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Direito Administrativo Prof. Pierre Braz DIREITO ADMINISTRATIVO RESUMO PIERRE BRAZ DE MORAES

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Direito Administrativo Prof. Pierre Braz

DIREITO ADMINISTRATIVO

RESUMO

PIERRE BRAZ DE MORAES

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Introdução e Princípios

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INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO

CONCEITO

Há inúmeras definições e entendimentos acerca do que vem a ser o direito administrativo. Para fins

didáticos, sem se alongar no tema, trazemos um conceito simples e objetivo elaborado pelo administrativista

Dirley da Cunha: direito administrativo “é um ramo do Direito Público que consiste num conjunto articulado e

Harmônico de normas jurídicas (normas-princípios e normas-regras) que atuam na disciplina da

Administração Pública, regulando uma das funções desenvolvidas pelo Estado. Tem por objeto específico,

portanto, a Administração Pública”.

OBJETO

São funções essenciais do Estado brasileiro a legislativa (Poder Legislativo), a jurisdicional (Poder

Judiciário) e a administrativa. O direito administrativo disciplina esta última função estatal, exercida

predominantemente pelo Poder Executivo (função típica). Contudo, os outros Poderes também a

desempenham como função atípica – atividades auxiliares ao desempenho de suas funções típicas

(estruturação interna, nomeação para cargos efetivos, edição de atos normativos, etc.). O objeto do direito

administrativo é, portanto, a função administrativa.

A função administrativa compreende os serviços públicos; a polícia administrativa (exercício do poder

de polícia); a atividade de fomento (incentivo a atividades da iniciativa privada em prol do interesse público);

e a atividade de intervenção do Estado no domínio econômico.

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A função administrativa do Estado é exercida pela Administração Pública. A administração pública é

entendida em um duplo sentido:

(a) sentido subjetivo (formal ou orgânico) – quando se aborda o sentido subjetivo, diz-se que a

administração pública representa o conjunto de órgãos públicos, entidades e agentes públicos que

desempenham a atividade administrativa.

(b) sentido objetivo (material ou funcional) – quando abordado sob o aspecto objetivo, administração

pública representa a própria atividade exercida, a função administrativa.

Em ligeira síntese, juntando os dois sentidos, pode-se definir a Administração Pública como o conjunto

de pessoas, entidades, órgãos públicos e de agentes públicos encarregados, por lei, de exercer a

função/atividade administrativa (executar os fins constitucionais atribuídos ao Estado).

Administração em sentido amplo e em sentido estrito – em sentido amplo a administração abrange os

órgãos e pessoas que exercem a chamada função política (que fixa as diretrizes do governo, através do

estabelecimento de políticas públicas) e os que exercem a função administrativa. Em sentido estrito, por sua

vez, engloba os órgãos e pessoas que exercem apenas a função administrativa.

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REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO

O regime jurídico administrativo é o conjunto de normas que ordena toda a administração pública. É

formado a partir de dois grandes princípios:

(a) Supremacia do interesse público sobre o privado – no confronte entre interesses do particular e o

interesse público deverá prevalecer este último. Obs.: o interesse público que deve se sobrepor é o

chamado interesse público primário (da sociedade; interesse público propriamente dito), e não o interesse

público secundário (do Estado). Exemplos: submissão ao exercício regular do poder de polícia

administrativa, cláusulas exorbitantes em contratos administrativos, auto-executoriedade dos atos

administrativos, etc.).

(b) Indisponibilidade do interesse público – é vedado ao administrador público dispor (alienar,

transacionar, etc.) dos bens, valores, direitos e interesses públicos sem que haja previsão legal que o

autorize. O agente público pode apenas geri-los e protegê-los.

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Os princípios básicos da administração pública estão previstos na Constituição Federal, de modo

explícito ou implicitamente. Há algumas leis que veiculam princípios importantes para o direito

administrativo, a exemplo da Lei 8.666, de 1993 (licitações e contratos) e da Lei 9.784, de 1999 (processo

administrativo). Para o presente estudo iremos nos restringir àqueles elencados no art. 37, caput, da CF

(capítulo que trata da administração pública).

Princípio da legalidade – estabelece que a administração pública só pode fazer aquilo que a lei

permitir (difere do princípio da autonomia da vontade, em que o particular pode fazer tudo que a lei não

proibir). Em decorrência do princípio da legalidade, a administração pública não pode criar direitos ou

obrigações por ato administrativo, dependendo, para tanto, de lei. Obs.: há exceções, como a edição de

decretos autônomos (CF, art. 84, VI).

Princípio da impessoalidade – o administrador público deve atuar com o objetivo de garantir o

interesse público e não interesses privados. Assim, não pode, com sua atuação, beneficiar ou prejudicar

pessoas determinadas.

Princípio da moralidade – a administração pública deve resguardar valores éticos e de probidade. O

gestor público deve agir sempre com boa-fé. A moral aqui é a jurídica (extraída do conjunto de normas

administrativas), e não a moral comum (pessoal do agente). Exemplo: Súmula Vinculante nº 13 do Supremo

Tribunal Federal, que veda o nepotismo.

Publicidade – os atos praticados pela administração pública devem ser amplamente divulgados. A

publicidade só pode ser restringida em situações excepcionais, quando houver interesse público ou

necessidade de se proteger informação guardada por sigilo (relacionadas, por exemplo, à segurança

nacional). Exemplos: CF, art. 5º, XXXIII, e Lei de acesso à informação – Lei nº 12.527, de 2011.

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Eficiência – a administração pública deve atuar objetivando uma maior relação custo benefício. O

princípio da eficiência tem relação direta com a noção de administração gerencial. Exemplos: avaliação

periódica de desempenho (CF, art. 41); formação de contrato de gestão (CF, art. 37, §8º).

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Poderes Administrativos

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PODERES ADMINISTRATIVOS

CONCEITO

Representam prerrogativas asseguradas à Administração Pública e aos agentes públicos para que eles

possam desempenhar suas funções, com o objetivo de alcançar uma finalidade de interesse público. São

seis os poderes administrativos.

Poder vinculado – a administração não possui liberdade de escolha (oportunidade e conveniência)

para a prática do ato administrativo, já que a lei disciplina totalmente a sua forma de atuação (multa,

aposentadoria compulsória, licenças administrativas). O poder vinculado é externado através da prática de

atos administrativos vinculados.

Poder discricionário – a administração tem liberdade de escolha para decidir qual a medida mais

adequada, segundo critérios de oportunidade e conveniência (mérito administrativo). São os atos

administrativos discricionários.

Os atos administrativos vinculado e discricionário serão melhor estudados em outro momento.

Poder hierárquico – é o poder de que dispõe a administração para organizar a estrutura interna das

funções e dos órgãos públicos, inclusive os limites de suas competências (e não agentes). Produz efeitos

apenas internos, gerando uma relação de subordinação/hierarquia entre os órgãos (diferente de vinculação).

O poder hierárquico assegura ao gestor público, por exemplo, as seguintes prerrogativas: poder de

comando, de fiscalização e controle, poder de revisão dos atos administrativos de agentes de nível

hierárquico inferior, possibilidade de delegar ou avocar funções, etc.

Poder disciplinar – é o poder que possui a administração pública para aplicar sanções administrativas

aos agentes públicos que integram o órgão/entidade quando tiverem cometido infrações funcionais (ex.:

receber propina, comissão, praticar usura, recusar fé a documentos públicos, etc.). As faltas estão sujeitas a

sanções como advertência, suspensão, demissão, cassação de aposentadoria, entre outras. Possui

aplicação somente interna (diferente do poder de polícia).

Poder regulamentar (ou normativo) – é o poder de que dispõe a administração pública de criar/editar

atos administrativos com conteúdo normativo. Obs.: a administração pública pode editar duas espécies de

ato administrativo: o que produz meramente efeito concreto (ex.: portaria de nomeação de servidor público)

e aquele abstrato, que produz efeito para toda administração – ou parte dela (ex.: portaria com conteúdo

normativo). O poder regulamentar trata desta última espécie de ato administrativo.

Geralmente são praticados para regulamentar e complementar leis, dando-lhe efetividade (possuem

natureza derivada – secundária). Se contrariar a lei (ex.: criando obrigação não prevista na lei), deve ser

considerado ilegal (controle de legalidade do ato). É exercido pelos Chefes do Poder Executivo (através de

decreto regulamentar) e por autoridades administrativas competentes (por meio de instruções normativas,

resoluções, portarias, etc.).

Poder de polícia – é o poder que possui a administração para impor limites ao uso de bens e ao

exercício de direitos e atividades, em razão do interesse público (exercício de profissões, instalações de

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lojas, construções). Definição: Código Tributário Nacional, art. 78: “Considera-se poder de polícia atividade

da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de

ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos

costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de

concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos

direitos individuais ou coletivos”. Dele pode advir a aplicação de sanções administrativas.

Características (DICA):

(i) discricionariedade – em geral, o administrador tem o poder de decidir as circunstâncias para sua

atuação. Não está presente em todos os atos do poder de polícia, já que, em alguns casos, a atuação é

vinculada (não há margem de escolha).

(ii) coercibilidade – a decisão é obrigatória, admitindo o emprego de força para seu cumprimento – é o

único presente em todos os atos administrativos;

(iii) auto-executoriedade – o ato é executado diretamente pela administração pública, não dependendo

de prévia decisão judicial que autorize o cumprimento do conteúdo do ato administrativo. Ex.: interdição de

estabelecimentos, apreensão de bens. Não está presente em todos os atos do poder de polícia (ex.:

cobrança de multa).

Obs.: não confundir o poder de polícia administrativa com a polícia judiciária, exercida pela Polícia Civil

– são situações distintas.

ABUSO DE PODER

O poder de polícia deve ser exercido nos limites impostos pela lei. Caso o administrador público

contrarie a lei, estará caracterizado o abuso de poder. São duas as modalidades de abuso de poder:

Excesso de poder – ocorre quando o agente público atua além dos limites definidos na lei (violação do

requisito competência do ato administrativo).

Desvio de poder-finalidade – ocorre quando o agente público pratica o ato com o objetivo de produzir

uma finalidade diversa da estabelecida em lei (em geral para alcançar interesse pessoal), apesar de atuar

dentro dos limites de suas atribuições (violação do requisito finalidade do ato administrativo). Ex.: remoção

“de ofício” de servidor público (com fundamento num inexistente interesse público) com o único objetivo de

prejudicá-lo. O ato administrativo praticado com abuso de poder é ilegal, devendo ser anulado.

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Estrutura da Administração Pública

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ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO

Para entender como se estrutura a administração pública é fundamental compreender as noções de

centralização e descentralização.

Centralização – o Estado brasileiro pode optar por desempenhar suas funções administrativas

diretamente por meio dos entes federados – União, Estados, DF e Municípios (que compõem a chamada

administração direta) ou pode preferir transferir a terceiros suas atribuições. Assim, quando as pessoas

jurídicas da administração pública direta (estudadas a seguir) executam suas atribuições diretamente

através dos órgãos e agentes integrantes de suas estruturas haverá a chamada centralização

administrativa.

Descentralização – por outro lado, haverá a descentralização administrativa quando o Estado prefere

transferir a outras pessoas algumas de suas atribuições (pessoas físicas ou jurídicas – em regra são

pessoas jurídicas). A descentralização pode ocorrer de dois modos:

(i) Descentralização por outorga (também chamada descentralização por serviços) – a União, Estados,

DF e Municípios (administração direta) criam uma entidade (pessoa jurídica), através de lei (a lei cria ou

autoriza a criação), e lhe transfere a titularidade do serviço/função a ser prestado. Essa entidade comporá a

chamada administração indireta (estudadas a seguir). Ex.: a União (através do Ministério da Previdência

Social) decide criar uma entidade para desempenhar suas funções relacionadas à concessão de

aposentadorias submetidas ao regime privado. Para tanto, cria a autarquia denominada INSS.

(ii) Descentralização por delegação (também chamada descentralização por colaboração) – ocorre

quando o Estado transfere a particulares – pessoas físicas ou jurídicas (e não a entidades da administração

pública) o direito de executar determinado serviço público. Essa transferência se dá por meio de contrato

(nos casos de concessão e permissão de serviços públicos) ou ato unilateral (autorização de serviços

públicos). A pessoa delega prestará o serviço por sua conta e risco, sob fiscalização do Estado. Exemplo:

transferência a empresa particular da execução do serviço de fornecimento de energia elétrica através de

um contrato de concessão de serviço público.

Obs.: na descentralização por delegação não há transferência da titularidade do serviço, mas apenas de

sua execução.

DESCONCENTRAÇÃO

A desconcentração administrativa ocorre quando uma pessoa jurídica da administração direta (União,

por exemplo) ou da administração indireta (INSS, DNIT, UFT, etc.) cria órgãos públicos para distribuir

internamente competências.

ÓRGÃOS PÚBLICOS

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Os órgãos públicos representam unidades de competência que integram uma entidade estatal (da

administração direta ou indireta). São criados para desempenhar atribuições/funções administrativas, e são

ocupados por agentes públicos. A Lei 9.784, 99 assim define órgão público: “unidade de atuação integrante

da estrutura da administração direta e da estrutura da administração indireta”.

Criação e extinção de órgãos públicos – os órgãos públicos são criados e extintos através de lei (CF,

art. 48, XI).

Obs.: vide decreto autônomo (CF, art. 84, VI).

Obs.: as Casas do Poder Legislativo possuem competência para dispor sobre sua organização e

funcionamento internos. O ato normativo, neste caso, não será uma lei formal.

Teoria – diversas teorias tentaram explicar a relação existente entre o Estado e seus agentes públicos.

A teoria que atualmente predomina no direito brasileiro é a teoria do órgão, inspirada na doutrina do jurista

Otto Gierke, que sustenta que a pessoa jurídica manifesta sua vontade através dos seus órgãos públicos; a

vontade do órgão, portanto, é imputada à pessoa jurídica a que está vinculado.

Características – principais características dos órgãos públicos:

(i) integram a estrutura de um ente da administração direta ou da administração indireta;

(ii) não possuem personalidade jurídica (não são sujeitos de direitos e obrigações);

(iii) decorrem da desconcentração;

(iv) não possuem, em regra, capacidade processual. Obs.: de modo excepcional, atualmente tem-se

concedido capacidade processual para alguns órgãos figurarem no processo. Tema melhor estudado na

disciplina direito processual civil.

(v) alguns possuem autonomia gerencial, orçamentária e financeira;

(vi) não possuem patrimônio.

Classificação

(a) quanto à estrutura

- simples (unitários) – há só um centro de competência – não há subdivisão em sua estrutura interna.

- composto – há em sua estrutura diversos órgãos menores. Ex.: Ministérios e secretarias.

(b) quanto à atuação funcional

- singulares (unipessoais) – atuam através de um único agente. Ex.: Presidência da República.

- colegiados (pluripessoais) – atuam mediante manifestação conjunta de seus membros. Ex.: Congresso

Nacional e Tribunais.

(c) quanto à posição estatal

- independentes – são os órgãos que representam os três Poderes da República. Não estão

subordinados hierarquicamente a nenhum outro órgão (Câmara, Senado, STF, Presidência da República,

etc.). São órgãos sem qualquer subordinação hierárquica ou funcional.

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- autônomos – são os órgãos que se situam na cúpula da administração, subordinados

hierarquicamente apenas aos órgãos independentes (ministérios, secretarias, AGU, etc).

- superiores – órgãos que possuem poder de decisão, controle e direção dos assuntos de suas

competências, estando, porém, sempre subordinados à chefia imediata (coordenadorias, superintendências,

gabinetes).

- subalternos – são órgãos de mera execução, subordinados aos demais órgãos. Eles têm pouquíssimo

poder decisório (seções de expediente, de pessoal, etc).

ADMINISTRAÇÃO DIRETA

A administração direta compreende os entes federados (entes políticos) União, Estados, Distrito

Federal e Municípios (e seus respectivos órgãos públicos).

ADMINISTRAÇÃO INDIRETA

A administração indireta abrange as pessoas jurídicas estatais que desempenham suas funções de

forma descentralizada. Compreende as autarquias, fundações públicas, e as empresas estatais

(empresas públicas e sociedades de economia mista). Possuem relação de vinculação (e não de

hierarquia) com as pessoas jurídicas da administração direta. Vide Decreto-Lei nº 200, de 1967, art. 4º.

Entidades em espécie da administração pública indireta – vide quadro anexo.

Autarquias de regime especial (agências autárquicas)

São espécies de autarquias submetidas a regimes jurídicos próprios. São classificadas em agências

reguladoras e agências executivas.

(a) agências reguladoras – as agências reguladoras são autarquias criadas para regular atividades

desempenhadas pelo setor privado. Com a política de desestatização – Estado mínimo (maior afastamento

do Estado de atividades econômicas; privatizações; delegações à iniciativa privada de serviços públicos),

surge a necessidade de maior controle e fiscalização daquelas atividades por parte do poder público.

Há dois tipos de agência reguladora: (i) as que exercem poder de polícia – fiscalização do exercício das

atividades econômicas –, a exemplo da ANVISA e ANS; (ii) as que regulam os serviços públicos objeto de

delegação (concessão, permissão ou autorização) ou de concessão para a exploração de bem público.

Características – algumas das características comuns às agências reguladoras (obs.: há outras

características, atribuídas principalmente pela lei que institui a AR): (i) exercício de atividade regulatória; (ii)

independência (possuem autonomia perante o poder executivo, o que permite, por exemplo, que os seus

dirigentes tenham mandato comprazo determinado); (iii) autonomia econômico-financeira; (d) amplo poder

normativo (para editar normas técnicas).

Exemplos: ANATEL, ANP, ANEEL, ANS, ANA, ANVISA, ANTT, ANTAQ, ANCINE, ANAC.

(b) agências executivas – são autarquias ou fundações públicas que recebem a qualificação de

agências executivas após celebrarem contrato de gestão com o poder público, nos termos do que determina

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o art. 51 da Lei nº 9.649, de 1998: “Art. 51. O Poder Executivo poderá qualificar como Agência Executiva a

autarquia ou fundação que tenha cumprido os seguintes requisitos: (i) ter um plano estratégico de

reestruturação e de desenvolvimento institucional em andamento; (ii) ter celebrado Contrato de Gestão com

o respectivo Ministério supervisor”.

A figura do contrato de gestão está prevista no art. 37, §8º, da Constituição Federal: “a autonomia

gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e entidades da administração direta e indireta poderá ser

ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus administradores e o poder público, que tenha por

objeto a fixação de metas de desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre: (i) o prazo

de duração do contrato; (ii) os controles e critérios de avaliação de desempenho, direitos, obrigações e

responsabilidades dos dirigentes; (iii) a remuneração do pessoal”. Portanto, quando o contrato de gestão for

firmado por autarquia ou fundação pública, esta entidade receberá o nome de agência executiva. Exemplos:

INMETRO, Agência de Inteligência, SUDAM e SUDENE.

Paraestatais ou Terceiro Setor – são consideradas paraestatais (ou terceiro setor) as pessoas

privadas (possuem personalidade jurídica de direito privado) que colaboram com o poder público no

desempenho de atividades de interesse público, não exclusivas de Estado e sem fins lucrativos. As

paraestatais são fomentadas pelo poder público, através, por exemplo, do recebimento de recursos

públicos.

O termo terceiro setor é utilizado para diferenciá-lo do primeiro setor (o Estado) e do segundo setor (o

mercado). Fala-se ainda num quarto setor (economia informal). Enquadram-se como paraestatais: (i) os

serviços sociais autônomos; (ii) as organizações sociais; (iii) as organizações da sociedade civil de interesse

público (OSCIP); (iv) e as entidades de apoio. Trataremos, neste estudo, das três primeiras.

Obs.: as paraestatais não integram a estrutura da administração pública.

(a) Serviços Sociais Autônomos – pessoas jurídicas de direito privado geralmente criadas por

entidades privadas que representam categorias econômicas (a exemplo da Confederação Nacional da

Indústria, do Comércio, do Transporte, etc). São os conhecidos SESI, SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE, etc.

Desempenham atividades sociais, prestando serviços de utilidade pública. Os SSA são financiados

(mantidos) com recursos oriundos das chamadas contribuições parafiscais (CF, art. 240) e com recursos

públicos.

(b) Organizações Sociais - são pessoas jurídicas privadas (criadas por particulares), sem fins

lucrativos, que recebem a qualificação de organização social após celebrar contrato de gestão com o poder

público. Está prevista no art. 1º da Lei nº 9.637, de 1998: “O Poder Executivo poderá qualificar como

organizações sociais pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam

dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do

meio ambiente, à cultura e à saúde, atendidos aos requisitos previstos nesta Lei”.

Os requisitos específicos para que as entidades privadas possam se qualificar como organizações

sociais estão previstos no art. prevista nos arts. 2º, 3º e 4º da Lei nº 9.637, de 1998. É possível ainda a

destinação de recursos públicos e de bens públicos às organizações sociais quando necessários ao

cumprimento do contrato de gestão (arts. 12 e 14).

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Contrato de gestão – nos termos do art. 5º, “para os efeitos desta Lei, entende-se por contrato de

gestão o instrumento firmado entre o Poder Público e a entidade qualificada como organização social, com

vistas à formação de parceria entre as partes para fomento e execução de atividades relativas às áreas

relacionadas no art. 1º”.

(c) Organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIP) – denomina-se OSCIP a pessoa

jurídica privada, sem fins lucrativos, que recebe a qualificação jurídica do poder público, desde que

obedecidos os requisitos previstos na Lei n. 9.790, de 1999. Referida lei, portanto, instituiu a figura das

OSCIP’s, que representa uma nova espécie de parceria entre o poder público e a iniciativa privada para

fomentar atividades de interesse público.

São requisitos para qualificação como OSCIP (arts. 3º a 5º): (i) desempenhar atividades de utilidade

pública ou interesse coletivo e receber a qualificação do poder público; (ii) elaborar de estatuto que contenha

os requisitos previstos na lei (art. 4º); (iii) formular requerimento ao Ministério da Justiça (art. 5º).

Segundo Di Pietro, a diferença fundamental entre a OSCIP e a organização social é que esta “recebe

ou pode receber delegação para a gestão de serviço público, enquanto a OSCIP exerce atividade de

natureza privada, com ajuda do Estado”. Outrossim, as organizações sociais celebram com o Poder Público

contrato de gestão, enquanto que a OSCIP firma termo de parceria; há uma menor ingerência do Poder

Público nas OSCIP's.

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AUTARQUIAS (DL 200, art. 5º, I)

FUNDAÇÕES PÚBLICAS EMPRESAS PÚBLICAS (DL 200, art. 5º, II)

SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA (DL 200, art. 5º, III)

Atividades Criadas para desempenharem atribuições típicas de Estado

Fundação criada (instituída a partir da personificação de um patrimônio) para desempenho de atividades de interesse social (fins religiosos, morais, culturais, assistenciais, etc.)

Exploração de atividades econômicas ou prestação de serviços públicos

Natureza Jurídica Pessoa jurídica de direito público Há dois tipos de fundações públicas (STF): as de direito privado e as de direito público (fundações autárquicas).

Pessoa jurídica de direito privado Regime jurídico: dependerá da natureza de seu objeto: atividade econômica (art. 173 e 177), será regida pelo direito privado; serviços públicos (art. 175), será regida pelo direito público

Criação Criadas ou extintas por lei específica (art. 37, XIX). Obs.: implantada a autarquia através de decreto.

Lei específica deverá autorizar a criação, cabendo à Lei Complementar definir as áreas de atuação (37, XIX), bem como ao respectivo Poder elaborar o ato constitutivo e inscrevê-lo no registro competente, a fim de que adquira personalidade jurídica.

Lei específica deverá autorizar a criação (37, XIX), cabendo ao respectivo Poder elaborar o ato constitutivo e inscrevê-lo no registro competente, a fim de que adquira personalidade jurídica.

Exemplos BANCEN, INSS, INCRA, IBAMA. FUNAI, IBGE, FNS Correios, CEF, BNDES e SERPRO.

BB S/A e Petrobrás S/A.

Regime Jurídico dos Agentes Públicos

Estatutário Dependerá da natureza jurídica da fundação (pode ser estatutário ou celetista)

Celetista – vínculo de natureza contratual

Observações *Autarquias sob regime especial: são espécies de autarquias com regimes próprios. Podem ser agências reguladoras ou agências executivas. Vide resumo

Distinções Forma jurídica qualquer forma admitida em direito. Composição do capital: - exclusivamente público (pode, contudo, ser unipessoal ou pluripessoal, conforme o capital seja dividido entre mais de uma pessoa política

Distinções Forma jurídica sociedade anônima (sempre têm natureza comercial) Composição do capital: público e privado, desde que o controle acionário seja da Administração