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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL OCTÁVIO THENISSON PROPHETA DE ALMEIDA CONSERVAÇÃO E REÚSO DE ÁGUA NA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO São Cristóvão / Sergipe 2010

Reuso de Agua

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

OCTÁVIO THENISSON PROPHETA DE ALMEIDA

CONSERVAÇÃO E REÚSO DE ÁGUA NA INDÚSTRIA DE PETRÓLE O

São Cristóvão / Sergipe 2010

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OCTÁVIO THENISSON PROPHETA DE ALMEIDA

CONSERVAÇÃO E REÚSO DE ÁGUA NA INDÚSTRIA DE PETRÓLE O

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal de Sergipe – UFS, para encerramento do componente curricular e conclusão da graduação em Engenharia Civil. Orientador: Profª. Dra. Luciana Coêlho Mendonça

São Cristóvão / Sergipe 2010

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É concedida à Universidade Federal de Sergipe permissão para reproduzir cópias desta monografia e emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte deste trabalho acadêmico pode ser reproduzida sem a autorização por escrito do autor.

Octávio Thenisson Propheta de Almeida

ALMEIDA, Octávio Thenisson Propheta. Conservação e Reúso de Água na Indústria de Petróleo/ Octávio

Thenisson Propheta de Almeida. Aracaju, 2010. 52 p.: Il

Trabalho de Conclusão de Curso. Centro de Ciências Exatas e

Tecnologia, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão. 1. Reúso de Água na Indústria de Petróleo. I. Universidade Federal

de Sergipe. CCET/DEC. II. Título.

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OCTÁVIO THENISSON PROPHETA DE ALMEIDA

CONSERVAÇÃO E REÚSO DE ÁGUA NA INDÚSTRIA DE PETRÓLE O

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal de Sergipe – UFS, para encerramento do componente curricular e conclusão da graduação em Engenharia Civil. Orientador: Profª. Dra. Luciana Coêlho Mendonça

Aprovado em: _____ de __________ de _________.

BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________________ Nota ______ Profª. Luciana Coêlho Mendonça – Universidade Federal de Sergipe (Orientador)

___________________________________________________________ Nota ______ Eng. Dr. André Luís de Oliva Campos (1º Examinador) ___________________________________________________________ Nota ______ Profª. Dra. Claudia Ruberg – Universidade Federal de Sergipe (2º Examinador)

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i

À Deus e à minha família

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ii

À Deus, por estar sempre comigo em todos os momentos, principalmente quando estive

desmotivado e esgotado;

À minha família, por sempre estar do meu lado e acreditar em meu potencial;

A meu pai (in memoriam), que proporcionou condições e incentivou para que eu

pudesse realizar este sonho;

À minha orientadora Luciana Coêlho Mendonça, por aceitar me orientar neste trabalho,

pelo incentivo, paciência, dedicação e por acreditar no meu potencial;

Ao Eng. Químico André Luís Oliva Campos, por ter me ajudar, fornecendo material

para que eu pudesse embasar, mais a fundo, meu trabalho;

À Bibliotecária da Petrobras, Lucimar Maria de Souza, por ajudar, nos trâmites internos,

a adquirir materiais na biblioteca virtual da Petrobras;

Ao meu Supervisor da Petrobras, Virgílio José de Melo Neto, por ter proporcionando a

conclusão do curso, liberando-me para que eu pudesse freqüentar as aulas;

A Empresa Petrobras S/A, por permitir que conseguisse alcançar esse sonho;

E a Todos que direta o indiretamente, contribuíram para esse sonho.

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iii

Recursos Hídricos Conservação e Reúso de Água na Indústria de Petróleo Autor: Octávio Thenisson Propheta de Almeida Orientador: Dra. Luciana Coêlho Mendonça Examinadores: Dr. André Luís de Oliva Campos Dra. Claudia Ruberg

RESUMO

Um dos grandes problemas que a humanidade irá enfrentar no futuro próximo é a escassez de água no planeta, uma vez que a geração descontrolada de efluente e o consumo abundante da água, pelo homem e pela indústria, vêm aumentando e consequentemente onerando o valor desse insumo. Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo apresentar a importância da conservação e reúso de água na indústria de petróleo, relatando a problemática da geração de efluentes e do uso desordenado da água. Para tanto são apresentados estudos de caso onde a aplicação do gerenciamento e reúso se mostraram bastante eficazes. No caso da Estação de Bonsucesso, em Carmópolis-SE, pôde-se estimar redução de água através da técnica de produção mais limpa. No caso da REMAN (Refinaria do Amazonas), a redução foi de cerca de 6%, com melhorias na qualidade da água, enquanto que a redução na REPLAN (Refinaria de Paulínia) se deu com aplicações de ações imediatas e de médio e longo prazo, o que contribuiu para a uma redução significativa ao longo dos anos. Para o caso da REVAP, a otimização dos processos e a substituição de fontes de consumo foram as soluções para os problemas de abastecimentos na refinaria. De forma geral, foi possível inferir que o reúso bem gerenciado pode-se tornar uma grande alternativa na redução do consumo de água na indústria petrolífera, uma vez que este tipo indústria consome um volume abundante de água em seus processos e gera uma demanda significativa de efluente, agredindo, assim, o meio ambiente. PALAVRAS-CHAVE : reúso, água, indústria, petróleo

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ABSTRACT

One of the greatest problems the world's population will face in a near future is the water shortage, once the uncontrolled effluent emission and the abusive water consumption, by man and industry, is increasing and, consequently, raising the value of the input. Therefore, the present work aims to show the importance of preserving and reusing water in the oil industry, pointing out the problematic of the effluent emission e uncontrolled water use. To this purpose, this work will present case studies in which the management and reuse of water have proved themselves very efficient. At Bonsucesso Station, in Carmópolis-SE, it was possible to estimate the reduction of water consumption through a cleaner production technique. When it comes to REMAN (Refinaria do Amazonas), the decrease reached around 6%, with improvements on the quality of the water. The reduction at REPLAN (Refinaria de Paulínia) happened with immediate actions, besides other actions of medium and larger terms, which contributed to a significant decrease throughout the years. Concerning REVAP, the optimization of processes and the replacement of consumption sources were the solutions to the supply problems. In all, it was possible to infer that a well managed reuse can become an alternative solution for the reduction of water consumption by the oil industry, as this kind of industry consumes abundant quantities in its working process and generates a significant effluent demand, causing damages to the environment. KEY WORDS: reuse, water, industry, oil

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v

LISTA DE FIGURAS

Figura 3.1 – Esquema de Produção de Óleo............................................................................25

Figura 5.1 – Fluxograma geral da produção de óleo no Campo de Carmópolis .....................25

Figura 5.2 – Fluxograma geral ................................................................................................27

Figura 5.3 – Fluxograma Modelo Simplificado. .....................................................................28

Figura 5.4 – Fluxograma Modelo Completo. ..........................................................................29

Figura 5.5 – Vazão de Efluente da Replan ao longo dos anos................................................. 32

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vi

LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 – Distribuição do consumo de água na indústria por atividades ............................11

Tabela 3.2 – Critérios de utilização de água de reúso ..............................................................15

Tabela 5.1 – Dados referentes ao fluxograma hídrico do sistema de utilidades simplificado .27

Tabela 5.2 – Dados referentes ao fluxograma 1 .......................................................................27

Tabela 5.3 – Vazões descartadas para a ETDI pelas unidades.................................................30

Tabela 5.4 – Resumo das Aplicações Imediatas.......................................................................30

Tabela 5.5 – Resumo das Aplicações Médio Prazo..................................................................31

Tabela 5.6 – Resumo das Aplicações Longo Prazo..................................................................31

Tabela 5.7 – Alternativas para o consumo de água de combate a incêndio .............................33

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LISTA DE QUADROS

Quadro 3.1– Etapas de Implantação de um Programa de Conservação e Reúso de Água.......10

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SUMÁRIO

RESUMO..................................................................................................................................iii

ABSTRACT .............................................................................................................................iv

LISTA DE FIGURAS...............................................................................................................v

LISTA DE TABELAS ............................................................................................................vi

LISTA DE QUADROS...........................................................................................................vii

APRESENTAÇÃO......................................................................Erro! Indicador não definido.

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................1

2 OBJETIVOS .......................................................................................................................3

2.1 Objetivo Geral..............................................................................................................3

2.2 Objetivos Específicos ..................................................................................................3

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..........................................................................................4

3.1 Definições de Reúso de Água ................................................................................4

3.2 Necessidade de Reúso ............................................................................................4

3.3 Tipos de Reúso.......................................................................................................5

3.4 Aplicações de Reúso de Água................................................................................6

3.5 Usos Urbanos .........................................................................................................7

3.6 Usos Industriais ......................................................................................................9

3.7 Requisitos de Qualidade da Água ........................................................................12

3.8 Normas, Diretrizes e Leis Sobre o Uso da Água no Brasil ..................................13

3.9 O Petróleo.............................................................................................................15

3.10 Água Produzida....................................................................................................17

3.11 A Petrobras...........................................................................................................18

3.12 Panorama de Gestão de Efluentes na Petrobras ...................................................18

3.13 Utilização de Água em uma Refinaria de Petróleo ..............................................20

3.14 Programas de Conservação e Reúso de Água – PCRA........................................20

4 METODOLOGIA.............................................................................................................23

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5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ...................................................................................23

5.1 Caso 1 - Produção mais Limpa no Campo de Carmópolis – SE..................................24

5.2 Caso 2 - Reúso de Água na REMAN (Refinaria do Amazonas)...................................26

5.3 Caso 3 - Redução de Consumo de Água e de Vazão de Efluentes na Replan (Refinaria de Paulínia).......................................................................................30

5.4 Caso 4 - Conservação de Água em Refinaria De Petróleo: O Caso da REVAP (Refinaria Henrique Lage) ................................................................................33

5 CONCLUSÕES.................................................................................................................35

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...........................................................................37

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1 INTRODUÇÃO

A Terra possui 1,4 milhões de quilômetros cúbicos de água. Dados da ONU revelam

que mais de 97,5% da água do planeta é salgada e os 2,5% restantes são água doce, dos quais,

mais de dois terços estão presos nas geleiras ou neves eternas. Dos 2,5%, sobram 0,93% para

consumo humano (CZAPSKI, 2004). Hoje este insumo se constitui no fator limitante para o

desenvolvimento agrícola, urbano e industrial, tendo em vista que a disponibilidade per capita

de água doce vem sendo reduzida rapidamente, face ao aumento gradativo da demanda para

seus múltiplos usos e à contínua poluição dos mananciais ainda disponíveis.

Com isso vale salientar que, hoje, a escassez de água não pode mais ser considerada

como uma condição exclusiva das regiões áridas e semi-áridas como há algum tempo. Há

muitas áreas com recursos hídricos abundantes, mas insuficientes para atender às demandas

excessivamente elevadas, além da grande concentração populacional que acaba exercendo

fortes pressões no aumento do consumo e no agravamento das condições de qualidade dos

mananciais existentes (SAUTCHUK et al., 2005).

Assim o crescimento das atividades econômicas e a manutenção das condições de

qualidade de vida da população dependem da conscientização sobre a importância desse

insumo e consequentemente na forma de seu uso por todos os setores.

Logo, considerando-se a limitação dos mananciais de superfície, é provável que, em um

futuro não muito distante, as águas subterrâneas venham a ser preferencialmente destinadas ao

abastecimento público. Em decorrência dessas tendências, uma alternativa para a atividade

industrial é a de utilização da água de reúso (MANCUSO e SANTOS, 2003).

Devido a tal realidade são necessários investimentos em desenvolvimento tecnológico

na busca de soluções alternativas para a ampliação da oferta de água, como a utilização da

água de reúso, além de ações para a eficiente gestão da demanda, reduzindo os índices de

perdas e desperdícios (SAUTCHUK et al., 2005).

Dentre os diversos segmentos da sociedade, o setor industrial é um dos que desperta

grande preocupação em relação ao problema de escassez de água, seja pela demanda

excessiva ou pela poluição resultante dos lançamentos de efluentes nos corpos d’água. Em

conformidade com os princípios e diretrizes globais do desenvolvimento sustentável, torna-se

necessária uma mudança substancial nos padrões de produção e consumo da sociedade. Para

isso é fundamental que seu desenvolvimento se dê de forma sustentável, adotando práticas

como o uso racional e eficiente da água.

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Portanto, é preciso ter cautela no que se refere aos benefícios e limitações que essas

práticas possuem, tanto para que não sejam criadas expectativas falsas sobre o tema, como

soluções de fácil aplicação e resultados imediatos, quanto para que não se adotem essas

medidas sem as precauções necessárias para a preservação da integridade de operadores e

usuários, de bens e de equipamentos.

As indústrias químicas e petroquímicas utilizam grande quantidade de água, o que

implica em um custo financeiro considerável. Assim, a redução do consumo de água é

bastante visada e o reúso torna-se uma eficaz alternativa para reduzir os impactos causados

pelas indústrias de petróleo (CARNEIRO, 2006).

Para se adaptar a este novo cenário, a indústria petrolífera vem aprimorando seus

processos e desenvolvendo sistemas de gestão ambiental para atender às especificações do

mercado interno e externo. Alinhados com esta tendência, já são encontrados bons exemplos

de implantação de sistemas e procedimentos de gestão da demanda de água e de minimização

da geração de efluentes (MIERZWA, 2002).

No Brasil há uma abundante demanda hídrica. Esta situação privilegiada, de certa

forma, influenciou durante muitas décadas o comportamento ambiental de toda a sua

população e mais precisamente a atuação das indústrias quanto ao consumo desordenado e o

desperdício alarmante de água. Atualmente, as indústrias têm se deparado com um cenário de

expansão no consumo de água, o que em longo prazo poderá comprometer suas atividades

produtivas. Por outro lado, a indústria petrolífera vem mudando em relação às questões

ambientais, deixando de enxergar o assunto como exigência legal e tentando transformá-lo em

vantagem competitiva.

A justificativa para o estudo do reúso de água nas indústrias de petróleo se dá pela

diminuição da disponibilidade hídrica no cenário nacional, pela perspectiva de aumento do

parque de exploração nacional, pela outorga da água e pela grande demanda de água e

lançamento de efluentes por esse setor industrial.

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3

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Este trabalho tem por objetivo analisar as experiências da prática do reúso da água em

indústrias petrolíferas.

2.2 Objetivos Específicos

i. Explanar sobre a conservação e o reúso de água na indústria de petróleo;

ii. Identificar as principais formas de reúso de água na indústria petrolífera;

iii. Exemplificar as aplicações desses reúsos, através de estudos de caso.

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3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Definições de Reúso de Água

O termo reúso de água começou a ser usado na década de 1980, quando as águas para o

abastecimento foram onerando os produtos que tinham como matéria-prima em sua fabricação

a água. Como o preço do produto aliado a sua qualidade, são fator determinante para o

sucesso de uma empresa, a indústria passou a procurar, dentro de suas próprias plantas, a

solução para o problema, tentando reaproveitar ao máximo seus próprios efluentes. Inúmeros

processos foram desenvolvidos visando à redução de custo, tendo obtido melhores resultados

aqueles que utilizaram com sucesso esses métodos (MANCUSO e SANTOS, 2003).

Segundo COSTA (2007), pode-se entender o reúso como o aproveitamento do efluente

após o tratamento, com ou sem investimentos adicionais. Para MACHADO (2004), reúso é o

processo de utilização da água por mais de uma vez, tratada ou não, para o mesmo ou outro

fim. Essa reutilização pode ser direta ou indireta, decorrente de ações planejadas ou não. A

água de reúso tratada pode ser utilizada para inúmeros fins, como geração de energia,

refrigeração de equipamentos, em diversos processos industriais, em prefeituras e entidades

que usam a água para lavagem de ruas e pátios, nos setores comerciais e industriais,

irrigação/rega de áreas verdes, desobstrução de rede de esgotos e águas pluviais e lavagem de

veículos. A grande vantagem da utilização da água de reúso é a de preservar água potável

exclusivamente para atendimento de necessidades que exigem a sua potabilidade, como para o

abastecimento humano.

3.2 Necessidade de Reúso

Nas regiões áridas e semi-áridas, a água se tornou um fator limitante para o

desenvolvimento urbano, industrial e agrícola. Planejadores e entidades gestoras de recursos

hídricos procuram, continuadamente, novas fontes de recursos para complementar a pequena

disponibilidade hídrica ainda disponível (HESPANHOL, 2003).

Ainda segundo o autor, nessas condições, o conceito de “substituição de fontes”, se

mostra como a alternativa mais plausível para satisfazer a demandas menos restritivas,

liberando as águas de melhor qualidade para usos mais nobres, como o abastecimento

doméstico. Em 1985 o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas estabeleceu uma

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5

política de gestão para áreas carentes de recursos hídricos, que suporta este conceito: “a não

ser que exista grande disponibilidade, nenhuma água de boa qualidade deve ser utilizada para

usos que toleram águas de qualidade inferior” (UNIÁGUA, 2001 apud COSTA, 2007). As

águas de qualidade inferior, tais como esgotos, particularmente os de origem doméstica, águas

de drenagem agrícola e águas salobras, devem, sempre que possível, ser consideradas como

fontes alternativas para usos menos restritivos.

O uso de tecnologias apropriadas para o desenvolvimento dessas fontes se constitui,

hoje, em conjunção com a melhoria da eficiência do uso e o controle da demanda, na

estratégia básica para a solução do problema da falta universal de água (ABES, 1997 apud

COSTA, 2007)

De acordo com a Agência de Proteção Ambiental Americana (U.S. Environmental

Protection Agency), os fatores que mais impulsionam a adoção de práticas de reúso são

(USEPA, 2004 apud BARBOSA, 2007):

� Crescimento da demanda de água para sustentar as indústrias e o crescimento da

população;

� Escassez de água e secas em determinadas regiões do planeta;

� Proteção e melhoria do meio ambiente, em conjunto com as necessidades de

gerenciamento dos efluentes líquidos;

� Fatores sócio-econômicos, tais como novas regulamentações, preocupação com a

saúde, políticas públicas e incentivos econômicos; e

� Proteção da saúde pública, principalmente em países com pouco acesso à água

limpa.

3.3 Tipos de Reúso

De acordo com MACHADO (2004), a reutilização de água pode ser direta ou indireta,

decorrente de ações planejadas ou não:

� Reúso indireto não planejado da água: ocorre quando a água, utilizada em alguma

atividade humana, é descarregada no meio ambiente e novamente utilizada a jusante,

em sua forma diluída, de maneira não intencional e não controlada. Caminhando até

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6

o ponto de captação para o novo usuário, a mesma está sujeita às ações naturais do

ciclo hidrológico (diluição, autodepuração).

� Reúso indireto planejado da água: ocorre quando os efluentes, depois de tratados,

são descarregados de forma planejada nos corpos de águas superficiais ou

subterrâneas, para serem utilizadas a jusante, de maneira controlada, no atendimento

de algum uso benéfico. O reúso indireto planejado da água pressupõe que exista

também um controle sobre as eventuais novas descargas de efluentes no caminho,

garantindo assim que o efluente tratado estará sujeito apenas a misturas com outros

efluentes que também atendam ao requisito de qualidade do reúso objetivado.

� Reúso direto planejado das águas: ocorre quando os efluentes, depois de tratados,

são encaminhados diretamente de seu ponto de descarga até o local do reúso, não

sendo descarregados no meio ambiente. É o caso com maior ocorrência, destinando-

se a uso em indústria ou irrigação.

MANCUSO e SANTOS (2003), apresentam ainda mais um tipo de reúso, a Reciclagem

da Água, que é o reúso interno da água, antes de sua descarga em um sistema geral de

tratamento ou outro local de deposição, para servir como fonte suplementar de

abastecimento de uso geral. É um caso particular de reúso direto.

3.4 Aplicações de Reúso de Água

Segundo Ambiente Brasil (2005) apud COSTA (2007), as principais aplicações da

água reciclada são as seguintes:

� Irrigação paisagística: parques, cemitérios, campos de golfe, faixas de domínio de

auto-estradas, campus universitários, cinturões verdes, gramados residenciais.

� Irrigação de campos para cultivos: plantio de forrageiras, plantas fibrosas e de

grãos, plantas alimentícias, viveiros de plantas ornamentais, proteção contra geadas.

� Usos industriais: refrigeração, alimentação de caldeiras, água de processamento.

� Recarga de aquíferos: recarga de aquíferos potáveis, controle de intrusão marinha,

controle de recalques de subsolo.

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� Usos urbanos não-potáveis: irrigação paisagística, combate ao fogo, descarga de

vasos sanitários, sistemas de ar condicionado, lavagem de veículos, lavagem de ruas

e pontos de ônibus, etc.

� Finalidades ambientais: aumento de vazão em cursos de água, aplicação em

pântanos, terras alagadas, indústrias de pesca.

� Usos diversos: aquicultura, construções, controle de poeira, dessedentação de

animais.

3.5 Usos Urbanos

No setor urbano, o potencial de reúso de efluentes é muito amplo e diversificado.

Entretanto, usos que demandam água com qualidade elevada, requerem sistemas de

tratamento e de controle avançados, podendo levar a custos incompatíveis com os benefícios

correspondentes. De uma maneira geral, esgotos tratados podem, no contexto urbano, ser

utilizados para fins potáveis e não potáveis (HESPANHOL et. al, 2003).

3.5.1 Usos urbanos para fins potáveis

Devido à presença de organismos patogênicos e de compostos orgânicos sintéticos na

grande maioria dos efluentes disponíveis para reúso, principalmente naqueles oriundos de

estações de tratamento de esgotos de grandes conurbações com pólos industriais expressivos,

classifica o reúso potável como uma alternativa associada a riscos muito elevados, tornando-o

praticamente inaceitável (HESPANHOL et. al, 2003).

Além disso, os custos dos sistemas de tratamento avançados que seriam necessários,

levariam à inviabilidade econômico-financeira do abastecimento público. Entretanto, caso

seja imprescindível implementar reúso urbano para fins potáveis, devem ser obedecidos os

seguintes critérios básicos, segundo o autor:

a) Utilizar apenas sistemas de reúso indireto

A Organização Mundial da Saúde não recomenda o reúso direto, visualizado como a

conexão direta dos efluentes de uma estação de tratamento de esgotos a uma estação de

tratamento de águas e, em seguida, ao sistema de distribuição.

Page 21: Reuso de Agua

8

Como reúso indireto, compreende a diluição dos esgotos, após tratamento, em um corpo

hídrico (lago, reservatório ou aquífero subterrâneo), no qual, após tempos de detenção

relativamente longos, é efetuada a captação, seguida de tratamento adequado e posterior

distribuição.

O conceito de reúso indireto implica, evidentemente, que o corpo receptor

intermediário, seja um corpo hídrico não poluído, para, através de diluição adequada, reduzir

a carga poluidora a níveis aceitáveis.

b) Utilizar exclusivamente esgotos domésticos

Devido à impossibilidade de identificar adequadamente a enorme quantidade de

compostos de alto risco, particularmente micro-poluentes orgânicos, presentes em efluentes

líquidos industriais, mananciais que recebem, ou receberam, durante períodos prolongados,

esses efluentes, são, a princípio, desqualificados para a prática de reúso para fins potáveis.

O reúso, para fins potáveis, só poderia ser praticado, tendo como matéria prima básica,

esgotos exclusivamente domésticos. Além disso, um controle intensivo seria efetuado pela

municipalidade, para evitar a descarga, mesmo acidental, de efluentes industriais ou

compostos químicos de qualquer espécie, no sistema de coleta de esgotos domésticos.

3.5.2 Usos urbanos para fins não potáveis

Os usos urbanos não potáveis envolvem riscos menores e devem ser considerados como

a primeira opção de reúso na área urbana. Entretanto, cuidados especiais devem ser tomados

quando ocorre contato direto do público com gramados de parques, jardins, hotéis, áreas

turísticas e campos de esporte (HESPANHOL, 1999 apud COSTA, 2003).

De acordo com HESPANHOL et al.. (2003), os maiores potenciais de reúso são os que

empregam esgotos tratados para:

� Irrigação de parques e jardins públicos, centros esportivos, campos de futebol,

quadras de golfe, jardins de escolas e universidades, gramados, árvores e arbustos

decorativos ao longo de avenidas e rodovias;

� Irrigação de áreas ajardinadas ao redor de edifícios públicos, residenciais e

industriais;

� Reserva de proteção contra incêndios;

Page 22: Reuso de Agua

9

� Controle de poeira em movimentos de terra, etc.;

� Sistemas decorativos aquáticos tais como fontes e chafarizes, espelhos e quedas

d’água;

� Descarga sanitária em banheiros públicos e em edifícios comerciais e industriais;

� Lavagem de trens e ônibus públicos.

Os problemas associados ao reúso urbano não potável são, principalmente, os custos

elevados de sistemas duplos de distribuição (um duto para água potável e outra para água de

reúso), dificuldades operacionais e riscos potenciais de ocorrência de conexões cruzadas,

acrescenta o autor.

3.6 Usos Industriais

O setor industrial é o que mais emite poluentes, e outros impactos ambientais. O rápido

crescimento econômico associado à falta de tecnologia sustentável, bem como a exploração

de recursos naturais descontrolada, fizeram com que este assunto adquirisse interesse público

e desencadeou iniciativas políticas e econômicas (COSTA, 2007).

3.6.1 Principais Usos da Água na Indústria

COSTA (2007) comenta que, em razão de suas diferentes propriedades, a água tem

vários usos na indústria, tais como:

� Matéria-prima e como reagente: obtenção de hidrogênio, de ácido sulfúrico, de

ácido nítrico e inúmeras reações de hidratação;

� Solvente: de sólidos, líquidos e gases;

� Em lavagens de gases e sólidos: contidos em misturas.

� Veículos de suspensão de materiais: operação de flotação;

� Em operações envolvendo transmissão de calor;

� Agente de resfriamento de massas;

� Agente de aquecimento: vapor d’água ou água quente;

� Fonte de energia, por meio de geração de vapor d’água.

Page 23: Reuso de Agua

10

HESPANHOL (2003) apresenta algumas possibilidades do reúso de água para fins

industriais a serem viabilizados em áreas de concentração industrial:

� Torres de resfriamento com água de make-up;

� Caldeiras;

� Construção civil, incluindo preparação e cura de concreto, e para compactação do

solo;

� Irrigação de áreas verdes de instalações industriais, lavagens de pisos e alguns tipos

de peças, principalmente na indústria mecânica;

� Processos industriais.

Este autor afirma ainda que o reúso e a conservação de água devem ser estimulados nas

próprias indústrias, através da otimização de processos; lavagens com baixo consumo de água

e estação de tratamento que envolve: sistemas de lavagens com baixo consumo de água,

estação de tratamento de água para abastecimento público. Na Tabela 3.1, é mostrada a

distribuição do consumo de água em diversos tipos de atividades industriais.

MIERZWA (2005) apud OENNING JÚNIOR (2006) classifica o reúso industrial de

forma mais simplificada sugerindo apenas as modalidades macroexterna e macrointerna,

incorporando o reúso interno ou reciclagem dentro da modalidade macrointerna.

O reúso de água aplicados às industriais pode ser dividido em três tipos:

a) Reúso macroexterno

O reúso macroexterno é definido como o reúso de efluentes proveniente de estações de

tratamento administradas por concessionárias municipais, estaduais ou ainda de outras

indústrias. Para este caso a indústria deve estudar técnica e financeiramente a viabilização de

um sistema de tratamento adicional, necessário para atender a novos padrões de qualidade,

mais os de adução e distribuição do efluente (OENNING JÚNIOR, 2006).

Geralmente, o sistema é viável se existir uma concentração razoável de indústrias que se

associem ao programa de reúso, em um raio de aproximadamente cinco quilômetros no

entorno da estação de tratamento e recuperação para reúso (MANCUSO e SANTOS, 2003).

b) Reúso macrointerno

Este reúso ocorre em consequência do alto custo da água na indústria, particularmente

nas regiões metropolitanas. Isso estimula as indústrias a avaliar as possibilidades internas de

Page 24: Reuso de Agua

11

reúso e assim, tende a se ampliar ante as novas legislações associadas aos instrumentos de

outorga e cobrança pela utilização dos recursos hídricos, tanto na tomada de água como nos

despejos de efluentes, que serão, efetivamente, implantados pelo órgão regulamentador

(MANCUSO e SANTOS, 2003).

Tabela 3.1 - Distribuição do consumo de água na indústria por atividades Distribuição de Consumo de Água (%)

Segmento Industrial Resfriamento Sem Contato

Processo e Atividades Afins

Uso Sanitário e Outros

Carne enlatada 42 46 12 Abatimento e Limpeza de aves 12 77 12 Laticínios 53 27 19 Frutas e vegetais enlatados 19 67 13 Frutas e vegetais congelados 19 72 8 Moagem de Milho a úmido 36 63 1 Açúcar de cana-de-açúcar 30 69 1 Açúcar de beterraba 31 67 2 Bebidas Maltadas 72 13 15 Indústria Têxtil 57 37 6 Serrarias 58 36 6 Fábricas de celulose e papel 18 80 1 Cloro e Álcalis 85 14 1 Gases Industriais 86 13 1 Pigmentos inorgânicos 41 58 1 Produtos químicos inorgânicos 83 16 1 Materiais plásticos e resinas 93 7 + Borracha sintética 83 17 + Fibras de celulose sintéticas 69 30 1 Fibras orgânicas não celulósicas 94 6 + Tintas e pigmentos 79 17 4 Produtos químicos orgânicos 91 9 1 Fertilizantes nitrogenados 92 8 + Fertilizantes fosfatados 71 28 1 Negro de fumo 57 38 6 Refinaria de petróleo 95 5 + Pneus 81 16 3 Cimento 82 17 1 Aço 56 43 1 Fundição de ferro e aço 34 58 8 Cobre primário 52 46 2 Alumínio primário 72 26 2 Automóveis 28 69 3

+Valores inferiores a 0,5% do volume total de água consumida FONTE: VAN Der LEEDEN;TROISE & TODD (1990) apud OENNING JÚNIOR (2006)

Ainda segundo os autores, as indústrias são, automaticamente, induzidas a reduzir o

consumo de água, por uma sistemática de racionalização, reúso e abatimento das cargas

poluidoras, por meio de sistemas avançados de tratamento.

Page 25: Reuso de Agua

12

c) Reúso específico

O reúso específico consiste em efetuar a reciclagem de efluente de quaisquer processos

industriais, nos próprios processos nos quais são gerados, ou em outros processos que se

desenvolvem em sequência e que suportam qualidade compatível com o efluente em

consideração (MANCUSO e SANTOS, 2003). A prática do reúso específico pode ser

implantada de duas maneiras distintas (MIERZWA, 2002):

� Reúso em cascata: neste caso, o efluente originado por um determinado processo é

diretamente utilizado em um processo subsequente, pois suas características são

compatíveis com os padrões de qualidade da água utilizada. Este tipo de reúso é

conhecido como reúso em cascata. Apesar desta modalidade de reúso parecer

simples, em certos casos o efluente do processo anterior não atinge a qualidade do

processo seguinte, sendo necessário utilizar os métodos de reúso parcial do efluente

e da mistura do efluente com água de abastecimento público.

� Reúso de efluentes tratados: é o tipo de reúso mais discutido atualmente e consiste

na utilização de efluentes já submetidos a um processo de tratamento. Neste caso a

escolha do processo de tratamento em que o efluente será submetido, depende da

qualidade exigida pelo local onde a água recuperada será utilizada.

São considerados exemplos típicos de reúso específico as operações de pintura em

indústrias automobilísticas e de eletrodomésticos, onde as águas de lavagem que ocorrem

sucessivamente, oriundas de decapagem, desengorduramento, fosfatização, etc., podem após

tratamento serem recicladas no próprio processo de lavagem.

3.7 Requisitos de Qualidade da Água

A qualidade da água é definida em função de características físicas, químicas,

microbiológicas e radioativas. Para cada tipo de aplicação, o grau de qualidade exigido pode

variar significativamente (SAUTCHÚK et al., 200?):

� Consumo humano: água potável, atendendo às características estabelecidas pela

Portaria nº 518 – Norma de qualidade da água para consumo humano, de

25/03/2004, do Ministério da Saúde (www.saude.gov.br);

� Matéria prima: para esse tipo de uso, o grau de qualidade da água pode variar

significativamente, podendo-se admitir a utilização de uma água com característica

Page 26: Reuso de Agua

13

equivalente ou superior à da água utilizada para consumo humano, tendo-se como

principal objetivo a proteção da saúde dos consumidores finais e/ou a garantia da

qualidade final do produto.

� Fluido auxiliar: da mesma forma que a água é utilizada como matéria-prima, o grau

de qualidade da água para uso como um fluido auxiliar irá depender do processo à

que esta se destina. Caso essa água entre em contato com o produto final, o grau de

qualidade será mais ou menos restritivo. Não havendo contato da água com o

produto final, esta poderá apresentar um grau de qualidade menos restritivo;

� Geração de energia: no aproveitamento da energia potencial ou cinética, a água é

utilizada no seu estado natural, captada de um rio, lago, ou outro sistema de

reservação. Já para o aproveitamento da energia térmica, após aquecimento e

vaporização da água por meio do fornecimento de energia térmica, a mesma deve

apresentar um elevado grau de qualidade, para que não ocorram problemas nos

equipamentos de geração de vapor ou no dispositivo de conversão de energia;

� Fluido de aquecimento e/ou resfriamento: Para a utilização da água na forma de

vapor, o grau de qualidade deve ser bastante elevado, enquanto a utilização da água

como fluido de resfriamento requer um grau de qualidade bem menos restritivo,

devendo-se levar em consideração a proteção e a vida útil dos equipamentos com os

quais esta água irá entrar em contato.

Muitas aplicações exigem que um maior número de parâmetros sejam atendidos, de

modo que sejam minimizados os riscos ao processo, produto ou sistema no qual esta água será

utilizada.

3.8 Normas, Diretrizes e Leis Sobre o Uso da Água no Brasil

Dada a importância dos recursos hídricos para o desenvolvimento de diversas atividades

humanas, foram criadas leis, normas entre outros, que disciplinassem a utilização dos recursos

hídricos pelos diversos segmentos da sociedade. Este conjunto de regras também tem como

objetivo minimizar os problemas de poluição, causados ao meio ambiente, devido à emissão

de efluentes para corpos receptores (MIERZWA, 2002).

Países como França, México e Estados Unidos, possuem leis que ajudam a gerir o uso

sustentável da água. Nos Estados Unidos, há a Agência de Proteção Ambiental dos Estados

Page 27: Reuso de Agua

14

Unidos (US Environmental Protection Agency – USEPA) instituída em 1992. Já na França

possui uma agência que controla e protege seus recursos hídricos, que é a Agência da Água

(Agencer de I’Eau). O outro exemplo, México, possui a Lei Nacional de Águas, onde existe

um artigo dedicado à prevenção e ao controle da contaminação da água e a norma técnica

ecológica NOM – ECOL – 1996, a qual estabelece requisitos para o uso das águas residuárias

na agricultura (CUNHA, 2008 apud SILVA, 2009).

No Brasil, não existe lei específica sobre reúso da água. Contudo, as leis existentes

incentivam a conservação da água, bem como seu uso racional, e o reúso de efluentes tem

esse objetivo.

Segundo CAVACO (2005), por décadas, no Brasil, o uso dos recursos hídricos naturais

era gratuito, mas podia ser reservado a particulares. Isso era possível por conta do Código de

Águas de 1934. Só na década de 80, por causa da pressão ambiental, foram sendo criadas

legislações mais específicas.

Nesse sentido, a Constituição de 1988 estabelece o domínio sobre os recursos hídricos.

A Lei nº 9.433/97 cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e

estabelece os seguintes instrumentos de gerenciamento (BRASIL, 1997).

� Outorga pelo direito de uso de recursos hídricos;

� Cobrança pelo uso da água;

� Enquadramento dos corpos d’água em classes de uso;

� Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos;

� Planos de Recursos Hídricos.

Outro destaque é nova a Resolução CONAMA Nº. 357, de 17 de março de 2005, que

estabelece padrão de qualidade para cada classe de água e procedimento para lançamento de

efluentes em corpos de água (MIERZWA, 2002 apud SILVA, 2009).

Ainda segundo o autor, tem-se a norma ABNT-NBR 13969:1997 que classifica e

fornece valores de parâmetros para esgotos domésticos ou similares, conforme reúso. Esta

norma não aborda outros tipos de reúso, como reúso industrial, recarga de aquíferos e potável

indireto, conforme apresentado na Tabela 3.2.

Page 28: Reuso de Agua

15

Tabela 3.2 – Critérios de utilização de reuso de água Classificação Aplicação

Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4

Reúso

− Lavagem de carros; − Contato direto do

usuário com a água; − Aspiração de aerossóis

− Lavagem de pisos e calçadas;

− Irrigação dos Jardins;

− Manutenção dos lagos e canais para fins paisagísticos, exceto chafarizes.

− Descargas de vaso sanitário

− Reuso nos Pomares, cereais, forragens, pastagens para gados e outros cultivos através de escoamento superficial ou por sistema de irrigação pontual

Parâmetro

− Turbidez<5; − Coliforme fecal<200

NMP/100mL; − SDT<200 mg/L − PH entre 6 e 8; − Cloro residual entre 0,5

e 1,5 mg/L

− Turbidez<5; − Coliforme

fecal<500 NMP/100mL;

− Cloro residual > 0,5 mg/L

− Turbidez<10; − Coliforme

fecal<500 NMP/100mL;

− Coliforme fecal<5000 NMP/100mL;

− OD>2,0mg/L

Tratamento Necessário

− Tratamento aeróbio seguido por filtração convencional e cloração;

− Pode substituir filtração convencional por membrana filtrante

− Tratamento Biológico seguido de filtração de areia e desinfecção;

− Pode substituir filtração por membrana filtrante

− Tratamento aeróbio seguido de filtração e desinfecção

− Não tem necessidade de tratamento.

− As aplicações devem ser interrompidas pelos menos 10 dias antes da colheita.

FONTE: ABNT. 1997 e MATSURUMA (2007) apud COSTA (2007)

3.9 O Petróleo

O petróleo é uma substância conhecida desde o início da civilização, mas apenas a partir

do século XVIII a petróleo passou a ser comercializado nas indústrias farmacêuticas e na

iluminação pública, por exemplo. Os primeiros poços de petróleo foram perfurados nos

Estados Unidos, só em 1859, houve sucesso na exploração (MENDONÇA, 2004 apud

GOMES, 2009).

No Brasil, a primeira concessão para extrair material betuminoso foi em 1858. Esse

material era aplicado na produção de querosene de iluminação. A primeira exploração

aconteceu às margens do Rio Marau, na Bahia. Posteriormente, a descoberta de petróleo no

recôncavo baiano viabilizou a exploração de outras bacias sedimentares terrestres

(CEPETRO, 2008 apud GOMES, 2009).

Ainda, segundo o autor, são muitas as teorias sobre a origem do petróleo, porém a mais

aceita é a teoria orgânica, que indica a participação animal e vegetal. O petróleo é encontrado

em bacias sedimentares. Para que o acúmulo de petróleo aconteça, é necessário que exista a

matéria-prima (pasta orgânica) e a presença de camadas de rochas reservatório, capaz de

armazenar petróleo em seus poros.

Page 29: Reuso de Agua

16

O petróleo é produzido junto com a água. A água está vinculada ao petróleo, sendo

responsável pela acumulação, preservação e até destruição das jazidas. Uma vez separada do

óleo e do gás, essa água – a água produzida – deve ser tratada e descartada, respeitando a

legislação vigente (FONSECA, 1999).

Na Figura 3.1, é possível observar o esquema de produção de óleo:

Figura 3.1 - Esquema de Produção de Óleo FONTE: Adaptação de PETROBRAS (2009) apud GOMES (2009).

Além da grande utilização dos seus derivados, com o advento da petroquímica, o

petróleo, tem centenas de novos produtos, como plásticos, borrachas, produtos farmacêuticos,

etc. (CEPETRO, 1999 apud FONSECA, 1999). O petróleo e o gás representam 52% de toda

energia consumida no mundo, tornando-se, assim, fundamental para o desenvolvimento dos

países (AEPET, 1998 apud FONSECA, 1999).

Em Sergipe, suas atividades de exploração tiveram início em 1961, no campo de

Riachuelo. Hoje, abriga o maior campo petrolífero terrestre do Brasil, possuindo mais de

1.200 poços de petróleo.

Page 30: Reuso de Agua

17

A produção brasileira hoje é de 1.978.000 barris por dia de petróleo e

422.000 barris de gás natural, tendo um investimento de R$ 53,3 bilhões e um lucro líquido

de R$ 32.988.000.000,00 (Dados de março de 2009) (PETROBRAS, 2010).

3.10 Água Produzida

A água produzida está associada à produção de petróleo, é um subprotudo indesejável,

que está sempre presente nas extrações de petróleo. É gerada quando grandes quantidades de

água contidas nas rochas subterrâneas são produzidas junto com o petróleo ao efetuar o

tratamento do óleo produzido, reduzindo o teor de água, contendo óleo e outros contaminantes

(GOMES, 2009).

Essa água produzida da rocha reservatório é identificada pela sua salinidade. Para

impedir a precipitação de sais nos poros das rochas no subsolo, muitas vezes são utilizados

produtos químicos que são injetados no subsolo, o que implica na existência destes produtos

nas localidades de produção, e seus cuidados relativos à sua presença no meio ambiente.

Cuidados especiais devem ser tomados com o descarte destas águas produzidas (GERSIVAL,

2009).

Os possíveis descartes da água produzida são: descarte em terra, evaporação,

incineração, descarte em rios, irrigação, aplicações potáveis, descarte e injeção em

subsuperficie, descarte no mar e aplicações em indústrias (FONSECA, 1999).

Ainda, segundo a autora, para evitar os riscos de contaminação, o descarte em terra, foi

praticamente extinto na América do Sul. A evaporação demanda muita energia para seu

processo e tende a ser muito caro. Já a incineração causa grandes impactos negativos na

qualidade do ar. O descarte sem tratamento em rios não é uma prática aconselhável, uma vez

que tanto a água produzida quanto o volume e a capacidade de prover diluição adequada, são

considerados críticos.

Se for tratada adequadamente, a água produzida é de grande valia para a irrigação,

porém essa prática é aconselhada apenas para países áridos devido a sua salinidade. No que se

refere a fins potáveis, não é usado devido ao alto custo de tratamento. A injeção em

subsuperfície objetiva a recuperação secundária de petróleo, através da manutenção da

pressão (FONSECA, 1999).

Page 31: Reuso de Agua

18

A água produzida pode ser usada como matéria-prima em outras indústrias. Atualmente

no campo de Carmopólis-SE, a água produzida da estação de Bonsucesso é destinada para a

Vale que utiliza em seu processo para dissolver um sal (NaCl), subproduto de sua atividade.

GOMES (2009) classifica o tratamento de água produzida em convencional e não

convencional.

� Convencional: emulsões estabilizadas por eletrostática, flotação convencional;

� Não convencional: eletroflotação, processos Feuton e processo combinado.

3.11 A Petrobras

A Petrobras foi criada em 1953, mas sua instalação só foi concluída em 1954, ao herdar

do Conselho Nacional de Petróleo duas refinarias, a de Mataripe (BA) e a de Cubatão (SP).

Tais refinarias passam a ser os primeiros ativos (patrimônio) da empresa. Em 10 de maio

daquele ano, quando a empresa começou a operar, com uma produção de 2.663 barris,

equivalente a 1,7% do consumo nacional. Naquele ano, o petróleo e seus derivados já

representam 54% do consumo de energia no país (PETROBRAS, 2010).

As operações de exploração e produção de petróleo, bem como as demais atividades

ligadas ao setor de petróleo, gás natural e derivados, à exceção da distribuição atacadista e da

revenda no varejo pelos postos de abastecimento, foram monopólio conduzido pela Petrobras

de 1954 a 1997. Desde então a companhia vem crescendo significativamente e atualmente, a

companhia está presente em 27 países (PETROBRAS, 2010).

No início de 2008, a Petrobras foi a petroleira mais sustentável do mundo. A companhia

é considerada referência mundial em ética e sustentabilidade, considerando 387 indicadores

internacionais, entre eles queda em emissão de poluentes e em vazamentos de óleo, menor

consumo de energia e sistema transparente de atendimento a fornecedores.

3.12 Panorama de Gestão de Efluentes na Petrobras

Devido às características de sua atividade, a Petrobras é uma grande consumidora de

água. Diante disso, surgiu a necessidade de conhecer a demanda presente e futura em suas

áreas de atuação. Assim, em 2002, foi estabelecida uma especificação técnica, pela Petrobras,

para a construção de cenários de disponibilidade de recursos hídricos, contemplando também,

Page 32: Reuso de Agua

19

o lançamento de efluentes, pois o mesmo será outorgado futuramente, para isso se fez

necessário o conhecimento da disponibilidade de corpos receptores dos mesmos (CAVACO,

2005).

Os principais objetivos dessa especificação são:

� O estabelecimento de cenários de curto (5 anos), médio (10 anos) e longo prazos (20

anos) sobre a demanda e disponibilidade das fontes de suprimento das unidades

operacionais selecionadas para fazerem parte do estudo;

� Avaliação do potencial, da disponibilidade e da vulnerabilidade das águas

subterrâneas nas regiões das unidades selecionadas;

� Diagnóstico da situação atual e avaliação da disponibilidade dos corpos d’água para

o lançamento de efluentes;

� Alternativas para captação de água e lançamento de efluentes, caso os cenários

futuros sejam desfavoráveis;

� Identificação das unidades operacionais que deverão reduzir o consumo de água e o

lançamento de efluentes.

Assim, o autor apresenta ações do projeto corporativo para a excelência no

Gerenciamento de Efluentes e Recursos Hídricos:

� Conhecimento da conjuntura nacional e internacional sobre gerenciamento de

efluentes e recursos hídricos;

� Diagnóstico interno de efluentes e recursos hídricos;

� Cenários de disponibilidade de recursos hídricos nas regiões onde a Petrobras opera;

� Elaboração de norma Petrobras sobre gestão de efluentes e recursos hídricos;

� Sistema corporativo de informações sobre efluentes e recursos hídricos.

O produto final é uma base de dados que permitem consultas, geração de gráficos e

relatórios sobre cada unidade de negócios, garantido assim o controle do consumo de água e

dos efluentes gerados.

Page 33: Reuso de Agua

20

3.13 Utilização de Água em uma Refinaria de Petróleo

Em refinarias americanas foi observada a seguinte distribuição no uso da água captada

(Petrobras, 1996 apud VANELLI, 2004):

� Água de resfriamento: 60 a 70%;

� Água para geração de vapor em caldeiras: 20 a 30%;

� Outros consumos: 10 a 20%.

Entre os outros consumos, foram detectados:

� Água para dissolução de sais em dessalgadoras de petróleo: 4 a 6%;

� Água potável para consumo humano: 4 a 6%;

� Água utilizada no processo produtivo: < 1%.

Verifica-se que os grandes consumidores em uma refinaria de petróleo são os sistemas

de água para resfriamento e geração de vapor.

E, nas refinarias brasileiras, a água captada é utilizada para os seguintes serviços

(Petrobras, 1996 apud VANELLI, 2004):

� Água para resfriamento (de produtos e de máquinas);

� Água para uso industrial (lavagem de equipamentos e áreas e preparação de soluções

de uso industrial);

� Água potável;

� Água para geração de vapor;

� Água para combate a incêndio.

3.14 Programas de Conservação e Reúso de Água – PCRA

Como alternativa para melhor gerir os recursos hídricos dentro da indústria, o

FIESP/CIESP, apresenta o Manual de Conservação e Reuso de Água na Indústria. Nele é

possível extrair os cuidados necessários para preservação do meio ambiente, através da

utilização de técnicas de conservação e reúso da água.

O Manual apresenta o Programa de Conservação e Reúso de Água - PCRA como um

instrumento composto por um conjunto de ações específicas de racionalização do uso da água

Page 34: Reuso de Agua

21

na unidade industrial, que devem ser detalhadas a partir da realização de uma análise de

demanda e oferta de água, em função dos usuários e atividades consumidoras, com base na

viabilidade técnica e econômica de implantação das mesmas (SAUTCHÚK et al. , 200?).

Neste contexto, apresenta os seguintes benefícios:

Benefícios Ambientais:

� Redução do lançamento de efluentes industriais em cursos d’água, possibilitando

melhorar a qualidade das águas interiores das regiões;

� Redução da captação de águas superficiais e subterrâneas, possibilitando uma

situação ecológica mais equilibrada;

� Aumento da disponibilidade de água para usos mais exigentes, como abastecimento

público, hospitalar, etc.

Benefícios Econômicos:

� Conformidade ambiental em relação a padrões e normas ambientais estabelecidos,

possibilitando melhor inserção dos produtos brasileiros nos mercados internacionais;

� Mudanças nos padrões de produção e consumo;

� Redução dos custos de produção;

� Aumento da competitividade do setor;

� Habilitação para receber incentivos e coeficientes redutores dos fatores da cobrança

pelo uso da água.

Benefícios Sociais:

� Ampliação da oportunidade de negócios para as empresas fornecedoras de serviços e

equipamentos, e em toda a cadeia produtiva;

� Ampliação na geração de empregos diretos e indiretos;

� Melhoria da imagem do setor produtivo junto à sociedade, com reconhecimento de

empresas socialmente responsáveis.

Tais benefícios, traz como conseqüência direta a redução do consumo de água, a

redução do volume de efluentes gerados e, como conseqüências indiretas, a redução do

consumo de energia, de produtos químicos, a otimização de processos e a redução de despesas

com manutenção.

Page 35: Reuso de Agua

22

De maneira simplificada, um PCRA abrange as etapas relacionadas no Quadro 3.1.

Quadro 3.1 - Etapas de Implantação de um Programa de Conservação e Reúso de Água Etapas Principais Atividades Produtos

01 Avaliação Técnica Preliminar

− Análise Documental − Levantamento de Campo

− Plano de Setorização do Consumo de Água*

02 Avaliação da Demanda de água

− Análise de Perdas Físicas − Análise de Desperdícios − Identificação dos diferentes

níveis de qualidade de água

− Macro e Micro fluxo de água − Plano de adequação de

equipamentos hidráulicos − Plano de Adequação de

Processos* − Plano de otimização dos sistemas

hidráulicos*

03 Avaliação da Oferta de Água

− Concessionárias − Captação direta − Águas Pluviais − Reúso de Efluentes − Águas Subterrâneas

− Plano de aplicação de fontes alternativas de água*

04 Estudo Viabilidade Técnica e Econômica

− Montagem de Matriz de Solução − Análise técnica e econômica

− Cenário ótimo

05 Detalhamento Técnico − Especificações Técnicas − Detalhamento técnico

− Projeto Executivo

06 Sistema de Gestão

− Plano de monitoramento de consumo de água

− Plano de capacitação dos gestores e usuários

− Rotinas de manutenção − Procedimentos específicos

− Sistema de gestão da água

*Especificação e detalhamento de sistemas e componentes, custos e expectativas de economia. FONTE: SAUTCHÚK et al. (200?)

Page 36: Reuso de Agua

23

4 METODOLOGIA

Este trabalho é eminentemente de caráter dissertativo, uma vez que se trata de

sistematização de informações sobre assunto já conhecido. Além disso, os resultados são

descritos de maneira a contribuir para o desenvolvimento sobre o tema proposto: conservação

e do reúso de água.

O caráter qualitativo da pesquisa refere-se à forma de abordagem do objeto, uma vez que não

se pretende dar tratamento estatístico aos dados obtidos com a pesquisa e sim entender os casos de

reúso de água de acordo com a perspectiva dos participantes da situação estudada e, a partir daí,

explicar o processo de reúso de água nos caso apresentados.

Para coleta de informações, foram utilizadas atividades de pesquisa documental através

de bibliografia adquirida em livros, artigos científicos, dissertações, teses e internet. A

Biblioteca Virtual da empresa Petrobras foi utilizada para obtenção dos casos mostrados nesse

trabalho.

Um dos grandes problemas enfrentados na aquisição do material foi o volume de material

destinado a reúso em Refinaria, no que ser refere ao material disponível na internet. Outros

casos foram encontrados, mas como a Política de Privacidade da Petrobras é muito rígida e

ainda o material se encontrar disponível apenas para leitura “in loco”, Rio de Janeiro, ficou

mais difícil exemplificar outros usos da água de reúso que não só em refinarias.

Como pode ser visto, tais problemas não impediram que o trabalho fosse concluído.

Sendo assim, foi possível explanar o tema e ainda, exemplificar como foi possível utilizar o

reúso de água de forma a contribuir para economia e sustentabilidade nas empresas citadas.

Page 37: Reuso de Agua

24

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

O petróleo está presente no consumo atual da sociedade, conforme mostra a grande

quantidade de produtos industrializados que contêm insumos ou são produzidos diretamente a

partir dessa matéria-prima e seus derivados (CAMPOS et al., 2005). Sendo assim, é crescente

a preocupação da população e dos órgãos ambientais, com os impactos ambientais que a

indústria petrolífera provoca -“Quanto menos poluidora e mais compromissada com a

questão ambiental, maior o reconhecimento social que a empresa terá”. Portanto a

alternativa de uma Produção mais Limpa na indústria de petróleo é indispensável, pois torna

os processos da empresa de petróleo mais eficientes e menos prejudiciais ao meio ambiente,

além de propiciar a redução nos custos de produção, acrescenta o autor.

A importância da questão da água para o setor do refino no Brasil se dá pelo volume

consumido pelas refinarias e pela poluição causada por seu processo produtivo. De fato, os

principais impactos ambientais do refino do petróleo são a demanda de grandes quantidades

de água para suas operações e a geração de efluentes líquidos. Em função da expansão do

parque de refino nacional essa preocupação se faz cada vez mais presente.

Para melhor exemplificar tudo que já foi explanado até agora, serão apresentados

estudos de caso de reúso de água na indústria petrolífera, de forma a contribuir para a redução

de água e, principalmente, para a preservação do meio ambiente.

5.1 Caso 1 - Produção mais Limpa no Campo de Carmópolis – SE

O primeiro caso a ser exposto é o da Produção Mais Limpa, na Estação de Bonsucesso,

no município de Carmopólis-SE.

O princípio básico da metodologia de Produção mais Limpa (P+L) é eliminar a poluição

durante o processo de produção, não no final. A razão: todos os resíduos que a empresa gera

custaram-lhe dinheiro, pois foram comprados a preço de matéria-prima e consumiram

insumos como água e energia. Uma vez gerados, continuam a consumir dinheiro, seja sob a

forma de gastos de tratamento e armazenamento, seja sob a forma de multas pela falta desses

cuidados, ou ainda pelos danos à imagem e à reputação da empresa.

Assim, podemos dizer que a Produção mais Limpa é a aplicação contínua de uma

estratégia ambiental de prevenção da poluição na empresa, focando os produtos e processos,

para otimizar o emprego de matérias-primas, de modo a não gerar ou a minimizar a geração

Page 38: Reuso de Agua

25

de resíduos, reduzindo os riscos ambientais para os seres vivos e trazendo benefícios

econômicos para a empresa.

CAMPOS et al.(2005) mostram que deve ser dada atenção ao manejo da água

produzida, visando sua minimização e melhoria da qualidade no campo petrolífero da

Petrobras em Carmopólis-SE, dando ênfase à etapa de perfuração de poço para produção de

óleo, e sugere mudanças com base na metodologia de produção mais limpa.

Na Figura 5.1, é mostrado o processo de produção de óleo nesse campo de petróleo.

Figura 5.1 - Fluxograma geral da produção de óleo no Campo de Carmópolis FONTE: CAMPOS et al.(2005)

A água utilizada na perfuração é obtida através do bombeamento de rios ou poços, mas

não sofre nenhum tratamento e é determinada apenas a sua salinidade.

Segundo os autores, foram utilizados cerca de 100.000 m³ de água do rio em motores de

sonda de perfuração e na composição dos fluidos de perfuração. Água que não se destina ao

resfriamento de motores, é adicionado sal junto com outros fluidos de perfuração para que

haja equilíbrio osmótico entre os fluidos e a formação, evitando erosão da mesma.

Como alternativa de reúso da água produzida, os autores propuseram a análise da

viabilidade técnica, econômica e ambiental da substituição da água utilizada no preparo dos

Page 39: Reuso de Agua

26

fluidos de perfuração por água produzida tratada. Com essa substituição, esperava-se obter

um reaproveitamento de aproximadamente 0,1% da água produzida anual e principalmente

uma redução de 6000m3/ano de captação de água dos rios da região Um ganho ambiental.

Assim os resultados parciais de CAMPOS et al. (2005) apontaram para a viabilidade

técnica das mudanças sugeridas, o que proporcionaria uma redução no consumo de água

captada dos rios que cortam a região, além da diminuição da carga que é tratada na estação

Bonsucesso (Carmopólis-SE). Contudo, no período em que foram realizadas as análises, os

autores julgaram necessário a realização de estudo da viabilidade econômica antes da

implementação efetiva de tais mudanças. E ressaltaram ainda que, com a crescente cobrança

pelo uso da água e a legislação ambiental, tornaria o estudo da Produção mais Limpa uma

rotina na indústria de petróleo.

5.2 Caso 2 - Reúso de Água na REMAN (Refinaria do Amazonas)

CARNEIRO (2006) realizou um trabalho com o objetivo de mostrar a metodologia do

máximo reúso, em desenvolvimento na UFRJ, aplicada ao processo de tratamento de água de

uma refinaria de petróleo e propor modificações no fluxograma do sistema de água de

processo de modo a ter um mínimo de consumo de água.

O sistema estudado é dotado das seguintes unidades: Estação de Tratamento de

Despejos Industriais (ETDI), Estação de Tratamento de Água (ETA) e Sistema de Geração de

Vapor (SGV).

O consumo de água em tempo seco é em média de 150 t/h, sendo cerca de 40% desta

água destinada aos processos de geração de vapor, craqueamento catalítico e dessalgação de

petróleo.

O processo estudado é o de consumo de água em caldeiras, uso de água na dessalgação

de petróleo e uso de água na unidade de craqueamento catalítico em leito fluidizado,

conforme mostrado no fluxograma da Figura 5.2. Os dados correspondentes estão presentes

na Tabela 5.1.

Page 40: Reuso de Agua

27

Legenda: D: divisão ; M: mistura Figura 5.2 – Fluxograma Original

Fonte: CARNEIRO (2006)

Tabela 5.1 - Dados referentes ao fluxograma hídrico do sistema de utilidades simplificado

OP Vazão (t/h) Contaminantes Cin (ppm) * Cout (ppm)**

Água Bruta 58,4 A B

5,0 0,0

5,0 0,0

ETA 50 A B

5,0 0,0

0,5 0,0

DESMINERAÇÃO 50 A B

0,5 0,0

0,5 0,0

SISTEMA DE GAS DE VAPOR

5+5(reciclo)+ 45(perda)=55

A B

0,5 0,0

300,5 0,0

CRAQUEAMENTO CATALITICO

5 A B

0,5 0,0

7,5 400

DESSALGAÇÃO 8,4 A B

100,5 30

1660,5 130

ETDI 18,4 A B

- 200

100 5,0

Legenda: *Cin: Contaminante na entrada; **Cout: Contaminante na saída Fonte: CARNEIRO (2006).

Esta metodologia, baseada no Diagrama de Fontes de Água, DFA, visa reduzir o

consumo de água limpa e constam das etapas descritas a seguir:

� Escolher pontos de consumo de água com potencial de reúso;

� Elaborar um balanço hídrico envolvendo estes processos escolhidos;

� Identificar as restrições de vazão do sistema;

� Identificar os principais contaminantes e as concentrações nas correntes;

� Estabelecer os limitantes para o reúso (teor de contaminantes e vazões);

� Proposição de novo fluxograma.

No exemplo apresentado, o autor leva em consideração apenas dois contaminantes,

cloretos e amônia (A e B). Além disso, desconsidera as perdas e reciclo das caldeiras,

desmineralização e ETA. Ou seja, a ETA foi considerada apenas como uma nova fonte

Page 41: Reuso de Agua

28

interna de água. Assim, as vazões das respectivas operações foram determinadas e

apresentadas na Tabela 5.2.

Tabela 5.2 - Dados referentes ao Fluxograma 1

OPERAÇÃO Vazão (t/h) Contaminantes Cin (ppm) Cout (ppm) ∆mk (kg/h)

OP-I-SGV 5 A B

0,5 0,0

300 0,0

1,5 -

OP-II-UFCC 5 A B

0,5 0,0

7,0 400

0, 035 2

OP-III-DESSALGAÇÃO 8,4 A B

100 30

1660 130

13,10 0,84

OP-IV-ETDI 18,4 A B

- 200

100 5,0

- 3,58

FONTE: CARNEIRO (2006)

O Fluxograma 1 correspondente a essa análise é apresentado na Figura 5.3.

Figura 5.3 - Fluxograma Modelo Simplificado. FONTE: Adaptado de CARNEIRO (2006)

Foram consideradas algumas restrições para o desenvolvimento dos fluxogramas tais

como:

� Não foi considerado o reúso de água para as caldeiras, devido a sua necessidade de

água limpa.

� Deu-se preferência ao reúso da OP II na OP III, devido à contaminação do petróleo

por fenóis que são removidos em grande parte na dessalgadora.

� As vazões das operações I, II e III foram consideradas fixas, ou seja, objetivou-se

manter a mesma vazão utilizada atualmente na refinaria.

Deste modo, o autor analisa o processo e diz que o consumo total de água limpa foi de

17,8 t/h, ou seja, houve uma redução de 0,6 t/h ou de 3,3% no modelo simplificado.

Page 42: Reuso de Agua

29

Em seguir foi analisada a hipótese de reciclar água da ETDI para a dessalgadora,

evitando assim o consumo de água bruta e diminuir, ou até mesmo eliminar, a água oriunda

da ETA nesta operação.

O diagrama sofre apenas uma modificação, pois a corrente reciclada da ETDI funciona

como uma nova fonte de água com uma determinada concentração (cloreto a 100 ppm e NH3

a 5 ppm). Esta fonte é deslocada seguindo o mesmo procedimento.

O fluxograma com o reciclo da ETDI para a OP III apresentou um consumo de água

limpa da ETA de 10 t/h e de 7,9 t/h de água proveniente da ETDI. Esta análise pode ser

observada na Figura 5.4.

Figura 5.4 – Fluxograma Modelo Completo. FONTE: Adaptado de CARNEIRO (2006)

O novo fluxograma apresentou uma redução de 8,4 t/h ou de 45,6% no modelo

simplificado.

Entre as duas propostas de reúso mostrada por CARNEIRO (2006), a que apresenta

melhor resultado é a que propõe o reúso da água da operação II na operação III e utiliza o

reciclo da ETDI para a dessalgadora.

A redução proposta foi de 18,4 t/h para 10 t/h no modelo simplificado (45,6%), o que

implica em uma redução de 58,4 t/h para 50,0 t/h no modelo completo (14,4%). No caso real

da refinaria estudada onde o consumo de água limpa é de aproximadamente 150 t/h, a redução

é de cerca de 6 % ou para 140 t/h.

Além de se conseguir reduzir o custo, ao se reusar a água da OP II na OP III, o fenol,

impureza presente no petróleo, é removida ao entrar em contato com a água na dessalgadora.

Outro benefício está na qualidade da água utilizada nesta operação. A água bruta é imprópria

Page 43: Reuso de Agua

30

à operação da dessalgadora por ter pH muito baixo (próximo a 5,5), provocando problemas

como a corrosão, o que diminui a vida útil do equipamento.

5.3 Caso 3 - Redução de Consumo de Água e de Vazão de Efluentes na Replan

(Refinaria de Paulínia)

Para este caso, será apresentado como foi possível reduzir o consumo de água e da

vazão de efluentes, através do gerenciamento das fontes e reutilização de água na REPLAN

(Refinaria de Paulínia-SP).

Segundo CORRÊA JÚNIOR e FURLAN (2003), a Replan é responsável pelo refino de

22% (54.200 m³/d) de todo o petróleo processado no Brasil e está localizada em uma região

carente de abastecimento de água: Bacia Hidrográfica dos Piracicaba e Capivari. Tal condição

associada à minimização de geração de efluentes hídricos provocou um minucioso trabalho de

identificação de todas as fontes de consumo de água e vapor.

Até a data de publicação do artigo (agosto de 2003), os autores afirmaram que o

trabalho, iniciado em 1999, obteve uma redução de 350 m³/h na vazão de efluentes através de

ações baseadas no gerenciamento das fontes, minimização do consumo e implementação do

reúso possível. Estima-se que esta vazão equivalia ao consumo de uma população de 42.000

habitantes.

Na Tabela 5.3, é mostrado como estava distribuído o efluente hídrico da Replan antes

de ter dado início aos trabalhos de melhoria.

Tabela 5.3 - Vazões descartadas para a ETDI pelas unidades

Unidade Vazão (m³/h)

Destilação 1 120 Destilação 2 240 Estação de Tratamento de água 153 Craqueamento Retardado 8 Geração de Hidrogênio e Hidrotratamento 32 Utilidades 110 Craqueamento Catalíticos 11 Estação de Tratamento de Despejos Industriais 5 Transferência e Estocagem 84 Geral 22 TOTAL 785

FONTE: CORRÊA JÚNIOR e FURLAN (2003).

A principio, segundo os autores, a ideia foi eliminar os evidentes desperdícios e realizar

as medidas de acordo com a facilidade de implementação, priorizando a maior redução de

Page 44: Reuso de Agua

31

consumo e/ou menor geração de efluentes possível. Traçou-se então um plano de ação para

cada uma das unidades, onde foram aplicadas ações imediatas, de médio e longo prazo.

Como ação imediata, o total de redução para ETDI, foi de 45,3 m³/h. Essa redução foi

possível porque foram realizados reparos e manutenção nas unidades citadas acima, onde

foram observadas falhas de operação e manutenção, de acordo com a Tabela 5.4.

Tabela 5.4 - Resumo das Aplicações Imediatas

Unidade Ações Vazão (m³/h)

ETA Alinhada água de resfriamento da torre de refrigeração para a torre de AR.

12

Alterado parâmetro de controle de sílica de 10 ppm para 100-150 ppm.

0,3

Solucionado problema de martelo hidráulico. 3,0 Craqueamentos Realizada manutenção dos permutadores geradores de vapor.

30

Total de Redução de Água para ETDI 45,3 FONTE: CORRÊA JÚNIOR e FURLAN (2003).

As aplicações de médio prazo caracterizaram-se a partir de pequenas modificações de

processo que demandavam poucos investimentos ou manutenção corretiva simples, após a

identificação da causa básica (vazamentos, principalmente). Com isso, foi obtida redução total

de 318,3 m³/h. Na Tabela 5.5, são descritas tais ações e a redução obtida.

Tabela 5.5 - Resumo das Aplicações Médio Prazo

Unidade Ações Vazão (m³/h)

Reaproveitado o condensado do pré aquecedor a vapor 1,1 Destilação 1 Otimizado refervedor de fundo de Torres de Resfriamento 4,0 Reaproveitado o condensado dos pré aquecedor a vapor 5,0 Otimizado refervedor de fundo da Torres de Resfriamento 4,0 Efetuado o Retorno de água de refrigeração das bombas para a Torre 30,0

Destilação 2

Eliminada a injeção de água industrial para resfriamento da salmoura. 40,0 Instalado Sistema de adensamentos lodo 20,0 Redirecionamento a água de lavagem dos filtros de areia para o sistema de lodo 8,0 Alteração do ciclo químico da água de refrigeração de 5 para 11. 40,0 Redirecionada a água dos filtros de carvão para sistema de lodo 15,0

ETA

Alinhada a drenagem dos analisadores para a torre de água de refrigeração 3,5 Coque Reparo na controladora de nível de vaso de condensado 7,2 HDT e UGH Enviada a água retificada de tanque para condensado 20,0

Alinhada a purga das caldeiras para torre de Água de Refrigeração 9,0 Modificação no alimento do condensador oriundo do aquecimento dos tanques de óleo combustível

0,5 Utilidades

Substituição da lavagem de gases por água retificada 37,5 Implementado o reúso de água de lavagem de gases 20,0

Craqueamentos Repara em peças da torre de água de refrigeração 10,0

Transferência e Estocagem

Colocado “raquete” na linha de água industrial 3,5

Geral Estabelecidas regras para uso de Hidrantes 20,0

Total de Redução de Água para ETDI 318,3 FONTE: CORRÊA JÚNIOR e FURLAN (2003)

Page 45: Reuso de Agua

32

Para as aplicações em longo prazo, foram sugeridas grandes modificações de processo

que requeriam novos estudos e projetos, cujo investimento seria alto. Assim, na Tabela 5.6, é

mostrado o resumo de tais sugestões.

Tabela 5.6: Resumo das Aplicações Longo Prazo

Unidade Sugestões Vazão (m³/h)

Reutilizar a água do Acumulador de topo da torre na torre de refrigeração

37,5 Destilação 1

Modificar Tubulação para recuperar água dos mancais das bombas de fundo da torre de vácuo.

7,2

Destilação 2 Reutilizar a água do Acumulador de topo da torre na torre de refrigeração

37,5

Coque Reutilizar água retificada na lavagem de gases do compressor

6,2

HDT Reutilizar água retificada na lavagem de gases dos permutadores

31,00

Total de Redução de Água para ETDI 119,4 FONTE: CORRÊA JÚNIOR e FURLAN (2003)

Na Figura 5.5, é possível visualizar a redução de água ao longo dos anos, até 2001, na

refinaria em questão.

Figura 5.5 - Vazão de Efluente da Replan ao longo dos anos FONTE: CORRÊA JÚNIOR e FURLAN (2003)

Dado o exposto, verifica-se que é de fundamental importância identificar precisamente

todas as fontes de consumo de água e vapor para o mapeamento das possibilidades de

eliminação ou redução no consumo dos recursos naturais. E ainda que a redução, na captação

Page 46: Reuso de Agua

33

de água e na vazão de efluentes, pode ser realizada sem afetar a otimização do processo e a

rentabilidade do negócio. Uma vez implementada, tende a reduzir os custos operacionais das

plantas industriais (CORRÊA JÚNIOR e FURLAN, 2003).

5.4 Caso 4 - Conservação de Água em Refinaria De Petróleo: O Caso da REVAP

(Refinaria Henrique Lage)

Segundo VANELLI (2004), no balanço de águas efetuado na REVAP, verificou-se que

os principais consumidores de água correspondem à reposição de água de resfriamento e água

para geração de vapor; por outro lado, constatou-se um consumo expressivo de água para

combate a incêndio e água potável. Assim o autor ressalta que, em qualquer trabalho de

redução de consumo de água, deve-se inicialmente, reduzir os pontos de consumo, ou aqueles

que apresentam um consumo acima do esperado. Deste modo, avaliou-se inicialmente o

consumo de água para o combate a incêndios, potável e sistema de retorno de condensado da

REVAP.

O consumo de água de combate a incêndios, expressivo no balanço de águas da

refinaria, é decorrente da utilização indiscriminada deste recurso para os mais diversos

serviços, tais como para a limpeza de equipamentos e pisos e para testes hidrostáticos em

equipamentos, como é mostrado abaixo:

� Limpeza de piso – 54 m³/h;

� Deslocamento de efluentes oleosos gerados nas oficinas mecânicas e no laboratório

da refinaria – 7 m³/h;

� Lavagem de feixes de permutadores - 7 m³/h;

Todo o efluente gerado é coletado e encaminhado para a ETDI;

� Testes hidrostáticos - 3,8 m3/h;

� Água para reposição do lago de Peixes - 4,5 m3/h;

� Água para a contenção de espumas nos tanques de aeração da ETDI - 2,9 m3/h;

A vazão total calculada pelas médias anteriores leva a um consumo médio anual de

101,3 m3/h de água de combate a incêndio. Este consumo pode ser eliminado em alguns

casos, ou substituído em outros. Na Tabela 5.7, o autor sugere algumas ações para redução

dos consumos elencados acima.

Page 47: Reuso de Agua

34

Tabela 5.7- Alternativas para o consumo de água de combate à incêndio

Utilização Consumo (m3/h)

Alternativa

Lavagem de Piso 9,0 Substituir por efluente tratado da ETDI

Deslocamento de Efluentes 7,0 Instalar poço de acúmulo e bomba para recalcar os

efluentes para o canal de efluente contaminado

Lavagem de feixe de permutadores 74,0 Substituir por efluente tratado da ETDI

Testes hidrostáticos 3,8 Substituir por efluente tratado da ETDI

Reposição de lago de Peixes 4,5 Manter

Tanque de Aeração da ETDI 3,0 Utilizar Efluente tratado da ETDI

FONTE: Adaptado de VANELLI (2004)

Para viabilizar a utilização do efluente do ETDI nos serviços acima, será necessária,

segundo o autor, a implantação de um tanque pulmão de acúmulo e um sistema de bombeio e

pressurização para os consumidores previstos. O custo estimado para reutilização de efluentes

da ETDI é de US$ 490 mil e necessita de um custo operacional de US$ 44.941,00/ano.

Outro consumo na refinaria é o de água potável, que não é destinada apenas ao consumo

humano mais também para a rega de plantas no horto, lavagem de viaturas e no laboratório,

para a lavagem de equipamentos, da própria bancada, entre outros que totalizam um montante

de cerca de 34 m³/h. VANELLI (2004) ressalta que nestes casos não há como fazer redução

não ser no que se refere à liberação de esferas de GLP, pois a mesma não gera efluente

sanitário, mas sim efluente contaminado. E acrescenta que está sendo previsto um teste para

se efetuar a liberação das esferas de GLP com um gás inerte, ao invés de água. Com isso se

ganha tempo e reduz-se o consumo de água e a geração de efluente contaminado para a ETDI.

Ainda, segundo VANELLI (2004), a evaporação da água é a responsável pelo

resfriamento da água. Para reduzir o consumo de água seria necessária a utilização combinada

de sistemas seco e úmido na torre de água de resfriamento, porém o custo de investimento é

maior do que o de uma torre de resfriamento convencional, operado somente pela via úmida.

Page 48: Reuso de Agua

35

6 CONCLUSÕES

Dado o exposto é correto afirmar que a conservação e a reutilização de água na indústria

de petróleo é uma realidade nos dias atuais, uma vez que a quantidade de contaminantes

gerada na exploração e extração de petróleo é muito grande. Face dessa afirmativa pode-se

dizer também que essa indústria, hoje, vê o reúso não só no âmbito ambiental e legal, mas

também como alternativa positiva de concorrência em suas áreas de negócios, tornando assim

mais forte a consciência de desenvolvimento sustentável em toda área de industrialização de

petróleo.

Contudo é importante salientar que qualquer prática de reúso deve estar associada a um

programa de minimização de possíveis problemas de consumo desnecessário de água, bem

como geração de efluente, ou seja, antes de se fazer a reutilização da água, deve-se primeiro

otimizar a operação das instalações existentes, reduzindo consumos desnecessários e

racionalizando o uso de água, onde possível.

No primeiro estudo de caso apresentado neste trabalho, foi necessária a aplicação de

técnicas de reúso uma vez que a utilização da água no processo de exploração na estação de

Bonsucesso, no município de Carmopólis-SE, acontecia de forma desordenada. Assim foi

proposta a substituição da água utilizada no preparo dos fluidos de perfuração por água

produzida tratada. Com esta aplicação seria possível a redução de 6000m3/ano de captação de

água dos rios da região.

Na Reman – Refinaria do Amazonas, a aplicação do DFA (Diagrama de Fontes de

Água) possibilitou a redução de 45,6% no modelo simplificado, o que implica na redução de

14,4% no modelo completo e 6,7% no caso da refinaria estudada. E ainda provocou a redução

de custo, bem como e a remoção do fenol, impureza presente no petróleo, ao entrar em

contato com a água na dessalgadora.

Para o caso da Replan - Refinaria de Paulínia, a adoção de medidas corretivas foi mais

frequente, pois havia um consumo desordenado de água. Para tanto foram elaborados alguns

questionamentos e, a partir identificação dos problemas, foi possível prever uma redução de

482,9 m³/h de água. Entre os procedimentos mais realizados para minimização do consumo

desordenado estão: reutilização de água nas torres de resfriamentos, e nas lavagens de gases

compressores e permutadores.

No caso Revap - Refinaria Henrique Lage, é possível reduzir água, através de

substituição de fontes e efluentes tratados.

Page 49: Reuso de Agua

36

Assim, o estudo de viabilidade técnica e econômica da conservação e reúso de água

deve ser uma ação frequente na indústria de petróleo, pois desta maneira é possível reduzir o

consumo de água, diminuir a geração de efluentes contaminantes jogados nos corpos

receptores, além de reduzir custos e contribuir para o desenvolvimento sustentável de um país.

Page 50: Reuso de Agua

37

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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