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Tráfico de seres humanos no Brasil Relatório final de avaliação Desenvolvido por Julho 2016 Este trabalho foi desenvolvido pela FSG em nome do Freedom Fund entre maio e julho de 2016, com o generoso apoio financeiro da Humanity United.

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Tráfico de seres humanos no BrasilRelatório final de avaliação

Desenvolvido por

Julho 2016

Índice

Este trabalho foi desenvolvido pela FSG em nome do Freedom Fund entre maio e julho de 2016, com o generoso apoio financeiro da Humanity United.

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Resumo operacional....................................................................................................................................3

Contexto e questões fundamentais.............................................................................................................4Histórico do trabalho escravo no Brasil...................................................................................................4

Definição de trabalho escravo.................................................................................................................4

O papel do Freedom Fund.......................................................................................................................5

Estratégia do centro operacional (hotspot).............................................................................................6

O que é impacto coletivo (IC) e como ele difere de outras abordagens colaborativas?..........................7

Quais são as principais questões que esta investigação visa responder?................................................8

Qual deve ser o escopo e o foco de uma iniciativa de IC?...........................................................................9

Por que razão o escopo de uma iniciativa de IC é importante?...............................................................9

Ciclo da escravidão................................................................................................................................10

O foco na indústria................................................................................................................................12

O foco geográfico..................................................................................................................................16

O trabalho escravo na Amazônia Brasileira está “pronto” para o IC?........................................................22Presença de defensores locais...............................................................................................................23

Histórico de colaboração.......................................................................................................................24

Urgência para a mudança......................................................................................................................26

Recursos disponíveis..............................................................................................................................28

Avaliação global da prontidão...............................................................................................................29

De que maneira uma iniciativa de IC pode ser estruturada e como funciona?.........................................30Mapeamento do agente........................................................................................................................30

Estrutura organizacional........................................................................................................................32

Quais são algumas intervenções possíveis que a iniciativa de IC pode realizar?.......................................38

Conclusão..................................................................................................................................................48Próximos passos para o Freedom Fund na aplicação de uma abordagem de IC....................................48

Curto prazo........................................................................................................................................48

Longo prazo.......................................................................................................................................49

Apêndices..................................................................................................................................................50Apêndice A: Entrevistas realizadas........................................................................................................50

Apêndice B: Glossário de termos e acrônimos......................................................................................51

Notas finais................................................................................................................................................54

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Resumo operacional

O Freedom Fund, uma organização dedicada à luta contra a escravidão moderna, explora um modelo de centro operacional (“hotspot”) no Brasil que visa acelerar o progresso contra a escravidão através das sinergias entre as organizações ambientais e antiescravagistas, bem como aquelas focadas nas necessidades das populações indígenas e tradicionais. Este modelo é particularmente relevante na Amazônia Brasileira, onde a destruição ambiental anda de mãos dadas com o trabalho escravo. O impacto coletivo (IC), uma abordagem colaborativa altamente estruturada e estratégica que aborda problemas sociais complexos estimulando uma diversidade de agentes em vários setores, pode ajudar a operacionalizar a estratégia de centros operacionais no Brasil. O impacto coletivo tem como objetivo promover mudanças em um nível de sistemas e é altamente aplicável para ajudar a melhorar os resultados ambientais e para a população local (por exemplo, redução dos fatores de risco que levam o indivíduo a se submeter à escravidão e redução da taxa de desmatamento) na Amazônia Brasileira, devido a várias questões envolvidas, ainda que estreitamente interligadas.

O Freedom Fund encarregou ao FSG testar a aplicabilidade do modelo de IC para aprimorar sua estratégia na Amazônia Brasileira. Ao testar este modelo, o Freedom Fund está empenhado em entender como essa iniciativa de IC pode funcionar, como ela é e o que pode alcançar. Este relatório tem como base uma extensa investigação secundária, entrevistas e uma visita de campo, e visa responder a quatro questões fundamentais. Estas questões e suas respostas de nível elevado estão resumidas abaixo.

Qual deve ser o escopo e o foco de uma iniciativa de IC? Um conjunto de critérios selecionados e a análise adicional pela equipe do FSG determinou que a melhor abrangência para uma iniciativa de IC é a indústria de exploração ilegal de madeira/madeiras preciosas no Pará, principalmente no município de São Félix do Xingu ou no corredor da BR-163. Esta iniciativa também deve concentrar-se sobre o ciclo completo de escravidão a fim de fornecer uma solução abrangente de sistemas de mudança.

O trabalho escravo no Brasil está “pronto” para o IC? A prontidão para o IC é forte, com base na presença de defensores locais e um histórico de colaboração. Existem algumas lacunas no sentido de urgência para a ação e de recursos financeiros disponíveis, mas esses problemas podem ser superados através de uma combinação de campanhas de sensibilização e eventos de financiamento para aumentar o movimento e a compreensão.

De que maneira uma iniciativa de IC pode ser estruturada e como funciona? Uma iniciativa de IC é governada por uma comissão de coordenação, assessorada por uma comissão de financiamento e dirigida por um apoio basilar (backbone). Provavelmente haverá dois tipos de grupos de trabalho: sistêmico e específico.

Quais são algumas intervenções em potencial que uma iniciativa de IC pode obter? Enquanto a determinação da estratégia geral e das atividades da iniciativa ficam a cargo da comissão de coordenação, o FSG identificou inúmeras ideias iniciais que a comissão de coordenação pode considerar, incluindo potenciais intervenções em relação a resiliência da comunidade, coleta de

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dados, política e defesa. Há também inúmeros exemplos brasileiros e mundiais de tais intervenções atualmente em curso.

O Freedom Fund tem uma incrível oportunidade de impulsionar uma mudança duradoura no trabalho escravo e na destruição ambiental da Amazônia Brasileira. Aproveitar esta oportunidade requer um investimento de tempo, energia e recursos que podem ir além das iniciativas anteriores do Freedom Fund e necessitam de financiamento complementar. O Freedom Fund terá de empreender um período de planejamento com os participantes-chave no IC, possíveis intervenções e fontes de apoio e fazer escolhas estratégicas sobre várias questões importantes antes de operacionalizar uma estratégia de IC e o centro operacional no Brasil.

Contexto e questões fundamentais

Histórico do trabalho escravo no Brasil

O trabalho escravo tem uma longa história de violência no Brasil com a expansão da economia brasileira (dependente em grande parte das indústrias extrativistas e agrícolas) aprisionando muitos brasileiros, especialmente os que vivem em áreas rurais, em um ciclo contínuo de pobreza e exploração. 1 Embora o Brasil tenha sido o último país do hemisfério ocidental a abolir a escravatura legal, desde o início da década de 1990 ele tem dado um exemplo mundial pelos seus esforços em combater o trabalho escravo. Ferramentas como a "Lista Suja” — que impedem que empresas com trabalho escravo em suas cadeias de suprimentos tenham acesso a financiamento público — e o desenvolvimento de um programa de assistência social forte que reduz os fatores de risco individuais associados com a escravidão, têm sido aclamadas internacionalmente e resultaram em uma diminuição no trabalho escravo no Brasil.

Mais recentemente, no entanto, a instabilidade política e econômica no Brasil e a falta de recursos para medidas de aplicação e prevenção, juntamente com iniciativas específicas para enfraquecer o regime de combate ao trabalho escravo no país pelas elites latifundiárias e os "maus agentes" (por exemplo, empresas que fazem parte da Lista Suja), fizeram com que este exemplo global recuasse. Desde 2013, de acordo com o Índice Global de Escravidão, que traça uma estimativa do nível de trabalho escravo com base em uma série de riscos e fatores políticos, o Brasil tem visto uma elevação na incidência do trabalho escravo, particularmente na Amazônia Brasileira, de 155.000 escravos em 2013 para 161.000 escravos em 2015.2 A aparência e a percepção do trabalho escravo também começaram a mudar quando a fronteira agrícola e extrativista do Brasil começou a mudar para áreas ainda mais rurais e remotas.

Definição de trabalho escravo

A definição brasileira de trabalho escravo moderno está dividida em quatro categorias gerais:

1) Trabalho forçado: ser forçado a trabalhar enquanto é submetido a ameaças e atos de violência física

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2) Condições degradantes: ser alojado em habitações precárias, sem acesso a equipamento de proteção apropriado e/ou falta de comida adequada ou água

3) Horas extenuantes de trabalho: ser submetido a dias de trabalho que ameaçam a integridade física

4) Contração de débito: estar amarrado a trabalho de intermediários e/ou proprietários de terras pelas dívidas falsas e ilegais para transporte, comida, alojamento e equipamentos de trabalho

Enquanto muitos visualizam o trabalho escravo como condições análogas à escravatura i, a comunidade internacional, incluindo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), tem uma definição mais ampla. Como um defensor antiescravagista no Brasil disse: "Acorrentados ou não, o sofrimento humano é igualmente inegável”3. Também é importante observar que a definição no Brasil de trabalho escravo está intrinsecamente vinculada aos mecanismos de exploração de trabalho escravo em um contexto brasileiro. Por exemplo, a definição original de condições degradantes foi desenvolvida a partir de observações sistemáticas por defensores antiescravagistas, oficiais e equipes de resgate.4

O papel do Freedom Fund

O Freedom Fund (FF) é uma iniciativa filantrópica dedicada à luta contra a escravidão moderna em todo o mundo. Atualmente tem investimentos na região central do Nepal, Etiópia, norte da Índia, sudeste do Nepal, sul da Índia e Tailândia. Para realizar a sua missão, o fundo:

1) Trabalha nas linhas de frente: faz parcerias com organizações locais para combater diretamente a escravidão e utiliza um modelo de centro operacional que agrupa sistemas, setores e/ou organizações direcionados a um propósito comum

2) Promove mudanças sistemáticas: impede a progressão dos sistemas que permitem que a escravidão persista e mobiliza governantes, agentes do setor privado, mídia, movimentos sociais e outros promotores de mudança

3) Fortalece a infraestrutura antiescravagista mundial: reforça o movimento antiescravagista, fornecendo as plataformas, ferramentas e conhecimento para as organizações se conectarem e trabalhar em conjunto de forma mais eficaz

4) Levanta novos capitais: traz novos financiamentos e investidores inovadores para o espaço antiescravagista e mobiliza o capital necessário para trabalhar nas linhas de frente, promove mudança sistêmica e reforça globalmente a infraestrutura antiescravagista

O modelo de investimento em fundos também inclui alguns outros critérios importantes: conexão com as organizações de base comunitária, desenvolvimento de uma estrutura de ganhos, tanto a curto prazo como a longo prazo e a transferência das lições aprendidas.

iA escravatura é normalmente definida como a escravidão onde o trabalho é realizado, tipicamente, em cativeiro (por exemplo, acorrentados). A escravidão moderna também tem condições de trabalho forçado, mas essas condições normalmente não são em cativeiro; por exemplo, um escravo pode ser ameaçado de morte se ele decidir abandonar o campo de trabalho.

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O Freedom Fund tem a intenção de levar a cabo a sua missão no Brasil de forma semelhante ii. Após um período inicial de investigação e planejamento, incluindo uma visita ao local, o conselho de administração do fundo aprovou o investimento no Brasil, condicionado à capacidade de financiamento durante dois anos (aproximadamente 2 milhões de dólares). Isto inevitavelmente exigirá o desenvolvimento de uma estratégia e de uma abordagem focada no Brasil para ser testada com potenciais financiadores parceiros.

Todos os três sistemas operam em áreas geográficas similares e trabalham em questões similares (por exemplo, desenvolvimento econômico sustentável)

Cada sistema pode se beneficiar do compartilhamento de recursos e da solução colaborativa de problemas

Uma estratégia integrada pode gerar resultados de multisistemas (por exemplo„ redução de trabalho escravo, desaceleração de danos ambientais)

A parte restante do presente relatório aborda e fornece recomendações para esta estratégia.

Estratégia do “hotspot”Como discutido acima, o Freedom Fund utiliza um modelo de "centro operacional" (hotspot) que potencializa os recursos de diferentes sistemas, setores e organizações no sentido de um objetivo comum. Na Amazônia Brasileira, onde há a maior incidência de trabalho escravo no Brasil, existe uma forte sobreposição entre as organizações de combate ao trabalho escravo e as ambientais, bem como entre aquelas focadas no atendimento das necessidades de grupos indígenas e tradicionais (doravante "grupos de populações vulneráveis"), tanto em termos de onde trabalham como em que tipos de questões e intervenções eles estarão focados. São as mesmas atividades econômicas que estão causando devastação e exploração que os três tipos de organizações estão tentando evitar. Infelizmente, esses respectivos sistemas são muitas vezes fechados — a colaboração que existe é raramente sistêmica ou de longo prazo em sua natureza. Por outro lado, o modelo de centro operacional usaria uma abordagem colaborativa e estratégica melhor para potencializar os pontos fortes de cada sistema para simultaneamente reduzir o trabalho escravo e o desmatamento ilegal/corte de madeiras preciosas na Amazônia. Por exemplo, organizações de trabalho escravo (e agentes governamentais relacionados) têm muitas vezes dificuldades em prever a expansão da fronteira agrícola, o que torna difícil alocar recursos para a prevenção e iniciativas de resgate. Algumas organizações ambientais têm tecnologias de mapeamento muito consistentes que traçam a expansão da

ii Haverá algumas diferenças na abordagem. 6

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fronteira em tempo real; muito raramente, no entanto, as organizações de combate ao trabalho escravo e ambientais trabalham com um propósito compartilhado ou dividem regularmente dados uns com os outros.

O que é impacto coletivo (IC) e como ele difere de outras abordagens colaborativas?

Experiências recentes revelaram que as abordagens filantrópicas tradicionais — nas quais as organizações individuais competem por financiamento e tendem a isolar suas atividades das intervenções dos setores público e privado — não estão bem equipadas para resolver problemas sociais complexos como a escravidão moderna. John Kania, Mark Kramer e Patty Russell do FSG compartilham conhecimentos adicionais sobre essa complexidade em seu artigo da SSIR de 2014 intitulado ‘Strategic Philanthropy for a Complex World5.

O modelo do impacto coletivo (IC) difere das tradicionais abordagens filantrópicas de várias formas. Ele é decorrente da compreensão de que a maioria dos problemas sociais — e suas soluções — surgem da interação de muitas organizações dentro de um sistema maior. No centro da abordagem está o alinhamento transversal dos setores governamental, sem fins lucrativos, filantrópico e empresarial. Em vez de competir um com o outro por financiamento ou reconhecimento, as organizações participantes coordenam ativamente suas ações e compartilham as lições aprendidas. Elas trabalham em conjunto com os mesmos objetivos definidos e visam as mesmas medidas de progresso. Todavia, mudar de um modelo do impacto tradicional para um modelo coletivo requer inúmeras mudanças de mentalidade: mudar de estratégias puramente técnicas ou ‘de cima para baixo’ para soluções mais adaptáveis e voltadas para a comunidade; focar não apenas em evidências, mas também nas relações; valorizar o conhecimento de contexto além do conhecimento de conteúdo; e, mudar de uma mentalidade de adquirir crédito organizacional para pensar no crédito como uma moeda em comum.

Uma iniciativa de IC sustentável e com bom funcionamento envolve cinco elementos-chave:

1. Programa em comum: os participantes compartilham uma visão de mudança que inclui o entendimento comum do problema e uma abordagem conjunta para a resolução do problema através de ações acordadas.

2. Sistemas de medição compartilhados: todas as organizações participantes concordam sobre as maneiras que as conquistas serão medidas e descritas, com uma lista de indicadores em comum identificados e utilizados para o aprendizado e aprimoramento contínuos.

3. Atividades que se reforçam mutuamente: um conjunto diversificado de interessados, normalmente em todos os setores, coordena um conjunto de atividades diferenciadas através de um plano de ação que se reforça mutuamente.

4. Comunicação contínua: todos os agentes se envolvem em uma comunicação aberta frequente e estruturada para construir confiança, assegurar objetivos mútuos e criar motivação comum e propriedade compartilhada.

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5. Apoio basilar: uma equipe independente, com financiamento e dedicada à iniciativa fornece suporte contínuo orientando em relação à estratégia, apoiando as atividades de reforço mútuo, estabelecendo práticas de avaliação compartilhada, avançando a política e mobilizando recursos.

O IC é eficaz na resolução de problemas sociais complexos porque atua com três fatores críticos: ampliação do impacto, aumento do uso eficiente dos recursos e alinhamento da atuação. O IC amplia o impacto canalizando a energia de múltiplos participantes no sentido de resolver um problema a longo prazo e em nível sistêmico. O IC aumenta a utilização eficiente dos recursos atraindo um conjunto mais amplo de fontes de financiamento públicas e privadas e aproveitando o "1%" (o orçamento para o apoio basilar) para melhorar o impacto dos 99% (o restante do orçamento, direcionado para atividades e aprendizagem de campo). Além disso, o IC promove o alinhamento reduzindo a duplicação de serviços, aumentando a coordenação e incorporando as condições favoráveis para a mudança social sustentada dentro da comunidade, facilitando o progresso contínuo sem esforço direto.

Quais são as principais questões que esta investigação visa responder?

Diante do potencial do modelo de IC para resolver problemas sociais complexos, o Freedom Fund determinou que o FSG avaliasse a aplicabilidade e viabilidade do modelo na questão do trabalho escravo na Amazônia Brasileira. Delineado a partir de extensa pesquisa documental, entrevistas com os participantes e especialistas, além de uma semana de visita de campo, este relatório pretende responder quatro questões principais:

1. Qual deve ser o escopo e o foco de uma iniciativa de IC?

Muitos dos exemplos de sucesso da iniciativa de IC — tanto nos Estados Unidos como internacionalmente — são centrados em uma localidade específica ou região. Eles também tendem a se concentrar em um determinado subdesafio de um problema social ou um sistema mais amplo: por exemplo, a educação infantil (como parte mais ampla do sistema de ensino), intervenções sobre a diabetes (dentro do aspecto de doenças não transmissíveis e do sistema de saúde mais amplo), ou a justiça juvenil (dentro do sistema de justiça penal mais amplo). Dessa forma, as primeiras questões que devem ser abordadas são em torno do escopo e foco: Onde dentro da Amazônia Brasileira deve ser focada a iniciativa de IC? Em qual etapa do "ciclo” do trabalho escravo (entrada e/ou saída/reentrada) as intervenções da IC devem ser direcionadas? E qual indústrias com incidências de trabalho escravo devem ser visadas?

2. O trabalho escravo na Amazônia Brasileira está “pronto” para o IC?

O IC não é a abordagem mais adequada para todos os problemas sociais ou ambientais. Impor o IC em um contexto que não está pronto ou que não necessita dele pode resultar em esforço desperdiçado, participantes desapontados e esperanças frustradas para os membros da comunidade. Por conseguinte, é crucial avaliar até que ponto a constelação de agentes e as forças envolvidas na luta contra o trabalho escravo na Amazônia Brasileira estão "prontas" para o IC. Entre os elementos de prontidão para o IC na Amazônia Brasileira, onde estão as falhas e o que pode ser feito para solucionar essas falhas? Ou, se as

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falhas na prontidão para assumir um modelo de IC para lidar com o trabalho escravo são demasiadamente grandes ser atenuadas no Brasil neste momento, que abordagens alternativas poderiam ser mais adequadas? Existe um número suficiente de defensores locais a bordo? Atuar em organizações de combate ao trabalho escravo e ambientais no Brasil tem uma história de colaboração? Por que razão a colaboração não era mais consistente no passado? Por último, como pode (e deve) o modelo de IC ser adaptado para funcionar em zonas remotas e rurais como a Amazônia?

3. De que maneira uma iniciativa de IC pode ser estruturada e como funciona?

Como mencionado acima, as iniciativas de IC bem-sucedidas apresentam determinados elementos organizacionais em comum. Mesmo assim, cada iniciativa de IC é única e precisa ser adaptada ao seu contexto específico e ao conjunto de agentes. Se a iniciativa de IC está determinada a ser uma abordagem adequada para lidar com questões relacionadas ao trabalho escravo na Amazônia Brasileira, então a próxima pergunta é como essa iniciativa de IC específica deve ser. Quais agentes brasileiros e/ou internacionais estariam envolvidos e quais são os papéis que eles desempenham? Quem iria servir na comissão de coordenação, conselho consultivo financiador e grupos de trabalho? E como a comunicação contínua (virtual ou em pessoa), o compartilhamento de dados e a avaliação do impacto funcionariam?

4. Quais são algumas intervenções possíveis que uma iniciativa de IC pode obter?

Um princípio fundamental do modelo e filosofia de IC é que a agenda comum e o conjunto prioritário de estratégias e atividades devem ser determinados por aqueles que participam e são potencialmente beneficiários da iniciativa de IC, de modo que não seja “de cima para baixo” por entidades financiadoras ou outros agentes externos. Paralelamente, pode ser útil desenvolver as linhas gerais de uma estratégia de intervenção e de possíveis atividades a fim de atrair financiamento, conquistar os participantes mais céticos e definir um conjunto inicial de intervenção dos grupos de trabalho específicos. Este relatório irá aproveitar os resultados da investigação da FSG para sugerir as possíveis intervenções que uma iniciativa de IC pode coordenar e implementar.

A parte restante do presente relatório é organizada em torno das quatro perguntas acima. A seção final apresenta as próximas etapas para o desenvolvimento adicional da estratégia pelo Freedom Fund e seus parceiros e para construir o caso de investimentos para os financiadores internacionais e brasileiros. Um apêndice contém uma lista das entrevistas realizadas para desenvolver este relatório, informações adicionais sobre o modelo de IC e descobertas mais pormenorizadas a partir da investigação e da visita de campo no Brasil.

Qual deve ser o escopo e o foco de uma iniciativa de IC?

Por que razão o escopo de uma iniciativa de IC é importante?

Conforme mencionado acima, uma iniciativa de IC é geralmente centrada em algumas dimensões: área do problema (muitas vezes com um nível de especificidade sobre uma área específica de subproblema), geografia e pontos-chave de intervenção. O trabalho escravo — tanto nos casos em que ele ocorre quanto quais intervenções podem ser usadas para impedi-lo — abrange uma gama de áreas geográficas,

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grupos da população, organizações e indústrias no Brasil. Devido às limitações de tempo e recursos dos organismos e entidades financiadoras, é fundamental restringir o escopo de uma iniciativa de IC para aquela que irá otimizar o impacto e onde as organizações e entidades financiadoras estão interessadas em se engajar ou já estão engajadas. Sem o apoio dos principais participantes ou dos líderes da área do problema, será difícil para uma iniciativa de IC, não importa quão cuidadosamente ela seja delineada, ser bem-sucedida.

Para ilustrar este ponto: a região da Amazônia Legal inclui a maior floresta tropical intocada do mundo e mede cerca de 5 milhões de quilômetros quadrados, embora a parte intacta da Amazônia, devido a continuada taxa e nível de desmatamento, continue a encolher6. A região abriga muitas indústrias extrativistas e indústrias de exportação que têm sido associadas com o trabalho escravo, incluindo agricultura, pecuária e madeireira. Também é a casa de centenas de grupos indígenas e dezenas de tipos de organizações — desde entidades comunitárias de educação sem fins lucrativos até redes de Inteligência da Fé que denunciam casos de trabalho escravo para o governo. Por conseguinte, ao recomendar uma abrangência para a iniciativa de IC, este relatório irá equilibrar vários fatores, incluindo a abordagem de multissistemas da estratégia do centro operacional, a complexidade do trabalho escravo (por exemplo, sua natureza remota e rural no Brasil), e o interesse e a presença de organizações de participantes importantes.

Ciclo da escravidão

O trabalho escravo, em geral, ocorre em três fases: entrada, permanência e saída/reentrada. Cada etapa é acompanhada de um conjunto específico de condições (por exemplo, disponibilidade limitada de oportunidades lucrativas de emprego, que incentiva a entrada no trabalho escravo apesar do custo humano) e pontos de intervenção em potencial. A seguir, mais detalhes sobre cada etapa.

Figura 1 — Ciclo do trabalho escravo

Entrada: Esta fase ou localização geográfica é frequentemente definida como a “origem” do trabalho escravo. No entanto, é importante notar que em muitos casos, especialmente quando isso é uma sobreposição entre as populações mais vulneráveis e a presença da indústria que utiliza o trabalho escravo, a origem e o destino da mão de obra podem ser os mesmos. Em geral, as “origens” geográficas são definidas por um excedente de mão-de-obra, desemprego e uma força de trabalho vulnerável. A origem geográfica também é frequentemente associada com a falta de um governo forte que é notada pela

existência de bens públicos ineficientes (por exemplo, escolas, centros de saúde e proteção de renda). Existem também outros fatores, incluindo proteção ineficiente dos direitos da terra para comunidades indígenas e tradicionais e falta apoio para a agricultura subdesenvolvida e para a geração de renda tanto de organizações governamentais como não governamentais que aumentaram o risco de os habitantes

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da origem geográfica entrarem para a escravidão. Esforços contra a pobreza, pela educação comunitária e pelo desenvolvimento econômico geralmente existem nesta fase e foram bem-sucedidos em alguns casos de redução da taxa de trabalho escravo, mas existe uma contracorrente poderosa que trabalha contra esses esforços; a entrada para a escravidão não é voluntária e ocorre frequentemente em situações de assimetria de informações. Os Gatos (traficantes) trabalham com redes e grupos industriais criminosos para o recrutamento de trabalho escravo, muitas vezes sob falsos pretextos; com promessas de trabalho e de oportunidade para aqueles que não têm uma educação formal e qualificação profissional, eles muitas vezes têm êxito em atrair potenciais candidatos para a próxima fase do trabalho escravo. Os Gatos geralmente empregam os membros das comunidades para recrutar trabalhadores dentro de suas respectivas comunidades e oferecer uma falsa sensação de credibilidade. Os Gatos também fornecem tratores e motosserras aos novos trabalhadores escravizados, os quais irão servir como mecanismo de controle através da servidão por dívida. Em muitas comunidades, também é importante notar que as redes criminosas cooptaram pequenas cidades para colaborar com o trabalho escravo; devido à falta de oportunidades alternativas, muitas lideranças comunitárias e empresariais podem ver as "oportunidades econômicas" oferecidas pelas redes criminosas como uma opção econômica — e talvez a única — viável.

Permanência: Esta fase é muitas vezes definida como o “destino” do trabalho escravo, mas — como descrito anteriormente — esta fase também pode ocorrer nas mesmas zonas geográficas que a entrada. Em geral, o mercado no destino geográfico é definido por uma escassez de mão-de-obra (especialmente de funcionários dispostos a trabalhar em condições análogas ao trabalho escravo ou em condições de trabalho forçado), presença de indústrias extrativistas e de baixa margem de lucro, e supervisão governamental limitada, frequentemente associada com incidência de corrupção e conluio. Há um número limitado de organizações que trabalham no regulamento do cumprimento da lei e resgate de trabalhadores nesta fase, incluindo fiscais, unidades móveis de controle e a polícia federal. Esta é também a etapa com maior sobreposição entre as questões de combate ao trabalho escravo e ambientais, assim como esta é a fase em que o trabalho escravo é efetivamente utilizado e em que a destruição ambiental realmente ocorre.

Saída e reentrada: Esta fase é definida pelo "regresso" dos operários escravos para suas origens geográficas e a ameaça de reentrada de trabalhadores escravos "regressos” ao ciclo de trabalho escravo. A volta ao trabalho pode ocorrer após missões de resgate de escravos conduzidas pela polícia federal, através de fugas, crise na indústria ou libertação. É importante observar que o retorno ao trabalho quase nunca ocorre voluntariamente — tem de haver pressão externa para esta fase ocorrer. Mesmo nos casos de "libertação", os proprietários de escravos fazem os indivíduos em questão trabalhar normalmente durante meses em condições desgastantes e degradantes ao ponto de deixá-los normalmente com pouca força física ou energia. Contudo, devido ao fato de os trabalhadores escravos geralmente retornam às mesmas condições de mercado que experienciaram anteriormente (por exemplo, falta de oportunidade econômica na origem geográfica) a reentrada é o provável resultado. As estimativas atuais de reentrada variam entre 10 e 40%7; além disso, os danos físicos e psicológicos impostos pela condição de trabalho escravo muitas vezes exacerbam os fatores de risco associados com

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a entrada no trabalho escravo. Organizações que poderiam operar nesta fase incluem grupos de combate à pobreza, de educação comunitária, saúde, formação para o trabalho, de defesa e promotoria, mas sua presença é limitada, especialmente em áreas remotas e rurais. É importante observar que geralmente existem duas categorias de saída que estão fortemente correlacionados com a indústria na qual o trabalho escravo ocorre: 1) em indústrias de mão-de-obra intensiva como em pecuária e construção, o trabalho termina e o trabalhador volta para o seu destino de origem ou procura outro trabalho, que pode ou não ser o trabalho escravo; os resgates acontecem para provocar a saída, mas isso é muito raro; 2) em zonas de fronteira da Amazônia, indústrias como de extração de madeiras e madeiras preciosas, normalmente têm um padrão de cooptação que leva à escravidão; os resgates, devido à distância dos locais onde estas indústrias operam, são extremamente raros e os trabalhadores, sem resgate, oportunidades alternativas, ou uma maneira de ficar livres da cooptação, continuam muitas vezes em condições de trabalho escravo indefinidamente.

Cada etapa do trabalho escravo apresenta seus próprios desafios e oportunidades únicas. Uma iniciativa de IC, em vez de se concentrar em intervenções ou organizações dentro de uma única fase, tem a capacidade de afetar o sistema global de trabalho escravo. É importante reconhecer que uma intervenção positiva em um único estágio ainda poderá ajudar a reduzir a incidência do trabalho escravo global; por exemplo, a melhoria das condições econômicas na origem geográfica irá reduzir o número de entradas na fase de permanência. No entanto, de modo mais abrangente, o desempenho dos sistemas tem o potencial de causar impacto em todas as três fases do ciclo de trabalho escravo ; por exemplo, ao pressionar os grupos da indústria para limparem suas cadeias de suprimentos, a demanda pelo trabalho escravo (e, portanto, a probabilidade de entrada no trabalho escravo) irá diminuir.

O foco na indústria

Embora cada fase do trabalho escravo possa ser abordada por uma iniciativa de IC, o foco na indústria vai ajudar a otimizar a iniciativa em relação a recursos, tempo e outras limitações discutidas acima. Muitas indústrias estão associadas ao trabalho escravo no Brasil, mas essas indústrias esbarram em uma gama de questões, geografias e agentes. Independentemente da indústria selecionada, entretanto, haverá benefícios indiretos ao sistema de combate ao trabalho escravo; por exemplo, as iniciativas para o combate ao trabalho escravo de todos os setores poderiam se beneficiar se houvesse um aperfeiçoamento na coleta e divulgação de dados entre os participantes.

Abordagem com base em critérios

Uma abordagem com base em critérios foi utilizada para determinar uma indústria foco fornecendo um método independente e padronizado para comparar as indústrias que utilizam o trabalho escravo. Os critérios de prioridade foram escolhidos com base em uma lista de perguntas desenvolvidas a partir da experiência vivida pelo FSG apoiando as iniciativas de IC, da investigação sobre as melhores práticas em outras áreas geográficas e das percepções do contexto brasileiro com base em investigação secundária sobre o clima político e econômico, e entrevistas com os participantes locais.

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Quais critérios se conectam mais intimamente para estimular o interesse de múltiplos participantes e das multicamadas (ou seja, locais, nacionais e internacionais)?

Quais critérios, a partir do que é conhecido sobre os fatores que criaram mudanças em uma indústria, se conectam mais intimamente ao potencial de impacto?

Quais critérios proporcionam uma leitura mais precisa de como uma indústria está ligada e se envolve com as questões do trabalho escravo?

Com base nessas questões, cinco critérios prioritários foram selecionados:

Potencial para uma colaboração estratégica e melhorada para combater o trabalho escravo principalmente na indústria: a colaboração de multissistemas, que é estratégica e intencional, é necessária para combater o trabalho escravo — nenhum agente ou sistema foi capaz de resolver o problema sozinho em qualquer estudo de caso analisado.

Implicações para o ambiente e populações vulneráveis: como os recursos são escassos e devido ao fato de os grupos que ajudam as populações vulneráveis e enfrentam desafios ambientais muitas vezes terem interesses sobrepostos com questões de trabalho escravo, é imperativo selecionar uma indústria que tem fortes ligações com interesses além do trabalho escravo.

Capacidade de atrair financiamento adicional: para que qualquer iniciativa seja sustentável e bem estruturada, tanto os financiadores locais como os internacionais devem estar interessados na indústria escolhida. Os financiadores podem estar interessados por uma variedade de razões — do interesse em abordar os desafios da degradação ambiental até o interesse na cadeia de suprimentos de um produto em particular — mas é importante considerar uma forma de tornar o caso eficaz.

Capacidade de rastrear a cadeia de suprimentos da indústria de produtos de montante a jusante: para pressionar uma indústria e provocar alteração em sua política com êxito, sua cadeia de suprimentos desde a origem até o consumidor final deve ser rastreável. A rastreabilidade ajuda a ligar a incidência do trabalho escravo (a montante) aos movimentos de mudança (por exemplo, reforma corporativa através da pressão dos consumidores) que ocorrem a jusante.

Incidência do trabalho escravo: deve haver prova de que o trabalho escravo existe em um determinado setor e estas provas devem ser recolhidas através de métodos confiáveis. Embora alguns participantes contem com a percepção individual ou de investigação para avaliar a incidência de trabalho escravo em uma determinada indústria, a fusão de vários dados, leituras e experiências nem sempre apresenta um quadro apropriado ou preciso. Por exemplo, uma organização mencionou um relatório de 2010 sobre a incidência do trabalho escravo na indústria de carvão e consequentemente sugeriu que o carvão deveria ser uma indústria de foco; no entanto, tal intervenção teria um impacto mais limitado porque a demanda internacional pelo aço já levou muitas empresas brasileiras de carvão a saírem do negócio. Outros participantes dependem de dados recolhidos e medidos oficialmente para avaliar a incidência de trabalho escravo em uma indústria específica. Embora essa estratégia possa

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parecer boa, existem alguns problemas com a natureza e a confiabilidade dos dados relacionados ao trabalho escravo. Os dados são coletados apenas quando as equipes de fiscalização resgatam com êxito os escravos e estes dados são voltados para indústrias específicas com base na sua visibilidade e acessibilidade. As equipes de fiscalização móvel dependem de “sirenes” que os avisem das incidências do trabalho escravo a partir de organizações de base comunitária e, por conseguinte, as equipes de fiscalização se direcionam para as operações mais visíveis em áreas onde as organizações de base comunitária já estão presentes. Eles também priorizam os trabalhos de resgate em áreas onde eles são capazes de ter acesso aos que se encontram em situação de escravidão — que tende a reduzir significativamente o trabalho feito contra a escravidão em operações de desmatamento. Portanto, a verdadeira incidência de trabalho escravo não é captada, já que certas indústrias provavelmente são muito mais supervisionadas do que outras.

Seleção da indústria

Como mencionado acima, existem muitas indústrias no Brasil que têm sido associadas ao trabalho escravo: pecuária, construção, carvão, café, desmatamento, mineração, cana-de-açúcar, exploração de madeira ilegal/madeiras preciosas, soja, têxteis e frutas/castanhas.

Após a pontuação de cada indústria em relação aos critérios selecionados, muitas indústrias foram desqualificadas. Por exemplo, embora o trabalho escravo seja rastreável e observado na cadeia de suprimentos de fabricantes têxteis, existem ligações frágeis com os problemas de degradação ambiental (a maioria das quais está associada com a Amazônia no Brasil, enquanto a produção têxtil é uma grande indústria urbana). Em última análise, duas indústrias foram identificadas com base nos critérios de seleção: exploração de madeira ilegal/madeiras preciosas e criação de gado bovino. A exploração de madeira ilegal/madeiras preciosas foi escolhida após análise adicional, por três razões:

1) A estratégia do centro operacional requer colaboração multissetorial, para a qual existe potencial significativamente alto na exploração de madeira ilegal/madeiras preciosas versus a criação de gado. A criação de gado bovino ocorre após o processo de desmatamento; isto é, depois que madeiras preciosas (e outras) são eliminadas em uma área geográfica específica, o que significa que as organizações ambientais tendem a estar menos interessadas no setor de pecuária. Além disso, como a exploração de madeira ilegal muitas vezes invade terras indígenas, isso tem uma conexão maior com populações vulneráveis do que com a criação de gado.

2) A capacidade de atrair financiamento adicional é maior para madeiras preciosas devido suas ligações com as questões ambientais. Embora muitas questões sociais no Brasil tenham visto o doador debandar enquanto o país crescia economicamente, o financiamento ambiental, particularmente na Amazônia, permaneceu resiliente.

3) O trabalho escravo frequentemente segue a fronteira de produção — portanto, a fronteira do trabalho escravo frequentemente muda conforme os recursos valiosos se tornam escassos em uma área e são encontrados ou são alvo em outra área. Por exemplo, o estado do Pará tornou-

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se cada vez mais a fronteira de produção de recursos naturais, mas esse não era o caso há uma década. Houve provas convincentes a partir de entrevistas com os participantes e através de outras atividades de investigação, que a exploração de madeira ilegal/madeiras preciosas é muitas vezes um sinal para a expansão de uma fronteira de produção; isto é, que a exploração de madeira ilegal/madeiras preciosas é um prenúncio de maior extração por vir, incluindo o desmatamento e a criação de gado. Além disso, a incidência de trabalho escravo nesta indústria não só parece estar aumentando como também é frequentemente "invisível" nos dados coletados oficialmente, embora tenha sido descrita por alguns participantes como uma das indústrias mais intensas em sua conexão com a utilização de trabalho escravo.8

Visão geral da indústria: exploração de madeira ilegal/madeiras preciosas

A indústria de madeiras preciosas é impulsionada pela demanda de consumidores internacionais por madeiras altamente valiosas, incluindo o ipê. A exploração de madeiras preciosas normalmente acontece em partes muito remotas e rurais da Amazônia (com poucas, senão nenhuma, estradas) e é frequentemente a primeira de outras atividades de extração. Atualmente, a exploração de madeira ilegal/madeiras preciosas, particularmente em sua fronteira, é focada no estado do Pará. A cadeia de suprimentos de madeiras preciosas pode ser dividida nas seguintes categorias:

Desmatadores em pequena escala: estas pequenas equipes de desmatamento, financiadas por compradores a jusante, muitas vezes dependem de trabalho escravo e/ou forçado barato para trabalhar nas profundezas da Amazônia. Existem centenas, senão milhares dessas equipes que operam na Amazônia. É difícil rastrear os movimentos destas equipes; apesar de as buscas das equipes de fiscalização móveis serem eficazes (se eles podem chegar ao ponto de trabalho escravo na floresta tropical antes que os madeireiros troquem de local), o distanciamento e o alcance limitado dos fiscais limitam as intervenções que podem ocorrer em termos de resgate na "fase de permanência”.

Serrarias: são empresas locais do Pará que também são financiadas por compradores a jusante. Existem menos destes operantes — dezenas em vez de centenas ou milhares. No entanto, as serrarias são móveis e geralmente fazem parte de uma política de infraestrutura e de fiscalização que as protege de regulamento ou de execução. No momento em que a madeira chega nas serrarias, ela já foi "legalizada” através de autorizações emitidas ilegalmente ou através de autorizações emitidas legalmente que permitiram a extração em uma área diferente de onde o corte de fato ocorreu.

Compradores/exportadores: existem 3 empresas sediadas em Belém do Pará (capital) que adquirem madeira serrada ou semiacabada de serrarias. Estas empresas têm força política (muitas vezes elas pactuam com funcionários locais) e muitas vezes financiam atividades a montante. Dado o seu pequeno número, todavia, a madeira que eles adquirem é bastante rastreável, assim como são os clientes (por exemplo, empresas multinacionais) a quem eles vendem essa madeira. Estas empresas geralmente se beneficiaram de um processo de lavagem de licenças — onde os fiscais emitem licenças legais ou ilegais que dão à madeira cortada

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ilegalmente uma documentação pormenorizada formal que oferece às empresas a negação plausível.

Corporações multinacionais (MNCs): estas empresas incluem lojas de reforma e empresas de construção civil que têm sede principalmente na América do Norte e Europa. Algumas organizações, incluindo o Greenpeace, rastrearam a madeira extraída ilegalmente da Amazônia Brasileira para as multinacionais.9 Iniciativas de rastreabilidade, porém, terão de continuar em escopo e amplitude em dois aspectos importantes. Em primeiro lugar, a madeira terá de ser rastreada desde as empresas estrangeiras de importação e exportação até as empresas para as quais elas vendem, que lidam com o consumidor final. Por exemplo, o Wood Brokerage International é um grande comprador de madeiras preciosas ilegais situado nos EUA, mas não há muito mais informação disponível sobre as empresas que lidam com o consumidor final para as quais ele vende a madeira. Segundo, uma análise de rastreabilidade terá de ser realizada na área de captação específica onde a iniciativa de IC é baseada (a última análise realizada pelo Greenpeace não menciona qualquer dessas áreas geográficas selecionadas no presente relatório, detalhado abaixo). Do mesmo modo que os compradores/exportadores, as empresas frequentemente têm negação plausível sobre a origem da madeira que adquirem; eles também têm, sem a pressão externa, pouco incentivo para alterar os seus processos de aquisição.

Consumidores: os consumidores, como acima mencionado, impulsionam a procura crescente de madeiras preciosas da Amazônia. A madeira é utilizada para pavimentos exteriores, em pisos de residências e para outras atividades de uso doméstico. A sensibilização dos consumidores, especialmente em termos da ligação entre madeiras preciosas e trabalho escravo, é fraca; no entanto, os consumidores quando informados, provaram ser eficazes catalisadores de mudança em outras indústrias que utilizam o trabalho escravo.

O foco geográfico

A foco recomendado sobre a exploração de madeira ilegal e a indústria de madeiras preciosas tem várias implicações no foco geográfico da iniciativa de IC. Esta seção discutirá a escolha da(s) localidade(s) para as atividades e intervenções da iniciativa de IC. Para uma discussão sobre a localidade do eixo de conexão da iniciativa de IC, ou seja, onde os parceiros podem se reunir regularmente, consulte a seção “” mais adiante no relatório.

Foco inicial na área rural do Pará

O primeiro passo na determinação do foco geográfico foi para restringir o âmbito de aplicação a um Estado dentro do Brasil. Baseado na visita de campo do Freedom Fund em setembro de 2014, dois estados Amazônicos foram inicialmente priorizados: Pará e Maranhão. A hipótese inicial do Freedom Fund era de que o Maranhão servia como "exportador" principal do trabalho escravo e que o Pará servia como "importador” principal. Tendo em conta a recomendação acima para o manter o foco em exploração de madeira ilegal e madeiras preciosas, o FSG também recomenda que o escopo seja limitado ao estado do Pará, por duas razões:

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1. O Pará contém muitas das fronteiras de desmatamento mais importantes e é onde reside grande parte do corte ilegal de madeira preciosa.10 A grande maioria da extração de madeira no Pará — até 90% segundo alguns levantamentos — é resultado de desmatamento ilegal e, 100% do trabalho utilizado nestas operações de exploração de madeira ilegal funciona em condições degradantes análogas à escravidão.11

2. O Pará aparece à frente do Maranhão em termos de número de empresas na lista suja e em termos do número de casos relatados de escravidão.12 Além disso, enquanto o Maranhão é um exportador líquido de trabalho escravo, muitos dos escravos encontrados no Pará são originalmente do Pará e são migrantes internos em vez de provenientes de outro Estado.13

Consulte a Figura abaixo que tem uma representação visual do estreitamento inicial do escopo geográfico de uma iniciativa de IC focada na exploração de madeira ilegal e madeiras preciosas.

Figura 2 — Estreitamento inicial do foco geográfico para uma iniciativa de IC

Critérios de seleção para o foco no Pará

Cinco critérios e análise adicional foram utilizados para informar a escolha da(s) localidade(s) para a iniciativa de IC no Pará:

Concentração da atividade de exploração de madeira ilegal e extração de madeira preciosa Nível da incidência do trabalho escravo, tanto medido como percebido pelos especialistas

antiescravagistas

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Taxa de destruição ambiental, conforme medida e percebida por especialistas ambientais Áreas de foco dos agentes fundamentais antiescravagistas e ambientais que podem servir como

parceiros numa iniciativa de IC (por exemplo, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Imazon, IPAM, PMV, etc)iii

Nível de acessibilidade e segurança para os parceiros envolvidos na iniciativa de IC

Áreas de foco dos agentes-chave para se envolver na iniciativa de IC

Uma das principais entrevistas resultantes da visita de campo do FSG revelou que embora os agentes antiescravagistas e ambientais tenham atividades em todo o Pará, suas atividades frequentemente se concentraram em um conjunto relativamente pequeno de áreas no estado. O mapa abaixo ilustra onde essas áreas estão localizadas dentro do estado.

Figura 3 — Potenciais áreas geográficas de foco para uma iniciativa de IC

iii O Apêndice B fornece breves descrições de cada organização, incluindo o nome completo, sem o acrônimo. Todavia, é importante notar que muitas organizações usam sua sigla, mesmo em documentos oficiais. Por exemplo, o PMV muito raramente refere a si mesmo como Programa Municípios Verdes.

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Cada uma das possíveis áreas de foco para uma iniciativa de IC são descritas a seguir.

Belém: como capital do Pará, Belém serve como base para muitas das ONGs que trabalham na região, incluindo Imazon, PMV, IPAM, e o Centro de Defesa Emaús. De acordo com Mauricio Torres, um dos principais especialistas sobre o trabalho escravo no sudoeste do Pará, vários dos compradores/exportadores de madeira brasileiros estão localizados em Belém. Existem também alguns relatórios de escravidão ao redor da área de Belém, mas para a maior parte esta não é uma área onde o trabalho escravo ocorre e ela não aparece na lista dos dez municípios que mais desmatam ou que têm trabalho escravo no Brasil. Não recomendada como principal área de foco para intervenção.

Altamira: Altamira fica às margens do rio Xingu e é uma das cidades mais próximas do projeto da barragem de Belo Monte que, se concluída, será a terceira maior barragem do mundo em termos de capacidade instalada. A construção da represa resultou em um fluxo de trabalhadores da construção por um curto período — a população de Altamira quadruplicou durante um breve período de tempo14 – e resultou em relatos de condições análogas ao trabalho escravo em atividades de abertura de clareira na floresta.15 Altamira é também o local de pelo menos duas serrarias que vendem madeira — muitas vezes ilegalmente — para

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exportadores brasileiros.16 O município tem um escritório da CPT, e é onde habitam e têm como área de foco Juan Roblas (Instituto Socioambiental — ISA) e Cassio Pereira (IPAM), e o local de alguns trabalhos com os municípios do Programa Municípios Verdes (PMV). Também é sede de Xingu Vivo, uma ONG focada em questões ambientais ao longo da rodovia Transamazônica que se tornou bem conhecida desde o assassinato da ativista americana antidesmatamento Irmã Dorothy Strang, em 2005.17 No entanto, Altamira agora não é considerada como linha de frente para o trabalho escravo. Não recomendada como principal área de foco.

Marabá: Marabá é um dos principais centros de operação da CPT. Contém dois campos de trabalho, incluindo um — a 2a Vara do Trabalho de Marabá – cujo juiz foi um dos principais financiadores da rede RAICE (mais detalhes abaixo). A equipe móvel de fiscalização antiescravagista do Ministério do Trabalho tem um escritório físico e uma frota de veículos em Marabá e o município também conta com 17 universidades que podem ser úteis ao envolver os estudantes em pesquisa e na coleta de dados.18 O município de Marabá está classificado como o número dois em termos de casos de trabalho escravo no Brasil, com 86 incidentes e 575 trabalhadores libertados de 2003 a 2014. Está classificado em quarto lugar em termos de área de terras desmatadas: 8.449 km2, ou 55,7% de sua área terrestre. No entanto, segundo Xavier Plassat, a maioria do desmatamento em Marabá já ocorreu e é uma fronteira menos ativa de desmatamento quando comparado a alguns outros locais.

Vale a pena notar que a Serra dos Carajás no oeste de Marabá, é o local de uma das maiores operações de mineração de ferro do Brasil. A Vale, empresa que opera a mina, foi obrigada a pagar uma multa de R$804 milhões para mais de 2 mil trabalhadores por acidentes e para 12 trabalhadores por mortes, um forte indicador das condições de trabalho precárias.19 Devido ao fato de que Marabá tem um aeroporto e está centralmente localizado no Pará, o município pode ser acessível a outras organizações participantes do IC. Mas infelizmente, houve muita violência em Marabá acerca dos conflitos de terra; fiscais do trabalho e ambientais — especialmente os que vivem ali — muitas vezes acham que não podem viajar para o campo sem escoltas armadas.20 Como grande parte do desmatamento da área já ocorreu, o município não é recomendada como principal área de foco

São Félix do Xingu: São Félix do Xingu está classificado no topo de todos os municípios brasileiros, tanto em termos de área desmatada como em incidentes de escravidão. Mais de 20% da área de terra do município, ou 17.534 km2, foram desmatados – o equivalente a 11 vezes a área da cidade de São Paulo. Além disso, houve 129 incidentes de trabalho escravo e 882 trabalhadores libertados de 2003 a 2014.21 A CPT tem um escritório em São Félix do Xingu e o IIEB concentra muitas de suas atividades ali. De acordo com Henyo Barretto do IIEB, o representante da CPT de São Félix, Cosme Xavantes, está entre os líderes da CPT que estão muito abertos à colaboração com outros grupos. Juan Doblas do ISA também citou São Félix como um local promissor para uma iniciativa de IC, juntamente com Marabá. São Félix pode ser explorado como uma área de foco, mas é importante confirmar se os casos de trabalho escravo e desmatamento continuam na área.

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Corredor da Br-163: a BR-163 é uma rodovia federal que estende em 3.467 quilômetros de São Miguel do Oeste em Santa Catarina a Santarém no Pará O "corredor da BR-163" aqui mencionado é principalmente a seção mais setentrional que conecta Itaituba e Santarém, bem como um trecho no sul do Pará entre Castelo dos Sonhos e Novo Progresso. Segundo o pesquisador Mauricio Torres, de Santarém e Juan Doblas do ISA, este corredor é onde está localizada a fronteira mais importante para a degradação florestal inicial (a que precede o desmatamento total) e o corte ilegal de madeira preciosa no Pará e é onde ocorre a resistência da maior parte da comunidade local ao desmatamento. "O acesso ao desmatamento fornecido pela BR-163 é o mesmo que o acesso em Marabá era 30 a 40 anos atrás", disse ele.22 Existem muitas áreas de terras protegidas ao longo deste corredor — reservas indígenas, áreas de preservação permanente e reserva legal. No entanto, pelo fato de essas áreas estarem entre os últimos "santuários" de madeiras preciosas, elas são de interesse importante para madeireiros ilegais.23 De acordo com o Repórter Brasil, também há planos para a construção de barragens na área e houve um aumento da migração para a região. Como mencionado acima, megaprojetos como as barragens envolvem frequentemente o desmatamento para limpar o terreno para a construção e tendem a estimular um fluxo de mão-de-obra por um curto período que pode ser direcionado para trabalhar em condições de escravidão.24 Em termos de principais participantes, o ISA concentra o seu trabalho e dispõe de pessoas no campo ao longo deste corredor. A CPT também está ativa na área, com escritórios em Itaituba e Santarém e uma área programática centrada nas regiões de Tapajós a oeste da BR-163. Embora a parte do corredor mais próxima das autoestradas seja relativamente acessível, a maioria da exploração madeira ilegal está ocorrendo no coração da floresta em áreas remotas, difíceis de serem alcançadas. Além disso, devido à abundância de territórios ilegais controlados pela "máfia” na área, a segurança para visitantes permanece uma preocupação significativa. Recomendada como área de foco primário, dependente de informações suplementares sobre a capacidade de envolvimento com as comunidades locais de forma sustentável na área.

Segurança

Desde que as comunidades amazônicas locais começaram a resistir à apropriação de terras e ao desmatamento nos anos 1970 e 1980, fazendeiros e especuladores têm empregado a violência como meio de reprimir esse tipo de resistência. Dois exemplos do mais alto perfil de violência foram os assassinatos do ativista dos direitos do trabalho Chico Mendes em 1988 e da ativista ambiental Irmã Dorothy Strang, em 2005. Mas a violência não diminuiu com o passar do tempo: apenas em Junho passado, o policial militar João Luiz de Maria Pereira foi morto em uma emboscada enquanto desmantelava um acampamento ilegal de corte de árvores em Novo Progresso, uma cidade no Pará ao longo do corredor da BR-163.25 Por conseguinte, aqueles que tomam parte na luta contra a escravidão e o desmatamento e têm como objetivo abordar as violações dos direitos indígenas e da terra em regiões remotas da Amazônia frequentemente trabalham sob a ameaça de violência ou até mesmo de morte. Essas ameaças limitam gravemente suas atividades e poucos se arriscam a registrar queixas oficiais, exceto através da CPT (que muitas vezes não está presente nos lugares onde as queixas são geradas). Os

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agentes do governo também raramente intervêm porque eles requerem escoltas policiais fortemente armadas para fazê-lo.

Com esta definição em mente, é importante considerar a segurança quando for selecionar uma área de foco para a iniciativa de IC. Devido ao fato de que existem organizações internacionais e nacionais que não têm uma presença local na área alvo de intervenção, a iniciativa de IC terá de avaliar como essas organizações podem monitorar e se envolver com segurança (fisicamente ou de outra forma) com organizações de base comunitária e em outras atividades acontecendo no local. Entrevistas iniciais indicam que um trabalho de campo substancial é viável, desde que ele se concentre no engajamento da comunidade, em vez de confronto direto com madeireiros ilegais e, que organizações de fora visitem com menos frequência e durante curtos períodos de tempo. No entanto, novas discussões com os participantes que tenham conhecimento mais profundo destas regiões serão necessárias para avaliar a conveniência de uma iniciativa de IC sendo centrada ali.

Localizações recomendadas para a iniciativa de IC

Ao aplicar os critérios de seleção descritos acima para estas opções de local, dois locais se destacaram: São Félix do Xingu e o corredor da BR-163. A Figura 4 resume como cada local se apresenta em relação aos critérios:

Figura 4 — Classificação de possíveis locais pelos critérios de seleção chave

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São Félix do Xingu e o corredor da BR-163 apresentam alta incidência de exploração de madeira ilegal, taxas de destruição ambiental e incidências de trabalho escravo. O corredor da BR-163 tem um número significativo de organizações de base comunitária (OBC) com as quais uma iniciativa de IC poderia trabalhar; a CPT e Mauricio Torres estão atualmente analisando quais destas OBCs seriam as melhores para serem trabalhadas, dado que muitas são cooptadas pela máfia de exploração de madeira ilegal e não têm a necessária credibilidade. Cada local tem desvantagens que devem ser consideradas, no entanto: São Félix do Xingu acolhe alguns agentes relevantes além da CPT e IIEB. O corredor da BR-163 é talvez o mais importante do estado de fronteira para a exploração de madeira ilegal e madeiras preciosas, mas é o menos acessível e menos seguro.

Ambos os locais seriam áreas de foco adequadas para uma iniciativa de IC e o Freedom Fund pode expressar uma forte preferência por um em detrimento do outro ao recrutar parceiros e doadores e ao lançar a iniciativa de IC. A decisão de onde focar deve, no entanto, permanecer com os parceiros principais que irão fazer parte da comissão de coordenação para a iniciativa de IC. São eles que determinarão a agenda comum da iniciativa de IC, a direção estratégica, a constelação exata de agentes envolvidos e o conjunto de atividades são que será implementado. Para atingir o máximo impacto, o local escolhido deve conter a combinação certa de agentes que já estão em campo e ser acessível aos parceiros adicionais que farão parte da iniciativa.

O trabalho escravo na Amazônia Brasileira está “pronto” para o IC?

Antes de projetar e lançar uma iniciativa de IC, é crucial avaliar o grau de prontidão para o IC em que a constelação de agentes e as forças envolvidas na luta contra o trabalho escravo na Amazônia Brasileira se encontra. Existem pelo menos quatro pré-condições do IC que devem estar idealmente em ordem para que a iniciativa de IC ganhe força e seja lançada tranquilamente. Esta seção irá abordar cada uma dessas condições e oferecer uma avaliação global da prontidão do IC para o trabalho escravo na indústria de exploração de madeireira ilegal/madeiras preciosas no estado do Pará.

Presença de defensores locais

Para ser bem-sucedida, uma iniciativa de IC requer um número de defensores influentes que podem oferecer liderança local e ajudar a estimular outros agentes/organizações a se unir à iniciativa. Mais especificamente, no caso de trabalho escravo em exploração de madeira ilegal no Brasil, um "defensor influente" seria alguém que pode impor o respeito a um conjunto mais amplo de participantes (tanto dentro como fora do seu setor), é capaz de trazer os participantes para a mesa e mantê-los ali durante o processo de agenda comum e está disposto e é capaz de defender a estratégia para a comunidade de agentes mais ampla e dentro da área geográfica de foco. Diante do fato de a iniciativa de IC provavelmente se concentrar sobre a redução do trabalho escravo na indústria madeireira — com a prevenção de desmatamento como um importante, mas secundário, objetivo — os defensores influentes provavelmente vêm do mundo antiescravagista mas gostariam idealmente de ter alguma credibilidade com agentes ambientais também. Embora a lista de características acima possa parecer de

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alto padrão, entrevistas revelaram que de fato há vários especialistas em potencial que poderiam ser envolvidos em uma iniciativa de IC. Alguns exemplos incluem:

Xavier Plassat: Xavier é o coordenador do programa antiescravagista da CPT e um líder proeminente e bem respeitado no movimento antiescravagista na Amazônia Brasileira.

Mauricio Torres: Mauricio é um pesquisador de Santarém ligado à Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). Tem muitos anos de experiência pesquisando o trabalho, a terra e os direitos das populações indígenas no corredor da BR-163 e é grandemente respeitado por seu profundo conhecimento.

André Roston: André é o chefe da Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo no Ministério do Trabalho. Ele coordena as equipes de fiscalização móvel do ministério que respondem pelos relatórios de trabalho escravo e pelas buscas para libertar os trabalhadores e autuar os infratores.

Christiane Nogueira: Christiane é a Vice-coordenadora do CONATRAE, organismo de coordenação sobre a erradicação da escravidão do Ministério Público do Trabalho (MPT). Sediada em Brasília, ela é a Procuradora do trabalho que está focada em trazer à justiça (através de ações civis e não penais) os autores de violações dos direitos laborais, particularmente os relacionados ao trabalho escravo.

Mércia Silva: Mércia é a coordenadora executiva do Instituto InPACTO e convenceu dezenas de grandes corporações no Brasil para que se tornassem signatários do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo e ratificassem seu compromisso de eliminar o trabalho escravo em suas próprias cadeias de suprimentos e em seus respectivos setores.

Rogenir Costa: Rogenir é o gerente do Programa Brasileiro para o Catholic Relief Services (CRS), com sede em Brasília, que financia ativamente várias iniciativas antiescravagistas e está envolvido em questões de defesa legislativa em torno da escravidão.

A lista acima representa uma amostragem de potenciais defensores influentes no espaço antiescravagista no Brasil — provavelmente outros poderiam emergir onde o lançamento de uma iniciativa de IC fosse seriamente determinado. Existem também organizações que podem se manifestar para desempenhar um papel de defensor-chave para a iniciativa — tais como Repórter Brasil, ISA, IPAM ou PMV. Não seria necessário selecionar apenas um desses indivíduos ou organizações para liderar uma iniciativa de IC; ao contrário, vários defensores podem melhorar a viabilidade de uma iniciativa de IC recrutando simultaneamente um grande número de parceiros em todos os setores e estimulando-os à ação comum.

A mera existência de defensores influentes não satisfaz esta primeira condição prévia de "defensores locais” prontos para o IC. Tal como acima mencionado, os defensores que já existem têm de ser convencidos de que um modelo de IC pode resultar em uma etapa de mudança no progresso da luta contra a escravidão; e eles devem estar dispostos a investir uma parte significativa de seu tempo e credibilidade para iniciar e comandar uma nova iniciativa de IC. Onde há falta de defensores influentes

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— em escolas ou nas comunidades de base, por exemplo — os defensores teriam de ser recrutados e apoiados.

Histórico de colaboração

Idealmente, uma iniciativa de IC se baseia nas parcerias já existentes ou em iniciativas de colaboração que existem dentro de um determinado setor ou comunidade. Nem todos os parceiros na iniciativa de IC precisam se conhecer ou ter trabalhado uns com os outros, mas é importante que a maioria dos membros da iniciativa de IC sejam abertos à ideia de um nível alto de colaboração estruturada; um dos indicadores desta abertura é ter experiência anterior com colaboração.

Quase todas as organizações entrevistadas manifestaram interesse e reconheceram a necessidade de uma colaboração estratégica mais estruturada, devido à complexidade da dinâmica do trabalho escravo-ambiente-direito à terra na região. Além disso, a maioria dos participantes declarou que tinha uma história de forte colaboração com outras organizações em sua área. A única organização que apresentou alguma hesitação quanto à colaboração foi a CPT: como mencionado anteriormente, certas partes da CPT, que é uma organização excepcionalmente descentralizada e heterogênea, são suspeitas de compromissos inerentes à colaboração ou de receber financiamento de agências governamentais, de financiadores internacionais ou de outras ONGs.

Os entrevistados também compartilharam muitas barreiras para a colaboração. Algumas delas são financeiras ou logísticas: por exemplo, falta a alguns agentes um conjunto confiável de recursos para apoiar a infraestrutura necessária para a colaboração sustentável, outros salientaram que as grandes distâncias geográficas entre os parceiros — mesmo dentro do estado do Pará — tornam a viagem e a comunicação difíceis. Outras barreiras estão relacionadas a diferenças entre as organizações antiescravagistas e ambientais: coletivamente, estas organizações são incentivadas pelos doadores para se especializar e se concentrar em suas áreas de abrangência, em vez de procurar sobreposições e oportunidades de sinergia em seu trabalho.

Apesar destes obstáculos, existem vários exemplos de colaboração entre os agentes no espaço antiescravagista e de preservação ambiental na Amazônia Brasileira. Alguns dos mais promissores incluem:

RAICE – a Rede de Ação Integrada de Combate à Escravidão é uma parceria iniciada em 2014 entre a CPT e o CDVDH/CB em Açailândia, focada em entender e reduzir a vulnerabilidade dos trabalhadores migrantes no recrutamento para o trabalho escravo. Ela tem sido financiada por um juiz do Tribunal do Trabalho em Marabá.

CONATRAE – a Confederação Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo é uma colaboração transetorial liderada pela Secretaria de Direitos Humanos Federal. É composta por representantes de diversos ministérios pertinentes, Poder Judiciário e gabinete do Procurador do Trabalho, o Sindicato dos Fiscais do Trabalho, CPT, Repórter Brasil, CRS, Instituto Ethos e muitos outros. Os colaboradores se reúnem regularmente, tanto em pessoa em Brasília

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(fornecendo recursos para as ONGs para viajar e participar) — como através de teleconferência. Christiane Nogueira sugeriu que o CONATRAE poderia servir como suporte para um apoio basilar em potencial para uma iniciativa de IC. No entanto, nas entrevistas pode-se perceber que o CONATRAE seria mais como um fórum para o desenvolvimento da política do governo nacional e de compartilhamento de ideias do que uma entidade ideal para a execução de intervenções antiescravagistas.

Parceria CPT/Repórter Brasil/ISA: estas três organizações têm uma relação de trabalho muito próxima — com muitas das suas atividades financiadas pelo CRS — que envolve o compartilhamento de dados e a coordenação de atividades. A CPT, por exemplo, divide as estatísticas que reúne sobre os incidentes de escravidão com o Repórter Brasil, que por sua vez publica as peças para aumentar a sensibilização do público. O ISA também compartilha seu mapeamento de áreas desmatadas por satélite com a CPT e o Repórter Brasil, a fim de apoiar a procura de trabalho e a geração de relatórios de violações. No entanto, esta parceria é mais uma comunicação informal do dia-a-dia do que uma parceria estruturada com objetivos codefinidos e discussões regulares.

Parceria CPT/Ministério do Trabalho/Procuradoria do Trabalho: estas três organizações ajudam uma à outra na libertação de escravos e levam os perpetradores do trabalho escravo à justiça. A CPT divide relatórios individuais de escravidão com as equipes de fiscalização móvel do Ministério do Trabalho, que por sua vez organizam buscas em propriedades pecuárias e acampamentos madeireiros. A Procuradoria do Trabalho acompanha promovendo ações civis contra os proprietários ou madeireiros ilegais.

O Programa Municípios Verdes (PMV) promove a colaboração em nível municipal através da criação de pactos entre os produtores rurais, organizações sociais e ambientais e os governos local e estadual, para ajudar na luta contra o desmatamento no Pará. Os parceiros assinam pactos voluntários para trabalhar em conjunto e aderir a um conjunto de sete objetivos para o município a ser monitorados pelo PMV. Após o recebimento da certificação como um "Município Verde", os parceiros recebem inúmeras vantagens competitivas, incluindo a prioridade de acesso ao crédito e incentivos fiscais e assistência técnica rural do governo federal. Enquanto o PMV tem inúmeros incentivos em seu arsenal, ele também tem uma série de fortes penalizações. Se os municípios parceiros se aproximam de uma taxa alta de desmatamento, eles são colocados na Lista Negra, uma lista de municípios de baixo desempenho com respeito à gestão ambiental. Não só a Lista Negra serve como uma forma de colocar pressão na opinião pública sobre os municípios e seus dirigentes para promulgar reformas como ela também resulta em o município receber menos receitas fiscais do Estado. Além disso, os municípios na Lista Negra enfrentam restrições à exportação, o que pode resultar em empresas deixando o município (e, portanto, uma perda de receitas fiscais).

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Coletivamente, estes exemplos ilustram uma história de colaboração, tanto entre os agentes relevantes neste espaço como em nível comunitário. No entanto, com poucas exceções, muito da colaboração consiste das relações financiador-financiado, parcerias bilaterais ou de colaborações únicas que operam durante um período fixo. Muitos são dependentes de fontes precárias de financiamento. E além da ISA, existe muito pouca colaboração entre as organizações antiescravagistas e ambientais, principalmente devido aos obstáculos descritos acima.

Existem duas implicações deste contexto colaborativo para a formação de uma iniciativa de IC. Primeiro, as barreiras para uma colaboração mais profunda — especialmente entre as organizações ambientais e antiescravagistas — terão de ser superadas através de injeções de financiamento, investimento na construção de infraestrutura para oferecer suporte a uma iniciativa de colaboração e facilitação externa. Segundo, a estrutura central das organizações precisará ser convencida de que um investimento de seu tempo, energia e recursos em uma iniciativa de IC de nível colaborativo valerá a pena para o impacto aumentado sobre o trabalho escravo e o ambiente que ela torna possível.

Urgência para a mudança

Um senso comum de prioridade e a necessidade imediata de ação em torno de uma questão fornece combustível para o lançamento de uma iniciativa de IC estimulando os agentes e sustentando as condições favoráveis para além dos estágios iniciais da iniciativa. Quando se trata de trabalho escravo na exploração de madeira ilegal e extração de madeiras preciosas, o nível de urgência varia dependendo do setor e do tipo de agente. A tabela abaixo resume esses níveis diferentes de urgência:

Figura 5 — Sentido de urgência em torno do trabalho escravo por setor e por tipo de agente

Setor Tipo de agente Urgência Fundamentação

ONGsONGs antiescravagistas Alta Combater a escravidão é sua principal missãoONGs ambientais Baixa O trabalho escravo é visto como divergente da sua

principal missão de proteção ambientalGoverno Executivo Federal — Alta/Baixa Baixa entre o novo governo de Michel Temer e

nomeados políticos; alta entre defensores-chave dentro de certos ministérios (por exemplo, equipes de fiscalização móvel do Ministério do Trabalho, Procuradoria do Trabalho)

Legislativo Federal — Baixa A "reunião de grupos rurais" que representam grandes grupos de agronegócios tem ganhado força significativa e está trabalhando para enfraquecer as leis antiescravagistas

Sistema Judiciário Federal

Alta Tem mostrado um compromisso antiescravagista através da republicação da Lista Suja e regras contra os perpetradores do trabalho escravo

Estado (Pará) Baixa Não há compromissos do governo do estado conhecidos contra a escravidão, apesar de o Pará estar entre a maior incidência no Brasil. O Ministério do Trabalho no Pará tem, no entanto, alguma responsabilidade para o problema.

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Setor Tipo de agente Urgência FundamentaçãoMunicipal Baixa Os governos municipais são muitas vezes cúmplices de

madeireiros ilegais locais e dos infratores do trabalho escravo, embora o PMV tenha feito progresso entre alguns municípios

Setor privado

Empresas brasileiras (exportadores de madeira e de construção)

Baixa Exportadores de madeira são cúmplices no processo de extração ilegal de madeira e de lavagem de licenças; as empresas de construção se importam principalmente com o preço e o fornecimento estável de madeira e lutam ativamente para bloquear a Lista Suja

Multinacionais (importadores e varejistas de madeira)

Baixa Não se importam muito sobre a origem da madeira desde que aparentem ter legitimidade (por exemplo, lavagem de licenças ou certificação da FSC)

Financiadores

Financiadores com foco em direitos humanos

Alta Impedir violações do trabalho e dos direitos humanos é fundamental para a sua missão, embora existam poucos destes financiadores

Financiadores ambientais Baixa Cuidam principalmente das alterações climáticas e o desmatamento e vêm o trabalho escravo como pouco relevante à sua missão

Financiadores internos brasileiros

Evitam apoiar causas controversas ou financiar áreas que não geram benefícios fiscais

Consumidores

Consumidores brasileiros Baixa Importam-se mais com o preço e a disponibilidade de madeira do que com suas origens

Consumidores internacionais (por exemplo, EUA, Europa)

Baixa Muitas vezes ignoram o fato de que a madeira importada do Brasil é manchada pelo trabalho escravo, embora exista potencial com o aumento da sensibilização

Olhando para o cenário acima, pode-se chegar à conclusão de que uma iniciativa de IC tem pouca esperança devido ao sentido de urgência misto ou baixo. No entanto, um sentido de urgência misto não impede necessariamente o êxito da formação de uma iniciativa de IC. Ao invés disso, isso significa que uma das primeiras tarefas dos fundadores de qualquer iniciativa de IC, antes e no momento de seu lançamento, será para reforçar este sentido de urgência. Através de sensibilização bem orientada, muito do sentido de urgência dos agentes pode aumentar. Algumas ideias de elementos que valem ser destacados para os participantes incluem:

O potencial de estimular recursos adicionais: a estratégia de "centro operacional” tem potencial para atrair mais financiamento e atenção (trazendo o ponto de vista dos direitos humanos ao seu trabalho) e acelerar o progresso em direção às suas metas (unindo forças com o movimento antiescravagista)

A capacidade de solucionar potenciais riscos sobre as receitas: ao trabalhar para identificar ocorrências de trabalho escravo em suas cadeias de suprimentos, as multinacionais podem solucionar proativamente os riscos sobre as receitas — decorrentes da pressão dos consumidores — da falta de ação continuada

A capacidade de maximizar o impacto dos recursos: a estratégia do “centro operacional” oferece aos financiadores a oportunidade de reforçar o impacto de suas doações trabalhando

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no sentido de abordar as questões estreitamente interligadas de trabalho escravo, degradação ambiental e direitos da terra e suas implicações para as comunidades vulneráveis

Aumentar a sensibilização para estas questões: através do uso efetivo de campanhas nos meios de comunicação, uma iniciativa de IC deve conquistar os corações e as mentes dos consumidores demonstrando de modo eficaz o quanto da madeira que eles adquirem atualmente está manchada pelo trabalho escravo e também ajudará a personalizar o problema através de histórias individuais das vítimas

Recursos disponíveis

Enquanto uma das principais tarefas de uma iniciativa de IC será continuamente apresentar o caso para doadores, governos e empresas para a continuação do financiamento, há necessidade de existir um certo nível de base do compromisso de financiadores (ou seja, recursos suficientes para apoiar aproximadamente 2 anos de colaboração) a fim de fazer com que a iniciativa de IC decole. Além disso, os financiadores iniciais precisam ter um certo grau de paciência, devido ao longo tempo para o impacto inerente nas iniciativas de IC.

O cenário de financiamento para as iniciativas antiescravagistas é desafiador, por várias razões. O rápido desenvolvimento econômico no Brasil no início deste século desencadeou um êxodo em grande escala dos fundos bilaterais já que organizações internacionais começaram a rotular o país como de "médio rendimento". Com a recente agitação política e a mudança de governo, houve uma redução sistemática do financiamento público para programas sociais, que incluem aqueles direcionados para reduzir a vulnerabilidade das comunidades pobres e para o policiamento de abusos no trabalho. Existem poucos incentivos para doações privadas — isto é, dados por indivíduos, fundações corporativas, ou fundações familiares — porque as deduções fiscais só são permitidas para doações a uma faixa estreita de tópicos relativamente não controversos (por exemplo, educação, esportes e cultura). Além disso, a crise financeira desencadeou o aperto do cinto em todos os sentidos, a partir de empresas brasileiras que podiam ter canalizado alguns dos seus lucros a causas sociais para os consumidores brasileiros que poderiam ter pago um prêmio para os produtos que são produzidos de forma responsável. As próprias Ongs estão relutantes em investir na infraestrutura de colaboração a longo prazo devido às reduções no financiamento que ameaçam a sua programação principal.

Se existe um ponto brilhante neste cenário aparentemente desoladora, é o apoio e a continuação da presença dos doadores internacionais em questões ambientais na Amazônia Brasileira. As entrevistas indicaram que não apenas o financiamento para as questões ambientais no Brasil se provou resiliente em face da saída dos doadores em outras áreas, mas que o financiamento aumentou em algumas áreas, especialmente em torno de mitigação das alterações climáticas e de adaptação. No caso de uma estratégia de "centro operacional" poder ser feita em um ambiente de doadores internacionais, estes podem servir como fonte de financiamento promissora para uma nova iniciativa de IC. Um possível local para desenvolver este caso seria uma reunião de financiadores (a ser realizado no Brasil e/ou Estados Unidos). Em qualquer uma dessas reuniões, os proponentes de uma iniciativa de IC terão de demonstrar

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claramente a vantagem da abordagem de IC e a necessidade de uma aliança com as iniciativas antiescravagistas em relação aos programas ambientais existentes focados como um meio para maximizar o impacto.

Avaliação global da prontidão

Não é possível dar um "sim” ou um "não" definitivo para saber se a indústria de exploração de madeira ilegal/madeira preciosa no estado do Pará está pronta para o IC. Isso representaria uma falsa sensação de precisão, já que não existe nenhuma maneira de localizar objetivamente a posição dos agentes ou das regiões geográficas individuais no espectro da prontidão ou para atribuir pesos para cada condição prévia.

Ao mesmo tempo, é possível criar uma visão de alto nível da prontidão do problema para o IC. A Figura 6 mostra uma avaliação de onde a indústria de exploração de madeira ilegal/madeira preciosa no Pará se encontra para cada critério de prontidão.

Figura 6 — Condições prévias e classificações de prontidão do IC

De que maneira uma iniciativa de IC pode ser estruturada e como funciona?

Mapeamento do agente

Um mapa do agente é uma representação visual das principais organizações e/ou indivíduos que compõem um sistema e seus subsistemas. O mapeamento do agente está relacionado à tradicional análise do participante (“um processo para coletar e analisar sistematicamente as informações qualitativas para determinar quais interesses devem ser levados em consideração ao desenvolver e/ou implementar uma política ou programa")26, mas fundamentalmente distinta dela. A análise dos

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participantes visa avaliar a capacidade de indivíduos ou grupos em influenciar projetos, políticas ou resultados específicos. O objetivo dessas análises é tipicamente produzir uma lista priorizada dos principais indivíduos-chave ou grupos-alvo como parte de um plano de ação. Por outro lado, o mapeamento do agente explora as relações e ligações entre agentes, bem como suas relações com um determinado tema, projeto ou resultado pretendido. A finalidade do mapeamento do agente é identificar oportunidades para melhorar o desempenho geral, por exemplo, reforçar as ligações frágeis ou de preenchimento de lacunas no sistema de agentes que procuram atacar um determinado problema, projeto ou resultado pretendido, incluindo aqueles que são diretamente afetados pelo sistema bem como aqueles cujas ações influenciam o sistema.

Figura 7 — Mapa inicial do agente com organizações e setores-chave que afetam o trabalho escravo no Brasil

O atual mapa do agente (Figura 7) fornece uma representação visual dos diferentes tipos de organização e destaca as principais organizações que enfrentam o sistema de trabalho escravo. Sempre que possível, o mapa do agente é específico para a exploração de madeira ilegal/madeiras preciosas (por exemplo, multinacionais que adquirem madeira). É importante observar que o mapa do agente será refinado ao longo do tempo, conforme as organizações começam a se relacionar umas com as outras e conforme novas relações (positivas e negativas) se desenvolvem. A iteração atual fornecida acima destina- se a

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servir como uma representação da fase precoce dos tipos de organização e de organizações individuais que estão empenhadas no problema do trabalho escravo. O mapa do agente também se presta a diferentes tipos de análises, incluindo visualizar as relações (positivas e negativas) entre os agentes, destacando as lacunas existentes no sistema de trabalho escravo e retratando a proximidade de uma organização com a população mais afetada pelo trabalho escravo — o escravo em potencial.

O atual mapa do agente, quando utilizado como uma ferramenta para investigação e análise, revelou as seguintes percepções:

1) Embora exemplos de parcerias de curto prazo existam entre as organizações, incluindo aquelas que são transetoriais, muito poucas são de longo prazo e multissetoriais. Não há exemplos colaborativos identificados através da investigação que liga mais de três tipos de organização.

2) Embora as organizações antiescravagistas e ambientais, especialmente aquelas com uma presença regional ou nacional, sejam bem conhecidas, há uma lacuna evidente quando se trata de conhecimento das organizações de base comunitária e agentes locais; isso é particularmente verdadeiro para as organizações que operam em nível local (ou apenas em determinadas comunidades). Atualmente, o conhecimento desses tipos de organização vem de uma camada acima — ou seja, do combate ao trabalho escravo regional ou nacional ou de organizações ambientais que se engajam em nível local. Organizações como a CPT, IEB e ISA interagem com as organizações de base comunitária em projetos específicos, mas o nível de comprometimento varia. Os pesquisadores acadêmicos como Mauricio Torres poderiam servir como uma ligação importante entre as organizações de base comunitária e os líderes. Outras organizações que regularmente colaboram com as comunidades locais, como a Fundação Ford que tem um portfólio robusto na Amazônia Brasileira e a FASE que se concentra em grupos indígenas, poderiam proporcionar vantagens para a iniciativa de IC na construção de uma forte rede de organizações de base comunitária e líderes.

3) A maioria das organizações que enfrenta o trabalho escravo não está interligada com populações vulneráveis todos os dias. Muitas organizações antiescravagistas, por exemplo, produzem relatórios e promovem campanhas de defesa que abordam questões de trabalho escravo, mas dependem de participantes mais próximos ao campo (por exemplo, CPT, IEB ESTA, Mauricio Torres) para obter informações atualizadas e o feedback da comunidade. Esta ligação entre muitas das principais organizações interessadas e as comunidades tem de ser mais desenvolvida.

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Estrutura organizacional

A fim de efetivamente e estrategicamente organizar e conduzir colaboração entre uma gama de agentes, setores e sistemas, as iniciativas de IC utilizam estruturas organizacionais e responsabilidades bem definidas.

Componentes da estrutura organizacional

Cada componente do projeto de estrutura organizacional na Figura 8 abaixo carrega certas propriedades de atividades e de poderes de decisão.

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Figura 8 — Projeto de estrutura organizacional para uma iniciativa de IC focada em exploração de madeira ilegal/madeiras preciosas

Comissão de coordenação: a comissão de coordenação é composta por um grupo de parceiros transetoriais representantes do ecossistema relevante que fornece orientação estratégica (e tem autoridade para tomada de decisão) para a iniciativa de impacto coletivo e defende o seu trabalho dentro do ecossistema mais amplo.

As grandes responsabilidades da comissão de coordenação são:

Orientação, Visão e Supervisão Desenvolver a agenda comum para a mudança (declaração do problema, objetivo(s) e princípios

de orientação) Usar dados para informar a estratégia de desenvolvimento e de aprendizagem Acompanhar o progresso do trabalho usando indicadores acordados nos níveis da iniciativa e do

grupo de trabalho Fazer conexões entre os grupos de trabalho para assegurar coordenação e eficiência Interagir com a entidade de apoio basilar sobre a estratégia, o compromisso da comunidade e a

avaliação compartilhada

Liderança Defensor da iniciativa de impacto coletivo na comunidade mais ampla/ecossistema alvo

Processo Participar em pessoa (ou através das telecomunicações se a participação em pessoa não for

viável) em reuniões agendadas regularmente (a cada 6 semanas) Revisar o material antes das reuniões e vir preparado para se engajar em discussão, escuta ativa

e diálogo respeitoso34

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Embora as primeiras fases de um processo de IC seria trabalhar para desenvolver uma comissão de coordenação efetiva (que poderia incluir o balanceamento da representação da comissão de coordenação entre os setores, grupos demográficos e áreas de problema), a investigação e análise inicial da FSG identificou algumas organizações e indivíduos que poderiam ser potenciais membros da comissão de coordenação. Extraindo da análise acima, os indivíduos e/ou organizações incluem: Xavier Plassat (CPT), Mauricio Torres (professor UFOPA), Imazon, Carlos Barros (Repórter Brasil), Luiz Machado (OIT), Rogenir Costa (CRS), IPAM, ISA, PMV, Greenpeace, Nature Conservancy, Mércia Silva (Instituto InPACTO), Christiane Nogueria (MPT), e André Roston (MTE). Embora o FF tenha ligações com cada uma das organizações citadas, não há uma clareza em termos de quem iria representar uma respectiva organização em uma iniciativa de IC.

Freedom Fund: como um especialista no assunto ou como uma entidade financiadora, o Freedom Fund pode desempenhar um papel único no fornecimento de orientação, tanto para a comissão de coordenação como para o Comitê Consultivo Financiador (FAC). Dependendo de como uma iniciativa de IC se desenvolve, o Freedom Fund pode desempenhar um papel ativo na comissão de coordenação ou como apoio basilar da organização, como ilustrado na Figura 8. Em ambos os casos, o Freedom Fund investiria na contratação de trabalhadores locais, embora suas competências necessárias possam divergir. O Freedom Fund também pode desempenhar um papel ativo na coordenação e ligação com a FAC, descrito abaixo, embora isso possa ser potencialmente obtido sem investir na presença local. Como qualquer investimento futuro estará intrinsicamente conectado com a atuação do Freedom Fund, a colocação do Fundo no organograma requer análise adicional e envolvimento dos participantes.

Comissão Consultiva de Financiamento (Funder Advisory Committee — FAC): esta comissão ajuda a lidar com a necessidade de financiamento através da criação de uma rede consultiva de financiadores interessados em ajudar e apoiar a iniciativa, oferecendo várias formas de compromisso em potencial ao longo do tempo, como destacado abaixo:

A oportunidade de servir no Comitê Consultivo Financiador, compartilhando conhecimentos com base nas experiências prévias de financiamento relacionadas aos desafios do trabalho escravo, à degradação ambiental e aos direitos da terra, com outras entidades financiadoras

O potencial para coordenar o investimento com outros financiadores nas prioridades da agenda comum identificadas pela comissão de coordenação

A capacidade de coinvestir com outros financiadores para sustentar a infraestrutura do impacto coletivo necessária para apoiar a iniciativa, por exemplo através do financiamento de agentes (por exemplo, o Freedom Fund) para fornecer apoio basilar e/ou gerenciar a criação e/ou a coordenação de um sistema de medição e dados compartilhados

A opção de participar de um fundo coletivo, no qual os financiadores doam algum capital para apoiar atividades de impacto coletivo priorizados pela comissão de coordenação e/ou grupos de trabalho de IC, com financiamento alocado com base em um consenso no processo de tomada de decisão

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A comissão se reunirá uma vez a cada três meses para discutir o trabalho mais recente da iniciativa de IC e estratégias de financiamento e atividades futuras. Uma investigação inicial já identificou potenciais financiadores que têm ligações com a estratégia do centro operacional, com os que têm experiência em navegar no clima brasileiro de financiamento e/ou especialistas em trabalho escravo que poderiam integrar a FAC. Eles são:

IDIS: um especialista no cenário do financiamento brasileiro e latino-americano que tem um forte portfólio de financiadores como clientes

Instituto C&A: um financiador da iniciativa antiescravagista na indústria têxtil que pode oferecer aconselhamento para uma iniciativa focada em madeiras preciosas e potencialmente fornecer financiamento para atividades sistêmicas.

Fundação Ford: um financiador de organizações de base comunitária, particularmente em questões de direitos indígenas e da terra, que poderia se envolver como um conselheiro ou como participante em um fundo coletivo se existir uma clara ligação entre as iniciativas de combate ao trabalho escravo e seu portfólio de direitos comunitários

Skoll: um financiador de organizações empresariais conduzindo mudança social em grande escala, incluindo Imazon e Skoll tem alguns conhecimentos especializados sobre questões de colaboração e o contexto brasileiro; embora ele possa não investir em um fundo coletivo, ele pode continuar a ser um investidor em organizações que estão envolvidas em uma iniciativa de IC

Avina: um financiador latino-americano que tem profundo conhecimento do Brasil e interesse no financiamento de abordagens de colaboração para resolver problemas ambientais e sociais

Humanity United

Embora a tomada de decisões relacionada ao IC (e a autoridade final) permaneça com a comissão de coordenação, a FAC pode fornecer uma grande variedade de suporte para uma iniciativa de IC. O Freedom Fund pode desempenhar um papel ativo na coordenação da iniciativa da FAC

Grupos de trabalho: os grupos de trabalho para essa iniciativa provavelmente se enquadram em duas categorias, específicas para a indústria e sistêmico, embora eles sejam agrupados na Figura 8 por razões de simplicidade. Cada um desses tipos de grupos de trabalho é descrito em mais detalhes abaixo. Os grupos de trabalho são geralmente liderados pelo presidente ou o vice-presidente de uma organização pertinente que também pertence à comissão de coordenação. O grupo de trabalho dos presidentes/vice-presidentes também trabalharia em estreita colaboração com a organização de apoio basilar para compartilhar seus conhecimentos sobre as intervenções necessárias e informar o progresso da iniciativa.

Grupos de trabalho específicos da indústria: Estes grupos de trabalho incidirão sobre as categorias de intervenção que têm ligação direta com exploração de madeira ilegal e madeiras preciosas. Os grupos de trabalho irão se reunir no mesmo ritmo que a comissão de coordenação, mas isso pode mudar dependendo das atividades em particular que acontecerão em cada respectivo grupo. A composição dos

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grupos de trabalho também pode mudar ao longo do tempo em função do tipo de atividade que está sendo desenvolvida. Ao contrário da comissão de coordenação ou a FAC, os grupos de trabalho específicos por setor são flexíveis — à medida que as questões mudam, também podem mudar o tópico ou assunto de interesse para o grupo de trabalho. Talvez o mais importante é que estes grupos de trabalho serão decididos pela própria iniciativa de IC. Os participantes e as organizações podem utilizar este relatório — especialmente as categorias de intervenção descritas mais adiante no relatório — como um ponto de partida para a discussão, mas o desenvolvimento real dos grupos de trabalho e suas categorias não têm por objetivo ser um processo “de cima para baixo” ou conduzido por alguém de fora do grupo.

Grupos de trabalho sistêmicos: Estes grupos de trabalho se concentrarão sobre as categorias de intervenção que podem beneficiar o sistema de combate ao trabalho escravo em geral. Atualmente, estamos vislumbrando grupos de trabalho que se concentram em três áreas: compartilhamento de conhecimento, política/defesa e dados. Para ilustrar este ponto, aqui estão alguns exemplos dos tipos de atividades além da indústria que estes grupos podem se envolver:

Dados: este grupo estaria focado na conferência, análise e difusão de uma gama de dados relevantes relacionados a esta iniciativa e, ao longo do tempo, seria o responsável por manter um sistema de avaliação compartilhada e fomentar a aprendizagem e reflexão compartilhadas entre os membros da coligação. Esse também deve ser um dos primeiros grupos de trabalho lançados, a fim de aumentar a quantidade e a qualidade dos dados disponíveis e informar efetivamente o processo de desenvolvimento da agenda comum.

Compartilhar conhecimentos: um grupo de organizações que não está diretamente envolvido em exploração de madeira ilegal/madeiras preciosas mas tem experiência em diminuir o trabalho escravo em outras indústrias pode oferecer aconselhamento estratégico, recursos e conhecimentos técnicos para esta iniciativa de IC; por exemplo, a rede Walmart, que tem feito um trabalho extenso sobre a limpeza de sua cadeia de suprimentos na origem da carne bovina, pode compartilhar seu aprendizado com a iniciativa de IC mais ampla

Política/Defesa: uma variedade de opções de política e de defesa, como defesa política, educação dos consumidores e campanhas nos meios de comunicação, pode afetar inúmeras indústrias associadas com o trabalho escravo—não apenas corte de madeiras preciosas e desmatamento ilegal. Devido a muitos mecanismos de combate ao trabalho escravo instituídos pelo governo estarem agora sob a ameaça de ser enfraquecidos (por exemplo, a Lista Suja, as quatro vertentes de definição do trabalho escravo), é importante que a iniciativa de IC na exploração de madeira ilegal/madeiras preciosas trabalhe integrada com as iniciativas existentes (a fim de evitar duplicações de iniciativas) e esteja conectada à questão da causa mais ampla de melhoria da infraestrutura de combate ao trabalho escravo.

Tal como os grupos de trabalho específicos de cada setor, os grupos de trabalho sistêmico irão se reunir na mesma frequência que a comissão de coordenação, mas isso pode mudar ao longo do tempo; a composição de cada grupo poderá também mudar à medida que as atividades mudam.

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Apoio basilar: uma entidade de apoio basilar desempenha um certo número de funções em uma iniciativa de impacto coletivo, incluindo orientar sobre a visão e estratégia, auxiliar nas reuniões da comissão de coordenação e outros grupos de trabalho, estabelecer práticas de avaliação compartilhada, cultivar o envolvimento e a apropriação da comunidade, promover a política e mobilizar financiamento. No caso de exploração de madeira ilegal/madeiras preciosas, o apoio basilar precisará priorizar algumas de suas principais funções, especialmente à medida que a iniciativa avança:

O apoio basilar funciona como o suporte por trás da iniciativa, garantindo que as atividades sejam concluídas a tempo, que todos os membros da comissão de coordenação sejam bem assessorados e que todos se sintam como se a iniciativa estivesse avançando a um bom ritmo

O apoio basilar desempenha um papel de "liderança servidora", garantindo que a iniciativa seja bem-sucedida, mas não recebendo crédito para qualquer dos trabalhos; esse crédito é dividido entre as diferentes organizações participantes

o Esta função inclui regularmente se comunicar com todos os membros da iniciativa de IC sobre os progressos realizados até o momento, em que situação se encontra o processo e quais são os próximos passos

O apoio basilar gerencia o desenvolvimento da agenda comum, incluindo a gestão da criação de conteúdo para reuniões, conduzindo os agentes específicos para a mesa e, envolvendo uma variedade mais ampla de não membros da iniciativa de IC

Um apoio basilar pode vir de qualquer setor ou tipo de organização. Embora existam alguns apoios basilares naturais que vêm à mente para esta iniciativa de IC (por exemplo, CPT), uma extensa análise deve ser feita para compreender a vontade e a capacidade de uma organização em assumir um papel de apoio basilar. Um apoio basilar deve ser visto como um agente confiável e digno, e deve ter alguma experiência no envolvimento transetorial e em auxílio, que muitas vezes se revela ser mais importante que qualquer conhecimento específico no assunto.

Local: A iniciativa de IC, embora centrada numa determinada parte do Pará, não tem necessariamente de chamá-la de sede. Dadas as dificuldades logísticas em se reunir em áreas relativamente remotas e rurais na Amazônia e a potencial constituição da iniciativa de IC, existem algumas opções:

1) Reunião em uma área real de intervenção: embora isso seja benéfico para as organizações de linhas de frente, seria difícil para outras organizações viajar regularmente devido a questões de custo e tempo.

2) Reunião em uma parte mais acessível do Pará: uma cidade central (com um aeroporto acessível) como Belém oferece facilidade para o deslocamento de organizações regionais ou nacionais. No entanto, as organizações de linha de frente veriam um aumento em seus custos em relação à opção 1.

3) Reunião em Brasília: quase todos os principais participantes em nível nacional estão presentes em Brasília. No entanto, esta opção aumentaria de forma significativa os custos das organizações e também aumentaria os custos para os participantes que não estão em Brasília (por exemplo, IDIS).

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Diante do fato de que a constituição da iniciativa de IC está ainda a ser determinada, a localização da iniciativa deve ser reconsiderada quando há maior visibilidade sobre a adesão. Esta iniciativa de IC, devido a sua composição única (uma mistura de agentes locais, nacionais e internacionais), deverá ser flexível na escolha da localização. Também podem ser exploradas as opções de reuniões virtuais ou reuniões em pessoa mais longas e menos frequentes.

Quais são algumas intervenções possíveis que a iniciativa de IC pode realizar?

Como mencionado anteriormente, um princípio fundamental do modelo e filosofia de IC é que a agenda comum e o conjunto de estratégias e atividades devem ser definidos pelos membros da iniciativa de IC, de modo que não seja “de cima para baixo” por entidades financiadoras ou outros agentes externos. Isso pode frustrar para os financiadores acostumados a abordagens mais tradicionais e lineares, em que a teoria de mudança, a estratégia e as intervenções de uma iniciativa são planejadas desde o início. No entanto, este princípio de uma estratégia gerada localmente e emergente é crucial para garantir que a comissão de coordenação do IC e outros participantes locais estejam habilitados para criar mudanças, e que a escolha de intervenções estratégicas para enfrentar uma questão específica e complexa seja baseada em uma compreensão precisa do contexto local sendo, ao mesmo tempo, também adaptável a mudanças de campo.

Diante disso, pode ainda ser útil desenvolver as linhas gerais de uma estratégia de intervenção e de possíveis atividades a fim de atrair financiamento, conquistar os participantes mais céticos e definir um conjunto inicial de intervenção de grupos de trabalho específicos. Esta seção irá apresentar algumas das categorias de intervenção e de atividades que o IC e os grupos de trabalho da comissão de coordenação podem querer considerar durante a próxima fase ao lançar uma iniciativa de IC.

Pontos de intervenção favoráveis na cadeia de suprimentos na extração ilegal de madeira

Há inúmeros pontos de intervenção que poderiam servir como pontos de partida para uma iniciativa de IC na exploração de madeira ilegal/madeiras preciosas. A fim de compreender as intervenções específicas de cada setor que podem ocorrer, intervenções com alto potencial foram mapeadas em relação à exploração de madeira ilegal/madeiras preciosas na cadeia de suprimentos (Figura 9).

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Figura 9 — Pontos de intervenção em potencial em toda a cadeia de suprimentos de madeiras preciosas

As categorias de intervenção específicas de cada sector são:

1) Atividades da comunidade antes da entrada: as comunidades têm o poder de resistir aos "maus" agentes da indústria. Existem alguns pontos excelentes de comunidades na Amazônia Brasileira se unindo para resistir à entrada de indústrias e empresas que recrutam ativamente e utilizam o trabalho escravo.27 Comunidades que resistiram com êxito aos "maus" agentes foram submetidas a campanhas educativas locais, frequentemente organizadas por líderes sindicais, sacerdotes católicos e professores das escolas locais; estas campanhas se mostraram eficazes em alertar indivíduos sobre as falsas promessas feitas por gatos e outros que recrutam em nome das redes criminosas. Essas comunidades também receberam apoio externo, porém limitado para adquirir tecnologia (por exemplo, aparelhos de navegação, notebooks) que podem ajudar a alertar as autoridades e outros participantes externos se os "maus" agentes começarem a invadir terras da comunidade. As intervenções comunitárias também podem atenuar os fatores de risco micro e macro (por exemplo, falta de oportunidade econômica, pressão familiar para ter rendimento através de qualquer meio) que contribuem para a fase de entrada no trabalho escravo.

2) Onde ocorre a lavagem de licenças: Como mencionado em outra parte deste relatório, o vasto sistema de exploração de madeira ilegal é confirmado por um elaborado sistema de "legalização". Nesta primeira fase, as companhias madeireiras (compradores/exportadores) obtêm permissão para desmatar terra legal de um representante do sistema Sisflora iv . Esta permissão, muitas vezes chamada de "nota", dá a uma empresa o direito de cortar a madeira. No entanto, muitas empresas não extraem na área que a nota é emitida; em vez disso, elas usam a nota "legal” como cobertura para cortar áreas protegidas e, então, rotular a madeira extraída como "legal". A nota oferece cobertura do controle e é o mecanismo pelo qual a madeira ilegal é "convertida" em madeira legal para exportação. Forçar a mudança no sistema de nota pode levar a alterações dramáticas na extração de madeira ilegal já que, sem uma nota legal, muitos compradores internacionais (especialmente aqueles que estão voltados para o

iv Sisflora é um sistema que rastreia a extração de madeira na Amazônia. É muitas vezes chamado de sistema de "cadeia de custódia".

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consumidor final) hesitariam em adquirir madeira da Amazônia. Como foi discutido anteriormente, existem iniciativas de rastreabilidade em curso que podem ser vantajosas para esta iniciativa de IC, bem como tecnologias avançadas, como os testes de DNA da madeira, que podem verificar o local registrado nos papeis "oficiais".28

3) Pressão a jusante: Pelo fato de os compradores/exportadores serem conhecidos (tanto em termos de identidade, como também em termos do local onde operam), existe o potencial em aplicar pressão nas empresas e municípios que estão envolvidos nisso e lucram com a indústria de exploração de madeira ilegal e madeiras preciosas. A pressão pode ser colocada tanto nos governos como nas empresas usando incentivos positivos ou negativos — ou seja, o modelo da "incentivo" (carrot) e "penalização" (stick).

4) Pressão a montante: Empresas multinacionais são particularmente sensíveis a pressões do consumidor e do governo de exportação. Se os desmatamentos ilegais podem ser rastreados da Amazônia até o consumidor final, as multinacionais — e seus principais participantes — irão reagir com uma melhor regulação e aplicação. Em outros casos documentados de mudança na indústria, os consumidores e os governos de exportação têm usado uma combinação de "incentivos" e "penalizações" para catalisar as multinacionais em ação.

Categorias de intervenções e exemplos

Com base na análise da cadeia de suprimentos acima, as Figuras 10 e 11 fornecem alguns exemplos de categorias de intervenção e de atividades que a comissão de coordenação e os grupos de trabalho podem considerar. Nestas Figuras, as intervenções “a montante“ referem-se a atividades que ocorrem antes que os produtos estejam em trânsito para um mercado interno ou de exportação, enquanto que as intervenções “a jusante” são aquelas que ocorrem enquanto os produtos estão em trânsito ou após terem chegado a um mercado nacional ou de exportação. Deve-se também notar que essas intervenções não foram exaustivamente testadas com os participantes locais; elas são baseadas em exemplos do Brasil e de outros locais, bem como em investigação secundária e em sugestões dos entrevistados. O Freedom Fund pode desejar reiterar e testar essas abordagens em potencial com os participantes locais, possivelmente antes do processo de desenvolvimento da agenda comum.

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Figura 10 — Categorias de intervenção de IC com atividades ilustrativas

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Figura 11 — Categorias de intervenção e atividades de IC

Categoria Subcategoria Atividades Exemplos

1. Resistência da comunidade

Treinamentos da comunidade

Treinamento de professores – formar professores do ensino fundamental e médio em comunidades vulneráveis para incorporar a sensibilização sobre a escravidão e defesa dos direitos humanos nos seus currículos

O programa “Escravo, Nem Pensar!” do Repórter Brasil trabalhou com secretarias municipais de educação no Pará e Maranhão para treinar aproximadamente 60 educadores, que por sua vez treinaram os professores sobre o trabalho escravo e alcançaram aproximadamente 35.000 alunos29

Treinamento de Líder de Comunidade – equipar os líderes locais com ferramentas e conhecimento prático para advogar a favor dos direitos humanos e da terra; ajudar as comunidades a emergir seus valores e experiências de ações coletivas com ênfase em unificação e sobrevivência

IEB executa treinamentos de liderança da comunidade em aldeias em toda a Amazônia (embora as geografias exatas devam ser confirmadas), com foco na capacitação de líderes comunitários para defender os direitos humanos e da terra30

Campanhas de sensibilização

Divulgação de informação local e campanhas nos meios de comunicação – aumentar a consciência e resiliência comunitária sobre o recrutamento para o trabalho escravo através de banners, pôsteres, panfletos, anúncios de rádio, etc

O programa do CDVDH/CB e a CPT “Abra o olho para não virar escravo!” inclui a divulgação de cartazes e outras campanhas nos meios de comunicação — e a sensibilização através de sindicatos, igrejas e grupos comunitários

Programas de Artes e Cultura – sensibilizar membros da comunidade sobre a escravidão engajando-os em atividades de artes e cultura com temática sobre a escravidão

O CDVDH/CB executa programas de dança, teatro e capoeira com temática sobre a escravidão/resiliência para jovens em comunidades vulneráveis no Maranhão31

Linha direta para denunciar escravidão – criar e divulgar um número de telefone ou website onde as pessoas podem comunicar os casos de trabalho escravo.v

O Ministério do Trabalho tem uma linha direta de escravidão (“Disque 100”) e website destinados a ações de sensibilização32

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Categoria Subcategoria Atividades ExemplosDesenvolvimento de atividades econômicas alternativas

Assistência técnica ao pequeno agricultor – prestar assistência técnica às populações mais vulneráveis para ajuda-los a desenvolver fontes alternativas de renda através de melhores rendimentos

O IPAM executa programas de assistência técnica para pequenos agricultores e trabalhadores de colheita no Pará, financiado pelas Fundações Ford e Moore33

Assistência jurídica

Assistência jurídica para denunciar o trabalho escravo – ajuda a investigar o sistema jurídico e dar proteção às vítimas de escravidão que desejam relatar abusos no trabalho e organizar resgates oficiais

O CDVDH/CB e a CPT, através do seu programa “Abra o olho para não virar escravo!”, prestam assistência jurídica e acompanhamento aos trabalhadores que desejam relatar casos de trabalho escravo34

Assistência legal para a defesa dos direitos à terra – fornece ajuda para percorrer o sistema jurídico àqueles que desejam recuperar terras que lhes foram tomadas ou que não detêm um título de posse formal; alianças com ONGs de geomapeamento para alertar os grupos comunitários sobe invasões, de modo que eles possam organizar a verificação em campo e desencadear uma ação

O IPAM oferece assistência a populações que estão sem terra ou que estão em perigo de perder sua terra no oeste do Pará 35

Assistência jurídica e treinamentos para a defesa dos direitos dos povos indígenas

A CPT fornece assistência e treinamentos para as populações indígenas e ajuda-los a defender sua terra contra madeireiros ilegais e especuladores de terras36

2. Fiscalização/ Cumprimento da lei

Pressão e suporte para a SEMA que certifica os fiscais de desmatamento

Capital humano e financeiro para fiscalizar os fiscais – ou seja, desenvolver uma equipe independente que verifique periodicamente se os fiscais, tanto aleatoriamente como com base na suspeita de corrupção

Uma medida anticorrupção geral usada em outros contextos

v Note que uma limitação dessa estratégia é que os sites muitas vezes não atingem as populações que são mais suscetíveis de ser vítimas de escravidão, pois muitas vezes não têm acesso à internet; e as linhas diretas têm pouca probabilidade de ser utilizadas sem a presença de uma agência confiável que pode exercer pressão sobre as autoridades para responder.

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Categoria Subcategoria Atividades Exemplos

Aumento de salários para desencorajar a corrupção – tanto para membros do conselho como para os fiscais

Uma medida anticorrupção geral usada em outros contextos (porém, uma análise tem de ser feita para ver se os fiscais são mal pagos)

Banimento perpétuo do fiscal para aqueles que forem pegos ou se beneficiando da corrupção

Uma medida anticorrupção geral usada em outros contextos

Utilização de tecnologias emergentes para testar se a madeira recebida pode ser rastreada até a sua fonte original

O rastreamento de DNA (madeira de rastreamento do seu local de origem) pode ser uma tecnologia viável para ser utilizada em pontos de verificação específicos

As empresas elaboram políticas e instituem sistemas para remover "maus" agentes de suas cadeias de suprimentos — suporte técnico e de recursos que funciona com empresas para elaborar políticas

O Walmart Brasil desenvolveu um guia empresarial e fórmulas para examinar qualquer fornecedor de risco de sua cadeia de provisionamento 37

Assistência técnica à rede de apoio para autoridades de cumprimento da lei

Mapeamento geográfico móvel das organizações de base comunitária para alertar as autoridades

Comunidades de resiliência têm se utilizado de tecnologia com sucesso para rastrear o movimento de empresas que invadem terras ilegalmente38

Ferramentas básicas de comunicação (por exemplo, notebooks) para emitir um alerta às autoridades competentes quando se observa o trabalho escravo

As organizações de linhas de frente têm usado telefones via satélite para permanecer em contato com os líderes comunitários que se organizam e emitem um alerta39

Construir redes rurais de comunidades que se comunicam umas com as outras (e denunciar diretamente às equipes de fiscalização móvel)

Uma estratégia de colaboração aprimorada

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Categoria Subcategoria Atividades Exemplos

3. Pressão a montante

Pressão sobre o governo municipal

Incentivos: incentivos fiscais do estado, prêmios, ou classificações para recompensar os municípios que impedem as empresas da Lista Suja de operarem em seu território

O PMV trabalha com municípios de todo o Pará para que estejam em cumprimento com as diretrizes do desmatamento, de modo que eles possam acessar os incentivos fiscais do Estado e subir na classificação municipal.40

Penalizações: Lista suja para os municípios com consequências fiscais/financiamento, classificação vergonhosa para os municípios que são cúmplices ou permitem que empresas na Lista Suja operem em seu território vi

O Repórter Brasil ajuda a divulgar a Lista Suja do Ministério do Trabalho (e publicou a sua própria "lista de transparência" quando a Lista Suja foi temporariamente suspensa), e divulgar a classificação dos municípios por incidência de escravidão.

Pressão sobre os exportadores de madeira brasileira e as empresas de construção

Incentivos: realça o potencial do aumento de receita se as empresas eliminarem o trabalho escravo de suas cadeias de suprimentos e divulga isso para os meios de comunicação e consumidores

N/D (sem exemplos conhecidos)

Incentivo 1: Lista suja que impede que as empresas listadas tenham acesso a financiamento público, auditorias de tolerância zero, "denunciar e envergonhar”

O Repórter Brasil divulga a Lista Suja do Ministério do Trabalho e contribui para "denunciar e envergonhar" as empresas culpadas na mídia

Incentivo 2: Proibição de exportação de uma determinada espécie rara ou preciosa de madeira (por exemplo, ipê)

O Brasil proibiu praticamente todas as exportações de mogno em 2001 após verificar que a maioria da madeira tinha sido extraída ilegalmente de terra pública e indígena 41

4. Pressão a jusante

Pressão internacional sobre o governo federal para aplicar melhor as políticas antiescravagistas

Monitoramento do produto pelo país importador – os mercados que importam madeira do Brasil podem acompanhar se há trabalho escravo e proibi-la até que o governo brasileiro prove que está livre de escravidão

A União Europeia incorporou o trabalho escravo em seu processo de monitoramento de importação, o que foi efetivo em estimular o governo tailandês a tomar medidas sobre a escravidão em sua indústria de frutos do

vi Note que uma desvantagem de "envergonhar" os municípios que não são compatíveis é que eles podem ser desencorajados de cooperar com as iniciativas antiescravagistas; o reforço positivo aos municípios que encontram e lidam com casos de escravatura pode ser mais eficaz.

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Categoria Subcategoria Atividades Exemplosmar42

Sanções da OIT – a OIT pode impor sanções sobre o governo federal em não impedir abusos no trabalho adequadamente vii

A OIT impôs "sanções morais" sobre o governo Brasileiro em 2014 devido ao número insuficiente de fiscais do trabalho por trabalhador no Brasil.43

Promotoria da Corte Interamericana de Direitos Humanos — CIDH – pode processar governos federais por não proteger adequadamente os direitos humanos

No caso Brasil Verde de 2016, a CIDH realizou uma audiência em Brasília para determinar se o governo brasileiro tinha defendido suficientemente os direitos laborais das vítimas da escravatura na Fazenda Brasil Verde no final da década de 1990.

Pressão sobre as multinacionais (importadores/varejistas de madeira)

Campanhas de sensibilização dos consumidores – sensibilizar os consumidores sobre os produtos manchados pela escravidão

O Greenpeace e o ISA publicaram uma série de relatórios sobre a escravidão e o desmatamento ilegal nas cadeias de suprimentos de madeira e madeiras preciosas no Brasil. Os relatórios do ISA estão em português e destinados ao público brasileiro; os relatórios do Greenpeace estão em inglês e são destinadas a um público internacional.

Jornalismo Investigativo e revelações na mídia – jornalismo investigativo colaborativo destinado a expor as empresas cujas cadeias de suprimentos são manchadas com trabalho escravo

O Repórter Brasil tem uma equipe de jornalistas investigativos que expõe as violações de trabalho e publica artigos sobre isso; o Guardian publicou uma série de histórias bem oportunas expondo a escravidão na indústria de frutos do mar e denunciou cadeias de supermercados bem conhecidas que vendem estes produtos; o New York Times e o Associated Press pegaram a história logo em seguida para

vii Note que as sanções da OIT não são verdadeiras sanções — eles só são capazes de obrigar o governo a responder a perguntas sobre o seu descumprimento com a Convenção sobre a Abolição do Trabalho Forçado do qual o Brasil é signatário.

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Categoria Subcategoria Atividades Exemplostrazê-la para o público dos Estados Unidos..44

Boicotes – organizar boicotes de empresas cujas cadeias de suprimentos estão manchadas com trabalho escravo ou o desmatamento ilegal

n/d

5. Dados

Desenvolver uma base de dados centralizada que armazena, atualiza e fornece informações para os principais participantes

Chegar a um consenso sobre a metodologia de dados e KPIs – agentes transetoriais devem concordar sobre quais dados coletar e atenuar a variação atual nos métodos de coleta de dados existentes

Os resultados de avaliação compartilhada na indústria têxtil pelas corporações que investiram levaram a alvos litigáveis45

Atenuar o atraso na transmissão de dados em tempo real simplificando o pedido de informação do MTE

Mencionado por participantes envolvidos em missões de resgate46

Trabalhar com o MTE, titular primário de dados oficiais para melhorar os métodos de coleta de dados e o banco de dados do governo

A Oit previamente elaborou um banco de dados para o MTE em 2006, mas ele precisa de ser melhorado e atualizado47

Assinar MOUs (Memorandos de entendimento) para reduzir a carga atualmente envolvida no acesso a dados de organizações "parceiras"

De modo geral, a melhor prática para o compartilhamento de dados entre os tipos de organização

Desenvolver a agenda de investigação

Contratar um analista para os dados de trabalho escravo

O banco de dados central financiado pela OIT e hospedado pelo MTE foi enfraquecido pela falta de técnicos especialistas para gerir e atualizar o sistema48

para melhorar a compreensão da rastreabilidade nas indústrias selecionadas

Braço proativo de investigação do fundo

Mencionado pelos participantes como a "peça" que faltava na construção dos fatos sobre o trabalho escravo, o que significa que o caso pode ser completado para a mídia, consumidores, empresas multinacionais e agentes do governo 49

6. Política/defesa

Governo de pressão através de uma série de questões de política

Suporte continuado para a Lista Suja, atual definição de escravidão

A defesa de longo-prazo pelo Repórter Brasil, MTE e MPT trouxe de volta a Lista Suja, após a sua remoção temporária pelo Supremo

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Categoria Subcategoria Atividades ExemplosTribunal Federal

Defender um conjunto mais amplo de ferramentas para o Ministério Público incluindo a capacidade de autuar criminalmente com mais facilidade

Solicitado pelo MPT porque as ferramentas cíveis não têm alcance suficiente50

Manter liderança responsável (não apenas empresas)

Solicitado pelo MPT porque raramente há responsabilidade no topo da cadeia51

Aumentar a sensibilização nos consumidores

Visível, conduzido por uma celebridade, campanha publicitária multiplataforma

Campanha de mídia social com uma celebridade com o objetivo de sensibilizar para as questões do trabalho escravo52

Construir alianças com o consumidor (e, por conseguinte, com o cidadão)

Trazer o trabalho escravo para a questão política e eleitoral, a replicando um movimento similar para colocar o desmatamento como um problema dos consumidores e cidadãos pelo Greenpeace53

Desenvolver certificações de orientação ao consumidor de empresas "limpas”

Melhores práticas de indústrias ou movimentos que têm visto a mudança como resultado da pressão dos consumidores (por exemplo, Certificação de Comércio Justo)

Os exemplos acima mencionados significam meramente um ponto de partida para estimular o pensamento da comissão de coordenação e dos grupos de trabalho da iniciativa de IC. As intervenções sugeridas acima podem ajudar a ilustrar para outros financiadores em potencial a variedade de ações que se reforçam mutuamente e que uma iniciativa de IC pode adotar para simultaneamente acelerar o progresso na luta contra o trabalho escravo e a exploração de madeira ilegal. Muitas destas intervenções também podem ser discutidas e priorizadas pela iniciativa de IC à medida que os setores específicos e os grupos de trabalho específicos de cada setor são desenvolvidos e começam a identificar as atividades específicas para ser implementadas no local.

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ConclusãoO potencial para uma abordagem de IC para acelerar o progresso sobre a escravidão e o desmatamento é impressionante e emocionante. Tem havido progressos significativos na redução do potencial escopo dessa iniciativa; a abordagem do centro operacional também foi mais refinada a partir da visita do FF em 2014 e da análise do comitê em 2015.

Este relatório indica que:

O escopo ideal para uma iniciativa de IC é o foco em corte ilegal de madeira/madeiras preciosas no estado do Pará, com um foco geográfico específico no município de São Félix do Xingu ou no corredor da BR-163.

A prontidão para o IC é forte em termos de defensores locais e histórico de colaboração. Existem algumas lacunas no sentido de urgência e de recursos disponíveis, mas esses problemas podem ser superados com a ajuda de campanhas de sensibilização e de financiamento.

Uma iniciativa de IC será regida por uma comissão de coordenação transetorial com organizações de participantes operando principalmente em níveis local e nacional. Os grupos de trabalho sistêmicos estariam centrados sobre três tópicos (compartilhamento de conhecimento, política e defesa e dados) com inúmeros grupos de trabalho específicos de cada setor (potencialmente focados sobre as categorias de intervenção mencionadas anteriormente). A iniciativa global seria idealmente suportada por uma organização de apoio basilar e um comitê consultivo financiador.

Embora a determinação da estratégia global da iniciativa dependa da comissão de coordenação, existe a sugestão de uma teoria de mudança ampla e uma gama de ideias iniciais que a comissão de coordenação pode considerar dentro das atividades em potencial e dos pontos de comprovação que as acompanham esquematizadas em seis categorias diferentes de intervenção. Existem também inúmeros exemplos brasileiros e mundiais desses tipos de intervenções atualmente em curso.

Próximos passos para o Freedom Fund na aplicação de uma abordagem de IC

Curto prazo

Trabalho para responder perguntas pendentes para informar a estratégia global da FF, incluindo:

o Devida diligência nos dados de incidência em trabalho escravo FY15 e FY16 pelos municípios no Pará

o Pesquisa sobre o histórico de colaboração entre organizações ambientaiso Esclarecer o número de agentes em cada nível da cadeia de suprimentos de madeiras

preciosaso Identificar a gama de organizações de base comunitária trabalhando em áreas

geográficas alvo

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Voltar a se envolver com as principais organizações de participantes para testar e refinar o foco estratégico global e para fazer uma seleção inicial de uma geografia-alvo entre as opções selecionadas. Desenvolver uma solicitação de financiamento que estipule claramente o papel que o FF iria desempenhar na iniciativa de um IC

Solicitar informação dos membros do comitê de administração, conselheiros e especialistas do FF sobre o foco estratégico específico e o possível papel que o FF iria desempenhar na iniciativa de um IC no Brasil

Convocar financiadores potencialmente interessados no Brasil (por exemplo em São Paulo ou Brasília) e/ou nos EUA (por exemplo, em São Francisco, Nova York ou Washington) para avaliar o interesse em apoiar o FF e a abordagem de um IC no Brasil

Determinar a combinação exata de populações vulneráveis nas áreas geográficas de interesse e criar um estudo de caso/história individual que ilustre de maneira eficaz esta vulnerabilidade

Longo prazo

Recrutar ativamente defensores locais para se comprometerem com uma iniciativa de IC

Trabalhar com defensores locais para aumentar o sentido de urgência entre ONGs ambientais, financiadores ambientais, empresas do setor privado e consumidores

Finalizar uma lista dos membros da comissão de coordenação e outros componentes da coalizão (por exemplo, membros do comitê consultivo financiador) e assegurar o seu comprometimento

A realização de uma série de reuniões da comissão de coordenação inicial para determinar a agenda comum, estratégia, grupos de trabalho e atividades que se reforçam mutuamente

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Apêndices

Apêndice A: Entrevistas realizadasOrganização Nome do entrevistado Data TipoONGs Nacionais e InternacionaisCatholic Relief Services (CRS) Rogenir Costa 16 de maio, 30 de

junhoSkype

The Nature Conservancy Helcio de Souza 7 de junho Em pessoaRepórter Brasil Carlos Barros, Natalia Suzuki 17 de maio, 10 de

junhoSkype, em pessoa

ONGs e agentes presentes na AmazôniaCDVDH/CB–Açailândia Fabrícia Carvalho 17 de maio SkypeCentro de Defesa Emaús Celina Hamoy 8 de junho Em pessoaComissão Pastoral da Terra (CPT) Xavier Plassat: 20 de maio, 7 de

junho, 11 de julhoSkype, em pessoa

Universidade Federal de Santarém Mauricio Torres 8 de junho Em pessoaIMAZON Andreia Pinto 9 de junho Em pessoaIPAM Carlos Pereira 5 de junho SkypeInstituto Internacional de Educação Brasileira (IEB)

Henyo Barretto, Maria José Gontijo

11 de junho Em pessoa

Instituto Socioambiental (ISA) Juan Doblas 12 de maio, 6 de junho

Skype, em pessoa

Agências governamentaisOrganização Internacional do Trabalho (OIT)

Luis Machado 7 de junho Em pessoa

Ministério Público do Trabalho (MPT) Christiane Nogueira 6 de junho Em pessoaMinistério do Trabalho e Emprego (MTE)

André Roston: 6 de junho Em pessoa

PMV (O Programa Municípios Verdes, Estado do Pará)

Juliana Marruas 9 de junho Em pessoa

Setor privado (empresas, fundações corporativas e associações do setor privado)Coca-Cola Brasil Pedro Massa,

Luis André Soares5 de julho Telefone

Instituto C&A Nina Best, FernandaNogueira, Marques Casara

10 de junho, 30 de junho

Em pessoa, Skype

Instituto InPACTO Mercia Silva 31 de maio, 10 de junho

Em pessoa

FinanciadoresFundação Avina Ofélia Ferreira, Paula Ellinger,

Juliana Strobel6 de junho, 15 de junho

Em pessoa, Skype

Fundação Ford Aurelio Vianna 24 de junho TelefoneFreedom Fund Dan Vexler, Ginny Baumann 12 de julho TelefoneHumanity United Ame Saqiv, Mia Newman 15 de junho TelefoneHumanity United/Vérité Dan Viederman 19 de maio TelefoneInstituto paro o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS)

Andrea, Paula, Raquel 10 de junho, 30 de junho

Em pessoa

Fundação Interamericana David Fleischer 20 de junho TelefoneFundação Skoll Eric Cooperstrom 20 de junho Telefone

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USAID Brasil Christine Pendzich, Alex Alves, Ana Paula Mendes

21 de junho Telefone

OutrosAdvogado particular Leonardo Barbosa 11 de julho Skype

Apêndice B: Glossário de termos e acrônimos

Acrônimo Nome (Português)

Nome(Inglês) Descrição

BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento

Banco Nacional do Desenvolvimento

Banco de desenvolvimento oficial do Brasil, é fonte de empréstimos subsidiados para a maioria dos investimentos das empresas brasileiras, incluindo o agronegócio

BR-163 n/d n/d Uma rodovia federal que se estende em 3.467 quilômetros de São Miguel do Oeste em Santa Catarina a Santarém no Pará

CBO n/d Organização de base comunitária

Uma entidade pública ou privada sem fins lucrativos (incluindo uma igreja ou entidade religiosa) trabalhando localmente que é representante de uma comunidade ou de um segmento importante de uma comunidade

CDVDH/CB

Centro para a Defesa da Vida e dos Direitos Humanos/Carmen Bascarán

Centro para a Defesa da Vida e dos Direitos Humanos/Carmen Bascarán

Uma organização sem fins lucrativos, historicamente financiada por doadores espanhóis, com base em Açailândia, Maranhão, que desenvolve a Campanha De Olho Aberto com a CPT e organiza programas de dança, teatro e capoeira para jovens em comunidades vulneráveis com temática de escravatura/resiliência

IC n/d Impacto coletivo Uma abordagem desenvolvida pelo FSG que consiste no compromisso de um grupo de agentes transetoriais com uma agenda comum para a resolução de um problema social complexo

CONATRAE

Confederação Nacional da Erradicação do Trabalho Escravo

Confederação Nacional da Erradicação do Trabalho Escravo

Uma colaboração transetorial chefiada pela Secretaria de Desenvolvimento Social, com a participação de uma vasta gama de agências governamentais, sindicatos e ONGs, voltada para a erradicação da escravidão no Brasil

CPT Comissão Pastoral da Terra

Comissão Pastoral da Terra

Uma ONG afiliada com a Igreja católica, fundada em 1975 para defender a terra,

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o trabalho, os indígenas e os direitos humanos entre as populações rurais na Amazônia.

CRS n/d Catholic Relief Services

Uma agência humanitária internacional da Igreja Católica, com sede nos Estados Unidos e com um orçamento anual de cerca de US$700 milhões. No Brasil, a CRS financia a CPT, o Repórter Brasil e o IIEB.

FAC Comitê Consultivo Financiador

Uma comissão que faz parte da iniciativa de IC e aborda a necessidade de financiamento através da criação de uma rede consultiva de financiadores interessados

Acrônimo Nome (Português)

Nome(Inglês) Descrição

FASE Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional

Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional

Uma ONG sediada no Rio de Janeiro e fundada em 1961, centrada no trabalho organizado e no desenvolvimento da comunidade local.

FF n/d Freedom Fund Uma iniciativa filantrópica sediada no Reino Unido, concebido para trazer recursos financeiros e estratégicos para a luta contra a escravidão moderna.

FSG n/d n/d (originalmente era a sigla para Foundation Strategy Group)

Uma empresa de consultoria com a missão de orientar os líderes em busca de mudança social duradoura em grande escala. Oferecendo uma combinação de serviços personalizados, ideias e comunidades de aprendizagem, a FSG ajuda fundações, empresas, organizações sem fins lucrativos e governos de todo o mundo a acelerar o progresso.

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Uma agência semiautônoma do governo, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, focada na conservação ambiental e regulamentação dos recursos naturais.

IDIS Instituto paro o Desenvolvimento do Investimento Social

Instituto paro o Desenvolvimento do Investimento Social

Uma empresa de consultoria com sede em São Paulo que ajuda empresas brasileiras, fundações e particulares a estabelecer parcerias e desenvolver programas sociais.

IEB Instituto Instituto Uma organização sem fins lucrativos com

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Internacional de Educação Brasileira

Internacional de Educação Brasileira

sede em Brasília focada na formação de líderes comunitários e organizações de gestão de terras e de recursos naturais e outros temas de sustentabilidade

OIT n/d Organização Internacional do Trabalho

Uma agência das Nações Unidas com sede em Genebra que lida com questões laborais, particularmente as normas internacionais do trabalho e de proteção social e oportunidades de trabalho universais.

IPAM Amazônia

Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia

Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia

Uma ONG científica focada no desenvolvimento sustentável da Amazônia que também gera prosperidade econômica e avanços em justiça social

ISA Instituto Socioambiental

Instituto Socioambiental

Uma ONG fundada em 1994 centrada em oferecer soluções abrangentes para os problemas sociais e ambientais e de defesa dos direitos humanos

Acrônimo Nome (Português)

Nome(Inglês) Descrição

MNC n/d Corporação multinacional

Uma grande empresa pública ou privada que opera em vários países

MPT Ministério Público do Trabalho

Ministério Público do Trabalho

Um corpo de procuradores públicos independentes em nível federal (separado dos três Poderes do governo) encarregado do controle e aplicação da legislação trabalhista.

MTPS Ministério do Trabalho e Previdência Social

Ministério do Trabalho e Previdência Social

Gabinete de Ministério Federal dedicado ao trabalho, emprego e segurança social. Ele abriga as equipes de fiscalização móvel que investigam relatórios de trabalho escravo

ONG n/d Organização não governamental

Organização sem fins lucrativos que é independente dos estados e organizações governamentais internacionais

PMV Programa Municípios Verdes

Programa Municípios Verdes

Programa liderado pelo estado do Pará, em parceria com o IBAMA, Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Ministério Público que está focado em trabalhar com os municípios do estado para combater o desmatamento e promover o desenvolvimento rural sustentável

RAICE Rede de Ação Rede de Ação Uma parceria que teve início em 2014 55

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Integrada de Combate à Escravidão

Integrada de Combate à Escravidão

entre a CPT e o CDVDH/CB em Açailândia objetivando entender e reduzir a vulnerabilidade dos trabalhadores migrantes no recrutamento para o trabalho escravo

SEMA Secretaria de Estado do Meio Ambiente

Secretaria de Estado do Meio Ambiente

Agência estadual vinculada ao Ministério Federal do Meio Ambiente responsável pela definição e execução da política ambiental no estado. A SEMA também é responsável pela certificação dos fiscais ambientais

TNC n/d The Nature Conservancy

ONG ambiental internacional fundada em 1961 e operando em 69 países, com foco na conservação ambiental

UFOPA Universidade Federal do Oeste do Pará

Universidade Federal do Oeste do Pará

Universidade pública, parte do sistema de universidades federais, situada em Santarém, Pará

GT n/d Grupo de trabalho Grupo de participantes que faz parte de uma iniciativa de IC focada em uma determinada área ou intervenção e recebe orientação e responde à comissão de coordenação do IC

Notas finais

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1 Kevin Bales. Blood and Earth: Modern Slavery, Ecocide, and the Secret to Saving the World. 2016.2 Walk Free3 Artigo da Reuters4 Entrevista com Leonardo Barbosa, 11 de julho de 2016.5 Kania, John, Mark Kramer and Patty Russell. “Strategic Philanthropy for a Complex World.” Stanford Social Innovation Review, Summer 2014.6 Soares, Victor. “Brazil Protects the Amazon” World Bank. 9 de outubro de 2013.7 Kevin Bales. Blood and Earth: Modern Slavery, Ecocide, and the Secret to Saving the World. 2016.8 Entrevista com Mauricio Torres, 8 de junho de 2016.9 “The Amazon’s Silent Crisis: Night Terrors.” Greenpeace, October 2014. Disponível aqui.10 Instituto Socioambental, Rotas do Saque: Violações e ameaças à integridade territorial da Terra do Meio (PA), 2015.11 Entrevistas com Juan Doblas, Instituto Socioambiental, 12 de maio e 6 de junho de 2016.12 Comissão Pastoral da Terra, Trabalho Escravo no Brasil: Recuo dos Números, Aumento das Preocupações, maio 2016.13 Entrevista com Xavier Plassat, 20 de maio de 2016.14 Entrevista com Celina Hamoy, Centro de Defesa Emaús, 8 de junho de 2016.15 Entrevista com Carlos Juliano Barros e Natália Suzuki, Repórter Brasil, 10 de junho de 2016.16 Entrevista com Juan Doblas, ISA, 6 de junho de 2016.17 Entrevista com Celina Hamoy, Centro de Defesa Emaús, 8 de junho de 2016.18 “Faculdades em Marabá – PA”, Faculdades Já, disponível em: http://faculdadesja.com.br/faculdades/principais-cidades/maraba-pa , acesso em 7 de julho de 2016.19 Repórter Brasil, Amazônia: Trabalho Escravo + Dinâmicas Correlatas, 2015, p. 5.20 Entrevista com André Roston, Ministério do Trabalho, 6 de junho de 2016.21 Repórter Brasil, Amazônia: Trabalho Escravo + Dinâmicas Correlatas, 2015, p. 5.22 Entrevista com Mauricio Torres, 8 de junho de 2016.23 Entrevista com Aurélio Vianna, Fundação Ford, 24 de junho de 2016.24 Entrevista com Carlos Juliano Barros e Natália Suzuki, Repórter Brasil, 10 de junho de 2016.25 André Borges, “Em emboscada, madeireiros matam policial que atuava com Ibama no Pará,” O Estado de São Paulo, 18 de junho de 2016.26 Stakeholder Analysis Guidelines. (undated) Kammi Schmeer. Disponível aqui.27 Entrevista com Mauricio Torres, 8 de junho de 2016.28 Will Henley, “Tracking timber: could new technology help clean up the supply chain?” The Guardian, 14 de agosto de 2015, disponível em: https://www.theguardian.com/sustainable-business/tracking-timber-new-technology-supply-chain, acesso em 13 de julho de 2016. 29 Entrevista com Carlos Barros e Natália Suzuki, Repórter Brasil, 17 de maio de 2016.30 Entrevista com Rogenir Costa, CRS, 16 de maio de 2016.31 Entrevista com Fabrícia Carvalho, CDVDH/CB, 17 de maio de 2016.32 Ministério do Trabalho, “Trabalho em Situação Análoga à Escravidão,” disponível em: http://mtps.gov.br/trabalhoescravonao/, acesso em 9 de julho de 2016.. 33 Entrevista com Cassio Pereira, IPAM, 27 de maio de 2016.34 Entrevista com Fabrícia Carvalho, CDVDH/CB, 17 de maio de 2016.35 Entrevista com Cassio Pereira, IPAM, 27 de maio de 2016.36 Entrevista com Mauricio Torres, 8 de junho de 2016.37 Entrevista com Mercia Silva, Instituto InPACTO, 10 de junho de2016.38 Entrevista com Mauricio Torres, 8 de junho de 2016.39 Entrevista com Mauricio Torres, 8 de junho de 2016.

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40 Entrevista com Juliana Marruas, PMV, 9 de junho de2016.41 Jonathan Karp e Miriam Jordan, “U.S. Ports Detain Brazilian Mahogany In Response to Brazil's Ban on Exports,” Wall Street Journal, 29 de março de 2002, disponível em: http://www.wsj.com/articles/SB1017355903982827280, acesso em 13 de julho de 2016..42 Entrevista com Ame Sagiv e Mia Newman, Humanity United, 16 de junho de 2016.43 Stefano Wrobleski, “Número de fiscais do trabalho despenca e MPT aciona Justiça Pará garantir contratações,” 27 de junho de 2014, disponível em: http://reporterbrasil.org.br/2014/06/numero-de-fiscais-do-trabalho-despenca-e-mpt-aciona-justica-Pará-garantir-contratacoes/, acesso em 9 julho de 2016. 44 Entrevista com Ame Sagiv e Mia Newman, Humanity United, 16 de junho de 2016.45 Entrevista com Nina Best, Instituto C&A, 10 de junho de 2016.46 Entrevista com Xavier Plassat, CPT, 9 de junho de 2016.47 Entrevista com Luiz Machado, OIT, 7 de junho de2016. 48 Ibid.49 Entrevista com Carlos Barros e Natália Suzuki, Repórter Brasil, 17 de maio de 2016.50 Entrevista com Christiane Nogueira, MPT, 7 de junho de2016.51 Ibid.52 Entrevista com Ofelia Ferreira, Avina, 6 de junho de 2016.53 Ibid.