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RESERVA LEGAL: ANÁLISE DAS PERCEPÇÕES DE PRODUTORES RURAIS DE SANTA CATARINA ACERCA DAS ÀREAS DESTINADAS À PRESERVAÇÃO
DANIELA DI DOMENICOUniversidade Comunitária da Região de Chapecó - UNOCHAPECÓ[email protected]
SADY MAZZIONIUniversidade Comunitária da Região de Chapecó - UNOCHAPECÓ[email protected]
SILVANA DALMUTT KRUGERUniversidade Federal de Santa [email protected]
JOEL BONAMIGO DA SILVAUniversidade Comunitária da região de Chapecó-Unochapecó[email protected]
RESERVA LEGAL: ANÁLISE DAS PERCEPÇÕES DE PRODUTORES RURAIS DE
SANTA CATARINA ACERCA DAS ÀREAS DESTINADAS À PRESERVAÇÃO
Resumo
A lei ambiental nº 12.727, de 2012, delimita que todo o imóvel rural deve manter uma área
com vegetação nativa, a título de reserva legal, em percentuais mínimos em relação à área do
imóvel e sua região de localização. Neste sentido o estudo tem por objetivo analisar as
percepções dos gestores rurais acerca da implantação da reserva legal nas propriedades rurais
da região Oeste de Santa Catarina. A pesquisa caracteriza-se quanto aos objetivos como de
caráter exploratório, com análise multicasos e abordagem qualitativa. A coleta dos dados
ocorreu por meio de entrevistas realizadas junto a 6 produtores rurais da região Oeste de Santa
Catarina. A análise dos dados indicou que os gestores rurais consideram a lei útil como
mecanismo de auxílio à preservação ambiental e a manutenção da qualidade dos recursos
hídricos, porém evidenciam a dificuldade de áreas de terra para a destinação da reserva legal.
Observou-se que a reserva legal ainda é utilizada por obrigação da lei e não por iniciativa
própria de conscientização ambiental. De modo geral, observou-se os desafios da adequação
da Lei Ambiental à realidade das propriedades rurais, especialmente daquelas com menor
disponibilidade de áreas produtivas, no entanto destaca-se a importância de medidas e
alternativas que possam promover o equilíbrio entre a preservação e a exploração econômica,
visando alcançar o desenvolvimento sustentável no meio rural.
Palavras-Chaves: Reserva Legal. Legislação Ambiental. Propriedades Rurais.
LEGAL RESERVE: ANALYSIS OF PRODUCERS PERCEPTIONS OF RURAL
AREAS OF SANTA CATARINA ABOUT FOR THE PRESERVATION
ABSTRACT
The Environmental Law No. 12.727, 2012, defines that all the rural property must maintain an
area with native vegetation, as a legal reserve in minimum percentages in relation to the area
of the property and its location area. In this sense, the study aims to analyze the perceptions of
rural managers about the implementation of the legal reserve in the farms of the West of Santa
Catarina region. The research is characterized as the goals as exploratory, with multicases
analysis and qualitative approach. Data collection occurred through interviews conducted with
six farmers in the western region of Santa Catarina. Data analysis indicated that rural
managers consider the law useful as an aid mechanism for environmental preservation and
maintaining the quality of water resources, but show the difficulty of land areas for the
allocation of the legal reserve. It was observed that the legal reserve is still used by obligation
of law and not on its own initiative for environmental awareness. Overall, the challenges it
observed the adequacy of the Environmental Law to the reality of rural properties, especially
those with lower availability of productive areas, however highlights the importance of
measures and alternatives that can promote the balance between preservation and economic
exploitation in order to achieve sustainable development in rural areas.
Keywords: Legal Reserve. Environmental legislation. Rural properties.
1 INTRODUÇÃO
O uso do solo e dos recursos naturais de forma inadequada pode ser um dos fatores do
desequilíbrio ambiental da atualidade. O cruzamento entre interesses econômicos, sociais e
políticos, além dos aspectos técnicos relativos a cada caso, faz do processo do planejamento
de utilização dos recursos hídricos e do solo, um sistema complexo e merecedor de reflexão
mais abrangente (AVANZI; BORGES, CARVALHO, 2009).
Para Brancalion e Rodrigues (2010) o Código Florestal Brasileiro, estabelecido pela
Lei 10.711 de 1965 e posteriormente modificado por outros instrumentos legais, tem como
principal vantagem à conciliação da preservação ambiental e do manejo sustentável dos
recursos naturais como o uso e ocupação do solo pelo homem. Destacam ainda o conjunto de
medidas de preservação contidas no Código Florestal, dando ênfase as Áreas de Preservação
Permanente (APPs) e as de Reserva Legal (RL), as quais estabelecem normas para que as
atividades de produção agropecuária possam ser conduzidas respeitando a conservação da
biodiversidade prezando pela permanência dos recursos naturais.
A área de preservação permanente, de acordo com a Lei 10.711 de 1965 em seu art. 2º
do Código Florestal, trata-se das florestas e demais formas de vegetação situadas em locais
essenciais à manutenção de um meio ambiente sadio, como por exemplo, as matas ciliares,
essenciais a qualidade de vida dos rios. Já a reserva legal é a parte da área localizada no
interior de uma propriedade rural, exceto as áreas de preservação permanentes, necessárias ao
uso de maneira consciente e sustentável dos recursos naturais, da conservação e reabilitação
dos processos ecológicos, da biodiversidade, além do abrigo e proteção de fauna e flora nativa
por meio da conservação ou implantação de vegetação nativa conforme prevê a lei (ARANA;
BALDASSI, 2009).
Com esta preocupação a Lei ambiental nº 12.727, de 2012, delimita que todo o imóvel
rural deve manter área com vegetação nativa, a título de reserva legal, em percentuais
mínimos em relação à área do imóvel e sua região de localização, visando a preservação da
água e do solo por meio da conservação da mata ciliar próximo às nascentes córregos e rios.
A área de reserva legal deve ser de no mínimo 20% do imóvel situado em área de campos
gerais. Esta prática torna-se importante para o equilíbrio ambiental e a preservação dos
recursos hídricos para o consumo da família do produtor rural, bem como da comunidade em
geral.
Essa obrigação, de maneira geral, não é bem vista pela maioria dos proprietários
rurais, devido ao fato aparente de tornar improdutiva uma parcela significativa de suas áreas
produtivas. Outro fator que dificulta a recuperação destas áreas é o custo envolvido para
implantação ou sua manutenção (ARANA; BALDASSI, 2009).
Neste contexto, direcionado à importância da conservação da reserva legal para o
equilíbrio ambiental das atividades rurais, a problemática norteadora da pesquisa visa
responder: Quais as percepções dos gestores rurais acerca da implantação da reserva legal nas
propriedades rurais da região Oeste de Santa Catarina? O objetivo do estudo é analisar as
percepções acerca da implantação da reserva legal nas propriedades rurais da região Oeste de
Santa Catarina.
Justifica-se a relevância do estudo, no intuito de contribuir na evidenciação da
importância da preservação ambiental no meio rural, especialmente para as áreas de equilíbrio
denominadas reservas legais, para as propriedades rurais de Santa Catarina, no intuito de
garantir a preservação de recursos hídricos no longo prazo, propiciando melhores condições
de vida para as famílias e a sociedade de modo geral. Arana e Baldassi (2009) argumentam
que o desequilíbrio provocado pelas atividades de exploração da terra por meio da extração da
madeira, o cultivo de lavouras, pastagens e a expansão urbana, causam inúmeros processos
prejudiciais ao meio ambiente e ao próprio ser humano, tais como: erosão, deslizamentos,
assoreamento de cursos d‘água, perda de fertilidade do solo, alterações microclimáticas, falta
de água potável, proliferação de pragas e extinção de espécies nativas, entre vários outros, que
podem ser de caráter ambiental como social.
Além desta introdução, o estudo estrutura-se em mais quatro seções. A segunda seção
apresenta a revisão da literatura com enfoque teórico a respeito da reserva legal e sua
importância, bem como estudos correlatos ao tema. A terceira seção demonstra os
procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa. A quarta seção aborda os resultados da
pesquisa e por fim as considerações finais na quinta seção.
2 REVISÃO DE LITERATURA
A revisão da literatura apresenta o contexto da normativa que regulamenta a reserva
legal e estudos correlatos relacionados ao tema, bem como os conceitos que sustentam o
assunto pesquisado e serve de base para análise dos dados coletados.
2.1 Reserva legal
A área destinada a reserva legal, está situada dentro do imóvel rural que deve ser
preservada pelo proprietário e ser mantida com a sua cobertura vegetal nativa, seja de
florestas ou outras formas de vegetação. O atual Código Florestal, Lei 12.651 (2012), define
reserva legal como a área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada
nos termos do art. 12, com a função de garantir o uso econômico dos recursos naturais do
imóvel ou propriedade rural de maneira sustentável. Com o intuito ainda de auxiliar na
conservação e a reabilitação dos processos ecológicos promovendo a conservação da
biodiversidade, além de proporcionar o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa.
Segundo o código florestal, lei 12.651 (2012), a criação das áreas de reserva legal foi
implantada com o objetivo de garantir a biodiversidade local e conter o desmatamento nas
áreas de plantio. A área de reserva legal deve ser escolhida pelo proprietário e ser aprovada
pelo órgão ambiental estadual competente, que poderá exigir ao proprietário recompor em sua
propriedade a área da reserva legal.
Para esclarecer, em especial, ao cumprimento das funções de proteção dos recursos
naturais, a Lei n° 12.727 (2012), passou a exigir a manutenção em todas as propriedades
rurais das áreas denominadas de reserva legal, excluídas as áreas de preservação permanente,
nas seguintes proporções: 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas,
35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado, 20% (vinte por cento),
no imóvel situado em área de campos gerais, localizadas nas demais regiões do país.
Conforme a Lei a área de preservação permanente são as faixas marginais de qualquer curso
de água natural perene e intermitente.
O Código Florestal, Lei 12.651 (2012), define, a área de preservação permanente
como a área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de
preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade,
facilitar o fluxo e procriação de espécies da fauna e flora, proteger o solo e proporcionar o
bem-estar das populações humanas. Na ocorrência de supressão ou extinção da vegetação em
área considerada de preservação permanente, o proprietário da área deverá promover a
recomposição da vegetação.
Ainda de acordo com a Lei 12.651 (2012), para os imóveis rurais com área de até 1
módulo fiscal que possuam áreas consolidadas em áreas de preservação permanente ao longo
de cursos de água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais
em 5 metros, contados da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do
curso de água. Para imóveis de 1 a 2 módulos a preservação deverá ser de 8 metros, já os
imóveis de 2 a 4 módulos a área respeitada deverá ser de 15 metros e para as propriedades
acima de quatro módulos as faixas marginais podem variar de 15 a 100 metros.
A Lei n° 8.629 de 25 de fevereiro de 1993, define o imóvel rural como prédio rústico
de área contínua, independente de sua localização, que se destine ou possa se destinar à
exploração agrícola, pecuária, extrativa vegetal, florestal ou agroindustrial. O módulo fiscal
também é parâmetro usado para classificação fundiária do imóvel rural quanto a sua
dimensão, sendo entendido como pequena propriedade o imóvel rural com área entre 1 (um) e
4 (quatro) módulos fiscais, já o imóvel rural com área de 4 (quatro) até 15 (quinze) módulos
fiscais é classificada como média propriedade e grande propriedade, aquela com área superior
a 15 (quinze) módulos fiscais.
A Lei n° 12.727/2012 estabelece normas gerais sobre a proteção da vegetação das
áreas de preservação permanente, localizadas em imóveis inseridos nos limites de Unidades
de Conservação de Proteção Integral criadas por ato do poder público. Ficam ressalvados os
casos em que se disponibiliza plano de manejo criado e aprovado conforme orientações do
Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA). São consideradas áreas de preservação
permanente no cálculo do percentual da reserva legal do imóvel, as seguintes condições: o
benefício previsto não implique a conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo; a
área a ser calculada esteja conservada ou em processo de recuperação, conforme comprovação
do proprietário aos órgãos competentes e o proprietário tenha requerido inclusão do imóvel no
Cadastro Ambiental Rural (CAR).
O código Estadual do meio ambiente de Santa Catarina Lei n° 16.342 de 21 de janeiro
de 2014, estabelece como condição obrigatória para adesão ao programa de Regularização
Ambiental (PRA) o cadastro no programa Ambiental Rural. O código estadual define que o
programa de Regularização Ambiental é o instrumento que estabelece medidas específicas
para a regularização de imóveis com áreas rurais consolidadas que não atendam aos
parâmetros das Áreas de Preservação Permanentes e da Reserva Legal, indicados na Subseção
III da Seção II do Capítulo V - A do Título IV, desta Lei. Na definição de medidas específicas
o poder público deverá considerar os impactos ambientais, econômicos e sociais sobre as
áreas rurais consolidadas levando em consideração as peculiaridades da região onde o imóvel
estiver localizado, além de fornecer linhas de financiamentos específicas para incentivos aos
programas ambientais.
O setor agrícola, ainda é reservado em relação ao Código Florestal Brasileiro,
alegando que seu cumprimento poderia tornar inviável a produção, reduzindo a
competitividade do agronegócio do país no mercado externo, tal argumento tem como
principal motivo o fato de que os países competidores não possuem leis ambientais restritivas
como as do Brasil (BRANCALION; RODRIGUES, 2010).
A intensificação da agricultura e a expansão da fronteira agrícola no Brasil, nas
décadas passadas, impulsionaram para que as políticas públicas se direcionassem para
adequar a exploração do solo e da água, dando uma visão geral dos problemas e como devem
ser tratados. Incentivando o uso racional destes recursos, com objetivo de implantação de um
novo modelo de agricultura, que proporcione maior benefício socioeconômico. Esta postura
tem facilitado à possibilidade de adaptação das recomendações nas legislações nacionais, que
uma vez adotadas como leis internas dos países, passam ser recomendações a constituir
direito racionalmente necessário (AVANZI; BORGES; CARVALHO, 2009).
De acordo com o contexto apresentado por Zanoni (2000) várias pesquisas empíricas
mostram que mesmo integrando o uso dos territórios protegidos pelas populações locais,
considerado um avanço em relação à preservação, geram limitações impostas às atividades
produtivas no seu âmbito e restrições de uso inadequadas que não levam em conta os
interesses reais e representações de natureza das comunidades locais.
Para Avanzi et al. (2011) o foco dos questionamentos em relação à reserva legal está
no argumento de que a conservação ambiental, como prevista no Código Florestal Brasileiro,
geram custos exclusivamente aos produtores, enquanto os benefícios se refletem para a
sociedade em geral, inclusive em outros Países. A discussão também está em função do
impacto diferenciado que a reserva legal proporciona aos distintos tipos de produtores, sendo
desta forma os pequenos produtores, aqueles com menor disponibilidade de terras os mais
afetados.
As leis ambientais limitam qualquer tipo de supressão total ou parcial da vegetação
nativa existente nestas áreas, para que sejam conservados e reabilitados os processos
ecológicos, sirvam de abrigo e proteção da fauna e flora nativas e se preserve a biodiversidade
existente. Segundo Avanci (2009), o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é
direito e dever de todos, constituindo-se em verdadeiro direito difuso ou direito fundamental
de terceira geração. Em função disso, é necessária a imposição de limites à propriedade,
direito típico de primeira geração de direitos fundamentais, de modo que esta esteja
condizente com sua função social e com sua função ecológica.
A pesquisa de Arana e Baldassi (2009), analisou a reserva legal no Estado do Paraná
junto aos produtores rurais do município de Paranacity. O estudo procurou abordar por meio
de pesquisa de campo com os produtores, os diversos argumentos favoráveis e contrários à
implantação da reserva legal do município. Os resultados apontaram que a obrigação da
legislação, de preservar ou repor 20% das propriedades como área de preservação
permanente, de maneira geral não é bem vista pelos proprietários que mesmo tendo
consciência dos riscos temem seus impactos imediatos, isso porque parte significativa de suas
terras torna-se improdutivas além de requerer investimentos para tal.
Broetto et al. (2010) verificaram o impacto e a adequação da reserva legal no
município de Quatro Pontes- PR. Os resultados obtidos apontam, que a recuperação das áreas
de preservação permanente e reserva legal impostas pelo Código Florestal na região estudada,
resultará em uma diminuição de 158 hectares de áreas destinadas a agricultura e 97 hectares
de áreas destinas a pastagem. Desta maneira enquanto o código não for modificado, as
propriedades deverão adotar novas práticas de manejo para não comprometer a geração de
renda destas famílias.
Fabiasen et al. (2011) avaliaram o impacto econômico da reserva legal em diferentes
unidades de produção agropecuária da microbacia do Rio Oriçanga - São Paulo. Os resultados
obtidos evidenciaram a importância de políticas que permitam a distribuição mais equilibrada
dos custos da conservação ambiental. Além disso, a reserva legal pode ser uma alternativa
econômica para os pequenos produtores devido à constatação do uso de pouca tecnologia e
mão de obra, gerando a necessidade de novas fontes de renda que não comprometam a
disponibilidade de mão de obra, sendo citado como exemplo o manejo sustentável para
extração da madeira destas áreas.
Avanzi, Borges e Carvalho (2009) analisam a Legislação Brasileira em relação à
preservação e conservação dos recursos naturais (solo e água) no Brasil. Os resultados
indicaram a tendência de especialização das leis referentes à conservação dos recursos
naturais, onde solo e água são analisados individualmente e por meio de suas relações com os
demais. Destacam ainda que a legislação vigente pode não ser adequada para determinadas
situações e localidades, devendo ser revista e adaptada para cada caso em específico, sendo
necessária atenção diferenciada nos textos legais quando tratar de ambientes urbanos ou
rurais, ou entre diferentes ecossistemas.
Nesse contexto Taube, Sehnem e Cericato (2012) avaliaram os impactos econômicos
em uma propriedade rural localizada na Linha Pessegueiro, município de Guarujá do Sul - SC,
ao aplicar de forma efetiva as exigências da legislação ambiental. Os resultados obtidos,
afirmam que a adequação da pequena propriedade rural a legislação ocasionou diminuição
significativa na renda, porém a falta de orientação e planejamento podem ser uma das causas
das dificuldades enfrentadas. Com a elaboração de planejamento das atividades por meio do
sistema de rotação das plantações é possível reverter esta situação, aumentando a renda das
famílias sem deixar de cumprir com as normas propostas no código florestal. De modo geral, observa-se os desafios da adequação da Lei ambiental à realidade das
propriedades rurais, especialmente daquelas com menores disponibilidade de áreas
produtivas, todavia, destaca-se a importância da busca por alternativas e medidas que possam
promover no longo prazo o equilíbrio entre a preservação e a exploração econômica, visando
alcançar o desenvolvimento sustentável da exploração rural.
2.2 O agronegócio e o meio ambiente
A humanidade sempre interagiu com o meio ambiente, desta forma há consequências
negativas de maior ou menor grau, mas que atualmente chegam a níveis elevadíssimos,
provavelmente, em nenhuma outra atividade, seja possível evidenciar uma interação tão forte
entre o homem e a natureza, quanto à agricultura (GOMES, 2004).
Assad e Almeida (2004) consideram a agricultura, uma atividade que causa grandes
impactos ambientais, decorrentes da substituição da vegetação. Por um lado, há o ganho
econômico e por outro lado à perda de recursos naturais, sendo este somente um dos outros
grandes desafios colocados pelo governo e pela sociedade, mas o agricultor ainda precisa
reverter os desafios econômicos, sociais, territoriais e tecnológicos.
A sensibilidade ecológica surge sob uma forma de consciência de destruição do capital
genético do planeta e da alteração do ecossistema existente e as iniciativas em prol de uma
agricultura mais sustentável buscam métodos junto às novas tecnologias, a fim de minimizar
os impactos causados pela exploração das atividades rurais (ASSAD; ALMEIDA, 2004).
Neste cenário, o Brasil é reconhecido como polo de exportações de um leque amplo de
commodities agrícolas. Em 2012, o Brasil foi o líder mundial nas exportações de açúcar, café,
suco de laranja, frango e soja, o segundo maior exportador de carne bovina, milho, óleo de
soja e farelo de soja e o quarto maior exportador de algodão e suínos. Além disso está em 2º
lugar no ranking dos maiores exportadores de produtos agrícolas no mundo, ficando atrás
apenas dos Estados Unidos e produz cerca de 10% dos produtos agropecuários consumidos no
mundo. Um dos fatores que contribuíram para alcançar essa colocação é que o país possui
grande extensão territorial, o que lhes favorece a ter uma área cultivável de 340 milhões de
hectares, dos quais apenas 63 milhões são atualmente dedicados a cultivos, e 200 milhões de
hectares em regime de pasto (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA AGRICULTURA (CNA)
2015).
Figueiredo, Santos e Lima (2012), destacam que os produtos do agronegócio são de
grande relevância para o Brasil, seja por sua importância na pauta de exportações, ou pela
capacidade de geração de renda. As divisórias entre agricultura moderna, complexos
agroindustriais e agronegócio, não são exatamente coincidentes, mesmo considerados
sinônimos, estas três bases da agricultura capitalista em alguns aspectos são distintas. O
gerenciamento de um negócio envolve muito mais que uma planta industrial ou um conjunto
de unidades agrícolas, é a parte principal da ideia de agronegócio, pois envolve as grandes
propriedades que se caracterizam pelo uso e exploração de grandes áreas territoriais e que são
consideradas marcas das atividades rurais (HEREDIA; PALMEIRA; LEITE, 2010).
Neste contexto, cabe analisar separadamente as principais cadeias produtivas por
regiões, ramo de atividade e dimensões, justamente porque o cenário brasileiro é
diversificado. Este dimensionamento proporciona o entendimento da realidade do
agronegócio, sendo possível avaliar de forma individual, qual a melhor forma de adequação e
cumprimento das leis ambientais vigentes, especialmente quando as exigências e os impactos
da adoção das áreas destinadas a preservação permanente e a reserva legal.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Esta seção se propõe a apresentar as características metodológicas que serviram de
base para atender ao objetivo proposto, de analisar as percepções acerca da implantação da
reserva legal nas propriedades rurais da região Oeste de Santa Catarina.
Quanto aos objetivos a pesquisa é caracterizada como exploratória, pois pretende
conhecer com maior profundidade as implicações que o uso da reserva legal pode ocasionar
em propriedades rurais da região Oeste de Santa Catarina. Para Gil (1999), as pesquisas
exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e
ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses para pesquisas
em estudos posteriores.
Quanto aos procedimentos de pesquisa será utilizado o estudo de múltiplos casos.
Segundo Yin (2001), o estudo de caso em geral, é a estratégia mais utilizada quando se
colocam questões do tipo “como” e “por que”, quando o pesquisador tem pouco controle
sobre os eventos, principalmente se o foco encontra-se em fenômenos contemporâneos
inseridos em algum contexto da vida real.
A utilização do procedimento de estudos multicascos é importante para a pesquisa e
seus resultados, pois busca esclarecer ideias e formar opiniões sobre as áreas de reserva legal
e preservação permanente nas propriedades rurais da região investigada, além de fornecer
informações e questionamentos úteis para novas pesquisas.
Quanto à abordagem do problema, a pesquisa é qualitativa. Conforme Gil (2010), nas
pesquisas definidas como estudos de caso, os procedimentos analíticos são principalmente de
natureza qualitativa. Com o objetivo de analisar, explorar e esclarecer, o foco deste estudo
encontra-se em fenômenos contemporâneos que fazem parte das características das
propriedades rurais.
A pesquisa foi realizada em propriedades dos municípios de São Lourenço do Oeste,
Quilombo, Formosa do Sul, Jupiá, São Bernardino e Novo Horizonte, pertencentes à
Macrorregião Oeste do Estado de Santa Catarina.
A coleta de dados ocorreu por meio de entrevistas com os seis produtores rurais,
escolhidos de forma aleatória, no período de janeiro a março de 2015. Com objetivo de obter
opinião dos produtores e permitir maior interação e conhecimento da realidade dos
informantes, optou-se pela entrevista semiestruturada. Para complementar as informações
obtidas junto aos sujeitos sociais entrevistados, utilizou-se a pesquisa documental na
legislação ambiental vigente.
Antes da aplicação da entrevista foram realizadas visitas a alguns produtores rurais da
região com objetivo de aproximar-se e conhecer melhor a realidade do grupo em estudo,
somente depois desta etapa foi realizado o trabalho de campo e aplicação da entrevista.
A análise dos dados foi realizada a partir dos aspectos da situação atual das
propriedades em relação às leis ambientais vigentes e seus reflexos sobre as atividades das
famílias que sobrevivem da renda de atividades que necessitem do uso da terra para seu
desenvolvimento.
4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
Nesta seção é apresentada a análise e interpretação dos resultados da pesquisa, a partir
das características das propriedades e do uso da reserva legal.
4.1 Características das propriedades
O estudo multicascos investigou seis propriedades rurais da região Oeste de Santa
Catarina. As características das propriedades investigadas, relativas ao tamanho e a
quantidade de pessoas que residem na propriedade são apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1 - Dados gerais da propriedade.
ÁREA TOTAL DA PROPRIEDADE EM
HECTARES (HÁ)
PESSOAS QUE RESIDEM NA
PROPRIEDADE
Classificação
Frequência
absoluta
Frequência
relativa (%) Classificação
Frequência
absoluta
Frequência
relativa (%)
Até 10 (ha) 4 66,7 Nenhuma pessoa 2 33,33
De 10 até 20 (ha) 0 0,0 Até 3 pessoas 1 16,67
De 20 até 30 (ha) 0 0,0 De 3 a 6 pessoas 2 33,33
Mais de 30 (ha) 2 33,3 Acima de seis 1 16,67
Total 6 100 Total 6 100
Fonte dados da pesquisa.
Por meio das informações coletadas e apresentadas na Tabela 1, quatro propriedades
possuem até dez hectares de terra e duas possuem mais de 30 hectares.
Quanto ao número de pessoas que residem nas propriedades, existem duas em que as
famílias somente fazem o plantio e a colheita. Em outras duas propriedades residem de três a
seis pessoas. Em uma propriedade residem até três pessoas e outra acolhe acima de seis
pessoas.
O setor da agricultura é importante para a economia da região, composto por inúmeras
pequenas propriedades com característica de mão de obra familiar. Contudo, as atividades
praticadas podem causar impactos ambientais se não forem praticadas de forma adequada. No
entanto, destaca-se a importância da permanência das pessoas no campo para a realização de
práticas de manejo ambientalmente corretas.
Conforme dados do SEBRE (2013) com base nos dados do CENSO 2010, em relação
à distribuição da população da Macrorregião Oeste, no ano de 1980 a população Urbana
totalizava 155.092 habitantes e em 2010 passou para 439.719 registrando aumento de 64,73%.
Em sentido oposto, a população rural vem perdendo representatividade. No ano de 1980, os
dados revelam que a população do campo era de 278.293 e em 2010 passou a ser de 161.785
habitantes, caracterizando queda de 41,87% no número de pessoas que vivem e trabalham em
tempo integral em seus imóveis nas áreas rurais.
Considerando que a região é representada em grande parte por pequenos produtores
que dependem da mão de obra familiar para realizar suas atividades, esta constatação pode ser
um dos indicativos da falta de interesse de alguns produtores em fazer qualquer tipo
investimento na propriedade, inclusive em áreas de proteção ambiental e reserva legal.
O Gráfico 1 evidencia, os tipos de atividades praticadas nas propriedades investigadas.
Gráfico 1 – Atividades praticadas nas propriedades.
Fonte: Dados da pesquisa
Conforme o Gráfico 1, nas propriedades investigadas o leite e o milho são as
atividades mais praticadas, presentes em quatro propriedades. O feijão, a soja e o trigo são
cultivados por dois produtores e outras atividades são praticadas por duas das seis famílias da
amostra.
23%
23%
12%
12%
12%
18%
Milho
Leite
Feijão
Soja
Trigo
Outros
As atividades com maior representação nas propriedades investigadas são a produção
de leite e milho. A atividade leiteira possui ainda maior relevância para as propriedades
visitadas, ao conceder maior frequência na produção de renda para a família, pois o
recebimento é mensal, enquanto outras culturas a exemplo do milho o produtor só tem
recebimentos a cada seis meses.
Para produzir leite os produtores necessitam de grandes áreas de terras para pastagens,
desta forma as áreas para reserva legal podem ser prejudicadas. Alguns produtores utilizam as
áreas de reserva legal para abrigar o gado, permitindo o acesso dos animais em áreas de
preservação, descumprindo a legislação ambiental. Conforme o código florestal, lei 12.727 de
2012, que trata da área de reserva legal, em seu art. 17, caput § 3º, define a obrigatoriedade e a
suspensão imediata das atividades em áreas de reserva legal desmatadas irregularmente a
partir de 22 de junho de 2008. O art. 20 delimita o uso destas áreas de vegetação florestal
apenas para manejo sustentável, onde devem ser adotadas práticas de exploração seletiva nas
modalidades de manejo sustentável, sem propósito comercial, para consumo na propriedade e
manejo sustentável para exploração florestal com propósito comercial, desde que tenha
licenciamento de autorização do órgão competente.
Mesmo tendo conhecimento destas informações, alguns produtores dizem não ter
condições de sobreviver na propriedade caso sejam respeitadas todas as exigências da lei
ambiental, obrigando-os a migrar para as cidades. Neste contexto, observa-se que os
agricultores têm consciência do problema, porém suas condições financeiras não possibilitam
praticar a atividade conforme a legislação exige.
Para minimizar estes impactos, os órgãos ambientais e o poder público poderiam
auxiliar estes produtores, orientando-os em relação ao tipo de atividade que melhor se adapta
para cada caso em específico. Além disso, linhas de financiamentos com condições
diferenciadas poderiam ser concedidas aos produtores a fim de realinhar suas atividades
produtivas e facilitar o cumprimento da exigência legal, respeitar os limites impostos pela
legislação ambiental e não ocasionar prejuízos econômicos às famílias agricultoras. O
cumprimento da proteção pretendida das áreas de vegetação das propriedades rurais
dificilmente se dará de forma isolada ao necessário equilíbrio econômico das famílias
residentes nestas áreas.
4.2 Características quanto à utilização da reserva legal
A Tabela 2 informa o percentual de reserva legal e informações sobre a preservação
das faixas marginais de rios, córregos e nascentes.
Tabela 2 - Áreas de reserva legal e de preservação próximo aos rios nas propriedades ÁREA DE RESERVA LEGAL PRESERVAÇÃO PRÓXIMA AOS RIOS,
CÓRREGOS E NASCENTES
Classificação Frequência
absoluta
Frequência
relativa
Classificação
(Metros)
Frequência
absoluta
Frequência
relativa
Até 10% 2 33.33% Não Possui 1 16,67%
De 10 a 20% 0 0% Até 5 2 33,33%
De 20 a 30% 3 50% 5 a 10 1 16,67%
De 30 a 40% 1 16,67% 10 a 15 1 16,67%
Acima de 40% 0 0% 15 a 20 1 16,67%
Total 6 100% Total 6 100%
Fonte: Dados da pesquisa
Conforme a Tabela 2 duas propriedades possuem até 10% da área da propriedade
como reserva legal; três propriedades possuem entre 20 e 30% e uma propriedade destina
entre 30 e 40% para fins de reserva legal.
Desta forma a reserva legal está sendo praticada de acordo com legislação ambiental,
por cerca de 66% da amostra investigada, ou seja, cumprindo o percentual mínimo de 20%
para imóveis rurais com até um módulo fiscal, situado em campos gerais.
A Tabela 2 também evidencia os dados a respeito da preservação ambiental das
margens de rios e córregos e próximo as nascentes de água natural. De acordo com as
respostas obtidas, duas das seis das propriedades possuem até cinco metros de proteção
ambiental. Observou-se que de cinco a dez metros, entre dez e quinze metros e de quinze a
vinte metros de preservação, repetiu-se em uma propriedade cada. Uma propriedade não
possui nenhuma área de preservação ambiental nas margens de rios, córregos e nascentes de
água natural.
Nesse resultado demonstra-se a preocupação dos produtores rurais em relação ao
cumprimento das leis ambientais. Mais da metade das empresas rurais está em conformidade
com a exigência legal, mantendo mais de 20% de reserva legal, sendo que a maioria também
preserva mais de cinco metros, próximos as nascentes, córregos e rios. É importante que os
produtores adotem essas práticas, pois contribuem com a qualidade de vida da população e
consequentemente com o futuro do planeta.
Com um planejamento adequado das áreas cultiváveis na propriedade, poderia ser
viável atender a preservação dos recursos naturais, tendo em vista sua importância para a
continuidade das atividades no campo. Como sugestão, os produtores podem investir em
reflorestamento com árvores nativas em locais improdutivos como encostas e no entorno das
nascentes de água, e priorizando o uso de produtos que não sejam prejudiciais ao meio
ambiente. Estas atitudes beneficiariam a preservação ambiental e a qualidade da água,
contribuindo para a qualidade de vida das famílias e consequentemente a diminuição do
êxodo rural.
A atividade rural está relacionada diretamente com o meio ambiente, por utilizar
recursos naturais. Em não havendo cuidado pelos produtores rurais poderão agredir de forma
severa os recursos naturais ainda existentes, comprometendo a qualidade de vida das futuras
gerações.
Nos Gráficos 2 e 3 demonstra-se o grau de conhecimento dos produtores em relação à
legislação ambiental e os principais meios de acesso a estas informações.
Gráfico 2 – Conhecimento da legislação ambiental Gráfico 3 – Meio de acesso às informações ambientais.
Fonte: Dados da pesquisa Fonte: Dados da pesquisa
O Gráfico 1 demonstra por meio das respostas sobre a legislação ambiental, que cinco
dos seis produtores conhecem parcialmente as leis ambientais, principalmente a lei da reserva
legal, o que representa 83% do total. Apenas 1 produtor respondeu que tem conhecimento
sobre a lei e que tem capacidade de diferenciar suas exigências para cada caso em específico.
Constatou-se por meio de informações obtidas com os produtores que existem certas
dificuldades de entendimento, principalmente no que envolve questões técnicas, pois a lei não
proporciona clareza nas informações. De acordo com o Gráfico 2 as principais fontes de
informações dos produtores rurais sobre a legislação ambiental foram o rádio e a televisão.
Dos seis entrevistados quatro disseram receber alguma informação por meio destes meios de
17% 0%
83%
Sim
Não
Parcialmente
17%
17%
33%
33%
Prefeitura
Jornal
Televisão
Rádio
comunicação, os outros dois produtores relataram receber informações da prefeitura, dos
jornais, dos vizinhos e de escritórios de agrimensura.
Observa-se certa dificuldade da maioria dos produtores em relação ao entendimento
das leis ambientais, justamente por ser pouco divulgado pelos órgãos competentes e até
mesmo pela falta de interesse por parte de alguns produtores. De acordo com os produtores
investigados, a fiscalização pelos organismos competentes não é atuante nas propriedades, em
decorrência do grande número de produtores e da falta de estrutura governamental.
A Tabela 3 demonstra as principais dificuldades encontradas para implantação da
reserva legal nas propriedades.
Tabela 3 - Dificuldades para implantação da reserva legal Ao implantar área de reserva legal, quais as dificuldades encontradas? Frequência
absoluta
Frequência
relativa
Terra insuficiente 3 33,33%
Falta de recursos financeiros 2 22,22%
Terreno mecanizado 1 1,11%
Falta de conhecimento 1 1,11%
Pouco incentivo 1 1,11%
Não Possui reserva legal 1 1,11%
Total 9 100%
Fonte: Dados da pesquisa
Conforme a Tabela 3, das nove dificuldades apresentadas para o cumprimento da
implantação da reserva legal, a principal se refere à insuficiência de terras, provocando
diminuição na sua capacidade de produção e tornando inviável economicamente sua
propriedade.
A falta de recursos financeiros foi citada duas vezes. Na opinião destes produtores os
municípios deveriam oferecer algum tipo incentivo, principalmente financeiro, por se tratar de
um investimento que só terá algum retorno no longo prazo aos produtores, sendo que os
benefícios ambientais são de interesse de toda a sociedade.
Também foi citada como dificuldades a falta de conhecimento sobre os dispositivos
legais, os poucos incentivos financeiros e o fato de o terreno ser totalmente mecanizado, que
incentiva a exploração. A falta de conhecimento e o pouco incentivo foram atribuídos aos
municípios e aos órgãos ambientais, que na percepção dos produtores não possuem o
reconhecimento desejado por estas entidades.
Sendo a maior dificuldade a falta de terras, conclui-se que o percentual de 20% de
reserva legal poderia ser diminuído para as pequenas propriedades, ou o Estado poderia
oferecer incentivos financeiros de forma a compensar a produção da área utilizada, para que
não haja diminuição da renda das famílias. A Tabela 4 trata de algumas atividades que podem
ser praticadas como alternativas econômicas nas áreas de reserva legal e os motivos
determinantes para a escolha desta técnica de preservação.
Tabela 4 - Produção em áreas de reserva legal e os fatores determinantes no momento de optar
por ou não por manter áreas preservadas. ATIVIDADES QUE PODEM SER EXPLORADAS
COMO FONTE DE RENDA PARA AS FAMILIAS
EM ÁREAS DE RESERVA LEGAL
MOTIVOS PARA PRESERVAÇÃO DA
ÁREA DE RESERVA LEGAL
Atividades
Frequência
absoluta
Frequência
relativa Motivos
Frequência
absoluta
Frequência
relativa
Árvores frutíferas e mel 2 33,33 Conscientização 2 33,33
Crédito de carbono 1 16,67 Obrigação da lei 1 16,67
Nenhuma 2 3,33 Diminuição da renda 1 16,67
Outras 1 16,67 Pouca terra 2 33,33
Total 6 100,0 Total 6 100,00
Fonte: Dados da pesquisa
Os resultados da Tabela 4 demonstram que das seis propriedades, duas citaram o
cultivo de árvores frutíferas, duas acreditam que não é possível explorar nenhuma atividade
que seja rentável, uma citou a possibilidade de obter créditos de carbono como forma de
remuneração e uma citou outras atividades.
Quanto aos motivos da implantação da reserva legal, dois produtores acreditam que a
conscientização ainda é o principal argumento, dois relataram possuir pouca área de terras,
para um produtor obrigação legal é o motivo principal e para outro a diminuição na renda da
família é o motivo principal da não implantação da reserva legal.
De acordo com os resultados, com a obrigação legal os produtores passaram a se
preocupar mais com as questões ambientais, é possível observar que um dos motivos é a
conscientização com as gerações futuras. Também houve argumentos para não implantação,
sendo a falta de terra e a possível queda na renda da família.
Dentre as informações obtidas, alguns produtores ressaltaram a falta de preocupação
dos órgãos públicos e da população das cidades em relação à preservação ambiental,
principalmente o descaso com o lixo e o esgoto das áreas urbanas que podem comprometer
todos os esforços praticados pela classe produtora. Quando ocorrem fortes chuvas, dejetos e
lixo acabam sendo levados pela correnteza e chegam até as áreas preservadas,
comprometendo o trabalho realizado. Além de contaminar a água com dejetos humanos e
deixar materiais como vidros e plásticos espalhados ao longo das margens dos rios e córregos.
É fundamental para os produtores ter conhecimento dos benefícios proporcionados
pela implantação das áreas de preservação ambiental, para que haja mais consciência e para
atrair mais pessoas com o mesmo objetivo de contribuir para o futuro do planeta.
A Tabela 5 apresenta os principais diferenciais proporcionados após a implantação da
reserva legal nas propriedades.
Tabela 5 - Diferencial proporcionado após a implantação da reserva legal Diferenciais proporcionados pela reserva legal Frequência
absoluta
Frequência
relativa
Melhorias na qualidade da água 3 50%
Aumento de espécies nativas de animais e plantas 1 16,67%
Não houve mudanças 1 16,67%
Não possui reserva legal 1 16,67%
Total 6 100%
Fonte: Dados da pesquisa
De acordo com os resultados apresentados na Tabela 5, em relação aos diferenciais
proporcionados pela reserva legal, a metade dos produtores indicaram a melhoria na qualidade
da água. Um produtor respondeu que houve aumento de espécies nativas de animais e plantas,
outro não verificou mudanças e um terceiro não possui área de reserva legal.
São fundamentais para a comunidade estas ações ambientais desenvolvidas, para que
haja mais consciência em relação ao futuro da humanidade. Se não forem feitas ações eficazes
para o desenvolvimento destas práticas de proteção ambiental, a sociedade sofrerá sérias
consequências, como falta de água potável e possíveis mudanças climáticas, já constatadas na
região.
Conforme Arana e Baldassi (2009), o tema reserva legal não é assunto esgotado.
Muitas discussões já ocorreram e estão acontecendo em diversos níveis da sociedade civil
organizada, entidades não governamentais de proteção ambiental, pelo poder público e os
principais interessados que são os produtores rurais. Neste sentido, percebe-se que estas
afirmativas condizem com os resultados da pesquisa, em que o tema possui relevância para a
sociedade e deve continuar sendo discutido, principalmente por envolver recursos financeiros
para sua implantação e que seus principais benefícios serão para a comunidade em geral.
De forma geral a opinião dos agricultores em relação lei de reserva legal foi positiva,
pois para eles é uma maneira de pressionar os produtores para a importância da preservação
dos recursos naturais. Esta preocupação deveria existir sem a obrigação da lei, porém diante
do pouco interesse por parte dos agricultores a lei vem para ajudar na fiscalização das áreas
mínimas exigidas para a preservação ambiental. Para minimizar os efeitos causados pela
prática da agricultura estas exigências devem ser respeitadas para conservação dos recursos
naturais, principalmente a água de qualidade para o consumo, cuja falta poderá ser um dos
sérios problemas futuros da humanidade.
5 CONCLUSÕES E PESQUISAS FUTURAS
Nos últimos anos as leis ambientais brasileiras estão sendo alteradas frequentemente.
Dentre as mudanças, a lei de reserva legal trouxe a obrigatoriedade de manter área com
cobertura de vegetação nativa, a título de reserva legal em percentuais mínimos em relação à
área e sua localização. Neste sentido, o estudo teve como principal objetivo verificar a
utilização da reserva legal na região Oeste de Santa Catarina.
Quanto as principais características apresentadas pela pesquisa, observou se que
quatro dos seis imóveis pesquisados possuem área total de até 10 hectares e utiliza mão de
obra familiar para desenvolver suas atividades, caracterizando a maior parte da amostra como
pequenas propriedades, sendo esta uma das características regionais. Contudo, algumas
propriedades possuem grandes áreas de terra, geralmente localizadas em áreas planas, que não
é característica principal da região pesquisada. As principais atividades desenvolvidas na
região são a produção de leite e milho, sendo estas atividades de maior relevância para a
economia da região e a sobrevivência das famílias no meio rural.
O estudo identificou algumas dificuldades que os agricultores enfrentam em relação ao
cumprimento da lei, por meio de entrevistas aplicadas verificou-se que 83% conhece
parcialmente, atribuindo esta realidade a falta de informação adequada. A pouca área de terras
e falta de recursos também foram sugeridas. Segundo os proprietários a lei é confusa e a
classe agricultora não possui conhecimento técnico específico. A falta de terras dificulta o
cumprimento da lei e pode tornar a propriedade inviável economicamente, até mesmo para
sustento da família. Por fim, a falta de recursos financeiros e a falta de apoio dos órgãos
públicos também foram mencionadas.
No que se refere ao percentual de 20% da reserva legal, 50% dos entrevistados
responderam que estão cumprindo a lei em suas propriedades respeitando estes percentuais.
Mesmo alguns não colocando em prática, 100% dos entrevistados concordam que a
preservação é importante para a sociedade, principalmente para as futuras gerações. Observa-
se dessa forma que os produtores têm consciência da implantação da reserva legal, contudo
temem seus impactos imediatos no sistema produtivo.
Os achados da pesquisa evidenciam que a região da pesquisa necessita de tratamento
diferenciado de outras regiões do país que possuem grandes propriedades, cuja produção é
maior e que a implantação das áreas de preservação não interfere de maneira significativa na
renda das famílias.
De modo geral, os resultados evidenciaram que embora a reserva legal não esteja
presente em todas as propriedades investigadas, tem sido utilizada por uma parcela relevante
dos imóveis. Sendo assim, pode-se concluir que a reserva legal tem obtido espaço e
importância nas propriedades da região, sendo tratada como instrumento útil na implantação e
preservação da cobertura da vegetação nativa. A lei tem sido utilizada como ferramenta de
apoio a fim de pressionar os agricultores no cumprimento das exigências do código florestal,
principalmente na preservação das margens dos rios, córregos e nascentes de água. Sendo este
um bem natural indispensável para a sobrevivência da humanidade e que vem diminuindo
gradativamente devido a ação do homem e pode ser um dos principais problemas do futuro de
planeta.
No desenvolvimento desta pesquisa, observou-se a perspectiva de novos estudos sobre
o tema, possibilitando o aprofundamento, bem como novas formas de abordagens. Assim,
como sugestão para futuras pesquisas, recomenda-se o aumento da amostra como forma de
confirmação dos resultados obtidos nesta pesquisa. Sugere-se também a realização de novos
estudos na região, com maior abrangência de produtores rurais e constantes mudanças nas
normativas ambientais, inclusive algumas estão em fase de adaptação e podem ser
reformuladas ou substituídas no decurso do tempo.
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