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Resenha sobre o texto “Da Legitimidade do Controle de Constitucionalidade: Estudo a partir do Aborto, da Eutanásia e da Eugenia”, escrito por Delamar José Volpato Dutra, que procura tecer considerações de moralidade acerca de questões tradicionais da bioética, de modo a oferecer um embasamento ao tratamento jurídico dessas questões.
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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇAO TECNOLÓGICA DE MINAS
GERAIS - CEFET-MG
RESENHA SOBRE O TEXTO
“DA LEGITIMIDADE DO CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE: ESTUDO A
PARTIR DO ABORTO, DA EUTANÁSIA E DA
EUGENIA”
.
Aluno: André Lopes Gomes
Curso/Período: Engenharia Ambiental e Sanitária/ 9º Período
Disciplina: Fundamentos de Ética
Professor: Paulo César Lage
O texto “Da Legitimidade do Controle de Constitucionalidade: Estudo a partir do
Aborto, da Eutanásia e da Eugenia”, escrito por Delamar José Volpato Dutra,
procura tecer considerações de moralidade acerca de questões tradicionais da
bioética, de modo a oferecer um embasamento ao tratamento jurídico dessas
questões.
As considerações são empreendidas com base em três autores de destaque para a
filosofia do direito contemporânea, quais sejam, Dworkin, Rawls e Habermas. A
partir da leitura da obra destes, busca-se determinar se tais questões bioéticas
podem ou devem ser resolvidas de forma a priori, ou se devem ser decididas por
maioria democrática.
A resolução a priori, cabe salientar, seria aquela calcada em princípios de justiça,
em direitos humanos fundamentais, o que permitiria a exclusão de certas matérias
da competência legislativa do Estado. Discute-se ai, portanto, o modo como a
liberdade deve ser respeitada pelo Estado, o que é fundamental para o controle de
constitucionalidade.
Abordando as imbricações entre vida e direito, entre vida e política, o autor direciona
o foco para a questão sobre quando começa a vida para o direito e quando termina,
o que é essencial para a procedência de uma abordagem jurídica sobre o aborto,
eutanásia e eugenia. Então, são citados diversos critérios operantes de
determinação da vida para os sistemas constitucionais de diferentes países.
No caso do Brasil, coloca Dutra, existe uma grande indeterminação do momento em
que a constituição começa a ser aplicada à vida e do momento em que ela termina.
Para a constituição brasileira a vida começa a partir do nascimento, ou seja, é a
partir do nascimento que inicia-se a personalidade jurídica. Ainda assim, o nascituro
tem direitos assegurados, mas em termos relativos. O aborto é proibido, exceto no
caso de ser feito para salvar a vida da mãe ou em caso de estupro.
Em relação ao conceito de morte no Brasil, esta se dá juridicamente quando existe
morte encefálica, mas, como coloca o autor, na própria lei (lei 9434/1997), a
linguagem utilizada denota a problematicidade da conceituação pretendida. Ao
corpo, após morte cerebral, atrela-se o termo corpo humano, e ao que resulta depois
da retirada dos órgãos para transplante, chama-se cadáver, incorrendo a lei em
aparentes contradições em sua sequencia, ao manejar esses conceitos. Falando-se
em morte cerebral e em mote corporal, destaca o autor, citando Agamben, é fixado
um limiar além do qual a vida cessa de ter valor jurídico e pode, portanto, ser morta
sem que cometa homicídio.
No tópico subsequente do texto, existe a introdução das ideias de Dworkin na
estrutura argumentativa. O próprio título dado ao tópico pelo autor, “Dworkin: a
indeterminação da noção de valor intrínseco“, traz o conteúdo essencial do
pensamento de Dworkin, importantíssimo para a fundamentação da possibilidade e
legitimidade da intervenção do Estado na determinação da solução das questões
bioéticas abordadas.
Dworkin, revela Dutra, faz distinção entre avaliação moral do aborto e avaliação da
intervenção do estado em tal matéria. Distingue, portanto, se o aborto é errado por
algum motivo, da questão se de fato é correto para o estado proibi-lo. E acaba
resolvendo que o Estado não tem o direito de proibir o exercício de uma liberdade
importante quando a justificativa para essa proibição for a proteção de um valor
separado com uma dimensão religiosa. Uma dimensão religiosa sempre estaria
implicada em proibições do Estado acerca dessas questões. E o Estado não poderia
ter o direito de impor as concepções morais de uma maioria sobre uma minoria.
Para resolver a questão sobre a moralidade do aborto e eutanásia, Dworkin faz uma
distinção de fundamentos, quais sejam, derivado e separado. Ao primeiro vinculam-
se direitos. Ao segundo, valor intrínseco. O problema é que as ponderações sobre
valores intrínsecos são totalmente variáveis, estando arraigadas em formulações
religiosas. Assim, pelo fato de matérias como aborto, eutanásia e eugenia
envolverem o valor intrínseco dado à vida pelas diferentes pessoas, culturas e
sistemas morais, não é possível bater o martelo, definindo-se soluções universais.
As decisões então, segundo Dworkin, seriam tomadas a depender dos motivos. Para
que existisse respeito à vida nessas decisões, Dworkin coloca suas condições, que
na verdade, podem vir a ser diferentes das condições de outras pessoas, justamente
pela contingencia na interpretação do valor da vida. O fato é que, para Dworking,
deve-se potencializar a liberdade do sujeito, conceder-se sobrepeso ao princípio da
autonomia, tolerando suas consequências. A sua seguinte frase sintetiza esse
pensamento: “Tolerância é o preço que devemos pagar por nossa aventura na
liberdade.”
Prosseguindo na construção do texto, Dutra esboça o pensamento de Rawls. Ele,
diferentemente de Dworking, concede grande peso à decisão majoritária sobre
questões como aborto, eutanásia e eugenia. Para ele, questões conflituosas têm de
ser solucionadas através do voto, sob a condição de se cumprir os requisitos da
razão pública, pautado em guias como a razoabilidade e a ideia de balanceamento.
Já no último tópico do texto, o autor expõe um pouco do pensamento de Jurgen
Habermas, bastante harmonioso ao de Dworkin e, portanto, contrário ao de Rawls,
mas não sem pontos similares. Habermas defende que, não sendo possível a
resolução desse tipo de questão no nível da moralidade, elas devem ser resolvidas
no nível político, de forma pragmática. Ele mostra-se cético quanto à possibilidade
de obtenção de respostas morais, justamente devido à impossibilidade da existência
de interesses universalizáveis acerca dessas questões.
Referencial Bibliográfico
DWORKIN,Ronald. Freedom’s Law: the moral Reading of the American Constitution.
Oxford: Oxford University University Press, 1996. p. 112.
DWORKIN, Ronald Soverein Virtue: The Theory and Pratice of Equality. Cambridge:
Harvard University Press, 2000. p. 432.
RAWLS, John. Political Liberalism. New York: Columbria University Press, 1996. P.
lv.
HARBERMAS, Jürgen. Erläuterungen zur Diskusethik. Frankfurt am Mais:
Suhrkamp, 1991. p.165-6.