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Resumo de Trabalhos + Grupos Temáticos

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XI ENCONTRO DE PESQUISADORES EM HISTÓRIA DA PSICOLOGIA12-13 DE AGOSTO 2013PUCSP – SÃO PAULO

RESUMO DE TRABALHOS INSCRITOS

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XI ENCONTRO DE PESQUISADORES EM HISTÓRIA DA PSICOLOGIA12-13 DE AGOSTO 2013PUCSP – SÃO PAULO

GRUPOS TEMÁTICOS

1. EDUCAÇÃO..........................................................................................................................................................................................................04

2. PERSONAGENS | BIOGRAFIA.....................................................................................................................................................................15

3. SAÚDE MENTAL | HIGIENE MENTAL.......................................................................................................................................................24

4. ANÁLISE DOCUMENTAL | INSTITUIÇÕES.............................................................................................................................................35

5. PSICOLOGIA SOCIAL.......................................................................................................................................................................................43

6. TEORIAS E SISTEMAS | MÉTODO | ABORDAGENS TEÓRICAS...................................................................................................55

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XI ENCONTRO DE PESQUISADORES EM HISTÓRIA DA PSICOLOGIA12-13 DE AGOSTO 2013PUCSP – SÃO PAULO

GRUPO: EDUCAÇÃO

Adriana Araújo Pereira BorgesA PSICOLOGIA NO INSTITUTO PESTALOZZI (1930-1940)O Instituto Pestalozzi foi fundado em 1935 a partir da iniciativa da Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais. A Sociedade Pestalozzi foi criada em 1932 através de um grupo de intelectuais mineiros, conduzidos por Helena Antipoff, psicóloga russa, que veio para o Brasil em 1929 a convite do governo do estado de Minas Gerais para lecionar na Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Belo Horizonte. A situação das crianças “anormais” era preocupante. Sensibilizada pela causa, propôs o termo “excepcional” para diminuir o estigma causado pelo termo “anormal”. Atuou como psicóloga do Consultório Médico Pedagógico da Sociedade Pestalozzi inaugurado em 1933 e que, posteriormente, foi anexado ao Instituto Pestalozzi. O Instituto Pestalozzi foi concebido como um local destinado a centralizar, executar e orientar os trabalhos relativos às crianças mentalmente deficientes de Minas Gerais. Efetivamente, acolheu crianças com deficiências oferendo tratamento através do consultório e educação, através das classes especiais. Durante certo tempo, acolheu também crianças do Abrigo Afonso de Moraes, que não tinham acesso à escola. Interessa-nos, nesse momento, discutir o papel da psicologia nessa instituição. Para tanto, propomos analisar prontuários do Instituto Pestalozzi, recolhendo informações sobre a atuação do psicólogo nesse local. Recolhemos 70 prontuários do Instituto Pestalozzi, entre os anos de 1933-1940, sendo 10 prontuários de cada ano. Além disso, foram consultadas outras fontes, como os Boletins da Secretaria da Educação e Saúde Pública de Minas Gerais, dos anos de 1933, 1934 e 1937, denominados de “Infância Excepcional” e que ficaram sob responsabilidade da Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais. Outra fonte utilizada foi a brochura intitulada “Menores Abandonados”, de autoria de Cora Duarte, professora do Instituto Pestalozzi e de Helena Antipoff, relato dos primeiros meses de funcionamento do Instituto Pestalozzi quando este acolheu as crianças do Abrigo Afonso de Moraes. A partir da descrição das atividades do consultório médico pedagógico e do Instituto Pestalozzi, podemos discutir o impacto dessa instituição no cenário mineiro da década de 1930 e suas consequências para o campo da psicologia aplicada. Uma primeira observação é a de que as atividades da psicologia do consultório contribuíram para a afirmação do

campo. Uma segunda observação diz respeito a atuação multidisciplinar, uma prática que se iniciava no Brasil. Concluímos que, apesar de uma atuação fortemente marcada pela utilização dos testes psicológicos, o papel da psicologia ia além. Citamos como contribuição importante da psicologia, a criação da ficha de observação elaborada para mães e educadores acompanharem o desenvolvimento mental das crianças. E ainda, a presença em alguns prontuários de condutas propostas pela psicologia. Podemos citar o caso de uma criança, cuja deficiência física dificultava a escrita. Helena Antipoff propõe que a crianças utilize a máquina de datilografia. Dessa forma, a psicologia vai assumindo lugar de destaque na equipe, ao lançar um olhar diferenciado sobre a criança e seu desenvolvimento, propondo alternativas para sua educação e tratamento. APOIO: FAPEMIGPalavras-chave: Helena Antipoff, consultório médico-pedagógico, classes especiais, crianças excepcionais;Pesquisa em andamento

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Cecília Andrade AntipoffA PEDAGOGIA DA ESCOLA EDUC – CENTRO DE

EDUCAÇÃO CRIADORA NO CONTEXTO DAS TRANSFORMAÇÕES DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA

Este trabalho apresenta uma pesquisa de doutorado em andamento que tem como objetivo realizar um estudo de caso histórico sobre uma instituição de ensino mineira: a Escola Educ – Centro de Educação Criadora, que foi fundada em 1978 e funcionou até o ano de 2007. Fundada pelos psicólogos e educadores Daniel e Ottília Antipoff, esta escola, voltada para alunos do maternal ao quinto ano, apresentava uma proposta pedagógica original, baseada nos pressupostos humanistas da educação. Apesar de não ser uma escola específica para crianças

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com altas habilidades / superdotação, oferecia atendimento a estas crianças através de metodologias de trabalho diferenciadas, como, por exemplo: grupos móveis, projetos de estudos individuais ou em pequenos grupos e aceleração (quando o aluno saltava uma série por apresentar desenvolvimento emocional e pedagógico além do esperado para sua idade cronológica). Além disso, o aluno era entendido como o centro do processo educativo, sendo considerado em suas singularidades, limitações e interesses, o que pode ser constatado, tanto através da proposta de ensino individualizado (uma vez que cada turma era composta por, no máximo, quinze alunos), quanto através da metodologia de avaliação utilizada, que era baseada na proposta da Experimentação Natural de Alexandre Lazursky, trazida para o Brasil pela psicóloga e educadora Helena Antipoff. Tal avaliação propunha que se levasse em consideração o desempenho e desenvolvimento da criança ao longo do ano em variados aspectos que não apenas aqueles observados nas disciplinas específicas (como português, Matemática, ciências...), mas, também, nas dimensões da psicomotricidade, sociabilidade, habilidades artísticas, criatividade e características subjetivas, com base em observações realizadas pelo próprio educador, com a participação dos alunos. O que se propõe aqui é o estudo da história particular da Escola Educ, uma experiência local, que aconteceu no município de Nova Lima/ MG, que propunha formas diferenciadas de ver e entender tanto a criança e o processo de ensino- aprendizagem, como a avaliação no contexto educacional, mas que foi idealizada através de um diálogo elaborado por seus fundadores com diversas fontes teóricas educacionais e psicológicas que tinham, na época, um impacto global. Como algumas destas fontes, citam-se as americanas, as russas e as européias. Dentre as fontes americanas que inspiraram o projeto pedagógico da Escola Educ, cita-se Leta Stetter Hollingworth, com a proposta de uma educação para as crianças com altas habilidades / superdotação e Carl Roger, com a proposta Humanista, enfocada na aprendizagem significativa, no interesse e na participação ativa do aluno em seu processo de ensino e aprendizagem. Dentre as fontes Russas, aparecem Helena Antipoff com sua proposta, também humanista de educação, marcada pelo ideário da Escola Nova e Alexandre Lazursky com a Experimentação Natural. E, por último, como fontes européias, citam-se Edouard Claparede; Celestine Freinet e Jean Piaget, representantes do movimento da Escola Nova. A partir de tantas propostas educacionais inspiradoras, pretende-se explicitar como Daniel e Ottília Antipoff utilizaram-se destas diversas fontes que dialogaram com suas experiências e, partir daí, elaboraram uma síntese original através desta experiência educacional que foi a Escola Educ. Pretende-se realizar um diálogo entre a proposta pedagógica da Escola Educ e os impasses educacionais contemporâneos identificando o que existiu de original nesta proposta e que poderia ser utilizado como alternativa aos desafios educacionais atuais. Como alguns dos impasses contemporâneos no contexto educacional citam-se, por exemplo, os desafios em relação à educação voltada para as necessidades educacionais especiais que propõe o amparo e atendimento às diferenças no contexto de sala de aula e, também, as avaliações, que têm se mostrado cada vez mais maçantes e padronizadas, levando algumas

crianças ao fracasso escolar e aos infindáveis encaminhamentos aos psicólogos, psicopedagogos, psiquiatras... O que se pretende, desta forma, não é apenas trazer fatos acontecidos em uma determinada escola, em um passado nem tão distante assim, mas, estabelecer conexões entre idéias, construir um novo pedaço de história através de uma nova perspectiva, buscando uma interface com as questões e idéias educacionais atuais Esta pesquisa está baseada no campo temático da historiografia da educação brasileira denominado de história das instituições educacionais, buscando amparo teórico no campo de estudo da história da psicologia. Trata-se de um estudo histórico sobre uma instituição educacional que funcionou em Minas Gerais, e que pode trazer contribuições para o contexto da psicologia e da educação atual, no sentido incitar novas reflexões e, por que não, inspirar novos projetos.. Para alcançar os objetivos propostos, será realizada uma pesquisa nos arquivos, documentos e livros desta escola, além da realização de entrevistas semi estruturadas com ex-alunos com o intuito de identificar o significado de ter participado desta experiência educacional. A opção pela análise de documentos acrescida da análise das entrevistas se dá pelo fato de uma ação se mostrar complementar à outra, favorecendo a produção de um conhecimento histórico.Palavras-chave: Escola Educ - História - psicologia - Educação – contemporaneidadeProjeto de pesquisa

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Claudia da Silva LeiteA LÓGICA DO MUNDO EMPRESARIAL NO ENSINO

SUPERIOR: IMPLICAÇÕES PARA ALUNOS E PROFESSORES

A representação social do docente do ensino superior privado tem sofrido inúmeras alterações ocasionadas pelas mudanças socioeconômicas e políticas advindas das reformas educacionais no Brasil nas últimas décadas. A pesquisa tem o intuito de analisar a representação do professor em diferentes momentos históricos desde a reforma universitária de 1968, identificando o papel e a memória do docente inserido na sociedade que comercializa seu trabalho e o percebe como mercadoria. As medidas adotadas com a reforma de 1968 pretendiam maior eficiência e produtividade na universidade, fragmentando o trabalho do professor, já que se impunham: final da cátedra vitalícia substituída por departamentos como unidade básica alocando professores das áreas afins, matrícula por disciplina, sistema de créditos, cursos profissionalizantes e pós-

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graduação. O corpo docente perdeu sua autonomia e passou a reproduzir conteúdos elaborados pelos especialistas. A reforma determinou à satisfação da demanda educacional para atender aos próprios interesses, implantando a privatização das universidades, pautada na comercialização do ensino com baixo custo e um maior resultado. A universidade começa a atrair indivíduos com menor poder aquisitivo, que busca cursar uma graduação para obter equidade social e maior empregabilidade. Percebemos que o papel do professor vem sendo desqualificado e descaracterizado em função da perda de autonomia ocasionada pela padronização do ensino de massas, os avanços tecnológicos e a massificação da educação que corroboram com as intenções dos empresários de transformarem o docente através do controle de seu trabalho. As condições para o crescimento do ensino universitário privado foram criadas e a reforma permitiu instituições de ensino organizadas a partir de estabelecimentos isolados, voltados à mera transmissão de conhecimentos de cunho profissionalizante e afastados da pesquisa, atendendo aos interesses dos vestibulandos das camadas médias urbanas que encontraram vaga nas instituições particulares, havendo um aumento considerável das mesmas, proliferando a área educacional como fonte de rentabilidade. Para compreender o papel do professor do ensino superior privado atualmente, precisamos investigar o passado, analisar o papel do docente nos diferentes momentos históricos. Prost (1933, p.96), “A história faz-se a partir do tempo: um tempo complexo construído e multifacetado”, assim, entendemos a relevância de pesquisar o professor inserido em uma sociedade capitalista, desde a reforma do ensino de 1968, identificando a sua representação social mediante a comercialização de seu trabalho. Palavras-chave: Reforma universitária de 1968, universidade particular e ensino de massas. Pesquisa em andamento

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Deborah Rosária BarbosaESTUDOS PARA UMA HISTÓRIA DA PSICOLOGIA EDUCACIONAL E ESCOLAR NO BRASILEste resumo refere-se aos dados de minha tese de doutorado defendida em 2011. O estudo foi conduzido baseado no fundamento epistêmico-filosófico do materialismo histórico dialético e na nova história, utilizando fontes bibliográficas históricas e cinco relatos orais de personagens da Psicologia Educacional e Escolar. Os depoimentos e o material das fontes escritas constituíram o corpus documental cuja organização seguiu a metodologia da história oral e historiografia plural. Foi realizada análise descritivo-analítica compreendida em duas etapas:

a)análise documental (fontes não orais) e b)construção de indicadores e núcleos de significação dos registros orais. A partir das análises, compôs-se uma periodização da história da Psicologia Educacional e Escolar brasileira por meio de marcos históricos compreendendo as fases: 1) Colonização, saberes psicológicos e Educação (1500-1906); 2) A Psicologia em outros campos de conhecimento (1906-1930); 3) Desenvolvimentismo – a Escola Nova e os psicologistas na Educação (1930-1962); 4) A Psicologia Educacional e a Psicologia “do” Escolar (1962-1981); 5) O período da crítica (1981-1990); 6) A Psicologia Educacional e Escolar e a reconstrução (1990-2000); 7) A virada do século: novos rumos? (2000- ). As considerações finais apontam a limitação do modelo de periodização e também esclarece os movimentos expressivos no campo da Psicologia Educacional e Escolar que mostra que esta área no interior da Psicologia teve momentos distintos ao longo do tempo. Momentos mais aliados à manutenção e reprodução do sistema capitalista excludente e discriminatório, prestando um desserviço à Educação, assim como momentos de crítica e busca pela emancipação e uma Educação democrática e para todos.Palavras-chave: História da Psicologia, Psicologia Escolar, História oralPesquisa concluída

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Deolinda Armani Turci; Érika LourençoA PSICOLOGIA NA ESCOLA NORMAL DE OURO PRETO:

DE 1890 A 1930A pesquisa de mestrado em andamento e que ora se apresenta, tem como objeto o estudo analítico-descritivo dos saberes psicológicos que circulavam nas matérias lecionadas nas Escolas Normais de Minas Gerais, entre 1890 e 1930. A princípio abarcamos estes saberes na Escola Normal de Ouro Preto, primeira escola criada na província, 1835, que após vários momentos de instabilidade no processo de permanência, é reinstalada em 1872. Propõe-se através deste, identificar as relações entre o conhecimento psicológico e a formação de professores em Minas Gerais no período entre o final do século XIX e meados do século XX, e com isto contribuir com a História da Psicologia no Brasil, mais especificamente em Minas Gerais. Para a realização desta pesquisa e em coerência com a abordagem histórica proposta, a opção é por uma pesquisa documental e bibliográfica mediante leitura de bibliografia especializada e dos procedimentos de localização, recuperação, seleção, ordenação, análise das fontes. Tendo como aporte um diálogo entre os elementos trazidos pelos documentos consultados e o campo de pesquisa em História dos saberes psicológicos, entendendo e compreendendo o contexto sócio-

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cultural e político de onde os saberes são produzidos, ensinados, praticados, relacionando-os a conceitos e ou práticas que na atualidade podem ser considerados psicológicos. As fontes para a investigação são os documentos que fazem parte do Fundo da Secretaria de Interior da província mineira e do período tais como: atas de exames de professores e alunos, pedidos de materiais ao governo, estatutos das escolas, documentos avulsos do fundo de instrução, provas e exames, programas de ensino, bem como os jornais do período, manuais e compêndios, relatórios de Presidentes da Província, regulamentos, dentre outros, além de consultas em arquivos escolares e arquivos públicos disponíveis na cidade de Ouro Preto. Em um levantamento inicial feito no Arquivo Público Mineiro (APM), em provas e programas de matérias tais como nas de Pedagogia, Lição de coisas e Higiene do currículo das Escolas Normais Mineiras constatou-se que vários saberes psicológicos estão cunhados nestas, e também nas aulas práticas, espaço de prática docente em escolas modelos anexa às Escolas Normais. Podemos citar como exemplo a matéria de Pedagogia que se instaura oficialmente nos currículos das Escolas Normais mineiras a partir do Regulamento 62 de 1872, que inclui tópicos específicos sobre o bem estar do aluno, a boa estrutura da escola, prêmios, castigos, para citar alguns. Os novos currículos, conteúdos e matérias que compunham a formação de novos docentes estão vinculadas a um conjunto de mudanças que se operam nas concepções sobre a criança e a docência no âmbito do estatuto de racionalidade científica e traz em seu bojo temas relativos ao bom desenvolvimento da criança, do ambiente da sala de aula, da escola e do professora, dentre outros. Palavras-chave: Historia da Psicologia, formação de professores, saberes docentesPesquisa em andamento

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Durval Wanderbroock JuniorA EDUCAÇÃO SOB MEDIDA: OS TESTES PSICOLÓGICOS E O HIGIENISMO NO BRASIL (1914-1945)A pertinência do debate acerca dos testes psicológicos permanece mais vigente que nunca. Centenas de publicações ganham as prateleiras de bibliotecas e livrarias à procura de leitores interessados no assunto. Mas, diferente dos debates acerca dos problemas técnicos, o presente estudo buscou compreender alguns aspectos históricos que serviram de cenário para a elaboração dos testes psicológicos no Brasil, presentes na raiz da formação da Psicologia enquanto ciência independente. Nesse sentido, o trabalho “A educação sob medida: os testes psicológicos e o higienismo no Brasil (1914-1945)”, procurou emprestar novo

ímpeto a essa discussão, procurando deslindar a relação desses instrumentos de mensuração com as concepções defendidas por médicos signatários de teorias de higiene mental e racial no contexto do conturbado século XX. Mais especificamente, procurou-se explicitar a concepção e o papel que os testes psicológicos cumpriram para a Liga Brasileira de Hygiene Mental entre os anos de 1914 a 1945. O propósito desse debate foi o de compreender como os testes psicológicos foram utilizados no sentido de criar uma “educação sob medida”, entendida como uma estratégia alcançada graças a um duplo processo que consistiu na seleção dos indivíduos aptos e a depuração social dos considerados inaptos. Para isso, elegeu-se como fonte primária os Archivos Brasileiros de Hygiene Mental, órgão oficial da Liga Brasileira de Hygiene Mental, também chamada por nós de Liga. O método de análise utilizado procurou ser fiel às premissas do materialismo histórico, procurando explicar o objeto a partir das múltiplas determinações de seu tempo, sem ignorar sua singularidade. Concluiu-se que a “educação sob medida” foi para a Liga um dos principais fatores de contenção social, já que o período estudado foi marcado por intensos conflitos sociais, engendrados essencialmente pelas grandes transformações nos campos social, econômico e político. Trata-se do período entre-guerras, que assinalou uma substancial mudança nas formas de organização e produção sociais, fruto da nova fase do capitalismo conhecida como fase imperialista. A crise que se abateu no mundo inteiro também permitiu o florescimento industrial brasileiro, despertando o nacionalismo entusiasmado da classe dirigente, com quem a Liga guardou fortes relações materiais e profunda identidade ideológica. A relação com o Estado, denominada por nós de “organicidade sui generis”, precipitou a Liga em atuações com o fito de satisfazer os interesses da classe dominante, submetendo os testes psicológicos a essa finalidade. A indústria, o exército e a imigração foram os principais domínios onde esse empreendimento foi realizado. A Liga associava o progresso da nação com a manutenção dos indivíduos considerados hereditariamente superiores. A educação foi um dos principais domínios onde o processo de depuração social ocorreu. Os testes psicológicos foram incumbidos da tarefa de garantir “o homem certo no lugar certo”, garantindo a consolidação da “educação sob medida” preconizada pela Liga. Por meio do debate acerca do uso dos testes psicológicos, ferramenta cara à formação da Psicologia enquanto ciência independente, procurou-se refletir sobre o conceito de neutralidade científica, presente ainda nos dias atuais.Palavras-chave: Psicometria; Educação; História da Psicologia; Liga Brasileira de Higiene MentalPesquisa concluída

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Érika LourençoAS CONCEPÇÕES DE "EXCEPCIONAL" NO INSTITUTO PESTALOZZI DE BELO HORIZONTE (1935-1949)O Instituto Pestalozzi de Belo Horizonte foi criado em 1935 pela educadora e psicóloga russa Helena Antipoff, com a finalidade de proporcionar às crianças excepcionais, que então ficavam excluídas das escolas regulares, uma educação que levasse em conta suas necessidades e potencialidades. Nas classes especiais e no consultório médico-pedagógico do Instituto eram atendidas crianças com diferentes níveis de retardo mental e surdo-mudas. Helena Antipoff, ao longo de sua vida, acompanhou o trabalho feito no Instituto, dando assistência e idéias para colocar à disposição da infância excepcional a mesma educação sob medida que vinha divulgando para os alunos das escolas primárias regulares de Belo Horizonte. Este projeto aqui apresentado é um recorte de uma pesquisa mais ampla que tem como título “A atenção à criança excepcional na história do Instituto Pestalozzi de Belo Horizonte”. A partir da proposta de investigar as formas de tratamento médico, educacional e psicológico dados à criança excepcional no Instituto Pestalozzi de Belo Horizonte desse projeto mais amplo, propõe-se aqui identificar as definições de “excepcional” que orientaram o trabalho na instituição desde o ano de sua criação até o final da década de 1940. Para uma compreensão mais abrangente e crítica de tais definições, serão investigados também os conceitos de “excepcional” presentes nos textos psicológicos e educacionais da época, bem como a legislação referente à educação da criança excepcional então vigente. Esta será, portanto, uma pesquisa historiográfica que buscará integrar uma perspectiva internalista com uma perspectiva externalista. Dentre os procedimentos metodológicos propostos destacam-se o levantamento e a análise dos seguintes itens: publicações e textos inéditos de Helena Antipoff e de suas colaboradoras sobre a atenção a criança excepcional e sobre o Instituto Pestalozzi, documentos inéditos disponíveis no acervo do Instituto Pestalozzi (atas de reuniões, projetos pedagógicos, programas de curso, e outros documentos que venham a ser localizados), relatos de pesquisas sobre diferentes aspectos da história do Instituto Pestalozzi, biografias dos colaboradores de Helena Antipoff no Instituto Pestalozzi.Os dados obtidos serão analisados levando em conta não apenas as propostas da instituição para o acolhimento à criança excepcional, mas também o contexto educacional brasileiro e mineiro em que tais propostas foram implantadas e as teorias e práticas vigentes na psicologia a respeito do diagnóstico, tratamento e educação da criança excepcional.Palavras-chave: Helena Antipoff, infância excepcional, educação, psicologia da educação. história da psicologiaProjeto de pesquisa

Érika Lourenço; Fernanda Ernesto Machado Felix de CastroATENÇÃO A CRIANÇA EXCEPCIONAL NA HISTÓRIA DO

INSTITUTO PESTALOZZI DE BELO HORIZONTEDesde sua chegada a Belo Horizonte, em 1929, para atuar como professora de psicologia da criança, auxiliando na formação de professores para atender às demandas da reforma do ensino público de Minas Gerais, a educadora e psicóloga russa Helena Antipoff demonstrou preocupação com a situação das crianças excepcionais. Várias de suas ações a partir da década de 1930 tiveram como objetivo acolher, educar e tratar estas crianças. Dentre essas ações, merecem destaque a fundação da Sociedade Pestalozzi, em 1932 e do Instituto Pestalozzi, em 1935. Um dos objetivos da Sociedade Pestalozzi era colaborar com o trabalho das professoras das classes especiais das escolas públicas de Belo Horizonte. Deste modo, organizava palestras e cursos sobre a anormalidade e a higiene mental; oferecia um consultório médico pedagógico para atendimento de crianças epilépticas, surdo-mudas, com distúrbios da palavra ou com conflitos emocionais; publicava o boletim “Infância Excepcional”; e ainda prestava auxílio econômico às escolas, com o fornecimento de material didático. Em 1934 a Sociedade Pestalozzi fundou o Pavilhão Noraldino de Lima, onde passou a funcionar um consultório médico-pedagógico para crianças que precisavam de tratamento e educação especiais. Em 1935, as atividades que funcionavam no Pavilhão deram origem ao Instituto Pestalozzi de Belo Horizonte. Nas classes especiais e no consultório médico-pedagógico do Instituto eram atendidas crianças com diferentes níveis de deficiência mental e crianças surdo-mudas. O trabalho aqui apresentado é resultado de uma pesquisa historiográfica que teve como foco a história do Instituto Pestalozzi de Belo Horizonte e do atendimento médico, psicológico e pedagógico que prestava à criança excepcional entre os anos de 1935 e 1949. Foram fontes primárias para a pesquisa as publicações de Helena Antipoff e de suas colaboradoras acerca do funcionamento da Sociedade e do Instituto Pestalozzi, documentos inéditos disponíveis no Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff e nos arquivos do Instituto Pestalozzi, bem como a legislação educacional vigente no período analisado. Os dados obtidos revelaram que a instituição teve relevante papel no acesso das crianças então identificadas como “excepcionais” à educação e à saúde nas décadas de 1930 e 1940. Durante o período em que freqüentavam o Instituto Pestalozzi, as crianças tinham uma ficha na qual constavam dados de sua avaliação médica, psicológica e pedagógica , bem como de seu desenvolvimento ao longo do tempo. Estas fichas revelam que cada criança tinha um acompanhamento individualizado e especializado e que as propostas para sua educação levavam em conta suas necessidades e potencialidades, o que estava de acordo com as ideias escolanovistas que estavam sendo implantadas nas escolas públicas da capital mineira no mesmo momento histórico. Pode-se concluir que com uma prática fundamentada nas principais

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teorias psicológicas acerca do desenvolvimento e da educação da criança então vigentes, o Instituto Pestalozzi, no período investigado, conseguiu aliar o tratar e o educar, propondo novas alternativas para o cuidado de uma parcela da infância excepcional que até então não tinha acesso a um atendimento especializado.Palavras-chave: Historiografia da psicologia; Helena Antipoff; Instituto Pestalozzi; Educação especial.Pesquisa em andamento

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Francisco Teixeira PortugalEMERGÊNCIA DA PSICOLOGIA E PROJETO EDUCACIONAL DA PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)Este projeto tem como objetivo propor uma história da Psicologia no Brasil relacionada ao projeto republicano para a educação na Primeira República (1889-1930). O centro do trabalho estará na investigação das propostas para educação do governo brasileiro durante a Primeira República, do Pedagogium e da obra de Manoel Bomfim (1868-1932) considerando o lugar e a função da psicologia em suas elaborações sociais (autonomia do país, identidade/caráter nacional, anti-racismo, a educação como forma de ação social) e educacionais (defesa da instrução pública, elaboração de material pedagógico e luta por boas condições da prática pedagógica e participação do Estado nesse processo).Palavras-chave: História da psicologia no Brasil, Pedagogium, Manoel Bomfim, educação, Primeira RepúblicaPesquisa em andamento

XMaria Veranilda Soares MotaA ESCOLA EXPERIMENTAL DE VERA SCHMIDT E SUA ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICANão podemos negar a relevância da psicanálise para o campo educacional, principalmente quando se pensa uma prática pedagógica diferenciada do modelo convencional dos últimos séculos. Montessori (1870-1956), Sabina Spielrein (1885-1941), Vera Schmidt (1889-1937), Vygotsky (1896-1934), Wilhelm Reich (1897-1957), dentre outros, encontraram na psicanálise bases teóricas para propor formas educativas que, até os nossos dias, continuam despertando interesses. O objetivo deste trabalho é analisar a experiência educacional de Vera Schmidt,

tendo em vista o contexto dos primeiros anos da revolução russa marcado pelo posicionamento marxista que se refletia na vida social e na desvalorização do modelo familiar patriarcal e burguês, reconhecido como responsável pela manutenção das condições de dominação e opressão que se pretendia eliminar. O momento histórico em referência, os sete anos de governo leninista, propiciava novos horizontes diante da realidade revolucionária a ser garantida, do anseio pela construção da sociedade socialista. Schmidt, ao escrever, em 1923, sobre educação psicanalítica na Rússia, destaca nesse momento, o aumento pelo interesse nas questões educativas e particularmente pela educação coletiva de crianças. Apesar de pouco citada na história da psicanálise, Schmidt foi uma das primeiras a fazer a articulação entre Marx e Freud, antecedendo mesmo a Wilhelm Reich e os frankfurteanos. Isso demanda compreendermos a história da psicanálise na Rússia e as condições políticas e sociais daquele contexto. A experiência de Schmidt se inicia nos primeiros anos da revolução russa, com a criação do Laboratório Lar de Crianças, objetivando desenvolver observação científica e explorar novos métodos educativos baseados na psicanálise, que contava com apenas duas décadas de expansão. A organização do Laboratório contava, inicialmente, com pedagogos interessados na proposta da escola e que se dispuseram a estudar psicanálise. O trabalho pedagógico e psicológico estavam intrinsecamente relacionados. Schmidt apresenta orientações psicanalíticas para o trabalho com as crianças, a partir dos conceitos de consciente e inconsciente, princípio do prazer e princípio da realidade, sexualidade infantil, sublimação, transferência. Na escola, as educadoras não aplicavam castigos, não manifestavam juízos de valores com relação às crianças, explicavam o que e por que se exigia algo delas. Para tanto, se impunha a necessidade do educador trabalhar a si próprio. Schmidt constata que inquietações das crianças eram consequentes de um comportamento neurótico inconsciente dos educadores. Com isso o educador deve primeiro liberar-se dos seus impulsos irracionais consequentes da sua própria educação. Caso contrário, não conseguirá ver as manifestações sexuais das crianças, e será melhor abandonar a profissão de educador. No cotidiano do Laboratório Lar das Crianças, as crianças tinham inteira liberdade de satisfazerem entre si a sua curiosidade sexual. A experiência, em análise, teve inicio em agosto de 1921, com trinta crianças, filhas de operários, camponeses e intelectuais, e oito meses depois, passa a funcionar com apenas doze, devido a rumores acerca de incitações prematuras da sexualidade infantil. Com isso o Comissariado do Povo, que financiava a escola, decide não mais manter os recursos que garantiam o seu funcionamento. A experiência sobrevive até o ano da morte de Lênin. Como diz Reich, todo sistema social, consciente ou inconscientemente, se serve da influência das crianças de cada geração para se enraizar na estrutura dos homens. A história que se fez na Rússia, coerente com seus conflitos culturais, nos revela um aprendizado, por ser a primeira experiência de organização social que, como diz Manacorda, marca uma virada na história. Este trabalho, em andamento, se propõe a partir dessa análise, refletir princípios psicanalíticos para a formação de professores, tendo em vista que o contexto histórico cultural brasileiro demanda que escrevamos nosso modo

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de pensar e fazer educação, pois sabemos que a diversidade dos fatores culturais repercutem na formulação de nossas concepções. Resgatar a história do Laboratório Lar das Crianças é uma forma de buscarmos elementos para pensarmos esta possibilidade. Alexander Neill, em 1960, escreveu: “desde que o gênio de Freud a tornou viva, a psicologia tem caminhado muito... Daqui a 50 anos os psicólogos com certeza sorrirão da nossa ignorância de hoje.” Já se passaram 53 anos e ainda precisamos compreender a ignorância do passado.Palavras-chave: criança, psicanálise, educaçãoPesquisa em andamento

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Maryahn Koehler SilvaENSINO NORMAL: DA FORMAÇÃO DA PROFESSORA À FORMAÇÃO DA MULHERNa pesquisa “Ensino normal: da formação da professora à formação da mulher, esposa e mãe” objetivou-se estudar os conteúdos dispostos nas obras constantes da Biblioteca do Curso Normal do Colégio dos Santos Anjos, colégio confessional católico na cidade de Joinville, nas décadas de 1940 e 1950.Optou-se por esse período em virtude do inicio do Curso Normal ocorrer no ano de 1946 e pela grande quantidade de obras dispostas no acervo relativas há estas duas décadas. O colégio é de tradição centenária na cidade e, como instituição particular, foi o primeiro a oferecer o Curso Normal em Joinville.A investigação passou por diversos caminhos, alterando seu rumo quando, durante a busca de documentos, encontrou-se um relatório de verificação do colégio, datado de 1951. O relatório dispunha de informações a respeito da instituição de ensino, entre elas a listagem de obras didáticas e literárias utilizadas no Curso Normal. Buscou-se informações na biblioteca do colégio, encontrando-se no acervo da mesma um espaço denominado “Obras Antigas”, composto por um total de 726 obras catalogadas, a mais antiga datada de 1927 e a mais “recente” de 1998. Os títulos e sumários de todas as obras destinadas ao curso Normal foram conferidos, observando-se que 61 se referiam à mulher em geral e não à professora especificamente. Levantou-se a hipótese de que, além do objetivo de formar professoras, a Escola Normal tinha também como finalidade formar as jovens estudantes para a condição de mulher: o casamento e a maternidade, segundo os padrões da época e para uma determinada classe social. Os dados primários visando testar a hipótese levantada são oriundos dos 61 livros, tendo como referência a condição da mulher, o que esta precisava conhecer para realizar adequadamente seu papel de mulher esposa-mãe. Optou-se em adotar procedimentos para análise das obras, seguindo os critérios: 1- verificação das obras e classifica-las por temas; 2- destaque dos temas pertinentes ao interesse da

pesquisa; 3- escolha dos livros a partir de critérios estabelecidos (período de interesse, títulos e conteúdos voltados à mulher e o que ela deveria ter como base de conhecimento); 4- definição dos critérios de exclusão: não se remeter à figura feminina, tratar de assuntos voltados à doenças, maus hábitos, crises no desenvolvimento, aos pais e aos professores. 5- verificação da regularidade na apresentação dos assuntos; 6- organização e análise dos dados. E, a partir dos critérios, foram selecionadas oito obras para análise. Na medida em que os livros escolhidos foram sendo analisados, observou-se que emergiam temas em comum, alguns presentes em todas as obras, sendo eles: (1) cuidados que a mulher deve ter em relação a sua aparência, descanso e recreação; (2) emoção e controle; (3) gravidez e parto; (4) amamentação e desmame; (5) higiene e alimentação; (6) instituições de assistência à infância e à maternidade e o que fazer em relação a emergências; e 7- espírito feminino. A análise revelou pontos que mereceram ser aprofundados, visto que o conjunto de informações tinha relação estreita entre si no que diz respeito à formação da mulher, atendendo aos padrões esperados para a época. O modelo de família no período estudado tinha a figura masculina como provedora, enquanto a mulher tinha seu papel voltado para a maternidade, para os afazeres domésticos e para o marido, atributos instituídos e com os quais supõe-se que alcançaria sua felicidade e a de sua família. Verificou-se que as obras sustentam a necessidade que a mulher tem de preservar sua feminilidade por meio de cuidados pessoais e com atividades para possa se restabelecer dos afazeres domésticos. A higiene pessoal e os cuidados com a limpeza são enfatizados, pois a manutenção desses hábitos indica que poderá ser vista como uma pessoa sadia e apresentável frente às pessoas da família, especialmente ao cônjuge. A figura feminina permanece à frente da organização e dos cuidados com a casa, higiene, alimentação e bem estar dos filhos e do marido. A visão da mulher com controle sobre situações difíceis, seja na educação dos filhos ou na organização dos afazeres domésticos, desprendendo-se dos próprios desejos e necessidades em favor de outros é percebida no decorrer da leitura. Os assuntos dirigiam-se à preparação da moça que se casaria e teria filhos, com orientações muito específicas de atividades e hábitos que dariam a base para a família, ocupando o lugar central na organização e nos cuidados da casa, dos filhos e do marido. Os conhecimentos poderiam auxiliá-la no cumprimento de seu papel de dona de casa, ou participando de uma sociedade beneficente, cuidando das crianças ou de famílias com menor grau de discernimento, cristalizando assim o espírito feminino com o qual a mulher é dotada. O estudo dessa Escola Normal, a partir de obras dispostas em sua biblioteca mostra sua coerência com a visão que se tinha da mulher das classes sociais mais privilegiadas e com a formação cristã da época. Palavras-chave: Escola normal. Espírito feminino. esposa e mãe.Pesquisa concluída

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Odair SassPSICOLOGIA, DIREITO, EDUCAÇÃO: A IDÉIA DE TECNOLOGIA DAS REFORMAS SOCIAIS EM OLIVEIRA VIANNADiscute-se um dos modos de inserção da psicologia social nas ciências sociais e na educação brasileira. Em particular, pretende-se evidenciar como a psicologia é introduzida, no Brasil, como tecnologia, isto é, como um conjunto de conhecimentos científicos deliberadamente aplicado para exercer o controle social sobre o indivíduo e as massas, procurando destacar o papel da educação associada a essa inserção. Para discutir essa evidência toma-se como referência a perspectiva que toma a psicologia social como psicologia política, tal como se depreende dos escritos de Francisco José de Oliveira Vianna[1883—1951]; diga-se, um dos primeiros intelectuais brasileiros, do ponto de vista cronológico e formal, a adotar a psicologia como um modo de interpretar, sob a óptica da psicologia social, o homem brasileiro em relação ao meio sociocultural (Oliveira Vianna, 1920; 1923) bem como a organização política brasileira(Oliveira Vianna,1987). Claro está que a hipótese subjacente à esta exposição contrapõe-se àquela que admite a psicologia social como um ramo especializado, um desdobramento tardio de uma psicologia geral anteriormente desenvolvida, tal como sustentam diversos estudos sobre a história da psicologia e da educação, no Brasil. Supõe-se, aqui, que a inserção da psicologia no Brasil, realiza-se, desde logo, por meio de tensões entre tendências distintas (biológica e social), antes do que por um desenvolvimento linear que paulatinamente desentranha, como especialização, a psicologia social.Antecipe-se que o significado atribuído por Oliveira Vianna à Psicologia Social aproxima-se da perspectiva que se dedica à psicologia dos povos e das massas—iniciada com Wilheim Wundt, na Alemanha do século XIX, e, desde então, também desenvolvida especialmente pela sociologia e psicologia francesa—, mediante uma aplicação singular para a época em que escreveu à medida que inscreve a psicologia social como psicologia política, especificamente, como elemento central de sua análise sobre as carências da vida política brasileira e componente básico para aquilo que ele denomina de “tecnologia das reformas sociais”. Quanto à educação, resumidamente, o autor a reivindica como educação política do povo para superar a inércia social fundada na tradição e nos costumes bem como a coação imposta por transformações exógenas conduzidas pelo Estado, na mesma proporção que rejeita a educação reduzida, pelos reformadores, à alfabetização. Em termos concisos, Oliveira Vianna, ao discorrer a respeito da sociologia das instituições brasileiras, propõe-se a investigar a relação entre o direito, a cultura e o comportamento social, acompanhada por uma análise do que ele denomina de culturologia do Estado, e finalizada pela psicologia política. A recorrência à Psicologia social representa, segundo o jurista e sociólogo brasileiro, o esforço para tornar compreensível a razão real da falta de habilitações para a prática democrática inexistentes desde o período colonial em virtude da ausência

de uma escola propriamente brasileira que promova a educação social e política do povo, a qual somente poderá ser realizada por uma escola pautada em seus costumes, tradições e instituições. Sem desconsiderar o nacionalismo arraigado e reacionário de Oliveira Vianna, vale reter o liame que postula a psicologia como um elemento explicativo de uma história de quatro séculos de colonização marcada pela discrepância do que é idealizado pelas elites e o que é de fato praticado pelo direito costumeiro do povo-massa; discrepância superável à medida que seja desenvolvida uma sociologia das instituições com o objetivo de “estudar o nosso direito público e constitucional exclusivamente à luz dos modernos critérios da ciência jurídica e da ciência política: isto é, como um fato de comportamento humano”. Esse entendimento leva o autor a considerar que os problemas das reformas de regime, portanto, as questões políticas brasileiras convertem-se em problemas de mudanças de comportamento coletivo, imposto ao povo-massa; portanto, em problemas de cultura e de culturologia aplicada. A investigação privilegia a obra Instituições políticas brasileiras (1987), publicada pela primeira em 1949, porque ela expressa com maior vigor, em relação às duas outras obras consultadas (Populações meridionais do Brasil (1920) e Pequenos estudos de Psicologia social (1923), tanto o conceito de cultura e seus nexos com o que o autor nomeia de “tecnologia das reformas” sociais, quanto a função política da psicologia social, ou, como ele prefere registrar, a psicologia como “psicologia política”.Palavras-chave: Psicologia social, Psicologia política; culturaPesquisa concluída

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Rafael OstrovskiA EMERGÊNCIA DA PSICOLOGIA NO BRASIL: UMA

INVESTIGAÇÃO DA REVISTA PEDAGÓGICA (1890-1896)O foco central desta pesquisa reside na investigação histórica da constituição de saberes e práticas psicológicos relacionados ao projeto educacional brasileiro durante a Primeira República (1889-1930). A fonte primária utilizada corresponde à Revista Pedagógica, publicação que veiculou as idéias e propostas discutidas no Pedagogium entre 1890 e 1896. Esta instituição foi criada pela reforma do sistema de ensino de 1890 para ser um centro que pudesse propor e promover mudanças no sistema educacional brasileiro, assim como coordenar as atividades pedagógicas em curso no país. O Pedagogium foi um órgão centralizador, responsável por estratégias para a educação nacional, tendo como diretores Menezes Vieira (de 1890 até 1896) e Manoel Bomfim (de 1897 até 1919). Observamos a presença de uma estratégia pedagógica relacionada a uma proposta psicológica para a educação. Para divulgação e compartilhamento de

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conhecimentos de interesse para a educação o museu pedagógico dispunha, como um de seus instrumentos relevantes, a Revista Pedagógica, de distribuição gratuita ao professorado, propiciando recursos e reflexões pedagógicas que serviriam de base para a construção de um país civilizado. A Revista é composta de textos bastante heterogêneos - relatórios, decretos, traduções, manuais, crônicas do exterior e do interior entre outros – que enriquecem a análise histórica. A partir da análise da Revista Pedagógica e de documentação complementar encontrada em arquivos, a pesquisa em curso tem como objetivo específico indicar o papel da psicologia como recurso para implantação de práticas pedagógicas e, neste movimento, apontar a emergência da psicologia relacionada à educação. Pretende-se verificar como a aliança entre educação e psicologia adquiriu uma função social e política, com o propósito de transformar o cenário educacional no período republicano e alcançar certa ordenação da população. É de se ressaltar a importância dada pelos investigadores à busca pela compreensão do contexto brasileiro e suas particularidades, bem como o respeito à singularidade das mesmas. Após consulta detalhada nos arquivos do Rio de Janeiro, constatamos a raridade da documentação referente ao Pedagogium. A Revista Pedagógica constitui então documento da maior relevância para conhecimento do tema. Os resultados parciais obtidos nesta pesquisa histórica até o momento foram: levantamento de todos os tomos da Revista Pedagógica na biblioteca do CFCH/UFRJ e na Biblioteca Nacional, digitalização de todo o material para acesso livre em site da Universidade, levantamento das fontes secundárias sobre o tema no Portal de Periódicos da Capes e levantamento de toda legislação sobre educação no período abordado.Palavras-chave: Revista Pedagógica, Pedagogium, Psicologia, Educação, Primeira República.Pesquisa em andamento

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Renata Patricia Forain de Valentim; Bárbara Albuquerque Pereira; Rafael Pires LeiteA ESCOLA NORMAL DO DISTRITO FEDERAL E A EMERGÊNCIA DO PENSAMENTO PSICOLÓGICO NO BRASILPartindo da já estabelecida relação entre a Educação e a difusão da Psicologia no Brasil, este projeto tem como objetivo analisar a presença das ideias psicológicas na formação dos professores oferecida pela Escola Normal do Distrito Federal entre 1899 e 1932. Investigando, particularmente, como este ensino e suas práticas correlatas foram se transformando ao longo das sucessivas reformas sofridas por

esta instituição. Para tanto, foram analisados os programas de ensino do curso, no período compreendido entre seu estabelecimento como instituição republicana, em 1889; até 1932, quando ela se torna Instituto de Educação. No total foram localizados 18 programas, que correspondem aos anos de: 1899, 1902, 1904, 1906 a 1915, 1917, 1923, 1924, 1927 e 1929. Nestes, o ensino da Psicologia começa apenas a partir do terceiro ano do curso normal, estendendo-se algumas vezes ao quarto, ou limitando-se a este. Nesta recolha foram observados dois planos distintos, ainda que indissociáveis, de constituição desta fonte documental. No primeiro, seus aspectos formais de apresentação: seus temas, autores e escolas de referência. No segundo, sua composição como discurso científico, onde estão indissociavelmente implicadas suas bases históricas e suas relações com o conhecimento psicológico produzido no período. Assim, nos programas de ensino analisados, pode ser observado um progressivo abandono dos aspectos mais gerais e descritivos do conhecimento psicológicos em direção a uma aplicação mais direta à criança e sua formação. Puderam ser observadas ainda influências teóricas múltiplas, que fizeram coexistir nas mesmas práticas, diferentes conceitos de diferentes escolas de Psicologia.Palavras-chave: História da Psicologia; Escola Normal do Distrito Federal; Pensamento PsicológicoPesquisa concluída

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Rita de Cássia VieiraO PSICÓLOGO E SEU FAZER NA EDUCAÇÃO:

CONTANDO UMA OUTRA HISTÓRIAFoi desenvolvido um estudo sobre o trabalho do psicólogo no âmbito da Educação, buscando avaliar esse trabalho tendo como referência as críticas que lhe têm sido feitas. Essas críticas, que adquiriram vulto ao longo dos anos de 1980 e persistem até a atualidade, qualificam a atuação do psicólogo educacional\escolar como reducionista, limitada, direcionada para o atendimento de interesses individuais em detrimento do coletivo e distanciada das questões sociais, econômicas, políticas e ideológicas que atravessam as instituições educativas e o próprio processo educativo. De acordo com essa visão, a intervenção do psicólogo nos processos educativos, apoiada nos dois pilares que a sustentam – a psicometria e o atendimento clínico individual –, contribuiria para a exclusão escolar e social de alunos de classes sociais menos favorecidas. A hipótese é que, embora em casos já relatados pela literatura crítica, a psicologia possa efetivamente ter contribuído para justificar processos de exclusão educacional ou social, a atuação do psicólogo está longe de ser monolítica. Considera-se que é possível que seu trabalho possa

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ter o efeito contrário e contribuir para a inclusão escolar e social de grupos desfavorecidos, quando inspirado em perspectivas teóricas que enfatizem a gênese social e cultural dos fenômenos psicológicos. O locus da pesquisa foi a Clínica de Psicologia Edouard Claparède da Fundação Helena Antipoff, localizada em Ibirité, Minas Gerais. A escolha dessa instituição levou em consideração o seu reconhecido papel como uma das precursoras da psicologia no estado de Minas Gerais, e que ainda se encontra em funcionamento. Além disso, a Clínica Claparède é parte da obra da psicóloga e educadora russa Helena Antipoff, pioneira no estabelecimento e consolidação da psicologia da educação em Minas e no país, e cujo trabalho destacou-se pelo olhar direcionado para as questões sócio-culturais. Assim, o estudo dessa Clínica poderia evidenciar um trabalho diferenciado e implicado com as questões sociais, voltado para a inclusão. Os dados foram coletados através de análise dos laudos psicológicos – utilizando-se a modalidade fenomenológica de pesquisa em Psicologia –, estudo dos arquivos documentais da Clínica e entrevistas semi-estruturadas. Concluiu-se pela confirmação da hipótese levantada: na instituição estudada realmente desenvolve-se um processo diferenciado de trabalho, onde se destaca a preocupação com a interpretação sócio-cultural dos processos psicológicos e com a inclusão escolar e social dos sujeitos atendidos. A partir dessa análise, são feitas considerações sobre a importância de uma sólida formação teórica e técnica para o exercício profissional, obtida através da associação entre ensino, pesquisa e extensão. Palavras-chave: atuação-psicologia e educação-historia da psicologia-psicólogoPesquisa concluída

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Roselania Francisconi BorgesMANOEL BOMFIM: UM PRECURSOR DA EDUCAÇÃO E DA PSICOLOGIA NO BRASILPara este estudo tomamos como objeto de análise a obra Lições de Pedagogia escrita e publicada em 1915 por Manoel Bomfim (1868-1932), e reeditada em 1917 e 1926. Recorremos a obra Lições de Pedagogia por reconhecê-la como fonte histórica, pela qual buscamos identificar os pressupostos higienistas contidos nas concepções educacionais de Manoel Bomfim, estabelecendo correlações e contradições presentes em suas concepções teóricas em relação aos ideais educacionais dominantes na época. Médico de formação, Manoel Bomfim foi membro da Liga Brasileira de Higiene Mental (LBHM) e um dos idealizadores da educação no Brasil, especialmente no que se refere a educação escolar. Como integrante da LBHM foi membro da Secção de Deficiencia Mental e da Secção de

Psychologia Aplicada e Psychanalyse. Seu pensamento revela algumas concepções criadas acerca da educação e da psicologia no início do século XX, expressando as ideias e os ideais vigentes na época. Imbuído de um ideal nacionalista num período em que havia ainda um pessimismo em relação à possibilidade de formação de uma nacionalidade, Manoel Bomfim se contrapunha aos intelectuais que descreviam o povo brasileiro como inferior e atrasado e se destacava ao enfatizar a necessidade de valorização do povo e de investimentos nos ideais cívicos da pátria. No âmbito educacional contribuiu com diversas obras que delinearam o pensamento educacional brasileiro marcando sua atuação na elaboração de currículos e materiais didáticos utilizados nos cursos de formação de educadores. Colocando-se em favor de propostas para melhorar as condições de escolarização do país, desempenhou várias funções no setor público enquanto médico, jornalista, historiador e estudioso de pedagogia e psicologia. Após 1894 abandonou a medicina e passou a dedicar-se à política e à educação. Entre os anos 1901 e 1902 residiu na Europa e estudou psicologia e pedagogia. Na área da psicologia, foi um dos precursores da inserção do uso de testes psicométricos no Brasil ao frequentar a Universidade de Paris: Sorbonne e conhecer Alfred Binet (1857-1911), psicólogo francês criador da escala métrica de inteligência, com quem trabalhou e de quem recebeu influências que marcaram sua atuação profissional no Brasil voltada à psicologia da educação, nas primeiras décadas do século XX. Em 1903 criou e dirigiu o primeiro Laboratório de Psicologia Experimental de Pedagogia no Brasil, no Pedagogium. Fundada em 1890, esta instituição funcionava como uma academia de educadores e museu pedagógico, tendo sido a primeira instituição a criar espaço para um novo campo da psicologia no Brasil: a psicologia da educação. Esta surgia desvinculada da prática psiquiátrica, neurológica ou assistencial. Seu maior compromisso era com a educação e com problemas específicos da psicologia. Nestes termos, enquanto pesquisadora do GEPHE – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre o Higienismo e o Eugenismo no Brasil, o qual tem como premissa básica a análise dos encaminhamentos educacionais pautados nos pressupostos do higienismo e da eugenia, buscamos realizar a articulação entre as concepções de Manoel Bomfim e o cenário educacional, bem como sócio-político e econômico do Brasil, nas primeiras décadas do século XX. Cenário este que se mostrava bastante conturbado em função do acirramento dos conflitos e antagonismos de classe existente pelas diferenças nas relações sociais de trabalho estabelecidas, principalmente, no período de transição do Império para a República. Ou seja, na passagem de uma política econômica global pautada no trabalho escravo em uma sociedade de economia basicamente agrícola, para uma política assentada na mão-de-obra livre e na industrialização. Nesse sentido, os higienistas, ao recorrerem às diferenças individuais para encaminharem questões de ordem coletiva – como se fossem leis de natureza – e ao proporem explicações pautadas em questões individuais e não em condições sociais, naturalizaram as desigualdades sociais constituindo-se como álibi para justificar tais desigualdades, escamoteando as contradições sociais inerentes à sociedade de classes. Desse modo, encontraram

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forte aceitação no ideário dessa nova sociedade ao defenderem o controle social e a manutenção da ordem estabelecida. Sendo assim, compreendemos que os adeptos do movimento higienista – entre eles Manoel Bomfim - ao delinearem ações de prevenção e promoção da higiene mental/moral para a infância, baseada em um modelo ideal de intervenção na família e na escola, nos legaram exemplares lições de como encaminhamentos sustentados pelo saber das ciências naturais, sem as necessárias mediações sociais, podem favorecer ações que o tempo transcorrido pode demonstrar tratar-se de equívocos ou apresentarem sinais de incorreção. Apesar desse tempo decorrido, na atualidade tais concepções podem ainda ser identificadas em várias modalidades de intervenções propostas pela

psicologia no âmbito educacional, como as avaliações de alunos que frequentam programas de atendimento educacional especializado (AEE) em salas de recursos ou de altas habilidades/superdotação para os quais, em geral, é demandada que a avaliação seja pautada em testes psicométricos sob pena de que tais avaliações não sejam consideradas científicas. Enfim, mais de um século depois, esta é uma questão ainda a ser superada pela psicologia.Palavras-chave: Manoel Bomfim, higienismo, higiene Mental, história da pedagogia, história da psicologia.Pesquisa concluída

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XI ENCONTRO DE PESQUISADORES EM HISTÓRIA DA PSICOLOGIA12-13 DE AGOSTO 2013PUCSP – SÃO PAULO

GRUPO: PERSONAGENS | BIOGRAFIA

Bianca Ferreira Rocha; Érika LourençoUM RETRATO DA OBRA DE HELENA ANTIPOFF A PARTIR DA REVISTA DO ENSINO E DA REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOSHelena Antipoff (1892-1974) foi uma das personagens que contribuiu para a configuração da psicologia como ciência e como profissão e para o campo da educação no Brasil. Nascida na Rússia no final do século XIX, a autora fez sua formação superior na Universidade de Sorbonne, na França, e no Instituto Jean Jacques Rousseau, na Suíça. Veio para o Brasil em 1929, contratada pelo governo do estado de Minas Gerais, onde produziu um extenso trabalho, merecendo destaque suas propostas para a educação da criança excepcional, a educação da criança superdotada e a formação de professores para a educação rural. Diante da importância da obra desta autora para a psicologia e a educação no Brasil, este trabalho que é fruto de um projeto de pesquisa, teve como objetivo verificar e analisar quais os temas da obra de Helena Antipoff tiveram maior impacto entre psicólogos e educadores brasileiros. Para isso, foram analisadas as citações de Helena Antipoff em duas das principais revistas científicas das áreas da psicologia e da educação publicadas no Brasil a partir da década de 1930 até o final da década de 1970. As revistas analisadas foram: Revista do Ensino, sendo 166 volumes e Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, sendo 135 volumes, disponíveis para consulta em Belo Horizonte, na Biblioteca da FAE-UFMG e no Arquivo Público Mineiro. Os referenciais que orientaram a coleta e a análise dos dados foram a abordagem quantitativa em historiografia da psicologia e a abordagem fenomenológica. As duas abordagens permitiram evidenciar o impacto da obra da autora na psicologia e na educação no Brasil, bem como permitiu uma compreensão mais ampla sobre as ideias de Helena Antipoff que ganharam destaque nos trabalhos de outros estudiosos. Na análise dos dados foi constatado que as referencias aos trabalhos de Helena Antipoff concentram-se nas publicações das décadas de 1930 e 1940, tornando-se menos expressivo nas décadas posteriores. Foram encontradas 41 publicações na Revista do Ensino que citam os trabalhos da autora e 11 publicações na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. A análise das publicações das revistas aponta para dois tipos de resultados, que se

referem aos artigos que citam o trabalho de Helena Antipoff e os trabalhos publicados por ela. As publicações que citaram o trabalho de Helena Antipoff, tratavam principalmente de questões relacionadas aos testes psicológicos, a educação especial e a homogeneização das classes. Os trabalhos desenvolvidos e publicados pela referida autora versavam sobre os temas relacionados a psicologia e desenvolvimento infantil, testes psicológicos, homogeneização das classes, educação rural e do excepcional. No âmbito educacional destacam-se os trabalhos desenvolvidos por Helena Antipoff no Laboratório de Psicologia da Escola de Aperfeiçoamento sobre a homogeneização das classes escolares em Belo Horizonte e os trabalhos desenvolvidos no Instituto Pestalozzi sobre a educação do excepcional e a educação rural. Diante dos resultados podemos concluir até o momento que a obra de Helena Antipoff trouxe grandes contribuições para os autores que se dedicavam a psicologia e a educação no Brasil. Palavras-chave: Helena Antipoff, educação, psicologia da educação, revista, história da psicologiaPesquisa concluída

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Carolina de Resende Damas CardosoA PSIQUE ENTRE A NATUREZA E A CULTURA EM EDITH

STEIN E WILLIAM STERNEsta pesquisa na linha de investigação de história da psicologia tem por objeto o estudo histórico conceitual de algumas obras de dois autores que se destacaram no contexto alemão do fim do século XIX e inícios do século XX: Edith Stein (1891-1942) e William Stern (1871-1938). São elas: Contribuições à fundamentação filosófica da psicologia e das ciências do espírito (1922), de Edith Stein; e Psicologia geral desde o ponto de vista personalístico (1938), de William Stern. Entre os dois autores existem semelhanças no que diz respeito aos tópicos

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estudados como também uma precisa relação histórica destacada em suas biografias: Stern lecionava psicologia em Breslau e Stein frequentou suas aulas como aluna em 1911-1912. O objetivo da pesquisa é apreender a elaboração do conceito de psique e das relações desta com a natureza e com a cultura nas propostas de psicologia científica que os dois autores formularam nessas obras. Para a análise das mesmas, será utilizado o método histórico-conceitual: serão tomadas como fontes primárias as edições em língua espanhola das obras de Edith Stein (1922/2003b) e de William Stern (1938/1951); fontes secundárias serão utilizadas para o aprofundamento do contexto histórico da filosofia e psicologia alemã da época. As questões que nortearão a análise se referem a: 1) entender como cada um dos dois autores concebeu a psique humana (sua estrutura e funcionamento) na interface entre o mundo natural e o mundo da cultura; 2) verificar se ambas as teorias propostas pelos dois autores tinham algo em comum; 3) evidenciar as semelhanças, as diferenças e as eventuais contribuições que estas perspectivas podem trazer para a psicologia contemporânea, num momento histórico em que há uma retomada da importância da cultura na constituição da psique humana e uma busca por epistemologias mais abrangentes em que sejam superados o naturalismo e o positivismo que fundamentaram as ciências da psique em suas origens. Palavras-chave: fenomenologia, psicologia filosófica, psicologia experimental, século XIXProjeto de pesquisa

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Celia Maria Marcondes Ferraz SilvaPOR UMA PSICOLOGIA SOCIAL BRASILEIRA: SILVIA TATIANA MAURER LANENosso propósito ao elaborar este trabalho foi contribuir com o estudo da Psicologia Social no Brasil, mostrando que Silvia Tatiana Maurer Lane (1933-2006) teve importância relevante na formulação das bases teóricas de uma Psicologia Social Brasileira. Silvia lecionou e pesquisou por 40 anos e teve cargos importantes na PUC de São Paulo. A atividade docente favoreceu o desenvolvimento das suas ideias, a partir de uma postura crítica, permanente, à psicologia social de influência americana. A PUC de São Paulo, instituição que a acolheu e ofereceu incentivo para suas pesquisas teve importância relevante no seu trajeto. Escolhemos para estudar a autora, um caminho ainda não trilhado pelos demais pesquisadores que falaram a respeito da ilustre professora, conduzindo a nossa pesquisa, em especial, a partir dos documentos pessoais deixados na PUC de São Paulo e que hoje compõem o acervo Silvia Lane, sob a guarda do Núcleo de

Estudos em História da Psicologia- NEHPSI. A análise do percurso nos mostrou conexões importantes entre o seu trabalho e o contexto sócio histórico que influenciou o seu pensamento. A “guerra fria”, a revolução chinesa, a revolução cubana e, em especial, o período da ditadura militar no Brasil, foram decisivos para a formulação das bases teóricas para uma psicologia social brasileira, engajada na solução dos graves problemas sociais do país e, capaz de apoiar a transformação da realidade. Para o estudo das ideias, tomamos por base um texto ainda não publicado, denominado: “Caminhos Percorridos”, escrito pouco tempo antes da sua morte e que daria origem a um livro. Além de uma reflexão sobre os temas estudados, ensinados e escritos por Silvia, ao longo de quarenta anos dedicados à Psicologia Social, havia a indicação dos textos, publicados ou não, que deveriam ser incluídos no livro. A escolha se deveu à representatividade de cada um deles para o tema e, também, à possibilidade de trazer à luz material de difícil acesso. A leitura dos “Caminhos Percorridos” nos permitiu entender a estrutura dada pela autora ao seu próprio pensamento. A psicologia da linguagem, as bases teóricas para a formulação de uma Psicologia Social brasileira, a psicologia comunitária, o processo grupal e a mediação emocional, estão presentes ao longo de toda a obra, gerando pesquisas, textos, cursos e apresentações, recebendo ao longo do tempo, novos olhares e releituras que fizeram avançar a compreensão dos temas. A obra não se encerra, deixando espaço aberto para novos estudos a serem realizados pelos seus seguidores.Palavras-chave: História da Psicologia. Acervo de documentos pessoais. Caminhos Percorridos.Pesquisa concluída

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Ciléia Saori Hamada de Miranda; Érika LourençoAS CONTRIBUIÇÕES DE HELENA ANTIPOFF PARA A

EDUCAÇÃO INCLUSIVAEssa pesquisa possui como objetivo investigar a mudança provocada no sistema educacional mineiro no período de 1929 a 1974 realizado pela psicóloga russa Helena Antipoff através do convite do governo para a implantação da Reforma Francisco Campos e Mario Casassanta na educação; e o conseqüente impacto causado ao acesso ao ensino básico e profissionalização aos infradotados e superdotados. O referencial metodológico adotado para esta pesquisa foi o da biografia contextualizada, que toma a biografia de um autor como ponto de partida para a compreensão de sua visão de mundo e de seu trabalho teórico. A partir deste referencial, buscou-se identificar os conceitos, as teorias e as propostas de psicologia da educação e educação inclusiva apresentados em publicações e em

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manuscritos. Os resultados da pesquisa mostram que as crianças antes rejeitadas pelo sistema educacional e pelo mercado de trabalho devido as suas dificuldades conseguiram desenvolver capacidades intelectuais, motoras e manuais, tornando-as aptas a trabalhar e a realizar os próprios cuidados pessoais como higiene e alimentação, além de capacitar educadores normalistas para o ensino em áreas rurais. O ensino acontecia nas instituições fundadas por Helena Antipoff como a Sociedade Pestalozzi, no Rio de Janeiro sua primeira sede e posteriormente em Belo Horizonte, e na Fazenda do Rosário, a qual se tornou um complexo educacional atendendo os bem dotados, professoras normais e infra dotados. A partir dos dados levantados podemos concluir que o conhecimento adquirido na atuação de Antipoff no Instituto Jean Jacques Rousseau em Genebra, fundado por Claparéde, as experiências de atuação da psicologia no período da queda do Czar na Rússia e a sua formação acadêmica com base experimental contribuiram para a formação de educadores na Escola de Aperfeiçoamento, no Instituto Superior de Educação Rural e na educação básica e para o trabalho na Fazenda do Rosário. As técnicas estrangeiras implantadas e adaptadas ao contexto brasileiro transformaram o sistema de ensino, o impacto dos testes psicológicos e a aplicação dos mesmos, contribuíram na identificação de delimitações e no agrupamento de indivíduos conforme sua habilidade seja para intervenção ou na formação de classes nas escolas do governo. Os trabalhos e os projetos realizados por Helena Antipoff podem ser considerados iniciativas pioneiras pela educação inclusiva, uma vez que se enquadram na Lei número 10.845, de 5 de Março de 2004. Essa lei assegura a universalização do atendimento especializado de educandos portadores de deficiência cuja situação não permita a integração em classes comuns e garante, progressivamente, a inserção dos educandos portadores de deficiência nas classes comuns de ensino regular. Palavras-chave: Helena Antipoff, inclusão, psicologia da educação, história da psicologia.Pesquisa concluída

XEneida Nogueira DamascenoCRIAÇÃO DE ARQUIVO EPISTOLAR DO NEUROFISIOLOGISTA MIGUEL ROLANDO COVIAN: UM REGISTRO HISTÓRICO-CONTEXTUAL Criação de arquivo epistolar do neurofisiologista Miguel Rolando Covian: Um registro histórico-contextual. 2013. Dissertação (Mestrado) Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo, 2013. Eneida Nogueira Damasceno – Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo - USP – SP Marina Massimi (orientadora) - Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo - USP – SP Miguel Rolando Covian (1913-1992) foi um neurofisiologista argentino,

discípulo de Bernardo Houssay, que chegou ao Brasil em 1955 para dirigir o Departamento de Fisiologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. À frente deste Departamento, projetou-o como um dos mais renomados centros de investigação científica da América Latina, elevou-o a um reconhecimento de nível internacional, um centro de excelência em pesquisa no Brasil e no mundo. O objetivo deste trabalho é organizar e catalogar a correspondência epistolar e institucional do Professor Doutor Miguel Rolando Covian. Essa correspondência, contendo um total de 1.546 cartas, foi encontrada na sala de Covian depois de sua morte e guardada. A realização desta pesquisa levou-nos à descoberta de um testamento, deixado por Covian revelando sua vontade de que o material pertencesse à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto após sua morte. Este trabalho consiste em: 1) classificar e organizar por assunto tal correspondência, de modo a assegurar sua conservação e preservação enquanto documentos históricos ainda protegidos pela Legislação Federal, cuja acessibilidade estará a cargo da instituição que a guarda. 2) Evidenciar a variedade de assuntos contidos nestas missivas, concernentes a diversas áreas do conhecimento humano, principalmente as relativas à História das Ciências, com destaque para a História da Psicologia, da Medicina e da Educação. Isso nos leva a contribuir para a pesquisa disponibilizando fontes primárias devidamente classificadas, catalogadas e preservadas. Trata-se de uma pesquisa documental, na qual se utilizou o método descritivo, sendo a narrativa o estilo da escrita. A escolha do modo narrativo é justificada pelo fato de permitir uma amplitude de informações que não seria possível em uma descrição pontual. Essa opção nos levou a um cuidado com a fidelidade da narração, de forma que a transposição da linguagem não alterasse significativamente a forma original do diálogo contido nas cartas. No decorrer do trabalho observou-se a necessidade de oferecer uma síntese do contexto histórico do período no qual se deu essa correspondência (1955-1985), para este fim procedeu-se a uma pesquisa com a utilização do método histórico, que resultou em capítulos contendo sínteses contextuais relevantes para o entendimento do conteúdo das missivas, assim como uma breve biografia de Covian e outra de seu mestre Bernardo Houssay, a pessoa com quem ele mais se correspondia. Considerando que a correspondência de Miguel Rolando Covian está sendo entregue higienizada, organizada e catalogada, como base para sua preservação; que a descrição em forma de narrativa dos assuntos contidos sinaliza particularidades de acontecimentos relatados, bem como sentimentos e emoções demonstradas nos textos originais; que as apresentações biográficas e a contextualização apresentam o universo relatado nas correspondências e que este material encontra-se agora passível de ser arquivado, preservado e disponibilizado de acordo com as regras estipuladas pela Legislação vigente e pela instituição que o guarda, concluímos que nossos objetivos foram alcançados. Palavras-chave: Correspondência Epistolar; preservação de documentos.Pesquisa concluída

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Gabriel Vieira CândidoCONTRIBUIÇÃO DE CAROLINA MARTUSCELLI BORI PARA O DESENVOLVIMENTO DE UMA CULTURA CIENTÍFICA NACIONALPara se conhecer a ciência produzida em uma determinada região, compreender sua história, é fundamental. Nesta história, inclui-se as pessoas que dela fazem parte e seus valores, estuda-se um cientista a partir do contexto social do qual faz parte e não apenas seus interesses científicos, da evolução de ideias e dos conceitos científicos. Além disso, com esta maneira de compreender história da ciência permitiria entender como e por que pessoas desempenharam tais papéis. Assim, é impossível analisar algum período ou evento histórico sem analisar a história das pessoas que deles fizeram parte. Um nome importante na história da ciência Brasileira é Carolina Martuscelli Bori (1924 – 2004). Dentre suas contribuições são citadas, por exemplo, a coordenação de grupos de pesquisadores, a organização de revistas científicas, a direção de sociedades científicas e, mais especificamente, a luta pelo reconhecimento e a regulamentação da formação de psicólogos e a difusão do método experimental na Psicologia. Neste trabalho, propôs-se explicar o papel que esta cientista desempenhou na ciência brasileira, o porquê de ela ter se envolvido em tantas frentes de trabalho e por que se manteve desenvolvendo tantas atividades das mais diversificadas. Para isso, realizou-se uma análise de toda sua obra, composta por 22 textos (entre artigos e uma tese de doutorado). Além disso, propôs-se conhecer a contribuição de Carolina Bori a partir do método da história oral. Foram entrevistados oito pesquisadores que trabalharam com Bori e uma sobrinha, que falaram sobre a atuação de Bori nas atividades que realizaram em conjunto, fizeram avaliações da contribuição que ela teria dado, além de informações pessoais sobre a maneira dela lidar com situações cotidianas. Encontrou-se que ela escreveu sobre diversos assuntos, como Psicologia Social, Psicologia Experimental, Personalidade, Formação do Psicólogo, Análises Estatísticas, Motivação, entre outros. Além disso, a maior parte de seus textos foram publicados na década de 1950 e 1960. Quanto às entrevistas, encontrou-se que as principais contribuições de Bori foram em relação ao desenvolvimento da ciência no Brasil, em seguida, o desenvolvimento da Psicologia e, por fim, o desenvolvimento da Análise do Comportamento, abordagem psicológica que ela aderiu a partir de 1961. Apesar de pouca publicação, o principal papel desempenhado por ela teria sido a de contribuir e criar iniciativas para a realização e discussão de pesquisas científicas.Palavras-chave: Ciências no Brasil, Psicologia, Análise do ComportamentoPesquisa em andamento

Lidiane de Oliveira GoesA TRAJETÓRIA DE GIOCONDA MUSSOLINI: CONFIGURAÇÃO DO SABER E DA PRÁTICA

PSICOLÓGICA ENTRE OS ANOS DE 1930 A 1960 NO BRASIL

Este trabalho pretende compreender Gioconda Mussolini como personagem na constituição da Psicologia como campo de estudo e de intervenção profissional no Brasil. O interesse por esta personagem surgiu a partir de informações sobre sua relação com a Psicologia entre os anos de 1930 a 1960 em São Paulo. Tais informações apontam que a ciência psicológica esteve presente na formação e atuação profissional de Gioconda Mussolini. Busca-se, a partir das relações dessa com instituições e pessoas, contar a história da Psicologia no Brasil. A ideia de matriz de Ian Hacking pode auxiliar neste intuito, uma vez que essa é entendida como uma rede complexa de elementos (pessoas, documentos, instituições, lugares, etc.) articulados entre si. A metodologia desta pesquisa consiste em: 1) conversas com estudantes, docentes e funcionários que conviveram com Gioconda Mussolini; e 2) na análise de documentos de domínio público levantados nas instituições de ensino e de produção científica das quais Gioconda Mussolini participou. A escolha dos informantes tem sido realizada a partir da participação dos mesmos em uma das três instituições de interesse para esta pesquisa entre o período de 1938 a 1969, a saber: a Escola Livre de Sociologia e Política (ELSP); o Curso de bacharel em Psicologia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFCL/USP) e a Sociedade de Psicologia de São Paulo (SPSP), atual Associação de Psicologia de São Paulo (APSP). Os anos marcam, respectivamente, o início e o término das atividades de Gioconda Mussolini na USP, término ocasionado em virtude de seu falecimento da mesma. Até o momento, foram identificados os seguintes informantes: Arrigo Angelini (professor do Curso de bacharel em Psicologia), Mary Jane Spink e Orlando Bueno (alunos do Curso de bacharel em Psicologia). Todos são considerados informantes-chave e poderão auxiliar na identificação de outros. As conversas serão agendadas de acordo com disponibilidade do informante e terão duração de duas horas e trinta minutos. Versaram sobre o contexto da instituição da qual o informante participou e conviveu com a personagem. Haverá perguntas sobre objetivos, fundação, funcionamento e atividades da instituição; ingresso, formação profissional, participação e desligamento dos membros da instituição; cooperação entre os membros; e vida pessoal, profissional de Gioconda Mussolini. Outras perguntas serão incorporadas a partir do que o informante contar. As conversas serão registradas com o auxílio de um gravador digital e, posteriormente, transcritas. Apenas uma entrevista foi realizada até o momento. Outro procedimento a ser adotado é o levantamento de documentos de domínio público a ser realizado a partir de visitas ao Projeto Memória da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, sediado no Centro de Apoio à Pesquisa em História Sérgio Buarque de Holanda (CAP/FFLCH), ao Centro de Memória do Instituto de

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Psicologia e às bibliotecas do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da Escola de Comunicação e Artes (ECA) e da Faculdade de Educação. Todos estão situados nas dependências da USP. Foram realizadas visitas às instituições mencionadas acima entre os dias 17 e 21 de setembro de 2012. Foram localizadas onze publicações de Gioconda Mussolini, o currículo vitae de Gioconda Mussolini de 1965, sete programas da cadeira de Antropologia entre os anos de 1959 a 1968, um manual do curso acadêmico feminino, o depoimento de Gilda Mello e Souza (docente da FFLCH); o anuário da FFLCH de 1952; a edição comemorativa dos 50 anos do Boletim de Psicologia; uma tese de doutorado da Faculdade de Educação e; uma foto de Gioconda Mussolini. Como técnica para analisar as informações geradas a partir dos documentos e das entrevistas será utilizada a análise do discurso. Esta análise consiste, inicialmente, numa leitura dos documentos e das entrevistas, a fim de identificar a rede de instituições e pessoas que fizeram parte da vida profissional de Gioconda Mussolini. Na análise das publicações, espera-se identificar a ideia de Psicologia que estava vigente naquele momento e no que essa influenciou na produção intelectual da autora, bem como no que a mesma se distanciou. Como resultados iniciais, pode-se citar a elaboração de uma linha do tempo a partir do currículo de Gioconda Mussolini com a finalidade de identificar as relações desta com pessoas e instituições que estiveram presentes na formação e atuação profissional. Os resultados sugerem que a formação e atuação profissional de Gioconda Mussolini foram marcadas não só pela variedade de áreas do conhecimento como de temas. Nas instituições responsáveis pela sua formação, apenas uma delas (o Curso de Bacharel em Ciências Sociais na FFCL/SP) não possui vínculo aparente com a Psicologia. As parcerias aqui apresentadas, referentes à identificação das áreas do conhecimento dos pesquisadores, não permitem apontar relações diretas com a Psicologia. No entanto, uma análise das temáticas, presentes nas pesquisas das quais Gioconda Mussolini participou, parece ser próspera a esse respeito.Palavras-chave: História da Psicologia, Interdisciplinariedade, Práticas discursivasPesquisa em andamento

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Marilene Oliveira Almeida; Raquel Martins de AssisO ENSINO DE ARTE NA OBRA DE HELENA ANTIPOFF: UM DIÁLOGO ENTRE A ARTE E A PSICOLOGIAEste resumo apresenta uma pesquisa, em andamento, proveniente do Mestrado em Educação/ Faculdade de Educação/UFMG. Tem-se como objetivo investigar a proposta de ensino de arte na Fazenda do Rosário, Ibirité, Minas Gerais, entre as

décadas de 1940, período de implantação dessa instituição idealizada pela educadora e psicóloga russa Helena Antipoff, que chega ao Brasil em 1929 para atuar na Escola de Aperfeiçoamento, e início da década de 1970, período antecedente a sua morte, ocorrida em 1974. Emergindo-se da dimensão pedagógica da educadora, a investigação privilegia investigar como se deu o ensino de arte na Fazenda do Rosário, a partir dos escritos de Helena Antipoff e do diálogo com colaboradores. Tem-se como hipótese que a relação estabelecida entre Antipoff e o artista-educador Augusto Rodrigues foi importante parceria para a concepção e execução do ensino de arte ali desenvolvido. A parceria entre Antipoff e Rodrigues remonta à fundação da Sociedade Pestalozzi do Brasil e da Escolinha de Arte do Brasil, instituições iniciadas no período em que a educadora atuou no Rio de Janeiro/Ministério da Saúde, sem, contudo, desligar-se dos trabalhos desenvolvidos em Minas. Por meio das instituições fundadas e idealizadas dentro dos princípios pedagógicos escolanovistas - a Fazenda em 1939 e a Pestalozzi em 1945, por Antipoff e colaboradores e a Escolinha em 1948, por iniciativa de Rodrigues, outros artistas e apoio de Antipoff – foi possível estabelecer parcerias que permitiram desenvolver uma reflexão acurada sobre ensino de arte para atender tanto às crianças quanto à formação de professores. Os documentos consultados no Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff indicam uma movimentação em prol de se dinamizar os trabalhos de arte desenvolvidos na Fazenda, ora em cursos realizados na própria instituição, ora em convênios para atender aos professores em formação que se dirigiam ao Rio, na Escolinha e também na Pestalozzi do Brasil, onde Rodrigues foi professor. Acredita-se que o contato com o Rio de Janeiro, onde se viveu um surto de educação artística, colaborou para compor um cenário produtivo nessa área na Fazenda do Rosário, trazendo-lhe indicação de profissionais para atuarem como artistas-professores. Podemos destacar os artistas-educadores: o ceramista pernambucano Jether Peixoto e o francês Jean Bercy, que ali residiram, a jornalista e escritora ucraniana Olga Obry, que lecionou teatro na Pestalozzi do Brasil e na Fazenda, além do próprio Rodrigues. A pesquisa realizada indica que houve um intenso movimento de promoção de oficinas de artesanato, privilegiando-se a matéria-prima local, como: cerâmica, bambu, fibras naturais, carpintaria e entalhe em madeira, produção têxtil em teares manuais, assim como o teatro de bonecos, de fantoches e de máscaras indicados como atividades recreativas, de aplicação pedagógica nas escolas. O ensino de arte na Fazenda do Rosário era desenvolvido como possibilidade de formação humana e profissional, tanto para adultos como para crianças. Nesse sentido, Antipoff empreendeu esforços para trazer artistas-educadores nacionais e internacionais que colaboraram para que a arte pudesse alcançar a comunidade local, trazendo-lhe melhores condições de vida e multiplicar-se na forma de formação de professores para atuarem no ensino rural. Palavras-chave: Educação pela arte, Fazenda do Rosário; Augusto Rodrigues.Pesquisa em andamento

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Nadia Maria Dourado RochaREVISITANDO "INVESTIGAÇÕES DE PSICOLOGIA"Eduardo Ferreira França (1809-1857) é um médico e parlamentar baiano, cuja família, desde o princípio do século XIX, tem integrantes que atuam no magistério superior, no início em Medicina e desde o início do século passado, em Direito. Eduardo fez o se curso superior na Faculdade de Medicina de Paris, integrando a primeira geração de brasileiros que não estudou na Universidade de Coimbra, único local em que a coroa portuguesa autorizava os brasileiros a frequentar. Ainda na capital francesa manifestou ele preocupação com a questão das influências ambientais sobre o comportamento humano. Prova disto é a tese inaugural por ele defendida, cujo título é “Essai sur l´influence des aliments et des boissons sur le moral de l´homme” (1834). Retornando a Salvador, tornou-se professor de Mineralogia na Faculdade de Medicina da Bahia. Publicou “Influência das emanações pútridas animais sobre o homem” (1850) e “Influência dos pântanos sobre o homem” (1851). Em 1854 lançou o livro “Investigações de Psicologia”, que, até o momento, é o mais antigo das três Américas, tendo em vista que William James publicou o seu Psychology em 1890, ou seja, 36 anos depois. O “Investigações” foi apresentado em dois volumes, com 284 e 424 páginas, respectivamente, sendo composto por seis partes, às quais ele denominou “livros”: Fenômenos da consciência e faculdades; Modificabilidade; Motividade; Faculdades intelectuais; Instintos; Vontade. Já algum tempo o GT de História da Psicologia da ANPEPP se propôs a realizar um colóquio, tendo por tema o referido livro. A proposta inicial é os seus integrantes que se interessem pelo projeto escolham um aspecto a desenvolver, buscando também envolver alunos e orientandos. O colóquio está previsto para ocorrer em maio de 2015, na Faculdade de Medicina da Bahia (FMB-UFBA), antecedendo o IX Congresso Norte-Nordeste de Psicologia (CONPSI). A expectativa é que ocorram, também durante este evento, atividades sobre o livro, a exemplo de mesas-redondas, simpósios e a apresentação de painéis.Palavras-chave: Pioneiros psicologia; Psicologia na Bahia; Eduardo Ferreira FrançaProjeto de pesquisa

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Renata Rocha Tsuji da CunhaRELAÇÕES ÉTNICO/RACIAIS NA HISTÓRIA DA PSICOLOGIA: OS ESTUDOS INTERCULTURAIS DE ANIELA GINSBERGEsta pesquisa teve como foco a produção da psicóloga e pesquisadora Aniela Meyer Ginsberg (1902-1986) sobre relações étnico/raciais e interculturais, entre

1947 e 1978. A pesquisa historiográfica consistiu no levantamento bibliográfico e documental, na leitura e análise de conteúdo, e na elaboração de resenhas e quadros demonstrativos da produção de Aniela sobre relações étnico/raciais e interculturais, contendo: título, ano, local de publicação, co-autores, referenciais teóricos, método, forma de classificação étnico/racial dos sujeitos pesquisados e principais resultados. O levantamento bibliográfico foi realizado nos acervos das bibliotecas: Dante Moreira Leite do IPUSP e Nadir Kfouri da PUC/SP; e no acervo da Fundação Aniela e Tadeuz Ginsberg (FATG), em São Paulo. Aniela Ginsberg é uma das principais autoras de psicologia nas décadas de 1940 a 1970 no Brasil. Filha de poloneses, chega ao Brasil em 1936 e aqui encontra a diversidade étnico/racial da população em ampla convivência – ainda que edificada dentro de uma estrutura de desigualdades e discriminação. Assim, o Brasil se torna um “laboratório social” perfeito para suas pesquisas interculturais. Seus estudos de raça/etnia configuram-se como estudos intraculturais da sociedade brasileira e de suas amplas diversidades. Aniela realizou estudos comparativos sob diversos aspectos (idade, sexo, meio social, origem nacional, influências culturais e fator étnico/racial) para investigar a natureza e a manifestação das diferenças individuais e entre grupos. Os processos migratórios, as relações étnico/raciais e os processos inter e intraculturais estavam no centro de suas investigações. Influenciada pela agenda antirracista do pós-guerra e pela difusão dos estudos das relações étnico/raciais a partir de 1930 no Brasil, Aniela tinha a preocupação de detectar as especificidades (raciais, culturais e nacionais), questionando a universalidade do saber psicológico. Nesse contexto, a psicologia intercultural era o método que permitia o estabelecimento de diferenças e de leis gerais do comportamento humano. Para Aniela, as diferenças entre os grupos étnico/raciais – assim como as diferenças de inteligência, de idade, entre população urbana e rural, entre os sexos – são devidas mais às variáveis do ambiente, como o ambiente social e as condições educacionais, que às variáveis internas do indivíduo, como suas características físicas e psicológicas. Sendo assim, raça/etnia aparece como fator importante na compreensão das diferenças e desigualdades, devido ao meio social brasileiro, marcado pela segregação étnico/racial e pelo papel social inferior atribuído ao negro. Em seus estudos, a autora preocupa-se em abordar as desigualdades étnico/raciais como categoria de análise, para além das desigualdades puramente sociais. Nas décadas de 1940 e 1950, Aniela voltava-se para o estudo de diferenças encontradas nos resultados de testes projetivos e de nível mental: nesse contexto, estava mais atenta à influência do fator étnico/racial – relacionado à origem nacional e/ou à hereditariedade. Os conceitos de raça/etnia e de cultura apareciam, então, entrelaçados. Nas décadas seguintes, porém, influenciada pela nova agenda de estudos em psicologia, ela passa a isolar as influências dos fatores racial e cultural dentro das características de personalidade e das motivações. A principal contribuição de Aniela para o estudo das relações étnico/raciais e interculturais diz respeito à riqueza de métodos utilizados em seus estudos. Os diferentes testes que ela utiliza em seus estudos – Rorschach, Mira y López, Escala de Cantrill, T.A.T, Teste de Borrões de W. Holtzman (HIT),

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Questionário de Filosofia de Vida, Medida da Distância Social e o método Sociométrico – aparecem como ferramentas que permitem a comparação criteriosa e estruturada das semelhanças e diferenças entre indivíduos de raças/etnias distintas. Aniela utilizava os testes psicodiagnósticos para comparar aspectos de personalidade e de comportamento de diferentes indivíduos dentro de uma mesma etnia (viés intracultural) e de etnias diferentes (viés intercultural), confrontando dados de grupos étnicos distintos para separar os aspectos gerais da personalidade humana das características culturalmente induzidas. Pode-se concluir que para Aniela a metodologia aparece como resposta às questões de pesquisa: é a partir dos diferentes métodos que a pesquisadora pretende cercar todas as variáveis possíveis para tentar compreender as diferenças e as semelhanças encontradas entre indivíduos em seus inúmeros estudos inter e intraculturais. Apesar de utilizar amplamente os testes em seus estudos, a crítica a suas características sempre foi uma preocupação de Aniela: as diferenças entre os resultados de indivíduos de meios sociais e/ou de grupos étnico/raciais distintos podem ser causadas, muitas vezes, por características intrínsecas aos próprios testes utilizados, em geral, elaborados especialmente com base em indivíduos de meios sociais mais abastados (com freqüência, brancos), solicitando mais seus interesses e seu o universo simbólico. Aniela procurou desconstruir, ao longo das décadas de 1940 a 1970, a visão determinista biológica das raças que prevalecia na Psicologia até então e mostrar que é na interação dos indivíduos com a sociedade que as diferenças podem transformar-se em desigualdades, ou seja, que as diferenças são mais construções socioculturais, do que fruto da hereditariedade.Palavras-chave: Raça/etnia; Pesquisa historiográfica, Aniela Meyer Ginsberg, Psicologia Intercultural.Pesquisa em andamento

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Roberta Gurgel Azzi; Maria do Carmo GuedesCRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA COLEÇÃO A HISTORY OF PSYCHOLOGY IN AUTOBIOGRAPHY: O QUE REVELAM OS PREFÁCIOSEste relato insere-se no conjunto de estudos das autoras sobre a temática da Autobiografia, que vem pautando discussões em torno do seguinte questionamento: em qual medida os relatos autobiográficos escritos por psicólogos são boas fontes para conhecer a construção do campo diverso da psicologia? Para tal jornada toma-se em especial a coleção A History of Psychology in Autobiography. Esta coleção agrega 9 volumes, tendo sido o primeiro publicado em 1930 e o mais recente, o nono, em 2007. Neste encontro, o relato a ser privilegiado considera os Prefácios de cada livro em busca de respostas para

questionamentos do tipo: qual a proposta da coleção? Como se deu a escolha dos autores das autobiografias? Como foi a composição e mudanças no grupo de editores? O projeto e expectativa dos textos autobiográficos mudaram ao longo do tempo em que os volumes foram publicados? Acredita-se que o promissor diálogo com outros investigadores interessados no tema autobiográfico permitirá a troca de informações importantes para o prosseguimento desta jornada e ajudará na construção de categorias de análise para voltar o olhar para autobiografias publicadas na coleção, em busca da resposta para a pergunta norteadora dos estudos, apresentada no início deste resumo.Palavras-chave: autobiografia, fonte documental, diversidade da PsicologiaPesquisa em andamento

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Robson Nascimento da CruzB.F. SKINNER E A NARRATIVA AUTOBIOGRÁFICA DA VIDA CIENTÍFICAA biografia, no século XIX e durante quase todo o século XX, foi concebida como um gênero literário de segunda categoria. Biografia e história, mais do que não se comunicarem, apresentavam antagonismos profundos. A biografia compreendida como saber subjetivista e desprovido de erudição; enquanto a história apreciada como ciência, objetiva e culta. Todavia, a partir dos anos oitenta do século passado, uma significativa mudança ocorre nesse cenário. Desde então, é crescente o interesse pela biografia como um campo de estudo e fonte de pesquisa respeitável. Como, por que, por quem e para quem ela é escrita, as prováveis classificações de uma biografia, seu caráter mimético, seu impacto na consciência histórica, seu papel na cultura pós-moderna, entre outros fatores, tornaram-na objeto de estudo de diferentes campos do conhecimento. Na historiografia da ciência e, por sua vez, na historiografia da psicologia os efeitos dessas mudanças foram evidentes. Historiadores da psicologia têm, assim, exposto a utilidade deste tipo de fonte, uma vez que biografias e autobiografias de personagens históricas dessa ciência fornecem acesso a elementos do comportamento científico inexistentes em outras fontes. Considerando essas novas possibilidades de uso de fontes biográficas na historiografia da psicologia, que analisamos a relação entre a vida acadêmica e institucional de B.F. Skinner e a organização comunitária da análise do comportamento entre 1928 e 1970. Objetivo possibilitado pelo recurso à autobiografia de Skinner, trabalho apresentado em mais de mil páginas de um minucioso relato de história de vida, e relatos autobiográficos e biográficos da primeira e segunda geração de analistas do comportamento. O argumento central é a de que a história dessa ciência enquanto disciplina científica foi definida em suas quatro primeiras décadas por uma extensão de elementos idiossincráticos (padrões

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históricos e comportamentais) da vida acadêmica e institucional de Skinner para aquilo que será identificado nas décadas de 1950 e 1960, como uma comunidade científica fundamentada em sua ciência do comportamento. Tais elementos idiossincráticos foram: o desconhecimento e negligência da produção científica da psicologia por parte de Skinner; a manutenção da liberdade científica e institucional; o reconhecimento da sua figura científica desvinculado da ampla aceitação e adesão de seu sistema explicativo na psicologia experimental estadunidense; e sua preferência por relações informais na ciência. Após apresentarmos o panorama no qual expomos como esses padrões seriam refletidos na vida comunitária de uma disciplina científica, discutimos a função de uma história biográfica da psicologia como meio de lidar com elementos descartados na historiografia da ciência, como aqueles relacionados à escala microssocial de seu funcionamento. Por fim, debatemos a relevância de fontes biográficas e autobiográficas na historiografia da psicologia como meio de retomar debates na arena social da ciência, que expliquem a complexidade do comportamento do cientista como resultado de fatores não explicitados na descrição lógica da ciência.Palavras-chave: B.F. Skinner; Autobiografia científica; Biografia CientíficaPesquisa concluída

XSérgio MarcondesGASTÃO PEREIRA DA SILVA E SUA RELAÇÃO COM A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA SOBRE A PSICANÁLISEEste projeto propõe uma pesquisa sobre como Gastão Pereira da Silva (1897-1987) foi visto pela historiografia brasileira sobre psicanálise. Busca-se compreender quais aspectos singulares da trajetória pessoal de Gastão contribuíram para o seu esquecimento quase total pela historiografia posterior que trata da história da psicanálise. Gastão foi um dos primeiros divulgadores da psicanálise para o público leigo no Brasil. Para tornar o tema mais acessível, não hesitou em utilizar meios impressos como periódicos populares, nos quais respondia a cartas de leitores. Ele escreveu também radionovelas com dramatizações sobre questões psicanalíticas, sendo autor de 75 obras transmitidas, de 1947 a 1967, pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Mas, apesar desta longa trajetória na divulgação e de muitos de seus livros sobre psicanálise terem sido publicados pela Editora José Olympio, uma das mais prestigiosas da época (alguns dos quais tiveram várias edições posteriores, indicando seu sucesso de vendagem), a memória desse personagem foi quase que completamente apagada pelas produções sobre a história da psicanálise brasileira. É preciso lembrar que o trabalho de divulgação de Gastão foi feito à margem dos difusores oficiais da

psicanálise e de suas instituições ao longo de todo o período que vai da década de 1930 à de 1960, pois ele nunca quis se enquadrar aos requisitos de participação nessas instituições. Como a história da psicanálise no Brasil foi escrita inicialmente por atores originários dessas instituições oficiais, minha hipótese é de que a postura de confronto de Gastão com os requisitos e atuação desses grupos levou a seu esquecimento quase total nas obras posteriores sobre a psicanálise brasileira. Os estudos sobre a constituição do campo psicanalítico no Rio de Janeiro apontam para uma relação inicial muito estreita entre psiquiatria e psicanálise. Os primeiros nomes que se referiram à obra de Freud e trouxeram elementos da teoria psicanalítica para a capital do Brasil de então eram membros da elite médico-psiquiátrica da época, como por exemplo Júlio Porto-Carrero e Juliano Moreira. Assim, os trabalhos sobre psicanálise foram inicialmente publicados através de órgãos ligados à medicina ou psiquiatria, e foi a partir desses grupos que foram formadas, posteriormente, as primeiras sociedades brasileiras de psicanálise no Rio de Janeiro. Gastão Pereira da Silva teve uma formação profissional semelhante, em medicina, porém trabalhou principalmente no campo da divulgação popular e no atendimento particular. Para Jane Russo, seu esforço de divulgação constituiria uma espécie de “autoajuda psicanalítica-sexológica” dirigida ao público leigo, se referindo a questões de comportamento, sexuais, de criação dos filhos e de educação, e estaria inserido em um contexto mais amplo da época de “interesse generalizado pela ‘questão sexual’” (Russo 2002). Este interesse vinha desde a década de 1920, e permitiu que a difusão pelo saber denominado de psicanalítico deixasse de estar restrita ao campo acadêmico, criando uma demanda por publicações que apresentassem os elementos do saber para a classe média leitora de revistas e jornais, com uma linguagem mais simples e didática (Seelinger s.d.: 3). Isto também é uma indicação de que a trajetória de Gastão pode ser inserida no campo de divulgação científica de um novo saber. As fontes utilizadas serão obras sobre a história da psicanálise brasileira e as produções de Gastão em vários suportes, como livros, revistas populares, periódicos científicos e programas radiofônicos.Palavras-chave: história da psicanálise, divulgação científica, sociologia das profissõesPesquisa em andamento

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Kaciana Nascimento Da Silveira RosaEDOUARD SÉGUIN (1812-1880) E A CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: CONTRIBUIÇÕES PARA A HISTÓRIA DA PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃOAs práticas pedagógicas desenvolvidas pelo educador e médico Edouard Séguin (1812 - 1880) no processo de ensino de pessoas com deficiência intelectual pode contribuir para a compreensão do processo de constituição da própria educação especial a partir do século XIX, além de contribuir também para o conhecimento na área da História da Psicologia da Educação. Assim, para compreender a significação histórica do material teórico e prático deixado por Edouard Séguin, foi necessário conhecer as ideias contidas em suas obras e o movimento existente entre a medicina e a educação, que delinearam os fundamentos da educação especial. Por se tratar de um estudo de caráter teórico, considerou-se a produção teórica na área da educação especial, contemplando a leitura e a análise de materiais sobre a vida, os estudos e as experiências desenvolvidas por Edouard

Séguin, tendo como fonte primária os textos de sua própria autoria. Toma-se como base as duas obras de Séguin que contêm todo seu trabalho realizado com crianças e jovens com deficiência intelectual – “Traitement moral, hygiène et éducation des idiots et des autres enfants arriérés” (1846) e “Idiocy and its Treatment by the Physiological Method” (1866) – delineando as contribuições destas para o conhecimento histórico na área da Psicologia da Educação. Assim, verificou-se que uma das principais credenciais de Séguin era acreditar na possibilidade de aprendizagem de seus alunos. Seu trabalho foi considerado um marco importante na educação das pessoas com deficiência intelectual; no entanto, apesar de seu pioneirismo e mesmo da atualidade de suas ideias, sua obra encontra-se esquecida.Palavras-chave: História da Psicologia da Educação. Aprendizagem. Educação Especial. Pesquisa concluída

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XI ENCONTRO DE PESQUISADORES EM HISTÓRIA DA PSICOLOGIA12-13 DE AGOSTO 2013PUCSP – SÃO PAULO

GRUPO: SAÚDE MENTAL | HIGIENE MENTAL

Tábata Christie Freitas Moreira; Aline Moreira GonçalvesTRAJETÓRIA DA LOUCURA NA SOCIEDADE: A INSTITUIÇÃO DO NOVO PARADIGMAUm ponto chave iniciar os estudos sobre a saúde mental é entender os diversos fatores que a circundam. Seriam eles, de ordem institucional, estrutural, simbólica e até mesmo, de ordem ideacional. Tais fatores, circunscreveram as mudanças políticas, sociais, legislativas e culturais ocorridas no sistema da assistência psiquiátrica no Brasil. No intuito de compreender tal processo, essa pesquisa visa analisar a trajetória traçada pelo “louco” na sociedade, assim como, as mudanças ocorridas em torno das práticas e discursos a eles destinados. Analiticamente, busca-se, entender o processo de reforma psiquiátrica no Brasil, bem como, os processos de formulação e a implementação do paradigma da desinstitucionalização nos serviços destinados as pessoas em sofrimento mental. Os “loucos”! Quem são eles? O que fazem? O que querem? Para onde vão? Nos séculos XV e XVI, os loucos, eram considerados pessoas sob possessão de demônios e por isso, eram socialmente indesejáveis. A origem de sua doença, estava associada a questões de ordem física e metafísica. Posteriormentes, quanto à forma de tratamento, foram criados na Europa, no século XVII, hospícios semelhantes ás prisões, com o intuito de confinar o “louco”, tendo em vista que a loucura era tida como algo incurável. Os séculos XVIII e XIX podem ser considerados divisores de águas no que tange a liberdade dos loucos. Na pauta de discussão sobre saúde mental tornou-se relevante elucidar sobre a cientificidade do tratamento da loucura. Ao innvés de confinar todos os loucos buscou-se analisar e classificar os seussintomas. A partir dessa classificação, tornou-se possível libertar os loucos de suas correntes instituindo-os ao tratamento moral, proposto por Pinel e Esquirol (Foucault, 2001). Os séculos XX e XXI apresentaram grandes contradições, se por um lado os “loucos” eram tratados com banhos (quentes e frios), submetidos a cadeiras giratórias, eletrochoques e a receitas psiquiátricas que recomendavam a permanência no leito, por outro, a saúde mental passou a ser compreendida como um problema multifatorial, exigindo, assim, a união dos enfoques biológicos, psicológicos e sociais. Essa união significa um grande avanço no que se refere ao tratamento dos portadores de sofrimento mental, pois,

esses, passaram a ter contato com uma equipe multidisciplinar, composta por psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, dentre outros profissionais. Nas décadas de 60 e 70 surgiu na Itália o Movimento Antimanicomial. Este, é compreendido como um marco de suma importância no que se refere ao conjunto de iniciativas que visavam fomentar a Reforma Psiquiátrica, buscando, assim, não apenas humanizar as instituições psiquiátricas, mas, promover uma peculiar aliança entre os profissionais de saúde mental e sua clientela. Revelando a dimensão eminentemente política dessa relação contratual, o Movimento se guiou pela busca da promoção da justiça, liberdade, solidariedade, tolerância e da reconstrução dos vínculos comunitários com a desrazão, sistematicamente patologizada pela Psiquiatria (Goulart: 2005). Embasadas nas iniciativas italianas, surge no Brasil nos 70 o Movimento Antimanicomial. Este, questionou de maneira incisiva as políticas de saúde mental, criticou o modelo de assistência focado em práticas que resultavam em estratégias de exclusão, e, por fim, propôs o fechamento dos hospitais psiquiátricos, dando assim, início ao processo de desistitucionalização . Esse consiste na substituição dos serviços ofertados aos portadores de saúde mental, prezando por uma nova cidadania e uma nova ética, que, somada à ideia de emancipação do sujeito, esteja atenta às novas formas de exclusão social.O Movimento ganhou força com a Reforma Sanitária e, posteriormente, com a implantação do Sistema Único de Saúde – SUS. Fruto do Movimento Antimanicomial, a Reforma Psiquiátrica no Brasil se constituiu em um conjunto de iniciativas de cunho político, social, legislativo e cultural que objetivava modificar a situação do sistema psiquiátrico e, posteriormente, tecer alternativas para o mesmo. Em síntese, a Reforma, se organizou, a partir dos seguintes objetivos: criticar, reformar o modelo hospitalocêncrico, desconstruir os espaços asilares e tornar efetivo os modelos assistenciais alternativos. (Goulart: 2005) Em síntese, observa-se que a percepção sobre a saúde mental sofreu importantes alterações. Se em um primeiro momento o portador de saúde mental era compreendido como indivíduos despossuídos da razão, delirantes e alucinados, hoje, passados longos períodos de luta, a pessoa em sofrimento mental é compreendido como um cidadão merecedor de direitos: direito à saúde, direito à

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educação, direito ao trabalho. Enfim, direito a cidadania. Neste sentido, questiona-se, portanto, como se deu esse processo de mudança, quais os fatores contribuíram para que a percepção sobre a saúde mental mudasse. Em busca de possíveis respostas, a presente pesquisa se aterá a esta análise inicialmente proposta de fatores macro sociais e multifacetários. Palavras-chave: História da loucura, Reforma Psiquiátrica, Desinstitucionalização.Pesquisa concluída

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Carla Luiza Oliveira ; Maria Stella Brandão GoulartA HISTÓRIA DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL: MINAS GERAIS E VÍNCULOS COM ITÁLIANa perspectiva de recuperar a história do processo de reforma da política de saúde mental mineiro, a pesquisa que ora propomos pretende enfocar as conexões entre Brasil e Itália, tecendo uma análise comparativa entre os recursos societários (associativismo, laços de colaboração, instituições sociais, culturais e técnico-profissionais) acionados desde os anos sessenta até a atualidade (2013), totalizando um período de cinquenta anos. Ao longo de todo este período, as relações entre os dois países foram de estreita colaboração no que concerne à construção da chamada reforma psiquiátrica, que hipotetizamos ser mais abrangente. O projeto deverá revelar esta rede de colaboração, recuperando, primeiramente, os contatos com os brasileiros que, ao longo do período, realizaram atividades voluntárias ou remuneradas nas iniciativas reformistas italianas, e, paralelamente, documentando a contribuição dos italianos, desde a figura de Franco Basaglia à dos atuais militantes e gestores que mantiveram laços com o Brasil. Como perspectiva metodológica, a partir da perspectiva da história social, apoiaremo-nos na atitude investigativa da microhistória, tendo como enquadre teórico a Análise Institucional. As fontes serão documentos (serial) e fontes orais (entrevistas e depoimentos) que serão tratados através de análise de conteúdo e, eventualmente, análise de discurso.Palavras-chave: História da Saúde Mental ; Reforma Psiquiátrica brasileira ; Psiquiatria Democrática italiana ; desinstitucionalização ; Franco Basaglia ; operadores sociais.Pesquisa em andamento

Carina Furlaneto FrazattoO “MORAR” EM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO E O “VOLTAR

PARA CASA”: DILEMAS DO PASSADO E DO PRESENTEO estudo que originou este texto está inserido no Grupo de Estudos e Pesquisas sobre o Higienismo e o Eugenismo e se refere a parte de uma dissertação de mestrado em Psicologia, concluída em 2011, cujo objetivo foi compreender como se dá o “voltar para casa” do “morador” de hospital psiquiátrico. Esta temática faz parte da atual Política Nacional de Saúde Mental, principalmente no que se refere ao Programa de Volta para casa – PVC, que institui auxílio financeiro para egressos de longa internação psiquiátrica e aos Serviços Residenciais Terapêuticos – SRT, que prevê moradia para pessoas egressas de longa internação psiquiátrica sem vínculos familiares e sociais. O “morar” em hospital psiquiátrico e o “voltar para casa” ocupam o profissional da psicologia no trabalho com o PVC, o SRT e demais serviços da Rede de Atenção Psicossocial, ou ainda, como uma questão que deve ser pensada academicamente. No entanto, a preocupação com os “moradores” de hospitais psiquiátricos e a possibilidade de “voltar para casa” não é exclusiva dos dias atuais, pois já que se apresentava no rol de preocupações de profissionais que contribuíram para o desenvolvimento das raízes da Psicologia no Brasil. Estamos nos referindo aos higienistas, profissionais que faziam parte ou seguiam o ideário da Liga Brasileira de Higiene Mental – LBHM, uma instituição sem fins lucrativos que dentre suas aspirações visava prevenir e melhora a assistência às doenças mentais. A pesquisa que empreendemos fundamentou-se nos materiais presentes no catálogo do GEPHE, sobretudo nos “Archivos Brasileiros de Hygiene Mental”, periódicos oficiais da Liga, publicados entre 1925 e 1947. Realizamos a leitura do material, reunindo em temas comuns aqueles que tratavam do “voltar para casa” do “morador” de hospital psiquiátrico. A princípio, identificamos que, mesmo nessa época em que a concepção de isolar a pessoa com transtorno mental era a regra, havia vozes discordantes e propostas alternativas a essa prática. Ernani Lopes, por exemplo, em 1930 dizia que havia vantagens em tratar os doentes em famílias de terceiros, poupando o doente mental do estigma da internação e possibilitando a sua reintegração social. Ainda em 1930, Caldas menciona o “Instituto de Profilaxia Mental”, um tipo de serviço aberto que previa a realização de triagem para decidir entre a internação ou o tratamento em casa sob a vigilância do serviço social. Em 1931, Santos, em sua tese de doutorado, defende que o tratar em casa propiciaria benefícios econômicos ao evitar muitas internações e proteção real à população pois atenderia à classe mais necessitada que não tinha acesso fácil às vagas nos hospitais da época já superlotados. Ainda no início da década de 1930, Lopes apresenta o patronato dos egressos realizado na Itália, onde ex-“moradoras” de manicômios eram acolhidas em famílias, o que traria vantagens nos níveis econômico, social e moral, evitando os problemas de uma longa internação, produzindo “milagres” quanto ao comportamento moral dessas mulheres, promovendo o reajustamento social e prevenindo recaídas. Rezende 1929 também propõe um patronato dos egressos afirmando que assim se evitaria o estigma da internação, pois após permanência em manicômio, o paciente

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passava a ser julgado como perigoso e incapaz de exercer qualquer função. Para Rezende o patronato, já existente em vários países, deveria constituir uma das finalidades da LBHM. Dentre as finalidades descritas do patronato pudemos perceber que a atenção dedicada aos egressos esbarra em algumas situações que vão além da patologia mental, tais como a ausência de parentes ou amigos para amparo dos mesmos, a falta de recursos materiais ou, ainda, a dificuldade da sociedade em aceitar as pessoas com transtorno mental no convívio social, o que exigiria a socialização dos conhecimentos psiquiátricos para a inserção dos egressos na comunidade. Tais fatores, conforme pesquisamos em outra parte da dissertação, ainda persistem na atualidade como dificuldades do “voltar para casa” do “morador” de hospital psiquiátrico. Destacamos que a preocupação dos higienistas remete ao início do século XX, quando, mesmo sem contar com o auxílio dos psicotrópicos no controle dos sintomas do transtorno mental e sem a proposta de tratamento através da rede de atenção em saúde mental, já se pensava em formas alternativas ao tratamento em hospital psiquiátrico. Os preceitos higienistas contribuíram para a história da Psicologia, assim como esta ciência contribuiu para fundamentar muitas das práticas higienistas. Tanto Psicologia quanto a higiene mental procuravam lidar com questões que hoje ainda enfrentamos tais como o alcoolismo, a delinqüência e o “voltar para casa” aqui enfatizado. Lembramos que, se por um lado a Psicologia e a higiene mental contribuíram para um projeto de sociedade ideal que justificava as diferenças sociais por meio de critérios que muitas vezes ignoravam as condições concretas de vida, por outro lado, trouxeram um olhar diferenciado sobre algumas questões, dentre elas a possibilidade de tratar sem isolar exemplificada neste texto por meio do discurso dos higienistas e consolidada mais tarde na Luta Antimanicomial.Palavras-chave: Psicologia. Higiene Mental. Saúde Mental. Reforma Psiquiátrica.Pesquisa concluída

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Carolini Cássia CunhaALGUMAS PALAVRAS SOBRE A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO BINÔMIO CRIME X LOUCURA NO BRASILO atendimento oficial levado a efeito nos dias de hoje para o portador de transtorno mental que infringe a lei, neste trabalho denominado louco infrator, no Brasil passa pela instituição da medida de segurança e consequente internação em Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico. A medida de segurança se caracteriza pela ausência dos benefícios ligados às penas, como redução de tempo

de privação de liberdade e progressão de regime, dentre outros; ausência de determinação temporal, ou seja, a medida se estende até que uma decisão judicial a extinga, e primazia da perícia médica enquanto base fundamental das decisões judiciais. Recentemente legislações tem traçado um novo caminho para o equacionamento desta problemática. A Resolução n. 4 de 30 de julho de 2010 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária – CNPCP estabelece que o encaminhamento ao louco infrator deve adotar a política antimanicomial, respeitando as diretrizes da Lei 10.216/2001 e tendo a internação em Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico, anteriormente denominado Manicômio Judiciário, como último recurso. Além de definir a criação de programa específico para acompanhar o paciente e mediar as relações com o judiciário. Esta resolução estabelece um prazo de dez anos para a completa transição do modelo de atendimento ao louco infrator para a lógica antimanicomial. De forma semelhante, o Conselho Nacional de Justiça em 2011, recomenda aos tribunais que na execução da medida de segurança adotem sentenças em meio aberto, com acompanhamento de equipe multidisciplinar, em parceria com as demais políticas públicas e com a sociedade civil, além de estabelecer que as perícias sejam realizadas por equipe interdisciplinar. Estas legislações retiram a supremacia médica no ordenamento jurídico no que diz respeito à loucura ao solicitar que as perícias e acompanhamentos sejam realizados por equipe multidisciplinar da qual a psicologia integra. Além desta perspectiva na qual a psicologia ganha espaço na intervenção deste campo de atuação, a psicologia é chamada ao trabalho nos locais de internação já mencionados. O conhecimento do psiquismo do louco infrator se trata de uma construção histórica em que o período do final do século XIX e início do século XX foi um momento profícuo e marcado pela produção oriunda da classe médica. Partindo da compreensão de que o encaminhamento oficial destinado ao louco infrator é fruto de uma construção histórica, intervir neste campo exige uma compreensão mais definida de sua trajetória. O estudo que apresentamos se propôs a entender a inserção médica no contexto jurídico no que diz respeito ao louco infrator, delineando as produções médicas e jurídicas acerca do mesmo. O marco inicial deste recorte é a proclamação da República e promulgação do Código Penal de 1890, quando se abre a possibilidade legal de que a medicina adentre o cenário jurídico. E o marco final, a promulgação do Código Penal de 1940, quando a participação médica é legitimada na letra da lei como parte intrínseca do processo criminal que envolve a loucura. No que concerne ao material de análise, optamos pela leitura de teses, artigos em periódicos e publicações diversas produzidas no final do século XIX e início do século XX. O critério para escolha do material foi possuir como tema a loucura e o crime. Privilegiamos as fontes primárias, isto é, produzidas no período estudado, seja de autoria de juristas, políticos ou médicos, na forma de artigos em periódicos, livros ou discursos. O retorno ao passado por meio das fontes primárias evidencia a contribuição histórica da discussão de caráter científico sobre o louco infrator. A produção teórica consultada neste trabalho marcou a necessidade de uma formação sólida do profissional que lida com a perícia

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psiquiátrica e com o louco infrator e o rigor no trabalho nesta área, apesar de propor uma análise individual e a-histórica, que considerava valores datados historicamente como sinais patológicos. Destaca-se, na literatura consultada uma atuação importante dos médicos higienistas na efetivação de políticas públicas que contemplassem o acúmulo de conhecimento em relação à loucura. A compreensão da construção histórica dos encaminhamentos do louco infrator revela a complexidade do binômio crime x loucura; o caráter ilusório da certeza da previsão do futuro pela ciência, especialmente no que diz respeito à vida humana; a criação do Manicômio Judiciário em consonância às teorias de caráter individual e biológico, em pauta no período, dentre outras contribuições. Décadas e décadas transcorridas comprovam a preocupação destes homens da ciência na busca de solução para as mazelas sociais de sua época; comprovam também que muitas das suas certezas, propostas e encaminhamentos da época, fragilizadas pelas limitações históricas já não fazem mais sentido na atualidade. O tempo transcorrido e o avanço da ciência de diferentes áreas do conhecimento possibilitam olhar e atender a loucura de outra perspectiva e a Política Nacional de Saúde mental é prova disto. Porém, ao menos por enquanto o Manicômio Judiciário se mantém nos moldes em que foi criado.Palavras-chave: Psicologia, crime, loucura.Pesquisa concluída

XCecilia de Menezes Sobreira CunhaASSISTÊNCIA PSIQUIÁTRICA EM PERSPECTIVA OUTRA HISTÓRICA: A CASA DE SAÚDE SANTA TERESA (CRATO, CEARÁ - 1970) A forma como foi contada a história da psiquiatria dos anos 1970 tendeu a ser caracterizada sob um mesmo signo, seguindo as linhas analíticas mais gerais sobre a saúde pública: o de denuncia ao modelo assistencial enfatizado pelas políticas públicas de saúde para esta área à época. Esse modelo era o da assistência previdenciária, expresso no atendimento das casas de saúde e clínicas psiquiátricas particulares, em convênio com o INPS, voltadas para a população que estava sob a égide do mundo do trabalho formal e que. A ênfase em uma política para a área da psiquiatria de privilégio ao modelo previdenciário teria, de acordo com a historiografia predominante, sido responsável pela negligencia e defasagem no atendimento psiquiátrico público, por sua vez voltado para a população em geral e caracterizado pelos grandes e abandonados hospitais-colônias. A história que pretendo contar pretende ser um pouco diferente. Ao analisar o evento de criação de uma instituição psiquiátrica particular, a Casa de Saúde Santa Teresa, fundada na cidade cearense de Crato de 1970, elaboro uma nova trama sob a qual se desenrola a história da psiquiatria desse período. Partindo desse pressuposto, busco constituir outras respostas sobre o porquê e o como de uma

instituição como esta ter sido criada naquela momento e naquele lugar. Para isso, busco juntar os fios soltos dessa história por meio de seus vestígios, jornais, revistas e depoimentos, constituindo as redes de relações que foram acionadas para que uma instituição como essa pudesse ser criado. Busco, com isso, um novo percurso para escrever essa história, que atem-se às questões trazidas pela análise da localidade, e de como estas são conformadoras de políticas públicas. Palavras-chave: história da psiquiatria; INPSPesquisa concluída

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Clariana Morais Tinoco Cabral; Rosângela FrancischiniCRIANÇAS E ADOLESCENTES: PERCURSO HISTÓRICO

DO ATENDIMENTO EM SAÚDE MENTAL NO BRASILEmergindo em um contexto de produção de significados culturais e políticos, a infância, na Idade Moderna, assume visibilidade, enunciação e capacidade de educabilidade. Embriões de novas formas de fazer humano, não mais tutelados a forças divinas, mas tornando-se sujeito e objeto de investigação racional, as crianças passam a ser alvo de cuidados diferenciados e demandas especiais. Com o transcorrer dos séculos XVIII e XIX a noção de infância ganha maior visibilidade; os olhares sobre essa categoria se fortalecem. A partir do final do século XIX e início do século XX as Ciências Humanas e a Medicina buscam, de forma mais incisiva, aprofundar o tema infância enquanto ‘objeto’ de estudo e intervenção, tendo como principais eixos mediadores entre essas ciências e a criança, a família (família burguesa) e a escola. Ainda no século XVIII as primeiras noções de ciência psiquiátrica se formulam, levantando reflexões concernentes à etiologia das deficiências mentais na infância. No século XIX, criam-se parâmetros de normalidade e anormalidade para crianças e adolescentes, principalmente, com base nas demandas escolares, as quais formulam regras pedagógicas que sustentavam a prática institucional, servindo de referencial de desenvolvimento tendo por parâmetro a faixa etária. Todavia, diante do atributo de criança ou adolescente anormal, as medidas institucionais tomadas compreendiam, além da escola, os hospitais para alienados (Becchi & Julia, 1998). No Brasil, é com a inauguração do Hospício Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, em 1852, que se instaura a assistência psiquiátrica institucional, proliferando-se rapidamente pelo país. Os primeiros serviços brasileiros de assistência à saúde mental infanto-juvenil, de acordo com Monarcha (2009), foram: a Clínica de Eufrenia (1932); o Serviço de Ortofrenia e Higiene Mental (1934) e a Clínica de Orientação Infantil (1938). Além disso, existiam também as clínicas de psiquiatria infantil. Esses serviços estavam ligados à Liga Brasileira de Higiene Mental (LBHM), fundada em 1923 pela comunidade médica, principalmente psiquiátrica(,) e extinta em

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1964. A partir da segunda metade da década de 1970 se inicia o movimento de reforma psiquiátrica no Brasil, expressão pública do descontentamento da sociedade com o modelo até então utilizado para atender as demandas em saúde mental. A proposta central da referida reforma foi o redirecionamento das antigas práticas manicomiais para serviços de caráter substitutivo. Um marco emblemático foi a apresentação do Projeto de Lei nº. 3.657/89, pelo Deputado Paulo Delgado, a qual versava “sobre a extinção progressiva dos manicômios e sua substituição por outros recursos assistenciais e regulamentava a internação psiquiátrica compulsória” (Borges & Baptista, 2008, p. 457). Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, tais serviços passam a ser incorporados aos serviços de saúde pública(,) inseridos no âmbito do Sistema Único de Saúde, com seu arcabouço legal estabelecido pelas Leis nº 8.080/90 e nº 8.142/90. É nesse cenário de mudanças político-sociais que se constrói e se insere o novo paradigma da Atenção Psicossocial em saúde mental no Brasil. Classificados como serviços substitutivos, assim são criados os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e os Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS). Nos últimos anos os CAPS têm se tornado um dos principais serviços de atendimento aos sujeitos classificados pela medicina como portadores de transtornos mentais graves e persistentes. Classificados pelo Ministério da Saúde, esses serviços se dividem em I, II e III, seguindo ordem crescente de porte, capacidade operacional, complexidade de atendimento e cobertura populacional. Além dessa classificação, também há a divisão por categoria: CAPSi, atendimento a crianças e adolescentes; CAPSad, atendimento a dependentes de álcool e outras drogas. As políticas em saúde mental no Brasil para adultos apresentam um percurso histórico secular com diversos avanços e conquistas, mas com muitas lacunas a serem esclarecidas. Todavia, no campo da infância e adolescência ainda há muito a ser feito. Desta feita, o presente trabalho objetiva analisar a lógica que perpassa a inserção do CAPSi, enquanto serviço de saúde mental de vanguarda, nas práticas voltadas para a infância e adolescência, introduzido na proposta de substituição ao modelo médico asilar historicamente estabelecido. O lócus de investigação: unidade CAPSi-Natal, capital do RN. Como objetivos específicos têm-se: Identificar as ferramentas institucionais utilizadas pelos serviços para atuar diante da infância e da adolescência; Mapear as demandas atendidas pelo serviço; Analisar a lógica a que se propõe o serviço diante de suas especificidades na atualidade. Como procedimentos serão realizados: mapeamento da demanda trabalhada na instituição a partir dos arquivos e relatórios anuais da instituição; entrevista semiestruturada com os profissionais que participaram do processo de implementação do serviço; realização de grupos focais, com o objetivo de problematizar a atual realidade do CAPSi. Para análise e interpretação do corpus da pesquisa utilizaremos como eixo central a Análise de Conteúdo Temática. Guiados pela necessidade de entendimento do conjunto e pela necessidade de apreensão das particularidades existentes nesse conjunto, partiremos da noção de Núcleos de Sentido, considerando os objetivos da pesquisa e o referencial teórico que a norteia.

Palavras-chave: Saúde Mental; CAPSi; Infanto-juvenilPesquisa em andamento

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Fernanda Freire FigueiraA LIGA BRASILEIRA DE HIGIENE MENTAL E A

VALORIZAÇÃO DA PSICOLOGIA NO BRASILO presente resumo se refere ao projeto de pesquisa que está sendo desenvolvido junto ao Grupo de Estudos e Pesquisa sobre o Higienismo e Eugenia do programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Estadual de Maringá. A pesquisa tem por objetivo investigar a influência do movimento de Higiene Mental na construção da Psicologia, enquanto ciência no Brasil, nas primeiras décadas do século XX. Esse período é caracterizado por diversas transformações sociais no Brasil, as quais embora estivessem propiciando o desenvolvimento do país, acarretavam diversos problemas devido ao aumento populacional e falta de condições das grandes cidades. Nesse contexto, o Movimento Higienista, criado ainda no século XIX, volta seus esforços para amenizar a insalubridade dos grandes centros urbanos que causavam epidemias e mortes. Ressalta-se que a higiene não estava relacionada somente as doenças físicas. As doenças psíquicas, os bons costumes e moral também passaram a ser um problema de higiene, pois para o desenvolvimento da nação, não era suficiente o saneamento das cidades, os doentes mentais também desestabilizavam a ordem e a nação. Tendo isso em vista, a Liga Brasileira de Higiene Mental (LBHM), uma das organizações do Movimento Higienista no Brasil, apresenta-se como um movimento que buscava alternativas para o cuidado da saúde mental atuando em diferentes instituições sociais como a família, a escola, os hospitais psiquiátricos, dentre outras. Para tanto recorriam ao campo do saber psicológico sendo historicamente, a psicologia, um dos recursos mais privilegiados pela intelectualidade que participava da LBHM. Embora a Psicologia tenha sido destaque dentro da Liga Brasileira de Higiene Mental no Brasil, as pesquisas em História da Psicologia, fazem breve menção a relação da Psicologia com o Movimento de Higiene Mental. Em muitos trabalhos e publicações sobre a História da Psicologia no Brasil são citados diversos personagens que contribuíram para a construção da psicologia, no entanto não há referência ao fato de muitos deles serem membros da Liga Brasileira de Higiene Mental, além de não relacionarem diretamente a contribuição da LBHM a construção da psicologia no Brasil. Nesse sentido, em busca realizada por produções que ressaltam a contribuição do Movimento de Higiene Mental para o desenvolvimento da Psicologia no Brasil, foi constatado que essa relação fora pouco explorada. Verificou-se que o Movimento de Higiene mental é apenas citado como um fato da história, sem considerar os aspectos ideológicos desse

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movimento e sem analisar como os conhecimentos da psicologia serviram como um instrumento que possibilitaria a resolução das mazelas sociais do início do século XX. Esse realidade desperta e provoca o interesse em compreender como de fato o movimento de higiene mental influenciou o construção da psicologia no Brasil. Dessa forma, o presente estudo pode ser caracterizado como uma pesquisa histórica em que os fenômenos são compreendidos a partir das relações sociais estabelecidas em determinado contexto histórico. Ou seja, buscando compreender as propostas e encaminhamentos que a Liga Brasileira de Higiene Mental deu à resolução dos problemas sociais presentes no Brasil no início do século XX, principalmente pautadas nos conhecimentos da Psicologia, pretende-se analisar como a psicologia, enquanto ciência, desenvolve-se e consolida-se no Brasil a partir desse movimento. Tendo em vista a vasta contribuição desse movimento aos diversos campos de atuação da Psicologia (educação escolar, saúde mental, saúde mental infantil, psiquiatria forense e outros), a presente pesquisa irá focar a investigação no campo da saúde mental. Para tanto, será realizada pesquisa documental e bibliográfica analisando as principais produções da Liga Brasileira de Higiene Mental sobre a saúde mental, como também produções dos principais membros da LBHM que se dedicavam a essa temática. Pretende-se com essa pesquisa contribuir com os demais estudos já existentes sobre a História da Psicologia no Brasil; ampliar os estudos desenvolvidos pelo Grupo de Estudos e Pesquisa sobre o Higienismo e o Eugenismo (GEPHE) da Universidade Estadual de Maringá, e suscitar um pensar crítico e contextualizado sobre o desenvolvimento da Psicologia no país, no sentido de compreender as práticas psicológicas em seu caráter histórico. Palavras-chave: Higiene Mental, História da Psicologia Projeto de pesquisa

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Julio Cesar AdialaDROGAS, MEDICINA E CIVILIZAÇÃO NA PRIMEIRA REPÚBLICAEste trabalho tem por objetivo analisar o processo de constituição do uso de drogas como um problema médico-científico no Brasil, no período compreendido entre os anos 1890 e 1930. Para tanto utilizou como fontes primárias as teses da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e os textos publicados nos periódicos Brazil Médico, Anais da Academia Nacional de Medicina, Arquivos Brasileiros de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal e Arquivos Brasileiros de Higiene Mental para estudar a temática das drogas como objeto pertinente para compreensão da realidade histórica da Primeira República. Procura demonstrar como o processo de patologização do uso de drogas foi obra de uma geração de

intelectuais médicos que integrou o movimento de institucionalização de um campo científico psiquiátrico no país. Assim, identifica os principais atores que estiveram envolvidos nos debates científicos sobre o uso de droga e na definição de uma categoria diagnóstica – a toxicomania – que permitiu consolidar a hegemonia da representação patologizante das drogas no campo médico e, posteriormente, na sociedade em geral. Palavras-chave: Toxicomania, psiquiatria, históriaPesquisa concluída

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Maria Lucia BoariniHIGIENE MENTAL E PSICOLOGIA: A PARCERIA

HISTÓRICA Desde 1998 nos dedicamos ao estudo da eugenia e do higienismo na vertente da higiene mental. No Brasil estas idéias foram institucionalizadas pela Liga Brasileira de Higiene Mental/LBHM que criou um terreno fértil para o desenvolvimento de vários campos de conhecimento tais como a educação física, a fonoaudiologia dentre outros, e em especial a psiquiatria e a psicologia. A LBHM foi uma entidade de caráter privado fundada em 1923, no Rio de Janeiro, pelo medico Gustavo Riedel e reconhecida de utilidade publica neste mesmo ano pelo Decreto n.º 4778. Os integrantes desta entidade faziam parte da elite intelectual com destaque os médicos de diferentes especialidades em sua maioria psiquiatras. Também faziam parte deste seleto grupo: juristas, educadores, empresários e políticos brasileiros. Tomamos o Brasil como recorte dos nossos estudos sobre a higiene mental e a eugenia, visto que estes movimentos foram germinados e fortalecidos em terras além das fronteiras brasileiras, desde o século XVIII. Apoiados na idéia de que a grandeza e o fortalecimento de uma nação estavam em relação direta com o vigor físico e moral do seu povo, em geral, ignorando as contradições sociais, os higienistas entendiam que as regras da higiene do corpo são similares as regras da alma. Isto fica claro na comparação de Fontenelle (1925) “A base cientifica da higiene mental é a psicologia, da mesma forma que a fisiologia é o fundamento da saúde física, convindo sempre lembrar a interdependência das duas esferas de atividade e as reações de uma sobre a outra” (grifo nosso). Desta forma a psicologia em especial foi um dos recursos presentes nos encaminhamentos da LBHM a fim de que a “mentalidade das novas gerações possa cada vez mais, se aproximar do padrão psicológico ideal” assim se pronunciava o médico Mirandolino Caldas, em 1932, na época Secretario Geral da LBHM e Diretor da Clinica de Euphrenia. Esta clinica tinha como objetivo “prevenir as doenças nervosas na infância, corrigir as reações psíquicas anormais e sublimar o caráter da juventude”. Como corolário a mensuração das imperfeições

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para possibilitar a prevenção de distúrbios mentais, comportamentais e sociais foi valorizada, dentre tantos outros encaminhamentos. Proliferaram-se, nessa direção, diversos tipos de avaliação, testes de diferentes naturezas: psicológicos, de mensuração física (do crânio etc.), tendo como principio o desenvolvimento linear da humanidade, regulado por leis mecânicas e imutáveis. Criam-se inúmeros instrumentos e formas para avaliar os diferentes aspectos do homem. O enaltecimento dos métodos germinados no campo da psicologia chega a ocupar o editorial do n. 3 de 1930 do Archivos Brasileiros de Hygiene Mental, periódico cientifico da LBHM como se segue: “E, indubitavelmente, se existem métodos de realizar higiene mental que em nosso meio necessitem de estimulo e de incentivos para seu aperfeiçoamento [...] senão métodos psicológicos propriamente ditos, e destes, sobretudo, os psico-experimentais, quantitativos e qualitativos, na judiciosa classificação de Claparède. São essas técnicas que, mais do que quaisquer outras, permitirão ao especialista a justa avaliação das mentalidades normais [...] orientação profissional, seleção psicológica dos escolares, saúde mental dos operários etc.” (grifos nossos). É importante ressaltar que esta necessidade do saber psicológico não brotou da idiossincrasia de um higienista “iluminado” como por vezes somos levados a pensar. Naquele momento histórico havia necessidades históricas que estimularam a criação e divulgação de técnicas que favorecessem o controle de comportamento de uma sociedade que estava abandonando uma sociedade rural e agrária e adentrando em um tempo de industrialização e urbanidade. Dentre as necessidades prementes destacava-se a “adaptação” e o “ajustamento” do homem a este novo modo de viver. Daí, a leitura e interpretação da vasta literatura produzida pelos higienistas tem que ser analisada à luz das necessidades históricas do momento e aqui nos lembramos do velho mestre Machado de Assis que em uma reedição de uma de suas obras afirmou “cada obra pertence ao seu tempo”. Enfim, estes são alguns dos pontos que nos fazem acreditar que a recuperação e analise dos feitos e discursos da LBHM indicam a contribuição deste movimento para a constituição da psicologia enquanto um saber autônomo. Igualmente as produções dos higienistas nos indicam a germinação da atuação interdisciplinar e explicitam parte dos fundamentos científicos do que se defende e pratica atualmente no campo da Psicologia. Para finalizar devemos reconhecer que um estudo desta natureza não se exaure na pesquisa de um único estudioso do assunto. Nestes termos, recorremos a uma estratégia didática que foi a criação no ano 2000 do Grupo de Estudo e Pesquisa sobre o Higienismo e Eugenismo – GEPHE – devidamente inscrito no CNPq. A produção deste grupo de pesquisa pode ser consultada no site WWW.ppi.uem.br/gephe.Palavras-chave: Historia da Psicologia; Liga Brasileira de Higiene Mental:equipe interdisciplinar. psicometria; higienismo e eugenia.Pesquisa em andamento

Marina Maria BeltrameSAÚDE MENTAL E INFÂNCIA: REFLEXÕES SOBRE A

DINÂMICA DE TRABALHO DE UM CAPSiO objetivo desta pesquisa foi avaliar a dinâmica de trabalho de um Centro de Atenção Psicossocial – CAPSi. Para tanto, tomamos como objeto de estudo a demanda escolar acolhida pelo CAPSi de um município do interior do Estado do Paraná. O CAPSi é um serviço da rede de atenção em saúde mental destinada ao atendimento de crianças e adolescentes portadores de transtornos mentais severos, cujo atendimento deve ser desenvolvido por equipe interprofissional, o que na maioria das vezes, inclui o profissional de psicologia. Embasando-nos nas políticas públicas em saúde mental voltadas ao público infanto-juvenil, investigamos sob quais formas a dinâmica de trabalho se processava neste dispositivo, a saber: se o trabalho era realizado em equipe, ou não; se havia articulação entre o CAPSi e os demais serviços existentes tanto na área da saúde quanto em outros setores e como se caracterizavam o atendimento e o tratamento ofertados aos usuários no intuito de realizar a assistência. Adotamos como recurso metodológico a pesquisa de campo, a qual foi desenvolvida em três fases subsequentes. A primeira, consistiu em um levantamento estatístico acerca de todos os prontuários dos usuários acolhidos pelo CAPSi estudado entre os meses de julho e dezembro de 2008. Na segunda, realizamos o estudo de seis casos de crianças que envolviam queixas escolares, escolhidos dentre o total de prontuários investigados na fase anterior. E a terceira, correspondeu às entrevistas realizadas com cinco funcionários do dispositivo. Os resultados alcançados apontaram para uma medicalização dos conflitos existentes no contexto escolar. Desconsiderando que as dificuldades escolares são produzidas, sobretudo, nas e pelas relações estabelecidas na escola, os problemas apresentados pelo aluno são entendidos, muitas vezes, como transtornos mentais, levando os envolvidos no processo educativo a buscarem no medicamento a redenção para os problemas de ordem educacional. E o CAPSi se insere, nesse contexto, como a via para a obtenção do diagnóstico e, por conseguinte, da medicação. Tal panorama encontra respaldo na própria dinâmica de trabalho desenvolvida pelo CAPSi, cuja investigação revelou um funcionamento distante do que é preconizado pelas políticas que orientam o serviço, tornando-o análogo a um ambulatório. Frente às dificuldades em desenvolver um trabalho coletivo tanto internamente, entre os profissionais do CAPSi, quanto externamente, integrado com os diversos dispositivos que compõem a rede comunitária de cuidados, as decisões pertinentes ao serviço são, em geral, capitaneadas pelo médico e sem questionamentos por parte dos demais integrantes da equipe. Em nossa análise, destacamos que as questões relacionadas ao cuidado infantil já era uma preocupação dos higienistas no início do século XX, que visando prevenir o desenvolvimento de doenças mentais assim como identificar e “corrigir” as condutas consideradas “anormais”, empreenderam várias ações direcionadas à infância. Na década de 1930, por exemplo, foram criadas a Clínica de Euphrenia, organizada por Mirandolino Caldas e as Clínicas de Orientação Infantil dirigidas por Arthur Ramos, no Rio de Janeiro, e por Durval

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Marcondes, em São Paulo. Estas últimas eram instaladas nas escolas públicas e compostas por equipes multiprofissionais que incluíam as psicologistas. Dessa forma, sem perder de vista as inegáveis contribuições do movimento higienista na consolidação de intervenções na área da saúde mental infantil, concluímos que, apesar de vivermos condições históricas diferentes daquelas, na qual, inclusive, a concepção de infância já não é mais a mesma, o ideário que regia aquelas ações permanece presente nos encaminhamentos atuais tanto no âmbito escolar como na saúde. Palavras-chave: Saúde mental infanto-juvenil; Educação; Medicalização; Higienismo; Trabalho interdisciplinar.Pesquisa concluída

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Melyssa M. Gomes“GENTE PROVINDA DE OUTRAS TERRAS” PARA O HOSPÍCIO NACIONAL DE ALIENADOS (1923-1943)Apoio: Faperj Membro do GP CNPq O físico, o mental e o moral na história dos saberes médicos e psicológicosO tema de estudo do projeto apresentado em 2012 para pesquisa em iniciação de pesquisa com o apoio financeiro da FAPERJ é a relação entre loucura, nacionalidade e cultura. Especificamente, buscamos investigar, no início do século XX, imigrantes que chegaram ao Rio de Janeiro, mas que ao invés de colaborarem com o aumento da civilidade (Venancio e Facchinetti, 2005), passavam a ocupar as fileiras dos desvios sociais, indo parar no Hospital Nacional de Alienados, do Distrito Federal. O projeto articula-se às discussões acerca das práticas médico-psiquiátricas inseridas na pesquisa da orientadora, Professora Doutora Cristiana Facchinetti (2008-2011 – COC/ Fiocruz), sobre o HNA entre 1900 – 1930. Vale ressaltar, o estudo está relacionado ao período em que J. Moreira esteve dirigindo a instituição e investiga a expansão da psiquiatria e seu poder social no Brasil, bem como o interesse do Estado em relação à saúde mental. O recorte escolhido pretende analisar, em documentos clínicos do Hospício Nacional de Alienados (HNA), as relações entre loucura e imigração, especialmente naqueles em que é possível entrever “sintomas” relacionados à nacionalidade e a questões de ordem cultural e/ou política. Assim, por exemplo, internações de estrangeiros vinculados ao movimento operário se encaixam nas buscas para seleção e análise na pesquisa. A pesquisa tem por método a análise do discurso, em especial a análise desenvolvida por Foucault em Os Anormais (2011) de laudos psiquiátricos em processos judiciários, e o corpo documental se concentra na análise de estrangeiros nos documentos clínicos contidos no banco de dados organizado pela orientadora

(com cerca de 3.500 documentos) e nos livros de entrada do Pavilhão de Observação (IPUB/ UFRJ), onde se buscará levantar o perfil desses pacientes estrangeiros no hospital, suas doenças, o tempo de internação, etc. No final do século XX foi possível notar que não se podia mais desconsiderar a historiografia psiquiátrica e vê-la como um mero efeito do progresso científico. Para isso contribuiu de forma significativa o trabalho de Foucault (1961). De fato, História da Loucura se mantém como uma literatura fundamental para toda uma geração, permitindo à abertura de discussões em torno da doença mental e de suas instituições. Toda a sua argumentação de que o Iluminismo inaugurou a grande internação, que interrompeu o diálogo entre razão e a loucura pelo encerramento dos ditos loucos, passou a ser foco principal de inúmeros trabalhos, tornando necessária a admissão do componente de controle social no impulso por reformas na assistência. Aliado, a este primeiro levantamento, buscaremos estabelecer uma pesquisa qualitativa do material coletado. Assim, alguns documentos clínicos serão selecionados para aprofundamento da pesquisa, que deverá ocorrer nos acervos da Biblioteca Nacional e da Biblioteca do IPUB. Este projeto tem por pressuposto a idéia de que a psiquiatria surge no Brasil como uma disciplina que está inserida no processo de controle dos comportamentos e atitudes, não apenas dos indivíduos, mas compartilhando os esforços das elites intelectuais apoiadas pelo Estado para a criação de uma nação moderna, que uniria os indivíduos, em torno de sua totalidade, homogeneizando uma população marcada pela diferença frente ao modelo proposto (Facchinetti, 2004). O foco de análise está posto sobre sintomas, diagnósticos e tratamento utilizado para o universo investigado. Para tanto, usamos também como fonte trabalhos teóricos e clínicos de médicos do HNA do período (nos Archivos Brasileiros de Neuriatria e Psiquiatria), relacionados aos estrangeiros no HNA. Procuramos assim, analisar como eram as internações e os diagnósticos daqueles pacientes, sem esquecer o papel da raça e da degeneração no pensamento social, político e científico local, frente ao contato com esses outros. Buscamos, assim, uma articulação entre nacionalidade, cultura e loucura. As pesquisas explicitam denúncias relacionadas ao controle social ligado à psiquiatria, levando a considerar que terapêutica e controle não são categorias excludentes. Este novo modo de enxergar as instituições transformou o asilo em um exemplo de como a psiquiatria e as instituições serviam para preparar um cenário favorável à reafirmação de uma ordem social. Este trabalho tem por pressuposto a idéia de que a psiquiatria surge no Brasil como uma disciplina pensada para o controle do comportamento e de emoções, não apenas dos indivíduos, mas compartilhando esforços com as elites e o Estado para a criação de uma nação moderna e imaginária, que uniria os indivíduos em torno de sua totalidade, homogeneizando uma população marcada pela diferença, frente ao modelo proposto pelas elites intelectualizadas e pela medicina local. Para investigar o tratamento, seja ele médico ou social, será usado como base trabalhos teóricos e clínicos de médicos do Hospital Nacional de Psicopatas, do período, relacionados ao processo de migração de estrangeiros para o Brasil, principalmente para o Rio de Janeiro. Procuramos assim, analisar como eram as

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internações e os diagnósticos daqueles pacientes, sem esquecer o papel da raça no pensamento social, político e científico local frente ao contato com esses outros. Buscamos, assim, uma articulação entre nacionalismo, cultura e loucura.Palavras-chave: nacionalidade, loucura, degeneração, culturaPesquisa em andamento

XPriscila Céspede CupelloHISTÓRIA DA HISTERIA NO HOSPÍCIO NACIONAL DE ALIENADOS (1900-1910)Pesquisa De Iniciação Científica Com Apoio Da Faperj (2008/2009) Membro do GP CNPq O físico, o mental e o moral na história dos saberes médicos e psicológicosEste trabalho discutiu a classificação diagnóstica de histeria aplicada ao sexo feminino no período de 1900 a 1910. Este momento é singular, pois demarca a preponderância deste diagnóstico em internas do Hospício Nacional de Alienados (HNA). Para analisar a constituição nosológica desta doença destacamos a apropriação feita pelos psiquiatras brasileiros das teorias francesas, principalmente, as de Charcot e Babinski. Tendo por base os referenciais foucaultianos (1978; 1982) discutimos alguns casos clínicos de histeria buscando relacioná-los às questões de gênero, política e sociedade, a fim de perceber como alguns comportamentos femininos, considerados como inadequados, foram classificados como patológicos e passíveis de exclusão em um asilo para alienados. Palavras-chave: diagnóstico, loucura, cultura, disciplina, medicalizaçãoPesquisa concluída

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Renata Prudencio da SilvaMEDICINA E EDUCAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO DE UMA ASSISTÊNCIA PSI PARA A INFÂNCIA - O CASO DO PAVILHÃO-ESCOLA BOURNEVILLEEste trabalho teve sua origem em minha pesquisa de mestrado que analisou a criação do Pavilhão-Escola Bourneville do Hospício Nacional de Alienados no início do século XX. Este pavilhão se constituiu como a primeira instituição brasileira voltada para a assistência a crianças anormais. A análise aqui empreendida se desenvolve descrevendo os diferentes personagens e idéias que estavam implicadas na criação desta instituição. Com relação ao campo científico,

destacamos o conhecimento produzido naquele período sobre os diagnósticos relativos à infância e sobre o método médico-pedagógico, que foi a terapêutica importada e implementada sob a perspectiva de Fernandes Figueira, primeiro diretor do pavilhão. Buscamos deste modo perceber as vias pelas quais a criança se constituiu em objeto não somente da ciência psi, mas também das políticas públicas a ela relacionada naquele período. A pesquisa observa que a criação do Pavilhão-Escola Bourneville se inseriu em um contexto mais amplo de constituição de uma assistência à infância vinculada aos ideais republicanos de construção de uma nação civilizada nos moldes europeus. Neste sentido, demonstra que o investimento da ciência e da assistência psiquiátrica no período em questão em relação à infância foi contemporâneo aos esforços tanto no campo da medicina quanto no da educação, voltados para a construção de instituições e intervenções sociais que representavam a criança como o futuro da nação e, portanto, objeto privilegiado de atenção dos diversos especialistas daquela época.Palavras-chave: criança, anormalidade, Bourneville, psiquiatria, educaçãoPesquisa concluída

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Renata Cristina Marques Bolonheis Ramos; Maria Lucia Boarini

O LEGADO HIGIENISTA NA RELAÇÃO DA PSICOLOGIA COM A QUESTÃO DAS DROGAS

Compõe a história da Psicologia o interesse por diferentes questões que afligem a sociedade, como os transtornos mentais, a violência e exploração sexual infanto-juvenil, a dependência do álcool e outras drogas, às quais os profissionais da Psicologia vêm sendo continuamente chamados a dar respostas. Sobre o tema das drogas em geral, observamos recentemente uma retomada das discussões, não só no Brasil, mas em diversos países do mundo. De fato, o abuso dessas substâncias constitui atualmente uma grande problemática, que tem sensibilizado a opinião pública e chamado a atenção da mídia. Diante do clamor atual da sociedade e da mobilização de alguns segmentos em busca de soluções, observamos que a questão acaba sendo muitas vezes tratada de forma superficial e imbuída de estigmas e preconceitos. Com isso, inviabiliza-se o debate democrático e se desvincula o problema de seu contexto e desenvolvimento sócio-histórico. Nesse sentido, queremos dizer que o uso de substâncias psicoativas não é uma questão da atualidade, haja vista, por exemplo, a mobilização dos higienistas junto à Liga Brasileira de Higiene Mental (LBHM) no início do século XX. Essa entidade era composta por profissionais de diversas áreas, especialmente da Psiquiatria, e muitos foram os seus investimentos e campanhas à causa do combate ao

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alcoolismo na sociedade brasileira. Tendo isso em vista, o objetivo desse estudo foi destacar os pressupostos defendidos pelos higienistas na primeira metade do século XX acerca do uso de substâncias psicoativas. Entendemos ser fundamental esse resgate histórico na medida em que nos possibilita observar e discutir possíveis avanços, limitações e repetições sobre como o Estado e a sociedade contemporânea têm enfrentado essa problemática. Com isso, pretendemos que essa pesquisa possa servir como recurso para reflexão sobre as práticas em torno da questão das drogas, especialmente as ações inseridas dentro do campo de conhecimento da Psicologia. Considerando a expansão do abuso das drogas lícitas e ilícitas, parece-nos ser uma exigência deste momento repensar esse fenômeno e as estratégias de enfrentamento dos problemas dele decorrentes. Lembramos ainda que o resgate do material produzido pelos higienistas, especialmente em um de seus desdobramentos, a higiene mental, possibilita uma melhor compreensão sobre um campo de conhecimento que se mistura à história da Psicologia no Brasil, entendendo que a mesma, assim como outras áreas do saber, foi introduzida no país pelos higienistas. Para atender ao objetivo proposto em nosso estudo, realizamos uma pesquisa bibliográfica e documental com fontes primárias da primeira metade do século XX, especialmente os Arquivos Brasileiros de Higiene Mental, periódico publicado pela LBHM. Pelas leituras e análises, que foram inspiradas na vertente do materialismo histórico, identificamos alguns temas, a saber: perspectivas dos higienistas sobre o consumo de substâncias psicoativas; a ênfase na internação prolongada dos dependentes de álcool e outras drogas; modelos de atendimento propostos; a perspectiva proibicionista na atenção aos usuários; a relação entre as substâncias psicoativas e o mercado. A título de discussão, podemos dizer que em quase um século, desde que os higienistas iniciaram a sua marcha contra o álcool, não conseguimos avançar no enfrentamento dos problemas decorrentes desse consumo. Na busca por explicações para as mazelas humanas, os higienistas acabavam por individualizar e naturalizar problemas construídos socialmente. E o que a história vem nos mostrando é que essa ideologia continua sendo legitimada por meio de muitos discursos e práticas da Psicologia, que tem em suas raízes pressupostos higienistas. Nesse contexto, o usuário de drogas, principalmente as ilícitas, assim como no início do século XX, continua associado a algo pejorativo, que deve ser escondido, isolado, sob o pretexto de se fazer “tratamento”. Os dispositivos que atualmente são conclamados a ajudar na resolução do problema, como as comunidades terapêuticas, nos remetem aos encaminhamentos adotados nos antigos asilos, colônias e reformatórios, defendidos pelos higienistas no início do século XX. Instituições estas que foram questionadas por integrantes do próprio movimento higienista, e que não atestaram sua eficácia ao mais implacável de todos os crivos: a história. Muitos setores continuam lucrando com a produção, comércio e consumo das substâncias psicoativas, o que traz importantes barreiras à resolução do problema, ou mesmo ao tratamento e desenvolvimento da autonomia dos sujeitos envolvidos. Por fim, concluímos que os problemas decorrentes do uso/abuso de substâncias psicoativas não se restringem à esfera da assistência

social, da segurança pública ou da saúde, que historicamente tem arcado com a maior parte dessa conta. As questões de cunho político-econômico também devem perpassar as discussões e as propostas de enfrentamento dessa problemática, das quais os profissionais da Psicologia não podem se isentar, uma vez que, em nosso entendimento, se os problemas são produzidos pelo conjunto da sociedade, é desse conjunto que deve partir a solução.Palavras-chave: Higiene mental; higienismo; saúde mental; usuários de álcool e outras drogasPesquisa concluída

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Simone S. de A. SilvaUMA SEMIOLOGIA DAS DOENÇAS NERVOSAS NO INÍCIO DO SÉCULO XIX: A IMPUGNAÇÃO ANALÍTICA DE ANTONIO G. GOMIDE.Apoio: Fiocruz / Membro do GP CNPq O físico, o mental e o moral na história dos saberes médicos e psicológicos.A epígrafe é de autoria do médico Antonio Gonçalves Gomide em sua obra intitulada Impugnação analítica do exame feito pelos clínicos Antonio Pedro de Sousa e Manuel Quintão da Silva em huma rapariga que julgaram santa na Capela de Nossa Senhora da Piedade da Serra, próxima à Vila Nova da Rainha do Caeté. Comarca do Sabará, offerecida ao ilustríssimo Senhor Doutor Manoel Vieira da Silva Primeiro Médico da Comarca de Sua Alteza Real, e de seu Conselho, Fidalgo da Casa Real, Physico Mor do Reino, Estados e Domínios Ultramarinos, Comendador das Ordens de Christo e da Torre Espada e Provedor Mor da Saúde.. A obra é uma leitura crítica de um parecer emitido anteriormente, por dois cirurgiões, acerca das manifestações de uma beata. A tese examina uma das diversas contendas entre médicos e cirurgiões em Minas Gerais, no início do século XIX. A análise é feita a partir da Impugnação Analítica... que trata das manifestações extáticas de Germana Maria da Purificação (1782-1853), ocorridas na Serra da Piedade, em Caeté, Minas Gerais. Um primeiro diagnóstico sobre o caso, organizado por dois cirurgiões, Antonio Pedro de Sousa e Manuel Quintão da Silva, defendia que a beata era vítima de fenômenos sobrenaturais. A fim de rebater o exame dos cirurgiões, Antonio Gomide redigiu sua obra “cheio de ciência e de lógica”, como afirmou posteriormente o viajante francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853). Segundo o naturalista, que também examinou a beata, em Minas Gerais, Gomide tinha a intenção de mostrar que os êxtases apresentados pela beata era resultado de uma doença, uma catalepsia convulsiva. (SAINT-HILAIRE, 1974 [1833], p.68). A leitura da obra de Gomide, bem como dos textos

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dos cirurgiões, apresentado pelo médico, descrevem as diferentes concepções acerca das manifestações extáticas. Na Impugnação Analítica... o médico insiste na origem patológica da enfermidade da beata, contrapondo-se aos cirurgiões, e desqualificando o diagnóstico apresentado por eles. O parecer de Gomide foi apoiado num discurso de autoridade que enfileira citações variadas de médicos e cientistas estrangeiros. Ele fez uma semiologia do caso a partir dos relatos sobre os estado da beata de vômitos, anorexia e convulsões, estudando a origem e os sintomas da doença. O médico, defendendo que a enfermidade era de origem patológica, uma doença nervosa, inaugurou no Brasil, uma discussão que começava a tomar novo sentido entre os homens de ciência na Europa. Conforme destaca Michel Foucault o estudo da histeria e demais doenças nervosas ocupou grandes nomes da medicina a partir das últimas décadas do século XVIII. Na Impugnação Analítica de 1814, é possível conferir que Antonio Gomide recorreu a trabalhos sobre as doenças nervosas influenciados por estudos médico-filosóficos desenvolvidos na Europa. Nesse sentido os trabalhos de Foucault, acerca do pensamento médico sobre a histeria, são norteadores em nossa análise que busca situar o trabalho de Antonio Gomide no âmbito dos debates sobre o alienismo. Nesta tese interessa destacar a atuação dos homens de ciência luso-brasileiro, que assim como Antonio Gomide, se apropriavam das ideias vindas de além-mar, criando novos espaços científicos, tema pouco estudado dentro do recorte temporal proposto. Examinando o universo da medicina no início do século XIX

no Brasil, busca-se demonstrar as disputas entre médicos e cirurgiões. O objetivo é discutir esse contexto de tensão, quando a medicina procurava se estabelecer como ciência e os médicos buscavam situar-se como detentores exclusivos dos saberes acerca da cura de enfermidades, e com autoridade no estabelecimento de diagnósticos verdadeiros para as moléstia. O médico um intelectual luso-brasileiro, guiando-se pelos princípios da ciência ilustrada propôs que os fenômenos que ocorriam com a beata deveriam ser observados dentro dos preceitos científicos da época, a fim de verificar sua origem. A tese pretende demonstrar que Gomide, ao explicar as manifestações patológicas da beata como enfermidade, uma doença nervosa, produziu o que pode ser considerado uma das primeiras documentações sobre o alienismo no Brasil, abrindo caminho para o debate sobre essa especialidade médica moderna no país. Consideramos que inserir uma discussão em torno desses documentos pode ajudar na organização de novos saberes médico-mentais, no início do século XIX no Brasil. Tal percepção propõe uma releitura da historiografia acerca dos estudos sobre as doenças nervosas, que costuma localizar os primeiros indícios do estabelecimento do alienismo no Brasil no período posterior à 1830. O trabalho apresentado busca demonstrar que o conhecimento científico acerca da alienação já circulava no país pelo menos desde a década de 1810.Palavras-chave: Brasil oitocentista, beata, religião, medicina mentalPesquisa concluída

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XI ENCONTRO DE PESQUISADORES EM HISTÓRIA DA PSICOLOGIA12-13 DE AGOSTO 2013PUCSP – SÃO PAULO

GRUPO: ANÁLISE DOCUMENTAL | INSTITUIÇÕES

Aline Moreira Gonçalves; Maria Stella Brandão GoulartAS SANTAS CASAS DE MISERICÓRDIA E A PESQUISA EM HISTÓRIA DA PSICOLOGIAA presente pesquisa surge ao questionar o “lugar” das Santas Casas de Misericórdia na política de assistência aos alienados nos séculos XVIII e XIX nas Minas Gerais. Tendo por objetivo, investigar o lugar das Santas Casas na construção da política de assistência em saúde mental em Minas Gerais. As Santas Casas de Misericórdia foram o primado do que se pretendia de assistência (social e de saúde) no Brasil colonial. Moretzsohn (1989), informa que junto as Santas Casas de Misericórdia dos municípios de São João del Rei e Diamantina, “existiam anexos psiquiátricos” nos quais os pacientes eram recebidos e hospitalizados (p. 9). Hiram Firmino, em seu Livro, Nos Porões da Loucura (1982), confirma que os primeiros tempos da psiquiatria em Minas Gerais, antes do aparecimento das leis oficiais de assistência, foram marcados pelo “fio místico, infalível a [à] tradição de todos os Estados brasileiros, pois o primeiro esboço de hospitalização se liga a um passado conventual da lendária Ouro Preto (...). Os doentes mentais, fora disto, pagavam o tributo de uma liberdade ou de escravidão humana, nas cadeias públicas de nossos interiores, mesmo nas nossas melhores cidades” (p. 81-82). Segundo o historiador Helder Pereira, pode-se afirmar, que o serviço de atendimento em saúde mental em uma unidade psiquiátrica em Hospital Geral, ainda que não fosse o único, era o primeiro da Província de Minas Gerais (Pereira, 1999, p. 24). Conforme o mesmo autor, tal constatação pode ser feita nos documentos existentes na Santa Casa de Misericórdia de São João del Rei: “em toda província era o único estabelecimento que se tinha para alienados e esta classe de infelizes era a que mais sobrecarregava este estabelecimento.” (p. 24). Já o psiquiatra Ronaldo Simões Coelho, afirma que de 1817, quando internara o primeiro louco, até 1902, essa Santa Casa, chegou a abrigar em seu anexo até 488 alienados, recebendo inclusive pacientes de outros países. Nas pesquisas levantadas, três Santas Casas de Misericórdia são majoritariamente citadas, elas se encontram nas respectivas cidades de: São João del Rei, Diamantina e Ouro Preto. Poucos são os relatos de cada uma dessas Santas Casas e de suas formas de contribuição na assistência aos alienados durante seus anos de atividade nos

séculos XVIII e XIX. Ainda assim, as referências encontradas, algumas vezes, se mostram contraditórias e incompletas. Do período colonial até os dias de hoje, muitas mudanças foram realizadas na assistência à saúde mental no Brasil, porém, pouco se conhece sobre a participação das Santas Casas de Misericórdia na política de assistência à saúde mental brasileira, principalmente, no que se refere às “Misericórdias” mineiras. De acordo com Moretzsohn (1989), São João del-Rei teria tido a “primazia da assistência psiquiátrica em Minas” e também no Brasil, haja vista que o movimento da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, que deu origem oficialmente à assistência aos alienados brasileira, ocorreu apenas no início do séc. XIX (pag. 9). Neste sentido, podemos dizer que o território mineiro tem notável importância na “história da loucura brasileira”. O estado de Minas Gerais é referido de forma específica na história de assistência a saúde mental brasileira, na maioria das vezes, somente a partir do início do século XX, quando da inauguração do Hospital Colônia de Barbacena em 1904 (Goulart, 2010; Izabel, 2009; Moretzsohn, 1989). A precedência de uma instituição oficial fica para o Rio de Janeiro, com a inauguração do Hospício D. Pedro II, em 1852. (Moretzsohn, 1989, pag. 5). Sendo assim, faz-se necessário um resgate histórico-crítico do período que compreende a atuação das Santas Casas de Misericórdia em Minas Gerais, uma vez que existem indícios que apontam para a existência de “assistência” em saúde mental anterior a 1904 (Coelho, 1973; Moretzsohn, 1989; Viana & Cirino, 1984). E, conforme Russell-Wood, “As filiais das Santas Casas de Misericórdia iam desde Nagasaki, no Japão, a Ouro Preto, no interior do Brasil”, (Russell-Wood, 1981, p. 1). Contudo, todos os trabalhos realizados neste âmbito, são majoritariamente, nos domínios da História, havendo uma lacuna de conhecimento e de pesquisas realizados por parte da História da Psicologia do que diz respeito aos atendimentos ofertados aos “alienados” nas Santas Casas. Além disso, o estudo da História da Psicologia contribui para fornecer uma imagem não dogmática desta disciplina, apontando para as relações existentes, ao longo do tempo, entre ela e a filosofia, a técnica, o senso comum, à religião, a literatura etc. (Massimi, 1994, p. 20). Será nesse sentido, o de contribuir para fornecer uma imagem não dogmática da história da psicologia e tentar apontar as relações existentes, ao longo do tempo, entre ela e o senso comum, à religião, a política, à

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assistência médica e a outras questões inerentes ao contexto estudado que propomos esse percurso histórico sobre as Santas Casas de Misericórdia nas Minas Gerais.Palavras-chave: Assistência em saúde mental; alienados;Pesquisa em andamento

XDenise Pereira de Alcantara Ferraz MEMÓRIAS E HISTÓRIA DO CURSO DE PSICOLOGIA DO UNISAL – LORENA/SP: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A HISTORIOGRAFIA DA PSICOLOGIA NO BRASILPesquisar a história deste Curso de Psicologia é uma forma de contribuir para a historiografia da Psicologia no Brasil. Mais do que um resgate histórico, feito através de documentos escritos, iconográficos e pela memória dos participantes desta pesquisa, trata-se de uma proposta de compreensão da formação de psicólogos e da prática psi, vinculadas a este curso, realizadas e produzidas num momento e num contexto determinado. Para isso, é necessário buscar suas determinações históricas: contextos econômicos, sociais e políticos do país. Há várias razões para que o recente interesse pela história da psicologia no Brasil seja mais que bem vindo: primeiro, porque ainda é possível fazer uma recuperação histórica através do acesso a pessoas que foram pioneiras na Psicologia; segundo, porque há muitos dados da história da psicologia que não se encontram registrados, organizados e disponíveis, a não ser como experiência ou como memória; e, por fim, disponibilizar esse conhecimento às novas gerações pode proporcionar avanços para a psicologia, enquanto ciência e profissão. O fato de ser um curso vinculado a uma instituição católica também corrobora a relevância desta pesquisa, visto que a relação entre a formação em Psicologia e as instituições católicas carece de uma investigação mais aprofundada no Brasil. Após leituras iniciais sobre os Salesianos e o envolvimento deles com a Psicologia no Brasil, optei por centrar o objetivo da pesquisa na busca de resgatar a história do Curso de Psicologia do Centro Unisal – U. E. de Lorena, com a perspectiva de compreender as relações sociais, culturais, as práticas cotidianas e os modos de fazer que caracterizaram a constituição do curso. Portanto, meu interesse é pesquisar o período de 1952 a 1974. O ano de 1952 é aquele em que os salesianos iniciam suas atividades no ensino superior em Lorena, com a criação da Faculdade Salesiana de Lorena e começa a formação de educadores no curso de Pedagogia; o ano de 1974 caracteriza-se pela formatura da primeira turma do curso de Psicologia desta instituição. Na tentativa de traçar este caminho, pretendo fazer um trabalho que consistirá em: Levantamento de fontes documentais escritas e iconográficas; Burke (2005), Bauer e Gaskell (2002), Kossoy (2001) e Le Goff (1990) contribuirão para o tratamento metodológico das imagens iconográficas como

fontes históricas. História Oral por meio de Entrevistas Narrativas com pessoas que participaram da constituição deste curso de Psicologia; em Alberti (2004), Prins (1992), Ferreira e Amado (1998) e Penna (2005) buscarei elementos para usar a História Oral como metodologia e constituição de fonte para estudar a história do curso. A pesquisa será desenvolvida com o aporte teórico de autores que se situam na chamada Nova História Cultural (NHC), dentre os quais me deterei aos passos de Certeau (2002), Burke (2005) e Veyne (2008) e suas concepções de História, historiador, prática e cotidiano. Palavras-chave: Formação de Psicólogos Práticas Psi, Instituição CatólicaPesquisa em andamento

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Eustáquio José de Souza JúniorINSTRUÇÃO PROGRAMADA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS: PERCURSOS NAS

DÉCADAS DE 1960 E 1970O estudo investiga processos de recepção e circulação do behaviorismo no Brasil. Para isso analisa a Instrução Programada (IP) na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) entre as décadas de 1960 e 1970. A IP foi criada nos Estados Unidos na primeira metade do século XX. A IP é uma tecnologia de ensino baseada na autoinstrução. Operacionalmente a IP divide o conteúdo de ensino em segmentos encadeados chamados módulos. Cada módulo termina com uma questão a ser respondida. Se a resposta for considerada correta o aluno tem a permissão de passar ao próximo módulo. Se a resposta for considerada incorreta há três opções: a) a resposta considerada correta pode ser fornecida pelo programa; b) o aluno pode ser convidado a rever módulos anteriores ou c) o programa poderá conduzir o aluno à realização de outros módulos instrucionais. A pesquisa foi conduzida a partir de algumas questões norteadoras como: 1) Como a IP está documentada pela historiografia da psicologia e da educação? 2) Quais aplicações da IP foram empreendidas na UFMG? 3) Quais os níveis educacionais (fundamental, médio, técnico, superior, pós-graduação) são contemplados pela IP no/a partir do contexto da UFMG? Foram eleitas como fontes primárias documentos do acervo bibliográfico da UFMG. Os primeiros resultados apontaram para 34 publicações catalogadas sob o indicador “Instrução Programada” e 17 com “Programmed Instruction”. A literatura localizada se estende por 6 áreas de conhecimento: educação, administração de empresas, saúde, estatística, ensino de línguas e ensino de música. Foram identificados 51 autores do campo da Instrução Programada. A investigação identificou presença de material bibliográfico de IP

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traduzido e também produzido localmente na UFMG. A propósito da produção local da UFMG, foi identificada, a partir de 1966, a existência do Centro de Instrução Programada (CIP) no Colégio Universitário da UFMG. O CIP era coordenado pelo Professor Helvécio Botelho Pereira, então professor do colégio e do Instituto de Ciências Exatas da UFMG. Com consultoria da Professora da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas Ione Scarpelli Pereira, o Prof. Helvécio traduziu A Prime in Programming de S. M. Markle, L. de Eigen, e K. Komolski, escreveu Instrução Programada: teoria e prática em 1970 e Psicologia da Aprendizagem: Condicionamento Clássico e Operante em 1969. A análise preliminar dos dados indica: 1) Circunstâncias locais de tradução e produção de material em IP e 2) Qualidades intrínsecas da IP que favoreceram sua recepção e circulação.Palavras-chave: Instrução Programada; História da Psicologia, História da EducaçãoPesquisa em andamento

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Isabella Mathias CalijorneOS 50 ANOS DO CURSO DE PSICOLOGIA DA UFMG: UMA HISTÓRIA A PARTIR DOS CURRÍCULOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS DO CURSOA psicologia enquanto profissão legalizada no Brasil completou 50 anos em 2012, esse marco histórico estimulou muito pesquisadores assim como a presente pesquisa. O objeto central da pesquisa é o curso de psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), criado um ano após a aprovação da lei 4.119 de 27 de agosto de 1962. No entanto, ao longo da pesquisa observamos que a presença dos estudos em Psicologia nessa instituição remota um período anterior. O principal meio utilizado para fazer uma análise retrospectiva da formação em psicologia na UFMG serão os projetos pedagógicos. Porém, se fez necessário estabelecer uma base para analisar tais documentos. As histórias da UFMG, anteriormente nomeada Universidade de Minas Gerais (UMG), e da Faculdade de Filosofia, anexada a UMG no ano de 1948, foram pesquisadas. Também houve um estudo das diretrizes curriculares do curso de psicologia e dos currículos mínimos propostos anteriormente. Foi realizada uma pesquisa documental qualitativa para o levantamento dos dados. Dentre os principais procedimentos metodológicos se destacou a análise de fontes primárias, como a Revista Universidade de Minas Gerais, disponibilizada na Biblioteca Central da UFMG, e a revista Kriterion presente na biblioteca da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), que constituía a antiga Faculdade de Filosofia e atualmente abriga o Departamento de

Psicologia. O primeiro item auxiliou no estudo da criação da UFMG, entretanto, demonstrou que o ensino de psicologia está presente desde os primeiros anos da instituição onde foram ofertados cursos de férias com temáticas como Psicotécnica e Psicologia Experimental, datando o ano de 1929. Artigos envolvendo Psicologia na revista UMG só foram encontrados a partir do ano de 1963, o mesmo ano em que foi criado o curso de Psicologia na universidade. Entretanto artigos envolvendo essa temática foram encontrados na revista Kriterion a começar pelo ano de 1948, 24 anos antes do estudo de psicologia ser fornecido oficialmente na Faculdade de Filosofia. Fontes secundárias também foram utilizadas, dentre elas dois livros que fazem parte de uma coleção denominada Memória Intelectual da UFMG. Os livros Universidade Federal de Minas Gerais: Memória de Reitores (1961-1990) de Maria Efigênia Lage de Resende e Lucília de Almeida Neves, e Universidade Federal de Minas Gerais: Projeto Intelectual e Político de Fernando Correia Dias. Esses livros auxiliaram no entendimento do contexto político, econômico, e social, ao retratar, por exemplo, a intervenção por militares na Faculdade de Filosofia entre 11 e 16 de junho no ano de 1964. Para análise dos currículos mínimos e diretrizes curriculares duas fontes secundárias foram usadas: a tese O debate atual sobre a formação em psicologia no Brasil de Jefferson Bernardes, e o portal do MEC. Os currículos mínimos dividiram o curso de psicologia em três habilitações: licenciatura, bacharelado e psicólogo. Também foram estabelecidas por eles matérias comuns exigidas como o mínimo para a formação no bacharelado e licenciatura, e matérias específicas para a habilitação em psicólogo. Essas medidas visavam garantir o caráter científico dos estudos em psicologia. As diretrizes de 2001, 2004 e 2011 modificaram essa divisão das habilitações, e, além disso, propuseram e reafirmaram a substituição do que eram os currículos mínimos por diretrizes curriculares, considerando habilidades e competências. Esses itens foram escolhidos a partir de um acordo sobre quais são as características que definem a identidade profissional do psicólogo. A pesquisa ainda está em andamento, e após o estabelecimento da base mostrado anteriormente o foco volta-se agora para a análise dos projetos pedagógicos na secção de ensino e no serviço de psicologia aplicada (SPA) da UFMG.Palavras-chave: História da Psicologia, Diretrizes curriculares, Formação em Psicologia.Pesquisa em andamento

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Larissa Assunção RodriguesELEMENTOS PARA UM ESTUDO HISTORIOGRÁFICO DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA EM MINAS GERAIS: AS CONTRIBUIÇÕES DE HELENA ANTIPOFFEste trabalho trata de uma pesquisa em andamento sobre as contribuições de Helena Antipoff para a história da avaliação psicológica em Minas Gerais. Para tal, tem-se resgatado a trajetória de Helena Antipoff e suas contribuições para a história da Psicologia e para a Psicologia da Educação, especialmente no que diz respeito aos testes e avaliações psicológicas. Tem-se procurado identificar os testes utilizados na época; como eram aplicados; por quem e que objetivos tinham. Outro aspecto da pesquisa relaciona-se aos testes criados por Helena Antipoff, suas bases científicas, seus meios de divulgação, onde e quando foram criados e os resultados obtidos. Acredita-se que os resultados desta pesquisa contribuirão para compor significativamente a lacuna que se observa nesta parte da história da Psicologia em Minas Gerais, especialmente no campo da avaliação psicológica.Palavras-chave: Testes psicológicos; história da psicologiaPesquisa em andamento

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Érika Lourenço; Leandro Henrique Silva Fiuza50 ANOS DO CURSO DE PSICOLOGIA NA UFMG:A PRÁTICA CLÍNICA DOS ACADÊMICOS COMO PARTE INTEGRANTE DESTA HISTÓRIAA profissão do psicólogo e a formação em psicologia foram regulamentadas no Brasil em 27 de agosto de 1962, através da Lei 4.119. A partir desse momento, a população em geral passou a reconhecer o lugar do psicólogo em diferentes instituições e os campos de atuação do psicólogo se ampliaram largamente. No que concerne à formação em psicologia no Brasil, esta passou por diferentes mudanças, de modo a acompanhar as mudanças nos campos: científico e social e a tentar melhor responder às aspirações da classe profissional e da sociedade. Com isto, diferentes propostas de formação foram discutidas e implantadas ao longo desse tempo e diferentes perfis de profissional foram pensados a partir dessas propostas. Dentre os primeiros cursos criados está o da Universidade Federal de Minas Gerais, criado em 1963 e reconhecido pelo Decreto 62848 em 1968, o curso foi concebido de forma a atender às necessidades da sociedade pelo profissional da Psicologia. Passado 50 anos, no jubilo das comemorações da criação do curso de psicologia na UFMG é sabido que a formação acadêmica nesta universidade passou ao longo de cinco décadas por diversas modificações nas propostas curriculares e nos projetos pedagógicos. Em meio a estas mudanças surgiu em

1974, à clínica de Psicologia, local de atividades didáticas práticas para os alunos de graduação conforme resolução do MEC. A clínica de Psicologia que atualmente chama-se Serviço Aplicado de Psicologia articula-se como espaço prático de atendimento psicológico, propiciando aprendizado aos alunos da graduação, além de contribuir com a comunidade local oferecendo atendimento de qualidade a baixocusto. Este projeto apresenta-se como uma análise retrospectiva do Serviço Aplicado de Psicologia na UFMG, e se propõe a relacionar sua relevância dentro da história da psicologia vivenciada na universidade. Neste sentido, objetiva-se com esta pesquisa relacionar os currículos e projetos pedagógicos do Curso com o desenvolvimento da clínica, e a contribuição para a formação em Psicologia da UFMG nestes 38 anos de funcionamento, além de relacionar essas propostas de formação com questões e demandas advindas de um contexto social e político mais amplo. O desenvolvimento deste projeto é pautado pelos referenciais das pesquisas historiográficas, qualitativas. Dentre os procedimentos metodológicos propostos destaca-se o levantamento de dados, a análise de relatos de professores, alunos e funcionários que participaram de diversas fases do serviço. Ao final da pesquisa, espera-se ampliar, a compreensão histórica que se tem do Curso de Psicologia na UFMG e dos profissionais que este curso tem formado nos últimos 50 anos.Palavras-chave: Históriografia, UFMG, prática clínica, graduaçãoPesquisa em andamento

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Milena Callegari CosentinoA CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE E A MEMÓRIA

COLETIVA EM FAMÍLIAS DA SOCIEDADE ISRAELITA DE RIBEIRÃO PRETO

As mutações da sociedade atual e a aceleração do tempo histórico levam a um impulso de coesão com e no passado, de arraigo às origens, buscando pistas de identidade contidas nesse passado coletivo. Os fenômenos da globalização parecem conduzir a uma necessidade de enraizamento e de continuidade; necessidades preenchidas pela memória. Esta, na perspectiva de Maurice Halbwachs, possui ao mesmo tempo um caráter individual e um coletivo, sendo, em parte, modelada pela família e pelos grupos sociais. Revela tanto aspectos da identidade pessoal como social e aponta qual lugar os indivíduos e os grupos ocupam na sociedade. A tradição judaica é a tradição da memória por excelência e a história do povo judeu ilustra os mecanismos da memória e da lembrança. Nesta tradição os rituais e os relatos são canais que transmitem a memória através dos tempos. O objetivo desta pesquisa foi estudar como membros e familiares de uma comunidade judaica vivem a memória coletiva e o que isso significa em suas vidas cotidianas, visando apreender o processo de construção da identidade individual.

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Entrevistamos 13 pessoas, de cinco famílias diferentes, descendentes de judeus que imigraram para o Brasil. O contato foi proporcionado pela Sociedade Israelita de Ribeirão Preto. Para entrevistar, utilizamos o método da história oral, uma narrativa linear e individual do que os participantes consideram significativo. Neste método, a memória é uma forma de evidência histórica e deve ser analisada como tal. Considerando que na memória as pessoas constroem um sentido do passado, a reflexão ocupa um lugar fundamental para a ressignificação deste passado recordado. As entrevistas, gravadas e transcritas, são apresentadas na íntegra. Os participantes são categorizados em grupos, por família e grau de parentesco. Família 1: Maria (filha), Fernando (neto) e Calebe (neto); Família 2: Patrícia (filha) e Iracy (neta); Família 3 : Antônio (filho), Josy (neta) e Alex (neto); Família 4: Vânia (filha) e Talita (neta); Família 5: Zélia (filha), Daniel (neto) e Raquel (neta). Os nomes são fictícios visando preservar sua identidade. Nas entrevistas notamos uma riqueza pela diversidade e semelhança: são pessoas da mesma família ou de famílias diferentes, que percebem e elaboram a experiência de suas famílias de modos distintos, particulares, complementares e às vezes parecidos, que enriquece a análise e favorece a reflexão, servindo de modelo para alguns aspectos da vida. Também percebemos um processo de construção da identidade: necessidade de contar ou silenciar; como enfrentam eventos traumáticos; como preservam ou não a religião e as tradições; as mudanças ao longo das gerações; a relação com o trabalho e o meio em que vivem; os valores herdados e transmitidos para as próximas gerações, entre outros aspectos que surgiram nas narrativas. O conceito de memória coletiva iluminou a maneira de olharmos para os participantes e seus relatos. Possibilitou que notássemos o que ficou do passado no grupo estudado e o que o grupo fez com o passado. Mais do que conclusões ou pressupostos, alertamos que as entrevistas possuem infindáveis conteúdos para serem explorados e apenas alguns destes aspectos foram abordados neste estudo. Palavras-chave: Maurice Halbwachs; História Oral; Descendentes de Imigrantes Judeus.Pesquisa concluída

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Rodolfo Luís Leite Batista; Marília Novais da Mata Machado; Carlos Henrique de Souza Gerken.O LABORATÓRIO DE PSICOLOGIA EXPERIMENTAL DA ANTIGA FACULDADE DOM BOSCO DE SÃO JOÃO DEL-REI

Apresenta-se pesquisa em andamento no Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) sobre o Laboratório de Psicologia Experimental da antiga Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del-Rei (FDB). A FDB foi uma instituição de Ensino Superior criada em 1953 por padres católicos salesianos. Inicialmente, foi um colégio para a formação de sacerdotes para a congregação salesiana, instalada na cidade mineira desde o final da década de 1930. Para a realização da pesquisa, os autores adotam duas principais vertentes de investigação: (a) a revisão bibliográfica de estudos e de dados sobre a presença de salesianos na Itália e no Brasil, especialmente, em São João del-Rei e (b) pesquisa documental no Centro de Documentação e Pesquisa em História da Psicologia do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Psicossocial (CEDOC/LAPIP/UFSJ), a fim de identificar as razões institucionais, políticas e acadêmicas que levaram à compra e instalação do laboratório. Nessa mesma vertente, busca-se identificar os aparelhos que constituíam o Laboratório, suas origens, características e usos. A congregação católica salesiana de sacerdotes, religiosos e leigos foi fundada na Itália, ao final do século XIX. Engaja-se em questões educativas, com atenção prioritária a crianças e jovens. Constrói colégios, oratórios e faculdades. Na Itália, o Instituto Superior de Pedagogia, desde 1941, divulga princípios pedagógicos, sobretudo os do sistema pedagógico do fundador da congregação, o padre italiano João Melchior Bosco. O crescimento desse instituto levou à criação de setores de Psicologia Experimental, Biologia, Física, Química, Antropologia, Etnografia e Ciências Sociais, servindo de modelo para outras faculdades salesianas espalhadas pelo mundo. A chegada dos salesianos ao Brasil acontece em 1883. Em São João del-Rei, sua presença é marcada pela criação de instituições de ensino. Sobre a agilização da compra para a instituição são-joanense de um laboratório de Psicologia Experimental nos moldes europeus, a revisão bibliográfica mostra que, a partir de 1953, iniciou-se a troca de cartas entre o padre Alcides Lanna, do Instituto Salesiano São Francisco do Rio de Janeiro, e o padre e professor Giacomo Lorenzini, do Pontifício Ateneu Salesiano de Turim. A compra desse laboratório representa, segundo documentos da época, a introdução de melhorias nos cursos de Filosofia e Pedagogia, com a renovação dos conteúdos programáticos das disciplinas oferecidas, como a Psicologia da Educação, e dos serviços prestados. A chegada e montagem dos equipamentos do laboratório aconteceram em 1955, sendo que a maior parte dos instrumentos foi feita sob encomenda ao Laboratori Apparechi Scientifici Medici (LASM), localizado em Turim, ao Instituto Conte Rebaudengo e às oficinas do Laboratório de Psicologia da Universidade de Milão, na Itália (Albergaria, 2002; Bandeira et al., 2009). Em linhas gerais, os aparelhos permitiam a realização de medidas sensoriais, de aptidões, interesses e biométricas. A existência do laboratório levou à criação do Instituto de Pedagogia e Psicologia, em 1958, no qual se realizavam atividades nos setores de Psicologia Clínica, de Orientação (vital, educacional e profissional), no Centro de Estudos Pedagógicos, nos Círculos de Pais, nos setores de Psicologia do Trabalho e de Pesquisa e Estatística (Albergaria, 2002; Bomfim & Albergaria,

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2006). Não há, ainda, informações sobre o encerramento das atividades do Laboratório de Psicologia Experimental da Faculdade Dom Bosco e seu modo de utilização no curso de Psicologia da FDB, criado em 1972. Esta pesquisa representa a retomada de estudos sobre o laboratório, dessa vez com os recursos do CEDOC/LAPIP/UFSJ. Quer-se conhecer a dimensão de sua importância para a Psicologia em Minas Gerais e no país. Palavras-chave: História da Psicologia, salesianos, aparelhos e equipamentos. Pesquisa em andamento

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Rodrigo Lopes MirandaO LABORATÓRIO DE PSICOLOGIA DA ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE PROFESSORES DE BELO HORIZONTE: DIÁLOGOS ENTRE PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO (1929-1946)A tese que apresentamos neste trabalho é que o laboratório de psicologia experimental contribuiu na organização e na circulação da psicologia nas primeiras décadas do século XX no Brasil. Nossa tese é apresentada a partir de diálogos produzidos entre psicologia e educação. Focamos os diálogos ocorridos no bojo da formação de professores do ensino público primário, temática em destaque nas discussões educacionais do período. O laboratório de psicologia da Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Belo Horizonte é o objeto estudado. Esse laboratório foi um dos primeiros instalados no Brasil e foi um importante centro de produção da psicologia interessada em educação de seu tempo. Nosso objetivo é o de descrever e analisar esse laboratório durante seu período de funcionamento (1929-1946). Para atingir o objetivo proposto, a pesquisa tem sido articulada em torno de cinco perguntas principais: (1) onde o laboratório foi instalado? (2) quando ele começou a funcionar? (3) quem participava desse funcionamento? (4) quais eram os instrumentos do laboratório? (5) para que fins o laboratório e seus instrumentos foram utilizados? Algumas dessas perguntas, por sua vez, ocasionam outros questionamentos: (1) que tipo de medida esses aparatos permitiam? (2) quais práticas de ensino foram produzidas? (3) quais as pesquisas realizadas? Diferentes modalidades de fontes têm sido utilizadas, tais como: discursos políticos, recortes de jornais, fotografias e artigos científicos. As fontes são provenientes de diferentes arquivos: (a) Archives Rousseau da Université de Genève (Genebra, Suíça); (b) Arquivo da Imprensa Oficial (Belo Horizonte); (c) Center for the History of Psychology da University of Akron (Akron, Estados Unidos da América); (d) CPDOC-FaE/UFMG (Belo Horizonte); (e) CDPHA

(Ibirité); e (f) Sala Helena Antipoff da Biblioteca Central da UFMG (Belo Horizonte).Palavras-chave: Escola de Aperfeiçoamento de Professores; Laboratório de Psicologia Experimental; História da Psicologia; História do Ensino de Psicologia.Pesquisa em andamento

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Rodrigo P. da SilvaLOUCURA E PERICULOSIDADE SOCIAL NOS

PRONTUÁRIOS PSIQUIÁTRICOS DA ASSISTÊNCIA AOS PSICOPATAS (1930-1939) - pesquisa PIBIC Apoio: Fiocruz/CNPq

Membro do GP CNPq O físico, o mental e o moral na história dos saberes médicos e psicológicos

O tema de estudo do projeto apresentado em 2012 para iniciação de pesquisa com o apoio Fiocruz / CNPq foi a relação entre loucura e a cultura. Especificamente, nos propusemos a investigar, ao longo da década de 1930, a relação que se estabelece entre doença mental e periculosidade na cidade do Rio de Janeiro, bem como as formas sociais de combate aos desvios. O subprojeto articula-se a discussões acerca das práticas médico-psiquiátricas sobre o Hospício Nacional de Alienados (HNA) entre 1900 – 1930, advindas de pesquisa finalizada pela orientadora, Prof. Dra. Cristiana Facchinetti (2008-2011 – COC/FIOCRUZ). O estudo está centrado no período em que surge um crescente interesse do Estado em relação à saúde mental. O trabalho insere-se, também, no projeto atual da orientadora: “Normal, anormal ou patológica? Ser mulher no Rio de Janeiro (1930 - 1945)” (apoio: FAPERJ), que trata da relação entre normalidade e anormalidade, com ênfase na questão de gênero. Inicialmente, o trabalho visou estabelecer uma análise descritiva e quantitativa de prontuários dos pacientes considerados perigosos contidos no banco de dados clínicos organizados pela orientadora (com cerca de 3.500 documentos). Posteriormente a este levantamento e análise, pretendeu-se estabelecer uma pesquisa qualitativa do material coletado. Assim, alguns prontuários foram selecionados para aprofundamento da pesquisa junto aos acervos da Biblioteca Nacional e da Biblioteca do antigo Manicômio Judiciário e da do Pavilhão de Observação do Hospício Nacional . As fontes primárias selecionadas para tal investigação se concentraram em documentos clínicos do hospício e de seu pavilhão de observações que apresentam como sintoma a periculosidade, especialmente crimes e atos desviantes em questões de ordem cultural e/ou política. Assim, pacientes vinculados ao movimento operário ou internados como prostitutas, por exemplo, fizeram parte do universo de fontes

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levantadas pela pesquisa. Bem como, nossa pesquisa também conta com apoio de material jornalístico de época, tanto visando o aprofundamento nos casos de análise qualitativa, quanto a possibilidade de trabalharmos esses com liberdades éticas de inclusão de informações pessoais, como nomes e fotos. Ainda em relação à fontes documentais, propôs-se a busca de artigos de época sobre o tema investigado contido nos Arquivos Brasileiros de Neuratria e Psiquiatria (acervo COC/ Fiocruz) e no Arquivos do Manicômio Judiciário (Biblioteca Nacional). Para o apoio da análise empírica, previu-se a revisão da bibliografia secundária voltada para a assistência dos ditos psicopatas no Brasil, como Carrara (1998), Dias (2010) e Cassília (2011). Para apoio teórico-metodológico, o projeto previu a leitura e discussão de História da Loucura (1972) de Foucault, e A Ordem Psiquiátrica: A idade do Ouro do Alienismo (1978) de Castel.Palavras-chave: alienação, crime, desvio social, BrasilPesquisa em andamento

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Renato Ferreira de SouzaDA COMPOSIÇÃO À LEGITIMAÇÃO CIENTÍFICA: A OUTORGA SOCIAL DO CAMPO PSICOLÓGICO BRASILEIROO intento de nossa apresentação será refletir acerca dos principais acontecimentos e fatos históricos que culminaram na consolidação do campo científico psicológico brasileiro. Respaldamo-nos na pesquisa encaminhada pelo Prof. Dr. Jefferson de Souza Bernardes, decorrentes de sua Tese de Doutoramento, defendida na PUC-SP em 2004. Cabe ressaltar, que todo o material oriundo desta pesquisa está disponível na internet pela página da ABEP, onde podemos encontrar todo o acervo documental contendo as principais Portarias, Leis, Pareceres, Resoluções, Propostas Curriculares, Projetos, Decretos, Relatórios Curriculares, Editais e Diretrizes. Esse estudo permite a compreensão dos meandros históricos que culminaram na formatação profissional do psicólogo brasileiro. O material disponível na página da ABEP (Linha do Tempo) foi elaborado a partir de documentos de domínio público que relatam o percurso histórico para a composição do curso de psicologia no Brasil. Toda documentação é apresentada cronologicamente, formato que possibilita a visualização de um panorama acerca dos principais fatos para a consolidação da Psicologia como profissão reconhecida em nosso país. Como exemplo, podemos citar o primeiro registro documental, que nos remete ao ano de 1932: “Primeiro Projeto de Curso de Psicologia – Instituto de Psicologia do Ministério da Educação e Saúde Pública – Waclaw Radecki”. Decidimos “iniciar” nossa análise, tendo o material produzido pela ABEP como

referência, por ser uma entidade reconhecidamente gabaritada para tratar dos assuntos científicos da área, além de indicar em sua Linha do Tempo os fatos mais importantes da história psi, o que pode ser considerado estratégico metodologicamente. Mas este plano analítico pouco valeria se não o articulássemos criticamente com os estudos, as pesquisas e as valiosas contribuições de autores(as) que fizeram uma rigorosa revisão da bibliografia sobre os primórdios da psicologia brasileira, tais como os trabalhos de Marina Massimi (1984), História das Idéias Psicológicas no Brasil em obras do período colonial; e de Mitsuko A. M. Antunes (1998), A psicologia no Brasil: leitura histórica sobre sua constituição; além de Pessoti (1988), Mello (1975), Guedes, (1998), Patto (2000), Zuquim (2000), Rodrigues (2000), Jacó-Vilela (2000) e Bock (1999), dentre outros estudos mais antigos que serão destacados na interlocução que pretendemos em nossa apresentação. Veremos que quanto mais avançamos no estudo histórico e nos aproximamos do presente da Psicologia, mais documentos, registros, pareceres e resoluções se apresentam para a configuração identitária da área. A partir da década de 1990, até aos dias atuais, essa catalogação em relação aos documentos históricos que demonstram o desenvolvimento da profissão no Brasil teve um incremento quantitativo considerável. Seguindo essa “Linha de raciocínio” (ABEP), encontramos os registros e orientações em relação à história da profissão nessas duas últimas décadas. Por exemplo, informações sobre a orientação para novas diretrizes curriculares (1997, 1999, 2001, 2002 e 2004); a regulamentação dos parâmetros para a realização de pesquisas e para o ensino de métodos e técnicas psicológicas (1997, 2000), assim como a análise curricular feita pela Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP) em (1999), mais a carta da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP), contrária às diretrizes propostas para a formação em psicologia divulgadas pelo Ministério da Educação e Cultura (2001); além das discussões sobre a questão do título de especialista (2000) e dos documentos construídos entre o Fórum de Entidades e a SBP sobre as diretrizes curriculares do curso de psicologia (2004). Todo esse acervo faz parte da catalogação histórica da área, disponibilizada pela ABEP, por meio dos documentos concedidos por Bernardes (2004). Segundo Bastos, Guedes e colaboradores (2010), hoje são 236.100 psicólogos cadastrados no Conselho Federal de Psicologia; o que leva Malvezzi a concluir “que o psicólogo é uma profissão necessária, legitimada e motivadora, embora ainda em contínuo processo de reformatação interna e de definição de suas fronteiras com outras profissões”. Tentar compreender e discutir partes dessa história política da psicologia nacional será nosso intento no XI Encontro Interinstitucional de Pesquisadores em História da Psicologia.Palavras-chave: psicologia brasileira; linha do tempo; ABEP; identidade profissionalPesquisa concluída

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Danielle Abrantes Campos Lima; Dener Luiz da SilvaSERVIÇO DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL (OP) DA FACULDADE DOM BOSCO NOS ANOS 1950 E 1960: PRIMÓRDIOS DA OP GENUINAMENTE BRASILEIRA?Um dos serviços oferecidos pelo Laboratório de Psicologia da Faculdade Dom Bosco - uma instituição que pertence aos primórdios da Psicologia no país, inaugurado em março de 1955 - foi o de Orientação Profissional (OP). Através da metodologia da pesquisa histórica e documental analisamos os documentos (laudos, Livro de crônicas, relatórios etc.) referentes às décadas de 1950 e 1960 encontradas no Centro de Documentação e Pesquisa em História da Psicologia, na Universidade Federal São João del-Rei, e no Centro Salesiano de Documentação e Pesquisa, em Barbacena. Com a coleta de informações específicas dos laudos psicológicos identificamos os principais testes utilizados à época, e características gerais de um dos principais serviços realizados pelo Laboratório. Quanto à OP da Faculdade Dom Bosco entre os anos 1950 a 1960 concluímos que este era um serviço oferecido, de modo especial, para pessoas entre 12 e 25 anos, e que se restringia a trabalhar elementos relacionados à decisão sobre o futuro profissional. Percebemos que tal serviço, ainda, 'misturava-se' algumas vezes a outros, tais como Orientação Vocacional e Vital. Identificamos tal 'mistura' ao verificarmos que muitos dos testes utilizados eram intercambiáveis entre os vários serviços. Se retomarmos nossa pergunta de pesquisa – ser este um serviço genuinamente brasileiro? - respondemos que, em sua origem, não era. Isto porque, com a análise dos prontuários constatamos que a grande parte dos testes aplicados não passavam ainda – tal como ocorre nos dias atuais - pelo processo de adaptação cultural, no qual se levava em consideração a realidade brasileira dos anos 1950 e 1960. Contudo, apesar de o Laboratório ter se constituído com instrumentos e testes provenientes dos centros internacionais, observamos um protagonismo peculiar que representava, certamente, a natureza da Equipe e dos personagens que aqui trabalhavam. Um dos aspectos que nos evidencia tal fato é o uso frequente e quase unânime, ao longo do período analisado, do instrumento Catálogo de Livros, que fora uma proposta construída e adaptada pelos profissionais da Faculdade Dom Bosco para a realidade local. Deste modo, concluímos que o Laboratório de Psicologia e, de modo especial, o Serviço de Orientação Profissional, fora o produto, em parte, de uma realidade e contexto local, representando os esforços da Psicologia brasileira nascente por responder às demandas e solicitações de sua época. Por fim, destacamos que todo o processo de higienização, digitalização e

catalogação dos documentos pelos pesquisadores permitiu a sistematização dos dados e abriu a possibilidade para a realização de novas investigações.Palavras-chave: Orientação Profissional, Laboratório de Psicologia, SOEP, IPP, História da Psicologia. Fonte de financiamento: PIBIC/FAPEMIGPesquisa concluída

XSonia Maria Berbare Albuquerque Parente

INSTITUTO AGRÍCOLA DE MENORES DE BATATAIS EM EXPOSIÇÃO: RESGATE DA MEMÓRIA

RESUMO: Esta pesquisa pretende resgatar o modelo antropológico que contemplava os aspectos biopsicossociais do desenvolvimento global de crianças e adolescentes, denominados menores abandonados, no IAMB - Instituto Agrícola de Menores de Batatais. O período focalizado será de 1951 quando teve início a mecanização do projeto pedagógico agrícola da Instituição até 1976, ano da implantação oficial da FEBEM no Estado de São Paulo. Uma exposição sobre a história do IAMB baseada no levantamento e análise de documentos, matérias, reportagens de jornais do estado de São Paulo, bem como de fotografias de arquivos pessoais de ex-funcionários da instituição será apresentada à população de Batatais em local público. A explicitação do modelo antropológico do atendimento dessa instituição é necessária não só para que seja possível estudar os princípios pelos quais o IAMB operava, mas também para que se possa, em uma outra pesquisa e à luz dos dados da investigação atual, discutir e refletir sobre as práticas utilizadas na atualidade com as crianças e adolescentes abandonados/abrigados. O método usado nesta pesquisa é o da historiografia da ciência, especificamente na abordagem social, fundamentada na compreensão das ciências no movimento do tempo, na trama das relações sociais, políticas, econômicas e culturais na qual se insere. Desenvolvimento de crianças e adolescentes abandonados/abrigados Exposição: projeto pedagógico agrícola - IAMB - 1951 a 1976 Palavras-chave: História e princípios norteadores do atendimento Políticas públicas, assistência à infância e adolescência abandonadas Pesquisa em andamento.

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XI ENCONTRO DE PESQUISADORES EM HISTÓRIA DA PSICOLOGIA12-13 DE AGOSTO 2013PUCSP – SÃO PAULO

GRUPO: PSICOLOGIA SOCIAL

André Gustavo ImianowskyO HOMEM É UM SER POLÍTICO:COMO FORMAR PSICÓLOGOS PARA LIDAR COM ESSE HOMEM?A pesquisa tem como ponto de partida propostas de cursos de formação em Psicologia no Brasil, que na exposição do trabalho essa questão se pronuncia através de três momentos: o primeiro é formado pelos documentos base da discussão do estudo, com autores que ultrapassavam sua época, como a obra de Lev. Vigotski, especificamente em sua discussão de 1927, “O Significado Histórico da Crise da Psicologia”, que propõe uma nova psicologia ao analisar teórica e metodologicamente aquelas que se anunciavam como conhecimento psicológico. As perguntas colocadas pelo pesquisador soviete revelavam um saber produzido em perspectivas teóricas divergentes de objeto, descortinadas pelo seu método de apreensão da realidade, produzindo um estudo tão distinto de forma e conteúdo que aquilo que as unia agora as separa. No mesmo período tem-se o autor que serve de referência para nomear a psicologia proposta por Vigotski, que com severas declarações produzia sua obra “Crítica dos Fundamentos da Psicologia”, Georges Politzer. Para o filósofo franco-húngaro a psicologia estava ancorada a um método que a impossibilitava de avançar na condição de ciência, contribuindo com a proposta de uma Psicologia Concreta. Com as referências primárias sublinhadas, caímos diretamente para o segundo momento deste trabalho; as propostas no Brasil na década de 1950, precedendo a regulamentação da profissão no País, destacando a de Enzo Azzi, na cidade de São Paulo e Eliezer Schneider no Rio de Janeiro; estes pesquisadores em contribuição com outros intelectuais analisavam e colocavam perguntas sobre a formação da disciplina psicológica. Com um grande salto na história e no tempo, a profissão é celebrada com 50 anos de oficialização, a proposta do curso de formação em Psicologia Política no quadro do grupo de pesquisa com mesmo nome, localizado no Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Social da PUC – SP, é nosso terceiro momento de trabalho, trazendo o problema para o presente. A discussão da pesquisa é acompanhada pela pergunta de fundo: “como formar psicólogos para lidar com o ser humano em constante transformação?”. Com base em um método que direciona para uma consistente apreensão do problema, a análise histórica sobre a formação do conhecimento psicológico nos coloca em contato com melhor

compreensão do passado, para agirmos sobre o presente e lançarmos ao futuro a formação em psicologia.Palavras-chave: Psicologia Social, História da Psicologia, Formação em Psicologia, Método;Pesquisa em andamento

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Carmen Silvia Porto Brunialti JustoAS CONTRIBUIÇÕES DOS PIONEIROS DA PSICOLOGIA

DO CONSUMIDOR PARA O DESENVOLVIMENTO DAS ÁREAS DE MARKETING E PUBLICIDADE NOS ESTADOS

UNIDOSO objetivo desse trabalho é apresentar as contribuições dos psicólogos que, através da psicologia aplicada aos estudos do comportamento do consumidor, a partir do início do século XX até a década de 1960, influenciaram com suas teorias psicológicas o desenvolvimento das áreas de marketing e publicidade, nos Estados Unidos. Trata-se de um estudo de natureza teórica, utilizando o método histórico. Para delimitar o contexto histórico da psicologia do consumidor foram levantadas as bibliografias dos psicólogos que se dedicaram a esses estudos e que contribuíram para a aproximação entre as áreas. O surgimento da Sociedade de Psicologia do Consumidor , em 1962 , dois anos após a criação da Divisão 23 da APA – Divisão de Psicologia do Consumidor, com a missão específica de promover a ciência da psicologia do consumidor, legitimou os estudos acadêmicos e ampliou o interesse da psicologia nessas áreas específicas. Anterior a esse período, no início do século, com o desenvolvimento da nação americana os psicólogos pioneiros, encontraram terreno fértil para uma aproximação entre as áreas e seu desenvolvimento. Essa aproximação, em alguns momentos, refletiu a tendência de tornar a psicologia uma atividade mais prática, assim como aconteceu com a aproximação na área industrial, na educação e nas forças armadas. Entretanto, a necessidade econômica, fruto do desenvolvimento capitalista de aprofundar esses estudos, estimulou acadêmicos do início do século XX, a dedicarem suas pesquisas e experimentos para desvendar as relações entre marketing, psicologia e publicidade. Entre 1850 e 1900, a expansão do parque

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fabril, da tecnologia e do transporte e, a explosão da produtividade nas fábricas, motivou o aumento no volume das vendas, diversificação dos produtos e o surgimento da concorrência. A publicidade nesse contexto foi fundamental para a aceleração do crescimento. Entre os pioneiros da psicologia que voltaram seus interesses para a área da publicidade: Edward Wheeler Scripture (1864-1943), na Universidade de Yale, Harlow Gale (1862 -1945), na Universidade de Minnesota e Walter Dill Scott (1869-1955) na Northwestern University. Destaque para a aproximação de John Broadus Watson (1878-1958) da área da publicidade, quando ingressou numa importante agência de publicidade americana, no ano de 1913. O reflexo dos estudos desses psicólogos para a teoria da publicidade aplicada ao marketing estimulou os publicitários a se especializarem e buscarem a academia e a pesquisa científica para seus trabalhos. O tema “psicologia” passou a ser aplicado pelos profissionais de mercado e na publicação de manuais da prática publicitária, além de se tornar uma disciplina nos cursos superiores das escolas de negócios. A conclusão final aborda a contribuição da aproximação entre as áreas para a definição dos estudos sobre consumidor, publicidade, vendas, marketing e processos psicológicos aplicados à publicidade como: memória, sensações, percepção entre outros.Palavras-chave: história, processos psicológicos, consumidorPesquisa em andamento

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Catarina de Fátima GewehrPSICOLOGIA SOCIAL E AMÉRICA LATINA: O DESAFIO DE UMA POSSIBILIDADEA presente pesquisa tem por objetivo apresentar a compreensão de alguns elementos que caracterizam a Psicologia Social Latinoamericana. Trata-se de um trabalho de pesquisa no qual a etnografia se produz na condição de uma presente e continuada retomada do processo histórico implicado na constituição de uma possibilidade latinoamericana da Psicologia Social. Sua produção se deu com base na perspectiva metodológica da Investigação-Ação-Participante (IAP), conforme organizada por Orlando Fals-Borda. O fundamento crítico e propositivo do pensamento humanista latinoamericano - contrário a verdades estabelecidas na condição de dogmas, produtoras de conformidade e redutoras das possibilidades dos seres humanos - presente nas proposições teórico-políticas dos trabalhos de Orlando Fals-Borda, Ignácio Martin-Baró, Silvia Lane e Paulo Freire - compõem a base compreensiva sobre a qual a etapa de campo foi considerada. A partir do estudo realizado, é possível indicar que a singularidade da Psicologia Social Latinoamericana está formada pelo rompimento com a tradição epistemológica positivista; por um claro e explícito envolvimento dos psicólogos sociais com os

marginalizados; pela busca em produzir conhecimentos em Psicologia capazes de superar a perspectiva acrítica e, nisso, assumir declarada posição de classe. Em que pese a provisoriedade, a conclusão do presente estudo indica que ainda são muitos os desafios que permanecem em relação ao desenvolvimento desta Psicologia Social Latinoamericana, com destaque para: necessidade de sistematização de redes de contato e convivência entre os psicólogos latinoamericanos que desenvolvem ações teóricas e metodologicamente inovadoras; urgência na criação de uma rede de estudos em história da Psicologia, de modo a criar metodologias capazes de sistematizar e socializar criticamente o que os psicólogos e pesquisadores vêm fazendo na América Latina; desenvolvimento de materiais didáticos e estratégias pedagógicas que permitam o ensino de Psicologia – em especial, o ensino da História da Psicologia e da Psicologia Social – desde a perspectiva latinoamericana. Palavras-chave: Investigação-Ação-Participante, etno-historiografia, perspectiva latinoamericana.Pesquisa concluída

XEduardo Freitas Prates

A CONSTITUIÇÃO DO PROJETO POLÍTICO DA PSICOLOGIA: NOTAS A PARTIR DAS PUBLICAÇÕES DO

JORNAL DO CRP-06 NA DÉCADA DE 1980O objetivo desta exposição é investigar a constituição do projeto político da Psicologia, levando em conta o ponto de vista do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP-06) na década de 1980. Tendo em vista que o presente trabalho é o recorte de uma pesquisa anterior que teve parte de sua investigação no material recolhido nas 69 edições do Jornal do CRP-06 que compõem a década, nossa análise partirá de dois movimentos históricos específicos. O primeiro é em relação à constituição do CRP-06 e o segundo é a aproximação da categoria de psicólogos paulistas com o movimento de redemocratização que se tornou elemento fundamental para a constituição do compromisso ético-político da profissão. Em 1962, a Psicologia é regulamentada como profissão no Brasil, em 1964 sofre o golpe do regime militar que instaura gradativamente um poder autoritário no país, atrelado ao conservadorismo e aos interesses das classes dominantes. É apenas em 1971 que um projeto de lei legitima a criação do Conselho Federal de Psicologia e os respectivos Conselhos Regionais. Neste primeiro momento a atuação do CRP-06 limitava-se à burocracia e à fiscalização, sendo uma entidade de classe despolitizada e pouco representativa da categoria. O quadro muda no início da década de 1980 quando vencem chapas de oposição organizadas para concorrer à diretoria do Conselho Regional de Psicologia e ao Sindicato dos Psicólogos. Tal movimento era organizado por psicólogos que se reuniam em encontros de um Fórum de discussão organizado a partir de 1978 no Instituto Sedes Sapientiae,

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composto principalmente por estudantes da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e da Universidade de São Paulo. Este grupo de oposição tinha clareza da necessidade de ocupar as entidades de classe, rumo à organização politizada da categoria. É inegável que a psicologia desde o início da regulamentação da profissão teve sérias dificuldades de estruturar-se como entidade de classe, seja levando em conta o contexto autoritário vigente seja por conta das condições materiais precárias da época que dificultavam a estruturação dos Conselhos. Neste momento apresentaremos brevemente alguns fatos históricos que demonstram a luta dos psicólogos e evidenciavam o seu posicionamento político. O início da publicação do Jornal do CRP-06 em janeiro/ fevereiro de 1981, apresenta um edital reconhecendo que diversos setores, além da psicologia, começavam naquele momento a abrir espaço político. O dia do psicólogo deste ano é marcante com uma chamada na publicação cujo título “A festa é continuar a luta”, descreve um evento realizado naquele ano, cuja participação marcante de Madre Cristina Sodré Dória, demonstra uma leitura de que a construção de uma psicologia socialmente comprometida estava atrelada à necessidade dos psicólogos expandirem sua atuação para além da clínica e de uma clientela elitizada e ao fato de que a luta não deveria restringir-se apenas a categorias isoladas, mas à organização popular na construção de uma nova sociedade. A defesa dos psicólogos demitidos da FMU em 1982 representa uma longa polêmica que mostra não apenas a defesa desses profissionais, mas a luta por condições adequadas para o ensino e a formação de psicólogos no ensino superior, além de ser claramente uma resistência à lógica de mercado das universidades de massa. O reconhecimento da profissão, por sua vez passou por algumas crises ao longo da década de 1980, desde o reconhecimento do serviço do psicólogo como uma atuação independente da categoria dos médicos, à luta pelo reconhecimento das possibilidades da profissão que não se restringiam à clínica. A intervenção do autoritarismo da época se deu em 1981, pela Lei 6994, que retirava autonomia dos Conselhos restringindo-os apenas a atividades burocráticas e de fiscalização, submetendo às entidades de classe ao Ministério do Trabalho que instituiu naquele momento o recolhimento compulsório de 70% do caixa dos Conselhos ao final de cada ano, exigindo uma movimentação dos psicólogos junto às outras categorias atingidas. O acompanhamento das discussões da construção da Constituição em 1985 em artigos publicados sob o título de “Nós e a Constituinte” é outro exemplo da preocupação marcada nas publicações de manter a categoria informada sobre o cenário político da época, sob uma perspectiva crítica. Em suma, os eventos isolados apresentados ao longo desta exposição são fragmentos de um contexto histórico que remontam a primeira década da construção de um projeto político da psicologia claramente comprometida com o povo brasileiro. Apesar do período do regime militar ter sido aparentemente superado, é evidente que forças conservadoras ainda persistem na contra-mão das lutas sociais que buscam uma sociedade igualitária, de modo, que a psicologia, dentre outras categorias deve freqüentemente retomar o alicerce de sua história para manter a coerência de seu projeto político.

Palavras-chave: Psicologia política; pesquisa documental; Conselho Regional de Psicologia de São PauloPesquisa concluída

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Fabricio Gustavo Gesser CardosoPSICOLOGIA DE CLASSE E DESCOLONIZAÇÃO

LATINOAMERICANAA presente pesquisa teve por objetivo estudar a influencia dos processos de mediação na história da América Latina, a partir de uma possível correlação entre os determinantes que constituem a história viva do Continente e algumas das problemáticas implicadas à produção do conhecimento psicológico. Partindo de um estudo qualitativo e exploratório, adentra-se na fundamentação bibliográfica de autores da Historia, Filosofia, Sociologia, Pedagogia, Psicologia e Teologia para dialogarmos as seguintes temáticas; a) reconstituição histórico-política a partir do colonialismo e o racionalismo do poder; b) contribuições da sociologia e teologia da libertação na Obra de Martin-Baró; c) Praxis psicológica da libertação a partir da Pedagogia do Oprimido. Imperando-se uma racionalidade própria a partir dos processos de colonização mostra-se possível a construção da categoria de raça na medida em que as relações sociais de controle do trabalho e dos recursos, configuraram-se para as relações de dominação impostas pela conquista para estruturação de um novo padrão de poder e inicio da Modernidade. Conclui-se que a legitimação da racionalidade militar no período colonial e no surgimento dos Estados-Nações, concretizaram a tentativa de uma homogeneização cultural, na relação entre cultura e política, pressupondo a criação de indivíduos subjetivados nas mediações de fusões de identidades. Desta forma, foi possível desenhar estratégias de resistência,e mobilização social a partir da utilização do conceito de classe social como unidade de analise para compreensão dos processos sociais assim como a utilização da tipologia de opressor/oprimido no processo de conscientização para a passagem da alienação de uma consciência da satisfação individual das necessidades imediatas para a identidade social.Palavras-chave: Classe social, raça, emancipação, libertação.Pesquisa concluída

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Filipe Degani-CarneiroINTERFACES RELIGIÃO-CIÊNCIA NA HISTORIOGRAFIA DA PSICOLOGIA NO BRASIL: REFLEXÕES SOBRE O PROTESTANTISMOO presente trabalho objetiva compreender as formas como ocorrem no presente a relação entre dois sistemas discursivos acerca da subjetividade humana: um religioso (Protestantismo) e outro acadêmico (Psicologia). Atualmente, os evangélicos são o segmento religioso que mais cresce no Brasil nas últimas décadas, apresentando uma expansão não apenas quantitativa, mas notadamente em termos de seu destaque no cenário social brasileiro. Além disso, observa-se um maciço interesse protestante pelos saberes psi, o qual se apresenta de diferentes formas: seja como profissão leiga, seja como subsídio a atividades eclesiásticas, ou ainda, por meio de um fato especialmente verificado entre os fiéis protestantes: uma grande demanda por psicoterapia (com a ressalva de que o profissional compartilhe de sua fé). Por outro lado, a relação entre o saber psicológico e o cristianismo pode ser observada desde a filosofia teológica da Antiguidade, bem como na Idade Moderna, quando a Reforma Protestante foi um movimento relevante na emergência da categoria de “indivíduo” moderno. Entretanto, o contexto iluminista e positivista do século XIX (período ao qual tradicionalmente atribui-se o nascimento da Psicologia científica) afirma que a Razão libertaria a humanidade dos mitos, da ignorância e da religião, estabelecendo uma radical separação entre esta e a ciência. Não obstante, o campo religioso e a Psicologia não cessaram de realizar mútuos investimentos e apropriações. As articulações entre Religião e Ciência são fortemente observadas na História da Psicologia no Brasil desde o período colonial, onde houve importante circulação de escritos católicos com temáticas psicológicas (“psicologia da alma”), até meados do século XX, com a introdução da psicologia em seminários católicos para auxiliar a formação dos padres. Desta forma, impõe-se a necessidade de reflexão sobre os sentidos da apropriação do discurso psicológico efetuada pelo campo evangélico. Após a regulamentação da profissão de psicólogo, em 1962, observa-se no Brasil um novo status do saber psicológico, marcado de um lado, pela difusão de sua institucionalização – com a abertura de cursos de graduação em Psicologia, bem como de outras instituições de formação, notadamente em psicanálise e psicologia clínica – e por outro, por um processo de “psicologização da vida cotidiana”, isto é, uma grande difusão de uma “cultura psicológica” nas classes médias urbanas. É o período do “boom” psicológico, quando o modelo clínico psicoterápico se torna hegemônico. Neste processo, surgem as primeiras instituições protestantes de psicologia, as quais se disseminam maciçamente a partir dos anos 90. Através de levantamento bibliográfico (publicações acadêmicas, religiosas e mídia), observamos que nas últimas décadas, o investimento protestante sobre a Psicologia cresce de forma visível, suscitando embates com os órgãos reguladores da profissão (como o Conselho Federal de Psicologia), como visto em recentes casos registrados pela mídia, como o caso dos “pastores psicanalistas” – formados

em cursos de psicanálise oferecidos por instituições protestantes – que lutaram no Congresso em dois momentos (década de 1970 e início dos anos 2000) por aprovação de lei que regulamente a profissão de psicanalista, despertando ferrenha oposição das sociedades psicanalíticas tradicionais (apoiadas pelo CFP). Outro caso refere-se às organizações evangélicas que oferecem psicoterapia com objetivo de reversão da homossexualidade. Em resposta à denúncia feita por instituições militantes do movimento LGBT, o CFP aprovou a Resolução CFP nº 01/1999, que estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da orientação sexual, determinando que os psicólogos não podem promover nenhum tratamento que patologize a homossexualidade ou lhe ofereça cura. As tensões entre evangélicos e movimento LGBT prosseguiram no início do século XXI, com o processo ético movido contra a psicóloga carioca evangélica Rozângela Justino, a qual recebeu do CFP pena de censura pública em 2009. O embate alcançou grande destaque midiático. Desta forma, nossa análise aponta a existência de um núcleo comum entre os sistemas discursivos da Psicologia e da religião evangélica que gera neste segmento religioso o interesse pela apropriação do conhecimento e prática psicológicos. Nesse sentido, uma reflexão historiográfica acerca dos diferentes processos de investimento evangélico na Psicologia é fundamental para lançar luz sobre o sentido da articulação entre fé e psicologia empreendida pelas iniciativas evangélicas acima descritas, bem como dos interesses sociais e motivações implicados nesta apropriação. Tal reflexão é, assim, fundamental para os debates éticos atualmente em curso na categoria dos psicólogos acerca da interseção entre religião e atuação profissionalPalavras-chave: Evangélicos, Reforma Protestante, IndivíduoProjeto de pesquisa

XIgor Téo Rodrigues

PSICOLOGIA E DIREITOCada sociedade constrói regras que regulamentam a interação entre seus membros, mantendo possível e coesa a vida social. À medida que estas regras não são seguidas, cada sociedade possui também o seu próprio modo de lidar com aqueles que a transgridem. Nos tempos finais da Idade Média eram comuns extremos suplícios ao corpo em público como forma de punição aos transgressores. Com o passar do tempo, houve uma humanização da pena, utilizando-se meios menos espetaculares na punição, mudando-se o seu sentido: punir não para vingar, mas para corrigir. Foucault assinala que após a reforma utilitarista do direito guiada por nomes como Jeremy Bentham, foi preciso prescrever táticas específicas sobre os criminosos, e, portanto, possuir antes um saber sobre eles. Foi, pois, necessário medir e calcular este sujeito. A prisão se tornou o lugar da pedagogia moral. No entanto, a prisão não está sozinha. Junto dela há escolas, hospitais, asilos, quartéis,

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fábricas, etc. Todos são dispositivos de vigilância e controle, medição de aptidões e treinamento para o funcionamento com máxima eficiência de acordo com a individualidade de cada sujeito dentro do sistema capitalista. Neles se inserem saberes como psicologia, psiquiatria e medicina. Neste contexto e buscando investigar se confirma-se a perspectiva de Foucault, a pesquisa tem como objetivo investigar as relações entre a psicologia e o direito no contexto brasileiro do início do século XX, principalmente na cidade do Rio de Janeiro. Para alcançar esse objetivo, os percursos a serem seguidos serão: levantamento bibliográfico e levantamento e análise de documentos. A partir do levantamento bibliográfico inicial, percebe-se no Brasil diferentes concepções de direito: a escola clássica, defensora dos ideais do liberalismo e do livre-arbítrio, e os positivistas, defensores do determinismo e das abordagens raciais. Concepções distintas do direito, e sobretudo de ser humano, parecem ter chegado a uma combinação aparentemente paradoxal. Como verificado na bibliografia, ambos revezam e combinam-se na resolução e no julgamento dos processos criminais e até nos códigos penais. O que esta convivência aponta é um aspecto paradoxal da cultura brasileira, que parece estar sempre se apoiando em pressupostos ambíguos. Assim como há um liberalismo que depende do poder estatal e uma democracia racial onde negros sofrem discriminação a todo o momento, também há um direito penal que afirma igualdade entre todos os cidadãos.Palavras-chave: Punição, Prisão, Direitos, BrasilProjeto de pesquisa

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Jane Teresinha Domingues; Maria Helena Alves; Eunice Teodora dos Santos; Elen Romero de Romero; Renata Garutti Rossafa; Josiane Sueli BériaHISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO ESTADO DE MATO GROSSONo ano de 2012, a profissão de psicólogo completou 50 anos no Brasil. É um percurso ainda curto se considerarmos tantas outras profissões no país, embora reconheçamo-nos como um campo profissional em franca expansão. Povoamos, como profissionais, as várias regiões do país e, de muitas formas, nos propomos a promover a dignidade humana e a cidadania. Muito foi feito. Do que foi feito, muito já se questionou e se escreveu. Compreender essa dinâmica faz parte de um percurso que se inscreve com coragem na história. Há algum tempo temos nos encontrado com a história da Psicologia

no Brasil, que tem se constituído como uma área de pesquisa de especial relevância nas Academias. Muitos estudos têm-se desenvolvido nessa área. O interesse em compreender o percurso feito pelos profissionais para explicar algumas práticas atuais, a necessidade de construir e identificar a própria história, o crescente interesse pela epistemologia da psicologia tem levado inúmeros pesquisadores, alunos e professores a buscarem a temática como parte integrante da formação profissional. Para Jacó-Vilela (2000, p.33) “a história não é apenas uma série de fatos passados, mas algo em contínua construção, por se referir a uma sociedade sempre em movimento; estudá-la torna-se fundamental, porque possibilita a compreensão dos saberes e práticas atuais, iluminando assim nossas perspectivas futuras”. Dessa forma, compreender a história da profissão no país e no nosso Estado pode, para além dos limites da investigação cultural, ensejar novas perspectivas políticas e de análise, incentivando pesquisas para outras temáticas e questões que puderem ser identificadas no seu decorrer. Longe de apenas reunir dados históricos e testemunhos de experiências profissionais, investigar a história é, sobretudo, trilhar um caminho que já foi construído na tentativa de compreender os esforços, as intenções e as consequências de uma prática sempre em construção. Para Antunes: A compreensão do processo de construção histórica de uma área de conhecimento é tão imprescindível quanto o conteúdo de suas teorias e o domínio de suas técnicas que, tomados atemporalmente, são meros fragmentos de uma totalidade que não se consegue efetivamente apreender. (ANTUNES, 2007, p9). O Estado de Mato Grosso é uma das 27 unidades federativas do Brasil e está localizado na região Centro-Oeste. Ocupa uma área de 903 357 km² e sua capital é Cuiabá. Fundado no século XVIII, é um estado em pleno desenvolvimento e conta hoje com mais de 3 milhões de habitantes. Até 1996, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul integravam o CRP 6, com sede no Estado de São Paulo. No dia 30 de Maio do mesmo ano, os dois estados formaram o CRP 14. No ano de 2010, por conta do aumento do número de profissionais, o Estado ganhou um Conselho próprio, o CRP 18 e que no ano de 2011 contabilizou mais de 1.500 psicólogos inscritos. O Estado conta ainda com dez cursos de formação em Psicologia reconhecidos pelo MEC. Estudar a

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trajetória da psicologia no Estado de Mato Grosso nos permitirá compreender quais foram os caminhos percorridos no processo de constituição do fazer psicológico; produzir referências bibliográficas regionais sobre nossa história; fomentar novas pesquisas sobre o assunto; engendrar novas possibilidades de análise e, quem sabe, solidificar uma identidade própria da profissão. Dessa forma, essa pesquisa objetiva caracterizar e apresentar o processo de constituição da Psicologia como profissão no Estado de Mato Grosso destacando a inserção desta profissão no seu cenário sócio-cultural. Para isso, tem como objetivos específicos: identificar os primeiros profissionais em Psicologia atuantes no Estado de Mato Grosso; caracterizar o ritmo da expansão e a consolidação da Psicologia no Estado; investigar e caracterizar as primeiras áreas de atuação; investigar as primeiras práticas, teorias e instrumentos de trabalho dos profissionais. O projeto será realizado em duas fases complementares. A primeira fase consiste numa pesquisa documental realizada junto ao Conselho Regional de Psicologia para a identificação dos primeiros psicólogos credenciados e residentes no Estado e também junto às primeiras instituições de atendimento à saúde mental instaladas no Estado. Após a identificação, a segunda fase será a coleta de dados junto a estes profissionais e instituições a partir de entrevistas semi-dirigidas; disponibilização por parte deles de fotos e documentos. Também serão identificados outros profissionais mencionados por eles. Inicialmente fixaremos a década de 1960 como período de estudo, considerando que são os primeiros anos em que a Psicologia foi constituída como profissão. Caso, outros profissionais sejam identificados, anterior a esta data, serão inseridos no projeto. Utilizaremos, como fundamentação teórica, os trabalhos já produzidos sobre história da Psicologia no Brasil, historiografia da Psicologia e sobre a história da Mato Grosso.

Juliana Ferreira da SilvaO DISCURSO PSICOLÓGICO NA FUNDAÇÃO DA

CRIMINOLOGIA BRASILEIRAO texto aborda as teses principais da criminologia brasileira do período de 1940 a 1960. Descreve argumentos e dispositivos que fundamentaram a articulação do discurso psicológico na Criminologia brasileira, buscando compreender como o saber psicológico firmou-se como prática judiciária no Brasil, isto é, como profissionais de psicologia e psiquiatria credenciaram-se como interlocutores do judiciário, tanto na compreensão da origem da conduta criminal, quanto no tratamento do condenado. Uma aproximação ao campo de estudos da criminalidade indica muitas vias pelas quais o saber psicológico dialoga com aqueles que se propõem a elucidar o fenômeno delituoso. A psicologia angariou um lugar privilegiado no debate a respeito do crime, seja na esfera do judiciário, da mídia ou no bate-boca da cidade. Seja para opinar sobre o curso de uma penalidade cumprida por condenado, seja para determinar a responsabilidade de um acusado, seja para dar inteligibilidade a uma conduta socialmente repreensível, podemos cogitar que o recurso ao conhecimento psicológico seja uma prática tão freqüente quanto variada. Os marcos teóricos abordados no trabalho percorrem a história da criminologia e seu desenvolvimento na América Latina, a partir da perspectiva de Rosa Del Olmo (2004), para compreender o surgimento da criminologia enquanto ciência do delito e os processos pelos quais este saber foi introduzido em nosso continente. Com intento de analisar a especificidade do caso brasileiro em relação à formação do discurso criminológico, percorreremos a história da criminologia brasileira apontada no trabalho de Cristina Rauter (2003). Foi igualmente essencial entender a trajetória da formação da psicologia jurídica, conforme descrita na análise das teses de medicina legal realizada Jacó-Vilela, Santos & Pereira (2005). E, ademais, compreender a articulação entre os conceitos de crime e de loucura, a partir da inserção do saber médico-psicológico ao contexto judiciário, tal qual comentado por Carrara (1998). O trabalho tomou como material de análise a Revista Brasileira de Criminologia, uma publicação que constituiu Órgão Oficial do Instituto de Criminologia da Universidade do Estado da Guanabara, entre os anos de 1947 e 1967. A escolha da Revista Brasileira de Criminologia (doravante, Revista baseia-se na consideração de que tal publicação constituiu um esforço acadêmico para consolidação de um campo de discussão do tema da criminalidade dentre a intelectualidade brasileira e pôde revelar os principais argumentos e embates envolvidos na consolidação tanto de uma política pública que aposta no tratamento do condenado, quanto de uma rede de profissionais autorizados a levar este projeto adiante. A metodologia utilizada durante o mestrado constituiu-se da seleção de textos que apresentavam temas de interface entre a psicologia e a criminologia a partir da leitura da Revista. Realizou-se a leitura integral do volumes de nº 1, 2, 15 e 16; sendo eles, respectivamente, o primeiro, segundo, penúltimo e último volumes da Revista. O recorte cronológico obedeceu ao critério de favorecer o momento de formação e acomodação do campo da Criminologia Brasileira, representado pelos volumes

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iniciais; em contraposição a um momento de maior amadurecimento do campo, representado pelos últimos volumes. Foi escolhido cada trecho em que havia citação de termos ligados à pesquisa acadêmica dos fenômenos mentais, estando incluídas as investigações em psicologia, psiquiatria e, muitas vezes, a antropologia criminal. Os trechos selecionados na Revista estão tabelados segundo: classificação temática, uma breve descrição do argumento apresentado, sua localização no conjunto dos volumes da Revista (ano, número e página) e o fragmento textual. Os dados foram catalogados por assunto ou tema, são eles: Epistemologia da Criminologia: categoria utilizada quando o texto argumentava sobre o conjunto de disciplinas que formam a área da Criminologia. Causalidade Bio-psíquica da Criminalidade: categoria que engloba a perspectiva teórica sobre o fenômeno criminal que postula causas bio-psicológicas para a conduta delituosa. Políticas e instrumentos de controle social do delito: categoria empregada aos trechos que apresentavam os argumentos e propostas normativas concernentes à criação de estabelecimentos penitenciários destinados ao tratamento e pesquisa da saúde mental dos condenados e à atuação dos profissionais de psicologia e psiquiatria nestes locais. Palavras-chave: Crime, História da Psicologia Brasileira, Instrumentos de controle social do delitoPesquisa concluída

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Julio Cesar Cruz Collares-da-RochaNOTAS SOBRE A HISTÓRIA DA PSICOLOGIA COMUNITÁRIA NO BRASIL DURANTE AS DÉCADAS DE 1960-1970 EM UNIVERSIDADES PÚBLICAS E PRIVADASA Psicologia Comunitária no Brasil, apesar de possuir uma história relativamente recente, conseguiu ocupar seu lugar na Academia, a partir das práticas pioneiras dos grupos de pesquisa/intervenção em diversas universidades como, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Em face do exposto, nosso objetivo foi realizar uma revisão da história da psicologia comunitária nas décadas de 1960 e 1970, a partir de documentos e história oral nas universidades supracitadas, realizando entrevistas e analisando documentos diversos (revistas científicas, livros, monografias, dissertações, teses, relatórios, manuscritos, planos de ensino etc). Quanto à psicologia comunitária na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), esta começou no final da década de 1960, com trabalhos relacionando psicologia social e comunidade capitaneados por Célio Garcia. O

referencial teórico-metodológico utilizado era plural, e destacamos a psicologia social, intervenção psicossocial, análise institucional, socioanálise, pesquisa-ação, educação popular, utilização de escalas de atitude e questionários de observação de comportamento, representações sociais etc. O ‘Setor’ de Psicologia Social foi o precursor da psicologia comunitária e esta pode ser chamada de uma psicologia social comunitária em face de sua origem. Após a reforma curricular de 1974, a disciplina de ‘psicologia comunitária e ecologia humana’ foi incluída no currículo, e começou a ser ministrada, no início de 1975, por membros do ‘Setor’ na Graduação de Psicologia. Na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), tivemos como prática o ‘Projeto Osasco’, a partir de 1976, criado por Alberto Abib Andery, e que teve participação de Silvia Lane, Odette Pinheiro e uma equipe de estudantes e egressos do curso de Psicologia e estudantes e profissionais de outras áreas. No ‘Projeto Osasco’, era realizado atendimento clínico com uma visão social, isto é, buscando nas condições de vida das pessoas os aspectos sociais perturbadores da saúde, envolvendo as pessoas na resolução dos aspectos sociais que dificultam a existência; e trabalho psicoeducativo com grupos de adolescentes, de mulheres e de escolares. O trabalho era orientado pela psicologia social, marxismo e educação popular. Na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), encontramos as atividades do Setor de Psicologia Comunitária no Hospital Fernandes Figueira e a criação da disciplina de ‘psicologia comunitária’, ambas em 1972. Apesar do trabalho do Setor de Psicologia Comunitária não atender as gestantes nas comunidades em que viviam, o perfil socioeconômico delas era similar ao público-alvo mais comum nos trabalhos de psicologia comunitária – mulheres de uma população de baixa renda. Levando em consideração as similaridades entre os primórdios da psicologia comunitária em Cuba e o trabalho do psicólogo comunitário nos Estados Unidos da América nos Centros de Saúde Mental Comunitária, na década de 1960 e com gestantes realizada no Setor de Psicologia Comunitária no Hospital Fernandes Figueira, em 1972, podemos afirmar que houve uma prática de psicologia comunitária, ainda que, nas décadas seguintes, esse tipo de atividade estivesse sendo creditado ora como fazendo parte da psicologia da saúde, ora fazendo parte da psicologia hospitalar. Quanto ao ensino de psicologia comunitária, ele começou em 1972, na Graduação de Psicologia ministrado pela Professora Maria Elizabeth dos Santos: esta disciplina discutia as novas formas de atuação do psicólogo, era orientada pelas formulações de José Bleger e eram discutidos temas do cotidiano social, como a questão das novelas. Quanto à psicologia comunitária na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a criação do Mestrado em Psicologia, em 1976, com a área de concentração de psicologia comunitária foi a primeira vez que a área ganhou destaque num Programa de Pós-Graduação em Psicologia, no Brasil. Nesse período, a orientação da psicologia comunitária era diversa, e reconhecemos duas vertentes no ensino da mesma: uma capitaneada por Maria Alice D’Amorim, amparada pelos referenciais norte-americanos de saúde mental comunitária e voltados para a pesquisa; e outra capitaneada por Dirceu Malheiro, com referenciais latino-americanos de educação popular e trabalho social, voltados

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para o conhecimento dos problemas sociais nacionais e a reflexão sobre práticas que pudessem minimizá-los pela ação do psicólogo. Apesar da tradição em psicologia comunitária na UFPB, o fechamento da área de concentração, em 1980, parece ter interrompido a ascensão da área na instituição e a produção relacionada ao mestrado foi resignificada como pertencente á outras áreas, como a psicologia social, psicologia política, psicologia dos movimentos sociais e afins. Concluímos que a psicologia comunitária se desenvolveu a partir da psicologia social na maioria das universidades pesquisadas; que sua entrada no meio acadêmico se deu tanto pela graduação quanto pela pós-graduação; que uma diversidade teórico-metodológica permeia o desenvolvimento da área, sendo destacado o papel da educação popular na maioria das práticas; e que boa parte dos trabalhos estava direcionada para as populações de baixa renda. Palavras-chave: Psicologia social, Comunidade, Memória, História oralPesquisa concluída

XLuiz Fellipe Dias da RochaA PSICOLOGIA E A REVISTA A ORDEM: RELAÇÕES ENTRE PSICOLOGIA E CATOLICISMO ENTRE 1920 A 1950 NO BRASILDesde Agostinho sabe-se que a religião proporciona um sentimento de interiorização, componente relevante dos estudos psicológicos. Neste sentido, o objetivo deste trabalho é analisar a relação da Igreja Católica com a Psicologia no Brasil e como aquela encarou a emergência do campo psicológico entre as décadas de 1920 e 1950. A Igreja Católica brasileira, que vinha de uma crise com o Estado desde o final do Império, perdeu mais privilégios com a Proclamação da República. Visando recuperar seu antigo prestígio e “recatolizar” os intelectuais, considerados corrompidos pelas novas ideias materialistas e cientificistas do século anterior, e com o aval do Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Sebastião Leme, um grupo de intelectuais criou, em 1921, a revista A Ordem e, em 1922, o Centro Dom Vital, do qual a revista tornou-se o órgão oficial. O objetivo específico de estudo da pesquisa foi que tipo de psicologia está presente na citada revista, nas quatro décadas mencionadas. Para tanto, fez-se o levantamento de todos os artigos publicados entre as décadas de 1920 e 1950, selecionando-se, a partir da analise dos títulos, aqueles que pudessem tratar de temas psicológicos. Como a psicologia ainda não era um campo autônomo no Brasil e se encontrava inserida em disciplinas como pedagogia e medicina, selecionou-se também para análise artigos que discutiam educação e saúde. Por último, analisou-se o discurso presente nos artigos selecionados, procurando entender qual o contexto em que foram escritos, razão pela qual foi importante estudo prévio sobre história do

Brasil e da Igreja Católica; quem fala nos textos - motivo pelo qual realizaram-se pesquisas biográficas; para quem o discurso é dirigido; quais são as vozes presentes nos textos; a que gênero estes textos pertencem e como são apresentados os argumentos. Dentre todos os artigos analisados, pudemos perceber três grandes categorias: artigos que tratavam de Psicologia sem conteúdos religiosos, artigos que buscavam defender o pensamento cristão católico através do tema abordado e artigos que buscavam defender o pensamento cristão católico criticando o tema abordado. Além disso, também se observou a presença da questão da educação em todas as décadas analisadas, porém com diferentes tipos de abordagem em cada uma delas. Comparando com as décadas de 1920 e 1930 nas quais já aparecem artigos com temas de psicologia, mas com caráter estritamente moral, vê-se que houve uma mudança considerável nos anos de 1940 e 1950. Constatamos, porém, que, embora o saber Psicológico ganhe um destaque crescente, ainda se procura defender o domínio da igreja sobre o comportamento e a moralidade dos fiéis; e demarcar o limite que a ciência emergente deve respeitar, ou seja, embora exista um saber psicológico, este não deve se opor as verdades católicas.Palavras-chave: Igreja Católica, Religião, CiênciaProjeto de pesquisa

XMarcela Franzen Rodrigues

DE NINA RODRIGUES A BASTIDE – UMA ANÁLISE PSICOSSOCIAL DAS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS

Este trabalho pretende observar a importância das análises psicossociais nos textos escritos sobre os cultos religiosos de origem africana em um período de oitenta anos (1890-1970) no Brasil. Para tanto, parte-se de três autores, a saber, Raimundo Nina Rodrigues, Arthur Ramos e Roger Bastide. Durante o século XIX, um dos principais objetos de estudo da intelectualidade no Brasil foi a população que aqui estava alocada. A mistura de etnias que ocupava o território nacional era fonte constante de apreensão para aqueles que se ocupavam em projetar o futuro da nação. Mais do que classificar populações indígenas e negras, era necessário distinguir a fundo seus costumes, não somente no intuito de conhecimento, mas também para saber o que esperar de uma população que, no caso dos negros, não parava de crescer e misturar-se com as demais populações. Entre os diversos trabalhos e pesquisas realizados a fim de analisar a realidade do negro no Brasil, o estudo das religiões de origem africana foi um dos mais proeminentes. Entender o funcionamento dos rituais de Candomblé e outros cultos de mesma origem era uma das formas de compreender melhor o funcionamento político e social dos grupos negros que aqui tinham se estabelecido, além de, é claro, dissipar o medo que estes rituais causavam na população civilizada (leia-se branca) do país. Dentro dos estudos dos autores mencionados, intenta-se analisar o tema dos cultos afro-brasileiros a partir do fenômeno da possessão ou transe. Os três autores analisados

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eram unanimes ao declarar o momento da possessão como um dos pontos principais dos cultos afro-brasileiros, e grande parte de seus trabalhos erigiu-se a partir da descrição e análise de tal fenômeno. Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) é um nome importantíssimo enquanto pioneiro dos estudos das religiões afro-brasileiras, considerado também como o primeiro etnógrafo brasileiro, por ter sido o primeiro intelectual a adentrar nos candomblés baianos e descrever sua estrutura física e simbólica. Ele analisou a religião a partir de hipóteses médicas e psicológicas, baseadas, sobretudo, nos pressupostos biológicos, racialistas e evolucionistas em voga na época. Seu trabalho influenciou intensamente os estudos de outro médico, Arthur Ramos (1903-1949), que também analisou os cultos afro-brasileiros. Apesar de também ter se formado em medicina, Ramos encontra-se no que podemos chamar de fronteira entre os estudos médicos e sociais, por sua análise mais cultural dos fenômenos. Arthur Ramos também se debruçou longamente sobre a questão da possessão religiosa, no entanto, ao contrário de Nina Rodrigues, deslocou a ênfase da psiquiatria para a psicanálise e para os estudos da “mentalidade primitiva” segundo Lévi-Bruhl. As obras de Nina Rodrigues e Ramos antecederam o trabalho do principal especialista da história das religiões africanas no Brasil, o sociólogo francês Roger Bastide (1898-1974). Bastide veio ao Brasil na década de 1930, e passou a percorrer os candomblés e macumbas do nordeste e do sudeste brasileiro. Ele analisou a possessão sob o ponto de vista sociológico, mas incorporou uma dimensão psicológica na lógica de suas análises ao compreender o campo religioso como um espaço da interioridade, e, portanto, da psicologicidade. O recorte deste trabalho – o fenômeno da possessão ou transe – servirá enquanto um guia para a análise bibliográfica. O período inicial para o trabalho proposto, 1890, refere-se aos primeiros estudos de Nina Rodrigues sobre os Candomblés da Bahia. O período final, 1970, representa não só os últimos trabalhos de Bastide sobre o tema, mas também uma divisão efetiva dos campos do saber médico-psicológico e sócio-antropológico. Assim, parte-se de uma época na qual não havia uma distinção clara entre estudos médico-legais e ‘sociais’ até chegar numa época na qual as divisões se tornarão quase que irreconciliáveis. Desta forma, pode-se discutir não apenas da história de uma disciplina, mas também do processo de formação, diferenciação e institucionalização entre campos de estudos.Palavras-chave: História da Psicologia, Raimundo Nina Rodrigues, Arthur Ramos Roger BastidePesquisa em andamento

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Mariana Alves GonçalvesUMA ANÁLISE DAS PRODUÇÕES TEXTUAIS DA

PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA NO BRASIL ENTRE OS ANOS DE 1990 E 2010

Este trabalho tem como objetivo mapear as produções textuais da Psicologia Social Comunitária (PSC) no Brasil entre os anos de 1990 e 2010. Nosso material de análise foi o conjunto de suas publicações neste período no formato de artigos, livros, teses e dissertações. Contextualizamos essa discussão a partir de dois pontos principais: a trajetória da Psicologia Social e os caminhos da profissão de psicólogo no Brasil. Além disso, apresentamos o percurso histórico da PSC nos continentes norte e latino americanos e destacamos algumas experiências deste campo no país entre os anos de 1970 e 1990. No contato com o material, selecionamos como principais pontos de discussão: a consolidação da PSC como um campo disciplinar; as vinculações teórico-epistemológicas da PSC; o conceito de comunidade; a caracterização do trabalho do psicólogo comunitário e a defesa de sua especificidade; e os objetivos de suas intervenções. Ao realizar esse mapeamento, foi possível historiar os argumentos produzidos por autores da PSC em busca de uma identidade para a área e problematizar a ênfase na oposição entre uma Psicologia latina e uma norte-americana como recurso estratégico desta afirmação identitária. A partir da análise dos pontos de discussão, apontamos, também, para a fragilidade dos limites deste campo que nos parece tão heterogêneo e disperso.Palavras-chave: Psicologia Social. Trabalho do psicólogo. Psicologia Comunitária. Comunidade.Pesquisa concluída

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Pedro Felipe Neves de MuñozCIÊNCIA E RAÇA: A MEDICINA MENTAL NAS RELAÇÕES

BRASIL-ALEMANHA (1919-1945)Doutorando do PPGHCS - COC/Fiocruz Apoio: Capes Membro do GP CNPq O físico, o mental e o moral na história dos saberes médicos e psicológicos.Esta pesquisa de doutorado versa sobre a medicina mental nas relações científicas de Brasil-Alemanha (1919-1945). Seu objeto de investigação mais específico é a produção desse conhecimento científico e o engajamento político de determinados médicos no debate público do período, sob o contexto histórico da circulação internacional da psiquiatria organicista e da eugenia, principalmente, no eixo Rio de Janeiro, Berlim, Munique e Hamburgo. Com esse intuito, dialogamos diretamente com a história intelectual (principalmente, com as proposições de

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François Sirinelli) e com a história transnacional da medicina. Para investigar a circulação de médicos, saberes e práticas na rede teuto-brasileira da medicina mental, analisaremos um corpus documental diversificado, composto por congressos nacionais, latino-americanos e internacionais; viagens científicas; cursos de médicos; correspondências; coleções institucionais e acervos pessoais; mas, principalmente, periódicos especializados em psiquiatria, neurologia e eugenia, de veiculação nacional e internacional (especialmente, os Arquivos Brasileiros de Neuriatria e Psiquiatria; Arquivos Brasileiros de Higiene Mental; Boletim de Eugenia; Revista Médica de Hamburgo e Revista Germano-Ibero-Americana; Zeitschrift für die Gesamte Neurologie und Psychiatrie; Archiv für Rassen- und Gesellschaftsbiologie).Palavras-chave: política científica, transnacionalidade, psiquiatriaPesquisa em andamento

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Roberta Maria FedericoDAS TEORIAS RACIAIS AO MITO DA DEMOCRACIA RACIAL: HISTÓRIAS DA PSICOLOGIADiversa é a quantidade de pesquisas sobre essa temática em muitos campos do conhecimento. A própria fundação de uma Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN) no ano 2000, pode ser caracterizada como uma forma de dar visibilidade à quantidade de pesquisas sobre o assunto de maneira multidisciplinar. Ainda assim, o reduzido número de publicações na área da Psicologia dá ensejo ao questionamento feito pelo antropólogo Kabengele Munanga em entrevista concedida à Antônio Ciampa (2000) para a edição sobre 500 anos de descoberta do Brasil da Revista da ABRAPSO: “Qual é a explicação dessa ausência e desse silêncio (de nossa Psicologia Social) sobre um tema que toca a vida de mais de 60 milhões de brasileiros de ascendência africana?”. A pergunta apresenta em si a mais potente das respostas dada pelo entrevistado; a de que o mito da democracia racial aliado à fundamentação num psiquismo universal abstrato diluidor das especificidades, tenha contribuído para essa indiferença. Por outro lado, uma fato relevante para esta discussão foi o lançamento pelo Conselho Federal de Psicologia no ano de 2002, da Resolução 018/2002, que dá recomendações para que os psicólogos não sejam omissos diante de situações de discriminação racial.Palavras-chave: relações raciais, racismo, raçaProjeto de pesquisa

Thiago Sant Anna PereiraO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DA PSICOLOGIA DA

LIBERTAÇÃO: A PERSPECTIVA HISTÓRICAO objetivo geral deste trabalho é por meio de uma pesquisa histórica apreender o processo de construção do projeto ético-político da Psicologia da Libertação em textos de Ignácio Martín-Baró. Para tanto utilizaremos o materialismo histórico-dialético como referencial teórico. Deste objetivo geral desdobram-se os seguintes objetivos específicos: a) apreender as raízes históricas do pensamento de Martín-Baró; b) identificar os principais conceitos da Psicologia da Libertação tal qual formulados por ele. O eixo de ensino nas formações universitárias em Psicologia no Brasil é predominantemente composto por teorias e práticas psicológicas oriundas dos Estados Unidos e Europa. Historicamente é possível compreender o motivo dessa grande influência: a Psicologia, em especial a Psicologia Social, começou a se desenvolver na Europa e posteriormente teve seu núcleo gravitacional deslocado para os Estados Unidos. Porém o que é incoerente é uma aplicação irreflexiva dessas teorias e práticas em regiões que têm uma realidade histórica e social diferente. A crítica ao colonialismo intelectual feita por algumas vertentes da Psicologia Social latino-americana não significa negar o conhecimento historicamente produzido no chamado primeiro mundo, mas, antes de tudo, significa que a apropriação deste conhecimento deve ter como ponto de partida as condições histórico-sociais da América Latina. (GEWEHR, 2010). Assim como Martín-Baró (1997) aponta, a psicologia pode não ser convidada a intervir nos mecanismos socioeconômicos que promovem a injustiça social, porém é incitada a intervir nos processos subjetivos de legitimação científica que sustentam esses mecanismos. Realizar-se-á então uma pesquisa histórica, pois, como diz Fontana (1998), apesar das dificuldades encontradas em investigar o passado, um estudo histórico sério pode ajudar, sem cair num extremo relativismo, a nos ensinar a compreender criticamente o marco de nossas relações sociais e a livrar-nos de tópicos e de preconceitos que, eventualmente, impeçam as mudanças sociais favoráveis às maiorias oprimidas. Uma pesquisa histórica sobre a Psicologia da Libertação participa da produção de conhecimentos que contribui com a disseminação do ensino de uma psicologia que favoreça as imprescindíveis transformações sociais na América Latina. Este trabalho dá continuidade e integra as pesquisas feitas pelo NEHPSI (Núcleo de História da Psicologia) da PUC-SP em seu projeto “Psicologia social desde América Latina”.Palavras-chave: História, Ignácio Martín-Baró, América LatinaPesquisa em andamento

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Vera Rita de Mello FerreiraPSICOLOGIA ECONÔMICA: ORIGENS, MODELOS, PROPOSTASA pesquisa que investigou as origens da psicologia econômica, de seus primórdios até seu estabelecimento como disciplina em diversos países europeus, inicialmente e, mais tarde, começando a se disseminar por outras regiões, foi realizada no Núcleo de História da Psicologia do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Social da PUC-SP, entre 2003 e 2007, durante o doutorado da autora, sob orientação da Profa. Dra. Maria do Carmo Guedes. Seu objetivo foi mapear a constituição deste campo de estudos, que é considerado, em sua forma contemporânea, uma ramificação da psicologia social, ou da psicologia industrial ou organizacional, a fim de oferecer subsídios para sua construção e instalação no Brasil. A hipótese subjacente a este objetivo foi de que o conhecimento da área pudesse despertar o interesse por ele e facilitar a constituição de uma rede de pesquisadores com colaboração interdisciplinar no país. A pesquisa foi desenvolvida a partir de uma perspectiva histórica, e adotou o método analítico-descritivo para discutir os achados coletados por meio de ampla pesquisa bibliográfica, que cobriu o Brasil e outros países, realização de uma mesa-redonda com pioneiros da área, recurso a fontes orais de testemunhas e participantes ativos de seu desenvolvimento. Este levantamento permitiu que os dados fossem sistematizados dentro das seguintes categorias: 1. também como história do presente, visão panorâmica da situação atual nos países em que se encontra constituída, no que se refere às relações com outras abordagens dentro da psicologia (está intimamente ligada às perspectivas experimental e aplicada, esteve, por décadas, fundamentada pela abordagem comportamental e, atualmente, é informada pela psicologia cognitiva), métodos, linhas de pesquisa (poupança, decisões domésticas, crédito e endividamento, consumo, meio ambiente e sustentabilidade, dinheiro, socialização econômica, crises, entre outras), literatura, disseminação, e discretos indícios de sua presença no Brasil desde a década de 1930; 2. origens da disciplina, desde seus primórdios, no que foi considerado sua “pré-história” (Antiguidade, Idade Média, século XVIII), passando por precursores na economia política, até as primeiras referências mais explícitas ao seu nascimento, entre o final do século XIX e início do século XX, por parte daqueles que são considerados seus fundadores (Gabriel Tarde, na França, e Thorstein Veblen, nos EUA), acompanhando sua trajetória inicial e os esforços envidados para seu estabelecimento, que só veio a ocorrer de modo mais efetivo após a Segunda Guerra Mundial, com estudos de George Katona, nos EUA, que questionaram profundamente os métodos tradicionalmente empregados por economistas para fazer projeções sobre a economia; 3. a segunda metade do século XX e início do século XXI, que remetem à psicologia econômica moderna, foram discutidos a partir dos principais modelos que a vem embasando, elaborados por autores contemporâneos, a partir de obras consideradas seminais dentro dela; nesta categoria, a perspectiva histórica foi examinada à luz de definições da disciplina e de três conceitos básicos (racionalidade, comportamento econômico e tomada de

decisões); incluiu-se, também, a relevância das contribuições de dois pesquisadores da área que receberam o prêmio Nobel de Economia (Herbert Simon, 1978; Daniel Kahneman, 2002). A análise permitiu que fossem traçados: a trajetória histórica da disciplina, constituída em função da insuficiência encontrada, originalmente, por pensadores sociais e economistas e, mais tarde, por psicólogos, nas teorias econômicas tradicionais para explicar fenômenos econômicos; seus diálogos com outros campos científicos; sua localização atual na interface de psicologia e economia, constituindo-se em seu objeto de estudo o comportamento econômico de indivíduos, grupos, populações e gestores, com foco sobre tomada de decisão e os processos cognitivos e emocionais presentes nessa operação. A pesquisa também possibilitou que fossem propostos: um modelo de tomada de decisão que combinou dados de estudos psicoeconômicos a teorias e observações psicanalíticas, fundamentado na importância das emoções para os processos cognitivos, e centrado na polaridade entre ilusão e pensar; e uma agenda de pesquisa, intervenção e inserção para a psicologia econômica no Brasil, com ênfase sobre a importância de proporcionar-se condições para informar a população acerca de seu comportamento econômico e como decisões são tomadas neste âmbito, que contemplaria tanto dados sobre a Economia, como conhecimentos sobre funcionamento psíquico, com o objetivo de favorecer a apropriação das escolhas feitas e emancipação por parte de diferentes segmentos da população. Desde o término da pesquisa, publicada em forma de livro em 2008, a hipótese inicial vem sendo gradualmente confirmada, com o campo ganhando crescente relevância, disseminação e visibilidade no país. Embora ainda não conte com inserção acadêmica, o número de pesquisadores dedicados a estudos de psicologia econômica vem aumentando, aplicações começam a se desenhar, aproximando a disciplina de políticas públicas voltadas, em especial, para a educação financeira, como na ENEF-Estratégia Nacional de Educação Financeira (cujo programa, que contou com contribuições de psicologia econômica, foi pioneiro no mundo nesse sentido), e para o superendividamento, dando suporte ao PAS-Programa de Apoio ao Superendividado, uma parceria da Fundação Procon-SP e Tribunal de Justiça-SP.Palavras-chave: Aplicações. Comportamento econômico. Decisões econômicas. Perspectiva histórica. Políticas públicas. Tendências.Pesquisa concluída

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Keyla Mafalda de Oliveira AmorimUMA HISTÓRIA DA POLÍTICA CIENTÍFICA DA PSICOLOGIA NO BRASILNesta investigação, objetiva-se identificar como a política científica no Brasil se relaciona com a área da Psicologia no país. Questiona-se: que aspectos da política científica no Brasil tangenciam o modo como se produziu e se produz Psicologia no país? Que debates da Psicologia foram tomados como parâmetros para o conjunto das políticas científicas em outras áreas do conhecimento? O escopo metodológico deste estudo é o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), agência de fomento e regulação da ciência brasileira, fundada em 1951. Os objetivos desta pesquisa são: 1) historiar as políticas de ciência, tecnologia e inovação do país, apontando suas implicações para o desenvolvimento do campo de pesquisa em Psicologia; e 2) discutir as contribuições dessa área do conhecimento na construção da política científica no Brasil. Para alcançar os objetivos propostos, realizar-se-á pesquisa histórica com uso de fontes documentais e orais, composta por dois estudos. No primeiro, a indução do Estado na política científica será o foco de análise; no segundo, serão enfatizadas as contribuições da Psicologia para a política científica brasileira. No primeiro estudo, serão procedimentos: mapear a política científica no Brasil, por meio de fontes como os sites do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e suas agências; especificamente no CNPq, o seu Centro de Memória; e os sites das associações científicas da Psicologia. Ainda neste estudo, consultar, por meio de entrevistas semiestruturadas individuais, técnicos do CNPq diretamente ligados à área da Psicologia, objetivando obter narrativas sobre o modo de funcionamento da agência e o perfil de investimento nessa área. No segundo estudo, identificar o protagonismo de bolsistas de produtividade do CNPq e o lugar que ocupam na comunidade acadêmico-científica, considerando-se que esses atores podem estar diretamente ligados à construção da política científica no país, e cientes do impacto dessa política para a Psicologia. Para concretizar este estudo, serão consultados os Currículos Lattes dos bolsistas desde o início desse Programa (1976), para identificar suas atuações nos cargos de representação da área, em instâncias do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, do Sistema Nacional de Pós-graduação e das associações científicas. Em seguida, serão realizadas entrevistas semiestruturadas individuais com pesquisadores, que serão consultados a partir dos seguintes critérios: participação no CA-PS, participação em cargos de representação na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), membros de diretorias de associações científicas de âmbito nacional. Nas entrevistas, serão problematizados: as atribuições e a importância dos cargos que ocuparam ou ocupam para a elaboração de políticas

científicas no Brasil, as políticas de indução de produção científica, o histórico das mudanças nos critérios objetivos de concessão de bolsas de produtividade em pesquisa e a aplicação desse modelo aos demais âmbitos de fomento para a comunidade científica da área, o fomento setorizado e suas repercussões para a Psicologia, as relações entre as entidades da comunidade científica e as agências de fomento. Os documentos e entrevistas serão catalogados com auxílio do programa QDA Miner, para análise por meio de uma perspectiva de caráter histórico, considerando continuidades, rupturas e contradições da política científica no Brasil. Os primeiros resultados desta pesquisa referem-se à contextualização do campo de estudo. Identificou-se que os bolsistas são, obrigatoriamente, consultores ad hoc do CNPq e da CAPES e convidados a participar de cargos deliberativos da política científica em outras agências, o que impulsiona uma regularidade da participação na gerência da política científica, demonstrando a centralidade desse Programa. Os investimentos em ciência subsidiaram a ampliação da produção científica brasileira: em 2008, o Brasil atingiu o 13º lugar no ranking de países com maior número de publicações. Além de estar entre as principais áreas do conhecimento que contribuíram para esse aumento do número da produção científica brasileira, ressalta-se a consolidação da Psicologia no Sistema Nacional de Pós-Graduação, com 71 Programas. No CNPq, a Psicologia soma 297 pesquisadores com bolsas de produtividade em pesquisa. Apesar de a comunidade científica da Psicologia acompanhar o modelo de indução da produção científica que atravessa a dinâmica das agências de regulação e fomento, pesquisadores da Psicologia têm demonstrado inquietações com relação aos critérios de avaliação da pós-graduação e às exigências quantitativistas para financiamento de pesquisas na área. Nesse cenário, esses pesquisadores têm publicado sobre temas que atravessam a política científica e que refletem suas preocupações nos fóruns de discussão da comunidade sobre o tema. Esses estudos têm-se dirigido para metanálises de subáreas e temas, incentivo à pesquisa em Psicologia, ferramentas para divulgação de conhecimento, função das sociedades científicas, internacionalização, pós-graduação, qualidade das publicações, avaliação de periódicos e livros, função social do pesquisador, ética na pesquisa, entre outros. Ao final desta investigação, espera-se que as problematizações aqui empreendidas viabilizem uma discussão acerca do percurso da política científica no país e da Psicologia nesse cenário.Palavras-chave: História da Psicologia, Comunidade científica, Produção científicaPesquisa em andamento

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XI ENCONTRO DE PESQUISADORES EM HISTÓRIA DA PSICOLOGIA12-13 DE AGOSTO 2013PUCSP – SÃO PAULO

GRUPO: TEORIAS E SISTEMAS | MÉTODO | ABORDAGENS TEÓRICAS

Adriana Amaral do Espírito SantoPENSANDO A FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA PSICOLOGIA DO ESPORTE NO BRASILAtualmente, a Psicologia do Esporte no Brasil, mais de cinco décadas após suas primeiras intervenções oficiais, se depara com uma base teórica ainda insipiente e pouco clara. Ainda existem poucos estudos no país que se ocupam de estudar as questões relacionadas à sua construção teórica e de aplicação, buscando entendê-las historicamente. Parte desta deficiência está associada a uma dificuldade de categorização da Psicologia do Esporte como uma ciência do esporte ou como uma especialidade da Psicologia, fazendo com que muitas vezes utilize referenciais das ciências naturais, que nem sempre se aplicam ao homem no contexto esportivo. Assim, este projeto de tese de doutorado busca compreender as construções teóricas que fundamentam a Psicologia do Esporte no Brasil, verificando suas interfaces com os acontecimentos no âmbito da Psicologia geral nas décadas de 1970 e 80, como a disseminação do movimento humanista e das abordagens cognitivistas. Busca, assim, identificar possíveis impactos dos cruzamentos de diferentes fundamentações teóricas na construção de um arcabouço teórico e prático para a Psicologia do Esporte, além de contribuir com um tipo de material bibliográfico ainda escasso na área. Para isso, pretende verificar acontecimentos históricos da Psicologia nas décadas de 70 e 80, identificando como a Psicologia do Esporte, que se fortalece no Brasil neste período, incorpora as diferentes abordagens da Psicologia que se disseminavam no país, especialmente a gestalt-terapia, as abordagens cognitivistas e a psicanálise. Inicialmente, será realizado um levantamento dos principais periódicos de Psicologia que circulavam no Brasil, além de produções acadêmicas (dissertações e teses) entre as décadas de 70 e 90. Outra via de exploração será a compilação dos anais dos principais congressos e eventos ocorridos no período, investigando o teor dos trabalhos apresentados. Por fim, serão também efetuadas entrevistas com profissionais que começaram a atuar na área naquela época, elencados a partir das referências bibliográficas e também de eventuais indicações decorrentes das próprias entrevistas. Deste modo, o intuito deste trabalho é compreender o atual panorama da Psicologia do Esporte no Brasil, no que tange à sua fundamentação

teórica, através da análise histórica de sua construção, vislumbrando quiçá a possibilidade de um descortinamento de novas possibilidades de atuação.Palavras-chave: Abordagens da Psicologia, Gestalt-terapia, Análise histórica Projeto de pesquisa

XAlexandre Trzan-Ávila

UMA HISTÓRIA DA ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA NO BRASIL – RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO (1950 - 1970)

A presente dissertação tem por objeto elaborar um relato histórico da emergência da Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) no Brasil, com especial observância ao eixo Rio-São Paulo nas décadas de 1950, 1960 e 1970. A ACP faz parte da chamada Psicologia Humanista, um movimento inicialmente organizado pelo psicólogo norte-americano Abraham Maslow (1908-1970) na década de 1950, que contou com a forte participação de Carl Rogers (1902-1987), também psicólogo norte-americano, e fundador da atualmente denominada Abordagem Centrada na Pessoa. A trajetória profissional de Rogers foi marcada pelos acontecimentos de sua época, como a crise econômica americana da década de 1930, a Segunda Guerra Mundial, a Guerra Fria e os conflitos globais por questões étnicas, religiosas e raciais. Para uma melhor compreensão do desenvolvimento da ACP, este foi narrado em conjunto com a história dos principais acontecimentos políticos, econômicos e culturais dos EUA, buscando construir uma narrativa situada historicamente. O mesmo foi feito em relação à história da ACP no Brasil, nas décadas de 1950 a 1970, ressaltando-se o objetivo dos governantes nacionais de transformar o Brasil em uma grande nação em termos culturais e educacionais, para isso se valendo da criação de diversas instituições voltadas às crianças, adolescentes e jovens adultos, para seu atendimento psicológico, educacional, orientação profissional e aprimoramento técnico. A instauração da ditadura civil-militar iniciada em 1964, o processo de regulamentação da profissão de psicólogo

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e a criação dos primeiros cursos de psicologia no Brasil são destaque. Registrar a história da ACP no Brasil é uma tarefa que se justifica dado o contingente de profissionais que atuam neste referencial teórico e para incentivar a pesquisa em história da psicologia. A metodologia de trabalho adotada foi a revisão bibliográfica e o relato oral instrumentalizado por entrevistas com profissionais de destacada relevância na história da ACP no Rio de Janeiro e em São Paulo. Este estudo tem como marco final a vinda de Carl Rogers e sua equipe em 1977 ao Brasil para a realização do I Encontro Brasileiro Centrado na Pessoa (Arcozelo I), o que possibilitou a reunião, o reconhecimento mútuo e a troca de experiências entre os profissionais brasileiros, fechando desta forma o período da emergência da ACP no Brasil e favoreceu uma nova fase de desenvolvimento por todo o país.Palavras-chave: História da Psicologia, Psicologia Humanista, Carl RogersPesquisa concluída

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Catarina de Fatima Gewehr; Magda do Canto ZurbaMETODOLOGIAS ATIVAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM EM HISTÓRIA DA PSICOLOGIA - EXPERIÊNCIAS DOS CURSOS DE PSICOLOGIA UFSC/FURBDurante dois semestres consecutivos, no ano de 2006, foi realizada a integração das disciplinas de História da Psicologia, ministrada aos grupos de primeiro semestre dos cursos de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina e Universidade Regional de Blumenau. Tal integração se deu por meio da habilitação de um plano de ensino comum, desenvolvido ao longo do semestre citado. Ao final de cada semestre houve a reunião dos grupos de estudantes - em 2006.1 o encontro aconteceu na FURB; e em 2006.2, o encontro aconteceu na UFSC - em um seminário do qual participaram professores convidados, que trataram de temas relativos à História da Psicologia na América Latina. Após a exposição dos painelistas, os estudantes ocuparam a centralidade dos comunicados, manifestando as descobertas relativas à História da Psicologia em distintos países latinoamericanos. Da avaliação desta experiência, há a constatação de que se faz necessária a produção de materiais teórico-metodológicos capazes de subsidiar o ensino de História da Psicologia nos curso de graduação, em especial no que diz respeito à História da Psicologia no Continente.Palavras-chave: Aprendizagem Cooperativa, Metodologia de Ensino em História da Psicologia, Psicologia e América LatinaPesquisa concluída

Daniela LealO CONCEITO DE COMPENSAÇÃO: UM ESTUDO

HISTORIOGRÁFICOHá muito se fala da compensação, por exemplo, na cegueira: seja como algo místico, dado pelos deuses ou por Deus para suprir a falta do órgão/sentido retirado, seja como um “dom” natural que se dá automaticamente – quando da falta de um, outro sentido passa a exercer a dupla função, o que parece para os que veem, que os cegos possuem tato, audição ou olfato mais aguçados que os demais, originando-se, assim, o mito de que as pessoas cegas possuem poderes místicos ou sobrenaturais e que podem prever as coisas a sua volta. Mas, aceitar tais explicações como verdades absolutas nos levariam à concepções equivocadas sobre o verdadeiro significado do conceito de compensação e o processo que o envolve, ao longo da história, principalmente da história da psicologia. Para tentar responder e/ou comprovar esse posicionamento, realizamos uma pesquisa historiográfica com o objetivo de apresentar, primeiramente, a compreensão da palavra, do conceito compensação com base em suas origens etimológicas e, posteriormente, ao transitar por algumas áreas do conhecimento que se apropriam do conceito e chegar especificamente à menção do termo compensação pela psicologia. No que se refere à etimologia da palavra compensação, encontramos menção ao termo referindo-se a ponderação, ao equilíbrio de várias coisas juntas, a ação de pesar várias coisas ao mesmo tempo, a recompensa, ao ressarcimento de dano ou prejuízo, reparação, entre outras origens e definições que pautam-se nos negócios ou no direito. Na psicologia, especificamente, o termo compensação, relacionado aos processos psicológicos, foi descrito pela primeira vez por Alfred Adler, por volta do ano de 1912, a partir de sua teoria sobre a inferioridade. Para Adler (1917/1956), o estudo sobre a compensação psíquica era o ponto de partida para um novo conceito médico pautado no pressuposto de que a criança, desde o nascimento, devido a sua fragilidade, necessita da ajuda de outro ser – relações sociais. No entanto, muitas crianças chegam ao mundo dotadas de condições desfavoráveis que exigem adaptação à vida e, consequentemente, essas situações desfavoráveis ou inferioridades, como denomina Adler (1930/1948), quase sempre ocasionam uma luta entre o estado psicológico envolvido pelo sentimento de inferioridade e o surgimento da necessidade de libertar-se do sentimento de insegurança gerado pela inferioridade: compensação dos sentimentos de inferioridade. Em suma, a inferioridade dos órgãos afeta a vida psíquica diminuindo o indivíduo diante de si mesmo e aumentando seu sentimento de insegurança, originando uma luta para a afirmação da personalidade. Todavia, diante dos avanços sobre a forma de pensar a questão da deficiência, do defeito proposto por Adler, há um teórico que irá dizer que tais apontamentos necessitam de mais questionamentos, principalmente para se pensar a relação defeito-compensação durante os processos de desenvolvimento e aprendizagem; este teórico é L. S. Vigotski (1927/1983/1997). Segundo Vigotski, a compensação é apenas um dos possíveis desfechos desse processo, um dos polos do desenvolvimento; no outro polo encontra-se o fracasso da compensação; afinal,

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entre esses dois polos, entre os casos extremos, situam-se todos os possíveis graus de compensação, desde os mínimos até os máximos. Vigotski complementa, ainda, dizendo que crer que qualquer defeito será compensado inevitavelmente é tão ingênuo como pensar que qualquer doença termina inevitavelmente na recuperação. Posto isso, Vigotski afirma que a teoria da compensação possui um “grão” de verdade, que reside na compreensão de que qualquer defeito não se limita simplesmente à perda da função, mas sofre uma reorganização radical da personalidade e coloca em vigência novas forças psíquicas. Levando-nos a pensar, também, nas determinações exigidas pelo social frente ao desenvolvimento e à aprendizagem de uma pessoa com alguma inferioridade orgânica, pois acredita que a ação do defeito resulta secundária, isto é, a criança acometida pela deficiência não sente diretamente a deficiência, mas percebe as dificuldades que dela derivam, ou seja, a consequência do defeito nas relações sociais. Encontramos, portanto, nesta última afirmação o que acreditamos ser a grande contribuição do conceito de compensação para a compreensão dos processos de inclusão, ou seja, a possibilidade de aprendizagem e desenvolvimento por intermédio das relações sociais, principalmente quando nos referimos à educação. Afinal, quando da presença da deficiência, do defeito, caberá a sociedade, às pessoas que estão a volta da pessoa acometida pela deficiência, contribuírem para a formação de valores que recuperem a posição dessa pessoa em seus espaços e grupos, além do sentimento de importância, de pertença e de uma vida útil.Palavras-chave: Compensação; psicologia; deficiência.Pesquisa concluída

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Felipe Maciel dos Santos SouzaGRUPOS DE PESQUISA EM ANÁLISE DO COMPORTAMENTO EM MATO GROSSO DO SULO crescimento da Análise do Comportamento (AC) no país vem acontecendo de maneira não sistemática, em momentos diferentes e em regiões que se afastam do eixo sul-sudeste. Uma proposta para se estudar a história da AC no país é a partir de como ela surgiu e se desenvolveu em diferentes Estados brasileiros. Em 2011, Souza avaliou o desenvolvimento da Análise do Comportamento em Mato Grosso do Sul, caracterizando o processo de institucionalização desta área de conhecimento no Estado, e identificou a existência de dois grupos de pesquisa em Análise do Comportamento. Os grupos de pesquisa apresentam-se como uma oportunidade de encontro de analistas do comportamento para o debate e desenvolvimento de pesquisas. Com a realização desta pesquisa, pretendeu-se dar continuidade ao estudo do processo de institucionalização da Análise do Comportamento em Mato Grosso do Sul. Para isto, foram utilizados os nomes de

17 professores responsáveis por disciplinas de AC no Estado, e identificados por Souza em sua pesquisa de mestrado. Com estes nomes, utilizou-se a Plataforma Lattes para verificar em seus currículos a vinculação a algum grupo de pesquisa em Mato Grosso do Sul. Foram encontrados quatro grupos de pesquisa em Análise do Comportamento no Estado de Mato Grosso do Sul. Dois destes já haviam sido identificados por Souza em sua pesquisa de mestrado. Todos os grupos localizados estão registrados na área de Psicologia, e estão filiados às instituições públicas de ensino superior localizadas em Campo Grande e em Dourados. O grupo mais antigo encontra-se em Campo Grande, foi criado em 2007; já o último grupo foi criado em 2012, e encontra-se em Dourados. As datas de criação dos grupos coincidem com os anos em que seus professores líderes iniciaram suas atividades de ensino e pesquisa no Estado pesquisado. Apesar de serem grupos relativamente novos, as pesquisas realizadas por seus membros tem se destacado em eventos científicos nacionais, como se observou no Encontro da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC) de 2012, em que um trabalho realizado por um grupo de pesquisa de Dourados foi premiado. Por fim, pode-se perceber um crescimento na atuação dos analistas do comportamento no Estado tanto na área de ensino quanto na área de pesquisa.Palavras-chave: Brasil, Estado, História, Institucionalização, Lattes.Pesquisa concluída

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Maria Claudia FormigoniO QUE É UMA CRIANÇA PARA A PSICANÁLISE?

CONSIDERAÇÕES SOBRE A ESTRUTURA E O INFANTILNeste trabalho objetiva-se pesquisar o que é uma criança para a psicanálise. Para tanto, estabelece-se uma diferenciação entre infância, sujeito e infantil. A partir de uma perspectiva histórica, mostra-se que a infância, como concebida hoje, é um advento da Modernidade que deu às crianças um lugar particular e viabilizou o surgimento de diversos discursos sobre a criança e a infância. Destaca-se nesta pesquisa, também por meio de uma incursão histórica pelos textos freudianos conhecidos como Primeiras publicações psicanalíticas (1893-1899), que Freud rompeu com o ideal de candura atribuído às crianças à época, pois revelou a sexualidade infantil. As elaborações freudianas a esse respeito permitem estabelecer importante distinção entre infância, enquanto etapa da vida, e infantil, concebido como marca intrínseca ao psiquismo humano. Dessa forma, conclui-se que criança não é um conceito psicanalítico ou uma noção com a qual opera a psicanálise. Posto isso, parte-se para abordagem da concepção de sujeito conforme postulada por Lacan até o ano de 1958. Faz-se um percurso histórico por trabalhos lacanianos que vão de 1932 a 1958, a partir do qual é possível afirmar que para a

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psicanálise não se trata de uma criança ou de um adulto, trata-se, sim, do sujeito do inconsciente. Com base nisso, faz-se uma retomada do complexo de Édipo lacaniano, na qual evidencia-se que, do ponto de vista psicanalítico, há, na estrutura, um lugar que a criança, ser assim denominado pela cultura, tem que ocupar, o lugar de falo, e, na fantasia, a marca do que resta desse lugar, o infantil. O que importa à psicanálise, portanto, e se apresenta em uma análise, é justamente o infantil postulado por Freud, isto é, o que resta do lugar de falo que todo sujeito ocupou um dia. infância, sujeito, Freud, LacanPesquisa concluída

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Maria Fernanda Costa WaenyPSICOLOGIA HISTÓRICA (1833-2013). 180 ANOS DE HISTÓRIAPsicologia Histórica é um termo que sido usado desde, pelo menos, 1833; esta menção ao termo ocorreu em um verbete sobre a alma na "Enciclopédia de conhecimentos úteis". Desde então psicologia histórica foi repetidamente usada em textos, publicações seriadas e títulos de livros. O que veremos a seguir é um pouco desta história e um esforço para sistematizar os dados.Palavras-chave: Ignace Meyerson, historiografiaPesquisa concluída

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Norberto Abreu E Silva NetoSENSO COMUM E PSICOLOGIA: UM PERCURSO NA HISTÓRIA DO CONCEITO DE SENSO COMUM EM RELAÇÃO COM A TEORIA DA MENTEO relato de pesquisa a ser apresentado é parte de um projeto mais amplo sobre o conceito de "senso comum". Tal projeto objetiva oferecer subsídios para a clarificação dos usos desse conceito fundamental na produção do conhecimento em muitas disciplinas científicas, e para as práticas que levam à coesão social e promovem a vida social, pois, encontra-se no cerne da educação, da política, e da retórica. Sua relação com a psicologia começa com Aristóteles, que usou a expressão senso comum para designar uma faculdade da psique. Os escritores

clássicos romanos e os estoicos, mesmo partindo da psicologia aristotélica, desenvolveram um significado diferente para "sensus communis", noção que expressa costume, sensibilidade comum, espírito público, gosto, modo comum de viver ou de falar, e o sentido que dá fundamento à comunidade. Na modernidade encontramos essa noção no racionalismo de Descartes com o significado de "bom senso" e entendida como concepção epistêmica: "a capacidade racional de reconhecer o que vem diante da mente como uma ideia clara e distinta"; a capacidade que nos permite "reconhecer verdades racionais primeiras quando as encontramos". Na modernidade temos também a concepção de Giambatista Vico, que contém elementos das concepções antes mencionadas. Vico está de acordo com Aristóteles quanto à compreensão do senso comum como derivado da sensação, bem como com a cartesiana, da qual incorpora o aspecto epistêmico do "bom senso", e que aparece em sua definição dessa noção, a saber: "o julgamento sem reflexão que é partilhado por toda uma classe, todo um povo, uma nação, ou toda a raça humana". No entanto, para fugir do individualismo a que levam as concepções aristotélica e cartesiana, Vico pôs ênfase no conceito estoico de "espírito público" ou "sensibilidade comum". Por sua vez, Thomas Reid descreveu o conceito como "um cantinho da mente humana" e afirmou que ele deve servir de fundação a toda investigação filosófica e científica. Em seus estudos de "filosofia natural", e guiado pelos princípios de senso comum, Reid objetivou descobrir as leis que governam o trabalho da mente humana, suas operações e capacidades, das quais são exemplos: sensação e percepção, moções e julgamentos, e os atos de crer e de duvidar. E, no século vinte, encontramos referências às doutrinas de Reid nos escritos de G. E. Moore, e, por extensão em Wittgenstein, que embora jamais o tenha mencionado dele recebeu influência através da longa amizade e conversações que manteve com Moore. O livro de Wittgenstein, "Sobre Certeza", contém anotações sobre conhecimento, dúvida, e crenças, que foram escritas em diálogo com as obras de Moore em defesa do senso comum. Wittgenstein não usa a expressão senso comum mas fala de "visão de mundo", "imagem de mundo", e de "background herdado", e, em seu livro, estabelece a diferença conceitual entre conhecimento, conceito epistêmico que pertence aos jogos de linguagem, e certeza, que é não epistêmica, está fora dos jogos de linguagem e lhes serve de fundamento. Ainda do século XX temos a concepção marxista de Antonio Gramsci, que usa senso comum como um conceito, uma concepção de mundo, e uma ideologia; uma espécie de teoria. Na sua perspectiva, senso comum, religião, e filosofia estão intimamente relacionados e como tal devem ser analisados. Para Gramsci, esse conceito funciona como instrumento técnico de seu ativismo político. Nesse sentido, desejo registrar que, como um primeiro resultado de meu projeto de pesquisa, publiquei capítulo de livro intitulado Common Sense and Language: Wittgenstein and Gramsci (em Padilla Gálvez, J. e Gaffal, M., eds., "Doubtful Certainties - Language-Games, Forms of Life, Relativism". Frankfurt: Ontos Verlag, 2012, pp. 181-202), e no qual comparo as posições destes dois filósofos. Assim, dentro desse quadro acima esboçado, gostaria de trazer para debate no XI Encontro Interinstitucional de Pesquisadores em História da

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Psicologia alguns aspectos da teoria da mente e da doutrina do senso comum de Thomas Reid, em particular sua proposta de que os princípios de senso comum devem constituir o fundamento de toda investigação filosófico-científica da psicologia. E, para o debate dessa questão, em complemento a este resumo será apresentada uma relação de princípios de senso comum analisados por Reid.Palavras-chave: Epistemologia da psicologia; sensações; memória; percepção; crenças; julgamentos; certezas; verdade; linguagem; razão, sentido e comunidade; visão de mundo. Pesquisa em andamento

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Rayssa Maluf; Saulo de Freitas AraujoO PROBLEMA METODOLÓGICO DA INTROSPECÇÃO NO PENSAMENTO INICIAL DE WILLIAM JAMESUma vez definida como ciência dos fenômenos mentais, distintos em princípio dos fenômenos físicos, a psicologia enfrenta de imediato o problema de determinar método mais adequado para a investigação do seu objeto. O debate em torno do tema apontou diversas propostas metodológicas, tendo dentre elas o método introspectivo, que atuou como contraponto à “observação” nas ciências naturais. A partir do século XVIII, a introspecção vai sempre aparecer associada ao tipo específico de conhecimento gerado pelos psicólogos. No entanto, desde o início, alguns autores vêm apontando certos problemas na utilização do método introspectivo, chegando até mesmo a condená-lo por completo e a bani-lo de qualquer investigação psicológica séria. Mais recentemente, já no século XX, após ter sido desprezada por décadas durante o predomínio do behaviorismo, a introspecção reaparece no centro dos debates contemporâneos na filosofia da mente e na ciência cognitiva sobre o método mais adequado para o estudo empírico da consciência. Tendo em vista a importância histórica da introspecção, esse estudo tem como objetivo analisar e discutir o papel do método introspectivo na psicologia proposta por James, no fim do século XIX, e apontar a relevância de sua posição para os debates psicológicos contemporâneos. Em sua teoria psicológica, James discutiu em diversos momentos os pontos favoráveis e desfavoráveis desse método de investigação psicológica. Por diversas vezes, ele apontou a introspecção como instrumento de investigação cuidadosa da consciência, dos sentimentos e de outras funções psíquicas, quando os estudos sobre as funções fisiológicas do cérebro se mostravam insuficientes. Os dois principais textos sobre a introspecção, nos quais James discute os problemas metodológicos da psicologia, são: On some Omissions of Introspective Psychology (1884) e The Principles of Psychology (1890).Em On some Omissions of Introspective Psychology, publicado na revista Mind, em 1884, James tem

como objetivo demonstrar as dificuldades inerentes ao uso da introspecção como método de pesquisa dos fenômenos mentais, uma vez que o pensamento humano é dotado de alta complexidade. Dessa forma, James apresenta uma revisão do tema, envolvendo os principais autores da época, e destaca três principais dificuldades da introspecção. A primeira refere-se à dificuldade de se verem as partes transitivas do pensamento como elas realmente são, devido ao fato de não haver um correspondente exato do sentimento na nossa cognição. A segunda refere-se ao fato de a estrutura mental humana ser altamente complexa, fazendo com que ocorra uma dificuldade de relacionar um sentimento subjetivo com uma consciência objetiva que possa ser identificada e expressada verbalmente, ou seja, há uma enorme quantidade de sentimentos percebidos na nossa cognição, mas não somos capazes de identificá-los ou pronunciá-los devido a uma insuficiência linguística. Por último, há a dificuldade referente à distância que o psicólogo deve ter ao investigar o próprio sentimento, uma vez que ele deve sempre se manter do lado externo da consciência que ele está estudando para conseguir chegar a uma observação mais exata. Em The Principles of Psychology, de 1890, James dedica um capítulo aos métodos e armadilhas da psicologia e afirma que “a observação introspectiva é o que temos que confiar em primeiro lugar e sempre”, destacando, assim, sua importância nos estudos sobre os fenômenos mentais. No entanto, James ressalta que não devemos ser ingênuos ao aplicar o método introspectivo, para não cairmos nos problemas inerentes ao seu uso. Em decorrência da discussão, observamos que James, em seu pensamento inicial, acredita que, para utilizarmos a introspecção, devemos sempre ter em mente as dificuldades inerentes a seu uso, pois, quando utilizada de maneira ingênua, a introspecção pode gerar resultados duvidosos e até mesmo errados. Entretanto, ele acredita que o método introspectivo é um método válido e indispensável à psicologia, principalmente quando se refere ao estudo das funções mentais que estão além da fisiologia, que sozinha é incapaz de abarcar a psicologia em sua totalidade. Sendo assim, James se destaca, nesse primeiro momento, como um defensor do método introspectivo, garantindo à psicologia certa autonomia em relaçãoà fisiologia, o que revela a atualidade e a relevância de seu pensamento para os debates psicológicos contemporâneos.Palavras-chave: William James, introspecção, história da psicologiaTipo de Pesquisa: sem informação

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Rômulo Ballestê Marques dos SantosPSICOLOGIA DA PERCEPÇÃO E A MODERNA CULTURA DE VISUALIDADEO nosso trabalho tem como objetivo discutir o surgimento de um novo regime de visualidade no século XIX: o modelo de visão subjetiva na cultura ocidental. Pretendemos apresentar de que forma, no interior deste modelo, os estudos da psicologia da percepção visual, bem como as outras modalidades da percepção, constituem uma parte deste regime moderno de visualidade. Quando colocamos a percepção como parte desse nova forma de visualidade própria da cultura visual moderna, a entendemos configurada numa dupla inscrição: por um lado é fonte produtora da visibilidade moderna, de um estatuto específico da percepção visual moderna e, por outro lado, é produto de certas condições de possibilidade. Dessa maneira, nosso esforço é o de pensar o estatuto da percepção, mais especificamente da percepção visual, como um processo social gerado e atravessado por transformações artísticas, tecnológicas, científicas, econômicas e políticas, como efeito de diferentes espécies de forças e relações de poder. O que implica um afastamento da argumentação epistemológica que estabelece seus limites na exigência de cientificidade (e matematização), compreende o objeto dos estudos da psicologia da percepção como um dado biológico encarnado no fato fisiológico do organismo e afasta de qualquer ligação com aspectos histórico-sociais. Dito de outra maneira, pretendemos nos afastar da posição hegemônica que orientou a psicologia da percepção e sua pretensão de descrever a totalidade do fenômeno perceptivo a partir do reducionismo fisicalista e biologicista próprios do esforço de cientificidade perseguido pela disciplina psicológica, a partir do século XIX. Reconhecemos, entretanto, que os estudos da psicologia da percepção aparecem como parte integrante de um processo de modernização visual, um sujeito observador que é parte de uma cultura visual moderna e, ao mesmo tempo, se encontra como produto e como produtor da própria modernidade. A emergência do modelo de visão subjetiva se inscreve, desde o início do século XIX, numa expansão do campo das ciências da natureza e na consequente produção de novos discursos e práticas discursivas, instrumentos de conhecimento, aparatos técnicos. Tal expansão é marca de uma crise epistemológica geral entre a filosofia e a ciência moderna, entre a ciência da cultura e a ciências da natureza. É no interior dessa crise do conhecimento que a fronteira entre os domínios biológico e mecânico se dilui e a experiência visual se encarna na materialidade do corpo do observador constituindo, assim, a visão subjetiva. O trabalho sobre cores de Goethe, intitulado Doutrina das Cores (1810), ocupa um papel central nesta modificação da subjetividade corporal do observador, que foi a priori excluída da câmera escura e se transforma no lugar no qual um observador é possível. Uma modificação no regime de visualidade começa a se realizar numa marcante descontinuidade com o estatuto clássico de visão; a visão começa a se encarnar na organicidade e nos dispositivos fisiológicos do corpo do observador, desfazendo a distinção entre interior e exterior e produzindo um novo campo da percepção visual. Com efeito, a proliferação de

pesquisas incluem o delineamento das patologias da visão humana, visando a esclarecer os contornos do normal, as fascinantes ilusões óticas, a produção de inúmeros aparatos visuais, por exemplo, panoramas, diorama, peepshow, estereoscópio, fenacistoscópio, entre outros aparatos visuais que são comercializados em grande escala e habitam o espaço doméstico o domínio do privado, fazendo parte da produção de um modo de vida próprio da burguesia moderna das cidades industrializadas e urbanas e está na produção de noção mesma de espetáculo. Enquanto a percepção visual vai sendo encarnada no corpo, uma série de discursos e práticas produzem a verdade da visão. O discurso da psicofísica e da fisiologia dos sentidos superiores compõem o campo da psicologia científica nascente, ao mesmo tempo em que nas artes visuais uma produção discursiva é realizada, modificando o estatuto do observador e da própria atividade pictórica. É nesse contexto cuja visão pode ser controlada por técnicas de manipulação e estimulação que entendemos a psicofísica em seu esforço de mensuração da sensação na direção da quantificação da percepção humana. Uma vez que o sujeito da percepção reside na organicidade fisiológica, e o acesso à constituição do visível nos é dado pelo funcionamento dos aparatos sensoriais através da fisiologia dos sentidos superiores, uma ciência psicofísica da percepção pode surgir, tornando a sensação um objeto de abstração, mensurável e quantificável. Inúmeras áreas cruciais da pesquisa acerca percepção e da atenção, tais como tempo de reação, sensibilidade sensorial e perceptiva, ato reflexo, respostas condicionadas, surgirão como objetos de estudo dessas disciplinas emergentes. A psicologia da percepção não apenas como figura epistemológica mas como figura que surge através da relação de diferentes práticas discursivas, isto é, como saber, nos interstícios do discurso científico atravessa o século XX e se articula com diversas práticas e campos de discurso produzindo disputas, tensões e efeitos de poder. Palavras-chave: Visão subjetiva; modernidade visual; fisiologia dos sentidos; século XIX.Pesquisa em andamento

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Sandro Rodrigues GontijoCORPO, ALMA E ESPÍRITO NOS SERMÕES DE ANTÔNIO

VIEIRA: UMA PSICOLOGIA E UMA ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA

A cultura ocidental concebeu a interioridade do ser humano de vários modos segundo o clima cultural e o período histórico. Na Idade Moderna, a oratória religiosa oferece uma rica matriz para o estudo de saberes psicológicos veiculados

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na época. A cultura do século XVII, rotulada como barroco é uma cultura de persuasão, sendo a pregação religiosa o meio de comunicação de massa privilegiado. A oratória religiosa materializa-se por excelência nos sermões. Tal qual uma peça teatral, o sermão não foi inicialmente feito para ser lido, mas deve ser corporificado, animado por um sujeito e dirigido a outros. Foi feito para ser pregado. Poucos fizeram isso tão magistralmente quanto Antônio Vieira (1608-1697). Porém em dado momento o pregador se metamorfoseia em escritor. Em obediência ao seu superior geral e para determinar sua autoria o jesuíta dá seus sermões à estampa, publica-os. O objetivo geral desta pesquisa é realizar uma reconstrução histórica dos saberes psicológicos contidos nos sermões do jesuíta Antônio Vieira a partir dos tópicos alma, corpo e espírito, bem como apresentar a antropologia filosófica que os constitui. Foram lidos e analisados 208 sermões tendo como referência uma edição contemporânea, sendo esta nossa fonte primária. Foram tomadas, como fontes secundárias, obras consideradas significativas da visão de mundo do período e da tradição na qual se fundamenta, tais como tratados de retórica e oratória sagrada, clássicos gregos e latinos e obras clássicas de cunho filosófico e/ou teológico, assim como literatura crítica a respeito. Em seguida, partiu-se da hipótese de que o autor, compartilhando a visão de mundo de seus contemporâneos, realizaria uma apropriação da psicologia filosófica de inspiração aristotélico-tomista, em voga no século XVII. Foi elaborado um banco de citações organizado segundo a sequência dos sermões apresentados na obra e em cada sermão foram retirados excertos dentro das categorias: alma, corpo/corporeidade, espírito, visão de homem. Esta operação teve o objetivo de organizar o material para uma primeira análise. Os excertos foram analisados a partir da totalidade de cada sermão em que se inserem, seu contexto de produção e utilização da retórica. Na categoria alma foram selecionadas passagens que se relacionavam com: 1. Alma enquanto princípio vital; 2. As “partes da alma” (vegetativa, sensitiva e racional) de modo geral e suas respectivas potências; 3. Alma sensitiva em especial (este conceito pareceu-nos indicar uma maior distinção e peculiaridade em relação às demais categorias). Na categoria corpo/corporeidade foram selecionadas passagens que se relacionavam com: 1. Corpo físico e material e relações com a alma vegetativa; 2. Sentidos externos da alma sensitiva: visão, audição, tato, paladar, olfação; 3. Sensualidade, carne, apetite, humores; 4. Processos corporais e cuidados e/ou admoestações em relação ao corpo; 5. Metáforas corporais. Na categoria espírito foram selecionados excertos relacionados com: 1. Alma racional e suas potências (vontade, intelecto, livre alvedrio); 2. Espírito enquanto alma racional; 3. Espírito enquanto lugar de interação entre o homem e o transcendente (Deus, demônio, experiência mística, etc). Na categoria visão de homem selecionamos excertos relacionados com: 1. A natureza humana; 2. Como o homem percebe e se comporta diante do mundo e da transcendência. Confirmou-se relações entre os textos dos sermões e a tradição cultural e visão de mundo do período. Há forte influência da psicologia filosófica aristotélico-tomista e platônico-agostiniana em uma engenhosa apropriação de Vieira. Nos sermões as categorias alma, corpo e espírito aparecem fortemente

imbricadas em uma visão de homem pré-cartesiana, ou seja, sem a necessidade de uma distinção clara entre corporeidade e universo anímico. No entanto, há aspectos que delineiam de forma matizada o termo alma enquanto princípio vital e como conjunto de capacidades e fenômenos presentes no ser humano tais como afetos, humores, paixões, memória, imaginação, vontade, intelecto. A ideia de corporeidade não pode ser concebida sem sua relação direta com a alma, é também a base material que subsidia uma teoria do conhecimento (o conhecimento inicia-se nos dados sensíveis). Finalmente o espírito aparece tanto quanto elemento idiossincrático ao homem (alma racional) indicando a vontade, o intelecto e livre alvedrio e a capacidade de abstração do universo sensível (conhecimentos abstratos), bem como lugar de acesso a realidades espirituais (sacralidade). Há a utilização de categorias do dinamismo psíquico articuladas a outros temas como conhecimento de si, apercepção do mundo, moralidade (ética), relações sociais e relações com a transcendência. Conclui-se haver uma antropologia de orientação aristotélico-tomista e agostiniana pautada pelo Humanismo, a qual proporciona um modelo explicativo do “psiquismo” humano, além de propor uma modalidade de intervenção através da palavra, pelo uso da ars retorica. O homem constitui-se de sua materialidade, de sua psique e de seu aspecto transcendente, os quais se articulam entre si, ao passo que simultaneamente são a imagem de um todo. Palavras-chave: psicologia filosófica; Idade Moderna; pregação; retóricaPesquisa em andamento

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Savio Passafaro PeresDILTHEY E HUSSERL SOBRE A RELAÇÃO ENTRE

PSICOLOGIA E HISTÓRIAO objetivo desta apresentação é compreender a relação entre a “psicologia fenomenológica” de Ideias II de Husserl e a “psicologia descritiva e analítica” de Dilthey, de 1894, à luz da história da psicologia da época. O foco da apresentação está na compreensão da relação entre psicologia e história nos dois autores.Na virada para o século XX há não só o nascimento da psicologia científica, mas também uma ampla discussão sobre seu domínio, seus métodos e sua relação com as demais ciências. Tais controvérsias em torno da psicologia são tema complexo e difícil de mapear. É possível distinguir, na psicologia, o método descritivo do método explicativo. Este último é caracterizado por ter como fim a determinação de leis causais, ao passo que o primeiro tem como fim descrever o que é dado em intuição. Embora seja um episódio pouco detalhado no âmbito da história da psicologia, Husserl, na primeira edição das Investigações Lógicas, em 1900/1901, caracterizou fenomenologia como “psicologia descritiva”. A fenomenologia

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permanece assim caracterizada como psicologia até 1906, com a descoberta do método da redução transcendental. A partir daí Husserl emprega o termo fenomenologia para caracterizar uma ciência filosófica, distinguindo-a da psicologia fenomenológica ou eidética. O modo como Husserl passa a conceber a psicologia eidética, sobretudo em Ideias II, possui um claro parentesco intelectual com a obra de Dilthey de 1894, Ideias para uma Psicologia descritiva e analítica. Este é o ponto de onde arranca Husserl para suas concepções sobre o mundo do espírito. Em Ideias II, ele busca articular a relação entre o sujeito psicológico e o mundo sociohistórico. Em sintonia com Dilthey, Husserl pretende construir uma psicologia não naturalista, isto é, uma psicologia cujos métodos não se pautam pelas ciências naturais. Não obstante, uma vez que Husserl descreve a estrutura essencial das diferentes espécies de vivências e não as vivências em sua factualidade, a psicologia realizada em Investigações Lógicas e em obras subsequentes de Husserl se distingue daquela realizada por Dilthey, já que este último se foca na descrição das vivências concretas e individuais, localizadas em um homem particular e em uma situação histórica particular. Segundo Husserl, a importância das Ideias para uma psicologia descritiva e analítica de Dilthey encontra-se no problema por ele instaurado. Para Dilthey, a abordagem aos fenômenos socioculturais está necessariamente vinculada à vida anímica de indivíduos e, portanto, remete à psicologia. Não há como compreender um evento histórico sem compreender as motivações de seus agentes. A psicologia é necessária para a compreensão histórica, mas não a psicologia naturalística. Contudo, segundo Husserl, Dilthey não apresentou em 1894 uma alternativa metodológica satisfatória para essa nova psicologia, ainda que, com sua obra, a ingenuidade dos naturalistas tenha sido quebrada. A maior falha da Psicologia descritiva e analítica de Dilthey é que esta se torna mais uma arte descritiva de situações individuais do que propriamente uma ciência. Por exemplo, para compreender a unificação da Alemanha por Bismarck, devemos nos colocar em seu lugar e entender como ele entendia seu contexto e quais foram as suas motivações. Este mesmo modo de proceder é válido para eventos socioculturais concretos: cada qual deve ser entendido em sua facticidade e individualidade, com base nos nexos motivacionais implicados em tais eventos. Mas este modo de proceder vai, segundo Husserl, contra a própria ideia de ciência, pois a ciência procura leis gerais válidas. Uma lei psicológica deve valer para todo e qualquer indivíduo. Dilthey não traz nenhum tipo de pista a respeito de como se estabelecer leis gerais a respeito da vida psíquica. Como é possível a descrição de uma experiência interior ou a descrição da intuição da vida espiritual do outro e mesmo da vida em comunidade produzir mais do que compreensão do individual? Como tal processo pode levar a leis psicológicas gerais? A psicologia de Dilthey, entendida como arte interpretativa, pode ser valiosa na compreensão de casos concretos e singulares. Compreender as motivações de Bismarck ajuda sem dúvida a conhecer um episódio único da história, mas não se tira daí nenhuma lei psicológica. Projeto muito distinto é aquele que busca a descrição das essências das vivências psíquicas e as formas possíveis como essas vivências se conectam,

obtendo-se conhecimento universal e necessário. Este último projeto não se encontra, é preciso destacar, em oposição ao de uma “psicologia individual”, cujo foco se concentra na história de vida de um indivíduo. Pelo contrário, tal projeto fornece as bases para qualquer psicologia de fatos, inclusive para o tipo de psicologia descritiva e analítica que Dilthey pretendia realizar. E não foi por acaso que Dilthey, após tomar contato com as Investigações Lógicas, retornou, segundo nos assegura Husserl nas Lições sobre psicologia fenomenológica de 1925 para o tema das ciências do espírito, “mesmo já em idade avançada” e “com entusiasmo juvenil”.Palavras-chave: fenomenologia, história da psicologia, psicologia descritiva e analíticaPesquisa em andamento

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Paulo José Carvalho da SilvaA HISTÓRIA DOS MALES DA ALMA NA CULTURA LUSO-

BRASILEIRA(SÉCULOS XVI AO XVIII)Propõe-se examinar as ideias sobre os males da alma que circularam no Brasil entre os séculos XVI e XVIII. Estudos prévios mostram a produção e difusão de saberes sobre as enfermidades da alma, como a tristeza, a dor e a melancolia. Este projeto prevê o levantamento e a análise de manuais médicos, regimes de saúde, sermões, instruções e diretórios espirituais, tratados filosóficos e a correspondência epistolar, além de obras literárias, que abordam a questão dos males da alma e que foram difundidos no Brasil colonial. Objetiva-se compreender as noções de mal da alma veiculadas nestes documentos, indagando-se por suas bases conceituais, a inserção das mesmas no próprio gênero de escrito e a circulação destas ideias. Além de uma pesquisa histórica conceitual, propõe-se uma reflexão epistemológica sobre saberes do passado que buscaram compreender as causas desses males e que legitimaram procedimentos para amenizá-los. Tal reflexão deverá necessariamente contribuir para a compreensão das definições de objeto, métodos e diálogos conceituais dos saberes sobre o corpo e a alma, elaborados ou pelo menos difundidos no Brasil. Deverá, com isto, permitir um aprofundamento do conhecimento sobre a história da psicologia no Brasil, considerando-a em relação à história de outras disciplinas, notadamente a história da medicina e das ciências da vida, da filosofia, da religião e da cultura luso-brasileira e europeia. Projeto financiado com Bolsa Produtividade CNPqPalavras-chave: enfermidades da alma; ideias psicológicas; cultura luso-brasileira; ciências no Brasil; psicopatologia.Pesquisa em andamento.

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