172
R E T R A T O E M M O V I M E N T O

Retrato em Movimento

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Concelho da Moita

Citation preview

Page 1: Retrato em Movimento

R E T R A T O E M M O V I M E N T O

Page 2: Retrato em Movimento
Page 3: Retrato em Movimento
Page 4: Retrato em Movimento
Page 5: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 5

Concelho

Da Moita

Retrato

em Movimento

Câmara Municipal da Moita2004

Page 6: Retrato em Movimento
Page 7: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 7

Título:

Estudo e elaboração de textos:

Colaboradores:

Coordenação:

Revisão:

Fotografias:

Design:

Edição:

1ª edição

Data da edição:

Tiragem:

Impressão:

Depósito Legal Nº

Retrato em Movimento do Concelho da Moita

Maria Clara Santos, Carlos Matos,

José Manuel Figueiredo, Maria João Castel-Branco,

Paula Cristina Silva e Vitor Pereira Mendes

Conceição Lopes, Nuno Serralheiro e Rosa Lia Nogueira

Maria Clara Curado Santos

Carlos Coutinho

José Presumido e arquivo da CMM

Carlos Jorge

Câmara Municipal da Moita/Departamento

de Acção Sócio-Cultural

2004

1000 exemplares

Tip. Belgráfica, Lda.

209760/04

> FICHA TÉCNICA

Page 8: Retrato em Movimento
Page 9: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 9

PORQUE NADA ESTÁ PARADO

PREFÁCIO

1. A MARGEM SUL DO ESTUÁRIO DO TEJO

2. O CONCELHO DA MOITA

2.1. CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA

2.1.1. LOCALIZAÇÃO, ÁREA E POPULAÇÃO

2.2. O BRASÃO DE ARMAS E A BANDEIRA DO CONCELHO DA MOITA

2.3. EVOLUÇÃO DEMOGRÁFICA

2.4. CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-ECONÓMICA

2.5. A DINÂMICA DE TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM

2.5.1. OCUPAÇÃO FLORESTAL

2.5.2. A ZONA RIBEIRINHA

2.5.3. As ZONAS URBANAS

2.5.4. AGRICULTURA E PECUÁRIA

2.5.5. AS POTENCIALIDADES

Índice➜

13 |

15 |

17 |

19 |

19 | 26 |

27 |

28 |

32 |

34 | 34 |37 | 38 | 38 | 40 |

Page 10: Retrato em Movimento

10 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

2.6. ESTRUTURA E CRESCIMENTO URBANO

2.6.1. MOITA

2.6.2. ALHOS VEDROS

2.6.3. SARILHOS PEQUENOS

2.6.4. GAIO/ROSÁRIO

2.6.5. BAIXA DA BANHEIRA

2.6.6. VALE DA AMOREIRA

2.7. O PATRIMÓNIO

2.7.1. O PATRIMÓNIO HISTÓRICO-ARTÍSTICO

2.7.1.1. Colecção Régia

2.7.1.2. O Pelourinho de Alhos Vedros

2.7.1.3. O Poço «Mourisco»

2.7.1.4. Arquitectura Religiosa

2.7.1.5. Arquitectura Civil

2.7.2. O PATRIMÓNIO FLÚVIO-MARÍTIMO

2.7.2.1. Embarcações Tradicionais

2.7.2.2. Estaleiro Naval do Gaio

2.7.2.3. Estaleiro Naval de Sarilhos Pequenos

2.7.2.4. Cais da Moita

2.7.3. O PATRIMÓNIO INDUSTRIAL

2.7.3.1. Moinhos de Maré

2.7.3.2. Moinhos de Vento

2.7.3.3. Fábricas

41 |41 | 44 | 46 | 47 | 48 | 51 |

54 | 55 | 55 |57 | 59 | 60 | 79 |

85 |85 |87 |89 |91 |

93 |93 |98 |99 |

Page 11: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 11

2.7.4. O PATRIMÓNIO ARQUEOLÓGICO

2.7.4.1. Jazida Arqueológica do Gaio/Rosário

2.7.5. O PATRIMÓNIO ETNOGRÁFICO

2.7.5.1. Festas Tradicionais

2.7.5.2. Festa Brava

2.7.5.3. Ranchos Folclóricos

2.7.5.4. Artesanato/Miniaturas de Barcos

2.7.6. A PAISAGEM E PATRIMÓNIO NATURAL

2.7.6.1. Vegetação

2.7.6.2. Fauna

2.8. REGISTO CRONOLÓGICO DE ACONTECIMENTOS NO CONCELHO

2.9. ROTEIROS CULTURAIS

2.9.1. ROTEIRO RIBEIRINHO

2.9.2. OUTROS PONTOS DE INTERESSE

ANEXOS

BIBLIOGRAFIA

100 |100 |

100 | 100 | 103 | 104 | 106 |

107 | 107 | 111 |

116 |

139 | 139 | 148 |

150 |

165 |

Page 12: Retrato em Movimento
Page 13: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 13

Porque nada está parado

>Inserido na Área Metropolitana de Lisboa e na Península de Setúbal, interagindo com ambas

mas não descurando o seu próprio impulso de desenvolvimento num processo que sofre estí-

mulos e constrangimentos de todos os lados, o Concelho da Moita conheceu nas últimas

décadas uma dinâmica que rapidamente tem desactualizado todos os retratos fixos da sua

realidade.

É por isso que esta publicação tem sofrido várias edições e actualizações e, em mais esta,

sob o título Retrato em Movimento do Concelho da Moita, acrescenta novos dados ao que na

última edição ainda se chamou apenas Caderno Sócio-Cultural.Pretendeu-se com esta reedição, quer no plano da História e do Património, quer no plano

da imagem e da realidade actual, dar ao leitor mais informações e uma actualização de ele-

mentos que, de algum modo, possam contribuir para abordagens temáticas mais específicas.

Esperamos que este conhecimento do passado e do presente do Concelho da Moita seja

para cada um dos seus visitantes uma estimulante carta de apresentação, mas fazemos votos

ainda mais calorosos de que, para os nossos munícipes, esteja nestas páginas mais um sinal de

que a sua terra evolui, merece o seu afecto e, sobretudo, conta com o seu contributo no amplo

processo de desenvolvimento.

Miguel Francisco CanudoVereador

Page 14: Retrato em Movimento
Page 15: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 15

> Este livro retrata com rigor a realidade histórica e actual em desenvolvimento, em mudança, enfim,

em "movimento" de um município que, durante séculos, cresceu voltado para o estuário do rio Tejo.

O leitor é atraído pela sua leitura e facilmente se apercebe da realidade multifacetada de

um concelho que foi, simultaneamente, rural, marítimo e industrial. A natureza e a história

estão aqui exemplarmente assinaladas com as várias marcas culturais que ajudam a descobrir

e a conhecer as diferentes identidades do concelho.

A leitura é cativante, didáctica e de fácil assimilação.

É este tipo de trabalho que ajuda as populações a descobrirem o território onde estão

inseridas e, ao mesmo tempo, a olharem de maneira diferente para a realidade que as cerca.

Contribui igualmente para alterarem o comportamento em relação aos testemunhos do

património cultural (tangível e intangível) e do património ambiental, preservando-os e uti-

lizando-os. De facto, a situação geográfica privilegiada do concelho da Moita, onde o rio Tejo

se expandiu pela terra adentro, permite apresentar múltiplos exemplos desses patrimónios que

o Homem de várias épocas soube construir e utilizar, sem destruir a paisagem e o ambiente.

O livro aberto que é todo o território do município, encontra agora nesta obra um guia ori-

entador para a descoberta, para a aprendizagem e para o aprofundamento dos conhecimentos

das realidades histórico-culturais da Moita.

Esta publicação não só descreve temas sobre as diferentes facetas do município, como

também, abre caminhos para visitas ao território do município através de roteiros culturais

temáticos e incentiva o desafio para outros trabalhos mais específicos.

A Câmara Municipal da Moita coloca, assim, à disposição dos munícipes e dos visitantes

um instrumento cultural que contribuirá para uma intervenção mais activa da comunidade

municipal para as questões de salvaguarda e valorização dos seus valores culturais e garantir a

protecção das suas identidades.

António Nabais (Museólogo e Historiador)

Prefácio➜

Page 16: Retrato em Movimento

16 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Panorâmicasobre o estuário

do Tejo e a cidadede Lisboa.

Page 17: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 17

1. A MARGEM SUL DO ESTUÁRIO DO TEJO

«(...) o desenvolvimento da Margem Sul do Estuário do Tejo continua a ser reflexo das

necessidades e frustrações lisboetas. Enquanto à Capital e ao seu porto interessaram funda-

mentalmente produtos rurais, foi reserva de lenhas, solo de vinhas e, num dado sector, litoral

salgado. Quando a indústria mecanicista se gerou em Lisboa com reflexo da revolução indus-

trial europeia, já então velha de um século, a região foi assento de fábricas cujos arranjos vários

interferiram com as ancestrais heterogeneidades (...)»1

Temos o estuário de um grande rio. Numa das suas margens temos uma grande cidade, a

capital do império, Lisboa. Na outra margem está uma região que cresce à sombra da cidade.

É a "borda d’água", onde crescem Alhos Vedros, a Moita, Montijo, Alcochete, Sarilhos Grandes,

Baixa da Banheira, Barreiro e Lavradio.

Todas vivem do Tejo e de Lisboa e para o Tejo e para Lisboa. Os esteiros ajudam a aproxi-

mação do rio às vilas. Mas ainda é necessário atravessar o Mar da Palha para chegar a Lisboa

onde se deixa o vinho, o sal, o trigo moído, a lenha, os vidros, a cerâmica, a cal, os biscoitos, o

sabão, a cortiça e o gás. E da grande cidade, na viagem de regresso, os barcos trazem o lixo.

Tudo isto é fruto de uma actividade que liga o homem à terra, ao mar, à indústria.

A paisagem da Margem Sul é, assim, a paisagem que o homem transforma, de acordo com

as suas necessidades económicas e em particular com as necessidades da grande metrópole

que é Lisboa.

1 Maria Alfreda Cruz, A Margem Sul do Estuário do Tejo. Factores e Formas de Organização do Espaço, Lisboa, 1973, p. 329

Page 18: Retrato em Movimento

18 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Entrada da vila da Moita,

no final do século XIX.

Fotografia gentilmente cedida pelo Sr. Victor Manuel

Page 19: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 19

2. O CONCELHO DA MOITA> 2.1. Caracterização Histórica

O Concelho da Moita inscreve-se numa vasta área ribeirinha da Margem Sul do Estuário

do Tejo, com uma extensão superior a vinte quilómetros. Com excepção do Vale da Amoreira,

todas as outras freguesias (Baixa da Banheira, Alhos Vedros, Moita, Gaio/Rosário e Sarilhos

Pequenos) estão em contacto com o rio e separadas entre si por sapais, encontrando-se as

funções ribeirinhas na origem dos núcleos primitivos.

As origens da ocupação humana no Concelho da Moita remontam aos inícios do Neolítico

e correspondem a uma ocupação de carácter habitacional com cerca de seis mil anos, como

atestam os achados arqueológicos da jazida do Gaio. Contudo, não se conhece uma con-

tinuidade da ocupação do espaço, na medida em que só a partir de meados do século XIII

podemos apontar a existência de um núcleo humano em Alhos Vedros, pois o mais antigo docu-

mento2, que se conhece referente a esta localidade, datado de 30 de Janeiro de 1298, confir-

ma já a existência desse lugar com um capelão chamado Fernão Domingues.

O povoamento da faixa ribeirinha, na qual se integra o território do actual concelho da Moita,

só terá ocorrido de uma forma mais ou menos contínua com a pacificação de toda esta zona, o

que nos faz supor que apenas terá sucedido após a reconquista definitiva de Alcácer do Sal em

1217, quando se suprimiu um dos últimos focos da ameaça almóada3 na Península de Setúbal.

Só a partir de então, e uma vez deslocada a linha de fronteira mais para o Sul do Alentejo, foi pos-

sível garantir às populações do litoral ribeirinho uma maior segurança e estabilidade política.

Toda esta extensa região (doada por D. Sancho I, no ano de 1186) que se estendia desde o

Sul do rio Tejo até à extrema do Alentejo estava na dependência directa da Ordem Militar de

Santiago. É neste contexto que surge a designação de Riba Tejo, termo utilizado pelos freires de

2ANTT, Santos-o-Novo, Caixa 18, Nº1346, Maço 3º, Nº23A dinastia almóada sucedeu aos almorávidas, dominaram o Sul da Península no tempo dos nossos primeiros reis.

Page 20: Retrato em Movimento

20 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Santiago para denominarem o vasto território compreendido entro o rio Coina e a ribeira das

Enguias e no qual nasceram e se foram desenvolvendo vários núcleos populacionais, atraídos

pela força atractiva do estuário. A criação desta divisão administrativa impôs-se pela necessi-

dade de se efectuar, não só uma melhor e mais facilitada gestão de todas essas terras, como

também de favorecer o seu povoamento. Segundo Virgínia Rau4, os lugarejos que foram surgin-

do ao longo desta orla da margem esquerda do Tejo estavam dependentes da paróquia de Nossa

Senhora de Sabonha, desde 1249 e dedicavam-se na sua maior parte à exploração de salinas.

É no âmbito desta estrutura organizacional que surge a freguesia de São Lourenço de Alhos

Vedros, confirmada documentalmente por uma sentença, datada de 5 de Outubro de 1319,

em que se condenava os moradores «de Ribatejo freiguezes de S. Lourenço de Alhos Vedros, a

que pagassem a dizima do sal pertencente ao Cabbido5 dos ditos seos rendeeyros»6.

O período que medeia os séculos XIV e XVI é propício ao desenvolvimento económico e

populacional de Alhos Vedros, de tal forma que vê crescer a sua importância no contexto

regional, ao receber o estatuto de vila (1477)7, o poder municipal (1479)8 e a carta de foral

(1514). Esta sua relevância, enquanto centro aglutinador do poder religioso e político-adminis-

trativo que detinha sobre as terras que estavam sob a sua autoridade, estende-se à fama dos

seus ares saudáveis e aprazíveis, funcionando também como um local de veraneio para algu-

mas famílias da nobreza. É exemplo, o palácio que D. Afonso, o Conde de Barcelos, filho de D.

João I, tinha nesta vila em 1415, facto que levou o rei, aquando da peste que grassava em

Lisboa e após a morte de sua esposa, Dona Filipa de Lencastre, a refugiar-se nele: «(...) e breve-

mente o conselho feito, determinaram que todavia el-rei se devia partir d’alli, e passar-se além

do Tejo, a um logar que chamam Alhos Vedros, como de feito logo partiu.»9 Mais tarde, os

4Virgínia Rau, Estudos sobre a História do Sal Português, Lisboa, Editorial Presença, 1984, pp. 64-655Trata-se do Cabido da Sé de Lisboa.6Documentos para a História da Cidade de Lisboa, Livro 1º, Título VI, p. 597Dados colhidos do estudo de José Manuel Vargas «De Alcochete ao Barreiro Alguns Elementos para o Estudo do Antigo Concelho do Ribatejo»in colecção Estudo Locais, p. 2018Dados colhidos do estudo de José Manuel Vargas, Ibidem, p. 2019Gomes Eanes de Azurara, Crónica da Tomada de Ceuta por El-Rei D. João I, Lisboa, Liberal Officina Typopgraphica,Vol.I, Cap. XLIII, 1899, p. 67

Page 21: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 21

infantes, não sabendo qual a decisão que seu pai havia tomado sobre a conquista da praça de

Ceuta, «(...) acordaram que era bem de irem falar seu padre, a qual couza logo em aquella noite

seguinte pozeram em obra, cá pouco mais de meia noite mandaram fazer prestes os batéis, e

se foram a Alhos Vedros, em tal guisa, que quando era manhã estavam com seu padre, o qual

acharam mui anojado, vestido de panos tintos, e quando outrosim viu os filhos vestidos de

burel, renovou-se em sua vontade uma mui dorosa lembrança da rainha sua mulher, e com elle

estava o conde de Barcellos seu filho, e Gomes Martins de Lemos.»10

Esta descrição minuciosa que o cronista Azurara nos dá, referente a um dos episódios mais

salientes da nossa história, leva-nos a inferir que a decisão da conquista de Ceuta terá sido, de

alguma forma, também avaliada em Alhos Vedros, o que demonstra, mais uma vez, a importân-

cia do lugar na Margem Sul do Estuário do Tejo. Esta sua relevância como principal centro popu-

lacional da orla ribeirinha é corroborada por um outro documento, datado do ano de 1417, refe-

rente ao apuramento de dezasseis besteiros em Alhos Vedros.11

Contudo, no final da centúria de quatrocentos e início de quinhentos, é que terá assumi-

do o seu período áureo, abrangendo o seu termo um extenso território que compreendia os

actuais concelhos do Barreiro e da Moita, estendendo-se desde a ribeira de Coina até Sarilhos

Pequenos.

Embora detivesse uma área de jurisdição, o antigo concelho de Alhos Vedros estava na

dependência directa da Ordem Militar de Santiago, a sua donatária, pelo que constituía uma

comenda12 da Mesa Mestral da Ordem. A este propósito refira-se o documento de 1527 que

nos faculta a seguinte informação: «esta villa e do mestrado de são tyaguo he comenda ajur-

dição he do mestre.

10Gomes Eanes de Azurara, Crónica da Tomada de Ceuta por El-Rei D. João I, Lisboa, Liberal Officina Typopgraphica,Vol.I, Cap. XLVI, 1899, p. 8011Este apuramento foi feito por todo o reino, por uma comissão que o rei D. João I deu a Vasco Fernandes de Távora.12A comenda era um benefício eclesiástico concedido ao clero regular ou secular, com o fito de pagar serviços ou de conceder favores. O agra-ciado, neste caso a Ordem Militar de Santiago, ficava a ser administradora e senhora dos bens do benefício, cujos rendimentos constituíampatrimónio da referida Ordem.

Page 22: Retrato em Movimento

22 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Has Remdas sam dell Rey nosso senhor as sysas e terças do concelho e a mais renda do

comedador tem obispo deuora ho terço dos dizimos somete do vinho tem huua freguesia tem

moradores 138.»13

A Ordem além de exercer os seus direitos jurisdicionais, recebia algumas rendas do con-

celho, as quais não estão descriminadas neste documento.

É neste contexto espáçio-temporal que vão surgindo pequenos aglomerados, constituídos

por pouco mais que uma dezena de habitantes. De facto, em 1527 a Moita era ainda apresen-

tada como uma pequena povoação com 14 moradores e a Quinta de Martim Afonso com 10,

enquanto que as restantes localidades (Lavradio 34 moradores,Verderena 23,Telha 33 e Palhais

48) são já identificadas como aldeias e com um número de residentes superior às primeiras.14

Estes dados demonstram que a humanização, nas terras do actual concelho da Moita, se fez

muito lentamente, o que se deveu, em grande parte, à estrutura do solo. Os terrenos eram quase

exclusivamente cobertos por matas e extensos pinhais e o seu arroteamento apenas se fez, de

um modo mais intenso, no século XIX.A este propósito refira-se a descrição que é feita no sécu-

lo XIV de toda a zona compreendida entre o rio Tejo e a Arrábida: «Começava em Benavente

para baixo e compreendia toda a Ribeira de Canha até Marateca, seguindo por Valle Longo até

Cezimbra e pela Serra da Arrábida até Almada contra o mar, com todo o Ribatejo, sobraes e pi-

nhais de Palmela e seu termo e todas as outras mattas que se viam por Azeitão até ao mar.»15

Estes vastos tractos de charneca, que caracterizaram a paisagem rural da Margem Sul do

Estuário do Tejo, conferindo-lhe uma personalidade físico-geográfica única, mantiveram-se nas

centúrias seguintes, o que nos leva a crer que as culturas apenas se faziam nos terrenos mais

férteis e em redor das povoações.

Dados os imperativos geográficos, os aglomerados que nasceram no termo de Alhos Vedros

cresceram em estreita articulação com o trabalho no rio, através de uma rede efectiva de liga-

13«Cadastro da População do Reino (1527)» citado por Braamcamp Freire in Arquivo Histórico Português, Vol. IV, pp. 78-7914«Cadastro da População do Reino (1527)» citado por Braamcamp Freire in Arquivo Histórico Português, Vol. IV, p. 7915Gama Barros, História da Administração Pública em Portugal nos Séculos XII a XV, 1ª edição, Tomo III, p. 26 (citado por Maria Alfreda Cruz,A Margem Sul do Estuário do Tejo. Factores e Formas de Organização do Espaço, Lisboa, 1973, p. 29)

Page 23: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 23

ções fluviais com a outra margem, o que permitia uma rápida circulação de pessoas e de bens.

Aliás, o desenvolvimento da Moita está indissociavelmente ligado ao transporte de cabotagem,

actividade que a converteu numa terra de passagem e num importante nó de ligação entre o

Sul do país e a cidade de Lisboa. Este seu crescimento deu-se no período da dominação Filipina,

entre 1580 e 1640, quando as viagens entre Madrid (centro político) e Lisboa se intensificaram,

sendo o caminho mais fácil o seguido pelo Alentejo. Neste movimento de pessoas e mercado-

rias o Rio era um obstáculo natural a transpor, apresentando-se então a Moita, com o seu cais

fluvial, como um importante ponto de escala para a outra banda.

Assim, à medida que assistimos ao crescimento da Moita, que culmina com a sua elevação

a vila em 1691, Alhos Vedros vai lentamente declinando, situação que se reflecte na desinte-

gração do seu território16 e consequentemente no decréscimo da população, de modo que, no

século XVIII Alhos Vedros tinha apenas 124 moradores, enquanto que a Moita já registava 225

vizinhos e o lugar de Sarilhos Pequenos 55 vizinhos17.

Nos finais do século XVII, passámos a ter duas vilas e dois concelhos com as respectivas

áreas jurisdicionais, administradas individualmente por dois juizes ordinários, vereadores, um

procurador do concelho, escrivão da Câmara, juiz dos órfãos com o seu escrivão, dois tabeliães,

um alcaide e uma companhia de ordenança18.

No século XIX, no decorrer das reformas administrativas empreendidas pelo governo libe-

ral, Alhos Vedros perdeu definitivamente a sua autonomia municipal e foi integrado como

freguesia, num primeiro momento, no Barreiro (1855)19 e, num segundo momento, na Moita

(1861)20. Na última década do século, com a segunda extinção do concelho da Moita (1895)21,

16Alhos Vedros viu nascer três concelhos: Barreiro em 1621, Lavradio em 1670 e Moita em 1691.17«Informações Paroquiais de1758 de Alhos Vedros e Moita» publicadas pelo Padre Carlos Póvoa Alves in Subsídios para a História de AlhosVedros, 1992, p. 12 e pp. 79-8018Padre António Carvalho da Costa, Corografia Portuguesa (1706-1708), 2ª edição, Tomo III, Braga, Typographia de Domingos GonçalvesGouveia, 1869, pp. 226-22719Decreto de 24 de Outubro de 185520Decreto de 18 de Setembro de 186121Decreto de 26 de Setembro de 1895

Page 24: Retrato em Movimento

24 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Largo e edifício

da Câmara, no final

do século XIX.

Fotografia gentilmente cedida pelo Sr. Victor Manuel

Page 25: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 25

a freguesia de Alhos Vedros voltou a ser anexada, por mais três anos, ao Barreiro, para ser de

novo reintegrada e definitivamente no concelho da Moita (1898)22.

Durante muitos séculos, a economia do espaço geográfico que corresponde hoje ao con-

celho da Moita assentava, em grande parte, na exploração salineira, na cabotagem, no trânsi-

to de produtos e de pessoas, oriundas do Sul do país, na cultura da vinha e na exploração dos

produtos da charneca: lenha, matos e carvão que iam abastecer os fornos de cerâmica, bem

como a população lisboeta. Entretanto, este sistema económico tradicional entrou em ruptura

com a construção dos caminhos de ferro, em Junho de 1861, com o processo de arroteamen-

to das terras e com a instalação de indústrias, nomeadamente as unidades ligadas à cortiça, na

Moita,Alhos Vedros, Barreiro, Seixal e Montijo. Paralelamente, foi atraída ao concelho uma popu-

lação migrante que se foi estabelecendo em bairros, na zona de Alhos Vedros e Baixa da

Banheira.

Logo após o 25 de Abril, a actividade corticeira começou a decair e cedeu lugar às fábricas

de confecções, as quais se encontram presentemente num processo de encerramento por

motivos de insolvência.

Actualmente o concelho da Moita reparte-se por seis freguesias, com uma população esti-

mada, pelos censos de 2001, em 67 446 habitantes e com tendência para um crescimento

moderado.

22 Decreto de 13 de Janeiro de 1898

Page 26: Retrato em Movimento

26 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

> 2.1.1. LOCALIZAÇÃO, ÁREA E POPULAÇÃO

Localização: Município urbano de 1ª. ordem, incluído na Área Metropolitana

de Lisboa e pertencente ao distrito de Setúbal.

Área do Concelho: 55,38 km2 (incluindo o rio).

Sede do Município: Moita

Número de Freguesias: 6

Área das Freguesias: • Alhos Vedros, 1 798 hectares

• Baixa da Banheira, 394 hectares

• Gaio/Rosário, 352 hectares

• Moita, 2 494 hectares

• Sarilhos Pequenos, 256 hectares

• Vale da Amoreira, 244 hectares

População Residente: 67 446 habitantes (censos de 2001)

Densidade Populacional: 1 219 hab/km2

Page 27: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 27

2.2. O BRASÃO DE ARMAS E A BANDEIRA DO CONCELHO DA MOITA

Em 1929, por parecer da Secção de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses,

o qual transcrevemos na íntegra, foram concedidos à vila da Moita do Ribatejo o uso do brasão

de armas e a respectiva bandeira.

«Em satisfação do pedido feito pela Câmara Municipal da Moita em 13 de Novembro de

1929, e, estudadas as características especiais da mesma vila e seu concelho; Vila que foi

Comenda importante da Ordem de Santiago e Concelho que é rico em agricultura e que tem

desenvolvido extraordinariamente a indústria da cortiça, proponho que o seu Selo e por con-

seguinte as suas Armas e respectiva Bandeira, sejam assim constituídas:

De prata com um sobreiro arrancado de verde e frutado de ouro com tronco e raízes de

negro realçados de prata. Em chefe uma Cruz de Santiago de púrpura acompanhada de dois

cachos de uvas de púrpura, folhados de verde. Coroa mural de quatro torres de prata. Listel

branco com letras pretas. Bandeira esquartelada de amarelo e de verde. Cordões e borlas de

ouro e verde. Lança e haste douradas.

Proponho que o campo das armas seja de prata porque em heráldica este metal significa

humildade e riqueza, características essenciais da região da Moita.

O sobreiro, representante da vegetação e riqueza local é verde, sua cor natural, frutado de

ouro, metal que significa poder e força vital.

Indico que o tronco e raízes do sobreiro sejam de negro realçados de prata, porque o negro

representa, e na própria terra que existe, a principal riqueza local. A prata que realça o tronco e

as raízes, dá-lhe heraldicamente a significação de humildade e riqueza.»

Assim, e por solicitação desta Câmara foi publicado em Diário do Governo de 13 de Maio

de 1940 a Portaria Nº.9523 que aprovava a constituição heráldica das armas, bandeira e selo

deste Município.

Page 28: Retrato em Movimento

28 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

2.3. EVOLUÇÃO DEMOGRÁFICA

O crescimento da população tem-se processado de uma forma contínua, notando-se na

última década uma diminuição desse crescimento, que se fica a dever à própria dinâmica da

Área Metropolitana de Lisboa na qual o Município se insere.

O Concelho da Moita registou nos últimos dez anos um abrandamento da sua taxa de

crescimento demográfico que passou de 22,2% na década de 81/91 para 3,6% na de 91/01.

Esta situação explica-se, em parte, por uma diminuição do crescimento natural.

A evolução demográfica do Concelho apresenta períodos de desenvolvimento bem marcados:

• de 1900 a 1920, caracterizado por um crescimento moderado;

• de 1920 a 1981, com um crescimento elevado (superior a 30%);

• de 1981 a 1991, crescimento moderado;

• de 1991 a 2001, crescimento baixo.

Fonte: Recenseamento da população– INE

Page 29: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 29

De uma forma geral, podemos afirmar que todo o crescimento é induzido do exterior, na

medida em que a instalação de actividades e consequente criação de postos de trabalho do

Concelho, a partir de 1940, não justifica o crescimento populacional.

O grande surto populacional verificado na década de 60 explica-se pela oferta de emprego

no sector industrial do Barreiro, Setúbal e Área Metropolitana de Lisboa. Nos anos após 1975, o

Município viu a sua população aumentar, em parte, devido à chegada de residentes das ex-coló-

nias. Este aumento foi principalmente sentido nas freguesias da Moita, Baixa da Banheira e Vale

da Amoreira.

População Residente Número eleitores Área em ha

Freguesias 1981 1991 2001 200123 200224 Terra Água Total

Alhos Vedros 9947 11421 12614 10566 10533 1500 298 1798

Baixa Banheira 22045 22966 23712 20498 20299 211 183 394

Gaio-Rosário 1032 876 987 852 854 352 - 352

Moita 12235 15138 16727 13675 13637 1802 693 2494

Sarilhos Pequenos 1246 1163 1049 1030 1029 256 - 256

Vale da Amoreira 6735 13522 12360 9902 9636 244 - 244

Total 53240 65086 67446 56523 55988 4365 1174 5538

Fonte: Censos 81, 91 ,01 – INE

A freguesia da Baixa da Banheira é a que regista maior concentração, com uma densidade

populacional de 6 053 hab/km2, com 23 712 habitantes, o que corresponde a 35% da popu-

lação do Município. A freguesia do Gaio-Rosário é a que regista menor expressão demográfica,

com apenas 987 habitantes.

23 Eleições autarquicas de 16/12/0124 Eleições legislativas de 17/03/01

Page 30: Retrato em Movimento

30 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Evolução da população por grupos etários

Jovens % Adultos % Idosos %

Freguesias 1991 2001 1991 2001 1991 2001

Alhos Vedros 17.3 15.6 69.1 68.6 13.6 15.8

Baixa Banheira 17.9 15.7 71.3 70.7 10.8 13.5

Gaio-Rosário 13.9 13.3 70.5 68.6 15.6 18.1

Moita 19.2 16.4 70.4 71.1 10.4 12.5

Sarilhos Pequenos 12.3 12.4 66.4 62.2 21.3 25.4

Vale da Amoreira 30.0 20.7 65.3 71.1 4.7 8.2

Concelho 22.0 16.7 67.8 70.4 10.2 12.9

Fonte: Censos 91, 01 – INE

Analisando a evolução da população por grupos etários, é evidente a redução da natali-

dade na última década, com diminuição do número de jovens e aumento dos adultos e dos

idosos, o que traduz o envelhecimento da população, como se pode comprovar através da

análise do quadro seguinte onde se regista um aumento do índice de envelhecimento e do

índice de dependência de idosos.

Em 1981 o Município registava um índice de envelhecimento de 31,5%, verificando-se nas

décadas seguintes uma subida bastante significativa, como se pode comprovar através da leitu-

ra do quadro seguinte. Analisando a evolução deste índice por freguesia, verifica-se que o

envelhecimento da população se sentiu em todas as freguesias. No entanto, salienta-se o caso

das freguesias do Gaio-Rosário e de Sarilhos Pequenos.

É de referir que o índice de envelhecimento do Município é inferior ao do Continente.

Page 31: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 31

Índice de Envelhecimento % Índice de dependência total %

Freguesias 1991 2001 1991 2001

Alhos Vedros 70.6 101.0 48.5 45.76

Baixa Banheira 54.6 85.9 29.9 41.4

Gaio-Rosário 102.0 136.6 46.0 45.8

Moita 48.8 76.6 44.3 40.7

Sarilhos Pequenos 156.0 205.0 53.4 60.9

Vale da Amoreira 15.9 39.5 52.5 40.7

Concelho 46.3 77.7 47.3 42.2

Fonte: Censos 91, 01 – INE

O índice de dependência total (jovens e idosos) registou na última década uma diminuição

(passou de 47,3% de 1991 para 42,2% em 2001), explicada pelo envelhecimento da população

e pela diminuição da população potencialmente activa.

Jovens – População com idade inferior a 14 anos

Adultos – População com idade compreendida entre os 15 e os 64 anos

Idosos – População com idade igual ou superior a 65 anos

Índice de envelhecimento – Quociente entre a população com > 65 anos e a popu-

lação com < 15 anos

Índice de dependência total – Quociente entre a população com <15 anos e > 65

anos e a população dos 15 aos 64 anos (potencialmente activos)

Page 32: Retrato em Movimento

32 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

2.4. CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-ECONÓMICA

A população do Concelho da Moita exerce a sua actividade nos concelhos limítrofes da

Área Metropolitana de Lisboa, predominantemente no sector industrial e terciário, realizando

migrações diárias entre o local de trabalho e o de residência, utilizando transportes públicos

(rodoferroviários e fluviais) e viatura própria.

Sectores de Actividade 1981 1991 2001

Primário 4.2 % 2.0 % 1.3%

Secundário 50.8 % 42.0 % 33.6%

Terciário 44.0 % 56.0 % 65.1%

Fonte: Censos 81, 91 – INE

Salienta-se a fraca expressão do sector primário que viu sua população diminuir na última

década (81-91).

A actividade agrícola efectua-se em pequenas propriedades (dimensão média da pro-

priedade no concelho 2 800 m2) que se localizam na zona Norte da vila da Moita – gado leiteiro

de pastoreio e, a Sul, nos Brejos e Barra Cheia. A criação de gado leiteiro e a produção de pro-

dutos hortícolas são as actividades mais significativas deste sector.

No sector secundário existem 124 unidades industriais (quadros de pessoal, DEMTS - 1996)

de pequena e média dimensão, de produção bastante diversificada, que representam cerca de

4 000 postos de trabalho, localizadas na sua maioria nas freguesias de Alhos Vedros e Moita.As

indústrias mais significativas são a construção civil, as alimentares e a da cortiça.

No sector do comércio e serviços, a dependência do Município relativamente a outros cen-

tros urbanos reflecte, por um lado, o tipo de serviços prestados e a fragilidade do comércio

local, e, por outro, no número diminuto de postos de trabalho que oferecem.As unidades comer-

ciais são, em regra, pequenas e de comércio pouco especializado.

Este sector apresenta um maior peso nas vilas da Moita e Baixa da Banheira.

Page 33: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 33

Freguesias Primário % Secundário % Terciário %

Alhos Vedros 3 48 49

Baixa Banheira 1 46 53

Gaio-Rosário 4 45 51

Moita 4 41 55

Sarilhos Pequenos 5 50 45

Vale da Amoreira 1 32 67

Total 2 42 56

Fonte: Censos 91 – INE

O Município tem vindo a desenvolver uma política industrial de captação de investimen-

tos, fomentando a oferta de terrenos industriais infra-estruturados a baixo custo.

As novas áreas comerciais e de serviços são de iniciativa privada e prendem-se com as

novas áreas residenciais.

As perspectivas de desenvolvimento do Plano Director Municipal apontam para um cresci-

mento equilibrado do Município.

Neste sentido, é necessário atenuar a tendência para a constituição de um subúrbio resi-

dencial, dependente de Lisboa, e corrigir os efeitos negativos já provocados por este fenómeno.Assim, dependendo o Concelho da evolução da região de Lisboa e Vale do Tejo, bem como

do processo de mudança na AML, deverá explorar as suas potencialidades a nível das acessibili-dades, recursos humanos, recursos naturais e da sua tradição associativa e cultural, ultrapas-sando assim debilidades que resultam da sua posição periférica na Área Metropolitana e na suadependência de emprego em concelhos limítrofes.

O Município da Moita integra a região mais rica e que apresenta grandes potencialidades

em termos económicos e sociais.

Page 34: Retrato em Movimento

34 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

2.5. A DINÂMICA DE TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM

A humanização da paisagem do concelho tem-se desenvolvido em dois campos diferentes:por um lado, o das actividades agrícolas e florestais, por outro, o da ocupação urbana e indus-trial. Como veremos mais adiante, este segundo campo de acção é o que apresenta umadinâmica mais forte na transformação do uso do solo no concelho. Trata-se de um fenómenoque não se circunscreve ao Concelho da Moita, mas faz parte e é consequência do actual está-dio de desenvolvimento da região de Lisboa.

A transformação da paisagem rural é um fenómeno relativamente recente, dado que nesteconcelho, bem como noutros da Península de Setúbal, as matas e os pinhais predominaram porum vasto período de tempo. Nos últimos cinquenta anos houve primeiramente uma transfor-mação da paisagem rural florestal numa paisagem agrícola e com uma componente hortícolamuito forte. De facto, a estrutura dos solos, a presença de água e a disponibilidade de matériaorgânica permitiram a fixação de novas populações que, transformando a capacidade de pro-dução dos solos, transformaram totalmente a paisagem do concelho. Para compreender adinâmica de transformação, ocorrida sobretudo nos últimos tempos, poderemos analisar aevolução de quatro vertentes principais da paisagem concelhia:

> 2.5.1. OCUPAÇÃO FLORESTAL

As matas representam actualmente uma pequena fracção da área do concelho e conti-

nuam a regredir de forma acentuada, constatando-se dois fenómenos distintos: por um lado,

a regressão por desbaste, mantendo-se o uso, mas sem replantio da mata, e, por outro, o desa-

parecimento total, com substituição por agricultura ou por zonas expectantes de urbanização.

As matas do concelho começaram a regredir entre 1967 e 1977 e nesse período desa-

pareceram cerca de 200ha, mas em 1980 ainda havia cerca de 480ha de mata. Em 1996 des-

ses 480ha já existiam apenas 196ha de coberto florestal estável, estando em regressão 75ha

e tendo desaparecido por completo 209ha e, destes, cerca de 110ha passaram a agricultura.

Page 35: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 35

OCUPAÇÃO DO SOLO NO CONCELHO DA MOITA (áreas em ha)

Espaços urbanos e industriais 989

Espaços agrícolas 2161

Espaços florestais e semi-naturais 339

Matos e pastos espontâneos 465

Areais e afloramentos rochosos nús 5

Zonas húmidas interiores 1308

TOTAL 5267

(Fonte: AFLOPS)

Page 36: Retrato em Movimento

36 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Pinhal do Forno.

Page 37: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 37

Esta situação é particularmente grave, não só porque a floresta desempenha um papel fun-

damental como mitigador da poluição atmosférica, mas também devido à alteração do regime

hidrológico e do sistema de drenagem natural que será cada vez mais em regime torrencial,

com o consequente arrastamento de terras e problemas de erosão superficial. De facto, a des-

florestação das cabeceiras das bacias hidrográficas da região foi um fenómeno grave nestes

últimos anos. A desflorestação e desmatação tornam os terrenos mais impermeáveis e propi-

ciam fenómenos de erosão e dificuldades na drenagem natural. O regime hidrológico é afectado

e passa a ser torrencial, com riscos de cheias em algumas linhas de água.

> 2.5.2. A ZONA RIBEIRINHA

A zona ribeirinha do Concelho da Moita constitui uma das mais extensas frentes de rio

concelhias. Com mais do que 20km de extensão é constituída por um enorme conjunto de

estruturas laboriosamente trabalhadas pelo homem para defesa das terras e produção de sal e

peixe: antigas marinhas e viveiros, bem como alguns moinhos de maré e respectivas caldeiras

são frequentes na paisagem ribeirinha.

A grande beleza panorâmica e paisagística destas zonas vocaciona-as para o uso lúdico ou

como santuários de vida selvagem, sempre que a sua exploração não seja economicamente

viável ou ambientalmente sustentável.

Actualmente verifica-se um acentuado estado de abandono e degradação em pratica-

mente toda a zona ribeirinha, com uma exploração residual dessas salinas e viveiros. De 1980

a esta parte essa tendência só se inverteu com a intervenção da Câmara Municipal, que pro-

moveu a transformação de uma vasta área de salinas em abandono numa zona pública verde

de 34ha, nomeadamente o Parque José Afonso, na Baixa da Banheira.

As únicas actividades económicas que se mantêm em estreita dependência da zona ribei-

rinha são os estaleiros navais de Sarilhos Pequenos e Gaio-Rosário e, ainda, o estaleiro de des-

Page 38: Retrato em Movimento

38 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

mantelamento de navios em Alhos Vedros, este último com uma vertente poluidora, tendo

expandido a área das suas actividades à custa da zona húmida envolvente.

Em termos de áreas degradadas registou-se também um forte aumento de aterros clan-

destinos e deposição de entulhos em diversas áreas, que contribuem para a desvalorização

paisagística e patrimonial da zona ribeirinha.

> 2.5.3. AS ZONAS URBANAS

Quanto à humanização dominante introduzida pela dinâmica do crescimento urbano, veri-

ficamos existirem dois tipos de zonas comprometidas com o processo de desenvolvimento

urbanístico: umas são as zonas urbanas consolidadas, outras são as zonas urbanas programadas.

Estas últimas, pela sua dimensão e características, retratam o fenómeno de crescimento urbano,

com as suas etapas de transformação do uso do solo.

As zonas urbanas ocupam uma totalidade de 1 481ha. Destes, 1 039ha estão consolida-

dos; 41ha correspondem a zonas verdes urbanas da estrutura verde principal; cerca de 136ha

estão degradados e cerca de 265ha estão degradados em áreas críticas para a construção, ou

seja, localizam-se em zonas impróprias para tal. Estas últimas constituem o sinal mais evidente

da transformação do uso do solo e raramente se traduzem numa qualificação da paisagem.

Esse processo foi muito violento na década de 70, tendo no entanto sofrido um abranda-

mento a que não foi alheio o efeito benéfico da existência de instrumentos de planeamento e

gestão desenvolvidos pela Câmara Municipal.

> 2.5.4. AGRICULTURA E PECUÁRIA

Dentro da área com uso agrícola no concelho, podemos distinguir duas zonas quanto à sua

estabilidade, face ao processo de crescimento urbano:

A primeira zona corresponde às áreas com aptidão agrícola espartilhadas pelas transfor-

mações urbanas envolventes. Como exemplos, o Vale do Grou e o Vale Trabuco apresentam sinais

Page 39: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 39

de uma forte regressão da actividade agrícola, mesmo complementar, que se traduz em maiores

zonas abandonadas e degradadas; no entanto no Vale da Amoreira ainda subsistem pequenas hor-

tas. Este tipo de áreas pode ser muito sensível, de elevada produção e com lençóis freáticos altos,

pelo que em grande parte devido a estes condicionalismos, ainda não atingiram o limiar de inver-

são de uso. Estas são áreas prioritariamente a proteger em termos de expansão urbanística, devi-

do à sua importância para o equilíbrio ecológico e biofísico do concelho, pelo que muitas foram

classificadas como Reserva Agrícola Nacional ou Reserva Ecológica Nacional.

A segunda zona, pela sua dimensão e unidade, considera-se estável em relação ao seu uso agrí-

cola. Nesta zona é possível distinguir duas sub-zonas, uma a Norte da vila da Moita até ao Esteiro

Furado e a outra que se estende pela zona dos Brejos. Na primeira, sobretudo na zona do Esteiro

Furado, tem-se registado uma diminuição da actividade agrícola, não se tendo no entanto verifica-

do ainda acções de transformação de uso do solo. Na zona dos Brejos verifica-se um aumento de

construções dispersas que, no entanto, se fazem parcela a parcela e não em loteamento, manten-

do assim as explorações agrícolas e correspondendo a uma maior fixação da população, o que

garante a exploração do solo a tempo parcial. Diremos, portanto, que em termos de utilização agrí-

cola a zona dos Brejos é a mais intensificada e a zona do Esteiro Furado a mais extensiva.

Em termos globais, os usos agrícolas e agro-pecuários têm-se mantido relativamente estáveis

em termos paisagísticos, tendo em termos de ocupação do solo uma área significativa de 5 013ha.

Flamingo-comum.

Page 40: Retrato em Movimento

40 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

> 2.5.5. AS POTENCIALIDADES

Em termos paisagísticos, o Concelho da Moita apresenta a grande potencialidade da sua

frente ribeirinha como elemento mais atractivo para o recreio e lazer. Por outro lado, a frente

ribeirinha constitui um elemento forte de identidade cultural do Concelho, tendo grande parte

da sua população uma forte relação com o estuário. Os próprios aglomerados urbanos sempre

se estabeleceram preferencialmente nessa zona: Sarilhos Pequenos, Gaio, Rosário, Moita, Alhos

Vedros e Baixa da Banheira.

A Câmara Municipal tem desenvolvido diversos esforços para a valorização da zona ribeiri-

nha do Concelho, que determinaram que no início de 2002 o Estado apoiasse a requalificação

da frente urbana da vila da Moita, através do programa POLIS. No entanto, a valorização da

zona ribeirinha terá de envolver esforços concertados de várias entidades e agentes e depen-

derá decisivamente da melhoria da qualidade da água do estuário.

A melhoria da qualidade dos espaços urbanos é fundamental, como forma de estabilizar o

tecido urbano e melhorar a qualidade de vida das populações. A zona mais carenciada é o Vale

da Amoreira, mas também a Baixa da Banheira e a Baixa da Serra possuem zonas onde é fun-

damental intervir qualitativamente. Nesse sentido, a Câmara Municipal desenvolveu ao longo

dos anos programas apoiados por fundos municipais e estatais, sendo o mais recente a

Operação de Revitalização Urbanística do Vale da Amoreira e da Baixa da Banheira. A criação e

manutenção de espaços verdes na zona urbana é um dos aspectos mais visíveis deste esforço

de qualificação.

A construção de uma nova paisagem equilibrada passa pela defesa das zonas mais

sensíveis, por forma a poder vir a desenvolver-se um sistema urbano de acordo com as

potencialidades paisagísticas do território e com os agentes económicos que determinam

as transformações do solo.

Page 41: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 41

2.6. ESTRUTURA E CRESCIMENTO URBANO2.6.1. MOITA

Pela posição que ocupa, e como a maioria dos aglomerados ribeirinhos da borda d’água, o

organismo urbano formou-se e desenvolveu-se numa relação directa e dependente do esteiro

onde se implantou.

Estiveram na base da formação urbana e prevaleceram até ao século XIX as funções litorais

que deram suporte económico ao estabelecimento humano.

Assim, reflecte-se na sua estrutura urbana essa relação, ainda evidente no núcleo antigo e

no seu prolongamento linear, paralelo ao esteiro.

Uma característica notável destes aglomerados é a existência de enfiamentos transversais

na direcção do esteiro, formalizada através de travessas ou atravessamentos ortogonais ao sen-

tido do crescimento urbano axial, fechando-se o organismo urbano, no sentido oposto ao do

esteiro, a qualquer formalização de expansão. Isto pode observar-se no núcleo antigo da Moita,

pela existência de uma rua direita, com travessas na direcção do esteiro, que organiza a forma

urbana, ligando os elementos mais significativos desta, alargando-se para receber os aconteci-

mentos sociais e urbanos e dando ao todo uma estrutura com homogeneidade tipológica.

A ruptura desta regra no crescimento urbano da Moita tem uma relação directa com a

decadência estrutural das funções ribeirinhas, apesar de a atracção no sentido da estação de

caminho de ferro e o crescimento ao longo das estradas de Palmela e Brejos se terem vindo a

processar tendo como directrizes esses mesmos eixos.

Pode, assim, afirmar-se que a evolução da estrutura urbana da Moita foi marcada por três

elementos que têm mantido uma forte presença e influência ao longo do tempo:

• A caldeira do Rio da Moita à qual está ligado o núcleo inicial, actualmente integrado

na área central da vila e que, constituindo, simultaneamente, uma barreira física do

crescimento urbano e um elemento de atracção e de interesse, vai definindo um dos

sentidos dominantes do desenvolvimento urbano.

Page 42: Retrato em Movimento

42 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Perspectiva aéreada vila da Moita,com a praça detouros no plano

central.

Page 43: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 43

• A avenida que com o Largo do Município e a Praça de Touros constitui o elemento

central e marcante do tecido urbano sem ter, no entanto, influenciado significativa-

mente a estrutura e a morfologia urbanas.

• A rede viária nacional e municipal que converge na Moita, a qual determinou, em

grande medida, os sentidos e as directrizes do crescimento urbano – e à qual se adap-

taram as malhas habitacionais de matriz predominantemente reticuladas – que se

manteve ao longo de diversas épocas.

O tecido urbano resultante diferencia-se sobretudo, pela tipologia dos edifícios, pela

dimensão da malha viária e pela presença de espaços e edifícios singulares como a praça de

touros, o parque da Moita e edifícios de equipamento que pontuam o espaço urbano.

Pode dizer-se que a "contenção" volumétrica que se verificou a partir de 1982, com a reali-

zação do Plano Director Municipal, evitou rupturas significativas e garantiu ao tecido e à

imagem da vila uma unidade evidente, que é enriquecida pela densidade tipológica das

habitações e pela coexistência de diversas épocas históricas, ainda hoje identificáveis. Aliás, a

tipologia dos edifícios permite identificar as duas fases marcantes da construção da vila, a do

período anterior a 1970, correspondente a edifícios de um e dois pisos e a do período referente

às três últimas décadas, correspondente a edifícios de três e quatro pisos, conforme se locali-

zem em áreas consolidadas de expansão.

É curioso salientar que, embora seja previsível a expansão da área urbana para Nascente,

no sentido apontado pelos seus principais elementos urbanos – a avenida e o parque urbano,

expansão considerada no PDM, o crescimento tem-se verificado fundamentalmente para

Norte e Sul, apesar do seu afastamento progressivo da zona central da vila e de se interporem

barreiras físicas importantes entre estas novas expansões e o centro.

Mantém-se, assim, em aberto a possível expansão da vila para as cotas mais altas onde

habitação e parque urbano poderiam manter uma estreita proximidade.

Fora do perímetro urbano da vila desenvolve-se uma ocupação periférica de áreas

habitacionais ligadas a espaços rurais e apoiadas na rede viária envolvente da área urbana. A

Page 44: Retrato em Movimento

44 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

tipologia dominante é a de moradias isoladas ou pequenas bandas de habitação com quin-

tal, integradas, em geral, em malhas reticuladas de arruamentos estreitos. Nestas malhas

coexistem, frequentemente, as habitações com pequenos armazéns, oficinas e instalações

agrícolas.

Na periferia imediata da área urbana permanecem alguns edifícios de grande dimensão

inicialmente ocupados com indústrias e hoje ocupados com outros usos. Desta ocupação é

especialmente significativo o eixo que liga a vila à estação de caminho de ferro.

> 2.6.2. ALHOS VEDROS

A implantação do aglomerado urbano primitivo está, como no caso da Moita, intima-

mente relacionada com as funções ribeirinhas que lhe serviram de suporte económico.

Assim, a formação urbana paralela ao esteiro, apoiando-se nos caminhos rurais, como

directrizes de crescimento, foi uma constante nestes aglomerados ribeirinhos.

O desenvolvimento urbano do núcleo antigo fez-se, primeiramente, nos primeiros

decénios do século XX, por preenchimento da malha urbana, originando uma organização mor-

fológica em quarteirão.

Com o aparecimento do caminho de ferro foram induzidas outras funções, prevalecendo,

em meados do século XX (anos 40), a actividade corticeira que transformou radicalmente a

imagem urbana do aglomerado, fazendo-o aparecer como vila-indústria, onde esta actividade

rivalizava, em ocupação do solo, com as actividades residenciais. Muitas das unidades fabris que

ocupavam grandes áreas, tanto no extremo Norte do aglomerado como a Poente, marcavam

a estrutura da vila.

Foi nesta época que se deu o grande crescimento urbano, com base na formação de bair-

ros operários, sendo o organismo urbano atraído na direcção da estação de caminho de ferro

e igualmente, no sentido oposto ao esteiro, apoiado na Estrada Nacional Barreiro-Montijo. Foi

Page 45: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 45

também durante este período (anos 40 a 70) que se alterou profundamente a estrutura urbana

do núcleo antigo, de modo que hoje apresenta alguma descaracterização, embora, ainda, pro-

porcione uma leitura que traduz a sua historicidade.

Nas décadas de 60 e 70 surgiram, a Sul da linha de caminho de ferro, alguns bairros,

ocupados originariamente por ferroviários: Gouveia, Francisco Pires, Lagoa da Pega,

Arroteias, que integram actualmente cerca de 40% do espaço urbanizado. Nestes bairros

periféricos de formação espontânea, a tipologia de habitação dominante são as moradias

unifamiliares de um e dois pisos.

Mais recentemente verifica-se uma nova ocupação periférica às malhas iniciais, assente no

mesmo tipo de estrutura viária, formada a partir de novos loteamentos urbanos com edifícios

plurifamiliares, com maior número de pisos, que tendem portanto a densificar e consolidar a

sua ocupação.

A expansão urbana para Nascente, apoiada na Rua Damão e na Avenida Humberto

Delgado, debate-se com o problema da ligação dos tecidos urbanos em formação ao

núcleo urbano, contrariando o prolongamento axial do núcleo, apoiado nos caminhos

paralelos ao esteiro.

A ocupação das áreas urbanas de Alhos Vedros é na sua generalidade, muito marcada,

por dois aspectos: por um lado as vastas áreas ocupadas com instalações fabris, dispersas

por várias zonas; por outro, os vazios a provocar descontinuidade, que dificultam a articu-

lação urbana.

A vila de Alhos Vedros constitui a maior parte da malha urbana consolidada, com uma área

estimada de 106 hectares, 55,7% do total das áreas urbanizadas, embora a ocupação seja

descontínua no interior do seu perímetro. Nos anos 80 a urbanização da Fonte da Prata

(Contrato de Desenvolvimento de Habitação) abriu uma nova frente urbanizada, desligada dos

núcleos pré-existentes e mais recentemente desenvolve-se uma grande urbanização na área

envolvente à mesma, em zona de expansão já definida desde 1982, a qual contribuirá com

infra-estruturas e equipamento que irão reforçar esta freguesia.

Page 46: Retrato em Movimento

46 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

> 2.6.3. SARILHOS PEQUENOS

Como os aglomerados anteriores, o núcleo urbano de Sarilhos Pequenos forma-se numa

relação directa com o rio, organizando-se numa dependência do esteiro.

Encontra-se praticamente envolvido por grandes unidades agrícolas que espartilham o seu

crescimento urbano, condicionando-o a uma actividade agrícola e salineira na dependência

dessas mesmas unidades, além da actividade ribeirinha, de pesca e cabotagem.

Todo o crescimento que se operou no sentido do esteiro traduz uma forma urbana e uma

tipologia de edificação próprias de uma povoação ribeirinha das margens do Estuário do Tejo:

uma cozinha, um quarto de dormir e uma sala comum com porta e uma ou duas janelas.

A malha urbana de Sarilhos Pequenos em estrela, com as ruas a desembocar num largo

central e com o rio nas traseiras, tinha por função proteger as casas, dos ventos desagradáveis

de Norte. É também notória a existência de ruas/caminhos que acabam radicalmente em

portões de quintas, nas salinas, na área de embarque e no estaleiro naval.

A dimensão e estrutura de organização morfológica de Sarilhos Pequenos, com grande

generosidade de espaços públicos, conduzem-nos a admitir que já teve maior importância do

que hoje traduz.

A decadência das actividades ribeirinhas, assim como a situação excêntrica aos actuais

fluxos e eixos de ligação viária e também o declínio e sub-aproveitamento das unidades agrí-

colas confinantes devem ser procuradas entre os factores mais importantes do envelhecimen-

to e fraca vitalidade de Sarilhos Pequenos.

A estrutura urbana linear, de antiga fundação, conserva uma homogeneidade de traçado e

uma identidade com o crescimento urbano futuro ao longo dos caminhos, na direcção do

esteiro e da Quinta do Esteiro Furado.

É, no entanto, perfeitamente conseguida a ligação dos dois tecidos e a assimilação do

núcleo antigo.

Page 47: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 47

De igual modo, a tendência actual de crescimento no sentido da estrada do Rosário apre-

senta-se em ruptura tipológica e morfológica com a formação urbana onde se apoia.

Uma das unidades confinantes com Sarilhos Pequenos, a Quinta do Esteiro Furado,

tem uma relação muito directa com o aglomerado, na estrutura de caminhos rurais e nas

actividades económicas assentes na exploração das salinas. Esta casa agrícola, em

decadência, tem uma notável implantação, ao fundo dum pequeno esteiro, organizada em

pátio, onde se destaca a Capela de S. Giraldo, fundada em 1600, e uma torre, tipo senho-

rial abastardada, que trazem a insígnia da Ordem de Santiago, traduzindo a tutela desta

Ordem sobre o território.

> 2.6.4. GAIO-ROSÁRIO

A freguesia, constituída pelos dois núcleos urbanos, Gaio e Rosário, parte de uma implan-

tação alcandorada, com formação em anfiteatro, aberto para o rio, criando um espaço de

recepção de actividades ligadas às funções ribeirinhas, de passagem de mercadorias, para um

crescimento no sentido do interior do território, apoiado nos caminhos e estradas que lhe

servem de ligação regional.

O núcleo do Gaio, de génese mais recente, emerge numa estreita faixa ao longo do rio. Em

Julho de 1994, foram aí feitas escavações arqueológicas que puseram à superfície indícios de

povoamento humano datáveis do Neolítico, com cerca de seis mil anos.

Pensa-se que o Gaio, nos seus primórdios, deverá ter funcionado como estaleiro de apoio

às actividades ribeirinhas, sobretudo ligadas à arte da construção e reparação navais, só apare-

cendo com alguma expressão no princípio do século XX.

O crescimento dos dois núcleos urbanos foi no sentido de os aproximar, embora per-

maneçam aspectos das suas ocupações mais antigas, importantes na configuração das iden-

tidades locais.

Page 48: Retrato em Movimento

48 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

A Freguesia do Gaio/Rosário organiza o seu crescimento apoiando-se no cruzamento dos cami-

nhos e desenvolve-se no sentido da Moita. Por esta razão, apresenta uma morfologia assente numa

estrutura viária orgânica, estruturada pelas duas estradas que interligam as duas localidades.

Tal como Sarilhos Pequenos, também a malha urbana do Gaio/Rosário se desenvolveu em

íntima relação com as condições climáticas e as actividades dos seus habitantes, podendo

observar-se o tipo de habitação em correnteza e em pátio.

Nos espaços mais antigos predominam as casas de pequena dimensão, unifamiliares e

com um piso. Nos novos loteamentos ou através da construção isolada surgem moradias uni-

familiares de maiores dimensões e com dois pisos.

Com a construção de um novo bairro habitacional, pela Cooperativa de Habitação

«Che» Banheirense, estamos em crer que esta freguesia criará uma nova dinâmica e

expectativas de crescimento, aliadas a outras melhorias que têm vindo a ser efectuadas

em termos ambientais.

> 2.6.5. BAIXA DA BANHEIRA

A origem toponímica do nome deve-se à configuração geográfica da terra, ou seja, eram

as terras baixas ao redor da pequena enseada do Tejo designadas por Banheira de Alhos Vedros

que lhe deram o baptismo e através da evolução do Sítio da Banheira,Terras Baixas da Banheira

do Tejo passou à designação actual.

A ocupação urbana da Baixa da Banheira remonta ao princípio do século XX, pois a

primeira licença de construção concedida pela Câmara da Moita para o lugar da Banheira, ocor-

reu em 31 de Julho de 1935.

Nos seus primórdios, constituía uma área residencial de ferroviários e operários que se for-

mou numa faixa fronteiriça ao Lavradio e ao longo do caminho de ferro, um sítio denominado

como Cabeço de Alhos Vedros.

Page 49: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 49

Entre os anos 30/40 assistiu-se a uma forte migração de populações oriundas principal-

mente da Beira Baixa e, a partir dos anos 50, do Algarve, do Alentejo e de outras regiões do país

que procuravam trabalho nas grandes unidades industriais da região, como a CP, a CUF, a

Siderurgia, a indústria naval e as corticeiras.

Nos anos 40, o número de fogos era de 347, atingindo nos anos 60, 4 193 fogos, sendo portan-

to nos anos que medeiam as datas indicadas o grande salto de crescimento urbano, induzido pela

transferência e desenvolvimento de grande parte das unidades fabris da CUF de Lisboa para o Barreiro.

Entre 40 e 60, a Baixa da Banheira absorveu praticamente todo o crescimento urbano do

Concelho da Moita.

De 60 para cá, a Baixa da Banheira tem tido um crescimento a ritmo quase constante,

atingido 5 227 fogos em 1970 e 6 835 em 1980.

É a freguesia do concelho da Moita com densidade populacional mais elevada, com 109

habitantes/hectare. Situada na zona ribeirinha do Tejo e atravessada pelo caminho de ferro, o

seu crescimento inicial deu-se predominantemente para Sul.

As zonas de ocupação anteriores a 70 constituem a maior parte da malha urbana consoli-

dada, com uma área estimada de 65,8 hectares, 31,2% do total da freguesia.

A ocupação inicial centrou-se particularmente ao longo dos eixos de atravessamento,

nomeadamente ao logo da Estrada Barreiro-Moita e a sua maior expansão foi para Sul da linha

do caminho de ferro.

No seu crescimento, a Baixa da Banheira absorveu alguns núcleos de formação espon-

tânea, entre eles Baixa da Serra, Alto da Serra e Vale da Amoreira. Este último, talvez o seu

núcleo mais antigo.

A ocupação dos anos 70/80 fez-se, em grande parte, nos espaços contíguos ao consolida-

do, sendo a última fase de ocupação aquela que unifica os dois núcleos urbanos iniciais, na

envolvência da Baixa da Serra, até à EN 11. Esta área ainda não está completamente urbani-

zada, sendo a zona ribeirinha porventura a área mais desqualificada da freguesia e, como tal, a

menos valorizada do ponto de vista imobiliário.

Page 50: Retrato em Movimento

50 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Perspectiva aéreada Baixa

da Banheira e do parque José Afonso.

Page 51: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 51

A ocupação das primeiras décadas (anos 50/60 e mesmo 70) desenvolveu-se assente em

padrões de baixa qualidade, tendo sido protagonizada por agentes cuja lógica de intervenção

seria o máximo rendimento, no mais curto prazo, e com o mínimo de custo. Sem instrumen-

tos de planeamento urbanístico eficazes, o crescimento deu-se sem ter em grande conta

aspectos como a qualidade do espaço público, a criação de zonas verdes ou de equipamentos

sociais. A zona ribeirinha seria porventura a área mais desqualificada da freguesia e, como tal,

a menos valorizada do ponto de vista imobiliário.

Em função desta realidade, a Câmara Municipal tem feito uma grande aposta de requali-

ficação do espaço ribeirinho, nomeadamente do contíguo à área urbana da Baixa da Banheira,

através da construção do Parque José Afonso.

A 1ª. fase ficou concluída em 1990, com 2,5 hectares, totalizando actualmente uma área

de cerca de 20 hectares de jardins e espaços arborizados, que se estendem ao longo de 2km

da margem do Tejo. Este Parque é, sem dúvida, actualmente, um dos elementos mais mar-

cantes da freguesia e mesmo do Concelho da Moita.

O rápido crescimento da Baixa da Banheira e a sua forte componente operária levaram ao

nascimento de muitas colectividades - sociais, de cultura, desporto e de recreio - que lhe dão

uma forte dinâmica e uma expressão popular muito activa.

> 2.6.6. VALE DA AMOREIRA

O Vale da Amoreira é a mais recente freguesia do Concelho da Moita, pois foi criada

em 11 de Março de 1988, possuindo actualmente características acentuadamente

urbanas.

O núcleo habitacional mais antigo, criado pelos trabalhadores das quintas que compunham

aquele território, remonta a meados do século XIX, sendo o seu crescimento muito lento, pois no

recenseamento da população, efectuado em 1911, apenas acusava 24 habitantes e139 no de 1960.

Page 52: Retrato em Movimento

52 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Todavia, a partir de 1970, com o aparecimento do Bairro Fundo Fomento de Habitação,

começaram, paralelamente, a surgir novas urbanizações que vieram aglutinar os pequenos

núcleos urbanos pré-existentes – Vale da Amoreira, Fontainhas e Bairro Paixão – e a "absorver"

o loteamento das moradias existentes, transformando a morfologia urbana e a tipologia de

edificação (prédios de seis a nove pisos).

A ocupação de habitação de promoção pública, após o 25 de Abril de 1974, por alguns milha-

res de pessoas, oriundas das ex-colónias portuguesas, marcou a estrutura social da freguesia,

hoje caracterizada por uma grande presença de população de origem africana.

Nos censos de 1991, a sua população atingiu 13 584 habitantes, o que traduz o seu cresci-

mento em flecha.

Por via disso, o Vale da Amoreira apresenta-se-nos hoje como a freguesia com densidade popu-

lacional mais elevada do Concelho, com 60 habitantes/hectare e com um índice mais jovem, pois

estima-se que cerca de 40% dos seus habitantes tenham menos de 25 anos. A sua diversidade cul-

tural transmite-lhe um carácter muito próprio de vivência e a alegria contagiante dos povos de África.

A área urbana actualmente consolidada corresponde a 89,6 hectares, 40% da área total da

freguesia. A sua envolvente imediata é ainda predominantemente constituída por espaços

rurais, onde se mantém actividades pecuárias, agrícolas e florestais. Estes espaços rurais provo-

cam descontinuidades nos espaços urbanizados entre o Vale da Amoreira e o Barreiro – Vila Chã

e Quinta da Lomba. Contudo, as tendências de crescimento e de urbanização vão no sentido de

ligar os espaços urbanos de um e de outro lado dos concelhos do Barreiro e Moita, perspectivan-

do uma via estruturante primária que fará a ligação entre a via rápida IC 21 e o IC 13 e dará

novas e interessantes acessibilidades à freguesia.

Um dos aspectos mais marcantes do Vale da Amoreira é o facto de constituir uma área

quase exclusivamente residencial, construída enquanto expansão habitacional da Baixa da

Banheira, freguesia à qual pertencia, ou seja, integrando poucos espaços para comércios e

serviços e de outras actividades, o que decorre também da promoção pública que esteve na

base da maioria da sua construção.

Page 53: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 53

Entretanto, a dimensão demográfica que alcançou e que justificou a criação de uma nova

freguesia, não foi acompanhada dos necessários reajustamentos funcionais. A falta de infra-

estruturas e do arranjo de alguns espaços exteriores, associados a uma visível degradação dos

edifícios, contribuíram para a degradação da imagem da localidade e para a consequente

desvalorização imobiliária.

A sua principal característica em termos sócio-urbanísticos é o facto de se tratar de uma

área na sua maioria de promoção pública, destinada a populações de fracos recursos e com

uma dimensão considerável. Consubstancia, assim, uma política habitacional, marcante dos

anos 70 em Portugal e já em reconversão na maioria das áreas metropolitanas europeias.

A freguesia é actualmente objecto de uma Operação de Revitalização Urbana, criada com

o objectivo de melhorar as condições do espaço urbano, através de construção de novos

equipamentos e espaços públicos, e de apoiar o desenvolvimento social e a coesão.

Page 54: Retrato em Movimento

54 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

2.7. O PATRIMÓNIO

«(...) monumentos serão (...) o frasco de faiança, a armadura, e o castelo, o pelourinho e o sítio

arqueológico, a renda e a imagem de madeira, a catedral e o ostensório, o azulejo, o paramento, o

galeão submerso, ou a zona histórica de um aglomerado urbano. Serão também monumentos no

plano dos bens materiais, o jardim, o conjunto de uma paisagem urbana, certa árvore.

Alargando o conceito aos bens culturais de um povo, igualmente teremos que considerar

como "monumento", os tipos de moinhos de água, as alfaias agrícolas, a solução constuitiva

tradicional do vigamento de um telhado, a ferramenta e o barco caído em desuso pelo avanço

tecnológico e prestes a desaparecer (...)»

«(...) Caberá a cada cidadão, empenhado no esforço de salvaguarda, manter-se alerta e ter

a lucidez bastante para em cada caso decidir (...) e para o docente de História ou de Educação

Visual em particular poder assumir, nas melhores condições, a responsabilidade que, quer

queira, quer não, lhe cabem como defensores do património histórico-artístico, entendido

como conjunto de bens da colectividade nacional.»25

25Jorge Henrique Pais da Silva, Pretérito Presente - Para uma Teoria de Preservação do Património Histórico-Artístico, elaborado em 1974/75por ocasião do Ano Europeu do Património Arquitectónico.

Page 55: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 55

2.7.1. O PATRIMÓNIO HISTÓRICO-ARTÍSTICO2.7.1.1. Colecção Régia

No âmbito do património histórico-artístico é de destacar o acervo de pintura que integra

um conjunto de retratos dos reis de Portugal, do artista Miguel António do Amaral, professor

de desenho do século XVIII. A colecção é constituída por vinte e seis telas, a saber: Conde

D. Henrique, D. Afonso Henriques, D. Sancho I, D. Afonso II, D. Sancho II, D. Afonso III, D. Dinis,

D. Afonso IV, D. Pedro I, D. Fernando, D. João I, D. Duarte, D.Afonso V, D. João II, D. Manuel I, D. João

III, D. Sebastião, Cardeal D. Henrique, D. Filipe II, D. Filipe III, D. Afonso VI, D. Pedro II, D. João V,

D. José, D. João VI e Dona Carlota Joaquina.

Embora a série termine nos reis D. João VI e Dona Carlota Joaquina, o artista só pintou até

ao quadro D. José, reinado em que faleceu, não sendo, portanto, da sua autoria aquelas duas

últimas telas.

No século XVIII, a pintura de retrato foi, a seguir à pintura religiosa, o género que mais se

cultivou em Portugal. Era um tipo de arte, feita por encomenda e que satisfazia as necessidades

estéticas dos consumidores da época, o rei, algumas casas nobres e as instituições religiosas.

Aliás, a clientela conventual, de acordo com a sua capacidade financeira, foi uma das principais

solicitadoras de obras de arte, quer de temática religiosa, quer retratística.

É no contexto do ciclo pictórico setecentista que se enquadra a encomenda da série

régia, feita pelo Mosteiro de Alcobaça a Miguel António do Amaral. Para o efeito, o autor

baseou-se em estampas, com reproduções de outros pintores, um expediente muito uti-

lizado nos séculos XVII e XVIII, em consequência da necessidade de se produzirem obras

baratas e rápidas.

Em termos de composição cromática, são as vestes que marcam as figuras, com o peso

e as dobras dos tecidos, pintados em fundo escuro, isento de adereços, com excepção da tela

referente a D. Afonso Henriques, em cujo fundo se apresenta pintada a fachada gótica do

Mosteiro de Alcobaça.

Page 56: Retrato em Movimento

56 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Pelourinhomanuelino

de Alhos Vedros,testemunho

material da política

de reorganizaçãoadministrativa

do rei Venturoso.

Page 57: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 57

Miguel António do Amaral foi, no seu tempo, um retratista muito apreciado e, segundo se diz,

muito bem remunerado.A sua formação artística decorreu do processo tradicional de aprendiza-

gem oficial, como aliás era comum no tempo, com o mestre Francisco Pinto Pereira. O conheci-

mento de desenho deu-lhe o domínio do traço, tão necessário na pintura de retrato.

Outro aspecto a salientar na história desta colecção régia, foi a sua transferência da Sala

dos Reis do Mosteiro para o Depósito da Academia Real de Belas Artes de Lisboa, com a

supressão das ordens religiosas em 1834.

Na segunda metade do século XIX e por intervenção de um proprietário do concelho,

Salvador José Castanha26, foi possível a aquisição deste ciclo de telas sobre os monarcas por-

tugueses. A portaria de 17 de Agosto de 1874, assinada pelo ministro do Reino A. M. de Fontes

Pereira de Melo, autoriza a sua concessão à Câmara da Moita, com o objectivo de adornar a

Sala dos Paços do Concelho.

> 2.7.1.2. Pelourinho de Alhos Vedros

Segundo Alexandre Herculano, na sua História de Portugal, os pelourinhos teriam origem na

«columna moenia» romana, a qual conferia à cidade que a possuía determinados privilégios.

Em Portugal, a partir dos finais do século XII, quando se começou a erguer pelourinhos no

fórum dos centros urbanos (cidades ou vilas), também estas colunas de pedra significavam o

distintivo da jurisdição administrativa de um concelho e da sua autonomia municipal.

Além do seu poder jurisdicional, serviam ainda como locais onde eram aplicados castigos

públicos aos delinquentes. Estes eram amarrados à coluna e aí eram açoitados ou mutilados,

de acordo com a gravidade do delito praticado. Mas, a partir do século XV, os pelourinhos

deixaram de estar associados à ideia de castigo e passaram a designar o local onde se liam os

alvarás e éditos reais.

26Sessão de Câmara, de 16 de Maio de 1875, Fls.106-107

Page 58: Retrato em Movimento

58 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Poço «Mourisco», da época quinhentista.Em primeiro plano são visíveis os

elementos decorativos naturalistas: a flor-de-lis, a cabaça e o ramo

de oliveira com azeitonas.

Page 59: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 59

Na generalidade, a construção de tais monumentos vinha sempre na sequência da outor-

ga da carta de foral. O pelourinho de Alhos Vedros é disso exemplo, pois resulta da concessão

do foral à vila (1514), enquadrando-se na acção política de reorganização administrativa, ence-

tada por D. Manuel I (ao reformar os forais, compilados na «Leitura Nova», mandou construir

novos pelourinhos). Por esta razão, o referido pelourinho não só constitui o símbolo do poder

municipal da vila de Alhos Vedros sobre as terras vizinhas, como também é um testemunho

material da política reformista, empreendida por esse monarca.

Além do seu significado político, reúne em si valor artístico e arquitectónico, relacionado com

o estilo da época. Trata-se de um monumento manuelino do século XVI: a base de planta circular

apresenta-se decorada por um singelo entrelaçado, a coluna alta de secção oitavada e plana é

sobrepujada pelo capitel, de forma prismática e lisa, o qual termina no remate, decorado com a

esfera armilar em ferro forjado (símbolo emblemático do rei Venturoso), suporte de um catavento.

O pelourinho está classificado como imóvel de interesse público, pelo Decreto Nº.23 122,

do Diário do Governo 231, de 11 de Outubro de 1933.

> 2.7.1.3. Poço «Mourisco»

Perto da estação ferroviária de Alhos Vedros existe um velho poço, considerado monu-

mento histórico.

Trata-se do chamado poço «mourisco» que, segundo a tradição oral, teria sido construído

durante a dominação árabe. Mas, na verdade, trata-se de um poço quinhentista, decorado com

elementos colhidos da Natureza, sendo de realçar o ramo de oliveira com azeitonas, a flor de

lis e a cabaça, símbolo do peregrino de Santiago.

Ao longo dos tempos teceu-se uma lenda a respeito do mesmo: «quando algum rapaz ou

rapariga com a cabeça conseguir partir a cabaça que nele se encontra esculpida, dele sairá um

tesouro imenso de moedas em ouro que o tornará feliz por toda a vida».

As pedras cimeiras apresentam profundos sulcos que teriam sido abertos pelo roçar das

cordas no vai vem dos baldes, o que demonstra grande utilização.

Page 60: Retrato em Movimento

60 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

27Luís de Camões, Obras Completas, Vol. III, Lisboa, Livros Sá da Costa, s/d, p.

Na década de 60 do século passado, não sabemos a que propósito, o poço foi atulha-

do e nem as históricas pedras do resguardo escaparam ao «camartelo», indo jazer no

fundo sob o entulho.

No entanto, o bom senso viria a vencer a incoerência e, algum tempo depois, o poço

«mouro» foi reaberto e o resguardo, um tanto danificado, foi reposto no seu lugar. E lá está,

atestando a passagem remota de gentes pela vila de Alhos Vedros.

> 2.7.1.4. Arquitectura Religiosa

Os vestígios patrimoniais existentes no Concelho da Moita reflectem a vivência económi-

ca e social que caracteriza a Região da Borda d’Água. Por esta razão, o património construído

não apresenta a monumentalidade do de outros concelhos, restringindo-se a alguns exem-

plares de arquitectura religiosa ou, então, está relacionado com a actividade produtiva local.

Esta região fortemente dependente, entre os séculos XIII e XVI, de Palmela e da Ordem de

Santiago, conseguiu, através do foral concedido por D. Manuel, uma autonomia jurídica, justi-

ficada pelo crescimento permanente que conheceu. Aqui se instalaram gentes ligadas ao mar,

através do sal, da pesca e dos transportes de cabotagem, bem como à agricultura.

Também se instalou e se desenvolveu uma pequena nobreza que, no século XVI, Camões,

no Auto de El-Rei Seleuco, caracteriza: «Eis, Senhores, o Autor, por me honrar nesta festival

noite, me quis representar ua farsa; e diz que, por não se encontrar com outras já feitas, bus-

cou uns novos fundamentos pera a quem tiver um juízo assi arrazoado satisfazer. E diz que

quem se dela não contentar, querendo outros novos acontecimentos, que se vá aos soalheiros

de escudeiros de Castanheira, ou de Alhos Vedros e Barreiro, ou converse na Rua Nova em casa

do boticário, e não lhe faltará que conte.»27

Page 61: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 61

Fruto desta estrutura social e económica e da ausência de grandes instituições religiosas

ou políticas, o património histórico-artístico da área do Município da Moita, relacionado com

a religiosidade das populações e construído até inícios do século XIX, reflecte, duas atitudes

interligadas: a devoção dos mecenas locais e a devoção das populações residentes ou de pas-

sagem e que tinham no mar ou na terra as suas fontes de subsistência.

Capela do Rosário

Exemplo da iniciativa de um mecenas local é a capela do Rosário, dedicada a S. João

Evangelista e mandada construir em 1532 por Cosmo Bernardes de Macedo, proprietário da

Quinta de Martim Afonso, fidalgo da Casa Real, tal como é referido na inscrição epigráfica28,

colocada sobre a porta que dá acesso à sacristia. Uma outra inscrição diz-nos ainda que: «Esta

capela e sepultura he de Cosmo Bernaldes de macedo e de sua molher Isabel».

Em 1966, o imóvel sofreu obras de recuperação, promovidas por uma empresa local, as

quais alteraram profundamente a espacialidade interior do monumento, sendo mesmo

demolidos o coro e o púlpito.

A capela é de planta simples, orientada para Nascente, apresenta na fachada principal elemen-

tos da primitiva fábrica, como o óculo e um interessante portal gótico de arco trilobado, enriqueci-

do com elementos ornamentais característicos da arte manuelina, sendo de destacar os colunelos

de fustes lisos, com os capitéis decorados com flores, os entrançados e as cabaças nas bases.

No interior, o corpo da capela é separado do santuário por um belo arco triunfal de volta

perfeita, talhado em meia cana côncava, onde estão esculpidas quatro flores em relevo de

folhagens sobrepostas. Do conjunto fazem parte dois colunelos, um de cada lado do arco, com

capitéis também decorados com a gramática decorativa manuelina. Existem ainda outros ele-

mentos que reflectem os ideais desta época, como são as pias de água benta e baptismal.

28«Em Louvor do Snor Deus e da Virgem Samta Maria sua Madre e do bem avemturado Sam Joam Avangilista fez Cosmo Bernaldes de Macedoesta igreija ano de 1532 anos.»

Page 62: Retrato em Movimento

62 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Capela de Nossa Senhora

do Rosário comportal manuelino.

Arco triunfal em estilomanuelino da Capelade Nossa Senhora do Rosário.

Page 63: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 63

Nas paredes laterais do altar-mor, são de realçar os dois painéis de azulejos azuis e brancos

do século XVIII, nos quais figuram cenas da Senhora com o Menino ao colo. Os referidos painéis

são rodeados por uma cercadura laboriosamente trabalhada com um remate de dois anjos.

Por parecer do Instituto do Património Arquitectónico, foi determinada a classificação da

Capela de Nossa Senhora do Rosário como imóvel de interesse público.

Igreja Matriz de S. Lourenço de Alhos Vedros

A Igreja Matriz de Alhos Vedros reflecte também as iniciativas privadas, apresentando um

conjunto de capelas onde é possível fazer uma leitura das mentalidades e da religiosidade,

desde o século XV ao século XVIII.

Estas iniciativas privadas estão bem patentes na arquitectura, na escultura, no azulejo e na

pintura, transmitindo um conjunto estilístico heterogéneo que são, no fundo, resultado de

modos diferentes de encarar a morte, a vida e a devoção.

É uma igreja de nave única com cinco capelas laterais e capela-mor, a sua fundação

remonta possivelmente aos finais do século XIII, mas da construção primitiva nada resta, pois

ao longo dos tempos foi sujeita a alterações no plano da volumetria e da espacialidade geográ-

fica. Nesta sequência, o corpo da igreja sofreu intervenções no século XVII. A fachada do tem-

plo, orientada para poente, recebe um portal tardo-renascença, com a data de 1602 e, no sécu-

lo XVIII, teve beneficiações no revestimento de azulejos (1749) e na pintura do tecto, osten-

tando o caixotão central uma pintura de intensa policromia sobre o martírio de S. Lourenço

(patrono da igreja).Também a capela-mor foi valorizada com a integração de um altar de talha

dourada, de estilo nacional (1680-1725) e com o revestimento dos panos laterais por dois lam-

bris de azulejos azuis e brancos setecentistas.

Numa perspectiva de valorização e de enquadramento do património histórico e ambien-

tal, a Câmara melhorou a envolvência paisagística do monumento, ao proceder à construção

da 6ª. fase do Parque José Afonso.

Page 64: Retrato em Movimento

64 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Igreja Matrizde S. Lourenço de Alhos

Vedros. Destaca-se, do seu lado direito, a volumetria

de uma capela gótica.

Page 65: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 65

Capelas laterais:

Capela de S. Sebastião – Primeira do lado direito, destaca-se exteriormente do conjunto

pela volumetria gótica: sistema de contrafortes, cobertura em terraço rematado por merlões

pentagonais, duas janelas em arco quebrado e um pequeno óculo.

Esta capela, fruto da «devotium moderna» (religiosidade interiorizada e o assumir do indi-

vidual da morte), foi mandada edificar na segunda metade do século XV, por Pero Vicente29, o

Velho, criado da Casa do Infante D. Fernando30 e destinada a ser o panteão da família.

Encontram-se nela os túmulos dos fundadores (Pero Vicente e Constança Vaz), bem como

o túmulo com estátua jacente do filho, Fernão do Casal, cavaleiro da Casa do mesmo Infante,

morto na batalha de Zamora31, no dia 1 de Março de 1476, no reinado de D. Afonso V.

Trata-se de um belo exemplar da tumulária nobre quatrocentista, única no distrito de

Setúbal: a estátua, sobrepujada por um brasão de armas com cinco flores de lis, apresenta

Fernão do Casal com uma armadura, empunhando uma espada, com a cabeça repousada sobre

uma almofada bordada e pés assentes numa mísula lavrada.

Posteriormente fez-se uma nova leitura daquele espaço, pois em 1730 uma nova iniciati-

va particular32 mandou revestir as paredes da capela de azulejos azuis e brancos, reflectindo

uma religiosidade barroca (uma atitude religiosa mais exteriorizada, em que, a comunicação

sob todas as formas e a ocupação dos sentidos têm uma função primordial na transmissão da

mensagem religiosa).

29Pero Vicente foi o juiz da Sisa de Alhos Vedros, Coina, Aldeia Galega e Alcochete. Constança Vaz foi a sua primeira mulher e mãe de Fernãodo Casal. Após a morte daquela, casou-se pela segunda vez, com Catarina Lopes Bulhoa, dama de honor da Infanta Dona Leonor, irmã de D.Afonso V.30Este Infante D. Fernando era filho do rei D. Duarte, 1º. Duque de Viseu e Mestre da Ordem de Cristo.31A batalha de Zamora travada entre o rei D. Afonso V e os futuros reis Católicos, Fernando e Isabel, deveu-se ao envolvimento do monarcaportuguês na causa de sua sobrinha, Dª. Joana, a Beltraneja, após a morte de Henrique IV, e às suas pretensões ao trono de Castela. Esta acçãomilitar traduziu-se num autêntico fracasso para Portugal.32Uma legenda cerâmica sobre o arco de separação do corpo da igreja diz-nos que: «Esta obra se fes no anno de 1730 sendo administradoradesta capela Francisca da Mola».

Page 66: Retrato em Movimento

66 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Túmulocom estátua

jacente de Fernão do Casal,

pertencente à capela gótica,

dedicada a S. Sebastião.

Page 67: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 67

Este empenhamento piedoso laico reflecte-se nas restantes capelas, que se vão afirman-

do em estrita articulação com o espaço religioso e com a crença numa vida «post mortem».

Esta capela está classificada como imóvel de interesse público, pelo Decreto Nº.38 147, de

5 de Janeiro de 1951.

Capela de Santo António – Segunda do lado direito. Não se sabe ao certo a data da sua

construção. Apresenta nas paredes painéis de azulejos do século XVIII, com cenas do martírio

de Santo Estevão

Capela de S. João Baptista – Terceira da ala direita.Apresenta uma abóbada de nervuras em esti-

lo manuelino e uma pia de água benta ricamente decorada com elementos vegetalistas.As suas pare-

des estão revestidas de azulejos hispano-árabes, segundo a técnica de aresta, da primeira metade do

século XVI. O frontal do altar encontra-se revestido de um silhar de azulejos, tipo tapete (padrão

maçaroca), do século XVII. Na parede Sul existe uma inscrição epigráfica33 que nos dá a informação

de ter sido Pero Gomes de Faria, cavaleiro fidalgo da Casa de D. Manuel I, o fundador da capela.

Capela de Nossa Senhora do Rosário – Primeira do lado esquerdo. Ignora-se a data da sua

fundação. Apresenta nas paredes laterais dois painéis do século XVIII, não datados, onde estão

representadas cenas da vida da Virgem. A frente do altar exibe a réplica recente (século XX) de

um painel de azulejos policromados, tipo tapete, do século XVII.

Capela de Nossa Senhora dos Anjos – Segunda do lado esquerdo. Abre-se em dois arcos renas-

centistas para a nave da igreja, foi instituída na primeira metade do século XVI, o que está documen-

talmente comprovado pelas informações insertas nas Visitações da Ordem de Santiago de 152334.

33«Esta capela mandou fazer Pero Gomez de Faria cavaleiro fidalgo da casa delrei Dom Manuel. Finou-se a 11 de Março de1517 e nela sehãode dizer em cada hum anno pra sempre 52 misas per sua alma e de Fernão Gomez, seu pai, e de Biatriz Gomez, sua may, começase quar-ta feira de cinza e acabam se segunda feira de Pascoela e serão ditas pela renda da metade de huma herdade que hé na Ribeira de Canha ede huma vinha que hé alem da ponte. Segundo e mais largamente se contem no testamento da dita Biatriz Gomez e hum compromisso etombo feito por Aires Gomez de Faria seu filho e do dito Fernão Gomez, e seu testamenteiro e primeiro administrador da dita capela.»34Ana de Sousa Leal e Fernando Pires, Alhos Vedros nas Visitações da Ordem de Santiago (1523), Comissão Organizadora das Comemoraçõesdo 480º. Aniversário do Foral de Alhos Vedros, 1994, p. 17

Page 68: Retrato em Movimento

68 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Imagemem pedra policromadada Nossa Senhora dos Anjos, da primeirametade do século XVI.

Azulejoshispano-árabes da Capela de S. João Baptista.

Page 69: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 69

Porém, terá sofrido obras posteriores, datáveis entre 1590 e 1610, já que a capela se destaca por uma

volumetria em cúpula, típica das construções maneiristas. Aí se encontra sepultada a família perten-

cente aos Mendonças Furtados35. Apresenta silhares de azulejos policromados do século XVII e no

altar pode admirar-se uma bela imagem em pedra da Nossa Senhora dos Anjos com o Menino ao

colo, do princípio da centúria de quinhentos. Associada a esta imagem fazia-se uma procissão, reali-

zada no Dia de Ramos, em honra e devoção da Senhora e à qual eram obrigados a assistir «(...) o Prior,

e povo da Villa do Barreiro, os Curas do Lavradio, Mouta, Telha, e Palhaes, com suas Cruzes, e huma

peffoa de cada cafa, por huma Provifão do Duque Meftre D. Jorge, paffada no anno de 1513, impon-

do de multa aos moradores da Villa do Barreiro hum toftão a cada hum, fe faltarem, e para a exe-

cução da multa manda, que o Efcrivão da Camera de Alhos Vedros tome a rol todos, para fe ver os

que faltão, e fe cobrar delles a dita multa; (...)»36.

Esta informação prova não só a antiguidade da Procissão de Nossa Senhora dos Anjos,

como nos dá a indicação de que seria, no século XVI, a mais importante da Margem Sul do

Tejo, pela concorrência de pessoas provenientes de diferentes lugares.

Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem

A Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem reflecte, igualmente, o empenho das gentes

locais e de passagem, tendo no seu orago um elemento significativo, pois a travessia do Tejo,

bem como os longos e perigosos caminhos a percorrer para o Sul do país, necessitavam da pro-

tecção divina, invocando a Virgem Maria.

As razões invocadas pelos moradores do então designado lugar da Mouta, para a cons-

trução de uma igreja em honra de Nossa Senhora da Boa Viagem, estavam relacionadas com a

distância da capela de S. Sebastião e com o grande movimento de pessoas, tal como é declara-

35Existe uma inscrição epigráfica numa das colunas de separação da nave da igreja que nos fornece a seguinte informação: «Esta capela he deNosa Senhora dos Amjos e de seus comfrades foi dado licemça a Tristão de Mendonça pera ter sua sepultura e pera seus erdros»36«Informações Paroquiais de Alhos Vedros», publicadas pelo Padre Carlos Póvoa Alves in Subsídios para a História de Alhos Vedros, 1992, p.14

Page 70: Retrato em Movimento

70 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Interior da Igreja deNossa Senhora da BoaViagem, em que sãovisíveis os altares laterais de estilo nacional e oaltar-mor segundo o gostopós terramoto.

Igreja Matrizde Nossa Senhorada Boa Viagem.

Page 71: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 71

37Refere-se à Capela de S. Sebastião38Livro do Cartório Notarial de Alhos Vedros 1630-1634, Fl.7439ANTT, Chanselaria da Ordem de Santiago, Livro Nº13, Fl.273 v

do na escritura de obrigação, lavrada pelo tabelião João Cordeiro Zagalo:«(...) dizem os

moradores do lugar da Mouta freguesia de Sam Lourenço da Villa de Alhos Vedros da Ordem de

Santiago que a dita Igreja37 está longe do lugar junto aos matos e dela levão o Santíssimo aos

doentes do dito lugar da Mouta per caminhos de Barrancos e entre valados em muito perigo

endecencia e pouco acompanhamento e per que a mor parte da freguesia está no dito lugar da

Mouta donde há grande concurso de gente que vai e vem de caminho de muitas partes deste

reino dalentejo e de Castela e por não terem freguesia donde frades e clérigos possam dizer

missa se vam sem a dizer e os passageiros sem a ouvirem pelo que eles suplicantes por serviço

de Deus e de V. Magestade tem edificado no dito lugar da Mouta hua Ermida pera dela o Cura

lhe levar o Santíssimo Sacramento quando estiverem doentes sem mais decencia e juntamente

pera os frades e clérigos passageiros dizerem aos dias Santos Missa a gente que caminha e per

que eles Suplicantes fizeram a dita Ermida sem licença de V. Magestade ignorando mantenansa

sendo a obrigação que tinham de pedirem licença a V. Magestade pedem a V. Magestade lhe

faça merce de dar licença pera se acabar a dita Ermida e nela lhes dizer Missa (...)»38.

Verifica-se que a construção da igreja já estava a decorrer no momento em que este docu-

mento foi lavrado, ou seja, os moradores procuraram, através da elaboração da escritura,

legalizar um projecto que já tinham iniciado, fazendo então o pedido de autorização ao monar-

ca, Filipe III de Portugal.

Assim, a primitiva ermida de Nossa Senhora da Boa Viagem, construída em 1631 a expen-

sas dos moradores da Moita, teve posterior autorização régia por uma provisão, passada a 22

de Maio de 1631: «Hey por bem e me praz de lhes dar licença que elles possão de novo

edeficar e fazer a sua propria custa e despeza dentro no dito lugar hua ermida de invocação de

Nossa Srª da Boa Viagem a qual fabricação e ornamentação a sua custa de tudo o que tiver

necessidade (...)»39.

Page 72: Retrato em Movimento

72 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Painel de azulejoscom uma cena

da vida da Virgem,retratando esta

com o menino sentado

ao seu colo.

Imagemem madeira policromadada Nossa Senhora da Boa Viagem.

Page 73: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 73

Com a elevação da Moita a vila, passou a ser igreja matriz, sofrendo posteriormente obras

de ampliação e beneficiação. A primeira intervenção, conhecida documentalmente, terá sido

em 1719, pois os arrais dos barcos da vila da Moita e do seu termo, que tomavam carreira no

cais, fizeram um documento, no qual se obrigavam «a dar e entregar todo o frete que cobrarem

da gente da terra na semana da carreira pera ajuda das obras que fazem na Igreja desta dita

villa e farião exacta dellegência pello cobrarem que he hum vintem de hirem pera Lisboa, e

outra de vinda pera esta dita villa(...)»40.

Pelas Informações Paroquiais de 175841, sabemos que a capela-mor ruiu com o terramoto

de 1755, bem como a capela do Senhor dos Passos e a torre sineira da igreja. Mas, enquanto

que a capela-mor foi logo recuperada, com o contributo dos homens do mar e de algumas

esmolas, a capela do Senhor dos Passos e a torre só foram reconstruídas em data posterior à

elaboração das Informações Paroquiais, devido à falta de meios e pobreza dos moradores da

vila da Moita.

A data de 1872, assinalada num dos degraus da porta principal, está certamente rela-

cionada com outras obras, remodelação ou recuperação, efectuadas no edifício da igreja. Se nos

basearmos nas referências documentais, concluiremos que estas intervenções a nível do

restauro e do embelezamento interior sempre foram realizadas à custa da população local,

conforme as obrigações consignadas na escritura de construção, já atrás mencionada.

De acordo com os programas construtivos que imperavam no século XVII, resultantes dos

novos princípios religiosos e espirituais, emanados do Concílio de Trento42, a igreja de Nossa

Senhora da Boa Viagem segue as habituais regras de orientação e de organização funcional do

espaço, apresentando a fachada principal direccionada a Poente, com portal rematado por um

frontão triangular, segundo o gosto maneirista. O interior consta de uma só nave, com púlpito de

40Livro de Vereações de 1715-1720, Fl.64 v41Informações Paroquiais da Moita, Publicadas pelo Padre Carlos Póvoa Alves in Subsídios para a História de Alhos Vedros, 1992, p. 8042O Concílio de Trento celebrou-se em três fases que decorreram entre 1545-1563 e marcou o começo da Contra Reforma. Em Portugal tevegrande importância, uma vez que os seus decretos foram promulgados como leis do Reino, passando a regular as instituições e a vida ecle-siástica e social do país.

Page 74: Retrato em Movimento

74 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

pedra localizado no centro. Em termos de tipologia arquitectónica, este edifício constitui um bom

exemplo do «Estilo Chão», uma arquitectura despojada de elementos decorativos, fria e fun-

cional, que marcou as construções religiosas entre o fim do século XVI e meados do século XVII.

A austeridade e a economia decorativa que caracterizam a arquitectura chã, foi colmata-

da, mais tarde, no século XVIII, por uma fase de ostentação e de sumptuosidade que se reflecte

quer no esplendor das talhas douradas, quer no vasto programa cromático e decorativo dos

azulejos. Na igreja da Moita esta tipologia barroca está patente nos altares laterais de estilo

nacional, nos painéis de azulejos da nave, datados de 1719 e que relatam cenas da vida da

virgem, no tecto com a usual cobertura de caixotões, em madeira, com pinturas de ornatos na

nave e com os símbolos da ladainha de Nossa Senhora, na capela-mor e ainda no gosto pós

terramoto, reconhecível no altar-mor.

O interior do templo abre-se ainda, através de dois arcos, para uma capela lateral, do lado

direito, na qual exibe um altar de talha dourada do século XVIII que contém as imagens do

Senhor dos Passos e de Nossa Senhora das Dores. Esta capela, como já foi anteriormente referi-

do, ficou totalmente destruída com o terramoto de 1755 e só mais tarde foi reconstruída.

Igreja da Santa Casa da Misericórdia

A Igreja da Santa Casa da Misericórdia foi construída em 1587, a deduzir pela leitura da

inscrição sobre o portal: «Ioam Amriques Pimentel deu este portal desmola a esta caza sendo

Provedor dela o ano que se comesou de fazer na era de 1587».

Embora se desconheça a história da fábrica desta igreja, pensamos que terão sido os rendi-

mentos da instituição, bem como os donativos e doações de benfeitores, as principais fontes

de receita que custearam as obras da sua construção.

Associada à necessidade do serviço religioso, a Igreja da Misericórdia reflecte as ideias da época

e da comunidade, profundamente marcadas pela perspectiva religiosa, uma vez que o país estava a

atravessar uma remodelação nos seus esquemas mentais, imposta pelo Concílio de Trento.

Page 75: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 75

Assim, a conjugação de linhas clássicas no portal (pilastras toscanas com frontão triangularrematado por cruz), com a nova corrente artística, o maneirismo, sobretudo ao nível da planta, teste-munha o pensamento de então e as novas exigências físicas e funcionais do espaço religioso. Cria--se, deste modo, uma nave única, um espaço público de vivência comunitária, onde as funções litúr-gicas são profundamente marcadas pela pregação. Daí o púlpito estar situado, sensivelmente, a meioda nave, para que a voz do orador pudesse ser escutada na totalidade do espaço.

A capela-mor apresenta-se num nível superior ao do corpo da igreja, como era costumenas construções das confrarias da Misericórdia e acolhe o altar-mor de talha dourada que evi-dencia características maneiristas tardias (fim do século XVII). Do conjunto destacam-se pelasua concepção os dois pares de colunas torsas que imitam o lápis-lazúli, com capitéis coríntiose fustes ligeiramente lavrados com algumas ramagens. Estes pares de colunas marcam asedículas que ladeiam a abertura central do altar. O remate superior do retábulo é preenchidopor uma imagem do Sagrado Coração de Jesus e por anjos nas zonas laterais, o que ajuda aunificar toda esta belíssima composição, com pronúncios do barroco.

A azulejaria que reveste as paredes da igreja data da primeira metade do século XVIII,reflectindo já uma religiosidade barroca. Os temas abordados nestes painéis estão relaciona-dos com a vida da Virgem, os quais foram concebidos como autênticos cenários teatrais, deforma a transmitirem uma intensa fulgurância visual.

No interior, sobre a porta principal, é de realçar o coro alto, revestido de azulejos setecen-tistas e com uma balaustrada assente em duas colunas de fuste cilíndrico, em pedra. A nave écoberta por um tecto de madeira de três planos, desprovido de elementos ornamentais.

Dado o grande interesse deste imóvel para o Património do Concelho, em 1995, a SantaCasa da Misericórdia, com a colaboração da Câmara da Moita, apresentou uma proposta decandidatura ao Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico (IPPAR), parafinanciamento das obras de recuperação e conservação da igreja. Porém, o indeferimento destacandidatura impediu a intervenção neste monumento.

Foi classificada como imóvel de valor concelhio, pelo Decreto Nº.2 do Diário da República56, de 6 de Março de 1996.

Page 76: Retrato em Movimento

76 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Capela de S. Sebastião

A Capela de S. Sebastião foi construída por iniciativa particular. Segundo as Visitações da

Ordem de Santiago de 1523, foram os moradores de Alhos Vedros e da Moita que fizeram a

referida ermida.

A inscrição epigráfica43 mais antiga, datada de 1453, leva-nos a inferir que a referida capela

teria sido construída por volta de 1450/52. Esta inscrição, gravada em caracteres góticos, numa

lápide votiva, situada na parede da ala Norte, refere-se à primeira sepultura aí feita, pertencente

a Catarina Martins Moreira, filha de Martins Vasques Moreira, escudeiro criado do rei D. Duarte.

A já citada Visitação da Ordem de Santiago dá-nos um precioso testemunho da ermida,

no início do século XVI: «E o corpo da dita Igreija tem as paredes de pedra e barro madejrada

de castanho e cuberta de telha vaam. E no corpo da dita Igreija estaa huum altar d’azulejos e

em cima delle huua imagem de Sam Roque, e huum retavolo de pano piqueno. E asy ho corpo

da dita Igreija como a Capella e Samcristia he tudo ladrjlhado de tijolo.»44

Pelos restauros que a capela foi sofrendo, ao longo dos séculos, verificamos que a organi-

zação do seu espaço geográfico se foi alterando, pois o altar de azulejos, de que fala o docu-

mento atrás citado, com a imagem de S. Roque e o pequeno retábulo de pano, já não existem

no corpo da ermida.

Segundo as Informações Paroquiais de 175845, a capela sofreu grandes danos com o ter-

ramoto de 1755, sendo logo reedificada pela população da Moita. Tendo como base a mesma

fonte, sabemos que em 1758, o local era «o divertimento da terra», pois «dele se avista toda

a cidade de Lisboa,Almada,Azeitão, Palmela,Alhos Vedros e todo o Tejo que medeia desta terra

até Belém nunca se acha sem gente, assim da terra como das suas vizinhanças;(...)»46.

43«aqui jaz caterina martinz filha de martin vasquez moreira criado delrey dom eduarte e seu vasalo. E finou na gram pestenença nesta ermi-da en idade de XX anos moça escosa a XII de julho era do Senhor de mil iiii Liii anos: a primeira aqui sepultada deos aja sua alma: amen»44Ana de Sousa Leal e Fernando Pires, Alhos Vedros nas Visitações da Ordem de Santiago,1994, p. 2845«Informações Paroquiais da Moita», publicadas pelo Padre Carlos Póvoa Alves in Subsídios para a História de Alhos Vedros, 1992, p. 8146Idem, Ibidem, p. 81

Page 77: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 77

47A fundação do cemitério, na zona envolvente da capela, terá ocorrido em 1875, a deduzir pela data que se encontra gravada sobre o portãodo mesmo.48 «Informações Paroquiais da Moita», publicadas pelo Padre Carlos Póvoa Alves in Subsídios para a História de Alhos Vedros, 1992, p. 82

Actualmente a capela é composta por nave e capela-mor. Caracteriza-se pela sua simplici-

dade arquitectónica e despojamento decorativo, apresentando, no entanto, um belo conjunto

de painéis de azulejos azuis e brancos do século XVIII, nas paredes laterais da capela-mor, onde

figuram cenas do martírio de S. Sebastião. O corpo é coberto por um tecto de madeira tipo

caixotão e tem um coro alto sobre a porta principal, com balaustrada também em madeira.

Na sequência das obras de que foi beneficiando, através dos tempos, foram removidas as

lajes tumulares, sendo estas colocadas a esmo.

Com a proibição dos enterramentos nas igrejas, o cemitério47 foi transferido para a área

envolvente da ermida, deixando esta definitivamente de servir o culto.

Actualmente e no âmbito de um projecto de intervenção integrada (arqueologia,

arquitectura e museologia) do imóvel, foram firmados dois protocolos, um com a Direcção

Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (2001) e outro com o Instituto de Estudos

Regionais e do Municipalismo «Alexandre Herculano» da Faculdade de Letras da

Universidade de Lisboa (2000).

Capela de Nossa Senhora da Graça

As Informações Paroquiais de 1758 dizem-nos o seguinte sobre esta ermida: «Tem outra

capela no meio do lugar de Sarilhos Pequenos, termo paroquiano desta Vila; tem um só altar

sem sacrário, nele S. Pedro, que é o Patrão, Santa Catarina, S. Tiago, S. João Baptista; na tribuna

Nossa Senhora da Graça; é administrada pelos moradores do mesmo lugar.»48

A capela sofreu obras de restauro que desvirtuaram a sua anterior traça arquitectónica. Na

sequência dessas adulterações, possui uma nave de acrescentamento moderno.

Page 78: Retrato em Movimento

78 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Fachada da Igreja de NossaSenhora de Fátima

Altarda Nossa Senhora da Piedade.

Page 79: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 79

Igreja de Nossa Senhora de Fátima

A Igreja da Baixa da Banheira, projectada pelo arquitecto Júlio Gil, foi erguida em louvor de

Nossa Senhora de Fátima e foi inaugurada em 12 de Junho de 1960, pelo Cardeal Patriarca de

Lisboa, sofrendo algumas alterações em 1972, sob a orientação do Padre Ricardo Lopes.

Em 10 de Outubro de 1976, foi entregue pelo Bispo de Setúbal à Província Portuguesa dos

Capuchinhos nas pessoas de Frei Manuel Rito Dias, Frei Miguel de Negreiros e Frei Manuel Chamusco.

Altar de Nossa Senhora da Piedade

O altar de Nossa Senhora da Piedade localiza-se numa das travessas com o mesmo nome,

no primitivo aglomerado urbano da vila da Moita. Consta de um painel de azulejos azuis e

brancos, onde está representada Nossa Senhora com o filho morto nos braços.Trata-se de uma

reprodução relativamente recente do antigo painel que, segundo as fontes orais, foi construí-

do por uns carvoeiros que aqui residiram em tempos remotos. Na verdade e isto se considerar-

mos que a réplica foi fidedigna ao antigo painel, o altar datará do século XVIII.

> 2.7.1.5. Arquitectura CivilPalacete da Fonte da Prata

O palacete da Quinta da Fonte da Prata é um belo exemplar da arquitectura revivalis-

ta, na medida em que procura imitar as casas solarengas do século XVIII, como diz a revista

de arquitectura Construção Moderna: «(...) pode dizer-se que é uma residência do século

XVIII edificada no século XX, mas que, parece ter, realmente a antiguidade que a sua arqui-

tectura indica (...)».49

49Construção Moderna, de 25 de Julho de 1915, p. 106

Page 80: Retrato em Movimento

80 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Fachadaprincipal

do palacete da Fonte da Prata.

Page 81: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 81

Esta casa, edificada cerca de 1910, foi projecto do arquitecto Guilherme Eduardo Gomesque procurou construir uma mansão de arquitectura requintada, conforme o modelo setecen-tista e de forma a evidenciar a abastança, o gosto e o estilo de vida do seu titular, EloyCastanha. É um pequeno mundo que contém as comodidades que a vida da época exigia.Assim, o andar térreo seria destinado a serviços indispensáveis, arrecadações e, o primeiroandar, a parte nobre da casa, seria habitada pela família.

Mas a concepção da casa passa não só por exigências de conforto, como também de artee, deste modo, vemos paredes revestidas de azulejos, uma grande varanda que se abre para oexterior para permitir a contemplação da Natureza, uma escadaria interior requintadamentetrabalhada em madeira, a cantaria que envolve as janelas e portas ricamente decorada, procu-rando imitar a ornamentação manuelina; bem como o emprego do estuque em magnífica obraartística para os tectos de algumas das salas.

A já mencionada revista Construção Moderna dedicou-lhe em 1915, um artigo em que nosdá a seguinte descrição do interior e exterior desta imponente mansão: «A sala de música e asala de meza são as melhores peças de habitação.A primeira é de této alto, à antiga, com deco-rações em estilo manuelino, azulejada em lambris, com azulejos, perfeita reprodução com outrosencontrados no Convento de Santa Marta.

Nesta sala nota-se um interessante fogão de canto. É de estilização antiga, também revesti-do de azulejo. As portas e janelas nesta sala, como de resto em todas as outras dependênciasestão na estilisação antiquada que se deu ao conjunto.

No terraço descoberto, tambem existe um lambris azulejado, reprodução de azulejos doconvento da Madre de Deus.

A janela de angulo é reprodução da que existe no Paço de Cintra.A sala de meza é tambem uma das melhores peças da solarenga vivenda. É dividida por um

arco que a separa da cópa. O arco é todo revestido de azulejo, tendo no alto, a um dos lados, oescudo com o brazão de armas e as iniciais do proprietário.A um dos lados existe uma lareira.»50

50Construção Moderna, de 25 de Julho de 1915, p. 106

Page 82: Retrato em Movimento

82 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Facto curioso nesta habitação é a agregação da capela na fachada da casa, o que traduz a

importância da religiosidade no ambiente familiar.

O desenvolvimento da casa no sentido do comprimento, com a fachada enriquecida pela

colocação de colunas que ladeiam a entrada principal, constitui outra inspiração na arquitectura

de setecentos, utilizada pelo arquitecto, a fim de conferir ao edifício um certo ar de monu-

mentalidade.

A partir de duas plantas divulgadas na citada revista, verificamos que inicialmente existia um

pátio interior com uma pequena fonte e que dava acesso a um portal de largura considerável, o

que nos leva a crer que seria um lugar de passagem para carros. Presentemente esse espaço apre-

senta-se muito mais reduzido e completamente adulterado em relação ao desenho primitivo.

No espaço exterior e junto da mansão encontramos um poço, cuja água seria provavel-

mente extraída por meio de uma nora e um tanque de linhas simples e funcional. Estes ele-

mentos combinam-se agradavelmente com árvores exóticas51, conferindo a todo o conjunto

um inegável requinte.

Em suma, é uma construção que reflecte antes de mais a estrutura agrária que o Concelho

da Moita conheceu no século XX, uma grande propriedade altamente rentabilizada e conheci-

da por uma classe de latifundiários já bastante esclarecidos.

Em 1979, a Câmara Municipal da Moita adquiriu este edifício à Companhia Imobiliária de

Turismo Comitur, mas dada a situação de eminente ruína, a Câmara cedeu, em 1995, este

espaço com o intuito de ser recuperado na sua traça arquitectónica original.

Presentemente está a funcionar como uma instituição particular de solidariedade social

(Centro Fonte da Prata), com vista ao tratamento/reabilitação de toxicodependentes.

51Um destes exemplares, a Phoenix dactylifera L., vulgarmente conhecida por Tamareira, foi classificada árvore de interesse público, por avisodo Instituto Florestal, publicado no Diário da República Nº.44, II Série, de 21 de Fevereiro de 1995.

Page 83: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 83

Palacete do Morgado da Casa da Cova

Palacete localizado no Largo do Descarregador em Alhos Vedros e assim designado por ter

pertencido aos bens do Morgado da Casa da Cova. Embora não se conheça a data da sua cons-

trução, o edifício apresenta características arquitectónicas do século XVIII: planta rectangular,

dois andares, volume simples com cobertura de quatro águas e escada exterior que conduz a

uma «loggia». É um edifício de linhas sóbrias que se caracteriza pela sua simplicidade arqui-

tectónica, desenvolve-se no sentido da horizontalidade, apresentando as janelas e as portas

envolvidas por cantarias em pedra, desprovidas de elementos decorativos. Na fachada princi-

pal orientada a Norte, as janelas do primeiro andar abrem-se para varandas em ferro forjado,

ajudando a valorizar, deste modo, a zona superior do imóvel.

Outro elemento arquitectónico associado ao palacete e digno de menção é o pórtico em

mármore que se encontra adossado à parede da fábrica «Guston» e que em tempos daria, cer-

tamente, acesso ao jardim da mansão.

Portal Manuelino

Portal dos séculos XV/XVI, localiza-se na Travessa do Alferes-Mor, no núcleo antigo da vila

da Moita. É o único portal de tipologia manuelina que chegou até hoje, nesta zona, numa cons-

trução civil. Cantarias de vão, manuelinas pelo recorte e lavor, em arco conopial, com umbrais

e lintel biselados.

Page 84: Retrato em Movimento

84 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Portal manuelino.

Page 85: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 85

2.7.2. O PATRIMÓNIO FLÚVIO MARÍTIMO > 2.7.2.1. Embarcações Tradicionais

Ligada a uma tradição de transportes entre as duas margens do Tejo, a actividade naval fez

com que no território da Moita (tal como em toda a zona do Estuário do Tejo) se desenvolvessem

embarcações que, pelo seu tamanho e características, respondessem às necessidades exigidas.

Assim, entre os barcos que nesta área tiveram mais desenvolvimento destacam-se os

botes, as faluas, os varinos e as fragatas. Destes barcos possui a Câmara Municipal da Moita

dois exemplares; um varino «O Boa Viagem» e um bote de meia quilha «A Pombinha».A recu-

peração destas embarcações tradicionais teve a Câmara Municipal da Moita como pioneira: em

1981 restaurou-se o varino e em 1985 o bote.

O bote é uma embarcação com cerca de dez metros de comprimento, utilizado para o

transporte de mercadorias. Possui, entre outras características, uma vela latina e um mastro

fortemente inclinado sobre a popa.

O varino é uma embarcação maior, embora mais pequeno que a fragata.Tem cerca de vinte

metros de comprimento por cinco de largura, podendo transportar até duzentas toneladas.

Numa perspectiva de valorização deste património, «O Boa Viagem» foi dotado de um

motor marítimo e de instalações sanitárias. A beneficiação destas melhorias tem em vista não

só uma maior qualidade dos passeios fluviais, mas também a necessidade da sua realização,

independentemente da existência ou não de ventos favoráveis.

Da actividade fluvial ligada ao transporte de produtos para a cidade de Lisboa resta hoje o

Estaleiro Naval de Sarilhos Pequenos e o núcleo oficinal, no Gaio, formado pelo estaleiro, ofici-

na de velas e ferreiro naval.

Ambos os estaleiros estão, actualmente, vocacionados para a reconstrução das anti-

gas embarcações do Tejo, convertendo-as em barcos de recreio. Nestas embarcações

salientam-se as pinturas tradicionais efectuadas pelo mestre José Lopes e pelos seus pri-

mos José e Luís Raimão.

Page 86: Retrato em Movimento

86 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Painel pintado pelo

Mestre José Lopes,com as habituais

ornamentaçõesem cercadura

de flores, artisticamente

desenhadas em cores garridas

e utilizadas nas pinturas

das embarcações.

Page 87: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 87

Esta arte que nasceu na Moita, tem aqui os seus melhores artistas, de forma que vêm

aos estaleiros do concelho, as embarcações de Vila Franca de Xira, Seixal, Alcochete e

Lisboa receber as flores, as letras, os números, os ornamentos geométricos ou figuras de

barcos, de sereias, de santas, de touros e de paisagens, pintados em cores vivas por mestres

que receberam dos pais os segredos desta arte. Estas pinturas marcaram, sem dúvida, a

história das embarcações tradicionais do concelho da Moita, as quais passaram a ser

conhecidas, nos restantes concelhos ribeirinhos, pelas temáticas decorativas, funcionando

como um cartão de visita. Na generalidade, eram os proprietários que escolhiam os temas

para as anteparas das suas embarcações, pelo que todos os anos entravam em disputa uns

com os outros, com vista a terem as melhores pinturas, especialmente nas épocas das fes-

tas de sua devoção.

> 2.7.2.2. Estaleiro Naval do Gaio

A história do Estaleiro do Gaio é indissociável da história da família do seu actual proprie-

tário, o Mestre José Lopes, remontando, pelo menos, ao seu tio avô. O mestre foi o herdeiro de

uma forte tradição de saberes técnicos ligados à construção naval, transmitidos de geração

para geração.

O estaleiro foi construído de raiz no fim da década de vinte, pelo pai do Mestre Lopes, cons-

tituindo-se numa verdadeira escola de profissionais da arte naval. Aqui foi construída a última

embarcação tradicional do Tejo, o bote de meia quilha «Sejas Feliz» e, no início da década de

oitenta, foram recuperadas as primeiras embarcações com funções de lazer, entre as quais se

destaca o varino «O Boa Viagem» da Câmara Municipal da Moita, já atrás mencionado.

Nos tempos áureos, em que o estaleiro estava em grande actividade, trabalhava aqui um

grande número de profissionais da arte de construção naval, como carpinteiros, serradores e

calafates; hoje apenas resta o Mestre e mais uma ou duas pessoas que se dedicam a fazer tra-

balhos de recuperação/manutenção. Por esta razão, o Estaleiro do Gaio constitui um valioso

Page 88: Retrato em Movimento

88 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Estaleiro do Gaio, com o Mestre José

Lopes a fazer a manutenção

de um pequeno barco.

Page 89: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 89

legado patrimonial, não só pelo conjunto de saberes técnicos tradicionais, como também por

toda a herança material (instrumentos e utensílios de trabalho) de que ainda dispõe e que é de

grande importância para o estudo da arquitectura naval e para o entendimento da história local.

O Estaleiro é constituído por uma zona de área coberta, formada por um telheiro, onde

estão instaladas várias máquinas e outros equipamentos próprios deste tipo de fábrica e por um

armazém construído em alvenaria na sequência da rua, segundo uma tipologia de casa de carácter

campesino, de piso térreo, alongado, rude e simples, caiado com alçados rasgados por minúscu-

las janelas. É nestas instalações que se armazenam as matérias primas e se constróem as peças

de madeira próprias da arquitectura naval. No exterior, na zona da baía onde se concentram os

barcos, existe uma estrutura de carris que conduz ao rio e que tem a finalidade de levantar a

embarcação, com vista a ser tratada toda a zona abaixo da linha de água.

> 2.7.2.3. Estaleiro Naval de Sarilhos Pequenos

O Estaleiro de Sarilhos Pequenos foi comprado pelo seu actual proprietário, o Mestre Jaime

Ferreira da Costa, no ano de 1957, numa época em que a construção naval era uma actividade

florescente. Com o declínio e desaparecimento do transporte fluvial, o estaleiro deixou de estar

vocacionado para a construção de embarcações tradicionais do Tejo e o seu trabalho passou a

incidir na recuperação e manutenção de diferentes tipos de barcos, entre os quais se destacam

os das Câmaras Municipais.

O estaleiro situa-se junto ao esteiro e é constituído por um escritório, oficinas e estruturas

de protecção para as embarcações que se encontram em fase de recuperação. Contrariamente

ao seu congénere do Gaio, este reúne todas as condições físicas, consideradas necessárias, para

funcionar, na medida em que lhe foi conferida uma nova dinâmica de inovação, quer em ter-

mos de introdução de novas ferramentas e máquinas de trabalho, quer na criação de estruturas

de apoio à execução da actividade. A sua sobrevivência poderá ser também garantida por um

dos filhos do Mestre Jaime, o sucessor da cadeia de aprendizagem familiar.

Page 90: Retrato em Movimento

90 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Estaleiro de SarilhosPequenos, com o Mestre Jaime

a trabalhar a peça de um leme.

Page 91: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 91

> 2.7.2.4. Cais da Moita

O cais da Moita desempenhou ao longo de séculos um papel de grande relevância. Por essa

razão, constitui hoje um documento material de grande interesse histórico.

Cais e embarcações tradicionais estão intimamente ligados, já que o movimento fluvial a

caminho de Lisboa, com mercadorias ou com passageiros, atribuiu a este ancoradouro uma

grande importância económica e social. Durante séculos o cais foi o coração da vila da Moita

e como tal toda a vida gravitava em seu torno. Era a grande porta para o exterior, na medida

em que os barcos o punham em contacto com as novidades, levando e trazendo as novas notí-

cias. Aqui chegavam viajantes, carroças e carretas de bois carregadas de produtos, a fim de

tomarem a carreira do barco para a cidade de Lisboa. Devido a toda essa movimentação diária

de passageiros e mercadorias, cujo aumento se verificou a partir do século XVII, o cais trans-

formou-se num verdadeiro posto de trabalho, onde um grande número de homens desem-

penhavam as tarefas de carregadores, vivendo das necessidades dos carregamentos que cada

maré permitia efectuar.

Reflexo da sua evolução crescente foi a substituição das antigas estruturas de madeira por

pedra, no ano de 1722, tendo sido paga a obra, pelos donos dos barcos e das bateiras da vila e

seu termo, bem como pelos seus arrais. Para assinalar este facto, foi colocada uma placa em

pedra, numa das paredes da muralha, com a seguinte inscrição: «Em utilidade pública por arbi-

trio do Senado desta villa da Mouta acusta dos donos dos Barcos e dos navegantes delles teve

principio a 4 de Agosto de 1722 e findo a 5 de Fevereiro de 1723».

Em termos de tipologia, o cais apresenta-se como uma estrutura rudimentar, de planta

rectangular, de linhas rígidas e formas robustas, mas funcional para a atracagem das embar-

cações, sendo edificado com grandes lajes de pedra, ao qual se tem acesso por uns degraus

também de pedra.

Page 92: Retrato em Movimento

92 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Cais da Moita.

Page 93: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 93

2.7.3. O PATRIMÓNIO INDUSTRIAL> 2.7.3.1. Moinhos de Maré

Os moinhos de maré constituem importantes construções industriais da Idade Média, não

só pela sua forma arquitectónica, com arcadas voltadas para o rio, mas devido sobretudo, à sua

mecânica e utilização de todo um sofisticado equipamento de moagem. Estes edifícios insta-

laram-se nas margens dos principais rios portugueses para aproveitarem a força das marés ou

a velocidade das águas correntes, utilizando esta fonte de energia potencial para fazer fun-

cionar os engenhos mecânicos. Porém, foi na margem Sul do estuário do rio Tejo que se edifi-

cou o mais importante complexo de moinhos de maré, António Nabais, no seu trabalho

Moinhos de Maré do Concelho do Seixal, dá-nos uma minuciosa descrição histórica sobre o

desenvolvimento da actividade moageira:

«Foi a partir do início do século XIV que no estuário do rio Tejo se assistiu ao

aproveitamento da energia das marés. Em 1313, em Alcântara (Lisboa) foram aforadas

"pera todo o sempre a uos Estêvão Martins Carpenteiro vezinho de beja as minhas aze-

nhas d’alcantara." E Estêvão Martins estava autorizado a "remouer as dictas azenhas ou

fazer outras azenhas ou moinhos de nouo que vos has posades fazer delas dictas azenhas

a fondo ate o mar."

Em 1405, no mesmo local, o moinho de maré necessitava de obras, conforme se conclui

do aforamento das azenhas "so a ponte d’alcantara que ora som derribadas no termo da dicta

cidade com seu esteiro que uay da ponte d’alcantara ataa o mar e com todas as suas prayas

que uaao contra restello o uelho o que perteencer pera fazer moendas (...) e pera uos joham

dobidos fazerdes acenhas ou moynhos com suas casas pelo foro annual da 6ª parte do que ren-

derem as ditas acenhas ou moynhos."

Em 1403, em Corroios, instalou-se o primeiro moinho de maré da área do Seixal, e depois,

ainda no mesmo século, se instalaram outros nos esteiros da região.»

Page 94: Retrato em Movimento

94 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Moinho de Maré de Alhos Vedros. Na sua

fachada destacam-se os seisarcos em pedra,

característica arquitectónicadestes edifícios.

Page 95: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 95

«No Montijo, em 1386, já existia um moinho de maré na Quinta da Lançada, de acordo

com os elementos estudados por António de Oliveira no seu trabalho «Um Moinho de Maré

em Aldeia Galega do Ribatejo no século XVI». No esteiro da Lançada outros moinhos de maré

foram construídos nos princípios do século XV. Em 1405, por carta régia, D. João I concedeu

licença a Álvaro Gonçalves para levantar "huas moendas de pam no esteiro da alançada que

he a par daldea galega de Ribatejo que moesem com agoa de maree que entrar em o dito

esteiro e que se trabalharia de as fazer se a nossa mercee fosse de lhe darmos pera ello lugar

e consentimento sem foro nenhuu por que lhe seriam muyto custosas a fazer por quanto lhe

he dicto que como quer que ho dicto steiro entra polla terra da hordem de Santiago que a

nos pertence de lhe darmos o dicto consentimento por que o mar e os esteiros del a que

chegam as marees pertencem aos reis. E nos veendo o que nos assy dízia e pedia considran-

do nos como de seerem he feictas as dictas moendas seria grande nobreza e prol e bem

cidade de lixboa e da dicta comarca de Ribatejo e dos moradores dellas como nom he

memória que nunca hi fossem edificadas as dictas moendas como he necessario fazer grandes

despesas em as edificar e fazer porem por todas estas cousas acordamos de lhe darmos pera

ello lugar e consentimento se lho dar podemos de dereito ou de costume sem nos pagando

dellas foro nenhum."

No território do concelho do Barreiro foram construídos vários moinhos de maré desde o

sítio de Alburrica, área do Mexilhoeiro,Verderena até ao Vale de Zebro e Coina. Não possuímos

ainda muitos dados sobre as datas de instalação nem da história de alguns destes moinhos,

que foram muito importantes para a economia local e regional. De qualquer modo, no século

XVI, já se registavam moinhos de maré no Barreiro, como se pode confirmar pela Carta de Foral

de 1521, que refere "os moinhos de Gaspar Correa dentro do termo da dita villa do Barreiro."

Na margem direita do rio Coina, no início do século XVI, existiam já outros moinhos de

maré: em Vale de Zebro, junto dos fornos de biscoito, em 1521, lavrou-se decreto, ordenando

a Álvaro Raposo, Recebedor dos fornos e moinho de Vale de Zebro, para dar a Duarte Gama 4

moios de trigo; em Coina, como documenta o Foral dado por D. Manuel em 1516 a esta vila,

Page 96: Retrato em Movimento

96 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

eram dadas facilidades para a instalação de moinhos de maré nos sapais: "Porém se em alguns

sapaes sam já feitos alguns moynhos nam seram desfeitos mas estarão assy como estam visto

como ao tal tempo que foram feitos os autores nam se agravaram nem tomaram estormen-

tos degravo E como taes moynhos sam proveitosos para suas moendas."

Em 1758, o lugar da Telha, segundo a descrição feita pelo pároco Sacramento e Sousa, pos-

suía dois moinhos de maré "neste (porto) entram ambarcações no tempo da factura dos vi-

nhos, e em todo o anno os q. servem os dois moinhos, q. ficam dentro do dito porto."

Em Alhos Vedros e Moita do Ribatejo também se ergueram moinhos, como nos docu-

mentam as «Memórias Paroquiais»: "o Rio que há é o dito braço do Tejo, em que há dois moin-

hos, um de cinco pedras ou engenhos, outro que se demoliu e já tem princípio de reedificação.

Em noutro braço ou Rio da parte do nascente que divide o termo desta vila do da Moita está

outro moinho do mesmo lote e melhor (...) só neste braço que sai do Tejo tem esta terra qua-

tro moinhos, um chamado Esteiro Furado com três aferidos, outro o Moinho Novo com oito

aferidos no sítio do Rosário, outro chamado Quinta da Freira com três aferidos, outro chama-

do o Sítio do Alimo com três aferidos, no qual finda o dito rio."

Em 1709, o Padre António Carvalho da Costa na sua «Corografia Portuguesa», ao descre-

ver as quintas do Montijo refere a existência dos seguintes moinhos de maré: "a quinta de

Francisco de Novaes Casado, que tem boas casas (...) e hum bom moinho de seis engenhos";

"A quinta das Portas (...) tem um moinho de quatro pedras"; "Ao Lessudueste da Villa está

outra quinta (...) chamão-lhe a quinta do Casado, ou Forno do vidro (...) e hum moinho, tudo

místico a esta quinta da Lançada." O Padre António Carvalho da Costa inventariou cinco

moinhos junto ao Montijo e um já na fronteira com o antigo concelho de Alhos Vedros (hoje

concelho da Moita): "O rio desta villa, que começa com o termo da ponta, que chamão do

Montijo, he muy espaçoso (...) he bem navegavel quasi com todo o vento, com bayxamar

espraya, mas nem por isso, sendo necessário, deixará de poder vir de Lisboa embarcação a

toda a hora pelos canais os quaes procedem de cinco moinhos, que a Villa tem em seu termo

desde a quinta da lançada em o qual rio estão dous, e à vista do Porto tres. Fora estes moin-

Page 97: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 97

hos há outro, que devide o termo da Villa de Alhos Vedros do desta Villa; tem quatro pedras,

duas de hum termo, e duas do outro."»52

O estabelecimento desta rede moageira por toda a zona sul do estuário do Tejo explica-se

não só pela facilidade de acesso, mas também pela proximidade de dois grandes centros con-

sumidores de farinhas, os fornos de biscoito de Vale de Zebro e a cidade de Lisboa.

Integrados neste complexo industrial moageiro situavam-se os moinhos de maré do con-

celho da Moita: o Moinho do Cais de Alhos Vedros, propriedade da Câmara, o Moinho Novo, o

Moinho da Charroqueira, o Moinho do Alimo, o Moinho da Quinta da Freira, o Moinho do

Rosário, o Moinho do Esteiro Furado e o Moinho de Entre os Termos.

A concentração destes engenhos dá para compreender a importância que tradicional-

mente deteve a moagem de cereais nesta zona. Presentemente, apenas dois desses edifícios se

encontram em bom estado de conservação: o Moinho do Cais de Alhos Vedros, propriedade da

Câmara, e o Moinho Novo, situado também em Alhos Vedros e propriedade de um particular.

Os restantes estão em ruínas53 ou desapareceram54 completamente.

O moinho de maré do Cais de Alhos Vedros fazia parte dos bens do Morgado da Casa da

Cova. Foi construído no início do século XVII, havendo já notícia da sua existência em 1631.

Padeceu grande ruína com o terramoto de 1755 e foi posteriormente reedificado e ampliado,

pelo administrador do Palácio da Cova, Luís de Albuquerque de Mendonça Furtado. Entre 1939-

-1940 o moinho deixou de laborar, altura em que foi construído o piso superior. Em 1986, foi

adquirido pela Câmara da Moita, com a intenção de se proceder a um programa de recupera-

ção que vise o seu aproveitamento museológico com objectivos de divulgação cultural,

pedagógica e sua reutilização.

52António Nabais, Moinhos de Maré do Concelho do Seixal, Seixal, 1981, pp. 32-3453Moinho da Charroqueira, Moinho da Quinta da Freira e Moinho do Esteiro Furado.54Moinho do Alimo, Moinho do Rosário e o Moinho de Entre os Termos.

Page 98: Retrato em Movimento

98 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

> 2.7.3.2. Moinhos de Vento

Ernesto Veiga de Oliveira, na sua obra Tecnologia Tradicional Portuguesa, apresenta-nos um estu-do bastante pormenorizado sobre os moinhos de vento existentes em Portugal, quer em termos deestrutura construtiva quer em termos de localização geográfica: «Os moinhos de vento situam-sesempre em pontos altos, cumes ou flancos de elevação de pequena altitude, ou em terrenos planose abertos, de modo a ficarem sujeitos aos ventos, a cujo quadrante se adaptam, conforme destes, pormeio do seu sistema rotativo; e localizam-se geralmente no meio de um terreiro circular.

Na generalidade dos casos, os moinhos portugueses armam com velas de pano, triangu-lares, em número de quatro, presas a outros tantos pares de varas irradiando do mastro.

Os moinhos antigos têm, com efeito, na sua maioria, apenas rés-do-chão e um piso, e rarasvezes atingem 5 m de altura; e esta é ainda a situação predominante no sul e litoral alente-janos e Algarve. O desejo de aumentar o rendimento do moinho pelo emprego de velasmaiores e pela possibilidade de instalação de mais pedras, levou ao seu alteamento, os queagora se encontram com dois pisos e 6 a 7 m de altura ou são recentes, ou resultaram de umacrescendo feito nos antigos moinhos, que eram baixos.

(..) o edifício destes moinhos é ligeiramente cónico; existem porém por toda a parte –nomeadamente na região a Norte de Lisboa – moinhos cilíndricos; há-os também abaula-dos, mormente em exemplares mais antigos, cilíndricos até meia altura, estreitecendo paracima, ou mesmo em forma de barril.

As paredes, na maioria dos casos, são de pedra e cal, e tão grossas que interior fica porvezes muito acanhado; na verdade, raras são as que têm menos de 1,40 m de espessura; (...).

Estes moinhos têm geralmente uma porta só, em princípio virada ao lado oposto ao doquadrante do vento dominante – que é o vento da maré (poente) –, para o qual se volta ovelame. (...) Na zona estremenha a sul do Tejo, contudo, aparecem frequentemente moinhoscom duas portas, que se utilizam conforme a posição do velame.

A janela maior do sobrado situa-se, como regra quase geral, sobre a porta, enquanto que o posti-

go (ou um deles) fica normalmente no local em que ilumine melhor a moega e o tremonhado ou o

Page 99: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 99

espaço onde tem lugar a picagem das mós. As mais das vezes, estas pequenas aberturas ficam logo

por baixo do capeado que faz de frechal, mas em certos casos elas vêem-se um pouco mais abaixo.»55

No concelho da Moita também existiu um conjunto importante destes moinhos, com a

função de moerem os cereais, complementando, assim, o trabalho dos de maré. Por esta razão,

a sua construção só se efectuou por volta do século XIX.

Entre esse conjunto, são de referir os moinhos do Largo da Freira, do Alto do Moinho e do

Gaio, propriedade da Câmara.

> 2.7.3.3. Fábricas

Com uma tradição industrial anterior à Revolução Industrial, as actividades transformado-

ras têm na Moita e Alhos Vedros uma presença desde o século XVI através das fábricas de

cerâmica, dos fornos de cal e das oficinas de vidro.

Mas é com a industrialização do século XX que o fenómeno da Revolução Industrial mais

se faz sentir neste Concelho.

A implantação no Barreiro de inúmeras actividades industriais ligadas à indústria química

e corticeira e a construção do caminho de ferro e suas oficinas fizeram chegar os seus efeitos

a Alhos Vedros e à zona que se tornou, mais tarde, na vila da Baixa da Banheira.

Alhos Vedros, com a instalação, desde o início do século, de inúmeras unidades industriais ligadas

à cortiça e aos têxteis, e a Baixa da Banheira, com a instalação do operariado vindo de todas as partes

do país para as indústrias do Barreiro, formaram os principais núcleos industriais ligados ao Concelho.

Possui actualmente a Câmara Municipal a fábrica de aglomerados de cortiça «Socorquex»56,

em adiantado estado de ruína; ainda assim, espera pela oportunidade de, um dia, poder vir a

recuperá-la como memória industrial da Moita e complexo sócio-cultural.

55Ernesto Veiga de Oliveira e outros, Tecnologia Tradicional Portuguesa, Lisboa, 1983, p. 251 e pp. 279-28056Em 1948, a fábrica iniciou a produção de aglomerado negro de cortiça que se manteve até 1982, ano da sua falência. Em 1987, a Câmarada Moita adquiriu o imóvel.

Page 100: Retrato em Movimento

100 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

2.7.4. O PATRIMÓNIO ARQUEOLÓGICO> 2.7.4.1. Jazida Arqueológica no Gaio-Rosário

As escavações realizadas pelo Museu de Arqueologia e Etnografia de Setúbal, dirigidas porAntónio Gonzalez e Joaquina Soares, directora daquele museu, puseram a descoberto uma jazi-da arqueológica pré-histórica, na freguesia do Gaio/Rosário, em Julho de 1994, sendo aprimeira estação a ser identificada no concelho.

Os trabalhos revelaram, segundo a Drª. Joaquina Soares, uma camada arqueológica dos iní-cios do Neolítico, com cerca de seis mil anos, correspondente a uma ocupação humana decarácter habitacional.

Durante as escavações foram recolhidos diversos materiais: lareiras com evidente acção dofogo; uma grande densidade de fragmentos cerâmicos, decorados por incisão, impressões emotivos plásticos, destinados à confecção de alimentos e armazenamento; bem comonumerosos instrumentos de sílex, de pequenas dimensões, utilizados quer como flechas earpões, quer como objectos cortantes. Este espólio arqueológico documenta não só a ocu-pação do local, como também a estabilidade do grupo humano que aí permaneceu.

A localização deste povoado junto à margem do Tejo sugere um tipo de economia basea-do, essencialmente, na exploração dos recursos aquáticos.

Após o Neolítico Antigo, o local foi abandonado e voltou a ser utilizado com lixeirasdomésticas, nos finais do século XVI, inícios do século XVII.

2.7.5. O PATRIMÓNIO ETNOGRÁFICO> 2.7.5.1. Festas Tradicionais

O ciclo das festas religiosas no concelho da Moita tem o seu início com os festejos emhonra de S. José Operário (Baixa da Banheira – Julho). Estas festividades remontam aos anos60 e estão associadas à criação da Paróquia de S. José Operário naquela vila, então grande cen-tro operário, desde pelo menos os finais dos anos 40.

Page 101: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 101

As festas em honra de Nossa Senhora dos Anjos (Alhos Vedros – Julho) confundem as

suas origens com uma lenda: «Nos primórdios da nacionalidade, em Dia de Ramos, estando

os moradores do lugar de Alhos Vedros a celebrarem na Igreja, a referida cerimónia, com os

ramos de palma bentos, foram subitamente surpreendidos por um exército de mouros que

havia descido o castelo de Palmela com o intuito de saquear e cativar os cristãos. Não

detendo grandes armas o povo saiu com os ramos de palma e invocando a protecção da

Nossa Senhora dos Anjos, pelejaram com grande bravura, provocando um grande horror e

confusão entre a moirama que para salvarem as suas vidas bateram em retirada para

Palmela. Como pagamento da promessa e em acção de graças por essa vitória, o povo de

Alhos Vedros passou a celebrar todos os anos, no Dia de Ramos, Nossa Senhora dos Anjos.»57

Esta lenda parece relacionar-se com a grande ofensiva almóada58 do final do século XII. A

aproximação dos exércitos de Almansor (emir almorávida que lançou, em 1190, uma ofensiva a

partir de Marrocos, com o objectivo de recuperar as terras conquistadas por D. Afonso Henriques)

ao castelo de Palmela59 levou a que parte da população daquele castelo fugisse, provavelmente, para

as terras que hoje são Alhos Vedros, por estas oferecerem melhores condições naturais de defesa.

Interpretando esta lenda à luz dos actuais conhecimentos, sabemos que para o homem da

Idade Média esta fuga e entrega do castelo não teria sido uma acção digna de ser recordada,

pelo que houve necessidade de se criar uma narrativa lendária, revestida de uma simbiose de

humano e sobrenatural, de forma a colmatar a dureza da realidade e a ocultar o resultado dos

factos históricos.

57«Informações Paroquiais de Alhos Vedros», publicadas pelo Padre Carlos Póvoa Alves in Subsídios para a História de Alhos Vedros,1992, pp. 25-2658Os Almóadas eram berberes do Norte de África, desembarcaram em 1146 na Península Ibérica e foram-se aproveitando da debilidade dosreinos de taifas para se imporem no espaço peninsular. Enquanto nos primeiros anos a sua intervenção se limitou à defesa, no fim do séculoXII assiste-se aos grandes ataques almóadas.59Entre as antigas praças reconquistadas, destacou-se Palmela como sendo um importante ponto estratégico, no acesso ao estuário do Tejo.Um cronista árabe, Al-Idrisi, conta-nos a este respeito o seguinte: «Os defensores quiseram-se render mediante a entrega do castelo, setivessem a vida salva e pudessem retirar-se para o país dos cristãos. O soberano (Al-mansur) consentiu nisso e eles puseram-se a caminhodesse país, deixando os seus bens, que foram objecto de saque.» in História de Portugal sob a direcção de José Hermano Saraiva,Vol. I, Lisboa,Publicações Alfa, 1983, p. 283

Page 102: Retrato em Movimento

102 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Largada de tourosna vila da Moita, por ocasião

das Festas em honra de Nossa Senhora

da Boa Viagem.

Page 103: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 103

No século XVI a romaria de Nossa Senhora dos Anjos devia ser a mais importante da margem

sul do estuário do Tejo. Quando em 1521, foi criado o concelho do Barreiro, o rei D. Manuel determi-

nou que os vizinhos do novo município contribuíssem para a procissão em honra da Senhora.

As festas em honra de Nossa Senhora do Rosário (Rosário – Agosto), Nossa Senhora da Graça

(Sarilhos Pequenos – Setembro), Nossa Senhora da Boa Viagem (Moita – Setembro) têm como

origem a devoção dos marítimos. Esta última festa é hoje a que tem maior projecção dentro do

concelho, sendo uma das mais importantes do Sul do Estuário do Tejo. Remonta provavelmente

à primeira metade do século XVII, sendo nos nossos dias uma síntese entre as festividades reli-

giosas e profanas, marítimas e rurais. As celebrações religiosas e marítimas centram-se, sobretu-

do, no primeiro domingo das festas com a procissão, benção das embarcações e cortejo de bar-

cos tradicionais do Tejo onde se incluem, além das embarcações municipais «A Pombinha» e o

«O Boa Viagem», catraios e canoas de todo o concelho, de Alcochete, Montijo, Barreiro, etc.

O lado profano e rural tem na festa brava a principal manifestação, pois no decorrer das

festividades realizam-se largadas de toiros, sendo certo que as suas corridas se cotam como

das mais importantes do país.

Quanto à festa de Nossa Senhora da Atalainha (Barra Cheia – Outubro) parece remontar a

1850, derivando o seu nome da grande devoção a Nossa Senhora da Atalaia do Montijo. A festa

realiza-se sempre no final da época das colheitas, período do ano em que os trabalhadores estão

mais disponíveis para uns momentos de encontro com a história e a realidade local.

> 2.7.5.2. Festa Brava

Na dependência económica de Lisboa, a Moita experimentava também a influência cul-tural da capital, nutrindo igualmente uma grande simpatia pelos festejos com touros, até finaldo século XVIII praticamente circunscritos ao protagonismo de nobres e clero. Na sequênciada vitória liberal (1834), os festejos com touros conhecem uma implantação mais alargada e,mercê da concorrência popular, sobrevem a configuração do espectáculo tauromáquico moder-

Page 104: Retrato em Movimento

104 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

no. Na Moita, em 1837, os festeiros da Festa em Honra de Nossa Senhora da Boa Viagem reali-zam duas corridas de touros. Passadas três décadas o desenvolvimento da «aficion» local per-mitirá perspectivar a exploração económica do espectáculo com touros, edificando-se para oefeito a Praça de Touros Nª. Sª. da Boa Viagem, em 1872, também designada, por vezes, comoPraça da Caldeira. Em 1947 a velha praça de touros conclui a sua função na história da tauro-maquia moitense. De 1872 a 1947 foram cumpridos 75 anos ao serviço da festa brava, inter-rompidos pela vistoria que detectou carências ao nível das condições de segurança. Sem praça detouros que estimulasse festeiros não se realizaram as Festas em Honra de Nossa Senhora da BoaViagem em 1948 e 1949. Sendo uma circunstância insustentável para os moitenses, tem inícioum movimento para a construção da nova praça de touros, constituindo-se a Sociedade Moitensede Tauromaquia, proprietária da actual praça de touros, que tomou a denominação Daniel doNascimento.A inauguração da Daniel do Nascimento ocorreu em 16 de Julho de 1950 e contoucom a presença dos ministros da Educação e da Economia, subsecretários de Estado do Comércioe Indústria e da Agricultura, governador-civil, entre outras individualidades. Ao longo dos anos aMoita tem consolidado uma posição cimeira no panorama tauromáquico, detendo actualmenteaquela que é conhecida como a mais importante feira taurina de Portugal, que se realiza emSetembro, aquando as Festas em Honra de Nossa Senhora da Boa Viagem.

De salientar, ainda, na forma de festejo popular, as tradicionais largadas de touros, na AvenidaDr. Teófilo Braga, Moita; as largadas na Praia do Rosário; em Sarilhos Pequenos; em Alhos Vedrose na Barra Cheia.

> 2.7.5.3. Ranchos Folclóricos

A palavra folclore é de origem inglesa, folk (povo) e lore (ciência), o que significa ciência dopovo. O termo foi utilizado pela primeira vez, em 1846, na Inglaterra. Foi também no séculoXIX, sob a influência do Romantismo que em Portugal se começou a dar importância ao estu-do dos usos e costumes populares. Estes eram então a prática social do povo, fruto da situaçãohistórico-cultural desse tempo.

Page 105: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 105

A partir de 1930 (implantação do Estado Novo), com o aparecimento da Rádio e do Teatro

de Revista (com as suas músicas bem trabalhadas), foram-se alterando rapidamente as danças,

cantares, usos e costumes tradicionais das populações, em especial as que viviam perto de Lisboa.

O espaço geográfico que constitui hoje o concelho da Moita assistiu, a partir do século XIX,

a movimentos migratórios: os caramelos da Beira Litoral, que beneficiaram da distribuição das

terras foreiras, fixaram-se na zona da Barra Cheia, Brejos e Arroteias; mais tarde, alentejanos e

algarvios instalaram-se na zona da Baixa da Banheira e Alhos Vedros.

Estas gentes, portadoras dos valores culturais das terras de origem, influenciaram grande-

mente esta região com as suas superstições e crenças religiosas, com as suas músicas e instru-

mentos musicais, com o seu vestuário e adornos.Alberto Pimentel, na sua obra «A Extremadura

Portuguesa», dá-nos um interessante exemplo sobre este assunto: «O traje dos caramelos é

calça de boca de sino, jaqueta, barrete e cinta de côr.»60

Estes bens culturais contribuíram para o enriquecimento e valorização cultural do concelho.

Os herdeiros desses bens procederam à recolha das tradições dos seus antepassados, com vista

à sua divulgação, dando assim origem à criação das seguintes formações: Rancho Folclórico «Os

Fazendeiros da Barra Cheia e Arredores», Rancho Etnográfico de Danças e Cantares da Barra

Cheia, Rancho Folclórico do Clube Recreativo Sport Chinquilho Arroteense e Rancho Folclórico

«Corações Unidos» da Sociedade Recreativa da Baixa da Serra/Baixa da Banheira.

Estes grupos de folclore, expressão da cultura dita popular, têm procurado defender e

preservar os costumes e tradições das suas gentes, nas suas danças e cantares, na sua música,

no seu trajar e nas suas fainas diárias. Pesquisando estes valores, os ranchos mostram aos mais

novos a maneira de ser e de estar dos seus antepassados, permitindo, ao mesmo tempo, a

existência de um folclore autêntico.

Alguns destes grupos estão filiados na Federação do Folclore Português e todos promovem

e participam em festivais concelhios, nacionais e até internacionais.

60Alberto Pimentel, «A Extremadura Portuguesa» in Portugal Pittoresco e Ilustrado, Lisboa, Empreza da História de Portugal, 1908, p. 10

Page 106: Retrato em Movimento

106 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

> 2.7.5.4. Artesanato / Miniaturas de barcos

Da actividade fluvial ligada ao transporte de produtos (vinho, sal e lenha) para cidade de

Lisboa, resta hoje a memória dos marítimos, homens que começaram a trabalhar nas embar-

cações, aos oito, nove e dez anos, como moços para mais tarde passarem a camaradas e a arrais.

Essa memória vive nas miniaturas de barcos – varinos, botes e fragatas –, laboriosamente

construídas, em madeira ou cortiça, pelos artesãos de Sarilhos Pequenos, Gaio/Rosário, Moita e

Alhos Vedros.

O quotidiano desse trabalho rico de histórias é ainda relembrado nos próprios nomes dos

barcos em que foram marítimos: «Auxiliar», «Serra Velha», «Quinze», «Pimpão», «Maria

Rosa», «O Boa Viagem» e «A Pombinha».

A recriação do imaginário fluvial é também visível nas pinturas tradicionais, o que confere

às embarcações cor e graciosidade.

A Câmara Municipal da Moita tem vindo a adquirir alguns destes exemplares.

Page 107: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 107

2.7.6. A PAISAGEM E PATRIMÓNIO NATURAL

O Concelho da Moita apresenta um clima que pode considerar-se como temperado, húmi-

do e moderadamente chuvoso. Fazendo parte da bacia do Estuário do Tejo, constitui-se como

uma das componentes de ligação entre o Tejo e a Arrábida.

Assim, pode distinguir-se na área do concelho três zonas naturais: as zonas húmidas,

ribeirinhas (de cota até 10 metros), as zonas húmidas dos vales interiores (de cotas de 10

a 25) e as zonas de encosta e planaltos (de cotas não inferiores a 40).

Morfologicamente o concelho constitui-se como que em anfiteatro em torno da depressão

central representada pelo esteiro da Moita. Além desta unidade paisagística central, é possível

ainda distinguir duas unidades: uma onde se localiza Alhos Vedros e a Baixa da Banheira e outra

em Sarilhos Pequenos.

Estas unidades paisagísticas estão intimamente relacionadas com o sistema de drenagem

do território do Concelho da Moita, mas excedem largamente a sua área.Trata-se da bacia cen-

tral do Rio da Moita, cuja bacia hidrográfica se inicia na vertente norte da cadeia montanhosa

da Serra da Arrábida e de duas outras pequenas bacias: a do Vale da Amoreira e a do Vale do

Grou, na zona poente do concelho.

> 2.7.6.1. Vegetação

Reflexo das características físicas referidas, a vegetação pode agrupar-se em três grandes

conjuntos, de acordo com a situação ecológica em que ocorre:

Zonas húmidas ribeirinhas

Nas zonas húmidas ribeirinhas de sapais e salgados, onde as marés e os níveis de salinidade

são determinantes, verifica-se a predominância de espécies adaptadas ao sal, chamadas haló-

fitas. No "alto sapal", mais longe da linha de água ou nos taludes das marinhas, domina a sal-

gadeira (Atriplex halimus); mais abaixo surgem as gramatas Salicornea radicans Sarcocornia sp.,

Page 108: Retrato em Movimento

108 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Garça-branca-pequena.

Page 109: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 109

Suaeda vera e Halimione portucaloides e finalmente pode surgir, nas margens mais naturali-

zadas, a Spartina maritima, designada popularmente por morraça, que fica submersa na preia-

mar. Nas zonas sob influência de água salobra e água doce, podem desenvolver-se caniçais

(Phragmites sp.), cujas raízes contribuem para a remoção de poluentes de águas e solos. As

canas (Arundo donax) crescem onde há abundância de água doce, desenvolvendo-se abun-

dantemente perto de linhas de água e zonas marginais a estradas e terrenos.

Tanto os sapais como os lodos postos a descoberto durante as marés baixas constituem impor-

tantes ecossistemas, quer para o fornecimento de alimentos para as aves, quer como esconderijo e

local de reprodução para as diferentes espécies marinhas.Aliás, a importância dos sapais como habi-

tat natural de uma avifauna específica que procura estas zonas nos seus percursos migratórios é

atestada pela diversidade e abundância de espécies, particularmente no período de Inverno.

Zonas húmidas interiores

Nas zonas húmidas interiores, correspondentes às baixas dos vales, surgem como espécies

arbóreas dominantes os freixos (Fraxinus angustifolia), os salgueiros (Salix sp.), os amieiros

(Alnus glutinosa), os choupos (Populus sp.) e como espécies arbustivas e herbáceas mais fre-

quentes o sabugueiro (Sambucus nigra), os juncos (Juncus sp.), o loendro (Nerium oleander), o

Litrum salicaria e as silvas (Rubus sp.).Nas zonas planálticas e de encosta, as formações dominantes são de pinheiro-bravo (Pinus

pinaster) e de sobreiro (Quercus suber), surgindo pontualmente grupos de pinheiro-manso

(Pinus pinea), outrora muito abundante em toda a Península de Setúbal. No coberto arbustivo

dominam espécies como as estevas (Cistus sp.), as urzes (Calluna sp.), os tojos (Ulex sp.), o ros-

maninho (Lavandula sp.), o pilriteiro (Crataegus monogyna), o sanguinho (Rhamnus sp.), a

aroeira (Pistacia lenticus), e as santolinas (Santolina sp., da família das margaridas).

Apesar de não fazerem parte da flora local, destacam-se algumas árvores exóticas isoladas

assinalando antigas quintas, sobretudo a palmeira-das-canárias (Phoenix canariensis). Junto ao

palacete da Fonte da Prata encontra-se uma tamareira (Phoenix dactylifera) de grande porte,

árvore que se encontra classificada e é bem visível da estrada nacional.

Page 110: Retrato em Movimento

110 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Perna-longa.

Page 111: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 111

> 2.7.6.2. Fauna

No território do concelho pode observar-se aves selvagens em diversos locais, mas

sobretudo em determinadas áreas que proporcionam o habitat apropriado. É o caso das

zonas ribeirinhas, os parques e jardins e as zonas ainda florestadas, de que se destaca a área

de montado de sobro na Zona de Protecção Especial (ZPE) em Sarilhos Pequenos. Esta

área foi delimitada ao abrigo do Decreto-Lei nº.46/97 de 24 de Fevereiro, para ampliação

da ZPE do Tejo, a qual, por sua vez, surgiu no âmbito da Directiva Aves (79/409/CEE).

Através destas zonas protegidas pretende-se preservar o habitat de aves, podendo man-

ter-se usos tradicionais do solo.

A área ribeirinha pertencente à Reserva Ecológica Nacional é constituída na sua

maior parte por antigas marinhas, sapais, caniçais, lodos e areias. Actualmente as mari-

nhas não se encontram em funcionamento, exceptuando um ou outro caso em que fun-

cionam parcialmente, sem fins de exploração comercial. Estas áreas constituem um exce-

lente habitat para a avifauna aquática do estuário que aí encontra refúgio, alimentação

e local para reprodução e nidificação. Durante todo o ano, mas sobretudo durante o

Outono e o Inverno, pode observar-se uma grande quantidade de aves na zona ribeiri-

nha, muitas das quais são protegidas por directivas europeias. Indicam-se seguidamente

algumas espécies que habitam na área do concelho e o tipo de locais onde é mais fre-

quente aparecerem.

Perna-longa (Himantopus himantopus) – Sobretudo em antigas salinas.

Alfaiate (Recurvirostra avosetta) – Nas zonas de lodo entre-marés.

Flamingo-comum (Phoenicopterus ruber) – Nas antigas salinas e lodos entre-marés.

Garça-branca-pequena (Egretta garzetta) – Nos lodos, antigas salinas e sapais.

Garça-real (Ardea cinerea) – Nos sapais e zona entre-marés.

Pilrito-comum (Calidris alpina) e outros – Nos lodos e areias entre-marés.

Maçarico-de-bico-direito (Limosa limosa) – Nas antigas salinas e zona entre-marés.

Page 112: Retrato em Movimento

112 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Pato-real (fêmea).

Page 113: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 113

Borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus) – Idem.

Corvo-marinho (Phalacrocorax carbo) – Nas ilhotas do estuário ou pontas de areia.

Guincho-comum (Larus ridibundus) – Nos lodos, areias e antigas salinas.

Gaivota-de-asa-escura (Larus fuscus) – Nos lodos, areias e antigas salinas.

Gaivota-argêntea (Larus argentatus) – Nos lodos, areias e antigas salinas.

Pato-real (Anas platyrhynchos) – Em antigas salinas.

Galinha-de-água (Gallinula chloropus) – Em caniçais, lagoas ou charcos de água doce.

Galeirão-comum (Fulica atra) – Idem.

Relativamente a outros recursos faunísticos da zona ribeirinha, são em geral comuns ao

restante estuário do Tejo. Nos lodos podemos encontrar invertebrados como a lambujinha

(Scrobicularia plana), a minhoca-de-pesca (Hediste diversicolor), caranguejos (Carcinus sp.),entre muitos outros organismos, nomeadamente de reduzidas dimensões que, em conjunto,

com a microflora, são de elevado valor para as cadeias tróficas do estuário.

Quanto aos peixes, a sua entrada na baía do Montijo e esteiros da Moita e Alhos Vedros

dependerá sobretudo do estado da maré, sendo mais comuns os seguintes, que também apare-

cem noutros pontos do estuário: taínhas (Liza sp.), robalo (Dicentrarchus labrax), dourada (Sparusaurata), solha (Platichthys flesus), linguado (Solea sp.), enguia (Anguilla anguilla), biqueirão

(Engraulis encrasicholus), congro (Conger conger) e savelha (Alosa fallax), entre outros.

Nos caniços e canaviais dos terrenos junto da zona ribeirinha surgem também outras espé-

cies de aves, nomeadamente passeriformes como os pintassilgos (Carduelis carduelis), os rouxi-

nóis dos caniços e felosas (Acrocepahus sp. e Locustella sp.), pintarrôxo-comum (Cardueliscannabina) e o guarda-rios-comum (Alcedo atthis).

Nas zonas interiores, sobretudo nas zonas rurais com campos cultivados, sebes, ou em zonas

de pinhal ou montado de sobro, podemos encontrar espécies como a andorinha-das-chaminés

(Hirundo rustica), o lugre (Carduelis spinus), o tordo-comum (Turdus philomelos), a calhandrinha-

-comum (Calandrella brachydactyla), o picanço (Lanius sp.), a petinha (Anthus sp.), a alvéola

Page 114: Retrato em Movimento

114 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Pilrito-comum.

Page 115: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 115

(Motacilla sp.), o verdilhão-comum (Carduelis chloris), o estorninho-malhado (Sturnus vulgaris), o

tentilhão-comum (Fringilla coelebs), o chamariz (Serinus serinus), a trepadeira-comum (Certhiabrachydactyla), o trigueirão (Miliaria calandra), etc. A poupa (Upupa epops) é uma das aves mais

bonitas que se pode encontrar em zonas arborizadas com clareiras e orlas de campos cultivados.

Entre as aves de maior porte da zona rural, destaca-se a cegonha-branca (Ciconia ciconia)

que pode ser vista frequentemente sobretudo nos Brejos e Barra Cheia e algumas aves de rapi-

na, que surgem ocasionalmente: o peneireiro-vulgar (Falco tinnunculus), o tartaranhão-rui-

vo-dos-paúis (Circus aeruginosus) e a coruja-das-torres (Tyto alba). A gralha-preta (Corvuscorone) pode aparecer em zonas florestais e campos cultivados adjacentes.

Nos parques e jardins são comuns o melro-preto (Turdus merula), o pardal-comum (Passerdomesticus), o chapim (Parus sp.), etc. Nas zonas edificadas urbanas é também frequente-

mente a andorinha-dos-beirais (Delichon urbica) e o pombo doméstico (Columba livia).

No que respeita a outro tipo de fauna selvagem, nomeadamente pequenos mamíferos,

podemos encontrar espécies como o ouriço-cacheiro (Erinaceus europaeus), a toupeira (Talpaeuropaea), a lebre (Lepus europaeus), o coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus), o rato-de-água

(Arvicola sapidus), o rato-do-campo (Apodemus sylvaticus), a ratazana (Rattus norvegicus), o rato-

-caseiro (Mus musculus), o rato-das-hortas (Mus sxetus), a doninha (Mustela nivalis) e o morcego.

A existência da fauna selvagem depende da conservação do habitat, nomeadamente da

existência de suporte vegestal – matas ou outra vegetação. O progressivo desaparecimento do

coberto vegetal que se tem verificado ao longo dos anos, origina perda e fragmentação do

habitat, que a nível local ou regional pode comprometer a biodiversidade natural.

Page 116: Retrato em Movimento

116 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

2.8. REGISTO CRONOLÓGICO DE ACONTECIMENTOS NO CONCELHO

1147 • Na sequência da tomada da cidade de Lisboa, D. Afonso Henriques

conquistou Almada e Palmela.

1185 • D. Afonso Henriques deu Carta de Foral a Palmela.

1186 • D. Sancho I doou os castelos de Alcácer, Palmela,Almada e Arruda, com

os seus termos, ao Mestre da Ordem Militar de Santiago, Sancho

Fernandes. O termo de Palmela abrangia um extenso território: à região

compreendida entre o rio Coina e a Ribeira das Enguias, designaram os

freires de Santiago por Ribatejo, à região entre a Ribeira das Enguias e o

Rio Lavre, foi denominado Chacoteca. Nesses tempos, o termo de

Palmela apenas incluía dois núcleos populacionais com alguma

importância, Coina e Alcochete.

1191 • Os almóadas reconquistam Palmela e Almada.

1195 • D. Sancho I recupera os castelos de Palmela e Almada.

1227/32 • Moeda de D. Sancho II, encontrada nas escavações, efectuadas no adro

da Igreja Matriz de Alhos Vedros, no ano de 1992.

1249 • Estabelecimento da Paróquia de Santa Maria de Sabonha.

Page 117: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 117

Século XIII • A partir de meados deste século, aponta-se a existência de um núcleo

humano em Alhos Vedros.

Fins do Século XIII • Criação do concelho de Ribatejo, o qual tinha sede nas freguesias de Alhos

Vedros e Sabonha e onde eram igualmente pagas as rendas. O concelho

de Ribatejo era uma Comenda da Mesa Mestral da Ordem de Santiago.

1298 • O documento mais antigo que faz referência a Alhos Vedros, data de

30 de Janeiro de 1298 e reporta-se à troca de uma vinha em Alhos

Vedros por outra no Lavradio, entre Pero Infante e João Domingues.

• Pelo mesmo documento, confirma-se a existência da Paróquia de

S. Lourenço, cujo clérigo se chamava Fernão Domingues.

• O segundo documento é de 14 de Fevereiro de 1298 e refere-se ao

aforamento de uma vinha em Alhos Vedros.

1299 • O Mestre da Ordem de Santiago confirma a apresentação do prior da

Igreja de S. Lourenço de Alhos Vedros.

1306 • Primeira referência ao lugar de Aldeia Galega.

1316 • A Igreja de Alhos Vedros tinha um raçoeiro chamado Lourenço Domingues.

1319 • Existência documentada da freguesia de S. Lourenço de Alhos Vedros.

1320 • Com a Bula de 1 de Março de 1320, o Papa João XXI esclarece a questão

do direito de padroado da Igreja de Alhos Vedros como pertencente à

Ordem de Santiago.

• Primeira referência ao Lugar da Telha.

Page 118: Retrato em Movimento

118 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

1321 • A Igreja de Alhos Vedros tinha um reitor, coadjuvado por um vigário e

raçoeiros.

• Tanto S. Lourenço de Alhos Vedros como Santa Maria de Sabonha

tinham o mesmo reitor (pároco principal).

1323 • D. Dinis elevou Palmela a vila.

1329 • Há notícia de um tabelião em Alcochete, nomeado pelo rei para o

Concelho de Ribatejo.

1338 • Há um tabelião em Alhos Vedros, nomeado para o Ribatejo.

1355 • Por um documento, datado de 29 de Março de 1355, temos a

informação de que Alhos Vedros era uma terra senhorial, com jurisdição

independente do Concelho de Ribatejo. O documento reporta-se à

posse do Senhorio de Alhos Vedros que Lopo Vasques vendeu a

Gonçalo Martins.

1363 • O Concelho do Ribatejo tinha dois juízes, um em Alhos Vedros e outro

em Alcochete.

1368 • Por determinação régia, datada de 25 de Março de 1368, D. Fernando

manda guardar a antiga postura, dada ou confirmada por D.Afonso IV,

a qual proibia a entrada de vinhos de fora para o Concelho de Ribatejo.

1376 • Primeira referência ao Lugar do Barreiro.

Page 119: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 119

1379 • Primeira referência à Quinta da Verderena.

1396 • Alhos Vedros já caminhava para a sua autonomia, pois há a informação

de uma audiência frente ao Paço do Concelho do Lugar de Alhos

Vedros.

• Primeira referência ao Lugar de Palhais.

1399 • Por carta régia, de 1 de Setembro de 1399, D. João I concedeu

privilégios aos homens bons dos lugares do concelho de Ribatejo.

1403 • Primeira referência ao Lugar da Banheira.

1415 • D. João I refugiou-se em Alhos Vedros, no palácio do Conde de Barcelos,

para fugir à peste que então grassava na cidade de Lisboa. Aqui, segundo

o testemunho do cronista Gomes Eanes de Azurara, na Crónica da

Tomada de Ceuta, realizou-se a entrevista com seus filhos sobre a

expedição a Ceuta.

1422 • Alhos Vedros dava 16 besteiros.

• Substituição da era de César pela era de Cristo em Portugal.

1423 • Por disposição régia, de 25 de Abril de 1423, D. João I ordenou o pagamento

da dízima nova do pescado aos juizes de todo o Concelho de Ribatejo.

1439 • Há notícia de uma carta do regente D. Pedro, endereçada aos juizes,

vereadores e homens bons do Lugar de Alhos Vedros, facto que nos leva

a pensar que o Concelho de Alhos Vedros se teria formado por volta

desta data.

Page 120: Retrato em Movimento

120 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

1450/52 • A inscrição epigráfica existente na Capela de S. Sebastião, sita na Moita,

leva-nos a inferir que a referida capela teria sido construída por volta

desta data. Segundo as Visitações da Ordem de Santiago de 1523,

foram os moradores de Alhos Vedros e os da Moita que a construíram.

1453 • A informação mais antiga sobre a Capela de S. Sebastião refere-se à

primeira sepultura aí feita, pertencente a Catarina Martins Moreira,

filha de Martins Vasques Moreira, escudeiro criado de El-Rei D. Duarte.

1457 • Por um documento de 12 de Maio de 1457, há notícia do aforamento

de uma praia no Lugar da Moita.

1464/65 • É extinto o Concelho de Ribatejo.

1477 • Alhos Vedros aparece mencionada na documentação já com a categoria

de vila, possuindo um tabelião e um escrivão.

1479 • É nomeado o juiz dos órfãos de Alhos Vedros.

1485 • É nomeado o alcaide-mor.

1497 • Há a informação de que o concelho da vila de Alhos Vedros lançou

impostos aos seus moradores.

1500 • Criação da primeira Santa Casa da Misericórdia, inicialmente instalada

na ermida de Nossa Senhora da Vitória.

Page 121: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 121

1501 • A 29 de Dezembro de 1501, Luís da Costa, fidalgo da Casa Real,

apresentou a D. Jorge, Grão Mestre da Ordem de Santiago, uma carta

de sesmaria sobre um esteiro de sapais, junto da Quinta de Martim

Afonso, para se fazer um moinho de maré.

1513 • Por uma provisão, datada de 12 de Abril de 1513, D. Jorge, Grão Mestre

da Ordem de Santiago, determinou que todos os moradores fossem à

procissão no Dia de Ramos, em Alhos Vedros.

1514 • D. Manuel I concedeu foral à vila de Alhos Vedros, a 15 de Dezembro de

1514. O Lugar da Moita beneficiou do foral manuelino de Alhos Vedros,

a cujo concelho pertencia.

• No alvará, de 12 de Abril de 1514, dado em Setúbal, pelo Infante

D. Jorge, Grão Mestre das Ordens de Santiago e de Aviz, chama-se

aldeia à Moita.

1521 • D. Manuel I, no seu itinerário pelos termos de Alhos Vedros e Barreiro,

ofereceu dois mil reis para o ladrilhamento da Capela de Nossa

Senhora da Vitória, em Alhos Vedros.

• Criação do Concelho do Barreiro.

1523 • Pelas Visitações da Ordem de Santiago, sabe-se que a vila de Alhos

Vedros e seu termo tinham 240 vizinhos.

Page 122: Retrato em Movimento

122 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

1527 • Pelo censo deste ano, a vila de Alhos Vedros e seu termo possuíam 318

moradores, assim repartidos: Alhos Vedros 138; Moita 14; Quinta de

Martim Afonso 10; Lavradio 34; Verderena 23; Telha 33; Palhais 48 e nas

Quintas Apartadas 18.

1530 • Extinção da freguesia de Sabonha.

1532 • Cosmo Bernardes de Macedo, proprietário da Quinta de Martim Afonso

e fidalgo da Casa Real, mandou construir a Capela do Rosário, dedicada

a S. João Evangelista.

• Segundo o cadastro joanino, a vila de Alhos Vedros e o concelho tinham,

neste ano, 1 260 almas.

1552 • O Mestrado da Ordem de Santiago é incorporado na Coroa.

1571 • Na descrição da sua visita, o Cardeal Alexandrino, emissário do Papa,

refere-se a Alhos Vedros como tendo 300 fogos, enquanto Coina possuía

30 e Barreiro 300.

1580/1640 • Com a união das coroas ibéricas, o centro político passa de Lisboa para

Madrid. Neste período de sessenta anos, as viagens entre estas duas

cidades intensificaram-se e o caminho mais fácil era pelo Alentejo. A

Moita e Aldeia Galega surgem como as povoações ribeirinhas da margem

sul do estuário do Tejo com os melhores portos fluviais e consequentemente

as que maior crescimento conhecem, pelas actividades de cabotagem.

1587 • Construção da Igreja da Misericórdia.

Page 123: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 123

1590/91 • Construção da Santa Casa da Misericórdia na praça da vila de Alhos Vedros.

1614 • Com a data de 15 de Agosto, o juiz dos Tombos das Comendas da Mesa

Mestral da Ordem de Santiago dá-nos a informação de que a vila de

Alhos Vedros e seu termo tinham 544 vizinhos.

1630 • É construída a Capela da Quinta do Esteiro Furado.

1631 • Por provisão de 22 de Maio de 1631, o rei D. Filipe III de Portugal autorizou

a construção da ermida sob a invocação de Nossa Senhora da Boa Viagem.

1633 • Temos notícia da existência do moinho de maré de Alhos Vedros, facto

que nos leva a apontar a sua construção no início do século XVII.

1640 • As coroas portuguesa e espanhola separam-se, com a independência

de Portugal.

1670 • Criação do Concelho de Lavradio.

1691 • A Moita recebeu a categoria de vila, por carta régia, passada por

D. Pedro II a 7 de Novembro de 1691 e foi doada ao Conde de Alvor,

Francisco de Távora.A Moita desintegra-se do Concelho de Alhos Vedros.

No decorrer deste processo, cria-se a Freguesia de Nossa Senhora da

Boa Viagem, padroeira da vila.

1692 • A 2 de Fevereiro de 1692, Francisco de Távora tomou posse do Senhorio

da Moita.

Page 124: Retrato em Movimento

124 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

1693 • A 25 de Abril de 1693, foi demarcado o termo da vila da Moita, por

petição dos seus moradores.

1698 • Até 1698 a Capela de S. Sebastião foi sede de um Curiato.

1706 • A vila de Alhos Vedros tinha 200 vizinhos e a vila da Moita e seu termo 227.

1712 • A vila da Moita tinha 170 fogos e a Freguesia de Alhos Vedros 200 fogos.

1719 • A Igreja Matriz da Moita sofreu obras de ampliação, com o auxílio

monetário dos homens do mar.

1722 • Construção do cais de pedra na vila da Moita, em substituição do anterior

cais de madeira, com a contribuição dos homens do mar.

• A vila da Moita tinha 185 vizinhos e o lugar de Sarilhos Pequenos 45.

1730 • A Capela de S. Sebastião, inserida na Igreja Matriz de S. Lourenço de

Alhos Vedros, foi revestida de azulejos.

1736 • Primeira referência conhecida à Festa de Nossa Senhora da Boa Viagem.

Parece-nos, no entanto, que a festa já decorria há anos atrás, mas a escassez

de documentação não nos permite datá-la com rigor, o que nos leva a

remontá-la hipoteticamente aos inícios do século XVII, aquando da consa-

gração do templo.

• Primeira referência ao Lugar de Nossa Senhora do Rosário.

1739 • A vila da Moita tinha 170 fogos e Alhos Vedros tinha 200.

Page 125: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 125

1749 • A nave da Igreja de S. Lourenço de Alhos Vedros é revestida de azulejos.

1755 • Memória Paroquial de que a Moita sofreu grande ruína, com o terramoto

de 1755, ficando muito danificadas a Igreja Matriz, as Capelas, bem

como 74 casas. Oliveira Freire atribui-lhe 170 fogos.

• Moita e Alhos Vedros faziam parte da Comarca de Setúbal.

1757 • Referência que, neste ano, a Moita tinha 225 fogos.

1758 • Pelas Informações Paroquiais sabemos que a vila da Moita possuía 225,

vizinhos, mas com pessoas grandes e pequenas, 727. O Lugar de Sarilhos

Pequenos possuía 55 vizinhos, com pessoas grandes e pequenas 148.

Temos também a informação de que havia 76 pessoas de fora que

trabalhavam nas fazendas e fábricas do concelho da Moita.Alhos Vedros

possuía 124 moradores.

• Notícia de 3 fornos de cal e telha pertencentes ao Conde da Ribeira e

mais 3 fornos de cal de Leonardo Pinto.

1762 • Moita e Alhos Vedros eram vilas na correição de Santarém, província da

Estremadura.

1798 • Pelo censo de Pina Manique, a Moita possuía 330 fogos e a freguesia

de S. Lourenço 119.

1801 • A Moita possuía 365 fogos e 1 261 almas, a vila de Alhos Vedros tinha

111 fogos e 206 almas.

Page 126: Retrato em Movimento

126 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

1811 • Alhos Vedros e Moita pertenciam à Comarca de Setúbal, diocese de

Lisboa, província da Estremadura e a sua donatária era a Coroa.

1816 • Por carta régia, de 7 de Setembro de 1816, D. João VI autorizou a

transferência de uma feira que até então se realizava em Sarilhos Pequenos

para a vila da Moita, na forma e dias indicados pela Confraria de Nossa

Senhora da Boa Viagem. Ficou igualmente definido que o produto dos

terrados revertesse em benefício do culto de Nossa Senhora da Boa

Viagem.

1821 • Alhos Vedros tinha 537 habitantes e 153 fogos e a Moita 1 258 habitantes

e 443 fogos.

1822 • A vila da Moita tinha 1 231 habitantes.

1823 • O Concelho de Alhos Vedros tinha 537 habitantes e 4 recrutas e o

Concelho da Moita 1 258 moradores e 8 recrutas.

1824 • D. João VI agraciou com o título de 1º. Conde da Moita, D. José Aragon

Azler Pignatelli de Aragon, por decreto de 13 de Maio de 1824.

• A 14 de Abril de 1824, nasceu na vila da Moita João dos Santos Silva,

parlamentar e distinto orador.

1832 • Os concelhos de Alhos Vedros e Moita pertenciam à comarca de

Setúbal e província do Alentejo.

1834 • Extinção das Ordens Religiosas.

Page 127: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 127

1835 • As vilas de Moita e Alhos Vedros passaram a pertencer à Comarca de

Aldeia Galega do Ribatejo, província do Alentejo, distrito de Lisboa.

1836 • Pelo decreto, de 26 de Janeiro de 1836,António Hypólito da Costa foi

agraciado com o título de Barão de Alhos Vedros.

• O concelho de Alhos Vedros tinha 825 fogos.

1839 • A vila da Moita possuía 1 842 habitantes.

1842 • A vila de Alhos Vedros tinha 172 fogos e o concelho 481 fogos. O Concelho

da Moita tinha 403 fogos.

• Os concelhos de Alhos Vedros e Moita eram da província da Estremadura

e distrito de Lisboa.

1855 • Pelo decreto, de 24 de Outubro de 1855, foi extinto o Concelho da Moita

e anexado ao do Barreiro, tal como o Concelho de Alhos Vedros.

1861 • Por decreto, de 18 de Setembro de 1861, o concelho da Moita foi

restaurado. Pelo mesmo decreto, Alhos Vedros foi anexado, como freguesia,

ao Concelho da Moita.

• A Freguesia de Alhos Vedros tinha 459 fogos.

• Foi concluída a linha do caminho de ferro Barreiro/Setúbal/Vendas Novas.

1862 • Por decreto, de 24 de Abril de 1862, o rei D. Luís concedeu o título de

2º. Conde da Moita a D. Marcelino Aragon Azler Pignatelli de Aragon.

1864 • Pelo censo deste ano, o concelho da Moita tinha 4 400 habitantes,

assim repartidos: Freguesia de Nossa Senhora da Boa Viagem 3 096

moradores e 779 fogos; Freguesia de Alhos Vedros 1 304 habitantes.

Page 128: Retrato em Movimento

128 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

1869 • São fundadas a Sociedade Filarmónica Recreio União Alhosvedrense a

2 de Agosto e a Sociedade Filarmónica Estrela Moitense a 2 de Outubro.

1872 • Foi inaugurada a primeira Praça de Touros na Moita.

1875 • O concelho da Moita, constituído pelas freguesias de Alhos Vedros e

Moita, tinha 1 100 fogos.

1878 • Pelo censo deste ano, o Concelho da Moita tinha 4 808 habitantes e a

Freguesia de Alhos Vedros 1 566.

1890 • Segundo o Inquérito Industrial de 1890, o Concelho da Moita possuía

uma fábrica corticeira da firma Thomaz Grewell e, na Quinta do Esteiro

Furado uma pequena fábrica de cortiça com 8 operários.

• O censo desse ano registava no concelho 5 612 habitantes e 1 321 fogos,

assim repartidos:

Freguesia de Alhos Vedros 1 678 habitantes e 359 fogos;

Freguesia da Moita 3 934 habitantes e 962 fogos.

1895 • Por decreto, de 26 de Setembro de 1895, foi de novo extinto o Concelho

da Moita, sendo a Freguesia da Moita integrada no termo de Aldeia

Galega e a Freguesia de Alhos Vedros no Concelho do Barreiro.

1898 • A 13 de Janeiro foi novamente criado o Concelho da Moita, com duas

freguesias: Moita e Alhos Vedros.

Page 129: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 129

Séc. XIX/XX • Pela beneficiação do caminho de ferro que aproximava a margem

sul dos montados alentejanos e da serra algarvia, verificou-se uma

concentração de unidades industriais corticeiras junto aos esteiros de

Alhos Vedros.

1900 • Pelo censo deste ano o Concelho da Moita tinha 6 381 habitantes e

1 455 fogos, assim repartidos: Freguesia de Alhos Vedros 1 794 habitantes;

Freguesia da Moita 4 587 habitantes e 1 074 fogos.

1908 • Notícia da existência de uma serração de cortiça, na Quinta do Esteiro

Furado, propriedade do Lord Bucknall e Carlos Creswell.

• O rei D. Carlos é assassinado.

1909 • O Concelho da Moita tinha 6 376 habitantes e 1 416 fogos, assim

repartidos: Freguesia de Alhos Vedros 1 744 habitantes (936 do sexo

masculino e 801 do sexo feminino);

Freguesia da Moita 4 632 habitantes (2 346 do sexo masculino e 2 286

do sexo feminino).

1910 • Implantação da República, grande agitação na vila da Moita que se

antecipa à proclamação oficial, proclamando o novo regime no dia 4 de

Outubro.

• Greve dos arrais na Moita e dos corticeiros em Alhos Vedros.

1911 • Greve dos trabalhadores rurais em Alhos Vedros e na Moita.

• Pelo censo deste ano, o Concelho da Moita tinha 6 204 habitantes

e 1 373 fogos.

Page 130: Retrato em Movimento

130 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

1912 • Greve de solidariedade com a luta dos trabalhadores rurais de Évora, na

Moita e em Alhos Vedros.

• Na Moita foi morto o administrador do concelho, pela multidão

revoltada.

1920 • Pelo censo deste ano, o Concelho da Moita tinha 7 030 habitantes e

1 590 fogos, assim repartidos: Freguesia de Alhos Vedros 2 336 habitantes;

Freguesia da Moita 4 694 habitantes e 1 102 fogos.

1926 • Foi criado o Distrito de Setúbal, no qual se integrou o Concelho da Moita.

Até 22 de Dezembro de 1926, pertenceu ao Distrito de Lisboa.

• O Concelho da Moita tinha 8 000 habitantes e 9 lugares de

professores do ensino primário.

• Instalação da energia eléctrica.

1927 • Por decreto Nº.13 747, de 1 de Junho de 1927, foram fixados os actuais

limites do concelho.

1928 • Fundada a Sociedade Filarmónica Capricho Moitense.

1929 • Aprovado o brasão do Concelho da Moita.

1930 • Pelo censo deste ano, o Concelho da Moita tinha 9 548 habitantes e 1 970

fogos, assim repartidos: Freguesia de Alhos Vedros 2 570 habitantes e

550 fogos; Freguesia da Moita tinha 6 978 habitantes e 1 420 fogos.

• Por decreto Nº.18 469, de 17 de Junho de 1930, a Comarca de Aldeia

Galega passou a designar-se Montijo.

Page 131: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 131

1935 • Grande número de operários da CUF, indústria corticeira e ferroviários

começaram a povoar a zona que será, mais tarde, a Baixa da Banheira.

1938 • Foi fundado o Ginásio Atlético Clube da Baixa da Banheira.

1940 • Foi oficializado o topónimo de Baixa da Banheira (terras baixas da Banheira

do Tejo), um aglomerado em rápido crescimento já com 1 638 habitantes.

1943 • A 23 de Julho a PVDE (polícia política) prendeu, na Baixa da Banheira,

123 pessoas, em represália pela greve na CUF.

1946 • Grande luta dos corticeiros de Alhos Vedros.

1947 • Grande luta dos salineiros da Moita.

1948 • Grande luta dos arrais de Sarilhos Pequenos e dos salineiros da Moita

e de Alhos Vedros.

1949 • Grande luta dos corticeiros e salineiros de Alhos Vedros.

1950 • Inauguração, em 16 de Junho, da segunda Praça de Touros da Moita.

1951 • Luta dos corticeiros da Moita.

1951/52/53 • Luta dos corticeiros de Alhos Vedros.

Page 132: Retrato em Movimento

132 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

1952 • O Concelho da Moita dispunha de 32 lugares para professores do

ensino primário.

1953 • Comemorações do 1º. de Maio, em Alhos Vedros.

1955 • Inauguração de duas escolas primárias, uma em Alhos Vedros e outra

na Moita.

• Remodelação do edifício dos Paços do Concelho.

1956 • O Concelho da Moita tinha mais de 20 000 habitantes.

1958 • Inauguração das escolas da Barra Cheia, Brejos e Arroteias.

1959 • Realizou-se, na Baixa da Banheira, em 11 de Julho, a primeira Festa em

Honra de S. José Operário.

1960 • Inaugurou-se, em 12 de Junho, na Baixa da Banheira, a Igreja de Nossa

Senhora de Fátima.

• O recenseamento populacional atribuiu à Baixa da Banheira 12 525

habitantes, sendo, assim, o 34º. aglomerado populacional do país.

• Inauguração do hospital da Santa Casa da Misericórdia de Alhos

Vedros.

• Foram restaurados os quadros da série régia, pelo pintor Afonso

dos Santos.

1961 • Luta dos operários corticeiros da Socorquex, Moita. Grande agitação

popular, na Baixa da Banheira, nas comemorações do 1º. de Maio.

• Pavimentação das ruas da estação na Moita e Alhos Vedros.

Page 133: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 133

1962 • Inauguração da estrada da Moita ao Rosário.

1963 • Inauguração das escolas de Alhos Vedros, Carvalhinho, Penteado, Chão

Duro, Gaio e Sarilhos Pequenos.

1964 • Novo arranjo no Jardim Conde de Ferreira.

• Início da construção da Estrada dos Espanhóis, pavimentação da Rua

do Cemitério, na Moita e da Rua Sousa Costa e Largo, no Rosário.

• Instalação da Shell no Rosário.

1965 • Luta dos operários da Gazcidla, no Rosário e da Cerâmica Lusitânia, na

Moita.A população da Baixa da Banheira, descontente com a Câmara

da Moita, cria uma Comissão para passar para o Barreiro e manifesta-se

exuberantemente na comunicação social e nas ruas.

• Inauguração da estrada da Barra Cheia.

• Inauguração de um edifício escolar de oito salas na Baixa da Banheira.

1966 • Construção de um lavadouro no Rosário.

• Construção da estrada que liga o Rosário a Sarilhos Pequenos.

• Construção de um mercado em Sarilhos Pequenos.

1967 • A 26 de Janeiro, o Diário do Governo publicou a criação da Freguesia

da Baixa da Banheira.

Page 134: Retrato em Movimento

134 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

1969 • A 27 de Outubro, a Moita passou de concelho rural a concelho urbano

de 1ª. ordem, pelo Decreto/Lei Nº.49 322.

• Grande manifestação popular vinda da Baixa da Banheira a pé até aos Paços

do Concelho, protestando contra a guerra colonial e reclamando eleições

livres.

• A 27 de Outubro, foi também criado o Bairro Administrativo da Baixa da

Banheira.

1971 • Grande manifestação na Baixa da Banheira com greves nas fábricas

têxteis (GEFA) e dos corticeiros de Alhos Vedros, contra o fascismo e a

guerra.

1972 • Grandes manifestações pela libertação de antifascistas do concelho da

Moita, presos pela PIDE/DGS.

1973 • A 8 de Abril, foi o 3º. Congresso Democrático de Aveiro que motivou

uma grande participação da juventude do Concelho da Moita.

1974 • 25 de Abril, grande manifestação de alegria popular em todo o concelho.

• É constituída uma Comissão Administrativa para gerir a Câmara até

às eleições.

1976 • A 12 de Dezembro, realizaram-se as primeiras eleições livres para os

órgãos autárquicos do Concelho, saindo vencedora a FEPU (Frente

Eleitoral Povo Unido).

1979 • Construção das escolas Nº.5 e Nº.6 da Baixa da Banheira.

Page 135: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 135

1980 • Aquisição do varino «O Boa Viagem», pelo Município.

1983 • A Câmara Municipal, em reunião ordinária de 11 de Maio, aprova por

unanimidade, a declaração do Concelho como zona desnuclearizada e

adere ao movimento ZLAN.

• Inauguração, no dia 19 de Fevereiro, do monumento em homenagem

aos reformados e idosos.

1984 • A 16 de Maio, a Baixa da Banheira passou a vila, por decisão da Assembleia

da República.

• A 3 de Dezembro, foi publicada, no Diário da República, a constituição

da Freguesia de Sarilhos Pequenos.

• A 31 de Dezembro, foi também publicada, no Diário da República, a

constituição da Freguesiado Gaio/Rosário.

• Aquisição do bote de meia quilha «A Pombinha», pelo Município.

• A Câmara Municipal e a Assembleia Municipal deliberaram sobre a

adesão do Município à Região de Turismo de Setúbal – Costa Azul.

1985 • Construção das escolas Nº.3 da Moita e Nº.3 de Alhos Vedros.

1986 • Conclusão das obras de construção da escola Nº.8 da Baixa da Banheira.

1987 • Criação da Comissão Municipal de Protecção Civil, inserida no sistema

nacional de protecção civil.

Page 136: Retrato em Movimento

136 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

1988 • A 11 de Março, foi criada a Freguesia do Vale da Amoreira, separando-se

da Baixa da Banheira.

• Assinatura do protocolo entre o Instituto Nacional de Defesa do

Consumidor e a Câmara Municipal da Moita para o estabelecimento

de uma rede de apoio ao consumidor no Concelho – CIAC (Centro de

Informação Autárquica para os Consumidores).

1988/98 • Início da construção, por fases, do Parque José Afonso.

1989 • Inauguração do Núcleo Cultural José Afonso em Alhos Vedros.

• Criação do Posto de Turismo e Defesa do Consumidor.

1990 • Abertura da Biblioteca Municipal do Vale da Amoreira.

• Construção da escola Nº.9 da Baixa da Banheira.

1991/93 • Comemorações do tricentenário da elevação da Moita a vila.

1992 • Inauguração do Pavilhão Municipal de Exposições.

1993 • Inauguração do Parque das Canoas, sito no Gaio.

• Abertura da Biblioteca de Alhos Vedros, após a realização de obras de

adaptação no Núcleo Cultural José Afonso.

• Inauguração do monumento comemorativo dos 300 Anos da

elevação da Moita a vila, implantado na zona do cais, a 7 de Novembro

de 1993.

• Abertura dos novos mercados municipais da Moita e da zona Sul da

Baixa da Banheira.

Page 137: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 137

1994 • Nas escavações arqueológicas do Gaio/Rosário, comparticipadas pela

Câmara Municipal e dirigidas pelo Museu Distrital de Setúbal, em Julho

de 94, foram recolhidas provas de ocupação humana, com cerca de

seis mil anos.

• Criação da Comissão de Protecção de Menores do Concelho da Moita.

1995 • A 17 de Junho o Bispo de Setúbal, D. Manuel Martins, lançou a primeira

pedra para a construção da Igreja Paroquial do Vale da Amoreira, em

terreno cedido pelo Município.

• Participação da Câmara da Moita no Projecto do Metropolitano para

a Margem Sul.

1996 • A Câmara Municipal da Moita formaliza a geminação com os municípios

do Tarrafal e Pinhel e assina acordos de colaboração com Aveiro, Plaisir

e Badajoz.

• Participação do Município, em representação da Área Metropolitana

de Lisboa, nos Projectos Europeus dos Estuários, Portos e Redes de

Áreas Metropolitanas da Europa.

1997 • Inauguração, a 11 de Maio, da Biblioteca Municipal da Moita «Bento de

Jesus Caraça», pelo Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio.

• Inauguração do monumento a José Afonso, implantado no parque

com o mesmo nome, na Baixa da Banheira, a 23 de Fevereiro.

• Inauguração do monumento comemorativo da elevação da Baixa da

Banheira a freguesia, a 26 de Janeiro.

Page 138: Retrato em Movimento

138 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

1999 • Inauguração do monumento comemorativo dos 25 anos do 25 de

Abril, situado na Rotunda Augusto Gil, na Baixa da Banheira.

2000 • Abertura do Mercado Municipal do Vale da Amoreira.

• Inauguração da peça escultórica em homenagem à cortiça e ao

corticeiro, implantada na Praça Maria Lamas, em Alhos Vedros, a 16

de Dezembro.

2001 • Inauguração, em Janeiro, da Piscina Municipal, situada em Alhos Vedros.

• Inauguração da peça escultórica em homenagem ao marítimo e ao

trabalho nas antigas embarcações do Tejo, implantada na marginal da

vila da Moita, em 25 de Abril.

• Inauguração da peça escultórica em homenagem ao operário,

localizada no Parque José Afonso, na Baixa da Banheira, em 25 de Abril.

2002 • Abertura do Mercado Municipal da zona Norte da Baixa da Banheira.

• Inauguração do busto do Padre João Evangelista, implantado no Largo

da Igreja, Moita.

Page 139: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 139

2.9. ROTEIROS CULTURAIS

O património do Concelho possibilita várias explorações temáticas para as disciplinas de

História, História de Portugal, Estudos Sociais, Português, Ciências da Natureza e Biologia e que

a Câmara Municipal da Moita apoia.

Os roteiros culturais passam por uma exploração das construções religiosas (nas suas com-

ponentes de arquitectura, escultura, azulejo e pintura), dos edifícios industriais (fábricas, moi-

nhos de maré) e da paisagem natural.

Estes roteiros culturais podem ser objecto de percursos interdisciplinares tais como:

• Município da Moita:

Uma Aproximação ao Século XVI (um percurso pelo trabalho e pela devoção

no século XVI);

• O Quotidiano no Século XVI:

(Exploração da estátua jacente da Capela de S. Sebastião – Alhos Vedros);

• Procurar o Século XVIII nos Azulejos das Igrejas do Concelho da Moita;

• Os Sapais, os Moinhos de Maré e as Salinas;

• A Moita Vista do Tejo

(Passeio fluvial a bordo da embarcação tipo varino, «O Boa Viagem», propriedade

do Município)

> 2.9.1. ROTEIRO RIBEIRINHO

Ao longo da zona ribeirinha do Concelho da Moita pode encontrar um conjunto de ele-

mentos de interesse histórico, natural ou de lazer, integrados num circuito que pode percorrer-se

na totalidade em viatura ou parcialmente a pé. Poderá começar pela Baixa da Banheira ou por

Sarilhos Pequenos.

Page 140: Retrato em Movimento

140 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Coretode Alhos Vedros.

Page 141: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 141

BAIXA DA BANHEIRA:

Inicie o seu percurso pelo Parque José Afonso, seguindo a Avenida Capitães de Abril. Trata-se

de um extenso parque municipal, com amplos relvados e algumas infra-estruturas de lazer e

desportivas: piscina, restaurante, pista de bicicross, campos de ténis e caminhos pedonais. Pode

observar o estuário e, sobretudo durante a subida ou descida da maré, poderá avistar aves

aquáticas, com destaque para os flamingos, a partir de finais do Verão até ao Inverno. Continue

o seu percurso pela estrada nacional em direcção a Alhos Vedros.

ALHOS VEDROS:

À entrada da freguesia, no cruzamento da estrada nacional, vai encontrar a indicação Alhos

Vedros, voltando aí à sua esquerda. Um pouco mais à frente, curva de novo à esquerda, na indi-

cação da placa «Moinho de Maré».

No Largo do Descarregador poderá observar alguns barcos tradicionais do Tejo, canoas e

catraios, o Moinho de Maré, o Palácio do Morgado da Casa da Cova e a antiga MarinhaGrande do Porto Velho. Toda a zona ribeirinha do Concelho foi outrora coberta de salinas,

também chamadas marinhas de sal.Actualmente e sobretudo durante o Inverno, esta marinha é

local de refúgio de avifauna aquática, podendo observar-se várias espécies com o auxílio de

binóculos. A Associação Desportos Náuticos Alhosvedrense «Amigos do Mar» tem serviço

de cafetaria com esplanada.

Siga pela Rua do Marítimo e corte à esquerda, onde encontrará o edifício da mais antiga

colectividade do concelho, a Sociedade Filarmónica Recreio e União Alhosvedrense «A

Velhinha». Ao entrar na Praça da República vire à sua direita e deparar-se-á com um Coreto,

datado de 1920. Seguindo em frente, pela Rua 5 de Outubro, irá encontrar do seu lado esquer-

do a Biblioteca Municipal de Alhos Vedros e do seu lado direito, um pouco mais à frente, o

edifício da Igreja Matriz de S. Lourenço de Alhos Vedros.

Após visita à Igreja, pode seguir pela Travessa do Mercado e, virando à esquerda, entra na

Rua Cândido dos Reis que vai dar acesso ao Largo da Misericórdia, onde encontrará o

Page 142: Retrato em Movimento

142 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Habitação com as típicas

pinturas alusivas à tauromaquia,

no núcleo histórico da vila

da Moita

Page 143: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 143

Pelourinho quinhentista e o edifício da Igreja da Misericórdia. Continuando pela Rua

Cândido dos Reis, volta à sua esquerda, na Rua D. Dinis de Ataíde que, vai convergir na Praça

da República. Aqui, vira à esquerda, seguindo a Rua 5 de Outubro que, continua pela Rua Frei

Gaspar da Cruz. Passando por baixo do viaduto, contorna o Jardim do Poço «Mourisco», onde

se localiza um interessante poço quinhentista.

Ao chegar ao semáforo, volte à sua direita, seguindo pela Estrada Nacional, aqui ladeada

de muros de antigas fábricas, nomeadamente de transformação da cortiça e confecções. Na

saída da vila de Alhos Vedros, junto às bombas de gasolina, pode ver, do seu lado direito, uma

peça escultórica evocativa da cortiça, da autoria de Fernanda Fragateiro. Continuando

viagem, irá passar pela antiga Quinta da Fonte da Prata, onde encontrará, do seu lado direi-

to, o respectivo Palacete, assinalado por uma palmeira classificada, de porte considerável.

Siga em frente, até chegar à rotunda que dá acesso ao Barreiro e aí tome a terceira saída, à

esquerda. Seguindo por esse caminho irá deparar-se com um edifício de serviços camarários à

sua esquerda. Junto à parede lateral do edifício há uma azinhaga, ladeada de oliveiras que dá

acesso às ruínas de dois fornos de cal, cuja estrutura principal se encontra ainda bem preser-

vada. Regresse à mesma rotunda e prossiga na direcção da Moita. Surgirá uma segunda rotun-

da, cuja primeira saída dá para a Rua da Classe Operária, ao fundo da qual poderá ver a antiga

fábrica de cortiça «Socorquex», onde actualmente funcionam serviços municipais.

MOITA:

Entrando na vila e seguindo pela marginal, ao seu lado esquerdo encontrará uma peçaescultórica, dedicada ao marítimo, da autoria de Pedro Silva. Um pouco mais à frente temos

o Cais, assinalado pelo monumento comemorativo dos 300 anos da elevação da Moita avila, esculpido em pedra, do autor João Afra. No largo defronte do cais, destaca-se uma pintu-ra mural que retrata uma cena da vida quotidiana no cais da Moita, no século passado. Na

fachada de um edifício próximo figuram pinturas de cariz popular, reveladoras do gosto

moitense pela tauromaquia.A partir deste local, sugerimos um pequeno passeio pedestre pelas

Page 144: Retrato em Movimento

144 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Entrada do Rosário.

Page 145: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 145

ruas do núcleo urbano mais antigo da vila, onde poderá admirar o altar de Nossa Senhora daPiedade, a Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem e um portal manuelino.

Concluída a visita ao núcleo histórico, poderá também passar pela Praça da República,

onde está localizado o edifício dos Paços do Concelho e, subindo a Avenida Teófilo Braga,

desembocará na praça de touros «Daniel do Nascimento».

Prosseguindo o circuito, saia da vila em direcção ao Gaio/Rosário. Se gostar de montar a cava-

lo, poderá fazê-lo no Centro Hípico da Moita, Miroásis, localizado na Rua da Bela Vista, a cami-

nho do Gaio. O Miroásis oferece-lhe ainda a possibilidade de fazer um passeio de galera, puxada

a cavalo, pelo restante percurso ribeirinho. Ao longo deste itinerário, do seu lado esquerdo,

estende-se uma área de coberto vegetal próprio dos sapais, zonas de transição do estuário com

a terra, que em tempos passados foram dedicadas à construção de salinas ou marinhas de sal.

GAIO/ROSÁRIO:

No Gaio sugerimos uma visita ao Estaleiro Naval de José Lopes, o que pode fazer entran-

do à sua esquerda pela Rua Vitorino Nemésio, ao fundo da qual deve virar à direita e estacionar

junto ao Parque das Canoas. Aí poderá observar os diferentes tipos de embarcações tradi-cionais do Tejo que se encontram ancoradas e ver o Esteiro da Moita e a zona ribeirinha de

Alhos Vedros, na outra margem.

Continue o trajecto pela zona ribeirinha até ao Rosário, onde pode apreciar o alegre colorido das

casas e um pitoresco coreto, o qual deverá contornar, seguindo em direcção à praia fluvial. À sua direi-

ta encontrará a Capela de Nossa Senhora do Rosário, de onde poderá desfrutar de um magnífico

panorama sobre a Baía do Montijo.A partir daqui poderá andar a pé na praia fluvial do Rosário, onde

irá encontrar ruínas de fornos de cal e a antiga Estação Depuradora de Ostras do Tejo.

Continue a sua viagem seguindo pela Rua 25 de Abril, volte à direita e surgirá um portal,

pintado de branco e amarelo que, dá acesso a um típico pátio, recentemente recuperado e

embelezado. Prossiga em frente até encontrar uma placa do seu lado esquerdo, com a indi-

cação de Sarilhos Pequenos. Siga por essa estrada.

Page 146: Retrato em Movimento

146 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Largo de SarilhosPequenos,

rodeado pela pérgula

de buganvílias.

Page 147: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 147

SARILHOS PEQUENOS:

Ao longo deste itinerário, avistará uma extensa área agrícola e à sua esquerda o palacete

e anexos da Quinta do Esteiro Furado que em tempos foi uma das mais importantes do con-

celho. Pertencente à mesma propriedade, há um montado de sobro com alguns pinheiros que,

em conjunto com a área da quinta e sapais, foi classificado como zona de protecção especialpara aves.

Ao entrar na localidade de Sarilhos Pequenos, siga pela Rua 1º. de Maio e volte à sua

esquerda até chegar ao Largo Principal, rodeado por uma vistosa pérgula de buganvílias e

onde se localiza a Igreja de Nossa Senhora da Graça, padroeira da freguesia. Contorne o edifí-

cio religioso e vire à direita pela Rua Estevão de Vasconcelos. Observe as redes de pesca, colo-cadas nas portas das casas para as protegerem dos insectos. Corte na segunda rua à direita e,

ao chegar ao fim, dobre à esquerda, seguindo em frente numa rua que conflui numa zona depiqueniques. Aí encontra-se uma curiosa churrasqueira com a forma de um barco tradicional

do Tejo e pode avistar a cidade do Montijo. Poderá ainda observar bandos de aves aquáticas

em busca de alimento, no esteiro de Sarilhos, quando ocorrem as marés baixas. Junto a este

local existe um outro estaleiro naval, pertencente a Jaime Ferreira Costa.

O regresso é feito pela mesma rua. Seguindo sempre em frente, vira à sua esquerda e entra

na Rua Teófilo Braga. Prosseguindo até ao fim, corta de novo à esquerda e segue pela Rua S.

Domingos que vai desembocar na Associação Naval Sarilhense, onde pode aproveitar para

descansar, já que dispõe de serviços de cafetaria e esplanada. À direita da pequena ponte que

liga o concelho da Moita ao do Montijo, encontrará uma zona de lodo e sapal confinada, for-

mando uma caldeira, pertencente a um antigo moinho de maré que ainda hoje é utilizada

para ajudar a manter a cala de navegação do esteiro de Sarilhos.

No final do seu percurso e nas localidades ribeirinhas do concelho, sugerimos que sabo-

reie alguns dos pratos gastronómicos desta zona: caldeirada à fragateiro, ensopado de enguias,

enguias fritas, massa de peixe e peixe grelhado, etc.

Page 148: Retrato em Movimento

148 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

> 2.9.2. OUTROS PONTOS DE INTERESSE

• Estátua ao idoso, localizada no Centro de Convívio dos Reformados e Idosos da vila

da Baixa da Banheira, da autoria de João Évora Patacão;

• Busto do Padre José Feliciano, situado na Praceta de Portugal, na Baixa da Banheira;

• Painel – Pintura alusiva à elevação da Baixa da Banheira a vila, localizado na Alameda

do Povo, junto à Estrada Nacional da Baixa da Banheira. É uma obra colectiva, cujos

autores são Rogério Ribeiro, Francisco Simões, Kira e Luís Manuel;

• Monumento a José Afonso, sito no parque com o mesmo nome, na Baixa da Banheira,

do escultor Lagoa Henriques;

• Monumento ao operário, localizado no Parque José Afonso da Baixa da Banheira, do

escultor Jorge Pé Curto;

• Monumento comemorativo dos 25 anos do 25 de Abril, implantado na Rotunda

Augusto Gil da Baixa da Banheira, da escultora Maria Morais;

• Monumento comemorativo da elevação da Baixa da Banheira a freguesia, implantado

no Largo da Igreja, da autoria de Hermínio Gil Santos;

• Busto do Dr. Alexandre Sequeira, situado no início da Avenida Teófilo Braga, na Moita;

• Monumento ao bombeiro, situado no Parque Municipal da Moita, junto ao Pavilhão

Desportivo, da autoria de Custódio Silva;

Page 149: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 149

• Busto do Padre João Evangelista, situado no Largo da Igreja de Nossa Senhora da Boa

Viagem, na Moita;

• Monumento evocativo da cortiça, situado no Largo Maria Lamas, em Alhos Vedros,

da autora Fernanda Fragateiro;

• Monumento comemorativo dos 300 anos da elevação da Moita a vila, localizado

no Cais da Moita, do autor João Afra;

• Monumento evocativo do varino e do marítimo, situado na marginal da Moita,

do autor Pedro Silva.

Page 150: Retrato em Movimento

150 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

ANEXO I

ESTABELECIMENTOS ESCOLARES

O Município da Moita está actualmente dotado de todos os níveis de ensino não superior.

Com o lema de valorizar a escola contamos com dois princípios elementares: alargar e

requalificar os espaços escolares na procura de um ensino de qualidade.

O ensino básico é hoje, uma resposta suficiente para os alunos residentes. Depois de ser

alargado de acordo com as necessidades, está agora na fase de melhoramento de espaços inte-

riores e exteriores e de requalificação dos mesmos.

No ensino secundário há ainda, alunos deslocados para fora do concelho, tendo em conta

a procura de áreas curriculares específicas não existentes nas duas escolas secundárias. Neste

capítulo continua em falta a remodelação da Escola Secundária da Moita, prevista para breve

e da responsabilidade do Ministério da Educação.

O ensino pré-escolar tem sido nas últimas décadas aquele que mais cresceu, continuan-

do no entanto a ser manifestamente insuficiente. A autarquia através do programa de desen-

volvimento da rede pré-escolar, tem feito um esforço para alargar a rede dotando todos as

freguesias com Jardins de Infância. Este programa conta com a adaptação de salas devolutas

de 1º ciclo e com a construção de novos edifícios, prevendo-se anualmente a abertura de

novos espaços.

FREGUESIA DE ALHOS VEDROS

Pré-Escolar• Estabelecimento Público de Educação Pré-Escolar Nº.1

E. B.1 Nº.2 de Alhos Vedros

• Estabelecimento Público de Educação Pré-Escolar Nº.2

Page 151: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 151

E. B.1 Nº.1 de Alhos Vedros

• Jardim de Infância do Centro Paroquial de Alhos Vedros

• Creche, Jardim de Infância e ATL - «O Charlot»

Santa Casa da Misericórdia de Alhos Vedros

• Jardim de Infância e ATL - Centro Social Nossa Senhora da Paz

• Jardim de Infância e 1º. Ciclo – Colégio das Arroteias

1º. Ciclo• E. B.1 Nº.1 de Alhos Vedros

• E. B.1 Nº.2 de Alhos Vedros

• E. B.1 Nº.3 de Alhos Vedros

• E. B.1 Nº.1 das Arroteias

• E. B.1 Nº.2 das Arroteias

• E. B.1 da Barra Cheia

2º. e 3º. Ciclos• E. B. 2 e 3 José Afonso

Educação Especial• Cercimb – Cooperativa de Educação e Reabilitação de Crianças Inadaptadas da Moita

FREGUESIA DA BAIXA DA BANHEIRA

Pré-Escolar• E. P. de Educação Pré-Escolar Nº.1 da Baixa da Banheira

E. B.1 Nº.4 da Baixa da Banheira

• Creche, Jardim de Infância e ATL - Centro Bem Estar

Page 152: Retrato em Movimento

152 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

• E. P. de Educação Pré-Escolar Nº.2 da Baixa da Banheira

E. B.1 Nº.7 da Baixa da Banheira

• Jardim de Infância - «O Papagaio»

1º. Ciclo• E. B.1 Nº.1 da Baixa da Banheira

• E. B.1 Nº.2 da Baixa da Banheira

• E. B.1 Nº.3 da Baixa da Banheira

• E. B.1 Nº.4 da Baixa da Banheira

• E. B.1 Nº.7 da Baixa da Banheira

• E. B.1 Nº.8 da Baixa da Banheira

• E. B.1 Nº.9 da Baixa da Banheira

2º. e 3º. Ciclos• E. B. 2 e 3 D. João I

• E. B. 2 e 3 Mouzinho da Silveira

Ensino Especial• Externato Arco-Íris

FREGUESIA GAIO/ROSÁRIO

Pré-Escolar• Estabelecimento Público de Educação Pré-Escolar do Gaio-Rosário

E. B.1 do Rosário

1º. Ciclo• E. B.1 do Gaio

• E. B.1 do Rosário

Page 153: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 153

FREGUESIA DA MOITA

Pré-Escolar• Estabelecimento Público de Educação Pré-Escolar da Moita

E.B.1 Nº.3 da Moita

• Jardim de Infância - «O Ninho»

• Creche, Jardim de Infância e ATL - «O Varino»

Santa Casa da Misericórdia de Alhos Vedros

1º. Ciclo• E. B.1 Nº.1 da Moita

• E. B.1 Nº.2 da Moita

• E. B.1 Nº.3 da Moita

• E. B.1 de Brejos

• E. B.1 de Carvalhinho

• E. B.1 de Chão Duro

• E. B.1 de Penteado

2º. e 3º. Ciclos• E. B. 2 e 3 D. Pedro II

• E. B. 2 e 3 Fragata do Tejo

Ensino Secundário• Escola Secundária da Moita

Educação Especial• Cooperativa de Ensino Especial - «Rumo»

Page 154: Retrato em Movimento

154 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Outros• Educação de Adultos – Ensino Recorrente

• Delegação Escolar da Moita

FREGUESIA DE SARILHOS PEQUENOS

Pré-Escolar• Estabelecimento Público de Educação Pré-Escolar de Sarilhos Pequenos

1º. Ciclo• E. B.1 de Sarilhos Pequenos

FREGUESIA DO VALE DA AMOREIRA

Pré-Escolar• Estabelecimento Público de Educação Pré-Escolar do Vale da Amoreira

• Jardim de Infância - «Giroflé»

1º. Ciclo• E. B.1 Nº.5 da Baixa da Banheira

• E. B.1 Nº.6 da Baixa da Banheira

2º. e 3º. Ciclos• E. B. 2 e 3 da Baixa da Banheira Nº.3

Ensino Secundário• Escola Secundária da Baixa da Banheira

Outros• ATL - «Os Pintainhos» do Vale da Amoreira

Page 155: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 155

ANEXO II

ASSOCIAÇÕES / COLECTIVIDADES

O Movimento Associativo no Concelho da MoitaO Concelho da Moita possui um consistente e enérgico movimento associativo

abrangendo diversas áreas culturais, desportivas e sociais. As primeiras associações de cariz

popular no Concelho surgiram na segunda metade do século XIX, no contexto de difusão das

"filarmónicas" e "mutualidades". Após a implantação da República, novo período de entusi-

asmo associativista, com a fundação de colectividades de "recreio e instrução" e também,

na Moita, um pouco mais tarde, com o surgimento dos primeiros clubes de futebol. As asso-

ciações reflectem as características sócio-económicas da população, maioritariamente

operária, assomando e actuando como complemento à omissão do Estado no desenvolvi-

mento desportivo, cultural e social dos cidadãos.

BAIXA DA BANHEIRA

• Associação de Dadores de Sangue

• Associação de Geminação da Baixa da Banheira

• Associação de Pára-Quedistas do Sul

• Associação Portuguesa de Amizade Yuri Gagarine

• Banheirense Futebol Clube

• Casa do Benfica Nº.102

• Centro de Atletismo da Baixa da Banheira

• Centro de Convívio dos Reformados e Idosos da Vila da Baixa da Banheira

• Centro Náutico da Barra a Barra

• Clube União Banheirense «O Chinquilho»

Page 156: Retrato em Movimento

156 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

• Cooperativa de Habitação «Che» Banheirense

• Cooperativa Pluricoop

• Corpo Nacional de Escutas – Agrupamento 371

• Ginásio Atlético Clube

• Grupo Columbófilo Banheirense

• Grupo de Futebol Azul e Ouro

• Juventude Futebol Clube

• Movimento Democrático de Mulheres

• Núcleo de Ciclismo da Baixa da Banheira

• Núcleo Sportinguista Banheirense

• «O Norte» - Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos da Zona Norte da B. da Banheira

• Sociedade Recreativa da Baixa da Serra

• Sociedade Recreativa e Cultural União Alentejana

• Sporting Clube Banheirense

• União Desportiva e Cultural Banheirense

• Velha Guarda Banheirense

ALHOS VEDROS

• Academia Musical e Recreativa 8 de Janeiro

• Associação Amizade Arroteense

• Associação Desportos Náuticos Alhosvedrense «Amigos do Mar»

• Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos da Freguesia de Alhos Vedros

• Centro Cultural e Recreativo União Pires

• Centro Jovem – Centro Comunitário P.A.R.A.G.E.M.

• Clube Desportivo «Os Rolos»

• Clube de Recreio e Instrução «CRI»

• Clube Recreativo Sport Chinquilho Arroteense

Page 157: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 157

• Cooperativa de Animação Cultural de Alhos Vedros «CACAV»

• Cooperativa de Consumo «Pluricoop»

• Corpo Nacional de Escutas – Agrupamento 688

• Grupo Columbófilo de Alhos Vedros

• Grupo Desportivo da Fonte da Prata

• Grupo Recreativo Familiar Bairro Gouveia

• Ideias Jovens em Movimento

• Os Indefectíveis

• Sociedade Filarmónica Recreio e União Alhosvedrense «A Velhinha»

• Sporting Clube Vinhense

MOITA

• A Mutualidade da Moita – Associação Mutualista

• Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos da Freguesia da Moita

• Centro Náutico Moitense

• Clube Taurino da Moita

• Clube Recreativo do Palheirão

• Clube Recreativo do Penteado

• Cooperativa «Pluricoop»

• Corpo Nacional de Escutas – Agrupamento 76

• Grupo Cicloturismo «Os Reis do Pedal»

• Grupo de Dadores Benévolos de Sangue do Concelho da Moita

• Grupo Desportivo e Cultural dos Trabalhadores da Câmara Municipal da Moita

• Grupo Desportivo Popular do Chão Duro

• Grupo de Forcados Amadores do Aposento da Moita do Ribatejo

• Grupo de Forcados Amadores da Moita

• Grupo Tauromáquico Moitense

Page 158: Retrato em Movimento

158 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

• Histórico Automóvel Clube de Entre Tejo e Sado

• Moto Clube da Moita

• Núcleo de Cicloturismo Moitense

• Sociedade Filarmónica Capricho Moitense

• Sociedade Filarmónica Estrela Moitense

• Sociedade Moitense de Tauromaquia

• União Futebol Clube Moitense

VALE DA AMOREIRA

• Associação de Condomínios e Moradores do Vale da Amoreira

• Associação Intercultural do Vale da Amoreira e Baixa da Banheira

• Associação de Solidariedade Cabo-Verdiana dos Amigos da Margem Sul do Tejo

• Centro de Atletismo do Vale da Amoreira «CAVA»

• Centro de Reformados e Idosos do Vale da Amoreira «CRIVA»

• Centro HIP HOP

• Clube Recreativo Cultural e Desportivo de Brejos Faria

• Grupo Desportivo e Recreativo Portugal

• Grupo Jovem do Vale da Amoreira

• Juventude Sócio-Cultural e Desportiva do Vale da Amoreira / Fontainhas

GAIO/ROSÁRIO

• ASMODEC

• Beira Mar Futebol Clube Gaiense

• Centro de Convívio dos Reformados do Gaio-Rosário

• Centro Hípico da Moita – MIROÁSIS

• Clube Amigos do Atletismo da Moita

• Marítimo Futebol Clube Rosarense

Page 159: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 159

SARILHOS PEQUENOS

• Associação Naval Sarilhense

• Centro de Convívio dos Reformados, Pensionistas e Idosos de Sarilhos Pequenos

• Grupo Columbófilo de Sarilhos Pequenos

• 1º. de Maio Futebol Clube Sarilhense

Grupos Artístico/CulturaisComo resultante do forte movimento associativo no concelho, existem actualmente, além

dos ranchos folclóricos atrás referidos, mais os seguintes grupos:

• Banda Musical do Rosário – Gaio/Rosário

• Escola de Canto do Centro Cultural e Infantil Luísa Basto da Associação de Moradores da

Zona Norte

• Escola de Dança Clássica e Ballet da Sociedade Filarmónica Estrela Moitense – Moita

• Escola de Toureio da Moita

• Escola do Jogo do Pau do Clube Recreativo, Cultural e Desportivo Brejos Faria – Vale da

Amoreira

• Fanfarra dos Bombeiros Voluntários da Moita

• Grupo Coral e Musical «O Norte» da Associação de Reformados Pensionistas e Idosos

da Zona Norte - Baixa da Banheira

• Grupo Coral Saudades do Alentejo «O Sobreiro»

• Grupo Danças de Salão do Clube União Banheirense «O Chinquilho» – Baixa da Banheira

• Grupo Danças de Salão da Sociedade Filarmónica Capricho Moitense – Moita

• Grupo de Teatro Experimental e Amador «O Norte» da Associação de Reformados

Pensionistas e Idosos da Zona Norte - Baixa da Banheira

• Grupo Polifónico «Alius Vetus» da Sociedade Filarmónica Recreio e União Alhos

Vedrense «A Velhinha» - Alhos Vedros

Page 160: Retrato em Movimento

160 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

ANEXO III

INSTITUIÇÕES SOCIAIS

• Câmara Municipal da Moita

• Tribunal

• Bombeiros

• Centro de Saúde da Moita

• Centro de Saúde de Alhos Vedros

• Centro de Saúde da Baixa da Banheira

• Comissão de Protecção de Crianças e Jovens

• Paróquias: Baixa da Banheira, Alhos Vedros, Moita e Sarilhos Pequenos

• Santa Casa da Misericórdia de Alhos Vedros

• Hospital (Santa Casa da Misericórdia) de Alhos Vedros

• Posto da GNR (Baixa da Banheira, Moita)

• Posto PSP (Moita)

• Finanças (Moita)

• Jornais: «Jornal da Moita», «Jornal da Vila» e «O Rio»

Page 161: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 161

ANEXO IV

EQUIPAMENTOS/INFRAESTRUTURAS SOCIAIS

Instalações Desportivas no Concelho da MoitaO desporto oferece ao cidadão um amplo campo de liberdade. Contudo ter direito ao desporto

não basta. É preciso que as condições materiais existentes se traduzam na aplicação desse direito

e possibilitem o seu exercício. Estas condições materiais manifestam-se através da existência de

espaços e de tempos disponíveis para a prática desportiva. Sem eles integrados numa política de

investimento e distribuição adequada, não é possível apostar num conjunto de meios de inter-

venção em que o objectivo seja a promoção de melhoria das condições de vida da população.

No sentido de obviar este inconveniente e de consubstanciar as suas acções, a Câmara

Municipal da Moita decidiu incluir, como preocupação fundamental, a caracterização de insta-

lações desportivas ao nível do Concelho.

FREGUESIA DA MOITA

• Pavilhão Municipal de Exposições – 1

• Polidesportivos – 4

• Campos de Ténis – 2

• Pavilhão Desportivo Municipal – 1

• Campos de Jogos – 1

FREGUESIA DE ALHOS VEDROS

• Polidesportivos – 3

• Campos de Ténis – 1

• Piscina Municipal – 1

• Campo de Basquetebol – 1

Page 162: Retrato em Movimento

162 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

FREGUESIA DA BAIXA DA BANHEIRA

Parque José Afonso:• Campos de Jogos – 3

• Pista de Bicross – 1

• Piscina – 1

• Poço de Skate – 1

• Campos de Ténis – 4

• Campos de Basquetebol – 3

Zona Sul• Polidesportivos – 1

Zona Norte• Polidesportivos – 1

FREGUESIA DO VALE DA AMOREIRA

• Polidesportivos – 2

• Campos de Ténis – 1

• Campo Municipal de Futebol – 1

• Campos de Jogos – 1

• Campos de Basquetebol – 1

• Pequeno Campo de Futebol – 1

Bibliotecas Municipais da MoitaA Biblioteca Bento de Jesus Caraça, biblioteca central da rede de leitura pública do

Concelho da Moita, foi inaugurada em 11 de Maio de 1997. Este equipamento situado no cen-

tro da vila da Moita, encontra-se instalado num edifício construído de raiz e reúne um vasto

Page 163: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 163

conjunto de serviços de modo a satisfazer nesta área as necessidades da população do

Concelho.

A rede de leitura concelhia é composta também pelos núcleos de leitura do Vale da

Amoreira (desde 10 de Junho de 1990) e de Alhos Vedros (aberto ao público desde 30 de

Novembro de 1993).

Serviços ao Utilizador:Empréstimo domiciliário de monografias, CD’s áudio e cassetes vídeo;

Consulta local de monografias, periódicos, CD-Rom’s, CD’s áudio e cassetes vídeo;

Acesso à Internet e utilização de computadores para execução de trabalhos em Word e Excel;

Serviço de reprografia;

Actividade de animação do livro e da leitura, direccionada para os diferentes tipos de público;

Actividades lúdicas para crianças (pintura, modelagem, jogos didácticos, etc.);

Colóquios, debates, acções de formação e visionamento de filmes para adultos e crianças.

FREGUESIA DA MOITA

• Biblioteca Municipal Bento de Jesus Caraça – Moita

Horário: 3ª. a Sábado das 10:00 às 12:30 e das 14:00 às 18:30 horas

4ª. feira – prolongamento até às 20:30 horas

FREGUESIA DO VALE DA AMOREIRA

• Biblioteca Nº.2 – Vale da Amoreira

Horário: 3ª. a Sábado das 10:00 às 12:30 e das 14:00 às 18:30 horas

FREGUESIA DE ALHOS VEDROS

• Biblioteca de Alhos Vedros – Alhos Vedros

Horário: 3ª. a Sábado das 10:00 às 12:30 e das 14:00 às 18:30 horas

Page 164: Retrato em Movimento
Page 165: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 165

BIBLIOGRAFIA

AFLOPS

A Poluição Atmosférica e a Gestão e Conservação dos Ecossistemas Florestais na Penínsulade Setúbal. Relatório final do Projecto Life-Ambiente LIFE’98 AMB/P/000556, Vol. 1,

Associação de Produtores Florestais de Setúbal, 2002

ALVES, Padre Carlos Fernando Póvoa

Subsídios para a História de Alhos Vedros. Informações Paroquiais de Alhos Vedros eMoita, Alhos Vedros, 1992

ANTUNES, José

II Jornadas da Estremadura

CAMÕES, Luís de

Obras Completas, Vol. III, Lisboa, s/d

Crescimento Demográfico, Movimentos Pendulares e os Transportes da Área Metropolitanade Lisboa, INE, Junho/95

CRUZ, João Luís da

O Livro dos Meus, Almada, Oficinas de A. Rodrigues Belém, 1924

CRUZ, Maria Alfreda

A Margem Sul do Estuário do Tejo. Factores e Formas de Organização do Espaço, Lisboa, 1973

Page 166: Retrato em Movimento

166 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

DUARTE, Ana

Igrejas e Capelas da Costa Azul, Setúbal, Região de Turismo da Costa Azul, 1993

FIGUEIREDO, José Rosa

A Baixa da Banheira até aos Nossos Dias, Setúbal, Edição da Assembleia Distrital de

Setúbal, 1979

GUINOTE, Paulo e PAULO, Eulália de Medeiros

A «Banda D’Além do Tejo» na História. Roteiro Histórico da Margem Sul do Estuário do Tejo das Origens ao Fim do Antigo Regime, Lisboa, Edição do Grupo de Trabalho do

Ministério da Educação para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2000

GONZÁLEZ, G. L.

La Guia de Incafo de los Árboles y Arbustos de la Península Ibérica, Madrid, Ed. Incafo, 1995

GOODERS, J.

Guia de Campo das Aves de Portugal e da Europa, Ilustrações de Alan Harris, Ed. Temas

e Debates, 2000

História da Arte em Portugal, Vol. 3, 4, 6, 7 e 8, Lisboa, Alfa, 1993

Instituto Nacional de Estatística – Censos da População

LEAL, Ana de Sousa e PIRES, Fernando

Alhos Vedros nas Visitações da Ordem de Santiago, Alhos Vedros, Comissão Organizadora

do 480º. Aniversário do Foral, 1994

LEITÃO, D.; CATRY, P.; COSTA, H.; ELIAS, G.L. e REINO, L.M.

As Aves do Estuário do Tejo, Ed. Instituto de Conservação da Natureza, 1998

LEITE, Ana Cristina

«Pelourinhos» in Dicionário Enciclopédico da História de Portugal,Vol. II, Alfa, 1985, pp. 95-96

Page 167: Retrato em Movimento

RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA | 167

Levantamento Cultural do Concelho, Moita, 1982

Município da Moita - 20 Anos de Poder local, Câmara Municipal da Moita, 1997

NABAIS, António

Moinhos de Maré do Concelho do Seixal, Seixal, 1981

OLIVEIRA, Ernesto Veiga de e outros

Tecnologia Tradicional Portuguesa. Sistemas de Moagem, Lisboa, INIC, 1983

PIMENTEL, Alberto

«A Extremadura Portuguesa» in Portugal Pittoresco e Ilustrado, Lisboa, Empreza da História

de Portugal, 1908

Projecto HAMLET, Junta Metropolitana de Lisboa, 1997

RAU, Virgínia

Estudos sobre a História do Sal Português, Lisboa , Presença, 1984

Relatório Diagnóstico do Sub-Sistema de Desenvolvimento Sócio-Cultural, Sismet, 1980

SARAIVA, José Hermano (Direc.)

História de Portugal, Vol. I, Lisboa, Publicações Alfa, 1983

Site do Instituto de Conservação da Natureza - www.icn.pt

SOARES, B. (Coord.)

Plano Director Municipal da Moita, Câmara Municipal da Moita, 1998

Page 168: Retrato em Movimento

TORRES, Ruy d’Abreu

«Pelourinhos» in Dicionário de História de Portugal, Vol. V, Porto, Livraria Figueirinhas,

1981, pp. 43-44

VARGAS, José Manuel

De Alcochete ao Barreiro Alguns Elementos para o Estudo do Antigo Concelho do Ribatejo,

Palmela, 1987

168 | RETRATO EM MOVIMENTO DO > CONCELHO DA MOITA

Page 169: Retrato em Movimento
Page 170: Retrato em Movimento
Page 171: Retrato em Movimento
Page 172: Retrato em Movimento