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Resumos de Obras Literárias da Fuvest - Unicamp - Quincas ... · Em Quincas Borba, constata-se uma preocu-pação do escritor em representar de forma crítica e irônica a vida em

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JOAQUIM MARIA MACHADO DE ASSIS

1. VIDA

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 dejunho de 1839, no morro do Livramento, Rio de Janeiro.Conforme Facioli (1982), Machado de Assis, do ladopaterno, era neto de homens libertos. Seu pai, FranciscoJosé de Assis, era agregado de uma família de posses etrabalhava como pintor de paredes. Do lado materno, eraneto de homens livres, provenientes de humilde famíliaaçoriana. Sua mãe, Maria Leopoldina, faleceu quandoMachado de Assis contava dez anos, seu pai se casou denovo, com Maria Inês. Há muitas afirmações inconsistentesem relação ao papel que sua madrasta exerceu em sua vida,sobretudo, quando o pai de Machado também veio a falecer.O certo é que Machado de Assis teve que vencer muitosobstáculos para migrar de classe social, pois não teveeducação formal regular e enfrentou muitas adversidadespor ser mulato num período em que ainda havia escravidãono Brasil.

Desde cedo, trabalhou e buscou desenvolver sua carreiraliterária. Tendo ingressado num ambiente jornalístico, ummundo novo de aprendizado literário se abriu para ele.Contribuiu muito para sua evolução artística o fato de eleter sido leitor bastante assíduo. Já na juventude, Machadode Assis também se dedicou à prosa, escrevendo artigossobre arte, poesia, literatura e crônicas e, aos poucos, passoua integrar os círculos literários da Corte, apresentando, desdesempre, bom domínio da língua portuguesa literária e dofrancês.

Machado de Assis mostrou-se sempre uma pessoaatualizada com o que se escrevia e se publicava no Brasil,por conta de sua constante atividade crítica, jornalística eliterária. Apesar dessa intensa contribuição, foi um empregopúblico que lhe garantiu uma situação econômica menosinstável até o final de sua vida. Aos trinta anos, casou-se comCarolina Xavier de Novais, nascida no Porto, filha de umartesão e comerciante português. O casal, sem filhos, teveum convívio de 35 anos marcado por grandes afinidadesintelectuais.

De acordo com Pereira (1988), aos poucos, as condiçõesde vida de Machado de Assis se alteraram significati -vamente. Seu trabalho como escritor foi sendo cada vez maisreconhecido e ele passou a levar uma vida mais confortável.De acordo com Facioli (1982), ao lado da ascensão social deMachado de Assis, ocorreu também uma mudançasignificativa de sua obra literária.

Quando faleceu, em setembro de 1908, Machado deAssis, um dos fundadores e primeiro presidente daAcademia Brasileira de Letras, recebeu muitas homenagensque atestaram sua consagração como o maior escritorbrasileiro, na opinião quase unânime dos estudiosos deliteratura brasileira.

2. CARACTERÍSTICAS DA PROSA MACHADIANA

Os críticos literários, ao mesmo tempo que consideramMachado de Assis um original mestre da linguagem,evidenciam o diálogo intenso e produtivo que sua obramantém com grandes escritores que o antecederam.

Segundo Achcar (2000), na prosa machadiana, tantonos romances quanto nos contos, podem ser observados osseguintes aspectos:

• uma escrita bastante criativa, que não segue umesquematismo determinista, ou seja, não buscacausas muito explícitas para a explicação daspersonagens e situações;

• frases simples, desprovidas de enfeites. Os períodoscostumam ser curtos e as palavras bem escolhidas;

• focalização das personagens de fora para dentro,havendo um trabalho de desmascaramento, daí eleser considerado como um agudo “analista da almahumana”;

• referências constantes a outros textos de grandesautores ocidentais (intertextualidade);

• uso de ironia, a arma mais corrosiva com queMachado critica os comportamentos, os costumese as estruturas sociais.

QUINCAS BORBA

AULAS ESPECIAISAS OBRAS DA FUVEST

PORTUGUÊS

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Machado de Assis dedicou-se, ao longo de sua carreiraliterária, a vários gêneros literários: conto, romance, crônica,poesia, teatro, crítica, sendo considerado como contista eromancista genial.

3. AMADURECIMENTO ESTILÍSTICO DE MACHADO DE ASSIS

A produção literária da primeira fase da obra macha -diana trata da problemática da ascensão social de umaperspectiva de quem ainda ocupa posição social nãoprivilegiada. Conforme Schwarz (2000), a situação dedependência social é explorada, na primeira fase macha -diana, como uma procura de um meio pelo qual taldependência seja abrandada até a obtenção de algumalibertação. Contudo, não há um questionamento do sistemasocial propriamente dito, sendo assim, esse posicionamentoestaria ainda em consonância com o romantismo.

O romance Quincas Borba (1891) pertence à segundafase da escrita machadiana. Segundo Facioli (1982), nasegunda fase, ocorre uma alteração da posição do narrador,que se torna “uma voz de camada social diferente da quenarrava até então”. Assim, o narrador da segunda fase éreconhecido pela classe dominante como um de seusmembros. Nessa fase, segundo Schwarz (2000), há umamudança de forma e de conteúdo, com o destaque do usodo humor e da ironia para desmascaramento da realidade.Machado de Assis, na segunda fase, inova também ao usarformas literárias de um passado remoto, como, por exemplo,a sátira menipeia1, cujo efeito literário é o de apresentar oridículo de forma que o leitor se sinta livre para formar seupróprio ponto de vista crítico, em vez do oferecer conselhosmoralizantes.

4. ROMANCES MACHADIANOS

Da primeira fase: Ressurreição (1872), A Mão e aLuva (1874), Helena (1876), Iaiá Garcia (1878),

Da segunda fase: Memórias Póstumas de BrásCubas (1881); Quincas Borba (1891); Dom Casmurro(1899); Esaú e Jacó (1904); Memorial de Aires (1908)

5. QUINCAS BORBA E MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS

Quincas Borba (1891) é visto, de certa forma, comouma continuação de Memórias Póstumas de Brás Cubas(1881). Nos dois romances, Quincas Borba é personagem;há menção a sua filosofia, o Humanitismo; e, numprocedimento bastante original, o narrador de Memórias,Brás Cubas, envia uma carta para um personagem deQuincas Borba, Rubião, participando-lhe da morte dofilósofo.

No romance Quincas Borba, Rubião, um ex-professorda cidade de Barbacena, é o protagonista. Sua trajetóriaexistencial serve para exemplificar a filosofia de QuincasBorba, o humanitismo.

6. FOCO NARRATIVO

Quincas Borba apresenta um narrador em terceirapessoa, onisciente. É por intermédio dele que os leitorespouco a pouco são envolvidos na loucura do protagonista.O narrador é possuidor de cultura superior, livresca. “Ecomo vive a ostentar erudição, o narrador reforça asdissonâncias com Rubião: indivíduo sem malícia, de ideiasmiúdas e palavras soltas” (Chauvin, 2016, p. 18). O uso dediscurso indireto livre é um procedimento recorrente noromance.

Em poucos momentos, o autor-narrador faz menção a simesmo (“Este Quincas Borba, se acaso me fizeste o favor deler as Memórias Póstumas de Brás Cubas (cap. IV, p. 90).Nesse caso, o escritor se identifica como autor e narrador deum romance inventado.

METALINGUAGEMMetalinguagem é a explicação do autor acerca da

escrita do livro. EmQuincas Borba, o autor focaliza o seupróprio trabalho de escritor, explicando a seus leitorescomo está organizando seu romance. Exemplificando:

Rubião estava arrependido, irritado, envergonhado. No capituloX deste livro ficou escrito que os remorsos deste homem eramfáceis, mas de pouca dura; faltou explicar a natureza das açõesque os podiam fazer curtos ou compridos (cap. LVI, p. 172)Aqui é que eu quisera ter dado a este livro o método de tantosoutros – velhos todos – em que a matéria do capítulo era postano sumário: “De como aconteceu isto assim, e mais assim (...) (cap. CXII, p. 260).Ao contrário, não sei se o capítulo que se segue poderia estartodo no título” (cap. CXIV, p. 261).

1 Ref. ou pertencente a, ou ao estilo de Menipo de Gadara (séc. III a.C.), poetasatírico e filósofo grego (sátira menipeia). Dicionário Aulete Digital.

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7. CONVERSA COM O LEITOR

Em Quincas Borba, o narrador dialoga com seu leitor,estimulando-o a prosseguir a leitura e a acompanhá-lo emsuas ideias e suposições. Esse procedimento é recorrenteno romance. Exemplos:

Vem comigo, leitor; vamos vê-lo, meses antes, à cabeceira doQuincas Borba (cap. III, p. 89); Queres o avesso disso, leitorcurioso? (...) (Cap. XXXI, p. 125).

8. A OBJETIVIDADE REALISTA

Quincas Borba trata fundamentalmente do mundoobjetivo, do mundo das relações sociais, do poder e dodinheiro. Quando o narrador retrata a interioridade daspersonagens, ele se ocupa em representar como a psico -logia das personagens está articulada com os valoressociais. Trata-se de um romance exemplar de realismopsicológico. Em Quincas Borba, constata-se uma preocu -pação do escritor em representar de forma crítica e irônicaa vida em sociedade em uma determinada época, denun -ciando os princípios e mecanismos que organizam asrelações sociais.

9. TEMPO E ESPAÇO

Machado de Assis, em Quincas Borba, trata de umaquestão de dimensão universal, a loucura, num ambientenacional, dentro de determinado tempo histórico.Conforme Chauvin (2016),

Atento às marchas e contramarchas da política nacional,Machado recuou a ação em vinte anos, de modo que anarrativa acontece no Rio de Janeiro entre 1867 e 1871:cenário de ampla disputa política relacionada à conciliaçãoministerial. Em seu conturbado reinado, Dom Pedro IIenfrentava os interesses do partido liberal e conservador. Noromance, o tema é mencionado mais de uma vez peloadvogado e jornalista Camacho, um dentre os muitosbeneficiários de Rubião (p. 16).

Barbacena, MG, também comparece como espaço doromance, no início e no desfecho dramático da história deRubião.

10. INTERTEXTUALIDADE

Em Quincas Borba, há diálogos intertextuais comlivros da alta literatura. O narrador alude a vários livrosque podem ser lidos como intertextos. Conforme Chauvin(2016), podem ser reconhecidos, dentre outros, o diálogointertextual desse romance com:

Dom Quixote, de Miguel de Cervantes Saavedra (publicadoentre 1605 e 1615); Tom Jones, de Henry Fielding (editado em1749); A vida e as Opiniões do Cavaleiro Tristam Shandy, deLaurence Sterne (publicado em dez volumes, entre 1759 e1769); Viagem à Roda do Meu Quarto, de Xavier de Maistre(1794), Viagem na Minha Terra de Almeida Garret (1846)(p.16).

11. PARÓDIA

O Humanitismo aparece pela primeira vez nasMemórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Em QuincasBorba, Rubião é o ouvinte do filósofo. A filosofia deQuincas Borba é vista como uma paródia do positivismo,de Augusto Comte, e à teoria de Charles Darwin sobre aseleção natural. A frase “Ao vencedor, as batatas!” remetea dos evolucionismos sociais, baseados no de Darwin,uma maneira de desvelar de forma irônica o caráter cruelda “lei do mais forte”.

12. DIGRESSÃO

Quincas Borba é visto, de acordo com Chauvin (2016)como “legítimo sucessor da longa tradição de romancesque fizeram do estilo digressivo um método peculiar decomposição. A qualidade da obra machadiana confere aoautor posição de proeminência na literatura universal.” (p. 16).

Em Quincas Borba não há tanta divagação quanto emMemórias Póstumas de Brás Cubas, no entanto, elatambém ocorre nesse romance, como se pode observarpela leitura do capítulo CXVII, quase que inteiramentedigressivo. Nesse capítulo, o relato do casamento deMaria Benedita é suspenso e o narrador discorrepredominantemente sobre a utilidade das catástrofes navida das pessoas (como a epidemia de Alagoas que acabouunindo, indiretamente, o casal Maria Benedita e CarlosMaria).

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FUSÃO DE GÊNEROSDe acordo com Sá Rego (1989), há fusão de

elementos cômicos e trágicos na composição doprotagonista do romance Quincas Borba:

Rubião, o personagem central do romance, pertence àcategoria do “bom provinciano” recém chegado ao grandecentro urbano, onde sua ingenuidade e ignorância sãoexploradas por personagens mais mundanos e ambiciosos.Trata-se assim de um dos personagens típicos da comédia, jáidentificado desde Aristóteles sob o nome de agroikos, isto é,rústico, roceiro ou matuto. [...] No entanto, ao fazer de Rubiãoum personagem que enlouquece e morre em situação patética,Machado lhe atribui algumas características do herói trágico(p. 177).

13. PESSIMISMO REALISTA

A visão de mundo presente no livro Quincas Borba écética e pessimista, de um pessimismo derivado deSchopenhauer, filósofo alemão para quem a vida do homemé marcada pela dor e pela infelicidade. A esse pessimismo éacrescentado o trabalho perverso do dinheiro e do poder.

14. IRONIA

De acordo com Massaud Moisés (1967), o tom irônico deQuincas Borba encontra-se no fato de o romance ser

uma peça única de chacota à Humanidade desenfreadamentepresa a certos dogmas de superfície e incapaz de olhar mais afundo o íntimo dos problemas. A ironia atinge a todos, e só sesalvam (caso o consigam) os loucos, os mansos e os animaisirracionais (p.90).

15. HERANÇA MALDITA

De acordo com Antonio Cândido (1995), a herançarecebida por Rubião não lhe traz benefício, antes faz de suatrajetória um caso exemplar da filosofia do Humanitismo:

No romance Quincas Borba, um modesto professor primário,Rubião, herda do filósofo Quincas Borba uma fortuna, com acondição de cuidar de seu cachorro, ao qual dera o próprionome. Mas com o dinheiro, que é uma espécie de ouromaldito, como na lenda dos Nibelungen, Rubião herdaigualmente a loucura do amigo. A sua fortuna se dissolve emostentação e no sustento de parasitas; mas serve sobretudocomo capital para as especulações comerciais de um arrivistahábil, Cristiano Palha, por cuja mulher, “a bela Sofia”, Rubiãose apaixona. O amor e a loucura surgem aqui romanticamente,de mãos dadas; mas o tertius gaudens é a ambição econômica,baixo-contínuo do romance, de que Rubião se torna uminstrumento. No fim, pobre e louco, ele morre abandonado;mas em compensação, como queria a filosofia doHumanitismo, Palha e Sofia estão ricos e considerados dentroda mais perfeita normalidade social (p.35).

16. RESUMO

O protagonista Rubião conhece Quincas Borba e torna-se seu herdeiro universal de forma inesperada. De ex-professor, Rubião passa a capitalista. Fica surpreendidocom o patrimônio que acabara de receber, embora já tivessepensado sobre possíveis vantagens que essa amizade poderialhe render se o amigo casasse com sua irmã Piedade, o quenão ocorreu, pois ambos morreram.

Ao final da vida de Quincas Borba, Rubião presta-lhecuidados como enfermeiro. O enfermo transmite ao seu únicoouvinte sua filosofia, por meio de uma alegoria: duas tribosfamintas, diante de um único campo de batatas, lutam entresi pela sobrevivência. Na fórmula “Ao vencedor, batatas”,está contida a ideia da luta como meio de seleção dos maisfortes, mas Rubião não a compreende profundamente.

Rubião faz planos sobre como aproveitar a herançarecebida e receia que alguém desconfie da sanidade mentalde Quincas Borba e que, por isso, o testamento seja anulado.No entanto, isso não acontece e, não havendo parentespróximos, todo o patrimônio do filósofo é destinado a ele.Quincas Borba só impôs uma condição: que Rubiãocuidasse de seu estimado cachorro, cujo nome também éQuincas Borba, não deixando nada lhe faltar. Enfim, deviatratá-lo “como se cão não fosse, mas pessoa humana” (Assis,2016, capítulo XIV, pág. 107).

Rubião, agora herdeiro, abandona sua vida pacata. Naprimeira vez que sai de Barbacena e viaja para a corte, numaviagem de trem, conhece um casal, Cristiano e Sofia Palha.Rubião conta para eles que recebeu uma herança. Cristianomuito amável dispõe-se a ajudar o rico herdeiro em tudo.Rubião já começa a se encantar por Sofia.

Desde que Rubião chega ao Rio de Janeiro, torna-se alvofácil de interesseiros. Não apenas o casal Palha busca levarvantagem, ludibriando-o, outras pessoas também competempelos recursos financeiros de Rubião, que, de modo ingênuo,deixa-se enganar por todos. Dentre eles, há o Freitas,frequentador assíduo da casa de Rubião, onde faz refeiçõese se esmera em bajular o anfitrião. Rubião é generoso comele, quando Freitas fica doente, arca com suas despesas e,depois, com os custos de seu velório. Há o Camacho, outroadulador, que obtém de Rubião ajuda financeira para livrar ojornal A Atalaia do fechamento. Camacho faz com queRubião se sinta uma figura importante nesse jornal paragarantir que suas contri buições não cessem. Os comensais,em pouco tempo, sentem-se à vontade na casa de Rubião,como se ela pertencesse a eles. Acabam por formar um grupode pessoas com um objetivo em comum: obterem cada vezmais benefícios de Rubião. O protagonista, diante daeloquência dos seus supostos amigos, nunca tem o que dizere, quando diz, sua linguagem é mal articulada. Não consegueinterpretar o mundo que o cerca e sua fortuna vai sendodissipada pelos oportunistas que o rodeiam.

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Rubião visita o casal Palha com frequência. Tem totalconfiança em Cristiano e Sofia. O Palha gosta de expor aesposa para que todos possam admirá-la. Para tanto,compra-lhe vestidos luxuosos, roupas que valorizam suasbelas curvas. Sofia, que no começo cedia sem vontade aosdesejos de Cristiano, acaba por apreciar ser vista “pararecreio e estímulo dos outros” (Assis, 2016, pág.135). Sofiaestabelece uma relação ambígua com Rubião, faz um jogode sedução, em que nem o desilude, nem o anima muito.Rubião, a fim de conquistá-la, oferece-lhe joias muitovaliosas e ela as aceita, como se fosse natural receber taispresentes. É evidente a má fé do casal.

Numa ocasião, durante um almoço com Freitas e CarlosMaria, Rubião recebe de Sofia uma caixa de morangos e umbilhete, por meio do qual ela o convida para um jantar.Rubião aceita e, no jardim do lar dos Palha, sob a luz dasestrelas, se declara para a esposa de Cristiano. Sofia recusao galanteio. Mais tarde, conta o que ocorreu para seu esposo,porém, Cristiano, que deve dinheiro para Rubião, diz a elaque cortar relações com o rico amigo não convém nomomento. Sofia, por sua vez, seduzida pelas atenções epresentes recebidos, também não deseja afastar o ricoherdeiro de sua casa. Rubião se sente envergonhado por suaatitude, afasta-se do convívio do casal por muitos dias. Noentanto, esse distanciamento leva Cristiano a procurá-lo emBotafogo. Rubião conta aos seus convivas sobre seu desejode retornar a Minas. Os amigos não querem que ele retorne,pois antecipam a perda do dinheiro que dele obtém comfacilidade.

Rubião retorna ao convívio com o casal Palha. Aliconhece Maria Augusta e Maria Benedita, tia e prima deSofia, moradoras do interior e encontra Carlos Maria.Rubião está cada vez mais apaixonado por Sofia, que semostra sempre muito amável com ele e sedutora, emboraesteja interessada em Carlos Maria, seu par predileto nas valsas.

Rubião confia em Cristiano Palha, agora seu sócio,acredita que o marido de Sofia está fazendo seus negóciosficarem mais lucrativos, não enxerga que está sendoprejudicado.

Aos poucos, evidenciam-se traços de loucura emRubião. Ele acredita que se casar poderá se ver livre de suapaixão doentia por Sofia. Começa a divagar, imagi nando oluxo e a riqueza da festa de casamento, da qual participariaa mais alta aristocracia. A escolha concreta de uma noiva édeixada de lado por ele.

Depois da morte da tia Maria Augusta, Sofia e Cristianohospedam a prima Maria Benedita. Pretendem casá-la comRubião. Para Sofia esse casamento seria conveniente,inclusive por afastar a prima de Carlos Maria. Durante umaepidemia em Alagoas, Sofia e Maria Benedita buscamangariar fundos. D. Fernanda, esposa do deputado Teófilo e

prima de Carlos Maria, participa desse ato filantrópico. D. Fernanda aproxima-se de Maria Benedita e acabapromovendo o casamento de Carlos Maria com MariaBenedita. A lua-de-mel do casal ocorre na Europa. Sofia,apesar de muito desapontada, não demonstra sua frustraçãoamorosa.

O casal Palha vai ascendendo socialmente, obtendo cadavez mais prestígio. Rubião é ingênuo, não entende osmecanismos que governam a sociedade. Quando o casalobtém o status social e o patrimônio pelo qual tiveram tantoempenho, Rubião torna-se desnecessário. Cristiano não querdividir com Rubião grandes lucros futuros e planeja mudar-se para um palacete, cujo projeto já encomendara. A partirdaí, os Palha passam a tratá-lo com indiferença, buscamromper o vínculo estabelecido.

O enlouquecimento de Rubião progride. Numa ocasião,ele imagina ser Napoleão III e corta a barba para ficarparecido com a personagem histórica. Seus acessos deloucura tornam-se cada vez mais frequentes. Certo dia,imaginando Sofia como a imperatriz Eugênia, entra com elanum carro e delirante promete-lhe uma vida de luxo. Começaa distribuir títulos e patentes aos conhecidos, que passam aevitá-lo, sobretudo, porque o dinheiro vai rareando. “Nosacessos de loucura, Rubião constrói uma versão do mundo,não na condição de provinciano subjugado, mas introjetandoo papel de Imperador da França” (Chauvin, 2016, p.20).

A única a ter pena de Rubião é D. Fernanda. Cristianotransfere-o do palacete de Botafogo, instalando-o em umacasa modesta, próxima do mar. Ali os delírios persistem.Rubião passa a ser zombado por todos, inclusive por crianças.Cristiano interna o ex-sócio, acompanhado pelo cão QuincasBorba, numa casa de saúde.

Abandonado por todos, Rubião, com o cão, retorna a suaterra natal. Ambos sofrem a ação de uma tempestade eadormecem ao relento. Rubião, delirante, anda sem direçãopelas ruas de Barbacena. É acolhido por sua comadreAngélica. Alguns dias depois, falece, acreditando serNapoleão III. Repete sempre a máxima do filósofo QuincasBorba: "Ao vencedor, as batatas". Passados alguns dias morretambém o cachorro Quincas, nas ruas de Barbacena,abandonado.

No romance Quincas Borba, a loucura faz de Rubiãouma personagem que “adquire máxima estatura perante oleitor” (Chauvin, 2016, p.21), apesar de ter sido escarnecidopelas personagens do romance. Para Ivan Teixeira,

[...] a loucura de Rubião pode parecer um ato voluntário, umaastúcia de quem não teve sorte ou talento para presidir aprópria vida. Mas no fim, mostrou-se pertinaz a solução daloucura. Em vez de admitir a exterioridade dos fatos, optoupela verdade do mundo interior. Afinal, ao Cruzeiro do Sul ea toda natureza, enfim, é indiferente se o homem ri ou choracá na terra. E Rubião morreu mais feliz do que se tivessemantido a lucidez (p.114)

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17. PERSONAGENS

Rubião: ex-professor interiorano, ingênuo, não acostu -mado ao jogo social, herdeiro da fortuna de Quincas Borba,novo-rico, sem malícia, suas ideias não têm grande alcancenem profundidade, não conhece o código da sociabilidadeda corte, também não domina bem o código da palavraescrita, possui pouca cultura, falta-lhe elo quência, suapostura é tímida e envergonhada, simplório, influenciável,não desconfia da trama armada ao seu redor, morre louco epobre. Discípulo do filósofo Quincas Borba, vive na pele ofundamento teórico do Humani tismo, filosofia fictícia doreferido filósofo.

Rubião suspirou, cruzou as pernas, e bateu com as borlas dochambre sobre os joelhos. Sentia que não era inteiramentefeliz; mas sentia também que não estava longe a felicidadecompleta. Recompunha de cabeça uns modos, uns olhos, unsrequebros sem explicação, a não ser esta, que ela o amava, eamava muito. Não era velho; ia fazer quarenta e um anos; erigorosamente, parecia menos. Esta observação foiacompanhada de um gesto; passou a mão pelo queixo,barbeado todos os dias, coisa que não fazia dantes, poreconomia e desnecessidade. Um simples professor! Usavasuíças (mais tarde deixou crescer a barba toda) – tão macias,que dava gosto passar os dedos por elas (cap. III, p.89).

Cristiano Palha: vaidoso em relação à esposa (Sofia)e ao status conquistado, calculista, torna-se íntimo deRubião e explora sua ingenuidade. Torna-se o administradorda herança de Rubião e pouco a pouco vai dilapidando-a.

Na estação de Vassouras, entraram no trem Sofia e o marido,Cristiano de Almeida e Palha. Este era um rapagão de trinta edois anos (...).Depois que o trem continuou a andar, foi que o Palha reparouna pessoa de Rubião, cujo rosto, entre tanta gente carrancudaou aborrecida, era o único plácido e satisfeito. (...)– Meu desejo é ficar, e fico mesmo – acudiu Rubião – ; estoucansado da Província; quero gozar a vida. Pode ser até que váà Europa (...)Os olhos de Palha brilharam instantaneamente” (Cap. XXI,pp. 114-115).[...] zangão da praça, (...) gostava de ganhar dinheiro, erajeitoso, ativo, e tinha o faro dos negócios e das situações. Em1864, apesar de recente no ofício, adivinhou – (...) as falênciasbancárias. (cap. XXXV, p. 133).

Sofia: Casada com Cristiano Palha, sedutora, temconsciência do poder que exerce sobre Rubião, colaboracom os planos de ascensão do marido, Cristiano Palha.Aprecia ser admirada e ostentar luxo.

As senhoras casadas eram bonitas; a mesma solteira não devia tersido feia, aos vinte e cinco anos; mas Sofia primava entre todaselas. (...)

Era daquela casta de mulheres que o tempo, como um escultorvagaroso, não acaba logo, e vai polindo ao passar dos longosdias. Essas esculturas lentas são miraculosas; Sofia rastejava osvinte e oito anos; estava mais bela que aos vinte e sete; era desupor que só aos trinta desse o escultor os últimos retoques, senão quisesse prolongar ainda o trabalho por dois ou três anos.Os olhos, por exemplo, não são os mesmos da estrada de ferro,quando o nosso Rubião falava com o Palha, e eles iamsublinhando a conversação... Agora, parecem mais negros, e jánão sublinham nada; compõem logo as coisas, por si mesmos,em letra vistosa e gorda, e não é uma linha nem duas, sãocapítulos inteiros. A boca parece mais fresca. Ombros, mãos,braços, são melhores, e ela ainda os faz ótimos por meio deatitudes e gestos escolhidos. Uma feição que a dona nunca pôdesuportar, — coisa que o próprio Rubião achou a princípio quedestoava do resto da cara, — o excesso de sobrancelhas, — issomesmo, sem ter diminuído, como que lhe dá ao todo um aspectomuito particular. Traja bem; comprime a cintura e o tronco no corpinho de lã finacor de castanha, obra simples, e traz nas orelhas duas pérolasverdadeiras, — mimo que o nosso Rubião lhe deu pela Páscoa(Cap. XXXV - pp. 132-133).

QUINCAS BORBA: filósofo autor do Humanitismo,torna Rubião seu discípulo e herdeiro universal, estepersonagem que já aparecera em Memórias Póstumas deBrás Cubas.

[...] Saberia Rubião que o nosso Quincas Borba trazia aquelegrãozinho de sandice, que um médico supôs achar-lhe? (Cap. IV, p. 90)Quincas Borba, que não deixara de andar, parou alguns instantes.– Queres ser meu discípulo?– Quero.– Bem, irás entendendo aos pouco a minha filosofia; no dia emque a houverdes penetrado inteiramente, ah! nesse dia terás omaior prazer da vida, porque não há vinho que embriague comoa verdade. Crê-me, o Humanitismo é o remate das coisas; e eu,que o formulei, sou o maior homem do mundo (...) (Cap. III, pp. 95-96).Quem sou eu, Rubião? Sou Santo Agostinho (...) (cap. X, p. 103).

Quincas Borba (o cão): tem o mesmo nome dofilósofo do Humanitismo, seu primeiro dono. Companheirofiel, sobretudo nos momentos mais difíceis da trajetóriatragicômica de Rubião.

Rubião achou um rival no coração de Quincas Borba – um cão,um bonito cão, meio tamanho, pelo cor de chumbo, malhadode preto. [...] Uma das extravagâncias do dono foi dar-lhe oseu próprio nome. (Cap. V, p. 91).Queria dizer aqui o fim do Quincas Borba, que, adoeceu tam -bém, ganiu infinitamente, fugiu desvairado em busca do dono, eamanheceu morto na rua, três dias depois (Cap. CCI, p.380)

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Carlos Maria: amigo do casal Palha, torna-se amigotambém de Rubião. Tem boa aparência, é seguro de si,altivo, irônico, esnobe, galanteador, vaidoso, presunçoso,endeusado pelas mulheres (sobretudo por Maria Benedita,com que acaba por casar).

Queres o avesso disso, leitor curioso? Vê este outro convidadopara o almoço, Carlos Maria. Se aquele tem os modos "expan -sivos e francos”, — no bom sentido laudatório, — claro é queele os tem contrários. Assim, não te custará nada vê-lo entrar nasala, lento, frio e superior, ser apresentado ao Freitas, olhandopara outra parte. Freitas que já o mandou cordialmente ao diabopor causa da demora (é perto do meio-dia), corteja-o agorarasgada mente, com grandes aleluias íntimas.Também podes ver por ti mesmo que o nosso Rubião, se gostamais do Freitas, tem o outro em maior consideração; esperou-o até agora, e esperá-lo-ia até amanhã. Carlos Maria é que nãotem consideração a nenhum deles. Examinai-o bem; é umgalhardo rapaz de olhos grandes e plácidos, muito senhor de si,ainda mais senhor dos outros. Olha de cima; não tem o risojovial, mas escarninho. Agora, ao sentar-se à mesa, ao pegar notalher, ao abrir o guardanapo, em tudo se vê que ele estáfazendo um insigne favor ao dono da casa, — talvez dois, —o de lhe comer o almoço, e o de lhe não chamar pascácio (cap. XXXI, pp. 125-6).

Maria Benedita: prima de Sofia, moça casadoura,endeusa Carlos Maria de quem se tornou esposa.

(...) Em verdade, não era uma beleza; não lhe pedissem olhosque fascinam, nem dessas bocas que segredam alguma coisa,ainda caladas; era natural, sem acanho de roceira; e tinha umdonaire particular, que corrigia as incoerências do vestido.Nascera na roça e gostava da roça. (...) A educação foi sumária:ler, escrever, doutrina e algumas obras de agulha. Sofia apertoucom ela para aprender piano (...) (cap. LXIV, p.185-186).Você que tem? – perguntou Maria Benedita ao marido, logoque ficaram sós.(...)– Você me perdoa? Perguntou a mulher, quando o viu fecharo folheto. – Daqui em diante vou ser menos tagarela (cap.CLXX, p. 341-342)

Camacho: jornalista, envolvido na política, falaafetada, verborrágico, pede contribuições para Rubião paralivrar o jornal A Atalaia do fechamento.

Camacho era um homem político. Formado em direito em 1844,pela faculdade de Recife, voltara para a província natal, ondecomeçou a advogar; mas a advocacia era um pretexto. Já naacademia, escrevera um jornal político, sem partido definido,mas com muitas ideias colhidas aqui e ali, e expostas em estilomeio magro e meio inchado(...) (cap. LVII, p. 173).

D. Tonica: Filha do Major Siqueira, solteirona,frustrada. Sempre à espera de um noivo, que poderia serRubião, mas este está interessado em Sofia. Acabaarranjando um noivo, que morre dias antes do casamento.

Entende-se bem que dona Tonica observasse a contemplação dosdois. Desde que Rubião chegou, não cuidou ela mais que deatraí-lo. Os seus pobres olhos de trinta e nove anos, olhos semparceiros na terra, indo já a resvalar do cansaço na desesperança(...) (cap. XXXVII, p. 136)A filha ria-se, estava acostumada às graças do pai, e tão dispostaà alegria que nada a vexava; ainda mesmo que o pai se referisseaos seus quarenta anos passados, não lhe daria grande golpe.Todas as noivas têm quinze anos (Cap. CLXXXI, p. 359).

D. Fernanda: casamenteira, de boa índole, generosa,única a se compadecer do destino de Rubião. Promove ocasamento de Carlos Maria com Maria Benedita.

[...] Sofia organizou a comissão, que trouxe novas relações àfamília Palha. Incluída entre as senhoras que formavam umadas subcomissões, Maria Benedita trabalhou com todas, masgranjeou em especial a estima de uma delas, D. Fernanda,esposa de um deputado. D. Fernanda tinha pouco mais de trintaanos, era jovial, expansiva, corada e robusta; nascera em PortoAlegre, casara com um bacharel das Alagoas, deputado agorapor outra província, e, segundo corria, prestes a ser ministro deEstado (cap. CXVIII, p. 270).

Freitas: extrovertido, bajulador, comensal na residênciade Rubião.

Engana-se, senhor; trago esta máscara risonha, mas eu sou triste.Sou um arquiteto de ruínas [...] E Rubião ria-se; gostava daqueles modos expansivos e francos.(cap. XXX, p. 125)

Teófilo: marido de D. Fernanda, ambicioso, ajusta-seàs mudanças do jogo político ocorridas durante a criseministerial.

(...) Aí vamos com a trouxa às costas. O marquês pediu-meinstantaneamente que aceitasse uma presidência de primeiraordem. Não podendo meter-me no gabinete, onde tinha lugarmarcado, desejava, queria e pedia que eu partilhasse a responsa -bilidade política e administrativa do governo, assumindo umapresidência.(...) No dia do embarque, logo cedo, foi despedir-se do gabinetede trabalho. Deitou os últimos olhos aos livros, relatórios,orçamentos, manuscritos, a toda essa parte da família, que sótinha língua e interesse para ele. (cap. CLXXVIII)

Major Siqueira: observador da sociedade que ocerca, pai de D. Tonica.

A luz do fósforo deu à cara do major uma expressão de escárnio,ou de outra coisa menos dura, mas não menos adversa. Rubiãosentiu correr-lhe um frio pela espinha. Teria ouvido? visto?advinhado? Estava ali um indiscreto, um mexeriqueiro? A carado homem não explicava esse ponto; em todo caso, era maisseguro crer no pior (cap. XLII , p.145).

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ACHCAR, Francisco. Contos de Machado de Assis – Coleção Objetivo – São Paulo: 2000 (pág. 9 a 11; 108 e 118)ASSIS, Machado. Quincas Borba. São Paulo: Ateliê Cultural, 2016.CÂNDIDO, Antonio. Esquema de Machado de Assis. In: Vários escritos. 3. ed. revista e ampliada. São Paulo: Duas Cidades, 1995.CHAUVIN, Jean Pierre. Apresentação de Quincas Borba. Quincas Borba, Machado de Assis: São Paulo: Ateliê Editorial, 2016.FACIOLI, Valentim Aparecido. Várias histórias para um homem célebre (biografia intelectual). Em Bosi et al. Machado de Assis. São Paulo: Ática, 1982.MOISÉS, Massaud. “Nota Preliminar”. In: Machado de Assis. Memorial de Aires/O alienista. 4ª. ed., São Paulo: Cultrix, 1967.PEREIRA, Lúcia Miguel. Prosa de Ficção (de 1870 a 1930). Em Machado de Assis, J.M. Obra Completa, vol. I, Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1988.SÁ REGO, Enylton de. Machado de Assis, a Sátira Menipeia e a Tradição Luciânica, Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1989, p. 177.SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo – Machado de Assis, São Paulo: Duas Cidades, Ed. 34, 2000.TEIXEIRA, Ivan, Apresentação de Machado de Assis, São Paulo: Martins Fontes, 1987, p. 109

Exercícios

Texto 1.

“O mais significativo, agora, é a possibilidade de passagem de uma classe para outra; a principal escada utilizada comesse objetivo são os negócios, e Cristiano Palha, ex-seminarista, junto com sua esposa Sofia, filha de um funcionáriopúblico, são mostrados com cuidadosos detalhes, em sua suave e cínica ascensão através dos escalões sociais”.

(Gledson, John. Machado de Assis: ficção e história. 2 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003, pág. 58)

1. Considerando esse fragmento crítico, o que motiva o casal Palha a se aproximar de Rubião?

Texto 2

“Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, queassim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duastribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz,nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensaspúblicas e todos os demais efeitos das ações bélicas.”

(Assis, 2016, cap. 6, pág)

2. Para explicar a filosofia do Humanitismo, Quincas Borba usa metáforas. O que elas evidenciam?

3. No início do romance, Rubião pensa: “Deus escreve certo por linhas tortas”. A que acontecimento trágico (“linhastortas”) que resultou em algo favorável (“escreve certo”) ele se refere?

Referências

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Texto 4

“Rubião é o mais nítido exemplo do mecanismo de devoração do homem pelo homem, instrumento da ambiçãoeconômica da sociedade urbana de Palhas e Sofias, Camachos e Freitas. Tal qual os fracos e puros, é manipulado comouma coisa, exatamente por uma galeria de personagens terríveis, todos homens de corte burguês impecável,perfeitamente entrosados nos mores de sua classe e seu espaço experencial.”

(Senna, M. O olhar oblíquo do bruxo: ensaios em torno de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998, pág. 87)

4. Nesse texto, Rubião é apresentado como alvo fácil a ser explorado por homens inescrupulosos. Em que consiste afraqueza do protagonista?

5. As personagens do romance Quincas Borba seguem quais motivações internas para seus atos?

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1. A busca por ascensão social é o que motiva o casal Palha a se aproximar de Rubião. O romance Quincas Borba retrata com realismoa verdadeira natureza das relações sociais.

2. As metáforas usadas na alegoria acerca da filosofia do Humanitismo demonstram a supremacia do mais forte em relação ao maisfraco. Na luta pela sobrevivência, apenas os indivíduos fortes e aptos sobrevivem e vencem, a guerra serve para garantir a vitória e apermanência de um dado grupo, também para que o indivíduo obtenha reconhecimento perante os demais.

3. Trata-se do casamento não ocorrido entre Quincas Borba e Piedade, irmã de Rubião. Caso o enlace matrimonial tivesse ocorrido, eleteria somente “uma esperança colateral”. Como eles não casaram, inclusive ambos morreram acometidos por doença, toda a fortunade Quincas Borba foi destinada a Rubião. Embora com a consciência pesada, Rubião fica satisfeito com a morte dos dois, pois ocasamento e posteriormente um possível filho acabaria com a possibilidade de enriquecimento do protagonista.

4. A fraqueza de Rubião consiste na sua ingenuidade. Ele desconhece o código que rege a sociabilidade da corte.

5. As personagens de Quincas Borba predominantemente são movidas pela busca de status social elevado e da realização de seus interessesindividuais materialistas

QUINCAS BORBA

GABARITOAS OBRAS DA FUVEST PORTUGUÊS

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