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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO NÚCLEO DE PESQUISAS CIÊNCIAS BIOLÓGICAS – NUPEB PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIENCIAS BIOLÓGICAS Resposta ao estresse ácido em Saccharomyces cerevisiae e efeito protetor do íon sódio na morte celular induzida por ácido AUTORA: GILZEANE DOS SANTOS SANT’ANA ORIENTADOR: PROF. Dr. IESO DE MIRANDA CASTRO Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação do Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas da Universidade Federal de Ouro Preto, como parte integrante dos requisitos para a obtenção do Título de Doutor(a) em Ciências Biológicas, área de concentração: Biologia Molecular Ouro Preto – Minas Gerais Maio de 2009

Resposta ao estresse ácido em Saccharomyces cerevisiae e

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO NÚCLEO DE PESQUISAS CIÊNCIAS BIOLÓGICAS – NUPEB

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIENCIAS BIOLÓGICAS

Resposta ao estresse ácido em Saccharomyces cerevisiae e efeito protetor do íon sódio na

morte celular induzida por ácido

AUTORA: GILZEANE DOS SANTOS SANT’ANA

ORIENTADOR: PROF. Dr. IESO DE MIRANDA CASTRO

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas da Universidade Federal de Ouro Preto, como parte integrante dos requisitos para a obtenção do Título de Doutor(a) em Ciências Biológicas, área de concentração: Biologia Molecular

Ouro Preto – Minas Gerais Maio de 2009

II

RESUMO

Saccharomyces boulardii é usada como probiótico para previnir ou tratar distúrbios

gastrointestinais ocasionados pelo uso excessivo de antibióticos, ou em enterites agudas. A

fim de exercer os efeitos benéficos, os probióticos devem ter um mecanismo que os

protegem do estresse do ambiente gástrico intestinal. Neste trabalho analisamos as

diferenças metabólicas na resposta ao estresse ácido de S. boulardii comparativamente a S.

cerevisiae W303, bem como a proteção conferida pela adição do íon sódio nesta condição.

Como esperado, S. boulardii exibiu maior tolerância ao meio gástrico simulado frente às

outras linhagens de S. cerevisiae. Sob estas condições o baixo pH (pH 2) foi o principal

fator responsável pela diminuição da viabilidade celular. Neste trabalho observamos que a

adição de baixas concentrações de cloreto de sódio foi mais eficaz do que a adição de

outros sais na proteção das células em condições de estresse ácido. O efeito protetor do Na+

na viabilidade de leveduras, sob condições ácidas, foi testado utilizando cepas de S.

cerevisiae com deleções nos genes que codificam proteínas envolvidas na homeostase de

sódio, como por exemplo, os genes que codificam para a bomba Na+ATPase (ena1-4∆) e

genes codificadores dos canais trocadores Na+/H+ (nha1∆) e Na+/H+ pré-vacuolar (nhx1∆).

O efeito protetor de NaCl está relacionado à influência do íon Na+ no potencial elétrico de

membrana citoplasmática. Além disso, a ausência ou baixa expressão do gene que codifica

para a proteína Ena1-4p sugere uma relação direta com os níveis basais do potencial de

membrana citoplasmática das células de leveduras. É provável que a resistência de S.

boulardii e do mutante ena1-4∆ ao estresse ácido (na ausência ou presença de NaCl), deve-

se ao elevado potencial basal da membrana destas células e ao fato do íon sódio retardar a

despolarização da membrana induzida pelo pH 2.0. Além disso, o maior conteúdo de

trealose observado em S. boulardii pode ter contribuído para a resposta mais eficiente

frente ao estresse ácido dos sinais metabólicos avaliados.

III

ABSTRACT

Saccharomyces boulardii as a probiotic is used to prevent or treat gastrointestinal disorders

caused by excessive use of antibiotics, or in acute enteritis. In order to exert beneficial

effects, the probiotic must have a mechanism that protects the gastric intestinal stress

environment. We examined the differences in metabolic response to acid stress in

S. boulardii compared with S. cerevisiae W303 and the protection conferred by the addition

of sodium ion in this condition. As expected, S. boulardii exhibited higher tolerance to

simulated gastric environment facing the other strains of S. cerevisiae. Under these

conditions the low pH (pH 2) was the main factor responsible for the decrease in cell

viability. In this work we observed that the addition of low concentrations of sodium

chloride was more effective than the addition of other salts in the protection of cells under

conditions of acid stress. The protective effect of Na + on the viability of yeast cells under

acidic conditions, was tested using using S. cerevisiae null mutants for Na+-ATPases (ena

1-4 null mutant), for Na+/H+ antiporter (nha1∆) and Na+/H+ antiporter prevacuolar (nhx1∆).

The protective effect of NaCl relates with the effect of ion Na+ in electric membrane

potential. Additionally, the absence or low expression/activity of Ena proteins seems to be

closely related to basal membrane potential of yeast cells. Moreover, the absence or low

expression of the gene coding for protein Ena1-4p suggests a direct relationship with the

levels of membrane potential of yeast cells. It is likely that the resistance of S. boulardii

and ena1-4∆ mutant to acid stress (in the absence or presence of NaCl), due to the high

potential of the basal membrane of these cells and because of the ion slowing of membrane

depolarization induced by pH 2.0. Furthermore, the highest concentration of trehalose

observed in S. boulardii may have contributed to a more efficient response against the

stress of acid metabolic signals evaluated.

IV

Trabalho desenvolvido no Laboratório de Biologia Celular e Molecular do Núcleo de

Pesquisas em Ciências Biológicas da Universidade Federal de Ouro Preto, sob a orientação

do Professor Dr. Ieso de Miranda Castro e com auxílio financeiro da Coordenadoria de

Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES), da Fundação de Amparo a

Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), do Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Universidade Federal de Ouro

Preto (UFOP).

V

ÍNDICE

RESUMO

II

ABSTRACT III

LISTA DE ABREVIAÇÕES

X

LISTA DE TABELAS

XIII

LISTA DE FIGURAS

XIV

Introdução............................................................................................

1

1 Introdução 2

1.1 A levedura do gênero Saccharomyces................................................... 2

1.1.1 Saccharomyces cerevisiae..................................................................... 2

1.1.2 Saccharomyces boulardii...................................................................... 4

1.2 Mecanismos envolvidos em resposta a estresse em leveduras.............. 7

1.3 Mecanismo de resposta ao estresse ácido.............................................. 14

Objetivos.............................................................................................

18

2 Objetivos............................................................................................. 19

2.1 Objetivo Geral...................................................................................... 19

VI

2.2 Objetivos Específicos........................................................................... 19

Material e métodos.............................................................................

21

3 Material e métodos.............................................................................. 22

3.1 Cepas Saccharomyces utilizadas nos experimentos.............................. 22

3.2 Meios de cultura e condições de cultivo................................................ 23

3.3 Condições de estresse............................................................................ 24

3.3.1 Teste de Viabilidade.............................................................................. 24

3.4 Reação em cadeia da polimerase em tempo

real.................................................................................................

25

3.4.1 Extração e preparação de RNA total de levedura.................................. 25

3.4.2 Obtenção do cDNA............................................................................... 26

3.4.3 Reação em cadeia da polimerase em tempo real.…………….....……. 29

3.5 Medidas do pH interno.......................................................................... 29

3.6 Conteúdo intracelular de sódio e potássio............................................. 30

3.7 Atividade H+-ATPásica......................................................................... 32

3.7.1 Obtenção das membranas citoplasmáticas............................................ 32

3.7.2 Ensaio da atividade H+-ATPásica.......................................................... 33

3.7.3 Dosagem de proteína....................................................................................... 35

3.8 Determinação do potencial de membrana............................................. 35

3.8.1 Aquisição e análise dos dados em citômetro de fluxo.......................... 35

3.8.2 Curva padrão de potencial com células fixadas.................................... 36

3.9 Medida de cálcio celular total................................................................ 37

3.10 Atividade Ca+2-ATPásica...................................................................... 39

3.10.1 Obtenção da fração de membrana subcelular para o estudo do perfil

de atividade da Ca+2 – ATPase vacuolar (Pmc1 p)...............................

39

VII

3.10.2 Identificação das frações contendo membrana subcelular de vacúolo.. 40

3.10.3 Ensaio da atividade Ca2+ - ATPásica .................................................... 40

3.10.4 Dosagem de proteína............................................................................. 41

3.11 Monitoramento in vivo da concentração de cálcio citosólico livre....... 41

3.11.1 Transformação de levedura................................................................... 41

3.11.1.1 Preparo de células de levedura competentes......................................... 41

3.11.1.2 Transformação de levedura................................................................... 42

3.11.2 Concentração de cálcio citosólico livre em estresse ácido.................... 43

3.12 Capacidade tamponante de células e extrato celular..........................… 44

3.13 Análise Lipídica por Cromatografia Gasosa......................................... 44

3.14 Dosagem de reservas energéticas.......................................................... 45

3.14.1 Dosagem de trealose e glicogênio......................................................... 46

3.14.2 Dosagem de níveis de ATP.................................................................. 47

3.15 Estatística…………......................................................……………… 47

Resultados.................................................................….....….....….....

48

4. Resultados............................................................................................ 49

4.1 Tolerância das cepas Saccharomyces ao suco gástrico e a seus

componentes..........................................................................................

49

4.1.1 Efeito do estresse pH ácido em cepas Saccharomyces

cerevisiae......................

49

4.1.2 Efeito protetor de íons na viabilidade sob o estresse

ácido.......................

52

4.2 Viabilidade ao estresse ácido em cepas Saccharomyces selvagens e

com deleções nos genes que codificam proteínas envolvidas na

homeostase do sódio..............................................................................

55

VIII

4.2.1 Variações do pH intracelular em cepas Saccharomyces selvagens e

com deleções nos genes que codificam proteínas envolvidas na

homeostase do sódio..............................................................................

60

4.3 Participação da H+- ATPase de membrana plasmática em resposta ao

estresse gástrico....................................................................................

63

4.4 Potencial de membrana das células submetidas ao estresse ácido........ 65

4.5 Análise de alterações metabólicas que podem esclarecer a maior

resistência da cepa Saccharomyces boulardii sob o estresse ácido.......

77

4.5.1 Avaliação da homeostase do cálcio em cepas Saccharomyces sob o

estresse ácido.........................................................................................

67

4.5.2 Capacidade tamponante das cepas S. boulardii sob o estresse ácido ... 72

4.5.3 Análise qualitativa das alterações na composição lipídica de

membrana das cepas Saccharomyces sob o estresse ácido....................

74

4.5.4 Análise quantitativa das reservas energéticas durante a exposição ao

estresse ácido.........................................................................................

76

Discussão.............................................................................................. 79

5 Discussão.............................................................................................. 80

Conclusões............................................................................................ 90

6 Conclusões............................................................................................ 91

Perspectivas.......................................................................................... 93

IX

7 Perspectivas.......................................................................................... 94

Referências Bibliográficas..................................................................

95

8 Referências Bibliográficas..................................................................

96

X

LISTA DE ABREVIAÇÕES

ACT1 Gene que codifica para a actina

ADP Adenosina 5´ bifosfato

AMPc Adesosina 5´ monofosfato cíclico

ANSA 1-Amino- 2- hidroxi- 4 - ácido naftaleno sulfônico

ATP Adenosina 5´ Trifosfato

cDNA DNA complementar

DAA Diarréia associada ao uso de antimicrobianos

DiBAC4(3) Bis-oxonol trimetina (1,3- ácido dibutilbarbitúrico)

DNA Ácido desoxirribonucléico

DNTPs Desoxinucleotídeos 5´ trifosfato

EDTA “Ethylene diamine tetraacetic acid” ou ácido etileno diamino tetra-

acético

EGTA “Ethylene glycol tetraacetic acid” ou ácido etileno glicol tetra-

acético

ENA1 Gene que codifica para a bomba de Na+K+ de membrana

citoplasmática Ena1p

Ena1p Bomba de Na+K+ de membrana citoplasmática

FDA Food and drug administration

GRAS Generally recognized as safe ou Geralmente reconhecido como

seguro

HEPES Ácido N-2-HidroxietilPiper, P.azina-N'-2'-Etanossulfônico

HSP Heat schock proteins ou proteínas de choque térmico

HSP70 Heat schock protein family 70 ou família 70 de proteínas de

choque térmico

XI

KDa Quilodáltons

Kha1p Canal antiporter K+/H+ na membrana do complexo de golgi

Km Constante de Michaelis-Menten

MIDI Microbial identification system ou Sistema de identificação

microbiana

NHA1 Gene que codifica para o canal antiporter de membrana

citoplasmática Na+K+/H+

Nha1p Canal antiporter de membrana citoplasmática Na+K+/H+

Nhx1p Canal antiporter de membrana pré-vacuolar Na+K+/H+

NSC1 Gene que codifica para o canal de influxo de Na+ e K+

OLE1 Gene que codifica para a desaturase de ácidos graxos Delta(9)

PB Pares de bases

Pdr12p Transportador ABC de membrana citoplasmática

PDR12 Gene que codifica para o transportador ABC de membrana

citoplasmática Pdr12p

PMA1 Gene que codifica para H+-ATPase de membrana citoplasmática

Pma1p H+-ATPase de membrana citoplasmática

PMA2 Gene que codifica uma isoforma da H+-ATPase de membrana

citoplasmática

Pma2p Isoforma da H+-ATPase de membrana citoplasmática

PMC1 Gene que codifica para a Ca+2- ATPase de membrana vacuolar em

leveduras

Pmc1p Ca+2- ATPase de membrana vacuolar de leveduras

PMR2 Gene que codifica para isoformas distintas da bomba de Na+ de

membrana citoplasmática, Ena.

PMSF Phenylmethylsulphonyl fluoride ou fluoreto de fenilmetil sulfonil

RNA Ácido ribonucléico

XII

ROS Espécies reativas de oxigênio

RT-PCR Real time PCR ou PCR em tempo real

SSA1 Proteína chaperonina membro da subfamília SSA de proteínas

HSP70

SSA2 Proteína chaperonina membro da subfamília SSA de proteínas

HSP70

SSA3 Proteína chaperonina membro da subfamília SSA de proteínas

HSP70

SSA4 Proteína chaperonina membro da subfamília SSA de proteínas

HSP70

TCA Ácido tricloroacético

TM Temperatura ótima de anelamento

Trk1p/Trk2p Canal de influxo de K+ na membrana citoplasmática

UFC Unidade formadora de colônia

URL Unidade relativa de luminescência

Vmax Velocidade máxima

Vma1p H+-ATPase de membrana vacuolar

XIII

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Viabilidade das cepas Saccharomyces em pH 2 na presença ou ausência

de íons Na+.

57

Tabela 2 pH intracelular de cepas Saccharomyces e mutantes envolvidos no

transporte de sódio, submetidos ao estresse ácido (pH 2 + 85 mM de

NaCl).

61

Tabela 3 Potencial de membrana das cepas Saccharomyces

66

XIV

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Principais sistemas de transporte responsável pela homeostase de K+/Na+

em S. cerevisiae.

13

Figura 2 (A) Viabilidade das cepas de Saccharomyces em ambiente gástrico

simulado. (B) Efeito isolado dos componentes do ambiente gástrico

simulado na presença de NaCl.

51

Figura 3 Viabilidade sob estresse ácido na presença de NaCl na viabilidade de S.

boulardii e S. cerevisiae W303

53

Figura 4 Efeito de sais na tolerância ao pH 2 em S. boulardii (A) e W303 (B). 54

Figura 5 Efeito de 5 µg/mL de cicloheximida na viabilidade de Saccharomyces

crescidas em meio YPD 4% e expostas em estresse ácido. S.boulardii

(Painel A) e S. cerevisiae W303 (Painel B).

58

Figura 6 Nível de transcrição dos genes ENA1 e NHA1 em S. boulardii e S.

cerevisiae W303 por RT-PCR.

59

Figura 7 Alterações no conteúdo intracelular de Na+ (Painel A) e K+ (Painel B) em

cepas Saccharomyces.

62

XV

Figura 8 Ativação da H+-ATPase de membrana plasmática.. 64

Figura 9 Medida de cálcio celular total, em cepas Saccharomyces. 69

Figura 10 Atividade Ca+-ATPásica das cepas Saccharomyces. 70

Figura 11 Sinal de cálcio das cepas Saccharomyces crescidas em YPD e submetidas

ao pH 2

71

Figura 12 Capacidade tamponante das cepas Saccharomyces crescidas em meio YPD

e submetidas ao estresse ácido. Painel A: Capacidade tamponante das

células; Painel B: Capacidade tamponante dos extratos celulares.

73

Figura 13 Dendograma da análise lipídica da membrana plasmática de S. cerevisiae

W303 e S. boulardii.

75

Figura 14

Conteúdo de trealose, glicogênio e ATP em cepas Saccharomyces crescidas

em meio YPD 4% até D.O.600nm 1,0 e submetidas ao estresse ácido pH 2.

78

Introdução

2

1.- Introdução

A levedura Saccharomyces cerevisiae var. boulardii têm sido amplamente

estudada de acordo com suas propriedades probióticas e mecanismos de ação contra

vários patógenos causadores de diarréias. Objetivando alcançar o intestino do

hospedeiro em número satisfatório para exercer o papel probiótico, S. boulardii

necessita resistir as condições inóspitas enfrentadas no decorrer do trato digestivo,

dentre elas, a resistência ao pH ácido, devido a presença do ácido clorídrico no

estômago.

Os mecanismos pelos quais a cepa probiótica S. boulardii apresenta maior

resistência frente às diversas condições de estresse, ainda não estão bem esclarecidos,

principalmente no que diz respeito ao estresse ácido.

A utilização de Saccharomyces cerevisiae como modelo de estudo para elucidar

os mecanismos de resposta ao estresse ácido tem sido quase que exclusivamente

estudado em estresse com ácidos orgânicos, e há poucos estudos com respostas ao

estresse com ácido inorgânico e mecanismos de proteção nestas condições.

As leveduras pertencentes ao gênero Saccharomyces são classificadas como

fungos do filo Ascomicota, ordem Saccharomycetalia, família Saccharomycetacea e

gênero Saccharomyces (Bisby, F. A. et.al., 2006).

1.1.1 - Saccharomyces cerevisiae

A levedura Saccharomyces cerevisiae é reconhecida como um organismo

modelo é um eucarioto simples cujo genoma pode ser facilmente manipulado. Estudos

sobre a função de genes de mamíferos são frequentemente feitos em S. cerevisiae, que

ao contrário da maioria dos microrganismos, pode ser tanto haplóide, diplóide ou

mesmo poliplóide.

Algumas propriedades que tornam as leveduras bastante adequadas para estudos

biológicos incluem o rápido crescimento celular, rápido crescimento, segurança na

manipulação (GRAS – Generally Recognized as Safe), facilidade no isolamento de

3

mutantes, além de possuir um sistema de transformação de DNA bastante versátil

(Goffeau, A. et. al, 1996; Hughes, T. et.al., 2004; Stambuk, B. U. A., 1999). S.

cerevisiae foi o primeiro organismo eucarioto em que o genoma foi completamente

sequenciado e depositado em bancos de dados públicos como

http//www.yeastgenoma.org, o que permitiu a clonagem de diferentes genes, sua rápida

identificação e caracterização, bem como a melhor compreensão da sua função celular.

S. cerevisiae tornou-se modelo eucarioto ideal, com ferramentas moleculares

apropriadas para manipulação gênica e estudos de expressão, como o transcriptoma,

proteoma, metaboloma, que propiciam esclarecimento de diversas rotas metabólicas (Da

Silva, M. E. e cols., 1990; Murphy, A. e cols.,1999; Zigova, J., 2000; Pena-Castillo e

Hughes, T., 2007; Jones, G.M. e cols., 2008; Maya, D. e cols.,2008; Schuster, S. e cols.,

2008).

A célula de levedura possui mecanismos de adaptação eficientes para

manutenção da alta taxa de crescimento, mesmo após as mudanças promovidas pelo

próprio metabolismo, o que está diretamente relacionado à capacidade de regular a

expressão de genes apropriados ao regime nutricional em que a célula se encontra. A

expressão de genes e a consequente síntese de proteínas são diretamente influenciadas

pelas condições nutricionais (KruckeBerg, R., R. e cols., 1998).

A levedura é uma fonte biológica para obtenção de produtos de interesse na

indústria farmacêutica e de alimentos, como por exemplo, invertase, hexoquinase,

glicose-6-fosfato desidrogenase, glicose oxidase, proteases e outras, além da possível

utilização de sua própria biomassa celular como fonte de proteínas na alimentação

animal e humana (Pessoa Jr e cols., 1996; Silva, M. E., 1998; Benítez e cols., 1996).

Diferentes modificações genéticas podem gerar efeitos no metabolismo de

S. cerevisiae, obtendo-se assim cepas específicas para a produção de substâncias de

valor comercial. Por ser um organismo eucarioto, é um hospedeiro adequado para

produção elevada de proteínas citosólicas solúveis e secretadas, do mesmo modo são

capazes de promover modificações pós-traducionais em proteínas, como a glicosilação

e/ou outras modificações necessárias para a ótima atividade biológica e estabilidade

protéica (Zigova, J., 2000).

4

1.1.2 - Saccharomyces boulardii

A levedura S. boulardii não patogênica foi isolada da fruta lichia (Litchi

chinensis) na Indochina. Desde o início dos anos oitenta esta levedura tem sido

amplamente estudada quanto a sua ação no tratamento e prevenção a DAA (Diarréia

Associada a Antibióticos), para avaliação dos benefícios de S. boulardii no organismo

hospedeiro e descrição do mecanismo de ação (Mccullough, M. J. e cols., 1998).

Um aspecto controverso, relativo à levedura S. boulardii, diz respeito à sua

taxonomia (Mccullough, M. J. e cols., 1998; Van Der AA Kuhle, A., A. e Jespersen, L.,

2003). Inicialmente foi classificada por Cardinali, G. e Martini, A. em 1994, por meio

da cariotipagem eletroforética comparativa e análise multivariada do polimorfismo, a

cepa S. boulardii não pertencente à espécie S. cerevisiae e também das outras espécies.

O progresso no desenvolvimento da filogenia molecular permitiu a classificação de

muitas espécies de leveduras por técnicas como, polimorfismo de microssatélite,

amplificação aleatória de polimorfismo e análise polimórfica de fragmento de restrição.

Dessa forma, Edwards Ingram e cols. (2007) analisando o genoma pela hibridização

genômica comparativa concluiu que S. cerevisiae e S. boulardii são membros da mesma

espécie, entretanto geneticamente foram detectadas características como trissomia do

cromossomo IX e números de cópias dos genes alteradas em S. boulardii que a diferem

de S. cerevisiae.

Estudos de caracterização molecular, desenvolvidos em nosso laboratório,

sugerem que S. boulardii é uma cepa da espécie S. cerevisiae. No entanto, S. boulardii e

cepas de S. cerevisiae apresentam diferenças fisiológicas importantes (Fietto, J. L. R. e

cols., 2004). Estas diferenças incluem respostas a situações de estresses, como

resistência a altas temperaturas e ao estresse ácido.

S. boulardii é utilizada como probiótico devido a sua capacidade de atingir

rapidamente altas concentrações no cólon, manter níveis constantes, não colonizar

permanentemente o intestino e não translocar facilmente para fora do trato intestinal

(Berg, R. e cols., 1993; Boddy, A. V. e cols., 1991). S. boulardii quando introduzida na

terapia não promove um desequilíbrio da microbiota, mas reduz a concentração dos

5

vários agentes etiológicos da diarréia e bem como das toxinas associadas a estes agentes

(Elmer, G.W. e cols., 1987).

A partir de 1960 iniciou-se a comercialização da levedura liofilizada pelo

“Laboratoires Biocodex” (Paris, França). Desde então, o uso comercial de S. boulardii

como medicamento no combate às diarréias foi difundido em toda Europa e está

disponível no mercado sob diversos nomes comerciais, tais como: Ultra-Levure®

(França), Florastor® (Estados Unidos), Precosa® (Dinamarca), Levucell® (Lallemand,

Canadá), Perenterol® (Alemanha), Perenteryl® (Chile), Codex® (Itália), Floratil®

(Brasil). Atualmente, a levedura é comercializada na Europa, América do Sul e do

Norte, Ásia e África (McFarland e Bernasconi, 1993), tendo sido a sua utilização

liberada pela FDA (Food and Drug Administration) nos Estados Unidos (Florastor,

2007). Os direitos de comercialização para a América do Sul foram adquiridos pelas

indústrias químicas da MERCK S.A., e no Brasil outras preparações contendo

S. boulardii encontram-se disponíveis (Martins, F. S. e cols., 2005).

A palavra probiótico que significa “para vida” é um termo derivado da língua

grega (Neves, M. J., 2005). A terminologia conceitual foi inicialmente proposta por

Fuller (1991), após os primeiros ensaios clínicos. Probióticos podem ser definidos como

suplementos alimentares que contêm microrganismos vivos, ou componentes

microbianos que, quando ingerido em determinado número, apresentam efeito benéfico

sobre a saúde e bem-estar do hospedeiro (Salminem e cols., 1999; Dupont, 2001;

FAO/WHO, 2001; Isoulari, E., 2001; Reid, G. et al, 2001; Sanders, D., 2003).

As células probióticas depois de ingeridas devem ser capazes de sobreviver às

condições de estresse presentes no trato gastrointestinal, como suco gástrico, presença

de sais biliares, enzimas digestivas e manter sua viabilidade e atividade metabólica no

intestino para exercerem os efeitos benéficos aos hospedeiros. Quanto aos desafios

tecnológicos para a produção industrial de células, estas devem manter-se estáveis e

viáveis em níveis satisfatórios durante todo o prazo de validade do produto (Saad, 2006;

Araújo, 2007).

Vários mecanismos protetores têm sido propostos para explicar o controle de

diarréias por S. boulardii. Pothoulakis, C. e cols. (1993) verificaram experimentalmente

6

que S. boulardii inibe a ligação e a enterotoxicidade da toxina A de Clostridium difficili

em íleo de ratos. Dias, R. S. e cols. (1995) comprovaram a capacidade desta levedura de

inibir e neutralizar a enterotoxicidade das toxinas de Escherichia coli e Vibrio cholerae.

Czerucka, D. e cols. (1994) demonstraram que S. boulardii produz uma proteína

de 120 kDa capaz de neutralizar o efeito da toxina do cólera, propondo que este efeito

esteja relacionado à habilidade desta proteína de se ligar a sítios preferenciais nas

células intestinais do paciente e desta forma regular os níveis intracelulares de AMPc,

visto que o aumento de AMPc promovido pela ação da toxina gera, de forma indireta, a

perda de água pelas células intestinais.

Outro mecanismo protetor importante é o aumento da resposta imunológica do

hospedeiro contra as toxinas diarréicas mediado pelo uso de S. boulardii (Qamar, A. e

cols., 2001). Em trabalho realizado por Brandão, R. L. et al (1998) no nosso laboratório

propõe-se um mecanismo protetor no qual a levedura atuaria competindo pela ligação

com a toxina. Os resultados sugerem a adesão da toxina do cólera à levedura pela

subunidade B, seguida da internalização da subunidade A, similarmente ao que acontece

nas células intestinais. Esta internalização eleva os níveis de AMPc na célula e

desencadeia cascatas de fosforilações dependentes de AMPc. Resultados posteriores de

Neves, M. J. e cols. (2002), também obtidos pelo grupo de pesquisa no nosso

laboratório, mostraram que a toxina do cólera se liga, de forma específica, a células de

S. boulardii e sugerem que a atividade patogênica desta toxina (e provavelmente de

outras toxinas) pode ser neutralizada por esta ligação. Os estudos de ligação com 25I –

toxina do cólera, assim como o sinal de AMPc, dependente da integridade da molécula,

sugerem fortemente a presença de receptores mais ou menos específicos na superfície

da levedura (similar a situação observada em células de mamíferos).

Para garantir um efeito contínuo os probióticos devem ser ingeridos diariamente.

Alterações favoráveis na composição da microbiota intestinal foram observadas com

doses de 100g de produto alimentício contendo 108-109 UFC de microrganismo

probiótico (106 a 107 UFC/g de produto) e administração durante o período de 15 Dias,

R. S. (Blanchette e cols., 1996; Jelen e Lutz, 1998).

7

A grande maioria dos probióticos que são comercializados é composta por

bactérias. As leveduras que são utilizadas como probiótico ficam limitadas por

S. boulardii na medicina humana e S. cerevisiae na medicina veterinária. A utilização

de leveduras como probiótico é um investimento rentável e seguro, pois as mesmas

podem ser comercializadas liofilizadas, são rapidamente eliminadas pelo organismo

após interrupção da terapia e não são afetadas pelo uso de antimicrobianos (Blehaut e

cols., 1989; Boddy, A. V. e cols., 1991).

Resposta a estresses constitui um requerimento funcional para a escolha de um

probiótico (Matilla-Sandholm e cols., 2002). Para atingir o intestino, o probiótico

precisa transpor diversas situações de estresses. Após a ingestão por via oral, o

microrganismo tem que se manter viável numa temperatura interna do hospedeiro de

37°C. Adicionalmente, o microrganismo entra em contato com o estômago, um

ambiente inóspito devido ao pH ácido, e em seguida alcança o intestino encontrando um

ambiente totalmente adverso em situação de pH básico.

Dentre os fatores que possam levar a diminuição do número de células

probióticas ingeridas pelo hospedeiro tem-se ainda, a ação dos sucos intestinais (sais

biliares e pancreáticos) e menor tensão de oxigênio no trato gastrointestinal. Além

destas variações, existe a competição entre a microbiota nativa e o probiótico. Neste

caso, microrganismos com maior flexibilidade nutricional levam vantagem. Sendo

assim, é essencial que microrganismos potencialmente selecionados para serem

utilizados como probióticos sejam tolerantes aos produtos secundários (água oxigenada,

gazes e ácidos) do metabolismo do hospedeiro e substâncias antagônicas gerados por

outros microrganismos (Holzapfel, W. H., 1998).

1.2 - Mecanismos envolvidos em resposta a estresse em leveduras

Para manutenção de condições ótimas de crescimento, os organismos

unicelulares, necessitam de um ambiente intracelular específico e balanceado. Qualquer

flutuação no ambiente interno pode resultar em uma variedade de perturbações que

8

podem reduzir a atividade enzimática, interromper o fluxo metabólico, danificar as

estruturas celulares e alterar os gradientes químicos levando a célula a uma condição de

instabilidade (Ferreira e Mager, 1993). Porém, as células são capazes de manter a

homeostase interna mesmo diante de um ambiente externo variado (Hohmann, S. e

Mager, W. H., 1997; Gasch, 2001).

A resposta aos diferentes tipos de estresse é uma característica fundamental na

adaptação dos organismos vivos às condições adversas do ambiente. As células de S.

cerevisiae, quando submetidas à condição de estresse, desenvolvem uma rápida resposta

molecular para reparar danos e proteger as estruturas celulares dos efeitos causados pelo

estresse (Ruis, H. e Schuller, C., 1995; Swan, T.M. e Watson, K., 1998; Estruch, F.,

2000). Essa resposta é caracterizada pela síntese de proteínas específicas, aumento do

nível celular de trealose e glicerol, alteração da composição lipídica da membrana

plasmática e da atividade da H+ - ATPase, modulação do processo de troca iônica e no

caso de estresse oxidativo produção de glutationa e de enzimas superóxido dismutase

(Birch, R. M. e Walker, G. M., G. M., 2000).

Os mecanismos de resposta ao estresse são evolutivamente conservados em

todos os organismos (eucariotos e procariotos), e as repostas protetoras de organismos

vivos foram inicialmente identificados em estudos de reposta a choque térmico. A

resposta ao choque térmico é caracterizada pela síntese de proteínas específicas

denominadas de proteínas de choque térmico ou Hsp (heat shock proteins), que

funcionam como chaperonas nos processos de desnaturação e renaturação de proteínas

danificadas (Jakobsen, B. K. e Pelham, H. R. B., 1991; Maresca, B. e Lindquist, S.,

1991; Nover e Scharf, 1991; Craig, E. A., 1992; Morimoto, 1993). As Hsp são

encontradas em células eucariotas e procariotas, são altamente conservadas e

desempenham funções importantes em condições normais de crescimento (Kiang, J. G.

e Tsokos, G. C., 1998). Além de choque térmico, estas proteínas são induzidas por

outras formas de estresses como altas concentrações salinas e de etanol, estresse

oxidativo, baixos pHs, escassez de nutrientes e presença de metais pesados no meio

(Kiang, J. G. e Tsokos, G. C., 1998; Estruch, F., 2000). Os genes que codificam as Hsp

são divididos em famílias, os genes da família HSP70 são divididos nos subgrupos A,

9

B, C e D (Estruch, F., 2000; Baumann, F. e cols., 2000). O subgrupo A é o mais

complexo, contendo quatro genes, SSA1, SSA2, SSA3 e SSA4. Embora os genes da

família HSP70 codifiquem proteínas que desempenham funções semelhantes, eles

diferem no grau de expressão em condições de estresse (Estruch, F., 2000).

Em leveduras, dois aspectos da resposta ao estresse por choque térmico têm sido

bem analisados: a síntese de proteínas de resposta ao estresse ou relacionada ao

acúmulo de trealose (Swan, T.M. e Watson, K., 1998). Em culturas de S. cerevisiae

ocorre o acúmulo de trealose em resposta a uma mudança na temperatura de 30°C para

44°C, é quando a concentração de trealose atinge valores intracelulares máximos

(Cavalheiro e cols., 1999).

As leveduras quando expostas a um estresse osmótico perdem água dando início

a uma série de mecanismos, principalmente relacionados com a síntese de trealose e de

glicerol, isto ocorre para resguardar as células da desidratação e proteger as estruturas

celulares dos possíveis efeitos da condição de estresse (Estruch, F., 2000; Mager, W. H.

e Siderius, M., 2002). Durante muito tempo sustentou-se a hipótese de que a trealose era

somente um carboidrato de reserva (Singer, M. A. e Lindquist, S., 1998), entretanto o

papel mais importante que ela desempenha nas células de levedura é de estabilizar a

membrana celular em condições de estresse (Singer, M. A. e Lindquist, S., 1998; Fujii,

S. e cols., 1996). Demonstrada a sua relação com a termotolerância de fungos e

leveduras, o papel do açúcar ganhou importância. Em leveduras a síntese e o acúmulo

de trealose estão diretamente relacionados com o aumento de sua sobrevivência quando

submetidas a diferentes situações de estresse, como desidratação, congelamento, alta

concentração de etanol, oxigenação e CO2 (Shima, J. e cols., 1999; Majara, M. e cols.,

1996; Paredes, V. e cols., 2003).

Muitos estudos têm documentado a alteração da composição lipídica celular em

resposta a outro tipo de estresse, a exposição ao etanol, por exemplo. Desde que

membranas celulares têm sido consideradas como alvos primários do estresse com

etanol, muitos pesquisadores têm sugerido uma relação entre a composição de ácidos

graxos de membranas lipídicas e a tolerância ao estresse com etanol (You, K. M. e cols.,

2003). O efeito primário do etanol sobre a membrana mitocondrial foi observado por

10

Chi e Arneborg (1999), que demonstraram que uma linhagem de S. cerevisiae tolerante

ao etanol possuía elevados níveis de ácido oléico e uma significativa redução de

deficiência respiratória induzida pelo etanol, em comparação com uma linhagem

sensível ao álcool.

Em S. cerevisiae, ácidos graxos insaturados são formados na superfície do

retículo endoplasmático pela enzima desaturase, que é codificada pelo gene OLE1. Essa

enzima converte ácidos graxos saturados a espécies monoinsaturadas, pela introdução

de uma dupla ligação entre os carbonos 9 e 10 dos ácidos palmítico (C16:1) e esteárico

(C18:0) para formar os ácidos palmitoléico (C16:1) e oléico (C18:1), que são os ácidos

graxos insaturados predominantes em S. cerevisiae (Stukey e cols., 1989). As

características dinâmicas e estruturais da membrana podem mudar pelas alterações das

condições ambientais, ou seja, mudança na composição molecular da membrana ou

adição de moléculas estranhas que interagem com os constituintes da mesma. Isso

explica porque mudanças na fluidez da membrana são observadas em resposta a muitos

estresses ambientais, e porque as células mantêm um ótimo nível de fluidez dentro da

matriz lipídica (Beney, L. e Gervais, P. , 2001).

Células de leveduras crescendo em condições de aerobiose produzem espécies

reativas de oxigênio (ROS) como peróxido de hidrogênio, radicais hidroxilas e ânions

superperóxidos, provenientes de processos metabólicos normais como respiração e β-

oxidação de ácidos graxos (Gordon, C. e cols., 1999; Estruch, F., 2000; Costa, V. e

Moradas-Ferreira, P., 2001). Esses compostos constituem fatores de estresse oxidativo,

induzindo um grupo de genes que codificam proteínas antioxidantes (Estruch, F., 2000).

Embora as linhagens industriais sejam normalmente resistentes ao estresse oxidativo,

esse tipo de estresse pode afetar a produção de biomassa de leveduras de vinificação,

processo este realizado em aerobiose (Carrasco, P. e cols., 2001). Linhagens de S.

cerevisiae tolerantes ao estresse oxidativo também apresentam tolerância a outras

formas de estresse, porém essa co-tolerância não é comum a todas as linhagens e

depende do tipo e da intensidade do estresse (Lewis, J. G. e cols., 1997).

Duas estratégias para adaptação na presença de altas concentrações de sal têm

sido identificadas nos diferentes organismos. O mecanismo mais conhecido consiste na

11

extrusão de sódio do citoplasma e o acúmulo simultâneo de concentrações elevadas de

solutos compatíveis para evitar a perda de água (Organismos excluder), em

contrapartida existem os organismos que acumulam altas concentrações de sódio,

conseguindo evitar a intoxicação (Organismos includer) (Ramos e cols., 1999).

S. cerevisiae é uma levedura excluder por manter níveis citoplasmáticos baixos de sódio

através do processo de extrusão ou dirigindo-o para o vacúolo. Em ensaios de

resistência ao estresse causado por elevada concentração de sal no meio, linhagens de

panificação de S. cerevisiae apresentam resistência a até 1,5 M de NaCl (Lewis, J. G. e

cols., 1997) enquanto que em linhagens de vinificação foram encontradas leveduras

resistentes a 3 M de KCl (Carrasco, P. e cols., 2001).

As diferentes vias metabólicas são coordenadas por uma série de genes que

codificam proteínas reguladoras da expressão gênica. A integração entre as várias vias

metabólicas mostra que muitos genes estão envolvidos em diferentes respostas celulares

e são regulados por um conjunto de proteínas regulatórias que atuam em mais de uma

via.

Em S. cerevisiae, mais de 70% dos genes envolvidos na biogênese de

ribossomos foram reprimidos após a adição de 0,5 M de NaCl ao meio de crescimento,

porém vários genes envolvidos no metabolismo de glicose, no transporte de elétrons e

na resposta ao estresse foram induzidos. A redução da expressão gênica dos genes

envolvidos na biogênese dos ribossomos resulta em uma redução na síntese protéica.

Essa redução é importante para que a célula redirecione seus fluxos metabólicos em

resposta à condição de estresse (Hirasawa, T. e cols., 2005).

Muitos mecanismos de resposta a estresses envolvem a participação de íons,

portanto, alterações iônicas são fundamentais para que haja um desencadeamento na

ativação das vias de sinalização. O modo de ação para que se estabeleça o efeito

positivo dos íons, deve envolver a homeostase iônica. Em leveduras, a manutenção da

homeostase de Na+ e K+ é dependente de sistemas transportadores responsáveis pelo

influxo e efluxo de sais, tais como a bomba exportadora de sódio Ena1p (Benito B. e

cols., 1997), trocadores de Na+/H+ Nha1p localizado na membrana plasmática, Nhx1p

trocador prevacuolar (Nass, R. e cols., 1998) e Vnx1p descrito como transportador

12

presente na membrana do vacúolo responsável pela homeostase de íons Na+ e K+ e

regulação do pH (Cagnac, O. e cols., 2007). Além da captação de Na+ e K+ pelos

transportadores Trk1p e Trk2p (Ko, C. H. e Gaber, R.F., 1991) existem outros canais

menos específicos como o NSC1, ainda não identificado geneticamente (Bihler, H. e

cols., 2002). Um modelo dos principais sistemas envolvidos na homeostase de K+/Na+ e

manutenção do potencial de membrana pode ser visualizado na figura 1.

A reposta a mudanças no ambiente como estresse ácido, estresse de temperatura

e estresse osmótico, bem como os mecanismos adaptativos são complexos e envolvem

vias de sinalização de forma a permitir a adaptação do crescimento e da capacidade

proliferativa das células, assim como ajuste da expressão gênica, das atividades

metabólicas e outras funções celulares.

13

Figura 1 – Principais sistemas de transporte para manutenção da homeostase de K+/Na+

em S. cerevisiae. Os transportadores Trk1/2p tem alta afinidade para K+. A Kha1p é um

provável trocador de K+/H+. A extrusão de Na+ é primariamente mediada pela ATPase

Ena1p responsável pelo bombeamento de sódio, mas também pelo Nha1p Na+/H+

antiporter. NSC1 é um canal para cátions, não seletivo. A compartimentalização de Na+

é mediada pelo antiporter pré-vacuolar Nhx1p Na+/K+. A membrana pré-

vacuolar/vacuolar é energizada pela bomba de próton ATPase tipo –V (Vmap) e a

membrana plasmática pela ATPase tipo –P (Pma1p).

Fonte: Hohmann, S. e Mager, W. H., 1997.

14

1.3 – Mecanismos de resposta ao estresse ácido

A maioria das células de eucariotos superiores possui altas concentrações de

proteínas em seu citoplasma que funcionam como ácidos ou bases orgânicas. Proteínas

contendo maior número de histidina, por exemplo, tamponam o meio intracelular em

pH próximo do neutro. Nucleotídeos semelhantes a ATP, além de outros metabólitos de

baixo peso molecular contêm grupos ionizáveis que também tamponam o citoplasma

(Nelson e Lox, 2004).

Algumas leveduras são capazes de crescer em meio com pH entre 4,5 e 6,5

(Walker, G. M., 1998), porém ácidos orgânicos como ácido sórbico, o ácido benzóico e

o ácido acético, os quais têm sido utilizados na preservação de alimentos, inibem o

crescimento de leveduras em baixo pH (Piper, P. e cols., 1998; Piper, P. e cols., 2001).

Ácidos orgânicos, quando não dissociados, são capazes de atravessar a membrana

plasmática por difusão (Cássio, F. e cols., 1987). Uma vez no citoplasma esses ácidos se

dissociam gerando o próton H+ e o ânion correspondente. Quanto maior o pH do meio,

maior o grau de dissociação do ácido. Um ácido orgânico quando se dissocia no meio

intracelular diminui o pH citosólico. O acúmulo do ânion no citoplasma pode aumentar

a produção de radicais livres, em aerobiose, induzindo o estresse oxidativo (Piper, P. e

cols., 2001).

Em S. cerevisiae a presença de ácido sórbico no meio de crescimento aumenta a

atividade da enzima H+ - ATPase, a qual catalisa a extrusão de prótons H+, e induz a

síntese da proteína Pdr12p, que age na membrana plasmática catalisando a extrusão do

íon sorbato as custas de ATP ( Piper, P. e cols., 2001). Células de S. cerevisiae

crescendo em pH 7,0 na ausência de sorbato, apresentam uma baixa concentração de

Pdr12p na membrana plasmática, porém a adição de sorbato ao meio de cultura aumenta

o grau de expressão do gene PDR12.

Mutantes pdr12∆ são muito sensíveis a sorbato em baixo pH, indicando que a

proteína Pdr12p exerce uma função essencial na adaptação dessa levedura à condição de

estresse ácido (Piper, P. e cols., 1998). O mutante pdr12∆ é resistente a 2mM de sorbato

15

em YEPD (Extrato de Levedura e Glicose) ajustado a pH 4,5 com HCl, porém essa

resistência não depende exclusivamente da atividade de Pdr12p.

Outras proteínas envolvidas em diversas funções na célula são importantes na

resposta ao estresse ácido. Células mutantes pkf1∆ e pkf2∆ (subunidades α e β da

fosfofrutoquinase, respectivamente) rpe1∆ (D-ribulose-5-fosfato 3 epimerase) gdh3∆

(uma isoenzima da gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase) e tps2∆ (trealose-6-fosfato

fosfatase) são sensíveis a 2 mM de sorbato no meio de crescimento (Cheng, L. e cols.,

1999).

Os ácidos orgânicos inibem a resposta ao estresse de choque térmico e

aumentam a frequência de mutações que causam deficiência no metabolismo

respiratório de S. cerevisiae, quando cultivada a elevadas temperaturas (Cheng, L. e

cols., 1999). O tratamento de células de S. cerevisiae com ácidos orgânicos inibe a

síntese das Hsp e, consequentemente, a termotolerância (Piper, P. e cols., 1998).

A presença de ácido acético na concentração de 50 mM no meio de crescimento

(pH 3,5) semelhantemente ao ácido sórbico, diminui o pH citosólico e aumenta a

atividade da H+-ATPase na membrana plasmática de células de S. cerevisiae (Carmelo,

V. e cols., 2005). Linhagens de panificação dessa levedura foram sensíveis a 0,4% de

ácido acético (v/v) em meio YEP ágar (meio sem glicose). Nessas condições, a

sobrevivência da maioria das linhagens testadas foi inferior a 10% do total de células

inoculadas no meio (Lewis, J. G. e cols., 1997). Células de S. cerevisiae pré-adaptadas

ao estresse ácido, quando presentes em meio mínimo, sem glicose, contendo 1mM de

ácido benzóico (pH 4,5), acumulam uma grande quantidade de benzoato no meio

intracelular, porém quando a glicose é adicionada ao meio de cultura as células

eliminam cerca de 90% do ácido benzóico absorvido. Isso mostra que a célula depende

de glicose ou de outra fonte de energia, para gerar ATP e fazer funcionar a H+-ATPase e

a proteína Pdr12p, restaurando a homeostase do pH intracelular ( Henriques, M. e cols.,

1997).

Contribuindo para este conjunto de evidências, Ludovico, P. e cols. (2001)

verificou que o tratamento de S. cerevisiae com 20-200 mM de ácido acético, durante

200 minutos a pH 3,0, conduzia à perda de viabilidade das células. Contudo, a

16

concentração de ácido necessária para a ocorrência de um processo ativo de morte

celular revelou-se crítica. Com efeito, enquanto que a morte celular observada para

concentrações acima de 80 mM não era inibida pela cicloheximida (inibidor da síntese

protéica) e estava associada a alterações ultra-estruturais típicas de necrose, a morte

induzida por concentrações mais baixas de ácido acético (20-80 mM) foi parcialmente

inibida por cicloheximida. Nestas condições foi possível detectar diferentes alterações

estruturais típicas de apoptose nomeadamente: i) condensação extensiva de cromatina

na periferia do invólucro nuclear observada por microscopia eletrônica de transmissão;

ii) exposição de fosfatidilserina na superfície da membrana citoplasmática avaliada por

reação com anexina V conjugada com FITC e iii) ocorrência de quebra de DNA

avaliada por TUNEL. O fato de o ácido acético ser um subproduto da fermentação

alcoólica produzida por S. cerevisiae e, portanto, bastante corriqueiro no seu ambiente

natural, parece indicar que este processo, à semelhança do que acontece nos eucariotos

superiores, pode ter um papel fisiológico relevante no ciclo de vida da levedura.

No trabalho de Claret, S. e cols. (2005) foi avaliado o efeito da exposição de

S. cerevisiae em estresse em baixo pH (HCl) e a ativação da via PKC como resposta.

Durante condições de crescimento em baixo pH a via PKC foi ativada, e o sensor

Mid2p foi identificado como decisivo na ativação desta via, demonstrando que os

componentes Bck1p e Slt2p da cascata MAPK são essenciais em ambiente ácido. Além

desses componentes, também foi constatado o envolvimento de RGD1 na via PKC em

pH ácido, comprovando a interação de duas vias, uma envolvendo o sensor Mid2p e o

outro envolvendo Rgd1p, ambos convergem na via de integridade celular, traduzindo a

sinalização em pH baixo. Demonstraram também, que a interrupção das duas vias

envolvidas gera mutantes incapazes de sobreviver sob condições de estresse ácido.

Entretanto, em contraste do que foi observado com os mutantes bck1∆ ou slt2∆, o

suporte osmótico não eliminou a letalidade dos mutantes rgd1∆ e rgd1∆mid2∆

provocada pelo choque ácido, sugerindo que a ação mediada por Rgd1p na tolerância ao

estresse ácido não está limitada a via PKC.

Malakar, D. e cols. (2006) investigaram a função protetora da adição de S-

adenosil-L-metionina (Adomet) nas células de S. cerevisiae expostas ao estresse ácido

17

(10 mM HCl, pH∼2), demonstrando que este estresse provoca redução do espaço

periplasmático da membrana plasmática, e substancial aumento no número de vacúolos

no citoplasma, entretanto a adição de 1mM de Adomet, nesta condição, além de reduzir

o número de vacúolos formados, amenizou as variações de pH interno observadas em

estresse ácido.

Resultados preliminares no nosso laboratório demonstraram respostas a

diferentes estresses pelo probiótico S. boulardii e que esta cepa responde melhor aos

estresses de temperatura e ao ambiente gástrico simulado, quando comparado a cepas

S. cerevisiae de laboratório (Fietto, J. L. R. e cols., 2004). Neste trabalho, evidenciamos

a resistência de S. boulardii ao estresse ácido, além de observar que a adição de sódio,

um componente do suco gástrico, em pH 2, confere significativa proteção a esta cepa

probiótica. Os mecanismos pelos quais o estresse ácido afeta o metabolismo das cepas

S. cerevisiae avaliadas, e as diferenças na resposta de S. boulardii frente à proteção

conferida pela adição de íons, abrangem o que procuramos elucidar com nossos estudos.

18

Objetivos

19

2 - Objetivos

2.1 - Objetivo Geral

Caracterizar a resposta da levedura S. boulardii ao pH ácido e o efeito de NaCl,

em baixas concentrações, nesta resposta.

2.2 - Objetivos Específicos

• Comparar a viabilidade de diferentes cepas Saccharomyces cerevisiae frente a

uma simulação do ambiente gástrico;

• Identificar os componentes do ambiente gástrico responsáveis pela perda de

viabilidade celular;

• Estudar o efeito do pH ácido (HCl / pH 2) sobre a viabilidade de diferentes

cepas S. cerevisiae;

• Avaliar o efeito da adição de diferentes íons sobre a viabilidade celular em pH

ácido (HCl / pH 2);

• Investigar possíveis mecanismos envolvidos no efeito protetor de sódio, por

meio de medidas da expressão dos genes envolvidos na homeostase deste íon;

medidas de acúmulo e extrusão de sódio; medidas de potencial de membrana,

em cepas com deleções em genes que codificam proteínas envolvidas na

homeostase de sódio;

• Verificar possíveis correlações entre a resistência ao pH baixo e atividade da H+-

ATPase, o potencial de membrana e o pH intracelular;

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• Verificar a homeostase do cálcio em células submetidas ao estresse ácido (pH 2 /

HCl);

• Determinar a capacidade tamponante das células e dos extratos celulares obtidos

de células submetidas ao estresse ácido (pH 2 / HCl);

• Analisar a composição lipídica de membrana das cepas Saccharomyces, em

reposta ao estresse ácido;

• Correlacionar os níveis de reservas energéticas com a reposta ao estresse ácido.

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Material e Métodos

22

3 - Material e Métodos

3.1 - Cepas Saccharomyces utilizadas nos experimentos

Nos experimentos foram utilizadas cepas de Saccharomyces cerevisiae e

mutantes com deleções nos genes envolvidos no transporte de sódio. As cepas utilizadas

estão demonstradas na tabela 1:

Cepas Genótipo Procedência

Saccharomyces cerevisiae var. boulardii

Selvagem Floratil®,Merck S.A.

UFMG 20 Selvagem Martins, F. S. e cols., 2008

UFMG 24 Selvagem Martins, F. S. e cols., 2008

W303 MATa leu2-3,112 ura3-1 trp1-1 his3-11,15 ade2-1 can1-100 GAL mal SUC2

Johan M. Thevelein, J.M. Laboratorium voor Moleculaire Celbiologie, Katholieke Universiteit Leuven, Belgium.

LBCM 479 W303 Matα ena1 :: HIS3 :: ena4 José Ramos Department of Microbiology, ETSIAM, Edificio Severo Ochoa, Campus de Rabanales, University of Cordoba, Spain

LBCM 511

W303 Matα nha :: LEU2 Hana Sychrová, H. Departments of Membrane Transport, Institute of Physiology,

23

Academy of Sciences CR, Prague, Czech Republic

LBCM 500 W303 Matα ena1 :: HIS3 :: ena4 nha1 :: LEU2

Hana Sychrová, H. Departments of Membrane Transport, Institute of Physiology, Academy of Sciences CR, Prague, Czech Republic

LBCM 480 W303 Matα ena1 :: HIS3 :: ena4 nha1 :: LEU2 nhx1 :: TRP1

Hana Sychrová, H. Departments of Membrane Transport, Institute of Physiology, Academy of Sciences CR, Prague, Czech Republic

3.2 - Meios de cultura e condições de cultivo

O meio de cultura utilizado nos experimentos foi YPD composto por extrato de

levedura 1% (p/v), bacto-peptona 2% (p/v) e glicose 2% (YPD). O meio sólido foi

acrescido de ágar 1,5% (p/v).

As células da levedura Saccharomyces foram pré-crescidas em tubos de ensaio

contendo 4 mL de meio de cultura YP glicose 4%, durante 16 horas, a 28oC e sob

agitação constante. Após o intervalo de tempo necessário, o pré-inóculo foi transferido

para um erlenmeyer contendo 50 mL do mesmo meio e crescidas até atingir a D.O.600nm

= 1,0, sob agitação a 200 rpm em agitador New Brunswick modelo G25.

24

3.3 - Condições de estresse

As células crescidas em meio YPD 4% até D.O.600nm = 1,0, foram coletadas por

centrifugação 3750 rpm, a 4°C, lavadas duas vezes com YP. Após a lavagem, as células

foram ressuspensas no mesmo volume de YP para coleta da condição controle. As

amostras foram centrifugadas, lavadas e ressuspensas de forma a conversar a D.O.

600nm 1,0 em solução aquosa pH 2 ajustado com HCl 1M, e em solução aquosa

contendo 85mM de NaCl, pH 2 ajustado com HCl 1M, a 37°C, sob agitação lenta.

3.3.1 - Teste de Viabilidade

As células submetidas ao estresse ácido e estresse ácido acrescido de 85mM de

NaCl foram coletadas em alíquotas de 100 µL nos tempos 0, 30 e 60 minutos. Essas

alíquotas foram lavadas 2 vezes com YP, e ao sedimento celular foram acrescentados

100µL de solução corante de azul de metileno (azul de metileno 0,01% em tampão

acetato de sódio 0,1M pH 5,0) (Mills, D.R., 1941). Após incubação por 10 minutos à

temperatura ambiente, realizou-se a contagem das células em microscópio óptico. No

campo de visualização foram contadas 300 células, em triplicata, em cada tempo

analisado. A determinação da % de células viáveis foi feita através da seguinte fórmula:

% Células Viáveis = Total de Células – Número de Células Azuis X 100

Total de Células

As células não viáveis apresentaram-se coradas em azul e as células viáveis

apresentaram-se descoradas. Todos os ensaios de viabilidade foram realizados em

triplicata.

25

3.4 - Reação em cadeia da polimerase em tempo real

3.4.1 - Extração e preparação de RNA total de levedura

As células de leveduras foram crescidas em 20 mL de meio YPD 4% até

atingirem D.O.600nm = 1,0. Após o crescimento, alíquotas da cultura foram coletadas por

centrifugação a 3750 rpm por 5 minutos a 4°C para o tempo controle, parte da cultura

foi centrifugada e submetida ao estresse ácido em igual volume, a 37°C, sob leve

agitação. As amostras foram coletadas em intervalos de 30 minutos, congeladas em

nitrogênio líquido e estocadas a -80°C para posterior extração de RNA total.

O sedimento celular congelado em -80°C foi ressuspenso em 2 mL de fenol /

água (3,75:1) e 2 mL de TES (10mM Tris:Cl; 10mM EDTA; 0,5% SDS; pH 7,5) e

agitado vigorosamente em vórtex. Os tubos foram incubados em banho-maria a 70º C

por 1 hora, e agitados vigorosamente em vórtex em intervalos de 5 minutos. Os tubos

foram centrifugados a 3000g, por 10 minutos, a 4º C e a fase superior coletada em tubos

de microcentrífuga. Foram adicionados 800 µL de solução fenol e água na proporção de

3,75:1, e após nova agitação os tubos foram centrifugados a 3000g por 10 minutos a 4º

C. O sobrenadante foi coletado e foram adicionados 600 µL de clorofórmio. Procedeu-

se à nova agitação em vórtex e em seguida, os tubos foram centrifugados a 3000g por

10 minutos a 4º C. O sobrenadante foi coletado e foram adicionados 50µL de acetato de

sódio 3M pH 5,3 e 1 mL de etanol gelado 100%, sendo incubados a –80º C por 15

minutos. Após esta incubação as amostras foram centrifugadas a 15000 rpm por 10

minutos a 4º C, o sobrenadante foi descartado e o sedimento lavado com 500 µL de

etanol 70%. As amostras foram centrifugadas e o sobrenadante novamente descartado.

O RNA foi ressuspenso em 50 µL de H2O DEPC (200mL água Mili-Q estéril, 200µL

DEPC) e armazenado a -80ºC até a utilização.

Os RNAs extraídos das amostras submetidas ou não ao estresse foram

submetidos à eletroforese em gel de agarose 1% contendo formaldeído 2,2 M e NBC

1X. Para a aplicação no gel, as amostras de RNA foram desnaturadas a 68o C por 5

minutos e adicionadas a um tubo contendo tampão de amostra para RNA (MOPS 20mM

26

pH 7.0; EDTA 0,1 M) e brometo de etídio. Após 3 horas de corrida a 70 V, o gel foi

fotografado sob luz ultravioleta.

3.4.2 - Obtenção do cDNA

Para síntese de cDNA foi utilizado o RNA total extraído anteriormente. 3µg de

RNA foi tratado com DNAse para remoção total de DNA genômico das amostras, na

presença da enzima RNAse OUT para proteção do RNA.

Eliminação de DNA (Promega)

RNA total (3µg) X µL

Enzima DNAseI 1 µL

Tampão da Enzima 1 µL

RNAse OUT 0,5 µL

Água DEPC 0,01% q.p. 10 µL

Total 10 µL

Manteve-se a mistura acima a 37°C por 30 minutos, em seguida, adicionou-se

1µL de EDTA (25mM) a cada amostra e a mistura foi mantida a 65°C por 10 min e

resfriada a 4°C em banho de gelo.

Desnaturação de RNA

RNA total (tratado) 10 µL

Primer oligo dT 1 µL (0,5 µg )

Total 11 µL

Incubou-se a mistura a 70°C por 5 minutos e foi resfriada a 4°C por pelo menos 5 min.

Transcrição Reversa:

27

Mistura para transcrição reversa

Tampão de enzima (5x) 4,0 µL (1X)

MgCl2 (25mM) 2,4 µL (3mM)

dNTPs (10mM) 1,0 µL (0,5mM)

RNAse OUT 0,5 µL

Enzima IMPROM II reverse 1,0 µL

Água DEPC 0,01% q.p. 20 µL

Total 20 µL

As reações foram conduzidas de acordo com a programa de síntese de cDNA descrito

abaixo:

� 25°C por5 minutos

� 42°C por 60 minutos

� 70°C por 15 minutos, inativando a enzima pelo calor.

3.4.3 - Reação em cadeia da polimerase em tempo real

Para a reação em cadeia da polimerase em tempo real os reagentes foram

acondicionados em tubos apropriados e adicionados de acordo com os procedimentos

abaixo descritos:

Iniciadores Sequências

ENA1 direto 5’- AGTTGGCGGTATTGCTTTTCTG - 3’

ENA1 reverso 5’- TTGAGAGGCCATGACGATGAT - 3’

NHA1 direto 5’- CGCGCCGCCACATTT - 3’

NHA1 reverso 5’ – CATTCCAATCTCCTCATTACGTTGT – 3’

28

Amplificou-se também o gene da actina para ser utilizado como controle

endógeno, e para isso os seguintes iniciadores foram utilizados:

Iniciadores Sequências

ACT1 direto 5’- GCCGAAAGAATGCAAAAGGA - 3’

ACT1 reverso 5’- TCTGGAGGAGCAATGATCTTGA - 3’

• 5 µL cDNA

• 5 µL de Iniciadores (direto e reverso) (150 µg/mL ou 20 µL)

• 4 µL DNTP 5 mM

• 10 µL Tampão de Amplificação 10X

• 70,5 µL H2O. A mistura foi aquecida durante 2 minutos a 94° C e centrifugada rapidamente,

antes que 0,5 µL de Taq DNA polimerase 2,5U fosse adicionada. A mistura completa

foi homogeneizada e centrifugada novamente e colocadas no aparelho, utilizando-se o

seguinte programa:

As reações foram conduzidas em um Instrumento ABI7500 (Applied

Biosystems, Foster City, CA) de acordo com as condições descritas abaixo:

• Elevação da temperatura a 50o C por 2 minutos

• 50°C por 2 minutos

• 95o C por 10 minutos

O ciclo foi repetido por 39 vezes.

• 94o C por 15 segundos

• 59o C por 1 minuto

Abaixamento da temperatura a 4o C.

Como padrão fez-se o RT-PCR também para o gene da actina para cada conjunto de

cDNAs utilizados, atuando como normalizador do experimento.

29

Para a análise dos resultados, foi utilizado o método comparativo 2^ [-∆ (∆C(T))]

descrito por Livak, K. J. e Schmittgen, T. D. ((Livak, K. J. e Schmittgen, T. D., 2001).

3.5 - Medidas do pH interno

O pH interno das cepas, que foram expostas às condições de estresse ácido e

adição de NaCl, foi avaliado através da técnica de distribuição do [2-14C] - ácido

propiônico entre o interior da célula e o meio extracelular ( Viegas, C. A. e Sá-Correia,

I., 1991). As células foram crescidas em 20 mL de meio YPD 4%, até atingirem D.O.

600nm 1,0. Após o crescimento as células foram lavadas duas vezes com YP e

ressuspensas no mesmo volume de solução pH 2 e 85mM de NaCl em presença de 4 µL

de [2-14C] - ácido propiônico 18,56 mM (Amersham), a 30°C, por um período de 25 a

45 minutos até que o ácido propiônico atingisse o equilíbrio entre o meio extracelular e

o citoplasma. Alíquotas de 4 mL foram filtradas em filtros de lã de vidro Whatmann

GFC, lavadas rapidamente com água Milli-Q gelada (10 mL) e a radioatividade

detectada em Cintilador Beckman LS 6000SC. Para determinar a concentração total de

ácido propiônico extracelular 500 µL da suspensão de células foi centrifugado por 2

minutos a 13000 rpm, e 20 µL do sobrenadante foi usado para detecção da

radioatividade. A concentração intracelular de ácido propiônico foi determinada

utilizando como medida o valor de 2,2 µL/mg de células descrito por Viegas, C. A. e

Sá-Correia, I., (1991) de volume celular interno. O pH externo foi medido usando o

pHmetro (Orion Model 720A). Os valores de pHi foram calculados da média de

duplicatas de três culturas independentes.

30

3.6 - Conteúdo intracelular de sódio e potássio

As leveduras dos mutantes de S. cerevisiae com diferentes deleções para o

transporte de sódio e a levedura S. boulardii foram crescidas em 50 mL de YP glicose

4%, foram coletadas por centrifugação a 3750 rpm por 5 minutos e expostas às

condições de estresse ácido já descritas anteriormente. Alíquotas de 4 mL da suspensão

de células foram coletadas por filtração a vácuo em filtros previamente pesados, para

que fosse possível determinar o peso seco de células. Paralelamente coletaram-se

alíquotas de células expostas e não expostas que foram filtradas e lavadas

imediatamente com abundância em solução MgCl2 20mM. Os filtros contendo as

células foram submersos em 5 mL de solução HCl 1M e após agitação em vórtex foram

incubados a 4°C “overnigth”. Para determinar os níveis de Na+ e K+ das alíquotas foi

utilizado Espectrofotômetro de Emissão Atômica Varian AA-20 e solução padrão de

Na+ e K+ com concentração 100 µg/mL, para ambos (Rodríguez-Navarro, A. e Ramos,

R., 1984) .

Para determinar a taxa de sódio total nas amostras utilizou-se a equação

matemática a seguir:

Na+ (nmoles/mg de massa seca) = Leitura x (5 x 10-6)

23

X 1000000

P.S.

Sendo que:

a) Leitura = quantidade de sódio expresso em mg/L.

b) P.S. = valor de peso seco em g.

c) 5 x 10-6 = volume do extrato de cálcio em litros.

31

d) 23 = quantidade de Na+ (em mg) presente em 1 mmol (peso molecular).

e) 1000000 = fator de correção desde que o sódio foi expresso em nmoles/mg de

célula.

Para determinar a taxa de potássio total nas amostras utilizou-se a equação

matemática a seguir:

K+ (nmoles/mg de massa seca )= Leitura x (5 x 10-6)

39,10

X 1000000

P.S.

Sendo que:

a) Leitura = quantidade de potássio expresso em mg/L.

b) P.S. = valor de peso seco em g.

c) 5 x 10-6 = volume do extrato de potássio em litros.

d) 39,10 = quantidade de K+ (em mg) presente em 1 mmol (peso molecular).

e) 1000000 = fator de correção desde que o potássio foi expresso em nmoles/mg de

célula.

32

3.7 - Atividade H+-ATPásica

As células foram crescidas em meio YPD 4% até D.O.600nm = 1,0, coletadas por

centrifugação 3750 rpm e lavadas duas vezes com YP, a 4°C e diluídas em YP na

concentração de 75 mg/mL de células para a coleta do controle (tempo 0). Em seguida,

a suspensão de células foi centrifugada novamente e diluída para exposição ao estresse

ácido acrescido de 85mM de NaCl. As células submetidas ao estresse foram coletadas

em alíquotas de 5 mL, nos tempos 30 e 60 minutos, filtradas a vácuo e acondicionadas

imediatamente em papel alumínio e congeladas em nitrogênio líquido. As amostras

foram estocadas no freezer -80°C para obtenção das membranas citoplasmáticas.

3.7.1 - Obtenção das membranas citoplasmáticas

As amostras congeladas foram transferidas para tubos de ensaio (0,5 mm de

diâmetro), contendo 1,5 g de pérolas de vidro, 0,5 mL de tampão de extração (Tris 0,1

M, EDTA 5 mM, β mercaptoetanol 1mM, pH 8,0) e homogeneizadas duas vezes por 90

segundos com intervalos de resfriamento em gelo como descrito por Becher Dos Passos,

J. e cols., (1992). Em seguida, foi adicionado 1 mL de tampão de extração (Sorbitol

0.33 M, Tris 0.1 M, EDTA 5 mM, β mercaptoetanol 1 mM, pH 8.0) e as amostras foram

novamente homogeneizadas por 30 segundos. Desta forma uma boa parte das células foi

lisada, possibilitando o isolamento de frações de membranas.

Para a obtenção das membranas citoplasmáticas foi feito uma centrifugação

fracionada do homogenato, a 1.000g por 3 minutos, sendo o sobrenadante resultante

centrifugado a 15.000g por 30 minutos. Após a centrifugação o sedimento obtido foi

ressuspenso em 1 mL de tampão glicerol (Glicerol 20 %, Tris 10 mM, EDTA 0,1 mM,

β mercaptoetanol 1 mM, pH 7,5).

Para a etapa seguinte fez-se um gradiente de sacarose da seguinte forma: 3 mL

de sacarose 53,5% (p/p) + 6 mL sacarose 43,5 %. O sedimento ressuspenso em glicerol

foi colocado neste gradiente e centrifugado a 100.000g por 2 horas. A fração de

33

membrana citoplasmática da levedura fica retida na interface das duas fases de sacarose

(Serrano, R., 1983), portanto, a interface do gradiente foi coletada, diluída em água

Mili-Q a 40C e homogeneizada. Esta nova suspensão foi centrifugada a 100.000g por 30

minutos. O sedimento final obtido, contendo a membrana citoplasmática, foi

ressuspenso em 300µL de tampão glicerol, sendo utilizado para determinação da

atividade H+- ATPásica (Becher Dos Passos, J. e cols., 1992).

3.7.2 - Ensaio da atividade H+-ATPásica

As amostras contendo frações de membrana citoplasmática relativas aos

diferentes tempos de incubação foram testadas em relação à atividade H+-ATPásica, em

duplicatas. Para cada uma delas, fez-se um branco correspondente a cada amostra,

branco em triplicata para o substrato (branco ATP) e um branco geral.

No branco geral foram adicionados 250 µL de tampão de incubação (Hepes 50

mM, NaN3 10mM - que inibe a ATPase mitocondrial e molibdato de amônio 5mM –

que inibe fosfatases ácidas, pH 6,5), nos brancos correspondentes as amostras foram

adicionados 210 µL deste tampão. Nos brancos para ATP foram adicionados 220 µL e

nos testes foram adicionados 180 µL do tampão de incubação.

Como já descrito por Dufour, J. P. e Goffeau, A., A., 1978, a atividade ATPásica

requer Mg2+, Mn2+ ou Co3+ como cofatores enzimáticos, sendo o íon Mg2+ o mais

efetivo. Desta forma, foram adicionados aos tubos testes e aos brancos ATP, 10 µL de

uma solução de MgCl2 50mM (concentração final 1mM). E, finalmente foram

adicionados 40 µL das amostras, nos testes correspondentes e nos brancos das amostras.

As amostras foram pré-incubadas a 30°C, em banho-maria por 5 minutos. Em

seguida, iniciou-se a reação pela adição de ATP 25 mM (concentração final 1 mM).

Após este período de incubação a reação foi interrompida com 250 µL de ácido

tricloroacético 10% (p/v) e nos tubos brancos ATP foram adicionados 20µL de solução

ATP 25 mM. Após interrupção da reação adicionou-se 450 µL de molibdato de amônio

34

5 mM em todos os tubos, seguidos da adição de 50 µL de reativo de cor (ANSA 2,5

mg, Na2 S2O5 1,5g, Na2 SO3 50 mg, 10 mL de água Milli-Q) recentemente preparado.

As amostras foram deixadas a temperatura ambiente por 30 minutos e, posteriormente

foi realizada a leitura a 710 nm em um espectrofotômetro (Beckman DU-68) (Becher

Dos Passos, J. e cols. 1992). Como padrão utilizou-se Na3HP04.

A atividade específica expressa em µmoles Pi/min./mg proteína foi calculada

por meio da seguinte equação:

Abs. 710nm – a1 × 4 × 6,25

Ativ. enz.específica (µmoles Pi min-1 mg-1) = b1 × 1000

Abs. 546nm – a2 × 20 ×10

b2

Sendo que:

a) Abs. 710nm = Valor da absorbância relativa à hidrólise de ATP.

b) a1 = Intercepto da curva padrão de fosfato.

c) b1 = Inclinação da curva padrão de fosfato.

d) 4 = Fator de correção (µg fosfato/ 250µL → µg fosfato/mL) desde que proteína

foi expressa em mg/mL.

e) 6,25 = Fator de diluição da amostra (40 µL da amostra diluídos para 250 µL

final do tampão de incubação).

f) Abs. 546nm = Valor em absorbância referente à dosagem de proteína.

g) a2 = Intercepto da curva padrão de proteínas.

h) b2 = Inclinação da curva padrão de proteínas.

i) 20 =Fator de diluição da amostra para dosagem de proteínas (20µL da amostra +

380 µL de água).

35

j) 10 = Tempo de reação.

3.7.3 - Dosagem de proteína

A dosagem de proteínas foi feita de acordo com o método de Lowry, O. H.

modificado (Lowry, O. H. e cols., 1951), utilizando soro albumina bovina como padrão.

3.8 - Determinação do potencial de membrana

O método para determinação do potencial de membrana foi baseado na

metodologia descrita por Krasznai, Z. e cols., (1995), com algumas modificações.

Utilizando-se técnicas de citometria de fluxo para detectar a distribuição do marcador

bis-oxonol trimetina (1,3-ácido dibutilbarbitúrico) (Di-BaC-4(3)) através da membrana

citoplasmática, que obedece a lei de Nernst, na qual explica as alterações do potencial

de membrana após aumento ou reduções das concentrações iônicas nos líquidos extra e

intracelulares.

3.8.1 - Aquisição e análise dos dados em citômetro de fluxo

As células foram crescidas em 50mL de meio YP glicose 4% a 300 rpm, a 30°C

até atingirem D.O.600nm = 1,0. As células foram coletadas e expostas às condições de

estresse de acordo com o item 3.3.

Após a exposição, cada amostra foi diluída a uma concentração final de 5 x 10-6 células/

mL em Tampão Fosfato PBS (137mM NaCl, 2,7mM KCl, 10mM Na2HPO4 e 2mM

KH2PO4 pH 7,4) esterilizado por filtração (membrana millipore 0,22µ). A marcação

para medida de fluorescência obtida para cálculo do potencial de membrana foi feita

com adição de 500 nM final (SIGMA-ALDRICH diluído em DMSO) à 500µL da

36

mesma suspensão de células em tubos de poliestireno 22 x 75 cm (Vacutainer – BD,

E.V.A.). Os tubos foram incubados em temperatura ambiente durante 30 minutos ao

abrigo da luz. Após incubação, as amostras foram lidas e analisadas em citômetro de

fluxo FACS-calibur (Becton Dickinson) utilizando o programa “BD CellQuestTM Pro

Software”.

Para determinação do valor do potencial de membrana das células

utilizou-se a equação de Nernst, descrita a seguir:

Ѱ= [(RT/F) ln(Di/De)]

Sendo que :

a) Ѱ = Potencial de membrana

b) R = Constante Universal dos Gases – 8,315 J/mol

c) T = Temperatura absoluta – 298 K

d) F = Constante de Faraday – 96480 J/Vmol

e) Di = Concentração interna de DiBA-C4-(3)

f) De = Concentração externa de DiBA-C4-(3)

3.8.2 - Curva padrão de potencial com células fixadas

As cepas de Saccharomyces utilizadas para construção da curva padrão de

DiBA-C4-(3), foram crescidas em 10 mL de YP glicose 4% sob agitação a 30°C até

atingirem D.O.600nm = 1,0. Após terem sido coletadas e lavadas com YP, as células

foram ressuspensas em PBS 1X filtrado para concentração final de células de 5 x 10-6

células/mL e mantidas em gelo. Para fixação foi adicionada a 10 mL da suspensão de

células o mesmo volume de solução de fixação (1M de NaOH, 0,33M de

Paraformaldeído, 0,05M cacodilato de sódio e 0,11M de NaCl – pH 7,2). S. cerevisiae

W303 foi fixada em banho de gelo e S. boulardii fixada em temperatura ambiente,

ambas sob agitação suave “overnigth”. O monitoramento da uma correta fixação foi

37

essencial para posterior construção da curva padrão de DiBA-C4-(3). A suspensão de

células fixadas foi então centrifugada a 3750 rpm por 5 minutos a 4°C, depois de

descartado o sobrenadante, foram lavadas duas vezes com PBS1X filtrado e

ressuspensas no mesmo tampão conservando a concentração de 5x10-6 células/mL.

Para construção da curva padrão de potencial, adicionou-se diferentes

concentrações de DiBA-C4-(3) à suspensão de células previamente fixadas. Os tubos

contendo a mistura de DiBA-C4-(3) e células foram incubadas em temperatura ambiente

durante 30 minutos ao abrigo da luz. Após incubação, as amostras foram lidas e

analisadas em citômetro de fluxo FACS-calibur (Becton Dickinson) utilizando o

programa “BD CellQuestTM Pro Software”.

Os pontos da curva padrão de potencial foram feitos em concentrações de 0, 300,

400, 500, 700 e 1000 nM de DiBA-C4-(3) e foram obtidos em triplicatas técnicas.

3.9 - Medida de cálcio celular total

As células de S. cerevisiae e S. boulardii foram crescidas em YP glicose, foram

coletadas por centrifugação a 3.750 rpm por 5 minutos e expostas às condições de

estresse ácido já descritas anteriormente. O precipitado celular foi lavado com YP e

transferido para tubos de microcentrífuga previamente pesados. As amostras foram

centrifugadas a 13.000 rpm por 5 minutos, o sobrenadante foi removido cuidadosamente

e as células foram centrifugadas novamente. Os tubos contendo as células foram

pesados para determinar o peso úmido e logo depois o precipitado celular foi secado em

Sistema Speed Vac Savant. Posteriormente, os tubos foram pesados para que fosse

possível determinar o peso seco de células. Adicionou-se aos tubos uma solução de HCl

1M e a suspensão foi homogeneizada por agitação em vórtex e incubada por pelo menos

24 horas, sob agitação constante. Após a incubação cada amostra foi centrifugada

brevemente e coletou-se uma alíquota de 1 mL do sobrenadante que foi transferido para

tubos de 15 mL e diluído cinco vezes em solução de HCl 1M. Para determinar os níveis

38

de Ca2+ das alíquotas foi utilizado Espectrofotômetro de Absorção Atômica Varian AA-

20 e solução padrão de Ca2+ com concentração de 1 µg/mL (Miseta, A. e cols., 1999).

Para determinar a taxa de cálcio celular total foi utilizada a equação matemática

descrita a seguir:

Ca+2 (mmoles/Kg de massa seca) = Leitura x (5 x 10-3)

40

X 1000

P.S.

Sendo que:

a) Leitura = quantidade de cálcio expresso em mg/L.

b) P.S. = valor de peso seco em kg.

c) 5 x 10-3 = volume do extrato de cálcio em litros.

d) 40 = quantidade de Ca2+ (em mg) presente em 1 mmol (peso molecular).

e) 1000 = fator de correção desde que o cálcio foi expresso em mmoles/kg de

célula.

39

3.10 - Atividade Ca+2-ATPásica

3.10.1 - Obtenção da fração de membrana subcelular para o estudo do perfil de

atividade da Ca+2 – ATPase vacuolar (Pmc1 p)

Para o fracionamento celular utilizou-se o protocolo descrito por Becherer, K. A.

e cols. (1996), com algumas modificações. As células foram crescidas em 500 mL de

meio YP glicose 4% até a fase logarítmica (DO600nm = 1.0) e submetidas às condições

de estresse como descrito no item 3.3, coletadas por centrifugação a 3.750 rpm e

ressuspensas em 50 mL de tampão (Tris-HCl 200mM, pH 8.0; EDTA 20mM, 1% de β-

Mercaptoetanol, NaN3 5mM e NaF 5mM). Após uma incubação de 10 minutos, a 30°C,

as células foram coletadas por centrifugação, ressuspensas em 50 mL de meio para

esferoplastos (sorbitol 1M, NaN3 5mM e NaF 5mM) suplementado com liticase (Sigma)

0.3 mg/mL e procedeu-se nova incubação a 30°C por 30 minutos. Posteriormente foram

resfriadas em gelo e lavadas duas vezes com meio para esferoplastos gelado; para

garantir a integridade das proteínas obtidas no fracionamento, as células permaneceram

a 4°C em todas as etapas.

Os esferoplastos obtidos foram lisados em 4-6 mL de tampão hipo-osmótico

gelado (Tris-HCl 50mM, pH 7.5, sorbitol 200mM e EDTA 1mM) acrescido de 1 mM

de inibidor de proteases PMSF (phenylmethylsulphonyl fluoride), através de desrupção

ultra-sônica (em sonicador Sonic Dismembrator model 500 – Fisher Scientific) com 4

pulsos de sonicação de 10 segundos, com 10 segundos de intervalo em gelo, entre cada

pulso. As células lisadas foram submetidas à centrifugação fracionada a 500g (por 5

minutos), 13.000g (10 minutos) e 100.000g (60 minutos), sendo que o precipitado final

foi ressuspenso em 2 mL de tampão hipo-osmótico (acrescido de PMSF), e adicionado

no topo de um gradiente de sacarose. Todas as soluções de sacarose que compunham o

gradiente(1.5 mL 60%, 1.0 mL 37%, 1.5 mL 34%, 2.0 mL 32%, 2.0 mL 29%, 1.5 mL

27% e 1.0 mL de sacarose 22%) foram feitas em concentrações de % p/p com sacarose

ultrapura em solução de HEPES-KOH 10 mM, pH 7.6, EDTA 1mM, sorbitol 0.8M.

40

Frações de 0.6 mL foram coletadas após centrifugação em rotor SW40Ti Beckman a

170.000g por 17 horas.

3.10.2 - Identificação das frações contendo membrana subcelular de vacúolo

Em um fracionamento de membranas subcelulares, a membrana correspondente

de cada organela está presente em maior proporção em uma faixa contínua e específica

de frações (Lisman, Q. e cols., 2004). Tendo em vista que a proteína de interesse

encontra-se na membrana do vacúolo, foi realizado um ensaio de atividade ATPásica

(item 3.4.2), na presença ou não de 500 µM de CaCl2 com cada uma das 20 frações

isoladamente. As frações selecionadas foram submetidas também a um novo ensaio de

atividade na presença de 500 µM de CaCl2 acrescidos de 2mM do quelante EGTA.

Contudo foi utilizada uma mistura das frações 15, 16 e 17, para a obtenção dos

níveis de atividade da Ca2+ – ATPase vacuolar, Pmc1 p. Optou-se pela mistura nos

ensaios para eliminar possíveis interferências devido a diferenças na migração da

suspensão de membrana subcelular durante o fracionamento no gradiente.

3.10.3 - Ensaio da atividade Ca2+ - ATPásica

A determinação da atividade da Ca2+ - ATPase vacuolar, Pmc1 p, foi realizada

utilizando-se basicamente a mesma reação descrita no item 3.7.2 (Becher Dos Passos, J.

e cols.,1992). A mistura da suspensão de membranas de vacúolo purificadas, foi

adicionado ao tampão de incubação da atividade (Hepes 50 mM, NaN3 10 mM que

inibe ATPase mitocondrial e molibdato de amônio 5 mM, pH 6.5) contendo MgCl21

41

mM. A reação iniciou-se com a adição de 2 mM de ATP após uma pré-incubação de 10

minutos, a 30°C com 500µM CaCl2 ou 500 µM CaCl2 mais 2mM de EGTA. Após 10

minutos interrompeu-se a reação pela adição de 250 µL de ácido tricloroacético (TCA)

10% (p/v), para a fixação do fosfato liberado durante a reação de hidrólise do ATP 450

µL de molibdato de amônio 5 mM em HCl 0.8 N foram usados. A mistura de reação

contendo 50 µL do reativo de cor (ANSA 1 mg, Na2SO3 20 mg , Na2S2O5 600 mg ,

água q.s.p. 4 mL) foi incubada por 30 minutos e então as absorbâncias a 720 nm foram

obtidas em um espectrofotômetro (Beckman DU-68).

A atividade ATPásica expressa em µmoles Pi/min./mg proteína foi calculada

através da equação descrita no item 3.7.2. Para obtenção da atividade Ca2+ - ATPásica,

específica, os valores obtidos na reação contendo CaCl2 + EGTA, foram subtraídos

daqueles obtidos para as reações que aconteceram apenas na presença do CaCl2. Esse

procedimento foi realizado para eliminar possíveis atividades contaminantes de outras

ATPases que não fosse a de interesse.

3.10.4 - Dosagem de proteína

A dosagem de proteínas foi feita como no item 3.7.3 (Lowry, O. H. e cols.,

1951).

3.11 – Monitoramento in vivo da concentração de cálcio citosólico livre

3.11.1 – Transformação de leveduras

3.11.1.1 – Preparo de células de levedura competentes

As cepas Saccharomyces cerevisiae submetidas ao processo de transformação,

foram pré-crescidas em 4 mL de YP glicose, a 28°C sob agitação constante (200 rpm),

durante 24 horas. Este pré-inóculo foi utilizado para inocular 100 mL do mesmo meio

42

que foi então incubado nas mesmas condições de temperatura e agitação descritas

acima, até que a cultura atingisse um valor de densidade ótica de 0.6. Após o

crescimento, as células foram coletadas por centrifugação a 3.750 rpm por 4 minutos. O

sobrenadante da cultura foi descartado e as células de leveduras foram lavadas com 20

mL de TE (Tris 10mM, EDTA 1 mM, pH 8.0) e ressuspensas em 5 mL do mesmo

tampão, acrescidos de 250 µL de LiAc 2.5 M. A suspensão de células foi incubada a

28°C sob agitação constante (200 rpm) durante no mínimo 90 minutos.

As células de levedura, então competentes pelo tratamento descrito acima, foram

aliquotadas em frações de 300 µL e usadas imediatamente para as transformações.

3.11.1.2 – Transformação de leveduras

Às frações de 300 µL da suspensão de leveduras competentes, adicionou-se 5 µg

do DNA de interesse a ser inserido e 10 µL de DNA de esperma de salmão (10 mg/mL)

previamente desnaturado a 95°C. Após uma incubação de 30 minutos em estufa a 30°C

(sem agitação) foram adicionados 700 µL de PEG 4.000 (50%). Procedeu-se a

homogeneização do conteúdo delicadamente e o mesmo foi incubado por 1 hora, sem

agitação, a 30°C. Em seguida, as células foram submetidas a choque térmico a 42°C

(banho Maria), por 10 minutos, e logo após foram centrifugadas por um minuto a 3.750

rpm. O sobrenadante foi descartado e as células foram lavadas com 1 mL de água

mili-Q ou sorbitol 1M quando necessário. Após nova centrifugação nas mesmas

condições anteriores, 900 µL do sobrenadante foram descartados e as células foram

ressuspensas no sobrenadante residual e plaqueadas com pérolas de vidro em meio

sólido seletivo (SD - marcador). As placas foram incubadas a 30°C, por 72 horas (Ito e

cols. 1983).

Como controle negativo do experimento, foram utilizados apenas os 300 µL da

suspensão de leveduras, acrescidos do DNA de esperma de salmão (10 mg/mL)

previamente desnaturado.

43

3.11.2 - Concentração de cálcio citosólico livre em estresse ácido

Para a medida da concentração de cálcio citosólico livre foi utilizado o método

da Aequorina (Tisi e cols., 2002). As cepas analisadas foram transformadas (itens

3.11.1.1 e 3.11.1.2) com o plasmídeo contendo o gene que codifica para a apoaequorina,

sob regulação do promotor ADH1. Os plasmídeos foram obtidos com base na família de

vetores de expressão de leveduras, oito séries pVT, construída e caracterizada por

Vernet e cols. (1987). Dois plasmídeos foram utilizados nestas transformações, o

pVTU-AEQ1 e o pVTW-AEQ1, sendo que a única diferença entre eles deve-se ao

marcador auxotrófico presente em cada um dos mesmos, URA3 e TRP1,

respectivamente. Diante disso, o critério utilizado para a escolha do plasmídeo em cada

uma das transformações foi a compatibilidade do genótipo das cepas com cada um dos

vetores. Os plasmideos pVTU-AEQ1 e pVTW-AEQ foram gerados pela inserção do

fragmento do gene AEQ1 obtido com PCR do vetor pYX212-AEQ (Tisi e cols., 2002).

Para o experimento de monitoramento, as células foram pré-inoculadas em 5 mL

de meio YP glicose, a 30oC sob agitação constante de 200 rpm (Incubador Rotatório

New Brunswick Model G25) até a fase exponencial (5-6 X 106). Após serem coletadas

por centrifugação (3.750 rpm por 5 minutos) e lavadas três vezes com água mili-Q, as

células foram expostas as condições de estresse segundo item 3.3. Em seguida as células

foram centrifugadas a 3.750 rpm por 2 minutos e ressuspensas então em 0.1M de

tampão MES/Tris, pH 6.5, desta vez a uma densidade de 2.5 X 109 cels/mL.

Na etapa seguinte, 50 µM de coelenterazina (Sigma; solução estoque de 1µg/µL

dissolvidos em metanol) foram adicionados a 30 µL da suspensão de células e as

mesmas foram incubadas por 20 minutos à temperatura ambiente, no escuro. Este

procedimento é essencial para a reconstituição da aequorina funcional. Para remover o

excesso de coelenterazina as células foram lavadas três vezes com tampão MES 0.1M

pH 6.5 (200 µL para cada lavagem) com centrifugação de 2 minutos a 6.000 rpm. No

procedimento de preparo das amostras para leitura em luminômetro Berthold Lumat LB

9501/16 as células foram ressuspensas em 500 µL do mesmo tampão citado

44

anteriormente (5 X 107 cels/mL) e então transferidas para um tubo de luminômetro.

Para medir o cálcio citosólico (sinal de cálcio) a luminescência emitida foi monitorada

em intervalos de 10 s, por 6 min, antes do estímulo. Os dados obtidos foram transferidos

e analisados em computador acoplado ao equipamento.

3.12 - Capacidade tamponante de células e extrato celular

As células de S. boulardii e S. cerevisiae crescidas em meio YP glicose 4% até

D.O.600nm = 1,0 e submetidas ao estresse como já descrito no item 3.3 foram avaliadas

quanto ao efeito tamponante em relação à célula íntegra e também do extrato celular, ou

seja, células que tiveram a membrana rompida por maceração em nitrogênio líquido.

A capacidade tamponante foi determinada por titulação com solução de HCl

100mM. Um volume de 50 mL de células nas condições controle, expostas a pH 2, e

expostas a pH2 + 85mM de NaCl foram centrifugadas, lavadas duas vezes com água

Milli-Q e ressuspensas em volume final de 2 mL em água. O pH foi ajustado para 6,8

imediatamente após a coleta. Em uma alíquota de 1 mL de células ou de extrato celular

eram adicionados determinados volumes (0,01 mL) de ácido clorídrico 0,8 M e o pH

registrado a cada adição do ácido, até alcançarmos pH 1,7. Os resultados foram

expressos em nmoles de H+ por miligramas de células versus pH ou em nmoles de H+

por miligramas de proteína versus pH, no caso do extrato livre de células. Determinou-

se o peso seco antes e após a exposição ao estresse.

3.13 - Análise Lipídica por Cromatografia Gasosa

As amostras foram transportadas em ambiente resfriado até o laboratório de

Biotecnologia Ambiental e Biodiversidade do professor responsável Marcos Rogério

45

Tótola, no departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Viçosa, e os

resultados foram obtidos pelo método de análise lipídica por cromatografia gasosa

M.I.D.I. (Microbial Identification). Para serem utilizadas no aparelho de Identificação

Microbiana as amostras de membrana foram previamente submetidas às etapas de

extração de lipídeos antes da leitura no aparelho MIDI, como descrito a seguir:

Saponificação – Adicionou-se 1 mL do Reagente 1 (NaOH 3,75M em metanol e

água 1:1) em cada amostra, em seguida os tubos foram agitados em vórtex de 5 a 10

segundos e incubados em banho-maria a 100°C durante 5 minutos. Depois os tubos

foram novamente agitados em vórtex e incubados durante 25 minutos a 100°C.

Metilação – Após a etapa de saponificação os tubos foram acrescidos de 2 mL

do Reagente 2 ( 54,17% v/v de HCl 6M e 45,83% v/v de Álcool metílico ) e agitados 5

a 10 segundos em vórtex e incubados durante 10 minutos a 80°C.

Extração – Para a etapa de extração foi adicionado 1,25 mL do Reagente 3

(Hexano e Metil éter-butil éter na concentração 1:1) e centrifugados durante 10 minutos

em 200 rpm para que a fase aquosa fosse pipetada cuidadosamente e descartada.

Lavagem - Na fase orgânica restante 3 mL do Reagente 4 ( NaOH 0,3M ) foram

acrescentados e os tubos novamente centrifugados durante 5 minutos em 200 rpm.

Depois de centrifugadas a fase orgânica foi coletada e levada para análise no aparelho

de análise lipídica por cromatografia gasosa M.I.D.I.

3.14 - Dosagem de reservas energéticas

As cepas Saccharomyces foram crescidas em 200 mL de YP glicose 4%, sob

agitação, a 30°C até atingirem D.O.600nm= 1,0. O sedimento celular coletado a 3750 rpm

foi lavado duas vezes com meio YP e ressuspenso no mesmo volume de meio YP para

coleta dos controles. Para medida do peso seco foram coletados 6 mL da suspensão de

células em duplicatas. Na mesma solução coletou-se 6 mL para o tempo controle da

medida de ATP e 10 mL para o tempo controle de trealose e glicogênio. Após coleta

46

dos controles, centrifugou-se novamente e as células foram ressuspensas em igual

volume de HCl pH 2 e solução pH 2 + 85 mM de NaCl. Em seguida fez-se a coleta de

amostra para determinação de peso seco. Após o estresse, sob agitação 200 rpm, em

banho-maria a 37°C, amostras foram coletadas nos tempos 10, 30 e 60 minutos de

exposição.

3.14.1 Dosagem de trealose e glicogênio

A suspensão de células coletada nos tempos controle, 10, 30 e 60 minutos foi

centrifugada a 3750 rpm, a 4°C, por 5 minutos. Após centrifugação, desprezou-se o

sobrenadante, as células foram ressuspensas em solução de 0,25 mL de Na2CO3 0,25 M,

0,15 mL de ácido acético 1M e 0,6 mL de acetato de sódio 0,2 M, o pH final foi

ajustado para um valor em torno de 5. Depois de homogeneizadas as amostras foram

divididas em dois tubos de microcentrífuga. Em um dos tubos adicionou-se enzima

trealase (SIGMA) na concentração de 0,05 U/ mL e incubou-se em banho-maria a 37°C,

“overnigth”. No segundo tubo para medida de glicogênio adicionou-se enzima

amiloglucosidase (BOEHRINGER) na concentração de 1,2 U/ mL e incubou-se em

banho-maria a 57°C, “overnigth”. Após a incubação as amostras foram centrifugadas

por 3 minutos a 13000 rpm e o sobrenadante foi utilizado para dosagem de glicose. A

dosagem de glicose das amostras hidrolisadas com as enzimas trealase e

amiloglucosidase foi feita através do Método da Glicose-Oxidase. Alíquotas de 250 µL

de sobrenadante foram pré-incubadas durante 10 minutos, à temperatura de 30°C. Após

esta pré-incubação, adicionou-se à amostra 1 mL da mistura das soluções A (Glicose-

oxidase 100U/mg) e B (Ortodianisidine Dihydroclorid 1% p/v) na proporção de 100:1.

Depois de homogeneizadas, as amostras foram incubadas em banho-maria a 30°C

durante 10 minutos. Após esta incubação a reação de cor foi promovida pela adição de

0,5 mL de solução de H2SO4 56% e as amostras foram lidas em espectrofotômetro a 546

nm (adaptado de Parrou, J. L. et.al., 1997).

47

3.14.2 - Dosagem de níveis de ATP

Para determinação dos níveis de ATP coletou-se, por filtração, 6 mL da cultura

de células em D.O.600nm 1,0 ou da suspensão de células expostas em estresse. Aos

filtros contendo as células foi adicionado 1,5 mL de HClO4 1,2M e 1,5 mL de água

Milli-Q. Após homogeneização vigorosa, a mistura foi incubada a 4°C, “overnigth”.

Depois da incubação as amostras foram centrifugadas e uma alíquota do sobrenadante

foi diluída 125 vezes em tampão Tris-EDTA ( Tris base 0,04M e EDTA 0,001M em pH

7,5). Para preparo da reação enzimática com o complexo Luciferina-luciferase

(SIGMA), adicionou-se 100 µL do tampão Tris-EDTA a 50 µL da amostra diluída e no

momento da leitura no Luminômetro, acrescentou-se 120 µL da solução do complexo

Luciferina-luciferase. A luminescência foi detectada no Luminômetro Berthold Lumat

LB 9501/16 e expressa em URL (Unidade Relativa de Luminescência). Para conversão

da Unidade Relativa de Luminescência em concentração de ATP, foi utilizada uma

solução padrão de ATP na concentração de 2,5 x 10-5 µg/µL, onde a leitura da solução

padrão também foi feita seguindo os mesmos padrões de diluições das amostras

avaliadas (Hara, K. Y. e Mori, H., 2006).

3.15 - Estatística

Todos os experimentos descritos na metodologia foram feitos em duplicatas

técnicas e triplicatas biológicas, sendo que os significados estatísticos dos resultados

obtidos foram avaliados com a utilização do teste “t” de Student, utilizando 0,05 como

limiar de confiança.

48

Resultados

49

4 - Resultados

4.1 - Tolerância das cepas Saccharomyces ao suco gástrico e a seus componentes

4.1.1 – Efeito do pH ácido em cepas Saccharomyces cerevisiae

A sobrevivência de microrganismos probióticos é dependente da sua capacidade

de resistir às condições desfavoráveis pela passagem do trato gastrointestinal. Neste

contexto, a tolerância ao baixo pH gástrico e sais biliares têm sido utilizado como

critério para seleção de microrganismos potencialmente probióticos (Ouwehand, A.C. e

cols., 1999).

A tolerância de S. boulardii ao ambiente gástrico simulado (solução aquosa

contendo 85mM de NaCl, 3g/L de pepsina e pH 2), foi determinada medindo a

viabilidade ao longo do tempo de incubação em comparação com S. cerevisiae W303

(uma linhagem de laboratório) e com as linhagens selvagens provenientes de uma

coleção do laboratório da Universidade Federal de Minas Gerais, que apresentaram

tolerância significativa ao estresse de temperatura e alta capacidade de acumular

trealose em condições de estresse, UFMG 20 e UFMG 24 (Martins, F. S. e cols., 2008).

Nossos resultados demonstram que após 1 hora de exposição ao estresse gástrico

simulado, as cepas permaneceram com 25% de viabilidade, enquanto, S. boulardii

apresentou 80% de viabilidade, indicando maior tolerância em relação às outras cepas

Saccharomyces (Figura 2A).

O fluido gástrico tem grande importância como primeira defesa contra

patógenos entéricos, e pesquisas simulando este fluido tem sido bem documentada

(Smith, J. L., 2003; Tamplin, M. I., 2005). O estômago destaca-se por ter um papel

fundamental não só na digestão parcial dos alimentos, mas também na inativação e

morte de agentes patogênicos presentes nos alimentos antes da sua entrada no trato

gastrointestinal (Smith, J. L., 2003).

A resistência ácida é um importante fator na patogenicidade de bactérias

gastrointestinais e nas propriedades dos microrganismos probióticos. Portanto, a

viabilidade das células foi avaliada através da exposição dos componentes do ambiente

gástrico simulado separadamente, ou seja, 85 mM de NaCl, 3g/L de pepsina e pH 2.

50

Os resultados na figura 2B, que demonstram a viabilidade de S. cerevisiae W303

e S. boulardii expostas aos diferentes componentes do suco gástrico, constatam que,

pepsina e NaCl, não afetam significativamente a viabilidade das leveduras avaliadas.

Em contrapartida, a porcentagem de sobrevivência das células decresce drasticamente

em pH 2, e como previsto a cepa S. boulardii apresentou maior resistência frente ao

estresse ácido (Edwards-Ingram, L. e cols., 2007; Van Der AA Kuhle, A. e cols., 2005;

Fietto, J. L. R. e cols., 2004).

51

Figura 2 – (A) Tolerância das cepas Saccharomyces ao ambiente gástrico simulado. (B)

Efeito isolado dos componentes do ambiente gástrico simulado na viabilidade. S.

boulardii e S. cerevisiae W303, que foram expostas aos componentes do ambiente

gástrico simulado separadamente. Viabilidade foi avaliada durante 60-minutos de

exposição: pH 2, pepsina 3g/L e NaCl 85 mM.

0

20

40

60

80

100

120

0 20 40 60 80

% V

iab

ilid

ad

e

Tempo (min)

S. boulardii

UFMG 20

UFMG 24

w303

0

20

40

60

80

100

120

0 20 40 60 80

% V

iab

ilid

ad

e

Tempo (min)

Sb pepsina

Sb NaCl

Sb pH 2

W303 pepsina

W303 NaCl

W303 pH 2

B

A

52

4.1.2 Efeito protetor de íons na viabilidade ao estresse

Os resultados obtidos com a viabilidade das cepas Saccharomyces em pH 2 e

adição de 85 mM de NaCl (figura 3) revelaram que a adição de NaCl protegeu tanto S.

cerevisiae W303, quanto S. boulardii, dos efeitos deletérios do pH baixo. Podemos

observar este efeito protetor, após 1 hora de exposição, mais significativo em

S. boulardii (84% de sobrevivência) que em S. cerevisiae W303 (33% de

sobrevivência).

A especificidade do efeito protetor do sódio foi investigada. Diferentes íons

demonstraram efeito protetor na viabilidade de S. cerevisiae W303 e S. boulardii em

estresse ácido (Figura 3). Portanto a tolerância a ácido parece não corresponder a um

íon em específico, embora o efeito protetor do sódio tenha sido consideravelmente

maior em células de S. boulardii, e mais alta que os outros íons adicionados (Figura

4A). Em S. cerevisiae W303 (Figura 4B) podemos observar que a proteção mais

significativa, desta cepa, em pH 2 foi do íon cálcio, e que em 30 minutos de exposição a

proteção pelos íons cálcio e sódio se equivaleram. Estes resultados demonstram que

provavelmente exista algum mecanismo específico em S. boulardii em relação ao efeito

protetor do sódio que não é observado em S. cerevisiae W303.

Todos estes sais têm em comum o íon cloreto, para descartar a influência do

ânion nos diferentes íons. Estes dados corroboram com o maior efeito protetor da adição

de sódio ao pH 2, observadas na figura 3 da cepa S. boulardii em relação a W303.

Além do efeito protetor dos íons, podemos notar que avaliando a cepa

S. boulardii somente em pH 2, após 60 minutos de exposição, existe uma resistência a

esta condição que não se refere à proteções de íons, contudo esta resistência sugere

outro mecanismo de proteção por S.boulardii que não seja com o envolvimento de íons.

53

Figura 3 – Efeito protetor da adição de NaCl na viabilidade de S.boulardii e

S. cerevisiae W303.

0

20

40

60

80

100

120

0 10 20 30 40 50 60 70

% V

iab

ilid

ad

e

Tempo (min)

S. boulardii pH 2

S. boulardii pH 2 +NaCl

W303 pH 2

W303 pH 2 +NaCl

54

Figure 4 - Efeito de sais na tolerância ao pH 2 em S. boulardii (A) e W303 (B) - pH 2

(♦), NaCl (■), KCl (▲), CaCl2 (* ), MgCl2 (* ), LiCl (•).

0

20

40

60

80

100

120

0 10 20 30 40 50 60 70

% V

iab

ilid

ad

e

Tempo (min)

0

20

40

60

80

100

120

0 10 20 30 40 50 60 70

% V

iab

ilid

ad

e

Tempo (min)

A

B

55

4.2 - Viabilidade ao estresse ácido em cepas Saccharomyces selvagens e com

deleções nos genes que codificam proteínas envolvidas na homeostase do sódio

O efluxo de sódio em S. cerevisiae é mediado primariamente pelas Na+-ATPase

do tipo P2 codificada pelo gene PMR2/ENA locus contendo em tandem (ENA1-5)

(Garciadeblas, B. e cols. 1993). Os resultados apresentados na tabela 1 mostram um

aumento da viabilidade celular do mutante ena1-4∆ de 5,0% de sobrevivência para

67,3% em 1 hora de exposição ao estresse ácido quando adicionamos de 85mM de NaCl

ao pH 2. Estes resultados sugerem que o silenciamento das Na+-ATPases, além de

representar um importante fator para aumento da sobrevivência em ambiente ácido,

apresenta-se intensificado, com a adição de NaCl, nestas mesmas condições.

A participação de ATPases do tipo P em geral foi testada pela adição do

vanadato ao estresse ácido/NaCl. Este inibidor não afetou de forma significativa a

viabilidade celular do mutante ena1-4∆, entretanto a viabilidade da cepa selvagem

W303 aumentou consideravelmente na presença deste inibidor (Tabela 1). Vanadato

inibe ATPase do tipo P, no qual envolve o efluxo de H+ e Na+/K+. Estudo do screening

do genoma de S. cerevisiae identificou nove P2 ATPases incluindo Pma1p, Pma2p e as

Na+-ATPase Ena1-5p (Morsomme, P. e cols., 2000).

A adição de cicloheximida no ensaio de estresse ácido mais NaCl resultou em

uma diminuição da proteção apresentada tanto em S.boulardii quanto em S. cerevisiae

W303, sugerindo uma função parcial da síntese de proteína na proteção por NaCl

(Figura 5A e B). O perfil protéico deve ser melhor investigado, principalmente porque

avaliamos viabilidade e o uso de drogas não é recomendado, para permitir identificar os

alvos protéicos envolvidos nesta resistência.

O efeito protetor do sódio está presente em todas as cepas com mutações nos

genes que codificam para proteínas responsáveis pelo efluxo e compartimentalização do

sódio. Nossa hipótese é que a manutenção de uma determinada quantidade intracelular

do íon é necessária para resistir ao pH baixo, bem como alcançar o efeito de proteção

deste sal, e que a homeostase da pequena quantidade de íons parece ser a chave para

sinalização, qualquer que seja o mecanismo molecular que permita tal resposta.

56

Uma vez que o efeito protetor da adição do sódio observado parece ser maior em

S. boulardii, e que a proteção é similar no mutante ena1-4∆, decidimos investigar a

expressão do gene ENA1-4 em S. boulardii. Nossos dados mostram baixos níveis do

transcrito ENA1 em S. boulardii, no qual possui baixos níveis de expressão quando

comparado à cepa S. cerevisiae W303 (figura 6). Além disso, a análise de RT-PCR

mostrou que a transcrição de ENA1 foi afetada pela exposição ao estresse ácido,

adicionada de sódio, nas duas cepas de Saccharomyces avaliadas.

Os dados de expressão reforçam a hipótese de uma relação inversa entre

expressão/atividade dos genes ENA e resistência ao estresse ácido na presença de sódio.

Já que proteínas Ena1-4p foram descritas por serem responsáveis pelo efluxo de sódio

em condições alcalinas (Bañuelos M.A. e cols., 1998), examinamos então paralelamente

também a transcrição do gene NHA1, que é supostamente mais importante para

extrusão de sódio em condições de pH baixo (Bañuelos M.A. e cols., 1998). Os níveis

de expressão do mesmo foram muito inferiores àqueles apresentados por ENA1 em

ambas as cepas e afetado negativamente ao longo da exposição ao estresse ácido/NaCl

(Figura 6).

57

Tabela 1 – Efeito do pH 2 e adição de Na+ e Vanadato na viabilidade das cepas

analisadas.

As células de leveduras foram crescidas em YPD 4% até fase exponencial e submetidas

até 1 hora em pH 2 na presença ou ausência de 85mM de NaCl. Os dados representam

méDias, R. S. e desvios padrões de três experimentos provenientes de diferentes

culturas de células.

58

Figura 5 – Efeito de 5 µg/mL de cicloheximida na viabilidade de Saccharomyces

crescidas em meio YPD 4% e expostas em estresse ácido. S.boulardii (Painel A) e S.

cerevisiae W303 (Painel B) – pH 2 (♦), pH 2 + 85 mM NaCl (■), pH 2 + NaCl +

Cicloxemida (▲) e controle (*).

0

20

40

60

80

100

120

0 10 20 30 40 50 60 70

% V

iab

ilid

ad

e

Tempo (min)

0

20

40

60

80

100

120

0 10 20 30 40 50 60 70

% V

iab

ilid

ad

e

Tempo (min)

B

A

59

Figura 6 – Nível de transcrição dos genes ENA1 e NHA1 em S. boulardii e

S. cerevisiae W303 por RT-PCR. Células foram crescidas em YPD 4% até fase

exponencial e expostas em pH ácido acrescidos de 85mM de NaCl. Células crescidas

em YPD (colunas não preenchidas); Células expostas a 30 minutos de estresse em pH 2

+ 85 mM NaCl (colunas preenchidas). O gene da actina (ACT1) foi utilizado como

controle pela expressão constitutiva.

mR

NA

ENA1 NHA1

60

4.2.1. Variações do pH intracelular em cepas Saccharomyces selvagem e com

deleções em genes que codificam proteínas envolvidas na homeostase do sódio

A redução da viabilidade das células de leveduras em pH baixo, mesmo na

presença de 85mM de NaCl, pode estar relacionada ao pH intracelular (Sychrova e

cols., 1999; Kinclova-Zimmermannova, O. e cols., 2006). Nestas condições S.

boulardii, a cepa selvagem W303 e ena1-4∆ apresentaram, respectivamente, um pH

interno de 6,08 ± 0,01, 6,04±0,09 e 6,04 ±0,03 (Tabela 2). Sob as mesmas condições, o

mutante nha1∆ mostrou menor valor de pH intracelular (4,98±0,20) que os mutantes

duplo e triplo (6,58±0,11 e 6,78±0,11). Os valores de pH observados no mutante nha1∆

é diferente dos valores encontrados em outras cepas, incluindo o mutante ena1-4∆, e

esta diferença pode ser deletéria para as funções vitais da célula (Fernandes, A.R. e Sá-

Correia, I., 2001; Imai, T. e Ohno, T., 1995).

Posteriormente analisamos o acúmulo intracelular de Na+ em resposta ao pH

ácido. A figura 7 mostra o conteúdo de Na+ e K+ nas diferentes células de leveduras

crescidas em meio YPD e expostas em pH 2 adicionado de 85 mM de NaCl.

S. boulardii e todas as cepas que apresentam mutações no gene ENA1-4 foram capazes

de acumular mais sódio (e também potássio), quando comparadas com a cepa selvagem

S. cerevisiae W303. Por outro lado, todas as cepas analisadas perderam íons sódio e

potássio para o meio externo quando expostas ao pH 2+ 85 mM de NaCl até atingirem o

equilíbrio ( concentração interna = concentração externa = 85 mM) (Figura 7).

Podemos observar também um efluxo considerável do mutante ena1-

4∆nha1∆, este resultado sugere o envolvimento de outra proteína responsável pelo

efluxo de Na+/K+ em S. cerevisiae, que não Nha1p e Ena 1-4p. Os dados de acúmulo

demonstram que o efeito protetor de sódio em estresse ácido possui uma relação indireta

com o aumento da viabilidade em pH 2 + NaCl, mais importante do que a capacidade de

retenção de sódio pelas cepas analisadas.

61

Tabela 2 – pH intracelular de cepas Saccharomyces e mutantes envolvidos no transporte

de sódio, submetidos ao estresse ácido (pH 2 + 85 mM de NaCl)

Cepas pH interno

S. Boulardii 6,08±0,01

W303 6,04±0,09

ena1-4∆ 6,05±0,06

nha1∆ 4,98±0,20

ena1-4∆nha1∆ 6,58±0,11

ena1-4∆nha1∆nhx1∆ 6,78±0,04

62

Figura 7 – Alterações no conteúdo intracelular de Na+ (Painel A) e K+ (Painel B) em

cepas Saccharomyces. As células foram crescidas em meio YPD 4% até fase

exponencial e submetidas ao pH 2 + 85 mM de NaCl. S. boulardii (♦), S. cerevisiae

W303 (■), ena1-4∆ (▲), nha1∆(* ), nha1∆ena1-4∆ (* ) e nha1∆ena1-4∆nhx1∆(•).

0

100

200

300

400

500

600

0 10 20 30 40 50 60 70

nm

ole

s/ m

g d

e c

élu

las

Tempo (min)

0

100

200

300

400

500

600

0 10 20 30 40 50 60 70

nm

ole

s /

mg

de

lula

s

Tempo (min)

B

A

63

4.3 - Participação da H+- ATPase de membrana plasmática em resposta ao estresse

gástrico

Quando a levedura enfrenta condições de baixo pH às células necessitam do

sistema de efluxo de prótons H+. Geneticamente bem caracterizadas, as H+-ATPases de

S. cerevisiae e de Schizosacharomyces pombe são codificadas pelo gene PMA1

(Serrano, R. e cols., 1986). Um segundo gene, PMA2, codificando para a H+-ATPase e

mostrando alta homologia com PMA1, está presente em ambos os microrganismos, no

entanto, a Pma2 p é expressa em níveis muito baixos e sua função fisiológica ainda não

está bem estabelecida (Portillo, F., 2000).

Sabe-se também que Pma1p gera um gradiente eletroquímico de prótons capaz

de impulsionar transportes secundários, contribuindo para regulação do pH intracelular

e por conseqüência a viabilidade. Portanto investigamos a atividade H+-ATPase em

estresse ácido na presença de baixos níveis de sódio, em S. boulardii, S. cerevisiae

W303 e mutante correspondente ena1-4∆ (Figura 8).

A atividade H+-ATPase foi 2 vezes maior nas cepas S. boulardii e no mutante

ena1-4∆, no qual demonstra uma contribuição positiva da atividade Pma1p ao estresse

ácido submetido. Ativação da H+-ATPase in vivo é essencial para conter os efeitos de

vários tipos de estresses, incluindo o decréscimo do pH (Carmelo, V. e cols., 1996).

Apesar dos resultados de ativação da H+-ATPase terem sido maiores em resposta ao

estresse por S. boulardii, não visualizamos nenhuma correlação entre atividade e

variações no pH interno da cepa probiótica e de S. cerevisiae W303.

64

Figura 8 – Ativação da H+-ATPase de membrana plasmática nas cepas S. boulardii (♦),

S. cerevisiae W303 (■) e ena1-4∆ (▲) crescidas em YPD 4% até fase exponencial e

expostas a pH 2 + 85 mM de NaCl durante 30 e 60 minutos.

0

0,1

0,2

0 15 30 45 60 75

Ati

vid

ad

e H

+-A

TP

ase

(µm

ol.

Pi.

min

-1.m

g d

e p

rote

ína

)

Tempo (min)

65

4.4 - Potencial de membrana das células submetidas ao estresse ácido

Para verificarmos se a sensibilidade das células de leveduras ao pH ácido resulta

na despolarização da membrana plasmática, decidimos comparar o potencial de

membrana (∆ѱ) das cepas Saccharomyces. Utilizamos a distribuição de Nernstian com

o uso do marcador bis-oxonol trimetina (1,3-ácido dibutilbarbitúrico) (Di-BaC-4(3)). O

potencial de membrana plasmática descrito por Borst-Pauwels, (1981) em S. cerevisiae,

está entre -50mV a -130mV.

Os resultados de potencial de membrana obtidos antes e após a exposição das

cepas em pH 2 e adicionado de 85mM de NaCl, podem ser visualizados na tabela 3.

Observamos que os valores iniciais de potencial de membrana das cepas S. boulardii,

W303 e ena1-4∆ foram de -98,4mV, -48,7mV e -83,7mV, respectivamente. O valor de

potencial de membrana mesmo nas condições iniciais do experimento demonstra um

potencial mais negativo da cepa S. boulardii e de ena1-4∆.

Com a exposição ao pH 2 ocorre uma despolarização da membrana plasmática

em todas as cepas analisadas. Contudo a adição de sódio ao meio ácido retarda a

despolarização. Após 30 minutos observamos uma recuperação de potencial de

membrana de S. boulardii de -76,5 para -90,4mV. Em S. cerevisiae W303 de +24,9 para

-18,5mV e do mutante ena1-4∆ de -69,8 para -88,5mV. Estes resultados corroboram ao

efeito protetor da adição de sódio em estresse ácido, conforme dados de viabilidade

apresentadas anteriormente e, por outro lado, um potencial de membrana plasmática

mais negativo (S. boulardii) deve estar relacionado à maior resistência da cepa

probiótica ao ambiente ácido (pH 2).

66

Tabela 3 – Potencial de membrana das cepas Saccharomyces

As células de leveduras foram crescidas em YPD 4% até fase exponencial e

submetidas até 1 hora em pH 2 na presença ou ausência de 85mM de NaCl. Os dados

representam méDias, R. S. e desvios padrões de três experimentos provenientes de

diferentes culturas de células.

Potencial de membrana (mV)

67

4.5 - Análise de alterações metabólicas que podem esclarecer a maior resistência da cepa S. boulardii frente ao estresse ácido 4.5.1 - Avaliação da homeostase do cálcio em cepas Saccharomyces submetidas ao estresse ácido

O cálcio tem uma função ampla e importante na célula, como controle da

expressão gênica, exocitose, rearranjo do citoesqueleto e fisiologia celular (Iida, H. e

cols., 1990). Como para todo mensageiro secundário, a concentração de cálcio livre no

citoplasma é mantida em níveis muito baixos, variando entre 50 a 100 nM em células de

leveduras ( Halachmi, D. e Eilam, Y., 1989). O aumento da concentração interna de

cálcio pode ocorrer em resposta a diferentes sinais (Sanders, D. e cols., 2002) afetando

diversos processos celulares que incluem a regulação da expressão gênica, progressão

do ciclo celular, processamento e síntese de proteínas, apoptose, o transporte nuclear, a

segregação de cromossomos (Rudolph,H. K. e cols, 1989; Iida, H. e cols., 1990;

Okorokov, A. L. e Lehle, L., 1998; Durr, G. e cols., 1998; Yoshida, T. e cols., 1994;

Corbertt e Michalak, 2000; Carrion e cols., 1999).

Para avaliar o papel do cálcio na resposta ao estresse ácido das cepas

Saccharomyces, analisamos o acúmulo do cálcio e a atividade da Ca+2-ATPase vacuolar

(Pmc1p) nas cepas submetidas ao estresse ácido a 30°C e coletadas ao longo da

exposição. Foi possível observar que a cepa S. cerevisiae W303 acumula o dobro de

cálcio quando comparada a S. boulardii na condição controle, ou seja, cultivadas em

meio rico (YPD 4%) e que ao longo da exposição ao estresse ácido ocorre uma perda

considerável (mais de 50%) deste íon pela cepa W303. No probiótico S. boulardii houve

perda de no máximo 40% de cálcio, indicando a manutenção dos estoques do íon,

podendo contribuir para a sinalização e ativação das vias de resposta ao estresse (Figura

9).

Dos sistemas de transporte de cálcio, as Ca+2-ATPases são de interesse

especial, devido à importância do cálcio como sinalizador celular (Berridge, M. J. ,

1993). Muitas funções celulares são direta ou indiretamente reguladas pela concentração

de cálcio livre, o que faz com que mudanças drásticas na homeostase de cálcio causadas

por condições de estresse, sejam incompatíveis com a vida. Os resultados da atividade

68

da bomba Ca+2-ATPase (Pmc1p) (Figura 10) mostram que S. cerevisiae reduz o

seqüestro de cálcio em 75% em relação ao controle nos primeiros 5 minutos de

exposição, após 30 e 60 minutos a cepa S. cerevisiae recupera o seqüestro do cálcio em

cerca de 25%.

Para confirmar o perfil observado com o acúmulo e atividade da bomba

responsável pelo sequestro de cálcio, as mesmas cepas foram avaliadas quanto ao sinal

intracelular de cálcio em estresse ácido, através de um ensaio de aequorina. Os

resultados representados na figura 11, demonstram, como esperado, que a cepa S.

cerevisiae W303 possui maior nível de cálcio citosólico livre que a cepa S. boulardii,

mesmo na condição controle, e que mesmo depois da exposição em pH 2 a cepa

probiótica permanece com níveis de cálcio citosólico livre ainda menores que W303.

69

Figura 9 – Medida de cálcio celular total, em cepas Saccharomyces crescidas em YPD

4% até D.O.600nm 1,0 e submetidas ao pH 2 por 5, 15, 30 e 60 minutos. S. boulardii

(barras azuis)e S. cerevisiae (barras vermelhas). Não há diferença estatisticamente

significativa entre os tempos 5, 15, 30 e 60 minutos das cepas submetidas ao estresse,

avaliadas pelo teste t de Student (P< 0,05).

0

20

40

60

80

100

120

140

Controle 5 15 30 60

mm

ole

s d

e C

a+

2/K

g d

e m

ass

a s

eca

Tempo (min)

70

Figura 10 – Atividade Ca+-ATPásica das cepas Saccharomyces crescidas em YPD 4%

até D.O.600nm 1,0 e submetidas ao pH 2 por 5, 30 e 60 minutos. S. boulardii (barras

azuis) e S. cerevisiae W303 (barras vermelhas) - teste t de Student (P< 0,05).

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Controle 5 30 60

Ati

vid

ad

e C

a+

2-A

TP

ási

ca

(nm

ole

s d

e P

i.m

in-1

.mg

de

pro

teín

a -

1)

Tempo (min)

71

Figura 11 – Sinal de cálcio das cepas Saccharomyces crescidas em YPD 4% até

D.O.600nm 1,0 e submetidas ao pH 2 por 30 e 60 minutos. S. boulardii (barras azuis) e S.

cerevisiae W303 (barras vermelhas).

0

100

200

300

400

500

600

700

Controle pH 2 30 pH 2 60

UR

L

72

4.5.2 - Capacidade tamponante das cepas Saccharomyces após estresse ácido

Adicionalmente com o objetivo de verificar a capacidade maior sobrevivência

demonstrada pela cepa S. boulardii, verificamos a capacidade tamponante de células e

do extrato celular quando expostos ao pH 2.

Podemos observar na figura 12 que as células de S. boulardii possuem maior

capacidade tamponante que S. cerevisiae W303, pois notamos um deslocamento para

esquerda da curva de tamponamento da cepa W303, tanto em condições controle,

quanto após 1 hora de exposição ao estresse ácido.

Como esperado, a capacidade tamponante do conteúdo intracelular é

significativamente maior que da levedura intacta. Os dados apresentados sugerem que a

maior resistência observada ao estresse ácido por S. boulardii pode estar vinculada a sua

maior capacidade tamponante do conjunto de componentes intracelulares desta cepa.

73

Figura 12 – Capacidade tamponante das cepas Saccharomyces crescidas em meio YPD

4% até D.O.600nm 1,0 e submetidas ao estresse ácido. Painel A: Capacidade tamponante

das células S.boulardii (•), S. boulardii exposta a pH 2 (○), S. cerevisiae W303 (■) e S.

cerevisiae W303 exposta a pH 2 (□); Painel B: Capacidade tamponante dos extratos

celulares S.boulardii (•), S. boulardii exposta a pH 2 (○), S. cerevisiae W303 (■) e S.

cerevisiae W303 exposta a pH 2 (□).

B A

74

4.5.3 - Análise qualitativa das alterações na composição lipídica de membrana das cepas Saccharomyces submetidas ao estresse ácido

No presente trabalho adaptou-se a Distância Euclidiana para avaliação das

diferentes porcentagens lipídicas da membrana. Desta maneira, Distâncias Euclidianas

foram calculadas entre os resultados obtidos para cada procedimento de amostragem.

Logo, quanto menor a Distância Euclidiana, menor a alteração lipídica da membrana.

Os resultados da composição lipídica da membrana de S. boulardii e

S. cerevisiae W303 podem ser observados na figura 13. Ao longo da exposição das

cepas ao estresse ácido podemos observar que, existem alterações na composição

lipídica da membrana da cepa W303, distanciando-a da composição lipídica original, ou

melhor, na condição controle.

A variação na composição lipídica da membrana em S. boulardii foram menos

drásticas que na cepa W303 em pH 2 (HCl). Entretanto a adição de sódio, ao estresse

ácido, parece ter diminuído os mecanismos que promoveram estas alterações em W303,

sugerindo que ao detectar que o estresse ácido pode levar a perda de viabilidade, esta

cepa promove modificações lipídicas na membrana na tentativa de adaptação nesta

condição.

Em porcentagem, verificamos que alterações lipídicas na membrana da cepa

W303, exposta a pH 2, foi observada em quase todos os ácidos graxos quantificados,

contudo, as principais modificações foram detectadas quanto ao ácido oléico (18:1) que

aumentou a porcentagem de 29,76 para 33,52%, após 30 minutos de exposição em pH

2, ao ácido araquídico (20:0) de 0,34 a 0,32% e também o ácido gadoléico (20:1w9) de

0,54 a 031%.

75

Figura 13 – Dendograma da análise lipídica da membrana plasmática de S. cerevisiae

W303 e S. boulardii. Células crescidas em YPD 4% até fase exponencial e submetidas

ao estresse em pH 2 e acrescidos de 85mM de NaCl.

Distância Euclidiana

76

4.5.4 - Análise quantitativa das reservas energéticas durante a exposição ao

estresse ácido

Nos resultados apresentados na figura 14A podemos notar que S. boulardii

acumula 7 vezes mais trealose do que S. cerevisiae W303 nas condições controle.

Segundo Thevelein, J.M. (1984), as células de leveduras quando se encontram em fase

de crescimento exponencial em glicose, contém baixas concentrações de trealose. Após

30 minutos de exposição ao estresse ácido S.boulardii consegue mobilizar trealose

ocorrendo perda gradual deste carboidrato. Em se tratando da cepa S. cerevisiae W303,

apesar do conteúdo inicial normal de trealose nestas condições (0,5 a 0,85 mg de

trealose/ 100mg de massa seca, segundo Alcarde e Basso, 1997), durante a exposição ao

pH 2 não observamos mobilização deste açúcar reserva. Segundo Soumalainem e Pfaffli

(1961) a maior viabilidade celular em leveduras, envolvidas no processo de panificação,

eram decorrentes do elevado teor de trealose; deste modo, a função do mesmo seria de

proteção às células contra autólise.

Os teores de glicogênio demonstram uma diferença significativa entre o

conteúdo do mesmo em S. boulardii e em S. cerevisiae W303 (Figura 14B). Durante a

exposição ao estresse ácido a cepa probiótica S. boulardii reduziu em 86% o conteúdo

de glicogênio, com a mesma tendência observamos o mutante ena1-4∆, enquanto

S. cerevisiae W303 parece manter os teores de glicogênio em 30 minutos de exposição

em pH baixo, estes dados podem estar relacionados à perda de viabilidade durante o

estresse em S. cerevisiae W303 e consumo de glicogênio pelo aumento do metabolismo

por S. boulardii.

Deste modo, segundo o consumo de glicogênio durante o estresse ácido por

S. boulardii, avaliado neste experimento, sugere a utilização deste açúcar de reserva

para atividade metabólica em defesa ao estresse submetido.

A concentração de ATP (adenosina 5’-trifosfato) foi determinada utilizando um

ensaio de geração de luminescência envolvendo o complexo luciferina-luciferase, capaz

de formar um produto eletronicamente excitado e emitir luz, e a luz da reação é medida

por fluorescência (Roucou e cols., 1999).

77

As células de leveduras são capazes de gerar ATP para preservar funções

celulares fundamentais, tais como: gradientes iônicos, que atravessam as membranas

celulares, controle na geração de sinalização intracelular, síntese de proteínas e

progressão do ciclo celular.

Os resultados apresentados na figura 14C demonstram que S. boulardii consome

o conteúdo de ATP ao longo do estresse ácido, iniciando com níveis de 1720,5 µg de

ATP por grama de células, tendo redução das taxas de ATP em até 98% após 30

minutos em pH 2. Em S. cerevisiae W303 os níveis de ATP são mantidos em torno de

1033,02 µg de ATP por grama de células, mesmo após 30 minutos de exposição. Os

níveis de ATP observados, ao longo da exposição de cepas Saccharomyces ao estresse

ácido, permite sugerir que a indução da H+-ATPase de S. boulardii (figura 8) está

diretamente relacionada com os níveis intracelulares decrescentes de ATP (figura 14C).

Entretanto, não visualizamos o mesmo perfil na cepa S. cerevisiae W303, no qual nos

permite relacionar a não mobilização dos níveis de ATP à perda de atividade metabólica

em se tratando dos parâmetros analisados neste trabalho.

78

Figura 14 – Conteúdo de trealose (A), glicogênio (B) e ATP (C) em cepas

Saccharomyces crescidas em meio YPD 4% até D.O.600nm 1,0 e submetidas ao estresse

ácido pH 2 (símbolos não preenchidos) e pH 2 + 85 mM de NaCl ( símbolos

preenchidos) durante 30 e 60 minutos. S. boulardii (□, ■), S. cerevisiae W303 (∆, ▲) e

o mutante ena1-4∆(○,•).

A

B

C

79

Discussão

80

5 - Discussão A sobrevivência de microrganismos probióticos é dependente da sua habilidade

de resistir à passagem do trato digestivo. Neste contexto, tolerância ao pH baixo e sais

biliares têm sido utilizados como critérios de seleção de microrganismos com potencial

probiótico (Ouwehand, A.C. e cols., 1999).

O fluido gástrico tem grande importância como primeira defesa contra

patógenos entéricos, e pesquisas simulando este fluido têm sido bem documentadas

(Smith, J. L., 2003; Tamplin, M. I., 2005). O estômago destaca-se por ter um papel

fundamental não só na digestão parcial dos alimentos, mas também na inativação e

morte de agentes patogênicos presentes nos alimentos antes da sua entrada no trato

gastrointestinal (Smith, J. L., 2003).

Estudos preliminares de tolerância a simulação de ambientes gástrico,

pancreático e intestinal, mostraram uma resistência maior de S. boulardii, comparado a

S. cerevisiae W303 (Fietto, J. L. R. e cols., 2004). Neste trabalho, ao avaliarmos a

tolerância de S. boulardii ao ambiente gástrico simulado (solução aquosa contendo

85mM de NaCl, 3g/L de pepsina e pH 2), em comparação com S. cerevisiae W303

(uma linhagem de laboratório) e com outras linhagens S. cerevisiae UFMG 20 e UFMG

24, depois de 1 hora de exposição ao estresse, S. boulardii apresentou maior tolerância

em relação as demais cepas estudadas, representando uma característica primordial a ser

analisada em uma cepa potencialmente probiótica.

Os efeitos dos diferentes componentes do meio gástrico simulado foram

investigados com o objetivo de esclarecer o envolvimento dos mesmos na perda de

viabilidade das células. Nós observamos que a exposição a NaCl e a pepsina,

separadamente, não são capazes de afetar significativamente a viabilidade celular. Por

outro lado, identificamos que o principal componente gástrico responsável pela

diminuição drástica da viabilidade, foi o pH ácido (pH 2), e que a adição de NaCl nesta

condição restabeleceu a resistência observada anteriormente em estresse gástrico

simulado. A resistência a baixo pH demonstrada pela cepa S. boulardii , consiste em um

importante fator para a seleção de microrganismos a serem utilizados como probióticos.

Nossos resultados estão de acordo com outros trabalhos que já comprovaram que a cepa

81

S. boulardii é altamente resistente ao ambiente ácido (Fietto, J. L. R. e cols., 2004; Van

Der AA Kuhle, A. e cols., 2005; Edwards-Ingram, L. e cols., 2007).

Após identificarmos o efeito protetor da adição de NaCl quanto a viabilidade em

pH 2, resolvemos investigar a especificidade do NaCl, nesta condição, com adição de

diferentes íons conjugados do mesmo ânion (cloreto). Os diferentes íons analisados

promoveram efeito protetor tanto em S. boulardii quanto em S. cerevisiae W303.

Observamos que na cepa S.boulardii o efeito protetor do sódio foi mais evidente que os

íons cálcio, potássio e magnésio, entretanto apenas o íon lítio não apresentou uma

proteção proeminente, provavelmente nas concentrações que utilizamos este íon pode

ter apresentado uma toxicidade maior do que o efeito protetor. Em contrapartida na cepa

W303 o efeito protetor foi mais intensa com a adição do íon cálcio em pH 2, e isto, nos

permite sugerir, que seria importante a investigação da homeostase do cálcio, em

relação a cepa W303, nestas condições.

Considerando que o ensaio foi realizado a 37°C (temperatura corporal), e que

dados na literatura demonstram que em S. cerevisiae sob pequenas elevações de

temperatura de incubação pode gerar alterações no perfil de proteínas (Miller e cols.,

1979), nós resolvemos investigar o perfil da síntese protéica neste contexto. A resposta

ao estresse não resulta somente no reparo de possíveis danos, mas também leva à

aquisição de tolerância ao estresse que o gerou e, muitas vezes a outros tipos de

estresses (Lewis, J. G. e cols., 1995).

A cicloheximida foi utilizada no trabalho de Ludovico, P. e cols., (2001), para

determinar o envolvimento de processos de apoptose em células de S. cerevisiae

expostas em ácido acético (pH ∼ 2), no qual demonstraram que a morte induzida por

concentrações mais baixas de ácido acético (20-80 mM) foi parcialmente inibida por

cicloheximida, evidenciando que nestas concentrações foi possível detectar diferentes

alterações típicas de apoptose.

A adição de cicloheximida no ensaio de pH 2 acrescido de sódio resultou em

uma diminuição da resistência apresentada por S. boulardii, sugerindo um papel, ainda

que parcial, de síntese protéica na resposta ao estresse, e descartando, de fato, processos

apoptóticos nestas condições. Diante do fato de que avaliamos viabilidade celular, a

82

utilização de uma droga como a cicloheximida não é ideal para ensaios de resistência,

sugerimos então, que o perfil protéico seja melhor investigado, para permitir identificar

os alvos protéicos envolvidos no fenômeno de resistência/susceptibilidade.

O modo de ação para que se estabeleça o efeito positivo dos íons, deve envolver

a homeostase iônica. Em leveduras, a manutenção da homeostase de Na+ e K+ é

dependente de sistemas transportadores responsáveis pelo influxo e efluxo de sais, tais

como a bomba exportadora de sódio Ena1p (Benito B. e cols., 1997), permutadores de

Na+/H+ Nha1p localizado na membrana plasmática, Nhx1p permutador prevacuolar

(Nass, R. e cols., 1998) e Vnx1p descrito como transportador presente na membrana do

vacúolo responsável pela homeostase de íons Na+ e K+ e regulação do pH vacuolar

(Cagnac, O. e cols., 2007). Além da captação de Na+ e K+ pelos transportadores Trk1p e

Trk2p (Ko, C. H. e Gaber, R.F., 1991) existem outros canais menos específicos como o

Nsc1p, ainda não identificado geneticamente (Bihler, H. e cols., 2002).

Neste trabalho, investigamos a relação da homeostase de sódio com o efeito

protetor do mesmo observado nas células submetidas ao pH 2, utilizando cepas com

deleções em genes que codificam para proteínas envolvidas no sistema de regulação

deste íon. Nossos resultados evidenciam um maior aumento da viabilidade celular do

mutante ena1-4∆ submetido ao estresse ácido na presença do íon sódio, quando

comparado à cepa selvagem. Este fenótipo é semelhante ao fenótipo observado para a

cepa S. boulardii que apresentou maior resistência a pH ácido na presença de NaCl.

Este dado sugere que a baixa extrusão de sódio por Ena1-4p seja um fator importante na

resposta ao estresse ácido. A atividade e aumento de expressão de ENA1-4 têm sido

descrito na literatura em resposta ao estresse alcalino e altas concentrações de sais

(Nelson e Nelson, 1990; Haro e cols.,1991; Marquez e Serrano, R., 1996), visto que os

principais participantes da ativação deste gene compreendem, as vias de sinalização da

calcineuria, Rim101 e Snf1 (Platara e cols., 2006). Não há relatos na literatura do

envolvimento da proteína Ena1-4p em estresse ácido.

De acordo com esses resultados iniciais, determinamos a expressão do gene

ENA1-4 em S. boulardii, que apresentou níveis muito baixos deste transcrito, quando

comparada a cepa S. cerevisiae W303, mesmo nas condições controle dos ensaios S.

83

boulardii possui expressão quase nulas do gene ENA1-4, e após a exposição em pH 2

mais NaCl a transcrição deste gene foi consideravelmente reduzida em ambas as cepas

avaliadas, reforçando a hipótese de uma relação inversa entre expressão/atividade dos

genes ENA e resistência ao estresse ácido na presença de sódio. Os dados de expressão

por RT-PCR explicam também a semelhança do fenótipo observado entre S. boulardii e

o mutante ena1-4∆ sob condições de estresse ácido e adição de baixas concentrações de

sódio, presumindo um envolvimento da diminuição do efluxo de sódio para aumento da

viabilidade.

A participação de ATPases do tipo P em geral foi testada pela adição do

vanadato ao estresse ácido. Este inibidor não afetou de forma significativa a viabilidade

celular do mutante ena1-4∆ submetido ao estresse (acídico + NaCl 85 mM), mas

aumentou significativamente a viabilidade da cepa selvagem, provavelmente pela

inibição de Ena1-4p. Surpreendentemente, o vanadato exerceu um efeito contrário em S.

boulardii. Sugerimos então um possível envolvimento de outras ATPases do tipo P na

resposta, pois como demonstrado a expressão de ENA1 em S. boulardii é muito baixa.

Quando a levedura enfrenta condições de baixo pH as células necessitam do

sistema de efluxo de prótons H+. Geneticamente bem caracterizadas, as H+-ATPases de

S. cerevisiae e de Schizosacharomyces pombe são codificadas pelo gene PMA1

(Serrano, R. e cols., 1986). Sabe-se também que Pma1p gera um gradiente

eletroquímico de prótons capaz de impulsionar transportes secundários, contribuindo

para regulação do pH intracelular e por conseqüência a viabilidade.

Desta forma, o perfil de ativação da H+-ATPase nas cepas S. boulardii e

ena1-4∆ demonstrou uma contribuição positiva na proteção contra o estresse ácido

submetido, em relação a S. cerevisiae W303. Os resultados obtidos sugerem um

envolvimento na regulação negativa por Ena1-4p na ativação da H+-ATPase de

membrana plasmática sob estresse ácido adicionado de sódio.

Após as evidências de que as cepas S. boulardii e o mutante ena1-4∆ são

capazes de responder ao estresse ácido através da ativação da H+-ATPase

diferentemente de S. cerevisiae W303, decidimos verificar o pH interno das cepas

nestas condições.

84

A redução da viabilidade das células de leveduras em pH baixo, mesmo na

presença de 85mM de NaCl, pode estar relacionada ao pH intracelular (Sychrova e

cols., 1999; Kinclova-Zimmermannova, O. e cols., 2006). Nestas condições S.

boulardii, a cepa selvagem W303 e ena1-4∆ não apresentaram diferenças significativas

de pH intracelular após exposição ao pH 2 e NaCl. Estes dados permitem-nos sugerir

que provavelmente em pH ácido não há influxo indiscriminado de prótons em células

submetidas ao estresse, e que apesar dos resultados de ativação da H+-ATPase terem

sido maiores em resposta ao estresse por S. boulardii, não visualizamos nenhuma

correlação entre atividade e variações no pH interno da cepa probiótica e de S.

cerevisiae W303.

No trabalho de Malakar, D. e cols., (2006) observaram um aumento da atividade

H+-ATPásica, depois de 2 horas de exposição de S. cerevisiae, a 10 mM de HCl (pH 2)

e uma subseqüente queda dessa atividade a níveis basais após estas duas horas, e que

apesar da adição de S-adenosil-L-metionina (AdoMet), para proteção em estresse ácido,

ter diminuído a redução do pH interno, o perfil de atividade H+-ATPásica foi o mesmo

observado anteriormente.

Neste contexto, nosso próximo passo foi relacionar a ativação da H+-ATPase

observada na cepa S. boulardii e no mutante ena1-4∆ com o potencial de membrana e a

conseqüente despolarização da membrana sob estresse ácido. A membrana de S.

boulardii e do mutante ena1-4∆ são hiperpolarizadas em comparação a S. cerevisiae

W303 e com a exposição ao pH 2 observamos uma despolarização da membrana

plasmática em todas as cepas analisadas. Entretanto, demonstramos também que a

adição de sódio ao meio ácido retarda consideravelmente esta despolarização sofrida em

conseqüência da exposição ao pH 2.

Estes resultados corroboram com o efeito protetor da adição de sódio em

estresse ácido em relação aos dados de viabilidade apresentadas anteriormente e, por

outro lado, sugerimos que o potencial de membrana plasmática mais negativo

apresentados por S. boulardii deve estar relacionado à maior resistência da cepa

probiótica ao ambiente ácido (pH 2).

85

Observamos que mesmo após 1 hora de exposição em pH 2 a cepa S. boulardii

apresentou viabilidade maior que as outras cepas Saccharomyces avaliadas que não

corresponde ao efeito protetor de íons. Estes dados sugerem mecanismos de resposta ao

estresse ácido em S. boulardii que atuam de maneira independente da proteção de íons e

que não são identificadas nas cepas S. cerevisiae analisadas.

Com o intuito de esclarecer os mecanismos que envolvem esta resposta

observada na cepa S. boulardii em pH 2, inicialmente avaliamos a homeostase do íon

cálcio nestas condições. Os sistemas de transporte que retiram Ca+2 do citoplasma estão

presentes em todas as células sendo responsáveis pela manutenção da concentração de

cálcio citoplasmático em nível fisiológico (Cunningham e Fink, 1994; Clapham, 1995;

Sanders, D. e cols., 1999). Acredita-se que esses mecanismos responsáveis pela

homeostase tornaram-se ideais para subseqüente evolução de vias de sinalização,

baseados na elevação transitória da concentração de cálcio citosólico.

O aumento da concentração interna de cálcio pode ocorrer em resposta a

diferentes sinais (Sanders, D. e cols., 2002) afetando diversos processos celulares que

incluem a regulação da expressão gênica, progressão do ciclo celular, processamento e

síntese de proteínas, apoptose, o transporte nuclear e a segregação de cromossomos

(Rudolph,H. K. e cols, 1989; Iida, H. e cols., 1990; Yoshida, T. e cols., 1994;

Okorokov, A. L. e Lehle, L., 1998; Durr, G. e cols., 1998; Carrion e cols., 1999;

Corbertt e Michalak, 2000).

Os nossos resultados envolvendo a homeostase de cálcio em estresse ácido,

demonstram que a cepa S. cerevisiae W303 apresenta níveis de íons cálcio e atividade

Ca+2-ATPásica consideravelmente mais elevados que S. boulardii, e que após exposição

em estresse ácido a levedura W303 diminui a atividade da Ca+2 –ATPase vacuolar

drasticamente, perdendo cálcio do vacúolo, promovendo assim, elevações absurdas de

cálcio citosólico livre; estes fatos não são observados na cepa S. boulardii, sugerindo

que apesar da exposição ao pH 2, esta não é afetada, quando se tratando de aumento dos

níveis de cálcio citosólico livre.

Sabemos que as proteínas funcionam como ácidos e bases orgânicas

tamponando o citoplasma (Nelson e Lox, 2004). Subseqüentemente determinamos que a

86

cepa S. boulardii tem maior capacidade tamponante que S. cerevisiae W303 sob

estresse ácido, tanto da célula íntegra quanto do extrato celular, representando mais um

fator para demonstrar a maior resistência de S.boulardii frente ao estresse ácido.

Outros parâmetros foram avaliados para esclarecer os efeitos do pH ácido no

metabolismo de S. cerevisiae W303 e S. boulardii. Dentre eles, fizemos uma análise das

alterações na composição lipídica da membrana durante a exposição ao estresse ácido e

também com adição de NaCl.

As características dinâmicas e estruturais da membrana podem mudar pelas

alterações das condições ambientais, ou seja, mudança na composição molecular da

membrana ou pela adição de moléculas estranhas que interagem com os constituintes da

membrana. Isso explica porque mudanças na fluidez da membrana são observadas em

resposta a muitos estresses ambientais, e porque as células mantêm um ótimo nível de

fluidez dentro da matriz lipídica (Beney, L. e Gervais, P. , 2001).

Através da análise qualitativa das alterações lipídicas da membrana podemos

observar que a cepa S. cerevisiae W303 numa tentativa de melhor adaptação a condição

de estresse ácido na qual foi submetida, alterou consideravelmente a composição

lipídica da membrana plasmática, entretanto tais modificações não foram identificadas

na cepa S. boulardii, provavelmente devido ao fato de que esta cepa não apresenta tanta

sensibilidade ao estresse ácido que desencadeie estas alterações. Com a adição de sal,

observamos que a cepa W303 apresenta uma reversão do fenótipo detectado em estresse

ácido, sugerindo que os efeitos deletérios do estresse ácido foram amenizados com

NaCl.

Outro aspecto importante avaliado foi quanto aos níveis de reservas energéticas

das cepas durante a exposição ao estresse ácido. O conteúdo dessas reservas pode

esclarecer os mecanismos de defesa e perfil metabólito dessas cepas durante o estresse

ácido. Originalmente, a trealose, juntamente com o glicogênio era considerada

substância de reserva energética para levedura, porém, recentemente, vários autores

sugerem que a trealose possua função de proteção para a célula de levedura durante

processos de estresse, tais como altas temperaturas, choque osmótico, efeitos tóxicos do

etanol e desidratação, ficando o glicogênio como o principal carboidrato de reserva em

87

leveduras (Majara, M. e cols., 1996; Sano, F. e cols., 1999; Lodato, P. e cols., 1999;

Cerrutti, P. e cols., 2000; François, J. e Parrou, J. L., J. L., 2001; Elbein, A. D. e cols.,

2003).

A capacidade da trealose em proteger estruturas celulares da desestabilização

causada por situações de estresse ou por agentes desnaturantes está bem documentada

na literatura, onde vários estudos mostram proteção in vitro bem como in vivo de

membranas e proteínas. Ratificando que de fato, o acúmulo de trealose tem sido

relacionado com a capacidade de leveduras de tolerar condições ambientais adversas

(Majara, M. e cols., 1996; Sano, F. e cols., 1999; Lodato, P. e cols., 1999; Cerrutti, P. e

cols., 2000; François, J. e Parrou, J. L., J. L., 2001; Elbein, A. D. e cols., 2003). As

propriedades vítreas das soluções de trealose, somadas à habilidade deste açúcar em

formar ligações de hidrogênio com radicais das superfícies de biomoléculas são

características fundamentais que determinam seu efeito protetor pronunciado (Sano, F. e

cols., 1999; Anchordoquy, T. J. e cols., 2001). Por outro lado, em S. cerevisiae a

trealose é um importante carboidrato de reserva e representa cerca de 20 % do peso seco

da célula, dependendo das condições de cultivo e do estágio de vida. Foi também

sugerido que o metabolismo respiratório confere às leveduras maior tolerância ao

estresse, pois durante a respiração mais trealose pode ser sintetizada do que durante o

metabolismo fermentativo (François, J. e Parrou, J. L., J. L., 2001).

Os resultados deste trabalho permitem constatar que a capacidade de S. boulardii

para acumular muito mais trealose do que as cepas S. cerevisiae W303 e o mutante

ena1-4∆, mesmo em fase exponencial de crescimento, podem atribuir maior resistência

da cepa probiótica para enfrentar o estresse ácido avaliado, e que este mecanismo de

defesa é independente da viabilidade atribuída pelo efeito protetor de íons. Lillie e

Pringle (1980) associaram a sobrevivência de células de levedura, por períodos

prolongados de tempo, principalmente ao nível de trealose. Por outro lado os níveis de

glicogênio também seguem o mesmo perfil, nas mesmas condições. Interessantemente,

constatamos uma relação da proteína Ena1-4p com a capacidade de acúmulo deste

açúcar reserva, pois a deleção deste gene inverteu o fenótipo observado para acúmulo de

glicogênio na cepa selvagem W303.

88

Ainda no que diz respeito às análises de reservas energéticas, notamos que

quanto ao dispêndio de ATP, a cepa S. boulardii foi mais eficiente na utilização das

reservas e também na mobilização ao longo da exposição ao estresse, sugerindo que

pelo fato da cepa probiótica possuir maior resistência durante o estresse ácido,

comparativamente as outras cepas S. cerevisiae avaliadas, o perfil observado descreve o

metabolismo normal de S. boulardii ainda que em condições de estresse, em

contrapartida, devido à perda de viabilidade, notamos uma paralisação do metabolismo

durante a exposição pela cepa S. cerevisiae W303.

Estes resultados permitem-nos sugerir que a cepa S. cerevisiae é afetada

drasticamente pelo estresse ácido e que de alguma forma, ainda não esclarecida S.

boulardii possui mecanismos de defesa significativamente mais eficientes que as cepas

Saccharomyces analisadas. Dentre os efeitos de ácido clorídrico em leveduras, no

trabalho de Malakar, D., e cols., (2008) demonstraram que as células de leveduras S.

cerevisiae quando submetidas ao ácido clorídrico pH 2, apresentam características de

apoptose, incluindo condensação da cromatina, exposição da fosfatidilserina do lado

externo da membrana citoplasmática, e fragmentação do DNA. Também fazem parte

dos efeitos desencadeados pelo ácido em S. cerevisiae, o aumento dos níveis

intracelulares de espécies reativas de oxigênio (ROS), com conseqüente elevação do

nível de peroxidação lipídica, e por fim culminando na perda de potencial de membrana

mitocondrial.

Unindo todos os nossos resultados demonstram que a resistência da levedura em

meio ácido é otimizada pela presença em baixas concentrações de íons no meio. Neste

trabalho correlacionamos o efeito protetor de íons em pH ácido e a manutenção do

potencial de membrana plasmática. A verdadeira natureza do processo não foi

completamente elucidada, embora seja plausível que a homeostase iônica provoque um

efeito indireto na sinalização celular, capaz de desencadear respostas específicas quando

em estresse ácido.

Além disso, também evidenciamos as diferenças metabólicas de S. boulardii e S.

cerevisiae W303 que explicam a maior resistência dessa cepa probiótica ao pH ácido,

89

através de características que demonstram menor discrepância nas respostas em estresse

ácido.

90

Conclusões

91

6 - Conclusões

O âmbito deste trabalho incidiu no estudo de alguns aspectos relacionados ao

estresse ácido (pH 2/HCl), em cepas Saccharomyces, e a proteção da adição de sódio

neste contexto. Dentre as conclusões, destacam-se os seguintes aspectos:

� A análise comparativa da resposta das diferentes cepas Saccharomyces

cerevisiae ao ambiente gástrico simulado, sugere que S. boulardii é mais

resistente a este estresse avaliado.

� Com relação ao estresse gástrico, notamos que o pH ácido é o principal

componente envolvido na perda de viabilidade celular.

� A cepa probiótica S. boulardii exibe maior tolerância ao estresse ácido em

relação às outras cepas analisadas.

� Íons, de modo geral, conferem um papel protetor com relação ao estresse ácido

em leveduras.

� A presença de íons sódio, em baixas concentrações, confere proteção a células

de leveduras. Sugerindo o envolvimento direto ou indireto da homeostase deste

íon na resposta ao estresse ácido.

� A cepa S. boulardii possui um mecanismo protetor em pH ácido que independe

do efeito protetor de íons.

� A resposta positiva que envolve homeostase iônica e baixos níveis de expressão

e/ou atividade de Ena1-4p está diretamente correlacionado ao efeito protetor.

92

� O efeito protetor de íons sódio é parcialmente dependente de síntese protéica

(efeito de cicloheximida) e da atividade de ATPases do tipo P (efeito do

vanadato).

� Os sistemas envolvidos na manutenção do potencial de membrana, atividade H+-

ATPase e homeostase de íons, estão relacionados à resposta ao estresse ácido.

� A manutenção do potencial de membrana plasmática estabelecido pela presença

de NaCl é o principal mediador da proteção contra acidez.

� S. boulardii apresenta menores concentrações de cálcio citosólico livre quando

submetida a pH ácido se comparada à cepa S. cerevisiae.

� A cepa S. boulardii apresentou maiores níveis de trealose, possibilitando maior

resistência da mesma em estresse ácido.

� Verificamos alterações na composição lipídica da membrana por S. cerevisiae

W303 quando submetida ao estresse ácido, sugerindo que estas mudanças são

feitas como tentativa de adaptação nesta condição.

� As respostas verificadas quanto à exposição a estresse ácido por S. boulardii

apresentaram-se normais, evidenciando que esta cepa é menos afetada

metabolicamente que S. cerevisiae W303, principalmente tratando-se de

consumo das reservas energéticas.

93

Perspectivas

94

7 - Perspectivas

� Experimentos de micro arranjos de DNA usando sondas preparadas com mRNA

obtido de experimentos controle, de células expostas a pH ácido (pH 2) e pH

ácido + NaCl 85mM facilitariam a identificação de genes alvos envolvidos na

resistência.

� Com relação a resistência ao ácido clorídrico, detectar se durante a exposição

ocorre alterações estruturais típicas de apoptose nomeadamente: i) condensação

extensiva de cromatina na periferia do invólucro nuclear observada por

microscopia eletrônica de transmissão; ii) exposição de fosfatidilserina na

superfície da membrana citoplasmática avaliada por reação com anexina V

conjugada com FITC; e iii) ocorrência de quebras de DNA avaliada por

TUNEL.

� Através de técnicas de citometria de fluxo, analisar a produção de espécie

reativas de oxigênio (ROS) com adição do fluorocromo dihidroetidium (DHE)

durante o estresse ácido, e subseqüente análise do potencial de membrana

mitocondrial nestas mesmas condições.

� Análise da ocorrência de peroxidação lipídica durante a exposição ao estresse

ácido.

� Análise dos componentes da parede celular de S. boulardii e as modificações

ocorridas durante a exposição.

95

Referências Bibliográficas

96

5. Referências Bibliográficas

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