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RESUMOS A Sociedade de Corte - Nobert Elias Capítulo V: Etiqueta e cerimonial: comportamento e mentalidade dos homens como funções da estrutura de poder de sua sociedade. É na corte de Luís XIV que efetivamente se forma e constitui a nova sociedade de corte. Os cavaleiros se tornaram cortesãos de modo definitivo (indivíduos que dependem do prestígio social). O Nobert Elias analisa o palácio de Versalhes, palácio do rei e que também abrigava, pelo menos temporariamente, a corte. Havia esse espaço (quartos, etc) no palácio para a corte, o palácio era enorme. O Palácio como um modo de distinguir o "nível" do rei perante às outras pessoas. E daí vem a descrição do pátio: era todo elaborado, para que depois se chegasse ao castelo. Depois de se atravessar vários pátios se chega em uma parte central, e no primeiro andar dessa parte central é onde vive o rei e rainha. E o palácio é todo dividido em alas (alas sul, norte, etc), e em cada divisão dessa mora um parentesco do rei. As necessidades habitacionais e a necessidade de prestígio social determinavam a disposição arquitetônica da construção do Palácio. Como por exemplo, a disposição do quarto do rei: no primeiro andar, no centro do palácio. O rei se sentia ali como o rei dono da casa e como um "rei", "dono" de um reino. A disposição do seu quarto tem essa relação com um ritual, que mostra as suas funções de soberano. As cerimônias do quarto de Luís XIV são citadas com bastante frequencia e devem ser vistas como podemos entender a sociedade da corte através disso. Há um exemplo de descrição de uma das cerimônias no quarto de Luís XIV, a cerimônia de seu despertar. O autor descreve a cerimônia do despertar do rei, e mostra as hierarquias de quem lidava com o rei, quem o acordava, quem o arrumava, tudo isso era com base em uma hierarquia social. Tudo seguia regras bem precisas, com uma meticulosa organização e cada ação revela um sinal de prestígio, simbolizando a divisão de poder da época. A etiqueta tinha uma forma simbólica de grande importância na estrutura dessa sociedade. Cada ato da cerimônia possuía um valor de prestígio. A hierarquia dos privilégios foi criada segundo os parâmetros da etiqueta, esta passou a ser mantida pela competição dos indivíduos envolvidos em tal dinâmica. Também havia cerimônias para as rainhas. Ela tinha damas de honras que a ajudavam a se vestir. O cerimonial era um grande fardo para todos os envolvidos, as pessoas reclamavam que tinham que fazer essas cerimônias. Mas a existência social dos indivíduos envolvidos estava ligada a ela. Romper com elas significaria para os nobres, por exemplo, romper a sua condição aristocrática. Não fazer as cerimônias significava abrir mão de privilégios. Luís XIV não foi criador do mecanismo cerimonial. Contudo, ele o consolidara e o ampliara. Exemplo do Saint Simon que abandona o exército

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RESUMOS

A Sociedade de Corte - Nobert Elias

Capítulo V: Etiqueta e cerimonial: comportamento e mentalidade dos homens como funções da estrutura de poder de sua sociedade.

É na corte de Luís XIV que efetivamente se forma e constitui a nova sociedade de corte. Os cavaleiros se tornaram cortesãos de modo definitivo (indivíduos que dependem do prestígio social).

O Nobert Elias analisa o palácio de Versalhes, palácio do rei e que também abrigava, pelo menos temporariamente, a corte. Havia esse espaço (quartos, etc) no palácio para a corte, o palácio era enorme. O Palácio como um modo de distinguir o "nível" do rei perante às outras pessoas. E daí vem a descrição do pátio: era todo elaborado, para que depois se chegasse ao castelo. Depois de se atravessar vários pátios se chega em uma parte central, e no primeiro andar dessa parte central é onde vive o rei e rainha. E o palácio é todo dividido em alas (alas sul, norte, etc), e em cada divisão dessa mora um parentesco do rei. As necessidades habitacionais e a necessidade de prestígio social determinavam a disposição arquitetônica da construção do Palácio. Como por exemplo, a disposição do quarto do rei: no primeiro andar, no centro do palácio. O rei se sentia ali como o rei dono da casa e como um "rei", "dono" de um reino. A disposição do seu quarto tem essa relação com um ritual, que mostra as suas funções de soberano. As cerimônias do quarto de Luís XIV são citadas com bastante frequencia e devem ser vistas como podemos entender a sociedade da corte através disso. Há um exemplo de descrição de uma das cerimônias no quarto de Luís XIV, a cerimônia de seu despertar. O autor descreve a cerimônia do despertar do rei, e mostra as hierarquias de quem lidava com o rei, quem o acordava, quem o arrumava, tudo isso era com base em uma hierarquia social. Tudo seguia regras bem precisas, com uma meticulosa organização e cada ação revela um sinal de prestígio, simbolizando a divisão de poder da época. A etiqueta tinha uma forma simbólica de grande importância na estrutura dessa sociedade. Cada ato da cerimônia possuía um valor de prestígio. A hierarquia dos privilégios foi criada segundo os parâmetros da etiqueta, esta passou a ser mantida pela competição dos indivíduos envolvidos em tal dinâmica. Também havia cerimônias para as rainhas. Ela tinha damas de honras que a ajudavam a se vestir.O cerimonial era um grande fardo para todos os envolvidos, as pessoas reclamavam que tinham que fazer essas cerimônias. Mas a existência social dos indivíduos envolvidos estava ligada a ela. Romper com elas significaria para os nobres, por exemplo, romper a sua condição aristocrática. Não fazer as cerimônias significava abrir mão de privilégios. Luís XIV não foi criador do mecanismo cerimonial. Contudo, ele o consolidara e o ampliara. Exemplo do Saint Simon que abandona o exército e o rei não gosta; quando ele vai falar com o rei de novo, o rei não dirige uma palavra a ele e utiliza a psicologia utilizando a competição dos cortesãos por prestígio e por favorecimentos para alterar a posição o prestígio de um indivíduo dentro de uma sociedade, o que corresponde à estrutura hierárquica e aristocrática da sociedade. O rei não fez nem um estardalhaço para demonstrar que estava chateado com o Saint, ele mostra a distinção social que agora tem o rapaz. Todos dependiam do rei, e essa relação de dependência determinava o comportamento dos cortesãos entre si. A posição real de um indivíduo depende de dois fatores: o nível oficial e a posição vigente. Essa posição oscilava, porque sempre lutava-se para mudar de posição, a posição dependia de opiniões sobre o valor dos indivíduos. A "racionalidade" da corte não recebe o caráter de "racionalidade científica", mas sim um caráter de estratégia comportamental em relação a certos ganhos ou perdas de prestígio. Na sociedade de corte a realidade social residia justamente na posição e na reputação atribuídas a alguém por sua própria sociedade, era uma sociedade baseada no prestígio. Já a sociedade burguesa está baseada no acúmulo de riquezas, etc e tal. A opinião social tem importância e funções diferentes nessas duas sociedades. Dentro da "boa sociedade", da sociedade das cortes, há o conceito de "honra". Alguém tinha a sua honra enquanto fosse considerado um membro segundo a "opinião" da sociedade e, portanto, para a sua própria consciência individual. Perder a honra significava não fazer mais parte

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da "boa sociedade". A opinião do conjunto dos membros da sociedade era imediatamente efetiva e "real". Trata-se de um outro tipo de realidade social, diferente da concepção burguesa. Os cortesãos não frequentavam a corte só porque dependiam do rei, mas também porque eles queriam se manter longe em relação aos outros que não viviam na corte, queriam seu prestígio, a salvação de suas almas, sua identidade pessoal. Saint Simon caracteriza o comportamento dos cortesãos. O assunto nunca era a coisa, mas o que ela significava para as pessoas. Enquanto nós coisificamos, eles personalizam a coisa. A prática da etiqueta consiste, em outras palavras, numa auto-apresentação da sociedade de corte. Sem a confirmação de seu prestígio por meio do comportamento, este prestígio não é nada. Existir sob a aura do prestígio, ou seja, existir como membro da corte, é o objetivo final dessas pessoas. A vida na sociedade de corte não era uma vida pacífica. Lutavam por chance de prestígio, por sua inserção na hierarquia de corte. Sempre havia escândalos para um prejudicar o outro para melhorar sua posição social. De acordo com essa estrutura, a sociedade de corte cultivava zelosamente nos seus membros outros aspecto, diferentes dos da sociedade burguesa e industrial. Citaremos alguns deles aqui:

1. a arte de observar as pessoas A arte de observar o outro e observar a si mesmo, sua relação com os outros. Sondar as intenções dos outros. E observar a si mesmo para a disciplina de convívio com a sociedade. Percebemos aí o egoísmo das pessoas, que não foi uma novidade da "sociedade capitalista". Isso corresponde à arte de descrever as pessoas.

2. a arte de lidar com as pessoas A observação dos outros era o suporte de lidar com eles. Um exemplo é dado com Saint Simon quando ele tenta estabelecer uma aliança com o príncipe herdeiro da coroa, sendo que o Saint Simon é da oposição. A arte de lidar com o príncipe, é a arte de que se deve tomar cuidado até que ponto se deve chegar, porque quem corre o risco de perder muita coisa é o próprio nobre. Se o príncipe encerrar as relações com o Saint Simon, o príncipe não vai perder nada, por exemplo, mas o nobre sim. Então é nisso que consiste a arte de lidar com as pessoas, saber como conversar, como negociar, finalmente, como lidar com as pessoas. Já na sociedade burguesa a forma de comportamento dirigida à pessoa tem muito pouco significado. Também o profissional burguês, como o comerciante, por exemplo, tem sua tática e sua maneira específica de lidar com as pessoas. Contudo, é raro que ela chegue a integrar o outro em sua totalidade, como no caso do cortesão, pois este geralmente mantém um relacionamento que dura a vida toda com cada um dos outros indivíduos de sua sociedade. Todos os cortesãos dependem um dos outros.

3. a racionalidade de corte (controle das emoções em função de determinados objetivos vitais) É uma racionalidade não-burguesa. A racionalidade cortesã é aquela da cerimônia, da organização da etiqueta, da arte de lidar com as pessoas e assim por diante. A estrutura da vida social dentro dessa figuração deixa um espaço mínimo para as manifestações afetivas espontâneas. Tornar "calculável" a vida. Para os burgueses é a profissão que determina em primeiro lugar o comportamento dos indivíduos e sua relação mútua, é nela que reside o centro das coerções exercidas pelas interdependências sociais sobre os homens singulares. A vida particular dos burgueses certamente não permaneceu imune às coerções sociais. A vida profissional é que passou a ser objeto de todos os cálculos, sutilezas e aprimoramentos. Para os indivíduos das sociedade de corte dos séculos XVII e XVIII, em sentido mais geral, ainda não havia uma tal separação. Não era na esfera profissional que se decidia o êxito ou o fracasso de seu comportamento, para só então este passar a ter um efeito sobre a vida particular. Seu comportamento podia ser decisivo para sua colocação na sociedade a qualquer instante, podendo significar êxito ou fracasso total.

Capítulo VI: O rei prisioneiro da etiqueta e das chances de prestígio

Havia um interdependência entre o rei e os nobres. O rei tinha interesse na manutenção da nobreza como camada distante e separada.

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A necessidade da nobreza criar uma elite, convém às necessidades do rei. Esse desejo de segregação por parte dos grupos de elite ameaçados é o ponto fraco que o rei pode atacar para tornar os nobres submissos. Para o rei, a etiqueta não é apenas um instrumento de distanciamento, mas também um instrumento de dominação. Quanto maior é a distância do rei, maior é o respeito do povo. A corte deve ser investigada como estrutura de dominação que, assim como qualquer outra, prescreve vias ou meios de dominação específicos para quem quer exercer o controle. A corte constitui apenas um setor da região mais ampla de domínio do rei. Representa até certo ponto a figuração central de toda a estrutura de dominação, e é por meio dela que o rei governa essa região mais ampla. Mas a pressão dos que ocupam um nível abaixo do rei certamente não é insignificante. O rei protege aqueles que lhes devem tudo e nada são sem ele, e isso significa ao mesmo tempo que se liga sempre a eles, sem hesitação. Mas Weber disse que no absolutismo da França também houve uma dominação carismática. A relação entre o soberano autocrata, grupos centrais e campo de dominação mais amplo é decisiva para a estruturação e para o destino do poder carismático. É preciso que se produza uma unidade dos interesses e do sentido da pressão, a mais abrangente possível, entre o soberano e o grupo central. Assim como o soberano absolutista (cercado por sua corte) guia os homens de seu grupo central apoiando-se em sua necessidade de formar uma elite e nas rivalidades internas, o líder carismático guia seu grupo central durante sua ascensão com base na sua necessidade de ascensão, simultaneamente ocultando o risco e a vertigem do medo que ela acarreta. Bem diverso era caso de Luís XIV, que pode ser contraposto a esse tipo de soberano autocrata ascendente como exemplo muito marcante de um soberano conservador e tradicional. Em contraposição ao líder carismático, ele tinha que tentar impedir que a pressão social dos súditos, especialmente de sua elite, se voltasse contra ele. O soberano conservador na situação de Luís XIV, que já sofreu uma ameaça vinda de baixo e vive sob a pressão de uma possível ameaça do mesmo tipo, nunca pode contar tão intensamente com uma fidelidade sincera dos súditos. Pois a pressão que ele mesmo precisa exercer, para preservar seu poder, não é compensada por nenhuma ação cojunta voltada para fora, salvo numa situação de guerra. Assim, a observação e supervisão significam, para ele, um indispensável instrumento de defesa. Luís XIV cumpriu essa tarefa com um zelo que correspondia a seu prazer em relação a essa atividade. Servindo de exemplo, sua prática tornará ainda mais evidente o modo como essa coerção e essa tendência à observação das pessoas, características da nobreza de corte e da realeza de corte, dirigem-se pelo lado do rei imediatamente contra a nobreza e para sua sujeição. A manutenção das tensões entre os súditos era vital para o rei, e a união deles chegava a ser uma ameaça à sua existência.

Poderíamos chamar de "passiva" a sua atitude, em comparação com a atitude bem mais ativa do soberano conquistador e carismático. O autocrata conquistador impele seu próprio grupo central à ação. E, com frequencia, quando ele está ausente, a atividade de seu grupo se interrompe. O soberano conservador de certo modo é sustentado e mantido em sua posição pelos ciúmes, oposições e tensões no campo social que cria a sua função. Ele precisa apenas regular essas tensões e criar organizações que conservem as diferenças e as tensões, facilitando uma visão conjunta da situação. O líder carismático se aproxima das pessoas, encorajando-os, participando ativamente, tentando impor a realização de suas ideias. Já o conservador Luís XIV, era ao contrario: as pessoas eram quem se aproximavam dele; propunham-lhe algo, pediam algo, etc. Devido à interdependência e à questão do prestígio, cada um tendia a vigiar o outro, controlando uns aos outros. A posição de Luís XIV como rei é um bom exemplo para a possível conjunção de dois fenômenos: a amplitude de sua margem de decisão; e a amplitude de sua dependência dos outros, em suma, das coerções a que ele precisava submeter-se e que precisava impor. Etiqueta e cerimonial eram alguns dos instrumentos de planejamento dos quais ele se servia para manter a distância entre todos os grupos e pessoas da sociedade de corte, incluindo ele próprio, e com isso também para manter o equilíbrio das tensões de todos os grupos e indivíduos do núcleo central. Sem uma manipulação hábil desses instrumentos de dominação da corte, o rei cairia facilmente sob o controle de um dos grupos ou indivíduos rivais. Examinados à distância, os soberanos costumam apresentar-se como atores independentes, que decidem livremente acerca de suas ações.

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Ação política e personalidade de Henrique IV - Lopold von Ranke

Conta sobre a ação política e a personalidade de Henrique IV, como já diz o título. Ele descreve só o rei, não fala de suas relações com outros grupos. Fala de sua personalidade (generoso, não "desprezava" o povo, falava bem), e fala tão bem de sua "cordialidade", que parece mais uma exaltação do rei; no texto é exaltada muitas vezes essa característica dele de "bondade"; gostava de ouvir conselhos. Fala sobre os conflitos que aconteceram em seu governo (Católicos X Protestantes). Foi criado por católicos e protestantes, estava ora de um lado, ora de outro, mas era convertido católico. Absolutismo, era ele quem mandava em tudo, o parlamento não tinha muita expressão; segundo Ranke, "a última decisão era do rei"; "todo poder emanava do rei". "Henrique sabia impor-se majestosamente a ponto de fazer tremer o mais poderoso, mas na mesma hora era capaz de colocar-se em pé de igualdade com o mais humilde dos seus súditos". Segundo o Ranke, os operários eram bem tratados pelo rei. Para o rei o lucro mais seguro era o que vinha do trabalho rural, mas quis desenvolver a manufatura de lã e linho, pois queria parar de exportar estes produtos da Inglaterra e de Flandres. Em seu comércio queria promover uma ligação entre o Atlântico e Mediterrâneo e queria uma colônia francesa na América. Não foca na história da França nessa época, mas sim nos feitos do rei dessa época.

Os trabalhadores se revoltam: o grande massacre de gatos na rua Saint-Séverin - Robert Darton

Conta sobre um massacre de gatos testemunhado por um operário, que aconteceu em uma gráfica. Darton também fala como os operários eram tratados: eram mal tratados pelo patrão, dormiam em um quarto sujo e gelado, o que recebiam para comer eram sobras do jantar dos patrões. E ainda o cozinheiro vendia, secretamente, as sobras, e dava aos rapazes comida de gato (pedaços de carne podre que até os gatos recusavam).Ele conta que parecia ter virado moda os patrões das gráficas (burgueses) terem gatos. Os gatos eram alimentados com aves assadas, e a patroa tinha uma gata preferida: a cinzenta. Eles uivavam a noite inteira no telhado dos quartos sujos dos operários, impossibilitando uma noite de sono, enquanto o burguês dormia tranquilamente, até tarde. Certa noite, os rapazes resolveram endireitar esse estado de coisa desigual. Ficaram noites imitando uivos de gatos nos telhados dos quartos dos patrões. Assim, os patrões se sentiram enfeitiçados, mas em vez de chamarem o pároco da cidade pediram aos aprendizes que se livrassem dos gatos. Mataram até a preferida da patroa: a cinzenta, sendo que ela pediram que eles não a matassem. Os homens ficaram muito alegres por terem matado os gatos, com gargalhadas. E ainda, mesmo depois do ocorrido, eles faziam reencenações, que era uma forma importante de divertimento pros homens. A função era humilhar alguém da oficina. O homem moderno, ao ler esse relato, acha estranho e não entende a piada, achando uma atitude desprezível, por se tratar de animais indefesos. Isso mostra a nossa distância em relação aos europeus pré-industriais. E é a partir do estranhamento que devemos investigar os ritos dessa sociedade, os símbolos e significados por trás dela. Entender a piada pode possibilitar o entendimento de um dos ingredientes fundamentais da cultura daquela época. Este foi um relato de um dos operários, e não pode ser lido com reflexo exato do que aconteceu, mas sim como ele põe o acontecimento com sua tentativa de contar uma história. Os operários odiavam os patrões que adoravam gatos, portanto, os operários odiavam os gatos. Enquanto eles não tinha nada, os gatos e os patrões tinham tudo do bom e do melhor. Os historiadores tendem a tratar a era da fabricação artesanal como um período antes do início da industrialização em que os patrões e os empregados faziam as mesmas tarefas, comiam à mesma mesa e às vezes dormiam ao mesmo teto. Contudo, como podemos ver com o relato, não era isso que acontecia nas gráficas da França no século XVIII. Mas, Contat [o contador deste massacre] acreditava num passado em que os patrões e trabalhadores trabalhavam amigavelmente. Contat deixa claro o contraste de universos entre o trabalhador e o patrão: os operários trabalham e os burgueses gozam da doçura do sono. Isso ressentia os trabalhadores. Eles queriam reviver um passado mítico onde trabalhadores e patrões trabalhavam em associação. Para irmos adiante na nossa análise de outra cultura, precisamos saber o porquê o animal escolhido foram os "gatos" e o porquê o massacre foi tão engraçado. O gato tem toda uma simbologia folclórica: atiravam os gatos à fogueira, pois acreditava-se que os gatos tinham poderes mágicos, e isso simbolizava então uma caça às bruxas. A tortura de animais, especialmente os gatos, era um divertimento popular em toda a Europa, no início dos tempos modernos. E o gato tinha uma

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simbologia para a realização de cerimônias, por exemplo. Nada havia de incomum na matança ritual de gatos, pelo contrário. Os gatos sugeriam a feitiçaria, e para se proteger dele só havia um remédio: aleijá-lo; eles tinham um poder oculto. E também o poder dos gatos concentrava-se no sexo e o folclore francês atribui aos gatos como metáfora ou metonímia sexual, os gatos sugeriam sexualidade e a fertilidade feminina. Em contos populares, moças que comiam gatos davam à luz a gatinhos. O gato tinha um enorme peso simbólico no folclore da França. Desde o começo do relato de Contat, ele deixa claro o tema da feitiçaria ao dizer que os operários não podiam dormir porque "alguns gatos endemoniados faziam um sabá a noite inteira". E quando começaram a imitar gatos no teto dos patrões, estes até pensaram em chamar um exorcista, mas concordaram em usar o remédio clássico: a mutilação. O burguês levou tudo muito a serio, enquanto para os empregados aquilo era uma piada, eles exploraram a superstição do patrão para realizar uma piada. E ainda, matando la grise [a cinzenta] o bicho de estimação favorito, eles atacavam a própria casa. Os gatos, como símbolos, evocavam o sexo, bem como a violência, uma combinação perfeita para atacar a patroa; matando a sua gata, os rapazes a atingiam. Atacando o seu bicho de estimação, os operários estupravam simbolicamente a patroa, consequentemente, insultando o patrão. Os trabalhadores fizeram todo esse ataque simbólico e ainda sim permaneceram ilesos, isso era o melhor de tudo para eles. Os operários jogaram com temas de sua cultura para fazer esta piada com o massacre de gatos. A única versão do massacre de gatos e que dispomos foi escrita por Nicolas Contat muito tempo depois do episódio e organizou e ordenou tudo que era significativo para ele. De fato, o massacre original envolvia uma caricatura de outras cerimônias, como julgamentos e farras. Então, Contat escreveu sobre a caricatura e , lendo seu texto, deve-se levar em conta a refração das formas culturais, através dos gêneros e do tempo. Foi um insulto metonímico, feito através de ações, não de palavras e atingiu seu objetivo porque os gatos ocupavam um lugar privilegiado no estilo de vida burguês. Jogaram com ambiguidades usando símbolos que esconderiam seu pleno significado mas, ao mesmo tempo, deixando entrevê-lo o suficiente para fazer de tolo o burguês, sem lhe dar um pretexto para demiti-los.

História das Mentalidades e História Cultural - Ronaldo Vainfas

Anos 70: década em que a história das mentalidades tentou se afirmar como campo ou disciplina. É criticada por ser "demasiadamente antropológica" ao privilegiar a estagnação das estruturas da longa duração. A história das mentalidades é herdeira dos Annales, mas isso não pode ser exagerado porque algumas de suas tendências se desvirtuam. A historiografia francesa a partir da década de 1970 se afastou tematicamente dos recortes sintéticos valorizados por Febvre, Bloch e Braudel. A preocupação com as mentalidades apareceu muito cedo nos Annales, um exemplo disso é o livro de March Bloch "Os reis taumaturgos" que examina as crenças populares de cura pelo toque do rei. Apesar de Bloch e Febvre se interessassem pelo estudo das mentalidades na história, eles condicionavam o seu estudo a uma perspectiva globalizante e sintética de história social. A história das mentalidades dos anos 70 não foi uma ruptura, senão uma retomada, nos últimos 20 ou 30 anos, de antigas preocupações de Febvre e Bloch quanto ao estudo do menta. Há uma valorização de certos temas ligados à religiosidade e aos rituais e aos sentimentos, que aparecem na história das mentalidades que se firmou nos anos 70 e naquela que Bloch e Febvre se preocupavam em fazer. O problema da questão é a situação do período: "a era Braudel" (1956-1969). Esta dita era representou um adensamento da problematização teórica dos Annales. Mas não obstante Braudel tenha fornecido valiosos instrumentos teóricos para os futuros historiadores das mentalidades, "a era Braudel" foi em tudo avessa ao estudo do mental. A "era Braudel" caracterizou-se, portanto, pela produção de grandes obras de história total, histórias sintéticas com grande ênfase nos aspectos socioeconômicos e suas relações com o meio geográfico. Foi realmente no fim da década de 1960 que a historiografia francesa passou a trilhar os rumos das mentalidades. No plano intelectual, é preciso considerar o prestígio de Lévi-Strauss e da antropologia estrutural na França. Temas da história das mentalidades: assuntos ligados ao cotidiano - o amor, a morte, a criança, a família, as bruxas, os loucos, a mulher, os homossexuais, os modos de vestir, etc. São microtemas. Alguns historiadores das mentalidades: Le Goff, Duby, Le Roy Ladurie, Ariès. O que é uma história da mentalidade?

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É uma história mais aberta possível à investigação dos fenômenos humanos no tempo, sem excluir a dimensão individual e mesmo irracional dos comportamentos sociais, e procurando resgatar os padrões menos cambiantes da vida cotidiana, mormente o universo de crenças ligadas ao nascimento, à morte, aos ritos de passagem, ao corpo, aos espaços e ao tempo. Todo e qualquer documento pode servir a uma pesquisa de mentalidades. Um texto que se pode considerar o mais famoso dos primeiros tempos das mentalidades na era pós-braudeliana. Trata-se do artigo de Le Goff "As Mentalidades - Uma história Ambígua". Deste artigo pode se extrair três ideias básicas: a questão do recorte social das mentalidades (abrangente), o campo "irracional e do extravagante" (não de inconsciente coletivo) e a questão do tempo das mentalidades (é o tempo braudeliano da longa duração, aquilo que muda mais lentamente). Mais tarde, Le Goff escreve outro artigo "História do Cotidiano", onde ele revê algumas coisas ditas no artigo das mentalidades, e já se percebe ai a mudança de nome "mentalidade" para "cotidiano", pois as mentalidades já estavam desgastas sobretudo na França, não era legal ser um historiador das mentalidades, por isso que ele mudou o nome para "cotidiano". Vovelle: historiador das mentalidades, mas se assume como um historiador marxista. Defendeu as mentalidades das críticas que as colocavam como o estudo do irrisório. "A história das mentalidades", afirmou Vovelle, "é o estudo das mediações entre, de um lado, as condições objetivas da vida dos homens e de, de outro, a maneira como eles a narram e mesmo como a vive". Depois em um artigo ele fez uma observação sobre o longo tempo braudeliano que era usado na história das mentalidades: o cuidado para não estudar a inércia ou mudanças imperceptíveis. Ele relacionava mentalidades e ideologia. A história das mentalidades não é algo homogêneo. Pode-se falar em pelo menos três tipos de história das mentalidades: aquela herdeira da tradição dos Annales (o estudo mental só faz sentido se articulado a totalidades explicativas - Le Goff, Duby, Le Roy Ladurie, etc); uma história das mentalidades marxista preocupado em relacionar a mentalidade com a ideologia (Vovelle); uma história das mentalidades descompromissada de discutir teoricamente os objetos, e unicamente dedicada a descrever e narrar épocas ou episódios do passado. Devido às críticas, os historiadores das mentalidades se refugiaram em abrigos tais como a micro-história, história do gênero, história da sexualidade, etc. Mas o grande refúgio foi a história cultural, que procurou corrigir imperfeições teóricas da história das mentalidades dos anos 70. A história da cultura não recusa a aproximação com a antropologia, nem a longa duração. E longe estão de rejeitar os temas das mentalidades e a valorização do cotidiano. É lícito afirmar, portanto, que a história cultural é, neste sentido, um outro nome para aquilo que, nos anos 70, era chamado de história das mentalidades. Ainda, ela se apresenta como uma "nova história cultural", diferente daquela "história da cultura" que se dedicava estudar as manifestações "oficiais" ou "formais" da cultura de determinada sociedade: as artes, a literatura, a filosofia, etc. A chamada nova história cultural não recusa as expressões culturais das elites, mas revela principal apeço pelas manifestações das massas anônimas, ela se revela pelo popular. Ela também tem uma preocupação em resgatar o papel das classes sociais e do conflito social.História das mentalidades dos 70's: apego demasiado à longa duração, do quantitativismo, viés psicologizante, etc. Nova história da cultura: dimensionamento da cultura em termos de classes sociais, mas desde que não se procure delimitar as classes em qualquer âmbito externo ao da produção e consumo culturais. Thompson: preocupado com as massas. Marxista. Esboçou uma teoria para o estudo da cultura popular em moldes marxistas. O campo teórico da cultura popular em Thompson valoriza, portanto a resistência social e a luta de classes em conexão com as tradições, os ritos e o cotidiano das classes populares num contexto histórico de transformação. Em Thompson o que importa é desvendar a identidade sociocultural das classes subalternas no contexto específico da formação do capitalismo, o que faz de sua obra um modelo para o estudo da formação da ordem burguesa na ótica dos "vencidos"; no caso de Ginzburg, é o próprio universo cultural que interessa investigar, sobretudo as resistências do popular, as circularidades e metamorfoses culturais no limiar da época moderna. O que os aproxima de uma "sensibilidade antropológica", o cenário privilegiado por Thompson é a luta das classes populares, ao passo que o cenário de Ginzburg é da resistência e domesticação (ou repressão) da cultura popular na longuíssima duração. Têm-se de toda forma com Ginzburg, Chartier ou Thompson três modelos possíveis de história cultural.

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ANOTAÇÕES DO CADERNO

História Política

LEOPOLD VON RANKE

Ranke foi um grande historiador político alemão do século XIX. Os historiadores do século XIX sofreram um ataque, este ataque se dá principalmente com o Simiand, onde aponta os "3 ídolos" da História Tradicional: o ídolo político, o ídolo individual e o ídolo cronológico. O que mais aparece no texto do Ranke são os ídolos políticos e individuais: porque ele tende ver só quem está no poder, não as massas. Muita coisa focada só na política e no militar. História centrada nos grandes homens e seus feitos, o indivíduo é o que se denomina um grande homem e a esses tipos se reserva o papel de protagonista da história. São eles que desencadeiam os efeitos de uma guerra. Se o protagonismo cabem só a eles, as massas são inertes, não agem. Para Simiand, é preciso pensar nas regularidades. A crítica que se voltou a essa história política foi a criação da Revista dos Annales em 1929 por Febvre e Bloch, que criticavam essa história episódica.

De que política se faz a história? É a política desenvolvida nos quadros da administração estatal.

Anos 70: volta da história política, mas é uma tomada de decisão diferente, simbologia do poder, tentativa de afirmar a necessidade de explicar a política pela política. Estão querendo colocar uma autonomia na política. Dialoga com a ciência política e em alguns casos com a antropologia.

NOBERT ELIAS

Sociólogo de profissão, 1897-1990, judeu, alemão, faz carreira na Inglaterra, morre na Holanda.

Sociedade e Corte⤷

Pergunta como os nobres chegam a aceitar o poder que Luís XIV exerce sobre eles. Pensa o poder não de maneira unilateral, todo dominado participa da dominação.

Quais são os temas da dominação de Luís XIV sobre os nobres?

Questão de vida e sociedade.Como se explica a vida dos homens. Cada sociedade deve ser pensada nas dependências recíprocas que estabelecem os indivíduos. Pensa as relações do homem no tempo.

Para Elias você pensar o mundo nos termos da parte desse todo, como fez Ranke, é como pesar numa sinfonia em notas isoladas e nem se pode pensar só nas notas. É um complexo de funções que se faz uma edificação. Não podemos pensar em coisas isoladas, pensar em termos de relações. Não existe sociedades sem indivíduos e vice-versa. Ele estuda a corte nas suas relações sociais. Dependências recíprocas que fundam existência social. Não são os súditos que dependem do rei, o rei depende de seus súditos. As interdependências são atravessadas por conflitos. Cadeia de interdependências: figuração (a forma que assuma uma cadeia de interdependências). Pensar no indivíduo nas relações por meio de suas relações.

Luís XIV: líder autocrático, não carismático. Aquele ungido de um poder quase sobrenatural, que não se explica naturalmente, é uma crença que está ao redor das pessoas do líder carismático.

O Elias pega a história política e reage de modo criativo. Pensa os efeitos não pensados sobre a administração política.

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Por que ele escolhe a corte de Luís XIV? Centro da vida aristocrática. As cortes tinham uma importância em diferentes regiões, na França isso era central. A corte é um espaço onde se catalisava as relações dos indivíduos. A corte abrigava uma camada social que viria irradiar modelos de comportamento para outras camadas sociais, ela incita a conduta mesmo dos não-cortesãos.

-> Escolha feliz das fontes: corte do Luís XIV, memória, carta de nobres (Saint Simon), manuais de etiqueta (isso seria uma babaquice para a história tradicional), artigos de enciclopédias. E ainda vai além das fontes escritas: examina o palácio, como foi socialmente construído e depois socialmente apropriado. Não existe fonte boa ou ruim, depende do que você faz com ela. A configuração de indivíduos se mostrava a si mesma na etiqueta.

Sempre tenta criar uma relação de estranhamento com uma corte contra a sociedade burguesa, ele contrasta isso para mostrar a importância das cerimônias na cortesia. Cada ato de cerimônia do rei tem um significado.

RANKE X ELIAS

O Henrique é muito autônomo em relação a tudo.

Finalidade do Ranke: delinear o perfil de Henrique IV. Episódica, detalhes insignificantes, o centro é ocupado pelo Henrique. Fala mais em época e menos de sociedade. Como se Henrique fosse ator, o cenário vai mudando, mas ele não muda; para o Elias o Luís XIV tá engolfado pela cena, ela só se explica pela cena, num conjunto. Finalidade do Elias: o perfil de Luís XIV é algo que ilumina a sociedade. A personalidade do rei só se faz no quadro da sociedade.

BRAUDEL

- A crítica mais clássica vem num artigo do Braudel ("História e Ciências Sociais: a longa duração"). Ele tenta dar dicas de pesquisa, não podemos tomar o tempo como uma matéria uniforme. É importante para o historiador decompor o tempo nos seus diferentes ritmos/durações.

Tempo curto/curta duração ⤷Nunca vai interferir no tempo longo. O tempo dos historiadores tradicionais (eles só usavam esse tempo, não quer dizer que é errado). "Quem fez o que, como, onde e quando". Como se os eventos pipocassem, você não aprende tudo, só alguns pontos. Ele não achava que ninguém deveria falar do tempo curto. Para ele, o tempo curto tem que estar junto com o tempo de longa duração.

Tempo médio/conjuntural⤷O tempo de 20/50/100 ano onde se observa os ciclos da história (ciclo da economia), ciclos de prosperidade e depressão econômica.

Tempo de longa duração ⤷Vai influenciar no tempo curto. Tem a ver com ritmo do tempo, não só tem a ver com um período longo de tempo. Ritmo lento, de séculos, não se capta à primeira vista, profundeza da história. Não é a história das mudanças rápidas (história tradicional), é a história de certas permanências.

Braudel pensa que a história não deve ser estudada pela consciência que os homens têm da história. Ele tenta sepultar a história acontecimental.

História Cultural

⤷ Desenvolvimentos e questões principais na França, no XX.

História econômica nos anos 50 e 70: exercem fascínio sobre todas as áreas. Era uma história de ponta, exportava modelo para outros tipos de história.

Page 9: RESENHAS

A cultura é uma questão central dos antropólogos.

Tipo de história que atenda às culturas construídas. As crenças, hábitos, valores: o pensamento. Essa história tem um fundo de noção de pensamento.

É uma história que vem em reação à tirania do econômico, contra à redução da sociedade e às características materiais. Querem dizer que o homem não vive só de pão, para comê-lo ele perfaz ato que são culturalmente construídos.

Mentalidades não designa algo que dá para analisar separadamente, é algo amplo.

VAINFAS

O que seria uma história das mentalidades para Vainfas: se caracteriza por não ser uma história das grandes ideias, não é necessariamente uma história do consciente, mas do inconsciente, busca os elementos estáveis da vida social, história social mas no plano mental, modo como as pessoas pensam. História da lentidão que lida mal com a ideia de mudança, personagem da história das mentalidades: Le Goff, Georges Durby, Ph. Aries, etc. Para ele a história das mentalidades é uma história que em princípio voltava para as regularidades, o que não significa que não pode partir de uma pessoa em especial, história que rompe com doutrinas religiosas e ideias filosóficas, mas não rompe totalmente; história que une Colombo ao mais baixo dos seus marinheiros; é uma história que pode partir do indivíduo mas não se restringe a ele. Le Goff: mentalidade não é algo uno, indivisível, cada um de nós convive com um tipo de mentalidade, há diferentes sistemas que convivem, a história das mentalidades procurar tentar desvendar um tipo de pensamento, tenta articular um pensamento, ela busca o pensamento que está além das regras explícitas, além das grandes doutrinas religiosas, a morte passa a ser um objeto de investigação, também a criança, o medo, a sexualidade, etc.

Durkheim emprega o termo mentalidade só se valendo da noção das representações coletivas (maneiras que a sociedade se vê e vê os outros, representações que estão sedimentadas que você pode pensar ela por elas próprias, é algo que se impõe de fora a indivíduos singulares, você não aprende o que é dinheiro, você vai aprendendo cotidianamente).

Lucien Lévy - Bruhl: mentalidade primitiva, o sistema da crença varia de sociedade a sociedade e essas diferenças não se deixam entender por uma introspecção, você tem que entender várias coisas. Ele era muito lido pelos psicólogos franceses como Ch. Bloudel e H. Wallon (contribuem para consagrar a mentalidade).

Preocupação com coisas aparentemente berrantes, a princípio impenetráveis por uma cabeça "normal". Há uma predileção na história das mentalidades por personagens marginais (loucos, ladrões, etc).

18-49 (Entreguerras): ideia de que se precisa estudar mentalidades diferentes e que tenham por si só uma certa coerência.

Febvre: pioneiro nas relações da história das mentalidades. Se pergunta sobre a exemplaridade de trajetórias individuais. "Outillage mental": utensílio mental. Não trata a história das mentalidades como se fosse uma gaveta, tornar essa divisão como se fosse absoluto. Interesse por matéria não nobres, entender como as pessoas "comuns" pensam.

George Lefebvre e Bloch: estudam boatos. Valor do historiador em estudar mentiras. Entender como as pessoas chegaram a crer nas notícias falsas.

Alargamento no ponto de fontes. Qualquer coisa pode ser material para a história das mentalidades, dependendo da pergunta que você faz à fonte.

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Concepção consessual de cultura "cultura operária", como se fosse algo englobante, como se todos os operário tivessem a mesma cultura.

História social X História das mentalidades:

Franceses - mais abstratos, história das mentalidadesIngleses - perseguem os destinos individuais, história social. O Hobbes está preocupado com valores da cultura operária em um período curto de tempo e os historiadores das mentalidades operam na longa duração. A história social inglesa dialoga com a antropologia social, na história das mentalidades é dialogado com a antropologia de Levi Strauss. Não são diferenças absolutas, só tem colorações diferentes.

March Bloch: Os reis taumaturgos (1923). Tema: ritos de cura que se observava na França e na Inglaterra do século XII até o XIX. Reis com poderes curativos. Entender qual é a crença das pessoas, não a despreza como uma bobagem, como faz os tradicionais. Ele pensa nisso como uma estratégia de poder dos reis. Entender as crenças, não julgá-las.

ROBERT DARTON

Historiador estadunidense, ele é de 1939. Sempre dialogou com a antropologia.

Ele extraiu uma simbologia social da época. Compreender o incompreensível. Ponto de partida dele: o estranhamento. Ele tenta tornar essa estranheza familiar. Não aparece a fidelidade do relato, mas o que o relato nos mostra para estudar a cultura. Páginas 108/109: preocupado em falar do momento histórico, contextualizar é importante, entender o lugar simbólico do gato naquela cultura. O gato servia para agredir os patrões metaforicamente. Separa a "cultura" burguesa da operária, mas não é algo muito distante, pois ambos entendem a piada. O símbolo também é veículo da luta entre eles. Os conflitos aparecem quando eles fazem o pedido de ordem com a ridicularização. Pegar episódio irrelevantes e pensá-los. O massacre é bom para pensar essa sociedade. Esses episódios dramatizam uma teia de significados que existem numa sociedade. Veicula as relações sociais. A graça é o trocadilho ritual. Mostra o lugar dos gatos na época para além daquele episódio. Esse comportamento é inconsciente.