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127 FGV DIREITO RIO DIREITO DAS PESSOAS E DOS BENS PARTE III: DIREITO DOS BENS AULA 13. CONCEITOS ESTRUTURAIS – BENS EMENTA Conceito de Bens – Classificação dos bens – Bens corpóreos e incorpóreos – Bens móveis e imóveis – Bens fungíveis e infungíveis – Bens consumíveis e não- consumíveis – Bens divisíveis e indivisíveis – Bens disponíveis e indisponíveis – Bens públicos e particulares – Bens de produção CASOS GERADORES “Roubo de Terras” e “Apreensão de Caça-Níqueis” LEITURA OBRIGATóRIA CALIXTO, Marcelo Junqueira. “Dos Bens”. In: TEPEDINO, Gustavo (org.). Parte Geral do Novo Código Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. pp. 149-176. LEITURAS COMPLEMENTARES PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil, vol. I. Rio de Janeiro: Forense, 2005. pp. 413-453. AMARAL, Francisco. Direito Civil – Introdução. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. pp. 297-327. 1. ROTEIRO DE AULA A presente aula visa estabelecer um dos conceitos-chave do Direito Civil: o estudo dos bens. A disciplina relativa aos bens confunde-se com uma série de classificações, dando a impressão de que conhecer a matéria significa ape- nas decorar todas as classificações apresentadas pelos livros. Como você verá, aprender a classificar os bens é um exercício de primeira importância no Direito Civil moderno, pois é justamente a classificação que determinará, em diversas hipóteses, a natureza de um contrato ou a possibilidade de um bem ser objeto de penhora.

Resumoo Completo de Bens

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resumo direito civil dos bens

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    direito das Pessoas e dos bens

    Parte III: dIreIto dos Bens

    AuLA 13. CONCEITOS ESTRuTuRAIS BENS

    EmEnta

    Conceito de Bens Classificao dos bens Bens corpreos e incorpreos Bens mveis e imveis Bens fungveis e infungveis Bens consumveis e no-consumveis Bens divisveis e indivisveis Bens disponveis e indisponveis Bens pblicos e particulares Bens de produo

    casos gEradorEs

    Roubo de Terras e Apreenso de Caa-Nqueis

    LEitura obrigatria

    CALIXTO, Marcelo Junqueira. Dos Bens. In: TEPEDINO, Gustavo (org.). Parte Geral do Novo Cdigo Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. pp. 149-176.

    LEituras compLEmEntarEs

    PEREIRA, Caio Mrio da Silva. Instituies de Direito Civil, vol. I. Rio de Janeiro: Forense, 2005. pp. 413-453.

    AMARAL, Francisco. Direito Civil Introduo. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. pp. 297-327.

    1. rotEiro dE auLa

    A presente aula visa estabelecer um dos conceitos-chave do Direito Civil: o estudo dos bens. A disciplina relativa aos bens confunde-se com uma srie de classificaes, dando a impresso de que conhecer a matria significa ape-nas decorar todas as classificaes apresentadas pelos livros. Como voc ver, aprender a classificar os bens um exerccio de primeira importncia no Direito Civil moderno, pois justamente a classificao que determinar, em diversas hipteses, a natureza de um contrato ou a possibilidade de um bem ser objeto de penhora.

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    direito das Pessoas e dos bens

    Mas o que um bem? Para Caio Mrio, bem tudo aquilo que agrada ao homem, podendo ser inseridos nessa categoria os seguintes elementos: a alegria de viver o espetculo do pr-do-sol176, o dinheiro, a herana de um parente, entre outros. Mas ser que no existe uma diferena entre aplaudir o pr-do-sol e receber uma herana? A primeira distino que pode se fazer com base no critrio da patrimonialidade. Todavia, importante lembrar que a patrimoniali-dade no requisito necessrio para a caracterizao de um bem jurdico, pois o Direito tambm reconhece bens que no podem ser apreciados economicamen-te, como o direito ao nome e o estado de filiao.

    Segundo expe Caio Mrio, [o]s bens, especialmente considerados, distin-guem-se das coisas, em razo da materialidade destas: as coisas so materiais ou concretas, enquanto que se reserva para designar os imateriais ou abstratos o nome de bens, em sentido estrito. Nesse sentido, entende o autor que a diferen-ciao entre bem e coisa refere-se materialidade do objeto de anlise.

    Os entendimentos sobre o tema variam inclusive na legislao estrangeira. O Cdigo Civil portugus determina que coisa tudo aquilo que pode ser objeto de relaes jurdicas177. Os italianos, por sua vez, tambm consideram coisa um termo mais amplo do que bem.

    O Cdigo Civil de 1916 no adotou nenhum desses entendimentos, usando os termos bem e coisa indistintamente178. Essa impreciso terminolgica foi encerrada no Cdigo Civil de 2002, unificando a linguagem. O Cdigo refere-se apenas a bens, englobando tanto os bens materiais como os imateriais, no sendo necessrio fazer-se a distino entre bem e coisa.

    bens corpreos e incorpreos

    Diviso vinda do Direito Romano, as coisas corpreas (res corporales) so os bens materiais, tangveis, que podem ser tocados (quae tangi possunt). Bens incorpreos so os chamados bens imateriais, ou seja, que no podem ser tocados.179

    Todavia, deve-se ressaltar que o critrio de diferenciao no pode ser em si a tangibilidade, uma vez que a corporalidade (meio fsico) por vezes s pode ser estabelecida por via indireta. O interesse prtico dessa distino reside no fato de que os bens corpreos podem ser objeto de compra e venda, enquanto os incorpreos s podem ser objeto de cesso lato sensu, como os direitos autorais sobre obra artstica.

    bens imveis

    Para o Direito Civil clssico, a principal classificao de bens aquela que os divide em bens mveis e imveis. Diversas so as conseqncias dessa classifica-o, pois o tratamento concedido a um bem, dependo se for mvel ou imvel, varia desde o seu registro, alm de alcanar a transmisso da propriedade, a dis-ciplina das garantias reais, etc.

    176 Caio mrio da silva Pereira. Institui-es de Direito Civil, vol. 1. rio de Janei-ro: forense, 2004. p. 400.

    177 Cdigo Civil Portugus, art. 202.

    178 Cdigo Civil brasileiro (1916), art. 54: as coisas simples ou compostas, materiais ou imateriais, so singulares e coletivas [...].

    179 Jos Cretella Jnior. Curso de Direito Romano. rio de Janeiro: forense, 1995. p. 110.

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    direito das Pessoas e dos bens

    A importncia concedida ao bem imvel, em especial, deriva de sua tradio em ser associado riqueza. O Direito Romano j fazia essa distino para privi-legiar os bens imveis, ou seja, a terra e os instrumentos diretamente necessrios para sua explorao, como escravos e animais (res mancipi).

    A trajetria brasileira tambm seguiu (e ainda segue) a prevalncia dos bens imveis como sinnimo de riqueza. Esse contexto apenas recentemente comeou a ser modificado, principalmente com a crescente importncia atualmente dedi-cada ao regime da propriedade intelectual (direitos autorais, marcas e patentes).

    Entretanto, a tradio agrria no foi eliminada no Direito brasileiro, fa-zendo-se presente no tratamento concedido aos bens imveis. Essa constatao passa pela formalidade para a transmisso da propriedade imobiliria e torna-se mais evidente na necessidade apresentada pelo mercado de fiadores possurem bens imveis.

    Os bens imveis so divididos em quatro categorias:

    (i) por natureza: trata-se do solo e tudo o que lhe aderente sem a interven-o humana. Dessa forma, rvores, arbustos e plantas so imveis por estarem presas ao solo pela raiz, mesmo se tiverem sido plantadas;

    (ii) por acesso fsica: tudo o que o homem incorpora permanentemente ao solo, como a semente lanada terra, os edifcios e as construes que no podem ser retiradas sem sua destruio, modificao, fratura ou dano. Os pavilhes para exposio que so posteriormente destrudos so imveis por acesso. So excludas desse regime as construes como barracas de feiras, tendas de circo e parques de diverso itinerantes.

    (iii) por acesso intelectual: so bens mveis que se tornam imobilizados pela vontade humana, como mquinas instaladas numa indstria, um qua-dro pendurado na parede de uma residncia, um trampolim beirando uma piscina.180 Trata-se de uma fico legal, que permite ao proprietrio, em virtude do destino que ele atribua ao objeto, a mudana de sua natu-reza. O Cdigo Civil de 2002 alterou este instituto, hoje regulado pelos princpios relativos s pertenas, que em regra no seguem o destino do bem a que se acham vinculados (art. 94 do Cdigo de 2002).181

    (iv) por determinao legal: so os bens que a lei trata como imveis, como direitos reais sobre imveis, o direito sucesso aberta, entre outros. Casa de madeiras que podem ser transportadas de um lugar a outro sem serem destrudas no perdem a classificao de imveis, nem materiais que so separados de um imvel para depois serem reempregados.

    bens mveis

    So bens mveis aqueles suscetveis de movimento prprio, ou de remoo por fora alheia, sem alterao da substncia ou de sua destinao econmico-social, ou aqueles a que a lei confira expressamente esse regime de aplicao. Dessa forma, pode-se falar em duas categorias de bens mveis:

    180 silvio rodrigues. Direito Civil, vol. i. so Paulo: saraiva, 2003. p. 124.

    181 marcelo Calixto. dos bens. in: te-Pedino, gustavo (org.) Parte Geral do Novo Cdigo Civil. rio de Janeiro: reno-var, 2002. p. 158.

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    direito das Pessoas e dos bens

    (i) por natureza: todas os bens suscetveis de deslocamento sem alterao de substncia ou de destinao econmico-social. Aqui temos as excees dos bens imveis por acesso; e

    (ii) por determinao legal: so bens com o gs, a energia eltrica e outras formas de energia, os direitos reais sobre mveis, os direitos pessoais de carter patrimonial e suas respectivas aes. Todos eles tornam-se mveis porque assim disps o legislador. Navios e aeronaves, embora sobre eles recaia a hipoteca, so bens mveis. Alm destes, os direitos autorais tam-bm so reputados bens mveis.

    bens fungveis e infungveis

    Bens fungveis so os que podem ser substitudos por outros da mesma esp-cie, qualidade e quantidade. Os bens infungveis, por seu turno, so os que no podem ser substitudos por outros da mesma espcie, qualidade e quantidade.

    Os bens fungveis atendem ao princpio de que o gnero nunca perece (genera nunquam pereunt). O dinheiro o exemplo sempre citado. Uma dvida contra-da por conta de um emprstimo de R$ 10 (dez reais) no obriga o devedor a devolver a mesma nota de R$ 10 (dez reais) que foi utilizada para a realizao do emprstimo, mas qualquer outra nota de R$ 10 (dez reais), ou duas notas de R$ 5 (cinco reais), ou dez notas de R$ 1 (um real), e assim por diante.

    A fungibilidade prpria dos bens mveis, pois os imveis so nicos e, por esse motivo, infungveis. S pode haver um bem imvel em um dado endereo. J os bens mveis no sofrem da mesma restrio.

    A vontade das partes pode transformar um bem fungvel em infungvel. Por exemplo, um livro, aps ser autografado por seu autor, passa a ser nico.

    bens consumveis e no-consumveis

    Caso fosse adotado um rigor cientfico extremo, nenhum bem seria em si consumvel, pois, segundo as leis da natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.

    Entretanto, ao Direito interessa a escala humana, e um bem consumvel se o seu uso implica na destruio imediata de sua prpria substncia (consumibilida-de natural), ou se o mesmo destinado alienao (consumibilidade jurdica).

    acertada a deciso do legislador de separar o conceito de fungibilidade do de consumibilidade. No existe correlao absoluta entre as duas idias. Um livreiro pode oferecer manuscritos de um autor venda, e esses so consumveis, embora infungveis.

    bens divisveis e indivisveis

    A divisibilidade prpria do bem. Diz-se divisvel o bem que, sem modi-ficao da substncia ou considervel desvalorizao, pode dividir-se em partes

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    direito das Pessoas e dos bens

    homogneas e distintas.182 J os bens indivisveis so aqueles que no podem ser partidos sem alterao de sua substncia ou sacrifcio do seu valor. Trata-se de um critrio com bases utilitaristas, voltado para a manuteno do valor eco-nmico do bem.

    A indivisibilidade pode ser criada pela vontade humana, como, por exemplo, uma dvida que s pode ser paga integralmente.

    bens singulares e coletivos

    O novo Cdigo Civil mantm essa distino, embora s conceitue os bens singulares (art. 89), que, reunidos, so considerados de per si, independentemen-te dos demais.

    Os bens coletivos, ou universais, so tratados como agregados em um todo. Na universalidade de fato h uma pluralidade de bens autnomos a que se d uma destinao unitria, como no caso de uma biblioteca. Na universalidade de direito h o complexo de relaes jurdicas dotadas de valor econmico, como no patrimnio e na herana.

    Essa classificao ser de grande importncia para o estudo de temas ligados prtica contratual e ao Direito Empresarial, como o estabelecimento empresarial (fundo comercial) e a concorrncia desleal.

    bens disponveis e indisponveis

    Bens disponveis so aqueles que podem ser objeto de negcios jurdicos. Para os romanos, esses eram os res in commercium, em contraposio aos res extra commercium.

    Os bens indisponveis podem ser divididos em trs categorias: os naturalmente indisponveis, como o ar atmosfrico, o mar, que no podem ser subordinados dominao humana; bens legalmente indisponveis, como bens pblicos de uso comum, como a honra e a vida; e os bens inalienveis pela vontade humana, sub-metidos a uma clusula de inalienabilidade.

    bens pblicos e particulares

    Considerando os bens em relao ao seu titular, podem os mesmos ser de na-tureza pblica ou privada. Esta distino encontra embasamento no texto cons-titucional, definindo o art. 20 da Constituio Federal os chamados bens da Unio.

    Os bens pblicos so divididos em: bens de uso comum, como ruas, estradas e praas; bens de uso especial, destinados ao servio ou ao estabelecimento de algum dos entes da Administrao Pblica, como edifcios de reparties pblicas; e bens dominicais, que integram o patrimnio de pessoas jurdicas de direito p-blico como objeto de direito pessoal e real dessas entidades.

    182 orlando gomes. Introduo ao Direi-to Civil. rio de Janeiro: forense, 1999. p. 225.

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    direito das Pessoas e dos bens

    vedada a alienao de bens de uso comum e de uso especial. Somente os bens dominicais podem ser objeto de negcios jurdicos, ainda assim sendo ne-cessria a respectiva autorizao legislativa.

    2. casos gEradorEs

    2.1. roubo de terras

    Muito se fala na imprensa sobre roubo de terras: De tais conversas extraem-se provas cabais de que o empresrio est envolvido

    com o roubo de terras pblicas do DF.(www2.correioweb.com.br/cw/ EDICAO_20021012/col_cor_121002.htm)

    Os fatos so: A matria que [a revista] publicou sobre o maior roubo de terras pblicas da Amaznia tinha 4 pginas.

    (www.carosamigos.terra.com.br/novas_corpo_ci.asp?not=602)

    No ao roubo de terras. Os manifestantes carregavam cartazes com os dizeres: Coexistncia sem muros, Paz, liberdade e segurana para os dois povos.

    (www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/story/2003/07/030716_guilacb.shtml)

    Mas ser correta essa designao? O caso abaixo explora os efeitos prticos de se aplicar a correta classificao dos bens.

    O Ministrio Pblico do Estado do Rio de Janeiro recebeu da Delegacia de Polcia de Petrpolis inqurito policial que indicava fortes indcios de roubo de terras por um grupo armado. O grupo invadiu o terreno de uma fazenda pro-dutora de hortalias e afugentou os trabalhadores mediante uso de machados e facas. Os ladres recusam-se a sair do terreno, alegando que este agora lhes per-tence. Os empregados da fazenda no conseguem voltar ao trabalho.

    O Promotor de Justia da Comarca de Petrpolis, ao receber o inqurito, imediatamente ofereceu denncia contra todos os integrantes da quadrilha por roubo, art. 157 do Cdigo Penal, o qual est assim redigido:

    RouboArt. 157 Subtrair coisa mvel alheia, para si ou para outrem, mediante

    grave ameaa ou violncia a pessoa, ou depois de hav-la, por qualquer meio, reduzido impossibilidade de resistncia:

    Pena recluso, de quatro a dez anos, e multa.

    A classificao dos bens foi corretamente empregada no caso concreto? A sua aplicao no caso poderia conduzir a um resultado distinto?

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    direito das Pessoas e dos bens

    2.2. apreenso de caa-nqueis

    A empresa FunTime Jogos e Diverses Eletrnicas Ltda. importa mquinas caa-nqueis da Bolvia e contrata a sua disponibilizao em bares e boates na cidade do Rio de Janeiro. Depois de dez anos no mercado, ela comea a sofrer prejuzos com constantes aes da polcia, geralmente culminando na apreenso de suas mquinas. Cada mquina que apreendida pela polcia representa um significativo prejuzo para a empresa, uma vez que o estabelecimento objeto da operao policial geralmente decide romper o contrato com a FunTime para evitar maiores transtornos com as autoridades policiais.

    Preocupados com essa situao, os advogados da FunTime resolvem ingressar em juzo com uma medida ousada: impetrar mandado de segurana em face do Exmo. Sr. Secretrio de Estado e de Segurana Pblica do Estado do Rio de Janeiro para buscar deciso que impea a polcia de apreender as suas mquinas. Liminarmente, os advogados pediram a suspenso de toda e qualquer ao da polcia no sentido de apreender as referidas mquinas.

    Como principal argumento, alegam os advogados que as mquinas caa-n-queis so bens de produo e, portanto, no poderiam ser apreendidas deli-beradamente pelas autoridades policiais, pois elas incorporam o acervo de bens indispensveis para o funcionamento da empresa.

    No seu entendimento, a liminar requerida pela FunTime dever ser conce-dida? Justifique.

    3. QuEstEs dE concurso

    Concurso para ingresso na carreira de Advogado Geral da Unio (1998)51. Os frutos armazenados em depsito para expedio ou vendas so os:

    a) percipiendosb) estantesc) consumidosd) percebidose) pendentes

    Concurso para o cargo de Advogado Jnior BR Distribuidora (maio/2004)37. O Direito Civil no conhece a categoria de imvel por:

    a) naturezab) fungibilidadec) determinao legald) acesso fsicae) acesso intelectual

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    direito das Pessoas e dos bens

    AuLA 14. BENS PRINCIPAIS E ACESSRIOS BENFEITORIAS

    EmEntrio dE tEmas

    Bens principais e acessrios Benfeitorias necessrias Benfeitorias teis Benfeitorias volupturias Paradigma da Essencialidade

    caso gErador

    Benfeitorias Indenizao e Reteno

    LEitura obrigatria

    NEGREIROS, Teresa. Teoria do Contrato: Novos Paradigmas. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. pp. 385-392 e 413-428.

    LEituras compLEmEntarEs

    AZEVEDO, Antonio Junqueira. Bens Acessrios, in Estudos e Pareceres de Direito Privado. So Paulo: Saraiva, 2004. pp. 80-92.

    RIZZARDO, Arnaldo. Parte Geral do Cdigo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2002. pp. 296-306.

    1. rotEiro dE auLa

    A presente aula continua o estudo dos bens, analisando agora os bens reci-procamente considerados, com especial ateno para as chamadas benfeitorias e sua correspondente classificao. Os bens reciprocamente considerados so tradicionalmente divididos em principais e acessrios. A benfeitoria, por sua vez um bem acessrio.

    Muito se discute sobre a natureza de uma benfeitoria, se ela necessria, til ou volupturia. Essa definio ter repercusses prticas importantes na relao contratual, sobretudo em contratos de locao de imveis.

    A principal contribuio que o regime das benfeitorias concedeu ao estudo do Direito Civil moderno , sem dvida, a abertura de um campo frtil para a anlise das relaes jurdicas com base na utilidade dos bens para as pessoas. Com base em ampla jurisprudncia, hoje buscada a construo de uma teoria sobre a aplicao do regime de classificao das benfeitorias (necessrias, teis e volupturias) no apenas para os bens, mas para todo e qualquer contrato.

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    direito das Pessoas e dos bens

    Esse o chamado paradigma da essencialidade, que busca aplicar essa classifi-cao na interpretao e aplicao de clusulas contratuais, privilegiando dispo-sies que asseguram condies necessrias para a vida do homem. Quando se fala que uma benfeitoria necessria, est-se querendo dizer que ela necessria conservao do bem principal, como um imvel, por exemplo. Ao classificar um certo contrato como necessrio, est-se a exigir o seu cumprimento de forma prioritria, pois assim demanda uma pessoa humana.

    bens principais e acessrios

    Em um mundo complexo, as relaes no podem ser analisadas individual-mente. H mesmo quem diga que, especificamente na seara contratual, vivemos um momento de hipercomplexidade. No caso dos bens, podemos encontrar a mesma situao, particularmente no que concerne relao entre bens princi-pais e acessrios.

    O Cdigo Civil aborda o estudo dos bens reciprocamente considerados em captulo prprio, do art. 92 ao art. 97. O bem principal, na dico do art. 92, aquele que existe sobre si, abstrata ou concretamente. Adverte San Tiago Dantas que o verbo existir da definio deveria ser melhor expli-cado. No seu exemplo, a existncia de uma roda de um carro independen-te, pois ela ocupa espao no mundo fsico e identificada como uma roda, entretanto ela s cumpre sua funo econmica se estiver inserida dentro de um carro.

    J o bem acessrio, segundo Caio Mrio, pela sua prpria existncia subor-dinada, no tem, nesta qualidade, uma valorao autnoma, mas liga-se-lhe o objetivo de complementar, como subsidirio, a finalidade econmica da coisa principal.183

    No tratamento dos bens reciprocamente considerados, duas so as regras principais: (i) o bem acessrio segue o destino do bem principal (accessorium sequitur principale); e (ii) o bem acessrio, formando um todo com o bem prin-cipal, integra o direito que sobre o mesmo exerce o titular.

    D-se primeira regra o nome de princpio da gravitao jurdica. O Cdigo Civil atual retirou esse princpio de seu texto, uma vez que a lei permite que as partes convencionem de modo contrrio, desvinculando o destino do bem aces-srio daquele reservado ao bem principal.

    Todavia, o prprio Cdigo Civil dispe em diversos momentos no sentido de vincular o acessrio ao principal: (i) a posse do imvel presume a dos mveis que nele estiverem (art. 1.209); (ii) a obrigao de dar coisa certa abrange seus acessrios, ainda que no mencionados, exceto se o contrrio resultar do ttulo ou das circunstncias do caso (art. 233); (iii) a nulidade da obrigao principal importa a da clusula penal (art. 922); e (iv) na disposio de um crdito so abrangidos todos os seus acessrios (art. 287).

    Bens acessrios podem ser: 183 Caio mrio da silva Pereira. Institui-es de Direito Civil, vol. i. rio de Janei-ro: forense, 2004. p. 435.

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    direito das Pessoas e dos bens

    Naturais quando aderem espontaneamente ao principal sem a interveno humana, como nos frutos das rvores, as crias de animais (no inseminados atravs de ao humana);

    Industriais quando surgem do esforo humano, como as casas em relao ao terreno onde se encontram; e

    Civis quando resultam de uma relao abstrata de direito, no de uma vin-culao material como nos demais bens acessrios. o caso dos juros em relao ao principal, os nus reais em relao coisa gravada, ou seja, direitos relaciona-dos a relaes jurdicas principais.

    Alm dessa classificao em bens acessrios naturais, industriais e civis, os bens acessrios podem ainda ser classificados em frutos, produtos e benfeitorias. Existe ainda a categoria das chamadas pertenas, inovao do Cdigo Civil de 2002.

    Frutos

    Os frutos so as utilidades que a coisa periodicamente produz, sem desfalques da sua substncia. A palavra periodicamente de grande relevncia, pois pela periodicidade que os frutos podem ser diferenciados dos produtos. Os produ-tos, ao serem retirados, fazem a coisa perder substncia. Por exemplo, a retirada de carvo de uma mina a retirada de um produto. A mina perde substncia e em algum momento ficar sem carvo, uma vez que o mesmo no se renova. Com a retirada de frutos, contudo, o bem no perde substncia, possibilitando a sua retirada periodicamente.

    Os frutos so classificados quanto a seu estado. Os frutos so pendentes, en-quanto unidos coisa que os produziu; percebidos ou colhidos, uma vez que so separados do bem principal; estantes, se depois de separados permanecem arma-zenados ou acondicionados para posterior alienao; percipiendos, os que deviam ser, mas no foram percebidos; e, por fim, consumidos, aqueles que no existem mais por terem sido utilizados.

    Para que se tenha uma idia da importncia da classificao dos bens acess-rios e, mais especificamente, dos frutos, veja a deciso abaixo:

    CIVIL E CONSUMIDOR. INCORPORAO IMOBILIRIA. PRO-MESSA DE COMPRA E VENDA DE UNIDADE AUTNOMA. DESCUM-PRIMENTO DO PRAZO DE ENTREGA. RESCISO DO CONTRATO COM PERDAS E DANOS. Ao de resciso de promessa de compra-e-venda de unidade autnoma c/c perdas e danos, fundada no descumprimento de clu-sula do pacto que fixa prazo para entrega da coisa pelo incorporador. Alegao de fora maior consubstanciada na demora da obteno de financiamento junto ao agente financeiro inimputvel aos autores, j que se insere no risco do em-preendimento e no pode ser considerado fato imprevisvel. Devoluo inte-gral do desembolso. Tese incabvel de pr-fixao das perdas para a hiptese de

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    direito das Pessoas e dos bens

    inadimplemento, com clusula penal meramente moratria. Renncia clausular imposta ao consumidor disputa de outras verbas que se afigura abusiva, j que o coloca em desvantagem frente ao fornecedor do produto. Exegese do art. 51, IV, da Lei 8.078/90. Perdas in re ipsa, consubstanciadas nos frutos civis que retiraria da coisa, no valor de um aluguel mensal, quantum a ser encontrado em liquidao por arbitramento. Incidncia correta de juros legais de 6% (seis por cento) ao ano at a entrada em vigor do novo Cdigo Civil, e de 1% (um por cento) ao ms a partir da, por fora do art. 406 c/c 1, do art. 161, do CTN. Sentena que caminhou nessas direes, incensurvel, improvimento recurso que pretendia revert-la. Unnime.

    (TJRJ Apelao Cvel n 2005.001.00313, Des. Murilo Andrade de Car-valho; j. em 26/04/2005)

    A distino feita entre os diversos tipos de frutos no meramente terica, uma vez que o possuidor de boa-f, por exemplo, faz jus aos frutos percebi-dos, mas no aos pendentes, nem aos colhidos antes do prazo. O possuidor de m-f, por sua vez, no tem direito aos frutos, devendo restituir aqueles j percebidos.

    Os frutos, como vemos sendo comercializados na Bolsa de Mercadorias e Fu-turos, podem at mesmo no existir fisicamente. Isso no impede que transaes sejam feitas com base neles, conforme expe o acrdo abaixo:

    Venda de safra futura. Bens mveis por antecipao. A venda de frutos, de molde a manifestar o intuito de separao do objeto da venda em relao ao solo a que adere, impe a considerao de que tais coisas tenham sido, pela mani-festao de vontade das partes contratantes, antecipadamente mobilizadas. Se, no momento do ajuizamento do feito, j havia sido realizada a colheita, tem-se como acertada a deciso que nega aos frutos a natureza de pendentes. Agravo a que se nega provimento.

    (STJ, AgRg no Ag 174406 / SP, Min. Eduardo Ribeiro, j. em 25/08/1998)

    Vale lembrar que, assim como os bens acessrios genericamente falando, tambm os frutos podem ser naturais, industriais e civis.

    produtos

    Em oposio definio encontrada para os frutos, os produtos so as uti-lidades retiradas de um bem que importam em reduo de sua substncia. Os produtos no so renovveis, pois a sua extrao leva inexoravelmente ao es-gotamento do bem de onde ele se deriva. O principal exemplo de produto o mineral que se extrai de uma mina.

    Pode-se dizer que os produtos so retirados periodicamente, mas esta perio-dicidade passageira. Os frutos podem ser retirados, a princpio, infinitamente; os produtos, no.

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    direito das Pessoas e dos bens

    pertenas

    O novo Cdigo Civil disps no art. 93 sobre as pertenas. Diferentemente dos bens acessrios lato sensu, as pertenas so partes constitutivas da prpria coisa e esto em conexo ntima com ela, mas podem ser separadas sem ter seu valor econmico destrudo. As pertenas podem estar ligadas utilizao do bem para destinao de forma duradoura ao servio, uso ou aformoseamento do bem principal.

    Diferentemente dos bens acessrios, as pertenas no seguem, em via de re-gra, o destino do bem principal, mas podem seguir por interesse das partes e por determinao legal, ou ainda por fora das circunstncias do caso. Sendo assim, a elas no se aplica o princpio da gravitao jurdica.184

    Segundo Silvio Venosa, as pertenas tm como caractersticas:

    i) um vnculo intencional, material ou ideal, estabelecido por quem faz uso da coisa, colocado a servio da utilidade do principal; ii) um destino duradouro e permanentemente ligado coisa principal e no apenas transitrio; e iii) uma destinao concreta, de modo que a coisa fique efetivamente a servio da outra. Sendo assim, a pertena forma, juntamente com a coisa, unidade econmico-social.185

    Mesmo antes da entrada em vigor do novo Cdigo Civil, a doutrina j reco-nhecia a existncia das pertenas. O novo Cdigo apenas inovou em conferir ao instituto um tratamento expresso em seu texto.

    benfeitorias

    Benfeitorias so o resultado de despesas e obras com a conservao, melho-ramento ou aformoseamento de um bem principal. A sua classificao segue portanto o intuito de sua realizao: para conservar, acrescer uma utilidade ou para simplesmente tornar mais confortvel ou luxuoso o bem principal.

    Na prtica, sempre preciso perguntar: em que consiste a conservao de um bem imvel? Deve-se pensar que conservar um bem mant-lo exatamente da mesma forma em que ele foi entregue ou seria apenas impedir a sua runa? Essa apenas uma das diversas questes que movimentam os tribunais na questo das benfeitorias. A necessidade acaba sendo apreciada casuisticamente pelo juiz, com base nos fatos narrados e nas circunstncias das pessoas e bens envolvidos na ao. Os juzes devero tambm observar os usos e costumes do local. Em um pas de dimenses continentais como o Brasil. o conceito de benfeitorias necessrias, teis ou volupturias pode variar.

    Alm do espao, o tempo tambm interfere no conceito de benfeitoria. Con-forme explicita Arnoldo Wald, uma garagem, que era considerada benfeitoria volupturia h quarenta anos atrs pode, hoje, ser classificada como benfeitoria til.186

    184 marcelo Calixto, dos bens. in: te-Pedino, gustavo (org.). Parte Geral do Novo Cdigo Civil. rio de Janeiro: reno-var, 2002. p. 173.

    185 silvio de salvo venosa. Direito Civil, vol. i. so Paulo: atlas, 2002. p. 311.

    186 arnoldo Wald. Curso de Direito Civil Brasileiro, vol. i. so Paulo: revista dos tribunais, 1992. p. 178.

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    direito das Pessoas e dos bens

    As benfeitorias podem ser:Necessrias, quando tm por fim conservar a coisa ou evitar que se deteriore.

    Estas devem ser indenizadas pelo proprietrio independentemente da boa ou m-f do possuidor que as realize. Entretanto o direito de reteno s assiste ao possuidor de boa-f (art. 1.220 do CC).

    A conservao do bem e a necessidade de se realizar uma benfeitoria foram determinantes para a deciso do acrdo cuja ementa abaixo se transcreve:

    Reintegrao de posse. Comodato. Sentena de procedncia. Preteno de posse ad usucapionem, comprometida pela condio de locatrios com que ace-naram os rus, jamais demonstrada, todavia, como lhes cumpria fazer. O co-modatrio que, notificado, no demite de sai posse do bem, comete esbulho. Benfeitorias. O comodatrio s tem direito indenizao pelas benfeitorias ex-traordinrias e urgentes que se viu obrigado a fazer, no intuito de conservao do bem emprestado, no assim por outras, teis ou necessrias que sejam, como se recolhe do artigo 1.254, do Cdigo Civil de 1.916 (584, do atual), sobremodo porque tem cincia de que as erige em prdio alheio. Prova pericial desnecessria. Apelao no provida.

    (TJRJ, Apelao Cvel 2005.001.09845, Des. Mauricio Caldas Lopes, j. em 17/05/2005)

    teis, quando aumentam e facilitam o uso da coisa. As benfeitorias teis apenas melhoram a qualidade e a capacidade de utilizao dos bens. Devem ser indenizadas ao possuidor de boa-f, ao qual tambm assiste o direito de eventual reteno.

    Volupturias, quando as benfeitorias so de mero deleite ou recreio, no au-mentando o uso habitual da coisa, ainda que a tornem mais agradvel ou sejam de elevado valor. Pode haver indenizao destas benfeitorias se for impossvel seu levantamento sem prejuzo ao imvel.

    POSSE DE BOA F. BENFEITORIA NECESSRIA. DIREITO DE RETENO. INDENIZACAO POR BENFEITORIAS. O possuidor de boa f tem o direito de indenizao pelas benfeitorias necessrias e teis, com o respectivo poder de reteno, e o de ressarcimento das volupturias, se no puder levant-las sem detrimento do imvel.

    (TJRJ, Apelao Cvel n 2003.001.07773, Des. Milton Fernandes; j. em 06/05/2003)

    O contrato de locao de imvel urbano apresenta algumas especificidades. Nele pode ser inserida clusula expressa de iseno de indenizao de benfeito-rias teis e necessrias que o locador tiver realizado com autorizao do proprie-trio (arts. 35 e 36 da Lei n 8.245/91). A Lei de Locao de Imveis Urbanos especial em relao ao Cdigo Civil e ao Cdigo do Consumidor, logo esta derrogaria a aplicao destes dois textos normativos.

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    direito das Pessoas e dos bens

    Assim j decidiu o Superior Tribunal de Justia, conforme se nota no acrdo abaixo:

    LOCAO - RETENO POR BENFEITORIAS - CODIGO DO CONSUMIDOR LEI 8.070/90 - INAPLICABILIDADE.

    1. NO NULA CLAUSULA CONTRATUAL DE RENNCIA AO DI-REITO DE RETENO OU INDENIZAO POR BENFEITORIAS.

    2. NO SE APLICA S LOCAES PREDIAIS URBANAS REGULA-DAS PELA LEI 8.245/91, O CDIGO DO CONSUMIDOR.

    3. RECURSO NO CONHECIDO.(STJ, REsp 38.274/SP; Min. Edson Vidigal; j. em 09/11/1994)

    Contudo, o STJ posteriormente reviu o seu posicionamento, em diversas outras decises (vide, nesse sentido, REsp n 90.366/MG, Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, j. em 11/06/1996).

    paradigma da essencialidade

    A distino entre benfeitorias necessrias, teis e volupturias feita com base na sua relao com o bem principal. A necessidade, utilidade e mero afor-moseamento em questo so pautados por critrios de natureza patrimonial.

    Alguns autores tm buscado ampliar o regime concedido s benfeitorias para conceber a relao de necessidade que possa vir a existir entre a pessoa humana e um bem ou prestao jurdica.

    A releitura das categorias visa torn-las mais aptas a concretizar os valores constitucionais, como a dignidade da pessoa humana, o direito sade, o res-peito terceira idade, etc. Atualmente as benfeitorias so conceituadas com base na utilidade que proporcionada a um outro bem.

    Essa apropriao da classificao das benfeitorias para as demais relaes ju-rdicas, buscando trazer as necessidades da pessoa para o debate, denominada paradigma da essencialidade. A partir de sua concepo, podem-se dividir no apenas os bens, mas tambm as prestaes relativas a um contrato, em: existencialmente essenciais, teis e suprfluas.

    Desta forma, os pincis de um pintor so bens existencialmente essenciais, da mesma forma que seria um piano para um pianista. So bens necessrios para o sustento de seus proprietrios, imprescindveis para sua vida digna. Essa consta-tao acarretaria a sua impenhorabilidade.

    No prprio Cdigo de Processo Civil pode-se encontrar um delineamento da matria, cuja aplicao objeto de diversas decises judiciais, nos artigos 648 e 649, que assim dispem:

    Art. 648. No esto sujeitos execuo os bens que a lei considera impenho-rveis ou inalienveis.

    Art. 649. So absolutamente impenhorveis:

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    direito das Pessoas e dos bens

    I os bens inalienveis e os declarados, por ato voluntrio, no sujeitos execuo;

    II as provises de alimento e de combustvel, necessrias manuteno do devedor e de sua famlia durante 1 (um) ms;

    III o anel nupcial e os retratos de famlia;IV os vencimentos dos magistrados, dos professores e dos funcionrios p-

    blicos, o soldo e os salrios, salvo para pagamento de prestao alimentcia;V os equipamentos dos militares;Vl os livros, as mquinas, os utenslios e os instrumentos, necessrios ou

    teis ao exerccio de qualquer profisso;Vll as penses, as tenas ou os montepios, percebidos dos cofres pblicos,

    ou de institutos de previdncia, bem como os provenientes de liberalidade de terceiro, quando destinados ao sustento do devedor ou da sua famlia;

    Vlll os materiais necessrios para obras em andamento, salvo se estas forem penhoradas;

    IX o seguro de vida;X o imvel rural, at um modulo, desde que este seja o nico de que dispo-

    nha o devedor, ressalvada a hipoteca para fins de financiamento agropecurio.

    O regime adotado por esse novo paradigma encontra atualmente maiores desafios nas discusses sobre o bem de famlia. Mas o debate no deve ficar restrito ao bem de famlia, pois a concepo acima referida afeta toda e qualquer relao que envolva bens jurdicos, demandando do intrprete uma renovada ordenao de valores e ins-trumentos para a prtica do Direito. O bem de famlia caracterizado em funo da sua destinao propriamente existencial. A necessidade humana de moradia justifica a imposio de um regime jurdico especfico para tal espcie de bem.

    2. caso gErador

    benfeitorias indenizao e reteno

    John Smith um importante executivo de uma empresa petrolfera que est prestes a abrir uma filial no Rio de Janeiro. Para auxiliar na abertura de seu es-critrio carioca, a empresa mandou John para o Brasil com a misso de ficar na cidade por pelo menos trs anos. A prpria empresa tratou de alugar para John uma bela casa no Itanhang.

    Todavia, a estada de John na cidade no comeou bem. Logo na primeira semana, ao retornar de Maca, o helicptero de John sofreu um acidente grave. O executivo teve sorte de escapar com vida, mas sofreu srias leses em ambas as pernas, o que demandaria, pelo menos, uma semana que internao e mais dois anos de exerccios especiais e fisioterapia.

    Aps a semana no hospital, alguns assuntos comearam a preocupar John, sobretudo a disposio da casa que foi alugada. Como John no gostaria de

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    direito das Pessoas e dos bens

    sair da casa, j que havia se ligado emocionalmente mesma, ele solicitou ao seu estagirio que fizesse o oramento com vrias empresas de construo para a elaborao de duas obras na casa: (i) a remoo da escada da frente, que leva ao porto principal da casa, por um mini-elevador; e (ii) a construo de uma piscina para que John possa fazer os seus exerccios de recuperao.

    Depois de pesquisar os oramentos, John optou por fazer a obra da escada com a empresa que lhe ofereceu o menor preo. J no caso da piscina, o ora-mento escolhido por John foi o segundo mais caro. O motivo para escolher esse oramento foi a qualidade reconhecida da empresa na construo de piscinas para residncias.

    Precisa John pedir indenizao ao seu locador para a realizao das obras? Ao trmino do contrato de locao, ser John indenizado pelas obras realizadas? Caso o locador no concorde em indenizar John, poder ele exercer direito de reteno? O fato de John ter sofrido um acidente muda em qualquer aspecto as respostas que voc daria para as questes acima?