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Universidade Federal de Pernambuco – UFPE Programa de Pós-Graduação em Direito – PPGD Professor: Cláudio Brandão José Aires de Assis Neto – Mestrado: Recife, 2014 A alienação política do técnico e a alienação técnica do político O texto escrito pelo autor Raúl Zaffaroni cuida do problema da alienação política e teórica na elaboração do discurso jurídico-penal. Conforme argumenta, todo conceito da ordem jurídico-penal é uma combinação de política com técnica, tendo em vista ser inevitável que no âmbito político tenha sua técnica própria. Sobre a alienação política do técnico, ensina o autor que não é relevante se a natureza política de um discurso penal tenha sido levada em conta quando de sua elaboração, podendo ser idealizados sistemas jurídicos-penais inteiros, sem que as consequências no mundo real não sejam previstas. A análise da alienação política do discurso passa pela discussão intencionalista e seu simétrico oposto. De um lado, os que defendem o intecionalismo pretendem que todo discurso penal se elabora à medida de uma decisão política consciente, sem que dela se possa afastar-se até os mínimos detalhes. Prega-se uma coerência ideológica plena, que, como se observa em termos concretos, quase nunca se perfaz. Na outra ponta, defende-se o rechaço ao viés político de qualquer discurso, tendo em vista a extrema dificuldade de se

Resenha Crtítica - Raúl Zaffaroni

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A alienação política do técnico e a alienação técnica do político.

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Universidade Federal de Pernambuco UFPE Programa de Ps-Graduao em Direito PPGDProfessor: Cludio BrandoJos Aires de Assis Neto Mestrado: Recife, 2014

A alienao poltica do tcnico e a alienao tcnica do poltico

O texto escrito pelo autor Ral Zaffaroni cuida do problema da alienao poltica e terica na elaborao do discurso jurdico-penal. Conforme argumenta, todo conceito da ordem jurdico-penal uma combinao de poltica com tcnica, tendo em vista ser inevitvel que no mbito poltico tenha sua tcnica prpria. Sobre a alienao poltica do tcnico, ensina o autor que no relevante se a natureza poltica de um discurso penal tenha sido levada em conta quando de sua elaborao, podendo ser idealizados sistemas jurdicos-penais inteiros, sem que as consequncias no mundo real no sejam previstas.A anlise da alienao poltica do discurso passa pela discusso intencionalista e seu simtrico oposto. De um lado, os que defendem o intecionalismo pretendem que todo discurso penal se elabora medida de uma deciso poltica consciente, sem que dela se possa afastar-se at os mnimos detalhes. Prega-se uma coerncia ideolgica plena, que, como se observa em termos concretos, quase nunca se perfaz. Na outra ponta, defende-se o rechao ao vis poltico de qualquer discurso, tendo em vista a extrema dificuldade de se identificar a ideologia do autor em decorrncia do discurso elaborado. O maniquesmo das duas interpretaes falho. Como j afirmado, a coerncia ideolgica de todo um sistema jurdico-penal quase de ordem utpica, isso porque, e prioritariamente em sociedades modernas complexas, as tomadas de decises, e, portanto, a elaborao deste discurso no parte de apenas um polo intelectual uno. O discurso, ou se diga, os discursos so elaborados por diversos rgos (em sentido organizacional e no necessariamente administrativo) que tm competncia para tal, ainda mais que, em se tratando de um Estado democrtico, as vises polticas podem, e na maioria dos casos so, plrimas, razo pela qual inatingvel esta compreenso unitria. De outro lado, no h como se pensar o tcnico, que elabora o discurso jurdico-penal, como um sujeito despido de valores, que s opera como instrumento de poderes concretos, fundando-se em sua total integridade moral. O participante da elaborao, ainda que inconscientemente, tem uma fundamentao poltica, mesmo que a ignore por completo. Ao fim e ao cabo, afirma Zaffaroni que todos padecem de certa alienao poltica, fruto do treinamento fornecido aos tcnicos em Direito, que acaba por limitar a capacidade de conhecimento, sendo possvel a anlise da alienao poltica alheia, sobretudo de pocas passadas, mas havendo a falha no estudo e interpretao do discurso elaborado atualmente. Em outra perspectiva, acontece o fenmeno da alienao tcnica do poltico. Ela no ocorre, como se pode vir a pensar, quando um poltico elabora um discurso que ainda no foi transcrito tecnicamente, ou seja, quando se trata de apenas uma ideia, cuja deglutio ainda no foi feita pela tcnica, sendo um defeito apenas passageiro.Em verdade, o discurso tecnicamente alienado, defeito de ordem permanente, ocorre quando o poltico, ainda que conhecendo a tcnica, opta por ignora-la com com fins populistas e clientelistas. Esta prtica relativamente comum em sociedades onde o fenmeno da corrupo forte, sobretudo em pocas de campanhas eleitorais como a que ocorre atualmente no Brasil. Os polticos, intentando a obteno/manuteno do poder, elaboram discursos meramente populistas que so inexequveis na prtica.Enfim, o maior perigo ocorre quando em um mesmo discurso se acoplam os problemas da alienao poltica do tcnico com os da alienao tcnica do poltico. O temor surge pelo fato de o poltico, ao ignorar o mtodo jurdico-penal, elaborar discursos com finalidades ticas prprias, sem levar em considerao princpios de ordem tcnica; adiante, o tcnico sem conscincia poltica consegue por em por em prtica o mesmo discurso, culminando em abusos, pois, regra geral, so eles sempre violentos e ameaadores.