Resumo - Modelo OCC

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2.5 O MODELO OCC No livro The Cognitive Structure of Emotions , Ortony; Clore; Collins (1988) apresentam um modelo terico para o surgimento das condies de disparo e a diferenciao das emoes, identificado na literatura como Modelo OCC (devido s iniciais dos sobrenomes dos autores). Na categorizao de Scherer (2000), o OCC classificado como um modelo lxico, ou seja, um modelo da psicologia da emoo baseado na estrutura dos campos semnticos dos termos ligados emoo. O Modelo OCC parte de uma abordagem da psicologia social, no caso, a cognio social, para definir emoes como reaes de valncia a eventos, agentes ou objetos, com suas naturezas particulares sendo determinadas pelo modo em que a situao de disparo interpretada (ORTONY; CLORE; COLLINS, 1988, p.13). De acordo com essa definio, emoes so reaes que sempre podem ser caracterizadas como portadoras de valncia, seja ela positiva (emoes boas, agradveis), ou negativa (emoes ruins, desagradveis). Por exemplo, o estado afetivo genrico rotulado como surpresa no uma emoo no OCC, porque no tem valncia predefinida. O aspecto cognitivo do OCC caracterizado pela preocupao central em explicar o papel da cognio na avaliao da situao de disparo, resultando ou no no efetivo disparo e na diferenciao das emoes. Para essa finalidade, seus autores tomaram por base essencialmente evidncias semnticas de auto-relatos e da linguagem sobre emoes, pois consideram que os aspectos fisiolgicos e comportamentais so processos ou eventos concomitantes ou conseqncias dos estados emocionais (ORTONY; CLORE; COLLINS, 1988, p.14). Segundo o Modelo OCC, o indivduo est situado em um mundo composto de elementos que so visualizados, a cada momento, como pertencentes a uma das trs categorias seguintes: a) Eventos, que so interpretaes de coisas que ocorrem, consideradas independentemente de quaisquer crenas [...] sobre suas causas possveis ou reais ; b) Objetos, ou seja, objetos visualizados tal qual objetos mesmo ; c) Agentes, que so coisas consideradas luz de sua instrumentalidade real ou presumida em causar ou contribuir para a ocorrncia de eventos (ORTONY; CLORE; COLLINS, 1988, p.18). Desse modo, formam-se trs ramos de emoes, caracterizados como reaes a Conseqncias de Eventos, reaes a Aes de Agentes ou reaes a Aspectos de Objetos. A estruturao do Modelo OCC engloba ainda outros dois nveis. Ao invs de iniciar pelo mapeamento de cada estado emocional individual, so mapeados conjuntos de estados emocionais relacionados. Cada um desses conjuntos caracterizado como um tipo de emoo. Para que o modelo se mantenha genericamente aplicvel, existe o cuidado de que os tipos de emoo sejam independentes de aspectos culturais especficos. O medo um exemplo de tipo de emoo. Quando uma pessoa sente medo, pode estar em um entre os possveis estados emocionais de medo, dentre os quais preocupado, aborrecido, assustado, apavorado, petrificado, etc, dependendo se o medo mais ou menos intenso. Alm da estruturao em ramos e tipos, tambm so propostos grupos de emoes, formados de

acordo com a dependncia de appraisal baseado nas mesmas categorias de representaes mentais. As condies de disparo e diferenciao das emoes so avaliadas em funo da forma como um indivduo interpreta as implicaes de uma dada situao para o seu contexto pessoal. O contexto pessoal formado essencialmente pela representao dos Objetivos, Normas e Atitudes do indivduo. Portanto, a teoria assume o pressuposto cognitivista de que o indivduo apresenta estruturas mentais de representao, evocao e manipulao destas categorias de conhecimento (McCARTHY; HAYES, 1969). Objetivos so as metas pessoais que se pretende e acredita poder alcanar, total ou parcialmente. Normas so modelos prototpicos de comportamento, rendimento ou moral que se espera de outros ou de si mesmo na interao social. Atitudes so disposies pessoais frente a objetos, posturas que geralmente no apresentam justificativas, por exemplo, gosto musical, estilo de vestir, preferncia alimentar. A reao emocional se diferencia conforme a interpretao da situao, atravs de um processo de appraisal cognitivo, baseado no contexto. Dessa forma, os Eventos so avaliados em termos de sua convenincia (desirability) em relao aos Objetivos do indivduo; os Agentes so avaliados em termos da plausibilidade (praiseworthiness) de suas aes em relao s Normas adotadas pelo indivduo; e os Objetos per si ou seus aspectos so avaliados em termos de sua atratividade (attractiveness) em relao s Atitudes do indivduo. Com essa estrutura, o Modelo OCC mapeia vinte e duas emoes (tipos), distribudas em seis grupos, ilustrados na Figura 2.3. Os rtulos em caracteres maisculos representam elementos estruturais e os rtulos em caracteres minsculos representam estados emocionais ou potencialmente emocionais. Os termos foram escolhidos apenas como rtulos sugestivos para as emoes representadas. Os ramos verticais no representam seqncias temporais, mas sim seqncias lgicas, pois o nvel de diferenciao das emoes cresce de cima para baixo. A ordem presumida de evocao dos elementos da esquerda para a direita. Grupo de emoes sobre DESTINOS DE OUTROS Neste grupo h quatro tipos de emoo, que se especializam a partir das reaes de satisfao ou insatisfao com as CONSEQNCIAS DE EVENTOS para outra pessoa: a) feliz por outro, satisfao com eventos DESEJVEIS para outro; b) ressentimento, insatisfao com eventos DESEJVEIS para outro; c) regozijo, satisfao com eventos INDESEJVEIS para outro; d) compaixo, insatisfao com eventos INDESEJVEIS para outro.

Grupo de emoes de BEM-ESTAR Neste grupo h dois tipos de emoo, que se especializam a partir das reaes de satisfao ou insatisfao com as CONSEQNCIAS DE EVENTOS imediatos para SI MESMO:

a) alegria, satisfao com eventos desejveis para si mesmo; b) sofrimento, insatisfao com eventos indesejveis para si mesmo.

Grupo de emoes de ATRIBUIO Neste grupo h quatro tipos de emoo, que se especializam a partir das reaes de aprovao ou desaprovao das AES DE AGENTES, focando em SI MESMO ou em OUTRO AGENTE: a) orgulho, aprovao de uma ao atribuda a SI MESMO; b) vergonha, desaprovao de uma ao atribuda a SI MESMO; c) admirao, aprovao de uma ao atribuda a OUTRO AGENTE; d) reprovao, desaprovao de uma ao atribuda a OUTRO AGENTE.

Grupo de emoes de ATRAO Neste grupo h dois tipos de emoo, pouco diferenciadas a partir das reaes de gostar ou no gostar de ASPECTOS DE OBJETOS: a) amor, gostar de um objeto; b) dio, no gostar de um objeto;

Grupo de emoes BASEADAS EM EXPECTATIVA Neste grupo h seis tipos de emoo, que se especializam a partir das reaes de satisfao ou insatisfao com as CONSEQNCIAS DE EVENTOS para SI MESMO, que sejam RELEVANTES EM TERMOS DE EXPECTATIVAS21: a) esperana, satisfao com a EXPECTATIVA de um evento futuro; a.1) jbilo, satisfao com uma esperana CONFIRMADA; a.2) desapontamento, insatisfao com uma esperana NO CONFIRMADA; b) medo, insatisfao com a EXPECTATIVA de um evento futuro; b.1) medo confirmado, insatisfao com um medo CONFIRMADO; b.2) alvio, satisfao com um medo NO CONFIRMADO.

Grupo de emoes COMPOSTAS DE BEM-ESTAR / ATRIBUIO Neste grupo h quatro tipos de emoo que potencialmente ocorrem quando o indivduo reage a CONSEQNCIAS DE EVENTOS para SI MESMO e, ao mesmo tempo, a AES DE AGENTES. Isso ocorre quando se avaliam conseqncias de eventos cuja responsabilidade atribuda a agentes. Dessa forma, essas emoes surgem a partir da conjuno das condies de ocorrncia de emoes dos grupos de BEM-ESTAR e de ATRIBUIO: a) gratificao, surge pela conjuno das condies de ocorrncia de alegria e orgulho, significa satisfao com conseqncias de eventos relacionados a aes que o indivduo aprova, atribudas a SI MESMO ; b) remorso, surge pela conjuno das condies de ocorrncia de sofrimento e vergonha, significa satisfao com conseqncias de eventos relacionados a aes que o indivduo desaprova, atribudas a SI MESMO ; c) gratido, surge pela conjuno das condies de ocorrncia de alegria e admirao, significa satisfao com conseqncias de eventos relacionados a aes que o indivduo aprova, atribudas a OUTRO AGENTE ; d) raiva, surge pela conjuno das condies de ocorrncia de sofrimento e reprovao, significa satisfao com conseqncias de eventos relacionados a aes que o indivduo desaprova, atribudas a OUTRO AGENTE . Neste modelo, as emoes so consideradas somente quando so percebidas como experincias conscientes, ou seja, se consideram apenas as reaes emocionais que adentram a conscincia do indivduo e so percebidas na forma de sentimentos. Contudo, no entendimento de Ortony; Clore; Collins (1988), o processamento do appraisal se d de forma inconsciente e se baseia em estruturas representativas do contexto que no necessariamente precisam constar de memrias conscientes. Por vezes, isso faz com que o indivduo seja capaz de se expressar verbalmente sobre a experincia emocional que est sentindo, embora possa no saber explicar exatamente o porqu do sentimento daquela emoo especfica.