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DBORAH DE OLIVEIRA
RETIFICAO DE INCONEL 718 COM MULTICAMADAS DE GRAFENO DISPERSAS EM
FLUIDO DE CORTE APLICADO VIA TCNICA MQL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA
FACULDADE DE ENGENHARIA MECNICA
2017
ii
DBORAH DE OLIVEIRA
RETIFICAO DE INCONEL 718 COM MULTICAMADAS DE
GRAFENO DISPERSAS EM FLUIDO DE CORTE APLICADO VIA
TCNICA MQL
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
Graduao em Engenharia Mecnica da Universidade
Federal de Uberlndia, como parte dos requisitos para a
obteno do ttulo de MESTRE EM ENGENHARIA
MECNICA.
rea de Concentrao: Materiais e Processos de
Fabricao.
Orientador: Prof. Dr. Rosemar Batista da Silva
Co-orientador: Prof. Dr. Rogrio Valentim Gelamo
Uberlndia MG
2017
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)
Sistema de Bibliotecas da UFU, MG, Brasil.
O48r
2017
Oliveira, Dborah de, 1992-
Retificao de Inconel 718 com multicamadas de grafeno dispersas
em fluido de corte aplicado / Dborah de Oliveira. - 2017.
91 f. : il.
Orientador: Rosemar Batista da Silva.
Coorientador: Rogrio Valentim Gelamo.
Dissertao (mestrado) - Universidade Federal de Uberlndia,
Programa de Ps-Graduao em Engenharia Mecnica.
Disponvel em: http://dx.doi.org/10.14393/ufu.di.2018.1125
Inclui bibliografia.
1. Engenharia mecnica - Teses. 2. Retificao - Teses. 3. Usinagem
- Teses. 4. Fluidos de corte - Teses. I. Silva, Rosemar Batista da, 1974-
II. Gelamo, Rogrio Valentim. III. Universidade Federal de Uberlndia.
Programa de Ps-Graduao em Engenharia Mecnica. IV. Ttulo.
CDU: 621
Maria Salete de Freitas Pinheiro CRB6/1262
v
DEDICATRIA
Aos meus pais e retificadora.
vi
AGRADECIMENTOS
Agradeo a Deus, dono de toda sabedoria e conhecimento.
Aos meus pais Marcos Aurlio e Mrcia, e a toda minha famlia.
Ao Prof. Dr. Rosemar Batista da Silva pela orientao e todos os ensinamentos que
foram passados nos ltimos anos.
Universidade Federal de Uberlndia (UFU), Faculdade de Engenharia Mecnica
(FEMEC) e aos Laboratrios de Ensino e Pesquisa em Usinagem (LEPU) e de Usinagem
Convencional (LUC) pela oportunidade concedida;
Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES) pela
concesso da bolsa de mestrado e apoio financeiro na pesquisa.
Ao Prof. Dr. Rogrio Valentim Gelamo pela preparao e doao do grafeno, como
tambm pela sua contribuio importante na discusso dos resultados.
Ao professor Dr. Mrcio Bacci da Silva por sempre se mostrar prestativo e disponvel
em todas as solicitaes de auxlio e por todo o conhecimento passado em momentos de
dvida.
Ao tcnico de laboratrio e doutorando Alcione dos Reis e aluna de iniciao
cientfica em Engenharia Mecnica Lurian Sousa Vieira da Silva pelo suporte tcnico e
emocional durante todo o desenvolvimento da dissertao.
s professoras Dra. Rosenda Valdes Rencibia e Dra. Maria da Penha Cindra Fonseca
(UFF), pela instruo, tempo dedicado e pela colaborao nas medies dimensionais e de
tenso residual, respectivamente.
A todos os professores, tcnicos e alunos dos laboratrios LAPROSOLDA, LTM e
LEST por ajudarem no desenvolvimento da pesquisa como tambm por permitirem a
utilizao de materiais e equipamentos sem os quais a concluso desta pesquisa no teria
sido possvel.
Aos tcnicos do Laboratrio de Usinagem Convencional, Lzaro Vieira, Thiago
Pereira, Thiago Menezes, por sempre terem me auxiliado.
Aos meus amigos e colegas do LEPU que de alguma forma fizeram parte desta
jornada: Prof. Armando Marques, Prof. Cleudes Guimares, Prof. Luciano Fernandes, Prof.
Raphael Lima de Paiva, Victor Rubin, Maksym Ziberov, Saimon Vendrame, Ivanilson Costa,
Antonio Vitor de Melo, Mariana Landim e Kenji Okada (aluno de iniciao cientfica).
https://pt.wikipedia.org/wiki/Coordena%C3%A7%C3%A3o_de_Aperfei%C3%A7oamento_de_Pessoal_de_N%C3%ADvel_Superior
vii
DE OLIVEIRA, D. Retificao de Inconel 718 com Multicamadas de Grafeno Dispersas
em Fluido de Corte Aplicado via Tcnica MQL. 2017, 109 f. Dissertao de Mestrado,
Universidade Federal de Uberlndia - MG.
Resumo
Devido s pequenas dimenses dos cavacos e baixa condutividade trmica dos rebolos
convencionais, a maior parte do calor gerado no processo de retificao transferida para a
pea. Dependendo da quantidade de calor, a pea poder apresentar pobre acabamento,
alteraes dimensionais e microestruturais que podem comprometer a sua funcionalidade.
Este problema agravado ao usinar superligas, como o Inconel 718, por exemplo, que
tambm possui baixa condutividade trmica, o que dificulta a dissipao do calor durante a
usinagem. Por este motivo, a retificao desta liga com rebolos convencionais geralmente
realizada com fluido de corte aplicado com elevadas vazes visando refrigerao da pea.
Mas nos ltimos anos, emprego de fluidos em grandes vazes tem sido cada vez mais
questionado pelos riscos e problemas de sade e ambientais envolvidos. Logo, torna-se
necessrio buscar alternativas que aliem boa refrigerao com menos riscos sade humana
e ao ambiente. Dentre as vrias possibilidades, esta pesquisa investigou a influncia de
partculas de multicamadas de grafeno adicionadas em fluido de corte de base vegetal na
rugosidade e na integridade da sub-superfcie do Inconel 718, aps a retificao com rebolo
de SiC, como tambm na potncia instantnea do processo. Duas diferentes concentraes
em peso de grafeno (0,05% e 0,10%) foram testadas e aplicadas via a tcnica MQL. Ensaios
com fluido de corte sem grafeno via tcnica MQL, fluido emulsionvel em abundncia e na
condio a seco tambm foram realizados para permitir comparaes. Os resultados
mostraram que a usinagem com a tcnica MQL com a menor concentrao de grafeno (MQL
MG 0,05%) proporcionou os menores valores de rugosidade, a menor variao na
microdureza e exigiu menos esforos de usinagem. Esta condio tambm promoveu menor
nmero de trincas nas superfcies e a gerao de tenso residual de compresso em
condies mais brandas de usinagem. A microdureza sofreu influncia da tcnica de lubri-
refrigerao e da penetrao de trabalho. A tcnica MQL MG 0,05% mostrou-se como
alternativa tecnicamente vivel em relao ao fluido de corte aplicado pela tcnica
convencional na retificao do Inconel 718 com rebolo abrasivo convencional.
Palavras Chave: Retificao, Inconel 718; Fluido de Corte, Multicamadas de grafeno,
Rugosidade, Microdureza, Tenso Residual.
viii
DE OLIVEIRA, D. Grinding of Inconel 718 with Multilayer Graphene Platelets Dispersed In
Cutting Fluid Applied by the MQL Technique. 2017. 109 p. Masters Dissertation, Federal
University of Uberlandia - MG.
Abstract
Due to the small size of the chips and the low thermal conductivity of the conventional grinding
wheels, most of the heat generated in the grinding process goes to the workpiece. Depending
on the amount of heat, it can adversely affect surface finish and cause microstructural changes
in the workpiece material that may compromise its functionality. This problem becomes worse
when machining superalloys, such as Inconel 718, which also has low thermal conductivity
and consequently leads to low rate of heat dissipation during machining. For this reason, the
grinding of this alloy with conventional grinding wheels is generally carried out at high coolant
flow rates in order to cool the workpiece. However, in the last years, various research has been
focused on restriction of the use of high volume of coolants because of health and
environmental risks related to their use. Therefore, it is necessary to seek alternatives for
cutting fluids that combine good refrigeration with lower risks to human health and the
environment. Among the several possibilities, this research investigated the influence of
multilayer graphene platelets added to a vegetable-based cutting fluid on the surface
roughness, surface and subsurface changes of the Inconel 718 after grinding with SiC grinding
wheel, as well as on the grinding power. Two different concentrations (%wt) (0.05% and
0.10%) of multilayer graphene were tested and applied via the MQL technique. Tests with
graphene-free coolant also applied via MQL technique, flood and dry condition were also
performed to allow comparisons. The results showed that grinding with the lowest graphene
concentration applied via the MQL technique (MQL MG 0.05%) provided the lowest roughness
values and microhardness variation, as well as required less grinding efforts. It was also able
to reduce the generation of cracks in the surfaces and resulted in compressive residual stress
after grinding under less severe conditions. The microhardness was influenced by the cooling-
lubrication technique and the radial depth of cut. The MQL MG 0.05% condition proved to be
technically viable as an alternative to the use of flood technique in the grinding of Inconel 718
with conventional abrasive wheel.
Keywords: Grinding, Inconel 718, Coolant, Multilayer Graphene, MQL Technique, Surface
Roughness, Microhardness, Residual stress.
ix
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 Distribuio percentual de materiais utilizados na fabricao de motor
aeronutico, tipo turbofan, da fabricante GE (adaptado de CAMPBELL, 2006). .................... 6
Figura 2.2 Elementos de um rebolo abrasivo convencional (MACHADO et al., 2011). ........ 8
Figura 2.3 Formao do cavaco na retificao de material dctil (MARINESCU et al., 2004).
.............................................................................................................................................. 9
Figura 2.4 Diviso de custos durante o processo de produo de uma pea retificada com
detalhe para os gastos com fluido de corte (adaptado de Sanchez et al., 2010). ................. 14
Figura 2.5 Temperatura na superfcie em funo do tempo de usinagem para diferentes
atmosferas durante retificao de ao endurecido 100Cr6 (50 HRC) com rebolo de alumina
(HADAD, 2012). ................................................................................................................... 16
Figura 2.6 Estruturas alotrpicas do carbono a partir do grafeno e suas formas: a) bulckyball
(forma de esfera oca formada por vrias faces hexagonais ligadas entre si), b) nanotubos e c)
grafite (adaptado de WONG e AKINWANDE, 2011). ........................................................... 22
Figura 2.7 Esquema de uma estrutura de multicamadas de grafeno (LI et al., 2017). ....... 22
Figura 2.8 Reduo percentual do atrito em aplicao automotiva do uso de multicamadas
de grafeno adicionado em funo da concentrao e tipo de aditivo (adaptado de RAMON-
RAYGOZA et al., 2016). ...................................................................................................... 24
Figura 2.9 - Usinabilidade relativa de metais (adaptado de EZUGWU, 2005). ..................... 25
Figura 2.10 Esquema de superfcie com rugosidade e metodologia de medio a)
Diferenciao dos desvios geomtricos, b) Metodologia da linha mdia para a medio da
rugosidade. (AGOSTINHO; RODRIGUES; LIRANI, 2004). .................................................. 28
Figura 3.1 Fluxograma das etapas para o desenvolvimento desta pesquisa. ................... 35
Figura 3.2 Microestrutura do Inconel 718 utilizado nesta pesquisa. .................................. 37
Figura 3.3 Detalhe dos carbonetos presentes na microestrutura do Inconel 718 utilizado
nesta pesquisa. .................................................................................................................... 37
Figura 3.4 Imagens da montagem da pea na morsa de preciso: a) Vista lateral direita b)
Vista frontal/superior do sistema pea-morsa-mesa da retificadora. .................................... 38
Figura 3.5 Rebolo 39C60KVK utilizado nos ensaios. ........................................................ 39
Figura 3.6 Montagem e posicionamento dos bocais utilizados durante os ensaios de
retificao paras as tcnicas: a) tcnica convencional com bocal convencional que tambm
x
foi empregado na operao de dressagem b) MQL com bocal desenvolvido por Guimaraes
(2016). ................................................................................................................................. 41
Figura 3.7 Esquema do posicionamento do bocal para ambas as metodologias de aplicao
de fluido (adaptado de GUIMARES, 2016). ....................................................................... 42
Figura 3.8 - Bomba de seringa utilizada nos ensaios de retificao com a tcnica MQL: a)
desenho em perspectiva isomtrica (adaptado de DE MELLO, 2015 e b) foto - vista superior
............................................................................................................................................ 42
Figura 3.9 Parmetros de corte na retificao plana tangencial (Adaptada de MARINESCU,
2007), a) Retificao com avano transversal da mesa (velocidade transversal e b) Retificao
sem avano transversal da mesa e largura da pea inferior largura do rebolo. ................. 46
Figura 3.10 Regies de medio dos parmetros de rugosidade ...................................... 48
Figura 3.11 Imagem de superfcie de amostra de Inconel 718 antes dos ensaios de
retificao da Tabela 3.4. ..................................................................................................... 49
Figura 3.12 Esquema de detalhamento para medio da microdureza. ............................ 50
Figura 3.13 Ilustrao das direes de medio de tenses residuais nas amostras. ....... 51
Figura 3.14 Metodologia de medio da potncia eltrica da retificadora. ........................ 53
Figura 4.1 Rugosidade Ra do Inconel 718 aps retificao com diferentes condies de
corte. ................................................................................................................................... 56
Figura 4.2 Rugosidade Rt do Inconel 718 aps retificao com diferentes condies de corte.
............................................................................................................................................ 56
Figura 4.3 Superfcie de amostra de Inconel 718 aps retificao com atmosfera lubri-
refrigerante Convencional e ae = 40 m: a) ampliao de 1000 x, b) regio selecionada de a)
com ampliao de 10000 X. ................................................................................................. 60
Figura 4.4 Imagens via MEV da superfcies de Inconel 718 aps o processo de retificao
plana em diferentes condies de corte (Ampliao de 10.000x)......................................... 62
Figura 4.5 Perfil de microdureza aps a retificao de Inconel 718 com rebolo de SiC com
diferentes condies de corte e ae = 20 m. ........................................................................ 64
Figura 4.6 Perfil de microdureza aps a retificao de Inconel 718 com rebolo de SiC com
diferentes condies de corte e ae = 40 m. ........................................................................ 67
Figura 4.7 Microestrutura do Inconel 718 apresentando maclas e estrutura de Laves, escala
de 500 m ............................................................................................................................ 68
Figura 4.8 Microestrutura do Inconel 718 com detalhe para estrutura de Laves, escala de 50
m ....................................................................................................................................... 69
Figura 4.9 -- Microestrutura do Inconel 718 com detalhe para as maclas, escala de 50 m 70
Figura 4.10 Microestrutura da amostra de Inconel 718 retificada com ae = 20 m e atmosfera
lubri-refrigerante A Seco. ..................................................................................................... 71
xi
Figura 4.11 Microestrutura das amostras aps a retificao que apresentaram o maior desvio
de microdureza (Figs. 4.6 e 4.7): a) ae = 20 m, atmosfera lubri-refrigerante A Seco, b) ae =
20 m, atmosfera lubri-refrigerante MQL MG 0,10% e c) ae = 40 m, atmosfera lubri-
refrigerante Convencional. ................................................................................................... 72
Figura 4.12 Tenso residual longitudinal na superfcie da amostra de Inconel 718 aps
retificao com rebolo de SiC em diferentes condies de corte. ........................................ 73
Figura 4.13 Tenso residual transversal na superfcie da amostra de Inconel 718 aps
retificao com rebolo de SiC em diferentes condies de corte. ........................................ 74
Figura 4.14 Potncia durante a retificao de Inconel 718 para diferentes penetraes de
trabalho para as diferentes atmosferas lubri-refrigerantes: a) a seco, b) Convencional, c) MQL
MG 0,00%, d) MQL MG 0,05% e e) MQL MG 0,10%. .......................................................... 77
Figura 4.15 Valores do picos de potncia durante a retificao de Inconel 718 para diferentes
penetraes de trabalho para as diferentes atmosferas lubri-refrigerantes .......................... 80
xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 Propriedades mecnicas do Inconel 718 e do ao inoxidvel AISI 304 (Adaptado
de MAHER (2016), NORTH AMERICAN STAINLESS (2016) e G-STYLE S.A. (2016)). ........ 7
Tabela 2.2 Propriedades e aplicaes de abrasivos para rebolos (adaptado de MACHADO
et al., 2011). ......................................................................................................................... 11
Tabela 2.3 Fluidos de corte recomendados para o processo de retificao (adaptado de
KALPAKJIAN e SCHMID, 2009). ......................................................................................... 13
Tabela 2.4 Compilao de partculas slidas para uso em fluidos de corte de retificao. 19
Tabela 2.5 Propriedades que diferenciam os materiais formados por carbono (adaptado de
WONG e AKINWANDE, 2011). ............................................................................................ 21
Tabela 2.6 Principais parmetros de rugosidade (MACHADO et al.,2011). ...................... 29
Tabela 3.1 Composio qumica do Inconel 718 obtida atravs do MEV comparada com a
composio terica de acordo com Reed (2006). ................................................................ 36
Tabela 3.2 Viscosidade e massa especfica para as diferentes concentraes de grafeno
condies lubri-refrigerantes valores mdios) ...................................................................... 44
Tabela 3.3 Condutividade trmica para as diferentes concentraes de grafeno condies
lubri-refrigerantes. ................................................................................................................ 45
Tabela 3.4 Variveis de entrada utilizados nos ensaios de retificao. ............................. 45
Tabela 3.5 Parmetros de medio das tenses residuais. .............................................. 52
Tabela 4.1 Valores mdios de rugosidade Ra e Rt (m) das amostras de Inconel 718 aps
retificao com diferentes condies de corte...................................................................... 54
xiii
LISTA DE ABREVIAES E SMBOLOS
ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas
ad (m) Penetrao de dressagem
ae (m) Penetrao de trabalho
AISI American Iron and Steel Institute (Instituto Americano de Ferro e Ao)
Al2O3 Alumina
ap (mm) Profundidade de corte
ASM American Society of Metals (Sociedade Americana de Metais)
BCT Tetragonal de corpo centrado
bd (mm) Largura de atuao do dressador
CBN Nitreto de boro cbico
CNT Carbon nanotubes (nano tubos de carbono)
EDS Sistema de energia dispersiva
d Distncia interplanar
Ft (N) Fora tangencial de retificao
hcu Espessura de cavaco no deformado
HRB Dureza Rockwell B
HRC Dureza Rockwell C
HV Dureza Vickers
IT Grau de tolerncia padro
ISO International Organization for Standardization (Organizao
Internacional para Padronizao)
L Direo longitudinal
MQL Mnima Quantidade de Lubrificante
MEV Microscpio Eletrnico de Varredura
MG Multicamada de grafeno
MoS2 Bissulfeto de Molibdnio
NBR Norma Brasileira
ND Nano diamantes
P (W) Potncia de retificao
ngulo de inclinao
Qw (m) Unidade volumtrica de material removido
Ra (m) Desvio aritmtico mdio de rugosidade
Rku Fator de achatamento do perfil
xiv
Rp (mm) Raio de ponta do dressador
Rq (m) Desvio mdio quadrtico
Rsk Fator de assimetria do perfil (Skewness)
Rt (m) Altura total do perfil
Rz (m) Altura mxima do perfil
Sd (mm) Passo de dresssagem
SiC Carbeto de Silcio
T Direo transversal
U (W/m) Energia especfica
Ud Grau de recobrimento do rebolo
vs (m/s) Velocidade de corte
vw (m/min) Velocidade da pea
WS2 Sulfureto de tungstnio
ZrO2 Dixido de Zircnia
xv
SUMRIO
CAPTULO I - INTRODUO ............................................................................................... 1
CAPTULO II - REVISO BIBLIOGRFICA .......................................................................... 5
2.1 Inconel 718 ...................................................................................................................... 5
2.2 Processo de retificao .................................................................................................... 7
2.3 Fluidos de corte ............................................................................................................. 12
2.4 Tcnica MQL em processo de retificao ...................................................................... 15
2.5 Partculas slidas aplicveis em fluidos de corte............................................................ 17
2.6 Multicamadas de Grafeno .............................................................................................. 21
2.7 Usinabilidade do Inconel 718 ......................................................................................... 24
2.8 Qualidade de superfcies usinadas ................................................................................ 27
2.8.1 Rugosidade em peas de Inconel 718 retificadas ....................................................... 29
2.9 Consideraes sobre a Integridade Sub-superficial de ligas de nquel aps a retificao
................................................................................................................................... 31
2.9.1 Potncia em Retificao ............................................................................................. 33
CAPTULO III - METODOLOGIA ........................................................................................ 35
3.1 Material da pea e preparao ....................................................................................... 36
3.2 Ensaios de retificao .................................................................................................... 38
3.2.1 Mquina ferramenta .................................................................................................... 39
3.2.2 Rebolo ........................................................................................................................ 39
3.3 Fluidos de corte e tcnicas de aplicao ........................................................................ 39
3.4 Grafeno: obteno e preparao ................................................................................... 43
3.4.1 Caracterizao dos fluidos de corte com e sem multicamadas de grafeno ................. 43
3.5 Parmetros de corte ...................................................................................................... 45
3.6 Variveis de sada monitoradas ..................................................................................... 48
3.6.1 Parmetros de Rugosidade......................................................................................... 48
3.7 Avaliao da Integridade das peas............................................................................... 49
3.7.1 Imagens da superfcie retificada ................................................................................. 49
3.7.2 Microdureza ................................................................................................................ 50
3.7.3 Microestrutura ............................................................................................................. 50
3.7.4 Tenso residual .......................................................................................................... 51
3.8 Potncia Eltrica ............................................................................................................ 52
CAPTULO IV - RESULTADOS E DISCUSSES ............................................................... 54
4.1 Rugosidade .................................................................................................................... 54
xvi
4.2 Imagens das superfcies retificadas ............................................................................... 58
4.3 Microdureza ................................................................................................................... 63
4.4 Imagens da microestrutura das peas retificadas .......................................................... 68
4.5 Tenso residual ............................................................................................................. 73
4.6 Potncia Instantnea de Retificao .............................................................................. 76
CAPTULO V - CONCLUSES .......................................................................................... 82
Sugestes para trabalhos futuros ........................................................................................ 84
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..................................................................................... 85
CAPTULO I
- I NTRODU O
INTRODUO
O desenvolvimento dos materiais metlicos est intimamente associado aos avanos
tecnolgicos e, para a grande maioria das aplicaes em engenharia, os aos so aqueles
mais requisitados. Mas em algumas situaes, os aos no apresentam resistncia mecnica
suficiente, por exemplo, para operar em eixos de turbinas em temperaturas superiores a
500 C e ainda em aplicaes criognicas. Com isso, as ligas refratrias ou superligas
tornam-se a nica opo, por reunirem boas propriedades qumicas e mecnicas. Dentre
estas ligas, o destaque est para aquelas base de nquel por apesentarem combinao de
boa resistncia fadiga e fluncia mesmo em temperaturas elevadas, bem como ductilidade
e rigidez (ASM Handbook Vol.2, 1990, EZUGWU et al., 1999, RESENDE et al., 2009,
SUGAHARA et al., 2009 e DOS SANTOS, 2010).
Uma das principais ligas de nquel o Inconel 718 (UNS N07718), nome comercial de
uma liga de nquel cujas aplicaes se estendem desde criogenia, indstria automobilstica,
petrolfera, naval, e, principalmente, indstria aeroespacial. Ele considerado um material
nobre pela sua capacidade de operar em elevadas temperaturas sem grande alterao na
sua resistncia mecnica e inrcia qumica, propriedades que os aos no podem conferir.
Este material empregado em motores aeronuticos, aplicao que requer estas boas
propriedades, alm de elevada qualidade das peas (EZUGWU, 2002; ASPINWALL et al.,
2007).
Estes componentes devem ser livres de defeitos e requerem combinao de um timo
acabamento e tolerncias dimensionais estreitas. A retificao um dos processos de
fabricao que permite proporcionar esta combinao (CAMPBELL, 2006, MARINESCU et al.
2007, KLOCKE et al. 2014 e KLOCKE et al. 2015)
Entretanto, para que a qualidade final de um componente, seja ela geomtrica e/ou
dimensional, seja atendida preciso dedicar uma maior ateno na usinagem do Inconel 718,
j que as mesmas propriedades que por um lado so desejveis para a pea, por outro se
tornam desafios durante a usinagem. Ezugwu (2002) relata que a elevada resistncia
2
mecnica mantida em elevadas temperaturas e baixa condutividade trmica do Inconel 718
so as propriedades responsveis pelo desenvolvimento das altas temperaturas na interface
pea-ferramenta durante a usinagem, que aceleram o desgaste nas ferramentas de corte com
geometria definida (EZUGWU et al., 1999).
Em termos do processo de retificao, a complexidade ao usinar o Inconel 718 torna-se
maior com rebolos abrasivos convencionais. A retificao um processo que apresenta
elevada energia especfica em relao aos outros processos de usinagem com ferramenta de
geometria definida, alm disso, os cavacos gerados que possuem pequenas sesses e os
rebolos convencionais so pobres condutores de calor. E estes fatores contribuem para a
elevao da temperatura da pea em regies prximas a superfcie usinada (MALKIN; GUO
2008).
Dependendo da quantidade de calor que gerada e transferida para a pea, esta poder
apresentar alguns problemas como pobre acabamento e aqueles conhecidos como de origem
trmica (irregularidades superficiais, trincas e microtrincas, alteraes metalrgicas, incluindo
distoro microestrutural, transformao de fase, camadas afetadas termicamente, e gerao
de tenses residuais de trao) que podem levar a prejuzos econmicos (MARINESCU et al.,
2007 e DEVILLEZ et al., 2010). Por esta razo, geralmente se empregam grandes
volumes/vazes de fluido de corte durante o processo de retificao visando refrigerao
da pea e a preveno de danos de origem trmica. A tcnica que emprega fluido em altas
vazes conhecida como convencional ou abundncia; o termo jorro tambm bastante
empregado.
Em alguns casos, por exemplo, no processo de retificao sem centro de ao SAE
52100 a vazo pode chegar a 18000000 mL/h (18000 L/h) (GONALVES NETO, 2013).
Contudo, o emprego desta tcnica vem sendo cada vez mais questionado pelo elevado
volume de fluido de corte que utilizado, alm dos riscos e problemas que o uso e manuseio
inadequado de alguns fluidos de corte podem trazer para operador e ao meio ambiente.
Alm disso, o fator custo, principalmente com manuteno e descarte dos fluidos, tem
sido motivo de reflexo. Estima-se que o fluido de corte seja responsvel por cerca de 16%
dos custos de produo de uma pea retificada (SANCHEZ et al., 2010). Desta forma, vrios
tm sido os esforos acadmicos e industriais no sentido de aprimorar as tcnicas de
aplicao de fluido de corte, alm de desenvolver tcnicas que permitam eliminar e/ou
minimizar o uso de fluidos de corte (SANCHEZ et al., 2010).
Uma destas tcnicas j bastante difundida por ser considerada mais ecologicamente
correta que a tcnica convencional a da Mnima Quantidade de Lubrificao (MQL). Nesta
tcnica empregada da baixa vazo de leo (inferior a 240 mL/h), que normalmente do tipo
integral. Este leo transportado at a zona de corte por meio do ar comprimido e com isso
3
a mistura leo + ar garante simultaneamente menor atrito na interface rebolo pea (por causa
da tima propriedade de lubrificao do leo) e arrefecimento da pea (proporcionado pelo ar
comprimido) (IRANI; BAUER; WARKENTIN; 2005).
Embora sejam vrios os benefcios relatados na literatura com a aplicao da tcnica
MQL em processos de retificao, em alguns casos ela no se mostrou vivel, gerando a
necessidade de aprimoramento, principalmente, para aumentar a capacidade refrigerante que
o ar comprimido no consegue suprir. O baixo volume de leo e o ar comprimido que so
aplicados nas condies convencionais de MQL ainda no proporcionaram a mesma
eficincia proporcionada pela tcnica convencional em termos de danos trmicos, menores
foras de corte e desgaste de rebolo. Recentemente alguns estudos em usinagem tem sido
desenvolvidos na tentativa de melhorar a eficincia da tcnica MQL principalmente em relao
a estes parmetros
Uma nova abordagem para melhorar as caractersticas dos fluidos aplicados via tcnica
MQL consiste em adicionar partculas slidas no fluido de corte tais como: Bissulfeto de
Molibdnio (MoS2) (WANG et al., 2016, KALITA et al., 2012 e ZHANG et al., 2016), Nanotubos
de carbono (CNT) (ZHANG et al., 2016 e WANG et al., 2016), Nano Diamante (ND), grafite
(ALBERTS et al., 2009) e grafeno (DE MELO, 2015) a fim de explorar as propriedades
trmicas e lubrificantes que elas apresentam individualmente, melhorar as caractersticas
tribolgicas existente na interface rebolo-cavaco-pea, como tambm aumentar a eficincia
na remoo de calor da pea.
Dentre as partculas que apresentaram boas propriedades na maioria dos trabalhos
relatados na literatura, o grafeno, mais especificamente multicamadas de grafeno, se
destacou por apresentar elevada condutividade trmica e sua ao lubrificante ao ser
adicionados em fluido lubrificante, pois as camadas deste tipo de grafeno no oferecem
resistncia ao cisalhamento (WEI et al. 2011, SHAHIL; BALANDIN 2012, RAMON-RAYGOZA
et al., 2016 e ZHAO et al. 2016), o que no processo de retificao promove a reduo do atrito
na interface rebolo-cavaco-pea
Seguindo esta tendncia na tentativa de encontrar condies de corte que aliem
eficincia em refrigerao com aspectos ecolgicos e econmicos em usinagem, como
tambm de explorar os benefcios relatados na literatura com uso destas partculas slidas, o
objetivo desta pesquisa foi verificar e avaliar a influncia da utilizao de multicamadas de
grafeno adicionadas em fluido de corte em diferentes concentraes durante o processo de
retificao plana do Inconel 718 com rebolo de carbeto de silcio (SiC). Foram testadas duas
concentraes em peso de grafeno (0,05% e 0,10%) adicionados a um fluido de corte de base
vegetal e semi-sinttico que foram aplicadas via a tcnica MQL.
4
Para permitir comparaes entre os resultados ensaios com fluido de corte sem grafeno
via a tcnica MQL, fluido emulsionvel aplicado pela tcnica convencional e na condio a
seco tambm foram realizados. Os parmetros de sada analisados foram: rugosidade,
microdureza e tenso residual da pea. Alm disso, foram analisadas as superfcies das peas
aps a usinagem. Por ltimo foi monitorada a potncia instantnea do processo.
Primeiramente foi apresentado o Captulo I, que contm a introduo e contextualizao
do trabalho, bem como a motivao e a importncia do estudo de novas formas de lubri-
refrigerao na retificao de Inconel 718. Neste captulo foram abordadas a importncia da
liga Inconel 718, suas particularidades que interferem no processo de usinagem e a
importncia dos fluidos de corte neste processo, bem como seu tipo de aplicao e a
possibilidade de se utilizar partculas slidas dispersas em fluidos de corte.
O Captulo II compe-se da reviso bibliogrfica realizada para o trabalho, abordando
os seguintes tpicos: Inconel 718, processos de retificao, fluidos de corte, tcnica MQL no
processo de retificao, partculas slidas para uso em fluido de corte, multicamadas de
grafeno, usinabilidade do Inconel 718, tolerncias para componentes retificados, qualidade de
superfcies usinadas, rugosidade em peas de Inconel 718 retificadas, consideraes sobre a
integridade sub-superficial de ligas de nquel aps a retificao e potncia em retificao.
No Captulo III so apresentados os equipamentos e metodologia utilizados para a
realizao da pesquisa, tais como: a mquina ferramenta, o rebolo, o material da pea, os
parmetros de corte, a metodologia de dressagem do rebolo, os fluidos de corte e as suas
tcnicas de aplicao, bem como a tcnica para obteno do grafeno e caracterizao. So
apresentados ainda os procedimentos para a medio e monitoramento das variveis de
sada: rugosidade, imagens da superfcie retificada, microdureza, microestrutura, tenso
residual e potncia eltrica.
J o Captulo IV contm os resultados obtidos com os ensaios e as respectivas anlises
e discusses realizadas.
No Captulo V so apresentadas neste captulo as concluses pertinentes ao trabalho,
alm de sugestes para trabalhos futuros.
Finalmente, so apresentadas as referncias bibliogrficas utilizadas.
CAPTULO II
- REVI SO BIBLIOG RFI C A
REVISO BIBLIOGRFICA
Nesta sesso apresentada a reviso bibliogrfica sobre os temas relevantes esta
pesquisa, como as especificidades do material de estudo, o Inconel 718, caractersticas do
processo de retificao, qualidade geomtrica de peas retificadas, como tambm os
principais problemas que podem ser observados em peas aps o processo de retificao.
apresentada tambm uma breve reviso sobre os fluidos de corte e lubrificantes slidos em
operaes de usinagem.
2.1 Inconel 718
Para a grande maioria das aplicaes em engenharia, os aos so os materiais mais
requisitados. Contudo, a exigncia por componentes para operarem em temperaturas cada
vez mais elevadas, maiores potncias e motores mais eficientes, impulsionou j no sculo XX
o desenvolvimento das superligas, ou ligas refratrias, que neste caso so resistentes ao
calor, os quatro principais tipos so: ligas de nquel, ligas de cobalto, ligas de titnio e alguns
aos inoxidveis alto cromo (EZUGWU, 2005).
As superligas so assim chamadas por apresentarem propriedades mecnicas e
qumicas que so mantidas mesmo em temperaturas elevadas, normalmente difceis de
serem encontradas em outros materiais como aos, ferros fundidos e alumnio comum
(EZUGWU, 2005). Na Fig. 2.1 apresentada a distribuio percentual dos principais materiais
metlicos empregados na fabricao de turbinas de avies.
6
Figura 2.1 Distribuio percentual de materiais utilizados na fabricao de motor
aeronutico, tipo turbofan, da fabricante GE (adaptado de CAMPBELL, 2006).
As ligas de nquel podem ser produzidas em diferentes condies. No caso do Inconel
718, ele uma liga endurecida por precipitao, enquanto que as ligas endurecidas por
soluo slida so geralmente usadas na condio recozida. Dentre elas, destacam-se o
Hastelloy-X, Inconel 600, Inconel 617 e Inconel 625 por soluo slida e por precipitao. As
ligas endurecidas por precipitao contm alumnio, titnio ou nibio, para causar a
precipitao de uma segunda fase durante um tratamento trmico apropriado (SUGAHARA
et al., 2009).
O Inconel 718 destaca-se entre as ligas de nquel no setor aeroespacial devido s suas
propriedades peculiares tais como a elevada resistncia mecnica, boa resistncia fadiga e
fluncia, elevada resistncia corroso e capacidade de operar continuamente em elevadas
temperaturas (ASM Handbook Vol.2, 1990). Segundo Ezugwu; Bonney; Yamane (2002) a fase
de sua matriz (gama) possui estabilidade trmica at 900 C. Com isso, elas so apropriadas
para a fabricao de eixos de compressores de turbinas, palhetas, reversores dentre outros,
como tambm em aplicaes do setor nuclear, de criogenia e petrolfera (EZUGWU et al.,
1999, RESENDE et al., 2009 e SUGAHARA et al., 2009).
O Inconel 718 possui como principal elemento o nquel, com teores variando entre 45%
e 50%, alm de cromo (17% a 21%), nibio mais tntalo (4,75% a 5,5%) e pequenas
quantidades de titnio e de alumnio, alm do ferro que completa a sua composio (EZUGWU
et al., 1999 e API, 2004). Estes elementos resultam em uma matriz austentica endurecida por
precipitao fase com elevadas fraes volumtricas de precipitados coerentes do tipo Ni
(Ti, Nb, Ta) Al fase que por sua vez so responsveis pelas propriedades mecnicas e
qumicas j citadas anteriormente, com destaque para a elevada resistncia mecnica e
fluncia que se mantem tanto em elevadas temperaturas, superiores a 500 oC, quanto em
7
temperaturas criognicas. Estas propriedades so requisitos essenciais para componentes
que operam em ambientes com temperaturas elevadas (KITAGAWA et al., 1997).
Na Tabela 2.1 so apresentadas as principais propriedades fsicas do Inconel 718 em
comparao com aquelas de um ao inoxidvel AISI 304. Este ao possui algumas
propriedades que o caracterizam tambm como sendo de pobre usinabilidade em relao aos
aos comuns, principalmente pela sua grande tendncia de encruamento durante a usinagem,
o que tambm observado no Inconel 718.
Tabela 2.1 Propriedades mecnicas do Inconel 718 e do ao inoxidvel AISI 304 (Adaptado
de MAHER (2016), NORTH AMERICAN STAINLESS (2016) e G-STYLE S.A. (2016)).
Propriedade Material
Inconel 718 Ao inoxidvel AISI 304
Resistncia trao (MPa) 1275 585
Limite de escoamento (MPa) 1034 35
Mdulo de Elasticidade (GPa) 200 193
Dureza (HRc) 40 29
Densidade (g/cm) 8,22 7,90
Ponto de Fuso C 1260 a 1336 1400 a1450
Condutividade trmica (W/mK) 11,4 16,2
Se de um lado as propriedades peculiares do Inconel 718, tais como a capacidade de
manter sua resistncia mecnica a elevadas temperaturas e da grande inrcia qumica em
ambientes de corroso, fazem deste material ideal para as aplicaes em componentes da
indstria aeroespacial, de outro, elas representam desafios no momento da usinagem,
caracterizando-a como liga de pobre ou baixa usinabilidade em relao a outros materiais,
como o ao comum ao carbono e ferro fundidos grafticos (EZUGWU et al., 1999). Foi baseado
neste desafio de usinar esta liga que esta pesquisa encontrou sua motivao.
2.2 Processo de retificao
Os processos de usinagem com ferramentas abrasivas, com destaque para o processo
de retificao, tm importncia para indstria metal mecnica, pois conferem s peas
usinadas a combinao entre tolerncias dimensionais e geomtricas mais apertadas que
aquelas proporcionadas pelos processos convencionais com ferramenta de geometria
definida, como o fresamento, por exemplo.
8
De acordo com Malkin e Guo (2008), o processo de retificao pode ser definido como
processo mecnico de fabricao em que um rebolo gira em altas velocidades de corte
(normalmente igual ou superior a 30 m/s) e pequenas penetraes de trabalho so
empregadas, configurando, portanto, um processo de baixa taxa de remoo de material. Os
rebolos so ferramentas compostas de gros abrasivos, ligante e poros que podem ser da
classe de cermicos (convencionais como aqueles base de alumina e de carbeto de silcio,
por exemplo) ou da classe dos superabrasivos (Nitreto de Boro Cbico (CBN) e diamante).
Os rebolos convencionais so aqueles mais comumente empregados e seus gros abrasivos
so de elevada dureza, possuem arestas afiadas, mas com forma e orientao irregulares.
(Figura 2.2).
Figura 2.2 Elementos de um rebolo abrasivo convencional (MACHADO et al., 2011).
O processo de retificao visa conferir tolerncias geomtricas, principalmente em
termos de rugosidade (Ra) inferiores a 1,6 m e dimensionais mais apertadas (qualidade de
trabalho que varia na faixa IT6-IT3) sem causar prejuzos s integridades superficial e
subsuperficial do componente usinado (MACHADO et al., 2013). De acordo com Marinescu
et al. (2007) as principais empregabilidades do processo de retificao so: obteno de alta
preciso dimensional e tolerncias geomtricas mais estreitas, como tambm usinagem de
materiais de elevada dureza.
Existem peculiaridades do processo de retificao, tais como elevado nmero de gros
abrasivos com aresta de corte de geometrias diferentes, altura e orientao aleatria dos
abrasivos dentro do rebolo e altas velocidades de corte, h tambm um nmero maior de
9
parmetros a serem controlados, por exemplo, a condio de dressagem do rebolo um
processo que exige maior ateno na seleo correta dos parmetros de corte, conhecimento
das grandezas fsicas e das peculiaridades da interface rebolo-cavaco-pea. Por ser a
retificao geralmente uma das ltimas etapas na cadeia produtiva de um componente
usinado, qualquer negligncia nesta etapa pode levar perda da pea e, consequentemente,
a prejuzos econmicos. Para a melhor compreenso do processo de retificao, preciso
estudar o processo de formao de cavaco em peas retificadas.
Marinescu et al. (2007) dividiram a formao do cavaco no processo de retificao em
trs fases ou regies (Figura 2.3) que sero comentadas a seguir. Alm disso, alguns autores
ainda fazem uma distino entre o processo de formao de cavaco em materiais dcteis e
os materiais frgeis. No entanto, por no ser o foco deste estudo, ser abordado apenas o
mecanismo de formao de cavaco em materiais dcteis, classe na qual se enquadra o
Inconel 718.
Figura 2.3 Formao do cavaco na retificao de material dctil (MARINESCU et al., 2004).
As fases da formao de cavaco ilustradas na Fig 2.3 so descritas a seguir
(MARINESCU et al,2004):
Regio I: quando o rebolo toca a pea, no incio do contato entre os primeiros
abrasivos e a pea, o abrasivo promove um sulco, causando apenas deformao
elstica.
Regio II: conforme o gro abrasivo penetra na pea, a espessura de cavaco
no deformado (hcu) tambm aumenta e assim causando elevao das tenses
compressivas, e ento o material da pea empurrado frente e para as laterais
hcu
10
do gro abrasivo, causando deformao plstica em uma poro do material. A
deformao plstica caracterizada pelo riscamento da superfcie. Alm disso,
medida que os gros adentraram mais na pea, maior a rea de contato e com
isso maior atrito ser gerado e, portanto, grande parte da energia continua sendo
dissipada por deformaes, atrito e calor.
Regio III: nesta regio, a aresta de corte do gro atinge um valor de penetrao
crtico, que por consequncia gera uma presso tambm crtica, definida como
a presso mnima para que ocorra a ruptura do material. neste ponto que se
inicia a formao do cavaco e grande parte da energia passa a ser consumida
no cisalhamento do material.
Na Tabela 2.2 so apresentados alguns dos principais materiais abrasivos para
fabricao de rebolos com suas respectivas propriedades e aplicaes. Os abrasivos
convencionais so classificados em dois grupos, base de alumina (Al2O3) e de carbeto de
silcio (SiC). Alm destes abrasivos h ainda os chamados superabrasivos cujos principais
representantes so o Nitreto de Boro Cbico (CBN) e o diamante, que possuem dureza bem
superior que a dos abrasivos convencionais. Nesta tabela possvel ainda observar que
vrios tipos de rebolos podem ser utilizados para a usinagem de ligas aeronuticas, como
o caso do Inconel 718 (MACHADO, 2011 e MARINESCU et al., 2004). Observa-se ainda que,
entre os abrasivos convencionais, o SiC possui maior condutividade e estabilidade trmicas
que a alumina, fazendo dele a primeira escolha para a usinagem de materiais que so pobres
condutores de calor, como o caso do Inconel 718. A estabilidade trmica propriedade dos
materiais de resistir s temperaturas de corte e de manter sua integridade qumica (Marinescu
et. al., 2004).
11
Tabela 2.2 Propriedades e aplicaes de abrasivos para rebolos (adaptado de MACHADO
et al., 2011).
Ab
rasiv
o
Estr
utu
ra
crista
lina Dureza
Knoop
(
)
Conduti-vidade trmica relativa
Estabilidade Trmica
(C)
Possui afinidade
qumica com Aplicao
Al 2
O3
He
xag
on
al
2100 1 1750 Cermicas
Aos em geral (cementados ou no), afiao de ferramentas de ao rpido (HSS) ligas aeronuticas
SiC
He
xag
on
al
2400 10 1500 Materiais que
assimilam carbono
Materiais e ligas no metlicas como (ligas base de nquel e base de titnio), vidro, ferros fundidos, e afiao de ferramentas de metal duro.
CB
N
C
bic
a
4700 35-120 1400 Nenhuma Aos temperados, ligas aeronuticas e ferrosos de alta dureza
Dia
ma
nte
C
bic
a
8000 100-35 800 Materiais que
assimilam carbono
Cermicas, materiais no metlicos, no ferrosos, afiao de ferramentas metal duro, dressagem e perfilamento de rebolos de Al2O3 e SiC
De acordo com Malkin e Guo (2008) uma forma de se avaliar o desempenho de rebolos
atravs do parmetro ou razo G. Este parmetro relaciona o volume de material removido
da pea com o desgaste no rebolo, de forma que rebolos com alta razo G so usualmente
desejados por promoverem maior taxa de remoo de material da pea para um menor
desgaste do rebolo.
No entanto, sabe-se que em retificao, dependendo da operao e aplicao,
importante que os gros gastos ou sem cunhas se soltem do ligante e que haja renovao
das arestas de corte dos abrasivos. Esta propriedade de renovao tpica dos abrasivos, por
serem frgeis, conhecida como friabilidade. Em geral, rebolos com alta resistncia ao
desgaste ou perda do gro abrasivo tendem a gerar maiores foras e podem prejudicar o
acabamento, como tambm torna a pea mais susceptvel a danos trmicos. Assim, uma
forma melhor de avaliar a qualidade de um rebolo avaliar no somente seu desgaste, mas
tambm as foras de corte geradas durante o processo.
Segundo Klocke (2009), necessrio que os rebolos tenham simultaneamente
elevada dureza para que possa retirar material da pea com um menor desgaste, friabilidade,
12
elevada tenacidade para que os gros suportem as tenses do contato com a pea,
estabilidade trmica j que a retificao est sujeita a elevadas temperaturas na interface e
estabilidade qumica o que evita o desgaste dos gros por difuso com a pea.
2.3 Fluidos de corte
Um dos principais fatores limitantes do processo de retificao com rebolos abrasivos
convencionais so os danos trmicos que podem ser causados pea. Os fluidos de corte
possuem um papel importante para reduzir a possibilidade de queima e outras alteraes na
pea, pois permitem remover parte do calor que dirigido para a pea como tambm,
dependendo do tipo de fluido de corte, atuam na reduo do atrito na interface entre rebolo e
pea. Com isso, haver reduo das foras de corte o que causa menores vibraes e
consequentemente, uma operao com condies tribolgicas mais favorveis (IRANI,
BAUER, WARKENTIN, 2005). Tudo isso favorece um melhor acabamento e menores desvios
dimensionais na pea. Marinescu et al. (2007) apresentaram as seguintes funes do fluido
de corte no processo de retificao:
i. O efeito lubrificante do fluido de retificao tende a reduzir o atrito entre o gro abrasivo
e a pea;
ii. O efeito refrigerante resfria a zona de contato entre gro e pea atravs de absoro
e transporte do calor gerado;
iii. Limpeza da rea de retificao e transporte dos cavacos;
iv. Resfria todo o sistema evitando dilataes;
v. Oferece proteo do equipamento contra oxidao.
De maneira geral pode-se dividir os fluidos de corte em trs categorias: leos,
emulses e solues aquosas, suas principais caractersticas, segundo KLOCKE, 2009;
MACHADO et al., 2011, so listadas a seguir:
i. leos: so os melhores fluidos de corte em termos de lubrificao (alta viscosidade) e
podem ser de base mineral ou vegetal. No entanto, este tipo de fluido encontra maior
dificuldade de penetrar na interface rebolo-pea devido sua alta viscosidade. Esta
classe recomendada para operaes em que h maior rea de contato entre o rebolo
e a pea e ainda quando so produzidos cavacos longos;
ii. Emulses: possuem um bom poder de refrigerao devido sua elevada
condutividade trmica e so compostas basicamente de gua (cerca de 90%) e leo
mineral ou vegetal (10% restantes), com isto elas conferem menor capacidade de
13
lubrificao que os leos. A composio homognea de pequenas gotculas de leo
na agua conseguida atravs de agentes emulsificadores adicionados no fluido;
iii. Solues aquosas: assim, como as emulses, estes fluidos tambm conferem uma
boa refrigerao e so compostos 90% por gua. Elas se diferenciam das emulses
pelo fato de conter leo do tipo sinttico o qual se dissolve completamente na gua,
portanto, no sendo necessria a adio de agentes emulsificantes. Contudo, este tipo
de fluido possui menores propriedades lubrificantes que as emulses.
Outros fatores exercem influncia na eficincia dos fluidos de corte: a presena de
aditivos e a forma de aplicao do fluido at a zona de corte.
Segundo Klocke (2009), os aditivos podem modificar tanto as propriedades fsicas, por
exemplo, aumentar a viscosidade, como as propriedades qumicas (como inibidores de
oxidao) dos fluidos de corte. H ainda aditivos considerados tribologicamente ativos, ou
seja, que alteram as condies de atrito (podem ser polares, anti-desgaste, modificadores de
frico ou de extrema presso). Atualmente podem ser encontrados diversos tipos de fluidos
de corte, com os mais variados aditivos. Kalpakjian e Schmid (2009) listam alguns tipos de
fluidos de corte recomendados para o processo de retificao e suas aplicaes, Tab. 2.3.
Tabela 2.3 Fluidos de corte recomendados para o processo de retificao (adaptado de
KALPAKJIAN e SCHMID, 2009).
Material da pea Fluido de corte
Aos E
Alumnio E
Cobre E, FS, OM
Magnsio S, OM
Nquel EP, FS
Titnio E, FS
Metais Refratrios EP
Onde: E= Emulso, EP = Extrema Presso, FS=
Sinttico e OM= leo Mineral
Quanto forma de aplicao de fluido de corte, em retificao so empregadas apenas
duas variaes: a tcnica convencional e a MQL.
No primeiro caso, o fluido aplicado em abundncia baixa presso e vazo elevada.
Normalmente, esta tcnica, quando o bocal eficiente e a vazo ajustada, a que menos
oferece risco da ocorrncia de danos trmicos e problemas como distoro na pea durante
14
a retificao. Contudo o emprego da tcnica convencional tem sido questionado por diversos
fatores que so listados a seguir (Sanchez et al., 2010):
i. As elevadas vazes de fluido, que variam entre 4 e 300 L/min (240 a 18.000 L/h exigem
bombas mais potentes para garantir que o fluido chegue zona de corte, exigem
reposio peridica devido a perdas com arrasto, vazamentos e evaporao, os quais
aumentam o custo do processo;
ii. Os fluidos de corte podem causar problemas de sade nos operadores (dermatites,
alergias e cncer), quando manuseados inadequadamente;
iii. Os fluidos exigem tratamento adequado e, se no descartados corretamente, agridem
o meio ambiente.
Como j comentado, o fator custo chama bastante ateno ao selecionar o fluido e
sua tcnica de aplicao, pois conforme mostrado na Fig. 2.4, a parcela dos fluidos de corte
representa em mdia 18% do custo geral do processo de fabricao de um componente.
Portanto, qualquer esforo no sentido de reduzir este percentual representa um ganho
econmico. Devido a estes problemas, h esforos acadmicos e industriais para que sejam
aprimoradas as tcnicas existentes ou desenvolvidas tcnicas de retificao que permitam
eliminar e/ou minimizar o uso de fluidos de corte, sem causar prejuzos para o processo como
um todo (Sanchez et al., 2010).
Figura 2.4 Diviso de custos durante o processo de produo de uma pea retificada com
detalhe para os gastos com fluido de corte (adaptado de Sanchez et al., 2010).
No entanto, ainda um desafio encontrar uma forma de aplicao de fluido que permita
uma elevada produo, mas com um baixo impacto ambiental (IRANI, BAUER, WARKENTIN,
2005). Nesse sentido, a tcnica MQL considerada ambientalmente adequada e, de forma
que merece ateno e deve ser explorada. Os seus benefcios dependero das peculiaridades
15
de cada par ferramenta-pea e do grau de exigncia de projeto. O prximo tpico aborda as
peculiaridades desta metodologia de aplicao de fluido de corte.
2.4 Tcnica MQL em processo de retificao
A aplicao da tcnica da Mnima Quantidade de Lubrificante (MQL) em processos de
usinagem surgiu na dcada de 1990 com a necessidade de desenvolvimento de processos
de fabricao mais sustentveis em termos ambientais, aliado reduo no volume de fluido
de corte em relao tcnica convencional de aplicao de fluido, popularmente conhecida
como fluido em abundncia ou ainda jorro. Na tcnica da Mnima Quantidade de Lubrificao
(MQL) em geral o volume de leo utilizado muito baixo ( 250 mL/h) em relao aos grandes
volumes utilizados pela tcnica convencional de aplicao de fluido de corte (30 000 a 60 000
mL/h) (WALKER, 2013).
Na tcnica MQL o leo transportado at a zona de corte por meio do ar comprimido
a presso em torno de 0,6 MPa, o que assegura lubrificao da zona de corte e ao mesmo
tempo arrefecimento da pea, promovidos pelo leo e ar comprimido, respectivamente.
Durante a usinagem em geral formada uma fina camada de lubrificante que ir cobrir toda
a superfcie perifrica do rebolo antes do contato com a pea (MARINESCU et al., 2007).
Os leos empregados nesta tcnica so em geral do tipo integral de base vegetal ou
de origem mineral. Contudo, mais recentemente tem sido relatado na literatura especfica
estudos em retificao com a tcnica MQL que empregaram fluido de corte miscveis em gua
(WALKER, 2013).
A fim de contribuir para a reviso bibliogrfica desta pesquisa e reunir dados para
auxiliar na discusso dos resultados obtidos que ser apresentada no captulo IV, so
apresentados a seguir os principais trabalhos que tm relatado o bom desempenho da tcnica
MQL em processo de retificao.
Barczak et al. (2010) testaram vrias atmosferas de usinagem durante o processo de
retificao de trs diferentes aos (BS970080M40 (32 HRC), M2 (52 HRC), 534A99 (62 HRC)
com rebolo de alumina e verificaram o comportamento das foras de retificao e acabamento
das peas usinadas. Eles utilizaram o mesmo leo, Castrol ES1, que foi aplicado via a tcnica
MQL e em outra condio foi diludo em gua (5%) e aplicado via tcnica convencional. Eles
tambm realizaram ensaios na condio a seco. Eles observaram que o fluido aplicado via
tcnica MQL conseguiu competir e em algumas condies at superou a tcnica
convencional. Segundo eles, a tcnica MQL proporcionou foras de retificao mais estveis
e o melhor acabamento.
16
Em outro estudo, Hadad (2012) determinou a temperatura no processo de retificao
do ao endurecido 100Cr6 (50 HRC) com rebolo de alumina e diferentes tcnicas de aplicao
de fluido de corte, dentre elas o MQL, e concluiu que, apesar da boa lubrificao
proporcionada pela tcnica MQL, a funo de refrigerao no foi satisfatria. A capacidade
de remoo de calor da mistura de leo + ar desta tcnica foi inferior quela observada com
fluido de corte aplicado pela tcnica convencional (abundante), conforme pode ser
comprovado pelos resultados do estudo deste autor apresentados na Fig. 2.5. No entanto, o
autor sugere o uso de aditivos no fluido de corte para aumentar a lubrificao na interface
rebolo-pea e, consequentemente, reduzir as foras de retificao e a gerao de calor na
rea de contato.
Figura 2.5 Temperatura na superfcie em funo do tempo de usinagem para diferentes
atmosferas durante retificao de ao endurecido 100Cr6 (50 HRC) com rebolo de alumina
(HADAD, 2012).
Castro (2015) realizou recentemente um estudo em retificao de Inconel 718 com
rebolo de alumina para avaliar a eficincia da tcnica MQL em relao tcnica convencional
(abundncia) e avaliou o acabamento e microdureza das superfcies aps a retificao. O
autor observou que o acabamento piorou com o aumento da penetrao de trabalho e que a
microdureza no sofreu grande variao quando a tcnica MQL foi empregada.
Em outro trabalho, Rabiei et al. (2015) investigaram a influncia da atmosfera lubri-
refrigerante nas foras do processo de retificao de quatro aos, CK45 (90 HRB), S305 (25
HRC), 100Cr6 (58 HRC) e HSS (62 HRC) com rebolo de alumina. As atmosferas testadas foram:
convencional, a seco e MQL. Eles variaram ainda a penetrao de trabalho em 5, 20, 35 e 50
17
m. Eles concluram que a tcnica MQL no apenas vantajosa para a reduo na quantidade
de fluido, como tambm pode proporcionar melhor capacidade de lubrificao quando
comparada com a tcnica convencional para todos os aos. Isto ocorre, pois esta tcnica
favorece a penetrao do fluido na zona de contato. Alm disso, eles observaram uma
reduo na fora tangencial aps a usinagem com a tcnica convencional.
Mais recentemente, Wang et al. (2016) tambm retificaram a liga de nquel GH4169
com rebolo de alumina (grana mesh 80) com diferentes tipos de fluidos de corte que foram
aplicados pela tcnica MQL. Eles testaram um nico leo mineral (parafina) e outros 7 leos
de origem vegetal (soja, amendoim, milho, colza, palma, mamona e girassol), bem como um
fluido sinttico solvel (CCF-04T), na concentrao de 4% em gua. Este ltimo foi aplicado
pela tcnica convencional para fins de comparao. Estes autores relataram que usinagem
com a tcnica MQL proporcionou os menores esforos de corte devido s suas propriedades
lubrificantes e maior eficincia em garantir que o fluido alcance a zona de corte em relao
tcnica convencional, independente do fluido de corte testado. Alm disso, segundo os
autores, os valores de rugosidade foram menores para as peas usinadas com leos vegetais
e que o menor valor (Ra=0,36 m) foi registrado ao empregar o leo de mamona Por fim, os
autores avaliaram as superfcies das amostras retificadas atravs de Microscpio Eletrnico
de Varredura (MEV) e observaram sulcos mais proeminentes na amostra que foi usinada com
o fluido sinttico aplicado pela tcnica convencional, enquanto que evidncia de material
aderido foi observada na amostra que foi usinada com leo de soja aplicado via a tcnica
MQL.
Em todos estes trabalhos pode-se concluir que a tcnica MQL uma vertente
promissora para a aplicao de fluido de corte no processo de retificao, sendo assim
diferentes abordagens podem ser adotadas para sua anlise, compreenso e aprimoramento.
Desta forma, estas abordagens podem envolver estudos desde aspectos relacionados sua
tcnica de aplicao (na presso de aplicao, vazo, posicionamento dos bocais de sada)
at na modificao das propriedades do fluido, que pode ser feita variando o fluido, sua
diluio ou mesmo adicionando partculas a este fluido para conferir propriedades distintas. E
este ltimo aspecto, motivao desta pesquisa, ser abordado no item a seguir.
2.5 Partculas slidas aplicveis em fluidos de corte
Diversos tipos de partculas podem ser adicionados ao fluido de corte, seu tamanho
reduzido e elas so micromtricas ou, mais recentemente elas so disponveis tambm em
escala nanomtrica. Para diferenciar a terminologia dos fluidos com partculas nanomtricas
18
dos outros convencionais, o termo nanofluido vem sendo utilizado com frequncia pelos
pesquisadores. Wang et al. (2016) definem nanofluido como misturas coloidais de partculas
com tamanho nano em um fluido base. As partculas podem ser metlicas (ex. Fe, Cu, Ag),
no metlicas (ex. diamante), xidos (ex. Al2O3, SiO2, ZrO2), carboneto (ex. nanotubos de
carbono), sulfetos (ex. MoS2), cermicas e hbridos (composto por mais de um tipo de
material).
Hadad (2012) afirma que uma forma de aprimorar as propriedades do fluido de corte
adicionando partculas slidas que alterem suas propriedades tribolgicas conforme a
necessidade de cada projeto. Wang et al. 2016 complementam que, devido grande
quantidade de materiais que podem ser utilizados como partculas slidas em fluido de corte,
bem como seu formato e estrutura molecular, os fluidos e partculas slidas podem ser
combinados, gerando assim diversas propriedades, sejam elas lubrificantes ou trmicas. Na
Tab. 2.4 apresentado um resumo de alguns dos estudos cientficos que empregaram
partculas slidas em fluidos de corte nos ltimos anos.
19
Tabela 2.4 Compilao de partculas slidas para uso em fluidos de corte de retificao.
Partculas
Slida Tamanho Fluido base
Concentrao
(% em peso) Rebolo Pea Autores
Grafite
(nanoplate
lets)
1 e 15 m
Semi-
sinttico
Trim SC200
0,5, 1,0 e 2,0 Al2O3
Ao
ferramenta
D-2
Alberts et
al (2009)
MoS2 3 a 5 m Parafina e
leo de soja 2 e 8 Al2O3 Ao EN 24
Kalita et al.
(2012)
MG - ME3 0,03 SiC Ti6Al4V De Melo
(2015)
CNT
50 nm
(dimetro)
10-30 m
(comprime
nto)
leo 2, 4, 6, 8, 10 e
12 Al2O3
Inconel
718
Zhang et
al. (2016)
MoS2 30 nm
MoS2
( 100
nm)
leo de
palma 6 Al2O3 GH4169
Wang et
al. (2016)
SiO2
ND
CNT
Al2O3
ZrO2
Onde: CNT a sigla derivada das palavras em Ingls carbon nanotubes, que significa
nanotubos de carbono, ND representa Nano Diamantes e MG Multicamadas de grafeno.
Alberts et al. (2009) realizaram uma pesquisa em retificao com grafite adicionado em
diferentes concentraes ao fluido de corte que foi aplicado via tcnica MQL. O material
usinado foi o ao ferramenta D-2 e rebolo de alumina. Eles analisaram os sinais de fora de
corte e rugosidade da pea. Os autores constaram que a concentrao de grafite igual a 1%
em peso atuou de forma mais eficiente na reduo do atrito entre rebolo e pea e assim
permitiu reduzir as foras de corte
Kalita et al. (2010) realizaram ensaios pino sobre disco para tentar reproduzir os
fenmenos tribolgicos do processo de retificao de ferro fundido com rebolo de alumina e
tambm utilizaram os mesmos fluidos e as formas de aplicao em usinagem. Eles adaptaram
o sistema pino-disco para aplicar os fluidos em diferentes tcnicas: convencional, MQL com
leo somente e MQL com leo contendo nanopartculas de MoS2. O pino e o disco foram
20
respectivamente de ferro fundido e alumina respectivamente. Como resultados, os autores
observaram que menores valores de coeficiente de atrito foram registrados ao empregarem a
tcnica MQL com adio de partculas, esta condio tambm resultou em reduo na fora
tangencial. Por meio das anlises microestruturais e qumicas, os autores concluram que a
combinao entre as nanopartculas de MoS2 dispersas no fluido aplicadas pela tcnica MQL
possibilita a criao de um tribofilme sobre a superfcie sendo retificada formado pela sntese
Mo-S-P, que melhora as condies tribolgicas, reduz o atrito e, consequentemente, favorece
o cisalhamento e remoo de cavaco. Com isso, obtm-se um melhor acabamento da pea
assim como tambm menor demanda de energia do processo.
Em outro estudo recente desenvolvido por De Mello (2015) em processo de retificao
de Ti6Al4V com partculas de multicamadas de grafeno dispersas em fluido sinttico aplicadas
via tcnica MQL, o autor investigou, dentre vrios parmetros, a rugosidade e integridade sub-
superficial das peas. O autor realizou ensaios com o fluido de corte sem grafeno (apenas
emulso) aplicado pela tcnica MQL e pela tcnica convencional (fluido em abundncia). Para
todos os ensaios foi utilizado o mesmo fluido de corte, sinttico ME3 (Tapmatic) emulsionvel
na diluio de 1:19. Em relao s multicamadas de grafeno (MG), a razo foi de 60 mg de
MG para 200 mL de fluido de corte. Como resultados mais expressivos, o autor observou que
a presena do grafeno garantiu um melhor acabamento e menor variao na microdureza
abaixo da superfcie retificada em relao ao fluido sem grafeno e tambm em relao ao
fluido aplicado em abundncia, mesmo em condies mais severas de usinagem.
Recentemente, avaliando retificao de Inconel 718 com partculas slidas dispersas
em fluido de corte, Zhang et al. (2016) utilizaram o bissulfeto de molibdnio (MoS2) e
nanotubos de carbono (CNT) que foram aplicados via tcnica MQL e analisaram o
comportamento da rugosidade e os desvios dimensionais. Eles relataram que ao tocar a pea,
o fluido com partculas slidas se expande e, consequentemente, deixa pequenas reas da
pea secas durante a usinagem. Com isso, a rugosidade Ra tende a aumentar com a
concentrao de nanopartculas no fluido base. Este autor afirma ainda que a utilizao dos
nanofluidos aplicados via tcnica MQL garante maior exatido dimensional da pea e melhor
acabamento que podem ser atribudos s timas propriedades lubrificantes das
nanopartculas.
Outro trabalho em retificao da liga de nquel, GH4169, foi conduzido por Wang et al.
(2016). Eles empregaram um rebolo de alumina e utilizaram diferentes nanopartculas: nano
diamante (ND), bissulfeto de molibdnio (MoS2), nanotubos de carbono (CNT), alumina
(Al2O3) dixido de silcio (SiO2) e dixido de zircnia ZrO2) dispersas em fluido de corte
(composto por leo de palma e gua). Eles relataram ainda que o fluido contendo
nanopartculas de Al2O3 proporcionou os menores valores de coeficiente de atrito (0,348),
21
energia especifica de retificao (82,13 J/mm3) e rugosidade da superfcie Ra (0,3 m). Alm
disso, os autores ranquearam as partculas slidas em ordem de desempenho: Al2O3, SiO2,
MoS2, ND, CNT e ZrO2.
2.6 Multicamadas de Grafeno
Por grafeno entende-se um plano atmico de carbono com ligao sp. De acordo
com Shahil e Balandin (2012), difcil diferenciar multicamadas de grafeno, de filmes de
grafite e ainda de nano partculas de grafite. Porm, pode-se considerar que flocos isolados
com 1 a 20 nm de espessura (ou at aproximadamente 40 camadas de grafeno) so a
multicamada de grafeno (ROUXINOL et al., 2010). Wong e Akinwande (2011), a fim de facilitar
a diferenciao entre estes materiais altropos do carbono, elaboraram uma tabela com as
propriedades que so apresentadas na Tab. 2.5. Segundo estes autores, o grafeno pode
servir de base para formao de outras estruturas de carbono, como mostra a Fig. 2.6.
Tabela 2.5 Propriedades que diferenciam os materiais formados por carbono (adaptado de
WONG e AKINWANDE, 2011).
Altropo
Caracterstica
C60 buckyball Nanotubos de
carbono Grafeno Grafite
Dimenso 0D 1D 2D 3D
Estrutura Esfrica Cilndrica Plana Planar
empilhada
Hibridao sp sp sp sp
Propriedades eletrnicas
Semi-condutor Metal ou semi-
condutor Semi-metal Metal
Onde D entende-se por dimenso e sp o orbital atmico.
22
Figura 2.6 Estruturas alotrpicas do carbono a partir do grafeno e suas formas: a) bulckyball
(forma de esfera oca formada por vrias faces hexagonais ligadas entre si), b) nanotubos e c)
grafite (adaptado de WONG e AKINWANDE, 2011).
A fim de facilitar a visualizao da estrutura de multicamadas de grafeno, Li et al.
(2017) elaboraram o esquema que mostrado na Fig. 2.7.
Figura 2.7 Esquema de uma estrutura de multicamadas de grafeno (LI et al., 2017).
a) b) c)
23
Em meio aos vrios trabalhos que vem empregando grafite, grafeno e nanotubos de
carbono, um dos grandes desafios tem sido determinar as propriedades trmicas e
tribolgicas destes materiais dispersos em fluido de corte em condies que sejam prximas
daquelas do processo de usinagem, por exemplo, nas temperaturas atingidas entre a interface
ferramenta-pea durante a usinagem. A literatura especfica ainda escassa quanto a estas
informaes. A seguir sero apresentados alguns dos principais trabalhos em caracterizao
e determinao de propriedades destes materiais disponveis na literatura at o momento.
Shahil e Balandin (2012) investigaram as propriedades trmicas de mistura de
monocamada com multicamadas de grafeno e relataram que a condutividade trmica da
mistura determinada no estudo foi 1400 W/mK, valor prximo ao do diamante que
considerado um excelente condutor trmico, que varia de 600 a 2000 W/mK (Marinescu et al.
2004). Alm disso, os autores constaram que a mistura apresentava baixa expanso trmica
e alta resistncia mecnica.
Em relao ao nmero de camadas de grafeno, Wei et al. (2011) realizaram ensaios
para determinar a condutividade trmica de grafeno com diferentes multicamadas em
diferentes temperaturas. Eles informam que a resistncia trmica interfacial (entre as
camadas) das multicamadas de grafeno fortemente dependente do nmero de camadas,
este valor est relacionado dificuldade de ele transferir calor. Ela ir diminuir com o
aumento do nmero de camadas podendo chegar a um limite se este nmero for elevado o
bastante. Os autores constataram ainda que a condutividade trmica tambm foi afetada pela
quantidade de camadas do grafeno e que at 18 camadas h uma tendncia de aumento na
condutividade trmica com a temperatura. J para valores de camadas superiores a este, a
condutividade trmica tambm aumenta at a temperatura em torno de 227 C, em seguida a
condutividade trmica tende a cair com tendncia a se estabilizar quando a temperatura
ultrapassa 727 C.
Ramon-Raygoza et al. (2016) realizaram ensaios tribolgicos para verificar a influncia
de partculas slidas (multicamadas de grafeno, multicamadas de grafeno com nano cobre
esfrico (denominado Cu) e multicamadas de grafeno com nano polmeros em formato de
tubos (denominado PANI)), adicionadas em leo lubrificante para motor de combusto interna
(SAE 25 W-50) no coeficiente de atrito em aplicaes automotivas. Os autores testaram 6
condies diferentes utilizando os trs lubrificantes slidos em duas concentraes diferentes,
0,5 % e 2%, em peso. Eles verificaram que, para o caso do leo com multicamadas de grafeno
(Figura 2.8), houve reduo no coeficiente de atrito para a concentrao 2,0% em peso, em
torno de 5%, enquanto que um aumento de 2,8% no coeficiente de atrito foi obtido para a
concentrao de 0,5%. Os autores afirmam que o aumento no coeficiente de atrito com a
baixa concentrao de multicamadas de grafeno foi devido pequena dimenso (10
24
nanometros) destas camadas. Eles apontam que no foi possvel formar uma tribo-camada
na interface para que o atrito fosse reduzido. J para a concentrao de 2,0% em peso, esta
camada teria sido formada e o deslizamento das camadas de grafeno (uma sobre a outra)
seria o motivo da reduo do coeficiente de atrito. Os autores descreveram alguns nmeros:
a reduo no atrito foi de 33% e 43% para a mistura multicamadas de grafeno e Cu com
concentraes de 0,5% e 2,0% em peso, respectivamente. Eles informaram que esta reduo
ocorreu porque as nanopartculas de cobre permitem a formao de tribo-camadas mais
espessas do que as formadas apenas por grafeno. J o grafeno PANI teve o mesmo efeito de
aumento da camada, ela foi menos espessa devido sua menor dureza e resistncia quando
comparado ao cobre, fazendo ligaes mais fracas.
Figura 2.8 Reduo percentual do atrito em aplicao automotiva do uso de multicamadas
de grafeno adicionado em funo da concentrao e tipo de aditivo (adaptado de RAMON-
RAYGOZA et al., 2016).
2.7 Usinabilidade do Inconel 718
Conforme j mencionado previamente na sesso 2.1 so vrias as propriedades
peculiares do Inconel 718 que representam desafios no momento da usinagem, tornando-o
conhecido como uma liga de baixa usinabilidade. Bonney (2004), Ezugwu (2005) e
DUDZINSKI et al. (2004) relataram as principais razes da baixa usinabilidade do Inconel 718
com a maioria das ferramentas de corte:
i. muito suscetvel ao encruamento, diminuindo a vida til da ferramenta;
ii. As partculas de carbonetos abrasivos contidos em sua microestrutura causam
desgaste abrasivo;
Multicamadas de Grafeno (0,5% em peso)
Multicamadas de Grafeno (2% em peso)
Multicamadas de Grafeno - Pani (0,5% em peso)
Grafeno - Pani (2% em peso)
Grafeno - Cu (0,5% em peso)
Grafeno - Cu (2% em peso)
25
iii. A sua baixa condutividade trmica (11 Wm-1K-1 contra 50 Wm-1K-1 do ao ABNT
1045, segundo Ezugwu (2015) eleva a temperatura na interface cavaco-ferramenta
chegando a 1200C;
iv. Ele possui grande afinidade qumica com o material da maioria das ferramentas de
corte, o que aumenta a probabilidade de desgaste por difuso na ferramenta de
corte;
v. Devido sua elevada resistncia mecnica, as foras de corte que se mantm
elevadas, o que excita a mquina gerando vibraes que, por sua vez podem
comprometer a qualidade superficial.
Na Figura 2.10 apresentada a usinabilidade relativa para vrios materiais de
engenharia (Ezugwu, 2005). Quanto mais prximo do valor 5, melhor usinabilidade do
material. Observa-se que o Inconel 718 possui a mais baixa usinabilidade em relao aos
outros materiais, representando em torno de 75% e 94% pior de ser usinado que o ao
inoxidvel e alumnio, respectivamente.
Figura 2.9 - Usinabilidade relativa de metais (adaptado de EZUGWU, 2005).
Alm dos desafios j citados, a baixa condutividade trmica que dificulta a dissipao
do calor gerado no processo, a tendncia de encruamento durante a usinagem do Inconel 718
e os cavacos segmentados fazem com que altas temperaturas sejam desenvolvidas na
interface cavaco-ferramenta (EZUGWU, 2002), de forma que necessrio reduzir as
velocidades de corte a fim de evitar o desgaste acelerado das ferramentas de corte. Com isso,
a usinabilidade do Inconel 718 torna-se reduzida. No caso da retificao, o que piora a
usinabilidade do Inconel 718 so os baixos valores de condutividade trmica tanto dele
(11 W/mK) quanto dos rebolos abrasivos convencionais, como o caso do rebolo de xido de
26
alumnio branco (17W/mK) para temperaturas superiores a 527 oC (Ohbuchi e Obikawa,
2005,).
Aliado a isso, a natureza do processo de retificao (baixos valores de penetrao de
trabalho que resultam em cavacos com sesses menores que aqueles gerados pelos
processos convencionais com ferramentas de geometria definida, como o caso do processo
de fresamento, por exemplo) faz com que pouco calor seja absorvido pelo cavaco. Com isso,
a maior parte do calor gerado ser direcionada para a pea, o que pode afetar as suas
propriedades como dureza e resistncia mecnica e assim comprometer a funcionalidade do
componente.
Segundo EZUGWU; TANG (1995), a elevada gerao de calor e a deformao plstica
induzida durante o processo de usinagem afetam negativamente a superfcie e sub-superfcie
da pea usinada. As alteraes mais comuns em peas retificadas provenientes da elevao
do calor e temperatura de usinagem so a perda da microdureza, deformao plstica prxima
superfcie usinada, tenses residuais de trao, distores e trincas. Dependendo da
severidade e da aplicao do componente, ele poder ter sua utilizao comprometida se
uma ou mais combinaes destas alteraes forem observadas.
Outro desafio na usinagem do Inconel 718 est relacionado com a garantia de pontas
afiadas dos gros abrasivos durante a retificao, pois esta liga apresenta partculas duras
que podem arredondar as arestas cortantes dos gros. A manuteno da aresta de corte
depende do abrasivo, ligante e estrutura de rebolo e das condies de corte empregadas.
Com a progresso da usinagem, os gros abrasivos perdem a sua capacidade de corte e,
com isso, tem-se a elevao das foras de retificao que por sua vez reflete no acabamento
da pea. Neste caso preciso realizar a dressagem do rebolo. Em outros casos, o aumento
da carga sobre o rebolo pode provocar a auto-fratura e afiao do abrasivo ou at mesmo sua
extrao completa (MACHADO et al., 2011, e JACKSON e DAVIM, 2011).
No caso da retificao das ligas de nquel, a grande afinidade qumica entre os
materiais da pea e do rebolo dificulta ainda mais a permanncia de arestas de corte afiadas
dos gros abrasivos. Portanto, preciso atentar-se para a correta seleo de parmetros de
corte.
Ao realizar o estudo de qualquer processo de usinagem, preciso conhecer a
influncia das principais grandezas fsicas que regem o processo sobre as principais variveis
de sada que so analisadas e assim selecionar as condies adequadas que priorizem um
balano entre as tolerncias de projeto e os fatores econmicos. Os principais parmetros de
corte em retificao so: velocidade de corte (vs), velocidade da pea (vw), penetrao de
trabalho (ae), profundidade de corte (ap) e penetrao de trabalho.
27
Velocidade de corte, que a velocidade tangencial instantnea resultante da
rotao da ferramenta em torno da pea (MACHADO, 2013), varia entre 10m/s e 45 m/s para
rebolos com abrasivos convencionais, mas pode chegar a 90 m/s ou 120 m/s no caso de
rebolos superabrasivos, o que pode implicar valores de rotao do eixo-rvore superiores a
10.000 rpm. O emprego de velocidades de corte baixas reduz o aquecimento e a probabilidade
de trincas na pea. Mesas alternativas so preferveis s rotativas por diminurem o contato
da pea com o rebolo causando tambm um menor aquecimento da pea (CAMPBELL, 2006).
Velocidade da pea, que para retificao plana tangencial o deslocamento da
pea em relao ao rebolo no sentido longitudinal. Os valores de velocidade da pea em geral
variam entre 0,1 em 12 m/min e ir depender do material do rebolo, da pea e das condies
de lubri-refrigerao empregadas.
Penetrao de trabalho, penetrao da ferramenta na pea no sentido
perpendicular direo do avano (MACHADO, 2013): baixos valores de penetrao de
trabalho do rebolo, por exemplo, inferiores a 30 m reduzem os riscos de distores na pea
durante a retificao, principalmente para materiais recozidos. Em um estudo recente sobre
retificao de Inconel 718 com rebolo de alumina, De Oliveira (2015) empregou diferentes
penetraes de trabalho que variaram entre 10 m e 30 m e observou que menores valores
de penetrao de trabalho proporcionam menores valores de rugosidade e no provocaram
alterao microestrutural na pea.
Em outro trabalho, MARINESCU; ROWE; DIMITROV (2004) conduziram ensaios de
retificao do Inconel 718 com rebolo de CBN e relataram que a rugosidade em geral cai
medida que se empregam maiores velocidades de corte. Ao aumentar a velocidade de corte,
o rebolo se torna mais duro, de forma que h maior dificuldade de desprendimento dos gros.
Em vrios casos esta uma condio que aumenta e vida do rebolo e reduz as foras de
corte.
Osterle e Li (1997), por meio da retificao CREEP-FEED do Inconel 738LC com
rebolo de alumina com tamanho do gro igual a 245 m, relataram que o Inconel 738 ir
manter sua resistncia at prximo de 950 C e que os danos mais severos na pea s seriam
observados em caso de incapacidade do fluido de corte de alcanar a zona de retificao.
2.8 Qualidade de superfcies usinadas
De acordo com Malkin e Guo (2008), a qualidade superficial de peas usinadas
consiste de dois aspectos: integridade superficial (relacionada a alteraes mecnica) e
textura superficial (relacionada topografia, e consequentemente rugosidade).
28
A importncia do estudo do acabamento superficial de peas usinadas aumenta
medida que cresce a preciso de ajuste entre as peas, essencial para peas submetidas
a atrito, desgaste, corroso, resistncia a fadiga, transmisso de calor, propriedades pticas,
escoamento de fluidos (AGOSTINHO, RODRIGUES E LIRANI, 2004).
Segundo a norma NBR ISO 4287/2002, por rugosidade entende-se o conjunto de
desvios microgeomtricos caracterizado pelas pequenas salincias e reentrncias presentes
em uma superfcie (Figura 2.10 a)). So vrios os parmetros de rugosidade que podem ser
avaliados em uma superfcie e a utilizao de um ou de outro depender da aplicao da
pea. O sistema bsico de medida mais utilizado no Brasil, segundo as Normas ABNT
NBR6405/1988 e NBR 8404/1984, baseado na linha mdia ou sistema M. Neste sistema,
ilustrado na Fig. 2.10 (b), todas as grandezas da medio da rugosidade so definidas a partir
do seguinte conceito de linha mdia. Por linha mdia entende-se como sendo a linha paralela
direo geral do perfil, no comprimento da amostragem, de tal modo que a soma das reas
superiores, compreendidas entre ela e o perfil efetivo, seja igual soma das reas inferiores,
no comprimento da amostragem (le) (A1+A2=A3) (AGOSTINHO; RODRIGUES; LIRANI,
2004).
a) Diferenciao dos desvios
geomtricos.
b) Metodologia da linha mdia para a
medio da rugosidade.
Figura 2.10 Esquema de superfcie com rugosidade e metodologia de medio a)
Diferenciao dos desvios geomtricos, b) Metodologia da linha mdia para a medio da
rugosidade. (AGOSTINHO; RODRIGUES; LIRANI, 2004).
Machado et al. (2011) resumiram os principais parmetros de rugosidade na forma de
tabela que apresentada na Tab. 2.6.
29
Tabela 2.6 Principais parmetros de rugosidade (MACHADO et al.,2011).
Smbolo Nome Definio
Ra Desvio aritmtico
mdio
Mdia