divulgação e de regularização no cadastro eleitoral, consoante dispõe o parágrafo único do art. 39 daquela resolução (“Julgadas não prestadas, mas posteriormente apresentadas, nos termos dos arts. 29 e 33 desta resolução, as contas não serão objeto de novo julgamento, sendo considerada a sua apresentação apenas para fi ns de divulgação e de regularização no Cadastro Eleitoral ao término da legislatura.”). Acórdão n. 26.003, de 13.6.2011, Relator Juiz Carlos Vicente da Rosa Góes.

INFORMATIVO JURISPRUDENCIAL N. 37 - JULHO DE 2011

Crime eleitoral. Falsidade ideológica. Concurso de pessoas. Crime de mão própria. Absolvição.O Tribunal absolveu o réu em recurso criminal, cuja denúncia fundamentou-se na possível prática do delito tipifi cado no art. 350 do Código Eleitoral, em razão de o recorrente, visando auxiliar um eleitor a realizar, fraudulenta-mente, a transferência do seu domicílio eleitoral, haver entregue a ele uma fatura de luz em nome de terceiro, com endereço no município. Ressaltou-se que o enunciado do art. 350 do CE descreve conduta correspondente ao crime de falsidade ideológica do direito penal comum (Código Penal, art. 299), porquanto reprime a produção de documento de conteúdo inautênti-co mediante a omissão de dado relevante ou a inserção de manifestação inverossímil. Consignou-se que, como o comportamento delituoso decorre diretamente da declaração falsa fi rmada pelo próprio eleitor, a colaboração de terceiro mediante a entrega de documentação ou declaração falsa no intuito de viabilizar a mudança do domicílio eleitoral constitui meio abso-lutamente impróprio para a consumação criminosa, traduzindo a hipótese de crime impossível (CP, art. 17). Salientou-se que a participação moral de terceiro por suposta instigação ao crime de falsidade na transferência do

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título eleitoral fi nda por confi gurar, em tese, o delito capitulado no art. 290 do CE. Concluiu-se que, ausente prova segura de que o réu praticou ações com capacidade de ter feito nascer no eleitor a determinação, a vontade de utilizar declaração falsa para transferir o título eleitoral, não há como manter a condenação imposta, sobretudo quando restar demonstrado o interesse pessoal prévio de mudança de domicílio eleitoral. Acórdão n. 26.236, de 25.7.2011, Relator Juiz Irineu João da Silva.

Prestação de contas. Diretório municipal. Suspensão do repasse de recursos do Fundo Partidário. Aumento da pena. Precedentes.O Tribunal deu parcial provimento a recurso para aumentar de quatro meses para seis meses a pena de suspensão do repasse de novas quo-tas do Fundo Partidário imposta a diretório municipal de partido político, dando-se ciência ao órgão de direção estadual do partido. Verifi cou-se que as contas foram desaprovadas pelo Juízo Eleitoral e aplicada pena de suspensão do repasse de novas quotas do Fundo Partidário por quatro meses, em razão da falta de abertura de conta bancária específi ca do partido – conforme previsto pelo art. 4o da Resolução TSE n. 21.841/2004 –, bem como pelo fato de não ter sido declarada qualquer movimentação de recursos, nem mesmo a arrecadação de bens estimáveis em dinheiro ou a realização de despesas para manutenção do diretório municipal, sendo que, inegavelmente, tais irregularidades impedem a fi scalização das contas pela Justiça Eleitoral, justifi cando a sua desaprovação e a imposição da pena de suspensão de cotas do Fundo Partidário. Ressal-tou-se que, com o advento da Lei n. 12.034/2009 – que acresceu o § 3o ao art. 37 da Lei n. 9.096/1995 –, “A sanção de suspensão do repasse de novas quotas do Fundo Partidário, por desaprovação total ou parcial da prestação de contas de partido, deverá ser aplicada de forma proporcio-nal e razoável, pelo período de 1 (um) mês a 12 (doze) meses [...]”, não havendo como negar que a subjetividade intrínseca à ponderação do que é proporcional e razoável poderá levar a decisões contraditórias, com a aplicação de penas distintas para situações equivalentes. Entendeu-se que, no intuito de estabelecer possível uniformidade de critério na deter-minação do valor sancionatório, convém adotar o mesmo quantum fi xado em precedentes da Corte, nos quais foram desaprovadas contas parti-dárias com fundamento em semelhantes irregularidades, mostrando-se proporcional e razoável fi xar a sanção de suspensão de quotas do Fundo Partidário pelo prazo de seis meses, conforme precedentes (Acórdão n. 23.268, de 23.8.2010, Rel. Juiz Rafael de Assis Horn; Acórdão n. 25.680, de 30.3.2011, Rel. Juiz Julio Schattschneider). Acórdão n. 26.218, de 13.7.2011, Relator Juiz Irineu João da Silva.

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Mesário faltoso. Isenção da pena pecuniária. Gestante. Justa causa.O Tribunal negou provimento a recurso para que prevaleça a isenção da pena pecuniária cominada à mesária que desatendeu à convocação para os trabalhos eleitorais dos dois turnos das eleições de 2010 (Códi-go Eleitoral, art. 124) em razão da condição de gestante. Salientou-se que a mesária alegou que não se apresentou aos trabalhos eleitorais porque “desde meados do mês de setembro apresentava sintomas de gravidez, o que veio a ser confi rmado através de exames clínicos”, sendo que a mesária juntou aos autos laudos de exames laboratoriais e radiológicos, comprovando efetivamente a condição de gestante, além de ter coligido documentos de análise clínica de urina indicativa de anomalias e de prescrição de medicamentos por especialista em gine-cologia e obstetrícia, esses últimos fatos verifi cados após as eleições. Não obstante, os autos não foram instruídos com qualquer manifestação médica atestando a existência de limitações decorrentes da gestação que impediam a eleitora de prestar o serviço eleitoral. Entendeu-se que: a) é sabido, conforme verdade popularmente propalada, que gravidez não é doença, sendo que a assertiva busca transmitir a idéia do estado gestacional puramente como evento natural – como de fato é –, no intuito de afastar sentimentos discriminatórios em relação à mulher gestante; b) não é preciso ter conhecimentos médicos para constatar que o fato de se carregar no ventre um ser em formação exige prudência e cuidados especiais, notadamente porque a mulher, mesmo diante de uma gesta-ção sem intercorrências, vivencia um período de alterações orgânicas e psíquicas relevantes; c) há que se ressaltar que o exercício da função de mesário – inobstante seu caráter cívico – constitui atividade fi sicamente bastante desgastante, considerada a necessidade de atender durante extensa jornada, e por vezes em pé, os eleitores que se habilitam ao voto; d) conquanto o serviço eleitoral de mesário não seja integralmente incompatível com a condição de gestante, mostra-se razoável acolher a circunstância como justa causa para o não comparecimento aos tra-balhos, até mesmo em respeito ao princípio constitucional do direito de proteção à vida; e) as precauções com a gestação justifi cam-se, ainda mais, nos primeiros meses de gravidez, fase que recomenda especial zelo a bem do saudável desenvolvimento do feto.Acórdão n. 26.217, de 11.7.2011, Relator Juiz Irineu João da Silva.

Matéria administrativa. Criação de zona eleitoral. Deferimento.O Tribunal acolheu pedido de criação de nova zona eleitoral, submetendo a decisão à aprovação do Tribunal Superior Eleitoral. O requerimento foi efetuado por duas zonas eleitorais sediadas num mesmo município,

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que alegaram difi culdades cotidianamente enfrentadas pelos Juízes e servidores daquelas zonas eleitorais, dado o elevado número de eleito-res distribuídos entre os dez municípios que as integram. Salientou-se que, segundo o Código Eleitoral, compete, privativamente, aos Tribu-nais Regionais “dividir a respectiva circunscrição em zonas eleitorais, submetendo essa divisão, assim como a criação de novas zonas, à aprovação do Tribunal Superior” (art. 30, IX), sendo o procedimento de criação de nova zona eleitoral regulamentado pelas Resoluções TSE n. 19.994/1997 e TRESC n. 6.670/1991. Verifi cou-se que o processo foi instruído com todas as informações necessárias à análise do pedido, restando atendidos todos os requisitos legais à criação de nova zona eleitoral. Entendeu-se como plausível e razoável a justifi cativa apresen-tada pelos requerentes, notadamente em face do princípio constitucional da efi ciência (CF, art. 37), que impõe à Administração o dever de prestar os serviços públicos de forma adequada e efetiva, buscando sempre o seu constante aprimoramento. Concluiu-se que, atendidos os requisitos exigidos pela legislação de regência, é de ser acolhido o pedido de cria-ção de nova zona eleitoral, com o remanejamento de seções eleitorais, demonstrado que a alteração resultará na distribuição mais proporcional do eleitorado nos municípios abrangidos pela circunscrição eleitoral, permitindo o aprimoramento no atendimento prestado aos eleitores, sem que isso importe custo elevado à Justiça Eleitoral.Acórdão n. 26.199, de 4.7.2011, Relator Juiz Irineu João da Silva. *No mesmo sentido: Acórdão n. 26.235, de 25.7.2011, Relator Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto.

Prestação de contas. Comitê fi nanceiro único. Despesa não de-clarada, verifi cada durante procedimento de circularização prévia. Aprovação com ressalvas.O Tribunal aprovou com ressalvas as contas de comitê fi nanceiro único de partido político. Salientou-se que se verifi cou, por meio do proce-dimento de circularização, uma despesa não declarada em favor de prestador de serviço, no montante de R$ 6.600,00, sendo que a respeito dela, o comitê afi rmou que “não efetuou qualquer pagamento a essa pessoa, ignorando, inclusive, quem é e qual o seu paradeiro, motivo pelo qual [...] não tem condições de obter qualquer declaração ou do-cumento proveniente desse suposto prestador de serviço”. Entendeu-se que, ao que tudo indica, tal irregularidade decorreria de equívoco nas informações prestadas pelo fornecedor, tendo sido invocado o seguinte precedente: “Não restando esclarecida a irregularidade surgida em de-corrência do procedimento de circularização prévia de informações, em

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razão da discrepância entre a declaração do candidato e a fornecida pela empresa, merece maior credibilidade aquela prestada pelo candidato, ante a ausência do contraditório e da ampla defesa, resolvendo-se a controvérsia a favor deste” (Acórdão n. 18.677, de 4.3.2004, Rel. Juiz José Gaspar Rubick). Ressaltou-se que a Corte tem decidido exata-mente neste sentido (Acórdão n. 25.963, de 13.6.2011, Rel. Juiz Irineu João da Silva). Acórdão n. 26.197, de 4.7.2011, Relator Juiz Julio Schattschneider.

Matéria processual. Embargos de declaração com efeitos infrin-gentes. Prestação de contas de campanha de candidato. Acolhi-mento.O Tribunal acolheu embargos de declaração para aprovar com ressalvas as contas de candidato, as quais haviam sido desaprovadas em razão da falta de apresentação de diversos documentos fi scais relativos a des-pesas realizadas na campanha dele. Verifi cou-se que tais documentos, cuja ausência ensejou a desaprovação das contas do embargante, em nenhum momento foram solicitados pelo órgão técnico, tampouco pela Relatoria. Entendeu-se, com fulcro no parágrafo único do art. 31 da Resolução TSE n. 23.217/2010 (“Os documentos fi scais de que trata o caput, à exceção daqueles previstos no art. 29, incisos XV e XVI, desta resolução, não integram a prestação de contas, podendo ser requeridos, a qualquer tempo, pela Justiça Eleitoral, para subsidiar o exame das contas.”), que o que houve nos autos de prestação de contas do em-bargante foi excesso de zelo na análise da documentação apresentada, hipótese em que a ausência das notas fi scais acabou levando à desapro-vação das contas. Concluiu-se que, considerando que os documentos fi scais não integram a prestação de contas, salvo quando for solicitada a sua apresentação, e sendo essa a única causa que fundamentou a desaprovação das contas do embargante, os embargos merecem ser acolhidos com efeitos infringentes. Por fi m, muito embora o candidato, junto com os embargos, tenha trazido diversos documentos, deixou-se de apreciá-los, pois eles não haviam sido solicitados pela COCIN.Acórdão n. 26.229, de 20.7.2011, Relator Juiz Nelson Maia Peixoto.

Matéria administrativa. Recomposição de Zona Eleitoral. Deferi-mento.O Tribunal acolheu pedido de recomposição de zonas eleitorais, subme-tendo a decisão à aprovação do Tribunal Superior Eleitoral. A proposta de recomposição de três zonas eleitorais sediadas num mesmo município foi formulada pela Coordenadoria de Eleições do TRESC, visando à melhor

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redistribuição dos eleitores/municípios que atualmente as integram, ante as discrepâncias nelas evidenciadas. Instados a se manifestar, os Juí-zes Eleitorais interessados concordaram com a recomposição na forma proposta, ressaltando, apenas, a necessidade também de adequação no tocante às atividades administrativas e à quantidade de recursos humanos disponíveis em cada cartório eleitoral. Salientou-se que compete, privativamente, aos Tribunais Regionais “dividir a respectiva circunscrição em zonas eleitorais, submetendo essa divisão, assim como a criação de novas zonas, à aprovação do Tribunal Superior”, consoante o disposto no art. 30, IX, do Código Eleitoral. Ressaltou-se que a pro-posição não versava sobre criação de zona eleitoral, mas tão somente recomposição de zonas eleitorais já existentes, não ocasionando, por conseguinte, novas despesas para a Justiça Eleitoral, bem como não se sujeitando aos rigorosos requisitos exigidos pela legislação de regência. Entendeu-se que a justifi cativa apresentada pela Coordenadoria de Eleições mostra-se bastante plausível e razoável, encontrando guarida no princípio constitucional da efi ciência, que impõe à Administração o dever de prestar os serviços públicos de forma adequada e efetiva, con-forme o disposto no caput do art. 37 da Constituição Federal. Concluiu-se que tal proposta de recomposição resultará em melhor distribuição dos municípios envolvidos e, consequentemente, trará benefícios para o serviço eleitoral em geral, os partidos políticos e, especialmente, os eleitores, devendo mitigar, se não sanar, os problemas relatados pelos respectivos Juízes Eleitorais, sem gerar custo à Justiça Eleitoral. Acórdão n. 26.221, de 13.7.2011, Relator Juiz Gerson Cherem II.

INFORMATIVO JURISPRUDENCIAL N. 38 - AGOSTO DE 2011

AIJE e AIME. Conexão. Abuso do poder político. Repasses de verbas a entidades privadas. Ano eleitoral. Improcedência.O Tribunal, por maioria, julgou improcedentes ações (conexas) de inves-tigação judicial eleitoral e de impugnação de mandato eletivo, nas quais o cerne das questões era defi nir se o repasse de subvenções sociais em anos eleitorais destinado a projetos nas áreas de esporte, cultura e turismo constitui abuso do poder político. No caso, durante a gestão de ex-governador, foi editada lei que instituiu programa denominado “SEITEC – Sistema Estadual de Incentivo à Cultura, ao Turismo e ao Esporte”, o qual capta recursos de contribuintes do ICMS, dentre outras fontes, para distribuição por meio de Fundos (Funesporte, Funturismo e Funcultural) a projetos apresentados e aprovados no âmbito do governo do Estado. A irresignação da representante cingia-se à transferência

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desses recursos dos Fundos para entidades privadas em ano eleitoral, já que, a seu entender, estaria vedada, à luz do art. 73, § 10, da Lei n. 9.504/1997, e constituiria meio de captação de benefícios eleitorais aos que administram e autorizam os referidos repasses, caracterizando abuso de poder político. Entendeu a Corte, dentre outras considerações, que: a) os valores liberados no ano eleitoral estavam, efetivamente, previstos em orçamento do Estado, uma vez que destinados ao SEITEC a partir da arrecadação do ICMS e por isso constantes da lei específi ca aprovada no ano anterior; b) quanto à denominada “cota do governa-dor”, conquanto não haja na legislação que trata do SEITEC qualquer dispositivo que mencione a existência de verba desse programa a ser gerenciada diretamente pelo chefe do Poder Executivo do Estado, não há qualquer prova ou mesmo indício de que determinados eventos (alusivos a esporte, a turismo, a cultura e a lazer) tenham sido utilizados para alavancar a candidatura dos representados, inexistindo qualquer menção de que tenham rendido dividendos eleitorais; c) o trâmite dos projetos apresentados para liberação de valores pelo SEITEC encontra sérias ressalvas no contexto administrativo; entretanto, o que deve ser ponderado e apreciado pela Justiça Eleitoral é o impacto eleitoral de tais condutas, não competindo a esta Justiça apurar existência de falhas na execução dos programas, quando está demonstrado que não tiveram o poder de repercutir diretamente nesta esfera; d) ações nas áreas de esporte, turismo e cultura repercutem de forma indireta e difusa no dia-a-dia do cidadão, diferentemente de ações na área social, quando o benefi ciário percebe nitidamente a melhoria que a ação governamental lhe trouxe; e) nas áreas em que os representados atuaram, o público interessado em cada evento está inserido em universos específi cos (ex: escolas de balé, eventos de moda, feiras, concertos) e nem sempre lhes seria possível vincular a vantagem aferida nessas oportunidades a um ato de governo, sendo crível afi rmar que raramente faria tal liame; f) a distribuição de verbas se dá a partir de política institucional do governo do Estado formalmente constituída por lei e já solidifi cada pelo decurso de vários anos; g) não há qualquer indicação ou notícia de que os re-presentados tenham se utilizado desses programas como suporte para suas candidaturas ou que tenham participado pessoalmente de qualquer evento, arvorando-se como responsáveis pela efetivação dos projetos; h) a análise pela Justiça Eleitoral deve cingir-se a eventuais atos de cunho eleitoreiro, não comportando o exame de políticas institucionais de governo quando encontram amparo legal e estão sedimentadas no tempo; i) os atos ora questionados são frutos de programas criados e executados desde gestões anteriores, sendo crível que já tenham sido

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absorvidos pela sociedade como práticas usuais, não sendo possível lhes arbitrar a gravidade que se pretende.Acórdão n. 26.245, de 15.8.2011, Relator Juiz Irineu João da Silva.

Ação de justifi cação de desfi liação partidária. Existência de justa causa.O Tribunal julgou procedente pedido de reconhecimento de justa causa para desfi liação de vereador de partido político. Entendeu a Corte haver justa causa apta a autorizar a migração partidária, com fulcro no art. 1o, § 1o, IV, e § 3o, da Resolução TSE n. 22.610/2007 (“Art. 1o O partido político interessado pode pedir, perante a Justiça Eleitoral, a decretação da perda de cargo eletivo em decorrência de desfi liação partidária sem justa causa. § 1o Considera-se justa causa: [...] IV) grave discriminação pessoal. [...] § 3o O mandatário que se desfi liou ou pretenda desfi liar-se pode pedir a declaração da existência de justa causa, fazendo citar o partido, na forma desta Resolução.”), já que: a) as inúmeras matérias jornalísticas colacionadas demonstram a animosidade existente entre o requerente e a direção estadual da grei, tendo a comissão executiva municipal da agremiação reconhecido e repudiado veementemente a aludida segregação, conforme se extrai das deliberações contidas em ata de reunião; b) o órgão de direção estadual do partido, instado a se manifestar sobre o pedido de desfi liação partidária, afi rmou que “não opõe resistência à procedência do pedido do autor, não tendo, consequentemente, intenção na produção de outras provas”, conduta que autoriza presumir serem verdadeiras as alegações do requerente, sobretudo porque incumbe ao partido requerido “o ônus da prova de fato extintivo, impeditivo ou modifi cativo da efi cácia do pedido”, conforme dispõe o art. 8o da Resolução TSE n. 22.610/2007.Acórdão n. 26.238, de 3.8.2011, Relator Juiz Irineu João da Silva

Matéria administrativa. Mandado de segurança. Concessão da ordem. Aplicação de prazo decadencial (art. 54 da Lei n. 9.784/1999).O Tribunal, por maioria, concedeu a ordem em mandado de segurança impetrado por servidor do TRESC contra ato do Presidente da Corte que determinou o desconto em folha de pagamento em face da revisão do cálculo de parcelas referentes à Vantagem Pessoal Nominalmente Identifi cada – VPNI, decorrente de quintos incorporados sob a vigência da Lei n. 8.911/1994. A referida revisão deu-se em função de auditoria realizada pela Coordenadoria de Controle Interno do TRESC, a qual

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constatou irregularidade na data de incorporação de quinto do servidor, em razão da contagem indevida de 20 dias de substituição a que o servidor declinou. Concluiu-se que o objeto do ato está em desacordo com a legislação referente à concessão de quintos, o ato é inválido, de-vendo a Administração proceder à sua invalidação, respeitado, contudo, o prazo quinquenal previsto pelo art. 54 da Lei n. 9.784/1999 (“O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.”). Obser-vou-se que não pode mais o administrador fugir do fato de existir norma clara e específi ca para a Administração Pública Federal referente ao procedimento para a anulação de ato administrativo, limitando o prazo em 5 anos para a ação administrativa. Ressaltou-se que não exsurge juridicamente plausível, após o decurso de mais de 18 anos, retirar dos vencimentos do servidor parte de vantagem pecuniária pessoal fi xada por ato exclusivo da Administração, ainda que eivada de ilegalidade, notadamente pela necessidade de se respeitar os princípios da segu-rança jurídica e da boa-fé. Acórdão n. 26.254, de 22.8.2011, Relator Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto.

Matéria administrativa. Partido político em formação. Registro dos órgãos de direção regional e municipais.O Tribunal deferiu pedido de registro do diretório estadual e de diretórios municipais de partido político em formação, haja vista o preenchimento dos requisitos previstos no art. 13 da Resolução TSE n. 23.282/2010. Verifi cou a Corte que a grei partidária em formação apresentou pedido instruído com: a) exemplar do Diário Ofi cial da União em que foi pu-blicado o programa e o estatuto partidários; b) cópia autenticada do programa e do estatuto partidários registrados no Cartório do 2o Ofício de Registro Civil e Casamentos, Títulos e Documentos e Pessoas Jurídicas de Brasília; c) certidão de inteiro teor expedida pelo Cartório do 2o Ofício de Registro Civil e Casamentos, Títulos e Documentos e Pessoas Jurídicas de Brasília; d) certidões expedidas pelos cartórios eleitorais, comprobatórias do apoiamento mínimo de eleitores do Estado; e) cópia autenticada em cartório de notas das atas das eleições dos diretórios municipais e das reuniões destes para eleição das respec-tivas comissões executivas; f) cópia autenticada em cartório de notas da Ata da eleição do diretório estadual do partido; g) cópia autenticada em cartório de notas da ata da reunião do diretório estadual em que foi realizada a eleição da comissão executiva estadual da agremiação. O edital referente ao pedido de registro foi publicado no Diário da Justiça

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Eleitoral de Santa Catarina (DJESC), tendo havido duas impugnações, que não foram acolhidas. Concluiu o Tribunal que todos os requisitos legais e normativos que autorizam o deferimento do pedido de registro dos órgãos de direção regional e municipais de partido político em for-mação foram preenchidos, tendo sido, inclusive, ultrapassado o número de apoiamento mínimo de eleitores em Santa Catarina, que é de “um décimo por cento do eleitorado que haja votado” no Estado na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, sendo necessário o apoio de 3.900 eleitores.Acórdão n. 26.246, de 17.8.2011, Relator Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto.

Matéria administrativa. Partido político em formação. Adição de novas assinaturas.O Tribunal deferiu pedido de partido político em formação de adição de novas assinaturas ao número de apoiamentos já obtidos em Santa Catarina, declarando o apoiamento de 10.257 eleitores catarinenses à formação da grei partidária e determinando à Seção de Partidos Políticos da Coordenadoria de Registro e Informações Processuais que expeça nova certidão somando aos apoiamentos já registrados no Acórdão n. 25.923 (5.280 eleitores) os obtidos posteriormente (4.977 eleitores). No caso, o Acórdão TRESC n. 25.923 (de 8.6.2011) havia deferido pedido de registro do diretório estadual e de comissão provisória municipal do partido em formação, tendo sido expedida a certidão de que trata o art. 19, III, da Resolução TSE n. 23.282/2010. O partido requereu agora a juntada de novas certidões de apoiamento provenientes de 80 zonas eleitorais catarinenses, a fi m de que fossem acrescidas às já existentes e se emitisse certidão única contendo o número total de assinaturas obtidas pela sigla no Estado, já que o procedimento seria necessário em razão de o percentual de apoiamento mínimo para o registro do partido no TRE, alcançado anteriormente, ser inferior ao exigido para o registro da agremiação no TSE. Verifi cou a Corte o preenchimento dos requisitos previstos na legislação eleitoral, eis que as certidões emitidas pelos cartórios eleitorais registram que as assinaturas coletadas pela agremiação foram conferidas e os dados constantes das listas publicados em cartório, e, outrossim, não houve impugnação aos dados constantes das listas de eleitores ou ao registro de novos apoiamentos.Acórdão n. 26.253, de 22.8.2011, Relator Juiz Julio Schattschneider.

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INFORMATIVO JURISPRUDENCIAL N. 39 - SETEMBRO DE 2011

Propaganda eleitoral extemporânea. Não confi guração.O Tribunal negou provimento a recurso interposto contra sentença que julgou improcedente representação por suposta veiculação de propagan-da eleitoral extemporânea, reprimida pelo art. 36 da Lei n. 9.504/1997 (“A propaganda eleitoral somente é permitida após o dia 5 de julho do ano da eleição.”). Entendeu a Corte não ser possível identifi car na camiseta e no folder que instruem os autos – alusivos a evento festivo contendo o nome de vereador e o cargo que ocupa – afi rmações capazes de in-fl uenciar antecipadamente a vontade do eleitor, verifi cando-se a ausência de frases que possam remeter o eleitor ao próximo pleito ou colocar em destaque feitos administrativos do recorrido, inexistindo a difusão de assertivas de conotação eleitoreira com o objetivo de promover, ainda que dissimuladamente, a sua futura candidatura, sendo que a simples menção ao nome do recorrido e do cargo eletivo que ocupa servem tão somente como instrumento de promoção pessoal.Acórdão n. 26.268, de 14.9.2011, Relator Juiz Irineu João da Silva.

Representação. Captação ou gasto ilícito de recursos fi nanceiros de campanha eleitoral. Lei n. 9.504/1997, art. 30-A.O Tribunal julgou improcedente representação fundamentada no art. 30-A da Lei n. 9.504/1997, cujo caput dispõe que “Qualquer partido político ou coligação poderá representar à Justiça Eleitoral, no prazo de 15 (quinze) dias da diplomação, relatando fatos e indicando provas, e pedir a abertura de investigação judicial para apurar condutas em desacordo com as nor-mas desta Lei, relativas à arrecadação e gastos de recursos.”. Entendeu a Corte que o conjunto probatório, respaldado exclusivamente em prova documental, não teve o condão, per se, de levar à conclusão de que houve gastos ilícitos ou arrecadação ilícita de recursos de modo a confi gurar o ilícito eleitoral. Salientou o Tribunal que a regulamentação dos gastos de campanha eleitoral tem por objetivo garantir a higidez e a igualdade no processo eleitoral, uma vez que o fi nanciamento de uma campanha está diretamente relacionado ao resultado do pleito, sendo que o escopo da citada norma é o de sancionar com maior gravidade o candidato que comprovadamente tenha captado ilicitamente recursos para fi ns eleitorais. No caso, a agremiação partidária representante alegou que o candidato representado teria incidido nas sanções do art. 30-A da Lei n. 9.504/1997 – em razão das evidências constatadas na prestação contábil de campa-nha daquele, que, julgada pelo TRESC, restou desaprovada por inúmeras

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irregularidades –, fundamentando a pretensão exclusivamente na decisão de rejeição das contas de campanha do candidato, sem precisar as falhas contidas na contabilidade que poderiam confi gurar a ilicitude. Concluiu a Corte que: a) as meras irregularidades constatadas no procedimento de prestação de contas do candidato não são sufi cientes para fazer incidir a sanção prevista no supramencionado dispositivo legal, especialmente porque não há indícios de movimentação paralela de recursos ou de re-cebimento de doações de fonte vedada; pelo contrário, pôde-se verifi car que nas referidas contas encontram-se escrituradas tanto as receitas, quanto as despesas de campanha efetuadas pelo candidato; b) o ilícito versado exige prova cabal e inequívoca de sua prática, não sendo meras suposições genéricas sufi cientes para fundamentar um decreto conde-natório, sem o claro apontamento da possível existência de fraude ou de desvio de recursos.Acórdão n. 26.274, de 19.9.2011, Relator Juiz Rafael de Assis Horn.

Prestação de contas. Partido político. Rejeição. Recebimento de contribuições de autoridades públicas.O Tribunal manteve sentença que desaprovou as contas de diretório municipal de partido político e suspendeu o repasse de cotas do Fundo Partidário por 6 meses. Na hipótese, uma das irregularidades invoca-das pelo Magistrado de primeiro grau para a rejeição das contas foi o recebimento, pelo partido, de contribuições provenientes de autoridades públicas demissíveis ad nutum. Entendeu a Corte que, nos termos de-lineados pelo art. 5o, II, da Resolução TSE n. 21.841/2004, explícita é a vedação quanto ao recebimento de recursos de autoridades ou de órgãos públicos, ressalvadas as dotações do Fundo Partidário. Registrou-se que a Resolução TSE n. 22.585/2007 enquadrou como fonte vedada o recurso proveniente de doação ou contribuição de detentor de cargo em comissão que exerça função de direção ou chefi a, ao enquadrá-lo no conceito de autoridade. Concluiu-se que o detentor de cargo exonerável ad nutum que exerça função de chefi a e direção, bem como as demais autoridades strictu sensu, não podem doar recursos a partidos políticos, em nenhuma hipótese.Acórdão n. 26.273, de 19.9.2011, Relator Juiz Rafael de Assis Horn.

Consulta. Registro de candidato. Matéria administrativa. Represen-tação processual. Desnecessidade.O Tribunal respondeu a consulta, formulada por Magistrado (Código Eleitoral, art. 30, VIII), nos seguintes termos: a) o questionamento sobre

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se o pedido de registro de candidatura possui natureza jurisdicional foi respondido negativamente, tendo em vista que tal pedido possui nature-za administrativa; b) o questionamento sobre se é necessário constituir advogado para subscrever o requerimento de registro de candidatura formulado por partidos, coligações e candidatos foi também respondido negativamente, considerando tratar-se de matéria administrativa; ade-mais, consoante o teor do disposto no art. 11, § 4o, da Lei n. 9.504/1997, não se vislumbra tal exigência, concluindo-se que a norma não condi-ciona que o pedido de registro de candidatura deva ser subscrito por advogado constituído pelo requerente.Resolução n. 7.831, de 12.9.2011, Relator Juiz Nelson Maia Peixoto.

Consulta. Registro de candidato. Município desmembrado. Condi-ções de elegibilidade e causas de inelegibilidade.O Tribunal conheceu parcialmente de consulta, formulada por deputado federal, e a respondeu nos seguintes termos: a) o questionamento sobre se o vereador de município-mãe que transfere seu domicílio eleitoral para o município desmembrado perde seu mandato não foi conhecido, salientando-se que a Corte já decidiu não conhecer de consulta na qual se indagava da possibilidade de perda do mandato por vereador que viesse a transferir seu domicílio eleitoral no curso da legislatura para a qual foi eleito (Res. TRESC n. 7.338/2003; Res. TRESC n. 7.340/2003), ressaltando-se que o fato de a indagação referir-se à transferência para município criado por desmem-bramento não altera a conclusão adotada pela Corte; b) o questionamento sobre se o vereador de município-mãe que pretenda concorrer ao cargo de prefeito no município desmembrado precisa se desincompatibilizar do cargo de vereador foi respondido negativamente, anotando-se não haver previsão na legislação de regência no sentido de que vereador deva se desincompatibilizar de seu cargo para concorrer como candidato a prefeito, ressalvando-se apenas a situação do vereador que, candidato a prefeito em município desmembrado, seja presidente do órgão legislativo municipal e tenha substituído o chefe do Executivo nos seis meses anteriores ao pleito; c) o questionamento sobre se o candidato que possua domicílio eleitoral no município desmembrado e domicílio civil no município-mãe estaria apto a concorrer ao cargo de prefeito no município desmembrado foi respondido afi rmativamente, ao argumento de que o domicílio eleitoral, que não se confunde, necessariamente, com o civil, é o que efetivamente importa para fi ns de registro de candidatura.Resolução n. 7.832, de 28.9.2011, Relator Juiz Gerson Cherem II.

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Execução fi scal. Exceção de pré-executividade. Instrumento proces-sual inadequado para rediscussão de provimento jurisdicional.O Tribunal negou provimento a agravo de instrumento interposto con-tra sentença que rejeitou exceção de pré-executividade objetivando suspender o curso de execução fi scal. Na hipótese, afi rma o agravante haver sido “condenado”, juntamente com mais 8 pessoas, em decisão já transitada em julgado ao pagamento de multa, à época dos fatos no valor de R$ 21.282,00 por propaganda tida como extemporânea e, após o trânsito em julgado da sentença condenatória, ao tentar efetuar o paga-mento da multa aplicada, fora, juntamente com os demais condenados, surpreendido pela interpretação dada àquela sentença de que a multa não teria sido aplicada solidariamente a todos os condenados, mas indi-vidualmente imposta a cada um. Entendeu a Corte que a execução está fundada em título certo, líquido e exigível, pois a inscrição da multa em Dívida Ativa da União, consequência ex lege do não pagamento voluntá-rio pelo executado após o trânsito em julgado da sentença, observou os procedimentos previstos na legislação de regência. Esclareceu-se, por fi m, que não encontra terreno fértil na jurisprudência do TSE o entendi-mento de que há solidariedade no pagamento de multa de propaganda eleitoral antecipada imposta a mais de um responsável.Acórdão n. 26.285, de 21.9.2011, Relator Juiz Gerson Cherem II.

Matéria processual. Embargos de declaração. Partido político. Prestação de contas de campanha. Apresentação extemporânea. Efeitos.O Tribunal, por maioria, com voto de desempate do Presidente, rejeitou embargos de declaração opostos por partido político contra acórdão do TRESC que julgou não prestadas suas contas de campanha referentes às eleições 2010, com a consequente perda do direito ao recebimento da quota do fundo partidário no ano seguinte ao da decisão. Entendeu-se que: a) inexistente no acórdão guerreado qualquer omissão, contradição ou obscuridade, imperiosa a rejeição dos embargos declaratórios, ante a ausência dos pressupostos do art. 275, I e II, do Código Eleitoral; b) em decorrência do caráter jurisdicional da prestação de contas – atri-buído pela Lei n. 12.034/2009, ao introduzir o § 6o no art. 37 da Lei dos Partidos Políticos (Lei n. 9.096/1995): “O exame da prestação de contas dos órgãos partidários tem caráter jurisdicional.” –, torna-se incabível novo julgamento das contas de campanha oferecidas posteriormente à decisão que as declarou não prestadas, sob pena de grave violação dos arts. 468 e 471 do Código de Processo Civil, eis que o julgamento no

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sentido de não terem sido prestadas as contas tende a fazer coisa julgada formal e material, impeditiva, por conseguinte, de qualquer modifi cação no decisum; c) se o partido não presta no momento processual adequa-do as contas relativas à campanha, deve arrostar as consequências de sua desídia, aplicando-se o parágrafo único do art. 39 da Resolução TSE n. 23.217/2010, impeditivo de novo julgamento (“Julgadas não prestadas, mas posteriormente apresentadas, nos termos dos arts. 29 e 33 desta resolução, as contas não serão objeto de novo julgamento, sendo considerada a sua apresentação apenas para fi ns de divulgação e de regularização no Cadastro Eleitoral ao término da legislatura.”); d) transposto o plano jurisdicional do julgamento das contas, acaso sejam elas apresentadas posteriormente à decisão, remanesce tão só o aspecto administrativo para admissibilidade de exame, pelo órgão técnico do Tribunal (Coordenadoria de Controle Interno), de questões relevantes – tais como má gestão do fundo partidário, doações de fonte vedada ou recebimento de recursos de origem não identifi cada –, além do consequente encaminhamento à Procuradoria Regional Eleitoral para adoção de eventuais medidas pertinentes; tudo, porém, sem que haja novo julgamento pela Corte, posto que o colegiado já declarou as contas como não prestadas, precluindo o direito da parte para nova apreciação sobre o mesmo tema, não havendo, pois, que se falar em reabertura do procedimento no plano jurisdicional.Acórdão n. 26.267, de 12.9.2011, Relator designado Juiz Gerson Che-rem II.

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ÍNDICE

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Res. eleit., Florianópolis, v. 19, p. 173-178, 2011

173ÍNDICE POR ASSUNTO

ÍNDICE POR ASSUNTO

Aabuso do poder econômico

captação ilícita de sufrágio, 79distribuição de combustível, 128uso indevido dos meios de comunicação social, 82

abuso do poder políticocaptação ilícita de sufrágio, 79repasse de verbas a entidade privadas, 161

ação de impugnação de mandato eletivoconsiderações gerais, 14efeitos da decisão de procedência, 15potencialidade lesiva da conduta ilícita, 13, 18procedimento, 14 prova do ilícito, 14

ação de improbidade administrativacompetência e prerrogativa, 25

ação de investigação judicial eleitoralcaptação ilícita de sufrágio

potencialidade para desequilibrar o resultado do pleito, 94condutas vedadas, 82considerações gerais, 16legitimidade de coligação, 81pólo passivo, 17potencialidade lesiva da conduta ilícita, 13, 18, 149sancão a ser aplicada ao candidato-réu, 17uso de recursos fi nanceiros de origem ilícita, 124

agentes públicosver também condutas vedadas aos agentes públicosprerrogativa de foro em ações de improbidade, 26

Ccampanha eleitoral

gasto ilícito com recursos fi nanceiros, 166uso dos serviços de assessor parlamentar durante a campanha, 144utilização de sede da Câmara de Vereadores, 133

candidatover também registro de candidatoentrevista, 114

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174 ÍNDICE POR ASSUNTO

captação ilícita de sufrágio, 83representação pelo art. 41-A da lei n. 9.504/1997

ilegitimidade recursal, 84comício

injúria e calúnia praticadas, 134condições de elegibilidade

quitação eleitoral, 106condutas vedadas aos agentes públicos

abrangência do § 10 do art. 73 da Lei n. 9.504/1997, 89 distribuição gratuita de bens, 132uso dos serviços de assessor parlamentar durante a campanha, 144

correio eletrônico institucionalmensagem contendo material de campanha, 143

crime de desobediênciatrancamento da ação penal, 85

crime eleitoralfalsidade ideológica, 92, 156

Ddesfi liação partidária

ação declaratória da existência de justa causa, 107ação de justifi cação, 163

direitos políticos, 69causa de perda, 70conceito, 69quitação militar, 69restabelecimento, 73serviço militar obrigatório, 71suspensão, 69

competência para decretar, 72 enquanto prevalecerem os efeitos da condenação criminal, 132restabelecimento dos direitos, 132

Eefeito suspensivo

ação cautelar inominada para a obtenção, 40eleitor

transferência fraudulenta, 113

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Res. eleit., Florianópolis, v. 19, p. 173-178, 2011

175ÍNDICE POR ASSUNTO

Ffalsidade ideológica

ver também crime eleitoralcompetência da Justiça Federal, 139

fi liação partidáriaduplicidade (nulidade), 123

fundo partidário,regras para a utilização, 57ressarcimento ao erário, 64suspensão do repasse de cotas, 62tomada de contas especial, 63

Iimpugnação de mandato eletivo

ver ação de impugnação de mandato eletivoinvestigação judicial eleitoral

ver ação de investigação judicial eleitoral

Hhorário eleitoral gratuito

utilização de imagens externas, 117utilização de recursos de computação gráfi ca, 115

Jjustifi cativa eleitoral

prazos, 138

LLei da Ficha Limpa

impossibilidade de aplicação pretérita, 106licença capacitação de servidor

recurso administrativo, 85

Mmandato eletivo

cassação periculum in mora, 41fumus boni iuris, 41

perda por infi delidade partidária, 90

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176 ÍNDICE POR ASSUNTO

mesário faltosomulta (justa causa), 131

multa eleitoralação de nulidade, 112isenção do pagamento

atuação de ofício pelo Tribunal, 144parcelamento, 110

Ppartidos políticos

dever de prestar contas à justica eleitoral, 47necessidade de abertura de conta bancária, 54prazo para apresentação, 49prestação de contas anual

ausência de movimentação fi nanceira, 53falta de apresentação, 62necessidade de abertura de conta bancária, 51obrigatoriedade, 47prazo para apresentação, 49

pesquisa eleitoraldireito à informação, 101ilegitimidade passiva de coligação, 141

prerrogativa de foroextensão da competência especial, 29interpretação extensiva do texto constitucinal, 27

prestação de contasver também partidos políticosapresentação extemporânea, 130

efeitos, 169ausência de capacidade postulatória, 146, 152competência para julgamento, 61diretório municipal

recebimento de contribuições de autoridades públicas, 167necessidade de subscrição por advogado, 117obrigatoriedade, 156pagamento de despesas, 155pedido de reconsideração, 118prejuízo para a morabilidade pública, 48recursos de origem não identifi cada

restituição ao erário, 153

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177ÍNDICE POR ASSUNTO

recursos de pequeno valor, 81regularização extemporânea, 118 sanções previstas pela legislação, 61suspensão do repasse de cotas do fundo partidário, 62, 157

desnecessidade de decisão judicial, 110prestação de contas anual

ver partidos políticospropaganda eleitoral

antecipadadistribuição de livreto, 100inserção de propaganda partidária na tv, 98-99no twitter, 92

cavaletes em vias públicas, 127extemporânea

ato de promoção pessoal, 154na imprensa escrita, 112, 121redução de ofício da multa, 113

faixa acoplada a avião, 127faixa de domínio público, 122, 126placas em bem particular, 116placas justapostas, 80plotagem em lateral de veículo, 115utilização de vídeo institucional, 88

publicidade institucionalcompetência da Justica Eleitoral para autorização, 105

Qquitação eleitoral

conceito, 109quitação militar, 69

Rrecurso eleitoral

ação cautelar para obtenção de efeito suspensivo, 33, 38recursos (efeitos), 37

expansivo, 35substitutivo, 35suspensivo, 33, 35translativo, 36

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Res. eleit., Florianópolis, v. 19, p. 173-178, 2011

178 ÍNDICE POR ASSUNTO

recurso contra expedição de diplomaofensa ao art. 73, II, da Lei n. 9.504/1997, 87

registro de candidatoausência de comprovação de escolaridade, 104comprovação de quitação eleitoral, 105em município desmembrado, 168Lei da Ficha Limpa

condenação, 96impossibilidade de retroação da lei, 104percentual de representação por sexo, 91

revisão de eleitoradodesproporcionalidade entre o número de habitantes e o de eleitores, 91

Ttítulo eleitoral

transferência, 114tomada da contas especial, 65

ver também Fundo partidário

Zzona eleitoral

criação, 158recomposição, 160

Page 174: Resenha 19 completa - tre-sc.jus.br · Imagem da capa HASSIS (CORRÊA, Hiedy de Assis), Folclore Ilhéu, 1972. 1 original de arte, têmpe-ra sobre eucatex, 280 cm x 365 cm (3 painéis