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Rev. Políticas Públicas, V. 12, n. 2, 2008

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Este artigo aborda o processo de revitalização do Centro de Santos. Seu objeto de análise são os bairrosCentro, Paquetá, Vila Nova, Valongo e parte da Vila Mathias e seu objetivo é fazer um histórico do processo desdea aprovação do Plano Diretor de 1998 até os dias atuais. A introdução situa o papel do poder público municipal e dasecretaria de planejamento na condução das políticas públicas envolvendo a área. A segunda seção busca enfocaraspectos relevantes sobre o Programa Alegra Centro que tem por objetivo dar apoio à implantação e ao funcionamentode atividades e empreendimentos voltados ao comércio e ao turismo em conjunto com a valorização da paisagemurbana e do patrimônio cultural. A terceira parte trata dos projetos e intervenções desenvolvidos pelo poder públicoe suas ações de marketing para divulgação de tais ações. A quarta seção mostra o quadro geral em que se encontraa questão da moradia na área central, sua situação e precariedade. Por fim, a conclusão faz uma avaliação doprocesso de revitalização do Centro de Santos e da política de habitação do município.

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    POLTICAS PBLICAS URBANAS: o caso do centro de Santos

    Andr da Rocha SantosUniversidade Catlica de Santos (UNISANTOS)

    Recebido em 19.09.2008. Aprovado em 27.10.2008.

    POLTICAS PBLICAS URBANAS: o caso do centro de SantosResumo: Este artigo aborda o processo de revitalizao do Centro de Santos. Seu objeto de anlise so os bairrosCentro, Paquet, Vila Nova, Valongo e parte da Vila Mathias e seu objetivo fazer um histrico do processo desdea aprovao do Plano Diretor de 1998 at os dias atuais. A introduo situa o papel do poder pblico municipal e dasecretaria de planejamento na conduo das polticas pblicas envolvendo a rea. A segunda seo busca enfocaraspectos relevantes sobre o Programa Alegra Centro que tem por objetivo dar apoio implantao e ao funcionamentode atividades e empreendimentos voltados ao comrcio e ao turismo em conjunto com a valorizao da paisagemurbana e do patrimnio cultural. A terceira parte trata dos projetos e intervenes desenvolvidos pelo poder pblicoe suas aes de marketing para divulgao de tais aes. A quarta seo mostra o quadro geral em que se encontraa questo da moradia na rea central, sua situao e precariedade. Por fim, a concluso faz uma avaliao doprocesso de revitalizao do Centro de Santos e da poltica de habitao do municpio.Palavras-chave: polticas pblicas urbanas, planejamento urbano, revitalizao urbana, reas centrais histricas.

    URBAN PUBLIC POLICIES: the case of the center of the Brazilian city of SantosAbstract: This article evaluates the process of the urban revitalization center of Santos. Its analysis object is theCentro, Paquet, Vila Nova, Valongo and part of Vila Mathias neighborhoods. Its objective is to describe the mentionedprocess since the approval of the 1998 Managing Plan until the current days. The introduction points out the municipalpublic powers and planning secretariats role in the conduction of the public policies involving these areas. Thesecond section of this article analyses certain aspects of the Alegra Centro Program whichs objective is to supportthe enterprises implantation and the functioning activities directed to commerce and the tourism, among the evaluationof the urban landscape and the cultural local patrimony. The third part of this paper deals with the public powersprojects and interventions developed and spread through marketing actions. This articles fourth section shows thegeneral housing matter in the central area and its precarious situation. Finally, the conclusion evaluates the processof urban revitalization of the Brazilian city of Santos and the citys habitation policies.Key words: urban public policies, urban planning, urban revitalization, historical city center.

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    1 INTRODUONo final de 1998 foi aprovado o novo Plano Diretor

    de Desenvolvimento e Expanso Urbana do municpiode Santos que deu as bases legais e apontou asdiretrizes para o processo de revitalizao de sua reacentral. Nesse mesmo processo legislativo foi votadoo projeto de lei de disciplinamento e ordenamento douso e ocupao do solo na rea insular e tambm alei que reestruturou o Conselho Municipal deDesenvolvimento Urbano (CMDU) e criou o ConselhoMunicipal de Desenvolvimento Econmico de Santos(CDES).

    Sobre o Plano Diretor de 1998, escreve Carvalho(1999, p. 193):

    O exame geral dessas leis no mostroudiferenas de maior expresso quandocomparadas com o projeto de lei do planodiretor elaborado durante o governoDavid Capistrano Filho. As principaisdiferenas identificadas referem-se perda do carter estratgico, proposto noprojeto de lei do governo anterior, deestimular as vocaes econmicas dacidade e mudana do perfil decomposio do Conselho Municipal deDesenvolvimento Urbano, com maiorrepresentao dos segmentos sociaisligados aos grupos dominantes eempresariais locais e, por conseqncia,a perda do perfil de representaopopular e de grupos sociais de baseterritorial contido no projeto do governoanterior.

    Com relao rea central, o novo Plano Diretorestabeleceu o novo zoneamento da cidade e o

    permetro dos Corredores de Proteo Cultural (CPC)que passaram a integrar a Zona Central I, a ZonaCentral II e a Zona Porturia no trecho compreendidoentre o Armazm 1 e o Armazm 8.

    Ainda no ano de 2000, por meio de uma reformaadministrativa, criada a Seplan - Secretaria dePlanejamento. A partir de ento, todas as questesenvolvendo o desenvolvimento urbano da cidade e asdiretrizes do Plano Diretor ficaram a cargo dessaSecretaria.

    Nesse sentido, a Seplan passou a contar com doisdepartamentos: o Departamento de PlanejamentoUrbano e o Departamento de Desenvolvimento eRevitalizao Urbana. Todas as questes relativas aoCentro ficaram a cargo deste ltimo que tem aCoordenadoria de Desenvolvimento Socioeconmicoe a Coordenadoria de Revitalizao e PreservaoUrbana a ela subordinada.

    2 O PROGRAMA ALEGRA CENTRO

    A partir da criao da Seplan, a Prefeiturapassou a contar com uma pasta que tem como umade suas atribuies pensar exclusivamente arecuperao da regio central. Nesse sentido, a Seplanpassou a desenvolver novos projetos de intervenona rea e a se debruar sobre um projeto de leicomplementar que teria por objetivo dar apoio implantao e ao funcionamento de atividades eempreendimentos, por meio de iniciativas voltadas aocomrcio e ao turismo, em conjunto com a valorizaoda paisagem urbana e do patrimnio cultural,integrando todas as aes relativas a incentivos fiscaispor meio de parcerias com a iniciativa privada.

    Fonte: GOOGLE MAPS, 2007.Figura 1 - Indicao da rea central de Santos no contexto das cidades centrais da Baixada Santista

    (Santos, So Vicente, Guaruj, Cubato e Praia Grande).

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    O texto de criao desse Projeto - o ProgramaAlegra Centro - foi desenvolvido ao longo de 2001e apresentado em dezembro daquele ano durantereunio das secretarias de Planejamento (Seplan)e Obras e Servios Pblicos (Seosp) comcomerciantes, empresrios e dirigentes de clubesde diretores lojistas realizada na AssociaoComercial de Santos. Segundo o secretrio deplanejamento, o programa foi espelhado emmodelos bem sucedidos nacionalmente comoRecife, Belm e Rio de Janeiro. (cf. A Tribuna, 21.10. 2001 e 06. 12. 2001)

    Apesar do texto de autoria do Executivo ter sidoencaminhado Cmara Municipal no comeo de2002, a aprovao do projeto s ocorreu emfevereiro de 2003, aps mais de um ano detramitao. Questes relativas iseno fiscal eao uso dos armazns de 1 ao 8 do porto, depropriedade federal, foram os principais pontos dedivergncia entre situao e oposio na Cmara.(cf. A Tribuna, 30. 11 . 2002 e 21. 12. 2002)

    Dessa forma, pela Lei Complementar n 470, de05 de fevereiro de 2003, foi criado o Programa deRevitalizao e Desenvolvimento da Regio CentralHistrica de Santos Alegra Centro. (cf. A Tribuna,05. 02. 2003) De acordo com a lei, o programaabrange os imveis localizados nas reas deProteo Cultural que so enquadrados em um dos04 (quatro) nveis de proteo NP, assimespecificados:

    I Nvel de Proteo 1 (NP 1) Proteototal, atinge imveis a serem preservadosintegralmente, toda a edificao, os seuselementos construtivos e decorativos,interna e externamente;II Nvel de Proteo 2 (NP 2) Proteoparcial, atinge os imveis a serempreservados parcialmente, incluindoapenas as fachadas, a volumetria e otelhado;III Nvel de Proteo 3 (NP 3) Livreopo de projeto, mantendo-se, porm,a tipologia predominante dos imveisNP1 e NP2 existentes na testada daquadra;

    IV Nvel de Proteo 4 (NP 4) Livreopo de projeto, respeitados osndices urbansticos da zona em queo imvel se encontrar, conforme a LeiComplementar n 312/98 e suasalteraes. (SANTOS, 2003)

    No que se refere aos incentivos e isenesfiscais, o Alegra Centro manteve alguns incentivosj existentes e introduziu outros ao texto finalaprovado, totalizando at sete tipos de isenesou incentivos. Dentre os principais pontos da leicomplementar esto: Iseno de IPTU;Transferncia do Potencial Construtivo e Isenode ITBI, no caso de compra de imvel para oproprietrio do imvel com Nveis de Protees 1ou 2 restaurados e preservados. Para oempreendedor oferecida Iseno da Taxa deLicena por cinco anos; Iseno de ISSQN (limitede R$ 30 mil por ano) por cinco anos e Iseno deISS da obra e para o patrocinador dada Isenode 50% de IPTU ou ISS para empresaspatrocinadoras. (SANTOS, 2003; A Tribuna, 23.03. 2005)

    Os incentivos foram dimensionados pelaSecretaria de Finanas de modo a noprejudicarem a arrecadao municipal. Segundoas projees da Secretaria, de cada real oferecidoem iseno, espera-se que sejam gerados trsreais numa relao que ter um impactoextremamente positivo nos futuros oramentos. (cf.A Tribuna, 01. 06. 2000)

    Contudo, no so todas as atividadescontempladas com os incentivos. As escolhidas,no projeto original, so as reas de turismo ehospedagem, diverses, comunitrias e sociais,agenciamento e organizadores, beleza e higienepessoal, educao e cultura, comrcio varejista,profissionais l iberais, atel is artst icos eprestadores de servios como empresas deengenharia e arquitetura, administradora de bens,laboratrio de anlises clnicas, assessoria econsultoria jurdica, contabilidade, construtora,clnicas mdicas e dentrias e empresas desoftware e hardware. (cf. A Tribuna, 06. 02. 2003)

    Fonte: GOOGLE MAPS, 2007.Figura 2- rea central de Santos considerada neste trabalho pelos bairros do Valongo, Centro,

    Vila Nova, Paquet e parte da Vila Matias

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    Esses imveis devem estar inseridos nas reasde Proteo Cultural (APC) criadas pela LeiComplementar 448/2001 que ampliou os Corredoresde Proteo Cultural definidos pelo Plano Diretor de1998. A primeira APC tem incio na Rua So Bento(Valongo), cais dos armazns 1 ao 8, Praas Barodo Rio Branco, da Repblica e Antnio Telles, RuaVisconde do Rio Branco, Rua da Constituio, RuaDoutor Cochrane, Praa Correia de Melo, AvenidasSo Francisco e Getlio Vargas incluindo, ainda, asrunas da antiga Santa Casa, o Museu de Arte Sacrae os terrenos da Rede Ferroviria Federal anexos antiga Estao Ferroviria.

    A segunda APC comea na rea onde estlocalizado o Cemitrio Paquet at a antigaHospedaria dos Imigrantes, incluindo o entorno doMercado Municipal. Essas reas ficam localizadasnos bairros Valongo, Centro, Paquet, Vila Nova eparte da Vila Mathias. (cf. A Tribuna, 13. 04. 2005)

    A partir da aprovao da lei do Alegra Centro,voltou a funcionar tambm o Escritrio Tcnico como objetivo de assessorar a implantao dasempresas com atividades contempladas peloPrograma. No Escritrio Tcnico so encontradosprofissionais, em especial arquitetos, com o objetivode oferecer informaes referentes aos imveis quepodero receber novas empresas, sobre osincentivos fiscais que podero ser oferecidos, almde dados estatsticos do Centro.

    3 PROJETOS, INTERVENES E MARKETINGAlm de aes desenvolvidas na rea da

    legislao e no apoio a novos empreendimentos,foi realizada, pelas ltimas administraes locais,uma srie de intervenes e projetos com o intuitode manter e atrair novos consumidores para a regio.

    Exemplo disso a restaurao de monumentosarquitetnicos e histricos como o Teatro Coliseu, oPantheon dos Andradas e a Estao Ferroviria doValongo. A implantao de uma linha de bonde quepercorre 1,7 km em pontos de interesse turstico,cultural, histrico e cvico e a implantao dorestaurante popular Bom Prato na rea do Mercado,em parceria com o Governo do Estado, transformouesses locais em pontos de atrao. Entre as obrasde revitalizao, a Prefeitura reformou, ainda, a RuaTuiuty, o Largo Marques de Monte Alegre, a Rua doComrcio e a Rua XV de Novembro, alm daspraas Mau, Rui Barbosa, dos Andradas, daRepblica e Baro do Rio Branco. (A Tribuna, 21.10. 2001 e 13. 1. 2002)

    Segundo a Prefeitura, j foram mobilizadosrecursos acima de R$ 30 milhes nas reas pblicae privada em diversos projetos de fomento revitalizao do Centro. Outras aes desenvolvidasforam: a reforma do terminal do Valongo, da estaorodoviria, a recuperao da Bolsa do Caf, doSanturio do Valongo e de edifcios da Rua XV denovembro, alm da instalao de unidadesmunicipais na rea como a Incubadora de Empresas,o Banco do Povo e as Secretarias de Turismo eEducao.

    A inteno de tais aes, assim como de outrascomo a pavimentao de diversas ruas, a instalaode sistema de comunicao por fibra tica e amelhoria na iluminao, dotar a regio de melhormobilidade e infra-estrutura atraindo, assim,pessoas interessadas em desfrutar do Centrotambm como opo de lazer, j que esse aspecto pouco explorado pelo visitante dessa rea, comopodemos mostrar na tabela abaixo em que mais de75% dos santistas entrevistados no se utilizam darea central para atividades de lazer:

    Andr da Rocha Santos

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    TABELA 1 Percepes e Hbitos do santista quanto freqncia ao Centro Histrico da cidade.

    Que razes o (a) fazem ir ao centro da cidade? (Mltipla escolha)

    Freqncia Percentual

    Fazer compras

    Trabalho

    Ir a reparties pblicas

    Lazer

    Trabalho/lazer/compras

    Trabalho e lazer

    223

    152

    118

    57

    56

    21

    627

    35,57

    24,24

    18,82

    9,09

    8,93

    3,35

    100

    Fonte: Ncleo de Estudos Scio Econmicos, 2003.

    TOTAL

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    Polticas Pblicas urbanas: o caso do centro de Santos

    Alm disso, teve incio, imediatamenteaps a aprovao do projeto de lei do Alegra Centro,um forte movimento, capitaneado pela Prefeitura,de aes de marketing voltadas para a divulgaodo programa. Grande divulgao impressa etelevisiva foi realizada. Segundo pesquisa

    encomendada pelo Santos e Regio Convetion &Visitors Bureau para identificar os hbitos dapopulao residente na cidade quanto freqnciaao Centro Histrico, um nmero alto, de mais de50% dos entrevistados, j ouviu ou leu sobre oAlegra Centro.

    Ainda segundo a mesma pesquisa que foirealizada em locais de grande concentrao demuncipes como feiras, shoppings, mercados,equipamentos de lazer, etc., uma parcela bastante

    significativa, de quase 60%, respondeu que afinalidade do programa era restaurar o Centro ouincentivar o turismo.

    Fonte: Ncleo de Estudos Scio-Econmicos, 2003.

    TABELA 2 Percepes e Hbitos do santista quanto freqncia ao Centro Histrico da cidade.

    O(a) Sr.(a). J ouviu ou leu sobre o Alegra Centro

    Freqncia Percentual

    Sim

    No

    TOTAL

    316

    284

    600

    52,67

    47,30

    100

    TABELA 3 Percepes e Hbitos do santista quanto freqncia ao Centro Histrico da cidade.

    155

    46

    32

    30

    13

    10

    6

    5

    3

    3

    3

    2

    2

    2

    1

    1

    1

    600

    Se Sim, qual finalidade?

    Freqncia Percentual

    Restaurar o centro

    No Sabe

    Incentivar o turismo

    Atrair pessoas para o centro

    Divulgao do centro

    Lazer

    Desenvolver o comrcio e o turismo

    Relembrar a histria de Santos

    Atrao cultural

    Atrair Turistas

    Eventos

    Gerar empregos

    Incentivar o alcoolismo

    Atrair pessoas da terceira idade

    Conservar os patrimnios

    No lembra

    Reformar a Rua XV de Novembro

    TOTAL

    49,05

    14,55

    10,13

    9,49

    4,11

    3,16

    1,9

    1,58

    0,95

    0,95

    0,95

    0,63

    0,63

    0,63

    0,32

    0,32

    0,32

    100

    Fonte: Ncleo de Estudos Scio-Econmicos, 2003.

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    O funcionamento do site do Alegra Centrotambm exemplo disso. O site rene informaessobre o programa, como: os incentivos fiscaisoferecidos, as reas contempladas, os endereosdos imveis, entre outras informaes.

    Em abril de 2006 tiveram incio as atividades doDepartamento de Administrao Regional do CentroHistrico (Dear-CH) nos mesmos moldes da antigaCoordenadoria da rea Central, inclusive instaladono mesmo local, o Mercado Municipal no bairro daVila Nova. A Administrao Regional do Centro vinculada Secretaria de Governo (SGO) e responsvel pela manuteno dos prdiosmunicipais nos bairros da Vila Nova, Centro,Paquet, Valongo e parte da Vila Mathias. (cf. D. O.11. 05. 2006)

    Alm dessas aes, outros projetos envolvendoo Centro esto na pauta de prioridades do poderpblico municipal, sendo sempre mostrados, comgrande divulgao, pelos rgos oficiais e pela

    imprensa local. Dentre esses projetos futuros, algunsso aes concretas com locais j existentes e comfinalidades pr-determinadas como a instalao deum campus da Universidade Federal de So Paulo Unifesp na antiga Hospedaria dos Imigrantes; acriao de um posto do Poupatempo em parceriacom o Governo do Estado nos antigos armaznsda Ceagesp; a recuperao do Teatro Guarany eda Casa do Trem com recursos de patrocinadoresprivados e investimentos obtidos pela Lei Rouanetou, ainda, a ampliao da linha turstica do bondeque passar de 1,7 km para 5 km de extenso.

    Todavia, outros projetos ainda no tm ao certoseu destino definido, como no caso do projeto deconstruo do Memorial Jos Bonifcio que aguardadeciso do local em que ser erguido. Todas essasaes, assim como outras, esto voltadas para fazercom que o muncipe volte a freqentar a rea deforma constante e no mais de forma espordicacomo aconteceu nos ltimos anos.

    No Mercado Municipal h ainda o projeto de seconstruir uma passarela sobre o vo central, unindoos blocos do 2 piso, e a ampliao dos mezaninospara instalao de bares e restaurantespanormicos. Nesse espao teriam tambmagncias dos Correios e do Infocentro, unidade deincluso digital que integra o Programa Acessa SoPaulo do governo do Estado.

    Outros locais que se encontravam ociosos hdcadas ganharam nos ltimos anos projetos degrande impacto como a anunciada Marina Portode Santos, complexo cultural e turstico na reados abandonados armazns 1 ao 8 do porto doValongo. O projeto prev uma marina com reapara manuteno naval, alm de restaurantes eescritrios. At um segundo terminal depassageiros poder ser construdo no local.

    Nas runas dos Casares do Valongo, que jabrigaram a Prefeitura e a Cmara, no LargoMarqus de Monte Alegre, ser erguido, tambmcom recursos da Lei Rouanet, o Museu Pel.

    Segundo a Prefeitura, a obra est orada em R$16 milhes e ter toda sua fachada restaurada.Em seu interior sero erguidos trs blocos. Nocentral, com 550 metros quadrados, haverespao para duas lojas, caf e sanitrios. No bloco1, de 1.405 metros quadrados, estaro rea paraexposies, auditrio para exibio de filmes edocumentrios sobre a carreira de Pel e o setoradministrativo do museu. O acervo ficar no bloco2, com 1.232 metros quadrados, contendo objetospessoais, fotos, filmes e trofus. Hoje, as peasencontram-se dispersas pela Alemanha, Emiradosrabes e na prpria residncia do ex-jogador, emGuaruj.

    No plano cultural, diversas aes tambm tmtentado maximizar as potencialidades econmicaslocais, dando nfase a projetos emblemticoscomo eventos, festivais, exposies, mostras demuseus e outros, na tentativa de atrair tambmfreqentadores no perodo noturno para a regio,j que nesse perodo a freqncia muito baixa.

    TABELA 4 Percepes e Hbitos do santista quanto freqncia ao Centro Histrico da cidade.

    Freqncia que vai ao centro da cidade

    Freqncia Percentual

    Esporadicamente 380 63,33

    Diariament 120 20,00

    Semanalmente 96 16,00

    No informou 4 0,67

    TOTAL 600 100

    Fonte: Ncleo de Estudos Scio-Econmicos, 2003.

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    Exemplos disso so: a Maratona Cultural CarosAmigos que reuniu, em 2006, mais de 20 milpessoas em 104 apresentaes artsticas em trsdias de evento e a Caminhada Histrica Centro quepercorre quatro quilmetros pelas ruas do Centrocom incio e fim no marco zero da cidade, a PraaMau. Outras atividades como desfiles de moda, oprojeto Msica na XV, em que grupos musicais seapresentam na Rua XV de Novembro toda sexta-feira, a Virada Cultural, promovida pelo Governo doEstado, mais o Dia do Centro, institudo em 2000 ecomemorado todo dia 16 de agosto, reforam odestaque nesse novo renascimento urbano,principalmente das reas centrais, onde a culturavem se destacando como estratgia principal e anfase das polticas urbanas recai sobre as polticasculturais. (VAZ ; JACQUES, 2003, p.132)4 A QUESTO DA MORADIA

    Segundo estimativas realizadas pela Prefeiturapor meio da Secretaria de Desenvolvimento Urbanoe Meio Ambiente, no ano de 1990 existiam 840habitaes coletivas precrias de aluguel na cidade.Nelas viviam aproximadamente 50.000 pessoasrepresentando quase 12% da populao domunicpio. (SEDAM, 1992)

    Esses nmeros foram divulgados quando dadiscusso referente Lei das Zonas Especiais deInteresse Social (ZEIS), que seria aprovada em1992, e diferem bastante de outros nmerosdivulgados posteriormente por outrasadministraes municipais ao longo dos anos. Dequalquer forma, o problema social existe e, apesarda diferena de nmeros entre os levantamentosfeitos, a situao precria em qualquer uma daspesquisas para a populao residente nessas reas.

    Os levantamentos posteriores, de 2001, feitospela Fundao SEADE para o Programa de Atuaoem Cortios (PAC) da CDHU, do Governo doEstado, mais a pesquisa de 2002 feita pelaSecretaria de Planejamento da Prefeitura indicamum mesmo nmero de pessoas, em torno de 14.500moradores encortiados nos bairros Vila Nova,Paquet e parte da Vila Mathias.

    O (a) Sr. (a) j foi ao centro histrico no perodo noturno?

    Freqncia Percentual

    Nunca

    Sim, s vezes

    Sim, uma vez

    Sim, toda semana

    TOTAL

    Fonte: Ncleo de Estudos Scio-Econmicos, 2003.

    TABELA 5 Percepes e Hbitos do santista quanto freqncia ao Centro Histrico da cidade.

    365

    148

    60

    27

    600

    60,83

    24,67

    10,00

    4,50

    100

    Os principais dados so bastante parecidos coma pesquisa realizada pela Fundao SEADE. Assimcomo na pesquisa encomendada pela CDHU, nosaspectos sociais destaca-se que a populao predominantemente jovem: 41% possuem de zeroat 19 anos, 60% de zero at 29 anos e somente15% esto acima de 50 anos. A maioria das famliaspossui at trs pessoas (68%) e estas so denaturalidade do Estado de So Paulo. Foi constatadoque 23% das famlias tm apenas um filho e as quepossuem um nmero acima de quatro filhoscompem a minoria, com apenas 8%.

    A baixa renda familiar predominante pode serexplicada pela baixa escolaridade. Dos chefes defamlia, 10% so analfabetos e 67% possuemapenas o curso fundamental incompleto. J nosaspectos econmicos, conclui-se que 93% doschefes de famlia esto economicamente ativos,porm apenas 47% tm atividade profissional formalcom comprovao de renda. A maioria dessaspessoas recebe at R$ 400, representando 73% daamostra, e 40% recebem menos de R$ 200.

    No que se refere s questes fsicas, a maiorparte das famlias (86%) ocupa apenas um cmodonas residncias e foi verificado, em alguns casos,que essas famlias tm um nmero alto decomponentes habitando esse local sem condiesfsicas para essa demanda.

    Segundo o nmero de famlias, a distribuio doscortios mostra um nvel grande, de 51% dessashabitaes, com uma a seis famlias em cada um.E em 15% desses cortios coabitam de treze a vintee quatro famlias se somarmos as porcentagens doscortios com treze a quinze famlias mais aporcentagem com dezesseis a vinte e quatrofamlias.

    Aps uma solicitao da Assemblia Legislativa Fundao SEADE foi criado, em 2000, o ndicePaulista de Vulnerabilidade Social (IPVS) com ointuito de construir indicadores que expressassemo grau de desenvolvimento social e econmico dos645 municpios do Estado de So Paulo, alm deidentificar os espaos e dimenses da pobreza apartir do censo demogrfico de 2000. Esse ndice

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    classifica os municpios paulistas quanto squestes de eqidade e condies de vida nointerior dessas localidades.

    Para o municpio de Santos, os bairros Centro,Valongo, Paquet, Vila Nova e parte da Vila Mathiasesto totalmente situados entre os grupos devulnerabilidade mdia (grupo 4), alta (grupo 5) emuito alta (grupo 6). Segundo a Fundao SEADE,esses dados so analisados para Santos daseguinte forma:

    Grupo 4 (vulnerabilidade mdia):13.425 pessoas (3,2% do total). Noespao ocupado por esses setorescensitrios o rendimento nominalmdio dos responsveis pelo domiclioera de R$ 450 e 61,9% deles auferiamrenda de at trs salrios mnimos. Emtermos de escolaridade, os chefes dedomiclios apresentavam, em mdia,5,3 anos de estudo, 88,9% deles eramalfabetizados e 30,1% completaram oensino fundamental. Com relao aosindicadores demogrficos, a idademdia dos responsveis pelosdomiclios era de 40 anos e aquelescom menos de 30 anos representavam24,7%. As mulheres chefes dedomiclios correspondiam a 30,4% e aparcela de crianas de 0 a 4 anosequivalia a 12,3% do total dapopulao desse grupo.Grupo 5 (vulnerabilidade alta): 31.389pessoas (7,5% do total). No espaoocupado por esses setores censitrioso rendimento nominal mdio dosresponsveis pelo domiclio era de R$493 e 57,8% deles auferiam renda deat trs salrios mnimos. Em termosde escolaridade, os chefes dedomiclios apresentavam, em mdia,5,0 anos de estudo, 84,7% deles eramalfabetizados e 28,3% completaram oensino fundamental. Com relao aosindicadores demogrficos, a idademdia dos responsveis pelosdomiclios era de 46 anos e aquelescom menos de 30 anos representavam13,8%. As mulheres chefes dedomiclios correspondiam a 32,9% e aparcela de crianas de 0 a 4 anosequivalia a 9,4% do total da populaodesse grupo.Grupo 6 (vulnerabilidade muito alta):21.378 pessoas (5,1% do total). Noespao ocupado por esses setorescensitrios o rendimento nominalmdio dos responsveis pelo domiclioera de R$ 345 e 74,3% deles auferiamrenda de at trs salrios mnimos. Emtermos de escolaridade, os chefes dedomiclios apresentavam, em mdia,4,6 anos de estudo, 82,4% deles eramalfabetizados e 21,9% completaram oensino fundamental. Com relao aos

    indicadores demogrficos, a idademdia dos responsveis pelosdomiclios era de 40 anos e aquelescom menos de 30 anos representavam24,4%. As mulheres chefes dedomiclios correspondiam a 33,7% e aparcela de crianas de 0 a 4 anosequivalia a 12,3% do total dapopulao desse grupo. (SEADE, s/d)

    As estimativas com relao populaomoradora em cortios na cidade de Santos no soprecisas sendo, em alguns pontos, bastante frgeis.Como afirmam Moreira, Leme, Naruto e Pasternak(2006), desde sua conceituao at suamensurao, as pesquisas envolvendo esse tipo deobjeto so uma realidade bastante difcil de captar,de forma precisa, apenas por pesquisas de carterquantitativo. Contudo, as repeties de algunsdados em diferentes pesquisas realizadas na reamostram inmeros traos em comum e apontampara situaes em que a vulnerabilidade socialacontece em um quadro de precariedade urbana.(MOREIRA, LEME, NARUTO E PASTERNAK,2006, p. 23)

    Essas condies de precariedade setransformam, mas a relao entre avulnerabilidade social e a precariedade urbana,caractersticas de cortios como os de Santos, queexplicam sua existncia e constncia h mais deum sculo e as dificuldades do Poder Pblico emerradic-las. (MOREIRA, LEME, NARUTO EPASTERNAK, 2006)5 CONCLUSO

    Concluindo, temos de colocar o fato de quemuitas das aes e dos acontecimentosrelacionados regio central esto ocorrendo juntocom a realizao do presente trabalho, ou seja, esteartigo no tem a pretenso de ser uma anlise finalsobre um processo que est em curso. Nessesentido, procuramos, com nosso trabalho, ser umacontribuio discusso e ao debate mais amplosobre os caminhos e o futuro dessa regio.Entretanto, so necessrias certas constataes e,nesse sentido, podemos dizer que o Centro deSantos vem recebendo nos ltimos anos diversasintervenes do poder pblico que vem dotando area com uma significativa infra-estrutura urbana eum conjunto de propostas especficas e articuladas.Todas essas aes tm procurado dinamizar aregio com o incentivo gerao de empregos, instalao de atividades econmicas pblicas eprivadas e o reforo da identidade cultural.

    O projeto urbano contemporneo tem colocadona pauta de aes do poder pblico a importnciado Centro como uma localizao que, apesar deno estar mais satisfazendo o papel imobilirio quelhe exigido pela cidade, possui dentro da rede

  • 111Polticas Pblicas urbanas: o caso do centro de Santos

    Rev. Pol. Pbl. So Luis, v. 12, n. 2, p. 103-112, jul./dez. 2008

    intra-urbana toda uma infra-estrutura de transportes,servios e equipamentos j implantada einvestimentos nesses locais tm a possibilidade deproduzir uma nova adequao funcional atraindocapital e pessoas, tornando a regio convidativa doponto de vista turstico e comercial.

    Entretanto, podemos afirmar que, apesar de opoder pblico ter uma ao destacada no que tanges intervenes de cunho cultural e deentretenimento, tem tido tambm uma ao poucoeficaz no que se refere s aes ligadas a questessociais, notadamente as relacionadas habitao.Segundo o discurso oficial, dificuldades tcnicas,financeiras e polticas so as razes que tmimpedido que a proposta de edificao de prdiosde apartamentos seja executada na rea. Aindasegundo tal discurso, dentre as dificuldades quedificultariam a operacionalizao do programa,encontram-se as prprias condies do solo santistaque inviabilizariam financeiramente esse tipo desoluo para segmentos de baixa renda.

    Como palavras finais, temos a acrescentar quea regio central permanece como uma rea de altonvel de excluso social em que os desocupados,principalmente na regio do mercado municipal eno Paquet, l permanecem sem uma polticaefetiva de promoo da incluso. A fragilidade dacidadania nessas reas, entendida como asinmeras formas de vulnerabilidade quanto aoemprego, aos servios de proteo social e violncia criminal, alm da perda ou ausncia dedireitos e a precarizao de servios coletivos quegarantiriam uma gama mnima de proteo pblicapara grupos carentes de recursos privados, tempermanecido sem modificaes como umcomponente da vida urbana na regio.

    Dessa forma, podemos dizer que, dentre osobjetivos pretendidos pelo discurso dasadministraes locais nas duas ltimas dcadas,alguns foram cumpridos e outros ainda no, ou seja,apesar dos inmeros avanos, o projeto ainda nofoi capaz de reverter o processo mais amplo dedeclnio econmico e nem de melhorar as condiesde vida da populao residente, pois as principaisaes prometidas na rea habitacional praticamenteno saram do papel e a situao social ehabitacional na rea permanece sem nenhumaalterao significativa h mais de trs dcadas.

    REFERNCIAS

    ALEGRA Centro: projeto de lei recebe emenda. ATribuna. Santos, 21. 12. 2002.

    ALEGRA Centro j comea a funcionar hoje. ATribuna. Santos, 05. 02. 2003.

    ALEGRA Centro mudado para ter novos parceiros.A Tribuna. Santos, 23. 03. 2005.

    BAIRROS j sentem reflexos do Alegra Centro. ATribuna. Santos, 13. 04. 2005.

    CARVALHO, S. N. Planejamento urbano edemocracia: a experincia de Santos. Tese deDoutorado. Campinas: Departamento de CinciaPoltica, Instituto de Filosofia e Cincias Humanas,Universidade Estadual de Campinas, 1999.

    COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTOHABITACIONAL E URBANO. (CDHU) PAC:Programa de atuao em cortios: municpio deSantos. So Paulo: CDHU-SEADE, 2002.

    DIRIO OFICIAL DE SANTOS. Regional doCentro mantm equipes de manuteno emvrios prdios. Santos, 11. 05. 2006.

    DECRETO valoriza patrimnio histrico. A Tribuna.Santos, 1 jun. 2000.

    FUNDAO SISTEMA ESTADUAL DE ANLISEDE DADOS (SEADE). ndice Paulista deVulnerabilidade Social. Disponvel em:

  • 112 Andr da Rocha Santos

    Rev. Pol. Pbl. So Luis, v. 12, n. 2, p. 103-112, jul./dez. 2008

    Andr da Rocha SantosSocilogo e professor da UNISANTOS. Mestre emArquitetura e UrbanismoE-mail:[email protected]

    Universidade Catlica de Santos - UNISANTOSCampus Dom Idilio Jos SoaresAv. Conselheiro Nebias, 300, Vila MathiasSantos - SPCEP:11015-002