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Resumos de leitura obrigatória AULA 51 (18/09/2019) e 52 (23/09/2019) TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL - Rafael Antonietti Matthes Parte 1. Instrumentos Econômicos e o Meio Ambiente Atualmente a maior parte das formas que o Estado tem para tornar a norma eficaz é a aplicação de sanção, quando poderia ter o incentivo. Incentivando a empresa a atuar com consciência ambiental e obter incentivos fiscais, trabalhistas etc. 1 1972: ONU - Conferência de Estocolmo - Convenção de Estocolmo: Princípio das responsabilidades comum, Princípio da soberania, Princípio do direito humano ao meio ambiente, Princípio da educação ambiental. 2 1981: Primeira Lei Ambiental nos moldes da ONU Lei 6938/8: Política nacional do meio ambiente TCFA. 3 1988: Constituição Federal - Direito Fundamental ao Meio Ambiente (DIREITOS / DEVERES / DIFUSO / INTERGERAÇÕES): Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. 4 1992: ECO92 - Conferência no Rio de Janeiro - Convenção ou declaração do Rio. 5 1998: Lei 9605 Pessoa jurídica respondendo por crime. 6 2002: Convenção ONU Joanesburgo. 7 2012 Convenção Rio + 20 Princípio do Protetor Recebedor (incentivo fiscal, crédito bancário).

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Resumos de leitura obrigatória

AULA 51 (18/09/2019) e 52 (23/09/2019)

TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL - Rafael Antonietti Matthes

Parte 1. Instrumentos Econômicos e o Meio Ambiente

Atualmente a maior parte das formas que o Estado tem para tornar a norma eficaz é a

aplicação de sanção, quando poderia ter o incentivo. Incentivando a empresa a atuar com

consciência ambiental e obter incentivos fiscais, trabalhistas etc.

1 – 1972: ONU - Conferência de Estocolmo - Convenção de Estocolmo: Princípio das

responsabilidades comum, Princípio da soberania, Princípio do direito humano ao meio

ambiente, Princípio da educação ambiental.

2 – 1981: Primeira Lei Ambiental nos moldes da ONU – Lei 6938/8: Política nacional do

meio ambiente – TCFA.

3 – 1988: Constituição Federal - Direito Fundamental ao Meio Ambiente (DIREITOS /

DEVERES / DIFUSO / INTERGERAÇÕES):

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso

comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à

coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

4 – 1992: ECO92 - Conferência no Rio de Janeiro - Convenção ou declaração do Rio.

5 – 1998: Lei 9605 – Pessoa jurídica respondendo por crime.

6 – 2002: Convenção ONU Joanesburgo.

7 – 2012 Convenção Rio + 20 Princípio do Protetor Recebedor (incentivo fiscal, crédito

bancário).

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Externalidades e a “Correção do Mercado”

Teoria da correção do mercado - atividade econômica, com externalidade: a) Positiva:

desenvolvimento, empregos, pagamento de tributos etc. → deve dar incentivo tributário;

b) Negativa: poluição, resíduos → deve criar ou aumentar tributos.

NÃO há como utilizar tributo como sanção de ato ilícito.

TAXA para atividades potencialmente poluidoras.

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*Vide: inconstitucionalidade e ilegalidade da TCFA

Previsão legal das penas.

Instrumentos econômicos fazem parte da Política Nacional do Meio Ambiente

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TODA propriedade rural tem que ter reserva legal.

CRA – Título de Reserva ambiental.

Cotas de Reserva comercializada na bolsa de valores.

*Tese: afastar a incidência de Importo de Renda sobre as cotas de reserva ambiental.

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*Tese: diminuição da base de cálculo do ITR quando se trata de área protegida e reserva

legal.

ICMS-Ecológico proporciona ganhos financeiros aos Municípios que possuem áreas de

conservação ambiental e/ou mananciais de abastecimento.

Programa Município Verde Azul – PMVA – estimular e auxiliar as prefeituras paulistas

na elaboração e execução de suas políticas públicas estratégicas para o desenvolvimento

sustentável do estado de São Paulo.

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Parte 2. Tributação com viés ambiental

Utilizar tributação com caráter extrafiscal para fomentar as condutas que tenham como

foco a preservação ambiental.

Código Florestal - Lei 12.651/2012:

Desenvolvimento econômico em conjunto com a preservação ambiental.

A alínea “c” autoriza uma dedução na base de cálculo do ITR.

Apenas será considerado para base de cálculo, as terras que estão fora da área de proteção.

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Observação: É comum a utilização do termo “isenção” para se tratar do incentivo fiscal

acima, porém não se trata de isenção, mas sim de uma redução de base de cálculo.

Todo o gasto para recompor as áreas de preservação ou ppp, podem ser deduzidos do IR,

desde que seja lucro real.

1 - REGULARIZAÇÃO AMBIENTAL

Deve inscrever a propriedade no CAR – Cadastro ambiental rural (estadual), devendo

indicar o tamanho da propriedade, tamanho da APP e de reserva legal.

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Ao passo que realiza a inscrição, o sistema gera um número com a sigla do estado no

começo.

Após será aberto uma janela com um mapa virtual, que deve indicar e marcar o quanto

tem na propriedade de APP ou reserva legal.

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2- REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA: Certidão de cadastro de imóvel rural.

Deve indicar no CCIR o tamanho, produtividade, APP e a reserva legal, o quanto e o que

produz na propriedade.

3 – REGULARIZAÇÃO REGISTAL

Georreferenciamento determina o tamanho das propriedades por meio de coordenadas

geográficas.

Averbar na matrícula as informações obtidas.

4 – REGULARIZAÇÃO TRIBUTÁRIA

ADA – Ato declaratório ambiental, realizado no Site do IBAMA.

NIRF - número de contribuinte na receita federal, tamanho da propriedade e das áreas de

APP e reserva legal.

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Deve inserir o número do CCIR, matrícula, ADA e do CAR.

IMPOSTO TERRITORIAL RURAL (ITR)

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Critério da localização define que se a propriedade estiver em local urbano incidirá IPTU

e se estiver em área rural ITR. Critério da destinação → mesmo que a propriedade esteja

em localidade urbana, se tiver destinação econômica rural incidirá ITR.

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Áreas de preservação permanente: mata ciliar; nascente de rio; lagos ou lagoas;

barramentos artificiais; encostas; restingas; manguezais; chapadas ou tabuleiros; topo de

morro; áreas altas; veredas.

Lei 12305/2010 – Lei de Resíduos Sólidos

Uma indústria que tenha o interesse de usar a LOGÍSTICA REVERSA (reciclar a

embalagem e utilizar novamente). A tributação atualmente é desestimulante para a

referida prática, mas existe a provocação do judiciário para concessão de incentivos

tributários.

Alternativas:

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Casos práticos e propostas

Hipóteses que o Direito Tributário pode ser utilizado a fim de incentivar as práticas que

coadunam com a preservação ambiental.

Utilizando de solução de consulta para provocar a fazenda a fim de que se posicione e

atribua incentivos no âmbito administrativo.

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Ementa:

- Tributação ambiental

BONS ESTUDOS!!!!

MONITOR: ZOZIMAR RAMONDA

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47Veredas do Direito, Belo Horizonte, � v.8 � n.16 � p.47-62 � Julho/Dezembro de 2011

RESUMO

O presente artigo científico trata do Direito Tributário e do Meio Ambiente, abordados com base em seus conceitos interdisciplinares, com enfoque na aplicação da regra da extrafiscalidade para a proteção do meio ambiente Por meio da pesquisa bibliográfica realizada, buscou-se analisar, além de algumas definições, os aspectos históricos relacionados à origem e evolu-ção legislativa da proteção do direito ambiental. Além disso, foi estudado um incipiente ramo do direito, criado a partir da junção dos temas meio am-biente e direito tributário, o chamado Direito Ambiental Tributário. Como fechamento do trabalho, pôde-se entender que a extrafiscalidade é uma re-gra essencial para a busca da chamada justiça social.

Palavras-chave: Proteção. Meio ambiente. Direito Tributário. Direito Am-biental Tributário. Instrumentos econômicos. Desenvolvimento sustentá-vel. Extrafiscalidade.

EXTRA SUPERVISION AS A TOOL FOR ENVIRONMENTALPROTECTION IN BRAZIL

ABSTRACT

The current scientific article deals with Taxation and Environmental Law, approaching them according to their interdisciplinary concepts as well as focusing them on the application of the rule of extra supervision for envi-ronmental protection. Through bibliographical research, some other defini-

Rafael Antonietti MatthesMestrando bolsista CAPES em Direito Ambiental na Universidade Católica de Santos.

Pós-graduado em Direito Tributário pela Rede de Ensino LFG e em DireitoInternacional pela PUC/SP.

Professor-assistente em Direito Tributário e em Direito Administrativo – LFG – SP.End. Eletrônico: [email protected]

EXTRAFISCALIDADE COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL

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EXTRAFISCALIDADE COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL

48 Veredas do Direito, Belo Horizonte, � v.8 � n.16 � p.47-62 � Julho/Dezembro de 2011

tions were analyzed as well as some historical aspects related to the origins and the legal evolution of environmental law protection. Besides that, a yet very simple branch of Law, named Environmental Law Taxation, was stu-died. It was created based on environmental and Law taxation aspects. As a summary of this work, we understand Extra supervision as an essential tool for the search of social justice.

Key words: Protection. Environment. Taxation Law. Environmental Taxa-tion Law. Economical Instruments. Sustainable development. Extra Super-vision.

1 INTRODUÇÃO

Seguindo uma tendência mundial decorrente das Conferências Internacionais sobre Meio Ambiente, a Constituição Federal de 1988 pres-creveu, pioneiramente, em seu artigo 225, um capítulo inteiro destinado à proteção do meio ambiente.

No que tange às normas infraconstitucionais, a Política Nacional do Meio Ambiente foi recepciona pela Carta Magna e, juntamente com outras regras esparsas, constituem o chamado ordenamento jurídico brasi-leiro de proteção ao meio ambiente.

No decorrer do primeiro capítulo, será estudado esse conjunto de regras. Restará evidente, por fim, que, ao confrontá-las, dois objetivos comuns se destacam, quais sejam: ambas dão primazia às medidas que visem a preservar o meio ambiente, em comparação às medidas repreensi-vas e ambas verificam a necessidade de relacionar o meio ambiente com o desenvolvimento econômico.

A partir dessa premissa, no segundo capítulo será feita uma aná-lise da inter-relação do meio ambiente com a economia, partindo do ponto de conexão entre eles, o chamado princípio do desenvolvimento sustentá-vel. Após uma rápida análise da teoria da população, de Thomas Malthus, o foco da discussão entrará na teoria do economista inglês Arthur C. Pigou. Ao final do segundo capítulo, restará claro que, apesar dos ensinamentos de Pigou sobre as externalidades, no Brasil, suas regras somente devem ser aplicadas no que tange às externalidades positivas.

Partindo desta outra premissa, chegar-se-á ao conceito de extra-fiscalidade, em que o Estado, no uso de suas atribuições tributárias, aplica um sistema de incentivo às atividades que possam reduzir a degradação ambiental.

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Rafael Antonietti Matthes

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2 Proteção ambiental no ordenamento jurídico brasileiro

A Constituição Brasileira de 1988, ao prescrever em seu artigo 225 um capítulo inteiro destinado à proteção do meio ambiente, acabou por inserir no ordenamento jurídico pátrio uma tendência internacional de garantir a todos um direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Pode-se dizer que esta relação com os direitos fundamentais pas-sou a ganhar importância e relevo jurídico na sociedade internacional após as discussões levadas a cabo na primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, também chamada de Conferência de Estocolmo.

Neste fórum internacional de discussão ambiental, realizado en-tre os dias 5 e 16 de junho de 1972, reuniram-se 113 Estados, contando ainda com a participação de organizações internacionais, além de mais de 400 organizações não-governamentais.

Após muito debate entre quais os papéis que os países desenvol-vidos teriam em uma futura política ambiental e de que forma eles auxi-liariam os países em desenvolvimento a atingirem patamares econômicos consideráveis, sem impacto ao meio ambiente, restaram confeccionados dois importantes documentos, que iriam servir de base para que todos os países ingressassem na agenda ambiental, são eles: a Declaração das Na-ções Unidas sobre o Meio Ambiente Humano e o Plano de Ação para o Meio Ambiente.

No preâmbulo e nos princípios descritos na Declaração, restou consignada a problemática ambiental e as necessárias medidas na esfera nacional e internacional para o enfrentamento das questões ambientais. Já o Plano de Ação foi composto de 109 recomendações para que os países signatários atingissem as metas e os princípios descritos na Declaração.

Além disso, os participantes da Conferência entenderam pela ne-cessidade de, “criar dispositivos institucionais e financeiros permanentes para coordenar, catalisar e estimular ações para a proteção e melhoria do meio ambiente humano. Assim surgiu a ideia de criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)”1.

Em 1992, após grande avanço da agenda ambiental nos fóruns de discussão internacional e nacional, as ideias e princípios estipulados na Conferência de Estocolmo foram levados a debate na cidade do Rio de Janeiro.

1 SILVA, 2009, p. 30.

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50 Veredas do Direito, Belo Horizonte, � v.8 � n.16 � p.47-62 � Julho/Dezembro de 2011

A Conferência do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desen-volvimento, também chamada de Cúpula da Terra ou ECO/92, reuniu então 178 países, além de oito mil delegados, organizações intergovernamentais e representantes de organizações não-governamentais. Tais números de-monstram a importância que a temática ganhou nos 20 anos que separaram as duas Conferências.

Como resultado dessa reunião, restaram aprovados três docu-mentos jurídicos, são eles: a Declaração do Rio, a Agenda 21 e a Decla-ração sobre Florestas, além de duas outras convenções que foram abertas à assinatura: a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e a Convenção das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desen-volvimento.

Dispõe o preâmbulo da Declaração das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, também chamada de Decla-ração do Rio, que o objetivo de seu texto é reafirmar os princípios estabe-lecidos na Conferência de Estocolmo e, a partir daí, in verbis,

Estabelecer uma parceria global mediante a criação de novos níveis de cooperação

entre os Estados, os setores chaves da sociedade e os indivíduos, trabalhando com

vistas à conclusão de acordos internacionais que respeitem os interesses de todos e

protejam a integridade do sistema global de meio ambiente e desenvolvimento.

Já a chamada Agenda 21 é um plano de ação para a implementa-ção prática dos princípios consagrados na Declaração do Rio e na Decla-ração sobre Florestas. É um guia para a tomada de decisões, pois identifica os problemas prioritários e os recursos e meios para enfrentá-los, tanto na atualidade quanto em todo o século XXI.

Após a Conferência do Rio de 1992, outros encontros foram rea-lizados na órbita internacional, como as chamadas Conferências das Partes (COPs)2 e a Conferência de Johanesburgo de 2002, também chamada de Rio+20.

2 De acordo com o artigo 6º, da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, é o órgão supremo dessa Convenção, sendo responsável pela sua implementação. Inclui, em sua composi-ção, os países que ratificaram ou aderiram a esta Convenção. A COP reúne-se anualmente e o primeiro período de sessões da Conferência das Partes (COP-1) ocorreu em Berlim em 1995. Já a COP-2 reali-zou-se em Genebra (1996), a COP-3 em Quioto (1997) – quando foi criado o Protocolo de Quioto (ou Kyoto) −, COP-4 em Buenos Aires (1998) e a COP-5 em Bonn (1999). A primeira parte da COP-6 foi celebrada em Haya (2000), e a parte 2 em Bonn (2001). A COP-7, ocorrida em 2001, foi realizada em Marrakech, a COP-8 em Nova Delhi (2002), a COP-9 em Milão (2003), a COP-10 em Buenos Aires (2004), a COP-11 em Montreal (2005), a COP-12 em Nairóbi (2006), a COP-13 em Bali (2007), a COP-14 em Poznan (2008), a COP-15 em Copenhague (2009) e a COP-16 em Cancun (2010).

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Rafael Antonietti Matthes

51Veredas do Direito, Belo Horizonte, � v.8 � n.16 � p.47-62 � Julho/Dezembro de 2011

Todos esses documentos e compromissos celebrados internacio-nalmente, assim como todos os estudos realizados nesse período, vieram a comprovar antigas preocupações e mitos sobre a escassez dos recursos ecológicos, em comparação ao crescente poder econômico e de consumo.

Em vista desses dados e preocupações, pode-se afirmar que a Constituição Brasileira de 1988 veio ao encontro da crescente tendência internacional à proteção do meio ambiente.

Países como Portugal, Grécia e Espanha já haviam incluído em seus textos a preocupação com a proteção do meio ambiente. Refletem, com isso, um nítido caráter pós-industrial e pós-moderno, pois traduz uma resposta ao binômio crescimento econômico e degradação ambiental.

Analisando o direito comparado, o Ministro Antônio Herman Benjamin explica que “embora não necessariamente imprescindível, o reconhecimento constitucional expresso de direitos e deveres ambientais é, jurídica e praticamente, benéfico, devendo, portanto ser estimulado e festejado”3.

Percebe-se que o eminente jurista entende não ser necessária a menção expressa ao meio ambiente nas Cartas Magnas dos Estados, já que essa proteção pode decorrer de tratados internacionais ou mesmo de leis internas, como é o caso dos Estados Unidos. Todavia, tal menção, quando cuidadosamente redigida, pode servir de base e de diretriz para a imple-mentação de uma política nacional do meio ambiente.

Em seu texto ainda, o Ministro Benjamin enumera os benefícios de caráter substantivo, também chamados de materiais ou internos (ou seja, visam à organização e ao direcionamento dos direitos e deveres do ordena-mento jurídico), e os benefícios formais ou externos (ou seja, aqueles que se relacionam com a implementação de normas de tutela ambiental)�.

Para o jurista, quanto aos benefícios de caráter interno, pode-se argumentar, a favor da constitucionalização do meio ambiente, que: 1) o estabelecimento de um dever constitucional genérico de não degradar ser-ve como base do regime de exploração limitada e condicionada; 2) acaba por trazer requisitos ecológicos à função social da propriedade; 3) torna a proteção ambiental um direito fundamental da pessoa; 4) legitima a função estatal reguladora; 5) reduz a discricionariedade administrativa e, por fim, 6) amplia a participação pública.

Quanto aos benefícios denominados externos, argumenta o pro-

3 BENJAMIN, 2008, p. 88.� Op. cit. 89-101.

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EXTRAFISCALIDADE COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL

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fessor que: 1) ocasiona máxima preeminência e proeminência dos direitos, deveres e princípios ambientais; 2) resulta em maior segurança jurídica; 3) substitui o paradigma da legalidade ambiental; 4) possibilita um controle da constitucionalidade de atos normativos hierarquicamente inferiores e, por fim, 5) traduz um reforço exegético pró-ambiente das normas infra-constitucionais.

Verificando-se todos esses argumentos favoráveis à constitucio-nalização, pode-se dizer que o texto da Carta Magna brasileira é bem con-temporâneo e possibilita ao cidadão não só um direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, como também, consequentemente, celebrar o próprio direito humano à vida digna.

O artigo 225 prescreve que, in verbis: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e es-sencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à cole-tividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações”.

Desse texto e dos seus seis parágrafos emanam diversas normas e regras, como a solidariedade na proteção do meio ambiente, o desenvol-vimento sustentável, a precaução e a preservação em matéria ambiental, a necessidade de realização de estudos prévios de impacto ambiental, a não ocorrência de bis-in-idem entre as sanções penais, administrativas e civis aos infratores das regras ambientais, além da celebração dos princípios da educação e da informação.

Um enfoque trazido pelo texto constitucional deve ser ressalta-do nesse primeiro capítulo, qual seja, a primazia da preservação do meio ambiente em face da repressão. Apesar da previsão de cominação de penas administrativas, civis e penais aos infratores, o objetivo primordial desse texto, destinado ao meio ambiente, é a preservação.

Como é sabido, os recursos naturais, ao serem destruídos, difi-cilmente poderão retornar ao status quo anterior. As medidas repreensivas, como o manejo florestal e as penas pecuniárias, são formas de diminuir o impacto da degradação.

Percebe-se que a proteção ambiental no ordenamento jurídico brasileiro decorre, em primeira instância, das regras previstas na Constitui-ção Federal. Quanto às normas infraconstitucionais, vale citar a Lei 6.938 de 31 de agosto e 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências.

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Rafael Antonietti Matthes

53Veredas do Direito, Belo Horizonte, � v.8 � n.16 � p.47-62 � Julho/Dezembro de 2011

Já em seu artigo 3º, inciso I, fica disciplinado o conceito jurídico de meio ambiente, qual seja: “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.

Estipulado o conceito do bem a ser tutelado nessa política, são descritos, então, no artigo 4º, quais são os seus objetivos. Vale citar, dentre outros, a compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico; o desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais; e a imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.

Essa lei institui ainda o chamado Sistema Nacional do Meio Am-biente, que é composto de diversos órgãos, cuja finalidade é implementar e fiscalizar a aplicação da Política Nacional.

Por fim, vale lembrar que a referida lei estipula, em seu artigo 9º, quais são os instrumentos dessa Política. Vale citar, dentre outros, o zone-amento ambiental; a avaliação de impactos ambientais; o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecno-logia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental; o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente; as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à preserva-ção ou correção da degradação ambiental e os instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, seguro ambiental e outros.

A Constituição Federal de 1988, ao ser promulgada, recepcio-nou o texto, que lhe era anterior, da Lei 6.938/81. Dentre outros aspectos, podem-se constatar duas informações importantes que relacionam esses textos e que serão basilares para o decorrer do presente trabalho: ambos dão primazia às medidas que visem a preservar o meio ambiente, em com-paração às medidas repreensivas, e ambos verificam a necessidade de rela-cionar o meio ambiente com o desenvolvimento econômico.

Assim, apesar da disseminação de diversos outros atos normati-vos em matéria ambiental, com a promulgação da Carta Magna, a proteção do meio ambiente no ordenamento jurídico brasileiro resta caracterizada após análise das normas constitucionais e das regras da Política Nacional do Meio Ambiente.

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EXTRAFISCALIDADE COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL

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3 O desenvolvimento sustentável e a inter-relação domeio ambiente com a economia

Princípio consagrado no texto constitucional de 1988, o desen-volvimento sustentável é uma ideia proveniente dos estudos realizados pe-los cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusett (MIT)5, que em 1974 encaminharam ao Clube de Roma o famoso relatório The limits to growth, também conhecido por Relatório Meadows6.

Sob influência desse Relatório, a Declaração de Estocolmo pres-creveu, em seu Princípio 13, a necessidade de se estabelecer um planeja-mento racional e a adoção, pelos Estados, de uma “concepção integrada e coordenada de planejamento de seu desenvolvimento, para compatibilizar a necessidade de proteger e de melhorar o ambiente, no interesse da sua população”7.

Em 1987, foi publicado o denominado Relatório Bruntdtland, ou também chamado de Nosso Futuro Comum. Ele é resultado de um estu-do elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvol-vimento e fez parte de uma série de iniciativas, anteriores à Agenda 21, que reafirmavam uma visão crítica do modelo de desenvolvimento adotado pelos países industrializados, que culminava em um uso excessivo dos re-cursos naturais, sem levar em consideração a capacidade dos mesmos.

De acordo com esse relatório, o desenvolvimento sustentável é “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a pos-sibilidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades”. Fica muito claro, nessa nova visão das relações homem-meio ambiente, que não existe apenas um limite mínimo para o bem-estar da sociedade; há também um limite máximo para a utilização dos recursos naturais, de modo que sejam preservados.

A ideia do desenvolvimento sustentável norteou todos os debates na ECO/92 e permeou todos os documentos provenientes dessa Confe-rência. Na Declaração do Rio, por exemplo, a expressão é repetida várias vezes, refletindo a necessidade de se compatibilizar o desenvolvimento econômico e social com a proteção ambiental.

5 GRANZIERA, 2009, p. 53.6 Relatório Meadows é um nome utilizado para homenagear a chefe da comissão que elaborou esse relatório, a cientista Donella Meadows. 7 GRANZIERA, 2009, p. 53.

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Percebe-se que desenvolvimento sustentável é a regra que inter-relaciona a proteção do meio ambiente com os ditames econômicos, ou, como ensinam os professores Aurélio Rios e Cristiane Derani8, “o desen-volvimento sustentável traduz um conjunto de valores ancorados em con-dutas relacionadas à produção, para que o resultado seja a compatibiliza-ção da apropriação dos recursos naturais com sua manutenção e construção de um bem-estar”.

Em outras palavras, desenvolvimento sustentável não é apenas uma regra de direito ambiental, é sim um conjunto de ideias destinadas à compatibilização da produção econômica com a apropriação dos recursos naturais, visando a um bem-estar social. Deve-se ter em mente que o meio ambiente está inserido no conceito de desenvolvimeno econômico e social. Não há oposição entre os conceitos.

A necessidade de criação de um ponto de conexão entre meio ambiente e economia está muito bem explicada pela professora Cristiane Derani 9:

Ecologia está assentada numa descrição de tempo e espaço, e os processos de trans-

formação de matéria-prima são exercidos sobre um conjunto finito. A economia, ou

melhor, o modo de produção moderno, não leva em consideração tempo e espaço,

tomando os recursos naturais como infinitos e inesgotáveis, justificando a necesssi-

dade de um contínuo crescimento, que se revela por uma geração constante de valor

– início e finalidade de toda a produção.

Contextualizando, historicamente, os argumentos trazidos pela professora sobre a relação econômica com o meio ambiente, chega-se ao princípio da população formulado pelo economista inglês Thomas Malthus no ano de 1798. Esse princípio concluía que a produção de alimentos cres-ce em progressão aritmética, enquanto a população tenderia a aumentar em progressão geométrica, acarretando fome e pobreza generalizadas.

O Dicionário de Economia explica a teoria de Malthus da seguin-te forma:

Quando a desproporção chegar a extremos, as pestes, epidemias e mesmo as guerras

encarregam-se de reequilibrar (temporariamente) a situação. A única forma de evitar

essas catástrofes seria negar toda e qualquer assistência às populações pobres e acon-

8 DERANI; RIOS, 2005, p. 89.9 DERANI, 2009, p. 101.

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selhar-lhes a abstinência sexual, com o fim de diminuir a natalidade. Os assalariados

deveriam ter consciência de que, com o número de trabalhadores crescendo acima da

proporção do aumento da oferta de trabalho no mercado, o preço do trabalho tende a

cair, ao mesmo tempo em que o preço dos alimentos tenderá a elevar-se10.

Esse princípio foi incorporado por David Ricardo, dentre outros economistas clássicos às suas teorias, supondo que a oferta de trabalho era inexaurível, sendo limitada apenas pelo fundo de salários. A grande falha constatada nas teorias dos economistas Thomas Malthus e David Ricardo refere-se a não levar em conta os ganhos obtidos com os avanços tecnoló-gicos propiciados com o passar dos anos.

Deve-se ter em mente ainda que a atividade econômica relacio-na-se com o meio ambiente em todas as suas etapas, desde a produção, dis-tribuição e acumulação até o consumo dos bens materiais. Essa interação resulta em grandes e contínuas modificações ambientais.

Conforme Ignacy Sanchs, citado no artigo científico de Nunes, “o homem possui uma forte capacidade de alterar a natureza, precisando ser reeducado ambientalmente, ou seja, retornar aos ciclos da natureza, não de forma arcaica, mas utilizando sua capacidade de transformação”11.

Conforme restará demonstrado abaixo, o custo não calculado ao meio ambiente, que uma atividade econômica pode gerar se não se levar em consideração a ponderação do desenvolvimento sustentável, é deno-minado como uma falha de mercado, ou tecnicamente, de externalidade negativa.

Para entender melhor, vale fazer uma análise econômica da ex-ternalidade12, desvinculada das questões ambientais. Conforme explica a professora Ana Maria Nusdeo13, “externalidades podem ser definidas como custos ou benefícios que se transferem de determinadas unidades do siste-ma econômico para outras, ou para a comunidade como um todo, fora do mercado”.

Em outras palavras, a externalidade pode ser positiva ou negati-

10 SANDRONI, 1985, p. 253.11 SANCHS apud NUNES, 1998, p. 159.12 Sobre externalidades, tradicionalmente, a literatura destaca as concepções de Pigou (1932) e de Coase (1960). O primeiro autor destaca a ineficiência do mercado em assegurar o equilíbrio econômico e o bem-estar social devido aos custos de internalização das externalidades, o que justificaria a inter-venção do Estado no mercado. Para o segundo, o Estado não deve intervir. As externalidades devem ser resolvidas dentro de um sistema global de propriedade dos sujeitos privados, que negociam seus interesses.13 NUSDEO, 2006, p. 4.

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57Veredas do Direito, Belo Horizonte, � v.8 � n.16 � p.47-62 � Julho/Dezembro de 2011

va. Será positiva quando a falha de mercado gerar benefícios aos sujeitos da relação e aos terceiros envolvidos. Por outro lado, será negativa, quando ocasionar um custo.

Assim, havendo uma externalidade, o preço final do produto não refletirá o real custo de sua produção para a sociedade, como, por exemplo, no caso da poluição levada a cabo durante a produção daquele determinado bem.

Para corrigir essas imperfeições de mercado, vale citar a teoria da correção de mercado, do economista inglês Arthur Cecil Pigou, por meio da qual, frente à existência de uma externalidade positiva, o Estado deverá intervir na economia, por meio de incentivos fiscais. Por outro lado, frente à ocorrência de uma externalidade negativa, o Estado deverá introduzir um sistema de impostos.

Trazendo essa teoria para o presente ordenamento jurídico brasi-leiro, a possibilidade de concessão de incentivos fiscais àquelas atividades que resultem em externalidades positivas se mostra totalmente compatível com as finalidades da Política Nacional do Meio Ambiente e também com a finalidade das disposições constitucionais do artigo 225.

Isso porque conceder benefício àqueles que ajudem a preservar o meio ambiente, além de ser uma forma de cumprimento do dever da res-ponsabilidade solidária na preservação do meio ambiente, é mais do que isso, é atuar preventivamente à ocorrência do dano ao meio ambiente.

Por outro lado, a aplicação de impostos, quando houver a ocor-rência de uma externalidade negativa, se mostra uma medida totalmente descabida, já que todo tributo, nos termos do artigo 3, do Código Tributário Nacional, é prestação pecuniária que não constitua sanção. Além disso, é uma medida que se mostra confiscatória e diversa de todas aquelas finali-dades buscadas pelo direito ambiental.

Vale ressaltar que as normas fiscais que visem incentivar com-portamentos, como nos casos das externalidades positivas, são normas que escapam do rígido controle do sistema tributário, podendo-se encaixar em outros ordenamentos constitucionais, como no caso das regras de Direito Ambiental.

Isso porque, nas palavras do professor Celso Antônio Pacheco Fiorillo14, nos casos de utilização de normas tributárias com a finalidade de incentivar determinadas condutas, “o que se busca atingir com este com-

14 FIORILLO, 2010, p. 57.

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58 Veredas do Direito, Belo Horizonte, � v.8 � n.16 � p.47-62 � Julho/Dezembro de 2011

portamento é a chamada justiça social controlada/auferida pelo princípio da proporcionalidade que para o direito ambiental se traduz na aplicação do princípio do desenvolvimento sustentável”.

Ou seja, as normas tributárias, em regra, quando atuam em seu caráter fiscal, buscam apenas a distribuição justa e equitativa dos recursos provenientes da carga tributária, entre todos os contribuintes. Já as nor-mas com finalidade social visam a comportamentos outros, que na esfera ambiental se relacionam com a regra do desenvolvimento sustentável e, consequentemente, com a proteção às normas ambientais

4 Extrafiscalidade como escopo da preservação ambiental

O Direito Tributário tem como função principal a chamada fisca-lidade, ou seja, a competência de arrecadação de aportes financeiros para que o Estado possa atuar nas áreas da saúde, da educação, da assistência social etc. Ocorre que, muitas vezes, o Estado atua com vistas a regular o mercado ou a economia de um país, por meio de incentivos ou desestímu-los, é a chamada função extrafiscal.

Para o jurista José Eduardo Soares de Melo, a extrafiscalidade restará demonstrada quando “o Poder Público estabelece situações desone-rativas de gravames tributários, mediante a concessão de incentivos e be-nefícios fiscais, com o natural objeto de estimular o contribuinte à adoção de determinados comportamentos”15.

Relacionando o conceito de extrafiscalidade com a teoria de Pi-gou, percebe-se que aquela restará demonstrada, quando o Estado intervir na economia, para incentivar as externalidades positivas.

Como visto no capítulo anterior, no entanto, esta teoria merece crítica, quando estabelece a possibilidade de o Estado atuar em sua função fiscal, ou seja, instituir um sistema de impostos, para desestimular as ex-ternalidades negativas, mesmo em matéria ambiental. Isso porque, como o fim maior do direito ambiental é a justiça social e a preservação do meio ambiente, já está claro que a inter-relação entre a economia e o direito am-biental só pode ser feita nos ditames da extrafiscalidade.

Exatamente por isso, o professor Fiorillo chega à conclusão de que a nomenclatura correta para o encontro do Direito Tributário com o Direito Ambiental deve ser Direito Ambiental Tributário, e não Direito Tri-

15 SOARES DE MELO, 2008, p. 404.

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59Veredas do Direito, Belo Horizonte, � v.8 � n.16 � p.47-62 � Julho/Dezembro de 2011

butário Ambiental. As normas fiscais devem ser interpretadas e conforma-das a partir dos critérios e princípios que estruturam o Direito Ambiental brasileiro16.

Por fim, para fundamentar ainda mais a impossibilidade de apli-cação do caráter fiscal na busca pela preservação ambiental, vale trazer à baia da discussão os ensinamentos do professor José Marcos Domingues: “a tributação extrafiscal (e a tributação ambiental em particular) não se destina a punir ilicitudes. Busca-se com ela orientar o agente econômico a planejar o seu negócio lícito de acordo com uma política pública legitima-da pela Constituição”17.

Diversos exemplos praticados no ordenamento jurídico brasilei-ro podem ser citados, como forma de demonstração da possibilidade de aplicação da regra da extrafiscalidade na preservação ambiental.

Na esfera de competência da União, vale lembrar que de acordo com a Lei 9.393/96, serão excluídas da base de cálculo do Imposto Ter-ritorial Rural – ITR as áreas de floresta nativa e outras consideradas pela legislação como de preservação permanente, configurando-se, então, uma verdadeira hipótese de isenção do referido tributo.

No âmbito dos Estados, vale citar a experiência do chamado Im-posto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - Ecológico – ICMS Ecológico. Não se trata de uma nova modalidade de tributação. Foi ide-alizado de forma a conferir certo repasse dos valores arrecadados pelos Estados aos Municípios que tenham em seus territórios áreas verdes pre-servadas.

Conforme salientado pelo professor Fiorillo, “o interesse central na implementação do ICMS ecológico não é outro senão incentivar o gra-dativo aumento de zonas ou áreas de conservação ambiental, compensan-do-se ainda os Municípios pela restrição no uso dessas áreas constitucional e legalmente protegidas”18.

Por fim, no âmbito dos Municípios, vale citar a experiência da Lei Municipal n. 14.910/2009, regulamentada pelo Decreto n. 50.522/2009, em que o Município de São Paulo prescreveu a possibilidade de isenção do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza - ISS, os serviços de diversão, lazer e entretenimento que se relacionem a desfiles de escolas de samba, blocos carnavalescos ou folclóricos, trios elétricos e congêneres,

16 FIORILLO, 2010, p. 59.17 DOMINGUES, 2007, p. 50.18 FIORILLO, 2010, p. 155.

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realizados durante carnaval no Sambódromo de São Paulo, bem como a produção artística dos desfiles das atividades descritas acima.

Percebe-se que a isenção de ISS, neste caso, é um verdadeiro incentivo ao meio ambiente cultural, já que a proteção ambiental não se restringe ao caráter natural do meio ambiente.

O ordenamento jurídico brasileiro, em seu aspecto da proteção do meio ambiente, se mostra, como indicado acima, em consonância com a tendência mundial.

Não se pode perder de vista, no entanto, que a principal finalida-de do Direito Ambiental, tanto em seu aspecto constitucional quanto em seu aspecto legal, é a preservação do meio ambiente, ou seja, agir anterior-mente à ocorrência de um dano. Uma das formas prescritas no ordenamen-to é exatamente possibilidade de adoção de mecanismos econômicos para auxiliar nessa proteção.

Assim, em clara aplicação da teoria do economista inglês Arthur C. Pigou, no que tange aos incentivos às chamadas externalidades positi-vas, o Brasil vem aplicando e desenvolvendo o chamado Direito Ambien-tal Tributário, em que as regras da extrafiscalidade tributária são aplicadas em consonância com os princípios ambientais, em especial, o do desenvol-vimento sustentável.

Por sua vez, a inter-relação da extrafiscalidade com os princípios ambientais, resulta, em última instância, em um dos primordiais objetivos da Carta Magna brasileira, qual seja a construção de “uma sociedade livre, justa e solidária” (art. 3º, I, da Constituição Federal).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A preservação ambiental é o principal objetivo das regras do Di-reito Ambiental. Pouco ou mesmo nenhum resultado prático é obtido quan-do a legislação é aplicada em caráter repressivo ao dano.

É com esse viés que as lições do princípio do desenvolvimento sustentável relacionam o meio ambiente com a economia. Não se pode incentivar o crescimento econômico e social, sem levar em consideração a preservação ambiental para as presentes e futuras gerações.

Nesses termos, discutiu-se, por meio de pesquisa bibliográfica, a necessidade de aplicação de instrumentos econômicos em matéria am-biental e chegou-se ao consenso de que o Direito Tributário e as regras da extrafiscalidade são totalmente compatíveis com as finalidades do artigo

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Rafael Antonietti Matthes

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225, da Constituição Federal.No Brasil, a aplicação do ICMS - ecológico, da isenção em sede

de Imposto Territorial Rural e da isenção em sede de Imposto sobre Servi-ços de Qualquer Natureza para atividades que visem à promoção do meio ambiente cultural se mostram efetivas e vêm ao encontro dos ensinamentos do economista Arthur C. Pigou sobre a intervenção estatal para a promoção das chamadas externalidades positivas.

Assim, conclui-se que, em vista dos objetivos do ordenamento jurídico brasileiro, para o meio ambiente, os instrumentos econômicos, como a extrafiscalidade, se mostram de grande importância prática, já que levam em consideração regras como a do desenvolvimento sustentável e buscam, ao final, a chamada justiça social.

REFERÊNCIAS

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DOMINGUES, José Marcos. Direito Tributário e Meio Ambiente. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007.

FIORILLO, Celso Antônio Pacheco e FERREIRA, Renata Marques. Di-reito Ambiental Tributário. 3. ed. São Paulo, 2010.

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NUNES, Lílian Rose Lemos Soares. Política fiscal aplicada ao meio am-biente: aspectos jurídicos do instrumento econômico tributos. In: Revis-ta Universitas/Jus: revista da Faculdade de Direito do Distrito Federal /

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EXTRAFISCALIDADE COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL

62 Veredas do Direito, Belo Horizonte, � v.8 � n.16 � p.47-62 � Julho/Dezembro de 2011

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SANDRONI, Paulo. Dicionário de Economia. São Paulo: Nova Cultural, 1985.

SILVA, Solange Teles da. O Direito Ambiental Internacional. Belo Ho-rizonte: Del Rey, 2009.

Recebido: 21/08/2011

Aceito: 12/09/2011

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jusbrasil.com.br10 de Outubro de 2019

Tributação Ambiental e a inconstitucionalidade da Taxa deControle e Fiscalização Ambiental – TCFA

Por Rafael Antonietti Matthes*

Resumo: O presente trabalho analisa a evolução histórica, instituição

e inconstitucionalidade de uma taxa com viés ambiental, no âmbito do

ordenamento jurídico pátrio. Dentre as principais conclusões, percebe-

se que a única forma de aplicação dos ideais tributários com o intuito

de preservação ambiental é por meio da extrafiscalidade, o que resulta,

por si só, na ilegalidade da TCFA.

Palavras-chave: Extrafiscalidade, preservação ambiental, tributos

ambientais e inconstitucionalidade.

Sumário: 1. Introdução; 2. O histórico normativo da TCFA; 3.

Principais características e inovações da Lei nº. 10.165/10; 4.

Confronto das disposições legais com os preceitos constitucionais; 5.

Jurisprudência atual sobre o tema; 6. Conclusão; 7. Referências

bibliográficas.

1. Introdução

Nas últimas décadas, problemas como o chamado efeito estufa, o

buraco na camada de ozônio, a poluição nos centros urbanos e o

consequente agravamento de problemas respiratórios, alardearam a

sociedade internacional.

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Os organismos internacionais e os cidadãos ao redor do mundo,

procuraram elaborar, dentro de suas esferas de atuação, estratégias

direcionadas à reversão dos fenômenos degradativos ao meio

ambiente.

No Brasil, em 1988, a Constituição Federal inovou no ordenamento

jurídico pátrio e reservou um capítulo inteiro a proteção do meio

ambiente, elevando essa questão ao Apesar de já descrito como direito

fundamental, a proteção do meio ambiente para as presentes e futuras

gerações dificilmente encontra efetividade em uma sociedade

capitalista, sem que haja intervenções econômicas para tanto.

A Constituição Federal, por sua vez, pensando nessas dificuldades,

preceituou em seu artigo 170, inciso VI, que a ordem econômica,

fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem

por finalidade assegurar a todos existência digna, conforme os ditames

da justiça social, observado o princípio da defesa do meio ambiente.

É nesse momento, que o direito tributário entra em cena e viabiliza

mecanismos de proteção da preservação do meio ambiente.

Será que o direito tributário pode mesmo agir em suas funções fiscal e

extrafiscal para alcançar objetivos de “uma sociedade livre, justa e

solidária” (art. 3º, I, da Constituição Federal)? É uma das premissa que

se buscará verificar neste trabalho.

Sobre a inconstitucionalidade de um caso prático específico, qual seja,

a lei nº. 10.165/00 que instituiu a chamada Taxa de Controle e

Fiscalização ambiental, serão utilizadas as premissas alcançadas para

verificar se essa exação tributária pode mesmo ter aplicação no

território brasileiro, em que pese o já consolidado entendimento do

Supremo Tribunal Federal.

2. O histórico normativo da TCFA

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Nos termos da Constituição Federal de 1988, taxa é uma modalidade

de tributo, cujo fato gerador está vinculado a uma atividade estatal.

Esta atividade, por sua vez, poderá consistir no exercício do chamado

poder de polícia ou na ou na utilização, efetiva ou potencial, de serviço

público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua

disposição.

Partindo dessa previsão constitucional, em janeiro do ano 2000, o

legislador federal editou e promulgou a Lei nº. 9.960, que, dentre

outras matérias, modificou algumas disposições da Lei nº. 6.938/81 e

instituiu a chamada Taxa de Fiscalização Ambiental – TFA.

De acordo com aquele diploma normativo, o fato gerador dessa taxa

era o exercício das atividades mencionadas no inciso II do art. 17 da Lei

6.938/81, com a redação dada pela Lei no 7.804, de 18 de julho de

1989, ou seja, in verbis:

“Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou

Utilizadoras de Recursos Ambientais, para registro obrigatório de

pessoas físicas ou jurídicas que se dedicam a atividades potencialmente

poluidoras e/ou à extração, produção, transporte e comercialização de

produtos potencialmente perigosos ao meio ambiente, assim como de

produtos e subprodutos da fauna e flora”

Determinado o fato gerador, restou consignado pela referida lei, que os

sujeitos passivos dessa taxa seriam as pessoas físicas ou jurídicas

obrigadas ao registro no Cadastro Técnico Federal de Atividades

Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais.

Além disso, de acordo com a supracitada lei, a TFA era devida em

conformidade com o fato gerador e o seu valor corresponderia à

importância de R$ 3.000,00 (três mil reais), sendo que em alguns

casos eram concedidos certos descontos e até isenções.

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Evidentemente, a instituição da TFA causou grande impacto nos

setores envolvidos, gerando grandes discussões sobre a

constitucionalidade dessa modalidade tributária.

Após toda essa movimentação, a Confederação Nacional das Indústrias

propôs ação direta de inconstitucionalidade[1], visando afastar de vez a

cobrança da referida taxa.

De acordo com a Confederação, a TFA guardava como fato gerador a

atividade exercida pelos contribuintes, e não o serviço prestado ou

posto à disposição do contribuinte pelo ente público no exercício do

seu poder de polícia – requisito necessário para a instituição de uma

taxa, nos termos do artigo 145, II da Constituição Federal.

Outro tópico discutido nessa ação foi a indicação genérica do sujeito

passivo da indigitada taxa, sem a correta menção de quais atividades

seriam aquela consideradas potencialmente poluidoras ou utilizadoras

de recursos ambientais, aptas a gerar a obrigação do pagamento da

TFA.

Por fim, mais uma inconstitucionalidade foi argumentada: ausência de

definição de alíquotas ou critério a ser utilizado para o cálculo do valor

devido, desrespeitando, neste caso, o princípio da isonomia, já que

dispensa mesmo tratamento a contribuintes de expressão econômica

variada.

O pedido de declaração de inconstitucionalidade veio acompanhado de

requerimento de medida liminar, que foi deferido em 29 de março de

2000, suspendendo, assim, a eficácia do artigo que introduziu a TFA

até a decisão final da ação.

Em face da relevância da instituição de uma exação desse naipe,

voltada para o atendimento de políticas de natureza ambiental, o então

relator da referida Ação Direita de Inconstitucionalidade, o Ministro

Ilmar Galvão, sugeriu que nova lei fosse promulgada, suprimindo os

correspondentes vícios.

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Assim, em dezembro do ano 2000, veio a lume a Lei nº. 10.165, que

instituiu a chamada Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental –

TCFA. Nesta (que da mesma forma que a anterior, alterava o artigo 17

da Lei nº. 6.938/81), o fato gerador passou a ser o “exercício regular do

poder de polícia conferido ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e

dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, para controle e

fiscalização das atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de

recursos naturais.

Com a conseqüente revogação dos dispositivos da Lei 9.960/00, a

ADIn 2.178-8 acabou por perder seu objeto, sendo julgada prejudicada

na forma do artigo 21, IX, do Regimento Interno do Supremo Tribunal

Federal, em 14 de janeiro de 2001.

3. Principais características e inovações da Lei nº. 10.165/10

Como dito anteriormente, a Lei nº. 10.165/00 foi promulgada, com

vistas a afastar as inconstitucionalidades apontadas na Lei nº.

9.960//00. Assim, a Taxa de Fiscalização Ambiental – TFA, adquiriu

novas características e passou a ser denominada como Taxa de

Controle e Fiscalização Ambiental – TCFA.

De acordo com o novel diploma legal, o fato gerador da TCFA é o

exercício regular do poder de polícia conferido ao Instituto Brasileiro

do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA para

controle e fiscalização das atividades potencialmente poluidoras e

utilizadoras de recursos naturais.

Percebe-se que o sujeito ativo, nesse caso, é o Instituto Brasileiro do

Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. Já os

sujeitos passivos serão todos aqueles que exercerem as atividades

constantes do Anexo VIII daquela Lei.

Este anexo VIII traz um rol de atividades potencialmente poluidoras e

utilizadoras de recursos ambientais, são elas: 1 – extração e tratamento

de minerais; 2- indústria de produtos minerais não metálicos, 3 –

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indústria metalúrgica; 4 – indústria mecânica; 5 – indústria de

material elétrico, eletrônico e comunicações; 6 – indústria de material

de transporte; 7 – indústria de madeira; 8 – indústria de papel e

celulose; 9 – indústria de borracha; 10 – indústria de couros e peles; 11

– indústria têxtil, de vestuário, calçados e artigos feitos de tecidos; 12 –

indústria de produtos de matéria plástica; 13 – indústria de fumo; 14 –

indústrias diversas; 15 – indústria química; 16 – indústria de produtos

alimentares e bebidas; 17 – serviços de utilidade; 18 – transporte,

terminais, depósitos e comércio; 19 – turismo; e 20 –uso de recursos

naturais.

Há, ainda, uma obrigação acessória a todos os sujeitos passivos. De

acordo com a lei, todos deverão entregar até o dia 31 de março de cada

ano, um relatório das atividades exercidas no ano anterior, cujo

modelo será definido pelo IBAMA, para o fim de colaborar com os

procedimentos de controle e fiscalização.

Caso tal obrigação seja descumprida, há ainda a previsão de aplicação

de uma multa equivalente a vinte por cento da TCFA devida, sem

prejuízo da exigência desta taxa.

A data de pagamento do referido tributo será sempre no último dia útil

de cada trimestre do ano civil, nos valores fixados no anexo IX da lei, e

o recolhimento deverá ser efetuado em conta bancária vinculada ao

IBAMA, por intermédio de documento próprio de arrecadação, até o

quinto dia útil do mês subseqüente.

Os valores descritos no anexo IV se mostram bem expressivos, ou

mesmo “arbitrários de tão irrazoáveis” (FIORILLO E FERREIRA,

2010, p. 157). Enquanto a microempresa[2] será isenta se o seu grau de

utilização dos recursos naturais for pequeno ou médio, pagará R$

50,00 se for alto. Já uma empresa de grande porte[3] pagará entre os

montantes de R$ 450,00 ou R$ 900,00 ou até R$ 2.250,00,

dependendo do grau de utilização dos recursos naturais.

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De acordo com a lei, caso a TCFA não seja recolhida nos prazos e nas

condições estabelecidas, será cobrada com acréscimo de juros de mora

de 1% ao mês, multa de mora de 20% e encargo de 20% calculado sobre

o total do débito inscrito em Dívida Ativa.

Há previsão de isenção do pagamento da TCFA às entidades públicas

federais, distritais, estaduais e municipais, as entidades filantrópicas,

aqueles que praticam agricultura de subsistência e as populações

tradicionais.

Vale lembrar, que caso o estabelecimento exerça mais de uma atividade

sujeita à fiscalização, pagará a taxa relativamente a apenas uma delas,

pelo valor mais elevado.

Por fim, tendo em vista que muitos estabelecimentos já haviam pago a

chamada Taxa de Fiscalização Ambiental – TFA, restou prevista a

possibilidade de compensação com o valor devido a título de TCFA, até

o limite de sessenta por cento e relativamente ao mesmo ano. Contudo,

valores recolhidos ao Estado, ao Município e ao Distrital Federal a

qualquer outro título, tais como taxas ou preços públicos de

licenciamento e venda de produtos, não constituem crédito para

compensação com a TCFA.

4. Confronto das disposições legais com os preceitosconstitucionais

Apesar de ser promulgada para sanar todas as inconstitucionalidades

da lei da TFA, a Lei nº. 10.165/00 possui diversos aspectos que vão de

encontro aos ditames constitucionais.

Primeiramente, deve-se ressaltar, que o direito ambiental tem como

finalidade maior a justiça social e a preservação do meio ambiente, nos

termos do artigo 225, da Constituição Federal, ou seja, agir

anteriormente a ocorrência de um dano. Uma das formas, prescritas no

ordenamento para tanto, é exatamente a possibilidade de adoção de

mecanismos econômicos.

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Nesses termos, as normas tributárias para que sejam aplicadas com

esse viés, devem ser interpretadas e conformadas a partir dos critérios

e princípios que estruturam o direito ambiental brasileiro.

O direito tributário, por sua vez, tem como função principal, a chamada

fiscalidade, ou seja, a competência de arrecadação de aportes

financeiros para que o Estado possa atuar nas áreas da saúde, da

educação, da assistência social etc. Ocorre que, muitas vezes, o Estado

atua com vistas a regular o mercado ou a economia de um país, por

meio de incentivos ou desestímulos, é a chamada função extrafiscal.

Para o jurista José Eduardo Soares de Melo (2008, p. 404), a

extrafiscalidade restará demonstrada quando “o Poder Público

estabelece situações desonerativas de gravames tributários, mediante a

concessão de incentivos e benefícios fiscais, com o natural objeto de

estimular o contribuinte à adoção de determinados comportamentos”.

Nesses termos, o direito tributário, para ser compatível com as

finalidades do direito constitucional ambiental, só poderá atuar em sua

função extrafiscal, já que a inter-relação da extrafiscalidade com os

princípios ambientais resulta, em última instância em um dos

primordiais objetivos da Carta Magna brasileira, qual seja a construção

de “uma sociedade livre, justa e solidária” (art. 3º, I, da Constituição

Federal).

Para fundamentar ainda mais a impossibilidade de aplicação do caráter

fiscal na busca pela preservação ambiental, vale trazer à baia da

discussão, os ensinamentos de Domingues (2007, p. 50): “a tributação

extrafiscal (e a tributação ambiental em particular) não se destina a

punir ilicitudes. Busca-se com ela orientar o agente econômico a

planejar o seu negócio lícito de acordo com uma política pública

legitimada pela Constituição”.

Ocorre que a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental é uma clara

aplicação do direito tributário em seu viés fiscal, já que objetiva

arrecadar fundos, ao valorar o exercício regular do poder de polícia

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conferido ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renováveis – IBAMA para controle e fiscalização das

atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos

naturais, o que demonstra um primeiro argumento pela

inconstitucionalidade da referida lei.

Outro fator que demonstra a inconstitucionalidade dessa lei é a

ausência de contraprestação efetiva do serviço público ou ainda o

efetivo exercício de poder de policia, o que fere os preceitos do artigo

145, II, da Carta Magna. Nesses termos, vale citar o entendimento dos

professores Fiorillo e Ferreira (2010, p. 156):

“Pelo direcionamento traduzido no artigo 145. II, da Constituição, o

poder de polícia só justifica a cobrança da taxa se houver

contraprestação específica e divisível. A hipótese de incidência da novel

taxa remunera o serviço de polícia geral conferido pelo IBAMA uti

universi, desrespeitando acintosamente o regramento constitucional

relativo às taxas. Além disso, se o tributo pretendido tem por fato

gerador poder de polícia geral, configura imposto, não taxa, e, dessa

forma, a pseudotaxa viola frontalmente o regramento constitucional

doa RT. 167, IV, da CF, que veda a vinculação de receita de imposto a

órgão, fundo o despesa.”

Conforme lembrado pelo o ilustre professor, a TCFA remunera o

serviço de polícia geral conferido pelo IBAMAuti universi., Nessas

condições, se o tributo tem como fato gerador um poder de polícia

geral, resta configurada a existência de um imposto e não de uma taxa,

ou seja, a lei criou uma “pseudotaxa”.

A existência de um imposto nessas condições, por sua vez, fere os

ditames do artigo 167, IV, da CF/88, que proíbe a vinculação das

receitas provenientes dos impostos a órgão, fundo ou despesa,

No mesmo sentido, vale citar as palavras do jurista José Marcos

Domingos (2007, p. 310):

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“Ora, a expressão exercício regular do poder de polícia está na

Constituição (e no CTN), em normas gerais sobre tributação, que não

são normas de tributação, isto é, não servem para instituir tributo (art.

150, I, CF, e art. 97, III, c. C. 114 CTN); e dizer que o IBAMA controla e

fiscaliza no exercício daquele poder-dever nada acrescenta a outra

norma geral do CTN (art. 78) que reproduz o respectivo conceito

doutrinário; e referir-se a atividades potencialmente poluidoras e

utilizadoras de recursos naturais a serem fiscalizadas ou controladas,

além de despiciendo, pois não se poderia imaginar que o IBAMA fosse

policiar porte de arma ou qualquer outra coisa que não o meio

ambiente, indica apenas o contribuinte da taxa, mas não descreve o

fato gerador”.

Resta claro, portanto, que não se vislumbra nessa lei, qualquer

autorização específica para agir, que pudesse ser chamado de fato

gerador da taxa. O texto normativo preferiu a generalidade.

Outro ponto controvertido da TCFA diz respeito à atribuição ao IBAMA

(órgão federal) de controlador e fiscalizador das atividades

potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos naturais.

De acordo com a Lei 6.938/81, que instituiu a Política Nacional do

Meio Ambiente e foi recepcionada como lei complementar pela

Constituição Federal, cabe ao órgão seccional (estadual) a execução de

programas, projetos e controle e fiscalização de atividades capazes de

provocar a degradação ambiental.

Constata-se que a lei complementar definiu competência primária

estadual para proceder a certas atividades, como o licenciamento

ambiental e o exercício da fiscalização ambiental geral e não à União

(ou seu órgão IBAMA). A alteração do caráter supletivo da atuação

federal dependeria de uma lei complementar de caráter nacional, não

de uma lei ordinária federal, como no caso da Lei nº. 10.165/00. O que

está em jogo, portanto, é um conflito de competências entre o órgão

seccional e o IBAMA, solucionável, apenas, por lei complementar, nos

termos do artigo 146, I, da Constituição Federal (DOMINGUES, 2007,

p. 316).

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Além de ser uma taxa aplicada em caráter meramente fiscal, o que

contraria todo o direito constitucional ambiental, de ter fato gerador de

imposto e de haver conflito de competência solucionado por meio de lei

ordinária, o que fere os ditames do art. 146, I, da CF/88, a Lei nº.

10.165/00 veiculou outra inconstitucionalidade.

Trata-se da existência da chamada bitributação, que será vislumbrada

com a instituição das taxas cobradas pelos órgãos seccionas, estaduais,

no uso de sua competência própria, pelo desempenho de serviços de

polícia, como no caso das taxas de licenciamento. Assim, dois entes,

órgão seccional e o IBAMA, cobram dois tributos diferentes sobre o

mesmo fato gerador.

Feita toda essa analise do sistema constitucional tributário, do direito

ambiental brasileiro e de suas finalidades e da transversalidade que

inter-relaciona esses dois campos jurídicos, percebe-se que a existência

a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental vem de encontro a um dos

fundamentos da Constituição Federal, qual seja, a dignidade da pessoa

humana.

A opção do constituinte de 88 em elencar o meio ambiente no artigo

225 da Carta Magna representou o entendimento de que a preservação

ambiental deve prevalecer sobre os interesses econômicos, de que a

preservação ambiental é pura medida de justiça social.

Nesses termos, veicular finalidade arrecadatória, com a escusa de

preservação ao meio ambiente, não apenas uma atitude descabida,

como fere um dos objetivos fundamentais da República Federativa do

Brasil: a construção de uma sociedade livre, justa e igualitária (artigo

3º, I).

Após 1998, falar em direito ambiental é falar em Constituição Federal,

é falar em um direito fundamental internamente reconhecido. A

existência dessa taxa retrocede todos os avanços que a legislação

brasileira conquistou sobre a proteção do meio ambiente.

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5. Jurisprudência atual sobre o tema

Em vista da patente inconstitucionalidade da Lei nº. 10.165/00, a

Associação Gaúcha de Empresas Florestais – AGEFLOR ingressou com

um Recurso Extraordinário, visando ao reconhecimento dessa

inconstitucionalidade, na modalidade difusa.

A Associação alegou para tanto, ofensa ao artigo 23, parágrafo único da

CF/88, haja vista o conflito de competência entre os órgãos do

SISNAMA; contrariedade ao artigo 145, II, da CF/88, haja vista o não

exercício do poder de polícia por parte do IBAMA; violação aos artigos

167, IV e 154, I ambos da CF/88, uma vez que a TCFA se caracterizada

como um imposto e não como uma taxa; e, por fim, a ocorrência da

dupla-tributação entre a TCFA e as taxas de licenciamento cobradas

pelos órgãos estaduais.

Após todo o trâmite processual, o Recurso Extraordinário nº.

416.601/DF, cuja relatoria pertenceu ao Ministro Dr. Carlos Velloso, foi

julgado improcedente por unanimidade, em 10 de agosto de 2005, pelo

órgão pleno do Supremo Tribunal Federal.

Diversos outros recursos foram interpostos, como, por exemplo, os

Recursos Extraordinários 460.066/RS, 453.649/PR, 459.950/RS,

401.071/SC e 421.279/SC, mas até o presente momento, os ilustres

ministros não vislumbraram novas razões consistentes a afastar o

precedente já consolidado.

O Superior Tribunal de Justiça também já foi acionado para julgar

aspectos da Lei nº. 10.165/00, que supostamente conflitavam com

disposições de lei federal. Restou decidido, no entanto, em todos esses

julgamentos, que o recurso especial não se presta ao exame de matéria

de índole constitucional, de competência exclusiva da Suprema Corte,

nos termos do artigo 102 da Constituição Federal.

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Isso porque, a afirmação de que a lei instituidora da Taxa de Controle e

Fiscalização Ambiental – TCFA contraria o disposto nos arts. 77 e 78,

do Código Tributário Nacional, que repetem texto constitucional,

significa, por via reflexa, afirmar a inconstitucionalidade de referida

disposição, cuja matéria é apreciável pelo Colendo Supremo Tribunal

Federal.

6. Conclusão

Quando se fala em direito ambiental tributário, suas finalidades devem

ser as mesmas dos dois eixos temáticos que o compõem, ou seja, a

busca da dignidade da pessoa humana e a realização de uma sociedade

justa, livre e solidária.

Assim, ao se analisar a chamada taxa de controle e fiscalização

ambiental verificou-se que ela apesar de vigente em nosso

ordenamento, não poderia ter eficácia, já que sua lei instituidora tem

claros vícios de inconstitucionalidade.

Pôde-se apontar como exemplos, que a taxa possui verdadeiro fato

gerador de imposto, que a prescrição do IBAMA como sujeito ativo da

relação tributária resulta em um patente conflito de competência, que

no caso foi solucionado por meio de lei ordinária, o que fere os ditames

do art. 146, I, da CF/88, e que, além disso, a sua cobrança resulta em

uma bitributação.

Contudo, não são esses os principias vícios dessa lei. Buscou-se

demonstrar, durante o desenvolvimento dos capítulos que a utilização

de tributos na forma fiscal se mostra um verdadeiro absurdo jurídico,

pois fere os objetivos previstos ao meio ambiente pela Constituição

Federal, já que atua de forma repressiva e não preventiva.

Assim, além das inconstitucionalidades apontadas acima, a principal

delas é que a taxa de controle e fiscalização ambiental prevista na lei

nº. 10.165/00 possui caráter meramente fiscal, o que contraria todo o

direito constitucional ambiental.

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Referências bibliográficas

DOMINGUES, José Marcos. Direito Tributário e Meio Ambiente.

3ªed. Rio de Janeiro: Forense, 2007.

FIORILLO, Celso Antônio Pacheco e FERREIRA, Renata Marques.

Direito Ambiental Tributário. 3ªed. São Paulo, 2010.

MELO, José Eduardo Soares de. Curso de Direito Tributário. 8ªed.

São Paulo: Dialética, 2008.

Notas:

[1] ADIn 2.178-8/DF, Rel. Min. Ilmar Galvão

[2] De acordo com a lei, constitui microempresa e empresa de pequeno

porte, as pessoas jurídicas que se enquadrem, respectivamente, nas

descrições dos incisos I e II do caput do art.2oo da Lei.9.8411, de 5 de

outubro de 1999.

[3] De acordo com a lei, constitui empresa de grande porte, a pessoa

jurídica que tiver receita bruta anual superior a R$ 12.000.000,00

(doze milhões de reais).

Informações Sobre o AutorRafael Antonietti Matthes

*Advogado em Direito Tributário e Ambiental, professor da Rede de

Ensino LFG, mestrando bolsista Capes em Direito Ambiental na

UNISANTOS, especialista em Direito Tributário pela Rede Ensino

LFG.

FONTE

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/

Disponível em: https://carollinasalle.jusbrasil.com.br/artigos/148919783/tributacao-ambiental-e-a-inconstitucionalidade-da-taxa-de-controle-e-�scalizacao-ambiental-tcfa

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10/10/2019 A TFCA revisitada: ilegitimidade da atualização monetária parcial - JOTA Info

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DIREITO TRIBUTÁRIO

A TFCA revisitada: ilegitimidade da atualizaçãomonetária parcial

Atualmente, discute-se a validade da Portaria que majorou a taxa, tendo o TRF3 já se posicionado em favordo IBAMA

LUCIANO GOMES FILIPPO

03/08/2019 09:47

Imagem: Pixabay

A Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental (TCFA) foi criada pela Lei nº 10.165/00,

que alterou a Lei nº 6.938/81.1 São contribuintes da referida taxa os agentes que

realizam atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursosambientais. A lista de atividades encontra-se no Anexo VIII da Lei nº 6.938/81.

A TCFA já é conhecida nos Tribunais Superiores. Houve no passado discussão sobrea sujeição de empresas revendedoras de combustíveis (postos) à referida taxa – oSTJ decidiu a�rmativamente (REsp 695.368/RJ). Já foi também discutida a

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10/10/2019 A TFCA revisitada: ilegitimidade da atualização monetária parcial - JOTA Info

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inconstitucionalidade da TCFA, tendo o STF afastado a tese do contribuinte (REincons416.601/DF).

+JOTA: Assine o JOTA e não deixe de ler nenhum destaque!

Atualmente, discute-se a validade da Portaria Interministerial que majorou a taxa,tendo o TRF3 já se posicionado em favor do IBAMA. Em geral, o Tribunal entendeque a mera atualização monetária de tributo não viola o princípio da legalidade, poisse trata de mera recomposição do valor. Nesse sentido: Apelação 0001891-66.2016.4.03.6114; 0003597-29.2016.4.03.6100 e 0021364-47.2016.4.03.0000. Emdireção semelhante, o Tribunal da 2ª Região (Apelação 0002223-92.2016.4.02.5101).Não ainda há manifestação do STF, STJ e deste Tribunal da 1ª Região.

Em nenhum desses casos, todavia, fora analisada a sistemática de atualizaçãomonetária realizada pela Portaria Interministerial do IBAMA nº 812/15. Essa portaria

foi emitida para dar efetividade à Lei nº 13.196/15, que permitiu, em seu art. 3º2, ao

Poder Executivo realizar a atualização monetária da taxa, instituída no longínquo anode 2000.

Vale ressaltar que a taxa é calculada levando-se em consideração dois critériosdistintos:

(a) enquadramento em microempresa e empresa de pequeno porte, empresa demédio porte e empresa de grande porte (art. 17-D, § 1º); e

(b) valor estabelecido pelo potencial de poluição e grau de utilização de recursosnaturais (Anexo IX);

Quanto ao enquadramento das empresas, o art. 17-D da Lei nº 10.165/00 dispõe queempresas de médio porte são as que possuem receita bruta anual superior a R$ 1,2milhão e igual ou inferior a R$ 12 milhões; empresas de grande porte seriam as que

auferem receita bruta anual superior R$ 12 milhões.3 Por seu turno, o Anexo IX traz

os valores originais, trazidos quando a TCFA foi instituída:

Potencial dePoluição,

Grau de utilizaçãode RecursosNaturais

PessoaFísica

Microempresa

Empresa dePequenoPorte

Empresade MédioPorte

Empresa deGrandePorte

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10/10/2019 A TFCA revisitada: ilegitimidade da atualização monetária parcial - JOTA Info

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Pequeno – – 112,50 225,00 450,00

Médio – – 180,00 360,00 900,00

Alto – 50,00 225,00 450,00 2.250,00

Ocorre que a Portaria Interministerial nº 812/15 do IBAMA atualizou somente o valor�nal devido; deixou intactos os valores utilizados para �ns de enquadramento dasempresas. Não é difícil perceber que a atualização, tal como realizada pelo IBAMA,gerou distorções inaceitáveis, aumentando indiretamente o tributo. Com isso, violouregras ditadas em lei e também na Constituição Federal de 1988.

Como é sabido, o STF já se manifestou no sentido de que não cabe ao PoderJudiciário atuar como legislador positivo quando não há atualização monetária databela progressiva do imposto de renda (RE 388.312/MG). No entanto, esseentendimento não se aplica no caos em tela, por conta de uma questão sutil: não seestá diante de imposto e sim de taxa. Essa pequena diferença traz consequênciaspráticas irremediáveis.

Ora, o valor devido pelo contribuinte decorre da combinação dos dois critériosindicados acima. Imagine-se um contribuinte enquadrado como empresa de grandeporte (faturamento acima de R$ 12 milhões) e teve suas atividades classi�cadascomo de alto risco ambiental. O valor inicial cobrado dessa empresa era de R$2.250,00. Com a atualização monetária promovida pela Portaria Interministerial nº812 do IBAMA, o valor devido passou para R$ 5.796,73.

Todavia, como já informado, a mesma portaria não atualizou monetariamente ovalor de piso para enquadramento da empresa como sendo grande empresa, de R$12 milhões. Se esse valor tivesse sido atualizado também pelo IPC-A – índiceutilizado pela Portaria Interministerial nº 812 do IBAMA -, o valor atualizado seria deR$   31.335.036,00.

Ou seja, somente os contribuintes com faturamento acima de R$ 31,3 milhões é queestariam sujeitos ao valor de R$ 5.796,73. Ao assim proceder, naturalmente, aPortaria Interministerial nº 812 do IBAMA aumentou a arrecadação para além dacorreção monetária. Essa situação trouxe quatro inconstitucionalidades e umainconsilegalidade:

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10/10/2019 A TFCA revisitada: ilegitimidade da atualização monetária parcial - JOTA Info

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(a) aumento (indireto) da arrecadação da taxa, sob a justi�cativa de simplescorreção monetária, desacompanhado da necessária justi�cativa sobre o aumentode custos com a atividade de �scalização (lembramos que se trata de uma TAXA),violando com isso o princípio da retributividade que rege essa espécie tributária;

(b) aumento (indireto) de tributo (TAXA) por meio de portaria, ou seja, sem lei formal;

(c) implementação de tributo com efeitos con�scatórios;

(d) manutenção de situação fora dos parâmetros de razoabilidade, se levados emconsideração outros parâmetros estabelecidos pela legislação federal;

(c) violação ao art. 3º, da Lei 13.916/15, que autoriza a atualização monetária até olimite do valor acumulado do IPCA.

Com efeito, padecendo de inconstitucionalidade, a TCFA não pode ser cobrada, peloinconsmenos nos moldes em que vem sendo feito pelo IBAMA. Passamos a analisarabaixo, brevemente, as ilegitimidades que maculam a cobrança da referida taxa.

A primeira violação é ao princípio da comutatividade, pois houve aumento dearrecadação sem aumento das despesas. É sabido que o produto de arrecadação dataxa deve ser aplicado integralmente no ressarcimento do estado quanto aos custosincorridos na atividade de �scalização. Essa correlação não deve ser veri�cada emvalores exatos, mas deve guardar razoável equivalência, como já decido pelo STF(ADI nº 2.551 MC-QO). Ou seja, aquilo que se arrecada deve corresponder, em certamedida, ao que o estado gasta no exercício da atividade �scalizatória.

Essa “razoável equivalência” decorre do princípio da comutatividade, tambémconhecido como retributividade ou referibilidade, que impõe o dever de o estadorealizar, efetivamente, alguma atividade em favor do contribuinte. Somente comessa condição é que a taxa pode ser cobrada.

Decorre desse princípio que o aumento na arrecadação de uma taxa deve serdevidamente justi�cado, sob pena de transformá-la em instrumento de arrecadação.E não há a menor dúvida que a atualização monetária realizada pelo IBAMA gerouum aumento na arrecadação.

Como se sabe, a atividade estatal relativa ao Poder de Polícia, para dar ensejo àstaxas, tem que ser efetiva, isto é, realizada concretamente (“exercício regular dopoder de polícia”), valendo frisar que o STF já apontou que a taxa não é devida pelo

poder de polícia “em si e por si”.4

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10/10/2019 A TFCA revisitada: ilegitimidade da atualização monetária parcial - JOTA Info

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Nesse ponto, vale registrar que a Portaria Interministerial nº 812 do IBAMA alegasomente a atualização monetária do valor devido – pelo IPC-A -, ou seja, nãomenciona o incremento na �scalização ou o aumento nos custos incorridos comessa atividade. Trata-se de um verdadeiro aumento na cobrança sem a devidacontrapartida pelo estado, o que viola nitidamente o princípio da comutatividade ouretributividade.

Em segundo lugar, observa-se a violação ao princípio da legalidade. Não há maioresdúvidas quanto à aplicabilidade do art. 150, I, da Constituição às taxas, espécie detributo. O STF já decidiu que “é inconstitucional a majoração de alíquotas da Taxa deinconsUtilização do SISCOMEX por ato normativo infralegal” (AgRg no RE 959.274).

No caso da taxa ora discutida a Lei nº 13.196/15 previu a possibilidade de o PoderExecutivo atualizar, pelo IPC-A, a TCFA. Todavia, não obstante essa permissão legal,não está o Poder Executivo autorizado a proceder de qualquer forma, nos termos dolimite imposto pelo STF. Ao atualizar um dos critérios para determinação do valordevido, o IBAMA deveria ter atualizado também o segundo critério, que são osvalores colocados para classi�cação do porte das empresas, pois não o fazendo,poder-se-ia criar distorções que implicam em graves inconstitucionalidades.incons

O caso presente, portanto, amolda-se perfeitamente à jurisprudência do STF quantoà Taxa de utilização do SISCOMEX.

Não há dúvida também de que, com a alteração promovida pela PortariaInterministerial nº 812 do IBAMA, houve um aumento na arrecadação da TCFA,consequência da majoração de alíquota ou valor �xo, ainda que de forma indireta. Eessa majoração deveria ter sido realizada através de lei formal, e não por meio deuma portaria.

Na sequência, tem-se uma violação ao princípio do não-con�sco. Sempre que aarrecadação da taxa supera a “razoável equivalência” – nos termos da jurisprudênciado STF – com os gastos auferidos pelo Poder Público, está-se diante de um tributoinconstitucional, por conta do efeito con�scatório. Com efeito, se o contribuinte éinconscobrado em valor superior ao que o estado está autorizado a cobrar, então ocon�sco �ca evidenciado. O STF já assentou esse entendimento, quando do

julgamento da ADI 2.551 MC-QO.5 Fica, portanto, evidenciada mais essa

inconstitucionalidade, por violação ao princípio do não con�sco, previstoinconsexpressamente no art. 150, IV, da CF/88.

O princípio da razoabilidade também foi violado. A manutenção do valor paraenquadramento das empresas como sendo de grande porte, no patamar de R$ 12

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milhões – sem atualização monetária -, é justi�cado apenas e tão somente com ointuito de aumentar a arrecadação indiretamente. Trata-se de um valor defaturamento extremamente baixo para caracterizar empresas de grande porte, o quenão é razoável. A legislação federal tem inúmeros exemplos que con�rmam essatese.

A Lei nº 11.638/07, que alterou a Lei nº 6.404/76 – por exemplo – consideraempresa de grande porte a empresa que obtenha receita bruta anual superior a R$

300 milhões, nos termos do art. 3º, § único.6 O BNDES mantém patamar similar para

classi�car o porte das empresas. De acordo com o Anexo I da Resolução DIR3086/16-BNDES, é considerada empresa de grande porte a que possui receitaoperacional bruta anual ou anualizada superior a R$ 300 milhões. Por �m, a MedidaProvisória 2.190-34/01, que regulamenta os procedimentos da ANVISA, classi�cacomo empresa de grande porte quando se veri�ca que o faturamento anual daempresa acima de R$ 50 milhões.

Não há na legislação federal patamar tão baixo quanto esse de R$ 12 milhões,mantido propositalmente pelo IBAMA, pois atualizou os valores devidos, masmanteve intacto os valores para classi�cação das empresas. Isso demonstra a faltade razoabilidade da legislação nesse sentido.

Por �m, ressalta-se a violação ao art. 3º da Lei nº 13.196/15. Conforme redaçãotranscrita acima, a Lei nº 13.196/15 trouxe, em seu art. 3º, a autorização para que oPoder Executivo atualize monetariamente, até o limite do IPCA, os valores cobradosa título de TCFA. Ou seja, a lei autorizou que a atualização, seja ela real ou nominal,fosse feita até o limite do índice referido.

Ocorre que, como já ressaltado, a atualização, tal como realizada pela PortariaInterministerial nº 812 do IBAMA, gerou um aumento muito superior à correçãomonetária a que se chega pela aplicação do IPCA. Consequentemente, ao extrapolaro limite estabelecido em lei (IPCA), a Portaria deve ser considerada ilegal, devendoser afastada por mais esse motivo.

———————————————

1� “Art. 17-B. Fica instituída a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental – TCFA,cujo fato gerador é o exercício regular do poder de polícia conferido ao InstitutoBrasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA paracontrole e �scalização das atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras derecursos naturais.”

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2� “Art. 3º. É o Poder Executivo autorizado a atualizar monetariamente, até o limitedo valor acumulado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)correspondente ao período entre a sua última atualização e a data de publicaçãodesta Lei, na forma do regulamento, o valor:

(…)

II – da taxa instituída pelo art. 17-B da Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981.”

3� “Art. 17-D. A TCFA é devida por estabelecimento e os seus valores são os �xadosno Anexo IX desta Lei.

§ 1o Para os �ns desta Lei, consideram-se:

I – microempresa e empresa de pequeno porte, as pessoas jurídicas que seenquadrem, respectivamente, nas descrições dos incisos I e II do caput do art. 2o daLei no 9.841, de 5 de outubro de 1999;

II – empresa de médio porte, a pessoa jurídica que tiver receita bruta anual superiora R$ 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil reais) e igual ou inferior a R$12.000.000,00 (doze milhões de reais);

III – empresa de grande porte, a pessoa jurídica que tiver receita bruta anual superiora R$ 12.000.000,00 (doze milhões de reais).”

4� Nesse sentido, decidiu a 1ª Turma do STF (AgRg no RE nº 555.254).

5� “Taxa: correspondência entre o valor exigido e o custo da atividade estatal. A taxa,enquanto contraprestação a uma atividade do poder público, não pode superar arelação de razoável equivalência que deve existir entre o custo real da atuaçãoestatal referida ao contribuinte e o valor que o Estado pode exigir de cadacontribuinte, considerados, para esse efeito, os elementos pertinentes às alíquotas eà base de cálculo �xadas em lei. Se o valor da taxa, no entanto, ultrapassar o custodo serviço prestado ou posto à disposição do contribuinte, dando causa, assim, auma situação de onerosidade excessiva, que descaracterize essa relação deequivalência entre os fatores referidos (o custo real do serviço, de um lado, e o valorexigido do contribuinte, de outro), con�gurar-se-á, então, quanto a essa modalidadede tributo, hipótese de ofensa à cláusula vedatória inscrita no art. 150, IV, da CF.”

6� “Considera-se de grande porte, para os �ns exclusivos desta Lei, a sociedade ouconjunto de sociedades sob controle comum que tiver, no exercício social anterior,

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ativo total superior a R$ 240.000.000,00 (duzentos e quarenta milhões de reais) oureceita bruta anual superior a R$ 300.000.000,00 (trezentos milhões de reais)”.

LUCIANO GOMES FILIPPO – Mestre e Doutor em Direito pela Universidade Panthéon-Assas (Paris 2).Pesquisador do Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP) do Instituto Superior de CiênciasSociais Políticas (ISCSP), da Universidade Técnica de Lisboa (UTL), sobre Economia Pública e Políticas daTributação; Pesquisador também da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), do Ministério daCiência, Tecnologia e Ensino Superior de Portugal, sobre Financiamento Autárquico. Membro daAssociação Francesa de Doutores em Direito (AFDD). Coordenador e fundador do Curso Avançado deJurisprudência Tributária – PJT. Conselheiro da Revista Eletrônica da ABDF. Membro do ConselhoConsultivo da ABDF. Advogado no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Os artigos publicados pelo JOTA não re�etem necessariamente a opinião do site. Os textosbuscam estimular o debate sobre temas importantes para o País, sempre prestigiando apluralidade de ideias.

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10/10/2019 O recente regulamento das Cotas de Reserva Ambiental - Migalhas de Peso

https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI293805,41046-O+recente+regulamento+das+Cotas+de+Reserva+Ambiental 1/2

Em 28/12/18 foi publicado o decreto federal 9.640, que regulamenta a Cota de Reserva Legal – CRA, instituída pelo artigo 44 dalei federal 12.651/12. A CRA é um dos mecanismos de compensação de déficit Reserva Legal em imóveis rurais previstos novoCódigo Florestal. O embrião da CRA já era previsto no antigo Código Florestal (Lei federal 4.771/65, revogada pela lei federal12.651/12 – "Novo Código Florestal"), sob a denominação de "Cota de Reserva Florestal", mas nunca foi regulamentado peloGoverno Federal. Após a entrada em vigor do Novo Código Florestal, apenas alguns estados vinham utilizando o instrumentocom base em seus próprios regulamentos.

O objetivo da CRA é permitir aos proprietários de imóveis rurais que, até 22 de julho de 2008, tinham áreas de Reserva Legalem extensão inferior àquela estabelecida no artigo 12 do novo Código Florestal, compensar déficit de reserva legal por meio daaquisição da CRA.

O regulamento detalha os procedimentos de emissão, registro, transferência e cancelamento da CRA. Caberá ao ServiçoFlorestal Brasileira – SFB a emissão da CRA mediante registro em bolsas de mercadorias de âmbito nacional ou em sistemas deregistro e de liquidação financeira de ativos autorizados pelo Banco Central do Brasil.

O excedente de remanescente de vegetação nativa primária ou secundária em qualquer estágio de regeneração ourecomposição ou de área em processos de recuperação ambiental pode ser comercializado como um ativo ambiental, desdeque o imóvel rural serviente esteja com sua área de Reserva Legal registrada e aprovada no Cadastro Ambiental Rural – CAR.

No que diz respeito ao exame técnico da área com excedente de vegetação nativa, o decreto federal exige que o órgãoambiental estadual analise o estágio de regeneração ou recomposição das áreas que, em tese, estão aptas para acompensação de Reserva Legal. Ao final do processo, laudo comprobatório deverá ser emitido por autoridade pública ouentidade credenciada, visando a assegurar o controle pelo SFB.

O decreto federal prevê que, independentemente da situação ambiental da vegetação nativa destinada para a compensação deReserva Legal, não poderá ser emitida CRA nos casos em que (i) a inscrição do imóvel rural no CAR for cancelada; (ii) houversobreposição do CAR do imóvel rural serviente a terras indígenas, projetos de assentamentos da reforma agrária ou outrosimóveis rurais; e (iii) a vegetação nativa do imóvel serviente estiver localizada em área de Reserva Particular do PatrimônioNatural – RPPN.

Em relação às hipóteses de cancelamento da CRA e consequente perda da condição de regularidade ambiental no Sistema deCadastro Ambiental Rural – SICAR, o decreto federal exige que a efetiva manutenção das condições de conservação davegetação nativa da área que deu origem ao título seja comprovada. A este respeito, busca-se evitar que seja criado ummercado de “títulos sem lastro", em que a venda de CRA não corresponda à efetiva conservação da vegetação nativa no imóvelserviente. Além disso, o decreto Federal prevê o cancelamento da CRA caso ocorra o cancelamento do registro imobiliário doimóvel rural. Como decorrência dessas hipóteses, é de se esperar um fortalecimento do mercado de ativos ambientais, uma vezque a negociação tende a ser precedida de auditoria técnica e jurídica, visando a garantir a segurança jurídica da compensaçãode Reserva Legal.

Outro ponto relevante para a instrumentalização da CRA relaciona-se ao posicionamento do STF. Em 28/2/18, foi concluído ojulgamento das ADIns 4.901, 4.902, 4.903 e 4.937 e da ADC 42, que buscavam a declaração de inconstitucionalidade ou deconstitucionalidade de dispositivos da lei federal 12.651/12, de expressões contidas em tais dispositivos ou sua interpretaçãoconforme a Constituição.

Muito embora até o momento não tenha sido publicado o acórdão do julgamento, em relação ao artigo 48, § 2º, da lei federal12.651/12, que dispõe sobre a CRA como mecanismo de compensação de Reserva Legal, o STF, por maioria, determinou darinterpretação conforme a Constituição Federal, para permitir a compensação de Reserva Legal apenas entre áreas com“identidade ecológica”.

O recente regulamento das Cotas de Reserva AmbientalAndré Vivan de Souza e André Marchesin

Apesar dessa momentânea incerteza quanto ao conteúdo jurídico de identidade ecológica, a iniciativa do Governo Federal diminuilacunas para a efetiva regularização de imóveis rurais e pode incentivar o desenvolvimento do mercado de venda de ativosambientais.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Quinta-feira, 10 de outubro de 2019

CADASTRE-SE FALE CONOSCO

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10/10/2019 O recente regulamento das Cotas de Reserva Ambiental - Migalhas de Peso

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Já em relação ao artigo 66, §6º, o STF decidiu pela constitucionalidade do dispositivo, o qual prevê que as áreas a seremutilizadas para compensação de Reserva Legal deverão estar localizadas no mesmo bioma. O STF, contudo, fez ressalvaespecífica quanto aos critérios para a CRA. Em tese, enquanto para os demais mecanismos de compensação de Reserva Legal(servidão ambiental, regularização fundiária de Unidades de Conservação, por exemplo) será utilizado o critério geográfico“bioma”, para a CRA seriam utilizados os critérios “identidade ecológica” (art. 48) e “bioma” (art. 66). Vale frisar que o novoCódigo Florestal não contém o termo “identidade ecológica”, conceito que tampouco está previsto em norma de âmbito federal.

Embora a lei federal 4.771/65, revogada pelo novo Código Florestal, previsse no artigo 44, inciso III, que a compensação deReserva Legal poderia ocorrer por outra área equivalente em “importância ecológica e extensão”, desde que pertencente aomesmo ecossistema e estivesse localizada na mesma microbacia, apenas com base na discussões havidas na plenária do STF,inexistem elementos concretos que permitam concluir que “identidade ecológica” e “importância ecológica” teriam o mesmosignificado jurídico e técnico para fins de aplicação do novo Código Florestal e da CRA, segundo entendimento do STF.

De toda forma, tendo em vista as enormes dificuldades práticas para viabilizar a compensação em microbacias, é possível que adecisão do STF tenha o efeito de legitimar a premissa de localização para a compensação de Reserva Legal via CRA com basena similaridade ecológica segundo o critério de bacias hidrográficas, como já ocorre em alguns Estados.

Apesar dessa momentânea incerteza quanto ao conteúdo jurídico de identidade ecológica, a iniciativa do Governo Federaldiminui lacunas para a efetiva regularização de imóveis rurais e pode incentivar o desenvolvimento do mercado de venda deativos ambientais. A publicação do acórdão do julgamento pelo STF poderá diminuir a insegurança jurídica envolvendo ainstrumentalização das CRAs.

_______________

*André Vivan de Souza é sócio de Pinheiro Neto Advogados.

*André Marchesin é associado de Pinheiro Neto Advogados.

*Este artigo foi redigido meramente para fins de informação e debate, não devendo ser considerado uma opinião legalpara qualquer operação ou negócio específico. © 2019. Direitos Autorais reservados a PINHEIRO NETO ADVOGADOS

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O ICMS ECOLÓGICO NO BRASIL, UM INSTRUMENTO ECONÔMICO

DE POLÍTICA AMBIENTAL APLICADO AOS MUNICÍPIOS

RESUMO

Os gestores das políticas públicas podem fazer o uso de uma gama de instrumentos tais como regulamentações, para a utilização de recursos naturais. O artigo tratará de um instrumento do sistema de incentivo, o imposto sobre circulação de mercadorias e serviços – ICMS, adicionado sob uma perspectiva ambiental. Representa um percentual expressivo na participação das receitas dos Municípios. Acredita-se, que a forma de distribuição e cálculo do ICMS - Ecológico podem ser estudados e ainda fomentar reflexões sobre os critérios qualitativos e quantitativos de rateio, observados empiricamente. Assim, o objetivo geral desta pesquisa foi evidenciar a metodologia de rateio do ICMS – Ecológico utilizado pelos Estados brasileiros e aprofundar o conhecimento destas experiências. A pesquisa adotada foi exploratória, com abordagem documental e qualitativa, onde se aprofundou o conhecimento sobre o ICMS - Ecológico e como este vem sendo aplicado. Apresentam-se os resultados da análise da legislação de cada Estado brasileiro e suas formas de rateio do ICMS, demonstrando que, cada vez mais Estados estão adotando esta ferramenta, que com sua finalidade ambiental, esta sendo abordada por políticas públicas de maneira alternativa para auxiliar na gestão ambiental. Com percentuais que variam de 1% a 13%, o ICMS-Ecológico proporciona ganhos financeiros aos Municípios que possuem áreas de conservação ambiental e/ou mananciais de abastecimento.

Palavras-chave: Instrumentos Econômicos; Política Ambiental; ICMS – Ecológico.

1 INTRODUÇÃO A chamada questão ambiental diz respeito às diferentes maneiras como a sociedade se relaciona com o meio físico-natural. A partir da relação entre os seres humanos e o meio físico natural surge o que se denomina meio ambiente. No entanto, esta concepção não é suficiente para direcionar uma analise e reflexão que permita entender toda a complexidade envolvida, sendo necessário o entendimento da totalidade da vida em sociedade. Deste contexto surge a necessidade de se praticar a gestão ambiental pública (QUINTAS, 2006).

A gestão ambiental tem a função de planejar, coordenar, controlar e formular ações para alcançar objetivos estabelecidos para um determinado local, sendo uma importante prática para alcançar o equilíbrio dos diversos ecossistemas (THEODORO et al., 2004).

Deriva de um processo de mediação de interesses e conflitos entre os atores sociais que atuam no meio físico-natural, definindo e redefinindo como os atores através de suas praticas alteram a qualidade do meio ambiente e distribuem custos e benefícios decorrentes de suas ações (QUINTAS, 2006).

Neste contexto, surgem as políticas públicas, para regular as ações governamentais como instrumento e para direcionar o mercado conforme os objetivos da administração pública. Tais políticas destinam-se pois à promover o bem estar social por meio da resolução de problemas relacionados com a sociedade como saúde, educação e meio ambiente.

Os gestores das políticas publicas podem fazer o uso de uma gama de instrumentos tais como regulamentações para utilização de recursos naturais, emissões de poluentes, permissões de extração e manejo, pagamentos pela redução de emissões, pagamentos pelo

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direito de poluir, rótulos “verdes”, dentre outros (JOÃO, 2004). Nota-se pois, que os instrumentos de políticas públicas podem ser agrupados em duas classes distintas: o sistema regulatório e o sistema de incentivos.

Este artigo tratará de um instrumento do sistema de incentivo, o imposto sobre circulação de mercadorias e serviços – ICMS, adicionado sob uma perspectiva ambiental. Este imposto representa um percentual expressivo na participação das receitas dos Municípios, sendo que quanto menor for o Município, mais dependente ele se torna do imposto estadual (JOÃO, 2004).

Em quinze Estados brasileiros é utilizado e conhecido como ICMS - Ecológico, ou Ambiental ou Socioambiental ou Verde. Trata-se de uma metodologia que prevê a inclusão de critérios ecológicos na determinação do índice de rateio para a receita pública. Em alguns casos vem sendo utilizado como incentivo financeiro direto à preservação dos recursos naturais.

Sua implantação derivou-se da questão que de um lado tem-se que é importante preservar e por outro a questão do rateio justo da arrecadação, situação que chega a um impasse em relação a quem tem que receber mais: o município que produz bens e serviços ou aquele que cuida do bem público.

Assim, os Estados que implementaram o ICMS - Ecológico geralmente seguiram o mesmo caminho para a criação de sua Lei, que foram a junção da pressão dos Prefeitos dos Municípios que cederem partes de seus territórios para áreas de conservação, sem qualquer tipo de compensação financeira e a participação dos parlamentares no processo. Outro ponto é a divulgação do movimento na mídia televisiva e impressa (VEIGA, 2000). Deve haver portanto, uma interação entre os vários interessados, para que o processo de criação da Lei consiga obter êxito, caso contrário ocorrerá como em vários Estados, onde o processo não conseguiu evoluir pela falta de pressão suficiente das partes.

Acredita-se, pois que a forma de distribuição e cálculo do ICMS ecológico pode ser estudado e ainda se fomentar reflexões sobre os critérios de rateio observados empiricamente. O objetivo geral desta pesquisa foi evidenciar a metodologia de rateio do ICMS – Ecológico utilizado pelos Estados brasileiros e aprofundar o conhecimento destas experiências.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A fundamentação teórica foi dividida em cinco seções. Primeiro foi apresentado os instrumentos de política pública, em seguida se discorreu sobre o ICMS – Ecológico, e após foram descritos os critérios qualitativos e quantitativos. Já no terceiro tópico foi apresentada a metodologia. O quarto item trata sobre os Estados que adotam este instrumento de repasse e por ultimo foi realizado as considerações finais.

2.1 Instrumentos de política pública

Os instrumentos de comando e controle (conhecidos também como regulação direta) buscam o estabelecimento de padrões de emissão de poluentes, o licenciamento e as sanções administrativas e penais. Está fundamentado numa legislação sólida que tem com objetivo alcançar um manejo ambiental sustentável (JOÃO, 2004). Já a classificação de sistema de incentivos, também chamados de instrumentos econômicos, tem como característica induzir mudanças no comportamento dos agentes em relação ao ambiente natural, em função de modificações nos preços relativos, buscando a internalização dos custos e benefícios ambientais (COSTANZA et al., 1997).

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Este mesmo entendimento é compartilhado por Tupiassu (2004) segundo o autor ao se utilizar instrumentos econômicos com finalidade ambiental, esta se suprindo a demanda de recursos para o desenvolvimento sustentável e incentivando as políticas preservacionistas, fornecendo compensação financeira em contrapartida à não degradação. Os instrumentos econômicos possuem algumas características, em função do seu diferencial em relação aos instrumentos regulatórios (JOAO & BELLEN, 2005):

• existência de estímulo financeiro;

• possibilidade de ação voluntária;

• intenção de, direta ou indiretamente, melhorar a qualidade ambiental.

Assim, este instrumento é amplamente considerado como uma alternativa economicamente eficiente e ambientalmente eficaz para complementar as abordagens estritas de comando e controle. Ao fornecer incentivos ao controle da poluição ou de outros danos ambientais, os instrumentos econômicos permitem que o custo social de controle ambiental seja menor e podem ainda fornecer aos cofres do governo local a receita de que tanto necessitam (SEROA DA MOTTA et al., 1996). Suas formas mais utilizadas de aplicação são as taxas, os subsídios, o sistema de depósito-reembolso e a criação de mercados.

Para Veiga (2000), a utilização de instrumentos econômicos na política ambiental, tem acontecido de duas maneiras, a primeira delas foi com a criação das taxas florestais, que foram criadas a nível federal, tendo menor sucesso, e levadas a nível estadual, com maiores êxitos. A segunda maneira é mais recente e engloba dois tipos de mecanismos, os royalties e o ICMS – Ecológico.

Os royalties são definidos pela Constituição brasileira, que assegura a participação dos Estados, dos Municípios e da União, nos resultados da exploração de petróleo ou gás natural, na produção de hidroeletricidade e outros recursos minerais (Constituição do Brasil, 1988. art. 20, § 1°). A seguir será tratado o ICMS – Ecológico.

2.2 O ICMS – Ecológico ou Ambiental ou Socioambiental ou Verde

Um dos princípios dos instrumentos de políticas públicas é o protetor-recebedor, que é aplicado através da redistribuição do Imposto sobre Circulação de Mercadorias Bens e Serviços – ICMS, segundo este mecanismo os estados fornecem compensações financeiras ás municipalidades, em virtude de possuírem espaços especialmente protegidos em seus territórios (JOÃO, 2004).

O ICMS - Ecológico surgiu de uma possibilidade deixada pela Constituição Federal em seu artigo 158, inciso IV, que permite aos Estados definir em legislação específica, alguns dos critérios para o repasse de recursos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS, a chamada cota – parte, a que os Municípios têm direito.

Enquanto o poder público estadual sentia necessidade de modernizar seus instrumentos de políticas publicas, os municípios observavam suas economias prejudicadas por restrições em suas áreas de preservação, mananciais de abastecimento, áreas inundadas, reservatórios de água, terras indígenas, áreas com resíduos sólidos, entre outros (LOUREIRO, 2001).

Surgiu portanto, sob o argumento da compensação financeira para os Municípios que possuíam restrições em seus territórios no uso do solo, para o desenvolvimento de atividades econômicas. Assim de acordo com Loureiro (2001, p.1) o ICMS Ecológico:

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... tinha tudo para se transformar numa ferramenta estéril, acrítica, uma espécie de “chancelador” puro e simples para o repasse dos recursos, mas felizmente foi, e está sendo possível transformá-lo em muito mais do que isto. O ICMS Ecológico tem representado um instrumento de compensação, mas acima de tudo “incentivo” e em alguns casos, como “contribuição” complementar à conservação ambiental.

Possui a função de prover condições que busquem minimizar/eliminar os problemas ambientais. Pois se embasa num incentivo dado aos municípios, que buscam alternativas de gestão ambiental. Não sendo um aumento da alíquota já existente ou um novo tributo, mas uma alternativa para aumentar o repasse da cota-parte do ICMS a partir da preservação ambiental (VICENTE, 2004).

O ICMS Ecológico surgiu no Brasil, no estado do Paraná em 1991, através da aliança do Poder Público Estadual e de municípios, com o intermédio da Assembléia Legislativa do Estado. Tendo em vista essa realidade evidenciada, através de resultados positivos da experiência vivenciada pelo Estado do Paraná, vários Estados da nação criaram Leis contemplando critérios ambientais para o rateio da cota parte do ICMS (ASSIS, 2008). Tem-se ainda que alguns Estados fizeram suas Legislações praticamente idênticas ao que o Estado do Paraná.

Com caráter extrafiscal, diversos outros estados brasileiros já implementaram, através lei estadual, o ICMS Ecológico ou Ambiental. Através da parcela proveniente do resultado da divisão do referido imposto, destinando aos municípios através do remanejamento de receitas, um valor proporcional ao seu compromisso ambiental (NADIR, 2006). Sua desvantagem em potencial é o “jogo de soma zero”, pois quanto mais e mais Municípios aderirem ao índice e criarem unidades de conservação em seu território, menor será o retorno financeiro, o que torna um fator limitante do ICMS – Ecológico (JOÃO, 2004).

De acordo com o que foi definido em cada legislação estadual, os municípios que investem em projetos ambientais, sejam eles de ordem quantitativa ou qualitativa, recebem um percentual da arrecadação total do ICMS a eles destinada, atualmente variando de 1,0% a 13%.

2.3 Critérios qualitativos e quantitativos

Na definição de suas legislações, alguns Estados adotam critérios quantitativos ou qualitativos, sendo que alguns adotam ambos. Os critérios qualitativos levam em conta a qualidade da conservação ambiental de uma área, da água, e do manejo, como forma de incentivar a preservação.

Para Franco e Figueiredo (2007), os Municípios deveriam privilegiar a qualidade dos recursos hídricos, o planejamento, a manutenção, e a interação com a comunidade, contemplando assim critérios qualitativos no repasse do ICMS – Ecológico. Este mesmo autor sustenta que haja uma mudança escalonada no percentual de repasse, e que os valores repassados sejam vinculados a utilização na questão ambiental.

Para Loureiro (2001), ao se utilizar critérios qualitativos para o rateio, se cria um instrumento de proteção a biodiversidade, como também a sustentabilidade econômica e ambiental. Segundo João (2005, p. 15), os critérios qualitativos deveriam ser inseridos na avaliação das unidades de conservação “para alcançar a escala sustentável pretendida, e para desfavorecer o aparecimento de unidades insatisfatórias, que não cumprem seu papel de geradoras de matéria e energia com baixa entropia”.

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Já o critério quantitativo, de restrição territorial constante na formulação do índice ecológico, é um mecanismo para compensar a perda de movimentação econômica (JOÃO, 2005). Leva em conta a superfície da área protegida na relação com a superfície total do município onde estiver contida (LOUREIRO, 2001).

3 METODOLOGIA

O trabalho classifica-se como pesquisa exploratória devido ao caráter recente e ainda pouco explorado do tema escolhido (MARCONI & LAKATOS, 2007). Com abordagem predominantemente documental e qualitativa, onde se fez uma compreensão detalhada das características das situações apresentadas (RICHARDSON, 2009).

A pesquisa foi realizada em todos os estados da República Federativa do Brasil. Para isto foram utilizados dados das legislações recentes dessa área, bem como documentos e referencias que tratassem do tema.

As limitações são referentes à disponibilidade de dados pelos estados, muitas vezes não sendo possível determinar de maneira clara as alterações subseqüentes realizadas nos dispositivos legais. Como alterações e revogações de leis e decretos e a não disponibilização nos sites oficiais como Assembléia Legislativa, Ministério Público, Procuradoria, ou no próprio site de cada ente federado.

Outra limitação é referente ao estagio de implantação de cada estado, o primeiro estado, o Paraná, tem a Legislação desde 1991 e o estado do Piauí a criou apenas em 2008. Foram analisadas as experiências de quinze estados e o grau em que se encontram cada um limita a analise da pesquisa.

Outras unidades da federação possuem projetos de lei encaminhados para a criação deste sistema, entretanto estes Estados não foram considerados na análise, uma vez que ainda não finalizaram o processo legal.

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Serão apresentados os resultados do levantamento das principais características, dos quinze Estados da Federação, que utilizam critérios ecológicos para a distribuição da cota parte (25%) do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços.

4.1 Os Estados do Sul

O Paraná foi o primeiro Estado da Federação a aplicar o princípio -recebedor, através da redistribuição do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços. A Lei Complementar Estadual n.o 59/91, regulamentada pelo Decreto Estadual n.o 974/91, e pelo Decreto Estadual n.o 2.791/96, disciplinou os critérios de repasse com base em indicadores ambientais. O índice de repasse adotado foi 5% dos 25% da cota parte do Município. O rateio utilizado foi 50% para Municípios com mananciais de abastecimento e 50% para Municípios com unidades de conservação ambiental, incluindo terras indígenas.

Os critérios se fundamentaram em duas dimensões, uma qualitativa e outra quantitativa. A quantitativa leva em conta a superfície da área protegida na relação com a superfície total do município onde estiver contida e a qualitativa considera, além de aspectos relacionados à existência de espécies da fauna e flora, insumos necessários disponibilizados à área protegida, visando à manutenção e melhoria do seu processo de gestão (LOUREIRO, 2007).

Segundo estudos do Instituto Ambiental do Paraná houve um aumento de 160% na superfície das áreas de conservação, no período de 1991 a 2005 (IAP, 2007). Já em relação

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aos mananciais de abastecimento, a qualidade da água captada também faz parte da analise. O Rio Grande do Sul implementou o ICMS – Ecológico em 1993 com promulgação da Lei Estadual n.º 9.860, mas por equívocos de ordem constitucional e insuficiente vontade política, apenas através da Lei n.º 11.038/97 é que se conseguiu regulamentar a questão (LOUREIRO, 2001). Assim, a Lei determina que a distribuição de 7% do ICMS dos Municípios seja realizada com base na relação percentual entre a área do Município, multiplicando-se por três as áreas de preservação ambiental, as terras indígenas e aquelas inundadas por barragens (MARCHIORI, 2009).

Estas alterações trouxeram para o calculo as áreas de terras indígenas. No entanto, revogaram dispositivos que enfatizavam a questão da qualidade de vida da população, como Municípios com menor taxa de evasão escolar e menor coeficiente de mortalidade infantil. Nesta também não há observância a respeito de critérios qualitativos, em relação a manejo e manutenção de áreas de conservação ambiental (SCAFF & TUPIASSU, 2006).

Para Marchiori, (2009), os funcionários dos órgãos ambientais aproveitam a oportunidade para, com criatividade, consolidar as unidades de conservação, através da utilização dos critérios da biodiversidade definidos na Lei n.º 11.038/97.

4.2 Os Estados do Sudeste

O Estado de São Paulo em 1993 foi o segundo a criar sua legislação sobre o ICMS – Ecológico. A Lei complementar n.º 8510/93 destinou: 0,5% dos recursos para Municípios que possuíssem reservatórios de água destinados a geração de energia elétrica, outros 0,5% para Municípios que possuíssem unidades de conservação. Já o fator área cultivada, com 3%, critério este que busca incentivar a produção agrícola, foi o que teve o maior impacto em função de alteração nos critérios de distribuição do ICMS (JOAO & BELLEN, 2005).

Ressalta-se que a Legislação do Estado de São Paulo prevê benefícios somente às áreas de conservação Estaduais, excluindo as Federais e Municipais, o que não dá oportunidade aos municípios de criarem suas unidades de conservação em seus territórios (VOLPATO, 2008). No entanto, a forma apresentada para este calculo não demonstra de forma clara a relação com a efetiva preservação das unidades de conservação. Assim, não explicita critérios qualitativos para a preservação das áreas protegidas, gerando pouco impacto na melhoria ambiental do Estado de São Paulo (ASSIS, 2008).

Com a criação da Lei do ICMS – Ecológico no Estado de São Paulo, verificou-se um aumento da receita em torno de 23%, nos Municípios que adotaram os critérios ecológicos. Muitos passaram a ter pelos critérios do ICMS – Ecológico, a maior parcela de seus recursos, o que resultou em um ganho considerável para o seu desenvolvimento (SCAFF & TUPIASSU, 2006).

O Estado de Minas Gerais através da Lei n.º 12.040, mais conhecida como Lei “Robin Hood”, criou em 1995 seu dispositivo, onde incorporou o critério ambiental de distribuição do ICMS aos Municípios. Contemplando assim, critérios (qualitativos e quantitativos) como, educação, patrimônio cultural, número de habitantes por município, produção de alimentos, 50 municípios mais populosos, saúde, área geográfica, receita própria municipal, além do próprio critério ambiental (FERNANDES, 2008).

O Estado promoveu diversas alterações em sua legislação. Atualmente os critérios de distribuição estão definidos na Lei n.º 18.030 de 2009, a chamada terceira versão da lei Robin Hood. Nesta lei pode ser observado os diversos critérios qualitativos e quantitativos adotados, conforme descrito baixo (Quadro 1):

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CRITÉRIOS DE DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAIS/EXERCÍCIO

2009 2010 A PARTIR DE

2011 VAF (art. 1º, I) 79,68 79,68 75,00 Área geográfica (art.1º, II) 1,00 1,00 1,00 População (art. 1º, III) 2,71 2,71 2,70 População dos 50 Municípios mais populosos (art. 1º, IV) 2,00 2,00 2,00 Educação (art. 1º, V) 2,00 2,00 2,00 Produção de alimentos (art. 1º, VI) 1,00 1,00 1,00 Patrimônio cultural (art. 1º, VII) 1,00 1,00 1,00 Meio ambiente (art. 1º, VIII) 1,00 1,00 1,10 Saúde (art. 1º, IX) 2,00 2,00 2,00 Receita própria (art. 1º, X) 2,00 2,00 1,90 Cota mínima (art. 1º, XI) 5,50 5,50 5,50 Municípios mineradores (art. 1º, XII) 0,11 0,11 0,01 Recursos hídricos (art. 1º, XIII) 0,00 0,00 0,25 Municípios sede de estabelecimentos penitenciários (art. 1º, XIV) 0,00 0,00 0,10 Esportes (art. 1º, XV) 0,00 0,00 0,10 Turismo (art. 1º, XVI) 0,00 0,00 0,10 ICMS solidário (art. 1º, XVII) 0,00 0,00 4,14 Mínimo "per capita" (art. 1º, XVIII) 0,00 0,00 0,10 Total 100,00 100,00 100,00

Quadro 1. Critérios de distribuição em Minas Gerais Fonte: Lei nº 18.030, de 12 de janeiro de 2009, art. 1º ANEXO I.

As alterações trazidas pela atual legislação em relação as anteriores foram: redução no critério de distribuição do Valor adicionado fiscal (VAF), no critério população (relação população Município/Estado), na receita própria e nos Municípios Mineradores. Houve ainda a criação de novos critérios, como recursos hídricos, Municípios sede de estabelecimentos penais, esportes, turismo, ICMS solidário (com o maior percentual) e mínimo per capita.

Em relação ao critério meio ambiente o percentual de rateio da cota parte dos Municípios passou de 1% para 1,1%, em 2011, sendo distribuído com base em indicadores ambientais. Deste valor 45,45% vai para o total de Municípios que investirem em saneamento ambiental, onde será levado em conta o fator de qualidade e outros 45,45% serão baseados no Índice de Conservação do Município, onde se inclui também o fator qualidade, e consideram-se as unidades de conservação estaduais, federais, municipais e particulares e área de reserva indígena. Por ultimo, há a parcela de 9,1% do total, para os que possuírem área de ocorrência de mata seca (Lei n.º 18.030/09).

Já no critério Municípios Mineradores houve uma redução significativa no percentual, que passou de 0,11% para 0,01%. O critério recursos hídricos foi introduzido, tendo como percentual de repasse 0,25%, e leva em consideração a área alagada por reservatório de água destinado à geração de energia (Lei n.º 18.030/09).

Em relação aos repasses, conforme Botelho et al. (2007), foram identificados 36 municípios mineiros que apresentam unidades de conservação integral, sendo que a soma das atividades agrossilvopastoris teve uma compensação financeira variável ou seja, em alguns casos o ICMS - ecológico compensou os valores advindos dessas atividades e em outros os valores foram abaixo.

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Assim, este Estado adota um sistema analítico e diferenciado, ao incluir gradualmente novos indicadores e inúmeros critérios para o repasse de 25% da parcela do ICMS pertencente aos municípios.

No Estado do Rio de Janeiro com a edição da Lei n.º 5.100 de 2007, regulamentada pelo Decreto n.º 41.844 de 2009, houve a definição da alocação do percentual a ser distribuído aos Municípios em função do ICMS – Ecológico.

De acordo com o decreto ficou estabelecido que em 2011, 2,5% da distribuição da cota parte do Município seja feita com base nos critérios de conservação ambiental acrescido. Tem-se que 1,125% dos recursos devem ser distribuídos aos municípios com unidades de conservação, 0,625% aos municípios que possuem tratamento de esgoto e lixo e 0,75% aos municípios que possuem recursos hídricos.

Para demonstrar a participação do ICMS Ecológico na cota parte dos municípios cariocas, utilizou-se como exemplo doze municipalidades que possuem mais que 10% de sua receita de ICMS advinda do critério ambiental conforme Quadro 2:

MUNICÍPIO ICMS TOTAL ICMS - ECOLÓGICO PERCENTUAL

Rio Claro R$ 1.245.269,19 R$ 270.495,06 21,72%

Silva Jardim R$ 1.263.316,57 R$ 260.073,24 20,59%

Guapimirim R$ 1.064.795,38 R$ 168.629,71 15,84%

Cachoeiras de Macacu R$ 1.765.033,74 R$ 278.733,78 15,79%

Conceição de Macabu R$ 974.558,50 R$ 144.962,21 14,87%

Santa Maria Madalena R$ 1.313.849,25 R$ 185.093,20 14,09%

Iguaba Grande R$ 866.274,20 R$ 117.963,21 13,62%

Mesquita R$ 1.819.178,09 R$ 242.959,84 13,36%

Arraial do Cabo R$ 779.646,79 R$ 94.496,07 12,12%

São Pedro da Aldeia R$ 1.100.890,17 R$ 131.146,46 11,91%

Miguel Pereira R$ 920.416,36 R$ 102.553,31 11,14%

Rio das Flores R$ 841.007,89 R$ 86.469,03 10,28% Quadro 2. Repasse maior que 10% aos Municípios do Rio de Janeiro - junho/2010. Fonte: Secretaria de Estado da Fazenda do Rio de Janeiro, 2010.

Nota-se ainda que o Estado do Rio de Janeiro tem importantes áreas que necessitam ser conservadas, embora a exploração tenha reduzido a um pequeno espaço Nesse ínterim, entende-se que o ICMS - Ecológico pode vir a garantir que essas matas nativas sejam protegidas e, posteriormente, recuperadas. Isto pode ser viabilizado através dos critérios qualitativos, que apesar de sua importância, não tem o mesmo peso que os critérios quantitativos nos cálculos do índice de participação dos Municípios. (LEITE, 2001).

4.3 Os Estados do Centro – Oeste

O Estado de Mato Grosso do Sul criou o ICMS - Ecológico. Através da Lei Complementar n.º 77 de 1994, no entanto, a implementação só veio em 2000, através da Lei n.º 2.193.

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Alterada posteriormente pela Lei n.º 3.019 de 2005, define que os Municípios que detenham unidades de conservação, sejam elas instituídas pelos Municípios, pelo Estado e pela União, incluindo as áreas de terras indígenas, ou aqueles com mananciais de abastecimento público, receberão sua respectiva parcela. O índice utilizado foi 5% da cota parte. As unidades de conservação foram fortalecidas, quando se compôs os dois critérios, já que captação de água é feita a partir de poços artesianos (SIMIONI, 2009).

Sua implantação teve caráter de gradualidade, onde num primeiro momento utilizou-se apenas critérios quantitativos, e numa etapa posterior evolui para critérios qualitativos (HEMPEL, 2008). Ressalta-se que, como em alguns Estados a implementação demorou a ocorrer, ou seja, ouve um atraso de sete anos a partir da idéia da casa legislativa. Sua forma de aplicação vem gerando certa polemica, vez que a adoção de um único critério vinculado às unidades de conservação beneficia uns Municípios em detrimento de outros (SCAFF & TUPIASSU, 2006).

No primeiro ano de implantação em 2002, o número de Municípios atendidos foi 44 e em 2005 passaram a ser 49 municípios beneficiados com a parcela a título de critério ambiental (JOÃO & BELLEN, 2005). Neste sentido, as experiências com o ICMS - Ecológico no Estado de Mato Grosso do Sul demonstram que se trata de um instrumento positivo, onde aos poucos os administradores Municipais conseguem perceber que as unidades de conservação se tornam uma oportunidade de geração de renda e não um empecilho ao desenvolvimento (NADIR, 2006).

No Mato Grosso, o ICMS – Ecológico, é inserido no momento de uma reformulação nos critérios de rateio da cota-parte dos Municípios ao ICMS ocorrida em 2000. Pode-se observar na primeira versão da Lei Complementar n.º 73 de 2000 os seguintes critérios: 5% para os que detenham unidades de conservação/terra indígena, e 2% para os que possuam saneamento ambiental, que engloba captação e tratamento de água, tratamento e disposição do lixo e sistema de esgotamento sanitário.

Este Estado teve atuação marcante ao criar em 2001 o Programa Estadual do ICMS – Ecológico, cuja finalidade era “aumentar a superfície de áreas protegidas, melhorar a qualidade da sua conservação e aplicar a justiça fiscal, implantando um Programa de apoio às ações dos municípios para conservação da biodiversidade”. (HEMPEL, 2008).

A implantação do ICMS - Ecológico demonstrou no Estado excelentes resultados beneficiando Municípios desde o primeiro ano, quando apenas o critério unidades de conservação era utilizado (ASSIS, 2008). Assim, o ICMS – Ecológico beneficiou, no primeiro ano de vida, 78 municipalidades, mais da metade dos 139 municípios do Estado (JOÃO & BELLEN, 2005).

Com o advento da Lei n.º 157 de 2004 pode-se perceber a retirada do fator saneamento ambiental, e a inclusão do coeficiente social. Destaca-se pois, que 11% desse novo coeficiente corresponde ao calculo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de cada Município. Os procedimentos para os cálculos dos percentuais são os mesmos que ao do Estado do Paraná, embora seja feito sob diferentes terminologias. Sua implantação foi realizada de forma gradual, onde numa primeira etapa foi utilizado apenas critérios quantitativos e num segundo momento se introduziu o critério qualitativo (NERY, 2006).

O Estado de Goiás através da Emenda Constitucional n.º 40 de 2007, que 5% da cota parte do Município seja distribuída de acordo com Lei estadual específica, relacionadas com os preservação do meio ambiente. No entanto, até o presente momento, encontrasse em fase de elaboração de critérios (ANTONIO, 2009).

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4.4 Os Estados do Nordeste

O ICMS – Ecológico foi criado no Estado do Ceará, através da Lei n.º 12.612 de 1996, onde o índice de repasse ambiental determinado foi de 2%. Posteriormente foram editados os Decretos 29.306/08 e 29.981/09, que dispõem sobre os critérios de apuração dos índices percentuais destinados ao rateio de 25% pertencente aos Municípios.

Assim, ficou estabelecido que o Índice Municipal de Qualidade do Meio Ambiente levará em consideração o Sistema Integrado de resíduos sólidos. As unidades de conservação serão incluídas a partir de 2012, através da integração de indicadores na avaliação de gestão ambiental que compõe o Índice de Sustentabilidade Ambiental (ISA) dos Municípios, e que é obtido anualmente pelo Programa Selo Município. Selo este com as mesmas características do Estado do Piauí.

Segundo Hempel (2008), o Estado do Ceará possui 58 áreas protegidas sendo 7 de proteção integral e 51 de uso Sustentável, distribuídas em 77 municípios, assim atendendo as condições exigidas, os municípios terão seus rendimentos aumentados. Segundo o mesmo autor as partes envolvidas, ao se comprometerem com um modelo de desenvolvimento ambientalmente sustentável terão possibilidade real de mudança, rumo a “equidade com prudência lógica”.

Outros indicadores são utilizados tal como a qualidade da educação (18%) e a qualidade na saúde (5%). Assim como no Estado de Pernambuco, por ter uma abordagem abrangente, passou a se chamar de ICMS Socioambiental.

O Estado do Pernambuco criou sua legislação do ICMS – Ecológico, com a Lei n.º 11.899 de 2000, alterada posteriormente pelas Leis n.º 12.206/02 e 12.432/03, que redefinem os critérios de distribuição da parte do ICMS que cabe aos municípios. O índice utilizado foi de 3% distribuído: 1% para os Municípios com base em seus índices de conservação, incluindo o grau de conservação do ecossistema protegido e 2% aos Municípios que tenham licença prévia para Unidade de Compostagem ou de Aterro Sanitário (Lei n.º 12.432/03).

Por ser considerada abrangente, passou a ser chamada de ICMS Socioambiental, já que incluía também critérios sociais como saúde (2%) e educação (2 %). O ICMS Socioambiental, assim como o ICMS – Ecológico, tem como objetivo a conservação e proteção do meio ambiente, por meio de um instrumento econômico, representando um avanço na tentativa de encontrar um modelo de gestão ambiental entre os Estados e Municípios brasileiros (ASSIS, 2008). Para Loureiro (2007), a exemplo de outros estados, Pernambuco deverá potencializar nos próximos anos a adoção de formulas de calculo que utilizem as variáveis qualitativas.

Dentre os quinze Estados que possuem implementados o ICMS – Ecológico o último foi o Estado do Piauí. A recente Lei n.º 5.813 aprovada pelo Estado em 2008, contempla os Municípios que se destacam na proteção ao meio ambiente e recursos naturais. Nesta Lei criou-se a figura do Selo Ambiental, que é um documento de certificação ambiental, e onde condicionasse a participação dos Municípios no ICMS - Ecológico ao recebimento do referido selo. Existem três categorias de selo: A, B ou C, e definiu-se em 5% o índice a ser repassado, a partir de 2011. Os municípios que forem enquadrados como A ficarão com 2% do valor total, os da categoria B ficarão com 1,65% e os da C contarão com 1,35%.

Sua classificação ocorrerá de acordo com o número de itens atendidos num rol total de nove requisitos. Os municípios que atenderem seis requisitos do total de nove são classificados na categoria A, os que tenham se adequado a quatro, estarão classificados na

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categoria B e, se cumprirem apenas três estarão no grupo C. Os itens que serão analisados serão: unidades de conservação ambiental, resíduos sólidos, educação ambiental, controle e combate as queimadas e política Municipal de meio ambiente (ANTONIO, 2009).

Embora esta Lei ainda não tenha sido regulamentada, o Estado do Piauí inovou ao criar um mecanismo de certificação para os Municípios. Por outro lado suas premissas são semelhantes às adotadas pelos outros estados brasileiros que implantaram o ICMS Ecológico. Acredita-se que esta Lei tende a colaborar para que cidades inóspitas do Piauí sejam beneficiadas ao adotarem critérios de preservação ambiental e qualidade de vida.

4.5 Os Estados do Norte

O Estado de Rondônia foi o primeiro da região norte a instituir o ICMS – Ecológico, através da Lei Complementar n.º 147 de 1996 onde destinou 5% para ser distribuído aos Municípios que dispõem de unidades de conservação, incluindo terras indígenas, sejam no âmbito federal, estadual ou municipal. Com a inserção desse critério houve redução de 5% no índice igualitário que era 19% e passou para 14%. Em Rondônia o ICMS – Ecológico tem um caráter compensatório, pelo fato da área considerada protegida ser aproximadamente de 30%, mais do que em qualquer Estado que tenha esta metodologia implantada (HEMPEL, 2008).

Conforme pesquisa realizada por Grieg-Gran (2000), dos 48 municípios do Estado existentes quando da realização do estudo (atualmente são 52 municípios), 22 aumentaram sua arrecadação, no primeiro ano de criação do modelo, no entanto 26 tiveram seu índice reduzido. A pesquisa revelou que no que se refere ao incentivo gerado por este instrumento, para 28 municípios rondonienses, com baixa produtividade do setor primário, e pequena movimentação econômica a existência de Unidades de Conservação é mais importante que a participação na distribuição do ICMS com base no Valor Adicionado Fiscal do município (HEMPEL, 2008).

O Estado do Amapá criou a Lei n.º 322 de 1996, na ocasião fez uma ampla reforma nos critérios de rateio do ICMS, a exemplo do que fez o Estado de Minas Gerais, assim foi estabelecido o ICMS – Ecológico. A implantação se deu de forma gradual no período de 1998 a 2002, sendo que os percentuais de redistribuição diminuíram os impactos prejudiciais e adversos para os Municípios, o que possibilitou sua adaptação de acordo com os percentuais praticados, em especial aqueles que tiveram redução no repasse de recursos. Ao se incluir critérios quantitativos e qualitativos se aperfeiçoou e cumpriu as expectativas dos instrumentos econômicos (SIMIONI, 2009).

O Critério ambiental contempla 1,4% da quota parte distribuídas aos Municípios, sendo destinados aqueles que possuem unidades de conservação federais, estaduais ou municipais. Em relação às Unidades de Conservação segue o modelo de cálculo dos índices realizados no Estado do Paraná (VOLPATO, 2008).

Entretanto, apenas o estabelecimento de um índice para as unidades de conservação presentes nos territórios dos municípios se tornou um critério para proteção do meio ambiente, porém não há notícia de que o órgão estadual do meio ambiente (Secretaria do Meio Ambiente - SEMA) tenha efetivado os procedimentos e parâmetros previstos na lei (MENDES, 2007).

Em Tocantins a criação do ICMS – Ecológico ocorreu em 2002, através da Lei n.º 1.323, regulamentada pelo Decreto n.º 1.323/02. É a legislação que atribui o maior percentual de repasse do ICMS por conta do critério ecológico com 13%, o que representa um percentual bastante significativo para os Municípios que atenderem aos critérios estabelecidos na

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legislação (JOÃO, 2004). Além das unidades de conservação, tratamento de água e coleta de lixo, as parcelas de distribuição foram direcionadas à proteção do meio ambiente, onde as inovações foram à inclusão de critérios de combate às queimadas e critérios vinculados à conservação do solo urbano e rural. Os municípios que instituam e implementem a política municipal do meio ambiente, visando efetivar e elaborar a agenda 21 local, também serão beneficiados pela Lei (NERY, 2006).

O ICMS – Ecológico no Estado do Tocantins tem como finalidade incentivar os municípios, na perspectiva da melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida. Sendo que o Instituto Natureza e a Secretaria de Estado do Planejamento e Meio Ambiente de Tocantins desenvolvem projetos para capacitar e orientar os funcionários das Prefeituras sobre o ICMS – Ecológico (MARCHIORI, 2009).

O Acre criou através da Lei n.º 1.530 de 2004, o ICMS Verde destinando 5% (percentual em 2014) da arrecadação deste tributo para os municípios com unidades de conservação ambiental ou que sejam diretamente influenciadas por elas. A sua regulamentação se deu a partir de 2009, através do Decreto n.º 4.918, neste foi estabelecido de forma progressiva o índice a ser repassado.

Dentre os critérios previstos na legislação acreana cita-se a existência de: unidades de conservação ambiental, incluindo terras indígenas; unidades produtivas rurais; e propriedades com passivo ambiental florestal regularizado. Alem disso, são consideradas outras variáveis como: educação, saúde e taxa de mortalidade infantil (Decreto n.º 4.918/09). A uma inovação na Lei, pois definiu onde devem ser aplicados os recursos, determinando que seja utilizado exclusivamente na elaboração de projetos de desenvolvimento sustentáveis.

4.6 Analise de todos os Estados

Os aspectos referentes à aplicação do ICMS Ecológico nos Estados do: Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Pernambuco, Ceará, Piauí, Rondônia, Amapá, Tocantins e Acre, são apresentados resumidamente do Quadro 3:

ESTA DO

ANO /LEI

ANO IMPLAN

TA ÇÃO

CRITÉRIOS CRITÉRIOS QUALITA

TIVO

FATOR TERRA INDÍGE

NA

% DE RE PASSE

PR

1991

1992

- Un. de conservação - Mananciais de abastecimento

SIM

SIM

5%

RS

1993

1998

- Un. preservação ambiental - Áreas de terras indígenas

- Áreas inundadas por barragens

NÃO

SIM

7%

SP

1993

1994

- Reservatórios de água para geração de energia elétrica

- Un. de Conservação Ambiental

NÃO

NÃO

1%

MG

1995

1996

- Meio Ambiente - Municípios Mineradores

- Recursos Hídricos

SIM

SIM

1,36%

RJ 2007 2009 - Un. preservação ambiental SIM NÃO 2,5%¹

MS

1994

2002 - Un. de Conservação

- Mananciais de abastecimento

NÃO

SIM

5%

MT

2000

2001 - Un. Conservação Ambiental

- Terras Indígenas

NÃO

SIM

5% GO³ 2007 ---- - Preservação do meio ambiente --- ---- 5%

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CE

1996

1997

- Resíduos sólidos - Serão integrados indicadores do

Programa Selo Município em 2012.

SIM

NÃO

2%

PE

2000

2002

- Un. de conservação - Saneamento

SIM

NÃO

3%

PI 2008 A ser regu

la men tada

- Resíduos sólidos - Educação ambiental - Preservação da mata

- Proteção dos mananciais - Poluição, ocupação do solo

- Legislação ambiental

SIM

SIM

5%¹

RO 1996 1997 - Un. de conservação NÃO SIM 5% AP 1996 1997 - Un. de conservação NÃO SIM 1,4% TO 2002 2003 - Política de meio ambiente

- Un. de conservação e terras indígenas

- Controle de queimadas - Saneamento ambiental

- Conservação da água e solo

SIM

SIM

13%

AC 2004 2010 - Un. de conservação SIM SIM 5%² ¹ - percentual em 2011. ² - percentual em 2014. ³ - legislação não regulamentada. Quadro 3. Critérios de rateio do ICMS – Ecológico em todos os Estados Fonte: Legislações estaduais específicas.

No Estado de Tocantins destinou-se 13% ao ICMS- Ecológico, foi portanto, o Estado da Federação com maior percentual para repasses aos municípios. Outro ponto a ser destacado foi a inovação da legislação ao estabelecer o percentual de 2% aos Municípios que implementarem sua agenda 21. O Estado de São Paulo foi o que menos destinou recursos aos critérios ambientais, apenas 1%. Sendo que o maior impacto foi gerado em virtude da destinação de 3% para as áreas cultivadas, o que incentivou a produção agrícola. Assim, o ICMS Ecológico beneficiou 169 municípios paulistas em 2002, dez a mais do que no ano anterior, num total de R$ 39,6 milhões. No entanto, o repasse não pode ser considerado significante para um Estado como São Paulo (HEMPEL, 2008).

Em relação ao Acre há uma inovação significativa na Lei, pois foi o único que definiu onde os recursos devem ser aplicados, determinando que seja utilizado exclusivamente na elaboração e execução de projetos de desenvolvimento sustentáveis, vinculados à melhoria das variáveis descritas na Lei.

Em Minas Gerais, já com a sua terceira versão da Lei Robin Hood, a diminuição do peso do critério de valor adicionado, beneficiou a maior parte dos municípios mineiros, principalmente os municípios menores. Assim, de acordo com os critérios dessa Lei aproximadamente 90% dos municípios tiveram perdas no montante de recursos recebidos, mas os 200 municípios mais pobres do Estado tiveram um aumento no ICMS per capita de 56%. Levando a crer que os aspectos negativos na redução de receitas podem ser minimizados se o critério ecológico for parte integrante de um pacote de novos critérios de cunho ambiental e social (GRIEG - GRAN, 2000).

Uma característica de dez Estados da amostra foi à inclusão do critério terras indígenas. Neste sentido Baines (2001) refletiu: “se se consegue preservar a comunidade indígena no contexto da cidade ou se a comunidade é engolida no meio urbano?”. Para os Municípios que possuem áreas indígenas em seus territórios e que são contemplados pelo ICMS- Ecológico, a resposta indica que se consegue sim manter esta comunidades preservadas nos perímetros urbanos.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho levantou as principais características da aplicação do ICMS - Ecológico, analisando os quinze Estados da nação em que este tipo de sistema de incentivo ambiental já foi implementado. Como foi demonstrado no estudo, o ICMS – Ecológico se tornou um importante instrumento na proteção da biodiversidade, pois proporciona ganhos financeiros aos Municípios que possuem áreas de conservação ambiental e/ou mananciais de abastecimento e que mantêm sua qualidade de preservação.

Com a inserção do critério ecológico, através da redução de critérios econômicos, afeta os Municípios que possuem expressiva movimentação econômica, com pouca ou nenhuma dependência da cota fixa, prejudica também às municipalidades mais pobres e que têm grande dependência deste critério. Portanto, os mais diversos cenários devem ser realizados para que se possa promulgar novas leis com este critério (JOÃO & BELLEN, 2005). Os critérios qualitativos foram utilizados por oito dos quinze Estados pesquisados. Este critério representa um avanço na busca da otimização do ICMS Ecológico em favor da consolidação das unidades de conservação, a fim de alcançar a escala sustentável que se pretende.

Assim, há necessidade de se contar com a efetiva participação dos Municípios na gestão ambiental, em parceria com os Institutos Ambientais, realizando trabalhos para informar e esclarecer, através de reuniões, as comunidades envolvidas. Só assim se pode diminuir a rejeição em relação às unidades, por parte das comunidades, pois elas teriam a consciência de que as unidades estão trazendo benefícios materiais (LOUREIRO, 2007). Diante do exposto, o ICMS – Ecológico apesar de ser um instrumento ambiental incipiente, demonstra ser abordado por políticas públicas de maneira alternativa para auxiliar na gestão ambiental, mas não se constitui na solução de todos os problemas ambientais dos Estados brasileiros.

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