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Hugo Goes Resumo de Direito Previdenciário 3a edição -Editora Ferreira Rio de Janeiro 2010

Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

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Hugo Goes

Resumo de Direito Previdenciário

3a edição

-Editora Ferreira

Rio de Janeiro 2010

Page 2: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

Copyright © Editora Ferreira Ltda., 2008 - 2010 1. ed. 2008; 2. ed. 2009; 3. ed. 2010

CapaBruno Barrozo Ludano

Diagramação Theo Guedes

Revisão Liana Castello

Esta edição foi produzida em abril de 2010, no Rio de Janeiro, com as famílias tipográficas Syntax (8/9,6) e Minion Pro (10/12), e impressa

nos papéis Chambril 70g/m2 e Carolina 250g/m2 na gráfica Mangava.

CIP-BRASIL, CATALOCAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS. Ri.

G543r3.ed.Goes, Hugo Medeiros de, 1968-

Resumo de direito previdenciário : Hugo Goes. - 3.ed. - Rio de Janeiro : Ed. Ferreira, 2010.216p. -(Resumos)Inclui bilbiografia ISBN 978-85-7842-136-61. Previdência social - Legislação - Brasil - Sínteses, compêndios, etc. J. Título. II. Série.

10-1269.CDU: 349.3(81)

24.03.10 30.03.10 018236

Editora Ferreira [email protected]. br

www.editoraferreira.com.br

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS - É proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio. A violação dos direitos de autor (Lei n° 9.610/98)

é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penai.

Depósito legai na Biblioteca Nacional conforme Decreto n° 1.825, de 20 de dezembro de 1907.

Impresso no BrasÜ/Prínted in Brazil

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À minha esposa, Rosana, com amor, simplesmente por existir em minha vida.

Aos meus filhos, Joaquim e Leon, motivos de imenso amor, alegria e felicidade.

Aos. meus pais, Joaquim Goes (m metnoriam) e Maria Marta (m memoriam), que, apesar de todas as

dificuldades enfrentadas, plantaram a semente.

V

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Apresentação

Este livro fornece os subsídios elementares para o entendimento do funcionamento da seguridade social, enfatizando, contudo, o estudo da previdência social.

A obra contempla a matéria relativa ao custeio da Seguridade Social e às prestações (benefícios e serviços) do Regime Geral de Previdência Social. Seu objetivo principal é a preparação de candidatos a concursos públicos.

Não pretendemos, com esta obra, exaurir o assunto relativo ao Di­reito Previdenciário, pois como o próprio título do livro indica, trata-se de um resumo da matéria. Para um estudo mais detalhado da matéria, aconselhamos a leitura do nosso Manual de Direito Previdenciário, desta mesma Editora.

Esperamos que o presente trabalho possa, de alguma forma, contribuir com o sucesso de seus leitores.

Bons estudos.

Hugo Goes

V í l

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Siglas

ADCT - Ato das Disposições Constitucionais Transitórias AI - Auto de InfraçãoCAT - Comunicação de Acidente de TrabalhoCEI - Cadastro Específico do INSSCF - Constituição FederalCND - Certidão Negativa de DébitoCNIS - Cadastro Nacional de Informações SociaisCP - Código PenalCPD -EN - Certidão Positiva de Débito com Efeitos de NegativaCPMF - Contribuição Provisória sobre movimentação FinanceiraCRPS - Conselho de Recursos da Previdência SocialFAT - Fundo de Amparo ao TrabalhadorFGTS - Fundo de Garantia do Tempo de ServiçoFNDE ~ Fundo Nacional de Desenvolvimento EducacionalGFIP - Guia de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência SocialGPS - Guia da Previdência SocialIN - Instrução NormativaINSS - Instituto Nacional do Seguro SocialLC - Lei ComplementarLDC - Lançamento de Débito ConfessadoMPS - Ministério da Previdência SocialOGMO - órgão Gestor de Mão de ObraPAT - Programa de Alimentação do TrabalhadorPPP - Perfil Profissiográfico PrevidenciárioRE - Recurso ExtraordinárioREsp - Recurso EspecialRFB - Secretaria da Receita Federal do BrasilRGPS - Regime Geral de Previdência SocialRPS - Regulamento da Previdência SocialSELIC - Sistema Especial de Liquidação e CustódiaSTF - Supremo Tribunal FederalSTJ - Superior Tribunal de Justiça

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Sumário

1. Conceituaçao .......................................................................................... 011.1. Saúde................. .............................................................................. 011.2. Assistência Social.......................................................................... 021.3. Previdência Social......................................................................... 02

1.3.1. Regime Geral de Previdência Social.............................. 031.3.2. Regimes Próprios de Previdência Social.......................031.3.3. Previdência Complementar..............................................06

2. Princípios Constitucionais da Seguridade Social...........................092.1. Universalidade da cobertura e do atendimento..................... 102.2. Uniformidade e equivalência dos benefícios

e serviços entre as populações urbanas e rurais.................... 112.3. Seletividade e distributividade na

prestação dos benefícios e serviços.......................................... 112.4. Irredutibilidade do valor dos benefícios .................................. 122.5. Equidade na forma de participação no custeio...................... 122.6. Diversidade da base de financiamento..................................... 132.7. Caráter democrático e descentralizado da administração .... 14

Capítulo 2 - Regime Geral de Previdência Social................................. 151. Introdução............................................................................................... 152. Beneficiários do Regime Geral de Previdência Social ................... 15

2.1. Segurados obrigatórios.................................................................. 172.1.1. Segurado Empregado....................... ................................. 172.1.2. Segurado Empregado Doméstico....... ............................252.1.3. Segurado Trabalhador Avulso.........................................262.1.4. Segurado Especial.................................................................272.1.5. Segurado Contribuinte Individual................................. 34

2.2. Segurado facultativo.................................................................... 382.3. Dependentes.................................................................................. 40

3. Manutenção da qualidade de segurado............................................444. Perda da qualidade de segurado......... ................................................ 48

Capítulo 3 - Prestações do Regime Geral de Previdência Social ....... 491. Conceitos introdutórios..........................................................................51

1.1. Carência............................................................................................. 511.2. Salário-de-benefício..........................................................................56

2. Benefícios do RGPS.............................................................................. 592.1. Aposentadoria por invalidez..................... ................................. 592.2. Aposentadoria por idade...............................................................652.3. Aposentadoria por tempo de contribuição ....... ........................702.4. Aposentadoria especial................................................................ 742.5. Auxílio-doença................................................................................842.6. Auxílio-acidente..............................................................................91

Capítulo 1 - Seguridade S ocial....................................................................... 01

XI

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2.7. Salário-família............. ................................................................. 952.8. Salário-maternidade.... .............................................................. 1032.9. Pensão por morte ........................................................................ 1112.10. Auxílio-reclusão................................................................. ...... 1182.11. Abono anual............................................................................... 123

3. Serviços do RGPS.............................................................................. 1243.1. Habilitação e reabilitação profissional..................................... 1243.2. Serviço social............................................................................... 127

Capitulo 4 - Empresa e empregador doméstico:conceito previdenciário................... ..................................131

1. Empresa................................................... ............................................. 1311.1. Equiparados a empresa.............. ................................................ 131

2. Empregador doméstico......................................... ............................. 133Capítulo 5 - Financiamento da Seguridade Social...... .............. ......... 135

1. Contribuição da União...................................................................... 1372. Receitas das contribuições sociais................................................... 138

2.1. Contribuições sociais previdenciárias..................................... 1392.1.1. Contribuição previdenciária dos segurados................. 1392.1.2. Contribuição previdenciária da empresa............. ....... 1492.1.3. Contribuição previdenciária

do empregador doméstico............................................... 1693. Receitas de outras fontes................................................................... 1704. Salário-de-contribuição..................................................................... 171

4.1. Conceito de salário-de-contribuição....................................... 1734.2. Parcelas integrantes e não integrantes

do salário-de-contribuição.......................................................... 1744.3. Proporcionalidade...................................................................... 179

5. Obrigações da empresa e demais contribuintes............................. 1796. Prazo de recolhimento....................................................................... 1837. Recolhimento fora do prazo: juros e multa..................................... 1848. Obrigações acessórias......... ............................................................... 188

Capítulo 6 - Retenção e responsabilidade solidária...................................1911. Retenção de 11%................................................................................. 1911.1. Procedimento da retenção............................................................ 1921.2. Hipóteses de incidência da retenção............................... ........... 1942. Responsabilidade solidária............................................................. 1952.1. Responsabilidade solidária na construção civ il................... 1962.1.1. A responsabilidade solidária na construção civil será elidida . 1972.2. Empresas que integram grupo econômico.............................. 1982.3. Produtores rurais integrantes de consórcio simplificado..... 1982.4. Operador portuário e OGMO..................................................... 1982.5. Administradores públicos.......................................................... 1992.6. Ato praticado sem apresentação da CND ............................... 199

Referências bibliográficas...........................................................................201

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Capítulo 1

Seguridade Social

1. ConceituaçãoA Seguridade Social, nos termos do art. 194 da Constituição Fe­

deral» “compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade» destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”

A Seguridade Social engloba, portanto, um conceito amplo, abrangente, universal, destinado a todos que dela necessitem, desde que haja previsão na lei sobre determinado evento a ser coberto. É na verdade, o gênero do qual são espécies a Previdência Social, a Assistência Social e a Saúde.1

1.1. Saúde

Nos termos do art. 196 da Constituição Federal, “a saúde é di­reito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”

Os serviços públicos de saúde serão prestados gratuitamente: para usufruir de tais serviços, não é necessário que o paciente con­tribua para a seguridade social.1 MARTINS, Sérgio Pinto. Op. cit.t p. 45-46.

1

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Resumo de Direito Previdenciário

A saúde é direito de todos: assim, não pode o Poder Público se negar a atender determinada pessoa em razão de suas condições financeiras. Qualquer pessoa, pobre ou rica, pode dirigir-se a um hospital público e ser atendida.

O Poder Público prestará os serviços de saúde à população de forma direta ou através de convênios ou contratos com instituições privadas. Esses contratos e convênios serão celebrados, preferencial­mente, com as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.

1.2. Assistência SocialNos termos do art. 203 da Constituição Federal, a assistência

social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social. Assim, esse ramo da seguri­dade social irá tratar de atender os hipossuficientes, destinando pequenos benefícios às pessoas que nunca contribuíram para o sistema.

A assistência social é regulamentada pela Lei n° 8.742/93 (Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS). O principal benefício da assistência social é o benefício de prestação continuada; trata-se de uma renda mensal de um salário mínimo concedida à pessoa portadora de deficiência e ao idoso com 65 anos ou mais e que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção e nem de tê-la provida por sua família (art. 20 da LOAS). Nos ter­mos do § 3o do art. 20 da LOAS, “considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa portadora de deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo”.

1.3. Previdência SocialA Previdência brasileira é formada por dois regimes básicos, de

filiação obrigatória, que são o Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e os Regimes Próprios de Previdência Social dos servidores públicos e militares. Há também o Regime de Previdência Comple­mentar, ao qual o participante adere facultativamente.

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Seguridade SociaJ

O objetivo principal desta obra é o estudo do Regime Geral de Previdência Social. Todavia, os regimes próprios e a previdência complementar também serão, sinteticamente, analisados a seguir:

1.3.1. Regime Geral de Previdência SocialOs termos do art. 201 da Constituição Federal, o Regime Geral

de Previdência Social (RGPS) tem caráter contributivo e é de filiação obrigatória. Esse é o regime de previdência mais amplo, responsável pela proteção da grande maioria dos trabalhadores brasileiros. As regras relativas ao RGPS serão detalhadas nos capítulos seguintes.

1.3.2. Regimes Próprios de Previdência Social dos servidores pú­blicos e militares

Os beneficiários de Regime Próprio de Previdência Social - RPPS são os magistrados, ministros e conselheiros dos Tribunais de Contas, membros do Ministério Público, militares e servidores públicos ocupantes de cargo efetivo de quaisquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações.

Nos termos do art. 40 da Constituição Federal, “aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e

3 Capítulo 1

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Resumo de Direito Previdenáário

inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial” A aposentadoria dos magistrados (CF, art. 93, VI), dos membros do Ministério Público (CF, 129, § 4o) e dos ministros e conselheiros de Tribunais de Contas (CF, arts. 73, § 3o e 75), e a pensão de seus dependentes também observarão o disposto no art. 40 da Constituição Federal.

No tocante aos militares da União, dos Estados, do Distrito Fede­ral e dos Territórios, a Constituição Federal simplesmente estabelece que a lei disporá sobre a transferência do militar para a inatividade (CF, arts. 42, § Io e 142, § 3o, X). Em relação aos membros das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica), estas regras são defini­das pela Lei n° 6.880/80, que dispõe sobre o Estatuto dos Militares.

Vale ressaltar que nem todos os servidores públicos civis são amparados por regime próprio. Para que saibamos quais os servidores que são amparados por regime próprio, é necessário que verifiquemos como se organiza a administração pública:

Não são amparadas por regime próprio as pessoas físicas que trabalham em empresas públicas e em sociedades de economia mista. Estas são seguradas do RGPS.

Os servidores da administração direta, das autarquias e das fundações públicas podem ser:

H u p d G o e s 4

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Seguridade Social

Dentre esses, apenas os servidores ocupantes de cargo efetivo podem ser amparados por regime próprio. Os demais são segurados obrigatórios do RGPS.

Dentre os ocupantes de cargo efetivos, para fins meramente didáticos, ainda podemos fazer a seguinte divisão:

/ f Servidor; ocupante de1 ~ çárgo efetivo

->

Os ocupantes de cargo efetivo da União são amparados por regime próprio, portanto não são segurados do RGPS.

Os ocupantes de cargo efetivo dos Estados, Distrito Federal e Municípios podem ou não ser amparados por regime próprio. Isso ocorre porque os Estados, Distrito Federal e Municípios não estão obrigados a instituir regimes próprios para seus servidores. Vai depender da vontade política do Ente Federativo (Estado, Distrito Federal ou Município) de instituir, mediante lei, esse regime. Se o Ente Federativo institui o regime próprio, os servidores ocupantes de cargo efetivo ficam excluídos do RGPS. Caso contrário, esses servidores serão segurados obrigatórios do RGPS.

Caso a pessoa amparada por regime próprio venha a exercer, concomitantemente, uma ou mais atividades abrangidas pelo RGPS, tornar-se-á segurada obrigatória do RGPS em relação a estas ativi­dades. Nesta situação, esta pessoa será segurada dos dois regimes (próprio e geral) e, caso cumpria os requisitos previstos em lei, poderá vir a ter duas aposentadorias: uma concedia pelo RGPS e outra pelo regime próprio.

O militar ou o servidor público titular de cargo efetivo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, filiado a regime próprio de previdência, permanecerá vinculado ao regime previdenciário de origem nas seguintes situações: (a) quando cedido, com ou sem ônus para o cessionário, a órgão ou entidade da admi­nistração direta ou indireta de outro ente federativo; e (b) durante o afastamento do cargo efetivo para o exercício de mandato eletivo. Nestas situações, estes trabalhadores continuam excluídos do RGPS.

Como visto supra, o servidor ocupante de cargo efetivo, ampa­rado por regime próprio, que se afasta do cargo para exercer man­

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Resumo de Direito Previdenciário

dato eletivo, continua vinculado ao regime próprio de origem e, por conseguinte, excluído do RGPS. Contudo, o exercente de mandato de Vereador, que ocupe, concomitantemente, o cargo efetivo e o mandato filia-se ao regime próprio, pelo cargo efetivo, e ao RGPS, pelo mandato eletivo.

O regime próprio de previdência social, para ser considerado como tal, terá que garantir aos seus segurados, no mínimo, as apo­sentadorias e pensão por morte previstas no art. 40 da Constituição Federal. Assim, os regimes próprios devem garantir, no mínimo, os seguintes benefícios:

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->

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~ - Pensão -pôr mortes

A Lei n° 9.717/98 estabelece as regras gerais para a organização e o funcionamento dos regimes próprios de previdência social. De acor­do com esta Lei, compete à União, por intermédio do Ministério da Previdência Social, a orientação, supervisão e o acompanhamento dos regimes próprios de previdência social, bem como o estabelecimento e a publicação dos parâmetros e das diretrizes gerais previstos nesta Lei (art. 9o, I e II). Com base nesta competência, o Ministério da Previdên­cia Social editou a Orientação Normativa MPS/SPS n° 2/2009, tendo como objetivo estabelecer, de forma mais detalhada, as regras para a organização e funcionamento dos regimes próprios de previdência.

1.3.3. Previdência complementar

O regime de previdência complementar é facultativo. A pessoa tem a possibilidade de entrar no sistema, de nele permanecer e dele retirar-se, dependendo de sua vontade.2 Trata-se de uma faculdade dada à sociedade de ampliar seus rendimentos quando da aposenta-2 MARTINS, Sérgio Pinto. Op. dt., p. 471.

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Seguridade Social

ção.3 No entanto, a adesão a este regime não exclui a obrigatoriedade da filiação ao RGPS ou, no caso de militar ou servidor titular de cargo efetivo, ao regime próprio.

Quanto à possibilidade de acesso ao regime, as entidades de previdência complementar são classificadas em fechadas e abertas (LC, 109/2002, art. 4o).

As entidades abertas são constituídas unicamente sob a forma de sociedades anônimas e têm por objetivo instituir e operar planos de benefícios de caráter previdenciário concedidos em forma de ren­da continuada ou pagamento único, acessíveis a quaisquer pessoas físicas (LC 109/2001, art. 36).

De acordo com o art. 31 da Lei Complementar n° 109/2001, as entidades fechadas são aquelas acessíveis, na forma regulamentada pelo órgão regulador e fiscalizador, exclusivamente:

I - Aos empregados de uma empresa ou grupo de empresas eaos servidores da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, entes denominados patrocinadores; e

II - Aos associados ou membros de pessoas jurídicas de caráterprofissional, classista ou setorial, denominadas instituidores.

As entidades fechadas organizar-se-ão sob a forma de fundação ou sociedade civil, sem fins lucrativos (LC n° 109/2001, art. 31, § Io).

A pessoa física que adere ao regime de previdência complementar denomina-se participante (LC n° 109/2001, art. 8o, I).

O participante ou seu beneficiário em gozo de benefício de prestação continuada chama-se assistido (LC n° 109/2001, art. 8o, II).

As empresas e os Entes Federativos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), que instituam entidades fechadas de previdên­cia complementar, em benefícios de seus empregados ou servidores, recebem o nome de patrocinadores.

As mais conhecidas entidades de previdência complementar fechada são a PREVI (dos empregados do Banco do Brasil) e a PE- TRUS (dos empregados da PETROBRAS). Nesses dois exemplos, o Banco do Brasil e a PETROBRAS são os patrocinadores; os seus empregados são os participantes.

3 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 4 a. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2004, p. 18.

7 Capítulo 1

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Resumo de Direito Previdenciário

As pessoas jurídicas de caráter profissional, que instituam en­tidades fechadas de previdência complementar, são denominadas de instituidoras.

Nas entidades de previdência complementar fechadas, os pla­nos de benefícios devem ser, obrigatoriamente, oferecidos a todos os empregados dos patrocinadores ou associados dos instituidores (LC 109, art. 16). Mas a adesão do participante é sempre facultativa (LC, 109, art. 16, § 2o).

As entidades de previdência complementar podem ter natureza jurídica pública ou privada.

As de natureza pública, previstas na CF/88, art. 40, §§ 14 a 16, são entidades fechadas de previdência complementar, que podem ser instituídas pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, restritas aos servidores públicos ocupantes de cargo efetivo que sejam vinculados a regime próprio de previdência.

A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, desde que instituam regime de previdência complementar para os seus respectivos servidores titulares de cargo efetivo, poderão fixar, para o valor das aposentadorias e pensões a serem concedidas pelo regime próprio, o limite máximo estabelecido para os benefícios do RGPS (CF, art. 40, § 14).

No entanto, somente mediante sua prévia e expressa opção, o teto do RGPS poderá ser aplicado ao servidor titular de cargo efetivo que tiver ingressado no serviço público até a data da publicação do ato de instituição do correspondente regime de previdência complementar (CF, art. 40, § 16).

A entidade de previdência complementar privada pode ser aberta ou fechada. O regime de previdência privada, de caráter comple­mentar e organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de previdência social, será facultativo, baseado na constituição de reservas que garantam o benefício contratado (CF, art. 202).

As contribuições do empregador, os benefícios e as condições con­tratuais previstas nos estatutos, regulamentos e planos de benefícios das entidades de previdência privada não integram o contrato de trabalho dos participantes, assim como, à exceção dos benefícios concedidos, não integram a remuneração dos participantes (CF, art. 202, § 2o).

É vedado o aporte de recursos a entidade de previdência privada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, suas autarquias,

W iicrn f in p ç 8

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Seguridade Sociai

fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista e outras entidades públicas, salvo na qualidade de patrocinador, situação na qual, em hipótese alguma, sua contribuição normal poderá exceder a do segurado (CF, art. 202, § 3o).

Lei complementar disciplinará a relação entre a União, Estados, Distrito Federal ou Municípios, inclusive suas autarquias, fundações, sociedades de economia mista e empresas controladas direta ou indiretamente, enquanto patrocinadoras de entidades fechadas de previdência privada, e suas respectivas entidades fechadas de previ­dência privada (CF, art. 202, § 4o). Esta lei complementar também será aplicada, no que couber, às empresas privadas permissionárias ou concessionárias de prestação de serviços públicos, quando patroci­nadoras de entidades fechadas de previdência privada (CF, art. 202, § 5o). À Lei Complementar n° 108/2001 regulamenta os mandamentos previstos nos §§ 4o e 5o do art. 202 da Constituição Federal.

O quadro a seguir resume o aqui estudado a respeito da previ­dência complementar:

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2. Princípios constitucionais da seguridade sociaiDe acordo com as lições de Celso Antônio Bandeira de Mello,

“princípio é, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. É o conhecimento dos princípios que preside a intelecção das diferentes partes componentes do todo unitário que há por nome sistema jurídico positivo” 4

4 MELLO, Ceiso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 17a ed. São Pauio: Malheiros, 2004, p. 841-842.

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Resumo de Direito Frevidenciário

Os princípios da seguridade social encontram-se em vários dispositivos da Constituição Federal. É, porém, no parágrafo único do art. 194 da Constituição onde estão inseridos a maioria desses princípios.5 Embora esse dispositivo constitucional utilize a expressão “objetivos”, na verdade, estão enumerados ali verdadeiros princípios constitucionais; tanto é assim que a Lei 8.212/91, art. Io» parágrafo único, denomina-os de “princípios e diretrizes”.

Os princípios constitucionais da seguridade social são os se­guintes:

2.1. Universalidade da cobertura e do atendimento (CF, art. 194, parágrafo único, I)

Por universalidade da cobertura entende-se que a proteção social deve alcançar todos os riscos sociais que possam gerar o estado de necessidade. Riscos sociais são os infortúnios da vida (doenças, aci­dentes, velhice, invalidez etc.), aos quais qualquer pessoa está sujeita.

A universalidade do atendimento tem por objetivo tornar a seguridade social acessível a todas as pessoas residentes no país, inclusive estrangeiras.

Com relação à saúde, esse princípio é aplicado sem nenhuma restrição. No tocante à assistência social, será aplicado para todas aquelas pessoas que necessitem de suas prestações. E no tocante à previdência social, por ter caráter contributivo, todos, desde que contribuam para o sistema, podem participar. Para atender a esse

5 Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos:I - universalidade da cobertura e do atendimento;II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;V - equidade na forma de participação no custeio;Ví - diversidade da base de financiamento;VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão qua- dripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados.

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Seguridade Social

princípio constitucional, foi criada, no regime geral de previdência social, a figura do segurado facultativo. Assim, todos, mesmo que não exerçam atividade remunerada, têm a cobertura previdenciária; para tanto, é necessário contribuir para o sistema previdenciário.

2.2. Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços entre as populações urbanas e rurais (CF, art. 194, parágrafo único, II)

Esse princípio vem corrigir defeitos da legislação previdenciária rural que sempre discriminava o trabalhador rural.

A uniformidade diz respeito às contingências que irão ser co­bertas. A equivalência refere-se ao aspecto pecuniário dos benefícios ou à qualidade dos serviços, que não serão necessariamente iguais, mas equivalentes.6

Quando se fala em uniformidade, eqüivale dizer, portanto, que as mesmas contingências (morte, velhice, maternidade etc.) serão cober­tas tanto para os trabalhadores urbanos como para os rurais. Como exemplo de equivalência, o valor mensal dos benefícios previdenciários que substituam o rendimento do trabalho do segurado (urbano ou rural) nunca será inferior a um salário mínimo (CF, art. 201, § 2o).7

2.3. Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços (CF, art. 194, parágrafo único, III)

A seletividade atua na delimitação do rol de prestações, ou seja, na escolha dos benefícios e serviços a serem mantidos pela seguridade social, enquanto a distributividade direciona a atuação do sistema protetivo para as pessoas com maior necessidade, definindo o grau de proteção.8 Os benefícios da assistência social, por exemplo, serão concedidos apenas aos “necessitados”; os benefícios salário-família e o auxílio-reclusão só serão concedidos aos beneficiários de baixa renda (atualmente, para aqueles que tenham renda mensal inferior ou igual a R$ 798,30)9.

6 MARTINS. Sérgio Pínto. Op. crt, pp. 77-78.7 § 2 o Nenhúm benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo.8 BALERA, Wagner. Noções Preliminares de Direito Previdenciário. São Paulo: Quar- tier Latin, 2004, p. 87.9 Valor atualizado, a partir de 1°/01/2010, pela Portaria MPS/MFn° 350, de30/12/2009.

11 Capítulo 1

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Resumo de Direito Previdenciário

Assim, compete ao legislador - com base em critérios equita- tivos de solidariedade e justiça social e segundo as possibilidades econômico-financeiras do sistema - definir quais benefícios serão concedidos a determinados grupos de pessoas, em razão de especi- ficidades que as particularizem.

Como se observa, esse princípio procura amenizar os efeitos do princípio da universalidade. Destarte, os princípios da univer­salidade e da seletividade devem ser aplicados de forma harmônica e equilibrada.

2.4. Irredutibilidade do valor dos benefícios (CF, art. 194, pará­grafo único, IV)

De acordo com este princípio, o benefício legalmente concedido (pela Previdência Social ou pela Assistência Social) não pode ter seu valor nominal reduzido.

Em relação aos benefícios previdenciários, o $ 4o do art. 201 da Constituição Federal, assegura “o reajustamento dos benefícios para preserva-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios definidos em lei”.

Assim, em relação aos benefícios previdenciários, o princípio da irredutibilidade (CF, art. 194, parágrafo único, IV) é garantia contra a redução do valor nominal, e o § 4o do art. 201 da Carta Magna assegura o reajustamento para preservar o valor real. Mas estes dois dispositivos constitucionais têm significados distintos, não devendo ser confundidos. O primeiro é o princípio da irredutibilidade, aplicado à seguridade social (engloba benefícios da previdência e da assistên­cia social). O segundo é o princípio da preservação do valor real dos benefícios, aplicado somente à previdência social. O princípio da ir­redutibilidade, por si só, não assegura reajustamento de benefícios. O que assegura o reajustamento dos benefícios do RGPS, de acordo com critérios definidos em lei ordinária, é o princípio da preservação do valor real dos benefícios, previsto no § 4o do art. 201 da Constituição.

2.5. Equidade na forma de participação no custeio (CF, art. 194, parágrafo único, V)

Esse princípio é um desdobramento do princípio da igualdade (CF/88, art. 5o) que consiste em tratar igualmente os iguais e desi­

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Seguridade Social

gualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades. Tratar com igualdade os desiguais seria aprofundar as desigualdades; não é esse o objetivo da seguridade social.

Em relação ao custeio da seguridade social, significa dizer que quem tem maior capacidade econômica irá contribuir com mais; quem tem menor capacidade contribuirá com menos.

Seguindo essa orientação, o § 9o do art. 195 da CF (na redação dada pela EC 47, de 5/7/2005) dispõe que as contribuições para a seguridade social a cargo das empresas poderão ter alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão de obra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho.

A Lei n° 8.212/91 prevê alguns exemplos de equidade: as con­tribuições das empresas têm alíquotas maiores que a dos segurados; as instituições financeiras contribuem para a seguridade social com alíquotas mais elevadas do que as empresas em geral; já as microempresas e empresas de pequeno porte contribuem de forma mais simplificada e favorecida (Lei Complementar n° 123/2006); os segurados empregados, trabalhadores avulsos e empregados domés­ticos têm alíquotas progressivas (8%, 9% ou 11%) - quanto maior a remuneração maior será a alíquota.

Apesar de existir na legislação previdenciária alguns exemplos de eqüidade na forma de participação no custeio da seguridade social, este princípio constitucional não é uma norma de eficácia plena. Trata-se de uma norma programática: é uma meta a ser alcançada, e não uma regra concreta.

2.6. Diversidade da base de financiamento (CF, art. 194, parágra­fo único, VI)

A seguridade social tem diversas fontes de custeio; assim, há maior segurança para o sistema: em caso de dificuldade na arrecadação de determinadas contribuições, haverá outras para lhes suprir a falta.

De acordo com o caput do art. 195 da Constituição Federal, a seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:

13 Capítulo 1

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Resumo de Direito Previdenciário

I - Do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparadana forma da lei, incidentes sobre:a) A folha de salários e demais rendimentos do trabalho

pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;

b) A receita ou o faturamento;c) O lucro;

II - Do trabalhador e dos demais segurados da previdênciasocial, não incidindo contribuição sobre aposentadoria epensão concedidas pelo regime geral de previdência social;

III - Sobre a receita de concursos de prognósticos.IV - Do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem

a lei a ele equiparar.

O § 4o do art. 195 da Constituição Federal ainda prevê que, me­diante lei complementar, outras contribuições possam ser instituídas para garantir a manutenção ou expansão da seguridade social.

2.7. Caráter democrático e descentralizado da administração - gestão quadripartite (CF, art. 194, parágrafo único, VII)

Nos termos do art. 10 da Constituição Federal, “é assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgão públicos em que seus interesses profissionais ou previdenci­ários sejam objeto de discussão e deliberação”. Em harmonia com esse dispositivo constitucional, a CF, art. 194, parágrafo único, VII, assegura, para a seguridade social, “caráter democrático e descen­tralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgão colegiados”.

De acordo com este princípio, a gestão dos recursos, progra­mas, planos, serviços e ações, nas três áreas da seguridade social, em todas as esferas de poder, deve ser realizada mediante discussão com a sociedade.

Podemos citar como exemplo da materialização desse princípio a criação do Conselho Nacional de Previdência Social (Lei n° 8.213/91, art. 3o); do Conselho Nacional de Assistência Social (Lei n° 8.742/93, art. 17); e do Conselho Nacional de Saúde (Lei n° 8.080/90). ■

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Capítulo 2

Regime Geral de Previdência Social

X. Introdução

O Regime Geral de Previdência Social (RGPS) é o regime de previdência mais amplo, responsável pela cobertura da maioria dos trabalhadores brasileiros. Toda pessoa física que exerça alguma atividade remunerada é, obrigatoriamente, filiada a este regime previdenciário, exceto se esta atividade já gera filiação obrigatória a determinado regime próprio de previdência.

2. Beneficiários do Regime Geral de Previdência SocialBeneficiários são os titulares do direito subjetivo de gozar das

prestações previdenciárias. Ou seja, é toda pessoa física que recebe ou possa vir a receber alguma prestação previdenciária (benefício ou ser­viço). É o gênero do qual são espécies os segurados e os dependentes.

Assim, não pode o beneficiário (segurado ou dependente) ser pessoa jurídica. Beneficiário é sempre pessoa física. A pessoa jurídica será contribuinte, pois, nos termos da lei, pagará certa contribuição à seguridade social.

Segurado é a pessoa física filiada ao RGPS, podendo ser classifica­do como segurado obrigatório ou facultativo, dependendo se a filiação for decorrente do exercício de atividade laborai remunerada, ou não.

O dependente está vinculado ao RGPS em razão do seu vínculo com o segurado. A partir do momento em que o segurado deixa de manter qualquer relação com o RGPS (por exemplo: perda da qualidade de segurado), o dependente deixa de estar sob o manto da proteção previdenciária.10

Uma mesma pessoa física pode assumir, ao mesmo tempo, a condição de segurado e de dependente da previdência social. É o que ocorre, por exemplo, quando ambos os cônjuges exercem atividade remunerada abrangidas pelo RGPS: cada um dos cônjuges é segurado

10 DUARTE, Marina Vasques. Direito Previdenciário. 3a. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2004. p. 27.

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Resumo de Direito Previdenciário

em razão da atividade remunerada que exerce e é dependente em razão do vínculo conjugal.

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Regime Geral de Previdência Social

2.1. Segurados obrigatórios

Segurados obrigatórios são aqueles que a filiação ao RGPS não de­pende de suas vontades: a lei é que os obriga a se filiarem. Há as seguintes espécies de segurados obrigatórios: empregado, empregado doméstico, contribuinte individual, trabalhador avulso e segurado especial.

2.1il. Segurado empregadoA Legislação Previdenciária define o segurado empregado utili­

zando, a princípio, uma definição genérica, enquadrando-o inicial­mente conforme conceito semelhante ao da Legislação Trabalhista (art. 3o da CLT), para, a seguir, especificar situações casuísticas em relação às quais a previdência confere o mesmo efeito jurídico.11

Assim, de acordo com a Lei n° 8.212/91, art. 12,1, e com a Lei n° 8.213/91, art. 11,1, filia-se obrigatoriamente ao RGPS, na qualidade de segurado empregado:

I - Aquele que presta serviço de natureza urbana ou rural à empresa, em caráter não eventual, sob sua subordinação e mediante remuneração, inclusive como diretor empregado.

Trata-se de conceito semelhante ao da legislação trabalhista (art. 3o da CLT), com a inclusão do rurícola. Para fins previdenciários, não: há distinção entre o empregado urbano ou rural. Tal distinção existia antes da Constituição de 1988.12

: Serviço prestado em caráter não eventual é entendido como aquele relacionado direta ou indiretamente com as atividades nor­mais da empresa (RPS, art. 9o, § 4o). Assim, um encanador, contratado por uma instituição financeira, para consertar um cano que estourou, presta um serviço eventual, pois esse tipo de serviço não está rela­cionado de forma direta nem indireta com as atividades normais da empresa contratante. Nesse caso, trata-se de uma atividade ocasional.

Subordinação significa o trabalhador estar sujeito ao poder de direção do empregador. O empregado se sujeita a receber ordens do empregador, a ser comandado pelo empregador.

11 TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. 6a. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004. p. 57.12 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Op. cit., p. 133.

17 Capítulo 2

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Se os serviços prestados pelo trabalhador são eventuais, este não é empregado, mas sim trabalhador eventual. Se não houver a subor­dinação, o trabalhador também não será considerado empregado, e sim trabalhador autônomo. Tanto o trabalhador eventual como o autônomo também são segurados obrigatórios do RGPS, porém como contribuintes individuais.

O empregado presta serviço mediante remuneração. O emprega­do tem o dever de prestar os serviços e o empregador, em contrapar­tida, deve pagar a remuneração em retribuição aos serviços prestados. Assim, o empregado não é um prestador de serviço voluntário.

O salário é um dos pressupostos da relação de emprego (CLT, arts. 2o e 3o). Assim, sem salário, o contrato que tenha por objeto uma prestação pessoal de serviços jamais poderá ser classificado como de emprego.

De acordo com art. Io da Lei 9.608/98, serviço voluntário é a atividade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza, ou a instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive mutuali- dade. Esse tipo de serviço será exercido mediante a celebração de termo de adesão entre a entidade, pública e privada, e o prestador do serviço voluntário, dele devendo constar o objeto e as condições de seu exercício (art. 2o da Lei 9.608/98). O serviço voluntário não gera vínculo empregatício, nem obrigação de natureza trabalhista, previdenciária ou afim (parágrafo único do art. Io da Lei 9.608/98).

Voluntário é, por exemplo, o serviço prestado com finalidade altruística ou religiosa ou, ainda, com o objetivo de aprimorar co­nhecimentos científicos: o prestador de serviços não é remunerado pela entidade a quem os presta, inexistindo entre ambos relação de emprego13.

O trabalhador voluntário não é segurado obrigatório do RGPS, podendo, se assim desejar, ser segurado facultativo.

O dispositivo legal aqui comentado também faz referência ao diretor empregado. Os diretores das sociedades anônimas podem ser: diretor empregado ou diretor não empregado. Ambos são se­13 SÜSSEKIND, Arnaldo, Curso de Direito do Trabalho. 2a. ed. Rio de Janeiro: Reno­var, 2004. p. 412.

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Regime Gerai de Previdência Social

gurados obrigatórios do RGPS, sendo que o diretor empregado é segurado empregado (Lei n° 8.213/91, art. 11,1, "a”) e o diretor não empregado é contribuinte individual (Lei n° 8.213/91, art. 11, V, “f ”). O Regulamento da Previdência Social diferencia um do outro, nos seguintes termos:

Diretor empregado: aquele que, participando ou não do risco econômico do empreendimento, seja contratado ou promovido para cargo de direção das sociedades anônimas, mantendo as caracterís­ticas inerentes à relação de emprego (RPS, art. 9 o, § 2o).

Diretor não empregado: aquele que, participando ou não do risco econômico do empreendimento, seja eleito, por assembleia geral dos acionistas, para cargo de direção das sociedades anônimas, não mantendo as características inerentes à relação de emprego (RPS, art. 9o § 3o).

II - Aquele que, contratado por empresa de trabalho temporário, definida em legislação específica, presta serviço para atender a necessidade transitória de substituição de pessoal regular e permanente ou a acréscimo extraordinário de serviços de outras empresas;

Trata este dispositivo do trabalhador temporário, regido pela Lei n° 6.019/74. O trabalhador temporário presta serviço à empresa de trabalho temporário, cuja atividade consiste em colocar à disposição de outras empresas, temporariamente, trabalhadores devidamente qualificados. Assim, ocorre uma operação triangular, em virtude da qual a empresa contratada fornece pessoal para trabalhar sob o poder de comando da empresa contratante.

O trabalho temporário é utilizado apenas em duas situações: para atender à necessidade transitória de substituição de pessoal regular e permanente ou a acréscimo extraordinário de serviços. Substituição de pessoal é o caso, por exemplo, em que a empresa contrata, por intermédio da empresa de trabalho temporário, um trabalhador temporário para substituir uma pessoa que está em férias ou que ficou doente. Acréscimo extraordinário de serviço ocorre, por exemplo, quando uma empresa comercial, durante as festas de Natal e Ano Novo, em razão do aumento de suas vendas, contrata trabalhadores temporários.

19 Capítulo 2

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Resumo de Direito Previdenciário

O contrato entre a empresa de trabalho temporário e a empresa tomador a ou cliente, com relação a um mesmo empregado, não po­derá exceder de três meses, salvo autorização conferida pelo órgão local do Ministério do Trabalho (Lei n° 6.019/74, art. 10). O Ministé­rio do Trabalho expediu Instrução Normativa regulamentando esse dispositivo, estabelecendo a possibilidade de prorrogação automática desse tipo de contrato. A duração total do pacto, entretanto, incluída a prorrogação, ficou limitada a seis meses (Instrução Normativa n°3, de 29/8/97).

III - O brasileiro ou o estrangeiro domiciliado e contratadono Brasil para trabalhar como empregado em sucursal ou agência de empresa nacional no exterior.

Por exemplo: Rosana, pessoa física domiciliada no Brasil, foi contratada, no Brasil, por uma empresa brasileira denominada Banco Alfa S/A, para trabalhar como empregada, em uma agência bancária situada na Argentina e pertencente ao referido Banco. Nessa situação, Rosana é segurada empregada do RGPS.

IV - Aquele que presta serviço no Brasil a missão diplomáticaou a repartição consular de carreira estrangeira e a órgãos a elas subordinados, ou a membros dessas missões e re­partições, excluídos o não brasileiro sem residência per­manente no Brasil e o brasileiro amparado pela legislação previdenciária do país da respectiva missão diplomática ou repartição consular.

Exemplo: João é empregado do Consulado dos Estados Unidos, em funcionamento na cidade do Recife. Nessa situação João pode ou não ser segurado empregado do RGPS. Se João for estrangeiro, sem residência permanente no Brasil, está excluído do RGPS; se João for brasileiro, mas estiver amparado por um regime de previdência dos Estados Unidos, também está excluído do RGPS. No entanto, se João for brasileiro e não for amparado por regime de previdência dos Estados Unidos, então será segurado empregado do RGPS; se João for estrangeiro, com residência permanente no Brasil, e não for amparado por regime de previdência dos Estados Unidos, então, nessa situação João também será segurado empregado do RGPS.

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Regime Geral de Previdência Social

V - O brasileiro civil que trabalha para a União, no exterior,em organismos oficiais brasileiros ou internacionais dos quais o Brasil seja membro efetivo, ainda que lá domicilia­do e contratado, salvo se segurado na forma da legislação vigente do país do domicílio.

Aqui temos duas situações: (a) a primeira trata do brasileiro civil que trabalha para a União, no exterior, em organismos oficiais brasileiros, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo se segurado na forma da legislação vigente do país do domicílio; e (b) a segun­da situação trata do brasileiro civil que trabalha para a União, no exterior, em organismos oficiais internacionais dos quais o Brasil seja membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo se segurado na forma da legislação vigente do país do domicílio.

. Exemplo da primeira situação: Lucas, brasileiro domiciliado em Paris, foi contratado, na França, pela União (Governo Federal brasileiro) para trabalhar na embaixada brasileira em funcionamento naquele País. Nessa situação, Lucas é segurado empregado do RGPS, salvo te segurado na forma da legislação francesa.

Na segunda situação, para ser segurado empregado é neces­sário que o trabalhador trabalhe, no exterior, para a União, em organismos oficiais internacionais dos quais o Brasil seja membro efetivo (exemplo: ONU, OIT etc.). Se o obreiro trabalhar dire­tamente para o organismo oficial internacional, nessas mesmas condições, também será segurado obrigatório do RGPS, porém, na categoria de contribuinte individual (Lei n° 8.213/91, art. 11, V, “ eM). Assim, a diferença reside no contratante do serviço: quando o brasileiro civil é contratado pela União, para prestação do ser­viço em organismo oficial internacional, é segurado empregado; quando trabalha para o próprio organismo oficial internacional, é contribuinte individual.

O dispositivo exclui o brasileiro militar, pois este tem regime próprio de previdência.

VI - O brasileiro ou estrangeiro domiciliado e contratado noBrasil para trabalhar como empregado em empresa domi­ciliada no exterior, cuja maioria do capital votante pertença a empresa brasileira de capital nacional.

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Resumo de Direito Previdenciário

Por exemplo: Beta S.A. é uma empresa brasileira que detém a maioria do capital votante da empresa Alfa S.A., que é domiciliada na Argentina. Pablo, boliviano domiciliado no Brasil, foi contratado no Brasil para trabalhar na Argentina como empregado da empresa Alfa S.A. Nessa situação, Pablo é segurado obrigatório do RGPS, na qualidade de empregado. :

Domicílio da pessoa jurídica é o lugar onde funciona sua respec­tiva diretoria e administração. Domicílio da pessoa física é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo.

VII - O servidor da União, Estado, Distrito Federal ou Muni­cípio, incluídas suas autarquias e fundações, ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração (RPS, art. 9o. I, i).

Este dispositivo cuida do servidor que exerce, de modo exclusivo, cargo em comissão, sem ocupar cargo efetivo que o vincule a regime próprio de previdência social. Se, porventura, um servidor ocupan­te de cargo efetivo, amparado por regime próprio de previdência, ocupar um cargo em comissão, mesmo que seja em outra esfera de governo, permanecerá vinculado ao regime próprio de origem e, por conseguinte, excluído do RGPS.

O disposto neste item também se aplica ao ocupante de cargo de Ministro de Estado, de Secretário Estadual, Distrital ou Municipal, sem vínculo efetivo com a União, Estados, Distrito Federal e Muni­cípios, suas autarquias, ainda que em regime especial, e fundações (RPS, art. 9o, § 16).

VIII - O servidor do Estado, Distrito Federal ou Município, bemcomo o das respectivas autarquias e fundações, ocupante de cargo efetivo, desde que, nessa qualidade, não esteja amparado por regime próprio de previdência social (RPS, art. 9o. I, j).

Os únicos servidores públicos civis que podem ser amparados por regime próprio de previdência são os ocupantes de cargo efetivo. No entanto, os Entes Federativos (Estado, DF ou Município) não estão obrigados a criar regime próprio para amparar esses servidores. Caso o Ente Federativo não institua, mediante lei, tal regime previdenci-

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Regime Gerai de Previdência Sociai

ário, os ocupantes de cargo efetivo serão segurados obrigatórios do RGPS, na qualidade de segurados empregados.

O dispositivo não faz referência aos servidores ocupantes de cargo efetivo da União porque eles são amparados por regime próprio de previdência e, desse modo, excluídos do RGPS.

DC - O servidor contratado pela União, Estado, Distrito Federal ou Município, bem como pelas respectivas autarquias e fun­dações, por tempo determinado, para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público, nos termos do inciso DC do art. 37 da Constituição Federal (RPS, art. 9o. 1,1).

O inciso IX do art. 37 da Constituição dispõe que “a lei estabe­lecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público”. A Lei 8.745/93 traça os critérios para a realização dessas contratações.

O servidor contratado por tempo determinado, independen­temente da esfera de governo onde trabalhe (União, Estado, DF ou Município), é segurado obrigatório do RGPS, na qualidade de segurado empregado.

X - O servidor da União, Estado, Distrito Federal ou Município, incluídas suas autarquias e fundações, ocupante de emprego público (RPS, art. 9o. I, m).

O regime de emprego público é disciplinado pela Lei 9.962/2000. O art. Io dessa Lei prevê que esses servidores serão regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e o art. 2o dispõe que a contratação desse pessoal deverá ser precedida de concurso público de provas ou de provas e títulos, conforme a natureza e a complexi­dade do emprego.

A estabilidade, após três anos de efetivo exercício, prevista no art. 41 da Constituição Federal, não se aplica ao servidor ocupante de emprego público, mas somente ao ocupante de cargo efetivo.

O servidor ocupante de emprego público, independentemente da esfera de governo onde trabalhe (União, Estado, DF ou Muni­cípio), é segurado obrigatório do RGPS, na qualidade de segurado empregado.

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Resumo de Direito Previdenciário

XI - O empregado de organismo oficial internacional ou estran­geiro em funcionamento no Brasil, salvo quando coberto por regime próprio de previdência social.

Por exemplo: as organizações internacionais como a Organi­zação das Nações Unidas (ONU) ou a Organização Internacional do Trabalho (OIT), que contratam empregados para trabalhar em suas repartições em funcionamento no Brasil. Nessa situação, esses trabalhadores são segurados obrigatórios do RGPS, na categoria de segurado empregado. Porém, se forem amparados por regime próprio de previdência social, estarão excluídos do RGPS.

X III - O exercente de mandato eletivo federal, estadual ou municipal, desde que não vinculado a regime próprio de previdência social.

Exercentes de mandato eletivo são: vereador, prefeito, deputado estadual, deputado distrital (no caso do DF), governador, deputado federal, senador e presidente da República.

Esses mandatários são, em regra, segurados obrigatórios do RGPS, na categoria de segurado empregado. No entanto, se um ser­vidor público amparado por regime próprio de previdência for eleito para exercer um desses mandatos, nessa situação, continuará vincu­lado ao regime próprio de origem e, desse modo, excluído do RGPS.

Uma atenção especial deve ser dada à situação previdenciá­ria dos vereadores. Isso porque há o permissivo constitucional da acumulação de subsídios do mandato eletivo com a remuneração do cargo efetivo, desde que haja compatibilidade de horários (CF, art. 38, III). Se o vereador não tiver nenhum vínculo efetivo com o serviço público, filia-se somente ao RGPS. Contudo, se ele exercer, concomitantemente, mandato eletivo e cargo efetivo em ente fe­derativo que possui RPPS, filia-se ao RGPS, pelo mandato eletivo, e ao RPPS, pelo cargo efetivo. Mas se o ente federativo no qual ele exerce o cargo efetivo não possuir RPPS, o servidor/vereador será filiado ao RGPS em relação a ambas as atividades exercidas (Lei n° 8.213/91, art. 11, § 2o).

Não havendo compatibilidade de horários, para exercer a ve~ reança, o servidor terá que se afastar do cargo, sendo-lhe facultado

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optar pela sua remuneração (CF, art. 38, II e III). Neste caso, se o ente federativo onde ele exerce o cargo efetivo possuir RPPS, inde­pendentemente de ter ou não optado pela remuneração do cargo, o servidor/vereador continuará vinculado somente ao RPPS de origem. Neste mesmo caso, se o ente federativo não possuir RPPS, o servidor/ vereador filia-se somente ao RGPS.

2.1.2. Segurado empregado domésticoÉ aquele que presta serviço de natureza contínua, mediante

remuneração, a pessoa ou família, no âmbito residencial desta, em atividade sem fins lucrativos (RPS, art, 9o, II).

Atividade sem fins lucrativos e continuidade do serviço são pres­supostos do emprego doméstico. Se um empregado doméstico passa a ser utilizado em atividade geradora de lucro para o empregador, passa a ser considerado segurado empregado. Já se a prestação do serviço doméstico for eventual (é o caso da diarista), o trabalhador também não será empregado doméstico, mas sim contribuinte individual.

Por exemplo, caso a dona de casa determine à sua doméstica que a auxilie na confecção de doces e salgados para vendas, esta segurada deixará de ser enquadrada como doméstica e passará a ser segurada empregada. A sua patroa, por conseguinte, será equiparada à empresa perante a previdência e não empregadora doméstica.

Outro pressuposto do emprego doméstico é que o serviço seja prestado a uma pessoa física ou a uma família. Assim, quando o serviço é prestado a uma pessoa jurídica, não há o que se falar em empregado doméstico.

O local onde o serviço é prestado também assume importância. Para o trabalhador ser considerado empregado doméstico é necessá­rio que o serviço seja prestado no ambiente familiar do empregador. Se este vier a utilizar seu empregado doméstico fora do ambiente familiar, o trabalhador assumirá a condição de segurado empregado.

Note-se, porém, que o âmbito residencial não se restringe ao ambiente interno da casa da família, podendo se estender até às ati­vidades externas, desde que direcionadas ao bem-estar da família, como, por exemplo, o motorista particular. O âmbito residencial também alcança o imóvel onde o patrão e sua família passam tem­

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Resumo de Direito Previdenciário

porada ou fins de semana (p. ex.: casa de campo). Assim, é doméstico e não rurícola o empregado que presta serviço em sítio destinado ao lazer do seu proprietário e no qual não se empreéhde atividade com fins lucrativos14.

2.1.3. Segurado trabalhador avulso

É aquele que, sindicalizado ou não, presta serviços de natureza urbana ou rural, sem vínculo empregatício, a diversas empresas, com a intermediação obrigatória do sindicato da categoria ou, quando se tratar de atividade portuária, do órgão gestor de mão de obra (OGMO).

O aspecto mais importante na caracterização deste segurado é a intermediação obrigatória do sindicato da categoria ou do OGMO.

Na atividade portuária, quem faz a intermediação é o OGMO; nas demais atividades, a intermediação será feita pelo sindicato da categoria profissional.

Assim, o sindicato ou o OGMO interpõe-se entre o trabalhador avulso e o requisitante do serviço, organizando a prestação laborati- va, negociando preço, recrutando trabalhadores e repassando a cota correspondente a cada obreiro.15

Embora haja a intermediação obrigatória do sindicato ou do OGMO, para ser trabalhador avulso, não é obrigado que o obreiro seja sindicalizado. O sindicato pode intermediar a prestação de serviços de trabalhadores avulsos que não sejam sindicalizados. De acordo com o art. 8o, V, da Constituição Federal, “ninguém será obrigado a filiar-se ou manter-se filiado a sindicato”.

Se o trabalhador prestar serviço, sem vínculo empregatício, a diversas empresas, sem a intermediação do sindicato ou do OGMO, não será considerado trabalhador avulso. Nesta hipótese, será con­siderado contribuinte individual.

O trabalhador avulso presta serviço sem vínculo de emprego, pois não há subordinação nem com o sindicato ou OGMO, muito menos com as empresas para as quais presta serviços, dada inclusive a curta duração.16

14 SÜSSEKIND, Arnaido. Op. cit. p. 156.15 TAVARES, Marcelo Leonardo. Op. cit., p.64.16 MARTINS. Sérgio Pinto. Op. cit., p. 114.

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Regime Gerai de Previdência Social

Os serviços prestados pelo trabalhador avulso podem ter natureza urbana ou rural. Assim, tanto pode ser um carregador de bagagem em porto que, sem víníjalo empregatício, presta serviços por intermédio do OGMO; como um trabalhador rural que presta serviços, sem vínculo empregatício, por intermédio do sindicato dos trabalhadores rurais, fazendo carga e descarga de produtos na fazenda.

São considerados trabalhadores avulsos:I - O trabalhador que exerce atividade portuária de capata-

zia, estiva, conferência e conserto de carga, vigilância deembarcação e bloco.

II - O trabalhador de estiva de mercadorias de qualquer na­tureza, inclusive carvão e minério;

III - O trabalhador em alvarenga (embarcação para carga edescarga de navios);

IV - O amarrador de embarcação;V - O ensacador de café, cacau, sal e similares;VI - O trabalhador na indústria dê extração de sal;VII - O carregador de bagagem em porto;VIII - O prático de barra em porto;IX - O guindasteiro; eX - O classificador, o movimentador e o empacotador de

mercadorias em portos.

2.1.4. Segurado especial

Os trabalhadores que são considerados como segurados especiais estão definidos no próprio texto constitucional. O $ 8o do art. 195 da Constituição Federal determina um tratamento diferenciado a ser dado a estes trabalhadores, nos seguintes termos:

“§ 8o O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados permanentes, contribuirão para a seguridade social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da produção efarãoju s aos benefícios nos termos da lei *

27 Capítulo 2

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Resumo de Direito Previdenciário

O inciso VII do art. 11 da Lei n° 8.213/91 define o segurado especial na forma esquematizada no quadro a seguir:

2.1.4.1. Regime de economia familiarPara que o produtor rural e o pescador artesanal sejam conside­

rados segurados especiais, é necessário que exerçam suas respectivas atividades individualmente ou em regime de economia familiar.

Entende-se como regime de economia familiar a atividade em que o trabalho dos membros da família é indispensável à própria sub­sistência e ao desenvolvimento socioeconômico do núcleo familiar e é exercido em condições de mútua dependência e colaboração, sem a utilização de empregados permanentes (Lei n° 8.213/91, art. 11, § Io).

O grupo familiar poderá utilizar-se de empregados contratados por pequeno prazo ou de trabalhadores eventuais, em épocas de sa­fra, à razão de, no máximo, 120 pessoas/dia dentro do ano civil, em períodos corridos ou intercalados ou, ainda, por tempo equivalente em horas de trabalho, à razão de 8 horas/dia e 44 horas/semana

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Regime Geral de Previdência Social

(Lei n° 8.213/91, art. 11, § 7o). Esta relação pessoas/dia significa o seguinte: o segurado especial poderá, por exemplo, contratar dois empregados e mantê-los por até 60 dias. Se contratar 4 empregados, poderá mantê-los por 30 dias, e assim por diante. Contratando uma quantidade de empregados superior ao limite estabelecido, o produtor rural torna-se contribuinte individual.

A duração do contrato de emprego rural por pequeno prazo será de, no máximo, dois meses dentro do período de um ano. A contrata­ção de trabalhador rural por pequeno prazo que, dentro do período de í (um) ano, superar 2 (dois) meses fica convertida em contrato de trabalho por prazo indeterminado (Lei n° 5.889/73, art. 14-A, § Io).

2.1.4.2. Local da residência do segurado especialUma das condições necessárias para que a pessoa física possa

enquadrar-se como segurado especial é que seja residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele.

Considera-se que o segurado especial reside em aglomerado urbano ou rural próximo ao imóvel rural onde desenvolve a ativida­de quando resida no mesmo município de situação do imóvel onde desenvolve a atividade rural, ou em município contíguo ao em que desenvolve a atividade rural (RPS, art. 9o, § 20).

2.1.4.3. Produtor rural0 produtor rural que exerce atividade agropecuária (agricultura

ou pecuária) somente será considerado segurado especial se a área da propriedade for de no máximo 4 módulos fiscais (o módulo fiscal varia de um Município para outro). Se superior a isso, o produtor rural torna-se contribuinte individual.

Exercendo o produtor rural a atividade de seringueiro ou extrativista vegetal, não existe limitação de área para que ele seja considerado segurado especial.

Para efeito da caracterização do segurado especial, entende-se por:

1 - Proprietário - aquele que tem a faculdade de usar, gozare dispor do imóvel rural, e o direito de reavê-lo do poder de quem quer que injustamente o possua ou detenha (CC, art. 1.228).

29 Capítulo 2

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Resumo de Direito Previdenciário

II - Usufrutuário - aquele que, não sendo proprietário deimóvel rural, tem direito à posse, ao uso, à administração ou à percepção dos frutos, podendo usufruir o bem em pessoa ou mediante contrato de arrendamento, comodato, parceria ou meação.

III - Possuidor - aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não,de algum dos poderes inerentes à propriedade de imóvel rural (CC, art. 1.196). É, assim, aquele que possui o imóvel rural como seu, não em nome de outrem.

IV - Assentado - é o beneficiário do programa de reforma agrária.V - Parceiro outorgado: aquele que tem contrato, escrito ou

verbal, de parceria com o proprietário da terra ou detentor da posse e desenvolve atividade agrícola, pastoril ou hor- tifrutigranjeira, partilhando lucros ou prejuízos.

VI - Meeiro outorgado - aquele que tem contrato, escrito ouverbal, com o proprietário da terra ou detentor da posse e da mesma forma exerce atividade agrícola, pastoril ou hortifrutigranjeira, partilhando rendimentos ou custos.

A diferença entre o parceiro e o meeiro é que o primeiro au­fere lucros e o segundo rendimentos, dividindo-os com o proprietário da terra. Lucro é o resultado positivo obtido no exercício, ou seja, as receitas menos as despesas. Rendimento é tudo o que foi recebido, vale dizer, o faturamento total.

VII - Comodatário - aquele que, por meio de contrato, escrito ouverbal, explora a terra pertencente à outra pessoa, por emprés­timo gratuito, por tempo determinado ou não, para desen­volver atividade agrícola, pastoril ou hortifrutigranjeira.

VIII - Arrendatário - aquele que, comprovadamente, utiliza aterra, mediante pagamento de aluguel, em espécie ou in natura, ao proprietário do imóvel rural, para desenvolver atividade agrícola, pastoril ou hortifrutigranjeira, indivi­dualmente ou em regime de economia familiar.

2.1.4.4. Pescador artesanal

Considera-se pescador artesanal aquele que, individualmente ou em regime de economia familiar, faz da pesca sua profissão habitual

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Regime Geral de Previdência Social

ou meio principal de vida, desde que não utilize embarcação; ou utilize embarcação de até seis toneladas de arqueação bruta, ainda que com auxílio de parceiro; ou, na condição exclusiva de parceiro outorgado, utilize embarcação de até dez toneladas de arqueação bruta, (RPS, art. 9 o, § 14). Se a embarcação exceder os limites esta­belecidos, o pescador torna-se contribuinte individual.

2.1.4.5. Cônjuge, companheiro e filho maior de 16 anos de idadeNão é somente o chefe da família que é considerado segurado

especial, mas também o seu cônjuge ou companheira e seus filhos maiores de 16 anos de idade ou a eles equiparados que, comprova- damente, trabalhem com o grupo familiar respectivo.

Para serem considerados segurados especiais, o cônjuge ou companheiro e os filhos maiores de 16 anos ou os a estes equiparados deverão ter participação ativa nas atividades rurais do grupo familiar (Lei n° 8.213/91, art. 11, § 6o).

2.1.4.6. Não descaracterização da condição de segurado especialDe acordo com o art. 11, § 8o, da Lei n° 8,213/91, não descarac­

teriza a condição de segurado especial:

I - A outorga, por meio de contrato escrito de parceria, meaçãoou comodato, de até 50% de imóvel rural cuja área total não seja superior a 4 módulos fiscais, desde que outorgante e outorgado continuem a exercer a respectiva atividade, individualmente-ou em regime de economia familiar;

II - A exploração da atividade turística da propriedaderural, inclusive com hospedagem, por não mais de 120 dias ao ano;

III - A participação em plano de previdência complementarinstituído por entidade classista a que seja associado em razão da condição de trabalhador rural ou de produtor rural em regime de economia familiar; e

IV - Ser beneficiário ou fazer parte de grupo familiar que temalgum componente que seja beneficiário de programa assistencial oficial de governo;

31 Capítulo 2

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Resumo de Direito Previdenciário

V - A utilização pelo próprio grupo familiar, na exploração daatividade, de processo de beneficiamento ou industrializa­ção artesanal; e

VI - A associação em cooperativa agropecuária.

Considera-se processo de beneficiamento ou industrialização artesanal aquele realizado diretamente pelo próprio produtor rural pessoa física, desde que não esteja sujeito à incidência do Imposto Sobre Produtos Industrializados - IPI (Lei n° 8.212/91, art. 25, § 11).

Em regra, nos contratos de parceria ou meação, somente o ou­torgado (quando exerce a atividade individualmente ou em regime de economia familiar) é segurado especial. Todavia, à luz do art.11, § 8o, I, da Lei n° 8.213/91, também será considerado segurado especial o outorgante que tenha imóvel rural com área total de, no máximo, quatro módulos fiscais, que ceder em parceria, meação ou comodato até 50% do imóvel rural, desde que outorgante e outorgado continuem a exercer a atividade individualmente ou em regime de economia familiar.

2.1.4*7. Membro do grupo familiar que possui outra fonte de ren­dimento

De acordo com o art. 12, § 10, da Lei r*° 8.212/91, não é segura­do especial o membro de grupo familiar que possuir outra fonte de rendimento, exceto se decorrente de:

I - Benefício de pensão por morte, auxílio-acidente ou auxí-lio-reclusão, cujo valor não supere o do menor benefício de prestação continuada da Previdência Social (vale dizer, desde que não supere um salário mínimo);

II - Benefício previdenciário pela participação em planode previdência complementar instituído por entidade classista a que seja associado em razão da condição de trabalhador rural ou de produtor rural em regime de economia familiar;

III - Exercício de atividade remunerada em período de entres-safra ou do defeso17, não superior a 120 dias, corridos ou

17 Defeso é o período em que a pesca é proibida para garantir a reprodução dos peixes.

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Regime Gera! de Previdência Social

intercalados, no ano civil, observado o disposto no § 13 do art. 12 da Lei n° 8.212/91;18

IV - Exercício de mandato eletivo de dirigente sindical deorganização da categoria de trabalhadores rurais;

V - Exercício de mandato de vereador do município onde de­senvolve a atividade rural, ou de dirigente de cooperativa rural constituída exclusivamente por segurados especiais, observado o disposto no § 13 do art. 12 da Lei n° 8.212/91;19

VI - Parceria ou meação outorgada na forma e condições esta­belecidas no inciso I do § 9o do art. 12 da Lei n° 8.212/91;20

V II - Atividade artesanal desenvolvida com matéria-primaproduzida pelo respectivo grupo familiar, podendo ser utilizada matéria-prima de outra origem, desde que a renda mensal obtida na atividade não exceda ao me­nor benefício de prestação continuada da Previdência Social; e

VIII - Atividade artística, desde que em valor mensal inferior aomenor benefício de prestação continuada da Previdência Social.

Se um dos membros da família tiver outra fonte de rendimen­to, mas a atividade rural dos outros for executada em regime de economia familiar, estes serão considerados segurados especiais. Somente o membro que tem outra fonte de rendimento é que deixa de ser segurado especial. É o caso, por exemplo, de uma mãe que é professora na escola da região rural e ganha um salário mínimo. A mãe não é considerada segurada especial, mas os filhos e o marido, se exercerem a atividade rural em regime de economia familiar, serão segurados especiais.

18 Lei n° 8.212/91, art. 12, § 13. O disposto nos incisos III e V do § 10 deste artigo não dispensa o recolhimento da contribuição devida em relação ao exercício das ati­vidades de que tratam os referidos incisos.19 Idem.20 Lei n° 8.212/91, art. 12, § 9o. Não descaracteriza a condição de segurado espe­cial: (!) a outorga, por meio de contrato escrito de parceria, meação ou comodato, de até 50% de imóvel rural cuja área total não seja superior a 4 módulos fiscais, desde que outorgante e outorgado continuem a exercer a respectiva atividade, individual­mente ou em regime de economia familiar; (...)

33 CaDÍtulo 2

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Resumo de Direito Previdenciário

2.1.5. Segurado contribuinte individualContribuinte individual é categoria de segurado criada pela Lei

n° 9.876/99, reunindo as antigas espécies de segurados empresário, autônomo e equiparado a autônomo.

De acordo com a Lei n° 8.212/91, art. 12, V, e com a Lei n° 8.213/91, art. 11, V, filia-se obrigatoriamente ao RGPS, na qualidade de contribuinte individual:

I - A pessoa física, proprietária ou não, que explora atividadeagropecuária, a qualquer título, em caráter permanente ou temporário, em área superior a 4 módulos fiscais; ou, quan­do em área igual ou inferior a 4 módulos fiscais ou atividade pesqueira ou extrativista, com auxílio de empregados ou por intermédio de prepostos; ou ainda quando deixar de satisfazer as condições para ser segurado especial.

Aqui, apesar de exercer atividade agropecuária, pesqueira ou extrativista, a pessoa física não se enquadra como segurado especial, em razão da existência de, pelo menos, um dos seguintes motivos: (a) a área do imóvel rural é superior a 4 módulos fiscais; (b) possui empregados permanentes; (c) exerce a atividade por intermédio de preposto; ou (d) deixou de satisfazer qualquer outra condição para ser segurado especial.

II - A pessoa física, proprietária ou não, que explora atividadede extração mineral - garimpo em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por intermédio de prepostos, com ou sem o auxílio de empregados, utilizados a qualquer título, ainda que de forma não contínua.

De acordo com a redação original do inciso VII do art. 12 da Lei n° 8.212/91, o garimpeiro, quando exercia suas atividades indi­vidualmente ou em regime de economia familiar (sem utilização de empregado), era considerado segurado especial. A Lei n° 8.398/92 deu nova redação a esse dispositivo legal, retirando o garimpeiro da condição de segurado especial.

De acordo com a legislação atual, o garimpeiro, mesmo sem empregados, é contribuinte individual, e não mais segurado especial.

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Regime Gerai de Previdência Social

É importante salientar que o garimpeiro será contribuinte indi­vidual quando explorar suas atividades diretamente ou por intermé­dio de preposto. Pode, entretanto, haver casos em que o garimpeiro é empregado de outrem. Nesta última hipótese, será, obviamente, segurado empregado, e não contribuinte individual.

III - O ministro de confissão religiosa e o membro de institutode vida consagrada, de congregação ou de ordem religiosa.

Os ministros de confissão religiosa são aqueles que consagram sua vida a serviço de Deus e do próximo, com ou sem ordenação, dedicando-se ao anúncio de suas respectivas doutrinas e crenças, à celebração dos cultos próprios, à organização das comunidades e à promoção de observância das normas estabelecidas, desde que devi­damente aprovados para o exercício de suas funções pela autoridade religiosa competente. São, por exemplo, os padres, pastores, bispos.

Os membros do instituto de vida consagrada, de congregação ou ordem religiosa são os que emitem ou professam voto (promessa feita pelos religiosos), devidamente aprovado pela autoridade religiosa competente. São, por exemplo, as freiras, freis e monges.

Não se considera como remuneração direta ou indireta os va­lores despendidos pelas entidades religiosas e instituições de ensino vocacional com ministro de confissão religiosa, membros de instituto de vida consagrada, de congregação ou de ordem religiosa em face do seu mister religioso ou para sua subsistência desde que forne­cidos em condições que independam da natureza e da quantidade do trabalho executado (Lei n° 8.212/91, art. 22, § 13). Nesse caso, já que não recebem remuneração, a base de cálculo das contribuições previdenciárias destes religiosos será o valor por eles declarado, observados os limites mínimo e máximo do salário de contribuição (IN RFB n° 971/2009, art. 55, § 11).

IV - O brasileiro civil que trabalha no exterior para organismooficial internacional do qual o Brasil é membro efetivo, ain­da que lá domiciliado e contratado, salvo quando coberto por regime próprio de previdência social.

Trata-se de brasileiro civil que presta serviço no exterior a or­ganismos oficiais internacionais, como ONU, OIT etc., ainda que contratado e domiciliado no exterior.

35 Capitulo 2

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Resumo de Direito Previdenciário

Aqui, o contratante do serviço é o próprio organismo oficial internacional. Se o trabalhador fosse contratado pela União, para prestação do serviço em organismo oficial internacional, seria se­gurado empregado, e não contribuinte individual.

O dispositivo exclui o brasileiro militar, pois este tem regime próprio de previdência.

V - O titular de firma individual urbana ou rural, o diretor não empregado e o membro de conselho de administração de sociedade anônima, o sócio solidário, o sócio de indústria, o sócio gerente e o sócio cotista que recebam remuneração decorrente de seu trabalho em empresa urbana ou rural, e o associado eleito para cargo de direção em cooperativa, asso­ciação ou entidade de qualquer natureza ou finalidade, bem como o síndico ou administrador eleito para exercer atividade de direção condominial, desde que recebam remuneração.

Trata-se aqui dos trabalhadores que antes da vigência da Lei n° 9.876/99 eram considerados como segurados empresários. Hoje, estes trabalhadores são segurados obrigatórios do RGPS como con­tribuintes individuais.

O quadro a seguir resume as hipóteses aqui relacionadas, que se referem às pessoas físicas que exercem funções de direção nas empresas ou nas entidades equiparadas à empresa:

Sociedade anônimaDiretor não empregado

Membro do conselho de administraçãoMembro do conselho fiscal

Sociedade limitada

Sócio-gerenteSócio-cotista que recebe pró-labore

Administrador não sócio e não empregado

Sociedade em nome coletivo Todos os sóciosSociedade de capital e indústria Todos os sócios

Firma individual O titularCooperativa, associações ou

entidades afinsAssociado eleito para cargo de dire­

ção, desde que seja remuneradoCondomínio Síndico, desde que seja remunerado

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Regime Geral de Previdência Sociai

VI - Quem presta serviço de natureza urbana ou rural, emcaráter eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego.

Esse dispositivo cuida do trabalhador eventual, que é a pessoa física que presta serviços esporádicos. Esse obreiro não se fixa a uma fonte de trabalho; é contratado para trabalhar diante de uma situação específica, ocasional (trocar uma instalação elétrica, consertar o en­canamento etc.). Terminado o trabalho, o eventual não retorna mais à empresa, vai à busca de outros trabalhos em empresas distintas.

Diferentemente do empregado, no serviço prestado pelo traba­lhador eventual não há a continuidade. Porém, de forma semelhante ao empregado, o trabalhador eventual é um trabalhador subordinado (está sujeito ao poder de direção do contratante).

Assim, são exemplos de trabalhador eventual o pintor que é con­tratado para pintar uma parede; o eletricista contratado para trocar uma instalação elétrica; o encanador contratado para consertar um encanamento etc.

VII - A pessoa física que exerce, por conta própria, atividadeeconômica de natureza urbana, com fins lucrativos ou não.

Este é o autônomo propriamente dito. O trabalho prestado pelo trabalhador autônomo pode ter natureza contínua, porém sem su­bordinação, pois ele trabalha por conta própria, assumindo os riscos de sua atividade econômica.

O elemento fundamental que distingue o trabalhador autônomo do empregado é a subordinação: empregado é trabalhador subordi­nado (está sujeito ao poder de direção do empregador), ao passo que o autônomo não é subordinado.

A expressão “com fins lucrativos ou não” refere-se à atividade do tomador do serviço, daquele para quem o autônomo presta o serviço, que pode ser uma empresa ou uma família, e não a atividade em si do próprio autônomo.

São exemplos de trabalhador autônomo: o dentista, o médico, o contador, o advogado etc. Nada impede, porém, que os profissionais aqui elencados trabalhem como empregados, bastando, para isso, que eles prestem seus serviços de forma não eventual e com subordinação.

37 Capítulo 2

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Resumo de Direito Previdenciário

Se um advogado, por exemplo, for contratado para prestar ser­viço para uma empresa três vezes por semana, sempre nos mesmos dias e horários pré-determinados, será considerado empregado, e não autônomo. Diversamente, será considerado trabalhador autônomo, se couber ao próprio advogado definir os dias e os horários em que prestará os serviços, conforme sua conveniência ou sua agenda.

2.2. Segurado facultativoO segurado facultativo é uma espécie de segurado cuja filiação

ao RGPS depende exclusivamente de sua vontade. A lei não o obriga a filiar-se.

Pode filiar-se ao RGPS como segurado facultativo, mediante contri­buição, a pessoa física maior de dezesseis anos de idade, desde que não esteja exercendo atividade remunerada que o enquadre como segurado obrigatório do RGPS ou de Regime Próprio de Previdência Social. ;

É vedada a filiação ao RGPS, na qualidade de segurado faculta­tivo, de pessoa participante de regime próprio de previdência social, salvo na hipótese de afastamento sem vencimento e desde que não permitida, nesta condição, contribuição ao respectivo regime próprio. A Lei. n° 8.112/90, art. 183, § 3o, assegura ao servidor licenciado ou afastado sem remuneração a manutenção da vinculação ao regime do Plano de Seguridade Social do Servidor Público, mediante o recolhimento mensal da respectiva contribuição. Todavia, a Lei n° 8.112/90 aplica-se somente aos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais. Assim, pode-se afirmar que o servidor público ocupante de cargo efetivo da União que esteja licenciado sem remuneração não pode filiar-se como se­gurado facultativo ao RGPS. No tocante aos servidores ocupantes de cargo efetivo dos Estados, Distrito Federal e Municípios, será possível a filiação como segurado facultativo do RGPS somente na hipótese de afastamento sem vencimento e desde que não permitida, nesta condição, contribuição ao respectivo regime próprio.

Também é vedada a filiação facultativa ao RGPS de servidor públi­co aposentado, qualquer que seja o regime de previdência social a que esteja vinculado como aposentado (IN INSS n° 20/2007, art. 10, § 3o).

A filiação na qualidade de segurado facultativo representa ato volitivo, gerando efeito somente a partir da inscrição e do primeiro recolhimento.

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Regime Gerai de Previdência Sociai

A inscrição do segurado facultativo não pode retroagir. Não é permitido o pagamento de contribuições relativas a competên­cias anteriores à data da inscrição. No entanto, caso o salário-de- contribuição do segurado facultativo seja igual ao valor do salário mínimo, ele poderá optar pelo recolhimento trimestral. Nesse caso, as contribuições relativas ao trimestre em que se inscreveu terão vencimento no dia 15 do mês seguinte ao trimestre civil. Assim, se, por exemplo, o segurado se inscrever no dia 24/09/2004, poderá recolher as contribuições relativas às competências de julho, agosto e setembro de 2004 até o dia 15/10/2004. Desta forma, estará reco­lhendo contribuições relativas a competências anteriores à data de sua inscrição. Porém, trata-se aqui de uma exceção à regra.

Após a inscrição, o segurado facultativo somente poderá reco­lher contribuições em atraso quando não tiver ocorrido perda da qualidade de segurado.

0 Regulamento da Previdência Social (art. 11, § Io) apresenta uma lista de pessoas que podem filiar-se na qualidade de segurado facultativo:

1 - A dona-de-casa;II - O síndico de condomínio, quando não remunerado;III - O estudante;IV - O brasileiro que acompanha cônjuge que presta serviço

no exterior;V - Aquele que deixou de ser segurado obrigatório da previ­

dência social;VI - O membro de conselho tutelar de que trata o art. 132 da

Lei 8.069/90, quando não esteja vinculado a qualquer regime de previdência social;

VII - O bolsista e o estagiário que prestam serviços a empresade acordo com a Lei n° 11.788/08;

VIII - O bolsista que se dedique em tempo integral a pesquisa,curso de especialização, pós-graduação, mestrado ou doutorado, no Brasil ou no exterior, desde que não esteja vinculado a qualquer regime de previdência social;

IX - O presidiário que não exerce atividade remunerada nemesteja vinculado a qualquer regime de previdência social;

39 Capítulo 2

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Resumo de Direito Previdenciário

X - O brasileiro residente ou domiciliado no exterior, salvo sefiliado a regime previdenciário de país com o qual o Brasil mantenha acordo internacional; e

XI - O segurado recolhido à prisão sob regime fechado ou semi-aberto, que, nesta condição, preste serviço, dentro ou fora da unidade penal, a uma ou mais empresas, com ou sem intermediação da organização carcerária ou entidade afim, ou que exerce atividade artesanal por conta própria.

Cabe ressaltar que a lista supra é meramente exemplificativa. Na verdade, para a pessoa física poder filiar-se como segurado facultati­vo, basta cumprir os seguintes requisitos: (I) ser maior de dezesseis anos de idade; e (II) não ser segurado obrigatório do RGPS ou de Regime Próprio de Previdência Social.

2.3. DependentesOs dependentes do segurado, considerados beneficiários do

RGPS, dividem-se em três classes:Classe I: o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não

emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido;Classe II: os pais;Classe III: o irmão, não emancipado, de qualquer condição,

menor de 21 anos ou inválido.Os dependentes de uma mesma classe concorrem em igualda­

de de condições, ou seja, o benefício (pensão por morte ou auxílio reclusão) será dividido em cotas iguais. Quando o direito de um dependente cessar, a sua cota reverterá em favor daqueles que per­manecerem com o direito.

A existência de dependente de qualquer das classes exclui do direito às prestações os da classe seguinte. Por exemplo: Marcos, segurado do RGPS, faleceu e deixou, ainda vivos, sua esposa, dois filhos não emancipados menores de 21 anos, e sua mãe, que dele dependia economicamente. A pensão por morte deixada por Marcos será dividida, em partes iguais, entre sua esposa e os dois filhos. Pelo fato de pertencer à classe II, a mãe de Marcos não terá direito à pensão por morte, pois existem dependentes da classe I. Se não existissem dependentes da classe I, a mãe de Marcos seria a única pensionista.

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Regime Geral de Previdência Social

2.3.1» CônjugeCônjuges são o marido e a mulher, unidos pelo casamento.

Assim, tanto a esposa do segurado como o marido da segurada são beneficiários do RGPS na condição de dependentes.

O cônjuge divorciado ou separado judicialmente ou de fato que recebe pensão de alimentos concorrerá em igualdade de condições com os dependentes da classe I (Lei n° 8.213/91, art. 76, § 2o). Equipara-se à percepção de pensão alimentícia o recebimento de ajuda econômico- financeira sob qualquer forma (IN INSS n° 20/2007, art. 269, § Io).

Assim, em caso de separação - seja judicial ou de fato - ou de divórcio, o fator determinante para a manutenção da qualidade de dependente é o recebimento de pensão alimentícia. Entretanto, de acordo com o entendimento do STJ, “a mulher que renunciou aos alimentos na separação judicial tem direito à pensão previdenciária por morte do ex-marido, comprovada a necessidade econômica superveniente” (Súmula n° 336 do STJ).

2.3.2. Companheira e companheiroDe acordo com o § 3o do art. 16 da Lei n° 8.213/91, considera-se

companheira ou companheiro a pessoa que, sem ser casada, mantém união estável com o segurado ou com a segurada. Assim, para fins previdenciários, companheira é a mulher que mantém união estável com o segurado. Companheiro é o homem que mantém união estável com a segurada (RPS, art. 16, § 5o).

Considera-se união estável aquela configurada na convivência pública, contínua e duradoura entre o homem e a mulher, estabelecida com intenção de constituição de família (RPS, art. 16, § 6o e Código Civil, art. 1.723, caput).

Ao regular a união estável, o Código Civil aplicou a este tipo de constituição de família os impedimentos do casamento, ressalvando, porém, que a união estável se constituirá, ainda que um dos compa­nheiros ou ambos sejam separados apenas de fato (CC, art. 1.723, § Io).

De acordo com o disposto no art. 1.521 do Código Civil, não podem casar: (I) os ascendentes com os descendentes, seja o paren­tesco natural ou civil; (II) os afins em linha reta; (III) o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; (IV) os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; (V) o adotado com o filho do adotante; (VI)

41 Capítulo 2

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Resumo de Direito Previdenciário

as pessoas casadas; (VII) o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.

Podemos dizer, então, que, em regra, as pessoas impedidas de se casar também são impedidas de constituir união estável. Nesta linha de raciocínio, as pessoas casadas, em regra, não podem constituir união estável. Todavia, se a pessoa casada for separada de fato ou judicialmente, embora impedida de se casar, poderá constituir união estável (CC, art. 1.723, § Io).

Assim, para que reste caracterizada a união estável, é necessário que se façam presentes as seguintes condições: (a) convivência pú­blica, contínua e duradoura entre o homem e a mulher, estabelecida com intenção de constituição de família; e (b) ambos os companhei­ros sejam solteiros, separados judicialmente, divorciados, viúvos ou separados de fato.

Saliente-se, portanto, que é permitido o reconhecimento da união estável entre pessoas separadas de fato ou separadas judicial­mente. Exclui-se, contudo, da figura jurídica da união estável o que a doutrina chama de concubinato. Concubina é a mulher com quem o cônjuge adúltero tem encontros periódicos fora do lar. Assim, ocor­rendo o óbito do segurado, a sua concubina não terá direito à pensão por morte. Nesse sentido, confira-se o seguinte julgado do STF:

“COMPANHEIRA E CONCUBINA - DISTINÇÃO. Sendo o Direito uma verdadeira ciência, impossível é confundir insti­tutos, expressões e vocábulos, sob pena de prevalecer a babel. UNIÃO ESTÁVEL - PROTEÇÃO DO ESTADO. A proteção do Estado à união estável alcança apenas as situações legítimas e nestas não está incluído o concubinato. PENSÃO - SERVI­DOR PÜBLICO - MULHER - CONCUBINA - DIREITO. A titularidade da pensão decorrente do falecim ento de servidor público pressupõe vínculo agasalhado pelo ordenam ento jurídico> mostrando~se impróprio o implemento de divisão a beneficiar; em detrimento da fam ília, a concubina”.21

Diante do exposto, conclui-se que poderá ser concedida pensão por morte, apesar do instituidor ou dependente (ou ambos) serem casados com outrem, desde que comprovada a separação de fato ou judicial e a vida em comum (IN INSS/PRES n° 20/2007, art. 269, § 4o).

21 STF, RE 397762/BA, Rei. Min. Marco Aurélio, 1a T„ DJ 12/09/2008.

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Regime Geral de Previdência Social

2.3.3. Companheiros homossexuaisPor força da decisão judicial constante da Ação Civil Pública

2000.71.00.009347-0> da 3a Vara Federal Previdenciária de Porto Ale- gre/RS, o companheiro ou a companheira homossexual de segurado inscrito no RGPS passa a integrar o rol dos dependentes. Com base nessa decisão judicial, o INSS, por meio da Instrução Normativa n° 20, de 11/10/2007, regulamentou a situação dos companheiros homossexuais. De acordo com art. 30 da IN INSS n° 20/2007, o companheiro ou a com­panheira homossexual de segurado inscrito no RGPS passa a integraro rol dos dependentes e, desde que comprovada a vida em comum, concorre, para fins de pensão por morte e de auxílio-reclusão, com os dependentes preferenciais (dependentes da classe I). Veja que não há necessidade de comprovação de dependência econômica, bastando comprovar a vida em comum.

2.3.4. Filhos

Para ser beneficiário do RGPS, na condição de dependente do segurado, o filho (não emancipado, menor de 21 anos ou inválido) pode ser de qualquer condição. Assim, não há distinção entre filhos legítimos, ilegítimos, incestuosos, adulterinos ou adotados.

Confusão freqüente sobre o filho dependente diz respeito aos filhos maiores de 21 até 24 anos de idade que sejam universitários ou estejam cursando escola técnica de 2o grau. Para fins de imposto de renda, o contribuinte pode incluir estes filhos em suã declaração como sendo seus dependentes. Todavia, para efeitos previdenciários, este fato é irrelevante: qualquer filho maior de 21 anos somente manterá a condição de dependente se for inválido.

No caso de filho inválido, mesmo que seja maior de 21 anos, con­tinua sendo dependente do segurado, desde que não seja emancipado. Todavia, se a emancipação ocorrer por motivo de colação de grau em curso superior, o filho inválido não perde a condição de dependente.

2.3.5. Equiparados a filhosEquiparam-se aos filhos, mediante declaração escrita do segu­

rado, comprovada a dependência econômica, o enteado e o menor sob tutela, desde que não possuam bens suficientes para o próprio

43 Capítulo 2

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Resumo de Direito Previdenciário

sustento e educação (RPS> art. 16, § 3o). Enteado é o filho de um matrimônio anterior em relação ao cônjuge ou companheiro atual. Tutela é o encargo conferido a uma pessoa civilmente capaz para que esta administre os bens ou a conduta de um menor de idade. De acordo com o art. 1.728 do Código Civil, os filhos menores são postos em tutela: (a) com o falecimento dos pais, ou sendo estes julgados ausentes; e (b) em caso dos pais decaírem do poder familiar.

Para o enteado ou o menor sob tutela ser beneficiário do RGPS, na qualidade de dependente, é necessário que os seguintes requisi­tos sejam preenchidos de forma cumulativa: (a) declaração escrita do segurado; (b) comprovação de dependência econômica; e (c) o menor não possuir bens aptos a garantir-lhe o sustento e educação. Preenchidos estes requisitos, o enteado e o menor sob tutela passam a pertencer à lista dos dependentes preferenciais (classe I).

2.3.6. Os paisA segunda classe de dependentes inclui os genitores (o pai e a

mãe) do segurado (Lei n° 8.213/91, art. 16, II).Para fins de concessão de benefícios, os pais devem comprovar a

dependência econômica e a inexistência de dependentes preferenciais.

2.3.7. IrmãosA terceira classe de dependentes inclui os irmãos não emanci­

pados, de qualquer condição, menores de 21 (vinte e um) anos ou inválidos (Lei n° 8.213/91, art. 16, III).

Para fins de concessão de benefícios, os irmãos devem compro­var a dependência econômica e a inexistência de dependentes das classes I e II.

3. Manutenção da qualidade de seguradoA qualidade de segurado decorre da filiação da pessoa física à pre­

vidência social. A filiação à previdência social decorre automaticamen­te do exercício de atividade remunerada para os segurados obrigatórios e da inscrição formalizada com o pagamento da primeira contribuição para o segurado facultativo (RPS, art. 20, parágrafo único).

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Regime Geral de Previdência Social

Assim, ordinariamente, mantém a qualidade de segurado, aquele que permanecer exercendo atividade remunerada reconhecida pela lei como de filiação obrigatória ao RGPS (se segurado obrigatório) ou enquanto estiver recolhendo regularmente as contribuições pre- videnciárias (se segurado facultativo).

Todavia, há situações nas quais o segurado, mesmo sem exer­cer atividade remunerada e sem recolher contribuições, mantém a qualidade de segurado por certo período. Ê o que se chama período de graça ou manutenção extraordinária da qualidade de segurado.

De acordo com o art. 13 do Regulamento da Previdência Social (e com o art. 15 da Lei n° 8.213/91), mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições:

I - Sem limite de prazo, quem está em gozo de benefício;II - Até doze meses após a cessação de benefício por incapa­

cidade ou após a cessação das contribuições, o segurado que deixar de exercer atividade remunerada abrangida pela previdência social ou estiver suspenso ou licenciado sem remuneração;

III - Até doze meses após cessar a segregação, o segurado aco­metido de doença de segregação compulsória;

IV - Até doze meses após o livramento, o segurado detido ourecluso;

V - Até três meses após o licenciamento, o segurado incorpo­rado às Forças Armadas para prestar serviço militar; e

VI - Até seis meses após a cessação das contribuições, o segu­rado facultativo.

Passemos agora ao comentário de cada uma destas situações:I - Sem limite de prazo, quem está em gozo de benefício.

Se, por exemplo, a pessoa vinha recebendo aposentadoria (ou qualquer outro beneficio do RGPS) e vem a falecer, os seus dependen­tes terão direito a pensão por morte, pois, na data do óbito, o falecido encontrava-se com a qualidade de segurado mantida.

II - Até 12 meses após a cessação de benefício por incapacida­de ou após a cessação das contribuições, o segurado que

45 Capítulo 2

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Resumo de Direito Previdenciário

deixar de exercer atividade remunerada abrangida pela previdência social ou estiver suspenso ou licenciado sem remuneração.

Este prazo será prorrogado para até 24 meses, se o segurado já tiver pago mais de 120 contribuições mensais sem interrupção que acarrete a perda da qualidade de segurado (Lei n° 8.213, art. 15, § Io). Estes dois prazos (12 ou 24 meses) serão acrescidos de mais 12 meses para o segurado que comprove está desempregado (Lei n° 8.213/91, art. 15, § 2o). As anotações referentes ao seguro desemprego e os registros em órgão próprio do Ministério do Trabalho e Emprego servem para comprovação da condição de desempregado (IN INSS n° 20/2007, art. 14, caput).

Verifica-se, portanto, que o período de graça do segurado que deixa de exercer atividade remunerada, ou que esteja suspenso ou licenciado sem remuneração, pode ser:

a) De 12 meses - para o segurado com menos de 120 contri­buições mensais;

b) De 24 meses - para o segurado com mais de 120 contribuições mensais; ou para o segurado com menos de 120 contribui­ções mensais que comprovar que permanece na situação de desemprego;

c) De 36 meses - para o segurado com mais de 120 contribui­ções mensais que comprovar que permanece na situação de desemprego.

Nestes casos, o período de graça (de 12,24 ou 36 meses) é contado a partir do afastamento da atividade ou da cessação do beneficio por incapacidade (IN INSS n° 20/2007, art. 14, parágrafo único).

Imagine-se, por exemplo, o segurado que, por motivo de do­ença, afastou-se de suas atividades trabalhistas, passando a receber auxílio-doença. Enquanto estiver em gozo de benefício, manterá a qualidade de segurado nos termos do inciso I do art. 15 da Lei n° 8.213/91. Se após a cessação do auxílio-doença, o segurado voltar a exercer atividade remunerada, não há mais o que falar em período de graça, pois o segurado volta a pagar contribuições previdenciárias. Mas se após o término do auxílio-doença, o segurado não voltar a

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Regime Gerai de Previdência Social

trabalhar (deixar de exercer atividade remunerada), iniciará um novo período de graça (de 12,24 ou 36 meses, conforme o caso) contado a partir da data da cessação do benefício.

III - Até 12 meses após cessar a segregação, o segurado acometidode doença de segregação compulsória.

Enquanto durar a segregação, o segurado estará em gozo de benefício por incapacidade, mantendo a qualidade de segurado em razão disto. Após cessar a segregação, o segurado mantém esta qualidade por mais 12 meses.

IV - Até 12 meses após o livramento, o segurado detido ou recluso.

O segurado detido ou recluso, que antes de ser preso era segurado do Regime Geral de Previdência Social, mantém a esta qualidade até12 meses após o livramento. Durante o período em que estiver preso, ele também mantém a qualidade de segurado.

V - Até 3 meses após o licenciamento, o segurado incorporadoàs Forças Armadas para prestar serviço militar.

A prestação de serviço militar citada na lei é a do serviço militar obrigatório, que suspende o contrato de trabalho dos segurados em­pregados (CLT, art. 472). Aquele que já era segurado antes de prestar o serviço militar obrigatório permanece nessa condição durante o período junto às Forças Armadas. Após o licenciamento, ainda mantém a qualidade de segurado por mais três meses.

VI - Até 6 meses após a cessação das contribuições, o seguradofacultativo.

Atrasando o recolhimento de suas contribuições previdenciá- rias por até 6 meses, o segurado facultativo ainda permanece com a qualidade de segurado mantida. Todavia, se atrasar o recolhimento de suas contribuições por 7 meses consecutivos, perde a qualidade de segurado.

Vale frisar que o segurado facultativo, após a cessação do benefí­cio por incapacidade, terá o período de graça pelo prazo de doze me­ses (IN INSS n° 20/2007, art. 13, parágrafo único). Ou seja, enquanto o segurado facultativo estiver recebendo benefício por incapacidade (auxílio-doença, por exemplo), ele mantém a qualidade de segurado

47 Capítulo 2

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Resumo de Direito Previdenciário

com base no inciso I do art. 15 da Lei n° 8.213/91. Após o término do benefício por incapacidade, ele ainda manterá a qualidade de se­gurado, independentemente de contribuições, por mais doze meses.

4. Perda da qualidade de segurado

A perda da qualidade de segurado é a extinção da relação jurídica existente entre o segurado e a Previdência Social, acarretando, por conseguinte, a caducidade dos direitos inerentes a essa qualidade.

O reconhecimento da perda da qualidade de segurado ocorrerá no dia seguinte ao do vencimento da contribuição do contribuinte individual relativa ao mês imediatamente posterior ao término dos prazos acima fixados (RPS, art. 14).

Exemplo: Joaquim, segurado facultativo, recolheu suas con­tribuições previdenciárias relativas aos meses de março de 2004 a janeiro de 2005. A partir de fevereiro de 2005, Joaquim não recolheu mais nenhuma contribuição. Quando ocorrerá a perda da qualidade de segurado? Para respondermos esta pergunta, teremos que, pri­meiro, responder as seguintes:

O segurado facultativo mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições,

por quantos meses?

Até 6 meses após a cessação das contri­

buições.No caso em tela, este prazo de 6 meses começa a

ser contado a partir de qual mês? Fevereiro de 2005.Em qual mês termina este prazo de 6 meses? Julho de 2005.

Qual o mês imediatamente posterior ao término do prazo de 6 meses? Agosto de 2005.

Qual a data de vencimento da contribuição do contribuinte individual relativa ao mês de agosto

de 2005?15/09/2005.

Qual o dia da perda da qualidade de segurado? 16/09/2005.

No exemplo acima, se Joaquim, no dia 15/09/2005, tivesse re­colhido a contribuição previdenciária relativa ao mês de agosto de 2005, não teria perdido a qualidade de segurado.

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Capítulo 3

Prestações do Regime Geral de Previdência Social

O RGPS compreende as seguintes prestações, expressas em benefícios e serviços:

Observações:♦ Prestação é o gênero; benefício e serviço são as espécies.♦ Benefícios são prestações pecuniárias, ou seja, são pagas em

dinheiro.♦ Serviços são bens imateriais postos à disposição dos benefi­

ciários.♦ Os benefícios de pensão por morte e auxílio-reclusão são

direitos dos dependentes do segurado. Os demais benefícios são direitos do segurado.

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❖ A reabilitação profissional e o serviço social são serviços prestados tanto ao segurado como aos seus dependentes.

Resumo de Direito Previdenciário

Distribuição dos benefícios e serviços, segundo a categoria dos beneficiários:

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Aposentadoria por invalidez Sim Sim Sim Não

Aposentadoria por idade Sim Sim Sim Não

Aposentadoria por tempo de contribuição

Sim Sim (Obs. 1) Obs. 2 Não

AposentadoriaEspecial Sim Não (Obs. 3) Não Não

Auxflio-doença Sim Sim Sim NãoAujrflio-acidente Sim Não Sim NãoSalário-família Sim Não Não Não

Salário-maternidade Sim Sim Sim NãoPensão por

morte Não Não Não Sim

Auxílio-reclusão Não Não Não Sim

Reabilitaçãoprofissional Sim Sim Sim Sim

Serviço Social Sim Sim Sim Sim

Observações:1) O segurado contribuinte individual, que trabalhe por conta

própria, sem relação de trabalho com empresa ou equiparado, e o segurado facultativo que contribuam com a alíquota de

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Page 58: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

Prestações do Regime Geral de Previdência Social

11% sobre um salário mínimo, não farão jus à aposentadoria por tempo de contribuição (Lei n° 8.213/91, art. 18, § 3o).

2) O segurado especial somente terá direito à aposentadoria por tempo de contribuição se contribuir, facultativamente, com a alíquota de 20% sobre o salário-de-contribuição.

3) A pessoa física filiada à cooperativa de trabalho ou de pro­dução, mesmo sendo considerado contribuinte individual, faz jus ao benefício da aposentadoria especial.

1. Conceitos introdutóriosAntes de adentrarmos no estudo de cada uma das prestações do

RGPS, é necessário que conheçamos alguns conceitos introdutórios.

1.1. CarênciaNos termos do art. 24 da Lei 8.213/91, “período de carência é o

número mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício, consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas competências”.

Assim, enquanto não se completar o período de carência de de­terminado benefício o segurado não terá direito ao seu recebimento, por ser uma das condições para seu deferimento.

1.1.1. Contagem do período de carência

y-S::p-

Empregado e trabalhador avulso. Data de filiação ao RGPS.

Empregado doméstico, contribuin­te individual e facultativo, inclusive o segurado especial que contribui, facultativamente, com 20% sobre o salário-de-contribuição.

Data do efetivo recolhimento da primeira contribuição sem atraso, não sendo consideradas para efeito de carência as contribuições reco­lhidas com atraso referentes a com­petências anteriores a essa data.

Segurado especial que não contri­bui, facultativamente, com 20% so­bre o salário-de-contribuição.

A partir do efetivo exercício da ati­vidade rural, devidamente compro­vada.

51 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

Para efeito de carência, considera-se presumido o recolhimento das contribuições do segurado empregado, do trabalhador avulso e, relativamente ao contribuinte individual que presta serviço a uma ou mais empresas, a partir da competência abril de 2003, as contribui­ções dele descontadas pelas empresas. Para os demais segurados, é necessária a comprovação do efetivo recolhimento das contribuições.

Alguns períodos da vida funcional do trabalhador podem ser contados como tempo de contribuição, mesmo sem ter havido a efetiva contribuição. Todavia, embora contem como tempo de con­tribuição, esses períodos não contam para efeito de carência.

A título de exemplo, relacionamos abaixo alguns períodos que contam como tempo de contribuição, mas não contam para efeito de carência:

I - O tempo de serviço militar obrigatório;II - Período em que o segurado recebeu benefício por incapa­

cidade (auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez), entre períodos de atividade;

III - Período em que o segurado recebeu benefício por incapa­cidade (auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez) decorrente de acidente do trabalho, intercalado ou não.

IV - O tempo de serviço do segurado trabalhador rural anteriorà competência novembro de 1991. Nesse período, o traba­lhador rural não contribuía para a previdência social;

V - O período anterior à data do recolhimento da primeira con­tribuição sem atraso dos segurados empregado doméstico, contribuinte individual e facultativo.

Exemplo: Rosana é médica e tem um consultório particular há 15 anos, mas, somente hoje, decidiu inscrever-se no RGPS, na condição de contribuinte individual, e recolher os 15 anos de contribuições em atraso (o equivalente a 180 contribuições mensais). Essas 180 contribuições mensais contam como tempo de contribuição, mas não contam para efeito de carência.

No caso de empregado doméstico, contribuinte individual, es­pecial e facultativo, para cômputo do período de carência, só serão consideradas as contribuições realizadas a contar da data do efetivo

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Prestações do Regime Geral de Previdência Social

pagamento da primeira contribuição sem atraso (Lei n° 8.213/91, art. 27, II). No entanto, sendo paga a primeira contribuição sem atraso, as contribuições referentes a competências posteriores, mesmo que sejam pagas com atraso, serão consideradas para efeito de carência.

1.1.2. Contagem da carência para o segurado especialPara o segurado especial, considera-se período de carência o

tempo mínimo de efetivo exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, igual ao número de meses necessário à concessão do benefício requerido (RPS, art. 26, § Io).

Assim, o período de carência do segurado especial não é contado em número de contribuições previdenciárias recolhidas, e sim em número de meses de efetivo exercício na atividade rural. Todavia, se o segurado especial fizer a opção por contribuir, facultativamente, com a alíquota de 20% sobre o salário-de-contribuição, será dele exigido o recolhimento das contribuições.

1.1,3. Benefícios sujeitos à carência

Aposentadoria por idade, por tempo de contribuição e

especial.Em regra, 180 contribuições mensais.

Aposentadoria por invalidez e auxíiio-doença. Em regra, 12 contribuições mensais.

Salário-maternidadePara as seguradas contribuinte

individual, especial e facultativa: 10 contribuições mensais.

As prestações (benefícios e serviços) que não constam da tabela acima independem de carência. Em relação ao salário-maternidade, apenas as seguradas contribuintes individuais, especiais e facultativas necessitam cumprir carência. As seguradas empregadas, empregadas domésticas e trabalhadoras avulsas terão direito ao salário-materni­dade sem ser exigida qualquer carência.

Já vimos que para o segurado especial, a carência é o número de meses de efetivo exercício da atividade rural, ainda que de forma des­contínua, necessário para a concessão de um benefício. Assim, para

53 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

ter direito ao salário-maternidade, por exemplo, a segurada especial não precisa comprovar o recolhimento de 10 contribuições mensais: basta comprovar 10 meses de efetivo exercício de atividade rural.

Em caso de parto antecipado, o período de carência do salário - maternidade será reduzido em número de contribuições equivalentes ao número de meses em que o parto foi antecipado.

Não será exigida a carência de 12 contribuições para a aposenta­doria por invalidez e para o auxílio-doença motivados por acidente de qualquer natureza ou causa, bem como nos casos de segurado que, após filiar-se ao RGPS, for acometido de alguma das seguintes doenças: tuberculose ativa, hanseníase, alienação mental, neoplasia maligna, cegueira, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, ne- fropatia grave, estado avançado de doença de Paget (osteíte defor- mante), AIDS, contaminação por radiação com base em conclusão da medicina especializada ou hepatopatia grave (IN INSS/PRES n° 20/2007, art. 67, III).

Em se tratando de aposentadoria por invalidez e auxílío-doença, para que haja a dispensa da carência, não é necessário que o aciden­te seja acidente de trabalho. A lei refere-se a acidente de qualquer natureza ou causa. Entende-se como acidente de qualquer natureza ou causa aquele de origem traumática e por exposição a agentes exó- genos (físicos, químicos ou biológicos), que acarrete lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou a redução permanente ou temporária da capacidade laborativa.

1.1.4. Perda da qualidade de segurado

Havendo perda da qualidade de segurado, as contribuições ante­riores a essa perda somente serão computadas para efeito de carência depois que o segurado contar, a partir da nova filiação ao RGPS, com, no mínimo, um terço do número de contribuições exigidas para o cumprimento da carência do benefício a ser requerido. Essa exigência, contudo, não se aplica aos benefícios de aposentadoria por idade, especial e por tempo de contribuição, pois a partir da vigência da Lei n° 10.666/2003, a perda da qualidade de segurado não será considerada para a concessão destes benefícios.

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Prestações do Regime Geral de Previdência Social

Conclui-se, portanto, que quando se trata de aposentadoria por idade, por tempo de contribuição e especial, as contribuições efetuadas antes da perda da qualidade de segurado sempre serão contadas para fins de carência.

Todavia, nos casos em que seja exigida carência para a conces­são dos benefícios de aposentadoria por invalidez, auxílio-doença e salário-maternidade, as contribuições anteriores à perda da qualidade de segurado somente serão computadas para efeito de carência de­pois que o segurado contar, a partir da nova filiação ao RGPS, com, no mínimo, um terço do número de contribuições exigidas para o cumprimento da carência do respectivo benefício.

1.1.5. Regra de transiçãoNo caso das aposentadorias por idade, tempo de contribuição e

especial, a carência será de 180 contribuições mensais para os segurados inscritos depois da vigência da Lei n° 8.213, de 24/07/91. Todavia, para os segurados inscritos na Previdência Social Urbana até 24/07/91, bem como para os trabalhadores e empregadores rurais antes amparados pela Previdência Social Rural, observa-se a regra de transição prevista no art. 142 da Lei 8.213/91. A regra de transição levará em conta o ano em que o segurado implementar todas as condições necessárias à obtenção do benefício, de acordo com a seguinte tabela:

1991 60 meses1992 60 meses1993 66 meses1994 72 meses1995 78 meses1996 90 meses1997 96 meses1998 102 meses1999 108 meses2000 114 meses2001 120 meses

55 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

2002 126 meses2003 132 meses2004 138 meses2005 144 meses2006 150 meses2007 156 meses2008 162 meses2009 168 meses2010 174 meses2011 180 meses

1.2. Salário-de-benefício (SB)

Salário-de-benefício é o valor básico utilizado para cálculo da renda mensal inicial dos benefícios, exceto o salário-família, a pensão por morte, o salário-maternidade e o auxílio-reclusão.

Em outras palavras, o salário-de-benefício é a base de cálculo das aposentadorias, do auxílio-doença e do auxüio-acidente. A partir dessa base é que será calculado o valor da renda mensal inicial desses benefícios, por meio de aplicação de percentuais previstos em lei. Por exemplo: a renda mensal inicial do auxílio-doença corresponde a 91% do salário-de-benefício. Assim, se o salário-de-benefício calculado for o equivalente a R$1.000,00, a renda mensal inicial do auxílio- doença será de R$910,00.

O salário-maternidade e o salário-família não são calculados com base no salário-de-benefício. Têm uma forma de cálculo dife­renciada, que será estudada no tópico específico.

No tocante à pensão por morte e ao auxílio reclusão, a legis­lação previdenciária não vinculou a forma de cálculo destes be­nefícios diretamente ao salário-de-benefício. Mas, como veremos mais adiante, indiretamente, seus valores estão relacionados com o salário-de-benefício.

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Prestações do Regime Gerai de Previdência Social

1.2.1. Cálculo do salário-de-benefício

Aposentadoria por idade e aposentadoria por tempo de contribuição.

Média aritmética simples dos maiores sa~ lários-de-contribuiçao correspondentes a 80% de todo o período contributivo, mul­tiplicada pelo fator previdenciário.O fator previdenciário é obrigatório na aposentadoria por tempo de contribuição e facultativo na aposentadoria por idade.

Aposentadoria por invalidez, aposentadoria especial, auxí- lio-doença e auxílio-acidente.

Média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a 80% de todo o período contributivo.

Observação: Para o segurado filiado à Previdência Social até 28/11/99, véspera da publicação da Lei 9.876/99, só serão considerados para o cálculo do SB os salários-de-contribuição referentes às competências de julho de 1994 em diante.

Salário-de-contribuição é a base de cálculo da contribuição previdenciária do segurado, sobre a qual incidirá a alíquota estabe­lecida em lei para determinar o valor de sua contribuição mensal. Por exemplo: Rosana, segurada facultativa, recolheu sua contribui­ção previdenciária, referente ao mês de março de 2005, no valor de R$ 200,00. Isso significa que o salário-de-contribuição de Rosana, referente ao mês de março de 2005, foi R$1.000,00, pois a alíquota de contribuição do segurado facultativo é de 20% (vinte por cento) sobre o respectivo salário-de-contribuição (Lei 8.212/91, art. 21).

Considera-se período contributivo: (I) para o empregado, em­pregado doméstico e trabalhador avulso: o conjunto de meses em que houve ou deveria ter havido contribuição em razão do exercício de àtividade remunerada sujeita a filiação obrigatória ao RGPS; (II) para os demais segurados, inclusive o facultativo: o conjunto de meses de efetiva contribuição ao RGPS (RPS, art. 32, § 22).

Para o cálculo do salário-de-benefício só serão considerados os 80% maiores salários-de-contribuição do segurado. Assim, os 20% menores salários-de-contribuição serão descartados para fins desse cálculo. Por exemplo: para calcular o salário-de-benefício referente a uma aposentadoria por invalidez de um segurado que conta com 150 contribuições mensais, faz-se uma média aritmética dos 120 maiores salários-de-contribuição. É assim porque 80% de 150 é igual a 120.

57 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

Além disso, para os segurados que se filiaram à Previdência Social até 28/11/99, véspera da publicação da Lei n° 9.876/99, só serão considerados para o cálculo do salário-de-benefício os salários-de- contribuição referentes às competências de julho de 1994 em diante. As competências anteriores a julho de 1994 são, assim, desprezadas para efeito do cálculo do salário-de-benefício.

Quando se trata de aposentadoria por tempo de contribuição, para efeito do cálculo do salário-de-benefício, faz-se a média arit­mética dos 80% maiores salários-de-contribuição e, em seguida, multiplica-se essa média pelo fator previdenciário.

Para os benefícios de aposentadoria por invalidez, aposentadoria especial, auxílio-doença e auxílio-acidente, o salário-de-benefício é a média aritmética dos 80% maiores salários-de-contribuição. Não há a aplicação do fator previdenciário.

Tratando-se de aposentadoria por idade, o INSS calculará o salário-de-benefício de duas formas diferentes: a primeira, aplicando o fator previdenciário; a segunda, sem a aplicação do fator previden­ciário. Será concedido ao segurado o que resultar mais vantajoso.

Todos os salários-de-contribuição utilizados no cálculo do salário-de-benefício serão reajustados, mês a mês, de acordo com a variação integral do índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), referente ao período decorrido a partir da primeira com­petência do salário-de-contribuição que compõe o período básico de cálculo até o mês anterior ao do início do benefício, de modò a preservar os seus valores reais (RPS, art. 33).

O valor do salário-de-benefício não será inferior ao de um salário mínimo, nem superior ao limite máximo do salário-de-contribuição na data de início do benefício.

O salário-de-benefício do segurado especial, em regra, consiste no valor equivalente ao salário-mínimo (Lei n° 8.213/91, art. 29, § 6o). Contudo, quando o segurado especial contribui, facultativamente, com 20% sobre o salário-de-contribuição, o seu salário-de-benefício será cal­culado usando-se as mesmas regras adotadas para os demais segurados.

1.2.2. Fator previdenciárioO fator previdenciário será calculado considerando-se a idade,

a expectativa de sobrevida e o tempo de contribuição do segurado ao se aposentar, mediante a fórmula:

Hugo Goes 58

Page 66: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

Prestações do Regime Gerai de Previdência Social

/ _ T c x a „1 ~ Es

onde:f = fator previdenciário;Es = expectativa de sobrevida no momento da aposentadoria;Tc = tempo de contribuição até o momento da aposentadoria;Id = idade no momento da aposentadoria; ea - alíquota de contribuição correspondente a 0,31.A expectativa de sobrevida do segurado na idade da aposentado­

ria será obtida a partir da tábua completa de mortalidade construída pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para toda a população brasileira, considerando-se a média nacional única para ambos os sexos.

Para efeito de cálculo do fator previdenciário, ao tempo de con­tribuição do segurado serão adicionados:

I - cinco anos, quando se tratar de mulher; ouII - cinco ou dez anos, quando se tratar, respectivamente, de

professor ou professora, que comprovem exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio.

2. Benefícios do RGPSNeste tópico, estudaremos as regras aplicáveis a cada benefício

disponibilizado pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS).

2.1. Aposentadoria por invalidezA aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida a carência

exigida, quando for o caso, será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz para o trabalho e insuscetível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer nessa condição (art. 42 da Lei 8.213/91).

1 +(Id + Tc x a)

100

59 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

2.1*1. Verificação da incapacidadeA concessão de aposentadoria por invalidez dependerá da verifi­

cação da condição de incapacidade, mediante exame médico-pericial a cargo da previdência social, podendo o segurado, às suas expensas, fazer-se acompanhar de médico de sua confiança. Concluindo a pe­rícia médica pela existência de incapacidade total e definitiva para o trabalho, a aposentadoria por invalidez será concedida. Todavia, havendo prognóstico de recuperação para a atividade anterior ou outra, o benefício a ser concedido deve ser o auxílio-doença.

Para que seja concedido o beneficio de aposentadoria por inva­lidez, não há necessidade de concessão prévia de auxílio-doença; A incapacidade para o trabalho insuscetível de reabilitação, em alguns casos, pode ser constatada de imediato pelo médico perito, em face da gravidade das lesões à integridade física ou mental do indivíduo. No entanto, nem sempre é possível verificar a incapacidade total e definitiva de imediato. Por isso, na maioria das vezes, concede-se ini­cialmente ao segurado o benefício de auxílio-doença e, posteriormente, concluindo-se pela impossibilidade de retorno à atividade laborativa, transforma-se o benefício inicial em aposentadoria por invalidez.

A concessão de aposentadoria por invalidez, inclusive mediante transformação de auxílio-doença, está condicionada ao afastamento de todas as atividades.

A aposentadoria por invalidez é um benefício provisório, pois o segurado pode, em certos casos, recuperar-se. Por isso, o segurado aposentado por invalidez está obrigado, a qualquer tempo, indepen­dentemente de sua idade e sob pena de suspensão do benefício, a submeter-se a exame médico a cargo da previdência social, processo de reabilitação profissional por ela prescrito e custeado e tratamen­to dispensado gratuitamente, exceto o cirúrgico e a transfusão de sangue, que são facultativos. Os exames médico-periciais serão realizados bienalmente.

O aposentado por invalidez que se julgar apto a retornar à ativi­dade deverá solicitar a realização de nova avaliação médico-pericial.

2.1.2. Doença preexistenteA doença ou lesão de que o segurado já era portador ao filiar-

se ao RGPS não lhe conferirá direito à aposentadoria por invalidez, salvo quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão (§ 2o do art. 42 da Lei 8.213/91).

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Prestações do Regime Gerai de Previdência Socíai

2.1.3. Beneficiários

Todos os segurados têm direito à aposentadoria por invalidez.

2.1.4 Carência

O período de carência para a concessão da aposentadoria por in­validez é, em regra, de 12 contribuições mensais. Todavia» a concessão independe de carência nos casos em que a incapacidade for decorrente de acidente de qualquer natureza ou causa, bem como nos casos de segurado que, após filiar-se ao RGPS, for acometido de alguma das seguintes doen­ças: tuberculose ativa, hanseníase, alienação mental, neoplasia maligna, cegueira, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, estado avançado de doença de Paget (osteíte deformante), AIDS, contamina­ção por radiação com base em conclusão da medicina especializada ou hepatopatia grave (IN INSS n° 20/2007, art. 67, III).

2.1.5. Renda mensal inicialA renda mensal inicial da aposentadoria por invalidez corres­

ponde a 100% do salário-de-benefício.Para o segurado especial, a renda mensal da aposentadoria por

invalidez é de um salário mínimo. Todavia, caso o segurado especial tenha optado por contribuir, facultativamente, com 20% sobre o salário-de-contribuição, a renda mensal do benefício será calculada de forma igual à aplicada para os demais segurados.

a) Renda mensal da aposentadoria por invalidez precedida de au­xílio-doença

A renda mensal inicial da aposentadoria por invalidez concedida por transformação de auxílio-doença será de 100% do salário-de- benefício que serviu de base para o cálculo da renda mensal inicial do auxílio-doença, reajustado pelos mesmos índices de correção dos benefícios em geral.

Quando o acidentado do trabalho estiver em gozo de auxílio- doença, o valor da aposentadoria por invalidez será igual ao do auxílio-doença se este, por força de reajustamento, for superior a

61 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

100% do salário-de-benefício (§ 2o do art. 44 da Lei 8.213/91). Na prática, isso dificilmente ocorrerá, tendo em vista que a renda mensal do auxílio-doença é de 91% do salário-de-benefício e a da aposenta­doria por invalidez é de 100% do salário-de-benefício.

b) Acréscimo de 25%O valor da aposentadoria por invalidez do segurado que necessitar

da assistência permanente de outra pessoa será acrescido de 25%, po­dendo chegar, assim, a 125% do salário-de-benefício. O acréscimo será devido, ainda que o valor da aposentadoria ultrapasse o limite máximo do salário-de-contribuição. Esse acréscimo cessará com a morte do aposentado, não sendo incorporado ao valor da pensão por morte.

0 anexo I do Regulamento da Previdência Social relaciona as situações em que o aposentado por invalidez terá direito à majoração de 25% na renda mensal de seu benefício. São as seguintes:

1 - Cegueira total.2 - Perda de nove dedos das mãos ou superior a esta.3 - Paralisia dos dois membros superiores ou inferiores.4 - Perda dos membros inferiores, acima dos pés, quando a

prótese for impossível.5 - Perda de uma das mãos e de dois pés, ainda que a prótese

seja possível.6 - Perda de um membro superior e outro inferior, quando a

prótese for impossível.7 - Alteração das faculdades mentais com grave perturbação da

vida orgânica e social.8 - Doença que exija permanência contínua no leito.9 - Incapacidade permanente para as atividades da vida diária.

2.1.6. Data de início da aposentadoria por invalidezI - Quando for precedida de auxílio-doença: dia imediato ao

da cessação do auxílio-doença.II - Quando não for precedida de auxílio-doença:a) Para o segurado empregado: a contar do 16° dia do afasta­

mento da atividade ou a partir da data da entrada do reque­

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Prestações do Regime Geral de Previdência SociaJ

rimento, se entre o afastamento e a entrada do requerimento decorrerem mais de 30 dias; e

b) Para os demais segurados: a contar da data do início da in­capacidade ou da data da entrada do requerimento, se entre essas datas decorrerem mais de 30 dias.

Durante os primeiros 15 dias de afastamento consecutivos da atividade por motivo de invalidez, caberá à empresa pagar ao segu­rado empregado o salário.

2.1.7. Cessação do benefício0 aposentado por invalidez que retornar voluntariamente à ati­

vidade terá sua aposentadoria automaticamente cancelada, a partir da data do retorno (Lei n° 8.213/91, art. 46).

Mas se a recuperação da capacidade de trabalho do aposentado por invalidez for verificada mediante avaliação da perícia médica do INSS, o art. 47 da Lei n°. 8.213/91 manda que seja observado o seguinte procedimento:

1 - Quando a recuperação for total e ocorrer dentro de cinco anoscontados da data do início da aposentadoria por invalidez ou do auxílio-doença que a antecedeu sem interrupção, o beneficio cessará:

a) De imediato, para o segurado empregado que tiver direito a retornar à função que desempenhava na empresa ao se aposentar, na forma da legislação trabalhista, valendo como documento, para tal fim, o certificado de capacidade forne­cido pela previdência social; ou

b) Após tantos meses quantos forem os anos de duração do auxílio-doença e da aposentadoria por invalidez, para os demais segurados; e

II - Quando a recuperação for parcial ou ocorrer após cinco anos (contados da mesma forma do item I), ou ainda quando o segurado for declarado apto para o exercício de trabalho diverso do qual habitualmente exercia, a aposentadoria será mantida, sem prejuízo da volta à atividade:

a) Pelo seu valor integral, durante seis meses contados da data em que for verificada a recuperação da capacidade;

63 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

b) Com redução de 50%, no período seguinte de seis meses; ec) Com redução de 75%, também por igual período de seis

meses, ao término do qual cessará definitivamente.Recuperada a capacidade laborativa, o segurado já pode retornar

ao trabalho, mesmo nos casos em que ainda fique por certo período recebendo a aposentadoria por invalidez. Assim, há casos em que é permitido o aposentado por invalidez retomar ao trabalho, sem prejuízo do recebimento da aposentadoria (são os casos previstos nos itens I, “b” e II, acima vistos). Tratam-se das denominadas “mensa­lidades de recuperação”, que procuram assegurar ao segurado um retorno à atividade com certa tranqüilidade.

Além das hipóteses previstas acima, a aposentadoria por inva­lidez também cessará em razão da morte do segurado.

Fatogerador

Incapacidade permanente e total para o trabalho e insus­cetível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência.

Beneficiários Todos os segurados.

CarênciaEm regra, 12 contribuições mensais. Todavia, quando a invalidez for decorrente de acidente ou de alguma doença especificada em lista do MPS, não será exigida a carência.

Rendamensalinicial

I - Não precedida de auxílio-doença - 100% do SB.H - Precedia de auxílio-doença -100% do SB que serviu de base para o cálculo da renda mensal inicial do auxílio-doença, reajus­tado pelos mesmos índices de correção dos benefícios em geralSerá acrescido de 25%, se o segurado necessitar da assistên­cia permanente de outra pessoa. Nesse caso, poderá ultra­passar o limite máximo do salário-de-contribuição.

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Prestações do Regime Gerai de Previdência Social

Datado início do benefício

I - Precedida de auxílio-doença: dia imediato ao da cessa­ção do auxílio-doença.II - Não precedida de auxílio-doença:a) Para o segurado empregado: a contar do 16° dia do afas­tamento da atividade ou a partir da data da entrada do requerimento, se entre o afastamento e a entrada do reque­rimento decorrerem mais de 30 dias; eb) Para os demais segurados: a contar da data do início da incapacidade ou da data da entrada do requerimento, se en­tre essas datas decorrerem mais de 30 dias.

Cessação do benefício

Retomo voluntário à atividade; Recuperação da capacidade laborativa; e Morte do segurado.

2.2. Aposentadoria por idadeA aposentadoria por idade será devida ao segurado que, cum­

prida a carência exigida, completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60 (sessenta), se mulher (Lei n° 8.213/91, art. 48).

Os limites de idade são reduzidos para 60 (sessenta) e 55 (cin­qüenta e cinco) anos no caso de trabalhadores rurais, respectivamente homens e mulheres, referidos na alínea a do inciso I, na alínea g do inciso V e nos incisos VI e VII do art. 11 da Lei 8.213/91, bem como para os garimpeiros que trabalhem, comprovadamente, em regime de economia familiar.

Assim, os limites de idade são reduzidos em cinco anos quando se trata dos seguintes trabalhadores:

a) Empregado rural (Lei n° 8.213/91, art. 11,1, "a”);b) Trabalhador que presta serviço de natureza rural, em caráter

eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego (Lei n° 8.213/91, art. 11, V, "g”);

c) Trabalhador avulso rural (Lei 8.213, art. 11, VI);d) Segurado especial (Lei n° 8.213/91, art. 11, VII); ee) Garimpeiro que trabalhe, comprovadamente, em regime de

economia familiar (CF, art. 201, § 7o, II).Atente-se para o fato de que o garimpeiro não é segurado espe­

cial, mas contribuinte individual. Todavia, o garimpeiro beneficia-se

65 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

da redução de cinco anos da idade exigida para a aposentadoria por idade, desde que trabalhe em regime de economia familiar.

Para beneficiar-se da redução de cinco anos na aposentadoria por idade, o trabalhador rural deve comprovar o efetivo exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício ou, conforme o caso, ao mês em que cumpriu o requisito etário, por tempo igual ao número de meses de contribuição correspondente à carência do benefício pretendido (RPS, art. 51, § Xo).

Caso o trabalhador rural não alcance o tempo mínimo de ati­vidade rural para fins de aposentadoria, poderá somar este tempo a outros em quaisquer atividades para fins de aposentadoria por idade pela regra geral. Neste caso, fará jus ao benefício ao completar 65 anos de idade, se homem, e 60 anos, se mulher.

2.2.1. Perda da qualidade de seguradoA perda da qualidade de segurado não será considerada para a

concessão da aposentadoria por idade, desde que o segurado conte com, no mínimo, o número de contribuições mensais exigido para efeito dê carência na data do requerimento do benefício (Lei n° 10.666/2003, art. 3o, § Io).

Exemplo 1: Maria trabalhava como empregada da empresa BetaS.A. desde 01/03/1980. Em 01/03/1995, foi demitida e, a partir da data da demissão, não exerceu mais nenhuma atividade remunerada nem contribuiu como segurada facultativa para a previdência social. Em 2005, Maria completou 60 anos de idade. Nessa situação, ela terá direito à aposentadoria por idade, mesmo tendo perdido a qualidade de segurada, pois conta com 180 contribuições mensais (período de 01/03/80 a 01/03/95).

Exemplo 2: Joaquim exerceu atividade remunerada e contribui para a Previdência dos 16 aos 31 anos de idade. Assim, quando completar 65 anos de idade, ele terá direito à aposentadoria por idade, mesmo que, a partir dos 31 anos de idade, nunca mais exerça atividade remunerada.

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Prestações do Regime Gerai de Previdência Social

2.2.2. Aposentadoria compulsóriaA aposentadoria por idade pode ser requerida pela empresa,

desde que o segurado tenha cumprido a carência, quando este completar 70 anos de idade, se do sexo masculino, ou 65, se do sexo feminino. Nesse caso, aposentadoria por idade será compulsória, sendo garantida ao empregado a indenização prevista na legislação trabalhista, considerada como data da rescisão do contrato de tra­balho a imediatamente anterior à do início da aposentadoria.

Na situação aqui descrita, a aposentadoria é compulsória sobo ponto de vista do segurado. A empresa “pode” requerer, mas não é obrigada a requerer a aposentadoria do segurado com 70 anos de idade (homem) ou 65 (mulher). Assim, do ponto de vista da empresa, a aposentadoria não é compulsória.

2.2.3. BeneficiáriosTodos os segurados têm direito à aposentadoria por idade.

2.2.4. CarênciaEm regra, a carência exigida para a concessão da aposentadoria

por idade é de 180 contribuições mensais (Lei n° 8.213/91, art. 25, II). Todavia, para os segurados inscritos na Previdência Social Urbana até 24/07/91, bem como para os trabalhadores e empregadores rurais antes amparados pela Previdência Social Rural, observa-se a regra de transição prevista no art. 142 da Lei n° 8.213/91.

2.2.5. Renda mensal inicialA renda mensal inicial da aposentadoria por idade corresponde

a 70% do salário-de-benefício, acrescido de 1% deste para cada grupo de 12 contribuições mensais, até o máximo de 100% do salário-de- benefício.

Exemplo: João começou a contribuir para a previdência, como segurado facultativo, na data em que completou 45 anos de idade. Quando completou 65 anos de idade, João requereu a aposentadoria por idade. Foram computadas 240 contribuições mensais recolhidas pelo segurado. Nesse caso, a renda mensal do benefício será de 90% do salário-de-benêfício (70% + 20%), pois João contribuiu durante 20 anos.

67 Capitulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

Para o cálculo do salário-de-benefício da aposentadoria por idade, a aplicação do fator previdenciário é facultativa. Na verdade, o INSS fica obrigado a fazer dois cálculos: o primeiro, aplicando o fator previdenciário; o segundo, sem aplicar o fator previdenciário. Será concedido ao segurado aquele que lhe for mais vantajoso.

Para o segurado especial, a renda mensal da aposentadoria por idade é de um salário mínimo. Todavia, caso o segurado especial tenha optado por contribuir, facultativamente, com alíquota de 20% sobre o salário-de-contribuição, a renda mensal do benefício será calculada de forma igual à aplicada para os demais segurados.

2.2.6. Data de início do benefícioA aposentadoria por idade será devida:

I - Para os segurados empregado e empregado doméstico:a) A partir da data do desligamento do emprego, quando requerido

no prazo de 90 dias, contados da data do desligamento; oub) A partir da data do requerimento, quando não houver desli­

gamento do emprego ou quando for requerida depois de 90 dias, contados da data do desligamento;

II - Para os demais segurados, a partir da data da entrada dorequerimento.

Como se pode ver, para requerer aposentadoria por idade, o segurado não precisa desligar-se do emprego.

2.2.7. Cessação do benefícioAs aposentadorias por idade, tempo de contribuição e espe­

cial concedidas pelo RGPS são irreversíveis e irrenunciáveis (RPS, art. 181-B). No entanto, o segurado pode desistir do seu pedido de aposentadoria desde que manifeste esta intenção e requeira o ar­quivamento definitivo do pedido antes da ocorrência do primeiro de um dos seguintes atos: (I) - recebimento do primeiro pagamento do benefício; ou (II) - saque do respectivo FGTS ou PIS (RPS, art. 181-B, parágrafo único).

Assim, a aposentadoria por idade tem caráter definitivo, só cessan­do com a morte do segurado. Contudo, o STJ tem admitido a renúncia

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Prestações do Regime Gerai de Previdência Social

à aposentadoria sob regime geral para efeito de aproveitamento do respectivo tempo de contribuição em regime próprio de previdência social. Nesse sentido, confira-se o seguinte julgado do STJ:

“PREVIDENCIÁRIO. MUDANÇA DE REGIME PREVIDEN- CIÁRIO. RENÚNCIA A APOSENTADORIA ANTERIOR COM O APROVEITAMENTO DO RESPECTIVO TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. POSSIBILIDADE. DIREITO DISPO­NÍVEL. DEVOLUÇÃO DOS VALORES PAGOS. NÃO OBRI­GATORIEDADE. RECURSO IMPROVIDO. 1. Tratando-se de direito disponível, cabível a renúncia à aposentadoria sob regime geral para ingresso em outro estatutário. 2. “O ato de renunciar a aposentadoria tem efeito ex nunc e não gera o dever de devolver valores, pois, enquanto perdurou a aposentadoria pelo regime geral, os pagamentos, de natureza alimentar, eram indiscutivelmente devidos” (REsp 692.628/ DF, R ei Min. NILSON NAVES, Dl de 5/9/05). 3. Recurso especial improvido”22.

O STJ também tem admitido a renúncia à aposentadoria por idade, na qualidade de rurícola, para efeito de recebimento de aposen­tadoria por idade mais vantajosa, de natureza urbana. Nesse sentido:

“PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL. RENÚNCIA A BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. POSSIBILIDADE. DIREI­TO PATRIMONIAL DISPONÍVEL. ABDICAÇÃO DE APO­SENTADORIA POR IDADE RURAL PARA CONCESSÃO DE APOSENTADORIA PORIDADE URBANA. 1. Tratando-se de, direito patrimonial disponível, é cabível a renúncia aos benefí­cios previdenciários. Precedentes. 2. Fazjus o Autor à renúncia da aposentadoria que atualmente percebe - aposentadoria p or idade, na qualidade de rurícola - para o recebimento de outra mais vantajosa - aposentadoria por idade, de natureza urbana. 3. Recurso especial conhecido eprovido”23.

22 STJ, REsp 663336/MG, Rei. Min. Arnaido Esteves Limar 5a Tr Di 07/02/2008, p. 1.23 STJ, REsp 310884/RS, Rei. Min. Laurita Vaz, 5a T, DJ 26/09/2005, p. 433.

69 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

' " . ' - Quadro Resumo - Aposentadoria porldade f c '

Fato gerador

Idade de 65 anos, se homem, ou 60, se mulher.A idade será reduzida para 60 anos, se homem, ou 55, se mulher, para o trabalhador rural, para o segurado especial e para o garimpeiro que trabalha em regime de economia familiar (CF, art. 201, § 7°, II).

Beneficiários Todos os segurados.

CarênciaEm regra, 180 contribuições mensais. Para os segurados inscritos até 24/07/91, observa-se a regra de transição pre­vista no art. 142 da Lei n° 8.213/91.

Renda mensal 70% do SB + 1 % do SB para cada grupo de 12 contribuições mensais, não podendo superar 100% do SB.

Início do benefício

I - Para os segurados empregado e empregado doméstico:a) A partir da data do desligamento do emprego, quando reque­rido no prazo de 90 dias, contados da data do desligamento; oub) A partir da data do requerimento, quando não houver desligamento do emprego ou quando for requerida depois de 90 dias, contados da data do desligamento;II - para os demais segurados, da data da entrada do re­querimento.

Cessação do benefício Somente com a morte do segurado.

2.3. Aposentadoria por tempo de contribuição

A aposentadoria por tempo de contribuição» uma vez cumprida , a carência exigida, será devida ao segurado que completar 35 anos de contribuição, se homem, e 30 anos de contribuição, se mulher (CF, art. 201, § 7o, I).

No RGPS, não há exigência de idade mínima para a concessão de aposentadoria por tempo de contribuição. Embora a idade míni­ma (de 60 anos para homem e 55 para mulher) constasse do projeto original da Emenda Constitucional n° 20/98, a proposta foi rejeitada pelo Congresso Nacional. A exigência cumulativa de idade e tempo de contribuição só existe nos regimes próprios de previdência social. No RGPS, aposentadoria por tempo de contribuição e aposentadoria por idade são benefícios distintos, cada um com seus respectivos requisitos.

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Prestações do Regime Geral de Previdência Social

2.3.1. Aposentadoria do professor

Para o professor que comprove, exclusivamente, tempo de efetivo exercício em função de magistério na educação infantil, no ensino fundamental ou no ensino médio, o requisito da aposentadoria por tempo de contribuição será de 30 anos de contribuição para o homem e de 25 para a mulher (CF, art. 201, § 8o).

Para efeito da redução de cinco anos na aposentadoria por tempo de contribuição, considera-se função de magistério a exercida por professor, quando exercida em estabelecimento de educação básica em seus diversos níveis e modalidades, incluídas, além do exercício da docência, as funções de direção de unidade escolar e as de coor­denação e assessoramento pedagógico (RPS, art. 56, § 2o).

No julgamento da ADIn n° 3772, o STF entendeu que as ativida­des de exercício de direção de unidade escolar e as de coordenação e assessoramento pedagógico também terão o tempo de contribuição reduzido em cinco anos, desde que exercidas por professores.24

A redução de cinco anos no tempo de contribuição é concedi­da somente aos professores que exerçam o magistério na educação infantil, no ensino fundamental ou no ensino médio. Assim, o pro­fessor universitário não tem direito a aposenta-se com o tempo de contribuição reduzido. A aposentadoria por tempo de contribuição dos professores universitários obedece à regra aplicada aos demais segurados do RGPS (35 anos de contribuição para os homens e 30 para as mulheres).

2.3.2. Beneficiários

Em regra, todos os segurados do RGPS têm direito à aposen­tadoria por tempo de contribuição. Todavia, é necessário que duas ressalvas sejam feitas:

1) O segurado especial só tem direito a este benefício se con­tribuir, facultativamente, com a alíquota de 20% sobre o salário-de-contribuição.

24 STF, ADI 3772/DF, Rei. Orig. Min. Carlos Britto, Rei. p/ o acórdão Min. Ricardo Lewandowski, Data do Julgamento 29.10.2008.

71 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

2) O segurado contribuinte individual, que trabalhe por conta própria, sem relação de trabalho com empresa ou equiparado, e o segurado facultativo que contribuam com a alíquota de 11% sobre um salário mínimo, não farão jus à aposentadoria por tempo de contribuição (Lei 8.213/91, art. 18, § 3o).

2.3.3. Carência

Em regra, a carência exigida para a concessão da aposentadoria por tempo de contribuição é de 180 contribuições mensais. Toda­via, para os segurados inscritos na Previdência Social Urbana até 24/07/91, bem como para os trabalhadores e empregadores rurais antes amparados pela Previdência Social Rural, observa-se a regra de transição prevista no art. 142 da Lei 8.213/91.

De acordo com o art. 3o da Lei 10.666/2003, a perda da qualidade de segurado não será considerada para a concessão da aposentadoria por tempo de contribuição. Assim, perdendo a qualidade de segurado e, posteriormente, readquirindo essa qualidade, o segurado poderá aproveitar, para efeito da carência da aposentadoria por tempo de contribuição, todas suas contribuições anteriores, sem a exigência de ter que recolher um número de contribuições equivalente a um terço dessa carência.

Por exemplo: Joaquim, após 32 anos de serviço, foi demitido da empresa Delta S.A. Há 4 anos que Joaquim está desempregado. Assim, ele já perdeu a qualidade de segurado. Hoje, Joaquim decidiu inscrever-se no RGPS como segurado facultativo. Nessa situação, paxa ter direito à aposentadoria por tempo de contribuição, basta que Joaquim contribua por mais 3 anos. Os 32 anos de contribuição, anteriores à perda da qualidade de segurado, serão considerados para fins de carência e de tempo de contribuição.

Antes da vigência da Lei 10.666/2003, de acordo com o exemplo acima citado, para que Joaquim aproveitasse, para efei­to da carência, os 32 anos de contribuição anteriores à perda da qualidade de segurado, teria que, após a nova filiação, recolher 60 contribuições mensais (5 anos de contribuição), que é o equi­valente a um terço da carência exigida para a aposentadoria por tempo de contribuição.

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Prestações do Regime Gerai de Previdência Sociai

É possível o segurado efetuar 180 contribuições mensais no período de 15 anos. Assim, a exigência de uma carência de 180 con­tribuições mensais seria, aparentemente, contraditória, pois o tempo de contribuição exigido é de 35 anos de contribuição para o homem e 30 anos de contribuição para a mulher. Mas não há contradição, pòis nem tudo que é considerado como tempo de contribuição pode ser aproveitado para efeito de carência.

Por exemplo: Rosana, após exercer a medicina por um período de 20 anos, comprovou perante o INSS o exercício autônomo da ativi­dade de médica, inscreveu-se no RGPS como contribuinte individual e recolheu todas suas contribuições em atraso. Nesse caso, Rosana contará com 20 anos de tempo de contribuição, mas para efeito de carência nenhuma contribuição será contada. Isso ocorre porque para o contribuinte individual, o período de carência é contado da data do efetivo recolhimento da primeira contribuição sem atraso, não sendo consideradas para esse fim as contribuições recolhidas com atraso referentes a competências anteriores.

No exemplo acima citado, todas as contribuições recolhidas por Rosana estavam em atraso. Quando Rosana recolher sua primeira contribuição sem atraso, a partir dessa data começa a contar o seu período carência.

2.3.4. Renda mensal inicial

0 valor da renda mensal inicial da aposentadoria por tempo de contribuição é de 100% do salário-de-benefício.

2.3.5. Data de início do benefícioA aposentadoria por tempo de contribuição será devida:

1 - Para os segurados empregado e empregado doméstico:

a) A partir da data do desligamento do emprego, quando requerido nò prazo de 90 dias, contados da data do desligamento; ou

b) A partir da data do requerimento, quando não houver desli­gamento do emprego ou quando for requerida depois de 90 dias, contados da data do desligamento;

73 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

II - Para os demais segurados, a partir da data da entrada do requerimento.

Como se pode ver, para requerer aposentadoria por tempo de contribuição, o segurado não precisa desligar-se do emprego.

2.3.6. Cessação do benefício

As aposentadorias por idade, tempo de contribuição e espe­cial concedidas pelo RGPS são irreversíveis e irrenunciáveis (RPS, art. 181-B). No entanto, o segurado pode desistir do seu pedido de aposentadoria desde que manifeste esta intenção e requeira ò ar­quivamento definitivo do pedido antes da ocorrência do primeiro de um dos seguintes atos: (I) - recebimento do primeiro pagamento do benefício; ou (II) - saque do respectivo FGTS ou PIS (RPS, art. 181-B, parágrafo único).

Assim, a aposentadoria por tempo de contribuição teria caráter definitivo, só cessando com a morte do segurado. Contudo, o STJ tem admitido a renúncia à aposentadoria sob regime geral para efeito de aproveitamento do respectivo tempo de contribuição em regime próprio de previdência social.25

Quadro Resumo ~ Aposentadoria por Tempo de Contribuição

Fato gerador

Homem: 35 anos de contribuição Mulher: 30 anos de contribuiçãoHá redução de 5 anos para o professor ou a professora que comprove, exclusivamente, tempo de efetivo exercício em função de magistério na educação infantil, no ensino fundamental ou no ensino médio (CF, art. 201, § 8o).

Beneficiários

Todos os segurados, exceto:1) O segurado especial que não contribua, facultativamente, com alíquota de 20% sobre o salário-de-contribuição.2) O segurado contribuinte individual, que trabalhe por conta própria, sem relação de trabalho com empresa ou equiparado, e o segurado facultativo que contribuam com a alíquota de 11% sobre um salário mínimo. ■

25 STJ, Resp 692628/DF, Rei. Min. N»son Naves, 6a T. DJ 05/09/2005, p. 515.

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Prestações do Regime Geral de Previdência Social

CarênciaEm regra, 180 contribuições mensais. Para os segurados inscritos até 24/07/91, observa-se a regra de transição prevista no art. 142 da Lei n° 8.213/91.

Rendamensal 100% do salário-de-benefício

Início do benefício

I - Para os segurados empregado e empregado doméstico:a) A partir da data do desligamento do emprego, quando requerido no prazo de 90 dias, contados da data do desligamento; oub) A partir da data do requerimento, quando não houver desligamento do emprego ou quando for requerida depois de 90 dias, contados da data do desligamento;II ~ para os demais segurados, da data da entrada do requerimento.

Cessação do benefício Somente com a morte do segurado.

2.4. Aposentadoria especial

A aposentadoria especial, uma vez cumprida a carência exigida, será devida ao segurado empregado, trabalhador avulso e contribuin­te individual, este somente quando cooperado filiado a cooperativa de trabalho ou de produção, que tenha trabalhado durante quinze, vinte ou vinte e cinco anos, conforme o caso, sujeito a condições es­peciais que prejudiquem a saúde ou a integridade física (RPS, art. 64).

A concessão da aposentadoria especial dependerá de comprova­ção pelo segurado, perante o INSS, do tempo de trabalho permanente, não ocasional nem intermitente, exercido em condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante o período mínimo de 15, 20 ou 25 anos, conforme o caso.

O segurado deverá comprovar, além do tempo dè trabalho, a efetiva exposição aos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, pelo período equivalente ao exigido para a concessão do benefício. Assim, o fato de pertencer a certa categoria profissional não é sufi­ciente para definir o direito à aposentadoria especial. Cada segurado deve comprovar a efetiva exposição aos agentes nocivos.

75 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

Considera-se trabalho permanente aquele que é exercido de forma não ocasional nem intermitente, no qual a exposição do em­pregado, do trabalhador avulso ou do cooperado ao agente nocivo seja indissociável da produção do bem ou da prestação do serviço. Entretanto, incluem-se também os períodos de descanso determi­nados pela legislação trabalhista, inclusive férias, os de afastamento decorrentes de gozo de benefícios de auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez acidentários, bem como os de percepção de salário- matemidade, desde que, à data do afastamento, o segurado estivesse exercendo atividade considerada especial.

Neste benefício, não existe distinção de tempo de trabalho entre homens e mulheres: todos devem trabalhar durante quinze, vinte ou vinte e cinco anos, conforme o caso, sujeitos a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física.

A legislação previdenciária não faz exigência de idade mínima para a concessão da aposentadoria especial.

2.4.1. Comprovação da exposiçãoA comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes

nocivos será feita mediante formulário denominado perfil profissio- gráíico previdenciário (PPP), emitido pela empresa ou seu preposto, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho (RPS, art. 68, § 2o).

O PPP é o documento histórico-laboral do trabalhador que, entre outras informações, deve conter registros ambientais, resultados de monitoração biológica e dados administrativos.

A empresa deverá elaborar e manter atualizado o PPP, abran­gendo as atividades desenvolvidas pelo trabalhador e fornecer a este, quando da rescisão do contrato de trabalho ou do desligamento do cooperado, cópia autêntica deste documento.

Do laudo técnico deverá constar informação sobre a existência de tecnologia de proteção coletiva, de medidas de caráter adminis­trativo ou de organização do trabalho, ou de tecnologia de proteção individual, que elimine, minimize ou controle a exposição a agentes nocivos aos limites de tolerância, respeitado o estabelecido na legis­lação trabalhista.

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Prestações do Regime Geral de Previdência Social

As avaliações ambientais deverão considerar a classificação dos agentes nocivos e os limites de tolerância estabelecidos pela legislação trabalhista, bem como a metodologia e os procedimentos de avaliação estabelecidos pela Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho - FUNDACENTRO.

O que determina o direito ao benefício é a exposição do tra­balhador ao agente nocivo presente no ambiente de trabalho e no processo produtivo, em nível de concentração superior aos limites de tolerância estabelecidos.

O INSS definirá os procedimentos para fins de concessão da aposentadoria especial, podendo, se necessário, inspecionar o local de trabalho do segurado para confirmar as informações contidas no PPP e no laudo técnico.

2.4.2. Agentes nocivosSão consideradas condições especiais que prejudicam a saúde ou

a integridade física, a exposição a agentes nocivos químicos, físicos ou biológicos ou à associação desses agentes, em concentração ou intensidade e tempo de exposição que ultrapasse os limites de tole­rância ou que, dependendo do agente, torne a simples exposição em condição especial prejudicial à saúde.

A relação desses agentes nocivos consta do Anexo IV do Regula­mento da Previdência Social (RPS). Os agentes nocivos não arrolados no Anexo IV do RPS não serão considerados para fins de concessão da aposentadoria especial.

2.4.3. Conversão de tempo entre atividades especiaisPara o segurado que houver exercido sucessivamente duas ou

mais atividades sujeitas a condições especiais prejudiciais à saúde ou à integridade física, sem completar em qualquer delas o prazo mí­nimo exigido para a aposentadoria especial, os respectivos períodos serão somados após conversão, conforme tabela abaixo, considerada a atividade preponderante:

77 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

Exemplo: Joaquim trabalhou, durante 3 anos, em atividade permanente no subsolo de minerações subterrâneas em frente de produção. Após deixar essa atividade, Joaquim trabalhou, durante 20 anos, exposto a radiações ionizantes. De acordo com o anexo IV do RPS, a primeira atividade exercida por Joaquim enseja aposen­tadoria especial aos 15 anos de trabalho, e a segunda, aos 25 anos. A atividade preponderante é a segunda. Nas duas atividades, Joaquim trabalhava na qualidade de empregado. Nessa situação, Joaquim já tem direito à aposentadoria especial, pois os 3 primeiros anos de trabalho serão convertidos utilizando-se o fator 1,67 (de 15 anos para 25 anos). Assim, os 3 primeiros anos de trabalho valem 5 anos (3 x 1,67). Somados aos 20 anos de trabalho em que ò segurado esteve exposto a radiações ionizantes, atinge-se o total de 25 anos. Dessa forma, está garantida a aposentadoria especial.

A conversão de tempo entre atividades especiais também pode ser feita pela utilização de simples "regra de três”, segundo critérios matemáticos. Aproveitando o exemplo acima: Joaquim trabalhou3 anos numa atividade em que a aposentadoria especial ocorre aos 15 anos de trabalho. Convertendo esses 3 anos para uma aposenta­doria especial de 25 anos, quantos anos valem o tempo de trabalho de Joaquim?

Resposta:

Na qual ocorreu o trabalho 15 anos 3 anosPara qual o tempo será

convertido 25 anos Tc

Tempo convertido (Tc) = (25 x 3) 15 = 5 anosTempo total = 5 + 20 — 25 anos

2.4.4. Conversão de tempo especial para comum

A conversão de tempo de atividade sob condições especiais em tempo de atividade comum dar-se-á de acordo com a seguinte tabela:

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Prestações do Regime Gerai de Previdência Social

nt ppttDe 15 anos 2,00 2,33De 20 anos 1,50 1,75De 25 anos 1,20 1,40

Como se pode ver, os fatores de conversão são diferentes quando se trata de homem ou de mulher. Isso ocorre porque a conversão aqui tratada dá-se para fins de concessão de aposentadoria por tempo de contribuição, benefício este que exige 35 anos de contribuição, se homem, e 30 anos de contribuição, se mulher. Esta é a razão para que o fator de conversão do homem seja maior.

A caracterização e a comprovação do tempo de atividade sob con­dições especiais obedecerão ao disposto na legislação em vigor na época da prestação do serviço (RPS, art. 70, § Io). As regras de conversão de tempo de atividade sob condições especiais em tempo de atividade comum aplicam-se ao trabalho prestado em qualquer período.

Exemplo: Helena, após 20 anos de trabalho na produção e processamento de benzeno, foi demitida da empresa Alfa S.A. Há 4 anos que Helena está desempregada. Hoje, Helena decidiu inscrever-se no RGPS como segurada facultativa. De acordo com o anexo IV do RPS, segurado exposto a benzeno e seus compostos tóxicos tem direito a aposentadoria especial aos 25 anos de trabalho. Nessa situação, Helena não terá direito à aposentadoria especial, mas para ter direito à aposentadoria por tempo de contribuição, terá de contribuir durante mais 6 anos, pois os 20 anos de ativi­dade especial serão convertidos em tempo de atividade comum utilizando-se o fator 1,2 (de 25 para 30 anos). Assim, os 20 anos de atividade especial valem 24 anos de atividade comum. Quando somados aos 6 anos de contribuição como segurada facultativa, atingirá o total de 30 anos de contribuição. Desta forma, estará garantida a aposentadoria por tempo de contribuição.

A conversão de tempo de atividade especial em tempo de ativi­dade comum também pode ser feita pela utilização de simples “regra de três”. Vejamos como fica o tempo de atividade especial de Helena após ser convertido em tempo comum:

79 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

Especial 25 anos 20 anosComum 30 anos Tc

Tempo convertido (Tc) = (30 x 20) ^ 25 = 24 anos Tempo total = 24 + 6 = 30 anos

2.4.5. Impossibilidade de conversão de tempo comum para especial

Não é possível converter-se tempo de atividade comum para es­pecial. Se a intenção do segurado for requerer aposentadoria especial, será necessário que todo o tempo de atividade seja especial. Para a concessão de aposentadoria especial é imprescindível o exercício de trabalho sujeito a condições especiais durante todo o tempo a ser considerado.

Assim» o trabalhador que tenha d e s e n v o lv id o atividade comum e especial poderá requerer aposentadoria por tempo de contribuição, sendo, para esse fim, o tempo trabalhado em condições especiais convertido em tempo comum.

Exemplo: Leon trabalhou como empregado de uma empresa co­mercial, durante 14 anos, sem nenhuma exposição a agentes nocivos. Após ser demitido do primeiro emprego, Leon trabalhou mais 15 anos como empregado de um hospital, tendo contato com pacientes portadores de doenças infecto-contagiosas e manuseio de materiais contaminados. Essa segunda atividade dá direito à aposentadoria especial aos 25 anos de trabalho. Nessa situação, Leon ainda não tem direito à aposentadoria especial, pois os 14 íinos de atividade comum não podem ser convertidos para atividade especial. Todavia, Leon já tem direito à aposentadoria por tempo de contribuição, pois os 15 anos de trabalho em atividade especial serão convertidos para tempo comum, utilizando-se o fator 1,4. Assim, os 15 anos de atividade especial valem 21 anos de atividade comum. Somados aos 14 anos que Leon trabalhou na empresa comercial, atinge o total de 35 anos de contribuição. Desta forma, estará garantida a aposentadoria por tempo de contribuição.

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Vamos fazer a conversão do tempo especial de Leon utilizando "regra de três”:

Prestações do Regime Gerai de Previdência Social

j B p g B K

Especial 25 anos 15 anosComum 35 anos Tc

Tempo convertido (Tç).= (35 x 15) ^ 25 = 21 anos Tempo total = 21 + 14 = 35 anos

2.4.6. Beneficiários

São beneficiários da aposentadoria especial:a) Segurado empregado;

, b) Trabalhador avulso; ec) Contribuinte individual, este somente quando cooperado

filiado a cooperativa de trabalho ou de produção.

2.4.7* Carência

Em regra, a carência exigida para a concessão da aposentadoria especial é de 180 contribuições mensais. Todavia, para os segurados inscritos na Previdência Social Urbana até 24/07/91, bem como para os trabalhadores e empregadores rurais antes amparados pela Previ­dência Social Rural, observa-se a regra de transição prevista no art. 142 da Lei 8.213/91.

2.4.8. Renda mensal inicia!

A renda mensal inicial da aposentadoria especial é de 100% do salário-de-benefício.

2.4.9. Aposentado que permanece em atividade ou que a ela retorna

O segurado em gozo de aposentadoria especial que retornar à atividade ou operações que o sujeitem aos agentes nocivos, ou nela permanecer, na mesma ou em outra empresa, qualquer que seja a

81 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

forma de prestação do serviço, ou categoria de segurado, terá sua aposentadoria automaticamente cessada, a partir da data do retorno à atividade.

Naturalmente, se retornar ao trabalho em atividade comum, isto é, sem a exposição habitual e contínua a agentes nocivos, hão sofrerá nenhuma sanção. Nesta hipótese, o retorno à atividade não prejudica o recebimento de sua aposentadoria, que será mantida no seu valor integral. Retornando à atividade, o aposentado será obri­gado a contribuir para a previdência. A contribuição incidirá sobre a remuneração que ele receber em decorrência do seu trabalho, e não sobre os proventos da aposentadoria.

2.4.10. Data de início do benefícioPara a data de início da aposentadoria especial, adotam-se os

mesmos critérios utilizados para as aposentadorias por idade e por tempo de contribuição. Assim, a aposentadoria especial será devida:

I - Para o segurado empregado:

a) A partir da data do desligamento do emprego, quando requerido no prazo de 90 dias, contados da data do desligamento; ou

b) A partir da data do requerimento, quando não houver desli­gamento do emprego ou quando for requerida depois de 90 dias, contados da data do desligamento;

XI - Para o trabalhador avulso e o contribuinte individual, este último somente quando cooperado filiado a cooperativa de trabalho ou de produção: a partir da data da entrada do requerimento.

Atente-se, entretanto, para o fato de que o segurado em gozo de aposentadoria especial não pode permanecer em atividade sujeita a condições que prejudiquem a sua saúde ou a sua integridade físíca, sob pena de cessação do benefício. Ou seja, não pode exercer ativi­dade que o exponha aos agentes nocivos previstos no anexo IV do RPS. Mas pode continuar trabalhando, inclusive na mesma empresa, desde que não esteja exposto a esses agentes nocivos.

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Prestações do Regime Geral de Previdência Soda!

2.4.11. Cessação do benefícioDe acordo com o art. 181-B do Regulamento da Previdência

Social (RPS), a aposentadoria especial é irreversível e irrenunciável. Assim, em regra, só cessará com a morte do segurado.

Todavia, de acordo com o parágrafo único do art. 69 do RPS, se o segurado retornar ao exercício de atividade ou operações que o sujeitem aos agentes nocivos, que prejudiquem sua saúde ou inte­gridade física, ou nele permanecer, na mesma ou em outra empresa, qualquer que seja a forma de prestação do serviço, ou categoria de segurado, terá sua aposentadoria especial automaticamente cessa­da, a partir da data do retorno à atividade. Além disso, o STJ tem admitido a renúncia à aposentadoria sob regime geral para efeito de aproveitamento do respectivo tempo de contribuição em regime próprio de previdência social.26

2.4.12. Previsão constitucionalOs critérios diferenciados adotados na concessão da aposentado­

ria especial amparam-se no § Io do art. 201 da Constituição Federal:CF, art. 201, § Io “É vedada a adoção de requisitos e critérios

diferenciados para a concessão de aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social, ressalvados os casos de ati­vidades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física e quando se tratar de segurados portadores de deficiência, nos termos definidos em lei complementar” (redação dada pela EC n° 47, de 2005).

De acordo com o art. 15 da Emenda Constitucional n° 20/98, “até que a lei complementar a que se refere o art. 201, § Io, da Constituição Federal, seja publicada, permanece em vigor o disposto nos arts. 57 e 58 da Lei n° 8213, de 24 de julho de 1991, na redação vigente à data da publicação desta Emenda” Assim, mesmo sendo a Lei 8.213/91 uma lei ordinária, os seus artigos 57 e 58 foram recepcionados pela Emenda Constitucional n° 20/98 com status de lei complementar. Dessa forma, a partir de 16/12/98 (data de publicação da EC n° 20), os artigos 57 e 58 da Lei 8.213/91 somente podem ser alterados me­diante lei complementar.26 STJ, REsp 663 336/MG, Rei. Min. Arnaido Esteves Lima, 5a T, DJ 07/02/2008, p. 1.

83 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

Ainda não existe lei complementar regulamentando a adoção de critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria especial para os portadores de deficiência. Assim, até que venha ser editada essa lei complementar, a aposentadoria especial destina-se apenas aos casos de atividades exercidas sob condições especiais que preju­diquem a saúde ou a integridade física.

A Constituição Federal também assegura aposentadoria com condições privilegiadas para os trabalhadores rurais e para os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal (CF, art. 201, § 7o, II). Também são assegurados requisitos dife­renciados para os professores da educação infantil e do ensino fundamental e médio (CF, art. 201, § 8o). Mas a aposentadoria desses trabalhadores não é denominada pela Lei 8.213/91 como aposentadoria especial. Para os trabalhadores rurais, a redução de5 anos no requisito idade ocorre quando se trata de aposentadoria por idade. Para os professores, a redução de 5 anos no tempo de contribuição ocorre quando se trata de aposentadoria por tempo de contribuição.

Fato geradorExposição contínua e habitual a agentes nocivos físicos, químicos ou biológicos, prejudiciais à saúde ou à integridade física, durante 15,20 ou 25 anos.

Beneficiários

Segurados empregado e trabalhador avulso.O cooperado, filiado a cooperativa de trabalho ou de produção, embora seja contribuinte individual, também tem direito ao benefício.

CarênciaEm regra, 180 contribuições mensais. Para os segurados inscritos até 24/07/91, observa-se a regra de transição prevista no art. 142 da Lei n° 8.213/91.

Rendamensal 100% do salário-de-benefício.

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Prestações do Regime Geral de Previdência Social

Início do benefício

I - Para o segurado empregado:a) A partir da data do desligamento do emprego, quando requerido no prazo de 90 dias, contados da data do desligamento; oub) A partir da data do requerimento, quando não houver desligamento do emprego ou quando for requerida depois de 90 dias, contados da data do desligamento;II - Para o trabalhador avulso e o cooperado filiado a cooperativa de trabalho ou de produção: a partir da data do requerimento.

Cessação do benefício

Em regra, com a morte do segurado, mas também cessará se o segurado retornar a atividade que o sujeite aos agentes nocivos, que prejudiquem sua saúde ou integridade física.

2.5. Auxílio-doençaO auxílio-doença será devido ao segurado que, após cumprida,

quando for o caso, a carência exigida, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de quinze dias consecutivos (RPS, art. 71).

2.5.1. RequerimentoEm regra, o auxílio-doença é requerido pelo próprio segurado.

Todavia, é facultado à empresa protocolar requerimento de auxílio- doença ou documento dele originário de seu empregado ou de contribuinte individual a ela vinculado ou a seu serviço, na forma estabelecida pelo INSS (RPS, art. 76-A), A empresa que adotar este procedimento terá acesso às decisões administrativas a ele relativas (RPS, art. 76-A, parágrafo único).

2 .5.2 . Verificação da incapacidadeA incapacidade para o trabalho deve ser comprovada através de

exame realizado pela perícia médica do INSS.O segurado em gozo de auxílio-doença está obrigado, indepen­

dentemente de sua idade e sob pena de suspensão do benefício, a submeter-se a exame médico a cargo da previdência social, processo de reabilitação profissional por ela prescrito e custeado e tratamento dispensado gratuitamente, exceto o cirúrgico e a transfusão de san­gue, que são facultativos.

85 Caoítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

A previdência social deve processar de ofício o benefício, quando tiver ciência da incapacidade do segurado sem que este tenha reque­rido auxílio-doença (RPS, art. 76).

2.5.3. Doença preexistente

Não será devido auxílio-doença ao segurado que se filiar ao RGPS já portador de doença ou lesão invocada como causa para a concessão do benefício, salvo quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença, ou lesão.

2.5.4. Segurado que exerce mais de uma atividade

O auxílio-doença do segurado que exercer mais de uma ativida­de abrangida pela previdência social será devido mesmo no caso de incapacidade apenas para o exercício de uma delas, devendo a perícia médica ser conhecedora de todas as atividades que o mesmo estiver exercendo. Nesta hipótese, o auxílio-doença será concedido em relação à atividade para a qual o segurado estiver incapacitado, considerando- se para efeito de carência somente as contribuições relativas a essa atividade. Todavia, se nas várias atividades o segurado exercer a mesma profissão, será exigido de imediato o afastamento dè todas.

Ocorrendo o afastamento de apenas uma ou algumas atividades, mas não de todas, o valor do auxílio-doença poderá ser inferior ao salário mínimo, desde que somado às demais remunerações recebidas resultar valor superior a este (RPS, art. 73, § 4o).

Constatada, durante o recebimento do auxílio-doença, a inca­pacidade do segurado para cada uma das demais atividades, o valor do benefício deverá ser revisto com base nos respectivos salários- de-contribuição.

Quando o segurado que exercer mais de uma atividade se in­capacitar definitivamente para uma delas, deverá o auxílio-doença ser mantido indefinidamente, não cabendo sua transformação em aposentadoria por invalidez, enquanto essa incapacidade não se estender às demais atividades.

Hugo Goes 86

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Prestações do Regime Gerai de Previdência Social

2.5.5. Beneficiários

Todos os segurados têm direito ao auxílio-doença.

2.5.6. Carência

O período de carência para a concessão do auxílio-doença é, em regra, de 12 contribuições mensais. Todavia, a concessão independe de carência nos casos em que a incapacidade for decorrente de acidente de qualquer natureza ou causa, bem como nos casos de segurado que, após filiar-se ao RGPS, for acometido de alguma das seguintes doenças: tuberculose ativa, hanseníase, alienação mental, neoplasia maligna, cegueira, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropa- tia grave, estado avançado de doença de Paget (osteíte deformante), AIDS, contaminação por radiação com base em conclusão da medicina especializada ou hepatopatia grave (IN INSS n° 20/2007, art. 67, III).

2.5.7. Renda mensal inicial

A renda mensal inicial do auxílio-doença corresponde a 91% do salário-de-benefício.

2.5.8. Data de início do benefício0 auxílio-doença será devido:

1 - Quando requerido até o 30° dia do afastamento da atividade:a) Para o segurado empregado: a contar do 16° dia do afasta­

mento da atividade;b) Para os demais segurados: a contar da data do início da in­

capacidade.II - Quando requerido após o 30° dia do afastamento da ativida­

de: a contar da data de entrada do requerimento, para todos os segurados.

Saliente-se que o auxílio-doença somente é devido quando o se­gurado fica incapacitado para o exercício de suas atividades habituais por mais de 15 dias. Se ficar afastado por período inferior, não terá

87 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

direito a benefício previdenciário algum. Mas se ficar incapacitado por mais de 15 dias» tratando-se de segurado empregado doméstico, trabalhador avulso, contribuinte individual, especial ou facultativo, o beneficio será pago a contar da data do início da incapacidade, desde que seja requerido até o 30° dia do afastamento. Nesse caso, o benefício retroage para a data de início da incapacidade.

Tratando-se de segurado empregado, se requerido até o 30° dia do afastamento, o auxílio-doença será devido a contar do 16° dia do afastamento da atividade. É assim porque durante os primeiros 15 dias consecutivos de afastamento da atividade por motivo de doen­ça, incumbe à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário.

Mas quando o auxílio-doença for requerido após o 30° dia do afastamento, o benefício será devido a contar da data do requeri­mento, independentemente da espécie do segurado.

Quando o empregado acidentado não se afastar do trabalho no dia do acidente, os 15 dias de responsabilidade da empresa pela sua remuneração integral são contados a partir da data do afastamento.

Cabe à empresa que dispuser de serviço médico próprio ou em con­vênio o exame médico e o abono das faltas correspondentes aos primeiros 15 dias de afastamento. Quando a incapacidade ultrapassar 15 dias consecutivos, o segurado será encaminhado à perícia médica do INSS.

Se concedido novo benefício decorrente da mesma doença den­tro de 60 dias contados da cessação do benefício anterior, a empresa fica desobrigada do pagamento relativo aos 15 primeiros dias de afastamento, prorrogando-se o benefício anterior e descontando-se os dias trabalhados, se for o caso. Na situação aqui prevista, é neces­sário que o novo benefício seja decorrente da mesma doença. Assim, se o empregado retornar de um auxílio-doença e, dentro de 60 dias, iniciar outro auxílio-doença decorrente de outra doença, a empresa será obrigada a pagar os 15 primeiros dias de afastamento. A empresa também ficará responsável pelo pagamento dos 15 primeiros dias quando o segundo afastamento (decorrente da mesma ou de outra doença) iniciar após 60 dias da cessação do auxílio-doença anterior.

Se o segurado empregado, por motivo de doença, afastar-se do trabalho durante 15 dias, retornando à atividade no 16° dia, e se dela voltar a se afastar dentro de 60 dias desse retomo, em decorrência da mesma doença, fará jus ao auxílio doença a partir da data do novo

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Prestações do Regime Geral de Previdência Social

afastamento, Se o retorno à atividade tiver ocorrido antes de 15 dias do afastamento, o segurado fará jus ao auxílio-doença a partir do dia seguinte ao que completar aquele período.

Exemplo: Tarcísio, empregado da empresa Delta S.A., ficou afastado de suas atividades durante 10 dias, em razão de problemas renais. Um mês após ter voltado às atividades, ficou incapacitado para o trabalho por mais 20 dias, em decorrência da mesma doença. Neste caso, o auxílio-doença será devido a contar do 6o dia do se­gundo afastamento, ficando os 5 primeiros dias a cargo da empresa.

No exemplo, se o primeiro afastamento de Tarcísio tivesse sido por 15 dias, o auxílio-doença seria devido a partir do primeiro dia do segundo afastamento. Ressalte-se, contudo, que o novo afasta­mento deve ocorrer dentro de 60 dias contados da data do retorno do primeiro afastamento.

2.5*9. Cessação do benefício

O auxílio-doença cessa:a) Pela recuperação da capacidade para o trabalho;b) Pela transformação em aposentadoria por invalidez;c) Pela transformação em auxílio-acidente de qualquer natureza,

neste caso se, após a consolidação decorrente de acidente de qualquer natureza, resultar seqüela que implique redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia; ou

d) Com a morte do segurado.

O segurado em gozo de auxílio-doença, insuscetível de recu­peração para sua atividade habitual, deverá submeter-se a processo de reabilitação profissional para exercício de outra atividade, não cessando o benefício até que seja dado como habilitado para o desempenho de nova atividade que lhe garanta a subsistência ou, quando considerado não recuperável, seja aposentado por invalidez.

2.5.10. Prazo para recuperação da capacidade

O INSS poderá estabelecer, mediante avaliação médico-pericial, o prazo que entender suficiente para a recuperação da capacidade para o trabalho do segurado, dispensada nessa hipótese a realização de nova perícia.

89 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

Caso o prazo concedido para a recuperação se revele insuficiente, o segurado poderá solicitar a realização de nova perícia médica, na forma estabelecida pelo Ministério da Previdência Social.

O documento de concessão do auxílio-doença conterá as informações necessárias para o requerimento da nova avaliação médico-periciaL

2.5.11. Contagem do período de auxílio-doença como tempo de contribuição

De acordo com o art. 60 do RPS, até que lei específica discipline a matéria, são contados como tempo de contribuição, entre outros:

a) O período em que o segurado esteve recebendo auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez, entre períodos de atividade;

b) O período em que o segurado esteve recebendo benefício por incapacidade por acidente do trabalho, intercalado ou não;

Assim, se o período de auxílio-doença transcorrer entre períodos de atividade, sempre será contado como tempo de contribuição. Mas não sendo entre períodos de atividade, somente será contado como tempo de contribuição se for decorrente de acidente de trabalho. Todavia, para fins de carência, o período de auxílio-doença não será contado, mesmo que seja decorrente de acidente do trabalho.

2.5.12. Situação trabalhista do empregado

Durante os primeiros quinze dias consecutivos ao do afastamen­to da atividade por motivo de doença, incumbirá à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário integral (Lei n° 8.213/91, art 60, § 3o). Assim, neste período, ocorre a interrupção do contrato de trabalho.

A partir do décimo sexto dia do afastamento da atividade, o segurado empregado em gozo de auxílio-doença será considerado pela empresa como licenciado (Lei n° 8.213/91, art. 63). Assim, neste caso, ocorre a suspensão do contrato de trabalho, pois não há pa­gamento de salário pela empresa.

De acordo com o disposto no art 118 da Lei 8.213/91, “o segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantida, pelo prazo mínimo de

Hugo Goes 90

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Prestações do Regime Geral de Previdência Social

doze meses, a manutenção do seu contrato de trabalho na empresa, após a cessação do auxílio-doença acidentário, independentemente de percepção de auxílio-acidente.

É É illI l l i l - ' ‘ t iFato gerador Incapacidade temporária para o trabalho ou para a ativi­

dade habitual por mais de 15 dias consecutivos.Beneficiários Todos os segurados

CarênciaEm regra, 12 contribuições mensais. Todavia, quando a incapacidade for decorrente de acidente ou de alguma doença especificada em lista do MPS, não será exigida a carência.

Renda mensal 91% do salário-de-benefício.

Início do benefício

I - Quando requerido até o 30° dia do afastamento da ati­vidade:a) para o segurado empregado: a contar do 16° dia do afas­tamento da atividade;b) para os demais segurados: a contar da data do início da incapacidade.II - quando requerido após o 30° dia do afastamento da ativi­dade: a contar da data de entrada do requerimento, para todos os segurados.

Cessação do benefício

(a) Recuperação da capacidade; (b) transformação em aposentadoria por invalidez; (c) transformação em auxí- lio-acidente ou (d) morte do segurado.

2.6# 1,3. lixo***aciderxte

O auxílio-acidenteserá concedido, como indenização, ao segu­rado quando, após consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, resultarem seqüelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia (Lei n° 8.213/91, art. 86, caput).

A Lei refere-se a acidente de qualquer natureza. Assim, não é necessário que seja acidente de trabalho. Tanto faz o acidente ocor­rer no trabalho ou fora dele. No entanto, não basta a ocorrência do acidente. É também necessário que, em decorrência do acidente, após a consolidação das lesões, haja redução da capacidade labo- rativa do segurado.

91 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

0 dano que enseja direito ao auxílio-acidente é o que acarreta redução da capacidade de trabalho, sem caracterizar a invalidez permanente para todo e qualquer trabalho. Quando a incapacidade for total e definitiva, o benefício a ser concedido será a aposentadoria por invalidez.

A natureza do auxílio-acidente é indenizatória. O objetivo é indenizar o segurado pelo fato de não ter plena capacidade de trabalho em razão do acidente. No caso de acidente de trabalho, o pagamento pela Previdência Social do auxílio-acidente não exclui a responsabilidade civil da empresa ou de terceiros (RPS, art. 342).

A concessão do auxílio-acidente está condicionada à confirma­ção, pela Perícia Médica do INSS, da redução da capacidade laborativa do segurado, em decorrência de acidente de qualquer natureza.

2.6.1. Situações que dão direito ao auxílio-acidenteDe acordo com o art. 104 do Regulamento da Previdência Social

(RPS), o auxílio-acidente será concedido, quando, após a consolida­ção das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, resultar seqüela definitiva que implique:

1 - Redução da capacidade para o trabalho que habitualmenteexerciam;

II - Redução da capacidade para o trabalho que habitualmenteexerciam e exija maior esforço para o desempenho da mes­ma atividade que exerciam à época do acidente; ou

III - Impossibilidade de desempenho da atividade que exerciamà época do acidente, porém permita o desempenho de ou­tra, após processo de reabilitação profissional, nos casos indicados pela perícia médica do INSS.

2.6.2. Situações que não dão dir sito ao auxílio-acidenteDe acordo com o § 4o do art. 104 do RPS, não dará ensejo ao

auxílio-acidente o caso:I - Que apresente danos funcionais ou redução da capacidade

funcional sem repercussão na capacidade laborativa; eII - De mudança de função, mediante readaptação profissional

promovida pela empresa, como medida preventiva, em decorrência de inadequação do local de trabalho.

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Prestações do Regime Gerai de Previdência Social

2.6.3. Perda da audiçãoA perda da audição, em qualquer grau, somente proporcionará a

concessão do auxílio-acidente, quando, além do reconhecimento de causalidade entre o trabalho e a doença, resultar, comprovadamente, na redução ou perda da capacidade para o trabalho que habitual­mente exercia (Lei 8.213/91, art. 86, § 4o).

Assim, nos casos de perda da audição, para que o segurado tenha direito ao auxílio-acidente, devem ser cumpridos, cumulativamente, dois requisitos:

a) Nexo causai entre o trabalho exercido e a perda da audição;b) Redução ou perda da capacidade para o trabalho que habitu­

almente exercia, em decorrência da perda da audição.

Inexistindo nexo causai entre o trabalho exercido e a perda da audição, o segurado não terá direito ao auxílio-acidente. Mesmo existindo esse nexo causai, mas se a perda da audição não provocar a redução ou a perda da capacidade laborativa, o segurado também não terá direito ao auxílio-acidente.

2.6.4. BeneficiáriosDe acordo com o § Io do art. 18 da Lei 8.213/91, somente poderão

beneficiar-se do auxílio-acidente os seguintes segurados:a) Empregado;b) Trabalhador Avulso; ec) Segurado especial.Na hipótese de o trabalhador ter exercido, durante sua vida

profissional, diversas atividades, enquadrando-se em diferentes categorias de segurado, para fins de concessão do auxílio-acidente, cohsiderar-se-á a atividade exercida na data do acidente (RPS, art. 104, § 8o). Assim, para que o benefício seja concedido é necessário que, na data do acidente, o trabalhador esteja exercendo alguma atividade que o enquadre como segurado empregado, trabalhador avulso ou segurado especial.

Cabe a concessão de auxílio-acidente oriundo de acidente de qualquer natureza ocorrido durante o período de manutenção da qualidade de segurado (período de graça), desde que atendidas às condições inerentes à espécie.2727 RPS, art. 104, § 7o.

93 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

2.6.5. Acumulação

O recebimento de salário ou concessão de outro benefício, exceto de aposentadoria, não prejudicará a continuidade do recebimento do auxílio-acidente (Lei n° 8.213/91, art. 86, § 3o).

É vedada a acumulação de auxílio-acidente com qualquer apo­sentadoria (Lei n° 8.213, art. 86, § 2o).

Não é permitida a acumulação de mais de um auxílio-acidente (Lei n° 8.213/91, art. 124, V). Assim, quando o segurado em gozo de auxílio-acidente fizer jus a um novo auxílio-acidente, em decorrên­cia de outro acidente, serão comparadas as rendas mensais dos dois benefícios e mantido o benefício mais vantajoso.

No caso de reabertura de auxílio-doença em razão do mesmo acidente que tenha dado origem a um auxílio-acidente, este será sus­penso até a cessação do auxílio-doença reaberto. O auxílio-acidente suspenso será restabelecido após a cessação do auxílio-doença rea­berto (RPS, art. 104, § 6o).

Note-se que, em regra, não é vedada a acumulação de auxüio-aci- dente com auxílio-doença. Só não pode acumular quando se trata de reabertura de auxílio-doença decorrente do mesmo acidente que deu origem ao auxílio-acidente. Neste caso, reabre-se o auxílio-doença e suspende-se o auxílio-acidente enquanto durar o auxílio-doença.

2.6.6. Carência

A concessão do auxílio-acidente independe de carência (Lei 8.213/91, art. 2 6 ,1).

2.6.7. Renda mensal inicial

A renda mensal inicial do auxílio-acidente corresponde a 50% do salário-de-benefício que deu origem ao auxílio-doença, corrigido até o mês anterior ao do início do auxílio-acidente (Lei n° 8.213/91, art. 86, § Io e RPS, art. 104, § Io).

O auxílio-acidente poderá ter valor inferior a um salário míni­mo, pois este benefício não substitui o rendimento do trabalho do segurado. Pode ser acumulado com o salário e com outros benefícios, exceto aposentadoria.

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Prestações do Regime Geral de Previdência Social

O valor mensal do auxílio-acidente integra o salário-de-con­tribuição, para fins de cálculo do salário-de-benefício de qualquer aposentadoria (Lei 8.213/91, art. 31). Mas para fins de cálculo da contribuição previdenciária, o auxílio-acidente não integra o salário- de-contribuição (Lei n° 8.212/91, art. 28, § 9o, “a”).

2.6.8. Data de início do benefício

O auxílio-acidente será devido a contar do dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença, independentemente de qualquer remuneração ou rendimento auferido pelo acidentado, vedada sua acumulação com qualquer aposentadoria (Lei 8.213/91, art. 86, § 2o).

Como se vê, o auxílio-acidente sempre é precedido de um auxílio-doença. O auxílio-doença somente é devido enquanto o segurado se encontra incapaz, temporariamente, para o trabalho. Se após a consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza (ou seja, após a “alta médica”), restar seqüela que implique na redução da capacidade laborativa do segurado, cessará o auxílio- doença e, no dia seguinte, terá início o auxílio-acidente.

2.6.9. Cessação do benefício

O auxílio-acidente será devido até a véspera do início de qualquer aposentadoria ou até a data do óbito do segurado (Lei 8.213/91, art. 86, § Io). Assim, concedida qualquer aposentadoria ao segurado, cessa o auxílio-acidente. Também cessa, obviamente, com a morte do segurado.

O art. 129 do RPS estabeleceu uma nova hipótese de cessação do auxílio-acidente: “o segurado em gozo dê auxílio-acidente, auxílio- suplementar ou abono de permanência em serviço terá o benefício encerrado na data da emissão da certidão de tempo de contribuição” Tal certidão é expedida para que o segurado possa se aposentar por um regime próprio de previdência, contando para esse fim com o seu tempo de contribuição para o RGPS. Trata-se da denominada “contagem recíproca de tempo de contribuição”. Esta hipótese de cessação do auxílio-acidente é de discutível legalidade, pois não se encontra amparada pela Lei 8.213/91. Não havendo tal previsão na Lei, não cabe à autoridade administrativa “legislar”, limitando o direito do segurado ao benefício.

95 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

Fato geradorSeqüela decorrente de acidente de qualquer natureza que implique na redução da capacidade para o trabalho que o segurado habitualmente exercia.

Beneficiários Empregado, trabalhador avulso e segurado especial.Carência Não é exigida.

Rendamensal

50% do salário-de-benefício que deu origem ao auxílio- doença. Pode ser inferior a um salário mínimo.

Início do benefício A partir do dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença.

Cessação do benefício

a) Aposentadoria do segurado;b) Morte do segurado; ouc) Emissão da certidão de tempo de contribuição.

2.7. Salário-famíliaO salário-família será devido, mensalmente, ao segurado em­

pregado e ao trabalhador avulso que tenham salário-de-contribuição inferior ou igual a R$798,30 28, na proporção do respectivo número de filhos ou equiparados de qualquer condição, até 14 anos de idade ou inválidos de qualquer idade (RPS, arts. 81 e 83).

Eqüiparam-se aos filhos, mediante declaração escrita do segu­rado, comprovada a dependência econômica, o enteado e o menor que esteja sob sua tutela e desde que não possuam bens suficientes para o próprio sustento e educação (RPS, art. 16, § 3o).

A invalidez do filho ou equiparado maior de quatorze anos de idade deve ser verificada em exame médico-pericial a cargo da previdência social (RPS, art. 85).

De acordo com o art. 7o, XII, da Constituição Federal, o salário- família será pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei. Assim, cabe à lei definir o que seja trabalha­dor de baixa renda. Essa lei ainda não existe. Mas de acordo com o art. 13 da Emenda Constitucional n° 20/98, “até que a lei discipline o acesso ao salário-família e auxílio-reclusão para os servidores, segu­rados e seus dependentes, esses benefícios serão concedidos apenas àqueles que tenham renda bruta mensal igual ou inferior a R$ 360,00, que, até a publicação da lei, serão corrigidos pelos mesmos índices aplicados aos benefícios do regime geral de previdência social”.

28 Valor atualizado, a partir de 1°/01/2010, pela Portaria MPS/MF n° 350, de 30/12/2009.

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Prestações do Regime Geral de Previdência Social

Os R$ 360,00 citados pela art. 13 da EC 20, corrigidos pelos mesmos índices de reajuste aplicados aos demais benefícios do RGPS, correspondem, atualmente, a R$798,30.

2.7.1. Beneficiários

De acordo com a Lei 8.213/91, os beneficiários do salário-família são os seguintes:

a) Segurado empregado e trabalhador avulso (caput do art. 65);b) O aposentado por invalidez ou por idade (art. 65, parágrafo

único); ec) Os demais aposentados com 65 anos ou mais de idade, se do

sexo masculino, ou 60 anos ou mais, se do feminino (art. 65, parágrafo único).

Todavia, no tocante aos aposentados, o Regulamento da Pre­vidência Social (RPS) faz algumas restrições. De acordo com o art. 82 do RPS, os beneficiários do salário-família seriam os seguintes:

a) Segurado empregado e trabalhador avulso;b) Empregado e trabalhador avulso aposentados por invalidez;c) Trabalhador rural aposentado por idade aos 60 anos, se ho­

mem, ou 55 anos, se mulher; ed) Demais empregados e trabalhadores avulsos aposentados aos

65 anos de idade, se homem, ou 60 anos, se mulher.

Como se vê, o Regulamento da Previdência Social retira de alguns aposentados o direito ao salário-família:

a) No caso do segurado aposentado por invalidez, só terá direito ao salário-família aquele que, no momento da aposentadoria, enquadrava-se como segurado empregado ou trabalhador avulso;

b) Tratando-se de segurado aposentado por idade, só terá direito ao salário-família aquele que, no momento da aposentado­ria, enquadrava-se como empregado, trabalhador avulso ou trabalhador rural; e

97 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

c) Tratando-se de aposentadoria por tempo de contribuição e aposentadoria especial, só terá direito ao salário-família, aò completar 65 anos de idade, se homem, ou 60 anos, se mulher, o aposentado que, no momento da aposentadoria, enquadrava- se como segurado empregado ou trabalhador avulso.

Entendo que esse dispositivo do Regulamento da Previdência Social é ilegal, porque interpreta restritivamente os direitos subje­tivos dos segurados estabelecidos por lei. Não havendo tal restrição na Lei, não cabe à autoridade administrativa “legislar”, limitando o direito do segurado ao benefício. Nesse sentido, confira-se o seguinte julgado do STJ:

“PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL. SALÁRIO- FAMÍLIA. BENEFICIÁRIO APOSENTADO. EMPREGADO DOMÉSTICO NA ATIVA. O beneficiário aposentado, ainda que tenha trabalhado, quando na ativa, como empregado doméstico, tem direito ao recebimento do salário-fam ília”.29

Em que pese ser pago em função da existência de dependentes (filhos ou equiparados de até 14 anos ou inválidos), o salário-família é devido ao segurado, e não ao dependente.

2.7.2. Carência

A concessão do salário-família independe de carência (Lei 8.213/91, art. 2 6 ,1).

2.7.3. Renda mensal do benefício

A renda mensal do benefício corresponde a uma cota de salário- família em relação a cada filho (oü equiparado) de até 14 anos ou inválido. O segurado receberá tantas cotas quantas sejam o número de filhos ou equiparados de até 14 anos ou inválidos.

0 valor de cada cota é de:1 - R$27,24, para o segurado com remuneração mensal não

superior a R$531,12; e29 STJ, REsp 263810, Rei. Ministro Fernando Gonçalves, 6aT., DJ 05/02/2001, p 143.

Hugo Coes 98

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Prestações do Regime Gerai de Previdência Social

II - R$19,19, para o segurado com remuneração mensal superior a R$531,12 e igual ou inferior a R$798,30.

Os valores acima são os vigentes a partir de 01/01/2010, de acordo com a Portaria MPS/MF n° 350, de 30/12/2009. Esses valores são corrigidos na mesma data e pelo mesmo índice de correção dos demais benefícios do RGPS.

Como se vê, os segurados que tenham remuneração mensal superior a R$798,30 não têm direito ao salário-família.

Para fins de reconhecimento do direito ao salário-família, consi- dera-se remuneração mensal do segurado o valor total do respectivo salário-de-contribuição, ainda que resultante da soma dos salários- de-contribuição correspondentes a atividades simultâneas (Portaria MPS/MF 350/09, art. 4o, § Io). O direito à cota do salário-família é definido em razão da remuneração que seria devida ao empregado no mês, independentemente do número de dias efetivamente traba­lhados (Portaria MPS/MF 350/09, art. 4o, § 2o).

Todas as importâncias que integram o salário-de-contribuição serão consideradas como parte integrante da remuneração do mês, exceto o 13° salário e o adicional de férias previsto no inciso XVII do art. 7o da Constituição Federal, para efeito de definição do direito à cota de salário-família (Portaria MPS/MF 350/09, art. 4o, § 3o).

Quando o pai e a mãe são segurados empregados ou trabalha­dores avulsos, ambos têm direito ao salário-família (RPS, art. 82, § 3o). Mas tendo havido divórcio, separação judicial ou de fato dos pais, ou em caso de abandono legalmente caracterizado ou perda do pátrio-poder, o salário-família passará a ser pago diretamente àquele que ficar encarregado pelo sustento do menor, ou a outra pessoa, se houver determinação judicial nesse sentido (RPS, art. 87).

Exemplo: Maria e Joaquim, empregados da empresa Beta S.A., são casados e têm, em comum, quatro filhos: Mateus (16 anos de ida­de), Marcos (12 anos), Lucas (8 anos) e João (4 anos). A remuneração mensal de Maria é R$530,00, e a de Joaquim, R$ 600,00. Neste caso, Maria receberá três cotas de salário-família, sendo R$27,24 o valor de cada cota, perfazendo um total de R$81,72. Joaquim receberá três cotas, sendo R$19,19 o valor de cada cota, perfazendo um total de R$57,57. Note-se que, apesar da existência de quatro filhos, cada um dos segurados só terá direito a três cotas de salário-família, pois o primeiro filho (Mateus) já tem mais de 14 anos de idade.

99 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

No exemplo, a empresa Beta S.A. pagará, a título de salário- família, um valor total de R$139,29 (que corresponde a 81,72 + 57,57). Quando a empresa Beta S.A. for recolher as contribuições previdenciárias incidentes sobre a remuneração dos segurados que lhes prestam serviço, terá o direito de se reembolsar desse valor despendido com o pagamento de salário-família.

O salário-família do trabalhador avulso independe do número de dias trabalhados no mês, devendo o seu pagamento corresponder ao valor integral da cota (RPS, art. 82, § 2o). Já para o empregado, a cota do salário-família é devida proporcionalmente aos dias traba­lhados nos meses de admissão e demissão (Portaria MPS/MF 350/09, art. 4o, § 4o).

0 salário-família pode ter valor inferior ao salário mínimo, pois não é benefício que substitua a remuneração mensal do segurado.

As cotas do salário-família não serão incorporadas, para qual­quer efeito, ao salário ou ao benefício (Lei n° 8.213/91, art. 70).

2.7.4. Pagamento do salário-famíliaDe acordo com o disposto no art. 82 do RPS, o salário-família

será pago mensalmente:1 - Ao empregado, pela empresa, juntamente com o respectivo

salário;II - Ao trabalhador avulso, pelo sindicato ou órgão gestor de

mão-de-obra, mediante convênio;III - Ao empregado e trabalhador avulso aposentados por inva­

lidez ou em gozo de auxílio-doença, pelo INSS, juntamente com o beneficio;

IV - Ao trabalhador rural aposentado por idade aos 60 anos, sedo sexo masculino, ou 55 anos, se do sexo feminino, pelo INSS, juntamente com a aposentadoria; e

V - Aos demais empregados e trabalhadores avulsos aposen­tados aos 65 anos de idade, se do sexo masculino, ou 60 anos, se do sexo feminino, pelo INSS, juntamente com a aposentadoria.

No caso do item I, quando o salário do empregado não for men­sal, o salário-família será pago juntamente com o último pagamento relativo ao mês.

H i j í o Coes 1 0 0

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Prestações do Regime Geral de Previdência Sociai

As cotas do salário-família, pagas pela empresa, deverão ser deduzidas quando do recolhimento das contribuições previdenciá- rias sobre a folha de salário (RPS, art. 82, § 4o). O salário-família é um benefício previdenciário, sendo, por isso, um encargo financeiro da Previdência Social. Embora o pagamento seja efetuado pela em­presa juntamente com o salário do empregado, ela tem o direito de reembolsar-se do valor despendido, efetuando a compensação quan­do do recolhimento das contribuições devidas à Previdência Social.

O empregado deve dar quitação à empresa, sindicato ou órgão gestor de mão-de-obra de cada recebimento mensal do salário-família, na própria folha de pagamento ou por outra forma admitida, de modo que a quitação fique plena e claramente caracterizada (RPS, art. 91).

2.7.5. Data de início do benefícioO pagamento do salário-família será devido a partir da data da

apresentação da certidão de nascimento do filho ou da documentação relativa ao equiparado, estando condicionado à apresentação anual de atestado de vacinação obrigatória, até seis anos de idade, e de comprovação semestral de frequência à escola do filho ou equiparado, a partir dos sete anos de idade (RPS, art. 84).

2.7.6. Suspensão do benefícioSe o segurado não apresentar o atestado de vacinação obrigatória

e a comprovação de frequência escolar do filho ou equiparado, nas datas definidas pelo INSS, o benefício do salário-família será sus­penso, até que a documentação seja apresentada (RPS, art. 84, § 2o).

De acordo a Instrução Normativa INSS n° 20, de 11/10/2007, o atestado de vacinação deve ser apresentado nos meses de novembro (art. 233, III) e o comprovante de frequência à escola, nos meses de maio e novembro (art. 233, V).

Não é devido salário-família no período entre a suspensão do benefício motivada pela falta de comprovação da frequência escolar e o seu reativamento, salvo se provada a frequência escolar regular no período (RPS, art. 84, § 3o). Se após a suspensão do pagamento do salário-família, o segurado comprovar a vacinação do filho, ainda que fora de prazo, caberá o pagamento das cotas relativas ao período suspenso (IN INSS n° 20/2007, art. 233, § 3o, II).

101 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

A comprovação de frequência escolar será feita mediante apresen­tação de documento emitido pela escola, na forma de legislação própria, em nome do aluno, onde consta o registro de frequência regular ou de atestado do estabelecimento de ensino, comprovando a regularidade da matrícula e frequência escolar do aluno (RPS, art. 84, § 4o).

2.7.7. Cessação do benefício0 direito ao salário-família cessa automaticamente:1 - Por morte do filho ou equiparado, a contar do mês seguinte

ao do óbito;II - Quando o filho ou equiparado completar quatorze anos

de idade, salvo se inválido, a contar do mês seguinte ao da data do aniversário;

III - Pela recuperação da capacidade do filho ou equiparadoinválido, a contar do mês seguinte ao da cessação da inca­pacidade;

IV - Pelo desemprego do segurado; ouV - Pela morte do segurado.

Para efeito de concessão e manutenção do salário-família, o segurado deve firmar termo de responsabilidade, no qual se comprometa a comunicar à empresa ou ao INSS qualquer fato ou circunstância que determine a perda do direito ao benefício, ficando sujeito, em caso do não cumprimento, às sanções penais e trabalhistas (RPS, art. 89).

A falta de comunicação oportuna de fato que implique cessação do salário-família, bem como a prática, pelo empregado, de fraude de qualquer natureza para o seu recebimento, autoriza a empresa, o INSS, o sindicato ou órgão gestor de mão-de-obra, conforme o caso, a descontar dos pagamentos de cotas devidas com relação a outros filhos ou, na falta delas, do próprio salário do empregado ou da renda mensal do seu benefício, o valor das cotas indevidamente recebidas, sem prejuízo das sanções penais cabíveis (RPS, art. 90).

Hugo Goes 102

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Prestações do Regime Geral de Previdência Social

Fato gerador Ser segurado de baixa renda (SC de até R$798,30); e ter filho (ou equiparado) até 14 anos de idade ou inválido.

Beneficiáriosa) Segurado empregado e trabalhador avulso;b) Aposentado por invalidez ou por idade; ec) Demais aposentados a partir dos 65 anos de idade, se homem, ou 60 anos de idade, se mulher.

Carência Não é exigida.

Rendamensal

Uma cota em relação a cada filho (ou equiparado) até 14 anos de idade ou inválido. O valor da cota é de:I - R$27,24, para o segurado com remuneração mensal não superior a R$531,12; eII - R$19,19, para o segurado com remuneração mensal superior a R$531,12 e igual ou inferior a R$798,30.

Pagamento

Será pago mensalmente:a) Pela empresa ~ ao empregado em atividade;b) Pelo sindicato ou OGMO - ao trabalhador avulso em atividade;c) Pelo INSS - ao segurado que tenha direito ao salário-fa- müia e esteja em gozo de auxílio-doença ou aposentadoria.

Início do benefício

A partir da data da apresentação da certidão de nascimen­to do filho ou da documentação relativa ao equiparado, estando condicionado à apresentação anual de atestado de vacinação obrigatória, até 6 anos de idade, e de comprova­ção semestral de frequência à escola do filho ou equipara­do, a partir dos 7 anos de idade.

Cessação do benefício

(a) por morte do filho ou equiparado, a contar do mês se­guinte ao do óbito; (b) quando o filho ou equiparado com­pletar 14 anos de idade, salvo se inválido, a contar do mês seguinte ao da data do aniversário; (c) pela recuperação da capacidade do filho ou equiparado inválido, a contar do mês seguinte ao da cessação da incapacidade; (d) pelo desem­prego do segurado; ou (e) pela morte do segurado.

2.8. Salário-maternidadeSalário-maternidade é o benefício devido à segurada da Pre­

vidência Social em função do parto, de aborto não criminoso, da adoção ou da guarda judicial obtida para fins de adoção de criança pelo período estabelecido em lei, conforme o motivo da licença.

103 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

2.8.1. Parto

O salário-maternidade é devido à segurada da previdência social, durante 120 dias, com início 28 dias antes e término 91 dias depois do parto (RPS, art. 93).

No entanto, nem sempre é possível definir, com antecedência, a data exata do parto. Por isso, em caso de parto antecipado ou não, a segurada sempre terá direito aos 120 dias (RPS, art. 93, § 4o). Por exemplo: mesmo que a segurada continue trabalhando até a data do parto, terá ainda o direito ao salário-maternidade durante 120 dias, contados, neste caso, a partir da data do parto. Assim, é melhor dizer que o salário-maternidade terá duração de 120 dias, e que a data de início da contagem desses 120 dias pode ocorrer no intervalo de 28 dias antes do parto até a data do parto.

Quando a segurada dá a luz a gêmeos, o valor e a duração do salário-maternidade não sofrem nenhuma alteração, pois o fato gerador do benefício é o parto, e não a quantidade de filhos que nascem. Para fins de concessão de salário-maternidade, considera-se parto o evento ocorrido a partir da 23a semana (6o mês) de gestação, inclusive em caso de natimorto (IN INSS n° 20/2007, art. 236, § 2o). Assim, a segurada que, involuntariamente, perder o feto a partir da 23a semana de gestação também receberá o salário-maternidade durante 120 dias.

Em casos excepcionais, os períodos de repouso anterior e poste­rior ao parto podem ser aumentados de mais duas semanas, mediante atestado médico específico (RPS, art. 93, § 3o). O alongamento dos períodos de repouso anterior e posterior ao parto consiste em ex- cepcionalidade, compreendendo as situações em que exista algum risco para a vida do feto ou criança ou da mãe, devendo o atestado médico ser apreciado pela Perícia Médica do INSS.

2.8.2. Aborto não criminosoEm caso de aborto não criminoso, comprovado mediante

atestado médico, a segurada terá direito ao salário-maternidade correspondente a duas semanas (RPS, art. 93, § 5o).

H i i í t o 104

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Prestações do Regime Geral de Previdência Social

0 aborto não criminoso abrange três situações:a) O aborto involuntário;b) Quando não há outro meio de salvar a vida da gestante (CP,

art 128,1); ec) Quando a gravidez resulta de estupro (CP, art. 128, II).

Nos casos em que a prática do aborto for tipificada como crime, a segurada não terá direito ao salário-maternidade.

2.8.3. Adoção de criança

De acordo com o disposto no art. 71-A da Lei 8.213/91, o salário- maternidade é devido à segurada da Previdência Social que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção de criança com idade:

1 - Até um ano completo, por 120 dias;II - A partir de um ano até quatro anos completos, por 60 dias; ouIII - A partir de quatro anos até completar oito anos, por 30 dias.

Note-se que a adoção de criança com idade superior a 8 anos não dá direito ao salário-maternidade.

O salário-maternidade é devido à segurada independentemente de a mãe biológica ter recebido o mesmo benefício quando do nas­cimento da criança (EPS, art. 93-A, § Io).

Para a concessão do salário-maternidade é indispensável que conste da nova certidão de nascimento da criança, ou do termo de guarda, o nome da segurada adotante ou guardiã, bem como, deste último, tratar-se de guarda para fins de adoção. (RPS, art. 93-A, § 3o).

O salário-maternidade não é devido quando o termo de guarda não contiver a observação de que é para fins de adoção ou só contiver o nome do cônjuge (marido) ou companheiro da segurada (RPS, art. 93-A, § 2o). Na adoção realizada por casal, somente a mulher receberá o salário-maternidade, pois este benefício é restrito às seguradas. Se o adotante for, exclusivamente, o homem, não haverá qualquer pagamento de salário-maternidade.

Quando houver adoção ou guarda judicial para adoção de mais de uma criança, é devido um único salário-maternidade relativo à criança de menor idade (RPS, art. 93-A, § 4o).

105 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

2.8.4. Beneficiárias

Todas as seguradas do RGPS têm direito ao salário-maternidade.

2.8.5. Situação da desempregada

A Constituição Federal proíbe a dispensa arbitrária ou sem justa causa da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto (ADCT, art. 10> II, “b”). Se a empregada gestante for dispensada sem justa causa, o período de estabilidade no emprego deve ser indenizado pela empresa. Essa indenização também englobará os valores que seriam pagos a título de salário- maternidade. Nesse caso, a previdência social não paga o salário- maternidade, estando a empregada protegida pela indenização. Se fosse pago, haveria bis in idem.30

Em face do exposto acima, há algumas situações em que o salário-maternidade da empregada será devido pela previdência social somente enquanto existir relação de emprego. Isso ocorre nos seguintes casos: (a) se a dispensa sem justa causa ocorrer durante o período de estabilidade da empregada gestante; ou (b) se a dispensa por justa causa ou a pedido ocorrer após a gestação.

Nos demais casos, a empregada terá direito ao salário-materni- dade enquanto estiver com a qualidade de segurada mantida.

Assim, durante o período de graça, a segurada desempregada fará jus ao recebimento do salário-maternidade nos casos de: (a) de­missão ocorrida antes da gravidez; ou (b) dispensa ocorrida durante a gestação, desde que por justa causa ou a pedido. Nestas situações, o benefício será pago diretamente pela previdência social (RPS, art. 97, parágrafo único, incluído pelo Decreto n° 6.122, de 13/06/2007).

As demais seguradas terão direito ao benefício, enquanto não perderem a qualidade de seguradas.

2.8.6. Carência

Para as seguradas contribuinte individual, especial e facultativa, o período de carência é de 10 contribuições mensais (Lei 8.213/91, art. 25, III).

30 n TAVARES, Marcelo Leonardo. Op. cit., p. 187.

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Prestações do Regime Gerai de Previdência Social

Para o segurado especial, considera-se período de carência o tempo mínimo de efetivo exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, igual ao número de meses necessário à conces­são do benefício requerido (RPS, art. 26, § Io). Assim, será devido o salário-maternidade à segurada especial, desde que comprove o exercício de atividade rural nos últimos 10 meses imediatamente anteriores à data do parto ou do requerimento do benefício, quando requerido antes do parto, mesmo que de forma descontínua (RPS, art. 93, § 2o). Portanto, não se exige da segurada especial que tenha recolhido 10 contribuições mensais, bastando que tenha exercido a atividade rural nos últimos 10 meses anteriores ao parto ou à data do requerimento do benefício.

Em caso de parto antecipado, o período de carência (quando exigido) será reduzido em número de contribuições equivalente ao número de meses em que o parto foi antecipado (Lei 8.213, art. 25, parágrafo único).

Para as seguradas empregada, trabalhadora avulsa e empregada doméstica, a concessão do salário-maternidade independe de carên­cia (Lei 8.213/91, art. 26, VI).

2.8.7. Renda mensal do benefícioO salário-maternidade para a segurada empregada consiste

numa renda mensal igual à sua remuneração integral, não podendo exceder o subsídio mensal dos Ministros do STF (RPS, art. 94 e CF, art. 248 c/c art. 37, XI).

Caso a remuneração integral da segurada seja superior ao subsí­dio mensal dos Ministros do STF, caberá à empresa o pagamento da diferença, pois a Constituição Federal assegura “licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de 120 dias” (CF, art. 7o, XVIII). Neste caso, o ônus financeiro do INSS será li­mitado ao valor do subsídio dos Ministros do STF; o que passar daí será ônus da empresa.

No caso de empregos concomitantes, a segurada fará jus ao salário-maternidade relativo a cada emprego (RPS, art. 98).

Nos meses de início e término do salário-maternidade da segu­rada empregada, o salário-maternidade será proporcional aos dias de afastamento do trabalho (RPS, art. 99).

107 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

0 salário-maternidade da segurada trabalhadora avulsa, pago diretamente pela previdência social, consiste numa renda mensal igual à sua remuneração integral equivalente a um mês de trabalho (RPS, art. 100).

De acordo com o disposto no art. 248 da Constituição Fede­ral, os benefícios pagos pelo RGPS observarão os limites fixados no art. 37, XI, da CF, ou seja, não podem exceder o subsídio dos Ministros do STF. Assim, o salário-maternidade da trabalhadora avulsa também não pode ser superior ao subsídio mensal dos Ministros do STF.

Nos termos do art. 101 do Regulamento da Previdência Social (RPS), o salário-maternidade para as demais seguradas consistirá:

1 - Em valor correspondente ao do seu último salário-de-contribuição, para a segurada empregada doméstica;

II - Em um salário mínimo, para a segurada especial;III - Em um doze avos da soma dos doze últimos salários-de-

contribuição, apurados em período não superior a quinze meses, para as seguradas contribuinte individual e facul­tativa.

No tocante à segurada especial, a renda mensal do salário- maternidade será de um salário mínimo se ela não contribui, facul­tativamente, com alíquota de 20% sobre o salário-de-contribuição. Todavia, se a segurada especial contribui, facultativamente, com 20% sobre o salário-de-contribuição, seu salário-maternidade será calcu­lado da mesma forma que se calcula o da contribuinte individual.

2.8.8. Pagamento do salário-maternidadeCabe à empresa pagar o salário-maternidade devido à respec­

tiva empregada gestante, efetivando-se a compensação quando do recolhimento das contribuições incidentes sobre a folha de salários e demais rendimentos pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço (Lei 8.213/91, art. 72, § Io).

O salário-maternidade é um benefício previdenciário, sendo, por isso, um encargo financeiro da Previdência Social. Assim, quando se trata de segurada empregada, o salário-maternidade é pago pela

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Prestações do Regime GeraJ de Previdência Sociai

empresa, mas esta tem o direito de reembolsar-se do valor despen­dido, efetuando a compensação quando do recolhimento de suas contribuições previdenciárias.

A empregada deve dar quitação à empresa dos recolhimentos mensais do salário-maternidade na própria folha de pagamento ou por outra forma admitida, de modo que a quitação fique plena e claramente caracterizada (RPS, art. 94, § 3o).

Para as demais seguradas, o salário-maternidade será pago dire­tamente pela Previdência Social (Lei 8.213/91, art. 72, § 3o e art. 73).

Na hipótese de adoção ou guarda judicial para fins de adoção, o salário-maternidade será pago diretamente pela Previdência Social, mesmo que a adotante seja segurada empregada (Lei 8.213/91, art. 71-A, parágrafo único).

2.8.9. Acumulação

O salário-maternidade não pode ser acumulado com benefício por incapacidade (RPS, art. 102). Quando ocorrer incapacidade em concomitância com o período de pagamento do salário-maternidade, o benefício por incapacidade, conforme o caso, deverá ser suspenso enquanto perdurar o referido pagamento, ou terá sua data de início adiada para o primeiro dia seguinte ao término do salário-materni­dade (RPS, art. 102, parágrafo único).

Por exemplo, se quando da concessão do salário-maternidade for verificado que a segurada recebe auxílio-doença, este deverá ser suspenso na véspera do início do salário-maternidade. Se logo após a cessação do salário-maternidade, emediante avaliação da Perícia Mé­dica do INSS, a pedido da segurada, for constatado que esta perma­nece incapacitada para o trabalho pela mesma doença que originouo auxílio-doença cessado, este será restabelecido..Se na avaliação da Perícia Médica do INSS ficar constatada a incapacidade da segurada para o trabalho em razão de moléstia diversa da que deu origem ao auxílio-doença cessado, deverá ser concedido novo benefício.

A segurada aposentada que retornar à atividade fará jus ao pagamento do salário-maternidade (RPS, art. 103).

109 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

2.8.10. Período de duração0 período de duração do salário-maternidade será:1 - Em caso de parto: 120 dias (com início 28 dias antes e tér­

mino 91 dias depois do parto). Em casos excepcionais, os períodos de repouso anterior e posterior ao parto podem ser aumentados de mais duas semanas, mediante atestado médico específico.

II - Em caso de aborto não criminoso: duas semanas.III - Em caso de adoção ou guarda judicial para fins de adoção:

a) Se a criança tiver até 1 ano completo: 120 dias;b) A partir de 1 ano até 4 anos completos: 60 dias;c) A partir de 4 anos até completar 8 anos: 30 dias.

Em caso de parto, em regra, os 120 dias serão contados da se­guinte forma: 28 dias antes do parto + o dia do parto + 91 dias apóso parto. Contudo, em muitos casos, é difícil definir o dia exato do parto, que pode não ocorrer na data marcada. Por isso, em caso de parto antecipado ou não, a segurada sempre terá direito aos 120 dias.

O início do afastamento do trabalho da segurada empregada será determinado com base em atestado médico ou certidão de nascimento do filho (RPS, art. 96).

Para íins de concessão de salário-maternidade, consídera-se parto o evento ocorrido a partir da 23a semana (6o mês) de gestação, inclusive em caso de natimorto (IN INSS n° 20/2007, art. 236, § 2o). Assim, a segurada que, involuntariamente, perder o feto a partir da 23a semana de gestação receberá o salário-maternidade durante 120 dias. Mas se tal evento ocorrer antes da 23a semana de gestação, o salário-maternidade será devido por um período de duas semanas, pois, neste caso, trata-se de aborto não criminoso.

2.8.11. Cessação do benefícioO pagamento do salário-maternidade cessa:a) Após o decurso do prazo legal (visto no tópico 2.8.11);b) Pelo óbito da segurada;c) Para a segurada empregada, pela dispensa sem justa causa

durante o período de estabilidade, ou pela dispensa por justa causa ou a pedido após a gestação (RPS, art. 97).

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Prestações do Regime Geral de Previdência Social

Fato gerador

a) Parto;b) Aborto não criminoso; ouc) Adoção ou guarda judicial para fins de adoção de criança de até 8 anos de idade.

Beneficiárias Todas as seguradas.

Carência

a) Contribuinte individual e facultativa: 10 contribuições mensais;b) Segurada especial: exercício de atividade rural nos últimos 10 meses anteriores à data do parto ou do requerimento do benefício, quando requerido antes do parto, mesmo que de forma descontínua;c) Empregada, trabalhadora avulsa e empregada doméstica: independe de carência.

Rendamensal

a) Empregada e trabalhadora avulsa: remuneração integral, limitada ao subsídio dos Ministros do STF;b) Empregada doméstica: seu último salário-de-contribuição;c) Segurada especial: um salário mínimo;d) Contribuinte individual e facultativa: 1/12 da soma dos 12 últimos salários-de-contribuição, apurados em período não superior a 15 meses.

Pagamento

a) Será pago pela empresa à segurada empregada;b) Para as demais seguradas, será pago diretamente pela previdência social.c) No caso de adoção de criança, será pago diretamente pela previdência social, mesmo que a adotante seja empregada.

Período de duração

I - Em caso de parto: 120 dias (com início 28 dias antes e término 91 dias depois do parto). Em casos excepcionais, os períodos de repouso anterior e posterior ao parto podem ser aumentados de mais duas semanas, mediante atestado médico específico.II - Em caso de aborto não criminoso: duas semanas.m - Em caso de adoção ou guarda judicial para fins de adoção:a) Se a criança tiver até 1 ano completo: 120 dias;b) A partir de 1 ano até 4 anos completos: 60 dias;c) A partir de 4 anos até completar 8 anos: 30 dias.

Cessação do benefício

a) Após o decurso do prazo legal (período de duração);b) Pelo óbito da segurada;c) Para a segurada empregada, pela dispensa sem justa causa durante o período de estabilidade, ou pela dispensa por justa causa ou a pedido após a gestação.

111 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

2.9. Pensão por morte

De acordo com o disposto no art. 74 da Lei 8.213/91, a pensão por morte será devida ao conjunto dos dependentes do segurado que falecer, aposentado ou não, a contar da data:

I - Do óbito, quando requerida até trinta dias depois deste;II - Do requerimento, quando requerida após o prazo previsto

no inciso anterior;III - Da decisão judicial, no caso de morte presumida.

No caso do disposto no inciso II, a data de início do benefício será a data do óbito, aplicados os devidos reajustamentos até a data de início do pagamento, não sendo devida qualquer importância relativa ao período anterior à data de entrada do requerimento (RPS, art. 105, § 1°).

2.9.1. Morte presumidaA pensão poderá ser concedida, em caráter provisório, por

morte presumida:I - Mediante sentença declaratória de ausência, expedida por

autoridade judiciária, a contar da data de sua emissão (Lei n° 8.213/91, art. 78, caput); ou

II - Em caso de desaparecimento do segurado por motivo decatástrofe, acidente ou desastre, a contar da data da ocor­rência, mediante prova hábil (Lei n° 8.213/91, art. 78, § Io).

Para fins de obtenção de pensão provisória, a morte presumida pode ser declarada judicialmente depois de seis meses de ausência (Lei n° 8.213/91, art. 78, caput). Para fins previdenciários, a ausência tem prazo próprio, não se confundindo com aquela regulada pelo Código Civil. A competência para julgar e processar a ação é da Justiça Federal.

No caso de desaparecimento por motivo de catástrofe, acidente ou desastre, não se exige decisão judicial ou decurso do prazo de seis meses. Exige-se, contudo, a comprovação do fato que gerou o desaparecimento. Servirão como prova hábil do desaparecimento, entre outras: (a) boletim do registro de ocorrência feito junto à au-

U mota r .r to c 112

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Prestações do Regime Gerai de Previdência Social

toridade policial; (b) prova documental de sua presença no local da ocorrência; (c) noticiário nos meios de comunicação.

Se existir relação entre o trabalho do segurado e a catástrofe, o acidente ou o desastre que motivaram seu desaparecimento, além dos documentos acima relacionados e dos documentos dos depen­dentes, caberá também a apresentação da CAT, sendo indispensável o parecer médico-pericial para caracterização do nexo técnico (IN INSS n° 20/2007, art. 283, parágrafo único).

Verificado o reaparecimento do segurado, o pagamento da pensão cessa imediatamente, ficando os dependentes desobrigados da repo­sição dos valores recebidos, salvo má-fé (Lei 8.213/91, art. 78, § 2o).

A cada seis meses o recebedor do benefício deverá apresentar documento da autoridade competente, contendo informações acerca do andamento do processo, relativamente à declaração de morte presumida, até que seja apresentada a Certidão de Óbito (IN INSS n° 20/2007, art. 284).

2.9.2. BeneficiáriosOs beneficiários da pensão por morte são os dependentes do

segurado falecido.De acordo com o disposto no art. 16 da Lei 8.213/91, são benefi­

ciários do RGPS, na condição de dependentes do segurado:I - O cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não

emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido (classe I);

II - Os pais (classe II);III - O irmão não emancipado, de qualquer condição, menor

de 21 anos ou inválido (classe III).

A existência de dependente de qualquer das classes exclui do direito às prestações os das classes seguintes (Lei 8.213/91, art. 16, § Io). Assim, existindo algum dependente da classe I, os das classes II e III não terão direito à pensão por morte. Os dependentes da classeIII só terão direito à pensão por morte se não houver dependentes das classes I ou II. Por isso, os pais (classe II) ou irmãos (classe III) deverão, para fins de concessão da pensão por morte, comprovar

113 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

a inexistência de dependentes preferenciais, mediante declaração firmada perante o INSS (RPS, art. 24).

Os dependentes de uma mesma classe concorrem em igualdade de condições (RPS, art. 16, § Io).

Por ocasião do requerimento de pensão por morte para o de­pendente menor de 21 anos (filho ou irmão), far-se-á necessária a apresentação de declaração da qual deverá constar que o dependente não é emancipado (RPS, art. 22, § 10).

O enteado e o menor tutelado equiparam-se a filho (classe I) mediante declaração do segurado e comprovação de dependência econômica, desde que não possua bens suficientes para o próprio sustento e educação (RPS, art. 16, § 3o). O menor sob tutela somente poderá ser equiparado aos filhos do segurado mediante apresentação de termo de tutela (RPS, art. 16, § 4o).

No caso de equiparado a filho (enteado e menor tutelado), a inscrição (para fins de concessão de pensão por morte) será feita mediante a comprovação da equiparação por documento escrito do segurado falecido manifestando essa intenção, da dependência econômica e da declaração de que não tenha sido emancipado (RPS, art. 22, § 13).

A concessão da pensão por morte não será protelada pela falta de habilitação de outro possível dependente, e qualquer inscrição ou habilitação posterior que importe em exclusão ou inclusão de dependente só produzirá efeito a contar da data da inscrição ou habilitação (Lei n° 8.213/91, art. 76).

O cônjuge divorciado ou separado judicialmente ou de fato que recebia pensão de alimentos concorrerá em igualdade de condições com os dependentes da classe I (Lei n° 8.213/91, art. 76, § 2o). A res­peito deste tema, o STJ tem um entendimento mais favorável à mulher divorciada ou separada judicialmente. De acordo com a Súmula 336 do STJ, “a mulher que renunciou aos alimentos na separação judicial tem direito à pensão previdenciária por morte do ex-marido, com­provada a necessidade econômica superveniente”.

O cônjuge ausente somente fará jus ao benefício a partir da data de sua habilitação e mediante prova de dependência econômica, não excluindo do direito a companheira ou o companheiro (Lei n°

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Prestações do Regime Geral de Previdência Social

8.213/91, art. 76, § Io). Trata-se, neste caso, de uma exceção à regra: a dependência econômica do cônjuge é presumida (Lei n° 8.213/91, art. 16, § 4o), salvo se ausente. Cônjuge ausente é aquele que se afasta do convívio conjugal por longo período.

Poderá ser concedida pensão por morte, apesar do instituidor ou dependente (ou ambos) serem casados com outrem, desde que comprovada a separação de fato ou judicial e a vida em comum (IN INSS/PRES n° 20/2007, art. 269, § 4o).

O cônjuge separado de fato terá direito à pensão por morte, mesmo que este benefício já tenha sido requerido e concedido à companheira ou ao companheiro, desde que beneficiário de pensão alimentícia (IN INSS n° 20/2007, art. 269). Equipara-se à percepção de pensão alimentícia o recebimento de ajuda econômico-financeira sob qualquer forma (IN INSS n° 20/2007, art. 269, § Io). A Certidão de Casamento, apresentada pelo cônjuge, na qual não conste averbação de divórcio ou de separação judicial, constitui documento bastante e suficiente para comprovação do vínculo, devendo ser exigida prova de recebimento de pensão alimentícia ou de ajuda econômico-financeira apenas nos casos de habilitação de companheiro(a) na mesma pensão (IN INSS n° 20/2007, art. 269, § 2o).

No caso de dependente inválido (filho ou irmão), para fins de inscrição e concessão de benefício, a invalidez será comprovada mediante exame médico-pericial a cargo do INSS (RPS, art. 22, § 9o). A pensão por morte somente será devida ao filho e ao irmão cuja invalidez tenha ocorrido antes da emancipação ou de completar a idade de 21 anos, desde que reconhecida ou comprovada, pela perícia médica do INSS, a continuidade da invalidez até a data do óbito do segurado (RPS, art. 108). Todavia, o dependente que recebe pensão por morte na condição de menor e que, antes de completar 21 anos, tornar-se inválido, terá direito à manutenção do benefício, independentemente da invalidez ter ocorrido antes ou após o óbito do segurado (RPS, art. 115).

O pensionista inválido está obrigado, independentemente de sua idade e sob pena de suspensão do benefício, a submeter-se a exame médico a cargo da previdência social, processo de reabilitação profissional por ela prescrito e custeado e tratamento dispensado

115 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

gratuitamente, exceto o cirúrgico e a transfusão de sangue, que são facultativos (RPS, art. 109).

Por força de decisão judicial da 3a Vara Federal Previdenciária de Porto Alegre/RS (Ação Civil Pública n° 2000.71.00.009347-0), fica garantido o direito à pensão por morte ao companheiro ou companheira homossexual, para óbitos ocorridos a partir de 5 de abril de 1991, desde que atendidas todas as condições exigidas para o reconhecimento do direito a esse benefício (IN INSS n° 20/2007, art. 271).

2.9.3. Óbito ocorrido após a perda da qualidade de segurado

Em regra, não será concedida pensão por morte aos dependentes do segurado que falecer após a perda da qualidade de segurado (Lei 8.213/91, art. 102, § 2o).

Todavia, caberá a concessão de pensão aos dependentes, mesmo que o óbito tenha ocorrido após a perda da qualidade de segurado, desde que, na data do óbito, o segurado já tivesse implementado todos os requisitos para obtenção de uma aposentadoria.

2.9.4. Carência

A concessão da pensão por morte independe de carência (Lei 8.213/91, art. 2 6 ,1).

2.9.5. Renda mensal inicialO valor mensal da pensão por morte será de 100% do valor dã

aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data de seu falecimento (Lei 8.213/91, art. 75).

Se o segurado falecido já era aposentado, a renda mensal ini­cial da pensão por morte será de 100% do valor da aposentadoria que ele recebia. Mas se o segurado não era aposentado, o valor da pensão por morte será de 100% do valor da aposentadoria que ele teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data de seu falecimento. Vale dizer, se o segurado falecido não era aposentado,

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Prestações do Regime Gerai de Previdência Social

para efeito de cálculo da pensão por morte, utiliza-se a mesma regra de cálculo da aposentadoria por invalidez, que corresponde a 100% do salário-de-benefício,

A pensão por morte, havendo mais de um pensionista, será rate­ada entre todos, em parte iguais (Lei n° 8.213/91, art. 77). Reverterá em favor dos demais a parte daquele cujo direito à pensão cessar (Lei n° 8.213/91, art. 77, § Io).

2.9.6. Cessação do pagamento da cota individual

0 pagamento da cota individual da pensão por morte cessa:1 - Pela morte do pensionista (Lei 8.213/91, art. 77, § 2o, I);II - Para o filho, a pessoa a ele equiparada ou o irmão, ao com­

pletar 21 anos, salvo se for inválido, ou pela emancipação, ainda que inválido, exceto, neste caso, se a emancipação for decorrente de colação de grau científico em curso de ensino superior (Lei 8.213/91, art. 77, § 2o, II);

III - Para o pensionista inválido, pela cessação da invalidez,verificada em exame médico-pericial a cargo da previdência social (Lei 8.213/91, art. 77, § 2o, III).

IV - Pela adoção, para o filho adotado que receba pensão pormorte dos pais biológicos (RPS, art. 114, IV). Todavia, a pensão não cessará quando o cônjuge ou companheiro adota o filho do outro.

2.9.7. Cessação do benefício

Com a extinção da cota do último pensionista, a pensão por morte será encerrada (Lei 8.213/91, art. 77, § 3o).

No caso de morte presumida, verificado o reaparecimento do segurado, o pagamento da pensão cessa imediatamente, ficando os dependentes desobrigados da reposição dos valores recebidos, salvo má-fé (Lei 8.213/91, art. 78, § 2o). Note-se que, neste caso, o pagamento da pensão por morte de todos os dependentes cessará na mesma data.

117 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

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Fato gerador

a) Morte do segurado.b) Sentença dedaratória de ausência, expedida por autoridade judiciária.c) Desaparecimento do segurado por motivo de catástrofe, acidente ou desastre, mediante apresentação de prova hábil. Neste caso, é dispensada a decisão judicial.

Beneficiários Os dependentes do segurado falecido (respeitada a ordem das classes).

Carência Não é exigida.

Rendamensal

100% do valor da aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data de seu falecimento.

Início do benefício

I - Regra Geral:a) Data do óbito, quando requerida até 30 dias depois deste;b) Data do requerimento, quando requerida após os 30 dias.II - Nos casos de morte presumida:a) Data da sentença dedaratória de ausência, expedida por autoridade judiciária; oub) Data da ocorrência do desaparecimento do segurado por motivo de catástrofe, acidente ou desastre, mediante prova hábil.

Cessação do pagamento

da cota individual

a) Pela morte do pensionista;b) Para o filho, a pessoa a ele equiparada ou o irmão, ao completar 21 anos, salvo se for inválido, ou pela emancipação, ainda que inválido, exceto, neste caso, se a emancipação for decorrente de colação de grau científico em curso de ensino superior;c) Para o pensionista inválido, pela cessação da invalidez, verificada em exame médico-pericial a cargo da previdência social;d) Pela adoção, para o filho adotado que receba pensão por morte dos pais biológicos.

Cessação do benefício

a) Com a extinção da cota do último pensionista, a pensão por morte será encerrada;b) No caso de morte presumida, verificado o reaparecimento do segurado, o pagamento da pensão cessa imediatamente.

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Prestações do Regime Geral de Previdência Social

2.10. Auxílio-reclusão

O auxílio-reclusão será devido, nas mesmas condições da pensão por morte, aos dependentes do segurado recolhido à prisão, que não receber remuneração da empresa nem estiver em gozo de auxílio- doença, de aposentadoria ou de abono de permanência em serviço (Lei n° 8.213/91, art. 80).

O inciso IV do art. 201 da Constituição Federal, na redação dada pela EC 20/98, restringiu a concessão do auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda. De acordo com o art. 13 da Emenda Constitucional n° 20/98, “até que a lei discipline o acesso ao salário-família e auxílio-reclusão para os servidores, segurados e seus dependentes, esses benefícios serão concedidos apenas àqueles que tenham renda bruta mensal igual ou inferior a R$ 360,00, que, até a publicação da lei, serão corrigidos pelos mesmos índices aplicados aos benefícios do regime geral de previdência social”. Os R$ 360,00 citados pela art 13 da EC 20, corrigidos pelos mesmos índices de reajuste aplicados aos demais benefícios do RGPS, correspondem, atualmente, a R$798,30.31

Assim, para que os dependentes tenham direito ao auxílio- reclusão é necessário que o segurado:

a) Tenha sido recolhido à prisão;b) Não receba remuneração da empresa;c) Não esteja em gozo de auxílio-doença, aposentadoria ou

abono de permanência em serviço; ed) Desde que o seu último salário-de-contribuição seja igual ou

inferior a R$798,30.

Ê devido auxílio-reclusão aos dependentes do segurado quando não houver salário-de-contribuição na data do seu efetivo recolhi­mento à prisão, desde que mantida a qualidade de segurado (RPS, art. 116, § Io).

2.10.1. Beneficiários

Os beneficiários do auxílio-reclusão são os dependentes do se­gurado recolhido à prisão (respeitada a ordem das classes).

31 Valor atualizado, a partir de 1°/01/2010, pe!a Portaria MPS/MF n°350, de 30/12/2009.

119 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

Aplicam~se ao auxílio-reclusão as normas referentes à pensão por morte, sendo necessária, no caso de qualificação de dependentes após a reclusão ou detenção do segurado, a preexistência da dependência econômica (RPS, art. 116, § 3o). Se, por exemplo, a realização do casa­mento ocorrer durante o recolhimento do segurado à prisão, o auxílio- reclusão não será devido ao seu cônjuge, considerando a dependência superveniente ao fato gerador (IN INSS, n° 20/2007, art. 294).

O filho nascido durante o recolhimento do segurado à prisão terá direito ao benefício de auxílio-reclusão a partir de seu nascimento, desde que tenha ocorrido até trezentos dias após a data da reclusão do segurado instituidor (IN INSS n° 20/2007, art. 293, § 2o).

O exercício de atividade remunerada pelo segurado recluso em cumprimento de pena, em regime fechado ou semi-aberto, que contribuir na condição de contribuinte individual ou facultativo, não acarreta perda do direito ao recebimento do auxílio-reclusão pelos seus dependentes (Lei n° 10.666/2003, art. 2o, caput).

2.10.2. Carência

A concessão do auxílio-reclusão independe de carência (Lei 8.213/91, art. 2 6 ,1).

2.10.3. Requerimento do benefício

O requerimento do auxílio-reclusão deverá ser instruído com certidão do efetivo recolhimento à prisão, sendo obrigatória, para a manutenção do benefício, a apresentação de declaração de perma­nência na condição de presidiário (Lei n° 8.213/91, art. 80, parágrafo único).

É vedada a concessão do auxílio-reclusão após a soltura do segurado (RPS, art. 119).

2.10.4. Conversão em pensão por morte

Falecendo o segurado detido ou recluso, o auxílio-reclusão que estiver sendo pago será automaticamente convertido em pensão por morte (RPS, art. 118).

Será devida a pensão por morte aos dependentes se o óbito do se~

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Prestações do Regime Geral de Previdência Sociaf

gurado ocorrer até doze meses após o livramento (prazo de manutenção da qualidade de segurado), mesmo que os dependentes não recebam o auxílio-reclusão em razão do salário-de-contribuição do segurado recluso ser superior a R$798,3032 (RPS. Art. 118, parágrafo único).

2.10.5. Renda mensal inicial

De acordo com o art. 80 da Lei n° 8.213/91, o auxílio-reclusão será devido nas mesmas condições da pensão por morte. Por isso, o Regulamento da Previdência Social determina que “o valor mensal da pensão por morte ou do auxílio-reclusão será de cem por cento do valor da aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data de seu falecimen­to” (RPS, art. 39, § 3o). Contudo, quando aplicado ao auxílio-reclusão, este dispositivo do RPS apresenta algumas imprecisões. Se o segurado que foi recolhido à prisão já era aposentado, os seus dependentes não terão direito ao recebimento do auxílio-reclusão. Assim, o melhor é dizer que a renda mensal inicial do auxílio-reclusão será de 100% do valor da aposentadoria que o segurado teria direito, se estivesse aposentado por invalidez na data em que foi recolhido à prisão. Ou seja, para efeito de cálculo do auxílio-reclusão, utiliza-se a mesma regra de cálculo da aposentadoria por invalidez, que corresponde a 100% do salário-de-benefício.

A respeito deste tema, no concurso para Defensor Público da União, realizado em 2007, o CESPE/UnB elaborou a seguinte questão:

“Considere que Silvano seja segurado não aposentado da pre­vidência social e tenha sido condenado pela prática de crime que determinou o início do cumprimento da pena em regime fechado. Nessa situação, a renda mensal inicial do auxílio- reclusão devida aos dependentes é calculada de acordo com o modelo de cálculo a ser utilizado em caso de aposentadoria por invalidez”.

A questão foi considerada como certa, pois a renda mensal ini­cial do auxílio-reclusão é calculada de acordo com a mesma regra de cálculo da aposentadoria por invalidez. Vale dizer, a renda mensal32 Valor atualizado, a partir de 1*701/2010, pela Portaria MPS/MF n° 350, de 30/12/2009.

121 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

inicial do auxílio-reclusão é de 100% do salário-de-benefício, pois este é o valor da renda mensal inicial da aposentadoria por invalidez.

Havendo mais de um dependente com direito ao auxílio-reclu­são, o benefício será rateado entre todos, em partes iguais. Reverterá em favor dos demais a parte daquele cujo direito ao benefício cessar (Lei 8.213/91, art. 77, § Io).

2.10.6. Data de início do benefícioA data de início do benefício será fixada na data do efetivo

recolhimento do segurado à prisão, se requerido até 30 dias depois desta, ou na data do requerimento, se posterior (RPS, art. 116, § 4o).

2.10.7. Período de duraçãoO auxílio-reclusão é devido, apenas, durante o período em que

o segurado estiver recolhido à prisão sob regime fechado ou semi- aberto (RPS, art. 116, § 5o). Ou seja, o auxílio-reclusão será mantido enquanto o segurado permanecer detento ou recluso (RPS, art. 117).

O beneficiário deverá apresentar trimestralmente atestado de que o segurado continua detido ou recluso, firmado pela autoridade competente (RPS, art. 117, § Io).

2.10.8. Suspensão do benefícioNo caso de fuga, o benefício será suspenso e, se houver recaptura do

segurado, será restabelecido a contar da data em que esta ocorrer, desde que esteja ainda mantida a qualidade de segurado (RPS, art. 117, § 2o).

Se houver exercício de atividade dentro do período de fuga, o mesmo será considerado para a verificação da perda ou não da qualidade de segurado (RPS, art. 117, § 3o).

2.10.9. Cessação do pagamento da cota individualO pagamento da cota individual do auxílio-reclusão cessa:

a) Pela morte do dependente (Lei 8.213/91, art. 77, § 2o, I);b) Para o filho, a pessoa a ele equiparada ou o irmão, ao com­

pletar 21 anos, salvo se for inválido, ou pela emancipação, ainda que inválido, exceto, neste caso, se a emancipação for

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Prestações do Regime Gerai de Previdência Social

decorrente de colação de grau científico em curso de ensino superior (Lei 8.213/91» art. 77, § 2o, II);

c) Para o dependente inválido (filho ou irmão), pela cessação da invalidez, verificada em exame médico-pericial a cargo da previdência social (Lei 8.213/91, art. 77, § 2o, III).

2.10.10. Cessação do benefícioO auxílio-reclusão cessa (para todos os dependentes):

a) Na data do livramento do segurado;b) Na data do falecimento do segurado (neste caso o auxílio-reclu­

são será automaticamente convertido em pensão por morte);c) Se o segurado passar a receber aposentadoria; oud) Se o segurado passar a cumprir pena em regime aberto,

trabalhando para determinada empresa com vínculo tra­balhista. Neste caso, os dependentes não terão mais direito ao auxílio-reclusão, pois o art. 80 da Lei 8.213/91 é claro ao determinar que este benefício seja devido apenas na hipótese de o segurado recolhido à prisão não receber remuneração da empresa.

Fato gerador

Recolhimento à prisão do segurado de baixa renda que não receber remuneração da empresa nem estiver em gozo de auxílio-doença, de aposentadoria ou de abono de perma­nência em serviço.

Beneficiários Os dependentes do segurado recolhido à prisão (respeita­da a ordem das classes).

Carência Não é exigida.

Rendamensal

100% do valor da aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data em que foi recolhido à prisão.

Início do benefício

Data do efetivo recolhimento do segurado à prisão, se re­querido até 30 dias depois desta, ou na data do requerimen­to, se posterior.

Período de duração

O auxílio-reclusão será mantido enquanto o segurado permanecer detento ou recluso.

123 Capítuío 3

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Resumo de Direito Previdenciário

Suspensão do benefício

No caso de fuga, o benefício será suspenso e, se houver re­captura do segurado, será restabelecido a contar da data em que esta ocorrer, desde que esteja ainda mantida a qualida­de de segurado.

Cessação do pagamento

da cota individual

a) Pela morte do dependente;b) Para o filho, a pessoa a ele equiparada ou o irmão, ao completar 21 anos, salvo se for inválido, ou pela emanci­pação, ainda que inválido, exceto, neste caso, se a eman­cipação for decorrente de colação de grau científico em curso de ensino superior;c) Para o dependente inválido, pela cessação da invalidez, verificada em exame médico-pericial a cargo da previdên­cia social.

Cessação do benefício

a) Na data do livramento do segurado;b) Na data do falecimento do segurado;c) Se o segurado passar a receber aposentadoria; oud) Se o segurado passar a cumprir pena em regime aberto, tra­balhando para determinada empresa com vínculo trabalhista.

2.11. Abono anualSerá devido abono anual ao segurado e ao dependente que,

durante o ano, recebeu auxílio-doença, auxílio-acidente, aposenta­doria, salário-maternidade, pensão por morte ou auxílio-reclusão (RPS, art. 120).

Como fica evidente, o único benefício previdenciário que não dá origem ao abono anual é o salário-família.

O abono anual também pode ser chamado de gratificação na­talina (CF, art. 201, § 6o) ou décimo terceiro salário.

2.11.1. Forma de cálculoO abono anual corresponde ao valor da renda mensal do be­

nefício no mês de dezembro ou no mês da alta ou da cessação do benefício (IN INSS n* 20/2007, art 301).

O recebimento de beneficio por período inferior a doze meses, dentro do mesmo ano, determina o cálculo do abono anual de forma proporcional.

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Prestações do Regime Geral de Previdência SociaJ

O período igual ou superior a quinze dias, dentro do mês, será considerado como mês integral para efeito de cálculo do abono anual.

O valor do abono anual correspondente ao período de duração do salário-maternidade será pago, em cada exercício, juntamente com a última parcela do benefício (RPS, art. 102, § 2o).

2.11.2. Quando é pagoO abono anual é pago:a) No mês de Dezembro; oub) No mês de cessação do benefício (por exemplo: alta do auxílio-

doença, término da licença-matemidade), juntamente com a última parcela.

3. Serviços do RGPS

Serviços são prestações previdenciárias de natureza imaterial postas à disposição dos segurados e dos dependentes do RGPS.33

3.1. Habilitação e reabilitação profissionalA habilitação e a reabilitação profissional e social deverão pro­

porcionar ao beneficiário incapacitado parcial ou totalmente parao trabalho, e às pessoas portadoras de deficiência, os meios para a (re)educação e de (re)adaptação profissional e social indicados para participar do mercado de trabalho e do contexto em que vive (Lei 8.213/91, art. 89).

3.1.1. BeneficiáriosCabe ao INSS promover a prestação deste serviço aos segurados,

inclusive aposentados, e, de acordo com as possibilidades adminis­trativas, técnicas, financeiras e as condições locais do órgão, aos seus dependentes, preferencialmente mediante a contratação de serviços especializados (RPS, art. 136, § Io).

As pessoas portadoras de deficiência serão atendidas mediante celebração de convênio de cooperação técnico-financeira (RPS, art. 136, § 2o).33 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de e LAZZARI, João Batista. Op. cit., p. 598.

125 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

3.1.2. Carência

A concessão de habilitação e de reabilitação profissional inde­pende de carência (Lei 8.213/91, art. 26, V).

3.1.3. Processo de habilitação e reabilitação profissional

De acordo com o disposto no art. 137 do RPS, o processo de habilitação e de reabilitação profissional do beneficiário será desen­volvido por meio das funções básicas de:

I - Avaliação do potencial laborativo;II - Orientação e acompanhamento da programação profissional;III - Articulação com a comunidade, inclusive mediante a

celebração de convênio para reabilitação física restrita a segurados que cumpriram os pressupostos de elegibilidade ao programa de reabilitação profissional, com vistas ao reingresso no mercado de trabalho; e

IV - Acompanhamento e pesquisa da fixação no mercado detrabalho.

A execução das funções acima previstas dar-se-á, preferencial­mente, mediante o trabalho de equipe multiprofissional especiali­zada em medicina, serviço social, psicologia, sociologia, fisioterapia, terapia ocupacional e outras afins ao processo, sempre que possível na localidade do domicílio do beneficiário, ressalvadas as situações excepcionais em que este terá direito à reabilitação profissional fora dela (RPS, art. 137, § Io).

3.1.3.1. Fornecimento de equipamentos

Quando indispensáveis ao desenvolvimento do processo de reabilitação profissional, o INSS fornecerá aos segurados, inclusive aposentados, em caráter obrigatório, prótese e órtese, seu reparo ou substituição, instrumentos de auxílio para locomoção, bem como equipamentos necessários à habilitação e à reabilitação profissional, transporte urbano e alimentação e, na medida das possibilidades do Instituto, aos seus dependentes (RPS, art. 137, § 2o). No caso das pessoas portadoras de deficiência, a concessão desses recursos ma­

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Prestações do Regime Gerai de Previdência Social

teriais ficará condicionada à celebração de convênio de cooperação técnico-financeira (RPS, art. 137, § 3o).

O INSS não reembolsará as despesas realizadas com a aquisição de órtese ou prótese e outros recursos materiais não prescritos ou não autorizados por suas unidades de reabilitação profissional (RPS, art. 137, § 4o).

3.1.3.2. Programação profissionalA programação profissional será desenvolvida mediante cursos e/

ou treinamentos, na comunidade, por meio de contratos, acordos e con­vênios com instituições e empresas públicas ou privadas (RPS, art. 139).

O treinamento do reabilitando, quando realizado em empresa, não estabelece qualquer vínculo empregatício ou funcional entre o reabili­tando e a empresa, bem como entre estes e o INSS (RPS, art. 139, § Io).

Compete ao reabilitando, além de acatar e cumprir as normas estabelecidas nos contratos, acordos ou convênios, pautar-se no regulamento daquelas organizações (RPS, art. 139, § 2o).

3.1.3.3. Conclusão do processoConcluído o processo de reabilitação profissional, o INSS emitirá

certificado individual indicando a função para a qual o reabilitando foi capacitado profissionalmente, sem prejuízo do exercício de outra para a qual se julgue capacitado (RPS, art. 140).

Não constitui obrigação da previdência social a manutenção do segurado no mesmo emprego ou a sua colocação em outro para o qual foi reabilitado, cessando o processo de reabilitação profissional com a emissão do certificado (RPS, art. 140, § Io).

Cabe à previdência social a articulação com a comunidade, com vistas ao levantamento da oferta do mercado de trabalho, ao direcionamento da programação profissional e à possibilidade de reingresso do reabilitando no mercado formal (RPS, art. 140, § 2o).

3.1.4. Obrigação das empresasDe acordo com o disposto no art. 93 da Lei 8.213/91, a empresa

com 100 ou mais empregados está obrigada a preencher de 2% a 5%

127 Capítulo 3

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Resumo de Direito Previdenciário

dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção:

I - 200 empregados, dois por cento;II - de 201 a 500 empregados» três por cento;III - de 501 a 1.000 empregados, quatro por cento; ouIV - mais de 1.000 empregados, cinco por cento.

A dispensa de trabalhador reabilitado ou de deficiente habilitado ao final de contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias, e a imotivada, no contrato por prazo indeterminado, só poderá ocorrer após a contratação de substituto de condição semelhante (Lei 8.213/91, art. 93, § Io).

O Ministério do Trabalho e da Previdência Social deverá gerar estatísticas sobre o total de empregados e as vagas preenchidas por reabilitados e deficientes habilitados, fornecendo-as, quando solici­tadas, aos sindicatos ou entidades representativas dos empregados (Lei 8.213/91, art. 93, § 2o).

3.2. Serviço socialCompete ao serviço social esclarecer junto aos beneficiários seus

direitos sociais e os meios de exercê-los e estabelecer conjuntamente com eles o processo de solução dos problemas que emergirem da sua relação com a Previdência Social, tanto no âmbito interno da instituição como na dinâmica da sociedade (Lei n° 8.213/91, art. 88).

O serviço social constitui atividade auxiliar do seguro social e visa prestar ao beneficiário orientação e apoio no que concerne à solução dos problemas pessoais e familiares e à melhoria da sua inter-relação com a previdência social, para a solução de questões referentes a benefícios, bem como, quando necessário, à obtenção de outros recursos sociais da comunidade (RPS, art. 161).

3.2.1. BeneficiáriosOs beneficiários do serviço social são todos os segurados e seus

dependentes.Será dada prioridade de atendimento a segurados em benefício

por incapacidade temporária e atenção especial a aposentados e

Huso Goes 128

Page 136: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

Prestações do Regime Geral de Previdência Social

pensionistas (Lei n° 8.213/91, art. 88, § Io).

3.2.2. carência

A concessão deste serviço independe de carência (Lei 8.213/91, art. 26, IV).

3.2.3. Regras gerais

Para assegurar o efetivo atendimento dos usuários serão uti­lizadas intervenção técnica, assistência de natureza jurídica, ajuda material, recursos sociais, intercâmbio com empresas e pesquisa social, inclusive mediante celebração de convênios, acordos ou con­tratos (Lei 8.213/91, art. 88, § 2o).

O Serviço Social terá como diretriz a participação do beneficiário na implementação e no fortalecimento da política previdenciária, em articulação com as associações e entidades de classe (Lei 8.213/91, art. 88, § 3o).

O Serviço Social, considerando a universalização da Previdência Social, prestará assessoramento técnico aos Estados e Municípios na elaboração e implantação de suas propostas de trabalho (Lei 8.213/91, art. 88, § 4o).

129 Capítulo 3

Page 137: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

Empresa e empregador doméstico: conceito previdenciário

Capítulo 4

Os conceitos de empresa e de empregador doméstico são funda­mentais para a adequada compreensão do custeio da seguridade social.

1. EmpresaO conceito de empresa, para a previdência social, é mais amplo

do que o previsto em outros ramos do Direito (como, por exemplo, o Direito Comercial, Tributário, Civil e Trabalhista). Para o Direito Previdenciário, o importante é a existência de vínculo de prestação de serviço, empregatício ou não, com os segurados obrigatórios. Assim, até as pessoas jurídicas de direito público estão incluídas no conceito de empresa.34

O art. 15, I, da Lei 8.212/91 conceitua empresa nos seguintes termos:

"Empresa: a firma individual ou a sociedade que assume o risco de atividade econômica urbana ou rural, com fins lucrativos ou não, bem como os órgãos e as entidades da administração pública direta, indireta e fundacional .**

Note-se que, para fins previdenciários, até mesmo um órgão público é considerado empresa. Assim, uma prefeitura municipal, por exemplo, tem as mesmas obrigações previdenciárias que são exi­gidas de uma empresa privada (elaborar folha de pagamento e GFIP, escriturar a contabilidade, descontar a contribuição dos segurados, recolher as contribuições previdenciárias etc.).

Portanto, a referência aos órgãos e às entidades públicas destina- se a evidenciar a responsabilidade destes quanto às contribuições previdenciárias incidentes sobre a remuneração dos segurados do RGPS que lhes prestarem serviço.

1.1. Equiparados a empresa

De acordo com o disposto no parágrafo único do art. 15 da Lei 8.212/91, “equipara-se a empresa, para os efeitos desta Lei, o contri­34 TAVARES, Marcelo Leonardo. Op. cit., p. 85.

131

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Resumo de Direito Previdenciário

buinte individual em relação a segurado que lhe presta serviço, bem como a cooperativa, a associação ou entidade de qualquer natureza ou finalidade, a missão diplomática e a repartição consular de car­reira estrangeiras”.

Percebe-se a intenção do legislador de não deixar ao desamparo previdenciário o trabalhador que presta serviço a pessoas físicas (contribuintes individuais), ou mesmo a entidades que não tenham fins lucrativos (cooperativas, associações, sindicatos, igrejas etc.).

0 Regulamento da Previdência Social (RPS) dispõe a respeito dos equiparados a empresa de modo mais completo. Nos termos do parágrafo único do art. 12 do RPS, equiparam-se a empresa:

1 - O contribuinte individual, em relação a segurado que lhepresta serviço;

II - A cooperativa, a associação ou a entidade de qualquernatureza ou finalidade, inclusive a missão diplomática e arepartição consular de carreiras estrangeiras;

III - O operador portuário e o órgão gestor de mão-de-obra deque trata a Lei 8.630/93;35 e

IV - O proprietário ou dono de obra de construção civil, quandopessoa física, em relação a segurado que lhe presta serviço.

Tal previsão legal tem como objetivo evitar a elisão das contribui­ções previdenciárias motivada por aspectos meramente formais. Por isso, para ser considerado ou equiparado a empresa basta utilizar-se de trabalho remunerado na realização de alguma atividade, ainda que não econômica.36

Aquelas pessoas (físicas ou jurídicas) que não são consideradas como empresa, mas são equiparadas a empresa, terão a obrigação de recolher as mesmas contribuições previdenciárias que uma empresa está obrigada.

Como exemplo, imagine-se que um advogado (pessoa física), que é contribuinte individual, contrate um empregado para trabalhar no seu escritório de advocacia. Em relação a este empregado que lhe presta serviço, o advogado é equiparado a empresa. Nessa situação,35 A Lei n° 8.630/93 dispõe sobre o regime jurídico da exploração dos portos orga­nizados e das instalações portuárias e dá outras providências.36 JBRAHÍM, Fábio Zambitte. Op. cit., p. 160.

Huco Coes 132

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Empresa e empregador doméstico: conceito previdenciário

esse advogado terá de recolher todas as contribuições previdenci- árias que uma empresa está obrigada a recolher quando contrata um empregado. Deve também elaborar folha de pagamento e GFIP referente a seu empregado.

Em suma, para fins previdenciários, toda pessoa jurídica (seja de direito público ou privado) é considerada (ou equiparada) a em­presa. Adicionalmente, há dois casos em que pessoas físicas podem ser equiparadas a empresa: o contribuinte individual e o proprietário ou dono de obra de construção civil, ambos somente em relação a segurado que lhe presta serviço.

2. Empregador doméstico

O art, 12, II, do RPS conceitua o empregador doméstico nos seguintes termos:

“Empregador doméstico - aquele que admite a seu serviço, me­diante remuneração, sem finalidade lucrativa, empregado doméstico.”

O empregador doméstico é necessariamente pessoa física, pois a pessoa jurídica não possui empregado doméstico.

É importante salientar que o empregador doméstico, perante a previdência social, não é equiparado a empresa.

A atividade exercida pelo empregado doméstico não pode gerar lucro para o empregador. Além disso, o serviço tem que ser prestado no âmbito residencial do empregador doméstico.

133 ‘ Capítulo 4

Page 140: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

De acordo com o disposto no caput do art. 195 da Constituição federal, a seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos prove­nientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das contribuições sociais.

Capítulo 5

Financiamento da seguridade social

No âmbito federal, o orçamento da seguridade social é composto das seguintes receitas: da União, das contribuições sociais e de outras fontes (Lei 8.212/91, art. 11).

As contribuições sociais destinadas à seguridade social são as seguintes:

I - As das empresas, incidentes sobre a remuneração paga, devi­da ou creditada aos segurados e demais pessoas físicas a seu serviço, mesmo sem vínculo empregatício;

II - As dos empregadores domésticos, incidentes sobre o salário- de-contribuição dos empregados domésticos a seu serviço;

III - As dos trabalhadores, incidentes sobre seu saláriõ-de- contribuição;

IV - As das associações desportivas que mantêm equipe de fu­tebol profissional, incidentes sobre a receita bruta decorrente dos espetáculos desportivos de que participem em todo terri­tório nacional em qualquer modalidade desportiva, inclusive jogos internacionais, e de qualquer forma de patrocínio, licenciamento de uso de marcas e símbolos, publicidade, propaganda e transmissão de espetáculos desportivos;

135

Page 141: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

Resumo de Direito Previdenciário

V - As incidentes sobre a receita bruta proveniente da comer­cialização da produção rural;

VI - As das empresas, incidentes sobre a receita ou o faturamento e o lucro; e

VII - As incidentes sobre a receita de concursos de prognósticos.VIII - As do importador de bens ou serviços do exterior, ou de

quem a lei a ele equiparar (CF, art. 195, IV).Os recursos provenientes das contribuições sociais previstas

acima nos itens I a V só podem ser utilizados para pagamento dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social (CF, art. 167, XI). Por isso, podemos denominá-las de “contribuições previdenciárias”.

Os recursos provenientes das contribuições sociais descritas nos itens V a VIII podem ser aplicados em qualquer área da Seguridade Social (saúde, assistência social ou previdência social).

No quadro a seguir, resumiremos as informações básicas a res­peitos das receitas da Seguridade Social no âmbito federal:

u. 1 3 6

Page 142: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

Financiamento da Seguridade Social

Passemos, agora, ao estudo de cada uma das receitas da Segu­ridade Social.

1. Contribuição da União

A contribuição da União é constituída de recursos adicionais do Orçamento Fiscal, fixados obrigatoriamente na Lei Orçamentária Anual (art. 16 da Lei n° 8.212/91).

A União é responsável pela cobertura de eventuais insuficiências financeiras da Seguridade Social, quando decorrentes do pagamento de benefícios de prestação continuada da previdência social, na forma da Lei Orçamentária Anual (Lei n° 8.212/91, art. 16, parágrafo único).

137 Capítulo 5

Page 143: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

Resumo de Direito Previdenciário

O Tesouro Nacional repassará mensalmente recursos referentes às contribuições incidentes sobre o faturamento e o lucro das empre­sas e sobre a receita de concursos de prognósticos, destinados à exe­cução do Orçamento da Seguridade Social (Lei n° 8.212/91, art. 19).

As contribuições previdenciárias são insuficientes para o pa­gamento de todos os benefícios do RGPS. Por isso, a União repassa mensalmente ao INSS recursos provenientes das contribuições sociais incidentes sobre o faturamento e o lucro e sobre receita de concursos de prognósticos para que aquela autarquia pague a todos os beneficiários (segurados e dependentes) do RGPS. A União também repassará recursos provenientes destas contribuições sociais para os órgãos responsáveis pelas áreas da saúde e da assistência social.

Os recursos provenientes das contribuições das empresas inci­dentes sobre o faturamento e o lucro também podem ser utilizados para pagamento dos encargos previdenciários da União (Lei n° 8.212/91, art. 17) e para custear despesas com pessoal e administração geral do INSS (Lei n° 8.212/91, art. 18).

De acordo com o disposto no art. 18 da Lei n° 8.212/91, os recursos provenientes das contribuições previdenciárias também poderiam ser utilizados para custear despesas com pessoal e ad­ministração geral do INSS. Todavia, em razão da vedação prevista no art. 167, XI, da Constituição Federal, tais recursos só podem ser utilizados para pagamento dos benefícios do RGPS.

2. Receitas das contribuições sociais0 Regulamento da Previdência Social (RPS) trata deste assunto

de uma forma mais detalhada que a Lei n° 8.212/91. De acordo com o parágrafo único do art. 195 do RPS, constituem contribuições sociais:

1 - As das empresas, incidentes sobre a remuneração paga,devida ou creditada aos segurados e demais pessoas físicas a seu serviço, mesmo sem vínculo empregatício;

II - As dos empregadores domésticos, incidentes sobre o salário- de-contribuição dos empregados domésticos a seu serviço;

III- As dos trabalhadores, incidentes sobre seu salário-de- contribuição;

Hugo Goes 138

Page 144: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

Financiamento da Seguridade Sociai

IV - As das associações desportivas que mantêm equipe de fute­bol profissional, incidentes sobre a receita bruta decorrente dos espetáculos desportivos de que participem em todo território nacional em qualquer modalidade desportiva, inclusive jogos internacionais, e de qualquer forma de patrocínio, licenciamento de uso de marcas e símbolos, publicidade, propaganda e transmissão de espetáculos desportivos;

V - As incidentes sobre a receita bruta proveniente da comer­cialização da produção rural;

VI - As das empresas, incidentes sobre a receita ou o fatura­mento e o lucro; e

VII - As incidentes sobre a receita de concursos de prognósticos. Nesta obra, estudaremos apenas as contribuições sociais previ­

denciárias (itens I a V da relação supra).

2.1. Contribuições sociais previdenciáriasEstão obrigados ao pagamento das contribuições previdenciárias

os segurados do RGPS, a empresa, a entidade equiparada à empresa na forma da lei e o empregador doméstico.

2.1.1. Contribuição previdenciária do seguradoAs contribuições sociais previdenciárias a cargo dos segurados

são instituídas còm amparo no art. 195, II, da Constituição Federal.A base de cálculo da contribuição do segurado é, em regra, o

seu salário-de-contribuição. O segurado especial é a exceção: a base de cálculo da contribuição do segurado especial é a receita bruta da comercialização de sua produção rural. Esta base de cálculo diferen­ciada, aplicada para o segurado especial, ampara-se no § 8o do art. 195 da Constituição Federal.

2.1.1.1. Contribuição do empregado, empregado doméstico e tra­balhador avulso

A contribuição do empregado, inclusive o doméstico, e a do tra­balhador avulso é calculada mediante a aplicação da correspondente

139 Capítulo 5

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Resumo de Direito Previdenciário

alíquota sobre o seu salário-de-contribuição mensal, de forma não cumulativa (Lei n° 8.212/91, art. 20). As alíquotas de contribuição destes segurados são progressivas, ou seja, quanto maior o salário-de- contribuição, maior será a alíquota. A progressividade das alíquotas está alinhada com o princípio constitucional da equidade na forma de participação no custeio (CF, art. 194, parágrafo único, V).

Em valores atualizados, a partir de 1°/01/2010, a tabela de con­tribuição destes segurados é a seguinte:

Até 1.024,97 8%De 1.024,98 até 1.708,27 9%De 1.708,28 até 3.416,54 11%

Os valores dos salários-de-contribuição, constantes da tabela acima, serão reajustados na mesma época e com os mesmos índices que os do reajustamento dos benefícios de prestação continuada da Previdência Social (Lei n° 8.212/91, art. 20, § Io).

A contribuição do segurado só incide até o teto do salário- de-contribuição (que atualmente é R$3.416,54). Sobre o valor da remuneração que ultrapassar R$3.416,54, o segurado não paga nada. Todavia, a contribuição da empresa (que será estudada mais adiante) incide sobre a remuneração integral. Exemplo: o empregado cuja remuneração mensal é de R$ 5.000,00 terá descontado de sua remuneração a contribuição previdenciária de R$ 375,82 (que é o equivalente a 11% de R$3.416,54). Mas a contribuição da empresa incidirá sobre R$5.000,00.

2.I.I.2. Contribuição do trabalhador rural contratado por produ­tor rural pessoa física por pequeno prazo

A Lei n° 11.718/2008 incluiu na Lei n° 5.889/73 o art. 14-A, para permitir ao produtor rural pessoa física, que explore diretamente atividade agroeconômica, a contratação de trabalhador rural por pequeno prazo para o exercício de atividades de natureza temporá­ria. Entende-se por pequeno prazo aquele limitado a 2 (dois) meses dentro do período de 1 (um) ano.

Hueo Coes 140

Page 146: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

Financiamento da Seguridade Social

O produtor rural pessoa física supramencionado pode ser, in­clusive, um segurado especial. Vale lembrar que o segurado especial poderá utilizar-se de empregados contratados por prazo determina­do, em épocas de safra, à razão de, no máximo, 120 pessoas/dia no ano civil, em períodos corridos ou intercalados ou, ainda, por tempo equivalente em horas de trabalho (Lei n° 8.213/91, art. 11, § 7o).

É segurado obrigatório do RGPS, como empregado, o trabalha­dor rural contratado por produtor rural pessoa física, na forma do art. 14-A da Lei n° 5.889/73, para o exercício de atividades de natureza temporária por prazo não superior a dois meses dentro do período de um ano (RPS, art. 9o, I, “r”). A contribuição deste empregado, qualquer que seja a remuneração, será sempre de 8% sobre o res­pectivo salário-de-contribuição (Lei n° 5.889/73, art. 14-A, § 5o). Ou seja, neste caso não se aplica a tabela progressiva de 8%, 9% ou 11%.

No caso em tela, cabe ao produtor rural pessoa física descontar (reter) a contribuição previdenciária dos empregados a seu serviço e recolhê-la até o dia vinte do mês subsequente ao da competência.

2.1.1.3. Contribuição do contribuinte individualAté março de 2003, todo contribuinte individual era obrigado a

recolher sua contribuição, por iniciativa própria, até o dia 15 do mês seguinte ao da competência. Com o advento da Lei n° 10.666/2003, em vigor a partir de l°/04/2003, o contribuinte individual sofreu sig­nificativa alteração em sua forma de contribuir. Antes ele era sempre responsável pelo recolhimento de sua contribuição e, agora, tem, em regra, a contribuição descontada de sua remuneração, quando prestar serviço a uma pessoa jurídica.

. A alíquota de contribuição do segurado contribuinte individual será de 20% (vinte por cento) sobre o respectivo salário-de-contribuição (Lei n° 8.212/91, art. 21, caput). Na hipótese de o contribuinte indivi­dual prestar serviço a uma ou mais empresas, poderá deduzir, da sua contribuição mensal, 45% (quarenta e cinco por cento) da contribuição da empresa, efetivamente recolhida ou declarada, incidente sobre a remuneração que esta lhe tenha pago ou creditado, limitada a dedução a 9% (nove por cento) do respectivo salário-de-contribuição (Lei n° 8.212/91, art. 30, § 4o). Assim, nas hipóteses em que for possível aplicar

141 Capítulo 5

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Resumo de Direito Previdenciário

a dedução prevista no § 4o do art. 30 da Lei n° 8.212/91, a contribuição do contribuinte individual será, na prática, 11% (20% - 9% — 11%).

A forma de arrecadação da contribuição do contribuinte indivi­dual varia de acordo com a forma de prestação do serviço. Passemos ao estudo das várias situações:

I - O contribuinte individual, quando exercer atividade econô­mica por conta própria ou prestar serviço a pessoa física ou quando tratar-se de brasileiro civil que trabalha no exterior para organismo oficial internacional do qual o Brasil seja membro efetivo.

Nestes casos, o contribuinte individual está obrigado a recolher sua contribuição por iniciativa própria, até o dia 15 do mês seguinte àquele a que a contribuição se referir, prorrogando-se o vencimento para o dia útil subsequente quando não houver expediente bancário no dia 15 (RPS, art. 216, II). A contribuição será calculada aplicando- se a alíquota de 20% sobre a remuneração auferida, observados os limites (mínimo e máximo) do salário-de-contribuição. Nestes casos, como não existe a contribuição do tomador do serviço do contribuinte individual, não é possível a aplicação § 4o do art. 30 da Lei n° 8.212/91.

II - O contribuinte individual que presta serviço a empresas.De acordo com o disposto no art. 4o da Lei n° 10.666/2003,

“fica a empresa obrigada a arrecadar a contribuição do segurado contribuinte individual a seu serviço, descontando-a da respectiva remuneração, e a recolher o valor arrecadado juntamente com a con­tribuição a seu cargo até o dia 20 do mês seguinte ao da competência, ou até o dia útil imediatamente anterior se não houver expediente bancário naquele dia”.

Contribuinte individual a serviço da empresa é, por exemplo, um trabalhador eventual, um trabalhador autônomo, o próprio sócio que seja remunerado pela empresa etc.

A alíquota de contribuição a ser descontada pela empresa da re­muneração paga, devida ou creditada ao contribuinte individual a seu serviço, observado o limite máximo do salário-de-contribuição, é de 11% no caso das empresas em geral e de 20% quando se tratar de entidade beneficente de assistência social isenta das contribuições sociais patronais (caput do art. 21 c/c § 4o do art. 30 da Lei n° 8.212/91 e RPS, art. 216, § 26).

Hugo Goes 142

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Financiamento da Seguridade Social

III - O contribuinte individual que presta serviço por intermé­dio de cooperativa de trabalho.

A cooperativa de trabalho é obrigada a descontar 11% do valor da quota distribuída ao cooperado por serviços por ele prestados, por seu intermédio, a empresas e 20% em relação aos serviços prestados a pessoas físicas e recolher o produto dessa arrecadação até o dia 20 (vinte) do mês seguinte ao da competência a que se referir, antecipan­do-se o vencimento para o dia útil imediatamente anterior quando não houver expediente bancário no dia vinte (RPS, art. 216, § 31).

Se o tomador do serviço for uma entidade beneficente em gozo de isenção, a cooperativa de trabalho descontará 20% do valor da quota distribuída ao cooperado por serviços por ele prestados, por seu intermédio e recolherá o produto dessa arrecadação até o dia 20 do mês seguinte.

IV - Cooperado quando prestar serviços à cooperativa de pro­dução.

Neste caso, a cooperativa de produção descontará 11% da remu­neração paga ou creditada aos cooperados envolvidos na produção dos bens ou serviços, observado o limite máximo do salário-de- contribuição. A cooperativa de produção recolherá o valor descon­tado, juntamente com a contribuição a seu cargo, até o dia 20 do mês seguinte ao da competência.

V - O contribuinte individual presta serviço a outro contri­buinte individual equiparado a empresa ou a produtor rural pessoa física ou a missão diplomática e repartição consular de carreira estrangeiras.

São excluídos da obrigação de arrecadar (descontar) a contri­buição do contribuinte individual que lhe preste serviço o produtor rural pessoa física, a missão diplomática, a repartição consular e o contribuinte individual (Lei n° 10.666/03, art. 4o. § 3o).

Assim, o contribuinte individual que prestar serviço a uma das pessoas supramencionadas está obrigado a recolher sua contribuição por iniciativa própria, até o dia 15 do mês seguinte ao da competência. A alíquota será de 20%, mas o segurado terá direito a deduzir, da sua contribuição mensal, 45% da contribuição patronal do contratante, efetivamente recolhida ou declarada, incidente sobre a remuneração

143 Capítulo 5

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Resumo de Direito Previdenciário

que este lhe tenha pago ou creditado, no respectivo mês, limitada a 9% do respectivo salário-de-contribuição (RPS, art. 216, § 20).

Para efeito de dedução, considera-se contribuição declarada a informação prestada na GFIP ou declaração fornecida pela empre­sa ao segurado, onde conste, além de sua identificação completa, inclusive com o número no CNPJ, o nome e o número da inscrição do contribuinte individual, o valor da retribuição paga e o compro­misso de que esse valor será incluído na citada GFIP e efetuado o recolhimento da correspondente contribuição (RPS, art. 216, § 21).

VI - Contribuinte individual que trabalhe por conta própria, sem relação de trabalho com empresa ou equiparado e que optar pela exclusão do direito ao benefício de aposentadoria por tempo de contribuição.

É de 11% sobre o valor do limite mínimo mensal do salário-de- contribuição a alíquota de contribuição do segurado contribuinte individual que trabalhe por conta própria, sem relação de trabalho com empresa ou equiparado e que optar pela exclusão do direito ao benefício de aposentadoria por tempo de contribuição (Lei n° 8.212/91, art. 21, § 2o).. O limite mínimo mensal do salário-de- contribuição do contribuinte individual corresponde a um salário mínimo. Assim, o contribuinte individual que optar pela exclusão do direito ao benefício de aposentadoria por tempo de contribuição contribuirá com 11% sobre um salário mínimo. Contribuindo dessa forma, o contribuinte individual terá direito aos benefícios de apo­sentadoria por idade, aposentadoria por invalidez, auxílio-doença e salário-maternidade,37 mas não terá direito a aposentadoria por tempo de contribuição.

O contribuinte individual que tenha contribuído com 11% sobreo salário mínimo e, no futuro, pretenda contar o correspondente tem­po para fins de obtenção da aposentadoria por tempo de contribuição ou de contagem recíproca do tempo de contribuição a ser averbado em regime próprio de previdência social, deverá complementar a contribuição mensal mediante o recolhimento de mais 9%, acresci­dos de juros SELIC (Lei n° 8.212/91, art. 21, § 3o).38 Vale frisar que a contribuição complementar de 9% será exigida a qualquer tempo,

37 Salário-maternidade só para as seguradas, e não para os segurados.38 O percentual de juros relativo ao mês de pagamento das contribuições corresponde a 1 %.

Hugo Goes 144

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Financiamento da Seguridade Social

mesmo que relativa a período alcançado pela decadência, sob pena de indeferimento da aposentadoria por tempo de contribuição (Lei n° 8.212/91, art. 21, § 4o).

VII - Contribuinte individual enquadrado como Microempre- endedor Individual (MEI)39

A contribuição do contribuinte individual que se enquadre como Microempreendedor Individual (MEI) será de 11% sobre um salário mínimo (LC 123/06, art. 18-A, § 3o, IV). Contribuindo dessa forma, o MEI não terá direito à aposentadoria por tempo de contribuição, pois esta contribuição não conta como tempo de contribuição (LC 123/06, art. 18-A, § 12). Mas se o MEI que contribuiu dessa forma quiser contar tempo de contribuição (para fins de aposentadoria ou de contagem recíproca), basta complementar a contribuição mensal mediante o recolhimento de mais 9%, acrescidos de juros SELIC (Lei n° 8.212/91, art. 21, § 3o).

Considera-se MEI o empresário individual que tenha auferido receita bruta, no ano-calendário anterior, de até R$ 36.000,00, optante pelo Simples Nacional e que não esteja impedido de optar por esta sistemática de recolhimento (LC 123/06, art. 18-A, § Io). No caso de início de atividades, o limite máximo da receita bruta para que o empresário individual enquadre-se como MEI será de R$ 3.000,00 multiplicados pelo número de meses compreendido entre o início da atividade e o final do respectivo ano-calendário, consideradas as frações de meses como um mês inteiro.

Não poderá optar pela sistemática de recolhimento aplicada ao MEI o empresário individual:

I - Que possua mais de um estabelecimento;II - Que participe de outra empresa como titular, sócio ou

administrador;III - Que contrate empregado; ouIV - Cuja atividade seja:a) Construção de imóveis e obras de engenharia em geral, in­

clusive sob a forma de subempreitada, execução de projetos e serviços de paisagismo, bem como decoração de interiores;

b) Serviço de vigilância, limpeza ou conservação.39 As regras relativas ao microempreendedor individual só produzirão efeitos a partir de 1o de julho de 2009 (LC 128/08, art. 14, III).

145 Capítulo 5

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Resumo de Direito Previdenciário

c) Cumulativamente administração e locação de imóveis de terceiros;

d) Academias de dança, de capoeira, de ioga e de artes marciais;e) Academias de atividades físicas, desportivas, de natação e

escolas de esportes;f) Elaboração de programas de computadores, inclusive jogos

eletrônicos, desde que desenvolvidos em estabelecimento do optante;

g) Licenciamento ou cessão de direito de uso de programas de computação;

h) Planejamento, confecção, manutenção e atualização de pági­nas eletrônicas, desde que realizados em estabelecimento do optante;

i) Empresas montadoras de estandes para feiras;j) Produção cultural e artística;k) Produção cinematográfica e de artes cênicas;1) Laboratórios de análises clínicas ou de patologia clínica;m) Serviços de tomografia, diagnósticos médicos por imagem,

registros gráficos e métodos óticos, bem como ressonância magnética;

n) Serviços de prótese em geral.

Observação: Em regra, para que o empresário individual possa optar pela sistemática de recolhimento aplicada ao MEI, ele não pode contratar empregados (LC n° 123/06, art. 18-A, § 4o, IV). Todavia, poderá se enquadrar como MEI o empresário individual que possua um único empregado que receba exclusivamente 1 (um) salário mínimo ou o piso salarial da categoria profissional (LC n° 123/06, art. 18-C).

2.1.1.4. Contribuição do segurado especialA base de cálculo da contribuição deste segurado é a receita

bruta da comercialização da produção rural (Lei n° 8.212/91, art. 25); as alíquotas são as seguintes:

Hugo Goes 146

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Financiamento da Seguridade Social

Para a Seguridade Social 2% Receita bruta da comercialização da

produção rural.

Para o RAT 0,1% Receita bruta da comercialização da produção rural.

Considera-se receita bruta o valor recebido ou creditado pela comercialização da produção, assim entendida a operação de venda ou consignação (RPS, art. 200, § 4o).

Integram a produção, para fins de cálculo das contribuições previdenciárias, os produtos de origem animal ou vegetal, em estado natural ou submetidos a processos debeneficiamento ou industriali­zação rudimentar, assim compreendidos, entre outros, os processos de lavagem, limpeza, descaroçamento, pilagem, descascamento, lenhamento, pasteurização, resfriamento, secagem, fermentação, embalagem, cristalização, fundição, carvoejamento, cozimento, destilação, moagem, torrefação, bem como os subprodutos e os resíduos obtidos através desses processos (Lei n° 8.212/91, art. 25, § 3o). Considera-se processo de beneficiamento ou industrialização artesanal aquele realizado diretamente pelo próprio produtor rural pessoa física, desde que não esteja sujeito à incidência do Imposto Sobre Produtos Industrializados - IPI (Lei n° 8.212/91, art. 25, § 11).

Também integra a receita bruta, para fins de cálculo das contribui­ções previdenciárias, a receita proveniente: (I) da comercialização da produção obtida em razão de contrato de parceria ou meação de parte do imóvel rural; (II) da comercialização de artigos de artesanato de que trata o inciso VII do § 10 do art. 12 da Lei n° 8.212/91; (III) de serviços prestados, de equipamentos utilizados e de produtos comercializados no imóvel rural, desde que em atividades turística e de entretenimento desenvolvidas no próprio imóvel, inclusive hospedagem, alimentação, recepção, recreação e atividades pedagógicas, bem como taxa de visi­tação e serviços especiais; (IV) do valor de mercado da produção rural dada em pagamento ou que tiver sido trocada por outra, qualquer que seja o motivo ou finalidade; e (V) de atividade artística de que trata o inciso VIII do § 10 do art. 12 da Lei n° 8.212/91.

Além das contribuições obrigatórias incidentes sobre a receita bruta da comercialização da produção, o segurado especial poderá contribuir, facultativamente, com alíquota de 20% sobre o salário-

147 Capítulo 5

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Resumo de Direito Previdenciário

de-contribuição (Lei n° 8.212/91, art. 25, § Io). Neste caso, o salário- de-contribuição do segurado especial será o valor por ele declarado (IN RFB n° 971/2009, art. 55, V). Vale frisar que o recolhimento de contribuições facultativas sobre o salário-de-contribuição não deso­briga o segurado especial de continuar contribuindo sobre a receita bruta da comercialização da produção rural.

Contribuindo, facultativamente, sobre o salário-de-contribuição, o segurado especial terá, além dos benefícios que já lhes são assegu­rados, as seguintes vantagens: (a) benefícios com valores superiores a um salário mínimo; e (b) aposentadoria por tempo de contribuição.

Frise-se, contudo, que o recolhimento facultativo de contri­buições sobre o salário-de-contribuição não assegura ao segurado especial a percepção de duas aposentadorias, em virtude da proibição legal do recebimento de mais de uma aposentadoria, razão pela qual somente terá renda mensal superior ao salário mínimo se contribuir sobre salário-de-contribuição superior a um salário mínimo.

O recolhimento de contribuições facultativas, incidentes sobre o salário-de-contribuição, não provoca a perda da qualidade de segurado especial. Vale dizer, o recolhimento destas contribuições não transforma o segurado especial em segurado facultativo nem em contribuinte individual. Ele poderá usar a faculdade de contri­buir individualmente, mantendo a qualidade de segurado especial no RGPS (IN RFB n° 971/2009, art. 10, § 10). Ou seja, ele contribui, facultativamente, como se contribuinte individual fosse, mantendo, porém, a condição de segurado especial.

2.1.1.5. Contribuição do segurado facultativo

Com direitoSalário-de-contribuição, respei­tados os limites de R$510,00 a R$3.416,54.40

20%

Sem direito Um salário mínimo. 11%

Se o segurado facultativo desejar ter direito à aposentadoria por tempo de contribuição, a sua contribuição será de 20% sobre o seu

40 Valor atualizado, a partir de 1°/01/2010, peia Portaria MPS/MF n° 350, de 30/12/2009.

Miicrr» r .n p c 148

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Financiamento da Seguridade Sociai

salário-de-contribuição (Lei n° 8.212/91, art. 21, caput). Para o segu­rado facultativo, o salário-de-contribuição é o valor por ele declarado, observado o limite máximo de R$3.416,54 e o limite mínimo de um salário mínimo mensal (atualmente, R$510,00).

No entanto, se o segurado facultativo optar pela exclusão do direito à aposentadoria por tempo de contribuição, sua contribuição será de 11% sobre o valor do limite mínimo mensal do salário-de- contribuição (Lei n° 8.212/91, art. 21, § 2o). O limite mínimo mensal do salário-de-contribuição do segurado facultativo corresponde a um salário mínimo. Assim, o segurado facultativo que optar pela exclusão do direito ao benefício de aposentadoria por tempo de contribuição contribuirá com 11% sobre um salário mínimo. Contribuindo dessa forma, o segurado facultativo terá direito aos benefícios de aposentadoria por idade, aposentadoria por invalidez, auxílio-doença e salário-maternidade,41 mas não terá direito a apo­sentadoria por tempo de contribuição.

O segurado facultativo que tenha contribuído com 11% sobre o salário mínimo e, no futuro, pretenda contar o correspondente tempo para fins de obtenção da aposentadoria por tempo de contribuição ou de contagem recíproca do tempo de contribuição a ser averbado em regime próprio de previdência social, deverá complementar a contribuição mensal mediante o recolhimento de mais 9%, acresci­dos de juros SELIC (Lei n° 8.212/91, art. 21, § 3o).42 Vale frisar que a contribuição complementar de 9% será exigida a qualquer tempo, mesmo que relativa a período alcançado pela decadência, sob pena de indeferimento da aposentadoria por tempo de contribuição (Lei n° 8.212/91, art. 21, § 4°).

2.1:2. Contribuição previdenciária da empresa

As contribuições sociais previdenciárias a cargo das empresas são instituídas com amparo no art. 195,1, “a”, da Constituição Federal. De acordo com este dispositivo constitucional, as contribuições previ­denciárias do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada

41 Salário-maternidade só para as seguradas, e não para os segurados.42 O percentual de juros relativo ao mês de pagamento das contribuições corres­ponde a 1%.

149 Capítulo 5

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Resumo de Direito Previdenciário

na forma da lei devem incidir sobre a folha de salários e demais ren­dimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício.

De acordo com o caput do art. 22 da Lei n° 8.212/91, a contri­buição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do disposto no art. 23, é de:

I - Vinte por cento sobre o total das remunerações pagas,devidas ou creditadas a qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestem serviços, destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adianta­mentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa.

II - Para o financiamento do benefício previsto nos arts. 57 e58 da Lei n° 8.213/91, e daqueles concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, sobre o total das re­munerações pagas ou creditadas, no decorrer do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos:

a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade prepon­derante o risco de acidentes do trabalho seja considerado leve;

b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja atividade pre­ponderante esse risco seja considerado médio;

c) 3% (três por cento) para as empresas em cuja atividade pre­ponderante esse risco seja considerado grave.

III - Vinte por cento sobre o total das remunerações pagas oucreditadas a qualquer título, no decorrer do mês, aos segu­rados contribuintes individuais que lhe prestem serviços;

IV - Quinze por cento sobre o valor bruto da nota fiscal oufatura de prestação de serviços, relativamente a serviços que lhe são prestados por cooperados por intermédio de cooperativas de trabalho.

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Financiamento da Seguridade Social

2.1.2.1. Contribuição da empresa sobre a remuneração de empre­gados e trabalhadores avulsos

A empresa contribui com 20% sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestem servi­ços, destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa (Lei 8.212/91, art 2 2 ,1).

A base de cálculo desta contribuição é o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas aos segurados empregados e trabalha­dores avulsos no decorrer do mês.

Remuneração paga é aquela que foi efetivamente entregue ao se­gurado. Remuneração creditada é aquela que foi depositada na conta bancária do segurado. Remuneração devida é aquela que o segurado tem direito a receber (porque prestou o serviço), mas não recebeu.

De acordo com o disposto no § 9o do art. 195 da Constituição Federal, as contribuições para a seguridade social a cargo das em­presas poderão ter alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão-de- obra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho. Por isso, algumas empresas, em razão da atividade econômica que desenvolvem, não contribuem na forma do inciso I do art. 22 da Lei n° 8.212/91. Neste contexto, a associação despor­tiva que mantém equipe de futebol profissional, a agroindústria, o produtor rural pessoa jurídica e o produtor rural pessoa física não contribuem sobre a remuneração dos empregados e trabalhadores avulsos que lhes prestam serviços. Em substituição a esta, estes con­tribuintes pagarão outra contribuição, incidente sobre outra base de cálculo. Há também algumas empresas para as quais são aplicadas majoração ou redução da alíquota. É o que ocorre, por exemplo, com as instituições financeiras, que têm a alíquota da contribuição inci­dente sobre a remuneração de empregados e trabalhadores avulsos majorada em 2,5%. Estas alíquotas e bases de cálculo diferenciadas serão estudadas mais adiante.

151 Capítulo 5

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Resumo de Direito Previdenciário

2.1.2.2. Contribuição da empresa sobre a remuneração de contri­buintes individuais

A empresa contribui com 20% sobre o total das remunerações pagas ou creditadas a qualquer título, no decorrer do mês, aos se­gurados contribuintes individuais que lhe prestem serviços (Lei n° 8.212/91, art. 22, III).

No caso das instituições financeiras, a contribuição em tela sofre um acréscimo de 2,5% (Lei n° 8.212/91, art. 22, § Io). Assim, para as instituições financeiras, a alíquota da contribuição incidente sobre a remuneração dos contribuintes individuais será de 22,5% (em vez de 20%). Aqui, estamos chamando de instituições financeiras as seguintes empresas: bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos de desenvolvimento, caixas econômicas, sociedades de crédi­to, financiamento e investimento, sociedades de crédito imobiliário, sociedades corretoras, distribuidoras de títulos e valores mobiliários, empresas de arrendamento mercantil, cooperativas de crédito, em­presas de seguros privados e de capitalização, agentes autônomos de seguros privados e de crédito ê entidades de previdência privada abertas e fechadas.

O Microempreendedor Individual (MEI) é segurado obriga­tório do RGPS como contribuinte individual (RPS, art. 9o, V, *p“). Mas, em regra, a empresa que contrata serviços executados por intermédio de Microempreendedor Individual (MEI) não recolhe contribuição patronal previdenciária em relação a esta contrata­ção. Contudo, a empresa contratante de serviços de hidráulica, eletricidade, pintura, alvenaria, carpintaria e de manutenção ou reparo de veículos, executados por intermédio de MEI, mantém, em relação a esta contratação, a obrigatoriedade de recolhimento da contribuição patronal incidente sobre a remuneração paga ou creditada a contribuinte individual. Em relação a esta contrata» ção, a empresa também deve cumprir as obrigações acessórias relativas à contratação de contribuinte individual (LC n° 123/06, art. 18-B).43

43 As regras relativas ao microempreendedor individual só produzirão efeitos a partir de 1o de julho de 2009 (LC 128/08, art. 14, iii).

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Financiamento da Seguridade Social

2J1.2.3. Contribuição da empresa sobre serviços prestados por co­operados por intermédio de cooperativas de trabalho

A empresa contribui com 15% sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços, relativamente a serviços que lhe são prestados por cooperados por intermédio de cooperativas de trabalho (Lei n° 8.212/91, art. 22, IV).

Saliente-se que o sujeito passivo desta contribuição é a empresa contratante (tomadora do serviço), e não a cooperativa de trabalho.

Será devida contribuição adicional de 9%, 7% ou 5%, a cargo da empresa tomadora de serviços de cooperado filiado a cooperativa de trabalho, incidente sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços, conforme a atividade exercida pelo cooperado permita a concessão de aposentadoria especial após 15, 20 ou 25 anos de contribuição, respectivamente (Lei n° 10.666/2003, art. Io, § Io). Assim, se o cooperado, em razão da sua exposição aos agentes nocivos, tiver direito à aposentadoria especial, a empresa tomadora do serviço deverá suportar, além dos 15%, o ônus adicional de 9%, 7% ou 5%, conforme o tipo de agente nocivo. Neste caso, as alíquotas totais da contribuição em comento poderão alcançar 24%, 22% ou 20% sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura.

2.1.2.4. Contribuição da empresa para o RAT (antigo SAT)

De acordo com a Lei n° 8.212/91, art, 22, II, a contribuição da empresa para o financiamento do benefício da aposentadoria especial e daqueles concedidos em razão do grau de incidência de incapaci­dade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho (RAT), sobre o total das remunerações pagas ou creditadas, no decorrer do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos, é de:

a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade prepon­derante o risco de acidentes do trabalho seja considerado leve;

b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja atividade pre­ponderante esse risco seja considerado médio;

c) 3% (três por cento) para as empresas em cuja atividade pre­ponderante esse risco seja considerado grave.

153 Capítulo 5

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Resumo de Direito Previdenciário

Esta contribuição ficou conhecida pela sigla SAT (Seguro de Acidente do Trabalho) em razão da redação original do art. 22, II, da Lei n° 8.212/91, que tratava, simplesmente, da contribuição para o financiamento das prestações por acidente de trabalho. Mas na redação atual deste dispositivo legal (redação dada pela Lei n° 9.732/98), esta contribuição é destinada ao financiamento do bene­fício da aposentadoria especial e daqueles concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho. Por isso, nesta obra, vamos tratar desta con­tribuição empregando a sigla RAT, por considerá-la, tecnicamente, mais correta.

Verifica-se que a base de cálculo do RAT é a remuneração paga ou creditada, no decorrer do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos. Assim, esta contribuição não incide sobre remuneração de contribuinte individual.

As alíquotas são de 1%, 2% ou 3%, dependendo do enquadramen­to da empresa no respectivo grau de risco de acidentes do trabalho. O enquadramento é feito de acordo com a atividade preponderante da empresa. Considera-se preponderante a atividade que ocupa, na empresa, o maior número de segurados empregados e trabalhadores avulsos (RPS, art. 202, § 3o). Apurado na empresa, o mesmo número de segurados empregados e trabalhadores avulsos em atividades econômicas distintas, considerar-se-á como preponderante aquela que corresponder ao maior grau de risco (IN RFB n° 971/2009, art. 72, § Io, II, “a”).

As alíquotas do RAT poderão ser reduzidas, em até 50%, ou aumentadas em até 100%, em razão do desempenho da empresa em relação à sua respectiva atividade, aferido pelo Fator Acidentário de Prevenção - FAP (Lei n° 10.666/2003, art. 10). A regulamentação do FAP, a cargo do Poder Executivo (Lei n° 10.666/2003, art. 14), foi feita pelo Decreto n° 6.042/2007, que acrescentou o art. 202-A ao Regulamento da Previdência Social - RPS.

O FAP consiste num multiplicador variável num intervalo contínuo de cinco décimos (0,5000) a dois inteiros (2,0000), aplicado com quatro casas decimais, considerado o critério de arredondamento na quarta casa decimal, a ser aplicado à respectiva alíquota (RPS, art. 202-A, § Io).

Hugo Goes 154

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Financiamento da Seguridade Social

Imaginemos, por exemplo, uma empresa em cuja atividade pre­ponderante o risco de acidentes do trabalho seja considerado médio (RAT de 2%). Se o FAP desta empresa for 1,4000, a alíquota final do RAT será de 2,8% (que corresponde a 2% x 1,4000).

Cada empresa terá o seu FAP calculado em razão do seu desem­penho em relação à respectiva atividade econômica. Este desempenho será apurado em conformidade com os resultados obtidos a partir dos índices dz frequência, gravidade e custo dos benefícios incapacitantes gerados na empresa (Lei n° 10.666/2003, art. 10).

De acordo com o § 4o do art. 202-A do RPS, os índices de fre­quência, gravidade e custo serão calculados segundo metodologia aprovada pelo Conselho Nacional de Previdência Social, levando-se em conta:

I - Para o índice de frequência, os registros de acidentes e doençasdo trabalho informados ao INSS por meio de Comunicação de Acidente do Trabalho - CAT e de benefícios acidentários estabelecidos por nexos técnicos pela perícia médica do INSS, ainda que sem CAT a eles vinculados;

II - Para o índice de gravidade, todos os casos de auxílio-doença, auxílio-acidente, aposentadoria por invalidez e pensão por morte, todos de natureza acidentária, aos quais são atribu­ídos pesos diferentes em razão da gravidade da ocorrência, como segue:

a) Pensão por morte: peso de cinqüenta por cento;b) Aposentadoria por invalidez: peso de trinta por cento; ec) Auxílio-doença e auxílio-acidente: peso de dez por cento

para cada um; eIII - Para o índice de custo, os valores dos benefícios de natureza

acidentária pagos ou devidos pela Previdência Social, apura­dos da seguinte forma:

a) Nos casos de auxílio-doença, com base no tempo de afasta­mento do trabalhador, em meses e fração de mês; e

b) Nos casos de morte ou de invalidez, parcial ou total, mediante projeção da expectativa de sobrevida do segurado, na data de início do benefício, a partir da tábua de mortalidade constru-

155 Capítulo 5

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Resumo de Direito Previdenciário

ida pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís­tica - IBGE para toda a população brasileira, considerando-se a média nacional única para ambos os sexos.

O Ministério da Previdência Social publicará anualmente, no Diário Oficial da União, os róis dos percentis de frequência, gravi­dade e custo por Subclasse da Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE e divulgará na rede mundial de computadores o FAP de cada empresa, com as respectivas ordens de frequência, gravidade, custo e demais elementos que possibilitem a esta verificar o respectivo desempenho dentro da sua CNAE-Subclasse (RPS, art, 202-A, § 5o).

Para o cálculo anual do FAP, serão utilizados os dados de janeiro a dezembro de cada ano, até completar o período de dois anos, a partir do qual os dados do ano inicial serão substituídos pelos novos dados anuais incorporados (RPS, art. 202-A, § 7o). Para a empresa constituída após janeiro de 2007, o FAP será calculado a partir de I o de janeiro do ano seguinte ao que completar dois anos de constituição (RPS, art. 202-A, § 8o). Excepcionalmente, no primeiro processamento do FAP serão utilizados os dados de abril de 2007 a dezembro de 2008 (RPS, art. 202-A, § 9o).

A associação desportiva que mantém equipe de futebol pro­fissional, a agroindústria, o produtor rural pessoa jurídica e o produtor rural pessoa física não contribuem para o RAT sobre a remuneração dos empregados e trabalhadores avulsos que lhes pres­tem serviços. Em substituição a esta, estes contribuintes pagarão outra contribuição, incidente sobre outra base de cálculo (que será estudada mais adiante).

2X 2.5 . Contribuição adicional ao RAT para o custeio da aposen­tadoria especial

As alíquotas de RAT serão acrescidas de 12%, 9% ou 6%, se a atividade exercida pelo segurado empregado ou trabalhador avulso a serviço da empresa ensejar a concessão de aposentadoria especial após 15,20 ou 25 anos de contribuição, respectivamente (Lei 8.213/91, art. 57, § 6o). Todavia, este acréscimo incide exclusivamente sobre a remuneração do segurado sujeito às condições especiais que preju­diquem a saúde ou a integridade física (Lei 8.213/91, art. 57, § 7o).

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Financiamento da Seguridade Social

O Fator Acidentário de Prevenção - FAP, estudado no item anterior, não interfere no cálculo da contribuição adicional ora comentada.

Vamos agora dar um exemplo a respeito das contribuições previdenciárias estudadas até este item da presente obra:

Exemplo: No mês de março de 2010, o resumo da folha de pagamento dos segurados que prestaram serviço à empresa Alfa Industrial Ltda. foi o seguinte:

IBIIIJIipjfBPiJoaquim Segurado empregado R$ 1.000,00Rosana Segurada empregada R$ 2.000,00Mateus Contribuinte individual R$ 5.000,00

Agora, vamos calcular as contribuições previdenciárias, leyando-se em consideração que: (a) o grau de risco de acidente do trabalho desta empresa é grave; (b) o FAP da empresa é igual a1,2773; (c) o empregado Joaquim exerce atividade com exposição a agentes nocivos, tendo direito à aposentadoria especial aos 25 anos de trabalho; (d) Rosana não está exposta a agentes nocivos; e (e) Mateus é o sócio-gerente da empresa, recebendo os R$ 5.000,00 a título de pro-labore:

nrijjfllpiliJoaquim 20% x 1.000,00 9,8319% x 1.000,00 8% x 1.000,00 378,32Rosana 20% x 2.000,00 3,8319% x 2.000,00 11% x 2.000,00 696,64Mateus 20% x 5.000,00 0,00 11% x 3.416,54 1.375,82TOTAL R$1.600,00 R$174,96 R$675,82 2.450,78

A empresa Alfa Industrial Ltda. recolherá aos cofres da Previ­dência Social, até o dia 20/04/2010, o valor de 2.450,78. Ressalte-se que, neste valor, estão incluídas a parcela da contribuição a cargo da empresa e a parcela que foi descontada dos segurados.

157 Capítulo 5

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Resumo de Direito Previdenciário

Ainda com base no exemplo que foi dado, verifica-se que ò adicional do RAT de 6% incidiu somente sobre a remuneração de Joaquim, que é o empregado que tem direito à aposentadoria especial aos 25 anos de trabalho,

O RAT de 3,8318% incidente sobre a remuneração de Rosana corresponde a 3% (grau de risco de acidente grave) multiplicado pelo FAP de 1,2773 (ouseja, 3,8319 = 3 X 1,2773).

O RAT de 9,8319% incidente sobre a remuneração de Joaquim corresponde a 3% multiplicado pelo FAP de 1,2773, acrescido do adicional de 6%, em razão aposentadoria especial aos 25 anos de trabalho (ouseja, 9,8319 - 3 X 1,2773 + 6).

2.1.2.6. Instituições financeiras

No caso de bancos comerciais, bancos de investimentos, ban­cos de desenvolvimento, caixas econômicas, sociedades de crédito, financiamento e investimento, sociedades de crédito imobiliário, sociedades corretoras, distribuidoras de títulos e valores mobiliá­rios, empresas de arrendamento mercantil, cooperativas de crédito, empresas de seguros privados e de capitalização, agentes autônomos de seguros privados e de crédito e entidades de previdência priva­da abertas e fechadas, as contribuições previstas nos incisos I e III do art. 22 da Lei n° 8.212/91 sofrem um acréscimo de 2,5% (Lei n° 8.212/91, art. 22, § Io).

Assim, quando se trata de instituições financeiras, a alíquota da contribuição patronal (contribuição da empresa) incidente sobre a remuneração de empregados, trabalhadores avulsos e contribuintes individuais será de 22,5% (em vez de 20%).

Em relação ao RAT (art. 22, II) e à contribuição sobre serviços prestados por cooperados por intermédio de cooperativas de trabalho (art. 22, IV), as instituições financeiras seguem a regra geral. Vale dizer,o acréscimo de 2,5%, devido pelas instituições financeiras, incide so­mente em relação às contribuições sobre a remuneração de empregado, trabalhador avulso (art. 2 2 ,1) e contribuinte individual (art. 22, III).

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Financiamento da Seguridade Sociaf

2.1.2.7. Empresas que prestam serviços de TI e TIC

As alíquotas de que tratam os incisos I e III do art. 22 da Lei n° 8.212/91, em relação às empresas que prestam serviços de tec­nologia da informação - TI e de tecnologia da informação e comu­nicação - TIC, âcam reduzidas pela subtração de um décimo do percentual correspondente à razão entre a receita bruta de venda de serviços para o mercado externo e a receita bruta total de vendas de bens e serviços, após a exclusão dos impostos e contribuições inci­dentes sobre a venda. Para efeito deste cálculo, devem-se considerar as receitas auferidas nos doze meses imediatamente anteriores a cada trimestre-calendário. A alíquota apurada será aplicada uni­formemente nos meses que compõem o trimestre-calendário (Lei n°11.774/2008, art. 14). Aqui, há um verdadeiro incentivo à exportação de serviços (venda de serviços para o mercado externo).

As citadas alíquotas serão reduzidas de acordo com a aplicação sucessiva das seguintes operações:

I - Subtrair do valor da receita bruta total de venda de bens eserviços relativa aos doze meses imediatamente anteriores ao trimestre-calendário o valor correspondente aos impostos e às contribuições incidentes sobre venda;

II - Identificar, no valor da receita bruta total resultante da ope­ração prevista no inciso I, a parte relativa aos serviços de TI e de TIC que foram exportados;

III - Dividir a receita bruta de exportação resultante do inciso IIpela receita bruta total resultante do inciso I;

IV - Multiplicar a razão decorrente do inciso III por um décimo;V - Multiplicar o valor encontrado de acordo com a operação do

inciso IV por 100 (cem), para que se chegue ao percentual de redução;

VI - Subtrair de vinte por cento o percentual resultante do incisoV, de forma que se obtenha a nova alíquota percentual a ser aplicada sobre a base de cálculo da contribuição previdenciária.

Exemplo: Info Service Ltda., empresa prestadora de serviços de tecnologia da informação, obteve, nos 12 meses imediatamente anteriores ao atual trimestre-calendário, as seguintes receitas:

159 Capítulo 5

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Resumo de Direito Previdenciário

(A) Receita bruta total de vendas de bens e serviços, após a exclusão dos impostos e contribuições incidentes sobre a venda = R$ 10 milhões.

(B) Receita bruta de venda de serviços de TI para o mercado externo = R$ 4 milhões;

(C) Razão entre B e A = 4/10 = 0,4 - 40%(D) Um décimo de C = 1/10 x 40% = 4%(E) Alíquota reduzida = 20% - 4% - 16%Verifica-se que para cada 10% da receita bruta que corresponder

a exportação de serviços, a empresa terá uma redução de 1% na alí­quota. No exemplo supra, 40% da receita bruta total da empresa de TI foi originária de vendas de serviços para o mercado externo. Por isso, a alíquota da contribuição previdenciária a cargo da empresa foi reduzida em 4% (passando de 20% para 16%).

Se, por exemplo, a totalidade (100%) da receita bruta da empresa de TI (ou de TIC) tiver origem em vendas de serviços para o mercado externo, a alíquota da contribuição será reduzida em 10% (passando de 20% para 10%).

Saliente-se que a redução de alíquota para empresas de TI ou TIC acontece somente em relação a duas contribuições: (a) a incidente sobre a remuneração de empregado e trabalhador avulso (prevista no inciso I do art. 22 da Lei n° 8.212/91); e (b) a incidente sobre a remuneração de contribuinte individual (prevista no inciso III do art. 22 da Lei n° 8.212/91). Assim, em relação ao RAT (art. 22, II) e à contribuição sobre serviços prestados por cooperados por intermédio de cooperativas de trabalho (art, 22, IV), as empresas de TI ou de TIC seguem a regra geral.

Pára efeito da redução de alíquota em comento, consideram-se serviços de TI e TIC: análise e desenvolvimento de sistemas; progra­mação; processamento de dados e congêneres; elaboração de progra­mas de computadores, inclusive de jogos eletrônicos; licenciamento ou cessão de direito de uso de programas de computação; assessoria e consultoria em informática; suporte técnico em informática, inclusive instalação, configuração e manutenção de programas de computa­ção e bancos de dados; e planejamento, confecção, manutenção e atualização de páginas eletrônicas. A redução de alíquota aplica-se

Huffo Goes 160

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Financiamento da Seguridade Social

também para empresas que prestam serviços de call center.Para fazer jus às reduções de alíquotas, a empresa deverá: (I) im­

plantar programa de prevenção de riscos ambientais e de doenças ocupacionais decorrentes da atividade profissional, conforme crité­rios estabelecidos pelo Ministério da Previdência Social; e (II) realizar contrapartidas em termos de capacitação de pessoal, investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica e certificação da qualidade.

A aplicação da redução de alíquota, aqui comentada, depende de regulamentação pelo Poder Executivo (Lei n° 11.774/2008, art. 14, § 13). Vale dizer, para aplicar estas regras ao caso concreto, é necessário que um decreto regulamente a matéria.

A redução de alíquota valerá pelo prazo de cinco anos, contados a partir do primeiro dia do mês seguinte ao da publicação do regula­mento, podendo esse prazo ser renovado pelo Poder Executivo (Lei n° 11.774/2008, art. 14, § 12).

Em 24/08/2008 foi publicado o Decreto n° 6.945/09, que acres­centou o art. 201-D ao Regulamento da Previdência Social, regu­lamentando, dessa forma, o disposto no art. 14 da Lei n° 11.774/08, que trata da redução das alíquotas da Contribuição Previdenciária referidas nos incisos I e III do caput do art. 22 da Lei n° 8.212/91, em relação às empresas que prestam serviços de TI e de TIC. O Decreto n° 6.945/09 entrou em vigor na data de sua publicação, produzindo efeitos por cinco anos contados a partir do Io dia do mês seguinte ao de sua publicação. Assim, a redução de alíquota aqui comentada será aplicada pelo prazo de 5 anos, contados a partir do dia 01/09/2009, podendo esse prazo ser renovado pelo Poder Executivo.

2.1.2.8. Contribuição da associação desportiva que mantém equi­pe de futebol profissional

A contribuição empresarial da associação desportiva que man­tém equipe de futebol profissional destinada à Seguridade Social corresponde a 5% da receita bruta, decorrente dos espetáculos des­portivos de que participem em todo território nacional em qualquer modalidade desportiva, inclusive jogos internacionais, e de qualquer forma de patrocínio, licenciamento de uso de marcas e símbolos,

CaDítulo 5

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Resumo de Direito Previdenciário

publicidade, propaganda e de transmissão de espetáculos despor­tivos (Lei n° 8.212/91, art. 22, § 6o). Esta contribuição é devida em substituição às seguintes:

a) Contribuição da empresa de 20% sobre as remunerações pagas, devidas ou creditadas aos segurados empregados e trabalhadores avulsos, prevista no art. 22,1, da Lei n° 8.213/91.

b) Contribuição da empresa para o GILRAT de 1%, 2% ou 3% sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas aos segurados empregados e trabalhadores avulsos, prevista no art. 22, II, da Lei n° 8.212/91.

Todavia, quando a associação desportiva que mantém equipe de futebol profissional contrata contribuinte individual ou cooperativa de trabalho, fica obrigada a pagar as mesmas contribuições que as empresas em geral pagam em relação a estes fatos geradores.

As demais associações desportivas (as que não mantêm equipe de futebol profissional) devem contribuir da mesma forma que as empresas em geral.

2.1.2.9. Contribuição da agroindústria

Considera-se agroindústria o produtor rural pessoa jurídica cuja atividade econômica seja a industrialização de produção própria ou de produção própria e adquirida de terceiros (Lei n° 8.212/91, art. 22-A).

De acordo com o art. 22-A da Lei n° 8.212/91, a contribuição devida pela agroindústria, incidente sobre o valor da receita bruta proveniente da comercialização da produção, é de:

I - 2,5% destinados à Seguridade Social. Esta contribuição édevida em substituição à contribuição da empresa de 20% sobre as remunerações pagas, devidas ou creditadas aos segurados empregados e trabalhadores avulsos, prevista no art. 2 2 ,1, da Lei n° 8.212/91.

II - 0,1% para o financiamento do benefício de aposentadoriaespecial e daqueles concedidos em razão do grau de incidên­cia de incapacidade para o trabalho decorrente dos riscos ambientais da atividade (RAT). Esta contribuição é devida em substituição à contribuição da empresa para o RAT de

Hugo Goes 162

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Financiamento da Seguridade Sociai

1%, 2% ou 3% sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas aos segurados empregados e trabalhadores avulsos, prevista no art. 22, II, da Lei n° 8.212/91.

Todavia, quando a agroindústria contrata contribuinte indivi­dual ou cooperativa de trabalho, fica obrigada a pagar as mesmas contribuições que as empresas em geral pagam em relação a estes fatos geradores.

2.1.2.10. Contribuição do produtor rural pessoa jurídicaDe acordo com o art. 25 da Lei n° 8.870/94, a contribuição de­

vida pelo empregador, pessoa jurídica, que se dedique à produção rural, incidente sobre o total da receita bruta da comercialização da produção rural, é de:

I - 2,5% destinados à Seguridade Social. Esta contribuição édevida em substituição à contribuição da empresa de 20% sobre as remunerações pagas, devidas ou creditadas aos segurados empregados e trabalhadores avulsos, prevista no art. 2 2 ,1, da Lei n° 8.212/91.

II - 0,1% para o financiamento do benefício de aposentadoriaespecial e daqueles concedidos em razão do grau de inci­dência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho (RAT). Esta contribuição é devida em substituição à contribuição da empresa para o RAT de 1%, 2% ou 3% sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas aos segurados empregados e trabalhadores avulsos, prevista no art. 22, II, da Lei n° 8.212/91.

Todavia, quando o empregador rural pessoa jurídica contrata contribuinte individual ou cooperativa de trabalho, fica obrigada a pagar as mesmas contribuições que as empresas em geral pagam em relação a estes fatos geradores.

2.1.2.11. Contribuição do empregador rural pessoa físicaDe acordo com o art. 25 da Lei n° 8.212/91, a contribuição do

empregador rural pessoa física, incidente sobre a receita bruta da comercialização da produção rural, é de:

163 Capítulo 5

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Resumo de Direito Previdenciário

a) 2% para a Seguridade Social. Esta contribuição é devida em substituição à contribuição da empresa de 20% sobre as remunerações pagas, devidas ou creditadas aos segurados empregados e trabalhadores avulsos, prevista no art. 2 2 ,1, da Lei n° 8.212/91.

b) 0,1% para o financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa de­corrente dos riscos ambientais do trabalho. Esta contribuição é devida em substituição à contribuição da empresa para o RAT de 1%, 2% ou 3% sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas aos segurados empregados e trabalha­dores avulsos, prevista no art. 22, II, da Lei n° 8.212/91.

Todavia, quando o empregador rural pessoa física contrata contribuinte individual ou cooperativa de trabalho, fica obrigada a pagar as mesmas contribuições que as empresas em geral pagam em relação a estes fatos geradores.

O empregador rural pessoa física é um contribuinte individual. Contudo, as contribuições aqui estudadas não são por ele devidas na qualidade de segurado. Estas contribuições do empregador rural pessoa física são, na verdade, decorrentes da equiparação do contri­buinte individual à empresa em relação a segurado que lhe presta serviço (Lei 8.212/91, art. 15, parágrafo único), e não substituem as suas contribuições na qualidade de segurado.

Assim, para ter direito aos benefícios previdenciários, o empre­gador rural pessoa física também deve pagar contribuições, inciden­tes sobre o seu salário-de-contribuição, na qualidade de segurado contribuinte individual.

2.1.2.12. Contribuição da empresa optante pelo simples nacionalO Simples Nacional - Regime Especial Unificado de Arreca­

dação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte - é um regime tributário diferenciado, simplificado e favorecido previsto na Lei Complementar n° 123/2006, aplicável às Microempresas e às Empresas de Pequeno Porte, a partir de 01/07/2007. O Simples Nacional não é espécie de isenção de tri­butos, mas uma forma alternativa de efetuar o pagamento ao Fisco, mediante opção do contribuinte.

Hugo Goes 164

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Financiamento da Seguridade Social

De acordo com o art. 13 da Lei Complementar n° 123/2006, o Simples Nacional implica o recolhimento mensal, mediante docu­mento único de arrecadação, dos seguintes impostos e contribuições: (a) IRPJ; (b) IPI; (c) CSLL; (d) COFINS; (e) PIS/Pasep; (f) Contribuição Patronal Previdenciária, a cargo da pessoa jurídica; (g) ICMS; e (h) ISS. Este recolhimento mensal incidirá sobre a receita bruta auferida no mês (LC n° 123/2006, art. 18, § 3o). A alíquota varia de acordo com a receita bruta acumulada nos 12 meses anteriores ao do período de apuração (LC n° 123/2006, art. 18, § Io).

O recolhimento da contribuição previdenciária a cargo da em­presa optante pelo Simples Nacional, em regra, está incluído no do­cumento único de arrecadação supramencionado. Assim, em regra, a empresa optante pelo Simples Nacional fica desobrigada de recolher as seguintes contribuições previdenciárias: (a) as incidentes sobre a remuneração dos segurados empregados e trabalhadores avulsos (inclusive a contribuição para o RAT); (b) a incidente sobre remu­neração do contribuinte individual; e (c) a incidente sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços, relativamente a serviços que lhe são prestados por cooperados por intermédio de cooperativas de trabalho.

Saliente-se, contudo, que as empresas optantes pelo Simples Nacional são obrigadas a descontar (arrecadar) as contribuições previdenciárias dos segurados que lhes prestam serviço e recolher o valor descontado até o dia 20 do mês seguinte. As optantes pelo Simples Nacional apenas ficam desobrigadas de recolher a parte pa­tronal da contribuição previdenciária. Mas são obrigadas a recolher as contribuições que descontam dos segurados.

Para algumas atividades de prestação de serviços, mesmo sendo optante pelo Simples Nacional, a empresa será obrigada a recolher suas contribuições previdenciárias da mesma forma que as não optantes. Isto ocorre se a empresa optante pelo Simples Nacional desenvolver alguma das seguintes atividades de prestação de serviços: (a) construção de imóveis e obras de engenharia em geral, inclusive sob a forma de subempreitada, execução de projetos e serviços de paisagismo, bem como decoração de interiores; (b) serviço de vigi­lância, limpeza ou conservação.

165 Capítulo 5

Page 171: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

Resumo de Direito Previdenciário

2.1.2.13. Contribuição patronal do Microempreendedor Individual44

Considera-se Microempreendedor Individual (MEI) o empre­sário individual, optante pelo Simples Nacional, que tenha auferido receita bruta, no ano-calendário anterior, de até R$ 36.000,00 (LC, art. 18-A, § Io).

Em regra, para que o empresário individual possa optar pela sistemática de recolhimento aplicada ao MEI, ele não pode contratar empregados (LC n° 123/06, art. 18-A, § 4o, IV). Todavia, poderá se enquadrar como MEI o empresário individual que possua um único empregado que receba exclusivamente 1 (um) salário mínimo ou o piso salarial da categoria profissional (LC n° 123/06, art. 18-C). Nesta hipótese, o MEI está sujeito ao recolhimento da contribuição patronal previdenciária, calculada à alíquota de 3% (três por cento) sobre o salário-de-contribuição do empregado que lhe presta serviço (LC n° 123/06, art. 18-C, parágrafo único, III). Esta é a única contribuição patronal previdenciária a cargo do MEL

O MEI também deverá reter e recolher a contribuição previ- denciária relativa ao segurado a seu serviço (LC n° 123/06, art. 18-C, parágrafo único, I).

Se o MEI não possuir empregado, ele recolherá somente a sua própria contribuição previdenciária na qualidade de segurado con­tribuinte individual, que corresponderá a 11% do salário mínimo. Mas se o MEI contratar um empregado, além de recolher a sua própria contribuição na qualidade de contribuinte individual, ele ainda recolherá mais duas contribuições: (a) a contribuição patronal de 3% sobre o salário-de-contribuição do empregado que lhe presta serviço; e (b) a contribuição previdenciária descontada (retida) do segurado que lhe presta serviço.

2.1.2.14. Entidade beneficente de assistência social que atenda às exigências estabelecidas em lei

De acordo com o disposto no § 7o do art. 195 da Constituição Federal, “são isentas de contribuição para a seguridade social a entidade beneficente de assistência social que atenda às exigências44 As regras relativas ao microempreendedor individual só produzirão efeitos a partir de 1° de julho de 2009 (LC 128/08, art. 14, III).

Hugo Goes 166

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Financiamento da Seguridade SociaJ

estabelecidas em lei”. Tais exigências são estabelecidas no art. 55 da Lei 8.212/91. Assim, as entidades beneficentes de assistência social que atendam aos requisitos previstos no art. 55 da Lei 8.212/91 ficam isentas do pagamento das contribuições, a cargo da empresa, descritas neste capítulo. Todavia, continuam sendo obrigadas a descontar as contribuições previdenciárias dos segurados (empregado, traba­lhador avulso e contribuinte individual) que lhe prestam serviço e recolher o valor descontado até o dia 20 do mês seguinte.

Os dois quadros a seguir resumem a forma de contribuição das empresas, no tocante às alíquotas e às bases de cálculo:

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R e m u n e r a ç ã o

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~ - 2 % 2 ,5 % - -

167 Capítulo 5

Page 173: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

Resumo de Direito Previdenciário

Receita bruta proveniente da comercialização

da produção.- - - - 2,5% -

Receita bruta de espetáculo

desportivo, pa­trocínio, licencia­mento de uso de marcas, propa­

ganda, publicida­de e transmissão de espetáculos desportivos.

- - - - - 5%

fíüãiideiws)]

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1 ^ « M ÍRemuneração paga, devida ou creditada

aos segurados empregados e trabalhadores

avulsos.

1% - Leve 2% - Médio 3% - Grave

- - ~

Receita bruta da comercialização

da produção rural.

- 0,1% 0,1% - -

Receita bruta proveniente da comercialização

da produção.- - - 0,1% -

Hugo Goes 168

Page 174: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

Financiamento da Seguridade Sociai

2.1.3. Contribuição previdenciária do empregador doméstico

í^^qupiÉ@;VSalário-de-contribuição do empregado doméstico a

serviço do empregador doméstico. 12%

A contribuição do empregador doméstico é de 12% do salário- de-contribuição do empregado doméstico a seu serviço (Lei n° 8.212/91, art. 24).

Atente-se para o fato de que a base de cálculo da contribuição do empregador doméstico não é a remuneração paga ao empregado doméstico, e sim o salário-de-contribuição do empregado doméstico. A observação é necessária para que não se confunda com a contri­buição da empresa incidente sobre a remuneração dos empregados, trabalhadores avulsos ou contribuintes individuais. Quando se trata da contribuição da empresa, a base de cálculo é a remuneração total dos empregados, trabalhadores avulsos e contribuintes individuais. Quando se trata de empregador doméstico, a base de cálculo da contribuição é o salário-de-contribuição do empregado doméstico a seu serviço.

A responsabilidade pelo recolhimento das contribuições é do empregador doméstico, que ficará com a obrigação de descontar a contribuição do empregado doméstico a seu serviço e recolhê-la, juntamente com a parcela a seu cargo, até o dia 15 do mês seguinte ao da competência (Lei n° 8.212/91, art. 30, V).

Se, por exemplo, a empregada doméstica tem uma remuneração mensal de R$5.000,00, a contribuição do empregador doméstico será de R$409,98 (que corresponde a 12% de R$3.416,54). A contribuição que o empregador doméstico descontará da empregada doméstica será de R$375,82 (que corresponde a 11% de R$3.416,54). Neste caso,o empregador doméstico recolherá aos cofres da Previdência Social, até o dia 15 do mês seguinte, o valor de R$785,80 (que corresponde à soma das duas contribuições).

Se no exemplo anterior a remuneração mensal da empregada doméstica fosse R$700,00, a contribuição do empregador doméstico seria de R$84,00 (correspondente a 12% de R$700,00). A contribuição que o empregador doméstico descontaria da empregada doméstica

169 Capítulo 5

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Resumo de Direito Previdenciário

seria de R$56,00 (correspondente a 8% de R$700,00). Neste caso, o empregador doméstico recolheria aos cofres da Previdência Social, até o dia 15 do mês seguinte, a quantia de R$140,00 (correspondente à soma das duas contribuições).

Quando a empregada doméstica estiver em gozo de salário- maternidade, o empregador ficará com a obrigação do recolhimen­to apenas de sua cota patronal, ou seja, os 12% incidentes sobre o salário-de-contribuição.

Quando o salário-de-contribuição do empregado doméstico for igual a um salário mínimo, o empregador doméstico pode optar pelo recolhimento trimestral das contribuições previdenciárias, com vencimento no dia 15 do mês seguinte ao de cada trimestre civil, prorrogando-se o vencimento para o dia útil subsequente quando não houver expediente bancário no dia 15.

Quando o salário-de-contribuição do empregado doméstico for menor que um salário mínimo mensal (nos casos de admissão, dispensa, falta não justificada ou fração de salário em razão de gozo de benefício), o empregador doméstico também pode optar pelo recolhimento trimestral.

0 empregador doméstico não está obrigado a apresentar GFIP. Todavia, caso o empregador opte por recolher o FGTS para o seu empregado doméstico, deverá: (a) Efetuar a matrícula CEI; e (b) Preencher e entregar a GFIP - Guia de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social.

3. Receitas de outras fontes

De acordo com o disposto no art. 27 da Lei 8.212/91, constituem outras receitas da seguridade social:

1 - As multas, a atualização monetária e os juros moratórios;II - A remuneração recebida pela prestação de serviços de

arrecadação, fiscalização e cobrança prestados a terceiros;III - As receitas provenientes de prestação de outros serviços

e de fornecimento ou arrendamento de bens;IV - As demais receitas patrimoniais, industriais e financeiras;V - As doações, legados, subvenções e outras receitas eventuais;■

Hugo Goes 170

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Financiamento da Seguridade Sociat

VI - 50% da receita obtida na forma do parágrafo único doart. 243 da Constituição Federal, repassados pelo INSS aos órgãos responsáveis pelas ações de proteção à saúde e a ser aplicada no tratamento e recuperação de viciados em entorpecentes e drogas afins;45

VII - 40% do resultado dos leilões dos bens apreendidos pelaSecretaria da Receita Federal;

VIII - 50% do valor total do prêmio recolhido pelas companhiasseguradoras que mantêm o seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos automotores de vias ter­restres (Seguro DPVAT), Este valor deve ser destinado ao Sistema Ünico de Saúde (SUS) para o custeio da assistência médico-hospitalar aos segurados vitimados em acidentes de trânsito;

IX ~ Outras receitas previstas em legislação específica.

4. Salário-de-contribuição

Quando o fato gerador da contribuição previdenciária é o valor pago, devido ou creditado aos segurados, pela contraprestação do trabalho efetuado, há a contribuição de dois contribuintes: a empresa e o segurado.

Em relação à empresa, a base de cálculo da contribuição é a re­muneração (ou retribuição pelo trabalho). Em relação ao segurado, a base de cálculo da contribuição é o salário-de-contribuição.

Base de cálculo da contribuição previdenciária é o valor sobre o qual incide uma alíquota definida em lei para determinar o montante da contribuição devida.

Remuneração e salário-de-contribuição, embora parecidos, não têm o mesmo significado. O salário-de-contribuição está sujeito a limites mínimo e máximo. Já a remuneração não se sujeita a estes mesmos limites.

45 Constituição Federal, art. 243, parágrafo único: "Todo e qualquer bem de va­lor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins será confiscado e reverterá em benefício de instituições e pessoal especializado no tratamento e recuperação de viciados e no apareihamento e custeio de atividades de fiscalização, controle, prevenção e repressão do crime de tráfico dessas substâncias."

171 Capítulo 5

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Resumo de Direito Previdenciário

Fugindo a regra acima exposta, no caso de trabalho domés­tico, a base de cálculo, tanto do empregador como do segurado é a mesma: o salário-de-contribuição. A contribuição do segurado especial também não obedece à regra geral, pois a base de cálculo de sua contribuição não é o salário-de-contribuição: a contribuição deste segurado incide sobre a receita bruta da comercialização de sua produção rural.

Assim, conclui-se que o salário-de-contribuição é a base de cál­culo da contribuição do empregador doméstico e da contribuição dos segurados, exceto a do segurado especial. O salário-de-contribuição também é base para o cálculo do salário-de-benefício (ver capítulo referente aos benefícios do RGPS).

172

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Financiamento da Seguridade Social

4.1. Conceito de salário-de-contribuição

Empregado eTrabalhadoravulso

A remuneração auferida em uma ou mais empresas» assim entendida a totalida­de dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusi­ve as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamen­tos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposi­ção do empregador ou to­mador de serviços, nos ter­mos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa;

O piso salarial legal ou normativo da ca­tegoria ou, inexistido piso salarial, o salá­rio mínimo, tomado no seu valor mensal, diário ou horário, conforme o ajustado e o tempo de trabalho efetivo durante o mês.

R$3.416,542

Empregadodoméstico.

A remuneração registrada na carteira profissional e/ ou na Carteira de Traba­lho e Previdência Social.

Contribuinteindividual

A remuneração auferida em uma ou mais empre­sas ou pelo exercício de sua atividade por conta própria, durante o mês.

O salário mínimo mensal (atualmente, R$510,00)

Facultativo O valor por ele declarado.

O segurado especial, em regra, não contribui com base no salário-de-contribuição; por isso, não consta da tabela acima. Toda­via, a Lei n° 8.212/91 (art. 25, § Io) permite que este segurado, além da contribuição obrigatória sobre a comercialização da produção

173 Capítulo 5

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Resumo de Direito Previdenciário

rural, também contribua, facultativamente, com alíquota de 20% sobre o salário-de-contribuição. Neste caso específico, o salário- de-contribuição do segurado especial será o valor por ele declarado.

O limite máximo do salário-de-contribuição é reajustado na mesma época e com os mesmos índices que os do reajustamento dos benefícios de prestação continuada da Previdência Social (Lei 8.212/91, art 28, § 5o).

4.2. Parcelas integrantes e não integrantes do salário-de-contribuição

Integram o salário-de-contribuição todas as parcelas de natureza remuneratória, ou seja, aquelas pagas em retribuição aos serviços prestados pelo trabalhador. As parcelas relativas à indenização e ao ressarcimento, em geral, não estão incluídas nos conceitos de salário- de-contribuição e de remuneração.

Indenização é a reparação de danos causados a uma pessoa.Ressarcimento é o reembolso de despesas pagas pelo trabalha­

dor em decorrência da execução de alguma atividade de interesse da empresa.

Remuneração é a retribuição pelos serviços prestados.Os valores pagos pelo trabalho integram o salário-de-contri­

buição.Os valores pagos para o trabalho não integram o salário-de-

contribuição.De acordo como o disposto no § 2° do art. 22 da Lei 8.212/91,

as parcelas que não integram o salário-de-contribuição também não integram a remuneração. Assim, podemos afirmar que todas as parcelas que integram a base de cálculo da contribuição do segurado também integram a base de cálculo da contribuição da empresa. A diferença é que, em relação aos segurados, a base de calculo respeita os limites (mínimo e máximo) do salário-de-contribuição. A base de cálculo da contribuição da empresa não respeita esses limites: incide sobre o total da remuneração paga, devida ou creditada ao segurado.

Portanto, todas as observações que serão feitas nos tópicos seguintes, a respeito das parcelas integrantes e não integrantes do salário-de-contribuição, também são válidas para a quantificação da base de cálculo das contribuições previdenciárias das empresas.

Hugo Goes 174

Page 180: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

4.2.1. Parcelas integrantes do salário-de-contribuição

Dizer que um determinado valor que o segurado receba da empresa integra o salário-de-contribuição significa dizer que sobre este valor vai incidir contribuição previdenciária, ou seja, esse valor vai compor a base de cálculo da contribuição previdenciária.

A legislação previdenciária (Lei n° 8.212, art. 28, § 9o e RPS, art. 214, § 9o) relaciona apenas as parcelas que não integram o salário- de-contribuição. Por exclusão, as parcelas que não constam dessa relação integram o salário-de-contribuição. A título de exemplo, enumeramos abaixo algumas parcelas que integram o salário-de- contribuição.

I - Salário.II - Saldo de salário pago na rescisão do contrato de trabalho.III - Salário-maternidade.IV - Férias gozadas.V - 1/3 de férias gozadas (CF, art. 7o, XVII).VI - 13° salário.VII - Horas extras.VIII - O valor total das diárias para viagem, quando excederem

a 50% da remuneração mensal do empregado.IX - Adicionais de insalubridade, periculosidade e noturno.X - Adicional por tempo de serviço.XI - Gorjetas (espontâneas ou compulsórias).XII - Pagamento relativo aos 15 primeiros dias de afastamento

do empregado por motivo de doença ou acidente do trabalho.

XIII - Aviso prévio.XIV - Comissões e percentagens.XV - Gratificações ajustadas (expressas ou tácitas).XVI - Prêmios contratuais ou habituais.XVII - Repouso salarial remunerado.XVIII - Salário pago sob a forma de utilidades (salário in natura).XIX - Abonos de qualquer natureza, exceto aqueles cuja inci­

dência seja expressamente excluída por lei.

Financiamento da Seguridade Social

175 Capítulo 5

Page 181: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

Resumo de Direito Previdenciário

XX - Remuneração do aposentado que retomar ao trabalho.XXI - Quebra de caixa (bancário e comerciário).

4.2.2. Parcelas não integrantes do salário-de-contribuiçãoNão integram o salário-de-contribuição exclusivamente as par­

celas previstas no § 9o do art. 28 da Lei n° 8.212/91 e no § 9o do art. 214 do Regulamento da Previdência Social (Decreto n° 3.048/99):

I - Os benefícios da previdência social, nos termo e limiteslegais, salvo o salário-maternidade.

II - Ajuda de custo e o adicional mensal recebido pelo aero-nauta nos termos da Lei n° 5.929/73.

III - Parcela in natura recebida de acordo com o Programade Alimentação do Trabalhador (PAT) promovido pelo Ministério do Trabalho, nos termos da Lei n° 6.321/76.

IV - Férias indenizadas e o respectivo terço constitucional,pagos na rescisão.

V - Dobra de férias (CLT, art. 137).VI - Abonos de férias (arts. 143 e 144 da CLT).VII - Indenização compensatória de 40% do montante depo­

sitado no FGTS, em caso de despedida sem justa causa. VIÍI - Indenização por tempo de serviço, anterior a 5/10/88, do

empregado não optante pelo FGTS.IX - Indenização por despedida sem justa causa do empregado

nos contratos por prazo determinado (CLT, art. 479).X - Indenização do tempo de serviço do safrista, quando da

expiração normal do contrato (Lei n° 5.889/73, art. 14).XI - Importâncias recebidas a título de incentivo à demissão.XII - Indenização por dispensa sem justa causa no período de

30 dias que antecede a correção salarial (Art. 9o da Lei n° 7.238/84).

XII - Indenizações previstas nos arts. 496 e 497 da CLT.X iy - Ganhos eventuais e abonos expressamente desvinculados

do salário por força de lei.XV - Licença-prêmio indenizada.

Hueo Goes 176

Page 182: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

Financiamento da Seguridade Social

X V I-

X V II-

XVIII -

XI5C

X X -

X X I-

X X III-

XXIV -

X X V -

X X V I-

A parcela recebida a título de vale-transporte, na forma da legislação própria.A ajuda de custo, em parcela única, recebida exclu­sivamente em decorrência de mudança de local de trabalho do empregado, na forma do art. 470 da CLT. As diárias para viagens, desde que não excedam a 50% da remuneração mensal do empregado.A importância recebida a título de bolsa de comple- mentação educacional de estagiário, quando paga nos termos da Lei n° 11.788/08.A participação do empregado nos lucros ou resultados da empresa, quando paga ou creditada de acordo com lei específica.Abono do Programa de Integração Social (PIS) e do Programa de Assistência ao Servidor Público (PASEP). Os valores correspondentes a transporte, alimentação e habitação fornecidos pela empresa ao empregado contratado para trabalhar em localidade distante da de sua residência, em canteiro de obras ou local que, por força da atividade, exija deslocamento e estada, observadas as normas de proteção estabelecidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego.A importância paga ao empregado a título de comple- mentação ao valor do auxílio-doença, desde que este direito seja extensivo à totalidade dos empregados da empresa.As parcelas destinadas à assistência ao trabalhador da agroindústria canavieira de que trata o art. 36 da Lei na 4.870/65.O valor das contribuições efetivamente pago pela pessoa jurídica relativas a programa de previdência complementar privada, aberta ou fechada, desde que disponível à totalidade de seus empregados e dirigentes. O valor relativo à assistência prestada por serviço mé­dico ou odontológico, próprio da empresa ou com ela conveniado, inclusive o reembolso de despesas com

177 Capítulo 5

Page 183: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

Resumo de Direito Previdenciário

XXVII -

XXVIII -

X X IX -

X X X -

X X X I-

XXXII -

XXXIII -

XXXIV

medicamentos, óculos, aparelhos ortopédicos, des­pesas médico-hospitalares e outras similares, desde que a cobertura abranja a totalidade dos empregados e dirigentes da empresa.O valor correspondente a vestuários, equipamen­tos e outros acessórios fornecidos ao empregado e utilizados no local do trabalho para prestação dos respectivos serviços.O ressarcimento de despesas pelo uso de veículo do empregado, quando devidamente comprovadas.O valor relativo a plano educacional que vise à edu­cação básica, nos termos do art 21 da Lei n° 9.394/96, e a cursos de capacitação e qualificação profissionais vinculados às atividades desenvolvidas pela empresa, desde que não seja utilizado em substituição de par­cela salarial e que todos os empregados e dirigentes tenham acesso ao mesmo.Os valores recebidos em decorrência da cessão de direitos autorais.O valor da multa paga ao empregado em decorrência da mora no pagamento das parcelas constantes do instrumento de rescisão do contrato de trabalho, conforme previsto no § 8* do art 477 da CLT.O reembolso creche pago em conformidade com a legislação trabalhista, observado o limite máximo de seis anos de idade da criança, quando devidamente comprovadas as despesas.O reembolso babá, limitado ao menor salário-de- contribuição mensal e condicionado à comprovação do registro na Carteira de Trabalho e Previdência Social da empregada, do pagamento da remuneração e do recolhimento da contribuição previdenciária, pago em conformidade com a legislação trabalhista, observado o limite máximo de seis anos de idade da criança.O valor das contribuições efetivamente pago pela pessoa jurídica relativo a prêmio de seguro de vida em

Hugo Goes 178

Page 184: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

Financiamento da Seguridade Social

grupo, desde que previsto em acordo ou convenção coletiva de trabalho e disponível à totalidade de seus empregados e dirigentes.

XXXV - O valor despendido por entidade religiosa ou institui­ção de ensino vocacional com ministro de confissão religiosa, membro de instituto de vida consagrada, de congregação ou de ordem religiosa em face do seu mister religioso ou para sua subsistência, desde que fornecido em condições que independam da natureza e da quantidade do trabalho executado.

XXXVI - Outras indenizações, desde que expressamente pre­vistas em lei.

4.3. ProporcionalidadeQuando a admissão, a dispensa, o afastamento ou a falta do

empregado, inclusive o doméstico, ocorrer no cursò do mês, o salário- de-contribuição será proporcional ao número de dias efetivamente trabalhados (RPS, art. 214, § Io).

Assim, poderá haver, nestes casos, salário-de-contribuição inferior ao salário mínimo mensal, ou seja, será calculado o salário mínimo no seu valor diário ou horário.

O salário mínimo é estabelecido em valor mensal, diário e horá­rio. Conforme estabelece o caput do art. Io da Medida Provisória n° 456/09, “a partir de 01/02/2009, o salário mínimo será de R$465,00”. O parágrafo único do art. Io determina que “em virtude do disposto no caput, o valor diário do salário mínimo corresponderá a R$15,50 e o seu valor horário a R$2,11”

5. Obrigações da empresa e demais contribuintes5.1. Obrigações da empresa

Após termos estudado as contribuições sociais, é de suma im­portância a análise da arrecadação e recolhimento destas (obrigação tributária principal).

Em relação à arrecadação e ao recolhimento das contribuições sociais, as empresas (e as pessoas ou entidades equiparadas a empresa) têm as seguintes obrigações:

179 Capítulo 5

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Resumo de Direito Previdenciário

a) Arrecadar a contribuição do segurado empregado, do tra­balhador avulso e do contribuinte individual a seu serviço, descontando-a da respectiva remuneração, e recolher o pro­duto arrecadado até o dia 20 do mês seguinte, ou até o dia útil imediatamente anterior se não houver expediente bancário naquele dia;

b) Recolher as contribuições a seu cargo incidentes sobre as re­munerações pagas, devidas ou creditadas, a qualquer título, aos segurados empregado, contribuinte individual e trabalha­dor avulso a seu serviço, até o dia 20 do mês seguinte, ou até o dia útil imediatamente anterior se não houver expediente bancário naquele dia;

c) Recolher as contribuições a seu cargo incidentes sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura de serviço, relativo a serviços que lhe tenha sido prestados por cooperados, por intermédio de cooperativas de trabalho, até o dia 20 do mês seguinte, ou até o dia útil imediatamente anterior se não houver expediente bancário naquele dia;

d) A empresa contratante de serviços executados mediante ces­são ou empreitada de mão-de-obra, inclusive em regime de trabalho temporário, deverá reter 11% do valor bruto da nota fiscal, fatura ou recibo de prestação de serviços e recolher a importância retida em nome da empresa contratada, até o dia 20 do mês seguinte, ou até o dia útil imediatamente anterior se não houver expediente bancário naquele dia;

e) Recolher as contribuições a cargo da empresa, provenientes do faturamento e do lucro (COFINS E CSLL), na forma e prazos definidos pela legislação tributária federal (RPS, art. 216,1);

f) A empresa adquirente, consumidora ou consignatária ou a cooperativa são obrigadas a recolher a contribuição inciden­te sobre a comercialização da produção rural do produtor rural pessoa física e do segurado especial, até o dia 20 do mês subsequente ao da operação de venda ou consignação da produção rural, independentemente de estas operações terem sido realizadas diretamente com o produtor ou com o intermediário pessoa física (RPS, art. 216, III);

Hugo Goes 180

Page 186: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

Financiamento da Seguridade Social

g) O produtor rural pessoa jurídica é obrigado a recolher a contribuição incidente sobre a receita bruta proveniente de comercialização de sua produção rural, até o dia 20 do mês seguinte, ou até o dia útil imediatamente anterior se não houver expediente bancário naquele dia;

h) A empresa que remunera empregado licenciado para exercer mandato de dirigente sindical é obrigada a recolher a con­tribuição deste, bem como as parcelas a seu cargo (RPS, art. 216, IX);

i) A entidade sindical que remunera dirigente que mantém a qualidade de segurado empregado, licenciado da empresa, ou trabalhador avulso é obrigada a recolher a contribuição destes, bem como as parcelas a seu cargo (RPS, art. 216, X);

j) A entidade sindical que remunera dirigente que mantém a qualidade de segurado contribuinte individual é obrigada a recolher a contribuição a contribuição deste, bem como as parcelas a seu cargo (RPS, art. 216, XI).

5.2. Obrigação dos demais contribuintesO segurado contribuinte individual, quando exercer atividade

econômica por conta própria ou prestar serviço a pessoa física ou a outro contribuinte individual, produtor rural pessoa física, missão diplomática ou repartição consular de carreira estrangeiras, ou quando tratar-se de brasileiro civil que trabalha no exterior para organismo oficial internacional do qual o Brasil seja membro efetivo, e o segurado facultativo estão obrigados a recolher sua contribuição, por iniciativa própria, até o dia quinze do mês seguinte àquele a que as contribuições se referirem, prorrogando-se o vencimento para o dia útil subsequente quando não houver expediente bancário no dia quinze (RPS, art. 216, II).

O produtor rural pessoa física e o segurado especial são obri­gados a recolher a contribuição incidente sobre a receita bruta da comercialização de sua produção rural, caso comercializem a sua produção com adquirente domiciliado no exterior, diretamente, no varejo, a consumidor pessoa física, a outro produtor rural pessoa

181 Capítulo 5

Page 187: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

Resumo de Direito Previdenciário

física ou a outro segurado especial (RPS, art. 216, IV). Esta con­tribuição deve ser recolhida até o dia 20 do mês seguinte, ou até o dia útil imediatamente anterior se não houver expediente bancário naquele dia.

A pessoa física não produtor rural que adquire a produção rural de segurado especial ou de produtor rural pessoa física, para vender, no varejo, a consumidor pessoa física, é obrigada a descontar a con­tribuição do segurado especial ou do produtor rural pessoa física, incidente sobre a receita bruta da comercialização produção rural, e recolhê-la até o dia 20 do mês seguinte.

O empregador doméstico é obrigado a arrecadar a contribui­ção do segurado empregado doméstico a seu serviço e recolhê-la, assim como a parcela a seu cargo, cabendo-lhe durante o período da licença-maternidade da empregada doméstica apenas o recolhimento da contribuição a seu cargo (RPS, art. 216, VIII). Estas contribuições devem ser recolhidas até o dia quinze do mês seguinte, prorrogando- se o vencimento para o dia útil subsequente quando não houver expediente bancário no dia quinze.

É facultado aos segurados contribuinte individual e facultativo, cujos salários-de-contribuição sejam iguais ao valor de um salário mínimo, optarem pelo recolhimento trimestral das contribuições previdenciárias, com vencimento no dia quinze do mês seguinte ao de cada trimestre civil, prorrogando-se o vencimento para o dia útil subsequente quando não houver expediente bancário no dia quinze (RPS, art. 216, § 15). Esta faculdade também é dada ao empregador doméstico relativamente aos empregados domésticos que lhes pres­tam serviço, cujos salários-de-contribuição sejam iguais ao valor de um salário mínimo, ou inferiores nos casos de admissão, dispensa ou fração do salário em razão de gozo de benefício (RPS, art. 216, § 16).

Hugo Goes 182

Page 188: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

Financiamento da Seguridade Sociai

6. Prazo de recolhimento

R F X X J L H lM Ê N T O í :;è Ê $ Ê lã Ê Ê È m Ê Ê È Ê È Ê Ê ÊA té d ia 1 5 d o m ê s se g u in te a o d a c o m p e tê n c ia , p r o r ­

r o g a n d o -s e p a r a o d ia ú til

su b seq u en te q u a n d o n ã o

h o u v e r e x p e d ie n te b a n cá rio .

a ) A s c o n tr ib u iç õ e s d o c o n tr ib u in te in d iv id u a l,

q u a n d o r e c o lh id a s p e lo p r ó p r i o s e g u r a d o ;

b ) A s c o n tr ib u iç õ e s d o s e g u r a d o f a c u lta t iv o ;

c ) A s c o n tr ib u iç õ e s d e s c o n ta d a s d o s e g u r a d o e m ­p r e g a d o d o m é s tic o ;

d ) A s c o n trib u içõ e s a c a rg o d o e m p re g a d o r d o m é stico .

A té d ia 2 0 d e d e z e m b ro , a n te c ip a n d o -se p a r a o d ia

ú til im e d ia ta m e n te a n te rio r

q u a n d o n ã o h o u v e r e x p e ­

d ie n te b a n c á r io n a q u e le d ia .

C o n tr i b u iç ã o in c id e n te s o b r e o v a lo r d o 1 3 ° sa lá r io . O b s .: N o c a s o d e R e s c is ã o d e c o n t r a t o d e t r a b a lh o , a s c o n tr ib u iç õ e s d e v id a s s e r ã o r e c o lh id a s a té o d ia 2 0 d o m ê s s e g u in te a o d a r e s c is ã o , c a lc u la n d o -s e e m

s e p a r a d o a p a r c e la r e fe r e n te a o 1 3 ° sa lá r io .

A té 2 d ia s ú te is a p ó s a r e a ­l iz a ç ã o d o e v e n to

A c o n t r i b u i ç ã o d e 5 % in c id e n te s o b r e a r e c e i ta b r u t a d e e s p e tá c u lo s d e s p o rt iv o s .

A té o d ia 2 0 d o m ê s s eg u in te

a o d a co m p e tê n c ia , o u a té o

d ia ú til im e d ia ta m e n te a n te ­

r io r se n ã o h o u v e r e x p e d ie n ­

te b a n c á r io n a q u e le dia.

a ) A s c o n tr ib u iç õ e s d e s c o n ta d a s d o s s e g u r a d o s e m ­p r e g a d o s e tr a b a lh a d o r e s a v u ls o s ;

b ) A s c o n tr ib u iç õ e s d e s c o n ta d a s d o c o n tr ib u in te i n ­d iv id u a l p e la e m p r e s a (in c lu s iv e a s d e s c o n ta d a s d o

c o o p e r a d o p e la c o o p e r a t iv a d e t r a b a l h o ) ;c ) A s c o n tr ib u iç õ e s a c a r g o d a e m p r e s a in c id e n te s

s o b r e a r e m u n e r a ç ã o d e s e g u r a d o s e m p r e g a d o , t r a ­b a l h a d o r a v u ls o e c o n tr ib u in te in d iv id u a l;

d ) A s c o n tr ib u iç õ e s d a e m p r e s a ( 1 5 % ) in c id e n te s

s o b r e o v a l o r b r u to d a n o t a fisca l o u f a tu r a d e s e r ­v i ç o , r e la tiv o a s e r v iç o s q u e lh e te n h a s id o p r e s ta d o s

p o r c o o p e r a d o s , p o r in te r m é d io d e c o o p e r a t iv a s d e t r a b a lh o ;

e ) A s r e te n ç õ e s d e 1 1 % s o b r e o v a lo r d o s s e rv iç o s

c o n t id o s e m n o ta f isca l p r e s ta d o s m e d ia n te c e s s ã o d e m ã o - d e - o b r a o u e m p r e i ta d a ;

f ) A s c o n tr ib u iç õ e s in c id e n te s s o b r e a c o m e r c ia l i z a ­ç ã o d a p r o d u ç ã o r u r a l ;

g ) A c o n t r i b u i ç ã o d e 5 % in c id e n te s s o b re p a t r o c ín io , l i c e n c ia m e n to d e u s o d e m a r c a s e s ím b o lo s , p u b lic i­d a d e , p r o p a g a n d a e tr a n s m is s ã o d e e s p e tá c u lo s .

Não é permitido o recolhimento em valor inferior a R$ 29,00. Seo valor for inferior a R$ 29,00, deverá ser adicionado a contribuição de competências subsequentes, até que seja igual ou superior a R$ 29,00 (Resolução do INSS/DC n° 39, de 23/11/2000).

183 Capítulo 5

Page 189: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

Resumo de Direito Previdenciário

O empregador doméstico poderá recolher a contribuição do segu­rado empregado doméstico a seu serviço e a parcela a seu cargo, rela­tivas à competência novembro, até o dia 20 de dezembro, juntamente com a contribuição referente ao décimo terceiro salário, utilizando-se de um único documento de arrecadação (Lei n° 8.212/91, art. 30, § 6o).

7. Recolhimento fora do prazo: juros e multaOs débitos com a União decorrentes das contribuições sociais

previdenciárias, não pagos nos prazos previstos em legislação, serão acrescidos de multa de mora e juros de mora (Lei n° 8.212/91, art. 35).

7.1. Juros de moraSobre as contribuições previdenciárias pagas após o vencimento

incidirão juros calculados da seguinte forma: (a) taxa SELIC, acu­mulada mensalmente, a partir do primeiro dia do mês subsequente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento; e (b) um por cento no mês de pagamento (Lei n° 9.430/96, art. 61, § 3o).

Assim, para calcular o percentual de juros de mora, soma~se a taxa SELIC desde a do mês seguinte ao do vencimento do tributo ou contribuição até a do mês anterior ao do pagamento, e acrescenta-se a esta soma 1% referente ao mês de pagamento. Aplica-se o percentual dos juros de mora sobre o valor da contribuição devido.

Não há cobrança de juros de mora para pagamentos feitos dentro do próprio mês de vencimento. Se, por exemplo, a empresa pagar a contribuição previdenciária da competência 01/2009 (cujo vencimen­to é dia 20/02/2009) no dia 27/02/2009, não pagará juros de mora. Neste caso, a empresa pagará apenas a multa de mora.

7.2. Multa de moraOs débitos decorrentes contribuições sociais previdenciárias, não

pagos nos prazos legais, serão acrescidos de multa de mora, calculada à taxa de 0,33% (trinta e três centésimos por cento) por dia de atraso. A multa será calculada a partir do primeiro dia subsequente ao do vencimento do prazo previsto para o pagamento da contribuição até o dia em que ocorrer o seu pagamento. O percentual de multa a ser aplicado fica limitado a vinte por cento (Lei n° 9.430/96, art. 61,

H u e o Goes 184

Page 190: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

Financiamento da Seguridade Social

caput e §§ Io e 2o). Aplica-se o percentual da multa de mora sobre o valor da contribuição devido.

Se, por exemplo, a empresa pagar a contribuição previdenciária da competência 01/2009 (cujo vencimento é dia 20/02/2009) no dia 27/02/2009, o percentual da multa de mora será de 2,31% (que cor­responde a 7 x 0,33%). Mas se esta mesma contribuição for recolhida no dia 29/04/2009 (com 68 dias de atraso), o percentual de multa será de 20%, que é a multa máxima.

A multa de mora não será aplicada quando o valor da contri­buição já tenha servido de base para aplicação da multa decorrente de lançamento de ofício.

Exemplo envolvendo cálculo de juros e muita de mora:No dia 02/02/2009, a empresa pagou a contribuição previden­ciária da competência 11/2008, cuja data de vencimento foi dia 19/12/2008 (dia 20/12/2008 foi um sábado). O valor originário da contribuição foi de R$100.000,00.Cálculo dos juros de mora: 1,05% + 1% - 2,05%Explicação: 1,05% corresponde à taxa SELIC de jan/2009 (mês seguinte ao do vencimento); e 1% corresponde ao percentual relativo ao mês do pagamento (fev/2009).Cálculo da multa de mora: 45 x 0,33% = 14,85%Explicação: A contribuição estava em atraso havia 45 dias, poiso vencimento ocorreu dia 19/12/2008. Assim, para efeito do cálculo da multa, a quantidade de dias de atraso começou a contar a partir do dia 20/12/2008.Cálculo do recolhimento:Valor da contribuição: R$ 100.000,00 Juros de mora: 2,05% x R$ 100.000,00 = R$ 2.050,00 Multa de mora: 14,85% x R$ 100.000,00 = R$ 14.850,00 Total: 100.000,00 + 2.050,00 + 14.850,00 = R$ 116.900,00

Se a mesma contribuição do exemplo supra tivesse sido paga no dia 03/03/2009, os cálculos seriam feitos da seguinte forma:

Cálculo dos juros de mora: 1,05% + 0,86% + 1% = 2,91%Explicação: 1,05% é a taxa SELIC de jan/2009 (mês seguinte ao do

185 Capítulo 5

Page 191: Resumo de Direito Previdenciário - Hugo Goes

Resumo de Direito Previdenciário

vencimento); 0,86% é a taxa SELIC de fev/2009; e 1% corresponde ao percentual relativo ao mês do pagamento (mar/2009).Cálculo da multa de mora: 20%Explicação: A contribuição estava em atraso havia 74 dias, pois o vencimento ocorreu dia 19/12/2008. Neste caso, como 74 x 0,33% dá um percentual superior a 20%, a multa fica limitada a 20%.Cálculo do recolhimento:Valor da contribuição: R$ 100.000,00 Juros de mora: 2,91% x R$ 100.000,00 = R$ 2.910,00 Multa de mora: 20% x R$ 100.000,00 = R$ 20.000,00 Total: 100.000,00 + 2.910,00 + 20.000,00 = R$ 122.910,00

7.3. Multas de lançamento de ofício

Constatado o não recolhimento total ou parcial das contribui­ções previdenciárias, não declaradas em GFIP, cabe à Secretaria da Receita Federal do Brasil efetuar o lançamento de ofício, através da lavratura de auto de infração ou notificação de lançamento.

Nos casos de lançamento de ofício, será aplicada multa de 75% calculada sobre a totalidade ou diferença de contribuição.

Na hipótese de compensação indevida, quando se comprove falsidade da declaração apresentada pelo sujeito passivo, o percen­tual de multa será aplicado em dobro (passando de 75% para 150%), tendo como base de cálculo o valor total do débito indevidamente compensado (Lei n° 8.212/91, art. 89, § 10). Também haverá a du­plicação do percentual da multa (passando de 75% para 150%) nos casos de evidente intuito de fraude, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis (Lei n° 9.430/96, art. 44, § Io).

7.3.1. Agravamento da muita de ofício

Os percentuais de multa de ofício (de 75% e de 150%) serão au­mentados de metade (passando para 112,5% e 225%), nos casos de não atendimento pelo sujeito passivo, no prazo marcado, de intimação para: (I) prestar esclarecimentos; (II) quando usuário de sistema de processamento eletrônico de dados, apresentar os arquivos digitais ou sistemas e a documentação técnica completa e atualizada do

Hugo Goes 186

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Financiamento da Seguridade Social

sistema, suficiente para possibilitar a sua auditoria (Lei n° 9.430/96, art. 44, § 2o).

7,3.2. Redução da multa de ofícioDe acordo com o art. 6o da Lei n° 8.218/91, ao sujeito passivo que,

notificado, efetuar o pagamento, a compensação ou o parcelamento das contribuições, será concedida redução da multa de lançamento de ofício nos seguintes percentuais:

I - 50% se for efetuado o pagamento ou a compensação noprazo de 30 dias, contados da data em que o sujeito passivo foi notificado do lançamento;

II - 40% se o sujeito passivo requerer o parcelamento no prazo de30 dias, contados da data em que foi notificado do lançamento;

III - 30%, se for efetuado o pagamento ou a compensação noprazo de 30 dias, contados da data em que o sujeito pas­sivo foi notificado da decisão administrativa de primeira instância (DRJ); e

IV - 20%, se o sujeito passivo requerer o parcelamento no pra­zo de 30 dias, contados da data em que foi notificado da decisão administrativa de primeira instância (DRJ).

No caso de provimento a recurso de ofício interposto por auto­ridade julgadora de primeira instância, aplica-se a redução de 30%, para o caso de pagamento ou compensação, e de 20%, para o caso de parcelamento (Lei n° 8.218/91, art. 6o, § Io).

A rescisão do parcelamento, motivada pelo descumprimento das normas que o regulam, implicará restabelecimento do montante da multa proporcionalmente ao valor da receita não satisfeita e que excedero valor obtido com a garantia apresentada (Lei n° 8.218/91, art. 6o, § 2o).

Veja no quadro a seguir, resumo da redução da multa de lan­çamento de ofício:

187 Capítulo 5

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De 30 dias da data da notificação do lançamento

De 30 dias da ciênciada decisão de primeira Redução de 30%

instânciaRedução de 20%

8. Obrigações acessóriasAs obrigações acessórias são prestações positivas ou negativas

no interesse da arrecadação ou da fiscalização. Visam, entre outras funções, a subsidiar o fisco previdenciário na verificação da regula­ridade fiscal da empresa.

Dentre outras, a empresa deve cumprir as seguintes obrigações acessórias:

a) Preparar folha de pagamento da remuneração paga, devida ou creditada a todos os segurados a seu serviço, devendo manter,

- em cada estabelecimento, uma via da respectiva folha e recibos de pagamentos;

b) Lançar mensalmente em títulos próprios de sua contabili­dade, de forma discriminada, os fatos geradores de todas as contribuições, o montante das quantias descontadas, as contribuições da empresa e os totais recolhidos;

c) Prestar à Secretaria da Receita Federal do Brasil todas as in­formações cadastrais, financeiras e contábeis de seu interesse, na forma por ela estabelecida, bem como os esclarecimentos necessários à fiscalização;

d) Declarar à Secretaria da Receita Federal do Brasil e ao Conselho Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS, na forma, pra2 o e condições estabelecidos por esses órgãos, dados relacionados a fatos geradores, base de cálculo e valores devidos da contribuição previdenciária e outras informações de interesse do INSS ou do Conselho Curador do FGTS. Esta declaração é feita por intermédio da Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social - GFIP;

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Financiamento da Seguridade Social

e) Encaminhar ao sindicato representativo da categoria pro­fissional mais numerosa entre seus empregados, até o dia10 de cada mês, cópia da Guia da Previdência Social (GPS) relativamente à competência anterior; e

f) Afixar cópia da GPS, relativamente à competência anterior, durante o período de um mês, no quadro de horário de que trata o art. 74 da CLT.46

g) Informar, anualmente, à Secretaria da Receita Federal do Brasil, na forma por ela estabelecida, o nome, o número de inscrição na previdência social e o endereço completo dos comerciantes ambulantes por ela utilizados no período, a qualquer título, para distribuição ou comercialização de seus produtos, sejam eles de fabricação própria ou de terceiros, sempre que se tratar de empresa que realize vendas diretas (RPS, a rt 225, VII).

h) Inscrever, no RGPS, os segurados empregados e os trabalhado­res avulsos a seu serviço. A inscrição do segurado empregado é efetuada diretamente na empresa, mediante preenchimento dos documentos que o habilitem ao exercício da atividade, formalizado pelo contrato de trabalho, e a inscrição dos trabalhadores avulsos é efetuada diretamente no OGMO, no caso dos portuários, ou no sindicato de classe, nos demais casos, mediante cadastramento e registro do trabalhador, respectivamente, no OGMO ou sindicato;

i) Exibir à fiscalização da Secretaria da Receita Federal do Brasil, quando intimada para tal, todos os documentos e livros com as formalidades legais intrínsecas e extrínsecas, relacionados com as contribuições sociais;

j) Matricular no Cadastro Específico do INSS (CEI) obra de construção civil executada sob sua responsabilidade, dentro do prazo de trinta dias contados do início da execução;

46 Consolidação das Leis do Trabalho:Art. 74. O horário do trabalho constará de quadro, organizado conforme modelo expedido pelo Ministro do Trabalho e afixado em lugar bem visível. Esse quadro será discriminativo no caso de não ser o horário único para todos os empregados de uma mesma seção ou turma.

189 Capítulo 5

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Resumo de Direito Previdenciário

k) Elaborar e manter atualizado Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho - LTCAT com referência aos agentes nocivos existentes no ambiente de trabalho de seus trabalha­dores;

1) Elaborar e manter atualizado Perfil Profissiográíico Previ­denciário - PPP abrangendo as atividades desenvolvidas por trabalhador exposto a agente nocivo existente no ambiente de trabalho e fornecer ao trabalhador, quando da rescisão do contrato de trabalho, cópia autêntica deste documento.

A empresa que utiliza sistema de processamento eletrônico de dados para o registro de negócios e atividades econômicas, escritu­ração de livros ou produção de documentos de natureza contábil, fiscal, trabalhista e previdenciária é obrigada a arquivar e conser­var, devidamente certificados, os respectivos sistemas e arquivos, em meio digital ou assemelhado, à disposição da fiscalização (Lei 10.666/2003, art. 8o).

A cooperativa de trabalho e a pessoa jurídica são obrigadas a efetuar a inscrição no INSS dos seus cooperados e contratados, res~ ■ pectivamente, como contribuintes individuais, se ainda não inscritos; (Lei 10.666/2003, art. 4o, § 2o).

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Retenção e responsabilidade solidária

Capítulo 6

1. Retenção de 11%

A retenção de 11% foi instituída pela Lei 9.711/98 e está em vigor desde fevereiro de 1999. É adotada quando uma empresa (contratada) presta serviço a outra empresa (contratante) mediante empreitada ou cessão de mão-de-obra.

Cessão de mão-de-obra: colocação a disposição do contratante, em suas dependências ou nas de terceiros, de segurados que realizem serviços contínuos, relacionados ou não com a atividade fim da em­presa, independentemente da natureza e da forma de contratação, inclusive por meio de trabalho temporário na forma da Lei 6.019/74 (RPS, art. 219, § Io).

Empreitada: é a execução, contratualmente estabelecida, de tarefa, de obra ou de serviço, por preço ajustado, com ou sem forne­cimento de material ou uso de equipamentos, realizada nas depen­dências da empresa contratante, nas de terceiros ou nas da empresa contratada, tendo como objeto um resultado pretendido (IN RFB n° 971/2009, art 116).

Na empreitada não há qualquer restrição ao lugar em que o serviço deva ser executado. Já na cessão de mão-de-obra, o serviço é executado nas dependências do contratante ou nas de terceiros, nunca nas próprias dependências do contratado.

Dependências de terceiros são aquelas indicadas pela empresa contratante, que não sejam as suas próprias e que não pertençam à empresa prestadora dos serviços (IN RFB n° 971/2009, art. 115, § Io).

Serviços contínuos são aqueles que constituem necessidade permanente da contratante, que se repetem periódica ou sistemati­camente* ligados ou não a sua atividade fim, ainda que sua execução seja realizada de forma intermitente ou por diferentes trabalhadores (IN RFB n° 971/2009, art. 115, § 2o).

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Resumo de Direito Previdenciário

Um mesmo serviço pode ser contratado por empreitada ou cessão de mão-de-obra. Por exemplo: a contratação da vigilância ou segurança diária de certa empresa é tarefa contínua, ou seja, sem término definido. Assim, este serviço será prestado mediante cessão de mão-de-obi:a. Já a contratação da segurança de um show, a ser realizado num único dia, é evidentemente finita. Portanto, trata-se aqui de uma empreitada.

1.1. Procedimento da retenção

I - A empresa contratante de serviços executados mediante cessão ou empreitada de mão-de-obra, inclusive em regime de tra­balho temporário, deverá:

a) Reter 11% do valor bruto da nota fiscal, fatura ou recibo de prestação de serviços emitido pela contratada, a título de contribuição para a seguridade social;

b) Recolher a importância retida em nome da empresa contrata­da até o dia 20 do mês seguinte ao da emissão da nota fiscal.

Observações:

1) O percentual de 11% será acrescido de 4%, 3% ou 2%, relati­vamente aos serviços prestados pelos segurados empregados, cuja atividade permita a concessão de aposentadoria especial, após 15,20 ou 25 anos de contribuição, respectivamente (Lei 10.666, art. 6o). Assim, nestes casos, os percentuais de retenção serão de 15%, 14% ou 13%, respectivamente.

2) Na contratação de serviços em que a contratada se obriga a fornecer material ou dispor de equipamentos, fica facultada ao contratado a discriminação, na nota fiscal, fatura ou recibo, do valor correspondente ao material ou equipamentos, que será excluído da retenção, desde que contratualmente previsto e devidamente comprovado (RPS, art. 219, § 7o). Neste caso, a retenção de 11% incidirá somente sobre o valor dos serviços.

3) Quem recolhe a retenção é a contratante, mas no campo 5 da

Hnxrn C,r>p<: 192

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Retenção e Responsabilidade Solidária

GPS (identificador) deve ser identificado o CNPJ ou CEI da empresa contratada.

4) A retenção se presumirá feita. A empresa contratante não pode alegar omissão para se eximir do recolhimento.

II - A empresa contratada deverá:

a) Destacar na nota fiscal o valor da retenção para a seguridade social.

b) Elaborar folha de pagamento e GFIP distintas para cada obra ou estabelecimento das empresas que contratarem seus serviços.

c) Compensar o valor retido pela contratante, quando do re­colhimento de suas contribuições para a seguridade social incidentes sobre a folha de pagamento dos segurados a seu serviço.

Observações:

1) As importâncias retidas não podem ser compensadas com contribuições arrecadadas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil para outras entidades e fundos (terceiros). Somente podem ser compensadas com os valores relativos a contribui­ções sociais previdenciárias.

2) Na impossibilidade de haver compensação integral na própria competência, o saldò remanescente poderá ser compensado nas competências subsequentes, inclusive na relativa à gratifi­cação natalina, ou ser objeto de restituição (RPS, art. 219, § 9o).

3) Para fins de recolhimento e de compensação da importância retida, será considerada como competência aquela a que cor­responder à data da emissão da nota fiscal, fatura ou recibo (RPS, art. 219, § 10).

4) O valor retido poderá ser compensado por qualquer estabe­lecimento da empresa cedente da mão de obra, por ocasião do recolhimento das contribuições destinadas à Seguridade Social devidas sobre a folha de pagamento dos seus segurados (Lei n° 8.212/91, art. 31, § Io).

193 Capítulo 6

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Resumo de Direito Previdenciário

1.2. Hipóteses de incidência da retenção

De acordo com o § 2o do art. 219 do RPS, haverá retenção de 11% nos seguintes serviços realizados mediante cessão de mão-de-obra:

I - Limpeza, conservação e zeladoria;II - Vigilância e segurança;III - Construção civil;IV - Serviços rurais;V - Digitação e preparação de dados para processamento;VI - Acabamento, embalagem e acondicionamento de produtos;VII - Cobrança;VIII - Coleta e reciclagem de lixo e resíduos;IX - Copa e hotelaria;X - Corte e ligação de serviços públicos;XI - Distribuição;XII - Treinamento e ensino;XIII - Entrega de contas e documentos;XIV - Ligação e leitura de medidores;XV - Manutenção de instalações, de máquinas e de equipa-

Mentos;XVI - Montagem;XVII - Operação de máquinas, equipamentos e veículos;XVIII - Operação de pedágio e de terminais de transporte;XIX - Operação de transporte de passageiros, inclusive nos casos

de concessão ou sub-concessão;XX - Portaria, recepção e ascensorista;XXI - Recepção, triagem e movimentação de materiais;XXII - Promoção de vendas e eventos;XXIII - Secretaria e expediente;XXIV - Saúde; eXXV - Telefonia, inclusive telemarketing.De acordo com o § 3o do art. 219 do RPS, haverá retenção de 11%

nos seguintes serviços quando contratados mediante empreitada de mão-de-obra.

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Retenção e Responsabilidade Solidária

I - Limpeza, conservação e zeladoria;II - Vigilância e segurança;III - Construção civil;IV - Serviços rurais;V - Digitação e preparação de dados para processamento;Tanto em relação à cessão de mão-de-obra como à empreitada,

a lista de serviços sujeitos à retenção é exaustiva. Assim, os serviços não listados não se sujeitarão à incidência da retenção.

Observação: A retenção exclui a responsabilidade solidária.

2. Responsabilidade solidária

Segundo o Novo Código Civil, art. 264, “há solidariedade, quan­do na mesma obrigação concorre mais de um credor (solidariedade ativa), ou mais de um devedor (solidariedade passiva), cada um com direito, ou obrigado à dívida toda”.

No Direito Tributário não é possível falarmos em solidariedade ativa, tendo em vista a fixação constitucional das competências, que impede a existência de mais de um credor na mesma obrigação tributária.

Importa, aqui, portanto, estudar a solidariedade passiva, ou seja, a ocorrência de mais de um sujeito passivo em uma mesma obriga­ção tributária, obrigando-se cada um deles a uma dívida tributária integral. O sujeito ativo, em contrapartida, tem o direito de exigir o cumprimento da referida obrigação de uma ou de outra pessoa, na condição de devedora solidária, ou até mesmo de todas, de modo a exigir o pagamento integral do valor.

Na responsabilidade solidária passiva, cada um dos devedores solidários responde pela dívida inteira, como se fosse o único de­vedor. O credor (previdência social) pode escolher qualquer deles e compeli-lo a pagar a dívida toda.

Assim, a responsabilidade não comporta benefício de ordem (CTN, art. 124, parágrafo único e Lei 8.212/91, art. 30, VI).

Benefício de ordem é o direito à observância de uma ordem, de uma seqüência, quanto à execução de uma dívida. É o que acontece, por exemplo, com a fiança: de acordo com o Novo Código Civil, art.

195 Capítulo 6

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Resumo de Direito Previdenciário

827, “o fiador demandado pelo pagamento da dívida tem o direito de exigir, até a contestação da lide, que sejam primeiro executados os bens do devedor”.

A solidariedade tributária não comporta o benefício de ordem. Isto não precisaria nem estar expresso no CTN, pois a solidariedade tem como princípio não comportar o benefício de ordem. O parágrafo único do art. 124 do CTN é desnecessário. Mas o legislador do CTN, incluindo o citado parágrafo, afastou qualquer dúvida que pudesse ser levantada a esse respeito.

Portanto, a pessoa solidariamente responsável por uma obrigação tributária não se pode negar ao pagamento, alegando que outras ainda não pagaram. É dada ao credor (INSS) a faculdade de escolher o devedor de quem exigirá o cumprimento da obrigação. Pode também o credor exigir o cumprimento da obrigação de todos ao mesmo tempo.

2.1. Responsabilidade solidária na construção civilO proprietário, o incorporador, o dono da obra ou condômino

da unidade imobiliária cuja contratação da construção, reforma ou acréscimo não envolva cessão de mão-de-obra, são solidários com o construtor, e este e aqueles com a subempreiteira, pelo cumprimento das obrigações para com a seguridade social, ressalvado o seu direito regressivo contra o executor ou contratante da obra e admitida a re­tenção de importância a este devida para garantia do cumprimento dessas obrigações, não se aplicando, em qualquer hipótese, o benefício de ordem (RPS, art. 220).

Não se considera cessão de mão-de-obra a contratação de cons­trução civil em que a empresa construtora assuma a responsabilidade direta e total pela obra ou repasse o contrato integralmente (RPS, art. 220, § Io). Esta situação é conhecida como empreitada total.

Nos contratos de construção civil, mesmo que não envolvam ces­são de mão-de-obra, é admitida a retenção de 11%, porém, opcional. A contratante é quem decide se faz, ou não, a retenção. Se a contratante fizer a retenção de 11%, fica elidida sua responsabilidade solidária.

Nos contratos de construção civil que envolvam cessão de mão- de-obra, a retenção de 11% é obrigatória.

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Retenção e Responsabilidade Solidária

O executor da obra deverá elaborar, distintamente para cada estabelecimento ou obra de construção civil da empresa contratante, folha de pagamento e GFIP, cujas cópias deverão ser exigidas pela empresa contratante quando da quitação da nota fiscal ou fatura, juntamente com o comprovante de entrega daquela Guia (RPS, art. 220, § 2o).

Construtor é a pessoa física ou jurídica que executa obra sob sua responsabilidade, no todo ou em parte (RPS, art. 220, § 4o).

Entende-se como obra de construção civil a construção, de­molição, reforma ou ampliação de edificação ou outra benfeitoria agregada ao solo ou ao subsolo (RPS, art. 257, § 13).

Para melhor entendimento da responsabilidade solidária na construção civil, apresento o quadro a seguir:

S W I B S i i l l lEnvolve cessão de mão-de-obra Sim (obrigatória) Não

Não envolve cessão de mão-de-obra Opcional Sim Não

Não Sim

Exclui-se da responsabilidade solidária perante a Seguridade Social o adquirente de prédio ou unidade imobiliária que realizar a operação com empresa de comercialização ou incorporador de imóveis, ficando estes solidariamente responsáveis com o construtor (Lei 8.212/91, art. 30, VII).

2.1.1. A responsabilidade solidária na construção civil será elidida:a) Pela comprovação, de acordo com o informado na folha de

pagamento e na GFIP, do recolhimento das contribuições incidentes sobre a remuneração dos segurados, incluída em nota fiscal ou fatura correspondente aos serviços executados, quando corroborada por escrituração contábil;

b) Pela comprovação do recolhimento das contribuições inciden­tes sobre a remuneração dos segurados, aferidas indiretamen­te nos termos, forma e percentuais previstos pela Secretaria da Receita Federal do Brasil;

197 Capítulo 6

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Resumo de Direito Previdenciário

c) Pela comprovação do recolhimento da retenção de 11%, per­mitida, porém opcional.

2.2. Empresas que integram grupo econômico

As empresas que integram grupo econômico de qualquer natu­reza respondem entre si, solidariamente, pelas obrigações previden- ciárias (Lei n° 8.212/91, art 30, IX).

Caracteriza-se grupo econômico quando duas ou mais empre­sas estiverem sob a direção, o controle ou a administração de uma deias, compondo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica (IN RFB n° 971/2009, art. 494).

2.3. Produtores rurais integrantes de consórcio simplificado

De acordo com o disposto no art. 25-A da Lei n° 8.212/91, “equipara-se ao empregador rural pessoa física o consórcio simplifi­cado de produtores rurais, formado pela união de produtores rurais pessoas físicas, que outorgar a um deles poderes para contratar, gerir e demitir trabalhadores para prestação de serviços, exclusivamente, aos seus integrantes, mediante documento registrado em cartório de títulos e documentos”.

Os produtores rurais integrantes do consórcio simplificado serão responsáveis solidários em relação às obrigações previdenciárias (Lei n° 8.212/91, art. 25-A, § 3o).

2.4. Operador portuário e OGMO

De acordo com o art. 2o da Lei n° 9.719/98:I ~ cabe ao operador portuário recolher ao órgão gestor de mão-de-

obra (OGMO) os valores devidos pelos serviços executados, referentes à remuneração por navio, acrescidos dos percentuais relativos a décimo terceiro salário, férias, FGTS, encargos fiscais e previdenciários, no prazo de vinte e quatro horas da realização do serviço, para viabilizar o pagamento ao trabalhador portuário avulso;

II - cabe ao OGMO efetuar o pagamento da remuneração pelos serviços executados e das parcelas referentes a décimo terceiro salário e férias, diretamente ao trabalhador portuário avulso. Ainda cabe ao

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Retenção e Responsabilidade Solidária

OGMO o efetivo recolhimento da contribuição previdenciária, cujo valor foi repassado pelo operador portuário.

O operador portuário e o OGMO são solidariamente respon­sáveis pelo pagamento dos encargos trabalhistas» das contribuições previdenciárias e demais obrigações, inclusive acessórias, devidas à Seguridade Social, vedada a invocação do benefício de ordem (Lei n° 9.719/98, art. 2°, § 4o).

2.5. Administradores públicos

Os administradores de autarquias e fundações públicas, criadas e mantidas pelo Poder Público, de empresas públicas e de sociedades de economia mista sujeitas ao controle da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, que se encontrarem em mora, por mais de 30 dias, no recolhimento das contribuições previdenciárias, tornam-se solidariamente responsáveis pelo respectivo pagamento (Lei n° 8.212/91, art. 42).

2.6. Ato praticado sem apresentação da CNDO ato para o qual a lei exige a exibição de CND (ou de CPD-

EN), quando praticado com violação a esse requisito, acarretará a responsabilidade solidária dos contratantes e do oficial cartorário que lavrar ou registrar o instrumento, sem prejuízo da multa e da responsabilização penal e administrativa cabíveis, sendo o ato nulo para todos os efeitos (Lei n° 8.212/91, art. 48).

199 Capítulo 6

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