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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO VÍVIAN DE ALBUQUERQUE MEIRELES RETRATO DA INVISIBILIDADE PROFISSIONAL DE TERCEIRIZADOS: estudo de casos com trabalhadores de Belo Horizonte Belo Horizonte 2015

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO

MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

VÍVIAN DE ALBUQUERQUE MEIRELES

RETRATO DA INVISIBILIDADE PROFISSIONAL

DE TERCEIRIZADOS: estudo de casos

com trabalhadores de Belo Horizonte

Belo Horizonte

2015

VÍVIAN DE ALBUQUERQUE MEIRELES

RETRATO DA INVISIBILIDADE PROFISSIONAL

DE TERCEIRIZADOS: estudo de casos

com trabalhadores de Belo Horizonte

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado

Profissional em Administração do Centro

Universitário UNA, como requisito parcial para

obtenção do grau de Mestre em Administração.

Área de Concentração: Inovação e Dinâmica

Organizacional

Linha de Pesquisa: Dinâmica Organizacional,

Inovação e Sociedade.

Orientadora: Prof. Dra. Cristiana Trindade Ituassu

Co-orientador: Prof. Dr. Luiz Rodrigo Cunha Moura

Belo Horizonte

2015

Ficha catalográfica desenvolvida pela Biblioteca UNA campus Guajajaras

M515r

Meireles, Vívian de Albuquerque

Retrato da invisibilidade profissional de terceirizados: estudo de casos com trabalhadores de Belo Horizonte. /Vívian de Albuquerque Meireles. –2015.

130f.

Orientadora: Profa. Dra. Cristiana Trindade Ituassu. Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário UNA, 2015. Programa de

Pós-graduação em Administração. Inclui bibliografia.

1. Serviços Terceirizados. 2. Esgotamento Profissional. 3. Administração. 4. Motivação. I. Ituassu, Cristiana Trindade. II. Centro Universitário UNA. III. Título.

CDU: 658

A todos os trabalhadores,

independente se efetivos ou terceirizados,

como gestores ou colegas de trabalho,

para que as relações profissionais

sejam mais humanizadas.

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ser a força que me sustenta em todos os momentos.

A minha mãe, por ser o maior exemplo de perseverança, firmeza, amor, bondade e

carinho e por me dar todas as condições para realizar este grande sonho. Você é a

minha melhor referência!

Ao meu padrasto, in memorian, sempre vivo em minhas lembranças, por ter sido

como um pai para mim e, com minha mãe, ter me proporcionado a moradia, o

sustento e todas as conquistas até agora.

À Denise do Carmo Xavier que, no início da minha trajetória acadêmica, me deu

condições financeiras para continuar meus estudos e poder chegar até aqui.

A minha família, pelo que representam para mim e pelo imenso esforço físico de me

auxiliar na mudança de residência, local onde hoje eu tenho paz para me concentrar.

Ao meu irmão e sua esposa, Camila, que revolucionaram meu pensamento com

algumas discussões calorosas sobre o comportamento das pessoas.

Ao Henrique Morais de Almeida e Marco Antônio de Oliveira Pinho por terem me

admitido e me darem a oportunidade de trabalhar numa empresa da qual muito me

orgulho e que me permite ser realizada profissionalmente.

À Renata Horta, minha ex-gerente, e ao André Paolucci, atual, por compreenderem

todas as necessidades de compensação das horas extras de acordo com o mais

adequado para os meus estudos.

Aos meus especiais colegas de trabalho que, com sua solidariedade e alegria,

transformam nosso ambiente.

Aos meus amigos Débora Takahashi, Lucia Helena Ferreira, Tatiana Campolina e

Marco Antônio de Oliveira Pinho, pelos puxões de orelha ao longo da minha

caminhada. Vocês me auxiliaram, com sua sabedoria, para que eu me tornasse uma

pessoa melhor.

Aos meus padrinhos, Milton e Deise, por serem muito presentes e estarem comigo

em ocasiões importantes da minha vida.

À Professora Cristiana Trindade Ituassu, pela paciência, dedicação, competência,

orientação e sabedoria. Você fez toda a diferença e abriu muito a minha mente!

À Professora Íris Barbosa Goulart, por me responder a tantos questionamentos feitos

em sala de aula com muita paciência, sabedoria e profundidade. Você também fez a

diferença para mim como aluna e, principalmente, como pessoa!

Ao meu psicólogo, Salim Zaidan, por me auxiliar na direção da maturidade. Com seu

apoio pude aproveitar muito melhor os ensinamentos do Mestrado.

Ao Dr. Márcio José Sampaio que, com as agulhas mágicas da Acupuntura, me deu

condições de exercer tamanho esforço mental e físico para vencer esse desafio.

Às Doutoras Ana Lucia Discacciati e Silvana de Mello Vasconcellos, que sempre

foram boas ouvintes e buscaram melhorar minha qualidade de vida.

A todos os professores e colegas de classe que tornaram produtivas as discussões e

contribuíram para meu crescimento.

Aos professores da banca, pela gentileza de aceitar o convite.

Aos que não foram diretamente citados, mas que estiveram presentes no decorrer

deste percurso.

Em especial, a todos os entrevistados que, sem me conhecer, compartilharam

comigo suas experiências, mesmo que, para tal, reprocessassem momentos difíceis

de sua jornada. Sem a participação de vocês, esse trabalho não teria sido realizado.

“A cegueira de gente que não vê gente é

traumática, causa angústia. A cegueira de gente

que não vê gente dispara humilhação. E, mais

precisamente, é cegueira política: cegueira de uma

classe quanto a outra classe, a classe a serviço da

primeira em condições de subordinação.”

Fernando Braga da Costa

RESUMO

O sofrimento no trabalho é um tema amplamente estudado na Administração, Psicologia e Sociologia. Mas a Invisibilidade, que já foi objeto de pesquisa dessas ciências na literatura nacional e internacional, ainda se mostra um assunto pouco explorado, sobretudo, quando associado aos trabalhadores terceirizados. Esta pesquisa, de caráter qualitativo, consiste num estudo de casos que buscou analisar a manifestação do sentimento de invisibilidade profissional no trabalho de terceirizados da capital mineira. Explorando as situações em que a invisibilidade remete ao sofrimento, o estudo teve como instrumento de coleta de dados a entrevista estruturada e, como método de interpretação de dados, a análise de conteúdo proposta por Bardin (2011). Os resultados permitiram concluir que a invisibilidade profissional pode ser vista, conforme os entrevistados, principalmente por meio da falta de reconhecimento, expressa pela desvalorização da pessoa ou da sua profissão, pela distinção de tratamento entre efetivos e terceirizados, que envolve a injustiça e a sobrecarga de trabalho, bem como pela humilhação, discriminação, indiferença, precarização do salário e das condições de trabalho, instabilidade, remuneração e benefícios inferiores. A pesquisa evidenciou a necessidade de reflexão acerca do tema, em especial no que se refere aos terceirizados, que representam um significativo contingente de trabalhadores no Brasil, pela influência na deterioração do clima e nos resultados organizacionais e também pela possibilidade de afetar o estado físico e psicológico dos trabalhadores. Palavras-chave: Sofrimento no trabalho, invisibilidade no trabalho, terceirizados.

ABSTRACT

Suffering at work is a widely studied theme in Administration, Psychology and Sociology. Invisibility, on the other hand, that has already been object of research by these sciences in both national and international literature, is still little explored, mainly where associated to outsourced labor. This qualitative research consists of a multiple case study aimed at analyzing the demonstration of professional invisibility feelings by outsourced workers in the capital of the state of Minas Gerais. By investigating situations where invisibility leads to suffering, the study used the semi-structured interview as the data collection tool and the content analysis proposed by Bardin (2011) as the data interpretation method. The results made it possible to conclude that professional invisibility can be seen, as reported by the respondents, mainly in the lack of acknowledgement, expressed through personal or professional devaluation, unequal treatment towards employees and contractors, which involves unfairness and work overload as well as humiliation, discrimination, indifference, wage deterioration and precarious working conditions, instability, low salaries and insufficient benefits. The research provided evidence on the need for reflection about the theme, more specifically regarding outsourced labor, since it represents a significant share of the workforce in Brazil, given the influence on the work environment and organizational results as well as the likelihood to impact employees’ physical and psychological balance. Key-words: Suffering at work; Invisibility at work; Outsourced labor.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES 1 Lista de Quadros

Quadro 1 – Públicos por ramo de atuação ........................................................... 36

Quadro 2 – Agrupamento de fatores comuns de sofrimento

para o trabalhador brasileiro .............................................................. 38

Quadro 3 – Pesquisa de periódicos .................................................................... 40

2 Lista de Tabelas Tabela 1 – Faixa etária dos entrevistados ........................................................... 67

Tabela 2 – Nível de escolaridade ........................................................................ 67

Tabela 3 – Áreas de estudo ................................................................................. 67

Tabela 4 – Cargo e/ou profissão ......................................................................... 68

Tabela 5 – Faixa de tempo como terceirizado ..................................................... 68

Tabela 6 – Faixa de tempo na empresa atual ..................................................... 69

Tabela 7 – Função equivalente na Contratante por Cargo e Gênero .................. 69

Tabela 8 – Categoria Inicial Prazer ..................................................................... 72

Tabela 9 – Categoria Sofrimento desmembrada

em categorias intermediária e final .................................................... 74

Tabela 10 – Condições de Trabalho ................................................................... 75

Tabela 11 – Problemas Físicos ........................................................................... 78

Tabela 12 – Problemas Psicológicos .................................................................. 79

Tabela 13 – Mudança de Comportamento .......................................................... 81

Tabela 14 – Reação ............................................................................................ 83

Tabela 15 – Categoria Invisibilidade desmembrada

em categorias intermediária e final .................................................. 86

Tabela 16 – Imagem do terceirizado e da profissão ............................................ 86

Tabela 17 – Diferença entre terceirizados e efetivos .......................................... 90

Tabela 18 – Falta de reconhecimento ................................................................. 92

3 Lista de Figuras Figura 1 – Contagem dos trechos da Análise de conteúdo em Excel ................. 64

Figura 2 – Categorização Inicial, Intermediária e Final ....................................... 71

Figura 3 – Categorias da análise de conteúdo realizada .................................... 100

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANAMATRA Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho

AOCIP Association pour I’Ouverture Du Champ d’Investigation

Psychopathologique (Associação para Abertura do Campo de

Investigação Psicopatológica)

CAT Comunicação de Acidente de Trabalho

DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

EMLURB Empresa Municipal de Limpeza Urbana

EPI Equipamentos de Proteção Individual

FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IES Instituição de Ensino Superior

MPT Ministério Público do Trabalho

MTE Ministério do Trabalho e Emprego

OIT Organização Internacional do Trabalho

TAC Termos de Ajustamento de Conduta

TRT Tribunal Regional do Trabalho

TST Tribunal Superior do Trabalho

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 14

1.1 Problema de pesquisa .................................................................................. 17

1.2 Objetivo geral ................................................................................................ 17

1.3 Objetivos específicos.................................................................................... 18

1.4 Justificativa ................................................................................................... 18

1.5 Estrutura da dissertação ............................................................................. 21

2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................ 22

2.1 O trabalho ao longo da história ................................................................... 22

2.2 O sofrimento no trabalho .............................................................................. 28

2.2.1 O sofrimento do trabalhador brasileiro ........................................................ 35

2.3 A invisibilidade profissional ........................................................................ 42

2.4 Os trabalhadores terceirizados ................................................................... 50

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS........................................................... 59

3.1 Caracterização da pesquisa ........................................................................ 59

3.2 Sujeitos de pesquisa .................................................................................... 60

3.3 Instrumentos de coleta de dados ............................................................... 61

3.3.1 Roteiro para entrevista ................................................................................ 62

3.4 Técnica de interpretação dos resultados ................................................... 62

3.5 Produto Técnico ........................................................................................... 65

4 ANÁLISE DOS DADOS .................................................................................... 66

4.1 Dados gerais dos entrevistados ................................................................. 66

4.2 Categorização ............................................................................................... 70

4.3 Categoria Inicial Prazer ................................................................................ 72

4.4 Categoria Inicial Sofrimento ........................................................................ 74

4.4.1 Categoria Intermediária Condições de Trabalho ......................................... 75

4.4.2 Categoria Intermediária Problemas Físicos ................................................. 78

4.4.3 Categoria Intermediária Problemas Psicológicos ........................................ 79

4.4.4 Categoria Intermediária Mudança de Comportamento ................................ 80

4.4.5 Categoria Intermediária Reação .................................................................. 83

4.5 Categoria Inicial Invisibilidade .................................................................... 86

4.5.1 Categoria Intermediária Imagem do terceirizado e da profissão ................. 86

4.5.2 Categoria Intermediária Diferença entre terceirizados e efetivos ................ 89

4.5.3 Categoria Intermediária Falta de Reconhecimento ..................................... 92

4.6 Principais resultados da análise .................................................................. 99

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 102

5.1 Limitações da Pesquisa ............................................................................... 105

5.2 Implicações gerenciais ................................................................................ 106

5.3 Recomendações para pesquisas futuras ................................................... 106

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 108

Apêndice A ........................................................................................................... 120

Apêndice B ........................................................................................................... 122

14

1 INTRODUÇÃO

O trabalho é fator de grande relevância na construção da identidade das

pessoas, nas organizações e na sociedade. Os sinais disso ficam evidentes quando

se descrevem, por exemplo, suas diversas faces no percurso da história (ANTUNES,

1999; BERNAL, 2010; BIANCHESSI e TITTONI, 2009; CARRETEIRO, 2003;

COSTA, 2008; DEJOURS, ABDOUCHELI e JAYET, 2009; DINIZ, CARRIERI e

BARROS, 2013; FERREIRA e MENDES, 2001; GOULART e SAMPAIO, 2004;

HALLACK e SILVA, 2005; LOURENÇO, 2014; MELO e CASTILHO, 2009; MENDES

e FERREIRA, 2007; NUNES, 2014; PÉREZ, 2013; QUINLAN e SOKAS, 2009;

SARAIVA e IRIGARAY, 2009; SCHLINDWEIN, 2010; SEIDLER et al., 2014;

SELIGMANN-SILVA, 2009; SZNELWAR, UCHIDA e LACMAN, 2011; UCHIDA,

1998; ULMANN, 2013; VIVIERS et al., 2008; WEBER e GRISCI, 2010; YILDIRIM e

YILDIRIM, 2007; ZANELLI, 2010; ZUBERI e PTASHNICK, 2011). Ele já foi atividade

para escravos, migrou de maldição para bálsamo, tornou-se uma parceria com

Deus, motivo de status, forma de auto-expressão, sustento, arte, agente de

transformação do mundo, caminho para a salvação, momento máximo de glória.

Mas chegou um tempo em que o trabalho perdeu seu encanto e esperança e entrou

em crise (BENDASSOLLI 1, 2007; BERNAL, 2010).

As duas grandes revoluções industriais impactaram o modo de funcionamento

do trabalho e, principalmente, a partir da década de noventa do século XX, com as

alterações do cenário econômico e político internacional e a revolução tecnológica,

as organizações passaram por mudanças em sua estrutura e em seu modo de

funcionamento que enterneceram, diretamente, o trabalho. Paradoxalmente, os

avanços tecnológicos ocorridos vão de encontro a perdas que a população

enfrentou, como o desemprego e a desumanização do trabalho, por exemplo

(ANTUNES, 2010; BERNAL, 2010; BRAVERMAN, 2011; GOULART e SAMPAIO,

2004; HIGH, 2013; HIRATA, 2011; LINKON, 2013; QUINLAN e SOKAS, 2009;

SALAMA, 2002; ZANELLI et al., 2010). Outro fator que afetou de forma negativa a

1 Cabe esclarecer que, neste texto, autores de abordagens distintas foram trazidos para a discussão

sobre a invisibilidade no trabalho. Bendassolli (2011), por exemplo, é um psicólogo behaviorista cujo foco é o indivíduo, enquanto outros, como Alves (2000) ou Antunes (2010), privilegiam um olhar mais macro, aproximando-se do Marxismo. Embora essa união possa causar algum estranhamento inicial, acredita-se que as duas perspectivas são capazes de trazer contribuições à compreensão do que, aqui, se investiga. Por isso, foram simultaneamente tratadas na dissertação, respeitando-se os limites e pressupostos de cada uma.

15

vida do trabalhador foi o enfraquecimento dos sindicatos, devido à precarização das

condições de trabalho e ao desemprego estrutural que culminou em menor

sindicalização dos trabalhadores, ocorrido tanto nacional quanto internacionalmente

(ALVES, 2000; ANTUNES, 2010; SALAMA, 2002). No Brasil, a concentração do

capital também provocou desordem no mundo do trabalho. Para Antunes (2010,

p.23),

Foram tão intensas as modificações, que se pode mesmo afirmar que a classe-que-vive-do-trabalho sofreu a mais aguda crise deste século, que atingiu não só a sua materialidade, mas teve profundas repercussões na sua subjetividade e, no íntimo inter-relacionamento destes níveis, afetou a sua forma de ser.

O sofrimento no trabalho, por sua vez, está relacionado às condições, à forma

de organização e às relações socioprofissionais que tolhem a plena realização do

homem, sua liberdade, afetam a expressão da subjetividade e a identidade do

indivíduo. Como as pessoas precisam do trabalho para sobreviver, se sujeitam a

padrões de comportamento que podem ser fonte de prazer, quando são gratificados,

ou de desgosto (MENDES e FERREIRA, 2007).

O sofrimento do trabalhador já foi retratado nas mais diversas áreas de

atuação: com especialistas em informática (UCHIDA, 1998); atendentes presenciais

(FERREIRA e MENDES, 2001); enfermeiros (LIMA JÚNIOR e ÉSTHER, 2001);

bancários (ADLER e SILVA, 2013; GRAVINA, 2002; GRISCI, 2003; GRISCI,

HOFMEISTER e BECKER, 2006; SANTOS, SIQUEIRA e MENDES, 2011);

trabalhadores da indústria de calçados, fiação, tecelagem, metalurgia e produção de

cartões de crédito (MERLO et al., 2003); gestores e profissionais da saúde do setor

de serviços (BRANT e MINAYO-GÓMEZ, 2007); vendedores (ANTLOGA e

MENDES, 2009); profissionais de recursos humanos (CASTRO e CANÇADO, 2009);

trabalhadores do setor penitenciário (SOUSA e MENDONÇA, 2009); chefias

intermediárias em hospitais (WEBER e GRISCI, 2010); portadores de deficiência

auditiva e física (LEÃO e SILVA, 2012); terceiro setor (SALIMON e SIQUEIRA,

2013); docentes (MARTINS e HONÓRIO, 2014); funcionários de uma instituição de

ensino superior (VASCONCELOS e FARIA, 2008); terceirizados (BARROS e

MENDES, 2003; BRITO, MARRA e CARRIERI, 2012; CAVALCANTE, OLIVEIRA e

CAVALCANTE, 2009; COSTA, 2007; DÉCOSSE, 2013; DIEESE, 2012a; LIMA,

2010; QUINLAN e SOKAS, 2009).

16

Uma das possíveis causas de sofrimento no trabalho é a invisibilidade,

investigada pela Administração, Psicologia e Sociologia. Pela revisão de literatura

realizada para o desenvolvimento deste estudo, observou-se que a invisibilidade

está relacionada a sofrimento, ainda que isso não ocorra em todas as situações. Na

concepção de Costa (2008), trata-se de uma violência simbólica e material que

oprime cidadãos das classes pobres, representando uma humilhação social, uma

lacuna entre os cegos superiores e os subalternos. Essa invisibilidade pode ser

percebida de várias formas: relacionada à falta de reconhecimento 2 (NELSON,

2011; NUNES, 2014; TEIXEIRA, 2004); ao sentimento de existir sem ser visto

(CAVEDON e FERRAZ, 2005; COSTA, 2008); à junção dos dois primeiros

(SZNELWAR, UCHIDA e LACMAN, 2011); como forma de discriminação econômica

e social (SARAIVA e IRIGARAY, 2009); pela desvalorização e desqualificação da

pessoa (BIANCHESSI e TITTONI, 2009; DINIZ, CARRIERI e BARROS, 2013; MELO

e CASTILHO, 2009). Com raras exceções (CASTANHA e ZAGONEL, 2005;

SARAIVA e IRIGARAY, 2009), nos estudos consultados a invisibilidade está

associada à forma como é efetivada a divisão social do trabalho.

A escolha por compreender melhor esse tema, por meio do estudo com

terceirizados, deve-se à presença de características da invisibilidade como

geradoras de sofrimento para esses trabalhadores. Assim, a falta de

reconhecimento, a discriminação e a desvalorização, por exemplo, já foram descritas

em pesquisas prévias, cujo foco é o sofrimento no trabalho desses profissionais,

embora essa relação com a questão da invisibilidade não tenha sido,

necessariamente, discutida nesses estudos (BARROS e MENDES, 2003; BRITO,

MARRA e CARRIERI, 2012; CAVALCANTE, OLIVEIRA e CAVALCANTE, 2009;

COSTA, 2007; LIMA, 2010; DÉCOSSE, 2013; QUINLAN e SOKAS, 2009). Também

auxiliaram na definição do público a pesquisa na internet de algumas notícias

relacionadas à terceirização, tema que tem despertado a atenção da grande mídia,

na atualidade. Esta tem retratado a discriminação, a desvalorização e a precarização

do salário e das condições de trabalho desses profissionais (BRASIL, 2015b;

2 Nesse sentido, o reconhecimento pode ser entendido como uma questão de justiça e de

necessidade humana vital, para Fraser e Taylor respectivamente. Para esses autores, o não reconhecimento implica em subjetividade prejudicada e autoidentidade danificada, pois impedem o sujeito de ter uma visão positiva de si mesmo. In FRASER, Nancy. Reconhecimento sem ética? Lua Nova, São Paulo, 70: 101-138, 2007.

17

DIREITO PÚBLICO, 2013; FREITAS, 2015; FREITAS, 2015b; PORTAL NACIONAL

DO DIREITO DO TRABALHO, 2014; REPÓRTER BRASIL, 2014).

O Projeto de Lei nº 4330/2004, que trata das regras para a terceirização, por

exemplo, foi recentemente aprovado na Câmara dos Deputados, mas sob

discussões e controvérsias de várias partes. Para a Justiça do Trabalho, o ponto

mais polêmico é a terceirização de atividades-fim, considerada ilegal (SIQUEIRA e

BITTAR, 2015). A Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho

(ANAMATRA) e o Ministério Público do Trabalho (MPT) também se opõem ao texto

do projeto. Carlos Eduardo Lima, Presidente da Associação Nacional dos

Procuradores do Trabalho, afirmou: “temos estatísticas que comprovam que o

terceirizado, mesmo com grau de especialização semelhante ao contratado, trabalha

mais horas, ganha menos, se acidenta muito mais e isso é ruim para a sociedade

sob todos os aspectos” (SIQUEIRA, 2015, p. 1). Isso reforça a impressão de que se

trata de um assunto sobre o qual cabem reflexões.

Diante do exposto assume-se, como problema de pesquisa, o seguinte:

1.1 Problema de pesquisa

Como se manifesta o sentimento de invisibilidade profissional no trabalho de

funcionários terceirizados de Belo Horizonte?

O objetivo geral da pesquisa envolve:

1.2 Objetivo geral

Retratar a manifestação do sentimento de invisibilidade profissional no

trabalho de funcionários terceirizados da capital mineira.

Como objetivos específicos, foram adotados os expostos a seguir:

18

1.3 Objetivos específicos

Descrever o cotidiano desses funcionários terceirizados, segundo seu próprio

relato, no que se refere aos aspectos relacionados ao sofrimento no trabalho;

Identificar, dentre esses aspectos, aqueles referentes à invisibilidade

profissional e quais são os mais frequentes;

Retratar o sentimento de invisibilidade profissional para os funcionários

terceirizados entrevistados;

Desenvolver, como produto técnico, uma cartilha para definir a Invisibilidade

Profissional, de modo a disseminar o conceito, sobretudo entre gestores de

pessoas e estudantes de Administração.

1.4 Justificativa

A escolha por tratar o tema da invisibilidade com profissionais terceirizados se

iniciou a partir da experiência da autora deste estudo, como terceirizada, e também

pela sua percepção do sofrimento de alguns colegas de trabalho, nessa mesma

situação, relacionado ao sentimento de invisibilidade profissional. Essa percepção

de que o sentimento de invisibilidade pode ser fonte de sofrimento é confirmada nos

estudos de Cavalcante, Oliveira e Cavalcante (2009), Costa (2007), Nery (2011) e

Santos et al. (2009) e foi percebida pela autora da pesquisa, na sua prática diária,

por meio da distinção de tratamento entre efetivos e terceirizados, desvalorização da

pessoa, sobrecarga de trabalho, falta de perspectiva de carreira, instabilidade e

indiferença por parte dos efetivos. Daí sua intenção de certificar se essa impressão

foi fruto de sua experiência como terceirizada ou se acontece com outros

trabalhadores nessa condição.

Se, por um lado, alguns autores apontam as vantagens que a terceirização

traz para as organizações (BERNSTORFF e CUNHA, 1999), sobretudo em termos

de enxugamento de custos e ganhos de flexibilidade, por outro há pesquisadores

que enxergam, nesse fenômeno, a origem de uma série de problemas que os

trabalhadores enfrentam. Na concepção de Nery (2011), por exemplo, a

terceirização é muito mais um mecanismo de exclusão social do que, de fato, um

modelo de gestão. Para o autor, esse processo tem considerável custo social pois,

além de precarizar o salário e as condições de trabalho e promover instabilidade e

19

insegurança, contribui para a debilitação da saúde física e psíquica dos

trabalhadores.

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

(DIEESE) considera, como grupos de informais, o empregado ilegal, o subcontratado

e os trabalhadores por conta própria. O primeiro e o terceiro são caracterizados pela

ausência da carteira de trabalho assinada. O segundo, no caso os terceirizados,

está relacionado à percepção dos novos modelos de precarização surgidos no

mercado de trabalho brasileiro, principalmente, após a reestruturação produtiva dos

anos 1990.

Essa modalidade prejudica o trabalhador ao fragilizar a proteção social

trabalhista e previdenciária e descaracteriza o emprego no tocante à relação de

subordinação. Por outro lado, beneficia as empresas ao propiciar a redução de

obrigações legais que culminam em menos custos (DIEESE, 2012a).

Uma estatística que, dentre outros aspectos, justifica o estudo desse público é

da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Segundo dados da instituição, no

mundo, 1 bilhão e 200 milhões de pessoas estão desempregadas ou sujeitas à

precarização do salário e das condições de trabalho. Desse contingente, cerca de

um terço da força humana mundial que trabalha, significativa parcela é de

terceirizados que, sujeitos a essa modalidade, perderam direitos trabalhistas e

previdenciários que degradam sua qualidade de vida (ANTUNES, 2010).

No Brasil, cerca de 25% da mão-de-obra é de terceirizados, que recebem

rendimentos bem menores que os empregados formais, possuem jornada de

trabalho mais extensa (DIEESE, 2012a) e estão mais sujeitos a acidentes e mortes

no trabalho (CAVALCANTI, 2015). Na audiência da Comissão de Direitos Humanos

e Legislação Participativa, cujo tema do debate era o Projeto de Lei nº 4.330/2004, a

assessora da direção técnica do DIEESE, Lílian Marques, apresentou alguns

números sobre a situação dos terceirizados no Brasil. Nas dez maiores operações

para resgate de trabalhadores em situação análoga à escravidão, aproximadamente

3.000, de 3.553, envolviam empregados terceirizados. No setor elétrico morreram 79

trabalhadores em 2013 e, desses, 61 eram terceirizados. Na construção civil, nas

obras de levantamento de edifícios, 75 óbitos, de 135, eram de terceirizados. Nas

obras de acabamento, de 20 mortes, 18 eram de terceirizados. Na terraplanagem,

ocorreram 19 óbitos e somente 1 era de empregado próprio. Nos serviços

especializados, 30 de 34 mortes eram de terceirizados (CAVALCANTI, 2015).

20

Assim, a relevância da elaboração deste estudo está associada, em especial,

à necessidade de provocar reflexões sobre as situações em que a invisibilidade

profissional significa sofrimento para o trabalhador terceirizado. Afinal, como outros

fatores que geram sofrimento no trabalho, a invisibilidade, em algumas situações,

acarreta danos à vida pessoal e profissional dos trabalhadores e pode ocasionar

adoecimento e afastamento. Quanto às organizações, pode impactar negativamente

o clima de trabalho e reduzir a produtividade (ANTUNES, 1999; ANTUNES, 2010;

BERNAL, 2010; ARGOLO e ARAÚJO, 2004; CANIATO, CESNIK e ARAÚJO, 2010;

CARDOSO, 2008; COSTA, 2007; GRAVINA, 2002; GRISCI, 2003; GRISCI,

HOFMEISTER e BECKER, 2006; HALLACK e SILVA, 2005; UCHIDA, 1998;

ZANELLI et al., 2010).

A contribuição teórica que este trabalho busca oferecer reside em demonstrar

que existe uma lacuna nos cursos de Administração e de Gestão de Pessoas por

não associar a invisibilidade aos terceirizados. A autora acredita que desnudar esse

sentimento pode auxiliar na compreensão de suas origens, características e efeitos

bem como sensibilizar os gestores e colegas de trabalho sobre a importância de

tratar, sem distinção, os terceirizados. Além disso, aqui se recorre a autores de

diferentes linhas teóricas, que mantêm pressupostos distintos e, dificilmente, são

tratados em conjunto. Contudo, acredita-se que uni-los – respeitando as premissas

de cada um – pode significar um avanço na compreensão da realidade que a

pesquisa investiga, de modo que o fato de se ter recorrido a esses autores pode

significar, por si só, outra contribuição teórica do trabalho.

Como contribuição social, espera-se que os resultados deste estudo

descortinem o panorama do que é desfavorável para esse público. Isso pode

acarretar, imagina-se, algumas melhorias para esses profissionais, cuja proteção

social trabalhista e previdenciária já é frágil. Talvez favoreça, também, para a criação

de um ambiente de trabalho melhor, com menos doenças, menos afastamento do

trabalho e, acredita-se, mais satisfação.

Como contribuição econômica e prática, almeja-se que a melhora nas

condições de trabalho dessas pessoas, possibilitada pelo entendimento de sua

condição de invisível, acarrete desempenhos superiores para as próprias

organizações. Afinal, farta literatura discorre sobre a relação entre a satisfação dos

funcionários e sua performance.

21

Assim, pretende-se que o resultado desta pesquisa contribua para promover

reflexões a respeito do sentimento de invisibilidade profissional,quando revelado de

forma negativa e prejudicial na vida dos trabalhadores terceirizados, para ajudar a

transformar essas realidades e, também, promova melhora do clima organizacional e

da satisfação no trabalho para, assim, auxiliar no alcance de resultados

organizacionais.

1.5 Estrutura da dissertação

Essa dissertação está estruturada em cinco capítulos. Na Introdução,

constam uma síntese do que será explorado ao longo do referencial teórico, o

problema de pesquisa, objetivos geral e específicos, além da justificativa do estudo.

O Referencial Teórico inicia-se com um panorama sobre o trabalho ao longo

da história. Em seguida, discorre sobre o sofrimento no trabalho e o sofrimento do

trabalhador brasileiro. A invisibilidade profissional é, então, conceituada e discutida

e, como fechamento do referencial, é descrito o trabalho dos terceirizados para

demonstrar suas características de sofrimento e invisibilidade.

No capítulo que trata da Metodologia, apresentam-se os seguintes tópicos:

caracterização da pesquisa, sujeitos de pesquisa, instrumento de coleta de dados,

técnica de interpretação dos resultados e produto técnico.

Logo após, no penúltimo capítulo, encontra-se exposta a análise dos dados

do estudo.

A dissertação é encerrada com as considerações finais do trabalho, suas

limitações, implicações gerenciais e sugestões para estudos futuros.

22

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O trabalho ao longo da história

Com o objetivo de compreender o atual papel do trabalho, é preciso recorrer

ao seu sentido, valor e importância, que nem sempre foram os mesmos ao longo da

história ocidental. Vem da Grécia e da Roma antigas o berço da concepção clássica

do trabalho. Nessa época, era preciso atender as necessidades básicas das

pessoas e não se atribuía valor nem à tarefa nem ao indivíduo. O trabalho possuía

pouca importância na construção da subjetividade, fato esse observado ao longo de

toda a Antiguidade, Idade Média e Renascimento. Ele não tinha status nem prestígio

em si, como acontecia com o cultivo da razão entre os gregos, o cuidado com a alma

e a busca de salvação entre os medievos ou, até mesmo, a construção estético-

artística da própria vida para os renascentistas. Na Grécia Antiga, por exemplo, o

trabalho era tido como uma atividade inferior e humilhante, dirigida às mulheres e

aos escravos. Aos membros das classes superiores ficava o encargo do trabalho

intelectual. Da mesma forma, no Império Romano, os homens com melhores

condições estavam destinados às preocupações com a guerra e a política, ao passo

que o trabalho manual, atividade inferior e degradante, era destinada aos escravos e

homens livres pobres. Esse conceito permaneceu até o início do século XV e mudou

com a percepção do trabalho como um esforço físico ou intelectual destinado a

alguma atividade (BENDASSOLLI, 2007; BERNAL, 2010; GOULART e PAPA

FILHO, 2013).

Na tradição judaica, o homem foi condenado a trabalhar como castigo pelo

cometimento do pecado original. No Catolicismo e no Cristianismo, a visão do

trabalho era semelhante, já que servia para aperfeiçoamento do corpo, da alma e

louvor ao Criador. A Reforma Protestante fez um contraponto à interpretação cristã,

ao defender que o trabalho é um modo de servir a Deus e que o caminho para o

êxito passa pelo trabalho árduo. Os teóricos do Iluminismo também vislumbraram o

trabalho como positivo, a economia clássica visualizou o trabalho como fonte de toda

riqueza e de todo valor e o capitalismo considerou o trabalho pelo capital, não mais

pelas necessidades humanas (BERNAL, 2010; GOULART e PAPA FILHO, 2013).

Na Inglaterra, a partir do século XVIII até meados do século XIX, ocorreram

ciclos de inovação, devido à “introdução de máquinas e equipamentos, de novas

23

formas de organização da produção e do desenvolvimento de novas fontes de

materiais e energia”. Esse evento, conhecido como a Primeira Revolução Industrial,

representou “um divisor de águas na história econômica do Ocidente, dados seus

impactos sobre o crescimento da produtividade” e pela “substituição da habilidade e

do esforço humano pelas máquinas” (TIGRE, 2006, p. 3 e p. 6, respectivamente).

Até então, era a agricultura a principal atividade econômica realizada no

mundo. As mercadorias eram concebidas de forma artesanal e não existia um

produto como o outro. Contudo, as máquinas substituíram a força humana e a tração

animal e também promoveram modificações na organização da produção, com a

especialização e a capacitação dos trabalhadores. No fim do século XVIII, já se

observava a Revolução Industrial empenhada no aumento da produtividade e do

crescimento econômico por meio desse novo processo produtivo, mas com

resistência dos trabalhadores à mecanização (TIGRE, 2006). De forma radical, as

taxas de produção e de lucro elevaram-se, houve o desenvolvimento do sistema

financeiro, aumento exponencial da população urbana e da poderosa burguesia.

Nessa época, a riqueza deixou de ser condenada para ser almejada e admirada e o

conceito do trabalho passou a ser moderno: em vez de execrado, começou a ser

visto com uma força essencial, como a capacidade de criar e acrescentar valor

(BERNAL, 2010).

Coincidente com o nascimento da sociedade industrial, o sentido e o valor do

trabalho passaram a ser definidos em pelo menos cinco dimensões importantes: (1)

como fonte de valor econômico; (2) como princípio moral; (3) como investidas

ideológicas para domesticar e controlar trabalhadores ao mesclar pregação religiosa

e paternalismo industrial; (4) como atividade de construção do ser e da

subjetividade, pela qual o homem tem acesso à sua verdadeira essência; (5) como

contrato social para ancorar distintos papeis e coordenar a cooperação e a

solidariedade entre seus membros. A junção dessas cinco dimensões converge o

trabalho para o posto de um dos principais valores políticos, culturais, sociais e

psicológicos durante o século XIX e metade do século XX (BENDASSOLLI, 2007).

Na segunda metade do século XIX, o processo de industrialização na Europa

se aprofundou e definiu a Segunda Revolução Industrial. Após décadas de

aprimoramento tecnológico das máquinas a vapor, houve uma explosão de

inovações sem precedentes na indústria manufatureira, principalmente a

metalúrgica, bem como nos transportes ferroviário e marítimo. A indústria têxtil

24

concluiu o processo de substituição de energia hidráulica e humana pelas máquinas

a vapor. Nessa época, Marx elabora sua teoria do valor-trabalho com a preocupação

de analisar o impacto da questão tecnológica na sociedade. Como a tecnologia

permitia o aumento da exploração da força de trabalho pelos mecanismos de oferta

e procura, a mão-de-obra era poupada e, consequentemente, os salários eram

diminuídos, o que culminava em piores condições de trabalho (TIGRE, 2006).

Assim, o início do século XX, período em que surgiu a grande empresa

industrial, assistiu à rápida difusão das inovações tecnológicas e organizacionais,

que foram amadurecidas por algumas décadas, com a ampliação da escala e da

geografia dos negócios (ANTUNES, 2010; TIGRE, 2006).

Essas inovações, sobretudo as promovidas por Ford e Taylor, contribuíram

expressivamente para a alteração da estrutura da indústria. O novo modelo de

empresa daí originado era de grande complexidade e exigia a organização das

atividades e a aplicação de conhecimentos científicos, com altos custos agregados,

para a produção em massa. A proposta de Taylor era dividir completamente o

trabalho manual do intelectual. O primeiro era limitado à execução das tarefas

definidas previamente, enquanto o segundo se incumbia de encontrar formas mais

rápidas e produtivas para a realização da tarefa. Por meio dos estudos dos tempos e

movimentos, Taylor enumera as regras técnicas e as normas essenciais para a

realização do trabalho industrial (ANTUNES, 2010; BRAVERMAN, 2011; TIGRE,

2006). Com elas, promove uma expropriação intensificada do operário-massa,

destituindo-o de qualquer participação na organização do processo de trabalho, já

que sua atividade era desprovida de sentido e se resumida à repetição (ANTUNES,

1999).

Respaldado nos princípios tayloristas, em 1913, Henry Ford inaugurou a linha

de montagem de automóveis, cuja padronização visava facilitar a composição e

reduzir a variedade de estoques. Todavia, esse modelo foi criticado pelo excesso de

ênfase na especialização, que culminava na rigidez do processo e aproximava o

trabalho do homem ao de uma máquina. Houve ataques a esse sistema desde os

anos trinta, mas somente quarenta anos depois começaram a surgir outras formas

de produção, mais flexíveis e cooperativas (ANTUNES, 2010; TIGRE, 2006).

Dentre essas formas, tem-se o Toyotismo, modelo japonês que promove a

especialização flexível em detrimento do cronômetro e da produção em série.

Surgido após a II Grande Guerra, nos anos setenta, o modelo se espalhou pelo

25

mundo. Segundo Antunes (2010), o uso da inteligência do trabalhador e não

somente da sua força muscular mostrou aos capitalistas que podiam multiplicar seus

lucros, também, a partir da exploração da imaginação dos trabalhadores, que

passaram a ter maior flexibilização como exigência.

Na concepção de Alves (2000), Bernal (2010), High (2013) Linkon (2013) e

Salama (2002), nesse contexto pós-crise do capital que atingiu vários países a partir

de 1970, surge o que é denominado de novo complexo de reestruturação produtiva,

uma ofensiva do capital na produção cuja finalidade era constituir um novo patamar

de acumulação capitalista em escala planetária. Isso veio a debilitar ainda mais o

mundo do trabalho e promoveu alterações importantes na subjetividade dos

trabalhadores assalariados. Assim, o sentido do trabalho apresenta aspectos

paradoxais. De um lado, é enfraquecido e desmontado nas cinco dimensões

elencadas por Bendassolli (2007). De outro, gera perplexidade pela contraposição

entre ainda ser uma das principais vias de acesso à renda e ter perdido a

característica de “forte”, no sentido de ser um porto seguro na definição da

identidade (ANTUNES, 2010; BENDASSOLLI, 2007; BERNAL, 2010).

O último quartil do século XX experimentou, assim, uma nova revolução,

decorrente do desenvolvimento e difusão das tecnologias da informação e

comunicação (ANTUNES, 2010; CASTELLS, 1999; HIGH, 2013; LASTRES e

FERRAZ, 1999; LIMA, 2010; TIGRE, 2006). O sistema fordista se esgotou e, desde

então, a nova fase de destruição criadora mostrou-se intensiva em informação e

conhecimento (TIGRE, 2006). Nisso consistiu a Terceira Revolução Tecnológica,

que influenciou o capital, processos políticos e a classe trabalhadora. A adoção de

políticas anti-sindicais, a desregulamentação da concorrência e a liberalização

comercial tiveram força para a instauração de um novo poder do capital sobre o

trabalho assalariado, que culmina na debilitação do mundo laboral. O resultado

histórico da acumulação flexível sobre o mercado de trabalho é refletido no novo

patamar de desemprego estrutural, assim como na proliferação da precarização nos

principais países capitalistas. Nos anos 1990, surge uma nova configuração das

desigualdades com a insegurança no mercado de trabalho, no emprego, na renda

(ALVES, 2000; ANTUNES, 2010; BERNAL, 2010; GERMAIN, 2014; HIGH, 2013;

HIRATA, 2011; KARABAY e McLAREN, 2010; LIMA, 2010; LINKON, 2013;

QUINLAN e SOKAS, 2009; SALAMA, 2002). Com isso, direitos e conquistas

26

históricas dos trabalhadores são eliminados do mundo da produção (ANTUNES,

2010).

Lastres e Ferraz (1999, p.27) complementam que a “intensa taxa de mudança

técnica, mercados internacionalizados e desregulados constituem oportunidades e

ameaças para países, empresas, trabalhadores, consumidores e cidadãos”. Zanelli

et al. (2010) corroboram com esses autores, ao afirmarem que a dinâmica da

evolução tecnológica impõe novos referenciais para as relações técnicas e sociais

na produção e na prestação de serviços, pois a realidade dos trabalhadores do

século XXI é favorável para quem possui alta qualificação e claramente

desvantajosa para aqueles de baixa qualificação. Além disso, salientam que a nova

divisão do trabalho aumenta a disparidade entre ricos e pobres (ZANELLI et al.,

2010).

Essas mudanças no processo produtivo repercutem diretamente no mundo

das organizações, com prejuízos que incluem desregulamentação dos direitos do

trabalho, eliminados cotidianamente; aumento da fragmentação no interior da classe

trabalhadora; precarização e terceirização da força humana que trabalha; destruição

do sindicalismo de classe e sua conversão num sindicalismo dócil, de parceria

(ANTUNES, 1999).

Bernal (2010, p.25) sintetiza o percurso do conceito do trabalho com a

seguinte sequência dos acontecimentos:

“seus antecedentes estão no século XVII, seu nascimento no século XVIII, desenvolveu-se nos séculos XIX e XX e está sofrendo uma transformação radical desde fins do último século e início do XXI. Contudo, ainda não podemos saber com certeza aonde essa mudança nos levará”.

Especificamente no caso brasileiro, pode-se dizer que, no início dos anos

1990, a reestruturação produtiva, no País, adquiriu novo impulso e o ritmo de

trabalho se acelerou, advindos de ações como privatizações, reestruturações,

fusões, aquisições, terceirizações e enxugamentos. Organizações de grande porte

incorporaram um conjunto de novas estratégias produtivas que atingiram o mundo

organizacional com maior intensidade e foram generalizadas as pressões para a

modernização das empresas no País. Os efeitos disso provocaram a desordem no

mundo do trabalho. O ajuste imposto à classe trabalhadora, nesse processo de

reestruturação, tem como resultado o desemprego em massa e a precarização do

27

salário e das condições de trabalho, mencionada por vários autores (ADLER e

SILVA, 2013; ALVES, 2000; ANTUNES, 2010; ARGOLO e ARAÚJO, 2004;

BENDASSOLLI, 2007; BERNAL, 2010; CANIATO, CESNIK e ARAÚJO, 2010;

CARDOSO, 2008; COSTA, 2007; GOULART e SAMPAIO, 2004; GRAVINA, 2002;

GRISCI, 2003; GRISCI, HOFMEISTER e BECKER, 2006; HALLACK e SILVA, 2005;

HIRATA, 2011; KARABAY e McLAREN, 2010; LIMA, 2010; MARTINS e HONÓRIO,

2014; SALAMA, 2002; SANTOS, SIQUEIRA e MENDES, 2011; SATO e SCHMIDT,

2004; SOUSA e MENDONÇA, 2009; ZANELLI et al., 2010).

Quanto à intensificação das atividades, Hirata (2011) salienta os múltiplos

danos à saúde física e psíquica e o aumento da distância entre os que estão

empregados/assalariados e os que estão à procura de emprego, o que pode

significar a institucionalização da precariedade.

Esses acontecimentos levaram alguns autores a questionarem a centralidade

do trabalho (ALVES, 2000; ANTUNES, 1999; ANTUNES, 2010; ARGOLO e

ARAÚJO, 2004; BERNAL, 2010; BRAVERMAN, 2011; CANIATO, CESNIK e

ARAÚJO, 2010; CARDOSO, 2008; CLOT, 2007; COSTA, 2007; COSTA, 2008;

DEJOURS, ABDOUCHELI e JAYET, 2009; GERMAIN, 2014; GRAVINA, 2002;

GRISCI, 2003; GRISCI, HOFMEISTER e BECKER, 2006; HALLACK e SILVA, 2005;

HIRATA, 2011; KARABAY e McLAREN, 2010; LIMA, 2010; LOURENÇO, 2014;

POMPILI et al., 2008; RODRIGUES, MORIN e STREHLAU, 2009; SZNELWAR,

2011; UCHIDA, 1998; ZANELLI et al., 2010). Se o trabalho já foi entendido como

principal âncora da identidade do indivíduo, hoje ele se torna fator de sofrimento,

adoecimento e, em situações extremas, de suicídio. É o que demonstra a pesquisa

de Hirata (2011) sobre o Brasil, França e Japão. A situação japonesa é tão grave

que o suicídio por excesso de trabalho suplantou a morte por excesso de trabalho.

Na França, foram 710 casos associados ao excesso de cansaço, 587 tiveram

relação com o local de trabalho e 478 foram atribuídos a erros cometidos no

trabalho. Ao todo, foram 1.775 suicídios relacionados ao trabalho, em 2010. Os

principais motivos apontados envolvem intensificação das atividades, falta de

solidariedade e de trabalho em equipe, isolamento social e assédio moral e

psicológico.

Diante de tudo isso, conclui Bendassolli (2007, p.25) que “mal-estar,

insegurança e medo são apenas alguns dos exemplos de sintomas mais comuns da

relação homem-trabalho em nossos dias”, o que configura um cenário propício para

28

a intensificação do sofrimento do trabalhador, tema do próximo tópico desta

pesquisa.

2.2 O sofrimento no trabalho

Cristophe Dejours é um autor relevante, quando o assunto é o sofrimento no

trabalho, que ele entende como a perda de sentido na realização das tarefas. Como

origens desse sofrimento, têm-se o medo de não ser competente o suficiente para

ser valorizado e manter o emprego, a pressão para trabalhar mal que advém de

normas incompatíveis, a falta de reconhecimento e a incapacidade de transformar o

trabalho em prazer (SELIGMANN-SILVA, 2009).

Médico do trabalho, psiquiatra e psicanalista, nos anos setenta do século XX

já havia publicado várias pesquisas sobre os estudos psicossomáticos e as relações

entre saúde e trabalho. Sua produção intelectual assinala um olhar amplo e

integrador, que perpassa a filosofia do conhecimento e as ciências sociais. Mesmo

sendo crítico das abordagens positivistas das pesquisas tradicionais em medicina do

trabalho, valoriza a clínica do trabalho, bem como suas experiências. Além disso,

desafia a psicanálise no sentido de considerar adequadamente os fenômenos do

mundo do trabalho que geram impacto sobre a dinâmica intrapsíquica e a

intersubjetividade (SELIGMANN-SILVA, 2009).

A escola dejouriana foi constituída pela articulação de especialistas e espaços

de pesquisa, inicialmente na França. A posteriori, transpôs fronteiras, atingindo o

Brasil e outros países. Seu início teve como foco a dinâmica das situações de

trabalho que ora conduziam ao prazer, ora conduziam ao sofrimento e que, em

decorrência dos diferentes desdobramentos, poderiam culminar em patologia mental

ou psicossomática. A estruturação dessa escola envolveu a Association pour

l’Ouverture Du Champ d’Investigation Psychopathologique 3 (AOCIP), que integrou

pensadores e pesquisadores de variadas inserções profissionais e institucionais para

promover, sistematicamente, reuniões de estudo e seminários interdisciplinares, a

fim de discutir pesquisa de campo e teoria, bem como outras iniciativas. Os produtos

desse trabalho foram consolidados em livros ou publicados na forma de artigos.

3 Associação para Abertura do Campo de Investigação Psicopatológica

29

Mais do que estudar e identificar doenças mentais específicas, atreladas à

profissão ou a situações laborais, a abordagem da nova Psicologia do Trabalho se

preocupa com a dinâmica mais abrangente, ou seja, com a gênese e as

transformações do sofrimento mental atreladas à organização do trabalho

(SELIGMANN-SILVA, 2009).

Outros autores também aprofundaram seus estudos sobre as consequências

provenientes do trabalho na vida das pessoas (ALARCON, 2011; CLOT, 2007;

FERNANDÉZ et al., 2013; HIRATA, 2011, PÉREZ, 2013; POMPILI et al., 2008;

SEIDLER et al., 2014; VIVIERS et al., 2008). Karabay e McLaren (2010)

argumentam que a volatilidade do mercado mundial enfraqueceu as relações de

trabalho, diminuiu a lealdade das empresas para com os empregados e aumentou o

desemprego. Antunes (2010) afirma que a década de 1980 assistiu, nos países de

capitalismo avançado, a profundas transformações no mundo do trabalho, nas suas

formas de inserção na estrutura produtiva, de representação sindical e política.

Essas transformações trouxeram, segundo o autor, mais sofrimento para o mundo

do trabalho.

Zanelli et al. (2010, p. 11) desenvolveram um estudo que envolveu Brasil,

Chile, Portugal e México e possibilitou enumerar fatores geradores de sofrimento no

trabalho: ansiedade; depressão; doenças físicas e mentais; desgaste físico e

emocional; aumento da carga de trabalho; remuneração reduzida; falta de

reconhecimento; estresse; valores conflitantes.

Também para Antunes (2010), Bernal (2010) e Limongi-França e Rodrigues

(1997), a incerteza trazida por esse cenário, em relação à manutenção do emprego,

tanto pela instalação de multinacionais em países que não possuem vínculos com

seus povos, quanto pela crescente informatização que reduz a oferta de trabalho, é

fator de sofrimento. Outro agravante que intensifica o sofrimento no trabalho são as

manifestações de estresse ocorridas nas empresas em momentos de maior tensão,

como cortes de pessoal, mudanças de chefias, novas tecnologias e formas de

trabalhar. Para esses autores, esse panorama em que o trabalhador é visto como

descartável diminui sua auto-estima, não considera seu trabalho como algo

importante ou interessante, não reconhece seu esforço nem reforça sua identidade.

Essas são, portanto, ameaças à dignidade humana, que permanecem nos dias

atuais, talvez de forma ainda mais intensa.

30

Em decorrência da atual conjuntura de precarização das condições de

trabalho, justifica-se abordar o impacto do desemprego, o estresse do trabalho, a

síndrome do esgotamento profissional (burnout) e o assédio psicológico no trabalho

(mobbing).

Com relação ao desemprego, Bernal (2010) e Germain (2014) ressaltam seus

efeitos psicossociais como, por exemplo: problemas de identidade; transtornos

psíquicos menores; depressão; autoestima negativa; suicídio. Alguns fatores que

pioram a situação do desemprego incluem a baixa oferta de proteção social, a

família que não se constitui em fonte de apoio, o forte apelo para o consumo e a

perda de status.No nível individual, o desemprego impacta fortemente a saúde

mental, torna o indivíduo mais instável emocionalmente, traz efeitos como a

infelicidade, problemas familiares, perda de amigos e relacionamentos, incrementa a

solidão, o alcoolismo e outros vícios. No nível familiar, pode ocorrer depressão nas

esposas quando o marido perde o emprego, aumento dos maus tratos sobre os

filhos, uso de drogas, alterações comportamentais. No nível social, pode haver

apatia em alguns e atitudes mais críticas e radicais em outros. O desemprego

agrava o sofrimento psicológico das pessoas e deteriora o bem-estar psicológico

(ARGOLO e ARAÚJO, 2004; CLOT, 2007; GERMAIN, 2014; HIRATA, 2011; LIMA,

2010; POMPILI et al., 2008; SATO e SCHMIDT, 2004), principalmente quando há

significativa responsabilidade pelos encargos financeiros e a disponibilidade de

recursos escasseia ou se exaure (ARGOLO e ARAÚJO, 2004).

Abs e Monteiro (2010) relatam que as vivências de caráter negativo do

desemprego estão relacionadas a desamparo, exclusão, falta de perspectiva,

intenso medo e despotencialização de capacidades. A pesquisa de Castelhano

(2005) pontuam que o medo do desemprego já é suficiente para tornar o trabalhador

vulnerável e sujeito à dominação e ao controle. Como ratifica Hirata (2011), mesmo

as carreiras estáveis apresentam o sentimento de insegurança no emprego. Com

isso, perde-se o espírito de coletivismo e exacerba-se o individualismo.

O estresse do trabalho é caracterizado por um esgotamento generalizado,

físico, mental e emocional, que acarreta baixa autoestima e relações interpessoais

bem mais deficientes e problemáticas. Além da depressão, o estresse também pode

causar morte súbita que tem ocorrido, com frequência, entre os executivos

japoneses (BERNAL, 2010). Para Murofuse, Abranches e Napoleão (2005), o

estresse, sinônimo de cansaço, dificuldade, frustração, ansiedade, desamparo e

31

desmotivação, advém da busca da produtividade a qualquer preço sem levar em

consideração seus impactos para os trabalhadores. Para Castelhano (2005) e Clot

(2007), a empresa sempre promoveu um ambiente estressor, mas isso se

intensificou nos últimos tempos, com o aumento do desemprego estrutural, que

deixa o trabalhador sujeito à maior fragilização e vulnerabilidade. A pesquisa de

Marchand, Demers e Durand (2005), com mais de nove mil trabalhadores

assalariados em diversas ocupações no Canadá, concluiu que o estresse, os

recursos e as condições de trabalho são fatores determinantes para o sofrimento

psíquico.

Richardson e Rothstein (2008) apud ZANELLI et al.(2010) realizaram 36

trabalhos experimentais, com 2.847 adultos e 55 programas de intervenção, para

avaliar o estresse emocional relacionado ao trabalho. No Brasil, Chile e México o

impacto do estresse é expressivo. Nos Estados Unidos, 80% dos acidentes de

trabalho tiveram o estresse como um dos fatores envolvidos e, de 1997 a 2001, o

número de trabalhadores norte-americanos com pedido de licença médica,

proveniente do estresse, triplicou. Parte do estresse dos trabalhadores norte-

americanos talvez possa ser explicada pelos estudos de High (2013) e Linkon

(2013), em decorrência da desindustrialização sofrida nesse país, que ocasionou o

desemprego de muitos, assim como a dificuldade de reposicionamento em outras

atividades.

Quanto ao burnout, para Hirigoyen (2000), Murofuse, Abranches e Napoleão

(2005), Pérez (2013), Viviers et al. (2008), Santos, Pereira e Carlotto (2010) e

Seidler et al. (2014), esta síndrome do esgotamento profissional tem como

componentes a exaustão emocional, a despersonalização e o não envolvimento

pessoal no trabalho. Bernal (2010) salienta que os sintomas são semelhantes aos do

estresse: físicos (fadiga crônica, cefaleias, insônia, transtornos gastrointestinais,

perda de peso e dores musculares); cognitivo-afetivos (distanciamento afetivo,

irritação, receios, falta de concentração, baixa autoestima, pessimismo, indecisão);

comportamentais (faltas ao trabalho, abuso de drogas, condutas violentas,

comportamentos de alto risco). As consequências para o trabalhador envolvem

impactos emocionais (sentimentos de solidão, de dispersão e de impotência,

ansiedade); de atitude (não verbalização, cinismo, apatia, hostilidade, desconfiança);

de conduta (agressividade, isolamento, mudanças bruscas de humor, zanga

frequente, irritação); psicossomáticos (dor no peito e palpitações, hipertensão, crises

32

respiratórias, maior incidência de infecções, aparecimento de alergias, dores

cervicais e de coluna, fadiga, alterações menstruais, úlcera gastroduodenal, diarreia,

enxaqueca e insônia). Para a organização, as consequências incluem: baixa

satisfação no trabalho; tendência de abandonar o trabalho; maior número de faltas;

perda da qualidade do serviço.

Dentre os fatores que contribuem para essa síndrome, é possível enumerar: a

desvalorização da profissão na sociedade; ambiguidade de função; falta de apoio no

ambiente de trabalho; relações tensas e conflituosas com colegas de trabalho

(BERNAL, 2010; HIRIGOYEN, 2000; MUROFUSE, ABRANCHES E NAPOLEÃO,

2005). Outras pesquisas comprovaram a relação que a organização do trabalho,

tarefas e condições sociais mantêm com essa síndrome como, por exemplo, as de

Alarcon (2011), Germain (2014), Pérez (2013) e Santos, Pereira e Carlotto (2010).

Pelos estudos realizados, Seidler et al. (2014) ratificam que o burnout

prevalece nas profissões de docentes, médicos e enfermeiros e é um potencial

desenvolvedor da depressão, mas há autores que investigaram o fenômeno em

distintas profissões, como Viviers et al. (2008).

Outro fator de sofrimento é o assédio psicológico no trabalho, que tem como

sinônimos os termos mobbing, bullying, assédio moral, assédio psicológico ou terror

psicológico no trabalho e é definido pela violência pessoal, moral e psicológica no

ambiente de trabalho (BARRETO, 2006; FERNANDÉZ et al., 2013; GUIMARÃES e

RIMOLI, 2006; HIRIGOYEN, 2000; POMPILI et al., 2008; YILDIRIM e YILDIRIM,

2007). Esse assédio não é exclusividade de determinados países, mas um

fenômeno generalizado. O interesse pelo tema não parece ser de ordem altruísta ou

humanista e, sim, econômico, como pontuam Guimarães e Rimoli (2006), devido aos

custos que implica com saúde, absenteísmo, baixa produtividade e rotatividade de

pessoal.

O assédio psicológico no trabalho é caracterizado pela intensidade e

repetição contínua da agressão (críticas, menosprezo, ameaças) e pela ilegitimidade

de seus ataques, que têm a intenção de destruir psicologicamente um indivíduo. Os

sintomas e consequências para o trabalhador são bastante semelhantes aos do

burnout (BERNAL, 2010; FERNANDÉZ et al., 2013; HIRIGOYEN, 2000; POMPILI et

al., 2008; SEIDLER et al., 2014; YILDIRIM e YILDIRIM, 2007). Para esses autores, o

mobbing decorre da atual situação do trabalho, caracterizada pela competição de

todos contra todos, pelo contexto de incerteza, de ameaça e de medo do futuro. O

33

mais grave desse assédio é que cerca de 20% dos assediados sofrem a total

exclusão profissional e/ou social e, em algumas situações, podem chegar ao

extremo do suicídio (BERNAL, 2010; POMPILI et al., 2008; YILDIRIM e YILDIRIM,

2007).

A relação homem-trabalho remete a três questões preliminares que exercem

influência sobre o sofrimento: (1) o organismo do trabalhador não é um motor; (2) o

trabalhador possui uma história pessoal com características únicas e (3) cada

trabalhador possui uma estrutura de personalidade distinta. Segundo Dejours,

Abdoucheli e Jayet (2009), essas premissas estão diretamente relacionadas ao

sofrimento ou prazer do trabalhador diante da organização do trabalho.

De acordo com os autores, há duas categorias de trabalho: o fatigante e o

equilibrante. A primeira representa fonte de tensão e de desprazer, enquanto a

segunda trata do trabalho livremente escolhido ou organizado. Assim, fica claro que

a organização do trabalho, que determina a divisão do trabalho e dos homens, pode

gerar sofrimento ou prazer para o trabalhador. É fonte de sofrimento quando

entendida como a vontade do outro de dominar, controlar e explorar ao máximo a

força de trabalho, quando não é mais possível rearranjar a organização do trabalho.

É fonte de prazer quando, dentre outros aspectos, há mais liberdade no

estabelecimento do que será realizado. Por isso, a mesma organização do trabalho

que afeta um não causa igual efeito em outro.

Em um de seus estudos, Dejours (2000, p. 27) aborda a relação entre

sofrimento e trabalho e afirma que é fantasia a atenuação ou completa eliminação

do sofrimento no trabalho em decorrência da “mecanização e robotização, que

teriam abolido as obrigações mecânicas, as tarefas de manutenção e a relação

direta com a matéria que caracterizam as atividades industriais”. Para ele, o

sofrimento dos que trabalham pode ser retratado pelas tarefas arriscadas para a

saúde, principalmente nas situações frequentes de infrações às leis trabalhistas,

pelo medo da incompetência, pela pressão para trabalhar mal, pela desesperança

de reconhecimento, pelas estratégias defensivas e pela própria negação do

sofrimento, que serão explicados a seguir.

Sobre esses fatores que desencadeiam o sofrimento no trabalho, o medo da

incompetência acontece quando resta dúvida se um problema ocorreu por falha

humana ou por anomalias do sistema técnico. Já a pressão por trabalhar mal

decorre da forma de organização do trabalho, que pode conflitar com os valores do

34

trabalho bem executado, aliado ao senso de responsabilidade e ética profissional. A

desesperança de reconhecimento, que pode desestabilizar o referencial do indivíduo

em que se apóia a identidade, está relacionada à indiferença ou negação do esforço

por se fazer o melhor, com utilização de muita energia, paixão e investimento

pessoal dos que trabalham (DEJOURS, 2000).

Mas há também tentativas de minimizar o sofrimento no trabalho, quer pela

sua negação, quer pela adoção de estratégias defensivas. Para Dejours (2000), as

estratégias de defesa são uma forma de mascarar o sofrimento no trabalho que

pode contribuir para tornar aceitável aquilo que não deveria ser aceito. Trata-se de

mecanismos necessários para o trabalhador proteger sua saúde mental contra os

efeitos deletérios do sofrimento, mas que, inclusive, pode funcionar como armadilha

para insensibilizar tudo aquilo que faz sofrer.

Vários autores relatam a utilização de estratégias de defesa por parte dos

trabalhadores para minimizar o sofrimento no trabalho (CANÇADO, 1994;

CÂNDIDO, 2004; CASTRO e CANÇADO, 2009; LOURENÇO, 2014; MENDES,

VIEIRA e MORRONE, 2009; OLIVEIRA e GARCIA, 2011; VILELA, GARCIA e

VIEIRA, 2012; VIEIRA, 2014; VIVIERS et al., 2008). Um deles é Bernal (2010), que

aborda essas estratégias, referentes ao estresse, sob duas óticas: enfrentamento e

prevenção. Quanto ao enfrentamento, o autor as agrupa em estratégias para mudar

a fonte do estresse, o significado ou a percepção do estressor e controlar os

sentimentos de insatisfação produzidos pelo estresse. Quanto à prevenção, o autor

defende a intervenção organizacional para mitigar os elementos estressores.

Em aspectos como este reside uma das contribuições da psicodinâmica do

trabalho proposta por Dejours, que representa um avanço do conceito de

psicopatologia, cuja crença era a de que o trabalho é fator causador de adoecimento

sem considerar a estrutura de personalidade de cada pessoa (DEJOURS,

ABDOUCHELI e JAYET, 2009). Vários estudos utilizam as idéias dessa escola (ABS

e MONTEIRO, 2010; ANTLOGA e MENDES, 2009; BIANCHESSI e TITTONI, 2009;

CANIATO, CESNIK e ARAÚJO, 2010; CASTELHANO, 2005; CASTRO e

CANÇADO, 2009; CECCON et al., 2014; COSTA, 2007; FERREIRA e MENDES,

2001; FLACH et al., 2009; GRAVINA, 2002; HALLACK e SILVA, 2005; KARAM,

2003; LEÃO e SILVA, 2012; LIMA JÚNIOR e ÉSTHER, 2001; MARTINS e

HONÓRIO, 2014; MERLO e LAPIS, 2007; MERLO et al., 2003; NUNES, 2014;

RODRIGUES, MORIN e STREHLAU, 2009; SALIMON e SIQUEIRA, 2013;

35

SANTOS, SIQUEIRA e MENDES, 2011; SATO e SCHMIDT, 2004; SOUSA e

MENDONÇA, 2009; SZNELWAR, UCHIDA e LACMAN, 2011; UCHIDA, 1998;

VASCONCELOS e FARIA, 2008; WEBER e GRISCI, 2010; WERLANG e MENDES,

2013), demonstrando o reconhecimento dos progressos que fez na compreensão de

um tema tão importante, como o sofrimento no trabalho.

2.2.1 O sofrimento do trabalhador brasileiro

A história social do trabalho, no Brasil, relaciona-se ao panorama da transição

do trabalho escravo para o livre. As marcas deixadas pela escravidão, no país,

culminaram numa ética do trabalho degradado, que deprecia o trabalhador e

fomenta desigualdades. Essa herança ditou as condições de reprodução da

desigualdade social e a divisão do trabalho (CARDOSO, 2008).

O sofrimento do trabalhador brasileiro, independentemente de sua profissão,

também já foi objeto de estudo de muitos pesquisadores, como Abs e Monteiro

(2010), Caniato, Cesnik e Araújo (2010), Castelhano (2005), Flachet al. (2009),

Hallack e Silva (2005), Karam (2003), Merlo e Lapis (2007), Nogueira (2003) e

Werlang e Mendes (2013). Em todos esses estudos, é comum o entendimento de

que o sofrimento no trabalho é um aspecto a ser combatido, dados seus impactos

não só sobre os resultados organizacionais, mas também sobre o trabalhador.

O sofrimento do trabalhador brasileiro pode ser visto, dentre outros aspectos,

por meio de sua face mais letal: o suicídio. No País, constatou-se um aumento nas

taxas de morte por suicídio de 4,5/100 mil em 2000 para 5,7/100 mil em 2007

(CECCON et al, 2014). Os resultados dos estudos do autor sugerem que a

precarização do trabalho, a redução do poder de barganha do trabalhador e o medo

do desemprego pioram a qualidade de vida do trabalhador e promovem sofrimento

físico e mental. Este, por sua vez, traz o aumento do risco de autoagressão.

De modo mais incisivo, Freitas (2011, p. 54) posiciona o suicídio como um

problema organizacional: o aumento desse evento em ambientes de trabalho

desperta a atenção para a necessidade de refletir sobre até que ponto a organização

do trabalho não seria corresponsável por esse tipo de acontecimento. O fato de os

suicidas retratados na pesquisa da autora não serem desempregados ou pessoas

pouco qualificadas, e sim indivíduos bem posicionados, traz à tona o problema de

36

que o sofrimento no trabalho, que pode resultar nesse tipo de atitude extrema,

envolve desde o chão de fábrica até hierarquias superiores.

Várias pesquisas nacionais foram desenvolvidas a respeito do sofrimento do

trabalhador para os mais diferentes públicos, como se pode observar no Quadro 1:

Quadro 1 – Públicos por ramo de atuação

Ramo de atuação Autores

Especialistas em informática do setor bancário Uchida (1998)

Atendente presencial Ferreira e Mendes (2001)

Enfermeiros Lima Júnior e Ésther (2001)

Bancários Adler e Silva (2013); Gravina (2002); Grisci (2003); Grisci, Hofmeister e Becker (2006); Santos, Siqueira e Mendes (2011)

Trabalhadores da indústria de calçados, fiação, tecelagem, metalurgia e produção de cartões de crédito

Merlo et al. (2003)

Trabalhadores, gestores e profissionais da saúde do setor de serviços em Belo Horizonte

Brant e Minayo-Gómez (2007)

Terceirizados no Ministério Público do RS Costa (2007)

Funcionários de uma IES das áreas técnico-administrativas, gestão administrativa e acadêmica

Vasconcelos e Faria (2008)

Vendedores de material de construção Antloga e Mendes (2009)

Profissionais de recursos humanos Castro e Cançado (2009)

Trabalhadores do setor penitenciário Sousa e Mendonça (2009)

Chefias intermediárias em hospitais Weber e Grisci (2010)

Portadores de deficiência auditiva e física Leão e Silva (2012)

Organizações ambientalistas do terceiro setor Salimon e Siqueira (2013)

Docentes Martins e Honório (2014)

Fonte: elaborado pela autora

Nesses estudos, inúmeros motivos foram elencados como origem para o

sofrimento do trabalhador. Uchida (1998), por exemplo, pesquisou especialistas em

informática, do setor bancário, e identificou alguns deles: sensação de que o

trabalho não é “seu” e perda de capacidade de impor limites à invasão da

37

organização na vida pessoal. As pesquisas com bancários realizadas por Adler e

Silva (2013), Gravina (2002), Grisci (2003), Grisci et al. (2006), Santos, Siqueira e

Mendes (2011) descrevem: migração para o trabalho informatizado; menor índice de

relacionamento com os clientes devido às diversas modalidades de atendimento;

possibilidade de obsolescência do conhecimento; relacionamentos de curto prazo e

o nomadismo voluntário (intensificação da mobilidade, disponibilidade constante e

ilimitada, instabilidade nas relações familiares e pessoais e perda de controle da

própria vida).

Ferreira e Mendes (2001), por sua vez, ao investigarem atendentes

presenciais, descobriram, como fontes de sofrimento: (1) a configuração do espaço

físico; (2) os recursos visuais deficitários; (3) os problemas de concentração no

trabalho, que dificultam sua realização e (4) o conflito de interação entre os

funcionários e o sistema informatizado, que impacta negativamente o atendimento

ao usuário.

Lima Júnior e Esther (2001) salientam que o sofrimento para os enfermeiros é

decorrente, dentre outros elementos, da jornada de trabalho noturna e da obrigação

de se portar sempre como profissional, ou seja, sem demonstração de sentimentos

mediante o sofrimento do paciente. Para esse mesmo público, Weber e Grisci (2010)

acrescentam a questão do cotidiano de convívio com a doença.

Para os trabalhadores da indústria de calçados, fiação, tecelagem, metalurgia

e produção de cartões de crédito os motivos de sofrimento incluem, por exemplo, o

uso das novas tecnologias, que força o ritmo de trabalho, a redução do tempo de

pausa e lanche e,até mesmo,o controle sobre a utilização do banheiro (MERLO et

al., 2003).

Os funcionários das organizações ambientalistas do terceiro setor, objeto de

estudo de Salimon e Siqueira (2013), registraram como motivos de sofrimento: o

conflito entre as aspirações do terceiro setor e os indicadores de racionalidade; o

foco nos produtos e não no processo; a forma de avaliação dos resultados; os

conflitos de racionalidade e intrapsíquicos (o trabalhador discorda da atitude da

empresa, mas acata suas determinações por precisar do emprego) e a perda dos

valores devido aos novos arranjos organizacionais para favorecer o financiador das

organizações ambientalistas.

Zanelli et al. (2010) sinalizaram que, em diferentes regiões brasileiras, vários

estudos confirmam que a saúde, a qualidade de vida e o bem-estar do trabalhador

38

têm sido prejudicados. Obviamente, isso trouxe repercussões em termos do

sofrimento no trabalho. Pesquisas comparativas realizadas pelo Centro Psicológico

de Controle do Estresse, em 1996, apontam para 40% o nível de estresse de

pessoas com cargos executivos e diretivos no Brasil. Entre 2002 e 2003, 69% das

pessoas pesquisadas que possuíam cargos gerenciais nas cidades de São Paulo,

Fortaleza, Recife e Salvador apresentavam o quadro de estresse.

Um estudo recente sobre o burnout foi realizado por Martins e Honório (2014),

com o público docente de uma Instituição de Ensino Superior (IES) privada, em Belo

Horizonte. O fator mais crítico para a ocorrência do burnout, conforme os resultados,

foi o esgotamento profissional, mas também foi percebida a falta de reconhecimento,

além de precarização, falta de autonomia, novas formas de avaliação do ensino

superior e relacionamento interpessoal (inexistência de solidariedade, cooperação e

harmonia nos relacionamentos, além da competitividade entre os pares).

Em comum, esses estudos apresentam, como fatores de sofrimento para o

trabalhador, aqueles descritos no Quadro 2.

Quadro 2 – Agrupamento de fatores comuns de sofrimento para o trabalhador

brasileiro

(Continua)

Agrupamento Autores

Falta de reconhecimento/injustiça Antloga e Mendes (2009); Costa (2007); Leão e Silva (2012); Lima Júnior e Ésther (2001); Martins e Honório (2014); Salimon e Siqueira (2013); Sousa e Mendonça (2009); Vasconcelos e Faria (2008); Weber e Grisci (2010).

Instabilidade, ameaça de desemprego ou extinção da profissão

Adler e Silva (2013); Antloga e Mendes (2009); Brant e Minayo-Gómez (2007); Gravina (2002); Grisci (2003); Grisci et al. (2006); Merlo et al (2003); Santos, Siqueira e Mendes (2011); Weber e Grisci (2010).

Baixa valorização, remuneração e benefícios inadequados e precarização do trabalho

Costa (2007); Leão e Silva (2012); Lima Júnior e Ésther (2001); Rodrigues, Morin e Strehlau (2009); Salimon e Siqueira (2013); Sousa e Mendonça (2009); Weber e Grisci (2010).

39

(Conclusão)

Agrupamento Autores

Organização do trabalho Antloga e Mendes (2009); Brant e Minayo-Gómez (2007); Leão e Silva (2012); Lima Júnior e Ésther (2001); Merlo et al. (2003); Vasconcelos e Faria (2008).

Ambiente físico e condições de trabalho precárias e degradantes

Ferreira e Mendes (2001); Vasconcelos e Faria (2008).

Falta de treinamento e de recursos Costa (2007); Merlo et al. (2003); Salimon e Siqueira (2013).

Quebra de confiança, individualismo e falta de solidariedade entre os pares

Adler e Silva (2013); Antloga e Mendes (2009); Gravina (2002); Grisci (2003); Martins e Honório (2014); Santos, Siqueira e Mendes (2011); Weber e Grisci (2010).

Adoecimento físico, esgotamento psíquico, ansiedade, angústia, fadiga, estresse, depressão, fragilização, insegurança, medo de fracassar, pressão e excesso de trabalho

Adler e Silva (2013); Antloga e Mendes (2009); Brant e Minayo-Gómez (2007); Gravina (2002); Grisci (2003); Grisci et al. (2006); Leão e Silva (2012); Lima Júnior e Ésther (2001); Martins e Honório (2014); Salimon e Siqueira (2013); Santos, Siqueira e Mendes (2011); Uchida (1998); Vasconcelos e Faria (2008); Weber e Grisci (2010).

Conflito no relacionamento com a chefia

Antloga e Mendes (2009); Costa (2007); Merlo et al.(2003); Vasconcelos e Faria (2008); Salimon e Siqueira (2013); Sousa e Mendonça (2009); Weber e Grisci (2010).

Perda de controle sobre o tempo ou trabalho

Adler e Silva (2013); Gravina (2002); Grisci (2003); Grisci et al. (2006); Lima Júnior e Ésther (2001); Santos, Siqueira e Mendes (2011); Uchida (1998).

Fonte: elaborado pela autora

Inicialmente, o levantamento dessas pesquisas envolveu buscas em

periódicos classificados como A1, A2, B1 e B2 no Qualis CAPES, em uma das três

Áreas de Avaliação (Administração, Ciências Contábeis e Turismo, Psicologia ou

Sociologia), publicados entre 2005 e 2014, conforme discriminado no Quadro 3,

além dos anais do EnANPAD – Encontro Anual da Associação Nacional dos

Programas de Pesquisa e Pós Graduação em Administração e Portal CAPES.

Foram usados, como termos de busca, os seguintes: “sofrimento”, “invisibilidade”,

“indiferença”, “reconhecimento” e “terceirizado”. Mas, como em alguns casos, a

busca em 10 anos encontrou poucas publicações, o período foi estendido e

compreende 1 artigo de 1994 e os demais a partir de 2001.Essa busca mostrou

como o tema sofrimento recebe atenção de vários estudiosos. Revela, também, sua

complexidade, na medida em que, como fontes de sofrimento no trabalho, são

elencados aspectos os mais diversos. Reforça, ainda, a precarização do trabalho e

discorre sobre fatores que evidenciam as condições a que são submetidos os

trabalhadores na contemporaneidade.

40

Quadro 3 – Pesquisa de Periódicos

(Continua)

Revista ISSN Classificação

Administração Classificação

Psicologia Classificação

Sociologia

Caderno CHR 1983-8239 B1 SC A1

Caderno de Saúde Pública 0102-311X A1 A2 A2

Cadernos de Psicologia Social do Trabalho

1981-0490 SC B2 SC

Cadernos EBAPE (FGV) 1679-3951 B1 B2 B3

CEBRAP 0101-3300 B1 SC A1

Ciência e Saúde Coletiva 1413-8123 A2 A2 B1

Economia & Gestão 1984-6606 B2 B4 B4

Economia Contemporânea 1415-9848 B1 SC SC

Estudos de Psicologia (Campinas) 0103-166X B1 A2 SC

Estudos e Pesquisas em Psicologia 1808-4281 B2 B1 SC

Revista de Administração (Belo Horizonte. FACES Online)

1984-6975 B1 SC SC

Gestão e Planejamento 2178-8030 B2 SC SC

Organizações & Sociedade 1984-9230 A2 SC SC

Organizações em contexto 1982-8756 B2 SC SC

Physis 0103-7331 SC B1 B1

Produção (São Paulo. Impresso) 0103-6513 B1 B2 B4

Psicologia e Sociedade 1807-0310 B1 A2 SC

Psicologia em Estudo 1413-7372 A2 A2 B1

Psicologia USP 0103-6564 B1 A2 B2

Psicologia: Teoria e Pesquisa 0102-3772 A2 A1 B2

Psico-USF 1413-8271 B1 A2 SC

Psiquiatria RS 0101-8108 SC B2 SC

Revista Brasileira de Ciências Sociais

0102-6909 B1 SC A1

Revista Brasileira de Enfermagem 0034-7167 A2 B2 B2

Revista de Administração Contemporânea

1415-6555 A2 B1 B1

Revista de Administração da Universidade de São Paulo

1984-6142 A2 SC SC

Revista de Administração de Empresas

2178-938X A2 SC SC

Revista de Administração Mackenzie

1678-6971 B1 B1 SC

Revista de Ciências da Administração

1516-3865 B1 B3 B3

41

(Conclusão)

Revista ISSN Classificação

Administração Classificação

Psicologia Classificação

Sociologia

Revista Eletrônica de Administração (Porto Alegre)

1980-4164 B1 SC SC

Revista Eletrônica de Ciência Administrativa

1677-7387 B2 SC SC

Revista Latino-Americana de Enfermagem

1518-8345 A2 B1 SC

Saúde e Sociedade 0104-1290 B1 B2 B1

Saúde Ocupacional 0303-7657 B1 B2 B2

Serviço Social & Sociedade 0101-6628 B1 B2 B1

Sociologias 1517-4522 A2 B1 A1

Tempo Social (USP) 0103-2070 SC B1 A1

Texto e Contexto Enfermagem 0104-0707 A2 B1 B4

Fonte: elaborado pela autora

Nota: SC = sem classificação

Os materiais encontrados permitiram uma melhor compreensão do que já se

produziu sobre o sofrimento do trabalhador brasileiro, de modo a contribuir para o

desenvolvimento das questões relacionadas à invisibilidade profissional, tema do

próximo tópico.

Além disso, é possível perceber que a questão do reconhecimento está

presente nas investigações realizadas, designada sob os mais distintos termos,

como desvalorização da profissão perante a sociedade (LIMA JÚNIOR e ÉSTHER,

2004); indiferença e sentimento de pouca valorização (COSTA, 2007); falta de

reconhecimento (ANTLOGA e MENDES, 2009; MARTINS e HONÓRIO, 2014;

SOUZA e MENDONÇA, 2009; VASCONCELOS e FARIA, 2008); baixo status

profissional (LEÃO e SILVA, 2012).

A relevância do reconhecimento é apontada, por Dejours (2000), como

decisiva para que um trabalho deixe de ser fonte de sofrimento e se torne causa de

prazer. Afinal, ele é capaz de mobilizar, de forma subjetiva, a inteligência e a

personalidade no trabalho, também designado, no vocabulário da Psicologia, como

“motivação no trabalho”. Segundo o autor, quando a qualidade do trabalho é

reconhecida, passam a ter sentido os esforços, angústias, dúvidas, decepções e

também desânimos que ele envolve. Resta o sentimento de que esse sofrimento não

foi em vão, mas contribuiu para a organização do trabalho e transformou o sujeito.

42

Assim, o reconhecimento desempenha um papel fundamental na construção

da identidade do indivíduo, pela possibilidade de transformar sofrimento em prazer,

pelo alívio, leveza ou, até mesmo, pelo sentimento de elevação, entendido por

Dejours como realização do ego (DEJOURS, 2000; ZANELLI et al., 2010). Ao

sentimento de falta de reconhecimento se relaciona, intimamente, o conceito de

invisibilidade profissional, sobre o qual serão oferecidos mais detalhes na próxima

seção deste trabalho.

2.3 A invisibilidade profissional

A literatura sobre invisibilidade apresenta alguns relatos em que ela é

entendida como existir sem ser visto (CAVEDON e FERRAZ, 2005) e como o ato de

se ignorar a existência do sujeito, que passa a não ser reconhecido pelos outros e

pela hierarquia das organizações (SZNELWAR, UCHIDA e LACMAN, 2011).

Outra definição da invisibilidade está relacionada aos aspectos sociais

negativos, ou seja, ao que é fruto da rejeição e dos bastidores, que é desinvestido e

desvalorizado por uma escala de desejabilidade moral e psicológica de profissões e

atividades. Como exemplos, têm-se atividades desprestigiadas, desconhecidas,

estigmatizadas, consideradas ingratas ou condenáveis, humilhantes, degradantes,

sinônimos de transgressão dos valores morais ou o que está ligado ao lixo, à faxina,

à morte, à loucura, à violência, à velhice, à marginalidade, à deficiência etc.

(LHUILIER, 2014).

O conceito de invisibilidade adotado neste estudo é o de Costa (2008), para

quem ela consiste numa espécie de violência simbólica e material que oprime

predominantemente cidadãos das classes pobres, representa uma humilhação

social, uma lacuna entre os cegos superiores e os subalternos. Essa invisibilidade se

manifesta relacionada à falta de reconhecimento, ao sentimento de existir sem ser

percebido, a formas de exclusão econômica e social, à desqualificação e

desvalorização do sujeito, num conceito que também é partilhado por outros autores

(BIANCHESSI e TITTONI, 2009; CAVEDON e FERRAZ, 2005; COSTA, 2008; DINIZ,

CARRIERI e BARROS, 2013; HOEVE, JANSEN e ROODBOL, 2014; MELO e

CASTILHO, 2009; NELSON, 2011; NUNES, 2014; SARAIVA e IRIGARAY, 2009;

TEIXEIRA, 2004).

43

Costa (2008) interpreta a invisibilidade como uma espécie de

desaparecimento psicossocial de um homem no meio de outros homens, fruto de um

processo histórico de longa data que rebaixa a percepção do profissional vinculado

ao baixo trabalho assalariado, ao trabalho desqualificado que é, simultaneamente,

alienado e alienante. O autor desempenhou o ofício de gari na Universidade de São

Paulo (USP), durante dez anos, em um ou dois dias por semana, num estudo de

caráter etnográfico cuja intenção residia em descrever e interpretar os fenômenos

psicossociais desse trabalho, tido como não-qualificado e subalterno. Na pesquisa

que resultou dessa experiência, foram discutidos problemas relacionados à

humilhação social.

Ao comentar situações do dia a dia que vivenciou, como quando colegas do

curso de Psicologia não o cumprimentaram, por não enxergá-lo, porque estava

uniformizado com um gari, Costa (2008) afirma que a invisibilidade tolhe as

expressões corporais e simbólicas dos humanos que já estão apagados, abafa sua

voz, baixa seu olhar, emudece seus sentimentos, esmorece o poder de aparição.

Diniz, Carrieri e Barros (2013, p. 16) apontam para a gravidade do que afirma Costa

(2008), ao ressaltarem que os processos de preterimento podem desencadear

sofrimento, estresse, angústia e, até mesmo, anomia. Da mesma forma, o

agravamento do adoecimento dos trabalhadores ocorre, dentre outros fatores,

também pela discriminação e humilhação, como reforça Clot (2007).

Duas outras vertentes da invisibilidade são pontuadas por Gonçalves Filho

(1998): a humilhação social e a reificação. Para o autor, a humilhação social é um

fenômeno histórico, longamente sofrido pelos pobres; uma modalidade de angústia

proveniente da desigualdade de classes; uma longa história de rebaixamento; a

exclusão do homem para fora do âmbito intersubjetivo do reconhecimento da sua

dignidade; o contraponto entre a superioridade de uns e a inferioridade de outros. Na

visão dos pobres, a humilhação é uma realidade constante ou prestes a acontecer,

pelo sentimento de não terem direitos, de passarem a ideia de seres desprezíveis e

repugnantes, de falarem e se moverem sem serem vistos. A reificação apresenta o

caráter de invisibilidade quando é fruto de um processo em que o capitalismo

coisifica o homem, o reduz à qualidade de objeto, sem características pessoais. É a

transformação do homem em número quando interessa, somente, sua capacidade

de produzir.

44

Nesse contexto, no tocante aos comerciários, a célebre frase “o cliente tem

sempre razão” é contestada por Lourenço (2014). Para a autora, esse lema implica

precarização, já que negligencia os trabalhadores e degrada sua relação com o

cliente. Sua pesquisa foi realizada com cinco empresas (supermercado; farmácia;

panificadora; posto de combustível e hortifrutigranjeiros), cujo perfil dos

trabalhadores é de jovens com baixa escolaridade e cuja remuneração é o salário

mínimo. Para eles, a principal desvalorização não está associada aos baixos

salários, mas ao sentimento de humilhação social. Algumas experiências

vivenciadas denotam o sofrimento a que foram sujeitos e demonstram que esses

comerciários estão esquecidos nas relações de trabalho: indiferença do cliente;

infração às regras estabelecidas para atender as vontades dos consumidores;

agressão verbal e física; falta de apoio dos superiores nas situações de embate em

que o trabalhador está com a razão são exemplos de situações corriqueiras que

enfrentam.

Uchida (1998, p.6) não utiliza a expressão invisibilidade, mas investigando

questões a ela relacionadas, retrata a transparência do trabalhador do setor

bancário, especialista em informática, e define esse público como homem de vidro.

Ele esclarece que “isto ocorre porque o trabalho informatizado realiza um controle

impensável até recentemente, dando ao usuário a impressão da existência de um

censor onipresente”. Em complemento, o homem de vidro pode revelar a sensação

de perda de limites e contornos, facilmente quebrável, coisificação, esvaziamento,

não-vivência do trabalho – todos relacionados à noção de invisibilidade de

Gonçalves Filho (1998).

Pérez e Passini (2012) trataram da questão da invisibilidade. Eles realizaram

experimentos, auxiliados por tecnologias, com fotos de maiorias e minorias sociais.

Participaram vinte estudantes de graduação em Psicologia da Universidade de

Valência (Espanha), para que fosse possível investigar como o comportamento

social pode ser influenciado pela visão e como a interação visual pode ser geradora

de identidade social. O experimento de consciência reflexiva ocorre quando o

participante sabe que será monitorado e, no experimento de consciência não-

reflexiva, o participante não sabe que está sendo monitorado. O olhar comunica

intenções e sentimentos, é capaz de gerar atração ou repulsa. A representação nas

fotos foi dividida pelas dimensões étnica, sexual (casal heterossexual e casal

homossexual), cor da pele (branco e negro), idade (novo e velho), raça (pessoas que

45

se relacionam com outras da mesma raça e pessoas que se relacionam com outras

de raças diferentes) e animalização da pessoa (humano com expressão normal e

humano com expressão raivosa).

Segundo os autores, há situações em que não olhar é sinal de desprezo e há

situações em que olhar é sinal de humilhação. Os resultados de um dos

experimentos de consciência reflexiva revelaram a invisibilidade social pela aversão

a minorias, pois são associadas aos estímulos negativos. Como uma identidade

social positiva quer ser fomentada, os estudantes evitaram o contato visual com as

pessoas socialmente desvalorizadas e optaram por direcionar seu olhar para

aqueles que aparentavam ser melhor valorizados socialmente. Mas, quando não

houve necessidade da identidade social, as minorias foram mais vistas pelos

estudantes, ou seja, para Pérez e Passini (2012) a necessidade de identificação

social fez com que as minorias não fossem vistas.

Melo e Castilho (2009) abordam a invisibilidade do trabalho reprodutivo no

Brasil, relacionado aos cuidados com a família, ou seja, à atividade não mercantil

realizada, em sua grande maioria, pelas mulheres. Trata-se do público

estatisticamente “inativo”, assim considerado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE).

A profissão de trabalhador doméstico é uma das mais antigas em diversos

países e fonte de ocupação, sobretudo, para muitas mulheres em todo o mundo. É a

abertura para o mercado de trabalho para as mais pobres e uma atividade laboral

essencial para o funcionamento dos lares e da economia. As seguintes categorias

estão associadas ao trabalhador doméstico: cozinheiro; governanta; babá; lavadeira;

faxineiro; vigia; motorista particular; jardineiro; acompanhante de idosos; caseiro

(quando não há exercício de atividade com fins lucrativos). O traço que diferencia

esse tipo de emprego é o caráter não econômico, por se tratar de atividade exercida

no âmbito residencial do empregador. Mesmo com a significativa contribuição à

sociedade e à economia, trata-se de um trabalho subvalorizado, ainda pouco

regulamentado e que possui um dos maiores déficits de trabalho decente. Como é

predominantemente realizado por mulheres, é vinculado à história mundial de

escravidão, colonialismo e também a outras formas de servidão. Essa atividade

ressalta as desigualdades de gênero e raça, a divisão sexual do trabalho e a

desvalorização do trabalho reprodutivo, que é percebido como “natural” das

mulheres e aprendido dentro da família de origem. É percebido quando não é

46

realizado ou quando o é de forma deficiente. Daí sua característica de baixa

valorização, precariedade, informalidade (OIT, 2012) ou, por que não dizer,

invisibilidade.

Esse trabalho de cuidar, que tanto pode ser reprodutivo quanto mercantil, está

diretamente associado à esfera doméstica e é realizado, essencialmente, por

pessoas do gênero feminino. A pesquisa de Ulmann (2014), apoiada no

procedimento etnográfico, foi feita com algumas profissionais da primeira infância em

duas creches em Paris. A intenção da autora era observar as tensões vivenciadas

silenciosamente pelas mulheres pesquisadas, no cuidado com as crianças, e

questionar sobre a saúde delas devido à atividade fatigante. As características da

invisibilidade relacionadas a essas profissionais, conforme o estudo identificou,

envolvem: a qualidade de ser impalpável e produtor de poucos objetos, a

desvalorização e a falta de reconhecimento pela responsabilidade, esforço e

desgaste da profissão.

Numa linha de raciocínio similar, Dorna (2014) discutiu as relações entre o

trabalho de mãe e o trabalho formal. Segundo a autora, cabe às mulheres a parcela

principal de responsabilidade no cuidado com a casa e com os filhos e, por isso,

muitas empresas vêem a maternidade como sinônimo de produção menor e

justificativa para a manutenção da desigualdade salarial entre os gêneros. A autora

explica que essa invisibilidade não está atrelada somente ao trabalho invisível das

atividades domésticas denunciado pelo movimento feminista, mas também pela falta

de reconhecimento e desvalorização do trabalho realizado pela mulher devido à

segregação social e política a que foi sujeita ao longo da história. Patriota e Alberto

(2014) reforçam que as modalidades de trabalho doméstico não são reconhecidas e

não são vistas como trabalho, mas como dimensão do gênero ou participação na

vida social. Daí sua característica de invisibilidade.

Kosny e MacEachen (2009), por sua vez, estudaram as implicações para a

saúde e segurança dos trabalhadores em organizações de serviço social sem fins

lucrativos, no Canadá. Nesse país, o serviço social é de extrema importância, conta

com 7,5 milhões de voluntários e mais de 1,6 milhões de empregados. É realizado

predominantemente por mulheres (mais de 80%) enquanto que, nas empresas com

fins lucrativos, as mulheres representam menos da metade desses trabalhadores.

Segundo as autoras, essas atividades não têm recebido a devida prioridade quanto

às condições de trabalho e de saúde envolvidas. Mesmo sendo um setor em que a

47

violência, o estresse e a alta demanda prevalecem, tem sido um trabalho

subestimado, invisível e mal-remunerado. Na pesquisa, associa-se explicitamente a

invisibilidade ao gênero e à falta de reconhecimento das atividades de serviço social,

tais como o aconselhamento, a gestão das emoções dos clientes e dos próprios

funcionários e os cuidados inerentes a cada situação. O ato de cuidar é

desvalorizado por ser vinculado ao trabalho doméstico, tido como natural pelas

mulheres e, também, por ser voluntário pela maior parte dos trabalhadores. Ainda

sobre a desvalorização, a invisibilidade está relacionada ao público atendido por

essas instituições, composto, em sua grande maioria, por populações

marginalizadas (imigrantes, sem-teto, pobres, dependentes químicos, doentes

mentais).

Hirata (2011) elucida a questão da precariedade do gênero feminino perante o

masculino. Seu estudo foi feito no Brasil, França e Japão e, nesses países, o

emprego feminino aumentou substancialmente a partir dos anos 1990, mas

acompanhado do crescimento da vulnerabilidade e precarização das condições de

trabalho. Ao mesmo tempo em que muitas mulheres estudaram e se especializaram,

outras permaneceram em profissões com baixa remuneração, consideradas pouco

qualificadas e desvalorizadas. Além disso, a autora afirma que a precarização do

trabalho tem consequências diferentes para os homens e para as mulheres, que são

mais atingidas por serem minorias na operação fabril e maioria no setor de serviços

e comércio.

High (2013) apresenta aspectos relacionados à invisibilidade na forma da

marginalização dos trabalhadores ingleses e norte-americanos quer perderam seus

empregos devido ao processo de desindustrialização vividos nesses países. Esses

trabalhadores se sentem deslocados, envergonhados, ridicularizados, despojados

de suas identidades de trabalho por uma cultura que reifica o homem. O estudo de

Linkon (2013) refere-se somente aos norte-americanos, mas apresenta, igualmente,

o cenário de desolação das populações que construíram suas vidas ao redor de

empresas e que, com o fechamento das fábricas, passaram a viver com poucos

recursos.

Jouzel (2009), Schlindwein (2010) e Teixeira (2012), por sua vez, revelam a

invisibilidade das doenças e acidentes de trabalho na sociedade atual provenientes

do ambiente laboral. Jouzel (2009) afirma que vítimas de acidentes e doenças

derivadas da utilização de substâncias tóxicas permanecem invisíveis nos debates

48

políticos, na França, pela posição evasiva dos sindicatos, que não enfatizam a

importância da gestão de riscos à saúde dos trabalhadores.

Carreteiro (2003) também aborda a questão do sofrimento social vivido por

categorias subalternizadas, retratando-o pela exclusão, inutilidade, falta de inserção,

desqualificação, depreciação, desvalorização, angústia, instabilidade, humilhação,

vergonha, falta de reconhecimento, injustiça e sentimento de diminuição. O

silenciamento desse sofrimento é denominado pela autora de lógica da invisibilidade

do sofrimento, pois há a pretensão de apagá-lo, anulá-lo ou torná-lo inaudível.

Na visão de Diniz, Carrieri e Barros (2013), a invisibilidade dos garçons e

garçonetes, por exemplo, está atrelada ao desprestígio social da profissão e à

discriminação. Já Nunes (2014) expõe que a invisibilidade de serventes de limpeza

está associada à falta de reconhecimento e à depreciação desse trabalhador, cuja

construção cultural remete ao trabalho doméstico como, por exemplo, limpeza,

manutenção e conservação. O autor comenta ainda que, quanto aos vendedores, a

invisibilidade se refere ao deslocamento do perfil da prática de consumir, que

modificou a interação desse profissional com o público devido à possibilidade de

compra pela internet. A outra face da invisibilidade é que esse profissional sai de

cena para que o cliente experimente a compra, sem maiores interferências.

No contexto hospitalar, a invisibilidade do profissional enfermeiro é definida

pela falta de reconhecimento e desvalorização da profissão (CASTANHA e

NELSON, 2011; ZAGONEL, 2005). Para Bianchessi e Tittoni (2009), a invisibilidade

está relacionada à desvalorização e à desqualificação, temas que, na sua

investigação, mostraram-se provenientes dos embates nas relações profissionais

vindos da organização do trabalho num hospital. Hoeve, Jansen e Roodbol (2013)

retratam a invisibilidade do profissional enfermeiro com base nos seguintes fatores:

limitada representatividade da imagem pública, que não os vê como profissionais

(parcialmente influenciada pela dominância da profissão médica); inexpressiva

identidade profissional; desvalorização de suas habilidades pelo público interno e

externo. Esses autores afirmam que o ato de cuidar, promovido pelo enfermeiro, não

é suficiente para que sejam devidamente valorizados, uma vez que, como descrito

anteriormente, está relacionado ao trabalho doméstico. Por isso, sua conclusão é

que os enfermeiros devem galgar posições superiores (estratégicas) em que tenham

a possibilidade de promover uma melhor imagem da profissão e desmistificar a ideia

de que a sua atividade não é uma atividade profissional.

49

Mesmo no ambiente administrativo de uma organização multinacional, há

pessoas que se sentem invisíveis pela discriminação e indiferença. Esse retrato

pode ser constatado no estudo de Saraiva e Irigaray (2009), que discorrem sobre a

política de diversidade nas organizações e criticam a lacuna existente, nesse

aspecto, entre a teoria e a prática. A pesquisa constatou a baixa efetividade dos

discursos empresariais expressos nas políticas organizacionais, a preponderância

do preconceito arraigado dos próprios empregados e a falta de senso coletivo de

diversidade. Os autores utilizam o termo invisibilidade para descrever o sentimento

dos sujeitos de sua pesquisa e evidenciam que as minorias sujeitas a essa condição

assim permanecem por medo da perda do emprego, de represálias e pela ausência

de exemplos bem sucedidos. Um representante dessas minorias, no caso os negros,

explica esse sentimento com os dizeres:

“às vezes me sinto invisível, quando falam de viagens para os EUA, por exemplo (...) nem me puxam para a conversa (...) acho que pensam: não vamos humilhar este pobretão que nunca vai ter grana de viajar como a gente” (SARAIVA e IRIGARAY, 2009, p. 344).

Na tentativa de compreender a realidade de técnicos de nível médio e

superior, no interior dos laboratórios de pesquisa nacionais, Teixeira (2004) define a

invisibilidade como o desconhecimento do trabalho que esses realizam, no processo

de produção do conhecimento científico. O trabalho intelectual mais valorizado está

atrelado aos pesquisadores e não a esses profissionais, que estão encarregados

das competências manuais.

Já Schlindwein (2010) revela a invisibilidade social dos trabalhadores de fumo

do Rio Grande do Sul, pelas características de ser esta uma atividade escravizante

(dadas a ausência de direitos e a extensa jornada de trabalho), alienante, pouco

lucrativa, precarizada, com baixo reconhecimento, reificada. Como revelam alguns

dos entrevistados, nesse estudo, eles são tratados como objetos, na condição de

desiguais. A outra face da invisibilidade sentida por esses trabalhadores ocorre

quando adoecem ou se acidentam, pois deixam de existir como seres humanos para

o trabalho e enfrentam dificuldade para acessar os direitos básicos da previdência e

assistência social. Entre 1999 e 2001, os trabalhadores rurais ocuparam a segunda

posição no ranking dos óbitos por acidente de trabalho com a representatividade de

14,75% das mortes no estado.

50

Sobre essa questão da saúde do trabalhador brasileiro, Teixeira (2012) afirma

que ela tem merecido pouca atenção da sociedade e do Estado devido à lacuna

entre o direito e o respeito à saúde do trabalhador. Sua preocupação é válida por

duas expressivas estatísticas: os transtornos mentais (estresse, depressão e outras

moléstias) estão na terceira posição entre as causas de concessão de benefícios

previdenciários e, em 2009, quase 7 pessoas morreram por dia em decorrência de

acidentes de trabalho no Brasil.Na estatística da mortalidade, não estão incluídos o

funcionalismo público e os trabalhadores informais. As razões apresentadas para

esses fenômenos se relacionam aos seguintes fatores: falta de comunicação das

doenças do trabalho para os órgãos responsáveis; economia de investimentos em

manutenção preventiva; longas jornadas de trabalho e excessivas horas extras.

Esses elementos denotam o baixo nível de preocupação com a segurança dos

trabalhadores e, para a autora, são evidências da sua não visibilidade e da pouca

importância que lhes é destinada.

Como se percebe, a questão da invisibilidade se manifesta em variadas

profissões e de modos distintos, mas tem como características marcantes a falta de

reconhecimento e a desvalorização do trabalho e dos trabalhadores. Afeta as

condições laborais e acarreta sofrimento, sentimento de desqualificação,

insegurança, instabilidade e humilhação. Esses fatores foram investigados com os

trabalhadores terceirizados, escolhidos como sujeitos da presente pesquisa e

detalhados no tópico a seguir.

2.4 Os trabalhadores terceirizados

Conforme definição do DIEESE (2012b, p.3), “terceirização é o processo pelo

qual uma empresa deixa de executar uma ou mais atividades realizadas por

trabalhadores diretamente contratados por ela e as transfere para outra empresa”.

Dentre as principais justificativas econômicas, está o foco no aumento da

produtividade e qualidade como diferenciais para a competitividade e a redução de

custos de produção. Para as empresas, a terceirização é uma modalidade que

permite obtenção de ganhos com a minimização dos custos e a possibilidade de

concentrar seus investimentos nas atividades principais. Mas, para o trabalhador,

segundo a ótica do DIEESE (2012b), há maior sujeição a riscos de perda do

51

emprego, redução de salários, precarização das condições de trabalho, jornadas

mais extensas, desqualificação profissional e dificuldade de negociação coletiva.

No Brasil, 25% da mão-de-obra são de terceirizados, que possuem

rendimento médio substancialmente menor (metade) quando comparado ao

empregado próprio da Contratante. Eles exercem longas jornadas de trabalho e são

mais sujeitos à prática da rotatividade (DIEESE, 2012a).

Por meio das pesquisas de diversos autores, verificaram-se várias

características da invisibilidade geradoras de sofrimento para os trabalhadores

terceirizados. Dentre elas, elencam-se: falta de reconhecimento; desvalorização;

isenção de vínculo empregatício com a empresa contratante; direitos trabalhistas e

previdenciários negligenciados; insegurança; precarização do salário e das

condições de trabalho; instabilidade; falta de perspectiva de crescimento na carreira

(BARROS e MENDES, 2003; BRITO, MARRA e CARRIERI, 2012; CAVALCANTE,

OLIVEIRA e CAVALCANTE, 2009; COSTA, 2007; DÉCOSSE, 2013; DIEESE,

2012a; LIMA, 2010; QUINLAN e SOKAS, 2009).

Existem várias pesquisas em que se procura entender melhor a realidade

dessas pessoas. Barros e Mendes (2003), por exemplo, entrevistaram 20

trabalhadores terceirizados de uma construtora em Brasília. Estes atribuíram seu

sofrimento à vulnerabilidade, insegurança, condições precárias de trabalho, de

alimentação e alojamento, riscos de acidentes por causa da inadequação de

equipamentos de segurança, punição por erros, negligência de seus direitos básicos

(aposentadoria e plano de saúde). Outros fatores também apontados foram: alta

produtividade a qualquer custo; pressão; desgaste físico e mental; ansiedade; medo;

insatisfação; rigidez; falta de liberdade e de reconhecimento. Para enfrentar esse

sofrimento, vê-se a racionalização expressa em atitudes e comportamentos para

justificar a necessidade de sobrevivência. Os terceirizados fazem uso de estratégias

de defesa como alternativa para negar e suportar a adversidade, mas estas podem

ser positivas, quando favorecem o equilíbrio psíquico, ou negativas, quando alienam

e não provocam mudanças no contexto de trabalho.

Costa (2007) estudou os terceirizados no Ministério Público do Rio Grande do

Sul e identificou que, nesse caso, o sofrimento advém: da ausência de garantias

legais e contratuais; do caráter temporário e superficial devido a não permanência

por maior período de tempo; da necessidade de se adaptar e ser flexível a cada

novo contrato; do afastamento e indiferença por parte da empresa de terceirização;

52

do sentimento de inferioridade por ser terceirizado e do sentimento de fracasso por

não conseguir emprego melhor.

Cavalcante, Oliveira e Cavalcante (2009) avaliaram os profissionais de saúde

mental em um Centro de Atenção Psicossocial em Fortaleza, no Ceará, e

constataram que a vivência de sofrimento dos terceirizados está relacionada à

ausência de perspectiva de carreira, já que inexiste qualquer programa de ascensão

ou plano de crescimento; falta de expectativa de aumento salarial, de estabilidade e

de segurança.

Santos et al. (2009) pesquisaram garis terceirizados e constataram existir

relação entre terceirização e adoecimento do trabalhador. Nesse caso, os resultados

apontaram o sofrimento nos seguintes aspectos: esvaziamento do sentido do

trabalho; identidade profissional anulada; falta de reconhecimento da sua marca no

mundo e, consequentemente, dificuldade de se reconhecer como pessoa;

discriminação; despreocupação da empresa com a saúde do trabalhador; falta de

treinamento; riscos de doenças e acidentes; punições severas; desvalorização

profissional; desqualificação; desregulamentação do trabalho; autoritarismo

constrangedor; abuso de autoridade e intolerância gerencial; tratamento hostil e

agressivo; omissão do Estado no seu papel de regulador dos contratos sociais.

Lima (2010) associa a terceirização à reestruturação produtiva, à crise da

sociedade do trabalho e salarial (precarização), ao aumento do desemprego, à

intensificação do trabalho com menos trabalhadores; à maior vulnerabilidade social

(crescimento da instabilidade e insegurança) e à fragmentação da identidade

formada pelo coletivo (dificuldade na percepção de pertencimento). Na pesquisa

feita pelo autor, os terceirizados de cooperativas de produção industrial sinalizaram

que sofrem com a intensificação do trabalho para atender as encomendas e,

também, com a ausência de direitos. O sofrimento a que são submetidos, quando

atuam dentro do espaço da empresa contratante, decorre da situação contratual

distinta que enfraquece as possibilidades de organização dos trabalhadores.

Os terceirizados da Petrobrás e indústrias petroquímicas na Bahia sinalizaram

a distinção de tratamento, as degradantes condições de trabalho, inadequação dos

equipamentos e diferenciação no refeitório, portarias, vestiário, banheiro e

uniformes. Essa segmentação denuncia a disparidade entre um público e outro, já

que os terceirizados são vistos como menos qualificados e com acesso restrito a

direitos e benefícios. Isso faz com que se sintam trabalhadores de segunda classe.

53

Situação semelhante ocorre nas empresas mineradoras dos grandes projetos da

Amazônia. Algumas cidades foram construídas para alojar os funcionários mas,

segundo o autor, a parte ocupada pelos terceirizados não conta com habitações

decentes, serviços básicos e a mínima infraestrutura. As restrições na esfera interna

se relacionam aos acessos à rede de serviços e benefícios dos trabalhadores diretos

e, na externa, aos espaços de sociabilidade além dos limites externos da empresa

(clubes e eventos de esporte ou confraternização) (LIMA, 2010).

Brito, Marra e Carrieri (2012) entrevistaram os terceirizados em indústrias de

autopeças da Região Metropolitana de Belo Horizonte, que prestam serviços em

curto espaço de tempo. A finalidade era entender como a terceirização cria

distinções no ambiente de trabalho e gera diferenciações na construção da

identidade social desses trabalhadores que, para os autores, estão situados na

periferia do sistema produtivo. Os resultados das entrevistas revelam como os

terceirizados se sentem.

O primeiro deles denota o sofrimento pelo desemprego estrutural, a

centralidade e utilidade social do trabalho (é não estar desempregado). O segundo

retoma a precarização e redução dos direitos trabalhistas, a falta de reconhecimento

e o sentimento de inferioridade. Esses dois últimos fatores afetam, de forma

negativa, a identidade social das pessoas. Outros três entrevistados demonstram

dissonância ao afirmarem que ser terceirizado é melhor que estar desempregado,

mas dois deles relatam sofrimento pela exclusão e isolamento, que implica a falta de

identificação com os grupos sociais da empresa contratante. Outros dois

entrevistados demonstram o desejo de pertencer, serem vistos, reconhecidos e

escolhidos, pois acreditam que essa é uma forma de ascensão profissional. Quanto

às relações sociais nos locais de trabalho, alguns afirmam que se sentem diferentes,

discriminados, ignorados, desvalorizados, excluídos, invisíveis, como intrusos.

Também sinalizaram a dificuldade de socialização, em decorrência da alta

rotatividade e do trabalho temporário (BRITO, MARRA E CARRIERI, 2012).

Os autores chegaram à conclusão de que a imagem construída de si e do

trabalho desempenhado é negativa, dada a impessoalidade da terceirização que

provoca o desejo de mudança do status atual, de pertencer à outra organização que

valorize o trabalho e permita crescimento profissional.

Dube e Kaplan (2010) avaliaram o impacto da terceirização de porteiros e

guardas, nas décadas de 1980 e 1990, nos Estados Unidos. Esses autores

54

identificaram o crescimento substancial dessa modalidade de trabalho nos setores

de serviços, o que culminou em salários mais baixos, menos benefícios, menores

índices de sindicalização (ou seja, contribuiu para o enfraquecimento dos sindicatos)

e aumento acentuado da desigualdade salarial no país.Em sua análise, Anner

(2011) chega a conclusões bastante próximas sobre os impactos da terceirização na

América Central.

Quinlan e Sokas (2009) ressaltam que a atual prática de negócios que

privilegia as políticas neoliberais, o downsizing e a acumulação flexível representam

uma ameaça à saúde e segurança dos trabalhadores, principalmente, os que se

encontram na posição de terceirizados. O crescimento da insegurança e os acordos

de trabalho com condições precárias promoveram desigualdades financeiras, em

termos de remuneração de salário e de benefícios, doenças ocupacionais, lesões e

fatalidades. Além disso, os autores relatam que os imigrantes, principalmente os que

não possuem documentos, fogem do seu país de origem para se livrar da pobreza,

mas se sujeitam a esse regime de trabalho, no país em que foram buscar abrigo,

pela vulnerabilidade de sua situação.

Nessa mesma linha, Décosse (2013) denuncia a condição dos imigrantes que

trabalham como terceirizados na agricultura, na França. As condições precárias de

trabalho são reveladas pelo uso de substâncias tóxicas altamente prejudiciais, cuja

nocividade é ignorada pelo empregador, além do baixo salário que recebem e da

falta de reconhecimento das suas necessidades básicas para a manutenção da

saúde.

Devido à necessidade de cortes de gastos, o governo canadense privatizou

tarefas de suporte nos hospitais. Todavia, essa medida impactou negativamente a

qualidade da prestação desse serviço. Aliado à privatização, também ocorreu a

terceirização dessas tarefas. Zuberi e Ptashnick (2011) entrevistaram os funcionários

terceirizados da área hospitalar no Canadá e constataram consequências deletérias

para trabalhadores e pacientes, quanto à segurança e à qualidade no atendimento.

O treinamento deficitário, as altas taxas de rotatividade, os baixos salários, a

despreocupação com a saúde em detrimento da rentabilidade dos investimentos, os

riscos de contrair doenças e os acidentes de trabalho são as principais revelações

de descontentamento e frustração dos entrevistados.

Hirata (2011) destaca as consequências da intensificação do trabalho sobre a

saúde física e mental dos trabalhadores, assim como as consequências do trabalho

55

precário em decorrência da terceirização. No Japão, os trabalhadores de

empreiteiras estão sujeitos a riscos maiores que os não terceirizados. Exemplo

dessa situação foi descrito pela autora com relação à última catástrofe nuclear

ocorrida no país, em 11 de março de 2011. Os terceirizados são 2.200 e os

funcionários próprios são apenas 300. Segundo a autora, os trabalhadores das

empreiteiras não possuem cobertura social, caso tenham problemas de saúde

relacionados ao trabalho, nem formação e informação adequada para a execução de

suas atividades. Além disso, a remuneração é bem menor. Somente há

remuneração maior quando o risco radioativo é demasiadamente alto e não há outra

alternativa para a empresa.

Conforme já dito, a justificativa para a terceirização por parte das empresas é

de redução de custos operacionais e de utilização de mão-de-obra especializada,

por parte de quem oferece o serviço. No entanto, há inúmeras críticas à

terceirização: diferença de tratamento entre os empregados da contratante e os

terceirizados; dificuldade de relacionamento entre esses dois públicos; disparidade

salarial; qualificação inferior (BRITO, MARRA e CARRIERI, 2012). Algumas

reportagens da mídia reforçam essa impressão, ao retratarem a situação dos

terceirizados no Brasil e comentarem como a terceirização é fenômeno controverso.

O Procurador do Trabalho Helder Amorim, do Ministério Público do Trabalho

(MPT) em Minas Gerais, assinala que a terceirização ilícita, ou aquela relacionada à

atividade fim da empresa, integra o rol de temas prioritários enfrentados pelo MPT e

abriga alguns tipos de fraudes como, por exemplo, ambiente inseguro de trabalho,

falta ou inadequação de treinamento e de equipamentos de proteção individual

(EPI), altos índices de doenças e acidentes, jornadas exaustivas. Nesse Estado, nos

últimos 5 anos, foram abertos 381 inquéritos civis públicos a respeito de

terceirização ilícita. Desses, 147 tiveram solução por meio da assinatura de Termos

de Ajustamento de Conduta (TAC) e, para a Justiça do Trabalho, foram levados 96

casos por intermédio de ação civil pública (BRASIL, 2015a).

Há vários exemplos recentes de decisões judiciais sobre esse tipo de

questão. O Banco Santander foi condenado pelo Tribunal Superior do Trabalho

(TST) a reconhecer vínculo empregatício de funcionário terceirizado da Prosegur

Brasil – Transportadora de Valores de Segurança, que prestava serviços ligados ao

caixa rápido. O ministro entendeu que as atividades de abertura, conferência e

processamento dos numerários depositados nos envelopes são tipicamente

56

bancárias e, por isso, não podem ser terceirizadas por se tratar de atividade-fim

(DIREITO PÚBLICO, 2013).

A companhia aérea Air China foi processada por terceirização ilegal por

utilizar funcionários terceirizados no serviço de atendimento aos passageiros de

check-in, embarque e desembarque. A Procuradora do Trabalho que ajuizou a ação

constatou que os salários dos empregados próprios, bem como benefícios e

vantagens, eram bem superiores aos dos terceirizados. Além disso, eram comuns os

casos de clientes que preferiam ser atendidos por empregados da empresa. Na

visão da Procuradora, estas são demonstrações de tratamento discriminatório e de

precarização das condições de trabalho promovidas pela terceirização ilícita

(REPÓRTER BRASIL, 2014).

Da mesma forma, a produtora de açúcar e álcool Agrícola Tatez sofreu

processo de R$5 milhões pela terceirização ilícita de atividade-fim de colheita e

transporte de cana-de-açúcar. Foram envolvidos 500 trabalhadores por intermédio

de 74 empresas distintas, o que, segundo o Procurador do Trabalho, representa

consequências negativas para o trabalhador, tais como: empresas sem condições de

arcar com todas as obrigações trabalhistas; ausência de carteira assinada; controle

precário da jornada de trabalho. O Procurador ratifica que a Agrícola Tatez possui

capital social de mais de R$108 milhões e, por isso, não há justificativa de caráter

econômico, social ou organizacional que seja impeditivo para contratação direta

desses trabalhadores. Também reforça a violação dos preceitos constitucionais

como a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho, pela negação

do direito de participação em planos de carreira, benefícios e equiparação salarial

dos funcionários próprios (FREITAS, 2015).

A Construtora Norberto Odebrecht S.A. foi condenada por terceirização

irregular no exterior, conforme entendimento do ministro do Tribunal Regional do

Trabalho (TRT), que reconheceu a existência de fraude aos direitos trabalhistas pela

legislação brasileira e também o vínculo empregatício com a Odebrecht. A

construtora alegou que havia apenas intermediado a contratação do empregado

mas, pelas provas apresentadas, ficou evidenciado que o trabalhador era

empregado da Odebrecht e não da empresa angolana terceirizada. O TRT decidiu

pela condenação ao pagamento de horas extras e outras verbas trabalhistas

(BRASIL, 2015c).

57

A Pepsico também foi processada em R$1 milhão pelo Ministério Público do

Trabalho em Sorocaba, São Paulo, por terceirização ilegal na produção de

salgadinhos Elma Chips. A prestadora de serviços Proficenter responde também por

manter trabalhadores em más condições. Dos 230 funcionários, 160 eram

terceirizados. Foram encontradas as seguintes irregularidades: não concessão de 11

horas de intervalo entre duas jornadas, ausência de descanso semanal de 24 horas

remunerado, trabalhos aos domingos sem autorização prevista no acordo coletivo ou

na convenção, falta de registro de ponto e horas extras além do permitido. O

Ministério Público do Trabalho (MPT) constatou diferença salarial e de benefícios

entre os terceirizados e os funcionários próprios que exercem a mesma função no

mesmo local de trabalho. Os empregados da Pepsico recebem vale-alimentação de

R$85 e os terceirizados de R$46. Esse órgão requer na Justiça que a Pepsico deixe

de terceirizar sua atividade-fim e que a Proficenter não preste mais esse tipo de

serviço em nenhuma outra empresa (BRASIL, 2015b).

Em uma das maiores ações já realizadas no Brasil, conforme revela o

Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), 4 bancos e 3 empresas de

telecomunicações receberam, em conjunto, R$318 milhões em multas em mais de

900 autos de infração pelo apontamento de terceirização irregular, adoecimento em

massa e assédio moral. Outros problemas foram revelados como, por exemplo, a

falta de emissão de Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e a precarização

do trabalho. No período de janeiro de 2010 a maio de 2013 foram apresentados

6.000 atestados médicos, equivalentes a, aproximadamente, um terço da força de

trabalho, conforme levantamento dos fiscais. Pela estatística da médica do trabalho,

Odete Reis, de janeiro a maio de 2014, foram 8.687 atestados de afastamento

médico numa unidade em que trabalham 15.000 funcionários (ROLLI, 2014).

No setor público também houve ações ajuizadas. O município de Nova

Iguaçu, no estado do Rio de Janeiro, e a Empresa Municipal de Limpeza Urbana

(EMLURB) foram condenados a pagar R$700 mil por danos morais coletivos pela

terceirização ilícita na prestação de serviços de varredura, coleta, depósito e

tratamento de lixo. A EMLURB deve assumir, por 18 meses, todo o serviço de

limpeza urbana da cidade de Nova Iguaçu, contratar empregados aprovados em

concurso público e não realizar novas terceirizações dessa atividade. As

irregularidades foram constatadas pela contratação de serviços terceirizados ao

mesmo tempo em que a estatal dispensava, arbitrariamente, empregados

58

concursados. O magistrado que julgou a ação considerou que a terceirização

prejudicou todos os empregados envolvidos e que a conduta era a de fraudar os

preceitos da legislação trabalhista (PORTAL NACIONAL DO DIREITO DO

TRABALHO, 2014).

Em acontecimento semelhante, o entendimento dos desembargadores do

TRT do Paraná foi de que houve ilegalidade na terceirização de serviços de saúde

em sete municípios paranaenses, que deveriam ter realizado concurso público para

a contratação de servidores nas funções de médico, enfermeiro, auxiliar de

enfermagem, dentista, psicólogo e auxiliar administrativo (FREITAS, 2015b).

Como se pode ver, a terceirização é um processo que, se por um lado

acarreta vantagens para as organizações, por outro traz, também, efeitos

indesejáveis – seja lícita ou ilícita. Essa impressão é corroborada pela Associação

Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (ANAMATRA), que é a mais

influente entidade desse setor no Judiciário. Essa Associação manifesta-se contrária

ao Projeto de Lei nº 4.330/2004, que permite às organizações terceirizar

funcionários, inclusive, que desempenhem a atividade-fim da empresa, pois acredita

que a terceirização indiscriminada é uma ofensa à Constituição Federal, por

discriminar trabalhadores contratados diretamente e prestadores de serviços, além

de representar uma regressão a garantias conquistadas ao longo da história

(MACEDO e AFFONSO, 2015). Como apontam os autores, para os juízes

trabalhistas, a terceirização significa rebaixamento salarial, maior ocorrência de

acidentes de trabalho, comprometimento dos fundos públicos como o Fundo de

Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e a Previdência Social.

Devido ao exposto, esses trabalhadores se mostram interessantes sujeitos de

pesquisa, numa investigação que se propõe a compreender melhor a questão do

sofrimento e da invisibilidade.

59

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este capítulo é dedicado a apresentar a caracterização do estudo realizado, a

unidade de análise e os sujeitos da pesquisa, além dos instrumentos de coleta de

dados, bem como as técnicas de interpretação dos resultados.

3.1 Caracterização da pesquisa

Como a linha central deste trabalho envolve retratar o sofrimento do

trabalhador mediante a percepção do sentimento de invisibilidade profissional de

trabalhadores terceirizados, adotou-se a abordagem qualitativa por se mostrar

como a mais apropriada.

A pesquisa qualitativa ganhou espaço em outras áreas como, por exemplo, a

Psicologia, a Educação e a Administração de Empresas. Tem como premissa

questões ou focos de interesses amplos, que se definem no decorrer da

investigação que se desenvolve. Procura compreender os fenômenos conforme a

perspectiva dos sujeitos participantes do estudo, pela obtenção de dados sobre

pessoas, lugares e processos interativos, no contato direto do pesquisador com a

situação estudada (GODOY, 1995a).

Trata-se, também, de uma pesquisa social, definida por Gil (1999) como um

processo formal e sistemático que utiliza a metodologia científica para obter novos

conhecimentos no campo da realidade social que pode envolver, dentre outras

áreas, a Sociologia, a Psicologia e a Economia. Na concepção de Bauer e Gaskell

(2008), a pesquisa social se apoia em dados sociais, que são aqueles sobre o

mundo social, ou seja, os resultados construídos nos processos de comunicação.

Por intermédio da comunicação é possível não só ouvir o que as pessoas têm a

dizer, mas também o que está oculto. Interessa, nesse momento, a forma como as

pessoas expressam e falam aquilo que é importante para elas e, também, como

pensam sobre suas ações e sobre as ações dos outros.

Quanto aos fins, a pesquisa é exploratória (GIL, 1999). Neste trabalho,

adotou-se essa classificação, pois o sentimento de invisibilidade já foi estudado com

alguns públicos, mas pelo que foi apurado nos artigos, não com os terceirizados,

que são o objeto desta dissertação. Além disso, espera-se que os resultados da

60

presente investigação sejam tomados como ponto de partida para estudos

posteriores, que busquem conhecer o fenômeno em detalhes.

Quanto aos meios, trata-se de um estudo de casos, uma das possibilidades

oferecidas pela abordagem qualitativa. O propósito desse tipo de pesquisa reside no

aprofundamento de uma unidade de análise, tendo em vista o exame detalhado de

um ambiente, um sujeito ou uma situação específica, a fim de analisar, de modo

intensivo, uma dada unidade social. É a estratégia predileta dos pesquisadores para

responder às questões “como” e “por quê” determinados fenômenos acontecem,

quando a possibilidade de controle sobre os eventos estudados é baixa e quando o

foco de interesse recai sobre fenômenos atuais que somente podem ser analisados

num contexto de vida real (GODOY, 1995b).

Para Vergara (2011, p.44), o estudo de caso é destinado a uma ou poucas

unidades, que podem ser “pessoa, família, produto, empresa, órgão público,

comunidade ou mesmo país. Tem caráter de profundidade e detalhamento”. Dados

esses motivos, foi a estratégia adotada.

3.2 Sujeitos de pesquisa

Para a definição dos participantes desta pesquisa, foi feita uma revisão na

literatura e optou-se pelos trabalhadores terceirizados, por apresentarem

envolvimento em experiências semelhantes de invisibilidade. Realizaram-se

entrevistas com profissionais em operações de risco para a saúde como, por

exemplo, da área hospitalar e também trabalhadores da área administrativa, nas

iniciativas pública e privada. O propósito dessa escolha residiu no enriquecimento do

estudo, pois a variedade de profissionais poderia permitir a identificação tanto de

aspectos comuns, quanto de diferenças, no que se refere a como essas pessoas

vivenciam o sentimento de invisibilidade. Esses profissionais foram acessados por

meio de indicações vindas da convivência diária da pesquisadora e indicaram novos

nomes, numa amostragem por bola de neve. Mais detalhes sobre esses sujeitos

serão fornecidos oportunamente, neste trabalho.

As entrevistas realizadas com esses terceirizados foram encerradas quando

se atingiu a saturação, que implica na repetição das respostas sem que nenhum

elemento novo surgisse para justificar a elevação do número de participantes

(FONTANELLA, RICAS e TURATO, 2008). Nesse ponto, já tinham sido ouvidos 19

61

profissionais, número considerado suficiente para a exploração do material e

posterior análise.

Não foi intenção da pesquisa esgotar o que se tem a dizer sobre esse

assunto, mas explorar um espectro de percepções a respeito do tema.

3.3 Instrumentos de coleta de dados

Como instrumento de coleta de dados, neste trabalho foi utilizada a entrevista

que, pela definição de Martins (2008, p. 27) é

uma técnica de pesquisa para coleta de dados cujo objetivo básico é entender e compreender o significado que os entrevistados atribuem a questões e situações, em contextos que não foram estruturados anteriormente, com base nas suposições e conjecturas do pesquisador.

A entrevista é tida por muitos autores como a técnica magnânima na

investigação social. Devido à sua flexibilidade, é utilizada para investigar vários

campos e contribuiu substancialmente para o desenvolvimento das ciências sociais

nas últimas décadas (GIL, 1999). Não há necessidade de imposição de uma ordem

rígida de questões, mas as perguntas fundamentais devem estar relativamente

estruturadas, segundo Godoy (1995b).

Vergara (2011) complementa que a entrevista pode ser realizada com a

presença física de pesquisador e entrevistado, ou ser feita via mídia interativa.

Contudo, corre-se o risco de perda de qualidade. Por isso, neste estudo as

entrevistas foram todas realizadas na presença de pesquisador e entrevistado. A

entrevista pode ser informal (aberta) quando se mantém uma conversa, mas com a

finalidade específica de coletar os dados necessários. Pode também ser focalizada

(fechada), com o foco na abordagem de um assunto, ou pode ser estruturada em

pautas (semiaberta), quando o entrevistado elenca vários pontos a serem

explorados com o entrevistado. No caso desta pesquisa, optou-se pela primeira

alternativa.As entrevistas foram gravadas com a anuência do entrevistado para

posterior análise de conteúdo comparativa num total de 8 horas e 37 minutos de

gravação.

62

3.3.1 Roteiro para entrevista

O roteiro para as entrevistas realizadas neste estudo consta no apêndice A.

Ele foi construído baseado no que era preciso conhecer sobre o trabalho dos

entrevistados, considerando também o que a literatura traz a esses trabalhadores a

respeito de sofrimento e invisibilidade. Por isso, incluíram-se questões referentes a:

profissão; escolaridade; tempo de atuação como terceirizado; breve histórico da

carreira; atividade desempenhada; relação com colegas de trabalho, chefia e

comunidade; o significado do trabalho (se prazer, sofrimento ou os dois); problemas

físicos, psicológicos ou comportamentais advindos do trabalho; como o sujeito se vê,

profissionalmente; como acredita que é visto. Em seguida, foi solicitado ao

entrevistado que falasse a respeito dos temas relacionados diretamente a esta

investigação: reconhecimento; tratamento; justiça; diferenças entre efetivos e

terceirizados; outras características da invisibilidade.

3.4 Técnica de interpretação dos resultados

Para a interpretação dos resultados, foi adotada a técnica de análise de

conteúdo, que permite identificar o que está sendo dito sobre determinado tema

(VERGARA, 2010). Na visão de Marconi e Lakatos (2013), esta é uma técnica que

permite análise, pode ser aplicada a documentos pessoais como diários, por

exemplo, e visa aos produtos das ações humanas, voltada para o estudo das idéias

e não somente das palavras em si. Para Godoy (1995b, p. 23), a análise de

conteúdo “consiste em um instrumental metodológico que se pode aplicar a

discursos diversos e a todas as formas de comunicação, seja qual for a natureza do

seu suporte”. Além disso, “qualquer comunicação que veicule um conjunto de

significações de um emissor para um receptor pode, em princípio, ser decifrada

pelas técnicas de análise de conteúdo” (GODOY, 1995b, p. 23).

A análise de conteúdo pode ser utilizada também para fins exploratórios e

busca a essência nos detalhes dos dados e informações. É a junção do texto e do

contexto da palavra utilizada pelo entrevistado; é a inferência entre a descrição e a

interpretação; é o entendimento sobre as causas e consequências (MARTINS,

2008).

63

Bardin (2011) orienta que a análise de conteúdo deve conter três etapas. A

primeira é a pré-análise, fase de seleção dos dados e procedimentos a serem

utilizados. A segunda é a exploração do material, quando se implementam os

procedimentos de contagem das palavras ou das unidades de análise. A terceira é o

tratamento dos dados e interpretações, o que implica a transformação dos dados

brutos em informações que permitam a análise do pesquisador.

Nesse processo, o esforço do analista deve ser o de entender o sentido da

comunicação e, também, buscar outra significação para o que não foi expresso.

Assim, a interpretação, que envolve uma visão holística, deve ir além do que foi

manifestado, deve buscar o sentido que se encontra por trás do que foi

imediatamente apreendido. As unidades de análise podem ser palavras, expressões

ou sentenças. O importante é representar, na essência, o conteúdo das entrevistas

(VERGARA, 2010).

As categorias iniciais e intermediárias foram estabelecidas pelo roteiro da

entrevista, que teve como base o Referencial Teórico dessa pesquisa, onde foram

abordados os elementos de prazer/sofrimento no trabalho e invisibilidade. As

categorias finais fundamentaram-se nas respostas dos entrevistados. Maiores

detalhes constam no próximo capítulo, na seção 4.2 Categorização.

Todas as entrevistas foram transcritas em Word e a análise de conteúdo foi

feita em Excel, via tabela dinâmica, para facilitar a contagem dos trechos. A autora

montou duas estruturas de análise. A primeira planilha foi nomeada “Dados

pessoais” e abrange as informações: nome do entrevistado; nome fantasia (nome

adotado pela autora para preservar a identidade dos entrevistados); tempo de

entrevista; idade; faixa etária; sexo; escolaridade; formação; profissão/cargo;

atividade conforme cargo; faixa de tempo como terceirizado; faixa de tempo na

empresa; exerce a mesma função de funcionário da contratante; instituição; nome

fantasia da instituição. Essas informações foram levantadas para situar o leitor a

respeito do público entrevistado.

Em outra planilha, denominada “Análise de Conteúdo”, a pesquisadora criou a

seguinte estrutura: nome do entrevistado; nome fantasia; nº da questão; trecho da

resposta; categoria inicial; categoria intermediária; categoria final; instituição;

escolaridade; faixa de tempo como terceirizado; exerce a mesma função de

funcionário da contratante. As duas últimas colunas foram repetidas nessa planilha

por permitirem melhor compreensão de sua influência em algumas das respostas.

64

Cada trecho foi associado a uma única categoria. Os casos em que uma

resposta apresentava mais de uma categoria eram devidamente separados em outra

linha, mesmo que, com isso, a pergunta se repetisse. O critério para alocar cada

trecho em sua respectiva categoria era o de manter o sentido da resposta. Por isso,

há trechos menores e maiores na análise.

Inicialmente, muitas categorias foram criadas. Porém, como alguns elementos

possuíam identificação, foram agrupados em uma única categoria. É o caso, por

exemplo, de “Ambiente e relações no trabalho”, “Sustento, utilidade e/ou fonte de

aprendizado”, “Ansiedade, angústia, início de depressão, tristeza e/ou choro”,

“Frustração ou desmotivação”, “Humilhação, discriminação e/ou indiferença”.

Após classificar cada trecho, foi montada uma tabela dinâmica com as

categorias inicial, intermediária e final em rótulos de linha e os trechos em valores

com a configuração Contagem de números, em ordem decrescente de trechos,

conforme é demonstrado na Figura 1.

Figura 1 – Contagem dos trechos da Análise de conteúdo em Excel

Fonte: elaborado pelas autoras

65

A partir da tabela dinâmica, foram elaboradas a Figura 2 com a Categorização

inicial, intermediária e final e a Figura 3 com a indicação por frequência.

3.5 Produto Técnico

Como produto técnico deste estudo, entendido como uma pesquisa realizada

no escopo de um Mestrado Profissional em Administração, foi desenvolvida uma

cartilha,em formato digital,a fim de conceituar a Invisibilidade Profissional.Nela,

apresentam-se conteúdos importantes sobre a questão do trabalho, do sofrimento e

da invisibilidade, exibidos de forma simples e educativa.

O público alvo são as pessoas interessadas no tema, já que o entendimento

dos fatores capazes de afetar o clima organizacional pode contribuir para melhorar o

ambiente, bem como as relações entre as pessoas e seus resultados. O objetivo é

contribuir para a difusão deste conceito e provocar reflexões acerca das

consequências de se sujeitar o trabalhador à invisibilidade, o que pode comprometer

sua saúde e capacidade produtiva, bem como sua vida familiar e social. Imagina-se

que este produto técnico deve interessar, principalmente, a gestores de pessoas,

nas organizações. Além disso, por motivos que ainda serão detalhados, estudantes

de Administração também consistem num grupo que é alvo potencial desta cartilha.

Pela internet, ela está disponível no link https://drive.google.com/file/d/

0BwEBXn2gI5VXbExJdDZPSnVhaW8/view?usp=sharing. Neste trabalho, pode ser

encontrada no Apêndice B.

66

4 ANÁLISE DOS DADOS

Os dados para esta etapa foram obtidos por meio de entrevistas realizadas no

período de julho a outubro de 2015, exclusivamente com trabalhadores terceirizados

e que atuam em variados ramos de atuação. Após sua realização, a própria autora

realizou as devidas transcrições para registro, análise e interpretação dos

resultados, adotando-se como técnica a análise de conteúdo proposta por Bardin

(2011).

No tópico 4.1, são apresentados os dados gerais dos participantes da

pesquisa, para situar o leitor quanto ao público entrevistado e, na seção 4.2,

Categorização, são explicitadas as análises propriamente ditas. A categorização é a

parte da análise de conteúdo que permite classificar os textos em temas ou fazer

inferências sobre o que foi dito e não dito, para dar significado às respostas

(BARDIN, 2011).

A fase de pré-análise teve como objetivo organizar o conteúdo e sistematizar

as ideias iniciais. Para tal, a cada pergunta respondida correspondia uma síntese do

que foi dito por cada entrevistado. Em seguida, o material foi explorado para permitir

a construção das categorias de análise. As categorias finais foram agrupadas, por

afinidade, com as intermediárias e iniciais. Por fim, foram respeitados os princípios

de categorização propostos por Bardin (2011) adotando-se, como códigos para

análise, trechos das entrevistas, independentemente se consistiam em frases,

expressões ou longos períodos. Ao todo, foram analisados 713 trechos.

É importante ressaltar que, em algumas respostas, foram feitas inferências

por parte da autora deste trabalho para associar os trechos às respectivas

categorias para que fosse possível revelar o que não foi dito ou o que foi falado nas

entrelinhas. Como se trata de análise da comunicação, esse artifício pode ser

utilizado (SILVA e FOSSÁ, 2013).

4.1 Dados gerais dos entrevistados

Foram entrevistadas 19 pessoas, sendo 13 mulheres e 6 homens. Dezessete

trabalham em 6 empresas públicas distintas e duas pessoas na mesma empresa

privada. As idades dos entrevistados variam de 25 a 55 anos e se distribuem

conforme a Tabela 1:

67

Tabela 1 – Faixa etária dos entrevistados

Faixa etária Feminino Masculino Total

De 25 a 35 anos 4 5 9

De 36 a 45 anos 4 1 5

De 46 a 55 anos 5 - 5

TOTAL 13 6 19

Fonte: elaborado pela autora

Os entrevistados apresentam o seguinte nível de escolaridade:

Tabela 2 – Nível de escolaridade

Escolaridade Feminino Masculino Total

Ensino fundamental completo 2 1 3

Ensino médio incompleto 2 - 2

Ensino médio completo 4 1 5

Superior incompleto ou em andamento 1 1 2

Superior completo 1 3 4

Superior completo e especialização 3 - 3

TOTAL 13 6 19

Fonte: elaborado pela autora

Um entrevistado é tecnólogo e cursa outra graduação no momento, enquanto

uma entrevistada tem graduação realizada no exterior. Nove dos entrevistados

possuem ensino superior completo ou em andamento, assim distribuídos:

Tabela 3 – Áreas de estudo

Área de Ensino Feminino Masculino Total

Administração - 1 1

Design de Produto 1 - 1

Engenharia de Produção - 1 1

Fisioterapia 1 - 1

Odontologia 1 - 1

Pedagogia 1 - 1

Radiologia 1 - 1

Relações Públicas - 1 1

Serviço Social 1 - 1

Sem nível superior 7 3 10

TOTAL 13 6 19

Fonte: elaborado pela autora

68

A Tabela 4 exibe os cargos dos entrevistados:

Tabela 4 – Cargo e/ou profissão

Profissão/Cargo Feminino Masculino Total

Administrativo 2 1 3

Atendente 1 - 1

Auxiliar de Enfermagem 1 - 1

Auxiliar de Serviços Gerais 4 - 4

Cerimonialista 1 2 3

Dentista 1 - 1

Fisioterapeuta 1 - 1

Higienizadora de hospital 2 - 2

Técnico de Segurança do Trabalho - 1 1

Varredor de rua - 2 2

TOTAL 13 6 19

Fonte: elaborado pela autora

No Administrativo, os nomes dos cargos variam entre Assistente Técnico

Administrativo, Auxiliar Administrativo e Técnico de Suporte Administrativo. De todos

os entrevistados questionados a respeito da profissão conforme o cargo, apenas

uma relatou, nessa resposta, o desvio de função. Contudo, ao longo da entrevista,

outros informaram realizarem atividades fora do seu escopo de atuação.

No que concerne ao tempo como terceirizado, a distribuição se apresenta

conforme a tabela a seguir:

Tabela 5 – Faixa de tempo como terceirizado

Faixa de tempo como terceirizado Feminino Masculino Total

Até 5 anos 3 5 8

De 5 a 10 anos 7 1 8

De 25 a 30 anos 3 - 3

TOTAL 13 6 19

Fonte: elaborado pela autora

Quando questionados sobre o tempo de casa, os entrevistados forneceram as

informações disponíveis na Tabela 6:

69

Tabela 6 – Faixa de tempo na empresa atual

Faixa de tempo na empresa atual Feminino Masculino Total

Até 5 anos 5 6 11

De 5 a 10 anos 4 - 4

De 10 a 15 anos 1 - 1

Acima de 20 anos 3 - 3

TOTAL 13 6 19

Fonte: elaborado pela autora

Onze dos dezenove entrevistados exercem a mesma função de um

funcionário da contratante e estão distribuídos, por cargo e gênero, de acordo com a

Tabela 7:

Tabela 7 – Função equivalente na Contratante por Cargo e Gênero

Exerce mesma função de funcionário da

contratante Cargo Feminino Masculino Total

Sim

Administrativo 2 1 3

Atendente 1 - 1

Auxiliar de Enfermagem 1 - 1

Cerimonialista 1 2 3

Dentista 1 - 1

Varredor de rua - 2 2

Subtotal "Sim"

6 5 11

Não

Auxiliar de Serviços Gerais 4 - 4

Fisioterapeuta 1 - 1

Higienizadora de hospital 2 - 2

Técnico de Segurança do Trabalho - 1 1

Subtotal "Não"

7 1 8

TOTAL

13 6 19

Fonte: elaborado pela autora

Apenas uma entrevistada possui a terceirização como sua primeira

experiência de trabalho, mas atua no mesmo hospital há 29 anos. Duas sempre

trabalharam na mesma atividade, porém, em locais diferentes. Os demais tiveram

vivências profissionais em diversificados ramos de atuação.

70

4.2 Categorização

Os pilares que sustentam esse estudo são o sofrimento no trabalho e o

sentimento de invisibilidade profissional de terceirizados. Respectivamente, Dejours

(2000) e Costa (2008) são os principais autores que respaldam esses conceitos.

Baseado neles, foram criadas duas grandes categorias de análise, quais sejam,

Sofrimento e Invisibilidade. Contudo, como o trabalho também é apontado, na

literatura, como fonte de prazer (MENDES e FERREIRA, 2007), uma terceira

categoria foi criada para contemplar esse aspecto.

A categoria denominada Prazer refere-se às falas dos entrevistados que

indicam o trabalho como fonte de prazer e abrangem a percepção sobre a

identificação com o trabalho, as relações, a finalidade, o ambiente e a oportunidade

de inserção no mercado. Os resultados serão expostos posteriormente.

A categoria chamada de Sofrimento indica os fatores que levam o trabalhador

a sofrer e inclui as condições de trabalho, os resultados desse sofrimento em termos

de problemas físicos, psicológicos, comportamentais e as reações que ele provoca.

Ela também será detalhada oportunamente.

A categoria que discorre sobre a Invisibilidade é a mais diretamente

relacionada aos objetivos deste estudo. Ela traz as falas que se referiram à

autoimagem do entrevistado, à imagem da sua profissão, à forma como é tratado, à

diferença entre terceirizados e efetivos e à falta de reconhecimento percebida por

eles. Assim, trata-se de um espaço aberto para incluir os fatores que podem levar

um terceirizado a se sentir invisível. Dentre eles, destacam-se a humilhação, a

precarização, a coisificação e a desvalorização da pessoa ou da sua profissão.

Por fim, numa categoria à parte, denominada “Outros”, foram incluídos

trechos da análise que em nada se relacionavam às categorias anteriores, e que

também não eram importantes para que se alcançassem os objetivos do estudo.

Exemplos são falas que narram acontecimentos da vida pessoal do entrevistado, em

nada relacionados ao que esta pesquisa investigou. Essas falas totalizaram 236

trechos das respostas.

A Figura 2 demonstra o esquema de categorias elaborado para a análise,

com essas três grandes categorias iniciais e suas subcategorias, aqui denominadas

“intermediária” e “final”. Em seguida, cada uma delas é analisada

pormenorizadamente.

71

Figura 2 – Categorização Inicial, Intermediária e Final

Fonte: elaborado pela autora

Categoria

inicialPRAZER

Categoria

intermediária

Aspectos

positivos ou

neutros

Condições de

trabalho

Problemas

físicos

Problemas

psicológicos

Mudança de

comportamentoReação

Imagem do

terceirizado e da

profissão

Diferença entre

terceirizados e

efetivos

Falta de

reconhecimento

Ambiente e

Relações no

trabalho

Chefia, falta de

apoio ou de

recursos

Dor, lesão, doença

ou outro problema

físico

Ansiedade,

angústia, início de

depressão, tristeza

e/ou choro

Frustração ou

desmotivação

Posicionamento/

ReflexãoValorização Injustiça

Humilhação,

Discriminação

e/ou Indiferença

Oportunidade de

trabalho

Falta de perfil para

o trabalho ou

desejo de mudar

de profissão

Fadiga ou

cansaço físico

Estresse e/ou

sensação de

esgotamento

Alteração de

humorIsolamento Desvalorização

Sobrecarga de

trabalho

Precarização do

trabalho e/ou

Instabilidade

Identificação com

o trabalhoDesvio de função

Consumo de

álcoolValorização parcial

Falta de treinamento,

remuneração e/ou

benefícios inferiores

Sustento, utilidade

e/ou fonte de

aprendizado

Imagem negativa ou

desconhecidaNão invisibilidade

SOFRIMENTO INVISIBILIDADE

Categoria final

72

4.3 Categoria Inicial Prazer

A categoria inicial “Prazer” abrange as 4 categorias finais exibidas na Tabela

8, com a respectiva frequência, analisada por trecho. Envolve tanto os aspectos

considerados como positivos pelos entrevistados quanto os neutros, ou seja, o que

não é sinônimo de sofrimento ou invisibilidade. Dejours (2000), Dejours, Abdoucheli

e Jayet (2009) e Mendes e Ferreira (2007) foram alguns dos autores utilizados nesse

estudo e que abordaram, também, a temática do prazer no trabalho no que se refere

ao ambiente, relações e identificação.

Tabela 8 – Categoria Inicial Prazer

Categoria intermediária Categoria final Total de Trechos

Aspectos positivos ou neutros

Ambiente e relações no trabalho 63

Oportunidade de trabalho 23

Identificação com o trabalho 13

Sustento, utilidade e/ou fonte de aprendizado 10

TOTAL 109

Fonte: elaborado pela autora

A primeira categoria final, Ambiente e Relações no Trabalho, tem como

elementos marcantes e positivos um local tranquilo para se trabalhar e o

relacionamento com a chefia. Nessas falas, os entrevistados afirmaram que são

tratados com equidade e justiça e narraram o empenho da chefia em melhorar a

situação dos terceirizados.

“(...) tinha um, um senhor aqui que olhava, né, sobre a empresa. Ele correu atrás e conseguiu um ticket pra gente. Conseguiu tudo direitinho. (...)” (Bárbara) 4

Na fala a seguir, a entrevistada reforça que o ambiente de trabalho é bom por

causa da chefia mesmo, fator que adquiriu, ao longo da análise, relevância

crescente.

4 Os nomes dos entrevistados foram trocados por outros, arbitrariamente definidos, com a finalidade

de preservar sua identidade. Seria possível nomeá-los Entrevistado 1, 2, 3 e assim por diante. Contudo, considerou-se que essa maneira de chamar esses sujeitos retiraria deles um pouco de sua humanidade, aspecto que esta pesquisa, focada na invisibilidade, busca ressaltar.

73

“Ah, aqui eu adoro. Aqui eu adoro. (...) por causa da minha chefia. (...) Aqui é que na época eu falei: foi o único lugar que eu trabalhei que eu, quando eu saí daqui, que acabou, eu chorei. Porque, por causa da minha chefia. Eles são ótimos. (...)” (Amanda)

Amanda foi a única entrevistada que trabalhou duas vezes como terceirizada

na mesma instituição e somente voltou por causa da chefia, que permaneceu

inalterada.

Os elementos neutros da categoria Ambiente e Relações no Trabalho tratam

das respostas em que os entrevistados afirmaram não terem tido problemas físicos,

psicológicos ou mudanças de comportamento provenientes do trabalho.

A segunda categoria final, Oportunidade de trabalho, apresenta falas que

mostram outra vertente para a terceirização debatida nesta pesquisa. Nesta

situação, ela é favorável ao trabalhador por possibilitar sua inserção no mercado e,

em poucos casos, pelos terceirizados terem maiores salários ou benefícios que os

efetivos. Contudo, mesmo alguns dos terceirizados que indicaram a terceirização

como oportunidade de trabalho, manifestaram características de sofrimento e de

invisibilidade, como pode ser comprovado na fala a seguir.

“uma amiga minha, aonde eu trabalho, que me indicou. (...) Eu fui, fiz entrevista. Na época eu acho que eles não tinham muitos currículos e quando a pessoa me contratou, viu o meu currículo, com curso no experior, no exterior, falo inglês fluente e tudo, ela ficou encantada e me contratou. (...) E eu, no desespero que num tinha emprego, qualquer salário pra mim eu tava ganhando.” (Beatriz) (grifo da autora)

A fala de Beatriz condiz com o estudo de Brito, Marra e Carrieri (2012) com

terceirizados da indústria de autopeças da Região Metropolitana de Belo Horizonte,

em que alguns dos participantes da pesquisa sinalizaram o sofrimento pelo

desemprego estrutural e que, entre essa situação e o subemprego, preferem o

segundo.

A terceira, Identificação com o trabalho, está relacionada à pessoa fazer o

que gosta e se sentir bem no trabalho.

“Fonte de prazer quando você se sente (...) bem em estar fazendo o que você quer, o que você gosta”. (Jéssica)

74

E a quarta, Sustento, utilidade e fonte de aprendizado, envolve, também, o

resultado do próprio trabalho, pois demonstra como as pessoas se sentem bem com

suas realizações. As falas abaixo evidenciam exemplos dessa categoria:

“Ele é fonte de prazer pra mim quando eu vejo a melhora dos pacientes, quando eu vejo os pacientes interessados. É quando eu vejo que eles precisam realmente da fisioterapia.” (Débora) “Então, tudo eu levo assim, sabe? É um aprendizado. Então eu aprendi muita coisa.” (Luíza)

Dos dezenove entrevistados, seis responderam que o trabalho é fonte

somente de prazer. Os demais apresentaram falas pertinentes às outras duas

categorias, Sofrimento e Invisibilidade, que serão descritas a seguir.

4.4 Categoria Inicial Sofrimento

A categoria inicial Sofrimento possui 5 categorias intermediárias e 12

categorias finais, conforme Tabela 9:

Tabela 9 – Categoria Sofrimento desmembrada em categorias intermediária e final

Categoria intermediária Categoria final Total de Trechos

Condições de trabalho

Chefia, falta de apoio ou de recursos 11

Falta de perfil para o trabalho ou desejo de mudar de profissão

8

Desvio de função 7

Problemas Físicos Dor, lesão, doença ou outro problema físico 9

Fadiga ou cansaço físico 6

Problemas Psicológicos Ansiedade, angústia, início de depressão, tristeza e/ou choro

12

Estresse e/ou sensação de esgotamento 10

Mudança de Comportamento Frustração ou desmotivação 9

Alteração de humor 5

Consumo de álcool 1

Reação Posicionamento/Reflexão 32

Isolamento 5

TOTAL 115

Fonte: elaborado pela autora

75

4.4.1 Categoria Intermediária Condições de Trabalho

Essa categoria está relacionada às condições de trabalho a que os

terceirizados estão sujeitos e à incompatibilidade com o perfil de trabalho. Hirata

(2011) sinalizou que condições de trabalho adversas como, por exemplo, o

sentimento de insegurança no emprego, exacerba o individualismo e prejudica o

espírito de coletivismo. Marchand, Demers e Durand (2005), que pesquisaram mais

de nove mil trabalhadores assalariados nas ocupações definidas pelo Padrão de

Classificação Ocupacional de 1981 do Quebec, Canadá, concluíram que as

condições de trabalho, os recursos e o estresse são fatores determinantes para o

sofrimento psíquico. Ferreira e Mendes (2001), Lima Júnior e Ésther (2001) e

Vasconcelos e Faria (2008) também apontaram sofrimento em decorrência da

precariedade das condições de trabalho. Em linha com esses autores, essa

categoria apresentou as seguintes subdivisões:

Tabela 10 – Condições de Trabalho

Categoria intermediária Categoria final Total de Trechos

Condições de trabalho

Chefia, falta de apoio ou de recursos 11

Falta de perfil para o trabalho ou desejo de mudar de profissão

8

Desvio de função 7

TOTAL 26

Fonte: elaborado pela autora

A primeira categoria final, Chefia, falta de apoio ou de recursos, retrata a

dificuldade no relacionamento com o superior, o desamparo, por parte da empresa

terceirizada ou de colegas de trabalho e a pouca ou nenhuma importância conferida

pela alta direção a aspectos como, por exemplo, a segurança do trabalho desses

profissionais.

“outra coisa que me causa sofrimento: ele como meu chefe. Porque ele é uma pessoa assim, arbitrário sabe, um Hitler.” (Débora) “o ruim é que eu era muito maltratada, né, pelo meu chefe. (...) Ele me elogiava, né, quando, na sala dele, dentro de sala, com ele, ele me elogiava. Dizia que eu era a melhor funcionária dele. Mas quando tava na frente dos outros funcionários, ele mostrava autoridade. Ele muito rígido. Então, ele gritava comigo. Me fazia chorar na frente de todo mundo. Falava que eu tava me fazendo de vítima. E aquilo me machucava muito, né?” (Thaís)

76

“Os diretores, o próprio presidente, que às vezes muda o presidente, eles não, não são todos que compram essa idéia de investir na segurança do trabalho, na, nos benefícios para os trabalhadores, na qualidade de vida.” (Charles)

Os autores Antloga e Mendes (2009), Costa (2007), Merlo et al. (2003),

Salimon e Siqueira (2013), Sousa e Mendonça (2009), Vasconcelos e Faria (2008) e

Weber e Grisci (2010) indicaram, em seus estudos, o sofrimento no trabalho

decorrente do conflito no relacionamento com a chefia. Nesta pesquisa, esse

aspecto mostrou-se de fundamental importância. Pelos relatos, é possível perceber

que os gestores, cujo papel é exatamente o de promover relações saudáveis e

produtivas com a equipe e entre seus membros, são incapazes de estabelecer

relacionamentos assim entre eles próprios e os demais trabalhadores. Envolvem os

subordinados em relações tensas e desgastantes, negligenciando seu papel

agregador.

Adler e Silva (2013), Antloga e Mendes (2009), Gravina (2002), Grisci (2003),

Martins e Honório (2014), Santos, Siqueira e Mendes (2011) e Weber e Grisci (2010)

sinalizaram a quebra de confiança, o individualismo e a falta de coleguismo e de

solidariedade entre os pares como fonte de sofrimento para o público de suas

pesquisas. Neste estudo, o relacionamento com colegas de trabalho também foi

sinônimo de sofrimento para alguns dos entrevistados, como pode ser visto na fala a

seguir:

“Então, assim, o trabalho pra mim é sofrimento nessa parte, de ter que vim trabalhar sabendo que você não tem apoio da equipe de, de, de trabalho. Você tá ali pra fazer sua função enquanto os outros ficam lá, entre aspas, morcegando, né? Como dizem, né? Eu sinto, isso pra mim, me chateia muito.” (Júlia)

Costa (2007), Merlo et al. (2003) e Salimon e Siqueira (2013), em suas

pesquisas, constataram a falta de recursos como fatores de sofrimento para os

entrevistados. Abaixo, uma fala que retrata a ausência de recursos apropriados para

o trabalho que, inclusive, causa problema físico nos trabalhadores.

“(...) desde que eu entrei ali, tem uma mesa que ela arrebenta a coluna da gente. Como só tem terceirizado sentando nela, tipo assim, é a gente, por enquanto só tem eu e a outra menina que é terceirizada, eles não trocam a mesa. O dia que vier um efetivo pra cá, uma pessoa mais alta e tal, que a pessoa virar e falar, acionar o médico do trabalho, a fisioterapia e falar: olha, essa cadeira tá acabando com a minha né, no caso com a minha lombar,

77

com a minha coluna, ele vai dar um jeito de arrumar. A cadeira, a mesa, né? Entende? (Jéssica) (grifo da autora)

A segunda categoria final foi nomeada Falta de perfil para o trabalho ou

desejo de mudar de profissão e pode ser percebida na seguinte fala:

“Mas todo mundo que trabalha nessa área de terceirizado, cê pode perguntar. Tá todo mundo tentando outros locais, outros concursos, outras formas, outras, outros meios de, de trabalhar.(...) se fosse pra escolher hoje, eu não, não valeria à pena. Eu preferia mil vezes trabalhar num comércio ou em qualquer outra coisa assim, começando. (...) Eu prefiro fazer um concurso de qualquer outra área, de qualquer outra empresa. Mas, terceirizado, não. Não vale à pena não. Não vale. Não é bom.” (Sara) (grifo da autora)

Vale chamar a atenção para o final da fala da entrevistada em que ela repetiu,

de forma contundente, cinco vezes a palavra “não”. Por meio desse trecho é

possível ratificar que, para ela, é forte o desejo de mudar de profissão.

De forma semelhante, a pesquisa de Brito, Marra e Carrieri (2012), com

terceirizados em indústrias de autopeças da Região Metropolitana de Belo

Horizonte, que prestam serviços em curto espaço de tempo, demonstrou que alguns

desses trabalhadores possuem o desejo de mudar a situação atual e pertencer a

outra empresa para que sejam reconhecidos e valorizados, já que não tem

perspectiva de que isso ocorra na empresa onde são funcionários.

A terceira categoria final, que trata das fontes de sofrimento, é o Desvio de

função. Em variados trechos, foi possível detectar que os terceirizados atuam em

outras atividades, fora do seu escopo de atuação, diferente do que acontece com os

efetivos que, segundo os entrevistados, se recusam a fazê-lo.

“nós não somos seres de apoio. (...) Minha profissão não é serviço de apoio, né? Seu eu fosse vim pra cá pra fazer serviço de apoio, entendeu, taria lá na minha carteira: serviço de apoio.” (Pedro) “o que se vê aqui, é, é um sentido de descaso com quem é terceirizado. A gente exerce o mesmo trabalho, ah, se não for mais do que o, do que o próprio servidor (...) A gente é taxado, taxado como a, o, serviço de apoio. Então o que, o que eles falam pra gente é que é um serviço de apoio.” (Alexandre) (grifo da autora) “Fonte de sofrimento seria quando a gente tem que realizar algumas tarefas mais complexas, que seria carga e descarga de material, é, que são tarefas que exigem muito esforço físico. Então, apesar de não tar determinado no

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cargo que a gente realiza essas tarefas, a gente realiza assim mesmo.” (Thiago) 5 (grifo da autora)

4.4.2 Categoria Intermediária Problemas Físicos

Essa categoria inclui efeitos físicos do sofrimento no trabalho. Alguns autores

também indicaram, em seus estudos, os problemas físicos como fatores geradores

de sofrimento (ADLER e SILVA, 2013; ANTLOGA e MENDES, 2009; BRANT e

MINAYO-GÓMEZ, 2007; GRAVINA, 2002; GRISCI, 2003; GRISCI et al., 2006; LEÃO

e SILVA, 2012; LIMA JÚNIOR e ÉSTHER, 2001; MARTINS e HONÓRIO, 2014;

QUINLAN e SOKAS, 2009; SANTOS, SIQUEIRA e MENDES, 2011; UCHIDA, 1998;

ZANELLI et al., 2010 e ZUBERI e PTASHNICK, 2011).

Essa categoria está subdivida em duas:

Tabela 11 – Problemas Físicos

Categoria intermediária Categoria final Total de Trechos

Problemas Físicos Dor, lesão, doença ou outro problema físico 9

Fadiga ou cansaço físico 6

TOTAL 15

Fonte: elaborado pela autora

A primeira categoria final, Dor, lesão, doença ou outro problema físico,

envolve um relato em que a profissional faz menção, inclusive, ao fato de não ter

ânimo para trabalhar em razão dos problemas que enfrenta por ser terceirizada:

“Dor muscular, dor de cabeça, tem dia que não me dá vontade de vim trabalhar, porque tem algumas pessoas aqui dentro que, que tipo assim, é, eu posso, eu mereço, eu passei no concurso, entendeu? E, e você não pode, você assim. Então, aí, aí eu não tenho vontade de trabalhar. Muitas vezes assim, assim não me dá vontade de vim pra ter que olhar pra essas pessoas, sabe?” (Jéssica)

Outros entrevistados comentaram sobre dor muscular, dor osteoarticular e dor

na coluna e, com relação à lesão, doença ou outro problema físico, foi mencionada,

por exemplo, a tendinite.

5 Thiago foi contratado para as atividades de Auxiliar Administrativo, mas exerce, além das tarefas de

carga e descarga de material, o papel de motorista.

79

A Fadiga ou cansaço físico, segunda categoria final, é descrita por alguns

entrevistados como um desânimo por ser terceirizado e pode ser identificada nas

falas abaixo:

“Sabe, aí eu fico fadigada com isso. Eu, e assim, as pessoas que faz o erro mas, porque ele é efetivo, ele nunca vai levar a culpa. Tem sempre um que vai, entendeu?” (Luíza) “(...) tonturas, correria, muita correria. Você tem que fazer muitas coisas ao mesmo tempo e, quando, igual eu tô falando, quando num tem pessoas pra te auxiliar, tudo bem. É outro papo. Mas tendo pessoa pra te auxiliar, você acaba tendo que tomar conta de várias coisas ao mesmo tempo. Já aconteceu d’eu sentir tonturas, é, nossa, muita é, pressão subir, sabe? É isso mesmo, em relação ao trabalho, cansaço mesmo, físico.” (Júlia)

4.4.3 Categoria Intermediária Problemas Psicológicos

Essa categoria apresenta queixas dos entrevistados e está diretamente

associada ao fato de serem terceirizados.

Tabela 12 – Problemas Psicológicos

Categoria intermediária Categoria final Total de Trechos

Problemas Psicológicos

Ansiedade, angústia, início de depressão, tristeza e/ou choro

12

Estresse e/ou sensação de esgotamento 10

TOTAL 22

Fonte: elaborado pela autora

A primeira categoria final, Ansiedade, angústia, início de depressão, tristeza

e/ou choro, envolve elementos que já foram retratados nos estudos de Adler e Silva

(2013), Antloga e Mendes (2009), Brant e Minayo-Gómez (2007), Gravina (2002),

Grisci (2003), Grisci et al. (2006), Leão e Silva (2012), Lima Júnior e Ésther (2001),

Martins e Honório (2014), Salimon e Siqueira (2013), Santos, Siqueira e Mendes

(2011), Uchida (1998), Vasconcelos e Faria (2008), Weber e Grisci (2010). A

categoria pode ser evidenciada nas falas a seguir:

“eu sofri demais com isso (...) eu praticamente (...) pedi pelo amor de Deus pra me tirar de lá porque (...), quando eu ia trabalhar, eu chegava lá com vontade de chorar. Eu não tinha ânimo pra trabalhar (...).” (Júlia) “angústia, a ponto de ter, eu comprei, quando eu não queria tomar remédio controlado, eu comprei um fitoterápico, é, que chama Calman, pra ver se eu

80

acalmava mais, pra ver se eu conseguia ficar aqui melhor, sabe? Porque isso já, eu tava chegando na minha casa muito estressada, eu tava demorando muito pra dormir, sabe? E no outro, assim, eu tava vindo com muito, assim, um peso no coração, sabe? Uma sensação, assim, não muito agradável.” (Jéssica) “o que tem me pegado ultimamente é a ansiedade. Ansiedade pelo que eu ainda posso fazer por mim, porque eu, eu já desisti do local, do meu atual local de trabalho.” (Alexandre)

Em Estresse e/ou sensação de esgotamento, percebe-se o desânimo com o

trabalho atual por ser terceirizado:

“É, a sensação de esgotamento é, é certa, é, de fadiga, a sensação de acordar e falar: poxa vida, eu vou ter que ir pra lá (...) de novo. (...) Stress, perfeito, lembrei o que eu queria dizer. Eu tô, eu sou um cara muito tranquilo. Eu tô passando, é uma coisa que parece básica, mas eu tô começando a ter um tique do lado direito do rosto. Imagino que, óbvio que tenha relação com o meu trabalho, que a minha vida pessoal, ela tá tranquila, caminhando bem, família tranquila, não temos problema nenhum. Então, eu tenho total certeza de que é fruto daqui. Eu levo tudo no bom humor, na esportiva mas, tudo tem um limite. (...) Eu quero outro rumo.” (Alexandre) (grifo da autora)

O estresse foi objeto de estudo de Adler e Silva (2013), Castelhano (2005),

Clot (2007), Gravina (2002), Grisci (2003), Grisci et al. (2006), High (2013), Linkon

(2013), Marchand, Demers e Durand (2005), Martins e Honório (2014), Murofuse,

Abranches e Napoleão (2005), Santos, Siqueira e Mendes (2011) e a sensação de

esgotamento, ou burnout, foi explorada por Hirigoyen (2000), Murofuse, Abranches e

Napoleão (2005), Pérez (2013), Viviers et al. (2008), Santos, Pereira e Carlotto

(2010), Seidleret al. (2014) e Zanelli et al. (2010). Nesse sentido, as entrevistas

confirmam que se trata de problemas que acometem os trabalhadores – em

especial, nesse caso, os terceirizados. O fato de constar na literatura e também

nesta pesquisa indica como afeta negativamente a vida dos trabalhadores e pode

ser prejudicial para sua saúde física e psíquica.

4.4.4 Categoria Intermediária Mudança de Comportamento

Essa categoria, que faz parte da análise do sofrimento no trabalho de

trabalhadores terceirizados, está subdividida em:

81

Tabela 13 – Mudança de Comportamento

Categoria intermediária Categoria final Total de Trechos

Mudança de Comportamento

Frustração ou desmotivação 9

Alteração de humor 5

Consumo de álcool 1

TOTAL 15

Fonte: elaborado pela autora

Dentre outros fatores, a categoria final Frustração ou desmotivação, advém

das chateações do dia a dia como terceirizado e, ainda, da desvalorização como

profissional.

“Hoje, ao mesmo tempo que eu me sinto bem, em me sinto frustrada. Eu não sei aonde tá o defeito, se tá ni mim, se tá no mercado de trabalho, se tá nas oportunidade (...).” (Sophia)

Nesse ponto, a entrevistada Sophia se emocionou e a entrevista precisou ser

temporariamente paralisada.

Uma evidência da frustração associada à condição de terceirizado pode ser

ilustrada com o depoimento a seguir:

“infelizmente ali não tem ninguém que vai chegar pra uma pessoa terceirizada e vai falar assim: ah, eu sei que você sofre, sofreu uma injustiça, mas vamos tentar ajeitar a situação. Isso não existe. Eu não tenho patrão que vai pegar e vai falar assim: ah não, eu vou tentar olhar a sua situação. É claro que existe (...) essas pessoas. Existem certas pessoas, chefes e tudo, que você sabe que ela vai tentar lutar pelo direito do funcionário. (...) Ela pode talvez não conseguir tudo, mas ela vai se esforçar. (...) Mas, eu num tive isso. Pelo contrário.” (Beatriz) (grifo da autora)

Barros e Mendes (2003), Brito, Marra e Carrieri (2012), Cavalcante, Oliveira e

Cavalcante (2009), Costa (2007), Santos et al. (2009) foram autores que

constataram a frustração ou desmotivação dos terceirizados devido ao ambiente de

trabalho em que estão inseridos. No caso do relato de Beatriz, a falta de um gestor

preocupado em construir um bom ambiente de trabalho volta a demonstrar que esse

é um problema recorrente na vida de maior parte dos terceirizados que participaram

da pesquisa.

Já a segunda categoria final, Alteração de humor, pode ser retratada nessa

situação:

82

“A, a gente, eu, eu que sou terceirizado, tem um, temos mais dois terceirizados no local, que a gente se identifica e a gente conversa muito e o que se vê aqui (...) É, eu tento ter bom humor sempre e me abster das coisas. Nem sempre eu consigo(...)” (Alexandre) (grifo da autora)

Já o Consumo de álcool, terceira categoria final, foi uma mudança de

comportamento que ocorreu para minimizar o transtorno de uma situação específica

e pelo cotidiano que chega a prejudicar o sono de uma das entrevistadas:

“tem às vezes aqui a gente passa tanta raiva no sentido de que, vou te dar um exemplo: eu saía cinco minutos mais cedo porque, por causa do meu ônibus. (...) Aí ele deu a entender que eu não poderia fazer mais isso. Aí isso me deixou tão transtornada, mas eu fiquei assim tão assim amargurada, que quando eu cheguei na minha casa eu tive que tomar vinho. Eu falei: vou tomar um vinho, vou tomar uma Ice, cerveja, sabe? Pra ver se eu consigo, sabe? Pra ver se eu (...) Eu não gosto de bebida, eu não bebo, eu não fumo, graças a Deus eu não faço uso de drogas, mas, tem às vezes, eu costumo às vezes sair daqui tão chateada com algumas coisas que acontecem aqui que eu acabo, ai eu vou tomar algum coisa, pra ver seu eu relaxo, pra ver se eu durmo, porque senão eu deito na cama e num durmo. Eu fico ligada aqui. É um, né, de certa forma, é uma coisa que não é boa.” (Jéssica) (grifo da autora)

A entrevistada que respondeu ter feito uso de bebida alcoólica foi quem

precisou de calmante para lidar com as experiências negativas do cotidiano como

terceirizada. Também é a mesma que comentou ter uma chefia que menospreza os

terceirizados e trata, de forma diferenciada, os efetivos. Novamente, percebem-se

falhas da chefia no seu papel de liderança.

Argolo e Araújo (2004), Clot (2007), Germain (2014), Hirata (2011), Lima

(2010), Pompili et al. (2008) e Sato e Schmidt (2004) reforçaram que o estresse

pode provocar mudanças de comportamento nas pessoas. Em seus estudos,

Hirigoyen (2000), Murofuse, Abranches e Napoleão (2005), Pérez (2013), Viviers et

al. (2008), Santos, Pereira e Carlotto (2010) e Seidler et al. (2014) também

assinalaram, dentre outros fatores, as mudanças de comportamento que podem

ocorrer com os trabalhadores sujeitos a esgotamento profissional. Diniz, Carrieri e

Barros (2013) sinalizaram que o sofrimento no trabalho pode, inclusive, desencadear

a anomia.

83

4.4.5 Categoria Intermediária Reação

Essa categoria revela os mecanismos de defesa dos entrevistados perante o

sofrimento. Dejours (2000) entende que as estratégias de defesa são um artifício

para mascarar o sofrimento no trabalho e podem tanto atenuá-lo ou agravá-lo. Para

este estudo, a categoria denominada Reação está subdividida em:

Tabela 14 – Reação

Categoria intermediária Categoria final Total de Trechos

Reação Posicionamento/Reflexão 32

Isolamento 5

TOTAL 37

Fonte: elaborado pela autora

O Posicionamento/Reflexão engloba trechos das entrevistas em que os

profissionais descrevem reações relacionadas a alguma atitude, uma postura mais

ativa diante do sofrimento e os momentos de reflexão em que buscam se

conscientizar de que não merecem o sofrimento simplesmente por serem

terceirizados. O sentido é o de não se deixar afetar, estudar para mudar de posição,

separar o trabalho da vida pessoal, manter o bom humor, como mostram as falas a

seguir:

“o que acontece muitas das vezes, vejo colegas que, por causa do medo, ah não, eu sou um terceirizado e vão me mandar embora se eu reclamar ou se eu não, se eu não me opor, se eu me opor a isso, entendeu? Por causa desse medo, muitas pessoas vivem um determinado sofrimento, vive, né, uma angústia e, né, e releve isso. Eu acho que é enfrentar esse medo porque, como eu falei, você num deixa de ser um profissional como ele, como uma outra pessoa. (...)Você tem de reconhecer o seu valor. Se você não reconhece o seu valor, ninguém vai reconhecer. (...) Então, eu acho que não é se opondo, né, mas (...)Se posicionando, né, dando idéias. Muitas vezes as idéias não vão ser acatadas, mas você se posicionou, né?” (Pedro) (grifo da autora) “Aí você fica meio assim mas, ao mesmo tempo, como ser humano, você acaba passando por cima disso, que se fala que, pra pessoa agir dessa forma, humilhar, pisar, é porque tem que ser muito pequeno. Então, cê acaba relevando. Mas isso, como ser humano. Como profissional, não. Como profissional, é, eu acho inadmissível.” (Sara) (grifo da autora)

Nesse sentido, o posicionamento está alinhado ao conceito de Bernal (2010),

que descreve, como uma das estratégias de defesa, o enfrentamento. Este implica

84

na mudança da fonte de sofrimento, do significado dele e da percepção do

estressor. Outros autores pesquisados como, por exemplo, Barros e Mendes (2003),

Cançado (1994), Cândido (2004), Castro e Cançado (2009), Lourenço (2014),

Mendes, Vieira e Morrone (2009), Oliveira e Garcia (2011), Vilela, Garcia e Vieira

(2012), Vieira (2014) e Viviers et al. (2008) também demonstraram, em seus

estudos, a adoção dessas estratégias por parte dos entrevistados.

A fala a seguir, em que o entrevistado se posiciona, desperta a atenção para

a comparação que ele faz entre a realidade do efetivado e do terceirizado, como

muito distintas e distantes. Ao usar o termo “casta” para descrever essa diferença,

ele remete à ideia de que quem pertence a um grupo jamais pertencerá ao outro e

que ambos desfrutam de direitos e deveres bastante desiguais.

“Não vou deixar essas coisas acontecerem não. (...) Mas a gente é, se você não tem um psicológico, é, forte, (...), você vai se sentir sempre um desvalorizado, se sentir sempre um excluído dentro dessa casta, né? Efetivados e terceirizados. (...)” (Pedro) (grifo da autora)

A pesquisa de Lima (2010) com terceirizados da Petrobrás e indústrias

petroquímicas na Bahia também narrou a disparidade entre os públicos, já que se

sentem vistos como menos qualificados e restritos a direitos e benefícios.

A Reflexão, que faz parte da primeira categoria final,está relacionada ao fato

de os entrevistados considerarem as críticas como aprendizado, vendo a situação

por outro ângulo e pensando a respeito.

“tudo que for aprendizado pra mim eu vou querer fazer, independente da pessoa ficar me criticando. (...) pra mim eu quero levar como aprendizado, eu acho melhor, entendeu? (...)” (Luíza) “eu paro e penso: não, eu tô aqui sim, eu existo e não será essa pessoa que vai diminuir porque eu sou muito mais do que essa pessoa. Talvez essa pessoa tenha estudo, tenha faculdade. Eu posso não ter faculdade, mas eu tenho amor, tenho carinho e tenho respeito pelas pessoas. (...) Então, graças a Deus pra mim, nesse sentido, quando eu penso dessa forma, o sofrimento passa” (Sophia) “A gente não pode viajar! Imagina! O avião vai cair. Ah, mas é que, num sei, que num sei o quê. Aí, tentando disfarçar, mas é um negócio acintoso, né? A primeira vez que eu ouvi isso, eu falei: poxa vida, onde que eu tô? O quê que eu tô fazendo aqui? E se, então, se eu, se eu não tivesse conversado comigo mesmo, é, psicologicamente, eu certamente tava doente aqui (...)” (Alexandre) (grifo da autora)

85

A terceira categoria, Isolamento, foi mencionada como uma forma de reagir

ao sofrimento quando os entrevistados ficam chateados e evitam maiores dissabores

buscando um certo recolhimento.

“Fico quieta na minha sala. Eu fico quietinha aqui. (...) pra evitar stress.” (Débora)

Por meio da análise das entrevistas, foi possível averiguar que há mais

trechos de resposta de sofrimento para os terceirizados com nível de escolaridade

superior completo ou em andamento do que para os que possuem ensino

fundamental ou médio. Talvez isso reflita uma maior conscientização, por meio da

educação, a respeito de sua própria condição. Quando avaliado o número de

trechos com a faixa de tempo como terceirizado, observa-se que os profissionais até

5 anos e os de 5 a 10 anos sofrem mais do que os que possuem de 25 a 30 anos.

Imagina-se que o longo tempo de serviço pode ter funcionado como algo que, de

certa forma, acomodou esses profissionais e amenizou o sofrimento vindo das

diferenças entre o terceirizado e os efetivos, ainda que isso não passe de

especulação. Outro fato revelado nas entrevistas aponta que quem exerce a mesma

função de um funcionário da contratante sofre mais do que quem não exerce, talvez

porque a diferença de tratamento e benefícios seja mais óbvia, nesse caso. Ao

analisar o sofrimento por empresa, observa-se a concentração em 3 instituições das

7 pesquisadas.

86

4.5 Categoria Inicial Invisibilidade

A categoria inicial Invisibilidade possui 3 categorias intermediárias e 10

categorias finais, conforme demonstra a Tabela 15:

Tabela 15 – Categoria Invisibilidade desmembrada em categorias intermediária e final

Categoria intermediária Categoria final Total de trechos

Imagem do terceirizado e da profissão

Valorização 37

Desvalorização 22

Valorização parcial 20 Imagem negativa ou desconhecida 7

Diferença entre terceirizados e efetivos

Injustiça 22

Sobrecarga de trabalho 16

Falta de reconhecimento

Humilhação, discriminação e/ou indiferença 78

Precarização do trabalho e/ou instabilidade 22

Falta de treinamento, remuneração e/ou benefícios inferiores

20

Não invisibilidade 9

TOTAL 253

Fonte: elaborado pela autora

4.5.1 Categoria Intermediária Imagem do terceirizado e da profissão

Essa categoria abrange as falas que tratam da imagem do terceirizado, o que

implica perceber como ele se vê profissionalmente, como acredita que é visto por

seus colegas de trabalho, chefia e sociedade, bem como a imagem da profissão que

exerce. Está desmembrada conforme a Tabela 16:

Tabela 16 – Imagem do terceirizado e da profissão

Categoria intermediária Categoria final Total de trechos

Imagem do terceirizado e da profissão

Valorização 37

Desvalorização 22

Valorização parcial 20

Imagem negativa ou desconhecida 7

TOTAL 86

Fonte: elaborado pela autora

87

A primeira categoria final, Valorização, se refere a atributos associados à

pessoa dos entrevistados como, por exemplo, ser bem vista, respeitada, de

confiança, eficiente, empenhada, pontual, prestativa, proativa e também à profissão

dos terceirizados, no sentido de ser elogiada e/ou considerada importante.

“Sim, com certeza. (risos). Sem a limpeza não existe lugar nenhum, né? Todo mundo precisa da limpeza. Eu acho que a gente é o principal. Da limpeza. Porque sem nós aqui, ninguém faz nada.Não é? Quer que um broco cirúrgico faz uma cirurgia sem nós? Eles faz uma hemodiálise sem nós? (...) Eles usa um banheiro sem nós? Num usa.” (Bárbara) “Como é um trabalho novo, então eu sou bem, graças a Deus, eu sou bem valorizado, o pessoal reconhece o meu trabalho, o meu esforço de estar sempre fazendo um trabalho bacana. Eu acho que, que momentaneamente eles me reconhecem que eu, o esforço de fazer um trabalho bacana. Tanto eles quanto os demais funcionários terceirizados ou de outros setores também.” (Charles)

A segunda categoria final, Desvalorização, remete: (1) à estagnação na

carreira e à sensação de fracasso; (2) à percepção dos terceirizados quanto à sua

posição por não serem efetivos, inclusive com a afirmação de que seria diferente se

não fosse terceirizado; (3) quanto a não valorização pela sociedade, chefia, colegas

de trabalho e/ou empresa terceirizada; (4) por se sentir infeliz na profissão. Os

trechos a seguir ilustram essa categoria:

“Mesmo tendo curso superior, mas eu ainda trabalho na área técnica hoje ainda.” (Charles) “Eu, mesmo sendo terceirizado, tenho uma graduação, duas pós-graduação, tô fazendo outra graduação agora e tô com projeto de mestrado, eu, é, enquanto gabarito diante de minha chefia e diante de outros colegas que são efetivados, eu estaria bem na frente deles salarialmente. (...) E eu não posso receber essa premiação, mesmo eu tendo toda a, todos os aspectos legais necessários, entendeu?” (Pedro) “Então, assim, reconhecimento zero, é, salário zero e estagnação total.” (Alexandre) “Olha, eu sou, eu, eu sou um bom profissional. Eu sou muito bom profissional, mas desde que eu cheguei pra cá, a, aqui, a sensação que eu tenho, pra mim, é de fracasso. É, pelo, pelo salário que nos pagam, pela falta de reconhecimento que isso, isso é muito grave. Eu acho que é muito grave, que cê vem trabalhar, cê dedica, cê deixa sua família em casa, é, e, e não há esse reconhecimento. Eles acham que é sua obrigação fazer tudo e mais um pouco.” (Alexandre) (grifo da autora)

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A pesquisa de Costa (2007) com terceirizados no Ministério Público do Rio

Grande do Sul também evidenciou que os entrevistados se sentem fracassados por

não conseguirem um emprego melhor.

A fala abaixo retrata que ser terceirizada é uma marca negativa para a

profissional e condiz com a constatação das pesquisas de Brito, Marra e Carrieri

(2012), Costa (2007), Décosse (2013), Lima (2010), Quinlan e Sokas (2009), Santos

et al. (2009) e Zuberi e Ptashnick (2011), por exemplo.

“eu sinto que a maior parte das pessoas gostam de mim, gostam do meu trabalho, mas eu sou terceirizada. (...) É, é uma marca. Não tem jeito.” (Beatriz) (grifo da autora)

Na última fala (é uma marca. Não tem jeito.), fica evidente que o fato de a

entrevistada ser terceirizada a rotula e a estigmatiza; a impressão é que a

profissional se sente aprisionada, problema do qual não deve se livrar enquanto não

deixar a condição de não-efetiva. Por isso está, inclusive, cursando outra graduação

para mudar de profissão.

A terceira categoria final, Valorização parcial, envolve os seguintes

elementos: (1) a percepção sob a ótica da sociedade, chefia e colegas de trabalho;

(2) o reconhecimento pelo discurso contrastado com a desvalorização pelo salário;

(3) a profissão ser vista como necessária; (4) a profissão ser bem vista, mas quando

não é realizada; (5) a profissão ser bem vista por uns e por outros não. As falas a

seguir ilustram essa categoria:

“Uns acham que fisioterapia é massagista de velho, né? E outros, os que conhecem, os que já precisaram, acham que fisioterapia é muito importante.” (Débora) “Ser reconhecido, diz assim: você é um bom profissional, isso a chefia fala. Mas você ser reconhecido profissionalmente, é, no que diz respeito a ganho salarial, não sou. (...) Porque existem duas diferenças: você, sua chefia falar que você é competente, é, e outro, por outro lado, é questão salarial que não é, nós não so, não é igual, entendeu?” (Pedro) “Hum, bom, pela chefia reconheço. Pelos colegas de trabalho também. Pela sociedade, é, a sociedade vê o gari como muito importante, né, pra num ter sujeira, né, pra num ter, pra ter as rua limpa, tudo certinho. Mas é aquela coisa: eles vê que a gente faz falta, né, mas a gente num tá assim tão visto na sociedade não. (...) A gente tá um pouquinho apagado também.” (Roger) (grifo da autora) “Eu acho que ela é essencial, mas, sabe? Eu acho que as pessoas só vê que ela é bem vista o dia que você não vem, né? Porque quando cê tá ali fazendo todo dia, ninguém viu que todo dia cê limpou ali, todo dia cê coisou

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o telefone, todo dia cê tirou o lixo, mas o dia que você não vem, eles falam assim: ó, fulano não veio, o lixo tá aqui, entendeu?” (Giovanna) “tem gente que olha com bons olhos. Tem gente que acha que a gente é lixo. E não é. Que deveria dar mais valor porque, se não fosse a gente, eles ia trabalhar na sujeira. Eles ia num banheiro imundo, sentar numa mesa cheia de poeira. Mas, mesmo assim, tem gente que num vê isso, né?” (Ana Clara) (grifo da autora)

Esse aspecto que aponta para uma visibilidade condicionada ao não

cumprimento da tarefa remete às pesquisas que tratam do trabalho doméstico,

muitas vezes reconhecido apenas quando não foi realizado (DORNA, 2014; MELO e

CASTILHO, 2009; KOSNY e MACEACHEN, 2009; NUNES, 2014; OIT, 2012;

ULMANN, 2014).

A quarta categoria final, Imagem negativa ou desconhecida, refere-se às

respostas de alguns dos terceirizados sobre como eles acreditam que sejam vistos e

envolve os elementos: agitada, chata, irritante e/ou brigona.

“Eu não acho que eu sou mal vista aqui não, sabe? Algum tempo atrás talvez, assim, mais por brigona, porque teve uma época aqui quando caiu a ficha, porque até então igual eu te falei, eu só trabalhei na iniciativa privada. Quando eu conheci o quê que era a tal da terceirização, eu revoltei. E como eu ainda era acadêmica eu uh, estourei isso aqui dentro e disseminei isso pra, entendeu? (risos). Aí, minha filha, eu só faltava subir no palanque. Reuni os terceirizados da casa pra reivindicar aqui, melhorias. Então assim, né? Agora hoje não. Hoje eu não sou, sou tanto quanto brigona não.” (Jéssica) (grifo da autora)

Essa categoria também contempla a imagem da profissão que, segundo os

cerimonialistas entrevistados, é desconhecida pela sociedade, pois eles acreditam

que a visão seja deturpada a respeito do ofício que exercem.

4.5.2 Categoria Intermediária Diferença entre terceirizados e efetivos

A criação dessa categoria busca retratar os terceirizados no seu ambiente de

trabalho e, para tal, foi subdivida em:

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Tabela 17 – Diferença entre terceirizados e efetivos

Categoria intermediária Categoria final Total de trechos

Diferença entre terceirizados e efetivos

Injustiça 22

Sobrecarga de trabalho 16

TOTA 38

Fonte: elaborado pela autora

A primeira categoria final, Injustiça, revela algumas faces da invisibilidade.

Dentre elas a distinção de tratamento, evidenciada nas duas primeiras falas, bem

como o descompasso salarial quando comparado ao efetivo, descrito nas duas

últimas.

“É, a gente tem uma copinha, aqui, e quando reúnem nós terceirizados, por exemplo, o chefe chega e esparrama todo mundo. Ou então o chefe chega e manda cê, pichi, fala baixo, pichi. Isso, na maioria das vezes, quando eu tô aqui, eu escuto voz de efetivo conversando e dando risada na copinha. Ele não chega perto dessas pessoas pra parar de conversar, dá pra falar mais baixo. Ele não fala isso com eles. Entendeu? Vamos supor, outro exemplo, computador. Meu computador é bloqueado pra tudo, não vejo Facebook e também não tenho vontade, não vejo Facebook, não vejo Youtube, blog você não consegue entrar, muita coisa você não consegue entrar. Dos efetivos, tem tudo. É liberado tudo, tanto é que os médicos ficam assistindo filme aqui. Põe fone de ouvido e fica assistindo filme.” (Débora) “quando cê vem de uma empresa terceirizada, se acontece uma situação entre você e um efetivo em que você tá errado, você vai embora ou você recebe algum tipo de punição. Se acontece alguma coisa entre você e um efetivo e o efetivo tá errado, pede pra você não levar em consideração, deixar passar.E isso eu acho injusto, sabe? Porque o tratamento é diferente.” (Sara) “Eu acho que não é justo você ter, estar dentro de uma instituição na qual você exerce as mesmas funções de outras pessoas que são seus colegas de, de trabalho e, no fim do mês, né, quando você pega sua, o seu contracheque, seu salário é cinquenta por cento, né, do que, do outro.” (Pedro) “É uma injustiça você fazer o mesmo trabalho de um servidor e não ter o mesmo salário ou um salário digno. Eu não vou nem falar um salário compatível. Um salário digno (dito com ênfase). Porque o que a gente recebe em relação ao servidor é uma coisa discrepante.” (Alexandre) (grifo da autora)

A injustiça foi objeto de estudo de alguns autores como, por exemplo, Antloga

e Mendes (2009), Costa (2007), Leão e Silva (2012), Lima Júnior e Ésther (2001),

Martins e Honório (2014), Salimon e Siqueira (2013), Sousa e Mendonça (2009),

Vasconcelos e Faria (2008), Weber e Grisci (2010). Desses autores, Costa (2007) foi

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quem pesquisou os terceirizados no Ministério Público do Estado do Rio Grande do

Sul e lá constatou, também, a precarização trabalhista, o sentimento de inferioridade

e a negação da identidade.

A segunda categoria inicial, Sobrecarga de trabalho, revela outra faceta da

distinção entre terceirizados e efetivos. Está relacionada à acomodação e/ou

morosidade do efetivo e ao acúmulo das atividades não realizadas por concursados

e alocadas para o terceirizado.

“É o terceirizado que faz mais horas extras, é os terceirizados que viajam, é os terceirizados que às vezes põem sua vida em risco com um carro às vezes não muito bom, né, na estrada, que às vezes a instituição oferece. (...) E é o terceirizado que você não tem família. Só tem trabalho, entendeu?” (Pedro) (grifo da autora) “o efetivado ele, se ele tem alguma atividade e ele não vai fazer, eu num vou fazer, vou pra casa e pronto. Ainda mais dentro, principalmente dentro da instituição pública em que ele passou por um processo de, de concurso, foi empossado, tem todos os direitos ali, né? Então, ele já criou raiz ali. Ele num sai. A chefe dele de imediato num vai falar assim: ó, amanhã cê tá indo embora. O máximo que pode acontecer com ele é ele troca de setor. (...) Entendeu? Aí vai ver esses servidores vão minando, vão saindo, né, deixando o, o fogo e quem apaga o fogo são os terceirizados.” (Pedro) (grifo da autora)

Outra vertente dessa categoria pode ser observada na fala abaixo que,

inclusive, narra um horário de trabalho que poderia ser descrito como escravizante,

pelo excesso de horas trabalhadas, além do sofrimento dos terceirizados pela falta

de agradecimento e importância conferida a seu trabalho:

“Então, se o evento acabou na, na sexta-feira, nós tínhamos pessoas pra desembarcar até no domingo. Nós chegamos a trabalhar vinte horas por dia. (...) Vinte horas por dia! E uma, e uma das coisas mais, ah, es, louca que eu, que, que eu vi, que eu presenciei, que existe um grupo no WhatsApp e, assim que acabou o evento, a nossa gestora, a nossa gerente, ela agora, ela fez um agradecimento: eu queria agradecer a todos porque o evento foi perfeito. Mas o evento não acabou, entendeu? Então, quer dizer que o evento acabou pra eles. (...) E nós presenciamos isso, tanto que nós respondemos: o nosso evento só acaba no dia vinte e nove. Isso era dia vinte e seis. É aí que a pessoa, que a pessoa lembra, porque a gente dá pitaco, a gente, poxa, eu tô aqui. (...) E, e digo mais: aí o presidente foi fazer um agradecimento pra nós, ele reuniu toda a Assessoria de Comunicação e o, e todos os presidentes (...) ficaram alucinados com o nosso atendimento. Alucinados com o atendimento do aeroporto, que foi o atendimento que nós fizemos. (...) E nenhum “obrigado” nos foi falado.” (Alexandre) (grifo da autora)

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A pesquisa de Barros e Mendes (2003) descreve, dentre outros fatores, a alta

produtividade a qualquer custo. Nessa mesma linha, Lima (2010) retrata a

sobrecarga de trabalho de terceirizados e a associa à questão da intensificação do

trabalho com menos trabalhadores, que se sujeitam a essas condições por

insegurança e pela vulnerabilidade do emprego.

4.5.3 Categoria Intermediária Falta de Reconhecimento

Essa categoria apresenta as características da Invisibilidade consoante o

conceito de Costa (2008), que está relacionado à humilhação, desvalorização da

pessoa, discriminação, ter a presença ignorada e ao conceito de reificação de

Gonçalves Filho (1998). As seguintes subdivisões foram criadas para abranger

essas peculiaridades:

Tabela 18 – Falta de Reconhecimento

Categoria intermediária Categoria final Total de trechos

Falta de reconhecimento

Humilhação, discriminação e/ou indiferença 78

Precarização do trabalho e/ou instabilidade 22

Falta de treinamento, remuneração e/ou benefícios inferiores

20

Não invisibilidade 9

TOTAL 129

Fonte: elaborado pela autora

A primeira categoria final, Humilhação, discriminação e/ou indiferença,

apresenta falas que mostram que isso ocorre às vezes pelo simples fato de os

trabalhadores serem terceirizados, por se sentirem como funcionários facilmente

descartáveis e por se sentirem excluídos. Envolve, dentre outros elementos, falas

que retratam assédio, hostilidade, coação e grosserias de efetivos.

“Ah tem, isso aí tem minha filha, demais. Se a gente for levar em conta, cê num, cê num trabalha, entendeu? Cê vê que acontece isso. As pessoas te, chega aqui com ar de, sabe, assim (...) Superioridade, entendeu? Porque tem, né, só porque é um cargo efetivo e a pessoa ali é terceirizado. Mas o trabalho só tá funcionando ali porque tem um terceirizado, entendeu, atendendo um efetivo.” (Luíza) (grifo da autora)

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“Pra te ser franca, (...) aqui dentro aqui pra esses povo aí, pra o Estado aí, a gente não é ninguém, entendeu? Pra eles, eles são melhores, isso e aquilo, que aqui dentro, pra alguns aí, a gente não é ninguém não, minha filha.” (Ana Clara) (grifo da autora) “Você sente isso quando você vai pra um órgão público, né, e que há essa distinção de provimento, um é provimento né? (...) Mas se eu não fosse, se eu não tivesse aqui, eu, eu estaria com certeza como muitas pessoas aí, da sociedade, sem saber como que é e achando que é bom. Quando vem, quando vem a propaganda: a terceirização é bom por causa disso, por causa daquilo, tal. Oh, legal, eu também taria, estaria achando talvez que o negócio é bom demais. Agora como eu, a, a, aqui dentro, você toma uma visão de um todo. Você passa realmente a ver que não é bom.” (Jéssica) (grifo da autora)

As duas falas abaixo demonstram como é marcante a distinção entre efetivos

e terceirizados. Pedro utiliza a palavra “casta”, que denota a estratificação dos

trabalhadores e Júlia reforça, inclusive no tom de voz e nas expressões faciais

durante a entrevista, como se sente inferiorizada pelo simples fato de ser

terceirizada.

“A fala é essa: não há distinção entre nós aqui. Mas, quando acontece alguma coisa, você vê a distinção nas, nos atos e não na fala. A fala é unânime: todos nós aqui somos iguais, né? Nós todos desempenhamos as mesmas funções. Somos iguais. Mas (...) Na realidade é outra, né? Você terceirizado a, né, você tá numa casta, né? Você servidor, efetivado, tá em outra casta.” (Pedro) (grifo da autora) “Depois que eu passei a trabalhar em empresas terceirizadas com pessoas que fizeram concurso público pra outra, como é que eu vou dizer, pro, pro Estado, aí já mudou a história. (...) Eles se sentem superior a gente. Como se diz: nós estamos lá pra trabalhar pra eles, não pra aju, ajudá-los, auxiliá-los. (...) Então você, você é como se fosse subalterno (...) E se eu não fizesse, eu ficaria como: num tá trabalhando direito.” (Júlia) (grifo da autora)

As três falas, a seguir, indicam que a identidade de terceirizado é uma

identidade renegada: quem o é prefere que isso não seja público, ainda que por

símbolos como o crachá, evitando assim toda sorte de reações negativas que isso

poderia provocar.

“em relação ao emprego, eu perguntei se teria: ah, você é terceirizada? Credo!” (Júlia) (grifo da autora) “A gente sofre é, realmente uma discriminação por ser terceirizado, né? (...) a ponto da chefia chegar e apresentar os, as pessoas do trabalho assim: esse fulano, essa é (Jéssica), é, terceirizada (fala com ênfase) (...) Não tem necessidade dele, dele ter falado terceirizada, né?” (Jéssica) (grifo da autora) “Teve uma vez que eu passei a maior vergonha. Fizeram um, um banquete lá e eu achei que era pra todos. Fiquei na fila. Chego lá, eles falaram que

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era só o pessoal do Estado. Aí eu falei assim: nó (...) Mas eu chorei de vergonha. Chorei de vergonha. (...) Eu falei assim: nossa, desculpa, porque eu achei que fosse pra todos, né? Voltei. Eu falei assim: nossa, eu vou tomar um café da manhã hoje maravilhoso, aquele banquete lá. Eu tô vendo que, eu vi que o pessoal tava me olhando, porque a gente fica com o cra. Hoje eu não tou, tô sem crachá, mas a gente fica com o crachá, né o crachá, crachá do, tem o efetivo e tem o do terceirizado, né? Voltei pra trás e o pessoal riu da minha cara.” (Júlia) (grifo da autora)

O próximo depoimento demonstra a humilhação a que foi sujeito um

terceirizado por não poder se aperfeiçoar profissionalmente nos cursos de

capacitação oferecidos pela instituição em que presta serviço. Nesse local, os

estagiários e os concursados podem participar, exceto os terceirizados. Ao narrar

esse acontecimento, o entrevistado deixou transparecer profunda mágoa pela sua

condição laboral:

“foi logo quando eu cheguei aqui, é, chegou, né, um, uma, uma apostila pra nós fazermos um curso na escola, é, da instituição, porque ela tem uma escola, né, que oferece curso de capacitação para todos, menos pros terceirizados.” (Pedro) (grifo da autora)

Já as duas falas a seguir servem para exemplificar como a humilhação ocorre

com relação aos terceirizados na forma de ironia ou de agressão verbal:

“(...) às vezes acontece muito assim: essa mesa é a que eu fico, esse, essa mesa é minha, esse computador é meu, esse telefone é meu. Aí, se você vem e você senta aqui e utiliza você não tem direito de tar sentada aqui, porque isso aqui é de fulano. Essa mesa, esse computador, esse telefone, tem muito isso aqui. Aí quando a gente vai fazer, vai sentar num lugar que é da, digo assim, que é dito que é da outra pessoa ou que você vai falar alguma coisa, eu já vi brincadeiras, brincadeiras no sentido de, de a pessoa virar e falar assim: cê fica, viu? Cê fica. Cê é terceirizada, tá? Cê é ralé aqui. Já, brincando, né? Eu já vi, eu já sofri isso aqui. Eu acho que eu, como bastante outras pessoas, aqui também já tiveram o desprazer de, de ouvir essas brincadeiras assim, de mau gosto.” (Jéssica) (grifo da autora) “Pessoas levantando a voz. Levantando a voz não, gritando realmente, mas grita porque sabe que além de você não ser efetiva, não ser do quadro de servidor, então cê não é uma concursada daquele lugar, é, o seu cargo é muito pequeno com relação ao deles, cê só tem serviço administrativo prestado ali dentro, dentro da visão deles, então não tem um cargo. Então, te tratam diferente por isso, já gritaram comigo por causa disso, coisa que ele não faria com outro efetivo, mas teve coragem de fazer com você porque você é pequeno ali dentro.” (Sara) (grifo da autora)

A fala adiante retrata a reificação descrita por Gonçalves Filho (1998):

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“Só como mais uma.(...) É como se a gente fosse assim: eu sei que todo mundo é substituível, mas acho que tem que ter um cuidado com a gente, assim. Por mais que seja fácil de você conseguir uma pessoa no mercado de trabalho, mas tem que levar em consideração tudo que já foi feito” (Sara) (grifo da autora)

Os terceirizados se sentem excluídos também pela profissão que exercem,

como exemplifica a fala a seguir:

“Tem momentos que acontece o seguinte na, na rua: passa um morador de rua, né, é, de manhã cedo e te dá um bom dia. Fala: ô gari, Deus abençoe o seu dia aí filhão. Mas tem pessoas elegante, bonita, cheirosa, que deixa o cheiro no nariz da gente, que passa, nem um “oi” dá pra gente. A gente vê a diferença. Ninguém sabe se é, se é o dia da pessoa que tá começando ruim ou, ou, ou o quê que ela pretendendo naquele dia com aquilo, sem pelo menos ter olhado prum lado e ter dado um bom dia pra quem tava quase varrendo o pé dela.” (Roger) (grifo da autora)

Outras vertentes da exclusão, fruto da invisibilidade, podem ser percebidas

pelo fato de não serem aceitos por colegas de trabalho, não pertencerem ao grupo e

pelo impacto negativo que a identidade de terceirizado lhe traz.

“eu trabalho com protocolo e cerimonial há muito tempo. Eu sei precedência de mesa, precedência de autoridade. É, e um belo dia, as pessoas não costumam te perguntar.” (Alexandre) (grifo da autora) “Já senti na primeira empresa que eu trabalhei sim, porque tinha, era só, era só eu de terceirizada no lugar. Então, cê não era muito levada em consideração e quando você tentava fazer alguma coisa, era, assim, taxada como se você quisesse aparecer.” (Sara) “Várias vezes. Várias áreas de trabalho. Em casa de família, é, em questão de evento, né, em família, em, na empresa, esse, esse negócio do dis, tem empresa que é terceirizado. Então, assim, tem uma festa de final de ano, os terceirizado num é convidado, num participa. Tem uma comemoração de aniversário, o convidado num participa, terceirizado num participa, né? Então isso, eu me sinto, então isso eu me sinto excluída sim.” (Sophia) (grifo da autora) “Ai meu Deus é tão triste. Cê tá ali, inclusive, por exemplo, tem uma, uma comemoração. Os efetivos vão. Você não é nem convidada. Você trabalha no setor. Acontece muito isso. É, vou, ah, sei lá, tem um aniversário. Você, chamam todos, você fica excluída. Hum, comemora aniversário de todos, menos o seu. Aí lembra do aniversário de todos lá e tudo. O seu, nem lembra o seu. Acontece muito isso. (...) Acontece muito isso assim de ser, de ser invisível.” (Júlia) (grifo da autora)

As duas falas a seguir demonstram como os entrevistados se sentiram

excluídos em situações de trabalho por terem sido ignorados por colegas.

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“eu já me senti invisível em reuniões, entendeu? (...) Porque, ah fulano, seu salário num sei o quê. Às vezes vão discutir plano de carreira, eu me sinto invisível, porque eu não faço parte daquele papo. Por mais que eu esteja ali, o único, sozinho, né, diante daquela situação, eu me vejo invisível porque eu não participo daquele debate. Eu não participo, não porque eu não queira. Porque a minha situação de terceirizado, ela não agrega aquele debate.” (Pedro) (grifo da autora) “(...) invisível no sentido de que, às vezes você pode resolver uma coisa e eles passam por cima de você, no sentido de que é, pra poder privilegiar outras pessoas, entende? Pra, pra aparecer também, sabe? Eu, eu às vezes eu tô, eu posso assim, vamos supor, surge o atendimento de uma pessoa aqui que é, que tem um certo poder, aí o chefe vai e não passa pra mim, passa direto pro médico. É como se eu não tivesse condições de, de atender, né? (...) invisível no sentido de que às vezes a sua opinião não conta, não vale, entende?” (Jéssica) (grifo da autora)

Vários autores utilizados neste estudo, que tiveram como público os

terceirizados, descreveram situações em que estes se sentiram humilhados,

discriminados ou tratados com indiferença (BARROS e MENDES, 2003; BRITO,

MARRA e CARRIERI, 2012; COSTA, 2007; DUBE e KAPLAN, 2010; LIMA, 2010;

QUINLAN e SOKAS, 2009; SANTOS et al., 2009; ZUBERI e PTASHNICK, 2011).

A segunda categoria final, Precarização do trabalho e/ou instabilidade, refere-

se a perdas de direitos, trabalhar quando não há boas condições físicas, pressão de

trabalho, recursos inferiores para trabalhar, atividade mais nobre para o efetivo,

ameaça de demissão, tipo de trabalho e carga horária. A seguir, algumas evidências

dessa categoria constatada nas entrevistas:

“É ter a minha mão-de-obra qualificada, precari, é, é, no sentido de precarizada, cê entendeu? (...) eu vejo que a terceirização ela, ela é precarização mesmo do trabalho, ela não é, ela, ela é uma não valo, valorização do profissional.” (Jéssica) “Fragilidade, é, instabilidade, muita instabilidade. É, cê ter que engolir tudo porque, qualquer hora, cê pode(...)” (Débora) “Existe um tipo de trabalho que nós fazemos que é confirmação de autoridades. (...) E aí uma efetiva precisava que alguém fizesse isso, mas todos os cerimonialistas estavam com muito trabalho. Ela foi conversar com a pessoa que estava na coordenação e pegou e falou assim: ah, quem pode fazer isso? Ah, fulano de tal num pode porque ele viajou a trabalho. (...) Aí o coordenador falou assim: ah, então, porque que você não passa pro fulano de tal que é o efetivo. (...) Aí essa pessoa pegou e falou assim: ah, mas eu num vou passar pra uma pessoa de mesma classe que eu. (...) Outra coisa: teve uma reunião no meu setor, que normalmente tem alguns tipos de trabalho, que alguns efetivos, eles acham que não é digno deles fazerem. (...) Mas, sim, de um terceirizado fazer.” (Beatriz) (grifo da autora)

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O relato de Amanda retrata que, mesmo sendo empregada de uma empresa,

ela não se sente como tal. Para a entrevistada, o significado de emprego é não ser

terceirizada:

“o bom é se eu tivesse um emprego, uma coisa assim mais estável, né?” (Amanda) 6

Barros e Mendes (2003), Brito, Marra e Carrieri (2012), Costa (2007),

Cavalcante, Oliveira e Cavalcante (2009), Lima (2010) e Santos et al. (2009) foram

alguns dos autores que também sinalizaram a precarização do trabalho e/ou

instabilidade nas pesquisas que fizeram com terceirizados.

Esses mesmos autores identificaram elementos da terceira categoria final,

que versa sobre as diferenças entre efetivos e terceirizados. Trata-seda Falta de

treinamento, remuneração e/ou benefícios inferiores que aborda o rebaixamento a

que são sujeitos os terceirizados:

“E vários cursos que às vezes efetivo pode fazer e terceirizado num faz. (...) a gente só faz se for de muito interesse pro setor, mas o diploma a gente não pode receber.” (Beatriz) “Você poderia crescer na sua instituição, você poderia, é, entrar na, a gente fala, é, programa de carreira da instituição, entendeu? Você um dia podia chegar a ser gerente, uma coisa que um terceirizado hoje num, nem chega, né, não chega, não, nem como chegar tem, entendeu? (...) Não existe plano de carreira pra terceirizado.” (Pedro) (grifo da autora) “Por remuneração é completamente diferente (...) é bem menor e (...) cê não tem possibilidade de crescer.” (Sara) (grifo da autora) “Tem um outro, uma outra coisa que é discrepante que é: auxiliar viaja com um servidor para o mesmo local e tem uma diária que é a metade da dele. (...) a nossa diária (...) É de cento e quarenta reais, a deles é duzentos e oitenta se, ou, ou, é, ou próximo disso, que aí eles não falam muito pra num, num ficar muito evidente.” (Alexandre) (grifo da autora)

A fala a seguir demonstra que os benefícios inferiores podem sujeitar os

terceirizados a situações de maior desgaste físico e, até mesmo, de risco:

“tem uma coisa que eu acho que é, que é um absurdo que, como eu sempre trago tudo pro bom humor, uma vez foi solicitado que nós viajássemos pra ir pra, pra uma comarca muito longe. Não me recordo qual comarca. E isso e a servidora queria ir de avião. Eu imaginei que nós iríamos de avião, né? Já que ela tava indo, eu iria de avião. É, só que ela falou que: “nanão (...) você

6 A entrevistada trabalhou por duas vezes no mesmo local em que presta serviço. Da primeira vez em

que foi terceirizada, trabalhou por meio de uma sociedade civil. Dessa vez, em que é empregada e possui a carteira assinada, não se sente como tal.

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não pode ir de avião”. Sabe, sabe aquela coisa velada? (...) Ela pegou e falou pra mim: não, mas terceirizado não pode viajar. Aí eu brinquei com ela: ó, mas claro, a gente tem uma doença infecciosa” (Alexandre) (grifo da autora)

A quarta categoria inicial, Não invisibilidade, envolve não se sentir invisível ou

a postura de não se deixar abater pela invisibilidade. Demonstra que alguns

entrevistados mantêm uma atitude diferenciada mediante as pessoas ao seu entorno

ou perante situações em que são tratados com inferioridade. Alguns responderam

que sabem se impor e outros que desconsideram quem os ignora, mas narraram

que a invisibilidade acontece.

“Ah já, mas eu não deixo a pessoa perder tempo de que num tá me enxergando não. (gargalhadas) (...)Cê chega dá um bom dia, boa tarde e a pessoa (...) Então assim, eu num levo muito em consideração isso não, sabe? Em conta isso não, sabe? Mas as pessoas fazem isso, entendeu? As pessoas têm o prazer assim, entendeu, de, né? De fingir que cê não chegou ou, né, que você chegou e que seja outra pessoa, né? Já cansei de ver isso, entendeu? As pessoas, né, tratar com superioridade, sabe, assim? Achar que cê não é alguém.” (Luíza) (grifo da autora) “É, as pessoas que passam perto de mim, num me cumprimenta, e daí? Eu faço o mesmo. Se ele acha que eu num tô lá, porque que eu vou achar que ele tá ali? Então, pra mim, se me cumprimentar, eu cumprimento (...) Então, da mesma forma que a pessoa vai me responder, eu também vou responder. (...) Se a pessoa me perguntar, eu respondo. Se a pessoa conversar, eu converso. Se a pessoa cumprimentar, eu cumprimento. Se a pessoa num me cumprimentar, pra mim a presença dele não vai fazer diferença nenhuma. Da mesma forma que a minha presença também não tá fazendo diferença pra ele.” (Sophia) (grifo da autora) “Não. Não. Eu não senti não, porque eu também não deixo sentir não, né? (...) Olha eu aqui! (risos) Tô aqui, gente, ó! (risos)” (Ana Clara) (grifo da autora) “Hum, não. Graças a Deus também nunca me senti invisível no trabalho. Acho que às vezes eu sou visto até demais. (risos). Lá embaixo a gente fala que eu sou funcionário-padrão. Tudo sou eu que resolvo. Então, eu tô ao contrário do invisível no meu trabalho.” (Thiago) “Eu sou o mais visto no meu trabalho, menina, porque eu sou o mais zoador.” (William)

A postura de não se deixar abater pela invisibilidade condiz com a estratégia

de defesa mencionada no trabalho de alguns autores como, por exemplo, Barros e

Mendes (2003), Cançado (1994), Cândido (2004), Castro e Cançado (2009),

Lourenço (2014), Mendes, Vieira e Morrone (2009), Oliveira e Garcia (2011), Vilela,

Garcia e Vieira (2012), Vieira (2014) e Viviers et al. (2008).

99

Por meio da análise das entrevistas, foi possível apurar um relativo equilíbrio

em termos de números de trechos de resposta de invisibilidade entre os níveis de

escolaridade fundamental/médio e superior, diferente do que ocorreu com a

categoria sofrimento. Talvez isso se deva ao fato de os trabalhadores com menor

escolaridade desempenharem tarefas menos nobres e, portanto, mais

frequentemente invisíveis. Ao avaliar o número de trechos com a faixa de tempo

como terceirizado, foi possível verificar que os profissionais até 5 anos e os de 5 a

10 anos se sentem mais invisíveis do que os terceirizados que trabalham há mais de

25 anos nessa condição. Do mesmo modo que ocorre com o sofrimento, imagina-se

que o tempo de trabalho pode contribuir para que a pessoa vá naturalizando uma

condição não natural. Além disso, igualmente como aconteceu com a questão do

sofrimento, quem se sente mais invisível são os terceirizados que exercem a mesma

função de um funcionário da contratante. Ao analisar a invisibilidade por empresa,

observa-se a concentração nas mesmas 3 instituições públicas em que o sofrimento

foi preponderante e, ainda, nas que mais concentram terceirizados com escolaridade

de nível superior. Isso sugere a necessidade de se pesquisar que características

dessas organizações podem favorecer a manifestação da invisibilidade para evitar

que isso aconteça.

Com base na análise desse público, pode-se inferir que a invisibilidade está

diretamente associada a sofrimento, para muitos dos entrevistados, e que a

contribuição da chefia e dos colegas de trabalho talvez possa mudar esse cenário.

Afinal, esse sentimento vem predominantemente dessas fontes, devendo ser

combatido preferencialmente nelas. A fala do entrevistado Alexandre, relacionada à

chefia e colegas de trabalho, sintetiza o conceito de invisibilidade dos trabalhadores

terceirizados entrevistados nessa pesquisa:

“eu dei a entender pra eles que eu era um, uma pessoa invisível, já que eu era tratado como tal. (...) E as pessoas, parece que não te enxergam.” (Alexandre)

4.6 Principais resultados da análise

A Figura 3 apresenta as categorias e subcategorias da análise de conteúdo

realizada. A intensidade das cores sinaliza aquelas que englobaram um número

maior de respostas, conforme pode ser visto a seguir.

100

Figura 3 – Categorias da análise de conteúdo realizada

Fonte: elaborado pela autora

Categoria

inicialPRAZER

Categoria

intermediária

Aspectos

positivos ou

neutros

Condições de

trabalho

Problemas

físicos

Problemas

psicológicos

Mudança de

comportamentoReação

Imagem do

terceirizado e da

profissão

Diferença entre

terceirizados e

efetivos

Falta de

reconhecimento

Ambiente e

Relações no

trabalho

Chefia, falta de

apoio ou de

recursos

Dor, lesão, doença

ou outro problema

físico

Ansiedade,

angústia, início de

depressão, tristeza

e/ou choro

Frustração ou

desmotivação

Posicionamento/

ReflexãoValorização Injustiça

Humilhação,

Discriminação

e/ou Indiferença

Oportunidade

de trabalho

Falta de perfil

para o trabalho ou

desejo de mudar

de profissão

Fadiga ou

cansaço físico

Estresse e/ou

sensação de

esgotamento

Alteração

de humorIsolamento Desvalorização

Sobrecarga de

trabalho

Precarização do

trabalho e/ou

Instabilidade

Identificação

com o trabalhoDesvio de função

Consumo

de álcoolValorização parcial

Falta de treinamento,

remuneração e/ou

benefícios inferiores

Sustento, utilidade

e/ou fonte de

aprendizado

Imagem negativa

ou desconhecidaNão invisibilidade

Prazer Sofrimento Invisibilidade

Alta

Média

Baixa

SOFRIMENTO INVISIBILIDADE

Categoria final

Legenda conforme

frequência

Categorias

101

A tonalidade das figuras apresenta a frequência das respostas em cada

categoria. Assim, percebe-se que a primeira categoria inicial, Prazer, apresentou

Ambiente e Relações no Trabalho como a mais pontuada nas entrevistas, o que

reforça a importância do bom relacionamento e clima organizacional para os

entrevistados.

Já na categoria Sofrimento, constatou-se que Chefia, falta de apoio ou de

recursos, Ansiedade, angústia, início de depressão, tristeza e/ou choro e

Posicionamento/Reflexão foram as que mais apareceram nas falas, sendo que a

última demonstra como os terceirizados reagem ao sofrimento.

No que tange à Invisibilidade, ficou claro que esta se manifesta,

predominantemente, por meio da categoria Humilhação, discriminação e/ou

indiferença. Com relação às respostas com média intensidade, observa-se uma

categoria de significado positivo: Valorização, que se refere às respostas quanto à

autoimagem dos entrevistados, como acreditam que sejam vistos e se a profissão é

valorizada pela sociedade. A categoria Valorização parcial engloba as respostas em

que há valorização e desvalorização concomitantemente. As demais categorias de

média intensidade apresentam significado negativo para o público entrevistado:

Desvalorização, Injustiça, Sobrecarga de trabalho, Precarização do trabalho e/ou

instabilidade e Falta de treinamento, remuneração e/ou benefícios inferiores. De

qualquer forma, 216 das 253 falas que se referem à invisibilidade possuem

conotação negativa, ou seja, 85% delas tendem a ser relacionadas a sofrimento, o

que reforça a necessidade de se empreenderem ações em prol do trabalhador

terceirizado, para que as condições de trabalho e as relações construídas nesse

ambiente minimizem o seu sofrimento.

102

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa pesquisa teve como proposta retratar o sentimento de invisibilidade

profissional de trabalhadores terceirizados. Para tal, discutiram-se os temas:

trabalho, sofrimento, invisibilidade e terceirização. Além disso, buscou-se descrever

e analisar o cotidiano desse público, de acordo com seu próprio relato, no que se

refere aos aspectos relacionados ao sofrimento no trabalho e à invisibilidade. Isso foi

feito por meio de uma pesquisa qualitativa e exploratória, que consistiu num estudo

de casos.

Por meio da análise de conteúdo realizada com 19 trabalhadores

terceirizados em sete empresas de Belo Horizonte, foi possível perceber que esses

profissionais vivenciam mais experiências de sofrimento do que de prazer no

trabalho. Assim também acontece com a invisibilidade, que se revela rotineiramente

no cotidiano da maioria deles e está, predominantemente, associada a sofrimento.

Quanto às fontes de prazer, quem falou da experiência de trabalho como algo

prazeroso o relacionou, principalmente, ao ambiente e às relações no trabalho. No

quesito sofrimento, os entrevistados comentaram que as condições de trabalho mais

associadas a ele incluem a chefia, a falta de apoio e/ou de recursos. A questão da

chefia chamou a atenção, pois foi recorrente nas respostas. Falta de apoio,

relacionamento ruim e tratamento inadequado foram alguns dos aspectos

frequentemente mencionados. Nesse ponto, cabe questionar o papel do gestor.

Farta literatura aponta a importância dessa figura para as organizações, já que é ela

a maior responsável por agregar, ouvir, valorizar, negociar e criar, dentre outras

coisas, um ambiente saudável e construtivo de trabalho. Contudo, não foi essa a

realidade que apareceu nos relatos. Gerentes mal preparados parecem exacerbar o

sofrimento dos terceirizados, em vez de contribuir para minimizá-lo.

Administrar uma equipe de alta performance é tarefa complexa que demanda

preparação. Nesse sentido, diante das queixas sobre a chefia que os entrevistados

trazem, cabem também questionamentos quanto ao administrador que a Academia

vem formando. Seriam pessoas maduras, ecléticas, com uma visão ampla de mundo

ou gestores autômatos, que repetem técnicas e ferramentas, mas são incapazes de

pensar de forma crítica, reflexiva e humana? Seriam pessoas que conseguem

entender o nível macro em que as organizações se inserem, conhecendo autores de

diferentes linhas e tendo contato com distintas perspectivas, ou profissionais

103

insensíveis, interessados apenas por leituras instrumentais, resultados imediatos e

alcance de metas? Aqui, faz-se um alerta: ou se repensa a formação do

administrador ou uma nova geração de gestores que incorporam a invisibilidade

como prática, reproduzindo-a e naturalizando-a, invadirá as empresas. É importante

que temas como ética ganhem destaque na grade curricular dos cursos de

Administração e que a universidade prepare profissionais menos alienados, mais

comprometidos com o outro e as contribuições sociais que podem trazer. Só assim

as mudanças de que o mundo do trabalho tanto necessita podem acontecer. E

essas mudanças são urgentes. Pelo que se viu, embora a gerência ainda seja a

base da administração, ela não é efetiva. Num tempo em que se fala tanto de

liderança, as pessoas não andam conseguindo sequer ser bons chefes.

Despertar a atenção para a relevância da chefia, no que se refere à tarefa de

conduzir bem uma equipe e, especialmente no caso deste trabalho, evitar episódios

de invisibilidade, consiste na primeira contribuição teórica deste estudo. Outras

pesquisas falam da importância dos chefes, mas não destacam o papel fundamental

que eles ainda têm, na administração e, ao que parece, não está sendo cumprido.

Retomando a análise empreendida neste estudo, os resultados mais

frequentes do sofrimento que os entrevistados relataram são problemas psicológicos

como ansiedade, angústia, início de depressão, tristeza e/ou choro. A reação mais

comum a ele foi o posicionamento/reflexão, que consiste numa postura de não

aceitação passiva do sofrimento.

No que tange à invisibilidade, esta se manifestou, sobretudo, pela falta de

reconhecimento, o que inclui experiências de humilhação, discriminação e/ou

indiferença vivenciadas, muitas vezes, em decorrência do processo de terceirização.

Assim, parece razoável afirmar que a terceirização pode trazer situações em que o

trabalhador não é enxergado em suas necessidades, expectativas ou, em última

instância, na sua humanidade.

Por ser tratado de forma diferente dos efetivos, receber remuneração e

benefícios inferiores, contar com menos apoio e recursos, sofrer injustiça, ser

submetido à sobrecarga de trabalho, não receber treinamento adequado e manter-

se sob a ameaça da instabilidade, esse profissional sente-se reificado, alguém que

está na marginalidade do sistema produtivo; um trabalhador que não é levado em

consideração e, por vezes, sequer é visto.

104

Essa realidade vale para homens e para mulheres, como mostram as

entrevistas. Quando se analisa a definição que Costa (2008) faz da invisibilidade, ao

descrevê-la como uma violência simbólica e material, um desaparecimento

psicossocial de um homem no meio de outros homens, fica evidente a necessidade

de se incorporar a figura da mulher nessa descrição. A invisibilidade não se restringe

à realidade masculina, não é só de homens sobre outros homens. Se há relatos dos

dois gêneros sobre o sofrimento, vindos de sua condição invisível, a figura feminina

não pode ser excluída dessa interpretação. Pelo contrário, acredita-se que a

literatura deve se debruçar sobre ela, dado que, talvez, sofra ainda mais que os

homens as consequências dessa forma de exclusão. Um sinal disso é o fato de as

profissões diretamente relacionadas ao trabalho doméstico, ligadas ao ato de cuidar

e servir, serem extremamente desprestigiadas – e, portanto, alvo provável da

invisibilidade – e tenderem a ser realizadas por mulheres. Não bastasse essa

questão, como afirma Hirata (2011), as consequências da precarização são

diferentes para as mulheres por estarem lotadas, em sua maioria, no setor de

serviços e comércio, que se revela mais desvalorizado que a operação fabril. Tudo

isso aponta para a necessidade de se enfatizar como a invisibilidade atinge e afeta o

gênero feminino, para o que é essencial que a definição do conceito de invisibilidade

incorpore a figura da mulher. Esse acréscimo que se propõe consiste, portanto, na

segunda contribuição teórica do estudo.

Nesta investigação foram unidas duas diferentes tradições de pesquisa. De

um lado, autores idealistas, que focam a subjetividade, numa análise micro dos

fenômenos, geralmente associada à Psicologia Social e do Trabalho. Exemplos são

Bendassolli (2007) e Goulart e Papa Filho (2013). De outro, pesquisadores

materialistas, com uma visão macro dos fenômenos e tendências marxistas, como

Alves (2000) e Antunes (1999, 2010). Em princípio, utilizar argumentos de ambos

pode soar incoerente. Contudo, acredita-se que, respeitando-se os pressupostos

teóricos de cada um e os paradigmas que os embasam, é possível trazer para o

texto contribuições de ambos. Afinal, as duas linhas podem oferecer interessantes

reflexões sobre o fenômeno ora tratado. Aprofundar esse diálogo, ainda que com

algumas restrições, consiste numa terceira contribuição teórica deste estudo.

Os resultados da pesquisa realizada com os terceirizados revelaram-se

coerentes com a literatura, pois os elementos de sofrimento relatados pelos

entrevistados coincidem com o que foi descrito pelos autores citados (ADLER e

105

SILVA, 2013; ANTLOGA e MENDES, 2009; BRANT e MINAYO-GÓMEZ, 2007;

GRAVINA, 2002; GRISCI, 2003; GRISCI et al., 2006; LEÃO e SILVA, 2012; LIMA

JÚNIOR e ÉSTHER, 2001; MARTINS e HONÓRIO, 2014; QUINLAN e SOKAS,

2009; SANTOS, SIQUEIRA e MENDES, 2011; UCHIDA, 1998; ZANELLI et al., 2010

e ZUBERI e PTASHNICK, 2011). No entanto, a análise permitiu retratar a realidade

específica desses trabalhadores, no que se refere ao sofrimento vindo, sobretudo,

da sua condição de invisíveis. Trazer o tema invisibilidade para o universo dos

terceirizados e retratar o sofrimento no trabalho desses profissionais consistiu,

imagina-se, na principal contribuição desta pesquisa. Ela mostrou que profissionais

terceirizados, além de excluídos, marginalizados, diminuídos, são também, muitas

vezes, invisíveis. Reconhecer essa questão e sensibilizar-se para ela, passando a

enxergá-los como sujeitos dignos da mesma atenção que os demais é o primeiro

passo para que essa realidade se transforme.

5.1 Limitações da Pesquisa

Uma das limitações desta pesquisa consiste na vastidão das nuances do

trabalho no cenário atual, como apontada na revisão de literatura, que amplia a

possibilidade de diferentes vivências do sujeito em relação a ele. Para minimizar

essa limitação, as entrevistas foram realizadas até que se atingisse a saturação.

Acredita-se que isso tenha aumentado as chances de o estudo ter contemplado um

espectro razoável de percepções.

Além disso, o fato de poucos entrevistados pertencerem à iniciativa privada

pode ter restringido que se alcançasse a visão desses profissionais, assim como

possíveis distinções que apresentam, na vivência do sofrimento no trabalho e,

particularmente, da invisibilidade profissional.

Outra limitação envolve o fato de algumas pessoas (7, exatamente) terem se

recusado a participar das entrevistas. Algumas responderam claramente que não

concederiam entrevista em decorrência do sofrimento no trabalho a que já foram

sujeitas. Outras, supõe-se que tenham negado pelas experiências fortes que

vivenciaram no trabalho, o que tornaria as entrevistas ainda mais ricas.

106

5.2 Implicações gerenciais

Dessa pesquisa se depreendeu que é possível minimizar o sofrimento e a

invisibilidade no trabalho por meio de algumas ações. Dentre elas, está a

importância que deve ser atribuída a todo profissional, independente da atividade

que executa. É necessário promover um ambiente de trabalho livre de preconceito,

indiferença, injustiça e humilhação, em que prepondere o apoio e a cooperação

entre os pares e as chefias. É preciso haver políticas de valorização,

reconhecimento, remuneração, benefícios e perspectiva de crescimento na carreira,

pois esses fatores se sobressaíram nas respostas e sua falta se apresenta como

elemento determinante de sofrimento e invisibilidade. Todavia, isso precisa ocorrer

na prática e, não somente, no discurso.

O responsável por iniciar essas transformações é, conforme se argumentou, a

chefia. Figura fundamental nas organizações, para desempenhar esse papel, é

essencial que o gestor seja um profissional bem formado. Portanto, os reflexos

dessa pesquisa se estendem, também, aos cursos de Administração, que precisam

discutir esse tipo de questão e formar não profissionais preocupados unicamente em

arrumar um emprego, mas verdadeiros agentes transformadores da sociedade.

Diante dos resultados, recomenda-se também um olhar diferenciado para o

ambiente de trabalho onde estão inseridos os terceirizados, a fim de que se

minimizem as consequências da invisibilidade que geram sofrimento. Esse olhar

requer uma postura gerencial capaz de mobilizar gestores e colegas de trabalho na

promoção de um ambiente salutar, em que o legado seja o reverso do sofrimento e

da invisibilidade, isto é, um ambiente de prazer, em que as pessoas possam se

sentir reconhecidas – para o que é fundamental que sejam vistas.

5.3 Recomendações para pesquisas futuras

Uma sugestão de pesquisa a ser feita refere-se a investigações que busquem

compreender o sofrimento que os terceirizados enfrentam, relacionada ou não à

invisibilidade. Como se viu, trata-se de um grupo especialmente vulnerável, que

enfrenta grandes desafios no ambiente de trabalho e merece, portanto, atenção

diferenciada.

107

Pesquisas que foquem a invisibilidade como vivenciada por outros públicos,

além dos terceirizados, também se mostram promissoras. Em especial, estudos que

envolvam minorias, como as mulheres, os negros ou pessoas com deficiência, por

exemplo, são capazes de oferecer informações importantes para que se conheça

melhor esse fenômeno e se vislumbre a realidade desfavorável que enfrentam,

também no trabalho. Estudos comparativos, nesse contexto, também parecem de

grande valia, por permitirem que se estabeleçam paralelos, por exemplo, entre o

sofrimento no trabalho vindo da invisibilidade por que passam terceirizados do setor

público e do setor privado; homens e mulheres ou pessoas com atuações

profissionais distintas.

Por fim, investigações de caráter quantitativo, que utilizem amostras

representativas e procurem estabelecer relações entre variáveis, formando modelos,

podem contribuir para o avanço no conhecimento da invisibilidade.

Acredita-se que, com esses esforços, é possível se desnudar uma realidade

digna da atenção de qualquer pessoa interessada tanto na competitividade das

organizações quanto na satisfação e autorrealização do sujeito, por meio do

trabalho.

108

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APÊNDICE A – Roteiro para entrevista

Dados gerais

Nome Idade Gênero

Escolaridade

Profissão Cargo atual

Atividade desempenhada

Há quanto tempo atua como terceirizado?

Exerce a mesma função de um funcionário da contratante?

Breve histórico da carreira (fale livremente sobre sua trajetória até chegar aqui,

nessa empresa, com essas atividades)

Avalie os fatores abaixo com relação ao seu trabalho atual.

Sofrimento no trabalho

1. O trabalho é fonte de sofrimento, prazer ou ambos, para você? Explique

quando ele é fonte de um e de outro, e por que.

2. Você já enfrentou problemas físicos para os quais considerou que sua causa

fosse o seu trabalho atual? Por exemplo: fadiga, dor muscular, dor de cabeça,

problemas gastrointestinais, hipertensão e afins? Descreva.

3. Você já notou problemas psicológicos cuja origem acredita que seja o seu

trabalho atual? Por exemplo: estresse, angústia, mudança de humor,

ansiedade, depressão, sensação de esgotamento, insegurança e outros?

Descreva.

4. Você já apresentou mudanças de comportamento para as quais você possa

atribuir, como causa, o seu trabalho atual? Por exemplo: conduta violenta,

abuso de álcool ou drogas, pensamento suicida e afins? Descreva.

5. Como você se defende do sofrimento no trabalho, ou o que faz para evitá-lo?

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Invisibilidade

6. Como você se vê, profissionalmente?

7. Como acredita que é visto?

8. Você se sente reconhecido e valorizado pela chefia, colegas de trabalho e

sociedade?

9. Na sua opinião, sua profissão é bem vista pela sociedade?

10. Há distinção de tratamento no seu ambiente de trabalho? Entre que

profissionais e por quê?

11. Você sente que é tratado com injustiça? Se sim, explique quando e por que.

12. Alguma vez você já foi humilhado, discriminado ou tratado com indiferença no

seu trabalho? Quando e por quê?

13. Alguma vez você já se sentiu diminuído, desvalorizado ou excluído? Quando e

por quê?

14. Você acha que se não fosse terceirizado isso teria sido diferente? Por quê?

15. O que significa ser terceirizado para você?

16. Quais as principais diferenças que você percebe entre funcionários efetivos e

terceirizados, na organização? Percebe diferenças em termos de:

remuneração, treinamento, condições de trabalho, reconhecimento ou

valorização?

17. Você se sente ou já se sentiu invisível no seu trabalho? Descreva.

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APÊNDICE B – Cartilha Informativa

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