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FONTES DO DIREITO:
1ª) O que é fonte material do Direito e o que é fonte formal do
Direito?
2ª) O que são fontes formais primárias ou secundárias? (hierarquia
das fontes)
Antes de explicar o que se entende por fontes do direito, é válido
definir, separadamente, fonte e Direito.
Direito, para Miguel Reale, é a realização ordenada e garantida do
bem como uma estrutura tridimensional bilateral atributiva, sendo uma
ordenação heterônoma, coercitível e bilateral atributiva das relações de
convivência, segundo uma interação normativa de fatos segundo valores.
Já fontes, de acordo com Nunes, é a nascente da água. De forma
figurativa então, o termo fontes designa a origem do Direito, ou seja, de onde
ele provém.
Assim, a expressão fontes do direito pode ter mais de uma
significação. A teoria das fontes, nas suas origens modernas, reporta-se a
tomada de consciência de que o Direito não é essencialmente um dado, mas
uma construção elaborada no interior da cultura humana. Ela se desenvolve,
pois, desde o momento em que a ciência jurídica percebe seu objeto (o direito)
como um produto cultural e não mais como um dado na natureza ou sagrado.
Em um sentido filosófico, a fonte essencial do Direito está na natureza humana,
sendo o homem capaz de compreender e se relacionar com outros homens,
essa seria a lógica formal do Direito. Outro sentido para esse termo é a fontes
estarem na produtividade jurídica das consciências individuais e se traduzirem
através dos pensamentos e da vontade. Sociologicamente, fontes do direito
são as vertentes sociais e históricas de cada época, das quais se originam as
normas jurídicas positivas. Já no aspecto jurídico, o termo, na acepção formal,
pode ser utilizado considerando o aspecto da validade da fonte. E
tecnicamente, fontes do direito são as instâncias autorizadas a julgar condutas
intersubjetivas em uma sociedade, utilizando-se dos órgãos que produzem as
normas jurídicas. Então, resumidamente, fonte do direito é o nascedouro do
Direito, os processos de produção da norma jurídica, que pressupõem sempre
uma estrutura de poder e força obrigatória. Claude Du Pasquier usa a metáfora
sobre a nascente de um rio, para afirmar justamente isso.
Aftalión, em seu livro de introdução, conceitua fonte do direito como
sendo a determinação de normas gerais que fundamentem sentenças e atribua
sentido jurídico aos casos individuais.
Segundo Miguel Reale, fonte do direito designa os processos de
produção de normas jurídicas, por isso é necessário investigar a fonte que
origina o Direito positivo de uma nação. O debate sobre esse problema gira em
torno das leis, dos usos e costumes e da jurisprudência, dividindo-os em fontes
formais e materiais.
Diante da pluralidade de causas ou origens que podem ser
identificadas como fontes do direito, foi feita uma diferenciação entre fontes
formais e fontes materiais, distinguindo o Direito em seu aspecto dado, do
Direito em seu aspecto construído.
As fontes materiais (ou fontes reais) são elementos fornecidos pela
própria realidade social, oriundas dos valores que influenciam o
comportamento humano, que contribuem para determinar o conteúdo concreto
da norma jurídica. Elas são chamadas por Tércio Sampaio de fontes
substanciais, pois representam o aspecto de “dado” do Direito. Essas fontes
podem ser:
Históricas: são os fundamentos do Direito baseados numa
retrospectiva do comportamento humano. Elas analisam as experiências
passadas, seus pontos positivos e negativos, como acontece, por
exemplo, com o tema “inclusão social do negro” no Brasil. A implantação
de cotas está sendo justificada por um comportamento social de épocas
passadas.
Religiosas: Mesmo já tendo havido uma separação, em
grande parte dos Estados, entre Direito e Religião, ainda há muita
influência religiosa tanto na produção quanto na aplicação de normas.
Um bom exemplo foi a relutância em se implantar a lei do divórcio no
Brasil , consequência da doutrina católica que prega a indissolubilidade
do casamento.
Econômicas: a ordem econômica de um Estado deve
procurar promover a justiça social. Assim, o Estado pode interferir no
domínio privado para garantir direitos do consumidor, protegendo a livre
concorrência e desmontando cartéis, por exemplo.
Naturais: Para proteger o meio ambiente e, até mesmo,
garantir o bem estar do próprio homem, é necessário, algumas vezes,
adotar medidas normativas. Essa, necessidade, inclusive, pode ser
consequência de fatos que independem da ação humana, como
epidemias de doenças tropicais. Um exemplo disso foram as causas da
revolta da vacina, ocorrida no rio de Janeiro, em 1904.
Políticas: Em diversas situações, é necessária a existência
de normas que mantenham o sistema de freios e contrapesos, sugerido
por Montesquieu em sua separação de poderes, cláusula pétrea de
algumas constituições, como a brasileira.
Morais: É a influência das normas éticas no Direito.
Para entender melhor o que representa uma fonte material,
podemos dá o seguinte exemplo: imaginemos uma lei, as razões últimas dessa
lei, seus motivos lógicos ou morais é justamente sua fonte material. Esse
questionamento gira em torno de causas imediatas ou próximas do fenômeno
jurídico e constituem objeto da sociologia jurídica ou da filosofia jurídica.
Segundo Miguel Reale, a expressão fontes do Direito não designa
outra coisa senão o estudo filosófico ou sociológico dos motivos éticos ou dos
fatos que condicionam o aparecimento e as transformações das normas
jurídicas (fundamento ético ou social da norma jurídica).
Já Garcia Maynez, acredita que o conteúdo de uma norma jurídica,
aquilo que ela prescreve ou permite, deriva de fatores sociais. Assim, a lei está
determinada pelas situações reais que o legislador deve regular ou pelas
necessidade econômicas e culturais das pessoas a quem a lei está destinada,
por exemplo. Todos esses fatores e muitos outros de mesma natureza
determinam a matéria, o conteúdo das normas jurídicas e em tal sentido
assume o caráter de fonte material da norma jurídica.
Mais um exemplo dessa questão seria: o fato biológico de as
mulheres terem útero, junto ao fato de os homens não terem, representa um
fator (de natureza biológica) que determina a existência de normas jurídicas
regedoras da sucessão de bens entre parentes (Direito das Sucessões) e o
conteúdo dessas normas.
Para as fontes materiais se tornarem Direito aplicável é necessário
que passem pelo molde imposto pelas fontes formais.
Fontes formais são fatos ou atos aos quais é atribuída uma aptidão
específica para criar normas jurídicas, é a elaboração técnica de uma fonte
material, por meio de formas solenes que se expressam em leis, normas
consuetudinárias, decretos regulamentadores. Os elementos abstratos que
compõem a norma jurídica (hipótese, prescrição, sanção, disjunção e dever
ser) adquirem concretude através das fontes formais. São, portanto, as fontes
formais que interessam à dogmática jurídica.
As fontes formais podem ser estatais ou não estatais. As fontes
formais estatais são as decorrentes do poder público (da função do legislativo
ou do judiciário). E as fontes formais não estatais decorrem do convívio social,
de onde surge o direito sem influência do Estado.
As fontes formais mais debatidas pelos autores são a lei, o costume,
a jurisprudência, o contrato e a doutrina. E elas podem ser postas em uma
hierarquia, sendo dividida em fontes primária e fontes secundárias.
As fontes primárias seriam aquelas que retiram sua obrigatoriedade
de si mesma (como acontece com a lei e a jurisprudência), já as fontes
secundárias retiram sua coercitividade da primeira. Um exemplo de fonte
secundária, para alguns autores é o contrato. O contrato tem seus elementos
de validade (agente capaz, objeto lícito e forma não prescrita ou não proibida)
definidos pela lei. O contarto dera inválido se não atender a um dos requisitos
de validade. Os tratados internacionais também podem ser fontes secundárias,
pois para terem validade dentro de um ordenamento jurídico de um país
precisam ter conteúdo de acordo com as leis desse país, além de cumprirem
as formalidades previstas na lei para passarem a vigorar.
No entanto, o primado desta ou daquela fonte formal do direito é
uma questão relativa e depende do tipo de ordenamento jurídico considerado
ou da corrente doutrinária adotada.
Alguns estudiosos, com base legalista, acreditam que só a lei é fonte
primária, pois nada poderia ir contra ela. Há também os que afirmam ser a lei e
a jurisprudência fontes primárias, já que a jurisprudência seria o entendimento
da lei, é a chamada corrente estatalista. Os positivistas sociologistas entendem
como fonte primária a lei, a jurisprudência e o costume, pois nas regiões em
que o Estado não consegue estender seu poder, o Direito se torna costumeiro,
é o costume contra-lege. E há também o pensamento de Miguel Reale, pouco
aceito, que acredita ser a o contrato uma fonte primária também.
Quanto ao tipo de ordenamento jurídico, há dois principais no mundo
ocidental: o de tradição romanística, o civil law (nações da Europa continental e
da América latina) e o de tradição anglo-americana (common Law). Na civil
Law prevalece o processo legislativo como fonte por excelência das normas
jurídicas, neles a lei é uma fonte formal primária e as demais fontes são
secundárias. Nas nações que seguem essa tradição, o Direito funda-se
prioritariamente em enunciados genéricos e abstratos, elaborados por órgãos
legislativos próprios. Já a tradição anglo-saxã não se baseia na lei, mas sim
nos costumes consagrados pelos precedentes firmados através das decisões
dos tribunais, se caracterizando por ser um Direito costumeiro-jurisprudencial.
Nesse caso o Direito é revelado pela jurisdição, a jurisprudência é fonte
primária e a lei secundária.
A distinção feita entre fontes formais materiais é bastante aceita até
hoje, mas traz em si um problema teórico - dificulta a concepção da unidade de
um ordenamento. Outra dificuldade, é que a fonte formal só é vista nitidamente
no caso da lei e um pouco menos na jurisprudência, mas ela é bastante
obscura no caso do costume e da doutrina.
Miguel Reale critica essa divisão tradicional feita pela Filosofia do
Direito, pois, para ele, a fonte do Direito só pode ser formal se ela representa
sempre uma estrutura normativa que processa e formaliza, conferindo-lhes
validade objetiva, determinadas diretrizes de conduta (nas relações privadas)
ou determinadas esferas de competência (nas relações públicas. Reale
considera também que as fontes materiais não interessam propriamente à
Ciência do Direito, mas sim à Política do Direito, pois elas se referem a valores
sociológicos, econômicos, ecológicos, psicológicos, culturais, que determinam
a decisão do poder no momento da edição e formalização das diversas fontes
do direito. Para o jurista cabe, então, o estudo do que já foi processado e
formalizado (está positivado em uma lei, em um costume, em uma sentença
ou, ainda, em um contrato - esse último aceito apenas por Reale, como
veremos mais na frente). Contudo, o intérprete das formas e expressões do
Direito deve atentar para as causas e pressupostos materiais revelados pela
fonte, apreendendo-lhe conteúdo de estatuições objetivas, com força coercitiva
e obrigatória, com validade e eficácia.
Já o jurista Daniel Coelho Souza divide as fontes do direito em
imediats e mediatas. A imediata é a lei e as mediatas são a doutrina,
jurisprudência, costume, fatos históricos, políticos. Para ele, o jurista não pode
dirigir-se a um tratado teórico para responder a uma consulta, ou guiar-se de
início pela jurisprudência. Seu primeiro dever é ir a lei para procurar a solução.
Somente se não encontra solução nela, passa para o costume, depois a
jurisprudência e por último a doutrina.
Ele também divide as fontes em originárias e derivadas. As
originárias é imposta pelo direito positivo e as derivadas são limitadas pelas
originárias (a jurisprudência pela lei, a lei pela constituição).
LEI:
4º) O que é lei?
Segundo Miguel Reale, lei é toda relação necessária, de ordem
casual ou funcional, estabelecida entre dois ou mais fatos, segundo a natureza
que lhes é própria. Assim, em sentido amplo, podem existir leis naturais ou leis
entendidas como normas éticas.
Leis naturais ou leis do mundo físico:
Elas estabelecem a ordem da natureza e descrevem o mundo do
ser. São juízos enunciativos que descrevem como uma consequência é
casualmente produzida por uma condição ou antecedente. As leis naturais
explicam as relações necessárias e constantes entre fenômenos ou grupos de
fenômenos. Assim, elas estão sujeitas ao proncípio da causalidade: se A é,
então B é. Se a consequência esperada não é confirmada empiricamente, a lei
é falsa e não válida.
Leis como normas éticas:
As leis éticas, quando regulam formas de conduta, são normas
(normas morais, jurídicas ou de trato social), chamadas de costume social.
Entre essas normas, se destaca a norma legal, denominada simplesmente de
“lei”. A lei no sentido jurídico é um enunciado prescritivo (prescreve a conduta
humana que deve ser adotada). Situando a espécie lei dentro do gênero juízos
enunciativos podemos fazer o seguinte esquema:
Juízos descritos (leis naturais ou leis do ser)
Juízos enunciativos Juízos prescritivos (normas reguladoras da conduta humana)
Regras técnicas
Juízos prescritivos Normas jurídicas (entre elas a lei)
Normas éticas Normas morais
Normas de uso social
Normas religiosas
Assim, as leis como normas jurídicas, nos regimes constitucionais,
são elaboradas baseadas na constituição e as próprias constituições garantem
que “ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude da lei (princípio da legalidade). Então, a lei é criada por um
procedimento formal (distinguindo-se das demais normas jurídicas, já que até
mesmo a jurisprudência quando simulada possui apenas efeito declaratório e a
lei, por ser escrita, é elemento constitutivo de Direito), é um enunciado jurídico
(dotado de coercitividade), é um enunciado prescritivo (estabelece um dever
ser da conduta humana) e enunciado ético (o dever ser estabelecido tem como
finalidade um determinado valor ético).
Porém, apesar dessas definições, o termo lei pode ser entendido em
vários sentidos. Por exemplo, é comum a confusão entre Direito e lei. Sobre
isso, Roberto Lyra Filho afirma que é incorreto reduzir o Direito a pura
legalidade, pois dessa maneira o Direito representaria uma dominação ilegítima
do Estado e passaria das normas estatais, castrado, morto e embalsamado,
para o necrotério de uma pseudociência, chamada pelos juristas
conservadores de dogmática.
Outra comum confusão é feita entre lei e norma. A norma é a
prescrição, já a lei é a forma na qual a norma é revestida, por isso a lei é tida
como “fonte do direito”. Tércio Sampaio fornece o seguinte exemplo para
ilustrar essa situação: uma prescrição que determina: O segurado pagará o
prêmio que estipulou no ato de receber a apólice, pode ser a cláusula de uma
proposta ou pode vir prescrita em lei (vide artigo 1449 do código civil: “Salvo
convenção em contrário, no ato de receber a apólice pagará o segurado o
prêmio, que estipulou”). No primeiro caso a prescrição não é lei, já no segundo,
ela tem caráter de norma jurídica legal e esse caráter deriva do revestimento
na forma de lei.
Algumas características definidoras da lei são:
A origem de uma lei é sempre certa e predeterminada. Há sempre um
momento do tempo e órgão do qual a lei emana (direito legislado). Então
não há duvidas quanto a origem da lei, pois o órgão que tem competência
para editá-la já se encontra anteriormente e dogmaticamente previsto, com
sua atuação claramente marcada no espaço e no tempo.
A forma de elaboração de uma lei também é dogmaticamente prefixado.
Uma lei é um resultado de um processo que, em todas suas etapas já se
encontra prefixado em uma lei anterior (até mesmo na constituição, como já
foi dito). No caso do Brasil, o processo legislativo está prefixado na CF nos
artigos 59 a 69.
A lei é sempre escrita e esse fato lhe faz ser constitutiva de Direito,
diferenciando-se, por exemplo, do costume, que mesmo quando escrito tem
efeito meramente declaratório, assim como a jurisprudência citada
anteriormente.
A vigência da lei também é algo que se encontra prevista no ordenamento
jurídico ou na própria lei. A lei poderá ficar prazo para sua vigência, um
evento que determine o fim dela ou uma vigência por tempo indeterminado,
até que uma nova lei a revogue. Novamente, essa característica a distingue
do costume, no qual as normas perdem a vigência pelo desuso (quando
perdem sua eficácia social). No caso da lei, primeiro vem a vigência e a
eficácia (ou ausência dela) só se configura posteriormente.
A lei produz efeitos indeclináveis (irrecusáveis), contras os quais as partes
ou o juiz só podem se manifestar em caso de manifesto desuso da lei. A lei
é universal quanto a sua aplicação, é de execução imediata e geral,
dispensando a prova de sua existência, ao contrário do costume que,
mesmo quando consolidado, é suscetível de prova de sua existência.
Observações:
EXISTÊNCIA, EFICÁCIA, VIGÊNCIA E VALIDADE:
Existência: Para Reale, existência é sinônimo de validade, enquanto
para Pontes de Miranda, a qualidade de existência - é dada à norma quando
ela é obedecida sem ser elaborada de acordo com o sistema.
Validade: Segundo a dogmática jurídica, para conhecer a validade
de uma norma, precisa-se em princípio, de que a norma esteja integrada no
ordenamento. É exigido, pois, que esteja cumprido o processo de formação ou
produção normativa, em conformidade com os requisitos do próprio
ordenamento. Para que se inicie o tempo de sua validade, ela deve ser
publicada. Os critérios dogmáticos de reconhecimento da validade são
diferentes, conforme o tipo de norma (norma legal, decreto portaria, etc.) De
modo geral, cumprido o processo prescrito para sua produção, a norma
integra-se no ordenamento e se diz válida. Esses processos são regulados por
normas, que disciplinam a competência do editor, a matéria de competência, o
momento em que pode ocorrer a edição. A observância das normas de
competência, de determinação do momento, constitui a validade formal. A
observância da matéria, a validade material.
Vigência: Publicada a norma, diz-se, então, que a norma é vigente.
Tal termo demarca o tempo de validade de uma norma. Vigente, portanto, é a
norma válida cuja autoridade já pode ser considerada imunizada, sendo
exigíveis os comportamentos prescritos. Em geral, a vigência começa com a
publicação. Pelo artigo 1o da LICC, uma lei começa a ter vigência em todo o
país 45 dias depois de oficialmente publicada. Durante os 45 dias, a norma já é
válida, mas não é vigente.
Efetividade: É sinônimo de eficácia social, sendo portanto, uma
espécie do gênero eficácia. Primeiramente, eficácia é uma qualidade que se
refere à produção de efeitos. A capacidade de produzir efeitos depende de
certos requisitos. Alguns de natureza fática; outros de natureza técnico-
normativa. A presença de requisitos fáticos torna a norma efetiva ou
socialmente eficaz. Uma norma se diz socialmente eficaz quando encontra na
realidade condições adequadas para produzir efeitos. Já os requisitos técnicos
dizem respeito à necessidade de enlaces entre as diversas normas, sem os
quais as normas não podem produzir efeitos. Segundo Tercio a efetividade tem
um caráter experimental, por se referir ao cumprimento efetivo da norma por
parte de uma sociedade, ao reconhecimento dela pela comunidade, no plano
social, ou, mais particularmente, aos efeitos sociais que ela suscita pelo seu
cumprimento. A eficácia social seria a efetiva correspondência da norma ao
querer coletivo, ou dos comportamentos sociais ao seu conteúdo.
5ª) Discorra sobre a evolução histórica da lei:
A lei, no sentido de Direito legislado, não surgiu repentinamente, ela
passou por um longo e demorado processo histórico:
Nas sociedades primitivas, o Direito era marcado pelo costume que
misturava as prescrições morais, religiosas, convencionais e jurídicas. Assim,
as normas jurídicas estavam misturadas com normas não jurídicas. As
primeiras leis, como consequência desse Direito costumeiro foram costumes
escritos, como a famosa lei das 12 tábuas de Roma. Só com o passar do
tempo, a lei passa a traduzir a vontade intencional de reger a conduta humana
de modo impessoal e objetivo.
Foi exatamente no ciclo do Direito Romano que os costumes
começaram a ceder lugar à jurisdição. Com a atividade dos juízes e dos
pretores, os romanos construíram o jus civile (inicialmente exclusivo para os
romanos) e o jus gentium (de caráter mais amplo, abrangendo os estrangeiros).
Assim, em Roma o Direito jurisprudencial consegue passar o Direito costumeiro
para segundo plano. Porém, em Roma, a lei, como pura abstração racional,
ainda não tinha papel decisivo no sistema geral do Direito, quem
desempenhava função primordial nessa sociedade era a doutrina.
Com a invasão dos povos bárbaros e a desintegração da
civilização romana os usos e costumes voltam a vigorar. O Direito medieval
(fusão de elementos germânicos e romanos) é um Direito costumeiro e de
caráter local e, somente no século XI, inicia-se um trabalho de volta à tradição
científica romana. Como os valores haviam mudado com a civilização cristã, os
juristas, “glosadores”, passaram a adaptar os textos romanos às novas
situações da época.
Com o Renascimento, surge outra corrente de pensamento, os
“comentaristas” ou “cultos”, preparando uma compreensão racionalista do
Direito e expressando a razão humana. Isso foi um grande avanço rumo ao
futuro primado da lei, tida como a “razão escrita” pelos jusnaturalistas, mais na
frente.
Na época moderna, o indivíduo passa a buscar sua própria
afirmação e estende seus olhos para novas regiões do mundo. Com a
afirmação das Nações modernas, ocorre o desenvolvimento da indústria, da
técnica, do comércio (são os primórdios das nações capitalistas) e o Direito
costumeiro deixa de ser suficiente. Então os reis, sentindo a necessidade de
ordenar as leis dispersas, as regras costumeiras vigentes, criam as primeiras
consolidações de leis e normas consuetudinárias, chamadas de “Ordenações”.
No século XVIII, os enciclopedistas e os pensadores ingleses
lançaram as bases da Ciência jurídica de caráter puramente racional, nos
moldes jusnaturalistas (Direito natural puramente racional). Foi esse sentimento
que propiciou o entendimento da lei como fonte por excelência do Direito. Um
grande representante dessa tendência do século XVIII é Rousseau, em sua
obra Du Contrat Social, na qual ele define o Direito autêntico como o que se
consubstancia na lei, porque a lei é a única expressão legítima da vontade
geral, e nenhum costume poderia prevalecer contra a lei, porque só ela
encarna os imperativos da razão. É nesse período que surgem os primeiros
códigos modernos, como o Código prussiano e o Código de Napoleão, que
marcadamente dá supremacia à lei. Nesse período também, com a Revolução
Francesa, foi mostrada a necessidade de existir um Direito único para a
totalidade da nação, um Direito nacional, no qual todos seriam iguais perante a
lei. Assim, na França e também na Alemanha, surgiu uma escola que queria
construir o Direito baseado no Código civil, é a “Escola da exegese”.
Atualmente, levantam-se muitas críticas a essa escola e a esse
pensamento de primazia da lei. Porém, esse posicionamento dos teóricos do
século XVIII é compreensível, pois, nesse período, os costumes e tradições
estavam relacionados aos privilégios da nobreza e o grupo de pensadores
iluministas, revolucionários queria, justamente, inverter esse quadro,
privilegiando a burguesia, para que ela ascendesse politicamente. Assim, eles
usaram a lei como sua arma. Hoje, não cabe mais reduzir o Direito à lei,
mesmo assim, não se deve ignorar os benefícios trazidos pela Escola da
Exegese em seu período. Essa escola clarificou os conceitos, deu disciplina
aos institutos jurídicos e a sua sistematização lógica, inclusive o Direito
brasileiro tradicionalmente afirma a supremacia do processo legislativo (fato
criticado pelos alternativistas). Porém, existem países, como a Inglaterra e os
Estados Unidos da América, nos quais a experiência jurídica está bastante
vinculada aos usos e costumes e à atividade jurisdicional, mesmo que no dia-a-
dia cresça a influência do processo legislativo. Assim, independente de se
tratar do primado da lei (civil law) ou do primado do precedente judicial
(common law), no Estado Moderno, o que se percebe é a supremacia das
normas estatais.
No caso do Direito brasileiro, o que se vê é a tradição romanística
(a civil Law), mesmo sabendo que o Direito não se reduz a lei.
6ª) O que é competência legislativa? Como se classifica?
A competência legislativa é o poder dado a um órgão estatal de
elaborar leis sobre determinados assuntos. Baseado na competência
legislativa, ficam determinados limites, dentro dos quais podem se elaborar leis.
No Brasil, a competência legislativa do Estado, dos Municípios e da União está
expressa na constituição. Podem existir competências exclusivas, privativas,
comuns e concorrentes e elas estão classificadas segundo dois critérios:
quanto à pessoa política que a detém e quanto à forma.
Quanto à pessoa política que a detém:
Competência exclusiva:
Pertence somente a uma pessoa política e é indelegável. É a
definição para a União do artigo 22 da Constituição Federal brasileira
(“compete privativamente a união legislar sobre”). Como exemplo temos o caso
das populações indígenas.
Competência privativa:
Também pertence a uma só pessoa, mas é delegável em
determinadas condições. Como exemplo temos o parágrafo único do artigo 22
da constituição federal: “lei complementar (federal) poderá autorizar os estados
a legislar sobre questões específicas das matérias de competência exclusiva
da união”.
Competência comum:
São competências plurais, ou seja, pertencem a mais de uma
pessoa política, no mesmo grau e ao mesmo tempo; são competências
emboladas. Como exemplo temos as competências materiais previstas no
artigo 23 da constituição: “É competência comum da União, dos estados, do
distrito federal e dos municípios: proteger o meio-ambiente e combater a
poluição em qualquer uma de suas formas.”
A competência comum é material, ou seja, é competência de agir ou
competência executiva: todas as quatro pessoas políticas a possuem.
Competência concorrente:
Pertence a mais de uma pessoa política, mas é dividida: à União,
cabe estabelecer as normas gerais e aos estados e distrito federal, as normas
específicas. A competência concorrente é legislativa, ou seja, competência
para criar leis. Somente a União, os estado e o distrito federal a possuem, os
municípios não. Como exemplo temos a definição do artigo 24 da Constituição
Federal: “Compete à União, aos estados e ao Distrito Fedeal legislar
sobre...orçamento”.
Quanto á norma:
Competência discriminada:
É aquela explicitamente determinada pela norma superior, como a
competência privativa da União de legislar sobre desapropriação.
Competência implícita:
É aquela que decorre direta ou indiretamente de uma competência
indiscriminada, pertence ao titular da competência discriminada da qual
decorre. Exemplo: instituição de imposto de renda e competência da União.
Como decorrência disso, compete implicitamente à União definir modelos de
declaração de rendimentos.
Competência residual:
É aquela sobre a qual a norma superior na da diz direta ou
indiretamente, pertencendo aos estados membros da União, conforme diz na
constituição: “São reservadas ao estado as competências que não lhe sejam
vetadas nessa constituição”.
7ª) Conceitue COLEÇÃO DE LEIS, CONSOLIDAÇÃO DE LEIS e
CÓDIGO DE LEIS e explique suas características.
Coleção, consolidação e códigos são tipos de agrupamentos de leis.
Os critérios de agrupamentos podem ser: enciclopédico, temático ou
cronológico.
Coleção de leis:
Aquele que elabora a coleção não precisa ter autoridade jurídica
(criadora do Direito) para tal.
Quem elabora a coleção não paga Direitos autorais, pois as leis
colecionadas são de domínio público.
O editor copilador não pode efetuar qualquer alteração nos textos das
leis colecionadas, ou seja, elas tem que ser transcritas literalmente em
sua integridade e conservam sua individualidade.
Consolidação de leis:
A consolidação de leis pode ser feita por um órgão do poder público que
tenha competência jurídica para tal.
As leis consolidadas perdem sua individualidade (número e data), ou
seja, deixam de existir como lei individual e sua consolidação passa a
ser uma só lei.
A consolidação não tem compromisso com a integridade das leis
consolidadas, ela elimina textos de lei e parte superpostas, redundantes
ou contraditórias. Aliás essa é a principal finalidade da consolidação.
A consolidação tem que assumir a forma de uma lei de nível hierárquico
igual ou superior a mais alta das leis consolidadas, como exemplo temos
a CLT, destoando das características das consolidações, a CLT
consolidada através de decreto do presidente da república, revogou leis
ordinárias e criou várias normas novas.
Códigos de leis:
Como a consolidação, só podem ser feitos por quem tenha autoridade
jurídico- legislativa para tal.
O objetivo do legislador ao elaborar um código é regular por
complemento determinado ramo do Direito.
Alguns códigos, como o Código civil brasileiro, além do próprio código
contém leis que alteram seus dispositivos.
Diferentemente da consolidação o código cria Direito novo.
Assume a forma de lei ordinária.
Não admite regime de urgência para votação na casa legislativa.
8ª) Quais os sistemas de vigência de lei que já existiram no Brasil?
Os sistemas de vigência de lei referem-se às normas que regem o
início da vigência das leis em um ordenamento jurídico. Existem 4 tipos de
vigência:
Sistema sucessivo: Existente no Brasil até 1916.
Tratando-se de lei nacional, havia um só vocatio legis para os diferentes
estados membros, no sentido de que o período era de igual número de dias
para todos os estados. A vocatio legis contava a partir da publicação da lei que
por sua vez deveria ser procedida por cada estado. Esse sistema correspondeu
historicamente a um período de grande força do estado membros e de grande
prestígio político pelos líderes locais. O estado membro poderia determinar o
início da vigência de uma lei nacional em seu território, atrasando ou
acelerando sua publicação.
Sistema progressivo: 1916-1942
Esse sistema foi introduzido no Brasil pelo código civil. No caso da lei nacional
havia uma só publicação e eram diferentes períodos de vacância para
diferentes áreas geográficas do país.
Sistema simultâneo: 1942- até os dias atuais
Esse sistema surgiu no ordenamento jurídico brasileiro com a lei de introdução
ao código civil de 42. Nesse sistema, a lei pode ou não ter vacância, quando
não, se inicia ao mesmo tempo do dia da sua publicação. Porém, para que a lei
tenha vigência imediata, tem que explicitamente dispor que sua vigência se
inicia com a publicação, não p fazendo a vigência se iniciará após 45 dias de
sua publicação.
Assim, dispõe o artigo primeiro da lei de introdução ao código civil, “salvo
disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo país 45 dias depois de
oficialmente publicada, se durante o transcurso do vocatio legis ocorrer nova
publicação de lei para correção do texto, o prazo começará a correr da nova
publicação.”
Sistema de vigência imediato:
Sistema simultâneo que não prevê vocatio legis.
9ª) Discorra sobre o problema da ignorância da lei por parte de seus
destinatários:
A publicação torna a lei obrigatória, decorrido o período da vacância
quando houver. Mas a publicação tem o efeito de tornar a lei não só
obrigatória, mas também conhecida de todos e esse conhecimento se
estabelece com a presunção de conhecimento e não com o conhecimento de
fato.
Discute-se sobre a natureza desse processo de conhecimento, que
se institui de Direito, não de fato. Segundo alguns doutrinadores, essa
conhecibilidade não é simples presunção, mas verdadeira ficção jurídica, uma
vez que desnaturando-se a realidade das coisas, decreta-se uma certeza,
certamente inexistente.
Os doutrinadores consideram inútil esse processo de conhecimento
e afirmam que as leis são obrigatórias para todos independente de seu
conhecimento. A razão que fundamenta a obrigatoriedade das leis, não está no
presumido conhecimento subjetivo das partes, mas sim na necessidade social
de que as normas jurídicas tenham aplicação incondicionada e geral. A
obrigatoriedade da lei não decorre do seu conhecimento, mas da natureza
essencialmente imperativa do preceito, estabelecendo-se como exigência da
própria ordem jurídica estatuída.
Neste sentido, observa-se mais um ponto de distinção entre a moral
e o Direito na Moral, ao invés do que acontece no Direito, o conhecimento de
fato da norma é condição de sua obrigatoriedade, no sentido de que a
imputação ou a culpa se baseiam no pleno e fático conhecimento do preceito,
no Direito a imputação ou culpa não dependem do conhecimento que de fato o
infrator tenha da lei, mas somente do conhecimento de Direito que se dá com a
publicação.
O ordenamento jurídico penal admite a ignorância da lei como
argumento a favor da redução ou até mesmo da exclusão da punibilidade, mas
não admite como causa de exclusão da antijuridicidade (relação de
contrariedade entre o fato típico - conduta prevista como crime - e o
ordenamento jurídico) de um ato ou omissão.
A pobreza e o analfabetismo têm sido encaradas pela jurisprudência
como justificativas para o desconhecimento da lei.
10ª) Quais as causas da cessão da obrigatoriedade da lei?
A obrigatoriedade da lei é a qualidade ou o caráter que possui de
dever ser cumprida observada sobre pena ou sanção prevista na lei. A
obrigatoriedade da lei traz consigo a ideia de obediência ao que nela está
contido.
A obrigatoriedade de uma lei se inicia com a vigência legal. Somente
as leis vigente são obrigatórias em princípio, muito embora exista a situação
em que uma lei não tem mais vigência, mas permanece surtindo efeitos sobre
situações jurídicas consolidadas quando ela ainda tinha vigência (ato jurídico
perfeito, direito adquirido e coisa julgada), Tércio chama esse último caso e
vigência retroativa. Exemplos: as leis de aposentadoria já revogadas, mas que
continuam incidindo sobre direitos a aposentadorias adquiridos na época de
sua vigência.
Da mesma forma que a obrigatoriedade nasce com a vigência, deixa
de existir com o fim da vigência. Isso pode acontecer por causas intrínsecas ou
extrínsecas da lei, são as seguintes causas:
Vigência Temporária:
Causa intrínseca do fim da obrigatoriedade da lei. A lei tem vigência temporária
quando o legislador fixou um tempo de duração. Quando a vigência se dá até
determinada data ou período certo de tempo, diz-se que a vigência é
temporária-determinada.Quando sua vigência permanece até que ocorra
determinado fato ou evento que determine o fim da vigência, tem-se uma lei
temporária indeterminada.
Revogação:
Causa extrínseca do fim da obrigatoriedade da lei. A lei pode ter vigência
permanente, durando até que outra lei a modifique ou revogue. A lei
revogadora revoga a anterior quando: expressamente o declare, ou seja com
ela incompatível, ou regule inteiramente a matéria de tratava a lei anterior.
A revogação pode ser total (lei revogada em sua totalidade) ou parcial (quando
a revogação só se dá em parte da lei).
A revogação total subclassifica-se em:
Ab-rogação:
A lei nova revoga a anterior e não a substitui no disciplinarmento da matéria de
que tratava a lei revogada, como aconteceu com a lei áurea.
Sub-rogação:
A lei nova revoga a anterior e passa a disciplinar a matéria anterior tratada pela
lei revogada.
A revogação parcial de subclassifica em:
Derrogação:
A lei nova revoga parte da velha e não disciplina a matéria antes tratada pelas
partes tratadas.
Modificação:
A lei nova revoga parte da velha e passa a disciplinar a matéria antes tratada
pelas partes revogadas.
Quanto à forma, a revogação pode ser:
Expressa:
Quando a lei nova explicitamente declara extinta a lei velha.
Tácita:
Quando houver incompatibilidade entre a lei velha e a nova.
Global:
De acordo com Tércio, é uma espécie de revogação tácita, ocorre quando a lei
nova regula inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
Caducidade:
Uma lei caduca quando o objetivo de que tratava deixa de existir no âmbito dos
fatos. Contudo, a caducidade não retira a validade da lei, pois, se o objetivo
voltar a existir a lei incide normalmente sobre o caso concreto. Exemplo:
supondo que exista uma lei que proíbe a pesca de tubarões em Fernando de
Noronha, se por algum motivo, todos os tubarões desaparecessem, a lei
caducaria. Supondo ainda que, por outros motivos, voltassem a aparecer
tubarões na ilha, a lei então prosseguiria válida, voltando a incidir normalmente.
11ª) O que é repristinação de uma lei?
Quando uma lei revogada é restaurada mediante a perda da
vigência da lei que a revogou, chamamos o fenômeno de repristinação da lei.
Suponhamos a existência de três leis: L1, L2, L3. L2 revogou L1 e L3 revogou
L2. Caso com a revogação de L2, L1 volte a vigir, ocorre a repristinação de L1.
No caso do ordenamento jurídico brasileiro, a repristinação só ocorre mediante
expressa disposição a respeito.
14ª) O que se deve entender por aplicação retroativa de uma lei?
(ver no resumão)
COSTUME:
15ª) Quais as características definidoras do costume?
O Direito costumeiro não tem uma origem certa, não pode-se
determinar certamente como surgem os costumes que aos poucos se tornam
hábitos jurídicos, pois eles nascem por toda parte de maneira anônima. O
costume não obedece a trâmites prefixados nos seus processos de elaboração,
ele é difuso e imprevisto. O costume é o resultado de um ato consciente de um
indivíduo que por atender a uma exigência social, passa a ser imitado e
repetido até se transformar num ato consciente do todo social. Em geral, o
costume não é escrito, mas saber disso não é suficiente para defini-lo.
Modernamente, o costume não se opõe ao Direito escrito, mas a Direito
legislado, pois há casos em que ele é registrado, escriturado e copilado em
documento, até para facilitar a prova de sua existência. Como aconteceu no
assentamento de usos e costume da praça do Estado de São Paulo, elaborado
pela junta comercial.
Não é possível determinar-se o tempo de vigência de um costume,
nem como ele irá se extinguir. O elemento essencial que define a vigência de
uma norma costumeira é a eficácia social na solução dos conflitos, ou seja, a
aceitação fática de uma norma pelos indivíduos. As normas jurídicas
costumeiras perdem sua vigência pelo desuso, pois ela é decorrente da
eficácia. No caso de uma norma legal, a vigência é algo que se estabelece
anteriormente a eficácia, só posteriormente se verificará ou não. No costume a
eficácia precede a vigência. O Direito costumeiro é suscetível de prova em
contrário de sua existência, mesmo um costume consolidado por escrito é
passível de ceder ante uma prova em contrário. Por exemplo, a prova da
existência de um determinado costume deverá ser feita, em havendo
contestação da parte ou determinação ex officio do juiz, isso quer dizer que se
eu proponho uma ação em juízo, invocando uma regra costumeira, não
precisarei fazer prova de sua existência se ela não for contestada pela parte
contrária ou não for a prova exigida pelo juiz.
O costume é uma das formas mais antigas de expressão do Direito e
decorre da prática reiterada de certo ato com a consciência de sua
obrigatoriedade jurídica e predominou até o surgimento da lei escrita. Muitos
doutrinadores entendem que o costume é formado por dois elementos
fundamentais: o objetivo (repetição habitual de um comportamento por certo
período de tempo) e o subjetivo (convicção ou sentimento de necessidade do
comportamento ou a consideração de tal comportamento como necessário ou
conveniente ao interesse social). Desta forma, um uso adquire a qualidade de
costume jurídico quando passa a se referir intencionalmente a valores do
Direito, para realizar um valor positivo considerado de interesse social ou para
impedir a ocorrência de um valor negativo.
Por fim, vale ressaltar que o Direito costumeiro tem o sentido de
espontaneidade. O Direito legislativo é racional, os elementos da
obrigatoriedade são expressos de maneira esquematizada aos uma apreciação
racional feita da conduta humana. A definição de costume, resumidamente, é:
norma que deriva da longa prática uniforme ou da geral e constante repetição
de dado comportamento sob a convicção de que corresponde a uma
necessidade jurídica. O uso do comportamento deve ser uniforme constante,
público e geral. O ato pode ser praticado logo de início com a convicção de sua
necessidade jurídica, como pode ser praticado sem essa convicção, que só
surge como resultado de repetição. A convicção dessa necessidade é que
estabelece a exigibilidade do costume e a diferença dos usos sociais.
16ª) Quais as espécies de costumes?
Em relação à lei, são 3 as espécies de costume:
a) Costume secundum legem:
É o costume referido na lei que reconhece sua eficácia obrigatória.
Ele é admitido pela lei e ela se reporta a ele diretamente. A lei contudo não o
reproduz ou descreve, fazendo apenas menção a ele. Temos como exemplo
um artigo do código civil brasileiro: “Não se tendo estipulado nem chegado a
acordo as partes, fixasse-a por arbitramento a retribuição segundo o costume
do lugar, o tempo de serviço e sua qualidade”.
b) Costume praeter legem
É o costume que possui caráter supletivo, suprindo a lei nos casos
omissos, preenchendo lacunas da forma legal. Esse costume também está
previsto em um artigo do código civil: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o
caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais do Direito.”.
Esse tipo de costume é invocado quando não for possível argumentar por
analogia, nas hipóteses de silencia da lei sobre determinado assunto,
procurando preencher o hiato legal pela observância de práticas costumeiras.
c) Costume contra legem
É aquele que se forma em sentido contrário ao da lei, seria o caso
do costume implicitamente revogatório da lei ou do desuso da lei, quando ela
passa a ser letra morta pelo desuso e por sua substituição pelo costume na
solução do conflito. A legislação brasileira embora empreste ao costume certa
forma de interpretação da lei, no preenchimento de lacunas ou na aplicação
correta das normas, não admite a autoridade do costume para revogar ou ab-
rogar a lei. Essa somente se revoga ou se ab-revoga por outra lei. Mesmo que
as leis cessem de ser aplicadas pelo desuso, não encontra a doutrina moderna
razão para que sejam consideradas como derrogadas, por mais longo que seja
o período de sua inaplicação. Os partidários da escola histórica de Savigny
reconhecem o costume contra legem como a revolta dos fatos contra as
normas. Para eles, o Direito não poderia ser aprisionado em leis. Já os adeptos
da escola da exegese manifestam-se contrário ao costume contra legem, por
entenderem que se deve repelir todo costume oposto a lei escrita que por
supremacia deve prevalecer. A grande maioria dos autores rejeita a aplicação
da norma costumeira contra legem por entendê-la incompatível com a tarefa
legislativa do Estado e com o princípio de que as leis só se revogam por outras.
Realmente pode-se afirmar que a problemática do costume contra legem é de
natureza política e não jurídica, pois se trará de uma questão de colisão de
poderes.
17ª) De acordo com as diferentes correntes doutrinárias, do que é
que decorre a obrigatoriedade de um costume, sua natureza jurídica?
A questão sobre o elemento determinante do costume é um tópico
bastante polêmico entre os juristas.
Segundo Binding e Rumelin, adeptos da teoria da vontade popular, a
obrigatoriedade de um costume decorre do consenso popular tácito ou da
presunção de vontade dos cidadãos.
Já Savigny, acredita que há no costume dois elementos: um objetivo
(uso) e um subjetivo (a convicção jurídica). A obrigatoriedade do costume, para
ele, decorre do elemento subjetivo, pelo sentimento de necessidade e
reconhecimento do costume como idôneo para regular comportamentos.
Enquanto Jellinek, afirma que a constante repetição é o que dá
origem a juridicidade do costume, colocando assim a convicção em plano
secundário, por acreditar que certos comportamentos e atitudes se
desenvolvam em determinada comunidade por longo tempo, sem que sua
observância seja considerada como um dever pelos seus membros que
praticam as condutas como todos fazem, sem jugá-las.
E finalmente, para os positivistas estatalistas, o costume só se torna
norma jurídica quando é aplicado pelos tribunais, considerando assim, o
trabalho dos tribunais como constitutivo e não só declaratório do costume. Eles
consideram que enquanto o poder jurídico não se manifestar várias vezes,
permanece incerto se a norma consuetudinária invocada pela parte é jurídica
ou não.
DOUTRINA:
3ª) Que objeções podem ser feitas a ideia de que a doutrina é fonte
formal do direito?
A doutrina representa o caminho através do qual a Teoria Geral do
Direito se revela na dogmática jurídica. Assim, as doutrinas são os estudos de
caráter científico que os juristas realizam acerca do Direito. Esses estudos
podem ter um propósito unicamente teórico de sistematização de seus
preceitos ou a finalidade de interpretar suas normas e analisar as regras de sua
aplicação.
Alguns doutrinadores consideram-na uma fonte forma secundária,
porém a maioria rejeita essa ideia e a consideram apenas fonte material,
mesmo sendo bastante abalizada e organizada.
A doutrina pode transforma-se em fonte formal do Direito por causa
de uma disposição legal que lhe confirma tal caráter. Um exemplo disso é o
caso romano, a opinião de certos jurisconsultos ilustres era obrigatória para os
juízes por disposição expressa pelo imperador. Os jurisconsultos romanos
eram armados do jus respondendi, com força vinculatória, havendo mesmo um
tribunal do mortos (expressão que indicava a lista dos grandes jurisconsultos
romanos). Os ensinamentos desses homens deviam obrigatoriamente ser
seguidos pelos romanos.
Os juristas que negam à doutrina a qualidade de fonte formal do
direito apresentam 3 argumentos justificadores:
A doutrina não obriga, ou seja, não têm coercitividade, mesmo que o
doutrinador seja muito digno e prestigiado. Ou seja, a doutrina não tem
poder de revelar a norma jurídica positiva que deve ser cumprida pelos
juízes ou pelas partes.
A doutrina é inconsistente e contraditória, pois cada doutrinador tem
uma opinião pessoal, havendo sempre a possibilidade de se contrapor
um argumento doutrinário aos sustentados por ilustres doutrinadores e
muitas de suas ideias poderão não prevalecer na jurisprudência.
A doutrina pode ser comprada no sentido de que um doutrinador pode
ser pago para produzir um parecer neste ou naquele sentido
Para Miguel Reale, a doutrina não é fonte formal do direito, por ela
não se desenvolver em uma estrutura de poder, ou seja, ela não é expressão
de poder como é a lei, o costume e a jurisprudência. Porém, o autor entende
que o fato de a doutrina não ser fonte do direito não a priva de seu papel
relevante no desenrolar da experiência jurídica. Esse papel citado por Reale, é
a elaboração de modelos científicos ou dogmáticos para compreender o
significado dos modelos jurídicos. Esse modelos são esquemas teóricos cuja a
finalidade é determinar como as fontes formais podem produzir modelos
jurídicos válidos?; o que esses modelos significam?; como eles se relacionam
entre si para constituir figuras, institutos e sistemas, ou seja, modelos de mais
amplo repertório?
Conclindo, Reale acredita que a lei não alcança a sua plenitude de
significado, sem ter como antecedente lógico necessário o trabalho científico
dos juristas e muito menos se atualizarem sem a participação da doutrina.
TEORIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO:
Resumo do livro “Teoria do Ordenamento Jurídico” de Bobbio:
É notória a necessidade de existir algo que regule as relações
humana, uma “disciplina das atividades humanas” responsável por garantir
ordem e paz; essa disciplina, na sociedade contemporânea, é justamente o
Direito. Segundo Leonardo Santiago, a ordem jurídica constitui, pois, a
organização da sociedade pelo Direito, regendo-se pelo princípio maior de
efetivação da justiça.
O Direito pode ser caracterizado segundo algum argumento da
norma jurídica, mas Noberto Bobbio inova ao afirmar que a norma jurídica
(isoladamente) não consegue revelar o Direito totalmente (nomoestática).
Segundo o autor, o estudo do Direito deve ser feito baseando-se no conjunto
coordenado das normas (nomodinâmica), assim ele desenvolve a sua Teoria
do Ordenamento Jurídico.
Nessa Teoria, Bobbio simplifica o conceito de Direito afirmando
que a norma jurídica é aquela garantida por sanção externa e institucionalizada
e que, para haver Direito, é necessário existir um sistema normativo composto
por três tipos básicos de norma: as que permitem determinada conduta, as que
proíbem e as que obrigam determinada conduta.
Quanto ao tema específico do ordenamento jurídico, ele pode ser
conceituado, justamente, como esse conjunto de normas jurídicas em vigor
num país ou como o sistema no qual se inserem as normas jurídicas.
Sobre a noção de sistema, etimologicamente, esse termo vem do
grego e significa “todo” ou “corpo de elementos”, ou seja, o sistema é
elementos que coexistem lado a lado e formam um conjunto articulado dentro
de um mesmo ordenamento. Segundo o vocabulário jurídico de Plácito e Silva,
sistema é o conjunto de regras e princípios sobre uma matéria, que têm
relações entre si e formam um corpo de doutrinas (visando a realização de um
fim). Já Corbisier trata sistema como conflito ou totalidade de objetos (reais ou
ideais) reciprocamente articulados e interdependentes uns em relação aos
outros. Tendo em vista essa noção de sistema, Bobbio caracteriza
ordenamento jurídico como um sistema porque não podem coexistir nele
normas incompatíveis.
Como o ordenamento jurídico também pode ser visto como um
conjunto de normas, é válido analisar esse conceito também. A norma é uma
orientação, uma proposição que diz como deve ser um comportamento. As
normas podem ser de competência (se estabelecem poderes e procedimentos)
ou de conduta (quando estabelecem obrigações). Se considerarmos a questão
da subordinação, as normas podem ser: normas-origem (as primeiras de uma
série), normas-derivadas (feitas a partir de normas-origem). Se o debate for
sobre a estrutura, as normas podem ser normas autônomas (por si mesmas
têm um sentido completo) ou normas dependentes (precisam combinar-se com
outras para ter validade e eficácia).
A relação das normas com o ordenamento jurídico é a seguinte:
só se reconhece a validade da norma se ela estiver integrada no ordenamento
segundo a dogmática jurídica. A produção normativa deve obedecer requisitos
do próprio ordenamento para ser considerada uma norma válida. Aliás, para
ser parte do ordenamento, uma norma deve obedecer outros requisitos além
da validade, são eles:
Vigência: está relacionada ao tempo de validade (do momento
que passa a ter vigor até o momento que perde essa força).
Eficácia: é a possibilidade de produção de efeitos concretos,
percebe-se quando a norma é aplicada e obedecida.
Vigor: é o poder da norma de se impor, de se fazer obedecer,
mesmo que os sujeitos não concordem com ela.
Os meios e processos através dos quais o ordenamento faz surgir
as suas normas são as fontes do direito. A Teoria das fontes, modernamente,
acredita que o direito não é um dado sagrado ou da natureza, mas uma
construção elaborada a partir de fatores principalmente históricos e culturais.
Existem dois tipos básicos de fontes: fontes materiais e fontes formais. As
fontes matérias são as externas aos instrumentos jurídicos, nelas as normas do
ordenamento são produzidas segundo fatores religiosos, culturais,
demográficos, políticos ou econômicos. Como exemplo, temos: a resistência a
legalização do divórcio na legislação brasileira antes de 77, por causa da
influência moral e religiosa; quando terremotos ou secas ou geadas favorecem
a proteção do produtor agrícola, mostrando a influência geográfica; fatores
geográficos intervêm na criação de normas em situações como quando a
legislação desestimula o nascimento de crianças; já os efeitos econômicos
podem ser exemplificados com a restrição ao uso de automóveis que existiu
em inúmeros países na década de 70, devido à crise do petróleo. Quanto às
fontes formais, elas são aquelas internas aos instrumentos jurídicos de
produção de juridicidade. De um modo geral, alguns autores concordam que
são fontes formais a legislação, o costume, a jurisprudência e a fonte negocial.
Na legislação, a formação de normas jurídicas é feita por atos competentes e a
maior destas normas está expressa na constituição (a lei fundamental de um
país). Abaixo da constituição estão as leis das quais podem se derivar códigos
(regulamentação unitária e mais específica de um ramo do Direito). Já o
costume são condutas ou valores de origem consuetudinária que possuem
obrigatoriedade. Jurisprudência são as decisões judiciárias. E fontes negociais,
normas individuais que no caso de vazio da lei, podem inovar e se estabelecer
como premissas verdadeiras.
Além dessa diferenciação das fontes, os ordenamentos jurídicos
também podem ser distinguidos em dois tipos, quanto a elaboração do Direito:
tradição romanística (é a civil Law das nações latinas e germânicas) e tradição
anglo-americana (common Law). Na tradição romanística, há a supremacia da
lei escrita, já na tradição anglo-americana, o Direito é revelado pela utilização
dos usos e costumes jurídicos e pelo exercício do poder jurisdicional. Nesse
último caso, praticamente não existe Direito escrito, ele é substituído pelo
precedente jurisdicional.
Entrando propriamente no tema da Teoria do Ordenamento
Jurídico, Bobbio afirma que o ordenamento não pode ser formado por apenas
uma norma (pois uma norma que tudo proibisse iria impedir o convívio social e
uma norma que tudo permitisse iria bagunçar a sociedade). Assim, o
ordenamento é composto por mais de uma norma, fato que gera vários
problemas quanto à harmonia delas. Por isso, Bobbio busca em sua Teoria
discutir o problema da hierarquia entre as normas, saber se o ordenamento é
mesmo um sistema no qual não há antinomias (problema da coerência) e
debater o problema da completude (saber se não há lacunas no ordenamento).
Problema da Hierarquia (unidade do ordenamento jurídico):
A mutabilidade da realidade social sempre faz necessária a criação
de normas que adéqüem o Direito à contemporaneidade, por isso o
ordenamento é co posto por uma infinidade de normas. Para satisfazer essa
exigência, o Poder Supremo pode recorrer a dois métodos: agregar normas já
existente (criadas por ordenamentos precedentes e diversos) ou delegar
competência a poderes inferiores para a criação de normas que sejam
necessárias. Porém, é preciso que as normas do ordenamento respeitem
critérios que preservem a unidade do sistema, devendo então existir uma lógica
interna entre elas.
Apesar dessa unidade requisitada, as normas podem estar em
“planos” diferentes, existindo normas superiores, inferiores e a norma
fundamental. Segundo Kelsen, a norma inferior busca fundamento na superior,
ou seja, a norma superior valida a inferior. As normas superiores podem
restringir as inferiores segundo quatro critério: limites formais, temporais,
circunstanciais e materiais.
Segundo Oscar Vilhena Vieira, os limites formais determinam
procedimentos diferenciados, como um plebiscito. Já os limites temporais têm a
função de prever um período dentro do qual as alterações ficam proibidas,
como ocorreu no artigo 174 da constituição brasileira de 1824, que impedia
reforma antes de passado 4 anos de sua outorga. Quanto aos limites
circunstanciais, eles buscam impedir que se mude a constituição em períodos
de grande conturbação da ordem política, como acontece como acontece
quando é declarado o estado de sítio. E os limites materiais devem proibir a
alteração de certas decisões tomadas pelo poder constituinte originário, como a
forma de Estado ou governo, regime político ou os Direitos fundamentais.
Bobbio dá prioridade aos critérios materiais e formais, pois o material faz
referência ao conteúdo que pode ser emanado pela norma inferior, e o formal
regula o modo pelo qual a norma inferior será emanada.
Bobbio imagina uma pirâmide onde na base estão as normas mais
complexas e menos gerais (normas inferiores, de menor hierarquia), acima
estão as normas superiores e acima de todas a norma fundamental. Bobbio
chama a norma fundamental de fonte das fontes, já Tércio a chama de norma
de calibração, ala é o que valida todas as outras normas, permitindo saber se a
norma pertence ou não ao ordenamento. No caso da positividade, essa norma
de maior hierarquia é a constituição. Todas as normas devem obedecer a
constituição para serem consideradas válidas. A constituição é elaborada pelo
legislador (constituinte originário), ele insere as normas que desejar,
respeitando os valores consagrados pela sociedade. Se surgir uma nova
constituição, as normas anteriores a ela só são revogadas se estiverem em
conflito, esse é o fenômeno chamado de recepção. Durante o período de vigor
de uma constituição, podem ocorrer alterações na Lei Maior, as emendas
constitucionais, elaboradas pelo constituinte derivado. As emendas
constitucionais são consideradas parte da constituição e por isso estão na
mesma hierarquia que ela. Abaixo da constituição estão as normas
complementares, elas são criadas apenas quando a constituição as prescreve,
é o que acontece com o código tributário, por exemplo. Mais abaixo estão as
normas ordinárias, como o código civil e o comercial, elas podem ser, no Brasil,
federais, estaduais ou municipais. Ainda mais abaixo, estão as normas
regulamentares elaboradas pelo executivo para regulamentar o cumprimento
de uma norma superior, sem criar uma nova prescrição de conduta, são
exemplos delas as portarias, regulamentos e instruções normativas. No fim da
pirâmide estão as normas individuais que não têm a capacidade de validar
nenhuma norma. Na verdade, Bobbio nem considera essas últimas normas
jurídicas, mas Kelsen e Cossio, por exemplo, o fazem, por considerarem que a
norma jurídica é um imperativo direcionado a alguém. Um exemplo dessa
última categoria de normas seria a sentença.
Problema da Coerência:
Para existir um sistema não é suficiente que os entes estejam
relacionados com o todo, como foi exposto no problema acima, é preciso
também que haja coerência entre eles ou, como Tércio Sampaio fala,
consistência. Para existir essa coerência é preciso que não haja antinomias
(não existam normas contraditórias). Essa incompatibilidade entre as normas
pode ser observada em três casos:
Uma norma pode ordenar fazer algo que outra proíba.
Uma norma pode ordenar fazer algo que outra apenas permita.
Uma norma pode permitir fazer algo que outra proíba.
A antinomia ocorre quando essas normas contraditórias pertencem
ao mesmo sistema ou quando elas têm o mesmo âmbito de validade (temporal,
espacial, pessoal ou material).
Há várias formas de classificar antinomias. Segundo Tércio
Sampaio, elas podem ser:
Antinomias Reais: para elas, não há regra normativa de solução
prevista no ordenamento, assim o intérprete deve solucioná-las por si mesmo,
por falta de critérios ou por conflito dos critérios existente.
Antinomias Aparentes: são as que têm critérios normativos de
solubilidade.
Antinomias Próprias: ocorrem por motivos formais, como uma norma
permitir e outra proibir.
Antinomias Impróprias: acontecem por causa do conteúdo da norma,
o conflito nesse caso é entre o comando estabelecido e a consciência do
aplicador.
Também há a classificação quanto ao âmbito:
Antinomias de Direito Interno: ocorrem dentro de um ordenamento
Estatal e podem ser dentro de um ramo do Direito.
Antinomias de Direito Internacional: Ocorrem entre duas normas
internacionais.
Antinomias de Direito Interno Internacional: ocorrem entre uma
norma interna e uma norma internacional.
A classificação quanto à extensão da contradição diferencia as
antinomias em:
Antinomia total-total: quando uma das normas não pode ser aplicada
em nenhuma circunstância sem entrar em conflito com outra.
Antinomia total-parcial: quando uma das normas não pdoe ser
aplicada em nenhuma circunstância sem entrar em conflito com outra, mas a
outra tem um campo de aplicação em parte livre de conflitos.
Antinomia parcial-parcial: quando as duas normas só entram em
parte em contradição.
Para solucionar as antinomias, há três critérios básicos:
Critério Hierárquico (Lex superior derrogat inferiorz): só as normas
superiores podem revogar as inferiores, nunca ocorrerá o contrário.
Critério da Especialidade (Lex specialis derrogat generalis):
prevalece a norma específica.
Critério Cronológico (Lex posterior derrogat priori): a norma que
prevalece é a posterior (princípio da não retroatividade das leis, a lei só tem
eficácia durante sua vigência).
Se esses critérios entrarem em conflito, será aplicada uma
hierarquia entre eles:o Hierárquico e o de especialidade prevalecem sobre o
cronológico. Mas não há hierarquia entre o hierárquico e o de especialidade,
cabendo ao intérprete decidir de acordo com as circunstâncias.
O interpreta também pode não fazer prevalecer nenhum desses
critérios, usando o poder discricionário. Esse poder engloba três alternativas:
Em caso de antinomia aparente, conserva-se as duas.
Em caso de antinomia real, pode-se eliminar uma das regras
aplicando-se a outra (ab-rogação simples), ou eliminar as duas, aplicando uma
terceira (dupla ab-rogação).
E ainda na insuficiência de critérios, usa-se o critério da forma da
norma: as normas permissivas prevalecem sobre as imperativas e proibitivas.
Se uma norma imperativa que obriga a fazer algo entra em conflito
com uma que proíba fazer a mesma coisa, as duas normas se anulam e o
comportamento é considerado permitido/ lícito.
12ª) O que é antinomia de normas?
O ordenamento jurídico, segundo Bobbio, não pode ser composto
apenas de uma norma, pois uma norma que tudo proibisse iria impedir o
convívio social e uma norma que tudo permitisse iria bagunçar a sociedade.
Assim, o ordenamento é composto por mais de uma norma e isso gera vários
problemas quanto à harmonia delas. Esses problemas podem ser quanto a
hierarquia, quanto a coerência e quanto a completude. Para que o
ordenamento seja tratado como um sistema é preciso que seus entes estejam
relacionados e além disso que haja consitência entre eles, ou seja, é preciso
haver coerência.
O problema da coerência está relacionado com a existência ou não
de antinomias. A antinomia é a existência de duas normas contraditórias,
conflitantes no seu conteúdo, impedindo-se, a princípio, que se saiba qual
delas aplicar. Esse conflito acontece na aplicação prática a um caso concreto.
Três elementos marcam a existência de uma antinomia real: incompatibilidade
entra as normas, indecidibilidade do caso concreto, necessidade de decisão.
Ou seja, há antinomia quando existem duas normas relativas a um caso que
lhe imputão soluções logicamente incompatíveis. Essa incompatibilidade entre
as normas pode ser observada em três casos:
Uma norma pode ordenar fazer algo que outra proíba.
Uma norma pode ordenar fazer algo que outra apenas permita.
Uma norma pode permitir fazer algo que outra proíba.
A antinomia ocorre quando essas normas contraditórias pertencem
ao mesmo sistema ou quando elas têm o mesmo âmbito de validade (temporal,
espacial, pessoal ou material).
Há várias formas de classificar antinomias. Segundo Tércio
Sampaio, elas podem ser:
Antinomias Reais: para elas, não há regra normativa de solução
prevista no ordenamento, assim o intérprete deve solucioná-las por si mesmo,
por falta de critérios ou por conflito dos critérios existente.
Antinomias Aparentes: são as que têm critérios normativos de
solubilidade.
Antinomias Próprias: ocorrem por motivos formais, como uma norma
permitir e outra proibir.
Antinomias Impróprias: acontecem por causa do conteúdo da norma,
o conflito nesse caso é entre o comando estabelecido e a consciência do
aplicador.
Também há a classificação quanto ao âmbito:
Antinomias de Direito Interno: ocorrem dentro de um ordenamento
Estatal e podem ser dentro de um ramo do Direito.
Antinomias de Direito Internacional: Ocorrem entre duas normas
internacionais.
Antinomias de Direito Interno Internacional: ocorrem entre uma
norma interna e uma norma internacional.
A classificação quanto à extensão da contradição diferencia as
antinomias em:
Antinomia total-total: quando uma das normas não pode ser aplicada
em nenhuma circunstância sem entrar em conflito com outra.
Antinomia total-parcial: quando uma das normas não pdoe ser
aplicada em nenhuma circunstância sem entrar em conflito com outra, mas a
outra tem um campo de aplicação em parte livre de conflitos.
Antinomia parcial-parcial: quando as duas normas só entram em
parte em contradição.
Para solucionar as antinomias, há três critérios básicos:
Critério Hierárquico (Lex superior derrogat inferiorz): só as normas
superiores podem revogar as inferiores, nunca ocorrerá o contrário.
Critério da Especialidade (Lex specialis derrogat generalis):
prevalece a norma específica.
Critério Cronológico (Lex posterior derrogat priori): a norma que
prevalece é a posterior (princípio da não retroatividade das leis, a lei só tem
eficácia durante sua vigência).
Se esses critérios entrarem em conflito, será aplicada uma
hierarquia entre eles:o Hierárquico e o de especialidade prevalecem sobre o
cronológico. Mas não há hierarquia entre o hierárquico e o de especialidade,
cabendo ao intérprete decidir de acordo com as circunstâncias.
O interpreta também pode não fazer prevalecer nenhum desses
critérios, usando o poder discricionário. Esse poder engloba três alternativas:
Em caso de antinomia aparente, conserva-se as duas.
Em caso de antinomia real, pode-se eliminar uma das regras
aplicando-se a outra (ab-rogação simples), ou eliminar as duas, aplicando uma
terceira (dupla ab-rogação).
E ainda na insuficiência de critérios, usa-se o critério da forma da
norma: as normas permissivas prevalecem sobre as imperativas e proibitivas.
Se uma norma imperativa que obriga a fazer algo entra em conflito
com uma que proíba fazer a mesma coisa, as duas normas se anulam e o
comportamento é considerado permitido/ lícito.
Uma antinomia pode dar origem à lacuna de conflito ou de colisão,
porque se são conflitantes as normas se excluem reciprocamente e não
havendo uma regra que permita decidir entre elas, o magistrado deve
solucionar o caso sub judice, segundo os critérios de preenchimento das
lacunas de Direito.
13ª) Como se classificam as antinomias de normas e quais critérios
para a solução de antinomias? (Ler no resumão)
Problema da completude (ler no resumo do livro)
O Ordenamento Jurídico enquanto Sistema (Conceito de Sistema; Estrutura do Ordenamento Jurídico; O processo de criação e aplicação normativa; problemas de coerência e completude: lacunas e integração). (Fonte: Resumão, Miguel Reale, Tércio Ferraz Júnior, prova anterior)
O conceito de ordenamento jurídico é complexo. Segundo Miguel Reale, o ordenamento é o sistema de normas jurídicas in acto, compreendendo as fontes do direito e todos os seus conteúdos e projeções. Com isso, configura-se, pois, o sistema de normas em sua concreta realização, e abrange tanto as regras explícitas quanto as regras implícitas (utilizadas para suprir as lacunas do sistema). Nesse complexo unitário, discriminam-se vários elementos constitutivos que se articulam uns com os outros.
Um ordenamento enquanto sistema contém um repertório e uma estrutura. Elementos normativos e não-normativos guardam relações entre si- por exemplo, quando dizemos que as normas estão dispostas hierarquicamente, estamos pensando na sua estrutura. Hierarquia é um conjunto de relações estabelecidas conforme regras de subordinação e coordenação. Estas regras não são normas jurídicas nem são elementos não-normativos, isto é, não fazem parte do repertório, mas da estrutura do ordenamento. Exemplos de regras estruturais são o princípio da Lex superior derrogat priori ou da Lex posterior derrogat inferiori.
Bastante importante é a questão do ordenamento como sistema unitário, isto é, a sua concepção como repertório e estrutura marcados por um princípio que organiza e mantém o conjunto como um todo homogêneo. Este princípio recebe em Kelsen o nome de norma fundamental (Grundnorm), noção intuitivamente simples de ser percebida (se as normas do ordenamento compõem séries escalonadas, no escalão mais alto está a primeira norma da série, de onde todas as outras promanam) mas difícil de ser caracterizada.
Conclui-se, portanto que o conceito de ordenamento é operacionalmente importante para a dogmática; nele se incluem elementos normativos e não-normativos (definições, critérios classificatórios, preâmbulos, etc.); sua estrutura revela regras de vários tipos; no direito contemporâneo, a dogmática tende a vê-lo como um conjunto sistemático: quem fala em ordenamento logo pensa em sistema.
O sistema de que falamos aqui tem, ademais, caráter dinâmico. O termo sistema dinâmico provém de Kelsen e, em oposição ao sistema estático, capta as normas dentro do processo de contínua transformação destas. Normas são promulgadas, subsistem no tempo, atuam, são substituídas por outras ou perdem sua atualidade em decorrência de alterações nas situações normadas. O sistema é apenas uma forma técnica de conceber os ordenamentos, que são um dado social. A dogmática capta o ordenamento de forma sistemática para atender às exigências da decidibilidade de conflitos. Afinal, é preciso afirmar a validade da norma de forma a integrá-la ao conjunto, que, por sua vez, deve ter contornos razoavelmente precisos. É a ideia de sistema que permite traçar tais contornos, posto que sistema implica a noção de limite, uma linha diferencial abstrata que nos autoriza a identificar o que está dento, o que entra, o que sai e o que permanece fora.
O problema da aplicação do Direito anda, geralmente, confundido com o de sua eficácia. A chamada “aplicação da lei no tempo e no espaço” refere-se à eficácia do direito segundo o âmbito ou extensão de sua incidência, ou então em função dos momentos temporais ligados à sua vigência, por exemplo. De qualquer modo, os problemas da eficácia do direito e sua aplicação se correlacionam intimamente.
O momento da aplicação da norma é característico do Direito positivo, porque as normas positivas existem para ser aplicadas pelos órgãos competentes, juiz, tribunal, autoridade administrativa ou particular. A norma contém, em si, uma generalidade, procede por abstração, fixando-se tipos, referindo-se a uma série de casos indefinidos e não a casos concretos.
Logo, a aplicação do Direito envolve a adequação de uma norma jurídica a um ou mais fatos particulares, o que põe o delicado problema de saber se opera o confronto e entre uma regra abstrata e um fato concreto, para concluir pela adequação desta àquela (donde a sua licitude) ou pela inadequação (donde a ilicitude). Essa questão representa o cerne da atividade jurisdicional, pois é função primordial do magistrado dizer qual é o direito in concreto quando alguém propõe uma ação postulando o reconhecimento de um interesse legítimo. A aplicação reveste-se, portanto, de sentido técnico especial quando a execução da lei é feita, por dever do ofício, por uma autoridade judicial ou administrativa.
A questão da existência de lacunas no direito é eminentemente sistemática e problema da lacuna está relacionado à forma como se concebe o sistema. Se falarmos em sistema normativo como um todo ordenado, fechado e completo, conclui-se que o problema das lacunas inexiste, pois “tudo o que não está juridicamente proibido, fica juridicamente permitido”. Porém, se concebermos o sistema jurídico como aberto e incompleto, revelando o direito como uma realidade complexa, admite-se que o Direito não contempla e regra todas as
condutas humanamente possíveis, daí a existência de lacunas no ordenamento jurídico, ou seja, da incompletude do ordenamento jurídico.
Podemos, neste último caso, identificar uma série de espécies de lacunas. A primeira delas se reporta a Zitelmann: lacunas autênticas (ocorrem quando a lei não permite uma resposta e partir dela uma decisão não é possível) e não-autênticas (ocorrem quando se dá um fato-tipo previsto pela lei, mas sua solução é indesejável); lacunas intencionais e não intencionais- cujo critério diferenciador está na vontade daquele que elabora o plano e que pode conscientemente ou não deixar uma questão em aberto. No caso das lacunas intencionais, o legislador, por não se julgar em condições, atribui a outra pessoa (o juiz, no caso do conflito jurídico) a tarefa de encontrar a regra específica. No segundo, diz-se que o legislador não chegou a perceber a problemática da questão de modo cabal (lacuna de previsão), seja porque as condições históricas não o permitiam (lacunas desculpáveis), seja porque o seu exame do problema não foi suficientemente cuidadoso (lacunas não desculpáveis).
14º ponto: Antinomias e conflitos de normas jurídicas (Conceito e classificações; conflitos de leis no Espaço; conflitos de leis no tempo: critérios para tratamento; retroatividade da lei e impedimentos à retroatividade; existência, validade, vigência e efetividade). (Fonte: Resumão, Miguel Reale, Tércio Ferraz Júnior)
Não basta que uma regra jurídica se estruture para que seja obrigatória: é necessário que ela satisfaça os requisitos de validade. A validade de uma norma pode ser vista sob três aspectos: o da validade formal ou técnico-jurídica (vigência), o da validade social (eficácia ou efetividade) e o da validade ética (fundamento).Mas a que requisitos deve satisfazer uma regra jurídica para que se torne obrigatória?
Segundo Miguel Reale, para que a regra jurídica se torne obrigatória são necessários três requisitos básicos: que ela seja emanada de um órgão juridicamente competente (legitimidade subjetiva no que diz respeito ao órgão em si), que ela seja legítima quanto à matéria sobre que a legislação versa (quanto à competência ratione materiae), e que seja legítima quanto ao procedimento sob o qual foi produzida. Quando uma regra contempla esses três requisitos, diz-se que ela tem condições de vigência.
A validade de uma fonte depende de esta cumprir as regras
impostas pelo ordenamento jurídico. Para que a validade seja formal, é
necessário, tal qual dito anteriormente, que ela seja feita por um órgão
competente, passando pelo rito imposto pelo ordenamento jurídico vigente.
Quando tal circunstância acontece, a fonte passa a existir e a ser válida. A
vigência, por sua vez, depende da validade- ou seja, a condição de vigência é
a aplicabilidade/ alegabilidade dogmática (prefixada em data proposta pela
própria fonte), havendo vigência quando a fonte tem a aptidão de produzir
efeitos. Na questão da eficácia, esta pode ser jurídica, correspondendo à
vigência, ou pode ser social, correspondendo à validade.
Antinomia é o conflito entre duas normas em sua aplicação prática no caso concreto, a existência de duas normas conflitantes no conteúdo sem que se possa, a princípio, saber qual delas deverá ser aplicada ao caso singular. Logo, para que haja real antinomia de normas são imprescindíveis três elementos: a incompatibilidade entre duas normas, a indecidibilidade do caso concreto e a necessidade de decisão. Assim, só haverá antinomia real se existirem duas ou mais normas relativas ao mesmo caso, imputando-lhes soluções logicamente incompatíveis.
A antinomia pode dar origem à lacuna de conflito ou de colisão, porque, em sendo conflitantes, as normas se excluem reciprocamente, o que obriga o magistrado a solucionar o caso sub judice, utilizando os critérios de preenchimento de lacunas.
As antinomias podem ser interfontes ou intrafontes. Quando a antinomia ocorre entre normas de diferentes fontes (por exemplo, uma lei e uma jurisprudência), prevalece o critério da hierarquia de fontes. Porém, quando a antinomia ocorre entre normas emanadas de uma mesma fonte (lei X lei; jurisprudência X jurisprudência; costume X costume), cada fonte terá sua estratégia de resolução de conflitos.
No caso de dois costumes que vigem ao mesmo tempo numa mesma região, prevalecerá o costume mais eficaz: o critério de solução do conflito é o da eficácia social do costume. Quando o conflito for entre jurisprudências, no Brasil, cabe ao STJ dissolvê-lo- a solução se dá através da publicação de súmulas, acórdãos ou declaratórias de constitucionalidade, competências fixadas pela Constituição Federal.
Quanto aos conflitos entre leis, estes podem ser intrínsecos (ocorrem entre normas constantes de uma mesma lei)- que são solucionados pela hermenêutica aplicada ao caso concreto em análise- e extrínsecos (se dão entre normas constantes de leis distintas). Estes últimas antinomias podem ser horizontais- caracterizadas por serem entre leis de mesmo nível, prevalecendo o critério Lex posteriori derrogat priori-, verticais- entre leis de nível hierárquico distinto, prevalecendo o critério Lex superior derrogat inferiori- ou especiais. Este último caso é falho, mas prevalece o princípio do Lex specialis derrogat
generalis. Em todos os supracitados casos, cabe ao hermeneuta dizer se as duas leis antinômicas são do mesmo nível hierárquico ou não.
Os conflitos entre leis podem, ainda, ocorrer quanto
Ao espaço- é necessário aplicar o direito quando não existe legislação uniforme, ou seja, há várias nacionalidades em questão. Princípios que resolvem tais conflitos: personalidade (vale a lei da pessoa sobre a qual a mesma será aplicada), domicílio (lugar onde as pessoas sobre as quais a lei vai incidir residem) e territorialidade (prevalece a lei do local onde o ilícito foi praticado).
Ao tempo- Ocorre quando, em um único lugar, incidindo sobre uma pessoa em questão, a lei muda. Nos casos relativos a conflitos temporais, prevalece a retroatividade (ou seja, é aplicada a lei nova). Há, entretanto, três impedimentos à retroatividade, como desenvolveremos a seguir.
O problema da retroatividade das leis surge como consequência do fato de que as leis se sucedem ao tempo, são editadas ou promulgadas, vigoram, são revogadas e substituídas por novas leis. A dificuldade surge quando as conseqüências jurídicas surgidas sob a vigência de uma determinada lei continuam existindo sob a vigência de uma lei nova. Esta poderá então regular os fatos ocorridos antes do início de sua vigência e que produziram as consequências jurídicas sob império da lei anterior? Se sim, diz-se que essa lei tem aplicação retroativa, pois regula fatos ocorridos antes do início de sua vigência.
Seguindo a fórmula de Vareilles-Sommières, três hipóteses podem ocorrer: 1) em fatos originados e que produziram todos os seus efeitos antes que a lei nova vigorasse, aplica-se a lei anterior. 2) a fatos que se originaram após o início da vigência da lei nova, aplica-se a lei nova. 3) fatos que se originaram antes de vigorar a lei nova e que só produziram seus efeitos sob a vigência desta. Neste último caso é que surgem realmente os problemas quanto à aplicação de leis.
Existem três institutos jurídicos que impedem a retroatividade das leis. São eles o direito adquirido (é aquele que já se incorporou definitivamente ao patrimônio e/ou à personalidade do sujeito de direito, por já se haver verificado concretamente a hipótese legal para a aquisição do direito), o ato jurídico perfeito (praticado em certo momento histórico, em consonância com as leis vigentes naquela ocasião- é um ato consumado) e a coisa julgada (que é a qualidade atribuída aos efeitos da decisão judicial, considerada esta a decisão de que já não cabe qualquer recurso).