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RESUMO DO LIVRO “RUDIMENTOS DE HOMILÉTICA” DE NELSON KIRST
Capítulo 1)
De acordo com o livro, Homilética é a “ciência que se ocupa com a pregação cristã e, de
modo particular, com a prédica proferida no culto, no seio da comunidade reunida.” Seu
significado vem do grego “HE HOMILIA” que designa “estar junto”, ou “relacionar-se”. A
homilética enquadra-se na área da Teologia Prática. Pregar é, em boa parte, artesanato. E
artesanato só se aprende praticando.
Por que a Igreja prega? Porque ela vem de um Deus que fala, se comunica e se
expressa através da sua Palavra; Palavra esta que se fez humana por meio de Jesus. Então
Jesus é a Palavra de Deus e que nos diz tudo o que Deus quer nos dizer. Nós entendemos a
comunicação de Deus através do Espírito, o seu Espírito se comunica com o nosso.
Conhecemos a Palavra através das Escrituras; e ambas não são a mesma coisa, pois “a
Escritura é apenas Palavra de Deus na medida em que ela impulsiona a trata de Cristo”. E
cremos por meio da fé.
Deste modo a pregação é um laço que une Deus com as pessoas, pois se não houver quem
fale, como invocarão a Deus? Assim, Cristo é o critério julgador tanto das Escrituras quanto
das pregações.
Também podemos perguntar: Por que a pregação possui autoridade na Igreja?
Porque Deus deu à Igreja a tarefa de pregar a sua Palavra. E esta reconhece que sozinha,
sem a ajuda do Espírito Santo, não pode cumprir com êxito tal tarefa. Pelo mover do
Espírito, o ouvinte da pregação se sente desafiado a buscar a Deus. Pelo mover do Espírito,
nossas palavras humanas se transformam em palavras vivas do Evangelho.
A pregação é um conceito abrangente para definir a fala nas diversas formas de
expressões nas programações e encontros cristãos. Já a prédica é especificamente a fala
litúrgica no culto. A definição de Karl Barth para a prédica é clara e auto-explicadora: “A
prédica é a tentativa – ordenada à Igreja – de servir à Palavra de Deus através de uma
pessoa vocacionada para tal finalidade; e isto, de tal modo que um texto bíblico seja
explicado em fala livre a seres humanos da atualidade, como algo que lhes diz respeito e
como anúncio daquilo que eles têm a ouvir do próprio Deus”.
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Capítulo 2)
A prédica é o filho problemático da Igreja Evangélica. Ninguém gosta dela, mas, não
se pode deixá-la de lado. A comunidade de hoje está cansada da prédica, ela está se
tornando enfadonha, desprezível e por diversas vezes perde seu efeito. Nos tempos antigos,
ou nas cidades do interior, a prédica se constitui um importante momento para a
comunicação social, pois traz informações cabíveis para as pessoas da sociedade local. Ela
era importante apenas para reafirmar a fé que já existia, bem como explicar seus detalhes, e
não possuía a tarefa de atrair as pessoas para o cristianismo, como vemos hoje.
A situação da prédica hoje está afundada na onda gigantesca da publicidade, da TV,
do rádio e da mídia. Ela não só se misturou a isso tudo como também não se destaca nestes
meios. Outro fator preocupante é que a prédica de hoje deve levar em consideração que a
sociedade está desvinculada do cristianismo. Por isso o pregador não deve criar ilusões
sobre suas palavras, mas deve conhecê-las e dedicar-se a elas ao ponto de fazerem sentido.
O principal efeito da prédica está na capacidade que esta tem de fortalecer as
posições e os papéis que o ser humano ocupa em seu meio. Este fortalecimento atua na área
existencial-emocional e nem sempre resulta em transformações. A prédica é necessária para
dar ao indivíduo os estímulos iniciais que o levem às transformações. Ela pode ser o veículo
que conduz as informações necessárias para que haja não só o encontro com novos rumos,
mas também para que haja a reorganização dos novos conceitos no equilíbrio existencial-
emocional. A prédica é necessária, sobretudo, para dizer e mostrar ao outro o que ele não
pode dizer e mostrar pra si mesmo. E apesar de toda a dificuldade que ela tem passado, ela
é e sempre será um relevante método de pregação; pois ainda hoje, pessoas se dispõem a ir
á igreja para ouvir e se defrontar com o que a prédica tem a dizer.
Capítulo 3)
O esquema básico da prédica resume-se em: fonte – mensagem – receptor. A
comunicação divide-se em verbal e não verbal, e a prédica está no campo verbal. Ela é o
resultado dos diversos fatores que agem dentro deste sistema comunicativo. O livro trata de
princípios básicos à toda comunicação verbal.
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3.2) Emissor, receptor, mensagem, meio
Toda mensagem possui estes quatro componentes. O emissor é quem leva a
mensagem. O receptor quem a recebe. A mensagem é o objeto da fala e se compõe pelo
conteúdo levado. E o meio é o canal da comunicação.
3.3) Signos
É o princípio de comunicação entre o emissor e o receptor. Os signos são os sons com
significados, e para que o receptor os compreenda é necessário que os conheça.
3.4) Repertório comum de signos
A comunicação será estabelecida se os signos forem comuns ao receptor e ao
emissor. Por exemplo, um estrangeiro tem dificuldades de conversar num país que não
possui sua língua como língua materna.
3.5) Codificação e decodificação
Para o conteúdo ser transmitido, o emissor deve traduzi-lo em signos. Isto se chama
codificação, e os códigos são um conjunto de signos as combinações destes signos. A
decodificação fica por parte do receptor, que recebe os signos e os traduz.
3.6) Etapas da comunicação verbal
a) o emissor quer passar uma determinada idéia; b) ele codifica esta idéia com signos
que o receptor entenderá; c) ele emite estes signos do repertório; d) o receptor recebe a
cadeia de sons; e) decodifica a mensagem através dos signos; f) e assim o receptor entende
a idéia que o emissor pretendeu passar.
3.7) Repertório comum de experiências
O emissor e o receptor não possuem uma cadeia de signos perfeitamente igual; pois
o significado dos signos varia pela diversidade das experiências do emissor e do receptor. A
perfeita comunicação ocorre quando ambos possuem as mesmas experiências, assim fala
praticamente a mesma linguagem.
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3.8) O meio
O meio em que a mensagem é levada é muito importante, pois cada lugar possui seus
próprios meios particulares de funcionamento. Uma mesma mensagem é transmitida de
forma diferente numa roda de amigos e num púlpito.
3.9) Expectativa do receptor e imagem do emissor
As intenções da fala do pregador devem ser transmitidas, ao mesmo tempo em que
são levadas em consideração, na medida do possível, as expectativas do ouvinte. O receptor
espera que o emissor confirme, em nome de Deus, as suas convicções fundamentais e
valores, dando assim forças para vencer as adversidades do dia-a-dia. Esta expectativa não
pode ser de todo negada (pois senão há o rompimento da comunicação), nem confirmada;
pois senão a prédica perde seu caráter crítico e desinstalador. Também a imagem que o
pregador passa de si como pessoa influencia na receptividade da mensagem.
3.10) A situação individual
A situação individual também é decisiva no estabelecimento da comunicação, tanto
por parte do emissor quanto do receptor, e consiste em: a) características psíquicas
pessoais; b) biografia social; c) biografia religiosa; d) concepções teológicas fundamentais; e)
concepções políticas e sociais fundamentais; f) Concepção profissional e eclesiológica a
respeito da comunidade, culto, prédica, pastores e o pregador; e g) grupos primários no qual
estão inseridos.
3.11) A situação sócio-cultural
Tanto o emissor quanto o receptor estão inseridos num mesmo meio global. A
sociedade, política, economia, cultura e tudo o mais, vai influenciar ambos nos seus
interesses pessoais e na comunicação da prédica. Influenciará na decodificação dos
conceitos e na leitura desta mensagem transmitida.
3.12) O ambiente
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É o lugar e a situação na qual a mensagem está sendo transmitida. A situação de
comunicação pode ter efeitos favoráveis ou desfavoráveis à prédica dependendo do lugar
onde a comunicação se estabelece.
Capítulo 4)
O pregador, antes de ir até a comunidade, precisa escolher o conteúdo de sua
mensagem. Nem toda pregação cristã necessita ser textual; mas toda a prédica deve ser
bíblica. A Bíblia sempre é a fornecedora do conteúdo da prédica; pois o depoimento das
testemunhas bíblicas é a fonte e o critério para tudo o que se disser em nome de Deus e de
Jesus.
As vantagens para o uso do texto bíblico nas pregações é que assim o pregador
conhece a Bíblia aprofundadamente. Outra vantagem é que assim o pregador entra em
sintonia com os testemunhos bíblicos; além de fazê-lo perceber que o que está pregando
não é fruto de sua própria visão, mas resultado de uma longa tradição. O texto ajuda o
pregador a descobrir e clarear a situação dos indivíduos da comunidade em tempo atual; e
assim pode melhor ajudá-los. E principalmente o uso do texto é importante para lembrar ao
pregador que ele não está pregando de si mesmo, mas á Palavra de Deus.
O uso do texto não dá vantagens apenas para o pregador, mas também à comunidade
receptora: contribui para que ela conheça e aprenda mais da Bíblia; e lhe dá base para
avaliar a veracidade da prédica. E o que não pode haver no uso de textos bíblicos? Levar o
pregador a fazer da prédica o resultado de seus estudos exegéticos nem fazer da prédica um
tratado dogmático-sistemático. Também não pode limitar-se ao passado e esquecer-se da
atuação de Deus nos dias de hoje. E principalmente não pode se utilizar da gíria religiosa,
que consiste num palavreado religioso convencional o qual é lançado aos ouvintes sem
maiores explicações.
O pregador deve estar atento ao legalismo e não se valer dele em momento algum. O
legalismo acontece quando o Evangelho ou o indicativo não recebem destaque suficiente em
relação ao que a prédica traz como imperativo e lei. O legalismo vem por meio de
expressões como “devemos” ou “temos que”.
Toda boa prédica possui uma certa tensão entre o Evangelho (o novo, o qual o ouvinte é
desafiado a experimentar) e o que é velho e existente (do qual deve ser liberto). O
Evangelho deve ser levado de maneira que o ouvinte possa ter um encontro com Jesus, e
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assim saber que pode pedir, esperar e receber mais dele. Mas também deve ser levado de
uma maneira séria, pois ainda permanecerá seu caráter crítico e desafiador.
Capítulo 5)
Os signos transmitidos ao ouvinte podem deparar-se com seu aparelho receptor
ligado ou desligado. O desligamento pode: a) ocorrer a qualquer momento na pregação, e b)
ser breve ou prolongado. Ele ocorre por fatores exógenos ou inerentes à prédica, que são
fatores localizados fora do sistema da prédica, na maior parte se disposições físicas,
psicológicas...E o ouvinte pode decidir desligar seu aparelho receptor temporariamente se a
prédica estiver demorando muito ou cansativa, abstrata demais ou monótona. O
desenvolvimento da prédica não pode ser tão rígido que toda idéia emitida dependa da
captação e compreensão da anterior, pelo ouvinte. Os signos que não foram apagados no
estágio de entrada, atingem um segundo estágio. Do conjunto de signos que o ouvinte
consegue captar, ele seleciona os que mais o interessa, aquilo que faz sentido para ele. Na
prática desta seleção são importantes para o ouvinte: a) o desejo de confirmação. O ouvinte
quer que sejam confirmadas as convicções básicas de sua própria fé ou do seu sistema de
valores. O desejo de estabilização está contido na decisão mesma de ir ao culto. O ouvinte
deseja reter aquilo que confirma o que para ele, é o correto. Mas o que acontece com as
informações que contradizem o seu pensamento?
Temos aqui três reações possíveis do ouvinte: Se for exposto sem muita ênfase, o que não
serve em seu sistema de convicções próprias, será simplesmente ignorado. Se vier de
maneira bem enfatizada e bem exposta, então é provável que o ouvinte interprete da
maneira dele, como “acho que ele não quis dizer bem assim”. Mas, se o ponto de vista
contrário for apresentado de forma tão incisiva que não possa ser rejeitado e nem
reinterpretado, então o ouvinte tenta inutilizá-lo com o seguinte artifício: exagera a
contradição a ponto que a posição contrária à sua aparece forçosamente como absurda.
b)A mentalidade dos grupos primários e dos líderes de opinião
Todas as pessoas têm a necessidade de fazer parte de um grupo, família, colegas, amigos. De
um lado recebemos aconchego e proteção deles, mas, de outro, chega um momento em que
exigem de nós que abandonemos nossa própria fora de entender as coisas em detrimento
deles. Daí ou abandonamos o grupo ou desistimos de nossos novos pontos de vista.
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Nossos pensamentos são influenciados principalmente por lideres de opiniões, pastores,
chefes, pessoas que exercem grande influencia sobre outras, modificando sua forma de
pensar. Na prática do enunciado da prédica, o ouvinte terá mais facilidade de aceitar aquilo
que ele já está acostumado a ouvir de seus lideres de opiniões, ou dos grupos que ele
freqüenta, e terá sérias reservas para aceitar aquilo que vai contra a mentalidade que lhe foi
incutida através de seus contatos.
c) a diminuição de tensões insuportáveis
Certas tensões, que constituem as características da vida psíquica, perturbam muitas
pessoas que andam em busca de alívio. Estas pessoas procuram de várias formas encontrar
alivio para suas tensões, e neste caso, o pastor e a pregação desempenham um papel muito
especial. Então a pessoa extrai da pregação aquilo que alivia suas dores internas, aquilo que
traz alivio e que muitas vezes nem está sendo proferido. Ela extrai aquilo que a ajuda dar
conta de sua tensão, e ai acontece outra prédica, diferente da que está sendo pregada.
d) a imagem do pregador
O que o ouvinte irá reter da pregação, também depende muito do pregador. As condições
serão boas se o ouvinte considerar o pregador como alguém digno de confiança, simpático e
competente para tal, se isso não acontecer, a prédica terá pouca ou nenhuma chance de
comunicar algo ao ouvinte.
A elaboração
A elaboração dos signos captados pelo ouvinte ocorre em dois níveis: emocional e racional. E
freqüentemente o ouvinte consegue assimilar mais conteúdos pelo primeiro.
O pregador deve compreender que a sua frente ele não tem apenas seres humanos, mas
pessoas complexas, com pensamentos e ideologias bem diferentes, experiências de vida,
problemas e preocupações. Por isso o pregador precisa ser muito atento, observar a
comunidade, a situação em que ela está e prestar atenção em fatores como: a idade dos
ouvintes, o sexo, as profissões representadas, as camadas sociais, os níveis de instrução. O
pregador precisa conhecer a sua comunidade, saber o contexto da igreja. Outro fator
importante é saber a teologia dos ouvintes, saber como vêem a Deus.Só com um bom
conhecimento da situação, da eclesiologia, da teologia daquela igreja, suas alegrias e
preocupações, que o pregador poderá tornar-se seu advogado em relação ao contexto.
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Obstáculos de comunicação do pastor
O pastor pode trazer uma série de obstáculos que o prejudicarão na hora da prédica, como a
linguagem. Por exemplo, um jovem que veio do interior e ficou seis ou mais anos restrito aos
seus contatos sociais do seu lugar de estudo, terá dificuldade de comunicar-se com pessoas
de outras camadas sociais, como a classe média urbana ou classe operária urbana. Também
podemos citar a barreira que existe entre o teólogo e um leigo. E por fim, a vida do pastor
pode ser completamente diferente das dos membros, pois, se ele tem casa e salário
garantido, não vive a mesma experiência dos outros que precisam lutar pela sobrevivência e
um lugar na vida profissional.
Ao pastor quase não é dada a oportunidade de manter contatos informais com os membros.
Ele é sempre visto como o pastor, que está sempre em exercício de sua função. E o que ele
pode fazer para superar estes obstáculos? Primeiro, ele não pode negar a si mesmo em
detrimento dos outros. Querer imitar os outros para melhor se comunicar com eles. E
segundo, o pregador deve admitir, reconhecer seus obstáculos de linguagem e assim, ele
chega à conclusão que precisa de ajuda de seus ouvintes para compreendê-los. Pois não
adianta só saber de teologia e Bíblia, ele precisa viver a fé na comunidade.
Capítulo 6)
Pra que a prédica possa ser entendida, é preciso que ela esteja dentro de uma estrutura, que
tem a função de auxiliar o pregador a comunicar ao ouvinte o conteúdo de sua prédica, e
este, a captar e gravar o que foi dito. Existem alguns pressupostos que deixarão as coisas
mais claras: O pregador deve se preocupar com o nível de atenção dos ouvintes, estudados
por Lerle, que verificou as variações dos níveis de atenção dos ouvintes no momento da
prédica.
O nível mais alto se verifica nos primeiros minutos da prédica, e por isso, o pregador não
deve gastar este tempo com pensamentos introdutórios, pois é um tempo precioso. A
primeira manifestação de cansaço dos ouvintes acontece logo após alguns minutos. Depois
de dez minutos a atenção cai sensivelmente, chegando ao ponto mais baixo, depois de 16.
Quando este nível cai não é bom que o pregador explane doutrinas ou abstrações que
exijam muita reflexão. Depois de 20 minutos o decréscimo de atenção é muito expressivo,
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mas isso não pode ser seguido à risca, até porque a prédica não tem que ser medida no
relógio. Ao encaminhar-se para o fim da mensagem, os ouvintes retomam atenção, pois
percebem que a prédica está para terminar.
Antes de fazer a prédica, o pregador deve se perguntar qual a intenção, porque irá se dirigir
aos ouvintes, onde ele quer chegar com a comunidade, para onde pretende conduzi-la?
É importante que ele estabeleça claramente o que quer, qual a intenção a seguir. E então,
partindo dessa intenção, deve traçar uma linha que perpasse a prédica toda como um fio,
que é chamada de linha de intenção que deve seguir critérios lógicos e psicológicos.
Para que o ouvinte tenha uma percepção geral da prédica é importante que o pregador
utilize os recursos de fazer uma indicação expressa de como pretende desenvolver a prédica.
Fazer uma antecipação que conteúdos que ainda estão por vir e relembrar o que já foi
falado. Também o resumo e a repetição de enunciados básicos devem ser postos em prática,
pois são de grande eficiência. O pensamentos da prédica devem ser corretamente
interligados, destacados, de forma que tenham sentido. Normalmente, um parágrafo ou um
complexo de pensamentos contém um enunciado que é o principal, e todas as demais frases
contribui para introduzi-lo ou desenvolvê-lo. Outro fator a refletir é que o ouvinte precisa de
tempo para digerir as palavras. Só conseguimos captar e assimilar algo se o orador ficar um
certo tempo falando sobre aquilo. Se em casa frases ele introduzir uma novidade, não há
como o ouvinte assimilar. O pregador precisa fugir do esquema convencional, que a maioria
das pessoas já está cansada ou não entende. O inusitado é o que comunica. Quanto mais
inconvencional o sermão, há mais chances de comunicar algo às pessoas. Também é
aconselhável que o pregador não faça promessa que não cumpra, como anunciar algo muito
interessante no início da prédica, mas depois não traz nada de significativo. Outro caso
também é quando o pregador levanta uma questão muito importante e faz as pessoas
pensarem, mas no decorrer da mensagem, não diz mais nenhuma palavra sobre o assunto. O
ouvinte precisa sentir que a prédica vai em frente. Se ele sentir o pregador anda em círculos,
como a ficar aborrecido e sem atenção.
Os modelos de estrutura variarão de acordo com os seguintes fatores: texto, situação dos
ouvintes e objetivo do pregador. Os modelos mais aplicados são:
A homilia: é o modelo mais antigo, que é a explicação do texto, versículo por versículo; à
interpretação de cada versículo segue-se a sua explicação. Na homilia pura verifica-se o
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seguinte; enquanto os versículos apresentam freqüentemente uma cadência bem
concatenada, o mesmo quase nunca acontece na prédica.
A prédica temática: Tem um contraste com a homilia e podemos distinguir dois tipos de
prédica temática. A primeira: muitas perícopes, principalmente das epístolas, contêm uma
tal variedade de pensamentos diferentes, que o pregador é levado a colocar certos
conteúdos em primeiro plano. Ele deve extrair cuidadosamente o escopo, com seus diversos
pontos altos. Para a prédica, pode dar destaque a um ou outro aspecto, mas sem deixar de
corresponder ao escopo. A segunda: é aquela em que o pregador opta pelo
desenvolvimento de um tema, e neste caso, via de regra, o tema é formulado no inicio da
prédica, e, então desenvolvido em duas ou, geralmente três partes.
A prédica indicativo- imperativo: Na primeira parte, indicativa, é atualizada a promessa que
o texto contém, que é a parte mais longa. A Segunda parte traz um apelo, a reivindicação
que o texto contém. É uma parte imperativa. O apelo não pode ter nunca um caráter de
imposição ou condição.
Outro modelo é a situação atual + texto+ explicação- aplicação. A primeira parte desenvolve
a situação atual, só problemas existentes, a pergunta do homem de hoje. A segunda parte
vem o texto com a respectiva explicação. E na terceira, aparece a resposta teológica à
situação levantada no inicio.
A Lei –Evangelho é um modelo em dois passos que é o que segue da lei para o Evangelho e
proclamação do juízo para a proclamação da graça. Na primeira parte é exposta e
desenvolvida a construção de que todos nós estamos imersos no pecado, e na segunda, é
exposta a afirmação de que Cristo nos livra do pecado.
O inicio da prédica deve ser feito com bastante empenho, pois é a parte que consegue ou
não captar a atenção dos ouvintes. Portanto, o pregador jamais deve começar uma prédica
com uma explicação exegética enfadonha.
O fim da prédica também é um momento em que o ouvinte está prestando muita atenção, e
o pregador, por sua vez, deve aproveitar para destacar mais uma vez, suas firmações
principais.
Capítulo 7)
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O pregador deve fazer uma prédica que alcance as pessoas. Algo que possa ser
entendido.Ele precisa reconhecer sua complexidade teológica e saber quem nem todos ali
entendem o que ele estudou. Desta forma, é apropriado que o pregador tenha uma
linguagem mais comum ou a linguagem certa para aquele tipo de comunidade para qual ele
fala. Também se faz significante as condições acústicas da igreja, climáticas e até se a rua é
movimentada ou não, pode fazer a diferença. Estar atento ao “feedback” da igreja pode
mostrar ao pregador o resultado da emissão da mensagem, se foi recebida ou não,
compreendida ou não.
Existem 7 qualidades essenciais ao estilo de qualquer comunicação, seja oral ou escrita:
A correção:A mensagem precisa adaptar-se aos receptores, o critério, embora não muito
preciso, deve ser, também aqui, o da língua comum, que é mais acessível a todos ouvintes.
A originalidade: Deve-se original e não vulgar, não utilizar lugares-comuns, vícios de
linguagem, expressões sempre usadas.
Clareza: Deve-se utilizar a clareza e não vocábulos inexatos, inexpressivos, que não podem
ser compreendidos facilmente. As idéias devem ser expostas com nitidez e correta
pontuação.
Concisão: Deve-se preciso e conciso no que se quer dizer, e jamais prolixo.
Vivacidade: Vivacidade em lugar de frouxidão, o estilo deve ser dinâmico, vivo.
Harmonia: Deve-se ter harmonia ao invés de aridez de vocábulos e expressões.
Naturalidade: Naturalidade em lugar de preciosismos, de arcaísmos pedantes, de
neologismos extravagantes e desnecessários.
Capítulo 8)
A bissociação deve ser utilizada pelos pregadores como forma de sair do modelo
convencional e cansativo. O bom pregador é aquele que consegue surpreender o ouvinte e
provocar a sensação da descoberta. Alguns passos metodológicos para a bissociação:
Definir ou formular precisamente o problema ou idéia.
Colecionar diversas imagens. Selecionar uma delas e desenvolvê-la.
Superposição da imagem com problema ou a idéia. Desenvolver as possibilidades de
combinação e aplicação.
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O pregador que prepara sua prédica ofensivamente tem mais chances de ser criativo.Ele
desenvolve sempre uma certa sensibilidade quanto à urgência de temas e problemas que
possam ou devam ser abordados na próxima prédica.- e que talvez até o levem a abandonar
o texto prescrito pela Igreja.
A metáfora tem por objetivo: encontrar uma maneira de descrever plasticamente uma
realidade que, de outra forma, só encontramos descrita em termos abstratos. É bom
lembrar: os ouvintes querem ver, apalpar, sentir – e não tanto pensar. Normalmente, os
ouvintes de nossas prédicas, a partir do seu cotidiano, não estão acostumados a seguir uma
cadeia de pensamentos abstratos. Com a metáfora podemos ajudá-los a ver, apalpar e
sentir.
A figura é uma metáfora ampliada. Neste caso, a metáfora, em vez de servir apenas para
uma parte, torna-se o molde ou padrão para toda a prédica. O sermão é, então, montado
em cima de imagem, que é desenvolvida nos seus diversos detalhes.
Jogar com papeis: A parábola do filho pródigo (Lc 15,11-32), por exemplo, traz três
personagens de destaque. A percepção de tais personagens e de seus papeis pode aclarar as
perícopes e abrir novas possibilidades de abordagem para a prédica.
O pregador comenta, um após o outro, os diversos personagens, relacionando-os, depois,
com os ouvintes.
Pensar em voz alta é, portanto, um bom caminho para a descoberta da idéia. O ouvinte
desse pensar em voz alta pode ser uma pessoa ou então o gravador, ou as paredes, ou a
paisagem lá fora. O processo se desenvolve mais ou menos assim: o pregador tem diante de
si uma perícope, um escopo, ou então um pensamento, um experiência, uma noticia de
jornal, e começa a tecer comentários a respeito. Provavelmente começará com lugares-
comuns, soletrando obviedades, depois talvez formule perguntas – até que, de repente ,
explode a idéia
Contar historias
A historia deve ser preferencialmente verdadeira. Se não for, o ouvinte provavelmente ficara
desconfiado, porque bem poucos pregadores conseguem entregar um historia inventada
como se fosse verdadeira. Por isso melhor ir dizendo logo: “poderíamos imaginar a seguinte
situação.
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Leitura criativa: vai descobrindo coisas, ela tem perguntas, estabelece combinações e
associações, desenvolve estímulos recebidos. Esta leitura pode e deve ser exercitada. Ela é
necessária para o constante abastecimento da criatividade do pregador.
Capítulo 9)
Passo 1 – Reflexão própria sobre o texto
Consulta ao texto original e a outras traduções.
O texto está próximo ou distante de mim? Soa-me agradável ou estranho?
Paráfrase do texto com próprias palavras.
Estrutura do texto.
Contexto (consideração deste na medida em que auxilia a compreensão do texto).
Situação dos ouvintes/leitores originais e intenção do autor.
Palavra (explicação do conteúdo do texto, versículo por versículo ou parte por parte).
Escopo.
Pontos que permanecem obscuros e devem ser esclarecidos no passo seguinte.
O passo 2 é a consulta de material exegético, onde deve haver confronto de textos e busca
por comentários, enciclopédias, artigos e a parte exegética de auxílios homiléticos.
O passo 3 é um confronto pessoal com o texto, onde antes da mensagem chegar à
comunidade, deve passar pelo pregador.
O passo 4 é o confronto da comunidade co o texto, onde o pregador procura imaginar quais
reflexos terão sobre os ouvintes.
O passo 5 é a consulta a auxílios homiléticos e prédicas, que é uma procura de idéias, onde
deve-se verificar como os outros empreenderam a aplicação do texto.
Passo 6 , aqui o pregador deve se fixar em definitivo nos conteúdos e objetivos (e,
eventualmente, algum grupo específico ao qual queira dirigir-me).
Passo 7, aqui entra a estrutura e o recheio. Está na vez do empenho pedagógico. Deste
empenho faz parte: estabelecer a estrutura geral e o desenvolvimento da prédica; estudar
metáforas, ilustrações, exemplos, pensar no inicio e no final da prédica, detalhar cada parte.
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Passo 8 é a formulação do rascunho, a primeira redação da prédica.
Passo 9 é o controle do rascunho e a formulação definitiva. Deve transcorrer um certo lapso
de tempo entre a primeira redação e o controle do rascunho, para que o pregador consiga a
distância necessária para uma apreciação razoavelmente objetiva.
Capítulo 10)
O papel que pode exercer um grupo homilético no preparo de uma prédica tem suas
limitações. Limitações inerentes àquilo que é sua maior riqueza: a vivência de fé de seus
membros. Esta é o seu forte e sua fraqueza. É sua fraqueza, porque a sua pregação jamais
poderá restringir-se a meramente repetir as experiências de fé da comunidade. Ela deve
veicular também, e, antes de mais nada, a interpelação que vem do extra nos. Com isso, a
prédica precisa ir além da vivência de fé dos seus ouvintes. Sobretudo, deve ela ultrapassar
os limites estritamente individuais, dentro dos quais freqüentemente se articula tal vivência.
Capítulo 11)
Para Lutero, o conteúdo da pregação só pode ser Cristo: “Bem, se pregamos Cristo, irritamos
o mundo, a carne e o sangue; se, porém, pregamos o que agrada à carne e ao sangue,
irritamos Cristo e desviamos muitos milhares de almas para o abismo do inferno. É melhor
irritar o mundo do que aquele ‘que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o
corpo’ diz Cristo em Mateus 10”.
Se Cristo deve ser o conteúdo da prédica, a fonte para a pregação é, antes de mais nada, a
Bíblia.
Mas, como se sabe, em relação à Bíblia Lutero tem a liberdade de ser eclético. Perguntando
sobre que livros se deveria pregar, preponderantemente, respondeu: “O Saltério, o
Evangelho de São João e São Paulo, para aqueles que precisam combater os hereges; mas,
para o homem comum e os jovens, os outros evangelistas”.
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Em termos de conteúdo da pregação, a questão “lei e evangelho” merece consideração
especial. Lutero define-a da seguinte maneira: “A prédica da lei é necessária para os maus,
mas seguidamente e de um modo geral ela atinge os piedosos, que a tomam a si, mesmo
que ela não lhes seja de proveito, pois abusam dela e, por seu meio, se tornam ainda mais
seguros”.
A tarefa exige antes de mais nada, que o pregador anuncie uma doutrina pura e sã. E a
tarefa do pregador é muito difícil pois, exige serviço e retribui com a ingratidão e o desprezo
dos ouvintes. Por isso, o exercício dela só é possível, se feito por amor a Deus.
Mais especificamente, Lutero fala de algumas virtudes de um bom pregador. A) Saber
ensinar direito e corretamente. B) deve ter boa cabeça. C) Deve ser bem articulado. D) Deve
ter boa voz. E) Ter boa memória. F) Deve saber parar. G) Deve estar certo do que fala e ser
aplicado. H) Deve investir na sua tarefa o corpo e a vida, os bens e a honra. I) Deve saber
aturar o desprezo de todos.
Lutero não cansa de acentuar que a perspectiva do ouvinte é um dos fatores determinantes
da prédica. Esta precisa orientar-se pelos ouvintes: o pregador é como o marceneiro; seu
instrumento é a Palavra de Deus. Entre os ouvintes da pregação há pessoas diferentes e de
diversos tipos. Por isso, o pregador não deve cantar sempre o mesmo canto e ensinar
sempre da mesma maneira. Dependendo dos ouvintes, deve ele, conforme as
circunstâncias, ameaçar, atemorizar, repreender, advertir, consolar, reconciliar. Como
principio básico vale o seguinte: “Deve-se ensinar e pregar aquilo que é conveniente e
próprio, de acordo com o tempo, o lugar e as pessoas.”
No entender de Lutero, o pregador tem sobre si uma tarefa que é, na verdade, impossível.
Por isso, a oração tem lugar essencial, no preparo da prédica. Ele diz que quando formos
pregar temos que falar com Deus que queremos pregar para glória Dele, queremos falar
Dele, louvar, exaltar o nome Dele, embora não saibamos como fazer, mas, gostaríamos.
Antes de se preocupar com qualquer aspecto formal, é importante que o pregador saiba
exatamente o que quer dizer, que conheça o assunto de que quer falar. Dois elementos de
maior importância para a pregação são a dialética e a retórica: “O pregador deve ser um
dialético e um retórico, isto é, deve saber ensinar e admoestar.”
Outro ponto que Lutero acentua é a necessidade de o pregador ficar no assunto principal,
sem divagações desnecessárias. Ele é contra o palavreado vazio, pregadores que falam
muito, mas que no fim das contas não dizem nada. Também não simpatizava muito com
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gesticulação exagerada. Para ele o pregador deve ser simples. E ser capaz de ensinar pessoas
simples e iletradas.
As tentações e dificuldades abordadas por Lutero em suas “falas de mesa” podem ser
classificadas em algumas categorias. Comecemos pelo medo que aflige o pregador
principiante: “Quando alguém sobe ao púlpito pela primeira vez, ninguém imagina o medo
que ele passa. Principalmente, porque vê tantas cabeças à sua frente!’”.
Uma das maiores cargas para o pregador é a indiferença e o desprezo dos ouvintes. Como
diz Lutero: “Nós, pregadores, temos um ministério difícil. Por um lado, devemos prestar
contas da salvação (...) das almas dos ouvintes, e, por outro, esperam que nos curvemos aos
seus desejos e deixemos que viva como bem entenda. Se o fizermos, tornamo-nos participes
de seus pecados; se não o fizermos e os repreendermos, dizem que estamos difamando e
caluniando”.
Lutero também condena o orgulho dos pregadores, disse que eram malditos todos os
pregadores que procuravam por coisas altas, difíceis e sutis. Ele diz que Deus usa de
métodos pedagógicos com os homens, como o sofrimento e muitas cruzes, para que se
tornem humildes.
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