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REALIZAÇÃO CONVÊNIO RESUMO EXECUTIVO DE BERTIOGA Base de dados até dezembro de 2012

Resumo Executivo Bertioga Projeto Litoral Sustentavel

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Resumo Executivo da Cidade de Bertioga - SPLitoral Paulista

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  • REALIZAO CONVNIO

    RESUMO EXECUTIVODE BERTIOGA

    Base de dados at dezembro de 2012

  • 2SUMRIO

    INTRODUO 4

    PARTE 01 6

    O MUNICPIO DE BERTIOGA: PANORAMA GERAL E DINMICAS RECENTES 6

    PARTE 02 10

    ANLISE DA REALIDADE DO MUNICPIO E DESAFIOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL 10

    EIXO 01

    REALIDADE ECONMICA DO MUNICPIO 11

    Caractersticas da Cultura Local 14

    EIXO 02

    ORGANIZAO SOCIOTERRITORIAL 15

    Meio Ambiente e Territrio 15

    Ocupao Urbana e Regulao Urbanstica 20

    Dinmica Imobiliria 21

    Precariedade Habitacional e Regularizao Fundiria 26

    Saneamento Ambiental 29

    Mobilidade 32

    Sade 33

    Segurana Alimentar e Nutricional 33

    Segurana Pblica 34

    EIXO 03

    GESTO MUNICIPAL 35

    Financiamento Pblico 35

    Gesto Democrtica 36

  • 3PARTE 03 38

    A REALIDADE DE BERTIOGA NA VISO DA POPULAO 38

    BIBLIOGRAFIA 43

    PARTE 04 41

    CONSIDERAES SOBRE O FUTURO DE BERTIOGA 41

  • 4Este Resumo Executivo traz a sntese do Diagnstico Urbano Socioambiental Participativo do Municpio de Bertioga (Relatrio de Bertioga), parte do projeto Litoral Sustentvel Desenvolvimento com Incluso Social.

    O litoral paulista tem experimentado grandes transformaes nas ltimas dcadas, com processos de urbaniza-o, muitas vezes desordenados, com forte impacto na vida de quem mora, trabalha e frequenta a regio. Agora, um novo processo de transformao est sendo impulsionado pelos projetos em curso na regio, como a explora-o do pr-sal e a ampliao e modernizao de rodovias e reas porturias.

    Tais mudanas reforam a necessidade de se pensar e planejar o futuro, avaliar os impactos socioambientais dos grandes empreendimentos em curso na regio, procurar formas de impulsionar o desenvolvimento sustentvel local e regional e tambm de conter ou mitigar efeitos negativos. Nesse contexto de grandes transformaes, essencial articular o conjunto de iniciativas que vm sendo realizadas pela sociedade e administraes pblicas e identificar novas aes necessrias que garantam cidades mais justas, mais bonitas e mais saudveis.

    O projeto Litoral Sustentvel Desenvolvimento com Incluso Social se insere nesse contexto de intensas mu-danas e objetiva contribuir no desenvolvimento sustentvel da regio. Proposto pelo Instituto Polis e apoiado pela Petrobras, este projeto inicia-se com a construo de um diagnstico urbano socioambiental participativo dos municpios do Litoral Norte e da Baixada Santista1, articulado com a construo de um diagnstico da regio que, juntos, suportaro a elaborao de Agendas de Desenvolvimento Sustentvel para os municpios e para a regio.

    O Diagnstico Urbano Socioambiental Participativo parte da caracterizao do municpio e de uma extensa sistematizao de dados2 para desenvolver anlises sobre o seu ordenamento territorial, investigando os principias traos de sua ocupao, os diferentes tipos de necessidades habitacionais, as demandas e os desempenhos re-lativos ao sistema de saneamento ambiental, as condies de mobilidade local e regional, os espaos territoriais especialmente protegidos e os grandes equipamentos e infraestrutura de logstica existentes e previstos que iro impactar o desenvolvimento deste territrio.

    1 O projeto Litoral Sustentvel abrange os seguintes municpios: Perube, Itanham, Mongagu, Praia Grande, So Vicente, Cubato, Santos, Guaruj, Bertioga, So Sebastio, Ilhabela, Caraguatatuba e Ubatuba.2 Trabalhando com a anlise de um grande nmero de pesquisas existentes, coleta de novos dados e pesquisas com a populao. Os relatrios foram fechados com dados de at dezembro de 2012.

    INTRODUO

  • 5A esse conjunto de leituras sobre as condies urbansticas e socioambientais somam-se importantes anlises sobre o desenvolvimento econmico, a cultura, a segurana alimentar e nutricional, a sade, a segurana pblica e a gesto pblica e democrtica, considerando, especialmente, as finanas pblicas. Tais leituras esto articula-das a um exame detido sobre marcos jurdicos relativos s polticas pblicas que incidem nos espaos territoriais, bem como viso de moradores e representantes de entidades sobre os processos em curso. As diretrizes de an-lise partem do marco regulatrio das polticas pblicas nacionais e estaduais, consolidadas e normatizadas, e dos princpios garantidos na Constituio.

    Como produto da anlise aprofundada sobre todos esses aspectos segundo estas diretrizes, o Relatrio de Bertioga identifica um conjunto de desafios para o desenvolvimento sustentvel do municpio em harmonia com toda a regio.

    Neste Resumo Executivo, os diferentes contedos tratados de maneira detalhada no Relatrio foram articulados e organizados em quatro partes, no sentido de expor, de maneira concisa, os principais resultados das anlises.

    Na primeira parte, apresentamos um panorama geral do municpio de Bertioga, recuperando os aspectos mais relevantes de sua histria e de sua urbanizao, identificando traos especficos.

    Na segunda parte, indicamos os principais desafios para o desenvolvimento sustentvel de Bertioga, retratando uma sntese das anlises dos diferentes temas, apontando questes a serem enfrentadas no campo econmico, da organizao socioterritorial e da gesto pblica.

    Na terceira parte, trazemos a viso da populao sobre a realidade do municpio e reflexes sobre as dife-rentes perspectivas para o seu desenvolvimento. Na parte final, destacamos algumas consideraes sobre as potencialidades de fortalecimento do desenvolvimento sustentvel do municpio, construdas a partir da arti-culao entre as expectativas e vises dos diferentes segmentos da sociedade com as tendncias identificadas pelas leituras tcnicas.

  • 6O territrio de Bertioga foi originalmente habitado pelas tribos indgenas tupis e chamado de Buriquioca que significava morada dos macacos grandes. Sob o domnio portugus, em 1532, fundado um vilarejo e constru-do o Forte de So Tiago, que passaria por sucessivas reformas e ampliaes. A construo desse Forte teve como objetivo proteger a entrada da Barra da Bertioga dos ataques indgenas e das incurses francesas. Foi na linha da praia prxima ao Forte que surgiu o povoamento primitivo bero do pequeno ncleo de pescadores, que marca-ria a ocupao do municpio at a dcada de 1940, quando Bertioga assume sua funo de centro balnerio.

    A construo da ligao rodoviria com Guaruj e So Sebastio, na dcada de 1950, proporcionou melhores acessos ao municpio, favorecendo sua consolidao como Estncia Balneria e seu crescimento demogrfico. Administrativamente, Bertioga tornou-se distrito do municpio de Santos em 30 de novembro de 1944 e foi eman-cipado como municpio em 30 de dezembro de 1991, passando a integrar a Regio Metropolitana da Baixada Santista3, em 1996.3 Instituda pela Lei Complementar Estadual n 815, de 30 de julho de 1996, e composta pelos municpios de Perube, Itanham, Mongagu, Praia Grande, So Vicente, Cubato, Santos, Guaruj e Bertioga.

    PARTE 01

    O MUNICPIO DE BERTIOGA: PANORAMA GERAL E DINMICAS RECENTES

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  • 7A integrao econmica do eixo litoral norte de So Paulo, por meio da rodovia SP 055 (Dr. Manuel Hyppolito Rego), no final da dcada de 1970, fortaleceu Bertioga como espao para segundas residncias de parcela da po-pulao da capital paulista. dentro desse contexto que Bertioga passa a ser explorada pelo setor imobilirio para a construo de grandes condomnios residenciais. Em decorrncia dessas dinmicas, o municpio presenciou uma expressiva migrao de populao para o trabalho na construo, no comrcio e no setor de servios.

    Atravs das dinmicas econmicas acima descritas, Bertioga, que, geograficamente, est situada entre os cen-tros dinmicos da Baixada Santista formado por Santos, Guaruj, So Vicente e Cubato e do Litoral Norte formado por So Sebastio e Caraguatatuba, ampliou sua integrao com os municpios vizinhos e passou a presenciar um forte incremento populacional.

    MAPA 1 Municpios do Litoral Paulista, Taxa Geomtrica de Crescimento Anual TGCA 1991/2000 e 2000/10Fonte:Censos Demogrficos IBGE 1991 e 2000 e Censos Demogrficos IBGE 2000 e 2010.

    Embora Bertioga seja um dos municpios com menor populao na regio (47.645 habitantes, de acordo com o Censo IBGE/2010), hoje se destaca pelas maiores taxas de crescimento populacional quando comparadas as dos demais municpios do Litoral Norte e da Baixada Santista, em todo o perodo entre 1991 a 2010. A Taxa Geomtrica de Crescimento Anual (TGCA), entre 1991 e 2000, foi de 11,34% a.a. Mesmo com a reduo desta taxa para 4,42% a.a., no perodo de 2000 a 2010, a mesma continuou a representar a mais alta da regio.

    Esta populao residente caracterizada por ser bastante jovem, embora se perceba uma ligeira tendncia de envelhecimento na ltima dcada. Em 2010, mais de 50% da populao possua menos de 30 anos de idade. Bertioga segue o padro dos municpios litorneos paulistas, no qual o percentual da populao parda e negra sobre a populao total superior ao verificado para o Estado de So Paulo. Destaca-se, entretanto, pela maior presena de populao indgena, fundamentalmente concentrada na reserva indgena Ribeiro Silveira4, situada no extremo leste do municpio.

    4 A populao indgena da aldeia de cerca de 405 indgenas da etnia Guarani Mby e Nhandeva, subdivididas em cinco ncleos familiares (PMSS, 2011). O modo de vida da aldeia baseado nos costumes dos povos Guarani, incluindo a agricultura de subsistncia de mandioca e milho, a extrao do palmito, a caa e a pesca incipiente nos pequenos riachos da reserva. Outra atividade desenvolvida a venda de artesanato Guarani para turistas (WWF/IEB, 2008).

  • 8Pela crescente importncia da atividade de vera-neio, o municpio marcado ainda por uma grande populao flutuante, que chega a representar quase o dobro da populao residente, tendo sido calculada, no ano de 2010, em 80.992 veranistas5.

    Hoje, o veraneio a partir das segundas residncias uma caracterstica marcante de Bertioga, que apre-senta 62,18% de domiclios de uso ocasional, segundo dados do IBGE, 2010. Essa caracterstica, como j mencionamos, foi desenvolvida ao longo dos anos, principalmente com a construo dos condomnios fechados de alto padro e, mais recentemente, com os empreendimentos imobilirios verticais em alguns pontos da cidade.

    Entre 2000 e 2010, o crescimento dos domiclios de uso ocasional em Bertioga ocorreu num ritmo muito maior do que o crescimento dos domiclios ocupados, contrariando a tendncia da maior parte dos muni-cpios do litoral paulista que tiveram um crescimento mais intenso dos domiclios ocupados, indicando fixa-o crescente de moradores.

    A fora da atividade do veraneio tambm influen-cia o ritmo da produo de habitaes para a po-pulao residente. Entre a dcada de 2000 e 2010, conforme apontou a Fundao Seade, o estoque de residncias particulares permanentes quase que duplicou, com destaque para a expanso dos assenta-mentos precrios.5 CONCREMAT, 2010.

    De maneira geral, a urbanizao do municpio se deu de modo disperso e fragmentado. Esse proces-so foi orientado pelos eixos longitudinais paralelos orla martima, conformados pela rodovia SP-55 e pela Avenida Anchieta, e resultou na consolidao de ncleos desconectados, estruturados por eixos trans-versais secundrios no sentido da orla martima em direo Serra do Mar. Esse modelo de ocupao urbana espraiada, verificado em outros municpios do litoral paulista, tem forte relao com as dinmicas imobilirias e com as limitaes ambientais urba-nizao, j que a cidade possui grande parte de seu territrio inserida em unidades de conservao.

    O municpio de Bertioga est inserido em uma re-gio de domnio da Mata Atlntica, tendo 91% de sua rea recoberta por vegetao natural. Tal fato posicio-na Bertioga entre os municpios que possuem a maior cobertura vegetal proporcional de Mata Atlntica em todo o Estado de So Paulo (SMA/IF, 2006).

    Pela observao da evoluo de sua mancha urbana (ver figura 01) constatamos que Bertioga consolida-se inicialmente nas pores sudoeste do municpio, mais prximo de Santos, e avana no sen-tido nordeste, em direo divisa com So Sebastio. Desde o incio da dcada de 1980, a rea urbana de Bertioga, ainda pequena, j apresentava certa des-continuidade entre o Centro, prxima ao canal de Bertioga, e a rea onde se encontram as instalaes do SESC regional.

    1979/1980 1991/1992 2000 2011

    FIGURA 1 Evoluo da Mancha UrbanaFonte: Imagens Landsat (1979/1980; 1991/1992; 2000) e Google Earth (2011)

    A dcada de 1980 marca o mais forte processo de expanso da mancha urbana, com a urbanizao de reas nos arredores do Centro, e a consolidao de ncleos dispersos. Nesse perodo, formou-se o bairro Maitinga e se urbanizou uma grande rea no Rio do Meio. A maior parte da expanso urbana, entretanto, foi devida conso-lidao das reas urbanas ocupadas pelos domiclios de segunda residncia, dispersas nos ncleos do Indai, da Riviera de So Loureno, de Boracia e na ocupao inicial de Guaratuba. O maior condomnio, a Riviera de So Loureno, foi responsvel pelo incio da verticalizao do municpio, a partir da urbanizao da faixa junto orla martima com prdios de apartamentos de segundas residncias.

    Na dcada de 1990, a maior parte do crescimento da mancha urbana de Bertioga ocorreu junto s reas ocupa-das na dcada anterior. Entretanto, evidenciou-se tambm a formao de assentamentos precrios em reas mais distantes das praias, a urbanizao da Vista Linda, a expanso urbana de Guaratuba e o crescimento de Boracia.

    Na dcada de 2000, o acontecimento mais relevante no crescimento da mancha urbana de Bertioga foi a expanso da Riviera de So Loureno, com a urbanizao de uma grande rea do empreendimento destinada a moradias horizontais de alto padro. Nesse perodo, ocorreu tambm, em menor dimenso, a ocupao de reas em Boracia, junto aos locais j urbanizados em perodos anteriores.

  • 9Esse padro de expanso urbana ajuda a explicar as desigualdades socioespaciais hoje existentes em Bertioga, que so ilustradas no mapa a seguir. Em Bertioga, nas reas mais distantes da praia, entre a Rodovia Dr. Manuel Hyplito Rego e a Serra do Mar, esto localizados os setores censitrios com menores rendimento per capita, correspondes a domiclios ocupados pela populao residente fixa. Os setores censitrios mais prximos orla martima so responsveis pelos maiores rendimentos per capita e correspondem a uma grande concentrao de domiclios de uso ocasional segundas residncias.

    MAPA 2 Rendimentos Nominais Mdios dos Responsveis pelos Domiclios, segundo Setores Censitrios (R$)/2010Fonte: Censo Demogrfico IBGE, 2010

    Como em outros municpios da Baixada Santista, o crescimento urbano de Bertioga estruturou um padro desigual e contraditrio de urbanizao, como procuraremos mostrar de maneira mais detalhada ao longo deste Resumo. De maneira geral, as reas urbanas junto orla martima, onde est a maior parte das moradias de alta renda, utilizadas principalmente no vero, contam com melhor oferta de infraestrutura de saneamento bsico em comparao com aquelas que esto localizadas entre a Rodovia SP-55 e a Serra do Mar, onde est boa parte das moradias de residentes fixos de Bertioga.

    Esse padro de urbanizao ainda amplia a presso de ocupao das reas ambientais protegidas. Os altos preos alcanados pelos imveis e terrenos nessas reas mais valorizadas acabam por empurrar as populaes de menor renda para reas com maior vulnerabilidade ambiental.

  • 10

    PARTE 02

    ANLISE DA REALIDADE DO MUNICPIO E DESAFIOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

    Acreditamos que o desenvolvimento sustentvel do territrio de Bertioga deve considerar a importncia no so-mente da dimenso econmica (relacionada com a criao, acumulao e distribuio da riqueza), mas tambm das dimenses social e cultural (que implicam qualidade de vida, equidade e integrao social), territorial e am-biental (que se refere aos recursos naturais e sustentabilidade dos modelos de ocupao) e poltica (que envolve aspectos relacionados governana territorial).

    Dentro dessa perspectiva, apresentamos os principais resultados das anlises e identificamos os desafios ao de-senvolvimento sustentvel do municpio considerando trs grandes eixos de pesquisa inter-relacionados: a realida-de econmica, a organizao socioterritorial e a gesto pblica.

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  • 11

    EIXO 01 REALIDADE ECONMICA DO MUNICPIO

    Bertioga presenciou durante a ltima dcada um substancial aumento de seu Produto Interno Bruto (PIB), que passou de cerca de 215 milhes, em 2000, para 670 milhes, em 2009 (IBGE). O PIB/per capi-ta6, que de R$ 15.056,11, mantem-se, entretanto, inferior mdia estadual (R$ 26.202,00) e mdia nacional (R$ 15.900,00). Quando se examina a parti-cipao dos setores no Valor Adicionado do municpio, verifica-se um grande destaque dos setores de servio e comrcio, alm da administrao pblica, que en-globa os servios sociais.

    Valor Adicionado 1999 2009

    Agropecuria 1 0% 4 1%

    Indstria 27 15% 75 12%

    Servios 148 84% 533 87%

    Sub totais

    Administrao Pblica (34) (19,3%) (136) (22,2%)

    Comercio e outros servios (114) (64,8%) (397) (64,8%)

    TABELA 1 Valor Adicionado economia do Municpio Valores em milhes e Participao dos setores (1999-2009)Fonte: Fundao Seade

    O setor tercirio contribuiu em 2009 com 87% no Valor Adicionado da economia do municpio. Esta expressiva participao relaciona-se em parte com a importncia da administrao pblica que, alm de contribuir com 22% do Valor Adicionado, se destaca por ter uma participao crescente na ltima dca-da. J a indstria tem apresentado contribuio de-clinante, contribuindo com 12% do Valor Adicionado em 2009, o que indica baixo grau de industrializa-o no municpio. Por outro lado, a alta represen-tatividade do setor de servios refere-se ao fato de que este setor contempla as atividades de turismo e comrcio, atividades economicamente importantes na economia local.

    A anlise dos empreendimentos registrados no municpio, nas diferentes atividades econmicas, refora a importncia do setor tercirio. Dos 1.233 estabelecimentos7, as atividades de comrcio e servio concentram mais de 90%, como mostra o grfico que apresenta a distribuio desses estabelecimentos pelos diferentes setores.

    6 O PIB per capita refere-se ao PIB (soma de todas as riquezas produzidas no pas) dividido pelo nmero de habitantes do pas, sendo, portanto, apenas uma mdia indicativa, j que a distribuio desse ganho ou perda se d de forma desigual e tal efeito no pode ser registrado neste indicador.7 De acordo com a Relao Anual de Informaes Sociais (RAIS), do Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE), para o ano de 2010.

    GRFICO 1 Distribuio (%) dos estabelecimentos por setores da atividade econmica de Bertioga. Fonte: Perfil dos Municpios (IBGE). RAIS (MTE). Elaborao: Instituto Plis8.

    Da sistematizao de dados referentes distri-buio de empresas por faixa de pessoal ocupado9, constata-se que, em Bertioga, h um grande predo-mnio de empresas de pequeno porte. No municpio, 96% dos estabelecimentos tm at 20 empregados, sendo que quase 70% contam com at quatro empre-gados (IBGE/SIDRA/CCE, 2010).

    Os maiores empregadores so os setores de ser-vio e de comrcio e a administrao pblica. Dos 11.020 empregos formais do municpio, 50,9% esto no setor de servios; 26,3%, no comrcio; 15,9%, na administrao pblica; 5%, na Indstria da Construo Civil e, nos demais setores, tais como agropecuria, indstria de transformao e extrati-vismo mineral, a participao no chega a 1% dos empregos em Bertioga.

    GRFICO 2 Distribuio (%) dos empregos formais por setores da atividade econmica Bertioga, SP, 2012Fonte: MTE, RAIS (2012)

    8 Os conceitos das atividades econmicas foram renomeados, contemplando quando possvel a sua relao setorial, especialmente com a indstria, de forma a tornar de mais simples entendimento para o leitor, sem perder sua capacidade explicativa.9 No Relatrio de Bertioga podem ser encontradas tabelas da Distribuio das empresas por atividades econmicas para as reas de servio, administrao pblica e indstria da construo civil, organizadas a partir de dados do IBGE/SIDRA/CCE 2010.

  • 12

    O mercado formal de trabalho de Bertioga tam-bm caracterizado pelos baixos salrios. Os servios e o comrcio, setores de significativa importncia para a gerao de empregos formais neste municpio, registram remuneraes mdias de R$ 1.455 e R$ 967, respectivamente. Os maiores salrios, que esto no setor de servios industriais de utilidade pblica (SIUP)10 e, em 2010, tinham valores mdios de R$ 2,6 mil, representam menos de 1% do emprego total do municpio. Com exceo do setor de SIUP, nos demais setores, os rendimentos mdios auferidos em Bertioga so inferiores aos registrados no Estado de So Paulo e no Brasil. Embora os baixos salrios constituam uma caracterstica estrutural da formao do mercado de trabalho no Brasil, percebe-se que, em Bertioga, esta caracterstica se intensifica.

    Com relao ao mercado de trabalho, Bertioga destaca-se ainda por apresentar a menor taxa de desocupao (7,4%) e a maior taxa de informalida-de (47%)11, quando comparado s taxas da RMBS, do Estado de So Paulo e do Brasil. Em Bertioga, a Populao Economicamente Ativa (PEA)12 de 25.368 pessoas, representando cerca de 53% da populao do municpio.

    Local PEATaxa

    Desocupao* (em %)

    Taxa Informalidade**

    (em %)

    Bertioga 25.368 7,4 47

    RMBS 827.560 9,8 37

    Estado de SP 21.639.776 8,1 33

    Brasil 93.504.659 7,6 41

    TABELA 2 Indicadores do mercado de trabalho, 2010* Populao Desocupada/PEA ** Proxy considerando os empregados sem carteira e os por conta prpria/total de ocupados.Fonte: IBGE, SIDRA-Censo 2010.

    A anlise mais detalhada dos grandes setores de atividades permite identificar setores estratgicos da economia do municpio, como o Turismo e a Indstria da Construo atividades sempre identificadas como vocao13 da economia local.

    10 Que engloba os servios relacionados distribuio de gua, servios de tra-tamento de esgotos, entre outros, de acordo com a classificao do MTE, RAIS.11 Neste trabalho, com o intuito de analisar o peso das ocupaes em situa-o de informalidade (sem carteira de trabalho assinada), optou-se por somar os empregados sem carteira e os por conta prpria e dividi-los pelo total de empregados.12 Compreende o potencial de mo-de-obra com que pode contar o setor pro-dutivo, isto , a populao ocupada e a populao desocupada, assim definidas: populao ocupada - aquelas pessoas que, num determinado perodo de refern-cia, trabalharam ou tinham trabalho mas no trabalharam (por exemplo, pessoas em frias).Populao Desocupada - aquelas pessoas que no tinham trabalho, num determinado perodo de referncia, mas estavam dispostas a trabalhar, e que, para isso, tomaram alguma providncia efetiva (consultando pessoas, jornais etc.). Fonte: www.ibge.gov.br.13 Viso expressa por diversos segmentos sociais de Bertioga que participaram da Leitura Comunitria desenvolvida pela Equipe Polis no mbito do projeto Litoral Sustentvel - Desenvolvimento com Incluso Social.

    A observao da especializao produtiva regio-nal do municpio, a partir de anlises do Quociente Locacional (QL)14, nos anos de 2000 e 2010, nos revelam tendncias e dinmicas especficas da eco-nomia local, como se observa na tabela a seguir que recupera as atividades com maior destaque para o municpio15. O Quociente Locacional indica a repre-sentatividade da atividade econmica com relao capacidade de ocupao formal de trabalhadores no conjunto do municpio comparado do estado. Em Bertioga so as atividades de alojamento e comunica-o, administrao tcnica e profissional, administra-o pblica, comrcio varejista e construo civil que se destacam em termos de especializao produtiva regional, reiterando a importncia do setor de servio na economia local.

    Setores da atividade econmica com maiores QLs Quociente Locacional

    (QL)

    2000 2010

    Indstria da Construo Civil 0,2 1,02

    Comrcio Varejista 1,73 1,57

    Administrao Tcnica Profissional 1,71 1,6

    Alojamento e Comunicao 3,3 2,29

    Administrao Pblica 1,07 1,26

    TABELA 3 Quociente Locacional dos principais setores de atividade econmicaFonte: Elaborao prpria a partir de dados da RAIS-MTE.

    Embora esses dados no permitam anlises apro-fundadas de atividades especficas pelo grande nvel de agregao das mesmas, fica evidente um cresci-mento muito expressivo da especializao da indstria da construo. A ampliao da importncia da cons-truo civil, que deve ser entendida como parte de uma conjuntura de expanso do setor nacionalmente e no litoral paulista, tem fortes impactos no incremen-to da urbanizao e na economia, que so em parte limitados pelas caractersticas especficas do setor.

    A responsabilidade por apenas 5% dos empre-gos formais, oculta a grande informalidade do setor, que pode ser evidenciada pela anlise da Populao Ocupada (Censo IBGE, 2010) que inclui trabalhadores formais e informais. Segundo este dado, 16,7% das pessoas ocupadas do municpio desenvolvem ativi-dades na construo civil16. A articulao deste dado com os empregos formais revela a enorme informali-dade caracterstica do setor.

    14 O QL um importante indicador que revela a especificidade de um setor den-tro de uma regio (municpio), o seu peso em relao estrutura empresarial da regio (municpio) e a importncia do setor para a economia do Estado. O clcu-lo do Quociente Locacional (QL) foi produzido a partir de dados do RAIS (MTE). A tabela completa do QL est no relatrio completo. As atividades que atingem um ndice maior do que 1 so consideradas como importantes em termos de especializao produtiva regional.15 No Relatrio de Bertioga apresentada a tabela com o conjunto de ativida-des do municpio e o seu nvel de especializao produtiva. 16 3.920 pessoas, conforme o Censo IBGE 2010.

  • 13

    A importncia da construo civil na gerao de empregos tambm indicada pela existncia no muni-cpio de um ncleo de formao do SENAI, direciona-do qualificao da mo de obra para o setor17.

    Deve-se ressaltar que a maioria das empresas responsvel pelo desenvolvimento dos grandes empre-endimentos proveniente de So Paulo18, que tende a contratar em Bertioga apenas a mo de obra mais barata e servios terceirizados. O mercado local da construo civil era formado por 292 empresas em 2010. Esse conjunto era 41,7% maior do que o de 2006. Embora predominem empresas de construo de pequeno porte19, oito empresas ultrapassaram a escala de 100 pessoas ocupadas e duas, a de 250.

    A atividade imobiliria, diretamente relacio-nada importncia da construo civil, tambm tem destaque no municpio. As mesmas ocupavam quase 6% da populao, mais de 1.630 pessoas. Entretanto, enquanto a atividade de construo aumentou a sua participao no conjunto da po-pulao ocupada, entre a dcada de 2000-2010, os trabalhadores da atividade imobiliria reduziram seu nmero. A importncia das atividades de cons-truo civil e imobiliria explicada pela importn-cia do veraneio no municpio.

    A atividade de veraneio tem ainda uma grande relao com os empregos domsticos, demandados pelos proprietrios das casas e apartamentos dos condomnios. Em Bertioga, os servios domsticos representam 18,6% das pessoas ocupadas. No litoral paulista, esse percentual de apenas 1,7%.

    As atividades de servios domsticos so caracte-rizadas por serem, em muitos casos, sazonais, sem vnculo trabalhista ou contribuio social, baixa re-munerao e qualificao profissional. A relevncia da administrao pblica, que aparece como um dos setores de destaque na especializao produtiva do municpio, reflete a sua importncia como gran-de empregador do municpio. Tambm se destacam como grandes empregadores locais o SESC, SENAC e SENAI, que so classificados como servios sociais.

    Apesar do destaque do setor alojamento e comu-nicao, no que se refere especializao produtiva,

    17 O Centro de Treinamento SENAI Bertioga foi concebido para ser uma unidade de ensino profissionalizante multidisciplinar. Pioneira na regio, na rea da cons-truo civil, a escola propicia atendimento em toda Baixada Santista, podendo, tambm, atender clientes de outras cidades e estados, como j fez para alunos de Santos, So Vicente, Cubato, Suzano, Mogi, So Paulo e Minas Gerais. Fonte: http://www.sp.senai.br/bertioga/Webforms/Interna.aspx?secao_id=4.18 Em pesquisa exploratria, evidenciamos que as incorporadoras responsveis pelos dois dos dois maiores condomnios do municpio Riviera de So Loureno e Costa do Sol tm suas sedes em So Paulo. So respectivamente as incorpo-radoras Praias Paulistas S/A e. 19 Das 80 empresas envolvidas com atividades de construo civil, 57 tinham at 4 funcionrios, e apenas duas empresas tinham mais de 50 funcionrios (IBGE/SIDRA-CEE, 2010).

    este sofreu uma sensvel perda quando comparado a sua importncia no ano 2000.

    Quando se analisa a distribuio da populao ocu-pada no setor de servios e comrcios, as atividades de alojamento e alimentao20 so responsveis por 8,7% das pessoas ocupadas, segundos dados do Censo 2010 (IBGE), sendo superior ao percentual de 4,7% constatado no litoral paulista. Nas atividades de alojamento e alimentao, que representam, respecti-vamente, os hotis, campings, pousadas etc. e os res-taurantes, o incremento ou surgimento de empresas, segundo a faixa de ocupao, foi de maneira geral pequeno, melhor para as unidades de mdio porte, entre 20 e 50 trabalhadores e de grande escala, com mais de 50 pessoas ocupadas. Esse setor, de maneira geral, reproduz a caracterstica dominante de predo-minncia de empresas com pequeno nmero de em-pregados. Deve-se destacar, entretanto, o Centro de Frias SESC que, embora, seja computado em outras atividades de servios, presta servios de hospedagem e alimentao. Esta estrutura tem capacidade para receber em torno de mil hspedes em casas e conjun-tos de apartamentos. As instalaes de hospedagem, lazer e servios ocupam uma rea superior a 400 mil m, dos quais, 38 mil m so de rea construda21.

    Por fim, deve-se destacar a atividade da pesca, que tem grande importncia social, cultural e econmica, embora no seja captada pelos dados oficiais pelo grande nvel de informalidade, fundada na produo de carter familiar, na qual predominam embarcaes de pequeno porte22. Em 2010, a produo marinha e estuarina em Bertioga foi de 238 toneladas, prxima a 1% da produo estadual.

    Por sua posio geogrfica, situada entre impor-tantes polos concentradores de atividades da regio, Bertioga ser impactada pelo intenso dinamismo econmico evidenciado na regio, resultante da ampliao e modernizao de rodovias e reas por-turias, alm do incio da explorao do pr-sal. At o presente momento, o que se evidencia a baixa integrao de Bertioga na cadeia de produo de petrleo e gs23. 20 De acordo com os dados sobre a populao ocupada do municpio do Censo 2010 IBGE. A mudana na classificao e agrupamento de atividades decorre da falta de padronizao das diversas fontes pesquisadas. Enquanto o IBGE agru-pa as atividades no segmento alojamento e alimentao, a RAIS-MTE classifica no grupo alojamento e comunicao.21 De acordo com informaes do prprio site da instituio - http://sescsp.org.br/sesc/bertioga/22 De acordo com dados disponibilizados pelo Instituto de Pesca de So Paulo, os dois aparelhos so mais comuns na pesca local: embarcao de arrasto duplo de pequeno porte (55 unidades) e rede de emalhe (11 unidades), a partir da costa.23 Em Bertioga, apenas duas empresas (uma micro e outra pequena nas reas de servios de comunicao e servios de segurana do trabalho) aderiram Rede Petros parceria entre o Sebrae e a Petrobrs, cujo objetivo promover a insero competitiva e sustentvel dos micro e pequenos negcios, fornecedores efetivos e potenciais, na cadeia de produo de petrleo.

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    Deve-se ressaltar que a magnitude e a abrangn-cia da cadeia de petrleo e gs natural fazem com que o setor apresente necessidades especficas em termos de mo-de-obra. Embora existam esforos da Petrobras24 no sentido de qualificao da mo de obra para o setor, nenhuma ao especfica de qualificao tcnica-profissional foi desenvolvida no municpio.

    A tentativa de implementao de uma indstria para fabricao de plataformas para a Petrobras25 no municpio tornou evidente a existncia de en-traves atividade industrial no municpio. Estes entraves so representados pela resistncia de de-terminados setores da comunidade, por restries da legislao urbanstica e ambiental e por conflitos de interesse entre militantes ambientalistas e alguns representantes da indstria da construo civil e de-terminados setores da Prefeitura e alguns segmentos da populao de baixa renda que apoiavam a imple-mentao da plataforma.

    A diversificao das atividades econmicas, a ampliao da formalizao e superao da con-dio sazonal dos empregos, esboa-se na atualidade como importantes desafios para o de-senvolvimento econmico.

    A potencialidade do setor de turismo, em suas diversas modalidades incluindo a pesca, se cons-titui uma ideia a ser considerada, levando em conta o perfil socioeconmico e cultural do municpio bem como as restries pela riqueza ambiental. A seguir, exploramos alguns traos da cultura local e da cultu-ra alimentar, que podem se colocar como aspectos a serem explorados no sentido de novos caminhos ao desenvolvimento sustentvel de Bertioga.

    Caractersticas da Cultura LocalMuitas so as demandas para que a cultura tenha

    um papel mais estratgico para o desenvolvimento municipal, tendo em vista a grande particularida-de da cultura local manifestada pela presena dos povos tradicionais e concentrao de importantes patrimnios materiais. 24 Para suprir as necessidades da indstria petrolfera nacional foi criado, em 2006, o Plano Nacional de Qualificao Profissional (PNQP) do Programa de Mobilizao da Indstria Nacional de Petrleo e Gs Natural Prominp, cujo ob-jetivo o treinamento da mo-de-obra (com o oferecimento de bolsas de estudo para os participantes), demandada pelos empreendimentos do setor de petrleo, principalmente as empresas fornecedoras de bens e servios nos 17 estados do pas, onde foram previstos investimentos por parte da Petrobras. A estruturao de cursos do PNQP baseada na previso de demanda, calculada com base no portflio e projetos da Petrobras. O foco do PNQP a qualificao profissional por meio de cursos de curta durao (semestrais), destinados ao ensino bsico, mdio e superior, alm de cursos de formao gerencial. 25 Vrias organizaes entrevistadas pela equipe Polis relataram que participa-ram da mobilizao contra a venda do Pao Municipal de Bertioga para uma sub-sidiria da Petrobras, para a instalao de indstria de fabricao de plataformas, em 2011. Neste perodo, foi gerado um grande debate na cidade, que ajudou a impedir a sua concretizao.

    O municpio de Bertioga concentra em seu territrio uma comunidade indgena tradicional organizada na Reserva indgena de Ribeiro Silveira26 , alm de importantes traos das comunidades caiaras tradicio-nais. Embora a comunidade indgena seja pequena, sua presena na cultura local expressiva e chega a influenciar o imaginrio urbano.

    J a cultura caiara se manifesta nas festas, comidas, artesanato, linguagem e na religiosidade. Embora sua presena seja mais forte em algumas comunidades, sua influncia permeia todo o municpio. A recuperao e a preservao destas particularidades de Bertioga consti-tuem um importante desafio ao seu desenvolvimento.

    O patrimnio imaterial de Bertioga se mistura com seu patrimnio material, representado por edificaes histri-cas e, principalmente, por sua riqueza ambiental. Embora pouco explorados, consolidam-se cada vez mais como importantes atrativos tursticos e polos culturais da cidade.

    O Forte de So Tiago o nico imvel tomba-do pelo Instituto do Patrimnio Histrico Nacional (IPHAN), sendo tambm tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimnio Histrico, Arqueolgico, Artstico e Turstico (CONDEPHAAT). Em meados de 2001, o Forte foi totalmente reformulado e, atu-almente, conta com salas temticas, exposies de armas e armaduras, exposies itinerantes e visitas monitoradas. No ano de 2004, foi inaugurado, em seu entorno, o Parque dos Tupiniquins. No municpio de Bertioga tambm esto includas reas tombadas da Serra do Mar e Paranapiacaba27, onde situa-se a Vila da Itatinga e a Usina Eltrica Henry Borden.

    Apesar desses importantes potenciais da cultura local, verificam-se problemas de acesso cultura para a maior parte da populao. A dificuldade de fruio da produo cultural tambm pode ser agravada pela carncia de re-cursos para a divulgao das atividades culturais existentes e para a realizao de trabalhos educativos. Estes proble-mas so reforados pela distribuio desigual da renda, pequena oferta de espaos e de atividades, dificuldades de mobilidade entre bairros mais distantes e o Centro e pela ausncia de uma poltica de descentralizao da cultura. A cidade tem o SESC como maior espao cultural, mas inexistem cinema, teatro e salas de espetculo.

    26 A terra indgena foi demarcada pelo decreto 94568, de 8 de julho de 1987. H uma ao anulatria desse decreto (Processo 9403257436-4 do Tribunal Federal da 3 Regio), movida pelos proprietrios. A FUNAI decidiu ampliar a reserva de 944 hectares, para 8500 hectares, atravs do processo Funai 08620.1219/2003, que culminou na edio declaratria MJ1.236/2008, do Ministro da Justia. A portaria de 30.07.208 determina em seu artigo 2 que a FUNAI promover a demarcao administrativa da terra indgena ora declarada para posterior promulgao do Presidente das Repblica, nos termos do artigo 19 da Lei n 6001/73 e do artigo 5 do decreto n 1775 /96. Em novembro de 2010, a ministra Ellen Gracie concedeu mandado de segurana (29.293) para impedir a ampliao da reserva indgena. A Suprema Corte baseou-se no julgamento do caso Raposa do Sol.27 Tombadas pela Resoluo da Secretaria Estadual de Cultura n 40, de 06 de junho de 1985, e sob a tutela e administrao do Conselho de Defesa do Patrimnio Histrico, Arqueolgico, Artstico e Turstico do Estado de So Paulo (CONDEPHAAT).

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    EIXO 02 ORGANIZAO SOCIOTERRITORIAL

    A seguir apresentamos as dinmicas de ocupao do territrio, considerando a sua interao com o meio ambiente, com a expanso da produo imo-biliria e com a habitao e regularizao fundiria. Diretamente articuladas s dinmicas de ocupao do territrio, as condies de mobilidade e sanea-mento sero tambm determinantes na compreen-so da organizao socioterritorial. As ofertas dos servios de sade, a segurana alimentar e nutricio-nal, alm das condies de segurana pblica, so tambm aspectos relacionados, ainda que indireta-mente, a essas dinmicas.

    Meio Ambiente e TerritrioA riqueza da biodiversidade do territrio de

    Bertioga acabou por justificar a criao de dois gran-des parques estaduais: o Parque Estadual da Serra do Mar (PESM)28 e o Parque Estadual Restinga de Bertioga (PERB), que abrangem, atualmente, 72% do municpio.

    O Parque Estadual da Serra do Mar (PESM) o maior parque do Estado de So Paulo e, tambm, a maior unidade de conservao de proteo integral de toda a Mata Atlntica29. Em Bertioga, est locali-zado o Ncleo Itutinga-Piles do PESM30, que corres-ponde a 49,92% de sua rea total, concentrando-se na regio escarpada do municpio. Tal dimenso e localizao fazem com que o PESM cumpra um papel capital na proteo dos mananciais locais, uma vez que o mesmo abarca as cinco principais sub-bacias hidrogrficas desta municipalidade31. Dentro do Plano de Manejo do Parque, o Ncleo Itutinga-Piles con-siderado como rea para a conservao da biodiver-sidade, por reunir um ambiente nico de floresta com grande riqueza de anfbios e aves.

    O Parque Estadual Restinga de Bertioga32 (PERB) abriga 98% dos remanescentes de Mata de Restinga

    28 O PESM foi criado pelo Decreto n 10251 de 31 de agosto de 1977. Atualmente, administrado pela Fundao para a Conservao e a Produo Florestal do Estado de So Paulo (Fundao Florestal).29 A rea total do PESM abrange 315.390 hectares e engloba 23 municpios do estado. Esta unidade de conservao demasiadamente importante porque se configura como um corredor ecolgico que possibilita conectar os mais importan-tes remanescentes de Mata Atlntica do Brasil.30 Em face de sua grande extenso, o PESM gerenciado por meio de uma diviso regional em ncleos administrativos no sentido de facilitar o seu processo de gesto. So trs sedes no planalto (Cunha, Santa Virgnia e Curucutu) e cinco na regio litornea (Picinguaba, Caraguatatuba, So Sebastio, Itutinga Piles e Pedro de Toledo), sendo que para cada ncleo h um conselho gestor consultivo.31 Guaratuba, Ribeiro Sertozinho, Itaguar ou dos Alhos, Itatinga e Itapanha.

    32 O PERB foi criado pelo Decreto n 56.500, de 9 de dezembro de 2010, e administrado pela Fundao para a Conservao e a Produo Florestal do Estado de So Paulo (Fundao Florestal).

    da Baixada Santista, sendo uma das poucas reas do Estado de So Paulo onde ainda pode-se encontrar este ecossistema preservado. Compondo um corredor biolgico integrador dos ambientes marinho-costeiros, restinga e Serra do Mar, esta unidade de conserva-o abrange 9.312,32 hectares, que correspondem a 18,96% da rea total do municpio de Bertioga, divi-didos nos setores leste e oeste. Sua criao constituiu um ato de fundamental importncia para garantir a perpetuidade de processos ecolgicos e fluxos gnicos de uma rea com alta conservao de fisionomias ve-getais e que se encontra altamente ameaada devido ao intenso processo de urbanizao voltado para o veraneio (SAKAMOTO, 2008).

    Somam-se a essas iniciativas, a criao da rea de Proteo Ambiental Estadual Marinha Litoral Centro (APAMLC)33 e a criao de quatro Reservas Particulares do Patrimnio Natural, por iniciativa de proprietrios particulares34.

    A APAMLC a maior unidade de conservao marinha do Pas. Com 449.259,70 hectares, abran-ge os litorais dos municpios de Bertioga, Guaruj, Santos, So Vicente, Praia Grande, Mongagu, Itanham e Perube.

    Todas as reas especialmente preservadas do muni-cpio de Bertioga possuem conselhos gestores para a tomada de decises e planejamento da gesto.

    O conjunto de reas especialmente protegidas do municpio apresentado no mapa a seguir. Na se-quncia, sistematizamos os principais desafios pre-servao e conservao desses espaos, bem como identificamos projetos e aes sustentveis em curso.

    33 A APAMLC foi criada pelo Decreto Estadual n 53.526, de 8 de outubro de 2008, e administrada pela Fundao para a Conservao e a Produo Florestal do Estado de So Paulo (Fundao Florestal).34 RPPN Ecofuturo (2009); RPPN Hrcules Florence I (2010); RPPN Hrcules Florence II (2011) e RPPN Costa Blanca (2011).

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    MAPA 3 Unidades de Conservao ExistentesFonte: IBAMA, 2011; SMA, 2011; FUNAI, 2011, Concremat, 2011.

    DEsAfIOs pREsERVAO DOs EspAOs pROtEgIDOs

    As ocupaes irregulares decorrentes de urbanizaes formais e informais, a existncia de vetores de secciona-mento, a explorao predatria da biota, alm da situao fundiria irregular so problemas que interferem em dife-rentes aspectos na preservao dos espaos protegidos.

    OCupAEs IRREguLAREs

    Diferentemente de sua condio em outros mu-nicpios, o Ncleo Itutinga-Piles (PESM) tem suas caractersticas originais bastante preservadas e no apresenta ocupaes irregulares significativas. Contribuem para isso a existncia de barreiras fsicas naturais que dificultam o acesso da rea urbanizada ao parque. No setor de planalto do Ncleo, existem reas com ecossistemas parcialmente degradados, em parte rea ocupada por reflorestamento de eucaliptos pela Companhia Suzano de Papel e Celulose, localiza-da no extremo noroeste do municpio de Bertioga35.

    As presses da urbanizao formal e informal so, entretanto, evidentes sobre a Zona de Amortecimento (ZA) do PESM36 e sobre os dois setores do PERB. 35 Esta rea classificada pelo Plano de Manejo como Zona de Recuperao (ZR). Esse Plano define como ao prioritria a articulao de planos de manejo florestal com os respectivos ocupantes destas reas para que seja feita a retirada gradual desta espcie extica (SMA/FF, 2006).36 A Zona de Amortecimento (ZA) do PESM foi delimitada a partir de um raio de 10km contados do limite da unidade de conservao e inclui o territrio protegido pelo Tombamento da Serra do Mar e os manguezais de Bertioga. Foram exclu-das da ZA a rea urbana consolidada e a rea de expanso urbana prevista no Plano Diretor do Municpio (SMA/FF, 2006). O objetivo geral da ZA proteger e recuperar os mananciais, os remanescentes florestais e a integridade da paisa-gem na regio de entorno do PESM, para garantir a manuteno e recuperao da biodiversidade e dos seus recursos hdricos (SMA/FF, 2006, p. 296).

    A presso da urbanizao formal, associada em parte expanso descontnua da produo imobiliria, favoreceu o seccionamento dos diversos ecossistemas existentes, provocando a desestruturao ecolgica local. O exemplo mais expressivo deste problema na ZA do PESM o condomnio Morada da Praia.

    Por outro lado, as ocupaes urbanas informais lo-calizadas dentro da ZA do PESM tambm so bastan-te problemticas, uma vez que se caracterizam pela supresso ilegal de vegetao nativa e pela ausncia de saneamento bsico, com danosas consequncias para a proteo dos mananciais, da vegetao e da paisagem. Essa dinmica, resultante em grande parte da dificuldade de acesso moradia pela populao mais pobre37, tende a se agravar com o forte incre-mento populacional previsto para o municpio, caso no sejam previstas reas adequadas para a produo de habitao popular.

    Um dos projetos que tratam da moradia em reas de proteo ambiental que o municpio est includo o Programa de Recuperao Socioambiental da Serra do Mar38, do Governo do Estado, que prev o desenvolvimento de planos de reassentamento e de

    37 Uma vez que a populao pobre trabalhadora tende a se instalar em reas desprezadas pelo mercado imobilirio privado e nas reas pblicas situadas em regies desvalorizadas, incluindo beira de crregos, encostas de morros, terrenos sujeitos a enchentes ou outros tipos de riscos, regies poludas, ou reas onde a vigncia de legislao de proteo ambiental e a ausncia de controle do uso do solo definem a desvalorizao e o desinteresse do mercado imobilirio (MARICATO, 2001).38 Atravs da assinatura de um Termo de Cooperao entre a Secretaria da Habitao do Estado de So Paulo e a Prefeitura Municipal de Bertioga, em 16 de dezembro de 2010.

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    solues habitacionais e urbanas. As dimenses e aes previstas por este plano devem ser melhor ana-lisadas. Os processos de realocao da populao de baixa renda devem seguir procedimentos que evitem violaes do direito moradia adequada, demandan-do a integrao de polticas pblicas e participao das famlias envolvidas.

    O PERB, embora mantenha sua vegetao preser-vada, sofre presses muito maiores da urbanizao formal e informal em diferentes nveis nos seus setores leste e oeste, presenciando processos semelhantes aos identificados na Zona de Amortecimento do PESM.

    Embora o setor oeste do parque no apresen-te ocupaes urbanas irregulares significativas39, a urbanizao (formal e informal) nas reas do en-torno, que concentram grande parte da populao residente do municpio, tem ocorrido de forma mais acelerada, dirigindo-se para os limites do PERB nos

    39 Devido existncia de barreiras naturais que dificultam o acesso aos seus limites (rios Itapanha e Jaguareguava, ao sul, e encostas do PESM, ao norte).

    ltimos anos. A criao do Parque Municipal Ilha Rio da Praia pelo poder pblico municipal e a criao das trs RPPNs por particulares so aes que podem contribuir para o controle da urbanizao da Zona de Amortecimento do PERB.

    No que tange ao setor leste do PERB, os prin-cipais problemas enfrentados so a existncia de moradias irregulares40 e de um loteamento no im-plantado dentro do Parque, alm das presses ad-vindas do setor imobilirio para a ocupao de seu entorno por condomnios horizontais. importante observar que o entorno do setor leste do PERB con-centra praticamente todos os condomnios de alto padro do municpio e , portanto, o setor preferen-cialmente eleito pelo mercado imobilirio para a im-plantao de novos empreendimentos e ampliao dos loteamentos j existentes.

    40 Atualmente, existem cerca de 200 moradias localizadas dentro do PERB previstas para serem deslocadas. Destaque para a Vila da Mata que responde sozinha por metade destas ocupaes.

    FIGURA 2Setores oeste ( esquerda) e leste ( direita) do PERB com evoluo da mancha urbana. Destaque para a ocupao do parque por casas e lotea-mentos no setor leste. Fonte: Google Earth / Digital Globe, 2011

    As reas de Proteo Permanente (APPs) do Municpio41, que abrangem 169,55 km2 e correspondem a 34,6% de sua rea total so tambm bastante afetadas pela ocupao urbana. O maior problema relacionado ocupa-o de APPs, seja em virtude de suas dimenses, seja em virtude da fragilidade e raridade deste ecossistema, so as ocupaes urbanas em faixa de 300 m de Preamar. Estas reas representam 12,11% do total das APPs analisa-das e apresentam 4,89 km2 ocupados pela urbanizao (85,90% do total geral das reas urbanizadas em APP).

    41 As reas com declividade superior a 45 correspondem a 61,71% do total das APPs e so as que apresentam a menor taxa de ocupao urbana, 0,20% do total geral (0,011 km2 urbanizados). Tal fato se explica por estas reas estarem quase que integralmente includas dentro do Parque Estadual da Serra do Mar. Os manguezais, que correspondem a 5,93% do total das APPs, tambm apresentam uma baixa taxa de ocupao urbana (0,91% do total geral 0,052 km2), estando grande parte protegi-do pelo Parque Estadual Restinga de Bertioga. J as APPs de margem de rio, que representam 20,24% do total das APP analisadas, possuem 0,74 km2 ocupados pela urbanizao (12,99% do total geral das reas urbanizadas em APP). Estes valores correspondem s ocupaes urbanas irregulares existentes no setor oeste da cidade (nas proximidades do rio Itapanha) e, tambm, s ocupaes consolidadas localizadas no centro da cidade.

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    A existncia de vetores de seccionamento42 da vegetao no interior do PESM e do PERB entra em conflito com os objetivos de preservao destes espaos. Conformados como corredores lineares com uso e finalidade de utilidade pblica, esses vetores so em maior ou menor grau vias facilitadoras da urbanizao irregular e de aes ilegais de exploradores de recursos naturais.

    So vetores de seccionamento do PERB, a Rodovia SP-055, o Oleoduto So Sebastio/ Cubato da Petrobras, linhas de transmisso de energia eltrica, trilhas de acesso a cachoeiras e a pontos de captaes dgua e a Ferrovia da Usina Hidreltrica de Itatinga. Para alm de aes gerais de preveno e controle dos impactos am-bientais43, torna-se fundamental pesquisar, mapear e dimensionar os impactos ligados diviso das manchas de vegetao e ao desequilbrio dos gradientes de salinidade no sentido de se propor intervenes.

    FIGURA 3Vetores de seccionamento Da esquerda para direita: SP-55 (cruzando a vegetao de restinga na Foz do Rio Itaguar); SP-55 (cruzando o Man-guezal do Rio Guaratuba); linha de transmisso de energia eltrica na regio de Boracia e Ferrovia da Usina Hidreltrica de ItatingaFonte: Joo Manoel Gouveia, n.d.; Andr Bonacin, n.d., Stubric, n.d., Gtavernezi, n.d.

    Outra ameaa preservao destes espaos protegidos a explorao predatria de recursos da biota, a par-tir da ao de caadores e palmiteiros em toda a regio. Existem ranchos e instrumentos de caa e pesca espa-lhados em vrios pontos do PESM, do PERB, em suas zonas de amortecimento e nas demais reas protegidas44.

    O Plano de Manejo do PESM definiu como prioridade para combater esse tipo de problema a implemen-tao de aes de fiscalizao integrada com rgos do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), a ampliao do nvel de participao da comunidade por meio de denncias contra agresses, o aprimoramen-to contnuo dos agentes de fiscalizao, o monitoramento dos vetores de presso e a fiscalizao das fon-tes de consumo de recursos naturais (SMA/IF, 2006). Para implementar aes de fiscalizao, o Governo do

    42 No Relatrio de Bertioga pode ser encontrada uma anlise detalhada das ameaas relacionadas a cada um destes vetores.43 As mesmas j explicitadas pelo Plano de Manejo do PESM (SMA/IF, 2006).44 Segundo informao proveniente dos debates realizados na consulta pblica para criao do Parque Estadual Restinga de Bertioga PERB.

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    Estado de So Paulo criou o Plano de Policiamento Ambiental para Proteo das Unidades de Conservao (Proparque). Adicionalmente, a criao do PERB levou o Ministrio Pblico Estadual a solicitar ao municpio de Bertioga e ao Governo do Estado de So Paulo a elaborao de um Plano de Ao Emergencial45, voltado para a proteo de reas com grande afluxo de turistas. Apesar destas aes, o aprimoramento da fiscalizao dos espaos protegidos permanece como um desafio ao municpio.

    A situao fundiria um problema crtico tanto do PESM, como no PERB. Em Bertioga, cerca de 10% (aproximadamente 2.450 ha) do PESM est em reas de domnio pblico regularizadas do ponto de vista fundirio. Os 90% restantes so reas em processo de aquisio ou de apurao de eventuais remanescentes devolutos ou, ainda, reas de empresas pblicas46. Por sua implantao recente, no PERB ainda no houve regularizao, sendo toda a rea propriedade privada.

    Embora alguns estudos47 indiquem que a grande concentrao de terras por um pequeno grupo de proprie-trios, evidenciada em Bertioga, facilita os processos de regularizao fundiria, o que tem se evidenciado uma grande influncia dos grandes proprietrios na definio de indenizaes milionrias por desapropriao.

    pROjEtOs E AEs EstRAtgICAs DE pREsERVAO E EstmuLO A usOs sustENtVEIs

    Atualmente, um conjunto de projetos e aes estratgicas vem sendo desenvolvido no sentido de estimular ocupaes sustentveis nas reas de amortecimento do PESM e do PERB, com destaque para as atividades no Parque da Neblina, no Parque Municipal Ilha Rio da Prata e na Fazenda Acara48.

    Complementarmente, alguns usos sustentveis desenvolvidos no interior das reas protegidas se colocam como importantes alternativas ao desenvolvimento local. Apesar de algumas limitaes decorrentes de falta de infraestrutura49, as atividades de turismo tm sido bastante intensificadas nos PESM, PERB e APAMLC (ver figura 4). A visitao aos atrativos naturais do PESM e do PERB em Bertioga realizada, na maioria das vezes, pela oferta de pacotes de turismo de aventura feita por operadoras especializadas e guias independentes. As atividades de turismo martimo so muito intensas em toda rea da APAMLC, fazendo-se necessria uma regu-lamentao de forma a compatibiliz-las com os objetivos de manejo desta unidade de conservao.

    (A) (B)

    FIGURA 4 (A e B)(A) Prtica de Acquaride em Corredeiras ao Longo do Rio Itaguar; (B) Cachoeira do Elefante; Fonte: Ricardo Cobra, 2009; J. Augusto, n.d.; Caio Petroni, n.d.; Cris Campanella, n.d.

    45 Este plano emergencial foi planejado, coordenado e implementado pela DOA (Diretoria de Operaes Ambientais) do municpio de Bertioga e contou com a participa-o de rgos estaduais (Fundao Florestal, Polcia Ambiental, Departamento de Estradas de Rodagem) e da ONG Parcel (operao conjunta). Basicamente, as aes do plano emergencial so desenvolvidas durante os finais de semana da temporada de vero e se encerraram aps o feriado de Carnaval. Os trabalhos envolvem aes edu-cativas, de fiscalizao, coleta de lixo e orientao aos usurios (TV COSTA NORTE, 2012). As reas de abrangncia deste plano so as praias de Itaguar e Guaratuba situadas no PERB.46 Quantificao realizada a partir da carta de situao fundiria do Plano de Manejo do PESM.47 Cf. (SMA/IF, 2006).48 As atividades desenvolvidas nestes espaos esto detalhadas no Relatrio Completo.49 A questo do uso pblico dos parques no municpio de Bertioga no destoa muito da realidade da maioria das unidades de conservao brasileiras. No h uma infraestrutura local para atender o visitante, tampouco uma estrutura administrativa voltada para a visitao e para o controle do uso pblico. Consequentemente, a maior parte da visitao pblica realizada sem monitoramento e manejo adequado.

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    FIGURA 4 (C e D)(C) Capela Nossa Senhora da Conceio (Vila de Itatinga); (D) Usina Hidreltrica de Itatinga Fonte: Ricardo Cobra, 2009; J. Augusto, n.d.; Caio Petroni, n.d.; Cris Campanella, n.d.

    Um importante uso sustentvel da rea a Terra Indgena (Reserva Ribeiro Silveira), que cumpre um im-portante papel no s na manuteno da cultura indgena local, mas tambm na proteo do bioma da Mata Atlntica ali existente. Para estes, entretanto, a criao do PERB representou um problema, por inviabilizar as atividades extrativas de nove famlias que vivem da coleta e venda de caranguejos, ostras e mariscos na regio de Guaratuba. Tais atividades, se bem gerenciadas, podem estar em conformidade com os princpios do desenvolvi-mento sustentvel.

    Vale acrescentar ainda que, pela riqueza e diversidade ambiental da rea, os parques podem ser potencializa-dos como importantes espaos de pesquisa. O plano de manejo do PESM considera ser de importncia estratgi-ca incentivar a produo do conhecimento cientfico sobre os aspectos biofsicos e sociais do parque, de forma a utilizar as pesquisas desenvolvidas como suporte melhoria da gesto e tomada de decises (SMA/IF, 2006).

    Ocupao Urbana e Regulao UrbansticaBertioga tem como principal desafio na organizao

    territorial conciliar a preservao ambiental com um quadro de intensa expanso urbana, marcado pelo expressivo crescimento populacional, intensa produ-o imobiliria e crescente precarizao habitacional. Se esse crescimento urbano no for ordenado e ocor-rer de modo inadequado junto aos cursos dgua, nos locais com topografia acidentada e em reas com cobertura vegetal significativa , haver srios proble-mas na ordem urbanstica local. sobre esse contexto que se faz necessria a avaliao dos instrumentos da poltica urbana e a discusso sobre os desafios ao planejamento urbano do municpio.

    As principais leis relacionadas ao desenvolvimen-to urbano do municpio de Bertioga Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentvel (PDDS)50 e Lei de Uso e Ocupao do Solo51 foram editadas em pe-rodo anterior ao Estatuto da Cidade (Lei Federal n 10.257/2001), que regulamentou as diretrizes gerais da poltica urbana no Brasil.

    50 Lei municipal n 315/98.51 Lei municipal n 317/98.

    A legislao municipal de Bertioga regula o com-ponente ambiental da propriedade urbana de ma-neira bastante ampla, especialmente por meio do Cdigo Ambiental, que eleva condio de princpio da poltica ambiental municipal a funo ambien-tal da propriedade52. Alm de um Cdigo prprio para tratar do meio ambiente, foi institudo o Sistema Municipal de Meio Ambiente com Fundo e Conselho (Lei municipal n 289/98 e 242/97) e ainda diversos espaos territoriais especialmente protegidos, a exem-plo da previso de Zonas especficas do Plano Diretor destinadas preservao ambiental, como as reas de Relevante Interesse Ambiental. Adicionalmente, h previso de isenes tributrias para as reas de Preservao Permanente (APPs).

    A urbanizao de Bertioga, que se mantm em ritmo acelerado, ainda no avanou para o interior das reas demarcadas como unidades de conservao. O municpio possui 91% de sua rea recoberta por uma vegetao natural rica em biodiversidade e que abrange praticamente todas as fitofisionomias de mata atlntica e ecossistemas associados relativos ao litoral paulista, incluindo floresta ombrfila densa, restingas,

    52 Art. 2 c/c art. 29 do Cdigo Ambiental.

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    manguezais e vegetao de costo rochoso. Entretanto, muitas reas ambientalmente representativas de res-tinga (incluindo Floresta Baixa de Restinga e Restinga Arbustiva, fisionomias vegetais extremamente raras em todo o litoral paulista) so consideradas pelo mercado imobilirio local reas preferenciais para a expanso de condomnios fechados voltados ao veranismo. Ademais, tambm vem ocorrendo o avano de ocupaes irregu-lares que surgem a reboque da falta de um programa habitacional de interesse social que consiga atender as demandas de moradia da populao de baixa renda. Tais situaes configuram uma disputa pela apropria-o deste espao do municpio, que tem, por um lado, a imperativa obrigatoriedade de preservar o ambiente natural atravs da criao de reas protegidas e da im-posio de restries legais ocupao e, por outro, a necessidade de garantir estoques de terra para o atendi-mento de demandas urbanas.

    Com efeito, tais impeditivos no devem paralisar Bertioga, que precisa atualizar sua legislao munici-pal de uso e ocupao do solo a fim de prever novos mecanismos e instrumentos visando o melhor apro-veitamento possvel do solo urbanizvel, sempre com vistas a atender ao bem estar coletivo. Considerando que o Plano Diretor o instrumento bsico da po-ltica de desenvolvimento e expanso urbana (art. 182 pargrafo 1 CF/88), fundamental promover a reviso do Plano Diretor de Bertioga, tendo em vista que o prazo para faz-lo j expirou53. Com efeito, a necessidade de reviso do Plano Diretor de Bertioga j foi reconhecida inclusive pela Cmara Municipal que criou, em 2011, a Comisso Legislativa de Estudos e Acompanhamento de Trabalhos para Reviso do Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentado de Bertioga54.

    Da mesma forma, a legislao de Bertioga, forte-mente marcada pelo aspecto da restrio ambiental, pode adequar-se a uma perspectiva de explorao de atividades econmicas sustentveis no territrio. Um importante instrumento de planejamento incidente no uso e ocupao do solo em Bertioga, e que deve ser considerado na reviso do Plano Diretor, a regra estabelecida pela poltica nacional e estadual de gerenciamento costeiro. Assim, a cidade localiza-se na Zona Costeira e compe a regio metropolitana da Baixada Santista, sendo que no dia 13 de dezem-bro de 2011, o Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONSEMA) aprovou a minuta de decreto que dispe sobre o Zoneamento Ecolgico Econmico (ZEE) da

    53 Com efeito, determina o Estatuto da Cidade que os planos diretores devem ser revistos, no mnimo, a cada dez anos, sob pena de improbidade adminis-trativa (art. 40, 3 c/c art. 52, inciso VII). O Conselho Nacional das Cidades, inclusive, regulou os procedimentos de reviso de planos diretores na Resoluo Recomendada n 83, de 08 de dezembro de 2009. A corroborar, o prprio Plano Diretor de Bertioga prev a necessidade de sua reviso a cada quatro anos, salvo situaes excepcionais que tambm a autorizarem (art. 44, caput e pargrafo nico, Lei 315/98).54 Atravs da Resoluo n 106/2011, da Mesa Diretora da Cmara Municipal.

    Baixada Santista. Embora ainda no tenha sido pro-mulgado o Decreto do Governador o que de fato lhe daria validade jurdica , h que se considerar que o Zoneamento Econmico Ecolgico instrumento da poltica nacional e estadual de gerenciamento cos-teiro, regulado pela Lei Federal n 7.661/88, Decreto Federal n 5.300/04 e na Lei Estadual 10.019/98. Como tal, poder estabelecer importantes diretrizes de uso e ocupao do solo aos municpios integrantes da Zona Costeira.

    Outra questo fundamental a ser tratada refere--se ao aprimoramento dos instrumentos da politica de habitao e regularizao fundiria de interesse social voltada para a populao de baixa renda.

    A seguir, discutimos os principais desafios ao desen-volvimento e expanso urbana de Bertioga, a partir da anlise das dinmicas imobilirias e da precarieda-de habitacional identificados como questes centrais.

    Dinmica ImobiliriaA produo imobiliria em Bertioga responsvel

    pela ocupao de importantes reas da cidade, prin-cipalmente por meio de loteamentos e condomnios horizontais e, mais recentemente, por empreendimen-tos verticais. O municpio de Bertioga, diferentemente de grande parte dos municpios da Baixada Santista, apresenta ainda um padro construtivo predominan-temente horizontal. Mesmo nos bairros onde a ocupa-o mais antiga e consolidada55, a concentrao de construes verticais ainda no muito significativa.

    A construo do complexo Riviera de So Loureno, iniciada em 1979, foi decisiva no crescimento e va-lorizao do mercado imobilirio de Bertioga. Em todo o loteamento incluindo casas e apartamentos , residem cerca de trs mil pessoas, sendo que nos finais de semana a populao cresce para aproxima-damente 10 mil, atingindo 45 mil pessoas em feriados e perodo de frias.

    Alm da Riviera, destacam-se outros grandes em-preendimentos como o Condomnio Costa do Sol (no bairro de Guaratuba); o Condomnio Hanga-Roa (no bairro Indai); o Condomnio Morada da Praia (no bairro Boracia) e os Condomnios Bougainville I, II, III e IV (no bairro Vicente de Carvalho). Esses condom-nios, que se caracterizam pela ocupao de extensas reas56 e grandes lotes57, contriburam de maneira

    55 As reas da cidade com ocupao mais antiga e consolidada compreendem os seguintes bairros: Vila Tamoios, Bairro Santista, Bairro Clipper, Vila Itapanha, Jardim Lido, Center Ville, Vila Clais, Jardim Paulista, Vila Tupi, Maitinga e Jardim Albatroz.

    56 Alguns deles chegam a possuir 900.000 m como, por exemplo, o Bouganville.

    57 Alguns chegam a comercializar lotes de at 3.000 m, como o caso do Hanga-Roa.

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    significativa para o crescimento fragmentado e espraiado da cidade, sendo um trao marcante na ocupao urba-na em Bertioga. De maneira predominante, apresentam baixa densidade construtiva e ocupam extensas partes da faixa de praia do municpio. Seus traados virios internos no seguem um padro, diferenciando-se de um con-domnio para outro, como se pode verificar nas imagens abaixo.

    FIGURA 5 Condomnios Costa do Sol, no Bairro Guaratuba, e Morada da Praia, no Bairro BoraciaFonte: Google Earth, 2012

    Por se tratarem de espaos isolados e, em alguns casos, murados, s vezes com uma nica entrada, os lotea-mentos e condomnios fechados possuem pouca integrao urbana com seu entorno imediato. O acesso s praias tambm passa a ser um complicador, pois muitos condomnios fechados e loteamentos colocam barreiras fsicas, como estacionamentos e guaritas com controle de acesso.

    FIGURA 6 Condomnios Costa do Sol, no Bairro Guaratuba, e Morada da Praia, no Bairro BoraciaFonte: Prefeitura Municipal de Bertioga, 2008.

    Por essas questes, esse padro de urbanizao favorece a segregao social entre a populao rica e pobre, alm de aumentar excessivamente as distncias fsicas entre os bairros. O isolamento entre pores de espaos urbanos ocasiona descontinuidades no sistema virio pblico do municpio que, muitas vezes,

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    interrompido por esses empreendimentos58. Esse isolamento, atrelado insuficincia de estabelecimentos comerciais e de servios locais, gera a necessidade de viagens a outros bairros atravs da utilizao da SP-055, intensificando o trfego nessa via regional.

    Outra implicao desse padro para o desenvolvimento urbano o estmulo especulao fundiria, na medida em que so criados vazios urbanos entre as reas urbanizadas, valorizadas ao longo do tempo pelos investimentos pblicos em servios, equipamentos e infraestrutura urbana.

    Grandes empresas imobilirias tm exercido presso na ocupao de reas protegidas, existindo na atu-alidade um conjunto de pendncias em termos de aprovao de novos empreendimentos, como o caso da expanso da Riviera e do Projeto do Guaratuba Residence Resort, na Praia de Guaratuba59.

    Cabe ressaltar que esse padro de urbanizao, embora implique em problemas na organizao do ter-ritrio de Bertioga, cumpre as normas da legislao urbana municipal. O Plano Diretor de Bertioga e a Lei de Uso e Ocupao do Solo equiparam os condomnios modalidade do loteamento, ao exigir percentuais semelhantes de reas reservadas a implantao de sistemas de circulao e implantao de equipamentos urbanos, a edifcios pblicos e preservao da cobertura vegetal (artigo 36, PDDS,1998).

    Embora as legislaes que tratam do parcelamento do solo em Bertioga exijam que a implantao de edifcios pblicos deva acontecer fora do permetro do condomnio, h uma lacuna acerca da localizao das demais reas exigidas, ficando implcita a possibilidade de implantao destas reas nos limites do condomnio, com eventual restrio de acesso. Outra limitao dessas legislaes a no determinao da dimenso mxima dos condomnios, o que permite a viabilizao de condomnios fechados em enormes gle-bas, comprometendo a continuidade e articulao do tecido urbano.

    A Lei de Uso e Ocupao do Solo no diferencia condomnios verticais e horizontais, sendo as restries no padro de ocupao e de uso determinadas pelo zoneamento urbano presente na lei.

    J os empreendimentos verticais, tambm predominantemente destinados a segundas residncias, esto principalmente concentrados no bairro Rio do Meio e na Riviera de So Loureno e localizados prximos orla da praia. O Centro de Bertioga tambm apresenta alguns empreendimentos verticais.

    Nos bairros Centro e Rio do Meio se identifica um padro semelhante de empreendimentos verticais de mdio e alto padro, caracterizados pela tipologia de edifcios com at seis pavimentos. Dispostos de manei-ra dispersa, nestas regies os empreendimentos no chegam a ocupar toda a quadra, apesar de um intenso aproveitamento do lote.

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    FIGURA 7 (A e B). Empreendimentos Verticais: Bairro Rio do MeioFonte: Google Earth, 2009

    58 Exemplos de descontinuidade nas paisagens e nas vias pblicas locais podem ser vistos na Riviera de So Loureno, situada na Enseada So Loureno. Esse loteamen-to interrompe o traado virio da Avenida Anchieta que se constitui como a principal via que estrutura o acesso aos vrios bairros do municpio, ocasionando pequenos conflitos na malha viria local. Isso leva a encarecimentos na oferta de servios, equipamentos e infraestrutura urbana, geralmente viabilizados por investimentos do poder pblico. 59 Em rea de APP de restinga irregularmente vendida pelo SENAI. No Relatrio de Bertioga pode ser encontrado todo o detalhamento a respeito dos trmites deste empreendimento.

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    FIGURA 7 (C) Empreendimentos Verticais: Centro/Av. Anchieta Fonte: Google Earth, 2009

    Na Riviera de So Loureno, identifica-se outro padro de verticalizao. Nos mdulos localizados em frente faixa de praia, a implantao dos empreendimentos verticais de alto padro acontece em grandes quadras, carac-terizadas pelo baixo ndice de ocupao do solo e maior nmero de pavimentos.

    FIGURA 8 Empreendimentos Verticais na Riviera de So Loureno Fonte: Acervo de Marcos Perinhes

    Em relao ao zoneamento proposto pelo Plano Diretor, os empreendimentos imobilirios verticais esto princi-palmente localizados nas Zonas Tursticas (ZTs), cujos ndices urbansticos permitem a construo de empreendi-mentos com diversos pavimentos60 e baixa taxa de ocupao.

    60 Na ZT2, por exemplo, pode-se construir edifcios de at 10 pavimentos.

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    MAPA 4 reas com concentrao de empreendimentos imobilirios verticais e zoneamento municipal da Lei de Uso e Ocupao do Solo de 1998 2012.Fonte: Google Earth, 2011/ Zoneamento Municipal Lei Municipal n.317/1988

    Embora os empreendimentos verticais estejam em consonncia com os parmetros e indicadores urbansticos do Plano Diretor, os efeitos desse padro de ocupao contrariam os objetivos presentes no Plano, que visam a racionalizao do uso do solo para a perfeita adequao da mancha urbana da cidade e viabilizao da dota-o de infraestrutura61 e a promoo do adensamento populacional como frmula capaz de viabilizar obras e prestao de servios pblicos, num critrio de viabilidade econmica compatvel62. Alm disso, o PDDS-Bertioga estabelece como diretrizes do Setor Fsico-Territorial a ocupao racional do solo, [...] visando o desenvolvimento harmnico do municpio63.

    O municpio, entretanto, no regulou64 os instrumentos urbansticos trazidos pelo Estatuto da Cidade com o objetivo de agir sobre o crescimento vertical de maneira a adequ-lo infraestrutura urbana existente. Com efeito, instrumentos como a outorga onerosa65 e a transferncia do direito de construir66, consrcios imobilirios, opera-es urbanas, parcelamento, edificao e utilizao compulsrios interferem na dinmica imobiliria municipal e no direito de construir (ou no) edifcios na cidade.

    A regulamentao desses instrumentos e a delimitao das reas nas quais sero aplicados so consideradas como contedo mnimo obrigatrio dos planos diretores (art. 42, incisos I e II, Lei 10.257/01) e devem ser discu-tidas na reviso do Plano Diretor, no sentido de promover a verticalizao de maneira compatvel com a infraes-trutura existente. Esses instrumentos tambm podem servir de mecanismos de regulao do preo do solo urbano para que todas as classes sociais possam ter acesso a essas reas adensveis, o que no ocorre em Bertioga, tendo em vista o perfil dos empreendimentos verticais construdos que atendem as famlias de mdia e alta renda, oriundas de outras cidades.

    61 Art. 3, inciso I, Lei 315/98.62 Art. 3, inciso VII, Idem.63 Art. 4, inciso III, alnea a, Idem.64 Seja pelo Plano Diretor, seja pelas leis municipais especficas. 65 A outorga onerosa, por exemplo, o instrumento que garante o pagamento de contrapartida queles que possam construir acima do coeficiente de aproveitamento (art. 28, Lei 10.257/01). Assim, nas reas em que a construo de edifcios onere a infraestrutura, possvel exigir o pagamento de contrapartidas que podem ser aplica-das nas mais diversas finalidades da poltica urbana municipal (art. 31 c/c art. 26, Lei 10.257/01). A verticalizao, nesses casos, pode converter-se em benefcio para toda a cidade. 66 A transferncia do direito de construir, por sua vez, tambm pode ser utilizada quando o imvel for considerado necessrio para fins de implantao de equipamentos pblicos e comunitrios, para fins de preservao do patrimnio histrico, arquitetnico, paisagstico, social ou cultural; para programas de regularizao fundiria e habi-tao de interesse social (art. 35, Lei 10.257/01). Nesses casos, o potencial construtivo poder ser exercido em reas consideradas aptas como, por exemplo, as destinadas verticalizao de empreendimentos.

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    Em Bertioga, constatamos que a produo de empreendimentos verticais no fruto de uma poltica de de-senvolvimento urbano e habitacional voltada para o adensamento de reas de moradia da populao residente. De maneira geral, a produo de empreendimentos imobilirios verticais de alto padro direcionou e favoreceu a valorizao ainda mais intensa das reas prximas faixa de praia, em detrimento universalizao do acesso moradia digna provida de infraestrutura para a populao residente.

    Precariedade Habitacional e Regularizao FundiriaParalela intensa dinmica imobiliria, Bertioga presenciou uma forte precarizao das condies de habita-

    o da populao mais pobre, com ampliao significativa da demanda de novas unidades e de regularizao fundiria e urbanstica nos assentamentos precrios.

    Essa situao crtica refora a questo da habitao como um dos desafios prioritrios ao desenvolvimento sustentvel do municpio. Atualmente, existem em Bertioga 8.378 moradias em assentamentos precrios, abrigan-do 27.656 moradores, representando, respectivamente, 62,5% dos domiclios ocupados e 62,3% da populao do municpio67. Estes assentamentos esto localizados predominantemente ao longo da Rodovia SP-055 (Dr. Manuel Hyppolito Rego) e prximos a loteamentos e condomnios horizontais de alto padro, em funo de melhores condies de mobilidade e proximidade ao mercado de trabalho. Os assentamentos precrios so classificados em favelas68 e loteamentos clandestinos e irregulares.

    MAPA 5Bertioga Distribuio dos Assentamentos Precrios 2010 Fonte: Plano Local de Habitao de Interesse Social de Bertioga, 2010

    67 De acordo com as anlises desenvolvidas no Produto II do Plano Local de Habitao de Interesse Social de Bertioga (PLHIS, 2010).68 O PLHIS 2010 usa duas definies para caracterizao de favelas, uma adotada por Laura Bueno, que classifica favela como Aglomerados urbanos em reas pblicas ou privadas, ocupadas por no proprietrios, sobre as quais os moradores edificam casas margem dos cdigos legais de parcelamento e edificao, e outra adotada pela UN-HABITAT: Assentamentos que carecem de direitos de propriedade, e constituem aglomeraes de moradias de uma qualidade abaixo da mdia. Sofrem carncias de infraestrutura, servios urbanos e equipamentos sociais, e/ou esto situadas em reas geologicamente inadequadas ou ambientalmente sensveis.

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    Foram identificadas 18 favelas69, que correspondem a 988 domiclios e 3.265 habitantes. As favelas de Bertioga possuem acesso rede de abastecimento de gua, coleta de esgoto e de energia eltrica, porm em quase todas isso se d por meio de ligaes irregulares. Cerca da metade (44,5%) no possui iluminao pblica e coleta de lixo. Nenhuma possui drenagem de guas pluviais e pavimentao nas vias.

    Com relao s condies de moradia, considerando os aspectos construtivos das habitaes, oito ncleos apresentam moradias com condies que favorecem sua consolidao do ponto de vista da qualidade da mo-radia, visto que foram classificadas como consolidadas70; dois ncleos apresentam moradias passiveis de adequao71 e oito ncleos apresentam moradias improvisadas72.

    FIGURA 9Ncleos Macuco (improvisada); Indaiazinho (passvel de consolidao); e Boracia (consolidado)Fonte: Plis, 2012

    Para fins de caracterizao das diferentes formas de irregularidade dos loteamentos, o PLHIS considerou os parce-lamentos em rea pblica73, parcelamento irregular e disperso dentro de loteamentos regulares74 e loteamentos irregu-lares de baixa renda75. Foram identificados 10 parcelamentos irregulares do solo em reas pblicas, com um total de 1.269 domiclios e 4.191 pessoas, cujo perfil dominante era de baixa renda. A principal carncia diz respeito s condi-es do sistema virio, sem pavimentao e com drenagens de guas pluviais precrias, predominando a clandestinida-de nos sistemas de energia eltrica, redes de gua e esgoto. Em apenas um ncleo, as moradias no so consolidadas.

    Com relao aos parcelamentos irregulares e dispersos em loteamentos regulares foram identificados ncleos com um total de 3.864 domiclios, que abrigam 12.692 pessoas. Esses ncleos tm como caracterstica comum o fato de estarem implantados em loteamentos regulares compostos por chcaras de lotes de mais de 1000m. Constitudos por famlias predominantemente de baixa renda, embora apresentem a maioria das moradias con-solidadas, apenas um dos ncleos76 recebeu intervenes pontuais realizadas pela Prefeitura, no tendo existido nenhuma ao de urbanizao nos demais ncleos. Os loteamentos irregulares representam quatro ncleos de baixa renda, com 2.275 domiclios e 7.508 pessoas.

    A demanda prioritria por novas habitaes chega a 554 domiclios. Alm dessa demanda por novas moradias, existe uma demanda expressiva de domiclios que necessitam de aes de melhorias do ponto de vista urbanstico. A situao mais crtica refere-se carncia de esgotamento sanitrio, que chega a 3.026 domiclios, calculados a partir dos dados do Censo 2010/IBGE.

    69 A lista de favelas com nmero de domiclios, populao e infraestrutura encontra-se detalhada nas anlises do tema Habitao e Regularizao Fundiria, no Relatrio Completo.70 Consolidadas: moradias construdas em alvenaria, com o mnimo de condies de habitabilidade (PLHIS).71 Passveis de Adequao: moradias construdas sem acompanhamento tcnico, que mescla alvenaria e outros materiais, mas que possuem condies de readequao para que tenham condies de habitabilidade (PLHIS).72 Improvisadas: construdas com madeira, lata, papelo ou outros materiais inadequados, sem acompanhamento tcnico, e geralmente de carter provisrio at que a famlia consiga construir uma moradia de alvenaria (PLHIS).73 reas pblicas caracterizadas por ocupao desordenada e irregular, com caractersticas distintas ao loteamento onde esto inseridas, com conformao dos lotes sem qualquer padro de dimenses ou geometria. Essas reas passaram por processos de regularizao fundiria por meio de Concesso de Direito Real de Uso (CDRU), com exceo do Ncleo Ilha III Indai Anexo, cujas famlias receberam Termos de Permisso de Uso.74 So ocupaes irregulares no interior de loteamentos regulares, inseridos no contorno das quadras. Essas ocupaes assumem forma dispersa, mas sem descaracteri-zar a estrutura do loteamento ou fracionamento dos lotes, nem desconfigurar as quadras e os traados das vias. Descaracterizam parcialmente a diviso interna dos lotes, sem criar sistemas internos de acesso a pedestres.75 Caracterizam-se pela predominncia de populao de baixa renda, concentrao de ocupaes irregulares predominantemente de uso habitacional, ausncia e/ou inadequao de infraestrutura bsica e degradao ambiental de reas ambientalmente frgeis. Essas ocupaes resultam de iniciativas isoladas ou promovidas por lotea-dores clandestinos. Esse modelo de acesso a terra absorve a populao que no tem ingresso aos lotes formais localizados a curta distancia da rea central da cidade.76 Ncleo Chcaras Vista Linda/Disperso I.

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    Entre os anos de 2000 e 2010, o municpio de Bertioga produziu 982 unidades habitacionais, por meio de parcerias com o Governo do Estado e Governo Federal, e apresenta 479 unidades em execuo com investimentos do PAC e da CDHU, para faixas de renda de at trs salrios mnimos. Das 982 unidades produzidas, 42 unidades esto vazias. O municpio possui ainda estudos de viabilidade visando constru-o de 1.766 novas unidades. Esses empreendimen-tos esto localizados, em sua maior parte, nas reas prximas aos assentamentos precrios. No entanto, no temos informaes se estes empreendimentos se destinam aos moradores desses assentamentos.

    O PLHIS (2010) aponta diretrizes para que o mu-nicpio atue nos assentamentos precrios atravs de intervenes de consolidao77, urbanizao78, remanejamento (relocao)79 e reassentamento (realocao)80. Apesar da constatao de que, em al-gumas favelas, impossvel viabilizar a permanncia das famlias por questes ambientais e fundirias, h outras que podem ser urbanizadas e regularizadas em vez de serem simplesmente removidas81.

    Os processos de urbanizao e regularizao fundiria de assentamentos precrios, apesar de serem complexos e de demorada concluso, so mais eficazes que a construo de novas unidades habitacionais para a transferncia de famlias. Os parcelamentos irregulares do solo em reas pblicas apresentam melhores condies para consolidao, pois nessas reas podem ser viabilizados projetos de urbanizao e regularizao fundiria sem que haja

    77 Assentamentos precrios a serem urbanizados e regularizados a partir do lote-amento existente;78 Viabiliza a consolidao do assentamento precrio com a manuteno total ou parcial da populao no local. Compreende a abertura, readequao ou con-solidao do sistema virio, implantao de infraestrutura completa, o reparcela-mento do solo (quando couber), a regularizao fundiria e, quando necessria, a execuo de obras de consolidao geotcnica, construo de equipamentos sociais e promoo de melhorias habitacionais, podendo ser: (i) urbanizao simples: interveno em assentamentos que possuem baixa ou mdia densidade, traado irregular e no apresentam necessidade de realizao de obras comple-xas de infraestrutura urbana, consolidao geotcnica, drenagem e apresentam baixo ndice de remoes (at 5%); (ii) urbanizao complexa: interveno em assentamentos com alto grau de densidade, em geral com alto ndice de remo-es, que no apresenta traado regular e/ou com a necessidade de realizao de complexas obras geotcnicas ou drenagem urbana tais como canalizao de crregos e conteno de encostas.79 Trata-se da reconstruo da unidade no mesmo permetro da favela ou assen-tamento precrio que est sendo urbanizado. A populao mantida no local. Na maioria das vezes, as intervenes em assentamentos precrios envolvem realocaes temporrias das famlias para execuo de obras de infraestrutura e construo de novas moradias. A interveno, neste caso, tambm envolve a abertura de sistema virio, implantao de infraestrutura completa, parcelamento do solo, construo de equipamentos e a regularizao fundiria;80 Compreende a realocao para outro terreno, fora do permetro da rea de interveno. Trata-se da produo de novas moradias de diferentes tipos, de acordo com o perfil da populao atendida (apartamentos, habitaes evolutivas, lotes urbanizados), destinadas aos moradores removidos de assentamentos prec-rios no consolidveis.81 At o momento, apenas os ncleos Indaiazinho e Prodesan receberam melho-rias pontuais.

    a necessidade de desapropriao. Essas reas apre-sentam caractersticas que favorecem a atuao do poder pblico municipal e devem ser priorizadas.

    As Zonas Especiais de Interesse Social so um importante instrumento no desenvolvimento da Poltica Habitacional e no avano das aes de Regularizao Fundiria. A legislao mais recente do municpio82 prev Zonas Especiais de Interesse Social do tipo 01 (ZEIS 01 - para urbanizao e re-gularizao fundiria de assentamentos informais) e do tipo 02 (ZEIS 02 - vazios urbanos destinados a proviso de HIS). Apesar desta legislao indicar as reas de ZEIS, a mesma no define os seus perme-tros, o que torna a delimitao sem efeito do ponto de vista jurdico.

    Nesse sentido, o municpio precisa demarcar as ZEIS nos assentamentos precrios consolidveis para realizar a urbanizao e regularizao dos mesmos.

    At o momento, o municpio no aderiu ao Sistema Nacional de Habitao de Interesse Social (SNHIS), embora a legislao municipal de Bertioga preveja, desde a dcada de 1990, mecanismos institucionais necessrios adeso ao SNHIS, como o Conselho e o Fundo Municipal de Habitao. A regulao municipal precisa ser compatibilizada com as diretrizes e normais gerais do Estatuto da Cidade e da legislao federal vigente, com destaque para a Lei Federal n. 11.977/09 (alterada pela Lei Federal n. 12.424/2011), que criou o programa Minha Casa, Minha Vida e instituiu normas gerais sobre regularizao fundiria.

    De maneira geral, percebe-se que a produo ha-bitacional realizada pelo poder pblico em Bertioga pouco articulada com a oferta de equipamentos comunitrios e estabelecimentos comerciais e de servios. Assim, muito dos empreendimentos habita-cionais tendem a configurar espaos urbanos isola-dos, que dificultam o acesso da populao aos locais de empregos e aos equipamentos e reproduzem a lgica da segregao socioespacial muito recorrente nas cidades brasileiras.

    Na proviso habitacional, deve-se considerar que o processo de expanso urbana aumenta as de-mandas por servios, equipamentos e infraestrutu-ras, os quais j apresentam quadros deficitrios em diferentes reas da cidade. A oferta de condies satisfatrias de saneamento ambiental e mobilida-de essencial pra o desenvolvimento sustentvel do municpio. So as condies e desafios nessas reas que exploramos nos itens a seguir.

    82 Lei Complementar n 004 de 2001 instituiu as Zonas Especiais de Interesse Social no municpio de Bertioga para fins de regularizao fundiria de imveis pblicos em reas urbanas.

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    Saneamento AmbientalO tema relativo ao saneamento assume uma dimenso

    mais ampla na atualidade, abrangendo a dimenso am-biental e considerando a ampliao dos conceitos de sane-amento bsico trazidos pelo marco regulatrio sobre o tema (Lei Federal n 11.445/2007), que definiu o saneamento como o conjunto de aes, servios e instalaes de abas-tecimento de gua potvel, esgotamento sanitrio, limpeza urbana e manejo de resduos slidos, e drenagem urbana para o manejo de guas pluviais, cujo desenvolvimento visa alcanar nveis crescentes de salubridade ambiental.

    Os servios de gua e de esgotos devem atender funes como operao, manuteno, planejamento e regulao. Em Bertioga, como nos demais municpios do litoral, a operao dos sistemas est a cargo da SABESP. Por meio de leis municipais, os executivos destes mu-nicpios so autorizados pelos legislativos locais a cele-brar convnios de cooperao com o Estado, a Agncia Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de So Paulo (ARSESP)83 e a SABESP, assim como a celebrar Contrato de Programa. Nesse modelo, cabe ao munic-pio elaborar o Plano Municipal de Saneamento, com a identificao das necessidades de investimentos para a universalizao e manuteno dos sistemas.

    Em Bertioga, o abastecimento de gua co