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Augustus – Rio de Janeiro – Vol. 08 – N. 17 – Jul./Dez. – 2003 – Semestral 30 –––––––––– REVISÃO SOBRE AS ENZIMAS DIGESTIVAS NOS PEIXES TELEOSTEI E SEUS MÉTODOS DE DETERMINAÇÃO José Teixeira de Seixas Filho RESUMO: A aqüicultura, por seu crescente aporte na produção mundial de pescado, surge como alternativa para aumentar a produção de alimentos. A falta de conhecimentos sobre as exigências nutricionais dos peixes tropicais faz com que as dietas disponíveis no mercado, para a maioria das espécies, não sejam balanceadas. Muitas vezes para a formu- lação destas rações, são utilizados valores de proteínas e energia bruta ou digestíveis de alimentos determinados para outros animais, não sendo nutricionalmente adequado. A habilidade de um organismo para digerir partículas de alimento depende da presença e da quantidade apropriada de enzimas digestivas. Várias espécies tropicais de peixes Teleostei de água doce, são criadas em cativeiro, tanto para manutenção da biodiversidade, por meio de programas de repovoamento; quanto para criação comercial. Contudo, essas espécies ainda recebem arraçoamento de maneira imprópria por falta de maior entendimento sobre suas necessidades nutricionais, o que vem acarretando problemas para essa atividade zoo- técnica. O presente trabalho teve por objetivo reunir relatos da literatura sobre o papel das enzimas digestivas na fisiologia dos peixes de clima temperado e de tropical e relatar al- guns métodos de avaliação de sua atividade no tecido animal, visando fornecer referência à nutrição para o ajuste de diferentes sistemas de alimentação artificial, a fim de dar subsí- dios na definição de um padrão alimentar. ABSTRACT: The aqüicultura, for your crescent contributes in the world production of fish, its appears as alternative to increase the production of victuals. The lack of knowl- edge on the demands nutricionais of the tropical fish does with that the available diets in the market, for most of the species, don't be balanced. A lot of times for the formulation of these rations, values of proteins and rude energy or digestíveis of certain victuals are used for others you encourage, not being appropriate nutricionalmente. The ability of an organ- ism to digest food particles depends on the presence and of the appropriate amount of di- gestive enzymes. Several tropical species of fish Teleostei of fresh water, are created in captivity, so much for maintenance of the biodiversity, through repovoamento programs; as for commercial creation. However, those species still receive arraçoamento in an inappro- priate way for lack of larger understanding on your needs nutricionais, the one that comes carting problems for that activity zootécnica. The present work had for objective to gather reports of the literature on the paper of the digestive enzymes in the physiology of the fish of temperate climate and of tropical and to tell some methods of evaluation of your activity Biólogo, Doutor em Nutrição Animal.

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  • Augustus Rio de Janeiro Vol. 08 N. 17 Jul./Dez. 2003 Semestral

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    REVISO SOBRE AS ENZIMAS DIGESTIVAS NOS PEIXES TELEOSTEI E SEUS MTODOS DE DETERMINAO

    Jos Teixeira de Seixas Filho

    RESUMO: A aqicultura, por seu crescente aporte na produo mundial de pescado, surge como alternativa para aumentar a produo de alimentos. A falta de conhecimentos sobre as exigncias nutricionais dos peixes tropicais faz com que as dietas disponveis no mercado, para a maioria das espcies, no sejam balanceadas. Muitas vezes para a formu-lao destas raes, so utilizados valores de protenas e energia bruta ou digestveis de alimentos determinados para outros animais, no sendo nutricionalmente adequado. A habilidade de um organismo para digerir partculas de alimento depende da presena e da quantidade apropriada de enzimas digestivas. Vrias espcies tropicais de peixes Teleostei de gua doce, so criadas em cativeiro, tanto para manuteno da biodiversidade, por meio de programas de repovoamento; quanto para criao comercial. Contudo, essas espcies ainda recebem arraoamento de maneira imprpria por falta de maior entendimento sobre suas necessidades nutricionais, o que vem acarretando problemas para essa atividade zoo-tcnica. O presente trabalho teve por objetivo reunir relatos da literatura sobre o papel das enzimas digestivas na fisiologia dos peixes de clima temperado e de tropical e relatar al-guns mtodos de avaliao de sua atividade no tecido animal, visando fornecer referncia nutrio para o ajuste de diferentes sistemas de alimentao artificial, a fim de dar subs-dios na definio de um padro alimentar.

    ABSTRACT: The aqicultura, for your crescent contributes in the world production of

    fish, its appears as alternative to increase the production of victuals. The lack of knowl-edge on the demands nutricionais of the tropical fish does with that the available diets in the market, for most of the species, don't be balanced. A lot of times for the formulation of these rations, values of proteins and rude energy or digestveis of certain victuals are used for others you encourage, not being appropriate nutricionalmente. The ability of an organ-ism to digest food particles depends on the presence and of the appropriate amount of di-gestive enzymes. Several tropical species of fish Teleostei of fresh water, are created in captivity, so much for maintenance of the biodiversity, through repovoamento programs; as for commercial creation. However, those species still receive arraoamento in an inappro-priate way for lack of larger understanding on your needs nutricionais, the one that comes carting problems for that activity zootcnica. The present work had for objective to gather reports of the literature on the paper of the digestive enzymes in the physiology of the fish of temperate climate and of tropical and to tell some methods of evaluation of your activity

    Bilogo, Doutor em Nutrio Animal.

    Augustus Rio de Janeiro Vol. 08 N. 17 Jul./Dez. 2003 Semestral

    Augustus Rio de Janeiro Vol. 08 N. 17 Jul./Dez. 2003 Semestral

    Reviso sobre as enzimas digestivas nos peixes Teleostei e seus mtodos de determinao

    Jos Teixeira de Seixas Filho(

    RESUMO: A aqicultura, por seu crescente aporte na produo mundial de pescado, surge como alternativa para aumentar a produo de alimentos. A falta de conhecimentos sobre as exigncias nutricionais dos peixes tropicais faz com que as dietas disponveis no mercado, para a maioria das espcies, no sejam balanceadas. Muitas vezes para a formulao destas raes, so utilizados valores de protenas e energia bruta ou digestveis de alimentos determinados para outros animais, no sendo nutricionalmente adequado. A habilidade de um organismo para digerir partculas de alimento depende da presena e da quantidade apropriada de enzimas digestivas. Vrias espcies tropicais de peixes Teleostei de gua doce, so criadas em cativeiro, tanto para manuteno da biodiversidade, por meio de programas de repovoamento; quanto para criao comercial. Contudo, essas espcies ainda recebem arraoamento de maneira imprpria por falta de maior entendimento sobre suas necessidades nutricionais, o que vem acarretando problemas para essa atividade zootcnica. O presente trabalho teve por objetivo reunir relatos da literatura sobre o papel das enzimas digestivas na fisiologia dos peixes de clima temperado e de tropical e relatar alguns mtodos de avaliao de sua atividade no tecido animal, visando fornecer referncia nutrio para o ajuste de diferentes sistemas de alimentao artificial, a fim de dar subsdios na definio de um padro alimentar.

    ABSTRACT: The aqicultura, for your crescent contributes in the world production of fish, its appears as alternative to increase the production of victuals. The lack of knowledge on the demands nutricionais of the tropical fish does with that the available diets in the market, for most of the species, don't be balanced. A lot of times for the formulation of these rations, values of proteins and rude energy or digestveis of certain victuals are used for others you encourage, not being appropriate nutricionalmente. The ability of an organism to digest food particles depends on the presence and of the appropriate amount of digestive enzymes. Several tropical species of fish Teleostei of fresh water, are created in captivity, so much for maintenance of the biodiversity, through repovoamento programs; as for commercial creation. However, those species still receive arraoamento in an inappropriate way for lack of larger understanding on your needs nutricionais, the one that comes carting problems for that activity zootcnica. The present work had for objective to gather reports of the literature on the paper of the digestive enzymes in the physiology of the fish of temperate climate and of tropical and to tell some methods of evaluation of your activity in the animal fabric, seeking to supply reference to the nutrition for the adjustment of different systems of artificial feeding, in order to give subsidies in the definition of an alimentary pattern.

    Palavras-chave: Enzimas Digestivas, Nutrio Animal, Piscicultura, Reviso de Literatura.

    Keywords: Digestive enzymes, Animal Nutrition, Fish farming, Revision of Literature.

    1. Introduo

    A aqicultura, por seu crescente aporte na produo mundial de pescado, surge como alternativa para aumentar a produo de alimentos. Huss (1998) citado por Arbelaex-Rojas (2002) previu que no prximo sculo haver um aumento na demanda de pescado nos pases em desenvolvimento, por ser uma alternativa alimentar de alto valor nutricional. Paralelamente, a falta de conhecimentos sobre as exigncias nutricionais dos pei-xes tropicais faz com que as dietas disponveis no mercado, para a maioria das espcies, no sejam balanceadas.

    A habilidade de um organismo para digerir partculas de alimento depende da presena e da quantidade apropriada de enzimas digestivas (SMITH, 1980). A atividade enzimtica para os peixes de clima temperado durante as diferentes fases do ciclo de vida tem sido pesquisadas (ANDREWS, 1954; KITAMIKADO e TACHINO, 1960; KAWAI e IKEDA, 1973a e b; OVERNELL, 1973; KAPOOR et alii, 1975; DABROWSKI et alii, 1992; ABI-AYAD e KESTEMONT, 1994; CAHU e ZAMBONINO INFANTE, 1994; NAKAGAWA et alii, 1995). Por outro lado, a composio da dieta pode influenciar a produo de enzimas digestivas.

    Vrias espcies tropicais de peixes Teleostei de gua doce, so criadas em cativeiro, tanto para manuteno da biodiversidade, por meio de programas de repovoamento; quanto para criao comercial. Contudo, essas espcies ainda recebem arraoamento de maneira imprpria por falta de maior entendimento sobre suas necessidades nutricionais, o que vem acarretando problemas para essa atividade zootcnica.

    Nesse sentido, tm-se procurado conhecer as necessidades nutricionais das espcies com potencial zootcnico, com intuito de proporcionar s piscigranjas solues que minimizem problemas comumente vividos, tais como: menor ganho de peso, sinais de deficincia alimentar, variao na taxa de ingesto de alimentos, problemas que resultam em baixa produtividade e mortalidade elevada, permitindo assim, ampliar conhecimentos sobre esses animais, que se encontram em plena expanso de criao.

    O presente trabalho teve por objetivo reunir relatos da literatura sobre o papel das enzimas digestivas na fisiologia dos peixes de clima tem-perado e de tropical, visando fornecer referncia nutrio para o ajuste de diferentes sistemas de alimentao artificial, a fim de dar subsdios na definio de um padro alimentar.

    2. Reviso de Literatura

    2.1. Breve Histrico

    Vrios autores tm relatado sobre o hbito alimentar de peixes tropicais (CYRINO, 1984; CASTAGNOLLI, 1992, 1997; PEZZATO, 1997) e o relacionamento do arranjo do intestino com hbitos alimentares (AL-HUSSAINI, 1947; NIKOLSK, 1963; PREJS, 1981; MENIN, 1988; MENIN e MIMURA, 1992). Ainda, sabe-se que a habilidade de um organismo para digerir partculas de alimento depende da presena e da quantidade apropriada de enzimas digestivas (SMITH, 1980). Assim, a presena e variao das atividades enzimticas de tripsina (EC 3.4.21.4), amilase (EC 3.2.1.1) e lipase (EC 3. 2.1.1) para os peixes de clima temperado durante as diferentes fases do ciclo de vida tem sido pesquisadas (ANDREWS, 1954; SUNDARAM e SARMA, 1960; KITAMIKADO e TACHINO, 1960a e b, 1961; CROSTON, 1960, 1965; KAWAI e IKEDA, 1972, 1973a e b; OVERNELL, 1973; ALLIOT et alii, 1974; HJELMELAND, 1983; HJELMELAND et alii, 1984; HJELMELAND e J(RGENSEN, 1985; DABROWSKI et alii, 1992; ABI-AYAD e KESTEMONT, 1994; INFANTE e CAHU, 1994; NAKAGAWA et alii, 1995; KAPOOR et alii, 1975; CHESLEY, 1934; SASTRY, 1974a e b; SABAPATHY e TEO, 1993).

    Por outro lado, a composio da dieta pode influenciar a liberao das enzimas digestivas. Chesley (1934) observou que no houve correlao entre o contedo de gordura da alimentao fornecida ao peixe e a atividade de lipase. Nagase (1964), trabalhando com tilpia mossambica (Sarotherodon mossambicus), relatou que a atividade de tripsina e amilase podem ser aumentadas com uma dieta rica em protena e amido, o mesmo no acontecendo com a da lipase e da pepsina. Agrawal et alii (1975) mencionaram no haver correlao da atividade de lipase com a gordura da dieta. Por outro lado, Reimer (1982), estudando a adaptao das atividades das enzimas digestivas de Brycon metanoptorus, concluiu que as atividades da amilase, tripsina e lipase podem ser aumentadas com dietas ricas em carboidratos, pro-tenas e gorduras, respectivamente; a pepsina no mostrou mudanas da atividade com a dieta.

    Onishi et alii (1976) relataram mudanas nos nveis de protease e amilase, em carpa, aps alimentao, comparando a freqncia da administrao do alimento, a saber: uma vez ao dia (I) e duas vezes ao dia (II), sendo que em ambos, I e II, a atividade da protease intestinal atingiu o mximo, no perodo de 5 a 7,5 h aps a primei-ra alimentao. Os autores relataram, ainda, que a atividade da amilase acompanhou esse per-odo, havendo, contudo, decrscimo temporrio aps cada alimentao. J a protease hepatopancretica diminuiu imediatamente aps a alimentao, recuperando seu nvel 10,5 h aps a primeira alimentao.

    Os mesmos autores (1976) relataram, ainda, que a atividade da amilase hepatopancretica em (I) apresentou atividade mnima depois de 5a h, com recuperao posterior. Na situao (II), at 5ah aps a segunda alimentao, o nvel de atividade ainda estava abaixo do original. Foi concludo que a sntese e secreo de enzimas, em res-posta alimentao no transitria, e que existe um tempo lag entre a reduo da quantidade do alimento no trato digestivo e o aumento na atividade da enzima digestiva.

    Sabapathy e Teo (1993) estudando a distribuio de enzimas digestivas e suas atividades no tubo digestrio de Sigamus canaliculatus, de hbito alimentar onvoro e Latus calcarifer, carnvoro, relataram a presena de tripsina ao longo do tubo digestrio no onvoro, ficando a presena desta enzima restrita ao intestino e cecos pilricos, no carnvoro. Os autores relataram ainda, que as atividades de amilase foram menores para o carnvoro. Contudo, ambos so capazes de digerir carboidratos e protenas em suas dietas.

    Kawai e Ideda (1973a), trabalhando com larvas e juvenis de truta arco-ris, Salmo gardneri, investigaram o desenvolvimento das atividades de proteases, maltase e amilase no trato digestivo dos peixes, aps a ecloso e na fase de juvenis.

    Os autores (1973a) observaram alta atividade pptica nos ovos e grande decrscimo aps a ecloso, sugerindo um importante papel dessa enzima nesta fase. Por outro lado, a atividade trp-tica no apresentou mudanas significativas antes ou depois da ecloso. Contudo, 20 dias aps, quando as larvas j haviam absorvido quase todo o seu vitelo e tendo comeado a se alimentar, as atividades ppticas e trpticas aumentaram muito, e ao chegarem ao 60o dia apresentaram aumento gradual e semelhante para as duas enzimas.

    Os mesmos autores (1973a) observaram ainda, que as atividades de maltase e amilase foram detectadas no 20o dia, aumentando at o 40o dia. Resultados semelhantes foram encontrados por Sing e Nose (1967), que, trabalhando com salmondeos, relataram a digesto e absoro de alguns carboidratos, como glicose, sacarose e lactose, apesar desses peixes serem com-siderados carnvoros.

    Por outro lado, Kawai e Ikeda (1973b), estudando as atividades de proteases e amilases em carpa, Cyprinus carpio, e black sea brean, Acanthopagrus schlegelli, observaram aumento da atividade de tripsina nos ovos de carpa, que aps ecloso, aumentava com o crescimento do animal. A atividade pptica foi insignificante nos ovos e no aumentou com o crescimento do peixe. Contudo, as atividades para maltase e amilase aumentaram com o crescimento dos animais do 7o ao 10o dia aps a ecloso. Com o black sea brean, apesar de ser um peixe carnvoro, foi observada, claramente, atividade da amilase no 11o dia aps a ecloso, que foi reduzida com o crescimento do animal; o desenvolvimento da atividade pptica coincidiu com a diferenciao da glndula gstrica, e a atividade da tripsina apareceu 3 dias aps a ecloso, aumentando gradualmente com o crescimento do peixe.

    Sundaram e Sarma (1960) isolaram e caracterizaram bioquimicamente proteinases do intestino de Etroplus suratensis e Croston (1965) executou o mesmo trabalho nos cecos pilricos de Oncorhynchus tshawytscha.

    A tripsina e a quimotripsina dos Teleostei tm sido identificada na base de substratos especficos da truta arco-ris (Kitamidado e Tachino, 1960) Etroplus suratensis (SUNDARAM e SAR-MA, 1960), Oncorhynchus tshawytscha (CROSTON, 1960, 1965), Gadus morhua (OVERNELL, 1973) e de Dicentrachus labrax (ALLIOT et alii, 1974).

    Hjelmeland et alii(1984) mencionaram que a tripsina seria, provavelmente, a enzima-chave na regulao e no processo digestivo em peixes jovens.

    Hjelmeland (1983) relatou que os estudos mecnicos de produo, ativao e liberao de tripsina no intestino do peixe so difceis, pela falta de um mtodo para quantificar a atividade enzimtica in situ.

    Bbarret (1979) relatou que o exame direto das enzimas no detectou o seu desempenho e no houve discriminao entre a tripsina e as outras proteases presentes no extrato.

    Hjelmeland e Jorgensen (1985) relataram a utilizao do radioimunoensaio com um mtodo para quantificar tripsina e tripsinognio em peixes. Os autores concluram que os melhores resultados foram obtidos com a unio do radioimunoensaio e a tcnica de exame enzimtico, em razo da pre-sena de inibidores que, geralmente, no minimizam a ligao entre o anticorpo e a enzima.

    Kitamikado e Tachino (1960b), encontraram nveis menores de amilase digestiva em trutas arco-ris que em carpa. Por outro lado, Fisch (1960) relatou que a atividade da amilase no trato digestivo de tilpia foi muito maior do que em perca.

    Spanhof e Plantikow (1983) trabalhando com truta arco-ris, observaram que a incluso de produtos amido solvel na dieta aumentou o volume dos sucos intestinais e o nvel de acar no sangue, assim como induziu a um prolongado aumento na atividade da amilase nos sucos in-testinais. Por outro lado, a utilizao do amido bruto na dieta, reduziu a atividade da amilase nos sucos intestinais, sendo esta absorvida pelo amido bruto, inibindo a hidrlise do amido, e a presena deste na dieta, acelerou a passagem do quimo pelo intestino, reduzindo o tempo vivel para absoro.

    Os mesmos autores (1983) sugeriram que esses efeitos fossem considerados como as importantes causas para uma baixa digestibilidade dos produtos de amido polimerizados.

    Andrews (1954) mencionou que o tecido pancretico em peixes, algumas vezes, so compactos, mas muitos so difusos.

    Borlongan (1990) relatou que descobertas histoqumicas recentes mostraram que a mucosa intestinal de diversos peixes Teleostei capaz de secretar lipase, alm do pncreas difuso, compensando, dessa forma, a falta de um pncreas compacto e bem desenvolvido. O mesmo autor obser-vou em milkfish (Chanos chanos), atividade de lipase no esfago, indicando um papel mais ati-vo desse rgo no processo digestivo. Contudo, mencionou que a maior atividade encontrava-se nos extratos intestinais, principalmente na sua poro anterior, sendo esta mxima a 45oC num pH 6,8 e 8,0; da lipase pancretica foi a 50oC em pH de 6,4 e 8,6. A deteco de dois pH timos, bem definidos, um cido e outro alcalino, para ambas lipases intestinal e pancretica, sugere uma versatilidade fisiolgica para a digesto de lipdeos em milkfish.

    Estudos anteriores com outros Teleostei demonstraram que a atividade mxima da lipase acontecia no final da poro anterior do intestino e diminua gradualmente em direo sua poro final (AL-HUSSAINI, 1949a e b). A atividade da lipase tambm foi observada ser maior no trato intestinal de catfish, Clarias batrachus (MUKHOPADHYAY, 1977).

    Vonk (1937) sugeriu que a atividade da lipase nos intestinos devido ao fato da possvel adsoro das enzimas pancreticas na mucosa intestinal. Contudo, mais recentemente, estudos histo-qumicos demonstraram que a mucosa intestinal de vrios peixes Teleostei so capazes de secretar lipase (SASTRY, 1974).

    Kuzmina (1996) estudou a influncia da ida-de na atividade enzimtica em peixes de gua doce, em predadores facultativos bentofgicos adultos, como em Perca flavescens e em bentofgicos, Abramis brama e Eupomotis gibbosus, mencionando, ainda, que a atividade enzimtica total relativa (g-1 peso do corpo) evidenciou, para esses peixes, um ndice informativo do suprimento de enzimas digestivas mais importante que a atividade enzimtica padro normalmente relatada.

    2.2 Enzimas digestivas em peixes

    O estudo das enzimas digestivas apresenta, nos peixes, a mesma dificuldade encontrada nos outros vertebrados. Ocorre a necessidade de se demonstrar que uma enzima encontrada na luz do tubo digestrio realmente o produto de clulas excrinas e no resultado de sntese bacteriana ou de uma descamao celular. Alm disso, uma situao particular criada pelos peixes que no possuem rgo semelhante ao estmago do tipo dos vertebrados superiores onvoros ou carnvoros, quando existe, observamos que o suco gstrico tem um pH bastante cido, cujas variaes no so desprezveis, enquanto que o suco intestinal alcalino.

    Os conhecimentos de enzimas digestivas em peixes so ainda mais complexos do que em outros animais domsticos, estes apresentam inmeras espcies, com diferentes composies anat-micas digestivas e hbitos alimentares diversos e, por isso, os estudos realizados em uma determinada espcie no podem ser extrapolados para outras.

    As enzimas digestivas de peixes so secretadas dentro do lmen do canal alimentar originados da mucosa gstrica, dos cecos pilricos, do pncreas e da mucosa intestinal com a funo de hidrlise de protenas, carboidratos e gorduras.

    A mucosa gstrica produz protease com atividade em pH cido, resultante da secreo de HCL nas clulas da mucosa.

    Os cecos pilricos (invaginao do intestino), excreta essencialmente as mesmas enzimas do intestino e do pncreas, as quais so ativadas em ambientes neutros ou fortemente alcalino. A participao dos cecos pilricos como rgo secretor de enzimas digestivas bastante contraditria, sendo que alguns autores atribuem ao refluxo a presena destas.

    O pncreas essencialmente rico em protease bsica, amilase, maltase e lipase. Os estudos de enzimas digestivas presentes nesse rgo, em peixes que possuem pncreas compacto, tornam-se difceis, uma vez que este se apresenta com tamanho reduzido e, nas espcies com pncreas difuso, formando o hepatopncreas, aumenta essa dificuldade, uma vez que a sua separao bastante complexa.

    O grau de participao de cada um desses rgos varia com as espcies, devido as suas diferenas anatmicas no tubo digestrio.

    2.2.1 Proteases

    As proteases podem se divididas em dois gran-des grupos; uma protease que atua no meio cido e outra que atua em meio bsico. As proteases cidas e bsicas esto, geralmente, presentes em peixes que apresentam estmago bem delimitado e funcional, enquanto espcies agstricas, geralmente possui apenas a bsica, sendo produzida principalmente pelo pncreas ou parede da mucosa intestinal.

    O suco gstrico dos peixes sempre tem um pH cido. Este foi assinalado como particularmente baixo nos elasmobrnquios: A secreo de um suco cido parece ento ligada absoro da presa e a acidez aumenta ao longo da digesto.

    Os efeitos do jejum e da sazonalidade podem ser resumidos da seguinte maneira: Na ausncia de alimentos o pH gstrico tende a neutralidade e as variaes sazonais estariam ligadas as da atividade alimentar. Contudo, existe controvrsia quanto proposta de uma organizao temporria do suco gstrico. Parece plausvel que as reaes alcalinas observadas em certos casos, sejam conseqncia de uma reao ao alimento, provocando o aumento do suco intestinal.

    A repartio da atividade proteoltica varia seguindo as regies do estmago. Existe uma maior intensidade na regio crdica e o corpo do rgo.

    Buchs (1954) citado por Fontaine (1981) estudando extrato estomacal, encontrou uma pepsina ativa a pH 0,5 e uma pepsina em pH 3,0 a 3,5.

    A interpretao proposta invoca a existncia de duas enzimas: Uma pepsina ativa a pH 0,5 e uma cateptase apresentando sua atividade mxima a pH 3,0 a 3,5. A temperatura do meio cujo peixe particularmente dependente, modula fortemente a atividade proteoltica estomacal: Esta cresce com a temperatura para atingir o valor mximo que pela pepsina purificada invitro situa-se, segundo as espcies, entre 40 e 45(C. Contudo, esses nveis no so compatveis com a sobrevivncia do animal.

    As diferentes pepsinas dos peixes no possuem a mesma atividade e, esto relacionadas com a escolha do substrato.

    A presena de uma distase do tipo coalho, capaz de coagular o leite, tem sido observado em extratos neutralizados de mucosas gstricas de diferentes espcies de peixes, mas este fato pare-ce muito inconstante, tanto nos elasmobrnquios quanto em telesteos.

    A Truta arco-ris possui uma atividade protesica mxima para um pH de 2,8 e uma temperatura de 40 a 45(C.

    O poder proteoltico diminui consideravelmente em baixas temperaturas, principalmente nos cecos pilricos. O estudo da ontognese tem mostrado tambm grandes variaes das atividades das proteases, segundo a idade e os rgos.

    Desde a primeira idade ela observada ao nvel do estmago, mas ainda muito fraca ao nvel dos cecos pilricos e do intestino.

    Posteriormente, a progresso parece mais rpi-da nessas duas partes do tubo digestrio do que no estmago. Parece que a digesto gstrica das protenas produz albuminas, peptonas e j uma certa quantidade de oligopeptdeos (pentapeptdeos, tripeptdeos e mesmo uma pequena quantidade de dipeptdeos), todas essas molculas so submetidas ao das secrees dos cecos pilricos, cuja presena no observada em todas as espcies. O papel fisiolgico desses divertculos fica ainda como objeto de discusso, mas parecem possuir uma funo importante.

    Uma atividade tipo tripsina tem sido freqentemente discutida ao nvel dos cecos pilricos na Tuna, com variaes sazonais no Gadus egrefinos, em Sebastis maurins e, mais recentemente, em Salmo chinoock. O pH da sua atividade mxima varia de uma espcie para outra, de 7,6 a 9,0. O valor do pH 9,0 tem sido descrito para truta arco-ris.

    Uma atividade polipeptidsica foi evidenciada em pH 8,0 entre um extrato de cecos pilricos e um substrato protico. Este fato interessante, pois permite criar uma ao complementar entre a tripsina e a polipeptidase cecal, permitindo chegar aos aminocidos livres.

    Como nos mamferos, o pncreas participa na digesto das protenas. A procateptase, o quimotripsinognio e o tripsinognio j foram descritos nos elasmobrnquios, cujas atividades seriam na mucosa intestinal. Nos holocfalos foi isolado do pncreas uma tripsina, uma quimotripsina, uma elastase e 2 carboxipeptidases (A e B).

    Os telesteos parecem possuir, aproximadamente, ao nvel do pncreas, as mesmas atividades dos elasmobrnquias.

    Existem discordncias sobre a existncia de proteases na blis. A glndula heptica, geralmente um rgo volumoso no peixe, mas sem diviso ou pouco dividido em lbulos. formado por uma rede de tubos glandulares e apresenta, com raras excees, uma vescula biliar. Os resultados so contraditrios, poderiam ser explicados de vrias maneiras. Por exemplo, pelas diferenas interespecficas na secreo biliar, propriamente dita, mas tambm lembrando-se que as ilhotas do tecido pancretico so encontradas, de vez em quanto, dentro do parnquima heptico. Neste caso, o produto da secreo dos cinos pancreticos, liberados nos canalculos que drenam tam-bm a blis, resultando no enriquecimento com enzimas pancreticas (principalmente nos peixes sem estmago).

    O intestino dos peixes, quando possuem ao aps o estmago, parece participar da digesto das protenas do mesmo modo que nos vertebrados superiores carnvoros. Sua mucosa possui meios de secretar substncias ativadoras de co-enzimas pancreticas e possui tambm uma aminopolipeptidase que intervm de maneira importante para degradar as cadeias de polipeptdeos at o estdio de dipeptdeo. Muitos autores tm descrito uma atividade do tipo tripsina em extrato de mucosa intestinal.

    A digesto das protenas ao nvel do intestino ocorre em presena de um pH alcalino.

    Nos peixes sem estmago (Ciclstomos) ou holocfalo, dipnico, telesteos que esto distribudos em inmeras famlias, o esfago est diretamente relacionado com o intestino, sendo ao nvel deste que ocorrer os processos bioqumicos essenciais da digesto, conseqncia da atividade enzimtica oriunda do pncreas ou da sua prpria mucosa.

    A implicao de tecidos heptico e pancretico nos peixes agstricos foi muito discutida. A denominao de hepatopncreas foi designada devido justaposio de tecidos anatomicamente e funcionalmente definidos e no do suporte de duas funes por um tecido morfologicamente homogneo. As enzimas pancreticas so liberadas e misturadas com a bile na luz do intestino, onde observa-se a presena de atividade trptica, presente no extrato do hepatopncreas e capaz de transformar a fibrina em albumina e peptona. A mucosa intestinal pode tambm secretar uma enzima proteoltica dotada das mesmas propriedades que pode produzir uma aminopeptidase, trans-formando as protenas em dipeptdeos e posterior-mente em aminocidos, pela presena de uma atividade dipeptidsica.

    Uma atividade mxima de proteases intestinal que ocorre em pH alcalino, considera-se normalmente como atividade trptica. Alguns dados de literatura mencionam que a secreo de tripsina secretada exclusivamente pelo pncreas e alguma participao do intestino. A tripsina pancretica ativada entre o pH 7,0 a 11,0, dependendo do substrato.

    A exata localizao da fonte desta enzima difcil, devido ao pncreas ser difuso em muitos telesteos. O tecido pancretico est situado na veia portal que penetra no fgado e tecido gorduroso. Em peixes que possuem cecos pilricos, o tecido pancretico tambm situado entre eles. Cherley (1935) citado por Halver (1988) analisando a con-centrao de proteases, concluiu que em peixes com pncreas compacto este foi o centro de produo de enzimas, enquanto os peixes que apresentavam pncreas difuso, produziam pouca quan-tidade de enzimas, sendo esta complementada pelos cecos pilricos.

    Foi encontrada uma atividade trptica em ex-trato pancretico de alguns peixes sem estoma-go. e sugeriu-se tambm existir uma ativao da tripsina pela enteroquinase (Ishida, 1963; Bondie e Spandorf, 1954 citados por FON-TAINE, 1981), concordando com Bayliss (1935) citado por Halver (1988) que encontrou uma atividade trptica com pH timo entre 7,5 e 8,5 no canal alimentar de plaice quando incubado com casena. Devido forma difusa do pncreas, no est claro qual a fonte exata desta enzima. A vescula biliar, a qual circundada pelo tecido pancretico, exibe uma alta atividade proteoltica entre 7,5 e 8,5. A atividade trptica do extrato da vescula biliar foi aumentada com a adi-o de extrato intestinal, podendo ser atribuda ativao da tripsina realizada pela enteroquinase.

    Katamikado e Tachino (1960) citados por Halver (1988) encontraram uma atividade de protease alcalina em cecos pilricos e intestino de truta arco-ris e Strogasnov e Buzinova (1969) citados por Fontaine (1981) relataram que na carpa capim (Cianophryogodon idella) a atividade trptica no intestino pode ser mais alta do que no pncreas. Sarbahil (1951) citado por Halver (1988) demonstrou atividade trptica em pH 8,4 na altura do fgado, pncreas e intestino de Godfish. Para extrato de cecos pilrico de Rosfisch (Sebastes). Stein e Lockhart (1953) citados por Halver (1988) encontraram ao proteoltica em pH 8,75. Croston (1960) citado por Fontaine (1981) encontrou endopeptidase em extrato de cecos pilricos de salmo. Uma atividade caseinoltica em um pool de enzimas apresentou um mximo em pH 9,0 da proteinase parcialmente purificada de cecos pilricos (Ooshiro, 1971 citado por Halver, 1988).

    Seixas Filho et alii (2000a) determinaram a atividade de tripsina no quimo presente nos intestinos mdio e posterior e no reto de trs espcies tropicais de peixes Teleostei de gua doce com hbitos alimentares diferentes: piracanjuba (Brycon orbignyanus); piau (Leporinus friderici), onvoros e o surubim (Pseudoplatystoma coruscans), preferencialmente carnvoro, tendo observado que o piau, apesar de onvoro, apresentou atividade de tripsina cerca de 91% maior que a piracanjuba, de mesmo hbito alimentar, ficando prximo do carnvoro. Este fato sugere relao da atividade da tripsina com a morfometria do tubo digestrio e o arranjo das pregas intestinais, conforme relatado por Seixas Filho et alii (2000b e 2001), uma vez que os intestinos, mdio e posterior, do piau assemelham-se, em termos de circunvolues, aos do surubim, influenciando, desta forma, na taxa de passagem do alimento e, portanto, a necessidade de uma maior atividade na atividade de enzimas digestivas para a efetiva digesto dos nutrientes do alimento.

    Esses dados indicam que a tripsina de peixe , provavelmente, semelhante a dos mamferos e, tem importante participao na digesto, mas ainda permanece obscuro seu stio de sntese e secreo. Provavelmente, o pncreas seja o prin-cipal rgo produtor de protease. A atividade trptica encontrada em extrato intestinal sugere uma possvel absoro da tripsina pancretica pela mucosa intestinal.

    2.2 Amilase

    Em estudos sobre nutrio de peixes carnvoros como os salmondeos, concluiu-se que os glicdios no podem ser desprezados, devendo-se consider-los nos alimentos da truta. Contudo, torna-se necessrio verificar o seu papel nutricional e melhorar a utilizao do amido.

    Atividade amilsica tem sido observada em vrios telesteos herbvoros e onvoros, em diferentes regies do aparelho digestivo, principalmente, nos cecos pilricos, no estmago, no f-gado, no pncreas e na regio bucofaringeana.

    Entretanto, existem dvidas sobre a verdadeira origem da enzima. Certos autores sugerem que os estratos do tubo digestrio, no intestino, em particular, apresentam a presena de enzimas oriundas do pncreas. Contudo, trabalhos recentes tm de-monstrado, em carpas, de 15 cm, que a secreo amiloltica era essencialmente do tecido pancre-tico excrino. O autor considerou existir pou-ca atividade ao nvel da faringe e intestino, sendo esta desprezvel, sugerindo que seriam de origem pancretica, ou um possvel produto de uma ami-lase srica.

    Uma relao poderia existir entre a captura do alimento e a intensidade da atividade amilsica. Na carpa, aps ingesto de alimento comercial, ocorre aumento progressivo, chegando ao mximo em 5 a 7 h, reduzindo-se de maneira temporria at a prxima captura.

    Quando a rao distribuda em duas vezes ao dia, observam-se duas seqncias de variao de intensidade desigual, cuja cintica parece indicar uma secreo enzimtica bastante lenta. De qualquer maneira, o ltimo alimento parece reger uma modulao a produo da atividade amilsica nos salmondeos, particularmente a truta arco-ris, sen-do descrita uma amilase ao nvel dos cecos pilricos. Sua atividade varia em funo de certo nmero de fatores fisiolgicos, o peso (mais elevada nos alevinos do que nos adultos), o perodo do ciclo sexual (seu nvel seria maior no perodo de reproduo). Segundo Yamane (1967), citado por Halver (1988), seria necessrio ainda verificar a origem da secreo.

    Seixas Filho et alii (1999) determinaram a atividade de amilase no quimo presente nos intestinos mdio e posterior e no reto de trs espcies tropicais de peixes Teleostei de gua doce com hbitos alimentares diferentes: piracanjuba (Brycon orbignyanus); piau (Leporinus friderici), on-voros e o surubim (Pseudoplatystoma coruscans), preferencialmente carnvoro e mencionaram que a grande diferena da atividade de amilase apresentada entre o piau e a piracanjuba, sugere uma estreita ligao com a morfometria e o comple-xo arranjo das pregas da mucosa dos intestinos mdio e posterior (Seixas Filho et alii, 2000b e 2001). Por outro lado, os autores concluram que a atividade de amilase apresentada no surubim sugere a possibilidade de utilizao de rao balanceada na sua alimentao em criao controlada.

    De qualquer maneira, a amilase parece amplamente distribuda nos peixes com nvel de atividade que relacionado com a natureza dos ali-mentos ingeridos e o ritmo de sua distribuio.

    2.3 Lipases

    As lipases so menos estudadas do que as proteases, porque os lipdeos esto presentes em diversas substncias e a anlise do produto da di-gesto prejudicada.

    As gorduras so normalmente ingeridas pelos peixes junto com seu alimento natural ou artificial. Os triglicerdeos representam a frao mais importante dos lipdeos alimentares (70 a 95%), sendo estes degradados pelas lipases.

    A ocorrncia de lipase no tubo digestrio pode estar presente em todos os peixes e j foi demonstrada em inmeras espcies. A atividade de lipase tem sido encontrada em extrato de pncreas, cecos pilricos e intestino anterior.

    A atividade lipoltica tem sido demonstrada em extrato intestinal e fgado de plaice (Bay-liss, 1935 citado por Halver, 1988), mas o fgado possui fragmento de tecido pancretico, podendo ser deste a origem da lipase.

    A atividade de esterase foi demonstrada (Kitamikado e Iachino, 1969, citados por HALVER, 1988) em fgado, bao, bile, intestino, cecos pilricos e estmago de truta.

    Seixas Filho et alii (2000) determinaram a atividade de lipase no quimo presente nos intestinos mdio e posterior e no reto de trs espcies tropicais de peixes Teleostei de gua doce com hbitos alimentares diferentes: piracanjuba (Brycon orbignyanus); piau (Leporinus friderici), onvoros e o surubim (Pseudoplatystoma coruscans), preferencialmente carnvoro e, relataram que a atividade especfica mdia de lipase foi de 99,86% menor para a piracanjuba (1,89 UI/mg) em relao ao piau (1347,82 UI/mg), ambos de hbito alimentar onvoro e, ainda, que a diferena de atividade especfica de lipase entre piracanjuba e surubim (793,76 UI/mg) tambm apresentou mdia de 99,76%. Os autores mencionaram ainda que o surubim apresentou atividade especfica de lipase 41,11% menor que o piau, sugerindo que este apresentou atividade especfica de lipase mais prxima de um peixe carnvoro que onvoro.

    A descrio das propriedades das lipases em peixes contraditria, especialmente quando se refere participao dos sais biliares. A concluso que existe dois tipos de lipase ativa, uma corresponde a lipase verdadeira e outra dependente ou no dos sais biliares.

    2.4 Enzimas quitinolticas

    A possibilidade de degradar a quitina por via enzimtica conhecida por muito tempo nos microrganismos. Um sistema quitinoltico, constitu-do por duas enzimas: uma quitinase, propriamente dita, e uma quitobiase, tem sido discutidas nos organismos inferiores antes de ser encontrada em inmeros vertebrados.

    Esse processo importante, pois a quitina amplamente distribuda no reino animal e foi primeiramente classificada como um mucopolissacardeo, pelo fato de ser constituda por radicais n-acetil-glucosamnico, atualmente considerada co-mo um homopolissacardeo de estrutura linear. Possui semelhana com a celulose em inmeros aspectos fsico-qumicos, como sendo um polmero linear de unidade de n-acetil-D-glucosamina, ou 2-acetamida, 2-deoxi-D-glucose, ligadas por pontes (1-4 glicosdica. Sua hidrlise cida permite obter um diolossdeo, a quitobiose ou triolossdeo, a quitotriose.

    A quitinlise por via enzimtica estudada usando como substrato, seja a quitina, chamada nativa, seja a quitina coloidal. A primeira pre-parada a partir de cutculas dos artrpodos ou de septions dos cefalpodes, a segunda obtida por solubilizao em cidos fortes e precipitao. Sua hidrlise no realizada com a mesma facilidade. A quitina nativa, originada das cutculas de insetos mais resistente do que a dos seption de cefalpodes. Sendo isto explicado pelo estudo fsico dos agregados de quitina. Esse tipo de problema no acontece com a quitina coloidal, cuja hidrlise, relativamente fcil, requerida no seu desenvolvimento.

    Invitro, a atividade quitinoltica mxima no peixe para um pH de 3 a 4. Ela reduz muito rapidamente com o aumento do pH. Seu timo trmico situa-se muito mais alto do que nas temperatu-ras ecofisiolgicas.

    A hidrlise completa da quitina em n-acetil-D-glucosamina (NAG) necessita interveno su-cessiva de duas enzimas. Uma quitinase ou po-li (1-4 (2 acetoamido-D-deoxi) D-glucosdio-glicano-hidrolase) e uma quitobiase acetoamido deoxiglucohidrolase.

    A primeira catalisa especificamente a hidrli-se das ligaes (1-4 glicosdicas das cadeias de NAG para produzir a quitobiose (dmero de NAG) e um pouco de quitotriose. A segunda permite obter do NAG a parte de quitobiose e de quitotriose. As quitinases podem hidrolisar os altos polmeros de NAG, mas tambm os menores polmeros, tais como os quitodextrina ou deri-vado, tal como os quitoxanos. As quitobiases e os N-acetil-glucosaminidases que freqentemente tm sido confundidos recebem uma classificao distinta da Comisso das enzimas de U. Internacional de Bioqumica.

    Nos vertebrados superiores, cujo regime alimentar insetvoro ou onvoro observa-se uma capacidade de digesto da quitina com a ajuda das enzimas quitinolticas produzidas pelas mucosas gstricas e algumas vezes pelo pncreas. Nos peixes, estudos mostraram que a secreo das enzimas era bastante freqente, mas com uma locali-zao tissular bastante variada. Em relao aos selceos, uma atividade quitinoltica tem sido des-crita ao nvel da mucosa gstrica e da intestinal.

    Scyllorhinus cancula, que consome uma gran-de quantidade de crustceos tem sido verificado que a atividade quitinoltica global da flora estomacal e do intestino tem um valor particularmente nulo, sendo este fato como o da mucosa di-gestiva do peixe.

    Semelhante atividade enzimtica foi observada em S. cancula, Squalius squalius, mas foi tambm observado que os extratos do bao, apresentavam uma atividade quitinoltica to elevada quanto a mucosa gstrica.

    Nos telesteos essas enzimas, seja nos principais rgos do aparelho digestivo como em Caracius auratus, ou limitadas ao estmago, intestino e ao fgado (Salmo irideus), seja somente ao nvel do estmago (Anguilla vulgaris, Salmo e truta), ou seja, ainda, do estmago e do fgado como nos artrpodes, quando existe um estmago diferenciado, sem esquecer que o intestino a base de uma sntese importante das enzimas quitinolticas, com algumas excees, como Tilpia macrochir, Solea solea, Lophius pescatorius. Quando o estmago no diferenciado, observa-se uma produo importante de enzimas ao nvel de mucosa intestinal, as excees so mais freqentemente explicadas pela natureza do regime alimentar.

    Os cecos pilricos, caracterizados em um nmero limitado de espcies, mostram uma atividade quitinoltica muito intensa que contribui para a compreenso das suas funes nos processos digestivos.

    A presena dessas enzimas no fgado no ainda confirmada, pelo fato da possvel presena de ilhotas de tecido pancretico. Todavia, uma atividade, prpria do tecido heptico parece ter sido revelada com uma certa freqncia.

    A existncia de uma atividade quitinoltica bem caracterizada em certos rgos tais como o bao ou rim sem relao com a luz do tubo digestrio, apresenta a dvida se quitinase cuticular ou se os lisossomos so tambm capazes de hidrolisar a quitina.

    No plano nutricional, existe uma relao entre a presena das quitinas e a natureza do regime alimentar.

    As espcies carnvoras, cujo alimento rico em presas quitinosas possuem uma forte atividade quitinoltica mais ou menos distribuda ao longo do tubo digestrio. Esse fato se verifica em Anguilla vulgaris como tambm em truta. Todavia, a Brema (Abramis brama) que insetvora est fora dessa regra, a mesma coisa acontece com Dipneusto (Protopterus arthiopicus), que onvoro, nenhum dos dois parece possuir atividade quitinoltica. Observa-se tambm a ocorrncia de variaes de um animal para outro, dentro da mes-ma espcie, de acordo com a idade, estado nutricional e atividade. A influncia sazonal deve ser considerada.

    Nos peixes herbvoros, mas pastejadores, constata-se uma atividade quitinoltica fraca. Este fato pode ser explicado pela ingesto de pequenos crustceos que vivem aderidos aos vegetais. Os herbvoros no possuem os meios para hidrolisar a quitina.

    importante observar que peixes carnvoros, mais ictifagos, que se alimentam principalmente de equinodermos, tal como (Esox lucius), so quase ou na totalidade, desprovidos de sistema quitinoltico.

    Uma justificativa para esses comportamentos seria que o primeiro ingere peixes que no possuem, evidentemente, tecidos quitinosos, no regime do segundo, os crustceos quase no so representados e j foi observado que os equinodermos no possuem quitina.

    A correlao entre a secreo da enzima quitinoltica pelo aparelho digestivo dos peixes e a natureza da sua alimentao no absoluta, contudo , pelo menos, muito satisfatria, o que permite definir simplesmente uma funo.

    As enzimas quitinolticas assumem um papel lgico no processo, atacando as estruturas quitinosas, desde o primeiro segmento do aparelho digestivo, elas permitem uma melhor e mais precisa ao das proteases.

    O n-acetil-D-glucosamina um nutriente cujo valor no pode ser negligenciado no peixe, ela facilmente absorvida ao nvel do intestino em A anguilla e sua absoro parece mesmo mais rpida que a da glucose.

    Tal como demonstrado em vrios trabalhos, inmeras pesquisas complementares seriam teis, notadamente na regulao da biossntese dessas enzimas e tambm por fatores internos tanto como fatores do meio ambiente.

    2.5 As laminarases

    Essas enzimas foram primeiramente isoladas da laminarina, substncia amplamente espalhada no meio natural aonde vivem os peixes. Constitui um material de reserva das algas e sua estrutura parece dependente, principalmente, de ligaes glucosdicas do tipo (1-3, contudo, parece existir tambm ligaes (1,6.

    As enzimas que catalisam a hidrlise do (1-3 glucanos so as (1-3 glucano-hidrolases ou (1-3 glucanases. Considerando a heterogeneidade da laminarina e seus produtos de hidrlise (alm da glucose existe monitol gentrobiose, mas principalmente laminiribiose e laminaritriose etc.), tem sido proposto, provisoriamente,de atribuir a denominao laminarinase ao complexo enzimtico que hidrolisa este polissacardeo, isto um conjunto de atividades correspondente interveno de endo e de exo (1-3 gluconases e tambm de glucosidases.

    As laminarinases, assim definidas, tm sido evi-denciadas em organismo muito simples (eubactrias, streptomicetos, cogumelos etc.). Nas plan-tas superiores e inmeros organismos animais, tais como os invertebrados, aneldeos, moluscos, crustceos e inseto.

    Estudos realizados permitiram demonstrar que os peixes de gua doce, fitfagos (Chordrosto manasus e Tilpia guineensis), macrfagos (Tilapia mossambica e T. marioji), certos onvoros (fitfagos e detritfagos), podem hidrolisar a laminarina graas a uma laminarinase localizada ao nvel do intestino. Por outro lado, nenhum dos peixes carnvoros que tm sido estudados como A. anguila, Salmo e Perca possuem essa propriedade.

    Do ponto de vista topogrfico, observa-se que a atividade laminartica do aparelho digestivo localizada apenas na mucosa intestinal e, mesmo em Tilpia, por exemplo, ao nvel da parte superior do intestino, enquanto que a mucosa da poro posterior a do estmago, do pncreas, do f-gado e do bao so desprovidas dessa enzima.

    Freqentemente, o contedo do trato digestivo pode conter. tambm laminarinases fornecidas em quantidades significativas pelo alimento.

    A situao poderia ser bastante diferente em relao aos peixes marinhos, se fosse facilmente explicado que Gobeis selpa, apesar de ser herbvoro no possui laminarinase, no sendo assim para os peixes carnvoros, que parecem ter uma atividade laminartica.

    Com efeito, G. selpa alimenta se essencialmente de algas verdes, que no contm (1-3 glucanos. Em relao aos peixes carnvoros, necessita-se conhecer a origem real da atividade enzimtica, se tissular ou oriunda do alimento como as presas que possuem a laminarinase.

    Duas questes importantes devem ser consideradas: 1) a presena de uma atividade laminarinaltica importante geralmente relacionada a in-gesto regular, ou com certeza freqente de (1-3 glucanos, pela espcie considerada. 2) os (1-3 glucanos podem constituir, para certas espcies, uma fonte glucdica no desprezvel em relao ao amido ao glucognio ou mesmo a quitina.

    2.6 As Colagenases

    O tecido colgeno pode representar uma poro considervel do alimento de inmeras espcies de peixes. Tambm uma atividade colgeno-ltica pode ser evidenciada ao nvel dos cecos pilricos de Seriola quinqueradiata. Estudos foram realizados com o objetivo de detectar as colagenases em inmeros rgos do aparelho digestivo de peixes tanto do ponto de vista taxonmico quanto o do regime alimentar.

    Em geral, a colagenase tem sido pesquisada ao nvel do fgado, do estmago, quando existe na espcie considerada, do intestino, eventualmente parte anterior e posterior, dos cecos pilricos, quando existem, do pncreas ou do hepatopncreas e da gordura mesentrica. A variabilidade morfolgica do aparelho digestivo dos peixes, de acordo com a espcie, justifica uma tal dieta.

    Essas investigaes tem sido realizadas em aproximadamente 20 peixes, particularmente Salmo gairdneri, Cyprinus carpio, Parasilurus, asotus, Anguilla japonica, Thummus thummus, entre outros. Na maioria das espcies, observou-se uma alta atividade colagenaltica ao nvel do intestino, com excees, de Cyprinus carpio e Thummus thummus.

    O estmago, de maneira geral, parece no possuir colagenases, cujos cecos pilricos so sempre muito ricos.

    Todavia, um estudo histolgico aprofundado da regio dos cecos pilricos da truta arco-ris, tem mostrado que pores do tecido pancretico seriam recobertas de tecido adiposo, entre os cecos.

    Quando este tecido adiposo cuidadosamente separado dos cecos pilricos estes perdem a maior parte da sua atividade colagenoltica, em definitivo a colagenase no seria uma enzima cecal, mas uma enzima pancretica. Existe uma hiptese formulada que todas as colagenases encontradas nos demais rgos do aparelho digestivo seria de origem pancretica.

    Alm disso, uma relao bastante satisfatria foi estabelecida entre a natureza do regime alimentar e a importncia da atividade colagenoltica. Como regra geral esta mais elevada nos peixes carnvoros, cujo regime rico em colgenos do que nos onvoros ou nos herbvoros que naturalmente possuem um regime pobre em colgeno ou simplesmente sem este.

    Na maioria dos casos, conclui-se como para as atividades quitinoltica ou laminarinsicas depende do tipo de rao da espcie do peixe considerado.

    Tal ponto de vista confirmado pelos estudos da digesto do colgeno na truta arco-ris.

    Esse salmondeo capaz no somente de di-gerir adequadamente o colgeno, mas tambm absorver os produtos da digesto, seja no total, quase 45% do colgeno ingerido.

    3 Mtodos de determinao de enzimas digestivas em extratos de tecido animal

    3.1 Preparo das amostras de tecido animal

    As amostras de tecido animal so homogeinizadas em HCL 1,0 mm, congelados em nitrognio lquido, liofilizadas e congeladas a -4(C.

    De cada amostra liofilizada retira-se 250 mg e solubiliza-se com 5,0 ml de H2O destilada e deionizada. Em seguida, uma alquota de 2,0 ml centrifugada nas condies acima descritas e, o sobrenadante utilizado para determinaes das atividades enzimticas.

    3.2 Ativao do tripsinognio e quimotripsinognio do extrato de tecido animal

    A ativao feita em uma alquota de 1,0 ml do sobrenadante, sendo adicionado 1,0 ml de tam-po TRIS-HCL 0,2 M, pH 8,2, contendo 20 mm de CaCl2 e 1,0% de dimetilformamida, 100 (l de (-tripsina 4,16 x 10-5 M em HCL 1,0 mM. A quantidade de tripsina adicionada corresponde a 2,0% em peso de protena total, contida na alquota do sobrenadante, sendo determinado pelo mtodo de Lowry et alii (1951).

    Essa soluo submetida agitao branda por 2 h temperatura ambiente e, imediatamente a seguir, determinadas as atividades de tripsina e quimotripsina em alquotas de 50(l.

    3.3 Determinao da atividade amidsica da tripsina

    Determina-se segundo o mtodo descrito por Erlanger et alii (1961), utilizando-se Bem-zoil-D-L-arginina-p-nitroanilida (BApNA) co-mo substrato.

    Utilizando-se alquotas de 50(l do sobrenadante do extrato de tecido animal liofilizado acrescido de 1,0 ml de soluo de substrato 6,38 x10-4M em tampo TRIS-HCL 0,1 M, pH 8,2, contendo 20 mm de CaCl2 e 1,0% de dimetilformamida, previamente equilibrada a 25(C.

    Determina-se as velocidades iniciais pela formao do produto p-nitroanilida, medindo-se o aumento da absorbncia a 410 nm em funo do tempo e utilizando o coeficiente de extino molar de 8.800 M-1 x cm-1 para o produto.

    Para cada determinao da atividade trptica no extrato de tecido animal so feitos controles com 50 (l da soluo de tripsina 4,16 x 10-5M.

    Determina-se a diferena da absorbncia entre os testes e os respectivos controles, obtendo-se dessa forma, a atividade trptica somente do tripsinognio ativado.

    3.4 Determinao da atividade estersica da quimotripsina

    Essa determinao feita de acordo com o mtodo descrito por Hummel (1959), utilizando-se Benzoil-D,L-tirosina etil ester (BTEE), como substrato.

    A uma alquota de 50 (l de sobrenadante do extrato de tecido animal liofilizado adicionado 1,0 ml da soluo de substrato 1,71 x 10-4M em tampo TRIS-HCL 0,08M, pH 7,8, previamente equilibrada a 25(C.

    As velocidades iniciais so determinadas pela formao do produto etanol, medindo-se o aumento da aborbncia a 256nm em funo do tempo e utilizando o coeficiente de extino 964M-1 x cm-1.

    4 Importncia de se fazer uma avaliao da atividade enzimtica em animais.

    O processo de digesto est diretamente relacionado com a qualidade e quantidade de en-

    enzimas digestivas secretadas no tubo digestrio, que influenciam no aproveitamento da dieta. Por isso, os estudos de enzimas digestivas presentes no tubo digestrio so muito importantes para que os nutricionistas possam definir um padro alimentar, servindo de base para o ajuste de diferentes sistemas de alimentao artificial. Uma vez que devido ao confinamento a que so submetidos e, em funo de um arraoamento, muitas vezes, imprprio para de-terminadas espcies, principalmente nos peixes, os animais podem apresentar sinais de deficincia alimentar ou, ainda, elevado potencial de mortalidade, principalmente em sua fase inicial de vida.

    Nesse sentido, os nutricionistas tm procurado conhecer as necessidades nutricionais das espcies com potencial zootcnico, com intuito de proporcionar s criaes solues que minimizem os problemas comumente vividos nas atividades zootcnicas, tais como: menor ganho de peso, patologias freqentes, variao na taxa de ingesto de alimentos, problemas que resultam em baixa produtividade.

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    SEIXASJos Teixeira.D.doc

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    in the animal fabric, seeking to supply reference to the nutrition for the adjustment of dif-ferent systems of artificial feeding, in order to give subsidies in the definition of an alimen-tary pattern.

    Palavras-chave: Enzimas Digestivas, Nutrio Animal, Piscicultura, Reviso de

    Literatura. Keywords: Digestive enzymes, Animal Nutrition, Fish farming, Revision of Literature.

    1. INTRODUO

    A aqicultura, por seu crescente aporte na pro-duo mundial de pescado, surge como alternati-va para aumentar a produo de alimentos. Huss (1998) citado por Arbelaex-Rojas (2002) previu que no prximo sculo haver um aumento na demanda de pescado nos pases em desenvolvi-mento, por ser uma alternativa alimentar de alto valor nutricional. Paralelamente, a falta de conhe-cimentos sobre as exigncias nutricionais dos pei-xes tropicais faz com que as dietas disponveis no mercado, para a maioria das espcies, no sejam balanceadas.

    A habilidade de um organismo para digerir part-culas de alimento depende da presena e da quanti-dade apropriada de enzimas digestivas (SMITH, 1980). A atividade enzimtica para os peixes de clima temperado durante as diferentes fases do ciclo de vida tem sido pesquisadas (ANDREWS, 1954; KITAMIKADO e TACHINO, 1960; KA-WAI e IKEDA, 1973a e b; OVERNELL, 1973; KAPOOR et alii, 1975; DABROWSKI et alii, 1992; ABI-AYAD e KESTEMONT, 1994; CAHU e ZAMBONINO INFANTE, 1994; NAKAGAWA et alii, 1995). Por outro lado, a composio da dieta pode influenciar a produo de enzimas digestivas.

    Vrias espcies tropicais de peixes Teleostei de gua doce, so criadas em cativeiro, tanto para manuteno da biodiversidade, por meio de pro-gramas de repovoamento; quanto para criao comercial. Contudo, essas espcies ainda rece-bem arraoamento de maneira imprpria por falta de maior entendimento sobre suas necessidades nutricionais, o que vem acarretando problemas para essa atividade zootcnica.

    Nesse sentido, tm-se procurado conhecer as necessidades nutricionais das espcies com po-tencial zootcnico, com intuito de proporcionar s

    piscigranjas solues que minimizem problemas comumente vividos, tais como: menor ganho de peso, sinais de deficincia alimentar, variao na taxa de ingesto de alimentos, problemas que re-sultam em baixa produtividade e mortalidade ele-vada, permitindo assim, ampliar conhecimentos sobre esses animais, que se encontram em plena expanso de criao.

    O presente trabalho teve por objetivo reunir re-latos da literatura sobre o papel das enzimas di-gestivas na fisiologia dos peixes de clima tem-perado e de tropical, visando fornecer referncia nutrio para o ajuste de diferentes sistemas de alimentao artificial, a fim de dar subsdios na definio de um padro alimentar. 2. REVISO DE LITERATURA 2.1. Breve Histrico

    Vrios autores tm relatado sobre o hbito alimentar de peixes tropicais (CYRINO, 1984; CASTAGNOLLI, 1992, 1997; PEZZATO, 1997) e o relacionamento do arranjo do intestino com hbitos alimentares (AL-HUSSAINI, 1947; NI-KOLSK, 1963; PREJS, 1981; MENIN, 1988; MENIN e MIMURA, 1992). Ainda, sabe-se que a habilidade de um organismo para digerir partcu-las de alimento depende da presena e da quanti-dade apropriada de enzimas digestivas (SMITH, 1980). Assim, a presena e variao das ativida-des enzimticas de tripsina (EC 3.4.21.4), amilase (EC 3.2.1.1) e lipase (EC 3. 2.1.1) para os peixes de clima temperado durante as diferentes fases do ciclo de vida tem sido pesquisadas (ANDREWS, 1954; SUNDARAM e SARMA, 1960; KITAMI-KADO e TACHINO, 1960a e b, 1961; CROS-TON, 1960, 1965; KAWAI e IKEDA, 1972, 1973a e b; OVERNELL, 1973; ALLIOT et alii, 1974; HJELMELAND, 1983; HJELMELAND

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    et alii, 1984; HJELMELAND e JRGENSEN, 1985; DABROWSKI et alii, 1992; ABI-AYAD e KESTEMONT, 1994; INFANTE e CAHU, 1994; NAKAGAWA et alii, 1995; KAPOOR et alii, 1975; CHESLEY, 1934; SASTRY, 1974a e b; SABAPATHY e TEO, 1993).

    Por outro lado, a composio da dieta pode influenciar a liberao das enzimas digestivas. Chesley (1934) observou que no houve correla-o entre o contedo de gordura da alimentao fornecida ao peixe e a atividade de lipase. Nagase (1964), trabalhando com tilpia mossambica (Sa-rotherodon mossambicus), relatou que a atividade de tripsina e amilase podem ser aumentadas com uma dieta rica em protena e amido, o mesmo no acontecendo com a da lipase e da pepsina. Agra-wal et alii (1975) mencionaram no haver corre-lao da atividade de lipase com a gordura da dieta. Por outro lado, Reimer (1982), estudando a adaptao das atividades das enzimas digestivas de Brycon metanoptorus, concluiu que as ativida-des da amilase, tripsina e lipase podem ser au-mentadas com dietas ricas em carboidratos, pro- tenas e gorduras, respectivamente; a pepsina no mostrou mudanas da atividade com a dieta.

    Onishi et alii (1976) relataram mudanas nos nveis de protease e amilase, em carpa, aps ali-mentao, comparando a freqncia da adminis-trao do alimento, a saber: uma vez ao dia (I) e duas vezes ao dia (II), sendo que em ambos, I e II, a atividade da protease intestinal atingiu o mximo, no perodo de 5 a 7,5 h aps a primei-ra alimentao. Os autores relataram, ainda, que a atividade da amilase acompanhou esse per- odo, havendo, contudo, decrscimo temporrio aps cada alimentao. J a protease hepatopan-cretica diminuiu imediatamente aps a alimenta-o, recuperando seu nvel 10,5 h aps a primeira alimentao.

    Os mesmos autores (1976) relataram, ainda, que a atividade da amilase hepatopancretica em (I) apresentou atividade mnima depois de 5a h, com recuperao posterior. Na situao (II), at 5a h aps a segunda alimentao, o nvel de ativi-dade ainda estava abaixo do original. Foi conclu-do que a sntese e secreo de enzimas, em res-posta alimentao no transitria, e que existe um tempo lag entre a reduo da quantidade do alimento no trato digestivo e o aumento na ativi-dade da enzima digestiva.

    Sabapathy e Teo (1993) estudando a distribui-o de enzimas digestivas e suas atividades no tubo digestrio de Sigamus canaliculatus, de h-bito alimentar onvoro e Latus calcarifer, carn-voro, relataram a presena de tripsina ao longo do tubo digestrio no onvoro, ficando a presena desta enzima restrita ao intestino e cecos pilri-cos, no carnvoro. Os autores relataram ainda, que as atividades de amilase foram menores para o carnvoro. Contudo, ambos so capazes de digerir carboidratos e protenas em suas dietas.

    Kawai e Ideda (1973a), trabalhando com lar-vas e juvenis de truta arco-ris, Salmo gardneri, investigaram o desenvolvimento das atividades de proteases, maltase e amilase no trato digestivo dos peixes, aps a ecloso e na fase de juvenis.

    Os autores (1973a) observaram alta atividade pptica nos ovos e grande decrscimo aps a ecloso, sugerindo um importante papel dessa en-zima nesta fase. Por outro lado, a atividade trp- tica no apresentou mudanas significativas antes ou depois da ecloso. Contudo, 20 dias aps, quando as larvas j haviam absorvido quase todo o seu vitelo e tendo comeado a se alimentar, as atividades ppticas e trpticas aumentaram muito, e ao chegarem ao 60o dia apresentaram aumento gradual e semelhante para as duas enzimas.

    Os mesmos autores (1973a) observaram ain-da, que as atividades de maltase e amilase fo-ram detectadas no 20o dia, aumentando at o 40o dia. Resultados semelhantes foram encon-trados por Sing e Nose (1967), que, trabalhando com salmondeos, relataram a digesto e absor-o de alguns carboidratos, como glicose, saca-rose e lactose, apesar desses peixes serem com-siderados carnvoros.

    Por outro lado, Kawai e Ikeda (1973b), estu-dando as atividades de proteases e amilases em carpa, Cyprinus carpio, e black sea brean, Acan-thopagrus schlegelli, observaram aumento da ati-vidade de tripsina nos ovos de carpa, que aps ecloso, aumentava com o crescimento do ani-mal. A atividade pptica foi insignificante nos ovos e no aumentou com o crescimento do pei-xe. Contudo, as atividades para maltase e amilase aumentaram com o crescimento dos animais do 7o ao 10o dia aps a ecloso. Com o black sea brean, apesar de ser um peixe carnvoro, foi ob-servada, claramente, atividade da amilase no 11o

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    dia aps a ecloso, que foi reduzida com o cres-cimento do animal; o desenvolvimento da ativi-dade pptica coincidiu com a diferenciao da glndula gstrica, e a atividade da tripsina apare-ceu 3 dias aps a ecloso, aumentando gradual-mente com o crescimento do peixe.

    Sundaram e Sarma (1960) isolaram e caracte-rizaram bioquimicamente proteinases do intestino de Etroplus suratensis e Croston (1965) executou o mesmo trabalho nos cecos pilricos de Onco-rhynchus tshawytscha.

    A tripsina e a quimotripsina dos Teleostei tm sido identificada na base de substratos especficos da truta arco-ris (KITAMIDADO e TACHINO, 1960) Etroplus suratensis (SUNDARAM e SAR-MA, 1960), Oncorhynchus tshawytscha (CROS-TON, 1960, 1965), Gadus morhua (OVERNELL, 1973) e de Dicentrachus labrax (ALLIOT et alii, 1974).

    Hjelmeland et alii(1984) mencionaram que a tripsina seria, provavelmente, a enzima-chave na regulao e no processo digestivo em peixes jovens.

    Hjelmeland (1983) relatou que os estudos me-cnicos de produo, ativao e liberao de trip-sina no intestino do peixe so difceis, pela falta de um mtodo para quantificar a atividade enzi-mtica in situ.

    Bbarret (1979) relatou que o exame direto das enzimas no detectou o seu desempenho e no houve discriminao entre a tripsina e as outras proteases presentes no extrato.

    Hjelmeland e Jorgensen (1985) relataram a uti-lizao do radioimunoensaio com um mtodo pa-ra quantificar tripsina e tripsinognio em peixes. Os autores concluram que os melhores resultados foram obtidos com a unio do radioimunoensaio e a tcnica de exame enzimtico, em razo da pre-sena de inibidores que, geralmente, no minimi-zam a ligao entre o anticorpo e a enzima.

    Kitamikado e Tachino (1960b), encontraram nveis menores de amilase digestiva em trutas ar-co-ris que em carpa. Por outro lado, Fisch (1960) relatou que a atividade da amilase no trato diges-tivo de tilpia foi muito maior do que em perca.

    Spanhof e Plantikow (1983) trabalhando com truta arco-ris, observaram que a incluso de pro-dutos amido solvel na dieta aumentou o volume dos sucos intestinais e o nvel de acar no san-

    gue, assim como induziu a um prolongado au-mento na atividade da amilase nos sucos in-testinais. Por outro lado, a utilizao do amido bruto na dieta, reduziu a atividade da amilase nos sucos intestinais, sendo esta absorvida pelo amido bruto, inibindo a hidrlise do amido, e a presena deste na dieta, acelerou a passagem do quimo pelo intestino, reduzindo o tempo vivel para absoro.

    Os mesmos autores (1983) sugeriram que es-ses efeitos fossem considerados como as impor-tantes causas para uma baixa digestibilidade dos produtos de amido polimerizados.

    Andrews (1954) mencionou que o tecido pan-cretico em peixes, algumas vezes, so compac-tos, mas muitos so difusos.

    Borlongan (1990) relatou que descobertas his-toqumicas recentes mostraram que a mucosa in-testinal de diversos peixes Teleostei capaz de secretar lipase, alm do pncreas difuso, compen-sando, dessa forma, a falta de um pncreas com-pacto e bem desenvolvido. O mesmo autor obser- vou em milkfish (Chanos chanos), atividade de lipase no esfago, indicando um papel mais ati- vo desse rgo no processo digestivo. Contudo, mencionou que a maior atividade encontrava-se nos extratos intestinais, principalmente na sua poro anterior, sendo esta mxima a 45oC num pH 6,8 e 8,0; da lipase pancretica foi a 50oC em pH de 6,4 e 8,6. A deteco de dois pH timos, bem definidos, um cido e outro alcalino, para ambas lipases intestinal e pancretica, sugere uma versatilidade fisiolgica para a digesto de lip-deos em milkfish.

    Estudos anteriores com outros Teleostei de-monstraram que a atividade mxima da lipase acontecia no final da poro anterior do intesti-no e diminua gradualmente em direo sua poro final (AL-HUSSAINI, 1949a e b). A ati-vidade da lipase tambm foi observada ser maior no trato intestinal de catfish, Clarias batrachus (MUKHOPADHYAY, 1977).

    Vonk (1937) sugeriu que a atividade da lipase nos intestinos devido ao fato da possvel adsor-o das enzimas pancreticas na mucosa intesti-nal. Contudo, mais recentemente, estudos histo-qumicos demonstraram que a mucosa intestinal de vrios peixes Teleostei so capazes de secretar lipase (SASTRY, 1974).

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    Kuzmina (1996) estudou a influncia da ida-de na atividade enzimtica em peixes de gua doce, em predadores facultativos bentofgicos adultos, como em Perca flavescens e em bento-fgicos, Abramis brama e Eupomotis gibbosus, mencionando, ainda, que a atividade enzimtica total relativa (g-1 peso do corpo) evidenciou, para esses peixes, um ndice informativo do su-primento de enzimas digestivas mais importante que a atividade enzimtica padro normalmente relatada.

    2.2 Enzimas digestivas em peixes

    O estudo das enzimas digestivas apresenta, nos peixes, a mesma dificuldade encontrada nos ou-tros vertebrados. Ocorre a necessidade de se de-monstrar que uma enzima encontrada na luz do tubo digestrio realmente o produto de clulas excrinas e no resultado de sntese bacteriana ou de uma descamao celular. Alm disso, uma si-tuao particular criada pelos peixes que no possuem rgo semelhante ao estmago do tipo dos vertebrados superiores onvoros ou carnvo-ros, quando existe, observamos que o suco gstri-co tem um pH bastante cido, cujas variaes no so desprezveis, enquanto que o suco intestinal alcalino.

    Os conhecimentos de enzimas digestivas em peixes so ainda mais complexos do que em ou-tros animais domsticos, estes apresentam inme-ras espcies, com diferentes composies anat-micas digestivas e hbitos alimentares diversos e, por isso, os estudos realizados em uma determi-nada espcie no podem ser extrapolados para outras.

    As enzimas digestivas de peixes so secretadas dentro do lmen do canal alimentar originados da mucosa gstrica, dos cecos pilricos, do pncreas e da mucosa intestinal com a funo de hidrlise de protenas, carboidratos e gorduras.

    A mucosa gstrica produz protease com ativi-dade em pH cido, resultante da secreo de HCL nas clulas da mucosa.

    Os cecos pilricos (invaginao do intestino), excreta essencialmente as mesmas enzimas do in-testino e do pncreas, as quais so ativadas em ambientes neutros ou fortemente alcalino. A par-

    ticipao dos cecos pilricos como rgo secretor de enzimas digestivas bastante contraditria, sendo que alguns autores atribuem ao refluxo a presena destas.

    O pncreas essencialmente rico em protease bsica, amilase, maltase e lipase. Os estudos de enzimas digestivas presentes nesse rgo, em peixes que possuem pncreas compacto, tornam-se difceis, uma vez que este se apresenta com tamanho reduzido e, nas espcies com pncreas difuso, formando o hepatopncreas, aumenta essa dificuldade, uma vez que a sua separao bas-tante complexa.

    O grau de participao de cada um desses r-gos varia com as espcies, devido as suas dife-renas anatmicas no tubo digestrio. 2.2.1 Proteases

    As proteases podem se divididas em dois gran-des grupos; uma protease que atua no meio cido e outra que atua em meio bsico. As proteases cidas e bsicas esto, geralmente, presentes em peixes que apresentam estmago bem delimitado e funcional, enquanto espcies agstricas, geral-mente possui apenas a bsica, sendo produzida principalmente pelo pncreas ou parede da muco-sa intestinal.

    O suco gstrico dos peixes sempre tem um pH cido. Este foi assinalado como particularmente baixo nos elasmobrnquios: A secreo de um su-co cido parece ento ligada absoro da presa e a acidez aumenta ao longo da digesto.

    Os efeitos do jejum e da sazonalidade podem ser resumidos da seguinte maneira: Na ausncia de alimentos o pH gstrico tende a neutralidade e as variaes sazonais estariam ligadas as da ati-vidade alimentar. Contudo, existe controvrsia quanto proposta de uma organizao temporria do suco gstrico. Parece plausvel que as reaes alcalinas observadas em certos casos, sejam con-seqncia de uma reao ao alimento, provocan-do o aumento do suco intestinal.

    A repartio da atividade proteoltica varia seguindo as regies do estmago. Existe uma maior intensidade na regio crdica e o corpo do rgo.

    Buchs (1954) citado por Fontaine (1981) estu-dando extrato estomacal, encontrou uma pepsina ativa a pH 0,5 e uma pepsina em pH 3,0 a 3,5.

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    A interpretao proposta invoca a existncia de duas enzimas: Uma pepsina ativa a pH 0,5 e uma cateptase apresentando sua atividade mxima a pH 3,0 a 3,5. A temperatura do meio cujo peixe particularmente dependente, modula fortemente a atividade proteoltica estomacal: Esta cresce com a temperatura para atingir o valor mximo que pela pepsina purificada in vitro situa-se, segundo as espcies, entre 40 e 45C. Contudo, esses n-veis no so compatveis com a sobrevivncia do animal.

    As diferentes pepsinas dos peixes no possu-em a mesma atividade e, esto relacionadas com a escolha do substrato.

    A presena de uma distase do tipo coalho, capaz de coagular o leite, tem sido observado em extratos neutralizados de mucosas gstricas de di-ferentes espcies de peixes, mas este fato pare-ce muito inconstante, tanto nos elasmobrnquios quanto em telesteos.

    A Truta arco-ris possui uma atividade prote-sica mxima para um pH de 2,8 e uma temperatu-ra de 40 a 45C.

    O poder proteoltico diminui consideravelmen-te em baixas temperaturas, principalmente nos cecos pilricos. O estudo da ontognese tem mos-trado tambm grandes variaes das atividades das proteases, segundo a idade e os rgos.

    Desde a primeira idade ela observada ao n-vel do estmago, mas ainda muito fraca ao nvel dos cecos pilricos e do intestino.

    Posteriormente, a progresso parece mais rpi- da nessas duas partes do tubo digestrio do que no estmago. Parece que a digesto gstrica das protenas produz albuminas, peptonas e j uma certa quantidade de oligopeptdeos (pentapept-deos, tripeptdeos e mesmo uma pequena quanti-dade de dipeptdeos), todas essas molculas so submetidas ao das secrees dos cecos pilri-cos, cuja presena no observada em todas as espcies. O papel fisiolgico desses divertculos fica ainda como objeto de discusso, mas pare-cem possuir uma funo importante.

    Uma atividade tipo tripsina tem sido freqen-temente discutida ao nvel dos cecos pilricos na Tuna, com variaes sazonais no Gadus egrefi-nos, em Sebastis maurins e, mais recentemente, em Salmo chinoock. O pH da sua atividade m-

    xima varia de uma espcie para outra, de 7,6 a 9,0. O valor do pH 9,0 tem sido descrito para tru-ta arco-ris.

    Uma atividade polipeptidsica foi evidenciada em pH 8,0 entre um extrato de cecos pilricos e um substrato protico. Este fato interessante, pois permite criar uma ao complementar entre a tripsina e a polipeptidase cecal, permitindo che-gar aos aminocidos livres.

    Como nos mamferos, o pncreas participa na digesto das protenas. A procateptase, o quimo-tripsinognio e o tripsinognio j foram descritos nos elasmobrnquios, cujas atividades seriam na mucosa intestinal. Nos holocfalos foi isolado do pncreas uma tripsina, uma quimotripsina, uma elastase e 2 carboxipeptidases (A e B).

    Os telesteos parecem possuir, aproximada-mente, ao nvel do pncreas, as mesmas ativida-des dos elasmobrnquias.

    Existem discordncias sobre a existncia de proteases na blis. A glndula heptica, geralmen-te um rgo volumoso no peixe, mas sem diviso ou pouco dividido em lbulos. formado por uma rede de tubos glandulares e apresenta, com raras excees, uma vescula biliar. Os resultados so contraditrios, poderiam ser explicados de vrias maneiras. Por exemplo, pelas diferenas interespecficas na secreo biliar, propriamente dita, mas tambm lembrando-se que as ilhotas do tecido pancretico so encontradas, de vez em quanto, dentro do parnquima heptico. Neste ca-so, o produto da secreo dos cinos pancreti-cos, liberados nos canalculos que drenam tam-bm a blis, resultando no enriquecimento com enzimas pancreticas (principalmente nos peixes sem estmago).

    O intestino dos peixes, quando possuem ao aps o estmago, parece participar da digesto das protenas do mesmo modo que nos vertebra-dos superiores carnvoros. Sua mucosa possui meios de secretar substncias ativadoras de co-enzimas pancreticas e possui tambm uma ami-nopolipeptidase que intervm de maneira impor-tante para degradar as cadeias de polipeptdeos at o estdio de dipeptdeo. Muitos autores tm descrito uma atividade do tipo tripsina em extrato de mucosa intestinal.

    A digesto das protenas ao nvel do intestino ocorre em presena de um pH alcalino.

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    Nos peixes sem estmago (Ciclstomos) ou holocfalo, dipnico, telesteos que esto distri-budos em inmeras famlias, o esfago est dire-tamente relacionado com o intestino, sendo ao nvel deste que ocorrer os processos bioqumicos essenciais da digesto, conseqncia da atividade enzimtica oriunda do pncreas ou da sua prpria mucosa.

    A implicao de tecidos heptico e pancretico nos peixes agstricos foi muito discutida. A de-nominao de hepatopncreas foi designada de-vido justaposio de tecidos anatomicamente e funcionalmente definidos e no do suporte de du-as funes por um tecido morfologicamente ho-mogneo. As enzimas pancreticas so liberadas e misturadas com a bile na luz do intestino, onde observa-se a presena de atividade trptica, pre-sente no extrato do hepatopncreas e capaz de transformar a fibrina em albumina e peptona. A mucosa intestinal pode tambm secretar uma en-zima proteoltica dotada das mesmas proprieda-des que pode produzir uma aminopeptidase, trans-formando as protenas em dipeptdeos e posterior-mente em aminocidos, pela presena de uma ati-vidade dipeptidsica.

    Uma atividade mxima de proteases intestinal que ocorre em pH alcalino, considera-se normal-mente como atividade trptica. Alguns dados de literatura mencionam que a secreo de tripsina secretada exclusivamente pelo pncreas e alguma participao do intestino. A tripsina pancretica ativada entre o pH 7,0 a 11,0, dependendo do substrato.

    A exata localizao da fonte desta enzima di-fcil, devido ao pncreas ser difuso em muitos te-lesteos. O tecido pancretico est situado na veia portal que penetra no fgado e tecido gorduroso. Em peixes que possuem cecos pilricos, o tecido pancretico tambm situado entre eles. Cherley (1935) citado por Halver (1988) analisando a con-centrao de proteases, concluiu que em peixes com pncreas compacto este foi o centro de pro-duo de enzimas, enquanto os peixes que apre-sentavam pncreas difuso, produziam pouca quan-tidade de enzimas, sendo esta complementada pe-los cecos pilricos.

    Foi encontrada uma atividade trptica em ex-trato pancretico de alguns peixes sem estoma- go. e sugeriu-se tambm existir uma ativao

    da tripsina pela enteroquinase (ISHIDA, 1963; BONDIE e SPANDORF, 1954 citados por FON-TAINE, 1981), concordando com Bayliss (1935) citado por Halver (1988) que encontrou uma ati-vidade trptica com pH timo entre 7,5 e 8,5 no canal alimentar de plaice quando incubado com casena. Devido forma difusa do pncreas, no est claro qual a fonte exata desta enzima. A ves-cula biliar, a qual circundada pelo tecido pan-cretico, exibe uma alta atividade proteoltica entre 7,5 e 8,5. A atividade trptica do extrato da vescula biliar foi aumentada com a adi-o de ex-trato intestinal, podendo ser atribuda ativao da tripsina realizada pela enteroquinase.

    Katamikado e Tachino (1960) citados por Hal-ver (1988) encontraram uma atividade de protea-se alcalina em cecos pilricos e intestino de truta arco-ris e Strogasnov e Buzinova (1969) citados por Fontaine (1981) relataram que na carpa capim (Cianophryogodon idella) a atividade trptica no intestino pode ser mais alta do que no pncreas. Sarbahil (1951) citado por Halver (1988) de-monstrou atividade trptica em pH 8,4 na altura do fgado, pncreas e intestino de Godfish. Para extrato de cecos pilrico de Rosfisch (Sebastes). Stein e Lockhart (1953) citados por Halver (1988) encontraram ao proteoltica em pH 8,75. Cros-ton (1960) citado por Fontaine (1981) encontrou endopeptidase em extrato de cecos pilricos de salmo. Uma atividade caseinoltica em um pool de enzimas apresentou um mximo em pH 9,0 da proteinase parcialmente purificada de cecos pilri-cos (OOSHIRO, 1971 citado por HALVER, 1988).

    Seixas Filho et alii (2000a) determinaram a a-tividade de tripsina no quimo presente nos intes-tinos mdio e posterior e no reto de trs espcies tropicais de peixes Teleostei de gua doce com hbitos alimentares diferentes: piracanjuba (Bry-con orbignyanus); piau (Leporinus friderici), on-voros e o surubim (Pseudoplatystoma coruscans), preferencialmente carnvoro, tendo observado que o piau, apesar de onvoro, apresentou atividade de tripsina cerca de 91% maior que a piracanjuba, d