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Águia - Revista Científica da FENORD - julho/2016 25 A ÉTICA E O DIREITO Andressa Amaral Eller da Silva 1 RESUMO: O presente artigo trata-se de uma reflexão sobre a ética e o direito. Assim, utilizando-se da filosofia, serão resgatados conceitos de ética, a fim de que possam ser relacionados com conceitos de Direito. A partir de então, serão destacados os aspectos gerais, comuns a ambos, e, também as diferenças existentes, buscando, com isso, desvendar a relação entre os mesmos. PALAVRAS CHAVES: Ética. Moral. Direito. Relação de complementariedade. ABSTRACT: This article it is a reflection on the ethics and law. Thus, using the philosophy, ethics concepts will be redeemed in order that they may be related to law concepts. Since then, the general aspects common to both will be highlighted, and also the differences, seeking thereby unravel the relationship therebetween. KEY-WORDS: Ética. Moral. Direito. Relação de complementariedade. 1 INTRODUÇÃO Sabe-se que, por meio da Ética, o homem usa a sua consciência para servir de apoio e direcionar suas ações. E, por meio do Direito, lhe 1 Mestranda em Ciências das Religiões e Especialista em Ciências Jurídicas. Professora de Prática Jurídica Simulada do IESI/FENORD, professora do Núcleo de Prática Jurídica.

RESUMO: PALAVRAS CHAVES: Ética. Moral. Direito. Relação desite.fenord.edu.br/revistaaguia/revista2016/textos/... · 2017. 9. 14. · pelo Direito. Portanto, a Ética é diferente

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Águia - Revista Científica da FENORD - julho/2016 25

A ÉTICA E O DIREITO

Andressa Amaral Eller da Silva1

RESUMO: O presente artigo trata-se de uma reflexão sobre a ética e

o direito. Assim, utilizando-se da filosofia, serão resgatados conceitos

de ética, a fim de que possam ser relacionados com conceitos de

Direito. A partir de então, serão destacados os aspectos gerais, comuns

a ambos, e, também as diferenças existentes, buscando, com isso,

desvendar a relação entre os mesmos.

PALAVRAS CHAVES: Ética. Moral. Direito. Relação de

complementariedade.

ABSTRACT: This article it is a reflection on the ethics and law. Thus,

using the philosophy, ethics concepts will be redeemed in order that

they may be related to law concepts. Since then, the general aspects

common to both will be highlighted, and also the differences, seeking

thereby unravel the relationship therebetween.

KEY-WORDS: Ética. Moral. Direito. Relação de

complementariedade.

1 INTRODUÇÃO

Sabe-se que, por meio da Ética, o homem usa a sua consciência

para servir de apoio e direcionar suas ações. E, por meio do Direito, lhe

1 Mestranda em Ciências das Religiões e Especialista em Ciências Jurídicas.

Professora de Prática Jurídica Simulada do IESI/FENORD, professora do Núcleo de

Prática Jurídica.

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é imposto normas de conduta e comportamento. A razão de nossa

reflexão, fundamentada na Ética e no Direito, faz-se necessária para

salientar a relação de complementariedade entre estes institutos,

ressaltando a importância da observância destes, não apenas no meio

profissional, mas também, pessoal.

Cumpre salientar que, tanto a Moral como o Direito baseiam-se

em regras, que visam estabelecer determinada previsibilidade para as

ações humanas. No entanto, a Moral estabelece regras, que são

assumidas, como uma forma de garantir o bem-viver e que garantem

uma identidade entre as pessoas, que a utilizam como um referencial

comum, independente de fronteiras geográficas.

Já o Direito, busca estabelecer o regramento de uma sociedade,

mas delimitado por fronteiras geográficas. Quanto à Ética, esta é uma

reflexão sobre a ação humana, sendo que, um dos seus objetivos, é a

busca de justificativas para as regras propostas tanto pela Moral, quanto

pelo Direito. Portanto, a Ética é diferente da Moral e do Direito, pelo

fato de não estabelecer regras.

E, tal abordagem torna-se imprescindível, diante do contexto do

mundo em que vivemos, em que há um desvirtuamento da conduta

humana, refletido nas atitudes cotidianas que presenciamos,

assentando-se na constante perda de valores. Diante do exposto, estes

serão os parâmetros, através dos quais desenvolveremos este artigo.

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2 ÉTICA

2.1 CONCEITO

A origem etimológica de Ética é o vocábulo grego "ethos", que

significa morada, lugar onde se habita, modo de ser ou caráter, conduta,

estando mais ligada à consciência individual. Assim, a Ética busca

distinguir o bem do mal, orientando as ações humanas. Ademais,

cumpre ressaltar que esse modo de ser refere-se à aquisição de

características, resultantes da nossa forma de vida, sendo que a

reiteração de certos hábitos é o que nos define. Para CORTINA (2010)

"o ethos é o caráter impresso na alma por hábito".

Segundo entendimento de ACQUAVIVA (2002):

(...) a Ética observa o comportamento humano e aponta

seus erros e desvios, além de formular os princípios

básicos a que deve subordinar-se a conduta do homem;

e, a par de valores genéricos e estáveis, a Ética é

ajustável a cada época e circunstância.

DURKEIM (apud OLIVEIRA, 2006) conceitua Ética como

sendo: "Tudo que é relativo aos bons costumes ou às normas de

comportamento admitidas e observadas, em certa época, numa dada

sociedade".

Segundo MOORE (apud BERNARDES, 2014): "a Ética é a

investigação geral sobre aquilo que é bom, isso se dá porque o maior

objetivo da Ética é tentar aproximar o ser humano da perfeição,

alcançar a sua realização pessoal".

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De acordo com VÁZQUEZ (apud BERNARDES, 2014): "Ética

é um conjunto sistemático de conhecimentos racionais e objetivos a

respeito do comportamento humano moral, melhor dizendo, é a teoria

ou ciência do comportamento moral do homem em sociedade".

Para REALE (2002) “É uma ciência, pois tem objeto próprio, leis

próprias e método próprio, na singela identificação do caráter científico

de um determinado ramo do conhecimento”.

COMTE (apud LIMA, 2007) entende a Ética como sendo:

(...) a suprema ciência, do amor por princípio, do amor

sem cabeça, moral cósmica, naturalista e social, pois

recompõe os laços do universo da natureza com o

universo da moralidade e vê nas regras do

comportamento humano um caso das leis que presidem

a ordem universal. Ética em que o homem está

submetido, em virtude de sua submissão à humanidade

(...)

Para HERKENHOFF (apud BERNARDES, 2014): "o mundo

ético é o mundo do "dever ser (mundo dos juízos de valor) em

contraposição ao mundo do "ser" (mundo dos juízos de realidade)".

Para VALLS (1994), a ética pode ser entendida como um estudo ou

uma reflexão, científica ou filosófica, e até teológica, sobre os

costumes ou sobre as ações humanas. Também chama de ética a

própria vida, conforme os costumes, considerados corretos. Portanto,

para este autor, a ética pode ser o estudo das ações ou dos costumes,

podendo, também, ser a própria realização de um tipo de

comportamento.

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Segundo REALE (1999) a ética é entendida como a doutrina do

valor do bem e da conduta humana que o visa realizar. Destarte,

segundo o mesmo autor, quem preza pela ética ao realizar uma conduta,

o faz de forma a respeitar o bom senso.

CORTINA (2010) classifica a Ética em seis grandes gêneros:

éticas normativas e descritivas, naturalistas e não naturalistas,

cognitivistas e não cognitivistas. E utiliza-se de Kant para concluir que

o cognitivismo “não é uma questão de verdade ou falsidade, mas de

argumentação racional acerca da correção e da validade”.

SARTRE (apud LIMA, 2007) define a ética como sendo:

(...) uma moral da ambiguidade e da situação. Vai da

liberdade absoluta e inútil à liberdade histórica, da

náusea diante da gratuidade das coisas, do em si e o para

si, do ser e do nada, do ser para outros, do

existencialismo como humanismo, da crítica da razão

dialética. É o homem, o ser humano, isto é, cada

indivíduo em determinadas circunstâncias, em

determinada "situação", que por sua livre escolha cria o

valor de seu ato. Todos os valores são relativizados,

exceto aquele que a liberdade outorga a si mesma,

quando se considera fim supremo (...).

Diante do exposto, podemos concluir que a Ética é a

ciência do comportamento moral do homem em sociedade,

aproximando-se da Moral. Isto porque ética e moral têm a mesma

origem, como será visto a seguir. Portanto, podemos concluir que a

ética tem o sentido de higidez, de irrepreensibilidade, de correção, de

postura moral.

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2.2 A ÉTICA NA FILOSOFIA

Uma das configurações atribuídas à palavra Ética é de cunho

filosófico. Nesse sentido, Ética, enquanto parte da Filosofia, refere-se

a uma reflexão a respeito da moral, relacionada ao meio social em que

está inserido o indivíduo. Assim, ela impulsiona o exercício crítico e

reflexivo das bases moralistas, na busca da elucidação dos fatos morais.

Desta forma, é notável que a Ética, na Filosofia, não oferece um código

de normas, apenas incentiva o homem, como ser racional e social, a

praticar o senso crítico e auto avaliativo, em suas atitudes e modo de

agir.

Neste sentido, CENCI (2002) afirma:

A ética não pode prescrever conteúdos ao agir, nem pode

instrumentalizá-lo; não é seu papel fornecer soluções

concretas ao agir humano. A ética precisa contar com a

capacidade de os indivíduos encontrarem saídas

plausíveis, racionais para o seu agir. A ética filosófica

(formal e universalista) não pode, paternalisticamente,

dizer o que o indivíduo deve fazer, prescrevendo ações;

ela não pode se constituir em um receituário para a

conduta cotidiana dos indivíduos, nem servir de

desculpa para justificar seu agir mediante motivos

puramente externos. A justa medida requerida pela ética

não é extraída por intermédio de fórmula alguma; ela é

medida qualitativamente, por isso requer mediania.

De acordo com CHAUÍ (1998), o que foi apresentado por CENCI

(2002) corresponde ao principal pilar da diferenciação entre Moral e

Ética, pois, para ela, toda moral é normativa, enquanto designada a

ditar aos sujeitos os padrões de conduta, assim como os valores e

costumes das sociedades das quais participam. Já a ética não é

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necessariamente normativa, e vem, em seguida, sistematizando a

subdivisão de ética em normativa e não normativa, sendo que,

normativa seria a ética de deveres e obrigações; e não normativa, seria

a ética que tem como objeto de estudo as ações e paixões humanas,

embasadas no ideal da felicidade, de acordo com o critério da relação

razão - vontade - liberdade.

Ainda, para CORTINA (2010):

(...) entre as tarefas da ética como filosofia moral são

essenciais as que seguem: 1) elucidar em que consiste o

moral, que não se identifica com os restantes saberes

práticos (com o jurídico, o político ou o religioso), ainda

esteja estreitamente conectado com eles; 2) tentar

fundamentar o moral; ou seja, inquirir as razões para que

haja moral ou denunciar que não as há. Distintos

modelos filosóficos, valendo-se de métodos específicos,

oferecem respostas diversas, que vão desde afirmar a

impossibilidade ou inclusive a indesejabilidade de

fundamentar racionalmente o moral, até oferecer um

fundamento; 3) tentar uma aplicação dos princípios

éticos descobertos aos distintos âmbitos da vida

cotidiana.

Por fim, cumpre salientar, ainda, conforme CHAUÍ (1998), que

seria responsabilidade da Ética a definição da figura do agente ético e

de suas atitudes, que corresponde ao sujeito consciente, que sabe o que

são suas ações, sendo livre para escolher o que faz, e responsável pelas

consequências de seus atos. E, neste mesmo sentido, para SOUTO &

SOUTO (apud BERNARDES, 2014), o sujeito, desde que em perfeito

estado de juízo, já possui a ideia do que é certo ou errado, em suas

atitudes, orientados pelos códigos de conduta da sociedade em que

vive, que definem como fazer.

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2.3 A VIGÊNCIA DA NORMA ÉTICA

Os preceitos éticos são imperativos, sendo que, para explicar a

vigência da norma ética, existem duas posições antagônicas: uma,

absolutista e apriorista e outra, relativista e empirista.

De acordo com a absolutista, a validez é atemporal e absoluta;

proclamando o conhecimento da norma ética, a priori; propõe a moral

universal objetiva. Para esta posição, cada ser humano está predisposto

a discernir, naturalmente, entre o que é certo ou errado, sendo que, em

oportunidades múltiplas da existência, precisa se definir e optar;

podendo apenas observar, como deixar de atender aos sinais, bastando,

para tanto, atentar para a sua consciência estimativa, onde reside o seu

sentido de valor. Por isso é que, entendendo esta predisposição como

sensação, HEMINGWAY (apud LOPES, apud NALINI, 2013)

conceituou moral de maneira bem compreensível, como aquilo "que

nos faz sentir-nos bem depois, e imoral, aquilo que nos faz sentir-nos

mal depois". Isto porque, não se poderia falar do bom e do mau, ou da

virtude e do vício, caso não houvesse um critério de estimação e uma

instância, que seria a consciência humana, capaz de intuir o que vale.

Conforme entendimento de MAYNÉZ (apud NALINI, 2013), “a

tese objetivista conduz, no terreno epistemológico, à conclusão de que

não há criação nem transmutação de valores, senão descobrimento ou

ignorância dos mesmos”. Com esse entendimento, podemos afirmar

que os valores se descobrem ou se ignoram; portanto, não se criam nem

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se transformam. Eis uma grande missão da ética para esta teoria: afinar

a moral no homem, para que torne possível tal descobrimento.

Já de acordo com a posição relativista, a norma ética tem

vigência puramente convencional e é mutável; acreditando ser de

ordem empírica, defendendo a existência de várias morais e, portanto,

do subjetivismo. Assim, entendem não haver sentido falar-se em

valores, à margem da subjetividade humana, acreditando que a

hierarquia valorativa seria estabelecida individualmente, de acordo

com circunstâncias personalíssimas. Assim sendo entendido, o bom e

o mau não significam algo que valha por si, estando condicionados por

referenciais de tempo e de espaço. Ademais, o bem seria fruto de

criação subjetiva, e a norma moral, mero convencionalismo.

Desta forma, a tese subjetivista postula autêntica criação de

valores, por vontade dos homens, que os formulam, à medida do

necessário ou do oportuno. A escala que lhes servirá de parâmetro na

conduta, dependerá do momento histórico, da classe social a que

pertencem, além de outros fatores condicionantes da opção concreta.

3 A MORAL

A expressão moral deriva da palavra romana mores, com o

sentido de costumes, conjunto de normas adquiridas pelo hábito

reiterado de sua prática.

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Segundo ABBAGNANO (2012), em seu Dicionário de Filosofia,

moral é um substantivo configurado de diferentes formas, tais como: 1

- O mesmo que Ética; 2 - O objeto da Ética que consiste na conduta

direcionada por normas.

Segundo VÁZQUEZ (1984), a moral deriva da necessidade

comum aos indivíduos de se relacionarem, buscando o bem para a

coletividade, podendo ser definida, também, como um conjunto de

normas e regras, que tem a finalidade reguladora das interações entre

os indivíduos, dividindo o mesmo espaço, em um mesmo tempo. A

moral, dessa forma, consiste em um dado histórico mutável e dinâmico,

que evolui conforme as transformações políticas, econômicas e sociais,

tendo em vista que a existência de princípios morais estáticos seria

impossível.

A moral, segundo HERKENHOFF (apud BERNADES, 2014),

"é a parte subjetiva da ética", que ordena o comportamento humano

para consigo mesmo, além de englobar os costumes, obrigações,

maneiras e procedência do homem, em convívio com os demais.

Assim, a moral é compreendida na forma de uma conduta voluntária,

isenta de pressões externas ao indivíduo, acrescida de uma listagem de

normas de ação específica, estando então, implícita em códigos,

normatizações e leis, que regulamentam a ação do ser humano, em

meio social.

Torna-se oportuno ressaltar que o objeto da Ética é a moral, vista

como um dos aspectos do comportamento humano. É a moralidade

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positiva, segundo MÁYNEZ (apud NALINI, 2013): "o conjunto de

regras de comportamento e formas de vida, através das quais tende o

homem a realizar o valor do bem". Sob essa vertente, moral e ética

significam algo muito semelhante, sendo que a distinção conceitual

existente não elimina o uso corrente das duas expressões como

intercambiáveis.

Todavia, a conceituação de ética, ora adotada, autoriza a

distingui-la da moral, embora aparente identidade etimológica de

significado: ethos, em grego, e mos, em latim, querem dizer costume.

Ocorre que ambas são aplicadas diferentemente. A ética seria uma

ciência dos costumes, enquanto que a moral seria o objeto da ciência.

Como ciência, a ética procura extrair, dos fatos morais, os princípios

gerais, a eles, aplicáveis. E, confirmando tal entendimento, para

VAZQUÉZ (apud NALINI, 2013): "Enquanto conhecimento

científico, a ética deve aspirar à racionalidade e objetividade mais

completas e, ao mesmo tempo, deve proporcionar conhecimentos

sistemáticos, metódicos e, no limite do possível, comprováveis."

CORTINA (2010), “ética consiste na dimensão da filosofia que

reflete sobre a moralidade, isto é, na forma de reflexão e linguagem

acerca da reflexão e da linguagem moral, no que se refere ao que guarda

a relação entre toda metalinguagem e a linguagem objeto”. Quanto à

moral, a autora afirma que essa prescreve a conduta de forma imediata,

ao passo que a ética proporciona um cânon mediato para a ação, por

meio de um processo de fundamentação moral. Dessa forma, afirma

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que a ética não pode confundir-se com o conjunto de normas e

avaliações geradas no mundo social.

Para MAYNEZ (apus NALINI, 2013), ética é uma disciplina

normativa, não por criar normas, mas por descobri-las e elucidá-las,

sendo que seu conteúdo mostra às pessoas os valores e princípios que

devem nortear sua existência. Assim, a Ética aprimora e desenvolve o

sentido moral do comportamento e influencia a conduta humana.

Existe a definição que circula em torno do entrelaçamento entre

Ética e Moral, no sentido de que existiria um método científico para se

estudar a Moral, baseado em uma teoria que propicia a descrição das

normas e valores comportamentais. Para RIBEIRO (2000), a Ética é

uma ciência da moral, pois questiona, ao buscar por que e em quais

condições determinada ação é considerada boa ou má, até que ponto

ajuda a construir a identidade de uma nação, grupo ou pessoa.

Contudo, a distinção mais compreensível entre ambas seria a de

que ética reveste conteúdo mais teórico do que a moral. Pretende-se a

ética mais direcionada a uma reflexão sobre os fundamentos do que a

moral, de sentido mais pragmático. O que designaria a ética seria não

apenas uma moral, conjunto de regras próprias de uma cultura, mas

uma verdadeira "metamoral", uma doutrina situada além da moral. Daí

a primazia da ética sobre a moral: a ética é desconstrutora e fundadora,

enunciadora de princípios ou de fundamentos últimos.

Mesmo diante de tantos percalços controversos, a distinção entre

ética e moral é necessária, pois, verifica-se, que sem a moral, a ética se

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tornaria em inutilidade, no sentido de consistir em abstrata reflexão de

experiência. Assim, a diferenciação entre Moral e Ética pode acontecer

de várias maneiras: Ética é princípio, moral são aspectos particulares

de determinado tipo de conduta; Ética é permanente, moral é

temporária; a Ética possui a propriedade da universalidade, enquanto

que a moral é restrita à dada cultura; Ética é regra, moral é prática de

tal regra; Ética é teoria, moral é prática desta teoria.

4 O DIREITO

Verifica-se que Direito é uma palavra oriunda do latim directum,

derivada do verbo dirigere, que tem o significado de ordenar. Conclui-

se, etimologicamente, que o vocábulo Direito significa "aquilo que é

reto", "que está coerente com a justiça e equidade". Portanto, pode-se

dizer que Direito é a disciplina da qual se originam as normas, a serem

observadas pelo homem, de forma obrigatória, englobando direitos e

deveres. Conforme PINHO (1995), o Direito pode ser entendido como

"aquilo que é" ou "que deve ser". Assim, o Direito surgiu em resposta

à necessidade de se estabelecer regras gerais para o convívio do homem

em sociedade, podendo ser considerado uma instituição ética, que

aplica as leis e os princípios morais, na solução de controvérsias.

Faz-se necessário salientar que, da ética, decorreram o direito e a

moral, sendo que, desde a Grécia antiga, tentou-se distinguir o direito

da moral. Segundo MACHADO NETO (1987), de um ângulo

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sociológico, poderíamos estabelecer uma relação genética entre moral

e direito, considerando que uma sociedade passa a conferir uma certa

exigibilidade a uma exigência moral, por meio de uma sanção, desde

que esta tenha se tornado essencial à vida, e ao equilíbrio do grupo.

Destarte, conclui que o direito tutela o que a sociedade considera como

o mínimo moral, imprescindível à sua sobrevivência.

ALEXY(1998), para haver conexão entre direito e moral,

necessário se faz incluir, no conceito de direito, algum elemento da

moral. Ademais, no processo de criação e aplicação do direito, faz-se

necessário que haja uma pretensão de correção moral. Nesse sentido,

ALEXY (1998) conclui que o positivismo fracassa, porque o conceito

de direito, trazido nesta ideologia, exclui qualquer elemento que faça

parte da moral. E acrescenta que a pretensão de correção deve ser

elemento essencial desse conceito, o que implica numa conexão

necessária entre o direito e a moral.

5 RELAÇÃO ENTRE ÉTICA E DIREITO

Há estudos que distinguem direito e moral, dentro do espírito

kantiano, conforme afirma PERELMAN (2005): “o direito rege o

comportamento exterior, a moral enfatiza a intenção, o direito

estabelece uma correlação entre os direitos e as obrigações, a moral

prescreve deveres que não dão origem a direitos subjetivos, o direito

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estabelece obrigações sancionadas pelo Poder, a moral escapa as

sanções organizadas”.

KELSEN (2006) trata da relação entre direito e moral, e chega à

conclusão de que, muitas vezes, as sanções morais são mais graves do

que a sanção jurídica, mas não admite elemento moral no conceito de

direito. A regra moral está ligada a um sentimento interno, não podendo

ser imposta com o uso da força, além de não ter uma sanção. Apesar

da provação ou desaprovação serem recebidas como recompensa ou

castigos, representando, por muitas vezes, sanções, até mais duras e

eficazes, com relação à norma. KELSEN (2006) exclui do conceito de

direito qualquer outro elemento estranho a esta ciência, não havendo

elemento ético ou político no seu conceito de direito. Segundo este

mesmo autor, trata-se de uma teoria positivista pura, sustentando a tese

da separação entre direito e moral.

Segundo ALEXY (1998), o positivismo falha ao não incluir a

pretensão de correção no conceito de direito. Juristas não satisfeitos

com a concepção positivista, estadística e formalista do direito,

advogam a importância do elemento moral no funcionamento do

direito, em especial nas noções cujo aspecto ético não pode ser

desprezado. Logo, conclui-se que “inexiste pureza no Direito”, seja por

haver elementos ideológicos, políticos ou econômicos que coabitam

com o jurídico, ou pelo elemento moral, da visão de ALEXY (1998).

O resgate da ética kantiana, onde a autonomia e a auto legislação

demonstram o caráter peculiar do homem, além de ter, na boa vontade,

o fundamento para o realmente bom, mostrou-se fundamental para se

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demonstrar as diferenças, bem como a relação complementar entre

moral e direito. Segundo MURGUEZA (1998), apesar disso, a boa

vontade não basta, por si só, como garantia de acertos morais, que,

ademais, dependem dos nossos atos e suas consequências, e não só de

nossas intenções. Mas, sem a boa vontade kantiana não existiria a voz

da consciência que não se pode prescindir, sob pena de tornarmos

inumanos.

Embora sejam exploradas as diferenças entre o direito e a moral,

percebe-se que são diferentes, mas não são excludentes. Conforme se

observa na explicação de PERELMAN (2005): “(...) é normal que as

regras jurídicas difiram das regras morais, mas tal divergência não se

presume: é necessário explicá-las”. Até porque o normal é que as regras

morais sejam conformes às regras jurídicas, conforme entendimento do

mesmo autor: “Mas a regra geral, ou pelo menos a presunção, é a

conformidade entre as regras morais e as regras jurídicas”.

Ademais, é possível observar a Ética em interface com o Direito,

se acatada a definição de conduta, amparada na aplicação de regras

morais, no meio de convívio social. Nesse sentido, a contínua

discussão da Ética dentro do Direito encontra respaldo no fato de ser,

este, uma área das Ciências Humanas, que busca a consolidação e

manutenção da justiça e da moralidade social.

Portanto, o que se percebe, é que direito e a ética se

complementam. “Uma moral pós-convencional precisa de

complementação jurídica, porque não pode exigir o cumprimento das

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normas válidas, se os destinatários não têm garantia jurídica de que

essas normas serão universalmente cumpridas”. Mas o direito, por

outro lado, também precisa de uma fundamentação moral, conforme

entendimento de CORTINA (2010), que: “expressa, em seu seio, a

ideia de imparcialidade instrumental”. Esta mesma autora aduz, ainda,

que a obediência ao direito é um dever ético indireto. Desta forma, na

medida em que a relação entre direito e moral é complementar, é

possível justificar, moralmente, a atuação do direito, sempre que a

moral se revelar insuficiente para disciplinar uma determinada

conduta. E, mesmo admitindo o conceito de direito destituído de

elemento moral, é possível se manter essa complementaridade entre

direito e ética. Embora, esta afirmação não exclua o fato de que, em

determinados casos, as regras morais possam divergir do direito, e

vice-versa. Porém, é preferível um conceito de direito que englobe

elemento moral.

Utilizando-se das ideias de HABERMAS, CORTINA (2010)

afirma que:

[...] as éticas de bens e valores caracterizam, em cada

caso, conteúdos normativos particulares. Suas premissas

são demasiado fortes para fundamentar decisões

universalmente vinculantes em uma sociedade moderna,

caracterizada pelo pluralismo de crenças. Só as teorias

da justiça e da moral construídas instrumentalmente

prometem um procedimento imparcial para fundamentar

e ponderar princípios.

Neste aspecto, observamos a importância da instrumentalidade

das teorias da justiça e da moral. Ademais, necessária é a noção de ética

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procedimental para se entender a complementação entre o direito e a

ética na resolução de conflitos sociais. “(...) ética procedimental (...)

pretende se ocupar do universalizável no fenômeno moral (...)”. Além

disso, “a ética procedimental, então, pode contar não apenas com

procedimentos, mas também com atitudes, disposições e virtudes,

motivadas pela percepção de um valor, em suma com um éthos

universalizável”.

Ainda, Segundo HABERMAS (2010), o papel do direito é

perfeitamente compreensível como compensação dos déficits da

realidade que capta necessariamente o critério moral. Portanto,

percebe-se que há uma conexão necessária entre o direito e a ética.

Segundo ALEXY (1998), a base é formada pela pretensão de correção,

sendo o sistema jurídico visto como um sistema de procedimentos, a

partir do ponto de vista do seu participante.

O Direito, se analisado sob o ponto de vista cultural, abarca o

sentido de ser uma realidade referente a valores, possuindo como

missão intrínseca a progressiva busca pela segurança jurídica, que

consiste em bem social e justiça. Tais objetivos são comuns à Ética,

contudo, não se pode atribuir à norma ética o valor imperativo da

norma jurídica. Assim, segundo HERKENHOFF (2007), são definidas

como normas éticas:

(...) as normas que disciplinam o comportamento do

homem, quer o íntimo e subjetivo, quer o exterior e

social. Prescrevem deveres para a realização de valores.

Não implicam apenas em juízos de valor, mas impõem a

escolha de uma diretriz considerada obrigatória, numa

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determinada coletividade. Caracterizam-se pela

possibilidade de serem violado.

REALE (2002) já defendia que “(...) as normas éticas não

envolvem apenas um juízo de valor sobre os comportamentos

humanos, mas culminam na escolha de uma diretriz considerada

obrigatória numa coletividade". Nesta perspectiva, a ética pode ser

entendida como uma tomada de decisão, uma escolha embasada em um

conjunto de valores organizadores de uma determinada sociedade. De

acordo com REALE (2002), "toda norma ética expressa um juízo de

valor, ao qual se liga uma sanção (...)". A ética, neste sentido,

corresponde a uma obrigação, e seu cumprimento tem como

pressuposto a ideia do que é justo diante da sociedade, que pode ser

aceita ou não, de acordo com o juízo de valor de cada um. REALE

(2002) afirma, ainda, que "a teoria do mínimo ético consiste em dizer

que o Direito representa apenas o mínimo de Moral declarado

obrigatório para que a sociedade possa sobreviver", relacionando

Direito e Moral, ambos inseridos em um complexo ético, pois o viver

de forma ética corresponde ao ato de acrescer uma regra moral de uma

norma jurídica em uma situação qualquer.

Diante de todo o exposto, podemos afirmar que a Ética é o estudo

geral do que é certo ou errado, bom ou mal, justo ou injusto, apropriado

ou inapropriado. Assim, a Ética fundamenta regras estabelecidas pela

Moral e pelo Direito, porém, diferencia-se de ambos, na medida em

que não dita regras.

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6 A ÉTICA NO EXERCÍCIO DO DIREITO

Faz-se apropriada, aqui, a definição de CENCI (2002) para Ética,

que "nasce amparada no ideal grego da justa medida, do equilíbrio das

ações”. E ainda esclarece que "a justa medida é a busca do

agenciamento do agir humano, de tal forma que o mesmo seja bom para

todos". Ora, os valores éticos e morais devem ser o fundamento da

construção do profissional do Direito, no sentido da aplicação dos

princípios morais enumerados pela Ética geral, aplicada ao campo

profissional, possibilitando a prática da ética profissional. Para

CAMARGO (1999), “de um lado, ela exige a deontologia, isto é, o

estudo dos deveres específicos que orientam o agir humano no seu

campo profissional; de outro lado, exige a diceologia, isto é, o estudo

dos direitos que a pessoa tem ao exercer suas atividades”.

Em Direito, quando se fala em Ética jurídica, o que se entende

por isso é ética profissional, entendida como um conjunto de regras de

conduta que regulam a atividade jurisdicional, visando a boa prática da

função, bem como a preservação da imagem do próprio profissional e

de sua categoria. É, dessa forma, um tipo específico de avaliação ou

orientação da prática jurídica, que se encontra paralela à orientação

determinada pelas normas processuais, e pelas normas objetivas de

Direito, e para a qual também se pode conceber uma certa forma

jurídica de codificação - códigos de ética, e também uma certa forma

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de sanção - tribunais de ética. A Ética jurídica é, portanto, formulada a

partir da prática profissional do Direito.

Cumpre salientar que os deveres do advogado estão

estabelecidos no Código de Ética e Disciplina, dado por um ato

administrativo do Conselho Federal da OAB, norteado por princípios

formadores da consciência profissional do advogado, e que

representam imperativos de sua conduta. No entanto, é comum

presenciarmos, no exercício da advocacia, a falta de compromisso com

a verdade para poder servir à Justiça; a falta de lealdade e boa fé em

relações profissionais; o desrespeito a princípios éticos e morais;

muitas vezes permitindo que o anseio do ganho material sobreleve à

finalidade social do seu trabalho. E, por isso, a classe perde a sua

dignidade e integridade, diante de comportamentos de profissionais

que não a honram e não a engrandecem. Também entre promotores e

juízes, muitas vezes presenciamos a adoção de posturas indiscretas,

deixando-se seduzir pelos holofotes da mídia e a utilização, de forma

abusiva, do poder que dispõem.

Sobre a Ética e o profissional exercendo o Direito, pode-se

salientar, ainda, que não existe o exercício de defesa da justiça sem a

aplicação de normas éticas, que embasam o ordenamento jurídico.

Ademais, a ética profissional consiste na persistente aspiração de

amoldar a conduta, bem como a própria vida, aos princípios básicos

dos valores apropriados, em todas as esferas de suas atividades.

Ressalte-se ainda, a relevância da ética no exercício da profissão do

Direito, tendo em vista a natureza da atividade jurídica relacionada aos

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principais valores éticos. Portanto, a Ética deveria ser vista como algo

indissociável do exercício do Direito, o que seria algo bem além de se

respeitar Códigos, mas uma questão de consciência.

7 CONCLUSÃO

De acordo com o exposto, torna-se possível identificar a

importância do presente trabalho, ao tratar de um tema, a ética, que

pode ser considerado como instrumento indispensável da vida social,

levando-se em conta que, a partir do exercício contínuo deste, podem

se originar costumes, e o próprio Direito.

Ora, a ética norteia a maneira de se comportar do homem, sendo

incluída tanto nas esferas públicas e sociais, como nas esferas íntimas

e subjetivas. A ética não está limitada somente ao conjunto de juízos

de valor, mas se sobressai imponente como código de disciplina,

aprendido, obrigatoriamente, pela sociedade. Ademais, o conjunto de

deveres morais é a diretriz da conduta do sujeito na vida e na profissão

que exerce, sendo que tal conjunto contribui para a conscientização

profissional, que deve ser composta de práticas que resultem em

integridade, dignidade e probidade, de forma coerente para com o

ordenamento jurídico vigente.

Em síntese, o sujeito deve ansiar pela ética profissional em seu

desempenho cotidiano, ressaltando a validade de sua adoção como

código principal de vida, pois, tanto a ética quanto a moral devem ser

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resguardadas, propiciando crescimento pessoal e profissional. E é

desse modo, que os profissionais do Direito, buscando cumprir o seu

papel, agindo segundo preceitos éticos, deixarão evidente o seu

compromisso com a justiça.

Ora, a lei moral, que tem significado diferente da lei do direito, é

intrínseca ao homem, mas nem sempre é suficiente para resolver as

questões de conflitos sociais. Então, deve, o direito, atuar para se

resolver esses conflitos, visando manter o equilíbrio na sociedade. Da

mesma forma, ocorrerão casos em que a moral poderá ser mais

eficiente do que o direito na resolução de conflitos sociais. Daí a

importância da relação complementar entre o direito e a ética.

A ética discursiva é o caminho para se alcançar a pretensão de

igualdade e universalidade, que é a base de uma ética procedimental. E

o que se percebe é uma inevitável relação entre direito e moral, na qual

há uma complementação de um com o outro na resolução dos conflitos

sociais. Para tanto, um conceito de direito que aproxima este da ética,

por meio de elementos da moral, é preferível aos que excluem esses

elementos. E, até baseado nos conceitos que excluem os elementos

morais, é possível se verificar essa complementaridade.

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