Resenha Corpo Modificado _ Corpo Livre _ Kenia Kemp

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  • Resenha: KEMP, Kenia. Corpo modificado, corpo livre? So Paulo: Paulus, 2005.

    Na obra intitulada Corpo modificado, corpo livre? (2005), Kemp tece uma anlise

    acerca de como as modificaes corporais no invasivas e invasivas atribuem sentido nossa

    experincia de mundo, ou seja, o corpo revela nossa experincia social. Para ela, a relao

    identidade corpo consumo, nos permite interpretar o corpo como mediador das nossas

    relaes com o mundo e o consumo como um mediador da relao entre nossa identidade

    cultural e nosso prprio corpo, revelando assim identidades. A autora afirma que na poca

    em que vivemos tendemos a modelar nossa conscincia de corpo e identidade como

    possuindo caractersticas naturais, como j dados, inerentes e universais, porm so

    culturalmente construdas, diversificadas. Kemp assevera que a relao entre corpo e a

    cultura passa a ser tema de pesquisas e teorias com o surgimento das cincias humanas e a

    observao comparativa entre as diferentes culturas tem proporcionado uma compreenso

    cada vez maior de todos os fenmenos sociais, ocasionando uma viso maior e sistemtica de

    seu conjunto. Neste texto relaciona ideias de diferentes autores da antropologia e da

    sociologia que so fundamentais para discusso da relao entre corpo, cultura e identidade.

    Mostra as principais teorias relacionando exemplos de prticas de modificao corporal em

    diferentes culturas para que o leitor possa construir um quadro de anlise apropriado,

    permitindo compreender que o corpo determina e determinado por nossas relaes sociais.

    Enfatiza que o ser humano modifica o corpo constantemente sem se dar conta da importncia

    e da ligao entre essa necessidade e o resto das suas relaes sociais e que equivocado

    pensar o corpo apenas como aparncia uma vez que ele expressa nossa condio no mundo

    social e nossas decises sobre o corpo so mediadas pelos valores culturais. Para a autora,

    abordar o corpo como instncia cultural abre um amplo leque de questes, entre as quais, o

    corpo como sendo objeto de inmeras formas violncias, o que abarca discusses polticas e

    ticas. Outra questo a de objeto ritual e religioso onde o corpo do fiel passa por

    interferncias e mutilaes. Ainda cita a questo do corpo como objeto de investigao

    mdica, clnica e cosmtica. A medicina se impondo como instituio habilitada a manipular,

    investigar e modificar o corpo, referendando costumes e decises polticas do corpo. No

    captulo inicial, O corpo como expresso da sociedade, autora compartilha aspectos dos

    estudos antropolgicos sobre a noo de corpo, como a etnografia que abre possibilidade de

    compreenso acerca da experincia de viver sob a viso de mundo diferente da nossa prpria,

    o que ajuda no estudo da antropologia do corpo. Nesse sentido Kemp, cita conceitos

  • nativos sobre o corpo em dois tipos bem distintos da sociedade as sociedade urbano-

    industriais e as sociedades tradicionais. Ambas permeadas de interpretaes revelam como os

    significados de nossas aes sociais se sobrepem e organizam significados para o mundo. O

    corpo veculo e ao mesmo tempo manifestao do desejo ordenador do mundo, sem a qual

    no possvel conceber nossa humanidade. No captulo dois, os homens construtores de seu

    corpo: modificaes no invasivas e modificaes invasivas, a discusso permite ver o corpo

    como construo social, pois modificamos nosso corpo para adequ-lo ao contato social, s

    vezes de formas aceitveis como de maneira totalmente inaceitveis seguindo a lgica de

    padres dominantes. Para a autora, o homem s pode viver dominado pela cultura por ter

    historicamente dominado os seus instintos, a partir das regras e exigncias da cultura. As

    modificaes corporais so, portanto, um atributo universal da cultura humana, sem as quais

    retornamos ao mundo dos instintos. Utilizar recursos para tornar o corpo prximo da imagem

    ideal legtimo, mas convm lembrar que o ideal pode ser transformado em inadequado ou

    fora dos padres conforme as mudanas na sociedades e pelas descobertas cientficas.

    Chegando ao captulo trs: Relaes entre corporeidade e capitalismo no Ocidente: corpo,

    mercadoria e imagem Da lgica do ritual lgica do espetculo, Kemp sustenta que o

    capitalismo como sistema produtivo com caractersticas determinantes que produz bens de

    forma excedente e estimula a planejar a vida em torno da posse destes, definindo identidades

    pelo consumo. O capitalismo no abusa do corpo, ele transforma o processo de construo de

    nossos corpos em mercadoria. Tambm afirma que o homem modifica o corpo para mostr-lo

    em espetculo que um ritual que incumbe o outro para demonstrar emoes e razes que

    so coletivas. O mundo da produo de espetculos comerciais mobiliza pela imagem, pelo

    carisma, por corporificar nossos desejos o mito do corpo perfeito, mas isso no faz

    diferena, pois sento to diferentes nos descobrimos iguais. Na concluso: O corpo submetido

    e o corpo libertado, Kemp finaliza afirmando que convenes de aparncia que reprime me

    controlam, no nos permite perceber a existncia do corpo como veculo de relaes sociais,

    mas como resultado de vontades individuais, mas ao lado desse corpo submetido, sempre

    existe a possibilidade do corpo transcendncia. o corpo que expressa nossa capacidade de ir

    alm das disputas de poder ou das marcas sociais. Essa transcendncia aparece no corpo gil e

    livre da criana que brinca, no corpo livre de quem dana, nos corpos satisfeitos dos amantes,

    no corpo do artista que atravs da imaginao cria, pinta, esculpe e compe sinfonias, etc. O

    corpo transcendncia o corpo da relao com o que est alm das fronteiras de nossa

    existncia social, num terreno onde a lgica que regula a ao a glorificao, o

    enaltecimento.