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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE ENGENHARIA ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO ANTÔNIO CARLOS CORREA DA SILVA CONTROLE DOS RISCOS DA EXPOSIÇÃO HUMANA AOS CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS EMITIDOS PELAS ANTENAS DE TELEFONIA MÓVEL CELULAR 3G DAS ESTAÇÕES RÁDIO BASE NA CIDADE DE JUIZ DE FORA. JUIZ DE FORA 2010

REV 5 - MONOGRAFIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO - RNI --- FIM - ATUALIZAÇÃO DADOS FICHA CATALOGRÁFICAS (Reparado).pdf

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

FACULDADE DE ENGENHARIA

ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

ANTÔNIO CARLOS CORREA DA SILVA

CONTROLE DOS RISCOS DA EXPOSIÇÃO HUMANA AOS CAMPOS

ELETROMAGNÉTICOS EMITIDOS PELAS ANTENAS DE TELEFONIA MÓVEL

CELULAR 3G DAS ESTAÇÕES RÁDIO BASE NA CIDADE DE JUIZ DE FORA.

JUIZ DE FORA

2010

ANTONIO CARLOS CORREA DA SILVA

CONTROLE DOS RISCOS DA EXPOSIÇÃO HUMANA AOS CAMPOS

ELETROMAGNÉTICOS EMITIDOS PELAS ANTENAS DE TELEFONIA MÓVEL

CELULAR 3G DAS ESTAÇÕES RÁDIO BASE NA CIDADE DE JUIZ DE FORA.

Trabalho Final de Curso submetido à banca

examinadora constituída de acordo com as

Normas de Trabalho Final de Curso

estabelecidas pelo Colegiado do Curso de

Especialização em Engenharia de

Segurança do Trabalho da Universidade

Federal de Juiz de Fora, como requisito

parcial para obtenção do título de

Engenheiro de Segurança do Trabalho.

Área de Concentração: Exposição Humana

Campo Eletromagnético/Segurança do

Trabalho.

Orientador: José Galdino Ulysses

JUIZ DE FORA

2010

Silva, Antônio Carlos Correa da.

Controle dos riscos da exposição humana aos campos eletromagnéticos emitidos pelas antenas de telefonia móvel celular 3G das estações rádio base na cidade de Juiz de Fora / Antônio Carlos Correa da Silva. – 2010. 68 f. : il.

Trabalho de conclusão de curso (Especialização em Engenharia

de Segurança do Trabalho)-Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2010.

1. Radiação. 2. Eletromagnetismo. 3. Neoplasias – Juiz de Fora. I. Título.

CDU 539.16

ANTONIO CARLOS CORREA DA SILVA

CONTROLE DOS RISCOS DA EXPOSIÇÃO HUMANA AOS CAMPOS

ELETROMAGNÉTICOS EMITIDOS PELAS ANTENAS DE TELEFONIA MÓVEL

CELULAR 3G DAS ESTAÇÕES RÁDIO BASE NA CIDADE DE JUIZ DE FORA

Trabalho Final de Curso submetido à banca

examinadora constituída de acordo com as

Normas de Trabalho Final de Curso

estabelecidas pelo Colegiado do Curso de

Especialização em Engenharia de

Segurança do Trabalho da Universidade

Federal de Juiz de Fora, como requisito

parcial para obtenção do título de

Engenheiro de Segurança do Trabalho.

Área de Concentração: Exposição Humana

Campo Eletromagnético /Segurança do

Trabalho.

Aprovada em _____ / ______ / _____________

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________________________

Prof. José Galdino Ulysses – Especialista – Orientador

Universidade Federal de Juiz de Fora

___________________________________________________________________________

Prof. Affonso Paulo Mendes – Mestre e Especialista – Coordenador

Universidade Federal de Juiz de Fora

DEDICATÓRIA

Ao meu orientador, Prof. José Galdino Ulysses,

pela disposição em ajudar e principalmente pelas

inestimáveis orientações que tanto contribuíram

na melhoria deste trabalho e ao amigo White José

dos Santos por sua grande colaboração.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos aqueles que, de alguma forma, ajudaram na realização deste

trabalho e, em especial:

À Deus, por me sustentar nesta caminhada, com garra e perseverança.

Ao querido professor José Galdino Ulysses, por ter aceitado me orientar neste

trabalho e pela disponibilidade em ajudar mesmo diante do pouco tempo que tivemos nesta

atividade, orientando de forma concisa e profissional, não deixando nunca de manter um

relacionamento amistoso.

A Banca Examinadora deste trabalho, composta pelo Coordenador do curso de

Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho, o Professor Mestre Affonso de

Paula Mendes, pela confiança depositada nos trabalhos realizados, assim como, no decorrer

do curso de especialização.

À mãe e ao pai de minha esposa Luci Nogueira Duque e João Vicente Duque pelo

apoio e estimulo durante esta jornada.

À minha amada esposa Luciana Nogueira Duque Silva pelo amor, carinho, paciência,

confiança e principalmente pelo apoio incondicional durante toda esta jornada, sobretudo nos

meus momentos de incerteza e cansaço.

À minha amada filha pelo carinho e o sorriso estampado em seu rosto, que mesmo

sem dizer quase nada devido as limitações de sua idade sempre foi fonte força e dedicação

para mim neste projeto.

Ao meu pai Antonio Jerônimo da Silva “em memória” e minha mãe Ana Maria

Corrêa da Silva por todo carinho e incentivo demonstrados desde os tenros anos de minha

infância, sobretudo, por acreditarem em mim e em minha capacidade.

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 – Estrutura Básica do Sistema Móvel Celular......................................................... 18

Figura 2.2 - Antena omni externa com seus diagramas de radiação horizontal e vertical ....... 20

Figura 2.3 - Antena diretiva externa com seus diagramas de radiação horizontal e vertical. .. 21

Figura 2.4 – Antena omni “indoor” .......................................................................................... 22

Figura 2.5 - Antena diretiva indoor feita com tecnologia de microfita .................................... 22

Figura 3.1 – evolução numérica do celular de 1993 à 2010 ..................................................... 23

Figura 4.1 – Propagação de uma onda eletromagnética na direção Z ...................................... 26

Figura 5.1 Numa molécula apolar, os centros das cargas positivas (+) e negativas (-)

coincidem. Se um campo elétrico é aplicado sobre ela, há deslocamento das cargas positivas e

negativas em direções opostas, com surgimento de um dipolo elétrico ................................... 29

Figura 5.2 - Constante dielétrica relativa do sangue em função da frequência. ....................... 30

Figura 5.3 - Condutividade específica do sangue em função da frequência ............................ 31

Figura 5.4 - Variação da profundidade de penetração em tecidos com a frequência. .............. 32

Figuta 5.5 – Exemplo de exposição à SAR pelo uso de telefone celular ................................. 33

Figura 6.1 - Limites de exposição CEMRF de acordo com a resolução 303 da Anatel ........... 43

Figura 8.1 – Espectro Eletromagnético. ................................................................................... 51

Figura 8.2 - Modelo de estimativa da absorção de radiação eletromagnética de um telefone

celular com base na idade e na frequência de 900 MHz. À direita, a escala de cores mostrando

a Taxa de Absorção Específica em W / kg. .............................................................................. 54

Figura 8.3 - Estrutura básica do olho humano. ......................................................................... 55

Figura 8.4 - Comparação entre secções histológicas de cérebro de ratos (a) não submetidos e

(b) submetidos a radiação de telefones celulares por 2h durante 50 dias em níveis

inferioresaos níveis considerados seguros. ............................................................................... 58

LISTA DE QUADROS

Quadro 6.1 - Limitações de SAR baseada da norma ANSI/IEEE C95.1 ................................. 36

Quadro 6.2 - Limitações de SAR baseada na norma do ICNIRP para a faixa de 100 kHz a

10GHz ....................................................................................................................................... 38

Quadro 6.3 - Níveis de referência da norma ANSI/IEEE na faixa de 100 kHz a 300 GHz ..... 39

Quadro 6.4 - Níveis de referência da norma ICNIRP na faixa de 100 kHz a 300 GHz ........... 40

Quadro 6.5 - Níveis de referência da FCC para a faixa de 300KHz a 100GHz ....................... 40

Quadro 6.6 - Densidades de potência e efeitos térmicos associados. ....................................... 43

Quadro 6.7 - Distância mínima de segurança para antenas transmissoras atendendo aos limites

de exposição para população em geral ..................................................................................... 45

Quadro 6.8 Distância mínima de segurança para antenas transmissoras atendendo aos limites

de exposição ocupacional ......................................................................................................... 45

Quadro 6.9 - Restrições Básicas para exposição à CEMRF, na faixa de radiofrequências entre

9 kHz e 10 GHz. ....................................................................................................................... 46

Quadro 8.1 – Relação entre as frequências e os principais efeitos biológicos ......................... 52

LISTA DE SIGLAS

ACGIH: American Conference of Governamental Industrial Hygienists

AM: Modulação em amplitude, do inglês Amplitude Modulate.

ANATEL: Agência nacional de telecomunicações.

CCC: Central de comutação e controle.

CDMA: Técnica de acesso com divisão de código, do inglês Code Division Multiple Access.

CEM: Campos eletromagnéticos.

CEMRF: Campos eletromagnéticos de radiofrequência.

CEM/RF/MW: Campos eletromagnéticos de radiofrequência e micro-ondas.

CENELEC: Comité Européen de Normalisation Electrotechnique

dB: Ganho em decibel.

dBi: Ganho em decibel tendo como referência à antena isotrópica

DNA: Ácido desoxirribonucléico.

EHF: frequências extremamente alta, do inglês Extremely higt frequencies.

ELF: frequências extremamente baixas, do inglês Extremely low frequencies.

EM: Estação móvel.

EMP: Exposição máxima permitida.

EMR: Radiação eletromagnética

EIRP: Potência efetiva isotrópica radiada, do inglês Equivalent Isotropic Radiation Power

ERB: Estação rádio base.

eV: elétrons-volt

FCC: Federal Communications Commission

FDMA: Técnica de acesso com divisão de frequência, do inglês Frequency Division Multiple

Access.

GPS: (pgs) Position Global Satélite

HF: frequências altas, do inglês Higt frequencies.

HPBW : Ângulo de meia potência vertical

ICNIRP: Comissão internacional de proteção contra as radiações não ionizantes, do inglês

International Commission on Non-Ionizing RadiationPprotection

IEEE: Instituto de engenharia elétrica e eletrônica, do inglês Institute of Electrical and

Electronic Engineers.

INIRC: Comissão internacional de radiações não ionizantes, do inglês International Non-

Ionizing Radiation Committee.

IRPA: ssociação internacional de proteção a radiações, do inglês International Radiation

Protection Association.

ITU: (UIT) União internacional de telecomunicações, do inglês International

Telecommunication Union.

LF: frequências baixas do inglês Low frequencies.

MF: frequências médias do inglês Medium frequencies.

mS/cm: miliSiemens/cm - Unidade de Condutividade Elétrica.

NR: Normas regulamentadoras.

RNI: Radiação não ionizante, do inglês Radiation Non-Ionizing.

RF: Rádio frequência.

SAR: Taxa de absorção específica, do inglês Specific Absorption Rate

Seq: Densidade de potência equivalente.

SHF: frequências super altas, do inglês Super higt frequencies.

SLF: frequências super baixas, do inglês Super low frequencies.

SMC: Sistema móvel celular.

SMP: Sistema móvel pessoal.

ULF: frequências ultra baixas, do inglês Ultra low frequencies.

UHF: frequências ultra altas, do inglês Ultra higt frequencies.

UNEP: Programa ambiental das nações unidas, do inglês United Nations Environmentes

Programm.

VHF: frequências muito altas, do inglês Very higt frequencies.

VLF: frequências muito baixas, Very low frequencies.

WHO/OMS: Organização mundial da saúde, do inglês Word Health Organization

RESUMO

Embora seja consensual que a humanidade não consegue abrir mão do conforto e dos

benefícios possibilitados pelos telefones celulares, atualmente os campos eletromagnéticos

produzidos por este sistema tem sido objeto de muitos estudos em todo o mundo. Muitas e

polêmicas são as questões envolvidas na ampliação do sistema de celular, podemos citar por

exemplo a definição dos limites dos níveis de exposição às ondas eletromagnéticas e a

discussão sobre os possíveis males que esta exposição pode causar ao ser humano. Rádio

frequência, micro-ondas, linhas de transmissão, subestações, bluetooth, wireless, radares,

telefones celulares e telefones sem fio são algumas fontes de Irradiação Eletromagnéticas ou

radiações não ionizantes, porém, nosso estudo terá como base a irradiação proveniente das

antenas de celulares da estações radiobase.

Palavras Chaves: Irradiação Eletromagnética, Rádio Frequência, Câncer e Radiação Não

Ionizante.

ABSTRAT

Although it is agreed that mankind can not give up the comforts and benefits enabled by

mobile phones, currently the electromagnetic fields produced by this system has been the

subject of many studies worldwide. Many are controversial and the issues involved in

extending the cellular system, we can cite for example the definition of the limits of exposure

to electromagnetic waves and the discussion of possible defects that can cause exposure to

humans. Radio frequency, microwave, transmission lines, substations, bluetooth, wireless,

radar, cell phones and cordless phones are some sources of electromagnetic radiation or non-

ionizing radiation, however, our study will be based on the radiation from the antennas of

cellular of base stations.

Keywords: Electromagnetic Radiation, Radio Frequency, Cancer and Ionizing Radiation

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 17

2. ELEMENTOS BÁSICOS DE UM SISTEMA DE TELEFONIA CELULAR .......... 18

2.1. CCC - Central de Comutação e Controle:.................................................................. 18

2.2. E.M - Estação Móvel ou Telefone celular: ................................................................ 19

2.3. ERB - Estação Rádio Base:........................................................................................ 19

2.4. O funcionamento básico de um sistema celular ......................................................... 19

2.5. Bandas de Frequências para o Celular no Brasil ....................................................... 20

2.6. Características básicas das antenas para sistemas celulares ...................................... 20

3. RELEVÂNCIA DO TEMA DESENVOLVIMENTO NO TRABALHO................... 23

4. PROPAGAÇÃO DE ONDAS ELETROMAGNÉTICAS NO ESPAÇO LIVRE...... 25

4.1. Impedância característica do meio ............................................................................. 25

4.2. Campo Distante .......................................................................................................... 26

4.3. Densidade de potência ............................................................................................... 27

4.4. Campo próximo ......................................................................................................... 27

5. CONSIDERAÇÕES RELACIONADAS À RADIAÇÃO ELETROMAGNÉTICA . 29

5.1. Materiais Dielétricos .................................................................................................. 29

5.2. Constante Dielétrica nos Tecidos............................................................................... 29

5.3. Condutividade Específica de Tecidos ........................................................................ 31

5.4. Profundidade de Penetração ( Efeito Skin ) ............................................................... 32

5.5. Taxa de Absorção Específica (SAR) ......................................................................... 32

6. LIMITES DE EXPOSIÇÃO A CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS ....................... 35

6.1. Principais normas de segurança e os limites de SAR ................................................ 35

6.2. Níveis de referência para exposição humana ............................................................. 38

6.3. Regulamento aprovado pela Anatel para exposição a campos de RF ....................... 42

6.3.1. Cálculo da Densidade de Potência no Campo Distante ...................................... 44

6.3.2. Cálculo das Distâncias Mínimas de Segurança para Situações de Exposição

Ocupacional e de Público em Geral .................................................................................. 44

6.3.3. Limites para Densidades de Corrente para Cabeça e Tronco e Taxa de Absorção

Específica (SAR) ............................................................................................................... 45

6.3.4. Interpretação dos limites de exposição ............................................................... 47

7. LEI MUNICIPAL DE JUIZ DE FORA Nº. 11.045 / 2005........................................... 48

8. EFEITOS BIOLÓGICOS DA RADIAÇÃO ELETROMAGNÉTICA ...................... 49

8.1. Radiações Ionizantes .................................................................................................. 49

8.2. Radiações Não Ionizantes .......................................................................................... 50

8.3. Mecanismos de interação dos campos eletromagnéticos ........................................... 51

8.3.1. Hipertermia ......................................................................................................... 52

8.3.2. Catarata ............................................................................................................... 54

8.3.3. Câncer ................................................................................................................. 56

8.3.4. Outros efeitos a serem considerados .................................................................. 59

9. CONCLUSÃO ................................................................................................................. 62

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 63

ANEXOS.................................................................................................................................. 66

17

1. INTRODUÇÃO

Hoje em dia é difícil pensarmos no mundo sem as comunicações sem fios.

Telefonia celular, Bluetooth, redes wi-fi e telefones sem fio são exemplos de como este

tipo de transmissão está integrado em nosso cotidiano, facilitando a comunicação como

ferramentas que hoje são quase indispensáveis em nossas atividades.

No Brasil a telefonia móvel celular surgiu em 1993 no Rio de Janeiro, sendo a

primeira cidade brasileira a usar este sistema, porém em 1997, com a abertura de mercado

veio a expansão desse sistema.

A terceira geração da telefonia móvel chegou há pouco no Brasil, em meados de 2007,

e ainda não conseguiu vencer barreiras primárias. Usuários reclamam da conexão ruim,

instável e lenta, e da área restrita de transmissão. A cobertura ainda não atinge todo o

território brasileiro e tem muitas falhas. Contudo, para que se possa melhorar a qualidade do

sistema, é necessária a construção de mais Estações Rádio Base (ERB), mais torres e

consequentemente a instalação de mais antenas emitindo ondas eletromagnéticas para que se

possa aumentar a área de cobertura do 3G.

Neste cenário de avanço na tecnologia do celular que gerou o aumento de antenas

despertou em pesquisadores do mundo todo e na comunidade médica a preocupação com a

incidência de novos casos de câncer que surgem na população, onde há suspeitas que um dos

fatores que contribuem para o surgimento destes novos casos é a radiação eletromagnética

(EMR).

Estações de rádio e TV emitem ondas eletromagnéticas desde 1950, mas as radiações

de micro-ondas emitidas pela infraestrutura das telecomunicações são relativamente recentes,

com milhões de antenas e satélites irradiando sobre a população mundial 24 horas por dia, 52

semanas por ano desde o início dos anos 90. Por este motivo, nos últimos tempos podemos

notar o aumento desta irradiação a um ponto em que o estudo dos efeitos sobre a saúde

humana estão se tornando uma questão importante e que serão apresentados neste trabalho.

18

2. ELEMENTOS BÁSICOS DE UM SISTEMA DE TELEFONIA CELULAR

O sistema de telefonia móvel celular é uma extensão da rede telefônica fixa, com

objetivo de permitir que um assinante móvel acesse qualquer telefone da rede fixa e móvel,

através da utilização de uma interface aérea via rádio bidirecional entre a estação móvel e a

estação rádio base, através de ondas eletromagnéticas.

Um sistema celular baseia-se na divisão de uma área de cobertura em áreas menores

chamadas células, sendo que cada célula é atendida por uma ERB Estação Rádio Base. Um

sistema móvel celular, portanto, tem sua estrutura básica representada pela figura 2.1

mostrada abaixo:

2.1. CCC - Central de Comutação e Controle:

A CCC é o órgão vital do sistema celular, tem como principais funções prover a

interface entre a rede telefônica fixa e o sistema celular, comunicar-se com outros sistemas

celulares, controlar as ERB´s, monitorar e controlar as chamadas, interligar as várias ERB´s

do sistema, supervisionar o estado do sistema, comutar e controlar o handoff das chamadas e

administrar o sistema.

Figura 2.1 – Estrutura Básica do Sistema Móvel Celular

19

2.2. E.M - Estação Móvel ou Telefone celular:

É o terminal móvel que permite ao usuário uma grande mobilidade, além de muitas

outras facilidades. Tem função de prover a interface entre o usuário e o sistema, converter

sinais de áudio e dados em sinais de RF, e vice-versa, responder aos sinais enviados pelo

sistema e informar ao usuário sobre o estado do sistema.

2.3. ERB - Estação Rádio Base:

A ERB composta de equipamentos de transmissão e recepção, antenas e para-raios,

que podem ser instalados em postes, mastros ou torres. Possui funções de permitir: a interface

de rádio entre o usuário e o sistema, controlar e informar a EM sob sua área de cobertura,

verificar e relatar a qualidade de sinais das chamadas sob seu controle, verificar e identificar a

presença e quantidade de EM’s registrados, responder a comandos recebidos da central de

comutação e controle. Também realiza outras funções como de interface entre uma única

central de comutação e diversas estações móveis, o controle de potência das EM e outros

comandos recebidos da central de comutação e controle. As células, em que as ERB’s estão

situadas, são divididas em áreas de serviço individuais onde cada uma delas possui um grupo

de canais designados de acordo com o espectro disponível. Cada célula tem a sua estação

rádio base, permitindo assim o uso de transmissores de menor potência.

2.4. O funcionamento básico de um sistema celular

Quando o telefone celular é usado para originar, receber chamadas ou utilizar outros

serviços de comunicação, o contato com sua operadora é feito mediante o envio e a recepção

de sinais de rádio pelo telefone móvel através da antena da estação rádio base (ERB) que

estiver mais próxima do usuário. Esses sinais são recebidos pela ERB e encaminhados para a

central de comutação e controle (CCC) da operadora, que tem a função de encaminhar as

20

ligações para outras centrais através de meios físicos de transmissão (linhas de transmissão ou

enlaces rádio), sejam elas operadoras de telefones fixos ou móveis, completando as ligações.

2.5. Bandas de Frequências para o Celular no Brasil

As frequências disponíveis para o celular no Brasil (SMP) e suas respectivas bandas são:

850 MHz, antigas bandas A e B;

900 MHz, bandas de extensão utilizadas pelo GSM;

1700 e 1800 MHz, bandas D, E e subfaixas de extensão utilizadas pelo GSM;

1900 e 2100 MHZ destinadas na sua maior parte para os sistemas 3G.

2.6. Características básicas das antenas para sistemas celulares

Como citado antes, antenas são dispositivos capazes de irradiar ou captar ondas

eletromagnéticas no espaço. Uma antena isotrópica é definida como aquela que

hipoteticamente irradia uniformemente para todas as direções. Em sistemas celulares as

antenas são usualmente classificadas, quanto à sua diretividade, podendo ser dividida em

omnidirecionais, setoriais ou diretivas e quanto a sua localização como outdoor e indoor. As

omnidirecionais são aquelas que têm um diagrama de radiação horizontal essencialmente não

diretivo e diagrama de radiação vertical diretivo conforme mostra a figura 2.2.

Figura 2.2 - Antena omni externa com seus diagramas de radiação horizontal e

vertical

21

As antenas setoriais, também chamadas de setorizadas ou diretivas, são aquelas que

têm um diagrama de radiação horizontal projetado para cobrir uma determinada região

angular dentro de níveis de radiação pré-estabelecidos. A figura 2.3 mostra um modelo de

antena diretiva externa com seu diagrama de radiação.

As antenas do tipo indoor são instaladas principalmente em ambientes internos como

prédios comerciais, shoppings, portos e aeroportos caracterizando picocélulas. Isto acontece

porque é difícil o atendimento, em termos de cobertura rádio, no interior das edificações em

função dos obstáculos encontrados pelas ondas eletromagnéticas, como por exemplo, as

paredes de concreto. Por este motivo alguns destes locais são atendidos por um sistema de

baixa potência interligado a um repetidor que, por sua vez, é conectado a uma ERB mais

próxima. Antenas internas especiais são montadas em amplos salões e corredores de forma a

cobrir plenamente as áreas de interesse. As Figuras 2.4 e 2.5 mostram, respectivamente, uma

antena omnidirecional, uma diretiva construída com tecnologia path (microfita).

Figura 2.3 - Antena diretiva externa com seus diagramas de radiação horizontal e vertical.

22

A radiação do tipo eletromagnética, oriunda das antenas das Estações Radiobase, é

uma forma de radiação não ionizante que se propaga com a combinação de campos elétricos e

magnéticos, viajando no vácuo ou no ar, na mesma velocidade que a luz. Os campos elétricos

(E) e magnéticos (H) variam de intensidade tanto no espaço quanto no tempo.

O perigo de ocorrerem exposições despercebidas a essas radiações reside no fato de

que nosso organismo não possui mecanismo sensorial que permita detectá-las. Portanto, se

não há percepção das radiações por parte do trabalhador, da comunidade e dos seres vivos,

estes não poderão, naturalmente, evitá-las.

Figura 2.4 – Antena omni “indoor”

Figura 2.5 - Antena diretiva indoor feita com tecnologia de microfita

23

3. RELEVÂNCIA DO TEMA DESENVOLVIMENTO NO TRABALHO

O tema proposto foi desenvolvido em uma área de pesquisa de grande interesse, isto se

deve principalmente pela proliferação acelerada de fontes geradoras de energia

eletromagnética em locais passíveis de ocupação humana e de alta densidade demográfica.

Outro fator preocupante, é que muitas vezes as ERB’s são instaladas muito próximas umas das

outras, em regime compartilhado ou não, produzindo uma radiação total no ambiente que pode

ultrapassar os limites até aqui definidos como aceitáveis a humanidade.

Para se ter uma ideia desta proliferação, a figura 3.1 nos mostra através dos dados

coletados da Anatel, o aumento significativo do numero de celulares e por consequência o

crescimento de usuários deste sistema, a quantidade de aparelhos em operação no país chegou

à incrível marca de 189.428.395 aparelhos em agosto de 2010, ou seja, a densidade calculada

para a projeção da população do IBGE no referido mês é de aproximadamente 98%.

Abaixo é mostrado um gráfico com a evolução numérica do celular desde o seu

surgimento até os dias de hoje.

Figura 3.1 – evolução numérica do celular de 1993 à 2010

A Radiação Não Ionizante (RNI) é uma forma de poluição invisível que ainda não nos

propicia a certeza de que os limites das diretrizes existentes sejam totalmente seguros.

Considerando, portanto, as incertezas em torno dos efeitos da exposição à radiação, muitos

países vêm adotando diretrizes e padrões de exposição levando em conta o Princípio da

Precaução que diz: “Com o fim de proteger o meio ambiente, os Estados deverão aplicar

020406080

100120140160180200

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2004

2006

2008

2010

Milh

ões

24

amplamente o critério de precaução conforme suas capacidades. Quando houver perigo de

dano grave ou irreversível, a falta de certeza científica absoluta não deverá ser utilizada como

razão para se adiar a adoção de medidas eficazes em função dos custos para impedir a

degradação do meio ambiente.” aprovado na segunda Conferência Mundial para o Meio

Ambiente e Desenvolvimento que ficou conhecida como ECO- 92.

Espera-se que este trabalho possa ajudar a esclarecer dúvidas sobre as radiações

provenientes do sistema celular para a comunidade acadêmica e para a sociedade.

25

4. PROPAGAÇÃO DE ONDAS ELETROMAGNÉTICAS NO ESPAÇO LIVRE

A excitação de um condutor qualquer por uma corrente variável no tempo, resulta no

surgimento de campos elétrico e magnético que se induzem mutuamente. Estes campos

escapam do condutor para o espaço, e a sua radiação se da sob a forma de uma onda

denominada eletromagnética.

A propagação no espaço livre pode ocorrer no vácuo, numa atmosfera homogênea e

isotrópica e na ausência de qualquer corpo capaz de criar perturbação a está propagação.

A propagação de ondas eletromagnéticas constitui a base da radiotransmissão para

grandes distâncias, dispensando o uso de fios entre os pontos de transmissão e recepção. As

ondas são geradas por processos eletrônicos e emitidos a partir de uma antena que é o

dispositivo de radiação mais comum.

Para antenas isotrópicas a perda de transmissão no espaço livre (L) em decibéis, é dada

pela expressão:

(equação 4.1)

Onde:

Pt = Potência de transmissão

Pr = Potência de recepção

f = Frequência em MHz

d = Distância em Km

4.1. Impedância característica do meio

Na Figura 4.1, é mostrado esquematicamente que as radiações eletromagnéticas são

compostas de ondas transversais, que se propagam perpendicularmente às direções de

oscilação dos campos Elétrico e Magnético. Estas radiações podem ser caracterizadas pela

energia de seus fótons, pelo seu comprimento de onda ou por sua frequência.

O campo elétrico E é especificado em unidades de volts/m [V/m] e o campo

26

magnético H em ampères/m [A/m]. Num meio homogênio qualquer, a razão entre os campos

elétrico e magnético chama-se Impedância Característica do Meio, Z, e é dada por:

Z = |E|/|H| = (equação 4.2)

Onde µ é a permeabilidade magnética e é a permissividade elétrica do meio. No

vácuo tem-se: µ0 = 4π10-7

Henry/metro e = (36π)-1

109 ou 8.854 10

-12 Farad/m assim:

Z0 = 120π [Ω] (equação 4.3)

4.2. Campo Distante

Na região de campo distante os campos elétrico e magnético estão em fase e o

quociente entre o campo elétrico e magnético nos dá a impedância intrínseca do meio. Os

campos estão perpendiculares entre si e transversais à direção de propagação da onda, sendo

esta uma característica da onda plana. Para esta região conhecida como campo de radiação a

distância que define se o ponto de medição está distante da fonte é função do comprimento de

onda e da máxima dimensão da antena. Esta distância d é expressa por:

d = 2 L²/λ (equação 4.4)

Onde L é a máxima dimensão da antena e λ é o comprimento de onda.

Figura 4.1 – Propagação de uma onda eletromagnética na direção Z

27

4.3. Densidade de potência

Numa região de campo distante a densidade de potência S, que é a potência por

unidade de área normal à direção de propagação, está relacionada aos campos elétrico e

magnético, pela expressão:

(equação 4.5)

Se a impedância Z = E/H = 120π na região de campo distante, então podemos dizer

que:

(equação 4.6)

ou

π (equação 4.7)

Em termos práticos, sabendo-se a potência de transmissão e o ganho da antena, pode-se

calcular a densidade de potência a qualquer distância da fonte radiante na direção de

propagação do lóbulo principal.

Considerando uma antena transmissora com ganho (Gt) irradiando isotropicamente no

espaço livre com uma potência (Pt) em watts a uma dada distância (d) em metros, uma

densidade de potência (S) é pode ser calculada pela expressão:

ã

4.4. Campo próximo

A descrição de onda eletromagnética plana, não é valida em interações próximas a

fontes de emissão, como transmissores, telefones celulares, etc. Neste caso, a densidade de

potência S, é muito variável e complexa, indicando o chamado Campo Próximo que pode ser

definido como a região no espaço localizado próximo de uma antena, na qual os campos

elétrico e magnético não têm uma característica fundamental de onda plana, mas variam

consideravelmente de um ponto a outro ponto. Esta região do campo próximo da antena é

28

conhecida na literatura como região de indução. A medida que a onda se afasta da fonte, a

energia fica igualmente dividida entre os campos elétrico e magnético para o meio sem

perdas.

Em geral a densidade de potência em campos próximos, não é um bom indicador para

determinar riscos destas radiações, pois cálculos baseados nesta grandeza subestimam a

intensidade dos campos.

29

5. CONSIDERAÇÕES RELACIONADAS À RADIAÇÃO ELETROMAGNÉTICA

Para que a radiação eletromagnética possa produzir algum efeito, em um tecido ou em

qualquer outra substância é necessário que haja transferência de energia desta radiação para o

meio, e que esta energia seja absorvida. Os efeitos desta absorção no tecido humano são de

natureza térmica ou não térmica. Os fatores mais importantes para a absorção das ondas são:

constante dielétrica, condutividade, geometria e conteúdo de água do meio.

5.1. Materiais Dielétricos

Um material dielétrico não contém cargas livres capazes de se moverem sob a ação de

um campo elétrico externo aplicado. No entanto as cargas positivas e negativas em moléculas

dielétricas podem ser separadas pela ação do campo, e se isso ocorre dizemos que o material

ficou polarizado.

.

5.2. Constante Dielétrica nos Tecidos

O valor das constantes dielétricas de diferentes tecidos depende da constituição dos

mesmos, da frequência, e em caso de moléculas polares, também da temperatura. No caso da

água, que é uma molécula polar, a constante dielétrica relativa é 81 para baixas frequências e

cai com o aumento da frequência, devido a inércia rotacional dos dipolos elétricos com o

E

Figura 5.1 Numa molécula apolar, os centros das cargas positivas (+) e negativas (-)

coincidem. Se um campo elétrico é aplicado sobre ela, há deslocamento das cargas

positivas e negativas em direções opostas, com surgimento de um dipolo elétrico.

30

campo externo.

A constante dielétrica relativa do sangue é mostrada na Figura 5.2 em função da

frequência. Nesta figura vemos três regiões com diferentes mecanismos responsáveis por cada

região.

Para frequências de 10 kHz a 100 MHz, a constante dielétrica é afetada pela

polarização das membranas; acima de 100 MHz, as membranas perdem sua influência, e se

comportam como curto circuito; acima de 10 GHz a constante dielétrica reflete o conteúdo de

água no sangue.

Nos tecidos gordurosos, a constante dielétrica é baixa, assim, por exemplo, a uma

frequência de 900 MHz, um tecido adiposo com 10% de água possui εr = 4 enquanto com

50% de água o mesmo tecido possui εr = 12. Devido a esta variação com a concentração de

água é difícil predizer o comportamento dielétrico dos tecidos i n vivo. A dependência com a

temperatura é da ordem de 2% / ° C.

Figura 5.2 - Constante dielétrica relativa do sangue em função da frequência.

10 kHz a 100 MHz 100 MHz a 10 GHz

31

5.3. Condutividade Específica de Tecidos

A condutividade dos tecidos varia de forma significativa com a frequência para valores

acima de 1 GHz, como se vê na Figura 5.3 para o sangue. Este gráfico de modo geral, define o

comportamento de tecidos com alto conteúdo de água.

Figura 5.3 - Condutividade específica do sangue em função da frequência

A potência absorvida por unidade de área Pa para uma onda incidente com campo

elétrico em um tecido de condutividade ζ, é dado pela seguinte expressão:

(equação 5.1)

Por exemplo, nos tecidos com 6 % de água, à frequência de 900 MHz, a condutividade

é σ = 4 mS/cm (miliSiemens/cm) , com 60% de conteúdo de água temos = 40 mS/cm. Desta

forma para a mesma intensidade da onda incidente, a potência absorvida é 10 vezes maior para

os tecidos com maior concentração de água.

Onde:

ζ = condutividade da parte específica do tecido sob análise [S/m]

E = amplitude do campo elétrico interno ao ponto de análise [V/m]

Pa = potência por unidade de área W/m²

32

5.4. Profundidade de Penetração ( Efeito Skin )

“Efeito Skin”, também chamado de efeito pelicular da radiação em uma substância, é

definido como sendo a profundidade numa substância na qual a amplitude da radiação é

reduzida em 37% do valor incidente, e a densidade de potência a 13,5 %, portanto 86,5% da

energia é dissipada na película de espessura .

Essa profundidade é função da substância e da frequência da radiação incidente. A

Figura 5.3 mostra a dependência típica para os tecidos vivos, mostrando que δ diminui com o

aumento da frequência. A relação entre a profundidade de penetração δ, com a frequência é

dada por:

δ π (equação 5.2)

Onde ρ a é resistividade em Ohm.m [Ω.m], e µ é a permeabilidade magnética do

tecido.

5.5. Taxa de Absorção Específica (SAR)

Uma das grandezas físicas de maior interesse na quantificação de limites básicos de

exposição às radiações eletromagnéticas é a taxa de absorção específica, ou em inglês

Specific Absoption Rate – SAR.

Figura 5.4 - Variação da profundidade de penetração em tecidos com a frequência.

33

Essa grandeza representa a taxa de potência absorvida por unidade de massa do corpo,

quando este corpo está submetido a uma radiação de onda eletromagnética, e é dada em watt

por quilograma [W/kg]. A SAR é usada em medidas ou cálculos em que corpo está diante da

fonte emissora, como por exemplo, no uso do celular.

Ela representa a média espacial sobre toda a massa exposta às radiações de frequências

maiores que 10 MHz, e é dada pela equação:

SAR = (ζ/ 2 ) | E |² [W/Kg] (equação 5.3)

ζ πε [ S/m] (equação 5.4)

ζ (equação 5.5)

Onde:

ζ = condutividade da parte específica do tecido sob análise [S/m]

f = frequência de operação [MHz] ,

= densidade de massa do tecido [Kg/m³]

= parte imaginária da permissividade complexa [F/m]

E = amplitude do campo elétrico interno ao ponto de análise [V/m]

Pa = potência por unidade de área W/m²

Figuta 5.5 – Exemplo de exposição à SAR pelo

uso de telefone celular

34

Considerando uma massa infinitesimal, temos através de demonstração não detalhada

neste trabalho a expressão 5.6, onde podemos observar que a SAR é diretamente proporcional

ao aumento local de temperatura, responsável pelos efeitos térmicos.

SAR = cp (ΔT/dt) (equação 5.6)

Onde:

ΔT é a variação de temperatura [0C] e Cp é o calor específico do tecido [J/Kg.

0C].

Para exposição do corpo inteiro, por exemplo, pode-se considerar a SAR média, que é

a relação entre a potência total absorvida pelo corpo e sua massa.

O aquecimento relativo, devido a SAR, é menor no tecido gorduroso do que nos

músculos, devido a diferença do conteúdo de água, portanto o aquecimento no músculo decai

exponencialmente com a penetração, sendo a constante maior para frequências menores.

Nas regiões de maior frequência, > 300 MHz, o comprimento de onda (λ) é menor,

consequentemente a penetração de radiação também será menor, podendo ocorrer a produção

de locais sobreaquecidos em regiões do corpo, como por exemplo, na cabeça.

A SAR é obtida diretamente, medindo-se o campo elétrico no corpo. Para esse teste

usa-se potência máxima dos aparelhos e as características das constantes elétricas do protótipo

similar às do organismo na dada frequência escolhida para o teste. Este procedimento é

realizado em laboratório, através de protótipos do corpo humano com a utilização de uma

sonda computadorizada registrando em tempo real os níveis de energia absorvidos por

unidades de massa e tempo.

Na prática existe uma dificuldade real em se medir o campo elétrico no interior dos

seres vivos e com isto podem ser adotados outros métodos para estimar a SAR.

35

6. LIMITES DE EXPOSIÇÃO A CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS

Com a finalidade de proteger os vários segmentos da população contra todos os danos

identificados causados pela energia de radiofrequência (RF), foram elaboradas normas que

limitam a esta exposição. Por enquanto, estes danos estão associados somente ao efeito

térmico.

A seguir serão apresentadas as principais normas internacionais de segurança e os

níveis de referência para exposição humana à radiação de RF a elas relacionadas, a Resolução

303/2002 da ANATEL e a lei municipal de Juiz de Fora 11.045.

6.1. Principais normas de segurança e os limites de SAR

No âmbito internacional, cada país através de comitês formados por órgãos

governamentais e não governamentais elaborou sua norma e regulamentações propondo

determinados limites de segurança.

Nos Estados Unidos, a recomendação de referencia é a norma C95.1 desenvolvida

pelo IEEE. A C95.1 foi adotada pela ANSI (American National Standard Institute)

Através do chamado “distúrbio comportamental”, termo que se refere à tendência de

os animais deixarem de efetuar uma tarefa complexa aprendida quando expostos a uma

quantidade suficiente de energia. Foi determinado o menor nível de exposição para a faixa de

frequência dos celulares, foco deste trabalho, o distúrbio ocorre a uma SAR de 4 W/kg. A

exposição por cerca de 30 minutos a esta SAR limite acarreta em um aumento de temperatura

do tecido maior que 1oC, ou seja, este é um efeito eminentemente térmico.

O IEEE acrescentou um fator de segurança de 10, levando o limiar recomendado para

0,4 W/kg. Quanto à exposição parcial, vários estudos indicavam que a relação entre o valor de

pico de SAR local e o valor médio no corpo todo era de cerca de 20:1, o limite local foi

estabelecido como 8 W/kg. Posteriormente, estabeleceu-se uma diferença entre exposição

“controlada” e “não controlada”, sendo esta última acrescentado um fator adicional de

segurança de 5, ou seja, as taxas limite para exposição total e parcial ficaram iguais a 0,08

W/kg e 1,6 W/kg, respectivamente.

36

O quadro 6.1 resume os limites de SAR para exposição total e parcial segundo a

norma IEEE C-95. 1 na faixa de frequência de 100KHz a 6GHz.

Os valores mostrados também são ratificados pela norma da Federal Communications

Comission – FCC 96 – 326, que é o órgão federal americano encarregado da regulamentação

das telecomunicações e da certificação dos equipamentos de emissores de radiação

eletromagnética no país.

Os limites de SAR que a C95.1 especifica devem ser tomados num período mínimo de

30 minutos, tanto para a exposição global, quanto para a local. Na exposição global, toma-se a

média obtida no corpo inteiro; na local, toma-se a média obtida sobre qualquer 1g de tecido.

Embora na faixa de frequências em questão a SAR seja a medida que melhor permite avaliar

os efeitos da radiação eletromagnética. Na prática é muito difícil medi-la diretamente em um

indivíduo. As técnicas atuais empregadas para se estimar SAR incluem a simulação em

computador e a medição do campo induzido em maquetes artificiais imitando o corpo humano

(ou parte dele, como a cabeça), preenchido com algum material (normalmente líquido) com

propriedades elétricas similares às do corpo humano (ou da parte específica que se deseja

avaliar, como o cérebro ou os ossos). A situação de exposição local mais estudada é a do uso

do terminal junto à cabeça.

A estimação da SAR depende fortemente da posição exata do aparelho com relação

à cabeça, e do formato exato e características elétricas da cabeça, dados estes difíceis de

serem determinados devido as características variáveis para cada caso específico. Todos estes

Quadro 6.1 - Limitações de SAR baseada da norma ANSI/IEEE C95.1

37

fatores podem levar os valores de SAR estimados a valores próximos aos limites

recomendados. Simulações indicam que, para uma situação típica na qual um celular

irradiando 0,6 W rms por uma antena monopolo afastada 2 cm da cabeça do usuário, a SAR

atinge valores em torno do limiar de 1,6 W/kg . Atualmente os sistemas operam com

potências menores que 600mW.

Ainda assim, o FCC através da norma FCC-96-326 entende que a maioria dos

celulares digitais não irradia potência alta o suficiente para causar efeito térmico. Isto se

reflete em uma de suas determinações, que obriga os fabricantes de terminais portáteis a

apresentar valores de SAR se a potência puder ultrapassar 0,74 W, quando a maioria dos

aparelhos trabalha no máximo com 0,6W. Em 2003 foram homologados pela Anatel (Res.

242) 90 novos modelos de terminais, sendo 56 GSM, 22 CDMA e 12 TDMA. E em 2004,

foram homologados 129 aparelhos com a SAR variando de 0,083 a 1,55 W/Kg. Nenhum

alcançou o valor limite da norma europeia (2W/Kg). O estudo utilizou os aparelhos em sua

máxima potência, embora raramente eles operem no máximo, já que os sistemas celulares

controlam a potência transmitida do aparelho de acordo com a distância para a ERB mais

próxima. Quanto mais próximo da ERB, menor a potência de transmissão do aparelho.

Destaca-se, ainda, a norma NCRP – “Efeitos Biológicos e Critérios de Exposição para

campos Eletromagnéticos de Radiofreqüência na faixa de 300KHz a 100GHz”. Norma do

National Council on Radiation Protection and Measurments, órgão sem fins lucrativos, que

trata de estudos e elaboração de recomendações com foco na população sobre os tipos de

radiações eletromagnéticas (ionizante e não- ionizante).

Com abrangência e aceitação mundial, a norma ICNIRP 1997 – “Diretrizes para

Limitação da Exposição a Campos Elétricos, magnéticos e Eletromagnéticos Variáveis no

Tempo (até 300GHz)” é um documento da International Commission on Non-ionizing

Radiation Protection – Comissão Internacional para Proteção à Radiação Não-Ionizante,

entidade independente que tem o aval de diversas organizações, dentre elas a OMS e OIT -

Organização Internacional do Trabalho. Em 1998 publicou suas diretrizes que foram

transformadas em recomendações pelo CENELEC (Comitté Européen de Normalisation

Eletrotechnique) que inclui 19 países. A SAR limiar é a mesma da C95.1, para exposição de

corpo inteiro (0,08 W/kg). A diferença recai no tempo de exposição (6 minutos). Para

exposição local, o valor é um pouco diferente (2 W/kg), além do tempo de exposição (6

minutos) e do peso da amostra tomada (10g). A tabela 6 resume os limites de SAR para

exposição total e parcial segundo a norma do ICNIRP na faixa de frequência de 100KHz a 10

GHz tanto para exposição ocupacional quanto para população em geral.

38

Quadro 6.2 - Limitações de SAR baseada na norma do ICNIRP para a faixa de 100 kHz

a 10GHz

A relação de 5:1 é encontrada nas comparações das restrições básicas de exposição

ocupacional com as de público em geral, tanto para a norma americana quanto para a norma

europeia conforme mostram os quadros 6.1 e 6.2. A grande dificuldade e a imprecisão das

estimativas de SAR levaram à necessidade de se estabelecer uma relação entre esta grandeza e

uma outra que pudesse ser prontamente medida. Para a faixa de micro-ondas, a grandeza em

questão é a densidade de potência de onda plana equivalente.

6.2. Níveis de referência para exposição humana

Pela dificuldade e imprecisão de se medir a SAR em um animal ou em um ser

humano, houve a necessidade de se estabelecer métodos que relacionam os valores admitidos

de SAR no interior do corpo com medidas realizadas fora do corpo. Para a faixa de micro-

ondas, a grandeza associada a medidas externas é a densidade de potência de onda plana

equivalente, cuja unidade de medida mais usual é W/m2 ou mW/cm2. A densidade de

potência também pode ser calculada a partir do campo elétrico (E, V/m) ou do campo

magnético (H, em A/m), conforme abordado no capítulo 4(equações 4.6 e 4.7).

Os valores medidos ou calculados em qualquer tipo de exposição devem ser

comparados com os níveis de referência da norma em vigor. Os quadros 6.3, 6.4 e 6.5

39

mostram, respectivamente, os níveis de referência para exposição ocupacional e exposição

para o público em geral das normas ANSI/IEEE, ICNIRP para a faixa de frequência de

100KHz a 300GHz e do FCC para a faixa de 300KHz a 100GHz.

Quadro 6.3 - Níveis de referência da norma ANSI/IEEE na faixa de 100 kHz a 300 GHz

40

Quadro 6.4 - Níveis de referência da norma ICNIRP na faixa de 100 kHz a 300 GHz

Quadro 6.5 - Níveis de referência da FCC para a faixa de 300KHz a 100GHz

f - frequência em MHz * densidade de onda plana equivalente

41

A densidade de potência associada aos limiares da norma C95.1 (ANSI/IEEE) e da

FCC na faixa de telefonia celular para exposição ocupacional de acordo com os quadros 6.3 e

6.5 é dada por:

(equação 6.1)

Para exposição do público em geral é:

(equação 6.2)

Onde f é a frequência em MHz.

Na Europa, os limiares segundo a ICNIRP na faixa de telefonia celular para exposição

ocupacional e exposição do publico em geral, são dados conforme indicado no quadro 6.4.

(equação 6.3)

Para exposição do público em geral é:

(equação 6.4)

Onde f é a frequência em MHz.

Comparando os quadros 6.3 (ANSI/IEEE) e 6.4 (ICNIRP) na faixa de frequências de

interesse, a de telefonia celular, observa-se que os limites são relativamente próximos, porém,

os limiares de segurança propostos pela ICNIRP são mais restritivos. O tempo médio de

exposição ocupacional proposto para ambas as normas é de 6 minutos. Para exposição do

público em geral o tempo médio de exposição é de 30 minutos para a norma americana e de 6

minutos para a europeia. A seguir, são mostrados os limites a campos de RF adotados em

alguns países.

Austrália - 2W/m2 ou 200 W/cm

2 para exposição da população em geral;

Polônia - 0,1 W/m2 ou 10 W/cm

2 limite único de exposição;

42

Nova Zelândia segue o ICNIRP;

Canadá segue o FCC;

Inglaterra (2000) segue o ICNIRP;

Suíça - 0,0042 mW/cm2 – 900MHz;

0,0095 mW/cm2 – 1800MHz;

Itália - 0,10 mW/cm2 – ocupacional;

0,0025 mW/cm2 – população em geral.

Juiz de Fora – lei municipal 11.045/2005 – 4,35 W/cm2 ou 0,00435mW/cm

2;

Em alguns casos, os limites são mais restritivos que os das normas internacionalmente

aceitas mostradas nesta seção, o que caracteriza uma incerteza ou desconfiança, por parte

destes países quanto aos níveis de exposição adotados como seguros à saúde humana pelas

referidas normas.

6.3. Regulamento aprovado pela Anatel para exposição a campos de RF

Através da resolu ão 303 de 02 de julho de 2002, a Anatel aprovou o “Regulamento

Sobre a Limitação da Exposição a Campos Elétricos, Magnéticos e Eletromagnéticos

Variáveis no Tempo na Faixa de Radiofrequências de 9KHz a 300GHz” baseado nas

diretrizes do ICNIRP vista anteriormente neste capítulo. A figura 7.1 ilustra os limites de

campo elétrico (V/m) e de densidade de potência (W/m2), para exposição ocupacional e da

população em geral, em conformidade com a resolução 303 da Anatel.

43

Figura 6.1 - Limites de exposição CEMRF de acordo com a resolução 303 da Anatel

O quadro 6.6 apresenta alguns valores típicos de densidade de potência que retratam o

teor das diretrizes atuais.

A figura 6.2 mostra os limites da exposição em termos de campo elétrico para

exposição média e pico de exposição para situações ocupacionais e de público em geral.

Quadro 6.6 - Densidades de potência e efeitos térmicos associados.

44

6.3.1. Cálculo da Densidade de Potência no Campo Distante

Nas diretrizes para limitação a exposição CEM até 300 GHz da Anatel, a densidade de

potência é considerada juntamente com a densidade de corrente (J) e taxa de absorção

específica (SAR) grandezas físicas usadas para especificar as restrições básicas na exposição

a campos elétricos, magnéticos e eletromagnéticos variáveis no tempo. Estas restrições são

baseadas diretamente em efeitos conhecidos na saúde. Somente a densidade de potência no ar,

fora do corpo, pode ser facilmente medida em indivíduos expostos.

Em condições de campo distante e espaço-livre, que corresponde à menor atenuação

possível com a distância, a densidade de potência a uma distância r da ERB pode ser

calculada usando o modelo de propagação abaixo:

(Equação 6.6)

Ou

(Equação 6.7)

onde:

S é a densidade de potência, em W/m²;

e.r.p. é a potência efetiva radiada, em watt;

e.i.r.p. é a potência equivalente isotropicamente radiada, em watt;

r é a distância da antena, em metros;

2,56 é o valor do fator de reflexão, que leva em conta a possibilidade de que campos

refletidos possam se adicionar em fase ao campo incidente direto.

6.3.2. Cálculo das Distâncias Mínimas de Segurança para Situações de Exposição

Ocupacional e de Público em Geral

De acordo com a Resolução nº. 303/2002 as distâncias mínimas de segurança para

situações de exposição ocupacional e de público em geral são derivadas das equações 6.6 e

6 .7 apresentadas acima.

45

6.3.3. Limites para Densidades de Corrente para Cabeça e Tronco e Taxa de Absorção

Específica (SAR)

A tabela descrita no Art. 10 do capítulo II do anexo da resolução 303 / 2002

apresentam as Restrições Básicas para limitação da exposição à CEMRF, para

radiofrequências entre 9 kHz e 10 GHz, em termos de densidades de corrente para cabeça e

tronco, taxa de absorção específica média no corpo inteiro, taxa de absorção específica

localizada para cabeça e tronco e taxa de absorção específica localizada para os membros.

Quadro 6.7 - Distância mínima de segurança para antenas transmissoras

atendendo aos limites de exposição para população em geral

Quadro 6.8 Distância mínima de segurança para antenas transmissoras

atendendo aos limites de exposição ocupacional

46

Na aplicação da Tabela 6.9 devem ser considerados os seguintes aspectos:

As densidades de corrente devem ser calculadas pela média tomada sobre uma seção

transversal de 1 (um) centímetro quadrado perpendicular à direção da corrente.

Todos os valores de SAR devem ter sua média temporal avaliada ao longo de

qualquer período de 6 (seis) minutos.

No cálculo do valor médio da SAR localizada deve ser utilizada uma massa de 10

(dez) gramas de tecido contíguo. O valor máximo da SAR assim obtido deve ser inferior ao

valor correspondente na Tabela 6.9.

De acordo com o capítulo V do anexo à resolução, em localidades onde existam mais

de uma estação transmissora de radiofrequências, o somatório da relação entre o campo

elétrico emitido por cada estação e o limite máximo de campo, deve ser menor que 1,

conforme equação abaixo:

(Equação 6.8)

Onde Ef é o valor da intensidade de campo elétrico medido para cada frequência f no

ambiente, EL é o limite de campo elétrico e f é a frequência considerada em MHz.

Manipulando esta relação, extraída do anexo à resolução, chegamos à equação abaixo:

(Equação 6.9)

Quadro 6.9 - Restrições Básicas para exposição à CEMRF, na faixa de

radiofrequências entre 9 kHz e 10 GHz.

47

Analisando a equação acima, pode-se afirmar que o quadrado do somatório do campo

elétrico fornecido por cada sistema no ambiente deve sempre ser menor que o quadrado do

limite de campo.

6.3.4. Interpretação dos limites de exposição

A interpretação do significado físico da equação 6.9 é que para determinarmos os

limites de exposição ocupacional e do público em geral, é necessário determinar a

emissão de campo que é emitido por todos os sistemas presente na área de medição. Esta é

uma consideração importante, pois para o regulamento o que importa é a quantidade total

de energia sendo absorvida, e podendo causar problemas à população.

48

7. LEI MUNICIPAL DE JUIZ DE FORA Nº. 11.045 / 2005

A Câmara Legislativa Municipal de Juiz de Fora aprovou, em dezembro de 2005, a

Lei Municipal nº. 11045 / 2005, que estabelece parâmetros para a instalação de ERB’s no

Distrito Federal.

A lei dispõe sobre normas para a instalação no Município de Juiz de Fora de Estações

de Telecomunicações de transmissão de rádio, televisão, telefonia, telecomunicação em geral

e outros equipamentos transmissores de radiação eletromagnética não ionizante, autorizadas

pela Agência Nacional de Telecomunicações - ANATEL, com observância às normas de

saúde e ambientais e ao Princípio da Precaução, e estabelece as normas urbanísticas

aplicáveis, de acordo com o interesse local.

Segundo a Lei Municipal, a constru ão, instala ão, amplia ão e opera ão de ERB’s

serão realizadas somente após expedição de licença pela Secretaria de Política Urbana -

SPU, mediante a apresentação obrigatória da licença ambiental e do parecer da Vigilância

Sanitária, outros documentos podem ser exigidos como: projeto, fotos, memorial técnico-

descritivo, assinado por profissional habilitado, acompanhado de Anotação de

Responsabilidade Técnica (ART) entre outros conforme legislação.

No Art. 3º a lei determina que a distância horizontal em relação a outras fontes

emissoras de radiação eletromagnéticas não ionizantes seja de no mínimo 500 m

(quinhentos metros). Outras imposições da Lei são: a proibição de instalação destas torres

nas paredes laterais e/ou fachadas de qualquer edificação; uma distância mínima de 50

metros do ponto irradiante até qualquer local passível de ocupação humana, exceto para

as antenas instaladas nos topos de prédios; não instalar a menos de 50 metros de hospitais

e centros médicos e a uma distância inferior a 18 metros de locais considerados como

áreas sensíveis, creches, estabelecimentos de ensino, templos de qualquer culto, asilos,

imóveis residenciais, locais de trabalho, centros comunitários de uso constante, prédios

públicos. Para todos os casos é obrigatório de medição do nível de densidade de potência,

observados os limites estabelecidos de no máximo 4,35µW/cm² (quatro vírgula trinta e cinco

microwatts por centímetro quadrado).

49

8. EFEITOS BIOLÓGICOS DA RADIAÇÃO ELETROMAGNÉTICA

Uma mudança percebida em um sistema biológico, após a introdução de um

determinado estímulo pode caracterizar um efeito biológico. As ondas eletromagnéticas

interagindo com o corpo humano, podem produzir algum tipo de efeito biológico, dependendo

da frequência e da potência aplicada. Esta interação não significa necessariamente a existência

de um perigo. Um efeito biológico pode ser considerado um risco à segurança, quando este

causar um dano na saúde da pessoa exposta ou de seus descendentes. As radiações das ondas

eletromagnéticas podem ser classificadas em duas categorias: radiação ionizante e não

ionizante.

8.1. Radiações Ionizantes

A radiação ionizante possui energia suficiente para quebrar ligações químicas por

ionização e corresponde a frequências mais elevadas que as das emissões de luz, como por

exemplo, os raios X e os raios gama, cujos comprimentos de ondas são micrométricos. Esta

radiação pode danificar o material genético das células, causando doenças como o câncer, por

exemplo. As células quando expostas à radiação sofrem ação de fenômenos físicos, químicos

e biológicos. A radiação ionizante causa a ionização de átomos e moléculas, que poderão

afetar células, que podem afetar os tecidos, que poderão afetar os órgãos e, portanto, poderão

afetar todo o corpo. Um organismo complexo como o corpo humano, constituído por cerca de

5 trilhões de células, quando exposto a radiações, sofre determinados efeitos somáticos,

restritos ao próprio corpo e, também, efeitos genéticos que são transmissíveis às gerações

seguintes. Os fenômenos físicos responsáveis pelo compartilhamento da energia entre as

células devido à irradiação são a Ionização e excitação dos átomos. Os fenômenos químicos

surgem em seguida e provocam a ruptura das ligações entre os átomos ou moléculas

formando radicais livres num intervalo de tempo muito pequeno e, por consequência, surgem

os fenômenos biológicos. Estes últimos alteram as funções específicas das células e são

responsáveis pela diminuição da atividade da substância viva do organismo. Poderíamos

especificar os músculos que perderiam algumas propriedades características como sendo as

primeiras reações do organismo às radiações. Os efeitos biológicos caracterizam-se, também,

50

pelas variações morfológicas, que são alterações em certas funções essenciais da célula ou

então a morte imediata da célula. Nem todas as células vivas têm a mesma sensibilidade à

radiação. As células que têm mais atividade são mais sensíveis, pois a divisão celular requer

que o DNA seja corretamente reproduzido para que a nova célula possa sobreviver. Em

frequências mais baixas que as das emissões de luz, incluindo as faixas de micro-ondas, os

campos eletromagnéticos não possuem energia suficiente (10eV) para provocar a quebra das

ligações químicas como no caso anterior e, portanto, esta irradiação é chamada de não

ionizante.

8.2. Radiações Não Ionizantes

São as radiações que não produzem ionização, ou seja, quando a onda eletromagnética

interage com o material biológico não têm energia suficiente para arrancar elétrons das

moléculas. A radiação, embora seja um fenômeno com características específicas, é

conceituada pela ciência de acordo com frequência do sinal avaliado, medida esta que se

expressa em Hertz (Hz). Os diferentes valores de frequências indicam diferentes tipos de

radiações, o que deu origem ao chamado espectro eletromagnético.

Embora existam várias fontes geradoras de campos eletromagnéticos, comentaremos

os estudos sobre os efeitos biológicos e sobre os possíveis danos causados à saúde humana e

ao meio ambiente, associados as RNI’s de RF e Microondas . O trabalho ficará limitado à

faixa de frequência reservada para comunicação por meio de telefonia celular.

51

8.3. Mecanismos de interação dos campos eletromagnéticos

O quadro 8.1 relaciona as faixas de frequências e os principais efeitos biológicos em

função da penetração das ondas eletromagnéticas no tecido humano.

Figura 8.1 – Espectro Eletromagnético.

52

8.3.1. Hipertermia

As micro-ondas, ao serem absorvidas pelo organismo humano, geram aquecimento, ou

seja, aumentam a temperatura corpórea. Este aquecimento não é homogêneo, pois os tecidos

ou órgãos têm diferentes taxas de absorção específica (SAR). A temperatura final depende

também da capacidade de dissipação da energia absorvida, e está relacionada com a

capacidade de regulação térmica de cada um destes sistemas, assim como das condições

fisiológicas de cada indivíduo.

O indivíduo saudável possui mecanismos de defesa que podem ser ativados como

resposta ao aquecimento desde que ele possa ser detectado e dentro de certos limites. Por

exemplo, quando tocamos um objeto quente, ocorre quase que imediatamente, o envio de uma

grande quantidade de água para estabilização da temperatura, como pode ser observado pela

presença das bolhas nas queimaduras. Esta regulação térmica têm mecanismos diferentes em

diferentes órgãos, ocorrendo até mesmo em nível celular. O principal mecanismo é a

circulação sanguínea. O aumento da temperatura induz a vasodilatação o que permite um

maior volume de sangue irrigado na área atingida. Órgãos de extrema importância, como as

Quadro 8.1 – Relação entre as frequências e os principais efeitos biológicos

53

glândulas e os neurônios, são fácil e irrecuperavelmente danificados com aumento da

temperatura. Este é um dos motivos pelo qual o cérebro é irrigado com um volume

extremamente grande de sangue.

Dependendo da saúde do indivíduo, da potência das ondas eletromagnéticas e da

região do corpo em que ela é absorvida, a hipertermia pode ser “aparentemente” reversível ou

não. Em outras palavras, um sujeito saudável submetido a uma baixa densidade de radiação

de micro-ondas terá um aumento da temperatura corpórea, a qual poderá voltar aparentemente

ao normal quando o indivíduo se afasta da fonte de radiação.

“Aparentemente” neste caso, quer dizer que macroscopicamente o sistema corpóreo

restabeleceu seu equilíbrio, sem o desenvolvimento de uma patologia associada. Entretanto,

microscopicamente, não se sabe quais e quantas estruturas biológicas foram danificadas ou

não.

Os efeitos térmicos provocados pela radiação de micro-ondas também contribuem para

a alteração psicológica do indivíduo, podendo provocar alterações de comportamento e

fadiga. Portanto, não há nenhuma dúvida na literatura científica de que a hipertermia

provocada pelas radiações eletromagnéticas é potencialmente prejudicial à saúde humana.

Quando se observa ou quando se encosta em um objeto quente, nossa ação espontânea

é de nos afastarmos deste objeto para prevenir possíveis queimaduras. Sentimos a temperatura

por receptores localizados próximos da pele quando a temperatura é alta. Infelizmente não

temos nenhum receptor no organismo para detectar a radiação eletromagnética, a qual

também é invisível. A sensação de aquecimento só ocorre onde estão localizados os sensores.

Usando um telefone celular junto a cabeça pode-se notar o aquecimento devido aos receptores

próximos a pele (pode ocorrer uma diferença de mais de 4 oC quando comparado a

temperatura de um lado da cabeça com o outro) mas não podemos detectar automaticamente o

aquecimento que ocorre nos neurônios e em outras estruturas cerebrais.

A figura abaixo mostra as diferentes estimativas de absorção de radiação

eletromagnéticas de um aparelho celular operando na faixa de 900MHz para crânios de uma

criança de 5 anos, de um adolescente de 12 anos e uma pessoa adulta.

54

Podemos notar que devido tamanho do cérebro ainda em formação e do crânio mais

fino da criança o modelo indica que a radiação eletromagnética será absorvida com maior

intensidade pelo cérebro de uma criança de cinco anos em comparação com um adulto

completamente desenvolvido.

De uma forma não seletiva, mas igualmente prejudicial, a absorção da radiação

também provoca a hipertermia (aquecimento excessivo), produzindo diferentes temperaturas

nas diversas partes do complexo corpo humano. Além das possíveis doenças provocadas pela

hipertermia, a radiação eletromagnética também pode provocar outras patologias e nestes

casos em níveis de radiação muito mais baixos do que os detectados pelos efeitos térmicos.

8.3.2. Catarata

Em situações normais, os vasos sanguíneos se dilatam e o aquecimento é reduzido e

/ou removido pela corrente sanguínea. Desta forma o principal risco de dano térmico se

concentra nas áreas de baixa vascularização, como por exemplo, os olhos e a têmpora. Os

olhos são considerados órgãos críticos com relação ao efeito das radiações não ionizantes,

sendo bastante suscetíveis ao efeito térmico.

O olho humano é um órgão extremamente complexo formado pela córnea, humor

aquoso, cristalino, humor vítreo, retina, nervos ópticos e músculos (vide Figura 8.3). A

proteína estrutural da córnea e da lente é o colágeno, que é basicamente a mesma molécula

Figura 8.2 - Modelo de estimativa da absorção de radiação eletromagnética de

um telefone celular com base na idade e na frequência de 900 MHz. À direita, a

escala de cores mostrando a Taxa de Absorção Específica em W / kg.

55

que forma os ossos, por exemplo. Para que a córnea e a lente possam ser opticamente

transparentes as moléculas de colágeno são orientadas de forma bastante complexa e

específica, com uma hidratação entre as moléculas bem definida. A água e o colágeno

também são os componentes básicos do humor aquoso e do humor vítreo.

A córnea e o cristalino são estruturas muito delicadas e que devem estar sempre bem

hidratadas. A função do piscar da pálpebra, por exemplo, serve principalmente para garantir a

umidade da superfície da córnea. A irrigação sanguínea nestas estruturas é ausente pois a

vascularização prejudica a transparência dos mesmos.

Portanto, no caso da córnea e do cristalino, existem dois fatores que potencializam os

danos da radiação de micro-ondas, que são: a necessidade de hidratação e a baixa irrigação

sanguínea. Outro aspecto importante é a dificuldade de regeneração destes tecidos quando

desidratados. Com a eliminação da água, as fibras de colágeno se aproximam e enrolam-se

entre si formando uma adesão molecular bastante forte.

Tanto a córnea quanto a lente perdem a sua estrutura molecular característica que lhe

garantiam a transparência óptica e passam a ter um branqueamento (opacidade), cuja

transparência é irrecuperável.

Os processos de catarata podem ocorrer também devido a mecanismos iniciados por

outros fatores, como por exemplo, problemas vasculatórios, deficiência imunológica,

envelhecimento etc. Pessoas que já tenham estas deficiências vão ter também os efeitos da

radiação de micro-ondas somatizados.

humor aquoso

Figura 8.3 - Estrutura básica do olho humano.

56

8.3.3. Câncer

As células humanas em um indivíduo saudável estão em constante reprodução pois

este processo representa a vitalidade que envolve o crescimento, o desenvolvimento e

manutenção dos diversos órgãos, tecidos, ou fluidos do corpo. As células que cumpriram seu

tempo de vida ou que foram danificadas por agressões internas ou externas ao organismo são

substituídas pelas novas. As informações para que as células se reproduzam estão basicamente

contidas em seu DNA, o qual é transmitido para as células seguintes. Entretanto, por algum

tipo de influência, a reprodu ão pode levar a células “diferentes”, com altera ões no DNA, na

quantidade de gens, ou da morfologia.

Se o sistema de autodefesa (sistema imunológico) do indivíduo estiver atento, esta

célula “diferente” será descoberta e destruída. Se isto não ocorrer, as células “diferentes” terão

a possibilidade de se reproduzir, formando uma grande quantidade de células “diferentes” as

quais podem se disseminar para outras partes do corpo ou formar aglomerados, denominados

tumores. Os aglomerados de células “diferentes” vão agir como partes de um corpo

completamente estranho ao corpo do indivíduo original, provocando alterações irrecuperáveis

na fisiologia das partes envolvidas. Como consequência final, se não houver tratamento,

levarão o indivíduo à morte.

O processo de multiplica ão não controlada de células “diferentes” é denominado de

neoplasia. As células “diferentes” são chamadas de “células tumorais malignas” quando a sua

atividade multiplicativa é bastante intensa e invasiva.

Em resumo, os fatores principais que podem desencadear o câncer são as alterações no

DNA e a deficiência do sistema imunológico. E, infelizmente tanto um quanto o outro podem

ser alterados pela radiação eletromagnética.

Como as células humanas possuem funções diferenciadas (para constituir os diferentes

tecidos e órgãos do corpo) a reprodu ão das “células malignas” pode ocorrer em regiões

localizadas (pele, seio, cérebro, fígado etc.), nos fluídos (sangue) ou em todo o corpo

(metástase). Consequentemente, os efeitos da radiação eletromagnética também serão

diferentes, nas diferentes partes do corpo.

O uso de uma antena de um telefone celular próximo à cabeça, certamente trará

maiores consequências da radiação sobre as regiões do cérebro e aos nervos da mão (que

segura o aparelho) do que às outras partes do corpo. Devido a este motivo, pesquisadores

57

estudam a probabilidade do risco de câncer cerebral induzido em usuários de telefones

celulares. A dificuldade de comprovação direta entre a radiação de micro-ondas do celular e o

câncer cerebral é a óbvia impossibilidade ética de se utilizar cobaias humanas. Mas,

infelizmente na prática, os usuários atuais têm sido “cobaias desta tecnologia”. É importante

lembrar que no cérebro humano estão localizadas a hipófise e a pineal, que são glândulas

responsáveis pela secreção de dezenas de hormônios, esteroides ou não. Estes hormônios

influenciam diretamente as funções celulares assim como diversas funções fisiológicas e até

psicológicas do ser humano. Portanto através da disfunção dos mecanismos hormonais, a

incidência de radiação no cérebro pode levar a diferentes mecanismos de ativação celular que

podem originar células “diferentes” em outras partes do corpo, além do próprio cérebro.

Estudos científicos em humanos apontam, por exemplo, que quando a antena está a 2

cm de distância da cabeça do usuário, entre 48-68% da radiação emitida pelo telefone celular

é absorvida por suas mãos ou por sua cabeça. Este fator talvez justifique a probabilidade do

aumento da incidência de câncer cerebral observada em relação aos usuários da telefonia

celular se nenhuma outra causa já conhecida for encontrada. Os trabalhos de pesquisa

prosseguem, procurando identificar correlações entre a posição dos tumores e a posição do

uso dos aparelhos, assim como o tempo de latência entre o uso do telefone celular e o

diagnóstico do tumor. No caso da telefonia celular digital, sua introdução no mercado ainda é

muito recente, o que não permite ainda correlacionar seus efeitos em relação aos não usuários

(controles).

Estudos científicos em animais, na mesma frequência da telefonia celular, demonstram

que ocorrem, alterações no tecido cerebral, expressivo aumento na incidência de câncer

linfático em camundongos, alteração na atividade da ornitina decarboxilase (enzima que

regula o crescimento celular normal e que também está relacionada com uma maior incidência

de câncer), alteração na barreira hematoencefálica de ratos etc.

Pesquisadores na Universidade de Lund, Suécia realizaram a exposição de ratos

durante duas horas por dia com a radiação do próprio telefone celular, com dosagens

diferentes, todas abaixo dos limites considerados seguros pela indústria. A Figura 8.6

compara secções histológicas do cérebro dos ratos após o período de 50 dias, com ou sem

Radiação. Observa-se nos ratos irradiados hemorragias significantes como também áreas de

encolhimento da massa encefálica, correspondentes a danos neuronais.

58

Em outro estudo, ratos expostos à frequência de 2450 MHz (e com baixa intensidade

de radiação) demonstram que ocorre rupturas (simples e duplas) na cadeia do DNA das

células cerebrais. Estas rupturas cumulativas do DNA tem sido sugeridas como a causa de

várias doenças neurodegenerativas no ser humano, incluindo o câncer.

Pesquisadores demonstraram que a exposição de pacientes jovens por 35 minutos à

radiação eletromagnética do telefone celular causou um aumento na pressão sanguínea de

repouso entre 5 a 10 mm Hg. Estes resultados indicam que, provavelmente a radiação

eletromagnética provoca a constrição das artérias. Portanto pessoas que sofrem de hipertensão

terão maior probabilidade de sofrer doenças cardíacas e derrames.

Outro estudo demonstrou que a radiação na frequência de 900 MHz, mesmo em níveis

de 50 W/cm2, prejudica as fases do sono responsáveis pela memória e aprendizado.

Este efeito adverso pode ser mais sentido pelas crianças que moram próximas das

ERBs, pois elas geralmente acordam mais tarde e vão dormir relativamente mais cedo do que

os adultos.

Visto que a telefonia celular é uma tecnologia recente, ainda não existem na literatura

científica estudos epidemiológicos em relação aos efeitos sobre as populações vizinhas das

ERBs. Entretanto, no caso das torres de micro-ondas provenientes de outros serviços, existem

Figura 8.4 - Comparação entre secções histológicas de cérebro de ratos (a) não

submetidos e (b) submetidos a radiação de telefones celulares por 2h durante 50 dias em

níveis inferioresaos níveis considerados seguros.

59

estudos que verificaram o aumento nos casos de leucemia e da mortalidade associada em

relação à proximidade entre as residências e antenas [21].

Finalmente, estudos epidemiológicos feitos em grupos de pessoas que são expostas à

radiações eletromagnéticas devido ao seu trabalho profissional, como operadores de radar de

rádio etc., demonstraram que há evidência epidemiológica de alteração na razão entre as

células brancas e células vermelhas do sangue, incremento da leucemia mielocítica crônica e

da leucemia mieloblástica aguda, aumento das magnilidades no sistema hemapoetico /

linfático, aumento da neoplasia do trato alimentar e aumento da incidência de câncer cerebral.

É interessante ressaltar que é comum os usuários portarem o seu telefone celular na cintura e

apesar de não “estarem falando” o aparelho continua emitindo radia ão para se comunicar

com a ERB. Neste caso a radiação atingirá órgãos importantes como a próstata e os testículos

(para o homem), os ovários e útero (para a mulher), assim como o fígado e os rins. Estudos

epidemiológicos futuros deverão concentrar-se também nestes órgãos [21].

8.3.4. Outros efeitos a serem considerados

A literatura especializada cita uma grande variedade de efeitos não térmicos adversos

à saúde humana, provenientes da exposição prolongada às radiações de Radiofrequência e

micro-ondas, com a SAR (Taxa de Absorção Específica) inferior a 4W/kg, uma série de

estudos, muitos deles controversos, destacam o risco efetivo dos níveis de radiação emitidos

pelos sistemas celulares. O ponto central de tais pesquisas é de que à exposição às micro-

ondas, mesmo em baixas intensidades, resulta em distúrbios dentre os quais se destacam:

alteração do eletroencefalograma (EEG), letargia, geração de prematuros, distúrbios do sono,

distúrbios comportamentais, perda de memória recente, dificuldades de concentração, doenças

neurodegenerativas, tais como os males de Parkinson e Alzheimer, abortamento, má formação

fetal, linfoma, leucemia e câncer, entre outros. É lamentável que estes estudos só tenham

sidos desencadeados, depois que a referida tecnologia do sistema de telefonia celular entrou

em operação em escala mundial [18].

O biofísico G.J. Hyland é um especialista no mecanismo de interação da radiação não

ionizante com organismos vivos e um severo crítico às diretrizes de segurança adotadas

mundialmente quanto aos níveis recomendados, que ele considera altos demais, e também

quanto à filosofia de desenvolvimento daquelas diretrizes, que são baseadas principalmente

60

nos efeitos térmicos e na premissa de que os efeitos não térmicos, já reportados, ainda

carecem de (fundamentação cientifica). É defensor, ainda, da teoria de que a modulação seria

por si só responsável por alguns efeitos fisiológicos e comportamentais podendo ocasionar

danos ao funcionamento dos sistemas nervoso e imunológico de organismos vivos. Suas

considerações sobre tais efeitos de modulação empregadas nos celulares têm sido

mencionadas no Brasil como uma das evidências em termos de perigo em relação às ERBs.

Entretanto H. Lai que é defensor da importância dos efeitos não térmicos, em suas pesquisas

com ratos e células mostra uma relação entre estes efeitos e o sistema nervoso, quando

exposto a radiofrequência nos níveis limites das diretrizes de segurança. Tais efeitos são

contestados por outros especialistas. Outro efeito bastante discutido é o efeito da radiação

nos testículos, já que estes também constituem órgãos críticos no que concerne aos efeitos das

radiações eletromagnéticas. Isso porque são extremamente sensíveis a elevações de

temperatura. Estão mais sujeitos à radiação por dois motivos:

Localização superficial em relação ao corpo e;

Grande sensibilidade ao calor por parte das células germinativas que se

encontram numa faixa de temperatura inferior à temperatura corporal

(aproximadamente 33°C) e apresentam uma velocidade de redução celular, já

em temperaturas de 37°C.

Pesquisas com cães, coelhos e ratos, para determinar o limiar para o início de efeitos

prejudiciais, mostraram que, a 10 mW/cm2

de densidade de potência, os efeitos patológicos

nos testículos incluem degeneração do epitélio que reveste os tubos seminíferos e uma

acentuada redução da maturação de espermatócitos. Essa redução da função testicular é

devida ao aquecimento, e parece ser temporária e provavelmente reversível.

Outro efeito a ser considerado é a interferência provocada pelas micro-ondas em

circuitos eletrônicos como os marca-passos implantados em seu organismo de pacientes que

sofrem de alguma arritmia crônica, difícil de ser controlada com remédios.

Os marca-passos são circuitos eletrônicos desenvolvidos para fornecer estímulos

periódicos ao órgão necessitado. Os marca-passos possuem uma blindagem contra

interferências eletromagnéticas, mas devido às próprias características do aparelho a

blindagem completa não pode ser realizada.

Pacientes que tenham distúrbios não controláveis de hidrocefalia ou de hipertensão

encefálica têm necessidade da implantação de válvulas de drenagem do líquor. Estas válvulas,

por suas características, podem ter seu funcionamento interrompido por interferências com a

61

radiação eletromagnética, pois funcionam como ótimas antenas receptoras. Dificilmente esta

interrupção do funcionamento será diagnosticada a tempo pelo médico. Pacientes com

próteses metálicas também devem ficar atentos, pois estas interagem com a radiação

eletromagnética, a qual pode induzir processos eletrobioquímicos de rejeição que não eram

esperados para acontecer no tempo de vida útil previsto para as próteses.

Qualquer outro acessório médico-eletrônico utilizado internamente ou externamente,

pode ser passível de mau funcionamento devido a interferência com as micro-ondas do

telefone celular. Outro problema é que estas interferências podem ser intermitentes, o que

dificulta a identificação do seu mau funcionamento.

62

9. CONCLUSÃO

É imprescindível a caracterização dos níveis de exposição dos campos

eletromagnéticos, nas faixas de telefonia celular, e a sua comparação com os limites

constantes das diretrizes em vigor, para o aprofundamento dos estudos laboratoriais e

epidemiológicos, em relação aos efeitos biológicos de longa duração.

É importante salientar que a distribuição de energia não é uniforme e quantidades

significantes de energia pode se depositar em regiões específicas, como no caso da catarata no

olho, e por isso o estabelecimento de limites é muito importante.

A exposição de crianças aos campos eletromagnéticos é outro fator que merece

atenção diferenciada, devido ao fato de estarem em desenvolvimento e dados mostrarem que

elas são mais susceptíveis às emissões dos CEMRF.

Outros efeitos biológicos apresentam relações mais complexas, onde ainda não há

relação entre dose-resposta. O estado atual das pesquisas não é conclusivo para demonstrar a

relação entre estes efeitos e a SAR, porém, o número crescente de antenas de telefonia celular

instaladas nas cidades brasileiras, pode expor a população a perigosos índices de radiação. A

população vizinha das antenas recebem doses CEMRF constante, estabelecer um limite de

uma dose segura que a população possa receber é um grande desafio para a comunidade

científica e necessita ser definido com urgência.

63

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] AGENCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES (ANATEL), Regulamento sobre

a Limitação da Exposição a Campos Elétricos e Eletromagnéticos na Faixa de

Radiofrequências entre 9 KHz e 300GHz , Resolução 303, de02 de julho de

2002.Disponível em:

<http://www.anatel.gov.br/Portal/verificaDocumentos/documento.asp?null&filtro=1&docume

ntoPath=biblioteca/resolucao/2002/anexo_res_303_2002.pdf >.Acesso em: 18 Jul. 2010.

[2] WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO), EMF project. Disponível em: <

http://www.who.int/emf/ >. Acesso em: 19 de jul. 2010.

[3] Número de celulares: Banco de dados. Disponível em: <

http://www.teleco.com.br/ncel.asp > Acesso em: 20 Set. 2010.

[4] AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES (ANATEL) - Superintendência de

Radiofrequência e Fiscalização: Diretrizes para Limitação da Exposição a Campos

Elétricos e Eletromagnéticos Variáveis no Tempo até 300 GHz, Disponível em: <

http://www.radiacao.com.br/Arquivos/diretriz_radiacao.pdf >. Acesso em: 18 Jul. 2010.

[5] IEEE, IEEE C95-1-1991, Standard for safety levels with respect to human exposureto

radio frequency electromagnetic fields, 3 KHz to 300 GHz.

[6] ICNIRP, ICNIRP guidelines for limiting exposure to time-varying electric, magnetic,

and electromagnetic fields (up to 300 GHz). Disponível em:

< http://www.icnirp.org/documents/emfgdl.pdf >Acesso em 12 Ago. 2010.

[7] DIAS, M. H. C.; SIQUEIRA,G.L., Considerações sobre os Efeitos à Saúde Humana da

Irradiação Emitida por Antenas de Estações Rádio Base de Sistemas Celulares , Revista

Telecomunicações -Inatel,vol.5, nº1, pp.41-54,jun 2002.

[8] KRAUS, J. D., Antenas; tradução de Paulo Roberto Mariotto, Rio de Janeiro, Ed.

Guanabara Dois, 1983.

64

[9] MOULDER, J. E., Power Lines and Cancer FAQ’s, in Electromagnetic Fields and

Human Health, Medical College of Wisconsin, 11 Jul. 2005.

[10] IEEE, IEEE C95-1b-2004, Standard for Safety Levels with Respect to Human

Exposure to Radio Frequency Electromagnetic Fields, 3 KHz to 300 GHz .

[11] FEDERAL COMMUNICATION COMMISSION- FCC, Office of Engineeringand

Technology. Disponível e m: < http://www.fcc.gov/oet > Acesso em: 03 Ago. 2010.

[12 ] OET BULLETIN 56 (fourth edition), Questions and Answers About Biological

Effects and Potential Hazards of Radio-frequency Electromagnetic Fields, Federal

Communications Commission (FCC) Office of Engineering &Technology, August 1999.

Disponível em: < http://www.fcc.gov > Acesso em: 03 Ago. 2010.

[13] HP 8594 E-Series and L-Series Spectrum Analyser, User’s Guide, Hewlett Packard

Company, U.S.A., 1994.

[14] NCRP: Biological Effects and Exposure Criteria for Radio Frequency

Electromagnetic Fields. Report 86, (Bethesda, MD: National Council on Radiation

Protection and Measurements) pp.1-382, 1986.

[15] EMF World Wide Standards: Banco de dados. Disponível em: <

http://www.who.int/docstore/peh-emf/EMFStandards/who-0102/Worldmap5.htm > Acesso

em: Set Jan. 2010.

[16] DAQ Card E-Series, User Manual, National Instruments Corporation, March, 1999.

[17] CRUZ, S. C. da, Verificação dos Níveis de Radiação Emitidos Pelas Antenas das

ERBs e a Percepção das Comunidades Próximas, Pontifícia Universidade Católica do

Rio de Janeiro, Mar 2006 Disponível em: < http://www.lambda.maxwell.ele.puc-

rio.br/Busca_etds.php?strSecao=resultado&nrSeq=8044@1. > Acesso em: Ago. 2010.

65

[18] DODE, A. C; LEÃO, M. M. D. : Poluição Ambiental e Exposição Humana a Campos

Eletromagnéticos: Ênfase Nas Estações Radiobase de Telefonia Celular. Disponível em:

<http://www.esmp.sp.gov.br/publicacoes/caderno_7.pdf > Acesso em: Jul. 2010.

[19] SCUDELLER, F. C. S. R., Interação das Ondas Eletromagnéticas com o Material

Biológico, Instituto Nacional de Telecomunicações – INATEL, Nov 2005. Disponível em: <

http://www2.inatel.br/mestrado/Dissertacoes/Fatima%20Claret%20Seda%20R%20Scudeler.p

df > Acesso em: Ago. 2010.

[20] ELBERN, A: Radiações Não Ionizantes Conceitos, Riscos, e Normas. Disponível em:

< http://www.prorad.com.br/downloads/rni.pdf > Acesso em: Set. 2010.

[21] BARANAUSKAS, V: Efeitos das Radiações Eletromagnéticas Emitidas Pela

Telefonia Celular na Saúde Humana. Disponível em:

<http://www.esmp.sp.gov.br/publicacoes/caderno_7.pdf > Acesso em: Jul. 2010.

66

ANEXOS

67

Anexo 1 – Detalhamento das Bandas de Frequências para o Celular no Brasil

Freqüências(MHz)

Transmissão da

Estação Móvel ERB

Subfaixa A** 824-835

845-846,5

869-880

890-891,5

Subfaixa B** 835-845

846,5-849

880-890

891,5-894

Subfaixa D 910-912,5

1710-1725

955-957,5

1805-1820

Subfaixa E 912,5-915

1740-1755

957,5-960

1835-1850

Subfaixas de

Extensão

898,5-901*

907,5-910*

1725-1740

1775-1785

943,5-946*

952,5-955*

1820-1835

1870-1880

* Não serão autorizadas para prestadoras do SMP operando nas Bandas D e E. Todas as

operadoras de Banda D e E adquiriram também as faixas de frequências de 900 MHz alocadas

para a sua Banda.

** Admite o emprego de sistemas analógicos (AMPS) nas Bandas A e B até 30/06/2008.

68

Anexo 2 – Detalhamento das Novas Bandas do SMP

De acordo com a Res. 454 de 11/12/06 que revogou a Res. 376 02/09/04 foram criadas novas

bandas para telefonia celular conforme quadro abaixo:

MHz Transmissão da

Subfaixa Estação Móvel ERB

F* 1920-1935 2.110-2.125

G* 1.935-1.945 2.125-2.135

H* 1.945-1.955 2.135-2.145

I* 1.955-1.965 2.145-2.155

J* 1.965-1.975 2.155-2.165

L 1.895-1.900 1.975-1.980

M 1.755-1.765 1.850-1.860

Subfaixa de Extensão

1.765-1.770

1.770-1.775

1.860-1.865

1.865-1.870

1.885-1.890**

1.890-1.895**

* Faixas reservadas para sistemas 3G

** Sistemas TDD (Time Division Duplex) que utilizam a mesma subfaixa de frequências para

transmissão nas duas direções.