13
http://www.ibrajus.org.br/revista/artigo.asp?idArtigo=140 Introdução Na aplicação do direito, por vezes, nos deparamos com problemas que à luz das normas positivadas especificamente dirigidas à questão, não encontramos solução satisfatória. Exemplo disto é a questão da eternização das execuções comuns (de títulos extrajudiciais contra devedor solvente) quando o processo restar suspenso por ausência de bens passíveis de penhora. Do ponto de vista da filosofia, a finitude humana contrapõe-se à existência de um processo eterno. Todavia, do ponto de vista do Livro II do Código de Processo Civil, Livro das Execuções, essa contradição existe porquanto, uma vez não localizados bens passíveis de penhora, a execução fica suspensa sine die, sem termo ou limite, ao contrário do que ocorre, por exemplo, nas ações de conhecimento (art. 265, §5º, CPC) e nos executivos fiscais (art. 40, §§2º e 4º da LEF) em que a suspensão do processo, nunca será superior a um ano. Para a execução contra devedor insolvente, também há prazo previsto, contemplando a possibilidade da verificação da prescrição (art. 777, CPC). "bem de família" (Lei 8.009/90). salário é insuscetível de penhora (art. 649, IV, CPC). Porém, quando miramos o fato de uma ótica orbital ao sistema jurídico que temos, a partir da Constituição Federal e seus meta princípios informadores, nos surpreendemos ao perceber que no Brasil um processo por crime de homicídio (bem jurídico=vida) prescreve; já um processo de execução de título extrajudicial (bem jurídico=patrimônio) sem bens passíveis à penhora e desde

resumo - prescrição intercorrente

Embed Size (px)

DESCRIPTION

resumo - prescrição intercorrente

Citation preview

http://www.ibrajus.org.br/revista/artigo.asp?idArtigo=140Introduo

Na aplicao do direito, por vezes, nos deparamos com problemas que luz das normas positivadas especificamente dirigidas questo, no encontramos soluo satisfatria.Exemplo disto a questo da eternizao das execues comuns (de ttulos extrajudiciais contra devedor solvente) quando o processo restar suspenso por ausncia de bens passveis de penhora.Do ponto de vista da filosofia, a finitude humana contrape-se existncia de um processo eterno.Todavia, do ponto de vista do Livro II do Cdigo de Processo Civil, Livro das Execues, essa contradio existe porquanto, uma vez no localizados bens passveis de penhora, a execuo fica suspensa sine die, sem termo ou limite, ao contrrio do que ocorre, por exemplo, nas aes de conhecimento (art. 265, 5, CPC) e nos executivos fiscais (art. 40, 2 e 4 da LEF) em que a suspenso do processo, nunca ser superior a um ano. Para a execuo contra devedor insolvente, tambm h prazo previsto, contemplando a possibilidade da verificao da prescrio (art. 777, CPC)."bem de famlia" (Lei 8.009/90).salrio insuscetvel de penhora (art. 649, IV, CPC).Porm, quando miramos o fato de uma tica orbital ao sistema jurdico que temos, a partir da Constituio Federal e seus meta princpios informadores, nos surpreendemos ao perceber que no Brasil um processo por crime de homicdio (bem jurdico=vida) prescreve; j um processo de execuo de ttulo extrajudicial (bem jurdico=patrimnio) sem bens passveis penhora e desde que suspenso por isto, jamais prescrever. Passa a ser eterno. Ganha status de divindade processual, pois s os deuses seriam eternos.Oportuno destacar que tanto o Cdigo Civil de 1916 (art. 173) quanto o NCCB/02 (pargrafo nico do art. 202)[12] prevem a prescrio intercorrente, estando fora de qualquer dvida sua existncia em nosso sistema legal.Cdigo de Processo de forma subsidiria, de acordo com a regra do art. 598: "Aplicam-se subsidiariamente execuo as disposies que regem o processo de conhecimento."Assim, que as causas de extino do processo numa ao de conhecimento so aquelas previstas nos artigos 267 e 269 do Cdigo de Processo Civil.Todavia, as causas de extino do processo de execuo esto previstas no art. 794 do mesmo cdigo, sendo uma impropriedade tcnica emprestar qualquer daqueles fundamentos (art. 267 ou art. 269) para declarar extinto um processo de execuo, quando presente a hiptese no art. 794.

Pois bem, dentre o rol das causas extintivas do processo de execuo, no encontramos a prescrio - at porque no seria a priori necessria -, conforme se pode constatar:

"Art. 794. Extingue-se a execuo quando:

I - o devedor satisfaz a obrigao;

II - o devedor obtm, por transao ou por qualquer outro meio, a remisso total da dvida;

III - o credor renunciar ao crdito."

A prescrio do ttulo executivo interrompe-se quando da propositura da ao de execuo, consoante regra do art. 617: "A propositura da execuo, deferida pelo juiz, interrompe a prescrio, mas a citao do devedor deve ser feita com observncia do disposto no art. 219." (grifo meu)

O problema se instala quando ocorre a condio suspensiva nos feitos de execuo comum, por qualquer de suas causas elencadas no art. 791:

"Art. 791. Suspende-se a execuo:

I - no todo ou em parte, quando recebidos com efeito suspensivo os embargos execuo (art. 739-A);

II - nas hipteses previstas no art. 265, ns. I a III;

III - quando o devedor no possuir bens penhorveis."

Se instala o problema porque no rito de execuo estabelecido no Livro II do Cdigo de Processo Civil no h previso legal quanto cessao dessa suspensividade, tal como ocorre na Lei de Execuo Fiscal (Lei 6.830/80, art. 40 e )[13].

Assim, em no havendo cessao dessa suspensividade, o Superior Tribunal de Justia vem entendendo que a paralisao da ao de execuo por ausncia de bens penhorveis - hiptese mais corrente - no d azo fluio do prazo prescricional de modo a caracterizar a chamada prescrio intercorrente, porque no seria isto imputvel parte como ato de inrcia.Mas este um enfoque apenas patrimonialista do instituto da prescrio enquanto que sua natureza jurdica possui razes bem mais profundas e cujo escopo o de por fim a pendengas que de outra forma, seriam eternas. A propsito, oportuno emprestar a feliz observao de Sua Excelncia, o digno relator do primeiro aresto, aqui citado, do STJ, Ministro Castro Meira quando afirma magistralmente que a prescrio intercorrente (nos executivos fiscais) visa "impedir a existncia de execues eternas e imprescritveis"."Execues eternas e imprescritveis".Este o verdadeiro escopo da prescrio intercorrente: fazer cessar esse efeito odioso de uma sano que nunca cessa. Uma sano perptua. Um processo que nunca acabe.Claro, pois, se a prescrio no mais volta a percorrer seu curso enquanto paralisado o processo por ausncia de bens penhora, est fadado eternidade! Sem termo final.Pondere-se acerca do absurdo gerado: - um ru de crime de homicdio obtm a prescrio da pretenso punitiva de seu crime ao cabo de vinte anos, todavia, continuar devendo para alm desse tempo se residir como executado em alguma execuo suspensa por falta de bens penhorveis!!Ora, qual o bem jurdico de maior valor? A vida ou a dvida? Obviamente que o bem da vida e essa inverso fere o princpio da razoabilidade, pois vai de encontro lgica do razovel.Certamente o legislador no desejou tamanho contra-senso, razo pela qual o Judicirio pode e deve intervir para impedir a concretizao desse absurdo.Mas o que fazer se no se caracteriza a inrcia do credor?De fato, enquanto no vier reforma legislativa que d trato questo, o Judicirio no poder impor o decreto de prescrio intercorrente utilizando a inrcia do credor (titular do direito) como fundamento legal porque na hiptese de ausncia de bens penhora realmente ela no se caracteriza.Entretanto, vislumbro uma segunda via pela qual o Judicirio poder decretar a prescrio intercorrente nas execues regidas pelo direito privado.Essa segunda via tem assento em princpios de ordem Constitucional, como adiante se ver, os quais bastam para autorizar a soluo dessa omisso do legislador processual.

2. Doutrina acerca desse fenmenoO mais correto seria, portanto, um posicionamento legislativo determinando um prazo limite mximo para a suspenso processual, o que poderia terminar com a discusso a respeito da consumao da prescrio intercorrente durante a suspenso. Temos o exemplo da lei 6.830/80, que estipulou o prazo de 1 (um) ano, e depois do qual ter incio a fluncia do prazo prescricional. Tal soluo poderia ser acolhida pelo Cdigo de Processo Civil na tentativa de pacificar as discusses e esclarecer de maneira terminativa todas as dvidas a respeito da fluncia do prazo prescricional durante a suspenso processual. (destaques meus).De fato, luz do Cdigo de Processo, o credor poder requerer a insolvncia do devedor[20], encaminhando o processo para uma nova etapa, a da insolvncia para a qual existe previso expressa de termo prescritivo. Com tal manobra processual, lcita, o credor estaria inclusive elastecendo o tempo de residncia em juzo contra o devedor para at cinco (5) anos aps o trnsito em julgado da sentena de encerramento desse procedimento. Disso surge uma indagao: caso o credor no exera esse direito - de requerer a insolvncia do devedor sem bens penhorveis at o final do prazo de prescrio do ttulo exeqendo - configuraria inrcia? Parece que sim. No entanto, por no ser esta a rota da soluo aqui proposta, desviaremos dessa hiptese.

3. Soluo possvelDe fato, se observado apenas desse plano (infra Constitucional), a soluo no de fcil sustentao, mas possvel de ser considerada, principalmente a partir da reforma processual trazida pela Lei n 11.280 de 16.02.06 que trouxe a seguinte redao ao 5 do art. 219 do Cdigo de Processo Civil: "5 O juiz pronunciar, de ofcio, a prescrio.".Com isto, a prescrio ganhou status de matria de ordem pblica e no mais como antes, em que se tratava de direito privativo da parte a quem interessasse argui-lo.A propsito, segundo esclio de Fredie Didier Jr, "As matrias tratadas pelos incisos IV, V e VI do art. 267 do CPC consideram-se como de ordem pblica. Assim, podem ser examinadas ex officio e a qualquer tempo ou grau de jurisdio. [...] A prescrio e a decadncia, embora tambm possam ser alegadas a qualquer tempo, distinguem-se daquelas, porm, na medida em que podem no se caracterizar como questes de ordem pblica, como o caso da prescrio e da decadncia convencional."[21] (itlico meu).Em sendo matria de ordem pblica e identificada a omisso da lei processual no tocante execuo comum (contra devedor solvente) quanto ao termo a quo da retomada do prazo prescricional, como ad exemplum, foi previsto para o devedor insolvente no art. 777 do Cdigo de Processo Civil, lcito parece supri-la por meio da analogia, fazendo ponte pelo art. 598 do mesmo Codex, com as regras gerais do processo previstas no 5 do art. 265, ainda do CPC, para considerar que o prazo mximo de suspenso de um processo de execuo seria de um (01) ano, assim como ocorre para os processos das aes de conhecimento e nos executivos fiscais (art. 40, 2 e 4), reiniciando a contagem do prazo prescricional, nos termos da Smula 150 do STF, a partir de ento.Este raciocnio fortemente sustentvel a partir de uma interpretao sistemtica segundo a qual, se a lei omissa, cabe a regra do art. 4 da Lei de Introduo ao Cdigo Civil: "Art. 4 Quando a lei for omissa, o juiz decidir o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princpios gerais de direito."De fato, alm da analogia sugerida, encontramos respaldo tambm nos princpios gerais de direito, consagrados em nossa prpria Constituio Federal.Assim, a soluo para essa paradoxalidade encontra amparo em alguns princpios Constitucionais aos quais o prprio sistema deve obedincia por se tratar de direitos e garantias fundamentais.

Com efeito, a prpria Constituio Federal clarssima ao dispor expressamente nos pargrafos do inciso LXXVIII do art. 5 que: "1 As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tm aplicao imediata. 2 Os direitos e garantias expressos nesta Constituio no excluem outros decorrentes do regime e dos princpio por ela adotados, ...". (destaques meus)Dentre todos os princpios existentes, podemos elencar alguns que particularmente emprestam proveito e eficcia soluo proposta.

So eles:- princpio da razovel durao do processo, art. 5, LXXVIII: "a todos, no mbito judicial e administrativo, so assegurados a razovel durao do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitao." (Includo pela Emenda Constitucional n 45, de 2004).Este princpio Constitucional aqui empregado s avessas do que costumeiramente o faz a doutrina, pois, tem em mira no o autor, mas o ru do processo.Com efeito, se por um lado, tem o cidado autor, nessa formulao genrica e lacunosa, assegurada a razovel durao do processo, por outro o Judicirio no pode manter a venda sob seus olhos para no enxergar a situao de um ru que por fora de qualquer circunstncia judicial, fica obrigado a carregar por toda a sua (miservel, muita vez) existncia, um processo fadado a absolutamente nada, sem qualquer resultado prtico vislumbrvel, apenas como um estorvo ao seu exerccio pleno de cidadania, tolervel por certo intervalo de tempo, mas insuportvel enquanto supressor da chance de recomear ou retomar sua vida.E no sem fundamento que esse direito subsiste, pois quando observado o texto Constitucional, de pronto, j ao comeo, ressalta que "a todos" que a norma se dirige. Obviamente, o ru se insere nesse contexto.Como diz Nalini, "A sociedade brasileira encontrou o acesso Justia com certa facilidade. Agora custa a encontrar a sada da Justia. Uma das maneiras pelas quais procura desvencilhar-se do cipoal burocrtico e do espinheiro recursal invocar o direito a uma durao razovel do processo.[24]Isto tambm vale para o ru.Portanto, tambm o ru tem direito a um processo de durao razovel, principalmente aquele que lhe empreste significado de oposio ou obstruo ao pleno exerccio de sua cidadania.

- princpio da razoabilidade e proporcionalidade, os quais ainda que no expressos, so adotados pela Carta Federal, conforme a unanimidade da doutrina especializada.Foge ao razovel, a aceitao de um processo de execuo de dvida que tenha uma longevidade infinita, ao passo que processos por crimes contra a vida, encontram finitude em prazos bem definidos.Fere tambm o princpio da proporcionalidade vislumbrar essa inverso de valores que certamente no foi desejada pelo legislador processual, mas que por um vacilo qualquer, estampou-se em nosso sistema de modo a reclamar uma correo por parte do Poder Judicirio a tamanha injustia social.

- princpio que veda expressamente a existncia de sanes de carter perptuo[25] [9], art. 5, XLVII, "b": "No haver penas: (...) de carter perptuo.".Em que pese o texto Constitucional estar direcionado especificamente para a pena de natureza criminal, evidente que o princpio que se encerra nessa norma o de que nenhuma sano, seja ela civil ou penal, dever conter essa caracterstica.Portanto, nesse sentido, inadmissvel um processo sem data para acabar e cuja subsistncia tenha mera conotao de castigo, pelas restries que sua existncia acarreta.

- princpio da isonomia (art. 5, "caput").Ocorre afronta a esse princpio na medida em que cria uma distino odiosa entre os processos de execuo fiscal (art. 40, LEF) e de execuo para o devedor insolvente (art. 777, CPC) - ambos com previso expressa de termo a quo para o curso da prescrio intercorrente - com o processo de execuo comum (devedor solvente), cuja ausncia de regra (expressa) semelhante, tende a torn-lo eterno para martrio daqueles cidados endividados, dos quais a fortuna nem os caracteriza como insolventes, nem os liberam pelo fato de no possurem bens penhorveis, lanando-os num limbo processual de insuportvel e eternal incerteza.

- Princpio da dignidade humana.A ofensa a este princpio resultante da somatria de todas as demais ofensas que se possam anotar.De oportuna meno, o excelente posicionamento de Sua Excelncia Ministro Gilmar Ferreira Mendes do Supremo Tribunal Federal acerca do tema para, ao final, concluir que a observncia a esses princpios (que determinam a finitude dos processos) numa determinada sociedade, o que distingue a civilizao da barbrie. Vale citar trecho de interesse:"A propsito, em comentrios ao art. 1 da Constituio alem, afirma Gnther Drig que a submisso do homem a um processo judicial indefinido e sua degradao como objeto do processo estatal atentam contra o princpio da proteo judicial efetiva (rechtlitches Gehr) e ferem o princpio da dignidade humana ["Eine Auslieferung des Menschen na ein staatliches Verfahren und eine Degradierung zum Objekt dieses Verfahrens wre die Verweigerung des rechtlichen Gehrs"] [Maunz-Dring, Grundgesetz Kommentar, Band I, Mnchen: Verlag C.H. Beck, 1990, 1l 18.]Assim, tem-se que a durao do processo sine die afronta os preceitos fundamentais da nossa Magna Carta, seja por impor ao devedor executado uma sano civil de carter perptuo ou pelo prprio desvirtuamento do processo legal, onde o conflito entre particulares fica acondicionado sob a tutela do Estado indefinidamente. Alm de transformar o Poder Judicirio em um imenso depsito abarrotado de processos sem viabilidade de sanar o crdito do credor com a constrio de bens do devedor.Preponderando tudo o que foi exposto at o presente momento, Constitucional, razovel e lgica a aplicao de forma subsidiria do disposto no 5 do art. 265, do CPC, (alcanado pela disposio do art. 598, do mesmo Codex), ad exemplum da regra do 2, do art. 40, da LEF, com o intuito de manter o processo de execuo suspenso por no mximo um ano. Findo este perodo sem a localizao de bens passveis de penhora, o prazo prescricional deve se reiniciar at que alcance o seu termo ad quem, decretando-se a prescrio intercorrente da ao de execuo, nos exatos termos da smula 150 do STF: "Prescreve a execuo no mesmo prazo de prescrio da ao".

4. Da existncia de segunda chance tambm ao credor.Oportuno frisar que esse benefcio ao devedor - reconhecimento da prescrio intercorrente como tributo dignidade da pessoa humana, princpio Constitucional igualmente invocvel -, no fere de modo integral o direito do credor.No.Ocorrer apenas a perda da ao de execuo j fadada ao insucesso pela ausncia de bens do devedor que pudessem ser convertidos em pagamento da obrigao em face da prescrio do ttulo de crdito excutido, conforme as leis de regncia de cada um.As letras prescrevem em trs (03) anos, segundo a LUG, por exemplo.Todavia, ainda que decretada a prescrio, o que se perde a executoriedade do ttulo que j no mais ostentar a condio de "executivo". Vale dizer, aquela letra que era por fora de lei considerado como um "ttulo executivo extrajudicial", perder esta condio passando a ser mero documento sem eficcia de ttulo executivo.Ora, suponhamos, ento, que depois de decretada a prescrio da execuo nos termos aqui propostos, o devedor, dentro dos cinco anos seguintes (inciso I, do 5 do art. 206 do NCCB/02)[28], seja contemplado por um prmio lotrico ou receba uma herana, suficientes para o pagamento daquele crdito. Nessa hiptese, o credor ter ainda diante de si, a possibilidade de, com base naquele documento (no mais um ttulo executivo), manejar uma ao monitria (art. 1.102.a., CPC)[29] e reaver seu crdito.Com isto, nem se condena o devedor semi-insolvente a responder a uma execuo eterna, nem se retira do credor a possibilidade de, nos cinco anos que se seguirem ao decreto de prescrio intercorrente, tentar reaver seu crdito caso haja nesse interregno, mudana positiva na fortuna daquele.Sem dvida, essa soluo consagra melhor justia.

Consideraes FinaisDe tudo o que foi posto, tem-se que no prestigia a harmonia do sistema, a manuteno dessa lacuna do Livro II (Das Execues) do Cdigo de Processo Civil acerca da ausncia de limite ao prazo de suspenso do processo de execuo contra devedor (supostamente) solvente, em especial por ausncia de bens suscetveis de penhora, urgindo que se proceda ao suprimento dela por meio da analogia e dos princpios gerais de direito, em especial os meta princpios Constitucionais aplicveis ao processo de execuo, de modo a estabelecer uma finitude do processo em tempo razovel, no retirando do credor a perspectiva de receber o seu crdito, mas tambm no condenando o devedor, especialmente aquele de patrimnio mnimo, a um processo eterno apesar de intil, por no poder oferecer a desejada efetividade ao credor por razes externas a ele (processo), razes essas mais ligadas m distribuio das riquezas no pas e falta de critrio nas concesses de crdito, aliadas a um questionvel (exagerado) apelo de consumo.A eternizao desse processo de execuo atenta contra a dignidade humana, pois se por um vacilo do legislador, foi guindado condio de "divindade processual", as pessoas, os seres humanos, os cidados e jurisdicionados, continuam simples e meros mortais.E como mortal o homem, finito deve ser o processo, pois afinal de contas, como bem disse Protgoras em seu discurso sobre a verdade, "o homem a medida de todas as coisas". E assim deve ser.