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Renato Saraiva – Curso de Direito Processual do Trabalho 6º Edição – Atualizado até março de 2009 Capítulo 1 – Princípios e Fontes formais do Direito Processual do Trabalho Capítulo 2 – Organização da Justiça do Trabalho, competência Capítulo 3 – Ministério Público do Trabalho Capítulo 4 – Atos, termos, prazos e nulidades processuais Capítulo 5 – Partes e Procuradores Capítulo 6 – Ação Trabalhista Capítulo 7 – Dissídio individual Capítulo 8 – Recursos Trabalhistas Capítulo 9 – Execução Trabalhista Capítulo 10 – Procedimentos Especiais Capítulo 11 – Dissídio Coletivo Capítulo 12 – Novas súmulas, Orientações Jurisprudenciais e Precedentes do TST Capítulo 1 – Princípios e Fontes formais do Direito Processual do Trabalho 1.1. Direito Processual do Trabalho – Evolução no Brasil Os primeiros órgãos brasileiros criados para dirimir conflitos trabalhistas foram os Conselhos Permanentes de Conciliação e Arbitragem, instituídos por lei (1911). Em 1992 em SP foram criados os Tribunais Rurais compostos por juiz de direito, representante dos trabalhadores e dos fazendeiros com função de dirimir conflitos até certo valor. A justiça do trabalho no

Resumo - Curso de Direito Processual Do Trabalho - Renato Saraiva

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Renato Saraiva – Curso de Direito Processual do Trabalho 6º Edição – Atualizado até março de 2009

Capítulo 1 – Princípios e Fontes formais do Direito Processual do Trabalho

Capítulo 2 – Organização da Justiça do Trabalho, competência

Capítulo 3 – Ministério Público do Trabalho

Capítulo 4 – Atos, termos, prazos e nulidades processuais

Capítulo 5 – Partes e Procuradores

Capítulo 6 – Ação Trabalhista

Capítulo 7 – Dissídio individual

Capítulo 8 – Recursos Trabalhistas

Capítulo 9 – Execução Trabalhista

Capítulo 10 – Procedimentos Especiais

Capítulo 11 – Dissídio Coletivo

Capítulo 12 – Novas súmulas, Orientações Jurisprudenciais e Precedentes do TST

Capítulo 1 – Princípios e Fontes formais do Direito Processual do Trabalho

1.1. Direito Processual do Trabalho – Evolução no Brasil

Os primeiros órgãos brasileiros criados para dirimir conflitos trabalhistas foram os Conselhos Permanentes de Conciliação e Arbitragem, instituídos por lei (1911). Em 1992 em SP foram criados os Tribunais Rurais compostos por juiz de direito, representante dos trabalhadores e dos fazendeiros com função de dirimir conflitos até certo valor. A justiça do trabalho no Brasil decorreu das convenções coletivas e da influencia da doutrina italiana, visto que nosso sistema acabou por copiar o sistema da Carta de Lavoro de 1927 (regime corporativista de Mussolini). Na era Vargas (1942) foram criadas Juntas de conciliação que atuavam administrativamente em dissídios individuais e coletivos, os dissídios coletivos eram raros e somente trabalhador sindicalizado possuía direito de ação. Ademais o ministro do Trabalho poderia avocar qualquer processo no caso de parcialidade dos julgadores, da mesma forma poderia proceder a justiça comum e faltava-lhes o poder de executar suas próprias decisões. Surgiram ainda outros órgãos não pertencentes ao judiciário como delegacia de trabalho marítimo e uma jurisdição para férias. Somente em 1941 a justiça do trabalho surgiu como órgão autônomo, apesar de

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não pertencer ainda ao judiciário exercia função jurisdicional com poder de executar suas próprias decisões. Se organizava sob: junta de conciliação; conselho regional (semelhante ao TRT); Conselho Nacional do Trabalho (semelhante ao TST). Em 1943 entrou em vigor a CLT com capitulo especifico sobre a organização da JT. A CRFB 1946 integrou a JT ao Poder Judiciário: junta de conciliação e julgamento; TRT; TST.

1.2. Direito processual do Trabalho – conceito e autonomia

É ramo com princípios próprios que disciplina atuação das partes, juízes e auxiliares no processo individual e coletivo do trabalho. No que tange a autonomia do processo do trabalho em relação ao comum temos a teoria monista (minoritária) entende que as normas não são suficientemente distintas a ponto de não se justificar divisão em processo trabalhista, penal e civil. A dualista (majoritária) entende que pelas suas peculiaridades é disciplina autônoma, que se serve apenas subsidiáriamente das regras do processo civil (art. 769 CLT), além de ter disciplina própria no Brasil há juiz próprio (jurisdição especial), o que não chega a ocorrer em todos os países.

1.3. Eficácia da lei processual Trabalhista no tempo e no espaço 1.3.1. Eficácia da lei processual trabalhista no tempo

As disposições de processo trabalhista entram em vigor com a publicação da lei, com eficácia imediata, alcançando os processos em andamento. O processo se inicia com a petição inicial e termina com o provimento jurisdicional (ou seja, compõe-se por atos processuais). O processo adota o sistema de isolamento dos atos processuais em que o ato já praticado sob a égide de lei anterior é mantido, produzindo os efeitos previstos da lei antiga (ato jurídico perfeito – tempus regit actum). A lei processual não retroage para alterar atos processuais já praticados, exceto no caso de lei que trate de competência, que se aplicará aos atos já praticados nos processos ainda em andamento. Em relação aos recursos, ao propor ação a parte não tem direito subjetivo a eles, de forma que será exercido na forma da lei vigente ao momento da publicação da decisão a ser impugnada e não da propositura da ação.

1.3.2. Eficácia da lei processual trabalhista no espaço

Aplica-se o princípio da territorialidade, vigorando a lei processual em todo o território nacional, seja a estrangeiros aqui residentes ou nacionais. A homologação de sentença estrangeira depende de homologação do STJ (juízo de delibação).

1.4. Princípios do direito processual do trabalho

Princípios são proposições genéricas que fundamentam e inspiram a elaboração de normas. Atuam ainda como fonte integradora do ordenamento e orientam a aplicação de normas pelo operador, tem assim função: informativa, normativa e interpretativa.

1.4.1. Princípio dispositivo

É a inércia do judiciário que só presta a tutela se provocado. O processo exige a iniciativa da parte, apesar de se desenvolver por impulso oficial. A CLT, no entanto, tem uma importante exceção que é o dissídio coletivo suscitado pelo presidente do TRT em caso de suspensão de

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trabalho (art. 856). Apesar da previsão legal, o autor entende que em razão do princípio dispositivo, da legitimação constitucional conferida aos sindicatos a propositura de ação coletiva e da lei de greve (7.783/89) que somente possibilita as partes e ao MP propor ação no caso de paralisação, não poderia o juiz TRT instaurar de oficio. Outra exceção prevista na CLT é da delegacia regional do trabalho (DRT) encaminhar processo administrativo a JT, onde conste reclamação de trabalhador envolvendo recusa de anotação da CTPS.

1.4.2. Princípio inquisitório ou inquisitivo

Iniciada a demanda cabe ao juiz impulsionar o andamento processual, sendo que tem ampla liberdade na direção processual, podendo inclusive determinar diligências necessárias (provas) ao esclarecimento da celeuma, e indeferindo diligencias inúteis ou meramente protelatórias. A execução trabalhista pode ser promovida de ofício pelo juiz. O juiz tem ainda a iniciativa de formar litisconsórcio, chamar terceiro a integrar a lide, principalmente no caso de solidariedade (grupo econômico) e sucessão. Todas essas formas de atuação são consideradas manifestações do princípio inquisitivo.

1.4.3. Princípio da concentração dos atos processuais

Busca-se que a celeridade processual (menor tempo possível), concentrando os atos em audiência única. O art. 849 dispõe que a audiência de julgamento seja continua, na sua impossibilidade o juiz deve designar data para seu prosseguimento. Há previsão de audiência única no art. 852-c para o processo sumaríssimo também. Na prática no procedimento comum ocorrem 3 sessões: audiência de conciliação, de instrução e de julgamento, sendo una apenas quando a matéria for exclusiva de direito ou quando exigir mera prova documental já incluída da contestação/inicial, sendo assim raro o juiz concentrar atos em única audiência.

1.4.4. Princípio da oralidade

Os atos das partes e juiz realizam-se oralmente na própria audiência: leitura da reclamação; defesa oral em 20 min.; 1º e 2º tentativas e conciliação; razões finais em 10 min.; protesto.

1.4.5. Princípio da identidade física do juiz

O juiz que colheu as provas (testemunhas, depoimento das partes, esclarecimento verbal do perito e etc.) deve decidir. Isso porque a inquirição direta das partes e testemunhas pelo juiz é melhor (busca da verdade real) que a mera leitura do que foi reproduzido na ata de audiência. Assim aquele (titular ou substituto) que concluir a audiência julgará a lide (art. 132), exceto se licenciado e etc. hipóteses que passará os autos a seu sucessor. Como as Juntas de conciliação e julgamento eram formadas for juiz togado e dois classistas temporários (representante de empregados e empregadores) o TST editou súmula 136 dispondo que não se aplicava as varas de Trabalho, a súmula a nº 222 do STF. O autor, todavia, entende que após a EC nº 24 que extinguiu a representação classista na JT não há mais razão para se afastar tal princípio das Varas trabalhistas. Ressalta-se que esse princípio contribui para a celeridade processual.

1.4.6. Princípio da imediatidade ou imediação

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Por esse princípio ao juiz é facultado o contato direito com partes, testemunhas, peritos e com a própria coisa litigiosa, objetivando firmar seu convencimento, mediante a busca da verdade real (ex. a prova oral é a mais utilizada na esfera laboral). Assim as partes e testemunhas são inquiridas pelo juiz e podem ser reinquiridas pelos advogados, por intermédio do juiz. Ex. obreiro dizia ter relação de emprego com a reclamada, o juiz e as partes compareceram no interior da empresa e o juiz solícitou ao reclamante que indicasse o local do banheiro masculino, ocasião em que percebeu que o reclamante estava mentindo.

1.4.7. Princípio da irrecorribilidade das decisões interlocutórias

Interlocutória é a que resolve questão meramente incidente. O art. 893 da CLT impõe que as decisões interlocutórias não são recorríveis de imediato, somente podem ser apreciadas em recurso da decisão definitiva, salvo decisão: do TRT contrário à orientação Jurisprudencial do TST; ou que o próprio tribunal possa analisar; ou que acolhe alegação incompetência territorial

1.4.8. Princípio do contraditório e da ampla defesa

Princípio constitucional aplicável a todos os litigantes em processo judicial e inclusive administrativo. Isso impõe a notificação para apresentação de defesa e intimando as partes sobre qualquer despacho ou decisão tomada, possibilidade das partes se manifestarem sobre documentos juntados pelo adversário.

1.4.9. Princípio da imparcialidade do juiz

Assegura a garantia de justiça da decisão. Consta inclusive da declaração universal dos Direitos do Homem (1948). Para assegurar tal imparcialidade o juiz tem prerrogativas (ex. vitaliciedade)

1.4.10. Princípio do juiz natural

Temos que ninguém pode ser processado por autoridade não competente e não haverá tribunal de exceção. Assim a competência do órgão julgador deve estar previamente estabelecido em normas, da mesma forma temos a figura do promotor natural.

1.4.11. Princípio da motivação das decisões

As decisões devem ser fundamentadas sob pena de nulidade. A CLT determina ainda que sejam públicos, salvo quando o interesse social exigir o contrário e que a decisão deve conter nome das partes, resumo de pedido e defesa, dispositivo e fundamentação da decisão.

1.4.12. Princípio da conciliação

Os dissídios coletivos e individuais serão sempre sujeitos à conciliação (art. 764, expressamente). Mesmo depois de encerrado o juízo conciliatório podem as partes celebrar acordo que ponha termo ao processo. No processo ordinário a proposta conciliatória é obrigatória na abertura da audiência e após as razões finais (obrigatório em dois momentos). No sumaríssimo o juiz esclarecerá as vantagens da conciliação que caberá em qualquer fase da audiência. Ao celebrar o acordo deve o juiz verificar observância de normas de proteção ao trabalhador (normas de ordem pública) e se as bases não são prejudiciais ao obreiro, podendo recusar homologar o acordo quando representar verdadeira renúncia de direito pelo

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empregado. Aceita a conciliação é considerado título executivo judicial, valendo como decisão irrecorrível (exceto por rescisória), exceto para a Previdência, quanto as contribuições devidas.

1.4.13. Princípio do jus postulandi da parte

Os empregados e empregadores podem reclamar pessoalmente ou pelos seus sindicatos e representações de classe, portanto prescindem de advogados para postularem na JT, em todas as instâncias trabalhistas, incluído o TST. Eventual RESP (ex. conflito de competência) ou RE exige-se advogado. Há quem diga que o art. 133 exige advogado para a administração da justiça, mas o TST já firmou entendimento sobre a permanência do jus postulandi da parte na JT. Após a EC nº 45 ter ampliado a competência da JT que abrange relação de trabalho o autor entende que o jus postulandi é restrito nas demandas de emprego.

1.4.14. Princípio do devido processo legal

É base para demais princípios como o juiz/promotor natural, motivação de decisões e etc.

1.4.15. Princípio do duplo grau de jurisdição

É a possibilidade da decisão ser revista. O STF tem o entendimento que não é uma garantia da atual CRFB, logo, pode haver processo administrativo ou judicial com uma única instância de julgamento – como exemplo competência originária do STF. Na JT temos os dissídios de alçada (valor não supere 2 SM) são julgados em instância únicas pelas Varas do Trabalho, não havendo recursos, exceto se tratar de matéria constitucional. O recurso necessário é um beneficio das pessoas de direito público, sendo aplicável até mesmo em decisão decorrente de ação rescisória, mas não se aplicará quando a condenação não superar 60 SM ou quando fundada em jurisprudência do plenário do STF ou súmula de Tribunal.

1.4.16. Princípio da boa-fé e lealdade processual

As partes tem o dever processual, assim como o terceiro que participar do processo, de agir com probidade. O CPC prevê dispositivos que buscam inibir a má-fé e etc.

1.4.17. Princípio da eventualidade

Cabe a parte alegar de uma vez só todas as matérias de defesa e ataque, sob pena de preclusão (perda da oportunidade de se manifestar posteriormente). Assim, p.e., compete ao réu em contestação alegar toda matéria defensiva (preliminar e mérito - Na eventualidade de uma defesa não ser acolhida, analisa-se a seguinte) expondo as razões de fato e direito que impugna o pedido do autor, especificando as provas que pretende produzir. Princípio da preclusão e da perempção. A CLT não tem regra similar, aplicando-se o CPC.

1.4.18. Princípio da preclusão e da perempção

A preclusão é perda da oportunidade de praticar ato processual, seja pelo seu não exercício em momento oportuno, seja pela incompatibilidade entre ato já praticado e ato precluso. Em relação as fases, vencida uma fase processual resta precluso a prática de ato contido nela, exceto permissão legal em que o juiz pode reabrir a fase ultrapassada. A preclusão temporal ocorre com a perda do prazo pra praticar o ato; a lógica é quando um ato se torna impraticável

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por ser incompatível com um já praticado – ex. parte que sucumbir solicitar a liquidação do julgado (aceitação tácita) e posteriormente interpor recurso; a consumativa é a impossibilidade de se renovar um ato já praticado. Assim é defeso discutir no curso do processo questões já decididas (art.473 CPC), a nulidade é declarada mediante provocação da parte que deve arguir na primeira vez que falar nos autos (art. 795 CLT). A perempção é a perda do direito de ação pela inércia do seu titular, assim o autor der causa por 3x a extinção do processo (sem resolução de mérito) não poderá internar nova ação contra o mesmo réu com o mesmo objeto (pedido). Na JT a perempção é provisória, pois a perda do direito de reclamar perante a JT é de 6 meses.

1.4.19. Princípio da impugnação especificada

Não se admite a defesa por negação geral (equivale a inexistência de contestação), isto é, deverá o reclamado se manifestar precisa e especificamente sobre os fatos narrados pela parte contrária na petição inicial. Presumem-se verdadeiros os fatos não impugnados (exceto – os que não admitem confissão, se o alegado na inicial não estiver acompanhado de documento que a lei considera essencial – ex. alegar morte de alguém e não anexar certidão de óbito; se estiver em contradição com outros fatos alegados). Tal regra não se aplica ao MP, curador especial e advogado dativo – que podem realizar defesa por negativa geral.

1.4.20. Princípio da proteção

Por esse princípio o caráter protecionista tão evidenciado no direito material do trabalho também seria aplicável no âmbito do processo do trabalho. Portanto, considera a hipossuficiência também no plano processual, por isso a legislação processual contem normas que favorecem o autor, que normalmente é o empregado: gratuidade e assistência judiciária são exclusivamente para o empregado; a eventual inversão do ônus aproveita apenas ao obreiro; a ausência do reclamante a audiência importa em mero arquivamento da reclamação, possibilitando a apresentação de nova ação; a obrigatoriedade de depósito recursal é destinado apenas ao reclamado; a reclamação deve ser proposta na localidade que o empregado (seja ele reclamante ou reclamado) prestou seus serviços. Como essas disposições decorrem da lei não há que se falar que o juiz institui privilégios ao trabalhador.

1.4.21. Princípio da busca da verdade real

É derivado do princípio do direito do trabalho: primazia da realidade. Os juízes tem ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo rápido andamento processual, podendo determinar diligencias necessárias aos esclarecimentos das causas.

1.4.22. Princípio da normatização coletiva

A redação original do art. 114 da CRFB concedia a JT o poder normativo de fixar sentenças normativas impondo condições de trabalho de aplicação obrigatória às categorias profissionais e econômicas (patronal). A EC nº 45 limitou tal poder, e a JT se tornou juízo arbitral somente tendo poder normativo se ambos os sindicatos concordarem.

1.4.23. Princípio da extrapetição

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Autoriza-se o julgador a conceder ultra ou extra petita. O CPC, p.e., permite que o juiz condene em juros e correção monetária (ainda que silente nisso o autor). No processo do trabalho temos: no caso de férias, o juiz pode cominar pena diária de 5% do SM; no caso de rescisão contratual havendo controvérsia sobre o valor o empregador deve pagar ao trabalhador a parte incontroversa, sob pena de pegá-las acrescida em 50%; se o pedido for apenas de reintegração pode o juiz substituir por condenação em indenização quando a reintegração for desaconselhável; juros de mora e correção monetária. Isso mesmo sem que o autor peça.

1.4.24. Princípio da non reformatio in pejus

O tribunal não poderá piorar a situação do recorrente. Apesar do reexame necessário não ser recurso também se aplica tal regra. Pelo efeito translativo do recurso as questões de ordem pública podem ser visitadas de oficio em sede recursal, pois em relação a elas não há preclusão.

1.4.25. Princípio da instrumentalidade ou finalidade

Os atos processuais só dependem de forma determinada se a lei assim o exigir, e mesmo assim serão válidos se preencherem a finalidade essencial.

1.4.26. Princípio da inafastabilidade da jurisdição

Também é conhecido sistema de jurisdição única. Tem previsão na CRFB (a lei não pode excluir do judiciário lesão ou ameaça a direito). Todavia a lei 9.958 exige que antes de ingressar no judiciário a demanda trabalhista deve ser submetida a comissão de conciliação prévia, e instituída na localidade. Existem ADI no STF, mas o STF não declarou inconstitucional tal lei.

1.4.27. Princípio da perpetuatio jurisdictionis

A competência é fixada no momento que a ação é proposta, sendo irrelevante modificações de estado de fato ou direito, exceto se suprimido o órgão ou alterada sua competência material ou hierárquica art. 87 do CPC. Ex. se a lei impõe que ação seja proposta no domicilio do réu e esse durante o processo muda de município o processo permanece no juízo inicial. Mas se a lei altera a competência do tribunal os autos devem ir para o outro juízo agora competente.

1.4.28. Princípio da estabilidade da lide

Por esse princípio antes da citação pode o autor alterar o pedido e causa de pedir, depois de realizada a citação tal alteração só é possível com concordância do réu. Na JT como a defesa é feita em audiência o autor entende que pode o reclamante editar sua peça antes do reclamado apresentar a defesa, desde que respeitado o contraditório, tendo o réu prazo para se manifestar sobre o aditamento.

1.5. Fontes formais do Direito processual do Trabalho

CRFB; CLT; CPC; lei de cobrança judicial da fazenda pública; lei de organização da JT; LC que regulamenta o MP; lei que regula a ação civil; o CDC; ECA; qualquer norma que verse sobre processo do trabalho, súmulas vinculantes editadas pelo STF.

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Capítulo 2 – Organização da Justiça do Trabalho, competência.

2.1. Organização da Justiça do Trabalho

2.1.1. Introdução

Divide-se em 3 graus; juízes (varas trabalhistas); TRT (2º grau) e TST (3º).

2.1.2. Tribunal Superior do Trabalho

Surgiu com a integração da JT ao judiciário (1946). É órgão de cúpula e exerce jurisdição em todo o Brasil. Seus ministros (27) são brasileiros (naturalizados ou nato) entre 35 e 65 nomeados pelo PR e aprovados pelo SF por maioria absoluta: quinto constitucional para advogados e MP com mais de 10 anos de exercício; demais promovidos dos TRT indicados pelo próprio TRT. A lei disporá sobre a competência do TST. Funciona junto ao TST a escola de formação dos magistrados e o Conselho superior de justiça do trabalho. O TST tem órgão especial, plenário, seção administrativa, especializada em dissídio coletivo, dissídio individual, e 8 turmas. Tem presidência, vice, corregedoria e Conselho da Ordem do Mérito. Ao juiz aposentado ou exonerado é vedado advogar no juízo que se afastou antes de 3 anos do desligamento.

2.1.3. Tribunal Regional do Trabalho

Os TRT substituíram os conselhos regionais do Trabalho. Integram o TRT no mínimo 7 juízes recrutados de preferência na respectiva região e nomeados pelo PR dentre brasileiros entre 35 e 65 anos: quinto constitucional para advogados e MP; os demais mediante promoção dos juízes das varas trabalhistas por merecimento e antiguidade, alternadamente. Antigamente havia previsão de um TRT por Estado, porém atualmente não subsiste – são 24. Os juízes do TRT podem se dividir em turmas. O TRT instalará justiça itinerante (móvel) na sua respectiva região, favorecendo acesso ao judiciário. SP possui 2 TRT e Tocantins (DF), Amapá (PA), Roraima (AM) e Acre (RO) não são sedes e portanto são atendidos por câmaras regionais.

2.1.4. Juízes do Trabalho

A extinção da junta de conciliação (EC nº 24) fez que a jurisdição em primeiro graus fosse exercida pelo juiz singular nas Varas do Trabalho. Pelo art. 112 da CRFB na comarca não abrangida pela Vara do Trabalho pode o juiz de direito exercer a jurisdição trabalhista, com eventual recurso para respectivo TRT, instalada a vara trabalhista cessa a competência do juiz de direito, inclusive para executar sentença por ele proferida. A jurisdição da Vara é determinada pelo próprio TRT mediante ato próprio, não se exigindo lei para ampliar/restringir competência da vara (art. 650 superado).

2.2. Competência da justiça do Trabalho

2.2.1. Jurisdição e competência

As regras fixadoras da competência se encontram na CRFB e leis infra. A competência da justiça do trabalho sofreu alteração com a EC nº 24, mudando o art. 114.

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2.2.2. Competência em razão da matéria e da pessoa

A competência em razão da matéria é definida em função dos pedidos contidos na inicial. Na justiça do trabalho tal competência tem previsão no art. 114:

2.2.2.1. Ações oriundas da relação de trabalho

Com a inovação da EC nº 45 a JT compete julgar ações oriundas das relações de trabalho – qualquer vínculo jurídico em que uma PF executa obra/serviço para outra mediante contraprestação paga, é gênero que a relação de emprego, estágio, trabalho autônomo, avulso, eventual, voluntario e etc. são espécie. O que permite um pedreiro, pintor e outro autônomo que não receber pelos serviços ajuizar perante a JT (apesar de não ser empregado – ausência de subordinação). A prestação de serviço entre fornecedor e consumidor se envolver relação de consumo a JT não terá competência, pois a pretensão deduzida não é afeta a relação de trabalho, todavia, se o litígio for sobre, p.e, não recebimento do prestador PF a JT será a competente. Assim, sob o enfoque do prestador há uma relação de trabalho com o destinatário do serviço - ex. cobrança de honorários ou preço do serviço. Há, no entanto, jurisprudência que entende que para se configurar relação de trabalho deve haver intermediário entre prestador e consumidor final: ex. dentista de clínica especializada em que entre paciente e clinica há relação de consumo e entre dentista e clinica relação de trabalho. Mas no caso do paciente buscar o dentista diretamente não haveria relação de trabalho.

O acidente de trabalho embora decorrer da relação de trabalho não está na competência material da JT e sim da estadual comum (vara de acidente de trabalho) em que o obreiro litiga contra o INSS (mesmo sendo autarquia federal, União e etc). Cabe a JT dirimir controvérsia decorrente da relação de trabalho entre PJ de direito público e trabalhadores (não servidor, pois ai a relação não é contratual e sim estatutária), a JT é competente para condenar a AP a indenizar em razão do fato do príncipe. A CRFB não atribuiu competência penal genérica à JT. A JT tem competência para conhecer controversa acerca de honorários advocatícios, pois há intuitu personae na prestação do serviço. O STJ, no entanto, sumulou de forma contrária entendendo ser da competência da Justiça estadual ação de cobrança de profissional liberal a cliente – o autor discorda de tal posicionamento.

2.2.2.2. Entes de direito público externo

Não há que se falar em imunidade de jurisdição nas relações de trabalho com ente de direito público externo (Estado estrangeiro), pois a JT possui competência para processar e julgar essas demandas (processo de conhecimento). Assim não pode ser invocado privilégio diplomático em processo trabalhista, do contrario iria ocorrer enriquecimento sem causa do Estado estrangeiro. Porém o ente de direito público externo tem imunidade de execução, logo, a JT não tem competência para executar seus julgados devendo socorrer-se aos apelos diplomáticos mediante carta rogatória (Convenção de Viena). De acordo com o STF só os bens estrangeiros em território nacional e que não tenham afetação as finalidades diplomáticas e consulares poderiam ser executados. Por isso se diz que a imunidade de jurisdição do Estado estrangeiro quando se trata de litígios trabalhistas tem caráter meramente relativos, isso porque o Estado estrangeiro estaria atuando em ordem estritamente privada (como um particular – atos de gestão) e não praticando atos júri imperri. Apesar de não existir imunidade

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de jurisdição (processo de conhecimento) há imunidade de execução, pois os bens das missões diplomáticas são impenhoráveis (o próprio ingresso nas instalações a qualquer propósito é proibida sem o consentimento), exceto se o bem não tiver destinação diplomática/consular ou se o Estado Estrangeiro renunciar a imunidade.

2.2.2.3. Servidores da administração pública

De acordo com a interpretação do STF a JT é incompetente para conciliar e julgar ações envolvendo servidores públicos estatutários, pois a relação não é contratual de trabalho e sim estatutária (jurídico-administrativo), sendo competente a JF (servidor federal) ou estadual (outros). Isso somente afasta da competência da JT os servidores estatutários (cargo efetivo, comissão ou temporário – os autênticos, que são contratados nos requisitos constitucionais de interesse público especial; os falsos temporários são celetistas – apesar disso o STF entende que também para os falsos temporários o JT não é competente), os celetistas continuam sob competência da JT, independente de ser o PP o contratante. Se há controvérsia acerca do vínculo empregatício a JT é competente.

As estatais estão submetidas a regime própria das empresas privada e seu pessoal é contratado por CLT. Se houver mudança do servidor celetista para estatutário a JT é competente para dirimir conflitos oriundos do contrato celetário.

2.2.2.4. Ações que envolvam o exercício do direito de greve

O exercício abusivo de greve pode gerar o manejo de ações coletivas proposta pelo MP ou sindicato patronal ou ações individuais proposta pela empresa ou qualquer interessado em face dos danos causados pela greve abusiva, dessa forma nas ações individuais podemos ter como partes empresas, sindicatos, empregados, dirigentes sindicais, usuário do serviço e etc.,sendo a JT a competente. Inclusive os interditos proibitórios (garantia de posse das empresas nos casos de greve contra iminente atentado a posse), pois a matéria é eminentemente laboral.

2.2.2.5. Ações sobre representação sindical

Quando dois ou mais sindicatos disputarem base territorial de representação de categoria tal matéria deve ser julgada pela JT. Outras matérias envolvendo direito sindical poderão ser objeto de ações perante a JT: declaratória de vínculo jurídico entre sindicato e federação/confederação; direito de filiação e desfiliação; eleição de dirigente sindical e processo o eleitoral; ações contra atos atentatórios à liberdade sindical; direitos do dirigente sindical em face do próprio sindicato; ações que envolvam contribuição assistência, confederativa e etc.; cobrança de contribuição sindical perante trabalhador; consignação de pagamento de contribuição sindical no caso de dúvida e inclusive dissídio entre empresa e sindicato patronal.

2.2.2.6. Mandado de segurança, habeas corpus e habeas data

É de competência da JT essas ações quando a matéria envolvida for sujeita à jurisdição laboral. Ex. juiz do trabalho determina prisão civil do depositário infiel, caberia HC perante a JT; HD

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para o trabalhador ter acesso a dados pessoais constante em bando de dados em poder do Estado (MTE).

2.2.2.7. Conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista

O Conflito de Competência pode ser suscitado pelos juízes, MP e parte. Será solvido pela própria JT, exceto nas hipóteses de competência do STF e STJ. Assim o TRT solve conflito se as varas do trabalho/juiz de direito investido na jurisdição trabalhista forem da mesma região; TST quando existir conflito entre TRTs, ou entre varas do trabalho/juiz de direito investido na jurisdição trabalhista sujeitas à jurisdição de TRT diferente (ex. juiz do trabalho em BH x juiz do trabalho em RJ); STJ quando o conflito for entre justiça do trabalho x outra justiça; STF quando houver conflito entre TST e outro órgão (que não seja da justiça do trabalho). Em razão da hierarquia não há conflito entre TRT e Vara do trabalho a ele vinculado. Além disso não há conflito se já há sentença transitada em julgado.

2.2.2.8. Ações de indenização por dano moral ou patrimonial

Qualquer ação de dano moral ou patrimonial proposta pelo empregador em face do empregado ou vice-versa quando decorrente da relação de trabalho será de competência material da JT. As ações acidentárias promovidas pelo empregado em face do INSS é da justiça comum (vara acidente de trabalho). Se o acidente decorrer da negligência do empregador poderá o INSS ajuizar ação regressiva perante a JF. Ações por dano moral/patrimonial movida pelo empregado contra empregador será da JT, ainda que decorrente de acidente de trabalho. Para o STF é da competência da JT se o pedido de indenização é feito pelos dependentes do trabalhador falecido. O STJ entende que é da justiça estadual. Há doutrina que entende ser da JT eventual dano pré ou pós contratuais. Ex. o decorrente da entrevista de emprego.

No que tange a mudança da regra constitucional sobre a competência temos que:

Ação Competência Ação acidentária (previdenciária) derivada de acidente de trabalho promovida pelo trabalhador segurado em face do INSS

Justiça comum estadual (Varas de acidente de Trabalho)

Ações promovidas pelo empregado em face do empregador postulando indenização por danos morais e materiais sofridos em decorrência de acidente de trabalho

JT

Ação regressiva do INSS contra empregador negligente

JF

2.2.2.9. Ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho

Tal competência era antigamente conferida a JF. Atualmente a ação proposta pelo empregador objetivando invalidar sanção administrativa imposta pelas DRT é competência da JT. A cobrança da referida multa cabe a PFN perante a JT, por se tratar de crédito tributário na União.

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2.2.2.10. Execução de ofício das contribuições sociais

O juiz do trabalho passou a executar de oficio as contribuições previdenciárias devidas pelos empregados e empregadores provenientes das sentenças ou acórdãos proferidos – lembrando que as contribuições previdenciárias só incidem sobre parcela de natureza salarial e não indenizatória, razão pela qual deve o juiz discriminar a natureza de cada parcela, seja da sentença ou do acordo homologado. Aliás, importa relembrar que o acordo homologado não admite recurso, exceto rescisória, e recurso ordinário por parte da União (antes INSS), pois o acordo não prejudica os créditos da União. Logo, admitindo a JT o vínculo empregatício de obreiro com empregador, sobre o período sem registro na CTPS (período clandestino) reconhecido juridicamente (ação declaratória), serão executados de ofício as contribuições previdenciárias devidas em função dos salários pagos à época.

2.2.2.11. Outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho

Entende-se que o inciso XI repete o inc. I do mesmo art. 114 (2.2.2.1.).

2.2.2.12. Poder normativo

O autor remete a leitura do capítulo sobre dissídio coletivo – capítulo 11.

2.2.2.13. Ações que versem sobre descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos trabalhadores

De acordo com o STF compete a JT conhecer ações que tenham como causa de pedir o descumprimento de normas relativas à segurança, higiene e saúde dos trabalhadores, ainda que sejam servidores públicos estatutários.

2.2.2.14. Servidores de cartórios extrajudiciais

Pela CRFB o serviço de cartório de notas e registros é exercido em caráter privado por delegação do PP (art. 236). A lei 8.935 regulou a matéria e definiu que o notário ou tabelião, e o oficial de registro ou registrador são profissionais de direito, dotados de fé pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e de registro. O notário e os oficiais de registro poderão contratar escreventes como empregados, com remuneração livremente ajustada e sob o regime celetista. Sendo assim da JT a competência para dirimir conflito envolvendo empregados e os cartórios não oficiais.

2.2.3. Competência funcional

2.2.3.1. Competência das Varas do Trabalho

De acordo com o art. 652 da CLT, compete às varas do Trabalho conciliar e julgar os dissídios que reconhecem a estabilidade de empregado; remuneração, férias, indenização por rescisão contratual, contrato de empreitada em que o empreiteiro seja operário, demais dissídios individuais; processar e julgar inquérito para apurar falta grave, julgar embargos de suas próprias decisões, impor multa e penalidade a atos de sua competência. Ressalta-se que tem preferência o dissídio que derivarem da falência do empregador e que se discuta sobre pagamento de salários. Compete ainda ás Varas de Trabalho requisitar diligencias e

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esclarecimento diante de autoridades competentes, realizar atos mediante carta de ordem dos TRT e TST, julgar exceções de incompetências e suspeição; expedir e cumprir precatórias.

2.2.3.2. Competência dos TRTs

Ao plenário compete processar, conciliar e julgar originalmente os dissídios coletivos; processar e julgar originalmente as revisões de sentença normativa, extensão das decisões proferidas em dissídio coletivo e o MS; processar e julgar em última instância os recursos de multas imposta por turmas; rescisória de 1º ou 2º instância, inclusive juiz de direito investido em jurisdição trabalhista, conflitos de jurisdição; julgar em única ou última instância os processos e recursos de natureza administrativa atinente a seus serviços e servidores, e as reclamações contra ato administrativo de seus membros ou de instância inferior. Podem ainda emitir carta de ordem; julgar sua suspeição e incompetência.

2.2.3.3. Competência do TST

Ao tribunal pleno compete declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, aprovar enunciado de súmula em dissídio individual; julgar incidente de uniformização de jurisprudência em dissídio individual; aprovar precedente da jurisprudência predominante em dissídio coletivo; aprovar tabela de custos e emolumentos, elaborar o RI do TST. Além disso, há competência especifica para a seção especializada em dissídio coletivos e individuais. Cabe por fim ás Turmas julgar os recursos de revista contra decisão do TRT, agravo de instrumento dos despachos do TRT que nega seguimento de recurso de revista, os agravos regimentais e embargos de declarações.

2.2.4. Competência territorial das varas do trabalho

A competência em razão do lugar (territorial) está disciplinada no art. 651 da CLT. Em regra a demanda deve ser proposta na localidade em que o empregado efetivamente tenha prestados seus serviços, independente do local da contratação. Na hipótese do obreiro realizar serviço em vários locais (ex. inicia prestação em MG e é transferido para SP e posteriormente demitido) o local da prestação do último serviço é competente. O autor do livro entende que a regra de fixação de competência em razão do local não é absoluta, sendo que poderá ser afastada no caso de inviabilizar a ação por parte do trabalhador (inafastabilidade da jurisdição) facultando-se a propositura da ação no domicilio do empregado.

Quando o trabalhador é viajante comercial competente é o juízo da localidade da agencia/filial que ele está subordinado; somente inexistindo esta será competente a Vara que o empregado tenha domicilio ou na localidade mais próxima.

A JT nacional é competente para conhecer demanda de brasileiro contra empregador mesmo que o contrato e o serviço sejam efetuados no estrangeiro, no caso o direito material aplicado será o estrangeiro (prestação do serviço) e o processual o nacional. Por fim o art. 651 prevê que as empresas que promovem atividade fora do lugar da celebração do contrato (ex. Circo, motorista de ônibus intermunicipal) pode o trabalhador reclamar no foro da celebração do ajuste ou de prestação dos serviços.

2.2.5. Foro de eleição

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Pelo art. 111 do CPC a competência em razão do lugar e valor podem ser modificadas por meio da eleição de foro entre as partes. Mas no que se refere ao processo do trabalho as normas que fixam competência são de ordem pública, logo, imodificáveis por vontade das partes, apesar de não existir vedação expressa de foro de eleição na CLT, no âmbito trabalhista tal cláusula é incompatível com a hipossuficiência de uma das partes.

2.2.6. Modificação de competência

A competência em relação à matéria e hierarquia é imodificável, inderrogável. Entretanto a competência em razão da localidade pode ser modificadas, com aplicação das regras do CPC. Prorrogação: assim se o réu não propuser exceção de incompetência o juiz relativamente incompetente se torna competente, sendo, no entanto, vedado ao juiz reconhecer sua incompetência relativa de oficio (apesar do art. 795 prever o oposto). O autor tem 24 horas para se manifestar sobre a exceção de incompetência e sendo apresentado de suspeição o juiz em 48 horas deve designar audiência para instruir e julgar a exceção. No processo do trabalho não há possibilidade de modificação da competência em razão do valor da causa, pois tal informação é irrelevante para definir o juízo, exceto para a fixação dos dissídios de alçada (2 SM) e determinar o rito sumaríssimo (40 SM).

Conexão: A CLT trata da conexão no art. 842 e permite que o magistrado acumule um único processo várias reclamações desde que entre elas haja identidade de matéria (pedido ou causa de pedir) e tenha sido proposta por empregados da mesma empresa ou estabelecimento. No CPC o juiz prevento será o que primeiro despachar (art. 106) se ambos tiverem a mesma competência territorial, do contrário será o que primeiro citar. No processo laboral não há despacho citatório, sendo a notificação postal ato automático da Secretaria da Vara, assim no processo do trabalho prevento será o juiz em que a ação foi protocolada em primeiro lugar.

Continência: a continência é quando há identidade entre as ações, porém uma tem pedido mais amplo que a outra (contém o outro pedido). Toda vez que há continência há conexão, pois aquela é mais especifica que essa. Assim aplica-se a mesma regra da conexão.

Capítulo 3 – Ministério Público do Trabalho

3.1. Ministério Público

3.1.1. Origem

Alguns afirmam que remota do Egito antigo em que o funcionário real possuía poderes para castigar rebeldes e proteger o povo. Porém, a maioria dos autores revela a origem do MP à França.

3.1.2. Perfil constitucional

A Constituição de 1824 limitou-se a atribuir ao MP a promoção da ação penal, ressalvada a competência do legislativo nos crimes de autoria dos ministros de estado. A CRFB 1891 pouco se referiu, apenas estabeleceu que o PR designaria o PGR dentre os membros do STF. A CRFB 1934 desvinculou o MP do judiciário alocando-o dentre os órgãos de cooperação de atividade

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governamental. Previu o MPU, do DF e dos estados. O PGR era indicado pelo PR e aprovado pelo SN, não mais precisava ser integrante do judiciário, exigiu concurso público e conferiu estabilidade. A CRFB 1937 foi retrógada retirou parcela da autonomia do órgão e o PGR seria de livre nomeação e exoneração pelo PR, e atuaria junto ao STF. A CRFB 1946 recuperou o status de autonomia do MP (desvinculado dos demais Poderes), restabeleceu as prerrogativas, exigência de concurso, a nomeação voltou a exigir aprovação do SF, mas a destituição permaneceu ad nutum, além disso cabia ao MPU representar a União em juízo. A CRFB 1967 o MP passou a integrar o judiciário, mas manteve prerrogativas e investidura do PGR, o MPU continuava a representar a União em juízo. A CRFB 1969 manteve as disposições anteriores, mas integrou o MP ao Poder Executivo. A CRFB 1988 consagrou autonomia do MP aos demais poderes, ampliou sua atuação, não mais o MPU representa a União em juízo.

3.1.3. Princípios institucionais

A CRFB elencou princípios institucionais próprios ao MP: unidade – os membros de cada ramo do MP integram um único órgão sob a direção única do PG. Tal unidade não se observa entre MPT e MPU ou MP estadual. Indivisibilidade – os membros do MP não se vinculam aos processos que atuam, podem se substituir por outros na forma da lei, tal princípio decorre do anterior. Independência funcional – os membros do MP não estão subordinados a ninguém, somente a lei e suas respectivas consciência, eventual hierarquia é meramente administrativa, dessa forma os superiores (chefes) não podem avocar processos ou determinar condução de processos, sendo crime de responsabilidade do PR, se atentar contra o livre exercício do MP. Não há que se falar em quebra da indivisibilidade/unidade quando em segunda instância um membro do MPT opina de forma diversa do colega da primeira instância - independência supra

3.1.4. Princípio do promotor natural

Evitam-se com isso designações arbitrárias efetuadas pelas chefias do MP (evita o promotor de exceção). Assim ninguém será processado senão pelo promotor competente, predeterminado em normas legais, o que impede a escolha do Parquet para atuar em casos específicos.

3.1.5. Dos instrumentos de atuação

A LC nº 75 dispõe sobre a atuação do MP, dentre as quais destaca-se promover o controle concentrado de constitucionalidade; a ação penal; inquérito civil e ação civil pública; e outros interesses individuais homogêneos sociais, difusos e coletivos, indisponíveis; promover a defesa do Estado democrático e suas instituições.

3.1.6. Autonomia funcional, administrativa, financeira, iniciativa legislativa e elaboração de proposta orçamentária

Dentre a autonomia do MP temos que pode propor ao legislativo a criação, extinção de seus cargos e serviços auxiliares, promovendo concurso público e a política remuneratória e plano de carreira de seu pessoal. Elaborar sua própria proposta orçamentária dentro dos limites da lei de diretrizes orçamentárias. Cabe ao CN com auxilio do TCU fiscalizar o MPU.

3.1.7. Procurador Geral da República – requisitos para investidura e procedimentos para destituição

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O MPU tem como chefe o PGR que é nomeado pelo PR. O indicado deve integrar o próprio MPU, ter mais de 35 anos e ser aprovado pelo SF por maioria absoluta. O PGR é nomeado para um mandato de dois anos, permitida várias reconduções, desde que todas aprovadas pelo SF. A destituição do PGR é de iniciativa do PR, mas deve ser aprovada pelo SF também por maioria absoluta, mas dessa vez em votação secreta. O PGR acumula função de chefe do MPU e MPF.

3.1.8. Garantias, prerrogativas e vedações aos membros

3.1.8.1. Garantias

A CRFB assegura as seguintes garantias ao membro do MP: vitaliciedade adquirida após dois anos de exercício, tal garantia impede que o MP perca o cargo, exceto por sentença judicial transitada em julgado, antes de adquirida a vitaliciedade poderá perder o cargo mediante processo administrativo por decisão da maioria absoluta do respectivo Conselho. Inamovibilidade impede que o MP seja transferido compulsoriamente de uma localidade para outra, salvo por interesse público, mediante decisão do órgão colegiado por voto da maioria absoluta de seus membros, assegurado o contraditório. irredutibilidade de subsidio – tal garantia e dos servidores públicos em geral.

3.1.8.2. Prerrogativas

As prerrogativas juntamente com as garantias possibilitam o Parquet o exercício de seu oficio sem correr risco de ameaças ou represálias. A LC 75 assegura prerrogativas institucionais: sentar-se no mesmo plano e à direita dos magistrados que oficiem; usar talares; ter trânsito livre em recinto público ou privado (respeitada a garantia da inviolabilidade domiciliar); ter prioridade no transporte privado ou público quando em serviço urgente; porte de arma, independente de autorização; carteira de identidade especial; processuais: o PGR deve ser processado pelo STF em crime comum e SF no de responsabilidade; o membro que oficiar tribunal tem foro no STJ; membro que oficiar em 1º instância tem foro em tribunal; só se preso em flagrante inafiançável (devendo ser comunicado o PGR e tribunal) ou mediante ordem judicial;recolhimento à prisão especial enquanto aguardar julgamento e dependência separada para cumprir pena; não ser indiciado em inquérito policial (deve outro membro do MP apurar o fato); quando atuar como testemunha pode ajustar horário, dia e local com o magistrado; receber intimações pessoalmente nos feitos que oficiar; 1/5 do TJ e TRF é composto de MP e advogados, com mais de 10 anos de exercício, notório conhecimento jurídico e reputação ilibada, indicados em lista sêxtupla pela OAB ou órgão do MP (art. 94).

3.1.8.3. Vedações

A CRFB veda ao MP receber custas, auxílio, contribuição ou honorários; exercer advocacia (os que já advogavam antes da CRFB podem continuar); participar de sociedade comercial; exercer qualquer função pública, exceto um de magistério (quem ingressou antes da CRFB pode); exercer atividade político-partidária (os que ingressaram antes da EC 45 podem); o MP não pode exercer a advocacia no juízo ou tribunal que oficiou antes de três anos de seu desligamento; exige-se do aprovado no concurso 3 anos de atividade jurídica. Vale destacar que não pode a lei facultar o afastamento do MP para exercer outra função.

3.1.9. Funções institucionais do Ministério Público

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O art. 129 da CRFB enumera funções institucionais privativas e concorrentes do MP, dentre as quais destacam-se: ação penal pública; inquérito civil; exercer controle da atividade policial (privativas) além de, zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos, promover a Ação civil pública, controle concentrado de constitucionalidade, defender o interesse das populações indígenas, requisitar abertura de inquérito policial (concorrente) A LC nº 75 por sua vez também estabelece funções institucionais do MP: defesa da ordem jurídica, direitos individuais indisponíveis, sociais, soberania popular, direito políticos, objetivos da RFB, indissolubilidade da União, independência dos Poderes, autonomia federativa e é regido pelos princípios da AP.

3.1.10. Estrutura e abrangência

O MP abrange o MPU, MPF, MPT, MP militar, MP DF e territórios, além do MP dos Estados.

3.2. Ministério Público do Trabalho

3.2.1. Evolução

O embrião do MPT surgiu com o conselho nacional do trabalho em 1923, vinculado ao min. da Agricultura, industria e comércio. Com a era Vargas em 1930 o CNT passou a se vincular ao min. do Trabalho, industria e comércio. Com a CRFB 1934 surgiu a JT subordinada ao Executivo (órgão administrativo), o que foi mantido na CRFB 1937. Em 1939 foi criada a Procuradoria do trabalho como órgão de coordenação que atuava na JT. Em 1943 foi aprovada a CLT que organizou o MPT. A CRFB 1988 desvinculou o MPT da estrutura dos demais Poderes, definiu como instituição permanente. Atualmente o MPT integra o MPU.

3.2.2. Órgãos e atribuições do Ministério Público do Trabalho

O PGT é o chefe do MPT nomeado pelo PGR dentre integrantes da instituição que tenham mais de 35 anos e 5 de carreira (ou 2 anos, se ausente candidatos com 5), escolhido em lista tríplice por voto plurinominal, facultativo e secreto pelo colégio de procuradores, para um mandato de dois anos permitida uma recondução. Pode o PGT ser destituído por solicitação do conselho superior do MPT (voto secreto de 2/3) ao PGR. O PGT atua perante o TST. O Colégio de Procuradores do Trabalho é integrado por todos os membros em atividade do MPT sendo presidido pelo PGT. Outro órgão é o Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho, também presidido pelo PGT, composto ainda pelo vice PGT, 4 subprocuradores do trabalho eleitos pelo colégio de procuradores para mandato de 2 anos (admitida 1 recondução), 4 subprocuradores eleito pelo voto, secreto e plurinominal de seus pares para um mandato de 2 anos (admitida 1 recondução). A Câmara de coordenação e revisão do MPT composta por 3 membros do MPT indicados pelo PGT e 2 pelo Conselho Superior do MPT para um mandato de 2 anos. Sempre que possível dentre integrantes do ultimo grau da careira. São indicados com suplentes. Corregedor Geral do MPT fiscaliza as atividades funcionais dos membros do MPT é indicado pelo PGT dentre os subprocuradores que integrem lista tríplice elaborada pelo Conselho Superior para mandato de 2 anos, admitido 1 recondução. Os subprocuradores do trabalho ocupam o grau mais elevado dentro da carreira do MPT, oficiam junto ao TST e na Câmara de coordenação e revisão, estão lotados na Procuradoria Geral. Os procuradores regionais do trabalho oficiam junto aos TRT e estão lotados nas Procuradorias Regionais. Os procuradores regionais e os subprocuradores não atuam no 1º grau de jurisdição, exceto se

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houver interesse, concordância do membro designado e autorização do Conselho Superior. Os procuradores do trabalho atuam perante o TRT e varas do trabalho e integram o grau inicial.

3.2.3. Atuação judicial: previsão legal, atuação como órgão agente e interveniente

3.2.3.1. Previsão legal

O art. 127 e 129 da CRFB exemplifica atuação judicial (Ação civil pública - ACP) e extrajudicial (inquérito civil) do parquet laboral. A LC 75 se refere a atuação judicial (parte ou fiscal da lei), em suma se referindo as ações de competência do MPT e atuação como árbitro quando solicitado pelas partes, participar da conciliação quando o dissídio envolver paralisação de serviços e etc. percebe-se que atuará como agente (parte) ou interveniente (custos legis).

3.2.3.2. Atuação como órgão agente

É a função mais importante do MPT, pois atua diretamente na defesa dos interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. O principal instrumento de atuação do MPT é a ação civil pública (ACP), principalmente nos casos de combate ao trabalho escravo, infantil, terceirização irregular, discriminação, proteção ao meio ambiente, moralidade administrativa (ex. contratação sem concurso público). Utiliza-se ainda da ação rescisória, anulação de convenção, MS, MI. O MPT atua ainda como substituto processual do menor (ativa ou passivamente), na falta do representante legal (pode ser feita também pelo sindicato ou MP estadual, ou curador em juízo).

3.2.3.3. Atuação como órgão interveniente

A atuação como fiscal da lei, elaborando parecer quando o interesse público restar evidenciado. Atua nessa qualidade nos 3º de jurisdição da JT. A orientação jurisprudencial (OJ) 237 indica que atuação como custos legis no MPT não lhe dá legitimidade para recorrer, mas poderá propor ação rescisória. Além disso, se a rescisória se fundar em colusão das partes o prazo de 2 anos não é da decisão viciada, mas sim da ciência da fraude pelo MPT – súmula nº100 TST. Pela OJ nº 130 o MPT não pode arguir prescrição. A atuação concomitante do MP como interveniente e como agente vai contrario ao princípio da unidade e indivisibilidade do parquet, somente sendo admitida essa dupla atuação quando o MPT atue na defesa do incapaz e ao mesmo tempo como curador especial do réu revel ficto, para assegurar o contraditório equilibrado, ou numa ação ambiental laboral movida pelo MPT contra réu incapaz.

3.2.4. Atuação extrajudicial

A atuação extrajudicial pode ocorrer na esfera administrativa, iniciando-os de oficio ou em razão de denúncias da sociedade. A participação do MPT na condução de procedimentos administrativos, colhendo provas para eventual ação, ou funcionado como instrumento de convencimento para que o investigado ajuste sua conduta a lei. O parquet atua como árbitro sempre que solicitado pelas partes.

3.3. A EC nº 45/2004 e seus reflexos na atuação do Ministério Público do Trabalho

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A EC teve reflexos na atribuição do MPT, ampliando-a, pois não só afeta as relações de emprego, mas as de trabalho também. De qualquer forma percebia-se que o MPT já atuava nessa esfera antes do advento da EC 45 (ex. atuação contra o combate do trabalho infantil e doméstico – em que na verdade nem contrato de trabalho há). Atua ainda nas relações de estágio ou contratação de PJ individual para prestação de serviço. Assim na prática a EC apenas consolidou e legitimou mais a atuação do MPT. Em relação à greve que possa lesionar o interesse público (ex. transporte coletivo e coleta de lixo) a CRFB permite que o MPT ajuíze dissídio coletivo perante a JT. No que tange as atividades não essenciais não se justifica a atuação do MPT, exceto se exercido o direito de greve de forma abusiva. Pode inclusive o MPT atuar garantindo o direito constitucional de greve como custos legis ou até mesmo como parte, provocando a JT (ex. impugnando liminares concedidas por juízes de direito – incompetentes). Pode o MPT (qualquer instância) ajuizar MS, ou emitir pareceres a respeito de MS, HC, HD. Como é da competência da JT a ação de danos morais e patrimoniais decorrente de relação de trabalho, o MPT em ACP pode pleitear dano moral coletivo.

Capítulo 4 – Atos, termos, prazos e nulidades processuais

4.1. Atos processuais

4.1.1. Conceito

O processo é complexo de atos ordenados visando uma sentença. O ato processual é um ato jurídico, logo tem o condão de constituir, conservar, desenvolver, modificar ou extinguir relação processual. Os atos processuais são praticados pelas partes, juiz e auxiliares. O CPC foi alterado pela lei 11.419 estabelecendo que todos os atos e termos do processo podem ser produzidos, transmitidos, armazenados e assinados por meio eletrônico.

4.1.2. Classificação

Há doutrina que classifica os atos processuais objetivamente em postulatórios (ex. petição inicial), de desenvolvimento (ex. despacho citatório), de instrução (ex. depoimento) e de provimento (Ex. sentença). O CPC, no entanto, adotou corrente subjetiva classificando os atos em da parte, do juiz e dos órgãos auxiliares da justiça. Os da parte (declarações uni ou bilaterais) produzem imediatamente seus efeitos (ex. extingue, modifica e etc. a relação processual), como p.e, a contestação/recurso/transação/depoimento pessoal e etc. Os atos do juiz se resumem em despacho, decisão interlocutória e sentença (pela informatização processual a assinatura do juiz pode ser eletrônica). Despacho em geral é provimento sem conteúdo decisório (ex. determina remessa dos autos); decisão interlocutória é aquela que resolve questão incidente (ex. que decide sobre a incompetência ou dispensa oitiva de testemunha); sentença é decisão que põe fim ao processo, extinguindo resolvendo ou não o mérito. O escrivão e demais auxiliares também praticam atos como o de receber a inicial e autuar seu número de registro. Pela CLT o mesmo deve remeter a 2º via da inicial ao reclamado em 48 horas, notificando-o a comparecer a audiência.

4.1.3. Comunicação dos atos

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O CPC estabelece que a comunicação é feita por citação e intimação. Vale destacar que o CPC eliminou a notificação como forma de comunicação (exceção do art. 867). O legislador do trabalho na CLT utilizou indiscriminadamente o termo notificação (englobando citação e intimação) como comunicação dirigida ás partes. Todavia no processo de execução previu expressamente a citação do executado pelo oficial. Na inicial laboral não há citação do reclamado, mas notificação do mesmo, por ato automático da secretaria que em 48 horas do recebimento da inicial remete cópia ao reclamado notificando-o a comparecer à audiência e apresentar defesa. Tal notificação é postal e caso não encontrado ou recursa de recebimento devem os correios devolver a notificação ao tribunal em 48 horas.

O art. 841 estabelece que a audiência deve ser marcada se possível após 5 dias, parte minoritária entende que se conta a partir do recebimento da inicial, corrente majoritária entende que é notificação, o que permite o preparo da defesa pelo reclamado. A falta de notificação/irregularidade pode ser suprida pelo comparecimento espontâneo do réu à audiência, podendo no caso aparecer apresentando defesa ou apenas para arguir o vício da notificação, hipótese que será designada nova audiência para apresentar defesa. As PJ de direito público tem prazo quádruplo para responder. No processo do trabalho a notificação das PJ de direito público pode ser feita por via postal (afastado o art. 222 c do CPC que é lei geral em face da especialidade da CLT e dec.lei 779/69). O TST tem o entendimento de que se presume (relativa) recebida a notificação 48 horas após sua postagem, sendo ônus do destinatário demonstrar o contrário, nesse contexto o AR (aviso de recebimento) atua como prova da ciência/recebimento da notificação (seja pessoalmente ou por preposto) e serve como termo inicial para fixação da data da audiência (5 dias). A doutrina/jurisprudência consideram válida notificação postal entregue a zelador do edifício, empregado do reclamado ou mesmo depositada em caixa postal, uma vez que não há previsão legal de pessoalidade na realização da comunicação. O art. 841, §1º estabelece que se o reclamado criar embaraço ao recebimento postal ou não for encontrado far-se-á a notificação por edital, na prática, entretanto, essa é feita por oficial de justiça por ser mais barato e ser modalidade de notificação real e não ficta. Frisa-se que mesmo quando a notificação é feita pelo oficial de justiça não precisa ser pessoal, bastando a entrega no domicilio do reclamado, exceto no caso de execução em que se opera a citação que será pessoal. A citação por edital é evitada por ser demasiadamente formal e precária (aplicável se o reclamado estiver em local incerto e não sabido), razão pela qual os juízes aplicam a notificação por hora certa, mesmo não havendo previsão na CLT (aplicação subsidiária do CPC). No CPC havendo citação por edital e eventual revelia é nomeado curador especial, no caso do processo do trabalho isso não ocorre, uma vez que o curador especial tem previsão apenas para reclamação promovida pelo menor de 18 anos. Se o endereço do reclamado não for atendido pelos correios cabe ao oficial de justiça promover a notificação. O procedimento sumaríssimo não admite citação (CLT errou deveria ser notificação) por edital, de forma que se o reclamado estiver em local incerto ou não sabido deve o juiz converter o rito em ordinário e proceder a notificação por edital. Se o reclamado tiver domicilio no exterior a notificação é feita por carta rogatória. Se o reclamado residir em comarca fora da jurisdição da Vara o juiz a notificação postal prescinde de carta precatória, a por oficial de justiça necessita.

Quando as partes já têm advogados constituídos as notificações são encaminhadas para seus endereços, no caso do MPT ás respectivas Procuradorias. Aas testemunhas devem comparecer

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a audiência independente de intimação, sendo intimadas a requerimento das partes ou ex oficio, se ausentes sujeitam-se a condução coercitiva e multa. No rito sumaríssimo a testemunha só é intimada se deixar de comparecer à audiência. Se o processo estiver em fase recursal as intimações são feitas por publicação no órgão oficial, no nome dos advogados e das partes. A decisão é notificada na própria audiência, ou se revel por via postal, se a parte for intimada à audiência e não comparecer o prazo para recurso conta-se da realização da audiência. A comunicação pode ser feita mediante carta precatória, rogatória ou de ordem em que a de ordem é emanada de Tribunal a juiz subordinado; a rogatória é sempre que o ato processual tenha que ser realizado fora da jurisdição do juízo (ex. ouvir testemunha fora da sede do juízo).

4.1.4. Publicidade

A regra é da publicidade dos julgamentos e decisões administrativas dos tribunais. Somente em casos excepcionais é admitido que o processo ocorra em segredo de justiça (preservação à intimidade ou interesse social). O art.770 da CLT determinada que o ato processual será realizado em dia útil das 6 ás 20 horas, a penhora pode ser realizada aos Domingos e Feriados.

4.1.5. Ato processual por fac-símile

Os atos escritos podem ser transmitidos dentro do prazo por fac-símile, desde que os originais sejam entregues em juízo até 5 dias após o termino do prazo, se não existir prazo a entrega do original deve ser feita 5 dias após o envio do fac-símile. Se não houver perfeita concordância entre o original e o enviado por fax considera-se de má fé o litigante.

4.1.6. Ato processual por correio eletrônico (e-mail)

O TST faculta ás partes e peritos utilizarem e-mail para praticar atos processuais escritos na JT, nesse caso dispensa-se a apresentação do original.

4.1.7. Informatização do processo judicial

A lei 11.419 regulamentou o uso de meio eletrônico na tramitação de processos judiciais (cível ou penal) na comunicação e transmissão de peças, mediante uso de assinatura eletrônica, sendo obrigatório credenciamento prévio no Judiciário. Assim os Tribunais poderão criar Diários de Justiça eletrônicos sendo as intimações realizadas por meio eletrônico, dispensando a publicação no órgão oficial. No processo eletrônico, todas as citações, intimações e notificações inclusive da fazenda pública serão feitas por meio eletrônico.

4.2. Termos processuais

Termo é a redução escrita de determinado ato processual. Os atos e termos devem ser assinados pelas partes interessadas, na impossibilidade de assinatura pode ser feita a rogo por 2 testemunhas, se não houver procurador constituído. Ao receber a peça vestibular o escrivão deve autuar o feito registrando número, nome das partes, data e etc. Os atos e termos devem ser escritos ou datilografados em tinta escura. O processo pode ter atos eletrônicos conjuntamente com atos não eletrônicos. Não serão admitidos nos atos processuais espaços em branco, entrelinhas, emendas, rasuras, salvo se inutilizados.

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4.3. Prazos processuais

4.3.1. Classificação

Podem ser classificados quanto à origem, natureza e destinatários.

Quanto à origem da fixação os prazos podem ser legais: estabelecido em lei como o prazo para apresentar recursos, prazo para executado pagar ou garantir execução (48 horas), judicial: estabelecidos pelo próprio juiz, convencionais: são os acordados entre os litigantes (ex. possibilidade de suspensão do processo para tentativa de conciliação).

Quanto à natureza os prazos podem ser dilatórios: sãos os que admitem prorrogação pelo juiz quando solicitado pelas partes (os convencionais são dilatórios), como p.e., a dilação de prazo para apresentação de documento. De acordo com o CPC podem as partes de comum acordo, antes de vencido o prazo (regra da preclusão), reduzir ou prorrogar o prazo dilatório. Peremptórios: prazos finais insuscetível de prorrogação por acordo das partes, decorrem de normas de ordem pública (cogentes), de qualquer forma pode o juiz no caso de comarca de difícil transporte prorrogar qualquer prazo, mas nunca por mais de 60 dias, exceto se tratar de calamidade pública (em que o limite poderá se exceder).

Quanto aos destinatários podem os prazos se classificarem em próprios: quando destinados as partes, sejam eles legais ou judiciais estarão sempre sujeitos a preclusão; e os impróprios: são prazos legais destinados ao juiz e servidores do judiciário, não precluem.

4.3.2. Contagem dos prazos

O início do prazo ocorre no momento que o interessado toma conhecimento do ato processual a ser realizado (recebida a notificação postal, publicado/afixado o edital, feita a comunicação pelo oficial de justiça), se notificado em dia não útil o início do prazo se dá no próximo dia útil . O início da contagem, por sua vez, acontece no dia útil seguinte ao início do prazo, se terminar em dia não útil prorroga-se até o próximo dia útil. Assim se notificado na sexta feira a contagem de prazo inicia-se da segunda-feira (útil) em diante. A jurisprudência lembra que cabe a parte interessada comprovar a existência de feriado local que justifique a prorrogação do prazo.

Exemplo 1: reclamado notificado na sexta-feira por via postal presume-se recebida a notificação 48 horas após sua postagem, sendo levados em conta apenas os dias úteis, logo, o início do prazo é terça-feira começando na quarta-feira a contagem do prazo. Exemplo 2: reclamado notificado via publicação no DO na sexta, tem-se o início do prazo na segunda e a contagem a partir da terça. Exemplo 3: notificação postal na quinta, presume-se que recebeu na segunda (início do prazo), contagem inicia-se na terça. Na falta de prazo legal e judicial o ato deve ser praticado em 5 dias (CPC). As PJ de direito Público tem prazo dobrado para responder e em quádruplo para contestar. O recesso forense, diferente do feriado, suspende a contagem do prazo processual. Importante lembrar que a EC 45 aboliu as férias coletivas (funcionam juízes de plantão permanente) em 1º e 2º instância, mas não o recesso forense. A morte, perda da capacidade processual da parte, representante ou procurador, a suspeição, incompetência e impedimento, se a parte criar obstáculos (ex. não devolver os autos ao

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cartório) suspendem o processo/prazo. Na JT não se aplica o art. 191 que confere prazo dobrado aos litisconsórcios com patronos diferentes (celeridade processual).

4.3.3. Principais prazos trabalhistas

Ver livro.

4.4. Nulidades processuais

4.4.1. Introdução

Antigamente pelo sistema legalista/formalista o desrespeito a legislação implicava na nulidade do processo. Pelo sistema da instrumentalidade do processo mitiga-se o rigor das formalidades dos atos e termos processuais, isto é, não dependem de forma certa, exceto quando a lei estabelecer, reputando-se válido ainda que realizados de outra forma, desde que preencham a finalidade essencial.

4.4.2. Vícios dos atos processuais

A nulidade decorre da falta de requisito que a lei determine como necessário a validade. A exemplo dos atos jurídicos em geral, podem a irregularidade gerar nulidade do ato ou não. Ex. despacho à lápis ou caneta vermelha, ausência de numeração das folhas dos autos. Nesta esteira os defeitos dos atos podem ser classificados em: irregularidade: vícios desprovidos de força suficiente para invalidar ato, devendo ser ignorados ou realizada a simples correção – podem gerar sanção extraprocessual, como a disciplinar do servidor. Inexistência: o ato sequer chega a existir, p.e, sentença não assinada ou ato praticado por advogado sem procuração (art. 37 CPC). Nulidade que pode ser absoluta ou relativa. A nulidade absoluta é declarada por violação de norma de interesse público, pode ser declarada de oficio e as partes não podem disporem do interesse em questão. Ex. incompetência absoluta. A nulidade relativa ou anulabilidade somente pode ser arguida pelas partes, pois há violação de norma de interesse privado. Ex. incompetência relativa. Os vícios podem ser insanáveis gerando a inexistência ou nulidade absoluta do ato; ou serem sanáveis implicando ou não na nulidade relativa.

4.4.3. Princípios

Princípio da instrumentalidade das formas: a forma é instrumento para se alcançar a finalidade do processo. Princípio do prejuízo ou da transcendência: de acordo com o art. 794 da CLT somente havendo prejuízo se declara a nulidade, o art. 249 do CPC também há essa previsão. Princípio da convalidação ou da preclusão: as partes deve se manifestar acerca da nulidade na primeira oportunidade que falam nos autos (após o ato viciado ter sido praticado). É comum na JT a parte protestar nos autos (registro a nulidade em ata na audiência) se o juiz não lhe conceder a palavra deverá fazer o protesto em razões finais. Tal princípio só se aplica as nulidades relativas, já que as absolutas o juiz pode conhecer de oficio. Economia processual: só são anulados os atos que não podem ser aproveitados. Princípio do interesse: a nulidade não pode ser pronunciada quando arguida por quem lhe deu causa (art. 796 CLT). Princípio da utilidade: a nulidade do ato só prejudica os posteriores que dele dependam ou sejam consequência.

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Capítulo 5 – Partes e Procuradores

5.1. Partes

5.1.1. Conceito, denominação e capacidade

5.1.1.1. Conceito

O conceito tradicional informa que parte é quem demanda (pede) ou contra quem se demanda (pede), resumindo-se a autor e réu. Pode ou não serem sujeitos ad relação jurídica material controvertida. Ex. assedio sexual provocado por gerente, o réu na lide será o empregador (PJ) e não o gerente. Percebe-se, no entanto, que a relação processual pode conter terceiros a que também se denominam partes que atuam apoiando uma das partes ou defendendo direito próprio, além de incluir o juiz (parte imparcial) superando o conceito tradicional supra (que não deixa de ser correto). Distingue-se assim autor/réu como partes na demanda e autor/réu/terceiros que participam no contraditório como partes do processo (ex. MP custos legis).

5.1.1.2. Denominação

A JT era órgão administrativo do Executivo, razão histórica pela qual tem terminologia distinta para se referir a autor/réu: regra geral = reclamante/reclamado; no dissídio coletivo = suscitante/suscitado; inquérito para apuração de falta grave = requerente/requerido.

5.1.1.3. Capacidade

Toda pessoa (PF ou PJ) é sujeito de direito, logo pode adquirir direitos e obrigações, além das pessoas o ordenamento confere essa prerrogativa a entes despersonalizados (ex. espólio, massa falida, condomínio). O fato de ser sujeito de direito (capacidade de direito) significa que pode ser titular do direito, mas não que pode exercê-lo per si (sem auxílio), ou seja, o sujeito de direito pode não ter capacidade de fato (chamado assim de incapaz) razão pela qual o exercício do direito (que o incapaz é titular por ter capacidade de direito) deve ser praticado em seu nome por alguém capaz (no caso do absolutamente incapaz); ou ser praticado conjuntamente entre incapaz e capaz (incapacidade relativa). Ex. venda de imóvel do incapaz, deverá estar representado ou assistido por alguém capaz. Na relação processual temos a mesma regra, isto é, qualquer pessoa pode ser parte processual, pois é sujeito dos direitos, mas nem toda pessoa tem capacidade processual para praticar os atos processuais (que são espécie de atos jurídico) sozinhas, somente quem tem capacidade civil plena (não ser incapaz) tem capacidade processual plena. Assim para praticar os atos processuais precisa de representação ou assistência.

A representação do menor na JT pode ser feita pelos representantes legais e na sua falta, pelo MPT, MP estadual, sindicato ou curador nomeado pelo juiz. A CRFB proíbe o trabalho de menores de 16, exceto o de aprendiz que pode se iniciar aos 14 anos. A CLT estabelece que o menor pode firmar recibo pelo pagamento, mas no caso de rescisão do contrato de trabalho a quitação das verbas exige a assistência do seu responsável. Para o autor do livro se o menor de

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18 anos for emancipado poderá firmar a quitação sem representação. Pela mesma razão entende que contra o menor emancipado corre normalmente a prescrição, não se aplicando o art. 440 da CLT. Mas no que tange a normas de proteção a saúde do trabalhador a emancipação não consegue sobrepô-las por serem de ordem pública (indisponibilidade absoluta), ex. proibição do trabalho noturno, perigoso ou insalubre ao menor de 18 anos, inclusive se emancipado.

A capacidade postulatória é a de elaborar e subscrever peças processuais, normalmente é conferida apenas ao advogado, profissional técnico devidamente habilitado. Todavia na JT tal capacidade nas demandas envolvendo relação de emprego é conferida também ás partes (empregador também). Pelo art. 82 do CPC compete ao MP intervir nas causas em que há interesses de incapazes, mas há regra especifica na CLT de dispõe que o MPT (procuradoria do trabalho) só atua na falta de representantes legais do menor e como a aplicação do CPC só ocorre na omissão da CLT (art. 793) tem-se por afastado o art. 82 do CPC.

5.1.1.4. Jus postulandi

O jus postulandi é princípio do Direito do Trabalho (DT) que confere ao empregado e empregador a capacidade postulatória, prescindido assim de advogado. Assim as partes podem reclamar e acompanhar pessoalmente (ou por seus representantes e sindicatos) o andamento até o final em todas as instâncias trabalhistas (inclusive TST), no entanto, eventual RE ou RESP (ainda que de matéria trabalhista) deve ser subscrito por advogado, sob pena de não ser conhecido. Para o autor do livro o jus postulandi da pare é restrito ás ações que envolvam relações de emprego, não se aplicando ás referentes á de trabalho, assim no caso de relação de trabalho empregado e empregador devem ter advogado constituído. Apesar disso há jurisprudência no sentido contrário.

5.1.1.5. Representação e assistência

Na representação o representante age no processo em nome do titular da pretensão defendendo direito do representado (em nome e no interesse do representado). Tal instituto pode ser legal (ex. PJ de direito público) ou convencional (ex. representantes indicados pelas PJ de direito privado). Diferentemente, na substituição processual a parte pleiteia em nome próprio direito alheio, desde que autorizado por lei (art. 6º CPC). A assistência judicial é diferente da representação, pois apenas supre a deficiência da declaração de vontade do assistido, sem substituí-la, isto é, exige declaração do assistido e assistente, dessa forma eventual acordo, p.e, é feito pelo assistido ratificado ou não pelo assistente. Pela sistemática da CRFB e da CLT entre 14 e 18 há assistência em juízo e não representado, isso porque a CRFB admite o trabalho do maior de 14 (como aprendiz, ao menos), logo ele é apenas parcialmente incapaz. Dessa forma nesse caso quando a lei mencionar representação o faz à conta de falta de técnica. Por outro lado, quando crianças abaixo de 14 anos são vitimas do trabalho infantil são representadas em juízo. Apesar dessa distinção técnica a CLT as vezes emprega assistência e representação de forma equivocada. O art. 843 da CLT estabelece que na audiência de julgamento devem estar presentes reclamante e reclamado, independente da presença de seus representantes, exceto nas hipóteses de reclamações plúrimas ou ações de cumprimento que podem os empregados podem ser representados pelos sindicatos, isso porque nesses casos a sala de audiência não comportaria todos empregados. A CLT faculta o empregador se

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fazer presente por preposto que tenha conhecimento do fato e suas declarações obrigarão o preponente. O preposto deve ser necessariamente empregado da empresa (exceto micro e pequena e relação doméstica), sob pena de revelia e confissão fática da empresa. O advogado não pode ser ao mesmo tempo patrono e preposto. O empregador doméstico pode ser representado por pessoa da família (filho maior, marido, esposa). Pela regra da CLT a notificação por edital mesmo sendo ficta não impõe curador especial (reclamação promovida por menor sem representante). No caso de grupo econômico o autor do livro entende que cada empresa deve ter seu próprio preposto. A OJ 349 estabelece que a juntada de nova procuração sem ressalvas implica revogação tacita do mandato anterior.

5.2. Mandato tácito

Empregado e empregador na JT (relação de emprego) tem o jus postulandi, nada impede que sejam representados por advogados mediante procuração. Na JT há o mandado tacito, isto é, aquele advogado que comparece a audiência, pratica atos processuais está apto a defender o cliente ainda que não possua procuração. O mandato tacito decorre do comparecimento do causídico à audiência, praticando os atos e constando seu nome na ata de audiência. A procuração apud acta, por sua vez é conferida pelo juiz mediante ato formal devidamente registrado. O mandato tácito alcança poderes do foro geral (atos ad iudicia), não englobando poder para confessar, desistir e etc.

Cabe ressaltar algumas jurisprudências: a interposição de recurso não é considerado ato urgente, e não autoriza o oferecimento tardo de procuração. É inadmissível a regularização da representação processual em fase recursal. As PJ de direito público quando representadas por seus procuradores não precisam juntar instrumento de mandato.

5.3. Assistência judiciária

Na JT a assistência judiciária é exclusiva do obreiro, por intermédio de seu sindicato, ainda que não seja associado, assim não pode o sindicato negar a assistência ou condicioná-la a sua associação. A assistência é conferida ao trabalhador que receber até 2 SM ou que demonstrar que sua situação econômica não lhe permite demandar sem prejuízo de sustento seu ou de sua família, não se exigindo mais o atestado de pobreza, sendo suficiente a mera declaração. O benefício da assistência engloba taxas judiciárias, emolumentos e custas, despesas com publicações, honorário dos advogados, despesas do exame de DNA quando requisitado pelo juiz. Poderá a parte contraria a qualquer momento requerer a revogação dos benefícios, comprovando a inexistência ou desaparecimento da pobreza. Percebe-se que a assistência é mais ampla que a justiça gratuita, aliás, esta pode ser concedida de oficio ou a requerimento desde que atendido os mesmos requisitos da assistência judiciária. Há jurisprudência que concede justiça gratuita para empregador, sob pena de se restringir o direito a ampla defesa, além disso, o art. 5º da CRFB estabelece que o PP prestara assistência jurídica integral para o pobre, sem fazer distinção entre PJ e PF.

5.4. Substituição processual

Ocorre quando alguém em nome próprio defende direito alheio. Somente pode ocorrer excepcionalmente – quando a lei estabelecer (art. 6º CPC). Assim ocorre na substituição

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processual uma legitimidade extraordinária, tem atuação autônoma da vontade do substituído, só não pode, contudo, o substituto renunciar, reconhecer o pedido e etc., uma vez que não tem o direito material em si. Com o advento da CRFB 88 o art.8º, III previu ao sindicato a defesa dos direitos individuais e coletivos em questões administrativas e judiciais. O STF concedeu interpretação ampliativa ao art. 8º, III da CRFB: o STF faz distinção entre a legitimidade conferida aos sindicatos e a legitimidade das associações, estas dependem de expressa autorização. Em razão da jurisprudência do STF o TST alterou seu entendimento (cancelou súmula 310) e não mais, p.e, exige na inicial os nomes dos substituídos, pois a legitimidade é ampla. Assim o sindicato tem legitimidade para defender qualquer direito do trabalhador relacionado com o vínculo empregatício – substituição processual generalizada que dispensa a outorga de mandato pelos substituídos. Essa substituição diminui o número de ações individuais, evita decisões conflitantes, amplia o acesso à JT, pois várias vezes o trabalhador não ingressa contra o empregador por medo de represarias. Em ação rescisória que figurou como autor o sindicato também tem legitimidade para figurar como réu.

5.5. Sucessão processual

É a substituição das partes no curso do processo, seja em razão de ato inter vivo ou causa mortis. Pode ocorrer a sucessão tanto com empregado como com o empregador, substituídos pelos espólio – representado pelo inventariante, hipótese em que o processo é suspenso até a nomeação do inventariante. Se o empregado não tem bens e filhos menores não há razão pra inventario, nesse caso seus sucessores ingressam no polo ativo da ação já em curso (habilitação incidente imediata), mediante certidão de casamento ou certidão do INSS que comprove a dependência dos sucessores com o morto. Se o empregado falecer antes de propor a ação não há sucessão processual, mas propositura direta dos sucessores (novos titulares por sucessão). Do outro lado, a morte do empregador PF não ocasiona extinção do pacto laboral, pois a atividade pode continuar a se desenvolver pelo herdeiro, sendo facultado ao obreiro a permanência ou resilição. Se no curso do processo falece o empregador PF o juiz intima o espolio. Se o empregador for PJ a transferência de negócio para outra pessoa (ex. fusão e etc.) o novo titular assume os direitos e deveres do empreendimento. Em relação ao empregado a relação é intuitu personae, em relação ao empregador essa não é a regra, isto é, o empregador poderá ser substituído ao longo da relação empregatícia. Por consequência alteração na estrutura jurídica da empresa (fusão, cisão e etc.) não afetara os contratos de trabalho. O TST entende que não pode haver cessão de crédito na JT, exceto no caso de falência. Destacam-se ainda alguns entendimentos jurisprudenciais: a regra da formalização do inventario pode ser mitigada na JT quando o dependente já é habilitado no INSS; cláusula contratual na transferência da atividade econômica que isente o novo empreendedor dos créditos trabalhistas não tem efeito perante os trabalhadores; havendo gestão fraudulenta pode ser operada a desconsideração da pessoa jurídica e atingir o patrimônio do sócio, ou atingir o patrimônio das demais empresas no caso de grupo econômico – isso por meio de incidente processual, não necessitando de ação autônoma.

5.6. Deveres das partes e de seus procuradores

Expor os fatos conforme a verdade: não pode alegar que efetuou pagamento de hora extra quando tem consciência que não o fez (configura má-fé processual); formular

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pretensão/defesa devidamente fundamentada: não pode a parte procrastinar o andamento processual, p.e, embargo de declaração não havendo omissão e etc; Não criar embaraços à efetivação de provimentos judiciais: cumprir cautelares, antecipação de tutela e sentenças, exceto se forem suspensas mediante recurso, com exceção do advogado, servidores, juízes e MP (que se sujeitam a lei própria) os demais sujeitos que descumprirem o mandamento cometem atentado contra a jurisdição (multa de até 20% sobre o VC em favor do Estado).

5.7. Litigância de má-fé

O comportamento desleal pode causar prejuízo à parte contratia e à administração da justiça (retardamento da prestação), respondendo pelo dano processual causado (1% VC e indenizar a parte contrária por eventual prejuízo – não superior a 20% VC -, além de honorários advocatícios- perceba que poderá a parte vencedora da demanda aqui ter que pagar honorários para a parte contrária).

5.8. Honorários de advogado

Sobre o tema há forte divergência doutrinária e jurisprudencial. A minoritária entende que os honorários de sucumbência são sempre devidos em razão do art. 133 da CRFB (advogado é indispensável à administração da justiça) e art. 20 do CPC (a sentença condenara o vencido a pagar despesas judiciais que antecipou e os honorários advocatícios) e art. 22 da lei 8.906 (OAB), assim os honorários decorrem da simples sucumbência. A corrente majoritária (TST) entende que os honorários só são devidos se o vencedor for beneficiário da assistência judiciária e estar assistido pelo sindicato – os valores são revertidos em favor do sindicato assistente (além disso, a condenação não pode ser superior em qualquer caso à 15% do VC), tem suporte no art. 11 da lei 1.060/50. Com a ampliação da competência da JT (EC nº 45) o TST entende que nas relações de trabalho que não forem de emprego a mera sucumbência gera o direito a honorários advocatícios. O advogado PF que não receber os honorários contratados deve ajuizar ação na JT, diferente se o contrato for firmado entre escritório e cliente. Acerca da existência de honorários quando o sindicato atua como autor em substituição processual a jurisprudência vacila. Por fim cabe ressaltar alguma jurisprudência sobre o assunto: o direito a honorários não decorre apenas da vitoria e da declaração de miserabilidade, mas exige a assistência judiciária sindical; na JT vigora o jus postulando, logo a contratação de advogado representa opção de modo que não se poderia atribuir ao vencido o pagamento dessas despesas desnecessárias. Relações de trabalho que não são empregatícias exigem atuação de advogado (Renato Saraiva), e logo, admitem condenação em honorários. Por isso se diz que o princípio da sucumbência não tem aplicação no proc. do trabalho.

5.9. Litisconsórcio

5.9.1. Conceito

É a coexistência de mais de um sujeito no polo da relação processual (pluralidades de autor e/ou réu).

5.9.2. Classificação

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Quanto à posição: ativo vários autores e um réu; passivo vários réus e um autor; e misto vários autores e réus. O art. 842 da CLT prevê a reclamação plúrima como litisconsórcio ativo de vários obreiros contra um empregador. No polo passivo pode ocorre, p.e, com empreiteiro principal e subempreiteiro.

Quando ao poder aglutinador das razões que conduzem à sua formação: pode o litisconsórcio ser necessário ou facultativo. No necessário a lei só considera a relação processual como válida se presentes todos os litisconsortes. Parte da doutrina entende que não se pode exigir o litisconsórcio ativo necessário, pois no caso o direito constitucional de ação estaria subordinado ao interesse/vontade do outro litisconsorte. No DT um exemplo de litisconsórcio necessário é a ação anulatória de cláusula convencional proposta pelo MPT em que ambos os sindicatos devem integrar o polo passivo. Ou ação rescisória proposta pelo MPT em caso de colusão entre as partes. O facultativo não decorre da lei e sim da vontade das partes, vale destacar que o facultativo deve ser sempre formado no momento da propositura da ação, sob pena de se desrespeitar o juiz natural. Se o litisconsórcio facultativo for multitudinário (muitas pessoas) poderá ocasionar o retardo do processo, ocasião que o juiz pode limitá-lo, mas somente no facultativo. O TST entende que se a matéria for unicamente de direito e a causa de pedir for homogenia não pode o juiz limitar o litisconsórcio.

Quanto ao tratamento dos litisconsortes: poderá ser unitário ou simples. É unitário quando a decisão tiver que ser uniforme para os litisconsortes. Nem todo litisconsórcio necessário é unitário: ex. usucapião (942 CPC) ou art. 2º, §2º CLT em litisconsórcio facultativo contra empresas de mesmo grupo econômico em que a decisão será igual para todos os réus. No litisconsórcio simples a decisão pode ser diferente para os litisconsortes.

5.9.3. Consequências e procedimentos

O CPC estabelece que salvo disposição em contrário os litisconsortes são considerados com a parte adversa como litigantes distintos, assim em regra os atos e omissões de um não prejudicarão nem beneficiarão os outros. Tem-se ainda que a revelia é afastada se algum contestar; a confissão faz prova contra o confitente mas não prejudica os litisconsortes; mesmo que tenham advogados diferentes não tem prazo em dobro, pois na JT não se aplica o art. 191 do CPC (celeridade); o recurso aproveita o outro litisconsorte.

5.10. Intervenção de terceiros

5.10.1. Conceito

Ocorre quando sujeito ingressa (de forma forçada por uma das partes ou voluntária) em processo alheio já iniciado para defender direito próprio ou de uma das partes. Tem como consequência incluir um terceiro ou operar a substituição da parte. Dependendo da qualidade do terceiro pode haver o deslocamento da competência do juízo, ex. União ingressa como assistente, a JF passa a ser competente.

5.10.2. Modalidade

5.10.2.1. Assistência

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É espécie voluntária (espontânea) em que o assistente ingressa para auxiliar o assistido. Torna-se sujeito no processo, mas não na demanda, seu interesse jurídico consiste que a decisão seja favorável ao assistido. O assistido deve ter interesse jurídico no resultado da demanda, não bastando o econômico ou moral (TST nº 82). A assistência é cabível a qualquer tempo e grau de jurisdição, recebendo o assistente o processo no estado que se encontra, não é aceitável a assistência em ação de execução trabalhista. A assistência se divide em simples (adesiva) em que o assistente não tem relação jurídica com o adversário do assistido (ex. locador – locatário – sublocatário em ação de despejo), mas tem interesse jurídico no resultado do processo. Na assistência adesiva o assistente não pode praticar atos contrários à vontade/interesse do assistido, pois o direito em litígio não é seu (art. 53 CPC), dessa forma, p.e, pode o assistido desistir da ação caso em que cessa a intervenção; e pode o assistente interpor recurso quando o assistido não se manifestar de forma contrária. Na assistência litisconsorcial o assistente mantém relação com o adversário do assistido, na verdade somente não integrou originariamente a demanda por opção do autor, pois poderia perfeitamente ser litisconsórcio passivo originário. Na prática a assistência qualificada pode ser entendida como litisconsórcio facultativo ulterior, logo, a atuação do assistente não é condicionada a vontade/interesse do assistido, este não poderá transacionar/desistir da ação e etc., sem anuência do assistente. Pela dicção legal, feito o pedido de ingresso e não sendo ele impugnado ele deve ser deferido. Se qualquer parte alegar falta de interesse do assistente o juiz determina a que o pedido será processado de forma incidental (apenso) e não suspenderá o processo, podendo haver produção de provas, o juiz decidirá (interlocutória) em 5 dias, sem recurso imediato, pois estamos na JT. Se revel o assistido o assistente atua como gestor de negócios. Se o assistido for vencido o assistente também é condenado a custas processuais (proporcionalmente a sua atuação). Transitado em julgado não pode o assistente discutir posteriormente a justiça da decisão, salvo se sua atuação tiver sido prejudicada pelo próprio assistido.

5.10.2.2. Oposição

Espécie de intervenção voluntária que terceiro busca reconhecimento como sendo seu o direito que litigam autor/réu. Se na assistência o ingresso é para auxiliar uma das partes, na oposição ocorre para se opor ao direito das partes. Caso a oposição seja oferecida antes da audiência será apensada aos autos da ação principal (qualificação de incidente processual), correndo simultaneamente e sendo julgada em sentença única. Caso a oposição seja oferecida após iniciada a audiência seguirá procedimento ordinário (qualificação de ação judicial), sendo julgada sem prejuízo da causa principal. Na tentativa de impor um andamento comum entre oposição (que foi realizada posteriormente) e causa principal, pode o juiz sobrestar o andamento da principal por até 90 dias. Se for o caso de julgar conjuntamente o juiz deve decidir primeiro a oposição, pois é prejudicial à principal (isto é, se procedente a oposição a principal perde objeto). O pedido de oposição é distribuído por dependência e deve observar requisitos da petição inicial, a citação é feita na pessoa dos advogados (se houverem) e mesmo na justiça comum apesar de autor/réu serem litisconsórcios necessário simples na oposição do terceiro eles não terão prazo em dobro (não se aplica o art. 191), se p.e, o autor reconhecer o pedido na oposição a demanda prossegue contra o réu. Cabe lembrar que a oposição é faculdade do terceiro, que poderia ingressar com ação autônoma. Mas é um instrumento do ordenamento visando economia processual. Há resistência na JT para se admitir a oposição, isto porque gera o retardamento processual e normalmente a JT é incompetente para

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conhecer da segunda relação processual. Ex. empregado x empregador em demanda sobre patente, outro empregado da mesma empresa oferece oposição, se o empregador reconhecer o pedido a demanda prossegue entre os 2 empregados, mas a JT não será mais competente. Por esses complicadores parte da doutrina entende ser incabível a oposição na JT.

5.10.2.3. Nomeação à autoria

É espécie de intervenção forçada (apesar de exigir concordância do nomeado). Tem como objetivo corrigir a ilegitimidade passiva, promovendo a retirada do réu e inclusão do nomeado. Tem aplicação em 2 situações: o detentor ser demandado como possuidor ou proprietário; ou no caso de dano ser causado em razão de cumprimento de ordem ou instrução de terceiro. Sempre é requerida pelo réu no prazo de defesa, portanto é incabível no proc. de execução. O pedido de nomeação suspende o processo, sendo ouvido o autor em 5 dias, seu silêncio é tido como aceitação. Se recusar a nomeação o processo será extinto sem resolução de mérito (ilegitimidade). Aceita a nomeação o autor deve citar o nomeado, o nomeado pode aparecer apenas para negar a qualidade a ele atribuída, prosseguindo o processo contra o réu originário. A nomeação exige a indicação pelo nomeante e concordância de autor e nomeado (ambas podem ser tácitas) e opera a extromissão da parte (nomeante). Se o réu não nomear (ou nomear pessoa errada) responde por perdas e danos que causar ao autor. Na JT há divergência sobre a aplicação da nomeação ou não, sendo que Renato Saraiva concorda.

5.10.2.4. Denunciação da lide

É forma de intervenção forcada proposta por autor ou réu, que objetiva assegurar o direito de regresso contra o denunciado (terceiro), assim na denunciação temos potencialmente duas demandas uma entre as partes primitivas e outra (eventual) entre denunciado e denunciante caso o denunciante venha a sucumbir na demanda principal. Se a denunciação for feita pelo autor deve requerer na petição inicial e se pelo réu no prazo de contestação. Pode o denunciado pelo autor editar a petição inicial, antes de citado o réu. O denunciado pelo réu pode aceitar e contestar o pedido do autor juntamente com o réu (litisconsórcio); se for revel ou apenas negar essa qualidade o denunciante prosseguirá na defesa até o final; se o denunciante confessar os fatos poderá o denunciado prosseguir na defesa. Apesar do art.70 do CPC dizer que a denunciação é obrigatória a doutrina entende que é facultativa e não obstar futura ação de regresso. Há divergência da possibilidade da denunciação na JT (inc. I e II são incabíveis, havendo dúvidas no inc. III do art. 70 - àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda). Parte entende que p.e, o empregador sucedido denunciar o sucessor se houver contrato assegurando direito de regresso em eventual demanda trabalhista (ou o empreiteiro que cumpre obrigação que deveria ser do subempreiteiro), isso em razão da celeridade processual e da omissão da CLT; outra corrente entende ser inaplicável, pois a relação contratual entre denunciante e denunciado foge a alçada da JT. Alguns identificam o fato do príncipe (art. 486 da CLT) como denunciação da lide (PP paralisa atividade de modo a importar no término do contrato de trabalho), porém Renato Saraiva enxerga intervenção própria da JT (atípica), pois comprovado o fato o juiz condena o PP ao pagamento, não havendo ação regressiva nos próprios autos. Entende ainda que a denunciação é possível na JT: ex. empregada assediada sexualmente pelo

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gerente propõe demanda contra a PJ que por sua vez poderá denunciar o gerente. O TST por sua vez cancelou OJ que apontava incompatibilidade entre denunciação e JT.

5.10.2.5. Chamamento ao processo

É intervenção forçada pelo réu original possível no proc. de conhecimento que visa incluir na lide terceiro não querido/previsto pelo autor, é forma de ampliação subjetiva na demanda, formando litisconsórcio facultativo ulterior. Tem suas hipóteses limitadas no art. 77 do CPC, sempre no caso de solidariedade de devedores. O réu no prazo para contestar deve requerer a citação do chamado, o que suspende o processo (em razão da citação do chamado), aplicando-se as regras da denunciação. A sentença contra o réu servirá como título executivo que poderá ser oposto contra os codevedores. O chamamento é objeto de divergência doutrinaria na JT. Carlos Henrique Bezerra Leite entende possível no caso de solidariedade de empregadores; condomínio residencial sem convenção em que um condômino pode chamar os demais; soc. de fato em que os sócios são solidários. Sérgio Pinto Martins entende incabível: isso porque a sentença que serve como título executivo pelo devedor que cumprir a obrigação não poderá ser liquidada na JT, logo, sendo de pouca utilidade para o réu.

Capítulo 6 – Ação Trabalhista

6.1. Conceito e características

Em regra a jurisdição deve ser provocada por meio da ação. O direito de ação é abstrato e autônomo, isto é, o reconhecimento do direto de ação não é reconhecimento da existência do direito material, logo é abstrato e autônomo. A antiga teoria do direito de ação como concreto subordinava a existência do direito de ação a existência de direito material – tal teoria não conseguia explicar a sentença de improcedência do pedido, pois a ação foi exercida apesar de inexistir direito material. Atualmente a teoria dominante é a do direito de ação como eclético, isto é, o direito de ação é reconhecido como não condicionado ao direito material afirmado pelo autor, apesar disso deve o autor demonstrar que possui certas condições para exercer legitimamente o direito de ação, isto é, para se ter uma sentença de mérito. O direito de ação é direito público e subjetivo. Isso porque é o PP que solve o conflito trazido pelo autor. Cabe advertir que C.H.B. Leite conceitua a ação coletiva não como subjetiva, uma vez que seu titular não é o individuo, mas sim entes coletivos. É ainda direito constitucional demonstrado pelo princípio da inafastabilidade da jurisdição.

6.2. Condições da ação

Para que o Estado preste a tutela jurisdicional (leia-se sentença de mérito) deve o autor demonstrar requisitos mínimos à validade da ação, assim ao adotar a teoria eclética do direito de ação (Liebman) fica demonstrado que a ação é independente da existência do direito material, mas condiciona-se a condições sem as quais o exercício do direito de ação é invalidado. A ausência das condições da ação são de ordem pública, alegados por qualquer interessado/juiz a qualquer tempo e grau de jurisdição (não preclui). Se a ausência for percebida no recebimento da inicial gera seu indeferimento.

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6.2.1. Legitimidade das partes

Está ligada a legitimidade passiva ou ativa da ação (legitimatio ad causam). O CPC prevê a legitimidade ordinária (conferida ao pretenso titular do direito material em litígio) e a extraordinária (legitimidade conferida pela lei a quem não é titular do direito material, logo, litiga em nome próprio na defesa de direito de outrem – ex. sindicato na defesa do interessado- art. 8º , III CRFB). A atuação do MPT na ACP em ações de interesses difusos e coletivos é tida como autônoma, pois defende direito de sujeitos indeterminados e o titular do direito é distinto dos próprios titulares do direito material, logo, foge a sistemática de ordinária/extraordinária do CPC. A atuação do MPT em ACP á defesa de direito individual por sua vez homogêneo é extraordinária.

6.2.2. Possibilidade jurídica do pedido

O pedido é considerado impossível quando o ordenamento o veda ou não o prevê (ex. pedido de condenação em adicional de periculosidade, tal instituto ainda não foi regulado pelo ordenamento). É possível quando o ordenamento admite a providência pretendida pela parte autora.

6.2.3. Interesse processual

Indicado pelo binômio necessidade + utilidade. Deve o autor indicar na inicial a necessidade do Estado prestar a tutela jurisdicional. Além desses 2 aspectos o processo deverá ser útil, não sendo cenário para responder dúvidas subjetivas ou consulta acadêmica, deve solucionar problemas práticos. Assim p.e, o art. 144 §2º da CRFB exige esgotamento da negociação coletiva para viabilizar ajuizamento do dissídio coletivo, sua ausência importa em falta de interesse processual, extinguindo o processo sem resolução de mérito.

6.3. Elementos da ação

6.3.1. Considerações gerais

Elemento da ação é aquilo que a identifica: partes, pedido e causa de pedir. A análise dos elementos tem aplicação prática na constatação da CJ, da litispendência, conexão, continência e competência do juízo (ex. JT, JF e etc.). Será idêntica a ação que tiver as mesmas partes, causa de pedir e pedido. Os elementos ainda limitam a atuação do juiz.

6.3.2. Partes

Reclamante é quem promove a ação reclamado é o sujeito em face da qual a ação foi promovida. A definição de autor/réu é importante para estabelecer os limites da CJ.

6.3.3. Causa de pedir

A causa de pedir é composta pelos fatos e fundamentos jurídicos, sendo esse denominados de causa de pedir remota e os fato de causa de pedir próxima. O CPC exige ambos seguimentos (teoria da substanciação). A CLT por sua vez não fez menção a causa de pedir remota, só exigindo exposição dos fatos, o que faz a doutrina divergir sobre a necessidade da FJ no DT.

6.3.4. Pedido

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6.3.4.1. Pedido imediato e mediato

O pedido por sua vez classifica-se em mediato e imediato. O imediato é a prestação jurisdicional do PP que poderá ser o pedido de uma sentença declaratória, condenatória ou constitutiva. O pedido mediato, por sua vez, é o bem da vida (ex. dinheiro, declaração de vínculo etc.). O pedido (que deve ser certo e determinado) define o limite da atuação do juiz que não poderá conceder diverso ou superior (inferior poderá) ao pedido pelo autor – princípio da congruência (adstrição). Em situações excepcionais pode o juiz aplicar o princípio da extrapetição que autoriza a concessão de mais do que foi pleiteado. No DT temos como exemplos: caso o empregado requeira que o juiz fixe a data de gozo de suas férias a sentença cominará pena diária de 5% do SM; havendo controvérsia sobre o montante das verbas rescisórias o empregador é obrigado a pagar à data da audiência a parte incontroversa, sob pena de pagá-las acrescidas de 50%; quando o pedido de reintegração for desaconselhável (ex. empregador PF) pode o juiz determinar ao invés a indenização, independente de pedido.

6.3.4.2. Pedido certo e determinado

O pedido deve ser certo e determinado, admitido o genérico, no entanto, excepcionalmente: ações universais, quando impossível determinar as consequências do ato ilícito, quando a condenação depender de ato praticado pelo réu. Ex. empregado sofre agressões físicas do empregador e pede danos materiais, porém o empregado ainda está em tratamento médico não havendo previsão de receber alta, nessa hipótese o pedido será genérico de condenação em danos materiais. Pode o autor pedir que o juiz arbitre os danos morais (pedido genérico).

6.3.4.3. Pedidos implícitos

Os pedidos devem ser interpretados restritivamente (princípio da adstrição). Todavia alguns pedidos podem ser concedidos independente de sua postulação, como exemplo temos as custas, honorário de peritos, juros e correção monetária. As astreintes corresponde a multa processual diária fixada pelo juiz em função do descumprimento de obrigação de fazer/não fazer e pode ser imposta de oficio, pois o interesse no cumprimento também é do Estado que exerce a jurisdição. No que tange as prestações periódicas são consideradas incluídas no pedido as que vencerem no curso da lide.

6.3.4.4. Cumulação de pedidos

É a possibilidade do autor formular 2 ou mais pedidos. Assim é permitida a cumulação num único processo contra o mesmo réu ainda que entre os pedidos não haja conexão. Logo, tem-se como objetivo a economia processual. Se os pedidos puderem ser todos concedidos (abstratamente, sem ferir a lógica) são classificados como cumulação própria – também chamada de simples - (ex. pedir férias, 13º e hora extra). Ao revés, se todos os pedidos não puderem ser concedidos na prática teremos uma cumulação imprópria (ex. reintegração ou pagamento das verbas rescisórias). Na cumulação pode o autor impor ordem de preferência entre os pedidos (ordem sucessiva) de maneira que o juiz somente concederá o subsidiário se entender que o principal não é cabível (ex. reintegração ou pagamento das verbas, mas de preferência a reintegração). Se o juiz conceder o pedido subsidiário haverá para o autor o interesse recursal (STJ). Esse tipo de cumulação é denominada sucessiva imprópria. Diversa é a

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cumulação sucessiva própria em o segundo pedido só é concedido se o primeiro também o for (ex. reconhecimento de hora extra prestada e não paga e reflexo das horas extras em FGTS, 13º e etc. – se o juiz não reconhecer as horas extras não reconhecerá seu reflexo ,p.e, no fgts).

6.3.4.5. Pedidos alternativos

Nas obrigações alternativas a escolha cabe ao devedor, no silêncio. Assim na hipótese de pedidos alternativos deve o juiz garantir ao devedor a escolha. Quando pela lei ou contrato a escolha couber ao devedor o juiz assegurará o direito de cumprir a prestação de um ou de outro modo, ainda que o autor não tenha formulado o pedido alternativo, no caso de pedidos alternativos o VC será do pedido de maior valor.

6.4. Pressupostos processuais

Além das condições para o exercício regular do direito de ação temos ainda alguns pressupostos processuais que quando ausentes impedem o desenvolvimento regular do processo. Assim como as condições da ação, os pressupostos são matérias de ordem pública, podendo ser arguidas a qualquer tempo e grau de jurisdição e de oficio (exceto arbitragem).

6.4.1. Pressupostos processuais de constituição

Petição inicial: decorre da inércia da jurisdição, o exercício do direito de ação se dá pela petição inicial, na JT a reclamação pode ser escrita ou verbal (art. 840 CLT); Jurisdição: aquele que julga deve estar investido na jurisdição, do contrário o processo não existirá; Citação: o processo somente se completa com a citação do réu (integração). Capacidade postulatória: a parte deve estar representada por advogado, na JT impera o jus postulandi.

6.4.2. Pressupostos de desenvolvimento válido e regular do processo

Pressupostos que devem existir (positivos): petição inicial apta: a peça vestibular deve conter os requisitos legais, os quais na JT não há muito rigor em razão do jus postulandi; Citação válida: deve a citação ser válida para integrar o réu a lide, lembrando que na JT não há citação, mas mera notificação; competência do juízo: o processo deve ser instruído e julgado por juiz absolutamente competente; imparcialidade do juiz: não pode o juiz ser suspeito nem impedido.

Pressupostos que não devem existir (negativos): litispendência: existindo ação idêntica em curso a posterior deve ser extinta sem resolução de mérito; coisa julgada: existindo ação idêntica já transitada em julgado a posterior deve ser extinta sem resolução de mérito; convenção arbitral (único pressuposto que não pode ser reconhecido de oficio pelo juiz), na seara trabalhista pode ser usado (em razão do art. 114, §§1º e 2º), no âmbito do direito individual não em razão da indisponibilidade dos direitos trabalhistas; Perempção: se o autor por 3x der causa a extinção do processo sem resolução de mérito em razão de não promover diligencias que lhe competiam, abandonar a causa por mais de 30 dias não poderá internar nova ação (4º) contra o mesmo réu com o mesmo objeto, poderá no entanto alegar tal matéria em sua defesa (ex. não pode ajuizar ação de cobrança de dívida, mas poderá alegar compensação em eventual demanda que o antigo réu lhe propuser). No DT a perempção é provisória: aquele que fizer reclamação verbal e em 5 dias não comparecer ao judiciário para

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reduzi-la a termo, não poderá reclamar na JT por 6 meses. Da mesma forma quem por 2x não comparecer a audiência e gerar o arquivamento da reclamação.

6.5. Classificação das ações

6.5.1. Introdução

As ações são classificadas conforme o tipo de provimento solicitado pelo autor.

6.5.2. Ações de conhecimento

Nela o autor busca sentença que ponha termo à lide. No DT as ações de conhecimento podem ser individuais ou coletivas. Admitem o gênero de ação condenatória (que inclui a mandamental) busca a imposição pelo juiz de uma obrigação de dar, fazer ou não fazer ou perdas e danos, ou seja, impõe uma obrigação passível de futura execução, não apenas declarando o direito, mas também possibilitando execução forcada, forma assim a sentença um título executivo judicial (ex. condenação ao pagamento de hora extra). As ações declaratórias (chamadas de ações de preceito) objetivam a declarar a existência ou não de relação jurídica ou excepcionalmente a autenticidade ou falsidade de documento, não se nega que toda ação tem um cunho declaratório, mas as a sentença declaratória não enseja a execução forcada. Na ação constitutiva a sentença constitui, modifica ou desconstitui relação jurídica: ex. equiparação salarial, inquérito para apurar falta grave.

6.5.3. Ações cautelares

Visa garantir a efetividade de outro processo em razão do receio que atos da parte contrária ou demora natural do processo ocasionem o perecimento da ação principal.

6.5.4. Ações executórias

Decorrem das sentenças condenatórias. A CLT contempla a possibilidade de execução na JT de 2 títulos executivos extrajudiciais: termo de compromisso de ajustamento de conduta (TCAC) firmado com o MPT; e o termo de conciliação firmado com as comissões de conciliação prévia.

Capítulo 7 – Dissídio individual

7.1. Procedimento comum

7.1.1. Postulação do autor

7.1.1.1. Reclamação verbal ou escrita

A jurisdição é inerte e depende de movimentação pelo interessado. O art. 840 admite a inicial escrita ou verbal, neste caso após distribuída a reclamação deverá o reclamante comparecer ao juízo em 5 dias para que o servidor reduza a termo a reclamação (atermação),sua ausência injustificada acarreta a pena de perempção provisória em que o reclamante perde direito de reclamar na JT por 6 meses contra o mesmo reclamado tendo o mesmo objeto

7.1.1.2. Requisitos da petição inicial trabalhista

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A inicial trabalhista deve conter obrigatoriamente o juízo competente, nos tribunais deve ser endereçada ao presidente do TRT. A qualificação das partes, preferencialmente indicando o nº da CTPS, ID, CPF, CEP, PIS, CNPJ, sendo desnecessária a indicação dos nomes dos sócios. Breve exposição dos fatos e o pedido, há divergência acerca da necessidade da fundamentação jurídica (causa de pedir remota): Quem defende a inexigibilidade de fundamentação alega que a omissão da CLT se justifica em razão do jus postulandi, isto é, pode o leigo postular em juízo; a outra corrente (Renato Saraiva) entende que é necessário para assegurar a ampla defesa e inalterabilidade da demanda (art. 264 CPC, assim entende o autor que o pedido de multa de 40% de FGTS deve estar acompanhado da indicação da existência de dispensa sem justa causa, sob pena de indeferimento por inépcia da inicial, apesar do DT dispensar o formalismo em razão do jus postulandi, a fundamentação jurídica (que alias não se confunde com a legal – indicação de art.) é necessária a segurança das partes. O pedido também é requisito da inicial, limita a atuação do juiz. Exige-se data e assinatura da parte ou representante, sob pena de ser considerada inexistente a inicial. Se verbal é datada reclamação apesar do termo ser posterior.

7.1.1.3. Outros requisitos da petição inicial

Comparando as leis CPC e CLT verifica-se que na JT impera a simplicidade, pois não se exige o VC, provas com que pretende demonstrar o alegado. Acerca dessa diferença temos uma discussão jurisprudencial: há quem entenda que o VC é sempre essencial, possibilitando identificar o procedimento a ser adotado (ordinário, sumário ou sumaríssimo); outros defende a desnecessidade uma vez que pode o juiz de oficio estabelecer o VC (art. 2º lei 5.584). C.H.B.Leite tem opinião de que o VC é obrigatório apenas no sumaríssimo (art. 852 – A e B da CLT), no ordinário e sumario pode o juiz fixá-lo de ofício, ainda que na sentença. Renato Saraiva entende que o VC é obrigatório para definir o procedimento da demanda, lembra que no MS o TST exige VC. No que tange à especificação obrigatória das provas na inicial o CLT não relaciona como requisito essencial, principalmente porque as provas são produzidas em audiência. Por último é desnecessário requerimento de citação, visto que na JT não há citação, mas mera notificação feita pelo próprio servidor da JT (independente de pedido do autor), que deve ser feita em 48 horas do recebimento da ação e a audiência deve ser marcada depois de 5 dias, ocasião que o demandado apresenta defesa.

7.1.1.4. Aditamento da petição inicial

Pelo CPC antes da citação pode o autor aditar o pedido (correndo por sua conta os acréscimos das custas), feita a citação é vedado o autor modificar o pedido ou a causa de pedir sem consentimento do réu. A CLT é omissa acerca do aditamento da inicial, logo se aplica o CPC de forma adaptada, pois não há citação, mas mera notificação: assim majoritariamente se permite que o aditamento (emenda, ampliação, retificação e etc.) seja requerido até a audiência, antes da resposta do réu. Assim requerido o aditamento o juiz designará nova audiência, permitindo que o reclamado possa contestar o novo pedido. Todavia, apresentada defesa o autor não poderá mais requerer o aditamento, salvo se o reclamado consentir.

7.1.1.5. Indeferimento da inicial

Apesar de plenamente possível, não é comum o indeferimento da inicial na JT, porque em regra o primeiro contato do juiz com a inicial ocorre na audiência, não havendo despacho

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citatório, sendo a notificação ato automático realizado pelos servidores. Além disso, em razão do jus postulandi (informalismo) deve o juiz aproveitar ao máximo os pedidos da inicial. O indeferimento somente deve ocorrer na impossibilidade de emenda da inicial (TST) ou quando o autor realiza o aditamento ou o faz de forma insatisfatória, ex. em ação rescisórias deve a parte anexar a decisão impugnada e a prova de seu trânsito em julgado, na sua falta deve o juiz ordenar sua juntada no prazo de 10 dias. Assim o indeferimento da inicial é cabível quando há pedido juridicamente impossível, p.e. No processo sumaríssimo (40 SM) se o pedido não for liquido e certo deve o juiz indeferir a inicial (arquivamento da inicial), não sendo caso de emenda.

7.1.2. Atos intermediários de órgãos auxiliares da justiça

Na localidade em que há mais de um juízo a reclamação é posta a distribuição, onde há apenas um juízo é apresentada diretamente na secretaria ou cartório do juízo. Protocolada a reclamação em 48 horas deve o escrivão/chefe de secretaria remeter 2º via ao reclamado notificando o mesmo para comparecer à audiência de julgamento que será depois de no mínimo 5 dias (se for marcado em prazo menor pode o reclamado solicitar nova data – ampla defesa). Quando notificado via postal presume-se recebida após 48 horas da postagem nos correios. Diferente da justiça comum, na JT o reclamado não é notificado para apresentar resposta, mas sim para comparecer à audiência, onde apresentará sua resposta. As PJ de direito público tem prazo quadruplicado, logo, a audiência deve ser marcada com no mínimo 20 dias, além disso, podem ser notificados por correio, não há a exigência de serem notificados pessoalmente (por procuradores). Pela CLT se o reclamado criar embaraços ou não for encontrado a citação será por edital, mas como essa é mais cara normalmente se faz por oficial de justiça.

7.1.3. Resposta do réu

7.1.3.1. Espécies

Na JT a defesa é apresentada em audiência, assim a notificação é para o comparecimento em audiência, onde, querendo, apresentará sua defesa. Aberta a audiência e não havendo acordo o reclamado tem 20 min. para aduzir sua defesa ou por escrito. Em sua defesa pode ser apresentada simultaneamente contestação, exceção, reconvenção ou as outras respostas, ou ainda nenhuma, pois defesa é uma faculdade.

7.1.3.2. Contestação

7.1.3.2.1. Conceito e princípios da impugnação especificada e eventualidade

É a principal espécie de defesa por ser a única que evita a revelia, é conceituada como peça de resistência ou de bloqueio, pois insurge-se contra a pretensão deduzida pelo autor. Pelo Art. 300 do CPC na contestação deve o réu expor as razões de fato e direito com que impugna o pedido do autor, tal dispositivo consagra os princípios da impugnação específica e da eventualidade. O da impugnação especificada impede que o réu apresente contestação genérica (ex. simplesmente requer a improcedência do pedido ou alegação do que o dito pelo autor é inverídico), a negação geral é ineficaz, presumindo-se verdadeiro o alegado pelo autor – contestar por negação geral é o mesmo que não contestar, salvo advogado dativo, MP e

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curador especial. Pela eventualidade a contestação deve conter todas as matérias de irresignação (vedada assim a contestação por etapa), assim caso o juiz não aceite um dos fundamentos passa a conhecer o próximo. Após a apresentação da contestação o réu só pode complementar sua defesa se o direito for superveniente, ou arguir matéria de ordem pública.

7.1.3.2.2. Revelia

Pelo art. 319 do CPC, havendo ausência de contestação presumem-se verdadeiros os fatos afirmados pelo autor (efeito processual da revelia) – o que não impede que o juiz entenda que o alegado não é verdade (ex. alegou que moveu objeto com poder da mente). O art. 84 da CLT, por sua vez, revela que se o reclamado não comparecer a audiência haverá a revelia. Alguns fatos, no entanto, não se presumem verdadeiros, ainda que revel o réu: havendo litisconsortes um deles contestar; litígio sobre direitos indisponíveis; se a lei exigir documento indispensável a prova do ato (ex. alegação que alguém morreu deve ser comprovado por certidão de óbito, mesmo se não houver contestação). O revel pode intervir no processo a qualquer momento, recebendo-o no estado que se encontra. Além da presunção de veracidade, o réu revel (não contestou) sem patrono não é intimado dos atos processuais. Na JT o revel é notificado via postal da sentença proferida (art. 852 CLT). Na JT ainda que observada a revelia a alegação de insalubridade e periculosidade necessita de pericia (art. 195, §2º CLT), podendo o revel inclusive indicar assistente técnico. Havendo revelia o autor não pode alterar o pedido/causa de pedir ou declaração incidente, exceto se proceder nova notificação para o réu apresentar defesa em audiência. Ex. marcada audiência e o réu se ausenta na ocasião o autor solicita aditar a inicial para incluir novo pedido, para tanto deverá haver nova notificação marcando nova audiência.

7.1.3.2.3. Defesa processual

Pode em sede de contestação o réu apresentar defesa processual, denominada de indireta (ou objeções), baseada apenas em questões meramente processuais sem apreciar o mérito da lide (ex. condição da ação/ pressuposto processual). A defesa processual é conhecida por preliminar (de mérito – vem antes da defesa de mérito) e é classificada em peremptória e dilatória. A peremptória quando acolhida põe fim ao processo – extingue sem resolução de mérito. A dilatória apenas dilatam o curso do processo sem extingui-lo, retomando o processo o curso normal depois de saneado o vício. As preliminares estão no art. 301: nulidade/inexistência de citação; incompetência absoluta; inépcia; perempção (não aplicável na JT); litispendência; CJ; conexão; incapacidade, defeito de representação ou falta de autorização; arbitragem (não aplicável na JT em dissídio individual – direito indisponível); carência de ação; falta de caução (não aplicável na JT).

7.1.3.2.4. Defesa de mérito

A defesa de mérito pode ser direta ou indireta. É indireta (exceção substancial) o réu reconhece fato constitutivo do direito do autor, mas apresenta novo fato extintivo, modificativo ou impeditivo do mesmo direito. Impeditivo provoca a ineficácia do alegado pelo autor, ex. reclamante pede a multa de 40% do FGTS, pois foi demitido, reclamado argui que a demissão foi por justa causa por falta grave. Modificativo provoca alteração dos fatos alegados, ex. reclamante exige depósito de FGTS de todo o período trabalhado, reclamado

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demonstra recolhimento parcial (de alguns meses). Extintivo é quando o fato trazido pelo réu extingue a obrigação arguida pelo autor, ex. prescrição, transação, renuncia feitas pelo autor.

A defesa direta ocorre com a negação do fato constitutivo do direito do autor: nega vínculo empregatício; nega existência de transferência o que obsta o adicional de transferência; reclamado demonstra que não existiu horas extra (junta cartão de ponto); negativa de dispensa por parte do empregador.

7.1.3.2.5. Compensação, dedução e retenção

A compensação somente pode ser alegada na contestação (art. 767 CLT), sob pena de preclusão e além disso está restrita a dívida de natureza trabalhista (TST nº 18), o art. 477, §5º dispõe que na rescisão eventual compensação (em prejuízo do empregado) não poderá exceder o equivalente a 1 mês de salário do obreiro. A compensação ocorre quando os sujeitos são credores e devedores uns dos outros de dividas liquidas, vencidas e de coisas fungíveis. Na seara trabalhista temos como créditos compensáveis: obreiro reclamante pede demissão sem aviso prévio; prejuízo causado dolosamente pelo empregado reclamante durante o contrato de trabalho, não é declarada de oficio. A dedução ocorre quando o reclamado já efetuou o pagamento daquilo que o reclamante pleiteia, pode ser deferida de oficio pelo juiz. A retenção consiste no direito do réu reter coisa do autor até que o mesmo quite sua dívida, deve ser requerida no prazo de defesa sob pena de preclusão. Na JT não se mostra admissível a compensação de debito trabalhista com empréstimo pessoal, nem mesmo quando o crédito do empregador excede a 1 mês de salário do empregado.

7.1.3.2.6. Prescrição e decadência

A prescrição é perda do direito de ação (da pretensão) em razão da inércia do seu titular. É tido como prejudicial de mérito de forma que o juiz extingue o processo com resolução de mérito. Antigamente não podia o juiz declarar a prescrição de oficio, porém pela mudança no CPC e CC atualmente se admite independente do direito ser patrimonial ou não, regra aplicável na JT, de forma que a súmula 153 do TST deve ser cancelada. Apesar disso é prudente o juiz ouvir as partes antes de decidir, pois pode o reclamado renunciar a prescrição ou ter interesse no julgamento de mérito visando futura ação de reparação de danos (art. 191, 940 do CC e 574 CPC) e o reclamante apresentar causas suspensivas/interruptivas da prescrição, isto é, decretar de ofício (sem ser provocado) não se confunde com sem oitiva das partes. A decadência sempre pode ser declarada de oficio. Apesar disso há doutrina que entende que como o grande autor na JT é o empregado ele acabou sendo prejudicado em homenagem a celeridade processual (dizem que a prescrição é um mal necessário, na JT é apenas um mal) e por isso essa regra do CPC estaria em contradição com os princípios da CLT (principalmente o da proteção), sendo portando inaplicável. Renato Saraiva entende ser inaplicável a prescrição de oficio: é incompatível com o proc. do trabalho e que deve-se declarar apenas a prescrição bienal e não a quinquenal (art. 7º XXIX CRFB – quanto aos créditos trabalhistas tem prazo prescricional de 5 anos, até o limite de 2 anos depois de extinto o contrato de trabalho).

A decadência (caducidade) consiste na perda do próprio direito material em face do seu não exercício, deve ser alegada na contestação (prejudicial de mérito) em defesa indireta de mérito que se acolhida gera extinção com resolução de mérito, pode também ser declarada de oficio

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pelo juiz. Ex. O prazo de decadência do empregador para ajuizar inquérito em face do empregado que abandona o emprego conta-se do momento que o empregado pretendeu seu retorno. A ação rescisória tem prazo decadencial de 2 anos contados do trânsito em julgado da decisão impugnada.

7.1.3.3. Exceção

7.1.3.3.1. Generalidades

Visam atacar a imparcialidade do juiz ou incompetência do juízo. Não extinguem o processo, seja com ou sem resolução de mérito, mas o suspendem. O art. 299 do CPC indica que a exceção é processada em apenso aos autos principais, mas na JT elas são processadas nos próprios autos. A decisão que julga a exceção é interlocutória e na JT não admite recurso imediato (somente recorrível quando da sentença final – CLT art. 799), o que torna desnecessária a autuação da exceção em separado. Apesar de tecnicamente não ser o mais correto, a doutrina e jurisprudência admitem a apresentação da incompetência relativa como preliminar de contestação, exemplo da absoluta. Nada impede que seja arguida mais de uma exceção, sendo que a de suspeição/impedimento deve ser julgada antes da eventual de incompetência, pois o juiz imparcial sequer poderá declarar a incompetência do seu juízo.

7.1.3.3.2. Incompetência relativa

A incompetência relativa deve ser arguida por meio de Exceção (Art. 112 CPC) no prazo de defesa (que na JT é apresentada na própria audiência, se falha a conciliação) – sob pena de prorrogação, enquanto que a absoluta como preliminar de contestação, pode, no entanto, alegar a qualquer tempo e grau de jurisdição, respondendo pelas custas decorrente do seu atraso. A incompetência relativa decorre do erro do VC e do território (lugar), na JT o VC é irrelevante uma vez que não há juizado especial do trabalho – só define o rito do procedimento. A competência em razão do lugar é fixada pelo lugar em que o empregado presta o serviço, se, no entanto, o empregado for o reclamante poderá optar entre lugar da prestação do serviço ou da celebração do contrato (art. 651, §3º). Se o empregado for viajante comercial a competência será da localidade da filial que o empregado está vinculado, e na falta será a do domicilio do empregado. A incompetência relativa, diferente da absoluta não pode ser alegada de oficio, dessa forma a previsão do art. 795, §1º da CLT se aplica apenas a incompetência relativa. O CPC (art. 305) permite que o réu apresente a exceção no juízo de seu domicilio, tal regra não se aplica na JT uma vez que a defesa (exceção é uma espécie de defesa) deve ser apresentada na própria audiência. Apresentada a exceção a parte contrária tem 24 horas para se manifestar, devendo a decisão ser proferida na primeira audiência que se seguir (art. 800 CLT). O art. 799, §2º da CLT dispõe que não há recurso contra a decisão interlocutória que julga a exceção, mas as partes poderão alegar a incompetência/imparcialidade em recurso que couber contra decisão final, se acolhido a exceção os autos devem ser encaminhados para o TRT competente, isto é, distinto do que se vincula o juiz incompetente.

7.1.3.3.3. Suspeição e impedimento

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A imparcialidade do juiz é pressuposto de desenvolvimento válido e regular do processo. Na JT deve a parte se manifestar sobre a suspeição/impedimento na primeira oportunidade que falar nos autos após o conhecimento do fato em ensejador da imparcialidade do juiz. A CLT é de 1943. Sob vigência do CPC 1939 que englobava o impedimento na suspeição, logo na CLT não previsão de impedimento. Assim o art. 801 da CLT incluiu no rol das suspeições situações de verdadeiro impedimento. As causas de impedimento tem natureza objetiva, enquanto que as de suspeição subjetiva, dependendo assim não apenas da constatação da existência da causa, mas também do exame do animo do juiz. Aplicam-se na JT as hipóteses do art. 801 da CLT e também dos art. 134 e 135 do CPC, subsidiáriamente.

Acerca de quem julga a imparcialidade há divergência: aplicação do CPC (TRT) ou da CLT (próprio juiz). Isso porque a regra da CLT é antiga, da época em que não havia juízo monocrático na JT (antes da EC nº 24). A aplicação da regra especifica da CLT nos dias atuais faria com que o juiz acusado de imparcialidade julgasse seu próprio vício. Por essa razão há duas correntes: Primeira: Arguida a imparcialidade o juiz pode acatar e remeter os autos ao seu substituto legal, se discordar deverá encaminhar para o TRT acompanhando de sua manifestação e provas, o TRT julgará remetendo ao juiz novamente ou se acolher enviará ao substituto legal (CPC art. 313). Antes da EC nº 24 a 1º instância era exercida por juntas de conciliação (3 juízes) e os outros 2 juízes julgavam a imparcialidade de um dos juízes, atualmente a 1º instância é monocrática, dessa forma não se aplica mais o art. 802 que prevê que o próprio juiz acusado julga acerca da sua imparcialidade. Segunda: Por existir regra especifica expressa na CLT, deve o próprio juiz julgar, se acolher o pedido remeterá ao seu substituto, do contrario continuará o julgamento, não se falando aqui em aplicação subsidiária do CPC.

7.1.3.4. Reconvenção

7.1.3.4.1. Conceito e natureza jurídica

É resposta, mas não é defesa, aproxima-se mais de contra ataque. Tem natureza de ação autônoma proposta pelo réu em face do autor, aproveitando-se do processo, assim há 1 processo e 2 demandas (economia processual), por isso é mera faculdade do réu que poderia apresentar ação autônoma em outro processo, que alias será distribuída por dependência. Na reconvenção, que exige peça distinta, o réu é chamado reconvinte e o autor original de reconvindo. Admite-se a reconvenção na JT (inclusive pela celeridade), todavia, é vedada a reconvenção se o autor atuar como substituto processual (CPC art. 315 PU), razão pela qual é vedada em ACP (que também não admite reconvenção, incompetência relativa e impugnação do valor da causa como respostas possíveis).

7.1.3.4.2. Requisitos da reconvenção

Deve o juiz ser competente para apreciar a demanda reconvencional (CPC art. 109), assim na JT deve a reconvenção cingir-se à matéria afeta à competência material da JT (art. 114); compatibilidade de procedimentos (há doutrinadores trabalhistas que em analogia com o CPC vedam no processo sumário ou sumaríssimo – Renato Saraiva não enxerga óbice, pois não há regra na CLT que vede); estar a ação principal ainda em curso, na JT a reconvenção deve ser apresentada em audiência; haver conexão entre as demandas.

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7.1.3.4.3. Reconvenção e ações dúplices

A contestação é peca do réu apta a resistir a pretensão do autor. No entanto, algumas ações, excepcionalmente, permitem o réu na própria contestação contra-atacar, passando a exercer dupla função: peça de resistência e ataque simultaneamente. Tais ações são denominadas de dúplices, logo nessas ações dúplices não se permite a reconvenção porque o resultado prático pode ser alcançado pela própria contestação. Ex. consignação em pagamento (ex. permite-se que na própria ação o autor seja condenado a pagar a complementação, no caso de insuficiência), prestação de contas, ações possessórias, inquérito para apuração de falta grave (improcedente o pedido o autor deve readmitir o empregado); nesses casos a reconvenção deve ser rejeitada liminarmente por falta de interesse processual. Acerca da rejeição liminar há quem entenda cabível recurso ordinário (decisão terminativa do feito), mas majoritariamente é tida como decisão interlocutória, não ensejando recurso imediato. Se o objeto da reconvenção for mais amplo Renato Saraiva admite a reconvenção (ex. dano moral).

7.1.3.4.4. Reconvenção e compensação

A compensação pode ser invocada como matéria de defesa (7.1.3.2.5) quando o crédito do empregador for inferior ao do obreiro e como matéria de reconvenção quando for superior ao do obreiro (CPC art.315; 767 e 769 CLT). Na reconvenção o valor compensado também se limita a 1 salário do obreiro?

7.1.3.4.5. A defesa na reconvenção

Não havendo acordo o reclamado tem 20 min. para aduzir sua defesa, incluindo apresentar contestação, exceção e reconvenção. Havendo reconvenção o juiz deve suspender a audiência e designar nova data para seu prosseguimento, respeitando o quinquídio legal (art. 841 CLT) para que o reconvindo apresente defesa, salvo se quiser apresentar defesa na audiência.

7.1.3.4.6. Ação e reconvenção – sentença

Apesar de andar no mesmo processo a ação e a reconvenção são distintas, por isso a desistência de uma não obsta o seguimento da outra. Não havendo desistência devem ser julgadas na mesma sentença, sob pena de nulidade. Apesar de sentença única devem ter capitulo, fundamentação e conclusões específicas (próprias). A rejeição liminar divide a jurisprudência: há quem entenda cabível recurso ordinário (decisão terminativa); há quem entenda ser interlocutória, atacável somente quando da decisão final.

7.1.3.4.7. Reconvenção e execução

Não se aplica no processo de execução.

7.1.3.5. Impugnação ao valor da causa

Há divergência jurisprudencial a respeito da sua necessidade, sendo que Renato Saraiva entende que é obrigatório para a definição do procedimento. Mas de qualquer forma o autor não indicar caberá ao juiz fixá-lo (art. 2º,§1º da lei 5.584). Não se conformando qualquer das partes com o valor fixado pelo juiz poderá em razões finais impugnar o VC arbitrado pelo juiz e se mantido pelo juiz é admissível recurso de pedido de revisão (capítulo 8) perante o TRT no

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prazo de 48 horas. Por outro lado, se a reclamante indicar o VC a irresignação pelo reclamado se dá por meio da impugnação do VC (art. 261 CPC) apresentada na própria audiência, sob pena de preclusão (súmula 71 do TST), além disso, pelo art. 261 PU do CPC o VC não pode ser alterado pelo juiz de ofício. A impugnação é autuada em apenso aos autos.

7.1.4. Provas

7.1.4.1. Conceitos

Prova no âmbito processual é o meio utilizado para a demonstração da veracidade dos fatos controvertidos.

7.1.4.2. Princípios

Necessidade da prova: O fato narrado deve irrefutavelmente ser provado; Unidade da prova: a prova deve ser apreciada em conjunto e não isoladamente; Lealdade da prova ou probidade: o ordenamento veda provas ilícitas, falsas ou desleais, C.H.L. Bezerra ensina que esse princípio deve seguir a regra da proporcionalidade, admitindo-se a gravação sub-reptícia da empregada assediada sexualmente ou a revista intima que preserva a intimidade. A simples presença de prova ilícita não invalida o processo, pois elas são desentranhadas do processo que continua a correr com as demais. Pelo STF a prova licita que decorrer da ilícita também é inadmissível (teoria dos frutos da árvore envenenada); Contraditório: apresentada a prova por uma parte a outra tem direito a impugná-la, inclusive apresentando contraprova (objetivando eliminar a prova da parte contrária); igualdade de oportunidades: deve o juiz conferir as mesmas oportunidades ás partes; oportunidade da prova: há momento adequado para sua produção, não sendo possível, p.e, apresentá-la em sede de recurso (exceção: produção antecipada); Legalidade: a lei disciplina quanto à produção, momento (ex. salvo exceção não admite-se prova em recurso), lugar (art. 336 CPC – audiência), meios admitidos e utilização adequada da prova (ex. insalubridade exige perícia); imediação: as provas são produzidas para o juiz, pois é ele quem dirige o processo, nessa linha o art. 765 da CLT determina que o juiz tem ampla liberdade no processo, podendo determinar diligencias necessárias, o art. 848 da CLT permite ao juiz interrogar os litigantes, o art. 852-D no sumaríssimo pode determinar provas a serem produzidas, de acordo com o ônus de cada litigante, podendo excluir ou limitar a que considerar impertinente ou protelatória; livre convencimento ou persuasão racional: o juiz forma seu convencimento mediante valoração das provas apresentadas.

7.1.4.3. Objeto da prova

A prova se refere a fatos relevantes, pertinentes e controversos alegados pelas partes no processo. O direito não necessita de prova, pois o juiz conhece o direito. Todavia o direito estrangeiro, municipal, distrital, estadual e consuetudinário pode ser determinado pelo juiz que ter a parte interessada demonstre sua existência e vigência. No caso do DT tal regra se estende ás normas/acordos/convenções coletivos, regulamento empresarial ou sentença normativa. Alguns fatos quando alegados não dependem provas: notórios (conhecido pela cultura geral); confessos; incontroversos (não contestado); que milita presunção legal de veracidade (ex. inexistindo prova em contrário entende-se que o empregado se obrigou a qualquer serviço compatível com sua condição pessoal).

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7.1.4.4. Ônus da prova

O art. 181 da CLT prevê que o ônus cabe a quem alegar, e a aplicação subsidiária do art. 333 do CPC indica que cabe ao autor demonstrar fato constitutivo de seu direito e o réu os fatos impeditivos, modificativos e extintivos do direito do autor (7.1.3.2.4.). O réu apenas alega fato modificativo/impeditivo/extintivo quando admite o fato constitutivo, se negar o fato constitutivo o ônus da prova é do autor; O TST tem as seguintes orientações jurisprudenciais: é do empregador demonstrar fato impeditivo/modificativo/extintivo da equiparação salarial; presume-se recebida a notificação postal depois de 48 horas de sua postagem, constitui ônus do destinatário demonstrar o contrário; o princípio da continuidade da relação de emprego impõe ao empregador o ônus de demonstrar o desfazimento; empresa com mais de 10 empregado é necessário anotação de horários de entrada/saída, a não apresentação do controle de frequência inverte o ônus da prova e impõem ao empregador demonstrar a não existência de hora extra, quando alegada; cabe ao empregado demonstrar que necessita de vale transporte. Se o reclamante requerer o reconhecimento da relação de emprego, cabe ao empregado comprovar a existência (fato constitutivo), mas se o reclamado alegar em sua defesa que a relação não era de emprego e sim de trabalho autônomo cabe a ela comprovar (impeditivo) isso. A jurisprudência em razão do princípio da proteção do hipossuficiente admite a inversão do ônus para favorecer o obreiro. Ex. Em empresa com mais de 10 funcionários deve haver controle de entrada/saída de funcionário, inverte-se para o empregador o ônus de demonstrar que não houve hora extra, caso não apresente o controle de frequência. Ou no caso do empregador reconhecer a relação de trabalho, deverá demonstrar que não era de emprego; Não é tido por incontroverso o fato contestado, ainda que não convença o juiz; em equiparação salarial o ônus de provar identidade de funções é do reclamante, mas quando 2 obreiros exercem a mesma função presume-se que exerçam o mesmo trabalho, recaindo sobre o empregador demonstrar o contrário; a alegação de já quitada as parcelas reclamadas é impeditivo, logo, deve ser demonstrado pelo do reclamado, da mesma forma demonstrar que operou reajuste salarial, por ser fato extintivo.

7.1.4.5. Prova do fato negativo

A prova de um fato negativo se faz pela prova de outro positivo. Assim a negação de dispensa de trabalhador é uma afirmativa implícita que o trabalhador abandonou ou pediu demissão, devendo provar esse fato positivo.

7.1.4.6. Finalidade da prova

O juiz é o destinatário da prova, que servirá para o seu convencimento. Subsidiáriamente pode persuadir a parte contrária, causando reconhecimento do pedido/desistência da ação.

7.1.4.7. Valoração da prova

O sistema das ordálias (Grécia) submetia á parte a determinadas provas que caso não conseguisse cumprir era considerado culpado: prova do fogo em que o acusado deveria andar sobre brasa e caso sentisse dor era culpado; prova do pão/queijo em que caso não conseguisse engolir grande quantidade era considerado culpado; prova do duelo em acusador e acusado duelavam e etc; No Sistema da prova legal ou positiva (Roma) cada meio de prova tinha um

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valor rígido, tarifado, funcionando o juiz como um quantificador. Ex. um documento valia mais do que um testemunho; No Sistema da livre convicção (França) o juiz tinha ao contrário do tarifado liberdade absoluta, passando a decidir segundo sua consciência e convicção íntima, a já não era tão importante, o juiz não precisava motivar suas decisões. Nos dias atuais impera o sistema da persuasão racional ou convencimento racional (art.131 CPC) em que a convicção do juiz deve ser formado pelas provas trazidas em juízo, o juiz por sua vez poderá apreciá-las e valorá-las livremente, devendo fundamentar suas decisões.

7.1.4.8. Produção antecipada de prova

Como visto pelo princípio da legalidade as normas fixam o momento/lugar oportuno para produção probatória. Em regra são produzidas na ação principal, mas em razão de necessidade poderá ser produzida antes do momento processual fixado pela lei. Demonstrado motivo relevante a prova pode ser produzida antecipadamente por meio de medida cautelar, seja no curso da ação principal (cautelar incidental) ou antes mesmo (cautelar preparatória). Ex. depoimento de pessoa gravemente enferma ou que irá se ausentar, ou quando pedido a insalubridade a empresa estiver para extinguir o setor onde o obreiro trabalhava (10.5.1.8.5.).

7.1.4.9. Meios de prova

7.1.4.9.1. Depoimento pessoal e interrogatório

7.1.4.9.1.1. Diferenciação

O art. 342 do CPC define o interrogatório e o art. 343 o depoimento pessoal, sendo que temos como o CPC faz a seguinte diferenciação: o interrogatório da parte é sempre determinado de oficio pelo juiz, o depoimento pode ser de oficio ou a requerimento da parte contrária; o interrogatório pode ser determinado a qualquer momento, o depoimento só na AIJ; o depoimento é único; o interrogatório busca esclarecer fatos, e o depoimento principalmente busca a confissão. O interrogatório é uma faculdade do juiz e o requerimento de depoimento de uma das partes pode ser rejeitado pelo juiz, sem que haja necessariamente cerceamento de defesa, pois já poderá ter firmado seu convencimento (indeferimento por desnecessidade – celeridade processual).

7.1.4.9.1.2. Confissão

Pelo art. 384 do CPC ocorre quando a parte contrária admite a verdade de um fato contrário a seu interesse e favorável ao adversário, pode ser realizada no processo (judicial) ou fora dele, ser espontânea (por petição) ou provocada (depoimento pessoal da parte). A confissão é real quando provem da própria parte prejudicada (era considerada rainha das provas), a confissão ficta decorre do não comparecimento á audiência quando intimado para prestar depoimento pessoal, ou comparecendo se recuse a responder ás perguntas do juiz. Assim na JT o não comparecimento na audiência inaugural importa em revelia e confissão ficta (art. 844 CLT), a confissão ficta por sua vez goza de presunção meramente relativa, podendo ser elidida por outros meios de prova, desde que já existentes nos autos, pois no caso de confissão ficta a jurisprudência do TST inadmite a produção de novas provas contra os fatos confessos fictamente, do contrário a pena de confissão ficta por ausência à audiência não teria efeito. Podem confessar as partes, o preposto e o advogado com poderes específicos para esse fim

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(art. 843, §1º CLT e 349 CLT), o empregado da mesma profissão ou representante do sindicato podem substituir o reclamante quando doente (art. 843, §2º) evitando-se o arquivamento e designando nova data para a audiência, mas não pode confessar. A confissão é irrevogável (exceto erro e coação – o dolo não invalida art. 214 CC-, anulável nesses casos por ação anulatória ou rescisória) e indivisível (não pode a parte que lhe aproveitar aceitá-la apenas em determinado tópico e rejeitar o restante). Alice Monteiro de Barros entende que o menor pode ser interrogado e confessar, desde que regulamente assistido/representado judicialmente. Primeiro é interrogado o reclamante e depois o reclamado (mesma ordem das testemunhas), a parte que não depôs fica proibida de ouvir o depoimento da outra, se não souber falar português ou for surdo-mudo um interprete é nomeado (despesas por conta da parte interessada), as horas que as partes comparecem na JT não podem ser descontadas de seus salários. A confissão ficta e revelia se aplicam normalmente ás PJ de direito público.

7.1.4.9.2. Testemunhas

7.1.4.9.2.1. Conceito

É o tipo de prova mais antigo que há. Atualmente perdeu parte do crédito em razão de testemunhos forjados, mas ainda sim é o tipo de prova mais utilizado. Conceitua-se como o chamamento de terceiro à juízo para depor sobre fatos que tenha conhecimento direto ou indireto a respeito do litígio, prestando esclarecimentos e atestando a verdade ou não de fatos.

7.1.4.9.2.2. Testemunha única e eficácia da prova testemunhal

Antigamente o testemunho único era testemunho nulo, porém atualmente prevalece a qualidade dos testemunhos e não a quantidade, se for seguro, coerente e firme não será desprezado. Na JT não se aplica o art. 401 do CPC que só permite a prova exclusivamente testemunhal se o valor do contrato não exceder 10 SM.

7.1.4.9.2.3. Obrigação de testemunhar

Pelos arts. 339, 341 e 419 do CPC o depoimento em juízo é SP, logo não é faculdade e sim colaboração com o poder-dever jurisdicional do PP. Neste contexto, salvo os incapazes, impedidos e suspeitos todos devem testemunhar. A testemunha não é obrigada a depor sobre alguns fatos: que acarrete grave dano a ela ou parente até 2º grau; ou que deve guardar sigilo. Na JT a testemunha deve comparecer a audiência independente de intimação, se ausentes serão intimadas ficando sujeitas a condução coercitiva e multa caso não atendam.

7.1.4.9.2.4. Espécies de testemunhas

Instrumentárias (signatárias, abonatórias ou certificadoras): são convocadas para assistir à lavratura e assinar instrumento, garantido sua autenticidade; judiciais: chamadas á juízo para depor sobre fatos do litígio. Tem classificação própria em: Oculares/auriculares: presenciaram ou tiveram noticia do fato; originárias e referidas: indicada pelas partes ou mencionada por outras testemunhas em suas declarações, respectivamente; idôneas e inidôneas: inidônea é a suspeita, impedida ou escusada de depor. Dentre outras.

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7.1.4.9.2.5. Incapacidade, suspeição e impedimento de testemunha

Pode depor qualquer PF no exercício pleno de suas capacidades e que tenha conhecimento dos fatos da lide. Assim pelo art. 405 do CPC os absolutamente incapazes, suspeitos ou impedidos não podem servir como testemunhas, apesar disso pode o juiz ouvi-los como simples informantes (art.405 CPC e 829 CLT). O juiz arrolado como testemunha se tiver conhecimento de fatos deve declarar-se impedido (restando defeso a parte desistir de seu depoimento), se não tiver conhecimento mandará excluir seu nome do rol de testemunhas. Pela Súmula do TST só o fato de a testemunha litigar contra o mesmo empregador não a torna suspeita, Renato Saraiva entende que diferente é o caso do depoente utilizar o reclamante como sua própria testemunha em outro processo (ex. troca de favores), hipótese que deve ser ouvido como mero informante. Não obstante, deve o juiz antes do depoimento inquirir a testemunha se tem interesse jurídico no resultado do litígio. É lícito a parte contrária, antes do depoente ser compromissado – que ocorre após sua qualificação -, contraditar a testemunha, imputando-lhe imparcialidade ou incapacidade mediante prova, inclusive apresentando até 3 testemunhas para tanto, se acolhido o alegado o juiz dispensará a testemunha ou toma o depoimento como mero informante. Na JT a contradita tem interessante questão: não há dever da parte em arrolar suas testemunhas, que inclusive aparecem independente de intimação, o que dificulta a prova na contradita (por meio de testemunhas até 3, documentos e etc.). Dessa forma, havendo a contradita deve o juiz suspender e marcar outra a audiência permitindo à parte produzir provas.

7.1.4.9.2.6. Limite legal do número de testemunhas

Proc. ordinário: 3; sumaríssimo 2; inquérito para apuração de falta grave 6. Apesar do limite legal, pode o juiz ouvir testemunhas referidas ou outras que entender essencial para esclarecimento de fatos e formação de seu convencimento. Pelo CPC as partes devem em 10 dias (se juiz não marcar outro prazo) antes da audiência apresentar rol com as testemunhas e sua qualificação. Pela CLT, no entanto, não há essa previsão, devendo as testemunhas comparecerem, independentemente de notificação, inclusive. Renato Saraiva entende que a desnecessidade de apresentação prévia de rol de testemunhas visa resguardar as mesmas de serem ameaçadas, pois na JT normalmente a testemunha também é empregada. Assim ausente a testemunha, elas serão intimadas a comparecer, sob pena de condução coercitiva e multa, assim na JT não se aplica o art. 412 que dispõe que a parte pode comprometer-se a levar à audiência a testemunha, independentemente de intimação; presumindo-se, caso não compareça, que desistiu de ouvi-la. No sumaríssimo a intimação de testemunha só ocorrerá se a parte demonstrar que a despeito de sua ausência ela foi convidada (carta, testemunha, etc.).

7.1.4.9.2.7. Procedimentos na inquirição de testemunhas

Antes do depoimento a testemunha será qualificada (nome, profissão, tempo de serviço prestado ao empregador – art. 828 CLT), prestará compromisso de dizer a verdade não podendo mentir ou se calar, sendo advertida de crime de falso testemunho (art. 342 CP), por essa razão que os menores não podem ser testemunhas, pois são inimputáveis, sendo ouvidos meramente como informantes, sem prestar compromisso. As testemunhas são inquiridas pelo juiz, e reinquiridas por seu intermédio à requerimento das partes, nesse caso primeiro a parte que a arrolou faz suas perguntas e depois a parte contrária. A testemunha que não depôs não

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ouvirá o depoimento das outras e eventual divergência de depoimentos pode ensejar em acareação entre elas. O depoimento oral é resumido em ata e assinado pelo juiz e depoente, no dissídio de alçada (até 2 SM – sumário) é dispensável esse resumo do depoimento. O juiz preside a audiência e indeferirá perguntas irrelevantes ou vexatórias. Assim como as partes, a testemunha não pode sofrer desconto salarial em razão do comparecimento á justiça. Se a testemunha for funcionário publico o chefe da repartição deve ser informado. O art. 411 do CPC elenca autoridades que devem ser inquiridas em suas residências ou local de oficio, sendo que o juiz solicitará a autoridade que designe dia/local/hora a fim de ser inquirida, remetendo-lhe inclusive a inicial ou defesa da parte que lhe arrolou. A LC 75 estendeu essa prerrogativa ao MP. A ordem das testemunhas é definida pelo CPC (art. 413) primeiro as do reclamante.

7.1.4.9.3. Documentos

7.1.4.9.3.1. Conceito e Generalidades

É prova material idônea acerca da existência de fato, abrange não apenas os escritos, mas também fotografias, filmes, gráficos, desenhos e etc. Pela CLT o documento só será aceito se estiver no original em certidão autentica ou cópia autenticada, que poderá ser conferida pelo juiz. Se a parte juntar documento de conhecimento comum (ex. convenção coletiva) sem a devida autenticação ele terá validade se não for impugnado, sendo o silêncio como reconhecimento de sua validade. De forma semelhante o art. 365 do CPC admite cópia não autenticada do processo se o advogado declarar ser autentica, exceto se for impugnado pela parte contrária. O art. 456 da CLT dispõe que a prova do contrato individual de trabalho é feita pela anotação da carteira de trabalho ou instrumento escrita, sendo suprida por qualquer meio de prova. A anotação, assim, gera presunção relativa, admitindo prova em contrário (STF nº 225 e TST nº 12), nota-se que em relação ao empregador, no entanto, a anotação na CTPS tem presunção absoluta, exceto erro material. O contrato de trabalho é regido pela informalidade, exceto o temporário, de aprendiz e de atleta profissional, que devem necessariamente ser escrito. O pagamento do salário importa no recibo que pode ser assinado pelo trabalhador menor de 18 anos, ou mediante impressão digital/assinatura a rogo do analfabeto. Assim a apresentação do recibo (documento) é essencial, sob pena de se entender que não foram feitos os pagamentos. O pedido de demissão ou o recibo de quitação do contrato de trabalho firmado por empregado com mais de 1 ano de serviço só é válido quando feito com assistência do sindicato ou perante o Ministério do Trabalho e Previdência Social, se na localidade inexistir essas instituições, a assistência será dada pelo MPT, defensor público ou juiz de paz. O instrumento de rescisão ou recibo de quitação deverá conter a discriminação de cada parcela paga, sob pena de inexistência do pagamento, não se admitindo outro meio de prova em contrário: TST nº 330: a quitação ainda que feita com assistência do sindicato não abrange parcelas/período não consignados no recibo. A empresa com mais de 10 funcionários deve manter controle de entra/saída/repouso dos funcionários, sob pena de se considerar verdadeira a jornada alegada pelo empregado, elidida, porém, por prova em contrário. Em relação a descontos em folha o TST nº 342 admite para plano odontológico, saúde, seguro, previdência, recreativa mediante autorização prévia por escrito. O pagamento de salário família é devido desde a apresentação de certidão de nascimento do filho, condicionado à carteira de vacinação, comprovante de frequência escolar (todos documentos).

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7.1.4.9.3.2. Classificação

Quanto á origem os documentos são públicos/privados; autógrafos (autor do documento é o mesmo do fato) heterografo (elaborado por terceiro); assinado/não assinado; autentico, autenticado ou sem autenticidade. Quanto ao meio: direito, indireto, escrito, estampado e etc.; quanto ao conteúdo: narrativo ou constitutivo; finalidade: casuais ou pré-constituídos; forma: solenes ou informais; forma em si: originais ou cópias.

7.1.4.9.3.3. Momento da apresentação dos documentos

O art. 787 da CLT prevê que a reclamação deve ser formulada em 2 vias e acompanhada desde logo dos documentos em que se fundar, de forma semelhante o art. 845 do CPC. O art.845 dispõe que o reclamado deve comparecer à audiência com testemunhas e demais provas. Assim o documento é apresentado na reclamação e pelo reclamado quando apresentar defesa na audiência. Doutrina lembra que no ordinário admite-se prova na inicial (autor), na primeira audiência (réu) e na audiência de instrução, sendo que a documental não se admite por preclusão. Ás vezes a parte apresenta o documento apenas na AIJ para surpreender o adversário, devendo tal prática na JT ser afastada. Não se pode esquecer, no entanto, que o art. 397 do CPC admite juntada de novo documento até o fim da AIJ quando destinados a provar fatos supervenientes. O TST nº 8 só admite documento-prova em sede de recurso se demonstrado a impossibilidade de apresentação no momento oportuno, nunca para apenas robustecer alegações feitas. No sumaríssimo toda prova é apresentada em audiência, devendo a parte contrária manifestar-se de imediato sem interrupção, salva absoluta impossibilidade.

7.1.4.9.3.4. Incidente de falsidade documental

Pelo art. 390 do CPC o incidente de falsidade tem lugar em qualquer tempo e grau de jurisdição, se o documento for oferecido antes de encerrada a fase de instrução deve ser interposta petição expondo motivos e os meios de prova, se for apresentado depois de encerrada a instrução o incidente correrá em apenso aos autos principais. Suscitado o incidente o processo é suspenso e o juiz determinará a perícia, não se procederá a perícia se as partes concordarem em retirar o documento impugnado. A decisão acerca do incidente é interlocutória (apesar do CPC dizer sentença art. 395). A parte contrária se manifestará em 10 dias.

7.1.4.9.3.5. Exibição de documentos

A exibição pode ser requerida como procedimento preparatório ou incidental. Quando uma das partes pretende provar mediante documento em poder da parte adversa ou de um terceiro deverá requerer ao juiz sua exibição, sob pena de serem considerados verdadeiros os fatos que o requerente almeja provar com o documento. Assim o pedido de exibição deve individualizar o documento, indicar sua finalidade (ou seja, quais fatos se relacionam) e as circunstancias que se funda o requerente para afirmar que o documento está em poder daquela pessoa. O requerido tem 5 dias para responder, caso afirme não possuir o documento o requerente pode provar o contrário, a recusa, no entanto, não é admitida na hipótese de obrigação legal de exibir; se o requerido fez alusão ao documento em momento anterior; se o documento for comum ás partes.

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7.1.4.9.4. Perícia

É espécie de prova que objetiva fornecer esclarecimento sobre questões técnicas que exijam conhecimento técnico. O perito é considerado auxiliar da justiça, profissional de nível superior inscrito em órgão de classe que expede certidão de especialidade na matéria que o perito vai opinar. Onde não houver órgão de classe o profissional é escolhido livremente pelo juiz. Após a nomeação do perito pelo juiz as partes podem indicar os assistentes técnicos. O perito deve cumprir o ofício no prazo legal, pode se escusar se alegar motivo justo em 5 dias. O perito que prestar informações falsas responde por prejuízos que causar à parte ficando inabilitado para funcionar como perito por 2 anos. O juiz indefere a pericia quando não depender de conhecimento técnico; for desnecessária em razão de outras provas ou for impraticável. A lei 5.584 alterou o art. 826 da CLT e prevê apenas 1 perito que entregará laudo no tempo fixado pelo juiz, mesmo prazo tem o assistente de cada parte. No procedimento sumaríssimo a pericia só é deferida se a lei ou a prova do fato o exigirem. O perito não precisa prestar compromisso podendo ser substituído quando alegar motivo justo; for acolhida tese contra sua suspeição/impedimento; pelo esgotamento do prazo, quando o juiz entender que a prorrogação não será eficaz. Os assistentes não se sujeitam a suspeição/impedimento, pois representam interesse das partes, são parciais. A perícia na JT pode ser determinada pelo juiz ou requerida pelas partes, ainda que confissão ficta ou revelia, a condição de insalubridade exige a prova pericial, a responsabilidade pelo pagamento do perito é da parte sucumbente, salvo beneficiário da justiça gratuita. Na JT não há previsão legal de depósito prévio de honorários periciais nas demandas de relação de emprego, mas nas demandas que versem sobre outras relações de trabalho pode o juiz exigir depósito prévio dos honorários. De acordo com resolução do TST os TRT devem prever recurso orçamentário para o pagamento das pericias quando o sucumbente for beneficiário de justiça gratuita. De acordo com a súmula 341 do TST a indicação de assistente técnico é faculdade da parte, logo deve responder pelos respectivos honorários. Apresentado o laudo há a intimação para as partes se manifestarem, podendo o juiz ouvir o perito para esclarecimentos. Pode de oficio ou a requerimento o juiz determinar nova pericia quando o laudo não for suficiente, o segundo laudo não substitui o primeiro, complementando-o. A perícia é uma espécie de prova, logo o juiz não está obrigado a acatar o laudo pericial.

7.1.4.9.5. Inspeção judicial

O art. 440 do CPC estabelece que o juiz a requerimento ou de ofício pode inspecionar pessoas ou coisas a fim de realizar avaliações na formação de seu convencimento, principalmente em razão do contato direito com o objeto, podendo inclusive ir de encontro a pessoa ou coisa se assim for necessário ou mais apropriado, cabe a intimação das partes para que acompanhe a inspeção. Concluída a inspeção o juiz mandará lavra auto circunstanciado mencionando o que for útil ao julgamento do processo.

7.1.4.9.6. Prova emprestada

É a utilização em um processo de prova produzida em outro. Somente é admitida excepcionalmente e é inserida como prova documental, ainda que se refira a depoimento, perícia e etc. Assim na hipótese do local impossibilitar a perícia pode ser juntado laudos periciais emprestados de outros processos, isso desde que as condições entre os processos

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coincidam e seja respeitado o contraditório. Assim o art. 195, §2º da CLT ao exigir prova pericial por via reflexa admite o empréstimo de laudos de outros processos, desde que necessário (impossibilidade de produção de nova perícia). Entendo que se no primeiro processo a parte não participar do contraditório na pericia (ex. réu revel) tal prova não poderá ser emprestada a outro processo em homenagem ao contraditório.

7.1.5. Audiência

7.1.5.1. Generalidades

O art. 813 da CLT dispõe que as audiências são públicas e realizadas das 8 ás 18 não ultrapassando 5 horas seguidas, exceto se a matéria for urgente. Em caso especial a audiência pode ser realizada fora da sede do juízo desde que marcado e divulgado local com antecedência de 24 horas. A publicidade do julgamento está previsto no art. 93, IX da CRFB, que somente pode ser restringida ás próprias partes ou advogados se a intimidade das partes o exigir. Deve o escrivão/chefe de secretaria estar presente com antecedência à audiência (art. 814 CLT), cabendo um servidor realizar o pregão (convocar ás partes para a sala de audiência). Pela CLT caso o juiz não compareça até 15 min. após o horário marcado podem os presentes se retirarem devendo o ocorrido ser registrado em ata. O juiz exercerá o poder de policia na audiência objetivando manter a ordem, requisitando, se necessário auxilio da força policial. A jurisprudência entende que não devem ser admitidos atrasos das partes, devendo-se aplicar, no entanto, a razoabilidade (ex. atraso de 3 min.)

7.1.5.2. Fracionamento da audiência

O art. 849 da CLT estabelece que a audiência deve ser contínua e única (celeridade processual), na sua impossibilidade o juiz deve marcar a continuação para a primeira desimpedida, independente de nova notificação. Na prática alguns juízes dividem a audiência em 3 sessões (pois tem ampla liberdade na direção do processo – art. 765 CLT): conciliação: chamada de audiência inaugural que objetiva a conciliação e não sendo possível apresenta-se defesa; instrução: chamada de em prosseguimento, objetiva colher provas; julgamento: objetiva unicamente dar ciência da sentença ás partes. Não obstante alguns juízes seguem a risca o art. 849 realizando audiência única.

7.1.5.1.3. Abertura

Na audiência ambas as partes devem estar presentes, independente dos seus representantes (inclusive em razão do jus postulandi), salvo em ações plúrimas ou de cumprimento, quando os empregados podem se fazer presentes pelo sindicato (art. 843) – porque na sala não caberiam todos os empregados. Outrossim, se por motivo relevante o empregado não puder comparecer pessoalmente poderá fazer-se representar por outro empregado que pertença a mesma profissão, advogado ou sindicato que terão a função de apenas justificar a ausência evitando o arquivamento da reclamação (o que evitaria a perempção temporária), sendo designada nova data, assim esse representante não pode confessar, transigir e etc. Já o empregador pode se fazer substituir por qualquer preposto conhecedor do fato (não precisa ter presenciado) que necessariamente deve ser empregado da empresa, sob pena de revelia (salvo no caso de relação doméstica de trabalho que o preposto poderá ser filho, marido,

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esposa e etc. – TST 377). Para micro e pequenas empresas a LC 123 permite que o preposto do empregador seja terceiros sem vínculo trabalhista, desde que conheça os fatos. Em qualquer caso, as alegações do preposto obrigam o empregador preponente, inclusive depoimento pessoal. O código de ética da OAB veda o patrono de executar função de patrono e preposto do empregador reclamado, todavia o TST vem permitindo a cumulação, pois o código de ética (diferente do estatuto) não é lei. Se o advogado atua apenas como patrono, a sua presença à audiência desacompanhada do empregador ou preposto não obsta a revelia. O não comparecimento do reclamante á audiência gera o arquivamento da reclamação (extinção sem resolução de mérito), se o reclamante der causa a 2 arquivamentos seguidos ficará impossibilitado de repetir a ação (mesmo objeto e réu) pelo prazo de 6 meses (perempção temporária). O não comparecimento do reclamado, por sua vez, gera a revelia e a confissão. Se o reclamante não comparecer a audiência de prosseguimento (instrução) a reclamação não será arquivada (TST nº 9) podendo haver confissão se o autor expressamente for intimado para depoimento pessoal e não comparecer á audiência de instrução (TST nº 74). Da mesma forma a ausência do reclamado à audiência de prosseguimento não lhe é decretada a revelia, mas se intimado para depoimento pessoal haverá a confissão. Se ambos não comparecerem à audiência de instrução o juiz julgará conforme as provas produzidas nos autos.

7.1.5.1.4. Primeira tentativa de conciliação

Pelo art. 846 da CLT, aberta a audiência obrigatoriamente o juiz deve propor a conciliação (1º tentativa). No sumaríssimo não há obrigatoriedade, devendo o juiz apenas informas as partes das vantagens da conciliação. Havendo o acordo é lavrado termo com fixação de indenização convencionada (multa – art. 846, §2º CLT). O acordo pode ser feito a qualquer momento, mesmo que encerrada a tentativa de conciliação. O acordo é tido como decisão irrecorrível (exceto rescisória – TST nº 259), salvo para a Previdência que pode interpor recurso ordinário quanto às contribuições que lhe forem devidas.

7.1.5.1.5 Postulação do réu

Não havendo acordo, após a leitura da reclamação (pode ser dispensada pelas partes) o reclamado tem 20 min. para apresentar defesa (contestação, reconvenção, exceções e etc.), poderá apresentar defesa por escrito.

7.1.5.1.6. Instrução probatória

A primeira etapa da fase de instrução é o interrogatório das partes (art. 848 CLT). As provas são apreciadas livremente pelo juiz. Alguns fatos quando alegados não dependem de prova (confessados, notórios, incontroversos, presumivelmente verdadeiros).

7.1.5.1.7. Razões finais

Pelo art. 850 CLT após a instrução poderá cada parte aduzir razões finais em 10 min. Consiste em faculdade da parte a se manifestar antes da sentença, sendo utilizada para arguição de nulidades e fortalecer convencimento do juiz. Alguns juízes permitem a substituição das razões finais orais por memoriais escritos. No sumaríssimo não há razões finais.

7.1.5.1.8. Segunda tentativa de conciliação

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Aberta a audiência o juiz proporá a 1º proposta de conciliação (Art. 846 CLT), após as razões finais o juiz renovará a proposta de conciliação, esta 2º tentativa também obrigatória. Sendo a decisão proferida apenas depois de rejeitada a proposta de conciliação pelas partes. A doutrina entende que ambas as tentativas são obrigatórias, porém só a ausência da 2º gera a nulidade absoluta da decisão, visto que a ausência da 1º é suprida pela ocorrência da 2º tentativa. As partes são intimadas da decisão na própria audiência, salvo o revel que é notificado via postal, ou na sua impossibilidade por edital. Se a parte intimada à comparecer à audiência se ausentar o prazo para interpor recurso conta-se da data da publicação da decisão e não da intimação da decisão (TST nº 197) – exceto se a ata de julgamento não for juntada aos autos em 48 horas, hipótese em que o prazo contar-se a partir do momento que a parte foi intimada da decisão. É intempestivo o recurso interposto antes da intimação (TRT 9º).

7.1.6. Sentença e coisa julgada

7.1.6.1. Sentença

7.1.6.1.1. Conceito

A atuação do juiz gera pronunciamentos judiciais. O despacho apenas impulsiona o processo, sem cunho decisório (ex. determinar remessa dos autos); decisões interlocutórias resolve questão incidental (ex. concessão ou não de liminar/tutela antecipada, indeferir oitiva testemunha); sentença implica nas situações do art. 267 e 260 (atual art. 162, §1º). Acórdão é sentença de tribunal. A antiga redação do art. 162 §1º do CPC indicava sentença como a decisão que põe fim ao processo (com resolução de mérito ou não), porém em razão de recursos o processo não necessariamente terá fim com a sentença. Melhor é entender a sentença como ato que põe término ao dever do juiz de julgar. Proferida a sentença o juiz não poderá voltar a atuar no processo, exceto nos casos de: julgar embargo de declaração; corrigir erros materiais e de cálculo; para conduzir a execução futura; para proferir nova sentença quando o tribunal em sede de recurso anula a sentença anteriormente proferida.

7.1.6.1.2. Classificação

Quanto à natureza da ação a sentença será declaratória quando declarar a existência ou inexistência de uma relação jurídica ou excepcionalmente sobre autenticidade ou não de documento (art. 4º CPC) – ex. em dissídio coletivo TRT declara certa interpretação de norma; a sentença condenatória impõe ao réu obrigação de entregar coisa, fazer ou não fazer, nesse contexto apenas as condenatórias estão sujeitas à execução – ex. ACP ou hora extra, férias e etc.; a constitutiva objetiva criar, modificar ou extinguir relação jurídica – ex. sentença que julga procedente pedido de rescisão indireta, que julga procedente o inquérito para apuração de falta grave. Não se nega que qualquer tipo de sentença tem certo cunho declaratório.

Quanto ao resultado da lide a sentença é terminativa quando extingue o processo sem resolução do mérito, não sendo enfrentado o pedido do autor (art. 267 CPC): indeferimento da inicial; autor abandonar a causa por mais de 30 dias; falta de pressuposto processual e condição da ação; perempção, litispendência e CJ; existir convenção de arbitragem; desistência da ação; confusão entre autor/réu. e pelo art. 129 quando houver colusão das partes para conseguir fim proibido por lei. Na JT o arquivamento por não comparecimento do autor em

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audiência é forma de extinção sem resolução de mérito. A sentença é definitiva, por sua vez, quando enfrenta o mérito, para tanto é necessário a regularidade dos pressupostos processuais e condições da ação. Pelo art. 269 temos sentença definitiva quando o juiz acolher/rejeitar pedido; réu reconhecer o pedido; as partes transigirem; renúncia do autor; juiz declarar decadência e prescrição.

7.1.6.1.3. Sentença e inexistência de relação de emprego

Há dois posicionamentos acerca dessa espécie de sentença: minoritariamente entende-se que o juiz deve extinguir o processo sem resolução de mérito em razão de ilegitimidade ativa (ad causam), o que inclusive permitiria nova demanda (idêntica). Majoritariamente entende-se ser caso de extinção com resolução de mérito (improcedência de pedido). Assim o não reconhecimento de vínculo pelo juiz importa não em carência de ação, mas em improcedência do pedido, pois o direito processual é autônomo em relação ao material, isso porque ter ação não significa ter ação fundada. A legitimidade é objeto de um juízo prévio e leva em consideração o alegado pelo autor na inicial.

7.1.6.1.4. Requisitos essenciais da sentença

7.1.6.1.4.1. Introdução

Os requisitos da sentença estão no art. 458 do CPC: relatório, fundamentação (motivação) e parte dispositiva, a ausência de quaisquer deles gera nulidade ou até mesmo inexistência do ato. Pela CLT a decisão deve contar nome das partes e resumo do pedido e defesa; apreciação das provas e fundamentos da decisão; respectiva conclusão (parte dispositiva).

7.1.6.1.4.2. Relatório

No relatório há um resumo das principais ocorrências, pleito e defesa. Qualquer sentença proferida sem relatório é nula (norma impositiva do art. 832 CLT e 458 CPC), exceto no sumaríssimo, pois o art. 852-I da CLT dispensa o relatório no sumaríssimo.

7.1.6.1.4.3. Motivação

A motivação é a exposição dos fundamentos fáticos e jurídicos que motivaram a convicção do juiz. A ausência de fundamentação ocasiona a nulidade de acordo com o art. 93, IX da CRFB. A falta de fundamentação da sentença pode gerar RE para o STF (art. 102, III a CRFB). Ao fundamentar a decisão deve o juiz nesta ordem observar pressupostos processuais; condições da ação; questões prejudiciais ao mérito (ex. prescrição) e mérito propriamente dito. Deve o juiz ainda enfrentar de forma exaustiva todas as questões suscitadas pelas partes, sob pena de limitar o acesso dos litigantes ás cortes superiores, em razão da exigência do prequestionamento.

7.1.6.1.4.4. Parte dispositiva

É a parte da sentença que tem o conteúdo decisório, é nessa parte que o juiz apresenta sua conclusão, extinguindo o processo. É o elemento mais importante, pois contem o comando da sentença e é a parte coberta pela coisa julgada. O dispositivo pode ser direto (quando expressamente condena o réu a pagar dano moral, p.e) ou indireto quando o juiz apenas faz

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referência ao lugar onde era localizado o teor da decisão (ex. julga procedente os pedidos de nº 2,3 e 5 contidos na inicial). A ausência da parte dispositiva importa na inexistência de sentença, pois tornaria o ato irrecorrível, visto que o mesmo não contém decisão.

7.1.6.1.5. Requisitos complementares

Pela CLT (art. 832) quando a decisão for de procedência deve determinar o prazo e condições para seu cumprimento; a decisão deve mencionar sempre as custas que devem ser pagar pela parte vencida; as decisões cognitivas ou homologatórias devem indicar a natureza das parcelas da condenação ou acordo, inclusive responsabilidade de cada parte no recolhimento de contribuições previdenciárias.

7.1.6.1.6. Julgamento citra, ultra e extra petita

A sentença se subordina ao princípio da congruência (correlação/adstrição, correspondência, simetria) em que o magistrado deve se ater ao pedido (art. 128 e 460 CPC). Em situações excepcionais o próprio ordenamento autoriza o juiz a conceder mais ou diferente (princípio da extrapetição – ex. art. 293 CPC – juros, correção). Na CLT temos pena diária de 5% do SM caso o empregador não fixe data de gozo de férias; havendo controvérsia sobre as verbas rescisórias o empregador deve pagar quando comparecer a audiência a parte incontroversa, sob pena de pagá-las acrescidas de 50%; juiz pode determinar o pagamento de indenização ao invés do pedido de reintegração de emprego quando julgar a reintegração desaconselhável (normalmente quando empregador é PF). A adstrição decorre do princípio dispositivo, se a jurisdição é inerte a atuação do juiz é limitada ao que foi pedido e causa de pedir.

Ultra é a sentença que confere mais; extra a que confere diferente e Cintra a que confere menos com omissão na análise das matérias alegadas. Essas sentenças podem ser atacada por recursos e rescisórias. Somente a citra pode ser corrigida por embargo de declaração, a extra e ultra não, sendo atacável por apelação no CPC ou recurso ordinário na CLT.

7.1.6.1.7. O novo Art. 285-A do CPC e sua aplicação no Processo do Trabalho

O art. 285-A CPC prevê que quando a matéria for unicamente de direito e já houver sentenças de total improcedência em casos semelhantes pode o juiz sentenciar improcedente o pedido sem sequer citar o réu para tanto, reproduzindo em sua sentença o teor da anteriormente proferida. Se o autor apelar pode o juiz em 5 dias retratar-se (determinar prosseguimento de ação) ou não, encaminhando o processo (apelado) para o Tribunal, hipótese que o réu é citado para responder ao recurso. Admite-se sua aplicação na JT (celeridade processual). Tal previsão do CPC visa racionalizar as demandas de massa tendo em vista a razoável duração do processo, além da isonomia e segurança jurídica. Não agride o contraditório, pois o réu terá uma sentença de mérito favorável, tal previsão legal é mera faculdade do juiz que poderá proceder a demanda normalmente (citar réu e etc.). A sentença calcada no art. 285-A permite a retratação pelo juiz (exceção ao princípio da inalterabilidade da sentença – art. 463 CPC).

Alguns doutrinadores não admitem a aplicação na JT, pois o juiz somente tem contato com os autos em audiência (hipótese que o reclamado já está presente, o que tornaria inócua a vantagem do art. 285-A). Porém, se o juiz examinar o processo antes da audiência não haveria problema (ex. pedido liminar ou antecipação de tutela).

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7.1.6.2. Coisa julgada

7.1.6.2.1. Conceito

A sentença (com resolução ou não) é sujeita a recursos. Esgotadas as possibilidades de recurso ou não apresentado recurso no prazo legal a decisão se torna imutável. Havendo o trânsito em julgado (impossibilidade de recursos) a decisão recebe o status de coisa julgada, o que impede que seja renovada a discussão da sua parte dispositiva. A coisa julgada é característica da jurisdição, assim só o ato jurisdicional está sujeito à ela. Repetida ação já decidida por sentença transitada em julgado o processo deve ser extinto sem resolução de mérito.

7.1.6.2.2. Coisa julgada formal e material

A coisa julgada formal é comum a todas as sentenças, terminativas ou definitivas, havendo o trânsito em julgado (impossibilidade/esgotamento de recurso) há a coisa julgada formal. A coisa julgada formal, por sua vez, não obsta a propositura de nova ação, vez que torna imodificável a decisão apenas no processo em que foi prolatada. A CJM (também chamada de res judicata) é típica das sentenças definitivas (resolução de mérito) e não permite a rediscussão da parte dispositiva da decisão seja no mesmo processo ou em outra relação jurídico processual (segurança jurídica). A sentença definitiva opera tanto a CJM como a formal. Por fim, só a CJM pode ser impugnada mediante ação rescisória.

7.1.6.2.3. Limites objetivos e subjetivos da coisa julgada

Limite objetivo - A parte dispositiva da sentença é imodificável, o relatório e a fundamentação não. Isto é, pedido, causa de pedir. Pelo art. 469 do CPC questões prejudiciais decididas incidentalmente não fazem CJ, porém o art. 470 determina que fará se a parte requerer e se constituir pressuposto necessário da lide. Tratando-se de relação jurídica continuada caso ocorra modificação no estado ou direito poderá a parte requerer a revisão, não obstante a coisa julgada (rebus sic stantibus – teoria da imprevisão) art. 471 I. A CLT em seu art. 873 permite que sentença normativa seja revisada se as condições alteraram tornando-a injusta ou inaplicável, outra aplicação da cláusula rebus sic stantibus é a revisão da condenação em insalubridade se a empresa eliminar/reduzir a condição insalubre (ação revisional).

Limite subjetivo – a CJ só atinge as partes envolvidas no processo (inter omnes – autor/réu/assistente/litisconsorte), não atingido terceiros, exceto em demandas coletivas.

7.1.6.2.4. Coisa julgada nas ações coletivas

Renato Saraiva remete para o ponto 10.3.12 - coisa julgada e litispendência em ACP.

7.1.6.2.5. Efeitos da coisa julgada criminal no processo trabalhista

Matéria controvertida na doutrina. O art. 8º da CLT dispõe que o direito comum é fonte subsidiária, tornando-se possível a aplicação do art. 935 do CC em que a responsabilidade civil é independente da penal, não se podendo questionar a existência do fato/autoria quando já decidida no juízo criminal. Na JT tem aplicação quando o empregado é dispensado em razão de improbidade administrativa. Se a sentença penal reconhecer inexistência de fato, negativa de autoria ou excludente de ilicitude a JT deverá respeitar a CJ, abstendo-se de rediscutir tais

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fatos, sob pena de ofender a CJM. No entanto, se a absolvição for em razão de falta de prova nada impede que na JT seja reconhecida o crime praticado pelo obreiro. Embora não esteja obrigado (podendo sentenciar ainda pendente a ação penal), é aconselhável que o juiz trabalhista suspenda o processo até desfecho do processo criminal. Ideal é a suspensão do julgamento, sendo a instrução normalmente feita vez que o “tempo dilui a prova”.

7.2. Procedimento sumaríssimo

Foi instituído pela lei 9.957/2000 objetivando a celeridade, é aplicável em dissídio individual até 40 SM. Admite-se em ações plúrimas; a AP direta autárquica e fundacional não se submete ao sumaríssimo; o pedido deve ser certo e determinado indicando cada parcela do valor correspondente; não admite citação por edital; a apreciação deve ocorrer em no máximo 15 dias do ajuizamento; não admite-se emenda da inicial, devendo o reclamante ser condenado ao pagamento de custas; não é permitido o fracionamento da audiência (diferente do ordinário, como visto); não há 2 tentativas de conciliação, devendo o juiz apenas na abertura esclarecer as vantagens sobre a conciliação; todas as provas são produzidas em AIJ, ainda que não previamente requeridas; os documentos apresentados devem ser imediatamente impugnados, sem interrupção de AIJ (exceto impossibilidade de tal – ex. documentos em excesso); no máximo 2 testemunhas, independente de intimação; só é intimada testemunha ausente que comprovadamente foi convocada (ex. carta com AR), se após intimada não comparecer pode o juiz determinar imediata condução coercitiva; somente se a lei exigir ou a prova do fato será admitida a pericia (prova técnica); interrompida a AIJ a solução deve se dar em 30 dias; a sentença dispensa o relatório, contará com resumo dos fatos relevantes e elementos da convocação do juiz; o recurso ordinário recebido no TRT deve ser colocado a julgamento sem revisor, se necessário terá parecer oral do MPT; só admite-se recurso de revista se a decisão for contrária a jurisprudência do TST ou CRFB.

A jurisprudência ainda destaca que no sumaríssimo temos: não pode em sede de recurso o procedimento ordinário ser convertido para o sumaríssimo – desde que demonstrado o prejuízo; no sumaríssimo não há prazo de 10 dias para emenda da inicial, sendo ela arquivada quando pedido ilíquidos (incerto/indeterminado), sem VC, nome ou endereço incorreto; a situação fática que não se enquadre ao sumaríssimo conclama conversão e não arquivamento, sob pena de negar-se prestação jurisdicional.

7.3. Procedimento sumário

A lei 5.584/70 instituiu o dissídio de alçada (conhecido por sumário) e previu que de suas decisões não cabe recurso, exceto se a matéria constitucional e que correm sobre esse procedimento as demandas que o VC não ultrapasse 2 SM. A doutrina majoritária entende que coexistem os 3 ritos, Renato Saraiva isolado entende que o sumaríssimo revogou o sumário, pois seu limite é até 40 SM e compreende o limite do dissídio de alçada que são 2 SM.

7.4. Comissões de conciliação prévia

A lei 9.958/00 instituiu as Comissões de Conciliação Previa (CCP) com o objetivo de diminuir a demanda da JT. Para tanto o art. 625-A estabelece que empresas e sindicatos podem instituir a CCP de composição paritária (mínimo 2 e máximo 10) composta de representantes dos

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trabalhadores (eleitos – voto secreto) e empregador e respectivos suplentes para mandato de 1 ano permitida uma recondução. Os integrantes da CCP, inclusive seus suplentes tem estabilidade que se estende até 1 ano após o término do mandato, exceto cometimento de falta grave. Têm atribuição de buscar a conciliação de conflitos individuais do trabalho. O representante dos empregados cumulará as funções normais e de conciliador, sendo computado como tempo efetivo o despendido nessa atividade. O art. 625-D exige que se existir a CCP na localidade de prestação dos serviços qualquer demanda trabalhista deve a ela se submeter, sendo condição de procedibilidade de eventual ação trabalhista (há ADI contra esse art. por entender ofensa a inafastabilidade da jurisdição), na impossibilidade de submissão à CCP a inicial deve conter tal motivo. Não prosperada a conciliação é emitida a carta de malogro que deve ser juntada a eventual reclamação trabalhista (comprovando a tentativa de conciliação em CCP). Sendo aceita a conciliação o termo é título executivo extrajudicial com eficácia liberatória geral, exceto as parcelas expressamente ressalvadas. A partir de sua provocação a CCP 10 dias para a realizar a sessão, sob pena de entregar a declaração de tentativa conciliatória frustrada (carta de malgrado). O prazo prescricional é suspenso a partir da provocação da CCP até o esgotamento dos 10 dias ou da sessão frustrada.

A jurisprudência ainda mostra que não há ofensa a inafastabilidade da jurisdição, pois pode a lei impor condições e pressupostos processuais especiais, no caso da CCP não há ônus pecuniário, há suspensão da prescrição, o autor pode apresentar na inicial motivo justo para não submeter a CCP, não obsta o direito de ação, é apenas uma limitação temporária (efêmero – no máximo 10 dias) que tem o beneficio mútuo da autocomposição. A não submissão prévia à CCP (quando existente na localidade de prestação do labor) gera a extinção do processo sem resolução de mérito, por falta de interesse de agir/pressuposto de constituição e validade processual, obrigatório e não meramente facultativo. O termo de conciliação tem eficácia liberatória geral.

Capítulo 8 – Recursos Trabalhistas

8.1. Conceito e Natureza jurídica

É o reexame de decisão judicial, objetivando sua modificação. Em regra é feito por autoridade superior (regra), mas pode ser feito pela mesma que prolatou a decisão. Pode ser interposto pela parte, terceiro prejudicado ou MP. Em relação à natureza jurídica há quem entenda ser o recurso ação autônomo de natureza constitutiva negativa, e citam como ex. o MS, embargo a execução, ação rescisória, porém, estes na realidade não são considerados recursos, mas sim ações de impugnação. A corente majoritária afirma que o recurso é prolongamento do direito de ação exercido dentro do mesmo processo. É extensão do direito subjetivo processual.

8.2. Classificação

Quanto ao destinatário será próprio (autoridade superior) ou impróprio (mesma autoridade); quanto ao assunto será ordinário (toda a matéria impugnada) ou extraordinário quando versa exclusivamente sobre direito, vedado reexame dos fatos/provas; quanto à extensão será total ou parcial; e quanto à forma é adesivo (alusivo ás contrarrazões) ou principal.

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8.3. Princípios recursais

8.3.1. Duplo grau de jurisdição

A CRFB garante a ampla defesa e os meios a Lea inerente, mas não o duplo grau de jurisdição em si. Assim só se existir previsão legal de recurso poderá o interessado utilizar-se.

8.3.2. Princípio da unirrecorribilidade

O princípio da singularidade não permite interposição de mais de um recurso contra a mesma decisão, ou seja, veda recursos simultâneos, admite apenas os sucessivos. A doutrina menciona duas exceções à unirrecorribilidade: sucumbência recíproca (pedido procedência parcial) reclamante interpõe rec. Ordinário e o reclamado embargos de declaração, caso o embargo seja provido poderá o reclamante aditar seu rec. Ordinário anteriormente interposto ou interpor um novo. Nos dissídios coletivos quando não publicado acórdão nos 20 dias subsequentes ao julgamento pode ser interposto rec. Ordinário fundando na certidão de julgamento reabrindo-se o prazo para aditar tal recurso tão logo publicado o acórdão.

8.3.3. Princípio da fungibilidade ou conversibilidade

Permite que o juiz conheça um recurso errado como se fosse o cabível. O aproveitamento decorre do princípio da finalidade e simplicidade do proc. do trabalho. Exige-se para tanto 3 fatores: inexistir erro grosseiro; existência de dúvida plausível quanto qual recurso era o cabível o recurso interposto erradamente deve obedecer o prazo do recurso cabível. Ex. rec. Ordinário contra decisão monocrática que indefere rescisória ou MS pode ser recebido como agravo regimental.

8.3.4. Princípio da voluntariedade

Encerrando manifestação do princípio dispositivo o rec. em regra é voluntário. Decorrência disso é que o julgador não pode conhecer matéria não suscitada em recurso, salvo as de ordem pública que só precluem com a CJM (efeito translativo do recurso). O reexame necessário, por sua vez, não se adere à voluntariedade - duplo grau de jurisdição obrigatório (sentença contra PJ de direito público, inclusive embargo à execução contrário a Fazenda pública). Não há reexame necessário nas condenações inferiores à 60 SM ou quando a decisão estiver fundada em jurisprudência do plenário do STF ou súmula de tribunal. A jurisprudência lembra ainda que o reexame necessário não tem natureza de recurso, sendo apenas um meio de controle da legalidade de decisões (em face do interesse público), não havendo contrarrazões.

8.3.5. Princípio da proibição da reformatio in pejus

A decisão quando objeto de recurso não poderá ser alterada de forma a piorar a situação do recorrente. O STJ nº 45 aplica tal princípio ao reexame necessário, apesar de não ser recurso.

8.3.6. Princípio da variabilidade

Esse princípio era previsto no CPC de 1939 e embora não recepcionado no atual CPC é defendido por alguns doutrinadores do DT. Defende-se a viabilidade de que a interposição de

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um segundo recurso no prazo legal faz presumir a desistência tácita do primeiro apelo, outros doutrinadores entendem que a interposição do 1º recurso gera a preclusão consumativa para a interposição de outros, ainda que dentro do prazo.

8.4. Peculiaridades recursais

8.4.1. Irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias

Na JT o art. 893,§1º da CLT informa que em regra a decisão interlocutória não é recorrível de imediato, podendo ser apreciada em eventual decisão definitiva. A súmula nº 214 do TST prevê 3 exceções: decisão de TRT contrário à OJ ou súmula do TST; se o recurso for apreciado pelo mesmo tribunal; quando a decisão acolhe exceção de incompetência remetendo os autos para o TRT que entende competente.

8.4.2. Inexigibilidade de fundamentação

Chamado como princípio da dialeticidade ou discursividade. O art. 899 dispõe que o recurso é interposto por simples petição, sugerindo que poderiam ser interpostos sem qualquer fundamentação. Todavia a fundamentação é essencial para assegurar a ampla defesa, contraditório e permitir a análise da razão do inconformismo. Assim dentre os recursos a maioria exige fundamentação sob pena de não conhecimento. A Súmula nº 422 do TST caminha no sentido da obrigatoriedade de fundamentação.

8.4.3. Efeito devolutivo dos recursos

O art. 899 determina que os recursos não possuem efeito suspensivo, permitindo o credor a sentença provisória. A lei 7.701 permite que o presidente do TST conceda efeito suspensivo ao rec. ordinário em face de sentença normativa de TRT por 120 dias, salvo se julgado antes.

8.4.4. Uniformidade de prazo para recurso

O prazo para recorrer e contrarrazões é de 8 dias (5.584), excepcionalmente alguns recursos possuem prazo próprio diferenciado: embargo de declaração são 5 dias (CLT art. 897-A); RE são 15 dias (lei 8.038); agravo regimental é fixado pelo TRT em seu regimento interno (normalmente 5 dias) e TST (fixou em 8 dias); o pedido de revisão tem prazo de 48 horas; o art. 191 do CPC que impõe prazo dobrado para recorrer havendo litisconsortes com patronos distintos não se aplica na JT (OJ 310 – celeridade processual).No entanto, as PJ de direito público tem prazo dobrado para recorrer, da mesma forma o MPT.

8.4.5. Instância única nos dissídios de alçada

Salvo se tratar de questão constitucional a decisão no sumário não admite recurso.

8.5. Efeitos dos recursos

8.5.1. Devolutivo

Em regra os rec. trabalhistas não tem efeito suspensivo o que permite a execução provisória.

8.5.2. Suspensivo

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Em regra os rec. trabalhistas não tem efeito suspensivo o que permite a execução provisória.

8.5.3. Translativo

As questões de ordem pública podem ser conhecidas de oficio e não se opera a preclusão, logo pode o judiciário decidir ainda que não conste nas razões/contrarrazões recursais (efeito translativo) sem que se fale em julgamento extra/ultra petita. Há previsão do efeito translativo no art. 515 do CPC. Interessante que esse mesmo art. prevê que em caso de apelação contra decisão terminativa poderá o próprio tribunal julgar (ao invés de determinar que o juiz profira nova decisão) se a causa versar apenas sobre questões de direito e existirem condições de imediato julgamento, acerca disso há 2 correntes: a da teoria da causa madura, o tribunal só pode julgar o mérito se não existir matéria fática a ser provada e a causa versar só sobre questão de direito; outra corrente entende que poderia o tribunal julgar o mérito ainda que matéria não fosse exclusivamente de direito, mas desde que a matéria fática já tivesse sido esgotado na instância anterior (ex. instrução já realizada).

8.5.4. Substitutivo

O art. 512 prevê que o acórdão substitui a sentença recorrida, mas caso o tribunal não julgue o mérito não há efeito substitutivo.

8.5.5. Extensivo

É aplicado havendo litisconsórcio unitário. O art. 509 do CPC estabelece que o recurso de um aproveita os demais, exceto se opostos os interesses.

8.5.6. Regressivo

Consiste na possibilidade de retratação da autoridade prolatora da decisão impugnada – celeridade processual. Na JT é possível no agravo de instrumento e regimental. Ex. recurso não conhecido por ausência de pressuposto recursal (intempestivo, falta de preparo e etc.), e a parte em agravo de instrumento demonstrar a existência do pressuposto, pode o juiz reconsiderar a decisão e conhecer o recurso principal, perdendo objeto o agravo interposto.

8.6. Juízos de admissibilidade

Em regra o recurso sofre juízo de admissibilidade do juiz a quo (inferior) e ad quem. Esses juízos verificam a presença dos pressupostos recursais, que se ausentes levam ao não conhecimento do recurso. O juízo de admissibilidade verifica os pressupostos recursais e consonância com jurisprudência do respectivo tribunal ou superior, podendo ser negado o seguimento (art. 896 CLT e 557 CPC). Os embargos de declaração tem destinatário a própria autoridade que tomou a decisão, logo só tem um juízo de admissibilidade.

8.7. Pressupostos recursais objetivos e subjetivos

São também chamados de requisitos de admissibilidade.

8.7.1. Objetivos (Também chamados de extrínsecos)

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Recorribilidade do ato –Alguns provimentos são irrecorríveis. Ex. despacho. E eventual recurso que tenha tal ato como objeto não será conhecido; adequação – não basta recorrer, deve-se atentar para o meio adequado à espécie da decisão impugnada, admitido aplicação da conversibilidade (fungibilidade). Tempestividade – deve o recurso ser interposto no prazo, sob pena de não conhecido por intempestividade, seja prematura (antes do início do prazo) ou vencido (após prazo). A lei que inovou o processo eletrônico admite que o ato processual seja praticado até a meia noite do dia do vencimento. Regularidade de representação – em sede recursal permanece a possibilidade do jus postulandi, advogado com procuração ou mandato tácito (procuração apud acta), o recurso sem assinatura é tido por inexistente, a ausência de data da outorga do mandato judicial não é irregularidade de representação (diferente do mandato civil).

Preparo - Na JT o não recolhimento das custas/depósito recursal implica em considerar o não reconhecimento do recurso por deserção , após o trânsito em julgado as custas são pagas pelo vencido. O empregado reclamante deve pagar as custas somente se for totalmente improcedente os pedido ou se o processo for extinto sem resolução de mérito, é ainda isento nestes casos se for beneficiário de justiça gratuita. Se houver acordo judicial as custas cabe as duas partes (salvo acordo diferente. As custas serão de 2% sobre: o acordo/condenação ou se totalmente improcedente ou sem resolução de mérito sobre o VC. Quando o dissídio for coletivo as partes vencidas são solidariamente responsáveis pelas custas. PJ de direito público e o MPT são isentos das custas - essa isenção não alcança as entidades fiscalizadoras do exercício profissional, nem exime da obrigação de reembolsar as despesas judiciais realizadas pela parte vencedora. Não caracteriza deserção se o valor da condenação for acrescido, hipótese que as custas devem ser pagas ao final (complementação?). O depósito recursal por sua vez visa garantir a futura execução movida pelo empregado, assim vencida a empresa deve efetuar o depósito recursal, não se exigindo o mesmo em caso de eventual recurso do empregado. O depósito recursal é devido nas condenações em pecúnia. Transitada em julgado a decisão recorrida o juiz determinará o levantamento do depósito recursal na própria conta vinculada do FGTS do empregado. PJ de direito privado e o MPT não são obrigados a efetuar o depósito. A comprovação do depósito deve ser feita dentro do prazo do recurso. No dissídio coletivo a sentença nunca é condenatória, e portanto não é exigido o depósito. Massa falida não está sujeita ao depósito, diferente da empresa em liquidação extrajudicial. Eventual justiça gratuita a empregador não alcança o depósito recursal, que visa a garantia da execução. Havendo condenação solidária de empresas o depósito de uma aproveita a outra, exceto se pleiteia em recurso sua exclusão da lide. Os correios tem inexigibilidade de preparo e prazo em dobro para recorrer (STF); na guia de recolhimento deve conter os dados do processo, sob pena de deserção.

Recurso sem depósito Recurso com depósito obrigatório ao empregador

Agravo de petição Recurso ordinário Agravo de instrumento Recurso de revistaAgravo regimental Embargos no TST Embargo de declaração REPedido de revisão Recuso adesivo

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Reclamação do obreiro – sentença

Custas Depósito

Improcedente Pagas pelo obreiro – recorrente ou não, salvo justiça gratuita.

Não há em caso do obreiro recorrer

Procedente (total ou não) Pagas pelo empregador recorrente

Efetuada pelo empregador recorrente

Terminativa Pagas pelo obreiro – recorrente ou não, salvo justiça gratuita.

Não há em caso do obreiro recorrer

8.7.2. Subjetivos

Legitimidade: podem interpor recurso o terceiro interessado o MP (custos legis ou parte) e as partes; capacidade: o recorrente deve demonstrar sua plena capacidade (eventual incapacidade deve ser suprida por representação); interesse: o recurso deve ser útil e necessário, sob pena de não ser conhecido. Ex. recorrer de uma procedência total do pedido. Importante destacar que sentença terminativa não impõe falta de interesse para o reclamado, pois poderá ter interesse em sentença definitiva. MPT tem interesse para recorrer de sentença que reconhece vínculo empregatício com estatal sem prévio concurso.

8.8. Recursos em espécies

8.8.1. Recurso ordinário

Previsto no art. 895, cabendo no prazo de 8 dias contra sentença terminativa ou definitiva de 1º grau (vara trabalhista ou juiz de direito em jurisdição da JT) ou contra decisão definitiva de TRT em competência originária (ex. rescisória, dissídio coletivo e etc.). No caso de indeferimento da inicial eventual interposição de recurso ordinário faculta ao juiz realizar o juízo de retratação no prazo de 48 horas (aplicação do 296 CPC) ou poderá encaminhar os autos ao TRT para julgamento do apelo, sem necessidade de intimação para contrarrazões (diferente da improcedência total liminar). Algumas decisões interlocutórias de natureza terminativa podem ser impugnadas por recurso ordinário: ex. se o juiz declarar sua incompetência absoluta/relativa. A OJ nº 5 impede rec. ordinário contra agravo regimental contra reclamação correicional ou pedido de providencia. O recurso ordinário no sumaríssimo é recebido pelo TRT devendo ser colocada em pauta de julgamento em 10 dias, sem revisor. Terá, se necessário, parecer oral do MPT. O acórdão no caso consistirá em mera certidão de julgamento com dados do processo, parte dispositiva e razões de decidir do voto prevalente, se a sentença for confirmada pelos próprios fundamento a certidão de julgamento servirá de acórdão. O TRT é dividido em turmas que julgam o rec. ordinário. Como não há efeito suspensivo permite-se (TST 414) ação cautelar para alcançar tal efeito. P.e, reintegração de empregado.

Procedimento: verificação pelo juiz dos pressupostos processuais; juiz concede 8 dias para contrarrazões; recebida as contrarrazões (ou não) pode o juiz reconsiderar e entender pelo não conhecimento do apelo (as contrarrazões podem fazê-lo mudar de idéia, p.e), em aplicação do art.518,§2º do CPC (apelação). Admitido o recurso o juiz remete para os autos

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para o TRT para admissibilidade (2º juízo de admissibilidade) e julgamento. O art. 518,§1º do CPC prevê que não se receberá a apelação se a sentença estiver em conformidade com súmula do STJ/STF (“súmula impeditiva de recurso”), parte da doutrina entende aplicável tal dispositivo na JT quando existir súmula do STF ou TST. Renato Saraiva critica a súmula impeditiva de recurso, pois a posição dos Tribunais superiores sofrem influência das decisões dos demais juízes, e quando se impede a análise de rec. em razão da existência de súmulas de certa forma se engessa o judiciário (prestação jurisdicional x celeridade). De qualquer forma lembra que para a aplicação do art. 518,§1º toda a sentença deve tratar de matéria sumulada, havendo parte da sentença que trate de matéria ainda não sumulada não se obsta o prosseguimento do recurso, mas que irá se ater à matéria não sumulada apenas.

8.8.2. Embargos de declaração

Embora divergência, prevalece entendimento que os embargos tem natureza de recursos, apesar de não existir contrarrazões. Como é julgado pela própria autoridade só tem 1 juízo de admissibilidade. Pode ser oposto com a finalidade de sanar omissão, obscuridade ou contradição mediante esclarecimento ou complementação do julgado; prequestionar matéria não apreciada na decisão, objetivando futuro RE e rec. de revista. Sua previsão está no art. 535 do CPC e 897 da CLT. No embargo de declaração o prazo é de 5 dias da intimação da sentença, não havendo nesse recurso espaço para contrarrazões exceto se existir pedido modificativo, hipótese que torna-se obrigatória a oitiva da parte contrária, sob pena de nulidade. É possível os embargos contra decisão de 1º até contra decisão do TST. Os embargos de declaração tem pressuposto especifico (sob pena de não conhecimento do recurso) que é a indicação do ponto obscuro/contraditório/omisso. As PJ de direito público tem prazo dobrado pra opor o recurso. A interposição de embargo de declaração interrompe prazo pra interposição de outros recursos por qualquer das partes (art. 538), sendo utilizado de artifício protelatório, razão que o mesmo art. impõe multa de até 1% sobre o VC e se reiterado o limite será de até 10%, sendo esse depósito da multa condição para interpor qualquer outro recurso. A utilização dos embargos declaratórios para prequestionar não implica em caráter protelatório.

8.8.3. Agravo de petição

É recurso utilizado em processos de execução (art. 897 a CLT), seja de decisões terminativas ou definitivas, inclusive embargos a execução de terceiros. Embora polêmico parte da doutrina admite também contra decisão interlocutória se terminativa em relação ao objeto de pretensão: ex. que torna a penhora sem efeito ou que determina levantamento do depósito pelo executado. O prazo é o de 8 dias, sendo julgado pela própria autoridade prolatora, exceto se proferida em 1º, sendo no caso julgado pelo TRT. O agravo de petição tem pressuposto especifico de exigir a delimitação justificada das matérias e valores impugnados, logo, não é permitido o agravo de petição genérico. As parcelas não impugnadas mediante o agravo podem ser executadas definitivamente, não havendo efeito suspensivo. A doutrina majoritária entende desnecessário depósito judicial pra a interposição do agravo, bastando que haja penhora ou nomeação de bens visando garantir o juízo (TST nº 128).

8.8.4. Agravo de instrumento

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É recurso previsto no art. 897 b da CLT sendo adequado contra decisão que denegar seguimento de recursos, não tem efeito suspensivo – a execução pode ser suspensa via ação cautelar. Tem prazo de 8 dias e não exige preparo. A competência para julgar o agravo de instrumento é do tribunal competente para conhecer o recurso denegado. Na JT o agravo de instrumento não é utilizado para recorrer de decisão interlocutória (como é da justiça comum), mas para destrancar recurso que foi negado seguimento pelo 1º juízo de admissibilidade de algum recurso (inclusive o próprio agravo de instrumento). É submetido perante o juízo que não conheceu o recurso, admitindo assim o juízo de retratação (reconsideração). Se o juízo não se retratar será o agravado intimado para apresentar em 8 dias contrarrazões contra o agravo de instrumento e o recurso principal. A denegação de seguimento de embargo no TST cabe agravo regimental e não o de instrumento. O agravo de instrumento deve ser instruído com peças necessárias e facultativas que permitam o imediato julgamento do recurso denegado, em caso de eventual provimento do agravo de instrumento. O agravo de instrumento não há discussão em torno do mérito do recurso, mas apenas sobre o 1º juízo de admissibilidade. O agravo de instrumento é processado em autos apartados e jamais nos próprios autos principais.

8.8.5. Recurso de revista

8.8.5.1. Generalidades

É recurso eminentemente técnico, desde já se destaca que não objetiva corrigir a má apreciação de prova ou injustiça da decisão, mas a interpretação correta da lei pelos TRT. O prazo de 8 dias, sendo julgado por turma do TST. É utilizado para impugnar acórdão de TRT em dissídio individual proferido em grau de recurso ordinário (competência recursal do TRT – assim impossível rec. de revista contra decisão em dissídio coletivo, pois a competência do TRT nesse caso é originária). Dissídio individual em 1º grau – rec. ordinário para o TRT – acórdão do TRT- rec. de revista julgado por turma do TST.

8.8.5.2. Cabimento

Assim como os demais recursos, deve preencher os requisitos de admissibilidade (tempestividade, capacidade e etc.). O art. 896, §5º estabelece que se a decisão impugnada estiver de acordo com jurisprudência do TST o min. relator indicando a referida súmula pode negar seguimento ao rec. de revista – cabendo agravo regimental contra essa decisão monocrática. Têm-se ainda alguns pressupostos específicos desse recurso: o rec. de revista não se presta a examinar matéria fática e probatória (TST nº 126), devendo o recorrente motivar as razões de inconformismo em um dos seguintes fundamentos: divergência jurisprudencial na interpretação de lei federal entre tribunais ou entre o acórdão e súmula ou OJ do TST. Divergência jurisprudencial na interpretação de lei estadual, convenção coletiva, acordo coletivo, sentença normativa ou regulamento de empresa – da mesma forma deverá demonstrar a divergência, porém de outros instrumentos, vale ressaltar que para configurar a divergência o recorrente não pode utilizar acórdãos do TRT. Violação de literal dispositivo de lei federal ou da CRFB – nessa hipótese o acórdão do TRT deve violar tais matérias federais ou constitucional; se a decisão do 1º grau violar lei federal ou constitucional o rec. ordinário deverá explicitamente sobre isso se pronunciar, criando um prequestionamento a ser solvido pelo TRT, o que permitirá a interposição futura de um rec. de revista contra acórdão do TRT. Se

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em rec. ordinário alegada a violação da sentença de norma federal/constitucional o TRT não se pronunciar, sobre a questão deverá ser interposto embargo de declaração para criar o prequestionamento apto a permitir que o TST analise rec. de revista contra eventual decisão do TRT.

8.8.5.3. Súmulas e orientações jurisprudenciais do Tribunal Superior do Trabalho acerca da admissibilidade de recurso de revista

A jurisprudência do TST estabelece pressupostos específicos de admissibilidade recursal para o rec. de revista: se a decisão recorrida tiver vários fundamentos e a jurisprudência transcrita (para caracterizar a divergência) não conter todos não se conhece do rec. de revista (pois os demais já asseguram a decisão impugnada); a parte vencedora em 1º instância se vencida na 2º deve pagar as custas fixadas na sentença originária; incabível rec. de revista ou de embargo para reexame de fatos e provas; o que permite o rec. de revista é violação à literalidade do preceito em lei ou CRFB e não a mera interpretação ruim de lei (interpretação que não seja a ideal); a alegação de divergência justificadora do rec. de revista deve ser comprovada;

8.8.5.4. Recurso de revista no procedimento sumaríssimo

O rec. de revista no sumaríssimo (40 SM) é limitado, só pode ser utilizado se a decisão contrariar súmula do TST ou à CRFB (art. 896, §6º).

8.8.5.5. Requisitos de transcendência

Foi incluído o art. 896-A na CLT, criando um pressuposto específico para o rec. de revista. A EC nº 45 autorizou o STF a selecionar os RE em razão de repercussão geral das questões constitucionais. No entender de Renato Saraiva, o TST, todavia, não obteve autorização constitucional semelhante, não podendo a lei conceder-lhe esse poder. Pelo novo requisito o TST somente julgará rec. de revista que tenha transcendência jurídica, política, social ou econômica, ainda que amparado por divergência jurisprudencial ou violação a literal disposição de lei federal/constitucional.

8.8.5.6. Instrução normativa do TST 23/2003

Quanto ao rec. de revista o TST objetivando uniformizar as petições recomenda que: a indicação da localização da página dos pressupostos recursais; comprovação da tempestividade recursal; dentre outras coisas.

8.8.6. Agravo regimental

Está previsto no regimento interno dos TRT e TST havendo previsão no art. 709, §1º da CLT e art. 9º da lei 5.584 (contra decisão de relator que negar seguimento de recurso) e ainda nos art. 2º, II, d e 3º, III da lei 7.701 (decisão que indeferir recurso em ação coletiva e embargo de divergência individual). É utilizado nas seguintes situações: reexame de decisões monocráticas proferidas por seus próprios juízes (ex. conceder/denegar liminar, indeferir inicial em TRT e etc.); impugnar decisão monocrática de relator (juízo de admissibilidade) que denegue seguimento a recurso; impugnar decisão monocrática de Presidente do TRT que negue seguimento de embargos para o TST. O prazo é fixado no TRT, em regra 5 dias; o regimento do

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TST prevê prazo de 8 dias; admite-se prazo em dobro para MP, PJ de direito público; é interposto perante o órgão que proferiu a decisão, o que permite o juízo de retratação.

8.8.7. Embargos

O ordenamento atual eliminou a figura do embargo de nulidade, permanecendo apenas embargos infringentes e de divergência (art. 896, CLT), ambos no prazo de 8 dias.

I - de decisão não unânime de julgamento que: conciliar, julgar ou homologar conciliação em dissídios coletivos que excedam a competência territorial dos Tribunais Regionais do Trabalho e estender ou rever as sentenças normativas do Tribunal Superior do Trabalho, nos casos previstos em lei;

II - das decisões das Turmas que divergirem entre si, ou das decisões proferidas pela Seção de Dissídios Individuais, salvo se a decisão recorrida estiver em consonância com súmula ou orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho ou do Supremo Tribunal Federal.

8.8.8 Recurso adesivo

Não tem previsão expressa na CLT, tendo aplicação subsidiária do art. 500 do CPC. O rec. adesivo não é um tipo de recurso, mas uma forma de interposição, é própria da parte que está conformada com a decisão, mas em função do recurso da parte contrária optou também por aderir ao recurso principal. De acordo com a Súmula 128 do TST o rec. adesivo é compatível com o proc. do trabalho e cabe no prazo de 8 dias nas hipóteses de interposição de rec. ordinário, agravo de petição, de revista e de embargos e RE (neste caso interposto em 15 dias), sendo desnecessário que a matéria nele veiculada seja relacionada com o recurso interposto pela parte contrária. O rec. adesivo é interposto no prazo de contrarrazões do rec. principal; a doutrina majoritária entende que não há prazo dobrado pra MP e PJ de direito publico, uma vez que deve ser interposto no prazo de contrarrazões, onde não há privilégios. O recurso adesivo sempre depende do principal, de forma que se o principal não for conhecido o julgamento do adesivo fica prejudicado. Só é possível rec. adesivo se existir sucumbência recíproca (procedência parcial do pedido). O rec. adesivo tem os pressupostos de admissibilidade e exige pagamento de custas e eventual depósito recursal e etc., sendo recebido apenas no efeito devolutivo; não cabe rec. adesivo em reexame necessário, pois não há contrarrazões e o reexame não é um recurso interposto pelo ente público; se o litigante interpõe recurso autônomo não pode interpor o adesivo (princípio da unirecorribilidade e preclusão consumativa); há divergência doutrinária se apenas a parte na demanda pode interpor o rec. adesivo ou se o terceiro prejudicado e MP também poderiam.

Renato Saraiva entende que excepcionalmente a parte vencedora no mérito na totalidade tem interesse no rec. adesivo, na hipótese em que não teve preliminar acolhida pelo juiz (ex. réu alega prescrição) e a parte vencida recorre. Isso porque poderá ter a decisão reformada em seu desfavor, o que o legitima de arguir em rec. adesivo a preliminar. Mas se não houver recurso principal aqui, a parte vencedora não poderá recorrer da decisão (não acolhimento da preliminar), pois foi vencedora no mérito, falta de interesse de agir a preliminar. Se o autor pede a+b+c e sai vencedor em a +b e o réu recorre, poderá o autor recorrer adesivamente (no prazo de contestação) de c, isto é, independe da matéria do rec. principal. A interposição de

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rec. autônomo (ainda que não conhecido) obsta o rec. adesivo, pois não pode uma mesma decisão ser impugnada por 2 recursos pela mesma parte.

8.8.9. Recurso extraordinário

O RE encontra seu fundamento no art. 102, III da CRFB. A CLT menciona o RE em seu art. 893,§2º ao dispor que o julgamento pelo STF não prejudicará a execução do julgado. Na JT o RE só pode ser interposto contra decisão do TST quando já esgotados todos os recursos (última instância), em geral, desde que haja violação direta à CRFB. A jurisprudência mostra que não cabe RE contra nenhuma decisão do TRT. Em relação aos dissídios de alçada (2 SM) não há recursos, exceto se a matéria for constitucional, dessa forma alguns autores advogam que seria hipótese de RE (C.H.B. Leite), por se tratar de última instância (mesmo sendo proferida por 1º grau), o próprio STF se manifestou nesse sentido. Apesar disso, atualmente dificilmente o STF julgará tal recurso em razão de não existir repercussão geral. O prazo para o RE é de 15 dias, não admitido o exame de provas (STF nº 279). A análise dos pressupostos recursais é feita primeiramente pelo presidente do TRT ou juiz de 1º grau (dissídio de alçada) e o segundo juízo de admissibilidade pelo STF. O jus postulandi não pode ser exercido no RE, devendo necessariamente ser subscrito por advogado. O RE tem pressupostos específicos de admissibilidade: causa decidida em última ou única instância e que envolva questão federal (STF nº 282) que seja prequestionada (STF nº 356), sob pena de não conhecimento. O RE não tem efeito suspensivo, que na prática pode ser obtido mediante cautelar, que deve ser decidido por quem fizer o 1º juízo de admissibilidade do RE. Atualmente (CPC 1973) o STF não aplica a súmula 228, fazendo com que a execução da sentença enquanto pendente o RE é provisória. Apesar disso, doutrinadores (ex. Renato Saraiva e C.H.B. Leite) entendem que a execução será definitiva, mesmo ainda pendente o RE. Há um pressuposto especifico do RE que é a repercussão geral, que deve ser demonstrada em preliminar. Se a decisão recorrida for assentada em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abranger todos eles não será conhecido. Não cabe RE em interpretação contratual.

8.8.10. Pedido de revisão

Está previsto no proc. sumário (2 SM) na lei 5.584/70 – art. 2º. Temos que: a demanda na JT distribuída sem VC o juiz em audiência deve fixar seu valor para determinar o procedimento (A Súmula 356 do TST dispõe que tal previsão foi recepcionada pela CRFB). Se a parte não se conformar com o VC arbitrado pode em razões finais impugná-lo. Se o juiz mantiver o VC pode a parte valer-se do pedido de revisão interposto diretamente ao presidente do TRT em 48 horas. Tal pedido deve ser instruído com cópia da reclamação inicial, ata da audiência e será julgado em 48 horas a partir de seu recebimento pelo presidente do TRT. Pelo art. 840, §1º o VC não é requisito essencial da inicial trabalhista o que ocasiona na fixação pelo juiz da causa e em eventual pedido de revisão quando a parte não concordar com o valor fixado. Renato Saraiva (francamente minoritário) entende que o proc. sumário foi abarcado pelo sumaríssimo (40 SM – lei 9.957/00) que por sua vez exige o VC, pois aqui os pedidos devem ser líquidos (art. 852-B certo/determinado), o que tornaria o recurso sem utilidade a partir do ano de 2000. A doutrina majoritária entende que não houve revogações, pois o escopo dos 2 procedimentos é diferente, o sumário (2 SM) institui a irrecorribilidade de decisões (sentenças) e o sumaríssimo objetivou instituir um procedimento célere, sem contudo cogitar a irrecorribilidade.

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Indicado o VC na inicial o procedimento a ser adotado para sua impugnação (pelo reclamado, no caso) é o previsto no art. 261 do CPC (autuada em apenso, ouvido o autor em 5 dias, não suspende o processo, e em 10 dias o juiz decide, podendo utilizar perito. Não impugnado o VC presume-se aceito). Assim o Pedido de Revisão só é utilizado quando fixado pelo juiz em razão da omissão do autor na inicial.

8.9. Reclamação correicional

Também chamada de correição parcial. Não é um recurso, mas sim procedimento administrativo (envolve não o direito de ação, mas o de petição) que visa sustar procedimentos do juiz que atentem contra a boa ordem processual. É regulado pelos regimentos internos dos TRT e TST; e mera menção no art. 709 da CLT. Há, no entanto, autores que o classifica como recurso sui generis, apesar de não esta previsto em nenhuma lei federal (requisito para classificação como recurso) é meio idôneo a acarretar reforma ou cassação do ato judicial (o que revela perfil recursal), sendo assim considerados por essa corrente como recurso sui generis ou clandestino (pois tem previsão apenas em RI e não em lei). A reclamação correicional exige: ato impugnado ser atentatório contra a boa ordem processual; não existir recurso contra tal ato; demonstração de prejuízo à parte recorrente. Ex. juiz que não julga processo, estando concluso para sentença há meses; decisão do juiz que ordena retirar dos autos uma contestação tempestiva. Cabe ao juiz corregedor eleito decidir as reclamações (prazo em RI – em regra 5 dias).

8.10. Súmula vinculante do Supremo Tribunal Federal

Matéria afeta ao direito constitucional, não há comentários próprios ao proc. do trabalho.

Capítulo 9 – Execução Trabalhista

9.1. Introdução

A execução na Roma Antiga recaia sobre a pessoa e não sobre o patrimônio. Nos dias atuais o CPC em seu art. 591 prevê que o devedor somente responde pelas dívidas contraídas com seu patrimônio. Existem 3 classes de processo – conhecimento/execução e cautelar. No de conhecimento a tutela jurisdicional é de aplicação do direito no caso concreto que culmina em sentença declaratória (de existência ou não da relação jurídica material), constitutiva (cria/modifica ou extingue relação jurídica de direito material) ou condenatória (obriga o demandado a fazer/não fazer ou entregar coisa). O processo cautelar visa resguardar utilidade do processo principal, seja de conhecimento ou de execução. O de execução visa a satisfação prática da sentença. Só estão sujeitas ao processo de execução a sentença condenatória. A execução trabalhista é regrada por CLT, lei 5.584/70 (apenas o art. 13), lei 6.830/80 (execução fiscal) e CPC, nessa ordem.

9.2. Autonomia da execução trabalhista

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Parte minoritária entende que a execução trabalhista não é autônoma, mas mera fase do processo do trabalho: a execução se dá nos mesmos autos; pode ser promovida de oficio pelo juiz (art. 878 CLT), sendo mero apêndice do processo de cognição. Todavia a corrente majoritária entende pela autonomia do processo de execução na JT: o art. 880 determina a citação (e não mera intimação) pessoal por oficial de justiça (integração ao processo); há títulos executivos extrajudiciais que são objeto do proc. de execução, sem processo de conhecimento (art. 876 – termo de compromisso de ajustamento de conduta perante MPT e termo de conciliação perante comissão de conciliação prévia).

9.3. Princípios informativos

Igualdade de tratamento das partes – na execução a igualdade resume-se á observância da lei, pois o devedor está em posição de sujeição ao suportar os efeitos do ato expropriatório.

Da natureza real – O devedor reponde com seus bens e não sobre integridade física (art. 646).

Da limitação expropriatória – impede alienação total do patrimônio do devedor quando parte dos bens já for suficiente. Art. 659 692 CPC e 883 da CLT.

Da utilidade para o credor – O processo de execução não pode ser utilizado apenas para acarretar danos ao devedor. Assim o art. 652, §2º dispõe que não se efetuará a penhora quando evidente que o produto da alienação dos bens será inteiramente absorvido pelo pagamento das custas da execução. A lei de execução fiscal diz (6.830 – art. 40) que a execução deve ser suspensa quando não localizado devedor ou bens, decorrido 1 ano, o processo será arquivado, podendo ser desarquivado a qualquer tempo, caso encontrados.

Não prejudicialidade do devedor – se por várias meios possa ser promovida a execução será feita pelo modo menos gravoso (art. 620 CPC). Art. 668 faculta a substituição dos bens penhorados por outros, desde que não traga prejuízo ao exequente. Como em regra o exequente na JT é o trabalhador hipossuficiente muitos juízes/doutrinadores acabam invertendo este princípio de forma que a execução seja menos gravosa para o credor (obreiro).

Da especificidade – quando a coisa não for entregue o credor tem direito de receber o seu valor, além de perdas e danos. Quando a obrigação é de fazer/não fazer o credor poderá ordenar que seja realizada as custas do devedor, ou haver perdas/danos (indenização).

Da responsabilidade pelas despesas processuais – além do devido, o devedor paga as despesas processuais, ao final (art. 789 –A e B da CLT).

Do não aviltamento do devedor – não se expropria bens indispensáveis à subsistência do devedor/família (dignidade humana). Art. 649 CPC: impenhorabilidade de alguns bens.

Da livre disponibilidade do processo pelo credor – o art. 569 PU CPC faculta ao credor desistir da execução ou de algumas medidas executivas, independente da concordância do devedor, no entanto, só surte efeito após homologação por sentença (art. 158 CPC). Há divergência sobre essa faculdade unilateral quando o devedor opõe embargos à execução. Alguns entendem que opostos embargos, a desistência pelo credor só poderia ocorrer se o devedor consentisse, pois poderia ter interesse em pronunciamento jurisdicional (ex. prescrição), isto é,

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aplicar-se-ia a mesma diretriz do proc. de conhecimento em que a desistência da ação só é eficaz se a outra parte anuir (art. 267,§4º CPC).

9.4. Legitimidade

9.4.1. Ativa

Pelo art. 878 da CLT a execução pode ser promovida de ofício pelo próprio juiz. O art. 877 dispõe que é competente para a execução aquele que tiver conciliado ou julgado o dissídio. No caso de títulos extrajudiciais a competência para a execução será daquele que teria competência para o processo de conhecimento. A doutrina aponta uma hipótese em que a execução não poderá ser feita de ofício pelo juiz: a sentença que depender de liquidação por artigos, pois é necessário a iniciativa do credor para fixação do valor e consequente execução.

O art. 114, VIII CRFB e 876 CLT atribuem à JT competência para executar de ofício os créditos previdenciários decorrentes de sentenças/acordos. A execução poderá ser promovida ainda por outros interessados (art. 878), ou seja, MPT, credor, devedor, sucessores do credor morto – sobrevindo a morte do credor o processo é suspenso até habilitação dos sucessores (art. 791, II CPC). Para o TST a cessão de crédito não pode ser operada na JT entre empregado e terceiro que não se coloca no polo da relação processual trabalhista (ingresso do 3º geraria incompetência material da JT). Excepcionalmente a lei 11.101 (falências) no art. 83, §4º permite a cessão de créditos trabalhistas a 3º, (enquadrado como quirografário).

A legitimidade ativa do MPT: execução de títulos judiciais - ações por ele promovida (ex. ACP); execução de termos de compromisso de ajuste de conduta (leg. Exclusiva); substituto processual do menor (art. 793, CLT); ações coletivas em que o autor abandonou a ação; execução de multa e custa (878 CLT).

9.4.2. Passiva

Em regra o empregador é executado. Mas o empregado pode ser o executado também: devedor de custas, honorários periciais, indenização ao empregador por prejuízos, devolução de materiais, ferramentas. O art. 568 do CPC legitima como sujeito passivo o fiador, espólio.

9.4.3. Sucessão de empregadores

A sucessão deverá ser analisada caso a caso para ser comprovada e evitar fraudes. A sucessão trabalhista comprovada (art. 10 e 448 da CLT) a sucessora responde pelas dividas trabalhistas, assumindo polo passivo da execução, pouco importando tenha ela participado do processo de conhecimento. Cláusula que limita a responsabilidade do sucessor não produz efeito perante os trabalhadores, a sucessora poderá, no entanto, mover ação regressiva (justiça comum) em face da sucedida (art. 567, III CPC). Celebrado contrato de concessão de SP e posterior outorga a outra empresa (arrendamento ou outra forma contratual) a responsabilidade da sucedida é subsidiária, exceto dos contratos extintos antes da sucessão, em que será exclusiva. Em relação ao grupo econômico foi cancelado o enunciado 205 que vedava a execução do integrante do grupo econômico que não participou como reclamado e não consta no título executivo judicial, de forma que ganha força o entendimento que garante a execução

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de qualquer integrante do grupo econômico, ainda que não participado do proc. de conhecimento (STJ).

9.4.4. Desconsideração da personalidade jurídica do executado

As vezes o credor após longa demanda judicial (proc. conhecimento) não vê seu direito de crédito efetivado (crise do proc. de execução) em razão de artifícios do executado (sucessões fraudulentas e etc.). É nesse cenário que surge a teoria da desconsideração (disregard – em inglês) da personalidade jurídica do executado (ou teoria da penetração) que permite que os atos executórios alcancem bens dos sócios quando o patrimônio societário se mostra insuficiente e concomitantemente resta comprovada violação á lei (fraude ou falência da por má administração), no entanto, o TST admite a aplicação da teoria ainda que não comprovada a existência de fraude. Tal teoria tem previsão no art. 28,§5º do CDC (quando a personalidade for obstáculo ao ressarcimento do consumidor). Renato Saraiva entende aplicável tal dispositivo na JT em razão da proteção ao hipossuficiente (obreiro) e efetividade da execução trabalhista, além disso, a lei da ACP (art. 21) determina a aplicação da parte processual do CDC. Tal teoria tem previsão no art. 50 do CC (abuso de personalidade: desvio de finalidade ou confusão patrimonial – parte ou MP custos legis pode requer a aplicação).

9.5. Responsabilidade patrimonial do devedor

O art. 591 do CPC dispõe que o devedor responde com seus bens presentes e futuros, logo a execução é real/patrimonial. Assim, p.e, está sujeito a penhora não apenas os bens que o devedor possuía ao tempo da execução se iniciou, mas também os adquiridos enquanto não satisfeita a obrigação. Com efeito, iniciada a execução e não havendo meios de satisfazê-la ela não será extinta, cabendo ao juiz (art. 40 da lei 6.830) suspender a execução trabalhista enquanto não localizado o devedor ou bens suficientes. Após 1 ano de suspensão pode o juiz arquivar os autos, sendo desarquivado a qualquer tempo caso encontrado bens/devedor.

9.6. Ato atentatório à dignidade da justiça e fraude à execução

O CPC disponibilizou instrumento que evitam manobras fraudatórias/protelatórias a execução. O art. 600 considera ato disposto a fraudar execução o que resiste ás ordens judiciais, ou intimado não indica em 5 dias onde se encontram os bens sujeitos a penhora e seus valores. Advertido pelo juiz (art. 599, II) poderá o devedor ter que pagar multa não superior a 20% do VC em favor do credor, quando comprovado o ato atentatório à dignidade da justiça (art. 601).

Temos ainda a fraude à execução (art. 593), diferente da fraude contra credores (art. 158 e 165 CC). A fraude contra credor exige o dano (insuficiência de bens) e a fraude (ciência ou previsão do dano), o negócio fraudulento pode ser anulado por ação anulatória apenas por quem era credor ao tempo da prática do negócio (o Estado não tem interesse). A ação pode ser ajuizada contra devedor, o outro contratante ou terceiro adquirente de má-fé. A fraude a execução é regulada dir. processual (além do art. 179 do CP). Não precisa ser mostrada a má-fé, pois ela é presumida e os atos fraudulentos não são anuláveis (desconstituídos), mas ineficazes (declarados), por fim tem interesse o Estado (efetivação do título por ele criado).

9.7. Títulos executivos trabalhistas judiciais e extrajudiciais

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O art. 876 disciplina os títulos: judiciais – sentença transitada em julgado, sentença sujeita a recurso sem efeito suspensivo, acordo judicial não cumprido; extrajudicial – termo de ajustamento de conduta com o MPT; termo de conciliação com comissão prévia. A CRFB em seu art. 114, VIII prevê que o crédito previdenciário decorrente de títulos judiciais podem ser executados de ofício na JT. As multas inscritas em dívida ativa da União são títulos extrajudiciais executáveis na JT. Apenas a sentença condenatória enseja processo de execução, as constitutivas/declaratórias apenas no que tange ás custas e despesas processuais, salvo se beneficiário de justiça gratuita. O título extrajudicial dispensa proc. de conhecimento, ensejando proc. de execução direito. Na JT não se admite execução dos demais títulos extrajudiciais como cheque, duplicatas na JT, constituem documento aptos a instruir eventual ação monitoria (ou trabalhista comum) caso tenham origem na relação de emprego. Renato Saraiva entende que o honorário do advogado pode ser executado na JT (o contrato de prestação do serviço do advogado é título executivo – lei 8.906) por ser relação de trabalho e não de consumo. A sentença normativa não é condenatória, logo, só enseja execução de despesas e custas, seu descumprimento permite ajuizamento de ação de cumprimento (proc. de conhecimento no 1º). A sentença arbitral é título extrajudicial a ser executável na JT.

9.8. Execução provisória e definitiva

9.8.1. Execução provisória

9.8.1.1. Conceito

É cabível quando da decisão ainda pender recurso sem efeito suspensivo (art. 876 CLT). O título extrajudicial não se sujeita a recurso, logo dá ensejo apenas a execução definitiva (art. 587 CPC). A execução provisória não é possível de ofício, exige o requerimento do interessado.

9.8.1.2. Requisitos para instrução

Na JT a execução provisória é feita por carta de sentença (art. 475 CPC): a inicial é instruída com cópia autenticada da sentença/acórdão; certidão que eventual recurso não tem efeito suspensivo; procuração da parte (advogado); decisão de habilitação do crédito (se for o caso).

9.8.1.3. Embargos à penhora e agravo de petição na execução provisória

A execução provisória é permitida até a penhora (art. 899 CLT) não havendo propriamente atos de expropriação como levantamento de dinheiro ou alienação de bens, o que de acordo com a jurisprudência, não veda embargos à penhora ou agravo de petição contra penhora ou cálculo de liquidação ainda em sede de execução provisória. A execução provisória não se encerra com a penhora ou depósito do valor apurado, pois pode haver ainda discussão nesta fase processual da apuração do valor das parcelas da referida execução. Corrente minoritária entende por paralisada a execução provisória após penhora, obstando embargos a execução.

9.8.1.4. Aplicação do art. 475-O do CPC

A execução provisória no CPC tinha previsão no art. 588 do CPC, atualmente tem previsão no art. 475-O. Permite-se o levantamento em dinheiro e a prática de atos que importem a alienação de domínio, desde que mediante caução idônea, nisso diferenciando do art. 899 que

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não exige caução para a execução provisória trabalhista, mas que, no entanto, vai até a penhora apenas, isso porque em regra o executado (geralmente trabalhador) não tem condições de prestar caução. A doutrina entende aplicável o art. 475-O na JT, principalmente o §2º que dispensa caução quando o exequente demonstrar necessidade e o crédito for de natureza alimentar ou decorrer de ato ilícito, limitado a 60 SM; ou quando a execução provisória pender a agravo de instrumento no STJ ou STF.

9.8.1.5. Sentença pendente de recurso extraordinário e execução provisória

Há divergência se a pendência de RE enseja execução definitiva ou provisória. A súmula 228 do STF entende que é definitiva a execução pendente RE, porém entendimento mais recente do próprio STF coadunando com o CPC 1973, assim impõe afastamento da súmula ao dispor que é provisória a execução pendente de sentença pendente de RE. Assim temos que só transita em julgado quando não há mais recursos, inclusive RE (art. 467 CPC); tem-se por provisória a execução de sentença impugnada por recurso sem efeito suspensivo (art. 475-I); RE não tem efeito suspensivo (art. 2º lei 8.038). Apesar disso, para C.H.B.Leite, pendente RE a execução é definitiva (art. 893, §2º CLT -“RE para o STF não prejudica a execução”). No TST temos os 2 entendimentos: OJ 56 - “não há direito a execução definitiva quando pendente RE”; mas o TST já se manifestou no sentido de reconhece a nova jurisprudência do STF, mas alega que devido à peculiaridade do DT é possível aplicar ainda aplica a súmula 228 do STF e art. 893,§ 2º da CLT e ainda art. 497 do CPC, a depender do juízo do magistrado e do caso concreto.

9.8.1.6. Penhora de dinheiro em execução provisória

O art. 475 – O do CPC dispõe que a execução provisória da sentença far-se-á do mesmo modo que a definitiva. O inc. III menciona a possibilidade do levantamento em dinheiro na execução provisória. O Art. 655 impõe ordem de preferência na penhora: dinheiro, veículos terrestres, bens móveis em gral, e etc. Todavia os juízes do Trabalho na execução provisória em regra não penhoram dinheiro, pois o título executivo judicial poderá ser extinto em sede de recurso e o trabalhador pode não ter condição de restituir o prejuízo do executado, além disso, dão atenção ao art. 620 do CPC procedendo a execução de forma menos onerosa ao executado.

9.8.1.7. Execução provisória de obrigação de fazer

Tal tema não é pacifico. A obrigação de fazer pode ocorrer em função de sentença (cognição exauriente), bem como em função de antecipação de tutela concedida (cognição sumária). Ex. de obrigação de fazer: reintegração de empregado, impedimento de transferência para outra localidade, promoção de trabalhador, entrega de guia de seguro desemprego, anotação/retificação na CTPS e etc. O TST adotava posição restritiva não admitindo execução provisória em obrigação de fazer, por ser inviável restituir ás partes ao status quo ante em caso de reforma do julgado pendente recurso – ex. como proceder quando concedida a reintegração? O TST, todavia, mais recentemente alterou seu posicionamento permitindo a execução provisória, principalmente quando revelada a probabilidade de êxito ex. reintegração de portador de HIV, dirigente sindical estável e etc. (OJ 142).

9.8.2. Execução definitiva

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Pelo art. 876 da CLT temos a execução definitiva quando da sentença condenatória transitada em julgado; inadimplemento de acordo homologado em juízo; de conciliação firmada perante comissão de conciliação prévia ou de compromisso de ajustamento de conduta perante o MPT.

9.9. Liquidação da sentença

9.9.1. Introdução

Há divergência doutrinaria sobre a natureza jurídica da liquidação de sentença. Para alguns é procedimento complementar ao cognitivo, para outros fase preparatória da execução. Doutrina moderna aponta como fase autônoma, situada entre proc. de conhecimento e o de execução. Já a doutrina laboral não aceita a autonomia, defendendo ser fase preparatória (proc. prévio) da execução – o art. 879 da CLT prescreve que sendo ilíquida a sentença ordenar-se-á previamente sua liquidação. A execução funda-se em título liquido, exigindo-se a liquidação quando a sentença não determinar valor ou não individualizar o objeto da condenação. A sentença do proc. sumaríssimo (40 SM) deve ser proferida já líquida, apenas apurável juros de mora/correção. No proc. ordinário vários fatores levam ao juiz proferir sentença ilíquida: excesso de pedido, natureza do pedido, falta de tempo e etc. na liquidação não se modifica a sentença nem se discute matéria da causa; a liquidação na JT abrange o cálculo de contribuições previdenciárias; as partes devem ser intimadas para a apresentação do cálculo; as partes tem 10 dias para impugnar a liquidez.

9.9.2. Modalidades

Na JT pode a liquidação ser feita por cálculo; arbitramento e por artigo ou mista entre essas modalidades. Pode a sentença conter parte líquida e ilíquida, hipótese que a líquida pode ser imediatamente executada mediante extração da carta de sentença.

9.9.2.1. Liquidação por cálculo

Quando a definição do valor depender de mero cálculo aritmético, pois todos os elementos necessários se encontram nos autos. Ex. cálculo de férias, verbas rescisórias, gratificação natalina, hora extra e etc. O art. 475-B do CPC indica que nesse caso o exequente deve instruir a inicial da execução com memória de cálculo. Os juros de mora (12% a.a.) também são liquidados por cálculo e devidos a partir do ajuizamento da reclamação até a efetivação do depósito, incide sobre a condenação corrigida. Mora/correção (índice do executivo) incluem-se na liquidação, ainda que omisso a inicial (TST 211).

9.9.2.2. Liquidação por arbitramento

A liquidação será por arbitramento quando convencionado pelas partes, determinado assim pela sentença ou quando a natureza do objeto o exigir (art. 475-C CPC). Algumas vezes a apuração do quantum por cálculo se mostra difícil em razão da necessidade de conhecimento especializado de perito. O arbitramento consiste em exame ou vistoria pericial de pessoas/coisas com finalidade de apurar o valor da obrigação. Mesmo que a sentença designe o arbitramento pode o juiz estabelecer depois a liquidação por cálculo (se possível) em razão da celeridade, não se falando em ofensa a CJ, pois não se alterou conteúdo substancial da

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sentença. Não se deve confundir arbitramento com perícia, pois essa é meio de prova, na liquidação por arbitramento as partes não nomeiam assistentes e não formulam quesitos. A atividade do árbitro (único) livremente nomeado pelo juiz é de estipular o valor em dinheiro (agindo como avaliador). O laudo do árbitro (auxilia do magistrado) não vincula o juiz. Ex. árbitro pesquisa remuneração padrão no mercado de trabalho para a função X.

9.9.2.3. Liquidação por artigos

Será feita quando houver necessidade de provar fatos novos (ainda não esclarecidos no proc. de conhecimento) para a fixação do quantum (art. 475 – E CPC. Ex. reconhece-se a realização de horas extras, mas não as quantifica. A liquidação por artigo não pode ser determinada de oficio, dependendo sempre se iniciativa da parte. Portanto, o interessado apresenta inicial alegando os fatos, respectivos meios de prova, sendo a parte citada para contestar o pedido, sob pena de serem considerados verdadeiros os fatos alegados. Após a contestação é designada audiência para produção de provas e posterior decisão. A liquidação por artigos constitui-se verdadeiro processo de cognição, podendo haver indeferimento da inicial, suspensão, extinção, revelia, produção de prova, julgamento antecipado, audiência instrutória. Pelo princ. da celeridade desaconselhável a adoção de tal modalidade de liquidação na JT.

9.9.2.4. Impugnação á sentença de liquidação

A CLT permite o juiz da execução efetuar a constrição dos bens para posterior exercício do direito de defesa por meio da impugnação à sentença de liquidação (art. 884,§3º CLT); ou ainda possibilitar o exercício do direito de defesa por meio da impugnação à sentença liquidada sem a prévia constrição dos bens (art. 879,§2º CLT). Na 1º hipótese quando o juiz homologa os cálculos por sentença sem oitiva das partes é expedido mandado executivo em face do devedor (citação, penhora e avaliação), iniciando-se prazo para o executado e exequente (mesmo se executado não opor embargo/impugnação) apresentarem em 5 dias embargos à execução e impugnar a sentença de liquidação, sendo julgados na mesma sentença eventual embargo previdenciário. Na 2º hipótese o juiz após realizar os cálculos abre prazo sucessivo de 10 dias para impugnarem a sentença de liquidação, sob pena de preclusão e impossibilidade de apresentação de embargos à execução. Se apesar da impugnação o juiz mantiver a sentença as partes não poderão recorrer de imediato, mas podem renovar a impugnação em eventual agravo e petição posterior. A impugnação deve especificar o ponto de divergência, não pode ser genérica. Pelo art. 879 o cálculo pode ser feito pelo juiz, contador judicial (auxiliar do juiz) ou pelas próprias partes, a critério do juiz. Sendo determinada à parte o cálculo, há prazo (simples e não sucessivo) de 10 dias para a manifestação da outra parte. Elaborado os cálculos (conta) a abertura de prazo pelo juiz ás partes para impugnação em 10 dias é facultativa, mas é obrigatória a intimação da União para se manifestar em 10 dias (INSS).

9.9.2.5. Natureza jurídica da sentença de liquidação

Alguns entendem que a sentença de liquidação é decisão interlocutória; outros advogam de que é uma verdadeira sentença declaratória. Tal definição é importante para saber se cabe ação rescisória (apenas contra sentença). O TST na maioria dos julgados entende que não cabe rescisória contra sentença de liquidação. O art. 475- H do CPC prevê agravo de instrumento contra a sentença de liquidação, reforçando sua natureza interlocutória.

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9.10. Execução por quantia certa contra devedor solvente – processamento

9.10.1. Citação, pagamento, depósito para apresentação de embargos

Com a homologação dos cálculos a dívida torna-se líquida e certa. O objetivo da execução por quantia certa é expropriar bens para satisfazer o credor. Assim sendo a dívida líquida será expedido mandado executivo (instruído com a sentença/ acordo não cumprido), denominado de CPA (citação, penhora e avaliação) a ser cumprido por oficial de justiça. Pelo art. 880 o executado é citado em 48h para pagar a dívida ou garantir a execução. Cabe destacar que diferente do proc. de execução a citação aqui deve ser pessoal por oficial de justiça, mas se em 48h o executado não for encontrado em 2 tentativas far-se-á citação por edital (art. 880, §3º - não se exige que o executado se oculte). Realizada a citação o oficial deve aguardar 48h para que o executado efetue o pagamento (evitando as custas da execução); deposite em juízo o valor, garantindo o juízo e a oposição de embargos; nomeie bens a penhora (art. 881 e 882 CLT). Alguns entendem aplicável o art. 653 e 654 do CPC na JT: não localizado o devedor o oficial poderia operar o arresto, promovendo a citação por edital, esgotado o prazo do edital e não cumprida a obrigação (em 48h) o arresto converte-se em penhora.

9.10.2. Nomeação de bens à penhora

Uma das alternativas do executado no intervalo de 48h após a citação é nomear bens à penhora objetivando garantir o juízo e possibilitando a este embargar a execução, a nomeação deve ser feita em 48h mesmo, sob pena de preclusão, mesmo que a penhora não tenha sido feita. A nomeação de bens deve observar a ordem do art. 655: dinheiro, veículo terrestre, bens moveis, bens imóveis, navio e aeronave, ações/quota de sociedade, percentual do faturamento de empresa devedora, pedras/metais preciosos, títulos da dívida pública, valores mobiliários. A nomeação dos bens deve ser feita em 48h da citação, mesmo que a penhora não tenha sido realizada. Frisa-se que tal ordem deve ser observada pelo executado ao nomear e não pelo juiz/exequente/oficial que diante da inércia do devedor poderão indicar qualquer bem. A parte pode requerer a substituição da penhora se não for obedecida a ordem legal; não incidir sobre bens designados em lei ou ato judicial para o pagamento; havendo bens no foro da execução outros houverem sido indicados, havendo bens livres a penhora recai sobre os já penhorados ou objeto de gravame; incidir sobre bens de baixa liquidez; que fracassar a tentativa de alienação judicial do bem; o devedor não indicar o valor do bem.

O exequente é notificado para se manifestar sobre aceitação dos bens nomeados, devendo fundamentar eventual impugnação, indicando outros bens. É dever do executado ao nomear bens indicar onde se encontram, exibir prova de propriedade e abster-se de atitude que embarace a realização da penhora (art. 656,§1º CPC). A avaliação dos bens só ocorre (oficial de justiça) se o exequente não concordar com o valor indicado pelo executado. O bem é removido para depósito público ou particular indicado pelo exequente.

9.10.3. Penhora

9.10.3.1. Introdução

Pelo art. 883 da CLT se o executado não pagar a dívida, não efetuar depósito judicial para apresentar embargos à execução ou não nomear bens à penhora, no prazo de 48 horas a partir

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da citação, o oficial de justiça penhorará bens suficientes para a satisfação da dívida, juros de mora, atualização monetária e contribuição previdenciária (executada simultaneamente com o crédito trabalhista). A penhora é materializada com a apreensão judicial dos bens para que sejam levados a hasta pública para satisfação da condenação. A penhora será realizada onde se encontrarem os bens, ainda que sob posse ou guarda de terceiros (art. 659, §1º). Porém, não se realiza a penhora se os bens encontrados forem absorvidos pelas custas da execução (utilidade). O ato de penhora deve conterá indicação do local/hora/nome de executado/descrição dos bens e nomeação do depositário. O art. 652 §º permite substituição da penhora fiança bancária ou seguro garantia judicial correspondente à dívida + 30%. Alguns entendem que o depositário pode ser nomeado independente de sua aquiescência (assinatura), o TST por sua vez firmou entendimento de que depende de aceitação (OJ nº 89).

Atualmente os oficiais acumulam a função de avaliadores, não mais aplicado o art. 888 da CLT, mas na impossibilidade (art. 475-j, §2º CPC) o juiz nomeará avaliador. Pode o executado requerer a substituição dos bens penhorados (no prazo de 10 dias da intimação da penhora) se comprovar que não haverá prejuízo pra o exequente e desde que seja menos gravosa para si (art. 668). O juiz pode reduzir ou ampliar a penhora se o bem for suficiente/insuficiente.

9.10.3.2. Resistência à penhora

Quando o executado não permite o ingresso do oficial para a diligencia o juiz expedirá ordem de arrombamento cumprida por 2 oficiais (auxiliados por policiais, se necessário) que lavrarão auto circunstanciado assinado por 2 testemunhas. Havendo resistência ao cumprimento do mandato tipifica-se o crime de resistência.

9.10.3.3. Bens impenhoráveis

Há bens que são absolutamente impenhoráveis (Art. 649 CPC): os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução; os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida; os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor; os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal (exceto para pensão alimentícia); os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão; o seguro de vida; os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas; a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família; os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social; até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em caderneta de poupança; os recursos públicos do fundo partidário recebidos, nos termos da lei, por partido político; A impenhorabilidade não é oponível à cobrança do crédito concedido para a aquisição do próprio bem. Os bens públicos são impenhoráveis. A impenhorabilidade do salário é pura e simples e não leva em consideração sua grandeza. À exceção dos bens inalienáveis, todos os demais podem ser objeto de constrição judicial, inclusive o imóvel hipotecado (art. 333).

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A alienação do bem exige notificação com 10 dias de antecedência do credor com garantia sobre o bem (art. 698 CPC), da mesma forma o edital de praça deve mencionar a existência de hipoteca sobre o bem (art. 686). Há doutrina que entende que a hipoteca continua gravada ao bem, ainda que alienado, transfere-se o domínio e o gravame. O bem alienado fiduciariamente não pode ser penhorado contra o devedor fiduciário, uma vez que ainda não é proprietário, mero possuidor/depositário, logo tal bem não pode ser alcançado pela execução trabalhista, nem mesmo nomeado à penhora. A propriedade resolúvel (ex. alienação fiduciária) torna-se penhorável satisfeita a condição/termo. O STJ admite penhora de unidade autônoma do condomínio para satisfação de sua dívida. O bem comum do casal não é impenhorável (independente do regime de bens), mas quando expropriado fica resguardada a metade do outro cônjuge não executado. A lei 8.009 tornou impenhorável os “bens de família”, assim considerado o imóvel residencial próprio do casal/família, bem como benfeitorias (de qualquer natureza), equipamentos, e moveis quitados. Esse imóvel e anexos não respondem por dívida trabalhista, previdenciária, fiscal e etc., em regra. Se o imóvel for alugado a impenhorabilidade recai sobre os bens moveis quitados que guarneçam a residência do locatário. A doutrina tem interpretação restritiva afirmando que a impenhorabilidade não recai sobre bens supérfluos. A lei expressamente exclui veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos. Como exceção à regra o art. 3º afasta a impenhorabilidade se o crédito resulta de empregados domésticos (e respectivas contribuições previdenciárias) da residência; titular do crédito decorrente do financiamento da construção/ aquisição do imóvel (do contrário era só pegar empréstimo pra comprar a casa sem se preocupar); pensão alimentícia (se permite a prisão, com mais razão a penhora de imóvel); tributos devidos em função de imóvel (IPTU, ITR e taxas), executar hipoteca do imóvel; ser o imóvel adquirido como produto de crime; para garantir execução de sentença penal que condenar a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens. O STF em 2006 admite que o imóvel do fiador seja penhorado, ainda que bem de família, isso porque o fiador renuncia a impenhorabilidade do bem ao ser fiador (assinar contrato). A lei não protege o devedor insolvente de má-fé que adquire imóvel mais valioso para residência, nesse caso pode o juiz anular a compra ou transferir a impenhorabilidade para o imóvel de menor valor que o devedor tenha. Por fim, se possuir vários imóveis na prática utilizados como residência será considerado impenhorável o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado com esse fim.

9.10.3.4. Penhora on-line

Mediante convênio entre BACEN e TST o juiz do trabalho tem acesso via internet a localizar a conta corrente (CC) do executado trabalhista em qualquer banco no Brasil, efetuando a penhora on-line (sistema BACEN jud). Tratando-se de execução definitiva o sistema consegue realizar o bloqueio on-line das CC. As grandes empresas cadastram CC aptas a sofrer o bloqueio de forma a não bloquear todas as suas CC, se a CC indicada não tiver fundos suficientes bloqueia-se outra e a empresa fica impossibilitada de indicar nova CC para bloqueio. O CPC tem tal previsão no art. 655- A – a jurisprudência trabalhista em aplicação subsidiário do art. 475-O (execução provisória sem caução em crédito de natureza alimentar) permite o levantamento de dinheiro e constrição da CC.

9.10.3.5. Penhora na renda

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É comum na JT a penhora de renda/faturamento de empresa. Deve ser observado o percentual, pois dependendo do montante inviabilizaria o funcionamento da empresa.

9.10.3.6. Penhora de imóvel

Pelo art. 659 do CPC cabe ao exequente independente de mandado judicial e sem prejuízo de intimar o executado providenciar a averbação da penhora do imóvel, gerando a presunção absoluta de conhecimento de tal penhora por parte de terceiros. Desde que apresente no cartório a certidão de penhora.

9.10.3.7. Penhora em estabelecimento comercial

Pelo art. 677 do CPC a penhora pode recaie sobre estabelecimento comercial/rural/industrial/plantações ou edifícios em construção, cabendo o juiz nomear depositário/administrador e determinar que apresente forma de administração, esta pode ser acordada pelos litigantes e homologada pelo juiz.

9.10.3.8. Penhora de navios e aeronaves

Pelo art. 679 tais bens podem operar até a alienação, desde que o devedor faça seguro.

9.10.3.9. Execução por conta

Pelo art. 658 não havendo bens no foro da causa, a penhora será feita por carta precatória. Quem deve julgar os embargos á execução processada na carta precatória é polemico: art. 747 CPC; Art. 20 lei 6.830Súmula nº 32 e 33 do antigo Tribunal Federal de Recursos – pode se concluir que: na execução da carta precatória o embargo é protocolado perante o deprecado e julgado pelo deprecante, da mesma forma, se deprecante especificar bem a ser penhorado pelo deprecado, cabe ao deprecante julgar o embargo, no entanto, em qualquer dos casos em que o embargo versar unicamente sobre irregularidades de ato do próprio deprecado, como vício na penhora/avaliação, hipótese que será julgado pelo deprecado. Se o devedor impugnar o título e certos atos procedimentais realizados pelo deprecado é aconselhável que o executado apresente um embargo para o deprecante e outro para o deprecado (2 petições).

9.10.4. Embargos à execução

9.10.4.1. Natureza jurídica

Minoritariamente entende-se o embargo como mera defesa do executado, contra esse pensamento pesa o fato de em proc. de execução não ser informado pelo princ. Do contraditório, não havendo que se falar em defesa. A corrente majoritária considera o embargo como ação de conhecimento incidental ao proc. de execução em que executado (polo ativo) formula pretensão contraria ao exequente (passivo) buscando anulação do proc. de execução ou desfazimento da eficácia do título. Exerce o embargante direito de ação (constitutiva negativa) o art. 884 prevê que garantida a execução ou penhorado bens o executado tem 5 dias para opor embargos, o exequente 5 dias para impugná-los. No CPC não há mais embargos à execução (mantendo apenas para a fazenda pública e execução de título extrajudicial) e sim impugnação ao cumprimento de sentença (art. 475-L e M). Mas na JT por haver regra especifica (art.884 CLT) não aplica-se o CPC.

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9.10.4.2. Matéria arguível

O art. 884 prevê as matérias arguíveis, mas não de forma exaustiva, pois se tem aplicação subsidiária do art. 741 do CPC: nulidade de citação; inexigibilidade do título; ilegitimidade da parte; cumulação indevida de execuções; causas impeditivas, modificativas ou extintivas da obrigação supervenientes à sentença (prescrição, novação e etc.); incompetência absoluta/parcialidade do juiz. Além do art. 745 do CPC: falta de apresentação do título; penhora incorreta e avaliação errônea; retenção das benfeitorias necessárias ou úteis (no caso de execução de entregar coisa certa); qualquer matéria utilizada em proc. de conhecimento. Importa lembrar que na JT a compensação/retenção não podem ser arguidas em embargos, em razão do art. 767 da CLT exigir sua arguição em proc. de conhecimento.

9.10.4.3. Prazo e procedimento

A possibilidade de o executado opor embargos é condicionada à garantia prévia do juízo do juízo (art. 884 CLT), seja por depósito ou nomeação de bens à penhora ou após a penhora coativa. Somente a Fazenda pública (art. 730 CPC) está dispensada de garantir previamente o juízo para opor embargos à execução. O prazo para opor embargo é de 5 dias (exequente tem 5 dias para impugnar). A MP 2.180-35 alterou para 30 dias para beneficiar a Fazenda Pública (FP). Porém o TST realizando controle incidental de constitucionalidade entendeu que o requesito “urgência” não foi atendido, logo, na JT o prazo para embargo da de execução, inclusive da FP é de 5 dias. Os embargos à execução na JT são processados nos mesmo autos da execução, sendo recebidos sempre com efeito suspensivo, restando suspensa a execução até o julgamento do embargo. Havendo vários executados, o embargo de um devedor não suspende a execução contra o outro. Da mesma forma, havendo vários executados, só o devedor que garantiu o juízo poderá embargar. Pode o juiz rejeitar liminarmente os embargos quando intempestivos; inépcia da inicial; manifestamente protelatório. Se entender necessário o juiz marca audiência de instrução para julgar os embargos: 5 dias se houver oitiva de testemunhas e 48 horas se não (art. 884, §2º).

9.10.4.4. Embargos à penhora

Os embargos à execução estão no art. 884 caput e os embargos à penhora no §3º, isso cria dúvida se há ou não embargo à penhora. Corrente 1 – houve erro redacional, não existe embargo à penhora, assim qualquer erro (ex. penhora de bem impenhorável/excesso de penhora) deve ser arguido em simples petição. Corrente 2 – majoritariamente entende-se distinção entre embargo a penhora e à execução. O embargo à execução visa impugnar o título e o à penhora o ato judicial de contrição.

9.10.4.5. Embargos à adjudicação, alienação ou arrematação

A omissão da CLT acerca desses institutos leva a aplicação subsidiária do art. 746 do CPC. É lícito ao executado após 5 dias (mas na 1º oportunidade que o executado falar nos autos - art. 245 CPC)da adjudicação, alienação ou arrematação oferecer embargos fundados na nulidade da execução ou causa extintiva da obrigação, desde que supervenientes à penhora, nesse caso o adquirente do bem penhorado pode desistir da aquisição, hipótese que o juiz libera o valor

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pago, se o embargo for protelatório o juiz deve impor multa não superior a 20% do valor da execução em favor de quem desistiu da aquisição.

9.10.5. Exceção de pré-executividade

A oposição de embargo exige garantia do juízo (exceto FP). Modernamente a doutrina defende a possibilidade de o devedor alegar determinadas matérias sem que para isso necessite garantir previamente o juízo: exceção (defesa ou objeção) de pré executividade. Para C.H.B.Leite é verdadeira defesa do executado (diferente do embargo que é ação incidental) que objetiva atacar a exigibilidade do título. O ordenamento não contempla tal insituto, de construção pretoriana e jurisprudencial. Na JT a exceção de pré-executividade só é admitida excepcionalmente para atacar matérias relevantes ou de ordem pública: inexigibilidade do título; excesso de execução; quitação da dívida, incompetência absoluta; prescrição intercorrente. Se for utilizado com intuito protelatório aplica-se o art. 600 do CPC (atentar contra dignidade da justiça) e multa não superior a 20% do valor da execução para o credor.

Decisão que apreciar a objeção de pré-executividade pode ter natureza de decisão interlocutória: se rejeitá-la, não sendo cabível na JT recurso de imediato, o que não impede que a matéria seja novamente arguida em embargo à execução, desde que garantido o juízo; sentença: se acolher e extinguir a execução, sujeita a agravo de petição. Como o objetivo da exceção de pré-executividade é impugnar matérias sem prévia garantia de juízo a FP não pode fazer uso de tal instrumento, pois está dispensada de tal ônus, do mesmo modo, no âmbito civil a execução de título extrajudicial que não se exige prévia segurança do juízo para embargo (sem efeito suspensivo – art. 736).

9.10.6. Prescrição intercorrente

É a prescrição que se dá no curso da ação, em razão da paralisação ou não realização de atos do processo executivo. Pelo art. 40 da Lei de execução fiscal (6.830) de aplicação subsidiária prevê a suspensão da execução quando não localizado o devedor ou bens sobre quais possa recair a penhora, nesses casos não corre o prazo prescricional. Decorrido o prazo máximo de 1 ano sem que seja localizado o devedor/bens o juiz ordenara o arquivamento dos autos, que pode ser desarquivado quando encontrados. Se da decisão que ordenar o arquivamento tiver decorrido o prazo prescricional, o juiz poderá de oficio reconhecer a prescrição intercorrente. Pela súmula 327 do STF o direito trabalhista admite a prescrição intercorrente, da mesma forma a súmula 314 do STJ – Renato Saraiva concorda, todavia pela súmula 114 do TST seria inaplicável. Quanto ao prazo prescricional intercorrente aplica-se a súmula 150 do STF: prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação. No DT é 5 anos na vigência do contrato, limitada a 2 após a extinção do pacto laboral (CRFB art. 7º XXIX). C.H.B.Leite admite a prescrição intercorrente no DT também no título extrajudicial de termo lavrado pela comissão de conciliação prévia (art. 876 CLT), por inércia do credor ( 2 anos).

9.10.7. Embargos de terceiros

Algumas vezes o juiz determina a apreensão de bens pertencentes a terceiros, que utilizam-se dos embargos de terceiros para por fim à constrição judicial. Aplica-se o art. 1.046 a 1.054 do CPC. O terceiro (senhor, possuidor ou apenas detentor) que sofrer turbação ou esbulho na

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posse de seus bens por ato de apreensão judicial (ex. Penhora, arresto, sequestro, alienação judicial, arrecadação, arrolamento, inventário, partilha) poderá requerer manutenção/restituição por meio dos embargos de terceiros. Esses embargos não se confundem com ações possessórias, pois a constrição é por ato judicial (Estado no exercício jurisdicional). Excepcionalmente a parte no processo pode utilizar desses embargos para defender bem que possui como locatário, comodatário e etc. são considerados terceiros o cônjuge, credor hipotecário e outros direitos reais sobre bens alheios. Em eventual desconsideração da personalidade jurídica da empresa os sócios não são considerados terceiros, mas sim parte, valendo-se de embargos de devedor. A natureza desse embargo também é de ação incidental que pode ser usada no proc. de conhecimento (enquanto não transitado em julgado) ou de execução (5 dias após a arrematação/adjudicação/remição), mas sempre antes da assinatura da carta. A distribuição do embargo é por dependência. A inicial deve conter os requisitos do art. 282, prova sumária da posse do bem; qualidade de terceiro; rol de testemunha, inaplicável na JT (art. 825), pois as testemunhas comparecem independente de intimação. Pode o juiz deferir liminarmente o embargo e ordenar mandado de restituição em favor do embargante que receberá o bem após prestar caução de os devolver com rendimento se a sentença ao finar rejeitar o pedido(art. 1.051 CPC). Apresentada resposta aos embargos (10 dias) o juiz realizará instrução e sentenciará, o recurso cabível é agravo de petição. Se o embargo versar sobre todos os bens o juiz deve suspender o processo, do contrário prosseguirá em relação aos bens não embargados.

9.10.8. Avaliação, praça e leilão, arrematação, adjudicação e remição e alienação por iniciativa do particular

9.10.8.1. Avaliação

Atualmente na JT o oficial de justiça (meirinho) realiza a penhora e ao mesmo tempo procede a avaliação (celeridade), se decorrido considerável tempo entre a penhora/avaliação pode o juiz determinar reavaliação dos bens. Pode a avaliação ser impugnada pelo interessado, nesse caso o juiz nomeia avaliador oficial ou pessoa habilitada para apresentar laudo em 15 dias o que permite o juiz julgar a impugnação. O art.683 do CPC admite nova avaliação em dolo/erro do avaliador, posterior majoração/diminuição do valor ou dúvida fundada sobre a avaliação.

9.10.8.2. Praça e leilão

Os bens do executado são alienados em hasta pública. O art. 686, IV do CPC denomina de praça a hasta de bem imóvel e leilão o de bem móvel. O art. 888 da CLT exige como requisito indispensável a publicação de edital de hasta pública, sob pena de nulidade. O edital publicado em sede do juízo ou jornal local com antecedência de 20 dias deve conter data/local do leilão/praça a quantidade/qualidade do bem, a menção a existência de ônus, recurso ou causa pendente sobre a coisa. No proc. civil pode haver 2 hastas, na primeira o bem é vendido se alcançado valor superior ao da avaliação e na segunda por qualquer valor, desde que não seja vil (CPC art. 692). Na JT a hasta é única, sendo vendido pela maior lance, ainda que não alcançado o valor da avaliação (art. 888,§1º) tendo preferência o exequente. É válida a intimação da praça/leilão feita ao advogado do executado (art. 678, §5º CPC). Deve o senhor direto, credor com garantia real ou penhora anteriormente averbada ser notificado da adjudicação/alienação do bem com antecedência de 10 dias (art. 698 e 694,§1º, VI CPC).

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9.10.8.3. Arrematação

É o ato processual de venda do bem por meio do Estado, por intermédio da praça/leilão. A alienação em hasta pública é ato formalista, oneroso e demorado, assim o art. 685-A do CPC dá preferência a adjudicação ao próprio exequente pelo preço não inferior ao da avaliação, se o exequente não tiver interesse poderá solicitar a alienação do bem por iniciativa particular ou corretores credenciados, e somente em última hipótese far-se-á a alienação em hasta pública, inclusive pela internet (art. 686 e 689-A CPC). Renato Saraiva entende que essa sistemática é aplicável na JT, com o trâmite do art. 888 da CLT. Realizada a hasta exige-se do lance vencedor sinal de 20% e caso o arrematante ou seu fiador não pague o preço total em 24h o sinal dado é convertido em beneficio da execução. Como visto, o exequente tem preferência na adjudicação por preço não inferior à avaliação, mas caso realizada a hasta pode o lance vencedor ser inferior ao da avaliação (desde que não seja por preço vil – conceito a ser concretizado pelo juiz caso a caso), nessa hipótese o exequente também poderá arrematar o bem por valor inferior ao da avaliação. Se o credor arrematar os bens não é obrigado a exibir o preço, exceto se o valor do bem excede a seu crédito, caso que depositará a diferença em 3 dias (art. 690 - A). Como a execução deve ser feita de maneira menos onerosa para o executado, aplica-se na JT a vedação da alienação por preço vil (art. 692 CPC), apesar do art. 888 CLT ser omisso. Pelo art. 690-A todos que tiverem a livre administração de seus bens podem oferecer lances exceto: tutores, curadores, mandatários quanto aos bens confiados a sua guarda e responsabilidade; juiz, MP, defensor e demais servidores da justiça. Pelo art. 692 a arrematação é suspensa quando o produto da alienação for suficiente (ex. TV e carro, mas se na prática só a alienação do carro já foi o suficiente). O art. 694 do CPC indica que assinada pelo juiz, arrematante e leiloeiro, arrematação considera-se perfeita, ainda que venham a ser julgados embargos do executado, isso porque os embargos não tem efeito suspensivo (art. 739-A CPC). Todavia, na JT, como os embargos possuem efeito suspensivo, a arrematação só é processada após julgamento dos embargos (art. 886,§2º e 888 CLT). A arrematação pode ser desfeita (art. 694,§1º CPC) nos casos de vício de nulidade; se não for pago o preço ou prestada caução; quando o arrematante em 5 dias provar gravame/ônus real não mencionado em edital; no caso de embargo de arrematação; quando realizada por preço vil e demais casos do art. 698 CPC. A carta de arrematação (art. 703) conterá descrição do imóvel, referencia a sua matrícula/registro e prova de quitação do imposto de transmissão. Não cabe rescisória ou MS contra homologação de adjudicação (TST nº 399).

9.10.8.4. Adjudicação

Consiste no ato processual de incorporação ao patrimônio (do exequente ou terceiro) do bem penhorado ao patrimônio. Foi dito que o exequente tem preferência para adjudicar por preço não inferior ao do avaliado, idêntico direito tem o credor com garantia real, cônjuge, ascendentes ou descendentes do executado (art. 695-A). No caso de quota de sociedade o sócio tem preferência. A adjudicação considera-se perfeita e acabada com a lavratura e assinatura do juiz, adjudicante, expedindo se a carta se bem imóvel ou mandado de entrega ao adjudicante se bem móvel.

9.10.8.5. Remição

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Consiste no ato processual do pagamento da totalidade da dívida pelo executado, liberando-se os bens constritos. Pode o executado a todo tempo (antes da adjudicação) remir a execução, pagando a dívida atualizada, mais juros, custas e honorários (art. 651), evitando assim a alienação. Materializada a remição extingue-se a execução. Atualmente fica abolida a remição pelo cônjuge/ascendente ou descendente, podem, no entanto, adjudicar o bem (art. 685A §3º)

9.10.8.6. Suspensão e extinção da execução

Conforme o art. 791 do CPC suspende-se a execução quando recebidos embargos com efeito suspensivo; morte, perda da capacidade processual de qualquer das partes, procurador ou representante legal; convenção das partes; oposta exceção de incompetência, suspeição/impedimento; quando o devedor não possuir bens penhoráveis.

Não se opera a penhora quando o produto da alienação for inteiramente absorvido pela custa da execução (Art. 659,§2º - utilidade da execução). Na JT aplica-se o art. 40 da lei de execução fiscal: suspensão da execução enquanto não localizados bens ou devedor durante no máximo 1 ano, sendo arquivado o processo. Suspensa a execução é proibida a prática de atos processuais, podendo o juiz ordenar providencias cautelares urgentes. O art. 745-A permite ao executado no prazo de embargos reconhecer a dívida e requerer seu parcelamento em até 6x com depósito imediato de 30%, importando na suspensão do processo.

O art. 794 do CPC determina que se extingue a execução quando o devedor satisfaz a obrigação; há a remissão total (perdão) da dívida; credor renunciar ao direito.

9.10.8.7. Alienação por iniciativa particular

A alienação em hasta pública tende a ser mais onerosa e demorada. Por isso o CPC admite a adjudicação pelo próprio exequente. Além disso, admite também a alienação por iniciativa particular (Aplicável na JT.), em que o exequente aliena os bens por sua própria iniciativa ou por intermédio de corretor autorizado (Art. 685-C). O juiz determina a forma de publicidade, preço mínimo, condições de pagamento e garantia e eventual comissão de corretagem.

9.11. Execução contra empresas em liquidação extrajudicial

Na JT o ato declaratório de liquidação extrajudicial não obsta o direito de ação contra empresa liquidada muito menos o prosseguimento das ações e execuções contra ela, em razão na natureza privilegiada dos créditos trabalhistas. Assim a execução trabalhista deve prosseguir na JT mesmo após decretada a liquidação extrajudicial.

9.12. Execução contra massa falida

Quando decretado a falência do executado há divergência sobre quem seria competência: corrente 1 – declarada falência no curso do processo de execução cessa a execução devendo o exequente se habilitar perante o juízo universal da falência; corrente 2 – não importa o momento da quebra, se posterior ou não aos atos de constrição, como os créditos trabalhistas são privilegiados não se sujeitam a habilitação perante o juízo universal da falência, logo a competência é da JT; corrente 3 – se os bens forem penhorados antes da quebra da empresa compete a JT, se os atos de constrição ocorrerem após a falência cessa a competência da JT

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devendo o obreiro habilitar seu crédito perante o juiz falimentar, sendo essa a corrente mais aceita na JT.

Nessa esteira temos como procedimento na JT: processo de cognição continua até o trânsito em julgado, havendo condenação o credor é munido de certidão de crédito a ser habilitado no juízo falimentar. Após a lei de falências 11.101 (art. 6º, 76 e 83) conclui-se que as reclamações trabalhistas independente da decretação da falência continua a ser processada e julgada na JT, a sentença condenatória serve como crédito a ser habilitado perante o juízo de falência. Somente é considerado crédito trabalhista privilegiado na falência o limitado a 150 SM ou decorrente de acidente de trabalho, a cessão de crédito trabalhista a terceiro é considerado crédito quirografário. O crédito trabalhista devido ao obreiro que continuar a prestar serviços à massa falida são considerados extraconcursais e são pagos com precedência a qualquer outro.

9.13. Execução por prestações sucessivas

O art. 891 da CLT versa sobre a execução de prestação por tempo determinado – a execução pelo não pagamento de uma prestação compreende as que lhe sucedem. Ex. acordo judicial em que o reclamado se compromete a pagar 4 mil reias em 4x. Vencida e não honrada a 1º serão consideradas vencidas as prestações posteriores, assim abrangendo a execução o valor integral da dívida, correção, juros, além de multa normalmente prevista no termo de conciliação.

O art. 892 da CLT versa sobre a execução de prestações por tempo indeterminado – a execução compreende as prestações até a data do ingresso na execução. Ex. contrato ainda em vigor, como no caso de sentença determinar a obrigação de quitar diferença salarial. Tendo em vista que o contrato de trabalho é sucessivo, as prestações vencidas após de iniciada a execução são incluídas na execução (art. 290 CPC) - em prestações periódicas, considerar-se-ão incluídas no pedido as não pagas no curso do processo, independentemente de declaração expressa do autor; a sentença as incluirá na condenação, enquanto durar a obrigação.

9.14. Execução de contribuição previdenciária

De acordo com o art. 114,§3º e inc. VIII da CRFB o juiz do trabalho passou a executar de ofício as contribuições previdenciárias devidas pelos empregadores e empregados em função de sentenças ou acordos proferidos (art. 876 CLT), inclusive sobre salários já pagos, mas que não foram recolhidas as contribuições (ex. período sem registro na CTPS) –art. 876. A contribuição previdenciária só incide sobre parcela de natureza salarial e não sobre as indenizatórias, por isso deve o juiz indicar na sentença/acordo homologado a natureza jurídica de cada parcela. O art. 43 da lei 8.212 prevê que o acordo/sentença que não discriminar a natureza das parcelas a contribuição incidirá sobre o valor total. No caso de conciliação o termo vale como decisão irrecorrível (admite ação rescisória), salvo para a Previdência quanto as contribuições que lhe são devidas (CLT art. 831). A União sempre é intimada de acordos homologados/sentenças condenatórias que contenham parcela indenizatória (?) podendo interpor recurso ordinário (dobrado – 16 dias) relativo ás contribuições devidas (art. 832,§4º) – o Ministro da Fazenda pode dispensar a manifestação da União quando entender que determinado valor é baixo e ocasionará esforço desproporcional do órgão. Elaborados os

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cálculos pelo juiz (liquidar sentença) deve obrigatoriamente abrir prazo para União se manifestar (art. 879, §§ 2º e 3º).

O art.764,§3º da CLT permite ás partes celebrar acordo, ainda que encerrado o juízo conciliatório. Assim é possível acordo com valor inferior á sentença condenatória, transitado em julgado ou não. Caso a conciliação seja feita antes do trânsito em julgado a contribuição da previdência é calculada sobre verba salarial proveniente do acordo, ainda que inferior ao da sentença; se a conciliação é feito depois do trânsito em julgado a contribuição da Previdência é calculada sobre a verba salarial deferida na sentença, pois já constituído o crédito previdenciário (art. 832, §6º). Atualmente a própria União, por meio do órgão Secretaria da Receita Federal tem competência para fiscalizar, arrecadar e cobrar as contribuições, e não mais o INSS (autarquia federal).

9.15. Execução contra a fazenda pública

9.15.1. Introdução

Entende-se por fazenda pública (FP) quem é PJ de direito público. A execução contra a FP é diferente, pois seus bens são impenhoráveis e imprescritíveis (não sujeito a usucapião), além disso, a FP está dispensada de garantir previamente o juízo para opor embargo á execução, logo não é citada para pagar ou nomear bem, mas sim para opor embargo, se desejar. Quanto a execução de fazer/não fazer a execução contra a FP é idêntica as demais. Na execução contra a FP os embargos poderão versar sobre: nulidade/falta de citação; excesso de execução; causa impeditiva, modificativa ou extintiva, desde que superveniente à sentença.

9.15.2. Prazo para oferecimento de embargos

O art. 884 da CLT prevê prazo de 5 dias para executado apresentar embargos; o art. 730 do CPC prevê 10 dias para a FP apresentar embargos, a MP 2.180-35 ampliou ambos os prazos para 30 dias , sempre em favor da FP. Porém, em 2005 o TST em controle incidental julgou tal alteração inconstitucional, e, portanto não o aplica na JT. Dessa forma aplica-se na JT o art. 884 com prazo de embargo de 5 dias para FP (regra especial da CLT, não aplica o art. 730 CPC).

9.15.3. Precatório

Em razão da impenhorabilidade a citação da FP é para opor embargo e não efetuar pagamento/ nomear bens a penhora. Superada a fase de embargos (que na JT tem efeito suspensivo) o juiz da execução mandará formar o processo de precatório. Por meio do precatório cria-se uma ordem para o recebimento (princ. Da impessoalidade) à conta dos créditos orçamentários ou extraorçamentários abertos para esse fim. O juiz encaminha o precatório ao Presidente do Tribunal que irá em atividade administrativa corrigir eventual erro de cálculo, o Presidente expede precatório-requisitivo determinando a inclusão do valor no orçamento do ente público, lembrando que o precatório apresentado até 01/07 são apresentados dentro do exercício financeiro subsequente. A data de recepção do ofício requisitivo pelo ente público tem sido considerada como termo que define a cronologia de cumprimento dos precatórios. A redação defeituosa do caput do art. 100 da CRFB (prevê os precatórios) fez com que alguns pensassem que os créditos trabalhistas não seriam pagos dessa maneira, mas tal interpretação é afastada pela jurisprudência STF nº 655 e STJ nº 144 – o

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art.100 da CRFB exige que o crédito de natureza alimentícia (art. 100,§1 –A: salarial e indenizatória) seja pago por precatório, mas autoriza-se a inobservância da ordem cronológica.

Em caso de não inclusão pelo ente público da verba em seu orçamento ou até mesmo o seu não pagamento, autoriza-se o Tribunal a requerer a intervenção no Estado/município.

9.15.4. Débitos de pequeno valor

Dividas de pequeno valor contraídas em razão de sentença judicial excluem-se da incidência dos precatórios. Cabe a cada ente da federação publicar lei definindo o que seja pequeno valor, mas enquanto não legislarem aplica-se o art. 87 do ADCT: 40 SM para Estados e DF; 30 para municípios, se o valor for maior deverá ser pago por precatório, sendo facultado à parte exequente a renúncia ao valor excedente para que possa receber sem precatórios. Para a União a lei 10.259 (JESP) o valor é de 60 SM (mesmo valor que define a competência do JESP),o prazo para o pagamento mediante requisição da autoridade judicial é de 60 dias (art. 17 da lei 10.259) esgotados o prazo para embargos da FP, decorrido os 60 dias sem pagamento o juiz determinará o sequestro de valores (numerários).

9.15.5. Moratória

O art. 78 do ADCT instaurou a figura da moratória, parcelando os débitos pendentes dos entes públicos em 10 anos (moratória), os créditos de natureza alimentícia e os de pequeno valor estão a salvos da moratória.a omissão no orçamento autoriza o Presidente do Tribunal a determinar o sequestro de recursos financeiros do executado.

9.16. Execução para entrega de coisa certa ou incerta

Em razão da omissão da CLT e lei de execução fiscal, aplica-se o CPC (art. 621 a 631). A coisa certa é perfeitamente individualizada, a incerta é determinada pelo gênero e quantidade. A execução para a entrega de coisa pode decorrer de título extrajudicial ou de judicial. O art. 621 do CPC menciona apenas o extrajudicial, remetendo a aplicação do art. 461-A. A execução para entrega de coisa não objetiva a contrição e posterior expropriação de bem do executado, mas apenas a entrega da coisa, incerta ou certa, constante do título condenatório. A execução em regra decorre de uma pretensão possessória concretizada pela simples expedição de mandado de busca e apreensão de bem móvel ou imissão na posse de bem imóvel. A JT é competente para examinar possessórias decorrentes da relação de trabalho: empregado ocupa imóvel do empregador, cedido a título de prestação salarial in natura; empregado tem instrumentos de trabalho retido; empregador retém CTPS. Na execução para entrega de coisa certa o devedor é citado para em 10 dias satisfazer a obrigação ou seguro o juízo, apresentar embargos (art. 737, II CPC), o juiz ao despachar a inicial pode fixar multa diária por atraso de cumprimento da obrigação; para apresentar embargos o devedor deve depositar a coisa em juízo, não podendo o credor levantá-la antes do julgamento dos embargos (art. 622). Alienada a coisa quando já litigiosa expedir-se-á mandado de busca e apreensão contra o 3º, que será ouvido antes de depositá-la. O art. 627 garante perdas e danos + valor da coisa quando não entregue, deteriorada ou não achada. O art.628 esclarece que as benfeitorias indenizáveis feitas pelo devedor/terceiro serão depositadas em favor dos mesmos. Há doutrina que entende inaplicável o art. 627 e 628 na JT por incompetência material. A entrega de coisa incerta é

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concretizada na escolha do devedor, exceto se couber ao credor (lei/acordo), que indicará na inicial. Qualquer das partes em 48h poderá impugnar a escolha, devendo o juiz decidir de plano ou nomear perito, no restante aplica-se as mesmas regras à execução de entregar coisa certa.

9.17. Execução das obrigações de fazer e não fazer

Pode decorrer tanto de título judicial quanto extrajudicial. Na JT as condenações mais frequentes são a reintegração de empregado estável (ex, dirigente sindical – art. 659, x CLT); anotação na CTPS do empregado; promoção do obreiro; reenquadramento funcional; entrega de guia do seguro desemprego ou levantamento do depósito do FGTS. Como obrigação de não fazer temos a proibição de transferência ilegal ou abusiva do empregador (art. 469 e 659 IX da CLT). O art. 644 do CPC estabelece que sentença relativa a obrigação de fazer/não fazer cumpre-se de acordo com o art. 461 do CPC, com multa diária por descumprimento. O art. 632 prevê que o devedor é citado para satisfazer a obrigação no prazo assinalado pelo juiz da execução, salvo se outro não constar no título executivo, na omissão aplica-se o art. 880 da CLT – 48h. Na execução de fazer/não fazer não há constrição judicial de bens, pode o devedor opor embargos á execução em 5 dias, desde que feita a garantia em juízo. Caso o devedor não cumpra a obrigação é lícito ao credor requerer que ela seja executada por outro ás custas do devedor ou perdas e danos (conversão em execução por quantia certa). A doutrina diverge a cerca do juiz determinar a reintegração forçada do obreiro, sendo majoritário o entendimento que é possível a reintegração manu militari em que cabe ao oficial, inclusive com apoio policial cumprir o mandato reintegratório. O art. 496 permite que o juiz converta em indenização dobrada (TST nº 28) quando for desaconselhável a reintegração do estável (ex. empregada domestica grávida). O juiz trabalhista normalmente impõe obrigação alternativa: indenização substituindo seguro desemprego; FGTS não depositado; anotação feita pelo própria JT da anotação na CTPS; montante equivalente em valor à promoção. Quanto a obrigação de não fazer, o juiz assinará prazo para desfazer, a recursa ou mora do devedor importa em perdas e danos, convertendo em execução por quantia certa.

9.18. Do fundo de garantia das execuções trabalhistas

A EC nº 45 determinou criação de fundo integrado por multas decorrentes de condenações trabalhistas e administrativas oriundas da fiscalização do trabalho. Objetiva assegurar a execução da sentença condenatória em face de empregadores que não pagam suas dividas ou que não possuem bens que suportem a execução, em função de quebra ou insolvência.

9.19. Prioridade de tramitação dos processos – idoso

O CPC (art. 1.211) dá prioridade na tramitação do processo, procedimento e execução de atos em que o idoso (estatuto do idoso reduziu de 65 para 60 anos) seja parte ou interveniente.

9.20. As alterações do CPC introduzidas pela lei 11.232 e sua aplicação ao processo do trabalho

A lei 11.232 alterou o CPC para estabelecer a fase de cumprimento de sentença no processo de conhecimento, revogando dispositivos relativos à execução fundada em título judicial. Estabeleceu a lei nas obrigações de pagar um processo sincrético, isto é, com funções cognitivas e executivas, declara e satisfaz. Transitada a decisão condenatória e elaborado os

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cálculos, o devedor de quantia certa é intimado (pessoa do advogado) para pagar a dívida líquida em 15 dias, sob pena de incidir multa de 10%. Não satisfeita a dívida no prazo a requerimento do credor é expedido mandado de penhora e avaliação, retirando possibilidade do devedor indicar bens á penhora. Realizada a penhora o executado tem 15 dias para impugnar (sem efeito suspensivo – art. 475-M do CPC), eliminou-se a figura dos embargos à execução. Em suma o cumprimento de sentença no proc. civil e a execução trabalhista tem as seguintes diferenças:

Processo civil Processo do Trabalho CLT Revogou dispositivos relativos à execução de título judicial

Continuam existindo os dispositivos realtivos à execução – art. 876 e SS da CLT

Sentença cumprida no proc. de conhecimento, em fase especifica.

Sentença cumprida no proc. de execução.

Liquidada o devedor é intimado para pagar em 15 dias, sob pena de multa de 10%

Liquidada o devedor é citado para pagar ou garantir o juízo em 48 h, sob pena de penhora.

Não há possibilidade de nomeação de bens pelo devedor

O devedor pode nomear bens, obedecendo a ordem do art. 655 do CPC e 882 CLT

Não satisfeita a dívida em 15 dias expede-se mandado de penhora e avaliação

Não satisfeita a dívida ou nomeação de bens, o oficial procederá a penhora

Feita a penhora o executado é intimado para impugnar em 15 dias sem efeito suspensivo

O executado é intimado para apresentar embargos em 5 dias com efeito suspensivo

Pela reforma afasta-se a necessidade de 2 comunicações pessoais ao devedor que será avisado apenas do início do processo, as demais notificações serão feitas ao advogado, que simplifica a tramitação e a dificuldade para encontrar o réu não será empecilho para continuidade. Renato Saraiva entende ser possível a aplicação das modificações na JT (celeridade), pois o devedor trabalhista não pode ser mais onerado que o cível. Na jurisprudência há divergência dentro dos próprios TRTs.

Capítulo 10 – Procedimentos Especiais

10.1. Ação rescisória

10.1.1. Conceito e Cabimento

É ação de conhecimento autônoma de natureza constitutiva negativa, objetivando desconstituir ou anulação da CJM de sentença/acórdão viciado. Assim a CJM não é intransponível, a ação rescisória ataca a decisão de mérito (exclusivamente), não cabendo contra pronunciamentos terminativos. O CPC prevê no art. 485 e a CLT possibilita sua aplicação pelo art. 836, antes não se exigia na JT o depósito de 5% (CPC art. 485, II), atualmente, ao revés, exige-se do autor (empregado/empregador depósito de 20% do VC, salvo miserabilidade. Tal depósito em caso da ação ser inadmissível ou improcedente por unanimidade é retido a título de multa. Há ADI no STF alegando o amplo acesso ao judiciário.

10.2.1. Requisitos

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Dois são os requisitos para a propositura: sentença de mérito e trânsito em julgado. Somente a sentença de mérito, pois só ela se sujeita a CJM. De acordo com a OJ 134 a decisão que conclui estar preclusa a oportunidade de impugnação de sentença de liquidação faz apenas CJ formal, não é, portanto, suscetível de rescindibilidade. Despachos e decisões interlocutórias também não apreciam o mérito e não fazem CJM. Se a sentença for inexistente (ex. não tem parte dispositiva) não há que se falar em rescisória e nem em CJM, visto que não pode desconstituir o que sequer existe. O STF nº 514 - Admite-se ação rescisória contra sentença transitada em julgado, ainda que contra ela não se tenham esgotado todos os recursos (?). A sentença normativa transitada em julgado admite rescisória (art. 2, § 1º da lei 7.701). A ação não pode ser manejada antes do trânsito em julgado, visto que não se admite rescisória preventiva – TST 299, assim eventual trânsito em julgado posterior ao ajuizamento da rescisória não habilita a ação proposta.

10.1.3. Competência

A rescisória sempre é julgada por Tribunal, assim na JT será de competência originária do TRT ou TST a depender da sentença/acórdão rescindido. Compete ao TST apreciar rescisória contra acórdão proferido pelo próprio TST (TST nº 192, II); pelo art. 512 do CPC é impossível pedido de rescindir sentença homologatória de acordo.

10.1.4. Legitimidade

Pelo art. 487 do CPC podem propor a rescisória quem foi parte ou seu sucessor, o terceiro interessado e o MP – se não foi ouvido no processo em que era obrigatória sua intervenção; quando a sentença é o efeito de colusão das partes em fraudar a lei, além disso, tem o MP legitimidade quando parte e em todas as demais hipóteses do art. 485 do CPC (TST nº 407 - o art.487 do CPC é exemplificativo para o MP). Sobre o litisconsórcio necessário ou facultativo na rescisória temos a súmula nº 406 do TST: em relação ao polo passivo o litisconsórcio é necessário, pois não é possível a decisão ser desconstituída para uma parte e para a outra não (indivisibilidade do objeto); o polo passivo é facultativo, pois não se poderia condicionar o direito de ação à anuência dos demais. O sindicato substituto processual autor da reclamação possui legitimidade para figurar como réu em rescisória, sendo descabida a citação de todos os empregados.

10.1.5. Ação rescisória e sentença homologatória de acordo

Pelo art. 486 do CPC ato judicial que não dependa de sentença ou em que essa seja meramente homologatória pode ser rescindido por simples ação anulatória (ex. havendo vício do consentimento), mas diversamente, na JT, o art. 831 dispõe que homologado acordo não é possível ação anulatória para desconstituí-lo (como prevê o art. 486 do CPC), apenas ação rescisória (TST nº 259) - lembrando que a União poderá recorrer do acordo no que tange as contribuições previdenciárias (rec. ordinário).

10.1.6. Juízo rescidente e rescisório

O autor da rescisória pode cumular pedido de rescisão (rescindente – que ocorrerá sempre) novo julgamento (rescisório – novo julgamento) pelo mesmo tribunal que apreciar a rescisória. A omissão do demandante em formular algum desses pedidos, quando ambos tinham de

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constar na inicial leva ao indeferimento da inicial e extinção do proc. sem resolução de mérito (não é possível considerar implícito o pedido do novo julgamento – art. 488, I CPC). O juízo rescindente sempre acontece, o rescisório na maioria, sendo aquele preliminar deste.

10.1.7. Hipóteses de cabimento

As hipóteses de cabimento de rescisória estão no art. 485 do CPC.

A – Verificada a prevaricação, concussão ou corrupção do juiz (art. 316, 317 e 319 CP):

A antiga legislação penal denomina essas condutas de peta ou suborno, por isso o termo juiz peitado ficou consolidado na doutrina. Há independência entre as instâncias civil e penal, logo o ajuizamento da rescisória não se condiciona a apuração do crime na instância penal. Todavia eventual decisão em processo penal tramitado antes da rescisória pode influenciar no julgamento da demanda: caso o juiz seja condenado criminalmente evidente que o tribunal não poderá se opor à rescisória por considerar que não houve o crime (pois tal fato já foi comprovado na esfera penal); da mesma forma se absolvido por inexistência material impede-se o julgamento da rescisória. Se a absolvição for por outro motivo que não a inexistência de crime (ex. falta de provas) o tribunal apreciará livremente o pedido rescisório.

B – Proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente

Importante ressaltar que a sentença proferida por juiz suspeito não enseja rescisória, somente o absolutamente incompetente e o impedido (taxatividade do art. 485). Na hipótese em tela se o tribunal julgar a ação procedente realizará apenas o juízo rescidente e não o rescisório, isto é, deve remeter os autos para o juiz competente ou imparcial para que este realize o novo julgamento. Não se exige a alegação de vício antes da rescisória (OJ 124 - prequestionamento).

C – Resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou colusão entre partes, a fim de fraudar a lei

Há aqui 2 hipóteses distintas: no dolo a parte vencedora age de má-fé dificultando atuação da parte contrária ou induzindo o juiz a julgamento que se distancie da verdade. Tal atitude da parte deve ser fator determinante para o resultado do julgamento. O dolo do representante ou advogado equivale ao da própria parte, pois lhe favoreceu – pela súmula 403 do TST o silêncio a respeito de fatos contrário a parte vencedora não autoriza a rescisória; se a sentença homologa acordo não há que se falar em dolo do vencedor, pois não há vencido/vencedor. A segunda hipótese é de colusão processual (art. 129 CPC – partes usam processo para conseguir fim proibido por lei). Ex. em reclamação “litigantes” acordam valor de dívida que será executada, mas na verdade não há dívida, quer se desviar patrimônio de uma das partes para que não satisfaça dívida de verdadeiros credores. Havendo esse conluio há espaço para o juízo rescidente e rescisório, que extingue o processo sem resolução de mérito.

D – Ofender a coisa julgada

A CJM evita que se discuta novamente a matéria em nova ação judicial (limites subjetivos e objetivos). A CJ não enseja rescisória. De fato, proposta demanda idêntica a uma já julgada a parte deve alegar como preliminar de defesa a existência de CJM (art. 301, IV CPC), não

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arguida, no entanto, pode o prejudicado após o trânsito em julgado ajuizar a rescisória contra a segunda sentença meritória, o que causará a extinção do processo (aqui não há juízo rescisório, só rescidente), o TST entende que a parte só pode usar da rescisória se já tiver arguido a existência de CJM antes (OJ 101), Renato Saraiva discorda do posicionamento do TST, pois não se poderia exigir o prequestionamento uma vez que a rescisória não tem natureza recursal. Em dissídio coletivo somente se consubstancia CJ formal, não podendo ser atacada por rescisória.

E – Violar literal disposição de lei

A palavra lei abrange CRFB, MP, decreto e etc. o TST (OJ nº 25) entende que acordo/convenção coletiva, portaria, súmula ou OJ não se enquadra na expressão lei. A violação á lei deve ser direta/literal não sendo possível rescisória quando adotada uma das várias interpretações possíveis, ainda que não seja a melhor (STF nº 343 e TST 83). O TST (nº298) exige que a argumentação de literal disposição de lei já tenha sido apresentada antes (prequestionamento), Renato Saraiva entende descabido tal exigência visto que rescisória não tem natureza recursal, no mesmo sentido C.H.B. Leite. Deve o autor na inicial indicar qual o dispositivo de lei violado (trata-se da causa de pedir), não sendo caso de aplicação de iuri novit cúria (o juiz conhece o direito).

F – Se fundar em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal, ou seja, provada na própria ação rescisória

De imediato se ressalva que tal hipótese não tem aplicação se a prova não foi valorada pelo juiz para formação de seu convencimento, isto é, se a decisão rescindenda for idêntica mesmo desconsiderando a prova falsa, não é possível a utilização do corte rescisório. A falsidade da prova pode ser evidenciada nos próprios autos da rescisória ou em processo penal transitado em julgado. A sentença civil transitado em julgado declarando a falsidade da prova não é suficiente para ajuizamento da rescisória, a falsidade nesse caso terá de ser novamente demonstrada no processo da ação rescisória, a sentença civil funcionará apenas como meio de prova, assim apesar da CJ da sentença civil pode o Tribunal considerar a prova autêntica, trata-se de fenômeno singular que desconsidera limites da CJM.

G – Depois da sentença o autor obtiver documento cuja existência ignorava ou que não pôde fazer uso, capaz de por si só lhe assegurar pronunciamento favorável

O TST (nº 402) diz que doc. Novo é cronologicamente velho, já existente, mas o ignorado ou que não podia ser usado. Não é doc. novo apto a ensejar rescisória a sentença normativa não exibida em razão da negligencia. Deve ainda ser apto por si só de assegurar a vitória.

H – Houver funda emento para invalidar confissão, desistência ou transação em que se baseou a sentença

A confissão possível de invalidação é a real, fruto de erro, dolo ou coação e não a ficta, resultante de revelia (TST nº 404). Sobre a desistência, por fazer o proc. ser extinto sem resolução de mérito Renato Saraiva entende que não poderia ensejar a rescisória, apesar disso alguns doutrinadores entende o termo desistência por renúncia ao direito que se funda a ação

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(269 CPC), produzindo CJM. A transação é acordo, tido por decisão irrecorrível, exceto rescisória (art. 831 CLT e súmula TST 259).

I – Fundada em erro de fato, resultante de ato ou de documentos da causa

Pelo art. 485, §§ 1º e 2º do CPC, há erro quando a sentença admitir existência de fato inexistente ou vice-versa, é necessário ainda que sobre o fato não tenha havida controvérsia (não impugnado pelo reclamado) nem pronunciamento judicial (a decisão deve ser silente a respeito do fato, apesar dos autos – inicial/provas – demonstrar sua existência). Assim urge que a decisão tenha sido fundada em erro de fato e que tal erro seja apurado pelo mero exame de documentos juntados à inicial rescisória, não se admitindo instrução probatória para demonstração do erro. Ex. reclamação de prêmio de 30 mil por alcançar meta de produtividade, a empresa não contestou, mas apresentou dentre outros documentos (provas) a quitação, o juiz condena a empresa, nesse caso é possível rescisória porque não se considerou o fato extintivo da obrigação como existente (erro de fato).

J – Indenização fixada em ação de desapropriação direta ou indireta flagrantemente superior ou manifestamente inferior ao preço de mercado objeto da ação judicial - teve aplicação suspensa em razão de liminar da ADI nº 1.910-1 em 2004.

10.1.8. Petição inicial

Deve a inicial conter os requisitos do art. 282 além do pedido de rescisão (rescidente) e o de novo julgamento (art. 488), o depósito prévio do art. 488 era dispensado na JT, mas o art. 836 da CLT foi alterado e exige depósito de 20% do VC (impondo modificação na súmula 194 do TST). Como documentos indispensáveis á propositura da rescisória temos: prova do trânsito em julgado da decisão rescindenda (na sua ausência relator concede prazo de 10 dias para correção, sob pena de indeferimento); cópia da decisão rescindenda. Quanto ao VC da rescisória o TST entende que é o mesmo da ação original, corrigido monetariamente, ou valor da condenação se sentença proferida em fase de execução.

10.1.9. Processamento

Recebida a inicial pode o relator indeferi-la com base no art. 295 (inépcia, ilegitimidade e etc.), sujeita a agravo regimental. O antigo art. 489 determinava que a rescisória não suspendia a execução da sentença, logo discutia-se se era possível antecipação de tutela em rescisória, objetivando suspensão da execução da sentença rescindenda – jurisprudência sempre entendeu que era possível a cautelar em rescisória para dar efeito suspensivo (TST nº 405), todavia, o art. 489 foi modificado prevê expressamente que a rescisória não impede o cumprimento da sentença, mas admite a concessão de medida cautelar ou antecipação e tutela, o que pós fim a discussão. Recebida a inicial o relator determinara a citação do réu para que apresente resposta no prazo de 15 a 30 dias (4x no caso de FP ou MPT), contados de acordo com a lei trabalhista (art. 774 CLT), oferecida a resposta caso o alegado dependa de prova (ex. testemunha) o relator designará a competência do juiz do trabalho para que devolva os autos em 45 a 90 dias (art. 492 do CPC). Posteriormente relator abre prazo sucessivo de 10 dias para autor e réu oferecerem razões finais, sendo os autos submetidos a julgamento colegiado.

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10.1.10. Prazo

O direito de propor rescisória se extingue após 2 anos do trânsito em julgado da sentença (art. 495 CPC), ainda que o último recurso não tenha como objeto o mérito. Tal prazo é decadencial e não se suspende ou interrompe. No caso de colusão entre as partes o prazo para o MP é a partir do momento que teve ciência da fraude. O acordo judicial tem força de decisão irrecorrível, logo transita em julgado na data de sua homologação. (TST nº 100).

10.1.11. Recurso

Contra rescisória julgada originalmente pelo TRT cabe rec. ordinário para o TST (TST nº 158). Havendo rec. ordinário em sede rescisória o depósito recursal só é exigível quando julgado procedente o pedido e imposta condenação em pecúnia devendo este ser efetuado no prazo recursal, sob pena de deserção (TST nº 99). Contra o acórdão proferido na ação rescisória sempre cabe embargo de declaração para o próprio órgão (art. 897-A CLT). Se a rescisória for julgada pelo TST cabe embargo e eventual RE.

10.2. Mandado de segurança (obs. em agosto de 2009 foi publicada nova lei do MS – não contemplada nessa edição do livro)

10.2.1. Breve histórico

O MS tem previsão na CRFB, tanto o MS coletivo quanto o individual.

10.2.2. Conceito e natureza jurídica

O MS é meio constitucional posto à disposição de toda PF ou PJ e órgão com capacidade processual (ex. mesa da câmara) para proteção de direito individual ou coletivo não amparado por HC ou HD, lesado ou ameaçado por ato de autoridade. A natureza jurídica é de ação autônoma, com objeto mandamental em que o juiz ordena á autoridade coatora o cumprimento da ordem. Tem como sinônimo writ e mandamus.

10.2.3. Competência

A competência dependerá da autoridade coatora. Se o ato é de autoridade judiciária do trabalho é competente a JT. Pelo art. 114 IV da CRFB a JT é competente para conhecer do MS, HC e HD quando envolver matéria sujeita á sua jurisdição. Assim é possível o juízo do trabalho de 1º grau, 2º ou TST conhecerem do MS. Antigamente o ato do auditor do trabalho era processado perante a JF atualmente é a JT. Ato do MPT também será processado na JT. Assim temos: ato do juiz 1º grau (titular/suplente), diretor de secretaria e demais funcionários, juiz de direito investido em jurisdição trabalhista, juiz e funcionário do TRT = competência do TRT. No TST temos que compete a seção especializada em dissídio coletivo (SDC): ato do presidente do TST ou de qualquer ministro da seção coletiva; competência do SDI: julgar MS de sua competência originária; Pleno: competência residual. O entendimento jurisprudencial é que compete ao Tribunal julgar o MS contra seus próprios atos. Contra o MS julgado originalmente pelo TST cabe rec. ordinário pro STF em 15 dias (art. 508 CPC e 102, II, a CRFB).

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10.2.4. Condições especificas e hipóteses de cabimento

De imediato deve o impetrante demonstrar o direito líquido e certo e a ilegalidade do ato. O direito liquido e certo (comprovado de plano mediante exclusivamente prova documental ) é condição da ação. Superada essa fase passa-se a análise do mérito. O conceito de autoridade pública é amplo. Na JT temos atos passiveis de MS: liminar de reintegração de emprego ou para tornar sem efeito transferência de empregado; deferimento de tutela antecipada; penhora de crédito do devedor; negativa de assento á direita do MP em relação ao juiz; cerceamento de defesa; decisão que antecipa honorário pericial; proibição de retirada dos autos por advogado; determina penhora de bem público.

10.2.5. Não cabimento

O art. 5º da lei 1.533 estabelece hipóteses de não cabimento do MS: de ato que caiba recurso administrativo com efeito suspensivo (isso porque havendo efeito suspensivo suspende-se o dano ou ameaça de dano o que inviabilizaria o MS - se não houver efeito suspensivo cabe MS); despacho ou decisão judicial recorríveis ou modificáveis por correição (STF 267 – OJ 92); ato disciplinar, salvo se não observado a formalidade essencial. O STF (nº 266) entende que MS não é instrumento para se atacar lei em tese. O STF (nº 268) e o TST (33) não admitem MS contra decisão transitada em julgado. Se dirigente de empresa pública dispensa empregada gestante não cabe MS, pois ele atua como empregador e não autoridade pública.

10.2.6. Processamento

O direito de requerer o MS extingue-se decorrido 120 dias da ciência do interessado do ato ilegal (prazo decadencial). Sobre a inicial a jurisprudência destaca que o MS exige comprovação da liquidez do direito (prova documental pré-constituída) sendo inviável a concessão de oportunidade para a juntada, a ausência do documento essencial gera extinção do processo sem julgamento de mérito – inaplicável art. 284 do CPC que concede prazo para emendar a inicial (TST 415). A inicial e os documentos essenciais devem ser protocolada em 2 vias (a autoridade nem mesmo precisa tirar Xerox dos documentos), descumprida essa exigência pode o juiz determinar a correção, sob pena de indeferimento. Em caso de urgência permite-se impetração do MS por telegrama ao juiz que pode determinar a notificação da autoridade pela mesma forma. Na hipótese do documento necessário encontrar-se em repartição ou em poder de autoridade que se recurse a apresentá-lo o juiz ordenará a exibição do documento em 10 dias (se for a mesma autoridade sujeito passivo do MS tal ordem será feita na própria notificação). Pode o juiz indeferir de plano o MS, cabendo agravo regimental e posterior rec. ordinário para o TST. Admite-se pedido liminar (fumus boni iuris e periculum in mora). O relator ao despachar a inicial concede ou não a liminar, decisão sujeita à agravo regimental. A lei 4.348 foi revogada pela nova lei do MS 12.016. O STF (512) entende que não cabe honorários em MS.

10.2.7. Mandado de segurança coletivo

É espécie de ACP de pouca utilidade na JT, apesar da previsão na CRFB. ex. contra decisão que denega ACP ajuizada por sindicato com pedido liminar.

10.2.8. Súmulas e orientações jurisprudenciais correlatas

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Não cabe MS contra decisão transitada em julgado; não cabe MS se a decisão comportar recurso judicial; da decisão do TRT em MS cabe rec. ordinário para o TST em 8 dias; antecipação de tutela concedida em sentença não importa impugnação por MS (pois há rec. ordinário para tanto); antecipação de tutela antecipada (liminar) concedida antes da sentença admite impugnação por MS já que de tal decisão na JT não há recurso imediato, a superveniência de sentença faz perder objeto do MS; quando o MS não contiver a prova pré constituída é inaplicável o art. 284 do CPC que permite a emenda da inicial; a concessão de liminar e homologação de acordo constituem faculdade do juiz e não direito liquido e certo; ajuizado embargo de terceiro para desconstituir penhora não cabe MS para o mesmo fim; não há direito liquido e certo á execução definitiva se há RE ou agravo de instrumento trancando a execução; não fere direito liquido e certo a liminar de reintegração de emprego, nem mesmo liminar que obsta transferência de empregado; não cabe MS contra sentença que homologa adjudicação, pois os embargos á adjudicação existem para isso; a contagem do prazo decadência inicia-se com o efetivo ato coator e não com a sua ratificação;

10.3. Ação civil Pública

10.3.1. Conceito

A ACP é instrumento previsto na CRF para tutela de direitos metaindividuais. Representa o principal meio de acesso a justiça coletiva, principalmente na JT em que o trabalhador além de hipossuficiente sofre a ameaça do desemprego e outras retaliações.

10.3.2. Cabimento na Justiça do Trabalho

A lei 7.347/85 disciplina a ACP. Em 1988 a ACP ganha previsão constitucional no art. 129 dentre as funções do MP (seja ele de qual ramo) para protege qualquer interesse difuso ou coletivo (trabalhista, consumidor, ambiental e etc.), da mesma forma previa do CDC de 1990. Apesar disso havia dúvida sobre sua utilização na JT, somente dirimida com a LC 75 (lei orgânica do MP) que expressamente (art. 83, III) previu a utilização da ACP pelo MPT na JT. A MP 2180-35 dispõe que não cabe AC em ações que envolvam tributos, contribuições previdenciárias e FGTS. Renato saraiva entende inconstitucional, pois não há relevância e urgência na matéria e o art. 129 diz qualquer interesse difuso e coletivo.

10.3.3. Proteção dos interesses e direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos

O CDC conceitua interesse difuso: os transindividuais, indivisíveis, que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstancias de fato. O interesse difuso tem como característica a indeterminação dos sujeitos, são as circunstancias que ligam os sujeitos, uma vez que não há relação jurídica entre eles, logo a titularidade é da coletividade (inclusive das gerações futuras); indivisibilidade do objeto: o interesse é insuscetível de repartição entre pessoas ou grupos, a satisfação é de todos, a lesão também; larga conflituosidade: normalmente enfrenta resistência em face de outros interesses (ex. saúde x indústria de fumo; paz da comunidade x arrecadação municipal com festa local); inexistência de vínculo entre os titulares: não há liame jurídico entre os afetados. Na JT o MPT manejando a ACP defende os seguinte direitos difusos: greve em atividade essencial; contratação sem concurso público; discriminação de trabalhador (sexo, idade, HIV, grávida e etc.); trabalho escravo; exigência de

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empresa de certidão negativa de ação proposta na JT; elaboração de lista negra entre as empresas de empregados que possuem reclamações trabalhistas; atestado de esterilidade ou comprovação de não gravidez.

O CDC conceitua o interesse coletivo: os transindividuais, indivisíveis, que sejam titulares grupo ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base. O titular assim é o grupo e o direito exercido de forma coletiva. O número de indivíduos é indeterminado, mas os integrantes do grupo são determináveis (sabe se quem é ou não é ex. alunos da UFMG; contribuintes do ISS de Betim), da mesma forma que o difuso são indivisíveis. Ex. ofensa a liberdade sindical; dispensa coletiva durante greve; não adoção de medidas de medicina/higiene prevista em legislação.

O CDC conceitua (art. 81) os interesses individuais homogêneos (decorrentes de origem comum). Aqui os titulares são perfeitamente identificáveis e individualizáveis, logo permite-se a devida reparação. Apesar da natureza individual pode ter tratamento em ACP em razão da situação comum que se encontram seus titulares, não há relação jurídica base entre eles. Na JT temos: empregador que não paga verbas rescisórias, adicional de insalubridade, não concede intervalo entre jornadas, reduz salário sem ajuste em convenção coletiva, atrasa/sonega salário, não concede férias ou gratificação natalina (13º).

Ada Pellegrini informa que o interesse difuso e o coletivo têm a transindividualidade e a indivisibilidade do objeto o que permite a fruição do bem por todos ou sua negativa a todos, a solução do conflito é a mesma. Porém no difuso não há relação entre os membros do grupo ou entre eles e a parte contrária unem-se por circunstâncias fáticas (ex. moradores do bairro x; consumidores de produto y), no coletivo, ao contrário, o grupo/classe se liga por uma relação jurídica base entre elas (ex. membros da associação) ou com a parte contrária (contribuintes do IPTU BH). No individual homogêneo somente há a condução coletiva em razão da origem comum, sendo cada membro titular de direito subjetivo, tanto que cada um pode levar a juízo sua demanda, sendo classificados assim como incidentalmente coletivos.

10.3.4. Competência material e territorial

De acordo com o art. 2º a lei 7.345 a ACP será proposta no local onde ocorrer o dano, no caso na vara do Trabalho do local. Quando o dano é nacional (mais de um Estado) o CDC (aplicação subsidiária) prescreve no art. 93 que será competente qualquer das varas do trabalho de capital do Estado ou DF em que ocorreu o dano. Se o dano foi regional a ação pode ser proposta em qualquer vara do Estado (aplicada a prevenção em qualquer caso). Entretanto o TST por meio da OJ 130 prescreveu que se o dano for regional a competência é da capital, e se nacional (mais de um Estado) a competência é exclusiva do DF. O STJ tem entendimento igual ao de Renato Saraiva, isto é, sendo regional qualquer vara do Estado, sendo nacional qualquer vara de capital/DF (em que o dano ocorreu) - inclusive expressamente aduz que não há competência exclusiva do DF no caso de dano nacional. Pelo entendimento do TST dano ocorrido em SP, MG e RJ deve ser julgada a ACP no DF, o que dificulta o andamento processual (ex. oitiva de testemunha por carta precatória e etc.).

10.3.5. Legitimidade do Ministério Público do Trabalho

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Pelo art. 129 III compete ao MP promover a ACP na defesa de direitos difusos e coletivos. A LC 75 (orgânica do MP) em seu art. 6º prevê legitimidade do MP para ACP em direitos individuais indisponíveis, homogêneos e sociais. A jurisprudência do STF entende que o MP é legitimo para defender mensalidades escolares. Acerca da legitimidade do MP para defesa de direito individual homogêneo temos 3 correntes: uma que se apega a literalidade do art. 129, III da CRFB e entende que só há previsão de direito difuso e coletivo e não pode a lei aumentar tal legitimidade (atribuição), isso em razão da disponibilidade do direito em tela; a segunda entende que só há legitimidade para direito individual homogêneo quando for indisponível, ambas as correntes estão ultrapassadas. A terceira admite a atuação do MP tanto na defesa de direito individual homogêneo disponível quanto no indisponível, diante da relevância social ou grande número de titulares. Outra questão importante é o tipo de legitimidade do MP. O CPC estabelece a legitimidade ordinária em que o próprio interessado defende seu direito em juízo, e a extraordinária em que, excepcionalmente, a lei concede autorização para outrem em nome próprio defender direito alheio (legitimação extraordinária –art. 6º). No âmbito dos direitos coletivos (latu sensu) prepondera a indeterminação dos sujeitos em que o titular de direito de ação é distinto dos titulares (indeterminados) do direito material, assim a atuação do MP em ACP afasta-se da tradicional dicotomia do CPC e insere sobre a legitimação autônoma para condução do processo, assim não mais a atuação do MP é vista como substituição processual (legitimação extraordinária). A noção do direito transindividual rompe com a noção de direito próprio ou alheio, o que torna inaplicável a classificação da atuação do MP em ordinária ou extraordinária, correto no caso falar em legitimação autônoma. Todavia em relação aos direitos individuais homogêneos como se trata de direito de natureza individual e divisível em que cada titular pode buscar a tutela a legitimidade do MP para ACP é extraordinária, ocorrendo a substituição processual.

10.3.6. Outros legitimados e litisconsórcio

O art. 129,§1º da CRFB diz que a legitimação do MP para ACP não impede legitimação de 3º. O art. 5º da lei 7.347 estabelece como co-legitimado os entes federativos; PJ da administração pública direta e indireta (ex. soc. economia mista); Defensoria Pública; órgãos da AP sem personalidade jurídica (ex. mesa da câmara) Associação que tenha como fim institucional a defesa de direito transindividual (em regra exige-se que associação esteja constituída há 1 ano, o juiz pode dispensar tal requisito em razão de interesse social/relevância do bem jurídico); OAB. Os legitimados podem unir-se em litisconsórcios (Art. 5º). Caso haja desistência ou abandono da ação por parte de associação o MP assume como titular, e atuará sempre como fiscal da lei. É possível litisconsórcio entre MP da União, Estados e município.

10.3.7. Objeto

A condenação em ACP pode versar sobre pagamento ou obrigação de fazer/não fazer, sendo possível a cumulação de pedidos. Ex. Pagamento pelos danos causados (indenização) e obrigação de colocar filtro em chaminé (evitar futuros danos).

10.3.8. Dano moral coletivo

O dano moral coletivo desponta como violação em dimensão transindividual dos direito da personalidade. Se o particular sofre dor psíquica ou passa por uma situação vexatória, a

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coletividade vitima de dano moral sofre o desapreço, intranquilidade, insegurança, descrença em relação ao PP/ordem jurídica. Assim o dano extrapatrimonial em direitos metaindividuais decorre de lesão que independe de higidez psicofísica, assim a mera veiculação de publicidade enganosa/abusiva, independente de aquisição do produto ou ocorrência de dano moral individual, configura lesão a direitos difusos. O conceito de valor coletivo, da moral coletiva, é independente, autônomo, e portanto, se desatrela da moral individual. Há, p.e, jurisprudência que entende que a existência de trabalho escravo afeta a moral coletiva, o que enseja dano moral coletivo. Percebe-se ainda que o dano moral coletivo também tem natureza pedagógico-preventiva (como o dano moral individual). A prática de coação dos empregados em renunciar direitos buscados em ação trabalhista causa repulsa e enseja dano moral coletivo. Tem-se ainda as hipóteses de: revista intima em empregado; submissão a trabalho forçado/degradante; descumprimento de norma de saúde/segurança; tratamento discriminatório; lides simuladas; exigir assinatura de doc. Em branco ao empregado; violação de direito á intimidade; manutenção de trabalhador sem registro (trabalho clandestino); ofensa a liberdade sindical; assédio moral. Sobre a destinação da condenação em dano moral o art. 13 dispõe: será revestida para o Fundo de Amparo ao trabalhador (FAT – custeia seg. desemprego; abono salarial; programas de desenvolvimento econômico). Se a lesão for de criança ou adolescente vai para fundo municipal especifico, e na sua falta para estadual ou federal. Se a condenação for em direito individual homogêneo será direcionada para cada titular, na fase de liquidação de sentença (art. 95 do CDC).

10.3.9. Tutela preventiva

O art. 4º e 12 da lei da ACP permite cautelar que antecede a ACP, bem como pedido liminar na própria ação, objetivando evitar lesões de difícil reparação. Da mesma forma permite o CDC. O juiz pode fixar multa e caso de descumprimento da tutela deferida (art. 84,§ 4º CDC e 11 da L ACP). Por sua vez o art. 12 da LACP permite que o Presidente do Tribunal suspenda a execução da liminar deferida em ACP em caso de pedido de ente público, objetivando grave lesão á ordem/segurança/economia. E qualquer integrante do polo passivo pode por MS pedir cassação de liminar em ACP (TST nº 414).

10.3.10. Inquérito civil

A LACP em seu art. 8º e Res. Nº 23 do CNMP prevê que o inquérito civil (IC) é presidido pelo MP. Da mesma forma a CRFB inclui junto à ACP para a proteção dos direitos coletivos. A LC nº 75 (LOMPU) definiu a competência do MPT para IC e outros processos administrativos para assegurar observância de direitos sociais dos trabalhadores. O IC é uma investigação administrativa (atuação extrajudicial da instituição) feita previamente e exclusivamente pelo MP objetivando colher elementos e provas que determinem o manejo ou não de ACP ou outra medida judicial cabível – frisa-se que o IC não é pressuposto processual para a ACP, podendo ser dispensado se já existirem elementos necessários para propor a ação coletiva, apesar disso é recomendável o IC, pois permitirá a assinatura de termo de compromisso e ajustamento, evitando-se a propositura de ACP. Assume o IC outra importante função, obter o ajustamento de conduta dos investigados caso reste demonstrado no proc. administrativo a conduta irregular dos inquiridos. É proc. administrativo inquisitorial (e não acusatório) e informal, semelhante ao inquérito policial (não se submete ao contraditório/ampla defesa). O MP pode

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promover inspeções e diligências investigatórias, requisitar documentos, exames, perícias, audiências sem a necessidade da presença ou intimação da parte investigada. A instauração de IC não impede que outro legitimado para a ACP (ex. Município) venha a ajuizá-la, ainda que se refira ao mesmo objeto, da mesma forma não obsta ajuizamento de ações individuais. Sobre o arquivamento o art. 9º da LACP esclarece que convencido da inexistência de fundamento para a propositura da ACP promove-se o arquivamento dos autos do IC (ou de outras pecas de informação – elementos que possam gerar a convocação do MP), mediante fundamentação. A promoção do arquivamento é submetida a exame co Conselho Superior do MP, deixando de homologar o arquivamento, designará, desde logo outro órgão do MP para ajuizamento da ACP – deve designar outro que propôs o arquivamento em razão da independência funcional dos membros do MP. Assim ao final no IC 3 soluções podem ser adotadas: MP propõe ajustamento de conduta a fim de que se cumpra o ordenamento jurídico, assinado o termo de compromisso de ajustamento de conduta, inclusive com cominação de pena em razão do descumprimento; recusada o ajustamento de conduta o MPT ajuíza ACP ou outra medida judicial cabível, visando o cumprimento coercitivo do ordenamento jurídico; não evidenciado ilícito ou em razão de ausência de provas/perda de objeto o MP propõe o arquivamento.

10.3.11. Prescrição

A ACP tem por finalidade proteger os direitos metaindividuais de ameaça e lesões, a ACP não cuida de prazo prescricional, alguns em razão disso entendem aplicável o art. 7º XXIX da CRFB correspondente ao direito de ação dos créditos resultantes das relações de trabalho (5 anos na vigência do contrato, limitado a 2 após a extinção do liame empregatício), entretanto esse não é o melhor entendimento. O melhor entendimento é em relação os direitos difusos e coletivos, em razão de sua natureza indisponível, apresentam-se imprescritíveis. Submeter a ACP a prazo prescricional seria o mesmo que inverter a ordem dos valores, ou seja, premiar o interesse particular em detrimento do público. O TST adota idêntica posição. No entanto quanto a ações coletivas atinentes a reparação dos direitos individualmente sofridos pelos trabalhadores (individuais homogêneos), aplica-se a prescrição comum prevista no art. 7º, XXIX da CRFB.

10.3.12. Coisa julgada e litispendência

O art. 497 do CPC define a CJM como eficácia que torna imutável a sentença não mais sujeita a recursos (inclusive RE). O art. 472 prevê que a sentença faz CJM ás partes não atingindo terceiros. Todavia no processo coletivo não se aplicam os limites subjetivos da CJM. Os legitimados para ajuizamento de ações coletivas não possuem a titularidade do direito, assim a coisa julgada formada pelos litigantes em ações coletivas alcança terceiros (a própria coletividade). Em ações coletivas o ente legalmente legitimado atua na defesa de direito de uma coletividade indeterminada, sendo assim incongruente falar-se em alcance dos efeitos da sentença apenas ás partes processuais. Assim em ações coletivas a CJ se forma de acordo com o art. 16 da LACP e 103 e 104 do CDC:

Interesses difusos: a CJ será erga omnes, alcançando toda a coletividade e impedindo propositura de nova ação, salvo se julgado improcedente por insuficiência de prova, hipótese que qualquer legitimado pode intentar nova ação, com fundamento idêntico, valendo-se de nova prova, percebe-se que assim que a improcedência por falta de prova não gera CJ. Se a sentença for de procedência do pedido opera-se a CJ, beneficiando os integrantes da

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coletividade, que inclusive não precisam ajuizar ação individual, apenas liquidar e executar seus créditos com base na sentença coletiva – assim a CJ é segundo o resultado da lide (secundum eventum litis). Se a sentença for de improcedência do pedido em razão da pretensão infundada (e não por falta de prova) haverá a CJ apenas para o legitimado ativo, mas os membros da coletividade poderão propor ações individuais. Interesses coletivos: a CJ será ultra partes, atingindo os membros do grupo representado. Aplica-se a mesma regra no que tange á CJ segundo o resultado da lide. Interesse individual homogêneo: a CJ será erga omnes apenas no caso de procedência do pedido beneficiando as vítimas e possibilitando a liquidação/execução individual da sentença coletiva, se o pedido for improcedente (insuficiência de prova ou pretensão infundada) nenhum efeito prejudicial sofrerão os lesado, que poderão ingressar com ações individuais, desde que não tenha intervindo como litisconsorte na ação coletiva.

As ações coletivas não induzem litispendência para ações individuais. No entanto, o efeito da CJ erga omnes ou ultra partes não beneficiarão autores das ações individuais se em 30 dias eles não solicitarem a suspensão de suas ações individuais.

Interesses ou direitos Sentença de procedência

Sentença de improcedência por falta de provas

Sentença de improcedência por outros motivos

Difusos Eficácia erga omnes, beneficia os interessados individuais

Sem eficácia erga omnes

Eficácia erga omnes só para o legitimado ativo

Coletivos Eficácia ultra partes, beneficiando integrantes do grupo

Sem eficácia ultra partes

Eficácia ultra partes apenas para o legitimado ativo

Individuais homogêneos

Eficácia erga omnes para beneficiar vitimas

Sem eficácia erga omnes

Sem eficácia erga omnes

A redação do art. 16 da LACP é confuso, mas é certo que a sentença proferida por juiz de base territorial em que emergiu o dano terá efeito sobre todas as localidades onde o dano se refletir, evitando-se o ajuizamento de outras ACP em várias localidades (ex. pessoa divorciada em SP é divorciada no RJ).

10.3.13. Ação civil coletiva

Primeiramente o legislador na LACP disciplinou a tutela dos interesses de natureza indivisível, isto é, coletivos e difusos (ex. meio ambiente, consumo e cultura). O CDC em seu art. 91 instituiu procedimento especifico para a defesa dos direitos individuais homogêneos, surgindo a expressão ação civil coletiva. Posteriormente a LC 75 (LOMPU) inseriu a ação civil coletiva (ACC) como instrumento de atuação no MP (art. 6º, XII). Numa leitura apressada vislumbra-se que o interesse individual homogêneo seria tutelado exclusivamente pela Ação civil coletiva, porém o art. 21, da LACP, o 6º, d da LOMPU, o 210 do ECA, 25 da lei 8.625 (LO nacional do MP) prevê a ACP para a tutela do direito individual homogêneo. Em razão dessa “confusão”

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legislativa, a doutrina se divide: há quem entenda que o difuso e coletivo deve ser utilizada a ACP e o individual homogêneo a ACC; C.H.B. Leite entende que a ação civil coletiva não é cabível na JT e que os interesses individuais homogêneo devem ser tutelados por ACP, isso porque diferentemente da ACP a ACC não tem previsão na CRFB ou legislação trabalhista, nem mesmo na LOMPU dentre as atribuições do MP. Dessa forma o art. 83 do CDC deve se harmonizar com as regras de competência da JT, de forma que a ACC pode ser utilizada em outros ramos do direito na defesa de direitos individuais homogêneos, mas na JT não,local em que o direito individual homogêneo é tutelado por ACP. Renato Saraiva, por sua vez, entende que ACP e ACC são sinônimos e não ações autônomas com objetivos distinto, o procedimento, por sua vez é distinto em razão do direito tutelado (indivisível ou divisível – ex. CJM).

10.3.14. Procedimentos específicos para a tutela dos direitos individuais homogêneos

O CDC alargou a ACP para incluir direito individual homogêneo, no que foi seguido pela lei nacional do MP. Verifica-se um procedimento especial a ser adotado no caso dessas ações: proposta a ação edital deve ser publicado no órgão oficial a fim de que interessados possam intervir como litisconsórcio; a eventual condenação é genérica, a liquidação e a execução pode ser promovida pela vítima (ou seu sucessor) ou pelo legitimado a propor a ação; a execução pode ser coletiva promovida pelo legitimado, far-se-á com base na certidão das sentenças de liquidação, sendo competente o juízo da cognição; no caso de execução individual é competente o juízo da liquidação ou da cognição. Decorrido 1 ano sem habilitação de número compatível de interessados poderá o legitimado promover a liquidação e execução revertendo o produto para fundo especifico (na JT é o FAT) – art. 94 a 100 do CDC.

10.3.15. Despesas processuais

Estabelece o art. 18 da LACP e art. 87 do CDC que em ações coletivas não há adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e qualquer outras despesas, nem condenação da associação autora em honorários de advogado, custas e despesas processuais, salvo má-fé. Facilitando assim o acesso ao judiciário.

10.3.16. Controle de constitucionalidade em ação civil pública

Todo juiz tem competência para exercer o controle de constitucionalidade no caso concreto, logo, a declaração de inconstitucionalidade só produz efeito entre as partes envolvidas (exceto hipótese do art. 52, X da CRFB). É possível que em ACP em um caso concreto se declare a inconstitucionalidade de alguma lei, mas deve se atentar para o fato de que a questão da inconstitucionalidade não pode ser o objeto único da ACP, do contrário estaria a ACP revestida de ADI, uma vez que a ACP é uma ação coletiva e tem efeito erga omnes.

10.4. Ação anulatória de cláusulas convencionais

A ação anulatória consiste numa ação de conhecimento, de natureza desconstitutiva (constitutiva negativa) que objetiva a nulidade de cláusulas de convenção/acordo coletivo de trabalho ou mesmo contrato individual de trabalho que viole direitos individuais/coletivos de trabalhadores. A competência para julgamento de ação anulatória de cláusula de acordo coletivo é do TRT (ou TST), uma vez que a jurisdição trabalhista em questão coletiva é de atribuição originária de Tribunal. Quando a ação versar sobre contrato individual a

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competência é da Vara do trabalho (1º). Ex. trabalho insalubre para menor com menor, tal cláusula deve ser anulada (a requerimento do trabalhador ou do MPT) na Vara; ação anulatória de cláusula de acordo coletivo não pode ser proposta pela parte (signatário), exceto se demonstrado erro, dolo, coação ou fraude, logo é proposta em regra pelo MPT (art. 83, IV LC 83). No entanto o TST admite que trabalhadores individualmente formem uma coalizão contra acordo firmado entre sindicato e empresa, entendendo que a competência era do TRT e não da Vara. Ex. de cláusulas anuladas: remuneração inferior ao SM; jornada além da legal; cláusula que viole proteção, segurança e saúde, liberdade individual, associação, que determine cobranda de contribuição assistencial a empregado não sindicalizado; que condiciona a estabilidade da grávida á previa comunicação ao empregador; que estabelece estabilidade provisória (acidentado, membro da CIPA, dirigente sindical) aquém do legal.

10.5. Ação cautelar e antecipação de tutela

10.5.1. Ação cautelar

10.5.1.1. Conceito e finalidade

O proc. de conhecimento e execução são satisfativos, permitindo-se a realização do direito material, seja pela declaração do direito (conhecimento) ou pela realização prática do direito material (execução). O proc. cautelar apenas objetiva permitir futura realização do direito material, garantindo a efetividade de outro processo. O principal objetivo do proc. cautelar é a obtenção de medida de urgência (liminar), evitando-se prejuízo do processo principal em razão de atos praticados pela parte contrária ou pela de demora processual.

10.5.1.2. Características das ações cautelares

Instrumentalidade: a ação cautelar é utilizada para garantir a efetividade do processo principal - de execução ou de conhecimento. Objetiva assegurar o resultado útil da ação principal. Provisoriedade: as ações cautelares tem eficácia até o trânsito em julgado da sentença proferida na ação principal (art. 807 CPC), podem ainda ser revogadas/modificadas. Revogabilidade: as medidas cautelares podem ser revogadas a qualquer tempo pelo juiz, desaparecendo os requisitos que a sustentam (fumus boni iuris e periculum in mora), pode ainda ser substituída por outra cautelar (art. 805). Autonomia: a ação cautelar apresenta elementos distintos da ação principal, sendo analisadas por fundamentos diversos. Há 2 sentenças distintas, apesar de autônoma, a cautelar não é independente (instrumentalidade), pois será sempre acessória da principal, podendo ser extinta se a principal não for proposta em 30 dias contados da efetivação da medida cautelar (preparatória – art. 806),é acessória e não mero apêndice. Urgência: nasce da necessidade de assegurar resultado útil da ação principal (periculum in mora).

10.5.1.3. Requisitos específicos – fumus boni iuris e periculum in mora

A ação cautelar como qualquer outra exige condições genéricas: possibilidade jurídica do pedido, legitimidade, interesse. Tem como requisito especial o periculum in mora e fumus boni iuris. A fumaça do bom direito consiste em juízo sumário não exauriente de probabilidade e verossimilhança do direito alegado pelo autor – a serem confirmadas no processo principal. O perigo na demora deve ser demonstrado pelo autor, consiste no dano de difícil reparação a ser

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suportado pela parte no proc. principal decorrente na demora da solução da lide, impondo a concessão de uma medida liminar, exige-se a demonstração objetiva do risco da demora e não apenas o receito subjetivo do autor.

10.5.1.4. Cautelares satisfativas e poder geral de cautela

Discute-se na doutrina a existência de cautelar satisfativa – antecipar os efeitos que seriam produzidos normalmente apenas na prestação jurisdicional definitiva. A corrente majoritária (Renato Saraiva) entende que não é possível. As medidas cautelares ditas satisfativa são as de tutela antecipada, que não se confundem com as cautelas, exatamente por ter caráter satisfatório e não meramente assecuratório, embora ambas sejam feitas com base numa cognição sumária (probabilidade). O proc. cautelar não pode ser utilizado para tutelar o direito material, mas apenas para garanti-lo, assim a cautelar não pode ter caráter satisfativo, que deve ser proposta no proc. de cognição/execução. O art. 273, §7º permite a concessão de cautelares (na própria ação principal, recurso ou ação rescisória) sem a necessidade de instauração de uma ação cautelar. O mesmo art. permite a aplicação da fungibilidade, isto é, concessão de cautelar quando for pedida uma antecipação de tutela. Quanto ao poder geral de cautela (art. 798 CPC) permite-se ao juiz determinar medidas provisórias adequadas (típicas: arresto, sequestro e etc. e atípicas quando as previstas no ordenamento não forem suficientes) quando houver receio de que uma parte lesione a outra antes do julgamento da lide. Tal poder geral de cautela não é discricionário, está condicionada a existência de fumus boni iuris e periculum in mora e não pode conceder medida satisfativa.

10.5.1.5. Classificações

As cautelares se classificam em nominadas, também chamadas de típicas ou específicas – estão presentes no CPC; inominadas não estão especificadas na lei (art. 796 a 812 fundamento); preparatória quando ajuizadas antes da ação principal; incidentais quando ajuizadas após a principal; de natureza jurisdicional quando exigem prestação jurisdicional por sentença cautelar; não jurisdicional denominadas de administrativas, em que não há lide, mas simples interessados, não havendo sentença. Ex. protesto, interpelação e notificação.

10.5.1.6. Cabimento no processo do trabalho

A CLT prevê apenas 2 hipóteses de “medida liminar” (art. 659, IX e X), para obstar transferência de empregado ou reintegrar dirigente sindical arbitrariamente dispensado/afastado. Apesar disso atualmente a doutrina e jurisprudência aceitam o uso das cautelares amplamente na JT, com aplicação subsidiária do CPC. A lei 8.437 estabeleceu inúmeras restrições á concessão de limiares contra atos do Poder Público (veda liminar sempre que a lei vedar MS), parte da doutrina acha inconstitucional tal lei, apenar disso, a proibição é contra liminar e não cautelar. A lei 9.494 traz óbice á antecipação de tutela contra a FP.

10.5.1.7. Procedimento – Medidas cautelares inespecíficas

As cautelares nominadas tem procedimento determinado (art. 813 a 887 CPC). O procedimento das atípicas está no art. 801 a 813 do CPC. O procedimento cautelar pode ser instaurado antes ou no curso do principal, sendo sempre acessório. As cautelares são requeridas ao juiz da causa principal ou quando preparatórias ao juiz competente para

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conhecer da futura ação principal. Pode, no entanto, a cautelar ser distribuída a Tribunal caso a ação objetive alcançar efeito suspensivo da decisão rescindenda (objeto de ação rescisória), quando o processo principal se encontrar em tribunal (art. 800 CPC). Em razão da inércia do juiz deve o interessado apresentar a inicial (requisitos do art. 801 – a lide e fundamento; exposição sumária do direito ameaçado, receio da lesão e provas que serão produzidas). Renato Saraiva entende que na JT a cautelar pode ser oral, reduzida a termo em 5 dias (art. 786 e 840 CLT), da mesma forma, em relação as provas, apesar do art. 801 CPC mandar especificá-las nas inicial, o art. 845 CLT determina a apresentação de provas em audiência, afastando a regra do CPC. Pode o juiz conceder a cautelar inaudita altera partes, se entender que o réu tornará a medida ineficaz. A cautelar preparatória deferida mantém sua eficácia até o ajuizamento da ação principal (que deve ser proposta em até 30 dias da concessão da cautelar), a incidental mantém eficácia durante o processo principal, ainda que suspenso, podendo, no entanto, ser revogada/modificada a qualquer tempo (art. 807 CPC). O art. 802 do CPC prevê que o requerido deve ser citado em 5 dias para contestar o pedido e indicar provas, a aplicação do art. 841 da CLT impõe que o requerido deve ser notificado comparecer a audiência aonde apresentará defesa. Não contestado o alegado pelo autor é presumido como verdadeiro, proferindo a sentença em 5 dias (art. 803 CPC). Apresentada a defesa o processo devidamente instruído será julgado, sendo deferida/indeferida ou mantida a medida, cabendo recurso ordinário. O indeferimento de cautelar não prejudica propositura de ação principal ou julgamento dela, exceto se na cautelar for acolhida decadência ou prescrição do direito do autor (art. 810). Pela gratuidade da JT inaplicável é o art. 811 CPC responsabilização do requerente por dano causado ao requerido com a execução da cautelar.

10.5.1.8. Medidas cautelares especificas

10.5.1.8.1. Arresto

Objetiva apreensão de bens do devedor para pagamento de dívida. Tem cabimento quando o devedor sem domicilio certo intenta ausentar-se ou alienar bens, ou deixar de pagar a obrigação no prazo; tendo domicilio certo tenta ausentar-se furtivamente; devedor insolvente tenta alienar bens, contrai dividas extraordinárias; tenta por bens em nome de terceiros ou outra fraude a execução; devedor que possui bens de raiz tenta aliena-los, hipotecá-los, dá-lo em anticrese, ficando sem bens desembargados. Para a concessão do arresto o requerente deve provar a dívida líquida e certa, os bens impenhoráveis não são objeto de arresto. Na JT não se exige previa caução pelo empregado para concessão do arresto. A execução do arresto fica suspensa se o devedor pagar/depositar a importância da dívida e custas, apresentar fiador idôneo ou prestar caução para garantir dívida e custas (art. 819). Cessa o arresto no caso de pagamento, novação, transação (art. 820). Aplica-se ao arresto as regras da penhora (art. 821).

10.5.1.8.2. Sequestro

Objetiva garantir a execução para a entrega de determinado bem litigioso mediante apreensão judicial deste e sua guarda por depositário para que seja entregue em bom estado de conservação ao vencedor do processo principal (art. 822 CPC). Não objetiva garantir a dívida, mas sim garantir o bem litigioso, evitando eventual desaparecimento/perecimento. O depositário é nomeado pelo juiz, podendo ser pessoa acordada pelas partes, ou até mesmo pode recair sobre uma das partes, desde que ofereça maiores garantias e preste caução

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idônea (art. 824 CPC) – aplica-se ao sequestro as regras do arresto (art. 823 CPC). Arresto não se confunde com sequestro: aquele incide sobre bens alheios á obrigação discutida, qualquer bem pode ser objeto do arresto (visa assegurar a execução futura), sequestro incide sobre o próprio bem objeto da obrigação, ou seja, arresto visa o cumprimento da obrigação, no sequestro preservar a coisa litigiosa. Ex. ferramenta do obreiro em poder do empregador.

10.5.1.8.3. Busca e apreensão

Destina-se à busca e apreensão de coisas e pessoas, mas na JT somente é possível em relação ás coisas. Ex, CTPS, ferramentas do obreiro ou outros bens que estiverem sendo objeto de arresto ou sequestro. O mandado é cumprido por 2 oficiais acompanhado por 2 testemunhas, não havendo colaboração do morador podem os oficias arrombarem portas e moveis á procura da coisa, lavrando ao final auto circunstanciado da diligencia. Pode o juiz determinar que a diligência seja feita inaudita altera partes e a justificativa do requerente em segredo.

10.5.1.8.4. Exibição

Previsão no art. 844 do CPC tem por objeto exibição de coisa móvel que o requerente repute sua ou tenha interesse em conhecer; documento próprio ou comum em poder de inventariante, testamenteiro, depositário, administrador de bens, sócio, condômino e etc.; essa ação cautelar nominada somente pode ser proposta como preparatória da principal, pois a coisa instruirá futuro processo principal. O interessado (empregado ou empregador) deve mostrar interesse jurídico na exibição (art. 3º CPC) – sob pena de extinção sem julgamento de mérito, consubstanciado na necessidade da pessoa fazer prova constituída ou conhecer o documento. O procedimento está previsto no art. 355 a 363 e 381 a 182 do CPC.

10.5.1.8.5. Produção antecipada de prova

Objetiva assegurar a prova produzida antes ou no curso do processo principal. Pelo art. 847 poderá constituir em interrogatório da parte, inquirição de testemunhas (ex. pessoa vai para o exterior ou tem doença grave/terminal – o que justifica a antecipação) e exame pericial. O interrogatório e a inquirição se realizada no curso do processo principal são realizadas antes da audiência de instrução. Na inquirição antecipada autor e réu são intimados a comparecerem a audiência (art. 848). Admite-se a antecipação do exame pericial se houver fundado receio a verificação de fatos na pendência da ação – ex. insalubridade e a empresa estiver mudando o ambiente de trabalho. Observa-se que nessa cautelar não há lide, limitando-se a sentença a homologar a prova produzida, não cabendo recurso, salvo se o pedido for indeferido de plano pelo juiz do trabalho, cabível rec. ordinário.

10.5.1.8.6. Justificação

Tem natureza administrativa e objetiva provar a existência de fato ou relação jurídica, seja para simples documentação sem caráter contencioso ou como meio de prova em processo judicial. É comum o obreiro pretender fazer prova em juízo do tempo laborado sem carteira, para posteriormente comprovar junto ao INSS. A justificação consiste na inquirição de testemunha e juntada de documentos. Aqui não há lide nem partes, mas interessados, não há recurso ou defesa. O juiz marca audiência e busca a conciliação, não havendo ouvi-se as testemunhas. O interessado pode contraditar as testemunhas. Ao final a justificação é julgada

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por sentença e os autos entregues ao requerente em 48h. O juiz não se pronuncia sobre o mérito, apenas observa as formalidades legais.

10.5.1.8.7. Protesto, notificação e interpelação

Tem natureza administrativa, postas á disposição de quem quer manifestar qualquer intenção de modo formal. A finalidade do protesto é prevenir responsabilidade, prover a conservação e ressalva de direitos. Na JT costuma ser usado pelo empregado para interromper a prescrição. Na inicial o requerente exporá os fatos e fundamentos do protesto, devendo o juiz indeferir a inicial se não mostrado interesse jurídico. A interpelação é ato que o credor dirige-se ao devedor para que cumpra a obrigação, sob pena de incorrer em mora. Ex. empregador em contumaz mora no pagamento de salários, pode o obreiro utilizar a interpelação para rescisão indireta (art. 483, d da CLT). A interpelação e o protesto não admitem defesa nem contraprotesto nos autos, podendo o requerido contraprotestar em processo distinto (art. 872 CPC). Realizada a intimação e pagas as custas em 48h os autos são entregues á parte, independente de translado (art. 872). A notificação por sua vez é cautelar em que comunica alguém para que faca ou deixe de fazer algo. Ex. utilizada por empregador quando empregado faltar ao trabalho sem justificativa, onde o obreiro é notificado para comparecer para trabalhar ou justificar a ausência, sob pena de abandono de emprego.

10.5.1.8.8. Atentado

Pelo art. 878 comete atentado quem viola penhora, arresto, sequestro ou imissão na posse e etc. tal cautelar objetiva restaurar o estado de fato inicial de uma lide em razão de ilegalidade praticada por uma parte produzindo prejuízo á outra em função de inovação indevida no curso do processo de execução ou conhecimento, logo, exige-se que haja uma ação principal em curso (cautelar incidente) em que arresto, sequestro e etc. seja violado. A inicial é autuada em separado, havendo citação da parte contrária para responder em 5 dias, sob pena de revelia. Havendo contestação o juiz designará AIJ, para eventual prova, proferindo julgamento posteriormente. É competente para conhecer do atentado (cautelar) o juiz da causa principal. A sentença que julgar procedente o pedido ordenará o restabelecimento do estado anterior, suspensão da causa principal, proibição do réu de falar nos autos até a purgação do atentado.

10.5.2. Tutela antecipada

10.5.2.1. Considerações gerais

O art. 273, 461 do CPC introduziram a antecipação de tutela em nosso ordenamento. Permite-se ao autor, desde que haja postulação expressa e presentes os requisitos, adiantar parcial ou totalmente os efeitos da tutela jurisdicional, que somente lhe seria conferida por ocasião de sentença final. Pela leitura dos art. verifica-se a existência de 3 espécies de antecipação de tutela: obrigação de pagar; de fazer/não fazer; entregar coisa certa. Frisa-se que a antecipação de tutela não é uma ação, mas um pedido formulado pelo autor de forma incidental na ação de cognição (na inicial ou petição autônoma), não havendo distribuição ou pagamento de custas. O pleito de antecipação deve ter relação com algum (ou todos) os pedidos contidos na peça (art. 128 CPC), não pode o juiz conceder na antecipação de tutela ultra ou extra petita, pode, no entanto, antecipar parcialmente. A antecipação é possível em ação declaratória,

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mandamental ou constitutiva. Há quem defenda antecipação em proc. de execução: os embargos á execução paralisa o proc. podendo ocasionar periculum in mora. A tutela antecipada é limitada, isto é, de cognição sumária, devendo o proc. De cognição prosseguir até o final, firmando-se o juízo de certeza (art. 273,§5º). O juiz não antecipa o julgamento final ao apreciar o pedido de antecipação de tutela, a concessão em favor do autor não implica que a ação será julgada em favor do mesmo, não é prejulgamento do processo. A tutela antecipada será efetivada nos próprios autos do processo, não havendo instauração de processo de execução. A efetivação da antecipação não exige prestação de caução de modo que o autor se obriga a reparar o prejuízo suportado pela parte adversa na hipótese de modificação do panorama processual. Ao deferir a antecipada o juiz deve impor astreintes.

10.5.2.2. Requisitos da tutela antecipada

Prova inequívoca da verossimilhança das alegações: os fatos alegados devem estar demonstrados no processo de modo a aparentar grande probabilidade de veracidade. Cumulado com o Fundado receio de dano de difícil reparação: demonstração que a não antecipação fará o direito perecer total ou parcialmente; Ou com a Caracterização do abuso de direito de defesa ou do manifesto propósito protelatório do réu: deve o autor demonstrar que o réu intenta retardar o processual, evitando a solução da lide: ex. recurso infundado, reiterada retirada do auto em cartório, permanece com o processo por meses, arrola testemunha residente em outra comarca, impondo demorada expedição de carta precatória.

10.5.2.3. Perigo da irreversibilidade da medida

Não se concede a antecipação se houver perigo de irreversibilidade do provimento final, assim é imprescindível para a concessão da medida que o quadro fático, alterado pela antecipação da tutela, possa ser recomposto. C.H.B.Leite entende que na JT tal requisito deve se sopesado com a natureza alimentícia dos valores geralmente postulados pelo empregado, isto é, valoração entre prejuízo da ordem econômica do empregador x subsistência do empregado.

10.5.2.4. Cabimento no processo do trabalho

Tem aplicação subsidiária do CPC em razão da omissão da CLT (art. 769). Nos Tribunais cabe ao relator decidir sobre o pedido de antecipação de tutela, submetendo sua decisão ao Colegiado, independente de pauta, na sessão subsequente.

10.5.2.5. Tutela antecipada e liminar da ação cautelar – diferenças

Tutela antecipada Liminar em ação cautelarObjetiva obter no início ou decorrer da ação resposta do juiz que antecipe efeito da sentença, total ou parcialmente, isto é, objetiva ver adiantada a proteção que se busca no proc. de conhecimento

Objetiva assegurar o resultado útil da ação, objetiva apenas proteger o direito guerreado na ação principal.

Possui natureza satisfativa Possui natureza acautelatória, protetiva, não satisfativa.

Exige prova inequívoca da verossimilhança do alegado e fundado receio de dano irreparável ou abuso do direito de defesa/manifesto

Exige o fumus boni iuris e o periculum in mora.

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propósito protelatório da outra parte

10.6. Inquérito para apuração de falta grave

10.6.1. Conceito e hipóteses de cabimento

É ação de natureza constitutiva negativa promovida pelo empregador para resolução de contrato de trabalho de empregado estável em função do cometimento de falta grave. O empregado estável pode ser suspenso, mas não demitido, exceto se cometer falta grave, verificada com a procedência da ação em questão (art. 494 CLT). Antigamente era estável o empregado com mais de 10 anos na mesma empresa, após a criação do FGTS poderia o trabalhador optar entre a garantia do FGTS ou da estabilidade. Com a CRFB o FGTS passou a ser obrigatório para urbanos e rurais, acabando com a estabilidade após 10 anos, garantido o direito adquirido dos já estáveis. O art. 19 do ADCT ainda assegurou estabilidade a servidor da AP direta autárquica e fundacional quem já tivesse 5 anos de exercício com a CRFB, mesmo sem concurso público. Além desses casos a legislação atribui estabilidade ao dirigente sindical (CLT 543, §3º e CRFB art. 8º VIII), trabalhador do Conselho nacional da Previdência Social (art. 3º da lei 8.213) e eleitos diretores de cooperativa (art. 55 da lei 5.764), frisa-se que nada impede que a estabilidade seja firmada no contrato de trabalho ou acordo coletivo.

10.6.2. Procedimento

A CLT nos art. 853 e 855 prevê o procedimento para o inquérito (ação). Deve ser interposto pelo requerente (autor empregador) escrito na Vara ou juiz de direito (art. 853, CLT) cabendo cada parte apresentar 6 testemunhas (art. 821 CLT). Havendo suspensão do empregado, ela durará até o final do processo (Art. 494 PU CLT), atualmente não se exige mais pagamento prévio das custas (art.789 CLT), sendo pagas ao final pelo vencido após o trânsito em julgado ou como condição para a interposição de recurso.

10.6.3. Prazo para ajuizamento

O prazo decadencial é de 30 dias contados da suspensão do empregado (TST nº 62 e STF 403) – o prazo no caso de abandono de emprego inicia-se do momento que o empregado pretende retornar ao serviço. Pelo art.494 não é obrigatória a suspensão para ajuizamento de inquérito para apuração de falta grave, nesse caso parte da doutrina entende que o empregador tem 5 anos a partir da ciência da falta (art. 7º XXIX). Renato Saraiva discorda entendendo que falta conhecida e não imediatamente apurada e punida tem-se como tacitamente perdoada (princípio da imediaticidade).

10.6.4. Efeitos da sentença

Havendo suspensão e posterior improcedência do inquérito (inexistência de falta grave) deve o empregador reintegrar (redação do art. 495 diz readmissão) e pagar-lhe o salário/vantagens durante o tempo de afastamento, convertendo a suspensão em interrupção contratual. Se a reintegração for desaconselhável pode a JT converter em indenização dobrada (art. 496), não havendo suspensão e improcedente a ação o contrato continua normalmente. Provada a falta grave autoriza-se a resolução contratual. Se suspenso o efeito da sentença retroage e o

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contrato é considerado rescindido desde a suspensão contratual, caso não haja suspensão a sentença retroage ao momento de propositora da ação.

10.7. Ação de consignação em pagamento

10.7.1. Considerações gerais

É instrumento apto a extinguir obrigação, liberando o devedor, que obtém a declaração judicial de quitação (art. 334 CC). É utilizada normalmente quando o credor recusa receber a coisa/pagamento.

10.7.2. Modalidades

Há 2 procedimentos para a consignação de pagamento o judicial e o extrajudicial.

10.7.2.1. Consignação extrajudicial

Consiste no depósito (em conta com correção monetária) da quantia devida em estabelecimento bancário oficial (ex. BB e CEF) ou particular quando na localidade não existir oficial. Deve o credor ser notificado em 10 dias para se manifestar, se silente reputar-se liberado o devedor, se, ao revés, manifestar por escrito ao banco justificando a recusa o devedor em 30 dias proporá a ação judicial de consignação, instruindo a inicial com prova do depósito, não proposta a ação o depósito fica sem efeito e deve ser levantado pelo devedor. O banco funciona como colaborador, sem poder decisório. A consignação extrajudicial não é obrigatória, pois o devedor pode optar pela judiciária. A doutrina e jurisprudência resistem sobre o cabimento da consignação extrajudicial na JT: o efeito liberatório do consignante (art. 890, § 2º CPC) seria incompatível com a JT isso porque em se tratando de empregado com mais de 1 ano de serviço o recibo de quitação pressupõe necessariamente a homologação de sindicato ou ;min. trab. E emprego, assim ainda que o trabalhador/credor não se manifeste sobre o depósito ele não terá efeito.

10.7.2.2. Consignação judicial

É instrumento hábil para que o devedor (consignante) por sentença obtenha o reconhecimento do adimplemento da obrigação perante o réu (consignado). A CLT é omissa, logo tem aplicação o CPC por subsidiariedade. Pelo art. 891 do CPC requerer-se-á a consignação no lugar do pagamento, porém o art. 651 da CLT fixa a competência territorial pelo local da prestação de serviços, logo a ação de consignação de pagamento deve ser distribuída na localidade da prestação do serviço. No polo ativo da ação poderá estar devedor (empregado/empregador) ou o terceiro (art. 890 CPC). Ex. empregado quer devolver mostruário de produtos ao empregador; quando há dúvida de que deva receber as verbas trabalhistas do obreiro falecido. O procedimento da ação de consignação está no art. 893 e 894 do CPC. Adaptando para a JT temos que o consignante deve propor a ação e requerer desde logo na inicial o depósito da quantia no prazo de 5 dias (contados do deferimento da inicial), passando a partir do depósito judicial os juros/correção correrem por conta do banco depositário (se possível na conta vinculada do FGTS do trabalhador). A falta de depósito gera extinção do processo sem resolução de mérito. Realizado o depósito o juiz marca audiência e notifica o consignado para levantar ou oferecer defesa. Tratando-se de prestações periódicas,

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consignada a primeira pode o consignante continuar a depositar no mesmo processo as vincendas, até 5 dias antes do vencimento de cada prestação. Se o consignado comparecer e concordar com o pedido, levantará o valor em seu favor e restará extinta a obrigação. Se for revel o pedido será julgado procedente com consequente extinção da obrigação, respondendo o réu pelas custas (art.897). A contestação do consignado só versará sobre (art.896) inexistência de recusa/mora em receber; recusa foi justa; o depósito não se efetuou no prazo/local do pagamento; depósito não é integral, devendo nesse caso indicar a quantia certa, hipótese em que é facultado ao autor em 10 dias complementá-lo, sendo intimado o consignado para proceder o levantamento. Se o depósito for insuficiente pode o consignado levantar a quantia ficando o autor parcialmente liberado, prosseguindo o processo quanto à parcela controversa. Apresentada contestação o processo (reclamação trabalhista) é instruído e se rejeitada segunda proposta de conciliação é proferida sentença. Julgada procedente libera-se o devedor, se improcedente em razão da insuficiência do depósito deve a sentença indicar o montante devido, servindo de título executivo (e evitando a reconvenção).

10.8. Ação monitoria

10.8.1. Conceito

Utilizado para satisfação de crédito materializado em prova documental desprovida de eficácia executiva (ex. carta; bilhete, anotações, telegrama, pareceres e etc.). É instrumento processual que pode ser utilizado pelo credor de quantia certa, coisa fungível, móvel. Pela monitória obtém-se liminarmente um mando de entrega ou pagamento que se torna definitivo se o réu não lhe opuser embargos ou se não procederem.

10.8.2. Natureza jurídica

Há 3 correntes: 1º ação executiva; ação de conhecimento; natureza mista (corpo de conhecimento e alma de execução). A corrente majoritária entende que é ação de conhecimento (cognição sumária) de caráter condenatório, submetida a procedimento especial de jurisdição contenciosa. Sua finalidade é a formação de título executivo judicial de forma mais rápida que na ação condenatório convencional.

10.8.3. Cabimento no processo do trabalho

Há divergência acerca do cabimento na JT. Quem defende o não cabimento alega: o art. 876 da CLT apena admite execução de título executivo judicial e extrajudicial; na ação monitoria não há previsão de conciliação, contrariando os art. 765 e 846 da CLT; não monitória não há audiência, contrariando o art. 843, por esses motivos restaria inaplicável essa regra do CPC na JT (art. 769 da CLT). Entretanto há corrente que defende a aplicação da monitória na JT (celeridade), assim documento escrito que contenha reconhecimento de dívida trabalhista (rescisão de contrato não quitado, confissão de dívida), o empregado pode ajuizar monitória. Inclusive, após a EC 45 um pedreiro que autonomamente foi contratado para construir um muro, tendo prova documental poderá ajuizar sua monitória na JT.

10.8.4. Procedimento

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A monitoria deve ser ajuizada na JT obedecendo a regra de competência do art. 651 (local da prestação de serviço), observado o art. 840 (requisitos da inicial trabalhista), ambos da CLT. A inicial desde logo deve ser acompanhada da prova escrita (sob pena de indeferimento, decisão sujeita a rec. ordinário, considerando a monitória como proc. de conhecimento), caso não tenha o documento, deve manejar reclamação comum e não a monitória. O juiz sem designar audiência determinará a expedição de mandato monitório, para que o reclamado em 15 dias efetue o pagamento (ou entrega da coisa fungível/bem móvel), recebido o monitório o reclamado poderá: quitar o débito (extinção do processo com resolução de mérito/reconhecimento do pedido; ficando o reclamado isento do pagamento de custas e honorários de advogado – art. 1.102 c,§1º CPC); embargar o pedido no prazo de 15 dias (que dispensam a prévia segurança em juízo, tem efeito suspensivo em relação ao mandado inicial e assume natureza de defesa do réu – apresentados embargos deve haver audiência de conciliação para se compatibilizar com a CLT); permanecer silente (não realizando o pagamento nem embargando – nesse caso o juiz profere sentença reconhecendo a executoriedade do título, convertendo-se o mandado inicial em executivo, determinando a posterior citação do executado para satisfazer a dívida em 48 horas – art. 880 CLT).

10.8.5. Cabimento em relação à fazenda pública

Corrente minoritária (que defende que a monitoria é ação executiva) entende que não cabe contra FP em razão da impenhorabilidade de bens, imperiosidade de precatórios e dependendo do valor feriria o duplo grau de jurisdição obrigatório (art. 475 CPC). A corrente majoritária entende cabível a monitória contra a FP: o embargo oposto suspende o mandado inicial, posteriormente pode o devedor opor embargos á execução (art. 730 e SS do CPC), além disso, a monitória apenas encurta o caminho para o título executivo, devendo se submeter ao tramite do precatório (art.100 CRFB e 730 CPC). O rito monitório é de cognição plena, desde que o réu ofereça embargos (STJ admite monitoria contra a FP – súmula nº 339).

10.9. Habeas Corpus

Na ação constitucional podemos identificar: impetrante (autor – PF ou PJ) em favor de terceiro ou em sua própria defesa (PF); Paciente: PF beneficiada pelo HC, podendo ser o próprio impetrante; Impetrado (autoridade coatora) é quem pratica a ilegalidade. O HC não exige advogado e tem natureza gratuita. Há o HC preventivo (ameaça de sofrer limitação na liberdade de locomoção – restrição não se consumou ainda, obtendo o salvo conduto que garante o livre trânsito) e o liberatório (repressivo – utilizado para cessar a violência). Na JT é comum o HC no caso de prisão do depositário fiel de bens penhorados pela JT. Pelo art. 114, inc. IV da CRFB a competência para julgar o HC contra ato de juiz do trabalho é do TRT.

10.10. Habilitação incidente

Ocorrendo a morte de um dos litigantes necessário habilitação de herdeiros para regular continuidade do feito - art. 1.055 a 1.062 CPC, de aplicação subsidiária a JT. Quanto ao empregador a habilitação incidente somente pode ocorrer se for PF, do contrário o falecimento do sócio continua o processo havendo representação por preposto ou sócios remanescentes. A habilitação incidente só ocorre se no curso do processo houver o óbito, do contrário haverá representação pelo inventariante e na ausência deste, pelo cônjuge/filhos.

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Havendo necessidade de inventario (filhos menores) não haverá a habilitação incidental imediata, devendo o processo ser suspenso até nomeação do inventariante. O art. 256 do CPC determina que no proc. suspenso não podem ser praticados atos, exceto os urgentes a fim de evitar dano irreparável. Em caso de morte do réu (reclamado) seus herdeiros normalmente não tem interesse na habilitação incidente, que poderá ser requerida nessa hipótese pelo autor (reclamante), conforme art. 1.056 do CPC. A habilitação deve ser requerida em petição escrita, sendo deferida por despacho (não por sentença) quando promovida por cônjuge/filhos (provando sua qualidade e óbito da parte) ou quando em outra causa se atribua a pessoa a condição de herdeiro ou sucessor (art. 1.060 CPC). Nos casos não alencados no art. 1.060 do CPC requerida a habilitação a parte contrária é notificada para contestar em 5 dias (1.057), apresentada contestação ou não é designada audiência para instrução sumária e decisão. No Tribunal a habilitação é requerida á juiz relator. Aplica-se art. 1º e 2º da lei 6.858.

10.11. Prestação de contas

Previsão no art. 914 do CPC, de aplicação subsidiária na JT. Na JT é comum o litígio entre empregado vendedor e empregador, com efeito por vezes o empregador deixa de pagar comissões e não apresenta cópia dos pedidos de vendas, impossibilitando o obreiro o controle das transações comerciais realizadas. Pode propor a ação tanto a pessoa que exige a prestação (maior utilização) quanto a que se encontra obrigada a prestar conta, com o intuito de que sejam referendadas. A fase de conhecimento é bifásica: na primeira fase verifica-se a obrigatoriedade ou não da prestação, na segunda (complementar) a exatidão ou não da conta prestada. Sobre o ato jurisdicional que encerra a primeira fase há divergência: interlocutória ou sentença? Alexandre Freitas Câmara entende que a 1º fase encerra-se por meio de sentença parcial em razão da cisão do julgamento do mérito (de rara aplicação no Brasil), a sentença parcial tem natureza condenatória ao impor ao demandado a apresentação das contas em 48h, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as contas que o autor apresentar (Art. 915, §2º CPC). Na JT prestada a ação por quem tem direito de exigi-la: o reclamado é notificado para em audiência apresentar conta ou defesa; caso o reclamado esteja ausente, não se defenda o juiz condenará o réu a apresentar a conta em 48h, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as contas apresentadas pelo autor; prestada as contas o reclamante tem 5 dias para impugná-la (admitida a produção de provas), não apresentada as constas pelo reclamado, em 10 dias o autor deverá especificá-las, sendo julgada pelo juiz segundo seu prudente arbítrio (pode nomear pericia contábil); por quem estiver obrigado a prestá-la: o reclamado é notificado para em audiência aceitá-la ou contestar a ação; não contestada ou aceita a conta ofertada, o processo é julgado em 10 dias; caso o reclamado conteste ou impugne a conta o juiz designará AIJ. A ação tem natureza declaratória e condenatória o que permite a execução forçada do saldo devedor (art. 918 CPC).

10.12. Ações possessórias

10.12.1. Considerações iniciais

Meros comentários acerca das possessórias no DT. Há 3 espécies de possessórias (art. 920 e SS do CPC): reintegração de posse em caso de esbulho (prejudicado é completamente afastado da posse); manutenção da posse em caso de turbação (invasão parcial sem completo afastamento do possuidor); ação de interdito proibitório em caso de ameaça de invasão.

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10.12.2. Cabimento na justiça do Trabalho

Há divergência sobre o cabimento na JT. O que se tem em mente é se a posse decorre ou não da relação de trabalho, se possível, pela redação do art. 114 (“outras controvérsias decorrente da relação de trabalho”) da CRFB a possessória é da competência da JT.

10.12.3. Procedimento – bens móveis

Ex. trabalhador visa devolução de ferramentas ou utensílios retidos pelo empregador; empregador requer devolução de mostruário de vendas retido pelo obreiro. Em regra a possessória é cumulada com pedido de rescisão contratual, fazendo que a ação não adquira natureza possessória – nada obsta que na sentença se condicione o pagamento da condenação (ex. hora extra pedida) à devolução do bem. Muitas vezes o pedido possessório (retomada de bens) é incluído na contestação como pedido de compensação (art. 767), mas a rigor constituiria reconvenção. A sentença condenará a parte a devolução dos bens (podendo haver fixação de multa diária por descumprimento – art. 461 e 644 CPC). A impossibilidade de devolução (destruição, perecimento, perda e etc.) converte a obrigação em perdas e danos.

10.12.4. Procedimento – bens imóveis

Acerca da competência da JT importante destacar: caso existam 2 contratos (ex. trabalho e de locação – em que além de obreiro também é o locador) a competência é da justiça comum, uma vez que relação entre inquilino e senhorio é regido pela lei do inquilinato. Caso o contrato de locação tenha sido pactuado em decorrência do contrato de trabalho (ex. empresa possui imóvel nas mediações da fabrica e aluga aos obreiros), ainda sim a competência é da justiça comum. No entanto, se não existir contrato de locação e a habitação for fornecida como parcela salarial in natura ou se o obreiro recebe a habitação como condição necessária para a prestação do serviço (zelador/caseiro e etc.), neste caso a possessória é da competência da JT.

Capítulo 11 – Dissídio Coletivo

11.1. Dissídio coletivo

11.1.1. Conceito

A CRFB em vários momentos estimula a autocomposição, principalmente dos conflitos coletivos (ex. conferindo legitimidade aos sindicatos). Porém, algumas vezes o consenso não se materializa. Assim o art. 114,§1º dispõe que frustrada as negociações as partes poderão eleger árbitros para solucionar o impasse, algo que raramente acontece (custo e desconfiança). Assim as partes se utilizam da heterocomposição denominada de dissídio coletivo que é uma ação que visa dirimir o conflito coletivo em que o judiciário fixa normas e condições de trabalho ou interpreta normas já existentes – por meio de sentenças normativas. Salienta-se que não se deve confundir o dissídio individual plúrimo com o dissídio coletivo, pois neste os interesses postulados é de um grupo/categoria com o objetivo, em regra, de serem criadas novas condições de trabalho pelo TRT, aplicável a pessoas indeterminadas que pertencem ou venham a pertencer ás categorias envolvidas. No dissídio plúrimo os interesses são

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individualizados, já previsto em normas existentes e cuja decisão atinge aquele grupo determinado.

11.1.2. Poder Normativo

Consiste na competência constitucional do TRT de solucionar o conflito coletivo por meio de sentença normativa, norma geral, abstrata, obrigatória para a categoria profissional e econômica, repercutindo na relação de trabalho. O poder normativo da JT, a contribuição sindical obrigatória e a unicidade sindical foram considerados fatores impeditivos da liberdade sindical plena no Brasil, alguns afirmam que tal competência da JT inibe a autocomposição. A EC nº 45 por sua vez limitou o Poder normativo da JT visto que atualmente o dissídio coletivo só pode ser proposto se houver mútuo acordo (art. 114,§2º), ou seja, a JT transformou-se em espécie de juízo arbitral exigindo concordância de ambas as partes para o ajuizamento do dissídio coletivo, o que estimula ainda mais a autocomposição. A falta do ajuste entre as parte gera a extinção do processo (da ação coletiva) sem resolução de mérito, por falta de especial condição da ação. O que se observa é a utilização da greve quando o sindicato patronal se recusa a negociação coletiva e não autorizar o ingresso do correspondente dissídio coletivo. Há jurisprudência que entende que a inexistência de acordo não pode ser óbice do direito de ajuizamento do dissídio em razão da inafastabilidade da jurisdição (hipótese semelhante da faculdade do litisconsórcio ativo necessário). Assim parte da doutrina critica essa condição da ação (ajuste entre as partes), pois apesar de não banir o poder normativo da JT acabou reduzindo-o de forma expressiva. Além disso, pela disposição do alterado art.114, §2º, o poder normativo da JT (quando instaurado o dissídio coletivo) deve respeitar as leis e acordos entre as partes anteriormente estabelecidas - o que reduziu mais ainda o poder normativo da JT, pois não pode contrariar norma ou acordo existente. O STF entende que o poder normativo da JT não é amplo, ao revés, encontra seus limites na própria lei, somente podendo ser exercido se houver previsão legal para tanto (atua no vazio legislativo), pois o judiciário não exerce atividade legislativa. Assim a ampliação de benefícios já albergados pela lei não se inserem na competência normativa da JT, da mesma forma a implementação de limitação de dispensa coletiva e consequente limitação à liberdade patronal (pode ser feito, no entanto, por acordo).

11.1.3. Cabimento

O dissídio coletivo só é suscitado se frustrada total ou parcialmente a negociação implementada diretamente ou intermediada pelo ministério do trabalho – mesas de negociações. Tanto a nomeação de árbitro como o ajuizamento do dissídio coletivo condicionam-se à frustração da negociação. Há jurisprudência entendendo que o acordo comum para instaurar o dissídio coletivo não pode configurar óbice ao acesso à jurisdição; da mesma forma há jurisprudência que entende que a exigência do acordo comum veio por EC, logo não há que se falar em violação da inafastabilidade da jurisdição, pois “ lei não excluirá da apreciação do judiciário”. Frisa-se que a CRFB somente exige a concordância para os dissídios de natureza econômica e não os de que objetivam interpretar normas. A EC nº 45 tornou explicita a competência da JT para o dissídio coletivo de greve ajuizado pelo empregador. Se o serviço paralisado for essencial, com possibilidade de lesão do interesse público difuso (transporte, coleta de lixo, saúde) o MPT poderá ajuizar dissídio coletivo.

11.1.4. Classificação

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De natureza econômica ou de interesses – são reivindicadas novas condições econômicas ou sociais. Ex. reajuste salarial. A sentença normativa aqui é constitutiva ao criar novas regras jurídicas de observância obrigatória. Natureza jurídica – para interpretação de cláusulas de sentenças normativas, acordos e convenções, disposições legais e atos normativos, mas não norma genérica (OJ nº 7).

Originário (primário) – corresponde ao dissídio de interesse (econômico), tem por objetivo criar norma, inédita ou substitutiva a outra criada em outro dissídio. Derivado (secundário) – tem por objeto rever norma criada em dissídio anterior ou interpretá-la (dissídio de revisão ou interpretação).

11.1.5. Partes e iniciativa

Quem instaura do dissídio coletivo é chamado de suscitante e a outra parte de suscitado. Não havendo sindicato pode a federação ser parte, e na falta destas, a confederação (art. 857 PU CLT). Em relação a legitimidade do MPT para suscitar o dissídio o art. 856 o garante, mas o art. 114, §3º da CRFB o legitima em caso de greve, na defesa da ordem jurídica/interesse público. Renato Saraiva entende que o MPT tem legitimidade apenas em caso de greve de atividade essencial por em risco interesse difuso. Além do MPT, pode propor o dissídio coletivo de greve o sindicato representativo da categoria econômica (patronal) ou a empresa isolada, mas o TST entende que o sindicato não tem legitimidade ativa para requerer pronunciamento judicial sobre a greve por ele mesmo realizada. O art. 856 da CLT permite que em caso de greve o presidente do TRT pode instaurar o dissídio de oficio, Renato Saraiva entende que esse intervencionismo (imposto na era Vargas) não mais deve ser aplicado atualmente: inércia da jurisdição; imparcialidade; a lei 7.783 somente concede iniciativa para as partes (sendo que o TST entende que o sindicato profissional não pode) e MPT, derrogando a CLT; da mesma forma o art. 114, §3º prevê legitimidade para o MPT, mas não para o juiz. Contudo em concursos públicos em questões objetivas considera-se correto a legitimidade do juiz.

11.1.6. Competência de julgamento

A competência em regra é do TRT. Mas quando a base territorial dos sindicatos abranger a jurisdição de mais de um TRT a competência originária para julgar o dissídio será do TST. Se o tribunal tiver sessão especializada em dissídio coletivo ela julgará, do contrário será o pleno.

11.1.7. Procedimento

A inicial do dissídio coletivo deve ser apresentada em tantas vias quanto forem os suscitados, deve conter a qualificação das partes, a natureza do serviço, os motivos do dissídio e as bases da conciliação, devendo ser escrita, não se admitindo o dissídio coletivo verbal. A instauração pelo sindicato fica subordinada à aprovação em assembleia em 1º convocação de 2/3 de seus associados, ou em 2º convocação por 2/3 dos presentes (art. 859 CLT), assim é necessário instruir a inicial com a ata dessa assembleia geral. Outro documento essencial é a pauta reivindicatória – produto da vontade da categoria. As cláusulas da inicial devem ser fundamentadas, sob pena de o tribunal não proferir julgamento. Havendo convenção/acordo coletivo ou sentença normativa em vigor o dissídio deve ser instaurado dentro dos 60 dias anteriores ao termo final do instrumento, para que a sentença normativa possa ter vigência no

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dia imediato (art. 616, §3º CLT). O sindicato atua como legitimado ordinário e não como substituto processual. Recebida a inicial o presidente do tribunal designará audiência de conciliação em 10 dias, determinando a notificação postal dos dissidentes. Se o dissídio for de greve a audiência será marcada o mais rápido possível, sendo possível a notificação por telefono/fax. O empregador pode se fazer presente por preposto que tenha conhecimento do dissídio (art. 861). No dissídio coletivo não há contestação/reconvenção/revelia/confissão/intervenção de terceiros e etc. (Art. 854 CLT - ausente a parte ou ambas o juiz julgará), uma vez que não há pedido, mas sim propostas de criação e novas normas. A conciliação é realizada uma única vez, presidida pelo Presidente do tribunal ou outro juiz designado. Quando o dissídio ocorrer fora da sede do TRT/TST a audiência de conciliação pode ser feita pelo juiz de 1º grau e não havendo acordo remeterá os autos ao Tribunal fazendo exposição circunstanciada dos fatos e indicando solução que lhe parecer conveniente. O magistrado não fica adstrito ás propostas das partes, podendo apresentar a solução que achar pertinente (art. 862 CLT). Havendo acordo ele será homologado e considerado decisão normativa. Não havendo o MPT deve emitir parecer. Então o processo é distribuído ao relator (sorteio) que elabora relatório que é encaminhado ao revisor e posteriormente submetido ao julgamento.

11.1.8. Cláusulas constantes no dissídio coletivo

Econômicas – reajustes, amento real, produtividade, piso e etc.; sociais – garantia de emprego, abono de férias, condições de trabalho; sindicais – fixam quantidade de representantes, determinam desconto de assistência etc. obrigacionais – fixa multa por descumprimento.

11.2. Sentença normativa

11.2.1. Conceito e natureza

É decisão proferida em TRT ou TST que julga dissídio coletivo. Se o dissídio tiver natureza econômica a sentença normativa tem natureza constitutiva, pois criará nova condição de trabalho (ex. reajuste). Por outro lado se proferida no bojo de dissídio de natureza jurídica a sentença terá natureza declaratória, pois interpretará norma existente.

11.2.2. Início da vigência

Em razão do art. 867 da CLT a sentença vigorará: a partir do seu ajuizamento se não existir acordo coletivo, convenção coletiva ou sentença normativa em vigor; imediatamente ao término do acordo/convenção/sentença normativa vigente, quando ajuizado dentro do prazo do art. 616,§3º; a partir de sua publicação quando o dissídio for ajuizado após o prazo.

11.2.3. Prazo

A sentença normativa tem prazo máximo de 4 anos (art. 868 PU CLT). Em regra os Tribunais fixam prazo de vigência de 1 ano, almejando que na data-base do ano seguinte haja tratativas negociais (acordo do ano seguinte substitua os termos da sentença).

11.2.4. Efeitos e coisa julgada

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Os efeitos da sentença normativa são erga omnes repercutindo nas relações individuais de trabalho, ainda que o profissional não seja associado ao sindicato. Acerca da CJ temos divergência doutrinária: primeira corrente – a sentença normativa faz apenas CJ formal, pois pode ser objeto de cumprimento antes de seu trânsito em julgado; e está submetida a cláusula rebus sic stantibus (pois poderá ser revista após 1 ano); não comporta execução e sim cumprimento; tem eficácia máxima de 4 anos. É a corrente adotada pelo TST na súmula 397 – não procede a ação rescisória, pois em dissídio coletivo somente se consubstancia a CJ formal. Segunda corrente – Renato Saraiva e outros entendem que a sentença normativa faz CJM e formal, isso porque o art. 2º da lei 7.701 é expresso: Compete à seção especializada em dissídios coletivos julgar as ações rescisórias propostas contra suas sentenças normativas; ação rescisória somente cabe contra decisão transitada em julgado, logo, que fez CJM.

11.2.5. Recursos – efeitos

Em regra os rec. trabalhistas não tem efeito suspensivo. Porém no direito coletivo do trabalho excepcionalmente o Presidente do TST pode conceder efeito suspensivo a eventual recurso contra sentença normativa de TRT pelo prazo improrrogável de 120, salvo se o rec. não for julgado antes. Caso a sentença normativa seja do próprio TST, se for não unanime cabe embargo infringente (exceto se em consonância com jurisprudência do TST).

11.2.6. Extensão

Quando a sentença normativa abranger apenas fração dos empregados da empresa poderá haver a extensão dessa decisão aos demais empregados da empresa (art. 868 CLT), isso se o próprio Tribunal na própria decisão achar justo/conveniente. Poderão as novas condições de trabalho serem estendidas a todos os empregados da mesma categoria profissional compreendida na jurisdição do tribunal mediante solicitação do empregador, sindicato, MPT ou próprio tribunal, mas desde que ¾ dos empregadores e ¾ dos empregados (ou sindicatos) concordem (prazo de 30 a 60 dias para manifestação). Sempre que o Tribunal estender a decisão, marcará a data em que a extensão deva entrar em vigor.

11.2.7. Revisão

Decorrido mais de 1 ano de vigência da sentença caberá sua revisão das condições de trabalho quando modificadas as circunstâncias (rebus sic stantibus – art. 873 CLT). A revisão pode ser promovida pelas partes e MPT e pelo Tribunal prolator, ouvido sempre as partes no prazo de 30 dias e o MPT. A revisão é julgada pelo Tribunal que proferiu a decisão.

11.2.8. Ação de cumprimento

Por não ter natureza condenatória (constitutiva quando econômica /declaratória quando jurídica), a sentença normativa não comporta execução, seu não cumprimento espontâneo ensejará ação de cumprimento e não ação executiva. A ação de cumprimento tem cunho condenatório proposta pelos trabalhadores ou pelo sindicato dos trabalhadores (aqui atuam como substituto processual) perante o 1º grau (art. 651), não sendo permitido ás partes discutirem questões de fato ou direito que já foram apreciada na sentença normativa, ainda que não transitada em julgado. O art. 872 da CLT exige para o ajuizamento da ação de cumprimento o trânsito em julgado da sentença normativa, mas o art. 7º, §6º da lei 7.701

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passou a estabelecer que a sentença normativa pode ser objeto de ação de cumprimento a partir do 20º dia subsequente ao julgamento do dissídio coletivo. Assim não mais é necessário o trânsito em julgado – TST nº 246. Caso a sentença normativa seja extinta sem resolução de mérito em sede de recurso, a ação de cumprimento será extinta, uma vez que a norma que se apoiava o título exequendo deixou de existir – OJ 277: a CJ produzida na ação de cumprimento é atípica, pois depende de condição resolutiva, ou seja, da não modificação da decisão normativa por eventual recurso. Carece interesse processual para a ação individual (singular ou plúrima) quando o direito já foi reconhecido em sentença normativa.

11.3. Dissídio coletivo no serviço público

As estatais se submentem normalmente ás sentenças normativas. A AP quando adota o regime estatutário não aplica a CLT, logo não é alcançada por sentença normativa. Dúvida há quando a AP direta autárquica ou fundacional contrata por regime celetista (art. 39 CRFB – lei 9.962) – Renato Saraiva entende que não lhes são aplicáveis as sentenças normativas: a AP é regida pelo princípio da legalidade, de forma que não poderia o judiciário conceder aumentos (lei de iniciativa do executivo art. 61 CRFB); o aumento de remuneração deve ser precedido de previsão orçamentária (art. 169, §§1º e 2º); a CRFB estabelece que a revisão geral da remuneração é feita na mesma data; o art. 39 prevê: § 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV (...), não havendo previsão de convenções/acordo e consequentemente dissídio coletivo e sentenças normativas. O TST na OJ nº 5.

Capítulo 12 – Novas súmulas, Orientações Jurisprudenciais e Precedentes do TST

Renato Saraiva destaca jurisprudência do TST em 129 páginas.