15
Resumos

Resumos - sigarra.up.pt fileBorrador de huma arte poética que se intentava escrever da autoria de D António de Ataíde, º conde da Castanheira e º conde de Castro Daire,

Embed Size (px)

Citation preview

  • Resumos

  • RESUMOS

    Barroso, Paulo (IP Viseu), O discurso da mediao: hermenutica, retrica e potica

    em Paul Ricoeur.

    Conforme sugere o ttulo desta minha proposta, pretendo relacionar estas trs disciplinas (a

    hermenutica, a retrica e a potica) e contribuir para a compreenso das recprocas implicaes

    em torno de um mesmo elemento ou fundo comum: o discurso. Justifica-se esta tripla relao

    porque o discurso beneficia quer das trs disciplinas quer das respectivas relaes. Considerando

    que os estudos sobre o discurso possuem uma importncia prtica e uma pertinncia intemporal,

    porque os prprios discursos readquirem permanentemente novas roupagens e estratgias, cinjo-

    me, para o efeito, perspectiva da hermenutica lingustica de Paul Ricoeur, porque este autor

    apresentou uma abordagem integradora do discurso como produtor e transmissor de sentido.

    Segundo Ricoeur, a hermenutica a arte de interpretar textos em contextos distintos (os do autor

    e os do seu pblico) para descobrir novas dimenses da realidade; a retrica a arte de

    argumentar para convencer de que uma certa opinio prefervel a outra(s); e a potica a arte de

    construir intrigas (fices) para ampliar o imaginrio individual e colectivo. Estas trs disciplinas

    so duplamente especficas e complementares, mas continuaro a s-lo, incidindo no re-descrever,

    no argumentar e no configurar. Efectivamente, o discurso intencionado e estratgico produz

    sentidos eficazes que resultam do trabalho diferenciado sobre a palavra (ou signo enquanto forma

    lexical da palavra e unidade primeira ou mnima de significao) ou, para Ricoeur, sobre a

    proposio (enquanto unidade complexa que coordena e vincula um sujeito e um predicado) que

    cada uma destas disciplinas permite realizar. Conforme adiantou Ricoeur numa conferncia

    intitulada Rhtorique, potique, hermneutique, proferida em 1970 no Institut des Hautes

    Etudes de Belgique, a linguagem trabalhada desta forma e por estas trs disciplinas permite

    concretizar a sua essencial funo, pois quequun dit quelque chose quelquun sur quelque

    chose. Se dividirmos esta declarao, encontramos as trs partes essenciais de qualquer acto de

    comunicao: 1) qualquer pessoa que diz, o enunciador que desencadeia um acto de fala; 2)

    qualquer coisa sobre qualquer coisa, a relao entre o sentido produzido e o respectivo referente;

    3) a algum, o destinatrio ou interlocutor, a quem endereada a palavra pelo enunciador, que

    transforma o enunciado numa mensagem comunicada. Surge ento a questo da mediao, que

    est presente quer nas relaes entre estas trs partes essenciais quer nas relaes entre as

    mencionadas trs disciplinas do discurso: a hermenutica, a retrica e a potica. Estas vrias

    relaes tornam o discurso objecto da mediao com fins performativos, para o qual contribui o

    carcter interpretativo e compreensivo da hermenutica, o carcter argumentativo e persuasivo da

    retrica e o carcter esttico e configurador da potica.

  • Cordeiro, Adriano Milho (ES Torres Novas), Bor rador de huma ar te potica

    de D. Antnio de Atade.

    A partir dos finais do sculo XV e, sobretudo aps a redescoberta e a difuso da Potica de

    Aristteles no primeiro quartel do sculo XVI, at cerca de meados da centria de XVII, os

    trabalhos e investigaes sobre teoria literria usufruram de uma das fases mais radiantes e

    frutferas na histria da cultura ocidental. A obra manuscrita em vernculo, intitulada

    Borrador de huma arte potica que se intentava escrever da autoria de D. Antnio de

    Atade, 5. conde da Castanheira e 1. conde de Castro Daire, faz parte desse importante

    acervo ainda Quinhentista. A observao e divulgao da teoria potica de Atade de

    enorme interesse, porquanto e apesar de se tratar de um texto manuscrito, cujo jaez se

    aproxima do comentrio, o seu estudo e publicao so extremamente importantes para a

    percepo da nossa Histria Literria da poca clssica, para alm de ser uma smula

    notvel sobre a teoria Potica do seu tempo, porquanto trata dos clssicos, antigos e

    modernos, de todos os tempos e das obras de alguns autores lusos do sculo XVI em

    particular. O seu carcter crtico-literrio permite-nos afirmar que foi uma das primeiras

    obras do gnero a ser composta no contexto ibrico de forma to completa. Pena que um

    Borrador de huma arte potica que se intentava escrever no tivesse passado disso mesmo,

    ainda que se trate de um texto manuscrito excepcional pelo valor que ele prprio contm,

    como desde j se pode inferir.

    Costa, Alexandre Barboza (USP, So Paulo), Pero de Magalhes Gndavo e o

    gnero histrico.

    A prtica da poesia e da prosa, na sociedade quinhentista e seiscentista portuguesa, regulava

    o bom uso, que era fundado e modelizado nas autoridades retricas, bem como a veiculao

    e recepo dos textos nos sales, universidades, academias e mosteiros. Regrada pelo bom

    uso da letra reinol, tratava-se, portanto, de uma prtica socialmente decorosa. Basicamente

    trs princpios norteavam a composio de um cronista: gravidade, honestidade e autoridade,

    sobretudo quando a composio ou compilao de vrios textos para fundar um novo texto

    se debruasse sobre figuras rgias. No caso de Pero de Magalhes Gndavo, autor da

    Histria da Provncia de Santa Cruz, notamos, em seus aspectos retricos, dois traos bem

    marcados. Se por um lado edifica com uma descrio bem vvida a fauna, a flora, por outro,

    rebaixa/desvaloriza/vitupera o habitante local, o ndio. Desta forma julgamos que pode o

    texto ser categorizado no mbito do gnero demonstrativo na vertente de louvor e vituprio.

    A Histria da Provncia de Scta Cruz sai da oficina tipogrfica de Antnio Gonalves, em

    Lisboa, com uma tiragem de aproximadamente 38 livros. Esse texto aps sua primeira

    edio 1576 foi descoberto muito tempo depois 1836 por Henri Ternaux Compans

  • que o traduziu e o publicou no segundo volume da coleo Voyages, Relations et Mmories

    originaux pour servir l'histoire de la dcouverte de l'Amrique em 1837. Os quase trezentos anos

    de esquecimento da obra de Gndavo talvez possam ser explicados pela poltica de segredo que

    ainda cercava as possesses territoriais americanas da coroa portuguesa. Enquanto na Europa se

    multiplicavam as edies dos livros de Hans Staden e de Jean de Lry sobre o Brasil, em Portugal o

    livro de Gndavo, alm de no ter sido reeditado, pode ter sido retirado de circulao por conter

    informaes que a coroa portuguesa no pretendesse divulgar.

    H quatro verses do texto "Histria da Provincia de Scta Cruz....". A primeira redao dedicada

    rainha D. Catarina levava o ttulo Tratado da Provncia de Santa Cruz e pretende ser um sumrio,

    sobre a nova terra. O Tratado da Terra do Brasil dedicado ao cardeal infante D. Henrique. Este

    trabalho passa por um melhor acabamento e renomeiase Histria da Provncia de Scta Cruz que

    vulgarmente chamamos de Brasil, agora, com um terceto em sua Dedicatria do poeta que h pouco

    havia publicado Os Lusadas. Gndavo, com Garcia de Orta, foi um dos nicos do perodo a incluir

    poemas de Cames nas pginas preliminares de um livro e tambm a reconhecer o seu valor ao

    inclulo na lista dos grandes autores de sua poca, como nos conta em Dilogo em defesa da

    Lngua Portuguesa.

    Histria da Provncia de Scta Cruz ofertada a D. Lionis Pereira, filho natural do conde Feira,

    principal heri da defesa de Malaca contra o duro cerco imposto pelo sulto do Achm. Conhecem

    se duas redaes diferentes do referido texto. A primeira est registrada em um manuscrito da

    Biblioteca do Mosteiro do Escorial e traz duas ilustraes em cores: o monstro marinho e um mapa

    do Brasil. O manuscrito chegou Espanha junto com um lote de impressos e manuscritos

    provenientes de Portugal, em 1573, trazidos pelo florentino Giovanni Bautista Gesio, misto de

    emissrio e espio de Felipe II em Lisboa, com a misso de adquirir, secretamente, as obras mais

    significativas para as negociaes dos disputados limites entre as terras espanholas e portuguesas no

    Novo Mundo. A verso contida no manuscrito escorialense passou ainda por algumas modificaes,

    ganhou um captulo sobre o modo de vidas dos colonos e finalmente foi levada oficina de Antnio

    Gonalves em 1576.

    Deserto, Jorge (U. Porto), A voz do poeta em Tegnis de M gara.

    Tegnis de Mgara um dos poucos poetas do perodo arcaico grego cuja obra nos chegou atravs

    de transmisso manuscrita (o outro Pndaro). Mais versos no so sinnimo, no entanto, de maior

    esclarecimento e so mltiplas as dvidas acerca da autenticidade de grande parte deste corpus. H,

    ainda assim, alguns elementos fundamentais que merecem discusso: a polis numa situao incerta,

    o valor da philia, uma aristocracia que v o seu ascendente ser anulado pelo poder dos bens e, acima

    de tudo, um poeta com forte conscincia do valor da sua poesia, mesmo quando, volta, nada

    parece certo.

  • Falco, Pedro Braga (UCP Lisboa), O clmax enquanto ferramenta de anlise

    literria: do entendimento retrico do termo sua acepo moderna

    O conceito de clmax tem sido bastante usado na teorizao literria moderna, descrevendo

    aquele ponto culminante a que uma determinada obra chega, seja um discurso, um poema, uma

    tragdia ou um romance. Tambm no mbito dos estudos musicais o termo amplamente usado

    para descrever a forma como um compositor logra um momento particularmente expressivo no

    contexto de uma obra, e as ferramentas tcnicas de que dispe para o criar. Poucos, porm, referem

    o passado retrico e tcnico do termo, enquanto figura de estilo que consiste na repetio

    continuada, no incio de um membro, da palavra que est no final do anterior. Mas qual a relao

    entre esta figura de estilo e o seu sentido etimolgico em grego (klimax, escada)? Como se

    chegou do entendimento tcnico da figura a um sentido mais alargado do conceito? Porque se

    comeou a aplicar o termo ao ltimo degrau de um determinado movimento dinmico? Um estudo

    da complexa evoluo da palavra ao longo dos tempos, desde a antiguidade, passando pela

    teorizao retrica do Norte da Europa, e at ao seu sentido moderno, ajudarnos a propor uma

    teorizao mais precisa do conceito, que muitas vezes usado de forma imprecisa ou demasiado

    vaga. A comunicao centrar-se no gnero potico, partindo de um corpus de autores clssicos e

    modernos, esquematizando e ilustrando em que medida o conceito estudado na sua abrangncia

    retrica pode ser um utilssimo instrumento na anlise da construo e composio de um poema.

    Fialho, Maria do Cu (U. Coimbra), Retrica e crise em Eurpides, Ifignia em

    ulide

    Ifignia em ulide inscreve-se no questionamento euripidiano sobre a justeza da guerra, num tempo

    de decadncia e fractura da Hlade, fruto da longa guerra civil que destruiu cidades, destruiu

    valores e exps todas as repercusses da aco funesta dos demagogos, do perigo que representa a

    multido exposta manipulao pela sede de riqueza, facilmente obtida na guerra. Os inocentes so

    as vtimas. O Panelenismo um mito. Eurpides utiliza vrias modalidades de discursos de

    persuaso sem eficcia persuasiva, mas que desmascaram personagens, sejam os elocutores ou os

    receptores desses dicursos para dar mais vida a essa tenso de fim de sculo.

    Figueira, Rita (CEC - U. Lisboa), Vasos Gregos: Retrica e Poesis.

    No mundo clssico no existe uma reflexo explcita sobre comunicao, porm a retrica a

    primeira expresso deste conceito actual. Esta arte o acto de comunicao (Burke, 1968: 547) da

    polis, como cidade (astu), territrio dominado (chora) e comunidade de cidados (koinonia).

    Comunicar ainda fazer-se entender e persuadir (Wenzel, 1990:13), tornando algo comum a todos

    os que participam no acto comunicacional, que no se esgota com a execuo da mensagem.

    Efectivamente, em primeiro lugar necessrio conhecer o receptor e estruturar uma mensagem que

  • o influencie e, em segundo lugar importa alicerar o discurso em elementos comuns, objectivando

    uma intencionalidade (inuentio) planeada (dispositio), com smbolos que visam a persuaso

    (elocutio). A anlise da iconografia, em particular na cermica, refora esta compreenso. Os

    vasos gregos foram feitos para serem utilizados e observados com ateno de ambos os lados

    (Rasmussen; Spivy, 1991: 233) sendo, neste sentido, um canal de comunicao. A sua exportao

    propicia a circulao, mesmo nas fronteiras mais longnquas, propagando a mensagem

    rapidamente e de forma abrangente. Estes artefactos so realizados para uma clientela pr-

    determinada e para uma funo previamente definida. Quando os ceramistas moldam e pintam

    vasos destinados s mais diversas ocasies, pblicas e privadas, do quotidiano, moldam tambm o

    espao discursivo da polis, apelando reao dos seus espectadores. No estando subordinada ao

    controlo consciente, a imagem infiltra-se involuntariamente na mente, influenciando o

    pensamento e as atitudes (Giuliani, 2013:ix). Esta comunicao analisa alguns exemplares do sc.

    VI a. C., com uma dupla finalidade: (a) identificar alguns aspectos da teorizao retrica em vasos

    gregos e (b) mostrar que estes artefactos so um canal porttil de comunicao e debate, em que

    os temas apresentados correspondem a uma poesis.

    Frias, Joana Matos (U. Porto), M etfora e maravilha ou O estranho caso de uma

    Potica fundada numa Retrica: Algumas observaes sobre o Barroco.

    Tentativa de sistematizao dos processos tericos e empricos de estabelecimento de um regime

    figurativo na potica e na poesia barrocas da Europa, com base numa anlise retrica dos

    discursos produzidos em torno de pontas e agudezas, conceitos e metforas, engenho e

    contradio, a fim de demonstrar a pertinncia da proposta de Michel Foucault em As Palavras e

    as Coisas, de acordo com a qual o epistema barroco ter dado incio decisivo ao processo

    literrio de separao entre as palavras e as coisas que desencadeou, em ltima instncia, a

    constituio da Modernidade.

    Garca Jurado, Francisco (U. Complutense), Del antiguo rgimen a la sociedad

    liberal: la potica y la retrica en el primer manual oficial de literatura espaola

    (1844).

    En un trabajo previo (La Gua del perfecto latino (1848) de Luis de Mata i Araujo, o la derrota

    del Humanismo en Espaa, Cuadernos de filologa clsica. Estudios latinos 33/1, 2013, pp. 127-

    160), hemos estudiado cmo la muerte del humanista Luis de Mata i Araujo en 1848, catedrtico

    de la disciplina llamada Perfeccin del latn en la Universidad Central de Madrid, supuso algo

    ms que una muerte fsica, pues marc tambin el final de la enseanza preceptiva del estilo culto

    de la latinidad. A esta enseanza iba aparejada la lista de los autores latinos ms selectos, segn

    un modelo que responda perfectamente a los ideales clasicistas del siglo XVIII.

  • Estamos en un contexto donde todava, durante buena parte del siglo XIX, lo clsico queda

    dentro del dominio de la potica y la retrica, mientras que lo romntico se adecua mejor a las

    historias nacionales de la literatura. La Literatura latina es considerada de manera natural una

    literatura clsica por excelencia. Sin embargo, esta identificacin entre lo latino y lo clsico

    comienza a resquebrajarse a medida que aparece el nuevo discurso romntico de las literaturas

    nacionales junto a la tambin novedosa visin de la Historia de la Literatura latina como

    biografa del pueblo romano (Friedrich August Wolf). Paradjicamente, tambin era posible

    ofrecer una visin romntica de la Literatura de Roma (cf. F. Garca Jurado, Los manuales

    romnticos de literatura latina en lengua espaola [1833-1868], Revista de Estudios Latinos 11,

    2011, pp. 207-235).

    Gil de Zrate, como responsable de la Instruccin Pblica en la Espaa de mediados del siglo

    XIX, muestra un decidido inters en que la Perfeccin del latn se convierta en una nueva

    asignatura, la Literatura latina, al considerar que sta era una materia ms apta para los nuevos

    tiempos del liberalismo romntico. Sin embargo, el paso de lo normativo a lo histrico se

    traduce, a la hora de la verdad, en ensear Literatura latina sin latn, como va a hacer el suplente

    de Mata i Araujo durante su enfermedad, ngel Mara Terradillos, autor del primer manual de

    Literatura latina en Espaa (primera edicin en 1846 y segunda en 1848).

    El propsito de esta ponencia es analizar cmo Alfredo Adolfo Cams, sucesor de Mata i Araujo

    en la ctedra de la Central, ya no va a ser profesor de Perfeccin del latn, sino de Literatura

    latina. Sin embargo, Cams intenta encontrar una solucin de compromiso entre los antiguos

    tiempos (el estudio de los autores latinos desde los presupuestos de la Potica y la Retrica) y los

    modernos (el estudio histrico de la Literatura latina). Para ello, acude a las principales

    compilaciones de la Literatura latina hechas en el siglo XVIII y compone un detallado programa

    de curso redactado, precisamente, en latn (su Synopsis lectionum de 1848). Asimismo, otras dos

    obras publicadas poco antes, los Preceptistas latinos (1846) y su Curso elemental de Retrica y

    Potica (1847) se enmarcan dentro de este compromiso conciliador entre dos mundos.

    [Este trabajo se inscribe en el proyecto de investigacin FFI2013-41976, Historiografa de la

    literatura grecolatina en Espaa 3: el Legado Alfredo Adolfo Cams en la Biblioteca Histrica

    Marqus de Valdecilla (2015-2017), financiado por el Ministerio de Economa y

    Competitividad.]

    Henriques, Lus Miguel Ferreira (IP Portalegre), A arenga militar na pica e na

    poesia novilatina do sculo XVI.

    Em pleno sculo XVI, poca em se fazem sentir, em Portugal, os influxos tanto do Humanismo

    Renascentista, como dos sucessos da epopeia ultramarina, escritores de distintas formaes, num

    clima de exaltao e de emulao, multiplicam a produo de obras histrico-literrias de

    distintos gneros que vo desde a historiografia pica, at poesia novilatina, sobre a gesta

  • nacional. Tal como sucedera na Antiguidade, estas obras de temtica histrica deixam de ser

    entendidas apenas como um meio de preservao do passado, para serem percebidas como uma

    composio literria e erudita, em que a retrica e os diferentes procedimentos de imitao e de

    intertextualidade desempenham um papel cimeiro. Neste contexto em que a retrica tocou a obra

    de cariz histrico, no surpreende que que as obras de Quinhentos integrem e adaptem, sem

    parcimnia, um tipo de discurso que contava j com uma larga tradio histrico-retrica a

    arenga militar cujas origens remontam Grcia Antiga, particularmente em autores como

    Homero e Tucdides, verdadeiros precursores na arte de introduzir discursos nas suas obras

    histricas. Por um processo natural de imitao, a arenga militar converteu-se numa componente

    essencial no s da historiografia, mas tambm da pica greco-latinas sequentes, sucedendo o

    mesmo com a historiografia, com a pica, bem como com a poesia novilatina portuguesas de

    Quinhentos. Cumprindo diferentes funes na economia das obras em que esto inseridas, as

    arengas so igualmente um poderoso meio de caracterizao do ethos dos heris portugueses,

    cuja atuao remete para o comportamento valoroso de generais como Alexandre ou Csar.

    Nesta comunicao, propomo-nos fazer uma anlise transversal dos topoi retricos mais

    representativos e da sua integrao na tradio histrico-retrica presentes nas 30 arengas

    militares que foram identificadas na pica quinhentista, em autores como Cataldo Sculo, Andr

    de Resende, Jernimo Corte Real, Lus Henriques e Lus de Cames, bem como os exempla

    presentes na poesia novilatina de Diogo Pires e de Pedro Sanches. Procuraremos demonstrar que

    a arenga militar desempenha diferentes funes nas respetivas obras, motivo pelo qual o

    discurso mais caracterstico da historiografia e da pica de Quinhentos.

    Malato, Maria Lusa (U. Porto), O Que o Sublime?, de Correia Garo.

    A conferncia O que o Sublime?, apresentada por Correia Garo na Academia dos Ocultos em

    1755 (e por ns transcrita em 1987 e analisada em 2007), um dos primeiros textos da nossa

    retrica setecentista a refletir longamente sobre o conceito de sublime quando aplicado ao drama.

    Tendo por base o estudo e a traduo feita por Boileau, ainda no sculo XVII, o texto de C.

    Garo apresenta todavia algumas novidades, nomeadamente a associao do "estilo sublime" ao

    "gnero do melodrama", ou as remisses a um teatro que tem a mtica Antiguidade por modelo e

    tenta por isso chegar a um teatro radical, que corporize a unio entre a Musica e a Literatura.

    Manso, Henrique (U. Beira Inter ior ), Imitao e originalidade na cantiga de amor

    galego-portuguesa: a matriz provenal e os cdigos poticos peninsulares.

    Na cantiga de amor Quereu em maneira de proenal (B520b, V123), D. Dinis manifesta

    explicitamente o recurso imitatio, ao afirmar a apropriao dos cdigos poticos da finamors.

    No entanto, numa outra cantiga, de escrnio literrio, Proenaes soem mui bem trobar (B524b,

    V127), atravs do recurso ironia, j patente no primeiro verso, o Rei-Poeta estabelece uma

  • barreira aparentemente inultrapassvel entre os vates galego-portugueses e os provenais, pela

    explorao, na cantiga de amor e na cans, de dois topoi inconciliveis: o amorcoita e o amor

    joi, respetivamente. Ora, a tradio lrica galego-portuguesa tem em D. Dinis o seu mximo

    representante e a voz de todos os outros poetas, ao ponto de se anunciar o catastrfico

    desaparecimento dos trovadores e jograis aquando da morte do monarca portugus, em 1325, como

    testemunha o pranto Os namorados que trobam damor (V708). Assim, a conciliao daquelas

    duas posies aparentemente antagnicas, a saber, a imitao fiel do modelo provenal e a sua

    completa rejeio, na construo da cantiga de amor galego-portuguesa, ser o cerne desta

    comunicao. Restringiremos o nosso corpus s cantigas de dois trovadores peninsulares, D. Dinis,

    naturalmente, e Pero Garcia Burgals, que confrontaremos com a potica de alguns dos nomes

    maiores da poesia provenal, como Guilherme de Aquitnia, Jaufre Raudel ou Bernard de

    Ventadour. Verificaremos a influncia da matriz provenal tanto em aspetos versificatrios (a

    exemplo da rima aguda), como temticos (caso da apropriao do topos do amour de loin, de

    Raudel, entre outros). Refletiremos ainda sobre os cdigos poticos especficos da lrica galego-

    portuguesa que afastam, e no raras vezes opem, o cantar de amor em relao ao paradigma

    transpirinaico, como resultado de fatores diversos: a codificao de processos versificatrios

    prprios da lrica galego-portuguesa na fragmentria Arte de trovar; a inexistncia em solo

    peninsular de uma realidade poltica e social que validasse a correspondncia dos binmios suserano

    -vassalo e dama-trovador, como acontecia no sul de Frana; ou ainda a influncia da cantiga de

    amigo na codificao da cantiga de amor.

    Martins, Ana Isabel Correia (CECH Coimbra), Uma Viagem ndia de Gonalo M.

    Tavares: uma anti-epopeia retrica ou uma epopeia anti-retrica?

    Gonalo M. Tavares confessa que se diverte a trabalhar o texto de forma a torn-lo cada vez mais

    pequeno e potente, ganhando fora medida que perde palavras: gosto que as frases sejam exactas

    e ambguas, ao mesmo tempo, o que um pouco paradoxal mas assim, julgo que fica mais espao

    para o leitor. Uma vez que a arte a reduo de tudo sua essncia, esta sensibilidade esttica e

    retrica outorga poesia as suas virtutes elocutionis perspicuitas, ornatus, puritas, maiestas e abre

    espao hermenutica e interpretao. NUma Viagem ndia deparamo-nos com a hibridizao

    de gnero literrio, diluindo-se as tnues fronteiras entre romance potico, (anti)-epopeia, ensaio

    literrio em poesia. No entanto, a subverso no se apresenta apenas ao nvel da estrutura formal

    visto que esta obra no uma epopeia clssica que engrandece ou amplifica feitos histricos, nem

    uma aventura de superao e de conquista de um heri. Acima de tudo, Uma V iagem ndia o

    confronto do Homem com as suas falibilidades, distante das utopias e das ambies. Ao longo de

    dez cantos acompanhamos a demanda do protagonista, num percurso que no feito apenas na

    horizontal e de forma circular Lisboa, Londres, Paris, Praga, ndia, Lisboa - mas feito

    principalmente na verticalem queda. Uma personagem sem qualidades e que se entedia com a

  • prpria queda. O romance ensina a cair e ao mesmo tempo em que se inspira nos clssicos

    tambm assombrado pelo traumtico sc. XX, como se fosse uma caixa de ressonncia que

    reverbera pessimismo, tdio e melancolia. O nosso (anti)heri Bloom tal como o Ulisses de

    James Joyce viu a sua vida destruturada por um duplo homicdio, um que cometeu e outro que

    sofreu, e decide por isso viajar procura de sabedoria atravs do esquecimento, uma fuga com

    carcter pedaggico. A figura do Ulisses de Homero opera aqui como um hipertexto na anti-

    heroicizao de uma personagem, no s pelo carcter odioso dos processos de que se serviu

    mas tambm pelos fins que perseguiu. Esta irreligio que distancia o heri clssico do divino

    intensifica-se neste heri contemporneo de Gonalo M. Tavares. Mas Ulisses era tambm um

    heri profundamente racional e quando cega e ludibria a fora bruta do Ciclope pe termo era

    dos gigantes e d incio era do Homem vido, curioso por (se) conhecer (n)o mundo, tantas

    vezes seguindo os trilhos da imperfeio, do declnio e da morte, sinais da fragilidade dos heris

    mas tambm da sua humanidade. Em pleno sculo XXI, as produes poticas germinam neste

    humus dos topoi clssicos - viagem e regresso - e nesta dialctica de memria e esquecimento.

    Sabemos hoje o que j pressentiam os heris da Antiguidade: no viajamos para nenhum paraso

    e todas as viagens so sempre um regresso ao passado de onde nunca samos. Estas aventuras de

    Bloom conduzem-nos, assim, pelos labirintos intertextuais da epopeia clssica, desconstruindo-

    os e narrando o humanismo de um heri que falha, vinga e sofre com todas as suas

    vulnerabilidades. Este heri contemporneo demiurgo e interfere na sua prpria mudana

    porque at o imutvel se no mudar ser empurrado (Canto VIII, 31). Bloom traou uma

    viagem para o outro lado do mundo para fugir dele mesmo mas acabou por ser conduzido para o

    outro lado de si prprio. Ter aprendido mais em movimento ou quando parou? De facto, esta

    obra coloca uma questo desafiante aos estudos retricos e de teorizao literria: se em pleno

    sculo XXI as poticas respeitam as virtutes elocutionis e as suas funes retricas clssicas -

    docere, delectare, movere servindo-se delas para desmontarem e derrogarem os gneros

    literrios, ser que se convertem irremediavelmente em anti-retricas ou so simplesmente

    retricas modernas e de vanguarda?

    Martins, Cndido Oliveira (UCP Braga), O poeta Diogo Bernardes e a retrica do

    queixume.

    Poeta ulico da segunda metade do sc. XVI, Diogo Bernardes legou-nos uma poesia lrica,

    buclica e religiosa, tocada pelas tintas da melancolia maneirista. Tendo participado

    historicamente na campanha africana de Alccer Quibir, expressou depois em registo potico

    algumas das dificuldades por que passou. Sobretudo nas Cartas de O Lima (1596), o poeta

    relembra os servios prestados Ptria; lamenta repetidas vezes a precariedade em que se

    encontra; dirige reiterados pedidos a vrios mecenas; traa o elogio dos seus interlocutores; e,

    dentro da mesma estratgia retrico-argumentativa, justifica o papel do poeta e da palavra

  • potica.

    Meerhoff, Kees (U. Amsterdam), Rhetoric, poetics and poetry in the Renaissance

    En nous fondant sur lexamen de la Collatio laureationis prononce par Ptrarque lors de son

    couronnement Rome (1341), nous nous proposons de considrer la place part rserve la

    posie au sein des arts cultivs lpoque de la Renaissance. Quel est le rapport entre posie et

    discours oratoire, et comment sarticule ce rapport sur le plan thorique ? Le rle du numerus

    (rhythmos/arithmos) dans cette conjoncture thorique sera mis en relief, dans les thories grco-

    latines du discours orn et bientt dans les crits vernaculaires le concernant.

    La recherche moderne a mis en vidence le rle fondamental jou par le commentaire dans

    larticulation des arts de rhtorique et de potique. Nous en examinerons quelques chantillons

    propres illustrer les voies diverses quelle peut emprunter. Un commentaire de lptre aux

    Pisons servira ainsi dexemple montrer la prdominance du mtadiscours rhtorique sur les

    arts potiques.

    Ces considrations nous amneront poser la question, anodine premire vue, sur la possibilit

    mme dexaminer les arts potiques de la Renaissance, quil sagisse darts de seconde

    rhtorique ou dautres formes du discours thorique, sans tenir compte du mtadiscours

    rhtorique contemporain. La viabilit dune telle procdure semble demble compromise par les

    tentatives dintgration de la potique dans la rhtorique, telles quelles sont ralises par

    exemple dans la rhtorique et le commentaire ramistes , o le rle crucial jou par le concept

    de numerus se trouve confirm.

    La prgnance du modle cicronien dans la thorie et la pratique du discours orn, vidente par

    limportance accorde au concept de numerus, se vrifie dans la rhtorique et lart potique des

    jsuites, mme si lapport de laristotlisme ny est nullement ngligeable. Cela tant donn,

    comment convient-il dinterprter lart potique rcemment redcouvert et publi Paris en

    2012, rdig en franais par un rudit voluant dans les cercles dvots de la ville de Douai, situe

    aux confins du royaume de France en terre dEmpire?

    Miranda, Margarida (U. Coimbra), Quatro oraes metrificadas de M iguel

    Venegas (1561).

    Em 1561 Coimbra recebeu a visita do Legado Pontifcio de Pio IV, Prspero de Santa Cruz, a

    quem os jesutas do Colgio das Artes prepararam uma homenagem que honrava

    simultaneamente o Cardeal e as letras. Dela ficou memria no apenas nas cartas que relatam os

    actos pblicos do Colgio, mas tambm nos diferentes Ms que recolheram a produo literria,

    em lngua latina, preparada para aquela ocasio por Miguel Venegas. No entanto, o que os Ms de

    Lisboa e de Nova Iorque apresentam como Dilogo dramtico alegrico (In aduentu

  • reuerendissimi episcopi Risamensi gratulatio), o Ms de vora conservou como quatro oraes

    metrificadas, proferidas na mesma ocasio. As diferenas so notrias, mas o essencial do

    contedo permanece: a alegoria da Gramtica (em anapestos), da Retrica (em hexmetros), da

    Dialctica (em versos sficos) e da Filosofia (em asclepiadeus) desfilam sucessivamente diante do

    homenageado, oferecendo-lhe um ramo simblico e afirmando a sua fidelidade igreja de Roma e

    do Legado Pontifcio, a fim de combaterem a heresia que dividia a Europa. As diferentes verses

    conservadas dos versos de Venegas demonstram bem a irrelevncia, para o mestre de retrica, da

    distino entre potica e retrica. Para o autor, o teatro ou dilogo dramtico igualmente

    discurso (oratio), sem deixar de ser poesia e nem romper com o virtuosismo mtrico do poeta.

    Uma e outra eram segundo a Ratio Studiorum (XVI.1) diferentes faculdades que concorriam

    para a eloquentia perfecta.

    Morais, Carlos (U. Aveiro), Ritmo potico e pathos retrico na tragdia grega.

    Nesta comunicao, pretendemos evidenciar a importncia do ritmo potico na expresso de

    emoes em textos selecionados (rheseis, agones, mondias, dilogos lrico-recitativos e kommoi)

    de tragdias de Sfocles (Filoctetes e dipo em Colono) e de Eurpides (Troianas).

    Nobre, Ricardo (CEC Lisboa), Proteger a Liberdade, defender a Revoluo

    Liberal: a poesia de interveno de Almeida Garrett

    As primeiras composies lricas de Almeida Garrett assumem um carcter poltico, fruto do

    contexto histrico em que foram produzidas. Reunidas posteriormente em Lrica de Joo Mnimo

    (1829), mas com traos evidentes em muitos lugares da sua obra (nos discursos polticos de peas

    como Cato, por exemplo), elas comprovam o empenho continuado na defesa da liberdade

    resultante da Revoluo Liberal, em 1820. Com efeito, a formao de Almeida Garrett e a anlise

    atenta da sua obra revelam como a retrica e os efeitos impressivos do discurso sustentam a

    expresso potica dessas composies, nas quais so convocados exemplos histricos (em

    especial provenientes da Repblica Romana), verdadeiros testemunhos de que o autor aprendeu a

    lio da Retrica clssica.

    Por conseguinte, esta comunicao estuda os processos retricos na poesia de Almeida Garrett

    contempornea da Revoluo Liberal: sem ignorar que o seu autor foi sempre um defensor da

    liberdade poltica, cultural e artstica, revelar-se- como uma arte potica se associa arte retrica

    para defender um nobre ideal de liberdade, de que Garrett foi sempre um protector.

    Nol, Marie-Pierre (U. Montpellier ), Rhtorique ou potique? L art des discours

    chez Gorgias et Isocrate

    Depuis lantiquit, le nom dIsocrate et celui de son matre Gorgias de Lontinoi sont troitement

  • associs la naissance de la rhtorique et son dveloppement aux Ve et IVe sicles av. J.-C.

    Athnes. Toutefois, une analyse des textes conservs et des tmoignages montre que la conception

    de lart des discours (tekhn logn) des deux hommes est trs diffrente : si lun (Gorgias) propose

    un art des discours publics quil nomme rhtorique , lautre (Isocrate) se refuse utiliser le

    terme et prsente son activit comme un poitikon pragma, une activit cratrice. Dans cette

    communication, nous nous efforcerons danalyser loriginalit de ces deux conceptions de la

    parole; mais aussi de comprendre comment elles ont pu tre confondues, partir dAristote, dans

    une nouvelle dfinition de la rhtorique qui nie leur dimension originellement potique.

    Paixo, Ana (U. Par is), A msica mtrica e a potica musical: influncias da potica

    nos tratados de msica portugueses

    Desde o tratado de Tractado de Cto Llano de Mateus de Aranda em 1533 at ao final do sculo

    XIX, os tratadistas musicais portugueses procuraram incluir aspetos da potica nas respetivas obras

    tericas. Entre outros aspetos, identificaram sequncias rtmicas resultantes da utilizao do metro,

    procedimento que Antnio Fernandes designava, em 1626, de msica mtrica. Vrios outros

    tratadistas musicais evidenciaram a preocupao em adequar a msica ao texto, incitando os

    compositores a uma potica musical, isto , ao conhecimento dos ps poticos e adaptao da

    partitura aos respetivos metros. o que preconiza, por exemplo, Eugnio de Almeida no seu

    Tratado de Melodia de 1868 com exemplos de ps poticos transcritos para pauta. Alguns

    tratadistas sugerem ainda analogias muito diretas entre o poeta e o msico, tal como Jernimo

    Cardoso que, no Dictionarium Latino Lusitanicum de 1570, define Musicus, i da seguinte forma:

    Ho musico, ou poeta. Evidenciar-se-o tambm pontos de contacto entre potica e msica,

    atravs de paralelismos, comparaes, referncias ou apropriao, abordando ainda o conceito de

    msica potica.

    Pinheiro, Joaquim (U. Madeira), O uso do smile no poema A tomada de Tria de

    Trifiodoro.

    Propomo-nos analisar o uso do smile no poema pico de Trifiodoro ( ). A partir da

    identificao dos smiles no poema, procuraremos (i) classific-los por temticas, (ii) estabelecer

    uma relao com o contexto narrativo e com a prpria estrutura do poema e (iii) comparar o seu

    efeito retrico com aquele que o smile produz nos Poemas Homricos. Para enquadrar a dinmica

    do smile no poema, ser necessrio recorrer aos princpios tericos de alguns tratados ou manuais

    da retrica clssica.

    Ramos, Manuel (U. Por to), Artes poticas medievais: De nuptiis Rhetoricae

    et Poeticae.

    O modelo de arte potica adoptado na poca medieval no foi o modelo aristotlico por a sua

  • Potica no ser conhecida; tambm no foi o modelo horaciano, apesar de a sua "Arte Potica" ser

    conhecida e glosada desde o sc. IX, por ser pouco influente; foi antes o modelo retrico, ou

    melhor, a extenso da Retrica e da Gramtica, entendida esta no sentido de literatura e no de

    lingustica, como hoje. Na verdade, na hora de encontrar um modelo, os teorizadores da ars

    poetria ou ars versificandi dos sc. XII e XIII recorreram Retrica (e a contedos gramaticais),

    fazendo uma unio ou casamento de Retrica e de Potica. Desse conbio, resultou uma gerao de

    cinco artes principais, compostas em poesia e de forte pendor escolar (teriam sido feitas para

    instruir os estudantes de retrica na composio em verso), tendo a perdida e influente Summa de

    Bernardo Silvestre desenvolvido o tema de forma mais extensa. Com esta comunicao, propomo-

    nos abordar as artes retrico-poticas medievais em especial na forma como elas entendem as

    caractersticas do literrio, isto , o que, segundo elas, faz de um texto um texto literrio. Veremos

    tambm o que possuem de original e a divulgao em Portugal.

    Rita, Annabela (CLEPUL - U. Lisboa), Mensagem (1934): emoo & argumentao

    Num ano em que se celebra a publicao dos 100 anos da revista Orpheu, pretende-se, com esta

    comunicao, observar de que modo a estratgia persuasiva que informa a obra Mensagem (1934),

    de Fernando Pessoa, se inscreve nas circunstncias culturais e no dilogo esttico e se exprime na

    dispositivo textual e em cada um dos textos que a compem. Concomitantemente, atentar-se- aos

    sinais de modelizao iniciadora dos processos de escrita e de leitura.

    Silva, Maria Lusa Portocarrero (U. Coimbra), A metfora viva como ncleo

    fundamental da mimesis potica em P. Ricoeur.

    Filsofo e no linguista, o filsofo P. Ricoeur no seu esforo para pensar filosoficamente a

    interao humana, mediante a sua linguagem, serve-se do ncleo fundamental da Potica

    aristotlica (mimesis-muthos catarsis), em ordem a mostrar como s palavra potica (narrativa de

    fico e narrativa histrica) diz o tempo vivido e a ao. Ela f-lo por meio de um muthos

    construtor de uma metfora viva que nada sem o efeito retrico que por sua vez exerce sobre o

    intrprete e as mltiplas interpretaes. A mimese I, II E III da obra Tempo e narrativa constri a

    verdadeira metfora viva que nos leva a ver como e a ultrapassar o primado da funo referencial

    puramente descritiva.

    Tavares, Pedro (U. Por to), Um esquecido elogio setecentista do Portugus, como

    lngua universal

    Pedro Henequim, admirador de Vieira, entrou na febre do ouro e das conspiraes vividas no Brasil

    no tempo de D. Joo V, e produziu um dos mais enfticos elogios possveis lngua portuguesa

    como lngua imperial. Ratificou-o perante a Mesa do Santo Ofcio de Lisboa, pelo que o seu

    discurso ainda se tornou mais grave, solene mas ignorado. A revisitao dos termos desse elogio,

  • indissocivel das circunstncias biogrficas deste autor, permite-nos perceber algumas das razes

    profundas do ufanismo colonial luso, ligado a uma escatologia triunfal em que o portugus viria a

    expressar a prpria comunho e unidade do gnero humano.

    Urbano, Carlota Miranda (U. Coimbra), In laudem poeticae: o discurso latino do

    P. Francisco de Mendoa em louvor da poesia.

    O Jesuta Francisco de Mendoa, mestre de Retrica e clebre orador, foi uma figura de relevo no

    panorama cultural portugus na passagem do sc. XVI para o sc. XVII. Publicada na maior parte

    depois da sua morte, a obra do P. Mendoa foi editada repetidas vezes em diferentes cidades da

    Europa, mas a sua influncia estendeu-se a todo o espao de influncia portuguesa. A obra por

    que mais se tornou conhecido foi uma recolha de textos latinos levada a cabo pelo seu discpulo, o

    P. Francisco Machado: o Viridarium Sacrae ac Profanae eruditionis (Lyon, 1632), uma espcie de

    enciclopdia que reuniu discursos, poemas, progymnasmata, questes, pequenos tratados do

    mestre e que teve uma grande projeco, tendo sido reeditada at ao sc. XVIII. Este mestre de

    retrica e pregador que o Padre Antnio Vieira, no o tendo conhecido pessoalmente, designa

    como seu mestre na arte de pregar, comps um breve tratado de Retrica que ocupa o Livro VII,

    Flores Rethoricae, do Viridarium. No Livro VI do Viridarium, captulo que o editor da obra

    intitulou Flores Eloquentiae, entre os discursos que o compem encontra-se um em louvor da

    poesia (Oratio XVIII In laudem Poeticae). Nesta comunicao a autora prope-se estudar e

    comentar precisamente este discurso latino, no contexto da teoria e prtica retricas coevas.