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5/26/2018 RESPIRAÃOHOLOTRPICA-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/respiracao-holotropica-56213922584df 1/63  Grupo Omega de Estudos Holísticos e Transpessoais Instituto Superior de Ciências da Saúde de Minas Gerais - INCISA MARCEL COSTA NONATO Respiração Holotrópica: Uma Técnica eficaz para a cura de traumas Salvador 2010

RESPIRAÇÃO HOLOTRÓPICA

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  • Grupo Omega de Estudos Holsticos e Transpessoais

    Instituto Superior de Cincias da Sade de Minas Gerais -

    INCISA

    MARCEL COSTA NONATO

    Respirao Holotrpica:

    Uma Tcnica eficaz para a cura de traumas

    Salvador

    2010

  • MARCEL COSTA NONATO

    Respirao Holotrpica:

    Uma Tcnica eficaz para a cura de traumas

    Monografia apresentada Banca

    Examinadora do Programa de Ps-

    Graduao em Terapia Transpessoal do

    Instituto Superior de Cincias da Sade,

    como exigncia parcial para obteno do

    ttulo de Ps-Graduado em Terapia

    Transpessoal.

    Orientador: Carla Mirrele

    Salvador

    2010

  • AGRADECIMENTO

    Eu gostaria de agradecer a minha Me pela a vida.

    A minha namorada Renata, pelo incentivo e pela digitao do material desta

    monografia.

    Ao Psiclogo e Terapeuta Transpessoal Felipe Passos, pela orientao desta monografia

    e pela correo nos moldes da ABNT.

    Aos amigos que me incentivaram para concluir este trabalho acadmico.

    Agradeo a Deus pela minha sade.

  • Faa o bom uso!

    Autor desconhecido

  • MARCEL COSTA NONATO

    Respirao Holotrpica:

    Uma Tcnica eficaz para a cura de traumas

    Monografia aprovada como requisito parcial para obteno do titulo de Ps-graduao

    em Terapia Transpessoal no Instituto Superior de Cincias e Sade pela banca

    examinadora formada pelos seguintes professores:

    Professor titulo Instituio

    Professor titulo Instituio

    Salvador BA

    2010

  • RESUMO

    Esta pesquisa foi realizada no intuito de investigar se a Respirao Holotrpica

    uma ferramenta teraputica eficaz na superao de traumas, seja no nvel fsico,

    psquico e emocional. Observamos que esta tcnica, desenvolvida por Grof, torna-se

    um recurso teraputico eficiente na cura de traumas. Para comprovar a verdadeira

    eficcia deste procedimento, foi utilizado a pesquisa bibliogrfica e relatos de

    experincias catalogadas em sesses de Respirao Holotrpica.

    Palavras Chaves: Psicologia Transpessoal; Respirao Holotrpica; Cura; Trauma;

    Transio de Paradigmas.

  • ABSTRACT

    This research was purposed to investigate if holotropic breathing is an effective

    therapeutic tool to overcome trauma, in the physical, mental and emotional level.

    We note that this technique, developed by Grof, becomes an effective therapeutic

    resource in the healing of trauma. We use the literature and reports of experiences

    cataloged in Holotropic breathwork sessions to prove the effectiveness of procedure.

    Keywords: Transpersonal Psychology, Holotropic Breathwork, Healing, Trauma,

    Transition Paradigm

  • SUMRIO

    1 INTRODUO 8 2 A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL 11 2.1 A mudana ocorre mais uma vez 11

    2.2 A psicologia transpessoal no Brasil 19

    2.3 Estados no comuns de conscincia 20

    2.4 A nova cartografia da psique 24

    2.5 Os sistemas COEX 31

    2.6 Terapia Holotrpica 33

    2.7 Papel do Terapeuta Transpessoal 36

    2.8 Instrumentos Teraputicos 41

    2.8.1 Meditao 41

    2.8.2 Exerccios Psicofsicos 42

    2.8.3 Tcnicas envolvendo prticas respiratrias 42

    3 RESPIRACAO HOLOTRPICA 45

    3.1 Respirao Holotrpica 45

    3.2 O uso da respirao controlada 48

    3.3 Trabalho Corporal 50

    3.4 Msica 50

    3.5 Vivencias de pessoas de respiraram 55

    4 CONCLUSO 61

    REFRNCIA 62

  • 1. INTRODUO

    Na histria do mundo sempre existiu ganncia e violncia, tanto que se tm inmeros

    casos de guerras, lutas armadas, por motivos religiosos, polticos, financeiros, pessoais e

    familiares. Nos ltimos vinte anos, o mundo vem passando por diversas crises no s

    pessoais como mundiais, no que diz respeito sade, o modo de vida, o meio ambiente,

    a economia, a poltica, as relaes sociais, moral e espiritual. A raa humana est

    vivendo real ameaa de extino, assim como a vida de todo o planeta, com uma grande

    parte da populao passando por necessidades como: falta de moradia, sede, fome,

    violncia domstica e desemprego.

    Mesmo aps guerras violentas a natureza foi capaz de se recuperar das conseqncias.

    Mas a partir do sculo XX, isso tudo mudou. O progresso tecnolgico, a produo

    industrial, o crescimento populacional, a descoberta de energia atmica esto trazendo

    conseqncias desastrosas na vida atual. Podemos citar a poluio industrial do solo, da

    gua, do ar, a ameaa de acidentes e lixo nucleares, a destruio da camada de oznio, o

    efeito estufa, o desmatamento e queimadas, a extino dos animais e o pior, famlias em

    crise, desaparecimento de valores espirituais, falta de esperana, de pensamentos

    positivos e falta de contato com a natureza. A humanidade agora vive uma angstia a

    beira de uma catstrofe nuclear e ecolgica, enquanto possui uma tecnologia avanada

    semelhante ao mundo da fico cientfica.

    As grandes naes se dedicam a fabricao de armamentos para guerra e armas

    nucleares que levam a gastos exagerados, a degradao do nosso meio ambiente natural

    vem acompanhada do aumento nos problemas de sade, enquanto que doenas

    nutricionais e infeccionais so as maiores responsveis pelas mortes no terceiro mundo.

    Nos pases industrializados so as doenas crnicas e degenerativas como o derrame, o

    cncer e enfermidades cardacas e quanto ao aspecto psicolgico, depresso,

    esquizofrenia e outros distrbios de comportamento parecem brotar de uma deteriorao

    paralela de nosso meio ambiente social (CAPRA, 1982).

    Outros sinais de desintegrao social esto em alta como o aumento do alcoolismo e

    consumo de drogas, o grande nmero de crianas com deficincia de aprendizagem e

    distrbios de comportamento, o aumento de crimes violentos e suicdio de pessoas

  • jovens. Anomalias econmicas como o desemprego em grande escala, inflao alta,

    distribuio desigual de renda e criminalidade.

    Ou seja, a humanidade encontra-se em crise, mas no uma crise qualquer, a crise

    atual, no apenas uma crise de indivduos, governos ou instituies sociais, uma

    transio com dimenses planetrias, como indivduos, como sociedade e civilizao e

    ecossistema planetrio. Segundo Capra (1982) estamos chegando a um momento

    decisivo.

    A atual crise global basicamente de natureza psicoespiritual: ela reflete o

    nvel de evoluo de conscincia da espcie humana [...] a transformao

    psicoespiritual da humanidade no apenas possvel, mas j est ocorrendo,

    a pergunta e se ela pode ser rpida o suficiente para reverter a atual

    tendncia autodestrutiva da humanidade moderna (GROF, 2007, p.321).

    De acordo com Brennan (2006) existe uma fora criativa em cada ser humano e esta

    fora liberada em momentos de crise. A liberao dessa fora criativa nos permite

    resolver os problemas com que nos deparamos, todos ns podemos aprender a ter

    acesso fonte profunda das energias criativas.

    Neste cenrio, o ser humano vem tentando desenvolver procedimentos que visam entrar

    em contato com esta energia no intuito de liber-la. O processo de liberao desta fora

    faz com que ele entre em contato com seus traumas e como consequncia disso os

    elimine, fazendo-o triunfar na direo da sade e do bem-estar. Brennan (2006) coloca

    que se o ser humano passar por este processo ele se cura.

    Existem inmeras ferramentas desenvolvidas na humanidade para a cura, vamos estudar

    uma delas, a Respirao Holotrpica. Este trabalho, portanto, prope-se em investigar

    se a Respirao Holotrpica uma ferramenta teraputica eficaz na superao de

    traumas.

    Para verificar se esta hiptese vlida ou no, foi utilizada a pesquisa bibliogrfica.

    Esta consiste em realizar um levantamento de dados j existentes sobre um tema. A

    abordagem utilizada a pesquisa qualitativa, pois visamos interpretar os fenmenos que

    envolvem a Respirao Holotrpica sem trat-los estatisticamente. Para alcanar este

  • fim, utilizamos o mtodo descritivo que visa expor as caractersticas de um fenmeno,

    no caso, a Respirao Holotrpica.

    O referencial terico utilizado foram os principais conceitos da Psicologia Transpessoal,

    especificamente os construdos por Stanislav Grof, o principal difusor desta nova escola

    da psicologia. Os dados da amostra, para verificar a eficcia da tcnica, foram coletados

    a partir dos estudos e pesquisas catalogadas de Grof. Os escolhemos por ele ser o

    responsvel pela criao da tcnica. Foram usados, tambm, relatos de participantes do

    curso em processos holotrpicos, realizado na cidade de Salvador, Bahia, no ano de

    2010.

    Inicialmente o que levou ao estudo do tema foram as experincias realizadas com

    grupos de aprofundamentos em Processos Holotrpicos com enfoque em

    hiperventilao, msica evocativa e senso percepo. Realizado no curso de Ps

    Graduao, do Grupo Omega, Centro de Estudos Holsticos e Transpessoais.

    Neste curso de aprofundamento, foi experimentado por diversas vezes a tcnica da

    Respirao Holotrpica, alm de acompanharmos diferentes situaes de pessoas que

    entraram neste processo. Foi observada a cura de vrios traumas, que mudaram a vida

    das pessoas e que as ajudou a conscientizar dos seus processos internos.

    Desta forma, foi resolvido que a Respirao Holotrpica seria objeto de estudo desta

    monografia, por acreditar que esta tcnica muito eficaz no tratamento de traumas. Para

    isso, no primeiro captulo ser analisado a mudana de paradigmas e contextualizado o

    aparecimento da Psicologia Transpessoal.

    No segundo captulo ser analisado a tcnica da Respirao Holotrpica, e em seguida

    ser mostrado ao leitor a concluso deste trabalho, onde ser demonstrado a eficcia da

    tcnica da Respirao Holotrpica na cura de traumas.

  • 2 A Psicologia Transpessoal

    2.1 A mudana ocorre mais uma vez

    V-se que a humanidade est passando por uma crise profunda, que est passando, mais

    uma vez, por uma transio. Segundo Capra (1982) pode-se reconhecer a confluncia de

    diversas transies ao longo da histria da humanidade, algumas delas esto

    relacionadas com os recursos naturais, outras com valores e idias culturais, outras so

    partes de flutuaes que acontece estarem coincidindo no presente momento. Dentre

    elas, existem trs que afetaram o nosso sistema social, econmico e poltico.

    A primeira transio deve-se ao declnio do patriarcado, nele os homens determinam

    que papel as mulheres devem ou no desempenhar e no qual a fmea est em toda parte

    submetida ao macho. Esse era o nico sistema que, at data recente, nunca tinha sido

    abertamente desafiado em toda a histria. Hoje, porm, a desintegrao do patriarcado

    tornou-se evidente, o movimento feminista uma das mais fortes correntes culturais do

    nosso tempo e ter um profundo efeito sobre a nossa futura evoluo.

    A segunda transio imposta pelo declnio da era do combustvel fssil como petrleo,

    carvo e gs natural, que tem sido as principais fontes de energia da moderna era

    industrial. Quando esgotar estes recursos, essa era chegar ao fim, os combustveis

    fsseis estaro esgotados por volta de 2300, mas os efeitos econmicos e polticos desse

    declnio j esto sendo sentidos. Essa dcada ser marcada pela transio da era do

    combustvel fssil para uma era da energia renovvel oriunda do sol. Essa mudana

    envolver transformaes radicais em nossos sistemas econmicos e polticos.

    A terceira transio envolve o que hoje freqentemente chamado de mudana de

    paradigma, uma mudana profunda no pensamento, percepo e valores que formam

    uma determinada viso da realidade. O paradigma que dominou nossa cultura, durante

    centenas de anos, foi o newtoniano-cartesiano, no qual modelou nossa moderna

    sociedade Ocidental e influenciou o resto do mundo.

    Este paradigma compreende a crena de que o mtodo cientfico a nica abordagem

    vlida do conhecimento, enxerga a concepo do universo como um sistema mecnico

  • composto de unidades materiais elementares e tem a crena do progresso material

    ilimitado a ser alcanado atravs do crescimento econmico e tecnolgico. Nas dcadas

    mais recentes, conclui-se que todas essas idias e esses valores esto seriamente

    limitados e necessitam de uma reviso radical.

    A atual mudana de paradigma faz parte de um processo mais vasto, uma flutuao

    regular de sistemas de valores, que pode ser apontada ao longo de toda a civilizao

    Ocidental e da maioria das outras culturas.

    A partir do sculo XVI e XVII a noo de um universo orgnico e espiritual foi

    substituda pela noo do mundo como se ele fosse uma mquina. Isso se deu devido

    mudanas revolucionrias na fsica e na astronomia, culminando nas realizaes de

    Coprnico, Galileu e Newton, e baseada tambm nos mtodos de Francis Bacon e

    Descartes (CAPRA, 1982).

    Ren Descartes usualmente considerado o fundador da filosofia moderna, visualizou

    um mtodo que lhe permitiria construir uma completa cincia da natureza. Baseada na

    matemtica em princpios fundamentais que dispensam demonstrao. Na sua

    concepo, s podemos acreditar naquelas coisas que so perfeitamente conhecidas e

    sobre as quais no pode haver dvidas (CAPRA, 1982).

    A aceitao do ponto de vista cartesiano como verdade absoluta e do mtodo de

    Descartes, como nico meio vlido para se chegar ao conhecimento, desempenhou um

    importante papel na instaurao de nosso atual desequilbrio cultural. O cogito

    cartesiano, fez com que Descartes privilegiasse a mente em relao a matria e levou-o

    a concluso de que as duas eram separadas e fundamentalmente diferente. Desta forma,

    ele afirmou que no h nada no conceito de corpo que pertena mente, e nada na

    idia de mente que pertena ao corpo (DESCARTES apud CAPRA, 1982, p.55).

    A diviso cartesiana entre matria e mente teve um efeito profundo sobre o pensamento

    Ocidental, ela nos levou a atribuir ao trabalho mental um valor superior ao trabalho

    manual, impediu os mdicos de considerarem seriamente a dimenso psicolgica das

    doenas e os psicoterapeutas de lidarem com o corpo de seus pacientes. Na fsica tornou

    extremamente difcil, aos fundamentos da teoria quntica, interpretar suas observaes

  • dos fenmenos atmicos, nas cincias humanas, a diviso cartesiana redundou em

    interminvel confuso a cerca da relao entre mente e crebro.

    Para Descartes o universo material era uma mquina, no havia propsito, vida ou

    espiritualidade na matria e a natureza funciona de acordo com leis mecnicas. Esse

    quadro mecnico da natureza tornou-se paradigma dominante da cincia no perodo que

    seguiu a Descartes, passou a orientar a observao cientfica e a formulao de todas as

    teorias dos fenmenos naturais, at que a fsica do sculo XX ocasionou uma mudana

    radical.

    Segundo Capra (1982), Descartes errou, pois a fsica do sculo XX mostrou-nos que

    no existe verdade absoluta em cincia, que todos os conceitos e teorias so limitados e

    aproximados. A crena cartesiana na verdade cientfica , ainda hoje, muito difundida e

    se reflete no cientificismo que se tornou tpico de nossa cultura ocidental, tanto

    cientistas como no cientistas.

    A base filosfica dessa secularizao da natureza foi a diviso cartesiana entre esprito e

    matria, em conseqncia dessa diviso, acreditava-se que o mundo era sistema

    mecnico suscetvel de ser descrito objetivamente, sem meno alguma ao observador

    humano, e tal descrio objetiva da natureza tornou-se ideal de toda a cincia.

    Em nossa sociedade atual as pessoas esto convencidas de que o mtodo cientfico o

    nico meio vlido de compreenso do universo. O mtodo de pensamento de Descartes

    e sua concepo da natureza influenciaram todos os ramos da cincia moderna e podem

    ainda hoje serem muito teis, mas s sero se suas limitaes forem reconhecidas.

    De acordo com Capra (1982), Descartes criou a estrutura conceitual para a cincia do

    sculo XVII, mas o homem que deu realidade ao sonho cartesiano e completou a

    revoluo cientfica foi Isaac Newton. Nascido na Inglaterra em 1642, Newton

    desenvolveu uma completa formulao matemtica da concepo mecanicista da

    natureza e, portanto, realizou uma grandiosa sntese das obras de Coprnico e Kepler,

    Bacon, Galileu e Descartes. A fsica newtoniana forneceu uma consistente teoria

    matemtica do mundo, que permaneceu como slido alicerce do pensamento cientfico

    at boa parte do sculo XX.

  • O decisivo insight de Newton aconteceu quando ele viu uma ma cair de uma rvore e

    compreendeu que ela era atrada para a terra pela mesma fora que atraia os planetas

    para o sol. Empregou, ento, seu novo mtodo matemtico para formular as leis exatas

    do movimento para todos os corpos, sob influncia da fora da gravidade. A

    significao dessas leis reside em sua aplicao universal, comprovou-se que eram

    vlidas para todo o sistema solar. Assim, pareciam confirmar a viso cartesiana da

    natureza.

    O universo newtoniano era, de fato, um gigantesco sistema mecnico que funcionava de

    acordo com leis matemticas exatas e ele escreveu: o tempo absoluto, verdadeiro,

    matemtico, de si mesmo e por sua prpria natureza, flui uniformemente, sem depender

    de qualquer coisa externa (NEWTON apud CAPRA, 1982, p.60).

    Na mecnica newtoniana, todos os fenmenos fsicos esto reduzidos ao movimento de

    partculas materiais, causado por sua atrao mtua, ou seja, pela fora da gravidade. O

    efeito dessa fora sobre uma partcula ou qualquer outro objeto material descrito

    matematicamente pelas equaes do movimento enunciadas por Newton, as quais

    formam a base da mecnica clssica.

    Na concepo newtoniana, Deus criou, no princpio, as partculas materiais, as foras

    entre elas e a leis fundamentais do movimento todo. O universo foi posto em

    movimento desse modo em contnuo funcionamento, desde ento, como uma mquina,

    governado por leis imutveis. No se pensava que os fenmenos fsicos, em si, fossem

    divinos em qualquer sentido. Assim, quando a cincia tornou cada vez mais difcil de

    acreditar em tal Deus, um deus monrquico que governaria o mundo a partir do alto,

    impondo-lhe sua lei divina, o divino desapareceu completamente da viso cientfica do

    mundo, deixando em sua esteira o vcuo espiritual que se tornou caracterstica da

    corrente principal de nossa cultura.

    Os sculos XVIII e XIX serviram-se da mecnica newtoniana com enorme sucesso e

    sua teoria foi capaz de explicar o movimento dos planetas, luas e cometas, assim como

    o fluxo das mars e outros fenmenos relacionados com a gravidade. A imagem do

  • mundo como uma mquina perfeita, que tinha sido introduzida por Descartes foi

    considerado um fato comprovado e Newton tornou-se seu smbolo.

    Durante o sculo XIX, os cientistas continuaram a elaborar o modelo mecanicista do

    universo na fsica, biologia, qumica, cincias sociais e psicologia. Somente em

    iniciados do sculo XX tornou-se claro que a idia de uma cincia pesada, ou seja, a

    fsica clssica que se baseava na idia newtoniana de que os tomos so elementos

    bsicos, duros e slidos, da matria, era parte do paradigma cartesiano newtoniano, um

    paradigma que seria superado (CAPRA, 1982).

    Em consonncia com Capra (1982), as novas descobertas e as novas formas de

    pensamento evidenciaram as limitaes do modelo newtoniano e prepararam caminho

    para as revolues cientficas do sculo XX. Esta revoluo diz respeito ao

    aparecimento do novo paradigma o chamado de paradigma Transpessoal. Ele vem

    responder crise que a humanidade e todo o sistema esto passando.

    A psicologia foi moldada pelo paradigma cartesiano, Descartes, alm de estabelecer

    uma distino ntida entre o corpo humano perecvel e a alma indestrutvel, sugeriu

    deferentes mtodos para estud-los, a alma ou mente, deve ser estudada por

    introspeco, o corpo, pelos mtodos da cincia natural. Desde ento, todas as escolas

    da psicologia seguiram este modelo, como por exemplo, o behaviorismo, a gestalt e a

    psicanlise. Com a emergncia deste novo paradigma e psicologia avanou, surgiu a

    Psicologia Transpessoal, filha deste novo paradigma (CAPRA, 1982).

    Segundo Ferreira, Brando e Menezes (2005), o desenvolvimento da Psicologia

    Transpessoal foi beneficiado pelas descobertas da nova fsica, ela baseada nas teorias

    qunticas e da relatividade e possui a viso do mundo quantum-relativista, constituindo-

    se holstica. Busca analisar seu impacto na mente humana, principalmente no que diz

    respeito aos diferentes nveis de conscincia, produzidos pela presena de determinada

    forma de ver o mundo (cartesiana newtoniana X unidade dinmica da fsica

    moderna). Bem como as tecnologias alteradoras de conscincia e suas repercusses na

    construo de um novo sentido para o mundo.

  • Psicologia Transpessoal muito semelhante ao modelo quantum relativismo

    da fsica moderna subatmica, modelos que procuram apresentar um ponto

    de vista integrado da teoria de quantum e relatividade [...] o universo todo

    (material energia) uma entidade dinmica em constante mudana num todo

    indivisvel (MATOS, 1992, p.11).

    Busca estudar estados de conscincia experenciados pelo observador, os quais desvelam

    a realidade. A apreenso do universo do que real, sempre inclui o observador. Um de

    seus mtodos de investigao , portanto fenomenolgico, estudando estados de

    conscincia para conhec-los como nveis de realidade. A realidade nesta perspectiva

    surge inesperada do observador (FERREIRA, BRANDO e MENEZES, 2005).

    Para esta nova cincia, como no estamos de fato separados (a separatividade real para

    um nvel de conscincia ordinrio e iluso para o nvel de conscincia de unidade)

    somos um todo, inteiro e coerente, envolvido em um incessante processo de mudana: o

    holomovimento. Bohm coloca o mundo em fluxo constante onde estruturas estveis de

    qualquer espcie, so nada mais que abstraes, e qualquer objeto descritvel, entidade

    ou eventos, so vistos como derivados de uma totalidade indefinvel e desconhecida

    (BOHM apud FERREIRA, BRANDO e MENEZES, 2005).

    De acordo com Ferreira, Brando e Menezes (2005), a Psicologia Transpessoal com sua

    viso holstica, prope-se a estabelecer pontes entre as filosofias (principalmente as de

    tradies Orientais) e a cincia Ocidental, respaldando-se no paradigma quntico-

    relativstico da realidade. Seu objetivo resgatar o conhecimento da totalidade e

    integr-lo no das especialidades abarcando o complexo no simples, o coletivo no

    singular, o comum no particular e o universal no individual. A Transpessoal vem

    legitimar, por meios cientficos, estas tradies espirituais milenares.

    As culturas Orientais desenvolveram tambm tradies espirituais que se fundamentam

    em experincias msticas que levaram a criao de elaborados modelos de conscincia

    que no podem ser entendidos dentro da estrutura cartesiana, mas que esto em

    concordncia com recentes conquistas cientfica. As tradies msticas Orientais no

    so primeiramente interessadas na formulao de conceitos tericos, elas so, sobretudo

    caminhos de libertao. Buscam a transformao da conscincia, durante sua longa

    histria, desenvolveram tcnicas sutis para mudar, em seus adeptos, a percepo

    consciente de sua prpria existncia e de sua relao com a sociedade humana e o

  • mundo natural. Assim as tradies como o taosmo, yoga e budismo assemelham-se

    muito mais a psicologia do que a filosofia ou religies (FERREIRA, BRANDO e

    MENEZES, 2005).

    Em relao conscincia, as teorias dos pensamentos newtonianos tm em comum

    que a conscincia e a inteligncia criativa no so derivadas da matria e sim das

    atividades neurofisiolgicas do crebro. O crebro ficava responsvel por tudo e a

    religio, tica, moral e arte constituam-se como subprodutos seus (FERREIRA,

    BRANDO e MENEZES, 2005).

    No sentido Transpessoal a conscincia vista de maneira nova, libertada a idia de

    que a conscincia criada dentro do crebro humano. Esta viso vai alm da crena de

    que a conscincia s existe do resultado de nossas vidas individuais, ela v como uma

    coisa que existe, fora e independente de ns mesmos, algo sem fronteiras materiais.

    Diferente da nossa vida diria a conscincia independente de nossos sentidos fsicos, a

    conscincia transpessoal infinita, vai alm dos limites de espao e tempo (GROF,

    1992).

    Nesta nova viso da conscincia, nossa vida no formada por influncias ambientais

    momentneas, a partir do dia de nosso nascimento, mas tambm modelada de igual

    importncia por influncias ancestrais, culturais, espirituais, csmicas e muito mais do

    que percebemos no sentido fsico (GROF, 2007).

    No campo trans-pessoal experimentamos uma expanso ou extenso da conscincia

    alm dos limites usuais do nosso corpo e do nosso ego, tanto quanto muito alm dos

    limites fsicos de nossa vida diria (GROF, 1994, p.113).

    uma ampliao da conscincia comum com viso direta de uma realidade que se

    aproxima muito dos conceitos da fsica moderna (WEIL, 1990, p.9).

    Portanto, a Psicologia Transpessoal, constitui-se como uma nova escola da psicologia,

    especializada no estudo dos estados de conscincia, mais especificamente da

    conscincia csmica, ou estados ditos superiores, ampliados a transpessoais da

    conscincia que podem ser compreendidos como: entrada numa dimenso fora do

  • espao-tempo, tal como costuma ser percebida pelos nossos cinco sentidos

    (FERREIRA, BRANDO e MENEZES, 2005).

    A Psicologia Transpessoal desponta como movimento sistematizado a partir de 1969,

    tendo como alvo expandir o campo da pesquisa psicolgica, incluindo reas da

    experincia e do comportamento humano associadas sade e ao bem-estar extremo.

    Com a formao da associao de Psicologia Transpessoal e a publicao de sua revista,

    nasceu uma primeira definio de Psicologia Transpessoal, assim expressa por Sutich

    (1969 apud WEIL, 1990, p.29):

    Psicologia Transpessoal (ou Quarta Fora) o ttulo dado a uma fora emergente no campo da psicologia representada por um grupo de psiclogos

    e profissionais de outras reas, de ambos os sexos, que esto interessados

    naquelas capacidades e potencialidades ltimas que no possuem um lugar

    sistemtico na teoria positivista ou behaviorista (Primeira Fase), na teoria psicanaltica clssica (Segunda Fora), ou na psicologia humanstica (terceira fora).

    O termo Transpessoal foi adotado depois de uma considervel deliberao em torno dos

    relatos de praticantes de vrias disciplinas da conscincia que falavam de experincias

    de uma extenso da identidade para alm da individualidade e da personalidade, e a

    origem do termo atribuda a Carl Jung e Roberto Assagioli.

    Sem cair nos reducionismos ou mesmo no corporativismo, a Psicologia Transpessoal

    busca fazer uma sntese das diversas contribuies das tendncias teraputicas.

    Seguindo esse curso, ela abriga no seu bojo os diferentes ramos do saber psicolgico

    donde se destacam aspectos da psicologia no mbito experimental, fisiolgica,

    patolgica, clnica evolutiva, behaviorista, gestaltista, psicanaltica, existencial e

    humanstica.

    Esta integrao prope uma conexo, na qual os recursos destas disciplinas com suas

    respectivas tecnologias so agregados sem esfacelamentos, desse modo, foge-se do

    ecletismo, que poderia ser identificado como o uso isolado de tcnicas e recursos de

    diversas disciplinas sem fins de conectividade.

  • Em consonncia com Ferreira, Brando e Menezes (2005), a Psicologia Transpessoal

    nada exclui, pelo contrrio, inclui todas as dimenses do ser humano, proporcionando-

    lhe, enquanto abordagem psicoteraputica, meios para enfrentar o sofrimento e

    transcender sua identidade egoca, fonte permanente desse sofrimento.

    2.2 A Psicologia Transpessoal no Brasil

    A entrada da Psicologia Transpessoal no Brasil deve-se por trs vias principais: a) ao

    individual ou via dos pioneiros; b) movimento popular e comunidades teraputicas ou

    via alternativa; c) oficial ou via acadmica.

    Na primeira via, tivemos psiclogos com formao acadmica tradicional que

    mantinham suas atividades dentro desses enfoques, mas que em suas vidas privadas

    tiveram experincias em estados ampliados de conscincia ou mantinham algum contato

    com tradies espirituais que usavam o transe como caminho de cura. Esta via era

    geralmente ambivalente e dicotmica, pois os padres de crenas, vises de homem e

    mundo da psicologia oficial excluam qualquer possibilidades de incluso do sagrado,

    de forma que a represso e a negao eram os mecanismos mais comuns para lidar com

    estes fenmenos.

    Os pioneiros emergiam e comearam a introduzir os estudos dos estados ampliados de

    conscincia em seus trabalhos, bem como tentaram equilibrar suas vises de mundo

    com os modelos de psicologia j presentes e reconhecidos em nossa cultura.

    Na segunda via, tivemos a influncia dos trabalhos em grupo junto aos movimentos

    populares e as comunidades teraputicas, aqui marcadamente uma influncia do

    encontro com o humanismo Rogeriano e os movimentos de contracultura emergentes da

    dcada de 60. Era possvel em um encontro discutir problemas de segurana pblica e

    violncia, alm de vivenciar dinmicas de grupo que geravam confiana e ao final orar e

    cantar pedindo proteo a deus e aos orixs.

    Outro grande grupo, nesta via, era formado por psiclogos que tiveram oportunidade de

    contactar in loco com as comunidades Orientais. O estilo de vida Oriental, com os seus

    modelos de integrao mente e corpo, que incluam pratica de yoga, meditao,

  • respirao conduzida, visualizaes na busca por liberao de padres negativos de

    comportamento, possibilitavam aos psiclogos uma primeira tentativa de integrao de

    sua viso de mundo, de forma que muitos se engajaram nestes movimentos.

    Na Psicologia Transpessoal brasileira dois nomes se destacam Pierre Weil (1990), que

    alm de ter sido pioneiro na introduo da teoria transpessoal, percorreu no incio vrias

    regies do pas, divulgando o surgimento dessa nova escola no mundo acadmico e at

    hoje atua com contribuio terica inestimvel. O segundo Leo Matos (1992) que

    influenciou intensamente a formao das primeiras geraes de psicoterapeutas

    transpessoais, alm de ter aberto, com seus cursos na ndia, um canal de comunicao

    com as psicologias Orientais.

    Admitimos que as dificuldades existentes ainda hoje das universidades brasileiras em

    adotar a Psicologia Transpessoal em seus currculos, nos cursos de formao de

    psiclogos, resultam no apenas da desinformao nos meios acadmicos, mas,

    principalmente da mudana de paradigma, no que se refere ao conhecimento da

    dinmica psquica, e da viso de mundo propostas pelas vises no-duais. notrio que

    a atual vigncia do novo paradigma cientfico, com o advento da fsica quntica, vem

    respaldar a viso integral Desta nova escola, conferindo-lhe o escopo de credibilidade

    nos meios cientficos mais adiantados.

    Entretanto, a Psicologia Transpessoal esta ganhando espao na academia, mas ainda

    perdura uma resistncia do conselho Federal de psicologia em aceit-la. Quando isso

    acontecer vai mudar drasticamente a realidade das faculdades de psicologia no Brasil.

    2.3 Estados no comuns de conscincia

    A cincia Transpessoal realiza seus estudos nos estados de conscincia que transcendem

    a personalidade e o conceito do ego, Grof (2007) os chamou de estados no comuns de

    conscincia. Estes estados sutis so amplos e gerais e incluem uma variedade de

    condies que so de interesse para esta perspectiva.

    Grof (1994) focaliza seus estudos apenas em um subgrupo que difere do restante,

    representando uma preciosa fonte de informaes sobre a psique humana, tanto na

  • sade como na doena, e representa sobremaneira um notvel potencial teraputico e

    transformador.

    Grof (2007) destaca que o nome holotrpico significa, literalmente, buscando a

    totalidade ou movendo-se para o todo, do grego holos = todo e trepein = movendo-se

    em direo a.

    Nos estados holotrpicos temos uma compreenso da dinmica inconsciente da nossa

    psique, descobrimos como nossa viso de ns mesmos e do mundo influenciada por

    memrias esquecidas ou reprimidas da infncia, do nascimento e da vida pr-natal.

    Alm disso, nesses estados, podemos nos identificar com outras pessoas, animais,

    plantas e com o mundo inorgnico, tais vises trazem e podem transformar nossa viso

    do mundo. Portanto, quando os estados holotrpicos emergem a conscincia, alm de

    ocasionar a transformao, eles tambm possibilitam a cura (GROF, 2007).

    Segundo Grof (2007), nestes estados, a conscincia entra em uma mudana profunda

    que no causa danos a ela. Como nas condies de causa orgnica, o indivduo

    permanece orientado no sentido de tempo e espao, e no perde o total contato com a

    realidade diria. Ao mesmo tempo, a conscincia acessa outras dimenses da existncia

    muito intensas, assim existe uma experincia de duas realidades distintas.

    Nos estados holotrpicos ocorrem mudanas de percepo sensorial, por exemplo,

    quando fechamos os olhos podemos ter vises de nossa histria pessoal, do inconsciente

    coletivo e individual, ter vises de reinos animais e botnicos, da natureza e do cosmo.

    Este estado pode levar, tambm, aos domnios de seres arquetpicos e a regies

    mitolgicas, podemos ter sensaes de bem aventurana celestial, muita paz, tambm

    podemos acessar a raiva assassina, desespero total, terror, culpa e outras formas de

    sofrimento emocional. Podemos ir parar em reinos paradisacos ou inferno, podemos

    experienciar sabores, sons e sensaes variadas (GROF, 2007).

    No que diz respeito aos pensamentos, o intelecto no fica debilitado e age de forma

    diferente do seu funcionamento dirio. Podemos ter revelaes de vrios aspectos da

    natureza e do cosmo, que transcende nosso conhecimento, temos insights psicolgicos

  • de nossa histria pessoal, inter pessoal e emocional, porm os mais interessantes

    insights tratam de questes espirituais, filosficas e metafsicas (GROF, 2007).

    De acordo com Grof (2007), podemos experimentar seqncias de morte e

    renascimento psicolgico, sensao de unio com a natureza, com Deus e com outras

    pessoas, podemos nos comunicar com seres desencarnados. Estes estados so a chave

    para compreender a vida ritual e espiritual da humanidade, desde o xamanismo,

    cerimoniais sagrados, aborgenes at grandes religiosos do mundo.

    Observa-se uma grande diferena de atitude entre a civilizao industrial do Ocidente e

    as culturas antigas pr-industriais, com relao aos estados holotrpicos. Ao contrrio

    da humanidade moderna, as culturas nativas davam grande nfase a estes estados de

    conscincia, dedicando tempo e esforo para atingi-los. Todas as culturas antigas e pr-

    indstrias demonstravam grande interesse pelos estados no comuns de conscincia que

    os fazem se ligar mais a natureza dos ancestrais e seres superiores (GROF, 2007).

    Em consonncia com Grof (2007), as culturas nativas utilizavam esses estados como

    principal meio em sua vida ritual e espiritual. Os estados no comuns permitiam contato

    direto com divindades, reinos mitolgicos e foras da natureza, alm de curar vrias

    desordens. Apesar dessa cultura ter conhecimentos em remdios naturais, davam

    prioridade para a cura meta-fsica.

    Nestes povos a inspirao artstica, idias para rituais, pinturas, esculturas e canes

    vinham naturalmente nesses estados, tanto que culturas antigas e aborgenes dedicavam

    significativa quantidade de tempo e energia ao desenvolvimento de tcnicas do

    sagrado. Eram utilizados vrios procedimentos para alterar a conscincia e induzir a

    estados holotrpicos com propsitos espirituais e rituais (GROF, 2007).

    Dentre estes mtodos, esto combinaes de tambores e outros tipos de percusso,

    msica, cantos, danas, controle da respirao, longo perodo de isolamento,

    permanncia em cavernas no deserto, no gelo em montanhas altas. Intervenes

    fisiolgicas so utilizadas tambm para chegar a esses estados, como, por exemplo,

    desidratao e imposio de dores severas (GROF, 2007).

  • Segundo Grof (2007), a prtica da induo de estados holotrpicos o trao

    caracterstico mais importante do Xamanismo, o sistema espiritual e arte de cura mais

    antigo da humanidade. O xamanismo est conectado a esses estados de outra maneira:

    os xams experientes so capazes de entrar em transe por pura vontade e de forma

    controlada e usam esses estados para curar, diagnosticar doenas e explorar diferentes

    dimenses.

    Alm desses mtodos, existe tambm a utilizao de plantas e substncias psicodlicas,

    como os diferentes tipos de cnhamo que servem para serem fumados ou ingeridos em

    diversos pases. So plantas que alteram a mente com muita eficcia, como o cacto

    mexicano (peiote), o cogumelo sagrado teonanacalt e ololiuqui e a ayahuasca. Esta

    uma decoco de um cip da selva combinado com uma planta. H, tambm, o

    composto psicodlico de origem animal, como as secrees da pele de certos sapos

    (bufo alvarius) e a carne do peixe Kyphosus fuscus, do Pacfico (GROF, 2007).

    De acordo com Grof (2007), a pesquisa psicofarmacolgica moderna enriqueceu os

    mtodos de induo a esses estados, adicionando substncias psicodlicas em forma

    qumica pura, seja isolada de plantas ou sintetizada em laboratrios. Nelas se incluem os

    tetra hidro canabinol (THC), princpio ativo do haxixe e da maconha, a mescalina do

    peiote, a psilocibina, a psilocina, dos cogumelos mgicos mexicanos, o LSD ou

    dietilamida, do cido lisrgico e vrios derivados da triptamina, dos raps psicodlicos.

    Na dcada de 50 e 60, com a descoberta do LSD, abriram novos caminhos para estudos

    da conscincia humana, a sua introduo foi revolucionria para as pesquisas

    relacionadas conscincia e mudou a viso que muitos tinham da psicanlise, pois

    proporcionou mais viagem, no s, pela primeira e segunda infncia, mas tambm pelo

    cosmos, pela natureza, pela gestao, morte renascimento, encontros com divindades,

    tribos. Surgiu grande interesse por prticas espirituais, filosofias, xamanismo,

    misticismo, prticas Orientais, psicoterapias experimentais e outras exploraes da

    psique humana (GROF, 2007).

    O uso de substncias psicodlicas est entre os meios mais poderosos e diretos de

    promover estados incomuns de conscincia. Grof (2007) destaca os riscos de seu uso,

  • tanto por problemas legais, como por requerem uma ampla estrutura de apoio para dar

    suporte aos efeitos colaterais produzidos por elas.

    O isolamento sensorial uma tcnica laboratorial muito eficaz para alterar a

    conscincia, envolve uma reduo significativa de estmulos sensoriais expressivos, em

    sua modalidade mais extrema. O indivduo privado de qualquer informao sensorial

    atravs da submerso em um tanque escuro e a prova de som, com gua na temperatura

    do corpo. Outra tcnica laboratorial de mudanas de conscincia o biofeedback, onde

    o indivduo guiado, com sinais eletrnicos de feedback (retroalimentao), a estados

    holotrpicos de conscincia. Existe tambm, a tcnica de privao de sono e sonhos e o

    sonhar lcido (GROF, 2007).

    Segundo Grof (2007), importante dizer que episdios de estados holotrpicos de

    durao variada podem ocorrer espontaneamente, muitas vezes contra a vontade da

    pessoa envolvida. Como a psiquiatria moderna no faz diferena entre estados msticos,

    espirituais e doenas mentais, as pessoas nesses estados so rotuladas psicticos, so

    hospitalizadas e recebem tratamentos de rotina com supressores psicofarmacolgicos.

    Grof e Christina se referem a esses estados como crises psicoespirituais ou emergenciais

    espirituais que devidamente apoiadas e tratadas podem resultar em cura emocional e

    psicossomtica, transformando positivamente a personalidade e evoluindo a

    conscincia.

    2.4 A nova cartografia da psique

    Para explicar o fenmeno dos estados holotrpicos Grof (2007) faz um modelo com

    imagem mais abrangente de psique humana, em uma compreenso da conscincia

    radicalmente diferente. Esse mapa contm alm do nvel biogrfico usual, os domnios

    transbiogrficos: o perinatal, relacionado com o trauma do parto biolgico e o

    transpessoal, que explica fenmenos de identificao com animais, plantas, outras

    pessoas, natureza, memrias ancestrais, crmicas, raciais, filogenticas, vises de

    regies mitolgicas, experienciais de identificao com a mente universal, com o vazio

    supra-csmico e meta-csmico. Esses fenmenos tm sido descritos h muitos anos pela

    literatura religiosa mstica e oculta de vrios pases do mundo.

  • Segundo Grof (2007) O domnio biogrfico da psique consiste de nossas memrias de

    infncia, adolescncia e vida adulta. Esse domnio muito conhecido pela psicologia,

    psiquiatria e psicoterapia tradicionais, porm a nova descrio da psique do nvel

    biogrfico, em estados holotrpicos, revelou novas dinmicas desse domnio que

    ficaram desaparecidas pelos pesquisadores da psicoterapia verbal. Nesses estados a

    pessoa sente emoes originais, sensaes fsicas, percepes sensoriais da poca, ao

    ponto de rugas dessas pessoas desaparecerem temporariamente quando atingem esses

    nveis de conscincia.

    Alm do nvel de memrias da infncia, h o nvel perinatal do inconsciente, onde

    encontramos sensaes fsicas e emoes de extrema intensidade que podem ultrapassar

    qualquer coisa que pudssemos previamente ter considerado humanamente possvel.

    A medicina tradicional nega que a criana possa experimentar o nascimento de forma

    consciente, ela alega que esse evento no fica guardado na memria e no se houve

    falar em experincias perinatais. Na opinio mdica tradicional, s um nascimento

    muito difcil, que possa causar danos irreversveis as clulas cerebrais, pode causar

    conseqncias patolgicas e em sua maior parte de natureza neurolgica, como retardo

    mental e hiperatividade. Devido o crtex cerebral de um recm nascido no est

    totalmente cobertos com mielina, h a negao da possibilidade de memria do

    nascimento, mas essa idia particularmente absurda, quando consideramos que a

    capacidade de memria existe em muitas formas de psicoterapia experimental (GROF,

    2007).

    Grof (2007) tem evidncias convincentes de que o parto biolgico o trauma mais

    profundo de nossas vidas, ele fica gravado em nossa memria at o nvel celular e tem

    um efeito profundo sobre nosso desenvolvimento psicolgico. E a experincia de

    reviver aspectos do parto biolgico pode se autntica, mesmo se a pessoa no tenha

    conhecimento intelectual sobre seu nascimento.

    Podemos, por exemplo, descobrir se nascemos com o cordo umbilical enrolado no

    pescoo, se houve utilizao de frceps, podemos sentir ansiedade, fria biolgica a dor

    fsica e at reconhecer o tipo de anestesia utilizada. Isso costuma vir acompanhado de

  • movimentos no tronco, braos, pernas, podem surgir marcas, inchaos e outras

    mudanas na pele.

    Essas observaes sugerem que o registro do trauma do nascimento tem um alcance que

    vai at o nvel celular, alm da grande conexo entre nascimento e morte, pois reflete o

    fato do nascimento ser potencial ou real ameaa a vida.

    As experincias que tem origem neste nvel do inconsciente surgem em quatro padres

    experienciais distintas, dos quais se caracterizam por emoes, sensaes fsicas e

    imagens simblicas especficas, as quais Grof (2007) se refere como matrizes Perinatais

    bsicas ou MPBs.

    Primeira Matriz Perinatal Bsica (MPB1) chamada de unio primordial com a me. A

    existncia intra-uterina anterior ao incio do trabalho de parto, o universo amnitico,

    representa a MPB1. O feto no diferencia interno e externo e no tem percepo de

    fronteiras, podemos nos identificar com galxias, com o espao inter-estrelas ou com

    todo o cosmo, identificao com animais aquticos, como peixes, guas-vivas,

    golfinhos, baleias. As experincias neste domnio podem ser associadas a vises

    arquetpicas da me natureza, segura, linda e acolhedora, imagens mitolgicas do

    inconsciente coletivo, reinos celestiais e parasos. Estas experincias representam o

    tero bom (GROF, 2007).

    Quando as memrias intra-uterinas so de tero mal, sentimos que estamos sendo

    envenenados, sentimos sensaes de ameaa obscura, imagens retratando guas

    poludas e depsitos de lixo txico, vises e arqutipo de assustadores demnios,

    ameaa universal, vises apocalpticas do fim do mundo. Isso reflete ntimas

    interconexes entre eventos em nossa histria biolgica e os arqutipos Junguianos

    (GROF, 2007).

    A segunda Matriz Perinatal Bsica (MPB2) chamada por Grof (2007) de

    engolfamento csmico sem sada ou inferno. Nesta MPB quando estamos revivendo o

    incio do parto biolgico. Podemos ter a sensao de que o mundo inteiro, ou csmico,

    est sendo engolfado e isso pode vir associado a imagens de monstros arqutipos

  • devoradores como leviat, drages, cobras gigantes, tarntulas ou polvos, sensao de

    uma ameaa vital que pode levar a uma ansiedade intensa ou parania.

    Outra experincia da MPB2 o descer ao reino da morte ou inferno. Reviver esse

    estgio do nascimento uma das piores experincias, pois as contraes do tero

    comprimem o feto periodicamente, a crvice ainda no est aberta e o feto ameaado

    pela falta de oxignio. Sentimo-nos presos, dentro de um monstruoso pesadelo

    claustrofbico, exposto a dores fsicas e emocionais, parece que nunca vai passar esse

    momento, e so acompanhados de seqncias que envolvem pessoas, animais, seres

    mitolgicos em situao de dor e desespero semelhantes ao feto. Podemos nos

    identificar com vtimas da inquisio, prisioneiros em campos de concentrao, asilos

    para loucos ou experimentar a agonia de Cristo na cruz (GROF, 2007).

    Enquanto estamos na influncia desta matriz, somos incapazes de ver algo positivo em

    nossas vidas, a conexo com o divino parece est perdida e a forma mais rpida de dar

    trmino a esse estado insuportvel render-se completamente a ele aceitando-o. Esse

    estado conhecido na literatura espiritual como a noite escura da alma, ele um estagio

    de abertura espiritual que pode ter um grande efeito purificador e libertador.

    De acordo com Grof (2007), a MPB3 denominada: A luta de morte e renascimento.

    Esta MPB est associada ao segundo estgio clnico do parto biolgico. Este estgio

    caracterizado pela propulso do feto atravs do canal de parto, aps a abertura do colo

    do tero e a descida da cabea at a plvis. Nesta fase existem as contraes uterinas,

    mas a crvice j est dilatada, o que permite a gradual propulso do feto pelo canal de

    parto, o que envolve dores, asfixia, interrupo de circulao sangunea. Algumas coisas

    podem acontecer, como o cordo umbilical pode ser esmagado entre a cabea e a

    abertura plvica ou ficar enrolado em volta do pescoo, a placenta pode se soltar

    durante o parto ou obstruir a sada, o feto pode inalar vrios tipos de material biolgico

    e se os problemas forem mais extremos pode-se ter o uso de frceps ou at uma

    cesariana de emergncia.

    Na MPB3, alm de reviver diferentes aspectos da luta no canal de parto, ela envolve

    imagens arquetpicas da natureza e histria humana, as mais importantes so as batalhas

  • titnicas, seqncias sados-masoquistas e agressivas, experincias de sexualidade

    desviada, envolvimento escatolgico e encontro com fogo.

    O aspecto sado-masoquista e agressivo desta matriz referem fria biolgica do

    organismo, cuja sobrevivncia ameaada pela asfixia. Neste aspecto da MPB3

    podemos experienciar cenas de assassinatos e suicdios violentos, mutilaes, guerras,

    revolues, sacrifcios, sangrentos combates.

    No que diz respeito s experincias sexuais desta matriz perinatal, h uma grande

    intensidade por sua qualidade mecnica no-seletiva e por sua natureza exploradora,

    pornogrfica e desviada, que so representadas em cenas de bordeis, praticas erticas

    extravagantes e seqncias sados-masoquistas, como tambm, episdios de incesto,

    estupro, crimes sexuais, canibalismo e necrofilia (GROF, 2007).

    O aspecto escatolgico do processo morte e renascimento tem sua base biolgica no

    fato de que, durante a fase final do parto, o feto pode entrar em contato com vrias

    formas de matria biolgica, como sangue, secrees vaginais, urina e fezes, levando-o,

    em estados holotrpicos, a envolver-se em cenas por dentro de esgoto, lixo ou beber

    sangue e urina.

    Ao passo que se aproxima do trmino do processo da MPB3 a atmosfera dominante de

    extrema paixo, as imagens so de conquistas de novos territrios, caa a animais

    selvagens, esportes desafiadores, atividades essas que envolvem ondas de adrenalina.

    Nesses momentos podemos encontrar figuras arquetpicas ou divindades, semi-deuses,

    ter vises de Jesus, em seu tormento e humilhao pelo caminho da cruz, mas antes da

    experincia do renascimento psicoespiritual, caracterstica desta MPB, comum o

    contato com o fogo (GROF, 2007).

    Esse tema pode ser experimentado em sua forma comum do dia-a-dia ou na forma

    arquetpica do fogo do purgatrio. Podemos ter vises de cidades e florestas em chamas

    e o nosso corpo tambm em chamas. Um smbolo clssico da transio da terceira para

    quarta MPB o lendrio pssaro fnix, que morre no fogo e eleva-se e ressuscita das

    cinzas.

  • A quarta matriz perinatal bsica chamada por Grof (2007) de experincias de morte

    renascimento. Ela se configura por ser o terceiro estgio clnico do parto, onde acontece

    expulso final do canal de parto e o corte do cordo umbilical. Nessa matriz

    contemplamos o processo anterior, de propulso pelo canal de parto, atingimos uma

    liberao explosiva e emergimos para luz; esse processo pode ser acompanhado por

    memrias de vrios aspectos especficos a esse estgio do nascimento. Podem incluir

    experincias da anestesia, as presses do frceps e outras sensaes associadas a parto.

    Essa no uma simples experincia, tambm uma experincia de morte e

    renascimento psicoespiritual. Mas no apenas isso, precisamos nos dar conta que esse

    processo inclui alguns outros elementos importantes. Devido o feto est totalmente

    confinado durante o nascimento e no poder expressar suas emoes, a memria desse

    fato fica sem ser assimilada psicologicamente. Como consequncia, a nossa auto-

    definio em relao ao mundo em nossa vida ps-natal, so contaminadas por essa

    lembrana de vulnerabilidade e fraqueza que vivemos no nascimento, pois nascemos

    anatomicamente, mas emocionalmente no nos damos conta disso (GROF, 2007).

    A morte do ego que precede o renascimento a morte de nossos antigos conceitos de

    quem somos e de como o mundo quando purgamos essas antigas programaes,

    tornando-as consciente. Elas perdem sua carga emocional, mas estamos to

    identificados com elas que a aproximao do momento da morte do ego parece ser o fim

    da nossa existncia e apesar de parecer assustador esse processo muito curativo e

    transformador.

    Em consonncia com Grof (2007), quando deixamos as coisas acontecerem, temos

    experincia de aniquilao total, destruio fsica, desastre emocional, fracasso moral,

    derrota filosfica e at maldio espiritual. Tudo que parece significativo em nossas

    vidas destrudo e aps essa experincia de total aniquilao somos tomados por vises

    de luzes brancas e douradas de irradiao e beleza sobrenatural.

    Aps termos sobrevivido a essa experincia de fim apocalptico de tudo, somos

    abenoados por demonstraes de belos arco-ris, cenrios celestiais, luz divina, o

    encontro com a figura arquetpica da grande Deusa Me em sua forma universal. Aps

    essa experincia de morte e renascimento psicoespirituais, sentimo-nos redimidos e

  • abenoados experimentando o xtase, somos tomados por ondas positivas em relao a

    ns, a outras pessoas e a natureza.

    bom lembrar que esse tipo de experincia curadora ocorre quando a parte biolgica

    no foi muito debilitante devido anestesia, se for esse o caso no temos essa sensao

    positiva e sim uma sensao semelhante a uma lenta recuperao de uma doena ou

    acordar de uma ressaca.

    O segundo novo domnio, da nova cartografia da psique humana em estados

    holotrpicos, descritos por Grof (2007), o Transpessoal que significa atingindo o

    alm-pessoal ou transcendendo o pessoal. Envolve a transcendncia do nosso corpo

    e ego e as limitaes do espao tridimensional e do tempo linear, que restringem nossa

    percepo do mundo nos estados comuns de conscincia.

    Nos estados normais de conscincia nossa viso do mundo restringida pela limitao

    de nossos rgos de sentidos e pelas caractersticas fsicas do ambiente, no podemos

    ver objetos do outro lado da parede, s podemos vivenciar acontecimentos no momento

    presente. Diferentemente nos estados transpessoais de conscincia, nenhuma limitao

    absoluta, qualquer uma pode ser transcendida, no h limites para o alcance de nossos

    sentidos e podemos experimentar episdios que ocorreram no passado e at mesmo

    episdios que ocorrero no futuro (GROF, 2007).

    O espectro de experincias transpessoais, descrito por Grof (2007) muito rico e inclui

    vrios e diferentes nveis da conscincia e podem ser dividido em trs grandes

    categorias:

    1- Extenso experiencial dentro do espao-tempo e da realidade consensual;

    2- Extenses experimentais alm do espao-tempo e realidade consensual;

    3- Experincias transpessoais de natureza psicide.

    A primeira delas apresenta-se experincias de fuso com outras pessoas a unio

    dual, isso assumir a identidade de outra pessoa ou identificar-se com a conscincia de

    todo um grupo de pessoas como, por exemplo, com todas as mes do mundo ou todos

    os prisioneiros dos campos de concentrao. Podemos tambm, identificar-nos com a

    conscincia de animais, plantas, objetos inorgnicos e at mesmo todo o planeta ou o

  • universo material, como se tudo no universo tivesse seu aspecto objetivo e subjetivo,

    como descrito pelas grandes filosofias espirituais do oriente. Nessa primeira categoria

    podemos ter tambm memrias embrionrias ou fetais autnticas de diferentes perodos

    da vida intra-uterina, alm de fantsticas experincias de DNA associadas a insights do

    mistrio da vida, da reproduo e da hereditariedade (GROF, 2007).

    A segunda categoria de fenmenos transpessoais que a nossa conscincia pode alcanar

    so domnios e dimenses considerados irreais pela cultura industrial do Ocidente,

    como identificao com divindades e demnios arqutipos de vrias culturas e visitas a

    paisagens mitolgicas. Podemos compreender smbolos universais como a cruz, o

    pentagrama, a estrela de seis pontas, a sustica ou o smbolo yin-yang. Nessa categoria a

    conscincia pode identificar-se com a conscincia csmica ou mente universal (Buda,

    Cristo csmico, Al, o Tao, Brahman) e o ponto culminante dessas experincias o

    vazio supracsmico ou metacsmico.

    A terceira categoria compreende o que Grof (2007) denomina de psicide. Grupo esse

    que inclui situaes nas quais experincias intra-psquicas associam-se a eventos

    correspondentes no mundo externo com as quais tem correlaes significativas. As

    experincias psicides cobrem um vasto campo, desde sincronicidade, cura espiritual e

    magias cerimoniais, at a psicocinese e outros fenmenos de mente sobre a matria,

    conhecidas pela literatura iogue.

    Esta nova cartografia vem revolucionar, no s a psicologia, mas a forma de

    compreender e enxergar o ser humano, reflete, assim em todas as disciplinas,

    principalmente aquelas que trabalham com o ser humano. Este novo conhecimento o

    que Grof (2007) intitula no seu livro, como a Psicologia do Futuro.

    2.5 Os sistemas COEX

    O novo conceito que surgiu atravs dessas novas pesquisas de Grof (2007), foi a

    descoberta de que memrias relevantes emocionalmente no ficam guardadas no

    inconsciente tal como um mosaico com gravuras isoladas, mas sim em forma de

    complexas constelaes dinmicas, a qual Grof denominou sistemas COEX (sistemas

    de experincia condensada).

  • Um sistema COEX consiste de memrias com carga emocional, de

    diferentes perodos de nossas vidas, que se assemelham pela qualidade da

    emoo ou sensao fsica que compartilham. O inconsciente de um

    determinado indivduo pode conter vrias constelaes COEX (GROF,

    2007, p.37).

    Por exemplo: as camadas de um determinado sistema podem conter todas as principais

    lembranas de humilhao, degradao e experincias vergonhosas que causaram danos

    a sua auto-estima. J em outro sistema COEX, o denominador comum pode ser a

    ansiedade causada por sensaes de confinamento, claustrofobia, asfixia. Outro tema a

    rejeio e privao emocional que pode levar a dificuldade de confiar em homens e

    mulheres e pessoas em geral (GROF, 2007).

    Um sistema COEX de particular importncia so os que contm lembranas de

    situaes de ameaa a vida, a sade e a integridade fsica, mas no s de memrias

    dolorosas e traumticas que esto no COEX, h tambm aquelas que compreendem

    memrias de situaes e momentos agradveis ou at de xtase.

    De acordo com Grof (2007), este conceito surgiu da psicoterapia com clientes que

    surgiram de psicopatologias graves, onde o trabalho com os aspectos traumticos de

    vida tiveram uma grande importncia, por isso as constelaes que envolvem

    experincias dolorosas receberam mais ateno, mas o sistema COEX no se limita a

    memrias traumticas.

    Nos estgios iniciais de suas pesquisas Grof (2007) descreveu os sistemas COEX como

    princpios que governavam a dinmica do nvel biogrfico do inconsciente, devido

    experincias dele e do estreito modelo biogrfico da psique, herdado de professores e de

    seus analistas freudianos.

    Na compreenso atual, Grof v que os sistemas COEX vo mais alm, suas razes mais

    profundas consistem de varias formas de fenmenos transpessoais, como experincia de

    vidas passadas, arqutipos Junguianos, identificao consciente com vrios animais e

    plantas. Eles so os princpios gerais de organizao da psique humana e se assemelha

    at certo ponto as idias de Jung sobre os complexos psicolgicos (JUNG, 1905 apud

    GROF, 2007) e a noo de Hanskail Leuner sobre sistemas dinmicos

  • transfenomenolgicos (LEUNER, 1962 apud GROF, 2007), mas contm outros

    aspectos que diferem dos dois.

    Os sistemas COEX podem influenciar a forma pela qual percebemos a ns mesmos, a

    outras pessoas, ao mundo e como nos sentimos e agimos. Entre os sistemas COEX e o

    mundo externo, h uma interao dinmica, pois acontecimentos externos podem ativar

    especificamente sistemas COEX correspondente, e esses COEX ativos podem nos fazer

    perceber e reagir de tal forma que recriamos seus temas centrais em nossa vida atual,

    Isso pode ser observado com clareza no trabalho experimental em estados holotrpicos,

    pois o contedo das experincias, a percepo do ambiente e o comportamento de

    clientes so determinados em geral pelos sistemas COEX que domina a sesso (GROF,

    2007).

    2.6 Terapia Holotrpica

    De acordo com Grof (2007, p.184), a expresso Terapia Holotrpica deve ser reservada

    para nosso procedimento de tratamento que combina respirao controlada, msica e

    outras formas de tecnologia sonora, e trabalho corporal focalizado.

    Esta terapia tem como pressuposto a idia de que a maioria dos indivduos, de nossa

    cultura, com nveis de desenvolvimento mdio, subtiliza seus potenciais devido ao

    aprisionamento rgido a uma identificao com o seu corpo fsico e com o ego.

    Segundo Grof (2007), um dos princpios centrais da Terapia Holotrpica est ligado ao

    reconhecimento do carter transformador dos estados ampliados de conscincia, de

    forma que busca, atravs de tcnicas, promoverem estes estados, objetivando acessar os

    potenciais curativos espontneos do organismo.

    Na Terapia Holotrpica os estados no comuns de conscincia, induzidos ou no, h

    uma seleo automtica de material mais relevante e emocionalmente carregado do

    inconsciente da pessoa, o que tiver mais emergente em nosso complexo vem tona,

    tornando disponvel para nossa mente consciente. Grof (2007) chamou este mecanismo

    de radar interno, ele faz emergir a conscincia o contedo inconsciente, que tem

    maior carga emocional e que so psicodinamicamente mais relevantes na ocasio. Essas

  • memrias que emergem atravs do radar interno, no s so de fatos emocionais, mais

    tambm de eventos que ameaaram a integridade do corpo fsico.

    O radar interno livra o terapeuta de precisar decidir sobre quais problemas que surgem

    do inconsciente do cliente, so importantes ou no. Desta forma, traz vantagem

    psicoterapia verbal, nesta o cliente trs informaes variadas e o terapeuta decide o que

    importante questionar. Logo a tendncia pessoal do terapeuta ir interferir na sesso

    teraputica (GROF, 2007).

    De acordo Grof (2007), nos estados holotrpicos o terapeuta no toma decises, pois

    uma vez que o cliente atinge esse estado, o material a ser processado escolhido quase

    automaticamente e resta ao terapeuta aceitar e apoiar o que estiver acontecendo, estando

    ou no de acordo com seus conceitos tericos e expectativa. A funo do terapeuta de

    apoiar o cliente com total confiana, sem tentar direcion-lo ou modific-lo, o processo

    guiado pela inteligncia curativa do prprio cliente. O terapeuta a pessoa que ajuda

    no processo de cura e no um elemento ativo, sua tarefa consertar o cliente, mesmo

    que ele no entenda racionalmente o que se passa.

    A terapia verbal pode ser til para o aprendizado interpessoal e para retificar desajustes

    nos relacionamentos humanos, mas ineficaz para lidar com bloqueios emocionais e

    bioenergticos e com macro traumas que subjazem a muitas desordens emocionais e

    psicossomticas. Logo, na primeira metade do sculo XX, os estados holotrpicos eram

    associados patologia e no a cura, situao essa que comeou h mudar nos anos 50

    com o aparecimento da terapia psicodlica e com inovaes radicais na psicologia

    (GROF, 1994).

    Grof (2007) aponta outra diferena entre as terapias verbais e a terapia que envolve os

    estados holotrpicos, que na segunda, a pessoa muitas vezes revive o trauma,

    principalmente os de natureza fsica. Elas revivem experincias de afogamento,

    acidentes, cirurgias, doenas infantis e esses materiais surgem de forma espontnea.

    comum encontrar histricos de trauma fsico em clientes que sofrem de asma,

    enxaqueca, dores psicossomticas, fobias, tendncias suicidas ou sado masoquista. O

    reviver dessas memrias pode levar a muitas conseqncias teraputicas boas. Este fato

  • contrasta com a posio da psiquiatria e da psicologia acadmica, que no reconhece o

    impacto psicotraumtico dos traumas fsicos.

    Grof (1994) revela que neste tipo de terapia os sintomas surgem como denunciadores

    dos limites auto imposto ao organismo, bem como tentativas de alcanar a realizao de

    seu potencial. Sendo assim, passam a ser vistos como uma tentativa de cura espontnea

    do organismo. Os sintomas so utilizados como potencializadores das mudanas,

    cabendo ao assistente da cura, o terapeuta, apoiar o processo experiencial com plena

    confiana em sua natureza, sem tentar mud-lo.

    Influenciado pelo seu modelo sistemtico de trabalho, os psiquiatras tendem a ver a

    intensidade dos sintomas como um indicador da seriedade das desordens emocionais e

    psicossomticas. Logo a intensificao dos sintomas vista como piora e sua

    diminuio como melhora de sua condio clnica (GROF, 1994).

    De acordo com Grof (1994), a pesquisa de estados holotrpicos revelou que sintomas

    psicopatolgicos e sndromes de origem psicopatognicas no podem ser explicados por

    traumas da biografia ps-maternal. Estas pesquisas revelaram que essas condies tm

    estrutura dinmica com vrios nveis que inclui elementos dos domnios perinatal e

    transpessoal da psique.

    Essa descoberta revela porque a abordagem verbal de orientao biogrfica tem sido

    desapontadoras no tratamento de problemas clnicos graves, pois seus mtodos so

    incapazes de atingir as razes da condio que esto tentando curar. Nos estados

    holotrpicos no s revelam que as desordens emocionais e psicossomticas tm

    dimenses perinatais e transpessoais significativas, como fornece acesso a eficazes

    mecanismos teraputicos novos que agem nesses nveis profundos da psique (GROF,

    1994).

    Portanto, a Terapia Holotrpica tem por objetivo principal ativar o inconsciente,

    desbloquear a energia presa nos sintomas emocionais e psicossomticos e converter o

    equilbrio esttico desta energia na corrente de experincia, favorecendo o

    desenvolvimento da conscincia (GROF, 1994).

  • 2.7 Papel do Terapeuta Transpessoal

    Wittine (apud FERREIRA, BRANDO e MENEZES, 2005, p.136) apresenta a Terapia

    Transpessoal como:

    Uma abordagem de cura/crescimento que visa estabelecer uma ponte entre a

    tradio psicolgica Ocidental, inclusive as perspectivas psicanalticas e

    psicolgicas existenciais, e a filosofia perene universal. O que diferencia a

    terapia transpessoal de outras orientaes no nem a tcnica nem os

    problemas apresentados pelo pacientes, mas a perspectiva espiritual do

    terapeuta.

    Aqui compreendemos a perspectiva espiritual do terapeuta como espao onde ele se

    insere, considerando a natureza espiritual ou transcendente do ser-no-mundo, como uma

    categoria a ser vivenciada quando trabalhada com seus clientes. De modo que

    importante o processo de integrao das dimenses transpessoais com as dimenses

    pessoais do ser.

    O terapeuta transpessoal um ser humano comum em processo de crescimento pessoal

    e desenvolvimento espiritual, ele no um mago ou mgico que promete curas

    milagrosas atravs da expanso da conscincia. Porm, espera-se que ele seja um ser

    humano vivenciador ou buscador de valores elevados, tica, conscincia ampliada e

    conhecedor da capacidade de transcendncia da dimenso humana. necessrio que ele

    no negligencie seu prprio trabalho interior e busque aliar o conhecimento de prticas

    espirituais, as tcnicas que melhor se identifica com um profundo resgate e integrao

    de suas sombras (FERREIRA, BRANDO e MENEZES, 2005).

    Dentro deste contexto, h uma diferena entre aquele psiclogo que concorda com a

    abordagem transpessoal e o psicoterapeuta transpessoal. O psiclogo transpessoal

    possui o conhecimento terico autodidata ou adquirido em congressos, simpsios,

    leituras ou mini-cursos informativos que no conferem uma formao completa e no

    habilitam a atividade psicoteraputica (FERREIRA, BRANDO e MENEZES, 2005).

    J no caso do psicoterapeuta transpessoal, alm da formao convencional, em

    psicologia ou psiquiatria, indispensvel que ele tambm possua uma formao terica

    vivencial em psicologia e psicoterapia transpessoal, incluindo certos requisitos mais

  • exigentes do que em outras abordagens. importante tambm que ele tenha o

    conhecimento das questes espirituais, procurando no seguir dogmatismo, mas ficando

    aberto a grande variedade dessas questes, dentro do mbito das diversas religies,

    filosofias e tradies multicentenrias.

    O terapeuta deve estar aberto a todas as manifestaes religiosas e enfocar sua atuao

    num contexto antropolgico e fenomenolgico, sem, no entanto, induzir o cliente as

    suas crenas particulares, mantendo o mximo de cuidado com esse aspecto tico para

    no vincular a psicologia transpessoal a qualquer corrente religiosa especfica sob risco

    de adulterar seus pressupostos de abertura integral e de pluralidade (FERREIRA,

    BRANDO e MENEZES, 2005).

    Tcnicas inspiradas no xamanismo e nas filosofias e tradies Orientais tem que ser

    muito bem aplicadas e o terapeuta ter o conhecimento da interferncia que elas podem

    causar na dinmica psquica mediante suas correlaes bio-psi-socio espirituais.

    Salienta-se que elas no devem ser usadas aleatoriamente; o terapeuta deve ter o

    domnio de sua aplicabilidade e utiliz-la com conscincia.

    Supe-se que o terapeuta transpessoal pretenda facilitar ao seu cliente de ir alm do ego,

    portanto, indispensvel, que ele prprio esteja no investimento pessoal de transcender

    seu prprio ego. Acreditamos no ser possvel guiar algum num caminho que no

    trilhamos, ainda mesmo conhecendo o mapa, pois O mapa no territrio

    (FERREIRA, BRANDO e MENEZES, 2005).

    Se dentro do contexto da terapia surge a necessidade do toque fsico, o terapeuta

    transpessoal pode faz-lo, explicitando a importncia do seu gesto, mas respeitando a

    individualidade e os limites dos clientes. indispensvel evitar manipulao por parte

    do terapeuta, como provocaes sensuais e atitudes sedutoras, mesmo que estas tenham

    um pretexto de quebrar resistncias, desbloquear a sexualidade ou atitudes

    semelhantes.

    Segundo Ferreira, Brando e Menezes (2005), no que diz respeito s possibilidades de

    atendimento no h contra-indicao para o terapeuta transpessoal atender pessoas

    prximas, desde que essa proximidade no o impea de exercer o seu papel com

  • assertividade, amorosidade e firmeza. Desde que os vnculos egocos estejam bem

    claros no trabalho, evitando assim as distores das manifestaes transferncias.

    Se a nica motivao do terapeuta ajudar o cliente, ele poder faz-lo baseando sua

    atitude na verdade e na sinceridade, sem a tendncia de querer agradar seu amigo-

    cliente, pois a sua funo no a de ser bonzinho, e sim benefici-lo no processo de

    crescimento.

    O psicoterapeuta transpessoal lida com a transferncia e contratransferncia

    diferentemente do psicanalista, pois a psicanlise tem na transferncia seu eixo de cura

    e por isso a estimula. Em psicoterapia transpessoal, reconhecem-se e se clarificam os

    fenmenos transfernciais tanto os da parte do paciente quanto o do terapeuta,

    principalmente quando se est trabalhando no nvel biogrfico da conscincia.

    A ttulo de esclarecimento e para evitar dvidas, informamos que o uso de cristais,

    florais, tar, reiki, pndulo, do-in, massagem, shiatsu, alinhamento do

    chakras, entre outros, no se traduz por psicoterapia transpessoal e por isto mesmo

    estas no compem o conjunto de tcnicas pesquisadas, aplicadas e validadas nesta

    abordagem cientfica.

    No entanto, a Psicologia Transpessoal no invalida a utilizao destes recursos como

    facilitadores do equilbrio bio-psico-espiritual, na medida em que eles mobilizam

    mudanas atravs da manipulao do campo energtico, largamente pesquisado em

    outros modelos de sade.

    Veremos agora os postulados de Wittine (apud FERREIRA, BRANDO e MENEZES,

    2005) sobre alguns norteamentos da Psicologia Transpessoal e de que como o terapeuta

    deve proceder.

    Postulado 1: A Psicoterapia Transpessoal uma abordagem de transformao que se

    dirige a todos os nveis do espectro da identidade - egoco, existencial e transpessoal.

    Dentro desta perspectiva, o terapeuta considera que as problemticas vividas pelo

    paciente podem se encontrar em qualquer um desses trs nveis, de forma que as

    respostas de cunho essencialmente existencial, como quem sou?, de onde venho?

  • para onde vou?, to centrais no campo da psicologia e tambm da filosofia, dependem

    do nvel de conscincia ou da posio fenomenolgica onde o indivduo esta espectro da

    conscincia.

    Postulado 2: A Psicoterapia Transpessoal reconhece que a percepo do terapeuta sobre

    o eu em desenvolvimento, bem como a viso espiritual de mundo desse eu, so

    essenciais ao processo de formulao da natureza e ao resultado da terapia. O trabalho

    teraputico quando se centraliza no processo de transformao do EU, ou dos pequenos

    eus, com vistas ampliao do nvel egoco, facilita ao paciente o processo de

    crescimento e transformao. Esta atuao do terapeuta pode facilitar ao paciente a

    ampliao de seu senso de identidade, de forma que se perceba alm de suas defesas e

    limitaes.

    Postulado 3: A Psicoterapia Transpessoal o processo de despertar de uma identidade

    inferior para uma identidade superior. A metfora de transformao da conscincia de

    uma identidade inferior para uma superior utilizada dentro do contexto transpessoal,

    de forma que a passagem de nveis egocos de funcionamento para nveis transpessoais

    de conscincia buscada, dentro da psicoterapia transpessoal sem, no entanto, haver

    uma perspectiva de hierarquizao rgida como vimos no postulado 1.

    Postulado 4: A psicoterapia transpessoal facilita o processo do despertar atravs do

    enriquecimento da conscientizao interior e da intuio. Baseando-se nos princpios da

    filosofia e psicologia perene, a psicoterapia transpessoal coloca o processo de

    crescimento a nveis mais saudveis e profundos como decorrentes de uma expanso

    continua da conscincia. A mudana de foco da atuao para nveis internos

    considerada por si mesma curativa, abrindo espao para o uso da intuio, bem como de

    outros recursos alm dos cognitivos na resoluo de problemas.

    Postulado 5: Na psicoterapia transpessoal, a relao teraputica um veculo para o

    processo de despertar tanto no caso do cliente quanto do psicoterapeuta. Para a

    psicoterapia transpessoal, no vnculo teraputico, na condio de campo de contato

    existencial, que esto s sementes para o processo de transformao interior. neste

    espao vital e algo virtual que se estabelece um profundo contato entre os seres que

  • ocupam o lugar de cliente e terapeuta. a que emerge o potencial de cura direcionado

    ao cliente, mas que reverbera tambm no prprio terapeuta.

    Postulado 6: A compreenso do contexto, contedo e do processo so fundamentais na

    conduo da psicoterapia transpessoal. A psicoterapia transpessoal tem como meta a

    obteno de nveis de sade psicolgica mais ampliada, ou seja, que favorecem a

    expanso da conscincia para alm das necessidades bsicas de sobrevivncia

    (alimentao, abrigo e relacionamento), incluindo necessidades de ordem superior,

    ligadas a auto-realizao.

    Postulado 7: A natureza essencial humana espiritual. A Psicologia Transpessoal

    concorda que a natureza da identidade humana multifacetada, abrangendo um amplo

    espectro de categorias que vo do fsico ao social. Contudo, sua viso coloca uma

    primazia na origem espiritual, como suporte e sustentao da estrutura psicolgica do

    Self. A mente, conforme aponta Wilber (1996), a realidade ltima da dimenso

    psquica e apresenta-se de forma no dual. Acess-la permitiria o rompimento com as

    estruturas limitantes do ego. A sade psicolgica ltima estaria associada ao

    reconhecimento da natureza ilimitada sempre presente em ns, bem como sua expresso

    nas aes cotidianas.

    Postulado 8: Estados ampliados de conscincia so um caminho de acessar potenciais

    curativos e de crescimento do ser. A psicoterapia transpessoal foi pioneira na

    explorao e pesquisa de outros nveis e estados de conscincia, ampliando o campo de

    estudos da psicologia, que considerava estados ampliados como patolgicos.

    Diante de tantos requisitos importantes expostos e mediantes as condies explicitadas,

    o psicoterapeuta transpessoal precisa, antes de tudo, ter amor e respeito por aquele Ser

    que circunstancialmente surge diante dele no papel de cliente, estando ambos pactuados

    por ocasio do estabelecimento do contrato teraputico.

    Com o intuito de transmitir aos leitores de que tcnicas podem ser utilizadas no

    contexto clnico, selecionamos alguns procedimentos que podem facilitar o seu

    exerccio profissional.

  • 2.8 Instrumentos Teraputicos

    2.8.1 Meditao

    Na terminologia yogue o termo meditao Dhyana que literalmente significa fluir da

    mente. um estado de concentrao, ateno no presente, que permite a mente fluir

    livremente em direo a nveis mais ampliados de conscincia.

    Visando a flexibilizao da mente e facilitando estados de conscincia mais claros e

    profundos, na prtica clnica transpessoal, a meditao includa geralmente como um

    recurso complementar da psicoterapia. Contudo, o ponto central da meditao em

    psicoterapia transpessoal permitir a pessoa permanecer no presente, incorporada em

    mente/corpo e aberta para o fluxo de todas as manifestaes possveis de contato.

    No mundo Ocidental, atualmente, ocorre uma invaso das prticas meditativas

    Orientais, tanto com objetivos teraputicos quanto propsitos espirituais.

    Os efeitos fisiolgicos e psicolgicos da prtica meditativa j so do conhecimento

    pblico: baixa a presso sangunea, atravs da estimulao do hipotlamo, aumenta a

    oxigenao, diminui a atividade do sistema nervoso simptico, reduz a produo e o

    acmulo de cido ltico nos msculos, reduz a pulsao cardaca, aumenta a percepo

    auditiva e o reflexo da coordenao motora e amplia a percepo corporal.

    No mbito psicolgico reduz o dilogo interno predispondo a serenidade mental e a

    tranqilidade emocional, contribui para o auto conhecimento, afasta emoes

    inadequadas como medo, raiva e outras, favorecendo o despertar do discernimento, da

    alegria e do amor universal.

    No aspecto teraputico, pesquisas revelam que a meditao eficaz em casos de

    ansiedade e dependncia de drogas levando a acentuada mudana de comportamento,

    mas a prtica contra-indicada para esquizides porque podem piorar a apreenso da

    realidade, para os obsessivos compulsivos por estarem fechados demais a novas

    experincias ou por exacerbar a obsesso nos esforos, tambm na depresso profunda

    porque acentua o estado de apatia e inao nesses casos.

  • Aqui esto alguns elementos comuns que esto presentes em toda orientao prtica da

    meditao. Postura corporal: sentar com pernas cruzadas na posio Oriental, quando

    possvel, coluna imvel, relaxado e confortvel. Olhos fechados, abertos ou semi-

    abertos, dependendo da tradio. Tambm de acordo com a abordagem, a lngua fica

    voltada para a apalatina, evitando o excesso de salivao.

    O controle da energia feito a partir da respirao calma e abdominal, apenas seguir o

    ritmo natural da respirao a recomendao bsica.

    Postura de mente: aqui se podem realizar reflexes analticas, como, por exemplo,

    analisar um item especfico, buscando compreende-lo nos mnimos detalhes, no Oriente

    est prtica conhecida como Vipassana. Outro caminho de colocar a mente em

    meditao deixando-a em uma atitude aberta, observando o fluxo dos pensamentos

    sem criar nenhum vnculo com eles. uma atitude semelhante a do observador

    transpessoal (apud FERREIRA, BRANDO e MENEZES, 2005).

    2.8.2 Exerccios Psicofsicos

    Os exerccios psicofsicos visam integrar a dualidade mente/corpo, geralmente presente

    na maioria das pessoas, que buscam os servios psicolgicos. Eles favorecerem a

    integrao, tambm so usados para dar apoio ou possibilitar o desbloqueio dos ns

    emocionais concentrados no corpo.

    Grande parte dos exerccios psicofsicos realizados na clnica transpessoal, foi adaptada

    do yoga milenar, onde so denominados de asanas. Eles podem ser usados para facilitar

    o processo psicoteraputico do cliente. Estes exerccios possuem a propriedade de

    ampliar a senso-percepo, focando a ateno nos processos corporais, favorecendo,

    assim, um contato maior com as emoes bloqueadas. Esta prtica feita

    concomitantemente com a respirao e atua em todo o organismo promovendo o

    equilbrio das secrees hormonais do sistema glandular (apud FERREIRA,

    BRANDO e MENEZES, 2005).

    2.8.3 Tcnicas envolvendo prticas respiratrias

  • Tcnicas respiratrias redutoras de ansiedade e estresse tm-se, por princpio, acalmar

    uma energia j ativada, buscando integr-la no fluxo ordinrio da conscincia. Tem por

    objetivo dissolver tenses, dores, desconforto ou incmodos localizados. Veremos trs

    delas.

    Primeira: A pessoa deve proceder da seguinte forma: Deitar-se em colchonetes ou

    sentar-se em poltrona confortvel; Relaxar o corpo todo de forma progressiva a partir

    dos membros inferiores at a cabea; Usar a respirao diafragmtica prolongando a

    exalao para aprofundar o relaxamento; Focalizar a ateno na rea dolorida ou

    desconfortvel; Durante algum tempo o desconforto pode aumentar. Escute o que seu

    corpo est falando atravs desse incomodo e utilize a linguagem que expressa

    necessidade de ateno ou protesto; Prolongue a expirao, sentindo como se o ar

    expelido fosse o prprio incomodo diluindo-se; Prossiga o exerccio at desaparecer o

    incmodo.

    Segunda: Trs respiraes calmantes. Nesta, a pessoa deve tranquilamente focalizar a

    sua ateno na respirao. Calmamente, respire trs vezes. Procure respirar lentamente e

    demoradamente. Crie um ritmo. Inspirando lentamente e profundamente, segure o ar

    por alguns segundos, e, depois, expire relaxando, deixando o ar sair livremente,

    transformando o seu corpo e a sua mente.

    O Lama Padma Santem, um grande mestre budista, ensina que este ritmo pode ser

    acompanhado por palavras: Inspirando, acalmo o corpo e tenho paz, expirando, desfruto

    a beleza deste momento. Inspirando, acalmo a mente, expirando, desfruto a paz deste

    momento.

    J a terceira uma respirao para soltar e aliviar tenses. indicada para ajudar nos

    processos de integrao do cliente no aqui-e-agora, ajudando a liberar tenses residuais

    das vivencias em estados ampliados. Instruo: De p com as pernas ligeiramente

    afastadas inspirar elevando os braos para frente e para cima. Reter o ar por alguns

    segundos. Expirar abaixando rapidamente (apud FERREIRA, BRANDO e

    MENEZES, 2005).

  • Portanto, neste captulo vimos os principais pontos da Psicologia Transpessoal.

    Gostaramos de destacar que esta nova escola est crescendo, os psiclogos e as pessoas

    que se inclinam para este ramo, percebem a sua eficcia e utilidade para tratar o ser

    humano.

  • 3 Respirao Holotrpica

    Neste captulo iremos expor uma tcnica desenvolvida por Grof, chamada de

    Respirao Holotrpica, buscando analisar se ela eficaz na cura de traumas em todos

    os nveis da psique.

    3.1 Respirao Holotrpica

    Grof (2007) e sua esposa Christina desenvolveram a Respirao Holotrpica, um

    mtodo teraputico que combina respirao acelerada, msica evocativa, expresso

    artstica e uma tcnica de trabalho corporal que ajuda a liberar bloqueios bioenergticos

    e emocionais residuais. Ela tem a capacidade de induzir a estados holotrpicos e une e

    integra vrios elementos de tradies antigas e aborgenes, filosofias espirituais

    Orientais e psicologia profunda do Ocidente.

    De acordo com Grof (2007), a resposta fsica da Respirao Holotrpica varia de pessoa

    para pessoa, no incio apresentam-se manifestaes psicossomticas, na qual os manuais

    de fisiologia respiratria definem como sndrome de hiper-ventilao. Porm, muitos

    indivduos no apresentam sndrome e sentem um relaxamento progressivo, uma intensa

    excitao sexual e experincias msticas. Outros desenvolvem tenses em vrias partes

    do corpo e em repetidas sesses holotrpicas, essa tenso muda de uma parte do corpo

    para outra, variando de pessoa para pessoa, com sua subseqente resoluo.

    Isso acontece, pois em um longo perodo de respirao acelerada muda a qumica do

    organismo de forma que energias fsicas e emocionais bloqueadas, associadas a

    memrias traumticas, so liberadas e ficam disponveis para o processamento e

    descarga perifrica, possibilitando que emoes antes reprim