Responsabilidade Penal Da Pessoa Jurídica Nos Crimes Ambientais

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  • A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURDICA NOS CRIMES AMBIENTAIS

    Resumo: Responsabilizar penalmente a pessoa jurdica, apesar do que diz a Lei 9605/98, causa

    discusses em vrios nveis, devido a conflitos doutrinrio jurisprudenciais quanto aplicao

    de penas no a pessoa humana, mas ao ente conhecido no Direito como pessoa jurdica.

    Palavras-chave: Responsabilidade Penal. Pessoa Jurdica. Crimes Ambientais.

    Sumrio: Introduo. 1. Responsabilidade Penal na Histria. 2. Pessoa Jurdica e Crime. 3. Os

    Princpios do Direito Penal. 4. Pessoa Jurdica Responsabilidade Penal: Posicionamentos. 5 . Lei

    dos Crimes Ambientais. 6. Concluso.

  • INTRODUO

    Responsabilizar penalmente pessoas jurdicas ainda complexo no Brasil, mesmo que

    em outros pases tal j ocorra, a despeito de nossa hodiernidade legislativa.

    A Constituio brasileira, nos artigos 173 e 225, corrobora a responsabilidade penal da

    pessoa jurdica; e a Lei n 9.605, dita Dos Crimes Ambientais, prev a responsabilizao penal

    no tocante aos crimes ambientais. No mundo inteiro cresce o cuidado com o meio ambiente,

    e o ordenamento jurdico nacional no poderia prescindir de posicionar-se a respeito, sob

    pena de alheamento social.

    RESPONSABILIDADE PENAL NA HISTRIA

    Desde os romanos, a pessoa jurdica no era passvel de responsabilizao penal. Entre

    os franceses, havia a presuno de responsabilidade, inclusive penal, de pessoas coletivas, tanto

    de direito pblico como privado. Em nossos dias, Japo, Canad, Austrlia, EUA, entre outros,

    admitem sanes aos entes coletivos em vrias esferas.

    No Brasil, o Cdigo Criminal Brasileiro de 1830, j aplicava de sano pessoa

    jurdica quando houvesse a ocorrncia de ilcito penal. O atual Cdigo Penal de 1940, prescreve

    punio apenas para pessoas fsicas , porm a Lei 9605/98, em seu artigo 3, diz : As pessoas

    jurdicas sero responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto na Lei,

    nos casos em que a infrao seja cometida por deciso de seu representante legal ou

    contratual, ou de seu rgo colegiado, no interesse ou benefcio da sua entidade. Pargrafo

    nico. A responsabilidade das pessoas jurdicas no exclui a das pessoas fsicas, autoras,

  • coautoras ou partcipes do mesmo fato.

    PESSOA JURDICA E CRIME

    O Cdigo Civil atual embora no conceitue pessoa jurdica, confere direitos e obrigaes

    para as entidades pblicas e privadas.

    Crime, em nosso meio, definido como : todo fato tpico e antijurdico (conceito formal);

    leso ou perigo de leso a um bem jurdico-penal (conceito material) e ainda fato tpico, ilcito e culpvel

    (conceito analtico) ao tpica, antijurdica e culpvel.

    A ao ou omisso, quando o sujeito pratica determinada conduta de maneira consciente,

    alterando de algum modo o meio social, provocando resultado contrrio ao que a lei prev,

    configura o delito. A aplicao da pena depende da capacidade do sujeito de responder por sua

    conduta. Devem estar presentes os elementos imputabilidade, conscincia de atitude ilcita e

    exigibilidade de conduta diversa.

    Chama-se imputabilidade a capacidade que tem a pessoa que praticou ato definido como

    crime, de entender o que fez, e de acordo com esse entendimento, ser ou no punida. evidente

    que a culpabilidade existe quando o sujeito escolhe o comportamento contrrio ao exigido pelo

    direito. Pelo exposto alguns doutrinadores o argumentam a impossibilidade do polo ativo no caso

    de ilcito penal ser pessoa jurdica, uma vez que no h presena da vontade de delinquir por parte

    do agente.

    Denota-se ento que a responsabilidade penal, estando condicionada presena de culpa

    ou dolo, de carter subjetivo: a conduta, para ser considerada ilcita, precisar atingir de forma

    negativa o bem ou direito tutelado pela lei.

  • OS PRINCPIOS DO DIREITO PENAL

    O Direito Penal age como instrumento do Estado para proteo de bens, direitos e

    interesses; faz-se necessrio limitar, contudo, a ao do mesmo aos casos especficos onde no

    existam outras opes. O Estado abstm-se de intervir exceto quando estritamente necessrio,

    quando os outros ramos do direito mostrarem-se ineficazes (princpio da subsidiariedade), e o

    Direito Penal tutela apenas parte dos bens jurdicos existentes (princpio da fragmentariedade).

    Estes dois subprincpios formam o chamado Princpio da Interveno Penal Mnima, a

    ultima ratio.

    Utilizando os conceitos acima, alguns doutrinadores fundamentam tese contrria

    responsabilizao penal das pessoas jurdicas, argumentando que outros ramos do direito esto

    aptos a bem tratar dos casos apresentado e cominar as possveis sanes, como o direito

    administrativo, por exemplo, o que desautoriza a mediao do direito penal quando tratar-se de

    pessoa jurdica.

    PESSOA JURDICA RESPONSABILIDADE PENAL - POSICIONAMENTOS

    Existem dois posicionamentos consolidados, contra e a favor da aplicao da

    responsabilidade penal . O p r i m e i r o p a r t e d a e x p r e s s o l a t i n a nullum crimen

    sine conducta, que significa que no h crime sem conduta voluntria, dependendo da presena

    comportamento humano a tipicidade, culpabilidade e ilicitude do ato ou da omisso, e tambm do

    conceito de responsabilidade penal subjetiva, ou seja, s se pode proibir o que evitvel, ou

  • no h como considerar interveno penal.

    Essa corrente doutrinaria que considera impossvel responsabilizar criminalmente

    pessoas jurdicas se perfazem quanto forma de execuo da pena, e quanto ao

    procedimento penal aplicvel hiptese.

    A tese fundamenta-se ainda na obrigatoriedade da existncia de pessoas fsicas para que

    a pessoa jurdica realize qualquer ato, o que descaracteriza a responsabilidade penal desta

    ltima, visto que o legislador previu apenas sanes administrativas e civis, e no caso de

    imputar-lhe tambm responsabilidade penal, estar-se-ia incorrendo no denominado bis in idem,

    aplicao de sanes vrias a uma nica atitude ilcita, o que contraria princpios constitucionais

    do direito brasileiro.

    Observa-se alm disso, que os scios sofrerem condenao fere o previsto no art. 5,

    XLV, da Constituio Federal, que dispe: nenhuma pena passar da pessoa do condenado,

    podendo a obrigao de reparar o dano e a decretao do perdimento de bens ser, nos termos da

    lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, at o limite do valor do patrimnio

    transferido (princpio constitucional da personalidade das penas).

    Aos entes coletivos falta a capacidade de sofrerem sano do Direito Penal, a privao de

    liberdade, sem que a pena ultrapasse a pessoa do condenado. E o caso da aplicao do que dispe

    o artigo 24 da Lei 9605/98 (Art. 24. A pessoa jurdica constituda ou utilizada,

    preponderantemente, com o fim de permitir, facilitar ou ocultar a prtica de crime definido nesta

    Lei ter decretada sua liquidao forada, seu patrimnio ser considerado instrumento do

    crime e como tal perdido em favor do Fundo Penitencirio Nacional), pode-se interpretar tal

    pena como pena de morte, o que vedado pela Constituio da Repblica. para a empresa,

    hiptese vedada expressamente pela Constituio da Republica.

    Os que defendem a responsabilidade penal das pessoas jurdicas fundamentam seu

    argumento no que tange responsabilidade social dos entes coletivos. As afrontas ao meio

    ambiente passaram a ser tuteladas pelo direito, como bem jurdico indiferenciado de outros assim

  • caracterizados.

    A tese de defesa reza que o princpio societas delinquere non potest no leva em

    considerao a chamada responsabilidade social da pessoa jurdica, onde a reprovao de sua

    atitude no recairia sobre as pessoas que a compe, ou seja, analisa-se o

    comportamento institucional, e no o individual, embora no descartem esses doutrinadores a

    reviso de conceitos jurdicos visando capacitar o direito ptrio s respostas preventivas ou

    repressivas nos casos de ilcitos praticados por entes coletivos.

    O representante da pessoa jurdica, a o a t u a r i l i c i t amen t e s em c o n t u d o

    o b t e r ben e f c i o p a r a a mes ma , deve ser imputado individualmente. Se, por outro lado,

    agir i l eg i t imamen t e e o b t iv e r b en ef c i o s para a pessoa jurdica, esta ltima que

    deve sofrer as sanes, respeitando o princpio de que a pena no passar da pessoa do

    condenado.

    Considera-se tambm ao favorecer a responsabilidade penal a insuficincia dos meios

    administrativos e civis para represso dos crimes contra o meio ambiente. E a possibilidade de uma

    pessoa jurdica cumprir um contrato ou efetuar outros atos da vida civil prev, ao menos em tese, a

    sua capacidade de comportar-se ilicitamente.

    LEI DOS CRIMES AMBIENTAIS

    O ato de cometer crime ambiental, a partir da Lei 9605/98, tornou passvel de

    responsabilizao criminal a pessoa Jurdica. A cont rovrsia reside no tocante

    aplicao das penas: consoante o Art. 21, multa, restrio de direitos e prestao de servios

    comunidade, so, segundo alguns, sanes civis e administrativas. A suspenso parcial ou total de

    atividades, interdio temporria de estabelecimento, obra ou atividade e proibio de contratar

  • com o Poder Pblico, (Art. 22) igualmente no constituem sano penal.

    A pena prevista no artigo 24, c onforme comentrio anterior, a mais criticada pela

    doutrina, visto tratar-se, grosso modo, de pena de morte. E a mesma doutrina discute o carter

    criminal da lei, j que todas as penas aplicveis no constituem, exceto a liquidao forada

    quando vista sob tica puramente conceitual, sano penal. E mesmo a suspenso de atividades ou

    interdio das mesmas possui natureza administrativa.

    Enfim, outra questo em aberto a pena prevista para os tipos do captulo V:

    privao de liberdade. Como no descumprir essa pena, no caso da pessoa jurdica? E a

    restrio de direitos no configura apenas sano alheia ao direito penal?

    CONCLUSO

    Pela Constituio Federal, as pessoas jurdicas esto submetidas ao sistema penal,

    regulamentada essa submisso pela Lei n 9.605/98, seguindo uma tendncia presente de maneira

    cada vez mais distinta no ordenamento jurdico dos pases ditos desenvolvidos.

    Em prol do interesse coletivo e da emergente responsabilidade social, fez-se necessrio

    prevenir a impunidade d o s q u e , b e n e f i c i a n d o - s e d a s l a c u n a s d o d i r e i t o ,

    ocultos por subterfgios legais, quais sejam aqueles constitutivos das ditas pessoas

    jurdicas, pratiquem atos ilcitos contando com a regra da impunidade . Como qualquer

    outro bem, o meio ambiente pode e deve ser tutelado pelo Direito Penal.

    Ainda nos falta a adequao dos preceitos da lei aos princpios penais, no raro

    incompatveis, suscitando dvidas e crticas de difcil resoluo. Porm, um dos objetivos da

    sano penal seu carter educativo e socializante. Responsabilizando penalmente a pessoa

    jurdica, inibe-se o crescimento econmico que desconsidera a preservao de recursos e riquezas

  • naturais, bem como a manuteno da vida, em prol do lucro puro e simples.

    A reestruturao dos conceitos clssicos do direito, e a adaptao desses nova

    realidade, aliadas as experincias de outros pases, abriram caminho para a possibilidade de

    responsabilidade penal da pessoa jurdica no tocante ao crime ambiental. H um longo caminho no

    ajuste do sistema aos preceitos do direito, de modo a surtir os efeitos desejados pelo legislador

    quando da criao da lei, lembrando que o dano causado ao meio ambiente no pode ser

    arcado pela sociedade como um todo, e quase sempre irreparvel.

    REFERNCIAS

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