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Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo Alberto Portugal Caetano – RA: 16747 Turma: 5° Semestre Noturno Professor Marcos Florindo 03 de maio de 2013 Curso: Sociologia e Ciência Política Disciplina: Pensamento Político e Social Brasileiro Resenha do filme: Terra em transe Informações Técnicas Título no Brasil: Terra em Transe Título Original: Terra em Transe País de Origem: Brasil Gênero: Drama Tempo de Duração: 106 minutos Ano de Lançamento: 1967 Estúdio/Distribuidora: Difilm Direção: Glauber Rocha Elenco: Jardel Filho como Paulo Martins, Paulo Autran como Porfirio Diaz, José Lewgoy como Felipe Vieira, Glauce Rocha como Sara, Paulo Gracindo como Don Julio Fuentes, Hugo Carvana como Alvaro, Danuza Leão como Silvia, Jofre Soares como Padre Gil, Modesto De Souza como Senador, Mário Lago como Capitão do exército, Flávio Migliaccio como Homem comum do povo, entre outros Sobre o cinema novo O Cinema Novo, influenciado pelo Neorrealismo italiano e a Nouvelle Vaguefrancesa, foi uma fase de desenvolvimento do cinema nacional que ocorreu na década de 1960. Vários filmes ganharam destaque nos cenários nacional e internacional. O marco inicial desta época de prosperidade cinematográfica nacional foi o lançamento do filme “O Pagador de Promessas”, escrito e dirigido por Anselmo Duarte. O lema era Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. Os filmes deste período começam a retratar a vida real, mostrando a pobreza, a miséria e os problemas sociais, dentro de uma perspectiva crítica e contestadora. Neste contexto, aparecerem filmes como “Deus e o diabo na terra do Sol” e “Terra em transe”, ambos do diretor Glauber Rocha. .

Resenha Do Filme Terra Em Transe

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Page 1: Resenha Do Filme Terra Em Transe

Fundação Escola de Sociologia e

Política de São Paulo

Alberto Portugal Caetano – RA: 16747

Turma: 5° Semestre Noturno

Professor Marcos Florindo 03 de maio de 2013

Curso: Sociologia e Ciência Política

Disciplina: Pensamento Político e Social Brasileiro

Resenha do filme: Terra em transe

Informações Técnicas Título no Brasil: Terra em Transe Título Original: Terra em Transe País de Origem: Brasil Gênero: Drama Tempo de Duração: 106 minutos Ano de Lançamento: 1967 Estúdio/Distribuidora: Difilm Direção: Glauber Rocha Elenco: Jardel Filho como Paulo Martins, Paulo Autran como Porfirio Diaz, José Lewgoy como Felipe Vieira, Glauce Rocha como Sara, Paulo Gracindo como Don Julio Fuentes, Hugo Carvana como Alvaro, Danuza Leão como Silvia, Jofre Soares como Padre Gil, Modesto De Souza como Senador, Mário Lago como Capitão do exército, Flávio Migliaccio como Homem comum do povo, entre outros Sobre o cinema novo

O “Cinema Novo”, influenciado pelo Neorrealismo italiano e a

“Nouvelle Vague” francesa, foi uma fase de desenvolvimento do cinema nacional

que ocorreu na década de 1960. Vários filmes ganharam destaque nos cenários

nacional e internacional. O marco inicial desta época de prosperidade

cinematográfica nacional foi o lançamento do filme “O Pagador de Promessas”,

escrito e dirigido por Anselmo Duarte. O lema era “Uma câmera na mão e uma

ideia na cabeça”. Os filmes deste período começam a retratar a vida real,

mostrando a pobreza, a miséria e os problemas sociais, dentro de uma

perspectiva crítica e contestadora. Neste contexto, aparecerem filmes como

“Deus e o diabo na terra do Sol” e “Terra em transe”, ambos do diretor Glauber

Rocha.

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Page 2: Resenha Do Filme Terra Em Transe

Sobre o filme: Terra em transe

A história se dá em um país imaginário, Eldorado, o filme começa do

fim, ou seja, um líder populista cedendo a um golpe político e o confuso

jornalista-poeta-intelectual momentos após ser baleado, fazendo um

reminiscência de sua trajetória até o desfecho dramático, Paulo é o protagonista

e narrador da trama.

A poesia de Paulo vai sofrendo uma mudança ao longo do filme, vão

ganhando matizes mais políticas e menos existenciais, embora muitas vezes

essas fronteiras se liquefaçam. Ao romper com Porfírio Diaz (nome de um

famoso ditador mexicano), uma espécie de mecenas, ele se une ao líder

populista de Alecrim, Vieira, que ganha a eleição para governador, mas

comprometido que está com a elite, parte para a repressão policial.

Sara, uma militante de esquerda desenvolve uma relação com Paulo,

este vive entre a poesia e a realidade e a orgia patrocinada por seus amigos da

elite, convencido por Sara, Paulo dirige um documentário mostrando a

verdadeira face política de Porfírio Diaz com intenção de destruí-lo. Diaz havia

se unido ao conglomerado de empresas estrangeiras, a Explint, já vislumbrando

um possível golpe.

O líder populista Vieira, levado nos braços do povo cego e carente, é

também apoiado por Paulo na campanha presidencial, o que acirra a disputa

entre ambos. Paulo é arremessado de um polo ao outro sempre levado pelas

ilusões ideológicas da política, entre a elite reacionária e o populismo liberal, vai

exaurindo suas forças e esperanças. Ora dissonantes, ora complementares, as

vozes e forças divergem e convergem, os papeis se invertem, conforme o

contexto político que se forma. É o que acontece com Fuentes, magnata da

imprensa, que se pensa nacionalista mas não resiste a influência de Diaz, e das

empresas estrangeiras por trás dele. Acontece também com o próprio Paulo que

age de forma repressiva, lança mão de um discurso populista e patriarcal, ele

aparece no filme com todas as características de um verdadeiro herói, porém

não conseguimos nos identificar com ele, seu comportamento abona, endossa a

necessidade de um Estado demiurgo, frente a fraqueza e ignorância do povo.

Diaz em muitos momentos representa os colonizadores portugueses

do passado, o conservadorismo da elite rural que se apropriou da bandeira do

progresso, de forma positivista, mantendo o viés religioso, ocultando por trás de

Page 3: Resenha Do Filme Terra Em Transe

um discurso nacionalista, os interesses de uma classe privilegiada, mantendo

um estilo político clientelista e patriarcal, leva a bandeira do autoritarismo, do

fascismo, enobrecendo a força e natureza, e se colocando como legitimo

herdeiro do Estado. Participa de um culto simbólico na praia, como o europeu

branco tomando posse de uma terra que lhe foi destinada para explorar a seu

bel prazer, subjugando índios e negros, que se prostram diante de sua realeza.

Paulo passa por um processo de desencanto que vai da poesia, à

amargura existencial, e desemboca na morte política e social. Violência, poesia

e orgia se misturam até não mais se distinguirem Os personagens dançam em

meio a golpes e lutas de classe, ao som de metralhadoras e Vila Lobos. O ritmo

do filme é cheio de contradições, como nossa história política e social.

Paulo é considerado pelos militantes de esquerda como irresponsável

e cego para a realidade da fome e da miséria. Vieira é uma síntese de líderes

populistas, é gaúcho, eleito com o apoio do povo, estudantes e camponeses.

A violência neste filme não é um espetáculo, mas um convite à

reflexão, não se veem explosões, sangue, ouve-se tiros mas não se veem as

armas. O apanágio da nossa cultura política é a tônica do filme: o Panis et

Circenses, mostra como o populismo é um engodo, pois encoraja e depois

reprime, rouba os sonhos, esperanças e energias do povo, para transformá-los

em matéria-prima da ascensão de grupos privilegiados.