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1 RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DO PRODUTO E DO SERVIÇO NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ELIAS. JÉSSICA 1 FIORI. MÔNICA DE OLIVEIRA SILVA 2 RESUMO Examinam-se questões relevantes em que o Código de Defesa do Consumidor representou importante evolução no tratamento das relações de consumo no que tange à questão da responsabilidade pelo vício do produto e do serviço. Para melhor entendimento do tema, a primeira parte é dirigida à análise dos aspectos conceituais e históricos do instituto das relações de consumo, os direitos básicos do consumidor e os vícios de qualidade e quantidade do produto e do serviço, bem como, a distinção entre fato e vício. Na segunda parte, é analisada a responsabilidade pelo vício do produto e do serviço. A parte final dispõe sobre as garantias oferecidas pela lei ao consumidor, por ser a parte vulnerável e hipossuficiente, prazos legais e opções estabelecidas pelo princípio da boa-fé como cláusula geral de toda relação de consumo. Palavras-Chave: Relações de consumo; Responsabilidade pelo vício do produto e do serviço; Garantias legais; Distinção entre defeito e vício; Prazos. INTRODUÇÃO O presente busca analisar as formas de responsabilidade do fornecedor quando seus produtos ou serviços apresentam vícios, qual o tipo de responsabilidade a ele imputada, quais os casos que excluem a responsabilidade do fornecedor e quais os vícios que os produtos podem apresentar. O Código de Defesa do Consumidor dividiu a responsabilidade do fornecedor em duas, quais sejam: a) responsabilidade pelo fato do produto e do serviço (art.12 ao 17 do CDC); b) responsabilidade pelo vício do produto e do serviço (art. 18 ao 25 do CDC). 1 Bacharel em Direito no Centro Universitário Dr. Edmundo Ulson. [email protected] 2 Mestre em Direito das Relações Sociais pela PUC-SP. Especialista em Direito das Relações de Consumo pela PUC-SP. Professora do Centro Universitário Dr. Edmundo Ulson - UNAR e na Faculdades Anhanguera Campus Leme - SP. [email protected]

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RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DO PRODUTO E DO SERVIÇO NO CÓDIGO

DE DEFESA DO CONSUMIDOR

ELIAS. JÉSSICA1

FIORI. MÔNICA DE OLIVEIRA SILVA2

RESUMO

Examinam-se questões relevantes em que o Código de Defesa do Consumidor representou

importante evolução no tratamento das relações de consumo no que tange à questão da

responsabilidade pelo vício do produto e do serviço. Para melhor entendimento do tema, a

primeira parte é dirigida à análise dos aspectos conceituais e históricos do instituto das

relações de consumo, os direitos básicos do consumidor e os vícios de qualidade e quantidade

do produto e do serviço, bem como, a distinção entre fato e vício. Na segunda parte, é

analisada a responsabilidade pelo vício do produto e do serviço. A parte final dispõe sobre as

garantias oferecidas pela lei ao consumidor, por ser a parte vulnerável e hipossuficiente,

prazos legais e opções estabelecidas pelo princípio da boa-fé como cláusula geral de toda

relação de consumo.

Palavras-Chave: Relações de consumo; Responsabilidade pelo vício do produto e do

serviço; Garantias legais; Distinção entre defeito e vício; Prazos.

INTRODUÇÃO

O presente busca analisar as formas de responsabilidade do fornecedor quando seus

produtos ou serviços apresentam vícios, qual o tipo de responsabilidade a ele imputada, quais

os casos que excluem a responsabilidade do fornecedor e quais os vícios que os produtos

podem apresentar.

O Código de Defesa do Consumidor dividiu a responsabilidade do fornecedor em

duas, quais sejam: a) responsabilidade pelo fato do produto e do serviço (art.12 ao 17 do

CDC); b) responsabilidade pelo vício do produto e do serviço (art. 18 ao 25 do CDC).

1 Bacharel em Direito no Centro Universitário Dr. Edmundo Ulson. [email protected]

2 Mestre em Direito das Relações Sociais pela PUC-SP. Especialista em Direito das Relações de Consumo pela

PUC-SP. Professora do Centro Universitário Dr. Edmundo Ulson - UNAR e na Faculdades Anhanguera –

Campus Leme - SP. [email protected]

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Assim, é necessária a distinção entre estas duas formas de responsabilidade neste

momento, pois o presente trabalho busca analisar exclusivamente a responsabilidade pelo

vício do produto e do serviço e não a responsabilidade pelo fato do produto.

Então, para chegar à análise do ponto principal desde trabalho (responsabilidade do

fornecedor pelos vícios do produto e do serviço), se fez necessário o estudo de elementos

históricos, pois é preciso saber como surgiram as relações de consumo no tempo e sua

evolução para podermos entender o porque do aparecimento da hipossuficiência do

consumidor frente ao fornecedor e necessidade de criação de uma lei para tutelar os interesses

do consumidor.

Além do estudo histórico, o presente trabalho, ainda, se preocupou em trazer as teorias

norteadoras do tema de responsabilização do fornecedor (Teoria do Risco Criado / Teoria da

Qualidade) para então passar a análise do tema Responsabilidade.

O tema da responsabilidade, por ser o principal objeto do trabalho, foi analisado desde

sua forma mais completa, ou seja, aquela trazida pelo Código Civil, para posteriormente ser

abordado o tema de forma específica explicando, para tanto, o porque da responsabilidade do

fornecedor ser objetiva, quais os casos que ele responde pelos vícios do produto e do serviço e

quais os casos que deixará de ser responsabilizado por força das excludentes da

responsabilidade.

Por fim, foram analisados os Vícios do Produto (vício de qualidade do produto; vício

de quantidade do produto) e os prazos que o consumidor tem para reclamá-los.

CAPÍTULO 1 – ANÁLISE DOS ASPECTOS CONCEITUAIS E HISTÓRICOS NAS

RELAÇÕES DE CONSUMO

O Código de Defesa do Consumidor surgiu diante da premência da proteção do pólo

mais fraco na relação de consumo, qual seja o consumidor.

Em 1991 entrou em vigor a Lei nº 8.078/90, fazendo surgir o Código de Defesa do

Consumidor, o primeiro do país, que significou uma notável evolução nas relações de

consumo.

Com o decorrer da história da humanidade verificou-se que o instinto de sobrevivência

trouxe a ideia de mudanças de mercadorias, momento este em que o homem começou a

compreender que havia necessidades básicas a serem preenchidas, e que por si só, não

conseguiria manter-se de forma digna.

Surgiu, assim, a necessidade de busca de produtos que não dispunham, adquirindo-os

mediante troca de mercadorias. A partir desse momento, nasceram as relações de consumo, e

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desde então, passou-se a observar que as relações entre fornecedor e consumidor eram

dotadas de um desequilíbrio que foi acentuado ao longo do tempo.

A preocupação com a tutela dos consumidores teve início realmente após a revolução

industrial, a partir daí, mudanças profundas ocorreram nos meios de produção.

Como diz Almeida (2003, p. 2):

“Os bens de consumo passaram a ser produzidos em série, para um

número cada vez maior de consumidores. Os serviços se ampliaram

largamente. O comercio experimentou extraordinário

desenvolvimento, ampliando a utilização de publicidade como meio

de divulgação dos produtos e atração de novos consumidores e

usuários. A produção e o consumo em massa geraram a sociedade de

massa, sofisticada e complexa”.

No mesmo sentido Nunes (2013, p. 43):

“Com o crescimento populacional nas metrópoles, que gerava

aumento de demanda e portanto, uma possibilidade aumento de

oferta, a indústria em geral passou a querer produzir mais, para

vender para mais pessoas (o que era legitimo). Passou-se então a

pensar num modelo capaz de entregar, para um maior número de

pessoas, mais produtos e mais serviços. Para isso criou a chamada

produção em série a “ standartização” da produção a

homogeneização da produção”.

Essa produção homogeneizada “Standartizada”, em série, possibilitou uma diminuição

profunda dos custos e um aumento da oferta, atingindo, então, mais larga camada de pessoas

(NUNES, 2013, p. 43).

A preocupação principal dos fornecedores passou a ser com relação à quantidade de

produtos produzidos, não dando importância para sua qualidade, pois quanto mais produtos

eram colocados à disposição do consumidor no mercado de consumo, teoricamente, maior

seria o faturamento da empresa.

Para evitar esta busca desenfreada pelo lucro em detrimento dos consumidores é que

surge a necessidade de criar mecanismos de proteção à relação de consumo, garantindo o

mínimo de segurança e qualidade na aquisição de serviços e produtos colocados no mercado

de consumo.

É neste sentido diz Amarante (1998, p.15) que o consumidor:

“Exposto aos fenômenos econômicos, tais como a industrialização, a

produção em série e a massificação, assim vitimado pela

desigualdade de informações, pela questão dos produtos defeituosos e

perigosos, pelos efeitos sobre a vontade e a liberdade, o consumidor

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acaba lesionado na sua integridade econômica e na sua integridade

físico-psíquica, daí emergindo como vigoroso ideal a estabilidade e a

segurança, o grande anseio de protegê-lo e colocá-lo em equilíbrio

nas relações de consumo”.

Em consequência diz Bonato (2003, p.73) “[...] as regras de proteção e de defesa do

consumidor surgiram, basicamente, da necessidade de obtenção de igualdade entre aqueles

que eram naturalmente desiguais”.

Apenas com a CF/88 é que se incluiu a defesa do consumidor no plano da política

constitucional, aparecendo no texto maior, entre os direitos e garantias fundamentais no seu

art. 5º, XXXII: “o Estado promoverá, na forma da lei a defesa do consumidor” entendendo

assim o legislador que isso só não bastaria no artigo 48 da Constituição Federal no ato das

disposições constitucionais transitórias, determinou que o congresso nacional, dentro de cento

e vinte dias após a promulgação da Constituição, deveria elaborar o Código de Defesa do

Consumidor, conforme descreve Grinover e Benjamin (1991, p. 8):

“De fato, a Constituição, ao cuidar dos Direitos e Garantias

Fundamentais, estabelece, no inciso XXXII do art. 5º, que “o estado

promoverá, na forma de lei, a defesa do consumidor”. O legislador

maior, entretanto, entendeu que tal não bastava. Assim, mais adiante,

no art. 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,

determina que o Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da

promulgação da Constituição, elaborará Código de Defesa do

Consumidor”.

Para salientar os pontos discutidos do código e para apresentar sugestões, foi realizada

pela comissão uma audiência pública onde foi colhida sugestões da sociedade, tais como

indústrias, comércios, serviços, governo, consumidores e cidadãos, o objetivo do relator da

comissão era criar um ambiente de acordo, em que pudesse chegar um senso comum onde

atenderiam todos os interessados, conforme preceitua Grinover e Benjamin (1991, p. 4):

“Para debate dos pontos polêmicos do Código e apresentação de

sugestões, a comissão Mista realizou ampla audiência publica,

colhendo o depoimento e as sugestões de representantes dos mais

variados segmentos da sociedade: indústria, comércio, serviços,

governo, consumidores, cidadãos. A absoluta transparência e a

isenção do relator da Comissão Mista criaram um clima de

conciliação, em que se pôde chegar ao consenso, adotando-se

posições intermediarias, que atendiam a todos os interessados”.

Durante a convocação extraordinária do congresso no recesso de julho de 1990, o

projeto de comissão o qual foi publicado em 4 de dezembro de 1989 o mesmo acabou sendo

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sancionado e publicado em 12 de setembro de 1990 como lei de nº 8078 de 11 de setembro de

1990, assim expressa Grinover e Benjamin (1991, p. 4):

“Finalmente, o Projeto da Comissão Mista, publicado a 4 de

dezembro de 1989, recebeu novas emendas, até ser aprovado pela

própria comissão e, a seguir – superados alguns problemas

procedimentais -, pelo Plenário, durante a convocação extraordinária

do congresso, no recesso de julho de 1990. Enviado à sanção

presidencial, o projeto acabou sendo sancionado, com vetos parciais,

e publicado a 12 de setembro de 1990, como lei nº. 8.078, de 11 de

setembro de 1990”.

1.1 –A revolução industrial e o direito do consumidor

O período de pós-revolução industrial foi responsável pelo crescimento da população e

o movimento do campo para cidade, conforme menciona Nunes (2013, p.43), onde começou a

gerar um grande aumento de demanda e com isso começou a gerar aumento da oferta, vez que

a indústria passou a produzir mais para vender para um número maior de pessoas.

A esse respeito, Nunes (2013, p. 43) diz:

“Vamos partir do período pós-Revolução Industrial. Com o

crescimento populacional nas metrópoles, que gerava aumento de

demanda e, portanto uma possibilidade de aumento da oferta, a

indústria em geral passou a querer produzir mais, para vender mais

pessoas”.

Para Bourgoignie (s./d.):

”O período da Revolução Industrial é de grande importância para o

desenvolvimento do Direito do Consumidor.

Antes da era industrial, o produtor-fabricante era simplesmente uma

ou algumas pessoas que se juntavam para confeccionar peças e

depois trocar os objetos (bartering). Com o crescimento da população

e o movimento do campo para as cidades, formam-se grupos maiores,

a produção aumentou e a responsabilidade se concentrou no

fabricante, que passou a responder por todo o grupo.

O advento da Revolução Industrial foi responsável pelo crescimento

da chamada produção em massa. Devido a este movimento, a

produção perdeu seu toque “pessoal” e o intercâmbio do comércio

ganhou proporções ainda mais despersonalizadas, já que passaram a

haver outros intermediários entre a produção e o consumo. Em

consequência disto, o produtor precisava dar escoamento à produção,

praticando, às vezes, atos fraudulentos, enganosos, por isso mesmo,

abusivos. A justiça social, então, entendeu ser necessária a

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promulgação de leis para controlar o produtor-fabricante e proteger

o consumidor-comprador”. (Disponível em:

<http://bourroul.wordpress.com/a-revolucao-industrial-e-o-direito-

do-consumidor/> Acesso em: 23.mai.2014).

A partir da primeira guerra mundial houve um crescimento a níveis excepcionais na

produção, a partida segunda guerra mundial foi intensificada a produção industrial em massa

e em série, trazendo consigo o surgimento da tecnologia de ponta e fortalecimento da

informática e telecomunicações, esse sistema passa a avançar sobre todos os países, de modo

que nos últimos anos pudesse implementar a ideia de globalização. Nunes (2013, p. 43),

explica que:

“A partir da Primeira Guerra Mundial houve um incremento na

produção, que se solidificou e cresceu em níveis extraordinários a

partir da Segunda Guerra mundial com o surgimento da tecnologia de

ponta, do fortalecimento da informática, do incremento das

telecomunicações etc. A partir da metade do século XX, esse sistema

passa a avançar sobre todo o globo terrestre, de tal modo que

permitiu que nos últimos anos se pudesse implementar a ideia de

globalização”.

”Com período de industrialização, as empresas começaram a se

estabelecer nos grandes centros fazendo com que as pessoas, na

busca por emprego, para lá migrassem. Isto gerou uma concentração

de pessoas nos grandes centros, aumentando o índice populacional e

a demanda por produtos e serviços, consequentemente houve a

necessidade de se aumentar à produção ocorrendo com isso à perda

de seu toque pessoal.

As empresas buscavam métodos cada vez mais eficazes para

aumentar sua produção, mas foi a primeira e a segunda guerra

mundial que, efetivamente, contribuíram para a solidificação da

sociedade de consumo. Para atender a crescente demanda após a

segunda guerra mundial, as empresas desenvolviam um produto e

depois o reproduziam milhares de vezes (produção em massa). Era o

capitalismo que chegava para ficar. A preocupação principal dos

fornecedores passou a ser com relação à quantidade de produtos

produzidos, não dando importância para sua qualidade, pois quanto

mais produtos eram colocados a disposição do consumidor no

mercado de consumo, teoricamente, maior seria o faturamento da

empresa.

Para evitar esta busca desenfreada pelo lucro em detrimento dos

consumidores é que surge a necessidade de criarmos mecanismos de

proteção à relação de consumo, garantindo o mínimo de segurança e

qualidade na aquisição de serviços e produtos colocados no mercado

de consumo”. (Disponível em: http://bonilhaeruella.com/artigos/124-

evolucao-historica-do-direito-do-consumidor.html> Acesso em:

05.mai.2014).

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1.2 – A evolução do direito do consumidor na Constituição Federal de 1988

No Brasil com a promulgação da Constituição Federal de 1998, ficou estipulado que

deveria ser criada uma Lei Especifica de Proteção ao Consumidor, no prazo de 120 dias,

através do artigo 48 das Disposições Transitórias, o que foi feito.

No dia 11.09.1990, foi instituída a Lei 8.078/90, que foi criada com o objetivo de

proteger única e exclusivamente não só as relações de consumo, mas precisamente os

consumidores, reconhecidamente a parte mais fraca e vulnerável dessa relação.

O Código de Defesa do Consumidor foi uma lei criada para disciplinar as relações de

consumo a partir de uma política nacional, um dos objetivos principais era atender as

necessidades do consumidor, respeitando os princípios básicos instituídos na Constituição,

como a dignidade, a saúde e a segurança e informações adequadas para o consumo e uso dos

produtos e serviços em circulação na sociedade.

O Código de Defesa do Consumidor nada mais é que um retrato da na nossa

sociedade, sociedade que consome muitos produtos e serviços e que necessita que uma norma

para proteção nas relações de consumo, tendo em vista que o consumidor é a parte mais fraca

na relação (art. 4º do CDC).

1.3 – Relação de consumo

As relações de consumo geralmente surgem através de um negócio jurídico

compreendido entre duas ou mais pessoas geradas através de princípios contratuais básicos,

onde figuram de um lado consumidor (es) e do outro fornecedor (es) e tendo como objeto

produtos ou serviços.

A lei nº 8078/90 veio tutela os direitos e deveres estabelecidos entre as partes numa

relação de consumo. O que caracteriza uma relação de consumo como sendo de consumo, é

haver de um lado um ou mais consumidores e do outro um ou mais fornecedores, ligados por

uma transação de compra e venda de produtos ou serviços (excluindo destes últimos os

gratuitos e os trabalhistas).

Se não houver esses três elementos básicos (consumidor, fornecedor e transação

comercial de produto ou serviço) não há relação de consumo, portanto o CDC não pode ser

aplicado.

Assim, não basta a existência de um consumidor numa determinada transação para que

ela seja caracterizada como relação de consumo. É preciso, também, a existência de um

fornecedor que exerça as atividades descritas no artigo 3º do Código de Defesa do

Consumidor.

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Portanto, relação de consumo, para o código de defesa do consumidor, é toda relação

jurídica contratual que envolva a compra e venda de produtos, mercadorias ou bens moveis e

imóveis, consumíveis ou inconsumíveis, fungíveis ou infungíveis, adquiridos por consumidor

final, ou a prestação de serviços sem caráter trabalhista.

Em conclusão, o CDC aceita como relação de consumo qualquer avença entre

fornecedor ou produtor e o consumidor, independente da qualificação jurídica do bem ou do

serviço prestado, desde que se trate de consumidor final e não do intermediário, como é o

franqueado. (STOCO, Responsabilidade civil no franchising e o Código de Defesa do

Consumidor, in Revista CEJ, 4, 1988, p.19).

1.4 - ANÁLISES CONCEITUAIS

1.4.1 - Conceito de consumidor

Todos somos consumidores. Voluntariamente ou por obrigação, consumimos

alimentos, roupas, utilizamos serviços de transportes, etc. Assim, o tempo todo, conscientes

ou não disso, estamos consumindo algum produto ou serviço.

O código de defesa do consumidor (Lei n.º 8.078, de 11 de setembro de 1990), em seu

art. 2º, caput, define consumidor como “toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza

produto ou serviço como destinatário final"

Como se vê, o Código restringe a pessoa do consumidor àquele que adquire ou utiliza

um produto ou serviço como destinatário final. A doutrina para solucionar esta questão trouxe

três correntes que iremos analisar.

Conforme Oliveira (2011, p.5):

“O código de defesa do consumidor, ao delimitar o conceito de

consumidor com manifesta preferência pela teoria finalista, fundada

primacialmente na assimetria entre consumidor e fornecedor, não

permite a expansão dos seus domínios normativos a situações ou

relações jurídicas de natureza empresarial”.

A corrente defendida por Filomeno (2010, p.38), entende que destinatário final é o

econômico e verifica se o produto ou serviço irá interferir ou não na atividade econômica

A última corrente a ser analisada é de Nunes (2009, p.103), onde aduz que primeiro

deve-se identificar o tipo de produto ou serviço, para saber se este é tipicamente de consumo

ou não, se o for será destinatário final.

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O parágrafo único do art. 2º do CDC, equipara a consumidor a coletividade de

pessoas, o qual amplia a definição do caput de consumidor que adquire ou utiliza produto ou

serviço como destinatário final, nos moldes já apresentados, equiparando a ele a coletividade

de pessoas, mesmo que não possam ser identificadas e desde que tenham, de alguma maneira,

participado da relação de consumo. A norma do parágrafo único do art. 2º pretende garantir a

coletividade de pessoas que possam ser, de alguma maneira, afetadas pela relação de

consumo. Na realidade, a hipótese dessa norma diz respeito apenas ao atingimento da

coletividade, indeterminável ou não, mas sem sofrer danos, já que neste caso o art. 17 –

examinado na sequência – enquadra a questão. Dessa maneira, a regra do parágrafo único em

comento permite o enquadramento de universalidade ou conjunto de pessoas, mesmo que não

se constituam em pessoa jurídica. Por exemplo, a massa falida pode figurar na relação de

consumo como consumidora ao adquirir produtos, ou, o condomínio, quando contrata

serviços (NUNES, 2012, p.88).

1.4.2 - Conceito de fornecedor

Todos que habitualmente colocam produtos ou serviços no mercado de consumo para

atendimento das necessidades dos consumidores, através de uma atividade produtiva,

industrial, comercial, mercantil ou civil.

O CDC define em seu caput do art. 3º que fornecedores podem ser: “toda pessoa física

ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes

despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,

transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou

prestação de serviços”.

Como diz Nunes (2013, p.135):

“São fornecedores as pessoas jurídicas públicas ou privadas,

nacionais ou estrangeiras, com sede ou não no País, as sociedades

anônimas, as por quotas de responsabilidade limitada, as sociedades

civis, com ou sem fins lucrativos, as fundações, as sociedades de

economias mista, as empresas públicas, as autarquias, os órgãos da

Administração direta etc”.

Exemplo: Se uma loja de roupas vende seu computador usado para adquirir um novo,

ainda que possa descobrir no comprador um “destinatário final”, não se tem relação de

consumo, porque essa loja não é considerada fornecedora.

Conforme Nunes (2013, p. 136):

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“[...] O mesmo se dá quando a pessoa física vende seu automóvel

usado. Independentemente de quem o adquira, não se pode falar em

relação de consumo, pois falta a figura do fornecedor. No exemplo a

situação é daquelas reguladas pelo direito comum civil, inclusive

quanto a garantias, vícios. É por isso que a definição da relação de

consumo é fundamental para se descobrir se é aplicável ou não o

CDC”.

1.4.3 – Produto

Qualquer objeto que tenha valor econômico, destinado a satisfazer uma necessidade de

quem o adquiriu, ou seja, qualquer bem móvel ou imóvel, material ou imaterial, oferecido no

mercado de consumo.

O CDC definiu produto no §1º do art. 3º: “Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel,

material ou imaterial.

De acordo com Nunes (2013, p.139):

“Esse conceito de produto é universal nos dias atuais e está

estreitamente ligado a ideias do bem, resultado da produção no

mercado de consumo das sociedades capitalistas contemporâneas. É

vantajoso seu uso, pois o conceito passa a valer no meio e já era

usado por todos os demais agentes do mercado (econômico,

financeiro, de comunicação etc) ”.

Na definição de produto móvel ou imóvel, o legislador coloca então “qualquer bem”, e

designa este como “móvel ou imóvel”, e ainda “material ou imaterial” (NUNES, 2013,

p.140).

1.4.4 – Serviço

Serviço é qualquer atividade fornecida ao consumidor, mediante remuneração,

inclusive serviços públicos, bancários, financeiros, de créditos e de seguros.

O CDC define em seu § 2º do art. 3º que: “Serviço é qualquer atividade fornecida no

mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de

crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista”.

O CDC não abrange os serviços prestados gratuitamente, nem os serviços vinculados a

uma relação trabalhista. É importante estar atento, no entanto, pois alguns serviços “parecem”

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gratuitos, mas não são, porque indiretamente pagamos por eles. É o caso, por exemplo, de

estacionamento de lojas e supermercados, quando não há cobrança direta.

Um serviço apresenta vício quando há problemas na sua qualidade que o torna

impróprio para o consumo ou lhe diminua o valor ou ainda, quando há disparidade com as

indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária.

Havendo vício na prestação de serviço o consumidor poderá exigir que o serviço seja

feito novamente, sem qualquer custo; ou um desconto (abatimento) no preço que pagou; ou a

devolução imediata do valor que pagou, com correção monetária, conforme dispõe no art. 20

do código de defesa do consumidor.

Nota-se ainda, quanto aos serviços, que eles são privados e também públicos, por

disposição do caput do art. 22 do CDC: “Os órgãos públicos, por si ou suas empresas,

concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são

obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais,

contínuos”

Para Nunes (2013, p.152):

“No art. 22, a lei consumerista regrou especificamente os serviços

públicos essenciais e sua existência, por si só, foi fundamental

importância para impedir que os prestadores de serviços públicos

pudessem construir “teorias” para tentar dizer que não estariam

submetidos as normas do CDC. Aliás, mesmo com a expressa redação

do art. 22, ainda assim há prestadores de serviços públicos que lutam

na justiça” fundamentados” no argumento de que não estão

submetidos as regras da Lei n. 8.078/90. Para ficar só com um

exemplo, veja-se o caso da decisão da 3ª Câmara Civil do Tribunal de

Justiça de São Paulo no agravo instrumento interposto pela

Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – Sabesp.

Nas razoes do fornecimento de agua e esgoto (que o consumidor

alega foram cobrados pelo exorbitantemente), a empresa fornecedora

fundamentada sua resignação “na não-subordinação da relação

jurídica subjacente aquela legislação especial (o CDC)”. O tribunal,

de maneira acertada, rejeitou a residência da Sabesp: “indiscutível

que a situação versada, mesmo envolvendo prestação de serviços

públicos, se insere no conceito de relação jurídica de consumo.

Resulta evidente subordinar-se ela, portanto, ao sistema do Código de

Defesa do Consumidor” (AI 181.264-1/0, rel.Des.J.Roberto Bedran, j.

9-2-1993, v.u., RTJE 132/94)”.

O CDC garante ao consumidor e ao usuário dos serviços públicos o direito de exigir

que esses serviços sejam fornecidos ou prestados com padrões adequados de qualidade e

eficiência e em conformidade com as normas e regulamentos técnicos, e também sem

interrupção, quando se tratar de serviços essências, como água e luz por exemplo.

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A essencialidade do serviço, na determinação da norma do caput art. 22, tem de ser

contínuo.

Todo serviço público é essencial. No sistema jurídico brasileiro há lei ordinária que

define exatamente esse serviço público essencial e urgente. Trata-se da lei da greve – Lei nº.

7.783 de 28 de junho de 1989.

Para Nunes (2013, p.157):

“Como essa norma obriga os sindicatos, trabalhadores e

empregadores a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços

indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da

comunidade, acabou definindo o que entende essencial. A regra está

no art. 10 do CDC, que dispõe:

Art. 10 São considerados serviços ou atividades essenciais:

I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de

energia elétrica, gás e combustíveis;

II - assistência médica e hospitalar;

III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos;

IV - funerários;

V - transporte coletivo;

VI - captação e tratamento de esgoto e lixo;

VII - telecomunicações;

VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas,

equipamentos e materiais nucleares;

IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais;

X - controle de tráfego aéreo;

XI compensação bancária”.

Dessa forma, nenhum desses serviços serão interrompidos. O CDC é claro, e não abre

exceções: os serviços essências são contínuos. E diga-se em esforço que essa garantia decorre

do texto constitucional (NUNES, 2013, p.157).

As alternativas para solucionar um vício de um produto essencial são as mesmas de

qualquer produto, a diferença é que no caso do produto essencial a solução para o problema

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deve ser imediata, ou seja, o fornecedor não tem 30 dias para sanar o vício, conforme dispõe

no art. 18 §3º CDC.

CAPÍTULO 2. RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DO PRODUTO E DO SERVIÇO

O vício aparente ou de fácil constatação, como o próprio nome já diz, é aquele que

aparece no singelo uso e consumo de produto (serviço).

Já os vícios ocultos Nunes (2013, p. 233) ensina que:

“São aqueles que só aparecem algum ou muito tempo após o uso e/ou

que, por estarem inacessíveis ao consumidor, não podem ser

detectados na utilização ordinária. Há mais detalhes a respeito de

vício oculto nos comentários dos arts. 24 e 26”.

A lei n.8078/90, em seu art. 18 traz os vícios dos produtos que também podem ser

chamados de defeito.

Como diz Almeida (2009, p.92):

“A responsabilidade pelo vício do produto ou do serviço é aquela

atribuída ao fornecedor por anormalidade que sem causar riscos à

saúde e à segurança do consumidor, afeta a funcionalidade do

produto ou do serviço nos aspectos de qualidade e quantidade,

tornando-os impróprios ou inadequados ao consumo, ou lhes

diminuam o valor, bem como aqueles decorrentes da divergência do

conteúdo com as indicações constantes do recipiente, da embalagem,

rotulagem ou mensagem publicitária”.

Pode parecer complicado porque os consumidores hoje, não estão acostumados a

empregar essas expressões: vício de qualidade, vício de quantidade, impróprios ou

inadequados para o consumo.

A norma do caput do art.18 coloca todos os partícipes do ciclo de produção como

responsáveis.

Nunes (2013, p.234) mostra alguns exemplos:

“Uma consumidora e um consumidor comparecem no mesmo

momento a uma loja de departamento para adquirir um

liquidificador. Após escolherem, resolvem comprar o mesmo produto,

da mesma marca e modelo; ambas as unidades saíram da fábrica na

mesma série de fabricação.

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Os dois vão para suas casas, cada um com seu liquidificador. Cada

um, em sua residência, resolve utilizar o produto. Ele pretende fazer

um bolo. Ela, um suco. Retiram o aparelho da caixa, passam uma

água e preparam-se para acioná-lo.

Ele pressiona o botão. O motor, de forma violenta, gira e uma das pás

de liquidificação se quebra e sai voando, fura o copo e entra na

barriga do consumidor. Ele tem de ser hospitalizado e por pouco não

morre.

Ela, por sua vez, pressiona o botão. O motor, de forma violeta, gira, e

uma das pás de liquidificação se quebra e sai voando, fura o copo e

cai no chão, sem atingir a consumidora”.

No primeiro caso o consumidor sofreu um acidente de consumo. É defeito. No

segundo caso a consumidora não sofreu nada, ou seja, apenas o liquidificador que parou de

funcionar, sendo, portanto vício.

Nunes (2013, p. 235), deixa claro que:

“No caso do consumidor que foi ferido, ele deverá acionar o

fabricante do liquidificador para pleitear indenização pelos danos

materiais e morais sofridos. E a consumidora poderá pedir a troca do

aparelho viciado por outro idêntico, mas funcionando

adequadamente. Na loja onde ela adquiriu ou diretamente do

fabricante”.

Desta forma cabe compreender que, o vício do produto ou serviço é um acontecimento

que, de alguma forma, venha frustrar o que o consumidor esperava desse produto, devido ao

não funcionamento adequado ou a insuficiência na sua quantidade, gerando prejuízo

financeiro ao consumidor e se tornando impróprio ou inadequado ao consumo.

Diferentemente do art.12 do CDC, Bolzan (2014, p.338) ressalta que:

“O legislador optou por especificar cada um dos fornecedores

(fabricante, produtor, construtor e importador), no art.18 foi utilizada

a expressão “fornecedores”, fazendo alusão ao gênero,

representação maior da solidariedade de todos os que integram a

cadeia de fornecedores. Aliás, a solidariedade está expressamente

prevista no aludido dispositivo”.

Desta forma, poderá assim o consumidor, por exemplo, reclamar do vício de uma TV

que não liga perante o comerciante, sem precisar dirigir-se ao fabricante. Nessa interpretação

inicial do citado dispositivo, pode constatar a existência de duas modalidades de vício do

produto: sendo como primeiro o vício de qualidade (cuja disciplina está no próprio art.18 do

CDC), e a segundo como vício de quantidade (citado no art.18 e disciplinado no art.19 do

CDC).

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No caput do art.18 do CDC haverá vício de qualidade quando tornar os produtos

“impróprios ou inadequados ao consumo a que se destina ou lhes diminuam o valor, assim

como por aqueles decorrentes da disparidade, como as indicações constantes do recipiente, da

embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária”.

O §6º do art.18 define que seriam produtos impróprios ao consumo:

“São impróprios ao uso e consumo:

I- Os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;

II- Os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados,

falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde,

perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas

regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação;

III- Os produtos que, por qualquer motivo, se revelam inadequados

ao fim a que se destinam”.

Bolzan (2014, p.340) deixa clara a ideia de que o CDC não proíbe a venda de produtos

com pequenos vícios, desde que conhecidos pelo consumidor, conhecidos como “compra no

estado” (no estado em que se encontra):

“Esta nítida a ideia de que o CDC não proíbe a venda de produtos

com pequenos vícios, desde que conhecidos pelo consumidor, ou seja,

pelo principio da boa-fé objetiva e os seus deveres anexos de

informações, proteção e cooperação, há a necessidade de ampla

divulgação quanto à existência do vício, a ponto de ficar bem

esclarecido que o motivo do preço diferenciado decorre juntamente

de tal impropriedade do ponto do produto”.

Desta forma Bolzan (2014, p.340) deixa como exemplo que, roupas com pequenos

vícios, deverão:

“Estar em local separado na loja e jamais no meio das demais peças

da loja sem qualquer problema (dever de proteção);

Com a respectiva placa indicativa do valor a menor em razão do vício

(dever de informar) e

De preferência, com algum selo ou sinal indicativo do local onde se

encontra o vício na peça de roupa (dever de cooperação)”.

Miragem (2010, p.414) preceitua também que:

“É evidente que pela principiologia inerente do Código de Defesa do

Consumidor tais impropriedades deverão estar dentro dos limites do

razoável, não sendo admitidos, em “nenhuma hipótese, contudo, o

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vicio do produto comercializado nestas condições poderá

comprometer toda sua utilidade, nem apresentar riscos à saúde ou

segurança do consumidor (qualificando-se como defeito), hipótese em

que se estará violando diretamente as normas de proteção previstas

no CDC”.

O caput do art. 18 CDC faz uma ressalva nos vícios do produto decorrentes da

disparidade com as indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou

mensagem publicitária no sentido em que deverão ser “respeitadas as variações decorrentes de

sua natureza”. Isso significa que nem todas as variações são consideradas vícios, ou seja,

certas alterações são decorrentes da própria natureza do produto e, portanto não caracteriza

violação ao CDC.

Bolzan (2014, p.341) fala que um bom exemplo é a tinta de pintar parede. A depender

do tipo de material utilizado na construção de parede que receberá o produto, a cor ficará mais

clara ou mais escura, e isso é uma variação decorrente da sua natureza, não configurando

vício.

Diante da constatação de um vício o § 1º do art.18 estabelece o prazo de 30 dias. Antes

de dar a oportunidade ao consumidor de escolher umas das alternativas elencadas na lei

8078/90, como substituição do produto viciado por outro, por exemplo, há o direito do

fornecedor de tentar sanar o vício no prazo legal de 30 dias.

No mesmo sentido o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul posiciona que:

“Ementa: CONSUMIDOR. VÍCIO DO PRODUTO. APARELHO DE

AR CONDICIONADO. DEFEITO DE FÁBRICA. NEGATIVA DO

CONSUMIDOR DE SUBMISSÃO DO APARELHO A REPAROS.

INTELIGÊNCIA DO ART. 18 DO CDC. Apresentando o aparelho de

ar condicionado defeito de fabricação, cumpria ao consumidor

submeter o aparelho a reparo, permitindo ao fornecedor sanar o

defeito. Somente quando vencido o prazo de trinta dias sem o reparo,

é que surgem ao consumidor as opções do § 1º do art. 18 do CDC,

tais como a devolução da quantia paga ou substituição do bem. Na

hipótese, igualmente, ainda que útil o aparelho de ar condicionado,

não se trata de bem essencial, também não se cogitando que a

substituição de peças possa comprometer o valor do bem (§ 3º).

Eventual substituição do compressor do aparelho de ar condicionado

não pode ser comparado, data vênia, à substituição de motor de

veículo, hipótese em que haveria significativa redução do valor do

bem. Sentença confirmada por seus próprios fundamentos. Recurso

improvido. (Recurso Cível Nº 71004782074, Quarta Turma Recursal

Cível, Turmas Recursais, Relator: Carlos Francisco Gross, Julgado

em 31/01/2014). (Disponível em: <http://tj-

rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/113608807/recurso-civel-

71004782074-rs). Acesso em: 28.jul.2014)”.

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No próprio dispositivo do §1º do art. 18 CDC, caso esse vício de qualidade não seja

sanado no prazo legal de 30 dias, o consumidor poderá, sem apresentar nenhuma justificativa,

optar entre as alternativas ali contidas, ou seja: I - a substituição do produto por outro da

mesma espécie, em perfeitas condições de uso; II - a restituição imediata da quantia paga,

monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o abatimento

proporcional do preço.

Bolzan (2014, p.342) frisa a utilização de prazos desproporcionais, onde o CDC

estabeleceu os períodos mínimos e máximos, como pode observar no art. 18 § 2º:

“Art. 18 (...)

§ 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do

prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete

nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a

cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio

de manifestação expressa do consumidor”

Parte da doutrina não se conforma com um prazo máximo tão extenso. A visão de

Nunes (2013, p.258):

“Por essa regra, o tempo para que o produto viciado fosse consertado

poderia ser elevado para 180 dias! É algo imaginável. O consumidor

adquire um produto; paga por ele; ele não funciona; tem de ser

levado para conserto; quando lá chega, o fornecedor responde:

“volte daqui a 6 meses, que o produto estará novinho em folha!”.

Parece brincadeira, se não fosse norma”

O CDC não poderia deixar de consignar que, em alguns contextos fáticos, seria

inviável aguardar o prazo legal de 30 dias ou o convencionado pelas partes, 7 dias no mínimo

ou 180 dias no máximo, razão pela qual elencou em seu art.18, § 3º, situação em que o

“consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1º deste artigo sempre que, em

razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade

ou característica do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial” menciona

Bolzan (2014, p.347).

Denari (2011, p. 224) demostra que:

“Esse prazo de 30 dias para saneamento dos vícios “somente deve ser

observado em se tratando de produtos industrializados dissociáveis, é

dizer, que permitam a dissociação de seus componentes, como é o

caso do eletrodoméstico, veículos de transporte, computadores,

armários de cozinha, copa ou dormitório. Se o vício afetarem

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produtos industrializados ou naturais essenciais, que não permitem

dissociação de seus elementos – v.g., vestimentas, calçados, utensílios

domésticos, medicamentos, bebidas de todo gênero, produtos in

natura -, não se oferece oportunidade de saneamento, e o consumidor

pode exigir que sejam imediatizadas as reparações previstas

alternativamente no §1º do art.18, como prevê expressamente o §3º,

in fine”

Já Bessa (2011, p.183) defende que:

“Para situações excepcionais, em caso de exercício abusivo do direito

do consumidor, deve incidir o prazo de 30 dias. Para tanto, as

hipóteses previstas no §3º do art. 18, que permitem afastamento do

referido prazo, devem ser visualizadas contenção ao principio da

efetiva proteção aos interesses materiais e morais do consumidor

(art.6º, VI), ou seja, a regra é considerar a essencialidade dos

produtos e, ainda, que a substituição das partes viciadas, em

principio, compromete a qualidade do produto ou diminui seu valor.

(...) A interpretação adequada da matéria deve-se pautar por um

dialogo das fontes entre o CDC e o CC, primando pela coerência

entre dois diplomas, o que significa interpretação restritiva da

exigência do prazo de 30 dias e sua conjunção com a noção de abuso

do direito”.

O § 5 do art. 18 regula a responsabilidade no caso de fornecimento de produtos in

natura, estabelecendo que “será responsável perante o consumidor o fornecedor imediato,

exceto quando identificado claramente seu produtor”.

Nunes (2013, p. 143) explica que:

“O produto in natura, assim, é aquele que vai ao mercado

consumidor diretamente do sítio ou fazenda, local de pesca, produção

agrícola ou pecuária, em suas hortas, pomares, pastos, granjas etc.

São os produtos hortifrutigranjeiros, os grãos, cereais, vegetais em

geral, legumes, verduras, carnes, aves, peixes etc”.

Para Bolzan (2014, p.349), esse tipo de produto não há processo de industrialização o

que dificulta, muitas vezes, a identificação do produtor.

Responderá nesse contexto o comerciante pelas verduras vendidas sem a identificação

clara do seu produtor, numa verdadeira exceção a responsabilidade solidaria de todos os

fornecedores da cadeia de produção, que é a regra do art. 18.

Os bens in natura referem-se a produtos essenciais que tais, admitem a escolha direta

das alternativas pelo consumidor nos termos do art. 18, §3º do CDC.

Nunes (2013, p. 267) destaca que:

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“A norma do § 5º não pressupõe prazo algum. Como é especifica

para produtos in natura, este se referindo aos produtos essenciais, e,

conforme examinado no §3º, quando se tratar de produto essencial, o

consumidor pode exercitar imediatamente as prerrogativas do §1º”.

A inadequação quanto aos limites quantitativos o CDC em seu art. 19, prevê:

“Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de

quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações

decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às

indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de

mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir,

alternativamente e à sua escolha”.

Bolzan (2014, p.350) realça que o caput do art. 19 deixou claro que, nem todas as

variações constituem em vício de quantidade do produto. Algumas alterações decorrem da

própria natureza do bem, o que não implicará necessariamente, no surgimento do vício.

Porém antes essa constatação de vício de quantidade do produto, o CDC prevê que o

vulnerável poderá exigir, alternativamente a sua escolha:

“Art.19 (...)

I - o abatimento proporcional do preço;

II - complementação do peso ou medida;

III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou

modelo, sem os aludidos vícios;

IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente

atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos”

Bolzan (2014, p. 352) faz comentários em cada uma das alternativas:

“A primeira opção, se o consumidor compra um quilo de feijão, nos

termos da informação constante na embalagem e, efetivamente, a

medida correta representa quinhentos gramas, poderá exigir

abatimento proporcional no preço ou, nos termos da segunda

alternativa, a complementação do peso.

A terceira opção conferida ao consumidor consiste na substituição do

bem por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem aludidos

vícios. Inexiste no produto, prevê o §1º do art.19 por remissão ao §4º

do art.18, todos do CDC, que a substituição poderá ser exigida em

relação a outro de espécie, marca ou modelo diverso, mediante

complementação do preço se o novo produto for mais caro ou

restituição do valor pago, se o outro produto for mais barato.

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A última alternativa conferida ao consumidor envolve a restituição da

quantia paga monetariamente atualizada, sem prejuízos das perdas e

danos”.

O § 2º do art. 19 prevê que: “o fornecedor imediato será responsável quando fizer a

pesagem ou medição e o instrumento utilizado não estiver aferido os padrões oficiais”.

Segundo Bessa (2011, p.179):

“há medição da quantidade no momento da venda, fica

demasiadamente evidente a responsabilidade do fornecedor imediato,

seja por falta de aferição do instrumento, seja por má-fé do vendedor,

e daí se deduz o objetivo normativo de afastar excepcionalmente a

responsabilidade solidaria dos demais integrantes da cadeia de

fornecedores”.

O art. 20 do CDC traz a responsabilidade pelo vício na prestação de serviço:

“Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade

que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor,

assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações

constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor

exigir, alternativamente e à sua escolha:

I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada,

sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço”.

O § 2º do art. 20 CDC define o que seria serviço impróprio ao consumo, “são

impróprios os serviços que se mostrem inadequados para fins que razoavelmente deles se

esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentadas de prestabilidade”.

O CDC prevê que ante a constatação de vício no serviço, o consumidor poderá exigir,

alternativamente a sua escolha: I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando

cabível; II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo

de eventuais perdas e danos; III - o abatimento proporcional do preço.

Bolzan (2014, p.354) esclarece cada uma das alternativas:

“A primeira, no entanto, é comum o consumidor não mais

confiar num fornecedor que, por exemplo, transforma seu carro preto

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num prata com seu serviço de polimento e cristalização. Pensando em

casos como este, dispôs o §1º do art.20: “a reexecução dos serviços

poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e

risco do fornecedor”. Assim, no exemplo citado, o consumidor poderá

levar seu veiculo a um funileiro de sua confiança para realização de

um novo serviço, que será custeado integralmente pelo fornecedor

originário responsável pelo vício.

A segunda, conferida ao consumidor envolve a restituição da

quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo das perdas e

danos. Nunca é demais destacar que o direito a indenização depende

de comprovação efetiva de prejuízo materiais e/ou morais.

A terceira escolha que poderá ser feita pelo vulnerável traduz-

se na exigência do “abatimento proporcional do preço”. Muitas vezes

o consumidor prefere resolver o problema por conta própria a

aguardar a boa vontade de um mau fornecedor. Nestes casos, o

abatimento proporcional no preço acaba sendo a melhor saída”.

Miragem (2010, p.426) ensina que:

“A pretensão de abatimento do preço deve respeitar a proporção

entre parcela da prestação efetivamente cumprida, e o

comprometimento causado pelo vício do serviço, sem prejuízo do

direito a indenização por perdas e danos, quando apurados prejuízos

ressarcíeis”.

CAPÍTULO 3. RESPONSABILIDADE CIVIL

Para a caracterização da responsabilidade civil é necessária à presença de dois agentes:

de um lado, a culpa, baseada na doutrina subjetiva ou teoria da culpa, e, de outro lado o risco,

fundamentado pela doutrina objetiva ou teoria do risco.

3.1. Responsabilidade subjetiva

O Código Civil, em seus arts. 186 e 187 adotam como regra, a responsabilidade

subjetiva, ou seja, além da ação ou omissão que causa um dano, ligados pelo vínculo

denominado nexo de causalidade, deve restar comprovada a culpa em sentido lato.

Britto (2003, p.1) ensina que:

“Diz-se subjetiva a responsabilidade quando se baseia na culpa do

agente, que deve ser comprovada para gerar a obrigação

indenizatória. A responsabilidade do causador do dano, pois, somente

se configura se ele agiu com dolo ou culpa. Trata-se de uma teoria

clássica, também chamada teoria da culpa ou subjetiva, segundo a

qual a prova da culpa lato sensu (abrangendo dolo) ou stricto sensu

se constitui num pressuposto do dano indenizável”.

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Tratando-se de responsabilidade subjetiva a culpa integra esses pressupostos e a vítima

só obterá a reparação do dano se comprovar a culpa do agente.

Com isso, o principal pressuposto dessa responsabilidade é a culpa.

Novaes (s./d.) aduz:

“Porém, exceção à regra da responsabilidade subjetiva, sempre

haverá obrigação de se reparar o dano, independentemente de

comprovação e delimitação de culpa, é chamada de teoria objetiva da

responsabilidade civil ou responsabilidade sem culpa. (Disponível

em: <http://www.ambito-

juridico.com.br/site/index.php/?n_link=revista_artigos_leitura&artig

o_id=11318&revista_caderno=7>. Acesso em: 20. jul. 2014).

3.2. Responsabilidade objetiva

Diferente do Código Civil, no CDC, a responsabilidade é objetiva, o qual é dispensado

a comprovação da culpa para atribuir ao fornecedor de produtos e serviços a responsabilidade

pelo dano.

Britto (2003, p.1) ensina que:

“A lei impõe, entretanto em determinadas situações, a obrigação de

reparar o dano independentemente de culpa. É a teoria dita objetiva

ou do risco, que prescinde de comprovação de culpa para a

ocorrência do dano indenizável. Basta haver o dano e o nexo de

causalidade para justificar a responsabilidade civil do agente. Em

alguns casos presume-se a culpa (responsabilidade objetiva

imprópria), noutros a prova da culpa é totalmente prescindível

(responsabilidade civil objetiva propriamente dita)”.

Para Novais (s./d.):

“Basta a simples demonstração da existência de nexo causal entre o

dano experimentado pelo consumidor e o vício ou defeito no serviço

ou produto. A opção legislativa reflete a adoção feita pelo legislador

da teoria do risco do negócio, segundo a qual aquele que explora

atividade econômica deve arcar com os danos causados por essa

exploração, ainda que não tenha concorrido voluntariamente para a

produção dos danos”. (Disponível em:

<http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php/?n_link=revista_ar

tigos_leitura&artigo_id=11318&revista_caderno=7>. Acesso em:

20. jul 2014).

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3.3. Responsabilidade do comerciante

O artigo 13 do CDC, entrega ao comerciante uma responsabilidade subsidiária.

Disciplina o CDC:

“Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do

artigo anterior, quando:

I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem

ser identificados;

II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante,

produtor, construtor ou importador;

III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.

Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado

poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis,

segundo sua participação na causação do evento danoso”.

A responsabilidade subsidiária decorre do fato do fabricante e produtor serem os

verdadeiros introdutores do risco no mercado ao colocarem produtos defeituosos em

circulação, cabendo ao comerciante, portanto, apenas avaliar a qualidade dos bens que coloca

à venda em seu estabelecimento.

No entanto, é preciso considerar que certas vezes torna-se impossível ao comerciante

avaliar totalmente a qualidade dos produtos que distribui, dada a alta complexidade de seus

mecanismos, os quais só poderiam ser contabilizados por verdadeiros especialistas do ramo -

é o que ocorre em grandes lojas de departamentos ou hipermercados.

Assim Tarabori (s./d.) explica:

“Na hipótese dos incisos I e II, o consumidor ficaria impossibilitado

de se voltar contra o fabricante, produtor ou importador, porque não

os conhece. Por isso a função desses incisos é coercitiva e

sancionatória. Revela-se num meio indireto de constranger o

comerciante a comunicar à vítima a identidade do fabricante,

produtor ou importador e não o fazendo, concretiza-se a possibilidade

de responsabilização material, como sanção diante do não

esclarecimento do consumidor sobre quem seria o fabricante do

produto”. (Disponível em: <

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http://www.nuncamais.net/site/util/fdentro_cdc2.cfm>. Acesso em:

31.jul.2014).

Importante frisar que o comerciante só será responsável subsidiariamente se quando

solicitado não fornecer a identificação do fabricante ou então não o fizer de forma clara.

Salienta Tarabori (s./d.):

“O comerciante estaria livre da responsabilidade civil se, apesar de

ocorrido o dano, revelasse a identificação e o domicílio do fornecedor

original. A maioria da doutrina assim entende, pois o inciso I não

exige prévia identificação, apenas alude a impossibilidade de

identificação”. (Disponível em: <

http://www.nuncamais.net/site/util/fdentro_cdc2.cfm>. Acesso em:

31.jul.2014).

O § único do art.13 do CDC diz também a respeito do direito de regresso, ou seja,

"Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra

os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso".

Apesar do § único estar junto ao dispositivo que cuida especificamente da

responsabilidade do comerciante, Tarabori (s./d.) fala que, o fato é que o direito de regresso se

aplica a todas as hipóteses em que um fornecedor, qualquer que seja ele, tenha respondido

pelo dano causado por outro. Aqui se apresenta apenas um vício de localização, pois se

estende a aplicação do dispositivo a todos os coobrigados do art. 12, caput. (Disponível em: <

http://www.nuncamais.net/site/util/fdentro_cdc2.cfm>. Acesso em: 31.jul.2014).

3.4. Responsabilidade do fornecedor

O Código de Defesa do Consumidor determinou que os fornecedores de produtos de

consumo possuem responsabilidade solidária, ou seja, que respondem solidariamente pelos

vícios que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam, lhes

diminuam o valor ou por aqueles decorrentes da disparidade com indicações do recipiente,

embalagem, rótulo ou mensagens publicitárias.

O artigo 18 prevê aos fornecedores responsabilidade solidária quanto aos vícios de

qualidade dos produtos:

“Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não

duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou

quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a

que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles

decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente,

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da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as

variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a

substituição das partes viciadas”.

Tanto o comerciante como o produtor poderão ser responsabilizado pelo vício do

produto. Qualquer um poderá ser acionado, visto que o artigo 18 diz expressamente que

respondem solidariamente.

Wada (apud Cintra, s./d.) explica que:

“Não precisa mais haver prova da responsabilidade do comerciante.

Todo tipo de vício será arguido contra este, que, futuramente, poderá

se valer de ação de regresso, contra o fornecedor, a fim de ser

ressarcido de todo dispêndio que teve com relação ao conserto ou

troca do produto (Wada apud Cintra, 2011)”. Disponível em: <

http://www.judicare.com.br/index.php/judicare/rt/printerFriendly/54/

168>. Acesso em: 11.ago.2014.

O artigo 19 do CDC, responsabiliza solidariamente os fornecedores pelos vícios de

qualidades dos produtos:

“Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de

quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações

decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às

indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de

mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir,

alternativamente e à sua escolha”

Se tratando do vício de quantidade Wada (apud Cintra, s./d.) informa que:

“Em caso de vício de quantidade, o fornecedor imediato será

responsável quando fizer a pesagem ou medição e o instrumento

utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais (Wada apud

Cintra, 2011)”.

Na lei de proteção, é a responsabilidade solidária de todos os fornecedores,

abrangendo, portanto, não apenas o vendedor ou comerciante, que manteve contato direto

com o consumidor, mas este e os demais fornecedores: fabricante, produtor, construtor,

importador e incorporador, ou qualquer outro fornecedor intermediário que tenha participado

da cadeia de produção e circulação do produto.

Relevante que, na identificação dos responsáveis solidários por vícios apresentados

nos produtos, haja verificação do objeto da atividade exercida por cada ente no sistema de

produção.

Neste ensinamento, Rizzardo (2011, p. 421), explica que:

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“Se o produto está viciado, e não atende às necessidades para as

quais se deu a fabricação, com amparo legal no artigo 18 do Código

de Defesa do Consumido chamam-se à responsabilidade os

fabricantes, produtores, os construtores, os importadores, e os

comerciantes – todos enquadrados como fornecedores”.

É muito comum o consumidor comprar o produto em determinada loja e, quando se

dirige à mesma loja para realizar o conserto, é informado que deverá procurar a assistência

técnica do produto situada em outro endereço. Essa prática é considerada abusiva e não pode

ser tolerada, podendo, inclusive, a loja responder por perdas e danos, uma vez que, conforme

exposto, a responsabilidade pelo vício ela é solidária.

3.5. Responsabilidade solidária e subsidiária

Neste item será tratado da responsabilidade que cada um tem no sentido de reparar o

dano por vício do produto. Tanto o fornecedor, como o montador e o comerciante respondem

de algum modo em caso de vício.

Garcia (2010, p.87) menciona que:

“Alguns doutrinadores questionam se a responsabilidade por vícios

não seria subjetiva. Isto porque, ao contrário dos arts. 12 e 14, o art.

18 ao 20 não previu de forma expressa a expressão

“independentemente da existência de culpa”. Deve lembrar sempre

que a regra geral do CDC é a responsabilidade objetiva e que,

quando quis prever uma exceção, o fez expressamente no art. 14, § 4º

(responsabilidade pelo fato de serviço dos profissionais liberais).

Ademais, seria um grande ônus impor ao consumidor a prova de

negligência, imperícia e imprudência do fornecedor sobre os vícios

dos produtos e serviços, não se coadunando com o sistema protetivo

do CDC”.

O caput do art. 12 onde elenca cada um dos responsáveis pelo fato do produto, a

existência de vício em um bem adquirido ou utilizado pelo consumidor pode ser reclamada

perante qualquer fornecedor, seja o comerciante, seja o fabricante ou algum outro integrante

da cadeia produtiva. Assim, um acidente de veículo causado por defeito de fabricação em uma

peça acarretará a responsabilidade solidária de seu fabricante e da montadora, mas não da

concessionária onde o automóvel foi comprado. Constatando o vício naquela peça, sem que

nenhum acidente tenha ocorrido, ensejará na responsabilidade solidária de seu fabricante, da

montadora e da concessionária, cabendo ao consumidor optar por formular sua reclamação

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judicial ou extrajudicial em face de qualquer um desses fornecedores, ou mesmo de todos

conjuntamente.

Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem

solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou

inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminua o valor conforme art. 18 CDC.

Em suma, são responsáveis solidários todos que participaram, de maneira efetiva, da

produção, circulação e distribuição dos produtos ou de prestação de serviços, cabendo ao

consumidor a escolha daquele contra quem dirigirá à sua pretensão, assegurado ao

demandado, contudo, o direito de regresso.

3.6. Causas de excludente de responsabilidade do fornecedor

O CDC impõe causas excludentes, ou seja, as hipóteses de responsabilidade do

fornecedor pelo fato do produto e do serviço. Tais hipóteses estão elencadas no artigo 12, § 3°

e no artigo 14, § 3° do Código de Defesa do Consumidor.

O referido texto fala que só será possível ao promovido se eximir de condenação

judicial se houver observância, conforme dispõe:

“Art. 12 (...)

§3º. O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só será

responsabilizado quando provar:

I - que não colocou o produto no mercado;

II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito

inexiste;

III – ou que houve culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro”.

A questão a saber é se as hipóteses trazidas pelo legislador são taxativas ou se são

meramente exemplificáveis. Vale salientar que a interpretação extensiva para o dispositivo em

pauta não pode ser levada a um direcionamento que possa refletir negativamente para a justa

tutela do consumidor. Não se pode afastar a responsabilidade do fornecedor, quando não foi

esta a vontade do legislador. (Disponível em:

<http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=5397>. Acesso em: 28.jul.2014).

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Nesse sentido manifesta-se Benjamin (2007, p.65):

“Inexiste responsabilidade quando os responsáveis legais não

colocaram o produto no mercado. Eximindo-se, do nexo causal entre

o prejuízo sofrido pelo consumidor e a atividade do fornecedor. O

dano, sem dúvida, foi causado pelo produto, mas inexiste nexo de

causalidade entre ele e quaisquer das atividades do agente. Isso vale

especialmente para os produtos falsificados que trazem a marca do

responsável legal ou, ainda, para os produtos que, por ato ilícito

(roubo ou furto, por exemplo), forma lançados no mercado”.

Os incisos I, II do § 3° do artigo 14 do CDC, traz como excludente da

responsabilidade do fornecedor a inexistência de defeito.

Portanto a inexistência de defeito elencados no caput do artigo 12, deverá ser

demonstrada pelo fornecedor, em havendo a inversão do ônus da prova, aplicável, quando o

juiz considera verossímeis as alegações do consumidor, segundo as regras de experiência, nos

termos do artigo 6º, inciso III.

Salienta-se que o artigo 12 caput, dispõe que a responsabilidade é pela reparação dos

danos causados aos consumidores por defeitos, inexistindo estes não há que se falar em dever

de indenizar. O inciso III, § 3° do artigo 12 e o inciso II, § 3° do artigo 14, tratam da culpa

exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Esclarece Grinover (2007, p.189), que culpa exclusiva não se confunde com culpa

concorrente:

“Caso, desapareça a relação de causalidade entre o defeito do

produto e o evento danoso, dissolvendo a própria relação de

causalidade; no segundo, a responsabilidade se atenua em razão da

concorrência de culpa e os aplicadores da norma condenam em

regra, o agente causador do dano a reparar pela metade do prejuízo,

cabendo à vítima arcar com a outra metade.”

Sustenta Nunes (2009, p.150), que a responsabilidade do fornecedor é integral, em

caso de culpa concorrente, fica afastada tal responsabilidade no caso de culpa exclusiva do

consumidor: “Se for culpa concorrente do consumidor (por exemplo, as informações do

produto são insuficientes e também o consumidor agiu com culpa), ainda assim a

responsabilidade do agente produtor permanece integral. Apenas se provar que o acidente de

consumo se deu por culpa exclusiva do consumidor é que ele não responde.”

Nesse sentido, a conduta culposa do consumidor, afasta a responsabilidade do

fornecedor, por este deve ser provada, em havendo a inversão do ônus da prova. Apesar de

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que Código de Defesa do Consumidor não faz menção à culpa concorrente do ofendido, a

doutrina entende que, apesar de não ser excludente de responsabilidade, deve ser considerada

como atenuante no momento da fixação do montante indenizatório.

Salienta-se que, não sendo admitido, seria o mesmo que permitir o benefício da

integralidade indenizatória aquele que veio a concorrer para o evento lesivo e danoso.

Observa-se que o CDC, menciona e prevê a exclusão da responsabilidade do

fornecedor nos artigos 12, § 3° e 14, § 3°. A doutrina aponta outras eventuais hipóteses de

exclusão de responsabilidade, tais como o caso fortuito ou força maior, riscos de

desenvolvimento e exercício regular de direito.

Assim no Caso Fortuito e Força Maior, que se refere à análise expressamente previstas

nos artigos 12, § 3° e 14, § 3° do Código de Defesa do Consumidor, verifica-se que, quanto o

caso fortuito e a força maior, tradicionais excludentes da responsabilidade, descritas no artigo

393 do Código Civil. Salienta que, essa razão discute-se na doutrina se o caso fortuito e a

força maior podem ser considerados como excludente para as relações jurídicas de consumo.

(Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/9453/aspectos-da-responsabilidade-civil-no-

codigo-de-defesa-do-consumidor-e-excludentes>. Acesso em: 28.jul.2014).

Nunes (2009, p. 280), entende que:

“Por ter § 3º do artigo 12 utilizado o advérbio "só", indicado é

taxativo, e não autoriza a inclusão dessas excludentes: "o risco do

fornecedor continua integral, tanto que a lei não prevê como

excludentes do dever de indenizar o caso fortuito e a força maior”.

No mesmo sentido Lisboa (2000, p.169):

“Se na interpretação de normas restritivas de direito não pode o

interprete alargar a aplicação da norma, devendo ter a sua forma

declarativa ou estrita, não sendo possível aplicação das normas do

Código Civil nas relações de consumo”.

3.7. Prazos

Quando um consumidor efetua uma compra, inconscientemente ele exige do

fornecedor que o produto ou serviço esteja pronto para uso, e que este não possua nenhum

dano ou algum vício que o diminua o valor ou que o impossibilite de utilizá-lo normalmente.

O CDC em seu art. 18 deixa claro que:

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“Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não

duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou

quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a

que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles

decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente,

da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as

variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a

substituição das partes viciadas.

§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o

consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas

condições de uso;

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada,

sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço

§ 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo

previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem

superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de

prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de

manifestação expressa do consumidor.

§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1°

deste artigo sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição

das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características

do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial”.

O §1º do supracitado artigo nota-se que se o vício não for sanado em 30 dias, ou seja,

o fornecedor, desde o recebimento do produto com vicio, tem 30 dias para saná-lo sem

qualquer ônus diz Nunes (2013, p. 243).

Na prática a forma de se contar tal prazo acaba gerando certa controvérsia, pois a cada

vez que o produto vai à assistência, deve ser somada a quantidade de dias pelo qual este

permaneceu por lá até que tenha sido consertado. Se a soma der mais de 30 dias e o vício for o

mesmo, gera-se o direito do consumidor. Daí a necessidade de exigir a nota de serviço

devidamente preenchida, especificações do produto, do vício, data de entrega, data de

retirada...

Não sendo assim admitida a postura dos fornecedores que consideram que a cada nova

ordem de serviço nas assistências, o prazo inicia-se novamente.

No mesmo sentido explica Nunes (2013, p.246):

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“O fornecedor não pode beneficiar-se da recontagem do prazo de 30

dias toda vez que o produto retorna com o mesmo vício. Se isso fosse

permitido o fornecedor poderia na prática, manipulando o serviço de

conserto, sempre prolongar indefinidamente a resposta efetiva de

saneamento. Bastaria fazer um conserto “cosmético”, superficial, que

levasse o consumidor a acreditar na solução do problema, e aguardar

sua volta, quando, então, mais 30 dias ter-se-iam para pensar e tentar

solução”.

Porém esse prazo total de 30 dias é o tempo máximo que a lei dá para que o

fornecedor definitivamente elimine o vício, Nunes (2013, p.247) explica que:

Quando muito – e essa é também nossa opinião – o prazo de 30 dias é

o limite máximo que pode ser atingido pela soma dos períodos mais

curtos utilizados. Explicamos: se o produto foi devolvido a primeira

vez no décimo dia, depois retornou com o mesmo vício e se gastaram

nessa segunda tentativa de conserto mais 15 dias, na terceira vez em

que o produto voltar o fornecedor somente terá mais 5 dias para

solucionar definitivamente o problema, pois anteriormente despendeu

25 dias, sem ter levado o produto à adequação esperada.

Vale destacar que este prazo também poderá ser excluído, toda vez que se tratar de um

produto de natureza essencial, conforme dispõe o §3º do supracitado artigo.

Note-se também que o CDC não definiu o que pode ser considerado produto essencial,

dessa maneira Nunes (2013, p.262), menciona que o consumidor poderá fazer uso das

hipóteses dos três incisos do art.18, sempre que existir vício em produto essencial, que é

aquele que o consumidor necessita adquirir para a manutenção de sua vida, diretamente

ligados a saúde, higiene pessoal, limpeza e segurança, tais como alimentos, medicamentos,

produtos de limpeza em geral.

O § 2º do art. 18 prevê a possibilidade excepcional de que o termo para aquisição do

direito de escolha seja convencionado entre fornecedor e consumidor.

Nunes (2013, p.257), menciona:

O § 2º do art. 18, já dissemos, talvez tenha a pretensão de permitir

que uma prática saudável de serviço de qualidade fosse incrementada

pelos fornecedores no mercado, com a possibilidade de diminuição do

prazo de 30 para até 7 dias, para que o saneamento do vicio fosse

efetivado.

Nunes (2013, p 257) discorre ainda, que:

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“O que não se entende é por que a norma limitou 7 dias o mínimo.

Porque não poderia ser apenas um? Ou oferecer o conserto para ser

feito na hora? É tão incoerente a norma que nós teríamos de afirmar

que o fornecedor que quiser consertar o produto num prazo de 24

horas estaria impedido, o que é absurdo. Quer dizer, então, que o

fornecedor não poderia oferecer num serviço da melhor qualidade

possível?”.

Neste caso a resposta seria somente sim, ou seja, o fornecedor pode diminuir o prazo

oferecido para o saneamento do vício quando quiser, porém o que não pode é aumentar,

Nunes (2013, p.257).

Desta forma essa resposta ocorre não só da lógica da prática da relação com o sistema

de proteção ao consumidor. Mas também decorre da própria interpretação da norma conforme

parágrafo anterior.

Expõe Nunes (2013, p. 257):

”Com efeito, o § 1º, como examinado, diz que o fornecedor tem o

prazo máximo de 30 dias para efetuar o conserto, sem qualquer outra

ressalva, nem indicação ou conexão como o § 2º. Assim, se ele tem o

tempo Maximo de 30 dias, pode efetuar o conserto no prazo mínio:

um dia. Ou, mesmo, em algumas horas, ou, ainda, pode simplesmente

trocar aquele produto viciado entregue pelo consumidor por outro da

mesma espécie, marca e modelo em perfeitas condições de uso, o que

leva alguns minutos. Isso é obvio e decorre do previsto § 1º. Como, ao

termino dos 30 dias, sem saneamento, surge a prerrogativa ao

consumidor de poder exigir a troca, nada impede que esta seja feita

imediatamente”.

Em relação ao aumento do prazo a norma o permite, infelizmente. Aparenta que essa

norma foi redigida pelos próprios fornecedores e para proteger os mais relapsos e relutantes

em oferecer produtos de qualidade e que, após vendê-los, recebemos o dinheiro do

consumidor, pretendem adiar ao Maximo possível seu perfeito funcionamento, Nunes (2013,

p.258).

O tempo para que um produto viciado fosse concertado Nunes (2013, p.258) fala que

poderia ser elevado para 180 dias! O consumidor adquire um produto; paga por ele; ele não

funciona; tem de ser levado para o concerto; quando lá chega, o fornecedor responde: “volte

daqui 6 meses, que o produto estará novinho em folha!...”

Denari (1991, p.102) comenta o § 2º que estabelecem uma confusão extraordinária:

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“Dizem que esse prazo é de garantia contratual, indicando inclusive o

art. 50 (que realmente é a norma que trata da garantia contratual), e

chegam a afirmar que, então, a garantia do produto pode ser

reduzida a 7 dias (o que não corresponde à verdade) e que não pode

ser superior a 180 dias, o que é outro absurdo. Não só pelo que já

falamos, mas porque, evidentemente, quem oferece a garantia máxima

é o fabricante (conforme permitido pelo art.50). E vai contra varias

praticas reais, concretas, legais e aceitas que já existe: a Mitsubishi,

por exemplo, oferece garantia de vários anos (sempre até a próxima

Copa do Mundo!); os automóveis têm garantia de 1 ano; alguns

veículos têm garantia de 2 anos etc. Não se entende a confusão

estabelecida nessa doutrina”.

Importante frisar que na ultima parte do § 2º, a norma determina que a cláusula de

prazo deva ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do

consumidor. Isso ajuda, mas não explica, e ainda implica riscos: a) não há motivos para

existência dessa regra; b)se o consumidor for consciente, jamais concordara com aumento do

prazo; c) o consumidor pode acabar sendo enganado e assinar o adendo, concordando com

aumento do tempo Nunes (2013, p.259)

Os prazos decadenciais previstos no art. 26 do CDC referem ao período de tempo que

o consumidor terá para reclamar dos vícios do produto e do serviço, conforme dispõe:

“Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil

constatação caduca em:

I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos

não duráveis;

II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos

duráveis”.

Conforme Bolzan (2014, p.393) os termos citados, o diploma consumerista prevê dois

prazos decadenciais distintos, a depender da natureza do bem e de consumo viciado:

a) produtos ou serviços não duráveis= prazo decadencial de 30 dias.

b) Produtos ou serviços duráveis= prazo decadencial de 90 dias.

Na visão de Nunes (2013, p. 141):

“Produto durável é aquele que, como próprio nome já diz não se

extingue com o uso. Ele dura, leva tempo para se desgastar, são

exemplos de produtos duráveis a TV, uma geladeira ou um carro. Já o

produto durável é aquele que acaba com o uso. É o caso de uma

bebida de um alimento”.

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O mesmo raciocínio pode aplicar quando da distinção entre serviços duráveis e não

duráveis, com a observação de que a durabilidade dos serviços será calculada no tempo em

que ira pendurar o resultado da atividade desempenhada.

No mesmo sentido diz Bessa (2010, p.190), “relação aos serviços, a durabilidade

concerne ao resultado e não ao tempo de duração da atividade desenvolvida pelo

fornecedor”.

Assim Bolzan (2014, p.393) diz que, “pouco importa se o funileiro vai demorar cinco

horas ou cinco dias para desamassar e pintar um veículo, pois se trata de atividade com

natureza de serviço durável em relação ao resultado esperado”.

O inicio da contagem dos prazos decadenciais, o CDC estabelece em seu art. 26, §1º,

que se o vício for de fácil constatação ou aparente, inicia-se a contagem do prazo a partir da

entrega efetiva do produto ou do termino da execução do serviço. Por outro lado, se o vício

for oculto, o prazo decadencial inicia-se a partir do momento em que ficar evidenciado o

problema (art.26, §3º, CDC).

O §2º do art. 26 do CDC, dispõe:

“§ 2° Obstam a decadência:

I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor

perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa

correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca;

II – (Vetado).

III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento”.

Desta forma Filho (2011, p.337) menciona que:

“Obstam decadência a reclamação comprovadamente formulada pelo

consumidor perante o fornecedor de produto e serviços até a resposta

negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma

inequívoca, e a instauração do inquérito civil, ate seu encerramento.

obstar significa impedir, embaraçar, estorvar. Desse modo, as causas

enumeradas nesse dispositivo a decadência, isto é, o prazo não

começa a correr”.

Já os prazos prescricionais previstos no art. 27 CDC, Bolzan (2014, p.397) expõe:

“Prescreve em cinco anos a pretensão a reparação pelos danos

causados por fato do produto ou serviço, iniciando – se a contagem

do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria”

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O fato do produto ou do serviço nada mais é do que acidente de consumo decorrente

de um produto defeituoso, desta forma, o inicio do prazo prescricional dá a partir do

conhecimento do dano a sua autoria.

Bolzan (2014, p. 398) expõe o quadro os prazos de prescrição e decadência, com a

seguinte informação:

Tabela 1 - Prescrição e Decadência no CDC:

PRESCRIÇÃO DECADÊNCIA

Prazo Prazos

5 anos 30 dias – produtos/serviços não duráveis

90 dias – produtos/serviços duráveis

Fato do produto ou do serviço – acidente de

consumo

Vício do produto ou do serviço – mera

inadequação aos fins esperados

Fonte: Bolzan, (2014, p.398).

Porém a perda do direito de acionar judicialmente, isto é, com a perda do direito de

exigir um determinado crédito por ter o seu titular deixado de agir no devido prazo. O prazo

em que prescreve a ação do consumidor para cobrar indenização por danos materiais e morais

em acidente de consumo é de 5 anos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho visa demonstrar, que as relações de consumo evoluíram muito nos

últimos tempos, principalmente após o surgimento do processo de industrialização, onde o

fornecedor passou a ser detentor de um grande poderio econômico e deter os conhecimentos

técnicos científicos dos produtos e serviços, tendo em vista que estes cada vez se tornavam

mais complexos, fazendo, dessa forma, com que o consumidor passa-se a ser a parte mais

fraca da relação, pois não era dotado de tais características.

Entretanto com o referido processo de industrialização, veio também a produção em

massa dos produtos, o que aumentou consideravelmente os vícios e defeitos que eles

apresentavam, se tornando, portanto, inadequados para o consumo.

O Estado verificando que o consumidor era a parte mais fraca da relação de consumo e

não conseguia obter êxito nas suas reclamações, chegou à conclusão de que como os institutos

trazidos pelo Código Civil eram falhos para defesa do consumidor, tendo em vista que este

não detinha conhecimentos técnicos científicos para comprovar os defeitos e vícios dos

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produtos, que era vulnerável, pois lhe faltavam conhecimentos jurídicos específicos e, ainda,

que o fornecedor impunha sua superioridade a todos que com ele contratavam.

Assim, foi criada uma tutela especial para o consumidor que visava o equilíbrio das

relações de consumo.

Para dar efetividade a esta tutela, foi criada no Brasil, a Lei 8.078/90 na qual restou

determinado, que o fornecedor seria responsabilizado objetivamente, ou seja, sem a

comprovação de culpa, diferentemente do instituto trazido pelo Código Civil, que previa, via

de regra, a responsabilização subjetiva, ou seja, aquela que depende da comprovação de culpa.

Na prática, esta medida, teve bastante eficácia, pois além do fato do consumidor não

precisar mais comprovar a culpa do fornecedor, pois bastava comprovar o dano e o nexo de

causalidade, este último foi obrigado manter um dever de qualidade muito maior, pois não

poderia mais impor sua superioridade aquele.

Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi demonstrar as características da

responsabilidade objetiva do fornecedor, trazendo em quais casos ele será responsável, as

causas excludentes da responsabilidade e, ainda, quais os vícios que os produtos podem

apresentar, com a finalidade de incentivar ainda mais os estudos acerca da matéria e dos

tópicos aqui questionados, com o intento de se ter um equilíbrio maior nas relações entre

fornecedores e seus consumidores.

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