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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016 RETRATO E PAISAGEM: dos primórdios das artes visuais à concepção das fotografias brasileiras na segunda metade do século XIX SOUZA, RODRIGO H. B. (1); SALGADO, IVONE (2) 1. Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas) CAMPUS I. Programa de Pós-Graduação em Urbanismo (POSURB) Rodovia Dom Pedro I, Km 136, s/n - Parque das Universidades, Campinas - SP, 13086-900 [email protected] 2. Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas) CAMPUS I. Programa de Pós-Graduação em Urbanismo (POSURB) Rodovia Dom Pedro I, Km 136, s/n - Parque das Universidades, Campinas - SP, 13086-900 [email protected] RESUMO Este trabalho pretende analisar as primeiras fotografias urbanas do Brasil visando situá-las no contexto do surgimento dos conceitos de retrato e paisagem. Pretende discutir a origem destes conceitos no campo das artes visuais, incluindo pintura, desenho, gravura, fotografia, como também nos campos da arquitetura e do urbanismo (tanto no que se refere à forma documental, como na prática do desenho e também da fotografia). O formato de representação de uma imagem basicamente possui duas espacialidades conhecidas no campo da perspectiva angular em modelos horizontais e verticais. Sua aplicação vem sendo utilizada desde a antiguidade e, desde a invenção da fotografia, o conceito retrato/paisagem é utilizado como modelo de concepção e visualização de imagens e documentos. Os fotógrafos retratistas e os fotógrafos paisagistas, assim como os pintores, utilizam seus respectivos espaços de representação imagética (o filme ou a tela, por exemplo) de acordo com o nicho a ser utilizado. Eles utilizam o formato de filme ou de tela vertical para imortalizar retratos e horizontal para imortalizar paisagens urbanas, rurais e naturezas. Após a invenção da fotografia, oficialmente divulgada em 1839, os profissionais deste ofício já foram divididos em duas categorias. Atualmente, com a ramificação da fotografia em vários setores da sociedade, há fotógrafos urbanos, fotógrafos de casamento, astrofotógrafos, fotojornalistas, fotógrafos de estúdio, fotógrafos policiais, still de cinema, etc. A paisagem urbana discutida neste trabalho é aquela que foi retratada por diversos fotógrafos estrangeiros, desde 1839. Na América do Sul, as primeiras fotografias registradas ocorreram entre 1839 e 1840. No Brasil, as três primeiras imagens de paisagens urbanas que conhecemos são do Rio de Janeiro. Graças a um plano estratégico de dom Pedro II, o Brasil urbano foi amplamente fotografado durante a segunda metade do século XIX. O objetivo principal do imperador era mostrar ao mundo um Brasil moderno e repleto de oportunidades, com o intuito de atrair investidores estrangeiros. Milhares de fotografias de paisagens urbanas foram produzidas em todo território, sobretudo em cidades situadas na orla brasileira. Palavras-chave: Brasil; Fotografia; Paisagem; Retrato

RETRATO E PAISAGEM: dos primórdios das artes visuais à ... · arquitetura e do urbanismo ... Na América do Sul, as primeiras fotografias registradas ocorreram entre 1839 ... social

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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

RETRATO E PAISAGEM: dos primórdios das artes visuais à concepção das fotografias brasileiras na segunda metade do século

XIX

SOUZA, RODRIGO H. B. (1); SALGADO, IVONE (2)

1. Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas) CAMPUS I.

Programa de Pós-Graduação em Urbanismo (POSURB) Rodovia Dom Pedro I, Km 136, s/n - Parque das Universidades, Campinas - SP, 13086-900

[email protected]

2. Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas) CAMPUS I.

Programa de Pós-Graduação em Urbanismo (POSURB) Rodovia Dom Pedro I, Km 136, s/n - Parque das Universidades, Campinas - SP, 13086-900

[email protected]

RESUMO

Este trabalho pretende analisar as primeiras fotografias urbanas do Brasil visando situá-las no contexto do surgimento dos conceitos de retrato e paisagem. Pretende discutir a origem destes conceitos no campo das artes visuais, incluindo pintura, desenho, gravura, fotografia, como também nos campos da arquitetura e do urbanismo (tanto no que se refere à forma documental, como na prática do desenho e também da fotografia). O formato de representação de uma imagem basicamente possui duas espacialidades conhecidas no campo da perspectiva angular em modelos horizontais e verticais. Sua aplicação vem sendo utilizada desde a antiguidade e, desde a invenção da fotografia, o conceito retrato/paisagem é utilizado como modelo de concepção e visualização de imagens e documentos. Os fotógrafos retratistas e os fotógrafos paisagistas, assim como os pintores, utilizam seus respectivos espaços de representação imagética (o filme ou a tela, por exemplo) de acordo com o nicho a ser utilizado. Eles utilizam o formato de filme ou de tela vertical para imortalizar retratos e horizontal para imortalizar paisagens urbanas, rurais e naturezas. Após a invenção da fotografia, oficialmente divulgada em 1839, os profissionais deste ofício já foram divididos em duas categorias. Atualmente, com a ramificação da fotografia em vários setores da sociedade, há fotógrafos urbanos, fotógrafos de casamento, astrofotógrafos, fotojornalistas, fotógrafos de estúdio, fotógrafos policiais, still de cinema, etc. A paisagem urbana discutida neste trabalho é aquela que foi retratada por diversos fotógrafos estrangeiros, desde 1839. Na América do Sul, as primeiras fotografias registradas ocorreram entre 1839 e 1840. No Brasil, as três primeiras imagens de paisagens urbanas que conhecemos são do Rio de Janeiro. Graças a um plano estratégico de dom Pedro II, o Brasil urbano foi amplamente fotografado durante a segunda metade do século XIX. O objetivo principal do imperador era mostrar ao mundo um Brasil moderno e repleto de oportunidades, com o intuito de atrair investidores estrangeiros. Milhares de fotografias de paisagens urbanas foram produzidas em todo território, sobretudo em cidades situadas na orla brasileira. Palavras-chave: Brasil; Fotografia; Paisagem; Retrato

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1. A construção histórica dos conceitos de retrato e paisagem

A representação do mundo material e imaterial, sendo ela direcionada, por exemplo, a

segmentos sociais ou religiosos, de forma proposital ou não, é muito antiga. Antes mesmo das

pinturas rupestres serem consideradas expressões artísticas no classicismo, tais

representações do mundo foram documentadas e muitas delas ainda são preservadas apesar

de incontáveis processos de degradação, sejam advindos da ação do tempo, da natureza ou da

ação dos homens.

O fato é que as representações do mundo antigo ou contemporâneo, artísticas ou documentais,

sociais, políticas, místicas, pagãs ou religiosas, necessitam de alguma base para se

consolidarem. Base esta, que se apresenta em várias formas: rochas, muros, tecidos, madeiras,

papéis, pedras, metais, materiais de solos (gesso, argila, barro, calcário etc), entre outros.

A exemplo das pinturas rupestres, cujos desenhos representam, na maioria, a fauna e a flora,

homens, mulheres e crianças, artefatos e divindades, a representação de um tempo vivido

àquela realidade, a arte visual, séculos mais tarde, se consagraria como uma das formas mais

eloquentes do processo de representação sobre tantos assuntos, no que tange todas as

relações do homem com seu habitat, consigo mesmo e com suas crenças ou descrenças.

Após longo período que atravessou a arte rupestre (mesmo que reconhecida como arte,

tardiamente), desde a arte mesopotâmica (entre 4000 a.C.) até a arte urbana ou mesmo a

digital (dias atuais), a representação artística do real e do irreal, sobretudo na pintura, evoluiu

para a ruptura da normatização do sistema dos gêneros, como afirma Renato Palumbo Dória:

Após longo processo de amadurecimento e institucionalização, firmou-se a tradição dos chamados gêneros artísticos, sistematizando e hierarquizando distintas práticas e saberes, e mesmo definindo tipos específicos de artistas profissionais – sendo que um dos primeiros textos conhecidos da literatura artística ocidental, contido na Historia Naturalis redigida por Plínio, O Velho, por volta de 70 d.C., já dedicava um capítulo especial à chamada pintura de gênero. Esta tradição seria especialmente abalada no século XIX, quando na Europa; e já desde o Romantismo; novas concepções estéticas questionariam radicalmente os procedimentos e divisões acadêmicas, propondo soluções que romperiam, já no século XX, com a normatização do sistema dos gêneros. (Doria, 2008, p. 514 e 515)

Dois dos gêneros artísticos oficialmente existentes, desde a fundação da Academia Francesa,

no Século XVII, e presentes, sobretudo nas artes visuais, especificamente na pintura e na

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fotografia, são objeto de análise neste trabalho: o retrato e a paisagem. Mas, é preciso que se

traga à tona, através de visões tecnicamente significativas, conceitos sobre tais gêneros.

2. A paisagem

O texto-gênese, de Thomas Bulfinch, sobre mitologia greco-romana, explica que os antigos

pagãos acreditavam que, no início de tudo era o Caos. O autor escreveu que todas as coisas do

universo eram formadas por uma confusa massa, onde jaziam latentes as sementes das coisas.

Disse que a terra, o mar e o ar estavam todos misturados e que, portanto, a terra não era

sólida, o mar não era líquido e o ar não era transparente. Então Deus e a Natureza intervieram

e começaram a, separar a terra do mar e o céu de ambos. “Nesse ponto, um deus — não se

sabe qual — tratou de empregar seus bons ofícios para arranjar e dispor as coisas na Terra.

Determinou aos rios e lagos seus lugares, levantou montanhas, escavou vales, distribuiu os

bosques, as fontes, os campos férteis e as áridas planícies, os peixes tomaram posse do mar,

as aves, do ar e os quadrúpedes, da terra”. (Bulfinch, 2002 , p. 19)

Sendo assim, acreditava-se que Deus e a Natureza criaram do caos a paisagem, tal como a

conhecemos hoje. Curioso é mostrar que a Natureza, como forma de divindade, assim como

Deus, trabalhou para que certa organização dos elementos que constituem a paisagem fizesse

com que os mesmos seguissem adiante de forma separada e, de certa forma, organizassem o

espaço que antes era entendido como caótico. Em outro texto, mais contemporâneo, produzido

pela Enciclopédia Itaú Cultural, a paisagem é definida como um “gênero pictórico, cujas origens

remontam aos planos secundários de retábulos e miniaturas medievais, de paisagens se afirma

como especialização artística no século XVII”. (Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura

Brasileiras, 2016)

Sob outra visão, focada pelo arquiteto Vladimir Bartalini, a paisagem passa a ser representada

na arte e:

...acaba por constituir um gênero de pintura que informa, prepara o olhar e estabelece valores, julgamentos estéticos sobre a própria paisagem. Os jardins, a partir do século XVIII, refletem este movimento, primeiramente na tentativa de materializar as sugestões paisagísticas contidas nas poesias, em seguida na reprodução, em três dimensões, de cenas pintadas sobre uma tela. Ato contínuo, os pintores voltam seu interesse para os jardins e os representam em seus quadros. Arte e paisagem não cessaram, desde então, de se retro alimentar. (BARTALINI, 2008, p.112)

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Para Bartalini, os historiadores e estudiosos da paisagem afirmam que o conceito de paisagem

tem início nos tempos modernos, no caso da civilização ocidental, mas que uma “cultura

paisagística” já existia desde a Roma antiga, inclusive através de certo interesse, já na

Antiguidade clássica, pela paisagem.

Os romanos não tinham, porém, uma palavra que a designasse, e, pela falta desta condição, costuma-se fazer coincidir com o início da era moderna o nascimento da idéia de paisagem, quando o termo passa a comparecer em várias línguas européias. Na mesma época a paisagem é retomada como tema na literatura, desperta o interesse dos pintores e firma compromissos com os jardins. (Idem, 2008, p.112)

A paisagem, além do gênero contido na pintura desde a Idade Média, é fruto da intervenção

humana em um espaço que antes era apenas natureza intocável (vales, montanhas, bosques,

florestas, rios, lagos, praias, mares etc). Através do prisma etimológico, a paisagem implica o

registro ou a representação da natureza, daí a paisagem campestre e a paisagem urbana.

Curiosamente, a paisagem como gênero secundário surge no Século XVI e afirma-se

plenamente como gênero primário e independente já no século seguinte.

A partir do Século XIX, o conceito de paisagem estético/artístico utilizado na pintura, gravura e

desenho também é atribuído à fotografia que faz recurso da representação de um espaço

delimitado. Mais tarde o conceito de paisagem será utilizado em documentos impressos. Assim,

o conceito de paisagem, na fotografia e na editoração refere-se às dimensões de uma base

física cuja horizontalidade é maior do que a verticalidade, podendo captar, assim, mais

informações, sejam pictóricas ou textuais, do ponto de vista do enquadramento. Aos pintores

paisagistas, correspondeu o surgimento dos fotógrafos paisagistas no século XIX. Ambos

registraram as diversas paisagens contidas no mundo ao longo dos tempos.

3. O retrato

Assim como a paisagem, o retrato também se fez presente em pinturas rupestres que ainda

podem ser encontradas em várias partes do mundo. Na antiguidade, o Egito nos proporcionou

diversos retratos de deuses, líderes e governantes estampados ou esculpidos em vários

materiais (madeira, metais, pedras etc). A China também possui retratos pintados ou esculpidos

há cerca de 3000 anos. Os retratos na Grécia e Roma antigas também eram comuns naquelas

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sociedades.

Ana Raquel Martins Roque apresenta o retrato como tendo surgido na pré-história, por exemplo

as pinturas nas grutas de Lascaux (15.000 a.C.), as primeiras representações humanas de que

se tem registro. Cita também a famosa estátua de Vênus de Willendorf (22.000 a.C.), que é

anterior às pinturas rupestres de Lascaux. A autora afirma ainda que os retratos iniciaram pelo

desenho, pela pintura e pela escultura, e que os retratos mais antigos até então conhecidos são

de múmias egípcias, pintados em madeira e transportados para túmulos particulares,

localizados em templos e palácios reais. (ROQUE, 2012, p. 10 e 11)

Outra função do retrato pictórico, a social, remonta possivelmente ao período bizantino, ou seja,

muito antes da oficialização da invenção da fotografia, onde somente pessoas de classe alta

possuíam retratos pintados, pois o alto custo deste artefato inviabilizava sua popularização. Ao

longo dos séculos, o retrato tornou-se símbolo de distinção, poder e nobreza. Reis, rainhas e

figuras púbicas, na política e no campo religioso, encomendavam retratos não somente para

imortalizar sua imagem, como também demonstrar poder e ostentação. (ABDALA, 2013, p. 168)

Os retratos existem como uma espécie de mediação entre a arte e a vida social, sobretudo a

partir do Século XVIII. Para Ana Filipa Vieira Monteiro, a pintura de retrato adquire grande valor

de importância no que se refere a ferramenta de armação social. Neste caso, o retrato se

apresenta como uma manifestação característica de ostentação, como símbolo de elevação

social da classe burguesa na metade do Século XVIII:

Isto poderá explicar, em certa medida, a formalidade de muitos retratos como fruto de uma tentativa de adequação a um código de comportamentos que remete as limitações impostas pelas convenções sociais que pautam o ato de apresentação perante estranhos. Deste modo, compreendemos que a aparente seriedade que nos habituamos a reconhecer na vasta maioria dos retratos produzidos no seio da sociedade ocidental ao longo dos últimos séculos, corresponde não a uma verdadeira transcrição da identidade do indivíduo retratado, mas acima de tudo, a uma tentativa de adequação às expectativas da sociedade relativamente ao modo como indivíduos respeitáveis devem aparecer publicamente. (MONTEIRO, 2014, p. 35 e 36)

De certa forma, com o advento da fotografia, oficializada como invento em 1839, em

Paris, todas as formas de representação do mundo, inclusive a do retrato pictórico, mudariam

consideravelmente. Porém, este fenômeno de ostentação entre as classes sociais abastadas

permaneceria durante todo Século XIX e início do Século XX.

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4. Retrato e paisagem na fotografia

A primeira imagem feita sob princípios da técnica fotográfica foi exposta em 1826 por Joseph

Nicéphore Niépce, um dos inventores da fotografia, e nos mostra uma paisagem urbana de

Saint-Loup-de-Varennes, no interior da França. Como a imagem é precária, não há precisão ou

riqueza de detalhes nos motivos captados por Niépce. (Figura 1). Foi preciso oito horas de

exposição para que a imagem fosse fixada em sua base (uma placa de estanho) e hoje o

original encontra-se em exposição permanente no Harry Ransom Center, na Universidade de

Austin - Texas (EUA) (Figura 2). Nesta fotografia, há um telhado, construções e pequena

vegetação – era a imagem de seu quintal, visto por uma janela.

Figura 1. Vista da janela em Le Gras. Primeira fotografia permanente captada por Joseph Nicéphore

Niépce, em 1826 ou 1827. Saint-Loup-de-Varennes. 20x25 cm.

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Figura 2. A fotografia original da imagem captada por Niépce (à esquerda, na foto) encontra-se em

exposição permanente no Harry Ransom Center, na Universidade de Austin - Texas (EUA).

Outro registro importante é um auto-retrato realizado por Robert Cornelius, em 1839, na

Filadélfia (EUA). Este seria o primeiro retrato realizado através da técnica fotográfica. Além

disso, é o primeiro registro de auto-retrato, ou selfie existente (Figura 3).

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Figura 3. Fotografia auto-retrato de Robert Cornelius, na Filadélfia, em 1839. Original encontra-se na

Divisão de Cópias e Fotografia da Biblioteca do Congresso Norte-americano, em Washington. Acesso em

http://hdl.loc.gov/loc.pnp/pp.print

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Após as divulgações dos êxitos nas experiências fotográficas e a oficialização e difusão do

daguerreótipo, iniciaram-se dois movimentos mundiais no que tange a difusão do invento: a

propaganda através de publicações impressas em periódicos do mundo todo e viagens,

terrestres e marítimas, com o intuito de difundir a novidade; divulgando experimentações que

pretendiam melhorar a qualidade fotográfica, além de utilizar outros meios técnicos e químicos

de captação e fixação das imagens.

O sucesso do daguerreotipo, para Annateresa Fabris, ocorreu pois ele “proporciona uma

representação precisa e fiel da realidade, retirando da imagem a hipoteca da subjetividade; a

imagem, além de ser nítida e detalhada, forma-se rapidamente; o procedimento é simples,

acessível a todos, permitindo uma ampla difusão”. O que é bem diverso, do ponto de vista da

pintura. Mesmo assim, a daguerreotipia proporciona, assim como a pintura, apenas a base

original (por exemplo, a placa metálica é para o daguerreótipo o que a tela é para a pintura).

(FABRIS, 2008, p.13)

É importante lembrar que a concepção primária do funcionamento da camera fotografica ja

tinha sido criada através das experiencias com a camara escura, utilizada por Aristóteles, na

Grécia, no Século IV a.C., e disseminadas pela geometria euclidiana na Renascença. Os

pintores utilizavam caixas ou câmaras totalmente negras e lacradas, que tinham apenas um

pequeno orifício em uma das bases laterais. Assim, os raios luminosos entravam por este

orifício e se projetavam na base oposta daquela onde o orifício se encontra a imagem externa

de forma invertida. A diferença principal entre a câmera fotográfica e a câmara escura é

justamente o resultado. Na câmera fotográfica a imagem era projetada em uma superfície cuja

luz solar fazia exatamente o trabalho do pintor. Na câmara escura, era o pintor que teria de

pintar em cima da imagem projetada.

A fotografia apresenta três grandes momentos para o aperfeiçoamento de seus processos

durante a segunda metade do Século XIX, segundo Fabris. Na primeira etapa, que vai de 1839

até os anos 1850, o interesse pela fotografia fica restrito a um seleto grupo de amadores de

classe mais rica e que, por conta disso, pode pagar os fotógrafos retratistas por seus serviços

cobrados. O segundo momento é sobre a descoberta do fotógrafo francês André Adolphe

Eugène Disdéri e seu cartão de visita fotográfico (carte-de-visite photographique), dando, assim,

mais acesso a um público com menor poder aquisitivo, conferindo a este tipo de fotografia

dimensões industriais, por conta do barateamento do produto e diminuição de tamanho (por

volta de 9 x 6 centímetros), com relação ao retrato pictórico. A terceira etapa ocorre por volta da

década de 1880, com o momento da massificação da fotografia, colocando-a como um

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fenômeno prevalentemente comercial, porém sem retirar seu status artístico. (FABRIS, 2008, p.

17)

Durante todo este processo, apresentaram-se ao mercado mundial dois tipos de fotógrafos,

como cita Natalia Brizuela; o viajante-fotógrafo e o amante-fotógrafo. O primeiro estava ligado a

fotografias de paisagens e o segundo, a fotografias de retratos, o que retomou a dualidade

que tinha marcado a tradição pictórica até então. A autora afirma que o fotografo paisagista

trazia para perto lugares distantes, eliminando desta forma o espaço e que “era possível viajar

através de cópias exatas de objetos distantes, reproduções que não eram abstratas como os

mapas, tampouco versões subjetivas como desenhos, litografias”. (BRIZUELA, 2012, p. 36)

Sobre o amante-fotógrafo ou o fotógrafo retratista, Brizuela aplica o sentido comercial, ao

denominar amante-fotógrafo, pois que, tal ambiguidade era mostrar que a máquina fotográfica

oferecia uma imagem mais precisa do que aquela que habita no coração e na imaginação dos

amantes, por exemplo, assim como disse o cientista e político francês François Arago, na

Academia de Artes e Ciências de Paris, em seu artigo/discurso sobre a invenção do

daguerreótipo, em 1839:

(...) o amante fotógrafo, um retratista, em oposição ao viajante fotógrafo, que se ocupa das paisagens. O anúncio põe o daguerreótipo em competição com o “retrato [...] debuxado ao coração”, esse retrato do afeto, invisível e imaginário. Uma competição ambígua, já que não fica claro como a fotografia vai suplantar o “retrato do coração”, quando, segundo o mesmo artigo [de Arago], o candidato a fotógrafo não só captaria a imagem da bem-amada sem abrir os olhos dela, “até dormitando”, sem trabalho algum, mas, além disso, captaria o retrato imaterial do inconsciente. (ARAGO, apud BRIZUELA, 2012, p. 38)

Mais do que isto, segundo Natalia Brizuela, as lentes vão revelar “longas terras” e “retratos dos

seus amores”, oferecendo “as miudezas mínimas que a vista não alcança, conforme um artigo

publicado no Jornal do Comércio, no Rio de Janeiro, em 1º de maio de 1839. Possivelmente, a

descrição de tal viajante fotógrafo também fora extraída de outro artigo do mesmo periódico, em

28 de dezembro de 1839, quando o padre Louis Compte aportou com o navio-escola

L’Orientale no porto do Rio de Janeiro e, dias depois, realizou as três primeiras fotografias em

solo brasileiro. As três imagens registraram o prédio do Paço Imperial (Figura 4), o chafariz do

Mestre Valentim e o Cais do Rio de Janeiro e este momento histórico também fora divulgado:

Foi o abbade Combes quem fez a experiencia: he hum dos viajantes que se acha a bordo da corveta franceza l’Orientale, o qual trouxe consigo o engenhoso instrumento de Daguerre, por causa da facilidade, com que

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por meio delle se obtem a representação dos objectos de que se deseja conservar a imagem. (Jornal do Commercio, 1840, p. 01)

Importante destacar que, segundo Boris Kossoy, a denominação fotografia (originalmente,

photographie) foi uma criação do francês Hercules Florence, que morava na antiga vila de São

Carlos (atual cidade de Campinas-SP), no ano de 1832, quando experimentava aperfeiçoar

métodos de impressões através da luz solar. Portanto, tal técnica e tal denominação foram

inventadas por Florence em terras brasileiras antes da divulgação oficial do processo fotográfico

de Daguerre.

Figura 4. Fotografia do Paço Imperial, 1840. Rio de Janeiro, RJ / Uma das três primeiras fotografias

realizadas no Brasil. Acervo IMS

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5. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil

Em 1840, o império brasileiro direciona seu olhar, ou melhor, apenas o olhar de um

adolescente, para uma novidade tecnológica que, segundo Edgar Allan Poe (1840) era um

“invento representativo do milagre e do potencial mágico dos anos modernos” e também o

“mais extraordinário triunfo da ciência moderna”. Em se tratando de um invento “mágico” – o

daguerreótipo –, o jovem príncipe, Pedro de Alcântara, impressionado com a apresentação do

abade Compte e suas três imagens fotográficas, decide conhecer o ofício de fotógrafo e

encomenda seu daguerreótipo – provavelmente o primeiro a ser adquirido no Brasil. Em março

do mesmo ano, o príncipe recebe a encomenda que, somente oito meses depois, seria

comercializada no Brasil.

Em 1841, quando o jovem de 15 anos torna-se dom Pedro II – imperador do Brasil (Figura 5) –,

já domina sua câmera e, no decorrer dos anos seguintes, conhece fotógrafos oriundos de vários

países e que já estavam instalados em solo brasileiro. Entre as décadas de 1850 e 1880, dom

Pedro II realiza uma verdadeira revolução imagética no Brasil. Visionário, o imperador manda

fotografar o país de forma obsessiva e, como nos apresenta Brizuela, era como se, por meio

dessas fotografias, dom Pedro II tentasse criar uma versão precisa de um atlas brasileiro, pois,

“ao financiar os fotógrafos que se dedicaram a registrar a paisagem brasileira, ele criou uma

tradição sem paralelo em nenhum outro país da América Latina”. (Brizuela, 2012, p. 42)

Quando a família imperial foi banida do país, em 1889, o imperador doou à Biblioteca Nacional

sua coleção com cerca de 25 mil fotografias e, juntamente de uma coleção de livros, foram

denominadas Coleção Dona Theresa Christina Maria. De acordo com Natalia Brizuela, estas

fotografias, pertencentes ao acervo imperial “atravessaram o oceano para que o público

estrangeiro admirasse tudo que o Brasil tinha de mais suntuoso e espetacular” (Brizuela, 2012,

p. 56). A coleção possui fotografias de profissionais diversos, sendo eles, 26 fotógrafos que

foram condecorados com as honras imperiais, denominadas “Photographo da Caza Imperial”.

Existem milhares de fotografias de “vistas”, ou de paisagens, de cidades importantes, como o

Rio de Janeiro (Fotografia 6), Salvador, Olinda, Recife, Fortaleza, Ouro Preto, São Paulo,

Petrópolis, Teresópolis, Porto Alegre, Manaus etc. Os álbuns de retratos também foram

preservados e muitos deles possuem peculiaridades incríveis, como o álbum de retratos de

detentos de 1870, com anotações, inclusive sobre o motivo de suas penas. Outros álbuns de

retratos contendo as tais cartes-de-visite fazem parte das coleções da família imperial brasileira.

Recentemente, outro achado foi traduzido em livro. Trata-se da “Coleção Princesa Isabel –

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Fotografia do Século XIX”, cujos organizadores são Pedro e Bia Corrêa do Lago, e que contém

cerca de mil fotografias da época do império, em excelente estado de conservação, por incrível

que pareça, pois tal coleção encontrava-se trancada dentro de um baú, de posse dos herdeiros

da família imperial. (do Lago, 2013, p. 13)

Várias imagens de paisagens brasileiras e de retratos de pessoas (índios, negros, políticos,

aristocratas etc) pertencem a este imenso acervo oitocentista que encontram-se guardadas em

acervos de várias instituições: Biblioteca Nacional, Arquivo Nacional, Museu Imperial, Instituto

Moreira Salles, entre outros. O portal “Brasiliana Fotográfica”, disponível na internet desde

2015, é resultado da união de parte dos acervos iconográficos da Biblioteca Nacional e do

Instituto Moreira Salles, que já digitalizou e publicou parte dos seus acervos existentes.

Grande parte destas imagens foi encomendada por dom Pedro II e utilizada para importantes

finalidades, entre tantas, mostrar o Brasil para o mundo. Algumas comissões nacionais

participaram das grandes Exposições Universais, que desde 1851 servem como vitrine mundial

sobre várias tendências, seja de ordem tecnológica, ou mesmo social. O Brasil participou de

várias exposições, organizou várias de âmbito nacional e, sobretudo nas internacionais, nas

quais utilizou a fotografia como meio de divulgação de um Brasil moderno e apto a receber

investimentos internacionais.

Lilia Moritz Schwarcz afirma que os esforços de dom Pedro II em investir na imagem de um

Brasil moderno, não foram em vão, pelo menos do ponto de vista da propaganda imagética

diante de acontecimentos de tamanha dimensão, como é o caso de uma Exposição Universal.

O próprio imperador chegou a participar de algumas dessas exposições, que chegavam a durar

meses. O Brasil iniciou sua participação nas exposições universais a partir da terceira edição,

em Londres, em 1862, e passou a ser presença cativa nas demais. (Schwarcz, 2015, p. 397)

Visionário, dom Pedro II vislumbrou um Brasil bem mais moderno e civilizado e investiu de

forma privada na instalação dos estandes brasileiros, bem como ajudou na escolha dos

produtos nacionais a serem expostos; ainda, entregou pessoalmente os prêmios destinados

aos produtores-expositores. Tudo para ajudar o país a ser melhor visto em terras estrangeiras.

O Brasil recebeu várias medalhas nas exposições, por exibir produtos de qualidade ímpar,

como café, madeira, fumo, açúcar, entre outros. A última participação do Brasil em exposição

universal que a monarquia promoveu foi na de Paris, em 1889.

Heloisa Barbuy explica que a fotografia, de certa forma consolidada já àquela época, ainda

encontrava-se atrás de outras formas de representação, como, por exemplo, da gravura. Isto

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porque, apesar de vários fotógrafos registrarem o evento, várias exposições fotográficas

comporem a feira, um congresso internacional sobre fotografia fazer parte do calendário oficial

da exposição, o processo de veiculação dos meios de comunicação mundial ainda engatinhava

em seu processo gráfico com tiragens elevadas. (Barbuy, 1999, p.33)

Natalia Brizuela, no entanto, aponta a Exposição de Paris como a mais visitada do Século XIX e

afirma que o Brasil enviou um álbum fotográfico monumental, denominado Álbum de vistas do

Brasil. Entretanto, este álbum era apenas uma parte dos trabalhos fotográficos exibidos nos

pavilhões brasileiros.

O Brasil moderno e paradisíaco que surge nas fotografias de Marc Ferrez [Figura 8], entre tantos outros que aparecem no Álbum de vistas do Brasil, de 1889, atingiu seu ponto mais alto de visibilidade precisamente no momento em que o país se movia em direção aos sonhos republicanos. (BRIZUELA, 2012, p. 57)

Apesar da tentativa de dom Pedro II em mostrar um Brasil “civilizado” através de fotografias de

retratos e paisagens, de acordo com Schwarcz, o destaque da exposição era justamente aquilo

que o imperador não prezava em mostrar: um Brasil tropical, exótico e excêntrico, em cujas

paisagens estavam cidades praianas, florestas e fazendas de café. Onde retratos de índios

(Figura 7) eram admirados por visitantes estrangeiros que entravam nos pavilhões brasileiros e

se encantavam com um Brasil não tão moderno, nem tampouco civilizado, porém, já na

alvorada da fase de modernização das cidades e de mudanças políticas radicais, onde o Século

XX não tardaria a chegar. (Schwarcz, 2015, p. 406)

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Figura 5. Fotografia de Marc Ferrez. Retrato de Dom Pedro II, c. 1885. Rio de Janeiro, RJ / Acervo IMS

Figura 6. Fotografia de Augusto Stahl, Paisagem fotográfica. O bairro do Catete e o Pão de Açúcar, Rio

de Janeiro, RJ. 1862 circa. Acervo IMS

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Figura 7. Fotografia de Teixeira & Vasquez. Retrato de índio brasileiro em estúdio fotográfico, Rio de

Janeiro, RJ. 1892. Coleção Princesa Isabel.

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Figura 8. Fotografia de Marc Ferrez. Vista da cidade do Rio de Janeiro pelo Morro do Castelo, Imagem

contida no Álbum Panoramas do Rio de Janeiro. 1880. Acervo Digital Brasiliana Fotográfica.

6. Conclusão

As representações de todas as coisas existentes no mundo, artísticas ou documentais,

traduzidas em pinturas, esculturas, desenhos ou fotografias, são uma forma de expressão

humana que existe há dezenas de milhares de anos e continuam em atividades até os dias

atuais. Tanto no quesito paisagem, quanto no quesito retrato, tais superfícies “manipuladas”

pela ação do homem vêm contando histórias, imortalizando tempos, traduzindo costumes,

reverenciando o ser humano, seu habitat, a natureza e divindades mitológicas e religiosas.

Este trabalho procura explanar algumas questões imagéticas que, ao longo da história, são

passíveis de análise como gêneros artísticos e formatos documentais. Desde o processo

comercial de massificação do computador, os conceitos técnicos de retrato e paisagem se

tornaram orientação documental para visualização na tela e impressão de arquivos. Porém, foi

através do advento da fotografia, em 1839, mais precisamente através da massificação deste

artefato, no final do Século XIX e início do Século XX, que estes dois formatos se popularizaram

com a presença de fotógrafos retratistas e fotógrafos paisagistas. Logicamente, estes dois

ofícios são oriundos da pintura, pois pintores paisagistas e retratistas existem desde muito

antes da criação acadêmica de tais gêneros.

É importante afirmar que, no caso do Brasil Imperial, mais precisamente na época do segundo

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Império, com dom Pedro II, estes conceitos foram insistentemente utilizados, sobretudo na

fotografia, como ferramenta política para promover um Brasil, ainda predominantemente

agrícola, diante de uma Europa que se industrializava a passos largos. A forma mais propícia

que o imperador brasileiro teve em praticar esta promoção foi por intermédio das exposições

universais que aconteceram na Europa e nos EUA. Apesar dos esforços de dom Pedro II, em

mostrar o “retrato” de um Brasil civilizado e viável, para investimentos externos, os visitantes

das tais exposições se interessavam mais numa “paisagem” exótica e tropical, contida em

fotografias de panoramas de cidades como o Rio de Janeiro – com o Corcovado e o Pão de

Açúcar compondo a imagem – ou em retratos de índios brasileiros, ora com suas vergonhas,

compondo uma “paisagem” cada vez menos existente no mundo.

Referências

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BARBUY, Heloisa. A exposição universal de 1889 em Paris visão e representação na sociedade industrial. Edições Loyola, 1999.

BARTALINI, Vladimir. Arte e Paisagem: uma união instável e sempre renovada. Paisagem e Ambiente, n. 27, p. 111-130, 2010.

BRIZUELA, Natalia. Fotografia e império: paisagens para um Brasil moderno. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras; Instituto Moreira Salles, 2012.

BULFINCH, Thomas, O livro de ouro da mitologia: (a idade da fábula) : histórias de deuses e heróis. Trad. de David Jardim Júnior. 26. ed.. Rio de janeiro, 2002.

DO LAGO, Pedro Corrêa; DO LAGO, Bia Corrêa. Coleção Princesa Isabel: fotografia do século XIX. 2. ed.. Rio de Janeiro. Capivara, 2013.

DÓRIA, Renato P. Entre retratos, paisagens, alegorias e histórias: a sobrevivência dos gêneros na arte brasileira contemporânea. IV Encontro de História da Arte – IFCH / Unicamp, 2008, p. 514 – 519).

FABRIS, Annateresa. Fotografia: usos e funções no século XIX. Edusp, 1991.

KOSSOY, Boris. Hercules Florence. 1833, a descoberta isolada de fotografia no Brasil. 1980.

MONTEIRO, Ana Filipa Vieira. A Pose na Pintura de Retrato. Faculdade de Belas-Artes. Universidade do Porto. Dissertação de Mestrado. 2014.

POE, Edgar Allan et al. The daguerreotype. Classic essays on photography, p. 37-38, 1840.

ROQUE, Ana Raquel Martins. O estudo fisionómico na caracterização de personagens. Faculdade de Belas-Artes. Universidade de Lisboa. Tese de Doutorado. 2012.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador. D. Pedro II, um monarca nos trópicos. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras. 2015.

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Site e periódico

Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. Pintura de Paisagem. São Paulo: Itaú Cultural, 2016. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo363/pintura-de-paisagem>. Acesso em: 22 de Ago. 2016.

Jornal do Commercio. Photographia. Noticias Scientificas. Rio de Janeiro, 17. jan. 1840. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_03/57. Acesso em: 22 de Ago. 2016.